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JULIANO ROLDAN FONSECA
Avaliação dos processos de pré-tratamento da superfície da sílica fundida no preparo de colunas capilares inertes para cromatografia gasosa
Dissertação apresentada ao Instituto de Química
de São Carlos para obtenção do título de mestre
em Ciências.
Área de concentração: Química Analítica
Orientador: Prof. Dr. Fernando Mauro Lanças
São Carlos
2009
“Como é feliz o homem que acha a sabedoria,
o homem que obtém entendimento, pois a
sabedoria é mais proveitosa do que a prata e
rende mais do que o ouro.
É mais preciosa do que rubis;
Nada do que você possa desejar se compara a
ela.”
(Provérbios 3: 13-15)
DEDICATÓRIA Dedico este trabalho em primeiro lugar, ao meu Pai e minha Mãe que tanto
se esforçaram e trabalharam duro para que eu pudesse ter uma educação de
qualidade, muitas vezes deixando suas próprias vontades de lado para me ver
crescer. Cheguei até aqui porque eles foram meus primeiros professores me
ensinando os verdadeiros valores da vida.
Dedico também a toda minha família; irmão, tios e avós, que sempre
torceram pelo meu sucesso e são a base da minha vida e educação.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela vida, saúde e sabedoria que proporcionam meu
desenvolvimento pessoal.
Agradeço ao Professor Fernando M. Lanças pela orientação, confiança e
compreensão durante o decorrer deste trabalho.
Ao Instituto Internacional de Cromatografia pela bolsa concedida.
Aos funcionários do IIC, em especial ao Luis e ao Esmeraldo por todo
conhecimento técnico transmitido e pela grande amizade formada.
A todos os amigos do Grupo de Cromatografia que de uma forma ou outra
auxiliaram no meu trabalho e dividiram momentos agradáveis de convivência.
À Odete por todo seu apoio na secretaria.
A todos os amigos que fiz em São Carlos desde a graduação. Eles
representaram uma grande família para mim durante esta maravilhosa etapa da
minha vida.
Aos amigos de São Paulo, Robson, Denise e Família, que mesmo
distantes, souberam manter viva a verdadeira amizade e acompanharam os meus
passos.
À minha família por todo apoio antes e durante meu estágio na Alemanha.
À CPG do Instituto de Química de São Carlos, onde encontrei o apoio
acadêmico necessário para a realização desta dissertação.
Sumário
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................... i
LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... v
LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLA....................................................................... vi
LISTA DE SÍMBOLOS ...................................................................................................viii
RESUMO............................................................................................................................. ix
ABSTRACT ......................................................................................................................... x
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 1
1.1. Cromatografia Gasosa .................................................................................... 2
1.2. Desenvolvimento das colunas para CG ..................................................... 4
1.2.1 Tipos de colunas ......................................................................................... 5
1.3. A Sílica Fundida ................................................................................................ 7
1.4. Processos de Tratamento da Superfície .................................................. 10
1.4.1. Lixiviação.................................................................................................... 10
1.4.2. Lavagem..................................................................................................... 11
1.4.3. Desidratação.............................................................................................. 12
1.4.4. Persililação................................................................................................. 12
1.4.5. Recobrimento ............................................................................................ 15
1.4.6. Imobilização e ligação cruzada .............................................................. 20
1.4.7. Teste de Grob............................................................................................ 21
2. OBJETIVOS .............................................................................................................. 24
3. EXPERIMENTAL ...................................................................................................... 25
3.1. Materiais e equipamentos utilizados......................................................... 25
3.2. Tubos ................................................................................................................. 26
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Sumário
3.3. Sistemas de preenchimento e recobrimento do tubo .......................... 26
3.4. Processo de preparo das colunas capilares........................................... 28
3.4.1. Etapa da Lixiviação .................................................................................. 28
3.4.2. Etapa da Lavagem.................................................................................... 28
3.4.3. Etapa da Desidratação ............................................................................ 28
3.4.4. Etapa da Persililação................................................................................ 29
3.4.5. Etapa do Recobrimento ........................................................................... 29
3.4.6. Cross-linking .............................................................................................. 30
3.4.7 Condicionamento das colunas preparadas .......................................... 30
3.5. Teste para as colunas preparadas............................................................. 31
3.6. Condições cromatográficas ........................................................................ 31
4. RESULTADOS.......................................................................................................... 32
4.1. Estudo da influência da lixiviação ............................................................. 32
4.2. Avaliação da reação de silanização .......................................................... 37
4.3. Avaliação da reprodutibilidade do recobrimento .................................. 44
4.4. O uso de filmes finos de PEG ..................................................................... 48
4.4.1. Ensaios com a fase OV-73...................................................................... 50
4.4.2. Ensaios com a fase OV-17...................................................................... 54
5. CONCLUSÕES ......................................................................................................... 58
5.1. Sugestões para trabalhos futuros.......................................................59
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 60
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Listas i
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Esquema geral de um cromatógrafo a gás..............................................3
Figura 2: Tipos de coluna capilares........................................................................6
Figura 3: Composição do polímero da poliimida.....................................................7
Figura 4: Superfície química da sílica.....................................................................9
Figura 5: Reação entre os grupos silanol e o reagente HMDS.............................13
Figura 6: Estrutura química de alguns agentes silanizantes.................................14
Figura 7: Recobrimento estático em uma coluna capilar. 1) solução de fase
estacionária; 2) filme da fase estacionária; 3) menisco formado pela evaporação
do solvente.............................................................................................................16
Figura 8: Estrutura química do PDMS...................................................................18
Figura 9: Estrutura do Carbowax..........................................................................19
Figura 10: Sistema de preenchimento do capilar. 1) cilindro de gás para
pressurização, 2) controlador de baixa pressão, 3) frasco com a solução de
interesse, 4) frasco de pressurização, 5) coluna capilar........................................27
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Listas ii
Figura 11: Sistema de recobrimento do tubo. 1) garrafa térmica contendo N2
líquido, 2) aquário com banho de água termostatizado, 3) coluna capilar enrolada
em um aro de metal, 4) interface para a bomba, 5) bomba de vácuo...................27
Figura 12: Cromatograma da mistura teste analisada em uma coluna lixiviada
com HCl 2% e recoberta com filme 0,25 μm de fase 0V-73. 1- octanol, 2- co-
eluição entre o undecano e dimetilanilina, 3- dimetilfenol, 4- hexadecano, 5-
octadecano.............................................................................................................33
Figura 13: Cromatograma da mistura teste analisada em uma coluna lixiviada
com solução 5% de HCl e recoberta com filme 0,25 μm de fase 0V-73................33
Figura 14: Cromatograma da mistura-teste em uma coluna lixiviada com solução
HCl 2% , lavada e secada apenas com a passagem de ar...................................35
Figura 15: Cromatograma da mistura-teste em uma coluna que sofreu todas as
etapas do pré-tratamento do tubo, exceto a lixiviação...........................................35
Figura 16: Cromatograma da mistura-teste analisada em uma coluna que não
sofreu a etapa da lixivação, apenas silanização com HMDS................................36
Figura 17: Comparação entre uma coluna danificada pela alta temperatura
(coloração escura) e outra com características normais (coloração clara)............38
Figura 18: Cromatograma da mistura-teste em uma coluna que sofreu todas as
etapas do pré-tratamento do tubo. Silanização com HMDS a 350º C por 6
horas......................................................................................................................40
Figura 19: Cromatograma da mistura-teste em uma coluna que sofreu todas as
etapas de pré-tratamento. Silanização com DPTMDS a 350º C por 6 horas........40
Figura 20: Coluna que sofreu silanização com uma solução de DPTMDS em
Pentano 1:5............................................................................................................42
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Listas iii
Figura 21: Capilar 1 silanizado com TPDMDS e recoberto com fase OV-73.......42
Figura 22: Capilar 2 silanizado com TPDMDS e recoberto com fase OV-73.......43
Figura 23: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 1..........................................................45
Figura 24: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 2..........................................................46
Figura 25: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 3..........................................................46
Figura 26: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 4..........................................................47
Figura 27: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 5..........................................................47
Figura 28: Coluna sem pré-tratamento, apenas recoberta com um filme de 0,01
μm de PEG. 1- undecano, 2- hexadecano, 3- octadecano, 4- octanol, 5-
dimetilfenol, 6- dimetilanilina..................................................................................48
Figura 29: Coluna sem pré-tratamento, apenas recoberta com um filme de 0,05
μm de PEG. 1- undecano, 2- hexadecano, 3- octadecano, 4- octanol, 5-
dimetilanilina, 6- dimetilfenol..................................................................................49
Figura 30: Coluna sem pré-tratamento, apenas recoberta com um filme de 0,10
μm de PEG. 1- undecano, 2- hexadecano, 3- octadecano, 4- co-eluição entre
octanol e dimetilanilina, 5- dimetilfenol..................................................................49
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Listas iv
Figura 31: Coluna com filme de 0,25 μm de OV-73 sobre um filme de 0,05 μm de
PEG. Análise da mistura-teste. 1- octanol, 2- co-eluição entre undecano e
dimetilanilina, 3- dimetilfenol, 4- hexadecano, 5- octadecano...............................51
Figura 32: Ciclos de condicionamento em coluna com filme de 0,25 μm de OV-73
sobre o filme de 0,05 μm de PEG..........................................................................52
Figura 33: Análise da mistura-teste em coluna recoberta com filme de 0,25 μm de
OV-73 sobre um filme de 0,05 μm de PEG; após ciclos de condicionamento.1-
octanol, 2- co-eluição entre undecano e dimetilanilina, 3- dimetilfenol, 4-
hexadecano, 5- octadecano...................................................................................53
Figura 34: Análise da mistura-teste em coluna apenas recoberta com um filme de
0,05 μm de PEG. 1- undecano, 2- hexadecano, 3- octadecano, 4- ocatanol, 5-
demetilanilina, 6- dimetilfenol.................................................................................54
Figura 35: Análise da mistura-teste em coluna recoberta com um filme de 0,25
μm da fase OV-17 sobre um filme 0,05 μm de PEG. 1- octanol, 2- undecano, 3-
dimetilanilina, 4- dimetilfenol, 5- hexadecano, 6- octadecano...............................55
Figura 36: Ciclos de condicionamento para a coluna recoberta com um filme de
0,25 μm da fase OV-17 sobre um filme 0,05 μm de PEG......................................56
Figura 37: Análise da mistura-teste após ciclos de condicionamento. Coluna
recoberta com um filme de 0,25 μm da fase OV-17 sobre um filme 0,05 μm de
PEG. 1- octanol, 2- undecano, 3- dimetilanilina, 4- dimetilfenol, 5- hexadecano, 6-
octadecano.............................................................................................................57
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Listas v
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Composição química de algumas fases estacionárias fabricadas a
partir do polimetilsiloxano.......................................................................................18
Tabela 2 : Comparação do tempo de retenção para uma coluna recoberta com
filme de 0,25 μm de OV-73 sobre um filme de 0,05 μm de PEG...........................53
Tabela 3: Tempo de retenção para uma coluna recoberta com filme de 0,25 μm
de OV-17 sobre um filme de 0,05 μm de PEG.......................................................57
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Listas vi
LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLA
CG Cromatografia Gasosa
Micro-LC Micro-Liquid Chromatography – Cromatografia líquida miniaturizada
WCOT Wall Coated Open Tubular - Coluna capilar aberta com parede
recoberta
SCOT Support Coated Open Tubular - Coluna capilar aberta com suporte
recoberto
PLOT Porous Layer Open Tubular – Coluna capilar aberta com camada
porosa
HRGC High Resolution Gas Chromatography – Cromatografia Gasosa de
Alta Resolução
.
HMDS Hexametildisilazano
TPDMDS Tetrafenildimetildisilazano
DPTMDS Difeniltetrametildisilazano
PDMS Poli(dimetilsiloxano)
PEG Polietileno glicol
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Listas vii
ATB Azo-terc-butano
ATO Azo-terc-octano
OV Ohio Valley
FID Detector por ionização de chama
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Listas viii
LISTA DE SÍMBOLOS
m metro
mm milímetro
μm micrômetro
°C graus Celsius
% porcentagem
ppm partes por milhão
mol L-1 mol por litro
mL mililitro
μL microlitro
cm/s centrímetros por segundo
°C/min graus Celsius por minuto
g gramas
tR tempo de retenção
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resumo ix
RESUMO O controle da superfície química em colunas capilares abertas é de
fundamental importância para atingir um alto desempenho na análise
cromatográfica, sendo muito estudada ao longo das décadas de 70 e 80, mas
tendo pouco destaque nos últimos anos por parte dos pesquisadores.
A atividade da superfície de uma coluna capilar é causada por grupos
silanol (Si-OH) e impurezas como metais, por exemplo. A presença destes grupos
silanol faz com que alguns compostos sofram adsorção, principalmente pela
formação de pontes de hidrogênio, originando picos com longas caudas no
cromatograma.
Por isso, a eliminação dos sítios ativos faz-se necessária quando uma
amostra apresenta interação com a superfície da coluna. Esta desativação pode
ser feita por meio de agentes silanizantes que reagem com os grupos hidroxila.
Visto que a maioria dos artigos publicados sobre este assunto envolve
colunas de vidro, o presente trabalho estudou os efeitos de cada fase do pré-
tratamento de tubos aplicado para as colunas atuais de sílica fundida, verificando
os agentes silanizantes HMDS, DPTMDS e TPDMDS que seriam mais adequados
para suportar as fases estacionárias OV-73 e OV-17. Também se avaliou o uso
de filmes finos de 0,01 , 0,05 e 0,10 μm de polietileno glicol (PEG) como
alternativa para a desativação da parede interna do capilar, o qual mostrou
resultados satisfatórios de estabilidade e inatividade.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Abstract x
ABSTRACT
The control of the inner surface in open tubular capillary columns has
fundamental importance to reach a high performance in gas chromatography
analysis. It was very studied during 1970´s and 1980´s, but has not interested the
researches along last years, not excluding also, the possibility of commercial
secrets regarding column preparation.
The activity on the surface of capillary column is mainly caused by silanol
groups (Si-OH) and impurities such as metal ions and water. These groups
favours reversible and irreversible adsorption of polar compounds, which results in
tailed peak shapes and incomplete elution from the column.
Therefore, the elimination of the active sites is necessary. The deactivation
procedures are based on blocking of silanol groups by means of chemical
reaction.
This present work studied the effects of the surface pretreatment steps
applied to fused silica capillary columns. Some silylating agents such as HMDS,
DPTMDS and TPDMDS were valued. The coating behavior using OV-73 and OV-
17 stationary phases was studied too.
Film thickness of 0,01 , 0,05 and 0,10 μm of poly(ethylene glycol) (PEG)
was applied as alternative procedure, showing good stability and column
deactivation.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 1
1. INTRODUÇÃO
A cromatografia é uma técnica físico-química de separação onde os
componentes de uma mistura são distribuídos entre duas fases: uma das fases
constitui uma superfície denominada fase estacionária; e a outra se move através
da primeira, chamada fase móvel.
Em 1903, TSWETT utilizou os termos “cromatografia” e “cromatograma”
em dois trabalhos que descrevem a separação dos componentes de extrato de
folhas em uma coluna de vidro, recheada com vários sólidos, usando éter de
petróleo como eluente. Sendo assim, a descoberta da cromatografia é atribuída a
este pesquisador [1].
Apesar destas experiências, foi só em 1930 que Kuhn e Lederer
aperfeiçoaram a cromatografia em coluna, separando e identificando as xantofilas
da gema de ovo, utilizando carbonato de cálcio pulverizado como fase
estacionária e éter de petróleo como fase móvel. Considerou-se este período
como o início da cromatografia moderna, ainda que realizada em colunas de vidro
preparativa, recheadas com suporte sólido, nas quais as amostras eram
submetidas juntamente com o solvente [1].
O uso da fase móvel líquida foi a única opção durante muitos anos, até que
em 1941 Martin e Synge previram que a fase móvel não precisava ser um líquido,
mas poderia ser também um vapor. Descreveram a partição líquido-líquido e
aplicaram o conceito de pratos teóricos à cromatografia. Este trabalho antecipou o
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 2
surgimento da cromatografia gasosa e da cromatografia líquida de alta eficiência,
a qual renderia a estes outros o Prêmio Nobel de 1952 [1].
Assim, a cromatografia tornou-se uma ferramenta poderosa, com
aplicações multidisciplinares, que permite separar, quantificar e identificar
substâncias químicas em misturas complexas.
1.1. Cromatografia Gasosa
Na cromatografia gasosa a amostra é vaporizada e introduzida no topo de
uma coluna cromatográfica. A eluição é feita por um fluxo de gás inerte que atua
como fase móvel, cuja função é apenas arrastar os analitos através da coluna
sem interagir com os mesmos. Os compostos são eluídos da coluna
cromatográfica e passam pelo detector sendo registrados em seguida como
curvas gaussianas (Figura 1).
A cromatografia gás-sólido está baseada em uma fase estacionária sólida
de grande área superficial, normalmente carvão vegetal, sílica-gel ou zeólitas
sintéticas, na qual a separação dos analitos é conseqüência de adsorção física.
Ela tem aplicação limitada devido à retenção de moléculas polares ou ativas, e
geralmente, é empregada na análise de gases como nitrogênio, oxigênio,
monóxido de carbono entre outros [1,2].
Na cromatografia gás-líquido, o processo de separação se dá por partição
do analito entre a fase móvel e uma fase líquida imobilizada em um suporte
sólido.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 3
Figura 1: Esquema geral de um cromatógrafo a gás.
Estas técnicas desenvolveram-se rapidamente a partir da década de 1950.
Em 1955 surgiu no mercado o primeiro equipamento comercial para este fim.
Desde então, houve um crescimento extraordinário de suas aplicações,
principalmente após a introdução dos computadores que permitiram o controle
das condições experimentais facilitando o auto-processamento de dados [2].
A cromatografia gasosa é uma técnica com um alto poder de resolução,
rapidez, e geralmente está acoplada a detectores muito sensíveis. Trata-se hoje
de uma técnica indispensável à pesquisa, controle de qualidade na indústria
farmacêutica ou alimentícia, monitoramento de poluentes no meio ambiente, entre
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 4
outras aplicações. Sua rápida expansão é resultado dos esforços de muitos
pesquisadores no desenvolvimento das colunas capilares de alto desempenho [3].
1.2. Desenvolvimento das colunas para CG
A coluna cromatográfica é considerada a parte mais importante de todo
sistema uma vez que neste componente a separação ocorrerá. As primeiras
colunas analíticas eram feitas de metal (geralmente aço inoxidável) com
dimensões de 1 a 4 mm de diâmetro interno e 1 a 3 metros de comprimento,
possibilitando a injeção de uma maior quantidade de amostra. As colunas
capilares foram introduzidas em 1958 por Golay. Logo após, em 1959 Desty
trabalhando em uma empresa de petróleo britânica, produziu a primeira coluna
capilar de vidro utilizando um filme de esqualeno na superfície interna como fase
estacionária. Contudo sua coluna perdia totalmente suas características após
algumas análises o que o fez desistir do vidro como material para fabricação das
colunas [2,3].
Grob continuou estudando o problema e em 1964 produziu colunas
capilares de vidro com recobrimento interno carbonizado por meio da pirólise do
CH2Cl2, possibilitando a deposição eficiente de filmes de fase estacionária.
Subsidiado por uma empresa de cigarros suíça, Grob aplicou suas colunas na
análise de fumaça de cigarro separando mais de 300 compostos. O sucesso da
análise levou-o também ao primeiro acoplamento das colunas capilares a um
espectrômetro de massas [3].
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 5
Os trabalhos de Grob na década de 1960 e 1970 fizeram com que
houvesse uma rápida transição para as colunas de vidro. Várias máquinas nos
laboratórios produziam colunas capilares de vidro com vários diâmetros baseadas
no sistema descrito por Desty e colaboradores [3,4].
Em 1979, um novo tipo de coluna foi introduzido. Com o desenvolvimento
da tecnologia da fibra óptica, a sílica fundida tornou-se o material de escolha para
as colunas capilares. O advento dos capilares de sílica fundida para cromatografia
gasosa foi a maior avanço tecnológico desenvolvido no campo das ciências de
separação no século XX. A revolução não ocorreu somente para esta técnica
como também, posteriormente, os capilares foram aplicados na eletroforese
capilar e na cromatografia líquida miniaturizada (micro-LC) [5]
1.2.1 Tipos de colunas
As colunas capilares geralmente possuem dimensões de 0,10 a 0,53 mm
de diâmetro interno e de 10 a 100 m de comprimento.
Existem vários tipos de colunas capilares para cromatografia gasosa como
mostrado na Figura 2. As colunas empacotadas possuem seu interior recheado
com partículas do suporte sólido, recobertos ou não com um filme de fase líquida.
Nas colunas do tipo WCOT (Wall Coated Open Tubular), a fase estacionária é
depositada na parede interna do tubo, na forma de um filme, deixando a parte
central oca, sendo adequadas à maioria das aplicações. A coluna do tipo SCOT
(Support Coated Open Tubular) possui a parede interna do capilar recoberta com
um suporte sólido onde é depositado um filme de fase líquida; de uma maneira
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 6
geral são menos eficientes do que as do tipo WCOT. As colunas denominadas
PLOT (Porous Layer Open Tubular) possuem em sua parede interna apenas
partículas de um sólido adsorvente [1,2,6].
As colunas capilares de sílica fundida recebem um recobrimento externo de
poliimida (Figura 3) para aumentar sua resistência mecânica e protegê-las da
exposição atmosférica. Uma pequena ranhura de 1 µm na sílica pode causar sua
quebra; por isso, o recobrimento externo de poliimida na sílica se faz tão
importante [5].
Figura 2: Tipos de coluna capilares.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 7
ON N N
O
O
O
O
N
O O
O
O O
On
Figura 3: Composição do polímero da poliimida
1.3. A Sílica Fundida
Para os fabricantes de tubos de sílica-fundida, o uso desta em ciências de
separação representa um insignificante mercado quando comparado ao de
telecomunicações. Todas as novidades e esforços para melhorar a pureza da
sílica são direcionados ao desenvolvimento de fibra óptica. Por sorte, os
cromatografistas têm acesso a todos estes materiais.
Os primeiros capilares de sílica-fundida possuíam uma alta concentração
de água, em torno de 400-600 ppm, que permanecia após a obtenção do produto
de hidrólise SiCl4, no qual restavam também aproximadamente 125 ppm de
cloreto. A água como contaminante limitava a eficiência na transmissão da luz
na região do infravermelho usada para a telecomunicação. Consequentemente,
os produtores se esforçaram para reduzir estes índices de impurezas e hoje a
concentração de água nos capilares de sílica não ultrapassa 0,2 ppm. Por outro
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 8
lado, a concentração de cloretos aumenta se o gás cloro for usado para secar a
sílica; daí a necessidade de se usar atmosferas inertes para este fim [5].
A sílica-fundida permite o preparo de colunas com paredes finas, as quais
exibem ótima flexibilidade. Esse material pode ser descrito como um vidro mais
simples, ou um “vidro ideal” por não possuir qualquer aditivo usado para modificar
suas propriedades físicas ou químicas. Esta ausência de impurezas confere
propriedades cromatográficas muito melhores em relação aos outros materiais
usados na preparação de tubos até então [5,6].
A síntese da sílica fundida é baseada na hidrólise do SiCl4 de acordo com a
equação 1:
SiCl4 + 2H2O SiO2 + 4HCl (1)
Na estrutura da sílica, os átomos de silício estão coordenados
tetraedricamente com quatro átomos de oxigênio. No entanto, a presença de
grupos hidroxila foi identificada em diversas posições na superfície da sílica
(Figura 4). Hoje em dia, a concentração destes grupos é muito baixa devido à alta
temperatura usada no preparo; porém variáveis incontroláveis como, por exemplo,
a umidade do ar no dia da fabricação do material ou gases ácidos de nitrogênio
podem hidrolisar um grupo siloxano a silanol [5].
A atividade das colunas causada pelos grupos silanol (Si-OH), presentes
na superfície do capilar, prejudica a eficiência da separação ao adsorver alguns
compostos, tanto para o vidro como para a sílica fundida, principalmente quando
recobertas com filmes muito finos de fase estacionária.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 9
SiO
HO
H
H
SiOHHO
SiOH
SiOH
SiO
Si SiOH
Ligação de hidrogênio com a água
Silanolgeminal
Silanolvicinal
Siloxano Silanol isolado
SiCl
SiCl
H
OH
SiO
Si
H
OH
Ligação de hidrogênio com a água
Cloreto de Silício
Figura 4: Superfície química da sílica.
Surgiram então, vários estudos numa tentativa quase que desesperada
para desativar as colunas capilares de cromatografia gasosa buscando eliminar
os sítios ativos.
O controle da superfície química em colunas capilares buscando o alto
desempenho na separação, foi durante muito tempo o foco de pesquisadores da
área, sendo muito estudada ao longo das décadas de 1970 e 1980, mas tendo
pouco destaque nos últimos anos. Provavelmente, o rápido crescimento das
indústrias de instrumentação analítica e seus segredos comerciais envolvidos no
que se referem à preparação de colunas, diminuíram o número de artigos
publicados sobre o assunto e, conseqüentemente, o interesse no meio acadêmico
[7].
Os processos de tratamento de superfície têm certa controvérsia e
confusão ao longo da literatura, principalmente porque a maioria os descreve para
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 10
as colunas de vidro ao invés das colunas atuais de sílica fundida, não havendo
um padrão bem definido a ser seguido [7].
1.4. Processos de Tratamento da Superfície
As propriedades da superfície interna da coluna pré-tratada determinam o
sucesso ou não de sua aplicação prática. Adsorção reversível e irreversível de
analitos polares, as quais são possíveis de perceber no cromatograma por pela
presença de caudas nos picos, além da eluição incompleta, são fatores
agravantes na busca de uma coluna capilar de boa qualidade [8].
A preparação de uma coluna capilar WCOT inerte envolve várias etapas as
quais não possuem um entendimento completo e devem ser estudadas
empiricamente. Diferentes parâmetros produziram resultados semelhantes na
literatura, o qual é provavelmente o motivo das inúmeras recomendações
publicadas no que se refere à preparação de colunas [8].
As etapas de preparo de uma coluna capilar são descritas a seguir.
1.4.1. Lixiviação
A função da lixiviação é, primeiro promover a deionização da superfície
pela substituição de íons metálicos por íons H+ e segundo, aumentar a densidade
de grupos hidroxila para servir como possíveis pontos de modificação. Em
princípio, a lixiviação pode ser ácida ou básica, sendo necessário manter uma
superfície lisa. Contudo, o tratamento básico tende a corroer e produzir poros se
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 11
não for bem controlado. A profundidade da lixiviação depende da temperatura do
processo, concentração da solução e do tempo de duração [9,10].
A lixiviação dinâmica consiste em passar um fluxo constante da solução de
lixiviação pelo capilar por um longo período de tempo, enquanto que a lixiviação
estática sugere o preenchimento de apenas 25% do volume do capilar com a
solução e o aquecimento do mesmo após fechar suas saídas. Grob [10] descreve
que a lixiviação estática produz melhores resultados e que nenhum tratamento
mais sofisticado deve ser escolhido antes de comparar com o simples
procedimento estático. Ele sugere também o uso de uma solução 2% de ácido
clorídrico (HCl) já que este procedimento mantém a superfície do capilar lisa e
deixar poucos resíduos em comparação com outras soluções ácidas ou básicas
como hidróxido de sódio (NaOH), por exemplo.
A lixiviação parece não ser crítica para a sílica fundida, visto que a
concentração de metais em sua superfície é muito baixa em comparação com o
vidro. Por exemplo, Mayer aplica a lixiviação com ácido clorídrico 18% a uma
temperatura de 100 °C por um período de 12 horas durante o preparo do capilar.
Já Xu e Sumpter iniciam diretamente pelo processo de desidratação e
desativação [11-13].
1.4.2. Lavagem
A lavagem consiste basicamente em passar pela coluna a mesma solução
utilizada na lixiviação, eliminando assim, o volume usado anteriormente e
dissolvendo qualquer material ainda presente na camada superficial.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 12
1.4.3. Desidratação
A desidratação consiste no transporte de moléculas de água, resultantes
da solução de lixiviação ou da desidratação entre grupos silanol vizinhos, para
fora da coluna, por um fluxo de gás. Este procedimento é realizado geralmente
em temperaturas superiores a 150 ºC por algumas horas e é aconselhável para
colunas curtas. O uso de uma bomba de vácuo ou um fluxo de solvente na qual a
água é solúvel, também é um excelente meio para se conseguir uma boa
desidratação [9,10].
1.4.4. Persililação
A persililação pode ser a etapa mais importante para se conseguir uma
coluna inerte, ou seja, impossibilitada de afetar o processo de separação. Essa
idéia conduziu durante anos as pesquisas que garantiram a expansão da HRGC.
A silanização serve para introduzir grupos orgânicos específicos na
superfície do capilar ao reagir com os grupos Si-OH. Um dos agentes silanizantes
mais conhecidos é o hexametildisilazano (HMDS), sendo a reação apresentada a
seguir análoga para outros agentes desta mesma classe [14].
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 13
+ NH3
superfície da HMDS superfície amônia
sílica silanizada
Figura 5: Reação entre os grupos silanol e o reagente HMDS.
A seleção de um agente silanizante adequado não é uma tarefa simples. O
conseqüentemente, no seu posterior uso, além de possuir boa compatibilidade
separação é atingida quando a fase estacionária depositada na coluna é
necessário que a superfície interna da coluna seja molhável (wettable) por uma
similaridade estrutural, a persililação tem que produzir boa “molhabilidade”. Por
mostra a estrutura do Hexametildisilazano (HMDS), Tetrafenildimetildisilazano
(TPDMDS) e difeniltetrametildisilazano (DPTMDS) [8,10].
Si
Si OH
OH
Si O SiCH3
CH3
mais tradicional fica entre os silazanos e siloxanos. Segundo Grob [10], o bom
agente deve resistir às altas temperaturas usadas na preparação da coluna e,
com a fase estacionária escolhida para o recobrimento. A eficiência máxima de
distribuída de forma uniforme, ou seja, um filme sem interrupções, seções finas e
espessas, ou até mesmo gotas. Assim, para produzir um filme homogêneo, é
dada fase estacionária. Desta forma, experimentalmente e fundamentada na
exemplo, um agente silanizante que possui grupos fenil seria ideal para o uso em
recobrimentos com fases estacionárias que também os possuam. A Figura 6
O
Si O Si
CH3
CH3
CH3
(CH3)3Si NH Si(CH3)3
CH3
O
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 14
H3C Si N Si CH3Si
CH3
CH3
N Si
CH3
CH3
HH
TPDMDS DPTMDS
H3C Si
CH3
CH3
N Si
CH3
CH3
CH3H
HMDS
Figura 6: Estrutura química de alguns agentes silanizantes.
O processo consiste em preencher uma porcentagem do comprimento do
capilar com a solução do agente silanizante, fechar as extremidades e aquecer
em um forno por certo período de tempo. Nesta etapa, a temperatura e o tempo
usados são muito importantes para que a reação ocorra, o que gerou outro ponto
de divergência entre os pesquisadores. Por exemplo, Ven e colaboradores [14] em
estudo usando análises por ressonância magnética nuclear de 29Si e medidas de
absorção na região do infra-vermelho, descreveu a formação do grupo R-SiNH2
que é mais ativo que o próprio grupo silanol, após silanização usando HMDS a
temperaturas superiores a 400 °C. Em experimentos usando também HMDS puro
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 15
sob diferentes condições, Welsch conseguiu uma inatividade nunca vista por ele
antes usando temperaturas ao redor de 300 °C; diferente dos 380 – 400 °C
proposto anteriormente por Grob [15,7]. Porém, o próprio Welsch publicou um
artigo alguns anos mais tarde que sugeria a silanização a 340 °C por um período
de 13 a 14 horas como sendo suficiente para uma completa desativação [16]. Já
Tríska e colaboradores realizaram a reação de silanização a 350 °C por um
período de 24 horas, mas Markides descreve que a melhor desativação
alcançada foi a 350 °C por um período de apenas 10 horas [17,18].
1.4.5. Recobrimento
Após a desativação, a parede interna da coluna capilar é recoberta com a
fase estacionária. O mais importante e difícil de se conseguir nesta etapa é
produzir um filme homogêneo ao longo de todo capilar; e isso depende da
“molhabilidade” conseguida após a silanização, velocidade de evaporação do
solvente e de uma temperatura constante durante o processo. Mayer, usando
microscopia eletrônica, mostrou a formação de bolhas e ondas no recobrimento
com fases estacionárias com alta concentração de grupos fenil [19].
Existem duas técnicas para tal processo: o recobrimento dinâmico e o
recobrimento estático.
O recobrimento dinâmico consiste em preencher a coluna com a solução
de fase estacionária e empurrá-la com um gás, deixando um depósito de filme
fino na parede. O fluxo de gás continua até a evaporação do solvente, a uma
temperatura elevada. A dificuldade deste método é predizer a espessura exata do
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 16
filme, pois a mesma é dependente da velocidade, viscosidade e concentração da
solução.
O método do recobrimento estático foi primeiro desenvolvido por Golay,
mas Bouche e Verzele em 1968, fizeram com que o processo dinâmico fosse
praticamente abandonado, permanecendo um marco na história da preparação de
colunas. Seu artigo original e listava os pontos fracos do recobrimento dinâmico
[20].
O processo de recobrimento estático pode ser descrito como um processo
de evaporação do solvente da solução de fase estacionária, fazendo com que o
vapor passe para fora da coluna com auxílio da diferença de pressão, ou seja,
aplicando “vácuo” em uma das extremidades do capilar, como mostra a Figura 7.
Quando a frente da solução recuar por evaporação do solvente, um pouco da
solução é espalhada na parede interna da coluna aumentando a área efetiva para
evaporação, formando assim, um filme da fase. Neste caso, a coluna é
completamente preenchida com a solução da fase estacionária e sua temperatura
não deve variar ao longo de seu comprimento para garantir uma espessura de
filme uniforme [10, 20].
Figura 7: Recobrimento estático em uma coluna capilar. 1) solução de fase
estacionária; 2) filme da fase estacionária; 3) menisco formado pela evaporação
do solvente.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 17
As vantagens do recobrimento estático frente ao processo dinâmico são
basicamente:
1) Não existem limitações relacionadas à viscosidade (exceto para
recobrimentos muito espessos), sendo possível o recobrimento com polímeros de
altas massas molares;
2) Proporciona melhor resultado no recobrimento sem tantas influências
externas como no processo dinâmico;
3) A espessura do filme é perfeitamente predita baseando-se na seguinte
equação [10]:
Espessura do filme (μm) = 2,5 x DI (mm) x C (%)
Onde,
DI: diâmetro interno da coluna capilar, dada em milímetros;
C: concentração da solução de fase estacionária, dada em massa de fase
estacionária por volume de solução.
Entre as principais fases estacionárias destacam-se os polímeros líquidos
de polisiloxanos; que são usados em 90% das separações feitas em laboratórios
analíticos. Novas fases podem ser produzidas com a inserção de novos grupos
funcionais nos grupos pendentes dos siloxanos, como por exemplo, grupos fenil
ou ciano [21]. A Figura 8 mostra a estrutura do poli(dimetilsiloxano) - PDMS e a
Tabela 1 mostra a composição química de algumas fases estacionárias
conhecidas comercialmente.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 18
O S i
C H 3
C H 3
O S i
C H 3
C H 3
O
n
Figura 8: Estrutura química do PDMS.
Tabela 1: Composição química de algumas fases estacionárias fabricadas a partir
do PDMS.
Código Estrutura
OV-73 5% fenil
OV-17 50% fenil
OV-1701 7% fenil, 7% cianopropil
OV-61 33% fenil
OV-31 17% cianopropil
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 19
Um segundo grupo de polímeros que tem inúmeras aplicações nesta área
são os polietileno glicóis (PEGs). Um exemplo de aplicação bem estabelecida é
na análise de compostos voláteis em bebidas alcoólicas e de compostos polares
cujos pontos de ebulição são semelhantes, dificilmente separados em
polisiloxanos.
Alguns dos PEGs modificados são estáveis à temperaturas de até 320 °C.
Porém, algumas características desfavoráveis como, por exemplo, a fácil
oxidação e a degradação em baixas temperaturas, restringem o uso do PEG
como fase estacionária. O PEG mais utilizado como fase estacionária possui
20.000 unidades de massa atômica e é conhecido como Carbowax-20M (Figura
9). No entanto, muitas destas desvantagens podem ser eliminadas com o
desenvolvimento de métodos de imobilização (cross-linking) [22].
HO C C O C C OH
H
H
H
H
H
H
H
H n
Figura 9: Estrutura do Carbowax.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 20
1.4.6. Imobilização e ligação cruzada
K. Grob e G. Grob denotam o termo cross-linking (entrecruzamento) como
o procedimento usado para produzir ligações covalentes intermoleculares e entre
a parede do tubo e a fase estacionária. As ligações químicas estendem o intervalo
de temperatura de trabalho e estabilizam o filme da fase estacionária sobre a
parede interna do tubo, tornando a fase estacionária mais robusta, e impedindo a
redissolução da mesma no solvente quando a amostra é injetada. Este
procedimento é importante na redução da “sangria” da coluna se torna
indispensável com o aumento da polaridade da fase e da espessura do filme [23].
A “sangria” é o termo utilizado para descrever o desprendimento de fase
estacionária em um capilar durante uma corrida cromatográfica. Com o aumento
da temperatura de análise, pequenas porções de fase podem se soltar da parede
interna da coluna e originar um sinal no detector do equipamento.
As técnicas de imobilização foram primeiramente estudadas pelos
produtores de silicone, sendo uma idéia cientificamente simples:
1) Reações radicalares são induzidas pela adição de geradores de radicais;
2) Reações radicalares são induzidas por calor;
3) Condensação de grupos silanol são induzidas por calor.
Sendo assim, a alternativa mais interessante no preparo de colunas com
fases imobilizadas envolve a adição de peróxidos à fase líquida, mais comumente
azo-terc-butano (ATB) ou azo-terc-octano (ATO). Após terminada a deposição do
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 21
filme, uma pequena quantidade destes reagentes é inserida no interior da coluna
e o aquecimento do tubo garante que a imobilização da fase ocorra [10].
Fases estacionárias a base de silicone apresentam massa molecular
elevada. Os silicones que apresentam altos percentuais de fenil ou ciano
substituídos não possuem solubilidade adequada para preparar a solução de
recobrimento. Por isso, a polimerização é feita in situ, adicionando-se oligômeros
de massa molecular baixa no interior da coluna [6].
Esta é praticamente a última etapa no processo de preparação de uma
coluna capilar para CG. O próximo passo é submeter a coluna à uma avaliação
antes de utilizá-la nas aplicações de interesse. Isto pode ser feito por meio de
uma simples análise onde os compostos dão informações sobre a qualidade do
novo capilar.
1.4.7. Teste de Grob
A qualidade de uma coluna capilar não é avaliada apenas por uma
separação eficiente, mas também pelos diferentes tipos de adsorção que possam
ocorrer entre os analitos e a parede interna do tubo. Sendo assim, faz-se
necessário um bom teste após sua fabricação.
Após muitos estudos, Grob [24] propôs em 1978 uma mistura-teste que
considerava ser capaz de dar informações não só sobre a eficácia da injeção e o
tempo morto, como também o acesso dos analitos à grupos silanóis ou
contaminantes (água, metais, entre outros). Seu trabalho foi um marco para
avaliação de colunas. Esta mistura continha hidrocarbonetos, um fenol
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 22
substituído, uma amina, álcoois, um diol e ésteres. Segundo Grob os testes
deveriam possuir as seguintes características:
1) Consistir em uma simples corrida cromatográfica;
2) A mistura-teste deveria conter todos os compostos necessários para dar
informações básicas sobre a coluna;
3) O mesmo teste deve servir para todas as fases estacionárias;
4) Alguns aspectos quantitativos devem ser incluídos como forma e altura dos
picos;
5) As condições devem ser padronizadas para posterior comparação de
resultados;
6) Os componentes da mistura devem eluir relativamente longe uns dos outro
para evitar interações entre eles.
Neste caso, as classes de compostos escolhidos têm uma função. Os
hidrocarbonetos apresentam picos simétricos permitindo os cálculos sobre a
eficiência cromatográfica, eficácia da injeção e também identifica problemas no
sistema, como por exemplo, erros na instalação da coluna ou insuficiência de gás.
Os ácidos orgânicos, as aminas (bases), os álcoois e o diol mostram as possíveis
interações com grupos silanol ou moléculas de água. Os aldeídos identificam
adsorção que não se dá por ligação de hidrogênio. E, por fim, os ésteres metílicos
possuem coeficientes de partição muito próximos em diferentes fases
estacionárias, detectando irregularidades no recobrimento da coluna [24].
Quando estudamos adsorção temos que considerar todo o sistema
cromatográfico (injetor, coluna, detector). Uma adsorção ocorrendo no injetor
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Introdução 23
pode gerar conclusões erradas sobre a coluna. Por outro lado, altas temperaturas
no injetor, quando próximo de 300 °C, e o curto espaço de tempo de permanência
dos analitos no detector, parece não contribuir muito para a adsorção total do
sistema. Usando um liner silanizado, a contribuição do injetor na adsorção é
menor que 5% [25].
Inúmeros testes para colunas surgiram após o sugerido por Grob de acordo
com a demanda de mercado. Alguns continham compostos menos impedidos
estericamente, para favorecer o acesso a possíveis sítios ativos, e compostos
mais ácidos ou básicos, tentando distinguir as colunas “adequadas” das
“excelentes”.
Outra questão citada por pesquisadores refere-se ao solvente e a
programação de temperatura usada nos testes de colunas. Segundo Jennings,
um solvente que elui antes dos compostos presentes na mistura-teste pode
impedir a interação dos mesmos com os sítios ativos, principalmente para
solventes polares. As altas temperaturas também diminuem a interação soluto-
superfície. Ele sugere um novo teste isotérmico a baixas temperaturas (70 -100
°C) usando diisopropil benzeno como solvente, que elui depois dos analitos e
introduz novos compostos como, por exemplo, a picolina, o 1,2 pentanodiol, o
ácido propiônico e o trimetil fosfato. Destaca também que injeções de volumes de
amostra menores que 10 nL na coluna facilita a identificação de adsorção, o que é
mascarado por altas concentrações de analitos [26].
Apesar das inúmeras sugestões ao longo dos últimos anos, a mistura de
Grob é ainda usada pelas empresas que fabricam colunas capilares e mostra-se
eficiente como um primeiro teste de qualidade [27,28].
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Objetivos 24
2. OBJETIVOS
O principal objetivo deste trabalho é adequar, para as colunas capilares
modernas de sílica fundida, as etapas empregadas no pré-tratamento dos tubos
utilizados no preparo de colunas, verificando sua real necessidade na produção
de colunas capilares, inertes e eficientes. Isso significa:
Estudar o comportamento da lixiviação ácida e básica;
Avaliar a desativação da superfície da sílica usando agentes silanizantes,
estudando as condições para a reação de silanização que melhor
satisfazem o recobrimento para fases estacionárias semi-polares e polares,
ou seja, produzem “molhabilidade” adequada.
Analisar o processo de recobrimento do tubo com a fase estacionária e sua
reprodutibiliadade;
Buscar alternativas para desativação do capila.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Experimental 25
3. EXPERIMENTAL
3.1. Materiais e equipamentos utilizados
• Fase estacionária OV-73 (5,5% fenilpolisiloxano) e OV-17 (50%
fenilpolisiloxano): Alltech Associates Inc., Ohio (USA)
Fase estacionária de PEG: Alltech Associates Inc., Ohio (USA).
• Agentes silanizantes
HMDS: Merck, Darmstadt (Germany)
TPDMDS e DPTMDS: Aldrich Chem.Co., Munich (Germany)
• Reagente Azo-terc-butano: Aldrich Chem.Co., Munich (Germany).
• Solventes pentano e diclorometano: Merck, Rio de Janeiro (Brasil).
• Gás N2 usado nos sistemas de preparo do tubo: AGA, Barueri (Brasil).
• Tubos de sílica fundida HT: Polymicro Technologies Inc., Phoenix (USA)
• Cromatógrafo a Gás Shimadzu GC-2010 (Shimadzu, Kyoto, Japão) com
detector por ionização de chama FID.
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Experimental 26
3.2. Tubos
Todos os ensaios realizados utilizaram tubos de sílica fundida cortados.
Suas dimensões foram padronizadas em 10 metros de comprimento e 0,25 mm
de diâmetro interno.
3.3. Sistemas de preenchimento e recobrimento do tubo
Montou-se um sistema um para o preenchimento do capilar. Por meio da
pressurização de um frasco (3) contendo a solução de trabalho, o líquido flui para
dentro do tubo, como mostra a Figura 10.
Conforme descrito no processo de recobrimento estático, montou-se um
outro sistema usado para a evaporação do solvente, contendo a fase estacionária
durante a etapa da produção do filme fino (Figura 11).
Na etapa de recobrimento, as colunas já preenchidas com a solução da
fase estacionária foram colocadas em um banho de água termostatizado a 28 °C
para se evitar ao máximo a variação de temperatura durante a evaporação do
solvente. Uma das entradas do capilar foi mergulhada em nitrogênio líquido
enquanto na outra se aplicou “vácuo” com o auxílio de uma bomba.
A temperatura ambiente na sala onde o sistema se encontrava também foi
controlada por meio de aparelhos de ar condicionado.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Experimental 27
Figura 10: Sistema de preenchimento do capilar. 1) cilindro de gás para
pressurização, 2) controlador de baixa pressão, 3) frasco com a solução de
interesse, 4) frasco de pressurização, 5) coluna capilar.
Figura 11: Sistema de recobrimento do tubo. 1) garrafa térmica contendo N2
líquido, 2) aquário com banho de água termostatizado, 3) coluna capilar enrolada
em um aro de metal, 4) interface para a bomba, 5) bomba de vácuo.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Experimental 28
3.4. Processo de preparo das colunas capilares
3.4.1. Etapa da Lixiviação
Usando o sistema de preenchimento do tubo, verificou-se o efeito da
lixiviação conforme descrito por Grob [10]. Preencheram-se 25% do comprimento
da coluna com solução de HCl , tampou-se as extremidades do tubo usando um
maçarico, levando-o ao forno logo em seguida a 220º C por 3 horas. Foram
testadas soluções de HCl 2% e 5%; e uma solução de NaOH 0,1 mol L-1.
Após este tratamento, o capilar foi retirado do forno e suas extremidades
foram abertas para que seguisse o processo de lavagem.
3.4.2. Etapa da Lavagem
Esta etapa consistiu em passar pelo capilar em torno de 1,5 mL da mesma
solução usada para a lixiviação e 1,5 mL de diclorometano. A secagem interna do
capiar foi realizada apenas com a passagem de N2 por 30 minutos.
3.4.3. Etapa da Desidratação
Após a secagem, foi utilizado um forno de cromatógrafo para aquecer os
tubos a uma temperatura de 200 ºC por um período de 2 horas. Simultaneamente,
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Experimental 29
conectou-se um fluxo de N2 em uma das entradas do tubo de sílica fundida
deixando a outra livre para a saída do gás.
3.4.4. Etapa da Persililação
Análogo ao processo de lixiviação, a desativação do capilar foi estudada
preenchendo-se 10% de seu comprimento com a solução do agente silanizante
sem diluições. A solução foi transportada a uma taxa de 2 cm/s usando um fluxo
de nitrogênio até que saísse na outra extremidade. Logo após, vedaram-se suas
extremidades em um maçarico e, então, o capilar foi aquecido em um forno sob
temperaturas de reação que variaram de 300 a 400 ºC por um período de tempo
de 6 a 12 horas [7,8]. Foram utilizados o HMDS, DPTMDS e TPDMDS,
separadamente, como agente silanizantes.
Terminado este processo, os capilares seguiram para a etapa de
recobrimento com a fase estacionária.
3.4.5. Etapa do Recobrimento
As colunas preparadas nos ensaios foram recobertas com a fase
estacionária OV-73 ou OV-17, produzindo um filme de 0,25 μm, seguindo o
descrito anteriormente para o recobrimento estático (Figura 11). Para isto,
pesou-se 0,0161g da fase diluindo-a em 4 mL de pentano no caso da OV-73, mas
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Experimental 30
para OV-17 utilizou-se uma mistura 1:1 de diclorometano e pentano para diluir a
fase.
Nesta etapa, o PEG também foi usado na forma de filmes muito finos (0,01
0,05 e 0,10 μm) com a intuição de que serviriam para desativar a parede interna
do capilar.
3.4.6. Cross-linking
Na imobilização da fase estacionária, uma pequena gota de azo-terc-
butano foi colocada em um frasco de vidro. Este, por sua vez, foi pressurizado
usando o sistema mostrado na Figura 10, fazendo com que o reagente
percorresse a coluna capilar por um período de 20 minutos. Em seguida, as
colunas eram vedadas no maçarico e colocadas no forno a 220 ºC por um período
de 1 hora. Em todas as colunas recobertas com a fase estacionária, o
procedimento de cross-linking foi repetido 3 vezes.
3.4.7. Condicionamento das colunas preparadas
Terminado o processo de imobilização da fase estacionária, as colunas
passaram por uma etapa de condicionamento, onde foram submetidas a seguinte
rampa de aquecimento: 30 °C – 0,5 °C/min – 300 °C – 60 min.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Experimental 31
3.5. Teste para as colunas preparadas
Baseado no teste de Grob preparou-se uma solução-teste para avaliar a
atividade das colunas produzidas. Esta continha os seguintes compostos:
undecano, octadecano, hexadecano, octanol, dimetilanilina e dimetilfenol.
Os compostos foram injetados isoladamente para o prévio conhecimento
dos tempos de retenção de cada um e, posteriormente, como uma mistura para
avaliação de coluna.
3.6. Condições cromatográficas
Todas as colunas capilares produzidas foram avaliadas injetando-se 1 μL
da mistura-teste em uma corrida cromatográfica simples com a rampa de
aquecimento de 40 ºC – 8 ºC/min – 300 ºC em um detector FID. O fluxo de gás
usado nas análises foi de 1 mL por minuto. As temperaturas do injetor e do
detector foram de 250 ºC e 300 ºC respectivamente.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 32
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Estudo da influência da lixiviação
A fim de se avaliar o efeito da lixiviação sobre a superfície do capilar,
diferentes concentrações de solução de HCl foram testadas, 2% e 5%, originando
os cromatogramas mostrados nas Figuras 12 e 13, respectivamente. Nestes
ensaios, as colunas não passaram por nenhum outro processo de pré-
tratramento. Apenas a lixiviação, seguida da lavagem e secagem com a
passagem de ar.
A primeira fase estacionária escolhida para os testes foi a OV-73. A
facilidade de manuseio devido à viscosidade, minimiza os erros durante as
pesagens em comparação com a fase OV-17.
O motivo da escolha da espessura de filme ser de 0,25 μm é devido ao fato
de filmes mais espessos que 0,30 μm não permitirem a avaliação de interações
dos compostos analisados com a superfície da sílica.
Os picos indicam, respectivamente: 1- octanol, 2- co-eluição entre o
undecano e dimetilanilina, 3- dimetilfenol, 4- hexadecano, 5- octadecano.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 33
Figura 12: Cromatograma da mistura teste analisada em uma coluna lixiviada
com HCl 2% e recoberta com filme 0,25 μm de fase 0V-73. 1- octanol, 2- co-
eluição entre o undecano e dimetilanilina, 3- dimetilfenol, 4- hexadecano, 5-
octadecano.
Figura 13: Cromatograma da mistura teste analisada em uma coluna lixiviada
com solução 5% de HCl e recoberta com filme 0,25 μm de fase 0V-73.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 34
Nota-se que a concentração da solução de HCl não influenciou na
diferença de atividade entre as duas colunas. Ambos cromatogramas mostraram
interação composto-superfície, indicado pelas caudas nos três primeiros picos
Avaliou-se também a possibilidade do uso de uma solução de NaOH 0,1
mol L-1 para verificar seu efeito na lixiviação realizando-se vários experimentos.
No entanto, ao retirar as colunas capilares do forno, estavam elas fragilizadas e
quebravam com facilidade. Possivelmente, ao usar a lixiviação básica, a formação
de poros ou ranhuras danificou o material. Por isso, a continuidade do processo
de preparo do tubo ficou inviabilizada e nenhum cromatograma pôde ser obtido.
Optou-se então apenas pela lixiviação ácida [10].
Ao verificar a influência da lixiviação sobre a etapa de silanização, uma
coluna apenas lixiviada com solução de HCl 2%, e secada internamente com a
passagem de nitrogênio sem aquecimento, ou seja, sem sofrer a desidratação,
foi comparada com uma segunda coluna, que sofreu todas as outras etapas de
pré-tratamento do tubo, exceto a lixiviação, além de uma terceira coluna que
recebeu apenas a silanização, O importante é destacar que todas estas colunas
foram silanizadas com HMDS a 330 °C por um período de 6 horas e recobertas
com a fase OV-73 [9]. Os cromatogramas da mistura-teste obtidos são mostrados
nas Figuras 14, 15 e 16, respectivamente.
Como mostrado na Figura 11, os analitos e a ordem de eluição são os
mesmos para os cromatogramas mostrados anteriormente, não sendo necessário
identificá-los em cada figura. A partir deste ponto, o importante é observar o
formato dos picos, o qual indica a desativação ou não da parede interna do
capilar.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 35
Figura 14: Cromatograma da mistura-teste em uma coluna lixiviada com solução
HCl 2% , lavada e secada apenas com a passagem de ar.
Figura 15: Cromatograma da mistura-teste em uma coluna que sofreu todas as
etapas do pré-tratamento do tubo, exceto a lixiviação.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 36
Figura 16: Cromatograma da mistura-teste analisada em uma coluna que não
sofreu a etapa da lixivação, apenas silanização com HMDS.
Podem-se notar caudas nos picos em todos cromatogramas. A possível
presença de alguma impureza no cromatograma 14 e 15 não impediu a
visualização da imperfeição na forma dos primeiros picos. A partir daí, juntamente
com os resultados mostrados nas Figuras 11 e 12, entendeu-se que a lixiviação
para a sílica fundida poderia ter mais a função de produzir grupos silanol do que
eliminar sítios ativos na superfície da sílica, o que torna a coluna mais ativa se a
silanização não for eficiente. Notou-se, também, a importância de uma boa
lavagem seguida da desidratação quando se faz a lixiviação evitando, assim, a
presença de resíduos originários da solução ácida.
Não se pode efetuar a lixiviação sem as próximas duas etapas (lavagem e
desidratação). No entanto, é possível efetuar a desidratação do capilar de sílica
fundida sem antes ter realizado a lixiviação a fim de eliminar moléculas de água
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 37
ou desidratar grupos silanol vizinhos. Nesta etapa, temperaturas mais altas por
períodos de tempos mais longos causaram a perda da estabilidade mecânica do
tubo. Segundo Grob [9], para a silica fundida as escolhas nas condições do pré-
tratamento são mais limitadas.
Assim, a etapa da lixiviação foi mantida a 220 °C por um período de 2
horas porque não mostrou influenciar positivamente na etapa da silanização. Da
mesma forma, a silanização foi realizada em condições mais amenas buscando
não danificar os capilares para se obter resultados sobre a lixiviação.
Como todos os cromatogramas mostraram certa atividade nos capilares
preparados, o próximo passo foi estudar as condições da reação de silanização,
pois esta poderia não ter ocorrido completamente até então.
4.2. Avaliação da reação de silanização
Considerando que a lixiviação não influenciava significamente em todo
processo de preparo do tubo, buscou-se entender melhor as variáveis da reação
de silanização.
O primeiro passo nesta etapa foi escolher um único agente silanizante,
neste caso o HMDS, e variar a temperatura e o tempo de reação. Mesmo
sabendo que a maioria das publicações científicas sobre o assunto citava colunas
capilares de vidro, alguns testes foram aplicados às colunas modernas de sílica
fundida.
Problemas foram observados em ensaios cuja temperatura usada foi de
400 °C em um período de tempo relativamente curto de 3 horas ou, até mesmo,
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 38
em temperaturas de 370 °C por um período de 12 horas. As colunas capilares
adquiriram uma coloração marrom indicando que o revestimento externo de
poliimida foi danificado, mesmo usando tubos HT, que são específicos para
suportarem altas temperaturas. Como mostra a Figura 17, este problema
compromete a resistência mecânica e, consequentemente, a vida útil da coluna
capilar, não sendo um procedimento eficaz.
Figura 17: Comparação entre uma coluna danificada pela alta temperatura
(coloração escura) e outra com características normais (coloração clara).
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 39
Por outro lado, tentativas de silanização a 300 e 320 °C durante 6 horas
mostraram muitas sobras de agente silanizante no interior da coluna, notadas
visualmente. Neste ponto a dúvida é se a reação de fato ocorreu ou não, podendo
ser mais uma variável pois deixa resíduos do líquido no capilar.
Empiricamente, optou-se então por utilizar uma temperatura intermediária
de 350 °C por um período de 6 horas durante a reação de silanização. Ensaios
sob estas condições foram realizados e a seguinte coluna capilar passou pelas
etapas de lixiviação com solução de HCl 2% a 220 ºC, por 2 horas, sofrendo
lavagem e desidratação por 1 hora, em fluxo de nitrogênio a 220 ºC e, por fim,
após a silanização, o recobrimento com 0,25 μm da fase OV-73. O cromatograma
da mistura-teste obtido está representado na Figura 18 e o resultado mostrou o
maior grau de desativação conseguido até então.
As condições que produziram bons resultados anteriormente usando o
HMDS foram também empregadas em testes utilizando o agente silanizante
DPTMDS. A Figura 19 representa o cromatograma originado a partir de um dos
ensaios.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 40
Figura 18: Cromatograma da mistura-teste em uma coluna que sofreu todas as
etapas do pré-tratamento do tubo. Silanização com HMDS a 350º C por 6 horas.
Figura 19: Cromatograma da mistura-teste em uma coluna que sofreu todas as
etapas de pré-tratamento. Silanização com DPTMDS a 350º C por 6 horas.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 41
Os picos na Figura 19 mostram adsorção, indicando certa atividade no
interior da coluna capilar. As condições de reação poderiam ser outras para este
agente silanizante, mas sabe-se previamente que temperaturas superiores
danificariam os capilares de sílica fundida.
Apesar da esperada desativação não ocorrer, visto que o DPTMDS produz
melhor “molhabilidade” e possui características de desativador não só por reagir
com os grupos silanol como também por impedir estericamente o acesso dos
analitos a esses, uma tentativa de silanização usando uma diluição do reagente
de 1:5 em pentano, foi realizada. Essa diluição torna a solução menos viscosa
quando transportada pelo interior do capilar, o que pode formar um filme fino do
agente silanizante e facilitar a reação em temperaturas mais baixar [10].
O cromatograma da Figura 20 indica que a idéia de diminuir a
concentração da solução do agente silanizante também não mostrou bons
resultados. A análise da mistura-teste mostra caudas até para os dois últimos
picos, os quais representam os hidrocarbonetos hexadecano e octadecano,
respectivamente.
O terceiro agente silanizante (TPDMDS) foi então aplicado para que seu
comportamento fosse comparado com o do reagente anterior. Considerando
ainda as mesmas condições de reação dos bons resultados conseguidos para o
HMDS, a tentativa de desativação do capilar foi realizada e os cromatogramas
obtidos estão mostrados nas Figuras 21 e 22.
Algo diferente ocorreu nestes ensaios: a coluna não foi capaz de separar
claramente os compostos da mistura-teste.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 42
Figura 20: Coluna que sofeu silanização com uma solução de DPTMDS em
Pentano 1:5.
Figura 21: Capilar 1 silanizado com TPDMDS e recoberto com fase OV-73.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 43
Figura 22: Capilar 2 silanizado com TPDMDS e recoberto com fase OV-73.
Este novo fato pode ter uma explicação baseada na descrição de Mayer
sobre a homogeneidade do recobrimento [19]. A “molhabilidade” é aumentada
quando se usa TPDMDS para fases estacionárias com alta concentração de
grupos fenil. No entanto, facilmente ocorre a formação de bolhas, seções finas e
espessas ou até mesmo pontos sem fase estacionária durante o processo de
evaporação. Ou seja, pode-se conseguir uma boa desativação, mas perde-se
eficiência de separação, principalmente nas colunas curtas. Ao mesmo tempo,
filmes homogêneos são obtidos quando a etapa de silanização é omitida, mas
com desativação insatisfatória.
Assim, levando-se em consideração os ensaios com os agentes
silanizantes DPTMDS e TPDMDS, a reprodutibilidade e a homogeneidade do
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 44
recobrimento para a fase estacionária OV-73 foram questionadas. Fizeram-se
necessários novos testes, uma vez que isso significava mais uma variável em
todo processo.
4.3. Avaliação da reprodutibilidade do recobrimento
Uma série de 5 colunas produzidas sem nenhuma etapa de pré-tratamento
do tubo, mas apenas recobertas com a fase estacionária OV-73 mostrou que a
reprodutibilidade no recobrimento não é tão boa assim. Feitas seguidas uma da
outra sob as mesmas condições, elas apresentaram diferentes resultados. Os
cromatogramas mostrados nas Figuras 23 e 24 indicam um ótimo recobrimento
percebido pela qualidade da separação cromatográfica e até um bom grau de
inatividade da coluna. No entanto, os próximos cromatogramas, referentes à
mesma série de colunas, mostram recobrimentos possivelmente não homogêneos
(Figuras 25, 26 e 27).
Acredita-se que pequenas mudanças na temperatura, no “vácuo” durante a
evaporação da fase e até mesmo na “molhabilidade” da parede interna do capilar,
prejudicam a homogeneidade do filme.
Durante o processo de recobrimento do capilar com a fase estacionária é
possível acompanhar visualmente, com o auxílio de uma luminária, a evaporação
do solvente na qual a fase está dissolvida. Nota-se que nem sempre a frente da
solução caminha com a mesma velocidade apesar de se tentar ao máximo manter
as mesmas condições. Algumas vezes a solução “corre” dentro do capilar e o
filme não é formado, obrigando o recomeço desta etapa. Outras vezes, a taxa de
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 45
evaporação do solvente é maior no início do capilar do que no final do mesmo. No
caso dos capilares com comprimento de 10 metros, este último problema não é
tão freqüente.
Não se sabe a porcentagem exata de rendimento na preparação das
colunas capilares. Só a observação atenta durante a etapa do recobrimento evita
os problemas descritos anteriormente com mais esta variável. Assim, nesta última
série de colunas, o processo de deposição da fase estacionária não foi
interrompido, por motivo algum, para efeito de comparação.
A partir destes resultados, o estudo utilizando filmes de polietilenoglicol
parecia plausível para confirmar a produção de filmes irregulares quando usada a
fase OV-73.
Figura 23: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 1.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 46
Figura 24: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 2.
Figura 25: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 3.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 47
Figura 26: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 4.
Figura 27: Série de colunas que não sofreram nenhuma etapa de pré-tratamento,
apenas recobrimento com OV-73. Coluna 5.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 48
4.4. O uso de filmes finos de PEG
Sabendo-se que o PEG produz bons filmes de fase estacionária devido às
ligações químicas que realiza com os grupos silanol da parede interna do capilar,
a idéia de produzir filmes muito finos parecia razoável [22]. Estes filmes poderiam
mostrar não só a bom comportamento do PEG durante o recobrimento como
também a desativação do capilar.
Foram obtidos então os cromatogramas mostrados nas Figuras 28, 29 e
30. Eles representam colunas capilares que não sofreram nenhum tipo de pré-
tratamento do tubo e foram apenas recobertas com filmes de 0,01 , 0,05 e 0,1 μm
de espessura, respectivamente.
Figura 28: Coluna sem pré-tratamento, apenas recoberta com um filme de
0,01 μm de PEG. 1- undecano, 2- hexadecano, 3- octadecano, 4- octanol, 5-
dimetilfenol, 6- dimetilanilina.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 49
Figura 29: Coluna sem pré-tratamento, apenas recoberta com um filme de 0,05
μm de PEG. 1- undecano, 2- hexadecano, 3- octadecano, 4- octanol, 5-
dimetilanilina, 6- dimetilfenol.
Figura 30: Coluna sem pré-tratamento, apenas recoberta com um filme de 0,10
μm de PEG. 1- undecano, 2- hexadecano, 3- octadecano, 4- co-eluição entre
octanol e dimetilanilina, 5- dimetilfenol.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 50
Nota-se que a ordem de eluição para os compostos da mistura-teste foi
alterada, mas a resolução é alta. Também, não há sinais de caudas nos picos o
que indica a ausência de interação entre os compostos da mistura e a parede do
capilar, mesmo para o filme mais fino (0,01 μm).
O perfil do cromatograma da coluna recoberta com o filme 0,05 μm
mostrou-se o mais interessante por ser similar aos conseguidos com a fase OV-
73, diferindo apenas na eluição antecipada dos hidrocarbonetos, representada
pelos dois primeiros picos intensos.
Iniciou-se, então, uma série de experimentos para estudar o uso de filmes
finos de PEG como agente desativador e não como fase estacionária.
4.4.1. Ensaios com a fase OV-73
Novamente, colunas recobertas com filmes de 0,05 μm de PEG e sem
nenhum pré-tratamento do tubo, foram avaliadas após sofrer uma segunda
deposição. Desta vez, a fase estacionária OV-73 produziu um filme de 0,25 μm
por cima da fina camada de polietileno glicol.
O resultado para a análise da mistura-teste mostrou um alto grau de
desativação do capilar, além da separação não ser influenciada pela camada de
PEG. A eluição dos compostos continuou característica das separações
realizadas anteriormente apenas quando a fase de polisiloxano era depositada. A
Figura 31 representa o cromatograma originado a partir desta análise.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 51
Figura 31: Coluna com filme de 0,25 μm de OV-73 sobre um filme de 0,05 μm de
PEG. Análise da mistura-teste. 1- octanol, 2- co-eluição entre undecano e
dimetilanilina, 3- dimetilfenol, 4- hexadecano, 5- octadecano.
O importante após a aplicação desta técnica, é verificar a estabilidade do
filme, ou seja, avaliar se quantidades consideráveis de fase estacionária
desprende da parede do tubo.
Então, 6 ciclos de condicionamento seguidos, foram realizados para
verificar o comportamento da fase. Nenhuma amostra é injetada e a coluna sofre
apenas uma programação de temperatura. Neste caso, em especial: 30 °C – 2
°C/min – 320 °C – 30 min – 30 °C.
O cromatograma obtido indica que a “sangria” diminui com o passar do
tempo (Figura 32). A “sangria” é algo normal em altas temperaturas para colunas
novas, e tende a ficar menos evidente conforme o uso das mesmas.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 52
Figura 32: Ciclos de condicionamento em coluna com filme de 0,25 μm de OV-73
sobre o filme de 0,05 μm de PEG.
Realizado o condicinamento, uma nova análise da mistura-teste mostrou
que não houve perda significativa de fase estacionária ou alterações na ordem de
eluição dos compostos. Isso pode ser notado pela pouca variação no tempo de
retenção (tR) entre a primeira e a segunda análise.
A Figura 33 mostra o cromatograma obtido após a coluna sofrer o ciclo de
condicionamento, e a Tabela 2 apresenta os respectivos tempos de retenção dos
compostos da mistura-teste.
Os resultados satisfatórios induziram a realização de experimentos usando
a fase estacionária OV-17, a qual possui um número de grupos fenil maior do que
a OV-73.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 53
Figura 33: Análise da mistura-teste em coluna recoberta com filme de 0,25 μm de
OV-73 sobre um filme de 0,05 μm de PEG; após ciclos de condicionamento.1-
octanol, 2- co-eluição entre undecano e dimetilanilina, 3- dimetilfenol, 4-
hexadecano, 5- octadecano.
Tabela 2 : Comparação dos tempos de retenção para uma coluna recoberta com
filme de 0,25 μm de OV-73 sobre um filme de 0,05 μm de PEG.
Picos Antes do condicionamento tR (min)
Após condicionamento tR (min)
1 5,825 5,509
2 6,162 5,802
3 8,753 8,240
4 13,839 13,481
5 16,549 16,183
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 54
4.4.2. Ensaios com a fase OV-17
O mesmo ensaio, realizado agora com a fase OV-17, mostrou também
resultados satisfatórios. A seqüência no procedimento de preparo do tubo foi
repetida e o cromatograma a seguir mostra a análise da mistura-teste em uma
coluna onde foi depositado apenas o filme de 0,05 μm de PEG (Figura 34).
Visto que a forma dos picos e a resolução indicaram o bom comportamento
do polímero, esta mesma coluna foi recoberta com um filme de 0,25 μm de fase
OV-17. Novamente, a mistura-teste foi analisada e o cromatograma obtido é
mostrado na Figura 35.
Figura 34: Análise da mistura-teste em coluna apenas recoberta com um filme de
0,05 μm de PEG. 1- undecano, 2- hexadecano, 3- octadecano, 4- ocatanol, 5-
demetilanilina, 6- dimetilfenol.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 55
Figura 35: Análise da mistura-teste em coluna recoberta com um filme de 0,25
μm da fase OV-17 sobre um filme 0,05 μm de PEG. 1- octanol, 2- undecano, 3-
dimetilanilina, 4- dimetilfenol, 5- hexadecano, 6- octadecano.
O alto grau de inatividade da coluna e a boa resolução para a maioria dos
compostos indicam um bom recobrimento, possivelmente sem bolhas ou falhas.
Isso significa que a fina camada de PEG pode ser considerada “molhável” pela
fase OV-17.
Apesar disso, o teste do ciclo de condicionamento e uma segunda análise
da mistura-teste é inevitável. Portanto, a coluna passou por seguidas rampas de
aquecimento e o cromatograma obtido está mostrado na Figura 36.
Mais uma vez, a fase estacionária mostrou o comportamento normal de
colunas recém fabricadas. Para a OV-17, a “sangria” diminui após o segundo
ciclo.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 56
Figura 36: Ciclos de condicionamento para a coluna recoberta com um filme
de 0,25 μm da fase OV-17 sobre um filme 0,05 μm de PEG.
A análise da mistura-teste para esta coluna, após o ciclo de
condicionamento indicou o mesmo perfil cromatográfico, como mostra a Figura
37; os tempos de retenção para os compostos da mistura estão representados na
Tabela 3.
Os resultados foram satisfatórios, e indicam que a estabilidade do filme de
OV-17 é boa, suportando temperaturas de até 320 °C, mesmo depositada sobre o
filme de PEG. Esta coluna capilar é inerte e eficiente. Os tempos de retenção para
os compostos não sofreram grande variação entre as análises antes e depois do
ciclo de condicionamento, onde normalmente, um filme mal fixado perderia suas
características de separação.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Resultados e discussão 57
Figura 37: Análise da mistura-teste após ciclos de condicionamento. Coluna
recoberta com um filme de 0,25 μm da fase OV-17 sobre um filme 0,05 μm de
PEG. 1- octanol, 2- undecano, 3- dimetilanilina, 4- dimetilfenol, 5- hexadecano,
6- octadecano.
Tabela 3: Tempos de retenção para uma coluna recoberta com filme de 0,25 μm
de OV-17 sobre um filme de 0,05 μm de PEG.
Picos Antes do condicionamento tR (min)
Após condicionamento tR (min)
1 4,099 3,997
2 6,354 6,289
3 9,530 9,411
4 9,688 9,576
5 12,179 12,043
6 15,017 14,870
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Conclusões 58
5. CONCLUSÕES
Há certa dificuldade de analisar a inter-relação entre cada etapa do pré-
tratamento do tubo. O desenvolvimento das colunas capilares nos últimos anos
não está refletido na literatura, devido à produção hoje ser segredo comercial, o
que torna difícil a pesquisa científica sobre o assunto.
Não se pode dizer que a etapas de lixiviação seje realmente necessária no
pré-tratamento dos tubos de sílica-fundida. Este procedimento pode deixar
resíduos no interior do capilar tornando-o mais ativo, além de não mostrar
melhoras nos resultados.
A reação de silanização à temperatura de 350 °C por período de 6 horas
parece mais adequada para a sílica fundida visto que temperaturas maiores
danificaram o capilar. No entanto, apenas o HMDS mostrou-se eficaz sob estas
condições. O TPDMDS e o DPTMDS não apresentaram boa compatibilidade com
o recobrimento, quando este realizado com a fase OV-73.
Por outro lado, o polietileno glicol (PEG) foi uma boa alternativa. Enquanto
que as fases OV-73 e OV-17 não reproduzem os filmes quando depositadas
diretamente no tubo (silanizado ou não), os filmes finos de PEG mostraram-se
muito eficientes neste ponto. Um filme de 0,01 μm pode apresentar não só uma
ótima separação como também atuar como agente desativador.
Os resultados obtidos com as colunas capilares produzidas usando o duplo
filme (PEG e OV) permitem concluir que estas são estáveis e pouco ativas, sendo
uma ótima opção na preparação de colunas inertes. O filme de PEG não interfere
na separação e atua como agente desativador.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Conclusões 59
5.1. Sugestões para trabalhos futuros
Visto que os filmes de PEG mostraram-se eficientes, é interessante o
estudo com filmes cada vez menos espessos para conhecer o limite onde sua
característica desativadora será ainda eficaz.
Outro ponto importante, após o recobrimento com a fase estacionária de
interesse, é estudar a máxima temperatura que esta nova coluna suportará
durante uma análise, sem perder suas características.
Lembrando que a variedade de fases estacionárias é enorme, o laboratório
pode produzir suas próprias colunas de acordo com a aplicabilidade desejada,
verificando a qualidade do recobrimento quando realizado por cima do microfilme
de PEG.
Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca
Referências Bibliográficas 60
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dissertação de mestrado Juliano R. Fonseca