Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
CENÁRIOS PROSPECTIVOS PARA O
SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO
BRASIL E NO RIO DE JANEIRO
Ana Carolina Custodio de Andrade (UFF)
Carlos Francisco Simoes Gomes (UFF)
O objetivo desse Artigo consiste na utilização de técnicas prospectivas
a fim de elaborar cenários futuros para a construção civil brasileira,
construção esta impactada pela crise econômica atual. A fim de
auxiliar a análise do setor objeto de estudo, utilizou-se de uma
empresa localizada na cidade do Rio de Janeiro. Em seguida, foram
definidas incertezas do setor e, posteriormente, essas foram
desdobradas em variáveis. As variáveis mais relevantes foram
consideradas no estudo. Estudou-se o histórico dessas variáveis, no
período de 2005 a 2016. As informações quantitativas obtidas foram
usadas na formulação de três cenários prospectivos.
Palavras-chave: prospectivas, cenários, construção, brasileira, crise
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
2
1. Introdução
A indústria da construção civil exerce influência sobre diversos setores da economia
do país, seja através de sua alta taxa de geração de emprego, renda e impostos, ou pela
geração de demanda em outros setores. Estudar a economia da construção é vital para se
compreender sua dinâmica e os fatores políticos, sociais e econômicos que estão ligados ao
seu desenvolvimento (FIALHO et al., 2014).
Todavia, o setor é um dos mais afetados pela crise político econômica brasileira. Entre
2007-10 e 2011-14, as taxas de rentabilidade média anual sobre os patrimônios líquidos (%)
das construtoras (seis maiores do setor no Brasil) caíram de 15,9% para 10,6%. As prisões e
condenações, em 1ª e 2ª instâncias, de grandes empresários do ramo de construção civil são
efeitos da Operação Lava Jato (COSTA et al., 2017).
Este artigo é organizado em seções. A Seção 2 descreve o agente central que é uma
empresa construtora fictícia e descreve as entradas (insumos) e saídas do sistema (resultados
desejados). A seção 3 expõem as incertezas envolvidas na área de estudo e os atores
relevantes que compõem o cenário, exibe as variáveis internas e externas da empresa,
classifica essas variáveis de acordo com seus respectivos graus de impacto e dependência,
identifica as variáveis mais relevantes e seus respectivos históricos. A Seção 4 caracteriza os
cenários criados, sendo um otimista, um pessimista e o outro intermediário. As principais
conclusões da pesquisa são dadas na Seção 5.
2. Construção habitacional
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
3
A construção civil é dividida em dois segmentos principais: edificações e construção
pesada. O segmento de edificações é composto por obras habitacionais, comerciais,
industriais, sociais e destinadas a atividades culturais, esportivas e de lazer. Esse segmento é
caracterizado pelo grande consumo de material de construção e pela grande intensidade de
mão de obra. Nesse segmento, predomina a construção habitacional com 53% do valor das
obras em 2002, de acordo com a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), do
IBGE.
As empresas que se dedicam a construção civil são as construtoras. Essas empresas
são responsáveis pela execução de obras, edificações, projetos e orçamentos. Para a análise do
setor, foi utilizada uma empresa da construção de prédios e casas na região da Zona Sul na
cidade do Rio de Janeiro. Logo, o estudo limita-se aos impactos na construção habitacional.
A missão da empresa é projetar e construir edificações com qualidade, segurança e
tecnologia, objetivando a satisfação do cliente. Sua visão do futuro é expansão da atuação no
Brasil, alcançando todas as regiões. Acredita-se que esse cenário futuro decorrerá da busca
continua por inovação e qualidade.
As principais entradas do processo de construção predial são constituídas pelo terreno,
os materiais de construção (cimento, aço, tijolos, tintas, louças, ferragens), equipamentos para
(betoneiras, carrinho de mão, guindastes) e a mão de obra (mestres de obras, pedreiros,
encarregados, serventes, carpinteiros, eletricistas, encanadores e armadores). A principal saída
é o prédio propriamente dito.
3. Cenários prospectivos do setor de construção habitacional
3.1. Incertezas no setor
Os autores Gomes e Costa (2013) concluíram que para os cenários serem elaborados, é
necessário que o cenarista considere um conjunto de forças que atuam sobre o sistema em
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
4
estudo. Entretanto, a consideração de tais forças não deve se limitar à extrapolação de
tendências passadas. É preciso ir além e adotar uma abordagem pluralista do futuro, balizada
por forças restritivas e forças propulsoras que atuam sobre as variáveis do sistema, bem como
os limites naturais ou sociais dentro dos quais as variáveis podem evoluir no horizonte de
tempo em análise. Um elemento fundamental a ser considerado quando da decisão de
utilização da ferramenta é o elemento incerteza (ASSIS et al., 2017). Considerando a
importância desse elemento, foram definidas as principais incertezas que podem afetar o setor
da construção civil no Brasil e no Rio de Janeiro. São elas: Política, Econômica, Produção,
Consumo, Regulamentação, Ambiental e Segurança (Figura 1).
Figura 1 - Incertezas
Cada incerteza identificada foi desdobrada em variáveis, objetivando a criação de um
cenário quantitativo para o setor da construção (Tabela 1).
Tabela 1 - Incertezas e Variáveis
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
5
3.2. Matriz swot
Fez-se um estudo do ambiente no qual a construtora está inserida, observando aspectos
inerentes à sua constituição e fatores que a circundariam nesse contexto de expansão. Dessa
forma, a Tabela 2 abaixo apresenta a análise SWOT/FOFA da empresa.
Tabela 2 - Matriz SWOT
Forças (S) Fraquezas (W)
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
6
Única empresa do mercado que possui um departamento
de arquitetura próprio, onde são elaborados com
exclusividade todos os projetos, desde a criação até a
execução de todos os prédios que constrói.
43 anos de experiência
Marca conhecida
Mais de 15 prêmios
Atraso na conclusão das obras
Empresa familiar
Estrutura centralizada
Oportunidades (O) Ameaças (T)
Abertura de outras regiões para a entrada da construtora
em seus mercados
Crise política e econômica
brasileira
Queda do preço dos imóveis
Queda da atividade imobiliária
Custos de material elevado
3.3 Atores
Durante todo o ciclo de vida do projeto há impacto de diferentes atores, alguns de
forma momentânea ou constante e direta ou indiretamente.
Forma momentânea e diretamente:
- Fornecedores: A disponibilidade e agilidade desses atores influencia no cumprimento
de prazo e custo da obra. De acordo com as diferentes fases do projeto, há necessidade de
diferentes fornecedores;
- Equipe operacional e terceirizados: Esses atores influenciam nas variáveis
relacionadas à produção (desempenho, tempo médio de construção e cumprimento de prazo e
custo da obra).
Forma momentânea e indiretamente:
- Prefeitura: Exercem influência através do Gabarito municipal que é o conjunto de
regras que determinam os limites das construções, como a altura da edificação para cada área
do município. Pela Secretaria Municipal de Urbanismo que é responsável pela aprovação do
projeto arquitetônico. Tais questões burocráticas podem influenciar no tempo médio da obra e
no cumprimento de prazos e preços;
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
7
- Política de crédito imobiliários dos bancos: A Caixa Econômica Federal e Banco do
Brasil têm forte atuação no segmento. Esses atores influenciam as variáveis econômicas,
políticas e de produção.
Forma constante e diretamente:
- Cliente: Ao adquirir um imóvel na planta, os clientes podem podendo realizar
alterações de escopo ou controlar o progresso da execução trabalho, influenciando, assim, na
variável de consumo;
- Equipe nível tático: É composta por gerentes, engenheiros e arquitetos que atuam ao
longo de todo projeto realizando o planejamento e controle. Essa equipe é contratada pela
construtora e influencia na variável produção.
Forma constante e indiretamente:
- Governo Federal: As macroeconômicas e microeconômicas do governo afetam o
setor. A primeira através do desempenho econômico do país e possíveis relações comerciais
que possam a vir impactar o custo de matéria prima e até mesmo o câmbio. A segunda afeta
através de incentivos ao setor, uma vez que o mercado imobiliário pode ser utilizado como
mola de impulsão de crescimento. O governo federal influencia as variáveis políticas,
econômicas, de regulamentação e segurança;
- PAIC (IBGE): A Pesquisa Anual da Indústria da Construção, parte integrante do
Sistema de Estatísticas Econômicas do IBGE, levanta, em empresas selecionadas,
informações referentes à salários, custos, despesas, valor das incorporações, valor bruto da
produção, entre outras. Esses dados podem influenciar no planejamento da obra e nas
regulamentações;
- CBIC: A Câmara Brasileira da Indústria da Construção tem o objetivo de tratar
questões ligadas à Indústria da Construção e ao Mercado Imobiliário, e de ser a representante
do setor no Brasil e no exterior. Também tem papel importante no fornecimento de dados
sobre o setor;
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
8
- Ibama: Esse ator está relacionado é responsável pela regulamentação. Sabe-se que a
demora no licenciamento ambiental implica em demora na execução do projeto e influencia,
assim, na variável produção;
- CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura): emite o ART, Documento
pelo qual o responsável técnico (engenheiro civil ou arquiteto) assume junto ao CREA a
responsabilidade pela execução da construção e de todos os respectivos projetos. Esse ator
influência nas variáveis política e produção.
3.4. Análise de dependência e impacto entre as variáveis
Para definir o grau de impacto entre as variáveis, foi usada escala abaixo (Tabela 3).
Essa gradação foi utilizada pelos integrantes do grupo na montagem da Matriz Impacto versus
Dependência. Posteriormente, calculou-se a média aritmética dessa matriz e, ainda, alguns
valores foram obtidos pela moda dos resultados. Assim, atingiu-se o consenso do grupo por
meio da Matriz Resultado dada na Tabela 4.
Tabela 3 - Escala
Grau de Dependência/Impacto
Grau Descrição Grau Descrição
-7 Impacto muito expressivo negativo 1 Impacto pouco relevante
-5 Impacto expressivo negativo 3 Impacto médio
-3 Impacto médio negativo 5 Impacto expressivo
-1 Impacto pouco relevante negativo 7 Impacto muito expressivo
0 Não há impacto
Tabela 4 - Matriz Impacto versus Dependência
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
9
A última linha dessa Matriz representa o grau de dependência de uma variável em
relação às demais. A coluna mais à direita dessa Matriz representa a motricidade (grau de
impacto) da variável. Esses valores foram resumidos na Tabela 5.
Tabela 5 - Grau de Dependência e Impacto Consolidado
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
10
Verificou-se o somatório dos impactos e dependências de cada variável. Em seguida, a
média e o desvio padrão dos graus de impacto e dependência foram calculados a fim de
facilitar a posterior priorização e classificação das variáveis.
3.5. Priorização de variáveis
Após análise de dependência das variáveis, criou-se um gráfico de Impacto versus
Dependência (Gráfico 1). Cada uma das 26 variáveis tem um valor que corresponde a
dependência, localizado no eixo x, e outro valor que corresponde ao impacto, localizado no
eixo y. De acordo com essas coordenadas cartesianas, foram marcados pontos e, em seguida,
foi traçada uma reta de 135º, partindo das retas vertical e horizontal. Essa reta foi deslocada
para baixo, de acordo com o valor do desvio padrão, a fim de priorizar as variáveis mais
relevantes e descartar as demais.
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
11
Gráfico 1 - Impacto x Dependência
Assim, a lista inicial com 26 variáveis foi reduzida à lista abaixo com 15 variáveis,
como pode ser observado na Tabela 6.
Tabela 6 – Variáveis Priorizadas
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
12
3.6. Efeito canônico ou impactante
Por meio da análise dos valores de Impacto e Dependência de cada variável, verificou-
se que a variável Preço do dólar impacta todas a variáveis e não é diretamente impactada por
nenhuma outra variável. Assim, essa variável foi classificada como Efeito Canônico, podendo
influenciar consideravelmente qualquer um dos cenários a serem caracterizados.
A variável Preço do dólar é uma incerteza do cenário internacional que dificulta a
análise de tendências. Essa variável possui um impacto muito grande nas outras variáveis
econômicas e, consequentemente, nas demais variáveis. O Preço do dólar influencia
diretamente no preço de muitos produtos usados na construção civil que são constituídos por
matéria prima importada (Gráfico 2).
Gráfico 2 - Cotação do Dólar
Fonte: Relatório do Banco Central do Brasil (CBIC)
3.7. Histórico das variáveis priorizadas
O estudo de cenários prospectivos busca alinhar informações qualitativas e
quantitativas. Para isso, são analisados os históricos das variáveis já determinadas,
apresentados nos gráficos a seguir.
Gráfico 3 - Taxa SELIC
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
13
Fonte: BACEN
Nesse contexto, a Taxa SELIC é uma variável importante, pois influencia a demanda
por moradias. A taxa impacta a oferta de crédito imobiliário, uma vez que os bancos buscam
produtos alternativos quando ocorre uma redução na taxa de juros. A taxa impacta, também, a
demanda por esse crédito, visto que a redução da taxa de juros amplia a capacidade de
pagamento do tomador de crédito (Gráfico 3).
Gráfico 4 - PIB Nacional
Fonte: IBGE
O PIB é um indicador que se relaciona diretamente ao consumo das famílias e,
consequentemente, o investimento residencial. Uma publicação feita pela Fundação Getúlio
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
14
Vargas, em 2008, evidenciou a relação proporcional entre o investimento habitacional e taxas
de crescimento mais elevadas em diversos países, incluindo o Brasil (Gráfico 4).
Gráfico 5 - PIB Construção Civil
Fonte: IBGE
O PIB da Construção Civil acompanha o PIB Nacional, todavia, analisando um
mesmo período, o PIB CC possui índices de crescimento maiores, ressalvando a importância
da cadeia produtiva do setor de habitação. O aumento do PIB CC está relacionado com o
investimento residencial (Gráfico 5).
Gráfico 6 - Inflação
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
15
Fonte: IBGE
O alto valor do IPCA causa consequências no setor na construção civil, uma vez que
está relacionada com o aumento de custos com a mão de obra e materiais de construção, e a
elevação do valor de impostos e taxas governamentais (Gráfico 6).
Gráfico 7 - Captação Líquida da Poupança
Fonte: minhaseconomias.com
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
16
O sistema brasileiro de poupança e empréstimo é uma fonte oficial de financiamento
habitacional. Sua fonte de recursos principal é a poupança voluntária, proveniente dos
depósitos de poupança do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE), constituído
pelas instituições que captam essa modalidade de aplicação financeira.
O crédito imobiliário no país, através dos números do SBPE, esteve em um período de
expansão acelerada de 2006 a 2014, com queda em 2015 relacionada à alta dos juros (Gráfico
7).
Gráfico 8 - Taxa de Desemprego
Fonte: IBGE
A construção civil é um dos setores mais atingidos pelo desemprego e o nível de
emprego afeta diretamente o mercado consumidor (Gráfico 8).
Gráfico 9 - Acesso ao Crédito
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
17
Fonte: BACEN
Segundo o Relatório “Brasil Sustentável – Potencialidades do Mercado Brasileiro”,
realizado pela empresa ERNST & YOUNG TERCO e FGV, no mercado de construção dos
Estados Unidos, foram as inovações tecnológicas ligadas a rapidez na aprovação do crédito
somadas a redução das taxas de juros que favoreceram o boom verificado até 2005. Observou-
se que o acesso rápido e desburocratizado ao crédito é um avanço institucional importante
para o aumento dos investimentos habitacionais.
No Brasil, ocorreu um aumento da demanda proveniente das mudanças nas linhas de
crédito imobiliário como o aumento do valor limite de avaliação dos imóveis para
financiamentos com recursos do FGTS e com taxas mais baixas que se enquadram no SFH,
assim como a diminuição das taxas de juros cobradas pela Caixa Econômica Federal.
O motivo de queda em 2015 está relacionado com a alta dos juros e menos recursos na
poupança, o que motiva os bancos a ficarem mais criteriosos para a concessão do crédito
(Gráfico 9).
Gráfico 10 - Incentivos Fiscais
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
18
Fonte: BACEN
Em 2011, o governo de Dilma Roussef fez uso da estratégia política tributária de
incentivos. A fim de compensar a perda de dinamismo econômico iniciado em 2011, essa
estratégia voltou-se para a concessão de vários tipos de desonerações tributárias. Pode-se
citar: a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para máquinas e
equipamentos de setores selecionados, visando reduzir o custo do capital produtivo e
desonerações do IPI, voltadas para o aumento da competitividade das empresas nacionais,
como incentivos à indústria da construção civil. Essa foi uma política fiscal inadequada, frente
ao cenário de incerteza de 2011-14 (GENTIL; HERMANN, 2017) (Gráfico 10).
Gráfico 11 - Investimento em Educação
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
19
Fonte: INEP
A falta de mão de obra qualificada foi apontada como o principal problema da
construção civil no Brasil, pela Confederação Nacional Indústria (CNI), em 04 de dezembro
de 2016. O investimento em educação é apontado como a principal solução (Gráfico 11).
Gráfico 12 - Investimento em segurança
Fonte: Portal de Transparência do Governo do Rio de Janeiro
Gráfico 13 - Roubo de Veículo
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
20
Fonte: ISP
Gráfico 14 - Roubos de Rua no Rio de Janeiro
Fonte: ISP
A implantação das Unidades de Polícia Pacificadora – UPP, um recurso do Estado
para recuperar regiões perdidas para o tráfico e levar a inclusão social à parcela mais carente
da população, pode ter representado até 15% de todo o crescimento verificado no preço médio
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
21
dos imóveis da cidade do Rio de Janeiro desde 2008, segundo um seminário de Cidadania e
Segurança organizado pela Fundação Getúlio Vargas em 2013 (Gráficos 12, 13, 14).
Gráfico 15 - Comprometimento de Renda
Fonte: BACEN
O crédito habitacional corresponde a uma grande parcela da dívida dos brasileiros
(Gráfico 15).
Gráfico 16 - Média do metro quadrado no Rio de Janeiro
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
22
Fonte: INDICE FIZEAP RJ
Segundo Monteiro (2014), a valorização no preço dos imóveis na cidade do Rio de
Janeiro ocorreu no ano de 2010, motivada pelo fato de que a cidade seria sede do Mundial de
2014 e das Olimpíadas de 2016, que além de trazerem mudanças de melhoria na infraestrutura
e na mobilidade urbana, estes eventos gerariam um aumento nos índices de inflação e efeitos
diretos e indiretos que seriam capazes de promover uma reestruturação econômica da região,
que somados ao aumento dos investimentos estrangeiros e do setor de petróleo resultariam
num aquecimento da economia. Além da, já citada, implantação das UPPs.
Diante de um cenário de incertezas, no ano de 2015 a demanda por imóveis diminuiu e
o preço dos imóveis, que vinha em trajetória crescente, também. Além de não ter o valor
reajustado pela inflação (Gráfico 16).
3.8. Definição dos componentes
Após o levantamento dos registros apresentados pelas variáveis no período estudado,
calculou-se o valor médio, o valor máximo e o valor mínimo de cada variável conforme a
Tabela 7.
Tabela 7 - MAXMIN
Os valores obtidos foram tomados como base para a estratificação das variáveis em
quatro segmentos distintos (Tabela 8).
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
23
Tabela 8 - Componentes Estratificados
As configurações que melhor atendem aos anseios da empresa irão compor o cenário
Desejável, as configurações que mais se contrapões aos anseios da empresa irão criar o
cenário Indesejável. E o cenário de Tendência do mercado da construção terá os componentes
julgados com maior possibilidade de ocorrência (Tabela 9).
Tabela 9 - Cenários
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
24
Contudo há um cenário não é plausível de ocorrência. A rentabilidade da caderneta de
poupança é atrelada a taxa a Taxa Referencial – TR, e 0,5% ao mês, enquanto a meta da taxa
Selic ao ano for superior a 8,5% ou 70% da taxa Selic “mensalizada” da taxa no período
quando a meta da taxa Selic for acima de 8,5% ao ano. Logo, a nova distribuição de cenários
é realizada como na Tabela 10 e, posteriormente, definidos na Tabela 11.
Tabela 10 - Cenários reajustados
Tabela 11 - Cenários definidos
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
25
4. Caracterização dos cenários
A elaboração de cenários não é um simples exercício de predição, mas um esforço
para fazer descrições plausíveis e consistentes de possíveis situações futuras, apresentando as
condicionantes entre a situação atual e cada cenário futuro, e realçando os fatores relevantes
às decisões a serem tomadas. Apesar de ser uma representação parcial e imperfeita do porvir,
os cenários devem englobar os principais aspectos do problema, de modo a auxiliar, no
presente, a tomada de decisão que garantirá objetivos futuros (RUBEM et al., 2014).
Com base nos resultados obtidos é possível a caracterização de três cenários
prospectivos distintos. Os cenários foram divido entre favorável, indesejável e provável.
Com a finalidade de facilitar o entendimento dos cenários, a literatura usualmente
nomeia de maneira intuitiva. O cenário favorável será denominado “a espera de um milagre”;
o cenário provável será “recessão” e cenário indesejável será “Brasil pede socorro”.
Cenário desejável (“A espera de um milagre”): o Brasil supera a recessão e têm forte
retomada econômica com crescimento do PIB acima de 4% a.a e forte exportação reduzindo a
cotação, auxiliando o controle da inflação abaixo de 5% a.a possibilitando a redução da taxa
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
26
Selic. O emprego e a renda das famílias voltar a crescer permitindo a contração de novos
empréstimos para famílias adquirirem novos imóveis reaquecendo o mercado. Nesse cenário a
concorrência cresce novamente e o preço do terreno encarece, obrigando haver mudanças na
gestão da empresa.
Cenário tendência (“Recessão”): a tendência é o cenário político brasileiro se manter
conturbado dificultando as ações macroeconômicas necessárias a retomada do crescimento. O
PIB brasileiro continua com quedas de até 4% a.a. devido à falta de medidas necessárias. O
receio do investidor externo aumentaria, impossibilitava novos cortes na taxa Selic
dificultando o financiamento de novos imóveis. Nesse cenário, o mercado imobiliário
desaquece permitindo a construção pontual de novos empreendimentos.
Cenário indesejável (“Brasil pede socorro”): O caos político se instaura refletindo
diretamente no PIB brasileiro que começa a retrair mais de 4% a.a. O investidor estrangeiro já
não acredita mais na possibilidade de recuperação e não realiza investimentos no país. A
escassez de dólares faz o preço da moeda aumentar. Na tentativa de angariar especuladores a
taxa Selic sobe a patamar acima de 15% ao ano. O mercado de crédito se retrai
impossibilitando o consumo das famílias levando ao país a depressão.
5. Conclusão
O setor da habitação tem características que influenciam de forma direta e indireta a
economia, além de ter aspectos que podem impactar o caminho da política econômica do país.
Assim, identificar o nível que se encontra a atividade produtiva na economia pode ser um
caminho indispensável para o entendimento dos impactos das políticas adotadas pelo governo
federal com vigência em todo o país neste setor. O presente trabalho demonstrou a
aplicabilidade do conceito de prospecção de cenários para o setor de edificação da construção
civil, propondo a reflexão sobre o fato de como o presente pode influenciar o futuro.
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
27
REFERÊNCIAS
ASSIS, B. F. S. P.; PEREIRA, D. P.; MACHADO, L. G.; GOMES, C. F. S Cenários
Prospectivos Na Aviação Comercial Brasileira, Revista GEINTEC. São Cristóvão/SE –
2017. Vol.7/n.1/Jan-Mar/17 3686 p.3686-3700. 2017
BRASIL SUSTENTÁVEL – Potencialidades do Mercado Habitacional. Ernst & Young
Terco e Fundação Getúlio Vargas (FGV), 2011.
COSTA, Eduardo; GUEDES, José; SALUDJIAN, Alexis; NOGUEIRA, Isabela; BALANCO,
Paulo; SCHONERWALD, Carlos; BARUCO, Grasiela. A guerra de todos contra todos: a
crise econômica brasileira. UFRJ. Texto para discussão – Instituto de Economia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
FIALHO, Karlo; COSTA, Heloína; LIMA, Sérgio; BARROS, José. Aspectos econômicos da
construção civil no Brasil. ENTAC, Maceió, AL, Brasil, 2014.
FILHA, Dulce; DA COSTA, Ana; FALEIROS, João; NUNES, Bernardo. Construção Civil no
Brasil: investimentos e desafios. UFPR. Paraná. Universidade Federal do Paraná,
Perspectivas do Investimento BNDES, 2013.
GENTIL, Denise; HERMANN, Jennifer. A política Fiscal do primeiro governo Dilma
Rousseff: Ortodoxia e retrocesso. UFRJ – Instituto de Economia, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Disponível em: <www.ie.ufrj.br>. Acessado em: 03 de
janeiro de 2017.
GOMES, Carlos; COSTA, Helder. Proposta do uso da visão prospectiva no processo
multicritério de decisão. Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ - Relatórios de
pesquisa em Engenharia de Produção, v. 13, n. 8, pp. 94-114, 2013.
LAMIZ, Marcos; ROCHA, Phelipe; PERES, Rafael; PRADO, Vinícius; GOMES, Francisco.
Cenários Prospectivos para a indústria petrolífera nacional: planejamento de ações
estratégicas para uma empresa exploradora e produtora. Universidade Federal
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
28
Fluminense, Niterói, RJ - Relatório de pesquisa em Engenharia de Produção, v. 14, n. A17, p.
224-245, 2014.
MONTEIRO, Caroline. Análise da valorização imobiliária na cidade do Rio de Janeiro: foco
nos bairros de Copacabana, Ipanema e Leme. Universidade Federal do Rio de Janeiro -
Trabalho de Monografia, Rio de Janeiro, 2014.
POTRICH, Ani; POTRICH, Dilema. Fatores Determinantes para o Crescimento Habitacional
Brasileiro. ENEGEP, Bento Gonçalves, RS, Brasil, 2012.
RODRIGUES, Andriele; ROJO, Claudio; BERTOLINI, Geysler. Formulação de estratégias
competitivas por meio de análise de cenários na construção civil. Prod. vol. 23 n. 2 –
UNIOESTE, São Paulo, 2013.
RUBEM, Ana; MOURA, Ariane; GOMES, Carlos. Cenários Prospectivos no Apoio à
decisão: uma proposta de aprimoramento do método de Schoemaker - Relatório de pesquisa
em Engenharia de Produção v.14, n. B5, p. 70-80. Universidade Federal Fluminense,
Niterói, RJ, 2014.
VARUM, Celeste; MELO, Carla. Directions in scenario planning literature – A review of the
past decades. Department of Economics, Management and Industrial Engineering, University
of Aveiro, Campus Universitário de Santiago, 2010.
VIEIRA, Carolina; DA SILVA, Pedro; LOIOLA, Ludgy; FRANCO, Liana; GOMES, Carlos.
Mercado Brasileiro de etanol: visão prospectiva de cenários. Relatório de pesquisa em
Engenharia de Produção, v. 14, n. A15, p. 188-212. Universidade Federal Fluminense,
Niterói, RJ, 2014.