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ANÁLISE DE SEMI-SIMPLE VARIATIONS (1957) DE MILTON BABBITT (1916)
Do ponto de vista das alturas, a peça Semi-Simple Variations de Milton
Babbitt é uma série de seis variações sobre uma série de doze sons, visto que a
primeira seção (os primeiros seis compassos) já é uma elaboração (ou variação)
sobre a série.
FORMAS DA SÉRIE
I-0 I-8 I-1 I-10 I-9 I-11 I-5 I-3 I-4 I-7 I-2 I-6
P-0 Bb F# B Ab G A Eb Db D F C E
P-4 D Bb Eb C B C# G F F# A E G#
P-11 A F Bb G F# G# D C C# E B Eb
P-2 C G# C# Bb A B F Eb E G D F#
P-3 C# A D B Bb C F3 E F G# Eb G
P-1 B G C A G# Bb E D Eb F# C# F
P-7 F C# F# Eb D E Bb G# A C G B
P-9 G Eb G# F E F# C Bb B D A C#
P-8 F# D G E Eb F B A Bb C# G# C
P-5 Eb B E C# C D G# F# G Bb F A
P-10 Ab E A F# F G C# B C Eb Bb D
P-6 E C F D C# Eb A G G# B F# Bb
Relação entre os hexacordes – o segundo hexacorde é o Retrógrado do
primeiro, transposto ao intervalo de trítono (Fá#-Dó); cada hexacorde pertence a
uma porção da escala cromática que se encontra no âmbito de 4J: 1º hexacorde –
Fá#-Si; 2º hexacorde – Dó-Fá.
Duplicações na série – A forma R-6 duplica a forma P-0, assim como RI-6
duplica I-0. Em outras palavras, todas as formas da série são duplicadas pelo
Retrógrado, transposto ao intervalo de trítono. Assim sendo, há somente seis
transposições possíveis da série.
Relações Combinatórias – o primeiro hexacorde da Série P-0 possui relação
combinatória com o segundo hexacorde da Série RI-3 (obviamente, o mesmo ocorre
2
entre o segundo hexacorde de P-0 e o primeiro de RI-3). Da mesma forma, existe
relação combinatória do primeiro hexacorde de P-0 com o primeiro hexacorde de RI-
9 (que à distância de trítono de RI-3).
Estrutura da série na peça – no nível fundamental, as alturas estão
estruturadas em quatro linhas horizontais contínuas. Cada linha permanece em um
registro específico, sendo que os registros são mudados em pontos formalmente
importantes da música. Nos compassos 1 a 12, cada linha é composta por uma
forma diferente da série:
1ª linha – P-0: Bb F# B Ab G A | Eb Db D F C E
2ª linha – RI-3: 2º hexacorde: D E Eb C F Db | 1º hexacorde: G B F# A Bb G#
3ª linha – R-0: 2º hexacorde: A G Ab B F# Bb |1º hexacorde: E C F D Db Eb
4ª linha – I-3: Db F C Eb E D | G# Bb A F# B G
As quatro linhas são combinadas de tal modo que agregados de doze sons
(conjuntos dodecafônicos) são formados subseqüentemente por hexacordes e
tricordes adjacentes. Este esquema de organização das alturas permanece durante
toda a peça, com formas específicas da série para cada repetição.
As diversas linhas não formam vozes, no sentido tradicional, mas fazem parte
de uma organização pontilhista de pequenos motivos de semicolcheias. Desta
forma, o Exemplo 1 representa um plano de fundo (estrutura fundamental) que é
elaborado ritmicamente no primeiro plano (estrutura imediata) da peça.
Exemplo 1
3
Permutação – Nos compassos 13-18 (Var. III) ocorre uma variação mais
profunda na estrutura da série. A forma serial P-0 sofre um processo de permutação
em que a última nota do hexacorde segue logo após a primeira enquanto que as
outras notas permanecem na mesma ordem, fazendo com que a ordenação das
notas do primeiro hexacorde fique: Sib-Lá-Fá#-Si-Láb-Sol. O segundo hexacorde
fica sendo; Réb-Ré-Fá-Dó-Mib-Mi, ou seja, o mesmo processo anterior aplicado ao
primeiro hexacorde do Retrógrado. Desta forma, tem-se:
Var. III
1ª Linha – permutação de P-0 (Sib-Lá-Fá#-Si-Láb-Sol | Réb-Ré-Fá-Dó-Mib-
Mi) – ocorre o mesmo tipo de permutação nos dois hexacordes, sendo que, no
segundo hexacorde, a permutação ocorre com base no retrógrado.
2ª Linha – permutação de I-3 (Réb-Ré-Fá-Dó-Mib-Mi | Sib-Lá-Solb-Si-Láb-Sol)
– mesmo tipo de permutação da 1ª linha.
3ª Linha – P-5: (Mib-Si-Mi-Réb-Solb-Ré | Láb-Dó-Sol-Sib-Fá-Lá), ocorre
permutação por substituição entre a quinta nota do primeiro hexacorde e a segunda
nota do segundo hexacorde.
4ª Linha – I-10: (Láb-Dó-Sol-Sib-Fá-Lá | Mib-Si-Mi-Dó#-Solb-Ré) ), ocorre
permutação entre a quinta nota do primeiro hexacorde e a segunda nota do segundo
hexacorde. Os pontos onde ocorrem permutações na linhas inferiores são os pontos
opostos das permutações das linhas superiores
Serialização Rítmica – do ponto de vista rítmico, a peça ocorre como uma
seqüência de variações sobre uma estrutura rítmica básica (série rítmica): nos
dezesseis tempos iniciais há uma série de todas as diferentes divisões possíveis da
semínima em unidades de semicolcheias.
4
Abaixo, está a série rítmica primitiva (P):
Esta é a série rítmica básica, na qual são considerados somente os pontos
em que ocorre ataque de nota.
O princípio de inversão aplicado à série de durações, nesta peça, é a
substituição de nota por pausa, ou de pausa por nota. Isso significa que os padrões
que se relacionam por inversão são: [1] e [16]; [2] e [6]; [3] e [11]; [4] e [13]; [5] e
[15]; [7] e [12]; [8] e [10]; [9] e [14]. A inversão da serie rítmica acima fica sendo:
5
A forma R é obtida da seguinte maneira: a seqüência rítmica da série é
apresentada de trás para frente, duração por duração. Assim, a seqüência deve ser:
A forma RI é obtida da mesma forma que R, porém com o processo aplicado
à inversão, isto é, cada nota da inversão é convertida em uma pausa, e vice-versa.
Assim, tem-se a forma RI:
6
Desta maneira, as diferentes formas da série rítmica são as seguintes:
P: [01]-[02]-[03]-[04]-[05]-[06]-[07]-[08]-[09]-[10]-[11]-[12]-[13]-[14]-[15]-[16] R: [16]-[04]-[14]-[05]-[07]-[08]-[03]-[09]-[11]-[12]-[02]-[13]-[15]-[10]-[06]-[01] I: [16]-[06]-[11]-[13]-[15]-[02]-[12]-[10]-[14]-[08]-[03]-[07]-[04]-[09]-[05]-[01] RI: [01]-[02]-[08]-[05]-[04]-[06]-[07]-[03]-[14]-[11]-[10]-[12]-[15]-[09]-[13]-[16]
As duas primeiras variações, onde são apresentadas as quatro formas da
série de alturas na íntegra (P-0, RI-3, R-0 e I-3), contêm estas formas da série de
durações:
Var. I – R: [16]-[4]-[14]-[5]-[7]-[8]-[3]-[9]-[11]-[12]-[2]-[13]-[15]-[10]-[6]-[1]
Var. II – RI: [1]-[13]-[9]-[15]-[12]-[10]-[11]-[14]-[3]-7]-[6]-[4]-[5]-[8]-[2]-[16]
A combinação de hexacordes da série de alturas com diferentes formas da
série rítmica resulta na estrutura de superfície da peça.
Isso significa que a Variação I é composta da seguinte forma:
Série de alturas: Série Rítmica:
1ª linha – P-0: 1º hexacorde: Bb F# B Ab G A
2ª linha – RI-3: 2º hexacorde: D E Eb C F Db Retrógrado
3ª linha – R-0: 2º hexacorde: A G Ab B F# Bb
4ª linha – I-3: 1º hexacorde: Db F C Eb E D
A Variação II é construída assim:
Série de alturas: Série Rítmica:
1ª linha – P-0: 2º hexacorde: Eb Db D F C E
2ª linha – RI-3: 1º hexacorde: G B F# A Bb G# Retrógrado da
3ª linha – R-0: 1º hexacorde: E C F D Db Eb Inversão
4ª linha – I-3: 2º hexacorde: # Bb A F# B G
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O resultado dessa combinação aparece no exemplo abaixo, que apresenta os
compassos de Semi-Simple Variations, de Babbitt, referentes às duas primeiras
variações.
8
OUTROS PROCESSOS DE SERIALIZAÇÃO
Há outros meios utilizados pelos compositores de música serial integral para
produzir inversões em séries rítmicas. As mais usuais são as seguintes.
1. Manipulação Numérica (ou matemática) de cada duração individual –
Babbitt, na primeira de suas Three Compositions for Piano (1947), utilizou uma série
rítmica bom base em grupos de semicolcheias contendo os seguintes números de
notas: 5, 1, 4 e 2.
Esta série é invertida subtraindo-se cada número a partir do número 6:
Assim, têm-se as seguintes variações (ou formas derivadas da série original):
9
2. Manipulação de Padrões Rítmicos – este processo consiste em dividir uma
série rítmica em segmentos que são “invertidos” em sua ordem de ocorrência. Por
exemplo, a seqüência de padrões [1]-[2]1 inverte-se em [2]-[1], a seqüência [3]-[4]
inverte-se em [4]-[3], e assim por diante. Neste sentido, a inversão é um retrógrado
realizado em pequenos grupos, no interior da série.
Serialização da Intensidade – Os processos podem ser os mesmos
apresentados acima, com relação ao ritmo, ou podem ser aplicados os seguintes
princípios: cada intensidade com “p” é invertida através de uma intensidade com “f”.
Assim, tem-se que a inversão de p é f; a inversão de f é p; a inversão de mp é mf; a
inversão de mf é mp; a inversão de pp é ff; a inversão de ff é pp, etc.
Com isso, pode-se ter a seguinte série de intensidades:
[P] pp mp f ppp mf ff p fff [R] fff p ff mf ppp f mp pp [I] ff mf p fff mp pp f ppp[RI] ppp f pp mp fff p mf ff
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Organização do Registro – o registro, tanto quanto a dinâmica, organiza a
articulação de cada variação.
Serialização de todos os parâmetros – qualquer parâmetro da composição
pode ser serializado (altura, duração, intensidade e timbre – pode ser tratado de
forma serial qualquer elemento de qualquer parâmetro, como por exemplo: registro,
harmonia, andamento, métrica, ataque, orquestração, etc.), para isto basta aplicar
algum critério que sirva como inversão de padrões para cada parâmetro. Como
exemplo, é apresentada a seguinte série tímbrica orquestral com todas as suas
formas seriais:
P: Fl. Vc. Tpt. Cl. Tpa. Vln. Pno. Tbn. Fgt. Hpa. Ob. Vla. 1 2 3 4 R: Vla. Ob. Hpa. Fgt. Tbn. Pno. Vln. Tpa. Cl. Tpt. Vc. Fl. 4 3 2 1 I: Cl. Tpa. Vln. Fl. Vc. Tpt. Hpa. Ob. Vla. Pno. Tbn. Fgt. 2 1 4 3 RI: Fgt. Tbn. Pno. Vla. Ob. Hpa. Tpt. Vc. Fl. Vln. Tpa. Cl. 3 4 1 2
BIBLIOGRAFIA
BARKINS, Elaine. A simple aproach to Milton Babitt’s Semi-Simple Variations. The Music Review, v. 28, p. 316, 1967.
BURKHART, Charles. Anthology for musical analysis. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1986.
HENRY, Earl. Music theory. New Jersey: Prentice-Hall, 1985. WINTLE, Christopher. Milton Babbitt’s Semi-Simple Variations. Perspectives
of New Music, v. 14:1/15:/2, p. 111, 1976.