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Biodiversidade da Costa Esmeralda Um Patrimônio Natural

Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

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No nosso modo de vida urbanizado e distante de ambientes naturais, as crianças não costumam mais brincar na terra, não têm mais o mesmo contato com as plantas e os animais que seus pais e avós tiveram. Porém, não podemos negar que a Biofilia (philia- amor, bio- vida) continua inerente, esperando por estímulos para ser despertada. A admiração e encantamento pela natureza trazem às pessoas o sentimento de responsabilidade, para mudarem seus hábitos, buscando conhecer e proteger o patrimônio natural que ainda nos cerca. É com essa intenção que este livro une belas imagens e informações sobreas Unidades de Conserva-ção e a biodiversidade da região da Costa Esmeralda, que abrange os municípios de Itapema, Porto Belo e Bombinhas, buscando atrair atenção para o cuidado e preservação. Espera-mos que você leitor, possa usufruir deste livro que apresenta uma breve visão do valor e da beleza existente na fauna, flora e vegetação da região.

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Page 1: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

Biodiversidade da

Costa Esmeralda

Um Patrimônio Natural

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Biodiversidade da

Costa Esmeralda

Um patrimônio natural

Maurício Eduardo Graipel

Carolina Mallmann Erbes

Erica Naomi Saito

Felipe Moreli Fantacini

ORGANIZADORES

1ª edição

Florianópolis

2013

Page 4: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

B615 Biodiversidade da Costa Esmeralda: Um patrimônio natural / Maurício Eduardo Graipel...[et al.] organizadores. – 1. ed. - Florianópolis : Simbiosis, 2013. 144 p. : il.

Inclui bibliografia.

1. Diversidade biológica – Conservação – Santa Catarina. I. Graipel, Maurício Eduardo.

CDU: 577.4

Catalogação na Fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina

ISBN :978-85-66582-02-4

EDIÇÃOSimbiosis Empresa Júnior de Ciências Biológicas

REVISÃO Dr. Paulo Roberto Petersen Hofmann

Universidade Federal de Santa Catarina

EDITORA Officio

CAPAEduardo Luiz de Faria, Isadora Bernardo Cardoso,

Mariangela de Oliveira, Roberto Gava Colombo

FOTO PRINCIPAL DA CAPAFlávio Steigleder Martins

TRATAMENTO DE IMAGENS, PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO Uipi Empresa Júnior de Design da UFSC - Isadora Bernardo Cardoso,

Mariangela de Oliveira, Roberto Gava Colombo

IMPRESSÃOGráfica Agnus

Page 5: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

Agradecimento

Este livro só foi possível graças ao trabalho e esforço de muitas pessoas. Por isso, temos muito a agradecer: às equipes de levantamento de fauna, flora e vegetação, que passaram dias e noites em campo, ora sob chuva in-tensa, ora sob sol escaldante, após horas e horas de coleta de dados que foram fundamentais para a elabora-ção dos diagnósticos; a quem foi além, e elaborou os textos para os capítulos desse livro, trazendo as informações em uma linguagem menos técnica e mais acessível; a quem contribuiu com fotos, sendo algumas tiradas na região e outras de acervo pessoal; aos mora-dores e barqueiros da região da Costa Esmeralda, que apoiaram os pesquisa-dores em diversas oportunidades; aos proprietários e caseiros de áreas den-tro das Unidades de Conservação; ao Eduardo Luiz de Faria, da Officio, pelo apoio para a elaboração deste livro; à equipe da Pousada do Francês e da Pousada de Zimbros, em Bombinhas; às prefeituras de Itapema, Porto Belo e Bombinhas, e respectivas fundações municipais, FAACI (Fundação Ambien-tal Área Costeira de Itapema), FAMAP (Fundação Municipal do Meio Ambiente de Porto Belo) e FAMAB (Fundação Mu-nicipal de Amparo ao Meio Ambiente de Bombinhas), pelo apoio e infraestru-tura disponibilizados ao longo dos tra-balhos de campo, bem como à CPRUC (Comissão Permanente de Regulamen-

tação das Unidades de Conservação de Bombinhas); à FAPEU (Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Univer-sitária da UFSC), pela gestão financeira dos recursos; à Caipora, pela orienta-ção na busca por informações a serem levantadas através dos diagnósticos; ao GEABio (Grupo de Educação e Estu-dos Ambientais da UFSC), pelo trabalho de educação ambiental e de divulga-ção das Unidades de Conservação e da biodiversidade junto às comunida-des; ao NEAMB (Núcleo de Educação Ambiental do Centro Tecnológico da UFSC) e Instituto Çarakura, pelo apoio aos estudos realizados no município de Itapema, que resultaram na criação de uma nova Unidade de Conservação; e, à UFSC (Universidade Federal de San-ta Catarina), por proporcionar a todos, mas em especial aos alunos, a oportu-nidade de colocar em prática sua mis-são: “produzir, sistematizar e socializar o saber filosófico, científico, artístico e tecnológico, ampliando e aprofundan-do a formação do ser humano para o exercício profissional, a reflexão crítica, solidariedade nacional e internacional, na perspectiva da construção de uma sociedade justa e democrática e na de-fesa da qualidade de vida”. Esperamos que este livro de divulgação científica possa servir como retorno às comuni-dades da região e também aos envolvi-dos nos estudos realizados nas Unida-des de Conservação.

Page 6: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

AMANDA CRUZ MENDES Doutora em Zoologia UFRJ

ANA LETÍCIA TRIVIA Graduanda em Ciências Biológicas UFSC

ANA PAULA CICHELLA BURIGO Graduada em Engenharia de Aquicultura UFSC

ANDERSON ANTONIO BATISTA Doutorando em Ecologia UFSC

ANDERSON ROSAGraduando em Ciências Biológicas UFSC

ANDERSON SANTOS DE MELLO Mestre em Biologia Vegetal UFSC

ANDRÉ AMBROZIO DE ASSIS Mestrando em Ecologia UFSC

ANELISE NUERNBERG DA SILVA Graduanda em Ciências Biológicas UFSC

BIANCA PINTO VIEIRA Mestranda em Ecologia Aplicada pela Universidade de Aveiro

CAMILA CLAUDINO DE OLIVEIRA Graduanda em Ciências Biológicas UFSC

CAROLINA MALLMANN ERBES Graduanda em Ciências Biológicas UFSC Simbiosis Empresa Júnior de Ciências Biológicas

CAROLINE ANGRI Mestranda em Ecologia UFSC

CAROLINE BATISTIM OSWALD Graduanda em Ciências Biológicas UFSC

CÁSSIO BATISTA MARCON Mestrando em Agrossistemas UFSC

Lista de autores/ Formação/ Vínculo

CAUÊ TEIXEIRA Procurador da Prefeitura de Bombinhas

DAIANE SOARES XAVIER DA ROSA Graduada em Ciências Biológicas UFSC

DANIEL DOS SANTOS GOMES Graduando em Oceanografia UFSC

DAYSE DIAS Graduanda em Ciências Biológicas UFSC

EDUARDO HERMES SILVA Mestre em Geografia UFSCCaipora Cooperativa para Conservação da Natureza

ERICA NAOMI SAITO Mestre em Ecologia UFSCCaipora Cooperativa para Conservação da Natureza

FELIPE MORELI FANTACINI Graduado em Ciências Biológicas UFSC FLÁVIO STEIGLEDER MARTINSGraduado em Ciências Biológicas PUCRS Presidente FAMAB-Prefeitura de Bombinhas

FRANCIELE DUTRA Graduanda em Ciências Biológicas UFSCSimbiosis Empresa Júnior de Ciências Biológicas

GISELA COSTA RIBEIRO Mestre em Zoologia UFPR Universidade Federal de Santa Catarina

GUILHERME WILLRICH Graduado em Ciências Biológicas UFSCCaipora Cooperativa para Conservação da Natureza

IVO ROHLING GHIZONI JR.Mestre em Ecologia INPACaipora Cooperativa para Conservação da Natureza

JAVIER TOSO Graduado em Ciências Biológicas UFSC

Page 7: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

JOSÉ OLIMPIO Biólogo e Mestre em Geografia UFSCSocioambiental Consultores Associados Ltda

JUAN PABLO QUIMBAYO AGREDA Mestrando em Ecologia UFSC

JÚLIA FERRUA DOS SANTOS Graduanda em Ciências Biológicas UFSC

LARISSA ZANETTE DA SILVA Mestranda em Ecologia UFSC

LAURA HELENA BENTO DACOL Graduanda em Ciências Biológicas UFSCSimbiosis Empresa Júnior de Ciências Biológicas

LEANDRO MALTA BORGES Graduando de Ciências Biológicas UFSM

LUCAS NUNES TEIXEIRA Graduando em Engenharia de Aquicultura UFSC

LUCIA CURRLIN JAPP Mestre em Estatística e Métodos Quantitati-vos UnBRPPN Morro de Zimbros

MALVA ISABEL MEDINA HERNÁNDEZ Doutora em Zoologia UNESP Universidade Federal de Santa Catarina

MARIAH WUERGES Graduanda em Ciências Biológicas UFSC

MAURÍCIO EDUARDO GRAIPEL Doutor em Biociências PUCRS Universidade Federal de Santa CatarinaCaipora Cooperativa para Conservação da Natureza

MAYANA LACERDA LEAL Graduanda em Ciências Biológicas UFSC Simbiosis Empresa Júnior de Ciências Biológicas

MIRIAM SANT’ANNA GHAZZI Doutora em Zoologia USP

RAFAEL GODOY Graduando em Ciências Biológicas UFSC

RAFAEL PENEDO FERREIRA Graduado em Ciências Biológicas UFSC

RAPHAEL ZULIANELLO ALVES Graduando em Ciências Biológicas UFSC

RENATO MORAIS ARAUJO Mestrando em Ecologia UFSC

RONALDO DA SILVA Pescador profissional LAPAD - UFSC

SELVINO NECKEL DE OLIVEIRA Doutor em Ecologia INPA Universidade Federal de Santa Catarina

SONIA BUCK Doutora em Zoologia USP

TOBIAS SARAIVA KUNZ Doutorando em Biologia Animal UFRGSCaipora Cooperativa para Conservação da Natureza

VÍTOR DE CARVALHO ROCHA Graduando em Ciências Biológicas UFSC

Page 8: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

Sumário

Anfíbios: Uma vida em dois mundos

Página 58

Répteis: Conhecendo para desmistificar

Página 72

Mamíferos:No mar, na terra ou no ar...

Página 32

Aves: Os dinossauros da atualidade!

Página 46

Costa Esmeralda: Unidades de Conservação

Página 8

Vegetação e flora: A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhasPágina 16

Page 9: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

Peixes de água doce: O mundo sob a água

Página 84

Aranhas: As arquitetas da natureza

Página 106

Besouros rola-bosta:Os lixeiros da floresta

Página 124

Borboletas frugívoras: Quem são elas?

Página 134

Opiliões: Não somos aranha não!

Página 114

Peixes recifais:Essenciais para a manutenção da vida nos ecossistemas marinhosPágina 92

Page 10: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

8 Costa Esmeralda: Unidades de Conservação

Autores

Javier Toso

Cauê Teixeira

Eduardo Hermes Silva

Flávio Steigleder Martins

Franciele Dutra

José Olimpio

Lucia Currlin Japp

Maurício Eduardo Graipel

Mayana Lacerda Leal

As Unidades de Conservação (UCs) são porções do território onde, por suas características naturais relevantes, são aplicadas medidas de proteção aos ecossistemas naturais, sob um regime especial de administração.

Elas consistem, hoje, na principal estra-tégia para conservação e manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos do país. Neste sentido, bus-cam proteger as espécies ameaçadas de extinção, preservar e restaurar a diversidade dos ecossistemas e pro-mover a sustentabilidade no uso dos re-cursos naturais, entre outros objetivos.

As UCs também desempenham o pa-pel de prestadoras de serviços am-bientais, tais como: fixação de carbono e manutenção de seus estoques; regu-

lação e equilíbrio do ciclo hidrológico; purificação da água e do ar; controle da erosão; conforto térmico; perpetuação de bancos genéticos e fluxos gênicos das espécies; manutenção da paisa-gem e de áreas de recreação, lazer, educação e pesquisa científica.

Essas áreas podem ser criadas pelo po-der público, em suas esferas Federal, Estadual e Municipal, ou mesmo por particulares, com a finalidade de pre-servar e conservar o meio ambiente, de forma a compatibilizar o desenvolvi-mento econômico-social e cultural com o uso racional dos recursos naturais.

Em 18 de julho de 2000, foi sanciona-da a Lei nº 9.985, com o objetivo de regulamentar o artigo 225 da Consti-tuição Brasileira e instituir o Sistema

Costa Esmeralda: Unidades de Conservação

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9Biodiversidade da Costa Esmeralda

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC. Regulamentado pelo Decreto nº 4.340, de 22 de agos-to de 2002, é o instrumento legal que visa estabelecer critérios e normas

VIII. Proteger e recuperar recursos hídri-

cos e edáficos;

IX. Recuperar ou restaurar ecossistemas

degradados;

X. Proporcionar meios e incentivos para

atividades de pesquisa científica, es-

tudos e monitoramento ambiental;

XI. Valorizar econômica e socialmente a

diversidade biológica;

XII. Favorecer condições e promover a

educação e interpretação ambiental, a

recreação em contato com a natureza e

o turismo ecológico;

XIII. Proteger os recursos naturais neces-

sários à subsistência de populações

tradicionais, respeitando e valorizando

seu conhecimento e sua cultura e pro-

movendo-as social e economicamente.

para a proteção da natureza no Brasil, especificamente através da criação, implantação e gestão das UCs. Os objetivos da Lei que instituiu o SNUC (artigo 4º) são:

I. Contribuir para a manutenção da di-

versidade biológica e dos recursos

genéticos, no território nacional e nas

águas jurisdicionais;

II. Proteger as espécies ameaçadas de

extinção, no âmbito regional e nacio-

nal;

III. Contribuir para a preservação e a res-

tauração da diversidade de ecossiste-

mas naturais;

IV. Promover o desenvolvimento susten-

tável, a partir dos recursos naturais;

V. Promover a utilização dos princípios e

práticas de conservação da natureza

no processo de desenvolvimento;

VI. Proteger paisagens naturais e pouco alte-

radas de notável beleza cênica;

VII. Proteger as características relevantes

de natureza geológica, geomorfológica,

espeleológica, arqueológica, paleonto-

lógica e cultural;

O Refúgio de Vida Silvestre de Itapema abriga a maior Unidade de Conservação Municipal de Santa Catarina

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10 Costa Esmeralda: Unidades de Conservação

Entre os critérios e normas estabele-cidos, o SNUC busca organizar em ca-tegorias as áreas naturais protegidas, e definir os objetivos básicos de uso e conservação mais adequados para cada uma delas. Dessa forma, o SNUC (artigo 7º) reuniu as diversas catego-rias de manejo de UCs em dois grupos, um de proteção integral e outro de uso sustentável, de acordo com suas pos-sibilidades de manejo:

• Proteção integral, cujo objetivo bá-sico é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Compreen-de as seguintes categorias: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Par-que Nacional, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre;

• Uso sustentável, cujo objetivo bási-co é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais. Compreende as seguintes catego-

rias: Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), Floresta Nacional (FLONA), Reserva Extrativista (RE-SEX), Reserva de Fauna (REFAU), Reserva de Desenvolvimento Sus-tentável (RDS) e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

Além destas, podem existir outras de-nominações, que estão relacionadas à criação das UCs antes da implemen-tação do SNUC, que deverão passar por uma reavaliação para inclusão em uma das categorias definidas.

Porém, independente da categoria de manejo e da esfera governamen-tal responsável, a participação efetiva da sociedade na criação, implantação e gestão das UCs brasileiras é um re-quisito fundamental, defendido pelas diretrizes que regem o SNUC, e com instrumentos formalmente previstos (conselhos consultivos e deliberativos, gestão compartilhada com Organiza-

Mirante do Mar na RPPN Morro dos Zimbros - Vista para a baía e Ilha de Porto Belo.

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11Biodiversidade da Costa Esmeralda

ções da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, concessões de serviço, etc.). A conservação de ecossistemas e a manutenção de serviços ambientais de caráter e abrangência local assumem também um papel fundamental de con-tribuição na política nacional de UCs. Neste sentido, a implementação de UCs municipais, com ampla e efetiva parti-cipação da sociedade, representa uma estratégia muito significativa, mesmo considerando as diferenças de escala relacionadas ao tamanho dos territórios das áreas protegidas individualmente entre as diferentes esferas.

Na região da Costa Esmeralda, que inclui os municípios de Itapema, Porto Belo e Bombinhas, localizados na região cen-tro-leste do estado de Santa Catarina, foram definidas, pelo Ministério do Meio Ambiente, áreas de “alta prioridade” e de “extremamente alta prioridade”, para que seja assegurada a biodiversidade destes locais. Na maioria dessas áreas,

foram criadas UCs, existindo hoje três UCs de proteção integral e três UCs de uso sustentável. As UCs de proteção integração são: o Refúgio de Vida Sil-vestre de Itapema, com 2.602 ha, o Par-que Natural Municipal da Galheta, com 132 ha; e o Parque Natural Municipal do Morro do Macaco, com 267 ha; e as UCs de uso sustentável são: a APA da Ponta do Araçá, com aproximadamente 140 ha; a ARIE da Costeira de Zimbros com aproximadamente 1000 ha, e a RPPN Morro dos Zimbros com aproximada-mente 50 ha. Vale destacar que existem áreas em estudo para criação de novas UCs nos três municípios.

Ao contrário do que alguns setores da sociedade imaginam, as UCs não constituem espaços protegidos “in-tocáveis”, apartados de qualquer ati-vidade humana, como as definições de algumas categorias sugerem. Elas fornecem direta e/ou indiretamente bens e serviços que satisfazem vá-

Em primeiro plano, observa-se Ilha do Macuco e ao fundo o Parque Natural Munici-pal Morro do Macaco e os morros da ARIE da Costeira de Zimbros.

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12 Costa Esmeralda: Unidades de Conservação

rias necessidades da sociedade brasi-leira, inclusive produtivas. No entanto, por se tratarem de produtos e ser-viços, em geral de natureza pública, prestados de forma difusa, seu valor não é percebido pelos usuários, que, na maior parte dos casos, não pagam diretamente pelo seu consumo ou uso. Em outras palavras, o papel das UCs é facilmente “internalizado” na economia nacional. Essa questão de-corre, ao menos em parte, da falta de informações que esclareçam a socie-dade sobre seu papel no provimento de bens e serviços que contribuem para o desenvolvimento econômico e social do país.

Um exemplo: o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), estima que a visitação nos 67 Parques Nacionais existentes no Brasil tem po-tencial para gerar entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão por ano, considerando as estimativas de fluxo de turistas proje-

tadas para o país (cerca de 13,7 milhões de pessoas, entre brasileiros e estran-geiros) até 2016, ano das Olimpíadas.

No que tange aos diferentes usos da água pela sociedade, 80% da hidro-eletricidade do país vem de fontes geradoras que têm pelo menos um tributário a jusante de uma UC; 9% da água para consumo humano é di-retamente captada em UCs e 26% é captada em fontes a jusante de UCs; 4% da água utilizada em agricultura e irrigação é captada de fontes dentro ou a jusante de uma UC.

Em bacias hidrográficas e mananciais com maior cobertura florestal, o cus-to do tratamento da água destinada ao abastecimento público é muito menor que o custo de tratamento em manan-ciais com baixa cobertura florestal.

Em 2009, a receita real de ICMS Eco-lógico (Imposto sobre Circulação de

Costão da Praia do Caixa d’Aço na APA do Araçá em Porto Belo.

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13Biodiversidade da Costa Esmeralda

Mercadorias e Prestação de Serviços) repassada aos municípios pela exis-tência de UCs em seus territórios foi de R$ 402,7 milhões. A receita poten-cial para 12 estados que ainda não têm legislação de ICMS Ecológico, como é o caso de Santa Catarina, seria de R$ 14,9 milhões, considerando um percen-tual de 0,5% para o critério “Unidade de Conservação” no repasse a que os mu-nicípios fazem jus. Ou seja, obtemos uma grade quantidade de benefícios das UCs e, com a criação do ICMS Eco-lógico, as mesmas têm potencial para gerar muito mais.

Porém para que isso ocorra é neces-sário criar as condições necessárias de planejamento e gestão. O SNUC determina a elaboração de Planos de Manejo como instrumentos funda-mentais para que se atinjam os objeti-vos de criação das UCs.

O Plano de Manejo, segundo o SNUC, é definido como “o documento técni-co mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implanta-ção das estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade”. Esse documen-to técnico contempla o zoneamento ambiental, o estabelecimento de dire-trizes de uso e ocupação do solo e os programas de ação.

Na Região da Costa Esmeralda foram realizados os Planos de Manejo da APA

da Ponta do Araçá e da ARIE da Costei-ra de Zimbros, e está em andamento o da RPPN Morro dos Zimbros. A partir dos resultados desses estudos, foram redefinidos os objetivos das UCs e as formas de gestão e planejamento, além de informações referentes a centenas de espécies da fauna e flora da região, incluindo diversas ameaça-das de extinção, endêmicas da Mata Atlântica, raras e até mesmo novas espécies para a ciência, além de algu-mas dezenas de novos registros de espécies de invertebrados para Santa Catarina e Sul do Brasil.

Logicamente, a existência do Plano de Manejo não garante o cumprimento dos objetivos de conservação das UCs, uma vez que um instrumento só se torna efi-caz perante seu correto e adequado uso, de modo que a capacidade de gestão dos municípios e da sociedade aparece como peça chave na execução destes Planos. Da mesma forma, não bastam apenas as UCs para garantir a preser-vação da biodiversidade e dos recursos ambientais; o respeito às legislações e normas ambientais, o exercício do po-der de fiscalização dos municípios e da sociedade em geral são de suma impor-tância para a sustentabilidade ambiental, sendo as UCs mais uma ferramenta da qual dispomos para chegarmos a este objetivo. O Plano de Manejo pode con-tribuir também no sentido de ser um elemento norteador do engajamento da sociedade na gestão das UCs, seja pela cobrança de sua real implementação ou de cooperação para efetivo alcance dos objetivos desses espaços protegidos.

Page 16: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

14 Costa Esmeralda: Unidades de Conservação

Apesar da proteção dos grandes remanes-centes florestais pelas UCs, via de regra, elas ainda estão isoladas, e, da mesma for-ma que os humanos necessitam de ruas e de estradas para se locomoverem, os animais necessitam de “corredores eco-lógicos” para que não fiquem confinados a um único local cercado por casas. Esse papel também pode ser cumprido através da criação de UCs, como as RPPNs, que geralmente têm uma área menor que as UCs públicas, mas que podem ser essen-ciais como elos de ligação entre elas.

Conhecer o papel e os limites de cada um no ambiente é de fundamental impor-

tância neste processo de conservação da qualidade de vida no planeta. Cabe a nós aprendermos, o mais rapida-mente possível, a conviver de forma harmoniosa com toda essa riqueza de vida, pois nós estamos inseridos neste meio e somos ainda os seus maiores predadores. Muitas famílias vivem em casas cercadas de matas, e muitos animais silvestres vivem em matas cercadas de casas. Áreas bem preservadas precisam existir e as ci-dades podem coexistir com ambien-tes naturais se passarmos a respeitar a vida que circula pelos lugares onde o ser humano habita.

Mirante com vista para o Parque Natural Municipal da Galheta em Bombinhas.

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15Biodiversidade da Costa Esmeralda

Unidades de Conservação da Costa Esmeralda.

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Por isso, a divulgação de nossa fauna e flora, associada à vontade de preservação por parte dos responsáveis pelas UCs pode contribuir significativamente para que sejam atingidos os objetivos de manutenção e proteção da nossa biodiversidade. Afinal, uma das principais alavancas para a criação de parques e reservas,

em todo o mundo, foi a conscientização ecológica. Um maior conhecimento sobre os animais e as plantas, e dos lugares onde estes se encontram, poderá estimular o interesse da sociedade pela proteção desse patrimônio inestimável e contribuir, em última instância, para melhorar nossa qualidade de vida.

Page 18: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

16 Vegetação e flora: A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhas

Vegetação e flora da Costa Esmeralda:

Autores

Anderson Santos de MelloAnelise Nuernberg da Silva

A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhas

Page 19: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

17Biodiversidade da Costa Esmeralda

Vegetação e flora da Costa Esmeralda:

Page 20: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

18 Vegetação e flora: A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhas

Vegetação

A vegetação natural de uma determi-nada região é o reflexo de dois fatores principais: o clima e o solo. O clima é o fator que determina a aparência da ve-getação, ou seja, qual a fitofisionomia que predominará em cada lugar, caso o homem não tenha alterado suas carac-terísticas naturais. O solo é o principal responsável pelas variações locais da vegetação, em virtude principalmente da sua capacidade de armazenar água e nutrientes essenciais às plantas, que pode ser alta ou baixa. Em regiões com climas mais frios e secos, a tendência natural é ocorrer uma vegetação mais

baixa, composta principalmente por plantas herbáceas, com árvores espar-sas e de menor porte. As regiões com climas mais úmidos e com temperatu-ras mais altas tendem a ser cobertas por grandes florestas. Porém, muitas vezes, esses dois tipos de vegetação podem ocorrer lado-a-lado, separados por diferenças nos solos e pequenas variações climáticas locais. Nos ambien-tes litorâneos, como os encontrados na Costa Esmeralda, essas variações estão ligadas à proximidade com o mar, o qual influencia muito o clima e a formação dos solos dessa região.

Page 21: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

19Biodiversidade da Costa Esmeralda

Morro de Zimbros coberto por nuvens de umidade proveniente do mar. A parte mais alta do

morro, que chega até 600m de altitude, não está aparecendo. ARIE da Costeira de Zimbros.

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Ali encontramos cadeias de monta-nhas que podem atingir até 600 m de altitude, em áreas muito próximas ao mar, o que condiciona uma variação climática local, uma vez que a pressão atmosférica diminui conforme a alti-tude e, consequentemente, faz com que as temperaturas médias também diminuam cerca de 1°C a cada 100 m acima do nível do mar. Em um exem-plo mais claro, turistas aproveitando um dia de sol no verão em Bombinhas,

na beira da praia de Zimbros, próxi-mo do meio-dia, estão a uma tem-peratura de 32°C ao Sol, enquanto no topo do morro de Zimbros, a 600m de altitude, pesquisadores coletando plantas nativas estarão sentindo uma temperatura de 26°C. Essa variação climática influencia diretamente o aspecto da vegetação, pois em cli-mas mais frios a tendência é que a vegetação tenha um menor porte do que nos locais mais quentes.

Page 22: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

20 Vegetação e flora: A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhas

Entretanto, a vegetação que ocorre na beira da praia é composta principal-mente por ervas, arbustos e algumas árvores de menor porte. Isso porque, apesar da temperatura e da umida-de provenientes do mar, os solos são formados principalmente por areias, resultado de milhares de anos de des-gaste das rochas das montanhas pela a ação das ondas e das chuvas. Essas areias que formam nossas praias se de-positaram ao longo de milhões de anos e durante as variações climáticas de períodos recentes da história da terra. O nível do mar variou muito, sendo que grande parte dos ambientes que hoje são praias estavam cobertos por oce-anos no passado (até cerca de 5.000

anos passados). As areias das praias, devido ao grande tamanho de seus grãos, não conseguem reter a água, pois a mesma escoa de maneira rápi-da, indo para camadas mais profundas nas quais as raízes das plantas não con-seguem chegar. Por isso, a vegetação que ali ocorre é de menor porte e as espécies que colonizam são adaptadas a ambientes secos, apesar de toda a umidade proveniente do mar. Da mes-ma forma, essa umidade do mar, quan-do em forma de respingos, contém um elemento tóxico para o estabelecimen-to de plantas: o sal. Assim, as plantas que compõem a vegetação atingida por respingos precisam de adaptações para eliminar o excesso de sal.

Restinga coberta por vegetação herbácea, atingida periodicamente por respingos das ondas do

mar, seguida de remanescente de vegetação arbustiva e arbórea. ARIE da Costeira de Zimbros

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21Biodiversidade da Costa Esmeralda

Outros locais onde as florestas não conseguem se desenvolver muito bem são os costões rocho-sos, nos quais os solos são muito rasos e os respingos provenien-tes das ondas são muito fre-quentes. Nos costões rochosos, podem ser observados jardins de espécies herbáceas, conheci-das como rupícolas (habitantes de rochas), que apresentam uma beleza inestimável.

Costão Rochoso, onde observa-se que na área mais atingida pelos ventos e respingos das ondas

há predomínio de espécies herbáceas. APA da Ponta do Araçá.

Plantas como bromélias e cactáceas conseguem sobreviver

diretamente nas rochas. ARIE da Costeira de Zimbros.

Os ventos também possuem papel fundamental na caracterização da vegetação de um local. Em ambien-tes onde venta muito, os arbustos e árvores são retorcidos e têm dificul-dades em se estabelecer, cedendo espaço para as plantas herbáceas.

A Costa Esmeralda é predominante-mente formada por praias em baía, onde os ventos não são fortes, propi-ciando que árvores consigam sobrevi-ver bem perto da linha da maré. Esta é uma característica muito singular desse local.

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22 Vegetação e flora: A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhas

As florestas da Costa Esmeralda ocor-rem principalmente nos fundos de vales, encostas e topos dos morros. Essas florestas, de origem tropical, conseguiram se estabelecer no Sul do Brasil principalmente nas regiões litorâneas, pois a proximidade do mar evita que ocorram temperaturas muito baixas, criando um clima mais ameno, propício para as espécies que vivem

nos trópicos. Essas florestas, conhe-cidas como “Mata Atlântica”, recebem a classificação oficial de Floresta Om-brófila Densa, que significa floresta amiga da chuva (Ombro= chuva, fila= amiga) com muitas árvores próximas (densa). Essa classificação foi criada para que pessoas em qualquer lugar do mundo consigam entender que ti-pos de florestas ocorrem no Brasil.

A condição de baía torna propício o estabelecimento de árvores no costão rochoso, muito próximo à água do mar. APA da Ponta do Araçá.

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Praia do Caixa d’aço. APA da Ponta do Araçá.

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23Biodiversidade da Costa Esmeralda

As florestas das partes profundas dos va-les são as de maior exuberância e com o maior porte. Os vales, formados pela ação de riachos que ao longo de milhares de anos cavam a rocha, em um movimento incessante de desgaste das montanhas, formam um ambiente úmido e com mui-tos nutrientes no seu entorno, propício para o desenvolvimento de árvores de grande porte, que podem atingir até 35 m de altura. Nesses vales, a fertilidade do solo é alta, em virtude de que toda a ma-téria orgânica proveniente dos ciclos bio-lógicos que ocorrem nas encostas, como

por exemplo, a queda de folhas das árvo-res que descem por gravidade até esses vales profundos, ali são incorporadas ao solo. Da mesma forma, os nutrientes minerais, que são originados das rochas desgastadas, depositam-se nas partes mais baixas, ficando disponíveis para o desenvolvimento dessas florestas.

Essas formações, por estarem em lo-cais mais baixos e de fácil acesso, fo-ram as primeiras a serem ocupadas ao longo da colonização europeia nesse trecho do litoral catarinense.

Em primeiro plano, à esquerda, observa-se tronco de garapuvu (Schizolobium parahyba) de

grande porte à beira de riacho. ARIE da Costeira de Zimbros.

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24 Vegetação e flora: A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhas

Assim, apesar de serem as formações mais exuberantes naturalmente, essas florestas foram muito alteradas em re-lação às suas características naturais e hoje se encontram em um proces-so avançado de regeneração natural. Porém, as espécies de madeira mais nobre, como a canela-preta (Ocotea catharinensis) e a peroba (Aspidosper-ma olivaceum), antigamente muito co-muns, praticamente desapareceram dessas florestas. Uma das espécies mais importantes nessa formação é a palmeira-juçara ou palmiteiro (Euterpe edulis), que sofre grande ameaça de extinção devido à extração ilegal de in-divíduos adultos, que são predados para o consumo da parte superior do seu caule, em detrimento dos seus frutos,

que são muito consumidos pela fauna e poderiam ser usados para extração de polpa de açaí. As florestas das encostas íngremes também possuem um grande porte, porém menos desenvolvidas que as dos fundos dos vales. Estas flores-tas são muito bonitas e extremamente diversificadas. Em virtude do terreno íngreme e da dificuldade de acesso a esses locais, estas são as matas mais parecidas com as originais, pre-sentes no período anterior à colonização dessa região. Nesses locais, ainda encon-tram-se algumas árvores de grande por-te, como a estopeira ou jequitibá-do-sul (Cariniana estrellensis), a figueira--da-folha-miúda (Ficus cestrifolia), o carrapicheiro (Sloanea guianensis), entre diversas outras.

Floresta em fundo de vale com escosta muito íngreme mostrando

vegetação diversificada. ARIE da Costeira de Zimbros.

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25Biodiversidade da Costa Esmeralda

As florestas dos topos dos morros es-tão em um clima um pouco mais frio do que as dos fundos de vales, além de ocorrerem sobre solos mais rochosos, nos quais a rocha sofre mais desgaste devido à ação das intempéries, como a insolação, as chuvas, os ventos en-tre outros fenômenos, acumulando-se menos nutrientes e água. Ali, as flores-tas apresentam um porte um pouco menor do que nas encostas, mesmo nas áreas que não foram alteradas de suas características naturais.

De maneira geral, as florestas da Costa Esmeralda apresentam uma estratifica-ção horizontal bem estabelecida, sen-do compostas por um estrato arbóreo maior, no qual predominam árvores de grande porte com até 35 m de altura; um estrato arbóreo inferior, com espé-cies que variam entre 12 e 20 m, que em conjunto com as emergentes formam o

chamado “dossel” da floresta; um estra-to formado pelas arvoretas, arbustos e indivíduos jovens de espécies arbóreas de grande porte, conhecido como ar-bustivo, variando desde 1 até os 10 m de altura em média. Logo abaixo desse estrato, é observada uma comunida-de de plantas herbáceas, aquelas que não possuem caules resistentes e tem a cor verde, diferente dos arbustos e árvores, que apresentam caules resis-tentes e de outras cores. Além desses estratos, observa-se um grande nú-mero de espécies que ocorrem sobre outras, subindo sobre elas através de estruturas especiais, como os cipós, que possuem raízes no solo, e outras, que passam a vida suspensas sobre as árvores e arbustos, sem contato com o solo, as chamadas epífitas (epi=sobre, fita=árvore). Na Costa Esmeralda essas espécies são principalmente samam-baias, orquídeas e bromélias.

Mata de porte baixo devido à intensa insolação, ventos fortes e pouca matéria orgânica acumulada. O

estrato herbáceo é bem desenvolvido e dominado por caetés (Ctenanthe sp.). APA da Ponta do Araçá.

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26 Vegetação e flora: A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhas

Flora

A flora de uma região é o conjunto de espécies vegetais que ocorrem em determinado território. Ou seja, é re-presentada por uma listagem de es-pécies, que por sua vez representa a biodiversidade vegetal de um espaço delimitado. As espécies são o resul-tado de milhões de anos de evolução, processo pelo qual a vida na terra se diversificou e que deu origem a esta grande quantidade de seres vivos que nos cercam. A Mata Atlântica é conhe-cida internacionalmente por ser mui-to rica em espécies, principalmente as chamadas endêmicas, ou seja, aquelas que não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo. A flora da Cos-ta Esmeralda não é diferente, sendo encontradas, até o momento, após 4 anos de estudos e cerca de 50 dias de trabalho de campo, aproximadamente 750 espécies de plantas consideradas como fanerógamas, ou seja, plantas com estruturas reprodutivas visíveis, que incluem as Pteridófitas, as Gim-nospermas e as Angiospermas.

As espécies que compõem a flora são separadas por gêneros e famílias,

que representam um parentesco comum entre estas espécies, con-forme o sistema de classificação dos seres vivos. Na Costa Esmeralda, as 750 espécies estão separadas em 120 famílias, um número bastante alto para uma pequena parte do território brasileiro. A família das compostas (Asteraceae), a mesma do dente-de--leão, das carquejas e da marcela, é a mais rica em número de espécies (56) na Costa Esmeralda. A segunda família mais rica é a das gramíneas (Poaceae), com 54 espécies de capins e gramas. A família das leguminosas (Fabaceae), como o feijão e o gara-puvu, possui um total de 42 espécies, enquanto a família das tiriricas e jun-cos (Cyperaceae), juntamente com a família da goiabeira e do araçazeiro (Myrtaceae) possuem um total de 34 espécies. As bromélias (Bromeliace-ae) são em número de 33, enquanto as orquídeas (Orchidaceae) estão representadas por 30, assim como a família do café (Rubiaceae). Des-taca-se ainda a família das pixiricas (Melastomataceae) com 24, e das ca-nelas (Lauraceae) com 17 espécies.

Page 29: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

27Biodiversidade da Costa Esmeralda

Lírio-do-brejo (Crinum americanum - Amaryllidaceae). Planta que se desenvolve em

ambientes brejosos.

Vassoura (Lepidaploa chamissonis - Asteraceae)

Jacobina

(Justicea carnea - Acanthaceae)

Capim-rabo-de-burro (Schizachyrium microstachyum - Poaceae)

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28 Vegetação e flora: A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhas

Gravatá (Nidularium

innocentii - Bromeliaceae)

Grinalda-de-boneca (Heliotropium transalpinum - Boraginaceae)

Cipó-de-são-joão(Pyrostegia venusta - Bignoniaceae). Planta

ornamental para cercas-vivas.

Gravatá (Aechmea kertesziae – Bromeliaceae)

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29Biodiversidade da Costa Esmeralda

Mangue-de-formiga

(Clusia criuva - Clusiaceae)

Bacopari (Garcinia gardneriana - Clusiaceae). O bacopari tem frutos muito apreciados.

Roseta-da-praia (Acicarpha spathulata - Calyceraceae)

Batateira-da-praia (Ipomoea pes-caprae - Convolvulaceae). Planta muito comum nas restingas.

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30 Vegetação e flora: A riqueza da Mata Atlântica entre as praias e as montanhas

Campainha - (Abutilon rufinerve - Malvaceae)

Canela-preta (Ocotea catharinensis - Lauraceae). Tronco característico da

espécie ameaçada de extinção.

Ingá-feijão (Inga marginata - Fabaceae)

Caeté (Heliconia farinosa - Heliconiaceae). Espécie ameaçada de extinção no Brasil.

Canela-frade (Endlicheria paniculata - Lauraceae)

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31Biodiversidade da Costa Esmeralda

Orquídea

(Corimborchis flava - Orchidaceae) Erva-de-rato (Coccocypselum campanuliflorum - Rubiaceae)

Baga-de-bugre-da-praia (Solanum pelagicum - Solanaceae). Espécie

rara, ameaçada de extinção, restrita aos estados de SC e RS. Jacatirãozinho

(Miconia ligustroides - Melastomataceae)

Guamirim (Eugenia stigmatosa - Myrtaceae)

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32 Mamíferos: No mar, na terra ou no ar...

Mamíferos:No mar, na terra ou no ar...

Autores

Felipe Moreli Fantacini Cássio Batista Marcon Dayse DiasRafael Penedo Ferreira Júlia Ferrua dos Santos Maurício Eduardo Graipel

Page 35: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

33Biodiversidade da Costa Esmeralda

Page 36: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

34 Mamíferos: No mar, na terra ou no ar...

Ao caminhar pelas praias da Costa Es-meralda nos meses de inverno, con-templando o mar esverdeado, é pos-sível ver uma enorme baleia-franca (Eubalaena australis) nadando tranqui-lamente com seu filhote ao lado. Ao entardecer deste mesmo dia, vários pequenos morcegos insetívoros voam agilmente próximo aos postes de ilu-minação à caça de mariposas e outros insetos que são atraídos pela luz.

O pequeno morcego, animal noturno e voador de 10 g, e a baleia-franca, com até 100 t, são dois animais tão diferen-tes, e mesmo assim tão semelhantes... Ambos, assim como os humanos, são mamíferos: animais com pelo (mesmo que apenas no embrião, como nas ba-leias), homeotérmicos (possuem tem-peratura constante), e, dentre muitas

outras características, a mais conheci-da, é a capacidade de alimentar seus filhotes através de leite produzido pe-las glândulas mamárias das mães.

Esses dois animais dão exemplo da diversidade de formas corporais, de locomoção, alimentação e inúmeras adaptações que permitiram aos ma-míferos se distribuírem e ocuparem todo o globo terrestre. Hoje, os ma-míferos estão presentes dos polos aos trópicos e de oceanos profundos ao alto das montanhas, pântanos e desertos. Existem no mundo entorno de 5.400 espécies de mamíferos, das quais 701 são encontradas no Brasil. Em estudos realizados em diferentes UCs e áreas naturais da Costa Esme-ralda, foi confirmada a presença de no mínimo 60 espécies de mamíferos.

Page 37: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

35Biodiversidade da Costa Esmeralda

Onde estão esses animais?

Sabendo que existem mais de 60 espé-cies de mamíferos vivendo na área da Costa Esmeralda, podemos pensar que é muito fácil encontrá-los. No entanto, é comum as pessoas passarem todo o período de férias na região fazendo longas caminhadas nas trilhas das UCs e não se depararem com nenhum ma-mífero sequer. Como isso é possível?

Os mamíferos das matas brasileiras são muito difíceis de serem vistos, di-ferentemente daqueles grandes e co-nhecidos mamíferos africanos (leões,

zebras, girafas, elefantes) comumen-te avistados nas savanas. As principais razões para esta distinção estão nas diferenças observadas nos ecossiste-mas, na estrutura das comunidades animais e no comportamento destes. Na Mata Atlântica, as florestas são mais fechadas e não existem aqueles extensos campos que ocorrem na sa-vana africana, portanto, até os maio-res mamíferos brasileiros, as antas, que chegam aos 300 kg, podem se es-conder melhor de nossas vistas, assim como dos seus predadores naturais.

Baleias-francas (Eubalaena australis) com seus filhotes, podem ser

observadas durante o inverno nos mares da Costa Esmeralda.

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36 Mamíferos: No mar, na terra ou no ar...

animal que possui baixa densidade populacional, ou seja, um único animal necessita de um grande espaço para viver. Para dificultar ainda mais sua ob-servação, o gato-do-mato possui uma coloração amarelada com várias pintas negras, uma perfeita camuflagem que torna difícil sua visualização dentro da mata. Por fim, frustrando qualquer ex-pectativa de encontro com este animal, ele é arisco e, ao mínimo sinal de pre-sença humana, tenta fugir o mais rápi-do e silenciosamente possível.

Assim como o gato-do-mato, a maio-ria dos mamíferos habitantes da Costa Esmerada possui características que tornará difícil sua visualização. Porém, alguns mamíferos fogem a esta regra, entre eles, as capivaras, que podem ser vistas descansando ou pastando, mesmo durante o dia e em áreas aber-tas, próximas a corpos d’água.

Outro ponto importante, é que quando entramos numa floresta, normalmen-te fazemos muito barulho (até mesmo quando estamos em silêncio, faze-mos barulho ao caminharmos sobre as folhas caídas no chão) e também deixamos o nosso cheiro no ar. Os ma-míferos, em geral, possuem a audição e o olfato bem apurados e preferem se afastar ou se esconder a qualquer sinal de um visitante desconhecido. Sem contar que a maioria deles possui hábitos noturnos, e dificilmente entra-mos na floresta ao anoitecer.

Por exemplo, o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) é um animal mui-to raro de se ver, pois é um carnívoro de pequeno porte, do tamanho de um gato doméstico, que vive solitário e só é encontrado acompanhado na época de reprodução ou quando as fêmeas estão com filhotes. Além disso, é um

O esquivo gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) registrado por uma armadilha fotográfica.

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37Biodiversidade da Costa Esmeralda

Com seus dedos polegares pseudo-oponíveis (semelhante ao dos humanos), são capazes de segurar e utilizar ferramentas durante o forrageio por frutas, insetos, ovos e outros alimentos disponíveis nas copas das árvores. Mas, para deixar claro que quem manda no dossel da floresta são os bugios (Alouatta clamitans), os machos, ruivos e barbudos, roncam alto e em tom grave do alto das árvores, podendo ser ouvidos a centenas de metros de distância.

Quero uma casa na árvore!

Muitos mamíferos escolheram as árvores como moradia. Lá eles constroem seus abrigos e ninhos, nos galhos ou nos ocos dos troncos, servindo de refúgio e esconderijo contra predadores. Lá eles também buscam seu alimento e sempre há água disponibilizada no cálice das bromélias.

Dentre os mais conhecidos arborícolas estão os macacos! Os macacos-prego (Sapajus nigritus) vivem em grupos familiares e são muito inteligentes.

O inteligente macaco-prego (Sapajus nigritus) tem grande habilidade com as mãos.

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38 Mamíferos: No mar, na terra ou no ar...

O rato-da-taquara (Kannabateomys amblyonyx) é outro animal arborícola que habita a Costa Esmeralda. Ele é um tanto peculiar, pois tem preferên-cia especial por viver em bambuzais e se alimentar quase que exclusiva-mente de bambu. Este roedor, de por-te médio (500 g) e hábitos noturnos, vive em pequenas famílias e tem um poderoso trato digestivo para sobre-viver comendo algo tão pouco nutri-tivo como o bambu. Ao subir o bam-buzal, ele usa seus dedos como se fossem pinças para se firmar. Suas garras são achatadas, como as nossas unhas, o que também permite melhor aderência à taquara.

Outros habitantes comuns das árvores são os gambás e cuícas. Esses animais são marsupiais, como os cangurus aus-tralianos, pois seus filhotes nascem prematuros e terminam seu desenvol-vimento alimentando-se de leite den-tro do marsúpio, uma bolsa criada pela dobra da pele na barriga da mãe. Po-dem ser encontrados no marsúpio de fêmeas de gambás (Didelphis sp.) até 12 filhotes. Algumas cuícas, como a cuíca--graciosa (Gracilinanus microtarsus), são tão pequenas que não têm bolsa. Como os filhotes fazem? Eles devem se agarrar firmemente aos pelos do ventre das mães e ficar grudados nas mamas. Esses filhotes nascem prema-turos, mas nem um pouco fracos.

Rato-da-taquara (Kannabateomys amblyonyx) utilizando

os dedos como pinças para se equilibrar num bambu.

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39Biodiversidade da Costa Esmeralda

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Um macho de cuíca-graciosa (Gracilinanus microtarsus) com

testículo evidente.

Uma fêmea de cuíca-graciosa

(Gracilinanus microtarsus) com

10 filhotes agarrados aos pelos do

ventre, pois apesar de ser um mar-

supial, não possui bolsa.

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O gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) carrega e amamenta seus filhotes dentro da bolsa

por mais de 2 meses.

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40 Mamíferos: No mar, na terra ou no ar...

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Socorro, um rato!

Os ratos, ratazanas e camundongos domésticos são animais que todos têm pavor e são sempre relacionados à su-jeira e doenças. Assim, basta ver um rato, que todos se arrepiam. Porém, na floresta, os pequenos roedores são sil-vestres, sendo muito importantes para manter o equilíbrio ecológico, uma vez que são elos da cadeia alimentar. Co-bras, gaviões, gatos-do-mato, iraras, gambás e muitos outros animais se alimentam destes pequenos animais.

A diversidade de roedores é impressio-nante, a cada três espécies de mamíferos brasileiros, uma é roedor. Dentre as 13 es-pécies de roedores registradas da Costa Esmeralda, um muito curioso é o rato-do--banhado (Oxymycterus judex). Este ani-mal tem hábito semifossorial, que quer dizer que ele costuma viver sob a cama-da de folhas do chão da floresta, onde sua pelagem castanho-avermelhada ajuda-o a se confundir com o meio. Além disso, o focinho fino e comprido e as grandes garras ajudam-no a cavar suas tocas e procurar insetos para comer.

Porém, nem todo roedor é rato. Por exemplo, a cutia (Dasyprocta azarae) é um roedor e uma grande jardinei-ra das florestas. Elas comem frutos e sementes de várias árvores e, quando estão satisfeitas, levam o que sobrou para um local seguro, onde os enter-ram. Como nem sempre elas lem-bram onde enterraram esses frutos, as sementes germinam e dão origem a novas árvores frutíferas.

As cutias (Dasyprocta azarae) são verda-

deiras jardineiras das florestas.

O rato-do-banhado (Oxymycterus judex) é uma das várias espécies

de roedores encontradas na região da Costa Esmeralda.

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41Biodiversidade da Costa Esmeralda

Outro roedor presente na Costa Es-meralda é um animal de peso. O maior roedor do mundo e, atualmente, o maior animal terrestre encontrado na região é a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris). Com machos chegan-do a mais de 50 kg, esses animais se-miaquáticos precisam de muito capim para se alimentar. Aliás, a tradução de

seu nome do tupi-guarani é “come-dor de capim”. Esse capim tem que alimentar grupos familiares de deze-nas de indivíduos. Nestes grupos, é possível distinguir os machos das fê-meas pela glândula em uma saliência acima do focinho, que serve para de-marcação de território pelos machos dominantes.

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As capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) são os maiores

roedores do mundo e formam grandes grupos familiares.

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42 Mamíferos: No mar, na terra ou no ar...

O que é aquilo lá no céu?

Os céus pertencem às aves apenas du-rante o dia, pois à noite, são os morce-gos que reinam. Não só reinam como exercem um importante papel na ma-nutenção da floresta. Se durante o dia beija-flores fazem o importante papel da polinização, à noite, morcegos bei-ja-flores como Glossofaga soricina rea-lizam o mesmo papel. No lugar do sabiá ou do tucano, comendo os frutos dos araçás, jerivás, pimenteiras-do-mato entre outros, os morcegos-da-fruta, como o Artibeus lituratus e Mimon bennettii, estarão voando de um lado para o outro com frutos na boca tam-bém auxiliando na dispersão das se-mentes e regeneração da mata.

Os morceguinhos insetívoros passam a noite voando na busca de insetos como fazem as andorinhas. Algumas vezes, esses morcegos voam ao redor da ca-beça das pessoas que entram em pânico achando que é um morcego-vampiro que quer atacá-las. Contudo, normalmente são morcegos inofensivos como Myotis nigricans que vêm em busca de mosqui-tos atraídos pela presença humana.

E por falar em morcegos-vampiro, sim, eles existem! Mas são apenas três es-pécies entre as mais de 1000 que ocor-rem no mundo todo! Das 13 espécies de morcegos registradas na Costa Esme-ralda, apenas uma, Desmodus rotundus, alimenta-se do sangue (hematófaga), principalmente de animais maiores, como bois e cavalos. Ao contrário do que muitos pensam, morcegos-vampi-ro não usam os caninos para morder, mas sim os incisivos. Também não chu-

pam o sangue, apenas lambem o que escorre da pequena ferida feita com os seus dentes. Estes morcegos possuem substâncias anticoagulantes e anestési-cas na saliva para o sangue não coagu-lar e a vítima não sentir dor enquanto ele se alimenta.

Para voar com grande destreza e agili-dade durante a noite, os morcegos usam a ecolocalização. Estes animais emitem um ultrassom que é captado com o auxí-lio de grandes orelhas e aparatos faciais, como a folha nasal em algumas espécies. Mesmo que eles usem a ecolocalização, morcegos enxergam muito bem e usam a visão para procurar frutos e desviar de objetos no caminho, por isso, às vezes, acabam esbarrando em vidraças, pois não as percebem, como também acon-tece com as aves.

Morcegos são animais muito mitifica-dos e desconhecidos pelas pessoas. No entanto, possuem um papel muito im-portante na natureza e são muito inte-ressantes. Muitas pessoas acham que o

Mimon bennettii é um morcego com grandes orelhas e aparatos faciais, como a folha nasal, que o ajudam na

ecolocalização de insetos .

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43Biodiversidade da Costa Esmeralda

Diferentes estilos de vida

Ratos e morcegos não apenas são grupos diferentes, como também possuem histórias de vidas bastante divergentes. Os ratos, por exemplo, já podem se reproduzir com cerca de 40 dias de vida e, após uma gestação de mais ou menos um mês, produz de 10 a 12 filhotes com até dois gramas cada. Além disso, estes pequenos mamífe-ros terrestres podem viver somente dois ou três anos, mas é bem prová-vel que a maioria deles vire comida de uma coruja ou de um gato-do-mato antes mesmo de se tornarem adultos!

Ao contrário da agitada vida dos ra-tos, a evolução do voo noturno nos morcegos possibilitou que este grupo de mamíferos fugisse dos predado-res e vivesse com mais tranquilidade. Assim, estes animais têm vida longa

(já foram registrados morcegos com mais de 30 anos!) e com cerca de um ou dois anos de vida é que podem se reproduzir. Os morcegos ainda cos-tumam ter gestações relativamente longas que geram apenas um ou dois filhotes, os quais podem ter quase metade do peso da mãe!

A posição adotada pelo morcego (Myotis sp.)

mostra o quão diferente esse animal é em re-

lação ao rato-do-mato (Akodon montensis).

morcego é um rato velho que criou asas, mas se observarmos bem cada um de-les, podemos ver que são completamen-

te diferentes. Na verdade, os morcegos são parentes mais próximos dos lêmu-res voadores que vivem na Ásia.

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44 Mamíferos: No mar, na terra ou no ar...

As florestas estão vazias?

Não, as florestas não estão totalmente vazias, mas correm um sério risco de ficarem. Isso devido, em grande parte, a dois principais perigos para os mamífe-ros: a caça ilegal e o desmatamento.

A caça é proibida no Brasil, salvo em ca-sos muito particulares. Mesmo assim, a prática da caça é ainda muito comum, inclusive na região da Costa Esmeralda. Dessa forma, a pressão causada pela caça é tão grande que contribuiu para que muitas espécies tenham desapa-recido ou que sejam muito raras na região. Dentre elas estão a paca, os ve-

xo da água. A lontra já foi considerada ameaçada mundialmente principalmen-te devido à contaminação das águas, caça, ao desmatamento e represamento dos rios. Atualmente, ela é considerada quase ameaçada no Brasil, mas é neces-sário que se mantenham os esforços para sua conservação, a fim de que suas populações não voltem a diminuir.

Comedora de peixes!

A lontra (Lontra longicaudis) é um car-nívoro que se alimenta principalmente de peixes. Seu corpo possui algumas adaptações para buscar seu alimento preferencial, como membranas entre os dedos para facilitar o nado, uma cau-da musculosa e achatada que funciona como um leme e vibrissas (“bigodes”) longas para localizar suas presas embai-

ados e os porcos-do-mato, que não são mais vistos. Outras espécies podem em breve desaparecer se nada for fei-to, tal como o tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), uma das espécies mais visadas por caçadores.

A lontra (Lontra longicaudis) é um animal semiaquático muito ágil tanto em terra quanto na água.

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O Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) é um animal muito procurado por caçadores.

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45Biodiversidade da Costa Esmeralda

da Região? É necessário construir es-tradas de florestas para esses animais, os chamados corredores ecológicos, que podem ajudar a conectar esses re-manescentes florestais isolados na Pe-nínsula de Porto Belo com aqueles da Mata Atlântica da Serra Geral, de onde poderão vir os grandes mamíferos.

Convivência entre Homem e Animais

Parte dos remanescentes florestais da região da Costa Esmeralda está inseri-da em UCs onde muitas pessoas estão morando. Isso acaba gerando alguns conflitos entre homens e animais selva-gens, o que contribui para a ausência de muitas espécies sensíveis à presença de humanos. Mesmo assim os efeitos des-ta aproximação podem ser minimizados, de modo que mamíferos raros possam voltar a habitar essas áreas. Cabe a nós reaprendermos a viver com esses fan-tásticos animais.

Com o auxílio de corredores ecológicos e programas de conservação, varas de quei-xadas (Tayassu pecari) poderiam ser nova-mente vistas nas UCs da Costa Esmeralda.

O veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) é uma das espécies que já não são mais vistas nas matas da Costa Esmeralda, cabe a nós possibili-

tar que este animal volte a habitar a região.

Os mamíferos são fundamentais para manter a floresta viva, uma floresta sem mamíferos não é uma floresta, assim é importante não só manter áreas de mata protegidas, mas também combater a caça. Em outras palavras, um mamífero vivo na mata é mais valioso que um tro-féu de parede e uma floresta vazia...

O grande desmatamento ocorrido des-de o descobrimento do Brasil fez com que hoje as florestas estejam reduzi-das a pequenos fragmentos. Assim, é muito importante preservá-los, pois são os últimos refúgios para a fauna. Unidades de Conservação já foram criadas na Costa Esmeralda, porém, por serem pequenas, essas florestas não oferecem recursos necessários para manter grandes populações de mamíferos de maior porte.

Então como fazer para que onças, ve-ados, porcos e outros animais voltem a habitar as matas, agora preservadas,

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46 Aves: Os dinossauros da atualidade!

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47Biodiversidade da Costa Esmeralda

Aves: Os dinossauros da atualidade!

Autores

Guilherme Willrich Bianca Pinto Vieira

Daiane Soares Xavier da Rosa Ivo Rohling Ghizoni Júnior

Raphael Zulianello Alves

Page 50: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

48 Aves: Os dinossauros da atualidade!

As aves derivam dos dinossauros. O ancestral mais antigo já encontrado, Archaeopteryx lithographica, viveu no período Jurássico, há cerca de 150-148 milhões de anos atrás. Atualmente, as aves estão entre os vertebrados já identificados mais diversos do mundo, não só em número de espécies (cer-ca de 10 mil em todo o planeta) como também em tamanho, forma, cores e hábitos. Estes animais podem viver em uma variedade de ambientes, como flo-restas, restingas, campos e banhados. Também podem suportar condições extremas, do frio polar, onde vivem os pinguins, ao calor do deserto. Suas va-riadas formas, infinitas cores e cantos embelezam a paisagem e encantam milhares de pessoas em todo o mun-do, sendo difícil não notá-las. Além de

belos, estes animais são fundamentais para o habitat em que vivem, pois de-sempenham importantes funções para o desenvolvimento e manutenção do ambiente, como polinização, dispersão de sementes e predação. Além disso, podem até mesmo servir de alimento para muitos outros seres vivos.

Na região da Costa Esmeralda, foram encontradas cerca de 200 espécies de aves, muitas delas desconhecidas para a maioria das pessoas e presentes ape-nas em UCs, como a Área de Preserva-ção Ambiental (APA) da Ponta do Araçá e Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) da Costeira de Zimbros. É funda-mental que conheçamos estes animais ao nosso redor para podermos preser-vá-los e garantir o equilíbrio ambiental.

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49Biodiversidade da Costa Esmeralda

Adulto de sabiá-do-campo (Mimus saturninus) correndo como um verdadeiro dinossauro..

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Aves ou dinossauros?

A origem das aves gera fortes discussões. Alguns pesquisadores defendem que são parentes dos dinossauros, enquanto outros afirmam que são os próprios dinossauros. Todavia, há uma tendência a se acreditar que aves compõem um grupo de dinossauros terópodes (como os já extintos Velociraptor) que evoluiu à forma de hoje. Apesar de pensarmos nos dinossauros apenas como grandes lagartos reptilianos, diferentes do que conhecemos por aves, diversos estudos apontam semelhanças entre os grupos, como a presença de escamas e cloaca.

Comem de tudo! Até pedra!

Aves não possuem dentes e, para triturar o alimento, utilizam a moela. A moela é uma bol-sa localizada depois do papo, na qual ocorre a digestão mecânica (trituração) do alimento. A maioria das aves engole pedras para que estas se acumulem na moela e ajudem no proces-so de trituração. Com um sistema digestório preparado, as espécies possuem variada pre-ferência alimentar. Algumas espécies são es-pecialistas, comendo apenas frutos, grãos ou peixes, enquanto outras são generalistas, tam-bém conhecidas como onívoras. O anu-preto (Crotophaga ani) é um exemplo de espécie onívora, pois come desde anfíbios e insetos a frutos e sementes.Anu-preto (Crotophaga ani) se alimentando de

uma rã (Leptodactylus sp.).

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50 Aves: Os dinossauros da atualidade!

O colorido das aves

Aves chamam a atenção por embele-zarem a paisagem com suas pluma-gens coloridas e exuberantes. Estas cores possuem uma função muito importante, sendo utilizadas na esco-lha de parceiros para a reprodução. Principalmente entre os passarinhos, os machos possuem coloração forte e chamativa, auxiliando na hora de im-pressionar as fêmeas. Já as fêmeas, geralmente possuem cores mais dis-cretas e, às vezes, são monocromáti-

cas (apenas uma cor) para camuflar e proteger seus ninhos. O macho do saí-andorinha (Tersina viridis), por exemplo, possui coloração azul cin-tilante, enquanto sua fêmea é de co-loração esverdeada, confundindo-se facilmente com uma folha. Algumas aves ainda apresentam, nas penas, o que se chama de iridescência, ou seja,uma capacidade de refletir dife-rentes cores conforme a luz ou o ân-gulo em que ave é observada.

Macho de saí-andorinha (Tersina viridis) acima e fêmea da mesma espécie abaixo.

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51Biodiversidade da Costa Esmeralda

Restauradores de floresta

Um dos papeis mais importantes das aves dentro de um ecossistema, sem dúvida, é a grande capacidade de dispersão de sementes no ambiente. Elas ingerem grandes quantidades de frutos, de diferentes espécies vegetais (canelas, jacatirões, capororocas, entre outras), e podem levá-los a quilômetros de distância, ajudando a recuperar florestas em locais onde elas já foram devastadas. O gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea), por exemplo, come vários tipos de frutos pequenos. Já o tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus) é um importante dispersor do palmiteiro (Euterpe edulis), uma vez que ingere seus frutos e os regurgita em diferentes locais da floresta.

Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus).

Fêmea de gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea)

com fruto no bico.

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52 Aves: Os dinossauros da atualidade!

Polinizadores

Outro papel importante das aves dentro do seu ambiente, e que dividem com outras espécies de animais, como insetos e morcegos, é a polinização das flores. Entre as aves, este papel cabe principalmente aos beija-fores, como o rabo-branco-de-garganta-rajada (Phaethornis eurynome). Estes polinizadores possuem adaptações

para se alimentar do néctar das flores, como o bico comprido e uma excepcional capacidade de voo, permitindo que quase parem em pleno ar. Outras espécies de aves também podem se alimentar de néctar, e, assim, ajudar a polinizar as flores, como a cambacica (Coereba flaveola) e o saí-azul (Dacnis cayana).

Rabo-branco-de-garganta-rajada (Phaethornis eurynome).

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53Biodiversidade da Costa Esmeralda

Muitas espécies de aves realizam grandes deslocamentos durante certos períodos do ano. Na região sul do Brasil, durante o período de primavera e verão, quando as temperaturas são mais quentes e a quantidade de alimento é maior, ocorre a chegada de diversas espécies, como é o caso de alguns tiranídeos (suiriris e bem-te-vis), alguns rapinates (gavião-tesoura, falcão-peregrino) e de várias andorinhas. No

início do outono e inverno, quando as temperaturas voltam a cair e quantidade de alimento é menor, estas aves voltam para áreas mais quentes, como a região equatorial. Um exemplo de ave migratória no sul do país é um tiranídeo conhecido como príncipe (Pyrocephalus rubinus), que pode ser observado em Santa Catarina na primavera e verão, voltando para a Amazônia e norte da América do Sul posteriormente.

Grandes viajantes florestais

Príncipe (Pyrocephalus rubinus).

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54 Aves: Os dinossauros da atualidade!

Viajantes marinhos

Um dos grupos mais bem adaptados a longas viagens é o das aves marinhas migratórias. Algumas espécies de trinta-réis e maçaricos podem viajar de 12.000 a 25.000 km todos os anos entre os locais onde se reproduzem e onde descansam o restante do ano. Muitas espécies chegam ao sul do Brasil, inclusive à ARIE da Costeira de Zimbros, entre a primavera e o verão, voltando para o local de reprodução no outono. Algumas espécies migratórias, como o trinta-réis-real (Thalasseus maximus), podem ser encontradas o ano todo na região, mas isso acontece porque possuem alta capacidade de voo, percorrendo trechos do Uruguai à Santa Catarina em poucos dias.

O trinta-réis-real (Thalasseus maximus) é uma ave ma-

rinha migratória que se encontra ameaçada de extinção

no território brasileiro, inclusive em Santa Catarina.

Martelo da floresta

Os pica-paus são amplamente conhecidos pelo som que emitem ao bater com o bico na madeira. Estas aves realizam este tipo de comportamento para capturar seu alimento. Como se alimentam de larvas e insetos, possuem grande importância para as árvores da floresta. Quando captura sua presa, o pica-pau impede que alguns insetos se proliferem entre as árvores. Todas as espécies da família dos pica-paus são especializadas para se agarrar aos troncos e bicar constantemente em busca do alimento. Quando encontram sua presa, colocam a longa língua no tronco, durante a martelada, para capturá-la. Pica-paus, como o pica-pau-anão-de-coleira (Picumnus temminckii),

podem realizar movimentos de até 22 bicadas por segundo, sem qualquer dor de cabeça ou lesão cerebral.

Macho de pica-pau-anão-de-coleira (Picumnus

temminckii) procurando insetos no tronco.

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55Biodiversidade da Costa Esmeralda

são vistas e quando cantam durante a noite acabam assustando as pessoas que desconhecem seus chamados. Corujas, como a coruja-do-mato (Strix Virgata) e a coruja-listrada (Strix hylophila), emitem gritos altos “UUUH” ou “AAAH”, porém são inofensivas, e alimentam-se apenas de pequenos mamíferos, aves, répteis e insetos.

Observadores noturnos

Algumas aves se adaptaram a vida na escuridão, esse é o caso da maioria das corujas, bacuraus e urutaus. Estas aves possuem excelente visão noturna e, no caso das corujas, uma fantástica audição, podendo escutar até um pequeno ratinho caminhando sobre as folhas no chão da mata. Muitas lendas estão ligadas às aves noturnas, isto porque dificilmente

Coruja-do-mato (Strix virgata). Fo

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56 Aves: Os dinossauros da atualidade!

Caçadores aladosEnquanto as corujas caçam seu alimento du-rante a noite, ao longo do dia existem vários outros predadores à espreita de suas presas. Um grupo especial é o das aves de rapina, que inclui, além das corujas, gaviões, águias, falcões e urubus. Estas aves possuem garras e bicos fortes, excelente visão e ótima capa-cidade de voo, o que as torna extraordinárias caçadoras. Podem se alimentar de insetos, anfíbios, répteis, aves, pequenos e médios mamíferos e até mesmo peixes. O gavião--tesoura, encontrado em Santa Catarina na primavera e verão, caça suas presas na copa das árvores, onde mergulha retirando inse-tos e anfíbios. As aves de rapina são muito exigentes quanto ao habitat em que vivem, desaparecendo quando as condições estão ruins. Por isso, são consideradas indicadoras de qualidade ambiental. Gavião-tesoura (Elanoides forficatus).

Habitantes dos nossos jardins

Muitas vezes pensamos que a vida silvestre encontra-se restrita a grandes florestas e áreas naturais protegidas, mas, na verda-de, muitos seres vivos habitam nossos la-res, muitas vezes passando despercebidos. Algumas espécies de aves naturalmente ocupam áreas abertas e, com o passar do tempo, também se adaptaram a áreas utili-zadas pelo homem, sendo facilmente vistas frequentando jardins arborizados, campos de futebol, praças e, até mesmo, grandes centros urbanos. Um exemplo típico é o quero-quero (Vanellus chilensis).

Quando seus filhotes ainda não possuem penas im-

permeáveis (à prova d'água), os adultos de quero-

-quero (Vanellus chilensis ) os protegem da chuva"

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57Biodiversidade da Costa Esmeralda

Pescadores e piratas

Várias espécies de aves estão adapta-das à vida marinha, utilizando costões, praias e ilhas como refúgio e local para construção de ninhos. Dentre estas aves, podemos citar vários exemplos, como os trinta-réis, atobás, gaivotas, batuíras e tesourões. Cada espécie possui um hábito alimentar e isso faz com que tenham preferência por um tipo de ambiente marinho. Por exem-plo, as batuíras são vistas a beira da

praia, onde se alimentam de pequenos invertebrados. Os tesourões, facil-mente vistos sobrevoando praias junto a urubus, não pousam na água por não terem condições de nadar. Estas aves se alimentam apenas dando voos na superfície d’água para capturar peixes e lulas. Usualmente roubam peixes de outras espécies e até mesmo dos pes-cadores artesanais, assim como atobás e gaivotões, são verdadeiros piratas.

Fêmea de atobá-pardo (Sula leucogaster) comendo lula roubada de pescadores artesanais.

Tesourão ou Fragata (Fregata magnifiscens).

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58 Anfíbios: Uma vida em dois mundos

Anfíbios:Uma vida em dois mundos

Autores

Erica Naomi Saito André Ambrozio de Assis Anderson Rosa Carolina Mallmann Erbes Caroline Angri Caroline Batistim OswaldIvo Rohling Ghizoni Jr

Javier Toso Larissa Zanette da SilvaLaura Helena Bento Dacol Rafael Godoy Tobias Saraiva Kunz Vítor de Carvalho RochaSelvino Neckel de Oliveira

Page 61: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

59Biodiversidade da Costa Esmeralda

Javier Toso Larissa Zanette da SilvaLaura Helena Bento Dacol Rafael Godoy Tobias Saraiva Kunz Vítor de Carvalho RochaSelvino Neckel de Oliveira

Page 62: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

60 Anfíbios: Uma vida em dois mundos

Durante a evolução dos seres vivos em nosso planeta, os anfíbios foram os pri-meiros animais que habitaram os am-bientes fora da água. Apesar disso, estes animais mantiveram uma grande depen-dência aos ambientes aquáticos ou úmi-dos para sua sobrevivência e reprodução.

Os anfíbios possuem o tegumento (pele) úmido e sem escamas e estão dis-tribuídos em três grupos: Gymnophio-na (cecílias ou cobras-cegas), Caudata (tritões e salamandras) e Anura (sapos, rãs e pererecas). No Brasil, existem 32 espécies de cecílias, mas elas rara-mente são encontradas, pois a maioria vive em galerias subterrâneas. A única espécie de salamandra que ocorre no Brasil se restringe à Bacia Amazônica, não ocorrendo no sul do país. Quanto aos anuros, o Brasil é o país com maior diversidade no mundo, atualmente com 913 espécies conhecidas. No estado de Santa Catarina, são conhecidas cerca de 140 espécies de anuros.

A maioria dos anfíbios possui o ci-clo de vida separado em duas fases distintas: uma fase aquática (girinos) quando respiram por brânquias e uma fase terrestre (adultos) quando respiram através de pulmões e pela pele. Daí o significado para o nome Anfíbios (Amphi=duas, Bios=vida). Por conta dessa singularidade, a pele dos anfíbios é muito delicada e extre-mamente permeável, o que confere a esses animais grande sensibilidade à dessecação, reagindo rapidamente às mudanças no meio onde vivem (des-matamento, poluição, pesticidas agrí-colas, chuva ácida, radiação). Dessa forma, são considerados bioindica-dores de qualidade ambiental. Como todo organismo vivo, os anfíbios pos-suem uma importante participação na cadeia alimentar, se alimentam de vários invertebrados, controlando, por exemplo, populações de insetos parasitas, transmissores de doenças e pragas agrícolas.

Page 63: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

61Biodiversidade da Costa Esmeralda

Sapo, perereca ou rã?Em geral, o sapo possui a pele grossa e rugosa. Seu corpo é robusto e possui duas bolsas de veneno: as glândulas pa-ratóides, que contém um líquido leito-so. Ao contrário do que muitos pensam, os sapos não esguicham veneno. Eles usam o veneno para tentar se defender e fugir de um possível predador. O ve-

neno só sai quando a bolsa é contraída, por exemplo, pela mordida de um cão.

As rãs possuem a pele mais fina e lisa do que os sapos. Vivem no chão ou próximo a corpos d’água, por isso, po-dem ter membranas entre os dedos para facilitar a natação.

Sapo-cururuzinho (Rhinella abei) possui glândulas de veneno e pele rugosa.

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62 Anfíbios: Uma vida em dois mundos

As pererecas também possuem a pele mais fina. O corpo é geralmen-te mais esguio. São escaladoras de árvores e paredes. Para isso, as pontas dos dedos possuem forma de discos, que são aderentes.

Algumas rãs são utilizadas na ali-mentação, como a rã-manteiga (Leptodactylus latrans) da foto, que é uma espécie caçada. Já a rã--touro (Lithobates catesbeianus) é uma espécie exótica (originária da América do Norte) cultivada no Brasil para consumo.

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Perereca-araponga (Hypsiboas albomarginatus). Os discos adesivos nas

extremidades dos dedos funcionam como ventosas. Foto

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Rã manteiga (Leptodactylus latrans),

espécie silvestre comum na região.

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63Biodiversidade da Costa Esmeralda

Durante o período reprodutivo (ge-ralmente na estação chuvosa), os machos costumam se reunir em um corpo d’água e começam a coaxar para atrair as fêmeas de sua espécie. Para muitos anuros, o canto guia uma fêmea até o macho que está cantan-

A perereca-martelo ou perereca-ferreira (Hypsiboas faber) possui

um coaxar parecido com o som de um martelo batendo contra lata.

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do. Cada espécie de anuro apresenta uma vocalização própria, diferente de espécie para espécie. Assim, é possível identificar uma espécie ape-nas pelo som que ela emite, como, por exemplo, a perereca-martelo que possui um canto bem característico.

Orquestra no brejo: Cantar para conquistar a fêmea

Page 66: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

64 Anfíbios: Uma vida em dois mundos

Amplexo: o abraço nupcial

Uma vez que a fêmea chega até o ma-cho, ela é abraçada por ele pelas costas, em um abraço denominado amplexo. Existem diversos tipos de amplexos, dentre os quais, os mais comuns são o abraço pelas axilas, pela cintura e pela cabeça. Com o macho sobre seu dorso, a fêmea procura um local adequado para

a oviposição, sendo ela quem finalmente decide onde os ovos serão depositados. Ela sinaliza para o macho o momento da ovipo-sição arqueando o corpo. Neste instante o macho deposita seu esperma nos ovos. A fecundação, neste caso, é externa, ou seja, os espermatozoides fecundam os ovos fora do corpo da fêmea.

Casal de Hypsiboas albomarginatus em amplexo axilar, note que a

fêmea é maior (está por baixo do macho).

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65Biodiversidade da Costa Esmeralda

Cuidado parental

A assistência à postura de ovos é a forma mais comum de prestação de cuidados, sendo frequentemente feita pelo macho, fenômeno raro no mundo animal. Um dos pais pode permanecer ao lado da postura, no solo ou em folhas, evitando que os ovos sejam predados, como no

caso da rã-manteiga (Leptodactylus latrans). Em algumas espécies um dos progenitores carrega os ovos fertilizados durante o desenvolvimento larval no dorso ou mesmo em bolsas especializadas, como no caso da perereca-marsupial (Fritziana fissilis).

A rã-manteiga (Leptodactylus latrans) cuidando dos girinos. Quando vê predadores, como

aves, o macho bate na superfície da água, assim os girinos são alertados do perigo e se es-

condem debaixo do pai.

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66 Anfíbios: Uma vida em dois mundos

A arte de esconder-se

A camuflagem apresenta-se como um bom mecanismo de defesa. Alguns anfíbios têm coloração, desenhos, textura da pele que os fazem ficar disfarçados com a vegetação e com o meio em que vivem. Assim, além de enganar seus predadores, também enganam suas presas.

A perereca-musgo, perereca-castanhola (Itapotihyla langsdorffii) tem coloração verde musgo e

textura de pele que se assemelha com a casca de árvore coberta de musgo ou líquen.

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67Biodiversidade da Costa Esmeralda

A Filomedusa (Phyllomedusa distincta) dificulta que os predadores a perce-

bam devia à sua cor verde parecida com a folhagem das árvores onde vive.

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68 Anfíbios: Uma vida em dois mundos

O sapo-de-chifres (Proceratophrys boiei) possui pele verruguenta, pregas de pele (chamadas de

chifres) e coloração do dorso que varia de cinzenta a parda, ornamentado por manchas castanho-

-escuras. Esse conjunto de características fazem com que ele fique totalmente camuflado entre as

folhas secas da serrapilheira.

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69Biodiversidade da Costa Esmeralda

sai no prejuízo, mas sem que haja a morte deste, como na predação. Por exemplo, os mosquitos do gênero Corethrella possuem uma interação parasítica com anfíbios anuros. As fêmeas adultas de Corethrella necessitam de sangue para desenvolver seus ovos. Contudo, não são atraídas por CO2, como outros insetos hematófagos (aqueles que “chupam” sangue), mas sim pela vocalização de machos de anfíbios.

Interações

As espécies de seres-vivos interagem entre si de diversas maneiras. A predação ocorre quando um organismo utiliza outro como fonte de alimento. Já a competição ocorre quando dois ou mais organismos necessitam dos mesmos recursos, como espaço ou presas. Por sua vez, no mutualismo e na simbiose, os seres envolvidos se auxiliam, e ambos são beneficiados. E existe ainda o parasitismo, onde um organismo se beneficia e o outro

Filomedusa (Phyllomedusa distincta) com

fêmea de Corethrella parasitando-a.

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70 Anfíbios: Uma vida em dois mundos

Anuros gladiadores?

Muitas espécies desenvolveram di-versos comportamentos para defen-der os seus recursos. Eles podem competir por melhores locais de voca-lização, atração de fêmeas e até mes-mo por locais de oviposição.

O comportamento mais fácil de obser-var é o das vocalizações diferenciadas. Além daquele canto que normalmente escutamos nos coros em lagoas, os machos de algumas espécies desen-volvem um amplo repertório vocal, que inclui as vocalizações territoriais, ser-vindo como um aviso aos invasores, di-zendo que aquele território pertence a outro macho. Assim eles podem evitar a aproximação do invasor e até mesmo um embate físico. E se esse repertório não for eficiente? Aí muitos machos partem para a comunicação visual. Eles

realizam movimentos (chamados dis-plays) com as pernas, a cabeça ou até todo o corpo que junto com a exposi-ção das cores do corpo, auxiliam na defesa do seu território.

Se o invasor insistir em permanecer nas proximidades do território ou até mes-mo invadir o local, o macho residente não vai deixar por menos, e se torna um gladiador. Nesse instante, ambos os machos entram em confronto físico, e duelam até que um dos machos se afaste do local. O que venceu se torna então o macho residente. Muitas espé-cies realizam esse duelo, por exemplo a Hypsiboas faber e a Hypsiboas bischoffi, as quais apresentam uma modificação em sua mão, o chamado prepólex, que causa arranhões durante as brigas.

Macho de Hypsiboas bischoffi com injúrias no dorso e laterais, causadas pelo prepólex de outro macho.

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71Biodiversidade da Costa Esmeralda

Macho de Phyllomedusa distincta exibindo as cores de destaque.

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72 Répteis: Conhecendo para desmistificar

Répteis: Conhecendo paradesmistificar

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73Biodiversidade da Costa Esmeralda

Autores

Tobias Saraiva Kunz André Ambrozio de Assis

Anderson Rosa Carolina Mallmann Erbes

Caroline Angri Caroline Batistim Oswald

Erica Naomi Saito Ivo Rohling Ghizoni Jr

Javier Toso Larissa Zanette da Silva

Laura Helena Bento Dacol Rafael Godoy

Vítor de Carvalho Rocha Selvino Neckel de Oliveira

Page 76: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

74 Répteis: Conhecendo para desmistificar

Os répteis possuem características e inovações que possibilitaram serem os primeiros vertebrados a conquistar a co-lonização completa do ambiente terres-tre: o desenvolvimento direto (não existe um estágio larval); a fecundação interna (macho introduz os espermatozoides no corpo da fêmea, evitando a desidratação dos gametas); e os ovos com casca, adap-tações que evitam a morte dos embriões por dessecamento. Além disso, possuem uma pele espessa e escamosa, dificul-tando a dessecação. Estas são algumas das características responsáveis pela sua ocorrência em diversos habitats do pla-neta, inclusive em regiões áridas e semi-áridas. São tradicionalmente agrupados em quatro ordens: Crocodylia (crocodilos e jacarés), Testudines (cágados, jabutis e tartarugas), Squamata (anfisbenas, co-bras e lagartos) e Rynchocephalia (tuata-ras), sendo que este último grupo inclui apenas duas espécies que ocorrem so-mente na Nova Zelândia. Graças à grande diversidade morfológica, o grupo pode explorar os mais variados habitats e ocu-par os mais diversificados nichos, incluin-do os aquáticos, terrestres, arborícolas e fossoriais (vivem enterrados, como as anfisbenas ou cobras-cegas). Entre os pa-íses com maior diversidade de répteis, o Brasil ocupa a segunda posição, com cer-ca de 750 espécies registradas atualmen-

te, ficando atrás apenas da Austrália. Le-vantamentos em áreas pouco estudadas vêm revelando a existência de espécies ainda por descrever.

Os répteis, além de sua importância ecológica intrínseca, são excelentes indicadores ambientais, já que a maio-ria é habitat-especialista, ou seja, só consegue sobreviver em um ou em poucos ambientes, necessitando de um ecossistema equilibrado (associa-ção entre meio biótico e abiótico) para manterem-se. Apesar disso, costumam receber menos atenção que os demais vertebrados na elaboração de estra-tégias de conservação. A matança não justificada de indivíduos, causada pela aversão popular aos répteis, pode con-tribuir para o declínio das populações de algumas espécies, mas a principal ame-aça enfrentada diz respeito à destruição e descaracterização dos ecossistemas onde essas espécies ocorrem. A perda de espécies pode implicar em sérios desequilíbrios nos ecossistemas, dado que muitas espécies são predadas por aves, mamíferos e mesmo outros rép-teis, enquanto que outras são potenciais predadores, controlando populações de insetos e roedores, por exemplo. No en-tanto, são raros os estudos relacionados à conservação de répteis.

Page 77: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

75Biodiversidade da Costa Esmeralda

O réptil de armadura

Exceto as tartarugas marinhas, o cágado-pescoço-de-cobra (Hydromedusa tectifera) é o único quelônio (grupo que inclui tartarugas, cágados e jabutis) que habita a região, vivendo

em rios, córregos e banhados. Pode se deslocar por terra também, mas devido a seus hábitos, principalmente noturnos, raramente é visto.

Vítima da caça

O jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris) já es teve próximo da extin ção devido à caça, uma vez que havia gran-de interesse por sua carne e couro. Hoje suas populações estão se recuperando, inclu-sive perto de grandes cidades (onde a caça raramente ocor-re) e graças a sua alta resis-tência e capacidade de tolerar águas poluídas.

Cágado-pescoço-de-cobra (Hydromedusa tectifera).

Jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris).

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76 Répteis: Conhecendo para desmistificar

De carona nos navios

A lagartixa-das-casas (Hemidactylus mabouia) é uma espécie exótica, de origem africana. Supõe-se que chegou à costa da América do Sul através dos navios euro-peus no período da colonização, já que estes visitaram o continente africano e as trouxeram na viagem.

Bom na camuflagem

A iguaninha ou camaleãozinho (Enyalius iheringii), como é mais conhecido na região, é um lagarto de hábitos arborícolas, vivendo nas árvores, por isso poucas vezes avistado, embora seja uma espécie comum nas florestas das encostas.

Lagartixa-das-casas (Hemidactylus mabouia).

Camaleãozinho (Enyalius iheringii).

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77Biodiversidade da Costa Esmeralda

Cobra ou lagarto?

A cobra-de-vidro (Ophiodes aff. striatus) é na verdade um lagarto. Não possui patas dianteiras e as posteriores são vestigiais, ou seja, são bem reduzidas e indicam um resquício do que no seu ancestral já foi uma pata. O nome co-

mum é devido à sua semelhança com uma cobra e por perder ou “quebrar” partes da cauda muito facilmente, ca-racterística típica de muitos lagartos, conhecida por autotomia caudal, utili-zada como forma de defesa.

A cobra-de-vidro (Ophiodes aff. striatus). Foto

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78 Répteis: Conhecendo para desmistificar

Pequeno lagarto

Esta pequena e rara espécie de lagarto (Ecpleopus gaudichaudi) vive no folhiço da mata, e quan-do se sente ameaçado sua es-tratégia de defesa é esconder--se sob as folhas. Possui corpo muito alongado e membros re-duzidos que facilitam seu deslo-camento sob o folhiço.

Visitante de muitos jardins

O teiú (Salvator merianae), mais conhe-cido na região como lagarto-do-papo--amarelo, é muito comum. No verão pode ser visto mesmo dentro das cida-des, em praças, jardins e terrenos bal-dios, mas passa os meses de inverno en-tocado. Muitas pessoas não gostam de sua presença em suas residências, po-rém ele não é venenoso e come animais como ratos e cobras. Ao contrário dos mamíferos e das aves, os répteis depen-dem de fontes externas de calor para

a regulação da própria temperatura. Por isso, é comum encontrar cobras e lagartos repousando, expondo-se ao sol em superfícies quentes. Dessa forma, usa-se o termo lagartear para as pessoas “preguiçosas” que ficam repousando ao sol. Em baixas tempe-raturas, os répteis reduzem seu meta-bolismo e, por consequência, reduzem sua atividade. Portanto, a chance de encontrar um réptil ativo é menor nos períodos mais frios do ano.

Teiú (Salvator merianae).

Lagarto (Ecpleopus gaudichaudi).

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Toda serpente é peçonhenta?

A grande maioria das serpentes não é peço-nhenta. As serpentes de importância médica no Brasil são aquelas pertencentes às famílias das jararacas e cascavéis (Viperidae) e das cobras-corais (Elapidae), que possuem dentes especializados para inoculação do veneno.

A jararaca (Bothrops jararaca) é uma espécie muito comum e, por isso, responsável por grande parte dos acidentes ofídicos nas regiões sul e sudeste do Brasil. Geralmen-te, é encontrada próximo às ma-tas, mas pode ser encontrada nas restingas e mesmo em terrenos baldios. Os acidentes causados por esta espécie geralmente são de gravidade baixa ou moderada.

A jararacuçu (Bothrops jararacussu) é uma das maiores espécies da família das jararacas, podendo chegar a 2 m de comprimento. Mais rara, vive sempre em matas bem preservadas. Seu veneno é muito potente e geralmente causa acidentes graves.

Jararaca (Bothrops jararaca).

Jararacuçu (Bothrops jararacussu).

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80 Répteis: Conhecendo para desmistificar

Esta serpente (Xenodon neuwiedii) também é erroneamente chamada de jararaquinha por ser confundi-da com esta. No entanto, ela não é peçonhenta. Se alimenta exclusiva-mente de anfíbios, principalmente sapos. Vive na floresta e possui há-bitos diurnos.

É uma jararaca?

A dormideira (Dipsas albifrons) é uma espécie inofensiva e de hábitos notur-nos que se alimenta exclusivamente de lesmas e caracóis. Sua coloração, po-rém, é muito parecida com a das jarara-cas, sendo assim chamada de mimética.

Além disso, quando assustada, trian-gula a cabeça. Esses mecanismos de defesa, eficazes contra alguns de seus predadores naturais, fazem com que seja confundida com a jararaca por pessoas que as acabam matando.

Dormideira (Dipsas albifrons).

Serpente (Xenodon neuwiedii).

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Inofensivas

Esta pequena serpente inofensiva (Taeniophallus bilineatus) vive no folhiço da mata, onde caça peque-nos anfíbios. Não é rara, mas por seus hábitos e pequeno tamanho dificilmente é avistada.

Serpente (Taeniophallus bilineatus).

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82 Répteis: Conhecendo para desmistificar

Esta serpente (Thamnodynastes cf. nattereri) vive nas matas das encostas, próximo a córregos onde caça anfíbios. É inofensiva e de hábitos principalmente noturnos.

A cobra-d`água (Erythrolamprus miliaris), outra serpente inofensiva, é muito co-mum nos banhados das baixadas, onde se alimenta principalmente de anfíbios, in-cluindo seus ovos e girinos e também pequenos peixes.

Serpente (Thamnodynastes cf. nattereri).

Cobra-d`água (Erythrolamprus miliaris).

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83Biodiversidade da Costa Esmeralda

O colorido de alerta

A coral-verdadeira (Micrurus corallinus), apesar de possuir veneno potente, é uma espécie pouco agressiva e incapaz de desferir botes, causando poucos acidentes. Têm hábitos crípticos,

Órgão reprodutivo especial

Nos répteis, existem dois tipos de ór-gão copulador nos machos: tartarugas e crocodilos possuem pênis; lagartos e cobras possuem hemipênis, uma estru-tura oca, bifurcada, não visível exter-namente, pois fica guardada dentro da cauda. Durante o acasalamento somente um desses órgãos é inflado. Essa es-trutura é ornamentada por espinhos ou por ranhuras e protuberâncias, que têm a função de manter a fêmea ligada ao macho durante a cópula. O formato do hemipênis é específico de cada espécie.

isto é, passa maior parte do tempo sob o solo ou folhiço da mata, onde caça principalmente cobras-cegas e algumas espécies de serpentes e lagartos.

Hemipênis de cobra evertido

apresentando seus espinhos.

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Coral-verdadeira (Micrurus corallinus).

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84 Peixes de água doce: O mundo sob a água

Peixes de água doce: O mundo sob a água

Autores

Lucas Nunes Teixeira Miriam Sant’Anna Ghazzi Ana Paula Cichella Burigo Gisela Costa Ribeiro Daniel dos Santos Gomes Ronaldo da Silva Sonia Buck

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85Biodiversidade da Costa Esmeralda

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86 Peixes de água doce: O mundo sob a água

Dentre os animais vertebrados, o grupo dos peixes é o que apresen-ta maior número de espécies, com grande diversidade de cores e for-mas. As espécies mais conhecidas pela ciência habitam as águas salga-das, porém, existe uma grande diver-sidade nas águas doces (rios, riachos de montanhas e planícies, lagos e lagoas) e estuarinas (manguezais e lagunas). São animais que suportam grandes pressões atmosféricas, po-dendo habitar profundezas oceânicas de até 4000 m, bem como em cursos d’água em grandes altitudes. Além disso, são capazes de suportar am-plos gradientes de temperatura.

Os peixes mais conhecidos popular-mente são revestidos de escamas, mas alguns podem ser cobertos por pele (como os bagres) ou ainda placas ósseas (como os cascudos de água doce). A maioria dos grupos apresen-ta uma estrutura interessante, a bexi-ga natatória, que auxilia na flutuação e impede o animal de afundar. Contam ainda com o sistema da linha lateral, um órgão sensorial mecanorreceptor, pelo qual sentem as mudanças e mo-vimentos na água, como, por exem-plo, a presença de um predador ou de algum outro peixe do cardume.

Os peixes encontrados em riachos, lagoas e lagunas da Costa Esmeral-da apresentam características espe-ciais, que os adaptam a estes ambien-tes. Estas especializações podem se refletir na forma do corpo: cilíndricos (adaptados para predação) e compri-midos lateralmente (para rápido des-locamento na coluna d’água, como os lambaris). Estes peixes também de-monstram, em geral, pequeno porte, e uma vez que as águas claras e rasas facilitam sua captura, o dorso apre-senta coloração escura, para que se disfarcem no substrato.

A alimentação dos peixes de riacho é extremamente variada, podendo ser de itens do próprio rio (como pequenos crustáceos) ou de alimen-tos oriundos do ambiente terrestre (como folhas de árvores). A flores-ta que margeia os riachos da Mata Atlântica é de extrema importância aos peixes que vivem nestes cursos d’água, fornecendo grande parte da alimentação. Os rios que cortam es-tes ambientes são comumente des-providos de alimento devido às suas correntes, diferentes de ambientes de águas calmas, onde há mais algas e vegetação, e outros organismos que servem como alimento aos peixes.

Page 89: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

87Biodiversidade da Costa Esmeralda

O peixe-gato - Jundiá (Rhamdia quelen)

O jundiá é um bagre, logo, não possui escamas, mas sim um couro, bem liso e escorregadio, como pele. É um peixe noturno, que vive no fundo de rios e la-gos, com pouca correnteza, a procura de alimento, como crustáceos, insetos e folhas que caem dentro da água. Sua co-

loração varia de marrom avermelhado a cinza esverdeado. Possui barbilhões (fi-lamentos no focinho) dando-lhe o nome popular de “peixe-gato”. Pode chegar ao tamanho de 50 cm, servindo como um delicioso alimento para pessoas que moram perto de rios.

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Jundiá encontrado na ARIE da Costeira de Zimbros.

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88 Peixes de água doce: O mundo sob a água

Pais cuidadosos - Cará (Geophagus brasiliensis)

Peixe da família das tilápias, os carás são peixes que se adaptam facilmente a vários tipos de ambientes, até mes-mo à água salobra. Vivem em águas mais remansosas e calmas, alimen-tando-se de uma variedade de inver-tebrados, peixes e matéria vegetal. Possuem o corpo coberto por esca-mas e um colorido nas nadadeiras

que varia do amarelo ao vermelho; os olhos podem apresentar um colorido azul-esverdeado. Durante o período reprodutivo possuem cuidado paren-tal, ou seja, os pais cuidam dos filho-tes, formando ninhos para proteger os ovos, e o macho desenvolve uma protuberância atrás da cabeça dando-lhe o nome popular de “cará-cartola”.

Cará encontrado na ARIE da Costeira de Zimbros.

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89Biodiversidade da Costa Esmeralda

se fosse um radar, para achar alimen-to, desviar de obstáculos e identificar seus semelhantes em épocas repro-dutivas ou não. Os indivíduos são ati-vos durante o crepúsculo e no período noturno, quando saem à procura de alimentos, como insetos, micro-crus-táceos e peixes de menor porte. Pos-suem respiração aérea, ou seja, quan-do precisam respirar, nadam até a superfície e engolem uma bolha de ar.

terrando-se na lama. Pode ser encontra-do nas regiões tropicais e subtropicais da América. São mais ativos à noite, quando procuram por alimentos como vermes e crustáceos aquáticos. Causam grande medo, pois são confundidos com cobras, devido à sua aparência.

É uma espécie de água doce que al-cança comprimento máximo de 60 cm. Mora nas margens e remansos dos rios, sendo encontrada do norte da Amazônia até a Argentina. Vivem em águas turvas e não possuem uma boa visão. Como forma de compensar esta característica, evoluíram um sistema muscular que gera pequenas descar-gas elétricas, formando um campo elétrico em volta de seu corpo, como

Este peixe possui o corpo cilíndrico e alongado, sendo coberto por uma gros-sa camada de muco, o que o torna ex-tremamente escorregadio. São animais bem resistentes a variações ambientais, podendo sobreviver em rios e lagos, que secam durante um período do ano, en-

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Ressurgindo da lama - Muçum (Synbranchus marmoratus)

O peixe-elétrico - Tuvira (Gymnotus cf. pantherinus)

Exemplar de tuvira, encontrado em Itapema, com tamanho de 25 cm.

Muçum encontrado em Itapema. Muçum com 30 cm.

Foto: Miriam Ghazzi

Foto: Miriam Ghazzi Foto: Miriam Ghazzi

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90 Peixes de água doce: O mundo sob a água

Os lambaris

Pertencentes a uma das famílias com maior número de espécies e diversida-de de cores, chamada Characidae, os lambaris são encontrados em muitos ambientes, mas, principalmente, carac-terizam a ictiofauna de riachos de água doce. Justamente por estarem em di-ferentes ambientes, são amplamente conhecidos pelos humanos, porém não são poucas as espécies que podem ser encontradas nos riachos. Apesar de parecerem iguais, devido o formato do corpo e nadadeiras, algumas espé-cies possuem particularidades, como o lambari-listrado (Hollandichthys multifasciatus), que só pode ser en-contrado em águas totalmente limpas,

ou seja, águas sem esgoto e lixo gera-do pelos humanos.

Possuem um hábito alimentar muito diverso, já que comem variados tipos de estruturas vegetais e muitas for-mas de invertebrados (vermes, inse-tos, crustáceos), incluindo também em suas dietas escamas e pequenos peixes. A espécie Deuterodon singu-laris, por exemplo, alimenta-se princi-palmente de folhas que caem dentro dos rios e riachos vindos da mata ci-liar que cerca o rio, por isso é muito importante preservar, além dos rios, as matas que os cercam, para que os peixes tenham o que comer.

Exemplar de lambari-listrado, encontrado em riachos preservados na Costa da Esmeralda.

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91Biodiversidade da Costa Esmeralda

Pequenos e barrigudinhos

Na Costa Esmeralda foram encontradas as seguintes espécies de barrigudinhos:

Phalloceros cf. caudimaculatus, Phalloceros harpagos, Phalloceros spiloura, Poecilia vivipara, Jenynsia multidentata.

Todas estas espécies pertencem à ordem Cyprinodontiformes, representada, em sua grande maioria, por peixes bem pequenos, geralmente com cerca de 3 a 4 cm de com-

primento. A cor pode variar, sendo geralmente de cinza-escuro a verde--oliva, com as margens das escamas coloridas ou corpo todo pontilhado. Apresentam a boca voltada para cima, o que lhes ajuda na alimentação, principalmente, de larvas de inse-tos presentes na superfície da água. Ocorrem em rios e riachos da Amé-rica Central e América do Sul, e são de grande interesse para aquariofilia, devido seu colorido e facilidade de criação em cativeiro.

Barrigudinho, encontrado na Ponta do Araçá.

Lambari-dentuço (Deuterodon singularis).

Lambari-do-rabo-amarelo (Astyanax laticeps).

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Peixes Recifais:Essenciais para a

manutenção da vida nos ecossistemas marinhos

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93Biodiversidade da Costa Esmeralda

Peixes Recifais:Essenciais para a

manutenção da vida nos ecossistemas marinhos

Autores

Anderson Antonio Batista Juan Pablo Quimbayo Agreda

Renato Morais Araujo

Page 96: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

94 Peixes Recifais

Ambientes recifais podem ser con-siderados como os ecossistemas de maior diversidade no ambiente mari-nho. Os peixes são organismos funda-mentais para o funcionamento e ma-nutenção de ecossistemas aquáticos. Compreender como as comunidades de peixes são estruturadas em dife-rentes ambientes é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de manejo e conservação destes organis-mos, não somente por proporcionar um aumento no conhecimento da bio-logia e evolução de peixes recifais, mas também para servir como base para o desenvolvimento de políticas públicas de conservação destes ambientes.

No Brasil cerca de 10% das espécies de peixes recifais são endêmicas, ou seja, ocorrem exclusivamente na costa bra-sileira. Mais de 520 espécies de peixes residem ao longo da vasta e diversa costa que varia desde águas quentes com recifes de coral no Nordeste até as águas mais frias no Sul e Sudeste com recifes rochosos e eventos de ressurgência. O afloramento ou res-surgência é um fenômeno oceanográ-fico que consiste na subida de águas profundas e frias, muitas vezes ricas em nutrientes, para regiões menos profundas do oceano.

No sudeste do Brasil, os costões ro-chosos representam o principal habi-tat para a biota recifal.

Page 97: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

95Biodiversidade da Costa Esmeralda

O sarampinho (Amblycirrhitus pinos) tem esse nome por causa de suas várias pintas na cabeça.

Peixe Sarampinho

O sarampinho é encontrado em recifes rochosos, frequentemente em fen-das e tocas pouco fundas, geralmente repousando no substrato. Tem como base alimentar pequenos crustáce-

os, como copépodes, camarões, ca-ranguejos, larvas e ainda poliquetas. Apreciado pelos aquaristas como es-pécie ornamental. Esta atividade pode colocar a espécie em risco.

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96 Peixes Recifais

Troca de Sexo

Os juvenis de badejo-mira habitam bancos de algas, manguezais e costões rochosos, geralmente em águas pouco profundas. Quando adultos, preferem áreas com maior quantidade de blo-cos de rochas, tocas e fendas do recife rochoso onde se posicionam na colu-

na d´água para caçar. Um fato muito curioso da espécie é que todos nascem fêmeas e, quando atingem a maturida-de, as fêmeas maiores trocam de sexo tornando-se machos. Juntam-se em grandes cardumes para desovar (agre-gações reprodutivas).

O badejo-mira (Mycteroperca acutirostris) é um predador de pequenos peixes em cardume.

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Beleza AmeaçadaA garoupa é a e spécie que ilustra a nota de cem reais. Muito apreciada pelos ca-çadores submarinos e pescadores tra-dicionais pelo sabor de sua carne e por ser uma espécie dócil, facilitando a cap-tura. Por esta razão, está ameaçada de extinção segundo a IUCN (União Interna-cional para a Conservação da Natureza). É considerada uma espécie solitária e territorial, exceto quando se junta para

desovar formando grandes cardumes. Quando estas agregações reproduti-vas são descobertas pelos pescadores, pode ocorrer de populações inteiras se-rem dizimadas em poucos dias. Alimen-ta-se, quando jovem, de vários animais marinhos menores, principalmente de pequenos ca ranguejos e pequenos pol-vos, já na fase adulta, alimenta-se em proporção maior de peixes.

A garoupa (Epinephelus marginatus) pode chegar a 1,5m, o tamanho de uma pessoa pequena.Fo

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98 Peixes Recifais

De Cabeça para Baixo

A fogueira é uma espécie de hábitos noturnos encontrada em ambientes rasos até recifes rochosos mais pro-fundos. Esta espécie pode ser encon-trada em cardumes e durante o dia utiliza fendas e grandes tocas como

abrigo e proteção contra predadores. Sua dieta é, principalmente, consti-tuída por organismos planctônicos. Ocasionalmente, são observados de cabeça para baixo dentro das fendas no recife rochoso.

Os grandes olhos da fogueira (Myripristis jacobus) a permitem enxergar bem e se alimentar durante o período noturno.

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99Biodiversidade da Costa Esmeralda

Faxineiros do fundo do mar

O frade-cinza geralmente é visto nadan-do solitário no recife. Às vezes, formam pares e assumem hábitos monogâmicos de reprodução. Na fase inicial de seu ci-clo de vida, os juvenis são limpadores, ou seja, fornecem um serviço de remo-

O frade-cinza, ou peixe-anjo-marrom, (Pomacanthus arcuatus) é o “primo” mais próximo do

frade, porém é mais raro nos costões de Santa Catarina.

ção de parasitas a outras espécies de peixes, incluindo seus próprios preda-dores. Alimentam-se principalmente de de algas e esponjas, porém, uma vasta gama de outros organismos ma-rinhos pode fazer parte de sua dieta.

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100 Peixes Recifais

Pais Protetores

Os parus, também conhecidos como peixes-frade, possuem uma biologia muito parecida com a espécie an-terior. São bem comuns em recifes rochosos rasos e também são lim-padores na fase inicial do seu ciclo de vida. Quando formam pares para

a reprodução, costumam defender vigorosamente seu território de de-sova. Possuem hábitos alimentares parecidos com a espécie anterior que inclui esponjas, tunicados, algas marinhas, zoantídeos, gorgônias, hi-dróides e briozoários.

O paru ou peixe-frade (Pomacanthus paru) apresenta variação de cor ao longo da vida. Os jovens são negros listrados de amarelo, já o adulto tem coloração azulada.

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101Biodiversidade da Costa Esmeralda

Os juvenis de Pomacanthus paru, na fase inicial, possuem coloração muito diferente dos adultos. Eles também são faxineiros dos recifes de Santa Catarina: alimentam-se de

parasitas e pele morta de outros peixes, limpando-os. Para estimular seu cliente, o jovem paru nada de maneira agitada e toca o cliente com as nadadeiras pélvicas.

Este juvenil de Pomacanthus paru está removendo os parasitas de um

Pseudupeneus maculatus, peixe“trilha”.

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102 Peixes Recifais

Peixes Anjos Ameaçados

Podem ser encontrados em recifes de coral e rochosos. Alimentam-se basi-camente de esponjas, porém comple-menta sua dieta com tunicados, algas marinhas, zoantídeos, gorgônias, hi-dróides e briozoários. A reprodução é

bem parecida entre os peixes anjo, os óvulos são liberados na água e fecun-dados pelos machos. Estas espécies sofrem muita pressão pelo comércio de espécies ornamentais.

O peixe-anjo-amarelo (Holacanthus tricolor) consegue se nutrir comendo esponjas, algumas das quais são tóxicas.

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103Biodiversidade da Costa Esmeralda

O peixe-anjo-rainha, peixe-anjo-rei (Holacanthus ciliaris) pode ser encontrado nadando solitário ou acompanhando outras espécies durante as atividades de alimentação.

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104 Peixes Recifais

Os adultos do budião (Bodianus rufus) se alimentam de estrelas-do-mar, crustáceos, moluscos e ouriços.

Budiões Limpadores

Quando juvenis, tanto o budião quanto o budião-rei podem ser “limpadores” removendo ativamente parasitas de peixes maiores. Possuem hábitos re-

produtivos parecidos com os dos ba-dejos-mira, com mudança de sexo no decorrer da vida. São apreciados como alimento em algumas regiões do Brasil.

Os budiões-rei (Bodianus pulchellus) já foram vistos quebrando carapaças de crustáceos em pedras para poderem se alimentar das partes moles desses bichos.

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105Biodiversidade da Costa Esmeralda

Peixes Cirurgiões

Os cirurgiões habitam recifes rasos com formações coralinas ou rocho-sas. Possuem esse nome por possu-írem espinhos afiados como um bis-turi de cirurgião. Essas ferramentas de defesa ficam escondidas em am-bos os lados da base da cauda e po-dem causar ferimentos dolorosos.

Geralmente, ocorrem em pequenos cardumes de cinco ou mais indivíduos, com hábitos diurnos. Alimentam-se principalmente de algas, portanto são consideradas espécies herbívoras.

Em alguns locais podem ser observa-dos comendo algas que crescem em tartarugas-marinhas, limpando-as.

O cirurgião-baiano (Acanthurus bahianus) é um peixe herbívoro, ou seja, alimenta-se quase que exclusivamente de algas marinhas.

O peixe-cirurgião (Acanthurus chirurgus) tem esse nome porque possui um espinho perto da cauda de corte muito afiado, semelhante a um bisturi.

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106 Aranhas: As arquitetas da natureza

Aranhas:As arquitetas da natureza

Autores

Ana Letícia Trivia Leandro Malta Borges

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107Biodiversidade da Costa Esmeralda

Page 110: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

108 Aranhas: As arquitetas da natureza

As aranhas são animais bastante te-midos pela maioria das pessoas que, geralmente, pouco sabem sobre estes animais. Um exemplo desta falta de co-nhecimento, é que muitos pensam que todas as aranhas são perigosas, e por isso matam todas que possam cruzar seus caminhos. Podemos citar também o fato de várias pessoas acharem que estes aracnídeos são insetos, ignoran-do o fato de que insetos possuem três pares de pernas e um par de antenas, enquanto as aranhas, como todos os aracnídeos, possuem 4 pares de pernas, um par de quelíceras e um par de pedi-palpos, além de não possuírem antenas.

A ordem Araneae, onde estão inse-ridas as aranhas, representa um dos grupos mais diversos de organismos, sendo a segunda maior em número de espécies entre os aracnídeos, com mais de 42.000 espécies descritas.

As aranhas estão distribuídas pelo mundo inteiro, estando presentes em quase todos os ambientes terrestres, sendo que sua abundância e diver-sidade estão relacionadas positiva-mente à complexidade estrutural do ambiente. Isto significa que, com uma maior riqueza de vegetação, maior é a diversidade de aranhas.

Page 111: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

109Biodiversidade da Costa Esmeralda

Controle de insetos

Estes aracnídeos são considerados predadores generalistas e possuem uma grande importância para a ma-nutenção do equilíbrio ecológico dos ecossistemas terrestres, pois contri-buem fortemente no controle de popu-

lações de insetos como baratas, gafa-nhotos, e até mesmo outras aranhas, já que a grande maioria delas pratica o canibalismo, e não apenas a famosa viúva-negra, como muitos pensam.

Aranhas pescadoras

Algumas aranhas comem até mesmo pequenos vertebrados, como no caso das aranhas da família Trechaleidae, que vivem próximas a riachos pedre-gosos, alimentando-se de pequenos peixes e jovens anuros (girinos).

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Aranha da família Araneidae alimentando-se de um vagalume.

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Espécime da família Trechaleidae.

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110 Aranhas: As arquitetas da natureza

Inimigos mortais

Seus principais inimigos naturais são as outras aranhas, existindo até mes-mo algumas espécies que alimentam--se apenas de outras aranhas. Sapos, lagartixas e aves também são preda-dores conhecidos destes aracnídeos, além das vespas, consideradas suas

arquiinimigas. As vespas caçadoras de aranhas capturam-nas e injetam um veneno paralisante, arrastando--as até sua toca, onde depositam um ovo sobre o abdômen de sua vítima, assim, quando a larva nasce, alimenta--se da aranha ainda viva.

Vespa da família Pompilidae carregando uma aranha-armadeira (Phoneutria keyserlingi) paralisada para sua toca.

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111Biodiversidade da Costa Esmeralda

A minoria que dá a má fama

A presença da glândula de veneno as-sociada às quelíceras é uma caracterís-tica exclusiva das aranhas, sendo utili-zada para alimentação e defesa. Mas nem por isso devemos considerá-las todas perigosas, pois a grande maioria das aranhas é inofensiva, não ocasio-nando acidentes humanos. Diversos fatores influenciam na periculosidade de uma espécie, como: a toxicidade do veneno para humanos, quantida-de de veneno injetado, capacidade da quelícera perfurar a pele, e até mesmo a preferência de hábitat das espécies (podendo viver em locais pouco fre-quentados pelos humanos).

As aranhas peçonhentas de interesse médico no Brasil são representadas pe-los gêneros Latrodectus (viúva-negra), sendo que esta não é encontrada no Estado de Santa Catarina, Loxosceles (aranha-marrom) e Phoneutria (aranha--armadeira).

Nas coletas realizadas pelo grupo de fauna araneológica na Costa da Esme-ralda, dentre as aranhas de interesse médico, apenas a aranha-armadeira foi encontrada, principalmente nos lo-cais onde a vegetação sofreu intensa degradação e está no seu estágio ini-cial de regeneração.

Aranha armadeira (Phoneutria keyserlingi) macho.

Aranha armadeira (Phoneutria keyserlingi) fêmea.

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112 Aranhas: As arquitetas da natureza

Aranhas errantes

As aranhas podem ser divididas em di-ferentes grupos, chamados guildas, de acordo com a maneira com que captu-ram suas presas. Por exemplo, as ara-nhas que caçam ativamente no solo, procurando suas presas, são agrupa-das na guilda das aranhas errantes (ou caçadoras de solo), como a aranha da espécie Ctenus medius, pertencente à mesma família que a aranha-arma-deira, mas com o veneno pouco tóxico para humanos, não sendo uma causa-dora de acidentes.

Sensor de presença

Algumas aranhas tecem alguns fios de teia sensitiva ao redor de suas tocas, e quando sentem vibrações através dela, atacam e capturam sua presa, como no caso das espécies pertencentes à família Nemesiidae .

Aranha da família Nemesiidae .

Aranha errante da espécie Ctenus medius.

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113Biodiversidade da Costa Esmeralda

Emboscadoras

Existem também ara-nhas que fazem em-boscadas para captu-rar suas presas, como por exemplo as aranhas da família Deinopidae, que constroem uma espé-cie de rede com sua teia, capturando insetos en-quanto ficam penduradas de cabeça para baixo.

Belas armadilhas

Já as aranhas que cons-troem teias orbiculares são bastante conhecidas pela forma geométrica de suas teias.

Aranha da família Araneidae em sua teia orbicular.

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Aranha emboscadora do gênero Deinopis esperando alguma presa passar.

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114 Opiliões: Não somos aranha não!

Opiliões:Não somos aranha não!

Autoras

Amanda Cruz Mendes Ana Letícia Trivia

Page 117: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

115Biodiversidade da Costa Esmeralda

Page 118: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

116 Opiliões: Não somos aranha não!

Os opiliões, também chamados de aranha-alho ou aranha-fedorenta, são aracnídeos pouco conhecidos pelo público, principalmente por causa de seus hábitos crípticos: geralmen-te vivem em locais escondidos e fi-cam mais ativos durante a noite. Os opiliões são muito confundidos com as aranhas, porém estas possuem o corpo claramente dividido em duas partes, com uma cintura entre elas chamada pecíolo. Já o corpo dos opi-liões, apesar de também ser dividido em duas partes, é mais compacto e não possui pecíolo. Os opiliões são animais cosmopolitas, ou seja, são encontrados em praticamente todo o mundo, e mais de 6.400 espécies são conhecidas pela ciência, a maior parte destas ocorrendo em regiões

tropicais úmidas. Na APA da Ponta do Araçá e ARIE da Costeira de Zimbros foram encontradas cerca de 20 espé-cies de opiliões, sendo que algumas ainda não foram estudadas e nomea-das por cientistas.

Os opiliões raramente estão presen-tes no ambiente urbano, e são mais restritos aos ambientes de floresta onde podem ser encontrados no fo-lhiço (folhas acumuladas nos solos das florestas), em troncos podres, no solo ou sobre as plantas. Podem habitar ambientes mais secos como a caatinga, cerrado e desertos, mas sempre estão associados a refúgios úmidos como manchas de vegetação, embaixo de pedras e dentro de caver-nas, pois são muito sensíveis à falta de água no ambiente.

Page 119: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

117Biodiversidade da Costa Esmeralda

Que fedor!

Apesar de exalarem um cheiro for-te, os opiliões não são venenosos. Tal cheiro vem de quinonas e fenóis, subs-tâncias secretadas por suas glândulas repugnatórias, com função defensiva contra predadores. Esse odor é co-mum de ser sentido andando a noite na floresta em áreas de Mata Atlântica, como a região de Costa Esmeralda. O líquido sai das aberturas das glându-las, os ozóporos, que ficam na lateral do corpo, próximos ao segundo par

de pernas. O animal pode borrifar o líquido sobre o seu próprio corpo for-mando uma névoa química defensiva quando evapora. Em alguns casos, o líquido pode ser eliminado em jato e direcionado ao predador. A defesa química dos opiliões funciona bem com sapos, formigas e aranhas, mas parece não afetar gambás e algumas aves. Pode causar irritação na pele nos humanos, mas não representa gran-des riscos à nossa saúde.

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Macho de Geraecormobius rohri.

Page 120: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

118 Opiliões: Não somos aranha não!

Armados para defesa

A presença de espinhos no corpo e no quarto par de pernas em espécies da família Gonyleptidae, como Geraecor-mobius rohri, pode protegê-lo contra predadores. Os machos têm essa ar-mação de espinhos muito desenvolvi-da e algumas vezes, quando são ma-

nipulados vivos, movem o quarto par de pernas vigorosamente em movi-mento de pinça na tentativa de belis-car com os espinhos. Também podem tentar beliscar usando as quelíceras e pedipalpos, que são apêndices usados para captura de presas e alimentação.

Macho de Geraecormobius rohri.

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119Biodiversidade da Costa Esmeralda

menos de um milímetro como a espécie Ceratomontia brasiliana. Esse tamanho associado a uma coloração bastante dis-creta, em tons de marrom, torna esses animais quase imperceptíveis a olho nu.

Pequenos desconhecidos

Apresentam tamanhos variados e po-dem ser muito pequenos, especialmente os que vivem no solo e no folhiço como os pequenos opiliões da família Triae-nonychidae, alguns com adultos com

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sCeratomontia brasiliana comparada a um palito de fósforo.

Page 122: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

120 Opiliões: Não somos aranha não!

Também em cores

Porém existem espécies relativamente grandes, como por exemplo, Geraecor-mobius rohri, um dos maiores opiliões encontrados na região de Costa Esme-ralda com 1,5 cm de tamanho de corpo

e 15 cm contando com as pernas. São também coloridos, além dos tons de marrom-escuro e marrom-avermelha-do, possuem padrões de manchas ama-relo-esverdeadas e círculos brancos.

Geraecormobius rohri.

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Page 123: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

121Biodiversidade da Costa Esmeralda

As belas bailarinas

Existem espécies com corpo peque-no e pernas bastante compridas, com até 30 vezes o tamanho do corpo. Por causa dessa característica, essas es-pécies são também conhecidas como aranhas-bailarina. Na Costa Esmeralda, a espécie de aranha-bailarina mais co-mum é Abaetetuba citrina que possui 20 cm de uma ponta a outra das pernas e apenas 3 mm de tamanho de corpo. As aranhas-bailarina apresentam um comportamento de defesa em que movimentam o corpo para cima e para baixo rapidamente de forma que o predador não consiga identificar a po-sição real do animal.

Eles brilham!

Um fato interessante sobre os opili-ões é que algumas partes de seu cor-po ficam fluorescentes sob luz UV, e inclusive os pesquisadores usam esse truque para visualizá-los melhor nas coletas noturnas. Em Geraecormobius rohri, as manchas amarelo-esverdea-das ficam bastante destacadas com a ação da luz ultravioleta.

Abaetetuba citrina com corpo em detalhe.

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Geraecormobius rohri sob luz UV.

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122 Opiliões: Não somos aranha não!

Juntinhos

Os opiliões podem apresentar o com-portamento de gregarismo: ficam imó-veis em ambientes pouco iluminados e úmidos, com os corpos distantes um dos outros de zero a 5 cm e as pernas muito sobrepostas. A espécie Serracutisoma catarina é encontrada em grupos que podem chegar a mais de 30 indivíduos. Pouco antes do pôr-do-sol, os grupos se dispersam e os indivíduos deixam o abrigo diurno para buscar alimento. O

gregarismo não parece ser entre indiví-duos aparentados, não são grupos fixos, e irmãos não ficam juntos com o fim do cuidado maternal. Por outro lado, não parece ocorrer por acaso, sendo um fe-nômeno social. É uma provável resposta comportamental ao estresse ambiental, como mecanismo de regulação e redu-ção de evaporação. Além disso, aumenta o efeito repulsivo das glândulas de cheiro e diminui chance de predação individual.

Macho de Serracutisoma catarina.

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123Biodiversidade da Costa Esmeralda

O cuidado parental por parte da mãe (e em alguns casos do pai) dos ovos e fi-lhotes é um fenômeno comum entre os opiliões. As fêmeas de Serracutisoma catarina colocam cerca de 100 ovos por

vez, em locais úmidos, escuros, em es-paços entre rochas graníticas ao longo de margens dos rios. Elas cuidam de seus ovos até que os filhotes eclodam e sejam capazes de se alimentar.

E também cuidam dos filhotes

Fêmea de Serracutisoma catarina. Foto

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Page 126: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

124 Besouros rola-bosta: Os lixeiros da floresta

Besouros rola-bosta:Os lixeiros da floresta

Autores

Camila Claudino de Oliveira Mariah Wuerges Malva Isabel Medina Hernández

Page 127: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

125Biodiversidade da Costa Esmeralda

Page 128: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

126 Besouros rola-bosta: Os lixeiros da floresta

Os insetos formam o grupo de animais mais diversificado do planeta e entre eles os besouros, agrupados dentro da ordem Coleoptera, são os que têm o maior nú-mero de espécies. Os besouros conhe-cidos popularmente por “rola-bosta” per-tencem à subfamília Scarabaeinae, com cerca de 7 mil espécies descritas. O nome é devido ao tipo de alimentação destes besouros: fezes! Mas também se alimen-tam de outros tipos de matéria orgânica em decomposição, incluindo carcaças e material vegetal. Essa alimentação acon-tece tanto na fase larval como na fase adulta - isso mesmo, os besouros, assim como as borboletas, também possuem uma fase larval, uma fase como pupa ou casulo e após a metamorfose se tornam besouros, insetos voadores.

Page 129: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

127Biodiversidade da Costa Esmeralda

Alimentação – um cardápio um tanto excêntrico!

A alimentação destes besouros é com-posta de matéria orgânica em decom-posição: material vegetal, fezes e car-caças. Ao se alimentarem e cuidarem do desenvolvimento dos seus filhotes, vão limpando de resíduos todos os ambien-tes da floresta, possuindo desta forma um papel importante na ciclagem dos nutrientes. Consequentemente, os be-souros escarabeíneos realizam várias funções ecossistêmicas, incluindo a for-mação de túneis no solo, onde constro-em seus ninhos e depositam o alimento, podendo ser chamados de arquitetos

ecológicos! E por que? Porque ao cavar seus túneis, realizam a aeração do solo, modificando o ambiente e permitindo a ocorrência de trocas gasosas entre solo e atmosfera. Estas trocas gaso-sas são vitais para a sobrevivência das plantas, e consequentemente para os animais! Além disso, os escarabeíneos, ao remover fezes de animais de cria-ção, como por exemplo bovinos, previ-nem a reprodução de moscas parasitas nas fezes, controlando sua invasão no ambiente, e podem ajudar na dispersão secundária de algumas sementes.

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Fêmeas de Coprophanaeus saphirinus

alimentando-se de carne. Foto realizada no Labo-

ratório de Ecologia Terrestre Animal (LECOTA-

UFSC), em estudos de comportamento.

Page 130: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

128 Besouros rola-bosta: Os lixeiros da floresta

Rolando para reproduzir

Algumas espécies de escarabeíneos rolam a matéria orgânica encontrada na floresta e a levam até um lo-cal protegido, onde fazem seu ninho. E o que aconte-ce? As fêmeas, depositam um único ovo nessas bo-las. Destes ovos, nascem as larvas, que quando bem alimentadas pelo material depositado neste peque-no ambiente, se desenvolvem até se transformarem em uma pupa, da qual emerge o besouro adulto. Mas é importante ressaltar que não são todas as espécies que fazem e carregam essas bolinhas (chamados de roladores). Algumas espécies escavam túneis no solo para onde levam a matéria orgânica (são chama-dos de tuneleiros) e outras espécies são residentes, depositando seus ovos e se alimentando no local em que encontraram o recurso.

As fêmeas dos besouros escarabeíneos não apenas depositam os ovos e esquecem de sua ninhada! De-pendendo da espécie, macho e fêmea permanecem protegendo e cuidando do ninho até que os adultos possam emergir. Este é o chamado cuidado paren-tal, presente na maioria dos animais.

Você já ouviu falar no escaravelho sagrado?

No antigo Egito, o Deus Khepri era retratado pelo besouro rola-bosta simbolizando com seu movimento de rolar a bolinha, o movimento do sol em seu percurso diário! Ele acom-panhava a múmia do faraó na forma de uma joia colocada sobre seu peito, representando ressurreição e vida.

Indicadores ecológicos

Estudos sobre diversidade mostram que os besouros escarabeíneos diminuem em abundância e em rique-za de espécies quando o ambiente que habitam se en-contra sob degradação ambiental, podendo, por este motivo, serem utilizados como indicadores de altera-ções ambientais e avaliar os efeitos do desmatamen-to e das alterações que um determinado ecossistema possa ter sofrido. E por que isso acontece? Sua ali-mentação é um fator limitante para a sua sobrevivên-cia, a falta de fezes ou carcaças de mamíferos e aves na floresta, leva a uma diminuição destes insetos, podendo nos revelar informações sobre o estado de conservação do ecossistema. A partir disso, percebe-mos mais uma vez a importância da conservação da biodiversidade e das funções ecológicas que os famo-sos besouros escarabeíneos exercem na natureza.

Aglomerados de matéria orgânica e terra.

Estas pequenas bolas são arrastadas pelos

insetos até o ninho, muitas vezes pelo ma-

cho e pela fêmea juntos. Posteriormente, a

fêmea deposita um ovo em cada bola, onde

eclode a larva que se alimenta, no interior

do solo, até virar um besouro adulto.

Representação do escaravelho sagrado

(Scarabaeus sacer) movimentando o sol na

sua rota celeste. Joias com a imagem de

escarabeíneos são famosas devido ao seu

caráter sagrado.

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Page 131: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

129Biodiversidade da Costa Esmeralda

Espécies encontradas na Costa Esmeralda e algumas de suas características:

Atlântica, inclusive foi coletado por Darwin no Rio de Janeiro na sua famosa viagem a bordo do “Beagle”!

Dichotomius fissus, Dichotomius sericeus e Ontherus sulcator: são tu-neleiros, de coloração preta e com-portamento noturno, sendo prefe-rencialmente coprófagos (animais que se alimentam de fezes).

Canthidium trinodosum: Este pe-queno besouro (de 0,5 cm de com-primento) é muito comum na Mata

Na Costa Esmeralda foram registradas 15 espécies de besouros da Subfamília Scarabaeinae, descritas a seguir:

Dichotomius sericeus posicionado para receber, por meio das suas antenas, o cheiro do recurso

alimentar. As fortes pernas anteriores são adaptadas para cavar os túneis, com ajuda do clípeo (a

proteção na cabeça) que serve como uma pá.

Canthidium trinodosum depositado na

Coleção Entomológica da UFSC com destaque

para a etiqueta científica que contém todos os

dados de coleta.

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130 Besouros rola-bosta: Os lixeiros da floresta

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Coprophanaeus dardanus, Coprophanaeus saphirinus e Phanaeus splendidulus: São animais tuneleiros, de grande porte, com as maiores espécies dentro da subfamília. São considerados os besouros mais

belos do grupo, tendo coloração iridescente. Machos e fêmeas possuem dimorfismo sexual, sendo facilmente distinguíveis, pois os machos possuem chifres.

Coprophanaeus saphirinus. Recolhem o alimento na superfície levando-o para

túneis debaixo da terra e desta forma incorporam matéria orgânica no solo.

A) fêmea; B) macho diferenciado pelo chifre.

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Page 133: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

131Biodiversidade da Costa Esmeralda

Canthon chalybaeus e Canthon ru-tilans: ambas as espécies são de tamanho médio (1 cm de compri-mento), são diurnas e apresentam o comportamento de rolar as bo-linhas onde depositam seus ovos , sendo chamados de roladores ou telecoprídeos. A esfera de alimen-to é formada por um indivíduo ou pelo casal e é transportada a certa distância para ser então enterrada.

Paracanthon aff. rosinae: espécie roladora bastante rara na Costa Esmeralda, mede cerca de 0,7 cm de comprimento.

Casal de Canthon rutilans, a fêmea no alto da foto, aju-

dada pelo macho, arrasta a bolinha de recurso alimentar

com as pernas posteriores até o ninho, onde depositará

os ovos e cuidará da ninhada até virarem adultos.

Paracanthon aff. rosinae.

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132 Besouros rola-bosta: Os lixeiros da floresta

Deltochilum irroratum, Deltochilum brasiliense e Deltochilum morbillosum: são espécies roladoras que se alimen-tam tanto de fezes (coprófagas) como de carcaças (necrófagas). A primeira é facil-mente encontrada em todo tipo de am-biente, a segunda é a de maior tamanho (2,5 cm), com coloração preta-esverdea-da, a última é de coloração preta, sendo a menor delas (1 cm de comprimento).

Deltochilum irroratum; em laboratório,

os adultos desta espécie chegam a viver

durante um ano.

A coloração preta de Deltochilum morbillosum

indica hábitos noturnos.

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Page 135: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

133Biodiversidade da Costa Esmeralda

Eurysternus cyanescens e Eurysternus parallelus: estas espécies pertencem ao grupo dos residentes ou endocopríde-os. Os indivíduos adultos alimentam-se no local do recurso, depositando seus ovos diretamente nele, sem a constru-ção de ninhos ou câmaras.

Eurysternus parallelus. As espécies deste gênero são exclusivamente Neotropicais.

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Page 136: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

134 Borboletas frugívoras: Quem são elas?

Borboletas frugívoras:Quem são elas?

Autoras

Ana Letícia Trivia Malva Isabel Medina Hernández

Page 137: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

135Biodiversidade da Costa Esmeralda

Page 138: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

136 Borboletas frugívoras: Quem são elas?

As borboletas são insetos que perten-cem à ordem Lepidoptera, caracteri-zadas pelas minúsculas escamas colo-ridas que dão tanta beleza às suas asas e pela sua boca flexível, parecida com uma tromba, usada para sugar o néc-tar do interior das flores – chamadas de borboletas nectarívoras – e tam-bém o sumo fermentado das frutas – no caso das borboletas frugívoras.

As escamas coloridas das borboletas possuem muitas funções, como a re-gulação da temperatura, camuflagem (que é uma forma de se esconder ao se confundir com o ambiente), apo-sematismo (coloração de aviso aos

predadores de que o gosto delas não é nada bom) ou mimetismo (uma imi-tação de uma outra espécie). Estas escamas são muito frágeis, quando tocadas, saem na forma de um po-zinho: vale lembrar que este pó não causa cegueira se entrar em contato com os olhos, como muitos dizem, mas pode causar uma irritação, assim como a poeira e várias outras partí-culas que possam entrar em contato com os nossos olhos.

Estes insetos possuem grande impor-tância ecológica, atuando como agen-tes polinizadores, decompositores e, na fase de lagarta, como herbívoras.

Page 139: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

137Biodiversidade da Costa Esmeralda

Borboleta-coruja (Caligo brasiliensis) alimentando-se

de banana em decomposição.

Borboleta Heliconius sara alimentando-se de néctar.

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Page 140: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

138 Borboletas frugívoras: Quem são elas?

A transformação

Estes insetos fazem meta-morfose completa, sendo que seu ciclo de vida possui quatro fases distintas: ovo, lagarta, pupa (também conhecida como crisálida ou casulo) e imago (adulto). As borboletas passam a maior parte da vida na forma de lagarta, alimentando-se das folhas de suas plantas hospe-deiras. Conforme vão crescen-do, elas devem trocar de “pele” (na verdade é o exoesqueleto) até se transformarem em pupa, que acontece quando formam um casulo, onde a borboleta passa por diversas transforma-ções e fica sem se alimentar, até chegar a hora de sair de seu casulo e abrir suas asas.

Lagarta de borboleta-coruja (Caligo brasiliensis).

Casulo de borboleta-coruja. Lagarta de borboleta-coruja em posição para empupar.

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Page 141: Biodiversidade da Costa Esmeralda- Um patrimônio natural

139Biodiversidade da Costa Esmeralda

No Brasil existem cerca de 3.000 es-pécies de borboletas e muitas delas vi-vem na Mata Atlântica. As borboletas frugívoras são as mais estudadas, pois são fáceis de reconhecer e são atraí-das por iscas de frutos fermentados. Além disto, são usadas como bioin-dicadoras em programas de monito-

As borboletas da Mata Atlântica

ramento ambiental, já que possuem uma estreita relação com as mudan-ças físicas do meio em que vivem.

As UCs localizadas na Costa Esmeralda abrigam diversas espécies de borbole-tas e, dentre as espécies frugívoras, po-demos destacar:

Colobura dirce: Também conhecida como zebra ou zebrinha, é uma espé-cie bastante comum, sendo facilmen-te encontrada pousando em troncos de árvores, caracterizando-se por apresentar nas asas posteriores uma falsa cabeça, que distrai possíveis predadores. As suas lagartas se ali-mentam de folhas de embaúba, mas dizem que as borboletas são viciadas em álcool por serem facilmente atraí-das por um copo de cachaça!

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Borboleta-zebra (Colobura dirce).

Caligo brasiliensis: Seu nome popular (borboleta-coruja) se refere ao dese-nho de dois grandes olhos presentes nas suas asas. Apresenta um vôo bas-tante poderoso, que pode afugentar até mesmo algumas aves predado-ras; ao voar, pode-se observar a bela coloração azulada no interior de suas asas. Esta espécie apresenta compor-tamento crepuscular e é considerada uma das maiores borboletas que exis-tem, chegando a medir mais de 15 cm de envergadura.

Borboleta-coruja (Caligo brasiliensis) encon-

trada na trilha da APA da Ponta do Araçá

(Porto Belo – SC).

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140 Borboletas frugívoras: Quem são elas?

Morpho helenor: Esta borboleta já foi muito procurada por caçadores e co-lecionadores devido à sua grande be-leza, sendo que atualmente esta é uma atividade ilegal. Tanto macho quanto fêmea possuem vôo em ziguezague, mas os machos voam mais perto de rios e nas bordas de florestas e as fêmeas são encontradas dentro da mata. Esta espécie possui coloração de camuflagem quando se encontra de asas fechadas e coloração disrupti-va ou de efeito-surpresa quando abre suas asas para voar.

Morpho helenor com as asas abertas, mostrando a coloração azulada da parte interior de suas asas.

Borboleta Morpho helenor alimentando-

-se de banana fermentada.

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Hamadryas amphinome: Conhecidas como “estaladeiras” devido ao barulho que os machos fazem, estas borbole-tas podem ser encontradas pousadas

de cabeça para baixo, com as asas abertas sobre os troncos de árvores, onde se assemelham aos líquens, de-vido à sua coloração.

B – Vista ventral da borboleta estaladeira.

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A – Vista dorsal da borboleta estaladeira (Hamadryas amphinome)

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Archaeoprepona amphimachus e Archaeoprepona meander: Estas espécies de borboleta, tão belas e chamativas, ainda não haviam sido

registradas em Santa Catarina, sendo encontradas durante os estudos na Costa Esmeralda.

C – Vista dorsal de Archaeoprepona meander.

D – Vista ventral de Archaeoprepona meander.

A – Vista dorsal da borboleta Archaeoprepona amphimachus.

B – Vista ventral de Archaeoprepona amphimachus.

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C – Vista dorsal de Archaeoprepona meander.

D – Vista ventral de Archaeoprepona meander.

A – Vista dorsal da borboleta Archaeoprepona amphimachus.

B – Vista ventral de Archaeoprepona amphimachus.

Myscelia orsis: Os machos desta espécie são bem diferentes das fêmeas, com uma bela coloração azul, sendo que as fêmeas são escuras com manchinhas brancas. São borboletas pequenas, com cerca de 5 cm de envergadura, sendo encontradas desde a região amazônica até o sul do Brasil.

A – Vista dorsal do macho da borboleta Myscelia orsis.

B – Vista dorsal da fêmea da borboleta Myscelia orsis.

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Este livro chegou ao fim!

Nestas 144 páginas você conheceu um pouco mais sobre a riqueza e diversi-dade dos seres vivos que existem nos ambientes naturais e, em especial, nas UCs dessa surpreendente região cha-mada Costa Esmeralda.

Esse trabalho, realizado graças aos esforços de pesquisadores, graduan-dos e pós-graduandos (principalmen-te do curso de Ciências Biológicas da UFSC), da SIMBIOSIS (Empresa Junior de Ciências Biológicas da UFSC) e da UIPI (Empresa Junior de Design da UFSC), reuniu informações de estudos para a elaboração do Plano de Mane-jo da ARIE da Costeira de Zimbros em Bombinhas, da APA da Ponta do Ara-çá em Porto Belo, da proposição para criação do Refúgio de Vida Silvestre de Itapema e de outras áreas priori-tárias para conservação neste municí-pio, e as transformaram em um mate-rial didático voltado à divulgação para a população em geral.

Trouxemos informações que mos-tram que os serviços ecológicos prestados pelos ambientes naturais ajudam a manter o status paradisía-co da área, aquecendo o turismo, ge-

rando renda e mantendo processos ecológicos e recursos vitais para a população humana.

Então, esperamos que você tenha per-cebido a importância da preservação e manutenção dos patrimônios natu-rais dessa região e, assim, contribua para protegê-los, pelo simples respei-to e cumprimento das regras (como não caçar, pescar e coletar plantas, não jogar lixo e não degradar o am-biente), ou participando ativamente da divulgação das UCs, de projetos de educação ambiental e do auxílio na de-núncia contra crimes ambientais.

Porém, desejamos um pouco mais:

Que você tenha sido atingido mais profundamente após ver imagens tão belas e descobrir coisas tão impres-sionantes sobre a natureza. Que te-nha redescoberto ou reforçado o que chamamos de biofilia, o amor pela na-tureza, o amor à vida. A biofilia é ine-rente à espécie humana, pois estamos vivos e fazemos parte desse conjunto. Portanto, sabemos que devemos ter respeito ao próximo, seja ele o ser vivo que for, basta despertá-lo.

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No nosso modo de vida urbanizado e distante de ambientes naturais, as crianças não costumam mais brincar na terra, não têm mais o mesmo contato com as plantas e os animais que seus pais e avós tiveram. Porém, não podemos negar que a Biofilia (philia- amor, bio- vida) continua inerente, esperando por estímulos para ser despertada.

A admiração e encantamento pela natureza trazem às pessoas o sentimento de responsabilidade, para mudarem seus hábitos, buscando conhecer e proteger o patrimônio natural que ainda nos cerca. É com essa intenção que este livro une belas imagens e informações sobreas Unidades de Conserva-ção e a biodiversidade da região da Costa Esmeralda, que abrange os municípios de Itapema, Porto Belo e Bombinhas, buscando atrair atenção para o cuidado e preservação. Espera-mos que você leitor, possa usufruir deste livro que apresenta uma breve visão do valor e da beleza existente na fauna, flora e vegetação da região.

EdiçãoDiagramação

9 7 8 8 5 6 6 5 8 2 0 2 4 >

ISBN 978-85-66582-02-4