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Universidade de Brasília - UnB Faculdade UnB Gama - FGA Engenharia de Energia Avaliação da Viabilidade Econômica da Produção de Biogás: Estudo Aplicado à uma Granja Produtora de Suínos do oeste paranaense Autor: Mateus Ofredi Gonçalves Dias Orientador: Prof. Dra. Paula Meyer Soares Coorientador: Eng. Leonardo dos Santos Maria Brasília - DF 2016

Avaliação da Viabilidade Econômica da Produção de Biogás: Estudo … · 2016. 12. 6. · econômica e financeira da produção de biogás e a sua utilização na geração de

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Universidade de Brasília - UnB

Faculdade UnB Gama - FGA

Engenharia de Energia

Avaliação da Viabilidade Econômica da Produção de Biogás: Estudo Aplicado à uma Granja Produtora de

Suínos do oeste paranaense

Autor: Mateus Ofredi Gonçalves Dias

Orientador: Prof. Dra. Paula Meyer Soares Coorientador: Eng. Leonardo dos Santos Maria

Brasília - DF

2016

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Mateus Ofredi Gonçalves Dias

Avaliação da Viabilidade Econômica da Produção de Biogás: Estudo Aplicado

à uma Granja Produtora de Suínos do oeste paranaense Monografia submetida ao curso de graduação em Engenharia de Energia da Universidade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia de Energia.

Universidade de Brasília – UnB

Faculdade UnB Gama – FGA

Orientador: Prof. Dra. Paula Meyer Soares

Coorientador: Eng. Leonardo dos Santos Maria.

Brasília - DF 2016

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Mateus Ofredi Gonçalves Dias.

Avaliação da Viabilidade Econômica da Produção de Biogás: Estudo Aplicado à uma Granja Produtora de Suínos do oeste paranaense. / Mateus Ofredi Gonçalves Dias – Brasília-DF. 2016 – 47 p. : il. (Algumas color.) ; 30 cm.

Orientação: Prof. Dra. Paula Meyer Soares

Monografia (Graduação) – Universidade de Brasília -UnB

Faculdade UnB Gama - FGA, Brasília, 2016.

1. Suinocultura. 2. Biogás. 3. Energia Elétrica. 4. Créditos de

Carbono. 5. Viabilidade Econômica. I. Prof. Dra. Paula Meyer Soares.

II. Universidade de Brasília. III. Faculdade UnB Gama. IV. Avaliação da

Viabilidade Econômica da Produção de Biogás: Estudo Aplicado à uma

Granja Produtora de Suínos do oeste paranaense.

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Avaliação da Viabilidade Econômica da Produção de Biogás: Estudo Aplicado à uma Granja Produtora de Suínos do oeste paranaense.

Mateus Ofredi Gonçalves Dias

Monografia submetida como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em (Nome do Curso) da Faculdade UnB Gama - FGA, da Universidade de Brasília, em (data da aprovação 25/11/2016) apresentada e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

Prof. Dra. Paula Meyer Soares UnB/ FGA Orientador

Prof. Dra. Patrícia Regina Sobral Braga UnB/ FGA Membro Convidado

Prof. Dr. Celso Vila Nova de Souza Júnior UCB Membro Convidado

Brasília, DF 2016

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais e irmãos, que apesar de distante nessa fase – sempre

estiveram ao meu lado nos momentos de fraqueza e que apoiaram, de forma

incondicional, todas as minhas decisões – sem vocês nada disso seria possível.

Agradeço a Julia Vieira que sempre esteve ao meu lado, incentivando e motivando a

nunca desistir deste sonho de me formar engenheiro.

Agradecimento especial a “tia” Carmem Regina, que me “adotou” como um

membro da família e sempre me ajudou nos momentos de saúde e doença.

Aos meus amigos, Celso Galeno, Priscilla Reck, Andressa Stephany, Michel

Louis, Arthur Pereira, Leonardo dos Santos, Gabriela Vieira, que sempre estavam

presentes nos momentos bons e ruins, dentro e fora da universidade e que nunca

deixaram de me apoiar. Agradecimentos póstumos ao meu amigo Allan Saliba, que

me mostrou que a amizade faz a diferença na vida das pessoas.

Aos amigos que fiz durante a faculdade, Edson Thiago, Eduardo Xavier, Ana

Paula, Bruno Doberstein, Daniel Auler, Daniel Juswiak, Fellype Levi, Eduardo

Sampaio, Vinícius Siqueira, Edilson Ursulino, Matheus Fukuta, pelos momentos de

motivação e descontração.

A todos os amigos que fiz durante o período de intercambio, pelas experiências

inesquecíveis que serviram para o meu amadurecimento como pessoa.

Agradeço as professoras Maria Vitoria Ferrari e Maria Del Pilar por todos os

conselhos, orientações ensinamentos dados desde o início do curso.

Agradeço especialmente a professora Paula Meyer Soares, por acreditar neste

projeto e aceitar ser minha orientadora. Obrigado por todo o apoio e orientação dados

durante o desenvolvimento deste trabalho.

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“ Lembre-se, o sucesso é uma jornada, não um destino.

Tenha fé em sua capacidade. ” (Bruce Lee)

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RESUMO

O aumento da produção de suínos no Brasil pode ter agravado os problemas ambientais, isto

em consequência do descarte inadequado dos dejetos produzidos pelos animais. Neste

cenário, o tratamento dos dejetos por meio da digestão anaeróbica surge como possível

solução para a mitigação dos impactos ambientais, além de fonte energética alternativa. Este

trabalho teve como finalidade realizar um estudo sistemático para avaliar a viabilidade

econômica e financeira da produção de biogás e a sua utilização na geração de energia

elétrica. O estudo foi realizado com base na pesquisa bibliográfica e nos dados obtidos de

uma granja, produtora de suínos situada no município de Toledo, oeste do estado do Paraná.

A metodologia quantitativa foi adotada para a realização do estudo. Foram coletados dados

referentes a produção de suínos e quantidade de energia consumida pela granja. Também foi

realizado um levantamento acerca dos investimentos necessários para a instalação do

sistema, para então avaliar o retorno econômico-financeiro do projeto. Constatou-se que a

granja possui um alto potencial de geração de biogás e que a implantação de um sistema de

geração de energia elétrica, utilizando o biogás é viável e atrativo, desde que ocorra a venda

dos créditos de carbono.

Palavras-chave: Suinocultura, biogás, energia elétrica, créditos de carbono, viabilidade

econômica.

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ABSTRACT

The increase in swine production in Brazil may have aggravated environmental

problems, that because of improper disposal of waste produced by the animals. In this

scenario, the treatment of waste through anaerobic digestion emerges as a possible

solution for the reduction of environmental impacts as well as an alternative energy

source. The objective of this article was to carry out a systematic study to evaluate the

economic and financial viability of biogas production and its use in the generation of

electric energy. The study was carry out based on a bibliographic research and data

obtained from a swine farm, located in the city of Toledo, west of Paraná state. The

quantitative methodology was adopt to carry out the study. Data were collected on the

production of swine’s and the amount of energy consumed by the farm. A survey was

also made on the investments required for the installation of the system, in order to

evaluate the economic-financial return of the project. It was verified that the farm has

a high biogas generation potential and that the implantation of an electric energy

generation system using biogas is feasible and attractive, as long as the sale of the

carbon credits occurs.

Key words: swine farming, biogas, electricity, carbon credits, economic viability

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Eutrofização resultante da atividade pecuária. .................................................. 1 Figura 2: Fluxograma do processo de produção de biogás. ............................................ 6

Figura 3: Modelo de biodigestor chinês. .............................................................................. 7

Figura 4: Modelo de biodigestor indiano. ............................................................................. 8 Figura 5: Modelo de biodigestor canadense. ...................................................................... 9

Figura 6: Etapas da degradação anaeróbica. ................................................................... 11

Figura 7: Composição do biogás. ....................................................................................... 12

Figura 8: Unidades rurais cadastradas que fazem o uso de biodigestores. ................ 15 Figura 9: Quantidade de projetos MDL no Brasil relacionados a suinocultura. .......... 19

Figura 10: Imagem de satélite do município de Toleto – PR. ......................................... 22

Figura 11: Granja produtora de suínos. ............................................................................. 23

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Potencial de produção brasileira de biogás (milhões de m3) no setor pecuário. .................................................................................................................................. 14 Tabela 2: Comparação entre o biogás e outros combustíveis ....................................... 15

Tabela 3: Tabela de especificação do biometano segundo ANP. ................................. 18

Tabela 4: Estimativa do peso médio dos dejetos produzidos para as diferentes fases de maturação dos suínos. .................................................................................................... 24 Tabela 5: Resultado para o cálculo do valor dos sólidos voláteis. ................................ 27

Tabela 6: Resultados para o cálculo da produção anual de biogás (modelo IPCC,2006). ............................................................................................................................ 28

Tabela 7: Comparação entre os modelos para a produção anual de biogás. ............. 28

Tabela 8: Parâmetros e resultados para o cálculo da redução de emissões. ............. 30

Tabela 9: Investimento inicial ............................................................................................... 32

Tabela 10: Custo de depreciação dos equipamentos. .................................................... 33 Tabela 11: Juros sobre o capital investido. ....................................................................... 34 Tabela 12: Manutenção do grupo gerador ........................................................................ 34

Tabela 13: Fluxo de caixa completo do projeto. ............................................................... 37

Tabela 14: Simulação para o tempo de operação do grupo gerador ............................ 40

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LISTA DE SIGLAS

ABPA Associação Brasileira de Proteína

AND Autoridade Nacional Designada

ANEEL Agencia Nacional de Energia Elétrica

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento

CENBIO Centro Nacional de Referência em Biomassa

CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

COPEL Companhia Paranaense de Energia

CPF Cadastro de Pessoa Física

EIA Estudo de Impactos Ambientais

EOD Entidade Operacional Designada

GEEs Gases de Efeito Estufa

GNV Gás Natural Veicular

GWP Potencial de Dano Global

IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

PSA Adsorção por Pressão Alternada

PVC Policloreto de Vinila

RCEs Reduções certificadas de Emissões

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

TIR Taxa Interna de Retorno

TMA Taxa Interna de Atratividade

UNFCCC Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima

UPL Unidade de Produção de Leitões

VPL Valor Presente Líquido

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1 2. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 4 2.1. Objetivo Geral ............................................................................................................... 4 2.2. Objetivos Específicos ................................................................................................... 4 3. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 5 3.1. A CADEIA PRODUTIVA DO BIOGÁS ............................................................................. 5 3.1.1. O BIOGÁS ................................................................................................................... 5 3.1.2. BIODIGESTOR ............................................................................................................ 6 3.1.2.1. Modelo Chinês ........................................................................................................ 7 3.1.2.2. Modelo Indiano ........................................................................................................ 8 3.1.2.3. Modelo Canadense ................................................................................................. 9 3.1.3. PREPARAÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA .............................................................. 10 3.1.4. DIGESTÃO ANAERÓBICA ....................................................................................... 10 3.2. BIOFERTILIZANTE ....................................................................................................... 11 3.3. COMPOSIÇÃO DO BIOGÁS ........................................................................................ 12 3.4. POTENCIAL DE PRODUÇÃO NACIONAL ................................................................... 13 3.4.1. Comparação do Biogás com Combustíveis Convencionais ................................. 15 3.5. ASPECTOS LEGAIS E REGULAMENTAÇÃO DO BIOGÁS NO BRASIL ..................... 16 3.5.1.Resolução 482/2012 da ANEEL ................................................................................ 17 3.5.2. Resolução Nº 8 de 30 de janeiro de 2015 da ANP .................................................. 17 3.6. MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL) E O MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO ..................................................................................................................... 18 4. METODOLOGIA .............................................................................................................. 21 4.1. OBJETO DE ESTUDO ................................................................................................. 22 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 24 5.1. CÁLCULO DA PRODUÇÃO ANUAL DE BIOGÁS ........................................................ 24 5.1.1. Modelo CENBIO ....................................................................................................... 24 5.1.2. Modelo IPCC ............................................................................................................. 26 5.1.3. Comparação entre o Modelo CENBIO e o modelo IPCC ....................................... 28 5.2. CALCULO DA QUANTIDADE DE CARBONO EQUIVALENTE .................................... 29 5.2.1. Potencial de Dano Global ........................................................................................ 29 5.2.2. Reduções de Emissões do Projeto ......................................................................... 29 5.2.3. Créditos de Carbono ................................................................................................ 30 5.3. ANÁLISE ECONÔMICA DO EMPREENDIMENTO ....................................................... 31 5.3.1. INVESTIMENTO INICIAL .......................................................................................... 31 5.3.2. CUSTOS .................................................................................................................... 32 5.3.2.1. Depreciação dos Equipamentos .......................................................................... 32 5.3.2.2. Juros sobre o capital ............................................................................................ 33 5.3.2.3. Manutenção ........................................................................................................... 34 5.3.2.4. Mão-de-obra para a operação do sistema ........................................................... 35 5.3.3. RECEITAS ................................................................................................................. 35 5.3.3.1. Energia elétrica ..................................................................................................... 35 5.3.3.2. Créditos de Carbono ............................................................................................. 36 5.3.4. FLUXO DE CAIXA ..................................................................................................... 36 5.3.4.1. Payback ................................................................................................................. 38 5.3.4.2. Valor Presente Líquido (VPL) ............................................................................... 38 5.3.4.3. Taxa Interna de Retorno (TIR) .............................................................................. 39 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 41 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 43 ANEXO I: TABELA 10-7 : Fator de emissão de metano para manejo de dejetos de suínos (IPCC, 2006) ........................................................................................................... 47

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1. INTRODUÇÃO

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA,

2016), a produção brasileira de carne suína representa cerca de 10% do volume total

exportado no mundo, dado que posiciona o país como o 4º maior produtor e

exportador mundial. Somente no ano de 2015 o setor registrou um crescimento de

4,95%, se comparado com o ano de 2014, totalizando uma produção de 3,643 milhões

de toneladas de carne suína, segundo os dados da Associação Brasileira de Proteína

Animal (ABPA). A produção nacional se dá de forma descentralizada, em sua maioria

por estabelecimentos de pequeno e médio porte. Somente o estado do Paraná, possui

cerca de 180 mil propriedades rurais, cuja atividade principal é a suinocultura. A matriz

de suínos do estado é de 5.488.216 animais, o que representou no último ano um

valor de 542,29 mil toneladas de carne suína, colocando o estado no 3º lugar do

ranking nacional (ABPA, 2015).

Os dejetos oriundos da produção suína podem causar uma serie de impactos

ambientais: se descartados inadequadamente - sem o devido tratamento - em corpos

d´água, podem causar a eutrofização1 dos mesmos, dado sua elevada concentração

de matéria orgânica; podem ainda, contaminar as águas subterrâneas e o solo - se

descartados diretamente na superfície - devido ao elevado teor de metano e dióxido

de carbono resultantes da decomposição dos dejetos. A Figura1 mostra a eutrofização

de um lago, resultado da atividade pecuária.

Figura 1: Eutrofização resultante da atividade pecuária. Fonte: FIGUEIRÊDO, 2007.

1 A eutrofização das águas significa seu enriquecimento por nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, levando ao crescimento excessivo das plantas aquáticas, tanto planctônicas quanto aderidas, com consequente desequilíbrio do ecossistema aquático e progressiva degeneração da qualidade da água (FIGUEIRÊDO, 2007).

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De acordo com Gaspar (2003), um suíno adulto (com peso entre 25 e 100 kg)

produz em média cerca de 2,3 kg de dejetos por dia, sendo assim, de posse dos dados

de produção supracitados, apenas no estado do Paraná são gerados em média

12.622 toneladas de dejetos por dia, oriundos da atividade. Este valor demonstra a

quantidade imensa de dejetos produzidos pelo Estado, que tem na produção de

suínos uma das suas principais atividades agropecuárias. Faz-se necessário evitar

que essa quantidade de dejetos, compostos principalmente por matéria orgânica, seja

lançada nos mananciais de d’água destas regiões, para que não comprometam a

qualidade de vida das populações urbanas e rurais, além da sobrevivência da fauna

e flora das regiões vizinhas aos mananciais.

Ainda não existe, no Brasil, uma legislação nacional especifica que regule e

fiscalize o manejo e tratamento dos dejetos produzidos pela suinocultura, apesar

dessa atividade ser considerada uma atividade de grande potencial de degradação

ambiental. No entanto, de acordo com a Lei 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes

Ambientais, é disposto que o produtor pode ser responsabilizado criminalmente,

desde que seja comprovado danos ao meio ambiente e à saúde dos homens e

animais. Deste modo, cabe ao produtor realizar o tratamento dos resíduos gerado pela

sua atividade agropecuária, visando a não contaminação das águas e dos solos, bem

como a diminuição dos gases que contribuem para o efeito estufa, neste caso,

principalmente o metano e o gás carbônico (MACHADO, 2009).

Gaspar (2003) sugere a utilização de biodigestores como forma de tratamento

dos resíduos da produção de suínos. Ferreira (2012) afirma que com o uso da digestão

anaeróbica é possível reduzir em mais de 50% o teor de matéria orgânica dos

resíduos, contribuindo para uma diminuição dos impactos ambientais causados pelas

atividades pecuárias. Além de reduzir o teor de matéria orgânica, o tratamento dessa

biomassa por meio de biodigestores acaba gerando dois produtos, um líquido

(biofertilizante) e outro gasoso (biogás). O primeiro pode ser utilizado na fertilização

de lavouras, sem comprometer a qualidade do solo. Já o segundo é composto por

grande parcela de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2) e se comparado com

outros combustíveis, a sua queima gera menos poluentes atmosféricos por unidade

de energia gerada, sendo assim classificado como combustível limpo (BEUX, 2005).

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A utilização do biogás como combustível contempla várias formas de uso,

desde motores a explosão interna, passando por aquecimento de caldeiras e fornos

entre outros. Existe ainda a possibilidade da comercialização de créditos de carbono,

visto que o Protocolo de Quioto, Tratado elaborado para estabelecer metas de

redução de emissões para países desenvolvidos, possibilitou a inserção da

suinocultura no cenário de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), pois se

enquadra em um projeto de redução de emissões de gases de efeito estufa (KOTZ et.

al., 2012).

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Os estudos realizados neste trabalho tiveram como objetivo avaliar a

viabilidade econômica do uso do biogás, proveniente da biodigestão dos resíduos da

produção de suínos, como fonte de energia elétrica para uma propriedade rural

situada no município de Toledo, no estado do Paraná.

2.2. Objetivos Específicos

Descrever a cadeia produtiva do biogás;

Calcular o potencial de produção de biogás da unidade estudada;

Avaliar o potencial de redução, por meio do tratamento anaeróbico, da emissão

de gases produzidos pelos dejetos suínos na unidade estudada;

Fazer um levantamento a respeito dos investimentos necessários para a

instalação de um sistema de geração de energia elétrica a base de biogás;

Calcular o tempo de retorno para o investimento realizado;

Avaliar a viabilidade econômico-financeira da geração de eletricidade a base de

biogás na propriedade estudada.

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

Neste tópico buscou-se realizar uma revisão bibliográfica, tomando-se por artigos

publicados em revistas científicas, teses, dissertações, dentre outras publicações, as

quais abordam como o tema principal, a produção de suínos no Brasil, a cadeia

produtiva do biogás, a regulamentação do biogás no Brasil e o mercado de créditos

de carbono

3.1. A CADEIA PRODUTIVA DO BIOGÁS

Na seguinte seção foram abordados aspectos referentes a produção de biogás

através do processo de biodigestão dos dejetos suínos, um tratamento proposto para

a mitigação deste passivo ambiental.

3.1.1. O BIOGÁS

O biogás é um biocombustível resultante da degradação da matéria orgânica

na ausência de oxigênio. Essa degradação anaeróbica faz parte do ciclo do carbono,

no qual a matéria orgânica é atacada pela ação digestiva das bactérias

metanogênicas (BLEY JR., 2015).

De acordo com Bley Jr. (2015), além do biogás possuir praticamente a mesma

composição química do gás natural, ele apresenta ainda várias vantagens, sendo

elas:

ser derivado de um processo de saneamento ambiental e não de jazidas

petrolíferas, deste modo, considerado um recurso natural;

degradação anaeróbica contribui para a redução da carga orgânica

residual depositada no solo;

contribui para a diminuição de emissão de metano na atmosfera, um dos

gases do efeito estufa, o qual apresenta potencial poluidor 21 vezes

maior do que o gás carbônico;

gera um biofertilizante, parte liquida, com carga orgânica controlada que

pode ser utilizado como adubo em produções agrícolas.

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Na Figura 2 está esquematizado o sistema de produção de biogás, simplificado,

a partir de resíduos da produção de suínos.

Figura 2: Fluxograma do processo de produção de biogás.

Fonte: Adaptado de GASPAR, 2013.

3.1.2. BIODIGESTOR

O processo de formação do biogás recebe o nome de biodigestão e ocorre

naturalmente com toda a matéria orgânica. Porém para que a degradação ocorra de

forma anaeróbica e controlada é necessária uma câmara fechada que forneça as

condições propícias para que as bactérias degradem o material orgânico. Essa

câmara fechada é chamada de biodigestor (GASPAR, 2013). Dentro do biodigestor, a

matéria orgânica diluída em água sofre o processo de degradação sem a presença de

oxigênio, resultando na produção final de dois produtos, um com caraterísticas

fertilizantes (parte líquida) e o biogás (parte gasosa). Ainda de acordo com o autor,

existem vários tipos de biodigestor sendo: o chinês, o indiano e o canadense os

principais modelos utilizados para o uso agrícola.

As principais características desses três modelos estão apresentadas a seguir.

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3.1.2.1. Modelo Chinês

O modelo chinês (Figura 3) é um modelo rústico e por ser construído quase que

completamente em alvenaria apresenta um baixo custo de construção. De acordo com

Andrade (2002), este modelo de biodigestor funciona de modo similar a uma prensa

hidráulica, na qual o acúmulo de biogás no seu interior resultará no aumento da

pressão interna, resultando no deslocamento do efluente da câmara de fermentação

para a caixa de saída. Quando ocorre a descompressão o sentido do efluente se

inverte.

Este tipo de biodigestor apresenta uma boa durabilidade, uma vez que não

apresenta partes móveis, nem partes metálicas, pois dispensa o uso de gasômetro,

fazendo com que o gás formado seja armazenado no próprio reator (FERNANDES,

2012).

A principal desvantagem deste modelo ocorre pelo fato dele ser construído

quase que completamente enterrado no solo. Fato que apesar de proteger contra

variações climáticas, dificulta a impermeabilização do gasômetro e a detecção e

manutenção em caso de vazamentos, já que o aparecimento de fissuras na cúpula de

armazenamento é comum devido a porosidade dos materiais utilizados na construção

(ANDRADE, 2002).

Figura 3: Modelo de biodigestor chinês.

Fonte: DEGANUTTI, 2002.

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3.1.2.2. Modelo Indiano

O modelo Indiano (Figura 4) caracteriza-se por possuir duas câmaras

longitudinais, uma utilizada para a digestão e uma para o deposito de gás móvel, o

que faz com que o material em fermentação fique em circulação no interior do

biodigestor.

A câmara de depósito de gás móvel flutua diretamente sobre o lodo de digestão,

o que permite o controle da pressão do gás no seu interior (DA ROCHA JR., 2013).

Quando o biogás é produzido e não é consumido, a câmara de depósito de gás

expande-se, fazendo com que a pressão interna não se altere (DEGANUTTI et al.,

2002).

Segundo Andrade (2002), este modelo de biodigestor apresenta uma vida útil

curta, cerca de cinco anos, e um custo de produção elevado, por necessitar de um

gasômetro de metal. Geralmente ocorre a corrosão do gasômetro, o que torna

necessário a manutenção e pintura desta peça, periodicamente, por isso apresentam

um alto custo de manutenção.

Figura 4: Modelo de biodigestor indiano.

Fonte: DEGANUTTI, 2002.

Segundo Fernandes (2012), o modelo chinês e o modelo Indiano são os mais utilizados para uso agrícola.

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3.1.2.3. Modelo Canadense

O modelo Canadense, também conhecido como modelo da marinha (Figura 5),

apesar de ser o mais moderno e avançado, apresenta um baixo custo de implantação

e facilidade de transporte, se comparado com os outros dois modelos (DA ROCHA

JR., 2013).

Este é um modelo de biodigestor de fluxo tubular, com uma base retangular

construída em alvenaria, largura maior que a profundidade, possui um gasômetro feito

em manta flexível de policloreto de vinila (PVC), que fica exposto ao sol. Essa

exposição do gasômetro ao sol é ideal para regiões de clima quente, uma vez que o

aumento da temperatura interna contribui para a produção de biogás (CUNHA, 2007).

A construção deste biodigestor pode ser feita diretamente sobre o terreno. Este

modelo é de fácil limpeza e apresenta um baixo custo de manutenção (ANDRADE,

2002).

Figura 5: Modelo de biodigestor canadense.

Fonte: DEGANUTTI, 2002.

As etapas de produção do biogás estão sucintamente apresentadas nos

subitens abaixo.

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3.1.3. PREPARAÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA

A princípio a matéria orgânica que irá sofrer a digestão anaeróbica, dentro do

biodigestor, deverá passar por um tratamento. Este tratamento inicia-se com a

decantação dos resíduos, dentro de uma caixa de carga e decantação. O processo

tem como finalidade eliminar contaminantes sólidos, como plásticos ou vidros e ao

mesmo tempo tornar o resíduo orgânico mais suscetível a degradação, de modo que,

os resíduos sólidos ficam no fundo da caixa e apenas a parte liquida irá para o

biodigestor (MOHSENI, 2012).

A alimentação do biodigestor pode ocorrer de duas formas diferentes,

dependendo do regime de operação do biodigestor escolhido. Os regimes de

alimentação podem ser:

em batelada: os biodigestores trabalham em ciclos de alimentação,

degradação anaeróbica e descarte. Ocorre quando a biomassa coletada

é encaminhada para o biodigestor em períodos longos, geralmente de

30 em 30 dias.

contínuo: a biomassa coletada é encaminhada para o biodigestor

diariamente, fazendo com que a entrada e saída de efluentes ocorra de

forma simultânea. Este tipo de alimentação é comum nos biodigestores

dos modelos Chinês e Indiano.

3.1.4. DIGESTÃO ANAERÓBICA

Uma vez dentro do biodigestor, começa a ocorrer o processo de degradação

da biomassa oriunda dos dejetos suínos. Este processo se dá por meio de várias

etapas (Figura 6), dentre as quais se destacam a hidrólise, acidogênese, acetogênese

e metanogênese.

A hidrólise é a primeira etapa do processo de digestão anaeróbica, durante a

qual ocorre a decomposição dos materiais particulados complexos (carboidratos,

lipídios, proteínas), em materiais menores, mais simples e solúveis ao meio aquoso.

Na acidogênese ocorre a metabolização dos aminoácidos e açúcares oriundos da fase

anterior. Esta etapa ocorre no interior do biodigestor com a presença das bactérias

fermentativas, transformando-os produtos em compostos mais simples. Já a etapa de

acetogênese funciona como uma etapa intermediária, pois nesta etapa ocorre a

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oxidação do substrato, tornando-os apropriados para as bactérias metanogênicas. Por

fim, na etapa de metanogênese ocorre a degradação anaeróbica dos compostos

orgânicos em metano, dióxido de carbono e outros gases (BITTON, 2005)

Figura 6: Etapas da degradação anaeróbica.

Fonte: BITTON, 2005.

Por último, como consequência do processo de biodigestão anaeróbica têm-se

dois produtos, um na forma líquida (biofertilizante ou digestato) e outro na forma

gasosa (biogás).

3.2. BIOFERTILIZANTE

Ao final do processo de produção de biogás, a parte liquida que fica no interior

do biodigestor é chamada de biofertilizante e possui uma carga orgânica estabilizada

e um grande poder fertilizante. Este produto pode ser utilizado na agricultura como

adubo enriquecendo o solo. Barreira (2003) comenta que o biofertilizante possui um

pH levemente alcalino, aproximadamente 7,5, e o seu uso pode reduzir a acidez do

solo, podendo assim aumentar a sua produtividade, melhorando suas qualidades

físicas, químicas e biológicas.

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De acordo com Seganfredo (2008) a carga orgânica dos biofertilizantes é rica

em nutrientes que possuem a mesma função que os fertilizantes químicos. Além disso,

o excesso de adubação química causa mineralização do solo, o que provoca a erosão

(SGANZERLA, 1983). Dessa maneira, a principal vantagem do biofertilizante, além da

redução dos custos da propriedade com fertilizantes de origem química é o

enriquecimento do solo sem causar efeitos colaterais.

3.3. COMPOSIÇÃO DO BIOGÁS

A composição do biogás, segundo Sganzerla (1983) pode variar um pouco de

acordo com o tipo e quantidade de biomassa utilizada, fatores climáticos e dimensões

do biodigestor, dentre outros fatores. Os valores médios das frações de gases que

compõem o produto – dióxido de carbono, metano e outros – estãp apresentados na

Figura 7.

Figura 7: Composição do biogás.

Fonte: BLEY JR., 2015.

Amaral (2004) afirma que a combustão do biogás é uma medida fundamental

para mitigar o efeito estufa, pois, a sua combustão transforma o metano em dióxido

de carbono, evitando assim que o metano, gás de efeito estufa com capacidade

poluidora 21 vezes maior que o dióxido de carbono, seja lançado diretamente na

atmosfera.

CH4

59%

CO2

40%

OUTROS GASES1%

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Como o biogás é composto, principalmente de metano, a sua combustão

completa pode ser representada da seguinte forma:

CH4(g) + 2O2(g) → CO2(g) + 2H2O(g) + Calor (1)

Nas condições padrão de 25 ⁰C e 1 atm a reação de combustão completa do

metano libera cerca de 191,755 kcal mol-1 de energia. Segundo Cassini (2003) a

Equação 1 confirma o valor do metano como combustível, já que é uma substância

que reage com oxigênio (ou outro comburente) liberando energia na forma de calor,

chamas e gases.

O biogás apresenta uma ampla gama de utilização como fonte energética. A

energia química do gás pode ser convertida em energia mecânica, por meio de um

processo controlado de combustão, posteriormente, essa energia mecânica pode ser

utilizada diretamente para a produção de eletricidade. Por meio de um sistema de

conversão motor-gerador, pelo qual a energia química contida no gás será convertida

em energia mecânica, no motor, e utilizada para ativar o gerador, assim produzindo

energia elétrica. A energia elétrica produzida pode ser utilizada para um consumo

próprio, garantindo a autossuficiência da produção ou em um sistema de geração

distribuída, onde o excedente de energia elétrica produzida na unidade de suínos é

utilizado para deduzir as despesas em contas de energia, desde que seja da mesma

concessionaria e com o mesmo Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou com o mesmo

Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) (MAPA, 2016). O biogás pode ainda

ser purificado e utilizado para a obtenção de biometano e ser utilizado como gás

natural veicular (BLEY, JR., 2015).

3.4. POTENCIAL DE PRODUÇÃO NACIONAL

Segundo Bley Jr. (2015), não existem ainda no Brasil estatísticas suficientes

que atestem quanto ao potencial total de biogás produzido. No entanto, por meio de

cálculos especulativos, pode-se considerar que apenas o setor pecuário gere um

volume de biogás que pode chegar a 10% do total da matriz de combustível brasileira.

A Tabela 1 indica os valores da produção potencial de biogás (milhões de m3) para o

setor pecuário.

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Tabela 1: Potencial de produção brasileira de biogás (milhões de m3) no setor pecuário.

CATEGORIA

ANIMAL JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

FRANGOS 158,7 139 152,2 126,6 142,3 141 155,6 160,3 151,2 159 151,5 161,2

LEITÕES 24,2 22 25,1 23,7 24,4 24 24,6 24,7 22,9 23,9 23,5 24,7

SUÍNOS ADULTOS

58 55,9 62,6 65 67,9 65,4 67,9 67,2 65,9 67,8 63,9 66,6

VACAS PRODUZINDO

362,8 327 362,8 351,1 362,8 351,1 362,8 362,8 351,1 362,8 351,1 362,8

BOVINOS 79,1 715 79,1 76,6 79,1 76,6 79,1 79,1 76,6 79,1 76,6 79,1

BOVINOS ABATIDOS

40,9 33,1 44,2 37,1 46,2 43,5 44,3 47,5 43,3 45,9 42,5 44,8

TOTAL MENSAL 714,8

TOTAL ANUAL 8.577,8

Fonte: BLEY JR., 2015.

Pela Tabela 1 tem-se que o setor pecuário apresenta um potencial gerador de

8.577,8 milhões de m3 de biogás por ano. Apenas a criação de suínos apresenta o

potencial de gerar 1.061,8 milhões de m3 de biogás por ano. Esses dados são

especulativos, uma vez que não se tem um cadastro completo de todas as unidades

produtoras de animais no país. Tampouco se tem um cadastro completo com relação

as unidades produtoras que fazem uso de biodigestores para o tratamento dos

resíduos sólidos produzidos pela atividade pecuária.

A Figura 8, mostra a quantidade de unidades rurais que fazem o uso de

biodigestores para o tratamento dos resíduos sólidos. Apesar desse cadastro ser bem

completo ele não abrange a maioria das que fazem uso de biodigestores.

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Figura 8: Unidades rurais cadastradas que fazem o uso de biodigestores.

Fonte: CIBiogás, 2016.

3.4.1. Comparação do Biogás com Combustíveis Convencionais

Utilizando a metodologia proposta por Barrera (1993) e Gaspar (2013) é

possível fazer uma comparação entre o biogás e outros tipos de combustíveis. Tal

comparação é mostrada na Tabela 2.

Tabela 2: Comparação entre o biogás e outros combustíveis

Combustíveis 1 m3 de biogás equivale a

Lenha (kg) 1,536 Eletricidade (kW) 1,428

Gás Natural Veicular (m3) 0,53 Fonte: Adaptado de BARRERA (1993).

O biogás produzido pode ser utilizado diretamente para a produção de

eletricidade utilizando um sistema de conversão, motor-gerador. Considerando o

panorama nacional da produção de biogás de 8.577,8 m3 por ano e o seu uso direto

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para a produção de eletricidade, este valor transformado em energia elétrica equivale

a aproximadamente 12 terawatt-hora/ano, o que representa cerca de 2% do consumo

médio brasileiro, presumido em 50 terawatt-hora /ano de energia elétrica (BLEY JR.,

2015).

Para a utilização veicular é fundamental refinar o biogás, isto porque a indústria

automobilística exige um produto de qualidade, isento de impurezas e de alto valor

energético para ser utilizado como combustível. Qualidade essa que não pode ser

exigida do biogás, independente da biomassa a ser digerida, já que em sua

composição sempre terá gás metano, gás carbônico e gases traço (como o gás

sulfídrico), que podem provocar elevada corrosão e até a destruição de um motor

(GOULDING, 2012). Portanto, para o uso veicular é necessário a retirada dos gases

traços e do gás carbônico, com o objetivo de aumentar o poder calorífico do gás, o

que pode acarretar em uma maior autonomia ao veículo.

Em outras palavras, para o uso veicular, é necessário a purificação do biogás

até se obter o biometano, o qual de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás

Natural e biocombustíveis - ANP, em sua Resolução Nº 8, de 30.1.2015, é

considerado um biocombustível gasoso constituído essencialmente de metano.

Utilizando o coeficiente de equivalência energético apresentado na Tabela 2,

tem-se que 1 m3 de biometano (biogás purificado) equivale a 0,53 m3 de gás natural,

estimando que toda a produção anual de biogás fosse tratada para ser utilizada como

gás natural veicular (GNV), isso representaria 4,5 bilhões de m3 de GNV no período

de um ano.

3.5. ASPECTOS LEGAIS E REGULAMENTAÇÃO DO BIOGÁS NO BRASIL

No Brasil para que a energia elétrica gerada pela conversão do biogás possa

ter acesso ao sistema de distribuição, esta deve atender as especificações exigidas

pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), em sua resolução normativa

482/2012. Do mesmo modo, para a utilização do biometano como biocombustível

gasoso e o seu uso como GNV, ele deverá atender as especificações criadas pela

ANP, em sua resolução n⁰ 8 de 30.1.2015.

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3.5.1.Resolução 482/2012 da ANEEL

Uma das grandes vantagens da utilização de biodigestores é a conversão do

biogás gerado em energia elétrica. No entanto, no Brasil, para que essa energia

elétrica possa ter acesso ao sistema de distribuição ela deve atender as

especificações exigidas pela ANEEL, em sua resolução normativa 482/2012. Essa

resolução estabelece as condições gerais para que ocorra o acesso da unidade

produtora, seja ela caracterizada como uma microgeração (unidade geradora com

potência instalada de até 75 kW) ou uma minigeração (unidade geradora com potência

instalada superior a 75 kW e inferior a 3 MW) aos sistemas de distribuição da

concessionaria de energia elétrica local.

Ainda de acordo com a resolução normativa 482/2012 o produtor será

beneficiado pela energia injetada no sistema de distribuição pelo sistema de

compensação de energia elétrica. Esse sistema contabiliza a energia injetada e a

caracteriza como um título de empréstimo gratuito para a distribuidora, passando a

unidade produtora a ter um crédito em quantidade de energia ativa a ser consumida

por um prazo de 60 dias. Assim, o produtor poderá fazer uso dos créditos gerados

para reduzir o valor pago pelo consumo de sua unidade, sendo os créditos válidos por

um período de 60 dias.

3.5.2. Resolução Nº 8 de 30 de janeiro de 2015 da ANP

Criada em 1997 por meio da Lei 9.478, a ANP é uma entidade da administração

federal indireta que tem como finalidade a regulação, contratação e fiscalização das

atividades integrantes da indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis.

Portanto, o biometano por ser considerado um biocombustível derivado da purificação

do biogás deve passar pela regulação e fiscalização da ANP.

A resolução número 8 de 30 de janeiro de 2015, criada pela ANP, tem como

objetivo estabelecer as especificações necessárias para que o biometano oriundo de

produtos e resíduos orgânicos agrossilvopastoris e comerciais possa ser destinado ao

uso como GNV e as instalações elétricas e comerciais.

Após a transformação do biogás em biometano, este deverá apresentar em sua

composição valores entre (90-96) % mol de CH4 e (0-3) % mol de CO2. De acordo

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com a resolução Nº 8/2015 da ANP, uma vez que a composição do biometano respeite

os limites da Tabela 3, este será tratado de forma análoga ao gás natural, tornando-

se assim, um potencial substituto para o gás natural nas suas diversas aplicações.

Tabela 3: Tabela de especificação do biometano segundo ANP.

Fonte: Adaptado da Resolução ANP número 8, de 30 de janeiro de 2015.

3.6. MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL) E O MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO

Objetivando a redução das emissões de gases que agravem o efeito estufa, o

Protocolo de Quioto determinou que os países estabeleçam programas de redução

da poluição dentro de seus territórios. Para que isto ocorra foi proposto três

mecanismo para auxiliar os países em suas metas ambientais. O primeiro mecanismo

prevê a criação de parcerias entre países na criação de projetos ambientais, o

segundo dá o direito aos países desenvolvidos de comprarem “créditos” dos países

que poluem pouco, o terceiro mecanismo, o único que se aplica ao Brasil é o

Mecanismo de desenvolvimento Limpo (MDL).

O MDL está previsto no artigo 12 do Protocolo de Quioto, no qual foi

estabelecido para conceder créditos (forma de reduções certificadas de emissões –

RCEs) para projetos que reduzam ou evitem emissões nos países em

desenvolvimento. Este envolve ainda a comercialização dos créditos de carbono

(certificados) entre os países em desenvolvimento e desenvolvidos. A Figura 9 mostra

a quantidade de projetos MDL relacionados a produção de suínos ativos no Brasil.

CARACTERÍSTICA LIMITE

Máximo

UNIDADE

Metano 96,5 mín.

% mol.

Oxigênio 0,5 % mol.

CO2 3,0 % mol.

CO2+O2+N2 3,5 % mol.

Enxofre Total 70 mg/m3

Gás Sulfídrico (H2S)

10 mg/m3

Ponto de orvalho de água a 1 atm

-45 ºC

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Figura 9: Quantidade de projetos MDL no Brasil relacionados a suinocultura.

Fonte: CETESB, 2016.

De acordo com Felipetto (2007) as principais vantagens com o MDL são:

melhoria da qualidade ambiental com o uso de tecnologias limpas, a modernização

das atividades produtivas, além do aumento de investimento de países estrangeiros.

Porém para que um projeto seja elegível no âmbito do MDL, ele deve atender os

seguintes critérios: participação voluntaria; aprovação do pais de origem; atendimento

aos objetivos de desenvolvimento sustentável; redução das emissões de forma

adicional ao que ocorreria na ausência da atividade de projeto MDL; contabilização

das emissões que ocorrem fora dos limites do projeto; consulta a todos os atores que

sofrerão os impactos das atividades do projeto; garantia de não causar impactos

colaterais negativos ao meio ambienta local; produção de benefícios mensuráveis

relacionados com a mitigação da mudança do clima; relação com os gases e setores

definidos no Anexo A do Protocolo de Quioto ou com atividades de projetos de

reflorestamento e florestamento.

A fim de que o projeto receba a certificação das Nações Unidas e seja

classificado como um projeto MDL e suas atividades resultem em RCEs, o mesmo

deve passar pelas seguintes etapas do Ciclo do Projeto: elaboração do Documento

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de Concepção do Projeto; validação pela Entidade Operacional designada (EOD);

aprovação pela autoridade Nacional Designada (AND); registro no Conselho

Executivo do MDL; monitoramento; Verificação e certificação pela Entidade

Operacional Designada; Emissão das RCEs pelo Concelho Executivo do MDL;

(FELIPETTO, 2007).

Dentro do Documento de Concepção do Projeto deve ser feita a descrição das

atividades, os participantes do projeto e a descrição das metodologias: de linha de

base, do monitoramento, para o cálculo da redução de emissões de gases de efeito

estufa, para o estabelecimento dos limites das atividades de projeto, para o cálculo

das fugas. O Documento de Concepção do Projeto deve conter ainda, a definição do

período de obtenção de créditos, a justificativa para a adicionalidade da atividade de

projeto, o Estudo de Impactos Ambientais (EIA), o Relatório de Impacto Ambiental

(RIMA) e informações quanto a utilização de fontes adicionais de financiamento

(FELIPETTO, 2007).

Sendo o projeto validado pelo EOD e aprovado pelo AND ele será registrado

no Conselho Executivo do MDL e seguira paras as fases de monitoramento,

verificação/certificação e concessão das RCEs.

A linha de base de um projeto MDL representa as emissões de gases de efeito

estufa por fontes que ocorreriam na ausência do da atividade do projeto proposto. A

linha de base deve ser calculada para cada projeto MDL, com uma metodologia

aprovada pelo Conselho Executivo do MDL. As RCEs são calculadas pela diferença

entre as emissões no cenário de linha de base e as emissões verificadas em

decorrência das atividades do projeto de MDL.

Por convenção, cada tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) não

emitida ou retirada da atmosfera por um pais em desenvolvimento, corresponde a um

credito de carbono, que poderá ser comercializado no mercado créditos de créditos

de carbono.

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4. METODOLOGIA

Este trabalho pode ser classificado como exploratório e descritivo, pelo fato de

envolver pesquisa bibliográfica, análise documental e estudo de caso. De acordo com

Trivinos (1987), a pesquisa descritiva busca apresentar os fatos e fenômenos de

determinada população, enquanto a pesquisa exploratória busca proporcionar uma

maior finalidade, tornando mais explícita a problemática.

Inicialmente, foi realizado um levantamento bibliográfico exploratório em artigos

publicados em revistas científicas, teses, dissertações e livros que abordassem como

tema não só a produção de suínos no Brasil e a cadeia produtiva do biogás em

propriedades rurais – com as possíveis formas de uso para o biogás - mas também a

degradação ambiental causada pela suinocultura e a possibilidade de redução da

emissão de gases produzidos pelos dejetos. Esta pesquisa inicial serviu para criar

uma maior familiaridade com o tema proposto e assim desenvolver os objetivos

específicos. Documentos legais, como leis e pareceres jurídicos que examinaram o

tema da punição pela degradação ambiental e a criação de mecanismos de

desenvolvimento limpo também foram alvo da pesquisa.

A abordagem escolhida para o estudo de caso foi a de pesquisa quantitativa,

onde a amostra de 5000 suínos – matriz produtiva da granja Nápoles, localizada no

município de Toledo, oeste do estado do Paraná - foi considerada como base,

objetivando os cálculos referentes ao potencial de produção de biogás.

Posteriormente foi analisada a viabilidade econômica para implantação de um

empreendimento que visasse o tratamento dos dejetos oriundos da produção de

suínos para a produção de biogás e sua conversão para energia elétrica.

Após o levantamento bibliográfico, foi feito o cálculo da produção de biogás

produzido pela unidade em estudo. Este cálculo foi realizado com base em duas

metodologias, sendo a primeira utilizada pelo Centro Nacional de Referência em

Biomassa (CENBIO) e a segunda utilizada pelo Intergovernmental Panel on Climate

Change (IPCC).

Para a realização da análise econômica buscou-se fazer um levantamento

acerca do investimento inicial necessário para a compra e instalação dos

equipamentos. Também foi feita uma análise a respeito dos custos e benefícios

gerados pelo funcionamento da planta, na qual foram avaliados os custos com mão-

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de-obra, depreciação e manutenção dos equipamentos, bem como os juros sobre o

capital investido e as receitas geradas pelo projeto.

Por fim, foram analisados os índices financeiros e econômicos, o Payback, o

Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR) para assim concluir

acerca da viabilidade do empreendimento.

4.1. OBJETO DE ESTUDO

O estudo realizado no presente trabalho foi feito utilizando dados de uma

propriedade rural da cidade de Toledo, na região oeste do estado do Paraná.

Considerada a capital do agronegócio do Paraná, o município de Toledo apresenta

um clima subtropical úmido, com temperatura média anual de 21 ºC e uma

precipitação média anual de 155 mm por ano (TOLEDO, 2009).

Figura 10: Imagem de satélite do município de Toleto – PR. Fonte: Google Maps (2016)

A granja Nápoles é considerada uma produtora de médio porte com 5000

suínos que são criados em unidade de terminação (Figura 11). O ciclo produtivo dos

animais na fazenda se inicia com a compra dos leitões, os quais chegam na fazenda

com aproximadamente 25 kg, oriundos de uma unidade de produção de leitões (UPL),

permanecendo em regime de engorda até a sua terminação, momento no qual os

animais atingem aproximadamente 130 kg.

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Os animais são criados em confinamento total, em instalações abertas

lateralmente, com cobertura de telhas de fibrocimento. Atualmente não há tratamento

para os dejetos dos suínos. É proposto por este trabalho a utilização do biodigestor

como forma de tratamento para os dejetos dos suínos, para a geração de energia

elétrica e diminuição do passivo ambiental. Ressalta-se que, apesar da granja possuir

outros animais, apenas os resíduos da criação de suínos serão tratados no

biodigestor.

Figura 11: Granja produtora de suínos.

Fonte: CIBiogas, 2016.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. CÁLCULO DA PRODUÇÃO ANUAL DE BIOGÁS

Após um levantamento bibliográfico a respeito das diferentes metodologias

para o cálculo do potencial de produção de biogás, chegou-se ao modelo utilizado

pelo CENBIO e ao modelo utilizado IPCC. Ambos os modelos estão mostrados nos

tópicos seguintes e os resultados obtidos com os dados da granja estão comparados

ao final.

A fim de avaliar o potencial de produção de biogás na granja Nápoles foi

considerado que todos os animais (5.000 suínos) são criados em regime de engorda.

Dentro deste sistema o peso dos animais varia de 25 kg na entrada (quando chegam

a granja) até 130 kg na saída (abate), desta maneira será considerado um peso médio

de 77,5 kg.

5.1.1. Modelo CENBIO

Este modelo se baseia, basicamente, na produção (quantidade de animais) e

na quantidade de dejetos produzidos. Segundo Oliveira (1993) a quantidade de

dejetos produzido por um suíno é um dado fundamental para a estimativa de

produção, e depende da fase de desenvolvimento do suíno. Como afirmado

anteriormente, neste trabalho foi considerado que os suínos apresentam em média

77,5 kg, e que ainda, de acordo com Oliveira (1993), um animal deste porte produz

cerca de 2,3 kg/dia de dejetos (Tabela 4).

Tabela 4: Estimativa do peso médio dos dejetos produzidos para as diferentes fases de

maturação dos suínos.

CATEGORIA ESTERCO (Kg/dia)

Suínos 25 a 100kg 2,3

Porcas gestação 3,6

Leitões na Creche 0,35

Fonte: Adaptado de OLIVEIRA (1993).

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Para o cálculo da quantidade total de dejetos produzidos na granja, utiliza-se a

Equação 2:

𝑄𝑑𝑒𝑗𝑒𝑡𝑜𝑠 = 𝑁𝑎𝑛𝑖𝑚𝑎𝑖𝑠 × 𝑀𝑑𝑒𝑗𝑒𝑡𝑜𝑠 (2)

sendo:

Qdejetos: quantidade de dejetos produzidos diariamente (kg/dia);

Nanimais: número de animais criados (5.000 animais);

Mdejetos: média de dejetos produzidos por animal (2,3 kg/dia).

Assim, utilizando a Equação 2 temos que a quantidade de dejetos produzidos

por dia é de aproximadamente 11.500 kg.

Barreira (1993) afirma, que no caso de dejetos suínos como matéria prima, a

produção de 1 m3 de biogás requer 12 kg de dejetos. Sendo assim, pode-se calcular

a quantidade de biogás gerado diariamente pela Equação 3:

𝑉𝐵𝑖𝑜𝑔á𝑠 =𝑄𝑑𝑒𝑗𝑒𝑡𝑜𝑠

12 (3)

sendo:

VBiogás: volume de biogás produzido diariamente (m3/dia);

Qdejetos: quantidade de dejetos produzidos diariamente (kg/dia).

Para uma criação de 5.000 suínos, temos que a quantidade de biogás gerado

diariamente é de aproximadamente 958,3 m3. No entanto, segundo Monteiro (2015)

deve-se considerar que os biodigestores, em geral, podem apresentar falhas em seu

processo, por isso deve-se levar em consideração possíveis perdas de gases para a

atmosfera. Ainda de acordo com o autor, o potencial de falha pode variar de 22% até

27%. Para este trabalho o potencial de falha adotado foi de 22%, sendo assim o

cálculo do volume diário de biogás produzido será calculado pela Equação 4:

𝑉 = 0,78 × 𝑉𝐵𝑖𝑜𝑔á𝑠 (4)

Assim o valor corrigido para a produção diária de biogás como sendo 747,5 m3

de biogás.

A produção anual poderá ser estimada multiplicando a Equação 4 pelo tempo

de disponibilidade da planta. Considerando que a disponibilidade dos dejetos é

constante e que o biodigestor pode injetar biogás no grupo gerador durante todo o

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26

ano, porém é necessário a manutenção periódica dos processos (biodigestor ou grupo

gerador) para a preservação e prolongamento da vida útil dos equipamentos. Assim,

ao considerar que o tempo de funcionamento da planta (Tdisponibilidade) será de 300 dias

por ano, funcionando numa média de 25 dias por mês (Equação 5)

𝑉𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 = 𝑉𝐵𝑖𝑜𝑔á𝑠 × 𝑇𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (5)

A produção estimada anual será de 224.250,00 m3 de biogás/ano.

5.1.2. Modelo IPCC

De acordo com os procedimentos especificados no Guia de Boas Práticas

sobre Gases de Efeito Estufa (GEEs) do IPCC nível 2, a quantidade de metano

liberada para a atmosfera é influenciada pela quantidade de dejetos produzidos por

animal e a fração desses dejetos que se decompõe anaerobicamente depende de

como os dejetos são manejados.

A seguir foi apresentado o memorial de cálculo da produção de biogás (Vbiogás),

em m3/ano. Todos os cálculos foram realizados com base no IPCC (2006), utilizando

a metodologia, AMS.III.D versão 14 – captura de metano em sistemas de gestão de

dejetos animais da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima

(UNFCCC).

Primeiramente, foi calculado a quantidade de sólidos voláteis da população

estudada (VSLT,y). Este cálculo deve ser realizado para cada categoria de suíno, uma

vez que as tabelas apresentadas, no anexo 10.A.2 do capítulo 10 do volume 4 do

IPCC (2006), estão divididas de acordo com o tipo de criação do animal.

Para os devidos fins deste trabalho está sendo considerada que toda a criação

da granja Nápoles é criada em regime de engorda (abate), então apenas a Tabela

10A-7 (Anexo I) foi considerada.

𝑉𝑆𝐿𝑇,𝑦 = (𝑊𝑙𝑜𝑐𝑎𝑙

𝑊𝑝𝑎𝑑𝑟𝑎𝑜) × 𝑉𝑆𝑝𝑎𝑑𝑟𝑎𝑜 × 𝑛𝑑𝑦 (6)

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27

onde:

VSLT,y = sólidos voláteis da população “LT” no sistema de manejo de dejeto

animal no ano “y” (com base no peso da matéria seca, kg de matéria

seca/animal/ano);

Wlocal = peso médio dos animais da população em estudo (Wsite =77,5 kg);

Wpadrao = peso médio do animal de uma população definida. Esse dado é

retirado do IPCC (2006) e vale 50 kg;

VSpadrao = valor padrão para a taxa de excreção de sólidos voláteis por dia com

base na matéria seca para uma população definida (kg matéria

seca/animal/dia), para os suínos de corte VSpadrao = 0,27.

ndy = número de dias no ano em que a estação esteve em funcionamento (300

dias);

Na Tabela 5 estão apresentados os dados utilizados, assim como o resultado do

cálculo dos sólidos voláteis.

Tabela 5: Resultado para o cálculo do valor dos sólidos voláteis.

Wlocal

Wpadrao

VSpadrao

(kg matéria

seca/animal/dia)

ndy

(dias)

VSLT,y

(Kg de matéria

seca/animal/ano)

Granja Nápoles 77,5 kg 50 kg 0,27 300 125,55

Em seguida, foi possível determinar a produção de biogás na granja Nápoles.

O cálculo foi feito utilizando a Equação 7. O resultado para o cálculo da produção está

apresentado na Tabela 6.

𝑉𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠 = 𝑁𝐿𝑇,𝑦 × 𝑉𝑆𝑙𝑜𝑐𝑎𝑙 × 𝑀𝑆%𝐵𝐼.𝑗 × 𝑛𝑑𝑦 × 𝐵𝑆𝑉 × 0,78 (7)

onde:

NLT,y = número médio de animais do tipo “LT” no ano “y” (NLT,y = 5.000, para a

granja estudada).

VSlocal = razão entre VSLT,y e o ndy.

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MS%BI,j = fração do dejeto manipulada no sistema de manejo “j” da linha de

base. Considerando que 100% do esterco suíno produzido é encaminhado para

o tratamento (MS%BI,j = 1).

ndy = número de dias no ano em que a estação esteve em funcionamento (300

dias);

BSV = valor da taxa de biogás por sólidos voláteis (0,45 m3 biogás/ kg de SV).

Tabela 6: Resultados para o cálculo da produção anual de biogás (modelo IPCC,2006).

NLT,y VSlocal

(kg matéria

seca/ dia)

ndy

(dias de

operação da

planta)

MS% BSV

(m3biogas/kg

material seco)

Vbiogas

(m3biogás/ano)

Granja Nápoles 5000 0,4185 300 1 0,45 220.340,25

5.1.3. Comparação entre o Modelo CENBIO e o modelo IPCC

A partir dos resultados obtidos nos modelos matemáticos foi possível comparar

os resultados dos cálculos para a produção de biogás (Tabela 7).

Tabela 7: Comparação entre os modelos para a produção anual de biogás.

Modelos Produção Anual de Biogás (m3/ano)

CENBIO 224.250,00

IPCC 220.340,25

Apesar do modelo IPCC ter apresentado a menor estimativa este apresenta um

resultado mais preciso, já que as equações são utilizadas para cada categoria de

suíno e depende, além da quantidade de animais e dejetos produzidos, da forma pela

qual os dejetos são manejados (fração que se decompõe anaerobicamente).

De agora em diante, para dar continuidade ao presente trabalho, apenas o valor

calculado pelo Modelo IPCC para a produção anual de biogás foi considerado.

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5.2. CALCULO DA QUANTIDADE DE CARBONO EQUIVALENTE

5.2.1. Potencial de Dano Global

De acordo com Signorini (2008), o potencial de dano global (GWP) permite

saber o quanto de dano ambiental foi gerado pela emissão de cada um dos gases de

efeito estufa. Em outras palavras o GWP significa o quanto um gás aumenta o efeito

estufa, se comparado com a mesma quantidade de CO2 emitida ao mesmo tempo.

Ter conhecimento desse potencial é essencial para a estimativa da quantidade de

carbono equivalente evitado, uma vez que a quantidade de carbono equivalente pode

ser definida pela Equação 8:

𝐶𝑂2𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝐺𝑊𝑃𝑟𝑒𝑙𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 × 0,2727 (8)

onde, 0,2727 é a quantidade de carbono equivalente referente a 1 kg de CO2.

Segundo Signorini (2008) a molécula de metano tem um potencial de causar danos

ao meio ambiente 21 vezes maior que o dióxido de carbono, o que implica dizer que

1 kg de metano tem o mesmo efeito que 21 kg de dióxido de carbono - ou seja

GWPmetano = 21.

5.2.2. Reduções de Emissões do Projeto

A quantidade de emissões do projeto foi determinada de acordo com a

metodologia AMS-IIID, IPCC(2006). De acordo com a metodologia, primeiramente foi

calculado as emissões de linha de base (BEy), utilizando a Equação 9. A Equação 9

leva em consideração o uso da quantidade de esterco animal, que na ausência do

projeto, se decomporia anaerobicamente, emitindo assim metano para a atmosfera.

𝐵𝐸𝑦 = 𝐺𝑊𝑃𝐶𝐻4 × 𝜌𝐶𝐻4 × 𝑈𝐹𝑏 × ∑ 𝑀𝐶𝐹𝑗𝑗,𝐿𝑇 × 𝐵0,𝐿𝑇 × 𝑁𝐿𝑇,𝑦 × 𝑉𝑆𝐿𝑇,𝑦 × 𝑀𝑆%𝐵𝐼,𝑗 (9)

onde:

BEy - emissões da linha de base no ano “y”; GWPCH4 - potencial de aquecimento global

(GWP) do CH4; ρCH4 - densidade do CH4 a uma temperatura de 20 ºC e 1 atm de

pressão); MCFj - fator de conversão anual do metano; B0, LT - potencial máximo de

metano produzido pelos sólidos voláteis no dejeto; NLT,y - número médio de animais

do tipo “LT” na granja estudada); MS%Bl,j - fração do dejeto manipulada no sistema de

manejo “j” da linha de base; UFb - fator de correção para incertezas; LT - índice para

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todos os tipos de populações de animais; j - índice do sistema de manejo de dejetos

do animais.

Conforme as descrições realizadas, os parâmetros e resultados do cálculo da

redução de emissões do projeto estão expressas na Tabela 8.

Tabela 8: Parâmetros e resultados para o cálculo da redução de emissões.

Quantidade de Animais

VSLT,y

(Kg de matéria

seca/animal/dia)

B0, LT

(CH4/kg de

matéria seca)

ρCH4

(t/m3) UFb MCFj GWPCH4 BEy

(tCO2e/ano)

5.000 0,4185 0,45 0,00067 0,94 0,76 21 2.214,77

Os parâmetros foram obtidos no Guia de Boas Práticas sobre Gases de Efeito

Estufa-IPCC(2006), Tabela 10A-7 e variam de acordo com a temperatura média local,

espécie e dieta de cada suíno. Foi considerado que 100% do esterco suíno produzido

na granja é encaminhado para o tratamento, portanto o valor de MS%Bl,j foi adotado

como sendo 1. O cálculo do VSLT,y foi demonstrado na seção 5.1.2, Equação 6.

Analisando a Tabela 8, observou-se que a criação de 5.000 suínos, em regime

de engorda, gerou um valor de 2.214,77 toneladas de gás carbônico por ano base.

5.2.3. Créditos de Carbono

Assumindo que todo o biogás gerado pelo biodigestor será utilizado para a

geração de energia elétrica e o excedente queimado, o projeto conseguirá reduzir,

quase que por completo, a emissão direta de metano, gerado pela atividade de criação

de suínos na granja Nápoles.

Pelo modelo IPCC observou-se que 2.214,77 toneladas de carbono

equivalente deixam de ser lançados na atmosfera anualmente. Valor esse que

deixando de ser liberado diretamente na atmosfera torna-se apto para ser convertido

em créditos de carbono, e posteriormente comercializado, gerando um lucro extra

para o proprietário. Como um crédito de carbono equivale a uma tonelada de carbono

equivalente, obtém-se então 2.214 créditos de carbono gerados.

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5.3. ANÁLISE ECONÔMICA DO EMPREENDIMENTO

A produção de biogás depende das condições de manutenção do biodigestor e

do resíduo (CERVI, 2010). A produção de biogás da Granja Nápoles foi determinada

(modelo IPCC) como sendo de 220.340,25 m3/ano. O biogás produzido será utilizado

diretamente para a conversão de energia elétrica pelo grupo gerador.

Desse modo, para a realização da análise econômica da produção de biogás

para a geração de energia elétrica buscou-se fazer um levantamento acerca do

investimento inicial necessário para a compra e instalação do grupo gerador e do

biodigestor. Também foi feito uma análise dos custos para o funcionamento da planta,

na qual foram levantados os custos com mão-de-obra para a operação da planta,

depreciação e manutenção dos equipamentos, bem como os juros sobre o capital

investido.

As receitas geradas serão referentes ao uso de eletricidade e venda de créditos

de carbono. Com estes fatores estabelecidos, o fluxo de caixa relativo ao

empreendimento foi montado e foi possível determinar os índices financeiros e

econômicos como, Payback, Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno

(TIR) e assim concluir acerca da viabilidade do empreendimento. O Payback é

utilizado para estimar o tempo para a recuperação de um investimento, já o VPL é

utilizado para avaliar a viabilidade do investimento ao longo de determinado período.

5.3.1. INVESTIMENTO INICIAL

O investimento inicial (Tabela 9) engloba as despesas com a compra e

instalação do grupo gerador e do biodigestor. O investimento inicial ainda engloba as

despesas com construção civil, mão de obra e as melhorias com instalações elétricas

para a instalação do grupo gerador.

O grupo gerador escolhido para o projeto foi o modelo GMWM 120, com

capacidade nominal de geração de 96 kVA. O consumo específico de biogás pelo

grupo gerador foi fornecido pelo vendedor e equivale a 66 m3 de biogás/hora. Com

um tempo médio de utilização de 10 horas por dia (das 8 às 18 h), o sistema é utilizado

25 dias por mês, o que ao longo do ano resulta em 3.000 horas de operação e um

consumo de 198.000,00 m3 de biogás/ano.

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Tabela 9: Investimento inicial

INVESTIMENTO INICIAL Valor Inicial(R$)

Grupo Gerador 165,527.00

Biodigestor 85,000.00

Abrigo Gerador 1,672.98

Instalações Elétricas 3,655.23

Mão-de-obra 2,505.00

TOTAL 258,360.20

O biodigestor adquirido é do modelo Canadense e possui 40 metros de

comprimento, 10 metros de largura e 4 metros e em seu preço já está incluso o valor

referente a lagoa secundária, a instalação e o queimador de gás. Na Tabela 9, pode-

se observar que o grupo gerador foi o bem adquirido de maior valor econômico, o

investimento relativo a sua compra representa cerca de 64% de todo investimento

inicial realizado. Sendo assim, as medidas para a manutenção e periodicidade deste

equipamento devem ser cuidadosamente respeitadas para não comprometerem o

projeto.

5.3.2. CUSTOS

A avaliação dos custos foi realizada de forma anual, considerando os custos

fixos e os custos variáveis. Os custos fixos são aqueles que não sofrem alteração,

independente do aumento ou diminuição da produção. Foram assim classificados os

custos referentes à depreciação dos equipamentos e aos juros sobre o capital. Já os

custos variáveis mudam diretamente de acordo com o aumento ou diminuição da

produção. Sendo assim, os custos com manutenção e operação do sistema foram

considerados como sendo variáveis.

5.3.2.1. Depreciação dos Equipamentos

Para o cálculo do custo referente a depreciação dos equipamentos foi utilizado

o método da depreciação linear (Equação 10), que leva em consideração os gastos

com materiais depreciáveis, o valor final do ativo e a vida útil para cada equipamento

comprado. A Tabela 10 especifica o valor de depreciação para cada equipamento

utilizado.

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33

𝐷𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜 𝐴𝑛𝑢𝑎𝑙 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑎 𝑑𝑜 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜−𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜

𝑉𝑖𝑑𝑎 𝑢𝑡𝑖𝑙 (10)

Tabela 10: Custo de depreciação dos equipamentos.

EQUIPAMENTO/MATERIAL VALOR INICIAL (R$)

VIDA ÚTIL (ANOS)

DEPRECIAÇÃO (R$/ano)

Grupo Gerador 165.527,00 10 16.552,70

Biodigestor 85.000,00 12 7.083,33

Abrigo para o Gerador 1.672,98 20 83,65

Instalações Elétricas 3.655,23 10 365,52

TOTAL 24.085,20

Os valores de revenda dos equipamentos não foram obtidos, por isso os

valores finais de cada equipamento não foram considerados para o cálculo de

depreciação.

5.3.2.2. Juros sobre o capital

Para a realização do cálculo dos juros sobre o capital (Tabela 11), foi utilizado

a taxa de desconto do Plano ABC, que de acordo com o Banco Nacional do

Desenvolvimento (BNDES), possui uma taxa de juros de 8,0% ao ano e com prazo de

pagamento de até 10 anos (incluindo carência de até 5 anos), para produtores que se

enquadrem como beneficiários do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor

Rural (BNDES, 2016). De acordo com Bauer (2008) o cálculo dos juros sobre o capital

pode ser calculado pela Equação 11, abaixo.

𝐽𝑢𝑟𝑜𝑠 𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜 𝑛𝑜 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜−𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜

2× 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑗𝑢𝑟𝑜𝑠 (11)

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Tabela 11: Juros sobre o capital investido.

EQUIPAMENTO/MATERIAL VALOR INICIAL (R$)

TAXA DE JUROS (% /ano)

JUROS (R$/ano)

Grupo Gerador 165.527,00 8.00 6.621,08

Biodigestor 85.000,00 8.00 3.400,00

Abrigo para o Gerador 1.672,98 8.00 66,92

Instalações Elétricas 3.655,23 8.00 146,21

TOTAL 10.234,21

5.3.2.3. Manutenção

O levantamento dos custos com manutenção foram feitos com base nas

informações obtidas a respeito dos cuidados e da periodicidade para manutenção de

cada componente do grupo gerador. Os dados estão expressos na Tabela 12.

Tabela 12: Manutenção do grupo gerador

COMPONENTE TEMPO PARA A MANUTENÇÃO

CUSTO DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO

CUSTO ANUAL DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO

Óleo lubrificante Troca do Óleo a cada 100 horas

100,00 3.000,00

Filtro de óleo

Troca do filtro de Óleo a cada 400 horas

55,00 412,50

Sistema de Combustível

Limpeza dos Filtros a cada 200 horas

15,00 225,00

Limpeza da Válvula de gás a cada 2.000 horas

15,00 22,50

Filtro de Ar

Limpeza a cada 1.000 horas 15,00 45,00

Troca do Filtro de Ar a cada 2.000 horas

100,00 150,00

Sistema de Refrigeração

Troca do liquido refrigerante a cada 1.000 horas

330,00 990,00

Alternador

Troca da Correia a cada 1.000 horas

270,00 810,00

Troca dos rolamentos a cada 2.000 horas

170,00 255,00

Rolamento do Gerador

Lubrificar a cada 1000 horas 120,00 360,00

TOTAL 6.270,00

Fonte: Estimativa para tempo de troca de acordo com CERVI (2010), de acordo com as Empresas especializadas locais.

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Os custos com a manutenção dos equipamentos são essenciais para o bom

funcionamento do sistema e o prolongamento da sua vida útil. Apenas o custo de

manutenção do grupo gerador foi considerado por esse ser o equipamento com o

maior número de peças e ser o que requer manutenção.

5.3.2.4. Mão-de-obra para a operação do sistema

A operação da planta ocorre ao longo de 300 dias por ano e exige a presença

de um funcionário responsável pela ignição e desligamento do grupo gerador. Deste

modo, o custo com mão-de-obra para a operação do sistema foi considerado como

sendo o salário pago para um funcionário da granja, ao longo de um ano. Este custo

é de R$8.800,00 reais por ano, considerando o valor do salário mínimo (R$ 880,00)

para o ano de 2016.

5.3.3. RECEITAS

5.3.3.1. Energia elétrica

Os benefícios da geração de eletricidade do grupo gerador foram expostos

como sendo a receita auferida do projeto, renda que se deixa de transferir para a

concessionária, uma vez que a energia elétrica gerada na Granja não é

comercializada, apenas utilizada para consumo próprio. A propriedade possui um

consumo médio de cerca de 12.000 kWh por mês, equivalente a 144.000 kWh/ano e

como a propriedade se enquadra na tarifa B2 rural da Companhia Paranaense de

Energia (Copel), a tarifa por kWh é de cerca de R$0,45 (inclusos os impostos) não

tendo distinção entre horário de ponta ou fora2, e o benefício resultante ao longo de

um ano é de R$ 64.800,00.

2 Horário de ponta, conhecido como o “horário de pico”, é o período durante o qual o consumo

de energia elétrica da região tende a ser maior. Geralmente é composto de 3 horas diárias

consecutivas, definidos pela distribuidora de energia elétrica local. Já o período conhecido

como “horário fora de pico”, é o intervalo de tempo que não o de três horas consecutivas

definidas no horário de ponta.

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5.3.3.2. Créditos de Carbono

Os 2.214 créditos de carbono gerados pelo projeto, podem ser comercializados

no mercado de carbono. Fazendo a projeção para um projeto MDL com duração de

10 anos, as reduções certificadas gerariam cerca de 22.140 tCO2equivalente. De

acordo com o sitio digital Investing.com, no mês de outubro de 2016, os créditos de

carbono foram negociados a 5,5 Euros. No mesmo período a cotação do Euro era de

R$ 3,45. Assim é possível realizar uma estimativa para uma possível receita

proveniente da comercialização desses créditos.

Considerando que os valores recebidos pela venda de créditos de carbono

serão fixados por contrato, valores constantes para um projeto MDL com 10 anos de

duração, ficará em torno de R$ 420.106,00. Subtraindo os custo com consultoria

externa para a validação da granja como um projeto MDL e contrato com a empresa

responsável pelas vendas dos créditos de carbono, estima-se que o lucro do

proprietário será de, aproximadamente, R$38.000,00 por ano.

5.3.4. FLUXO DE CAIXA

Estabelecidos os custos e benefícios do sistema, o fluxo de caixa do projeto

pode ser calculado. Para a modelagem do fluxo de caixa do projeto foi considerado o

intervalo temporal como sendo de dez anos (de 2016 até 2026). Este prazo permite

um horizonte factível para a obtenção e a quitação dos financiamentos com o BNDES

e também para a atração de capital privado. A taxa mínima de atratividade

considerada para o projeto é de 8,0% ao ano, valor igual a taxa de juros aplicada pelo

BNDES.

A Tabela 13 mostra todos os dados referentes aos dez anos do investimento.

Para efeito de cálculo e simulação do processo inflacionário, foram utilizados valores

de 6,5% e 5,5% ao ano como indicadores de inflacionários para o segundo e terceiro

ano de projeto. Para os demais anos foi utilizado um indexador de 4,5% ao ano.

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Tabela 13: Fluxo de caixa completo do projeto.

DADOS Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10

INFLAÇÃO 7% 6,5% 5,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5%

TAXA DE JUROS 8%

INVESTIMENTO 258.360,20

RECEITA OPERACIONAL

ENERGIA ELETRICA 64.800,0 69.012,0 72.807,7 76.084,0 79.507,8 83.085,6 86.824,5 90.731,6 94.814,5 99.081,2

CREDITOS DE CARBONO

38.000,0 38.000,0 38.000,0 38.000,0 38.000,0 38.000,0 38.000,0 38.000,0 38.000,0 38.000,0

RECEITA TOTAL 102.800,0 107.012,0 10.807,6 114.084,0 117.507,7 121.085,6 124.824,4 128.731,5 132.814,5 137.081,1

CUSTO OPERACIONAL

(-) FIXOS Depreciação 24.085,2 25.650,7 27.061,5 28.279,3 29.551,8 30.881,7 32.271,3 33.723,5 35.241,1 36.827,0

Juros 10.234,2 10.899,4 11.498,9 12.016,3 12.557,0 13.122,1 13.712,6 14.329,7 14.974,5 15.648,4

(-) VARIAVEIS Manutenção 6.270,0 6.677,5 7.044,8 7.361,8 7.693,1 8.039,3 8.401,0 8.779,1 9.174,1 9.587,0

Mao de Obra 8.800,0 9.372,0 9.887,4 10.332,4 10.797,3 11.283,2 11.790,9 12.321,5 12.876,0 13.455,4

CUSTO TOTAL 49.389,4 52.599,7 55.492,7 57.989,8 60.599,4 63.326,4 66.176,0 69.154,0 72.265,9 75.517,9

LUCRO NOMINAL 53.410,5 54.412,2 55.314,,9 56.094,1 56.908,3 57.759,2 58.648,4 59.577,5 60.548,5 61.563,2

VALOR PRESENTE (VP) 49.454,2 46.649,6 43.910,7 41.230,8 38.730,8 36.398,1 34.220,7 32.187,9 30.289,3 28.515,7

SALDO DO INVESTIMENTO

208.905,9 162.256,2 118.345,4 77.114,5 38.383,6 1.985,5 32.235,2 64.423,1 94.712,4 123.228,1

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Para os valores referentes a venda de créditos de carbono não foi feito o

reajuste dos preços pelos índices inflacionários, dado que os valores de

comercialização serão fixados por contrato, sem correção pela inflação.

Depois de demonstrado o fluxo de caixa, com projeções para dez anos, foi

possível o cálculo dos índices financeiros e econômicos, Payback, Valor Presente

Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR).

5.3.4.1. Payback

O Payback é uma ferramenta que leva em consideração a distribuição do fluxo

de caixa no tempo e é utilizada a fim de determinar o tempo necessário para a

recuperação de um investimento realizado. Segundo Gitman (2007), o Payback pode

ser considerado uma medida de exposição a risco, já que quanto maior o Payback,

maior o tempo para o retorno financeiro, ou seja, maior o risco.

Baseado no fluxo de caixa da Tabela 13, o Payback calculado foi de 6 anos (72

meses). É possível visualizar na Tabela 13 que o saldo do investimento permanece

negativo até o sexto ano do projeto. Isto quer dizer que o tempo necessário para a

recuperação do investimento está entre o sexto e o sétimo ano de projeto, o que

condiz com o resultado encontrado. O prazo de retorno de 6 anos é satisfatório, se

comparado com outros investimentos no ramo de geração de energia elétrica.

5.3.4.2. Valor Presente Líquido (VPL)

De acordo com Nogueira (2001), o VLP é um indicativo que permite avaliar o

quanto um processo é viável durante sua vida útil. O VLP é dado pela diferença do

valor atual dos benefícios e dos custos. Pode ser calculado utilizando a Equação 12.

𝑉𝑃𝐿 = ∑𝐵𝑖−𝐶𝑖

(1−𝑟)𝑖𝑛𝑖=0 (12)

onde:

Bi é o benefício do projeto, dado em unidades monetárias;

Ci é o custo do projeto, em unidades monetárias;

r é taxa de juros, em %.

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A interpretação dos valores de VPL ocorre da seguinte maneira:

Para valores de VPL > 0, o empreendimento estaria tendo um retorno maior

que o retorno mínimo exigido, sendo assim, o projeto classificado como um projeto

viável. Para VPL = 0, o empreendimento estaria obtendo um retorno exatamente igual

ao retorno mínimo exigido, ou seja, seria indiferente em relação ao projeto. Valores

de VPL< 0, significa que o empreendimento estaria tendo um retorno menor que o

retorno mínimo exigido, sendo assim classificado como um projeto inviável.

O VPL calculado para o projeto foi de R$123.228,19 (cento e vinte três mil

duzentos e vinte e oito reais e dezenove centavos), de acordo com a Equação 12.Tal

resultado comprova a viabilidade do projeto.

5.3.4.3. Taxa Interna de Retorno (TIR)

Segundo Gitman (2005), a Taxa Interna de Retorno (TIR) é uma taxa que anula

o VPL, de outra forma, o TIR iguala VPL de um fluxo de caixa antecipado aos custos

do projeto. Souza e Clemente (2008) propõem a utilização do TIR como medida de

risco, na qual a sua proximidade ou distância em relação a Taxa Mínima de

Atratividade (TMA) pode representar o risco ou a segurança de um projeto. O TIR

pode ser calculado pela equação (13), abaixo:

𝑇𝐼𝑅 = ∑𝐹𝐶𝑖

(1+𝑟)𝑖𝑛𝑖=0 (13)

onde:

FCi é o fluxo de caixa do período i;

i é a duração do projeto;

r é a taxa interna de juros, em %.

A interpretação dos valores de TIR ocorre da seguinte maneira:

Valores de TIR > TMA classificaria o projeto como atrativo e ficando o projeto

classificado como não atrativo para valores de TIR < TMA, o que pode acarretar na

reprovação do projeto, já que a taxa de retorno do investimento estaria sendo menor

que a taxa mínima de atratividade (GITMAN, 2005). Ainda de acordo com Souza e

Clemente (2008), o risco do investimento pode ser melhor visualizado pela razão entre

TMA/TIR em uma escala de 0 a1, na qual 1 representaria o risco máximo. Para os fins

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deste trabalho, foi adotado uma taxa mínima de atratividade (TMA) igual a taxa de

juros, 8,0% ao ano.

A TIR para o investimento foi calculado, utilizando a equação (13), como sendo

de 8,7% ao final do período analisado. Como o TIR é superior a TMA, o projeto é

caracterizado como sendo atrativo, apesar de apresentar um risco alto para

investimento, uma vez que a razão TMA/TIR encontrada foi de 0,92.

Foram simulados cenários de tempo de operação do gerador, para relacionar

o tempo de operação com os indicadores econômicos. Para a elaboração da tabela

(14), que apresenta os dados obtidos para as simulações, foi considerado que a

energia gerada deve ser suficiente para suprir toda a demanda de eletricidade da

propriedade (12.000 kW/mês). Portanto, foi calculado que o tempo mínimo como

sendo de 7 horas para a operação do grupo gerador.

Tabela 14: Simulação para o tempo de operação do grupo gerador

Os dados da Tabela 14 mostram que o Payback e o VPL são diretamente

proporcionais ao tempo de operação do projeto, já a TIR é inversamente proporcional.

Isso ocorre em razão do custo de manutenção decrescer conforme a redução do

tempo de operação. Apesar dos indicadores demonstrarem que o projeto acaba se

tornando mais viável e atrativo, a razão TMA/TIR ainda revela que o investimento

apresenta um alto risco.

Outro cenário simulado foi para a comercialização dos créditos de carbono. O

projeto em nenhum momento, considerando o período de 10 anos, se mostrou viável

e atrativo sem a venda dos créditos de carbono.

Operação Gerador

(Horas/dia)

Energia Gerada

(kW/mês)

Venda de Créditos de

Carbono

Playback (Anos)

VPL (Reais)

TIR TMA/TIR

10 19.250,00 SIM 6,0 123.228,19 8,7% 92%

9 17.325,00 SIM 5,9 128.379,29 9,0% 88%

8 15.400,00 SIM 5,8 133.530,39 9,4% 85%

7 13.475.,00 SIM 5,7 138.681,50 9,7% 82%

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou dentro da conceituação teórica discutir elementos

que justifiquem o emprego do biogás em uma propriedade rural. Tendo o aspecto

ambiental como o principal benefício, o tratamento anaeróbico dos resíduos sólidos

oriundos da atividade pecuária pode proporcionar também benefícios econômicos

para o proprietário rural.

Constatou-se que na unidade em estudo, Granja Nápoles, localizada no oeste

paranaense, cerca de 11.500 kg de resíduos sólidos são produzidos diariamente,

apenas na criação de suínos, e o manejo indevido desses resíduos pode acarretar

tanto a contaminação do lençol freático quanto de leitos de rios próximos, podendo

causar a eutrofização dos mesmos.

Seguindo a tendência dos novos empreendimentos na área de biogás, os quais

são projetados em função de estimativas de produção de biogás por meio de modelos

matemáticos, o trabalho analisou por meio de dois modelos (modelo CENBIO e o

modelo IPCC) o potencial de produção de biogás anual para a unidade rural em

estudo. Para o modelo CENBIO calculou-se um potencial de 224.250,00 m3 de

biogás/ano e para o modelo IPCC o valor foi de 220.340,25 m3 /ano. Essa diferença

entre os dois modelos se dá pelo fato do modelo IPCC levar em consideração, não

apenas a quantidade de animais e dejetos produzidos, mais também a forma a qual

os dejetos são manejados (fração que se decompõe anaerobicamente), sendo assim,

pode ser considerado o modelo que apresenta uma maior precisão, comparado com

o modelo CENBIO.

Para a análise a respeito da viabilidade econômica do projeto, primeiramente,

foi levado em consideração a produção de biogás, o tempo de operação do grupo

gerador (10 h/dia) e a disponibilidade da planta. Calculou-se a produção de energia

elétrica como sendo de 19.250,00 kWh/mês. Essa energia é suficiente para suprir toda

a demanda da propriedade e ainda pode ser injetada na rede elétrica local e utilizada

de acordo com o sistema de compensação, resolução 482/2012 da ANEEL. Os

benefícios do uso dessa energia chegam a R$64.800,00 por ano para o proprietário.

Esse benefício é diretamente proporcional a tarifa cobrada pela companhia de energia

elétrica, o que faz com que o investimento seja mais interessante quanto maior for a

o valor da tarifa cobrada.

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As simulações mostraram que ao considerar o tempo de funcionamento do

grupo gerador como sendo igual a 7 h/dia, o projeto apresentará um Payback curto,

de 5,7 anos, VPL de R$138.681,50 e a TIR de 9,7% tornando o projeto

economicamente viável e atrativo. No entanto, o estudo a respeito da viabilidade

econômica do projeto demonstrou que para um investimento de R$258.360,20,

incluindo todos os gastos com a compra e instalação de equipamentos como gerador

e o biodigestor, é essencial que haja a comercialização dos créditos de carbono. Para

tal fim foi considerado a inclusão da propriedade na categoria de Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo e assim os créditos de carbono gerados pelo projeto serão

comercializados no mercado especializado. Foi estimado que a renda liquida pelas

vendas de créditos será de aproximadamente R$38.000,00 por ano.

Portanto, a implantação de um sistema de geração de energia elétrica na

propriedade em questão, utilizando biogás, somente se torna viável se houver a

inclusão do projeto na categoria de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, para que

ocorra a venda dos créditos de carbono.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO I: TABELA 10-7 : Fator de emissão de metano para manejo de dejetos de suínos (IPCC, 2006)