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128 da pela transitividade de rar; isso significa que considerar tem, por assim dizer, sua área própria de jurisdição, ou seja, uma oração sepa- rada. Conclui-se que (6) tem duas orações. À primeira vista, processo de verificação algo complica- do; mas é claro que, na prática, sa- bemos que os verbos que entram na composição de predicados comple- xos são muito poucos, a saber: ir ( + infinitivo); ter, haver ( + partiápio); estar, vir, ir, andar. ( + gerúndio); ser (estar) (+particípio) [ = construção passiva]. Além disso, dessas oito com- binações possíveis, somente três (vir, ir e andar + gerúndio) têm chances de ocorrer fora de predi- cados complexos; e uma (a cons- trução passiva) é com fréqüência homônima de uma seqüência de ser + adjetivo. As outras quatro combinações dispensam testagem; e, naturalmente, qualquer combi- nação que não esteja nessa lista de oito (como a combinação decidiram considerar) igualmente dispensa tes- tagem. Portanto, na prática, a veri- ficação é fácil; mas é importante ter em mente a argumentação aci- ma, que é a justificação teórica da análise adotada. Voltando à nossa lista de cons- truções, até agora verificamos que: (a) as construções de indicativo e de subjuntivo sempre constituem ora- GRAMÁTICA DESCRITIVA DO ções separadas; (b) as construções de infinitivo constituem orações se- paradas, exceto quando integram predicados complexos. Acrescentarei que a situação das construções de gerúndio é idên- tica à das construções de infinitivo. Assim, temos uma oração em (9) Daniel está vendendo cimento. e duas orações em (10) Daniel trabalha vendendo cimento. a situação das construções de particípio é diferente. Veremos que o particípio nunca forma uma oração separada; na verdade, quan- do fora de um predicado complexo, o partiópio tem as carac- terísticas de um adjetivo. Nesse caso, o particípio não ap·enas concorda em gênero e número (o que não acontece quando faz parte do pre- dicado complexo), mas seus com- plementos têm a forma de comple- mentos de adjetivo, e não de com- plementos de verbo. Assim, em uma frase como (11) Esses costumes vieram da Europa. o constituinte da Europa se analisa como adjunto circunstancial, isto é, [ -CV, +Ant, -Q, --ÇN, +Cl, -PA]. Mas no sintagma (12) Costumes trazidos da Europa o mesmo constituinte, embora de forma e significado idênticos, tem claramente a função de comple- S. A ORAÇÃO COMPLEXA mento do sintagma adjetivo. Por exemplo, não pode ser anteposto nem clivado: ( 13) * Da Europa, ele adotou costumes trazidos. (14) *Foi da Europa que ele adotou cos- tumes trazidos. Em uma palavra, da Europa em trazidos da Europa não é um consti- tuinte de nível oracional. Por isso, analisarei uma frase como (15) Ele adotou costumes trazidos da Eu- ropa. como tendo apenas uma oração; e tra:z.idos da Europa é um modificador dentro do SN costumes trazidos da Eu- ropa. Esse modificador não é oracio- nal, ou seja, não contém uma oração. tJ 5.2.1.4. Conclusão ____ _ Devemos concluir, pois, que existem em português dois tipos de "orações reduzidas", isto é, cujo NdP não se flexiona em número e pessoa: as de infinitivo e as de gerúndio. As chamadas "reduzidas de particípio" não são orações, mas sintagmas adje- tivos bastante regulares. Os testes ilustrados acima de- vem ser suficientes para decidir, na maioria dos ca8os, quantas orações contém uma sentença. É de esperar que haja caso!l problemáticos, mas devem ser uma minoria. Passemos agora ao estudo dos modos de orga- 129 nização dos constituintes oracionais (que contêm oração) dentro da ora- ção complexa. ' 5.2.2. Subordinação e coordenação Tradicionalmente, distinguem- se duas maneiras básicas de inserir constituintes dentro de outros cons- tituintes: a subordinação e a coorde- nação. Essa dicotomia representa uma simplificação e está longe de dar conta de todos os fatos. mas st;r::. virá como ponto de pactida para a exposiçã.2z_ de modo que vou começar conceituando esses dois processos. Em um exemplo como (I) Titia disse que nós desarrumamos a casa. uma das orações, nós desarrumamos a casa, está inserida dentro de um dos termos da outra oração (esta é titia ãisse que nós desarrumamos casa;-õü seja, a Integra da sentença): está · dentro do objeto direto: que nós de- sarrumamos a casa (veremos em 5.2.2.2. por que não considerar que c::omo parte da oração menor). ·---- Uma razão para se adotar essa análise deriva da transitividade do verbo dizer. Com efeito, esse verbo parece exig!r objeto direto: (16) Titia disse algumas asneiras. (17) * 1itia disse.

Aulas 10 e 11- Subordinação e Coordenação (4)

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Aulas 10 e 11- Subordinação e Coordenação (4)

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  • 128

    da pela transitividade de con~iderar; isso significa que considerar tem, por assim dizer, sua rea prpria de jurisdio, ou seja, uma orao sepa-rada. Conclui-se que (6) tem duas oraes.

    primeira vista, e~e processo de verificao pare~e algo complica-do; mas claro que, na prtica, j sa-bemos que os verbos que entram na composio de predicados comple-xos so muito poucos, a saber:

    ir ( + infinitivo); ter, haver ( + partipio); estar, vir, ir, andar. ( + gerndio); ser (estar) (+particpio) [ = construo passiva]. Alm disso, dessas oito com-

    binaes possveis, somente trs (vir, ir e andar + gerndio) tm chances de ocorrer fora de predi-cados complexos; e uma (a cons-truo passiva) com frqncia homnima de uma seqncia de ser + adjetivo. As outras quatro combinaes dispensam testagem; e, naturalmente, qualquer combi-nao que no esteja nessa lista de oito (como a combinao decidiram considerar) igualmente dispensa tes-tagem. Portanto, na prtica, a veri-ficao fcil; mas importante ter em mente a argumentao aci-ma, que a justificao terica da anlise adotada.

    Voltando nossa lista de cons-trues, at agora verificamos que: (a) as construes de indicativo e de subjuntivo sempre constituem ora-

    GRAMTICA DESCRITIVA DO PORTUGU~S

    es separadas; (b) as construes de infinitivo constituem oraes se-paradas, exceto quando integram predicados complexos.

    Acrescentarei que a situao das construes de gerndio idn-tica das construes de infinitivo. Assim, temos uma orao em

    (9) Daniel est vendendo cimento. e duas oraes em

    (10) Daniel trabalha vendendo cimento. J a situao das construes

    de particpio diferente. Veremos que o particpio nunca forma uma orao separada; na verdade, quan-do ~corre fora de um predicado complexo, o partipio tem as carac-tersticas de um adjetivo. Nesse caso, o particpio no apenas concorda em gnero e nmero (o que no acontece quando faz parte do pre-dicado complexo), mas seus com-plementos tm a forma de comple-mentos de adjetivo, e no de com-plementos de verbo.

    Assim, em uma frase como

    (11) Esses costumes vieram da Europa. o constituinte da Europa se analisa como adjunto circunstancial, isto , [ -CV, +Ant, -Q, --N, +Cl, -PA]. Mas no sintagma

    (12) Costumes trazidos da Europa o mesmo constituinte, embora de forma e significado idnticos, tem claramente a funo de comple-

    S. A ORAO COMPLEXA

    mento do sintagma adjetivo. Por exemplo, no pode ser anteposto nem clivado:

    ( 13) * Da Europa, ele adotou costumes trazidos.

    (14) *Foi da Europa que ele adotou cos-tumes trazidos.

    Em uma palavra, da Europa em trazidos da Europa no um consti-tuinte de nvel oracional. Por isso, analisarei uma frase como

    (15) Ele adotou costumes trazidos da Eu-ropa.

    como tendo apenas uma orao; e tra:z.idos da Europa um modificador dentro do SN costumes trazidos da Eu-ropa. Esse modificador no oracio-nal, ou seja, no contm uma orao.

    tJ 5.2.1.4. Concluso ____ _ Devemos concluir, pois, que

    existem em portugus dois tipos de "oraes reduzidas", isto , cujo NdP no se flexiona em nmero e pessoa: as de infinitivo e as de gerndio. As chamadas "reduzidas de particpio" no so oraes, mas sintagmas adje-tivos bastante regulares.

    Os testes ilustrados acima de-vem ser suficientes para decidir, na maioria dos ca8os, quantas oraes contm uma sentena. de esperar que haja caso!l problemticos, mas devem ser uma minoria. Passemos agora ao estudo dos modos de orga-

    129

    nizao dos constituintes oracionais (que contm orao) dentro da ora-o complexa.

    '

    5.2.2. Subordinao e coordenao

    Tradicionalmente, distinguem-se duas maneiras bsicas de inserir constituintes dentro de outros cons-tituintes: a subordinao e a coorde-nao. Essa dicotomia representa uma simplificao e est longe de dar conta de todos os fatos. mas st;r::. vir como ponto de pactida para a exposi.2z_ de modo que vou comear conceituando esses dois processos.

    Em um exemplo como

    (I) Titia disse que ns desarrumamos a casa.

    uma das oraes, ns desarrumamos a casa, est inserida dentro de um dos termos da outra orao (esta titia isse que ns desarrumamos a casa;- seja, a Integra da sentena): est

    dentro do objeto direto: que ns de-sarrumamos a casa (veremos em 5.2.2.2. por que no considerar que c::omo parte da orao menor). ----

    Uma razo para se adotar essa anlise deriva da transitividade do verbo dizer. Com efeito, esse verbo parece exig!r objeto direto: (16) Titia disse algumas asneiras. (17) * 1itia disse.

  • j'

    l ~ ; I~~ : 1

    Ht

    ~ j~ . ~ I' jl.

    ~ lt'

    ' :;

    130

    Ora, o constituinte que ns de-sarrumamos a c~~-alm de estar no lugar habitual do objeto direto, logo depois doN'iP,-pfece -s'i.slir--a transttiVIdaaeae-lRW,_e.ffiod -q

    arras-eUr fic aceitveL -se ~s;e . constituinte n- fSsb]'to direto, teramos de explicar por que ( I ) bem formada, apesar de conter o verbo dizer sem objeto direto. Anali-sando que ns desarrumamos a casa co-mo objeto direto, esse problema de-saparece.

    Alm da transitividade do ver-~l!tros. JD.to1i. dP_Q_!!sritiiite qe i

    ~?!.1.f!:Sfl:T!}J:IJ}g_mos a cas~ 1 este te~ .. a_funo de.OD. Por exem- i plo: possvel antep-lo e mesmo di- ' v-lo: - --

    GRAMTICA DESCRITIVA DO PORTUGU~S

    rumamos a casa, se denomina orao -r--------- ... -.. --.---------=--prmcipal. A subordinao um dos dis processos principais de monta-gem de ora es complexas. C:OORD. 'f J na sentena (3) Titia fez a salada e mame fritou os

    pastis.

    temos igualmente pelo menos duas oraes: uma delas titia fez a salada, e a outra mame fritou os pastis. No entanto, no se pode dizer que algu-ma delas esteja "dentro" da outra, no sentido de que faz parte de um de seus termos. Tanto assim que am-bos os verbos, fez na primeira e fritou na segunda, tm todos os comple-mentos exigidos preenchidos por elementos no-oracionais: na pri-

    (18) Que ns desarrumamos a casa, riria meira, o sujeito titia, o NdP fez, o disse. OD a salada. Ne~~c_as_9.._~iz-se que

    (19) Foi que ns desarrumamos a casa que t a sentena composta por coorde-1,' 'aTo;-e as -aliSOr--.s so-c:~d~-.:

    ti tia disse. 1 -nadas, IStO e, sml:iiffu'en'teetliV-! .:1

    Ou seja, podemos dizer que a orao ! len tes_:-x -'fclen ~-pis:-; que ns desarrumamos a casa mar- ! segundo dos processos principais cada [+ Ant, +Cl], reforando assim l de montagem de oraes comple-~indicaes de que se trata de um j xas. Naturalmente, nenhuma das objeto direto Nesse caso, (1) com- 1 oraes coordenadas pode ser cha-preen e uas oraes, sendo que j mada de "pr!-ncipal", j que "princi-uma delas (ns desarrumamos a casa) 1 pai" se define em termos da presen-est dentro da outra ( titia disse rue ns~ -ae~tib-ri(_d"S:-t -~-~ . .I:B __ ___::__ desarrumamos a casa), no sentid:~!J~ E s nos casos de subordinao gue f~p~te d_e um de seus t~~~ que se verifica a coincidncia parcial

    Em casos como esse, em que das duas oraes, de modo que, uma orao faz parte de um termo quando citamos as duas oraes, de outra, falamos de subordinao; uma parte dever ser citada duas ve-assim, a orao menor, ns desarru- zes: a principal de (1) titia disse que mamas a ais a, ~--~-~~~~- ~u~~rd!.!!~~ ns desarrumamos a casa, e a subord_i-a; e a _!!l_aJ_or . J~tja di!_~ !!:~s_#.Jf_l:r- nada ns desarrumamos a casa. Nos

    . .,s: A ORAO COMPLEXA

    .(sos de coordenao, as duas ora-:-'es so totalmente separadas, e ne- .. nhum elemento parte de ambas: as 1 'duas coordenadas de (3) so titia fez .. a salada e mame fritou os pastis.

    t-.\ob' ( tambm s nos casos de su-ltl'bordinao ~ue, freqentemente ,

    nia das oraoes tem uma forma es-. pedal que nunca, ou s muito rara-. mente, ocorre isolada: oraes de subjuntivo, gerndio e infinitivo so

    ' sempre subordinadas. Na coordena-:o sem subordinao (porque :os dois processos podem coexistir na mesma sentena, ver a seo 5.2.2.4.), as oraes tm todas ames-ma forma que teriam se ocorressem isoladas.)

    NoP (Toda a exposio acima tratou da coordenao e subordinao de Jraes umas s outras. No entanto, essas noes se aplicam igualmente a outras formas sintticas. Assim, em um sintagma como Pedro e Simo, po-demos dizer que h dois SNs, Pedro e Simo, coordenados um ao outro e formando, em seu conjunto, um SN maior, Pedro e Simo. Isso pode acon-tecer com verbos, como em viu e venceu, com advrbios, como em dtr morada e pacientemente e assim por diante.) ('.1~ (Igualmente, possvel subordi-

    nar constituintes no-oracionais uns aos outros. Pr exemplo, em a filha do vizinho, temos um SN, o vizinlw, fa-

    . zendo parte de um SN maior, a filha do vizinlw; trata-se, pois, de um tpico 'caso de subordino.}

    131

    Vou agora passar a esclarecer trs pontos que podem criar confu-so, por se oporem de certa forma prtica tradicional da anlise sin-ttica.

    1? pr-cbleV\-~ m; 5.2.2.1. Limites da orao ~ principal _______ _

    Um aspecto da anlise que contraria a tradio tem a ver com os limites da orao principal. Eu disse acima que a orao principal de (1) titia disse que ns desarrumamos a ca-sa. Mas tradicionalmente se afirma que a principal apenas titia disse-presumivelmente porque o resto do periodo, que ns desarrumamos a casa, teria de ser reservado para ser a su-bordinada.

    Essa a prtica usualmente se-guida na anlise sinttica. No entan-to, vou mostrar que no s incon-veniente, como vai contra a prpria doutrina tradicional tal como se ex-plicita; ou seja, neste ponto ( c~~o. em muitQU)ll_ti..Q~.Jltic~ e a teo-_ ria tradicionais esto em conflito.

    Vejamos primeiro a definio tradicional de "orao sul;>c;>rdinada";

    . rodas as gramticas trazem uma defi-nio equivalente seguinte:

    As oraes sem autonomia gramatical, isto , as ora~s que funcionam como termos [ ... ] de outra orao cham

  • I:

    1:,

    132

    No cr~io que essa definio esteja corre~ sob todos os aspectos; mas sem dviCla capta -2 asEecto fun-. damental dol~~~~r_,ec;r ~2J merece ser mantida na essncia (ha-

    :Ai4P'!: ------,..._~ ... !"'oo">~ ver uma m(:ldificao secundria, como verem9s logo adian~).

    Voltandp ao nosso exemplo,

    (I) Titia disse ~ue ns desarrumamos a casa.

    vamos admiti'r a posio tradicional que segmen~ titia disse como orao principal; te~tarei mostrar que essa segmentao! contradi~ a definio de "subordinada".

    1 Em priineiro lugar, observe-

    mos que um termo de uma orao dela; I. parte ~,em

    (20) Titia fez a kda. '

    a salada um termo da orao e parte da o~o. Ningum teria a idia de dizer que a orao acima apenas titia f~ essa seqncia no mais que um; pedao de orao -uma orao da qual se extraiu o oh- .J!_ 1 jeto uuceto. J

    J

    Tudo isSo parece insuporta.vel:.. men,!C-bvio; ~as dei!.a de ..er .Qbser=.. vado qu~d9l~s.~lis.Jl). Se que ns desarrumti,mos a casa um termo da principal,:(o OD), .ento que ns desarrumamos/.a casa deve fazer parte da principal.jSe isso no acontecer,

    te~emos que: !a) a principal, que en-to seria tititi diss~ -o lf e . .,.""'--~--.:..~ ... na 001 uJs..... direto Q que o OQ precisa fazer parte (la~ O_!!~o); ou ento .Q!~

    GRAMAnCA DESCRmVA DO PORTUGU~

    que chamamos "orao principal", lilia disse, no seria na verdade uii rao:=fi.t~~~E.~ um pe~~ ~~ oro (ameutada do OD). A nica--sada seria postular um princpio se-gundo!o qual o OD (assim como os demais termos) de uma orao s faz parte dela se no contiver uma orao; se contiver uma orao, o OD e os outros termos sero exter-nos a e~ orao. Esse p~~pio ta-citamente admitido na.,p_!'tic~ e a n1ca base para a afirmao de que titia disse a orao principal de (1), mas introduz complicaes enormes e desnecessrias em toda a concep-o.dasintaxe.Nomnimo, teramos que ~econhecer que ele no nos compra vantagem nenhuma: seria introdUzido na teoria exclusiva"iii:' t a fim de Slvar uma prtica de an-lise estabelecida.

    Prefiro, portanto, manter na essncia a definio de "subordina-da" vista acima e adequar a prtica da anlise a ela. A definio satisfa-tria porque exprime a importante propriedade que tm as l~guas de desenvolverem termos da orao co-mo novas oraes - um aspecto da recursiyidade (ver a seo 5.1.).

    Assim, a rao principal de ( 1) titia disse que ns desa_rruma-mos a casa; e a subordinada ns desarrumamos a casa (deixem~ suspenso, por ora, o estatuto da palavra que). Vejamos brevemen-te as.vantagens que nos traz essa segmentao.

    s.~A oRAO COMPLEXA

    --:;,'o Primeiro, torna-se possvel -ter, sem sofismas, a afirmao de ql!e uma orao subordinada parte cia;prlncipal: evidente para qual-qlier um que a seq~ncia ns desarru-mamos a casa parte de titia disse que . ~- desarmmamos a casa. Depois, no~ se toma necessrio C()mp~~ .. ~-~~oria com ~~fs)D:~~!lvc:~i~~!eS,\ como o que diz que um OD pode no .fzer parte de sua orao; mante-remos, em vez, o que o bom senso -nos dita, ou seja, que os termos de OOta orao fazem cmpre parte de-l Evitamos tambm situaes confu--sas, como dizer que a orao titia dis-se tem objeto direto (onde est ele?). Com isso, finalmente, adequamos a teoria (definio de "subordinada") prtica [segmenta~o de (1)], fa-zendo da prtica uma aplicao da teoria- seno, para que seria preci-so construir uma teoria?

    ~ com essa soluo podemos manter sem incoerncia afirmaes

    ~orno a de que as subor~adas so [ ... ] termos da frase desen-volvid9~. ~~ prn.o. [~, 1985, .. p. 71]

    ~.o~~ Jfj} 5.2.2.2. ~imites. da orao W subordin~da -------

    Agora examinemos o estatuto da palavra que: faz ou no faz parte da orao subordinada? Vou defen-der a idia de que no faz e que, por-tanto, a subordinada de (20) ape-

    133

    nas ns desarrumamos a casa, e no que ns desarrumamos a casa.

    A razo principal que a se-qncia ns desarrumamos a casa tem a estrutura interna e a distribuio tpicas de uma orao: tem sujeito, NdP, objeto direto; e poderia ocor-rer sozinha no perodo - como as oraes em geral. J a seqncia que ns desarrumamos a casa no poderia ocorrer sozinha e tem um elemento (que) sem funo conhecida dentro da orao simples.

    A seqncia que ns desarruma-mos a casa, na verdade, apresenta semelhanas-funcionais com os sin-tagmas nominais: pode ser objeto di-reto [como em (20)] e pode ser su-jeito, como em (21) Que ns desarrumamos a casa evi-

    dente.

    Assim, a ~ra"a

  • --

    134

    m~n tJii!!.

  • I: I, ,

    ' :i I

    :l 'I i :j 'j

    .; ~-

    136 GRAMATICA DESCRITIVA DO PORTUGUtS o.. ';.fJc. ,... -

    N - . d I b h . fu . .: (fflf:f' esse caso, entao, segum o eng o a: c amarei essa nao roem-princpio geral da coordenao, 1 bro de coordenao (MC). Assim, de (23) temia mesma l:ilrio que 0 2 0 2, por exemplo, MC de 01> o que ou 0 3, caso estas ocorram sozmhas. justifica cham-la de "subordinada" E como a funo determina a classe, de 0 1 E igualmente o termo simples 0 1 deve s~q uma orao, tal como e o termo competente em (26b) so lJ2 e 0 3 MCs do termo simples e competente, ;'""-~a nota: em (25), no sera-, _;uja funo a de pr-ncleo. i mos 'briga?os a considerar, ento, ~-. ~ssa anlise tem ~ con~e-/ roubaram e estragaram corno um ver- qu_eneta algo surpreendente: ~

    ( bo, j que tanto roubaram quanto es- e~tste ~?ordenao se~ _subord~ \ tragaram, isolados, so verbos? Em ~o-Ja que, por defimao, se A e B \ tese, isso deveria ser feito, e h lin- sao coordenados, eles (em geral com ) gistas que 0 fazem. Mas a separao o acrscimo de. uma co~ju~oC) for- estrita entre morfologia e sintaxe, mam um te~cetro con~tltumte ' ao I adotada nesta anlise, nos impede de qual A e B sao su~ordmados, por te-: colocar uma seqncia de palavras rem em C _a funao de membro de \ na mesma classe q_ue uma palavra iso- coordenaao.

    lada. Por isso, e s por isso, no cha- , 0 , .. ."! 0_, marei a seqnci roubaram e estraga- O: ~J'i'd vt ram de "verbo", nem a seqncia lff} 5.2.2.4. Coordenao de

    ]~ simples e competente de "adjetivo". Mas ~ subordinadas?------

    ! as razes sintticas para coloc-las nessas classes, sem dvida, eXiste~ Vimos na seo precedente

    que muitos termos de uma orao podem aparecer coordenados. Isso acontece mesmo quando os termos contm oraes, isto , quando so oracionais. Assim, na frase

    ' , :j } l

    ., Resta um problema a resolver:

    1se a estrutura de (3) (23), qual a relao entre a orao maior, 0 1, e as duas oraes menores, 0 2 e 0 3? AJguns lltres, .. m!l"ddks't~ tonsidram 0 2

  • :I

    ti I

    Coordenao e subordinao

    Maria Eugenia Duarte

    No caprulo anterior, tivemos a preocupao de rever os termos da orao, resgatando a tradio gramatical e chamando a ateno para uma anlise que leve em conta a estrutura projetada pelo(s) predicador(es). Vimos que os predicadores verbais e nominais so os responsveis pela projeo da orao, isto , selecionam os argumentos. Articulam-se ainda aos predicadores os adjuntos adverbiais (ou obliquos no nucleares), constiruintes no selecionados pelo(s) predicador(es) e, por isso, considerados "adjuntos" (termos opcionais).

    No nos detivemos na estrurura interna desses termos, mas vimos que duas operaes principais esto em jogo na organizao do perodo: a subordinao e a coordenao. Todos os termos articulados com o(s) predicador(es) estabelecem com ele(s) uma relao de subordinao, isto , exercem nele(s) uma funo sinrtica. A subordinao , portanto, uma forma de organizao sinttica segundo a qual um termo exerce funo no outro. exatarnente isso que significa "ser dependente sintaticamente" ou "estar subordinado". Outra forma de organizao sinttica a coordenao. Vejam-se os termos destacados em (1):

    (la) [[As duas ruristas de Lisboa] e [os dois rapazes brasileiros]] visitaram o centro da cidade. (1 b) A televiso mostrou [[as duas ruristas de Lisboa] e [os dois rapazes brasileiros]] durante o Jornal Nacional.

  • 206 Ensino d e g roml ico

    (lc) O repner falou ((sobre as duas turistas de Lisboa] e ((sobre) os dois rapazes brasileiros)].

    Os sintagmas destacados enrre colchetes esto coordenados, isco , um no desempenha funo sinttica no ourro, so "independentes sintaticamente um do ourro", mas so subordinados a um outro termo que os selecionou: os predicadores verbais grifados. Em (la), os dois sintagmas coordenados constituem o argumento externo de "visitaram" e desempenham a funo sinttica de sujeito; em (lb), so 0 argumento interno de "mostrou" e exercem a funo de objero direto; em (lc), so 0 argumento interno de "falou" e funcionam como complemento circunstancial ou obliquo nuclear (veja-se captulo anterior).

    lamentvel que muitas gramticas pedaggicas mais recentes s rrarem desses dois mecanismos de organizao sinttica - a coordenao e a subordinao - no mbito do perodo composto, mantendo urna das falhas da tradio gramatical. Como vimos no captulo anterior, termos simples aparecem coordenados, isto , apresentam (no necessariamente) a mesma forma e desemeenham (necess~ente) a mesma funo. Um SN simples, como "as duas turistas de Lisboa", pode se ~~ar ao SN "os dois rapazes brasileiros" e aparecer em funo de sujeito, objero direto, obliquo etc. A nica referncia indireta feita pelas gramticas tradicionais coordenao dentro do perodo simples aparece ao classificar o sujeito que exibe sintagmas coordenados

    1 Y- de "sujeito composto", urna classificao, que, como foi dito no captulo anterior, no contribui para o entendimento das relaes gramaticais observadas no perodo.

    Assim como coordenamos termos da orao (sintagmas simples), assim tambm coordenamos oraes, sejam elas coordenadas simples:

    (2) [As duas turistas de Lisboa chegaram] e [os dois rapazes brasileiros paniram].

    sejam elas coordenadas entre si (isto , no dependem sintaticamente urna da outra), e subordinadas a um outro constituinte (em relao ao qual desempenham a mesma funo):

    (3)As duas turistas [que chegaram de Lisboa] e [(que) ficaram em minha casa] saram com dois rapazes brasileiros.

    Em (2), as duas oraes so "sintaticamente independentes", isto , urna no exerce funo na outra. Veja-se que o predicador "chegaram" no tem qualquer argumento ou adjunto ligado a ele representado na orao seguinte. Da mesma forma, a segunda orao no exerce qualquer funo sinttica na primeira. Em (3), ao

    Coordenao e subordinao 207

    conrrrio, temos duas oraes que fazem parte da estrutura interna do sujeito selecionado por "saram": elas modificam o ncleo do sujeito "turistas", sendo, pois, "subordinadas" a ele. Por outro lado, esto "coordenadas enrre si" (isco , uma no desempenha funo na outra, uma no constituinte da outra).

    J

    O reconhecimento das relaes de coordenao e subordinao fundamental para que se tenha uma perfeita idia da arquitetura do perodo. importante, pois, ter em mente que termos coordenados no exercem funo um no outro, isto , um no constituinte do outro, enquanto um termo subordinado constituinte de outro, isto , desemper,ilia funo em outro. Para que se possa ter uma idia dessa arquitetura, vejamos o trecho a seguir:

    (4) "O brasileiro est com medo de tudo! No sabe exaramenre por qu, mas teme [o impeachmentde Bill Clincon], [as reaes de Bris Yelrsin], [o acordo com o FMI], [um ataque especulativo], [a fuga de dlares], [o ajuste fiscal] e [o sobe-desce das bolsas de valores]. Receia [perder o emprego], [votar errado]. [ir ao Maracan]. [ver o Jornal Nacional], [voar de helicptero], [comprar prestao) e [usar o cheque especial]" (Verssimo, Jornal do Brasil, 21 ser. 1998)

    Um exame das estruturas destacadas entre colchetes nos mostra que o argumento interno (objeto direto) do predicador "temer" (algum teme alguma coisa) veio representado por sete sintagmas nominais, coordenados .~ntre si. H entre eles uma relao semntica de "adio", expressa pela seqncia e pela conjuno "e" com valor adirivo,1 mas no h dependncia sinttica entre eles. f Outra seqncia entre colchetes nos mostra novamente sete estruturas oracwnm (todas tm um verbo) coordenadas entre si, exercendo a funo de argumento interno (objeto direro) de "receia" (algum receia alguma coisa). Novamente, h entre essas oraes coordenadas uma1relao semntica de a~~o, mas uma no_L subordinada outra. Os dois conjuntos de coordenadas, entretanto, so subordinados ao predicador que as selecionou.

    Em resumo, quando falamos/escrevemos utilizamos dois processos fundamentais de organizao sinttica: a coordenao e a subordinao. No primeiro caso, colocamos lado a lado estruturas (simples ou oracionais) independentes uma da outra sintaticamente: urna no constituinte da ourra; no segundo, subordinamos termos (simples ou oracionais), isto , construfmos estruturas em que um termo se subordina a outro, isto , funciona como constituinte de outro. E assim vamos "recendo" o nosso texto.

    Os exemplos em (1) mosrram as relaes de coordenao e subordinao dentro do perodo simples (um s predicador verbal). Neste captulo abordaremos

  • 208 Ensino de gramtica

    as relaes de coordenao e subordinao no perodo composto, isco , ern construes em que esses termos que vimos no perodo simples aparecem em forma de orao. Com ecemos pela subordinao.

    Confronto entre abordagem tradicional e outras perspectivas

    Relaes de subordinao

    As oraes substantivas ou completivas

    Os termos da orao mostrados no captulo anterior podem aparecer tambm em forma de orao, mantendo com o predicador a mesma relao de subordinao. Tomem~s inicialmente os argumentos selecionados por um predicador verbal, que, como VJmos no captulo anterior, podem ser: o sujeito (argumento externo) e os argumentos internos.

    (5a) (Que o Joo no renha conseguido o emprego] decepcionou os familiares. (5b) ( _) Decepcionou os familiares (que o Joo no renha conseguido o emprego).

    (6a) Parece [que o Joo vai conseguir o emprego). (6b) *(Que o Joo vai conseguir o emprego] parece.

    (7a) Todos querem [que o Joo consiga o emprego]. (7b) Todos duvidam ((de) que o Joo consiga o emprego].

    . O ponto de partida para analisar um perodo composto, isto , aquele que cem maJS de uma orao (mais de um verbo), o verbo flexionado (conjugado) que se encontrar numa orao sem_ elementos subordinantes em posio inicial (conjunes, preposies, por exemplo). Assrm, a orao iniciada pela conjuno subordinativa integrante "que" em (5a)_ ~o ~os serve de ponto de partida. Comecemos ento pela orao "decepcionou os ~ares . Esta a_ orao responsvel por rodos os demais elementos que aparecem no penodo. Uma anlise dos elementos selecionados pelo verbo "decepcionar" nos leva a "al~~m/~~a coisa decepciona algum". O argumento externo "o que decepcionou os F.uniliares .. _aparece em forma de orao "que o Joo no renha conseguido

    0 emprego".

    Este o SUJetto da orao "decepcionou os f.uniliares", que ser chamada de orao principal.

    Coordenao e subordinao 209

    Seu sujeito, em forma de orao, ser uma orao completiva com funo de sujeito (que a gramtica tradicional chama de substantiva subjetiva). Observe-se que, em (5a), a orao pode vir anteposta sua principal, ocupando a posio do ar~enr~ :xrerno em relao ao seu predicador. Esta, entretanto, no a posio preferenaal do ~Jetto que apare~ e~ forma

    1 de orao (sujeito oracional). Observe-se em (5b) que maJS natural a ocorrenaa

    da subordinada aps a principal. Em (6a), remos mais uma orao ligada a um predicador verbal, classificada

    pelas gramticas tradicionais como orao subjeriva tal como a que ocorre em (5). Enuecanro, o argumento selecionado pelo verbo "parecer" (o ~ue parec~?) no ~ode ocupar a posio anteposta ao seu predicador (ningum falar1alescrevena ?, peno~~ na ordem mostrada em (6b)). Essa orao sem dvida um argumento de parecer ' mas sua posio fixa ps-verbal mais se assemelha das oraes em (7), em que temos duas completivas de verbo, uma em funo de objero direto e uma em ~o de complemento relativo (oblquo), esta ltima, freqentemenre faladalescma sem a preposio "de". Assim, a subordinada selecionada por "parecer" se comporta. como um argumento interno. A classificao das oraes de (5) a (7) como completJvas de verbo, seja na funo de sujeiro seja na funo de objeto (direro ou obliquo), coerente com a seleo feira pelo predicador verbal. . .

    Passemos s oraes completivas selecionadas por um predicador nommal. V unos, no caprulo anterior, que um nome (adjetivo ou substantivo) pode selecionar argumentos. Tais argumentos podem igualmente aparecer em forma de orao:

    (8a) [Que o Joo no renha conseguido o emprego] foi uma decepo. (8b) U Foi uma decepo [que o Joo no renha conseguido o emprego).

    (9a) [Que o Joo no renha conseguido o emprego) foi decepcionante. (9b) U Foi decepcionante [que o Joo no .cenha conseguido o emprego] .

    Os predicadores (nominal e adjetival) erri (8) e (9) selecionam um argumento externo (alguma coisa: uma decepo/decepcionante), que aparece sob. a for~a _de orao. Essa orao, classificada igualmente como subordinada su~stanttva subjettva na tradio gramatical, ser aqui tratada igualmente como compleuva de nome ou de adjetivo, em funo de sujeiro. Observe-se que, tal como ocorreu em (5~, a ordem mais natural dessa completiva a ps-verbal (em b), embora sua ocorrencta antes da principal no seja rara na escrita padro e na fala muito formal. .

    Como as oraes citadas anteriormente no tm um predJcador verbal (lembremos-nos de que as oraes com um predicador nominal recebem um verbo "de ligao", que, omo vimos no captulo anterior, traz as marcas de tempo, modo,

  • 21 O Ensino de gramtlco

    nmero e pessoa, alm de atribuir caso- ou reger- o sujeito), podemos ter igualmente uma estrurura como (10), em 1que a orao subordinada completiva aparece como um predicativo do sujeito. Seu carter essencial de complemento do nome se revela na tendncia de introduzi-la por uma preposio, como mostra (11): .

    (10) A decepo [que o Joo no conseguiu o emprego]. (11) A esperana [de que o Joo passe no prximo concurso].

    As oraes ligadas a um predicador nominal podem ainda aparecer como um argumento interno, assim como os selecionados pelos verbos transitivos. Vejamos, ento, os exemplos em (12):

    (12a) Todos escavam confiantes [(em/de) que o Joo conseguiria o emprego] . (12b) Todos tinham confiana [(em/de) que o Joo conseguiria o emprego.]

    Os predicadores nominais grifados nos perodos citados ("confiantes", "confiana") selecionam um argumento externo (representado por "todos") e um interno, representado por uma orao, que pode aparecer regida ou no por preposio, mas mantm sua funo de complemento nominal.

    Temos assim uma viso dos termos articulados a um predicador na orao principal, que podem aparecer em forma de orao. Embora o tratamento atual no seja muito diferente do tratamento tradicional, o critrio utilizado por cada abordagem difere em um importante aspecto: a tradio gramatical leva em conta o fato de que a funo que elas desempenham pode ser representada por um substantivo. Dai vem sua classificao em "subordinadas substantivas". Para Mateus et ai. (2003), interessa o fato de serem selecionadas pelos predicadores verbais, nominais e adjetivais. Urna comparao entre as funes apontadas pela NGB, por Rocha Lima (1972) e por Mateus et ai. pode ser vista no quadro a seguir:

    Quadro l A subordinao completiva.

    GT (NGB) GT (Rocha Lima) Marcus er al. Substantivas Substantivas Subordinao Completiva a) subjctiva a) subjctiva a) de verbo b) predicativa b) predicativa b) de adjc:tivo c) objetiva dircra c) objetiva dircra c) de nome (substantivo) d) objctiva indi.rc:ca d) completiva relativa e) completiva nominal e) completiva nominal f) aposiriva f) apositiva

    Coordenao e subordinao 211

    Quando se comparam as trs propostas de classificao das oraes subordinadas, v-se que a classificao de Mateus et ai. mais simples e mais preocupada com a funo de complemento/argumento da orao subordinada e com o predicador ao qual ela se subordina. Assim, as oraes classificadas como "subjetiv' podem estar articuladas a um p~edicador verbal ou nominal, na funo de argumento externo; a predicativa e a completiva nominal, a um predicador nominal, como argumentos internos; a objetiva direta, indireta (completiva relativa), a um predicador verbal, na funo de argumentos

    interno~. Restam as apositivas. Por que a tradio as inclui entre as substantivas? Porque, alm de o aposto ser representado por um substantivo, a orao "apositiv' , tal como as demais, introduzida por uma conjuno subordinativa integrante (que). E por que Mateus et al. as excluem do quadro proposto? Porque, as estruturaS apositivas no so argumentos selecionados por predicadores (no so, pois, "completivas"). Elas aparecem na estrutura interna de SNs (sintagmas nominais), isto , esto num nivel hierarquicamente inferior aos argumentos, funcionando como modificadores desses SNs, tal como os adjuntos adnominais, como mostra (13):

    (13a) Nossos amigos destacaram [uma coisa; [a honestidade do Joo]]. (13b) Nossos amigos destacaram [uma coisa: [que o Joo era muito honesto]].

    Em (13a), o argumento interno de "destacaram" aparece sob a forma de SN simples, cujo ncleo "coisa". Esse ncleo tem, sua direita, um demento justaposto, a que chamamos "aposto" e que faz parte da estrutura interna do SN c, como insistimos no caprulo anterior, no deve ser destacado no primeiro recorte da anlise. Esse termo pode aparecer, tal como os demais, em forma de orao, como vemos em (13b) c deve ser classificado como um elemento "modificador", que faz parte da estrutura interna do objcto direto. Como no um argumento, no pode ser includo entre as completivas de Mateus ct ai.

    Antes de passar s estruturas oracionais que modificam o nome, faamos uma observao sobre a forma pela qual se apresentam essas oraes (substantivas ou completivas, seja qual for o quadro que se queira adorar). Alm de introduzidas pelas conjunes integrantes "que", "se", elas podem aparecer sem a conjuno, com o verbo no infinitivo (isto , "reduzidas", "diminudas em extenso"). seja como completivas de verbo (14), seja como completivas de nome (15):

    (14a) [ _] M~oou o Joo [no conseguir o emprego]. (14b) Todos desejam [conseguir um bom emprego]. (14c) Todos confiam [em conseguir um bom emprego].

  • I 'l

    I ,

    i

    212 Ensino de gramtica

    (15a) [Conseguir um bom emprego] nossa esperan~. (1 5b) Nossa esperan~ [conseguir um bom emprego]. (15c) O Joo tem esperan~ [de conseguir um bom emprego]. (15d) O Joo est esperanoso [de conseguir um bom emprego].

    Nas reduzidas em funes obliquas- isto , as funes de complemento relativo ( 14c) e complemento nominal ( 15c,d) -, a preposio no omitida, ao contrrio do que oc~rre. co~umente nas oraes "desenvolvidas" (introduzidas pela conjuno subordinaava Integrante) .

    As oraes adjetivas ou relativas Vimos na seo anterior que o aposto, constituinte que se justape a um SN,

    fazendo paz:e de sua estrurura interna, pode aparecer em forma de orao. Alm dele, ourros ~o.~'ficadores que compem os SNs e que a tradio classifica como "adjuntos adnomm:us podem igualmente aparecer em forma de orao. Retomando 0 exemplo (la), .aqui repetido com o (~6), vemos que os ncleos dos dois SNs coordenados aparecem modificados por um SP (Smtagma Preposicionado: "de Lisbo') e um SAdJ. (Sin m Ad. ai "b ii " tag a Jetlv : ras e1r0s ) ;

    (16) [[As duas turistas [de Lisboa]] e [os dois rapazes [brasileiros]]] visitaram o centro da cidade.

    Ora, esses adjuntos adnominais podem tambm aparecer sob a forma de orao:

    (~ 7) [[As duas. ruris~ ~chegaram de Lisboa]] e [os dois rapazes ~ VIvem no Bras1l)]] VISitaram o centro da cidade.

    Veja-se que o nome pelo qual essas oraes so conhecidas na tradio gramatical - adjetivas - nos remete funo que elas tm em comum com a classe dos adjetivos - modificar o substantivo Quadro t

    . . s e ncos m:us recentes ~o m etam ta1s ~ra?,es como "relativas", pelo faro de serem introduzidas por um . pronome relanvo .Enquanto as "completivas" so introduzidas por conjunes, ISto , elementos cup funo exclusiva ligar oraes, as relativas so encabeadas por um p~onome, que, alm de unir a subordinada sua principal, estabelece uma relaao entre o substantivo a que se refere e a subordinada. No exemplo (17), o pronome relativo "que" representa os substantivos "turistas" e "rapazes" nas - b d ' d

    oraoes su or ma as, sendo, portanto, constituintes dessas oraes, alm de

    Coordenao e subordinao 213

    lig-las principal. Em ambas as subordinadas, o pronome relativo argumento dos verbos "chegar" e "viver" e funcionam com sujeito.

    Um pronome relativo pode ter quase rodas as funes que um nome pode ter. Vejam-se as oraes adjetivas (ou relativas) a seguir:

    I

    (l8a) Maria ainda no leu [os livros ~ ela ganhou no Natal]]. (l8b) Maria ainda no leu [o livro [de~ rodos esto falando]] . (18c) Maria no conhece [a praia [em $K./ onde seus pais vo passar as frias]]. (18d) Maria no conhece [uma casa [em~ I na qual I onde todos vivam felizes]] (18e) Maria no conhece [o aluno [com quem /com o qual todos esto

    desapontados]]. (18f) Maria recebeu [os pais [cujos filhos esto com notas baixas]].

    Todos os SNs entre colchetes representam propositalmente o argumento selecionado pelo verbo da orao principal, na qual exercem, coincidentemente, a funo de objeto direto. Cada um desses SNs modificado por uma orao relativa ligada a ele por um pronome relativo. Esse pronome, naruralmente, ter uma funo na orao subordinada. Observe-se cada um dos exemplos. Em (18a), o pronome um argumento interno (objeto direto) de "ganhou", em (18b) e (18c) um argumento interno (obliquo) de "esto f.Uando" e "vo passar"; em (18d), um adjunto (obliquo no nuclear) de "vivam"; em (18e), um argumento interno (complemento nominal) de "desapontados", e, finalmente, em (18f) um adjunto adnominal (determinante) de "filhos".

    Para as geraes mais jovens, o uso das preposies com os pronomes relativos em funes oblquas (sejam ou no "nucleares") e o uso do prprio relativo "cujo" podem soar estranhos. De &to, tais usos so recuperados, at cerro ponto, pelo ensino formal e, portanto, mais comuns na escrita padro. No portugus "f.Uado" no Brasil, quer se trate da variante considerada culta, quer se trate da variante popular, muito raro encontrar as estruturas ilustradas em (18b-f), salvo em situaes de f.Ua planejada, envolvendo indivduos que dominem essa regra gramatical e que sejam capazes de monitorar seu discurso. Do contrrio, o que vemos na fula espontnea so dois tipos de oraes "relativas": a "cortadora" (que elimina a preposio) e a "copiadora", que repete (copia) o SP:

    (19) A Maria ainda no leu [o livro [que todos esto f.Uando]]. (19') A Maria ainda no leu [o livro [que todos esto falando dele]] .

    (19b') A Maria no conhece [uma casa~ todos vivam felizes]]. (19b") A Maria no conhece [uma gg [que todos vivam felizes nela]].

  • 214 Ensino de gromllco

    (19c') A Maria no conhece [o aluno ~rodos esto desapontados]]. (19c") A Maria no conhece [o aluno ~rodos esto desapontados com ele]]. (19d') A Maria recebeu [os~~ os filhos esto com notas baixas]].

    (19d") Maria recebeu [os pais ~os filhos deles (seus filhos) esto com noras baixas]].

    Todas as relativas iluscradas em (17), (18) e (19) so classificadas como "restritiva.S", porque "restringem", "limitam" o significado dos nomes que modificam. Comparem-se as relativas a seguir:

    (20a) Os professores [que escavam cansados do trabalho] deixaram a sala. (20b) Os professores, [que escavam cansados do trabalho], deixaram a sala.

    A leitura dos dois perodos, exatamente iguais exceco pela pontuao, mostrar que (20a) s pode ser realizada caso se esteja restringindo o nome "professores"; em outras palavras, a orao contribui para a construo do valor referencial do SN antecedente. S saram da sala os que escavam cansados do trabalho. Os demais ficaram. Por outro lado, a leitura de (20b) s tem sentido caso o contedo da relativa se aplique a todos os professores que estavam na sala. Esse segundo tipo de relativa, que aparece entre as vrgulas, um recurso para representar a diferente curva entoacional que caracteriza sua realizao, chamada curiosamente de "explicativa". Esse rtulo era usado para classificar adjetivos que tinham estreita relao semntica com os nomes que modificavam ("gua mole") em oposio aos que no tinham tal relao ("moa bonita"), rotulados como restritivos (nem roda moa bonita). Com o desuso de tal classificao, fica tambm sem sentido esse rtulo Ide "explicativas" para as oraes adjetivas. Na verdade, essas oraes so semelhantes ao I aposto: aparecem junto de um nome para lhe atribuir uma caracterstica prpria, sem alterar seu valor referencial, e so realizadas, juntamente com esse nome, com uma prosdia caracterstica. Da vem a tendncia arual de cham-Ias "relativas apositivas". Observe-se que, pela distino apresentada anteriormente, roda relativa que modifica um nome prprio necessariamente apositiva:

    (21) Minha amiga Maria, [que sempre acreditou na politica], anda muito desanimada. I

    Coordena o e subordinao 215 .

    Quadro 2 A subordinao relativa.

    GT Mateus et ai. AdjctiVas Relativas a) restritivas a) restritivas b) explicativas b) aposirivas

    d _ , octante que se chame a ateno Antes de passar a outro grupo e oraoes, e unp l . " d das" tal como as comp etivas. fa d relativas podem aparecer re uzt '

    para o t~ e qudie' ~ . dizem que elas podem aparecer sem o pronome relativo As gramticas rra ctona.tS nos com o verbo no particpio e no genndio:

    E1 _ . alavras [gritadas do outro lado do rio] . (22a) as nao ouVIam as p . . _ (22b) Eram pessoas amigas, [sofrendo m_wta h~ilh~ao] . (22c) Eram pessoas amigas, [a sofrer mwta humilhaao].

    No caso de (22a), pode-se dizer que o constituinte en~e colch~~es corresponde " 'tadas do outro lado do rio", uma orao relativa restrmva. Quando ~e

    a que eram gn 'c . de funcionar como um adjetivo simples, talvez seja ensa porm que o paru pto po . . . p ' ~ . tal E (22b) e (22c), temos relativas aposmvas mais econrruco constder-lo como . m . d

    . . h ' lh -ao" a primeira de rara ocorrencta, a segun a, " e sofnam mutta um1 a d a~:olutamente distante do portugus do Brasil e provavelmente apresenta a em nossas . r inspirao literria ou lusitana. -

    gram tlcas po el . d 'da de infinitivo, muito freqente mas nao H entretanto, uma r ativa re UZ1 ' da di - gramatical Veiam-se alguns exemplos nos pares a segwr, templada p nossa tra ao ' infini

    con . fC rmal com o pronome e o verbo no nvo, em que (a) apresenta uma estrutura ma.tS 0 ' . _ " " c (b) uma estrutura mais informal, prpria da lingua oral, com a prepostao p~. .

    [ 1 ua1 deixar seus bens]. ) (23a) Ela no tem um parente a quem ao q . . . d . b ] W.~ (23b) Ela no tem um parente [pra eLXar seus ens .

    (24a) Na sala havia um vaso [onde I no qual colocar flores]. cl' ibi (!E.i!ll';~ofJi'fre' (24b) Na sala tinha um vaso [pra colocar flores]. . ' ':-'i

    Completivas ou relativas? . das duzidas nnr;ni'oru:l.tl So freqentes oraes subordin~ _mrro . ,

    chamados tradicionalmente "interrogativos mdcfirudos .

  • (25a) (Quem chegar por lcimo] vai perder o lugar. (25b) [O que voc nos contou) surpreendente. (25c) Cada convidado pode trazer [quem ele desejar) . (25d) A escola dar um prmio [a quem se destacar na pesquisa). (25e) No podemos confiar [em quem promete o impossvel). (25f) Ele mora [onde sua familia vive]. (25g) Eles vivem [como Deus quer que vivam).

    Um exame atento das oraes principais, nosso ponto de partida para a anlise das relaes que se estabelecem no perodo, nos leva a concluir que as subordinadas entre colchetes desempenham nelas uma funo. Em (a) e {b), temos uma "completiva" de verbo "quem vai perder o lugar?" e de adjetivo "o que surpreendente?" na funo de sujeito da principal; em {c), (d) e {e), vemos trs completivas de verbo "trazer quem?", "dar um prmio a quem?", "confiar em quem?", nas funes de objeto direto, objeto indireto e complemento relativo (ou oblquo) de suas principais. Finalmente em (f) e (g), as subordinadas funcionam como complemento circunstancial (ou oblfquo) dos verbos "morar" e "viver", que, como vimos no caprulo precedente, selecionam um argumento interno tal como os demais transitivos em (c), (d) e (e).

    As gramticas tradicionais chamam a ateno para o fato de tais subordinadas serem oraes adjetivas sem um antecedente e recomendam que se "desdobrem" os indefinidos dando-lhes um antecedente. A estrutura do perodo sofreria ento as seguintes alteraes:

    (26a) Aquele [que chegar por ltimo) vai perder o lugar. (26b) Aquilo [que voc nos contou) surpreendente. {26c) Cada convidado pode trazer aquele I o amigo [que ele desejar]. (26d) A escola dar um prmio quele /ao aluno [que se destacar na pesquisa]. (26e) No podemos confiar naquele I em algum [que promete o impossvel). (26f) Ele mora no lugar [onddem que sua famlia vive). (26g) Eles vivem da maneira [como/pela qual Deus quer que vivam].

    Assim, o antecedente passar a integrar a orao principal, onde exercer as funes das relativas livres, e a subordinada, graas ao antecedente, ser uma adjetiva. Ora, como uma adjetiva faz parte da estrutura do SN a que se refere- cf. (17) e (18) - ,vemos aqui um procedimento que nos leva ao mesmo lugar, alm de produzir resultados geralmente artificiais. O tratamento arual dado s estruturas em (25a-g) o de "relativas livres" e sua classificao sinttica a de "completivas" de algum predicador da sua principal (cf. Perini, 1994, Mateus et al., 2003). 1

    11!8&'+

    coordenao e subordinao 217

    As oraes adverbiais . e adjuntos adnominais (modificadores dos nomes) Assun como os argumentos . . .

    f, de orao (as completivas e as relativas), os adjuntos adverbiaiS aparecem emd arma . estrutura oracional. Trata-se de um conjunto de oraes tambm po em asswrur uma . de corrporramento no uniforme. Vejam-se, por exemplo, os grupos a segwr:

    (27a) 0 mendigo morreu [de frio]. . . (27b) O mendigo morreu [porque passou. mwto fno].

    fri ] digo morreu (27c} [Como passou mwro o , o men ~

    (28a) Ele sobreviveu [apesar do frio]. . . (28b) Ele sobreviveu [embora tenha passado multO fno] . .

    nh d frio] de sobreVIveu. (28c) [Embora I ainda que te a passa o mwto ,

    lch em a funa-o de adjunto adverbial de "morreu" Os termos entre co etes exerc b . N- ta de termos selecionados pelos ver os,

    e "sobreviveu", respecuvamente. ao se ua . unstncia de causa em d os ue se juntam a eles para expressar uma ore

    mas e term q >") de concesso em (28) ("ele sobreviveu apesar de que?). (27) ("ele morreu por que. , e f d . les e em (b) e (c) um perodo composto, com uma Em (a) temos um per o o sunp (28) d

    , . . al d bial causal em (27) e concessiva em , que po em orao pnnclp e uma a ver . . aparecer antepostas ou pospostas sua pnnapal. .

    segwntes O mesmo comportamenro pode ser VISto nos grupos .

    (29a) Ele sair da priso [se mostrar bom compo~ento~(29b) [Caso ele mosue bom comportamento], s:ur da pnsao.

    (30a) Ela tem estudadQ bastante [para que consiga I para conseguir boas notas]. . b 1 1 tem estudado bastante. (30b) (Para consegwr oas notas, e a~~~==

    (31a) Ele viajar para Portugal [quan~o. o~tiver o visto I ao obter o visto]. (31 b) [Quando obtiver o visto], ele viaJara para Porrugal.

    - d das. almente funcionam como adjuntos dos verbos grifados: As oraoes estaca Igu di - >") (29)

    . . - de condio ("sair sob que con ao. em , as cucunstancas expressas sao (" . . , d >") fmalidade ("tem estudado com que finalidade?") e~ (3?) e tempo vta)ara ~uan o. a

    . e! ual se articulam sua prmcipal pode ser por meiO de um em (31). A maneira P a q b para que

    . -o (ou locuo conjuntiva) subordinativa (porque, em ora, se~ . ,,' conJuna - (30) e (31) elas podem aparecer reduzidas , quando) ou, como mostram as opoes em , I I

  • 218 Ensino do gromllco

    com o verbo no infmitivo precedido de preposio ou mesmo no genndio e partidpio (uma consulta s obras listadas mostrar essas possibilidades, algumas em franco desuso na fala e na escrita contemporneas).

    H, entretanto, outros quatro "tipos" de subordinadas adverbiais listados em nossas gramticas, cujo comportamemo no apresenta as caractersticas observadas nos apresentados anteriormente:

    (32a) Os rapazes gritaram tanto [que ficaram sem voz]. (32b) * Que ficaram sem voz os capazes gritaram tanto.

    (33a) [Quanto mais a menina cresce] tanto mais ela fica bonita. (33b) * Tanto mais a menina fica banira quanto mais ela cresce.

    (34a) Os fimcionrios flam mais [do que trabalham]. (34b) * Do que (os fimcionrios) trabalham falam mais.

    (35a) Os alunos se prepararam para a prova [como o professor recomendou]. (35b)? [Como o professor recomendou], os alunos se prepararam para a prova.

    Os asteriscos em (b) mostram que as subordinadas apresentadas nesse conjunto, expressando a relao semntica de conseqncia em (32), de proporo em (33) e de comparao em (34), no tm a mobilidade das oraes do conjunto anterior. Trata- se de estruturas com uma integrao sinttica muito mais estreita, uma integrao que se caracteriza, em geral, pela presena de termos "correlatas" na principal e na subordinada (tanto ... que; quanto mais ... tanto mais; mais ... do que). As oraes que expressam a relao semntica de conformidade, ilustradas em (35), podem, entretanto, ser movidas, tal como as adverbiais, mas esto includas neste grupo por duas razes. Em primeiro lugar, os dois exemplos em (35) podem ser parafraseados de forma diferente, como se v a seguir:

    (3 5a') Os alunos se preparacam para a prova conforme o professor recomendou. (35b') Como o professor recomendou que os alunos se preparassem para a

    prova, assim eles fizeram.

    A subordinada em (35a') um adjunto do verbo da principal, enquanto a subordinada em (35b) tem escopo sobre toda a orao principal, isto , um adjunto oracional.

    Em segundo lugar, h uma comparao implcita nas duas proposies:

    Coordenao 9 subordinao 219

    tal como o professor recomendou. (35') Os alunos se prepararam para a prova tal. d alunos se prepararam para a prova (35b") *Como o professor recomen ou, os

    . "bilidade de ocorrerem igualmente elementos Tais oraes apresentam, pots, a posst . J tifi . cluso J. unramente com as consecuuvas, la l o que JUS ca sua m '

    corre tos, ta ... como, . d das adverbiais, a que Mateus et al. . . e comparanvas, num grupo separa o . propora~ma.LS - de graduao e comparao. O quadro a segwr (2003)" se referem como construoes . - .cal do Mateus et al.:

    apresenta as classificaes segundo a rradiao gramaa e segun

    Quadro 3 A subordinao adverbial.

    c;r Mateus et ai. Adverbiais Subordinao adverbial a) causais a) causais b) condicionais b) condicionais c) concessivas c) concessivas d) finais d) finais

    e) temporais _ e) temporais Con.srrues de graduao e compar:tao f) conformacivas

    g) compar.trivas a) confonnacivas h) consecutivas b) comparativas i) proporcionais c) consecutivas

    d) proporcionais

    Coordenao e subordinao rui fi . . . . d chamando a ateno para dois pontos: (a) as diferenas Este cap o OJlrucJa o l -

    . - (b) a im ortncia de observar essas re aoes tanto entre coordenao e subordinaao e p ( 6) o exem lo (2): no perodo simples quanto no composto. Retomemos em 3 p

    (36) [As duas turistas de sboa chegaram] e [os dois rapazes brasileiros partiram].

    As duas oraes destacadas so "coordenadas" porque uma ~o_ desempeelnha H , a relaa-0 semanoca entre as. ual fun -o sinttica na outra. a, entretanto, um .

    q quer a A 'nfas el o~ es semanucas Cas - houvesse o perodo no seria coerente. e e nas r a o nao ' . ) b 1 das entre as

    . ul d pelas adverbiais (vistas na seo precedente ou esta e ecJ ve1c a as . . d d d ' ncia estrurural entre d das no pode se sobrepor s relaes smtocas e epen e . coar ena b daes semnacas elas O ideal que se trabalhe com as duas noes e se per~ a ~ue r . .

    d smt:acas diferentes. semelhantes podem ser veiculadas por melO e estruturas

  • 220 Ensino de gramHca

    (37a) (Minha amiga passou no exam ] [ 1 (37b) (Embora no tenha estudado e ' . m]as (~nha) no_estudou muito] .. mwto, nu a amJga passou no

    ~ ... uoc.;-,:~~"

    Em (a), no possvel estabelecer qualquer articula - . ' . o que se faz facilmente em (b) " 'nh . aosmtaacaentreasoraes al . . . mi a amJga passou apesar d ~" .' p avras, a pnmeJra orao em (b) . . . e que. . Em outras fim _ e consarumte da segund d .

    ao de adjunto adverbial (ou oblquo no nuclear) a,. esempenha nela a temos a mesma noo semntica d " - " ;, subordinada a ela. Em (a),

    d . e concessao , de contra - , uso a conJuno coordenativa " " d . Junao , expressa pelo a1 . mas ' que po ena contud . qu quer conJun.'io (como em 38 ) ' o, ser Veiculada sem

    - . a ou por um elemento . . -oraao m:us o aproxima de adv b. ( , CUJa posJao mvel na

    r 10 como em 38b):

    (38a) (Minha amiga estudou demais ara o J -(38b) (Minha amiga escudou d ~ exame; (nao conseguiu passar].

    ema1s para o exame]. [ -contudo, passar] . nao conseguiu,

    Fica claro que as coordenadas no se distin hi . o urras. Sua unio as coloca lad I d guem erarqwcamenre umas das

    d o a a o e o nexo que se estabel el po endo ser mediado por um . - . ece entre as semntico, a COnJunao ou Simples 1 .

    como vemos na estrofe de um . - mente pe a sua JUStaposio a composJao de Chico Buarque: '

    (39) O nosso amor to bom o horrio ( que) nunca ~ombina: eu sou funcionrio ela d .

    anarma. (Chico Buarque de Holanda)

    Um exame das quatro oraes (exclui d -expresso " que" aqui utT d fi . n o, por questoes metodolgicas, a

    , I IZa a para ocalJzar, destacar " h . " que uma no constituinte d . o SN o orno ) revela

    a outra, Isto no dese h outra; trata-se, pois de co d d , . mpen a uma funo na . ' or ena as. Al m d1sso Introduzidas por conJunes M . ' ve-se q ue elas no so I . as quais as relaes se . b e as? A segunda orao traz - manncas esta d ecidas entre

    (" uma noao de concrajun - o I -mas o horrio nunca comb ") . a em re aao primeira d ma ' a terce1ra e a d eclarao anterior: "porq fu . . quarta mero uzem a causa da

    ue eu sou nc!On ( balh d . danarina" (trabalha noite) . no tra o e d ia) e "porque ela A pergunta que se fz : se as coordenadas " . d , . ,

    relaes de adio, contrajuno di . - assm eacas tambm veiculam as referir a elas quando as c . - , s~unao, causa e conseqncia, por que s se

    onJunoes estao exp ~ E ressas. por que no atentar para o furo

    Coordenao e subordinao 221

    de que uma mesma conjuno pode veicular relaes semnticas diversas? Vejam-se os significados que a mesma conjuno (classificada como "aditiva" tradicionalmente) imprime s oraes a seguir:

    )

    (40a) Fique debaixo desse ventilador [s voc apanha um resfriado daqueles)! (40b) .No consigo entender uma coisa: a Maria era to simptica [s ningum

    gostava dela].

    Enquanto em (40a) a conjuno "e" introduz uma relao de conseqncia, em (40b) a mesma conjuno veicula a relao de conrrajuno. Fica claro que no basta decorar a lista de conjunes normalmente localizadas em compartimentos estanques.

    Finalmente, retomando o exemplo em (3) como (41), preciso atentar para o faro de que coordenao e subordinao andam juntas. As duas oraes adjetivas (ou relativas) entre colchetes no exercem funo uma na outra (estando, pois, coordenadas entre si), m as esto ambas desempenhando uma funo em relao ao Ncleo do SN "turistas", a de relativas restritivas:

    (41) As duas turistas [que chegaram de Lisboa] e [(que} ficaram em minha casa] saram com dois rapazes brasileiros.

    Uma recomendao dos puristas, que pode ser acatada na escrita formal, quando se dispe de tempo para acertos e correes, que termos subordinados a outros, mas coordenados entre si, tenham a mesma forma, j que tm necessariamente a mesma funo. De fato, as duas subordinadas destacadas anteriormente e coordenadas entre si so ambas estruturas oracionais, exibindo a mesma forma. No exemplo, a segunda orao s se distingue da primeira pela possibilidade de deixar o pronome relativo da segunda apagado, uma propriedade permitida juscamenre pela coordenao. Entretanto, nem sempre essa recomendao seguida. Na fala e mesmo na escrita &eqeme a coordenao de constituintes, que, embora tenham a mesma funo, no exibem a mesma forma:

    (42) Ele era [um homem [muito rico] mas [que no pagava aos seus credores]].

    O SN entre colchetes, cujo ncleo "homem", aparece modificado pelo SAdj. "muito rico" e pela orao "que no pagava aos seus credores". Esses dois constituintes esto coordenados um ao outro pela conjuno "mas", guardando uma relao semntica de conrrajuno. Ambos esto subordinados a "homem" e funcionam como adjuntos adnominais: o primeiro aparece em forma simples; o segundo, em forma de orao, alis uma orao adjeciva (ou relativa}, o que j confirma o fato de des exercerem a mesma

  • 222 Ensino de gramtica

    funo. O que recomendam ento os que se preocupam com certos aspectos formais do texto? Que se regularize, que se tdme paralela sintaticamente a forma desses constituintes, transformando-os em dois sin~ adjetivais ou dois sintagmas oracionais:

    : '

    (43a) Ele era [um hom~ [SAdi muito rico] mas [SAdi mau p~or]]. (43b) Ele era [um homem [que tinha muito dinheiro] mas [{que) no pagava

    aos seus credores]]. .

    Por que e como ~nsinar Tal como foi dito no captulo anterior, o conhecimento de como a l1ngua

    funciona s6 pode enriquecer o cbnjunto de informaes que o aluno recebe na escola (e mesmo depois que de a deixa.! e ingressa na vida profissional). Este captulo fez um breve resumo das rdaes de co~rdenao e subordinao e, por isso mesmo, convida o professor, o aluno ou outro ~teressado a consultar nossas gr.uriticas. muito importante conhecer o que ~ os precursores dos estudos gramaticais. E, mais importante do que adotar esta pu aquela classificao, reconhecer que nenhuma delas d conta de toda a comple:xiclade envolvida nas llnguas humanas.

    No entanto, para que o esf:udo desses dois processos de organizao do perodo desperte, de .f.u:o, o interesse dos alimos, preciso que o professor parta de textos prximos do mundo que os cerca, desde ps textos literrios (incluindo as letras de msicas), passando pelos textos escolares - po s6 os rdativos l1ngua portuguesa- at os textos jomallsticos. preciso ainda ~ a lngua &lada; no aquela que a escrita tenta imitar, mas a f.da. de entrevistas com brasileiros "reais", de diferentes nJveis de escolaridade e tixas etrias, disponveis em si~ de inmeros projetos de pesquisa.'

    S6 por meio do texto (&lido e escrito) ser possvel verificar a freqncia com que esta ou aquela estrutul'. ap~ece, quais as conjunes que cal~ em desuso, quais as novas conjunes e fornias de articulao que se implementam no sistema, em que medida as relativas co~doras e copiadoras, de que tratamos brevemente, aparecem em textos mais formais~ Enfim, o aluno deve ser ainda levado a examinar a estrutura dos perodos no seu pr6prio texto, aprendendo a reconhecer os processos de que ele lana mo todas as vezes (em) que fla e escreve. E, sobretudo, o professor e o aluno devem ir alm da nomen4tura, das classificaes, que acabam:por levar a um aprisionamento que impede uma~ mais ntida da maneira pela qUal os termos se

    .- 'nP..tod orgaruzam em oraoes e estas no 1.r.u o e. I

    - 223'. Coordenao e subordlnaao

    Nota . "rdadva "tiva de mse (cf: Mateus cul., 2003.), que tall

    No foi includa no a:xto, ~ m~ c:o~~~ ~ tradi.opmatical,ser igualmente "desdobrada, c:omoanteeedcntctodaaonaopnnapal '! : rdabw restritiva: (i) Q presidente no mmp;m:cu l ~elo um an=:=t {m;~:noc:ompmccucerimllnia.fm~cksagradoua todos].

    ~ ~ .. fun _ da rao apositiva cm (i), isto t, funciona como um aposto Observe-se qw! o antceedcn~ ~ {u) ~~ tel' a ao o to semelhante ao apresentado nos cwnplos (26a..g).

    ual - ---..:..- --tnnva se arac;uw, um c:omponamcn ao q a onao JQ:ii.U., .. -

    Referncias bibliogrficas CARoNE, F. de B. Morfossintaxe. 3. ed. So Paulo: tica, 1991. -

    --~. Subordinao e coordenao: confrontos e contrastes. 3. ed. Sao Paulo: tica, 1993. ,. ... Rio de

    CUNHA, C. F. da; CINTRA, L. F. L. Nova gramtica do portugues contemporaneo. Janeiro: Nova Fronteira, 1985. ti" 1 l . - da .. nna nomenclatura grama ca . KURY, A. da G. Pequena gramtica para a exp zcaao ,,.,.,, 9. ed. rev. Rio de Janeiro: Agir, 1964. .

    MATEus, M. H. et ai. Gramtica da lngua portuguesa. Lisboa: ~aminho, 2003. MA. G 'fica descritiva do portugus. So Paulo: tica, 2005. . PERINI, rama ed Ri d J euo RocHA LIMA, C. H. da. Gramtica normativa da lngua portuguesa. 32. . o . e an .

    Jos Olyptpio, 1972.

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