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67 ARTIGO NATUREZA, SAÚDE E SUSTENTABILIDADE Thamires Moraes Brito Macedo¹ Gracilene Schmourlo² Kátia Danielle Araújo Lourenço Viana³ FIBRA ALIMENTAR COMO MECANISMO PREVENTIVO DE DOENÇAS CRÔNICAS E DISTÚRBIOS METABÓLICOS Resumo A fibra alimentar (FA) desempenha papel regulador e remissivo nos distúrbios gastrointestinais e nas doenças crônicas não trans- missíveis. O efeito benéfico da FA tem gerado aprovação em seu uso para fins preventivos e terapêuticos. Fibra alimentar é a parede celular dos vegetais, que não é digerida pelo organismo humano, por não possuir enzima específica, e tem propriedades funcionais importantes no organismo humano. Portanto, são inegáveis os be- nefícios que a FA associada à dieta desempenha na saúde humana. Palavras-chave: fibra alimentar, constipação, doenças crônicas não transmissíveis. Abstract The dietary fiber (DF) acts as a digestion regulator and also in the treatment of common and chronic non-communicable disorders in the human gastrointestinal tract. The DF beneficial effects have been proven to be useful for preventive and therapeutic purposes. The DF is the plant cell wall, it is not digested by the human body due to a lack of gastrointestinal specific enzymes, with important functional properties for the human gastrointestinal tract. There- fore, the DF benefits associated with human diet are undeniable. Keywords: dietary fiber, constipation, chronic non communicable diseases. 67

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ARTIGO NATUREZA, SAÚDE E SUSTENTABILIDADE

Thamires Moraes Brito Macedo¹ Gracilene Schmourlo²

Kátia Danielle Araújo Lourenço Viana³

FIBRA ALIMENTAR COMO MECANISMO PREVENTIVO DE

DOENÇAS CRÔNICAS E DISTÚRBIOS METABÓLICOS

ResumoA fi bra alimentar (FA) desempenha papel regulador e remissivo nos distúrbios gastrointestinais e nas doenças crônicas não trans-missíveis. O efeito benéfi co da FA tem gerado aprovação em seu uso para fi ns preventivos e terapêuticos. Fibra alimentar é a parede celular dos vegetais, que não é digerida pelo organismo humano, por não possuir enzima específi ca, e tem propriedades funcionais importantes no organismo humano. Portanto, são inegáveis os be-nefícios que a FA associada à dieta desempenha na saúde humana.

Palavras-chave: fi bra alimentar, constipação, doenças crônicas não transmissíveis.

AbstractThe dietary fi ber (DF) acts as a digestion regulator and also in the treatment of common and chronic non-communicable disorders in the human gastrointestinal tract. The DF benefi cial eff ects have been proven to be useful for preventive and therapeutic purposes. The DF is the plant cell wall, it is not digested by the human body due to a lack of gastrointestinal specifi c enzymes, with important functional properties for the human gastrointestinal tract. There-fore, the DF benefi ts associated with human diet are undeniable.

Keywords: dietary fi ber, constipation, chronic non communicable diseases.

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As AutorAs

¹Thamires Moraes Brito Macedo

Acadêmica do curso de Nutrição da Unisulma – ([email protected]).

²Gracilene Schmourlo

Bioquímica, professora do curso de Nutrição da Unisulma

– ([email protected]).

³Kátia Danielle Araújo Lourenço Viana

Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal da Paraíba

– ([email protected]).

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1. INTRODUÇÃO

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A alimentação tem desempenhado um papel fundamental na prevenção e possível cura de algumas doenças da pós-moderni-dade. Frente a essa sociedade que suporta um grande número de patologias relacionadas à alimentação, vê-se a necessidade de se trabalhar uma alimentação que previna tais transtornos.

As fibras alimentares, como alimento funcional, têm tido re-levância nesse aspecto, uma vez que atuam diretamente na prevenção de doenças. Elas atualmente são foco de grande atenção devido aos inúmeros distúrbios metabólicos e doenças crônicas não transmissíveis geradas pelo mau hábito alimen-tar enfrentados pela sociedade atual. Elas têm sido apontadas como substâncias preventivas de doenças, evitando ou mini-mizando os efeitos dos alimentos industrializados ou daqueles sem propriedades benéficas ao organismo, promovendo uma melhor qualidade alimentar e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida.

A fibra alimentar (FA) desempenha papel regulador e remissi-vo nos distúrbios do trato gastrointestinal (TGI), além de evitar prisão de ventre. Distúrbios esses gerados por modificações die-téticas, principalmente pela diminuição, na dieta, de alimentos ricos em fibras. Estudos mostram que a ocidentalização propi-ciou o aumento dessas moléstias, já que a alimentação ociden-tal é pobre em fibras e rica em alimentos refinados.

Dentre muitas doenças que assolam a sociedade moderna, tem-se a constipação intestinal, fruto principalmente da má alimen-tação, que tem cada vez mais se intensificado entre homens e mulheres. Apesar de o universo feminino sofrer, visivelmente, mais de constipação, a grande maioria da sociedade, constituí-da por trabalhadores e estudantes que passam a maior parte do seu tempo fora de casa, atualmente apresenta distúrbios rela-cionados à constipação (JAIME et al., 2009).

Nas doenças crônicas não transmissíveis pós-modernas mais co-muns, como o diabetes mellitus, a obesidade, as doenças car-diovasculares e o câncer, o efeito benéfico causado pela fibra

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tem gerado aprovação em seu uso para fins preventivos e terapêuticos, uma vez que tem efeito hipocolesterolêmico frente à gordura e efeito hipoglicemiante, beneficiando os diabéticos; além de prevenir o câncer de intestino, pela diminuição do contato das fezes com a mucosa intestinal, e consequentemente o contato com carcinógenos e, de um modo geral, promover o desenvolvimento da mucosa intestinal (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008).

O objetivo da presente revisão é apresentar os benefícios da fibra alimentar como mecanismo preventivo de doen-

ças crônicas não transmissíveis e de distúrbios metabólicos.

2. FIBRA ALIMENTAR

A fibra alimentar nada mais é do que a parede celular dos vegetais, que não é digerida pelo organismo humano, por não possuir enzima específica. É geralmente um carboidrato – exceto a lignina – e atua com propriedades funcionais no organismo humano (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008).

A American Association Cereal Chemistry (2001 apud OLIVEIRA e MARCHINI, 2008) define que fibra da dieta é a parte comestí-vel das plantas ou carboidratos análogos que são resistentes à digestão e à absorção no intestino delgado de humanos, com fermentação completa ou parcial no intestino grosso. A fibra da dieta inclui polissacarídeo, oligossacarídeos, lignina e subs-tâncias associadas às plantas. A fibra da dieta promove efeitos fisiológicos, benéficos, incluindo laxação, atenuação do coleste-rol no sangue e/ou atenuação da glicose no sangue.

Já Waitzberg (2006) define, de forma mais simples, fibra alimen-tar como todos os polissacarídeos vegetais da dieta (celulose, he-micelulose, pectinas, gomas e mucilagens), mais a lignina, que não são hidrolisados pelas enzimas do trato digestivo humano.

Recentemente, o conceito de fibra foi estruturado de forma a incluir substâncias semelhantes a elas, como a inulina, fruto-oligossacarídeos (FOS ) e o amido-resistente, que por alguns são considerados prebióticos (CUKIER et al., 2005).

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Estudos recentes mostram que a fibra alimentar tem sido aliada na terapia de doenças, sendo assim considerada modernamen-te como alimento funcional. Intitula-se a fibra dietética como alimento funcional porque

desempenha no organismo funções importantes, como intervir no metabolis-

mo dos lipídeos e carboidratos e na fisiologia do trato gastrointestinal, além

de assegurar uma absorção mais lenta dos nutrientes e promover a sensação

de saciedade (CUKIER et al., 2005, p. 142).

A fibra é de grande relevância para a comunidade em geral, sendo facilmente encontrada em grãos como soja, aveia e em cascas dos alimentos em geral.

2.1 Classifi cação das fi bras alimentares

De acordo com diversos autores, as fibras dietéticas têm di-versas formas de classificação. Salinas (2002) classifica-as em quatro grupos distintos, conforme a digestibilidade que elas de-senvolvem no tubo digestivo humano. Segundo ele, o grupo I corresponde às fibras não digeríveis, pertencendo a este grupo a celulose e a lignina; grupo II engloba as semidigeríveis, grupo das hemiceluloses; o grupo III é o das fibras que retardam a di-gestão, composta da pectina e da goma-guar; e o grupo VI são fibras viscosas de efeito ainda não determinado.

Schneeman (1986 apud Salinas, 2002) classifica as fibras segun-do o papel que elas cumprem nos vegetais: I) polissacarídeos estruturais (celulose, hemicelulose, pectina e amido resistente); II) não polissacarídeos estruturais (lignina e outras substâncias); III) polissacarídeos não estruturais (gomas e mucilagens).

Porém, em nossa prática cotidiana podemos visualizar duas for-mas diferentes de fibra dietética, devido a sua solubilidade em água: fibra solúvel e insolúvel.

2.1.1 Fibra Alimentar Solúvel (FAS)

As fibras solúveis são encontradas mais frequentemente no inte-rior da fruta ou do grão, ao contrário da fibra insolúvel que está presente principalmente na casca e entrecasca dos alimentos.

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Algumas fibras solúveis são pectinas, gomas, mucilagens e hemi-celulose tipo A. Caracterizam-se por formarem um gel, em con-tato com a água, geleificando-se a mistura (CUKIER et al., 2005).

São facilmente fermentadas no cólon pelas bactérias da flora banal. Como resultado da fermentação colônica, têm-se os Áci-dos Graxos de Cadeia Curta (AGCC) e gases (CO2, H2 e CH4), que são obtidos pela fermentação de fibras e amido, principal-mente, no cólon. Uma vez formados, esses são rapidamente absorvidos no jejuno, íleo, cólon e reto (ROYALL et al., 1990 apud WATZBERG, 2006). Dentre os AGCC mais abundantes estão o ace-tato, seguido do propionato e do butirato (WATZBERG, 2006).

Os AGCC são responsáveis pelo fornecimento de energia ao hospedeiro, o que é benéfico em caso de má absorção; pela modulação da motilidade gastrointestinal; pelo estímulo do de-senvolvimento das células epiteliais do íleo e do cólon; pela pos-sível proteção contra o câncer do cólon; e pelos efeitos benéfi-cos sobre a homeostase da glicose e metabolismo dos lipídeos (CUKIER et al., 2005).

A fibra solúvel também atua intensamente no retardamento do esvaziamento gástrico e no trânsito do intestino delgado, aumenta o volume e a maciez das fezes (pelo seu efeito de ge-leificação), reduz a diarreia, diminui o potencial hidrogeniônico (pH) do cólon, aumenta a tolerância à glicose por diminuir e retardar o contato do bolo fecal com a superfície da mucosa e diminui os níveis elevados de colesterol total e de LDL - coles-terol, pelo seu efeito “esponja”, capturando assim os lipídeos e eliminando juntamente com as fezes (CUKIER et al., 2005).

2.1.2 Fibra Alimentar Insolúvel (FAI)

A fibra alimentar insolúvel compreende a parte mais externa e resistente dos vegetais, ou seja, constitui elemento estrutural da parede celular dos vegetais. Também é a parte da fibra que é pouco fermentável e capta pouca água, formando misturas de pouca viscosidade. É a parte da fibra responsável por aumentar o volume das fezes, o que irá provocar uma eliminação pelo organismo, diminuindo o risco de doenças intestinais. Por au-mentar a massa e maciez fecal, apresenta um efeito mecânico

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A AUSÊNCIA DE

FIBRA ALIMENTAR NO

ORGANISMO

É UMA DAS RAZÕES

PARA OCORRER

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no trato gastrointestinal, reduzindo consideravelmente a constipação (CUKIER et al., 2005).

A FAI é constituída pela celulose, hemicelulose tipo B e, prin-cipalmente, lignina. Esta é a mais hidrofóbica e, à medida que a planta amadurece, vai se tornando mais rica em lignina e perdendo seu conteúdo em água (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008).

Existem autores que intitulam a FAI como antioxidante por sua capacidade de excreção de algumas substâncias. Ela aumenta a excreção de moléculas de colesterol através dos áci-dos biliares nas fezes. Aumenta também a excreção de alguns minerais como o zinco, cálcio, ferro e magnésio por ter efeito competidor com esses minerais, daí a necessidade de controlar a ingestão de fibras a fim de prevenir essa competição na absor-ção de nutrientes (CUKIER et al., 2005).

Segundo a American Dietetic Association (ADA) apud Cukier et al. (2005), a ingestão recomendada é de 20-35g de fibras ao dia para adultos e 5g ao dia para crianças.

3. CONSTIPAÇÃO INTESTINAL

A constipação pode ocorrer em qualquer idade e vai desde fezes duras, esforço para defecar e ausência/diminuição de movimen-tos intestinais até fezes diárias com menos de 35g, defecações inferiores a três vezes por semana ou espaço de três dias ou mais sem defecar (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005). Apesar de ha-ver conceitos subjetivos e objetivos a respeito de constipação, o mais apropriado para se identificar tal patologia ainda é basea-do nesses estados acima citados.

Com exceção de períodos fisiológicos especiais, como na ges-tação e no envelhecimento, a constipação na fase adulta não é considerada como normalidade, a não ser por algum distúrbio secundário. Na gestação há um aumento do hormônio pro-gesterona, que leva ao relaxamento da musculatura do útero provocando uma pressão sobre os intestinos, o que irá dimi-nuir os estímulos contráteis do intestino e, consequentemente,

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também aumentar a absorção de água gerando constipação na gestante. No envelhecimento, a musculatura do intestino torna-se mais flácida, ocasionando diminuição dos movimentos peristálticos.

Apesar de não ser normal a constipação em adultos, nota-se um aumento gradual e constante dessa patologia. Em suas diretrizes, a American Gastroenterological Association define constipação como frequência de eliminação de fezes menor que três vezes por semana, sensação de esvaziamento retal incompleto, fezes endurecidas, esforço para eliminar fezes e necessidade de toque para esvaziamento retal. Estes critérios, conhecidos como critérios de Roma, são pouco práticos e, por consequência, pouco aplicáveis a pacientes graves (AZEVEDO, 2009).

A ausência de fibra na alimentação é apontada como uma das principais causas da constipação intestinal. A FA, por ajudar a estimular movimentos peristálticos, tem se tornado uma aliada na prevenção da constipação. Além da ausência de fibra ali-mentar no organismo, outras razões para a constipação podem ser: falta de exercício físico, uso progressivo de laxantes, pouca ingestão hídrica, além de doenças sistêmicas e gastrintestinais (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).

4. ATUAÇÃO DAS FIBRAS COMO MECANISMO PREVENTIVO DE DISTÚRBIOS METABÓLICOS E DOENÇAS DO TRATO GASTROINTESTINAL

Mediante todos os efeitos da FA no organismo, seu papel como alimento funcional preventivo de várias doenças tem desperta-do interesse científico na comprovação de sua atuação (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008).

No que tange ao diabetes mellitus, a fibra atua de forma po-sitiva ao diminuir os níveis glicêmicos, além de a ingestão de fibras também prevenir o aparecimento do diabetes. A terapia nutricional no diabetes mellitus é parte fundamental do cuida-do terapêutico (CUPPARI, 2005). O diabetes mellitus é uma sín-drome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus

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efeitos no organismo. Na composição do plano alimentar para diabetes mellitus, procura-se dar preferência aos carboidratos complexos e ricos em fibras.

A fibra alimentar age beneficamente no diabetes mellitus por-que os alimentos com elevado teor de fibras têm geralmente a absorção mais lenta, devido ao retardamento do esvaziamento gástrico (efeito fisiológico da fibra), evitando assim picos glicê-micos. O menor contato da glicose com a mucosa do intestino também é fator desencadeante para isso, devido à competição na hora da absorção dos nutrientes (OLIVEIRA; MARCHINi, 2008).

Uma evolução positiva na prevalência da obesidade vem sendo observada em homens e mulheres (SARTORELLI; FRANCO, 2003). A obesidade também pode ser vista como um sinal de falta de fibras na dieta. Estudos têm apontado que a grande ingestão de fibra, aliada à atividade física, diminui o risco de obesida-de. Isso se dá devido ao estímulo à perda de peso, aliado a uma alimentação equilibrada, além do fato de que alimentos que têm FA geralmente proporcionam baixo índice glicêmi-co devido à concentração de carboidratos não disponíveis, o que proporciona baixa resposta glicêmica pós-prandial. Não se pode esquecer também de que certas fibras têm a capacidade de diminuir a absorção de colesterol (LDL - colesterol) e trigli-cérides, diminuindo os níveis de gordura no sangue (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008).

As doenças cardiovasculares originam-se, principalmente, devi-do à grande ingestão de gorduras e estão intimamente ligadas à obesidade. Dessa forma, os mecanismos das fibras que agem nas doenças cardiovasculares também estão associados aos me-canismos que agem na obesidade.

No caso do câncer, existem várias hipóteses que substanciam o aparecimento de câncer e o consumo precário de fibra, como a produção de AGCC e a acidificação do ceco, resultado da fer-mentação, podem diminuir o risco de câncer coloretal. A fer-mentação também age pela produção de ácidos voláteis que diminuem o pH, além do ácido butírico produzido poder inibir o crescimento e a proliferação de células cancerígenas (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008).

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PARTICIPA

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DE DOENÇAS

CRÔNICAS E

DISTÚRBIOS

METABÓLICOS

A alta exposição da mucosa às fezes pode também au-mentar a exposição a fatores cancerígenos. A ingestão adequada de fibras pode prevenir esse problema por au-mentar o volume fecal e reduzir o tempo de trânsito in-testinal (OLIVEIRA; MARCHINI, 2008). Acredita-se que as fibras diminuam o risco de câncer porque as fibras insolúveis movem o alimento mais rápido pelo trato gastrointestinal e este decréscimo no tempo de trânsito do alimento dimi-nui a quantidade de tempo em que carcinógenos estão em contato com a mucosa gastrointestinal (PECKENPAUGH; POLEMAN, 2007).

Nos demais casos de doenças do TGI, como o megacólon e a diverticulose, a falta de fibra em geral é que ocasiona a enfer-midade. A diverticulose, por exemplo, é uma doença de maior prevalência em países onde a dieta com baixo teor em fibra faz parte do padrão alimentar. Quando as fibras alimentares estão ausentes na alimentação, como acontece nas dietas à base de carboidratos refinados e proteínas, a pressão dentro do intes-tino aumenta e facilita a herniação. Isso também é crescente onde a “ocidentalização” da dieta e ingestão aumentada de alimentos refinados é frequente (SALINAS, 2002; CARUSO et al., 2005). Em geral, a doença diverticular é: primeiro, relativamen-te rara em países onde a dieta de alto teor de fibra é parte do padrão de vida; e segundo, crescente onde a “ocidentalização” da dieta e ingestão aumentada de alimentos refinados da dieta começaram (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2005).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

São inegáveis os benefícios que a FA, associada à dieta, desem-penha na saúde humana. A qualidade de vida tem sofrido mu-danças importantes durante muitos anos, fruto do fato de que grande parte da população tem se mobilizado na busca por alcançá-la.

Percebe-se que o espectro de ação da FA não se limita somente às funções fisiológicas e estruturais, mas atua de forma conjun-ta no organismo como um todo, participando efetivamente na prevenção de doenças crônicas e distúrbios metabólicos.

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Apesar de as fibras alimentares ainda serem objeto de constan-tes pesquisas, a ingestão adequada e suficiente mostra resulta-dos positivos, que já são mais que comprobatórios para uma vida alimentar saudável. Portanto, faz-se imprescindível usar dos benefícios promovidos pela FA no trato gastrointestinal e tentar inseri-la no manejo terapêutico do nutricionista.