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Artes Visuais MEDIAÇÃO ARTE- PÚBLICO “Goya, o artista do perpétuo progresso sobre si mesmo” Cristiane Lorde 2015

Artes Goya Mediação Arte e Público

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Trabalho acadêmico de mediação arte-público sobre o artista Francisco Goya e sua obra.

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Artes Visuais

MEDIAÇÃO ARTE- PÚBLICO

“Goya, o artista do perpétuo progresso

sobre si mesmo”

Cristiane Lorde

2015

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“Goya, o artista do perpétuo progresso

sobre si mesmo”

Mediação Arte-Público

ARTES VISUAIS

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2015

MEDIAÇÃO ARTE- PÚBLICO - GOYA, O ARTISTA DO PERPÉTUO

PROGRESSO SOBRE SI MESMO.

Goya (1746 – 1828), espanhol, pintor, desenhista e gravador, artista

notável por toda extensão de sua obra, hostil à idealização do belo, antítese

absoluta de tudo aquilo com que sonhavam os neoclássicos, eis que se recusa ao

desvio pela antiguidade e assim, atravessa em sua prodigiosa carreira, todo o

intervalo que separa o estilo rococó, da pintura moderna.

Influenciado pelo Iluminismo e pelos contrastes desse com a realidade

objetiva, Goya, aos poucos, mergulha em um universo fantástico e assombroso para

revelar através de suas imagens subjetivas o que o sono da razão não permitia aos

homens enxergar.

Ainda na infância, aos 5 anos de idade, Goya iniciou sua formação

artística na escola de José Ramirez de Arellano (1705 – 1770) e Juan Andrés

Merklein (1717 – 1797).

Aos 12 anos tornou-se aprendiz de José Luzán (1710 – 1785) e em seu

ateliê conheceu os irmãos e pintores Francisco, Ramon e Manuel Bayeu. Aos 16

anos tornou-se aprendiz de Francisco Bayeu (1734 – 1795), nessa época já recebia

encomendas.

Esses primeiros trabalhos transpareciam inexperiência, porém exibiam

sua ânsia por experimentar e renovar os conceitos pictóricos em voga; era o

prenúncio da liberdade que se refletiu em suas obras. Nesse período, produziu sua

primeira obra importante: Tobias e o anjo (1762).

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Fig. 01- TOBIAS E O ANJO, Francisco Goya y Lucientes Pintor, anterior a 1787, óleo sobre tela, 63,5

cm x 51,5 cm

Museu Nacional Del Prado

Fonte: https://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/tobias-y-el-angel/

De origem incerta, há relatos que afirmam que a obra pertenceu a Martim

Zapater, amigo de Goya, depois a seu sobrinho Francisco Zapater e Gomez;

posteriormente passou pelas mãos do Conde de Viñaza, à coleção M.de Heredia,

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proveniente de Javier Goya, em 2003 foi adquirido pelo governo e entregue ao

Museu do Prado, Madri.

Como um extraordinário exemplo da pintura religiosa de Goya, esta obra

não é fiel à narrativa, mas responde satisfatoriamente à tradição iconográfica. Com o

tipo ideal de beleza, composição clara e simples, a obra revela características de

influência neoclássica.

Então, através do auxílio dos irmãos Bayeu, Goya consegue triunfar na

corte. Bayeu abre-lhe as portas de Madri e da corte e Goya passa a trabalhar na

criação de desenhos para a Real Fábrica de Tapeçarias de Madri, ele recebe a

encomenda de 63 cartões de tapeçaria e produziu-os até 1792.

Fig. 02- NIÑOS INFLANDO UNA VEJIGA, Francisco Goya y Lucientes Pintor, 1777 – 1778, óleo

sobre tela, 116 cm x 124 cm

Museu Nacional Del Prado

Fonte: https://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/ninos-inflando-

una-vejiga/

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Fig. 03- LA NEVADA O EL INVIERNO, Francisco Goya y Lucientes Pintor, 1786, óleo sobre tela, 275

cm x 293 cm

Museu Nacional Del Prado

Fonte: https://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/la-nevada-o-el-

invierno/

Cenas de gênero, cenas da vida popular espanhola, os cartões que Goya

compõe manifestam evolução da técnica e do tom geral, luminosidade e uma

habilidade mais segura da composição. Revelam leveza e graciosidade, porém, os

cartões de tapeçaria revelam um universo completo, onde, o mal e o sofrimento,

mesmo que aparecendo de forma contida, também têm o seu lugar. Desde seu

começo, Goya põe em evidência seres afligidos, mesmo as cenas frívolas

comportam secretos espantos.

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Fig. 04- O JOGO DE CABRACEGA, Francisco Goya y Lucientes Pintor, 1788, óleo sobre tela, 41 cm

x 44 cm.

Museu Nacional Del Prado

Fonte: https://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/la-gallina-ciega/

Adquirido pelos Duques de Osuna em 1799, em 1896, foi adquirido por

Fernández Durán e depois de sua morte em 1931 chegou ao Museu do Prado. Na

obra, o jogo tão lindamente ritmado revela a transposição lúdica de um suplício, a

mulher ajoelhada se inclina para trás para não ser tocada, parece fugir de sua sina.

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Fig. 05- LA PRADERA DE SAN ISIDRO, Francisco Goya y Lucientes Pintor, 1788,óleo sobre tela,

41,9 cm x 90,8 cm

Museu Nacional Del Prado

Fonte: https://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/la-pradera-de-san-

isidro/

Obra vendida aos Duques de Osuna em 1799, em 1896 foi comprada

pelo ministério do Fomento com destino ao Museu do Prado, Madri.

Goya pinta a dispersão de uma multidão reunida com um rumor colorido,

e o vasto espaço livre contrastando com a agitação popular.Homens e mulheres

aqui se expõem a encontros casuais.

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Fig.06- EL PELELE, Francisco Goya y Lucientes Pintor, 1791 – 1792, ÓLEO SOBRE TELA, 267 cm x

160 cm

Museu Nacional Del Prado

Fonte: https://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/el-pelele/

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No obra, quatro moças risonhas brincam com um manequim, projetando-o

para o alto, a criatura inteiramente entregue à sua fatalidade de objeto oferece o

aspecto do desespero. Mas o que havia sido nos cartões de tapeçaria um revelar de

sombras contidas torna-se uma multidão de monstros evocados (trevas), para assim

serem combatidos.

A transformação do estilo de Goya ocorre em algumas dezenas de anos e

de maneira extraordinária, pois ele “[...] está destinado a uma evolução que o

afastará do estilo de seus começos. [...]” (STAROBINSKI, 1988, p.119)

No início da década de 1780, Goya já era considerado um dos pintores

mais importantes da Espanha e nessa época ele entra em contato com grupos

iluministas em Madri, ele se familiariza com os conceitos de liberdade e tolerância

pregados por esses grupos, conceitos que vêm de encontro com seu modo de

pensar e acabam por transformar sua arte.

O contato de Goya com o iluminismo transforma sua obra na medida em

que ele se vê em meio a uma sociedade retrógrada, dominada pelo despotismo,

obscurantismo, erros, injustiças e desigualdades. Com uma sensibilidade peculiar,

ele usa sua arte como mecanismo de crítica.

Goya opta por usar sua profunda originalidade da linguagem pictórica a

serviço de sua preocupação em não se esquivar ao tormento de seu país e de sua

época. (STAROBINSKI, 1988)

Em uma sociedade majoritariamente pobre e sem instruções, suas

imagens falariam mais do que palavras, poderiam através do estranhamento e

curiosidade, causar reflexão.

O resultado da transformação estética que ocorre na obra de Goya pode

ser visto ainda na década de 1780. O ano de 1787 traz a primeira aparição de

monstros e personagens alucinados em sua obra. Ele pinta “São Francisco de

Bórgia e o moribundo”; nessa obra, em torno do agonizante homem, aparece um

bando indistinto de demônios escarnecedores. (STAROBINSKI, 1988)

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Fig. 07- SAN FRANCISCO DE BORJA ASISTE A UN MORIBUNDO IMPENITENTE, Francisco Goya

y Lucientes Pintor, anterior a 1788, óleo sobre tela, 38 x 29 cm

Colección Marquesa de Santa Cruz, Madrid, España.

Fonte: http://goya.unizar.es/InfoGoya/Obra/Catalogo/Pintura/219.html

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Então, em outubro de 1792, Goya viaja a Cádiz e Sevilha e no mês de

dezembro, contrai uma grave e misteriosa doença que o deixa a beira da morte.

Permanece por dois meses na Andaluzia a fim de se restabelecer. Ele melhora,

porém perde por completo a audição. A partir disso, sua obra se enriquece

conceitual e esteticamente

Será preciso a influência conjugada da doença de 1792 – 1793 (que o tornará surdo) e do grande abalo político da época para que Goya deixe aflorar abertamente, em seus quadros e em suas gravuras, um elemento inquietante que até então se dissimulava na aura secreta de suas obras. (STAROBINSKI, 1988, p.125)

Depois de seu contato com o iluminismo e sua doença, Goya desenvolve

um estilo absolutamente próprio, tanto nos temas, que refletiram sua alma

apaixonada e a cultura de seu país, quanto na técnica.

Entre os anos de 1797 e 1798 ele produz uma série de gravuras

composta por 80 estampas intitulada, Os Caprichos. Na temática da série

predominava a crítica social através da sátira. Goya, com muito empenho denuncia

através delas os males da sociedade espanhola de sua época, a prostituição, os

casamentos arranjados, a hipocrisia do clero, a superstição dos tolos, os abusos dos

governantes déspotas, tudo o que era contrário ao ideal iluminista.

As gravuras de Goya são consideradas como a parte mais pessoal de sua

obra; não resulta de encomenda ou obrigação oficial, mas sim de seu desejo criador

e de sua vontade em revelar as características mais obscuras da natureza humana.

Influenciado pelo Iluminismo e pelos contrastes deste com a realidade

objetiva, Goya mergulha em um universo fantástico e assombroso para revelar

através de suas imagens subjetivas o que o sono da razão não permitia aos homens

enxergar; percebe-se quesuas gravuras serviriam mais do que simplesmente como

uma forma de desabafo aos excessos cometidos pelo homem, e sim como uma

forma de ilustrar, esclarecer e divulgar a razão como a solução para os erros da

sociedade do final do século XVIII.

A razão tem diante dela o que é radicalmente “diferente” da razão: Sabe quais elos íntimos a unem a esses monstros, pois foi de sua exigência, ou mais exatamente da recusa de sua exigência, que eles foram originados. (STAROBINSKI, 1988, p. 127)

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Fig. 08 - FRANCISCO GOYA, El sueño de La razon produce monstruos, ant. a 1799, água-forte,

água-tinta, ponta seca e buril, 306 x 201 mm Biblioteca de Catalunya Instituto Cervantes de Madri

Fonte:http://cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/01593307546704995222257/ima0084.htm

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Na série de gravuras Os Caprichos, as imagens são de forte apelo

dramático, o que se dá além da estética grotesca, pela técnica escolhida por Goya

para compor os desenhos, a gravura em metal, que possibilitava uma ampla gama

de efeitos.

A evolução de Goya é contínua, nos anos de 1815 a 1823, ele produz

uma série de vinte e duas gravuras, que assim como Os caprichos, foi feita à água-

forte e água-tinta com retoques de ponta seca e buril. Esta série permaneceu inédita

até o ano de 1864, quando a Real Academia de Belas Artes de São Fernando

publicou 18 delas e posteriormente em 1877, publicou as restantes, que estavam em

poder do pintor Eugenio Lucas, foi à partir de sua publicação que foi nomeada por

Los Disparates. Los disparates é a última das obras gráficas em série gravadas por

Goya. É uma série de difícil interpretação onde se destacam visões oníricas, a sátira

das instituições relacionadas ao Antigo Regime e a presença de violência, em

estética também grotesca.

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Fig. 09 - FRANCISCO GOYA, Los Disparates - Disparate de miedo, 1815 – 1819, água-forte, água-

tinta, ponta seca e buril, 242 x 356mm, Museo Nacional Del Prado

Fonte: https://www.museodelprado.es/goya-en-el-prado/obras/ficha/goya/disparate-de-miedo/?tx_gbgonline_pi1%5Bgocollectionids%5D=29&tx_gbgonline_pi1%5Bgosort%5D=d

Em 1819, Goya inicia nas paredes de sua casa Quinta Del Sordo uma

série de quatorze pinturas a óleo sobre a superfície do reboco. Essas pinturas

foram produzidas até o ano de 1823 e foram produzidas no estilo do romantismo

conhecido por sublime terrível.

Essas pinturas foram denominadas por Pinturas Negras devido a suas

características compositivas, em todas elas, a gama cromática fica reduzida a ocres,

dourados, terras, grises e negros; também são comuns a todas as constantes de

estilo: uma modernidade compositiva onde as figuras aparecem descentralizadas,

cortadas, ou a ponto de saírem do enquadramento. Muitas das Pinturas Negras são

noturnas, conotando à ausência da luz; os personagens se mostram em atitudes

reflexivas, às vezes estáticos, algumas com olhos muito abertos, rostos caricatos,

alguns animais fazem parte da composição e os personagens em geral são

grotescos. Mostra-se o feio, não sendo nas Pinturas Negras a beleza como objeto

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de arte, mas a consciência em se mostrar todos os aspectos da vida humana, sem

descartar os mais desagradáveis.

Dentre todas as Pinturas Negras, a mais conhecida é Saturno devorando

a um hijo:

Fig. 09 - FRANCISCO GOYA, Saturno devorando a um hijo, 1820 – 1823, Pintura mural transladada a óleo, 143,5 cm x 81,4

Museo Nacional Del Prado Fonte: https://www.museodelprado.es/goya-en-el-prado/obras/comparativa/goya/saturno-devorando-

a-sus-hijos/?tx_gbgonline_pi1%5Bgoitemcompareuid%5D=1073

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As obras mais importantes de Goya foram produzidas depois dos

quarenta e constituem de certa forma, uma antecipação genial e solitária do

expressionismo e das audácias do século XX na arte.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Livros: ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna: Do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. GOMBRICH, Ernst Hans. A História da arte. Rio de janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999. JANSON, H. W. História Geral da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1993. STAROBINSKI, Jean. 1789: os emblemas da razão. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. Sites: FRANCISCO DE GOYA. Los Caprichos. Biblioteca de Catalunya Instituto Miguel de Cervantes. 2015. Disponível em: <<http://cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/01593307546704995222257/index.htm> Acesso em: 29 abr. 2015. MUSEO NACIONAL DEL PRADO. Goya en el Prado. Museo Del Prado. 2015. Disponível em: <https://www.museodelprado.es/> Acesso em: 24 abr. 2015. LA ACADEMIA Y GOYA. Caprichos. Real Academia de Bellas Artes de San Fernando. 2015. Disponível em : <http://www.realacademiabellasartessanfernando.com/es/goya/goya-en-la-calcografia-nacional/caprichos/> Acesso em: 26 abr. 2015