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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Danielly Hanashiro Tatiane Alves Thais Moane Bed and Breakfast no Brasil São Paulo 2009

Bed and Breakfast No Brasil

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

Danielly Hanashiro

Tatiane Alves

Thais Moane

Bed and Breakfast no Brasil

São Paulo 2009

Page 2: Bed and Breakfast No Brasil

Danielly Hanashiro

Tatiane Alves

Thais Moane

Bed and Breakfast no Brasil

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao Centro Universitário

SENAC – Campus Santo Amaro, como

exigência parcial para obtenção do grau de

Bacharelado em Hotelaria.

Orientador Temático: Júlio César Butuhy

São Paulo 2009

Page 3: Bed and Breakfast No Brasil

HANASHIRO, Danielly. ALVES, Tatiane. MOANE, Thais

Bed and Breakfast no Brasil / Danielly Hanashiro, Tatiane Alves,Thais Moane

– São Paulo 2009. 102 p.

Trabalho de Conclusão de Curso – Centro Universitário SENAC Campus

Santo Amaro – Bacharel em Hotelaria

Orientador: Júlio César Butuhy 1. Bed and Breakfast 2. Hospitalidade 3. Sustentabilidade

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Danielly Hanashiro

Tatiane Alves

Thais Moane

Bed and Breakfast no Brasil

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao Centro Universitário

SENAC – Campus Santo Amaro, como

exigência parcial para obtenção do grau de

Bacharelado em Hotelaria.

Orientador Temático: Júlio César Butuhy

A banca examinadora de Conclusão de Curso em sessão pública realizada

em 05/10/ 2009, considerou o (a) candidato (a).

1. Examinador (a)

2. Examinador (a)

3. Examinador (a)

Page 5: Bed and Breakfast No Brasil

Aos nossos pais, que sempre nos auxiliaram nas

dificuldades ao longo do curso. Aos nossos amigos e

companheiros que de alguma forma nos

compreenderam e auxiliaram na execução deste

importante projeto para nossas vidas.

Page 6: Bed and Breakfast No Brasil

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todos aqueles que sempre estiveram ao nosso lado

durante os quatro anos que se seguiram e a elaboração deste projeto.

Primeiramente às nossas famílias, pais, irmãos e amigos que nos incentivaram a

essa nova etapa de nossas vidas adulta, dando-nos todo suporte necessário para

a realização, tanto acadêmica quanto pessoal.

Gostaríamos de agradecer também a todos os profissionais que de alguma

forma contribuíram para esse projeto. A todos envolvidos da agência Cama e

Café, Carlos Magno Cerqueira, gerente comercial, Ana Laura Lopes de Andrade,

psicóloga e responsável por acolher a sede da agência, Daniella Grego, gerente

de operações e a anfitriã Flávia Garcia, que acrescentaram conhecimentos ao

nosso projeto proporcionando novas perspectivas do mercado hoteleiro.

Aos gerentes dos hotéis que trabalhamos, por terem permitido nosso

afastamento para pesquisa de campo na cidade do Rio de Janeiro e por nos

ofereceram hospedagem gratuita no período da visita.

É de fundamental importância expressar nossa gratidão para com o nosso

professor e orientador Júlio César Butuhy e nossa professora metodológica

Mônica Bueno, que ao longo do curso nos ofereceu conhecimento e habilidades.

Page 7: Bed and Breakfast No Brasil

“Hospitalidade não significa mudar as pessoas, e, sim, oferecer-lhes o espaço

necessário para que as transformações possam ocorrer. (…) A hospitalidade não

é um convite sutil ao hóspede para que adote o estilo de vida de seu anfitrião,

mas é a concessão ao hóspede, de encontrar seu próprio estilo de vida”.

Henri Nouwen

“A hospitalidade é antes de mais nada uma disposição da alma, aberta e irrestrita.

Ela, como o amor incondicional, em princípio, não rejeita nem discrimina a

ninguém. É simultaneamente uma utopia e uma prática”.

Leonardo Boff

Page 8: Bed and Breakfast No Brasil

RESUMO

Este trabalho aborda o encontro entre turistas e anfitriões no modo de

hospedagem domiciliar, especificamente o de tipo bed and breakfast (ou cama e

café) no bairro de Santa Teresa, na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo é de

examinar a relação de hospitalidade entre essas partes, estabelecida através

desse sistema, o qual permite uma experiência interpessoal, além de ser de

grande importância na constituição de vivência integral de turismo, na perspectiva

de sustentabilidade. A pesquisa, ainda, tem como objetivo ser uma referência

bibliográfica para pesquisas e conhecimento geral, visto que hoje, no Brasil, é

escasso material sobre esse assunto. Além disso, as autoras analisaram alguns

locais que possuem características semelhantes com Santa Teresa, e que por

sua vez também tenham foco no turismo histórico-cultural, mas acesso à outras

formas de turismo em sua proximidade, o que acarreta em um ganho tanto para a

cidade, quanto para a comunidade, já que haverá mais procura no local e a

economia, portanto, será beneficiada.

Palavras – chaves: Bed and Breakfast, hospitalidade, sustentabilidade.

Page 9: Bed and Breakfast No Brasil

ABSTRACT

This essay approaches the meeting between tourists and hosts in home

lodging, specifically bed and breakfast in Santa Teresa, a neighborhood in the city

of Rio de Janeiro. The goal is to examine the relationship of hospitality among the

parts that is established by this system, allowing a different contact, know as

interpersonal relationship, besides being of extreme importance in the constitution

of a tourism experience, when it comes to viability. The research, also, has the

intention to become a bibliographical reference, for researches and common

knowledge, once, this kind of material is scarce in Brazil. In addition, the writers

analyzed some spots that possess similar characteristics to Santa Teresa, which

also focus on a cultural-historic tourism and are located near other forms of

tourism, driving the city and the community to profit from that, for the interest in the

place will be higher and the economy might develop.

Key – words: bed and breakfast, hospitality, viability.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Casarão do Século XIX.........................................................................18

Figura 2 - Placa de Sinalização do Meio de Hospedagem B&B............................20

Figura 3 - Busca Temática Através do Site............................................................25

Figura 4 - Logo do Rio Home Stay e do Cama e Café..........................................27

Figura 5 – Pacote Romântico.................................................................................27

Figura 6 – Mapa de Santa Teresa.........................................................................42

Figura 7 – Bondinho...............................................................................................43

Figura 8 – Igreja de Santa Teresa.........................................................................43

Figura 9 - Casa do Cama e Café Estilo Castelo....................................................44

Figura 10 – Parque das Ruínas.............................................................................45

Figura 11 - Vista do Mirante - Parque das Ruínas.................................................45

Figura 12 - Museu Chácara do Céu.......................................................................46

Figura 13 – Quarto e Sala......................................................................................47

Figura 14 – Quarto e Sala......................................................................................47

Figura 15 – Hotel de Santa Teresa........................................................................48

Figura 16 - Café da manhã na casa da Ana Laura................................................57

Figura 17 - Página do Site Riotur...........................................................................60

Figura 18 – Rio do Engenho..................................................................................72

Figura 19 – Ouro Preto..........................................................................................75

Gráfico 1- Hospedagem Domiciliar no Rio de Janeiro – 2008...............................31

Gráfico 2- Perfil do público – 2005.........................................................................32

Gráfico 3- Taxa de Ocupação nas Principais Áreas do Rio de Janeiro – 2008.....37

Gráfico 4- Distribuição Percentual dos Room Nights – 2008.................................40

Gráfico 5- Anfitriões Cadastrados na Sede Cama e Café.....................................51

Gráfico 6- Quartos Existentes nas Casas Cadastradas.........................................52

Gráfico 7- Categoria dos Apartamentos que são Oferecidos pelos Anfitriões.......52

Gráfico 8- Banheiros Privativos ou Coletivos.........................................................52

Gráfico 9- Ocupação Máxima de Hóspedes..........................................................53

Gráfico 10- Média das Diárias Cobrada – por categoria........................................53

Page 11: Bed and Breakfast No Brasil

LISTA DE TABELAS

1- Destinos de Continentes e Cidades Turísticas do B&b.....................................19

2- Perfil do Anfitrião................................................................................................30

3- Perfil do Turista Nacional e Estrangeiro – 2003 a 2006....................................32

4- Taxa de Ocupação Trimestral – 2001 a 2008....................................................36

5- Taxa Média de Ocupação – 2000 a 2008..........................................................36

6- Taxa de Ocupação Segundo a Categoria de Uh’s – 2008................................36

7- Diária Média do Quarto Vendido........................................................................38

8- Tempo de Permanência dos Hóspedes – 2008.................................................39

9- Percentual Médio de Room Nights – 2003 a 2008............................................40

10- Número de Turistas e sua Participação – 2007 a 2008...................................41

11- PIB Real – 1970 a 2003................................................................................. 69

12- Per Capita do Estado do Espírito Santo – 1995 a 2003..................................69

13- Projeção do Emprego Formal do Turismo no Espírito Santo – 2004 a 2005..70

14- Segmento x Mercado.......................................................................................71

Page 12: Bed and Breakfast No Brasil

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................14 2. CONCEITO DE BED AND BREAKFAST (b&b)....…………………….16 2.1 Histórico..........................................................................................................18

2.2 Hospedagem Domiciliar Aliado à Sustentabilidade...................................27

2.3 Perfil do Anfitrião Brasileiro.........................................................................30

3. TURISMO CULTURAL...............................................................................34

3.1 A Cidade do Rio de Janeiro.........................................................................35

3.2 Procedência dos Turistas.............................................................................40

4. O BAIRRO DE SANTA TERESA.............................................................42

4.1 Pontos Turísticos...........................................................................................43

4.2 Oferta Hoteleira no Bairro de Santa Teresa.................................................46

5. A HOSPEDAGEM DOMICILIAR EM SANTA TERESA.....................49

5.1 Agência Cama e Café.....................................................................................49

5.2 Experiência Vivida pelas Autoras.................................................................54

5.3 Comitê Organizador dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro.........57

5.4 Divulgação do Produto por Entidades Públicas.........................................60

6. PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO B&B NO BRASIL................63

6.1 Benefícios da Hospedagem Domiciliar........................................................63

6.2 Principais Dificuldades para Implantação da Hospedagem Domiciliar....64

6.3 Alternativas para Minimizar as Dificuldades de Implantação do B&b......65

6.4 Destinos..........................................................................................................67

Page 13: Bed and Breakfast No Brasil

6.5 Copa do Mundo de 2014................................................................................80

6.6 Jogos Olímpicos de 2016..............................................................................82

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................86

APÊNDICE A.....................................................................................................89

APÊNDICE B.....................................................................................................94

APÊNDICE C.....................................................................................................98

Page 14: Bed and Breakfast No Brasil

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1. INTRODUÇÃO

Muitas são as formas de hospedar e bem receber, mas somente a

hospedagem domiciliar remete a sensação de estar em casa. O estudo

desenvolvido apresentará um olhar sobre a implantação do bed and breakfast

(b&b) no Brasil, como base o bairro de Santa Teresa – R.J., tendo na

hospitalidade do bairro o ponto central da análise. Buscou-se compreender mais

sobre o trabalho desenvolvido pelos fundadores da rede e pelo trabalho dos

anfitriões.

A existência da hospedagem domiciliar de modo estruturado e formal é

recente no Brasil. Sua prática vem, aos poucos, despertando a curiosidade e o

interesse do publico em geral e dos profissionais da área de turismo.

No entanto, esse é um tema pouco explorado pela literatura técnica e

acadêmica, principalmente em âmbito nacional. Por sua novidade, esse não é um

campo com definições claras e demarcadas. Assim, para esse projeto, foi

necessário uma pesquisa de campo e um serviço oculto para que, antes de

qualquer análise, fosse possível avaliar o serviço oferecido pelos anfitriões e o

trabalho executado pelos fundadores e colaboradores da rede.

Acredita-se que o interesse da Prefeitura do Rio de Janeiro pelo projeto irá

crescer por conta da exigência de novos leitos para atender a demanda que será

gerada pela Copa do Mundo em 2014 e pelos Jogos Olímpicos em 2016, que terá

o Rio de Janeiro como sede. Isso será significativo para o projeto, pois os futuros

eventos farão com que o sistema de hospedagem domiciliar venha a ser

constantemente construídos e divulgados.

Em síntese, o trabalho procurou contribuir para a construção de um

referencial teórico para servir de base a outros interessados que de alguma forma

procuram obter esclarecimento sobre os projetos em andamento e suas

expectativas, além de analisar outros locais do Brasil onde seria viável a

implantação desse meio de hospedagem.

Page 15: Bed and Breakfast No Brasil

15

Deste modo, para a realização desta pesquisa, foram levantadas algumas

questões para que se possa compreender como funciona o meio de hospedagem

domiciliar, Cama e Café: Porque se desenvolveu no Brasil de forma distinta do

restante do mundo?, o surgimento em Santa Teresa aconteceu por necessidade

ou oportunidade?, além de saber como é a descrição da experiência, com foco no

anfitrião e hóspede?.

Este trabalho teve por objetivo concluir um estudo sobre o meio de

hospedagem b&b e produzir uma referência bibliográfica sobre o assunto e

entender como se dá a operação do sistema (reserva, pagamento, regras,

facilidades) através da vivência da hospedagem. O trabalho tem por objetivo

também indicar lugares que possuam características semelhantes ao do bairro de

Santa Teresa, que possui o turismo histórico-cultural, no qual a comunidade pode

contribuir com o turismo recebendo o visitante em suas casas.

Para se obter o objetivo geral, foi necessário Identificar os reais motivos do

surgimento dos b&b em Santa Teresa, Identificar os motivos de seu

desenvolvimento diferenciado no país e qual o perfil dos anfitriões e turistas e

como se dá a relação entre eles.

Justifica-se a escolha deste tema, sobretudo, pela importância desse

segmento na hotelaria e no turismo. O b&b é um meio de hospedagem

alternativo, rentável e sustentável, que promove maior integração do turista com o

local visitado e proporciona intensa troca de experiências. Desenvolveu-se no

Brasil diferentemente do resto do mundo, com maior qualidade e em menor

quantidade. A maioria dos brasileiros não tem conhecimento sobre o assunto e

não há grandes investimentos e divulgação no setor.

Para realizar a análise dos fatos descritos acima ao longo do trabalho,

foram utilizados instrumentos de coleta de dados de bibliografias como livros na

área de hospitalidade domiciliar, turismo sustentável, gestão de destinos

turísticos, artigos jornalísticos e sites de jornais e órgãos do governo foram

altamente úteis para a conclusão de idéias e definições teóricas. Igualmente,

foram realizadas pesquisa de campo, um cenário de cliente oculto e entrevistas

(ver apêndices A, B e C) com profissionais diretamente ligados ao tema

desenvolvido.

Page 16: Bed and Breakfast No Brasil

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2. CONCEITO DE BED AND BREAKFAST (b&b)

De acordo com o Art 23, Subseção II do Ministério do Turismo (MTur):

Consideram-se meios de hospedagem os empreendimentos ou estabelecimentos, independentemente de sua forma de constituição, destinados a prestar serviços de alojamento temporário, ofertados em unidades de freqüência individual e de uso exclusivo do hóspede, bem como outros serviços necessários aos usuários, denominados de serviços de hospedagem, mediante adoção de instrumento contratual, tácito ou expresso, e cobrança de diária. (2009).

Bed and breakfast é considerado um meio de hospedagem domiciliar, onde

os moradores da cidade oferecem um ou mais cômodos de sua própria residência

para receber visitantes.

A hospitalidade comercial em uma casa particular se refere a uma variedade de acomodações, desde alojamento particulares com café da manhã até casas para hóspedes, desde pequenos hotéis até casas urbanas, desde casas campestres em que o hóspede providencia sua própria alimentação (self catering cottages) até famílias hospedeiras. Esses tipos de operação têm em comum o fato de que a instalação física é a residência principal para os hospedeiros. (LYNCH, 2004, p. 146)

No Brasil, o b&b se enquadra na categoria de meios de hospedagem sem

exigência de registro do hóspede, onde o órgão oficial de turismo, o MTur não

exige cadastramento para os estabelecimentos assim caracterizados.

Este tipo de hospedagem pode assumir quatro diferentes modalidades:

1. Casas construídas e mantidas prioritariamente para aluguel de

temporada. Neste caso elas só são ocupadas ocasionalmente pelos

proprietários, que tanto podem habitar na mesma cidade, quanto serem de

fora e usarem a casa eventualmente, principalmente durante feriados ou

férias.

2. Casas habitadas que são alugadas para temporada - os moradores

deixam temporariamente suas casas para deixar espaço para receber os

turistas.

Page 17: Bed and Breakfast No Brasil

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3. Casas onde os moradores disponibilizam um cômodo para os turistas,

mas não se preocupam em oferecer serviços, como limpeza e arrumação e

café da manha.

4. Casas onde os moradores disponibilizam um cômodo da casa e se

encarregam dos serviços.

A modalidade a ser explorada neste estudo é a que o turista recebe os

serviços oferecidos pelo seu anfitrião, estando incluso em sua compra uma

acomodação já devidamente especificada e o café-da-manhã. A prefeitura do

município do Rio de Janeiro define hospedagem domiciliar como:

Uma modalidade especial de serviço de hospedagem, em que o hóspede utiliza um quarto na residência do hospedeiro ou anfitrião, compartilhando alguns espaços da residência. Para o hóspede, é uma maneira de se aproximar mais dos hábitos e da cultura local, usufruindo um serviço de qualidade a preços acessíveis. (2009).

O proprietário e sua família, que vivem no local, o administram algumas

vezes com a ajuda de associações, cooperativas ou agências que organizam as

reservas e a política de marketing. O café da manhã é normalmente a única

refeição servida, mas em alguns casos o anfitrião pode oferecer também outras

opções, a serem feitas junto com a família ou isoladamente. A estrutura física das

casas varia muito de acordo com as tradições de cada local, mas apresentam,

normalmente, de um a três quartos destinados (não sempre exclusivamente) à

atividade.

A dupla função da residência - moradia e hospedagem de turistas -

aproxima o proprietário e sua família dos hóspedes, inclusive expondo

naturalmente aspectos do dia-a-dia, como tarefas domésticas, preferências

pessoais, cultura, lazer e relacionamentos. Para Stankus (1987), o tempo que o

proprietário gasta com os hóspedes é reconhecidamente um dos principais

motivos que atraem o turista para o b&b, sendo a maior diferença para as outras

formas de acomodação.

Page 18: Bed and Breakfast No Brasil

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2.1 Histórico

O meio de hospedagem domiciliar não surgiu apenas com um bom café

da manhã e um confortável quarto como se imagina. Segundo Smith & Smith

(2002), tudo começou nas Ilhas Britânicas - Reino Unido, após a Segunda

Guerra Mundial. Nessa altura, numerosos estrangeiros precisavam de um lugar

para ficar e as populações locais começaram a abrir suas casas para receber os

viajantes, servindo almoço aos convidados “overnight”. Assim, uma cama e o

almoço eram oferecidos.

O almoço se resumia em um simples prato de comida caseira,

normalmente servida na sala de jantar, no quarto ou em um pátio, no jardim da

casa. Apesar das residências serem grandes, a situação das acomodações era

precário, possuindo apenas um banheiro coletivo que se encontrava muitas

vezes ao lado de fora da casa. Devido à grande quantidade de visitantes, as

acomodações da casa não eram suficientes para abrigar a todos, fazendo com

que os anfitriões disponibilizassem redes que eram colocadas na varanda da

casa. Todos que chegavam a essas casas tinham uma permanência obrigatória,

porém curta, pois o motivo delas estarem ali era apenas pela suas necessidades

físicas.

Já segundo Pimentel (2003), o termo "Bed and Breakfast" nasceu na

Inglaterra, durante o Século XIX, onde proprietários de ricas mansões,

empobrecidos, começaram a cobrar uma taxa de seus hóspedes, como um modo

de ampliar sua renda. Aos poucos, a prática foi se ampliando e tomando a forma

Figura 1 - Casarão do Século XIX Fonte: Google Imagens

Page 19: Bed and Breakfast No Brasil

19

de um verdadeiro serviço turístico. Ou seja, além de cama e café da manhã, o

turista encontrava um sistema de recepção, apoio e informações turísticas sobre a

área. Entretanto, nesse tipo de estabelecimento, o negócio de hóspedes pagantes

é secundário ao uso como residência privada.

Nesse período, surge uma grande necessidade econômica por parte dos

anfitriões que já tinham o costume de receber estrangeiros sem cobrar nada em

troca, transformando o proprietário e sua família, que vivem no local,

administradores. As refeições oferecidas são substituídas pelo café da manhã,

onde é a única refeição servida. As acomodações e a estrutura física das casas

variam muito de acordo com as leis e tradições de cada local, mas apresentam,

normalmente, de um a três quartos destinados (não sempre exclusivamente) à

atividade, onde os banheiros são coletivos, porém estão instalados dentro da

residência.

Histórico do B&B no Mundo

O b&b tem se desenvolvido cada vez mais no mundo todo. A fórmula de

hospedagem vem se espalhando por todos os continentes e cidades turísticas. A

tabela abaixo é uma fonte de pesquisa de b&bs do site bedandbreakfast.com.

Tabela 1: Destinos de continentes e cidades turísticas Fonte: www.bedandbreakfast.com

Londres - Inglaterra

Segundo a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (2008), Londres é

considerada a cidade onde o serviço de hospedagem domiciliar é o mais

desenvolvido em todo o planeta. Existe em Londres, aproximadamente 16.600

leitos em regime de b&b, o que equivale a aproximadamente 16% da oferta de

Page 20: Bed and Breakfast No Brasil

20

hospedagem na cidade. Cerca de 90% desses leitos são oferecidos ao mercado

turístico através de 21 agências especializadas. Considerando – se uma taxa

média de ocupação de 52% ao ano, o faturamento do mercado pode ser estimado

em £ 221.850 por noite, ou £ 81 milhões ao ano, revelando a grande importância

do segmento para o mercado turístico inglês.

Os principais usuários do b&b londrinos são viajantes norte-americanos,

franceses, alemães e holandeses, entre 25 e 55 anos de idade. A principal

motivação da viagem é o lazer, seguido de negócios e visitas a parentes e

amigos.

Outro segmento importante é o estudante em curtas viagens para

aprendizagem do idioma. A grande maioria dos estudantes considera este tipo de

hospedagem a forma ideal de integração com a população e o principal modo de

desenvolver o idioma local. Nesses casos, muitas escolas de idiomas indicam

redes de hospedagem com as quais mantêm parceria.

O aumento dos fluxos turísticos e a relativa inelasticidade da capacitação

hoteleira estimulou o surgimento de novos b&b na capital britânica, a partir dos

anos 1990. Isso foi particularmente importante em bairros como Lambeth, Sutton

e Islington, que entraram para o roteiro de hospedagem com a saturação das

áreas mais tradicionais do centro e oeste de Londres. Atualmente existem 560

TICs (Centros de Informação Turística) em toda a Inglaterra e outros ainda

operando na Escócia e no País de Gales. Em 1998, foi fundada a Bed and

Breakfast & Homestay Association - BBHA, com o objetivo de manter e melhorar

os serviços de b&b oferecidos em Londres. Mas foi em abril de 2003, que o

Figura 2 – Placa de sinalização do meio de hospedagem B&B Fonte: Google Imagens

Page 21: Bed and Breakfast No Brasil

21

VisitBritain foi criado, tendo como missão divulgar a imagem da Grã Bretanha

como um destino turístico mundial.

Estados Unidos

Segundo a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (2008), o sistema de

b&b se desenvolveu nos Estados Unidos durante a grande depressão econômica

dos anos 1930. Muitos americanos abriram suas casas para viajantes como forma

de obter uma fonte extra de renda. Usava-se a expressão boarding house para

classificar esse tipo de hospedagem. Passada a depressão econômica, a

hospedagem domiciliar manteve-se como uma alternativa para muitas famílias

continuarem a complementar sua renda.

Com o aumento do número de norte-americanos viajando para a Europa,

principalmente na década de 1980, aos poucos o sistema bed and breakfast foi

redescoberto pelo mercado dos EUA. Em 1988, foi criada a Profissional

Association of Innkeepers International - PAII, com o objetivo de dinamizar e

aperfeiçoar a atividade nos Estados Unidos e países vizinhos. A missão da PAII é

fornecer cursos, informação, contatos, assistência jurídica, oportunidades de

negócios e pesquisas relacionadas ao seguimento de b&b. O estudo da indústria

realizado anualmente pela PAII é a fonte de informações do setor mais respeitado

dos EUA sobre a gestão de b&b.

A PAII foi criada por dois anfitriões, Pat Hardy and Joann Bell, como

desdobramento de sua publicação mensal de sucesso: a Innkeeping. De um

modesto escritório em Santa Barbara, Califórnia, a PAII cresceu para uma

organização nacional de 3 mil membros que, além de manter a produção de vasto

conteúdo sobre a indústria de b&b, promove educação continuada, troca de

informações e ofertas de aquisições de produtos.

Dados da PAII mostram que, em 2004, o número de propriedades com

serviços de b&b nos EUA girava entorno de 20 mil, atendendo a

aproximadamente 55 milhões de turistas e com uma taxa de ocupação média de

41,4%. O volume movimentado por esse setor de acomodação turística alcançou

US$ 3,04 bilhões em 2004, sendo que a diária média do setor está em torno de

UR$ 143,90. Números da PAII revelam que o perfil dos adeptos da modalidade

nos EUA é: 29% dos imóveis que oferecem esse tipo de acomodação domiciliar

estão situados em áreas rurais, 16% em zonas urbanas, 3% em subúrbios e 52%

Page 22: Bed and Breakfast No Brasil

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em cidades pequenas, no total, 83% dos da oferta de casas localizam-se em

destinos turísticos conhecidos. Sobre os anfitriões, a sondagem da PAII revela

que 88% vivem no imóvel e 55% dos proprietários dependem de outra fonte de

renda, além da gerada pelo b&b.

Itália

Segundo Linch (2004), a Itália também conta com uma organização

nacional especifica para o setor de hospedagem residencial no país. Em 1999, foi

criada a Associazione Nazionale dei bed and breakfast e degli Affittacamere

(ANBBA), entidade sem fins lucrativos cuja missão é difundir, promover e

organizar o segmento, além de representá-lo diante das demais instituições e do

público em geral.

A intermediação do ANBBA permite aos proprietários realizarem

negociações mais vantajosas com seus fornecedores, o que seria difícil acontecer

individualmente. A organização busca preservar ainda a tradição e a cultura

italianas ao favorecer a difusão da hospitalidade turística do tipo familiar.

Cinco anos após sua criação, em 2004, a ANBBA foi reconhecida pelo

Ministéro Attività Produttive da Itália, equivalente ao Ministério da Indústria e

Comércio, como uma Entidade Turística Qualificada e a organização mais

representativa do setor extra-hoteleiro. Para o governo italiano, o setor de bed

and breakfast assumiu uma notável importância no quadro da revitalização

turística do país. A maior agência de hospedagem domiciliar do país é a bed and

breakfast Italia, fundada em 1995 por profissionais de marketing e turismo e que

conta com aproximadamente 1.642 associados em mais de 546 localidades. No

ano de 2005 a rede recebeu cerca de 7.500 hóspedes, o que representou um

crescimento de 20% em relação ao ano anterior. As atividades da rede dividem-se

em duas áreas principais: seleção e controle de casas e anfitriões; e call center

(central de atendimento), em cinco línguas, para a realização de reservas e

fornecimento de informações aos clientes. O website www.bbitalia.it foi o primeiro

na Europa a possibilitar a reserva online com apenas quatro cliques. Graças a

esse pioneirismo, em 2005 a b&b Itália foi convidada pela municipalidade de Paris

para desenvolver uma nova rede de b&b na cidade, uma vez que a Capital da

França não é considerada uma cidade que dispõe da mais intensa ou tradicional

rede de hospedagem domiciliar.

Page 23: Bed and Breakfast No Brasil

23

Winnipeg – Canadá

A cidade de Winnipeg que abrigou os Jogos Pan-americanos de 1999, já o

havia feito em 1967. Estima-se que 110.000 visitantes tenham participado do

evento, mobilizando todos os recursos de hospedagem da cidade, incluindo os

b&b e locação temporária de domicílios. A cidade conta com 620 mil habitantes e

é a capital da província de Manitoba, na região de pradarias que se estende a

noroeste dos Grandes Lagos por todo o Canadá central. É uma antiga cidade de

fronteira, fundada por comerciantes de peles franceses em 1738.

De acordo com a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (2008), para as

famílias de Winnipeg, receber hóspedes tem um valor semelhante ao que

predomina no Reino Unido, reforçado pelo fato de se tratar de uma cidade de

fronteira. Seu cadastro de meios de hospedagem inclui 31 estabelecimentos de

b&b, oferecendo cerca de 80 quartos para hospedagem (na província de

Manitoba são 100 estabelecimentos). Na cidade, 2/3 das residências participam

de uma rede e o terço restante mantém-se de maneira independente. Existem

duas associações organizadas pelos anfitriões com o objetivo de promover a

divulgação e comercialização, bem como de zelar pelos padrões de qualidade dos

serviços: a bed and breakfast Association of Manitoba e a Heritage bed and

breakfast Homes of Winnipeg. Além disso, foi organizada uma empresa auxiliar

para prestar serviços a esses estabelecimentos: a bed and breakfast of Manitoba

Marketing Co-op.

Sidney

De acordo com Pimentel (2003), ao contrário das experiências de outros

países, a rede de hospedagem domiciliar para as Olimpíadas de Sidney em 2000

não foi organizada por agências ou associações do setor turístico, mas pelo

segmento de intermediação imobiliária (real state agents).

Fundada em 1902, o grupo Ray White detém uma das mais importantes

empresas imobiliárias da Austrália, operando mais de 87 escritórios espalhados

na Austrália, Nova Zelândia, no sudeste da Ásia. A empresa emprega mais de 7

mil pessoas em sua atividade e foi escolhida pelo comitê organizador dos jogos

para administrar o programa oficial de acomodação residencial.

Do lado da oferta, criou um programa de recrutamento de anfitriões pela

internet. Os hóspedes potenciais podiam procurar entre diversos perfis e

Page 24: Bed and Breakfast No Brasil

24

orçamentos, usando uma ferramenta de busca do portal. Além de hospedagem

em residências de família, podia-se optar também pelo aluguel do imóvel por

temporada, sendo que se estima uma relação de 70% para 30% entre duas

modalidades, respectivamente.

Para participar da rede, as residências candidatas tiveram que submeter-se

a uma inspeção da central de reservas, adequando-se as exigências arcando com

uma taxa de vistoria de 105 dólares americanos. Sobre as reservas para

hospedagem e encaminhadas pela central de reserva, os anfitriões foram

descontados em 8% sobre o valor das diárias (comissão) e mais 6,25% sobre o

valor da primeira diária (taxa de reserva).

B&B no Brasil

No Brasil, a prática do b&b, assim como de outras formas de hospedagem

domiciliar, ocorre já há alguns anos, embora de modo informal e desarticulado.

Existem ofertas deste tipo de hospedagem no Rio de Janeiro e em diversos

estados brasileiros, além de episodicamente por ocasião de grandes eventos

regionais, como o Boi Bumbá em Paritins, Oktober Fest em Blumenau e o Fórum

Social Mundial em Porto Alegre. Estas experiências adaptaram a fórmula b&b à

realidade brasileira. A situação legal e organizativa pode variar. As hospedagens

domiciliares podem ser formais - com CNPJ e registro no Ministério do Turismo;

semi-formais - quando há uma instituição dando apoio, como o Sebrae,

Associação de Moradores, Secretaria de Turismo Municipal ou Estadual, etc; ou

completamente informal.

Não há ainda regulamentação jurídica ou definição oficial desenvolvida

pelo governo federal que possa balizar uma conceituação. Esta vem sendo

formada principalmente através das empresas existentes e iniciativas municipais

isoladas, através de contatos dos empresários com técnicos e profissionais da

área e poder público e da divulgação a mais longo alcance pela mídia.

O poder público começa aos poucos a prestar atenção a esse modo de

hospedagem, mas ainda não há um posicionamento claro nesse sentido, se

revestindo na formulação de políticas, principalmente a nível nacional. Em 2006, o

Ministério do Turismo encomendou um estudo técnico analítico sobre o tema, mas

este é bastante incompleto. E não se tem notícias de projetos ou políticas

implementadas.

Page 25: Bed and Breakfast No Brasil

25

Agências promotoras e/ou divulgadoras no Brasil

Existem poucas agências especializadas na prestação de serviços de

reservas para a modalidade de hospedagem domiciliar no Brasil, uma delas é a

BBBrasil, que foi implantada no inicio de 2003 e atualmente conta com

aproximadamente 115 casas (ou resorts, como são chamados no site) em

atividade e 100 sendo avaliados. A rede tem abrangência nacional, atuando no

Amazonas, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Pará, Rio

de Janeiro e São Paulo. Está prevista a expansão para o Maranhão, Santa

Catarina e Goiás.

As reservas podem ser feitas de duas maneiras: por meio do site

www.bbbrasil.info ou de um Call Center que reúne 16 linhas ativas e atendentes

capazes de dar informações em cinco idiomas. Uma vez realizada a pré-reserva,

o atendente verifica com os anfitriões ou proprietários a real disponibilidade do

imóvel e confirma a reserva, em um procedimento que leva no máximo 48h após

o inicio da compra. Apesar de o check-in ocorrer direto nas casas, à rede conta

com resorts managers, espécie de gerentes locais que dão suporte aos

hóspedes, realizam as campanhas de afiliação e o controle de qualidade.

O site do BBBrasil oferece uma série de funcionalidades para facilitar a

escolha do hóspede, com recursos como busca temática e geográficas, além da

busca livre. Fornece ainda informações úteis para o viajante em cada localidade. O

site tem quase todo o seu conteúdo disponível em quatro idiomas: inglês,

português, Italiano e Francês.

Figura 3 – Busca temática através do site Fonte: www.bbbrasil.info.br

Page 26: Bed and Breakfast No Brasil

26

As residências são classificadas em três níveis distintos, de acordo com

sua situação, característica e serviços oferecidos. Além da hospedagem nos

moldes de b&b, a rede oferece também residências (casas ou apartamentos) para

aluguel de curtos ou longos períodos. No site do BBBrasil o hóspede pode

encontrar serviços extras, tais como transfers, tours e excursões organizadas por

guias de cada uma das 20 localidades atendidas pela rede. O BBBrasil não exige

exclusividade de seus anfitriões por entender que muito deles praticavam antes a

atividade de maneira independente. Sua remuneração pelo serviço de

agenciamento é na forma de comissão, com percentagens variando entre 35% e

40% do valor das diárias.

O BBBrasil possui uma forte relação de parceria com a rede italiana

BBItalia, maior rede daquele país. Através dessa cooperação, a rede BBItalia

forneceu a rede brasileira seu know-how operacional, bem como disponibilizou a

ferramenta de internet que estrutura o site www.bbbrasil.info.br e, ainda, a “Carta

de Qualidade” utilizada como parâmetro de atendimento. Além disso, a forte

presença da rede BBItalia na Europa potencializa a venda das acomodações

brasileiras, aumentando a atratividade do produto no mercado externo e

transformando a Europa em um grande mercado para o BBBrasil.

Com relação ao modelo de rede para o Rio de Janeiro, pode-se dizer que a

hospedagem domiciliar vem crescendo em ritmo acelerado como primeira opção

de milhares de viajantes em várias partes do mundo, sem a necessidade de

investimentos na construção de novos hotéis, a exemplo de experiências bem

sucedidas em diversas cidades como Londres e Paris. Trata-se de um novo

mercado, que pode gerar renda, conhecimento e crescimento profissional para a

população.

O bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, foi o primeiro a ganhar uma

unidade de uma rede nacional. A procura cada vez maior fez o negócio começar

se expandir para a zona sul carioca e para Olinda, em Pernambuco. Na zona sul

do Rio, porém, recebeu o nome de Rio Homestay. A diferença entre o Cama e

Café e o Rio Homestay é apenas uma: o lugar em que está localizado. Ou seja,

se o bairro for histórico, o serviço terá o nome de Cama e Café.

Page 27: Bed and Breakfast No Brasil

27

As redes Cama & Café e Rio Homestay recebem cerca de 1000 hóspedes

por ano, entre brasileiros e estrangeiros. A expectativa para este ano é que haja

um crescimento de 20% no número de visitantes de acordo com funcionários da

agência. Devido à grande procura do meio de hospedagem b&b, os anfitriões

deixaram de oferecer apenas uma aconchegante cama e um bom café, e

resolveram inovar o serviço prestado. A partir desse pensamento, foram surgindo

os b&bs temáticos, novos meios de hospedagem em barcos e aviões, pacotes

românticos, pacote de núpcias, suítes com ar-condicionado, casas com piscina e

garagem com duas ou três vagas, parceria com agências de viagens, transfers,

tours,excursões, aulas de mergulho e serviço de guias turísticos.

2.2 Hospedagem Domiciliar Aliado à Sustentabilidade

Segundo o Ministério do Turismo (2006), o b&b apresenta-se integrado ao

conceito de turismo sustentável de acordo com os aspectos abaixo:

• Impacto ambiental reduzido: em sua maioria, a fórmula não prevê a

construção de novas estruturas. A hospedagem se realiza nas casas dos

Figura 5 - Pacote Romântico Fonte: bedandbreakfast.com

Figura 4 - Logo Rio Home Stay e Cama e Café Fonte: GoogleImages

Page 28: Bed and Breakfast No Brasil

28

habitantes locais, limitando a proposta somente à capacidade de

recepção do lugar;

• Integração da renda: o dinheiro que deriva do movimento turístico vai

diretamente às famílias e às comunidades locais, favorecendo a

circulação de moeda em localidades de difícil acesso;

• Integração: a estrutura em rede também estimula a troca de

experiências e conhecimentos entre os habitantes de uma comunidade,

favorecendo a integração de serviços das praticas profissionais:

transporte, tours turísticos, artesanato, produção de produtos típicos, etc;

• Intercâmbio cultural: o b&b cria espaços de encontro entre os turistas e

os habitantes locais, dando vida a um puro e espontâneo intercâmbio

cultural, estimulado pela convivência direta e cotidiana entre hospede e

empreendedor.

Características como a criação de oportunidades interpretativas e/ou

educacionais, e a oferta de experiência de qualidade para o turista dependem

mais de estrutura para estrutura, mas de modo geral, parecem estar mais

presentes em b&b do que em outros meios de hospedagem tradicionais, como

hotéis.

Page 29: Bed and Breakfast No Brasil

29

Entre elas o fato de que este não excede a capacidade de carga local, pois

não exige novas construções; a renda é distribuída entre a comunidade; o modo

associativo é estimulado; há um resgate dos modos tradicionais de moradia,

alimentação, costumes, etc, o que se torna uma atração a mais para o turista; há

um aumento da auto-estima da população local, a conservação urbana é

estimulada (através de reformas nas fachadas, jardins, etc); cria-se uma nova

opção de renda para quem está fora do mercado de trabalho. Para os adeptos da

modalidade não há uma exigência que esta seja a única ocupação, ou ocupação

principal, dos moradores, ou seja, quem administra esse meio de hospedagem

pode manter sua ocupação tradicional e não fica dependente exclusivamente do

turismo; não cria concentração de muitos turistas em um só local, pois se atende

apenas pequenos grupos; não exige grandes investimentos iniciais; é uma

fórmula menos formal e vinculadora para turistas mais independentes; oferece

uma recepção personalizada em uma atmosfera informal e descontraída e

geralmente têm preços mais baixos e acessíveis.

Uma característica, no entanto, chama particularmente a atenção: a criação

de um espaço privilegiado de promoção do encontro de qualidade entre hóspedes

e anfitriões. O b&b parece favorecer o intercâmbio cultural entre os turistas e os

habitantes locais, estimulado pela convivência direta e cotidiana entre quem

hospeda e quem é hospedado. A recepção do turista em uma estrutura domiciliar

pode facilitar a troca de informações através de conversas, mas também, de um

modo mais sutil, a observação do modo de vida de cada um.

A maior parte das famílias hospedeiras se prodigia com simpática disponibilidade a fazer conhecer ao turista os atrativos do território, sejam aqueles mais estritamente culturais-ambientais, seja aqueles menos conhecidos, mais “étnicos”, menos turísticos, mais “íntimos”. (MASINI, 2001, p. 42).

Ainda segundo o autor, o turista interessado no b&b quer viver de maneira

ativa o local no qual se encontra, respirar a cultura como uma interface autêntica,

como apenas uma família que vive ali pode garantir. Nessa lógica, o b&b constitui

uma modalidade de organização do sistema receptivo que, melhor do que

qualquer outra permite capturar esta demanda.

O b&b permite uma forte identificação com a natureza local; permite, ou

melhor, obriga a sentir-se em um lugar especifico não em um lugar sem

Page 30: Bed and Breakfast No Brasil

30

personalidade, como com freqüência acontece nos hotéis (especialmente

naqueles de grandes dimensões, subjugados à forte homologação da cadeia a

qual pertencem). 15 Lynch (2004, p. 162), reforça essa idéia quando demonstra

que estudos, como os realizados por Stringer (1981) e Pearce (1990),

identificaram insights acerca das realidades da vida familiar como uma atração

chave para os hóspedes, particularmente para aqueles originários do estrangeiro.

Assim, a acomodação domiciliar pode servir como um ícone cultural.

O turismo realizado do ponto de vista cultural é realizado na escala

humana e significa aprendizagem, encontro de pessoas. Age como estimulante

da vitalidade, como fator educativo, como realização do direito ao lazer e como

crescimento pessoal.

2.3 Perfil do Anfitrião Brasileiro

De acordo com a Prefeitura do Rio de Janeiro o perfil dos anfitriões segue

a seguinte classificação:

Perfil dos Anfitriões Faixa Etária 70% entre 28 e 45 anos 30% entre 46 e 65 anos

Grau de instrução 90% ensino superior 10% ensino médio

Idiomas Estrangeiros 15% não falam outra língua

65% falam um idioma estrangeiro

20% falam dois ou mais idiomas

Estado Civil 35% são casados 65% são solteiros

Tabela 2 – Perfil dos Anfitriões

Fonte: Hospedagem Domiciliar - Rio de Janeiro, 2008.

De acordo com informações disponibilizadas em slides no site da

prefeitura do rio de janeiro sobre palestras do tema, os anfitriões têm perfis

culturais diferenciados sendo muitos deles músicos, artistas plásticos,

profissionais liberais e mais de 60% já viajaram ao exterior e obtiveram

conhecimento sobre o segmento de hospedagem.

Page 31: Bed and Breakfast No Brasil

31

Gráfico 1- Hospedagem domiciliar no Rio de Janeiro

Fonte: Hospedagem Domiciliar - Rio de Janeiro, 2008

Sobre os reais motivos no qual os anfitriões brasileiros decidiram integrar-

se a redes de agenciamento e oferecer suas casas pata turistas, 46%

responderam que a escolha foi devido à melhoria do balanço familiar (renda

familiar), 25% por identificarem uma forma viável de começar uma atividade

comercial, 16% optaram por terem a chance de conhecer novas pessoas e

culturas diferentes e 11% somam outros motivos.

O perfil do anfitrião varia de acordo com o tipo de turismo desenvolvido e

atendido pelo sistema de Bed and Breakfast e de sua localidade. No caso de

outros países onde o principal público identificado são estudantes, passantes

(viajantes que necessitam de um leito no meio da viajem) ou um grande fluxo

turístico devido a algum evento especial (no caso olimpíadas, jogos pan

americanos, copa do mundo, fórmula 1) os anfitriões podem apresentar diferentes

razões para aderir ao método de hospedagem, em proporções diferentes das

estudadas no Brasil, por possuírem uma situação diferente da brasileira, que é o

turismo cultural.

Perfil do Turista de Bed and Breakfast

O turista que escolhe ter uma hospedagem domiciliar no destino turístico

que pretende visitar geralmente tem o interesse em conhecer afundo a cultura do

local, os costumes de seus habitantes, a rotina da comunidade, os pontos

turísticos históricos e conhecer restaurantes, galerias, museus, arquitetura e tudo

que envolva a cultura local. O turista pode obter essas experiências de forma

mais próxima quando está inserido naquela comunidade, fazendo parte da rotina

Page 32: Bed and Breakfast No Brasil

32

das pessoas que ali moram e tendo a chance de ter os melhores guias turísticos

para o propósito de sua viagem: "os habitantes locais" e principalmente os

anfitriões que o receberam em casa.

Abaixo há uma representação gráfica fornecida em formato de slides em

uma apresentação da rede Cama e Café no Seminário Internacional realizado no

Rio de Janeiro no ano de 2006.

Gráfico 2- Perfil do Público

Fonte: Seminário b&b - Rio de Janeiro (2006).

O perfil do turista nacional que adere a hospedagem domiciliar no Brasil

vem crescendo a cada ano. Este crescimento por ser analisado de acordo com a

tabela a seguir:

Tabela 3- Perfil do Turista Nacional e Estrangeiro Fonte: Prefeitura do rio de Janeiro (2006)

Origem 2003 2004 2005 2006

Nacional 13% 27% 32% 36%

Estrangeiro 87% 73% 68% 64%

Page 33: Bed and Breakfast No Brasil

33

O quadro abaixo apresenta a lista de alguns efeitos positivos e negativos

analisados de acordo com o contato cultural entre anfitriões e hóspedes percebido

no segmento de Bed and Breakfast.

Contatos culturais entre turistas e anfitriões (Adaptado de Reinsiger, 1994)

Efeitos Positivos Efeitos Negativos Desenvolvimento de atitudes positivas a respeito dos outros

Desenvolvimento de atitudes negativas com os outros

Aprendizado de culturas e costumes diferentes

Tensão, hostilidade, desconfiança, preconceito e desentendimento

Redução de estereótipos e percepções negativas

Isolamento, segregação e separação

Desenvolvimento de amizades Dificuldade na formação de laços e amizades

Desenvolvimento de orgulho, apreciação, entendimento, respeito e tolerância a outras culturas

Sentimento de inferioridade ou superiodade e choque cultural

Aumento da auto-estima Problemas de comunicação

Satisfação psicológica Insatisfação com interação mútua

Page 34: Bed and Breakfast No Brasil

34

3. TURISMO CULTURAL

Devido aos muitos termos existentes de turismo e cultura, o Ministério do

Turismo (MTur), em parceria com o Ministério da Cultura e o Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e com base na

representatividade da Câmara Temática de Segmentação do Conselho Nacional

de Turismo, estabeleceu um recorte nesse universo e dimensionou o segmento

na seguinte definição:

Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo dos bens materiais e imateriais da cultura. (MTUR, 2009).

A definição de Turismo Cultural está relacionada à motivação do turista,

especificamente a de vivenciar o patrimônio histórico e cultural e determinados

eventos culturais, de modo à experienciá-los e a preservar a sua integridade.

Vivenciar implica em duas formas de relação do turista com a cultura ou algum

aspecto cultural: a primeira refere-se ao conhecimento (com busca em aprender e

entender o objeto da visitação); a segunda corresponde a experiências

participativas, contemplativas e de entretenimento, que ocorrem em função do

objeto de visitação. Se as diferenças físicas são importantes, é o aspecto mais

intangível das diferenças culturais que dá as motivações centrais do turismo.

Alguns turistas procuram contato com diferentes modos de vida, identificados

como uma grande variedade de signos culturais, incluindo comportamento social,

língua, vestuário, música, artes e culinária. No turismo, as diferenças culturais são

promovidas de forma a dar ênfase a essas diferenças.

Pode se então concluir que a modalidade de hospedagem estudada, a

hospedagem domiciliar, contribui para o entendimento deste segmento de

turismo, onde os principais participantes, hóspedes e anfitriões, estão sempre em

busca de uma vivência turística diferente do tradicional e que proporciona a troca

de experiências e envolvimento com culturas distantes. O turismo cultural pode

ser praticado em diversas cidades e bairros no Brasil, principalmente os que têm

representatividade em acontecimentos históricos e os que desenvolveram

Page 35: Bed and Breakfast No Brasil

35

particularidades culturais importantes que acabaram por influenciar os costumes

locais, arquitetura, música, economia e outros fatores que caracterizam o destino.

Na cidade do Rio de Janeiro são identificados alguns lugares que possuem essa

representatividade e que se diferenciam de outros pontos turísticos devido a sua

grande bagagem histórica e cultural.

3.1 A Cidade do Rio de Janeiro

A cidade do Rio de Janeiro é conhecida mundialmente como um dos

lugares mais bonitos para se conhecer, sendo 35ª cidade mais visitada do mundo

segundo a reportagem publicada em 14 de Dezembro de 2007 divulgada pela

Folha Online. Isso se deve às suas praias, lagoas, ao carnaval e aos principais

pontos turísticos, como o Cristo Redentor - uma das sete maravilhas do mundo

moderno – Pão de Açúcar, Maracanã, entre outros. Durante todo ano, de acordo

com a Fecomércio (2008), muitos turistas (nacionais e internacionais) chegam ao

Rio de Janeiro e buscam conhecer – de diferentes maneiras – o que a cidade

oferece. A cidade recebe por ano mais de 2 milhões de turistas, de acordo com

pesquisas da ABIH, e pode ser considerada uma das cidades brasileiras com

maior número de visitações para fins turísticos.

Mas alguns turistas buscam algo mais. Vão a cidade motivados pela cultura

carioca que encontram principalmente região central da capital. A viagem pode

ser vista como uma atividade não apenas de lazer ou de ruptura do cotidiano,

mas também como uma experiência de conhecimento do outro e da natureza e,

ao mesmo tempo, como forma de autoconhecimento.

Dados Estatísticos Hoteleiros do Rio de Janeiro

A pesquisa realizada pela Fecomércio em parceria com a Associação

Brasileira de Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), mostram os dados

estatísticos de hospedagem da cidade do Rio de Janeiro no ano de 2008.

Taxa de Ocupação

A ocupação média no ano de 2008 de 65,86%, só foi inferior às taxas dos

anos de 2000 e 2001. O bom desempenho observado tanto no 1° quando no 4°

trimestre do ano, conforme dados da Tabela 4, acabou influenciando

positivamente o resultado anual. Também observa-se, na Tabela 5, a

Page 36: Bed and Breakfast No Brasil

36

sazonalidade mensal, confirmando os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro

como os períodos de maior taxa de ocupação.

Tabela 4- Taxa de ocupação trimestral Tabela 5- Taxa média de ocupação Fonte: Fecomércio - RJ Fonte: Fecomércio - RJ

Através dos gráficos apresentados pode-se constatar que o volume de

turistas na cidade é intenso, principalmente nos meses de alta ocupação,

comprovando que a oferta de hospedagem na cidade do Rio de Janeiro consegue

atender a sua demana turística.

Tabela 6- Taxa de ocupação ao ano por categoria de uh’s Fonte: Fecomércio – RJ (2008)

Pode-se constatar na tabela acima que a taxa de ocupação dos meios de

hospedagens com classificação 3 e 4 estrelas são semelhantes ao longo do ano,

e que nos períodos de alta ocupação – Dezembro, Janeiro e Fevereiro - a

demanda por hotéis 5 estrelas aumenta, sendo o tipo de hotel mais procurado

Page 37: Bed and Breakfast No Brasil

37

pelos turistas. No mês de Fevereiro pode-se notar um grande aumento na taxa de

ocupação dos hotéis caracterizados como 2 estrelas. Esse aumento pode ser

relativo ao período do carnaval carioca, aonde muitos turistas vão a cidade

motivados por esse evento cultural.

No mês de Junho, é registrada a maior taxa de ocupação dos hotéis de

categoria 2 estrelas enquanto ao mesmo tempo é notada a menor taxa nos hotéis

de categoria 5 estrelas. Pode-se afirmar que o segmento da demanda turística é

diferente neste período devido à grande procura por hospedagens de menor

valor. A sazonalidade pode ser mais percebida nos hotéis de categoria inferior,

pois a variação da taxa de ocupação dos 2 estrelas chega a 40 pontos

percentuais enquanto a dos 5 estrelas não passa de 17 pontos. A taxa de

ocupação do setor também foi calculada por área de localização das unidades de

hospedagem, de forma que, quatro áreas da cidade do Rio de Janeiro foram

definidas:

• Área 1: Barra da Tijuca e São Conrado

• Área 2: Ipanema e Leblon

• Área 3: Copacabana e Leme

• Área 4: Outros Bairros (não mencionados acima, como: Centro,

Glória, Flamengo, Santa Teresa etc).

Gráfico 3- Taxa de ocupação nas principais áreas do Rio de Janeiro

Fonte: Fecomércio- RJ (2008)

Page 38: Bed and Breakfast No Brasil

38

As maiores taxas de ocupação, em 2008, foram verificadas nas unidades

de hospedagem na Área 3, seguidas pelas que estão na Área 1, Área 4 e por

último Área 2. Podemos observar também que nos meses de Junho e Setembro,

a Área 4 é a mais procurada pelos turistas, e que a taxa de ocupação não ficou

abaixo de 50% em todo ano. A área 4 engloba o bairro de Santa Teresa,

estudado para pesquisa sobre o desenvolvimento da hospedagem domiciliar no

Brasil.

Diária Média por Quarto Vendido

Segundo a ABIH, para cálculo da diária média do quarto vendido (em R$)

são desconsideradas as taxas em geral, como os 10% de cobrança, ISS, PIS,

COFINS e gastos com alimentação (como café da manhã / almoço)

estacionamento e outros serviços.

Tabela 7- Diária média do quarto vendido

Fonte: Fecomércio – RJ (2008)

De acordo a tabela 5, observa-se que no caso das unidades habitacionais

da maioria das categorias e localizações, as diárias médias com valores maiores

foram cobradas, principalmente, em Dezembro e Fevereiro. Esses meses são

considerados períodos de alta estação, portanto, os meses mais valorizados para

os hotéis da cidade, tanto na avaliação por categoria, quanto na análise por

localidade. As diárias nestes meses estão entre as mais elevadas, provavelmente

Page 39: Bed and Breakfast No Brasil

39

pelo aumento de demanda no período de férias associados ao Réveillon e ao

carnaval, considerados os maiores eventos da cidade.

Podemos considerar, analisando a tabela 6 quanto a 7, que os bed and

breakfast equivalem a hotéis de categoria 2*. Isso se analisa de forma mais clara

na última, pois as diárias médias se equivalem aos valores de diárias que as

casas oferecem para a hospedagem, que variam de R$80,00 a R$ 210,00.

Tempo de Permanência (em número de dias)

Tabela 8- Tempo de permanência dos hóspedes Fonte: Fecomércio – RJ (2008)

A média de permanência do turista da cidade do Rio de Janeiro que se

hospeda em hotéis de categoria 2 estrelas ou b&b é de 2,75 dias. Esta média não

se diferencia muito das médias de permanência dos hóspedes em hotéis de

outras categorias com exceção dos flats – onde a permanência é maior devido à

categoria do meio de hospedagem.

Page 40: Bed and Breakfast No Brasil

40

3.2 Procedência dos Turistas

Nas tabelas abaixo, podemos observar que em dez meses do ano, o turista

nacional foi o principal cliente do setor, não sendo maior apenas nos meses de

Março a Agosto, quando o turismo internacional representou, respectivamente,

54,62% e 51,34% do total de room nights1 vendidos nestes meses. O gráfico

representa o percentual de room nights segundo a procedência geral dos turistas.

Tabela 9- Percentual médio de room nights

Fonte: Fecomércio – RJ (2008)

Pode-se perceber que o número de turistas internacionais vem

aumentando gradativamente, representando o crescimento da cidade do Rio de

Janeiro como destino internacional. Em 2001, no mês de Janeiro por exemplo, o

percentual de turistas estrangeiros era de apenas 38% enquanto no mesmo mês

em 2008 foram registrados mais de 48%.

Gráfico 4- Distribuição percentual dos room nights Fonte: Fecomércio – RJ (2008)

1 Room Night: expressão hoteleira que significa quarto vendido.

Page 41: Bed and Breakfast No Brasil

41

Estima-se que, em 2008, 2,1 milhões de turistas, aproximadamente,

instalados em unidades de hospedagem da cidade, tenham visitado o Rio de

Janeiro. Destes, 53,37% são provenientes de outras localidades do Brasil, vindo

primeiramente de São Paulo, depois de Minas Gerais e em terceiro do interior do

Estado de São Paulo. O restante, correspondente a 46,63%, vieram de diversos

países, sendo que aproximadamente 358 mil tenham vindo da Europa,

principalmente da França, Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha.

Tabela 10- Número de turistas e sua participação

Fonte: Fecomércio - RJ

Com o crescimento do turismo na cidade apresentados nos gráficos e

tabelas anteriores, é possível acrescentar que os destinos turísticos do Rio de

Janeiro vêm a cada ano recebendo um maior número de visitantes. Entre os

destinos, pode-se citar Santa Teresa, um bairro antigo de que atrai turistas

interessados na particularidade de sua cultura e história.

O turismo cultural é intenso neste bairro que possui diversos atrativos como

museus, restaurantes tradicionais, arquitetura clássica, mirantes além de ser o

local onde o b&b representa a maior oferta de hospedagem do local.

Page 42: Bed and Breakfast No Brasil

42

4. O BAIRRO DE SANTA TERESA

O bairro de Santa Teresa nasceu nos arredores de um convento no Morro do

Desterro, no Rio de Janeiro, no século 18. O bairro ocupa uma colina no centro da

cidade e parece ter parado no tempo, pois mantém há dezenas de anos aspectos

preservados do Rio de antigamente, como casarões, igrejas e todo o ambiente

em si. A maioria das mansões centenárias do bairro, inspirada em arquitetura

francesa da época, onde residiam a alta sociedade, não mudou quase nada. É um

bairro dividido entre classe média-alta, média e baixa.

Figura 6- - Mapa de Santa Teresa Fonte: FAPERJ - Ana Maria Moura (2005)

Faz limite com os bairros Glória, Catete, Botafogo, Laranjeiras, Cosme

Velho, Silvestre, Humaitá, Centro, Catumbi e Rio Comprido. Escritores e artistas

sempre foram atraídos por Santa Teresa. A arte exibida nos muitos ateliês que

tomaram conta do bairro, além de possuir também bares, restaurantes e lojinhas

de artesanato.

Pelas ruas estreitas e de paralelepípedos não circulam ônibus ou

caminhões, e a atração principal do bairro são os velhos bondes, que – segundo a

Prefeitura do Rio de Janeiro – são os únicos do modelo que ainda circulam em

todo o Brasil. Começaram a circular no século passado, movidos por tração

Page 43: Bed and Breakfast No Brasil

43

animal, depois substituído por eletricidade e foram tombados como patrimônio

histórico, passeando ainda por trilhas bem preservadas, levando o visitante a um

city tour personalizado.

Figura 7- Bondinho Fonte: Revista Fator Brasil (2007)

O bonde sai do centro da cidade, passa sobre os Arcos da Lapa e segue a

rota no sobe-e-desce das ladeiras de Santa Teresa, passando por toda área

verde e pelos pontos turísticos do local. E segundo o guia e maquinista

Wanderson da Costa, que trabalha há 10 anos no bonde, nos horários de pico o

grande fluxo de passageiros é formado por trabalhadores voltando ou saindo do

bairro. Os turistas costumam freqüentar o bonde das 11h às 16h.

4.1 Pontos Turísticos

A Igreja e o Convento de Santa Teresa, responsáveis pelo nome do bairro,

pertencentes à Ordem das Carmelitas Descalças, abriga religiosas que vivem

isoladas e têm pouquíssimo contato com o mundo exterior. A ordem prega a

simplicidade, a humildade e a discrição.

Figura 8- Igreja de Santa Teresa Fonte: As autoras (2009)

Page 44: Bed and Breakfast No Brasil

44

Na Rua Almirante Alexandrino, a mais antiga do bairro, se encontra a Casa

Navio, inspirada no convés de uma embarcação. E é nessa mesma rua que se

tem a visão do Castelo de Valentim, uma fortaleza erguida em estilo neo-

romântico. Construído no final do século 19, foi residência do comendador

Antônio Valentim, projetada por seu filho. O imóvel está também inscrito na

agência Cama e Café e disponível para abrigar hóspedes. Do topo da casa há um

mirante com uma bela paisagem da Baía de Guanabara.

Figura 9- Casa do Cama e Café estilo Castelo Fonte: Site Cama e Café (2008)

No Largo do Guimarães (área nobre do bairro) se concentram os mais

importantes restaurantes e bares do bairro, entre eles, Bar do Mineiro, Bar do

Arnaudo (comida nordestina), Sobrenatural (frutos do mar) e Adega do Pimenta

(alemão). Quando anoitece, o agito toma conta do lugar. Artistas e intelectuais

passeiam por todos os lados apreciando a música popular brasileira. Mais adiante

o caminho do bonde chega ao Largo das Neves, onde se encontra um belo

casario de 1850 e a Igreja de Nossa Senhora das Neves, de 1860, além de mais

uma série de bares muito concorridos.

O local é o ponto final da condução do bonde e por ali também há bares

bem conhecidos, como o Bar do Goyabeira, o Café das Neves e o Santa Saideira.

O Parque das Ruínas também é um mirante, pois de lá, tem-se uma visão bem

nítida do centro da cidade e de toda a orla do Rio – desde o Aeroporto Santos

Dumont até a Urca, além de se ter a vista dos famosos Arcos da Lapa.

Page 45: Bed and Breakfast No Brasil

45

O parque possui uma sala de exposições, auditório e cafeteria. Com três

andares, a casa chama atenção também por sua arquitetura e estilo - tijolos

aparentes combinados com estruturas metálicas e de vidro.

Em uma das casas do bairro, foi inaugurado em 1979 o Centro Cultural

Laurinda Santos Lobo, para homenagear a mulher que no início do século

praticamente comandou a vida intelectual do bairro, promovendo saraus e dando

vida e graça a Santa Teresa. O acervo fotográfico da casa mostra Laurinda em

atividade e transporta o visitante à Santa Teresa dos tempos passados. O centro

possui também salas de vídeo e espaços para exposições.

A residência de Benjamin Constant - líder do movimento republicano - foi

transformada em museu e totalmente restaurada com móveis, livros, objetos,

Figura 10 - Parque das Ruínas Fonte: FAPERJ Ana Maria Moura (2005)

Figura 11 – Vista do Mirante - Parque das Ruínas Fonte: As autoras (2009)

Page 46: Bed and Breakfast No Brasil

46

fotografias e acervos de artes plásticas. A área que circunda o museu é

totalmente arborizada. O Museu Chácara do Céu possui um acervo com

importantes obras de arte moderna, com destaques para as assinadas por

Portinari, Di Cavalcanti, Guinard, Picasso, Matisse e Dalí. Em pinturas, aquarelas

e gravuras, o Brasil do século 19 é mostrado por viajantes como Debret e Taunay.

4.2 Oferta Hoteleira no Bairro de Santa Teresa

De acordo com a revista França/Brasil (Edição Maio/Junho 2009 n°292),

nos últimos anos, vários empreendedores franceses estão reformando antigos

casarões em Santa Teresa para instalar hotéis boutique, com charme e

personalização, contribuindo para a revitalização do bairro e aproveitando o clima

bucólico que o local proporciona para se sustentar.

O proprietário francês do Casa Amarelo, Laurent Gelis, adquiriu uma

residência logo na primeira visita a Santa Teresa, pois como ele afirma, “Me

encantei com a tranqüilidade, paz e beleza de lá. Não foi preciso fazer muitas

obras, somente alguns acabamentos. O edifício, que teve apenas cinco donos em

todo esse tempo, está muito preservado” (2009, p.66).

Gelis é dono de uma agência de design na França muito famosa,

principalmente por trabalhar com estampas florais. O artista utilizou o espaço para

mostrar seu trabalho e isso fez com que seu trabalho aparecesse em muitas

revistas de decoração e a dar destaque ao empreendimento. Hoje, 98% dos

hóspedes são estrangeiros, sendo 95% europeus e 30% franceses.

Figura 12 - Museu Chácara do Céu Fonte: FAPERJ Ana Maria Moura (2005)

Page 47: Bed and Breakfast No Brasil

47

A)

B)

Figura 13- Quarto e sala Fonte: Site Casa Amarelo

O proprietário do Relair Solar - Solar de Santa, Gwanael Allan, é outro

estrangeiro (franco-canadense) que adquiriu um dos casarões de Santa Teresa.

O hotel abriu em Dezembro de 2006, após ficar seis meses de reforma. O espaço

tem uma proposta diferente: é alugado para grupos de até treze pessoas, que

pagam entre R$ 2.000,00 a R$ 2.500,00, dependendo da temporada. Segundo

Allan, esse conceito “’Villa Rental’ é única no Rio. A idéia é dar vida a casa e

promover um turismo criativo”.

A)

B)

Figura 14- Quarto e sala Fonte: Site Solar de Santa

O único hotel visitado pelas autoras, também no mesmo bairro, porém de

proporções bem maiores, é o Hotel Santa Teresa, inaugurado em 2008, após

quatro anos de reforma. De acordo responsável pelo projeto, François Delort,

foram investidos R$ 14 milhões na transformação de do espaço em um hotel

boutique luxo. Em uma área total de 5 mil m², são 44 suítes, um restaurante

(Térèse), um Spa e um bar com nome Bar dos Solteiros. A estrutura emprega

cerca de 85 funcionários.

Page 48: Bed and Breakfast No Brasil

48

Figura 15- Hotel Santa Teresa

Fonte: As autoras (2009)

De acordo com a França/Brasil (2009), o Santa Teresa é o primeiro cinco

estrelas no centro da cidade. Segundo Delort (2009), abrir um estabelecimento no

único bairro do Rio de Janeiro com arquitetura preservada é um diferencial muito

grande. A decoração interna do hotel tem influências indígenas e africanas, todas

adquiridas pelo próprio Delort, tudo para recriar um ambiente definido por três

aspectos: o místico, o étnico e o sagrado. Ainda de acordo com Delort:

Os turistas ficam felizes de vir para cá, conhecer algo diferente, mais autêntico. Ipanema é supervalorizada. A arquitetura é feia. Copacabana já acabou há muito tempo. [...] Santa Teresa é, sem dúvida, o melhor lugar para se morar. Tem muito verde, vida artística e cultural intensa (2009, p. 67).

Diferente dos outros dois hotéis possui muitos clientes brasileiros, que

freqüentam mais as áreas do bar, restaurante e SPA. Os franceses procuram o

estabelecimento para hospedagem

Page 49: Bed and Breakfast No Brasil

49

5. A HOSPEDAGEM DOMICILIAR EM SANTA TERESA

Para fins de pesquisa, as autoras deste trabalho de conclusão de curso

efetivaram uma pesquisa de campo no bairro de Santa Teresa, com o objetivo de

coletar o maior número de informações possíveis sobre o bairro, o

desenvolvimento da hospedagem domiciliar no local e suas características,

entender a relação entre os turistas deste tipo de hospedagem e os anfitriões e

mapear os pontos positivos e negativos da atividade na cidade.

Para tanto foram realizadas entrevistas com diversas pessoas envolvidas

na área, duas hospedagens em casas diferentes no bairro de Santa Teresa e

visita aos pontos turísticos do local.

5.1 Agência Cama e Café

Através da entrevista realizada com Carlos Magno Cerqueira, sócio do

Cama e Café, a idéia de trazer o meio de hospedagem domiciliar ao Brasil surgiu

através de experiências vividas por ele e por mais dois sócios, Leonardo Rangel e

João Vergara no ano de 1995, quando viajam rumo à América do Norte e logo

depois para a Europa para fazerem um intercambio. A idéia era partir para

acomodações em Albergues como a maioria dos jovens de sua idade o faziam.

Porém, ao chegarem, descobriram uma outra alternativa de hospedagem, o

“B&B”. Uma forma de hospedagem desconhecida para os viajantes, onde famílias

locais abriam suas casas fornecendo um quarto com total privacidade para

acomodação, sem precisar dividir o espaço com pessoas estranhas, como era o

caso dos albergues.

Ao chegarem ao “B&B” resolveram se instalar em um quarto triplo aderindo

à idéia de ficarem somente por uma noite em caráter de experiência, se a

experiência fosse positiva para todos, renovariam por mais dias na nova

descoberta de hospedagem pela Europa. Para a surpresa dos três, descobriram

que o anfitrião, ou seja, o dono da casa era o que havia de mais fascinante neste

tipo de hospedagem. Quando podia servia como guia turístico e até mesmo como

professor de idiomas. Como costumam dizer, “ganharam” um amigo embutido na

diária. Isso fez com que os sócios percebessem que esse novo meio de

hospedagem deixava os hóspedes mais próximos da cultura local.

Page 50: Bed and Breakfast No Brasil

50

Após 40 dias de viagem por 12 países, retornam ao Brasil com fotos e

muitas histórias para contar. Nasceu nos sócios à vontade de abrir uma Rede de

B&B no Brasil, mas para isso precisavam de um lugar que reunisse atrativos

culturais e, ao mesmo tempo históricos como é o caso da maioria das cidades na

Europa. Lembraram das ruas sinuosas de Santa Teresa, da arquitetura eclética e

suas diversidades nos casarões e do velho bonde cruzando o bairro carioca. Os

sócios chegaram à conclusão que Santa Teresa era o lugar certo para inserir uma

Rede de Hospedagem Domiciliar.

Cerqueira, como turismólogo e guia turístico, Rangel como engenheiro

atuante na área de desenvolvimento sustentável e Vergara como designer de

produto atuante na área de projetos especiais para preservação de patrimônio

tanto histórico como cultural estavam preparados para desenvolver

sustentavelmente a preservação cultural, histórica e social de Santa Teresa

através do turismo como ferramenta principal. Santa Teresa a partir daquele

momento se tornaria o bairro carioca conhecido como “Destino Turístico

Sustentável”.

Em 2003, após dois anos de pesquisa e catalogação do Projeto Piloto,

fundaram a agência Cama e Café com 20 casas no bairro carioca. Sabiam que o

projeto realmente poderia dar certo, mesmo sabendo que seria difícil por se tratar

de um bairro de resistência e vanguarda. Logo interagiram com a comunidade

para conhecer melhor os moradores, e sugeriram parcerias com

estabelecimentos, pontos de taxi, restaurantes, bares, ateliês para que o projeto

fosse bem aceito e trouxesse benefícios a todos, tanto aos moradores quanto aos

turistas que visitariam o bairro. O Sebrae foi o primeiro parceiro a investir na idéia.

Com o passar dos anos o projeto foi ganhando a simpatia de mais parceiros e

hoje conta apenas com o fruto do seu trabalho desses anos e o prestígio das

principais entidades de classe do trade turístico. No Arte de Portas Abertas de

2002, evento cultural que faz parte do calendário anual de eventos da cidade,

começam as inscrições para os moradores que queriam fazer parte da Rede de

Hospedagem local.

Hoje, após anos de caminhada, o projeto é pioneiro no

Brasil e presta consultoria para vários projetos. O Laboratório de treinamento para

os anfitriões fica na Sede no Cosme Velho onde há uma parte da casa com

quarto, banheiro, sala de jantar, estar e cozinha para o treinamento de anfitriões

Page 51: Bed and Breakfast No Brasil

51

do Brasil. A Rede encontra-se atualmente em Santa Teresa e Olinda. Como

projeção para os próximos destinos conta com Paraty para final de 2010,

Petrópolis para 2011 e Ouro Preto para 2012 a principio. A central de reservas e

operações fica em Santa Teresa na casa de uma das anfitriãs da rede. A empresa

trabalha a filosofia do baixo custo operacional e utiliza-se principalmente da

internet como ferramenta principal para divulgação e venda.

Casas Cadastradas na Sede do Cama e Café em Santa Teresa

O Cama e Café conta com uma seleção de casas que podem ser

escolhidas pelo design da residência, pela sua localização, pelo perfil do anfitrião

e pelas vantagens e facilidades que oferece. As diárias variam de R$ 85,00 a R$

210,00, o hóspede pode escolher a casa que quer ficar hospedados através do

site da agência na internet, onde estão disponíveis todas as informações das

casas cadastradas além de fotos e preço da hospedagem.

Hoje, são 50 casas cadastradas no serviço, que soma cerca de 150 leitos.

De acordo com a entrevista realizada com Daniella Grego, gerente de operações

do Cama e Café, o grande diferencial da Rede Cama e Café são as

possibilidades de convívio diário com os habitantes locais, seus hábitos e sua

cultura. Através de dados coletados durante a entrevista foram obtidas

informações sobre a situação real das quantidades e valores do Cama e Café.

Gráfico 5 – Anfitriões cadastrados na Sede Cama e Café Fonte: As autoras (2009)

Page 52: Bed and Breakfast No Brasil

52

Gráfico 6- Quartos existentes nas casas cadastradas Fonte: As autoras (2009)

Gráfico 7 – Categoria dos apartamentos Fonte: As autoras (2009)

Gráfico 8 - Banheiros Privativos ou Coletivos Fonte: As autoras (2009)

Page 53: Bed and Breakfast No Brasil

53

Gráfico 9 – Ocupação máxima de hóspedes Fonte: As autoras (2009)

Gráfico 10 – Média das diárias cobradas

Fonte: As autoras (2009)

Vantagens e Facilidades

O Cama e Café ultrapassa a hospitalidade convencional. Satisfazer as

necessidades de um hóspede, fazendo com que ele se sinta em casa nunca foi

tão fácil. Além de uma cama, um café da manhã e a simpatia dos anfitriões, os

hóspedes também encontram diversas vantagens e facilidades ao se hospedarem

em uma casa agenciada pela rede.

Os serviços oferecidos pelos anfitriões não se limitam apenas em uma

cama e café da manhã. A experiência vivida por pessoas em suas viagens de

turismo acaba sendo única, pois o Cama e Café oferece em questão de

facilidades proporciona uma localização próxima ao centro da cidade, acesso à

internet (wi-fi), garagem, televisão a cabo, ventilador, ar-condicionado,

hidromassagem, biblioteca, jardim e vista panorâmica. Com relação às vantagens,

Page 54: Bed and Breakfast No Brasil

54

podemos citar a estrutura física, segurança, comodidade, diária com café incluso

e um anfitrião que acaba se tornando um guia turístico e um grande amigo, na

maioria das vezes, de acordo com a anfitriã Ana Laura Lopes de Andrade.

5.2 Experiência Vivida pelas Autoras

A experiência vivida no Cama e Café aconteceu em duas fases. Duas das

autoras se hospedaram na casa da anfitriã Ana Laura Lopes, como estudantes de

hotelaria para conhecer o meio de hospedagem e a Rede Cama e Café, onde

foram obtidos informações através de entrevistas. No mesmo período, a terceira

autora se hospedou na casa da anfitriã Flávia Garcia sem revelar o principal

motivo da sua estada. A decisão de conhecer o Cama e Café de formas

diferentes possibilitou as pesquisadoras comparar o serviço prestado.

O resultado dessa pesquisa se resume na qualidade da hospitalidade de

ambas as casas que ofereceram serviços compatíveis ao esperado. Os relatórios

a seguir, realizados como hóspede oculto e como estudantes mostrarão dados e

características do anfitrião e da casa.

Relatório de Hospitalidade - Modelo de Hóspede Oculto

• Anfitriã: Ana Laura

• Endereço: Rua Andres Bello, 15 - Santa Teresa

• Anfitrião Extra: Alexandre (esposo)

• Profissão: Advogada

• Idiomas: Inglês/ Espanhol

• Momentos de lazer: Ir à praia, jantar fora, jogar baralho, fazer compras,

navegar na web, assistir televisão, sair com amigos, praticar esportes, ir

ao cinema, ler, ouvir música

• Quartos reservados para hospedagem: Três quartos, porém apenas

dois possuem ar-condicionado e a internet pode ser disponibilizada para

o hóspede caso seja necessário.

• Quantidade de leitos: Duas camas de casal e quatro camas de solteiro.

- SINGLE: R$ 120,00

- DOUBLE: R$ 160,00

- TRIPLE: R$ 200,00

Page 55: Bed and Breakfast No Brasil

55

• Todos os quartos possuem banheiro privativo com itens básicos de

higiene como, sabonete e papel higiênico e as camas são confortáveis

(colchões novos)

• O enxoval é composto por tolha de banho, lençóis, manta e

travesseiros.

• Decoração e Estrutura: No momento, a atenção da anfitriã está voltada

para a parte estrutural. Ela quer resolver todos os problemas de

encanamento, construção e espaço para depois pensar na decoração

dos quartos.

• A área para fumantes fica em um espaço reservado no quintal que por

sua vez é grande e aberto.

• Itens do Café da manhã:

- Leite

- Café

- Iorgurte

- Suco de laranja natural

- Bisnaguinha

- Dois sabores de bolo

- Manteiga

- Geléia

- Queijo fatiado

-Presunto fatiado

- Frutas

- Biscoito

Relatório de Hospitalidade - Sistema de “Viagem de Estudantes”

• Anfitriã: Ana Laura

• Endereço: R. Laurinda dos Santos Lobo, 124 - Santa Teresa

• Anfitrião Extra: Augusto (caseiro)

• Profissão: Psicóloga e analista de sistemas

• Idiomas: Inglês/ Espanhol

• Momentos de lazer: Jantar fora, assistir televisão, dançar, ir ao cinema,

teatro, viajar, ler, ouvir musica

Page 56: Bed and Breakfast No Brasil

56

• Quartos reservados para hospedagem: Três quartos, porém apenas

dois com banheiro privativo dentro do quarto.

• Quantidade de leitos: Duas camas de casal e cinco camas de solteiro.

- SINGLE: R$ 120,00

- DOUBLE: R$ 160,00

- TRIPLE: R$ 200,00

• O banheiro oferecido como privativo possuía itens básicos de higiene

como, sabonete e papel higiênico e creme dental. Todos os produtos

porém, de marcas de segunda linha.

• O enxoval é composto por tolha de banho, lençóis, manta e

travesseiros.

• A área para fumantes fica em um espaço reservado no quintal que por

sua vez é grande e aberto. Há também na casa uma piscina com área

para churrasco e uma grande varanda com vista para a rua.

• Itens do Café da manhã:

- Leite

- Café

- Iorgurte

- Suco de laranja natural

- Frios (presunto, queijo)

- Bolo caseiro

- Manteiga

- Geléia

- Frutas: manga e abacaxi.

- Achocolatado

- Pão francês

- Biscoitos doces e bolachas salgadas variadas

Page 57: Bed and Breakfast No Brasil

57

5.3 Comitê Organizador dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro

Por se tratar de um novo modelo de hospedagem no Brasil, a primeira

intervenção do poder público para divulgação e estímulo a hospedagem domiciliar

foi na organização dos Jogos Panamericanos de 2007 na cidade do Rio de

Janeiro. A prefeitura do Rio de Janeiro sob a coordenação da Secretaria

Municipal do Turismo, implementou um projeto com o objetivo de informar e

estimular a população carioca a aplicar a hospedagem domiciliar, tendo em vista

o aumento do número de turistas esperados com o evento dos XV Jogos

Panamericanos em Julho de 2007.

Quando foi firmado o convênio entre o Município do Rio de Janeiro e o

Ministério do Turismo, em dezembro de 2004, já existiam no Rio experiências de

hospedagem domiciliar, que para serem fortalecidas, o plano de trabalho do

convênio previa iniciativas com o objetivo de:

• Conhecer melhor essa modalidade, através de experiências de outras

cidades;

• Estabelecer parâmetros de qualidade para a prestação dos serviços;

• Incrementar a divulgação e distribuição do serviço;

• Estimular a cooperação entre as iniciativas existentes no interesse

comum.

Figura 16 - Café da manhã na casa da Ana Laura Fonte: As autoras (2009)

Page 58: Bed and Breakfast No Brasil

58

A Prefeitura elaborou com o apoio da consultoria da ONG Lunuz2, um

extenso levantamento sobre as experiências de hospedagem domiciliar em

diversos locais onde o serviço é desenvolvido como Fernando de Noronha, Santa

Catarina, França, Estados Unidos, Inglaterra, Itália entre outros. Foram

pesquisadas também cidades que utilizaram a hospedagem domiciliar como

recurso para aumentar a oferta de leitos durantes grandes eventos esportivos

como é o caso dos jogos de Sidney (Austrália) e Winnipeg (Canadá).

Um seminário internacional foi realizado no Rio de Janeiro em outubro de

2006, com o objetivo de reunir as experiências de outras localidades que

adotaram esse tipo de hospedagem e propiciando um debate que orientaria ações

futuras no caso dos jogos no Rio. Foi também estudado neste seminário aspectos

normativos, tributários e econômicos, procurando orientar a ação do poder público

e das pessoas interessadas em desenvolver essa atividade. A pesquisa foi

concluída com a elaboração de manuais com orientações para os anfitriões e

agências (ou profissionais autônomos). Foi elaborado também um manual sobre

os direitos e obrigações do consumidor dos serviços. A maior parte dos estudos

foi publicada em um livro lançado pela Prefeitura do Rio de Janeiro –

“Hospedagem Domiciliar: Turismo Integrado e Sustentável” do qual serviu de

referência para afirmação de tais fatos.

Em maio de 2007 o programa municipal de estímulo à hospedagem

domiciliar foi lançado oficialmente com a presença de representantes do setor

turístico e do Comitê Organizador dos Jogos Panamericanos através de um site

na internet que publicou os dados das pesquisas desenvolvidas, informações

diversas sobre a hospedagem domiciliar e uma pesquisa de mercado em formato

de questionário para os anfitriões da rede Cama e Café, usuários de hospedagem

domiciliar, não usuários de hospedagem domiciliar, mas que pensam em utilizá-la

e não usuários que não pensam em utilizá-la.

A pesquisa foi resultado de uma parceria entre a Secretaria Especial de

Turismo do Rio de Janeiro (SETUR) e o Ministério do Turismo, sendo reallizada

pelo Instituto GPP. Nota-se que a pesquisa com os anfitriões se restringiu apenas

aos afiliados da rede Cama e Café, não incluindo os anfitriões das outras duas

redes do município. Foi elaborado um documento com nome de Carta Carioca de

2 ONG Lunuz – criada para desenvolver o projeto “Santa Teresa: Território Turístico Sustentável”

em parceria com a empresa privada Cama e Café.

Page 59: Bed and Breakfast No Brasil

59

Hospitalidade3, com o objetivo de criar um compromisso entre os envolvidos na

hospedagem domiciliar no Rio de Janeiro além de estipular uma padronização do

serviço oferecido. Ainda em maio de 2007, as três redes estabelecidas no Rio de

Janeiro – Cama e Café, BBBrasil e Favela Receptiva – assinaram a Carta Carioca

de Hospitalidade, assumindo os compromissos mínimos de qualidade para o

sistema. Além da carta carioca de hospitalidade, foram criados e distribuídos

também manuais e métodos para os anfitriões, agentes e hóspedes. Existem

atualmente três manuais e são eles:

Manual do Anfitrião

No manual do anfitrião estão disponíveis dicas que vão desde como

receber o hóspede até questões como asseio da casa, manutenção,

procedimentos, apresentação pessoal, apresentação do ambiente, horários,

regras de convívio, uso de equipamentos da casa, confecção do café da manhã,

armazenamento e manuseio de alimentos, procedimentos de governança,

habilidades essenciais para receber bem o hospede, exposição de possíveis

situações adversas em uma hospedagem e resolução de possíveis problemas.

Manual do Agente

No manual do agente estão dispostos alguns procedimentos que o

profissional envolvido na hospedagem domiciliar deve executar além de

informações básicas que são indispensáveis para quem trabalha neste área,

como tarefas, organização do negócio, canais de distribuição, conhecimento do

mercado, como formar uma rede de agenciamento, requisitos mínimos de

qualidade que deve-se oferecer ao turista.

Manual do Hóspede

O manual do hóspede foi feito para ajudar os hóspedes a desfrutar com

conforto e segurança da rede de hospedagem domiciliar no Rio de Janeiro, e que

também torna-se muito útil para anfitriões e agentes, que devem estar abertos

para entenderem o ponto de vista do turista. Neste manual estão dispostos os

direitos e deveres do hóspede e dicas sobre como manter a relação com o

3 Disponível no Anexo A.

Page 60: Bed and Breakfast No Brasil

60

anfitrião agradável sempre, respeitando as regras da casa e levando em

consideração fatores como: privacidade, tranqüilidade no ambiente, café da

manhã, horários, chaves da casa, uso de equipamentos, economia de energia,

etc.

5.4 Divulgação do produto por entidades públicas

Atualmente, no site4 oficial da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro há um

link de acesso chamado Turismo, onde se acessado, o internauta é direcionado

automaticamente para a página onde estão todas as notícias sobre o turismo na

cidade e inclusive sobre hospedagem domiciliar5.

Há uma página inicial onde estão dispostas as principais redes de

hospedagem domiciliar da cidade com um link de acesso para seus respectivos

sites. Um outro site é aberto caso o internauta deseje ter informações sobre o que

é hospedagem domiciliar, como preparar sua casa para receber turistas e um

campo de perguntas e respostas, no qual se obtém resposta de funcionários da

secretaria do turismo do Rio de Janeiro via email.

4 www.rio.rj.gov.br 5 www.rio.rj.gov.br/hospedagemdomiciliar/

Figura 17- Página do Site Riotur – Principais redes de hospedagem domiciliar Fonte: Riotur (2006)

Page 61: Bed and Breakfast No Brasil

61

Este serviço foi testado pelas autoras do trabalho, além de ter servido

como referência para elaboração da pesquisa. Um dos dizeres do site da

prefeitura sobre hospedagem domiciliar cita:

Antes de mais nada é preciso deixar bem claro: hospedagem domiciliar é um negócio estritamente privado entre pessoas . A Prefeitura não se dispõe a intermediar essas relações comerciais, nem oferecer serviços ou financiamentos. Nosso objetivo é o de informar, estimular e ajudar os interessados. Leia e comente, se quiser, os textos explicativos "O que é Hospedagem Domiciliar" e "Preparando sua casa". Pesquise nos "links" sobre experiências em outros lugares. Tire suas dúvidas na área de "Perguntas & Respostas" (2005)

O interesse do poder público no segmento de hospedagem domiciliar ainda

não tem tanta representatividade, visto que o setor não se desenvolveu no Brasil

de forma ampla como em outros países já citados. Não há uma regulamentação

específica e nem incentivos para empresas e anfitriões interessados em ingressar

na modalidade. O site criado pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro que fala

sobre b&b teve início no ano de 2006 somente por conta dos Jogos

Panamericanos, onde os governantes e responsáveis pelo turismo da cidade

previam que a oferta de hospedagem não ia ser suficiente para abrigar toda a

demanda de turistas que viriam por conta do evento.

De acordo com Alfredo Lobo – presidente da ABIH – em nota ao Etur, era

esperada a taxa de ocupação acima dos 90% na cidade, e por isso foram

investidos recursos na capacitação de atendentes em bares, hotéis e

restaurantes, promoção dos destinos turísticos e culturais e criação de mais 3000

leitos na cidade. Além dessas ações, foi nesta época que foi realizado o primeiro

seminário para discussão da implantação e apoio a hospedagem domiciliar na

cidade. A taxa de ocupação no mês de Julho em 2007 teve aumento de somente

10% em comparação com o ano anterior de acordo com um estudo feito pela

Fundação Getulio Vargas (FGV) com o título “Movimentação Econômica dos

Jogos Panamericanos” e que já representa um resultado positivo em termos de

movimentação financeira na cidade.

Em entrevista com Cerqueira, o sócio da rede Cama e Café explicou que a

expectativa pela alta ocupação no período dos jogos era muito grande, porém,

houve um desapontamento por parte dos membros da agência, que esperavam

Page 62: Bed and Breakfast No Brasil

62

100% de ocupação no período e não obtiveram. Após esse período, não houve

uma continuação no trabalho e hoje se pode notar que todo o esforço de

marketing e investimento no segmento vem de iniciativas isoladas e de empresas

privadas. Acredita-se que o poder público deve estar atento às experiências de

implementação desse tipo de meio de hospedagem no Brasil, dando suporte e

apoio às iniciativas existentes, assim como estimulando o desenvolvimento de

novos projetos. Para tanto, foram propostas idéias e metas para ampliação e

mapeamento das ações que devem ser implantadas para o crescimento e

desenvolvimento da hospedagem domiciliar a âmbito nacional.

Page 63: Bed and Breakfast No Brasil

63

6. PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO B&B NO BRASIL

A hospedagem domiciliar é um segmento de hospedagem que traz consigo

diversos benefícios aos envolvidos na atividade, porém, foi identificado que no

Brasil o seu desenvolvimento é restrito se comparado com outros países no

mundo, no qual já promovem o tipo de hospedagem há anos e recebem um

grande número de turistas.

No Brasil, foi possível identificar o seu crescimento no bairro de Santa

Teresa no Rio de Janeiro, através da agência Cama e Café, que teve maior

divulgação somente no período dos Jogos Panamericanos na cidade em 2007,

com a ajuda do poder público, interessado em aumentar o número de leitos da

cidade para receber a grande demanda turística esperada devido aos jogos.

Existem no Brasil dois eventos futuros que gerarão grandes investimentos

no setor turístico. São eles: a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016.

Eventos grandiosos como esses poderão trazer grandes chances de

desenvolvimento e crescimento do b&b no Brasil, visto que os jogos são

realizados em diversas cidades do país e que muitas delas não possuem a oferta

de hospedagem condizente com a demanda turística esperada.

Além dos eventos, o caso de sucesso em aceitação da modalidade em

Santa Teresa remete a idéia de que em localidades turísticas com atrativos

históricos e culturais tem grandes chances em se adequar a hospedagem

domiciliar, e que por conseqüência desenvolverá de forma sustentável uma maior

movimentação turística no local trazendo consigo benefícios a todos os

envolvidos.

6.1 Benefícios da Hospedagem Domiciliar

São listados os benefícios identificados com o desenvolvimento da

hospedagem domiciliar:

Aumento da oferta de leitos do local

A hospedagem domiciliar é capaz de promover o aumento do número da

oferta de hospedagem de um destino turístico de forma sustentável, ou seja,

contribuindo para que não haja danos ao meio ambiente onde se é instalado.

Page 64: Bed and Breakfast No Brasil

64

Neste caso, o benefício pode ser visto como uma alternativa em situações onde

existe o aumento momentâneo do número de turistas no local devido a algum

evento grande como por exemplo jogos olímpicos. Contribui de forma mais

saudável nesses casos, onde a construção de vários meios de hospedagem é

evitada, impactando de forma menos agressiva a taxa de ocupação dos hotéis

após a desocupação da cidade depois destes grandes eventos.

Turismo sustentável

Dentre os principais benefícios, pode-se salientar que não é necessária a

construção de estruturas para abrigar novos meios de hospedagem, pois o quarto

para hospedagem do turista já está construído e localizado dentro das casas dos

moradores da região, impactando o mínimo em quesitos ambientais.

Geração de renda

A movimentação financeira com o aumento do número de turistas pode

trazer benefícios a todos os envolvidos da região, desde profissionais autônomos

como taxistas, escritores, pintores, até os envolvidos no comércio da região com

bares, restaurantes, lojas, e principalmente os donos das casas que oferecem um

quarto para o visitante e recebem um valor referente à diária cobrada do turista

em sua casa.

Cumprimento dos objetivos do turista cultural

A vivência da cultura local é o que o turista da modalidade procura, e em

todos os casos, é possível cumprir seu objetivo, pois este está inserido no dia-a-

dia do local durante toda sua estada ou a maior parte dela. Todos os benefícios

citados remetem a idéia de que o b&b traz muitos benefícios às partes envolvidas.

Um trabalho para seu desenvolvimento poderia ser feito para trazer o sucesso de

seu mercado em outros países para o Brasil.

6.2 Principais Dificuldades para Implantação da Hospedagem Domiciliar

A hospedagem domiciliar não é amplamente conhecida pelos brasileiros,

por se apresentar em pequena escala no país e não haver divulgação do produto.

O Brasil é considerado um país hospitaleiro, porém pode haver certa resistência

em alguns moradores em receber desconhecidos em suas próprias casas. A

Page 65: Bed and Breakfast No Brasil

65

desconfiança e o medo pode ser uma barreira para a implantação da modalidade

em alguns locais. Os noticiários anunciam todos os dias casos de violência,

roubos e situações indesejáveis por qualquer cidadão. A idéia de trazer um

estranho para dentro de casa pode representar um grande empecilho para

aumentar o número de anfitriões dispostos a se associar a alguma rede de

hospedagem domiciliar.

Os hotéis e pousadas em cidades turísticas pequenas podem encarar a

implantação do b&b como um forte concorrente, podendo também representar

uma ameaça no desenvolvimento da atividade. Se os turistas decidirem por

motivos de maior integração com a comunidade ou pelo valor praticado ficar em

casas agenciadas ao invés de hotéis e pousadas, pode haver uma recusa por

parte desses empreendimentos a aceitar a implantação do meio de hospedagem

no local. A criação de uma agência de b&b de âmbito nacional prevê uma

estrutura que consiga suportar as exigências para sua administração e qualidade.

São necessários funcionários que estejam presentes em todos os locais onde há

residências credenciadas para constante avaliação do serviço prestado e para

adesão de novas residências. Para tanto é necessária uma estrutura

organizacional capaz de administrar de forma eficaz as casas em todas as

regiões do país onde seja implantada a hospedagem domiciliar.

6.3 Alternativas para Minimizar as Dificuldades de Implantação do B&b

Depois de identificadas as dificuldades para implantação de

desenvolvimento da atividade de hospedagem domiciliar no Brasil, foram listadas

algumas possíveis alternativas que podem minimizar os problemas encontrados:

Responsável por localidade

Nomeação de um anfitrião para cada região que irá cuidar da avaliação do

serviço prestado no local, monitorando as casas e avaliando a receptividade

oferecida pelos anfitriões. Ter uma pessoa responsável no local para cuidar de

situações adversas e problemas que pode vir a ocorrer envolvendo o turista pode

ajudar no tempo em que irá se resolver a situação, ocasionando também em um

maior suporte ao visitante. A casa deste anfitrião terá prioridade em receber

turistas e será descontada da diária uma porcentagem menor de comissão para a

agência de b&b em forma de contribuição ao seu trabalho.

Page 66: Bed and Breakfast No Brasil

66

Apoio do poder público

O apoio das secretarias de turismo das cidades e do MTur para divulgação

da idéia pode acrescentar maior credibilidade e aceitação por parte dos

moradores e envolvidos com o turismo, além de haver uma maior divulgação para

os turistas interessados. Esse apoio pode ser feito de modo semelhante ao que

foi realizado pela Secretaria do Turismo do Rio de Janeiro no caso dos Jogos

Panamericanos em 2007, onde houve a criação de um link na internet no site da

prefeitura da cidade. Este link dará acesso ao visitante para site da agência

responsável pelas reservas dos quartos disponíveis para hospedagem domiciliar

do local.

Preços compatíveis

Praticar preços compatíveis com a oferta de hospedagem dos locais onde

pode haver resistência por parte do hotéis e pousadas pode diminuir a

concorrência por preço de diária na cidade ou bairro e contribuir para a aceitação

da atividade no local. Os responsáveis pela administração dos hotéis e pousadas

da região poderiam se sentir ameaçados caso as diárias praticadas fosse mais

barata do que nesses meios de hospedagem, podendo prever a perca de

hóspedes para o b&b.

Promover treinamentos e orientação

Desenvolver palestras e treinamentos de capacitação para os envolvidos

com o turismo no local pode auxiliar na relação destes com os turistas,

contribuindo para que recebam bem o turista. Treinamentos e palestras para os

anfitriões poderão auxiliar na padronização de algumas variáveis como limpeza,

segurança, receptividade e apresentação dos deveres e obrigações do anfitrião.

Os treinamentos e orientações oferecidos aos anfitriões contribuem para a

garantia de qualidade do serviço e maior credibilidade com os turistas adeptos ao

b&b. A imagem da rede é fortalecida caso o padrão de qualidade seja elevado e

constante.

Incentivo ao consumo local

Incentivar o consumo dos turistas na localidade contribui diretamente para

a geração de renda e movimentação da economia local. Uma alternativa seria a

Page 67: Bed and Breakfast No Brasil

67

distribuição de cartões de descontos e cortesias para os turistas adeptos do b&b,

contribuindo para o consumo em restaurantes, bares, lanchonetes e demais

estabelecimentos da região.

Regulamentação oficial

Ainda não existe uma regulamentação oficial para a hospedagem domiciliar

no Brasil que defina os direitos e deveres dos envolvidos na atividade. A

existência de algo mais consistente nas políticas públicas traria primeiramente

uma maior credibilidade ao b&b e poderia contribuir em termos legais em sua

definição, regras e diretrizes.

6.4 Destinos

Considerado atualmente um setor econômico dos mais dinâmicos,

apresentando para o futuro as perspectivas mais promissoras, segundo o MTur, o

turismo caracteriza-se por ser altamente competitivo, decorrência da melhoria dos

equipamentos e produtos turísticos e da modernização nos transportes e das

comunicações. É também crescente o desejo das pessoas em conhecer lugares

novos, outras culturas.

Vivemos em uma sociedade de avanços tecnológicos, de facilidades de

comunicação e de deslocamento de pessoas, de integração econômica, política e

cultural, em que a globalização tornou-se algo comum em nossas vidas. Nosso

ambiente do dia a dia está cada vez mais padronizado. E esse é um dos motivos

pelos quais as diversidades culturais têm importância na sociedade em que

vivemos.

Hoje em dia há um redescobrimento do local em contraposição do global,

estamos aprendendo a olhar para o patrimônio como um bem que representa

identidade e que exalta o valor de uma cultura, de algo que é o retrato de um

tempo histórico, e de manifestações culturais. Com o crescimento do turismo no

Brasil nos centros urbanos, as cidades são obrigadas a melhorar a infraestrutura

local com obras de melhorias urbanas para manter a atratividade local. Na

realidade, tais melhorias estão voltadas, especificamente, para o mercado

turístico, de construção de um lugar que chame atenção e ative o imaginário dos

turistas. Lugares que se diferenciem do cotidiano, da realidade, para serem

apenas lugares de lazer.

Page 68: Bed and Breakfast No Brasil

68

As pessoas que buscam locais para se hospedar próximo aos autóctones e

que almejam conhecer de perto a cultura local, procuram principalmente esses

lugares para se aprofundar em seus estudos ou desejos de saber como era ou é

o cotidiano daquelas pessoas. Por essa razão, cidades que possuam

características histórico-culturais, com infraestrutura básica e turística e que nela

haja pessoas capazes (e dispostas) a receber o hóspede em suas casas – já

enxergando quantos benefícios isso poderá trazer a sua comunidade – podem

começar um novo método de desenvolvimento sustentável em sua cidade.

Dentre as muitas cidades que possuem locais históricos, algumas, por

possuírem infraestrutura melhor, serem de mais fácil acesso e com autóctones

capazes de hospedar estrangeiros, alguns locais que poderiam ter a oferta

hoteleira de b&b por estarem recebendo projetos e estudos do governo para

melhoria do local. A comunidade, em muitos dos casos, estão presentes na

realização dos projetos e estudos para conhecer como é o turista que vai até sua

cidade e entender sua necessidade.

Espírito Santo

O turismo capixaba iniciou novas fases históricas, baseadas no

profissionalismo e no planejamento estratégico. Em 2004, o Governo do Espírito

Santo lançou o Plano de Desenvolvimento do Turismo 2004-2013. Dele,

constavam políticas e projetos elaborados a partir do planejamento estratégico de

governo e alinhados com o Plano Nacional do Turismo. Num segundo passo de

avanço nessa área, lançou o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo

2025.

O Plano foi elaborado sob a coordenação da Secretaria de Estado de

Desenvolvimento Econômico e Turismo, por meio do Conselho Estadual de

Turismo (Contures). Dele constam projetos para estruturação do setor, como a

melhoria da competitividade do arranjo produtivo, através da revitalização dos

centros turísticos; melhoria da infra-estrutura; criação de centros de eventos;

consolidação das rotas turísticas; qualificação de empreendedores e

trabalhadores; desenvolvimento do turismo regional; diversidade da oferta

turística; e qualificação dos produtos turísticos. A economia do Espírito Santo vem

melhorando, conforme mostram as tabelas 11 e 12, PIB real e per capita do

Estado.

Page 69: Bed and Breakfast No Brasil

69

Tabela 11 – PIB real Fonte: IPES

Tabela 12 – Per Capita do Estado do Espírito Santo Fonte: IPES

O cenário de crescimento abrirá oportunidades para o desenvolvimento do

turismo internacional e nacional. De acordo com o governo (2007), através do site

oficial de Espírito Santo, entre diversas atividades econômicas possíveis para o

Espírito Santo, o turismo desponta como uma alternativa viável e importante,

principalmente quando se pensa em geração de emprego e renda (como mostra a

tabela 13), já que o Estado reúne diversos atributos necessários ao

desenvolvimento da atividade turística.

O turismo, portanto, deve ser visto como um instrumento valioso na busca

do desenvolvimento econômico local, principalmente quando comparado com

outros setores.

Page 70: Bed and Breakfast No Brasil

70

Tabela 13- Projeção do emprego formal do turismo no Espírito Santo 2004-2025

Fonte: IPES

Demanda

De acordo com o Governo (2007), o estado do Espírito Santo identifica

uma demanda turística com fluxos sazonais originários, na sua maioria, de

núcleos emissores nacionais dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São

Paulo, Distrito Federal, sul da Bahia e de visitantes capixabas que viajam

internamente. Devido à concorrência turística de outros Estados do Brasil como

São Paulo, Rio de Janeiro e o Nordeste, para poder competir com outros produtos

ofertados por outros estados, o governo, empresários e a sociedade, em conjunto,

analisaram o mercado atual e definiram o foco de atuação para o direcionamento

das ações de desenvolvimento do turismo.

Os mercados prioritários

O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo do Espírito Santo

2025 estará focado prioritariamente nos seguintes segmentos de mercado a

serem considerados como focos principais das ações:

• Turismo de negócios e eventos

• Turismo de sol e praia

• Turismo rural/agroturismo

• Turismo náutico

• Turismo de pesca

• Turismo de aventura

Page 71: Bed and Breakfast No Brasil

71

• Ecoturismo

• Turismo cultural

Tabela 14 – Segmento x Mercado Fonte: IPES

Com todas as ações que o governo do Espírito Santo está tomando para

que o turismo seja um fator gratificante na economia, a implantação de b&b só

trará mais benefícios, já que é um meio de hospedagem que não impacta

bruscamente o meio ambiente e a comunidade (interessada desde o início do

Projeto) poderá atender os turistas em suas casas, diminuindo a distância que

normalmente existe entre autóctones e visitantes, podendo mostrar de perto como

é a cultura capixaba.

Rio do Engenho

O distrito do Rio do Engenho, um dos patrimônios da história de Ilhéus e do

Brasil, está sendo preparado para ser um dos principais destinos turísticos da

Bahia. O trabalho faz parte de um projeto realizado pelo Sebrae na Bahia,

Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), prefeitura municipal, Instituto de

Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia (IESB), Capitania dos Portos do

Estado e uma empresa multinacional. De acordo com o gerente da agência do

Sebrae em Ilhéus, Eduardo Benjamim Andrade (ANO), “A proposta desse

trabalho de capacitação é preparar a comunidade local para o promissor mercado

do turismo, observando a vocação que o espaço já possui”.

A idéia é implantar no povoado do Rio do Engenho equipamentos de lazer

de qualidade para que se transforme no primeiro destino turístico-histórico-cultural

Page 72: Bed and Breakfast No Brasil

72

de Ilhéus verdadeiramente formatado, para que o local possa atrair muitos

turistas. O secretário de Turismo considera a capacitação como uma etapa de

fundamental importância nesse projeto e acrescenta que estas atividades visam

qualificar a comunidade para ações de geração de renda e a recepção dos

turistas que visitam o local. A comunidade está integrada e será qualificada para

receber o turista, o que indica que muitas pessoas começarão a enxergar a

possibilidade de recebê-los em suas casas, pensando também na possibilidade

de renda que ganhariam com isso.

Figura 18- Rio do Engenho Fonte: Ecoviagem

Olinda

O Centro Histórico de Olinda abrange a área histórica do município

brasileiro de Olinda, no estado de Pernambuco. Quase um terço da área total do

município é tombado pelo patrimônio histórico. A preservação desse sítio histórico

começou na década de 1930, quando os principais monumentos foram tombados

(WIKIPEDIA). A partir daí foram promovidas várias ações no sentido de preservar

todo o patrimônio histórico, cultural e arquitetônico do município. O sítio foi

declarado, em 1980, Monumento Nacional, pelo Congresso Nacional e, em 1982,

reconhecido como patrimônio mundial pela UNESCO.

Segundo site viagem Uol, a cidade possui um traçado irregular, sendo

influenciada pela arquitetura religiosa. Entre as construções existentes

atualmente, se destacam a Catedral de Olinda, o Mosteiro de São Bento, o

Convento de São Francisco, com a Igreja de Nossa Senhora das Neves, e a

Igreja de Nossa Senhora do Carmo, entre outras. A arquitetura civil, ao contrário

Page 73: Bed and Breakfast No Brasil

73

da religiosa, recebeu influência da arquitetura portuguesa, como construções com

sacada em pedra ou madeira, fachadas contíguas e grandes quintais, adaptada

ao clima tropical do local. O carnaval de Olinda é um atrativo turístico para muitos

e ganhando importância no mercado. Ele representa uma oportunidade única

para o desenvolvimento de setores como hotelaria, alimentos e bebidas,

transportes e serviços em geral. Segundo as pesquisas realizadas pela Prefeitura

de Recife, o índice de satisfação dos turistas que estiveram no Carnaval

Multicultural do Recife 2009 foi elevado: 97% dos visitantes desejam voltar em

2010 e 99% irão indicar o evento para parentes e amigos. Segundo o presidente

do Recife Convention & Visitors Bureau e da Associação Brasileira da Indústria

Hoteleira (ABIH-PE), José Otávio Meira Lins, os hotéis trabalharam com uma

ocupação próxima dos 97,5%, vários com lotação completa.

Para garantir que os municípios tenham uma estrutura eficiente para

receber os visitantes e estimular a divulgação cultural da região, as prefeituras

dos dois municípios farão investimentos integrados no setor, através do Complexo

Turístico e Cultural Recife-Olinda. A proposta é promover uma requalificação

urbana da área central da Região Metropolitana do Recife e desenvolver os

produtos culturais das “cidades-irmãs”. Para promover o local, durante o ano de

2009, Olinda vem recebendo diversos fantours promovidos pela empresa aérea

TAM. O projeto é uma parceria da Prefeitura de Olinda com a EMPETUR e Recife

Convention & Visitors Bureau. O fantour é um passeio de familiarização do

turismo. O objetivo é convidar grupos de agentes de viagens para visitação dos

principais pontos turísticos da cidade e assim, promover a divulgação do turismo

local.

São essas ações que mostram o quão viável pode ser a implantação de

b&b em Olinda. Mesmo com uma certa restrição que há dos hotéis e pousadas já

instaladas (de acordo com Daniela, da agência Cama e Café), a comunidade e o

governo podem analisar que será uma renda adicional dos participantes que

oferecerem suas residências e se cadastrarem em agências de b&b Esse meio de

hospedagem seria a melhor solução para atrair mais pessoas somente em

eventos especiais, que no caso de Olinda, é o carnaval.

Page 74: Bed and Breakfast No Brasil

74

Ouro Preto

A urbanização precedente ocorre na maior parte das localidades

turísticas consolidadas do mundo. Nesses casos, o aparecimento do turismo no

território ocorreu quando a localidade já existia como cidade (WIKIPEDIA). Em

Ouro Preto, por exemplo, o turismo desenvolveu-se principalmente, na década de

oitenta, quando a cidade foi tombada pela Unesco como Patrimônio Cultural da

Humanidade e obteve grande destaque internacional com a veiculação de uma

imagem vinculada ao patrimônio (MTur).

Segundo pesquisa realizada pelos autores Valdir Silva, Cristiano Borges e

Virginia Rosa, ex-alunos da Faculdade de Turismo de Formiga (FATUR, 2006), a

população ouropretana sente-se completamente a parte do processo de

desenvolvimento turístico. A exceção fica por conta de alguns comerciantes que

são diretamente atingidos pelos efeitos econômicos da atividade. Através do

trabalho realizado pelos ex-alunos, pode se constatar que o turista, que

geralmente vem motivado pelo aspecto histórico cultural, está em busca de

compreender suas raízes, compreender o seu passado que entende estar ali

registrado. Porém, a estadia deles normalmente é rápida e o contato com essa

história é superficial. Essa relação superficial é ainda mais acentuada porque ele

normalmente passa apenas um dia na cidade. Isso ocorre devido a grande

proximidade de Belo Horizonte e as opções de hospedagem, entretenimento,

gastronomia, espetáculos que a capital oferece.

O Estudo de Competitividade dos Destinos Indutores do Turismo

Nacional6, apresentado pelos consultores do Ministério do Turismo e da FGV

(Fundação Getúlio Vargas), destacou que os aspectos culturais, cooperação

regional, marketing e atrativos turísticos foram os principais destaques de Ouro

Preto. O diagnóstico apontou que, em uma escala de 1 a 5, Ouro Preto alcançou

nível 4, devido a esses aspectos. Nas demais dimensões avaliadas (infra-

estrutura geral, acesso, serviços e equipamentos turísticos, políticas públicas,

monitoramento, economia local, capacidade empresarial, aspectos sociais e

ambientes) há ações que precisam ser implementadas para aumento à

competitividade turística do destino e da região. Com esse estudo para melhoria

6 A intenção é que os destinos contemplados pelo estudo (que são 65) ajudem a promover o desenvolvimento da região em que estão localizados, gerando uma rede para o crescimento sustentável das cidades através do turismo.

Page 75: Bed and Breakfast No Brasil

75

dos pontos fracos que a cidade possui, a implantação de hospedagem domiciliar

em Ouro Preto pode trazer benefícios para todos, tanto pela comunidade

autóctone quanto aos comerciantes, e a participação do turismo na economia

local será mais significativa. Esse meio de hospedagem não precisará esperar

todas as ações que devem ser tomadas referentes às dimensões para ser

implantada no local.

Figura 19- Ouro Preto

Fonte: destino-brasil.net

São João Del Rei

Segundo dados do Plano Diretor de Turismo do município (UFSJ, 2004),

a natureza da região favorece a realização de programas tanto para os que

gostam de atividades leves e curtas (trekking, ciclismo passeios a cachoeiras e

trilhas), como para adeptos de aventuras mais radicais, como montanhismo.

Bem estruturada para o turismo, segundo dados do levantamento da

oferta turística (IPTAN, 2003), a cidade possui vários meios de hospedagem,

totalizando 878 leitos. O turismo receptivo do local é atendido por agências de

turismo cujos roteiros incluem visitas ao patrimônio histórico e arquitetônico,

museus de arte barroca e passeios. O tipo de turismo que mais se destaca no

município é o histórico, embora se encontra alguns sítios arqueológicos. Nas

serras, predominam as atividades de montanhismo e caminhadas. A Serra do

Lenheiro é o local de treinamento da única escola de montanhismo do Exército

brasileiro que se localiza em São João Del Rei.

Page 76: Bed and Breakfast No Brasil

76

Uma pesquisa realizada por Silvana Toledo de Oliveira7 e Marcus

Vinicius da Costa Januário8 teve como objetivo analisar o perfil do turista que vai

a São João Del Rei. Do total dos entrevistados, 52% é do sexo feminino e 48% do

sexo masculino; em relação à idade, 63% têm acima de 36 anos. Sobre os

hábitos de hospedagem, 51% dos entrevistados afirmaram utilizar algum meio de

hospedagem na cidade e 29% não utilizaram nenhum meio, por permanecerem

na cidade menos de 24 horas. A principal motivação turística dos entrevistados foi

a história e cultura da cidade: 84%. Já a motivação “natureza” aparece em

segundo lugar com 5% das respostas. Em relação às expectativas, 92% dos

entrevistados disseram estar “satisfeitos” e “muito satisfeitos”.

Inverno Cultural

O Inverno Cultural é um programa de extensão que a Universidade

Federal de São João Del-Rei (UFSJ) realiza, desde 1988, através de oficinas,

exposições, shows e seminários nas mais variadas linguagens da cultura e da

arte. O evento visa promover a valorização da cultura e da educação, com a

atualização de conhecimentos e o intercâmbio entre os profissionais da área.

Considerado sinônimo de revitalização, promoção e incentivo às variadas formas

de manifestações artístico-culturais, desde suas primeiras edições, segundo site

da UFSJ, tornou-se referência para o campo da cultura em geral.

A implantação da hospedagem domiciliar na cidade de São João Del Rei

pode ser um novo meio dos turistas conhecerem de perto a comunidade

autóctone, além de possuir valores de diárias reduzidos para o pouco tempo que

eles permanecem no local, além de atender a demanda em grandes eventos,

como o Inverno Cultural.

Diamantina

De acordo com o Ministério do Turismo (2008), os turistas que vão à

Diamantina (que também é Patrimônio Cultural da Humanidade tombado pela

Unesco) são pessoas de várias idades e estilos diversos que procuram a cidade

pelos vários atrativos que ela oferece. A oferta são as mercadorias e serviços

oferecidos, que são estimulantes para os turistas visitarem a cidade. Existem

7 Mestre em Cultura e Turismo pela UESC/UFBA. 8 Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional pela UESC/UFBA.

Page 77: Bed and Breakfast No Brasil

77

atrativos naturais, históricos, culturais e eventos que fazem com que o município

receba esse variado público demandante.

De acordo com o site oficial da cidade (www.diamantina.mg.gov.br), as

principais atrações turísticas são: igrejas, cachoeiras, Caminho dos Escravos,

Cruzeiro do Centenário, Pico do Itambé, Museu do Diamante, Casa de Chica da

Silva, Passadiço da Glória, Mercado Municipal, Casa do Padre José da Silva

Rolim, Casa de Juscelino Kubitschek, Prédio do Fórum, Chafariz do Rosário,

entre outros, além dos eventos como o carnaval, Festival de Inverno, Semana

Santa, Festa do Divino Espírito Santo, Festa de Santo Antônio, Dia da Seresta,

Festa do Rosário e a Vesperata9, que movimentam grande fluxo de turistas.

O Estudo de Competitividade do Ministério do Turismo também mostra

Diamantina como um dos principais destinos indutores do turismo nacional no

aspecto cultura. Localizada no Circuito Turístico dos Diamantes, tem 77,6% de

aproveitamento nos aspectos culturais nas variáveis: produção cultural associada

ao turismo, patrimônio histórico e cultural. A média nacional no aspecto cultural foi

de 54,7%. A secretária de Estado de Turismo de Minas Gerais afirma:

Este estudo confirma o que Diamantina tem de bom. Vamos direcionar nossas ações para atrair mais turistas para o município e todo o seu entorno. Vamos buscar recursos junto aos governos estadual e federal, ampliar nossas parcerias com a iniciativa privada buscando a solução para nossos problemas e a promoção para o que está dando certo.(DRUMOND, 2007).

O município também se destacou no Estudo nas dimensões infra-

estrutura geral e cooperação regional. Diamantina obteve índice de 70,2%, acima

da média nacional (63,3%) e em serviços considerados essencial para atividade

turística como saneamento básico, eletricidade, comunicação, saúde e

segurança. Já na avaliação sobre o envolvimento dos atores de turismo,

sociedade, governos, empresários, trabalhadores, instituições de ensino, turista e

comunidade, Diamantina alcançou 60,8%, também acima da média nacional que

é de 48,9%.

Ainda de acordo com o site, o município de Diamantina, em uma parceria

do Governo Federal, Governo de Minas e Banco Interamericano de

Desenvolvimento, recebeu do Programa de Desenvolvimento do Turismo

9 Concerto ao ar livre tendo a orquestra da Polícia Militar nas sacadas das casas.

Page 78: Bed and Breakfast No Brasil

78

Nordeste (PRODETUR-NE/II) R$15,7 milhões para investimento em

infraestrutura. De acordo com o prefeito de Diamantina, Gustavo Botelho Jr

(2008), “Até o final de 2009, teremos 100% de nossa rede urbana de esgoto

tratada”. Com todos os estudos e investimentos do governo para melhor receber o

turista, a implantação da hospedagem domiciliar no município seria um recurso de

fazer com que o turismo passe a ser um fator importante na economia local, não

tendo que se preocupar com mais investimentos para implantações de novos

hotéis para atender a demanda e não terem preocupações com a degradação

ambiental, valorizando ainda mais o ambiente cultural que Diamantina possui.

Gramado

Segundo o site oficial da cidade (www.gramado.rs.gov.br), Gramado tem

a melhor estrutura turística do Rio Grande do Sul e é hoje o principal destino

turístico do Estado e o quarto do Brasil. Com uma economia voltada ao turismo, o

município de pouco mais de 28 mil habitantes recebe anualmente cerca de 2,5

milhões de turistas. Gramado tem a maior infraestrutura receptiva do Rio Grande

do Sul, como aproximadamente 11 mil leitos, distribuídos em 145 hotéis e

pousadas; cerca de 1.140 estabelecimentos comerciais e mais de 120 bares e

restaurantes, capazes de atender em torno de 11 mil pessoas simultaneamente

(dados do site oficial de Gramado de 2008).

O turismo é à base da economia gramadense. A hotelaria, a gastronomia

e o comércio em geral é o potencial turístico da cidade. Móveis, chocolate, couro,

malhas, ferramentas e a construção civil também contribuem de forma expressiva

no incremento da economia e na geração de emprego e renda em Gramado.

Pesquisa realizada pela Universidade de Caxias do Sul – UCS, aponta que o

Produto Interno Bruto - PIB da cidade é de US$ 133 milhões, e a arrecadação

total do município chega a R$ 24 milhões/ano. Gramado seria um dos locais onde

a implantação de b&b seria mais difícil, por já ser bem-estruturada e a oferta de

hotéis e pousadas é grande, que podem não aceitar a idéia devido a

concorrência. Caberia, então, verificar se seria viável para a cidade, com o

incentivo de promover mais o turismo cultural, pelos turistas estarem mais

próximos da comunidade.

Page 79: Bed and Breakfast No Brasil

79

Paraty

De acordo com o site da prefeitura de Paraty (www.pmparaty.rj.gov.br,

2007), a cidade passou Búzios e agora é a segunda cidade mais visitada no

Estado do Rio de Janeiro. Dalva Lacerda, secretária de Turismo e Cultura, conta

que as políticas adotadas pela cidade não buscam aumentar o número de

turistas, mas sim aumentar o nível desse turista. De acordo com as conclusões de

Dalva Lacerda (2007), "A gente não quer uma superpopulação em Paraty. Não

cabe, estraga a cidade e ela tem que ser preservada".

Segundo o consultor internacional Joseph Chias (2007) da Chias

Marketing, contratada para traçar o Plano de Desenvolvimento do Turismo

Cultural de Paraty, a cidade recebeu 352 mil turistas nacionais e 48 mil

internacionais em 2006. Em 2010, o objetivo é receber 336 mil nacionais e 64 mil

internacionais. Com isso, o número anual continuaria em 400 mil, sem nenhum

aumento. A intenção, porém, é que esse turista passe a gastar mais e a ficar mais

tempo na cidade. Paraty também é um dos 65 destinos do Estudo de

Competitividade dos Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional, e

tem como objetivo transformar a cidade em um foco de turismo cultural, além do

turismo natural e ecológico. Para dar corpo ao Projeto, o ministério contratou a

Associação Casa Azul, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público que

também é uma das responsáveis pela produção da Flip (Festa Literária

Internacional de Paraty). De acordo com as conclusões feitas pelo diretor-

presidente da Casa Azul, Mauro Munhoz (2007), "Em Paraty, cultura é fator

agregador e dá sustentabilidade ao processo de desenvolvimento do turismo da

região, que passa por dificuldades com problemas urbanos".

Problemas urbanos, inclusive, que estão na pauta das melhorias da

cidade. Um dos principais problemas é a falta de água e de luz que ocorre quando

há superlotação na cidade. O saneamento básico é outro fator que precisa de

investimento, assim como a preocupação com a limpeza urbana. Um fator que

estimula os moradores a dar importância às melhorias é a possibilidade de a

cidade ser declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Segundo

site oficial, Paraty está sendo analisada e tem tentado se enquadrar nas

exigências feitas pelo órgão internacional. Uma das principais exigências já foi

cumprida, o cabeamento subterrâneo.

Page 80: Bed and Breakfast No Brasil

80

Entre os atrativos culturais de Paraty, seu patrimônio histórico, museus,

manifestações artísticas, festas populares, gastronomia, eventos culturais e

entretenimento, a paisagem visual faz parte da paisagem cultural. De acordo com

Joseph Chias (ano), "Uma cidade que não é boa para o morador não pode ser

boa para o turismo". Ele procura deixar isso claro para cutucando a sociedade

sobre a importância de o cuidado com a cidade partir dela própria.

A implantação b&b em Paraty será mais um meio de hospedagem que o

turista encontrará na cidade para pernoitar. A diferença, porém, será no contato

que terá com a comunidade (e assim conhecimento da cultura local), e no menor

impacto ambiental.

6.5 Copa do Mundo de 2014

A Copa do Mundo voltará a ser realizada na América do Sul após 36 anos,

já que a Argentina sediou o evento em 1978. Dezoito cidades candidataram-se

para sediar as partidas da Copa, porém a FIFA limita o número de cidades-sedes

entre oito e dez, entretanto, dada a dimensão continental do país sede, a

organização cedeu aos pedidos da CBF (Seleção Brasileira de Futebol) e

concedeu permissão para que se utilizem 12 sedes no mundial, nas quais foram

escolhidos São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Brasília,

Cuiabá,Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre e Recife.

Além dos estádios, aspectos como a rede hoteleira, sistema de transporte

urbano, aeroportos, segurança pública e opções de lazer foram levados em conta

na hora da escolha. Segundo o jornalista Rodrigo Mattos do Jornal Folha de S.

Paulo (2009), a hotelaria só conseguirá a expansão necessária para o evento

caso tenha apoio do governo. É o que pede a entidade representante do setor

sobre a expansão exigida pela FiFA. Pelo relatório da entidade que dirige o

futebol, o Mundial requer 55 mil quartos do país-sede. A marca não é problema

para o Brasil. A dificuldade está na distribuição, pois determinadas cidades têm

deficiências nos patamares para o evento.

De acordo com o pronunciamento do diretor da Associação Brasileira da

Indústria de Hotéis (ABIH), Alexandre Sampaio (2009), “A participação do governo

para alavancar o número de hotéis é necessária. Temos que saber se os

problemas orçamentários vão afetar. O governo vai ter que tomar uma decisão”.

Page 81: Bed and Breakfast No Brasil

81

Duas cidades, que sediarão os jogos de abertura e final, terão exigências

maiores de número mínimo de quartos, que possivelmente será realizado em São

Paulo (abertura) e no Rio de Janeiro (encerramento).

São Paulo dispõe hoje de 42 mil quartos e no Rio de Janeiro, 28 mil. A

capital fluminense precisaria ter um mínimo de 25 mil para receber a final, mas

como isso poderá ser um empecilho, a cidade contará com outros meios de

hospedagem, como o Cama e Café com sede próximo ao centro.

Expectativas para a Copa de 2014

Segundo um estudo preliminar realizado pelo Ministério do Turismo (2009),

é esperado 600 mil turistas estrangeiros no Brasil durante o Mundial de 2014.

Além do legado em infra-estrutura com as melhorias em diversos setores como

transporte, segurança e saúde, o turismo durante a Copa do Mundo irá gerar

muitos recursos para a economia. Durante um debate do Fórum Internacional de

Futebol, o presidente da Embratur concluiu:

Em um cálculo conservador, considerando que eles fiquem em média dez dias no país e gastem 160 dólares por dia vai gerar um receita de 2,2 bilhões de dólares (cerca de R$ 5,1 bilhões) limpos para a economia, fora os gastos que esses turistas deverão ter com a hospedagem.(2009).

Para receber os turistas, as cidades-sedes precisam melhorar não apenas

a infra-estrutura de aeroportos e hotéis, por exemplo. Mas também investir para a

criação de uma mão-de-obra qualificada nos serviços. Para tanto, foi criado uma

parceria entre o Ministério do Turismo e a Fundação Roberto Marinho para

qualificar profissionais ligados ao setor de turismo nos idiomas espanhol e inglês.

O investimento será de R$ 13,9 milhões e o governo espera que até 2010, 80 mil

pessoas tenham sido atendidas pela iniciativa. De acordo com Carvalho:

A Copa do Mundo é um mundo de oportunidades para os negócios. A previsão do Ministério do Turismo é que 80 mil pessoas sejam capacitadas e qualificadas para trabalhar diretamente com o turismo durante a Copa do Mundo. Por isso, o Ministério de Turismo já começou, por exemplo, um programa com a Fundação Roberto Marinho para qualificar essas pessoas. Em São Paulo, taxistas já fazem cursos de inglês e espanhol. (2009).

Page 82: Bed and Breakfast No Brasil

82

Segundo o projeto da Confederação Brasileira de Futebol (CBF, 2007),

seria possível vender em 2014 um total de 3 milhões de ingressos. A entidade

comandada pelo presidente Ricardo Teixeira fez ainda a consideração especial

de que parte dos bilhetes deveria ser comercializada a preços significativamente

inferiores aos praticados no mercado para garantir o acesso de torcedores locais.

No entanto, a Comissão de Inspeção da Fifa acredita que, para atingir seu

objetivo, o Brasil precisaria esgotar os ingressos de todos os jogos a um preço

significativamente superior ao praticado no mercado. Segundo Teixeira:

Os torcedores brasileiros precisariam compreender a expectativa que se cria sobre uma Copa do Mundo. É uma oportunidade única na vida de se ver um jogo de Copa do Mundo em sua cidade e, por isso, comparecer em grande número aos jogos das 32 seleções e não somente nas partidas do Brasil. (2007).

6.6 Jogos Olímpicos de 2016

O Rio de Janeiro foi escolhido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no

dia 02 de Outubro de 2009, em Copenhague, Dinamarca, como sede dos Jogos

Olímpicos de 2016. Às justas comemorações pela conquista da primeira

Olimpíada a ser realizada na América do Sul foi comemorada com satisfação,

porém, somam-se as necessárias ações que precisam ser realizadas a fim de que

o evento marque uma virada na capital carioca e deixe um legado positivo, para

seus habitantes, para o incremento do turismo e ao país.

Um dos desafios da cidade do Rio de Janeiro para consolidar a confiança

do Comitê Olímpico Internacional (COI) até a votação, em outubro de 2009, da

cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016 é o item Acomodações. O Rio tem hoje

em torno de 22.500 quartos no nível de hotelaria aceito pelo COI, que varia de

duas a cinco estrelas. Com o objetivo de sediar as Olimpíadas, o plano do Comitê

de Candidatura Rio 2016 é, além da construção de novos empreendimentos

previstos, alcançar a adesão das redes hoteleiras já existentes na cidade.

Nos hotéis de 5 estrelas da cidade, entre os quais Copacabana Palace,

Fasano e Windsor, a taxa de adesão já atinge 90% do total de quartos. Além

destes, 6 mil quartos de hotéis de 2 a 4 estrelas, como Sol Ipanema, Rio Copa,

Copa Sul e Mar Ipanema, já estão comprometidos com o projeto olímpico. Entre

as ações a serem tomadas, o planejamento é o fator essencial para a realização

Page 83: Bed and Breakfast No Brasil

83

bem-sucedida dos Jogos Olímpicos 2016, a exemplo do que aconteceu em

Barcelona 1992 e vem acontecendo em Londres, em sua preparação para sediar

as Olimpíadas 2012.

No caso brasileiro, há a feliz coincidência de o Rio de Janeiro ser uma das

sedes da Copa 2014 e muitas das obras que serão realizadas para o

Campeonato Mundial de Futebol devem necessariamente ser pensadas para

aproveitamento nos Jogos Olímpicos, especialmente aquelas ligadas à infra-

estrutura urbana, como metrô, corredores de ônibus, estacionamentos, aeroviária,

de porto e ampliação do meio de hospedagem no estado.

Expectativas para as Olimpíadas de 2016

Em 2010, é previsto um aumento de 10% no número de turistas em todo o

país. E até 2016, a tendência é que o crescimento continue, incentivando os

investimentos externos nos mais variados setores. O aumento da oferta de vôos

diretos para o Rio é a primeira referência para o aumento e a ampliação da rede

hoteleira. A realidade no momento é que mão-de-obra será necessária, o que

significa mais emprego, maior renda e estabilidade social, e também planos para

capacitar os profissionais que irão receber uma enorme demanda turística,

espalhados por todos os países do globo.

O portal do Ministério do Turismo na internet informou que o projeto de

qualificação voltado para Copa do Mundo de 2014 também beneficiará o Rio nas

Olimpíadas de 2016. Serão cursos à distância de inglês e espanhol para qualificar

cerca de 80 mil trabalhadores. O Ministério dos Esportes fez uma estimativa de

quanto será o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro até as Olimpíadas, e informou

que chegará a US$ 11 bilhões (R$ 22 bilhões) entre 2009 e 2016, e o Rio de

Janeiro será o estado que mais terá contribuído com esse crescimento. O estudo

prevê a criação de 120.833 empregos por ano.

Entretanto, o Comitê Olímpico Internacional apontou dois problemas que a

cidade precisa solucionar até o início dos jogos olímpícos: transporte e hotelaria.

O prazo dado para alcançar a cota mínima (40 mil quartos) vai até 2014. O

secretário de Desenvolvimento do município, Felipe Goes, revelou em entevista

para o jornal O Globo que os hotéis Méridien (da rede Windsor) e o Glória serão

reinaugurados em 2010. O Rio de Janeiro pode alugar iates para suprir parte de

sua demanda, mas a possibilidade ainda é colocada em questão. O plano

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84

apresentado pelo COB também prevê a construção de uma vila para abrigar os

visitantes em b&bs.

Page 85: Bed and Breakfast No Brasil

85

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após serem realizados os estudos sobre a hospedagem domiciliar e seu

desenvolvimento no mundo, pode-se perceber que no Brasil o seu crescimento é

limitado. Foram identificadas oportunidades de implantação da modalidade em

diversas cidades do país, tendo como base o desenvolvimento do turismo cultural

atrelado ao b&b, sendo proposto depois de analisado o perfil dos turistas e dos

envolvidos na hospedagem (anfitriões, moradores, comerciantes).

Pode-se concluir que o segmento de b&b tem grandes chances de se

desenvolver em território brasileiro, baseado em seu crescimento e popularidade

no restante do mundo. Grandes eventos esportivos, desenvolvimento do turismo

cultural, comunidades hospitaleiras e quebra de paradigmas fazem parte dos

componentes ideais para o aperfeiçoamento e crescimento do mercado de

hospedagem domiciliar no Brasil.

Para desenvolver e implantar um projeto de b&b de âmbito nacional, pode-

se obter maior facilidade e controle com a fundação de uma agência que controle

todo o seu desenvolvimento, e que sejam cumpridas as sugestões citadas para

resolução de possíveis problemas.

O apoio do poder público poderia ser um grande passo para o crescimento

deste mercado em solo brasileiro, onde ajudaria na divulgação do modelo aos

usuários e contribuiria com seu crescimento e desenvolvimento.

O b&b se implantado, traz benefícios a todos os envolvidos. Sua

implantação no Brasil é possível e pode ser vista como uma alternativa

sustentável em períodos que sejam necessárias a criação de mais leitos para

turistas e que em um futuro (pós eventos esportivos) contribuirá ativamente com a

economia local, geração de renda e crescimento do turismo, dando continuidade

ao ato de receber turistas e a troca de experiências tão procurada entre os

anfitriões e seus hóspedes.

Page 86: Bed and Breakfast No Brasil

86

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Page 87: Bed and Breakfast No Brasil

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88

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89

APÊNDICE A

ENTREVISTA

CAMA & CAFÉ

SANTA TERESA

Indicado pelo respeitado guia Lonely Planet como um dos cinco melhores

lugares para se hospedar no Rio, o Cama e Café oferece uma experiência única,

altamente personalizada, promovendo o intercâmbio cultural e o verdadeiro

contato com o cotidiano brasileiro. Em três anos de funcionamento, recebeu mais

de 4.000 hóspedes, com 100% de ocupação no carnaval e Réveillon de 2007.

Carlos Magno, gerente de relacionamento do Cama e Café é um dos

responsáveis pela criação da rede em Santa Teresa.

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90

De onde surgiu à idéia de criar o Cama e Café junto com seus dois sócios?

Carlos Magno: O Cama e Café foi criado através de experiências vividas pelos

sócios, que tiveram a oportunidade de se hospedar em alguns Bed and Breakfast

pelo mundo a fora. O fato de você estar em contato direto com os donos da casa

torna tudo mais fácil porque querendo ou não ele acaba se tornando seu amigo,

seu guia turístico e até mesmo seu professor de idiomas. Acaba-se percebendo

que esse meio de hospedagem te deixa muito mais próximo da cultura deles, sem

falar da sensação boa que se tem, ao contrário de um hotel que possui um

serviço personalizado e frio. Dificilmente um hóspede sairá com seu concierge

para tomar uma caipirinha ou para ser apresentado aos melhores bares e

restaurantes, já no conceito cama e café isso existe. Em 1995, eu e meus sócios

fizemos um intercâmbio em uma cidade com -20c° e isso me fez ver o quanto o

brasileiro é feliz e não sabe, o quanto é hospitaleiro e cativante, o que não deixa

de ser um grande diferencial para a hospedagem no Brasil. Passamos também

um tempo na Europa e acabamos ficando em Bed and Breakfast, não só pela

questão financeira, mas também pelo conhecimento e experiência.

Por que você e seus sócios escolheram Santa Teresa?

Carlos Magno: Nós vimos que Santa Teresa recebia muitos turistas aventureiros

que chegavam com suas mochilas nas costas e com necessidade de encontrar

um meio de hospedagem. O que se encontrava muito na época eram pessoas

querendo dividir um quarto, ou alugando um quartinho nos fundos da casa.

Observando tudo isso, aproveitamos o evento artes portas abertas que aconteceu

em 2002, para abrir inscrições para que pessoas se tornassem anfitriões e

conhecessem melhor o conceito cama e café. O mais surpreendente é que

tivemos 20 inscrições só nesse dia e a partir disso vimos outras oportunidades,

sentimos que o projeto poderia realmente dar certo, mesmo sabendo que no

fundo não seria fácil, por ser um bairro de resistência, de vanguarda com

moradores que se orgulhavam muito de morar ali. Logo, nós tivemos que interagir

com a comunidade, conhecer melhor os moradores, os estabelecimentos, pontos

de taxi e traçar parcerias com comerciantes e artistas.

Page 91: Bed and Breakfast No Brasil

91

A idéia foi bem aceita ou houve alguma resistência?

Carlos Magno: Foi muito bem aceita até mesmo porque isso iria trazer beneficio

a todos, gerando uma renda extra para a comunidade e iria movimentar a

economia do bairro. O único problema é que nós tínhamos a idéia, mas não

sabíamos quanto nós iríamos cobrar. O carnaval de 2003 chegou e acabamos

colocando nossa idéia em prática e logo na primeira temporada conseguimos

fechar nossa ocupação com 100%. Vendo que estava dando tudo certo,

resolvemos levar a coisa mais a sério e começamos a preparar um treinamento

de qualidade no atendimento para os anfitriões, para que todos entendessem a

fundo o conceito Cama e Café e que soubessem como receber os futuros

hóspedes, como preparar e servir o café da manhã, o que estará incluso na parte

de governança, como preparar o quarto e o que fazer em situações inesperadas.

O SEBRAE foi um grande parceiro, nos ajudou com toda à parte de treinamento

desde o início.

Como foi feita a divulgação do Cama e Café?

Carlos Magno: No início nos usamos muito a internet e panfletos que eram

distribuídos nos restaurantes, lojas, pontos de taxi, rodoviárias, aeroportos entre

outros, e isso de fato funcionava porque havia muitos turistas chegando de Parati

e Ilha Grande sem ter onde ficar. Depois de algum tempo estávamos nas páginas

das melhores revistas de hospedagem e turismo.

Qual é o público alvo do Cama e Café?

Carlos Magno: Sem sombra de dúvida são os casais e estrangeiros. Em primeiro

lugar os alemães, em segundo os franceses, em terceiro os irlandeses, e uma

infinidade de outros turistas estrangeiros, como espanhóis, canadenses,

holandeses, dinamarqueses, australianos, italianos e por último os americanos.

Mas isso é uma seleção de turistas estrangeiros, se eu for falar do turista como

um todo, posso dizer que dentro do quadro geral eles ocupam 75% enquanto os

brasileiros somente 25%. Entre os brasileiros, posso destacar São Paulo com

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92

10%, Minas Gerais com 5%, e os 10% que restam se divide entre outros estados

como Espírito Santo, Santa Catarina, Brasília e Bahia.

Você como um dos fundadores do Cama e Café acha que esse conceito

pode se expandir para todo o país ou você acha que os outros estados não

estão preparados como esteve Santa Teresa?

Carlos Magno: Pode ser que sim. Eu só acho que se deve tomar muito cuidado

porque no Cama e Café se administra dois tipos de clientes, o cliente hóspede e o

cliente anfitrião. Tem que tomar cuidado para não prejudicar a relação por causa

da demanda. Existem lugares que não possuem uma demanda muito alta e se o

anfitrião não tiver consciência disso, tudo pode ir por água abaixo. Não adianta

criar muita expectativa se não há clientes. Mas o Cama e Café a caba sendo uma

alternativa para lugares que não possuem uma indústria hoteleira apropriada e

você pode usar isso ao seu favor. Ao invés de construir, o que se pode fazer é

instruir as pessoas que moram naquele bairro ou cidade, dando capacitação,

mostrando a eles a riqueza do lugar e o valor histórico arquitetônico. Fazendo

isso, você estará juntando o útil ao agradável, o que não deixa de ser uma

solução inteligente e ambientalista.

Como é feita a seleção das casas?

Carlos Magno: O fato de fazer parte do Cama e Café não é só bom quando o

assunto é renda extra, mas também é um trabalho especial e prazeroso e para

tudo correr bem precisamos ter casas confortáveis e principalmente anfitriões que

amem o que estão prestes a fazer. Os moradores já existentes no Cama e Café

foram escolhidos a dedo por mim. Depois da inscrição eu vou até a casa da

pessoa para entrevistá-la e conhecer melhor a estrutura física da casa. Durante

todo esse tempo de Cama e Café eu recusei mais do que aceitei moradores a

fazerem parte da rede. Para mim, um morador tem que ter atributos simples,

como saber receber bem uma pessoa, ser simpático, ter tempo e disponibilidade

para preparar um café da manhã especial, tem que ser paciente deve que gostar

de pessoas, o famoso calor humano, tem que gostar de trocar experiências, saber

aceitar as diferenças, tem que ser caprichosa e principalmente ser responsável e

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93

ter noção de como agir em situações difíceis. Eu sempre procuro fazer visitas

semestrais, marcar um café da manhã na casa do anfitrião para saber como

andam as coisas, quais são as dificuldades e necessidades deles.

É através deste cruzamento de perfil que nós temos certeza que o nosso hóspede

vai estar muito bem acompanhado, porque o anfitrião já tem um perfil similar. Isso facilita

muito essa integração

Você se preocupa com a quantidade de casas, para que fique uma

proporção que não prejudique ninguém caso haja uma grande demanda de

casas a oferecer para poucos turistas?

Carlos Magno: Sim. Nós temos uma grande preocupação com relação a isso,

justamente para não haver um crescimento desenfreado. Hoje, nós temos 40

casas na rede e procuramos não ultrapassar muito para não prejudicar ninguém.

Vocês têm apoio de outros órgãos, como Ministério do Turismo?

Carlos Magno: Sim. Nós temos o apoio do Ministério do Turismo, do Riotur, da

prefeitura até mesmo porque não tem nem como eles irem contra um projeto que

beneficia toda a cidade. No entanto, a prefeitura nos procurou para dar suporte

nas olimpíadas do pan. Infelizmente não foi o que esperávamos porque achamos

que o rio iria ficar saturado de hóspedes, mas na verdade só recebemos 750 mil

pessoas. Houve certa expectativa por parte dos anfitriões que acabou em

desilusão.

Existe uma legislação voltada só para o Cama e Café como existe para

pousadas e hotéis?

Carlos Magno: Sim. Em Santa Teresa, por exemplo, nós podemos trabalhar

apenas com três quartos por casa, já em parati o limite é de seis quartos. A

determinação da quantidade de quartos por casa dependerá da legislação do

município.

By Thais Moane

Page 94: Bed and Breakfast No Brasil

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APÊNDICE B

ENTREVISTA

CAMA & CAFÉ

SANTA TERESA

A anfitriã Flávia Garcia de 35 anos é

advogada e pós-graduada em direito da

economia. Reside em Santa Teresa há sete

anos e há seis é conveniada a rede cama e

café, fundada em 2003.

Há quanto tempo você recebe hóspedes em sua casa?

Flávia: Comecei a receber hóspedes desde 2003, quando o Cama e Café foi

inaugurado.

Qual foi o principal motivo de aderir à hospedagem domiciliar?

Flávia: Convivência com novas pessoas, novas culturas e também por causa da

renda, ainda mais porque a grande maioria dos hóspedes são estrangeiros,

poucos brasileiros conhecem e/ou buscam o cama e café, mas quando isso

acontece, geralmente são paulistas.

Como foi feita a abordagem pela agência para adesão do programa? Já

conhecia esse tipo de hospedagem?

Page 95: Bed and Breakfast No Brasil

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Flávia: Eu mesma tive a iniciativa de procurar o Cama e Café, ainda mais

sabendo que não teria que abrir mão do que faço para começar a fazer parte de

algo tão prazeroso e rentável. Como trabalho próximo ao centro da cidade, tudo

fica mais fácil porque tenho mais facilidade de voltar para casa.

Quem são os turistas que se hospedam em sua casa?

Flávia: Posso dizer que 95% são estrangeiros e a grande maioria são casais.

Geralmente são pessoas entre 20 a 40 anos que ficam de 4 a 5 dias , porém tem

alguns hóspedes que acabam ficando entre 15 a 20 dias. Pela experiência que já

adquiri recebendo pessoas de vários lugares do mundo, pude perceber que a

escolha desse meio de hospedagem acontece pelo acolhimento e não por

questão financeira.

Eu tenho um caso muito curioso de um casal de alemães que vieram passar

alguns dias aqui no rio. A principio, eles ficaram hospedados dois dias em um

hotel de luxo, mas devido a alguns problemas que aconteceram, resolveram

passar os últimos dias no Cama e Café e desde então, quando eles vêm ao Brasil

acabam ficando aqui. Eu chamo isso de fidelidade e para mim, isso é muito

gratificante.

Ouve alguma adaptação na casa ou reforma para o recebimento dos

hóspedes?

Flávia: A renda obtida com o Cama e Café possibilitou o início das obras e o

pagamento em menos de um ano, como por exemplo, a construção de mais dois

quartos, varanda, ampliação do quarto que já existia, lembrando que os novos

quartos possuem ar-condicionado, e a construção de um teto solar. Em alta

temporada acabo alugando meu quarto e contrato uma pessoa para me ajudar

com a casa.

Qual foi sua experiência mais positiva e a mais negativa?

Flávia: Como positivo eu posso citar o Sebastian, um alemão com alma de

brasileiro, que chegou à minha casa como hóspede e que hoje é praticamente um

Page 96: Bed and Breakfast No Brasil

96

membro da família. A amizade que foi construída foi tão forte que cheguei até a

construir um quarto só para ele e quando ele está aqui, faz questão de receber os

hóspedes e acordar mais cedo só para preparar o café que é servido. Como

negativo eu tenho somente um caso, foi com um casal de brasileiros. Eles tinham

que sair super cedo, porém não avisaram sobre o horário e eu também não avisei

sobre o horário do café. Logo, por causa da falta de comunicação entre ambos, o

casal saiu sem tomar café e chateado.

Qual é o maior impedimento de crescimento da atividade no Brasil em sua

opinião?

Flávia: Crise e preconceito por parte dos próprios hóspedes brasileiros. Santa

Teresa é um bairro muito hospitaleiro. A disponibilidade de dar informação, de

ajudar, de explicar e apresentar o bairro é muito grande.

Como se dá a questão da privacidade nos períodos em que há hóspedes em

casa?

Flávia: Pelo contrário, o problema é estar sozinha. O anfitrião que faz parte do

Cama e Café geralmente é uma pessoa que sempre teve a casa cheia,

convivendo com amigos e parentes. Pelo menos, foi assim comigo e isso de fato

me ajudou muito a ser uma pessoa mais feliz e disposta acolher qualquer pessoa

de qualquer lugar na minha casa. O mais legal não é saber que você se sente

bem fazendo isso, mas sim, saber que você faz outras pessoas se sentirem bem.

A interação entre anfitrião e hóspede é tão grande que já cheguei a sair com eles

para barzinhos, jantares, passeios turísticos dentre outros lugares.

Recomendaria para seus familiares e amigos que recebessem turistas em

suas próprias casas?

Flávia: Sim, porém não se sabe se aceitariam ou fariam devido o preconceito.

Você notou algum crescimento do número de hóspedes recebidos?

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Flávia: O crescimento foi muito grande, chegamos a triplicar a quantidade de

hóspedes, do início do projeto até agora.

By Tatiane Alves

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APÊNDICE C

ENTREVISTA

CAMA & CAFÉ

SANTA TERESA

A anfitriã Ana Laura Lopes de Andrade de 38

anos é formada em psicologia e analise de sistemas.

Reside em Santa Teresa e é conveniada a rede que

está instalada na sua residência.

A sede do Cama e Café sempre existiu ou a construção foi pensada depois

que a rede foi formada?

Ana Laura: No início, o espaço físico do Cama e Café não existia, foi quando eu

resolvi ceder um pedaço do meu terreno para que a sede fosse construída.

Compartilhar espaço nunca foi problema para mim, mesmo sabendo que o

movimento iria aumentar, a disposição seria maior, sem falar do custo que a obra

iria gerar. Mas tudo isso foram coisas que eu fui ponderando e que deram certo

até mesmo porque nós precisávamos de um porto seguro e a construção da sede

veio nos trazer isso. Eu sentia que os hóspedes se sentiam órfãos, mas com a

construção da sede, eu percebi que começamos a passar mais segurança para

eles, dando mais credibilidade a rede. No entanto, um dos meus desejos é

conhecer o Cama e Café de Olinda, saber como é o trabalho deles, como eles

estão se desenvolvendo e até mesmo para compartilhar experiências.

Você já teve problemas com hóspedes na sua casa?

Page 99: Bed and Breakfast No Brasil

99

Ana Laura: Problemas graves não. O que acontece muito é o hóspede querer

usar a cozinha para cozinhar, fazer festinha entre outras coisas, mas nada grave.

Alguns anfitriões não gostam de liberar a cozinha, para evitar bagunça. Eu,

particularmente acabo liberando o forno microondas para ser preparado um

lanche.

Como funciona a relação hóspede e anfitrião?

Ana Laura: A relação entre ambos é tão grande que na maioria das vezes que eu

saio para tomar um chope em um barzinho eles acabam indo junto e a partir disso

nasce uma amizade. Uma vez, chegou um grupo de angolanos para ficar uma

semana, no final da estada deles eu resolvi viajar para Sorocaba, nisso eles

ficaram sabendo e quiseram ir junto, e de fato foram. A viagem foi muito

agradável. Já chequei a fazer festa de aniversário, já liberei a minha

churrasqueira, já houve casamento com lua de mel e tudo mais.

Quais são as maiores dificuldades que você enfrenta?

Ana Laura: Minha maior dificuldade é receber grupos. Eu não consigo recebê-los

porque eu acabo me sentindo uma estranha dentro da minha própria casa. Um

grupo já chega com uma cultura diferente, uma postura diferente, com uma

opinião já formada e isso cria um campo de força muito grande. Eles acham que

podem fazer o que quiserem, ficam comparando um quarto com o outro, querem

mudar de quarto toda hora e acham que os quartos devem ser iguais para todos.

Algum hóspede já quis trocar de casa por não se adaptar a sua?

Ana Laura: Sim. Já tivemos muitos casos de troca, mas na maioria das vezes

eles se arrependem até mesmo porque uma casa nunca será igual à outra.

Quando o pedido da troca é feito, nós procuramos atender o desejo do hóspede

imediatamente até mesmo porque a nossa intenção é que ele se sinta bem como

se estivesse na sua própria casa e que saia falando bem da rede. É por isso que

a rede existe, caso não haja adaptação, a sede disponibiliza outra casa para esse

hóspede.

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Se você morasse sozinha, sua casa seria diferente do que ela é hoje?

Ana Laura: Acredito que sim. Eu sou uma pessoa que gosta de ambientes

pequenos, não tenho a menor necessidade de conviver em lugares grandes. Meu

quarto é suficiente para mim, lá dentro eu tenho minha cama, minha tv, meu

aparelho de som, meus livros, meu frigobar, meu escritório e meu material de

trabalho.

Algum hóspede já chegou a quebrar ou danificar alguma coisa na sua casa?

Ana Laura: Sim. Eles sempre acabam quebrando alguma coisa. Na minha casa,

já chegaram a quebrar copos, pratos, ou seja, coisas pequenas. Eu me lembro de

um casal que quebrou a cabeceira da cama de outra anfitriã. Ela havia comprado

a cabeceira recentemente. Casos como esses não tem muito que se fazer. Nós

tentamos cobrar do hóspede, mas nem sempre temos o retorno do prejuízo.

Você já passou por alguma situação constrangedora?

Ana Laura: Desagradável sim, mas constrangedora ainda não. Foi desagradável

para eu receber um grupo de angolanos, onde todos eram homens. Eles vieram

para ficar três meses, mas em um mês pedi para trocá-los, mas para isso, tive

que inventar uma história para não chateá-los. A postura cultural dos angolanos é

muito agressiva, possuem preconceito com relação à mulher brasileira e o limite

para mim, como já havia dito antes, é me sentir uma estranha dentro da minha

própria casa. Teve outro caso engraçado em que eu estava com a perna

engessada e com três ingleses, uma mulher e dois homens. Os dois ingleses

foram para o Maracanã e a mulher ficou em casa porque não estava se sentindo

bem, e para completar colocou na cabeça que estava com malária e que iria

morrer porque havia acabado de chegar da Amazônia. Como não podia dirigir,

liguei para a emergência e uma médica pelo telefone conseguiu tranqüilizá-la.

Os hóspedes quando voltam a Santa Teresa, preferem ficar na mesma casa

ou gostam de conhecer outras famílias?

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Ana Laura: Depende, tem hóspedes que voltam e querem ficar na mesma casa,

outros preferem ir para outras casas para terem experiências diferentes, como por

exemplo, o Rafael, um paulista super simpático que vem curtir o carnaval aqui em

Santa Teresa há 4 anos, e toda vez que ele vem fica em uma casa diferente. Mas

temos outros casos, como o músico pombas. Já é o 3° carnaval que ele passa em

Santa Teresa e tem preferência de ficar na minha casa.

Quem é o turista do Cama e Café?

Ana Laura: Nós recebemos muitos estrangeiros e dentre eles os que mais se

destacam são os alemães, franceses, angolanos e irlandeses. O brasileiro não é

nosso público alvo. Não que o Cama e Café não queira que ele seja, mas

simplesmente pelo fato de recebermos poucos turistas brasileiros, o que é uma

pena porque os poucos que chegam a conhecer Santa Teresa se encantam,

como aconteceu com o Rafael. Ele nos procurou para saber quanto custa um

imóvel em Santa Teresa porque a intenção dele é vir morar aqui e fazer parte da

rede. Tem um caso muito interessante, a história do Sebastian. Ele foi o primeiro

hóspede do Cama e Café e toda vez que ele vem ao Brasil fica na casa da Flávia

e a relação entre eles ficou tão forte que a Flávia acabou construindo um quarto

só para ele. O mais interessante é que ele passou a fazer parte da vida dela

porque aonde ela ia, ele ia também. Ele chegou até a conhecer toda a família e

na ausência dela e do Alexandre (esposo) era ele quem preparava o café da

manhã, era ele quem recebia os hóspedes. Acredito que ele tenha morado com

eles durante 1 ano. O que nós aprendemos com tudo isso é que pessoas que se

hospedam no Cama e Café buscam algo mais, buscam o famoso calor humano.

O Sebastian por ser alemão acabou nos surpreendendo. Ele poderia ter escolhido

um hotel, mas de fato buscava algo mais. Nós sempre brincamos ao dizer que ele

poderia ser alemão, mas tinha alma e coração de brasileiro.

Existem pessoas que usam esse meio de hospedagem como única fonte de

renda, mas não faz parte da rede?

Ana Laura: Sim. Ficamos sabendo de várias casas que usam esse meio de

hospedagem para sobreviver, mas não são agenciadas.

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Você acha que isso pode afetar a rede?

Ana Laura: Não acredito que isso afete a rede porque o hóspede sabe diferenciar

bem o verdadeiro Cama e Café de uma casa qualquer. Essas casas não possuem

a filosofia cama e café, elas não têm um porto seguro ou alguém a quem recorrer

em um caso de emergência. Sem falar da questão de adaptação, se o hóspede

não se adaptar ele não terá opção para ir para outra casa. Isso o deixará

insatisfeito, levando-o a nunca mais voltar. Outra coisa fantástica é a questão de

não mexer com a parte burocrática, isso torna a relação entre anfitrião e hóspede

mais humana, sem falar da dor de cabeça que evitamos que o dono da casa

tenha.

By Danielly