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FIOCRUZ FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DA MULHER FERNANDA VAZ BUENO FAGUNDES ASPECTOS CLÍNICOS DOS PACIENTES COM IMUNODEFICIENCIA PRIMÁRIA SUBMETIDOS A TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro 2010

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FIOCRUZ

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA

MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DA MULHER

FERNANDA VAZ BUENO FAGUNDES

ASPECTOS CLÍNICOS DOS PACIENTES COM

IMUNODEFICIENCIA PRIMÁRIA SUBMETIDOS A

TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS EM

UM CENTRO DE REFERÊNCIA DO ESTADO DO RIO

DE JANEIRO

Rio de Janeiro

2010

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FIOCRUZ

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA

MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DA MULHER

FERNANDA VAZ BUENO FAGUNDES

ASPECTOS CLÍNICOS DOS PACIENTES COM

IMUNODEFICIENCIA PRIMÁRIA SUBMETIDOS A

TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS

HEMATOPOIÉTICAS EM UM CENTRO DE

REFERÊNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro

2010

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ASPECTOS CLÍNICOS DOS PACIENTES COM

IMUNODEFICIENCIA PRIMÁRIA SUBMETIDOS A

TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS

HEMATOPOIÉTICAS EM UM CENTRO DE

REFERÊNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FERNANDA VAZ BUENO FAGUNDES

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher do Instituto Fernandes Figueira para obtenção do grau de Mestre em Medicina.

Orientador: Profª. Drª. Maria Ignez Gaspar Elsas

Prof. Dr. José Marcos Telles da Cunha

Rio de Janeiro 2010

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FERNANDA VAZ BUENO FAGUNDES

ASPECTOS CLÍNICOS DOS PACIENTES COM

IMUNODEFICIENCIA PRIMÁRIA SUBMETIDOS A

TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS

HEMATOPOIÉTICAS EM UM CENTRO DE

REFERÊNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher do Instituto Fernandes Figueira para obtenção do grau de mestre em Medicina.

Orientador: Profª. Drª. Maria Ignez Gaspar Elsas Prof. Dr. José Marcos Telles da Cunha

Aprovada em 12 / 01 /2010

Rio de Janeiro

Janeiro 2010

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Aos meus queridos João e Gustavo.

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AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Fernandes Figueira, ao Centro de transplante de Medula Óssea

do Instituto Nacional de Câncer e aos seus respectivos corpos-docentes e técnico

administrativo, que viabilizaram a obtenção dos dados para esta dissertação de

mestrado.

Aos meus orientadores José Marcos e Maria Ignez pela dedicação,

paciência e carinho ao longo do desenvolvimento deste trabalho.

Aos professores e coordenadores da Pós-Graduação em Saúde da Criança

e da Mulher do IFF/FIOCRUZ, pelos ensinamentos prestados.

Aos membros da banca examinadora pela disponibilidade e pelas estimadas

contribuições ao nosso trabalho.

Aos meus amigos e colegas de mestrado, em especial as amigas Aniela e

Fernanda pelo incentivo nas horas mais difíceis.

Ao Núcleo de estudo e Pesquisa - NIEP- do Centro de Transplante de

Medula Óssea pela receptividade e pelo auxílio na coleta dos dados, em especial à

Karla Camacho, Kátia Magalhães e ao Dr. Alexandre Mello.

À Dra. Carmem Bonfim da Universidade Federal do Paraná pelo exemplo

profissional e pelo incentivo na elaboração deste trabalho.

Ao Dr. Luís Fernando Bouzas pela receptividade e pelas indispensáveis

orientações dadas ao longo da elaboração deste projeto.

Ao meu querido e amado filho João por sua constante alegria.

Ao meu querido marido e amigo pelo exemplo e irrestrito incentivo e apoio.

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Fagundes, F V B. Aspectos clínicos dos pacientes com imunodeficiencia primária submetidos a transplante de células progenitoras hematopoiéticas em um centro de referência do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro; 2010. 110 f. Dissertação [Mestrado em Saúde da Criança e da Mulher] – Instituto Fernandes Figueira / Fundação Oswaldo Cruz.

RESUMO Objetivos: Descrever os aspectos clínicos dos pacientes com diagnóstico confirmado de Imunodeficiência Primária transplantados no Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional de Câncer entre 2000 a 2008. Metodologia: Estudo transversal descritivo retrospectivo através da revisão dos prontuários dos pacientes. Foram incluídos todos os pacientes com o diagnóstico de IDP transplantados entre 2000-2008. Resultados: Foram incluídos no estudo os 9 pacientes transplantados no período, sendo que 1 paciente realizou 2 transplantes, totalizando 10 transplantes realizados e analisados. A amostra tinha 8 (80%) pacientes do sexo masculino e 2 (20%) do sexo feminino, tendo 3 (30%) pacientes o diagnóstico de Chediak-Higashi, 3 (30%) tinham Síndrome de Wiskott- Aldrich, 2 (20%) tinham Imunodeficiência Combinada Grave, 1 (10%) tinha Síndrome de Kostmann e 1 (10%) Síndrome de Omenn. A idade média da realização do transplante foi de 39,7 meses (12-90 meses). A cidade do Rio de Janeiro foi a origem de 8 (80%) pacientes. O centro que mais encaminhou pacientes para transplante foi o IPPMG-UFRJ, representando 60% dos encaminhamentos. Dos 10 transplantes analisados, 5 (50%) apresentavam co-morbidades na fase pré-transplante; apenas 1 (10%) transplante foi realizado em paciente com história de consangüinidade; 8 (80%) transplantes foram realizados em pacientes sem história de imunodeficiência primária, 6 (60%) tinham história familiar de óbitos prematuros; 4 (40%) tinham história familiar de infecções de repetição. Na história pregressa, observamos que 3 (30%) estiveram internados em CTI; todos os pacientes estiveram internados em algum momento previamente ao transplante, sendo que 6 tinham história de até 3 internações. A reação adversa ao BCG foi observada em 3 (33,3%) pacientes transplantados que receberam a BCG. Na fase pré transplante foi observado a presença de infecção em 6 (60%) pacientes, 6 (60%) pacientes estavam eutróficos e a sorologia para citomegalovírus (CMV) foi positiva em 7 pacientes. A hemotransfusão prévia ao transplante foi realizada em 9 (90%) transplantes e a reposição de imunoglobulina era realizada em 8 pacientes previamente ao trasnplante. A medula óssea (MO) foi a fonte de células progenitoras hematopoiéticas em 3 (30%) transplantes e o sangue de cordão e placentário (SCUP) foi a fonte em 7 (70%) transplantes; 5 receberam enxerto HLA 6/6, 5 receberam enxerto parcialmente compatível, sendo 1 (10%) HLA 5/6 e 4 (40%) HLA 4/6. A média de células nucleadas totais infundidas por Kg de peso foi de 15,39 x107, a concentração média de células CD34+ infundidas por kilograma de peso nos pacientes que receberam SCUP foi de 2,38x105. O regime de condicionamento utilizado foi o mieloablativo em 6 (60%) transplantes e reduzido (RIC) em 4 (40%) transplantes. A profilaxia para Doença-enxerto-contra- hospedeiro (DECH) foi realizado em 9 transplantes, apenas 1 paciente com imunodeficiência combinada grave (SCID T-B+NK-) não recebeu a profilaxia. O tempo médio de espera entre o cadastro no Registro de Receptores de Medula óssea (REREME) e o transplante foi de 9.8 meses (4 meses- 17 meses). A DECH aguda ocorreu em apenas 1 (10%) transplante; o tempo médio de pega de plaquetas foi de 80,28 dias, variando de 0 a

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408 dias e o tempo médio de pega de neutrófilos foi de 15,87 dias. A DECH crônica ocorreu em 4 (40%) pacientes transplantados. Dos 9 pacientes analisados, 4 (44,4%) pacientes estavam vivos ao final deste estudo. O tempo médio de vida entre o transplante e o óbito foi de 80,8 dias, variando de 12 a 320 dias. Todos faleceram em função de complicações infecciosas. O escore de Lansky foi aplicado em todos os pacientes vivos e o valor médio foi de 92,5 (90-100). Os resultados encontrados de modo geral espelharam o que é descrito pela literatura, algumas correlações foram observadas e, apesar de não terem demonstrado significância estatística, orientam futuros estudos. Este trabalho representa o primeiro passo, ele é o retrato da experiência de um centro de referência do Estado do Rio de Janeiro e apresenta a realidade não de todos, mas da maioria dos pacientes com Imunodeficiência Primária transplantados na cidade do Rio de Janeiro. Palavras-chave: 1.Sindromes de Imunodeficiência. 2.Transplante de células tronco hematopoiéticas. 3.Transplante de Medula Óssea.

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Fagundes, F V B. Clinical features of patients with Primary Immunodeficiency submitted to hematopoietic stem cell transplants at a reference center of bone marrow transplantation of Rio de Janeiro. . Rio de Janeiro; 2010. 110 f. Dissertação [Mestrado em Saúde da Criança e da Mulher] – Instituto Fernandes Figueira / Fundação Oswaldo Cruz.

ABSTRACT Objectives: To describe the clinical features of the patients with the Primary Immunodeficiency Disease (PID) transplanted at Centro de Transplante de Medula óssea do Instituto Nacional de Câncer between 2000 and 2008. Methodology: Retrospective analysis by the review of medical records of all patients with PID transplanted between 2000 and 2008. Results: Nine patients were included; ten transplants were analysed, because 1 patient received 2 transplants. Seven patients were male and 2 were female. The distributions of the diagnostic were: 2 with Chediak-Higashi syndrome, 3 with Wiskott-Aldrich syndrome, 2 with Severe Combined Immunodeficiency Disease (SCID), 1 with Kostmann syndrome and 1 with Omenn syndrome. The age at the transplant ranged from 12 – 90 months with the average of 39.7 months. The city of Rio de Janeiro was the origin of the 8 patients. The hospital that more referred patients to the CEMO was Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG-UFRJ), representing 60% of the referrals. Five patients reported co-morbidity; 1 patient reported consanguinity and 1 reported family history of PID. Six had familial history of early death and four had familial history of repeated infections. We observed that 3 patients were in the Intensive Care Unit and six had history of more than 3 hospitalizations in the past. Adverse reaction of BCG vaccination was observed in 3 patients. Four patients received BCG. In pre-transplant assessment, six patients had active infection, 6 were eutrophics and 7 had positive serology for CMV. Blood transfusions pre-transplant were observed in 9 patients. Bone marrow was the source of hematopoietic stem cell in 3 transplants and the umbilical cord blood was the source in the 7 transplants. Five transplants received transplants with HLA 6/6, 1 received one with HLA 5/6 and 4 received a transplant with HLA 4/6. The average of the total nucleate cells transplanted per kilograma of weight was 15.39 x 107 cells/Kg and the average of CD34+ cells infused per kilograma of weight was 0.24 x106 cells/Kg. The conditioning regimen was myeloablative in 6 transplants and nonmyeloablative or reduced intensity regimen (RIC) in 4 transplants. The prevention of Graft-versus-Host-Disease (GVHD) was performing in 9 transplants, only 1 patient with atypical phenotype of SCID (T-B+NK-) did not received prevention of GVHD. The average time between the register in the Brazilian National Bone Marrow Donors Registry and the transplant was 9.8 months, range from 4 months to 17 months. The acute GVHD occurred in only 1 patient; the average the time of engraftment of neutrophils was 15.87 days and the platelet was 80.28 days, ranging from 0 to 408 days. From 9 patients analyzed, 4 patients were alive in the end of study. The average time of life between the transplants the death was 80.8 days, ranging from 12 to 320 days. The main cause of death was infection. The Lansky score was performing in the all alive patients and average was 92,5 (90-100). Conclusions: The results were alike to the articles of the specific literature, many correlations were observed, unless they were not statistical significant, these correlations may signalize for future studies. This study is the first step for understanding of reality of PID in Brazil; it represents Rio de Janeiro, which is the second city in Brazil. Many we have

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to know about the circulation of these patients in our health system and only the knowledge of the reality will help us with this work. Key words: 1.Immunologic deficiency syndromes. 2. Hematopoietic stem cell transplantation. 3. Bone Marrow Transplantation.

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS .............................................................................. XV

1 INTRODUÇÃO ................................................................................. 1

2 JUSTIFICATIVA ............................................................................... 3

3 QUADRO TEÓRICO ...................................................................... 10

3.1 IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS ........................................................... 10

3.1.1 Conceito e Classificação ........................................................................ 10

3.1.2 Imunodeficiências Combinadas .............................................................. 14

3.1.3 Outras Síndromes de Imunodeficiência bem definidas........................... 21

3.1.4 Doenças da Desregulação Imune .......................................................... 25

3.1.5 Defeitos congênitos do número e ou função dos fagócitos .................... 28

4 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITOR AS HEMATOPOIÉTICAS EM IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA ........ 32

4.1 HISTÓRICO E CONISDERAÇÕES GERAIS .............................................. 32

4.2 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS EM IMUNODEFICIÊNCIA COMBINADA GRAVE (SCID): ........................................................................................... 42

4.3 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS NA SÍNDROME DE WISKOTT-ALDRICH ............... 44

4.4 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS NA SÍNDROME DE KOSTMANN ............................ 46

4.5 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS NA SÍNDROME DE CHEDIAK-HIGASHI ................. 47

5 OBJETIVO GERAL ........................................................................ 49

6 MATERIAL E MÉTODOS .............................................................. 50

6.1 DESENHO DO ESTUDO ............................................................................. 50

6.2 LOCAL DO ESTUDO .................................................................................. 50

6.3 AMOSTRA ................................................................................................... 50

6.4 VARIÁVEIS .................................................................................................. 52

6.5 PROCESSAMENTO DE DADOS ................................................................ 53

6.6 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................... 53

7 QUESTÕES ÉTICAS ..................................................................... 54

8 RESULTADOS ............................................................................... 55

8.1 DISTRIBUIÇÃO POR GÊNERO .................................................................. 57

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8.2 ORIGEM DOS PACIENTES ........................................................................ 57

8.3 ORIGEM DO ENCAMINHAMENTO ............................................................ 57

8.4 DIAGNÓSTICO PRINCIPAL........................................................................ 58

8.5 COMORBIDADES ....................................................................................... 59

8.6 CONSANGUINIDADE ................................................................................. 59

8.7 HISTÓRIA FAMILIAR .................................................................................. 59

8.8 INTERNAÇÕES PRÉVIAS .......................................................................... 60

8.9 HISTÓRIA DE REAÇÃO ADVERSA AO BCG ............................................ 61

8.10 FASE PRÉ TRANSPLANTE........................................................................ 62

8.11 FONTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS E COMPATIBILIDADE HLA ........................................................................... 64

8.12 HEMOTRANSFUSÃO E USO DE IMUNOGLOBULINA ENDOVENOSA PRÉ-TRANSPLANTE ....................................................... 67

8.13 REGIME DE CONDICIONAMENTO ............................................................ 67

8.14 PROFILAXIA PARA DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO ........ 69

8.15 TEMPO DE ESPERA ENTRE O CADASTRO NO REGISTRO DE RECEPTORES DE MEDULA ÓSSEA E O TRANSPLANTE ...................... 70

8.16 DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO AGUDA ............................ 70

8.17 RECONSTITUIÇÃO IMUNOLÓGICA: TEMPO DE PEGA DE PLAQUETAS E NEUTRÓFILOS ................................................................. 71

8.18 DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO CRÔNICA......................... 72

8.19 DESFECHO ................................................................................................. 74

9 DISCUSSÃO .................................................................................. 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 93

ANEXOS ............................................................................................ 104

APÊNDICES ...................................................................................... 105

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LISTA DE SIGLAS

AD Herança autossômica dominante

ADA Adenosina deaminase

ALPS Síndrome Linfoproliferativa Autoimune

AR Herança autossômica recessiva

A-T Ataxia-telangiectasia

ATG Globulina anti-timócito

ATM Ataxia-Telangiectasia mutado

BAFFr Receptor de fator ativador de célula B

BCG Bacilo de Calmette-Guèrin

BRAGID Grupo Brasileiro de Imunodeficiência

Btk Tirosina cinase de Bruton

C1INH Inibidor de C1-esterase

CASP Caspase

CD Cluster de diferenciação

CDC Centro de prevenção e controle de doenças

CEMO Centro de transplante de medula óssea

CINCA Síndrome Neurológica, cutânea e articular crônica infantil

CMV Citomegalovírus

DECH Doença –enxerto- contra- hospedeiro

DGC Doença granulomatosa crônica

EBV Vírus Epstein- Barr

EDA-ID Displasia ectodérmica hipoidrótica com imunodeficiência

ESID Sociedade Européia de Imunodeficiências

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FACS Síndrome autoinflamatória ao frio familiar

G-CSF Fator estimulador de colônia de neutrófilos

HLA Antígeno de Histocompatibilidade

IDCV Imunodeficiência Comum variável

IDP Imunodeficiência Primária

IFF Instituto Fernandes Figueira

Ig Imunoglobulina

IL Interleucina

INCA Instituto Nacional de Câncer

INF Interferon

IPPMG Instituto de Pediatria Martagão Gesteira

IRAK4 Cinase associada ao receptor IL-1

IVIG Imunoglobulina intravenosa

JAK Cinase da família Janus

LAD Deficiência de adesão leucocitária

LAGID Grupo Latino americano para o estudo das

Imunodeficiências

LES Lúpus eritematoso sistêmico

LMA Leucemia mielóide aguda

MAC Complexo de ataque a membrana

MHC Complexo principal de histocompatibilidade

MMRD Doador não compatível aparentado

MMUD Doador não compatível não aparentado

MRD Doador compatível aparentado

MSHS Gene que codifica a região do MHC de classe II

MUD Doador compatível não aparentado

MWS Síndrome de Muckle-Wells

NBT Nitrobluetetrazolium

NEMO Modulador essencial de NF-ᴋB

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NF-ᴋb Fator nuclear ᴋB

NIH Natural Institutes of Health

NK Natural Killer

NOMID Doença Inflamatória Multissistêmica do início neonatal

PEG-ADA Monotoxipolietilenoglicol Adenosina Deaminase

PFAPA Síndrome de Febre Periódica, Adenite cervical, Faringite e

Aftas

PHA Fitohemaglutinina

PPD Derivado protéico purificado

RAG Gene ativador de recombinase ácido ribonucléico

RIC Regime de condicionamento reduzido

SCID Imunodeficiência Combinada Grave

SCUP Células progenitoras de sangue de cordão umbilical e

placentário

SIC Síndrome de Instabilidade cromossômica

SUS Sistema Único de Saúde

TACI Transmenbrana activator and CAML interactor

TCTH Transplante de células progenitoras hematopoiéticas

TLR Receptor Toll-like

TMO Transplante de Medula Óssea

TNF Fator de necrose tumoral

TRAPS Síndrome periódica associada ao receptor de fator de

necrose tumoral

UFRJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

USP Universidade do Estado de São Paulo

WAS Síndrome de Wiskott-Aldrich

WASp Proteína da Síndorme de Wiskott-Aldrich

WHIM Síndrome de verrugas, hipogamaglobulinemia, infecções e

mielocatexia.

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VNTR Variable number tanden repeat – Padrões repetitivos

individuais de sequências de DNA

XL Herança ligada ao cromossoma X

XLA Agamaglobulinemia ligada ao cromossoma X.

XLP Síndrome Linfoproliferativa ligada ao X

XLT Trombocitopenia ligada ao cromossoma X

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1 INTRODUÇÃO

As Imunodeficiências Primárias (IDP) compreendem um grupo heterogêneo

de doenças hereditárias caracterizadas por uma resposta imune funcionalmente

alterada ou inexistente. As manifestações clínicas são muito variadas, mas quase

todas se apresentam com algum padrão de infecção de repetição. As infecções, por

sua vez, variam na gravidade e no perfil etiológico. O diagnóstico e a instituição de

tratamento precoces são capazes de melhorar sobremaneira a qualidade e o tempo

de vida destes pacientes. As IDP são doenças monogênicas, com padrão de

herança variável, podendo ser ligado ao cromossomo X, autossômico recessivo ou

dominante, ou resultantes de mutações novas (Bonilla e Geha, 2003), algumas não

seguem um único padrão de herança, mas são claramente influenciadas por fatores

genéticos (Stiehm et al., 2004).

Desde a primeira descrição, em 1926, de um paciente com ataxia-

telangiectasia por Syllaba e Hener (apud Shearer e Fisher, 2006) e o primeiro relato

de reposição de imunoglobulina por Bruton, em 1952, muito se avançou no

conhecimento da fisiopatologia das IDP ao longo destes anos. Um maior

conhecimento das bases moleculares e genéticas das IDP permitiu um avanço no

arsenal terapêutico para estes pacientes. Atualmente, temos no transplante de

progenitores hematopoiéticos (TCTH) e na terapia gênica (Chinen e Puck, 2004;

Qasim et al., 2009) opções de tratamentos curativos, sobretudo para os casos mais

graves, nos quais as reposições de imunoglobulina e a antibioticoprofilaxia não são

suficientes para manter o paciente livre de infecções e de suas complicações.

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2

A terapia gênica tem alcançado bons resultados ao longo dos anos,

sobretudo nos pacientes com Imunodeficiência combinada Grave (SCID) por

deficiência de Adenosina Deaminase (ADA) (Aiuti et al., 2009; Kohn e Candotti,

2009). Os estudos com os pacientes com SCID ligado ao X, entretanto,

evidenciaram o desenvolvimento de leucemias de células T pós-terapia gênica. Os

mecanismos responsáveis pela ativação dos oncogenes já foram elucidados de

modo que os estudos atuais avaliam os mecanismos capazes de limitar ou evitar

esta mutagênese (Qasim et al., 2009). Os estudos atuais apontam que futuramente

esta poderá ser uma opção segura e efetiva para os pacientes com IDP, sobretudo

para aqueles sem doador compatível.

As IDP representam um amplo espectro de doenças, as mais graves são

fatais se não tratadas precoce e adequadamente. O TCTH é atualmente a primeira

opção terapêutica deste grupo de pacientes e deve ser realizado o mais

precocemente possível. Para tanto, o diagnóstico precoce e um sistema de

rastreamento de doadores eficiente são peças fundamentais no manejo destes

pacientes, comprometendo em muitas situações o desfecho destes pacientes.

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2 JUSTIFICATIVA

As imunodeficiências primárias são doenças hereditárias que têm como

característica marcante a alteração dos mecanismos normais de defesa do

hospedeiro, acarretando uma maior suscetibilidade às infecções e, em muitos casos,

às neoplasias e doenças auto-imunes (Buckley, 2002). Na grande maioria das

vezes, as IDP se manifestam precocemente e são responsáveis por aumento

significativo da morbi-mortalidade destes pacientes.

O diagnóstico precoce das imunodeficiências primárias é essencial, pois

permite uma redução tanto das complicações inerentes às múltiplas infecções e

internações quanto da mortalidade associada a estas doenças, além de permitir, nos

casos com indicação, a realização de transplante de células-progenitoras

hematopoiéticas (Buckley, 2006). O período entre o início dos sintomas e o

diagnóstico de IDP é crítico: quanto mais precoce for o diagnóstico maior a chance

de sobrevida destes pacientes, sobretudo naqueles pacientes portadores de SCID

(Elder, 2000; Muller e Friedrich, 2005). A capacidade do serviço de saúde em

identificar os possíveis pacientes com IDP está diretamente relacionada com a

disponibilidade de recursos humanos e tecnológicos (Stiehm et al., 2004).

A Fundação Jeffrey Modell, em colaboração com a Cruz Vermelha

Americana, identificou e divulgou os “10 sinais de alerta” das imunodeficiências

primárias (htpp://www.jmfworld.org), conforme apresentado na figura 1. A presença

de mais de um desses sinais aponta para a investigação mais apurada do paciente

em questão. Esses critérios foram adaptados para a população brasileira pela

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Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI), pela Sociedade

Brasileira de Pediatria (SBP) e pelo Grupo Brasileiro de Estudos de

Imunodeficiências Primárias (BRAGID) (http://www.imunopediatria.org.br). Este

documento conjunto tem sido divulgado essencialmente junto à classe médica,

porém existem poucas informações divulgadas a respeito do alcance desta iniciativa.

Figura 1 Sinais de alerta para investigação de imunodeficiência primária

A realização e a divulgação destes sinais de alerta tem como objetivo alertar

os profissionais de saúde para a possibilidade do diagnóstico e, por conseqüência,

possibilitar a identificação precoce dos casos. A confirmação da hipótese diagnóstica

pode, em alguns casos, ser feita com exames pouco complexos como o hemograma

e a dosagem sérica das imunoglobulinas, mas em muitas outras situações

necessitam de exames mais sofisticados disponíveis em poucos centros no Brasil.

Atualmente temos descritas mais de 150 tipos diferentes de IDP e mais de 120

genes distintos foram identificados e relacionados com estas diferentes

Os 10 sinais de Alerta para Imunodeficiência Primária na Criança:

1. Duas ou mais Pneumonias no último ano

2. Quatro ou mais novas Otites no último ano

3. Estomatites de repetição ou Monolíase por mais de 2 anos

4. Abscessos de repetição ou ectima

5. Um episódio de infecção sistêmica grave (meningite, osteoartrite,

septicemia)

6. Infecções intestinais de repetição / diarréia crônica

7. Asma Grave, Doença do colágeneo ou Doença auto-imune

8. Efeito adverso ao BCG e ou infecção por Micobactéria

9. Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada a Imunodeficiência

10. História Familiar de Imunodeficiência

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5

imunodeficiências (Geha et al., 2007).

A disponibilidade e o acesso aos serviços de diagnóstico das

imunodeficiências primárias no Brasil são deficitários. Internacionalmente, estas

doenças são consideradas de relevância para o sistema de saúde público

(Lindegren et al., 2004) de maneira que se organizaram e formaram grupos de

estudos e centros de referência para o diagnóstico e o cuidado destes pacientes

(Zelazco et al., 1998; Espanol et al., 2005). No caso do município do Rio de Janeiro

e cidades vizinhas, a situação não difere do restante do país. Inexistem laboratórios

em instituições públicas capazes de fornecer para a clientela do SUS os exames

especializados necessários para o diagnóstico e a diferenciação entre as doenças.

Hospitais terciários como o Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira

(IPPMG) ou o Instituto Fernandes Figueira (IFF) que possuem programas

consolidados de treinamento em imunologia clínica não possuem estrutura

adequada para atender as demandas destes pacientes. No dia 22 de dezembro do

ano de 2005 foi publicada uma portaria do Ministério da Saúde que estabelece o

Instituto Fernandes Figueira, unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz,

como Referência Nacional para o Ministério da Saúde na Área da saúde da mulher,

criança e adolescente para o desenvolvimento de várias ações de saúde, dentre

estas a Articulação e Assessoria à rede nacional para o cuidado dos pacientes com

imunodeficiência primária. Este foi um grande passo dado em benefício dos

pacientes portadores de imunodeficiência primária, pois a formação de uma rede

nacional de diagnóstico e acompanhamento destes permite o uso racional e eficaz

dos serviços de saúde pública.

As imunodeficiências primárias provavelmente têm um grande impacto na

saúde pública apesar de apresentarem uma casuística relativamente pequena

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(Buckley, 2004; Orange et al., 2006). Cabe salientar que a real prevalência de das

IDP no Brasil é desconhecida, muitos falecem no período perinatal antes do

diagnóstico ser realizado. Atualmente, discute-se internacionalmente a

implementação de um teste de triagem para a identificação precoce dos pacientes

portadores de SCID, pois se sabe que a única alternativa bem estabelecida

cientificamente para estes pacientes é o transplante de células-progenitoras

hematopoiéticas realizado, de preferência, antes do estabelecimento das infecções

(Puck, 2007). Os portadores de imunodeficiência primária são pacientes crônicos,

que necessitam de acompanhamento regular e especializado (Chinen et al., 2007).

A American Academy of Asthma, Allergy & Immunology preconiza a avaliação

regular e freqüente destes pacientes por imunologistas clínicos experientes, visando

identificar precocemente infecções e doenças auto-imunes ou malignas (Espanol et

al., 2005).

As IDP com indicação de TCTH são a SCID, a Síndrome de Wiskott-Aldrich,

Síndrome de Omenn, a Deficiência de adesão leucocitária, Deficiência de expressão

de moléculas do Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC), Síndrome de

Chediak-Higashi, a doença granulomatosa crônica (DGC), Síndrome de Di George, e

a Síndrome de Hiper-IgM, dentre outras (Buckley, 2004). Embora uma parcela dos

pacientes com IDP possa evoluir satisfatoriamente com as profilaxias, é sabido que

a evolução em longo prazo é insatisfatória, pois muitos falecem devido às

complicações das infecções, às seqüelas inflamatórias ou a malignidade (Gennery e

Cant, 2008). Um transplante de células progenitoras hematopoiéticas com sucesso

geralmente leva à cura e, para a maioria destes pacientes, a profilaxia regular e em

longo prazo pode ser interrompida, otimizando sobremaneira a qualidade de vida

destes (Geha et al., 2007).

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7

A década subseqüente aos dois bem sucedidos transplantes de medula

óssea em 1968 (Buckley, 2004) foi marcada por vários procedimentos infrutíferos,

em função da pouca disponibilidade de doadores relacionados com antígenos

principais de histocompatibilidade (HLA) idênticos. A primeira publicação em 1977

dos resultados dos transplantes de medula óssea em pacientes com SCID

demonstrou que apenas 14 dos 69 pacientes com SCID transplantados em todo o

mundo estavam vivos na época (Bortin e Rimm, 1977). Em 1980, Reisner e

colaboradores demonstrou que a remoção de grande parte das células T maduras

da medula haplo-idêntica (half-matched), de doador aparentado, permitia a

reconstituição imune adequada em pacientes com SCID, sem doença enxerto-

contra-hospedeiro (DECH) subseqüente. Após esta demonstração, esta abordagem

foi aplicada com sucesso no tratamento dos pacientes com SCID até por volta do

ano 2000 (Buckley, 1986; Porta et al., 2008), atualmente sabe-se que os casos de

transplantes de doadores não aparentados compatíveis representam a fonte

principal de células progenitoras e resultam em uma sobrevida maior que 80% (Porta

et al., 2008). A Imunodeficiência Combinada Grave (SCID) e a Síndrome de Wiskott-

Aldrich (WAS) respondem pela grande maioria dos transplantes de células

progenitoras em IDP (Horwitz, 2000).

Vários fatores têm contribuído pela melhora da sobrevida destes pacientes

como o refinamento na tipagem molecular do HLA, um regime de condicionamento

de intensidade reduzida, melhora na detecção e no tratamento das infecções virais e

fúngicas, novos tratamentos para a doença enxerto-contra-hospedeiro (DECH) e

para a doença veno-oclusiva, aumento do uso de sangue de cordão umbilical e

placentário (SCUP) como fonte de células-progenitoras e a possibilidade de

manipulação do enxerto com o enriquecimento em células-progenitoras

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hematopoiéticas, infusão de progenitores alogeneicos depletados de células T e a

infusão de células T citotóxicas específicas contra antígenos virais (Gennery e Cant,

2008).

Dados nacionais oficiais sobre o acesso dos pacientes com IDP ao TCTH

são inexistentes, poucos centros brasileiros realizam TCTH em imunodeficientes e

nenhum ainda é considerado referencia nacional para tal. A Universidade Federal do

Paraná é o centro com o número maior de pacientes com IDP transplantados até o

momento, cerca de 40 pacientes, segundo a apresentação da Dra. Carmem Bonfim

na I Conferencia Nacional sobre Imunodeficiência realizada em 2006. O CEMO-

INCA realizou 10 transplantes em pacientes com IDP. O estabelecimento de uma

rede de cuidado ao paciente com IDP deve incluir o estabelecimento de centros com

estrutura para a realização destes transplantes. A parceria INCA-FIOCRUZ, inclui

dentre outros objetivos, a implantação de um centro de referência para transplante

de células progenitoras hematopoiéticas em pacientes com IDP. Apenas o

conhecimento da realidade do atendimento aos pacientes com IDP pelos serviços de

saúde que permitirá a identificação de possíveis falhas e a implementação de

políticas públicas de saúde mais efetivas.

O presente estudo teve a proposta de mapear a trajetória dos pacientes com

IDP transplantados no CEMO-INCA, centro de referência no tratamento de doenças

hematológicas no Brasil, e auxiliar, através da obtenção de dados objetivos, na

elaboração da rede de cuidado aos pacientes com IDP. Os dados foram limitados ao

Rio de Janeiro e ao CEMO e, portanto, não são dados nacionais. Nenhum artigo até

o presente estudo foi publicado sobre este assunto. A adequada estruturação da

rede de cuidado ao paciente com IDP depende do conhecimento da história natural

destes pacientes e para tal o estudo mostrou-se de grande valia. A análise

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estatística ficou por vezes prejudicada, muito provavelmente pelo número limitado de

pacientes, mas apontou para a necessidade de outros estudos, multicêntricos para

uma melhor avaliação de algumas variáveis. A qualidade dos dados colhidos sofreu

a interferência da qualidade das informações contidas nos prontuários, pois todas

informações analisadas se restringiram às registradas nos prontuários dos

pacientes.

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3 QUADRO TEÓRICO

3.1 IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS

3.1.1 Conceito e Classificação

As imunodeficiências Primárias (IDP) são doenças hereditárias

caracterizadas por alterações no sistema imune do indivíduo que predispõe a

infecções de repetição e/ou a infecções persistentes por germes oportunistas. São

consideradas raras e estima-se que ocorrem entre 1 para 10000 nascidos vivos até

1 para 2000 nascidos vivos (Bonilla e Geha, 2003). Dados sobre a incidência das

IDP baseados em estudos populacionais estão escassos na literatura, as

informações disponíveis são na sua maioria derivados de registros de pacientes

coletados de diferentes fontes. Nos Estados Unidos da América, o centro que

coordena e analisa as informações do país é a Fundação de Imunodeficiência (IDF).

Em 1995, este centro conduziu um estudo nacional transversal com

aproximadamente 17000 imunologistas e escolas de medicina com o objetivo de

descrever as características destes pacientes e avaliar os possíveis problemas

relacionados ao acesso ao tratamento. Aproximadamente 1500 médicos reportaram

cuidar de cerca de 21000 pacientes com IDP (Lindegren et al., 2004). A Sociedade

Européia de Imunodeficiência (ESID) coleta dados de aproximadamente 25 países

europeus. No Brasil não se tem estudos da real prevalência destas doenças, estima-

se que haja um alto índice de sub-notificação, uma vez que os casos mais graves,

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evoluem para óbito caso não seja instituída a terapêutica precocemente. Muitas

vezes estes casos não são acessíveis para estudos epidemiológicos retrospectivos

(dados secundários) porque os óbitos são relacionados a causas imediatas de

mortalidade (sepse, por exemplo), sem qualquer vinculação a IDP de base.

A ESID mantêm um banco de dados atualizado do perfil clínico destas

doenças nos centros participantes da sociedade. O número de pacientes com IDP

documentados por 55 centros até 20 de novembro de 2008 foi de 7403, sendo que o

país que tem o maior número de casos é a França, com 2802 pacientes com IDP,

seguida da Itália (Registro Nacional Italiano –AIEOP - 584 pacientes com IDP) e da

Turquia (Turkey Bursa-Gorukle - 568 pacientes com IDP). As Imunodeficiências

predominantemente Humorais respondem por 54,38% dos diagnósticos, a outras

IDP bem definidas por 17,45%, as doenças de fagócitos por 12,59%, as

predominantemente de células T por 9,02%, as IDP não classificadas por 2,19%, as

doenças do complemento por 2,01%, as autoimunes e síndromes de desregulação

imune por 1,32%, e as doenças autoinflamatórias por 1,03% do total de IDP

diagnosticadas nos 55 centros integrantes do ESID. O número total de pacientes

vivos é de 6675, dentro de um universo de 7403 pacientes diagnosticados até 2008.

Destes, 32% estão fazendo reposição de imunoglobulina endovenosa e em 10,02%

do pacientes a reposição de imunoglobulina já é feita por via subcutânea.

Atualmente, 21,96%, ou seja, a maioria dos pacientes vivos com IDP têm entre 5 e 9

anos; 19,37% estão entre 10-15 anos, 13,18% estão entre 20-29 anos, 12,30%

estão abaixo dos 5 anos e 5,33% destes pacientes estão acima de 59 anos.

Em 1997, Grumach e colaboradores publicaram a primeira casuística sobre

os pacientes portadores de IDP no Brasil durante um período de 15 anos de

acompanhamento. Este estudo identificou 116 pacientes com diagnóstico de IDP em

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acompanhamento no Instituto da Criança da Universidade de São Paulo (USP). Os

defeitos predominantemente humorais representaram 60,8% dos casos. A

deficiência de IgA foi a doença mais freqüente (n=60) seguida da

hipogamaglobulinemia transitória da infância (n=14). Infecções foram a causa da

morte em 12,7% dos casos de óbito, sintomas alérgicos foram observados em 41%

dos casos, sobretudo nos pacientes com deficiência de IgA. Dos 116 pacientes,

cinco tiveram infecção disseminada pelo BCG e, destes, dois faleceram. Em 1993,

pesquisadoras da Argentina, Brasil, Chile e Colômbia fundaram o Grupo Latino

Americano de Imunodeficiências Primárias (LAGID). Atualmente o LAGID inclui

profissionais de 14 países e, segundo a última publicação de Leiva e colaboradores

(Leiva et al., 2007), os pesquisadores envolvidos no estudo relataram um total de

3321 pacientes diagnosticados como portadores de IDP. Destes, 53,2% são de

defeitos predominantemente de anticorpos, sendo que a deficiência seletiva de IgA é

a mais freqüente. Segundo estes autores o número total de pacientes registrados

não reflete a real prevalência destas doenças, muito em função das dificuldades

encontradas pelos países da América Latina no diagnóstico destas. Outros países e

ou regiões têm se organizado com o objetivo de criarem registros locais dos

pacientes com IDP (Knerr e Grimbacher, 2007). A importância destes como fonte de

informações para programas de saúde pública é inquestionável, sobretudo nas IDP

que são doenças pouco prevalentes, que ainda não foram totalmente elucidadas do

ponto de vista fisiopatológico e que são responsáveis por uma alta morbi-

mortalidade. Sabe-se que muitos pacientes falecem sem que o diagnóstico seja

sequer pensado.

A possibilidade do diagnóstico de IDP precisa estar na mente dos médicos

que os atendem inicialmente, pois como já discutido, o diagnóstico precoce

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possibilita redução tanto das seqüelas, quanto da mortalidade nos casos graves,

possibilitando, nos casos apropriados, a realização do transplante de células-

progenitoras hematopoiéticas.

Segundo a classificação publicada em 2007 pela International Union of

Immunological Socities Primary Immunodeficiency Diseases Classification Commitee

- (Geha et al., 2007), as IDP podem ser divididas em 8 grandes grupos:

1. Imunodeficiências Combinadas T e B

2. Imunodeficiências predominantemente de anticorpos

3. Outras Síndromes de Imunodeficiência bem definidas

4. Doenças da desregulação Imune

5. Defeitos congênitos no número, função de fagócitos (ou em ambos)

6. Defeitos na Imunidade Inata

7. Doenças auto- inflamatórias

8. Deficiências do complemento

Neste texto, discutiremos os grupos que incluem as doenças analisadas pelo

estudo, como a SCID, SWA e as Síndromes de Chediak-Higashi, Omenn e

Kostmann. A figura 2 apresenta esquematicamente as etapas da formação dos

elementos do sistema imune e localiza a posição das diversas doenças incluídas no

grupo das IDP.

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Legenda: Bone marrow: medula ósse; Periphery: periferia; Lymphoid lineages: linhagem linfóide; Myeloid lineages: linhagem mielóide; Negative selection: seleção negativa; Receptor editing: Formação de receptores; Class-switch recombination: mudança de classe; somatic hypermutation: hipermutação somática; Plasma cell: plasmócito; Memory B cell: célula B de memória. Figura utilizada com autorização do autor.

Figura 2

3.1.2 Imunodeficiências Combinadas

As IDP combinadas representam um grupo heterogêneo de distúrbios

congênitos da imunidade, decorrentes de alterações da diferenciação dos linfócitos

T, podendo acometer, em algumas doenças, os linfócitos B, as células NK e mesmo

a série mielóide. Este grupo representa as formas mais graves de IDP, em função do

papel central das células T na indução e modulação das respostas imunes

específicas. Os indivíduos afetados apresentam, já nos primeiros meses de vida,

episódios freqüentes de diarréia, pneumonias, otites e septicemia. O

desenvolvimento inicialmente é normal, mas é logo substituído por perda de peso e

retardo do crescimento. Infecções recorrentes por agentes oportunistas podem levar

a infecções disseminadas e morte. Os achados clínicos mais comuns são atrofia de

tecido linfóide, acompanhada de atrofia tímica evidente ao exame radiológico,

podendo estar associada com febre, hepatoesplenomegalia e lesões cutâneas. O

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espectro dos defeitos de células T é amplo, indo da ausência de função da célula T

na SCID até as outras Imunodeficiências Combinadas, nas quais há alguma função

de célula T, porém não adequada o suficiente para uma vida normal (Buckley, 2002).

A SCID é a grande representante deste grupo, é caracterizada por uma

função alterada ou ausente das células T e B. É geralmente fatal no primeiro ano de

vida se não realizado transplante de células-progenitoras hematopoiéticas

precocemente ou, no caso da ADA a reposição terapêutica da enzima. O diagnóstico

precoce dos indivíduos afetados é crucial para o prognóstico destes pacientes. O

diagnóstico é sugestivo diante de um paciente com linfopenia (<1500células/mm3),

menos de 20% de linfócitos CD3+ e hipogamaglobulinemia grave (IgG < 150 mg/dl)

(Elder, 2000). A maioria tem hipoplasia tímica e ausência ou pequeno

desenvolvimento do tecido linfóide. A Radiografia de tórax frequentemente

demonstra a ausência da sombra tímica. Os SCID são classificados de acordo com

a presença ou a ausência de células B e T (Geha et al., 2007), alguns autores

consideram inclusive a presença das células NK na classificação das SCID (Elder,

2000; Bonilla e Geha, 2003). A maioria destas doenças pode ser diagnosticada

através da triagem para linfopenia ou deficiência de células T no sangue de cordão

umbilical ao nascimento (Buckley, 2002). O conhecimento profundo dos defeitos

moleculares relacionados a cada doença e suas respectivas alterações genéticas é

essencial para o aconselhamento genético dos membros das famílias dos pacientes

e para o diagnóstico pré-natal (Buckley, 2002). Além disto, a análise mutacional dos

pacientes com IDP permite o esclarecimento do diagnóstico definitivo, estabelece o

diagnóstico nas apresentações atípicas, fornece informações relevantes das IDP que

apresentam uma relação geno-fenotípica forte, dando informações sobre o

prognóstico destes pacientes e propicia, consequentemente, o seu manejo

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adequado. Finalmente, o diagnóstico molecular permite a identificação pré-

sintomática dos indivíduos afetados pelas formas potencialmente fatais,

possibilitando a intervenção terapêutica precoce e salvadora, como o transplante de

células-progenitoras hematopoiéticas (Notarangelo e Sorensen, 2008). Os indivíduos

afetados apresentam sintomas já nos primeiros meses de vida que se caracterizam

por quadros freqüentes de diarréia, pneumonia, otite, sepse e infecções cutâneas.

Infecções persistentes por germes oportunistas tais como Candida albicans,

Pneumocystis jiroveci, vírus da varicela-zoster, vírus parainfluenza do tipo 3, vírus

respiratório sincicial, adenovírus, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr e reação

adversa à vacinação com BCG podem estar presentes e levar a morte. Outro dado

importante sobre estes pacientes é que eles não são capazes de rejeitar tecidos

não-próprios e, portanto, apresentam um risco aumentado de DECH mediada por

linfócitos T maternos que atravessam a barreira placentária ou, ainda, por células T

oriundas de produtos sanguíneos não irradiados ou nos transplantes de medula

óssea alogeneicos (Buckley, 2002, Palmer et al., 2007). As células T de origem

materna encontradas nos pacientes com SCID apresentam um repertório limitado de

receptores, são predominantemente CD8+CD450R0+, não reagem a células

alogeneicos in vitro, e apresentam reposta proliferativa in vitro muito reduzida ou

ausente quando estimuladas com mitógenos ou antígenos como toxóide tetânico e

extratos de Candida sp. (Palmer et al., 2007). Diversas mutações genéticas já foram

relacionadas na patogenia das diferentes formas de SCID (tabela 1).

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Tabela 1 Mutações genéticas descritas na patogenia das SCID

Doença Defeitos genéticos/patogenia Herança

SCID T- B+ defeito de cadeia de receptores para IL-2, -4, -7, -9, -15, -21 XL

defeito em JAK 3 AR

defeito na cadeia de receptor de IL-7 AR

defeito em CD 45 AR

defeito de receptor de antígeno de célula T AR

SCID T- B- defeito completo de RAG 1 ou 2 AR

defeito de proteína recombinase DNA-reparo de Artemis AR

ausência de ADA, metabólitos linfotóxicos elevados AR

maturação defeituosa de células T, B e células mielóides AR

Legenda: JAK cinase da família janus; RAG gene ativador de recombinase; ADA adenosina deaminase. Adaptado de Geha et al., 2007.

A SCID ligada ao cromossomo X é resultado de um defeito na cadeia γ

comum aos receptores para as Interleucinas-2, 4, 7, 9, 15, 21. Este defeito resulta na

ausência de sinalização através destes receptores. A cadeia γ comum funciona

como um transdutor de sinal através da interação com a tirosina cinase JAK3.

Mutações na JAK3 resultam em fenótipos semelhantes ao da SCID ligada ao X. O

perfil imunológico é caracterizado por redução importante das células T circulantes,

redução das Imunoglobulinas séricas e das células Natural Killer (NK) e pela

presença de linfócitos B em número normal ou aumentado. Os linfócitos B na SCID

ligada ao X são funcionalmente alterados o que leva a uma produção inadequada de

imunoglobulinas, mesmo após a reconstituição imunológica de células T através do

transplante de medula óssea (Buckley, 2002).

A forma mais freqüente das SCID com herança autossômica recessiva é a

ADA (Buckley, 2002; Bonilla e Geha, 2003). Ela é caracterizada por alterações

ósseas decorrentes da displasia ósseocondral. Estas alterações ocorrem nas

junções costocondrais especialmente, mas também podem ser observadas nas

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apófises dos ossos ilíacos e nos corpos vertebrais. Estes pacientes apresentam uma

linfopenia grave, com linfometria absoluta média menor do que 500/mm3. O

diagnóstico é obtido através da quantificação da atividade enzimática de lisados de

hemácias ou de células mononucleares, a dosagem de ADA sérica não permite o

diagnóstico (Grumach, 2009). A deficiência da enzima ADA leva ao acúmulo de

metabólitos tóxicos (adenosina, 2’-deoxiadenosina e 2’-o-metiladenosina) o que

resulta direta ou indiretamente na apoptose dos timócitos e dos linfócitos circulantes,

resultando na imunodeficiência. A reposição com adenosina deaminase bovina

purificada associada covalentemente a várias fitas de monotoxipolietilenoglicol

(PEG-ADA) resulta em uma melhora clínica e imunológica. Entretanto, a

imunocompetência alcançada com a reposição não é tão boa quanto à obtida com o

transplante de células-progenitoras hematopoiéticas; a recuperação funcional das

células T é limitada e pode permanecer mesmo após longo período de reposição

com PEG-ADA (Husain et al., 2007).

A deficiência da tirosina-cinase citoplasmática JAK3 tem o fenótipo T-B+NK-,

possui uma herança autossômica recessiva e responde por cerca de 10-20% de

todos os casos de SCID. O defeito é resultado de mutações no gene da tirosina-

cinase JAK-3, adaptador da cadeia comum (γc) dos receptores de citocinas. Os

indivíduos afetados geralmente são frutos de casamentos consangüíneos. As

manifestações clínicas são semelhantes aos SCID ligado ao X e, mesmo após um

transplante de células progenitoras hematopoiéticas de sucesso (TCTH), estes

pacientes não conseguem manter níveis adequados e persistentes de células NK e,

apesar dos níveis elevados de células B, não há recuperação funcional adequada

destas após TCTH (Buckley, 2002).

A deficiência da cadeia alfa do receptor de IL-7 (IL-7Rα) apresenta o

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fenótipo T-B+NK+, as manifestações clínicas são semelhantes às demais

Imunodeficiências Combinadas Graves e o prognóstico, por sua vez, é reservado,

sendo o transplante de células progenitoras-hematopoiéticas o tratamento de

escolha (Buckley, 2002; Grumach, 2009).

A deficiência de RAG 1 e 2 tem o fenótipo T-B-NK+, a mutação no

cromossoma que codifica RAG 1/2 resulta na inabilidade funcional para formar

receptores de antígenos através da recombinação gênica necessária para geração

dos receptores TCR e BCR. As manifestações clínicas são semelhantes às demais

formas de SCID.

A Síndrome de Omenn atualmente é considerada uma forma distinta SCID,

apresentando características geno-fenotípicas distintas. Diferentemente das demais

doenças do grupo das SCID, estes pacientes apresentam aumento de tecido

linfóide, além de eritrodermia importante, níveis aumentados de IgE e eosinofilia. As

infecções iniciam precocemente e no caso das pneumonias apresentam um perfil

etiológico típico, são causadas pelo Pneumocystis jiroveci ou por vírus como o

citomegalovírus (CMV) ou o parainfluenza. A inflamação observada nestes pacientes

parece ser o desencadeador do processo de expansão clonal das células T que é

predominantemente do perfil TH2. Estas células T anormais, na ausência de

regulação por outros componentes do sistema imune, secretam citocinas que

favorecem a autoimunidade e a inflamação alérgica (Villa et al., 2008). Estes

pacientes podem apresentar contagem normal ou aumentada de linfócitos. O

número de linfócitos CD4+ e CD8+ podem variar e ocasionalmente podem estar

dentro da normalidade, entretanto, a resposta proliferativa in vitro é altamente

afetada. A contagem baixa ou a ausência de CD19+ é característica da Síndrome de

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20

Omenn associada a mutações missense1 nos genes da RAG 1 e 2, IL-7α ou do RNA

da endorribonuclease processadora do RNA mitocondrial (RMRP). Os níveis de IgE

estão freqüentemente aumentados e as demais imunoglobulinas estão em níveis

reduzidos. Atualmente, o tratamento com drogas imunossupressoras modificou o

prognóstico destes pacientes, pois promove a efetiva supressão da expansão dos

clones de células T e a sua infiltração tecidual, o que leva a uma melhora importante

e rápida da pele em 1 a 3 semanas de tratamento. A supressão dos clones de

células T anormais ativados parece favorecer a pega do enxerto nos TCTH com

doadores idênticos (Villa et al., 2008), o que não ocorria com sucesso até os anos

80, quando ainda não se utilizavam imunossupressores na terapêutica da Síndrome

de Omenn.

A deficiência de moléculas do complexo de histocompatibilidade de classe II

(MHC classe II) é caracterizada pela ausência de expressão das moléculas de

histocompatibilidade HLA-DR, HLA-DQ ou HLA-DP nas células hematopoiéticas. O

MHC classe II é responsável pela apresentação de antígenos exógenos aos

linfócitos T CD4+, induzindo e mantendo a resposta imune, portanto, nestes

pacientes não ocorre a reposta imunológica adequada frente aos antígenos

exógenos. Há, entretanto, produção de auto-anticorpos. Geralmente os sintomas se

iniciam por volta dos 4 meses de vida com evolução para a morte entre 6 meses e 5

anos de idade, se não realizado transplante de células-progenitoras

hematopoiéticas. A maioria dos pacientes tem pan-hipogamaglobulinemia, as

respostas às imunizações são ausentes ou muito reduzidas e as células CD4+ são

fenotípica e funcionalmente normais, embora estejam, na maioria dos casos, em

número reduzido. As células CD8+ e os linfócitos B estão em número normal.

1 Mutação missense: mutação genética pontual, envolvendo a alteração de um único nucleotídeo, podendo haver uma atividade residual do gene.

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21

A deficiência da proteína-cinase ZAP-70 é uma Imunodeficiência Combinada

rara, caracterizada pela redução de células CD8+ no sangue e tecidos linfóides

periféricos. Os números de células CD4+, B e NK são normais e a imunidade

humoral destes pacientes encontra-se preservada. Um aspecto importante que a

diferencia das demais Imunodeficiências Combinadas é a presença de linfonodos

palpáveis e de timo com tamanho e números normais de células CD3+ e CD4+. O

transplante de células-progenitoras hematopoiéticas é o único tratamento que pode

levar a cura (Elder, 2000; Buckley, 2002; Grumach, 2009).

3.1.3 Outras Síndromes de Imunodeficiência bem definidas

Este grupo inclui um conjunto heterogêneo de síndromes bem

caracterizadas clinicamente, algumas ainda sem defeito genético identificado, e que

não possuíam os critérios dos demais subgrupos da classificação das IDP.

A Síndrome de Wiskott-Aldrich (WAS) é uma imunodeficiência primária

associada a trombocitopenia com microplaquetas, eczema, infecções recorrentes e

um risco aumentado de auto-imunidade e neoplasia linforreticular (Schurman e

Candotti, 2003). As funções de células B e T são afetadas, com redução gradual das

células T periféricas. A produção de IgM está geralmente reduzida e os níveis de IgG

podem estar normais ou moderadamente reduzidos. A resposta a antígenos

polissacarídeos é particularmente afetada (Ochs e Thrasher, 2006). Apresenta um

padrão de herança ligado ao cromossomo X e um fenótipo variado que se

correlaciona com o tipo de mutação no gene que codifica a proteína da Síndrome de

Wiskott-Aldrich (WASp). Atualmente, se tem observado que existe uma correlação

estreita entre o tipo de mutação, a gravidade das manifestações clínicas e o

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22

prognóstico do paciente (Jin et al., 2004). A quantificação da WASp nas células da

linhagem hematopoiética possibilita a identificação daqueles com pior prognóstico

(WASp indetectável) e o seu acompanhamento, além disto permite rastrear a família

do paciente afetado, objetivando identificar as mulheres portadoras e realizar o

aconselhamento genético (Notarangelo e Ochs, 2005; Ochs e Thrasher, 2006). A

síndrome é conseqüência de mutações no gene que codifica a WASp que é, por sua

vez uma proteína chave no processo de polimerização da actina das células

hematopoiéticas. Ela possui cinco domínios bem definidos que estão envolvidos na

sinalização e na locomoção celular e na formação de sinapses imunológicas. As

mutações na WASp estão localizadas ao longo do gene e podem inibir ou desregular

a função da WASp (Imai et al., 2003). A WAS clássica ocorre quando a WASp está

ausente, a trombocitopenia ligada ao X quando uma WASp mutante é expressa e a

neutropenia ligada ao X, quando mutações missense ocorrem no sítio de ligação

Cdc-42. As manifestações clínicas que sugerem a WAS clássica e a trombocitopenia

ligada ao X (XLT) estão freqüentemente presentes ao nascimento e consistem em

petéquias, hematomas e diarréia com sangue. O eczema é uma manifestação

freqüente da WAS clássica durante a fase de lactente e na infância. As infecções

incluem principalmente otites médias agudas, pneumonias e infecções cutâneas. Os

pacientes com XLT têm menos eczema e menos infecções se comparados com a

WAS clássica. As doenças auto-imunes são freqüentes nos pacientes com WAS e

as mais comumente associadas à síndrome são anemia hemolítica auto-imune,

vasculites, doença renal, púrpura semelhante à de Henoch-Schönlein e a doença

inflamatória intestinal. As neoplasias podem ocorrer durante a infância, mas são

mais freqüentes na adolescência e nos adultos jovens com a WAS clássica. A

neoplasia mais freqüente é o linfoma de células B, freqüentemente associado à

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infecção pelo o vírus Epstein-Barr (EBV).

O diagnóstico deve ser considerado em qualquer paciente do sexo

masculino apresentando petéquias, hematomas e trombocitopenia congênita ou de

início precoce associada a plaquetas de tamanho reduzido. A presença de eczema

transitório leve ou grave suporta o diagnóstico de síndrome de Wiskott-Aldrich e

trombocitopenia ligada ao X. Além destas observações, é importante salientar que

as infecções e as anormalidades imunológicas podem ser leves, graves ou estarem

ausentes. A linfopenia característica da WAS clássica pode estar presente já o

período de lactente, mas vai desenvolver, invariavelmente, durante a infância (Ochs

e Thrasher, 2006). Conforme citado anteriormente, os estudos mais recentes têm

identificado uma correlação entre o genótipo e o fenótipo dos pacientes. Esta

correlação é mais consistente quando os pacientes são divididos em 2 subgrupos:

os considerados WASp positivos, que representam aqueles onde há a expressão da

proteína mutante de tamanho (peso molecular) adequado, e os WASp negativos,

quando a proteína está ausente ou alterada. Os pacientes com mutações que

permitem a expressão da proteína no tamanho adequado, freqüentemente em

quantidades reduzidas têm, com raras exceções, o fenótipo da trombocitopenia

ligada ao X. Nos pacientes cujos linfócitos não expressam a WASp ou expressam a

WASp alterada existe uma maior chance de desenvolverem o fenótipo da WAS

clássica (Imai et al., 2004). A triagem das mutações na WASp pode ser realizada

através da citometria de fluxo com o anticorpo monoclonal anti-WASp, conjugado a

um fluorocromo (Kawai et al., 2002). Esta técnica permite confirmar o diagnóstico

nos pacientes do sexo masculino suspeitos, identificar mulheres carreadoras,

contribuir para o estabelecimento do prognóstico, além de poder ser empregado no

diagnóstico pré-natal (Siminovitch, 2003).

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24

O tratamento curativo é o transplante de células-progenitoras

hematopoiéticas, sendo o segundo grupo de IDP que realizaram este procedimento

com maior freqüência, desde 1968. A maior sobrevida pós-transplante é observada

nos grupos de transplantados com doadores aparentados HLA idênticos e vários dos

óbitos foram devido a doença linfoproliferativa de células B associada ao EBV

(Buckley, 2004).

A Ataxia-telangiectasia (A-T) é uma síndrome de instabilidade cromossômica

(SIC), com herança autossômica recessiva caracterizada pela neurodegeneração

progressiva, com ataxia cerebelar progressiva, telangiectasias oculares e cutâneas,

imunodeficiência e envelhecimento precoce. Alterações imunológicas variadas têm

sido descritas nos pacientes com A-T, sendo que a maioria dos pacientes apresenta

uma redução ou a ausência de IgA, IgE e IgG2 e um comprometimento da reposta

humoral (Nowak-Wegrzyn et al., 2004). Costuma haver linfopenia, reatividade

ausente aos testes hipersensibilidade tardia e resposta proliferativa reduzida a

fitohemaglutinina (PHA) e a outros mitógenos (Grumach, 2009).

Síndrome de DiGeorge é classificada dentro do grupo de defeitos tímicos e

apresenta características clínicas específicas: anomalias cardíacas conotruncais,

tetania hipocalcêmica, fácies característica e hipoplasia tímica. A apresentação

clínica é ampla, sendo que a maioria é resultado da deleção do cromossomo

22q11.2 (Davis et al., 2008). As alterações imunológicas são variáveis, indo da

ausência de células T, a número normal destas, além de número normal de células

B e de imunoglobulinas. Possuem uma incidência aumentada de doenças auto-

imunes (McLean-Tooke et al., 2008). Os pacientes com ausência de Timo

representam menos que 0.5% dos casos e apresentam um fenótipo caracterizado

pela ausência de células T e imunodeficiência combinada. A maioria dos pacientes,

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25

entretanto, apresenta numero reduzido de células T em função da hipoplasia tímica

e cerca de 20% dos afetados não tem nenhuma evidencia de redução de células T

(Sullivan, 2008).

3.1.4 Doenças da Desregulação Imune

A apoptose (morte celular programada) é um processo fisiologicamente

importante no qual os linfócitos são levados à morte através de vários estímulos, tais

como ativação dos receptores de morte, reestimulação de receptores de antígenos

ou, ainda, privação ou excesso de fatores tróficos, como a Interleucina 2 (IL-2). A

apoptose tem papel fundamental no controle do sistema imune, eliminando clones

autorreativos e limitando a magnitude da resposta a antígenos (Su e Lenardo, 2008).

A desregulação da homeostase dos linfócitos leva ao acúmulo anormal de linfócitos,

propicia autoimunidade pela falha na remoção dos clones autorreativos, e favorece o

aparecimento de linfomas pela sobrevivência inapropriada dos linfócitos (Bleesing et

al., 2002).

A síndrome linfoproliferativa autoimune (ALPS) é uma representante deste

grupo de doenças. Os sintomas surgem precocemente, por volta dos 24 meses de

idade. Linfoadenomegalia e/ou esplenomegalia persistente, que pode ser

acompanhado por hepatomegalia, sem evidências de doença hepática, e ocasional

aumento de volume do timo são alguns dos achados clínicos da ALPS. A maioria

dos pacientes apresenta linfocitose T e B, eosinofilia e/ou monocitose. Auto-

anticorpos são freqüentes, sobretudo os anti-cardiolipina. As doenças auto-imunes,

principalmente citopenias autoimunes, são freqüentes (Su e Lenardo, 2008). O perfil

laboratorial típico é a presença de número aumentado de células T (TCR αβ+) duplo

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negativos no sangue periférico, ou seja, linfócitos T periféricos que não expressam

CD4 nem CD8 (Bleesing et al., 2002).

As imunodeficiências com hipopigmentação formam outro subgrupo dentro

da classificação de 2007. São resultados de defeitos no gene LYST na Síndrome de

Chediak-Higashi, no gene RAB27A na Síndrome de Griscelli tipo 2 e no gene AP3B1

na Síndrome de Hermansky-Pudlak tipo 2 (Geha et al., 2007). As várias mutações

gênicas descritas nestas síndromes produzem defeitos na síntese de melanina, na

formação de melanossomos, na sua transferência dentro do melanócito e no

desenvolvimento do melanócito (Grumach, 2009). Elas se caracterizam pela

presença de albinismo parcial, baixa atividade de linfócitos T citotóxicos e células

NK.

A Síndrome de Chediak-Higashi é uma doença rara, de herança

autossômica recessiva, caracterizada clinicamente por imunodeficiência grave,

albinismo óculo cutâneo, tendência a sangramentos, infecções recidivantes, defeitos

neurológicos progressivos e pela síndrome hemofagocítica (De Saint Basile, 2002).

O albinismo é responsável por cabelos de coloração prateada, entretanto, é descrito

que as alterações de pele e cabelos podem não ser visíveis, mas a presença de

reflexo vermelho aumentado, fotofobia e nistagmo na presença de luz brilhante

representam a expressão da diluição pigmentar ocular. A presença de grânulos

intracitoplasmáticos gigantes é uma característica desta doença e este achado pode

ser visto em todas as células granuladas, incluindo células hematopoiéticas,

melanócitos, fibroblastos dentre outras. As alterações imunológicas descritas não

restringem apenas a alterações na atividade de fagócitos, mas também a redução da

atividade das células NK e da citotoxicidade dependente de anticorpos (De Saint

Basile, 2002; Grumach, 2009). O número de células T e B séricas estão normais e a

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dosagem de imunoglobulinas também está dentro do padrão de normalidade (Geha

et al., 2007). A maioria dos pacientes evolui para a fase acelerada da doença,

também conhecida como Síndrome Hemofagocítica. Ela é caracterizada por uma

infiltração visceral por células T ativadas de modo policlonal, associada a febre,

edema, hepatoesplenomegalia, pancitopenia, distúrbios de coagulação e disfunções

hepáticas e neurológicas (De Saint Basile, 2002). A Síndrome Hemofagocítica

familiar ou linfo-histiocitose hemofagocítica familiar é caracterizada por uma

inflamação multissistêmica resultante da ativação persistente de células

apresentadoras de antígeno e células T CD8+ e proliferação e migração ectópica

excessiva de células T (Filipovich, 2008). Os sintomas característicos são febre sem

causa aparente, esplenomegalia, citopenias comprometendo 2 ou mais linhagens do

sangue periférico, hipertrigliceridemia e/ou hipofribinogemia, ausência ou baixa

atividade de células NK e hemofagocitose evidenciada em biópsia de medula óssea

ou em outro órgão linfóide. A herança é autossômica recessiva e defeitos nos genes

PRF1, MUNC13D e STX11 resultam na síndrome. O número de células T e B

circulantes é normal e há uma redução da atividade das células NK e das células T

citotóxicos (Geha et al., 2007).

A Síndrome Linfoproliferativa ligada ao X (XLP) é uma doença autossômica

recessiva resultante de defeitos no gene SH2D1A, que resulta na Síndrome

Linfoproliferativa ligada ao X do tipo 1 (XLP1), e no gene XIAP que leva a variante

do tipo 2 (XLP2). Em ambas há número normal de células T e células B normais ou

reduzidas. Ela se caracteriza pela vulnerabilidade à infecção pelo vírus Epstein-Barr

(EBV), sendo a infecção pelo EBV o fator desencadeante da síndrome.

Aparentemente, até a eventual infecção pelo EBV os indivíduos afetados são sadios.

A infecção resulta em proliferação descontrolada de linfócitos B e linfócitos T

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citotóxicos, resultando em mononucleose infecciosa fulminante, com febre,

linfadenopatia, hepatoesplenomegalia, pancitopenia e hepatite (De Saint Basile,

2002; Geha et al., 2007; Grumach, 2009). Defeitos na imunidade celular envolvendo

células T, B e NK podem ocorrer após a infecção. O único tratamento curativo é o

transplante de células progenitoras hematopoiético. Dentre as medidas terapêuticas

não curativas podemos citar o uso de anticorpo monoclonal anti-CD20 (rituximabe)

para controle da doença, com resultados promissores (Milone et al., 2005).

3.1.5 Defeitos congênitos do número e ou função dos fagócitos

As IDP classificadas neste subgrupo apresentam um perfil de infecções um

pouco diferente das demais IDP, sobretudo das IDP predominantemente humorais.

O que se observa nestes pacientes é um espectro infeccioso mais estreito do que

nas demais IDP. A aspergilose invasiva na ausência de imunossupressão, por

exemplo, é essencialmente vista na Doença Granulomatosa Crônica (DGC);

micobacteriose não-tuberculosa disseminada, também na ausência de

imunossupressão terapêutica, é achado típico de pacientes com defeitos no eixo

IFNγ-IL12/IL23. O patógeno mais isolado neste grupo é o S.aureus, entretanto, em

pacientes graves pode se observar infecções por Klebsiella sp, Escherichia coli e

Pseudomonas aeruginosa (Grumach, 2009).

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Tabela 2 Infecções na Imunodeficiência de Fagócitos

Microorganismos Localização

DGC S. aureus; Serratia marcescens;

Burkolderia cepacia; espécies de

Nocardia e Aspergillus.

Menor frequência: Chromobacterium

violaceum; espécies de Paecilomyces,

Exophiala e Scedosporium.

Pulmão, fígado, linfonodos,

sepse cutânea (espécies

de Chromobacterium e

Burkolderia).

LADs S. aureus; bacilos gram-negativos Cutânea, trato

gastrointestinial, sepse.

Def.

INFγ/IL-12/IL23

Espécies de Micobactérias e

Salmonella

Infecção disseminada,

óssea (IFN-ΓR1) e

linfonodos

Legenda: DGC=doença granulomatosa crônica; LAD=deficiência de adesão leucocitária; INFγ/IL-12/IL23=eixo interferon gama/interleucina 12/interleucina 23. Adaptado de Rosenzweig e Holland, 2004

A doença granulomatosa crônica (DGC) é causada por defeitos no complexo

enzimático NADPH-oxidase, ou fagócito-oxidase Os fagócitos contêm uma NADPH-

oxidase associada à membrana que produz superóxido e outros reativos

intermediários do oxigênio, responsáveis por atividades microbicidas, tumoricida e

inflamatória (Rosenzweig e Holland, 2004). Os fagócitos têm, portanto, atividade

microbicida alterada, secundária à baixa produção de superóxido.

A DGC é caracterizada por infecções recorrentes graves causadas por

bactérias catalase-positivas, fungos e grande formação de granulomas (Tabela 2).

Na forma ligada ao cromossoma X, há comprometimento do componente gp91-phox;

nas formas autossômicas recessivas podem ser afetadas as subunidades p47-phox,

p67-phox ou p22-phox (Geha et al., 2007). O diagnóstico de DGC deve ser pensado

em portadores de infecções supurativas crônicas ou de repetição ou que apresente

infecção invasiva por B. cepacia, S. marcescens. A maioria apresenta infecções

graves desde o primeiro ano de vida, sendo que aqueles com herança autossômica

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recessiva tendem a ter quadros clínicos menos graves. O diagnóstico pode ser feito

através do teste do NBT ou da DHR (Wakin, 2003). O único tratamento de cura é o

transplante de medula óssea, sendo que aqueles que não induzem mieloablação

são realizados nestes pacientes com sucesso (Buckley, 2004).

A deficiência de adesão leucocitária (LAD) é uma doença rara, de herança

autossômica recessiva. O fenótipo dos pacientes é variável e reflete a quantidade de

ß2 integrinas expressa na superfície celular dos leucócitos. Pacientes com menos de

1% de expressão evoluem com infecções graves e alto risco de morte. Aqueles com

expressão entre 1-10% evoluem com defeitos na mobilidade leucocitária, aderência

e endocitose, ocasionando quadros de periodondite periódica, infecções cutâneas e

retardo na cicatrização. Familiares heterozigotos dos pacientes têm expressão de ß2

integrinas em torno de 40-60% e são clinicamente normais (Stiehm et al., 2004). São

classificadas por LAD-1, LAD-2 e LAD-3. (tabela 3)

Tabela 3 Deficiências de Adesão Leucocitária

Doença Células

Afetadas Manifestações clínicas

LAD1 N+M+L+NK Retardo na queda do coto umbilical, úlceras de pele,

periodondite e leucocitose.

LAD2 N+M Retardo na queda do coto umbilical, úlceras de pele,

periodondite, leucocitose, grupo sanguíneo hh e retardo

mental

LAD3 L+NK Retardo na queda do coto umbilical, úlceras de pele,

periodontite, leucocitose e tendência a sangramentos

Deficiência de Rac2

N Leucocitose e má cicatrização das feridas

Legenda: N: neutrófilos; M: monócitos; L: linfócitos; NK: Natural Killer; LAD: deficiência de adesão leucocitária. Adaptado de Geha et al., 2007.

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Neste grupo de IDP estão as neutropenias, IDP resultantes de defeitos

númericos de fagócitos. A Síndrome de Kostmann é uma neutropenia congênita

grave, caracterizada pela presença neutropenia, comprometimento da maturação

dos granulócitos e predisposição aumentada a leucemias mielóides (Verbsky e

Grossman, 2006). As manifestações clínicas são precoces e se caracterizam pela

presença de febre, estomatite, infecções cutâneas e abscesso perirretal.

Os defeitos no eixo INFγ-IL-12/IL-23 resultam em uma sensibilidade

aumentada a infecções causadas por patógenos intracelulares como as

micobactérias não tuberculosa, o bacilo de Calmette- Guérrin, salmonela e a certos

vírus e fungos (Verbsky e Grossman, 2006). A gravidade da doença correlaciona-se

com a extensão da falência em produzir ou responder ao INF-γ. A apresentação

clínica é ampla, de micobacterioses locais e recorrentes a infecções disseminadas.

Na maioria dos casos familiares a herança é autossômica recessiva, atualmente 5

genes autossômicos mutados foram identificados em crianças com susceptibilidade

mendeliana a micobactérias. Mutações no gene que codifica o receptor 1 para IFNγ

(IFNγR1), o receptor 2 para o IFNγ (IFNγR2) e no gene do STAT 1 compromete a

resposta celular ao INF-γ, enquanto que mutações no gene que codifica a

subunidade p40 da IL-12 (IL-12B) e no gene que codifica a subunidade ß1 do

receptor de IL-12 (IL-12Rß1) alteram a produção de IFNγ dependente de IL12/23

(Bustamante et al., 2008).

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4 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITOR AS

HEMATOPOIÉTICAS EM IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA

4.1 HISTÓRICO E CONISDERAÇÕES GERAIS

Os primeiros transplantes de medula óssea (TMO) realizados com sucesso

em pacientes com IDP foram em 1968 desde então o transplante de células

progenitoras hematopoiéticas (TCTH) tornou-se ferramenta indispensável no

tratamento das IDP, sobretudo naquelas com pior prognóstico e frequentemente

fatais (Friedrich e Muller, 2004; Gennery e Cant, 2008). As IDP com indicação de

TCTH estão agrupadas no quadro 1

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33

Quadro 1 Imunodeficiências com indicação de TCTH

Adaptado de Gennery e Cant, 2008.

Deficiência de cadeia γ comum

Deficiência de JAK-3

Deficiência de receptor α de IL-7 (IL7Rα)

Deficiência de RAG1/2

Deficiência de ADA

Deficiência de CD45

Deficiência de CD3δ/CD3ε/CD3ξ

Deficiência de CD3γ

Disgenesia reticular

Deficiência de artemis

Deficiência de PNP

Deficiência de MHC classe II

Deficiência de ZAP-70

Deficiência de CD8

Síndrome de Omenn

Deficiência de canal de Cálcio

Síndrome CHARGE

Síndrome de Wiskott-Aldrich

Deficiência do ligante de CD-40

Doença Linfoproliferativa ligado ao X : XLP1 e XLP2

Doença granulomatosa crônica

Neutropenias congênitas graves

Deficiências de adesão leucocitária

Síndrome de Schwachman-Diamond

Síndrome de Chediak-Higashi

Linfocitose hemofagocítica familiar

Deficiência de Perforina

Deficiência de MUNC 13-4

Deficiência de Sintaxina 11

Hipoplasia cartilagem cabelo

Síndrome de hiper IgD

Síndrome linfoproliferativa autoimune (ALPS)

Síndrome imunedesregulação, poliendocrinopatia, enteropatia ligada ao X

(IPEX)

Deficiência de CD25

Deficiência de NEMO

Deficiência de inibidor alfa do fator nuclear κβ (IκBα)

Sindrome de Nijmegen

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34

A Imunodeficiência Primária que mais se beneficiou deste procedimento foi a

Imunodeficiência Combinada Grave (SCID), desde o primeiro transplante em 1968,

muito se progrediu em relação aos conhecimentos (Buckley, 2004). O avanço do

conhecimento molecular propiciou um maior conhecimento da fisiopatologia destas

doenças e, consequentemente, favoreceu os avanços na terapêutica. A descoberta

do complexo principal de histocompatibilidade (HLA) representou um grande avanço

para a área, pois a partir destes tornou-se possível avaliar o grau de compatibilidade

entre o receptor e o doador através da tipificação dos antígenos do HLA

pertencentes às classes I (A, B e C) e II (DR, DQ, DP). Apesar deste avanço, o

diagnóstico precoce continua sendo o grande desafio, pois os transplantes

realizados antes do estabelecimento das infecções e das seqüelas têm maiores

chances de sucesso (Buckley, 2003; Buckley, 2004; Mazzolari et al., 2007; Gennery

e Cant, 2008). No Brasil, o primeiro transplante de medula óssea realizado em um

paciente com IDP (WAS) foi em 1992 e, desta data até 2006, aproximadamente 50

pacientes com IDP já foram transplantados em diversos centros do país, sendo que

destes 33 pacientes estão vivos e 27 morreram devido a infecções bacterianas ou

fúngicas ou complicações relacionadas à DECH ou perda do enxerto (Grumach,

2009). O número de SCID transplantados no Brasil entre 1992-2006 foi de 23

pacientes, destes 15 pacientes estavam vivos até 2006 (CONIP, 2006).

Um estudo publicado em 2003 por Antoine e colaboradores revela os

resultados dos transplantes realizados na Europa no período de 1968-1999. Um total

de 919 pacientes foram estudados, 475 tinham SCID e os demais tinham outras IDP,

incluindo a Síndrome de Wiskott-Aldrich (n=103). A medula óssea foi utilizada como

fonte de células progenitoras em 88% dos casos, células progenitoras de sangue

periférico em 12% e sangue de cordão umbilical (SCUP) em 0,7% dos casos. Nos

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pacientes com SCID, a sobrevida de 3 anos foi significativamente melhor após

transplante HLA-idêntico (77%) do que após os HLA não idênticos (54%) (p=0.002).

Nos TCTH não idênticos, os pacientes com SCID B- tiveram pior prognóstico do que

os com fenótipo B+, entretanto, a melhora do prognóstico foi observado em ambos

os fenótipos ao longo do tempo de estudo. Nos demais pacientes com IDP a

sobrevida de 3 anos foi de 71% nos pacientes genotipicamente HLA idênticos, de

42% nos pacientes HLA não idêntico aparentado e de 56% de doadores não

aparentados (p=0.0006). A melhora da sobrevida ao longo do tempo do estudo foi

explicada pela maior efetividade da prevenção e do tratamento das doenças e

complicações relacionadas ao procedimento. Um fator identificado como primordial

para este aumento da sobrevida durante o período analisado foi a melhora na

prevenção da DECH nos pacientes transplantados com HLA não idêntico através do

uso de métodos mais eficientes de remoção de células T do enxerto transplantado.

Para os pacientes não SCID, o TCTH pode levar a cura e enxertos de doadores não

aparentados (75% dos doadores não aparentados eram HLA idênticos) são quase

tão benéficos quanto aqueles de doadores aparentados HLA-idênticos (Antoine et

al., 2003).

Conforme já citado, vários fatores atualmente são relacionados com a

melhora da sobrevida dos pacientes com IDP pós TCTH (Gennery e Cant, 2008) e

um deles é o uso de regime de condicionamento de intensidade reduzida (RIC). O

condicionamento é uma etapa importante da maioria dos transplantes, ele tem o

objetivo de preparar o paciente para receber o enxerto, visando reduzir ao máximo o

sistema imunológico do receptor e, consequentemente o risco de rejeição ao

enxerto. No caso dos pacientes com IDP, não há, na maioria dos casos,

necessidade de se utilizar condicionamentos agressivos, uma vez que nestes o

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sistema imunológico está defeituoso. Com exceção dos pacientes com SCID com

doador HLA idêntico, todos os outros imunodeficientes precisam receber algum

regime preparatório. O condicionamento tem como objetivo, nestes pacientes,

promover a enxertia das células transplantadas através da completa

imunossupressão dos pacientes. Os condicionamentos são divididos em

mieloablativos e não mieloablativos, dependendo do grau de imunossupressão

induzido por ele. Os transplantes que utilizam o RIC foram associados a um

aumento da sobrevida se comparado com os regimes mieloablativos neste grupo de

pacientes. O RIC permite a redução da toxicidade relacionada ao condicionamento,

aumentando a chances de sobrevida destes pacientes, sobretudo daqueles com as

condições clínicas já deterioradas em função das diversas infecções. Apesar disto, a

perda de enxerto foi mais freqüente, a pega mostrou-se mais tardia e a freqüência

de quimerismo misto (menor porcentagem de células do doador) foi maior neste tipo

de condicionamento (Gennery e Cant, 2008; Qasim et al., 2009). A avaliação do

quimerismo tem como objetivo analisar a pega ou enxertia do transplante, através

deste método é possível identificar qual a porcentagem de células do paciente

transplantado é do enxerto/doador. Os resultados possíveis quimerismo parcial, ou

seja, menos de 95% das células hematopoiéticas do receptor são do doador ou total,

mais de 95% de células do paciente são do doador. Quando o paciente e o doador

são de sexo diferente é possível analisar através da citogenètica clássica,

entretanto, o método mais utilizado é o conhecido por VNTR. O VNTR – variable

number tanden repeat – consiste na análise de padrões repetitivos de sequências de

DNA das células do paciente. Satwani e colaboradores compararam os resultados

do uso RIC e do regime convencional nos pacientes com IDP e observaram que a

reconstituição imune foi similar em ambos os esquemas (Satwani et al., 2008).

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Geralmente, a RIC é indicada para aqueles pacientes que chegam ao transplante já

gravemente enfermos, pois reduzem o risco de complicações relacionadas à

toxicidade do condicionamento (Griffith et al., 2008).

A indicação do tipo condicionamento depende da doença de base, da idade,

da presença ou não de tratamento prévio, da fonte de células progenitoras

hematopoiéticas, do grau de compatibilidade HLA e do estado geral do paciente, de

maneira que algumas doenças parecem responder melhor aos condicionamentos

reduzidos, como os SCID por deficiência de ADA, do que outras como a WAS

(Roesler et al., 2004; Tsuji et al., 2006; Sato et al., 2007; Patel et al., 2009; Qasim et

al., 2009). Os pacientes com SCID teoricamente não são capazes de rejeitar as

células do doador, não necessitando, portanto, de condicionamento nos TCTH não

compatíveis (Buckley et al., 1999), isto é especialmente observado naqueles

transplantados no período neonatal (Myers et al., 2002; Mazzolari et al., 2007; Patel

et al., 2009). Patel e colaboradores compararam os resultados dos TCTH em

pacientes com SCID com e sem condicionamento e não observou diferença

estatisticamente significativa entre os 2 grupos. A taxa de sobrevida foi maior no

grupo que recebeu o condicionamento, mas esta diferença não demonstrou

significância estatística, possivelmente, segundo os autores, devido ao número

reduzido de pacientes. Além disto, observou-se que apesar da sobrevida e da

enxertia parecer ser semelhante entre os grupos que receberam e os não receberam

condicionamento, os pacientes com SCID que foram transplantados sem

condicionamento apresentaram um decréscimo da função tímica, avaliada pela

quantificação dos círculos de excisão do gen do receptor de célula T (TREC), CD4+

CD45RA+ CD31+, 10 anos pós-TCTH, em contrapartida, aqueles que utilizaram o

condicionamento mieloablativo apresentaram uma enxertia de múltiplas linhagens e

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uma melhora da função tímica ao longo de 10 anos após o TCTH (Cavazzana-Calvo

et al., 2007; Mazzolari et al., 2007). Estes achados, entretanto, não foram

observados por outros autores (Borghans et al., 2006; Patel et al., 2008; Sarzotti-

Kelsoe et al., 2009)

A DECH é a complicação mais importante do TCTH, sobretudo a DECH

crônica, aumentando em muito a morbidade deste procedimento. Vários fatores

estão relacionados com o aumento do risco de DECH: incompatibilidade HLA, o uso

de doadores do sexo feminino em receptores do sexo masculino, aloimunização

prévia, o tipo de células progenitoras infundidas, idade avançada do receptor,

regimes de condicionamentos agressivos e sorologia positiva para CMV (Gennery e

Cant, 2008; Grumach, 2009). A DECH é classificada em DECH aguda e crônica. A

DECH aguda é subclassificada em aguda clássica – quando ocorre dentro dos 100

dias iniciais pós-transplante e é caracterizada pela presença de exantema

maculopapular, náusea, vômitos, anorexia, diarréia profusa, íleo e ou hepatite

colestática - e em aguda persistente, recorrente ou aguda tardia – na ausência de

diagnóstico ou de sinais típicos de DECH crônica após os 100 dias iniciais pós-

TCTH. O marco na diferenciação entre as duas entidades não é mais o tempo e sim

as características das lesões, de maneira que se podem ter, ao mesmo tempo,

sinais e sintomas de ambas as DECH, na chamada Síndrome de sobreposição. Esta

nova classificação foi proposta por Filipovich e colaboradores em 2005 e vem sendo

adotada desde então (Filipovich et al., 2005). A DECH crônica é subdivida em DECH

crônica clássica – definida pela presença de pelo menos 1 manifestação típica sem

manifestações de DECH aguda- e em Síndrome de Sobreposição (“Overlap

Syndrome”), na qual se observa manifestações clínicas de DECH aguda e crônica. O

diagnóstico de DECH crônica requer a presença de pelo menos 1 sinal clínico

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diagnóstico ou a presença de pelo menos 1 manifestação clínica distintiva

confirmada por biópsia ou por outro teste relevante no mesmo ou e outro órgão. Os

sinais e os sintomas considerados suficientes para estabelecer o diagnóstico de

DECH crônica, sinais e sintomas diagnósticos, foram listados na nova classificação e

incluem comprometimento de pele, boca, genitália, trato gastrointestinal, pulmões e

músculos e articulações (Filipovich et al., 2005; Filipovich, 2008). As manifestações

clínicas consideradas distintivas são vistas como parte na DECH crônica, mas

isoladamente são insuficientes para estabelecer o diagnóstico desta doença. A

disponibilidade de tratamentos mais eficazes para DECH é um dos fatores que

contribuíram para a melhora da sobrevida pós-transplante destes pacientes. A

depleção das células T viáveis do enxerto é um dos métodos utilizados,

principalmente nos transplantes HLA-não idênticos, na prevenção da DECH,

entretanto, foi relacionado a uma reconstituição imune mais lenta e um risco

aumentado de infecções virais graves (Gennery e Cant, 2008; Slatter et al., 2008).

Este método vem se mostrando eficiente nos TCTH não compatíveis, com uma taxa

de sobrevida variando de 75% a 85% (Slatter et al., 2008). A completa remoção das

células T do enxerto reduz o risco destas reagirem contra os antígenos do receptor e

desencadearem uma DECH aguda. Diferentes métodos de remoção das células

estão disponíveis como a seleção positiva das células progenitoras CD34 +, e a

depleção das células T com anticorpos monoclonais como o anti-CD52, o anti-CD6 e

a aglutinação com lecitina de soja (Patel et al., 2008). As células T remanescentes

do processo de depleção com anti-CD52 não são viáveis, pois formam um complexo

antígeno-anticorpo sendo inativadas pelo sistema complemento assim que são

infundidas no receptor. A seleção positiva por sua vez não gera mecanismos

protetores no caso de células T remanescentes serem infundidas no receptor,

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portanto, o risco de DECH ainda persiste. As medicações geralmente utilizadas na

profilaxia são a ciclosporina, tracolimus, metotrexato, micofenolato-mofetil e

corticosteróides em diferentes esquemas terapêuticos. A profilaxia para DECH é

relacionada a um atraso na reconstituição imune e a um aumento do risco de

infecções pós- transplantes, mas ainda é considerada fundamental no manejo da

DECH, na qual o melhor tratamento ainda é a prevenção.

A doença veno oclusiva é uma complicação potencialmente fatal do TCTH e

está particularmente associada ao uso do Bussulfan, medicação frequentemente

utilizada nos regimes de condicionamento dos TCTH. Ela é definida por uma oclusão

ao fluxo venular hepático e parece ser resultado do dano direto nas células

endoteliais venulares (Rodriguez-Frias e Lee, 2007). Os fatores considerados de

risco são a disfunção hepática pré-existente, a irradiação abdominal prévia e o uso

de agentes alquilantes, como o já citado bussulfano. A profilaxia não é utilizada

rotineiramente.

As infecções virais e fúngicas são uma complicação em potencial do período

pós-transplante, sobretudo as infecções pelos CMV, EBV E HHV6. Novos métodos

moleculares de reação em cadeia da polimerase permitem a detecção de antígenos

virais e fúngicos no sangue e em outros tecidos, possibilitando a identificação

precoce do organismo, e novas drogas antivirais (ganciclovir, foscarnet e cidofovir) e

antifúngicas (caspofungin, voriconazol e posaconazol) tem possibilitado um controle

melhor destas complicações (Talano e Margolis, 2006; Gennery e Cant, 2008).

Um estudo publicado por Mazzolari e colaboradores avaliou a reconstituição

imune e as complicações pós TCTH tardias em 40 pacientes com SCID que estavam

vivos após pelo menos 5 anos de transplante. A maioria dos pacientes apresentou

função normal de células T e B e crescimento adequado. Anormalidades na função

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endócrina foram observadas em 17,5 % dos pacientes e a tireoidite autoimune foi a

doença prevalente. Comprometimento neurológico grave foi observado em 10 % dos

pacientes e foram relacionadas a complicações pré TCTH. Perda auditiva foi

evidenciada em 2% dos pacientes, sendo que 1 tinha surdez neurossensorial

congênita; 1 paciente apresentou redução da acuidade visual em 1 olho decorrente

de uma retinite por CMV que ocorreu antes do TCTH e 2 tiveram início de catarata.

Todos os pacientes estavam na escola com bom aproveitamento, com exceção

daqueles com comprometimento neurológico grave (Mazzolari et al., 2007).

O TCTH tem como fonte possível de células progenitoras hematopoiéticas a

medula óssea e o sangue de cordão e placentário. O sangue de cordão vem

demonstrando algumas vantagens sobre a medula óssea e as células progenitoras

hematopoiéticas periféricas. A grande limitação dos transplantes de medula óssea

(TMO) alogênicos é a dificuldade de se achar um doador compatível (HLA- idêntico).

Apesar de existirem cerca de 5 milhões de doadores voluntários cadastrados nos

registros internacionais, 50% de todos os pacientes que necessitam do TMO

permanecem sem ter um doador compatível (Bouzas, 2000). O transplante de

células progenitoras hematopoiéticas de sangue de cordão umbilical e placentário

(SCUP) tem algumas vantagens: rápido acesso às células criopreservadas do

doador, disponibilidade de uso imediato devido a habilidade do produto de ser

armazenado e criopreservado com os testes e tipagem HLA já previamente

realizados, ausência de risco para o doador, baixo risco de transmissão de infecções

virais latentes, baixo risco de DECH, alta freqüência de haplotipos raros de HLA se

comparados com os do banco de medula óssea e possuem células tronco

enriquecidas com elementos primitivos que dão origem in vivo às células

responsáveis pela repopulação hematopoiética em longo prazo (Bouzas, 2000;

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42

Filipovich et al., 2001; Gennery e Cant, 2008). Os estudos apontam vantagens no

uso de SCUP nos transplantes HLA semi-idêntico (1 ou 2 antígenos incompatíveis)

se comparado ao uso de medula óssea nestas condições para os pacientes com

IDP, entretanto, outros fatores como o número de células nucleadas totais (CNT)

infundidas por quilograma de peso corporal do receptor influencia nos resultados dos

SCUP, e devem ser levados em consideração (Bouzas, 2000; Filipovich et al., 2001).

A Rede nacional de doadores de medula óssea (REDOME), segundo a supervisora

da rede Dra. Virgínia Pires, tinha até final outubro de 2009 cerca de 1.300.000

doadores cadastrados (comunicação verbal), dos transplantes de medula óssea

realizados em 2009. O Banco de cordão umbilical brasileiro (BRASILCORD) tem

7039 SCUPs criopreservadas, destas 3511 estão liberadas para transplante e 88 já

foram transplantadas até o momento (Brasilcord).

4.2 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS EM

IMUNODEFICIÊNCIA COMBINADA GRAVE (SCID):

A SCID representa o grupo de imunodeficiências que mais realizou TCTH

até o momento e constitui a grande indicação de TCTH nas imunodeficiências. Os

melhores resultados estão associados ao transplante com doador aparentado HLA

idêntico (MRD) e doador não aparentado HLA idêntico (MUD) (Gennery e Cant,

2008; Patel et al., 2008), entretanto, no caso de TCTH com doador não aparentado

HLA idêntico (MUD) a incidência de DECH é maior se comparado com TCTH MRD

(Patel et al., 2008). Como já discutido anteriormente, o regime de condicionamento

nos transplantes com doador HLA idêntico nestes pacientes geralmente não é

necessário, pois estes pacientes apresentam uma redução ou uma ausência de

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43

capacidade de rejeitar células não próprias (Friedrich e Muller, 2004). A

reconstituição imune nos transplantes MRD é mais rápida e a freqüência de DECH é

pequena. Mazzolari e colaboradores encontraram uma relação estatisticamente

significativa entre o uso de condicionamento mieloablativo versus o não

mieloablativo na enxertia de outras linhagens celulares além das de células T.

Aqueles que receberam o condicionamento não mieloablativo ou não receberam

condicionamento demonstraram reconstituição de células B. Os pacientes SCID

devido deficiência de JAK3 são os que geralmente não apresentam reconstituição

de células B (Buckley et al., 1999; Mazzolari et al., 2007). O fenótipo B+, ou seja,

aqueles pacientes que possuem linfócitos B circulantes e não possuem linfócitos T e

células NK, parece estar relacionado a uma maior freqüência de não enxertia de

células B do doador (Patel et al., 2009). A utilização ou não de condicionamento

prévio parece não determinar o desfecho favorável destes pacientes pós-TCTH

(Patel et al., 2009). O uso de condicionamento não mieloablativo foi relacionado a

uma redução da função tímica ao longo dos 10 anos que sucederam o transplante,

entretanto, Sarzotti-Kelsoe e colaboradores avaliaram a reconstituição imune de

pacientes SCID que receberam células progenitoras, rigorosamente depletadas de

células T, de doadores compatíveis e parcialmente compatíveis aparentados, sem

condicionamento prévio e profilaxia para DECH, durante os 25 anos que sucederam

o TCTH, e concluíram que estes pacientes mantém função tímica adequada após 10

anos de transplante (Mazzolari et al., 2007; Sarzotti-Kelsoe et al., 2009). Não se tem

ainda um consenso em relação à utilização do condicionamento nestes pacientes, o

que se sabe é que a adequada remoção das células T do enxerto é peça

fundamental no sucesso destes transplantes. A sobrevida daqueles que receberam

células progenitoras de doador irmão compatível é maior, cerca de 85%, aqueles

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com transplantes não compatíveis aparentado ou não tem uma sobrevida de 75%-

85%, segundo alguns autores (Buckley et al., 1999; Antoine et al., 2003; Mazzolari et

al., 2007; Slatter et al., 2008). O diagnóstico precoce continua sendo o grande

diferencial no prognóstico destes pacientes, pois este permitirá a realização precoce

do TCTH, aumento sobremaneira as chances de sucesso destes pacientes. A

triagem neonatal permitirá a identificação precoce destes pacientes, possibilitando a

adoção de medidas profiláticas e a realização do TCTH na ausência das

complicações infecciosas. Esta triagem ainda não é realizada rotineiramente, alguns

centros nos Estados Unidos da America estão desenvolvendo estudos pilotos e

várias propostas já foram apresentadas pela comunidade científica e algumas já

estão sendo testadas, como a quantificação dos TRECS através de reação em

cadeia de polimerase em tempo real em gotas secas (Chan e Puck, 2005; Puck,

2007; Griffith et al., 2008; Baker et al., 2009).

4.3 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS NA

SÍNDROME DE WISKOTT-ALDRICH

A Síndrome de Wiskott-Aldrich (WAS) é outra doença na qual há uma

extensa experiência em TCTH. Como já discutido, existe uma correlação geno

fenotípica grande nestes pacientes e, portanto, a identificação do tipo de mutação e

ou a identificação da presença ou ausência da WASp permite determinar o

prognóstico daqueles pacientes (Imai et al., 2004; Ochs e Thrasher, 2006). A análise

da expressão da WASp nas células linfóides parece ter uma correlação maior com

gravidade clínica da doença do que a identificação do tipo de mutação (Filipovich,

2001). Aqueles que não tem expressão da WASp vivem até no máximo 15 anos e

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45

aqueles WASp+ podem viver até os 30 anos, entretanto, na maioria das vezes

evoluem com hemorragias intracranianas o que reduz sobremaneira a qualidade de

vida destes (Gennery e Cant, 2008).

A eficácia do TCTH nestes pacientes já é estabelecida e os melhores

resultados são observados nos transplantes com doador fraterno HLA idêntico e nos

transplantes com doadores não aparentados HLA não-idêntico. Os pacientes que

evoluem com quimerismo parcial, ou seja, mantem células próprias e do doador

após o TCTH, têm maiores chances de desenvolverem doenças auto-imunes,

portanto, a obtenção de quimerismo total (no mínimo 95% das células do doador)

pós-transplante é importante para o prognóstico destes pacientes (Gennery e Cant,

2008). A maioria dos transplantes em WAS utiliza regime de condicionamento

mieloablativo, apesar disto, uma pequena parcela rejeita o enxerto (10%) e vários

evoluem em longo prazo com quimeras ou com quimerismo parcial ou misto (Griffith

et al., 2008). Um estudo publicado por Filipovich e colaboradores avaliou o impacto

do tipo de doador nos resultados dos TCTH nos pacientes com WAS. Foram

avaliados 170 pacientes com WAS transplantados entre 1968 e 1996. A

probabilidade de sobrevida pós-transplante de 5 anos global foi de 70%, e as

probabilidades por cada tipo de doador foi 87% para os doadores fraternos HLA

idêntico, 52% para outro doador aparentado (a maioria com 1 ou 2 locus

incompatíveis) e 71% para os não aparentados HLA compatível (P=0.0006). Os

meninos que receberam o transplante de doador não aparentado antes do 5 anos

tiveram sobrevida semelhante a aqueles que receberam de doador fraterno HLA-

idêntico. Várias complicações tardias foram observadas nestes pacientes tais como

doenças auto-imunes, alterações neurofisiológicas e morte por sepse tardia em

pacientes que foram esplenectomizados antes do transplante (Griffith et al., 2008).

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46

Ozsahin e colaboradores realizaram um estudo retrospectivo e multicêntrico para

analisar os resultados em longo prazo dos TCTH, realizados entre 1979 e 2001, nos

pacientes com WAS que sobreviveram até pelo menos 2 anos pós-transplante. Este

estudo observou uma sobrevida (7 anos) global livre de doença de 75%, sendo que

esta foi menor nos doadores aparentados HLA não idêntico; quimerismo misto e

DECH crônica foram as duas variáveis independentes, na análise multivaridada, que

significativamente afetaram a sobrevida livre de doença. Observou-se também uma

forte correlação entre a ocorrência de autoimunidade e o padrão de quimerismo; a

incidência de autoimunidade foi de 72% (13/18) nos pacientes com quimerismo

misto (Ozsahin et al., 2008).

4.4 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS NA

SÍNDROME DE KOSTMANN

O TCTH é geralmente considerado nos pacientes refratários a doses

elevadas de fator estimulante de colônias de granulócitos (G-CSF) ou naqueles que

desenvolvem leucemias e mielodisplasias, sendo que o prognóstico do grupo que se

submete ao transplante após transformação leucêmica é reservado (Zeidler et al.,

2000; Gennery e Cant, 2008). Alguns autores, entretanto, consideram a realização

do transplante precoce naqueles que evoluem para leucemia mielóide aguda ou

síndrome mielodisplásica. O acompanhamento regular possibilita a identificação

precoce da progressão da doença para síndrome mielodisplásica o que, por sua vez,

indica a realização do TCTH antes do desenvolvimento para LMA (Choi et al., 2005).

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47

4.5 TRANSPLANTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS NA

SÍNDROME DE CHEDIAK-HIGASHI

O grande desafio desta doença é a chamada fase acelerada da doença,

evolução da doença de prognóstico sombrio que ocorre em 85% dos pacientes com

Chediak-Higashi. A fase acelerada é caracterizada por febre, hepatoesplenomegalia,

linfoadenopatia, hipertrigliceridemia, hiperfibrinogenemia, hemofagocitose e

infiltração tissular linfohistiocitária, não sendo clinicamente distinguível de outras

síndromes hemofagócíticas.

A indicação de transplante deve ser feita naqueles com irmãos HLA-idêntico

ou outro doador aparentado ou não HLA-idêntico na fase estável da doença ou na

fase precoce pós-remissão (Eapen et al., 2007). Um estudo publicado por Eapen e

colaboradores analisou os resultados dos TCTH em 35 crianças com Chediak-

Higashi, destes 22 tinham uma história prévia de fase acelerada e 11 estavam em

fase acelerada. A probabilidade de sobrevida global de 5 anos foi de 62%; a

mortalidade foi maior naqueles que estavam na fase acelerada e receberam enxerto

de doadores aparentados alternativos (apenas 3 eram HLA-idêntico) (Eapen et al.,

2007).

Um estudo publicado por Tardieu e colaboradores demonstrou a presença

de altas taxas de seqüelas neurocognitivas (dificuldade para andar, perda do

equilíbrio e tremor) em 3 pacientes transplantados há 2 décadas que estavam

evoluindo sem outras infecções de repetição ou síndrome hemofagocítica. Os

sintomas descritos são iguais aos descritos em adultos com a síndrome com uma

apresentação mais leve e que não se submeteram ao TCTH, portanto, estas

“complicações” nada mais são que a evolução da doença que o transplante não é

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48

capaz de modificar. Diante desta observação, estes autores ponderam a

necessidade de se pesar os benefícios imunológicos adquiridos com o TCTH contra

a limitação resultante do déficit cognitivo e neurológico que ocorrem tardiamente a

despeito do transplante (Tardieu et al., 2005). Apesar destas evidências, a

expectativa de vida destes pacientes é consideravelmente menor se não

transplantados e a indicação é para os casos clássicos da doença.

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5 OBJETIVO GERAL

Descrever os aspectos clínicos dos pacientes com diagnóstico confirmado

de Imunodeficiência Primária transplantados no Centro de Transplante de Medula

Óssea do Instituto Nacional de Câncer entre 2000 a 2008.

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6 MATERIAL E MÉTODOS

6.1 DESENHO DO ESTUDO

Estudo transversal descritivo retrospectivo através de revisão de prontuários.

6.2 LOCAL DO ESTUDO

O CEMO/INCA é um centro de referência no tratamento de doenças

hematológicas no Brasil, atendendo pacientes do Rio de Janeiro e demais regiões

do Brasil no âmbito do SUS. O CEMO realiza 95 transplantes em média por ano.

Atualmente é sede do REDOME e é responsável pela coordenação da implantação

da Rede Nacional de Bancos Públicos de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário

para Transplantes de Células-Tronco Hematopoiéticas – BRASILCORD.

6.3 AMOSTRA

A amostra avaliada consistiu de pacientes com diagnóstico imunodeficiência

primária que foram submetidos a transplante de células-progenitoras

hematopoiéticas no CEMO/INCA nos últimos 8 anos. O diagnóstico de

imunodeficiência primária foi feito essencialmente com dados clínicos (anamnese,

exame clínico e exames laboratoriais de rotina para avaliação inicial de

imunodeficiência primária), que foram compatíveis com os critérios estabelecidos na

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51

literatura especializada (Conley et al., 1999; Geha et al., 2007). Resumidamente, os

dados clínico-laboratoriais que permitiram o diagnóstico foram:

- Síndrome de Chediak-Higashi (2 casos): albinismo óculo-cutâneo

parcial; cabelos cinza-prateados, inclusões citoplasmáticas típicas em

leucócitos.

- Síndrome de Wiskott-Aldrich (3 casos): plaquetopenia com

microplaquetas, eczema e infecções recorrentes.

- Síndrome de Ommen (1 caso) – Linfopenia, pneumonias recorrentes,

dados compatíveis na imunofenotipagem de sangue periférico

- Síndrome de Kostmann (1 caso) – Neutropenia congênita grave,

achados compatíveis no aspirado de medula óssea

- SCID T-B+NK- (1 caso) - infecções recorrentes, reação adversa ao

BCG, dados compatíveis na imunofenotipagem de sangue periférico.

- SCID T+B+NK+ (1 caso) - Infecções recorrentes precoces,

consanguinidade dos pais e história familiar com óbito de todos os

irmãos antes dos 2 anos de vida, um deles com dados de necropsia

compatíveis com imunodeficiência grave combinada, permitindo

caracterização de uma forma ainda não classificada de SCID.

Os prontuários dos pacientes incluídos no estudo arquivados no

CEMO/INCA foram revistos e analisados para a coleta dos dados referentes ao

período pré TCTH, ao procedimento em si, ao seguimento/desfecho.

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52

6.4 VARIÁVEIS

Identificação do paciente

Registro na instituição

Gênero

Raça

Data de nascimento

Data do início dos sintomas

Consangüinidade

História familiar de IDP

Histórico de infecções

Internações

Reações vacinais

História de hemotransfusões

Conduta terapêutica

Uso de imunoglobulina

Antibiótico profilático

Diagnóstico final

Data da indicação de TCTH

Data da inscrição no REDOME

Data da identificação do(s) potencial(is) doador(es)

Data da internação para o TCTH

Tipo de doador

Grau de compatiblidade HLA

Status CMV do doador e do receptor no pré TCTH

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53

Estado nutricional no pré TCTH

Uso de antibiótico no pré TCTH

Uso de Imunoglobulina no pré TCTH

Hemotransfusão no pré TCTH

Regime de condicionamento: tipo e medicações utilizadas

Profilaxia para DECH: sim/não e medicações utilizadas

Tempo de pega neutrofílica e de plaquetas

DECH aguda: sim/não e sistemas acometidos

Avaliação de quimerismo: tipo de técnica utilizada, tipo observado

Desfecho: vivo- complicações atuais

Desfecho: óbito- tempo pós transplante e causa

6.5 PROCESSAMENTO DE DADOS

Os dados serão coletados, codificados e transferidos para um banco de

dados utilizando o programa EpiInfo na versão 3.5.1.

6.6 ANÁLISE DOS DADOS

As variáveis foram descritas através de freqüências absolutas e percentuais

para dados qualitativos e, através de médias, desvio padrão e medianas para dados

quantitativos.

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7 QUESTÕES ÉTICAS

A pesquisa foi devidamente aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do

INCA, cujo protocolo foi registrado sob o número CEP 40\09 (Anexo 1).

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8 RESULTADOS

Entre 2000 e 2008 foram realizados 10 transplantes em pacientes com

Imunodeficiência Primária no CEMO-INCA, sendo 2 pacientes com Chediak-Higashi,

3 com Síndrome de Wiskott-Aldrich, 2 com Imunodeficiência Combinada grave, 1

com Síndrome de Kostmann e 1 com Síndrome de Omenn. Deste grupo, 8 são do

sexo masculino e 2 do sexo feminino. A idade média da realização do transplante foi

de 39.7 meses, variando de 12 a 90 meses. Foram coletados dados da história

familiar e patológica pregressa de cada paciente e dados relativos às fases pré e

pós-transplante de cada paciente. O paciente P5 realizou 2 transplantes totalizando

10 transplantes durante o período de estudo. Os dados foram esquematizados na

tabela 4.

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56

Tabela 4 Caracterização dos pacientes na fase pré-transplante

Diagnóstico Principal

Data do TCTH

Idade do Diagnóstico (meses)

Gênero HF Consan-guinidade

HF IDP

HF Óbitos Prematuros

HF Infecções repetição

Reação ao BCG

Internações Prévias (nº)

Estado Nutricional

OMENN 05/2001 6 Masc Não Não Não Não Sim 0-3 Eutrófico

SWA 05/2003 7 Masc Não Não Sim Não Não 0-3 Desnutrido

SWA 08/2004 11 Masc Não Não Não Não Não 6 ou mais Desnutrido

SCID 09/2006 0,7 Fem Sim Não Sim Sim Não 0-3 Desnutrido

SCH 10/2006 Ao nascer Masc Não Sim DP Sim DNO 0-3 Eutrófico

KOSTMANN 12/2006 19 Fem Não Não Sim Não Não 3-6 Eutrófico

SWA 12/2006 1 Masc Não Não Não Não Sim 0-3 Eutrófico

SCH 07/2007 Ao nascer Masc Não Não DP Sim DNO 0-3 Eutrófico

SCH 08/2007 7 Masc Não Não Não Não DNO 3-6 Eutrófico

SCID 08/2007 7 Masc Não Não Sim Sim Sim 0-3 Desnutrido

Legenda: SWA: Síndrome de Wiskott-Aldrich; SCID: Imunodeficiência Combinada Grave; SCH: Síndrome de Chediak-Higashi; IDP: Imunodeficiência Primária; Masc: Masculino; Fem: Feminino; HF: História Familiar; DP: dado perdido; BCG: bacilo Calmette e Guerrin; DNO: dado não obtido

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57

8.1 DISTRIBUIÇÃO POR GÊNERO

Foram analisados 9 pacientes, destes 7 pacientes são do sexo masculino e

2 são do sexo feminino.

8.2 ORIGEM DOS PACIENTES

A grande maioria dos pacientes é originária da cidade do Rio de Janeiro: 8

pacientes eram da cidade do Rio de Janeiro e apenas 1 paciente era de outro

município do estado do Rio de Janeiro.

8.3 ORIGEM DO ENCAMINHAMENTO

O centro que mais encaminhou pacientes para serem transplantados no

CEMO-INCA foi o IPPMG-UFRJ, tendo encaminhado 5 pacientes, 2 foram

encaminhados de outro Hospital Público da Rede do SUS, 1 do Hospital do Servidor

Público Estadual e 1 foi encaminhado de Hospital Privado. A figura 3 representa esta

distribuição.

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58

Figura 3 Distribuição por origem de encaminhamento

8.4 DIAGNÓSTICO PRINCIPAL

Dos 10 transplantes realizados, 3 tinham o diagnóstico de Chediak-Higashi,

3 eram Wiskott-Aldrich, 2 eram Imunodeficiência Combinada Grave (SCID), 1 tinha

Síndrome de Kostmann e 1 a Síndrome de Omenn.

Legenda: SWA:Síndrome de Wiskott –Aldrich; SCID: Síndrome de Imunodeficiência Combinada Grave; Ched-Higashi: Síndrome Chediak-Higashi.

Figura 4 Distribuição de transplantes por diagnóstico principal.

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59

8.5 COMORBIDADES

A presença ou não de co-morbidades associadas à doença de base

(diagnóstico principal) foi avaliada, quando presente, elas foram discriminadas

conforme o quadro 2.

8.6 CONSANGUINIDADE

Apenas 1 transplante foi realizado em paciente com pais consangüíneos.

8.7 HISTÓRIA FAMILIAR

O grupo foi avaliado quanto à história familiar de imunodeficiência, de

infecções de repetição e óbitos prematuros. Aborto espontâneo ou provocado não foi

considerado óbito prematuro. Os resultados foram apresentados nas figuras a seguir

(Figura 5, 6 e 7).

Figura 5 Distribuição percentual por paciente de história familiar de IDP

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60

Figura 6 Distribuição percentual de HF de óbitos prematuros por paciente

Figura 7 Distribuição percentual de HF de infecções de repetição por paciente.

8.8 INTERNAÇÕES PRÉVIAS

Todos os pacientes tinham história de internações prévias ao TCTH, o

número de internações foi classificado em grupos, sendo até 3 internações, de 3 a 6

internações e mais de 6 internações até a admissão no CEMO-INCA. Dos 9

pacientes analisados 6 tinham até 3 internações anteriores, 2 tinham 3-6 internações

e 1 paciente teve 6 ou mais internações. Internação prévia em Centro de Terapia

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61

Intensiva foi observada em 3 pacientes.

8.9 HISTÓRIA DE REAÇÃO ADVERSA AO BCG

As informações sobre a vacinação dos pacientes não estavam disponíveis

na maioria dos prontuários. O P4 (SCID T+, B+, NK+) não recebeu a BCG ao

nascimento, portanto, foram considerados 9 transplantes com possibilidade de

reação ao BCG. O P9 (SCID T+, B-, NK-) recebeu e apresentou cicatrização

demorada e necessidade de isoniazida para tratamento; o P1 apresentou infecção

disseminada pelo M. bovis e o P7 apresentou inflamação persistente no local da

aplicação da BCG, conhecida por BCGeíte, necessitando de isoniazida para

cicatrização. O P6 (Kostmann) recebeu a BCG ao nascimento e não apresentou

reação anormal ao BCG. A figura 8 representa os dados dos 9 pacientes que

receberam.

Legenda: ND:dado não disponível, RR: recebeu a vacina e reagiu; RNR: recebeu e não reagiu.

Figura 8 Distribuição de reação adversa ao BCG

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62

8.10 FASE PRÉ TRANSPLANTE

As informações sobre a condição pré transplante dos pacientes foram

reunidas em 2 grandes grupos: o primeiro refere-se as informações do próprio

paciente e incluem dados sobre as medicações em uso na admissão no CEMO-

INCA, o estado nutricional, presença de infecção ativa, tipo sanguíneo, o status para

Citomegalovírus (CMV); o segundo inclui informações sobre o transplante como o

grau de compatibilidade do antígeno de histocompatibilidade (HLA), o tipo de

doador, o tipo sanguíneo do doador, fonte de células progenitoras hematopoiéticas,

presença ou não de hemotransfusão pré TCTH, presença e tipo de condicionamento

e presença e tipo de profilaxia para DECH. O estado nutricional foi avaliado através

do Z-escore na admissão deste no CEMO pela equipe de nutrição, as informações

obtidas se referem a primeira avaliação do paciente.

Entre os 9 pacientes transplantados, 6 apresentaram infecção na admissão

no CEMO. Observamos 3 casos de infecção por micobactéria, sendo 2 pós-vacinais

e um devido micobactéria tuberculosa; 1 com infecção pelo CMV. A sorologia para

CMV foi positiva em 7 pacientes, sendo que destes, 2 tiveram IgG positiva e 1 teve

IgM positiva confirmada pela antigenemia pós-TCTH. Os 4 pacientes com sorologia

positiva para CMV restantes, 2 tiveram antigenemia positiva pós-TCTH e, nos 2

restantes estes dados não estavam arquivados nos prontuários. As doenças auto-

imunes foram identificadas em 2 pacientes, sendo 1 com WAS (anemia, neutropenia

e urticária) e outro com a Síndrome de Omenn (Síndrome de Guillain-Barré), como

apresentado no Quadro 2. Na avaliação nutricional pré-transplante do CEMO foram

identificados 4 pacientes desnutridos no pré-transplante, sendo que um destes tinha

diarréia crônica (figura 9). O tipo sanguíneo de cada paciente foi descrito na figura

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63

10.

Quadro 2

Nº Pcte Infecções Admissão Cemo Comorbidades

1 Infecção localizada pelo M. bovis (BCGeíte)

Síndrome de Guillain-Barré

2 Sepse de origem intestinal e CMV -

3 Pneumonia e sinusite Anemia, neutropenia e urticária auto-imunes

4 - -

5-1 Escabiose disseminada Sorologia para Hepatite C positiva

6 - -

7 Infecção disseminada pelo M. bovis -

5-2 - -

8 - Remissão de SHF fase acelerada

9 Tuberculose Diarréia crônica

Legenda: SHF:Síndrome Hemofagocítica; M. bovis: micobactéria bovina.

Figura 9 Distribuição do estado nutricional dos pacientes na fase pré-transplante

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64

Figura 10 Distribuição do tipo sanguíneo por paciente

Figura 11 Distribuição da antigenemia pós-TCTH por transplante realizado

8.11 FONTE DE CÉLULAS PROGENITORAS HEMATOPOIÉTICAS E

COMPATIBILIDADE HLA

A medula óssea foi fonte de células progenitoras em 3 transplantes, sendo 1

com SWA, 1 com Chediak-Higashi e um 1 com Kostmann. O sangue de cordão foi a

fonte nos demais transplantes. Dos que utilizaram a medula óssea como fonte de

células progenitoras hematopoiéticas, o P2 e P7 receberam medula de doador

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65

aparentado compatível (6/6) e o P1 recebeu medula de doador não aparentado

compatível (6/6). O tipo sanguíneo do doador está apresentado na figura 16 a

maioria dos doadores era do tipo O Rh+, para 1 transplante este dado não foi obtido

A figura 13 representa a distribuição de tipo de doador por fonte de células

progenitoras hematopoiéticas e a tabela 5 apresenta o grau de compatibilidade HLA

por tipo de fonte de enxerto. A maioria dos doadores era do sexo masculino (6/10), 4

eram do sexo feminino.

Figura 12 Distribuição do tipo sanguíneo do doador por transplante.

Tabela 5 Tabela 6: Grau de compatibilidade HLA por tipo fonte

HLA MO SCUP

4/6 - 4

5/6 - 1

6/6 3 2

Total 3 7

Legenda: HLA: antígeno de histocompatibilidade; MO: medula óssea; SCUP: células progenitoras hematopoiéticas de sangue de cordão ou placentárias.

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66

Legenda: MO: medula óssea; SCUP: células progenitoras de cordão umbilical ou placentária; MMUD: doador não aparentado não compatível; MUD: doador não aparentado compatível; MRD: doador aparentado compatível.

Figura 13 Distribuição do número de transplantes por tipo de doador e fonte de células progenitoras hematopoiéticas.

A quantidade de células nucleadas totais (CNT) transplantadas foi descrita

na tabela 6. A média de células nucleadas totais por kilograma de peso foi de 15,39

X 107 NCT\kg de peso. A concentração média de células CD34+ infundidas por

kilograma de peso nos pacientes que receberam SCUP foi de 0,24 x 106 por

kilograma de peso.

DISTRIBUIÇÃO DE TIPO DE DOADOR POR FONTE

0

5

1

2 2

0

MO SCUP

MMUD MUD MRD

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67

Tabela 6 Número de células nucleadas totais e CD34+ infundidas por Kg de peso

e fonte por transplante

Patiente CNT X 107 CD34+x106\Kg FONTE

1 10,13 0,15 SCUP

2 51,40 MO

3 4,64 0,19 SCUP

4 6,21 0,11 SCUP

5-1 8,40 0,7 SCUP

6 37,79 MO

7 7,69 NR SCUP

5-2 14,18 MO

8 6,33 0,17 SCUP

9 7,14 0,12 SCUP

Legenda: CNT: células nucleadas totais; MO: medula óssea; SCUP: células progenitoras de sangue de cordão e placentária

8.12 HEMOTRANSFUSÃO E USO DE IMUNOGLOBULINA ENDOVENOSA PRÉ-

TRANSPLANTE

A hemotransfusão pré-transplante esteve presente na maioria absoluta dos

casos analisados, em apenas 1 prontuário este dado não estava disponível. A

reposição de imunoglobulina venosa já era realizada em 8/10 dos transplantes

analisados e 1/10 não realizada reposição de imunoglobulina prévia.

8.13 REGIME DE CONDICIONAMENTO

O regime de condicionamento foi classificado em mieoloablativo e reduzido,

dependendo da medicação e da dosagem utilizada. Dos 10 transplantes, 6 utilizaram

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68

regime mieloablativo e 4 regime de condicionamento reduzido (RIC). A distribuição

do tipo de condicionamento por tipo de doador e por grau de compatibilidade HLA

estão apresentadas nos quadros 3 e 4, respectivamente. As drogas utilizadas no

regime mieloablativo foram Bussulfano, ciclofosfamida, nos regimes reduzidos foram

utilizados Fludarabina, Melfalano. A globulina anti-timócito (ATG) foi utilizada em

ambos os esquemas.

Dentro do grupo que recebeu regime mieloablativo, 3 eram SWA, 2 Chediak-

Higashi e 1 Kostmann. Os 2 pacientes com SCID, 1 Chediak-Higashi e 1 Síndrome

de Omenn receberam o regime mieloablativo, conforme representado no quadro 3.

Quadro 3 Distribuição do Regime de condicionamento por tipo de doador

TIPO DO DOADOR MIELOABLATIVO REDUZIDO TOTAL

MMUD 3 2 5

MRD 2 0 2

MUD 1 2 3

TOTAL 6 4 10

Legenda: MMUD: doador não parentado não compatível; MRD: doador aparentado compatível; MUD: doador não aparentado compatível.

Quadro 4 Distribuição do Regime de Condicionamento por Grau de

compatibilidade HLA.

GRAU DE COMPATIBILIDADE HLA 4/6 5/6 6/6 TOTAL

CONDICIONAMENTO MIELOABLATIVO 2 1 3 6

CONDICIONAMENTO REDUZIDO 2 2 4

Legenda: HLA: antígeno de histocompatibilidade principal.

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Legenda: SWA: síndrome de wiskott-aldrich; SCID: imunodeficiência combinada grave; CHEDIAK-HIGASHI: síndrome de chediak-higashi.

Figura 14 Distribuição de patologias por regime de condicionamento

8.14 PROFILAXIA PARA DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO

Dos 10 transplantes realizados, 9 receberam profilaxia para DECH, sendo

que o P9, um SCID T-B+NK- não recebeu. As medicações utilizadas foram

Metotrexato (MTX), ciclosporina A (CsA) e corticosteróide em diversas combinações,

conforme descrito no quadro 5.

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70

Quadro 5 Esquemas terapêuticos utilizados por transplante

Paciente Regime de condicionamento Profilaxia para DECH

1 FLU/Melfalano/ATG CsA/Corticosteróide

2 BU CsA

3 BU/CY/ATG CsA/corticosteróide

4 FLU/Melfalano MTX/CsA

5-1 FLU/Melfalano/ATG MTX

6 BU/CY CsA/Metotrexato

7 BU/CY/ATG CsA/ Metotrexato

5-2 BU/CY/ATG MTX/CsA

8 BU/CY/ATG MTX/CsA

9 FLU/ATG/Melfalano -

Legenda: BU: bussulfano; CY: ciclofosfamida; ATG: globulina antitimócito; FLU: fludarabina; CsA: ciclosporina A; MTX: metotrexato; DECH: doença enxerto contra hospedeiro.

8.15 TEMPO DE ESPERA ENTRE O CADASTRO NO REGISTRO DE

RECEPTORES DE MEDULA ÓSSEA E O TRANSPLANTE

O tempo médio entre a inclusão do paciente no sistema de cadastro de

receptores de medula óssea (REREME) e a realização do transplante foi de 9.8

meses, variando de 4 meses a 17 meses; o P2 e o P6 (doador irmão) receberam

células progenitoras hematopoiéticas de doadores aparentados.

8.16 DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO AGUDA

A DECH aguda só ocorreu em 1 paciente (P4), um SCID T+, B+, NK+, ainda

não classificado, que recebeu um condicionamento reduzido e profilaxia para DECH

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71

(ciclosporina e metotrexato). Apenas 1 paciente não realizou profilaxia para DECH, o

paciente era um SCID T-, B+, NK-, recebeu condicionamento reduzido e não

apresentou DECH aguda. O P4 apresentou DECH aguda grau 4 com

comprometimento de pele e trato gastrointestinal com comprometimento hepático

inclusive e respondeu adequadamente ao tratamento.

Figura 15 Distribuição percentual da presença de DECH aguda por transplante.

8.17 RECONSTITUIÇÃO IMUNOLÓGICA: TEMPO DE PEGA DE PLAQUETAS E

NEUTRÓFILOS

O tempo é representado pelo dia após o transplante, ou seja, o D+

considerando o D0 a partir do procedimento. O tempo de pega de plaquetas médio

observado foi de 80,28 dias pós-TCTH, variando de 0 a 408 dias. A pega neutrofílica

ocorreu em média em 15,87 dias, sendo que tempo máximo observado foi de 26

dias. A figura 16 representa os transplantes que foram realizados e o tempo de pega

de plaquetas correspondente, nesta estão ausentes 2 TCTH cujos prontuários não

continham informações sobre tal variável, e a figura 17 representa o tempo de pega

neutrofílica dos 9 transplantes cuja informação estava disponível.

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72

Figura 16

Figura 17

8.18 DOENÇA ENXERTO CONTRA HOSPEDEIRO CRÔNICA

A classificação de DECH crônica utilizada no estudo foi a proposta por

Shulman e colaboradores em 1980, uma vez que o presente estudo foi retrospectivo

e os dados coletados não estavam em concordância com a classificação atualmente

utilizada proposta pelo National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos

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(Filipovich, 2008). Do grupo estudado, 4 evoluíram com DECH crônica, não foi obtido

a data precisa do início dos sintomas, portanto, o tempo médio de surgimento desta

não pode ser calculado. Todos os pacientes com DECH crônica estavam vivos até o

fechamento deste estudo e apresentavam até a última consulta ambulatorial

sintomas desta doença. Os 4 pacientes tiveram comprometimento de pele, com

xerodermia e presença de lesão semelhante ao líquen escleroso, a P4 desenvolveu

eritema palmar associado. O P3, P4, P7 apresentaram líquen jugal, P6 e o P4

evoluíram com aumento das transaminases. O comprometimento pulmonar crônico,

com necessidade do uso regular de corticoíde inalatório foi observado em 2

pacientes. Todos obtiveram boa resposta ao tratamento instituído. Na última

consulta ambulatorial destes pacientes, P6 não estava fazendo uso de nenhuma

medicação regular para DECH crônica; P3 fazia uso regular de corticoterapia

inalatória e β2-adrenérgico de longa duração para controle dos sintomas pulmonares

persistentes; P4 também faz uso de medicações para o quadro pulmonar; P7 não

estava em uso regular de medicação para a DECH crônica. O quadro 6, apresenta a

distribuição de DECH crônica nas patologias transplantadas.

Quadro 6 Distribuição de DECH crônica por diagnóstico principal

DECH CRONICA CHED-HIGASHI KOSTMANN OMENN SCID SWA TOTAL

SIM 0 1 0 1 2 4

NÃO 3 0 1 1 1 6

TOTAL 3 1 1 2 3 10

Legenda: DECH: doença enxerto contra hospedeiro, SCID: imunodeficiência combinada grave.

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8.19 DESFECHO

Foram analisados 9 pacientes e 10 TCTH, destes 4 pacientes estavam vivos

até outubro de 2009. Os 5 pacientes que evoluíram para óbito foram os P1, P2, P5,

P8, P9. O tempo médio de vida entre o transplante e o óbito foi de 80,8 dias pós-

transplante, variando de 12 a 320 dias. O P5 realizou 2 transplantes, houve perda do

enxerto no D+265 do primeiro TCTH e o óbito foi no D+ 46 pós segundo TCTH e no

D+ 320 dias pós segundo TCTH. As causas dos óbitos foram descritas no quadro 6.

No grupo dos pacientes que evoluíram para o óbito, temos 1 SCID, 2 Chediak-

Higashi, 1 Wiskott-Aldrich e 1 com Síndrome de Omenn. O P1 realizou o TCTH aos

19 meses de idade, o P2 aos 12 meses de idade, o P5-1 aos 55 meses e o P5-2 aos

67 meses de idade, P8 aos 12 meses de idade e o P9 aos 14 meses de idade. A

média de idade no TCTH dos pacientes que evoluíram para óbito foi de 37,6 meses.

Dentro do grupo que evolui para óbito, 4 tinham co-morbidades na admissão no

Cemo.

Dentro do grupo dos que evoluíram favoravelmente temos o P3 (SWA), o P4

(SCID), o P6 (Kostmann), o P7(SWA). A média de idade no transplante destes

pacientes foi de 45 meses; destes 3 pacientes não tinham comorbidades. Nestes, 2

receberam de doadores com compatibilidade HLA 4/6, 1 com HLA 5/6 e 1 com 6/6

(Quadro 7).

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Quadro 7 Causa do óbito.

Nº Pcte Causa do Óbito

P1 Sepse, plaquetopenia, IRA

P2 Choque séptico

P5 BCP, Hemorragia digestiva alta, aplasia de medula e choque

P8 Fusariose disseminada, choque séptico

P9 Infecção pela micobactéria tuberculosa e falência múltipla de órgãos

Legenda: IRA: Insuficiência renal aguda, PCR: parada cárdio respiratória, BCP: broncopneumonia.

O escore de Lansky foi calculado para todos os pacientes vivos, a média

deste foi de 92,5, variando de 100(P6) e 90 (P3, P4, P7). O escore de Lansky

(apêndice 2) foi desenvolvido para avaliar a qualidade de vida dos pacientes

oncológicos e é aplicado rotineiramente nos pacientes com doença maligna no

CEMO (Lansky et al., 1987). Os dados sobre o quimerismo foram coletados para os

pacientes vivos até o presente estudo, foi considerado para análise o último

quimerismo registrado no prontuário do paciente. quimerismo através do método

clássico de citogenética. O método utilizado para a avaliação do quimerismo foi a

quantificação, através da reação em cadeia de polimerase (PCR), de padrões

repetitivos individuais de seqüencias de DNA (VNTR). Todos os pacientes

apresentaram quimerismo total. A tabela 7 resume as informações do transplante e

desfecho de cada paciente.

Tabela 7 Correlação entre Compatibilidade HLA e desfecho

Compatibilidade HLA ÓBITO VIVO

4/6 2 2

5/6 0 1

6/6 4 1

Legenda: HLA: antígeno de histocompatibilidade principal

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Tabela 8

Nº Paciente

Diagnóstico Fonte Progenitores

Tipo de doador

CNT/Kg X 107

Tempo de pega de Plaquetas

Tempo de pega de neutrófilos

DECH aguda

DECH Crônica

Desfecho Óbito

1 OM SCUP MUD 10,13 0 0 NÃO NÃO ÓBITO D+11

2 SWA MO MRD 51,40 ND 13 NÃO NÃO ÓBITO D+45

3 SWA SCUP MMUD 4,64 58 24 NÃO SIM VIVO -

4 SCID SCUP MMUD 6,21 41 15 SIM

Grau 4 SIM VIVO -

5-1 C-H SCUP MMUD 8,40 38 22 NÃO NÃO ÓBITO D+320

6 KOST MO MSD 37,79 17 17 NÃO NÃO VIVO -

7 SWA SCUP MUD 7,69 408 22 NÃO SIM VIVO -

5-2 C-H MO MUD 14,18 0 0 NÃO NÃO ÓBITO D+47

8 C-H SCUP MMUD 6,33 ND ND NÃO NÃO ÓBITO D+27

9 SCID SCUP MUD 7,14 ND 26 NÃO NÃO ÓBITO D+33

Legenda: OM: Síndrome de Omenn; SWA: Síndrome de Wiskott-Aldrich; SCID: Imunodeficiência Combinada Grave; C-H: Chediak-Higashi; Kost: Síndrome de Kostmann; SCUP: célula tronco de cordão umbilical e placentário; MO: medula óssea; MUD: doador não aparentado compatível; MRD: doador aparentado compatível; MMUD: doador não aparentado não compatível; ND: não disponível

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9 DISCUSSÃO

Atualmente, temos mais de 150 Imunodeficiências Primárias diferentes

classificadas, as predominantemente Humorais são as mais freqüentes e são, de

modo geral, tratadas com a reposição de Imunoglobulina (Geha et al., 2007; Leiva et

al., 2007, Pérez et al., 2007). As outras doenças representam 46,8 a 25% das IDP

(Knerr e Grimbacher, 2007). Destas últimas, as Imunodeficiências Combinadas é o

grupo mais representativo numericamente e que mais se beneficia com o TCTH. A

real incidência destas doenças ainda é desconhecida e não temos, até o presente

trabalho, valores da incidência e da prevalência destas doenças baseados em

estudos populacionais (Lindegren et al., 2004; Leiva et al., 2007).

O TCTH surgiu como uma ferramenta curativa para aqueles pacientes mais

graves, sobretudo os com IDP combinada, os quais sem o TCTH estes pacientes

evoluem para a morte. O sucesso do TCTH depende muito do diagnóstico precoce,

pacientes precocemente diagnosticados apresentam menos complicações

decorrentes das infecções de repetição e ou ainda não manifestaram na sua

totalidade as sintomas da doença de base (Gennery e Cant, 2008). Não só o atraso

no diagnóstico pode alterar o prognóstico destes pacientes, mas também o tempo

prolongado para a busca por um doador compatível. Estes pacientes correm contra

o tempo, de modo que aqueles que não possuem doadores aparentados

compatíveis se beneficiam em muito de um sistema eficaz e rápido de identificação

de doador compatível. O cruzamento das informações do REREME e do

REDOME/BRASILCORD permite a identificação dos possíveis doadores.

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Atualmente, ainda uma parcela, cerca de 30% dos receptores, necessita de busca

internacional o que onera em muito o procedimento. O alto custo do transplante

nestes pacientes aliado a ainda alta mortalidade associada a estas doenças é a

base das discussões atuais. Os estudos revelam um aumento progressivo da

sobrevida pós-TCTH destes pacientes, sobretudo daqueles transplantados

precocemente, com doadores compatíves aparentados ou não (Friedrich e Muller,

2004; Al-Ghonaium, 2008; Diaz de Heredia et al., 2008; Gennery e Cant, 2008). Os

riscos associados ao próprio TCTH já podem ser reduzidos naqueles com indicação

de uso de condicionamento reduzido. A doença enxerto contra hospedeiro aguda

grave parece não ser o grande problema nestes pacientes (Tsuji et al., 2007; Slatter

et al., 2008). Alguns estudos já avaliaram isto e as complicações em longo prazo

mais observadas são as relacionadas as da DECH crônica, as doenças auto-imunes

e as neoplasias (Choi et al., 2005; Chinen et al., 2007). Algumas manifestações das

doenças, como a microtrombocitopenia da WAS pode não ser revertida com o

TCTH, e a tendência ao desenvolvimento de doenças auto-imunes tão pouco,

portanto, o TCTH não é capaz de reverter todas as manifestações clínicas das

doenças (Haddad et al., 1995; Tardieu et al., 2005; Ozsahin et al., 2008).

Os resultados não são homogêneos entre as doenças, a SCID é a mais

transplantada e os resultados são os melhores, outras como a Doença

Granulomatosa Crônica os resultados são mais conflitantes e não há um consenso

sobre o melhor esquema de TCTH. A enorme gama de doenças e de apresentações

clínicas dificulta a uniformização das informações e não há, até o presente estudo,

um protocolo já validado de transplante nos pacientes com IDP (Griffith et al., 2008;

Porta et al., 2008).

O centro que tem a maior casuística de TCTH em pacientes com IDP é a

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Universidade Federal do Paraná, com 36 transplantes entre 1992-2006 (CONIP,

2006). O CEMO-INCA transplantou os 9 pacientes analisados neste presente

estudo. Com a divulgação dos 10 sinais de alerta para Imunodeficiência Primária e a

crescente conscientização da comunidade médica na importância do diagnóstico

precoce destas doenças, muito provavelmente observaremos um aumento no

número de casos e na necessidade de TCTH, o que demandará um número maior

de centros capacitados (humano e tecnicamente) para a realização destes

procedimentos.

A distribuição dos nossos pacientes revela uma tendência já observada por

outros estudos de predomínio de pacientes do sexo masculino, muito em função de

muitas destas serem ligadas ao cromossoma X (Seger et al., 2002; Tsuji et al.,

2006).

Pérez e colaboradores apresentaram em 2007 os dados do Registro

Argentino de Imunodeficiências Primária, neste a média de idade do diagnóstico de

agamaglobulinemia ligada ao X foi de 2,66 anos, a mediana da idade do diagnóstico

de todas as IDP foi de 4,8 anos, sendo que a maioria foi diagnosticada antes dos 18

anos de idade, entre 1999-2005 (Pérez et al., 2007). Gonzáles e colaboradores

(2000) obtiveram uma média de idade de diagnóstico para pacientes com SCID de

4,25 meses. A média de idade do diagnóstico foi de 6,5 meses e a média de idade

de realização do transplante foi de 36,4 meses, variando de 12 a 78 meses. Este

dado não é uniforme na literatura, os estudos retrospectivos que avaliaram coortes

mais numerosas demonstraram uma grande variação da idade no TCTH, muito em

função da variabilidade dos diagnósticos e da época da realização do transplante

(Haddad et al., 1995; Gennery et al., 2004; Roesler et al., 2004; Tsuji et al., 2006;

Sato et al., 2007).

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Os pacientes são na sua maioria da cidade do Rio de Janeiro, apenas 1

paciente é de outro município do estado do Rio de Janeiro. Diante desta

observação, não podemos afirmar que existe uma falha no encaminhamento destes

pacientes para os serviços terciários da capital, mas podemos levantar 2 hipóteses:

1ª hipótese- os pacientes não são diagnosticados precocemente e evoluem para

óbito; 2ª hipótese- os pacientes são encaminhados, porém não chegam até os

serviços de referência a tempo de serem tratados. Na realidade, não basta

diagnosticarmos precocemente estes pacientes, o sistema de saúde tem que ser

capaz de absorver esta demanda, dando o devido o encaminhamento para estes

pacientes. A maioria foi encaminhada de centros terciários de atenção a saúde,

unidades consideradas de ensino e pesquisa, apenas 1 paciente foi encaminhado

por 1 Hospital Privado após 1 TCTH sem sucesso prévio (dado não incluído no

estudo, pois foi realizado fora do CEMO-INCA). O IPPMG-UFRJ é a unidade federal

que mais encaminhou pacientes com diagnóstico de IDP para tratamento no CEMO-

INCA. Os pacientes com SCIDs são os mais freqüentemente transplantados, e no

presente estudo foram transplantados 3 pacientes com SCID, 0,33% (3/9 pacientes)

da amostra estudada.

A história patológica pregressa e familiar dos pacientes nos fornece dados

relevantes e suficientes para a suspeita de IDP. Consanguinidade é um dado

freqüentemente pesquisado nas famílias com pacientes com IDP, pois muitas têm

padrão de herança autossômica recessivo, podendo estar presente em outras

gerações da família. Na nossa amostra, 1 paciente tinha pais consangüíneos.

História de abortos e ou morte precoce não são específicos de IDP, mas podem

sugerir a presença de alguma doença genética. A história de morte precoce por

infecção é um dado relevante na história familiar. Um paciente com Chediak-Higashi

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teve 1 irmão com a mesma doença que morreu precocemente por fase acelerada da

doença (JM Cunha, comunicação pessoal). História familiar de infecções de

repetição esteve presente em 3 pacientes. Apenas 2 pacientes que tinham história

familiar de óbitos prematuros não tinham história de infecção de repetição. A história

familiar positiva de infecções de repetição e ou de óbitos prematuros foi decisiva

para a não vacinação pelo BCG do P4. O diagnóstico foi confirmado com 1 mês de

vida e não vacinação ao nascimento impediu que este paciente pudesse sofrer das

complicações, muitas vezes fatais, da BCG em pacientes com SCID. A vacinação

universal pelo BCG, logo após o nascimento, realizada no Brasil representa um risco

para os pacientes com SCID e, nestes casos, a valorização da história familiar é

primordial, pois o adiamento desta até a confirmação da suspeita de IDP pode

significar vida para estes pacientes. Entretanto, não podemos nos esquecer da

realidade da Tuberculose no Brasil, a incidênca de Tuberculose na população do

Estado do Rio de Janeiro em 2007, segundo o DATASUS, é de 73,25 casos por

100.000 habitantes, portanto, deixar de vacinar não parece ser a melhor conduta

para a nossa realidade, talvez o adiamento naqueles pacientes suspeitos deva ser a

melhor conduta (www.tabnet.datasusgov.br). Este tipo de complicação não é

descrita nos estudos americanos e europeus, pois a BCG não é aplicada nestes

países. No nosso estudo, apenas 1 paciente não foi vacinado pelo BCG em função

da história familiar, dos que foram vacinados. O paciente cujo irmão faleceu com o

diagnóstico de Chediak-Higashi não tinha informações sobre a vacinação pelo BCG

e sobre reação a este, mas o diagnóstico foi feito ao nascimento e, muito

provavelmente, ele também não foi vacinado pelo BCG. Recentemente, em 2007, a

França (país no qual foi desenvolvida e introduzida a vacinação com BCG) suprimiu

a vacina BCG intradérmica compulsória no período neonatal (Guthmann et al.,

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2009), entretanto, naquele país a incidência desta doença é menor que a do Brasil.

Na amostra estudada, dos 10 transplantes realizados, 5 tinham outras

doenças associadas à doença de base. A presença de co-morbidades associadas

ou não à doença de base é considerada fator de pior prognóstico para estes

pacientes, assim como a presença de infecção ativa no pré-transplante. A infecção

no pré-transplante foi observada em 6 transplantes estudados, destas 2 foram

infecção disseminada pelo BCG, demonstrando a necessidade de se discutir o

adiamento da vacinação nos casos com suspeita familiar ou na presença de sinais e

ou sintomas precoces suspeitos, como a presença de eritrodermia ao nascimento.

Os pacientes com a Síndrome de Omenn apresentam já ao nascimento um quadro

de eritrodermia que pode orientar a suspeita diagnóstica e sugerir o adiamento da

vacinação pelo BCG. Discute-se o desenvolvimento dos 10 sinais de alerta para o

período neonatal, uma vez que, muitos dos sinais propostos só estão presentes mais

tardiamente e, como já discutido, os casos mais graves necessitam de diagnóstico

precoce. Estes sinais ainda não foram validados, mas foram apresentados no II

Simpósio Internacional de Imunodeficiência Primária pela equipe da USP. A triagem

neonatal é uma opção futura, atualmente, apenas 1 estado nos EUA estão

desenvolvendo um estudo piloto sobre a aplicabilidade desta triagem. Como já

discutido, a real prevalência destas doenças é desconhecida, muito possivelmente

por muitos falecerem sem diagnóstico, de maneira que a inclusão destas no pacote

de doenças triadas ao nascimento necessitará de maior conhecimento sobre a

doença e do seu impacto no sistema de saúde pública. Quando correlacionamos a

presença de co-morbidades e a presença de infecção na admissão no Cemo Inca

observamos que dos 5 pacientes que apresentaram co-morbidades, 4 evoluíram

para óbito e 1 está vivo. Dos 5 pacientes que tinham infecção ativa, 3 evoluíram para

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o óbito. As relações não foram estatisticamente significativas, provavelmente pelo

número reduzido de pacientes, mas estão de acordo com observamos na literatura.

Os pacientes com melhor evolução são aqueles sem infecção e sem co-morbidades,

o que é observado naqueles diagnosticados precocemente!

Os pacientes considerados desnutridos pelo Z-escore no pré-transplante

(4/10) não representaram a maioria e destes, 50% evoluiu para óbito. O estado

nutricional também contribui para o pior prognóstico dos pacientes. Normalmente, o

que se observa é que em função das inúmeras infecções e internações, estes

pacientes não apresentam um ganho de peso adequado. Observamos mais

pacientes eutróficos do que desnutridos, estes são pacientes com história de

infecções de repetição e de internações anteriores, situações estas que favorecem o

ganho ponderal inadequado. Quando cruzamos as 2 variáveis, vimos que daqueles

que tinham infecção ativa no pré-transplante (5/9), 3 estavam desnutridos, e

daqueles que não tinham infecção ativa (4/9), 1 estava desnutrido. Os dados não

apresentaram correlação estatisticamente significativa, entretanto, as infecções de

repetição de modo geral comprometem o estado nutricional dos pacientes o que por

sua vez, piora o prognóstico destes.

A reposição de imunoglobulina faz parte do arsenal terapêutico destes

pacientes, pois reduzem o número de infecções e, aumentam a sobrevida destes

pacientes. Além da reposição de imunoglobulina, muitos dos pacientes com IDP se

beneficiam de quimioprofilaxia. Todos os pacientes quando encaminhados ao CEMO

no pré-transplante já estavam em uso de antibiótico - profilaxia.

A avaliação da sorologia para CMV dos pacientes no pré-transplante é

fundamental, pois a detecção precoce desta e de outras infecções virais (EBV,

Hepatite A, B, C; HSV) permitirá o tratamento precoce e a prevenção de

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complicações que podem ser fatais. O condicionamento e a intensa

imunossupressão resultante favorecem o surgimento de sintomatologia destas

infecções que poderiam estar latentes (Nichols et al., 2003). Na amostra, 7 tinham

sorologia positiva para CMV, destes, 3 tiveram a antigenemia positiva no pós-TCTH

confirmando a sorologia. Nenhum paciente apresentou reativação do CMV pós-

TCTH, confirmando a importância do diagnóstico pré TCTH desta infecção na

prevenção da reativação da infecção e, consequentemente, no aumento da

sobrevida pós-TCTH. Nenhum dos pacientes que faziam reposição com

imunoglobulina tinha sorologia positiva para CMV. A análise das informações sobre

o CMV ficou falha, pois informações sobre a antigenemia pós-TCTH não estavam

disponíveis em 4 prontuários analisados.

O tipo de enxerto mais utilizado foi o SCUP (7/10). O SCUP tem sido

gradativamente mais utilizado como fonte de células progenitoras hematopoiéticas.

Os estudos apontam que incompatibilidades em 1 loci, ou seja, HLA 5/6 em

transplantes com SCUP são tão viáveis quanto HLA 6/6 com MO. Dos 7 TCTH com

SCUP, 4 (57,1%) evoluíram para óbito. No grupo dos que estão vivos (4/9), 3

receberam SCUP. O número de células nucleadas totais (CNT) infundidas por

kilograma de peso tem um papel fundamental nos resultados dos transplantes com

SCUP, a quantidade média infundida nos TCTH estudados foi de 15,39 X 107CNT/kg

de peso, bem acima da concentração mínina preconizada pelo Banco Europeu de

Cordão Umbilical (Eurocord). Este orienta que unidades com menos de 3,5 x 107

CNT\kg não sejam administradas (Gluckman et al., 2004). A concentração de células

CD34+ nas bolsas de SCUP é outro fator relacionado a uma melhor enxertia e deve

ser avaliado juntamente com o CNT, principalmente quando o CNT está entre 1- 2x

107 (para doenças malignas), pois fornecerá outros parâmetros na avaliação daquela

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fonte de células progenitoras. A concentração de células CD34+ /kg de peso deve

ser maior que 2 -2,5 x 105/kg (Rocha e Gluckman, 2009). Na nossa amostra a média

de células CD34+ foi 2,4 x105/kg de peso, dentro dos níveis considerados ideais. A

concentração de células CD34+ está sendo monitorada atualmente pelo Banco de

cordões do CEMO, a concentração desta, até então, não era considerada como fator

primordial na escolha da bolsa. Os estudos sobre o papel das células CD34+ na

pega dos enxertos são relativamente recentes e, portanto, os TCTH mais antigos

não foram analisados neste aspecto.

Outros fatores são relacionados a uma melhor sobrevida pós-TCTH, não

apenas o tipo de enxerto e a compatibilidade HLA (Gennery e Cant, 2008), de

maneira que a prevalência de SCUP entre os que evoluíram para morte não pode

ser analisada isoladamente. A compatibilidade HLA é determinante no prognóstico

dos transplantes, todos os pacientes foram transplantados com no máximo 2 locus

incompatíveis, no grupo que tinha compatibilidade 6/6 o desfecho foi pior, 4

evoluíram para a morte. Outros fatores provavelmente estão associados a esta pior

evolução, 2 representam os primeiros transplantes da instituição, o terceiro

representa o único paciente que foi transplantado 2 vezes e, mesmo com uma

medula totalmente compatível, evolui com infecções generalizadas, os outros 2

pacientes. O tempo para a localização de doadores compatíveis tem um impacto

importante na sobrevida destes pacientes, quanto menor o intervalo entre a inscrição

no banco de receptores (REREME) e a busca no REDOME e no Brasilcord, maiores

serão as chances de sobrevida destes pacientes. Juntamente com o diagnóstico

precoce, a rápida localização de um doador compatível (HLA: 6/6 até 4/6) são

fatores determinantes do sucesso do TCTH nestes grupos de doentes. O custo do

TCTH em pacientes com IDP está sendo analisado, não temos dados nacionais e

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oficiais sobre este custo. O que se sabe é que provavelmente supere o custo de um

transplante em paciente com doença maligna. A busca internacional de doadores

pode ser necessária naqueles pacientes que não encontraram doador compatível

nos bancos nacionais e é uma etapa que aumenta sobremaneira o custo do

procedimento. Quanto maior o número de bolsas de SCUP armazenadas e de

doadores de MO cadastrados, maiores serão as chances de se localizar um doador

compatível no território nacional, reduzindo os custos relacionados à busca de

doadores internacionais (Bouzas, 2000). O regime de condicionamento de

intensidade reduzida em TCTH em pacientes com IDP, sobretudo naqueles com

outras complicações relacionadas à doença de base, reduz a toxicidade relacionada

ao procedimento, em contrapartida, está relacionado a uma reconstituição

imunológica mais lenta, ao desenvolvimento de quimerismo misto e a perda gradual

do enxerto. Vários estudos atuais têm avaliado a eficácia deste condicionamento em

doenças não malignas e este tem se mostrado uma boa alternativa aos regimes

mieloablativos (Jacobsohn et al., 2004; Mazzolari et al., 2007). Como já discutido, os

SCIDs teoricamente não necessitam de condicionamento e estudos apontam que

TCTH realizados no período neonatal, mesmo com doadores não compatíveis,

apresentam boa sobrevida na ausência de condicionamento (Myers et al., 2002),

entretanto, outros estudos relataram uma perda gradual da função tímica e ausência

de produção de células B, sobretudo nos pacientes com SCID B+, após 10 anos do

TCTH sem condicionamento (Sarzotti et al., 2003). Os 3 pacientes com SCID

receberam condicionamento reduzido, a média de dias para a pega de neutrófilos

destes foi de 20,5 e a média da pega do grupo foi de 15,87 (Um paciente com SCID

não apresentou pega, pois faleceu precocemente). Na nossa amostra todos

utilizaram o RIC e 1/3 (33,3%) apresentou adequada enxertia e evolui com

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quimerismo total e reconstituição da linhagem B. A intensa imunossupressão

induzida pelo condicionamento mieloablativo é uma das principais causas de

complicações infecciosas pós-TCTH e, consequentemente, de morte. A literatura

não é uniforme quanto ao condicionamento para as demais IDP, e a possibilidade de

redução da toxicidade relacionada ao procedimento é a grande vantagem deste

regime (Jacobsohn et al., 2004; Gungor et al., 2005; Mochizuki et al., 2009; Qasim et

al., 2009; Soncini et al., 2009). A avaliação da pega do enxerto foi realizada através

do tempo de pega neutrofílica e de plaquetas. A média de pega neutrofílica foi de

15,87 e a de plaquetas foi 80,28 dias pós-TCTH. Na literatura, a tempo médio de

pega neutrofílica variou de 10-26 dias pós-TCTH e o de plaquetas variou de 11-126

dias (Jacobsohn et al., 2004; Gungor et al., 2005; Eapen et al., 2007; Sato et al.,

2007). A literatura descreve o atraso na reconstituição do número e do tamanho das

plaquetas, muitas vezes, os pacientes com WAS evoluem com trombocitopenia

autoimune, sobretudo aqueles com quimerismo misto, mantendo níveis baixos de

plaquetas de tamanho normal (Dupuis-Girod et al., 2003; Ozsahin et al., 2008). Os

demais transplantes apresentaram pega entre 17-58 dias, incluindo os outros 2

pacientes com WAS. A reconstituição imune em transplantes com SCUP é tida como

sendo mais lenta que a pós-transplante de medula óssea (Baker et al., 2007; Rocha

e Gluckman, 2009;). O tempo médio de pega neutrofílica naqueles que receberam

SCUP (D+21,8) foi maior que o daqueles que receberam MO (D+15) como fonte de

células progenitoras hematopoiéticas, embora, tal diferença não seja

estatisticamente significativa.

A freqüência de DECH aguda neste grupo de pacientes é muito variável, nos

últimos anos vem se observando uma redução na freqüência de DECH aguda,

sobretudo nos pacientes com SCID, redução esta relacionada a avanços na

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manipulação dos enxertos, na utilização de doadores com um grau de

compatibilidade maior e ao condicionamento e a profilaxia empregada (Patel et al.,

2009). Na nossa amostra, apenas 1 (10%) paciente teve DECH aguda. O paciente

que apresentou DECH aguda recebeu condicionamento de intensidade reduzida,

profilaxia para DECH e enxerto de doador não compatível não aparentado (HLA

4/6). A DECH crônica foi observada em todos os pacientes que estão vivos até o

presente estudo. Um dos fatores de risco para o desenvolvimento de DECH crônica

é a DECH aguda prévia; apenas 1 paciente apresentou DECH aguda e crônica. Dos

que evoluíram com DECH crônica tivemos 2 TCTH com doador HLA 6/6 e 2 com

doador HLA 4/6, a fonte foi SCUP em 3 transplantes e MO em 1 transplante e

apenas 1 paciente foi transplantado acima de 1 ano de idade. O sexo do doador não

foi pesquisado no presente estudo. Dos fatores mais associados à DECH crônica na

literatura, pudemos identificar na nossa amostra a idade avançada no TCTH; a

presença de DECH aguda prévia e a utilização de enxertos de doadores não

totalmente compatíveis. O comprometimento de pele foi o mais freqüente,

representando 75% dos casos que evoluíram com DECH crônica, seguida do

comprometimento de boca em 50% dos casos. O comprometimento pulmonar não é

comum, variando de 4-19% na literatura, na nossa amostra foi evidenciado em 2/4

pacientes com DECH crônica (Lee e Flowers, 2008). Destes, 1 tem história de

internação prolongada em CTI com necessidade de suporte ventilatório, o que pode

ter contribuído pelo agravamento da função pulmonar após o transplante.

O início dos sintomas ocorreu em média em 4,5 meses pós-TCTH,

semelhante ao tempo descrito na literatura. Estes pacientes foram classificados de

acordo com a classificação de Shulman e colaboradores na qual a presença de

sintomas após 100 dias é considerado DECH crônica, portanto, a classificação atual

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não foi utilizada para a avaliação destes dados (Shulman et al., 1980; Filipovich et

al., 2005). Há relatos de que TCTH com SCUP apresentam uma maior freqüência de

DECH (Sato et al., 2007), entretanto, outros autores apontam uma redução do risco

e da gravidade da DECH com o uso de SCUP (Bhattacharya et al., 2005; Barker,

2007). Na nossa amostra, observamos que 3 dos que desenvolveram DECH crônica

receberam SCUP como fonte de células progenitoras hematopoiéticas. Destes,

todos apresentaram quimerismo total, 3 receberam condicionamento mieloablativo e

1 recebeu o reduzido. Os nossos achados seguem a descrição da literatura que

relata uma maior freqüência de quimerismo total após condicionamento

mieloablativo. O quimerismo parcial foi observado após 2 TCTH, sendo que em um

TCTH houve perda do enxerto e no outro o paciente evoluiu para óbito. O regime de

condicionamento reduzido está relacionado há uma pega do enxerto mais tardia, ao

desenvolvimento de um quimerismo parcial e a uma maior freqüência de perda de

enxerto (Sato et al., 2007; Gennery e Cant, 2008). O paciente 5 recebeu

condicionamento reduzido, evoluiu inicialmente com quimerismo parcial e, posterior,

perda do enxerto no D+ 267. No segundo TCTH, ele recebeu condicionamento

mieloablativo e não houve pega do enxerto, evoluiu com aplasia de medula e

complicações infecciosas, falecendo no D+46 após o segundo TCTH. Este paciente

descreveu todas as possíveis complicações relacionadas ao tipo de

condicionamento já descritas na literatura.

A porcentagem de mortes observada na amostra no período estudado foi de

55,5%, ou seja, 5 pacientes morreram após o TCTH e a porcentagem de vivos foi de

44,5%, durante os 8 anos analisados. O tempo médio de vida dos que faleceram foi

de 80,66 dias pós-TCTH. A sobrevida global descrita na literatura é muito variável,

dependendo da doença estudada, do tipo de enxerto utilizado, do ano da realização

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do transplante, da experiência acumulada do centro transplantador. De modo geral

é maior nos pacientes transplantados nos últimos 5 anos, com doadores

compatíveis, de preferência irmãos. A experiência de TCTH é maior em pacientes

com SCID e WAS, portanto, os resultados destes transplantes são melhores se

comparados com os das demais IDP (Tsuji et al., 2006; Mazzolari et al., 2007; Al-

Ghonaium, 2008). No grupo que sobreviveu, o tempo médio de vida entre o

transplante e outubro de 2009 foi de 1269 dias, apenas 1- representa 11,1% da

amostra completa e 25% da grupo dos que estão vivos- paciente já tem mais de 5

anos de acompanhamento pós TCTH, o que faz com que o cálculo e a avaliação da

sobrevida pós-5 anos de TCTH neste grupo ainda prematura.

O escore de Lansky foi aplicado em todos os pacientes que sobreviveram e

o valor médio foi de 92,5. Nas revisões mais recentes abordando TCTH e IDP que

avaliaram também qualidade de vida não mencionaram o escore de Lansky e em

outra publicação sobre qualidade de vida em pacientes pediátricos submetidos a

TCTH pós doenças malignas e não malignas apresentou um escore médio de 90

(Lansky et al., 1987; Forinder et al., 2005; Filipovich, 2008; Porta et al., 2008). O

escore de Lansky é uma ferramenta útil e já validada para avaliar a qualidade de

vida dos pacientes pediátricos transplantados após doença maligna, muito

provavelmente que no grupo dos pacientes com IDP ele também o será, uma vez

que a sobrevida aumente, a qualidade de vida passa a ser mais analisada e

objetivada. Os pacientes, até a última consulta ambulatorial analisada, não estavam

repondo imunoglobulina e não tiveram outras infecções graves, demonstrando

indiretamente que houve adequada reconstituição imunológica pós TCTH.

A análise destes dados nos forneceu importantes informações sobre a

relevância do TCTH nestes pacientes. Apesar da alta mortalidade observada neste

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estudo, os pacientes que sobreviveram estão evoluindo sem outras complicações

infecciosas e com qualidade de vida. O diagnóstico precoce ainda é o grande

desafio e representa a possibilidade de sobrevivência para muitos destes pacientes

com indicação de TCTH. Estudos multicêntricos nacionais fornecerão dados

importantes para o mapeamento da realidade do acesso destes pacientes ao serviço

de saúde e ao TCTH. Muito se sabe sobre as doenças malignas e os seus

transplantes e muito pouco se sabe sobre a realidade das IDP no Brasil. A adequada

estruturação da Rede nacional de cuidado ao paciente com IDP depende do

conhecimento do fluxo destes pacientes dentro do sistema de saúde e, neste

contexto, este estudo forneceu dados iniciais, porém essenciais para a estruturação

da Rede.

Sabemos que são pacientes especiais que necessitam de um eficiente

sistema de encaminhamento para centros especializados, entretanto, apesar da

explícita necessidade de cuidados mais complexos, é na rede básica de saúde que

se localiza o divisor de águas destes, pois é na atenção básica que se tem a chance

do diagnóstico precoce. Sendo assim, não basta equiparmos técnico e

cientificamente a rede terciária de atendimento em saúde, se estes não forem

identificados precocemente. A educação daqueles que atuam na porta de entrada da

comunidade ao sistema de saúde é peça chave na organização da Rede de cuidado

aos pacientes com IDP. Para aqueles com indicação de transplante, o tempo entre a

inscrição no REREME e o transplante é crucial. Os avanços observados ao longo

dos anos na organização e no sistema de cruzamento de dados do REREME com

os do REDOME e de Bancos internacionais vem permitindo uma maior agilidade no

processo de busca de doadores. O crescimento e, principalmente, o estabelecimento

do Brasilcord com fornecedor de SCUP tem reduzido a busca internacional de

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doadores, o que por sua vez, reduziu o tempo de busca e o custo do transplante. A

manutenção e o aprimoramento constante da efetividade deste sistema fazem parte

do adequado encaminhamento destes pacientes. Aliado a estes pontos e tão

essencial quanto, está à pesquisa, o incentivo permanente de estudos e pesquisas

nesta área é fundamental para a aquisição de novos conhecimentos e de novas

soluções para as dificuldades encontradas na condução destes pacientes. Todas

estas observações demandam mais investimentos e tais doenças não apresentam,

pelo menos com os dados publicados até o momento, prevalências muito elevadas,

entretanto, estão sendo cada vez mais diagnosticadas e, portanto, não devem ser

negligenciadas pelo nosso sistema de saúde.

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ANEXOS

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APÊNDICES

12.1 Instrumento de coleta de dados

Instrumento de coleta de dados

Projeto de Pesquisa: Perfil clínico dos pacientes com Imunodeficiência

Primária submetidos a transplante de células progenitoras hematopoiéticas no

Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional de Câncer.

1. IDENTIFICAÇÃO

Nome:______________________________________________________________

___

Registro INCA:_________________________ Registro REREME:____________

Data de nascimento:____/_____/_____ Gênero ( ) masc ( ) fem

Origem: 1 – RJ capital 2- RJ – outros municípios 3- outros estados

4- outro país.

Data da admissão no CEMO-INCA _____/______/_____

Origem do encaminhamento:

1. IPPMG-UFRJ

2. HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL

3. IFF-FIOCRUZ

4. HOSPITAL PÚBLICO DA REDE DO SUS – ESPECIFICAR_____________

5. HOSPITAL CONVENIADO DO SUS – ESPECIFICAR: _______________

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106

106

5. HOSPITAL DA REDE PRIVADA- ESPECIFICAR:____________________

G 2

2. ANTECEDENTES PATOLÓGICOS:

Diagnóstico Principal:____________________________ CID 10: _____________

Diagnóstico:

( ) comprovado ( ) provável ( ) possível

Diagnóstico Molecular : ( ) não ( ) sim

Co-Morbidades: ( ) não ( ) sim - quais: ______________________________

Data do diagnóstico principal:____/____/_____

Consangüinidade: ( ) sim ( ) não ( ) desconhecido

História familiar de imunodeficiência ( ) sim ( ) não

História familiar de óbitos prematuros ( ) sim ( ) não

História familiar de infecções de repetição ( ) sim ( ) não

Internações prévias ( ) sim ( ) não

Quantas: ( )0- 3

( ) 3-6

( ) 6 OU MAIS

Internações em CTI: ( ) sim ( ) não

Reação ao BCG: ( ) sim ( ) não 3

3. FASE PRÉ-TRANSPLANTE:

Medicações em uso na admissão no CEMO –INCA:

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107

107

( ) IVIG

( ) Antibioticoprofilaxia

( ) outros

Qual(IS):____________________________________________________________

_

Estado nutricional : ( ) eutrófico Peso:____________

Altura:________________

( ) distrófico

Infecção ativa na admissão: ( ) SIM ( ) NÃO

Qual (IS) :_________________________________________________________

Tipo sanguíneo do paciente:

( ) A RH + ( ) A RH - ( ) B RH + ( ) B RH - ( ) AB RH + ( ) AB RH - ( ) O RH + ( ) O

RH -

Status para CMV: sorologia: ( )positiva ( ) negativa ( ) não realizado

Antigenemia: ( ) positiva ( ) negativa ( ) não realizada 4

3. FASE PRÉ -TRANSPLANTE:

Data da inscrição no REREME: _____/______/_____

Data da identificação do potencial doador:_____/______/______

Data da confirmação do potencial doador:_____/______/______

Grau de compatibilidade HLA:_____________

Tipo de doador:

1. doador irmão HLA-idêntico

2. doador aparentado HLA-idêntico

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108

108

3.doador não aparentado HLA- idêntico

4. doador não aparentado HLA- não idêntico

Tipo sanguíneo do doador:

( ) A RH + ( ) A RH - ( ) B RH + ( ) B RH - ( ) AB RH + ( ) AB RH - ( ) O RH + ( ) O

RH -

Tipo de enxerto:______________________

Hemotransfusão no pré-transplante: ( ) sim ( ) não

Imunoglobulina EV : ( ) sim ( ) não

Regime de condicionamento: ( ) ausente ( ) mieloablativo ( ) reduzido

Drogas

utilizadas/doses:_____________________________________________________

________

___________________________________________________________________

_______________

Profilaxia para DECH: ( ) não ( ) sim

Drogas

utilizadas/doses:_____________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5

4. FASE PÓS –TRANSPLANTE:

DECH aguda: ( ) não ( ) sim grau I (1) D+_________________

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109

109

grau 2 (2)

grau 3 (3)

grau 4 (4)

Órgãos/sistema acometidos: ( ) pele

( ) fígado

( ) intestino

( ) sistema gastrointestinal

( ) pele e sistema gastrointestinal

( ) pele e fígado

( ) pele e intestino

Tratamento DECH AGUDA: ( ) sim ( ) não

Drogas

utilizadas:___________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Resposta ao tratamento: ( ) sim ( ) não

Tempo de pega neutrofílica:______________________________

Tempo de pega de plaquetas:_______________________________ 6

4. FASE PÓS-TRANSPLANTE:

DECH CRÔNICA¹: ( ) SIM ( ) NÃO D+_________________

( ) LIMITADA ( ) EXTENSA

ORGÃOS ACOMETIDOS:

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110

110

1. PELE ( ) POIQUIILODERMA

( ) LESÃO SEMELHANTE AO LÍQUEN PLANO

( ) LESÃO SEMELHANTE À MORFÉIA

( ) LESÃO SEMELHANTE AO LÍQUEN ESCLEROSO

2. BOCA ( ) LESÃO SEMELHANTE AO LÍQUEN

( ) PLACAS DE HIPERCERATOSE

( ) RESTRIÇÃO NA ABERTURA DA BOCA POR ESCLEROSE

3. GENITÁLIA ( ) LESÃO SEMELHANTE AO LÍQUEN PLANO

( ) ESTENOSE VAGINAL OU SECURA VAGINAL

4. TGI ( ) COLABAMENTO ESOFAGEANO

( ) ESTENOSE DE TERÇO SUPERIOR E MÉDIO DO ESÔFAGO

5. PULMÃO ( ) BRONQUIOLITE OBLITERANTE DIAGNOSTICADA POR BIÓPSIA

6. MÚSCULOS E ARTICULAÇÕES ( ) FACIÍTE

( ) ARTICULAÇÕES DOLOROSAS OU CONTRATURAS SECUNDÁRIAS À

ESCLEROSE

7. OLHOS ( ) OLHOS SECOS

( ) CERATOCONJUNTIVITE SECA

TRATAMENTO: ( ) sim ( ) não SISTÊMICO: ( ) SIM ( ) NÃO

DROGAS

UTILIZADAS:________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Avaliação do quimerismo: D+_______ Tipo observado: ( ) parcial

( ) total

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111

111

Metodologia: VNTR ( ) citogenética clássica ( ) outra

Qual:________________________

Desfecho: ( ) óbito Tempo pós transplante: D+__________________

Causa:_____________________________________________________________

Desfecho: ( ) vivo Data da última avaliação clínica: ___/___/____

D+______________

Reposição de Imunoglobulina regular: ( ) Sim ( ) Não ( ) EV ( ) SC

Infecções: ( ) Sim ( ) Não

( ) CMV ( ) EBV ( ) FUNGOS ( )

OUTRAS_____________________________________

LANSKY:_________________ ( ) NÃO APLICADO 7

1. A Classificação utilizada é a proposta por Shulman e colaboradores em 1980, uma vez que o estudo é retrospectivo e os dados que serão coletados não estarão de acordo com a classificação atualmente utilizada proposta pelo “Working Group on Diagnosis and Staging of the NIH Consensus Development Project on Criteria for Clinical Trials in Chronic GVHD” em 2005.