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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS XIV COLEGIADO DE LETRAS MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA VARIAÇÃO RURAL , Conceição do Coité 2009

Avaliação que os falantes urbanos fazem na variação rural

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Page 1: Avaliação que os falantes urbanos fazem na variação rural

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV

COLEGIADO DE LETRAS

MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA

AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA

VARIAÇÃO RURAL

,

Conceição do Coité

2009

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MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA

AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA

VARIAÇÃO RURAL

Monografia apresentada ao Departamento de Educação, da Uneb campus XIV Conceição do Coité, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação em Licenciatura em Letras Vernáculas. Orientadora: Professora Doutora Lucia Maria de Jesus Parcero.

Conceição do Coité

2009

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AGRADECIMENTOS

É maravilhoso, Senhor, ter uma família para amar, pais tão especiais

como os que me deste. A vocês pais queridos: Salvador e Dalva, agradeço a benção

da vida, a pessoa que sou e aos sonhos que pude realizar. A vocês irmãos: Sineide,

Nilma,Joilson,Ailton e Wilson,obrigada pela força e torcida.

O professor é um profissional cuja bagagem existencial se estampa

naquilo que ele faz: ensinar e aprender, a descobrir, a inventar. A vocês professores:

Lúcia Parcero e Deijair meu muito obrigado pela parcela que me contribuiu.

Gosto de pensar o afeto como a emoção que torna o outro especial.

Algo que é estruturante do sujeito e da relação, algo que desassossega em seu

dever, porque o outro não é mais o mesmo depois que é amado. Ao meu amado

Gilmar, obrigada por todo carinho, compreensão e ajuda.

Na vida somos nutridores de sonhos porque “sem sonho, não há

vida possível”. E sem amigos, não há vida suportável. Aos amigos: Genilda,

Gildeone,Bella e Keilla, obrigada pela ajuda e pelo incentivo.

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“Tudo é do pai toda honra e toda glória é dele a

vitória alcançada em minha vida”

(Pe. Fábio de Melo).

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Língua portuguesa Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura. A bruta mina entre os cascalhos vela. Amo-te assim desconhecida e obscura Tuba de alto clamgor , lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo das saudades e da ternura! Amo teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouve:”meu filho!”, E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Olavo Bilac

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TERMO DE APROVAÇÃO

MARIA DILMA CARNEIRO DE OLIVEIRA

AVALIAÇÃO QUE OS FALANTES URBANOS FAZEM DA VARIAÇÃO RURAL

Avaliação que os falantes urbanos fazem da variação rural. Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciada em Letras Vernáculas, Departamento de Educação (DEDC), campus XIV, Conceição do Coité, Universidade do Estado da Bahia (UNEB), pela seguinte Banca Examinadora: Orientadora: Lúcia Parcero______________________________________________ Professora da UNEB - campus XIV Deijair Ferreira da Silva_________________________________________________ Professor da UNEB - campus XIV Rosana_____________________________________________________________ Professor da UNEB – XIV

Conceição do Coité, 03 de abril de 2009.

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RESUMO

A monografia que ora se apresenta versa sobre a avaliação que os falantes urbanos fazem da variação rural, por isso tem como objetivo identificar e analisar a avaliação que os moradores da sede de Riachão do Jacuípe fazem da variante linguistica das comunidades rurais. Para a análise do tema utilizou-se a linha metodológica da Sociolingüística Qualitativa. O estudo foi desenvolvido mediante pesquisa bibliográfica, questionário e de nove entrevistas, pelos quais, após a análise, pode-se perceber que ainda persiste na língua a idéia de certo e errado, gerando assim o preconceito entre falantes cultos e não cultos. Palavras-chave: Língua; Sociedade; Variação Linguistica.

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ABSTRACT

This monography discusses about the opinion of urban speakers regarding rural linguistics variation therefore, the work alms to identify and analyse the avaliation that the residents of Riachão do Jacuípe city do about the linguistics variant found in the rural communities. In order to analyse the theme was utilizated the methodologic guide-line of Qualitive Sociolinguistics. The whole study was developed through bibliographic research, interview questionnaire wich show, after analyse the datas, that persist in the language the idea right and woron..So, it arises the limguistic prejudice among cult and no cult speakers.

Key-word: Idiom;Association;Variation Linguistics.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09

1 REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................... 11

1.1 HISTÓRIA DA SOCIOLINGÜÍSTICA .......................................................... 11

1.2 A SOCIOLINGUÍSTICA E SEU OBJETO DE ESTUDO .............................. 11

1.3 LÍNGUA E GRAMÁTICA .............................................................................. 12

1.4 LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE ........................................................... 14

2 METODOLOGIA ............................................................................................. 18

2.1 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................ 18

2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 19

2.2.1 Seleção e familiarização com o espaço da pesquisa ............................... 19

2.2.2. Coleta de dados ....................................................................................... 19

3 ANÁLISE DE DADOS .................................................................................... 22

4 CONCLUSÂO ................................................................................................. 30

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 32

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa foi desenvolvida pelo fato de se entender que a

língua em qualquer tempo/espaço é dinâmica, viva e está sujeito a mudanças,

tendo em vista que é através do indivíduo que ela se concretiza. Dessa forma,

podemos afirmar que não há uma homogeneização da mesma, levando em

consideração que a língua possui variações que se dá através das diversas formas

de falar de um povo ou do nosso próprio falar em diversas situações.

As concepções relacionadas à mudança línguistica são

danosas e reprimem convivência em sociedade, porque a sociedade em geral,

utiliza a norma culta para encontrar “erros” na fala de pessoas que usam variantes

próprias de sua região ou de seu grupo social, baseando-se em critérios

extralingüísticos tais como etnia, sexo, religião e localidade onde mora, como é o

caso das variantes da zona rural:

[...] não são bem aceitas por alguns membros da sociedade, uma minoria pertencente a classes privilegiadas, a partir do momento em que essas variedades passam a ser utilizadas por falantes oriundos da zona rural ou dos subúrbios dos centros urbanos, [...] tentando impor uma unidade lingüística existente apenas na imaginação, ou seja, apesar da enorme diversidade e variabilidade apresentada pela língua, no uso cotidiano, falada no Brasil, as pessoas tendem a transformar o idioleto do outro em "erro” (PRETTI, 2000 p. 23).

Toda língua exibe variantes, umas mais prestigiadas que outras.

Assim, com base nestas suposições, decorre a noção conturbadora de erro ao se

descrever o padrão culto como certo e as demais como erradas, gerando o

preconceito lingüístico. Os falantes não têm a consciência de que a língua muda

constantemente, apesar das mudanças ocorrerem de forma lenta, não atingem um

todo, mas sim parte da língua como afirma Faraco: Os falantes normalmente não

têm consciência de que sua língua está mudando. Parece que, como falantes,

construímos uma imagem da nossa língua que repousa antes na sensação de

permanência do que na sensação de mudança (FARACO, 1991, p. 9).

Estes fatos justificam o interesse por esta pesquisa, cuja estrutura é

composta por três capítulos: O primeiro: revisão da literatura visa apresentar os

teóricos que darão suportes e fundamentação aos capítulos seguintes. O segundo

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ostenta-se da metodologia que demonstra os procedimentos e fundamentos

metodológicos utilizados na realização desta pesquisa. O terceiro capítulo exibe a

análise dos dados coletados. Após o desenvolvimento dos capítulos expõe-se a

conclusão a qual apresenta os resultados obtidos.

Neste trabalho nota-se que, a primeira reação dos falantes,

principalmente àqueles que possuem uma situação socioeconômica mais elevada e

normalmente não são os primeiros a participarem do processo de mudança da

língua, têm como negativas as formas inovadoras e tacham de “incorretas”, “feias”,

“impróprias” e em conseqüência seus falantes são avaliados mutuamente como

“burros”, “ignorantes”, desfiguradores da língua, principalmente quando se refere aos

falantes rurais Embora ,linguisticamente falando as formas alternativas sejam tão

boas quanto a padrão. Assim afirma Faraco: Os grupos implementadores de

mudanças têm geralmente baixos prestigio social e sua fala - inclusive aquilo que é

nela inovação - costuma ser marcada de forma negativa pelos grupos privilegiados

econômico-social e culturalmente (FARACO, 1991, p.16).

Isso acontece pelo fato dos grupos privilegiados não terem uma base lingüística e a

percepção que a língua está mudando, propagarem uma atitude negativa em

relação às mudanças, entendendo-as como uma natureza de decadência, ou seja,

é como se a mudança estivesse empobrecendo a língua, deturpando-a,

transformando-a para pior. Pensando assim, a variação linguistica do meio rural é

considerada um problema para os falantes da sociedade urbana do município de

Riachão do Jacuípe? Qual seria a causa e onde está o erro?

Em função de tudo o que foi dito sobre a língua e sua

heterogeneidade é que se pretende realizar uma pesquisa, que tem como objetivo

identificar e analisar a avaliação que os falantes da sede do Município de Riachão

do Jacuípe fazem da variante lingüística das comunidades rurais do município.

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1 REVISÃO DA LITERATURA

1.1 HISTÓRIA DA SOCIOLINGÜÍSTICA

A Sociolinguistica surge na década de 1960 nos Estados Unidos a

mercê especialmente dos trabalhos de William Labov.Ela veio dar a conhecer que

qualquer língua transforma e sofre mudanças com o tempo e no espaço de acordo

com as vissitudes sociais do falante.

Embora o aspecto social da língua tenha chamado a atenção desde

cedo, tendo relevância desde o trabalho do lingüista suíço Ferdinand de Saussure

no início do século XX , foi talvez somente nos anos 1950 que este aspecto

começou a ser investigado minuciosamente.

Todavia como já foi dito a figura chave foi William Labov, que, nos

anos 1960, começou uma série de investigações sobre a variação lingüística que

revolucionaram a compreensão de como os falantes utilizam sua língua.

1.2 A SOCIOLINGÜÍSTICA E SEU OBJETO DE ESTUDO

Entende-se Sociolingüística como uma subárea da Lingüística.

Seus estudos estão voltados para a língua e suas comunidades de fala. Por a

língua não ser homogênea, encontram-se formas diversas que tem valor igual no

estudo da significação das palavras do vocabulário, da sintaxe e da morfossintaxe

(MOLLICA, 2003, p.10).

A Sociolingüística considera a variação como seu principal objeto

de estudo, julgando-a como regra geral e universal, sujeita à análise e descrita

cientificamente. Porém, são várias as áreas que interessa à Sociolingüística tais

como: variação e mudança, multilinguismo, contato entre as línguas. Ela considera

aspecto social da linguagem, tanto dos pequenos grupos sócio-culturais quanto das

comunidades maiores. Como afirma Fairciough:

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È graças á Sociolinguística que a natureza socialmente constituída da prática lingüística pode ser tomada como premissa geral do estudo crítico da língua. Mas a Sociolingüística é pesadamente influenciada pelas concepções “positivistas” da ciência social: a variação sociolingüística numa determinada sociedade tende a ser vista em termos de conjuntos de fatos a serem observados e descritos usando-se métodos análogos aos da ciência natural (1989 apud Bagno, 2000, p.304).

Cabe também a Sociolingüística pesquisar o grau de mutabilidade

ou estabilidade da variação, fazer o diagnóstico das variáveis e prever seu

comportamento regular e sistemático. Os sociolinguístas têm-se voltado para a

análise da sistematicidade, legitimidade e estigmatização. O preconceito linguístico,

tem sido um ponto relevante na área, pois ainda permanece nas práticas

pedagógicas a idéia de certo/errado, baseando-se no padrão culto da língua. Por

isso, os estudos sócio-linguisticos oferecem riquíssimas contribuições para a

desconstrução dos preconceitos lingüísticos e de distorcer essa idéia de erro. A

sociolingüística oferece diferentes moldes teórico-metodológicos para análise da

variação e mudança (MOLLICA, 2003, p.13).

A Sociolingüística apresenta três importantes termos que são

geralmente confundidos: variedade, variante e variável. A variedade corresponde ao

dialeto, o termo variante é utilizado nos estudos de sociolingüística para designar o

item lingüístico que é alvo de mudança e a palavra variável é o traço, forma ou

construção lingüística cuja realização apresenta variantes observadas pelo

investigador.

1.3 LÍNGUA E GRAMÁTICA

A gramática é o estudo sistemático dos elementos constitutivos de

uma língua: formas, palavras, sons, construções e recursos expressivos. É o

arrolamento das normas, que dirigem determinada língua, normas estas que dizem

respeito à ortografia, à fonética, à morfologia, à sintaxe e à semântica.

Pelo próprio conceito de gramática fica claro que ela só pode existir

quando a língua em questão referir-se á uma cultura erudita , ou seja, a uma

sociedade que utiliza a escrita e a faça uma das formas de informação entre seus

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membros ao lado da oralidade .Não dizendo que em uma comunidade que não

utiliza a escrita, ou tenha importância menor, não exista uma gramática no sentido

amplo do termo.Existe necessariamente, pois o fato de existir normas básicas

mínimas é a própria razão do fator chamado língua.

Nesse meio tempo, a gramática no sentido restrito subentende a

escrita, uma estrutura de poder quase definida na qual as normas do escrever/falar

tenham direção coagida.s gramáticas surgem quando as sociedades atingem

relevância de poder nas mãos de grupos que hipoteticamente, fala a “linguagem

correta” e sobrepõe aos outros.Portanto, não executa a diferenciação entre

gramática normativa e descritiva.Esta diferenciação é argumento aparentemente

válido, porém, na verdade, não conclusivo, formulado para induzir em erro de que

um indivíduo tem a liberdade de falar/escrever como deseja.

Expor ou impor a normas que guiam uma língua são atos que não

se diferem.Afinal a língua não é somente um fenômeno lingüístico, que pode sofrer

mudanças Poe leis próprias.A língua é também imprecindivelmente um fenômeno

político social.

Tendo em vista a noção de língua como um meio de comunicação

verbal, pode se afirmar que para uma boa comunicação verbal não faz necessária a

memorização de regras de linguagem, nem a disciplina que faz uso de tais regras e

que normalmente, nas escolas, ocupam o espaço do que deveriam ser as aulas de

português: estudos de variados textos agradáveis, análises e interpretação, leitura e

produção de bons textos, finalmente, vivência de forma lúdica e criativa com a

língua.

O dom do bem falar/escrever tem relação com gramática.Porém,

com a gramática natural, internalizada de cada falante e essa internalizarão se dá

quando o falante ouve e fala o sistema de regras.No contato individual dessa regra

é que revelará o dom maior ou menor de cada um.Importante é comunicar e para

que isso ocorra é necessário dominar esse sistema de regras do meio de

comunicação.Isso não tem a ver com a gramática normativa, isto é, listas de regras

impostas aos alunos, em um método que censura variante lingüística.Uma

gramática internalizada, aprendida pela prática, pela exibição a atos de escrita e

fala e vivência continua com boa língua.

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1.4 LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE.

É por meio da língua que o ser humano expressa seus

pensamentos e idéias sejam elas do seu tempo, da sociedade ou da comunidade a

que pertence. Cada falante é usuário e transformador da língua, pois contribui para

sua transformação e renovação.Por isso, pode se dizer que, através da língua, se

projeta a cultura de um povo. Entendendo língua como:

Sistema lingüístico de que se utiliza uma comunidade falante e que se caracteriza por ser grandemente diferenciado, por possuir alto grau de nivelação por ser veiculo de importante tradição liberal e, às vezes por ter-se imposto a sistemas lingüísticos de sua própria origem (AVAR apud BRANDÃO, 1991, p. 12-3.).

Cultura como sendo práticas e ações sociais que seguem um

padrão determinado no espaço/tempo.Referem-se a crenças, comportamentos,

valores, instituições, regras morais que permeiam e “preenchem” a sociedade.

Explica e dá sentido a cosmologia social. É a identidade própria de um grupo

humano em um território e num determinado período.

Dessa forma, de acordo com Câmera Junior (1975) a língua é uma

parte da cultura, porém essa parte se sobressai do todo, com ele se combina e o

resultado dessa cultura é o meio para a língua manifestar, é a condição para ela

continuar a existir. Tendo em vista que ela em qualquer tempo/espaço é dinâmica,

inovadora e transformadora por isso é heterogênea.

Por entender-se língua como um conjunto das diversas formas de

falar, a língua portuguesa, nomeadamente como o português brasileiro, como

qualquer outra língua, é um fenômeno dinâmico, está sempre em processo de

evolução, portanto é heterogênea, ou seja, não há uma forma única e correta de

falar e sim variedades linguísticas. Por esse fato é que acontece o preconceito da

língua, principalmente á aqueles que não possuem um grau de escolarização

elevado, a exemplo dos falantes das comunidades rurais por falarem de forma

diferente da sociedade urbana. Isso acontece, pois muitas pessoas não sabem que

do ponto de vista, lingüístico, cientifico toda forma de falar tem sua razão de ser,

tem suas normas a serem obedecidas, segue a uma gramática e por mais bem

organizada que seja uma variante lingüística ela vai sempre ser considerada

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errada, porque não corresponde ao que as forças detentoras de poder na

sociedade consideram certo.

É perceptível que a classe dominadora discrimina a classe

dominada, que tem seu “falar socialmente desprestigiado”, apesar de se acreditar

que somos todos iguais perante a lei; Como poderia haver “igualdade lingüística” se

não há igualdade social?

Os cidadãos apesar de ser declarados perante a lei iguais são na realidade descriminados, já na mesma base do mesmo em que a lei é redigida. A maioria dos cidadãos não tem acesso ao código, às vezes, tem uma possibilidade reduzida de acaso constituída pela escola e pela “norma pedagógica” ali ensinada. Apesar de fazer parte da experiência de cada um o fato de as pessoas serem discriminadas pela maneira como falam [...] (GNERRE, 1985 apud BAGNO 2000, p 55).

É isso que acontece com a variante urbana em relação à

variante rural por não utilizar a variante lingüística que a sociedade urbana - força

detentora de poder - acredita ser correta, qualquer manifestação lingüística que

escape do falante rural é considerado, pelos preconceituosos linguísticos, “feias”,

“absurdas”, “erradas” e assim estigmatizam-na de “estropiadores da língua”, isso

por que:

Fundamenta-se o discurso normativo na suposição de que existiria um padrão lingüístico uniforme e mais elaborado, o qual permitiria aos sujeitos, comunicação mais eficiente e raciocínio mais organizado. A fala popular, expressão de incultura seria uma corrupção da língua culta, devendo ser corrigida por meio do ensino regular e do preceptismo. (BRITO; D’AGELIS, 1998, apud BAGNO, 2000, p. 60).

É notável que muitas pessoas confundem erro ortográfico com erro

de português, na verdade se diferem bastante , pois o “erro de português que tanto

amedronta, estigmatiza, intimida e humilha os falantes existe, porém ninguém o

comete, pois todo e qualquer falante nativo domina sua língua.Há,no entanto

diferentes gramáticas para diferentes variedades do português.Todas são

perfeitamente válidas em seu contexto e merecem respeito.Todavia o erro

ortográfico existe, porém na escrita e não no ato da fala.Pelo fato dos indivíduos

não possuírem o conhecimento entre um e outro acabam confundindo uma coisa e

outra, gerando conflitos.

Page 17: Avaliação que os falantes urbanos fazem na variação rural

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Desta forma entenderíamos variedade lingüística como um conjunto

de coisas parecidas, porém com algumas diferenças fazendo relação a um conjunto

de fatores que vão desde a localização dos falantes até a identidade e a

organização sociocultural da comunidade de fala.

É clara a influência que a língua, um fator social, tem na vida dos

seres humanos. A fala está presente em nosso cotidiano, a todo o momento

fazemos uso da mesma para nos comunicar. Eis a importância da mesma, pois

sem ela não haveria comunicação.

Na verdade, não é nenhuma novidade se dizer que língua e

sociedade se relacionam entre si, que seria impossível uma existir sem a presença

da outra, já que a finalidade da língua é a de servir como meio de comunicação

entre falantes de uma sociedade e por isso ela costuma ser interpretada como

forma de expressão da cultura de um povo que dela faz uso dentro da sociedade a

que pertence.

E é por causa da expressão da fala que surgem os preconceitos, por

um individuo se expressar de modo diferente do outro, ou seja, utilizar-se de formas

diferentes,para manifestar uma mesma idéia. É o caso das variantes distintas de

um falante rural comparada ao do falante urbano, o qual este preconceitua aquele

por não fazer uso do mesmo dialeto, isto é, variações faladas por comunidades

geograficamente distintas, sem considerar que não existe um falar certo, existem

alternâncias de variações e que no ato da fala o importante é o entendimento entre

os interlocutores. Portanto:Não devemos, porém, cometer o erro de condicionar

diretamente a língua aos fatores culturais ou raciais, embora se reconheça que

pode haver uma ligação entre eles, em especial no que se refere ao vocabulário de

uma língua (PRETTI, 1994, p.15).

É através do uso da língua que constantemente surgem as

variedades que não são "erros”, pois qualquer variedade da língua do ponto de

vista estrutural é perfeita e completa. O uso da variação dialetal não constitui um

erro e sim uma diferença pelo uso de outro dialeto. Salienta Meilet afirmando que:

Os dialetos, do ponto de vista diacrônico são evoluções independentes de uma mesma língua. Portanto entre língua e dialeto não há uma inferioridade entre este e aquela, mas pertencem a uma mesma grandeza. O que os diferencia é a função sócio-historica que estão investidos (1918, apud ELIA 1989, p.79).

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O que os falantes da norma padrão constituem como erro, tem

explicação lógica: na língua falada não há erro, há variações, diferenças

gramaticais em relação à língua culta, pois:

O estudo e o ensino de uma língua não podem [...] deixar de considerar - como se fossem não pertinentes - as diferentes instâncias sociais, pois os processos interlocutivos se dão no interior das múltiplas e complexas instituições de uma dada formação social. A língua, enquanto produto desta historia e enquanto condição da produção da historia presente vem marcada pelos seus usos pelos espaços sociais destes usos. Neste sentido a língua nunca pode ser estudada ou ensinada como produto acabado, pronto, fechado em si mesmo. (GERALDI, 1926 apud BAGNO, 2000, p. 305).

Portanto, o uso da variação dialetal não constitui um "erro”, pois,na

língua há variações por isso nenhuma é falada do mesmo jeito em todos os lugares,

assim como nenhum individuo fala a própria língua igual a outro, mesmo

convivendo em uma mesma sociedade.

Page 19: Avaliação que os falantes urbanos fazem na variação rural

18

2 METODOLOGIA

2.1 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS

Para se fazer uma pesquisa se faz necessário a escolha de uma

abordagem. Nesta pesquisa, os estudos foram desenvolvidos a partir dos

pressupostos metodológicos da Sociolingüística qualitativa, pois nesta pesquisa

busca-se explicar e descrever o uso da língua em um contexto social e cultural.

Ela pode ser caracterizada como uma tentativa de compreensão

minuciosa dos significados e das características situacionais mostradas pelos

entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou

comportamentos (RICHARDSON, 1999, p. 91).

Uma abordagem qualitativa dá ênfase ao estudo de pequenas

quantidades de falantes, pois o grande número de dados é considerado menos

relevante. Ela dá prioridade à observação, entrevistas, gravação e transcrição da

fala, e análise textual. A observação, nesta abordagem, é considerada relevante

para esclarecer os fatores políticos e sociais que firmam o uso lingüístico.

A descrição não se baseia em imaginações, desejos nem em

trabalhos que se realizam na estrutura dos objetivos do pesquisador. Descreve-se e

se determina com exatidão definida. O pesquisador torna-se um repórter imparcial

que permite aos entrevistados expressarem a própria definição da situação. Sobre

esta abordagem:

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como na fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. A pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do trabalho intensivo de campo. (BOGDAN e BIKLON apud LUDKE, 1986, p 11).

É cada vez mais perceptível o interesse por parte de pesquisadores

darem sustentação às suas pesquisas na abordagem qualitativa, isso porque os

problemas são analisados em um ambiente em que eles acontecem de forma

natural, sem nenhuma dominação intencional do pesquisador. Os dados reunidos

Page 20: Avaliação que os falantes urbanos fazem na variação rural

19

são de predominância descritiva. Há uma preocupação maior com o processo do

que com o produto. O pesquisador nesta abordagem focaliza de maneira especial o

significado que as pessoas dão às coisas e á sua vida, além da analise dos dados

seguirem um processo indutivo, ou seja, o pesquisador não se preocupa em buscar

verdades incontestes que provem hipóteses definidas antes do começo dos

estudos Essas são as vantagens para a utilização da abordagem qualitativa.

2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.2.1 Seleção e familiarização com o espaço da pesquisa

A escolha de um local adequado de pesquisa e a familiaridade do

pesquisador com os membros do grupo a serem entrevistados são aspectos

fundamentais da pesquisa qualitativa. O trabalho em questão está sendo

desenvolvido na zona rural da cidade de Riachão do Jacuípe, especificamente nos

bairros: Jatobá, Barra, Bela Vista, Barra do Vento e Alto do Cruzeiro. Após ter sido

decidido o local das entrevistas, entrou-se em contato com os possíveis

entrevistados, sendo que alguns do sexo masculino rejeitaram a possibilidade de

serem entrevistados.

No processo de entrevistas, evitou-se influenciar os entrevistados

de forma que pudesse distorcer suas idéias e concepções, pois como sanciona:

FIELDING (1993 apud RICHARDSON 1999, p 96) “o pesquisador participa para

obter informações detalhadas não para ser mais um membro do grupo.O

pesquisador deve manter certo distanciamento para poder obter certas informações

e interpretá-las”. O relacionamento entrevistador/entrevistado é um fator importante,

porém tem que haver bastante cautela, para que o entrevistador não se envolva

demais ou de menos, evitando assim alterações nos dados a serem recolhidos.

2.2.2. Coleta de dados

Page 21: Avaliação que os falantes urbanos fazem na variação rural

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O pesquisador qualitativo tem diversos dispositivos para a

realização da técnica de coleta de dados, entre eles estão: a observação

participante e não participante grupo de discussão e entrevista.

Os procedimentos adotados nesta pesquisa foram compostos pelo

“corpus” de análise constituída a partir de um questionário previamente elaborado

reunindo seis perguntas que incluíam algumas expressões de um informante rural

não identificado. Foram realizadas nove entrevistas com informantes da sede do

município de Riachão do Jacuípe, sendo estes quatro do sexo feminino (duas

informantes de escolaridade de ensino médio e duas de nível superior) e cinco de

sexo masculino (três informantes de escolaridade de nível médio e dois de nível

superior), da faixa etária de 20 a 40 anos, previamente selecionados, em que foram

observados os seguintes aspectos: faixa etária, sexo, além de ser adicionado ao

questionamento; nome, grau de escolaridade e religião. Logo após essa seleção,

procedeu-se a gravação das entrevistas, que foram realizadas nos domicílios dos

informantes, com exceção de duas terem sido realizadas no laboratório de

informática do Departamento de Educação-Campus XIV.

As entrevistas foram padronizadas, ou seja, as perguntas foram

apresentadas a todos os informantes com as mesmas palavras, na mesma ordem,

com exceção de um, que foi acrescentada, a seguinte questão: -“E você acha que

essa forma de falar é considerada errada ou você acha certo falar assim?”, para

induzir a mesma a falar um pouco mais sobre o assunto As entrevistas foram semi-

estruturadas, portanto, assistemáticas, de modo a permitir respostas instantâneas

dos entrevistados. Em seguida foram transcritas grafematicamnete e digitadas.

As entrevistas tiveram a duração total de 1 h 43 m, assim postas por

ordem:

1ª entrevista 9 m 23 s

2ª entrevista 11 m 35 s

3ª entrevista 15 m 12 s

4ª entrevista 10 m 10 s

5ª entrevista 12 m 05 s

6ª entrevista 8 m 25 s

7ª entrevista 10 m 52 s

8ª entrevista 11 m 08 s

9ª enytrevista 15 m 03 s

Page 22: Avaliação que os falantes urbanos fazem na variação rural

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Os informantes selecionados serão aqui apresentados a partir das

iniciais de seus nomes e suas respectivas idades, assim distribuídos:

I.S - 24

M.S.M.A - 22

N.C - 40

D.M.S - 32

V.S.S - 26

J.A - 33

J.R.C.J - 27

E.L.S.M - 33

A.-28

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22

3 ANÁLISE DE DADOS

Considerado o que foi visto nos capítulos anteriores e estabelecido

na revisão da literatura de que é por intermédio da linguagem que se dá a

comunicação entre falantes com crenças em comum, um grande numero de

informações parecidas e que pertencem a meios culturais semelhantes dentro de

uma comunidade de fala. A linguagem também permite o reconhecimento e o

entendimento do mundo que os rodeiam. Dentre os meios que o ser humano utiliza

para se comunicar está a fala, sendo esta considerada como um “caráter

emblemático” que permite reconhecer, inserir e classificar o falante em diversos

grupos: social, econômico, gênero, faixa etária, grau de escolaridade, nacionalidade

e naturalidade geralmente utilizadas para estigmatizar e discriminar o individuo na

sociedade onde vive. Apesar de que do ponto de vista estritamente lingüístico não

se justificam julgamentos de valores de uma forma de falar ser melhor ou pior que

outra, uma vez que a linguagem é congênita e usual a todo ser humano. As

diferenças existentes entre um falar e outro são maneiras de “atualizações distintas”,

não isentam de culpa a avaliação estigmatizada e preconceituosa entre falantes de

uma mesma língua pelo fato de se servir das diferentes variantes em uso:

É de se esperar dessa forma que na extensão do território brasileiro haja um a unidade lingüística, a língua portuguesa, mas também diversidade, os falares brasileiros. O falante do país não te, a menor dificuldade em entender o falante do sul, embora ocorram diferenças na fonética, na sintaxe e no léxico (LEITE, CALLOU, 2005, p. 8).

É o que sucede entre os falares urbanos e rurais. Os falantes

urbanos têm idéia clara do falar rural, ainda que haja diferenças. A exemplo das

palavras consideradas erradas e os falantes das mesmas “estropiadores da língua”,

pela informante I.S: “derradeiro para ultimo, decumento para documento, sumana

para semana, na bera para perto.”Isto são opções lexicais e fonéticas próprios de

cada região ou comunidade de fala que não intervém no entendimento, não

compromete a comunicação entre um falante e outro, pois a informante soube

conhecer as idéias de cada enunciado.

As diferenças existentes - no que diz respeito à variação linguística -

entre as diversas regiões do país e os distintos falares se deram a partir da

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colonização do Brasil, tendo em vista que a nação brasileira foi formada por um

vasto pluralismo cultural e étnico como afirma a informante D.M.S:

“a gente vem de uma colonização de portugueses que se misturou com indígena aí chegaram por trás os ciganos então o Brasil num. num tem padrão único não tem uma língua e sim umas línguas que se falam e há variantes [...] então nosso linguaja é... é... sofre influencia de todas essas etnias Du indígena, do negro, português [...].

É notável que a história da colonização do país reflete na

diversidade linguística, a qual pouco a pouco veio a ser reconhecida.por outro lado a

sublimação de um país com língua padrão, de uma gramática inalterável ainda

persiste.

O preconceito lingüístico é um fator intrincado de ser resolvido, já se

encontra alicerçado na sociedade, além de ser alimentado pelos meios de

comunicação de massa que atuam a seu favor, em programas de rádio, televisão,

colunas de jornais, revistas, além de livros que seduzem ensinar o que é “certo” e o

que é “errado”, separando à margem os falantes da norma não culta. Muitas vezes

esses falantes não têm o usufruto de diversos serviços, pelo fato de não saberem

tirar conclusões da linguagem aplicada pelos órgãos públicos.

O preconceito da língua se dá em torno de que só existe uma língua

portuguesa única-aquela aprendida na escola, imposta pela gramática normativa e

aplicada nos dicionários, qualquer desvio desta tríade escola-gramática-dicionario, é

determinada como erro sob o ponto de vista do preconceito lingüístico. Podemos

observar isto na fala da informante I.S quando diz: ”que eles reduzem muito as

palavras, ou seja, engole muitas letras e acabam falando errado”. Não é certo dizer

que um indivíduo comete erro por falar diferente, em grande equívoco, pois:

Ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como ninguém comete ao andar ou ao respirar. Só se erra naquilo que é aprendido, naquilo que constitui um saber secundário, obtido por meio de treinamento e memorização: erra-se ao dar um comando no computador, erra-se ao falar/escrever uma língua estrangeira (BAGNO, 1999, p. 124).

A língua materna é aprendida e dominada pelos falantes nativos

desde quando começa a falar as primeiras palavras “nosso conhecimento da língua

é ao mesmo tempo altamente complexo, incrivelmente exato e extremamente

seguro” (PERINI, apud Bagno 1999, p124). Portanto não existe um modo de falar

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errado como afirmou a informante I.S: ”há uma necessidade de leitura, para que eles

possa pelo menos melhorar esse jeito errado de falar”.É certo que há erro de

português, todavia nenhum falante nativo da língua os comete.Existe uma enorme

confusão entre erro de ortografia e erro de português, a exemplo da informante

M.S.M.A quando afirma que os indivíduos ao falarem “diferente querem tentar

modificar de qualquer jeito a NGB”. A informante comete um grande equivoco ao

pronunciar essa frase, pois a língua falada é a verdadeira língua natural, língua que

cada individuo aprende com a família, pais, irmãos, seus grupos sociais. Ela é a

língua que muda, que transforma Poe sua heterogeneidade, portanto não se deve

confundir língua falada com língua escrita, ela que tem um papel fundamental na

história do ser humano.

O mesmo fato acontece com a informante N.C, quando diz: “[...] ele

realmente está falando errado né? Pra... pra língua portuguesa ta falando errado,

dentro da ortografia né? [...] eu considero um modo de falar errado [...]”. A

informante confunde erro de ortografia com erro de português, sem notar que não

existe erro ortográfico no ato da fala. É necessário compreender que tudo o que é

considerado erro pela gramática normativa tem uma explicação coerente, lógica e:

A primeira providência para limpar esse terreno é ter em mente que a ortografia de uma língua , o modo de escrever, não faz parte da gramática da língua [...] milhões de pessoas passam a vida inteira no total desconhecimento das formas escritas de sua língua, apesar de falarem ela perfeitamente empregando sem dificuldades as regras gramaticais dela (BAGNO, 2004, p. 28).

Outra distorção é a concepção errônea de atribuir grau de

superioridade à linguagem da cidade em comparação ao falar rural ou como se

costuma chamar “o falar da roça’, pelo fato do falante não utilizar a norma culta no

ato da fala. Por este fator é atribuída a culpa à família, como menciona o informante

J.R.C. J:” são fatores que geralmente a própria família que não tem como...por não

ter o coencimento de ensinar a criança , aí a criança continua falando errado [...]”

.Na verdade , o que está acontecendo são distorções devidas a pensamentos da

elite, classe dominadora, detentora do poder, característico de uma sociedade

burguesa, subdesenvolvida, em que uma minoria por obsequio dessa classe se

edifica em juiz de falar o português “correto’.

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. Portanto, podemos reafirmar que há erro de português, porém

ninguém o comete. E esses supostos “erros” são sistemáticos, ou seja, ordenado,

organizado, seguem uma lógica e consiste em regras gramaticais.È isso que

acontece com falantes brasileiros rurais, eles não “erram” por serem “burros”,

“estropiadores da língua”, mas por obedecerem a regras gramaticais próprias da

variedade linguística deles, aprendidas em seu meio, falada por sua família, isto é:

”[...] os próprios filhos no dia-a-dia fica observando os pais falarem então eles não têm como culpar ninguém, só por essa questão das famílias não tem como corrigirem seus filhos, então as crianças vão ficar sempre falando errado e os próprios pais também não tem como corrigir porque não tem esse coencimento, então geralmente o modo de falar não é que a criança quis falar dessa forma é porque eles aprenderam dessa forma então sempre vai ta falando errado (INFORMANTE J.R.C.J).

Assim os falantes rurais fazem uso das regras gramaticais do seu

próprio meio e quando eles pronunciam:

“[...] palavras que tem um” l “e que sonorizam com um” u “e geralmente elas trocam isso por um” r “então” alto “elas costumam falar” arto “é... é... é... enfim todas as palavras em que elas sentem que parece que puxam um pouco pelo” u’ pelo “l” elas preferem trocar por um “r”. (INFORMANTE J. A).

Eles realizam essa pronuncias de forma sistemática e sempre que

tiverem de pronunciar estas palavras elas pronunciarão com “r” em vez de “l”, pois

isto já está internalizada em seu vocabulário. Na gramática deles não existe o

encontro consonantal com “l”.

Toda língua apresenta variedades mais prestigiadas que outras.Os

estudos sociolingüísticos oferecem importantes subsídios no intuito de exterminar os

preconceitos da língua e relativar o conceito de erro, ao tentar descrever o que é

considerado pela escola desqualificado e excluindo como manifestação lingüística

genuína.De fato o uso de enunciados do tipo “nós foi”, “nos cheguemo” (Informante

rural não identificado), com primeira pessoa do plural co-sucedendo com o sujeito de

terceira pessoa singular, não é comum entre as classes elitistas do Brasil, no

entanto o falante que utiliza desta forma não está cometendo erro de concordância

como afirma o informante J.R.C.J: “esse informante fala errado, principalmente na

questão onde ele precisa usar o plural quando ele fala” nós “em vez dele falar”

chegamos “ele bota o singular” nós chegou “. Desta forma asseverar que a forma”

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nós chegou” é um erro, significa para alguns falantes que eles estão proibidos de

fazer a diferenciação intuitiva e inconsciente entre os tempos presente e passado.

A língua materna entendida como língua primeira , como se sabe é

aprendida sem a necessidade do ensino escolar, é adquirida com o convívio na

sociedade. Assim é que os falantes rurais aprendem a sua língua materna, por

intermédio da família, do convívio em seu meio dentro de sua comunidade de fala,

passam a falar da maneira que ouvem, pois o meio os influenciam:

”[...] o meio que ele vive, na verdade, ele por estar num. num convívio com pessoas que não tiveram escolarização, eles tendem a si acostumar, a ser influenciado por essa linguagem desse meio que ele está inserido, então eu acho que esse é o fator principal que os influencia a falar dessa forma (INFORMANTE V.S.S).

Então quando um indivíduo diz que um falante nativo não sabe falar

sua própria língua ele confunde língua materna com gramática normativa. A língua

materna de uma comunidade é sua maior herança, possuindo ou não prestígio deve

ser respeitada como menciona a informante M.S.M. A: ”Apesar de na o achar certo,

mas respeito, o importante também é o que eles estão tentando... a mensagem que

eles estão tentando nos passar”. Pois além de ser perfeita do ponto de vista

lingüístico, ela é marca identitária dos falantes de uma comunidade de fala, porém

esta razão não é motivo de juízos antecipados, pois:

O respeito pela língua materna de um povo nada tem a ver com o fato de se ensinar ou não se ensinar gramática normativa. O respeito pela língua materna de um povo, ou melhor, pelas línguas maternas de todos os povos indicam o nosso crescimento como seres humanos. Indica nossa capacidade de conviver com as diferenças (BAGNO, 2002, p. 242).

Isto é o que está faltando nas sociedades urbanas “capacidade de

conviver com as diferenças” do falar das comunidades rurais. Tomar consciência de

que a língua existe em função do coletivo, mas é comum a todos. O seu uso, em

qualquer ato de comunicação será diferente todas as vezes que se realizar a fala.

Dessa forma ao utilizar a língua, um falante fará de forma diferente de outros

indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade, todas as vezes que se

comunicar. Observa-se pois, a existência de um numero significativo de variedade

de forma de expressão, seja qual for a língua utilizada para diversos propósitos para

um grande numero de falantes. O único problema da variação remete aos juízos de

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valores do que é certo ou errado, de que é estranho a maneira de falar diferente do

outro, julgamentos relacionados e que dependem da noção de norma que se tem:

[...] muitas vezes soa estranho [...] esses sujeitos devem ta conscientizado [...] por exemplo ele vai ter que seguir um padrão normativo, então eles tem que aprender as duas formas , ele tem que ser respeitado, sim, mas ele tem que se conscientizar que eles tem que aprender uma forma diferente que é aceitada [...]. (INFORMANTE V.S.S)

Como salienta Sapir, a língua é o processo comunicativo por

excelência em toda sociedade e é muito importante observar que “quaisquer que

sejam as deficiências de uma sociedade primitiva, julgada do ponto de vista da

civilização, sua linguagem inevitavelmente aparece como um aparato de simbolismo

referencial tão seguro, completo e potencialmente criativo como da linguagem mais

sofisticada que conheçamos (SAPIR apud TRAVAGLIA 1986, p.23). Dessa forma é

a variação rural, por mais deficiente que seja, julgada pelo ponto de vista da

sociedade urbana, é tão “completo”,” seguro”, e “criativo”, quanto o falar dos

indivíduos urbanos, em ambos ocorre a comunicação, é bem entendido tanto pelos

falantes da mesma comunidade quanto de comunidades distintas como afirma:

“dá claramente para entender o que... Que essa pessoa tá falando, não é... Não é uma... Uma... Um termo... Não há termos desconhecidos, digamos assim, na verdade, dá para se entender, está diferente do padrão normativo, mas da para se entender” (INFORMANTE V.S. S).

Portanto as palavras que são substituídas pelos falantes rurais: ”até

por inté”, “nóis vai”, “muié ao invés de mulher”, ”barrer ao invés de varrer”

(INFORMANTE V.S. S) são palavras previstas pelas regras da gramática natural, ou

seja, internalizada do falante que as pronunciam, pois o saber lingüístico

internalizado de cada falante é sempre completo, por mais analfabeto que seja um

individuo ele conhece o sistema de todas as regras necessárias para se comunicar.

É óbvio que há variantes de gramática natural, de acordo a idade,

sexo, origem, nível de cultura e escolaridade, porém todas elas sem exceção

possuem elementos necessários para formular frases e comunicar-se. Naturalmente,

o nível de linguagem pode inserir e classificar indivíduos em determinados grupos

sociais, como aconteceu com o informante rural não identificado que pela forma de

falar foi reconhecido, classificado, como um falante de: [...] baixa escolaridade, que

é... Reproduz a fala provavelmente de pais e avós [...]. (INFORMANTE J.A). E ainda

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que: “se trata... Inicialmente de uma pessoa idosa, que não passou por nenhuma...

Por nenhuma escolarização, não tem um grau de ascensão social [...].”

(INFORMANTE V. S. S).

A gramática natural é flexível e varia. Não existe língua viva; parada

língua parada, é língua morta: ”não pode (a língua) ser imutável: ao contrário, tem de

viver em perpetua evolução, paralela à do organismo social que a criou [...] A

petrificação linguiistica é a morte do idioma [...]” (CUNHA apud LUFT, 2002, p.40). A

diversidade das regras deriva das variedades lingüísticas de localização geográfica,

de tempo, das disposições das camadas sociais, de manifestação individual, porém

a idéia tradicional só aceita a variedade culta, formal, a linguagem padrão, policiada,

mesureira, tendo as variações como erradas. Por esse conceito, ou melhor,

expressando, preconceito, as pessoas consideradas cultas acabam por excluir os

indivíduos não cultos:

“[...]. até o seu termo [...] ou culta ou padrão já é um termo que já exclui muita gente, como a gente vive num ambiente que a gente prega a inclusão e não a exclusão, se eu avalio se isso ta certo, se ta errado, só em... em querer avaliar aí eu já vou ta excluindo” (INFORMANTE D.M.S).

Pois todas as variedades da língua são importantes, não será

excluído-as, perseguindo-as, negando-as, que as usam que se mudarão alguma

coisa.O falante rural usa a língua como sabe, como aprendeu em seu meio sem se

preocupar com a maneira que se expressa.Filhos de famílias cultas internalizam e

usam a variedade culta, assim como filhos de falantes incultos internalizam e usam a

variedade considerada inculta, embora não sejam do ponto de vista lingüístico

inferior a outra.

[...] as pessoas da zona rural não; expressam o seu jeito de ser á sua maneira através da simplicidade da sua fala aquilo que ela costuma expressar no seu dia-a-dia, ela costuma expressar também na cidade com ou quando conversa com qualquer pessoa, seja ela doutor ou não, seja uma pessoa escolada ou não. (INFORMANTE A.)

Diante de tudo o que foi observado, é notável a carência de um

ensino menos repressivo da língua materna que desenvolva o espírito crítico do

aluno, imprescindível para discernir as diferenças entre língua falada e língua

escrita, dando primazia a clareza do pensamento e as relações entre língua e

sociedade. Assim, pode-se amenizar as tensões ligadas entre língua falada e língua

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escrita, entre o que é certo e errado. Ensinar a norma culta deve implicar no mínimo

à inclusão de formas variáveis sejam elas estigmatizadas ou não, de prestígio ou

não, isto é, fazer um exercício progressivo e permanente da democracia lingüística.

No ensino da norma culta para falantes nativos deve ser levado em consideração

como realmente funciona a língua no sentido da comunicação. Para o ensino da

norma culta –papel da escola- devem-se focalizar os estudos semânticos e

pragmáticos das formas variantes para tomarem consciência das diferenças

discursivas existentes , em vez fazerem avaliações errôneas do que é certo e errado

pois:

Não basta assentar-se que “certo e errado são conceitos relativos,

embora se coloquem como absoluto” (SCHERRE, 1999 apud NEVES 2006, p. 156).

Mais que isso, certo e errado são conceitos impossíveis de estabelecer, a não ser

em campos legislados, como a ortografia, ou em questões que tocam a própria

gramaticalidade, isto é, em referencia as seqüências que escapam à gramática da

língua, seqüências nunca ocorrentes em produções lingüísticas se falante nativo, por

menos letrado que ele seja (NEVES 2006, p. 156).

Portanto o campo da lingüística e o da disciplina gramatical escolar

não podem se separar, nenhum campo precisa necessariamente substituir o outro,

mas caminhar lado a lado, pois um é base do outro.Então faz-se necessário que se

institua um tratamento escolar ligado ao ensino das atividades ligadas a gramática

da língua materna, não perdendo de vista o natural e eficiente convívio com as

variantes no uso lingüístico, incluindo aí a norma considerada padrão.Dessa forma

haverá uma conscientização para que o aluno saia da escola como um individuo que

respeita e saiba conviver na sociedade com as diferenças sabendo respeitar a

língua materna de um povo, sem preconceitos, sem estigmas, sem desrespeito á

língua e a cultura do outro.

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4 CONCLUSÃO

Baseado em todo estudo feito e no que já foi dito anteriormente

sabe-se que a língua por sua heterogeneidade está sujeita a constante mudança,

ela não evolui, não decai, não se torna complexa, ela apenas muda. Essa mudança

se dá pelo fato de que a sociedade também muda, portanto língua e sociedade é

uma realidade que se interrelacionam, ou seja, uma não pode existir sem a outra, já

que a função da língua é a de servir como meio de comunicação entre falantes de

uma sociedade e de expressar a cultura de um povo a qual faz uso dessa língua e

pertence a essa sociedade.

Dessa forma não podemos afirmar que há uma homogeneização da

língua, tendo em vista que língua é um conjunto de variedades heterogêneas e

essas variedades se dão através das diversas formas de falar de um povo ou do

nosso próprio falar de diversas formas em diversas situações. Percebe-se que a

língua está relacionada á cultura e que esta é um conhecimento adquirido e não

imposto, além de não ser restrita a um determinado grupo social, racial e étnico. Na

verdade as concepções que se tem de língua é danosa e reprime a uma convivência

em sociedade, pois aqueles que utilizam da norma culta achando que é a forma

“correta” de si falar acabam estigmatizando , conceituando como erro o modo de

falar daqueles que utilizam de variações lingüísticas e falam diferente.

De acordo com a pesquisa desenvolvida chega-se a conclusão que

as pessoas que mais condena a variação rural fazendo avaliação errônea foram

informantes de nível de escolaridade do ensino médio, maioria do sexo feminino

sendo que os informantes de nível superior, a maioria possui uma concepção de

língua a partir do conceito da Sociolingüística, considerando a variação rural como

forma diferente de falar, não como errada ou imprópria. Apenas uma informante de

nível superior, tem noção de língua com a mesma concepção da gramática

normativa, até chega a confundir-se entre as duas.Deixa-se claro que esta

informante encontra-se no primeiro semestre do curso de Letras Vernáculas.

Dar-se a perceber que a escola não tem trabalhado a inclusão de

formas sucessivas entre gramática normativa e gramática natural, isto é, a gramática

internalizada de cada falante. É perceptível que a escola exclui as formas não-

padrão. De acordo com a pesquisa desenrolada, percebe-se que mesmo os

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informantes que não são graduados do Curso de Letras Vernáculas, entendem que

a língua é um fator social, ativo, passivo de mudanças e variações. A escola ainda

tem essa deficiência; não trabalhar os alunos de forma que eles possam reconhecer

e aceitar as diversidades linguísticas de uma sociedade, eliminando aos poucos a

confusão que há entre gramática normativa e língua nativa de um povo.

Para que essa mudança aconteça é necessário considerar o ensino

da língua como um fator social, como parte de um imenso esforço. No Brasil isso

significa aceitar como o ensino de uma segunda língua ou de uma segunda

variedade as variedades de prestígios e da gramática normativa, a ser utilizada

como instrumento de ascensão social. Porém, esse seguimento deve ser levado em

consideração a estrutura línguística tanto das variedades padrão quanto das

variedades populares.Fazendo isso se deve evitar a perda expressiva de

alternativas que dispõe o falante.

Desse modo pode-se mudar de alguma forma, a concepção errônea

da língua, alterando a avaliação que se faz da variação rural, taxadas de incorretas,

estropiadas, sendo que são apenas mudanças que se dão pelo fato da língua ser

heterogênea e estar em constantes mudanças. Portanto o que é errado hoje pode

ser considerado certo depois. Faz-se necessário eliminar a noção de certo/errado,

pois na língua falada não existe erro nem acerto, há variações, e são tão boas

quanto a variante padrão.

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