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  • Associao Nacional dos Programas de Ps-Graduao em Comunicao

    No basta ser DJ. Tem que ser underground! Sobre coletivos e comunidades virtuais de msica eletrnica no Brasil

    Simone Pereira de S

    Leonardo de Marchi

    Introduo

    O fenmeno das redes de computadores interconectados tem chamado a

    ateno dos estudiosos de comunicao, entre outros motivos, por suas caractersticas

    ligadas descentralizao da produo de informao. Teoricamente, por apresentar uma

    estrutura horizontal de difuso, supe-se que dada a priori a cada participante da rede a

    possibilidade de produzir, fazer circular e consumir a informao presente no ciberespao.

    Com efeito, essas caractersticas produzem uma srie de conseqncias culturais, econmicas e polticas que tm sido alvo de debates intensos. Dentro deles, interessa-nos problematizar certa visada que entende a Internet como uma mdia essencialmente democrtica, onde floresceria um novo espao pblico de debate. Nele, todos trabalhariam para a construo de uma nova gora, nos moldes de uma inteligncia coletiva (Lvy, 1993; 1999). Ainda nessa perspectiva, quanto maior a interconectividade generalizada do ciberespao, maior a sua complexidade cultural, evitando assim a criao de um projeto (scio, poltico e cultural) nico, homogneo ou totalizvel. (Lvy, 1993; 1999; Landow; 1995; Ess; 1997). H,

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    portanto, implcita nessa argumentao a idia de que toda informao tanto eqidistante como equivalente. Neste caso, fica claro que o projeto poltico condiciona a anlise tecnolgica, pois a questo que essa perspectiva enfatiza a da ausncia de centro de emisso, hierarquias rgidas ou autoridades virtuais que regulem o funcionamento do ciberespao.

    De fato, a Internet se notabilizou por ser uma mdia em que podemos

    encontrar, trocar e produzir informao que est, to logo estejamos conectados, distncia

    do clique do mouse. Tambm verdade que o ciberespao est pronto para aceitar novos

    ns e novas injees de dados, tornando-o mais heterogneo ou, nas palavras de Pierre

    Lvy, universal no totalizvel.

    No entanto, o decorrente leque de possibilidades causa diversas

    inconvenincias, dentre as quais o excesso de informao, que gera a necessidade de

    mecanismos para nos ajudar a encontrar o assunto desejado. H, certamente, vrios tipos de

    filtros que nos ajudam a navegar na Internet, como agentes inteligentes, sites especializados

    em apontar para outros que se relacionem com nosso interesse, portais que renem diversos

    servios, etc. Com efeito, a indstria de softwares no tem medido esforos para resolver

    esse inconveniente (Johnson, 2001; Bruno & Vaz, 2002).

    Porm, mais do que um problema de quantidade, o excesso tambm aponta

    para uma questo qualitativa. Pragmaticamente, como conseguir uma informao confivel

    na Internet? A celebrao acadmica sintetizada na expresso universal no-totalizvel

    parece no se preocupar com a discusso sobre a legitimidade, credibilidade e/ou

    confiabilidade dos contedos.

    Um outro problema desta perspectiva diz respeito discusso sobre as

    comunidades virtuais. De novo, a premissa a de que o ciberespao permite a priori a

    criao de agrupamentos flexveis, democrticos e cooperativos onde predomina a

    comunicao horizontal, sem as marcas hierrquicas de classe, status, gnero que

    predominam nas relaes off-line.

    Nesta argumentao, o discurso oscila entre conceber as comunidades

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    virtuais como coletivos cosmopolitas, que acolhem as diferenas num grau inusitado; ou

    como lugares para os iguais sejam eles os amantes do gato angor ou de um estilo

    musical menos conhecido ou mais experimental que encontram na rede apoio emocional

    e reciprocidade entre aqueles que compartilham interesses comuns. (Lvy; 1999;

    Rheingold;1993)

    Ao que parece, estas avaliaes pouco consideram os problemas advindos

    da vida social on-line, apostando antes na premissa da ausncia de hierarquias e de

    autoridade na rede, o que indica que a anlise qualitativa do objeto tem sido muitas vezes

    desconsiderada.

    Buscamos neste texto reavaliar tais proposies, uma vez que tm grande

    impacto na forma como exploramos o ciberespao, a partir de dois significativos exemplos

    do universo da cultura de msica eletrnica brasileira o site e lista de discusso

    Pragatecno (www.pragatecno.com.br ) e a revista eletrnica Rraurl.(www.rraurl.com)1

    Aqui, nosso objetivo mais amplo dar continuidade crtica da viso idlica

    da noo de comunidade virtual, que a considera como um local privilegiado para a

    consolidao de laos de sociabilidade, buscando perceb-la como mais um espao

    decerto com suas especificidades onde no s harmonia, mas todo o embate da vida

    social, com conflitos, disputas pelo poder e estabelecimento de hierarquias so

    encontrados.2 Especificamente, interessa-nos focar a anlise nas estratgias do Pragatecno

    e do Rraulr para a conquista de credibilidade e confiana de um pblico exigente, os fs de

    msica eletrnica, tornando-se referncias do assunto na rede. O sucesso de seus

    1 Ressaltamos que esta anlise insere-se na pesquisa em andamento: Msica Eletrnica.

    Tecnologias da Comunicao & Dinmicas Identitrias. Esta pesquisa est ligada linha de Tecnologias do

    Programa de Ps-Graduao em Comunicao da UFF, contando com o apoio do CNPq atravs de bolsas de

    Iniciao Cientfica e de Produtividade.

    2 Para uma discusso sobre a noo de comunidade virtual, ver S (2000; 2001; 2002;

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    procedimentos revela solues particulares para o contexto digital e aponta para aspectos da

    complexidade da vida social on-line, suas disputas e embates.

    I - Pragatecno e o norte/nordeste eletrnico

    O site e a lista Pragatecno resultam da proposta de um grupo de amigos que

    se reuniu em 1998 na cidade de Macei, primeiramente para fazer festas de msica

    eletrnica.

    Segundo Cludio Manuel, DJ, produtor e pesquisador de msica eletrnica,

    alm de um dos idealizadores do projeto: Foram, talvez, (...) quatro meses no mximo

    entre a gente anunciar o grupo como promotor de festas e aparecer o site do grupo no

    ciberespao. E isso foi bacana porque fez com que a gente se conectasse no Brasil com

    outros DJ e promoters que tm uma histria muito longa de produo e agilizou o processo

    de informao. Eu acho que a Internet para a gente foi talvez o elemento principal para o

    desenvolvimento do Pragatecno3

    Frisando a importncia da Internet para o desenvolvimento de msica

    eletrnica do eixo norte-nordeste, ele declara :

    (...)A gente sentiu necessidade de criar uma lista no s para discutir o tema da cultura da

    msica eletrnica mas tambm para encontrar uma veia no ciberespao que fizesse essa conexo

    principalmente com o norte/nordeste, por ser uma regio enorme, descentralizada, com vrios

    ncleos que inclusive tinham grandes distncias geogrficas, como o caso de Belm para

    Salvador, muito maior que de Salvador para So Paulo. {E tambm} pelo fato de que a principal

    referncia de busca de informao para a gente sempre o ciberespao e no a principal cena do

    2003a).

    3 Todas as citaes de Cludio Manuel foram retiradas da entrevista concedida ao nosso grupo de pesquisa em Salvador, no dia 05 de setembro de 2002.

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    Brasil que So Paulo. claro que a cena de So Paulo importante para Salvador mas a gente

    teria de encontrar uma forma de fluxo de informao independente do fluxo de informao de So

    Paulo e dos grandes eixos para buscar um tipo de autonomia. Eu acho que a lista veio dar um

    pouco mais dessa autonomia a tal ponto de a lista ter hoje cerca de 175 pessoas.

    Cabe destacar que participam da lista msicos/produtores de msica

    eletrnica, apreciadores e diversos tipos de profissionais relacionados ao estilo, residentes

    daquelas regies geogrficas especialmente, Manaus, Belm, Fortaleza, Recife, Macei,

    Salvador no s para divulgar os eventos das cenas locais mas para discutir, comentar e

    repercutir acontecimentos de fora da prpria lista, da cena, de sites e revistas e tambm

    jornais de circulao nacional e internacional. Atualmente, a lista abriga tambm diversos

    participantes de outras regies do pas, resultado de sua repercusso positiva atravs da rede

    de computadores.

    O papel da Internet na consolidao deste grupo parece confirmar as

    observaes anteriormente mencionadas sobre as caractersticas democrticas desta

    ferramenta, permitindo a descentralizao da informao, a ampliao da participao

    coletiva para alm de fronteiras geogrficas e autonomia em relao ao eixo central da

    cultura da msica eletrnica no Brasil, representado por So Paulo.

    O site e a lista organizam-se a partir da participao de amantes da msica

    eletrnica que querem trocar informaes e criar uma cena no Nordeste leia-se eventos

    regulares, organizados por produtores confiveis dos ncleos locais filiados ao projeto.

    Aqui, o tipo de vnculo que se forma entre eles nos remete noo

    rheingoldiana 4de comunidade virtual que pensada como um universo de

    companheirismo, afeto, suporte emocional e reciprocidade; alm de alternativo ao da

    4 Ver: Rheingold , H (1993).

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    sociedade capitalista off-line, marcada pela racionalidade econmica.5.

    Envolvimento afetivo que, no caso dos membros do Pragatecno ocorre no

    s em torno da msica, mas de valores estticos de vanguarda, baseados nas noes de

    experimentalismo, underground e de um sentido missionrio de consolidao da cena de

    msica eletrnica no Brasil que se traduz, por exemplo, na frase Amor, Tecnologia e

    Groove com que um dos membros do grupo conclui suas participaes; ou nas

    recomendaes disponibilizadas no site para orientar as aes dos seus membros na vida

    profissional off-line:

    1 Pesquise, enquanto integrante do grupo, a msica e a cultura underground eletrnica,

    com o intuito de compartilhar, de trazer tona, as melhores novidades do que est produzindo;

    2 Enquanto DJ do Pragatecno, voc jamais tocar publicamente em seu set em CD, vinil,

    MD, etc com msicas j mixadas por outro DJ, a no ser em aberturas de ou fechamentos de

    eventos (raves, technoparties, etc), mesmo assim sem sua presena/performance como DJ;

    4 Nunca pea para tocar, um dia voc ser convidado, nem que seja dentro do prprio

    Pragatecno;

    5 Respeite e colabore com o trabalho profissional dos outros DJ ou coletivos organizados,

    mas no colabore com quem no tem tica e compromisso com a msica underground;

    6 Respeite a opo musical/vertente dos outros DJ, mas no abra mo de fazer crticas

    aos que tocam msicas comerciais esses da promovem o lucro das empresas;

    10 Entenda que a cultura da msica eletrnica engloba projetos em outras reas distintas

    (...) e trabalhar para a conexo entre essas reas, com vista ampliao e o fortalecimento da

    cena com conceito sempre underground, desvinculado dos interesses meramente comerciais.

    (Disponibilizado em www.pragatecno.com.br)

    Como j foi dito, a lista parte de um projeto mais amplo do

    Coletivo Pragatecno. Sendo assim, a comunidade virtual em questo articula-se de maneira

    estreita com esta noo de coletivo dando voz proposta do mesmo cuja tradio cabe

    5 Tal como na dicotomia entre Gemeinschaft (comunidade) e Gesellschaft (sociedade)

    explorada por Tonnies (1957)

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    aprofundar.

    Os coletivos de DJ e produtores so comuns no Brasil e no exterior.

    Trata-se de uma forma de agrupamento que retoma procedimentos das vanguardas artsticas

    do sculo XX tais como a apropriao esttica dos manifestos, tanto quanto a prpria noo

    de vanguarda, entendida neste contexto como uma forma alternativa e resistente de

    produo musical onde a noo de experimentao central.

    Freqentemente, seu discurso nos remete sigla P.L.U.R (Peace, Love,

    Unity, Respect) - ideal claramente ligado aos princpios de Paz e Amor dos anos 1960 e

    especificamente comprometido com um breve perodo da histria da msica eletrnica na

    Inglaterra, que chegou a ser conhecido como Second Summer of Love (Reynolds, 1999).

    Basicamente, em 1988, frente euforia de conhecer a msica eletrnica a partir de uma

    nova sinergia entre drogas (ecstasy), msica (Acid-House) e sociabilidade/entretenimento

    (clubes e raves), misturando todo tipo de pessoa nesses eventos, muitos ingleses

    entenderam aquele momento como o mais puro herdeiro do esprito contracultural

    sessentista.

    Ainda que essa proposta tenha sobrevivido por pouco tempo na prpria

    Inglaterra6, os ideais preconizados de liberdade de expresso, mistura scio-econmica e

    respeito alteridade transformaram-se numa tradio inventada7 (Hobsbawn & Ranger,

    1997), na medida em que se tornaram norteadores da chamada Cultura Rave. Com

    freqncia, observam-se discusses as quais se remetem quele momento para indicar as

    regras de sociabilidade e comportamento individual para os membros das cenas de msica

    6 Para mais informaes, ver Reynolds, 1999.

    7 Especialmente nos sentidos que Hobsbawn estabelece (a) aquelas que estabelecem ou simbolizam a coeso social ou as condies de admisso de um grupo ou de comunidades reais ou artificiais;

    (...); c)aquelas cujo propsito principal a socializao, a inculcao de idias, sistemas de valores e padres

    de comportamento. (Hobsbawn & Ranger, 1997; 17).

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    eletrnica.

    bastante comum encontrar na rede propostas semelhantes, que se voltam

    para ideais da contracultura dos anos 60 na busca de estabelecer regras de convvio virtual

    dessas comunidades8. O caso do P.L.U.R. uma atualizao de tal tendncia relacionada

    especificamente cena de msica eletrnica.

    Entretanto, o inclusivo discurso P.L.U.R., que enfatiza o altrusmo e o

    convvio harmnico em prol da construo da cena no d conta de problemas concretos

    de organizao social da comunidade que como qualquer outro grupo, tem que lidar com

    problemas de ordem, pertencimento, liderana, disputa simblica e legitimao.

    Thornton (1996) explora, de forma bastante lcida, a ideologia utpica sobre

    a ausncia de estratificao social que perpassa a cena clubber inglesa versus sua

    contrapartida concreta, onde hierarquias sociais so construdas o tempo todo definindo as

    fronteiras entre ns e eles. Neste sentido, a autora mostra como cdigos sociais se

    traduzem em regras de comportamento, linguagem, modo de se vestir, etc.

    Nosso problema da mesma natureza, apresentando, porm, mais uma

    varivel no considerada pela autora a comunicao mediada por computador e sua

    premissa de que qualquer um pode agregar-se a uma lista de discusso, uma vez que

    compartilhe seus interesses temticos, para alm dos constrangimentos da vida off-

    line(entre outros, ver Turkle, 1984; 1996).

    Desta forma, a possvel abertura do ciberespao a todo tipo de participao

    tambm fonte de ameaa prpria coeso e organicidade do grupo e seus valores,

    constrangendo os participantes preocupao constante e quase obsessiva com suas

    fronteiras, com os interlocutores autorizados e com a definio de quem est dentro e

    quem est fora.

    8 Para uma genealogia e crtica dessas correntes de comunidades virtuais, ver S, 2001.

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    No caso do grupo analisado, percebemos que esta preocupao se traduz

    discursivamente em torno do par underground (valorizado positivamente) e mainstream

    pensado como o mercado inescrupuloso, que se apropria oportunisticamente das legtimas

    manifestaes musicais e que se explicita na mensagem abaixo reproduzida, postada por

    um dos lderes do grupo.

    Com o avano da msica eletrnica enquanto mercado, h uma visibilidade para os Djs do

    underground (antes desprezados at mesmo pelos DJ que s tocaram popers e hits bem

    comerciais). At as empresas se associam cultura emergente da e-music e trabalham seu

    marketing buscando mdia e agregao de valores com os legtimos promotores da cena, aqueles

    que conhecem de verdade e tiveram uma cultura de compromisso com a msica mais

    underground, mais alternativa, menos comercial desde muito antes, e no agora.(...)

    Por isto, nem estranhe se voc for a uma festa e aquele DJ (que sempre tocou baba nos

    clubes) esteja agora tocando um techouse de verdade, bem experimental e under. Por que ser?

    Um dos motivos que muito fcil ser underground agora . Quer a frmula? L vai:

    1) Invente um nome estranho de DJ under (tipo Dj Trax Bleep) mesmo que voc seja

    conhecido como DJ Peixotinho, e vinha ( e vem) tocando s bagaceira hits que todo mundo

    tocava;

    2) Faa sua pesquisa under de selos e produtores sem se dar ao trabalho de

    efetivamente pesquisar as novidades: visite o site de djs e copie o set lista deles; compre ou

    baixe mp3 pela net das mesmas msicas; ou ento pea a um brother de outra cidade ou

    at de outro pas para te mandar um pacote de novidades em vinil, de preferncia

    3) Acredite que voc pode ser Dj Peixotinho (hits bagaceira) e dj Trax Bleep (under

    de verdade) e v ganhando a vida em dois mercados estticos que no se cruzam: um

    prope o mau gosto e outro pura experimentao esttica. Ah! Nesse mar de oportunismo,

    voc ainda pode ser colunista de qualquer site e, enquanto Dj Trax Bleep, dar dicas

    sinceras para o underground crescer; e inclusive meter o pau em Djs como o Dj Peixotinho

    (por acaso voc mesmo)

    A mensagem emblemtica primeiramente por ter sido postada por uma

    liderana reconhecida pelo grupo, que vai didaticamente explicitando os parmetros de

    legitimidade esttica ou seja, o capital subcultural (Thorton, 1996) que deve ser

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    resguardado pelos membros: 1) a noo de informao privilegiada e exclusiva (fazer

    pesquisa; no tocar hits bagaceira que todo mundo toca); 2) Ser participante tradicional

    da cena, no um outsider recm-chegado. 3) Ter escolhido desde o incio um codinome

    sofisticado ou claramente relacionado aos valores underground eletrnico 4) Jamais

    aceitar as regras do mainstream mercado que no se cruza com o underground, que

    deve ser espao de pura experimentao.

    Nessa fala, fica claro que o dilema desses profissionais da msica eletrnica

    o da identidade da cena frente ao rpido e significativo crescimento do mercado produtor

    e consumidor nacional de msica eletrnica. Em outras palavras, eles se indagam sobre

    como crescer, ganhar espao no mercado de festas, profissionalizar-se sem abrir mo do

    verdadeiro esprito de descompromisso comercial e experimentao radical que deve

    nortear suas aes. E a resposta que eles do a de estabelecer radicais oposies entre o

    mainstream e o underground, reivindicando para si, como grupo, o papel de porta-vozes da

    autntica msica eletrnica.

    Fazendo eco anlise de Watson (1997) analisando uma comunidade

    virtual de fs da banda de rock norte-americana Phish, a Phishnet podemos concluir esta

    seo, lembrando que o Pragatecno encaixa-se dentro de uma metfora de comunidade na

    qual um ncleo central est sempre tentando manter os valores originais da comunidade

    frente a mudana e crescimento da populao.(pg113 ).

    Isto explica a importncia desta lista de discusso, uma vez que ela funciona

    no s como um locus para a circulao da informao qualificada; mas tambm para a

    construo de todo um discurso pedaggico sobre o que a cena, definindo quem so os

    outsiders e complexificando as premissas apresentadas na Introduo sobre a

    horizontalidade das relaes dentro das comunidades virtuais.

    Thornton chama a ateno para o fato de que a noo de autenticidade no

    caiu em desuso na era da reprodutibilidade tcnica e continua a ser a uma importante

    sinalizador de fronteiras identitrias para as subculturas jovens. Anteriormente, diversos

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    autores, dos quais pode-se citar nominalmente Bourdieu (1987), lembram-nos que na

    sociedade industrial, o sistema artstico continua a operar atravs de distines de grupos,

    de pblicos, das fronteiras entre arte de elite e popular, entre outras. O fato relevante o de

    que a partir destas distines, estabelece-se a rgida lgica de pertencimento do grupo,

    demarcando-se quem pertence a ele ou no e este o caso na comunidade virtual

    analisada.

    II Rraulr : De E-Zine a Revista Eletrnica - o Comprometimento

    Jornalstico

    O Rraurl.com foi criado em 1997 pelos DJ Gil Barbara e Camilo Rocha, juntamente com a

    jornalista Gaa Passarelli. Comeou como um e-zine, com a inteno de divulgar a ento nascente cena

    Rave no Brasil. (...) o Rraurl nasceu como um pequeno e pretensioso site disposto a falar com um

    pblico vido por informao (...). Em cinco anos de existncia, o site se tornou uma confivel fonte de

    informao, tratando de msica eletrnica brasileira (...). Atualmente, o Rraurl uma revista eletrnica,

    com um completo guia de eventos, sets de DJ nacionais e internacionais, cobertura de festas, matrias

    alm de um agitado frum de discusses. (retirado do texto Histrico, em

    www.rraurl.com/info/historico).

    Atualmente, o site Rraurl um dos principais endereos eletrnicos

    brasileiros quando o assunto msica eletrnica. Conforme explicitado acima, tal projeto

    comeou como um simples site de fato, um e-zine9 que, aos poucos, foi se

    transformando numa revista eletrnica. Em outras palavras, deixou de ser um espao de

    expresso individual para abraar tambm o compromisso jornalstico na produo de

    notcias sobre a cena de msica eletrnica brasileira. Porm, a necessidade do discurso

    9 Abreviao para Electronic Fanzine. Fanzine a designao para revista feita por fs de

    certos artistas ou estilos musicais caracterizada pela opinio pessoal desprovida de qualquer preocupao com

    os parmetros profissionais de produo da informao.

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    profissional, especificamente o jornalstico, na Internet um tema em debate. Entender as

    implicaes desse comprometimento necessrio para desvendar como o Rraurl se

    constituiu como um agente autorizado dentro da cena eletrnica.

    um fato bastante comum no mercado editorial a profissionalizao de uma

    mdia que comea com escassos recursos e, aos poucos, ganha infra-estrutura para ampliar

    sua publicao em termos tecnolgicos e conseqentemente de mercado. Quando se trata

    de mdias impressas, tal transformao acarreta mudanas na qualidade do material

    impresso, nmero de cpias e alcance de pblico, mas significa principalmente a

    legalizao e regulamentao daquele trabalho10.

    No entanto, as caractersticas da Internet nos permitem problematizar esse

    processo. Como sublinhamos, a profissionalizao de uma mdia off-line implica na clara

    mudana de mercado, de infra-estrutura e conseqentemente do capital de giro e status

    profissional. Na rede, no entanto, esse esforo bem menos visvel. Embora as pginas

    virtuais evidentemente mudem de design ou dispositivos tecnolgicos, isso no implica

    necessariamente num aumento substancial do porte do empreendimento. Some-se a isso o

    fato de simplesmente estar na rede significa a priori estar ao alcance de um nmero

    superior de possveis leitores, sem as consternaes econmicas e tcnicas da tecnologia

    impressa.

    Com efeito, o aspecto mais importante a ser destacado que o termo

    profissionalizao na rede parece ser um tanto ambguo ou mesmo destitudo de sentido.

    Um dos problemas da liberdade da produo da informao na rede o embate com as

    profisses especializadas nessa tarefa, especialmente o jornalismo. H estudos que

    percebem nesse contexto democrtico uma tendncia forte para a desregulamentao da

    profisso de jornalista. Afinal, nesse mercado todos podem produzir notcias. De fato,

    10 Ou seja, submeter a equipe s leis trabalhistas na produo da informao,

    particularmente as leis que regulamentam o jornalismo.

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    Centenas de jornalistas online trabalham sem parmetros legais rompendo diariamente com o cdigo convencional do jornalismo tradicional. Textos, imagens, sons, programas e bancos de dados podem ser lidos, copiados, recopiados e enviados livremente no ciberespao. Todos estes novos suportes modificam a maneira de tratar a informao. A Internet no elimina apenas as noes de espao/tempo. Ela confunde as fronteiras entre jornalistas profissionais (diplomados pelas faculdades e reconhecidos pelos sindicatos) e produtores de contedos, segundo a definio das empresas. (Adghimi, 2002; 138).

    No nosso interesse discutir tal argumento em toda sua extenso, ou seja,

    se a rede a nica ou maior responsvel por tal fenmeno. Contudo, queremos destacar que

    a Internet realmente relativiza e amplia a noo de especializao na produo da

    informao. Da o inicial estranhamento quanto afirmao do site Rraurl de

    comprometimento jornalstico. Por que sustent-lo num contexto em que no haveria

    necessidade disso para tratar de msica eletrnica? Em outras palavras, o que indica a

    profissionalizao do site, implcito no termo revista eletrnica?

    claro que a transformao de um e-zine numa revista eletrnica acarreta

    mudanas operacionais. No incio,

    o Rraurl era atualizado uma vez por semana; as vezes nem isso. Hoje em dia ele tem rotina de

    redao (grifo nosso) criamos pautas, recebemos [textos de] colaboradores, fechamos prazos e datas,

    atualizamos o site diariamente. (Gaa Passarelli, entrevista feita em 15/08/2003).

    Em outras palavras, utilizam-se as caractersticas da Internet com muito

    mais propriedade e recursos tecnolgicos. No entanto, isso no acarreta a necessidade do

    comprometimento jornalstico. Como sugerimos, essa atitude no parece ter o mesmo efeito

    e propsito para uma mdia na Internet, como teria para uma verso impressa.

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    Porm, pode-se perceber que, se por um lado a Internet no obriga a

    profissionalizao de uma mdia, por outro, o excesso de informao requer estratgias

    mais elaboradas de construo de autoridade. Assim, analisando a histria do site,

    percebemos uma mudana de proposta do projeto.

    O que comeou como uma quase provocao tomou uma forma apaixonada quando descobrimos

    que havia muito a ser ouvido e falado ao redor do Brasil. Via lista Br-Raves e graas a seus criadores

    (...) ns pudemos travar contato com DJ, promoters e entusiastas de todo pas. A proposta do site

    mudou, cresceu, quando ele tinha ainda quase trs meses de vida: queramos que as festas fossem mais

    divulgadas, mais freqentadas e, mais que isso, queramos que os excelentes profissionais que

    estvamos conhecendo tivessem espao (...). Queramos acabar com o monoplio eletrnico do eixo Rio

    So Paulo. (Fragmento do Histrico, em www.rraurl.com/historico).

    Claramente, a proposta da pgina tinha de se alterar na medida em que seus

    autores gostariam de dialogar com outras cenas brasileiras sem privilgios locais, ou

    melhor, quebrar o monoplio eletrnico do eixo Rio So Paulo. No entanto, os

    membros do site so figuras notrias da cena paulistana e, sem dvida, marcadas por aquela

    narrativa de cena11. Nesse caso, o comprometimento jornalstico aparece, sobretudo, como

    uma estratgia discursiva que instaura a superao de regionalismos na cobertura e

    discusso da cena brasileira de msica eletrnica. Profissionalizao significa construir,

    nesse caso, a autoridade para falar com as cenas fora de So Paulo, a partir da

    ultrapassagem do discurso local. De fato, uma abordagem mais domstica restringiria o

    apelo do projeto, mesmo sendo So Paulo a principal cena brasileira.

    A credibilidade jornalstica um diferencial relevante na construo da

    legitimidade do Rraurl. Nele, a informao no tem valor apenas opinativo ou pessoal, mas

    um valor de notcia. Instaurando uma dinmica de redao com pautas semanais,

    11 O que fica particularmente claro na frase quando descobrimos que havia muito a ser

    ouvido e falado ao redor do Brasil. Ou seja, a descoberta do Brasil a partir do site.

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    atualizao diria, matrias e colunas de colaboradores com freqncia o site estabelece

    mtodos de trabalho que sero fundamentais para sua legitimao. Cabe enfatizar tambm

    que tal rotina editorial permite a disponibilizao rpida e peridica das notcias da cena

    paulistana e brasileira, aumentando o interesse por aquele endereo eletrnico.

    Sem dvida, o Rraurl se credenciando como mdia profissional na produo

    de notcias se distingue do contedo apresentado por outros sites brasileiros sobre msica

    eletrnica, que esto interessados em questes particulares, como o prprio Pragatecno.

    Apesar do constante esforo em se identificar como uma revista eletrnica,

    no se pode dizer esta seja a nica razo para que o site Rraurl tenha se tornado a principal

    revista eletrnica sobre msica eletrnica da Internet e certamente uma das mais

    importantes fontes de informao sobre o assunto em geral. Com efeito, ele combina a

    cobertura jornalstica comprometida com os conceitos do jornalismo moderno, de

    inspirao norte-americana com uma proposta de construo para a cena brasileira.

    Longe de construir a credibilidade de suas matrias a partir de um discurso

    de conhecimento tcnico como fazem, por exemplo, as mdias especializadas em

    economia, que buscam credibilidade ao demonstrar conhecer os termos tcnicos de anlise

    do mercado financeiro os membros do Rraurl tambm adotam o discurso de

    pertencimento cena de msica eletrnica brasileira como fator de legitimao do seu lugar

    de fala. Assim, torna-se importante afirmar para a cena que:

    Fazemos parte dela. Quando a gente fala de uma festa ou de um DJ, estamos falando com propriedade

    porque conhecemos o assunto, no somos outsiders contratados para escrever sobre festa rave. Ns

    comeamos junto com esse movimento (grifo nosso). Vem da nossa credibilidade. (Gaa Passarelli, entrevista

    concedida em 15/08/2003).

    A poltica editorial do site adota uma abordagem que trava discusso com

    diversas cenas brasileiras, privilegiando uma linguagem mais comunitria em detrimento de

    uma mais individual ou tcnica. Especificamente, o Rraurl sublinha o ns ao invs do

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    eu. Esse comunitarismo, destaca-se, est relacionado a uma proposta especfica de

    agregao mais uma vez, voltamo-nos ao P.L.U.R.

    No caso do Rraurl, esse ideal de cena como gemeinschaft12 atualizado na

    proposio do dilogo plural para todo o pas, a partir da superao das diferenas estticas

    e sociais entre os subgneros da msica eletrnica para a criao de uma cena coesa. Frente

    a qualquer discrdia, esse discurso de unio para proteo da comunidade , por diversas

    maneiras, ressaltado.Um exemplo significativo disso foi a criao da chamada AME e o

    conseqente embate, batizado de racha de So Paulo.

    A Organizao No-Governamental (ONG) Amigos da Msica Eletrnica

    (AME) foi fundada em meados de 2003 sendo uma iniciativa dos membros do Rraurl,

    acompanhados de outros colegas, como resposta a algumas matrias da grande imprensa

    que reportavam apreenses de drogas em festas (raves) e com DJ, eventualmente

    associando o consumo e o trfico msica eletrnica e a seus profissionais.

    Com sentimento de indignao, a AME convocava a cena brasileira a tomar

    atitudes que mostrassem

    Que a msica eletrnica tem tudo a ver com incluso social, gerao de empregos,

    valorizao da auto-estima, formao de novos talentos e divulgao de uma boa imagem do

    Brasil no exterior. (Trecho do Manifesto AME, em www.amigosme.org).

    O grupo planejou, ento, uma srie de medidas que chamassem a ateno pblica

    para o valor positivo da msica eletrnica. Quando uma mdia que ultrapassa o espao

    destacado de uma lista de discusso, apontando para uma ao de alcance amplo, ela est

    sugerindo mudanas na imagem e identidade da cena nacional. Sem dvida, esse ato seria

    problemtico e no-consensual, conseqentemente provocando conflitos entre diferentes

    grupos.

    12

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    Foi num desses conflitos que os ideais comunitrios dos membros do Rraurl

    ficou exposto. Especificamente, no episdio que ficou conhecido como racha de So

    Paulo. Em sntese, na tentativa de fazer uma Parada ao ar livre, em So Paulo, a AME

    entrou em conflito com um grupo muito expressivo no cenrio de msica eletrnica do

    Brasil. Ao sofrer crticas e retaliaes, o Rraurl (no o site da AME) tornou-se a principal

    base de articulao de uma discusso que teve na Internet seu campo de batalha. A seguinte

    citao declara o ponto de vista do Rraurl, a saber,

    O racha que se formou agora na cena tem dois lados bem ntidos e reflete bem essa

    oposio entre preocupao social e benefcio exclusivamente pessoal (grifo nosso). Um lado [o da

    AME] busca fazer algo de valor, pensar coisas no seu sentido maior, mostrar que esse bando de

    malucos coloridos danando tum-tsi-tum tem contedo, tem ideologia, tem conscincia e corao.

    (grifo nosso). Do outro lado, a nica leitura que se pode ter estamos nessa para faturar e cuidar

    do nosso. (trecho do texto Tudo Pelo Anti-Social, em www.rraurl.com/cena/coluna.php?rr_id=533).

    Ainda que o incidente todo seja muito rico para discusses, cabe-nos

    destacar agora que nesse texto, seu autor (um dos fundadores do Rraurl) claramente ataca a

    legitimidade de seus opositores por, supostamente, agirem pensando no lucro meramente

    monetrio e pessoal e no a partir de uma concepo comunitria que enfatizasse a paz,

    amor, unio em torno de um ideal13 e o respeito (P.L.U.R.), ento, bandeiras relacionadas,

    pelo autor, AME.

    O mais interessante foi perceber que na Internet, enquanto as discusses

    entre os grupos ficavam mais apaixonadas e agressivas, o acolhimento aos argumentos do

    Rraurl era muito mais claro e positivo, devido ao comprometimento explcito do grupo com

    esses ideais.

    13 interessante notar que o texto empurra a leitura para a boa essncia da proposta do

    grupo, o que fica bvio na frase esse bando de malucos coloridos ... tem contedo, tem ideologia, tem

    conscincia e corao, que significa um contedo, uma ideologia, uma conscincia de cena.

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    Concluso

    A anlise dos sites/listas Pragatecno e Rraurl nos mostrou que ambos

    utilizam-se de estratgias muito semelhantes para construrem sua legitimidade,

    constituindo-se como interlocutores importantes para a cena de msica eletrnica brasileira

    Como vimos, a comunidade virtual Pragatecno parte de um projeto mais

    amplo, do coletivo de DJ de mesmo nome, que supe sua organizao profissional segundo

    parmetros bastante rgidos discutidos nos exemplos mencionados..

    Ainda que o ideal P.L.U.R. sublinhe o respeito e a incluso de toda

    alteridade, este grupo deve definir o que ou no parte dele. Para tanto, a construo dos

    parmetros sobre que a cena de msica eletrnica crucial e significa que o grupo vai

    lidar todo o tempo com a construo de hierarquias e limites.

    No caso do Rraurl, nossa preocupao esteve localizada no

    desmembramento dos dois pilares de sua credibilidade enquanto mdia especializada, a

    saber, o comprometimento jornalstico e o sentimento de pertencimento a uma comunidade.

    Diante do excesso de informao, que reconfigura nossa experincia na rede,

    o Rraurl procurou utilizar certas estratgias para se tornar uma fonte de informao crvel

    para cena. Como os episdios da criao da AME e do racha paulistano indicam, essa busca

    por espao no se relaciona exclusivamente com a questo do mercado, mas com a

    legitimao da mdia e de seus autores como personagens importantes para discutir e

    reconstruir a prpria imagem da cena brasileira de msica eletrnica.

    Atravs destes dois exemplos, ento, podemos perceber as sutilezas da

    construo da legitimidade on-line e como, no caso de uma certa vertente da msica

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    eletrnica brasileira que estes grupos representam, a noo de mercado est subordinada

    noo de comunidade underground. Para ambos os grupos, a profissionalizao bem-

    vinda e uma das misses coletivas o da consolidao da cena nacional com o

    aumento do nmero de festas, eventos e Djs. Entretanto, este crescimento profissional deve

    manter-se controlado e subdito a uma noo do que a cultura underground, no se

    confundindo com o mercado massivo e com as mdias mainstream.

    O papel de seus coletivos virtuais, portanto, ultrapassa em muito a

    concepo de um espao para a circulao de informaes sobre a cena. Trata-se, nos dois

    casos, da manuteno de espaos simblicos de transmisso e pedagogia, onde a tradio

    inventada dos ideais do P.L.U.R celebrada entre os pioneiros e transmitida para os

    recm-chegados a estes fronts underground da msica eletrnica nacional, tal como se l

    na pgina de abertura do Praga:

    O sentido tribal de danar nos une num ritual hedonista de prazer. Nosso

    planeta Terra nada mais que uma enorme pista de dana. Celebramos a paz, o amor, a

    tecnologia e groove.(consulta em 15 de janeiro de 2004)

    Enfim, estes exemplos contribuem para complexificarmos a discusso sobre

    as interaes sociais no ciberespao, aprofundando problemas da vida social on-line em

    suas especificidades e utilizaes concretas das tecnologias da comunicao.

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