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AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DE UM COSMÉTICO MANIPULADO CONTENDO
PÓ DA PEDRA SÃO TOMÉ COMO ESFOLIANTE PARA OS PÉS
Taynara Kathlen Werner1 Bruna Beatriz Veit2
Daisy Janice Aguilar Netz3
RESUMO: A pedra São Tomé é uma pedra sedimentar, conhecida como quartzito, por conter cerca de 70% a 95% de quartzo em sua estrutura, de cor branca, amarelo ou rosa, que recebe este nome em decorrência do local onde é encontrada, em São Tomé das Letras (MG). O seu emprego em produtos cosméticos é defendido em função de dois aspectos principais: sustentabilidade, auxiliando no aproveitamento de um resíduo de processamento e inovação, propondo este material, devido suas características organolépticas, como ingrediente cosmético esfoliante. O objetivo foi avaliar a eficácia e a segurança da formulação quando aplicada nos pés, em estudo clínico. A metodologia proposta foi de abordagem qualitativa, exploratória, não-controlada. As variáveis de análise foram relacionadas ao aspecto subjetivo observado tanto na pele dos voluntários (eficácia e segurança do produto) quanto da formulação em si (avaliação de produto), sendo para isso aplicado um questionário fechado, utilizando-se avaliação sensorial e o emprego de fotografia digital. De 20 voluntários que iniciaram, 18 permaneceram até o final. Foram analisados aspectos característicos da formulação como abrasividade, espalhabilidade, pegajosidade e odor, tendo sido bem avaliada nestes quesitos, assim como na maciez observada na pele. Os resultados mostraram, de acordo com a percepção dos voluntários, que a formulação apresentou abrasividade ideal para a região dos pés, boa espalhabilidade, não pegajosa, com odor agradável. Em relação ao aspecto segurança, a maioria dos voluntários não sentiu ardência, eritema ou ressecamento durante ou após a aplicação.
Palavras chaves: Pedra São Tomé. Esfoliantes físicos. Cosméticos.
1. INTRODUÇÃO
A Pedra São Tomé é um quartzito de cor branca, amarelo ou rosa, que recebe este
nome em decorrência do local onde é encontrada, principalmente em São Tomé das Letras e
outros municípios da região, em Minas Gerais. Apresenta características de resistência a
abrasão e ao calor e pelo fato de ser antiderrapante, tem sido muito empregada em revestimentos
externos, como em paredes e piscinas. Trata-se de uma rocha de formação
sedimentar, apresentando variação de tonalidade e espessura (ROMANÓ PEDRAS, 2015).
Quanto a composição, a Pedra São Tomé é uma rocha composta majoritariamente
de quartzo (cerca de 85%), mica (cerca de 10%), sericita (cerca de 5%) e em menor quantidade,
rutilo, hematita e calcopirita (Lima et al. 2005 apud Lima et al. 2007). Os principais
Trabalho de Iniciação científica do Curso de Estética – Universidade do Vale do Itajaí – Balneário Camboriú – 2014/1. 1 Acadêmica do Curso de Estética – Universidade do Vale do Itajaí. Email: [email protected] 2 Acadêmica do Curso de Estética – Universidade do Vale do Itajaí. Email: [email protected] 3 Orientador(a) e professor (a) do Curso Superior de Estética – Universidade do Vale do Itajaí. Email:[email protected]
2
componentes químicos são o SiO2 ( 98%), Al2O3 ( 0,8%), TiO2 ( 0,06%), Fe2O3 ( 0,15%),
MnO ( 0,01) entre outros, em menor quantidade. Não há na literatura disponível sobre a
presença de metais pesados (LIMA et al., 2007).
O interesse na promoção da sustentabilidade e de busca de diminuição do impacto
ambiental tem permeado todas as áreas de produção e conhecimento, incluindo a de cosméticos,
tendo a indústria destes produtos importante desafio nesta tarefa, que deve ser estendido a toda
a cadeia produtiva, inclusive na busca por ingredientes seguros e sustentáveis (FONSECA-
SANTOS; CORREA; CHORILLI, 2016).
Dentre os materiais plásticos empregados em cosméticos salientam-se as
microesferas de polietileno, ingredientes amplamente empregados em produtos para esfoliação
e limpeza da pele. Dados de 2012, na Comunidade Europeia, mostram que somente neste ano
foram utilizadas mais de 4 mil toneladas de microesferas de polietileno em produtos cosméticos
destinados para a limpeza e esfoliação da pele (KESSLER, 2014; LESLIE, 2015).
De tal importância é a questão, que levou o Presidente Obama recentemente a
propor, por meio de lei federal (Microbead-Free Waters Act, 2015), a proibição da fabricação
e do emprego de microesferas de plástico em produtos cosméticos que envolvam enxágue, que
passa a vigorar em julho de 2017. Medidas semelhantes já são implementadas na Comunidade
Europeia, que recomenda o ano de 2020 como data limite para a supressão do uso desses
ingredientes em produtos cosméticos com enxague (GALLON, 2016).
Neste contexto, de mudança de paradigmas, onde ingredientes amplamente
empregados precisam ser substituídos, a proposta insere-se como uma alternativa sustentável,
pois pressupõe a utilização de um rejeito da exploração de rochas tradicionalmente empregadas
na indústria da construção civil, trazendo para este material um valor agregado e utilização
racional. Assim, o emprego do pó da Pedra São Tomé constitui uma possibilidade inovadora e
sustentável, uma vez que propõe o emprego de um rejeito da indústria de pedras em um produto
cosmético.
Para muitas pessoas é comum o espessamento da região palmo-plantar (“pele grossa
nos pés” ). Isso pode decorrer em função de vários fatores, sendo os principais a perda de
hidratação, que leva a uma alteração das propriedades da barreira da pele, favorecendo a
penetração de substâncias estranhas, reduzindo o limiar de prurido, predispondo à inflamação
cutânea (ADDOR et al., 2009). Pode ser também causado por fricção, levando ao aparecimento
de calos, calosidades, inchaço, inflamação crónica , eczema ou até mesmo por doenças
genéticas (SAUDE, 2013).
3
A esfoliação física é um procedimento superficial, nop qual o estrato córneo é
parcialmente ou completamente removido por leve abrasão, para corrigir ou melhorar
imperfeições da pele (DRAELOS, 2010). Pimentel (2008) apud Wielewski, Serrão e Moser
(2000) afirmam que os esfoliantes físicos podem ser desenvolvidos com produtos cosméticos
abrasivos com a finalidade secundária de aumentar a permeabilidade cutânea.
Assim, a proposta desta pesquisa vem de encontro ao emprego sustentável do pó da
Pedra São Tomé, um abundante resíduo mineral, incorporada num creme para os pés, contendo
30% de pó desta pedra, tendo sido a formulação desenvolvida por alunas do curso de Farmácia
da Universidade do Vale do Itajaí.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A pedra São Tomé, ou quartzito, é composto essencialmente por quartzo, sendo este
formado primordialmente por arenito metaforizado, no qual o cimento silicioso se recristalizou,
apresentando dureza 7 na escala mohz. Apresenta alto índice de resistência à abrasão, pequeno
índice de absorção de água, superfície antiderrapante, estabilidade térmica e não retêm calor
quando exposta ao sol. Devido ao tipo de formação sedimentar a pedra São Tomé apresenta
variação de tonalidade e espessura (ROMANÓ PEDRAS, 2015). É uma rocha ornamental
metamórfica e por isso apresenta tendência a ser coesa, com estrutura cristalina densa e
organizada, o que propicia uma resistência interna bastante alta (SANTOS et al., 2014).
Lima et al. (2005) apud Lima et al. (2007) determinaram a composição
mineralógica dos fragmentos de quartzito (nome comumente empregado para a Pedra São
Tomé), depositados nas encostas dos morros nas proximidades das pedreiras. Os minerais
identificados foram quartzo (~85 %), micas (moscovita e cianita - 10 %), sericita (~5%). Os
minerais opacos: rutilos, zircão, hematita, calcopirita e prata, os quais constituem cerca de 2%
da composição mineralógica desses quartzitos.
A extração mineral no Brasil é historicamente favorecida pela sua formação
geológica e pela extensão territorial, tendo inúmeros minerais de interesse econômico no rol de
minérios extraídos provenientes de embasamento cristalino e bacias sedimentares. A atividade
de extração e beneficiamento da rocha normalmente tem como principais produtos finais
ladrilhos, mosaicos para pisos, (SANTOS et al., 2014). Entretanto, segundo a Revista Minas
faz Ciência (2002), embora em mais de 40 anos de exploração da Pedra de São Tomé tenha
gerado muitos empregos para o Estado de MG, promoveu significativo dano ambiental. Os
moradores da região relatam que, nos últimos anos, a região vem sofrendo com a exploração
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desregulada de empresas mineradoras, havendo pontos de desmatamento em toda a área do
município, muitos deles com alto grau de dificuldade de recuperação (CARRISSO; PIRES,
2011). Além disso, a extração de quartzito compromete cursos d’água por assoreamento de
resíduos e prejudica o patrimônio arquitetônico local ao utilizar dinamite e transportar as pedras
em caminhões pesados que circulam dentro da cidade (FLEISCHER, 2006).
Pilhas gigantescas de entulho são deixadas nas pedreiras, pois apenas 8% do
material explorado são aproveitados, sendo que os outros 92% são resíduos. Estas são pedras
encontradas no Sul de Minas Gerais e distribuídas por todo o Brasil, ao serem colocadas nos
depósitos das pedreiras, acabam gerando um acumulo excessivo de resíduos. O resíduo é um
pó com composição idêntica a da pedra, com granulação dependente do processo de corte
(REVISTA MINAS FAZ CIÊNCIA, 2002).
Segundo Feres (2013) a pele, além de ser o primeiro órgão de defesa de nosso corpo
contra as adversidades do meio externo, possui outros papéis importantes, sendo determinante
para a manutenção da homeostase do organismo. Tais propriedades, no entanto, só são
desempenhadas com excelência se o tecido tegumentar estiver em condições normais de
funcionamento.
O estrato córneo forma uma eficiente barreira entre o meio externo e os tecidos
internos. A quantidade de perda de água transepidérmica é uma boa medida desta função de
barreira. A redução do conteúdo hídrico da epiderme leva a uma alteração das propriedades da
barreira cutânea, o que favorece a penetração de xenobióticos, além de reduzir o limiar do
prurido e predispor à inflamação cutânea ocasionando também aparência ressecada e espessa
(ADDOR et al., 2009).
Muitas vezes, este espessamento pode ocorrer na região palmoplantar, em
decorrência do uso de sapatos abertos, exposição ao sol, tendo mais contato ao meio externo,
propiciando ainda maior ressecamento da região, podendo acelerar o processo de algumas
patologias, sendo a mais comum a hiperqueratose. Machado et al. (2002) descrevem que “a
ocorrência de hiperqueratose é marcante em alguns casos, eventualmente associando-se a
infecções fúngicas, característica importante a ser avaliada durante a terapêutica” .
E reconhecidamente muito importante à hidratação dos pés, mãos, joelhos e
cotovelos, regiões especialmente propensas ao ressecamento. Cremes com ureia ou com
outros queratolíticos são indicados não somente para a prevenção da hiperqueratose como
também para o tratamento. Além destes dois importantes ingredientes, são usados produtos
com ingredientes abrasivos, que proporcionem o afinamento através da ação mecânica, em
5
função da fricção, sendo as microesferas de polietileno os mais empregados atualmente
(ADDOR et al., 2009).
A esfoliação física é um procedimento que auxilia na renovação celular, pois
consiste em retirar células da superfície que estão repletas de queratina com baixo conteúdo
hídrico e sem vitalidade. A remoção desta camada, além de eliminar impurezas e facilitar
permeação de ativos, devolve a pele seu aspecto natural, melhorando a textura e uniformidade,
tendo como resultado aparência mais saudável (CAREGNATTO; GARCIA; FRANÇA, 2011).
Esfoliantes físicos agem através do arraste de células superficiais por meio de
substancias abrasivas, entre elas as mais utilizadas são sílica, semente de apricot, arroz,
microesferas de jojoba, semente de damasco refinada e microgrânulos de polietileno (SOUZA,
2006; apud CAREGNATTO; GARCIA; FRANÇA, 2011).
Tratando-se de um produto cosmético que, além de sustentável, pode ser
considerado inovador, tornam-se necessários estudos relacionados com a formulação e com a
aceitação pelo público-alvo. Estudos de estabilidade, em andamento, junto ao Grupo de
Pesquisas NIQFAR, do Curso de Farmácia da UNIVALI, têm demonstrado a viabilidade de
uma formulação cosmética contendo o po da pedra São Tomé, tendo o material mineral sido
devidamente caracterizado quanto a morfologia, tamanho de partícula e tendo sido previamente
descontaminado, com o emprego de esterilização por autoclave.
A avaliação sensorial é um instrumento que pode influenciar significativamente o
sucesso de um produto cosmético, uma vez que se deve considerar que as percepções de um
produto para um formulador e consumidor são diferentes. Para o consumidor, a qualidade de
um produto está diretamente relacionada com a percepção fisiológica e sensação de bem-estar
produzida durante e depois da aplicação (TACHINARDI et al., 2005 apud TADINI; MARIA;
FONTES, 2009).
Os resultados percebidos durante e após a aplicação de um determinado produto na
pele derivam de uma gama de variáveis sensoriais qualitativas e quantitativas. O primeiro
aspecto relevante é a aparência, sendo observados em imediato aspectos relacionados com a
cor, textura, sensação de cremosidade, abrasividade e o brilho. Em seguida, avalia-se o dor,
reconhecidamente decisivo para a aceitação do produto, uma vez que pode estar associado a
aspectos emocionais, dependendo da história olfativa do consumidor. Quanto à avaliação na
pele, a avaliação depende da proposta, mas independente desta, o produto deve proporcionar a
performance esperada. Se um produto que promete maciez e hidratação, deve-se perceber este
aspecto. Por outro lado, de um produto esfoliante, que contem partículas abrasivas, espera-se
6
que tenha cremosidade, que ao final resulte em maciez na pele, mas que tenha abrasividade,
que seja prático de aplicar e de retirar (RIGANO, 2012).
3. METODOLOGIA
3.1. TIPO DE METODOLOGIA E CASUÍSTICA
Este estudo utilizou a metodologia do estudo de caso, o qual representa uma
investigação empírica e compreende um método amplo de coleta de dados, podendo incluir um
caso apenas ou múltiplos. A abordagem pode ser qualitativa ou quantitativa. Neste projeto, a
metodologia proposta foi de abordagem qualitativa, exploratória, não-controlada, útil para
analisar dados cujo tema há pouco conhecimento acumulado e sistematizado (VENTURA,
2007).
O público-alvo foi composto por 20 voluntários, acima de 18 anos, ambos os sexos,
escolhidos por conveniência, atendidos no Salão de Beleza MB Moça Bacana, Balneário
Camboriú. Dos 20 iniciais, 18 permanecerem até o final, aplicando-se o procedimento duas
vezes na semana, em dias alternados, com um tempo de duração de um mês, total de oito
sessões.
As variáveis de análise foram relacionadas ao aspecto subjetivo observado tanto na
pele dos voluntários (eficácia e segurança do produto) quanto da formulação (produto), sendo
para isso aplicado um questionário fechado, utilizando-se avaliação sensorial e o emprego de
fotografia digital, por meio da qual pode-se registrar sinais como eritema (pele avermelhada),
descamação e ressecamento).
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética da UNIVALI e após a aprovação em
11/04/2016, parecer número 1.445.816, foi iniciada a aplicação do cosmético. Em 11 de abril
de 2016, ao se serem iniciadas as aplicações, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).
3.2. MÉTODOS EMPREGADOS
3.2.1. Análise sensorial
Foram avaliados parâmetros específicos com relação a um produto esfoliante, sendo
escolhidos a espalhabilidade, abrasividade, pegajosidade e o odor.
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Espalhabilidade: refere-se à facilidade de se espalhar o produto sobre a pele. Foi avaliada
através da percepção dos voluntários, através do questionário, onde estes foram orientados a
escolher as seguintes hipóteses: a) Sim; b) Não; c) Pouco.
Abrasividade: refere-se à sensação de causar abrasão, e no caso da pele, a esfoliação das
células epiteliais. Na ciência dos materiais existem métodos objetivos para esta determinação,
mas nesta pesquisa, o termo foi avaliado de modo subjetivo, de acordo com a percepção sentida
durante a aplicação do produto na pele. Não foi empregada uma formulação de comparação. A
avaliação foi realizada a partir da pergunta “O produto é abrasivo”? sendo as possíveis
respostas: a) |Sim; b) Não; c) Pouco.
Pegajosidade: atributo indesejável, associado à sensação de “grudar”, de umidade
remanescente. Foi avaliado a partir da pergunta: “Após a aplicação, o quanto este produto deixa
sua pele pegajosa”? As opções de resposta foram: a) Muito; b) Pouco; c) Não deixa a pele
pegajosa.
Odor: a partir da observação subjetiva, com os voluntários sendo incentivados a sentirem o
odor da formulação, no frasco aberto, foi questionado se “O cheiro do produto é agradável” . As
opções para a resposta foram: a) Sim; b) Não; c) Pouco agradável.
A frequência das respostas foi tabulada em gráficos gerados pelo programa Excel
para melhor visualização dos resultados.
3.2.2 Análise da eficácia esfoliante na pele
Esta avaliação foi obtida a partir da percepção individual e subjetiva de cada um
dos voluntários, bem como através da avaliação fotográfica entre o tempo inicial (“antes”) e
após a última aplicação (“depois” ).
3.2.2.1. Avaliação da eficácia através do questionário
Na avaliação através do questionário foram incluídas as seguintes perguntas:
“Houve melhora na maciez da região aplicada ?” , “Percebeu afinamento perceptível da pele ?”
Em ambas as perguntas as possíveis respostas foram: a) Sim; b) Não; c) Pouco.
3.2.2.2. Avaliação da eficácia através da fotografia
Os voluntários da pesquisa tiveram a planta dos pés fotografadas nos tempos
inicial e final, com a mesma iluminação e mesmo equipamento (câmera semiprofissional
Fujifilm). Foram avaliados: presença de eritema (pele avermelhada), descamação e/ou
ressecamento e melhora global na textura.
8
3.2.3 Avaliação da segurança do produto sobre a pele
Com a finalidade de atender e assegurar a saúde dos voluntários, foi avaliado
individualmente, sendo uma aplicação de uso ocasional, observou-se durante e após a sessão,
possíveis reações como, irritação: intolerância local podendo corresponder a reações de
desconforto, sensibilização: corresponde a uma alergia, que é uma reação de efeito imediato
(de contato ou, urticária) ou tardio (hipersensibilidade) (JOSINEIRE, 2016).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pedra de São Tomé é uma rocha composta essencialmente por arenito
metaforizado no qual o silício se recristalizou, empregada na decoração de pisos e fachadas. O
resíduo é um pó com composição idêntica a da pedra, com granulação dependente do processo
de corte, que pode utilizado em várias áreas, entre elas, de cosméticos (ROMANÓ PEDRAS,
2015).
A esfoliação física é um procedimento que auxilia na renovação celular, pois
consiste em retirar células da superfície que estão repletas de queratina com baixo conteúdo
hídrico e sem vitalidade (DRAELOS, 2010). Levando-se em conta a demanda por novos
ingredientes abrasivos cosméticos, aliado ao aspecto de sustentabilidade, foi proposta uma
formulação contendo 30% do pó da Pedra São Tomé, visando a aplicação em voluntários.
Do total de 20 voluntários que iniciaram, 18 voluntários permaneceram até o final,
2 desistiram do tratamento logo no começo, por motivos alheios a pesquisa. Foram observados
aspectos relacionados ao produto, a eficácia e a segurança, cujos resultados estão expressos a
seguir.
4.1. ANÁLISE SENSORIAL
Com relação as características do produto, foram avaliados os aspectos odor,
abrasividade, espalhabilidade e pegajosidade. A fig.1 ilustra estes resultados.
Com relação ao odor do produto, 83% dos voluntários relataram que o cheiro do
produto é agradável e 17% consideraram pouco agradável. Nenhum considerou desagradável.
A avaliação da qualidade é indiscutível o papel da análise sensorial como instrumento de
medida científica, uma vez que não existe nenhum instrumento analítico capaz de substituir os
sentidos humanos (VERA et al., 2012). Para Behrens (2010), no desenvolvimento de um
produto cosmético, a análise sensorial relacionada ao odor é essencial para que o produto tenha
9
uma boa aceitação. O pó da Pedra São Tomé não tem odor marcante, podendo ser classificado
como inodoro, contribuindo desta forma para a escolha e uso de menor quantidade de
fragrância. Foi escolhida uma blend de fragrâncias com notas refrescantes, doces e florais, com
cor verde na tonalidade abacate. Outras características da formulação estão descritas no Anexo
Figura 1 - Gráficos representando características do esfoliante para os pés, de acordo com o questionário aplicado. Resultados em percentual (%). 1A: espalhabilidade; 1B: odor; 1C: pegajosidade; 1D: abrasividade
Quanto à abrasividade do produto, 56% dos voluntários acharam o produto
abrasivo, 33% dos voluntários relataram que o produto não é abrasivo e 11% acharam pouco
abrasivo. O tato é responsável por verificar a sensação na pele ou no cabelo, durante e após
aplicação de um determinado produto (VERA et al. 2012 apud, FARIA, YOTSUYANAGI,
2002).
Com relação a espalhabilidade, a maioria (45%) considerou ideal ou boa (44%).
Somente 11% consideraram-na como baixa. A espalhabilidade é um dos aspectos mais
importantes na avaliação sensorial, influencia no tempo de aplicação sobre a pele, na aceitação
do produto e até mesmo na eficácia.
44
11
45
020406080
100
O quanto este produto se espalhaou desliza quando aplicado na
pele?
MUITO POUCO IDEALMENTE
1A 83
0
17
0
20
40
60
80
100
O cheiro do produto é agradável?
SIM NÃO POUCO
1B
0 6
94
0
50
100
Após a aplicação, o quanto este pro uto eixa sua pele “pegajosa”?
MUITO POUCO NÃO DEIXA A PELE PEGAJOSA
1C
56
33
11
0
20
40
60
80
100
O produto é abrasivo?
SIM NÃO POUCO
1D
10
Da mesma forma, a maioria (94%) dos pesquisados relataram que o produto depois
de aplicado não deixa a pele pegajosa, enquanto que apenas 6% relataram perceber
pegajosidade, mas considerada baixa.
Textura é uma manifestação sensorial e funcional das propriedades estruturais,
mecânicas e de superfície, detectadas pelos sentidos (SANTO, 2015), podendo trazer sensações
desagradáveis, como a presença de pegajosidade após a utilização do produto, deixando os
voluntários a repensar sobre o consumo do mesmo.
4.2. ANÁLISE DA EFICÁCIA ATRAVÉS DO QUESTIONÁRIO
Por meio das respostas ao questionário, foi auto-declarada melhora de 83% na
melhora da maciez na região palmo plantar, enquanto 17% percebeu pouca melhora. Notou-se
que quanto mais importante o grau de hiperqueratose, maior o grau de satisfação.
Coincidentemente, quanto mais idoso, maior hiperqueratosidade, maior efeito, maior satisfação
quanto aos resultados finais.
4.3 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA
Nas figuras 2, 3 e 4 seguem fotos dos resultados obtidos na pesquisa, onde pode
ser observado através da fotografia digital sinais como eritema (pele avermelhada),
descamação, ressecamento e redução do espessamento da região palmoplantar.
Figura 2 - Caso 1 – Sexo: Feminino, Idade: 43 anos.
ANTES DEPOIS
Nota: Aspecto inicial: Apresentava visualmente levemente aspereza focalizada nos calcâneos, pouca hidratação, apresentando aspecto de ressecamento. Aspecto final: Observou melhora na maciez visualmente e a minimização de aspereza, melhora perceptível na hidratação.
11
Figura 3 - Caso 2 – Sexo: Feminino, Idade: 21 anos.
ANTES DEPOIS
Nota: Aspecto inicial: Apresentava uma aspereza, ressecamento na região predominante na região do calcâneo, não apresentou rachaduras, a hidratação estava pouco presente, percebida no toque e visualmente. Aspecto final: Melhora na maciez, retirando o aspecto de ressecado da pele.
Figura 4 - Caso 3 – Sexo: Feminino, Idade: 47.
ANTES DEPOIS
Nota: Aspecto inicial: Apresentava um maior ressecamento e aspereza ressaltada nos
calcâneos. Com pouco conteúdo hídrico, apresentando baixa hidratação. Aspecto final: Apresentou uma melhora na hidratação, diminuindo seus aspectos de aspereza e ressecamento.
12
4. 4 AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DO PRODUTO SOBRE A PELE
Para 89% os pesquisados não foi obervada ardência na aplicação, enquanto que
para 11% foi relatada pouca ardência. Este aspecto foi minimizado com a diminuída da fricção
nas sessões seguintes, visando minimizar qualquer desconforto durante o procedimento.
Foi observado em 89% dos casos eritema local imediatamente após a aplicação, o
qual não persistiu, devendo-se provavelmente ao aumento da circulação em função da fricção
no local. Do total, 11% perceberam fraco eritema local.
Em 83% dos voluntários houve afinamento visualmente perceptível da pele, 17%
relatou pouco afinamento na região aplicada. Com relação a presenca de ressecamento na
região, 94% relataramque não houve ressecamento, enquanto que 6% dos voluntários
perceberam um pouco de ressecamento, relacionando, provavelmente, a abrasividade do
produto.
Figura 5 – Gráficos demonstrando resultados das avaliações de segurança. Resultados em percentual (%): 5A: ardência; 5B: eritema; 5C: afinamento; 5D: ressecamento.
0
89
11
0
20
40
60
80
100
Sentiu ardência durante aplicação?
SIM NÃO POUCO
A
0
89
11
0
20
40
60
80
100
Após aplicação houve eritema local?
SIM NÃO POUCO
B
83
017
0
20
40
60
80
100
Houve afinamento visualmenteperceptível da pele?
SIM NÃO POUCO
C
0
94
6
0
20
40
60
80
100
Após a aplicação do produtohouve ressecamento na região?
SIM NÃO POUCO
D
13
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Objetivando a análise do esfoliante contendo pó da pedra de São Tomé, foram
encontrados como melhora dos resultados em analise sensorial relacionando seus aspectos
caracteriscos, como, espalhabilidade, odor, pegajosidade, abrasividade, obtendo como
resultado aspectos positivos sobre o produto aplicado, como a redução considerada da
espessura, quanto a sua espalhabilidade apresentou resultados equilibrados, mas ressaltando a
espalhabilidade em idealmente, o gráfico demonstra boa aceitação em relação ao odor,
relacionado a pegajosidade obtida com ótimo resultado, o ressecamento na região não foi
percebida, e sim o aumento da maciez e hidratação da pele e a melhora na textura, foram
visualmente perceptível seu aumento na maciez e a minimização da espessura. Quanto a análise
de segurança obtivemos poucas reclamações quanto a eritema e ardência devido ao grau de
sensibilidade da região, e as percepções gerais do cosmético, foram analisados boa aceitação
do público selecionado por não apresentar ressecamento após as sessões, e ainda obtendo boa
na hidratação e maciez, com resultados visualmente perceptível.
6. REFERÊNCIAS
ADDOR, Sant'anna et al. Correlação entre o efeito hidratante da ureia em diferentes concentrações de aplicação: estudo clínico e corneométrico. Surgical & Cosmetic Dermatology: Sociedade Brasileira de Dermatologia, Espanha, v. 1, n. 1, p.5-9, 2009. Disponível em: <http://www.surgicalcosmetic.org.br/detalhe-artigo/1/Correlacao-entre-o-
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corneometrico >. Acesso em: 16 set. 2015. BEHRENS, Jorge. A Química e a Análise Sensorial: razão e sensibilidade. 2010. Disponível em: <http://www.crq4.org.br/default.php?p=informativo_mat.php&id=912>. Acesso em: 12 mar. 2016. CAREGNATTO, Bianca Daniele; GARCIA, Giselle Albino; FRANÇA, Ana Júlia von Borell Du Vernay. Estudo comparativo entre esfoliante químico e enzimático no processo de esfoliação facial. 2011. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/Bianca Caregnatto,
Giselle Albino Garcia.pdf>. Acesso em: 28 set. 2015. CARRISSO, Regina Coeli Casseres; PIRES, Daniel Coelho Barçante. A Pedra “ São Thomé” : tensões e conflitos entre a APL mineral e o turismo. In: FERNANDES, Francisco Rego Chaves; ENRIQUEZ, Maria Amélia; ALAMINO, Renata de Carvalho Jimenez (Eds.). Recursos Minerais e Sustentabilidade Territorial: v. 2, p.115-138. Grandes Minas e Comunidades Locais, CETEM/MCTI, 2011. Disponível em: http://www.cetem.gov.br/publicacao/livros/Vol_1_GRANDES_MINAS_TOTAL.pd f. Acesso em: 16 de ago. 2012.
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Anexo I. Protocolo de aplicação:
1. Utilizando luvas de látex para a proteção das mãos, inicialmente será utilizado 5 ml de
sabonete líquido neutro, espalhando bem nas plantas dos pés para completa assepsia local,
retirado com uma toalha umedecida em água temperatura ambiente.
2. Após será aplicado o esfoliante contendo pó da pedra de São Tomé, aproximadamente 10
gramas, acondicionamentos separadamente em saches aluminizados, realizando massagem com
movimentos circulares promovendo uma esfoliação física com abrasão média, durante cinco
minutos, retirando com borrifador de água e em seguida, secar com uma toalha.
Os voluntários serão previamente orientados aos cuidados necessários que deverão realizar a
domicilio durante o tratamento, sendo estes:
-Não andar descalço, em qualquer superfície.
-Não utilizar nenhum produto na região do estudo que tenha ação similar.
Anexo II. Formulação
O material a ser empregado foi obtido de empresa de Itajaí, que realiza o corte e a
venda de pedras decorativas. O material foi coletado de um único lote de pedras, não tendo
contaminante de outras rochas. Foi avaliado quanto a presença de contaminantes e
descontaminado por processo de esterilização a vapor, em autoclave, procedimento realizado no
Curso de Farmácia, Univali, Itajaí. O tamanho de partícula foi determinado por light scattering,
estando na faixa de 45 µm (± 4,79). Trata-se de um pó fino, de cor branca amarelada, de textura
homogênea e fina quanto ao toque.
Pó Pedra de São tome Produto Formulado (Esfoliante)
É um Pó fino sem nenhuma propriedade farmacologicamente ativa, não apresenta cheiro, e não tem cor.
Apresenta boa espalhabilidade, cheiro agradevel de menta, com media abrasividade não deixando a pele pegajosa.