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 AS APARÊNCIAS ENGANAM: DIVERGÊNCIAS ENTRE O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO E AS ABORDAGENS QUALITATIVAS DE PESQUISA. Lígia Márcia Martins *  *  Doutora em Educação, professora do Departamento de Psicologia, Faculdade de Ciências – UNESP/Bauru, membro do grupo de pesquisa “Estudos Marxistas em Educação” e coordenadora do grupo de pesquisa “Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Infantil (NEPEI)”.

As Aparencias Enganam

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  • AS APARNCIAS ENGANAM: DIVERGNCIAS ENTRE O MATERIALISMO HISTRICO DIALTICO E AS ABORDAGENS

    QUALITATIVAS DE PESQUISA.

    L g ia Mr c ia Mar t ins *

    * Doutora em Educao, professora do Departamento de Psicologia, Faculdade de Cincias

    UNESP/Bauru, membro do grupo de pesquisa Estudos Marxistas em Educao e coordenadora do grupo de pesquisa Ncleo de Estudos e Pesquisas em Educao Infantil (NEPEI).

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    A an l ise que co ntemp la mo s nest e ar t igo ve rsa so br e a adoo das cha madas abordagens qua l it at ivas no mbito de vincu laes co m o mater ia l is mo h ist r ico . Ou se ja , o ob jeto dest a re f le xo a fr eqente r uptura ent re mater ia l is mo hist r ico e mater ia l is mo

    d ia lt ico , ent o subst it u do po r metodo log ias deno minadas qua l it at ivas.

    E m co nfo r midade co m o d ito po r E nge ls, para quem o mtodo a a lma da t eo r ia, ent ende mo s que est a a l ie nao resu lt a na prpr ia

    descar act er izao do mater ia l is mo h ist r ico , bem co mo defendemo s que o mar xis mo d ispensa a adoo das abordagens qua l it at ivas na leg it imao da c ient i f ic idade de seus mtodos de invest igao , po is d ispe de u ma ep ist e mo log ia su f ic ie nt emente e laborada par a o fazer c ient f ico : a ep ist emo lo g ia mater ia l ist a h ist r ico d ia lt ica .

    gui sa de int roduo. . .

    Co m r azo ve l freqnc ia , e spec ia lment e nas r eas da ps ico log ia e da educao , enco nt ra mo s t raba lho s de pesqu isa que ind ica m fundamentar - se no mater ia l is mo hist r ico d ia lt ico mas pr et er em o desenvo lv imento do pensamento l g ic o d ia lt ico no t ranscu rso da

    invest igao rea l izada. Diant e dest as s it uaes nos perguntamo s: qua is a s raze s

    apr esentadas po r e st es pesqu isadores no sent ido de ju st i f ica r v incu la es ent re uma le it ur a t e r ica ancorada no mater ia l is mo

    h ist r ico e a metodo lo g ia de pesqu is a qua l it at iva . Est a indagao assent a- se no fato de que o mater ia l is mo hist r ico co mo poss ib i l idade t e r ica, ist o , como inst r umento l g ico de int erpr et ao da r ea l idade, co ntm em sua essenc ia l idade a l g ic a

    d ia lt ica e nest e sent ido , apo nta um caminho ep ist emo l g ico para a re fer ida int er pret ao . A negao dest e caminho por t anto , represent a a descar act er izao de uma e fet iva co mpr eenso acerca da ep ist emo log ia mar xiana .

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    Tendo em v ist a a de fesa da t ese ac ima re fe r ida, a t ra jet r ia per co rr ida na re f le xo , o bjeto dest e ar t igo , co ntemp la o s segu int es mo mento s.

    Pr ime ira ment e, ana l isa mos o nze t raba lho s de d isser t aes e

    t eses nas reas da ps ico log ia e da educao de fend idas ent r e 2002/2004 t endo em v is t a ident i f ica r o que ju st i f ica o func io namento ent re mat er ia l is mo h ist r ico d ia lt ico e metodo log ia qua l it at iva . As ju st i f icaes ma is freqentemente encont radas fo r am: a pr et enso de cont rapos io em r e lao aos mo de lo s pos it iv is t a s de invest igao ; a f ir mao da impo ss ib i l idade de separao su je it o /ob jeto do conhec ime nto ; negao da poss ib i l i dade de ju zo s neut ros na const ruo do co nhec imento .

    A segu ir , rea l iza mo s estudo co nce it ua l so br e metodo lo g ia s

    qua l it at ivas para ident i f ica r suas car ac t er st icas pr inc ipa is que, po r sua vez, co rrobora m as ju st i f icaes encont radas.

    Ta is car act er st icas fo r am ent o , ana l isadas luz d a ep ist emo log ia mat er ia l is t a hist r ico d ia lt ica. Aps est a an l ise,

    reto ma mo s as ju st i f icaes enco nt radas r ea f ir mando a lguns dos equ vocos f i lo s f ico s, t e r ico - metodo lg ico s e po l t ico s ne las present es.

    Est e a r t igo no t em a pr et enso , po r seus prpr io s l imit es, de

    esgo tar a an l ise e m cur so , mas out ross im, co mpar t ilha r

    preocupaes e quem sabe, pro vocar a inqu iet ao geradora de buscas.

    Metodo log ia Quali tat iva: princ ipai s expresses

    Segundo estud io sos das abor dagens qua l it at ivas fo i a pa r t ir d a

    dcada de 70 que a concepo pos it iv is t a de c inc ia passou a receber , no Br as i l, sever as cr t icas f i lo s f icas, po l t icas e t cnicas. O a lvo dest as cr t icas apontava na d ir eo da ap l icao dos mode los de c inc ias natura is par a as out ras c inc ias ( em espec ia l, a s hu manas) e

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    par a a separao ent re fato s e contextos , uma car act er st ica bs ica do pos it iv is mo ao t rat ar o mundo como u m co njunto de fato s natura lment e int e r l igados.

    Ta is c r t icas demandar am a busca po r novas est rat g ia s

    invest igat ivas , cu lminando na propos io de u ma abordage m a lt er nat iva par a o t rat amento d ispensado aos proble mas de pesqu isa e suas co rrespondent es an l ises , deno minada de mo do bast ant e a mplo co mo pesqu i sa qual i ta t i va.

    Godo y (1995) co ns ider a que apesar de, apenas, nos lt imo s t r int a ano s t er oco rr ido maio r s is t emat izao e expanso da adoo dest e mode lo de pesqu isa , suas o r igens so mu ito re motas. Co mo mar cos r e fer enc ia is h ist r ico s, est a au to ra ind ica, pr ime ir amente a soc io lo g ia ing lesa de S idne y Webbs ( 1859-1947) e Beat r ice Webbs (1858-1943) , que a f ir mava m seus t raba lho s co mo funda ment ados no mtodo de pesqu isa soc ia l. Os estudos soc ia is e po l t ico s po r e le s rea l izados j pr io r izavam a desc r io e a ut i l izao de ent rev ist as, an l ise docu ment a l e o bser vaes pessoa is . I nd ica t ambm a

    impor t nc ia his t r ica do s t raba lho s desenvo lv ido s pe lo Depar t ame nto de Soc io log ia da Un iver s idade de Ch icago ( A E sco la de Ch icago) , no s qua is grande dest aque fo i co nfer ido aos aspectos da v ida u r bana e s d imenses int erac io n ist as da r ea l idade soc ia l, numa per spect iva

    que buscava superar a quant i f icao dos fen meno s ana l isados. Na atua l idade, so b a deno minao pesqu isa qua l it at iva ,

    encont ra mo s vr io s t ipos de invest iga es apo iadas e m d ifer ent es mar cos t e r ico s, dent re o s qua is se dest aca m: t eo r ia s ist mica ,

    etno metodo log ia, feno meno log ia e mat er ia l is mo hist r ico . Segundo Godo y ( 1995) est a amp lit ude no resu l t a numa descaract er izao de mode lo , que apesar de abarcar d i fer ent es mat izes preser va car act er st icas e ssenc ia is co muns.

    Fundamentando-se na o br a A Pesqui sa Qual i tat iva e m Educao , de Bogdan e B ik len (1982) , t anto Godo y (1995) quanto Ld le e Andr (1986) s ist emat iza m c inco caract er s t icas bs ica s const it ut ivas do s estudo s de t ipo qua l it a t ivo , apr esent adas a segu ir .

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    A p r ime ir a de las dest aca o ambiente natura l co mo base do s dado s invest igados, do que resu lt a o grande va lo r co nfer ido ao contato d ireto e pr e fer enc ia lmente pro longado do pesqu isador co m o ca mpo de estudo . E st as invest igaes, t amb m deno minadas pe lo s

    auto res ac ima r e fe r ido s co mo natur a l s t icas, t m co mo pr eocupao fundamenta l o estudo e a an l ise do mundo e mpr ico , pr iv i leg iando os processos int er at ivo s pr esentes no co ntexto da invest igao . Nest e sent ido , a pessoa do pesqu isador co ns ider ada impor t ant e

    inst ru mento para a o bser vao , se leo , an l ise e int erpr et ao dos dado s co let ados e em face dest a t ar e fa, poder ut i l iza r recur so s t a is co mo f i lmagens, fo togra f ias, gr avaes, documentos h ist r ico s, reg is t ros escr it o s et c co m o o bjet ivo de amp lia r a co nf iab i l idade de suas percepes.

    A segunda car act er s t ica r e fe re- se ao cart er funda ment a lment e desc r it ivo dest as invest igaes. Af ir mando a necess idade de apr eenso dos dados nas re la es que e les mant m co m o co ntexto ao qua l per t encem, procura -se ver i f ica r como o s fen meno s se

    man ifest am, t endo em v ist a uma co mpreenso ho l st ica, his t r ica e processua l. O pesqu isador est ar at ento ao ma io r nmero poss ve l de e le mentos co nst it ut ivos do campo estudado , co nfe r indo- lhes se mpr e, grande impor t nc ia .

    Segundo Richardso n ( 1985) , o s e studo s de natur eza descr it iva propem- se a invest igar a s ca ract er st icas de um fen meno co mo t a l, exp lo r ando par t icu lar me nte, a s t cn icas de o bser vao , ent rev ist as, an l ises de co ntedo e an l ises h ist r icas. Para est e auto r , ex ist e u ma

    d ifer ena e m r e lao natur eza do s fen meno s a serem invest igado s, ist o , exist em ne les do mn io s qua l i f i cve is ou quant i f icve is e a pr io r idade no r t eadora do t raba lho de pesqu isa est ar na dependnc ia da natureza do fen meno ana l isado . Nest e sent ido , ind ica que a s

    invest igaes que se ap ia m na an l ise descr it iva qua l it at iva , fr eqente ment e, t m co mo o bjeto s it uaes co mplexas ou est r it amente par t icu la res, nas qua is a exat ido das quant i f icae s pode ser impo ss ve l ou re lat iva .

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    A t er ce ira car act er st ica a f ir ma a pesqu isa de t ipo qua l it at ivo co mo essenc ia lment e vo lt ada pa ra o processo , ou se ja, o objet ivo da invest igao assent a- se nas descr i es dos proble mas estudados t a l co mo man ifesto s nas at iv idades, nos pr oced ime ntos e nas int eraes

    co t id ianas . Nest e sent ido , ver i f ica mo s uma fo r t e un idade ent r e a segunda e a t er ce ira car act er st icas, posto que a ident i f icao da s man ifest aes feno mn icas do ob jeto do estudo ind icada co mo cond io par a uma co mpr eenso d inmica e processua l do mesmo .

    Por t anto , passa a ser r equer ida u ma a t it ude espec f ica nest a busca co mpreens iva , qua l se ja, a submer so do pesqu isador no ca mpo rea l da ex ist nc ia , campo est e que co mpor t a um d ina mis mo pr -dado e a lt ament e co mp lexo . E st a at it ude pro post a co mo fundamenta l par a que a rea l idade possa ser co mpr eend ida e int erpr et ada, ou se ja, par a que se apreenda como e st e ca mpo d in mico e co mplexo adqu ir e suas d ive r sas expr esses, seus vr io s sent id os e va lo res pa ra t odos que o co mpem.

    Atendendo a est a o r ient ao metodo lg ica , a pr eocupao

    cent r a l do estudo pe la via da an l ise qua l it at iva dos dados obser vados ins t a la o confro nto ent re p r inc p io s t e r icos e co ntedos apr eend ido s no t ranscur so da pesqu isa. Dest e co nfronto , resu lt am a s ques tes anal t i cas , is t o , s ist ema de s ign if ica es pe lo s qua is

    procede- se a decod if icao her menut ica do s fen meno s, e que re it er ado naqu i lo que se prope como quar t a ca ract er st ica da s abordagens qua l it at ivas, ve ja mo s po rque.

    Do ponto de v ist a metodo lg ico , o s mo de lo s qua l it at ivo s

    de fendem que a me lhor mane ira para se capt ar a rea l idade aque la que poss ib i l it a ao pesqu isador co lo car- se no lugar do out ro , apr eendendo os fen meno s pe la viso do s pesqu isadores. A preocupao essenc ia l da invest igao re fer e- se ao s s ign if icado s que

    as pessoas at r ibue m ao s fen meno s. O desa f io impo sto ao pesqu isador ent o , capt ar o s un ive r sos s imb l ico s t endo e m v ist a o ent end imento dos mes mo s.

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    Co nfo r me Ld le e Andr (1986) a f ir mam, o pesqu isador deve exercer o pape l sub jet ivo de pa r t ic ipante e o pape l o bjet ivo de examinador vincu lando , par a a a ss imila o da rea l idade em estudo , a per cepo imed iat a e e spo ntnea prpr ia da vida co t id iana e a

    per cepo o bjet iva prpr ia da invest igao re f lex iva . Co m est a at it ude procur a- se capt ar o d ina mis mo int er no das s it uaes, que de out ra fo r ma ser ia m inacess ve is a um obser vador ext er no . Par a est e s auto res, t rat a- se de capturar a per spect iva dos pa r t ic ipantes, ou

    se ja, ident i f icar o s s ign if icado s at r ibu dos pe las pesso as s questes em fo co na pesqu isa .

    Sendo ass im, a qua l idade das pe rcepes do pesqu isador a lvo cont nuo de at eno , po is a f ided ign idade pe la qua l va i expr essar o s pontos de v ist a dos pa r t ic ipantes depender subst anc ia lmente de sua

    acu idade per cept iva . Para t anto , a adoo de est rat g ias de checage m das mes mas se mpr e necessr ia . Dent re est as e st rat g ias, a s ma is usua is so os co nfro ntos co m as per cepes de out ros pesqu isadores e d iscusses aber t as co m os prpr io s par t ic ipantes do estudo .

    Na busca pe la va l idez da pesqu isa a pessoa do pesqu isador no vament e, mu ito impor t ant e. No obst ant e ocupar f s ica e emo c io na lmente um lugar no co ntexto da invest igao , suas conc lus es no podem ser sub jet ivas. Para t anto , deve m r esu lt ar de desc r ies prec isas do objeto e m sua co mplex idade ; da c lass i f icao e co mpr eenso dos processos d in mico s pr esent es e em espec ia l da apr eenso das par t icu la r idades dest e o bjeto .

    A qu int a, e lt ima , car act er s t ica ger a l propost a po r estud io so s

    da metodo log ia qua l it at iva d iz respe it o natur eza indut iva dest as invest igaes. Ne las, pa r t e-se de quest es ou fo cos bast ant e amp lo s que vo se t o rnando ma is d ir etos e espec f ico s no t ranscur so do t raba lho . Ass im, o processo invest iga t ivo no par t e de h ip teses

    de f in idas a pr iori ( a ser em co mpr ovadas ou r e fut adas pe las evidnc ias enco nt radas) ne m de uma l inha t e r ica pr -det er minada . Para Ld le e Andr (1986) , embora o pesqu isador par t a de a lguns pressupostos t e r ico s in ic ia is , dever mant er - se at ento ao s no vo s

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    e le mentos que pode m emerg ir dur ant e o estudo , a o r ient ar em out ras buscas t e r icas. O quadro t e r ico , como re fe rnc ia da invest igao se r, po r t anto , const ru do no processo de estudo , co nco mit ant ement e co let a e exa me dos dado s ve r i f icados.

    A d imenso indut iva dest a metodo log ia bast ant e enfat izada po r t odos os auto res r e fer idos nest e ar t igo , que apr esent am- na co mo impor t ant e t rao d ist int ivo em r e lao aos mo de lo s pos it iv ist a s de pesqu isa. Corrobora par a est a de fesa do pensamento indut ivo , o fato

    que s pesqu isas qua l it at ivas os auto res assoc ia m o bjeto s a mplo s e co mplexo s, ou se ja, a f ir ma m- no co mo cond io bs ica na busca do ent end imento dos fen meno s co mo um todo .

    Face o exposto , ver i f ica mo s que a metodo log ia de pesqu is a qua l it at iva ; do t ando-se das caract er st icas ger a is ac ima descr it as ; t e m

    conqu ist ado , segundo Richardso n (1985) , cada vez maio r dest aque nas segu int es s it uaes : necess idade de subst it u ir in fo r maes est at st icas po r dados qua l it at ivo s ; quando os o bjet ivo s do estudo apo ntam que os dados no podem ser co let ado s de mo do co mpleto po r

    out ros mtodos t endo em v ist a sua co mplex idade ou a inda, e m s it uaes nas qua is a s o bser vaes qua l it at ivas so ut i l izadas co mo ind icadores do func io namento das est ruturas soc ia is . No obst ant e, re it er amo s que a mes ma d ive r ge subst anc ia lment e dos pr essupostos

    mat er ia l is t a h ist r ico d ia lt icos, quest o so bre a qua l ver sar emo s a segu ir .

    Anli se das princ ipa i s expresses da metodo logia qua li t at iva lu z da ep i stemologia marxiana.

    Pr ime ira ment e, co ns ider amos que po r det rs das d ico to mia s

    quant it at ivo x qua l it at ivo , sub jet iv ida de x o bjet iv idade, induo x deduo e out ras, e sco nde- se um sr io quest io namento acer ca da prpr ia poss ib i l idade de const ruo do conhec ime nto rac io na l e objet ivo da r ea l idade humana em sua co mplex idade. Reproduz indo

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    d ico to mias, a s metodo log ias qua l it at ivas r eve la m uma super ao aparent e da l g ica pos it iv ist a , po is at endem u m de seus pr inc p io s bas i la r es, qua l se ja, o pr inc p io da exc luso . Segundo Kopnim (1978) , o at end imento a e st e pr inc p io imp l ica que dent ro de u m mes mo s is t ema dedut ivo no coexist em opostos sendo ambo s verdade iro s (ou fa lso s) e a ss im, um do s p lo s da opos io acaba po r se r exc lu do .

    Dife rent e ment e, a l g ica d ia lt ica p rpr ia ep ist emo lo g ia

    mar x iana no exc ludente, uma vez que inco r pora a lg ica fo r ma l indo a l m, ist o , inco rpora po r super ao . Disso resu lt a a necess idade de uma pro funda co mpr eenso acer ca do que se ja opos io e cont rad io 1. No se t rat a de r eco nhecer opostos confro ntados ext e r io r ment e, mas t - lo s co mo int er io res um ao out ro ,

    no que r es ide um dos ma is impor t ant es prece ito s da l g ica d ia lt ic a deno minado ident idade dos cont rrios . E m co nfo r midade co m est e pr inc p io fa lamo s ent o , na un idade ind isso lve l dos opostos, o que det er mina saber o ob je t ivo como sub je t i vo , o ex terno como int erno , o indi vidual como soc ial , o qual i tat ivo como quan t i t at i vo e t c . E st e o ma is abso luto s ign if icado da co nt rapos io mar x iana aos dua l is mo s d ico t mico s asseverados nos pr inc p ios de ident idade e exc luso prpr io s l g ica fo r ma l.

    Out ra quest o d igna de no t a re fe re- se ao fato que ao co nfe r i r t amanha impor t nc ia ao mundo e mpr ico , o s mode lo s qua l it at ivo s de pesqu isa acabam por pret er ir a an l is e da emp ir ia fet ich izada que car act er iza a soc iedade cap it a l ist a . Descent rando suas an l ises das

    met anarr at ivas, o s percur sos qua l it at ivos apr is io nam- se ao emp r ico ,

    ao imed iato , fur t ando-se ao ent end ime n to essenc ia l dos fundamentos da rea l idade hu mana. Duar t e (2004) r e fer indo- se s caract er st icas dos processo s soc ia is que leva m ao fet ich is mo chama- nos a at eno

    par a o fato de que ne les [ . . . ] a s pessoas s vem aqu i lo que est

    1 Sugerimos para tanto a leitura das obras: Kopnim, P.V. A dialtica como lgica e teoria do

    conhecimento. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1978, Seve, L.. Quais Contradies? In: Clot, Y. (org.) Avec Vigotski. Paris: La dispute, 2002.

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    imed iat a ment e pr esente e no co nseguem ana l isa r o fato imed iato luz da t o t a l idade soc ia l. O fet ich is mo um fen meno prpr io do mundo da co t id ian idade a l ie nada [ . . . ] , (p .9) .

    Para o mater ia l is mo his t r ico d ia lt ico , o mundo emp r ico

    repr esent a apenas a man ifest ao feno mn ica da rea l idade em suas de f in ib i l idades ext er io r es. Os fen meno s imed iat a ment e percept ve is , ou se ja, as r ep resentaes pr imr ias decorrent es de suas pro jees na consc inc ia dos ho mens , desenvo lve m- se super f c ie da essnc ia do

    prpr io fen me no . Fundament ado nest e pr inc p io mar x iano , Ko s ik (1976) a f ir ma que a e ssnc ia do fen meno no est po st a exp l ic it ament e e m sua pseudoconcret ic idade ( co ncr et ic idade aparent e) , no se reve lando de mo do imed iato mas s im, pe lo desve la mento de suas med ia es e de suas co nt rad i es int er nas

    fundamenta is . A co nst ruo do conhec ime nto demand a ent o , a apr eenso do

    con tedo 2 do fen meno , prenhe de med ia es h ist r icas co ncr et as que s podem ser r eco nhec idas luz das abst raes do pensamento , ist o

    , do pensamento t e r ico . No se t rat a de descar t ar a f orma pe la qua l o dado se man ifest a, pe lo cont rr io , t rat a-se de sab- la co mo d imenso par c ia l, super f ic ia l e per i f r ica do mes mo. Por t anto , o conhec ime nto ca lcado na super ao da apar nc ia e m d ireo

    essnc ia r equer a desco ber t a das t enses imanentes na int er vincu lao e int er dependnc ia ent r e f orma e contedo.

    Po r t anto , se queremo s desco br ir a e ssnc ia ocu lt a de um dado objeto , ist o , superar sua apreenso co mo rea l emp r ico , no no s bast am descr ies acuradas ( escr it a s, f i lmadas, fo togra fadas et c ! ! ! ) , no nos bast am re laes nt imas co m o contexto da invest igao , ist o , no no s bast a fazer a feno meno lo g ia da rea l idade natura l izada e par t icu la r izada nas s ign if icaes ind iv idua is que lhes so at r ibu das.

    prec iso ca minhar das r epr esentaes pr imr ias e das s ign if icae s

    2 O significado aqui atribudo a contedo refere-se expresso do processo ontolgico da realidade

    humana e das formas pelas quais este processo tem se desenvolvido historicamente. Portanto, a captao

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    consensua is em sua imed iat ez sens ve l em d ir eo desco ber t a da s m lt ip las det er mina es o nto lg icas do rea l. Ass im sendo , no pode no s bast ar apenas o que vi s vel aos o lhos , po is o co nhec imento da rea l idade, em sua o bjet iv idade, r equer a vi s ibi l idade da mxima int el i gnc ia do s ho mens.

    Nest a d ireo de pensamento , reconhecemos a ex ist nc ia de inmer as vis es acer ca do que se ja rea l idade e pa ra ev it ar mo s equ vocos t e r ico - co nce it ua is de int er p ret ao impor t ant e le mbr ar

    que para Mar x, a rea l idade encerr a a mater ia l idade hist r ica do s processos de produo e reproduo da exis t nc ia dos ho mens . O conhec ime nto sobr e e la , po r conseqnc ia , apenas u m me io at rav s do qua l a co nsc inc ia, a ss imilando- a, a reproduz int e lectua lment e. Dest e modo , a at iv idade t e r ica po r s i mes ma em nada a lt er a a

    exist nc ia co ncr et a do fen meno . E st a a lt er ao apenas se r eve la poss ve l quando a at iv idade t e r ica o r ient a a int er veno prt ica t ransfo r madora da r ea l idade.

    Para a ep ist emo lo g ia mat er ia l ist a h ist r ico d ia lt ica, a

    co mpreenso dos fen menos e m sua processua l idade e t o t a l idade encont ra respa ldo apenas na d ia lt ica ent r e s ingu lar idade, par t icu la r idade e un ive r sa l idade. Segundo Luckcs ( 1970) , no s nexo s exist ent es ent r e s ingu lar -par t icu lar - univer sa l re s ide o funda mento

    que sust ent a uma aut nt ica e ver dade ir a apro ximao e co mpr eenso da rea l idade. E m sua expr esso s ingu la r , o fen meno r eve la o que em sua imed iat ic idade ( sendo o ponto de pa r t ida do co nhec imento ) , em sua expr esso un ive rsa l r eve la suas co mplex idades, suas co nexe s

    int er nas, a s le is de seu mo v imento e evo luo en f im, a sua t o t al idade h ist r ico - soc ia l.

    Ocorre po rm, que nenhu m fen meno se expressa apenas em sua s ingu lar idade ou un ive r sa l idade. Co mo opostos, se ident i f ica m, e a

    cont nua t enso ent re e les ( s ingu la r -univer sa l) se man ifes t a na conf igu rao par t icu la r do fen meno . E m sua par t icu la r idade e le

    do contedo do fenmeno demanda, do ponto de vista epistemolgico, tom-lo na relao dialtica entre singular-particular-universal.

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    assume as espec if ic idades pe las qua is a s ingu la r idade se co nst it u i em dada rea l idade de mo do det er minado , po rm no co mp leto , no univer sa l. Ainda segundo Luckcs, o par t icu la r repr esent a par a Mar x a expresso lg ica da cat egor ia de med iao ent re o espec f ico

    (s ingu lar ) e o gera l (un ive r sa l) , que no podem ser co mpr eend idos de modo iso lado e po r s i mes mos.

    Ol ive ir a (2005) cha ma- no s at eno pa ra a impor t nc ia de s e car act er izar a r e lao s ingu la r -par t icu lar - un ive r sa l no mbito da

    invest igao c ient f ica, a f ir mando-a co mo r equ is it o par a a co mpreenso do objeto em suas mlt ip las re laes e ac ima de t udo , par a a super ao de fa lsas d ico to mias ( do t ipo i nd ivduo- soci edade) , mu ito presentes nas c inc ias humanas. Se pr et er ida a funo med iadora da par t icu lar idade, a s r e la es acabam sendo co ns ider adas

    na cent ra l idade de p lo s aparent ement e d ico tmico s, per dendo-se de v ist a a s fo r mas pe las qua is oco rre a co ncr et izao da un ive r sa l idade no vir -a- ser da s ingu la r idade, med iada pe la pa r t icu la r idade (p. 46) .

    A par t ir dest as co ns ider aes nos parece impo ss ve l co nst ru ir

    qua lquer conhec ime nto objet ivo , quer sobre ind iv duo s quer so br e a t ot a lidade soc ia l, t o mando-se qua lquer um de les separ adament e. E st a a f ir mao ent ret anto , no postu la a impo ss ib i l idade de se t er a par t icu la r idade co mo re fe r nc ia pr imr ia na co nst ruo do

    conhec ime nto , mas rea f ir ma que apenas pe la an l ise d ia lt ica da re lao ent re o s ingu la r e o un ive r sa l que se t o rna poss ve l a

    const ruo do conhec ime nto co ncr eto , ou se ja , apenas po r est a v ia que a nfase confer ida ao par t icu la r no se co nver t e no abando no da

    const ruo de um saber na per spect iva da t o t al idade. As r azes ac ima expost as co rro boram no ssa a f ir mao acer ca

    das d ive rgnc ias ent re a ep ist e mo log ia mar x iana e a s abordagens qua l it at ivas que se ac ir r am, t amb m, em r e lao co ncepo de

    h ist r ia . A adeso t e r ico - metodo lg ica ao mat er ia l is mo his t r ico d ia lt ico ex ige a co mpr eenso do histo r ic is mo co ncreto presente nas obras de Mar x e E nge ls, par a os qua is a produo mater ia l da vid a engendr a t odas as fo r mas de r e laes humanas e a ss im sendo , a

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    cat egor ia o nto lg ica do t raba lho to rna- se impresc ind ve l em qua lquer estudo que se anunc ie na per spect iva da t ot a lidade h ist r ica.

    O processo de produo , po r sua vez, ex ist e fo ra dos ho mens (Mar x, 1989) , a inda que enquanto manifest ao de suas prpr ia s fo ras. E st a ext er io r izao deve ser , po r t anto , a expresso de sua natureza o bjet ivada, a man ifes t ao de suas fo r as humanas essenc ia is . Ocorre po rm, que a o rgan izao soc ia l cap it a l ist a ; ca lcada na propr iedade pr ivada dos me ios de produo ; t e m obst ru do

    esse desenvo lv ime nto , uma vez que a at iv idade do ind iv duo e seu resu lt ado , t o rnando-se independentes, acar r et am a subord inao do produto r ao produto de seu t raba lho . Sob t a is co nd ies de a l ienao as capac idades dos ho mens , bem co mo as poss ib i l idades par a seu p leno desenvo lv ime nto , se r epr ime m e se de fo r ma m po is o bl it era m a

    e fet iva ut i l izao de t odas as suas fo r as cr iadoras. Ass im sendo , a cond io para a e fet ivao do ver dade iro ser humano se co loca na t ransfo r mao das co nd i es e inst it u i es que a l iena m o t raba lho e o t raba lhador , e e st e o mais pro fundo s ign if icado do mate r ia l is mo

    h ist r ico .

    Na med ida em que as abordagens qua l it at ivas pr iv i leg ia m a s d imens es da r ea l idade e m suas de f in ib i l idades ext er io r es e m det r imento de seus funda mentos o nto lg ico - h ist r icos, inco rr em nu m

    grande r isco : caminhar da pseudoconcre t i cidade para u m pseudoconhecimento, a ser , mu ito fac i lmente, capturado pe la s ideo lo g ias do minant es e co lo cado a ser v io da manut eno da o rdem soc ia l que unive rsa l iza as r e laes soc ia is de a l ienao .

    Dife rent e ment e, a produo int e lect ua l mar xist a , ou se ja , sust ent ada pe la o nto log ia mar x iana, co nst r i u m t ipo de conhec ime nto que par a a l m de exp l ic it ar o rea l em sua essenc ia l idade, co lo ca- se c la r ament e a se r vio da imp le ment ao de

    um pro jeto soc ia l pro moto r de u ma no va soc iab i l idade, is t o , a se r vio do soc ia l is mo . Nest e sent id o , busca r no mat er ia l is mo h ist r ico d ia lt ico os funda mentos pa ra o t raba lho de pesqu isa t amb m uma quest o t ico -po l t ica.

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    No bo jo dest a an l ise, que apo nta as co nt rapo s i es ma is dec is ivas ent r e a ep ist emo lo g ia mater ia l ist a his t r ico d ia lt ica e a s metodo lo g ias qua l it at ivas , no poder amo s de ixa r de co ns ider ar a s d i fer enas re fe r ent es ao s cr it r io s de va l idao da invest igao bem

    co mo o t rat amento d ispensado induo e deduo . Para t anto , re sgat emo s ma is a lgu mas pr emissas do pensamento mar x iano , e m espec ia l, a mate r ia l idade da exist nc ia .

    Mar x, em sua poca, levantou de fo r ma contundente o pro ble ma

    da ex ist nc ia humana e so bretudo , o proble ma da r e lao ent re ind iv duo e gnero hu mano , super ando t anto a fi lo so f ia do idea l is mo de Hege l co mo t amb m, o mater ia l i smo intu it ivo de Feuer bach. Cent rou at eno no mater ia l is mo que cons idera a at iv idade humana objet iva o t raba lho co mo cat egor ia cent r a l, propo ndo o materia l i smo da prx is , br i lhant eme nte s int et izado nas c lebr es Teses so br e Feuer bach (1993) . O mat er ia l is mo apresentado po r Mar x aponta, necessar ia ment e, na d ir eo do t raba lho soc ia l do s ho mens e nas propr iedades que adqu ire his to r icament e. O

    mat er ia l is mo d ia lt ico se apresenta em seu pensamento , co mo poss ib i l idade pa ra a co mpr eenso da r ea l idade r esu lt ant e do met abo l is mo ho me m- natureza produz ido pe la at iv idade humana e m sua co mp lex idade e mo v imento .

    A imp le ment ao do mtodo mar xia no 3; aqu i apresentado de fo r ma ext rema mente resumida ; pressupe co mo ponto de par t ida, a apr eenso do rea l imed iato , is t o , a r epr esentao in ic ia l do todo , que co nver t ido em o bjeto de an l ise po r meio dos processos de abst rao r esu lt a numa ap reenso de t ipo super io r , expr essa no concreto pensado. Po rm, est a no a et apa f ina l do processo , uma vez que as cat egor ias int er pret at ivas, a s e st ruturas ana l t ica s

    const it ut ivas do co ncr eto pensado ser o cont rapost as em face do

    3 Sobre o mtodo em Marx, sugerimos a leitura de: Marx, K. O Capital Crtica da Economia Poltica,

    Volume I, Livro Primeiro: O Processo de Produo do Capital. So Paulo: Abril Cultural, 1983; Duarte, N. A anatomia do homem a chave da anatomia do macaco. In: Educao & Sociedade. Campinas, CEDES, n. 71, p.p. 79-115, 2000; Abrantes, A. e outros O mtodo Histrico Social na Psicologia Social. Petrpolis: Vozes, 2005.

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    objeto in ic ia l, ago ra apr eend ido no mais e m sua imed iat ez, mas e m sua to t a lidade co ncret a. Est e proced imento metodo lg ico pode se r ass im s int et izado : par t e- se do emp r ico ( rea l apar ent e) , procede- se sua exegese ana l t ica ( med iaes abst r at as) , reto rna- se ao co ncr eto , ist o , co mp lex idade do rea l que apenas pde ser capt ada pe lo s processos de abst rao do pensamento .

    Po r t anto , a ep is t emo log ia mar x iana t em a pr t ica soc ia l co mo re fer nc ia fundante da const ruo do conhec ime nto , ne la r es id indo o s

    seus cr it r io s de va l idao . No ape la a negao da lg ica fo r ma l , mas t o rna-a par t e int eg rant e da l g ica d ia lt ica. No pr iv i leg ia processos de deduo e m det r imento dos processos de induo ou v ice- ver sa, car act er izada que pe lo pr inc p io da un idade e lut a do s cont rr io s. No proc lama a lg ica sub jet iv is t a co mo cr it r io gnos io lg ico .

    Consideraes Fina i s

    Pe lo exposto , procuramo s evidenc iar o quanto d ivergem o s pr inc p io s bas i la r es do mat er ia l is mo h is t r ico -d ia lt ico em r e lao s abordagens qua l it at ivas, t endo e m v ist a apo ntar a lguns fundamento s

    da impropr iedade de apro ximaes ent re ambo s. Nest e sent ido , cons idera mo s abso lut a ment e ar t i f ic ia is as ju st i f icaes at r ibu das s re fer idas aprox imaes.

    Esper amo s t er de mo nst rado ao lo ngo dest e ar t igo que, no

    obst ant e as t ent at ivas, a s abor dagens qua l it at ivas no superam de fato os prece ito s pos it iv ist a s de invest igao . Ainda que os ap l iquem de ponta cabea, no a la ra m sua super ao . Espera mo s t amb m, t er de ixado c la ro que a un idade su je it o /objeto do co nhec ime nto ex ige a co mpreenso concr et a de a mbos, dado no at ing ve l pe la repr esent ao imed iat a e idea l ist a do que se ja suj ei to e do que se ja objeto . Na ra iz dest a un idade r es ide a pr t ica soc ia l dos ho mens , t ec ida h isto r icamente pe lo s ent re laa mentos de sub jet iv idades

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    objet ivadas e o bjet iv idades sub jet ivadas. D isso r esu lt a inc lus ive , a impo ss ib i l idade de ju zo s neut ros na const ruo do conhec ime nto e ass im sendo , par a a ep ist emo log ia mat er ia l is t a- h ist r ico - d ia lt ica no bast a co nst at ar como as co isas func io nam nem est abe lecer co nexes

    super f ic ia is ent re fen meno s. Trat a- se de no se perder de vist a o fato hist r ico funda menta l de que vive mos nu ma soc iedade cap it a l is t a , produto ra de mer cador ias, univer sa l izadora do va lo r de t roca, enf im, uma soc iedade essenc ia lmente a l ienada e a l ienante que

    prec isa ser super ada. Atua lmente, so b a g ide da ideo log ia neo libe r a l ps- moder na ,

    ma is que nunca necessr ia a cr t ica ao que se produz e se ens ina e m no me do que se ja a co nst ruo do co nhec imento c ient f ico , e t amb m par a est a cr t ica, a f ir ma mo s a pr opr iedade da ep ist e mo log ia

    mar x iana.

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