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Auto-emprego é Alternativa à Crise
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5/9/2014 Folha de S.Paulo - Opinião Econômica - João Batista Pamplona: Auto
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São Paulo, quartafeira, 08 de maio de 2002 Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Autoemprego é alternativa à crise doemprego?JOÃO BATISTA PAMPLONA
Com a recente crise do emprego, muito se tem especuladoem torno do autoemprego como "solução para os males domercado de trabalho". Nas bancas de jornais são comuns aspublicações que explicam "como enriquecer com o seupróprio negócio". Por outro lado o autoemprego tambémtem sido visto como "manifestação dos males do mercado detrabalho". Não são raros os autores que vêem no autoemprego "uma nítida demonstração da precarização dotrabalho". Afinal, o que representa o autoemprego?O autoemprego é uma condição de trabalho na qual otrabalhador independente controla seu processo de trabalho,fornece a si próprio seu equipamento e participa diretamenteda atividade produtiva. Seu objetivo primordial é prover seupróprio trabalho e não valorizar seu capital. É uma forma deproduzir que não está baseada no assalariamento. Nessasituação estão os pequenos empregadores e os por contaprópria, além dos membros de cooperativas de produtores.Até meados dos anos 70 existia uma tendência claramenteobservada em diversos países: declínio contínuo daproporção de autoempregados urbanos no total da ocupação.No entanto, após esse período, essa tendência cessou ou seinverteu na maioria dos países avançados e também empaíses em desenvolvimento, como o Brasil. Assim, o autoemprego urbano começou a ganhar importância crescente.Na região metropolitana de São Paulo, os autoempregados,que representavam cerca de 18% da ocupação no biênio198889, passaram a representar 24% em 2001. Foram 600mil pessoas a mais, elevando o contingente estimado deautoempregados em 2001 para algo como 1,8 milhão depessoas (PED/Seade).O crescimento recente do autoemprego decorre de diversascausas que podem ser classificadas em dois grupos. Ascausas que "empurram" (obrigam) as pessoas para o autoemprego, como a queda da qualidade do empregoassalariado, o aumento do desemprego e a flexibilização dasrelações trabalhistas, e as causas que "puxam" (atraem) aspessoas para o autoemprego, como as novas tecnologiasassociadas à informática, a expansão da demanda porprodutos diferenciados e o crescimento de valoresindividualistas do tipo "quem trabalha para os outros não
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melhora de vida".O crescimento do autoemprego faz surgir a seguintepergunta: seria o autoemprego uma alternativa promissorade trabalho ou simplesmente uma alternativa precária, umamanifestação contemporânea da precarização do trabalho?Diante das situações muito heterogêneas observadas entre osautoempregados, a resposta não é simples. A esperança deobter rendimentos maiores e a independência estimula aspessoas a entrarem no autoemprego. No entanto nem todosobtêm êxito. Alguns têm no autoemprego tãosomente umaforma de obter renda para a sobrevivência e a manutenção daautoestima. Outros, ao contrário, podem conseguir ascensãosocial e econômica. A estratégia para desenvolver pequenosnegócios não é viável para qualquer pessoa. A experiênciano autoemprego tende a ser bemsucedida para aqueles quepodem desviar menos excedente gerado pelo negócio paraconsumo familiar; que possuem mais qualificações técnicase profissionais; que têm mais capital inicial; que dispõem de"nicho de mercado"; e cujos relacionamentos sociais estãoinseridos em setores de renda mais alta.As possibilidades do autoemprego promoverdesenvolvimento socioeconômico são limitadas. Ocrescimento do autoemprego não parece ser o caminhoalternativo para gerar trabalho, renda, estancar a miséria econstruir uma "democracia econômica". Não é atributo dasunidades de autoempregados, numa economia capitalista,serem o principal mecanismo criador de emprego e de renda.Elas são subordinadas; ajustamse à dinâmica capitalista; sãoum espaço limitado; exigem capital e/ou qualificações/habilidades específicas nãodisponíveis para a maioria daforça de trabalho. Além disso, a renda do autoempregado éespecialmente sensível às taxas de crescimento econômico.No entanto a enorme heterogeneidade que marca o autoemprego não nos permite dizer que estar autoempregadosignifica obrigatoriamente estar submetido às piorescondições de trabalho. O autoemprego não énecessariamente o lugar dos pobres urbanos. O autoemprego pode tanto representar um mero "espaço desobrevivência" como um meio de "ascensão social". Épossível acreditar que a opção pelo autoemprego possa seruma fonte valiosa de emprego e de renda para um grupoespecífico de trabalhadores. Assim, os programas públicosde estímulo ao autoemprego devem ser implantados deforma complementar às ações orientadas ao trabalhoassalariado e devem focar segmentos sociais especiais.
João Batista Pamplona, engenheiro, é mestre em economia e doutor emciências sociais pela PUCSP. É professor do Departamento de Economiada universidade e autor de "Erguendose pelos Próprios Cabelos Autoemprego e Reestruturação Produtiva no Brasil" (Germinal/ Fapesp).
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