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Paladas de Alexandria. Viveu no séc. IV d.C, quando o paganismo agonizava e
o cristianismo se tornava a religião e a forma cultural dominante. Pouco se sabe
de sua vida. Teria nascido em 360 e morrido em 430, mas existem controvérsias
na datação.
O epigrama. Termo que vem de epi e grafo, escrever sobre. Significava
originariamente a inscrição do nome do autor de uma obra de arte ou oferenda
votiva ou a inscrição na lápide sepulcral, feita usualmente em verso. Com o
tempo o epigrama ganhou autonomia e sua forma breve passou a ser cultivada
com propósitos puramente artísticos. O verso preferido é o dístico elegíaco,
formado de um hexâmetro seguido de um pentâmetro, ambos datílicos. Por sua
brevidade, se aproxima do provérbio e do aforismo, mas possui um tom mais
pessoal e menos generalizante.
A antologia palatina. É a mais famos antologia de epigramas gregos. Seu
nome deriva do manuscrito encontrado na Biblioteca Palatina de Heildelberg em
1606. É uma compilação que se estende por dezessete séculos. É uma obra
organizada por Constantino Cefalas (séc. IX-X d.C.), que se valeu da Coroa de
Meléagro (séc. III a.C.), a Coroa de Filipe da Tessalônica (séc. I a.C.) e o Ciclo
de Agathais Escolástico (séc. VI d.C.) e de epigramas de sua época. Dois ou
três séculos mais tarde, sua obra foi revisada por Máximo Planudes. A obra
reúne cerca de três mil e setecentos epigramas repartidos em dezessete livros,
que se dividem de acordo com o tema (o epigrama amoroso, votivo, funerário,
descritivo, exortativo, báquico, satírico, pederástico, oracular, etc.)
Temas
A brevidade da vida e o hedonismo que a segue. Influência epicurista.
Só isso, a vida: um instante de prazer. Para longe, mágoas.
Se é tão breve a existência dos homens, que venha Baco
Com suas danças, coroas de flores, mulheres.
Hoje quero ser feliz – ninguém sabe nada do amanhã.
A mulher
Em vez do fogo, Zeus nos outorgou outro fogo, a mulher.
Prouvera nem fogo nem mulher jamais houvesse;
Ao fogo pode-se apagar depressa; o fogo da mulher,
Inextinguível, ardente, está sempre queimando.
A profissão de gramático
A cólera de Aquiles foi motivo para mim também,
De funesta pobreza ao me tornar gramático.
Prouvera com os gregos me matasse aquela cólera antes
Que me arruinasse a amarga fome da gramática.
No entanto, para que Agamemnon raptasse Briseida e Páris
Roubasse Helena, foi que me fiz indigente.
Ataraxía
Nem Esperança nem Fado me importam; deles não me inquietam
Quaisquer outras ciladas: cheguei a bom porto.
Sou homem pobre, mas a liberdade mora em minha casa;
Fujo à riqueza que tanto insulta a pobreza.
Humor
A filha do gramático ajuntou-se e teve uma criança
Do gênero masculino, feminino e neutro.
Pessimismo ou exercícios espirituais para o desapego?
Se lembrares, homem, como foste por teu pai gerado,
Esquecerás as idéias de grandeza.
Platão, o sonhador, encheu tua cabeça de empáfia
Ao te chamar de imortal, planta celeste.
De barro és feito; porque a presunção? Só fala assim
Quem se compraz em fingimentos vistosos.
Mas se buscas a verdade, recorda que vieste de um
Ato de luxúria e de uma gota suja.
Visão pagã da morte
A espera da morte é causa de aflição dolorosa;
Dela se poupa o mortal quando perece.
Por conseguinte, não lamentes quem desta vida se foi:
Além da morte não existe mais dor.
A vida como uma encenação
Um palco, a vida, e uma comédia; ou aprendes a dançar, deixando
A sisudez de lado, ou lhe aguentarás as dores.
O fim do paganismo
Que mentirosa a solidão dos monges congregados em conventos:
Por que tantos, se sós, e se sós, por que tantos?
Acaso estamos mortos e só aparentamos
Estar vivos, nós gregos caídos em desgraça,
Que imaginamos a vida semelhante a um sonho,
Ou estamos vivos e foi a vida que morreu?
BIBLIOGRAFIAPALADAS DE ALEXANDRIA. Epigramas. Tradução de José Paulo Paes. S. Paulo: Nova Alexandria, 1993.