Upload
others
View
6
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES ALELOQUÍMICAS DO
FEROMÔNIO DE TRILHA DE FORMIGAS CORTADEIRAS
KARLA DA SILVA MALAQUIAS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ NOVEMBRO DE 2007
AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES ALELOQUÍMICAS DO
FEROMÔNIO DE TRILHA DE FORMIGAS CORTADEIRAS
KARLA DA SILVA MALAQUIAS Monografia apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Licenciando em Química.
Orientador: Prof. Paulo Cesar Muniz de Lacerda Miranda
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE – UENF
CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ NOVEMBRO DE 2007
AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES ALELOQUÍMICAS DO
FEROMÔNIO DE TRILHA DE FORMIGAS CORTADEIRAS
KARLA DA SILVA MALAQUIAS
Monografia apresentada ao Centro de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Licenciando em Química.
Aprovado em 14 de novembro de 2007
Comissão Examinadora:
Prof.ª Dr.ª Rosana Aparecida Giacomini - UENF
Prof. Dr. Luis César Passoni - UENF
Prof. Dr. Paulo Cesar Muniz de Lacerda Miranda - UENF
(Orientador)
Aos meus pais, José Carlos e Maria das
Graças. Aos meus avós, Alcendino
(in memorium) e Maria. À minha tia Iracema
(in memorium). Pessoas muito queridas que
sempre me apoiaram e me ensinaram a nunca
desistir dos meus objetivos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus que é a razão de tudo e sempre esteve presente
em minha vida indicando os melhores caminhos a serem tomados.
Ao professor Paulo, pela oportunidade e orientação no desenvolvimento deste
trabalho, por toda dedicação e amizade, e pela ótima troca de idéias e ensino sobre
a química que está além das salas de aula e laboratórios.
À profª. Rosana que exerceu um papel fundamental em minha formação docente,
sendo sempre tão disponível, competente e segura como professora e amiga.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela
concessão das bolsas de estudos.
Aos funcionários e técnicos que ajudaram na realização deste trabalho.
À profª. Cristina pela atenção dispensada e por fornecer os herbicidas usados nos
ensaios biológicos.
Ao amigo Leonardo pela paciência, troca de idéias e experiências, além do apoio
incondicional na realização deste trabalho.
À minha priminha Vanuza pela ótima convivência e todo apoio sempre.
Às grandes amigas Gabriela e Juliana pela convivência, companheirismo, por toda
ajuda e troca de idéias.
Aos amigos do laboratório Alba, Almir, Carol, Letícia, Lindomar, Marlon, Neidinha,
Max e Paty pela ótima convivência e amizade.
Aos amigos, Larissa, Gisele, Josi Pink, Carla, Juliana M., Joice, Marcelo, Sarah,
Ronan, Monique e Marcy, pela amizade e convivência agradável.
Aos amigos Natália, Paloma e Vaguinho pelo companheirismo.
A todos os colegas e professores da graduação em Licenciatura em Química.
Aos meus irmãos, Saulo e Felipe, por todo apoio e carinho.
E mais importante, a minha família, especialmente meus pais e avós, por terem me
dado a base e o apoio necessários, me ajudando a transformar as dificuldades em
oportunidades de aprender.
“É preciso sonhar, mas com a condição de crer
em nosso sonho, de observar com atenção a vida
real, de confrontar a observação com nosso
sonho, de realizar escrupulosamente nossas
fantasias. Sonhos; acreditem neles.”
Lenin
RESUMO
Avaliou-se a atividade alomonal herbicida dos principais compostos presentes no
feromônio de trilha utilizados por grande parte das espécies de formigas cortadeiras.
Estes são o 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila (1) e a 3-etil-2,5-dimetilpirazina (2).
Além destes, o ácido pirazino-2-carboxílico também foi avaliado, por poder
apresentar alguma semelhança com um derivado menos volátil originário de uma
biotransformação do composto (2) na glândula de veneno das formigas cortadeiras.
O estudo desta atividade herbicida foi feito em comparação com os herbicidas
comerciais alaclor, atrazina e ácido 2,4-diclorofenoxiacético.
Somente o pirrol (1) foi sintetizado. Os outros compostos utilizados nos ensaios
biológicos foram adquiridos comercialmente. O pirrol (1) foi conseguido a partir da
abordagem sintética descrita por Barton (1990), associando esta metodologia ao
estudo desenvolvido por Bhattacharya e colaboradores (2006).
Os resultados apresentados apontam uma atividade herbicida dos compostos
testados nos ensaios biológicos inibindo o crescimento de pepino e grama. Este fato
suporta a possibilidade de que algum composto presente no feromônio de trilha
possua uma dupla função. Além de agir como feromônio na orientação das formigas,
apresenta um caráter herbicida impedindo o crescimento de plantas na área de
atuação do feromônio. Esta dupla função dos compostos implicaria em economia de
tempo e energia para a colônia, reforçando o grande sucesso evolutivo das formigas
dos gêneros Atta e Acromyrmex.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Classificação dos semioquímicos de acordo com o comportamento indicado. Os sinais (+) e (-) significam benefício e custo na interação, respectivamente. O primeiro sinal refere-se ao organismo emissor enquanto o segundo ao receptor................................................................................................. 14
Figura 2 - (a) Gênero Atta sp. (saúva) e (b) gênero Acromyrmex sp. (quenquém)................................................................................................................ 19
Figura 3 - Especialização de funções relacionadas ao tamanho da cabeça das operárias de Atta sexdens......................................................................................... 22
Figura 4 - Esquema de um ninho ou formigueiro de Atta sp.: 1) câmara com larvas e pupas; 2) câmaras ou panelas; 3) câmara com soldados; 4) câmara com lixo; 5) câmara com rainha......................................................................................... 23
Figura 5 - Vista externa do formigueiro: a) Atta sp. b). Acromyrmex sp................... 24
Figura 6 - Vista lateral do corpo de (a) Acromyrmex e (b) Atta................................. 24
Figura 7 - Forrageamento (atividade de corte e carregamento de folhas) de formigas cortadeiras.................................................................................................. 25
Figura 8 - 4-Metilpirrol-2-carboxilato de metila (1) e 3-etil-2,5-dimetilpirazina (2)..... 28
Figura 9 - Trilhas de formiga cortadeira no campo................................................... 29
Figura 10 - Compostos pirrólicos inibidores da enzima IGPD.................................. 31
Figura 11 - Estruturas do herbicida comercial atrazina (20) e do N-(2-hidroxi-5-cloro)fenil-6-cloropirazino-2-carboxiamida (21), inibidor fotossintético derivado de pirazina............................................................................ 31
Figura 12 – Fotos do processo experimental no teste de inibição contra grama. (a) Placas de grama plantadas em bandejas de alumínio; (b) Confecção da trilha após o período de estabilização; (c) Trilha correspondente ao tratamento solução veículo após dez aplicações; (d) Trilha correspondente ao tratamento pirazina após dez aplicações. 37
Figura 13 - Estruturas do ácido 2-pirazinocarboxílico (12), alaclor (13) e 2,4-D (13)................................................................................................................... 51
Figura 14 - Médias de massa seca da plântula de milho tratada com diferentes compostos em pré-emergência................................................................................. 53
Figura 15 - Médias de massa seca da plântula de pepino tratada com diferentes compostos em pré-emergência................................................................................. 54
Figura 16 - Médias de massa seca da plântula de milho tratada com diferentes compostos em pós-emergência................................................................................. 55
Figura 17 - Médias de massa seca da plântula de pepino tratada com diferentes compostos em pós-emergência................................................................................. 56
Figura 18 - Médias da razão da massa seca aérea (g) por área (cm2), da rebrota em trilha artificial, em grama tratada com diferentes compostos.............................. 58
Figura 19 - Médias da razão da massa seca aérea (g) por área (cm2), da rebrota em trilha artificial, no segundo teste em grama tratada com diferentes compostos.................................................................................................................. 59
Figura 20 - Trilhas de forrageamento artificial.......................................................... 69
Figura 21 - Amostras da trilha retirada onde foi observada a rebrota após quarenta e dois dias de tratamento com solução veículo (a) e com o ácido 2-pirazinocarboxílico (b). ........................................................................................... 69
Figura 22 - Trilhas artificiais retiradas, no segundo teste, onde foi observada a rebrota após quarenta e dois dias de tratamento com solução veículo.................... 70
LISTA DE ESQUEMAS
Esquema 3.1- Rota sintética do 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila...................... 35
Esquema 4.1 - Reação de formação do 2-nitropropan-1-ol (5) e mecanismo proposto para a adição aldólica entre nitroetano (3) e formaldeído (4).................... 39
Esquema 4.2 - Reação e mecanismo proposto para a reação de acetilação do 2-nitropropan-1-ol (5)................................................................................................... 40
Esquema 4.3 - Provável fragmentação no espectrômetro de massas acetato de 2-nitropropila (6)........................................................................................................ 41
Esquema 4.4 - Síntese do cloridrato do éster metílico da glicina (8) e mecanismo proposto para a reação de esterificação................................................................... 42
Esquema 4.5 - Síntese do éster metílico da N-formilglicina (9) e mecanismo proposto para a reação............................................................................................. 43
Esquema 4.6 - Síntese do isocianoacetato de metila (10) e mecanismo proposto para a reação........................................................................................................... 44
Esquema 4.7 - Síntese do 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila (10) realizada por Barton-Zard............................................................................................................... 46
Esquema 4.8 - Formação dos intermediários da reação de síntese do pirrol (1).... 47
Esquema 4.9 - Mecanismo da reação de síntese do pirrol (1)................................. 48
Esquema 4.10 - Duplo rearranjo [1,5] sigma-trópico que ocorre para a formação do pirrol (1)................................................................................................................ 49
Esquema 4.11 - Provável fragmentação no espectrômetro de massas acetato para o pirrol (1).......................................................................................................... 49
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Principais feromônios de ação desencadeadora e o tipo de modificação comportamental que estes influenciam................................................ 17
Tabela 2 - Prováveis fragmentações no espectrômetro de massas acetato para o isocianoacetato de metila (10)............................................................................... 45
Tabela 3 - Médias de massa seca da plântula de milho tratada com diferentes compostos em pré-emergência................................................................................. 52
Tabela 4 - Médias de massa seca da plântula de pepino tratada com diferentes compostos em pré-emergência................................................................................. 53
Tabela 5 - Médias de massa seca da plântula de milho tratada com diferentes compostos em pós-emergência................................................................................ 54
Tabela 6 - Médias de massa seca da plântula de pepino tratada com diferentes compostos em pós-emergência................................................................................ 56
Tabela 7 - Médias da razão da massa seca aérea (g) por área (cm2), da rebrota em trilha artificial, no primeiro teste em grama tratada com diferentes compostos............................................................................................................... 57
Tabela 8 - Médias da razão da massa seca aérea (g) por área (cm2), da rebrota em trilha artificial, no segundo teste em grama tratada com diferentes compostos................................................................................................................. 59
LISTA DE ABREVIATURAS
2,4-D - Ácido 2,4-diclorofenoxiácetico
ccd - cromatografia em camada delgada
CDCl3 - clorofómio deuterado
CG-EM - cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa
CG-DIC - cromatografia gasosa com detector de ionização por chama
CH2Cl - diclorometano
DMAP - 4-(N,N-dimetilamino)piridina
IE - impacto eletrônico
IV – espectroscopia na região do infravermelho por transformada de Fourier
IGPD - imidazol glicerol fosfato desidratase
MTBE – metil-terc-butil-éter
RMN - ressonância magnética nuclear
THF – tetraidrofurano
SUMÁRIO:
1 – INTRODUÇÃO................................................................................................................ 1.1 - Comunicação Química......................................................................................
1.1.1 – Ação dos Feromônios e a Percepção Química.............................................
121215
1.2 - Aspectos Gerais e Biológicos das Formigas Cortadeiras........................................ 18
1.3 - Feromônios de Trilha em Formigas Cortadeiras..................................................... 26
1.4 - Atividade Alomonal Herbicida do Feromônio de Trilha............................................ 29
2 – OBJETIVO..................................................................................................................... 33
3 – METODOLOGIA............................................................................................................ 3.1 – Abordagem Sintética..............................................................................................
3.2 – Ensaios Biológicos.................................................................................................
343436
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................... 38
4.1 – Síntese.................................................................................................................... 38
4.2 – Abordagem Sintética...............................................................................................
4.2.1 - Bioensaios em milho e pepino.......................................................................
4.2.2 - Bioensaios em grama....................................................................................
515257
5 – CONCLUSÃO................................................................................................................. 60
6 - PARTE EXPERIMENTAL............................................................................................... 61
6.1 – Materiais e métodos usados na síntese..................................................................
6.1.2 - Procedimentos experimentais...............................................................................
6.1.2.1 - Preparação 2-nitropropan-1-ol (5).................................................................
6.1.2.2 - Preparação acetato de 2-nitropropila (6).......................................................
6.1.2. 3 - Preparação do cloridrato do éster metílico da glicina (8).............................
6.1.2. 4 - Preparação do éster metílico da N-formilglicina (9).....................................
6.1.2. 5 - Preparação do isocianoacetato de metila (10).............................................
6.1.2. 6 - Preparação 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila (1)....................................
6163636464646566
6.2 - Ensaios biológicos...................................................................................................6.2.1 - Bioensaios para testes de atividade alomonal herbicida em milho e pepino em pós e pré-emergência.........................................................................................
6.2.2 - Bioensaios para testes de atividade alomonal herbicida em grama..............
67
6868
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................…………................................................ 71
8 – APÊNDICES................................................................................................................... 76
12
1 – INTRODUÇÃO
1.1 – Comunicação Química
O empenho na busca pela compreensão dos aspectos que determinam a forma de
comunicação entre os vários tipos de organismo e a identificação das substâncias
que estão envolvidas neste processo, desde a estrutura dos compostos até o
caminho biossintético para a produção destes, são o foco de estudo da Ecologia
Química. Este é um ramo da ciência que vem se desenvolvendo consideravelmente
desde os anos 70. A palavra ecologia foi definida por Ernst Haeckel como a ciência
que estuda interações entre os organismos e entre organismos e o ambiente em que
estes estão presentes (EICHLER, 2005). Assim, a ecologia química estuda as
substâncias mediadoras das interações de caráter intra e interespecíficas entre os
organismos (STILING e SIMBERLOFF, 1998). Apesar das pesquisas nesta área
estarem constantemente em evolução, ainda há muito para ser descoberto nestas
interações.
Além do conhecimento de como os insetos interagem com o meio em que vivem, a
importância do estudo dos compostos químicos envolvidos neste tipo de
comunicação também contribui no controle populacional de insetos praga,
causadores de grande prejuízo à agricultura. As pesquisas em ecologia química
disponibilizam inovações tecnológicas que trazem vantagens sobre os meios
tradicionais, tais como: o aumento de produtividade, a redução nos custos de
produção, assim como a diminuição de poluentes agroquímicos lançados ao meio
ambiente. Desta forma, as aplicações das descobertas nesta área vêm se
destacando como um componente potencial no manejo integrado para um grande
número de espécies-praga de importância econômica, trazendo grandes
contribuições para a sociedade.
Os animais utilizam vários meios de interação e comunicação, como sinais
visuais, acústicos, táteis ou químicos que podem estar atuando isoladamente ou
não. A forma com que cada um destes sinais é utilizado difere entre as espécies
e está relacionada com a interação desta com seu meio ambiente (PAYNE e
BIRCH,1986 apud FERREIRA; CORRÊA; VIEIRA, 2001). Mesmo que todos
estes sinais apresentem alguma contribuição na comunicação de certas
espécies, os insetos são os que mais dependem da comunicação olfativa, ou seja,
13
dos sinais químicos, para desempenhar suas atividades comportamentais e
conseqüentemente a sobrevivência da espécie (BIRCH e HAYNES, 1982).
Os insetos desenvolveram uma comunicação química característica utilizada para a
transferência de informações através de odores entre indivíduos da mesma espécie
ou de espécies diferentes. De um modo geral, esta comunicação ocorre a partir da
emissão de substâncias químicas produzidas por um indivíduo e detectadas por
outro indivíduo por meio dos órgãos receptores localizados principalmente nas
antenas. Estas informações desencadeiam comportamentos necessários para a
sobrevivência dos insetos, tais como: agressividade, defesa, acasalamento, escolha
de locais de oviposição, localização de presas, organização das atividades sociais e
outros tipos de comportamento (VILELA e DELLA LÚCIA, 1987).
As substâncias químicas envolvidas na comunicação entre os organismos, são
denominadas semioquímicos, que significa "sinais químicos". A palavra é derivada
do grego semeion que diz respeito a marca ou sinal, (NORDLUND e LEWIS, 1976).
Em 1971 LAW e REGNIER utilizaram este termo para definir as substâncias
químicas que mediam interações entre organismos. Alguns autores utilizam o termo
infoquímico para fazer menção a esta classe de substâncias (DICKE e SABELIS
1988). Segundo estes autores os semioquímicos abrangem, além das substâncias
químicas envolvidas no fornecimento de informação, as toxinas e nutrientes. Esta
nomenclatura ainda não está bem consolidada e nesta monografia o termo escolhido
para abordar esta classe de compostos foi semioquímicos.
Os semioquímicos são divididos em aleloquímicos (do grego allelon, de um para
outro, relação recíproca) quando estas interações são interespecíficas, e em
feromônios (do grego phereum, carregar; e hormon, estimulado ou excitado) quando
são intraespecíficas (HARBORNE, 1989). Os feromônios e aleloquímicos são
classificados, Fig. 1, de acordo com o tipo de mudança comportamental ou
fisiológica que provocam (NORDLUND e LEWIS, 1981).
Figura 1 - Classificação dos semioquímicos de acordo com o comportamento indicado. Os sinais (+) e (-) significam benefício e custo na interação, respectivamente. O primeiro sinal refere-se ao organismo emissor enquanto o segundo ao receptor.
Os aleloquímicos desempenham um papel essencial em todas as comunidades na
interação entre organismos pertencentes a diferentes níveis tróficos. Sendo que as
relações aleloquímicas dentro destes níveis serão estabelecidas de acordo com o
benefício ou custo que os indivíduos terão nesta interação (VILELA e DELLA LÚCIA,
2003). Assim, a classe de semioquímicos que intercede as interações
interespecíficas é dividida em cairomônios, alomônios e sinomônios.
As substâncias denominadas cairomônios são semioquímicos relacionados à
biologia do organismo emissor que, quando em contato com um indivíduo de outra
espécie, o organismo receptor, desencadeará uma resposta adaptativamente
favorável ao receptor, e que não beneficia o organismo emissor (VILELA e DELLA
LÚCIA, 2003). Os cairomônios, muitas vezes, aparecem mediando as relações ente
parasitóides e hospedeiros. Um exemplo comum são os hidrocarbonetos produzidos
pelas glândulas mandibulares da praga do algodão Heliothis virescens (lagarta-da-
maçã), que acabam atraindo seu inimigo natural, o parasitóide Cardiochiles nigriceps
(BATISTA-PEREIRA apud CORRÊA e VIEIRA, 2007).
Já os alomônios são semioquímicos que desencadearão uma mudança
comportamental ou resposta fisiológica que não é favorável ao organismo receptor, 14
15
mas beneficia o emissor (VILELA e DELLA LÚCIA, 2003). Os alomônios são usados
pelos artrópodes como substâncias de defesa. Alguns exemplos de organismos que
usam estes compostos são: as operárias das formigas da espécie Formica que
produzem substâncias repelentes a animais intrusos (FERREIRA e ZARBIN, 1998).
As flores de Dracula chestertonii emitem aroma semelhante ao de cogumelos e
desta forma atraem moscas-fêmeas (moscas de fungos), as quais normalmente
ovipositam nos recipientes nutritivos desses fungos que são fonte de alimento para
as futuras larvas. Ao visitar as flores de D. chestertonii, as moscas agem como
polinizadoras, porém as larvas ao eclodirem, morrem por escassez de alimento
(BATISTA-PEREIRA apud CORRÊA e VIEIRA, 2007).
Os sinomônios são semioquímicos que desencadeiam uma mudança
comportamental ou fisiológica favorável tanto para o organismo receptor quanto para
o organismo emissor do sinal (VILELA e DELLA LÚCIA, 2003). O exemplo mais
comum são os odores florais associados aos seus polinizadores. Os voláteis florais
favorecem as plantas atraindo os polinizadores e estes também são beneficiados,
pois além da fonte de alimento encontram parceiros para o acasalamento.
1.1.1 – Ação dos Feromônios e a Percepção Química
No final da década de 1950 as pesquisas arroladas à comunicação química
alcançaram um maior desenvolvimento. O primeiro feromônio sexual isolado foi o
Bombicol, um álcool de cadeia longa produzido pela fêmea do bicho-da-seda,
Bombyx mori, usado para atrair os machos para o acasalamento. Este composto foi
isolado na Alemanha por Butenandt e colaboradores (KARLSON e BUTENANDT,
1959).
O termo feromônio foi proposto pela primeira vez por Karlson e Lüscher para
designar um grupo de substâncias biologicamente ativas que quando são
secretadas por um organismo emissor e recebidas por um organismo receptor, da
mesma espécie, provocam uma mudança comportamental ou fisiológica bem
definida (KARLSON e LÜSCHER, 1959). Assim, cada espécie possui o seu próprio
“código” de comunicação baseado nas diferenças estruturais dos compostos
químicos que aparecem mediando as interações por meio dos feromônios. Para os
insetos este é o tipo de comunicação intra-específico mais importante do que a visão
e a audição (DELLA LÚCIA et al., 1993).
16
Os feromônios, assim como os aleloquímicos, são liberados em baixíssimas
quantidades. Por este motivo os insetos desenvolveram um mecanismo muito
eficiente na percepção e decodificação das informações provenientes destes
compostos. Como existem muitos odores presentes no meio ambiente, este
mecanismo é característico de substâncias bioativas (FERREIRA; CORRÊA;
VIEIRA, 2001). Segundo Vilela e Della Lúcia (1987, pág. 19):
Os feromônios são constituídos por substâncias multicompostas, que
formam um rastro de odor e que contém um gradiente de concentração das
diferentes substâncias que o integram; estas substâncias apresentam
distintas volatilidades.
Em virtude da natureza multicomponente dos feromônios (VILELA e DELLA LÚCIA,
2003) e da concentração específica de cada substância química que os formam, é
possível que mensagens complexas levando diferentes informações sejam emitidas
ao mesmo tempo. Quando estas são recebidas, por determinado indivíduo,
acarretam um comportamento bem específico, que pode beneficiar o emissor, o
receptor ou aos dois organismos envolvidos na interação.
Quando os feromônios agem na fisiologia e no desenvolvimento dos indivíduos
apresentando efeito prolongado, provavelmente envolvendo hormônios (WILSON,
1965), são chamados de preparadores, Fig. 1. Já os que atuam diretamente sobre o
sistema nervoso central e liberam uma ação imediata no comportamento dos
indivíduos são considerados de efeito desencadeador (NORDLUND e LEWIS,
1976). Estes feromônios podem agir como atraentes sexuais, serem marcadores de
trilhas, propiciarem comportamentos de agregação, alarme, dispersão, entre outros,
como é mostrado na Tabela 1(VILELA e DELLA LÚCIA, 1987).
17
Tabela 1 - Principais feromônios de ação desencadeadora e o tipo de modificação comportamental que estes influenciam.
Tipo de Feromônio Mudança comportamental ocasionada
Agregação Atraem um elevado número de indivíduos.
Alarme Produzem um estado de alerta pela aproximação de algum predador natural, desencadeando o comportamento de defesa na colônia.
Dispersão Agem dispersando os indivíduos na presença de um hospedeiro hostil à colônia.
Marcação de território São usados para a marcação e reconhecimento do próprio território de exploração, garantindo à colônia o alimento e a defesa.
Oviposição Demarcam o local onde os ovos foram depositados e também são utilizados pelas fêmeas para impedir a postura de outras fêmeas, diminuindo a competição entre larvas por um recurso limitado.
Sexuais São emitidos com a finalidade de reprodução, uma vez que estes aumentam a probabilidade de sucesso no acasalamento dos insetos.
Trilha Orientam os indivíduos até a fonte de alimentos e também são usados na exploração de novas áreas.
Quando um semioquímico, após ser emitido, entra em contato com o organismo
receptor a resposta comportamental ou mudança fisiológica que ocorrerá está
fortemente relacionada com a percepção do inseto a este estímulo. Para um inseto o
processo compreendido entre a percepção e a resposta motora envolve vários
processos neurofisiológicos, que o capacitarão a responder a um odor característico.
Diversos fatores fisiológicos podem agir simultaneamente, determinando a
ocorrência, a intensidade da produção e a liberação de um dado semioquímico, bem
como a resposta do indivíduo a estes compostos químicos. Além disto, a resposta
também é dependente de fatores abióticos, tais como temperatura, umidade, vento e
intensidade da luz entre outros (VILELA e DELLA LUCIA, 2003).
A percepção do estímulo químico nos insetos ocorre nas células receptoras
localizadas dentro de sensilas ou pêlos olfativos que se encontram principalmente
nas antenas (VILELA e DELLA LUCIA, 2003). Esta percepção ocorre inicialmente
com a entrada das moléculas do composto químico na antena por difusão,
18
através dos poros presentes nas sensilas quimiorreceptoras. Posteriormente
ocorre o transporte destas substâncias na linfa receptora por meio da interação
com proteínas odoríferas de ligação (POLs), estas às conduzirão até as
membranas receptoras dos dendritos, que são os prolongamentos mais curtos
do neurônio (VOGT e RIDDIFORD apud PAYNE e BIRCH, 1986 apud
FERREIRA; CORRÊA; VIEIRA, 2001). A membrana receptora dos dendritos
sofre uma despolarização após entrarem em contato com as moléculas do
composto semioquímico. Assim o estímulo químico é transformado em estímulo
elétrico. A soma das respostas elétricas provocadas pela ativação de várias
células receptoras ao mesmo tempo, gera um potencial elétrico. Este será
conduzido até a porção mediana do cérebro que recebe os nervos das antenas,
chamado de deutocérebro, ocasionando uma resposta comportamental ao
estímulo químico (MANDAVA, 1982).
1.2 - Aspectos Gerais e Biológicos das Formigas Cortadeiras
As formigas são insetos eussociais. Os fatores que ocorrem na colônia de formigas
cortadeiras que atribuem esta classificação são:
• O cuidado e cooperação entre companheiras de ninho, sendo seus indivíduos
considerados altruístas;
• Divisão de tarefas, em que cada casta realiza sua função e apenas um
número restrito de indivíduos é responsável pela reprodução;
• A sobreposição de duas ou mais gerações de adultos dentro de um mesmo
grupo.
Esses insetos estão presentes em todos os ecossistemas terrestres. Elas se
destacam dentre os mais abundantes e freqüentes organismos nesses locais. A
elevada capacidade adaptativa das formigas, aliada ao alto grau de organização
social que estas possuem, as tornam parte dos insetos considerados mais derivados
do planeta (VILELA e DELLA LUCIA, 2003). Segundo Shultz (2000), é provável que
15 a 20% da biomassa terrestre animal seja de formigas. Sendo que este valor é
ainda maior, em torno de 25%, nas regiões tropicais em que estas são mais
abundantes.
Estima-se que existam em torno de 15.000 espécies de formigas no mundo, das
quais aproximadamente 10.000 já foram descritas e pertencem à família Formicidae.
Dentro desta, a subfamília Myrmicinae representa o maior agrupamento, e nela está
incluída a tribo Attini. Nesta tribo estão presentes doze gêneros de formigas, onde
nos gêneros mais derivados, também chamados de attini superiores, estão inclusas
as formigas cortadeiras. Destas, cerca de cinqüenta espécies são dos gêneros Atta
conhecidas vulgarmente como saúvas e Acromyrmex conhecidas como quenquéns,
Fig. 2., (GRIMALDI e AGOSTI, 2000). Estas formigas são encontradas
exclusivamente no continente americano, estando distribuídas do sul dos Estados
Unidos até o sul da Argentina (MIKHEYEV; MUELLER; ABBOT, 2006). As formigas
dos gêneros Atta e Acromyrmex em função da importância econômica no Brasil, têm
merecido grande atenção dos pesquisadores e nelas concentram-se as principais
pesquisas e publicações.
As formigas cortadeiras estão situadas dentro do Reino Animal, Filo Arthropoda,
Classe Insecta. Segundo Thomas (1990), este grupo de insetos, é composto de
cinco gêneros, dentro da seguinte posição sistemática:
• Ordem: Hymenoptera
• Subordem : Apocrita
• Superfamília : Formicoidea
• Família: Formicidae
• Sub-família: Myrmicinae
• Tribo : Attini
• Gênero: Atta, Acromyrmex, Sericomyrmex, Trachymyrmex e Micoceporus.
FONTE
F
a)
: (a)
ero Acromyrmex sp. (quenquém).
19
20
As saúvas e quenquéns são os insetos que causam grandes danos à atividade
agro-pastoril-florestal, sendo que os maiores prejuízos ocorrem nas culturas de
eucalipto, pinos e citros. Algumas espécies desfolham, indistintamente, mono e
dicotiledôneas e por este motivo constituem a pior praga das florestas implantadas
(FORTI; CROCOMO; GUASSU, 1987). Estima-se que somente as espécies de Atta
são responsáveis pelo corte de aproximadamente 15% das folhas produzida nas
florestas tropicais da América (CHERRET, 1986 apud HÖLLDOBLER e WILSON,
1990). O desfolhamento de monoculturas gera uma diminuição significativa na
produtividade. Uma colônia adulta pode desfolhar uma árvore em menos de 24
horas e consumir até uma tonelada de folhas por ano (WILSON, 1965).
Os ninhos onde vivem as formigas são conhecidos popularmente por formigueiros.
Eles podem ser formados por uma ou mais câmaras, dependendo do gênero. Estas
câmaras são vulgarmente chamadas de panelas. A formação das colônias de
formigas cortadeiras tem início no período das chuvas entre os meses de outubro e
novembro. A fêmea virgem alada preparada dentro da colônia, sai do ninho onde
nasceu dando início ao vôo nupcial para se acasalar (LIMA; DELLA LÚCIA; SILVA,
2001). Uma fêmea pode se acasalar com até oito machos. A longevidade do macho
é bastante curta, pois logo após a cópula, com apenas uma fêmea, ele morre.
A fêmea, uma vez inseminada, encontra um local propício para dar início a um novo
formigueiro. A nova rainha começa a abrir um túnel perpendicular no solo até uma
profundidade de 8 a 25 cm, onde constrói uma pequena câmara. Ao fixar-se, dá
início ao jardim de fungo por meio de um micélio, que é trazido do seu ninho de
origem, na cavidade infrabucal. A partir de suas reservas energéticas ocorrerá a
deposição dos primeiros ovos. Logo após, a fêmea obstrui o canal de entrada e fica
confinada até o surgimento das primeiras operárias (WILSON, 1985). Chegando à
maturidade estas operárias passam a ter funções de manutenção e crescimento da
colônia, cuidado com a prole e forrageamento. A rainha dedicar-se-á exclusivamente
à postura de ovos. Em um período de semanas há um apreciável aumento no
número de operárias na colônia (HÖLLDOBLER e WILSON, 1990). Este constitui o
primeiro estágio de formação da colônia conhecido como estágio de fundação.
Posteriormente, inicia-se o estágio ergonômico (HÖLLDOBLER e WILSON, 1990).
Neste ocorre o crescimento e desenvolvimento da colônia, e todo trabalho é
realizado com esta finalidade. Em certo momento a colônia estabiliza-se
energeticamente havendo uma relação favorável entre o número de indivíduos
adultos e larvas. Com esta estabilização o último estágio é alcançado, o estágio de
reprodução, onde dá-se inicio a reprodução dos indivíduos sexuados. Estes são
preparados recebendo tratamento e alimentação diferenciada dentro da colônia. Na
época da revoada estes indivíduos sairão para copular e em seguida fundarão novas
colônias, encerrando o ciclo de vida daquele formigueiro.
A população das formigas cortadeiras é dividida em castas permanentes e
temporárias, sendo que nas operárias há um elevado grau de polimorfismo, as
castas têm tamanhos e atividades diferenciados dentro da colônia. No gênero
Acromyrmex o polimorfismo é menos acentuado se comparado com o gênero Atta
(FOWLER et al, 1986).
Indivíduos permanentes Rainha (sexuada)
Operárias (estéreis)
Jardineiras (pequenas)
Cortadeiras e carregadeiras (médias)
Soldados (grandes)
Indivíduos temporários Fêmeas (içás e tanajuras)
Machos (bitus)
(ápteros)
(alados)
As içás e bitus surgem em formigueiros adultos alguns meses antes da revoada.
Estes indivíduos são maiores que os soldados e as operárias. Os menores
indivíduos da colônia são as operárias jardineiras. Além de dar assistência à rainha,
elas limpam os pedaços de folhas e os cortam em fragmentos menores, para
posteriormente serem incorporados e inoculados com o fungo. As operárias
carregadeiras são maiores que as jardineiras, e tem como função a localização,
corte e transporte de material vegetal para o interior do formigueiro. Na Fig. 3
(HÖLLDOBLER e WILSON, 1990) fica evidente a relação entre o tamanho da
cabeça e a função das operárias na manutenção do jardim de fungo. Os soldados
são responsáveis pela proteção, eles são os maiores indivíduos estéries dentro da
colônia.
21
Figura 3 - Especialização de funções relacionadas ao tamanho da cabeça das operárias de Atta sexdens.
Os ninhos de Acromyrmex são pouco profundos e comumente formados por
milhares de indivíduos em uma ou duas câmaras subterrâneas. Algumas espécies
fazem o ninho superficialmente coberto de palha, fragmentos e outros resíduos
vegetais, enquanto outras o constroem no subterrâneo. Já os ninhos de Atta, ou
sauveiros são construídos no solo e podem ter de dezenas a centenas de câmaras
subterrâneas, como é representado na Fig. 4. Estas são ligadas entre si e com a
superfície do solo por meio de galerias, podendo ocupar muitos metros quadrados e
conter milhões de indivíduos (LIMA; DELLA LÚCIA; SILVA, 2001).
22
FONTE:http://revistagalileu.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_article_print/.html>
Figura 4 - Esquema de um ninho ou formigueiro de Atta sp.: 1) câmara com larvas e pupas; 2) câmaras ou panelas; 3) câmara com soldados; 4) câmara com lixo 5) câmara com rainha.
Dentro das panelas as formigas cultivam o fungo, “panela de fungo”, que é a
principal fonte de alimentação da colônia, abrigando também ovos, larva e pupas.
Existem outras panelas onde as formigas depositam todos os resíduos do cultivo do
fungo e os indivíduos mortos, sendo denominas de “panela de lixo” (WILSON,1985).
Uma característica para a identificação de um sauveiro é um monte de terra solta
aparente, também conhecido como murundú, localizado na superfície do solo, que é
formado pelo acúmulo de terra que as formigas retiram das câmaras do subsolo
(LIMA; DELLA LÚCIA; SILVA, 2001). Sobre e fora do monte de terra solta, são
encontrados orifícios denominados olheiros, onde podem ou não ser observadas as
saúvas em atividade. O número e o formato dos montes de terra solta, o formato dos
olheiros, que podem abrir-se diretamente na superfície do solo ou aparentar um
funil, facilitam a identificação de algumas espécies de saúvas. No Brasil são
conhecidas e catalogadas 13 espécies de saúvas e 28 espécies de quenquéns. Na
Figura 5, se pode observar a vista externa dos formigueiros de Atta e Acromyrmex.
23
http://revistagalileu.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_article_print/
Fonte
Out
form
núm
de q
de 8
pos
e su
Font
Nor
som
Fig.
LUC
a)
: .
) Atta sp. b). Acromyrmex sp.
omyrmex são o tamanho médio das
is no tórax que elas apresentam e o
ias do gênero Acromyrmex possuem
), são geralmente menores medindo
gínicas. Já as operárias gênero Atta
ax (Fig. 6.b), medem de 12 a 15 mm
LÚCIA; SILVA, 2001).
) Acromyrmex e (b) Atta.
ativas à noite, porém em áreas
de corte e carregamento de folhas,
REIRA; DELLA LUCIA apud DELLA
24
Fonte: .
Figura 7 - Forrageamento (atividade de corte e carregamento de folhas) de formigas cortadeiras.
A maioria das espécies de formigas cortadeiras faz trilhas externas que são
marcadas com substâncias químicas, feromônio de trilha, produzidas pelas próprias
formigas servindo para orientar as demais operárias até a fonte de alimento e no
retorno ao ninho.
Durante muito tempo pensou-se que o material vegetal cortado e carregado para o
interior das colônias subterrâneas fosse consumido diretamente como alimento
pelas formigas cortadeiras, o que não acontece. Escavando-se um formigueiro,
encontra-se em suas câmaras subterrâneas uma massa esponjosa de cor branco-
acinzentada, constituída pelo material vegetal que as formigas carregam para o
interior de seus ninhos cortado em minúsculos pedaços e por um fungo, da espécie
Leucocoprinus gongylophorus, que se desenvolve nutrido pelos vegetais picados
caracterizando uma relação simbiôntica. No interior do ninho, as operárias
jardineiras cortam os pedaços de folhas em pedaços menores e depois “lambem”
estes pedaços visando eliminar microrganismos indesejáveis. Os fragmentos de
folha, após a limpeza, são inoculados com o fungo e incorporados ao jardim ou
“esponja” de fungo (LIMA; DELLA LÚCIA; SILVA, 2001).
Porém o fungo não é a única fonte de alimento das formigas, as operárias adultas
alimentam-se principalmente da seiva liberada durante o forrageamento. A dieta
destes indivíduos é apenas suplementada pelo fungo (ROCKWOOD e HUBBEL,
1987). A alimentação das larvas é baseada somente no fungo cultivado. A dieta da
25
26
rainha é constituída de ovos específicos postos por operárias em certos intervalos
de tempo (QUINLAN e CHERRETT, 1979 apud HÖLLDOBLER e WILSON, 1990).
O fungo cultivado pelos indivíduos da tribo attini é proveniente de diferentes
substratos, como: folhas verdes ou secas, flores, frutos, fezes e insetos mortos.
Entretanto somente nos gêneros Atta e Acromyrmex é que este cultivo ocorre
unicamente a partir de folhas frescas (HÖLLDOBLER e WILSON, 1990). Alguns
estudos minuciosos sobre os fungos cultivados pelas formigas cortadeiras,
especialmente as do gênero Acromyrmex, relatam que tal fungo necessita de
substrato de origem vegetal para o seu desenvolvimento, sendo a celulose a
principal fonte de carbono para o meio.
1.3 - Feromônios de Trilha de Formigas Cortadeiras
As formigas se comunicam através de sinais táteis e químicos, e todas as espécies
são capazes de usar a comunicação química, com a finalidade de fornecer
informações adicionais através do olfato. A comunicação química através dos
feromônios é a principal forma de integração da colônia de insetos sociais
(YAMAGATA et al, 2005). Eles são utilizados para uma diversidade de funções, tais
como: identificação dos membros da colônia e sua casta, orientação e recrutamento
para exploração de fontes de alimento, regularização da reprodução, alarme dos
membros sobre alguma situação de perigo e identificação do estágio de vida da
prole (VILELA e DELLA LUCIA, 2001).
O feromônio de trilha é uma mistura de substâncias depositada sobre uma superfície
por um primeiro indivíduo e detectada por outros indivíduos da mesma espécie
(VILELA e DELLA LUCIA, 2001). Estas substâncias são utilizadas pelos insetos
sociais para orientar outros insetos pertencentes à mesma colônia na direção da
fonte de alimento, de novos sítios de moradia, no retorno ao ninho ou para
exploração de novas áreas (ATTYGALLE e MORGAN, 1985).
A primeira proposta de que a trilha das formigas era marcada por meio de
substância de odor foi indicada em 1770 por Chales Bonnet, que passando o dedo
várias vezes sobre o mesmo ponto de uma trilha, fez com que as formigas se
desorientassem por alguns instantes (VILELA e DELLA LUCIA, 2001).
27
A eficiência na busca e exploração de novas fontes de substrato decorre da
utilização do feromônio de trilha pelas formigas. As formigas cortadeiras recrutam os
membros da colônia para fonte de material vegetal depositando o feromônio de trilha
no caminho de volta para o ninho. O depósito de pequenas quantidades, na faixa de
picogramas, leva ao recrutamento de um grupo massivo de formigas e desencadeia
o comportamento de seguir a trilha e coletar o substrato vegetal (MOSER apud
KLEINEIDAM et al, 2005).
As formigas exibem o comportamento de seguir trilha marcada quimicamente,
movendo-se através do vapor criado pela difusão do feromônio no ar. As trilhas são
duráveis, estáveis e facilmente detectadas pelas formigas, uma vez que quando as
operárias retornam ao longo da trilha adicionam uma nova quantidade de feromônio
a ela para que este persista até que o alimento acabe. As trilhas de formigas do
gênero Atta podem perdurar por meses, sendo a deposição do feromônio constante
(VILELA e DELLA LUCIA, 2003). A qualidade e quantidade do alimento encontrado
são informadas através das trilhas formadas pelas forrageiras (SCHWEITZER et al,
1997). As formigas detectam a trilha movimentando suas antenas de um lado para
outro (caminho em ziguezague), testando as moléculas do odor. O benefício deste
movimento é evitar a exposição constante à mesma concentração de substâncias
químicas. Desta forma a habituação ao feromônio é evitada. Essa capacidade de
orientação através de um gradiente de concentração é chamada de quimiotropotaxia
(WILSON apud VILELA e DELLA LUCIA, 2001).
Os feromônios de trilha de formigas geralmente são constituídos de múltiplos
compostos. Provavelmente, cada espécie produz alguma substância química, em
proporções bem definidas, em adição ao odor básico da substância de trilha que
atrairá somente os membros da sua própria espécie (MOSER, apud KLEINEIDAM
et al, 2005). No final da década de 60, os cientistas Moser e Silverstein descobriram
que o feromônio de trilha de Atta texana era composto por, no mínimo, duas frações,
uma muito volátil e outra menos volátil. Estudos posteriores identificaram dois
compostos voláteis presentes nos feromônios de trilhas de formigas cortadeiras das
espécies Atta e Acromyrmex , que são: 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila (1) e a
3-etil-2,5-dimetilpirazina (2) produzidos na glândula de veneno (TUMLINSON et al,
1971), Fig. 8. A grande maioria da formigas cortadeiras têm estes dois compostos
presentes no feromônio de trilha. A proporção de cada composto varia de acordo
com as espécies, assim uma pode evitar a trilha de outra (CROSS et al, 1979).
N
H O
O
H3C
CH3
(1)
N
NH3C
H3C CH3
(2)
Figura 8 - 4-Metilpirrol-2-carboxilato de metila (1) e 3-etil-2,5-dimetilpirazina (2).
Apenas uma operária pode ser responsável pelo recrutamento de um grande
número de operárias para o forrageamento. Jaffé e Howse (1979) relacionaram as
principais características para o recrutamento em massa das cortadeiras nas
espécies de Atta e Acromyrmex:
• O recrutamento é induzido e regulado unicamente por sinais químicos,
que é o feromônio de trilha;
• A quantidade de substância química depositada na trilha regulará o
número de operárias que deixam o ninho para o forrageamento;
• O feromônio de trilha orienta as operárias até a fonte do substrato para o
cultivo do fungo, bem como o retorno ao ninho;
• O feromônio de trilha é constituído de uma mistura de compostos voláteis
e, por isto, é preciso que este seja permanentemente reforçado sobre a
trilha.
Contudo as operárias não se orientam unicamente pelas marcas químicas, mas
também baseiam-se em outras informações como estímulos visuais, marcas físicas,
posição do sol e outros fatores espaciais quando se deparam com deterioração ou
destruição da trilha química, quando se perdem ou mesmo durante a formação da
trilha (LIMA; DELLA LÚCIA; SILVA, 2001). Estas evidências indicam que as trilhas
químicas não possuem polaridade. Assim no constante processo de orientação as
formigas-cortadeiras também se baseiam em outras informações. Porém
primeiramente elas se valem da presença da trilha química (VILELA e DELLA
LÚCIA, 2003).
28
1.4 - Atividade Alomonal Herbicida do Feromônio de Trilha
As trilhas de formigas cortadeiras dos gêneros Atta e Acromyrmex têm como
peculiaridade o fato de serem livres de vegetação, e permanecerem assim por
meses ou anos (HOWARD, 2001), Fig. 9. As trilhas são limpas para facilitar a
locomoção das formigas, uma vez que qualquer empecilho que esteja presente nela
reduz a eficiência no forrageamento. As trilhas são construídas e expandidas de
acordo com o tamanho e o nível de atividade da colônia.
Figura 9 - Trilhas de formiga cortadeira no campo.
Esta observação sugere o questionamento de algumas hipóteses. Uma delas é que
algum componente pode estar atuando como herbicida. Este pode ser um produto
não volátil e ainda não identificado, presente no feromônio de trilha. Também pode-
se sugerir a existência de metabólitos que possam ser produzidos dentro da
glândula de veneno proveniente do metabolismo das formigas. A oxidação dos
compostos feromonais pode ser citada como exemplo. Tais substâncias excretadas
poderiam apresentar atividade herbicida e estariam sendo depositados juntamente
com o feromônio de trilha. A dificuldade encontrada na identificação destas
substâncias até o momento, é justificada pelo fato destas não serem voláteis nas
condições usadas normalmente para análise. Uma vez que os métodos tradicionais
29
30
de análise de metabólitos utilizam a cromatografia gasosa acoplada a espectrômetro
de massa (CG-EM), a volatilidade dos componentes do feromônio e demais
compostos analisados é primordial para que se tenha sucesso na caracterização
através desta técnica analítica.
Uma outra possibilidade seria o fato das formigas estarem constantemente
realizando a limpeza mecânica da trilha. Assim o crescimento de qualquer tipo de
vegetação nesta área é impedido. Em 2001 Howard desenvolveu um detalhado
trabalho sobre o custo de manutenção e limpeza de trilhas ativas em colônia de Atta
columbica. Neste estudo fica evidente que a confecção das trilhas representa um
grande investimento de tempo e energia para a colônia. O autor relata a existência
de um grupo de formigas dentro da colônia cuja função é especificamente a limpeza
e manutenção das trilhas. Estes indivíduos teriam um tamanho intermediário entre
as carregadeiras e os soldados, constituindo cerca e de 4 a 5 % da população.
Por último, pode haver a possibilidade de algum dos componentes do feromônio de
trilha possuir dupla função. Além de sua atividade feromonal comprovada, pode agir
também como alomônio, demonstrando atividade herbicida. Desta forma a
germinação e rebrota de vegetação presente na área de ação do feromônio seria
impedida. É em uma averiguação minuciosa desta hipótese que este trabalho foi
baseado.
A busca pela descoberta de novos herbicida, menos tóxicos ao meio ambiente, vem
crescendo consideravelmente. Neste contexto o aminoácido histidina, por ser de
suma importância para o desenvolvimento de plantas, chama a atenção de muitos
pesquisadores. Ele está presente em animais, que o obtém através da alimentação.
Entretanto apenas vegetais o biossintetizam. Schweitzer e colaboradores (2002)
apontaram alguns compostos heterocíclicos pirrólicos como inibidores da enzima
imidazol glicerol fosfato desidratase (IGPD), que é essencial no caminho biosintético
da histidina. Como pode ser observado na Fig. 10, os inibidores da enzima IGPD
apresentam grande semelhança estrutural com o 4-metilpirrol-2-carboxilato de
metila, composto presente no feromônio de trilha de formigas cortadeiras.
NH
Me
H
O
O
OEt
OO
Et
NH
Me
H
OO
H
Me
NH
Me
H
OO
OEtNH
Me
H
OO
OEt
Me
NH
Me
O
OEt Me
OO
Me
(18)
(16)(15)
(19)
(17)
Figura 10 - Compostos pirrólicos inibidores da enzima IGPD.
Na literatura também se encontram relatos de alguns compostos derivados do ácido
pirazinocarboxílico que possuem atividades herbicidas. Em 1999 Dolezal e
colaboradores testaram a inibição fotossintética em espinafre usando pirazinas tri
substituídas nas posições 2, 3 e 5. os efeitos foram comparados com a atividade
biológica da atrazina (20), um conhecido herbicida comercial muito eficaz. Os
resultados mostraram que o composto N-(2-hidroxi-5-cloro)fenil-6-cloropirazino-2-
carboxiamida (21), Fig. 11, que é um derivado do ácido 6-cloro-2-pirazinocarboxílico,
na concentração de 8 µmol/L é tão ativo quanto a atrazina (20) em concentração oito
vezes menor.
N
N N
Cl
NHHN
CH(CH3)2C2H5
(20)
N
N NH
OCl
H OH
Cl
(21)
Figura 11 - Estruturas do herbicida comercial atrazina (20) e do N-(2-hidroxi-5-cloro)fenil-6-cloropirazino-2-carboxiamida (21), inibidor fotossintético derivado de pirazina.
31
32
Estas ocorrências deram base ao estudo mais detalhado da possibilidade do
feromônio de trilha possuir uma dupla função. O fato deste ter alguma atividade
herbicida implicaria em economia de tempo e energia na limpeza da trilha. O que
reforça as afirmações sobre o grande sucesso evolutivo das formigas cortadeiras da
tribo Attini.
Além disto, o conhecimento dos compostos presentes no feromônio de trilha, assim
como nos demais tipos de feromônio de formigas e de outros insetos, é de grande
importância para o desenvolvimento de uma alternativa no controle de insetos-
praga. A aplicação de feromônios na agricultura, como forma de monitoramento
populacional ou em armadilhas de captura de insetos, é hoje uma realidade cada
vez maior, tanto em outros países como no Brasil. Neste aspecto o emprego de
feromônios vem ao encontro das duas principais vertentes que preocupam o setor
agrícola nacional, que são a produção de alimentos com a menor concentração
possível de resíduos tóxicos e a redução no custo da produção.
33
2 – OBJETIVO
Este trabalho teve como objetivo sintetizar um dos constituintes do feromônio de
trilha de formigas cortadeiras, o 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila (1), e investigar
sua a atividade alomonal, assim como da 3-etil-2,5-dimetilpirazina (2) que também
está presente neste feromônio.
34
3 – METODOLOGIA
3.1 – Abordagem sintética
A rota sintética para a preparação do 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila (1),
composto presente no feromônio de trilha de formigas cortadeiras, foi fundamentada
nos trabalhos de Barton, Kervagoret e Zard (1990) e Apurba Bhattacharya e
colaboradores (2005). Para formar o pirrol (1), o acetato de 2-nitropropila (6) e o
isocianoacetato de metila (10) reagiram na presença de uma base forte, a
N,N,N’,N’-tetrametil-guanidina (11). O isocianoacetato de metila (10) foi sintetizado
em três etapas a partir da glicina (7), já o compostos (6) foi obtido a partir do
nitroetano (3) e do formaldeído (4) que reagiram em meio básico originando o
2-nitropropan-1-ol (5). Este último sofreu uma acetilação formando o composto (6). O
esquema 3.1. mostra a rota sintética completa de obtenção do pirrol (1).
NH3CO
O
CH3
H
(1)
(11)
MTBE/CH2Cl2
Me2N NMe2
NH
NO2 HH
O
OH
NO2
(3) (4)
(5)
(10)
OCH3
O
CN
H2N OH
O
MeOHHCl 10%
Cl-H3N+ OMe
O
(7)
(8)
HO
OEt3N
refluxo
NOMe
OH
H
O
24h
(9)
POCl3, Et3NCH2Cl2, 0°C
O
NO2
O
(6)
N
N(Me)2
O
OO
NaOH
rendimento 60%
rendimento 58%
rendimento 72%
rendimento 61%
rendimento 75%
rendimento 70%
Esquema 3.1- Rota sintética do 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila.
35
36
3.2 – Ensaios Biológicos
Os ensaios biológicos de verificação da atividade herbicida dos compostos
presentes no feromônio de trilha de formigas cortadeiras foram realizados em
conjunto com o Setor de Semioquímicos e o Setor de Plantas Daninhas e Medicinais
do Centro de Ciência e Tecnologia Agrária - CCTA.
Os ensaios foram feitos com milho, pepino e grama de jardim. Todos os testes foram
realizados em casa de vegetação. No milho e pepino, os testes visaram avaliar a
inibição do desenvolvimento da parte aérea e radicular das plantas. Esta avaliação
foi feita em dois estágios, períodos de pré e pós-emergência. Em pré-emergência as
sementes foram plantadas em vasos e a após o plantio estes foram borrifados com
2,0 mL da solução veículo contendo 100 ppm de cada tratamento testado, sendo
efetuadas quatro replicatas para cada tratamento. A aplicação dos tratamentos foi
feita somente uma vez, logo após o plantio das sementes, no ensaio em pré-
emergência, que foi finalizado trinta dias após o plantio. Em pós-emergência os
tratamentos foram aplicados vinte dias após o plantio e ainda foram feitas três
reaplicações a cada cinco dias. Cinco dias após a última reaplicação o ensaio foi
encerrado, totalizando 40 dias após o plantio.
Na grama o intuito foi analisar a inibição da rebrota em trilhas artificiais. Nos dois
testes realizados as placas de grama foram cortadas medindo 18X15 cm, e
plantadas em bandejas de alumínio que continham solo (Fig. 12. a). Foram
realizadas cinco repetições para cada tratamento. Após um período de estabilização,
confeccionou-se em cada placa uma trilha artificial medindo 15x4cm (Fig. 12. b).
Imediatamente após a confecção das trilhas, foram aplicados 20,0 mL da solução
veículo contendo 100 ppm de cada tratamento testado. A cada quatro dias eram
feitas reaplicações dos tratamentos, dois dias após a décima aplicação o ensaio foi
encerrado (Fig. 12. c), totalizando 42 dias.
Fde(d
a)
igura 12 – Fotos do processo experimental no teste e grama plantadas em bandejas de alumínio; (b) costabilização; (c) trilha correspondente ao tratamento s) trilha correspondente ao tratamento pirazina após de
b)
c)
de inibição contra grama. (nfecção da trilha após o peolução veículo após dez apz aplicações.
22 9
d)
a) Placas ríodo de licações;
37
38
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 – Abordagem Sintética
Dos compostos presentes no feromônio de trilha de formigas cortadeiras, que foram
usados nos ensaios biológicos da atividade alomonal herbicida, apenas o pirrol (1)
foi sintetizado. A pirazina (2) foi adquirida comercialmente (Acros Organics, 99%) e
empregada sem maiores purificações.
O pirrol (1) foi sintetizado através do método de Barton-Zard (BARTON,
KERVAGORE e ZARD, 1990). Neste ocorre uma reação entre o acetato
2-nitropropila (6) e o isocianoacetato de metila (10) em presença de uma base. A
reação ocorre em uma etapa, onde há a formação in situ do nitroalqueno que sofrerá
a adição nucleofílica, dando início ao processo de ciclização do anel pirrólico.
O composto (6) é obtido em duas etapas. Na primeira delas adotou-se o método
descrito por Feuer e Miller (1961), onde há a formação do 2-nitropropan-1-ol (5) a
partir do nitroetano (3) e formaldeído (4) em presença de NaOH. No mecanismo
proposto para esta reação, esquema 4.1, ocorre uma desprotonação na posição do
nitroetano pelo íon hidróxido, formando um carbânion sal nitroato. Posteriormente a
solução que contem o sal é adicionada à do paraformaldeido. Assim, ocorre o
ataque nucleofílico do carbânion à carbonila do aldeído (4) (SYKES, 1985). Por
último ocorre o ataque da água do meio reacional, formando o composto (5) com a
restituição a base.
NO2
H
HH
O
O
NO2
CN
O
O-H
..N
O
O
CN
O
H
..
H2O +
..
O H
H
HO
NO2
+ HO
(3)
(4) (5)
NO2
H
HH
O
(3) (4)
HO
NO2(5)
NaOH+
Reação:
Mecanismo proposto:
....
..HO
O
....
.. ...
......
.. ...
.. ....
..
....
..
..
..
......
Rendimento de 58%
....
Esquema 4.1 – Reação de formação do 2-nitropropan-1-ol (5) e mecanismo proposto para a adição aldólica entre nitroetano (3) e formaldeído (4).
Na segunda etapa, o 2-nitropropan-1-ol (5) é acetilado com anidrido acético com
catálise nucleofílica por 4-(N,N-dimetilamino)piridina (DMAP). Uma proposta
mecanística é sugerida no esquema 4.2. Neste a reação tem início com o ataque do
nucleófilo à carbonila do anidrido. Posteriormente ocorre um ataque nucleofílico à
carbonila do intermediário formado carregado positivamente, como este é um bom
grupo abandonador, facilita a reação de acetilação produzindo o acetato de
2-nitropropila (6).
39
HO
NO2(5)
O
NO2
O
(6)
N
N(Me)2
O
O O
Mecanismo:
O
NO2
O
NO2
O
+O
O
(6)
Rendimento 72%
N N
O
NN
O
+OH
ON
N
..
O
OON N.. O
NO2
H..
..
....
..
....
..
...... .. .. ....
..
..
.. ..
..
.. ....
..
.... ..
..
....
....
Esquema 4.2 - Reação e mecanismo proposto para a reação de acetilação do 2-nitropropan-1-ol (5).
Os dados de infravermelho (APÊNDICE A) para o acetato de 2-nitropropila (6)
mostram em 856 cm-1 o sinal de deformação axial da ligação C-NO2. Em 1229 cm-1
aparece o sinal característico de deformação axial da ligação C-O. O espectro
também apresenta o sinal de deformação da ligação axial simétrica do O=N+-O- em
1361 cm-1 e a deformação assimétrica em 1560 cm-1. Em 1751 cm-1 aparece um
forte sinal típico de deformação axial da ligação C=O. O indício de a acetilação ter
sido completa é a ausência do sinal largo característico da função álcool, na região
de 3400-3500 cm-1.
No espectro de massas (APÊNDICE B) apresenta somente um sinal em 4,6 min. No
fragmentograma observa-se o íon base com m/z igual a 43. Uma atribuição possível
para este íon seria uma clivagem α à carbonila.
40
O
NO2
O-e-
O
NO2
O
H3C C O +O
NO2m/z = 43
(6)m/z = 147 Clivagem α à carbonila
.. .
Esquema 4.3 - Provável fragmentação no espectrômetro de massas acetato de 2-nitropropila (6).
Os deslocamentos químicos obtidos a partir do espectro de RMN de 1H
(APÊNDICE C), para o composto (6) mostram um dupleto em 1,54 ppm que
corresponde ao acoplamento dos hidrogênios da metila β ao grupo nitro com os
hidrogênios do metino. Em 2,05 ppm aparece um simpleto que é característico de
metila, relativamente desblindada por estar ligada ao grupo acetato. Em 4,38 ppm
observa-se um dupleto oriundo do acoplamento do hidrogênio α ao grupo nitro com
os hidrogênios do carbinólicos. O metino α ao grupo nitro é caracterizado pelo
multipleto em 4,77 ppm.
Para a síntese do segundo precursor para a formação do pirrol (1), o isocianoacetato
de metila (10), foram necessárias três etapas. Na primeira delas adotou-se o
protocolo experimental descrito por Furniss (1989). Neste ocorre a reação entre a
glicina (7) e metanol acidificado por ácido clorídrico. Uma proposta mecanística
encontra-se no esquema 4.4, onde o sal da glicina aceita um próton do catalisador
ácido forte. Após isto, o álcool, que é o solvente da reação, ataca o grupo carbonila
protonado fornecendo um intermediário carregado positivamente. Após trocas
intermoleculares de prótons a hidroxila é protonada, gerando um bom grupo de
saída: a água. Com a perda de água o éster protonado é gerado e, em seguida é
desprotonado regenerando o próton.
Assim que o meio reacional é resfriado, em banho de gelo e sal, ocorre a formação
de um precipitado identificado como sendo o sal do éster glicina (8).
41
H2N OH
OMeOH
HCl 10%Cl-H3N+
OMe
O
(7) (8)Refluxo
Reação:
Mecanismo proposto:
ClH3N OH
O
(7)
ClH3N OH
OH
ClH3N OH
OH
Cl H3N OMe
O
(8)
..
..
....
....
..
..
.. ......
ClH3N OH
OH
Rendimento 61%
H O Me
H
..
........
....
..
..
....
........
- CH3HOH
+ CH3HOH
ClH3N OH2
OH
OMe
....
....
- H2O
....O MeH
ClH3N
OH
OMe
..
..
.. ClH3N OH
OH
OMeH
....
..
OH
Me
Esquema 4.4 - Síntese do cloridrato do éster metílico da glicina (8) e mecanismo proposto para a reação de esterificação.
Na segunda e terceira etapas seguiu-se o protocolo descrito por Hartman e
Weinstock (1988). Primeiramente ocorre a N-formilação do composto (8) com
formiato de metila em meio basificado com trietilamina, esquema 4.5.
42
Cl H3NOMe
O
(8)
H O
O
Et3N24h de refluxo
NOMe
OH
H
O
(9)
Reação:
Mecanismo proposto:
O H
O
- (HCl)
..N OMe
O
H
H
NOMe
OH
H
O
(9)
Rendimento 75%
Cl H3NOMe
O
..
NOMe
O
HO
O
HH
..
....
..
NOMe
O
HO
OH
H
....
(MeOH) -
..
..
.. ..
....
.. ..
..
..
..
..
....
..
..
..
..
.. .. ....
..
..
.... ..
..
..
Esquema 4.5 - Síntese do éster metílico da N-formilglicina (9) e mecanismo proposto para a reação.
.
Na terceira etapa o POCl3, que é um ótimo agente secante, tem como função retirar
a água gerada no meio reacional basificado por trietilamina sob atmosfera inerte de
N2. Assim, o isocianoacetato de metila (10) é formado (HARTMAN e WEINSTOCK,
1988), esquema 4.6. Durante este processo, observa-se que a coloração do o meio
reacional se torna vermelha com o passar do tempo.
43
(10)
OCH3
O
CNN OMe
OH
H
O
(9)
POCl3, Et3N
CH2Cl2, 0°C
Mecanismo proposto:
Reação:
(9)
PClCl
Cl
O
NH3CO
O H
H
O.. N
H3CO
O H
H
OP
Cl Cl
Cl
O
- ClN
H3CO
O H
H
OP
Cl
Cl O
..N
H3CO
O
H
OP
Cl
Cl O
PO Cl
Cl
O
PO
Cl Cl
O
NH3CO
O
C H
..NEt
Et
Et
NH3CO
O
C
(10)
Et3NH
....
..
..
..
....
..
......
..
..
..
..
..
..
..
..
.. ..
..
..
....
..
....
..
..
..
..
..
..
..
..
....
..
..
..
..
....
..
..
..
..
..
..
..
Rendimento 70%
Esquema 4.6 - Síntese do isocianoacetato de metila (10) e mecanismo proposto para a reação.
A extração do produto foi feita com CH2Cl2,e posteriormente este foi destilado sob
pressão reduzida (75-76°C a 10 mmHg), resultando em um líquido claro, que foi
armazenado sob atmosfera inerte e sob temperatura abaixo de 4°C.
O cromatograma em fase gasosa do isocianoacetato de metila (APÊNDICE D)
mostra somente um sinal em 6,42 minutos. No fragmentograma aparecem os íons
de m/z igual a 59 e m/z 68. Os fragmentos iônicos prováveis para estas espécies
são mostrados na Tabela 2.
44
Tabela 2 - Prováveis fragmentações no espectrômetro de massas acetato para o isocianoacetato de metila (10).
Íons (m/z) % do pico base Clivagem Fragmento iônico
59
100
α à carbonila
CN
O
OCH3
O OC 3H
68
33
α à carbonila
CN
O
OCH3
CN O
Como esperado, o espectro de RMN de 1H do composto (10) apresenta dois
simpletos (APÊNDICE E). O primeiro deles aparece em 3,84 ppm, caracterizando a
metila ligada ao oxigênio, que corresponde a metoxila da função éster. O segundo
sinal caracteriza o metileno α-carbonílico, observado por um simpleto em 4,27 ppm
no espectro de 1H.
No espectro de RMN de 13C (APÊNDICE F) obtido para o isocianoacetato de metila
(10), o carbono referente a metoxila da função éster é caracterizado pela presença
de um sinal negativo em 53,4 ppm. Outros três sinais positivos são observados. Os
sinais em 161,4 e 164,5 correspondem respectivamente ao carbono com
hibridização sp ligado ao nitrogênio e a carboxila da função éster.
O 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila foi obtido com 60% de rendimento. Este foi
igual ao relatado por Barton (BARTON; KERVAGORETe ZARD, 1990). Sendo que
na reação descrita por Barton e colaboradores, esquema 4.7, o pirrol (1) foi obtido
utilizando uma guanidina com grande impedimento estéreo, por ter um grupo t-butil
ligado ao nitrogênio. Esta base é a N-terc-butil-N’,N’,N’’,N’’-tetrametilguanidina (22),
conhecida como base de Barton (BARTON; ELLIOTT e GÉRO, 1981).
45
NH3CO
O
CH3
H(1)
(10)
OCH3
O
CN (22)
Rendimento 60%
O
NO2
O
(6)THF/t-BuOH
Me2N NMe2
N
Esquema 4.7 - Síntese do 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila (1) realizada por Barton-Zard.
Neste trabalho, foi usada a N’,N’,N’’,N’’-tetrametilguanidina (11), na síntese o pirrol
(1). Esta base tem um pKBH+ igual a 23,3 (SIGMA-ALDRICH, 2003) e é bem mais
barata que a base de Barton. Utilizando terc-butanol (BuOH) e tetraidrofurano (THF)
como solventes, conforme é descrito no protocolo de Baton. Os melhores
rendimentos obtidos na reação variam entre 17-24%.
Em 2006 foi publicado um trabalho sobre os efeitos dos solventes em síntese
orgânica de pirróis pelo método de Barton-Zard por pesquisadores do departamento
de química da Universidade de Kingsville (BHATTACHARYA, et al, 2006 ).
Estes pesquisadores realizaram um estudo visando desenvolver um método que
aumentasse os rendimentos na síntese e pirróis segundo o protocolo experimental
descrito por Barton, uma vez que, este normalmente leva a rendimentos
consideravelmente baixos. Os autores conseguiram um aumento significativo no
rendimento na síntese do 3,4-dietil-2-pirrol carboxilato de etila (98–100%), apenas
com a substituição do solvente terc-butanol por metil-terc-butil éter (MTBE). Os
rendimentos encontrados para a obtenção do mesmo produto usando o BuOH
variavam entre 45-50%. Ainda não foram realizadas pesquisas detalhadas dos
mecanismos que levam a uma melhor compreensão neste processo.
Este estudo induziu a troca do solvente. Seguindo o protocolo experimental de
Barton, porém usando o MTBE, o rendimento alcançado foi o mesmo do relatado por
Barton. Este foi um ótimo resultado considerando que a base empregada na síntese
tem um impedimento estéreo inferior à de Barton, o que levaria ao aparecimento de
reações colaterais indesejadas.
46
A formação do pirrol (1) tem início com o ataque da base (11) ao acetato de
2-nitropropila (6), que com a eliminação de acetato, forma o 2-nitropropeno in situ.
Simultaneamente ocorre o ataque da base ao isocianoacetato de metila (10),
originando um nucleófilo.
NO2
O
H
(6)
OCH3
O
CN
H
B
BH + +
B
HC CN
OCH3
O
+
(10)
NO2
O
O
O..
..
....
..
..
..
..
..
........
....
.. ..
Esquema 4.8 – Formação dos intermediários da reação de síntese do pirrol (1).
Com os dois intermediários formados ocorrerá uma adição de Michael do nucleófilo
ao 2-nitropropeno. Após esta adição, acontece a migração de um par de elétrons do
carbono α-NO2, fechando o anel. Após o fechamento ocorre a eliminação de nitrito
e, em seguida, um duplo rearranjo [1,5] sigmatrópico, restaurando a aromaticidade
do anel pirrólico, esquema 4.9.
47
NO2
B+H
C
NO2
O
OCH3NCC
N
NO2CH3
O
OCH3HCCN
OCH3
O
(1)
N
O2N CH3
O
OCH3
H
B
-NO2N
CH3
O
OCH3
HH
N
CH3
O
OCH3
HH
H
[1,5]2 x
.. ..
..
................................
..
....
....
..
....
..
......
.. .. .. .. ..
.. ..
....
Esquema 4.9 - Mecanismo da reação de síntese do pirrol (1).
Os mecanismos envolvidos nos rearranjos sigmatrópicos levam em consideração a
simetria dos orbitais de fronteira (HOMO e LUMO). É esta simetria que justifica a
ocorrência do rearranjo [1,5] sigmatrópico na formação do pirrol. Este rearranjo tem
início com a quebra da ligação sigma (σ ), entre carbono e hidrogênio, e migração do
próton. Posteriormente a ligação π se move ocorrendo o rearranjo dos elétrons, e ao
término do rearranjo uma nova ligação (σ) é formada. Como a aromaticidade do anel
ainda não foi restituida, ocorre um novo rearranjo. O rearranjo [1,5] sigmatrópico é
suprafacial, uma vez que a migração do hidrogênio da espécie intermediária está na
mesma face do sistema π. O esquema este rearranjo é mostrado a seguir.
48
49
H
HN
CH3
O
H3C OH
N
CH3
H
12
34
5
H
O
H3C O
H N
CH3
O
H3C O
H
H
H
(1)Esquema 4.10 – Duplo rearranjo [1,5] sigma-trópico que ocorre para a formação do pirrol (1).
A caracterização do 4-metilpirrol-2-carboxilato de metila foi realizada por medida de
ponto de fusão, IV, CG-EM e RMN de 1H e 13C. O ponto de fusão medido foi de
71,5-72,5 °C. Este valor está muito próximo do descrito por Sonnet (1972), que varia
na faixa de 72,5-73,5 °C.
O espectro de infravermelho (APÊNDICE G) apresenta um sinal em 1213 cm-1
referente à deformação axial assimétrica acoplada das ligações C(=O)-O. Também
estão presentes os sinais em 1448, 1489 e 1578 cm-1 atribuídas aos estiramentos
das ligações C=C do anel aromático, confirmando a ciclização. Há em 1674 cm-1 o
sinal característico da deformação axial da ligação C=O. Outro sinal relevante é o da
deformação axial da ligação N-H em 3285 cm-1.
No espectro de massas do composto (1) observa-se o sinal em m/z 139 que
corresponde ao íon molecular, além de um sinal, cuja atribuição seria devido a uma
clivagem α à carbonila resultando em uma espécie de m/z 108 (APÊNDICE H).
N
H3C
O
OCH3
H
HH
.N
H3C
O
OCH3
H
H
H
-e-N
H3C H
H
OCH3.
m/z = 139(1)
m/z = 108Clivagem α à carbonila
HO
Esquema 4.11 - Provável fragmentação no espectrômetro de massas acetato para o pirrol (1).
No espectro de RMN de 1H para o pirrol (1) (APÊNDICE I), observa-se um simpleto
em 2,098 ppm correspondente aos hidrogênios da metila ligada ao anel na posição
4. Os hidrogênios da metila ligada ao grupo acetato são mais desblindados e
aparecem em um simpleto em 3,832 ppm. Dois simpletos muito próximos são
observados em 6,724 e 6,717 ppm, estes correspondem aos hidrogênios ligados ao
anel nas posições 5 e 3 respectivamente. Também há um sinal largo em 9,075 ppm
característico de hidrogênio ligado a nitrogênio de anel pirrólico.
O espectro de RMN de 13C (APÊNDICE H) obtido para o pirrol (1), mostra três sinais
negativos. Em 162,030 ppm aparece um sinal que correspondem à carbonila da
função éster. Em 122,195 e 120,888 ppm estão os sinais dos carbonos 2 e 4 do anel
pirrólico, Fig. 13. Na parte positiva do espectro aprecem outros quatro sinais. Os
carbonos ligados nas posições 5 e 3 do anel têm os respectivos deslocamentos
121,335 e 116,037 ppm. Em 51,386 ppm há um sinal referente ao carbono da
metoxila a função éster e em 11,924 ppm está o sinal do carbono da metila ligada na
posição 4 do anel pirrólico.
(1)
34
5
N2 OCH3
O
H3C
H
H
H
50
4.2 – Ensaios biológicos
Em todos os ensaios biológicos foi realizado um tratamento utilizando o ácido
pirazino-2-carboxílico (12). O feromônio de trilha é armazenado na glândula de
veneno das formigas cortadeiras. Ali pode ocorrer alguma reação que transforme os
compostos do feromônio de trilha em um derivado menos volátil, como um ácido, por
exemplo. É claro que a confirmação desta hipótese necessita de pesquisa mais
aprofundada como a microderivatização de compostos presentes no extrato desta
glândula.
Nos ensaios também foram usados herbicidas comerciais como forma de controle
experimental. No primeiro teste de inibição contra grama o herbicida alaclor (13) foi
empregado como controle. Nos testes realizados em milho, pepino e no segundo
teste de inibição contra grama, o herbicida usado foi o ácido 2,4-diclorofenoxiacético,
conhecido popularmente como 2,4 – D (14). As estruturas destes compostos, assim
como a do ácido pirazino-2-carboxílico (12), são mostradas na Fig. 13.
N
NOH
O
NCl
O
O
Alaclor (13)Cl
ClO COOH
Ácido 2,4-diclorofenoxiacético (14)Ácido 2-pirazinocarboxílico (12) Figura 13 - Estruturas do ácido 2-pirazinocarboxílico (12), alaclor (13) e 2,4-D (13).
51
52
4.2.1 - Bioensaios em milho e pepino
Os ensaios realizados em milho e pepino visaram avaliar o efeito dos compostos
testados em dois estágios: pré e pós-emergência. No primeiro o objetivo foi analisar
se de alguma forma os composto afetavam a germinação das plantas. No segundo
estágio, o objetivo foi avaliar se haveriam efeitos no desenvolvimento das plantas
formadas.
Os testes realizados em pré-emergência no milho, assim como os realizados no
pepino, não apresentaram diferenças estatísticas da solução veículo. Ambos foram
diferentes somente do controle com o herbicida comercial. No milho, o fato das
sementes usadas serem selecionadas e a alta resistência que esta gramínea
apresenta, justificam os resultados negativos no ensaio. O milho mostrou-se tão
resistente, que nem no tratamento realizado utilizando o 2,4-D houve uma inibição
expressiva. Estes resultados podem ser vistos na Tabela 3 e na Fig. 14.
Tabela 3 - Médias de massa seca da plântula de milho tratada com diferentes compostos em pré-emergência.
Tratamentos Média da massa seca (g)* Desvio padrão (g) Solução veículo 0,9384 a ± 0,1405 4-Metilpirrol-2-carboxilato de metila (1) 1,1885 a ± 0,1654 4-Metilpirrol-2-carboxilato de metila (1) + 3-etil-2,5-dimetilpirazina (2) 1,0288 a ± 0,1631
3-Etil-2,5-dimetilpirazina (2) 1,0198 a ± 0,1252 Ácido pirazino-2-carboxílico (12) 1,0317 a ± 0,2333 2,4-D (14) 0,5784 b ± 0,1259
* As média seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4 a
a
a a
a
b
Teste de inibição contra milho em pré-emergência
Méd
ia d
a m
assa
sec
a (g
)
(14)(12)(2)(1) + (2)(1)Solução
Tratamentos
Figura 14 - Médias de massa seca da plântula de milho tratada com diferentes compostos em pré-emergência.
No pepino, devido a alta sensibilidade que este apresenta, observou-se que o
controle realizado com o herbicida 2,4-D (14) inibiu fortemente o crescimento das
plantas, Tabela 4 e Fig. 15. Enquanto os outros tratamentos não apresentaram
inibição.
Tabela 4 - Médias de massa seca da plântula de pepino tratada com diferentes compostos em pré-emergência.
Tratamentos Média da massa seca (g)* Desvio padrão (g) Solução veículo 0,6217 a ± 0,0766 4-Metilpirrol-2-carboxilato de metila (1) 0,5178 a ± 0,1229 4-Metilpirrol-2-carboxilato de metila (1) + 3-etil-2,5-dimetilpirazina (2) 0,5684 a ± 0,0654
3-Etil-2,5-dimetilpirazina (2) 0,6283 a ± 0,1452 Ácido pirazino-2-carboxílico (12) 0,4062 a ± 0,0526 2,4-D (14) 0,0965 b ± 0,1118 * As média seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
53
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
a
a a
a
a
b
Méd
ia d
a m
assa
sec
a (g
)
Tratamentos
Teste de inibição contra pepino em pré-emergência
(14)(12)(2)(1) + (2)(1)Solução
Figura 15 - Médias de massa seca da plântula de pepino tratada com diferentes compostos em pré-emergência.
Em pós-emergência, os resultados encontrados para o milho mostram que não há
diferenciação estatística entre os tratamentos do ensaio, pelos motivos já