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    AS QLIPHOTH

    (Captulo 26, da Parte 3, do livro A Cabala Mstica de Dion Fortune)

    1. No captulo anterior, fizemos referncia s Qliphoth , as Sephirot malignas e

    adversas; hora, portanto, de estud-las em detalhe, embora elas sejam "forasterrveis, havendo perigo at mesmo em pensar nelas".

    2. Poder-se- perguntar ento por qu, sendo essas formas to perigosas, ser precisoestud-las. No seria melhor desviar a mente e impedir que as imagens de taisforas se formem na conscincia? Em resposta a essa questo, podemos citar ospreceitos de Abramelin, O Mago, cujo sistema de magia o mais completo epoderoso que possumos. De acordo com esse sistema, o operador, depois de umprolongado perodo de purificao e preparao, evoca no apenas as forasanglicas, mas tambm as demonacas.

    3. Muitas pessoas queimaram os dedos com o sistema de Abramelin, e por uma razomuito simples, pois, se examinarmos seus relatos, descobriremos que elas nunca

    seguiram o sistema por completo, escolhendo uma cerimonia aqui e uma invocaoacol, segundo os seus humores. Consequentemente, o sistema de Abramelinganhou m reputao por ser uma frmula singularmente perigosa, ao passo que,executada por completo, singularmente segura, porque trata de todas as reaesdas foras evocadas sob o que poderamos chamar de "condies de laboratrio"neutralizando-as, assim.

    4. Todo aquele que tenta manipular o aspecto positivo de uma Sephirah precisa de selembrar que ela tem tambm um aspecto negativo, e que, a no ser que ele possamanter o necessrio equilbrio de foras, esse aspecto negativo pode tornar-sedominante e arruinar a operao. H um ponto em toda operao mgica em que seencontra o aspecto negativo da fora e, a no ser que seja enfrentado, ele ir jogar o

    experimentador na fossa que abriu. H uma sbia mxima mgica que aconselha ano evocarmos qualquer fora a no ser que estejamos preparados para enfrentar oseu aspecto adverso.

    5. Ousaramos, por acaso, evocar a energia gnea de Marte (Geburah) em ns prprios,se no nos tivssemos disciplinado e purificado para podermos impedir a foramarciana de chegar aos extremos e induzir crueldade e destrutividade? Se temosalguma compreenso da natureza humana, devemos saber que todo indivduo tem os

    defeitos de suas qualidades - ou seja, se ele vigoroso e enrgico, ele estpredisposto a incorrer na crueldade e na opresso; se calmo e magnnimo, estpredisposto s tentaes do laissez-fairee da inrcia.

    6. As Qliphoth recebem corretamente o nome de Sephiroth malignas e adversas,

    porque no so princpios ou fatores independentes no esquema csmico, e sim oaspecto desequilibrado e destrutivo das prprias Estaes Sagradas. No existem, naverdade, duas rvores, mas apenas uma, e uma Qliphah o reverso de uma moedacujo lado oposto uma Sephirah. Todo aquele que utiliza a rvore como umsistema mgico deve necessariamente conhecer as Esferas das Qliphoth, porque eleno tem outra opo seno enfrent-las.

    7. S o plano de Atzuuth possui um Nome de Poder associado a uma nica Sephirah, eele o Nome de Deus. Ao arcanjo corresponde o diabo e, ao coro anglico, a corte

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    de demnios; e as Esferas sephirticas tm as suas correspondncias nas MoradasInfernais.

    8. O estudante deve fazer uma cuidadosa distino entre o que o ocultista chama deMal positivo e negativo. Esse um ponto capital na filosofia esotrica, e a no-compreenso de seu significado conduz a erros prticos posteriores, danificando a

    vida e obra do iniciado, ou, pelo menos, do ser humano que tenta desenvolver umaquantidade mdica de livre escolha e autodomnio. Esse um ponto poucocompreendido, mas singularmente importante na prtica, porque influenciaimediatamente nossos pontos de vista, de julgamento e de conduta.

    9. O Mal positivo uma fora que se move contra a corrente da evoluo; o Malnegativo simplesmente a oposio de uma inrcia que ainda no foi superada, oude um movimento que ainda no foi neutralizado. Ilustremos essas definies porum exemplo. O conservadorismo natural de uma mente amadurecida encaradocomo mau pelo futuro reformador; a iconoclastia natural da juventude encaradacomo m pelo administrador que estabeleceu o seu sistema. No obstante, nenhumdesses fatores oponentes pode ser dispensado 'se queremos que a sociedade semantenha num estado saudvel; entre esses extremos, obtemos um progresso firmeque no desorganiza a sociedade, nem permite arroj-la na inrcia e na decadncia.Ambos esses fatores so indispensveis ao bem-estar social, e a ausncia dequalquer um deles conduziria a sociedade runa.

    10. No podemos consider-los, portanto, como um mal social, a no ser que haja umexcesso. Deveramos, por conseguinte, na terminologia da filosofia esotrica,classificar o conservadorismo como um Mal negativo, quando considerado do pontode vista do reformador, e a iconoclastia como um Mal negativo quando consideradado ponto de vista do conservador.

    11. 0 Mal positivo algo completamente diverso. Poder ele ter a natureza de umaiconoclastia excessiva, que beira anarquia pura e simples; ou a natureza doconservadorismo excessivo, que se toma um privilgio de classe, interessepetrificado que luta contra o bem comum. Ou pode tomar a forma da corrupopoltica atual, que destri a eficincia da mquina administrativa, ou de corruposocial, tal como a prostituio organizada ou a explorao do trabalho de crianas,que mina a sade do corpo nacional.

    12. O impulso conservador e o impulso radical atrairo aqueles que simpatizam comesses pontos de vista, e seus partidrios organizar-se-o rapidamente em partidospolticos; esses partidos no so maus, a no ser aos olhos preconceituosos de seusadversrios polticos; o corpo principal da nao contrape-se a eles e os suportaimparcialmente, reconhecendo que eles representam factores complementares. Damesma forma, os elementos corruptos e criminais da sociedade tendero a organizarum Tammany Hall prprio. Ora, os partidos Conservador e Radical poderiam serassociados a Chesed e Geburah, respectivamente. O Tammany Hall poderia sercomparado Qliphah correspondente de Geburah, as foras incendirias eopositoras; e os reacionrios organizados, Qliphah de Chesed, os engendradoresda destruio.

    13. O mal negativo o corolrio prtico do princpio do Equilbrio. O equilbrio oresultado do equilbrio das foras opostas; consequentemente, elas devem combater-se mutuamente. No devemos incorrer no erro de classificar uma fora de um par de

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    foras oponentes como boa e a outra como m, pois faz-lo cair na heresiafundamental do dualismo.

    14. Os comentadores instrudos e esclarecidos de todas as religies encaram o dualismocomo uma heresia; somente os adeptos ignorantes de uma f acreditam no conflitoentre luz e trevas, esprito e matria, que resultar eventualmente no triunfo de Deus

    e na abolio e eliminao total de todas as influncias opostas. O Protestantismoesquece que Lcifer o Dador-de-Luz, que Sat um anjo cado, e que o Senhorno limitou Seu ministrio humanidade, mas desceu ao inferno e pregou aosespritos cativos. No podemos lidar com o Mal cortando-o e destruindo-o, masapenas absorvendo-o e colocando-nos em harmonia com ele.

    15. Em todos os nossos clculos e conceitos, devemos fazer uma clara distino entre aresistncia da Sephirah compensadora e a influncia da Qliphah correspondente. Asduas rvores, a Divina e a Infernal, a Sephirthica e a Qliphtica, so comumenterepresentadas como apareceriam se a rvore adversa fosse um reflexo da rvoreCelestial num espelho colocado em sua base, igualando assim, proporcionalmente, aaltura da outra. Obteramos, ento, um conceito mais exato se concebssemos osdois hierglifos como inscritos em cada lado de uma Esfera, de modo que, se umpndulo balanasse entre Geburah e Gedulah (Marte e Jpiter), ele atingiria o ladooposto do globo, girando na direo da influncia da Sephirah adversacorrespondente. Se ele se afastar em demasia de Geburah (Severidade), ele chegar Esfera das foras incandescentes e destrutivas e do dio; se ele se afastar nadireo da Misericrdia, chegar Esfera dos engendradores da destruio, e essenome muito significativo.

    16. O mstico diz-nos que o seu objetivo operar na Esfera do esprito puro semqualquer combinao com a Terra e, por isso, ele evoca apenas o Nome de Deus;mas o ocultista replica: "Enquanto estiveres num corpo terrestre, s um filho daTerra, e para ti o esprito no pode ser puro. Quando evocas o amor de Deus, esteno pode ir at ti a no ser por meio de um Redentor. A Esfera do Redentor Tiphareth e seu arcanjo Rafael, O Curador, pois no reconhecemos a influncia doRedentor por meio de sua influncia curadora sobre o corpo e a alma? Mas o opostodo Redentor que harmoniza so os Zourmiel, Os Querelantes, "os grandes gigantesnegros que combatem sem cessar". No vemos a sua influncia nas doutrinas maissombrias do Cristianismo, na idia do castigo eterno sob o domnio do Demnio,contrastado com a recompensa eterna sob o domnio do vingativo e venal Jehovah?Se essas no so Foras Duais Contrrias, o que so? O moderno pensamentoreligioso comete um grande erro ao no compreender que o excesso de um Bem afinal de contas um excesso.

    17. O nico perodo durante o qual h perfeito equilbrio de fora durante um Pralaya,uma Noite dos Deuses. A fora em equilbrio esttica, potencial, jamais dinmica,porque a fora em equilbrio implica duas foras opostas que se neutralizaramperfeitamente e, assim tornaram-se inertes e inoperantes. Destrua-se o equilbrio, eas foras sero libertadas para a ao, dando margem mudana, ao crescimento, evoluo e organizao. No h possibilidade alguma de progresso no equilbrioperfeito; um estado de repouso. Ao final de uma Noite Csmica, o equilbrio destrudo e, em conseqncia, ocorre mais uma vez uma efuso de fora, dandoorigem novamente evoluo.

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    18. O equilbrio do universo poderia ser mais bem comparado antes ao movimento deum pndulo do que apreenso de uma tenaz. O equilbrio no imvel, e h muitadiferena entre esses dois conceitos. Pois, no controle, h sempre uma pequenavibrao, um tremor entre as foras opostas que o mantm firme; umaestabilidade, no da inrcia, mas do esforo.

    19. Esse aspecto representado na rvore pelos dois Pilares da Misericrdia e daSeveridade, que se opem mutuamente. Geburah (Severidade) se ope a Gedulah(Misericrdia). Binah (Forma) se ope a Chokmah (Fora). Se essa oposiocessasse, o universo entraria em colapso, tal como um homem que est a puxar umacorda cai se essa corda se rompe. Devemos compreender claramente que essatenso,essa resistncia contra a qual nos devemos debater em cada uma de nossasaes, no m; o contrapeso necessrio de toda fora que empregamos.

    20. Cada Qliphah nasceu primordialmente como uma emanao da fora desequilibradano curso da evoluo da Sephirah correspondente. Houve um perodo em que asforas de Kether se expandiram para formar Chokmah, e o Segundo Caminhoestava em vias de existir, sem se ter, porm, totalmente estabelecido; Ketherencontrava-se, portanto, em desequilbrio - expandido, mas no compensado.Vemos esse mesmo fenmeno do estado de transio patolgica claramenteilustrado no caso do adolescente que deixou de ser uma criana sob controle e aindano se tomou adulta e capaz de controlar-se a si mesma.

    21. Foi esse inevitvel perodo de fora desequilibrada, a patologia da transio, quedeu origem a cada uma das Qliphoth. Segue-se, portanto, que a soluo do problemado Mal e sua erradicao do mundo no sero obtidas por meio de sua supresso,cortando-o ou extirpando-o, mas por meio de sua compensao e conseqenteabsoro na Esfera de onde proveio. A fora desequilibrada de Kether, que deuorigem s Foras Duais Compensadoras, precisa ser neutralizada por um aumentocorrespondente da atividade de Chokmah, a Sabedoria.

    22. A fora desequilibrada de cada Sephirah, portanto, que surgiu sem controle duranteas fases temporrias do desequilbrio que ocorre periodicamente no curso daevoluo, forma o ncleo em tomo do qual se organizaram todas as formas mentaisdo Mal que surgem na conscincia dos seres preceptivos ou por meio da operaodas foras cegas que se encontravam desequilibradas, buscando cada espcie dedesarmonia o lugar que lhe correspondesse. Podemos deduzir ento que um meroexcesso de fora, embora pura e boa em sua natureza intrnseca, pode, quando no-compensada, tornar-se, no curso das eras, um centro altamente organizado edesenvolvido do Mal positivo e dinmico.

    23. Um novo exemplo ajudara-nos a compreender esse ponto. Um excesso da energianecessria de Marte (Geburah), a energia que destri a inrcia e faz desaparecer oexcremento e a substncia usada, deveria necessariamente ocorrer durante o perodoque precede a emanao de Tiphareth, o Redentor. Assim que emanado, oRedentor compensa as severidades de Geburah, assim como disse o Senhor: "Dou-vos uma nova lei. J no direis: olho por olho, dente por dente (. . .)". Ora, essaseveridade unilateral de Geburah deu-nos o ciumento Deus do Velho Testamento etodas as perseguies religiosas que se fizeram em Seu desequilibrado Nome. Eleforma as Qliphah de Geburah, e toda natureza cruel e opressora est sintonizadacom essa divindade. Para sua Esfera flui todo excesso de fora que emana e que no absorvido pela fora oposta no universo - toda vingana insatisfeita, toda sede de

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    crueldade no-satisfeita, e essas foras, sempre que encontram um canal deexpresso aberto, se manifestam por meio dele. Consequentemente, o homem que se

    deixa arrastar pela crueldade descobre cedo que no est expressando os impulsosde sua prpria natureza no-desenvolvida ou disforme, mas que uma grande fora,tal como uma corrente em jorro, corre por ele, levando-o de um ultraje a outro, at

    que ele perca finalmente seu autocontrole e discrio, e destrua a si prprio poralguma expresso incauta de seus impulsos.24. Toda vez que nos tomamos um canal de alguma fora pura, ou seja, qualquer fora

    que simples e no-diluda pelos motivos ulteriores e consideraes secundrias,descobrimos que h um rio caudaloso atrs de ns - o fluxo das foras Sephirticase Qliphticas correspondentes - que abre um canal, utilizando-nos como seuintermedirio. isso que d ao fantico ignorante o seu poder anormal.