3
Viver ! Sábado e domingo, 2 e 3 de julho de 2011 Não pode ser vendido separadamente Ele sempre foi relacionado à maturidade e à masculinidade. Hoje, numa época de limpeza visual, retorna não mais por simbolismo, mas unicamente por gosto e estilo Páginas 5 a 7

Bigodes no Santa

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Matéria sobre a volta dos bigodes no Jornal de Santa Catarina.

Citation preview

Page 1: Bigodes no Santa

Viver!

Sábado e domingo, 2 e 3 de julho de 2011

Não pode ser vendido separadamente

Ele sempre foi relacionado à maturidade e à masculinidade. Hoje, numa época de limpeza visual, retorna não mais por

simbolismo, mas unicamente por gosto e estilo

Páginas 5 a 7

Page 2: Bigodes no Santa

VIVER! 2 E 3 DE JULHO DE 2011 I 5

Capa

Marca registradaSímbolo de masculinidade dos anos 1970, o bigode continua com tudo

que Mario Bros, Charles Chaplin, Clark Gable, Albert Einstein, Salvador Dali e até Nietzsche têm em comum? Todos, sem dúvida, são conhecidos por uma marca registrada que levam no rosto: o bigode! O escritor e roteirista francês Emmanuel Carrére escreveu certa vez que “um homem sem bigode não é mais um homem”. No filme e no livro dele que levam o título Bigode (La Moustache, França, 2005), raspar ou não os pelos virou problema existencial da humani-dade. Mas será que o símbolo maior da masculinidade nos anos 1970 ainda con-tinua com tudo?

Quem curte rock em Santa Catarina e costuma frequentar os shows de ban-das locais, sabe que sim. Volta e meia, é possível deparar-se com o símbolo que está se tornando unânime na cena roqueira. As influências para adotar os pelos no rosto são inúmeras, desde lem-branças da infância até ídolos do rock. O vocalista da banda Helvéticos (Bombi-nhas), Cainã Moreira, aponta lembran-

Sabrina Passos

O

ças infantis como o motivo do visual:– Quando era pequeno, meu avô e

meu pai tinham belos exemplares e sem-pre admirei os dois. Decidi que assim que possível teria um bigode.

Para o vocalista da banda Torneiras (Itajaí), André Fuck, e para o produ-tor do portal Válvula Rock, Léo Telles Motta, o próprio rock é inspiração. Fuck

conta que, desde pequeninho, via os ído-los dele usando bigode e isso o deslum-brava. Entre os bigodudos famosos, ele cita Paul McCartney e John Lennon. Já para Léo, Seu Madruga, do seriado Cha-ves, e o músico Frank Zappa são os mais memoráveis. Cainã, André e Léo usam bigode há pouco mais de um ano.

Outro músico, o vocalista Marlon De

La Serna, da Dramaphones (Rio do Sul), acabou adotando o bigode por causa do fator genético.

– Desde criança eu queria ter barba, mas a genética não foi legal comigo e me presenteou com várias falhas na barba. Então adotei o bigode – comenta Mar-lon, que cultiva o bigode há cinco anos.

Para os garotos, a resposta é unâni-me quanto aos cuidados estéticos: é só aparar um pouco, de vez em quando, para não comer cabelo. E quanto à tra-dição do bigode no rock, os exemplos são inúmeros. Marlon conta que 90% dos músicos que conhece tem ou já te-ve pelo menos uma barbichinha. Cainã diz que quando está na estrada costuma cruzar com vários bigodudos. Quanto às referencias, os Beatles continuam em pauta.

– Quem nunca ficou impressiona-do com os Beatles na capa do Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band?! É a minha maior influência – afirma Cainã. (Colaborou Ruca Souza)

[email protected]

DIVULGAÇÃO

Os vocalistas André Fuck e Marlon De La Serna também têm os seus

O produtor Léo Telles Motta e o músico Cainã Moreira são os novos bigodes do rock catarinense: a influência vem de Frank Zappa e dos Beatles, respectivamente

Segue !

CAMILA RIBAS/DIVULGAÇÃO

LUIZA COLZANI/DIVULGAÇÃO

Page 3: Bigodes no Santa

VIVER! 2 E 3 DE JULHO DE 2011 I 6 e 7

Capa

arece que o bigode, fio por fio, tem vol-tado para o rosto dos homens na atuali-dade. Porém, a aparência dos pelos en-fileirados, para alguns, é uma marca de muitos anos. É o caso do barbeiro Carli-to Souza, 61 anos, que desde os 25 anos usa bigode. Carlito conta que começou a usá-lo por vontade própria. Na sua época de moço, muitos homens usavam. Era a década de 1970. Há 40 anos com o Salão Classic, na Rua São Paulo, em Blumenau, o barbeiro, vasto conhecedor dos pelos faciais devido à profissão, explica que poucos jovens com bigode aparecem no seu salão. A causa, para ele, é a falta de ídolos com bigode.

– A turma se baseia nesses ídolos, ar-tistas de novela, jogador de futebol... A onda agora é o cabelo punk.

Durante os 36 anos de cultivo do bi-gode, Carlito Souza tirou-o apenas uma vez, quando tinha por volta de 35 anos. Mas a esposa, já acostumada com o oni-presente bigode, não gostou nada do su-miço do coitado e pediu para que Carlito deixasse novamente os pelos crescerem.

Apesar de nenhum novato bigodudo aparecer no salão, o barbeiro conta que uma parte da clientela ainda preserva esse símbolo da masculinidade. São cer-ca de 50 senhores, todos a partir da meia idade. Da mocidade, seu Carlito recorda com nostalgia dos tempos em que bigo-de estava em alta. Ter bigode era status, lembra:

– Achava-se que era mais homem quem usava bigode. As meninas da minha época gostavam mais dos que usavam.

Hoje, para manter o bigode em dia, seu Carlito toma alguns cuidados. Todos os dias, após acordar, ele passa uma esco-va ou um pente para manter os pelos no lugar. E tem orgulho dos fios brancos:

– Nunca tingi meu bigode.

E a opinião feminina?

Se a esposa do barbeiro é fã do “aces-sório”, para os rapazes do rock catari-nense as mulheres ainda estão divididas. Algumas garotas, como conta Marlon De La Serna, da banda Dramaphones, recla-mam que os pelos arranham o rosto.

– Mas eu me recuso a tirar – garante.Mas o bigode, ou a falta dele, pode até influenciar nos romances. Segundo Cai-nã Moreira, a extinção do bigode o dei-xaria em maus lençóis.

– Se eu tirá-lo, perco a namorada! – brinca o vocalista da Helvéticos.

Para o produtor Léo Telles Motta, o bigode parece fazer um sucesso inex-plicável com algumas garotas, mas a sua namorada, no início, não gostou muito..

– Ela riu, mas hoje adora – lembra.Para André Fuck, vocalista da banda

Torneiras, já é um hit.– Depois que cultivei o bigode, co-

mecei a fazer mais sucesso – comenta o músico. (Ruca Souza)

Para ter um bigode de respeito, é preci-so muito cuidado, que começa na hora de apará-lo. Para o barbeiro joinvilense Mar-cos Fernandes, que está na profissão há 14 anos, barba e bigode são como o cabelo, só que precisam ainda de mais de atenção. Para cuidados diários, ele recomenda lavar com sabonete ou xampu durante o banho e passar um produto pós-barba.

A manutenção deve ser feita com um profissional especializado para que fique bem feita e modelada, pelo menos, uma vez por semana. Quem já está acostumado com

o corte, pode fazer pequenos reparos em casa mesmo e com a ajuda de uma tesoura pequena e um pente.

– Não é fácil cuidar sozinho, mas dá pa-ra ajeitar sim – diz ele.

Quem está com pelos brancos ou quer uma cor diferente no bigode, deve procurar um profissional para fazer a coloração. Fer-nandes notou um aumento na procura de clientes pelo bigode nos últimos tempos.

– É só aparecer um galã na televisão usando barba e bigode que a procura nos salões aumenta – revela.

No livro One Thousand Beards (Mil Barbas, em português), Allan Peterkin, pes-quisador da Universidade de Toronto, no Canadá, dá a dica de como os pelos podem ajudar a corrigir alguns “defeitos” dos tra-ços faciais. A obra, ainda sem tradução no Brasil, traz a história dos bigodes e revela que eles têm muito mais significado do que parece e dizem muito sobre a humanidade.

Segundo ele, em Roma se pegava “no pé”, ou melhor, “na barba” dos gregos. Para os discípulos de César, as barbas grandes e cacheadas eram afeminadas. Mas, como diz Allan no livro, “as intrigas guardavam uma ponta de inveja, já que os gregos sempre fo-ram mais peludos que os romanos”. Na Ida-

de Média, o bigode teria ganho conotação demoníaca: o diabo passou a ser represen-tado usando bigode em pinturas populares. Em 1447, o par-lamento inglês p r o i b i u s e u uso. “Ele virou símbolo das duas coisas mais odiadas pelos ingle-ses da época: a vaidade e o povo fran-cês”, escreve o autor.O projeto Moustaches Make a Difference usa imagens de personalidades para conscientizar

! Albert Einsten: O gênio da Matemática e pai da Física Moderna usava um belo bi-gode que ajudava a comple-mentar a imagem de profes-sor brilhante, mas distraído.

Bigodudos famosos

! Chaplin: Uma das pessoas mais famosas século 20 – rei dos filmes mudos – Chaplin disse que usava bigode “para parecer mais velho, sem alte-rar a expressão”. Concorda?

! Clark Gable: Como nin-guém, o astro de E o Vento Levou... criou a imagem po-pular de um homem corajoso e de bigode. Usou na maioria dos seus personagens!

! Frank Zappa: O roqueiro foi tão reconhecível através de seu bigode que, após sua morte, em 1993, a família comprou os direitos de ima-gem dele – com bigode!

! Salvador Dali: Curvado pa-ra cima, o bigode do surrealis-ta espanhol Salvador Dali era parte integral de sua persona-lidade extraordinária. Impossí-vel imaginar ele sem o fininho.

! Che Guevara: Depois da in-surreição em Cuba, há quem diga que a moda bigode e barba no exército cresceu. E quem começou tudo isso foi o guerrilheiro.

! Nietzsche: Outro que fez moda em sua turma foi o filó-sofo alemão. Entre os que o copiaram estão o escritor rus-so Maxim Gorky, com a mes-ma “vegetação” exuberante.

! Freddie Mercury: O bigo-de mais famoso do rock tem nome e sobrenome. Marcou uma geração de roqueiros e, juram os barbeiros, teria o bu-ço mais bem cuidado do país.

! Seu Madruga: Ele vivia sem trabalhar e era craque em atrasar o aluguel. Mas nada com certeza lembra mais esse personagem de Ramón Val-dez do que o famoso bigode.

! Leôncio: Bigode clássico dos desenhos e, com certeza, o mais bonito dos cartoons. Ele sofria com as armações de Pica-pau, mas nada tirava os 25cm de bigode do sério.

Futebol e bigode: duas paixõesBigode e futebol andaram de mãos

dadas por muito tempo. Atualmente, os boleiros andam meio de mal com o bigode. Cresci nas décadas de 80 e 90, vendo muitos craques desfi larem pelos gramados mundo afora adeptos da moda. Muitos marcaram época com seus bigodes. A lista dos boleiros bigodudos é enorme. Logo, me atrevi a montar um time com eles. Um bom

time, diga-se de passagem. O Bigode FC tem Gilmar Rinaldi no gol; Biro-Biro, Ricardo Rocha, Luis Pereira e Júnior, na defesa; Vampeta, Toninho Cerezo, Zenon e Rivelino, no meio; e Valdir Bigode e Sócrates. O comando técnico conta com o também bigodudo Felipão, auxiliado pelo companheiro inseparável Flávio Murtosa. No fi o do bigode, dá para encarar?

OPINIÃO

Everton Siemann, repórter de Esportes do Santa

O barbeiro Carlito Souza, 61 anos, usa bigode desde os 25 e diz que os clientes do seu salão com bigodes tem todos mais de 50 anos

Os ídolos e o bigodeP

AR

TUR

MO

SER

Em novembro de todo ano, desde 2003, acontece o Movember, um movimento exó-tico e cheio de boas intenções. Criado para apoiar campanhas de saúde do homem, em especial para conscientizar sobre prevenção do câncer de próstata, o Moustaches Make a Difference pede para que eles deixem o bigode crescer. No 1º dia do mês, quem par-ticipa raspa toda a barba e deixa crescer o bigode ao longo das quatro semanas, em nome da saúde masculina.

Desde o início do projeto, o bigode já teve adesão de 627 mil pessoas em todo o mundo. O projeto tem também página no Facebook (www.facebook.com/mosmake-adifference).

Moustaches que fazem a

diferença

Cuidados importantes

Mil barbas na história