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7/18/2019 Artigo Pentecostalismo-identidade
http://slidepdf.com/reader/full/artigo-pentecostalismo-identidade 1/17
PENTECOSTALISMO E ....
Alexandre da Silva Chaves1
RESUMO
O presente artigo busca avançar num conhecido diálogo teórico entre diferentes
posições que ocupam o debate acerca do tema da identidade do individuo pertencente ao
pentecostalismo brasileiro !este modo revisitamos conhecidas teorias e tipologias elaboradas
tanto pela antropologia quanto pela sociologia" fundamentadas em bases teóricas #á
consagradas nos estudos de ci$ncias sociais e religi%o Sendo assim" a maior contribuiç%o que
se busca por meio deste texto & a do exerc'cio teórico que visa indicar a possibilidade de se
discutir o assunto por um outro caminho que nos parece acenar para uma sa'da deste labirinto
teórico" o qual nos possibilite continuar a refletir criticamente" sem a perda da ob#etividade"
preservando a possibilidade de reconhecer caracter'sticas m'nimas que identifiquem o
pentecostalismo brasileiro na atualidade" observando(o como um lugar comum na cultura
contempor)nea" designado mais ob#etivamente como um *n%o lugar+ em nosso tempo" espaço
de relações flu'das" transitórias e passageiras
,alavras chave- ,entecostalismo .dentidade /ransiç%o 0obilidade .ndividualidade
INTRODUÇÃO
O pentecostalismo de modo geral & um tema #á reconhecido pelos esforços intelectuais
empreendidos por diversos autores" que de maneira muito bem recortada" se aventuram numa
descriç%o sintomática das causas sociais de sua exist$ncia
econhecendo os esforços de tais trabalhos" n%o nos aventuramos a inventarmos uma
nova discuss%o sobre o assunto" o que propomos neste texto & simplesmente um olhar sobre a
paisagem por um outro )ngulo
!esta maneira" o pentecostalismo torna(se visto como um itinerário da própria cultura
brasileira" um caminho o qual a cultura oferece como opç%o de percurso a este su#eito" que ao
frequentar" aderir ou participar de seu funcionamento" busca uma confirmaç%o de sua
transitoriedade por meio de ato consagratório da religi%o
2 #ustamente neste instante" de itinerário do su#eito" caminho pelo qual ele passa" n%o
importando os motivos que o leva as práticas religiosas" que encontramos uma pista para
1 Doutorando em Ciências Sociais pela Pontifcie Universidade Católica de São Paulo,Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Macen!ie em São Paulo"
1
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fugirmos dos #á reconhecidos debates polari3ados pela antropologia e sociologia" o
pentecostalismo passa a ser visto n%o como um lugar" mas em oposiç%o a esta definiç%o" como
*n%o lugar+
O ITINERÁRIO CULTURAL DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
O pentecostalismo em suas origens excede as paredes do s&culo 44" foi fortemente
influenciado por movimentos pietistas" avivalistas e de santidade 56 todos estes altamente
valori3ados nos s&culos 47... e 4.4
7ale ressaltar que esses movimentos se deram" n%o coincidentemente nas portas das
fábricas" nos novos aglomerados urbanos e em pleno processo de transiç%o cultural da
sociedade da &poca6 eles ocorreram no in'cio e no auge da urbani3aç%o e industriali3aç%o"tanto da .nglaterra como no principal esteio do movimento pentecostal" que & a Am&rica do
8orte" pela via dos 9stados :nidos da Am&rica
O pentecostalismo atual ;diferentemente do pentecostalismo do crist%os #udeus
primitivo" do 1< s&culo da era crist%=" tem sua expans%o a partir de /ope>a" no ?ansas em
1@16 onde #ovens estudantes" convencidos pela interpretaç%o que fa3em da B'blia pelo livro
de Atos dos Apóstolos 5- " e pela influ$ncia de .rDin e Sandford" principalmente o #ovem
pastor Charles ,arham" o qual buscava uma segunda experi$ncia posterior a da salvaç%o" que
na sua compreens%o era o falar em outras l'nguasE
# Pietismo surgiu como um movimento religioso no fnal do s$culo %&''" Conseguiuin(uenciar religiosidades de origens independentes de inspira)ão protestante tais como opentecostalismo, o neo*pentecostalismo e o carismatismo" + Pietismo combinava outeranismo do tempo da re-orma, en-ati!ando a piedade do indiv.duo e uma vigorosavida cristã" + movimento de santidade en-ati!a a e/periência 0ue capacita o crente aviver uma vida santa" maioria das pessoas do movimento de santidade interpretam issocomo viver uma vida livre do pecado intencional ou da pr2tica do pecado" + ob3etivo $viver uma vida como Cristo, para serem con-ormes o modelo depreendido dos ensinos deCristo e não do modo de viver contr2rio aos valores cristãos" +s avivalistas são maisclaramente identifcados com os valores dos pentecostais modernos, os 0uaisnormalmente associam o movimento de santidade aos ideais pietistas de pr2tica vigorosada vida cristã e como sinal buscam uma nova revela)ão com a divindade, 0ue para osavivalistas impulssionariam a igre3a a evangeli!a)ão"
4 + movimento de 5opea iria in(uenciar outro evento, 0ue fcaria bem mais con6ecidointernacionalmente, o 7!u!a Street8 ou movimento da Rua !u!a, em os ngeles,Cali-órnia, em 19:;, liderado por <illiam Se=mour >Mc?@@, 1999, p" 1AB" importantecompreender 0ue para C6arles Par6am, o -alar em l.nguas de modo e/t2tico, contin6aob3etivos mission2rios, e o seu valor era, inicialmente, o de comunicar o evangel6o apessoas de outras culturas e 0ue -alavam em outros idiomas" @ra um -alar em outral.ngua, literalmente e culturalmente com a tentativa de evangeli!ar outras pessoas de
l.nguas di-erentes" ão se tratava de l.nguas de an3os ou descon6ecidas, podemos defniresse -enEmeno como /enolalia" Di-erentemente de <illian Se=mour 0ue pregava eensinava a glossolalia, ou se3a, o -alar em outras l.nguas completamente descon6ecidas
#
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8o Brasil o pentecostalismo inicialmente se instala sob o signo desta experi$ncia do
?ansas e da Califórnia" uma esp&cie de experi$ncia de fundo missionária :m italiano de
origem valdense" de um movimento dissidente do catolicismo italiano" e que posteriormente
se filia ao presbiterianismo norte(americano e dois suecos de origem batista 2 nesta esteira
que Fuigi Granciscon" italiano" dá origem em S%o ,aulo ao que ho#e conhecemos como
Congregaç%o Crist%o no Brasil" e !aniel Berg e Hunnar 7ingren" suecos" que d%o origem em
Bel&m do ,ará" ao que ho#e conhecemos como as Assembleias de !eus
,aul Greston utili3a a tipologia mar'tima das ondas para nos apresentar historicamente
o desenvolvimento do movimento pentecostal brasileiro" recortando o pentecostalismo em tr$s
momentos históricos bem definidos ;G9S/O8" 1@@E=
Observamos que Greston chama de primeira onda o momento histórico em que o pentecostalismo & implantado" fundamentado sob uma orientaç%o contracultural" cu#a
identidade & for#ada na oposiç%o ao catolicismo e as tradições locais" constituindo(se
internamente por sua $nfase na pregaç%o e no falar em l'nguas desconhecidas dos homens
como sinais de evid$ncia da manifestaç%o do 9sp'rito Santo na vida do fiel
A definiç%o de segunda onda & #ustificada pelos primeiros desdobramentos e divisões
oriundas deste pentecostalismo histórico e tradicional no per'odo da d&cada de I" do s&culo
44 A $nfase do pentecostalismo denominado de segunda onda & a cura divina" buscando
superar a mensagem da salvaç%o e o falar em l'nguas" acrescentam(se a estes dois elementos a
forte valori3aç%o das curas de doenças 9ste movimento & representado pela fundaç%o de duas
igre#as importantes neste momento" que seriam a Igreja Pentecostal Deus é Amor e a Igreja
Pentecostal o Brasil para Cristo 8este momento" inicia(se a inserç%o das igre#as pentecostais
nos meios de comunicaç%o por meio das programações em rádios
2 preciso considerar que na d&cada de I tamb&m se instala no Brasil uma igre#a de
um estilo mais popular de liturgia" sua mensagem era fortemente orientada para a cura6 seus
fundadores foram Jarold Killiam e Aimee Semple 0c,herson" ambos de origem norte(
americana" iniciam no Brasil a Igreja do Evangelho Quadrangular, que em sua busca de
superar o pentecostalismo clássico afirma as seguintes doutrinas- 1(= Lesus Cristo Salva" 5(=
Lesus Cristo bati3a com o 9sp'rito Santo" E(= Lesus Cristo Cura as enfermidades e (= 9le
voltará para buscar sua .gre#a
dos 6omens, uma categoria de l.ngua dos an3os"4
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A denominada terceira onda" como pontuada pelo sociólogo ,aul Greston & um tanto
mais complexa" marcada por muitas pol$micas" busca reunir em si elementos mais gerais da
cultura brasileira" inclusive por causa de sua orientaç%o pragmática" emula práticas da cultura
animista" do espiritismo afro(brasileiro e do catolicismo popular" tornando(os referencia
negativa ;alvo e oposiç%o= ou positiva ;sincretismo= de suas práticas
As igre#as da terceira onda surgem a partir do inicio da d&cada de M do s&culo 44"
sob a orientaç%o hermen$utica que considera ponto fulcral da interpretaç%o da B'blia" o vi&s
econNmico da prosperidade" que acaba por reposicionar o pentecostalismo e suas práticas no
contexto histórico 9sse movimento pentecostal recoloca a parousia4 em outros termos" a vida
feli3 da eternidade deve ser desfrutada aqui na terra por todos os crentes6 #á a &tica do
trabalho" que em submiss%o a vida do trabalho condu3 o indiv'duo a vontade de !eus" seriasubstitu'do por uma &tica do consumo" que o colocaria na condiç%o de desfrutar as b$nç%os
dos c&us por meio dos bens produ3idos pelo capital ;B./:8" p E( =
,ara que ocorra este desdobramento o pentecostalismo alia sua interpretaç%o b'blica a
interpretaç%o econNmica de modelo capitalista liberal" cu#o o eixo central do resultado do
sucesso e da prosperidade será o do consumo que produ3irá essa humanidade feli3
Ao inv&s deste novo pentecostal se contentar com as aflições" problemas e sofrimento"
deverá se impor s adversidades e confrontá(las" subordinando(as e ultrapassando(as" como
forma de provar que !eus está na vida do individuo 9ste será o poder de dese#ar e consumir
bens capitais como carro" casa" vanta#osos salários" la3er etc" tudo isso sob a &gide da vontade
de !eus
9ste tipo de pentecostalismo passa ent%o ao questionamento de um valor importante
no protestantismo" que & a *vontade+ de !eus no sofrimento" diferente dos pentecostais
anteriores de primeira e de segunda onda que acreditavam no sofrimento como parte do
percurso do crist%o at& o c&u" agora" os novos pentecostais afirmam que se *somos filhos de
!eus n%o podemos aceitar o sofrimento+" e no caso do contexto moderno o dever-vencer "
representará o poder-consumir " um consumo compreendido como *consumo ilimitado+
;B./:8" p I=
A mensagem positiva do acesso ao consumo tem um custo como qualquer bem do
universo capitalista e n%o fugindo a regra os bens simbólicos produ3idos" pois a cada novo
obstáculo ao sucesso individual" envolverá um ritual que carregará consigo um sacrif'cio" o
F + termo parousia na l.ngua grega signifca """"F
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qual visará superar estes obstáculos ;desempregos" baixo salário" falta de sucesso nos
negócios etc=" sempre tendo como custo deste sacrif'cio" uma doaç%o financeira 8o
pentecostalismo atual o dinheiro se torna o grande sacrif'cio que o su#eito leva ao altar do
sacerdoteI
O indiv'duo convertido a religi%o pentecostal deve perseverar e se dedicar a suplantar
as suas limitações" e para isso coloca sob o altar da instituiç%o tudo o que for necessário
;ofertas" d'3imos" votos= a fim de conquistar a felicidade por meio de elevados n'veis de
consumo
9sta religiosidade torna(se marcada por sua inserç%o nos meios de comunicaç%o de
massa" como a televis%o Algumas das igre#as deste tipo de pentecostalismo adquirir%o canais
inteiros de comunicaç%o" como o caso da .gre#a :niversal do eino de !eus que adquiriu a/7 ecord6 a .gre#a .nternacional da Hraça de !eus que adquiriu uma rede de canal fechado"
a ./(/76 tamb&m a .gre#a Apostólica enascer em Cristo que tentou a aquisiç%o da /7
0anchete" mas n%o conseguiu manter o seu funcionamento" tendo que desfa3er(se do negócio
posteriormente" bem como um nPmero m'nimo e crescente de denominações pentecostais que
compram horário nas programações de televisões
Consideremos tamb&m outros fatores externos aç%o do pentecostalismo e que
colaboraram com o seu sucesso e crescimento" tal como sua capacidade de adaptaç%o6 sua
capacidade de absorç%o do catolicismo popular que sofria com a aus$ncia de sacerdotes e
outros agentes oficiais do catolicismo romano ;Q:9.OR" 1@T=6 capacidade de expans%o em
regiões brasileiras que sofriam com a aus$ncia do 9stado e com a apatia de outras
religiosidades Assim" a chegada do pentecostalismo no Brasil coincide com fatores que
propiciariam a sua expans%o no mundo urbano" n%o conseguindo a f& protestante assimilar a
cultura latina" herdeira do catolicismo popular portugu$s" de religiões ind'genas e africanas
;CA0,OS" 1@@" p T5=
!este modo" nossa discuss%o busca revisitar alguns dos problemas relacionadas ao
pentecostalismo que abre o s&culo 44." o qual busca superar o modelo do *pentecostalismo
clássico+ do in'cio do s&culo 44" classificado como #á apresentado no texto anteriormente
como pentecostalismo de terceira onda ou neopentecostalismo ;G9S/O8" 1@@E6
0A.A8O" 5I=6 resultado do caráter din)mico de sua nature3a ;ob#etivos e
funcionamento=" que o diferencia em relaç%o ao pentecostalismo denominado de clássico"
G @/plicar o sacrifcio no conte/to lev.tico e sacerdotal""" >o0ue $ e como $ apropriado pelateologia da prosperidadeB"""
G
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assim o neopentecostalismo cresce e afeta toda a hermen$utica das relações sociais do
pentecostalismo de terceira onda ;tradicional ou clássico=
Assim" esse pentecostalismo se apresenta na contemporaneidade como um movimento
que se torna capa3 de se acomodar rapidamente a cultura" sendo muito mais efica3 do que emsuas origens" sendo assim vai se transformando mais rapidamente e se adaptando a cultura
como um reflexo das instituições que na modernidade se transformaram rapidamente Al&m
disso esse pentecostalismo na atualidade absorve tanto os primeiros tipos de pentecostais
como os mais recentes" os colocando sob a tens%o os valores culturais a partir da relativi3aç%o
de suas próprias tradições
!este modo" a noç%o de identidade que utili3amos neste texto considera como fator
relevante para sua definiç%o o con#unto de valores pertencentes ao su#eito que frequenta o pentecostalismo" tendo em tais valores m&dios" o fundamento da capacidade performática
individual de transformaç%o do su#eito" que acaba por transformar o próprio pentecostalismo
!esta maneira" ao provocarmos reflex%o acerca de tal noç%o de identidade pentecostal"
consideramos fundamental a compreens%o de que essa religiosidade reconhece(se sob
constante processo de mutaç%o orientada a partir da própria sociedade ,artindo deste eixo"
poder'amos afirmar que o pentecostalismo de modo cNnscio" tem em suas mudanças" o
aspecto fundamental da construç%o de *suas identidades+" as quais consideramos responsáveis
por *alterarem a própria nature3a+ ;!:0O8/ apud ASA!" 51" p 5=
8este esteio consideramos #ustamente este o itinerário que o pentecostalismo passa a
percorrer na cultura brasileira" passando a se apresentar como um lugar de frequencia do
su#eito hibrido" espaços de habitaç%o deste su#eito #á desidentificado com o catolicismo
oficial" e & exatamente por este caminho criativo que percorrerá a constante ormula!"o-
reormula!"o do pentecostalismo clássico e de suas rupturas" ele operará no va3io da vida
religiosa brasileira do campo e da cidade
O “NÃO LUGAR” COMO UMA CATEGORIA DA GENESE DO
PENTECOSTALISMO CONTEMPORÂNEO
8este sentido seguimos a pista de que a religi%o na modernidade se torna uma
pura criaç%o de espaços" onde circulam indiv'duos" s'mbolos e crenças6 sendo que tais espaços
;
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se desenvolvem sobre outros espaços" e que sob constante tens%o s%o provocados pelas
transformações pol'ticas e sociais" passando a ser percebidos como esp&cies de n"o lugares
;A:H2" 51" p T=
Os n"o lugares na perspectiva de Aug& s%o aqueles espaços os quais #á n%o produ3em historicidade" relações duradouras e nem tampouco identidade" al&m disso" de um
modo aparentemente contraditório" acabam revelando dentro de si mesmos" *outros lugares+6
espaços que renascem constantemente sobre estes espaços de passagens" num aparente e
inesgotável ciclo de reformulaç%o A reformulaç%o aqui & vista no sentido binário de cria!"o-
recria!"o" signiica!"o- ressigniica!"o ou de nascimento-morte de suas próprias práticas
2 a este constante estágio de transi!"o dos espaços a que o contexto torna(se
submetido pelas transformações pol'ticas" econNmicas" sociais que passa a desenvolver umacondiç%o cultural própria de transformaç%o" porporcionando um ambiente adequado a
modificações ob#etivas na própria religiosidade" tanto em suas instituições como nos próprios
indiv'duos" inclusive modificações que se tornam caracter'sticas deste espaços onde as
identidades" os relacionamentos e a vida como um todo vivem fases de constantes construç%o
U desconstruç%o U reconstruç%o" que no uso da metáfora baumaniana ;BA:0A8" 5" pT(
@= indicam(nos um *liquido cenário da vida moderna+
A religi%o pentecostal" sob o olhar das ci$ncias sociais" apresentou um
indiv'duo que se refugiava na religi%o em busca por um lugar seguro" cu#o propósito seria o de
orientar a vida numa direç%o certa" e por um tempo linear a#udar o indiv'duo a passar com
segurança desta vida transitória" para uma outra vida na eternidade com !eus O próprio
!ur>heim" pioneiro dos estudos sociológicos da religi%o" afirma que a verdadeira funç%o da
religi%o & Vnos fa3er agirW" Vnos a#udar a viverW ;5T" p @E=
,ercebemos que em relaç%o ao pentecostalismo" a teoria dur>heimiana se
sustenta at& o limite observado no pentecostalismo denominado de primeira e de segunda
onda" aquele de implantaç%o" conversionista" de curas divina" menos fragmentado e de
orientaç%o escatológica" o qual produ3 um *sistema solidário de crenças e de práticas relativas
a coisas sagradas" ou se#a" separadas" proibidas6 crenças e práticas que unem na mesma
comunidade moral" chamada igre#a" todos os que a ela aderem+ ;5T" p M@=
Contudo a teoria dur>heimiana n%o consegue dar conta de #ustificar um
pentecostalismo flu'do como aquele do tipo da terceira onda" que se torna fragmentário" capa3
de dissolver tanto a tradiç%o como os laços morais e familiares produ3idos pelos su#eitos
H
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A quest%o que levantamos" apontando uma leitura do pentecostalismo como uma
categoria representada pelo *lugar+" busca produ3ir uma reflex%o sobre determinado momento
em que" na cultura" o pentecostalismo desloca(se da funç%o de hospedeiro de uma comunidade
de fiel" enrai3ada numa tradiç%o rec&m nascida" para se tornar um espaço determinado a
hospedar o fiel que peregrina numa constante busca de afirmaç%o de suas práticas privativas
em relaç%o ao sagrado
8o momento em que ocorre esta nova mudança no eixo hermen$utico(social do
pentecostalismo" o modo de religi%o passa a diferir do apresentado por !ur>heim" se opondo a
sua noç%o de comunidade moral" principalmente quando n%o une mais os indiv'duos a igre#a
por convers%o ou ades%o as suas práticas" crenças" ritos ou proibições
!este modo" quelas primárias definições de convers%o" como uma esp&cie demudança radical de comportamento" e tamb&m de entrega de um su#eito a uma tradiç%o
religiosa" que o torna" a partir de sua convers%o" fixado a uma comunidade moral" tornando(o
prisioneiro de sua tradiç%o" #á n%o se tornam mais aplicável no caso do pentecostalismo que
se processa no contexto atual6 tornando reflexões como a da antropóloga ,aula 0ontero
fundamental compreens%o desse novo instante" pois as *noções de Vdevoç%oW e Vconvers%oW"
que orientaram grande parte das análises sobre os fenNmenos religiosos" n%o descrevem com
precis%o o que ocorre no campo das práticas+ ;0O8/9O" 5@" p5=
O pentecostalismo passa a ser percebido como um corpo flutuante de pessoas que
circulam por ele" com a finalidade de serem alimentados com as mais recentes novidades do
mercado simbólico religioso" satisfa3endo assim as necessidades de seu consumo 2 uma
noç%o moderna de religiosidade O pentecostalismo se torna uma religiosidade adequada a
construç%o da noç%o de modernidade" pós(modernidade ou de alta modernidade" podendo ser
; + conceito de modernidade a0ui, não segue necessariamente a problemati!a)ão teóricado termo, indica simplesmente a ade0ua)ão da religião ao modus operante da cultura"Uma religião 0ue não valori!a sua tradi)ão como no passadoI ou se3a, a religião passa ase identifcar -ortemente com a cultura e com seu direcionamento" este instante areligião se desliga das grandes narrativas de tradi)ão da igre3a e das -artas elabora)Jesdogm2ticas" Contudo, embora não negue sua -un)ão 0ue busca orientar a vida K-elicidade, o 0ue ocorre $ 0ue nesta circunstLncia da modernidade, di-erentemente dasantigas tradi)Jes, passa simplesmente a o-erecer*se como espa)o de circula)ão e7consagra)ão8 do tipo de 6omem moderno 0ue adere a ela, o 6omem*(u.do, o mutante,um su3eito em constante constru)ão de si mesmo, num mundo em constante mudan)a" igre3a pentecostal de tipo terceira onda como c6ama reston, ser2 produto de umareligiosidade -ormatada pelo interesse do consumidor, 0ue a cada momento poder2necessitar satis-a!er sua ansiedade, inseguran)a ou solidão, e por isto dese3ar algo novo,
peregrinando em busca de uma solu)ão, neste instante o pentecostalismo de modo geralna atualidade se o-erece ao indiv.duo como o espa)o de sua constante construção-desconstrução-reconstrução"
A
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colocado como numa disputa por visibilidade no próprio espaço pPblico ;0O8/9O" 5@"
p5I=
Ao observarmos o caso do pentecostalismo brasileiro" percebemos que tal
problemática nasce sob um contexto em que a modernidade delineia novas formas deindividualidade e o *grande manto da religi%o medieval+ perde sua dimens%o totali3ante
quando passa a concorrer como mais um entre outros *mantos+ ;ASA!" 51" p 5E=
9stes espaços tornam(se l#cus de atuaç%o deste tipo de religiosidade individuali3ante"
como o pentecostalismo" que logo passa a ser visto" ele próprio como um lugar" um espaço de
transi!"o, e a vida" embora se#a transitória" acaba revelando grande valor a exist$ncia
humana" se#a aqui" ou em termos de crença na eternidade ;BA:0A8" 5" p="
apresentando(se como um ritual da própria modernidade" onde a finalidade principal torna(sea de Xassegurar uma transformaç%o do estado ou de uma passagem da sociedadeX ;H9889,"
511" p E= 8o caso deste tipo de pentecostalismo a identidade se constrói na mudança passa
a se constituir num estado de constante transformaç%o" como parte de um ritual da própria
sociedade
IDENTIDADE COMO ESTADO DE PASSAGEM NO PENTECOSTALISMO
A compreens%o de religi%o *como sistema simbólico+ proposta por Heert3 ;51E="
indica(nos certo modelamento cultural do indiv'duo praticante da religi%o" que no caso do
adepto do pentecostalismo" tem como principal caracter'stica da cultura" a sua fluide3 !esta
forma" tal como será a cultura contempor)nea" capa3 de se refa3er como num movimento
dial&tico e din)mico" o será o pentecostalismo tamb&m em seu caráter fluido e competente
para se reorgani3ar e responder culturalmente de modo dialetico as situações requeridas pelo
indiv'duo
!este modo o indiv'duo em meio ao espaço religioso criado pelo
pentecostalismo" aprende a suportar as angPstias do mundo moderno" como- ausencia de
relacionamentos" ausencia de identidades sólidas" a constante incerte3a sobre a vida e o
mundo" al&m de seu desenrai3amento histórico
8este cenário" em meio aos espaços que se tornam flu'dos" sob constantes
modificações" & que a religiosidade pentecostal constitu'da de certa estrutura binária" provoca
o rompimento deste binarismo constru!"o $ desconstru!"o" passando a experimentar um
9
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movimento de constituiç%o ternáriaM de constru!"o $ desconstru!"o $ reconstru!"o, reflexo
da cultura moderna" denominado de movimento dial&tico 2 agora" na falta de v'nculos
duradouros produ3idos por este novo movimento" que a religiosidade tornou(se bem
articulada" perdendo com isto sua clássica *funç%o dinamog$nica+ de produ3ir o sentido de
pertença ao indiv'duo na sociedade" passando agora a *dissolver as antigas pertenças e
linhagens+ estabelecidas por meio da religi%o ;,.9:CC." 5" p111=" nos condu3indo a
mais profunda e desafiante individualidade
8este ponto discordo em parte da leitura de ,ierucci" pois ele afirma que a
religi%o tamb&m desenvolve a funç%o de *certo desligamento das pessoas de seu contexto
social de origem+ ;5" p111=" de modo que percebemos no caso dos pentecostais uma
diferença em relaç%o as religiões afro(brasileiras" onde existe uma outra funç%o" n"o a dedesligar " mas a de incorporar determinados n'veis de cultura *profana+" assimilando(as pela
religiosidade" sem reclamar qualquer tipo de sincretismo 2 exatamente a reconfiguraç%o das
coisas mundanas a partir do novo" do sagrado" que consagra a religiosidade pentecostal a
viver em constante movimento
9sse movimento religioso estabelece o sentido de *consagraç%o+ dos elementos" que
operam externamente religiosidade pentecostal" mas que pertencem cultura dos indiv'duos
que o aderem 9stes indiv'duos que s%o recebidos pelo pentecostalismo" passam a ser religados ao *mundo+ por meio dos modos de ser pentecostal" das práticas corporais ou das
formas de express%o que tomam da *nova cultura+ religiosa" os quais s%o ressignificados por
uma linguagem nativa denominada de consagraç%o 2 uma consagraç%o das práticas antes
*mundanas(profanas+" que agora" desenvolvidas pela religiosidade pentecostal" s%o
ressignificadas e tornadas *puras+
8esta perspectiva" o pentecostalismo atual" moderno" toma como base de sua
religiosidade o caráter assimilatório das culturas externas" promovendo(as internamente"reconfigurando(as e consagrando(as" resultando num alto grau de favorecimento a sua
aceitaç%o e desenvolvimento 2 #ustamente por consagrar o caráter mais próprio da
H divisão tern2ria $ utili!ada classicamente pela ciência 0u.mica, indica substLnciasorgLnicas constitu.das por três elementos, como o caso do ip.dio 0ue $ constitu.do decarbono, 6idrogênio e o/igênio" @m nosso caso a palavra como ad3etivo serve demet2-ora para indicar um tipo de mudan)a no comportamento religioso, 0ue antes secontentava em ser uma coisa em oposi)ão a outra, indicando o lugar social do indiv.duopor meio da religião" Contudo, neste instante a religião parece se desenvolver numa
constante e intermin2vel dial$tica, a 0ual se dissolve no momento em 0ue se afrma, sereconstrói e se dissolve novamente de modo intermin2vel" + seu ciclo agora $ de7constru)ão*desconstru)ão*reconstru)ão8"
1:
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modernidade que & a flu'de3" o estado de inconst)ncia e constante mutaç%o" que o
pentecostalismo se torna um n"o-lugar da express%o religiosa moderna
2 a partir deste reconhecimento de uma religiosidade que consagra o estado humano
de transitoriedade" que a religiosidade torna(se convidativa" pois desafia o indiv'duo a viver acima dos limites dos dogmas e das certe3as" moldando(o pela própria religiosidade(
mediadora da cultura" a qual o condu3 a uma vida que se torna em *puro ato+ de metamorfose"
intermediada pela experi$ncia religiosa e operada por seus simbolos que o modelam
;H99/R" 51E" p M1=" tonando(se a religi%o um sistema de simbolos
A religi%o vista como sistema cultural sob a perspectiva geert3iana nos parece própria
para descrever em parte esse caráter simbólico que o pentecostalismo exerce culturalmente"
contudo" cabe a devida ressalva e atenç%o afim de n%o entrarmos na *querela+ das ess$ncias"tentando escapar da tentativa de determinar uma *ess$ncia pentecostal+ O risco & por conta
de estarmos percorrendo a linha t$nue de uma suposta *ess$ncia da religi%o+
O principal problema se apresenta apenas quando Heert3 se aproxima de uma
conceituaç%o de que a religi%o U s'mbolo U e U express%o cultural" descreve a disposiç%o e
motivaç%o" como caracter'sticas cognitivas essenciais religi%o 8este instante concordo com
o contraponto estabelecido por Asad ;51=" o qual considera certa essenciali3aç%o nesta
definiç%o de religi%o" onde a crença torna(se em estado mental e n%o em atitude constitutiva
no mundo ;ASA!"51" p 5(5I=
9m nosso caso encontramos no caráter metamorfósico do pentecostalismo" a
atitude como o ato constitutivo da realidade" pois ele se constrói sob o eixo das
transformações pol'tico(econNmicas(sociais de nossa sociedade desde o seu in'cio" quando
ainda denominado pentecostalismo clássico ;primeira onda= e acentua este seu caráter no
neopentecostalismo ;terceira onda=" sendo este Pltimo um pentecostalismo do fim do s&culo
44 que acaba por contaminar em quase sua totalidade os pentecostais do s&culo 44.T
7ale ressalvar" que em seu in'cio" o pentecostalismo *clássico+era bem mais
sistemático" e intentava imprimir sobre o su#eito convertido a ele" uma identidade muito mais
consistente e duradoura Assim os indiv'duos que se orientavam religiosamente por meio da
*convers%o+ religiosidade pentecostal do primeiro movimento ;Assembleia de !eus e
Congregaç%o Crist%o no Brasil=" acreditavam estar muito mais certos sobre um cosmos" cu#a
realidade era muito mais segura" possibilitando inclusive diferenciar o presente e o uturo" a
A &ale a pena observar trabal6os como os de MR'+, Ricardo" eopentecostaisN novasociologia do pentecostalismoI""""
11
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vida-mundana e a vida-eterna" e se baseando(se em valores muito mais sólidos considerados
concretos" sendo essa uma das principais distinç%o entre aquele tipo de pentecostalismo e o
atual que & inconstante e reflexo deste instante da modernidade 2 o mesmo pentecostalismo
em dois tempos" sob o reflexo e efeito de culturas de &pocas diferentes
8a fluide3 das coisas do mundo pol'tico e econNmico" inclusive a religi%o se torna
flu'da" fa3endo com que paulatinamente esta primeira identidade pentecostal se fragmente"
entrando num vicioso circulo dial&tico de constru!"o $ desconstru!"o $ reconstru!"o, a partir
de onde essa *identidade+ tornar(se(á inst)ncia fundamental e l#cus passageiro para o
peregrino" tal como a estaç%o de trem o & para o via#ante" o banco de Nnibus para o
passageiro" ou mesmo um sagu%o de um aeroporto para o via#ante que aguarda o seu próximo
chec%-in
&
O pentecostalismo poderá ser reconhecido como n"o lugar " espaço do transitório"do passageiro em busca de uma nova experi$ncia
PENTECOSTALISMO NA CONDIÇÃO DE TRANSITORIEDADE E MOBILIDADE
Crist%o passageiro" embora n%o tenhamos a intenç%o de criarmos uma nova tipologia"
será uma definiç%o apropriada para apresentarmos a condiç%o do pentecostal situado na
passagem do s&culo 44 para o 44." cu#a instituiç%o se colocará como um espaço de n"o-
lugar para que o peregrino religioso moderno possa transitar A instituiç%o religiosa n%o
representará mais o lugar onde o peregrino encontra segurança e conforto na tradiç%o O
peregrino será lançado numa situaç%o sem limites" onde a religiosidade pentecostal o desafiará
a se reconhecer como um novo su#eito num constante processo de reformulaç%o de crenças e
de valores
!iferente da religiosidade antes produ3ida em contextos rurais e em religiões
históricas" as quais produ3em valores e crenças muito mais r'gidas e sólidas" onde a
construç%o se fundamenta por orientaç%o da própria religi%o que n%o se reformula a todo
momento" o pentecostalismo deste momento histórico se orientará de modo contrário" pois se
alimentará da controv&rsia" do conflito e da concorr$ncia com o outro religioso" passando a
sobreviver da reformulaç%o constante" que se orientará pela concorr$ncia de seus bens
;BO:!.9:" 511=" assim a cultura acaba por potenciali3ar estas mudanças" passando assim
o pentecostalismo a ser motivado culturalmente para sua transformaç%o
9 + Check-in $ """""""""""""""1#
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!este modo" tal como a ideia de liberdade no mundo moderno gera certa insegurança
ao indiv'duo ;BA:0A8" 5" pI=" a concorr$ncia religiosa" aparentemente de modo
contraditório" promoverá a #ustificativa pela busca de segurança numa religiosidade insegura e
de caráter mutável" tal como o homem moderno" que muito se assemelha a religiosidade do
universo pentecostal /alve3 caiba aqui retomarmos o Heert3 para observamos aquilo que ele
apontará da religi%o em outros termos" n%o mais como quando apresenta a religi%o como um
sistema de s'mbolos" mas agora como express%o da alta individualidade na modernidade"
tendo a religi%o *se movimentado sob os nossos p&s+" sendo dif'cil indicar a sua locali3aç%o
exata" e continuando esta a nos beliscar com sua exist$ncia" produ3indo sentido" identidade e
poder ;H99/R" 51" p 1I=
A tecitura de uma poss'vel identidade na religiosidade pentecostal carecerá deconst)ncia e solide3" se constituindo o tempo inteiro como coisa sub#etiva e complexa" próprio
da nature3a que se transforma a todo instante" num processo em que a religiosidade se
dissolve e com isso tamb&m quase todas as certe3as sub#acentes ao indiv'duo que por ela
passa
A identidade do individuo pentecostal será construida com base na diferença"
por onde *espaço e tempo se cru3am+ ;AAYLO" 511" p 1T=" instituindo assim os *n"o-
lugares+ que" se constroem no limite da peregrinaç%o" de um su#eito que principia umacaminhada sem estabelecer um ponto fixo de chegada
Fogo" a noç%o que se constrói desta identidade & coerente com a vida moderna"
l'quida e flu'da ;BA:0A8" 5=" onde podemos afirmar que *o homem & a Pnica criatura
viva que sabe de sua transitoriedade+ ;BA:0A8" 5" p E@=" deste modo" num certo
sentido" o pentecostalismo torna(se laboratório de novas identidades" em estado cada ve3 mais
passageiro" num processo de linquefaç%o" cu#a express%o revela o esgotamento das estruturas
sólidas dos contextos onde o pentecostalismo se integra
9sta condiç%o de su#eito constantemente inacabado motiva o fiel a sempre peregrinar"
e no caso espec'fico do pentecostalismo na modernidade1" torna(se apropriado
1: Me refro a0ui a todo tipo de pentecostalismo 0ue se di-ere dos modelos pentecostaiscl2ssicos, os 0uais buscam orientar um modelo de vida, criam e 3ustifcam uma teodiceia,e ainda elaboram um corpus m.nimo de tradi)ãoOteologia" um pentecostalismo posteriorao tipo cl2ssico, não e/iste uma doutrina, uma teologia, uma nica necessidade 0ueorienta a religiosidade, a não ser o mercado" 0uilo 0ue o mercado coloca na ordem dodia, das necessidades dos f$is, do indiv.duo mundano, a religiosidade pentecostal
estabelece como car2ter consagratório de pr2ticas e valores 0ue são logo incorporados areligiosidade, estabelecendo assim o seu car2ter de mutabilidade e com istoincorporando o indiv.duo K religiosidade 0ue produ! a solu)ão para o mundo"
14
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compreendermos a noç%o de peregrinaç%o como um fenNmeno t'pico de uma liminaridade"
cu#a caracter'stica de suas relações sociais & o estado de communitas'' ;/:89" 5T" p
1I=
,odemos pensar aqui a quest%o da descontinuidade" elemento próprio dosmovimentos de ades%o a novos grupos" que no caso de ades%o ao pentecostalismo" as ci$ncias
sociais brasileiras estabelecem uma relaç%o emblemática entre matri3 sincr&tica católica e
cultura brasileira" e que dever'amos ao inv&s de pensarmos na lógica estabelecida pelo
sincretismo" como na opini%o de 0ari3" que #ustapõem ao inv&s de articular os elementos"
dever'amos pensar em explorá(los" *adotando uma nova lógica de investimento cultural na
produç%o da mudança+ ;OBB.8S" apud 0AGA" 5@" p ME=-
as pessoas n%o parecem barganhar elementos da religi%o que participavamanteriormente" com fins de aderir ao novo culto" mas" sim" passam a operar consistentemente" quase que imediatamente depois da convers%o" como seadotasse uma nova lógica cultural ;0AGA" pME=
Com base em estudo de caso" 0afra percebe que situações de humilhaç%o
normalmente precedem o momento de convers%o 8este aspecto a ades%o ao pentecostalismo
estabelece um modo de suportar e aceitar o estado de caos no mundo" que torna(se legitimado
pela própria religi%o" neste sentido concordo com essa hipótese" de que para compreendermos
os motivos da mudança" precisamos direcionar o nosso olhar para a cultura que está sendo
modificada ;0AGA" pME=" e que n%o importa se os motivos que geram transformações se
tornem rapidamente obsoletos11 + antropólogo &ictor 5urner >#::A, p"1GAB ao considerar a nature!a do la)o social emsitua)Jes de peregrina)ão enumera três tipos de communitas" Resumirei a0ui as trêsindicando 0uais caracter.sticas se assemel6am ao tipo de communitas 0ue -ormam osperegrinos pentecostaisN 1*communitas e/istencial, neste tipo de communitas o con-rontodireto e total entre identidades 6umanas, -a!em os envolvidos pensarem na 6umanidadecomo comunidade 6omogênea, desestruturada e livreI #*communitas normativa, a0ui otempo, a necessidade de mobili!a)ão e organi!a)ão de recursos produ!em uma-raternidade preservada por meio de códigos religiosos e $ticos, al$m de estatutos eregulamenta)Jes, leis e pol.ticasI 4*communitas ideológica, neste caso se re-ere amodelos utópicos de sociedades onde seus membros acreditam ser e/emplos e -ornecercondi)Jes ideais para communitas e/istencial"+s pentecostais da atualidade, 0ue rene todo tipo de pentecostalismo de tipo livre deorienta)ão teológica, de tradi)ão dogm2tica e 6istórica etc", podem ser en0uadrados,parcialmente, na moldura 0ue 5urner c6ama de 7communitas e/istencial8, pois osperegrinos pentecostais deste tipo se encontram em con-ronto com identidades, 0ue nomundo moderno estão sob constante trans-orma)Jes" l$m disto, o car2ter 6omogêneode 6umanidade fca claro na concep)ão do 76omem moderno8 0ue se insere nopentecostalismo atual" @le não con-ere a si um tipo di-erente de ser 6umano, 0ue pensaem trans-ormar o mundo por sua religião, ele alme3a antes garantir a própria
sobrevivência en0uanto por a0ui peregrina, ele se compreende livre, como afrma 5urner"Deste modo, ele não se en0uadraria nas outras -ormas de communitas, pelas própriascaracter.sticas de sua cren)a na modernidade"
1F
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O pentecostalismo se apresenta como uma *opç%o cultural viável+ ;0AGA" pT="
onde o indiv'duo toma consci$ncia da fal$ncia das *redes de depend$ncia mPtua impl'citas na
sociabilidade inter(classe tradicional" conhecida como rede de favor e clientela+;0AGA"
pT=
8este caso o indiv'duo se reconhece como um *ser em transiç%o+" e como
afirmado anteriormente por Bauman ele reconhece e sabe de sua transitoriedade ;5" p E@="
como uma esp&cie humana em metamorfose" livre da angPstia parmenidiana da imutabilidade
do ser ;,A0Z8.!9S apud ,FA/[O" \1T1" 5T(5" =" pois torna(se orientado pela religi%o
em um mundo que Vdificilmente funciona sem a crençaW ;H99/R" 51" p 1II=6 e que neste
caso a crença & aquilo que ele o & neste instante e" logo" deixará de ser dentro de outro
instante" se pro#etando para algo que o pentecostalismo se transformará noutro instante" numa busca constante e incansável de acomodaç%o e a#ustamento a din)mica cultural do mundo
moderno" o indiv'duo neste mundo moderno se mobili3a
8este caso" a identidade do pentecostalismo situado no mundo dito moderno será
sempre caracteri3ada pela mudança" para ser usada e exibida" n%o para ser arma3enada e
mantida ;BA:0A8" 5I" p @=" assentada na necessidade de consumo do peregrino
passageiro A permanente tens%o refletida pelas práticas" crenças e rituais do pentecostalismo
atual" ser%o o con#unto de respostas produ3idas como constituiç%o de uma poss'vel identidadedo su#eito" que mergulhado na cultura do rotativo" necessitará ser ho#e" agora algo que n%o
saberá se o será Ptil ser amanh%
CONSIDERAÇÕES FINAIS
9nquanto o lugar desvela a segurança do situar(se do su#eito ou das coisas" o n"o
lugar & o exatamente oposto 2 este o código lógico que parece fundamentar o
pentecostalismo na modernidade" a lógica do n"o lugar
Como n"o lugar o pentecostalismo pode vir a tornar(se um espaço de simples
passagem do su#eito que apenas o frequenta como um espaço6 aquele que frequentar o
pentecostalismo na atualidade n%o estará assim em busca de uma tradiç%o" de valores culturais
que produ3am moralidade" de relacionamentos sólidos ou mesmo de uma identidade" se algo
desta ordem vir a acontecer fará parte do pacote de opções do su#eito em busca de mudanças"
de transformações
1G
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8o contexto da modernidade" o su#eito frequentador do pentecostalismo busca um
*lugar+" se aproximando do modo como o passageiro busca um transporte" e com este *lugar+
estabelece uma relaç%o de via#ante" ou se#a" se reconhece ali enquanto su#eito apenas enquanto
completa o seu percurso
8esta condiç%o de ocupante de um espaço que se revela como n"o lugar " o itinerário
entre uma igre#a e outra fica bem curto" e o tempo de perman$ncia na instituiç%o dura bem
pouco" fa3endo com que se desligue rapidamente sem nenhuma dor" preocupaç%o ou medo"
pois as caracter'sticas de relaç%o que constrói com o pentecostalismo & de uma identidade
for#ada na concepç%o de transitoriedade" e que neste tipo de religiosidade torna(se o exato
oposto de um lugar
2 com base nesta construç%o social de um *eu religioso+ que se fundamenta naexperi$ncia de um n"o lugar " que lançamos a nossa hipótese de que o pentecostalismo se
torna uma condiç%o moderna de *consagraç%o+ da vida transitória do su#eito que por ele
passa" transita
O pentecostalismo contribui para a reali3aç%o da dial&tica da constru!"o-
desconstru!"o-reconstru!"o do su#eito" como modo de adequar este indiv'duo ao mundo das
constantes modificações O pentecostalismo funciona" no mundo moderno como elemento
consagratório da cultura da mobilidade e da transiç%o
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H:/.29R" B G6 CA0,OS" F S +a or!a do esprito- os pentecostais na Am&rica (
Fatina- um desafio ás igre#as históricas S%o ,aulo- Asociación de .glesias ,resbiterianas ^
eformadas de Am&rica Fatina" 1@@
0cH99" H ,anorama histórico .n- JO/O8" Stanle^ 0 .eologia sistem1tica- uma
perspectiva pentecostal io de Laneiro- C,A!" 1@@
J97.9:(F9H2" !aniele / peregrino e o convertido S%o ,aulo- Fo^ola" `
,A0Z8.!9S Pré-socr1ticos S%o ,aulo- Abril Cultural" 1@MT" p1ET(1@5 ;coleç%o Os
,ensadores=
,.9:CCJ." Antonio Glávio (eligi"o como solvente-uma aula S%o ,aulo" 8ovos
9studos]C9BA," n< MI" #ulho de 5" p111(15M
/:89" 7ictor Dramas, campos e met1oras- aç%o simbólica na sociedade humana
8iterói- 9duff" 5
1H