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1) Professora do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Mestrado em Engenharia Industrial do UnilesteMG 2) Aluna do Mestrado em Engenharia Industrial do UnilesteMG. 3) Alunas do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental do UnilesteMG.
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
1
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA EM TRÊS CÓRREGOS DE PEQUENA ORDEM EM ÁREAS OCUPADAS POR PLANTIO DE
EUCALIPTO NO MÉDIO RIO DOCE – MG
Gabriela von Rückert1; Sabrina Nolasco C. de Paula2; Kelen Karla R. Oliveira3; Gabriela Vieira Peixoto3
RESUMO Alterações nas características físicas, químicas e biológicas da água podem refletir as modificações no ambiente terrestre adjacente, de forma que a ocupação de uma bacia afeta diretamente a qualidade de suas águas. Este trabalho visou avaliar o possível impacto gerado pelo eucalipto sobre a qualidade da água de três córregos situados no Médio Rio Doce. Foram avaliados clorofila-a, oxigênio dissolvido (OD), pH, P-total, P-dissolvido e sólidos em suspensão (SS), entre agosto de 2010 e maio de 2011 nos pontos Córrego Grande 01 e 02, Milagre e Vai-e-volta. P-total apresentou valores superiores ao limite CONAMA 357/2005 para a classe 2 em todos os pontos, enquanto OD e pH estiveram inadequados em alguns períodos em Milagre. Córrego Grande 02 apresentou maiores valores de SS e de P-dissolvido, possivelmente em decorrência de sua posição à jusante de Córrego Grande 01 e por ser um trecho de 3ª ordem. As diferenças encontradas entre algumas variáveis indicam que não apenas a cobertura do solo é determinante para a qualidade da água, pois todos os ambientes encontravam-se em áreas de plantio de eucalipto com vegetação ripária preservada. Desta forma, a avaliação de características morfométricas e hidrológicas das bacias poderiam auxiliar na compreensão da dinâmica destes ambientes. ABSTRACT Changes in physical, chemical and biological water characteristics can reflect the changes in the adjacent terrestrial environment, thus the watershed occupation affects directly the quality of its waters. This study aims to evaluate the possible impact caused by eucalyptus culture on the three streams water quality located in the Middle Doce River. We evaluated chlorophyll-a, dissolved oxygen (DO), pH, total and dissolved phosphorus and suspended solids (SS), between August 2010 and May 2011 in Córrego Grande 01 and 02, Milagre and Vai-e-volta sample points. Total phosphorus values were above the CONAMA 357/2005 limit for class 2 in all sample points, while DO and pH were inadequate in some periods in Milagre. Córrego Grande 02 exhibited the highest values of SS and dissolved phosphorus, possibly because of its downstream position of Córrego Grande 01 and being a stretch of 3rd order. The differences found between some variables indicate that not only the land cover is critical to determinate the water quality since all environments evaluated were situated in eucalyptus areas with riparian vegetation preserved. Thus, evaluation of morphometric and hydrological characteristics of the basins could help for understanding the dynamics of these environments.
Palavras-chave: eucalipto, qualidade da água, Rio Doce.
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2
1 – INTRODUÇÃO
Alterações nas características físicas, químicas e biológicas da água podem ser o reflexo de
modificações no ambiente terrestre da sua área de drenagem, de forma que a ocupação de uma bacia
afeta diretamente a qualidade de suas águas. Processos naturais (precipitação, intemperismo,
cobertura vegetal) e antrópicos (agricultura, urbanização, atividade industrial) influenciam
diretamente a qualidade das águas por serem capazes de provocar alterações em suas propriedades
(Abdala et al., 2009). Dentre esses processos, a fertilização e manejo de culturas podem levar a
entrada de nutrientes nos corpos d’água, ocasionando a perturbação do ambiente e iniciando o
processo de eutrofização do mesmo. Desta forma, a contaminação de corpos d’água por atividades
humanas tem causado a deterioração da qualidade e limitando os possíveis usos deste recurso.
Vários estudos evidenciaram os efeitos da cobertura e uso do solo sobre o ambiente aquático
quanto à concentração ou fluxo de sólidos e de nutrientes, como fósforo e nitrogênio (e.g. Jones et
al., 2001; Lacey, 2000; Wickham et al., 2003), além da composição e integridade da biota, como
das comunidades de algas e macroinvertebrados bentônicos (e.g. Leland e Porter, 2000; Sponseller
et al., 2001; Hepp e Santos, 2008). A maioria dos estudos evidencia a deterioração da qualidade
ecológica destes ambientes em decorrência da substituição da vegetação natural por ocupação
humana (agricultura, urbanização, etc.) e redução ou alteração da vegetação ripária.
Como enfatizado por Vital (2007), a atividade de silvicultura, como o plantio de eucalipto,
vem sendo questionada quanto aos seus impactos negativos sobre o meio ambiente, relacionados,
principalmente, com quantidade e qualidade da água, perda de solo e nutrientes. Entretanto, muito
destes possíveis impactos ainda não foram comprovados cientificamente.
Sabe-se que a cobertura vegetal e diferentes usos do solo influenciam diretamente a
hidrologia florestal e que alterações nesses compartimentos da bacia interferem na qualidade da
água. Isso porque numa bacia hidrográfica florestal cuja cobertura seja uma floresta nativa ou
cultivada, a regularidade do dossel faz com que a interceptação das gotas de chuva seja
praticamente uniforme (Lima, 2008), favorecendo o processo de infiltração (Oleriano e Dias, 2007)
se comparadas com áreas de agricultura e pecuária (Sabará, 1999).
Azevedo (1995) comparou microbacias com diferentes coberturas vegetais: mata nativa,
pastagem e eucalipto, e verificou que na bacia onde predominava o eucalipto a vazão dos corpos
hídricos aumentava lentamente depois da chuva, mostrando que a saída de água era mais lenta se
comparada à bacia coberta somente com pasto. Assim é possível que o processo de infiltração da
água da chuva seja favorecido quando há regularidade no dossel, recarregando o lençol freático e
melhorando a vazão da bacia.
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3
As plantações de eucalipto são, em geral, capazes de interceptar de 11 a 20% da chuva, valor
menor do que o de uma floresta natural, como a Mata Atlântica, mas maior que o de uma vegetação
rasteira, como uma pastagem (Vital, 2007).
Por favorecerem o processo de infiltração e minimizar a erosão, bacias ocupadas por
florestas plantadas, apresentam, geralmente, uma melhor qualidade de seus cursos d’água do que
aquelas com outra forma de ocupação humana (Chang, 2003). Tal qualidade é avaliada quanto à
manutenção da biota e dos usos humanos deste recurso. Na bacia do Médio Rio Doce, em Minas
Gerais, a constatação de uma melhor qualidade de água em bacias com plantio de eucalipto
(floresta), comparadas a bacias com atividades agropastoris, foi detectada por Sabará (1999).
Em Minas Gerais, o plantio de eucalipto representa cerca de 2% da área do Estado,
correspondendo a 1,278 milhões de hectares em 2008, o que representou 30% de todo o eucalipto
plantado no Brasil (CIFLORESTAS, 2009). De acordo com a Associação Mineira de Silvicultura –
AMS (2009), cerca de 9% das áreas de plantio de eucalipto mineiras são destinadas à produção de
celulose. Cabe ressaltar que o Estado foi o quarto produtor de pasta de celulose no país em 2008,
representando 9,5% da produção nacional (BRACELPA, 2009). Isto demonstra a importância do
setor na economia do Estado e do país, o qual é baseado na plantação de florestas, principalmente,
de eucalipto.
No Estado, as florestas plantadas concentram-se nas regiões do Rio Doce, Centro-Oeste,
Noroeste, Centro/Norte e Jequitinhonha/Mucuri, sendo que três últimas ocupam as maiores
extensões. Apesar de não ocupar as maiores extensões, a região do Rio Doce possui nove dos dez
municípios com maior área ocupada por reflorestamentos com Eucalyptus spp. O município com
maior proporção de área ocupada por reflorestamento é Coronel Fabriciano, que apresenta cerca de
13000 ha cobertos (58% de sua área total). Os demais são, em ordem decrescente de sua área total
ocupada por reflorestamentos, João Monlevade (43,4%), Bela Vista de Minas (33%), Antônio Dias
(31%), Belo Oriente (30%), Ipaba (29%), Santana do Paraíso (26%), São Gonçalo do Rio Abaixo
(26%) e Nova Era (20%) (Carvalho et al., 2005).
Este trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade da água para a manutenção da vida
aquática e demais usos humanos de cursos d’água lóticos de pequena ordem localizados em área de
plantio de eucalipto: Córrego Grande, Milagres e Vai-e-Volta, situados no médio Rio Doce – MG.
2 – MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 - Área de estudo
Este estudo foi realizado em três córregos situados no Médio Rio Doce, Minas Gerais, na
sub-bacia do Rio Santo Antônio (UGRH DO3). São cursos d’água de pequena ordem (1ª a 3ª
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ordem) e localizam-se nos municípios de Açucena, Belo Oriente e Coronel Fabriciano,
respectivamente (Tabela 1 e Figura 1). As microbacias são ocupadas por áreas de reflorestamento
com Eucalyptus spp e áreas de reserva legal e preservação permanente compostas por matas ciliares
e vestígios de Mata Atlântica e se encontram nos projetos de plantio: Córrego Grande, Milagre e
Vai-e-Volta.
O clima da região é tropical quente semi-úmido, que se caracteriza por temperaturas médias
mensais acima de 18°C e por um período seco de 4 a 5 meses no inverno. A estação chuvosa é de
outubro a março, sendo as chuvas concentradas no verão (IBGE,2002).
Tabela 1 – Localização dos pontos de coleta.
Ponto Município Ordem do curso d”água
Latitude Longitude
Córrego Grande 01 Açucena 1ª S 19º 05' 25'' O 42º 28' 13''
Córrego Grande 02 Açucena 3ª S 19º 06' 34'' O 42º 28' 31''
Milagre Belo Oriente 1ª S 19º 18' 11'' O 42º 28' 54''
Vai-e-volta Coronel Fabriciano 1ª S 19º 19' 09'' O 42º 41' 23''
A B
C D Figura 1 – Vista local dos pontos de coletas.
A – Milagre, B – Vai-e-volta, C – Córrego Grande 01 e D – Córrego Grande 02.
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2.2 - Amostragem e análises
Foram monitorados mensalmente 04 pontos de coleta entre agosto de 2010 e maio de 2011:
02 em Córrego Grande, 01 em Milagre e 01 em Vai-e-volta. A coleta das amostras de água foi
realizada no ponto central do canal e na profundidade média da coluna d’água. As coletas mensais
permitiram a avaliação da variação sazonal decorrente dos períodos de chuva e seca.
Foram avaliados pH, oxigênio dissolvido e temperatura in situ com uma sonda
multiparâmetros modelo HANNA HI9828. As amostras foram mantidas sob refrigeração e
encaminhadas ao Laboratório de Pesquisa Ambiental do UnilesteMG para processamento e análise
das demais variáveis. Sólidos em suspensão e clorofila-a foram analisados segundo os métodos
2540 D e 10200 H, respectivamente, de APHA (2005). Para as análises de fósforo total e dissolvido
(PO4) foi utilizado o kit MERCK 1.14.848, sendo que a digestão de P-total para ortofosfato foi
realizada por meio do kit MERCK 1.14.687.
2.3 - Tratamento dos Dados
Os dados foram inseridos em um banco e organizados em gráficos e tabelas. Para a
avaliação estatística da existência de diferenças dos valores obtidos entre pontos de coleta e entre
estações seca (S) e chuvosa (C) utilizou-se ANOVA seguida do Teste de Tukey ou Teste-t (5%).
Dados que não apresentaram normalidade avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk e/ou homogeneidade
avaliada pelo teste Brown-Forsythe foram logaritimizados.
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores de P-total variaram de 0,057 a 0,389 mg.L-1 (Figura 2). Apesar da variação ao
longo do tempo, não houve diferença das médias de concentração entre os pontos de coleta (Tabela
2 - ANOVA, N=35, df=3, F=0,95, p=0,42). A maioria dos valores obtidos, principalmente na
estação chuvosa, foram superiores a 0,1 mg.L-1, limite da classe 2 do CONAMA 357/05 (Brasil,
2005). O valor médio na estação chuvosa (0,190 mg.L-1) foi superior ao da estação seca (0,108
mg.L-1) (Test-T, N=35, df =1, T=3,87, p<0,0001).
Nos corpos d’água, a disponibilidade de fósforo resulta principalmente da lixiviação do solo
e decomposição de matéria orgânica. Pode ser resultado da ação antrópica, como o uso de
fertilizantes nas plantações e o despejo de efluentes industriais e urbanos (Poggiani, 1985). Assim, é
comum o aumento das concentrações de fósforo nos corpos d’água na estação chuvosa, já que há
um aumento da lixiviação.
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Figura 2 – Concentração de fósforo total nos quatro pontos amostrados no período de agosto de
2010 a maio de 2011
Tabela 2 – Resumo estatístico das variáveis avaliadas por ponto de coleta.
Córrego Grande 1 Córrego Grande 2 Milagre Vai-e-volta
M Mi Mx M Mi Mx M Mi Mx M Mi Mx
pH 6,86AB (0,28)
6,42
7,32
7,22A
(0,40) 6,44
7,74
6,00C
(0,34) 5,25
6,27
6,53B
(0,39) 6,01
7,16
Sólidos suspensos (mg.L-1)
2,13B
(0,95) 1,00
3,20
9,36A
(3,20) 5,40
13,15
2,08B
(0,69) 1,35
3,10
0,49C
(0,20) 0,25
0,70
OD (mg.L-1)
8,16A (2,45)
4,83
11,90
8,50A
(2,00) 5,56
11,23
4,47B
(1,26) 3,12
6,32
7,95A
(1,97) 5,33
11,26
Clorofila (µµµµg.L-1)
1,41 (1,30)
0,11 3,26 2,78 (1,66)
1,47 5,21 2,42 (1,86)
0,77 4,94 1,05 (1,09)
0,19 3,61
P-total (mg.L-1)
0,13 (0,05)
0,06 0,22 0,16 (0,05)
0,09 0,23 0,19 (0,11)
0,06 0,39 0,15 (0,06)
0,08 0,27
P- dissolvido (mg.L-1)
N.D N.D N.D 0,009(0,00)
0,00 0,04 N.D N.D N.D N.D N.D N.D
M – média (Desvio Padrão), Mi – valor mínimo, Mx – valor máximo. Médias com mesma letra não apresentam diferença estatística ao nível de 5% entre os pontos N.D – não detectável
O fósforo ocorre na água nas formas orgânica e inorgânica, estando particulado ou
dissolvido. Estas formas combinadas estão continuamente em transformação na coluna d’água e no
sedimento, passando por decomposição e síntese (Calijuri, 1999). O PO4 é a forma dissolvida mais
comum em águas naturais e a mais facilmente absorvida pelos organismos aquáticos (Lima, 2008) e
por isso a elevação de suas concentrações acima do limite é tão preocupante. O PO4 é o principal
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elemento que favorece o processo de eutrofização, atuando como principal fator limitante da
produtividade dos ecossistemas aquáticos (Novo e Braga, 1995).
Exceto para Córrego Grande 02, em todos os pontos e períodos amostrados, as
concentrações de fósforo dissolvido encontraram-se abaixo de 0,010 mg.L-1, limite de detecção do
método, sugerindo que o fósforo estava pouco disponível para assimilação pela biota (Tabela 2).
Outra forma de comprovar essa disponibilidade para assimilação do fósforo é conhecer
quantitativamente a biomassa fitoplanctônica, principal reservatório de fósforo na biota aquática,
através da medição da clorofila-a na água. Sendo a clorofila-a um dos principais responsáveis pela
fotossíntese, o conhecimento de sua concentração pode dar indicativos da biomassa do fitoplâncton,
pois é uma medida indireta da quantidade de organismos clorofilados presentes num ambiente
hídrico (Lima, 2008; Esteves, 1988). Nos quatro pontos de coleta foram encontrados valores de
clorofila inferiores a 2,5 µg.L-1 (Tabela 2), reforçando a hipótese de que o P-total não está na biota.
Concentrações mensuráveis de fósforo dissolvido (Tabela 2) só foram encontradas em dois
períodos em Córrego Grande 02, nos meses de fevereiro e maio de 2011. Como Córrego Grande 02
é um ponto à jusante de Córrego Grande 01 e também o único ponto situado num trecho do rio em
nível de 3ª ordem, é possível que o P-total tenha sido decomposto e disponibilizado na forma de
ortofosfato ao longo do curso d’água.
Os valores médios de sólidos suspensos na água apresentaram diferença significativa entre
os pontos (Tabela 2 - ANOVA, N= 26, df=3, F=49,06, p<0,0001), sendo o maior valor em Córrego
Grande 02 e o menor em Vai-e-volta – 9,36 e 0,49 mg.L-1, respectivamente (Tabela 2, Figura 3).
Isso sugere a ocorrência de um maior aporte de solo em Córrego Grande 02, já que a presença de
sólidos suspensos na coluna d’água é devido, principalmente, ao escoamento superficial e
ocorrência de ressuspensão dos sedimentos de fundo, devido à ação de vento (Novo e Braga, 1995).
Variações dessas propriedades irão determinar os locais preferenciais de deposição das partículas e
de assoreamento. Como discutido anteriormente, Córrego Grande 02 encontra-se em uma região do
curso d’água de maior ordem, o que pode ter favorecido a detecção do efeito de sua maior área de
drenagem sobre a qualidade da água.
A Figura 4 mostra que os valores de oxigênio dissolvido foram frequentemente inferiores a
5 mg.L-1, limite para classe 2, apenas em Milagre, que apresentou-se com média significativamente
inferior aos demais pontos (Tabela 2 - ANOVA, N=35, df=3, F= 7,36, p=0,0007). Este ponto
encontra-se em área com densa mata ripária, o que favorecia o acúmulo de folhiço sugerindo que o
O2 esteja sendo consumido para a decomposição da matéria orgânica acumulada. Isto é reforçado
pelos baixos valores de oxigênio dissolvido em % de saturação (34,8 a 75,7%) observados em
Milagre. Na dinâmica e caracterização de ecossistemas aquáticos o oxigênio dissolvido tem papel
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8
fundamental e pode ser usado como um dos parâmetros de determinação da qualidade da água, pois
tanto o excesso como a diminuição na sua concentração são sintomas de alterações nos corpos
d’água (Esteves, 1988). A diminuição ou a ausência de oxigênio dissolvido na água é fator
limitante no ambiente aquático para peixes e outros animais.
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14
ago/10 set/10 out/10 nov/10 dez/10 jan/11 fev/11 mar/11 abr/11 mai/11
Só
lid
os
em
su
spe
nsã
o (
mg
.L-1
)
Milagres Córrego Grande 01 Córrego Grande 02 Vai-e-volta
Figura 3 – Concentração de sólidos em suspensão na água nos quatro pontos amostrados no
período de outubro de 2010 a abril de 2011
Figura 4 – Concentração de oxigênio dissolvido nos quatro pontos amostrados no período de agosto
de 2010 a maio de 2011
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 9
O pH geralmente responde à disponibilidade de CO2 na água, de forma que o consumo ou
liberação deste gás promove a alcalinidade ou acidez da água. Desta forma, a fotossíntese e a
decomposição de matéria orgânica são processos biológicos que afetam diretamente o pH ao
interferir no consumo e liberação de CO2, respectivamente (Tundisi e Matsumura-Tundisi, 2008). O
pH das amostras ficou dentro da faixa comum para corpos d’água naturais (entre 6,0 e 9,0,) e em
acordo com o limite estabelecido para classe 2 (Figura 5), exceto para Milagre que apresentou pH
inferior aos demais pontos (ANOVA, N=35, DF=3, F=18,25, p<0,0001). Em Milagre, o acúmulo de
matéria orgânica em decomposição que possivelmente levou as baixas concentrações de O2,
também dever ter propiciado a característica mais ácida da água.
Figura 5 – Valores de pH nos quatro pontos amostrados no período de agosto de 2010 a maio de
2011.
4 – CONCLUSÃO
Os ambientes monitorados apresentaram valores de fósforo total acima do limite
estabelecido pelo CONAMA 357/2005 para classe 2, principalmente no período das chuvas. Isto
pode estar caracterizando uma influência negativa do uso do solo para o plantio do eucalipto sobre
estes ambientes. Entretanto, como as concentrações de fósforo dissolvido e clorofila-a nas águas
encontraram-se abaixo do limite supracitado, acredita-se que o fósforo não esteja sendo
disponibilizado para a assimilação pela biota aquática nos locais amostrados, não existindo o risco
iminente de eutrofização desses ambientes.
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 10
Córrego Grande 02 parece ter uma influência maior da área de drenagem da sua bacia
hidrográfica, evidenciado pela maior concentração de sólidos suspensos e fósforo dissolvido.
Todavia, tais alterações não degradaram a qualidade de sua água.
Os valores de oxigênio dissolvido e pH verificados nos locais amostrados estavam dentro do
limite permitido para classe 2, com exceção de Milagre, onde verificou-se uma forte influência do
acúmulo de matéria orgânica sobre a disponibilidade de oxigênio e acidez da água. Tais
características podem ser decorrentes de processos naturais e independentes da ocupação pelo
plantio. Para verificar isto, sugere-se avaliar a vazão e teor de matéria orgânica para a melhor
compreensão do processo de consumo e liberação de oxigênio e gás carbônico no sistema, ou seja, a
sua produtividade.
As diferenças encontradas entre os pontos amostrados indicaram que apesar de estarem sob
o mesmo uso do solo (plantio de eucalipto) e região, os ambientes apresentam particularidades que
podem levar a níveis melhores ou piores de qualidade de água, o que indica que o potencial de
impacto sobre o ecossistema aquático pode ser diferenciado. Cabe ressaltar que a vegetação ripária
dentro da área de APP encontra-se dentro dos limites legais nos ambientes estudados.
Possivelmente, a caracterização morfométrica e hidrológica, como declividade, tipos de
solo, regime climático e vazão, além de um levantamento das práticas de manejo florestal, podem
auxiliar na compreensão das particularidades da qualidade da água nestes ambientes. Também se
sugere que outras variáveis sejam avaliadas para que esta adequação seja melhor compreendida.
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