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UBERABA– MG – Filemom Escola Superior de TeologiaBases Bíblicas de MissõesPr. Mateus Duarte Página 1
FEST – Filemom Escola Superior de Teologia“Formando Obreiros Aprovados”
BASES BÍBLICAS DEMISSÕES
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Ementa: Estuda o modelo bíblico-reformado de missões. Inclui investigações sobreas pressuposições, natureza, princípios e métodos de comunicação do evangelhoem outras culturas.
Objetivos:
1. Destacar as bases do conceito Bíblico de Missão Integral como a linhamestra da Missiologia.
2. Apresentar a missão como um tema central e abrangente na Bíblia.3. Despertar no aluno a capacidade de desenvolver uma compreensão e ação
missiológica bíblico-reformada.
1. Prolegômenos
Em primeiro lugar, devemos ter em mente do que estamos tratando nestamatéria; para isso observe as breves definições abaixo:
1.1 Definições:
Animismo: Religião primitiva que atribui uma alma a todos os fenômenos
naturais, presente nos rituais dos povos indígenas .
Contextualização: Conjunto de circunstâncias que se levam em conta os
acontecimentos atuais presentes nas culturas; tais como: fome, opressão, guerras,
suborno, etc. , ou outras situações nas quais o missionário deve responder
positivamente, apresentando uma proposta encarnacional do evangelho do reino.
Choque Cultural: Conflito, Choque, oposição, luta, entre a cultura do missionário
com a cultura do povo local.
Cosmovisão: Lentes, pelas quais, enxerga-se o mundo ao redor .
Etnia: Termo grego cujo significado é: Nação, Povo. Retrata um grupo de pessoas
cuja unidade repousa na estrutura familiar, econômica e social comum, que falam
uma mesma língua e possuem uma mesma cultura: costumes, crença, valores etc.
Em Mateus 28.16, não se restringe apenas a etnia, mas amplia-se em seu conceito,
revelando a dimensão sociocultural da vida humana.
Etnocentrismo: Tendência de um indivíduo para valorizar sua cultura impondo-a.
Costuma-se dizer que, ao arrumar a mala, o missionário leva consigo sua cultura
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junto, tendo a mesma mais valor do que a Bíblia.
Igrejas Autóctones: Igrejas locais que possuem autonomia administrativa, litúrgica,
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arquitetônica e andam com suas próprias pernas , são auto-governadas e auto-
sustentadas e auto-proclamadora.
Indigenização: Diz respeito às culturas tradicionais de uma etnia.
Janela 10x40: Conhecida também como “Cinturão da resistência”, estende – se do
oeste da África até o leste da Ásia. Assim denominada pela sua localização,
partindo de dez graus acima da linha do Equador. A maioria dos PNA’s residem
neste retângulo imaginário, denominado Janela 10x40, além de mulçumanos,
indus, budistas e outras religiões.
Línguas Ágrafes: Linguas que não possuem grafia .
MCI: O movimento de Crescimento da Igreja, refere-se a uma escola depensamento missiológico, cujo pai do movimento é Dr. Donald MacGavran,
missionário na índia. Este movimento tem sua origem na Índia e é fruto do
contacto que Macgavren teve com as pesquisas do bispo metodista chamado
Waskom Pickett.
Missão: A palavra missão não se encontrar nas escrituras, seu conceito se deriva
da palavra grega cujo significado é “enviar” , enfatizando o ato
redentivo deDeus, em Cristo, para alcançar os desgraçados pelo pecado , envolve o conceito
encarnacional de Jesus, como em Jo 1. Revela a intenção divina contida em Gn 1 /
Ap. 21 , na qual descreve a preocupação universal de Deus em conceder a Jesus “
toda autoridade
... no céu e na terra” (Mt 28.18), para a execução do plano redentivo de Deus. Nesta
ocasião, Jesus envia seus discípulos, que em seu nome , rompem barreirasgeográficas, étnicas, ideológicas, sociais, culturais, religiosas e lingüísticas, levando
ao mundo o evangelho integral. Tendo todo o mundo como campo missionário ,
cumprindo Gn 12.3 / Gl 3.29, reconhecendo como o Pai enviou o filho e como o
Filho nos enviou (Jo 17.18). Missionário: Servo do Senhor enviado para alcançar os
não salvos, que se envolve em seu chamado de forma integral, e cumpre seu
chamado como missionário Cultural ou Transcultural.
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Missão Transcultural: Obra missionária desenvolvida além de suas fronteiras
culturais. Missão Integral: Crescimento simultâneo na : Comunhão, Ensino,
acréscimo, serviço, discipulado, treinamento, testemunho. Prevê enxergar o
homem como um todo, como um ser completo, com necessidades físicas e
espirituais.
Missão Urbana: Obra missionária desenvolvida em cidades. Devido a explosão
urbana que vem sendo observada atualmente, urge a confecção de métodos e
estratégias
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específicas, visando o alcançar nos grandes centros urbanos, nos parques
industriais, shopping’s , condomínios , favelas etc.
Missão Rural: Obra missionária desenvolvida no interior. Embora a TV venha
urbanizando o interior do país, ainda hoje, necessário se faz entender que o
mundo rural tem sua maneira de ser e entender os valores dos grandes centros
urbanos, dentro de sua cosmovisão que abarca lendas, mitos e sincretismos,
exigindo uma metodologia distinta dos centros urbanos.
Missio Dei: Missão do Trino Deus, que só Ele pode fazer. Na qual Deus usa
também elementos sagrados (sua Igreja) para cumprir seu objetivo.
Pesquisa de Campo: Levantamento feito, para se saber as características: sociais,
culturais, espirituais, políticas, financeiras, geográficas etc., do local, onde háinteresse de desenvolver uma ação missionária.
PNA’s: Povos não Alcançados, ou seja, que não possuem nenhum referencial do
evangelho em seu país.
Ponto de Contato: São ganchos, oportunidades que o missionário encontra em
uma cultura, facilitando-o a aplicar as boas novas de Cristo, podendo ser um
costume, uma frase, uma divindade... . Um exemplo clássico é dado pelo Apóstolo
Paulo no areópago (Atos 17.22-23).
Supra – cultura: Diz respeito aos fenômenos da crença e dos comportamentos
culturais que tem origem fora da cultura humana . Que vem a ser a existência de
Deus e seu Reino versos, o diabo e seu reino. A cultura cristã enfatiza isso em : Rm
8.19-22; 1 Co 10.20; Ef 1.15-23; 1 Jo 5.18-19. Portanto, o evangelho está acima de
qualquer cultura; pois é o instrumento de Juízo e Graça divina.
Sincretismo : Promove a tentativa de unificação de diversos valores, práticas e
crenças religiosas, como ocorre no catolicismo brasileiro, por exemplo que abarca
religiões africanas.
Teologia de Missões: É a metodologia do estudo bíblico a partir do contexto
histórico , social , cultural e gramatical. Na qual objetiva-se estudar missões pelo
prisma das Sagradas Escrituras. Sendo assim, na teologia bíblica de missões busca-
se entender a ação missionária de Deus, na qual o Trino Deus utiliza-se de
elementos sagrados ou não, para resgatar a sua criação.
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2. A Mensagem Missionária no Velho Testamento
Deus e as nações precisa ser estudado. Afirma Neill: “As religiões da
humanidade revestiram na sua maioria , sempre o caracter local e até tribal.”1 A
idéia era, que a adoração de uma divindade, só era possível em seu território
geográfico, fora dele, o adorador não gozava de proteção, e consequentemente,
deveria render-se ao Deus local. Consequentemente suas divindades eram
definidas como fortes ou fracas, conforme os resultados obtidos nas guerras. Há
vários textos que podemos destacar a esse respeito: I Samuel 16; Dn 6; 26.19 e Rute
1.16.
Estas idéias antigas são pagãs, e consequentemente contrárias ao que Deus
revela em todo Velho Testamento , onde Deus é único e vindica exclusividade : Gn
18.25; Ex 20.3; Sl 22.27-28; Is 37.19; Jr 10.6-7. Neill afirma: “Algumas tribos contam
que nos tempos antigos o céu se encontrava tão perto da terra que o homem podia
tocar-lhe ; existia então um verdadeiro contato entre Deus e o homem, mas este
pecou, e Deus, tendo-se ofendido , afastou-se para a distância imensa, nunca mais
se sabendo nada dele”2 .De fato podemos perceber, a luz de estudos de Antropologistas que em todos
os povos é possível extrair , até mesmo do povo mais primitivo , ainda que
deturpado, a concepção da existência de um Deus Supremo.
2.1 A Missão Universal de Deus (Gn 1-3)
Para iniciarmos esta abordagem é necessário uma visão panorâmica de
Gn 1-11: Gn 1 - Deus é o autor único de toda a criação.Gn 2 - O centro da Criação é o Homem.
Gn 3 - O Homem usa mal sua centralidade, não entende sua
responsabilidade e peca contra Deus.
Gn 4-6 - O pecado afeta toda a criação, alienando-a de
Deus . Gn 7-8 - Deus, através do Dilúvio, executa seu
julgamento.
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Gn 8-9 - Após e através do Juízo , Deus manifesta sua Graça, e preserva
a vida Humana.
Gn 10 - Uma nova geração de Homens originando o mundo das nações.
Gn 11 – Esta nova geração se afasta de Deus, então um novo Julgamento
é
1 NEILL, Stephen , História das Missões. Edições Vida Nova, SãoPaulo,1989. p.13 2 Ibid.14
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executado por Deus através de Babel.
Podemos olhar para este panorama, e perceber que a temática básica destes
capítulos , à luz da Missio Dei, revela a intenção e ação de Deus , no sentido derelacionar-se graciosamente e redentoramente não só no universo, como também,
com toda humanidade e suas diversas etnias.
2.2 A Criação como Ponto de Partida na Missio Dei
Ao descrever missões, devemos defini-la, não como tarefa da Igreja, mas
como uma atividade primordial e basicamente de Deus. Nestes termos podemos
ver a missão como um movimento do Rei-Criador em direção ao mundo,movimento este que se caracteriza pela graça e pela restauração da criação.
O principio conceitual da Missio Dei, na qual Deus para cumprir
soberanamente sua vontade. Há várias passagens bíblicas que registram Deus
usando outras nações e seus governantes, para o cumprimento de seus propósitos
salvíficos, tais como: Esdras 1.1-3; Isaías 44.28; Jeremias 25.8-9; Jo 1.1-19 .
Cumpre a igreja reconhecer que sua tarefa missionária está subordinada a
missio Dei. Afirma Carriker: "A missão soberana de Deus chegará a sua conclusão
com a participação da igreja na promoção do reino sobre toda criação e todo povo.
É na segurança da missão de Deus que a igreja assume a sua missão (missiones
ecclesiae)."3
Conforme a figura abaixo, Deus criou reinos, e para governa-los , criou reis.
CRIADOR
"Reinos" Reinados "Reis"
10 Luz/Trevas 40 Luminares
20 Céu/Águas 50 Peixe
/Aves 30 Mares/Terra 60 Animais
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Homem: Co-Regência
Esta figura reflete o mandato cultural, na qual a imagem e semelhança deDeus é
3 CARRIKER, C. Timóthy. Missão Integral . Uma Teologia Bíblica.São Paulo: SEPAL,1992. p. 36
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imputada no homem, para "ter domínio" (râdhâh) e "dominar" (kôbhash) a terra.
Em Gn 1.27-28, percebemos que esta tarefa não se resume apenas ao
homem, mas no sentido genérico, pertence ao homem e a mulher. Ambos têm a
responsabilidade de administrar três áreas principais:
1a Familiar e Social (Gn 1.28)2a Ecológica e Econômica (Gn 1.28-30)3a Governo (Gn 1.28)
2.3 A Queda e Suas Conseqüências
Quando o ser humano deu ouvido a serpente, deixou então de reconhecer a
divindade de Deus e , consequentemente renunciou seu mandato cultural. Esteabalo na ordem criada por Deus , desumanizou a humanidade.
As conseqüências deste ato, afeta :
1a Relacionamento com Deus (Gn 3.10)2a Familiar e Social (Gn 3.12;4.8)3a Ecológica e Econômica (Gn 3. 17-18) 4a Governo (Gn 3.19)
Embora a criação conheça a desordem promovida pelo pecado , isto não
afeta a Soberania de Deus. O Próprio julgamento da serpente e do homem e
mulher assevera isto.
2.4 Justiça e Graça (Gn 4-11)
Deus de forma soberana exerce sobre a humanidade, conforme
encontramos em Gn 1-11, seus juízos, acompanhados de sua graça e indicações de
salvação, vejamos:.
1° A queda - manifesta juízo, mas também, estabelece a sua graça e
misericórdia em Gn 3.15.
2° O dilúvio - uma vez que a humanidade encontra-se em total
alienação de Deus, conforme o registrado em Gn 6. 1-7 . Em meio a
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este terrível e justo juízo de Deus, Ele manifesta sua misericórdia em
Gn 6.8-22, salvando Noé sua família e animais de todas as espécies,
escolhidos pelo próprio Deus. Esta escolha/eleição, deveu-se,
unicamente, a graça de Deus.
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3° Babel – mais uma vez o homem insiste em seu caminho de pecado,
desta vez , coletivamente, envolve-se em um projeto arrogante egrandioso, buscando auto-suficiência de Deus (Gn 11.4). Frente a
tamanha ousadia, o julgamento de Deus provocou uma completa
desestruturação social , econômica e política . Observe em Gn 11.7, o
mundo tornou-se uma confusão. Além disso, gerou insegurança de
um novo começo, entretanto, com este julgamento, Deus evitou a
concentração do homem e, consequentemente a concentração do
mal.
É muito importante, ainda, não esquecer que os três juízos de Deus sobre
a humanidade descritos em Gn 1-11, são acumulativos, ou seja, um não anula o
outro, antes o pressupõe, e cada vez se torna mais severo, no entanto, nunca
deixa de manifestar a misericordiosa graça de Deus e sua intenção redentora.
2.5 Todos os Povos na Mira de Deus
Para um leitor desatento, aparentemente Gn 10, descreve uma daquelas
cansativas genealogias. Entretanto, este capítulo manifesta a intenção original de
Deus em relacionar-se salvificamente com toda humanidade.
A lista das nações, indica que o propósito redentor de Deus (Rei-Criador)
não está restrito a uma única nação, ou a uma determinada raça/etinia , mas sim
, no sentido universal, a todos os povos . Isto está diretamente ligado a ação
redentora de Jesus Cristo (Jo 3.16; 1 Tm 2.1-7; Rm 1.16-17).
Implicações Missiológicas
1. No ato da Criação, podemos ver que Deus se movimenta de forma
ativo e soberano em direção ao mundo e ao ser humano. O Deus que
se aproxima de nós, age e cria , e que tem poder sobre toda criação ,
conduzindo seus propósitos à uma realização completa na história,
na qual inclui todos os povos.
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2. O mandato Cultural , como reflexo da imago Dei, é parte inerente
de todo ser humano, em Cristo, ela é progressivamente restaurada,
nos conduzindo a
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uma missão que nos leva a responsabilidade como co-regentes em
toda sua extensão. Esta restauração deve recuperar o equilíbrio
relacional do homem e da mulher. E, conseqüentemente, refletirá em
nossa ação missionária no mundo.
3. O pecado não deve ser visto apenas como um mal espiritual, mas
como um status integral (Relacionamento com Deus ; Familiar e
Social ; Ecológica e Econômica; Governo). A missão, portanto, precisa
prover ao ser humano uma salvação integral.
4. Todos os seres humanos da face da terra, em todos os tempos,
lugares, culturas e raças, ninguém podem ser discriminado, todos
são iguais perante Deus. A missão deve respeitar suas distinções, e
não impor nenhum modelo de cristianismo ou evangelho de
dominação.
5. Com Noé, aprendemos que a missão não pode estardesvinculada da vida e da fé pessoal e eclesial.
6. Babel revela a divisão do mundo em vários idiomas e dialetos.
Muitos destes idiomas não possuem ágrafia e muitos outros estão em
processo de extinção . É muito importante investir na tradução de
bíblias para estes povos, para que cada um possa conhecer Jesus
Cristo, dentro de seu próprio contexto cultural .
2.6 Eleição e Aliança
A transição entre Gn 11 e Gn 12 é muito significativa, uma vez que
manifesta a resposta de Deus a desordem e pecados humanos , e para a dispersão
da humanidade ocorrida em Babel. Agora, Deus passa de um relacionamento
diretamente o pessoal com as nações, para um relacionamento diretamente pessoal
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com um só homem (Abraão), sua família e o povo que se originou dele (Israel).
Com o chamamento de Israel, Deus não muda sua missão, ao contrário,
conforme afirma Bosch : "a história de Israel é a continuação dos tratamentos de
Deus com as
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nações."4
Em Gn 12.1-3, fica muito claro o conceito de eleição e vocação interligados e
dependentes , visto que ambos dependem totalmente de Deus. Afirma Blauw: "o
chamado de Abraão (é assim, implicitamente, de Israel) deve ser visto à luz da
revelação de Deus às nações , pode ser vislumbrado, de modo especial, em Gn
12.3"5. Não podemos desvincular as eleição da vocação.
O que de fato temos em Gn 12.1-3, é uma aliança entre Deus e
Abraão/Israel. A escolha de Deus em firmar aliança com Israel, não indica que
Deus tenha se esquecido do restante do mundo. Blauw afirma:
Israel não é tanto o objeto da eleição divina quanto sujeito do serviçoexigido por Deus à base da eleição. Talvez a coisa pudesse ser posta
nestes termos: não há serviço mediante eleição, antes, eleição por causado serviço. Portanto, a eleição não é primariamente privilégio, masresponsabilidade6.
Infelizmente , Israel deixou de cumpriu com sua eleição-vocação-aliança,
devido a sua altivez . Julgando ser o único povo amado por Deus , rejeitou então
seu privilégio de servir na missão de Deus, sendo benção a todos os povos .
Implicações Missiológicas
1. A missão que recebemos de Deus, exige de nós reconhecer com
humildade, que somos um povo no meio do vasto e complexo
universo das nações (goyim).
A Igreja, dentro de cada povo, e, por sua vez, como povo de um
Deus redentor, tem a incumbência de agir transformadoramente
dentro de cada povo deste mundo.
2. Não podemos conceituar eleição e vocação , sem deixar para traz
qualquer sentimento que dê a falsa impressão de que Deus tem
maior interesse por nós do que por qualquer outra nação. Este
sentimento de triunfalismo e ou favoritismo.
Urge resgatarmos os valores que são conseqüência da eleição
vocação, tais como: serviço, entrega e sacrifício. Do contrário, nossa
missão ficará
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4 Bosch, David J. Witness to The World the Christian Mission inTheologica
Perspective.Atlanta,
5
Geor ia: John Knox Press, 1980. . 61-62.
Blauw, Johannes. A Natureza Missionária da Igreja. São Paulo: ASTE, 1966. p.21
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descaracterizada.
3. Nossa missão precisa ser centrada no mundo, uma vez que Deus
tem, no mundo, o alvo do seu amor redentivo.Nosso maior desafio, hoje, é sair de nossas fronteiras eclesiásticas,
priorizando a expansão do Reino de Deus. Portanto, nunca podemos
esquecer de que a intenção de Deus , ainda é a redenção do mundo
na sua integralidade, ou seja, não somente os seres humanos , mas
também toda criação.
3. A Mensagem Missionária do Novo Testamento:
3.1 Introdução
Sabemos que as três civilizações que contribuíram para o nascimento de Cristo
e o advento do Cristianismo foram: Gregos, Romana e Judaica. Vejamos:
Civilização Grega: Influenciaram com sua arte, arquitetura, literatura, língua
(grego Koiné), a ciência e a filosofia.
Civilização Romana: Varreram os piratas dos mares, construíram boasestradas, que por sua vez, eram bem guarnecidas, produziram o que foi
chamado de Pax Rornana. Civilização Judaica: Traziam consigo a missão de
serem benção a todas as famílias da terra, além de uma religiosidade que
combinava duas características essenciais: a primeira, o mais elevado conceito
acerca de Deus (Resultado AT); a segunda, o mais alto ideal de vida moral
(Resultado concepção que tinham acerca de Deus).
O único povo que possuía a esperança da vinda de um Salvador. Outro fator
importante, e que, os judeus deram ao Cristianismo o Velho Testamento. Sendo
dispersos, Os judeus criaram sinagogas por onde passavam. Tornando-se o núcleo
da Igreja Cristã. Green afirma: ...nenhum outro período da história do mundo
estava melhor preparado para receber a jovem Igreja que o primeiro século d.C. ,
com oportunidades enormes para espalhar e compreender a fé, em um império
literalmente mundial. A conjunção de elementos gregos, romanos e judaicos nesta
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praeparatio evangelica é conhecida de todos...7 Referindo-se ao nascimento de Cristo,
Winter afirma:
A “visitação” de Cristo foi um acontecimento dramático,
repleto de prodígios e ocorrendo surpreendentemente “no
tempo devido”. Jesus nasceu como membro de
6 Idem, p. 237 GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Vida Nova,1984. p.11-26.
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um povo subjugado. No entanto, apesar de seu imperialismosanguinário , Roma foi verdadeiramente um instrumento nasmãos de Deus, para preparar o mundo para a sua vinda.
Roma controlava um dos maiores impérios que o mundo jáconheceu , impondo a paz romana sobre toda espécie depovos bárbaros e estranhos. Durante séculos, os imperadoresromanos construíram um amplo sistema de comunicaçãoabrangente tanto os 400.000 quilômetros de maravilhosasestradas que se estendiam por todo o império, como a rápidatransmissão de mensagens e documentos . Em suas conquistas, Roma teve seu domínio pelo menos uma civilização bemmais adiantada do que a sua própria , a Grécia. E professorese artesãos de finíssima educação, levados como escravoslevados para cada uma das maiores cidades do império,ensinaram a língua grega. O grego veio a ser falado desde aInglaterra té a Palestina.8
Mais uma vez , fica clara a concepção da Missio Dei, na qual Deus cumpre
seus propósitos missio-redentivos com ou sem a participação ativa de seu povo
escolhido.
3.2 A Mensagem Missionária do Novo Testamento:O NT traz, como tema e conteúdo, a proclamação do reino de Deus como
cumprimento das promessas de Deus do AT. Green afirma: “Aquele que veio
pregando as boas novas passou a ser o conteúdo das boas novas!” 9
O Reino de Deus se personifica em Jesus, no que afirma Carriker:
O escopo de missões sempre foi e sempre será universal, já queprocura anunciar e promover o reino de Deus por todo omundo. Na própria história de Israel, a mão forte e poderosa
de Deus se estende ao povo, não somente para seu benefício,mas também como testemunho às nações, a fim de leva-las aconhecerem o Senhor dos Exércitos. No Novo Testamento,essa preocupação universal de Deus intensifica-se a partir doministério de Jesus .10
Esta correlação que há entre reino de Deus e revelação messiânica, é
descrita por Blauw: “ ...a relação entre o reino de Deus e a revelação messiânica
passa a ser uma correlação de força que quase se poderia falar de identificação de
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Jesus Cristo com o Reino de Deus; Ele não apenas proclama , mas é , na sua pessoa ,
o Reino que está entre nós.”11
Uma investigação, nos evangelhos nos permitirá notar e detectar o plano
mestre e universal de Deus em Cristo Jesus.(Mc 10.44-45; Jo 10.9-10; Lc 10.10. . Isto
está claro em seu ministério, quando ele rompe as barreiras geográficas (Lc 4.14-
15); sociais (Lc 7.36; 11.37); culturais e religiosas (Lc 10.29-37;7.9), evidenciando sua
soberania escatológica, visando os propósitos missio-redentores de Deus. Afirma
Blauw: “A manifestação dos
8 WINTER. Ralph D. e Hawthorne , Steven. Missões Transculturais - UmaPerspectiva Histórica. Editora Mundo Cristão, São Paulo, 1987. p. 166.
9 GREEN, Evangelização na Igreja Primitiva, p. 5810 CARRIKER, Missões na Bíblia - Princípios gerais. São Paulo: Vida Nova, 1992 . p.25
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grandes atos de Deus para as nações determina o caracter da história depois da
morte e ressurreição de Cristo.”12
Nos atos redentivos de Deus, cumpre-se em Jesus a unificação dos povos.
No que afirma Neill:
Só Jesus, em virtude da obediência a Deus , mesmo nassituações mais extremas , cumpriu o destino de Israel. O Povoda eleição de Deus, o velho Israel , já poderia assimparticipara posteriormente de tal destino. O objectivo de Deusconsistia agora em caminhar para um novo Israel, trazidopara a fé por Jesus Cristo , cuja característica principal sedefiniu pela vontade de morrer e de renascer de novo com
ele.Chegara o dia dos Gentios. A porta encontrava-se aindaaberta a todos os israelitas que aceitassem e cressem. Mas,tanto para juDeus como para gentios, a única entrada realiza-se a partir de agora através da fé em Jesus Cristo. 13
Sob este prisma, percebe-se que a morte e ressurreição de Cristo selam o
destino e futuro de seu povo. E também transforma a “Redução Progressiva” do
V.T. em “Expansão Progressíva”14
Esta mudança de foco, revela Jesus como o centro e não mais Jerusalém.
Doravante todas as etnias da terra se achegarão a Cristo (Fl 2.10-11; Rm 14.11-12).
Isso evidencia não só a intenção divina de uma nova criação em Cristo, mas
também, dá sinais claros de que a Igreja passa a ser o novo Israel.
3.4 Missão no Ministério do Espírito Santo:
Irrefutavelmente, o avanço irresistível da Igreja se deu de forma vibrante
após terem os discípulos no pentecostes , sido capacitados com o Espírito Santo
(At 2). .Afirma Carriker:
O Espírito Santo foi derramado apenas quatro vezes em Atos.Cada uma das conquistas na expansão missionária foiacompanhada por sinais milagrosos. A primeira vez foi avinda do Espírito no Petencostes (2.1-13): a Segunda, quandoo evangelho alcançou a Samaria, a primeira cidade não judia(8.14-17) ; a terceira, quando Pedro pregou à primeira famíliagentia, a de Cornélio, em Cesaréia (10.44-45) e, finalmente, a
Quarta, quando Paulo conseguiu demonstrar a diferença entre
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o evangelho de Jesus e a pregação de João Batista (19.1-6).Todas as vezes o próprio Espírito Santo marcoumilagrosamente , a introdução de uma nova fase na tarefamissionária a nós confiada.15
A promessa contida em Atos 1.8, cumpre-se em Atos 2 , anuncia o mandatoque nos qualifica como testemunhas de Cristo enfatizando a universalidade
missionária da
11 Blauw, A Natureza Missionária da Igreja,p. 7212 Ibid., 82-8313 NEILL, História das Missões, p. 2114 Blauw, A Natureza Missionária, p. 91.15 CARRIKER, Missões na Bíblia, p. 39
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Igreja .Neill afirma: “A Igreja da primeira geração cristã era do tipo genuinamente
missionária.” 16 No que também afirma Zabatiero: “Antes do Pentecostes não
havia Igreja cristã, não havia experiência cristã. ... Ao inaugurar a Igreja , o
Pentecostes inaugura a era missionária, pois , em Atos, Igreja é missão.17” Pentecostes é a inversão do que ocorreu em Babel, revelando-nos os
propósitos missio-redentivos de Deus. Afirmam Shenk e Stutzman:
Todos ouviram a palavra de Deus em sua própria língua. Foium sinal de Deus de que o evangelho se destina a todas aspessoas de todas as culturas. À medida que as pessoasaceitam o evangelho, elas se congregam numa novacomunidade. A dispersão em Babel foi o contrário do quehouve no Pentecostes. A Igreja é a nova comunidade que traz
o remédio para as divisões dos povos. Embora as diferençasde língua e cultura não tenham desaparecido com oPentecostes, os seres humanos descobriram a preciosaunidade e a fraternidade do Espírito Santo, que aproxima eune pessoas de diferentes culturas , tornando-as verdadeirosirmãos e irmãs.18
3.5 O Apostolo Paulo e Missões:
O Apóstolo Paulo teve um relevante papel no palco das missões.
Referindo-se a ele, Tucker afirma: “O Apóstolo Paulo indiscutivelmente mantém o
lugar de maior
missionário da primeira Igreja.”19 Mesmo enfrentando intempéries (2 Co 11.25-28),
em suas viagens missionárias pelo mundo mediterrâneo, o apóstolo Paulo
estabeleceu Igrejas autóctones. Referindo-se a Paulo, Blauw afirma:
Para Paulo há dois pontos de vista: (1) os cristãos, não os juDeus são a congregação de Deus , porque a coisa importante
não é Israel segundo a carne , mas Israel segundo oespírito(ponto de vista muito forte em gálatas por exemplo);(2) há apenas um povo de Deus , a saber, Israel, sendo que oscristãos gentios são incorporados neste povo como prosélitos(especialmente os Romanos).20
E é exatamente o apostolado de Paulo que vai nos proporcionar a noção
correta do que vem a ser a relação complicada entre Israel , a comunidade de
Cristo e o mundo das nações. Embora não seja o único apóstolo aos gentios,
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tornou-se o mais preeminente. Sua intenção era pregar o evangelho de Cristo em
todas as províncias do Grande Império
16 NEILL, História das Missões, p. 24
17 ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Poder e Testemunho – Missões em Atos 1 e 2.Em Missões e A Igreja Brasileira, Vol. 3 – Perspectivas Teológicas.Organizado Por Carriker, C. Timóteo. São Paulo: Editora Mundo Cristão,1993. p. 84
18 SHENK, W. David & STUTZMAN, Ervin R. Criando Comunidades do Reino – Modelos Neotestamentários da Implantação de Igrejas. Trad. RubesCastilho. Campinas: Editora Cristã Unida, 1995. p. 9
19 TUCKER, Ruth A. “... Até aos Confins da Terra” – Uma História Biográfica das Missões Cristãs. São Paulo: Edições Vida Nova, 1986. p.,28-29
20 Blauw, A Natureza Missionária da Igreja, 93.
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Romano (Rm 15.19-20; 22-24). Partindo de Antioquia em suas três viagens
missionárias. A escolha de Antioquia como ponto de partida não acontece por
acaso, uma vez que Antioquia era um importante entroncamento viário.21
Vejamos a trajetória de Paulo:
1a Viagem Missionária: Chipre, Panfília, Licaônia(At 13-14). Surge a controvérsia
da circuncisão dos pagãos convertidos(Concílio de Jerusalém é convocado – At
15.1-29; Gl 2.1-10);
2a Viagem Missionária : Licaônia território Gálata , Trôade, Macedônia (Filipos ,
Tessalônica ), Atenas, Corinto, retorno a Antioquia, via Éfeso (At 15.41; 18.22);
3a Viagem Missionária : Galácia , Éfeso (mais de 2 anos), Macedônia, inverno emcorinto, Retorno a Jerusalém, via Macedônia e Mileto. Cativeiro em Jerusalém (At
18,23. 23.31).
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21 COTHENET, E. São Paulo e o seu Tempo –Trad. Benôni Lemos. São aulo:EdiçõesPaulinas, 1984. p. 39
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BIBLIOGRAFIA:
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BOSCH, David J. Witness to The World the Christian Mission in Theologica Perspective.Atlanta, GEORGIA, John Knox Press, 1980.
CARRIKER, C. Timóthy. Missão Integral . Uma Teologia Bíblica.São Paulo:SEPAL, 1992.
_________________, Missões na Bíblia - Princípios gerais. São Paulo: Vida Nova, 1992.
COTHENET, E. São Paulo e o seu Tempo –Trad. Benôni Lemos. Sãoaulo:Edições Paulinas, 1984.
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