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VIII SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS 119 BIOMASSA E COMPRIMENTO DE RAIZES FINAS EM ÁREA DE EMPRÉSTIMO EM PROCESSO DE REABILITAÇÃO COM REFLORESTAMENTOS DE 15 ANOS NA MATA ATLÂNTICA. SALES JÚNIOR, J. A. S.¹; Santos,J.F. 2 ; SANTOS, G. L. 3 ; Valcarcel, R. 4 Discente em Engenharia Florestal e bolsista do CNPq 1 ; Doutoranda do PPGCAF 2 ; Discente em Engenharia Florestal e bolsista da FAPERJ 3 ; Professor Associado III da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 4 RESUMO As plantas desenvolvem mecanismos ecofisiológicos específicos para sobreviverem em condições ambientes adversas, que podem influir nos processos de reabilitação de áreas degradadas. O objetivo do trabalho foi avaliar o comportamento do sistema radicular de dois reflorestamentos com diversidade de espécies na sua implantação em 1994, avaliando as diferenças observadas com área sem reflorestamento. A área de estudo situa-se na região da Costa Verde, distrito da Ilha da Madeira, município de Itaguaí, estado do Rio de Janeiro. Das parcelas permanentes de 300 m² foram extraídas sub-solo e raízes finas (Ø≤ 2mm) com anel volumétrico em 3 profundidades (0-5, 5-10 e 10-20cm) em 10 repetições. Os resultados revelaram que 98% das raízes finas se encontram nos primeiros 10 cm, sendo que se distribuem em volume e em extensão, horizontalmente e verticalmente de forma diferenciada, podendo interferir na qualidade da reabilitação. Palavras chave: Raízes finas, medidas biológicas e restauração de ecossistemas RESUMEN Las plantas desarrollan mecanismos ecofisiológicos específicos para su sobrevivencia en condiciones ambientales adversas, que pueden influir en los procesos de rehabilitación de áreas degradadas. El objetivo de este estudio fue evaluar El comportamiento Del sistema radicular de dos repoblaciones forestales con diversidad de especies en su implantación en 1994, evaluando las diferencias observadas entre áreas con y sin repoblaciones. El área de estúdio se ubica em La región de Costa Verde, districto da Ilha da Madeira, município de Itaguaí, estado de Rio de Janeiro. De las parcelas permanentes de 300 m² fueron extraídas subsuelo y raízes finas (Ø≤ 2mm) com anel volumétrico em 3 profundidades (0-5, 5-10 e 10-20cm) em 10 repetições. Los resultados señalizan que El 98% de las raíces finas se encuentran en los primeros 10 cm, siendo que su distribución en volumen y extensión horizontal y vertical ocurren de forma diferenciada, pudendo interferir en la calidad de la rehabilitación. Palabras claves: Las raíces finas, las medidas biológicas y restauración del ecosistema 1.Introdução A comunidade vegetal modifica em menor ou maior grau o ambiente onde se encontra, dado que em um ecossistema existem interações entre subsistemas do meio ambiente físico, do meio biótico e entre os meios físicos e bióticos (RAVEN et al, 2007; CAMPOS, 2009). Para se adaptar as condições impostas pelo ambiente, as plantas desenvolvem mecanismos adaptativos para se instalarem e sobreviverem conforme as condições e oferta de atributos ambientais do ecossistema. O sistema radicular das plantas, além de promover a

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VIII SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

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BIOMASSA E COMPRIMENTO DE RAIZES FINAS EM ÁREA DE EMPRÉSTIMO

EM PROCESSO DE REABILITAÇÃO COM REFLORESTAMENTOS DE 15 ANOS

NA MATA ATLÂNTICA.

SALES JÚNIOR, J. A. S.¹; Santos,J.F.2; SANTOS, G. L.3; Valcarcel, R.4

Discente em Engenharia Florestal e bolsista do CNPq1; Doutoranda do PPGCAF2; Discente em Engenharia Florestal e

bolsista da FAPERJ3; Professor Associado III da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro4

RESUMO

As plantas desenvolvem mecanismos ecofisiológicos específicos para sobreviverem em condições

ambientes adversas, que podem influir nos processos de reabilitação de áreas degradadas. O

objetivo do trabalho foi avaliar o comportamento do sistema radicular de dois reflorestamentos

com diversidade de espécies na sua implantação em 1994, avaliando as diferenças observadas com

área sem reflorestamento. A área de estudo situa-se na região da Costa Verde, distrito da Ilha da

Madeira, município de Itaguaí, estado do Rio de Janeiro. Das parcelas permanentes de 300 m²

foram extraídas sub-solo e raízes finas (Ø≤ 2mm) com anel volumétrico em 3 profundidades (0-5,

5-10 e 10-20cm) em 10 repetições. Os resultados revelaram que 98% das raízes finas se encontram

nos primeiros 10 cm, sendo que se distribuem em volume e em extensão, horizontalmente e

verticalmente de forma diferenciada, podendo interferir na qualidade da reabilitação.

Palavras chave: Raízes finas, medidas biológicas e restauração de ecossistemas

RESUMEN

Las plantas desarrollan mecanismos ecofisiológicos específicos para su sobrevivencia en

condiciones ambientales adversas, que pueden influir en los procesos de rehabilitación de áreas

degradadas. El objetivo de este estudio fue evaluar El comportamiento Del sistema radicular de dos

repoblaciones forestales con diversidad de especies en su implantación en 1994, evaluando las

diferencias observadas entre áreas con y sin repoblaciones. El área de estúdio se ubica em La

región de Costa Verde, districto da Ilha da Madeira, município de Itaguaí, estado de Rio de Janeiro.

De las parcelas permanentes de 300 m² fueron extraídas subsuelo y raízes finas (Ø≤ 2mm) com

anel volumétrico em 3 profundidades (0-5, 5-10 e 10-20cm) em 10 repetições. Los resultados

señalizan que El 98% de las raíces finas se encuentran en los primeros 10 cm, siendo que su

distribución en volumen y extensión horizontal y vertical ocurren de forma diferenciada, pudendo

interferir en la calidad de la rehabilitación.

Palabras claves: Las raíces finas, las medidas biológicas y restauración del ecosistema

1.Introdução

A comunidade vegetal modifica em menor ou maior grau o ambiente onde se encontra,

dado que em um ecossistema existem interações entre subsistemas do meio ambiente físico, do

meio biótico e entre os meios físicos e bióticos (RAVEN et al, 2007; CAMPOS, 2009).

Para se adaptar as condições impostas pelo ambiente, as plantas desenvolvem

mecanismos adaptativos para se instalarem e sobreviverem conforme as condições e oferta de

atributos ambientais do ecossistema. O sistema radicular das plantas, além de promover a

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ancoragem da árvore, tem estreita interação com o solo, absorve água e nutrientes essenciais ao

crescimento vegetal, auxilia na retenção do solo contra a ação da erosão, aumenta a capacidade de

infiltração de água no solo, fornece exsudado para os microrganismos e participa ativamente dos

processos pedogenético (ANDRADE, 1997).

Segundo Valcarcel & Silva (2000) áreas degradadas são ecossistemas que sofreram forte

intervenção de natureza exógena (perturbação), perdendo sua capacidade de resiliência, supressão

da vegetação e retirada abrupta do substrato sendo necessário a utilização de técnicas de

reabilitação como medidas biológicas.

O sistema radicular é uma variável importante na avaliação da construção de

ecossistemas reabilitados e do seu sub-solo. Diante da carência de estudos e pesquisas sobre suas as

possíveis inter-relações entre as espécies vegetais, seus sistemas radiculares, os seus respectivos

papéis funcionais em ecossistemas reabilitados envolvendo espécies pioneiras rústicas nativas e

exóticas, esse estudo torna-se relevante, além de que os estudos realizados são voltados à

silvicultura.

O conhecimento do comportamento do sistema radicular nas diferentes medidas

biológicas com diferentes composições de espécies vegetais é faz-se importante, com o intuito de

enriquecer as estratégias de reabilitação de áreas degradadas. Onde a seleção de espécies com

sistema radicular capaz de suportar condições adversas do meio, cumprindo seus papéis funcionais,

ajuda na reconstrução dos ecossistemas, mesmo que de forma gradual, mas ganhando-se no final

pelo acerto das medidas empregadas serem auto-sustentáveis.

Nesse sentido o presente estudo teve como objetivo analisar a biomassa e o

comportamento do sistema radicular das espécies implantadas em duas Medidas Biológicas

(tratamentos) e comparar com a testemunha (sem reflorestamento).

2.Metodologia

A área de estudo situa-se na região denominada de Costa Verde, distrito da Ilha da

Madeira (latitude 23o

55’07’’ e longitude 43º 49' 73'', Município de Itaguaí, estado do Rio de

Janeiro. Ela situa-se no domínio ecológico da Mata Atlântica, no ecossistema de Floresta

Ombrófila Densa, onde predominam as formações regionais típicas de litoral; área de manguezais

(fundo da Baia de Sepetiba) e Mata Atlântica no início das montanhas que compõem a Serra do

Mar (VALCARCEL,1994)

O clima é classificado como "Aw" tropical quente e úmido (verão chuvoso com inverno

seco), com temperatura máxima média anual em fevereiro (25,7ºC) e mínima média anual em julho

(19,6ºC) (FIDERJ, 1978).

Os ventos médios predominantes apontam para as direções: sul (S); sudeste (SE); leste

(E); nordeste (NE); noroeste (NW); e sudoeste (SW), atingindo velocidades médias de 2 a 6 m/s

(FIDERJ, 1978). Esporadicamente atingem grandes velocidades em tormentas tropicais, sendo que

os ventos do quadrante sul e brisas marinhas descarregam umidade contra o anteparo das serras

circundantes a baía, podendo contribuir para a ocorrência de chuvas na estação seca de inverno

(BARBIÉRI & KRONEMBERGER, 1994).

A temperatura máxima média anual correspondente ao mês de fevereiro é de 25,7ºC e a

mínima média anual correspondente ao mês de julho, de 19,6º C, no período de 41 anos de registro

e processamento (FIDERJ, 1978).

O período de maior pluviosidade concentra-se entre dezembro e janeiro, podendo

estender-se até março, enquanto o período seco estende-se de maio a setembro, sendo a

pluviosidade média de 1500 mm/ano (ZEE, 1996).

As principais classes de solos encontrados no entorno são Argissolos nas vertentes e

Argissolos e Gleissolos nas várzeas, ambas categorias caracterizadas por terem baixa fertilidade

natural (CTC < 24 meq/100g de solo) e por serem altamente susceptíveis aos processos erosivos,

quando mal manejados (UFRRJ, 1993).

O projeto de pesquisa foi realizado em uma área de empréstimo que foi explorada e

exaurida entre 1977 e 1979, como parte dos processos construtivos da construção do retro-porto do

Porto de Itaguaí, onde foram retirados 1.400.000m3 de substrato de 10,81 ha. A profundidade

média de decape foi de 13 m. Nessa área foi implantado um Plano de Recuperação de Área

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Degradada (PRAD) em 1993. Em função do seu estado de degradação, inicialmente em 1993, foi

necessário conter estes processos erosivos com obras físicas (obras de drenagem e contenção), ou

seja, medidas físicas. Após esta ação foi possível implantar na área a partir de 1994 medidas

biológicas - que consistiram no plantio de espécies arbóreas com funções ecológicas distintas e as

medidas fisico-biológicas que combinam os efeitos das duas medidas anteriores, que objetivavam

atenuar os problemas ambientais a curto e médio prazo. Foram implantadas 2 medidas biológicas

(MBi)(tratamentos), que combinam espécies com funções ecológicas distintas: MB1 - Acacia

auriculiformis(100%); MB2 - Mimosa caesalpiniaefolia Benth. (21%), Clitoria

fairchildiana(17%), Leucaena leucocephala (Lam.) (15%), Inga laurina (Sw.) Willd. (15%),

Mimosa bimucronata (DC.) (13 %), Cecropia pachystachya (8%), Schinus terebinthifolius(6%),

Piptadenia gonoacantha (Mart.) (5%) e a testemunha.

Foram instaladas parcelas permanentes de 300 m2, em cada uma das Medida

Biológica(reflorestamentos/tratamentos), no interior destas, foram instaladas quatro parcelas

permanentes de 5 x 15 m (75 m2) e uma parcela com as mesmas dimensões na área testemunha,

onde coletou-se em (Agosto- 2009) amostras em 10 pontos sendo: dois ponto na linha central da

parcela e os demais se distribuirão de dois em dois nos vértices da parcela. Foi deixado um espaço

de dois metros do vértice até o primeiro ponto e mais dois metros entre o primeiro e o segundo

ponto.

Para coleta das raízes finas (Ø≤ 2mm) nos tratamentos, realizou-se a extração do solo e

raízes com anel volumétrico, com três amostras em cada ponto nas profundidades de 0-5, 5-10 e

10-20cm. Posteriormente, as amostras, devidamente identificadas no momento da coleta foram

acondicionadas em sacos plásticos e guardadas em geladeira no LMBH/UFRRJ, até a sua triagem,

conforme recomendado por HERTEL et al. (2003).

As raízes finas foram classificadas em vivas ou mortas e obteve-se a massa seca total. No

processamento das raízes foi utilizado um conjunto de duas peneiras sobrepostas; a superior com

malha de 2 mm e a inferior de 1 mm. O solo foi depositado na peneira superior, em pequenas

porções, e mediante jatos d'água e com o auxílio de uma espátula foi sendo retirado, afim de que se

permaneça apenas as raízes (SCHROTH at al., 1999). Depois de separadas as raízes foram

classificadas em viva ou morta, utilizando critérios visuais (cor, grau de coesão entre a periderme e

o córtex) e mecânicos (elasticidade, estabilidade) de acordo com JOHN et al. (2002). Seguindo

para a secagem em estufa a 70ºC até atingir peso constante. A massa seca das raízes finas (kg.ha

-1)

foi obtida por pesagem em balança analítica.

Para determinação do comprimento foi utilizado a obtenção a imagem das raízes. As

mesmas foram dispostas sob uma placa de vidro e digitalizadas em imagens preto e branco por

meio de escâner HP scanjet 2200c. A seguir as imagens foram submetidas ao programa de Analise

de Fibras e Raízes 2006 - SAFIRA, sendo realçadas através do contraste entre as raízes e o fundo

preto, gerando o esqueleto das raízes. Posteriormente no programa SIARCS 3.0 foi feito a

binarização das imagens dos esqueletos e a contagem do comprimento total, utilizando um molde

de 1 cm anexado as amostras para calibrar a escala.

Os tratamentos foram comparados por analises estatísticas univariadas. Testou-se a

normalidade dos dados e como esses não apresentaram distribuição normal, para a comparação

entre médias, utilizou-se o teste de K r u s k a l - W a l l i s com probabilidade de 95%.

Os dados foram processados no programa estatístico SAEG 9.1(Universidade Federal de

Viçosa, Viçosa, 2007) adotando-se os procedimentos descritos por Ribeiro Júnior (2001).

3.Resultado e discussão

Os dados indicaram que houve diferença significativa no teste de K r u s k a l - W a l l i s

com o valor de 49,257 e probabilidade de 95% da massa seca total (MS.ha-1

.30 cm-1

kg) a 30

centímetros de profundidade nas medidas biológicas em relação a testemunha. Os valores são

662,5; 966,1 e 92,6 kg MS.ha-1.

30.cm-1

respectivamente para a MB-1, MB-2 e a testemunha

(Gráfico1). Os resultados demonstram uma maior produção de massa seca nas medidas biológicas

que na testemunha. Evidenciando assim a efetiva influencia da vegetação na construção de solos.

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Gráfico 1: Massa seca total de raízes kg MS.ha

-1.30 cm

-1) das medidas biológicas e da testemunha

na profundidade de 20 cm pelo teste de K r u s k a l - W a l l i s ( p = 0,05; N = 180).

A fração de raízes morta finas (Ø<2 mm) não predominou na profundidade de 20 cm nos

tratamentos e na testemunha. Estas representaram mais de 18% do conteúdo total de raízes nos dois

tratamentos nessa profundidade, ficando assim uma relação entre RFV/ RFM de três vezes para os

tratamentos e testemunha, no processo de construção de ecossistema auto-sustentável a partir dos

reflorestamentos da área de empréstimo (Quadro1). Tais resultados estão de acordo com os

encontrados por Hertel et al.,(2003) em uma floresta nativa tropical com mais de 200 anos, que

apresentou duas vezes mais raízes finas vivas que raízes finas mortas.

Quadro1: Matéria seca (MS) (kg MS.ha-1

.30 cm-1

) de raízes finas vivas (RFV) e de raízes finas

mortas (RFM) amostrada à 20 cm de profundidade do solo (substrato), nas medidas biológicas e na

testemunha, pelo teste de K r u s k a l - W a l l i s (p = 0,05; N = 180).

Estado das Raízes Tratamento

MB-1 MB-2 Test

Raízes Finas Vivas 520,0 ± 312,3 b 827,0 ± 636,7 c 69,5 ± 36,6 a

Raízes Finas Mortas 142,5 ± 57,5 b 139,1 ± 92,5 b 23,18 ± 13,2 a

Na profundidade de 0-5 e 5-10 cm a massa seca de raízes finas diferenciou-se

significativamente entre os tratamentos (604,71; 356,52 Kg MS.ha-1

) para MB-1 e (534,42; 381,15

Kg MS.ha-1

) MB-2 e a testemunha (75,36; 33,33 Kg MS.ha-1

), onde foi encontrada uma menor

produção de raízes finas, quando comparada com as medidas biológicas (tratamentos). Estes

resultados podem estar refletindo uma melhor absorção de nutrientes pelas raízes finas e um melhor

estado nutricional para as raízes das medidas biológicas, significando que podem estar investindo

na formação de sua estrutura em vez de investirem no comprimento.

Enquanto que na profundidade 10-20 cm observou- se uma diferença significativa entre a

testemunha (30,43 Kg MS.ha-1

) e a MB-2 (533,69 Kg.MS.ha-1

.30 cm-1

), porém entre a testemunha

e a MB-1(32,60 Kg MS.ha-1

) não houve diferença estatística (Tabela 2). Tais resultados justificam-

se pelo fato de que na MB-1 (plantio homogêneo) provavelmente houve competição intraespecífica

que pode ter provocada a saída do sistema da A. auriculiformis e permitido possivelmente a entrada

de espécies herbáceas invasoras, assemelhando-se assim com a testemunha.

À medida que foi aumentando a profundidade do solo, houve diminuição da biomassa e

comprimento de raízes (Gráfico 2 e 3), o que pode estar sendo motivado pela maior aeração e

disponibilidade de nutrientes das primeiras camadas do solo, assim como devido a camadas de solo

mais adensadas nas camadas mais profundas, que podem estar dificultando a penetração e o

desenvolvimento das raízes. Porém as áreas reflorestadas tiveram mais massa seca que a

testemunha, em todas as profundidades e o declínio na quantidade de raízes produzidas com o

aumento da profundidade apresentou formato diferente nos tratamentos e na testemunha.

MS

.ha

-1.3

0 c

m-1

kg

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VIII SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

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Gráfico 2: Massa seca de raízes com diâmetros menores ou iguais a 2 mm (finas), verificada no

perfil do solo (substrato) em diferentes profundidades nos tratamentos pelo teste de K r u s k a l -

W a l l i s (p = 0,05; N = 180).

Observa-se no Gráfico 3 que a MB-2 (5382 e 2616 m.ha-1), respectivamente apresentou

maior comprimento de raízes nas camadas de 5-10 e 10-20 cm que o MB-1 e a testemunha. Esse

resultado pode estar relacionado com a maior diversidade de espécies e atributos ambientais desse

ecossistema (NEVES e VALCARCEL, 2000), indicando uma ocupação diferenciada do perfil

pelas diferentes espécies que o compõe, o que ocorre em menor escala na MB-1 (plantio

homogêneo). Tais resultados, porém, não apresentaram diferenças estatísticas significativas na

profundidade de 0-5 cm.

Nos primeiros 10 cm de profundidade os efeitos das medidas biológicos, como agentes

construtores de ecossistemas, foram evidenciados, no perfil do substrato. Pois as funções das

espécies que compõem esses ecossistemas são variáveis no tempo e depende do alcance da

maturidade das espécies (Valcarcel et al,2007). Durante os 16 anos ocorreram efeitos distintos

sobre o substrato, influindo na distribuição radicular.

O tipo de raiz das plantas pode ter interferido na distribuição radicular no perfil do solo

(substrato), uma vez que algumas espécies de plantas C4 (capim em geral) possuem raiz

fasciculada, e isso implica uma produção maior de massa radicular; contrário ao caso das plantas

com raiz pivotante (árvores), que produzem menor quantidade de raiz lateralmente. Outro ponto a

ser considerado é a razão parte aérea/parte radicular, pois a produção e distribuição radicular

constituem função também da demanda evapotranspirométrica (Valcarcel et al,2007).

Gráfico 3: Comprimento de raízes com diâmetros menores ou iguais a 2 mm ( finas ), verificada

no perfil do solo ( substrato ) em diferentes profundidades nos tratamentos e testemunha pelo

teste de K r u s k a l - W a l l i s (p = 0,05; N = 180).

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4.Conclusão

O povoamento com maior diversidade de espécies (MB-2) se mostrou mais equilibrado

na produção de raízes finas, o que pode propiciar condições diferenciadas de sustentabilidade na

reabilitação de áreas degradadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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