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Arte marcial e esporte: um estudo etnográfico sobre uma equipe de judô de Pelotas -RS Arisson Vinícius Landgraf Gonçalves * Raquel da Silveira ** Resumo: Em meio à diversidade de significados que as lutas possuem, um dos aspectos que chama atenção é vê-las enquanto uma modalidade esportiva em ascendência na atualidade. Assim, com o objetivo de compreender os significados que são atribuídos às lutas por seus praticantes, realizamos um estudo etnográfico com uma equipe de judô da cidade de Pelotas/RS. Durante os oito meses de observações foi possível perceber que o judô praticado pelo grupo se encontra em um constante período de transformação de significados, que estabelecem vínculos às orientações culturais orientais e à racionalização da prática em função de um processo de esportivização. Palavras-chave: Lutas. Estudo etnográfico. Processo de esportivização. * Mestre em Educação em Ciência: Química da vida e Saúde (FURG) E-mail: [email protected] ** Docente na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: [email protected] 1 I NTRODUÇÃO Ao se falar sobre lutas, bem como sobre seus significados, abre-se uma discussão acerca das possíveis definições dessas práticas corporais. As lutas estão em várias esferas do cotidiano das pessoas: são praticadas nos momentos de lazer ou como uma atividade física; podem ser consideradas como defesa pessoal e até

Arte Marcial e Esporte Judô Em Pelotas

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Arte marcial e esporte judô em pelotas

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  • Arte marcial e esporte: um estudo etnogrfico sobreuma equipe de jud de Pelotas -RS

    Arisson Vincius Landgraf Gonalves*

    Raquel da Silveira**

    Resumo: Em meio diversidade de significados que as lutaspossuem, um dos aspectos que chama ateno v-lasenquanto uma modalidade esportiva em ascendncia naatualidade. Assim, com o objetivo de compreender ossignificados que so atribudos s lutas por seus praticantes,realizamos um estudo etnogrfico com uma equipe de jud dacidade de Pelotas/RS. Durante os oito meses de observaesfoi possvel perceber que o jud praticado pelo grupo seencontra em um constante perodo de transformao designif icados, que estabelecem vnculos s orientaesculturais orientais e racionalizao da prtica em funo deum processo de esportivizao.Palavras-chave: Lutas. Estudo etnogrfico. Processo deesportivizao.

    *Mestre em Educao em Cincia: Qumica da vida e Sade (FURG) E-mail:[email protected]**Docente na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). E-mail: [email protected]

    1 INTRODUO

    Ao se falar sobre lutas, bem como sobre seus significados,abre-se uma discusso acerca das possveis definies dessasprticas corporais. As lutas esto em vrias esferas do cotidianodas pessoas: so praticadas nos momentos de lazer ou como umaatividade fsica; podem ser consideradas como defesa pessoal e at

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    mesmo enquanto um recurso disciplinador (moderador daagressividade), o que faz com que seus praticantes muitas vezes asassumam como um estilo de vida. Mas o que mais chama ateno ver as lutas enquanto uma modalidade esportiva em ascendncia naatualidade. O jud, o taekwondo e o karat1 so exemplosmundialmente conhecidos enquanto esporte.

    Assim, podemos dizer que as lutas se configuram peladiversidade dos significados que a elas so atribudos. Se no inciodo sculo XX era possvel caracteriz-las a partir da preparaopara a guerra, para o confronto fsico orientado por determinadascorrentes filosficas e religiosas do Oriente, atualmente, est cadavez mais difcil enxerg-las apenas dessa maneira, pois foram sendoapropriadas pela sociedade ocidental do sculo XX e "desenvolvidasdas mais diferentes formas e, em alguns casos, contrariando atmesmo as suas razes" (MARTA, 2010, p. 25). O interessante quea mesma diversidade de significados que as mantm enquantoprticas corporais aceitveis na sociedade, tambm produz umadeterminada noo de tradio em torno delas. Nesse sentido,fazemos uma analogia das lutas com a ideia cunhada por Hobsbawn,de "tradio inventada.". Segundo esse autor,

    entende-se [por tradio inventada] um conjuntode prticas regulamentadas por regras tcita ouabertamente aceitas; tais prticas de natureza ritualou simblica, visam inculcar certos valores e normasde comportamento atravs da repetio, o queimplica, automaticamente, uma continuidade emrelao ao passado (HOBSBAWN, 1997, p. 9)

    Hobsbawn (1997, p. 10) destaca que essa continuidade com opassado pode ser "bastante artificial", pois a partir das mudanas dasociedade com a modernidade, muitas tradies tiveram que mudarpara continuarem existindo. Assim, necessrio que essas tradiesse modifiquem conforme o contexto em que esto inseridas. Nessaperspectiva, as lutas no so diferentes. Mesmo sendo entendidas1Consideramos neste artigo as lutas que possuem vnculos culturais com o extremo oriente.Isso no significa ignorar a existncia de outras prticas corporais reconhecidas como lutasprovenientes de outras regies. Apenas nos limitamos a esse recorte para melhor refletir sobreo tensionamento existente entre os diferentes significados que envolvem essas prticas.

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    como prticas esportivas, educativas ou atividade fsica, seureconhecimento se d por determinados aspectos formais e rituaisque referenciam um passado. isso que faz delas uma tradioinventada. Ao considerar que essas prticas esto passando por umprocesso de esportivizao2, que se baseia no controle da violnciaconforme os princpios do processo civilizador de Elias e Dunning(1992), a finalidade de preparao para a guerra e suas orientaesfilosficas podem no fazer mais sentido para a sociedade moderna,por isso elas se transformam, assumem outros significados. Masno podemos negar que a racionalizao caracterstica do esportemoderno divide espao com o passado, que por sua vez, possibilitaque as lutas, de alguma forma, continuem ligadas uma determinadacultura oriental.

    Damo, Oliven e Guedes (2008, p. 9) afirmam que "nomearcertas prticas como esportivas pressupe reconhecer nelas umvnculo com o iderio moderno, civilizado, disciplinado, codificado,espetacularizado," no caso das lutas consideradas olmpicas, essevnculo com o iderio esportivo reconhecido atravs decaractersticas que nem sempre estiveram associadas a elas. A formana qual so organizadas, regulamentadas e praticadas possuemelementos comuns a diversas modalidades esportivas da atualidade.As federaes, as regras e a nfase no treinamento desportivo soevidncias dessa relao. Por isso, consideramos esse tema pertinentea ser estudado no universo acadmico, j que reconhec-las enquantomodalidades esportivas geram divergncias entre os estudiosos daEducao Fsica.

    Partimos do pressuposto que as lutas, enquanto tradioinventada, se modificam para se manterem na atualidade, sejareforando um passado vinculado ao oriente ou assumindo um modeloesportivo moderno. Nosso objetivo com esse estudo compreenderquais so essas modificaes que ocorrem com as lutas. Portanto,pretendemos contribuir para o entendimento do que so as lutashoje, e para isso optamos por apreender os significados que soatribudos s lutas por seus praticantes.

    2Ver GONZLEZ; FENSTERSEIFE, 2005.

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    A partir de uma equipe de jud da cidade de Pelotas/RS,procuramos responder algumas questes de pesquisa: (1) Quem soos praticantes? (2) Quem ministra as aulas? (3) Como acontecemas aulas? (4) Como eles reconhecem o jud que praticam?

    Nesse sentido, construmos este artigo, que primeiramente versarsobre a metodologia de pesquisa utilizada e aps apresentar asdiscusses desenvolvidas a partir das informaes obtidas na pesquisade campo e na produo acadmica existente sobre a temtica.

    2 ETNOGRAFIA: UM TECER DE RELAES

    Acreditamos que quando se objetiva relacionar alguns fenmenossociais e o cotidiano vivenciado por seus atores, sugestivo examinar arealidade "de perto e de dentro"3, se possvel fazendo parte dela. Magnani(2002) traz a relao existente entre investigador e o seu universo depesquisa em um mesmo plano, de modo a possibilitar, muitas vezes, arevelao de faces obscurecidas quando enquadrados por procedimentosmetodolgicos menos flexveis.

    Para Oliveira (2006), a pesquisa etnogrfica sustentada porelementos como o saber olhar, ouvir e escrever, que se complementamde forma a transformarem o confronto de informaes entre pesquisadoversus pesquisador, em um verdadeiro "encontro etnogrfico"(OLIVEIRA, 2006, p. 24). Ao considerar atos to caractersticos daetnografia, o autor enfatiza a complexibilidade existente entre a mediaocuidadosa das relaes que se estabelecem com o campo de pesquisae a escrita filtrada e minuciosa que deve traduzir essa convivncia que,de acordo com Winkin (1998), faz da etnografia ao mesmo tempodisciplina cientfica e criao artstica.

    3Magnani em seu texto "De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana" reflete sobrea etnografia enquanto mtodo de trabalho caracterstico da antropologia usado de forma apossibilitar a compreenso do fenmeno urbano.

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    Nessa perspectiva, Geertz (1989, p. 15) aponta uma caractersticaimportante do estudo etnogrfico, a "descrio densa"4, que no significaapenas a riqueza dos detalhes observados no campo de pesquisa, massim, a interpretao dos acontecimentos filtrados pelo olhar, e acompreenso do pesquisador que transcreve intenes, vontades,sentimentos, argumentos e explicaes durante sua investigao. Paraisso, se faz necessrio um conjunto de instrumentos metodolgicosresponsveis por mediar o material emprico e as interpretaes doobservador.

    Ressaltamos um dos instrumentos que viabiliza o acontecimentoetnogrfico, a observao participante. Assim, tal procedimento tornapossvel investigar uma realidade a partir da convivncia e interaocom a mesma, fazendo da utilizao do corpo no apenas um objeto,mas "instrumento de investigao e vetor do conhecimento"(WACQUANT, 2002, p. 12).

    A metodologia deste trabalho foi concretizada atravs de oito mesesque resultaram em trinta idas a campo com, aproximadamente, quatrohoras de durao cada, registradas em um dirio de campo5. Outroinstrumento utilizado e que veio aprofundar essa relao investigativaforam entrevistas semi-estruturadas realizadas individualmente com trsmembros do grupo, selecionados com base no perodo de convivnciaque se estabeleceu: (1) com o professor de jud, (2) um pai de alunoque tambm pratica jud no grupo e (3) uma aluna que frequentaassiduamente os treinos.

    4Geertz utiliza uma noo de Gilbert Ryle e exemplifica a descrio densa considerando doisgarotos piscando o olho direito: "Num deles, esse um tique involuntrio; no outro, umapiscadela conspiratria a um amigo". Com essa exemplificao Geertz conclui que uma simplesao, como a de piscar o olho, pode possuir diferentes significados que s conseguimosdistinguir ao considerar o contexto do acontecimento (GEERTZ, 1989, p. 16).5O trabalho de campo foi realizado pelo primeiro autor do artigo que observou, aprendeu epraticou jud com o grupo investigado.

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    3 AS PRTICAS CORPORAIS DE LUTAS NO UNIVERSO PESQUISADO: ENTREO ESPORTE E AS ARTES MARCIAIS

    Para viabilizar a escolha do campo de investigao, realizamosuma busca por escolas e academias nas quais fossem desenvolvidasprticas de lutas como jud, taekwondo ou karat. Modalidades comoessas foram priorizadas por possurem elementos que caracterizama situao de algumas lutas, conforme abordado anteriormente, poisestas, hoje, so comumente reconhecidas, tanto por suascaractersticas culturais orientais, quanto por seu formato esportivo.Portanto, dentre os locais e grupos encontrados, e possveis paratornarem-se lcus da investigao, o escolhido foi uma equipe dejud que desenvolve suas atividades em uma escola localizada nocentro da cidade de Pelotas/RS.

    O grupo constitudo por trs turmas: a primeira composta poralunos matriculados nas sries iniciais do ensino fundamental daEscola Futura6, qual a equipe de jud est vinculada; a segundaturma formada por jovens matriculados no s nessa escola, ouseja, tambm pertencentes a outras instituies de ensino; por fim, aterceira turma integrada por jovens e adultos interessados na prticada modalidade.

    Entre os praticantes possvel perceber a heterogeneidade deinteresses que os levam a fazer parte dessas turmas. As crianas -principalmente seus pais - buscam uma atividade dinmica,desafiadora e divertida, aliada a uma prtica com caractersticaseducacionais, enquanto arte marcial advinda de uma cultura quevaloriza o autocontrole e a disciplina. Os jovens e adultos valorizama prtica de uma atividade fsica vinculada luta corporal, mas,principalmente, aderidas a cdigos que sistematizam a prticapossibilitando a competitividade moldada pelo iderio esportivo.

    6Nome fictcio dado instituio de ensino em que a equipe de jud est vinculada. As aulasocorrem em espao cedido por esta escola e atendem tanto alunos matriculados no ensinoregular dessa instituio quanto pessoas sem nenhum vnculo, mas interessadas em praticarjud.

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    Percebe-se que essa proximidade com o formato esportivo dojud se d por um conjunto de fatores que envolvem o interesse dospraticantes, o ambiente em que ocorrem suas prticas e as principaiscaractersticas das aulas, ou seja, do que transmitido aos praticantesatravs dos conhecimentos e conceitos do Sensei7.

    Contudo, a procura pela luta tambm acontece devido ao aspectomoral, o qual Barreira e Massimi (2006) associam a uma doutrina,indo alm dos movimentos corporais ao valorizar aspectos culturaisdiferentes dos que constituem a sociedade ocidental. Um exemplodisso que, na equipe investigada,

    muitos pais procuram o jud como forma decontribuir na disciplina de seus filhos, intervindono comportamento dos alunos no s na escola,como em suas casas com seus familiares. (Dirio deCampo 15/04/09).

    Porm, na fala de alguns praticantes e do Sensei, notvel quea simpatia por essas caractersticas da modalidade divide espaocom outros aspectos tambm constituintes dessa prtica. Quandoquestionado sobre o interesse que o motiva a praticar jud, o Senseicomenta:

    Eu conheci o jud aos seis anos, atravs do meu paique me levou numa academia, escolhi o jud porqueeu gostei quando visualizei o movimento que opessoal estava fazendo. [...] Eu sempre fui umacriana muito ativa e em bastante contato com ocorpo, em derrubar, brigar, sempre tive bastanteinfluncia disso por ter visto na televiso. A eucheguei na academia e eles estavam fazendo umcombate, se agarrando, puxando, se derrubando eeu achei que aquilo ali era pra mim. Foi uma coisaque eu pensei: isso a que eu quero! (Entrevistarealizada em 23/04/09).

    7O termo Sensei significa professor, popularmente o de Artes Marciais, mas utilizado de formageral para se referir a pessoas com maior conhecimento sobre determinado assunto. Para aequipe observada, Sensei o nome utilizado para que os alunos se refiram ao seu professor.

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    J Joana8, uma das alunas mais dedicadas do grupo, deixaexplicito seu interesse pelo aspecto competitivo do jud, dentro deuma prtica pertencente a um formato esportivo institucionalizado.Quando questionada sobre o que a motiva a praticar, ela responde:

    Joana: Acho que foi a competio

    Entrevistador: E tem alguma imagem que tu lembrasque tenha te marcado nesse incio?

    Joana: Tem, a imagem que me chamou mais atenoassim, na primeira vez que eu vi o jud foi quandoeles pegaram o kimono, assim, e comearam aderrubar e derrubar, e a eles iam depois pra hora dorandori (luta)... E aquilo me marcou muito, todas asnoites eu sonhava com aquilo, todas no, massempre que eu lembrava, eu sonhava (Entrevistarealizada em 25/09/09).

    Durante a pesquisa, percebeu-se a presena de pelo menosduas faces do jud que coexistem em um mesmo espao e quecriam um significado diferente daquele em que o jud foi criado ediferente tambm da configurao esportiva moderna. Essas facesmesclam os interesses por uma prtica esportiva e a busca por umaatividade ritualstica, caracterizada pelo vnculo que essa prticaestabelece com o Oriente, que por sua vez, produzido pelo olharocidentalizado dos praticantes. Conforme a obra de Said (2007) umanoo de "oriente como inveno do ocidente" (p. 1), que sempre referido como algo misterioso, mstico e extico.

    Ao considerar o ambiente em que se realizam as aulas/treinosdo grupo estudado, interessante destacar alguns detalhes quemarcam esse momento de multiplicidade de significados ou, seguindoa analogia com Hobsbawm, que marcam as mudanas que essa"tradio inventada" est passando para poder se manter. A sala,por exemplo, possui um doj9 amplo, essencial para modalidade. Naparede de frente para o espao em que ocorrem as aulas est o

    8Todos os nomes dos informantes so fictcios.9rea de treinamento e de combate. constitudo por um conjunto de tatames encaixados e queajudam a amortecer o impacto das quedas.

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    retrato do Mestre Jigoro Kano, criador das tcnicas do jud, querepresenta a hierarquizao do conhecimento ritualizado na saudaoque caracteriza o incio e o fim de cada aula, e que expressa umaligao com o passado, ou seja, com uma determinada origem daluta. Por outro lado, todos esses elementos que remetem a umaprtica culturalmente japonesa dividem espao com imagens decombates em grandes eventos esportivos e fotografias de renomadosatletas profissionais dessa modalidade.

    4 AS SAUDAES, AS ROUPAS E A HIERARQUIA: O JUD E A INVENODO SEU PASSADO

    [...] o Sensei d uma voz de comando e os meninosrapidamente se dispem em uma fila, todosajoelhados e de frente para o Sensei, distribudospor ordem de graduao. Como sempre, o alunomais graduado realiza a saudao inicial no idiomajapons, primeiramente imagem do mestre JigoroKano e em seguida ao Sensei. Assim, todos inclinamo tronco olhando para o cho simbolizando orespeito ao ambiente da prtica, ao mestre criadordo jud e ao prprio professor (Dirio de Campo20/05/2009).

    Conforme o trecho do dirio de campo, as lutas, principalmenteas de origens orientais, so carregadas de religiosidade e orientaesmorais que caracterizam no s a sua prtica, como tambm, umestilo de vida de alguns praticantes ao remontarem elementos dedeterminadas culturas. Contudo, importante destacar quemodalidades de lutas que conhecemos hoje no so as mesmas detempos remotos, ou seja, so adaptaes e invenes de movimentoscorporais e rituais criados e utilizados para guerra, para conflitosreligiosos e territoriais de determinado contexto histrico (SOUZA,2002).

    Na equipe de jud investigada, possvel perceber como osaspectos anteriormente mencionados esto marcados, tanto em seuambiente geogrfico, quanto social, por uma ligao com um passadoconsiderado original e so representados por seus rituais, por suas

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    roupas, pela hierarquizao do conhecimento atravs das cores dasfaixas, pelo respeito imagem do Mestre Jigoro Kano e at mesmopelo carter educador e/ou disciplinador que essas prticas carregam.Apesar dos gestos simblicos caractersticos das prticas orientaisno serem cobrados dos alunos com tanto rigor, alguns j estofamiliarizados com esses rituais, que os reproduzem, como um hbito.Joana um exemplo de aluna que realiza esses gestos rigorosamente.Em todas as aulas observadas, ela segue um ritual prprio, de maneiraindividual

    [...] chega, e como de costume deixa seus tnis naborda do dojo, realiza o gesto de saudao, vai at oquadro do Jigoro Kano saudando-lhe e,posteriormente, repete o mesmo gesto para o Sensei(Dirio de Campo 17/06/09).

    Aes desse tipo so repetidas de maneira inquestionvel, ascrianas, por exemplo, sabem que para entrar ou sair o doj devemrealizar determinados gestos. No caso de Joana, assim como dosmais velhos, esse ritual encarado como uma forma de preservarcerta originalidade da prtica, atravs desses comportamentos,que os praticantes orientalizam o jud. Dessa forma, o jud no reconhecido apenas pela maneira de lutar, mas, por um conjunto deelementos, de regras tcitas que so regulamentas e mantidas porrepetio de seus praticantes. Retomando a idia de tradioinventada de Hobsbawm (1997), esses elementos configuram ainveno de uma tradio Oriental, que independente da maneiraque se luta o jud, preservada pelas roupas, pelo respeito imagemde Jigoro Kano, entre outros padres de conduta aceitos pelo grupo.

    Mas nem todos seguem esses rituais ou esto adaptados a esseselementos tradicionais que fazem parte do universo dessa prtica. interessante observar os alunos menores e a dificuldade queenfrentam em vestirem seus judogis10, e at mesmo para amarraremsuas faixas em torno da cintura. Geralmente, nos minutos queantecedem a aula, alguns se atrapalham tanto com a indumentriaque recorrem ajuda do Sensei.

    10Roupa apropriada para a prtica do jud.

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    A pressa dos meninos em trocarem de roupa tantaque muitos vestem as calas ou o casaco do judogiao avesso. Parece estranho para eles aquelavestimenta, a maioria precisa da ajuda do professorpara amarrar as calas e a faixa corretamente. Mesmocom toda a pressa, imagino que no seria to difcil,ou estranho, se esses meninos estivessem vestindouniformes de futebol, por exemplo. (Dirio deCampo 29/04/09).

    atravs de acontecimentos como esses que se torna possvelacompanhar como essas caractersticas de determinadas lutas fazemparte do cotidiano dessa equipe de jud e, principalmente, o que taiselementos significam para esses praticantes. Em uma aula com osadultos presenciamos uma discusso entre o Sensei e alguns alunosque nos chamou a ateno. Por meio de uma brincadeira elesiniciaram uma conversa sobre o carter ritualstico que algumas lutas,baseadas na filosofia oriental, assumem:

    Marcelo e Roberto11 entram no dojo como seestivessem apostado uma corrida para ver quemcumprimenta primeiro a imagem de Jigoro Kano eem seguida o Sensei. (...) O Sensei, que tambmachou cmico a brincadeira entre os dois, comentaque a prtica do jud tem rituais muito rigorosos,como as saudaes, a submisso ao mais graduado,no poder entrar atrasado na aula, etc. Mas, nocobra de seus alunos com tanta seriedade. Elejustifica essa caracterstica por gostar do ladocompetitivo do jud e, principalmente, por ter tidouma m impresso de alguns de seus professoresque utilizavam as tradies orientais de forma ahierarquizar o conhecimento sobre a modalidade,realizando suas aulas com base na submisso deseus alunos. (Dirio de Campo 23/07/09).

    Em situaes como essa, a tradio considerada de formadistinta a outras significaes, como a esportiva. As saudaes e aindumentria ritualizam uma noo essencialista desejvel,preservando um passado do jud. No entanto, isso no significa que

    11Dois alunos integrantes da turma dos adultos: Marcelo Faixa Branca (iniciante) e RobertoFaixa Verde (considerada uma alta graduao no jud).

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    ao valorizar determinados aspectos esportivos, o grupo desconsidereuma imagem original desta luta. O modo que eles exercitam essaprtica indica um cuidado de manter uma essncia oriental que produzida a partir do olhar que eles prprios lanam para o Oriente.Em um movimento analtico contrrio ao de Stevens (2007), queconsidera a existencia de uma transformao de determinadasprticas de lutas por um processo de ocientalizao, diramos queestes judocas buscam orientalizar o jud, mesmo que seja no sentidode orientalismo trazido por Said (2007). A relao ritualsticaestabelecida no se d pela obrigao, mas, sim por querer umaprtica que mantenha uma continuidade com o passado, mesmo queseja atravs da inveno de tradies assumidas como originais/orientais.

    5 HORA DO RANDORI12: O JUD EM SEU FORMATO ESPORTIVO

    Na tentativa de compreendermos o que esporte, concordamoscom Elias e Dunning (1992) que este reflexo de uma ruptura dosjogos e dos passatempos populares praticados na Inglaterra, entreos sculos XVII e XVIII. O esporte surge em meio a um processocivilizador possibilitado por uma nova configurao da sociedadeeuropia. Dessa forma, tais passatempos se diferenciavam de outrasprticas corporais devido aos significados a eles atribudos, tantopor quem os praticava, quanto por quem os assistia.

    Ao olharmos para algumas lutas como o jud, a partir dessaconcepo de esporte moderno, notamos que essas prticas a priorivinculadas a determinado padro filosfico e religioso, hoje assumemcaractersticas esportivas que transformam a maneira de entend-las. Guttmann (1978), mesmo estando distante da concepo tericaadotada aqui para discutir a noo de esporte, pois possui umaperspectiva histrica de continuidade13, nos ajuda a entender o judem um contexto esportivo quando aponta sete caractersticas desse

    12Randori significa o combate fsico do jud mediado por suas regras. o momento maisesperado pelos praticantes. no randori que os judocas aplicam as tcnicas que treinaram.13Ver em Stigger (2005, p. 12) a discusso sobre "Histria do esporte: entre continuidade eruptura."

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    fenmeno cultural: (1) organizao burocrtica, (2) secularizao,(3) racionalizao, (4) igualdade, (5) especializao, (6) quantificaoe (7) recorde.

    Na equipe de jud investigada, algumas dessas caractersticasso facilmente identificadas. A organizao burocrtica, por exemplo, localizada a partir do vnculo que o grupo possui com uma federaoque os orienta e viabiliza seu reconhecimento no Estado. Em entrevistacom o Sensei, ele comenta sobre o jud enquanto uma profisso:

    Eu acho que tem o aspecto da federao, querealmente ela cobra. O nvel de faixa preta pra quese ministre aulas e que se no for isso, se for umagraduao inferior, que tenha um responsvel portrs. E tambm que essa pessoa esteja vinculada federao, que os alunos estejam registrados, osprofessores estejam registrados, filiados federao,que tenham um local vinculado, ligado federao.Ento, isso j d um suporte para que essamodalidade tenha um certo respaldo e que se consigatrabalhar como profisso (Entrevista realizada em23/09/09).

    Alm disso, a secularizao, ou seja, a desvinculao dessasprticas do seu carter mstico, ritual e religioso, e a racionalizao- quantificao de resultados, criao de medidas como o recorde ea especializao dos papis desenvolvidos pelos atletas - so,tambm, caractersticas marcantes no grupo, j que grande parte deseus praticantes valorizam um jud competitivo, institucionalizado ereconhecido enquanto modalidade esportiva.

    Quando relacionamos a prtica do grupo com as principaiscaractersticas do esporte moderno, possvel identificar que o judpraticado por eles atravessado por um processo de esportivizao.Nesta equipe, praticar jud envolve uma srie de fatores que estoalm das orientaes filosficas das lutas. Para eles, o jud considerado uma modalidade esportiva que depende de uma estruturae de materiais adequados, que viabilizem e direcionem o foco daprtica para a participao de competies padronizadas, conformeexemplo:

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    O professor deixa o primeiro momento da aula livrepara que as crianas possam extravasar suas energiase para que possam demonstrar suas personalidades."Nesse momento eu deixo livre apenas paraobservar as crianas e ver as diversas personalidadesque constituem a turma. Assim, eu posso ver quaislevam realmente jeito para o jud esportivo e quaisvm apenas com inteno de brincar", diz oprofessor (Dirio de Campo 15/04/09).

    O fato de um aluno levar ou no "jeito" para a prtica do jud,a partir da observao do Sensei, pressupe uma seleo dequalidades que podem ser desenvolvidas de maneira especfica paraa competio. Em outro momento o Sensei expressa que diferenciado o treinamento para atletas em suas aulas:

    atualmente, ele tem apenas uma aluna (14 anos)que considera, em suas falas, uma atleta, pois seutreinamento diferenciado dos outros alunos. Certavez, o professor conta que precisou separar essamenina das aulas com os alunos da escola, pois suaseriedade e determinao eram tanta que acabouespantando alguns alunos. (Dirio de Campo 29/04/09).

    Por outro lado, no o fato de possuir atletas de ponta quedetermina tal processo, mas sim a maneira de organizao dessegrupo. Durante o perodo de investigao tivemos a oportunidade deacompanhar um evento competitivo elaborado pela prpria equipe,o qual enfatizou o aspecto esportivo dessa prtica.

    Ao acompanhar a divulgao do evento tivemos contato comuma reportagem da pgina de esportes de um jornal local que traziaalguns trechos interessantes e que resultaram em algumas reflexesno dirio de campo:

    A reportagem mostra a diversidade de significados,nos quais, o jud praticado por esses sujeitosassume. Primeiro ele traz a informao de que aequipe acabou o ano de 2008 em 23 lugar no RankingEstadual, disputado por cem equipes. Em seguidaest transcrita uma frase do Sensei que diz: "O judbusca benefcios fsicos, morais e sociais para seus

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    participantes. Esse mtodo de prtica fsica emodalidade esportiva estimulam os princpiosfilosficos da cultura japonesa, integrando corpo emente". Falo em diversidade porque percebo nestepequeno texto dois pontos importantes quenorteiam esse trabalho. (Dirio de Campo 06/06/09).

    O trecho acima exemplifica que a prtica do jud acompanhadadurante os oito meses de investigao demonstra tanto os preceitosfilosficos e rituais das lutas, quanto a influncia de um modeloesportivo, os quais, se misturam na constituio desse grupo eacontecem simultaneamente. Porm, nota-se que os laos que ligamessa prtica ao iderio esportivo atual so muito mais valorizados.

    Esses aspectos relacionados com a organizao e administraodo grupo frente ao formato esportivo demonstram que apesar deestarmos nos referindo a uma prtica de luta, em que a questo daviolncia seria supostamente referendada, as regras criadas e asinstituies representativas do jud enquanto esporte, civilizaram essaprtica a partir de um processo de esportivizao, semelhante aorealizado com os passatempos populares conforme descreve Elias eDunning (1992). Contudo no podemos negar que "essas prticas[as lutas] ainda possuem algumas caractersticas prprias s quais oentendimento desse processo de esportivizao por si s noresponde" (MARTA, 2010, p. 30).

    Dessa forma, tendo em vista a configurao que esse grupoassume, nota-se que tanto os significados atribudos, quanto a prticadessa modalidade de luta esto mais prximos de uma prticaesportiva e institucionalizada. Entretanto, isso no quer dizer que atradio, os ritos, a valorizao por um passado do jud no estejapresente.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    Pudemos perceber, a partir da etnografia realizada, que as lutaspassam por um processo de mudanas em sua configurao.Consideradas enquanto tradies inventadas, consideramos que elas,

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    tiveram que se modificar para continuarem existindo. A valorizaode um modelo esportivo , atualmente, uma caracterstica marcanteem algumas dessas prticas. O jud acompanhado nesta pesquisase encontra entre duas faces: a primeira, representada pela ligaos orientaes filosficas das lutas; e a segunda, demonstrada pelareproduo e pela forte influncia de um modelo esportivo.

    Durante os oito meses de idas a campo, tivemos a oportunidadede acompanhar, em diversas ocasies, situaes que marcaram acoexistncia dessas duas faces. Algumas caractersticas da culturajaponesa, presentes em alguns gestos, vocabulrio e roupas,demarcam o orientalismo dessa prtica corporal. Porm, no se podenegar que os movimentos tcnicos, exerccios fsicos, conversas entreos praticantes e a prpria relao entre professor e alunos soinspirados nos esportes.

    O jud, para a grande parte dos componentes do grupo, entendido como uma modalidade esportiva em que a valorizao deum oriente deve ser mantida enquanto uma referncia ao passado.Nesse sentido, se justifica a analogia que fizemos com as "tradiesinventadas" de Hobsbawn (1997), em que as lutas esto passandopor um processo de mudanas, para continuar tendo sentido nasociedade moderna. a partir de um processo de esportivizaoque essa mudana vem ocorrendo, sem, contudo, romper com umanoo ritualistica que a caracteriza enquanto oriental.

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    Martial art and sports: one ethnographic studywith judo team from Pelotas-RSAbstract: Taking into consideration the diversity ofmeanings attributed fights, one of the aspects that callour attention in to see those fights as a sport whichare in evidence nowadays. In order to understand themeanings that are attr ibuted to those f ights bypractitioners, we have accomplished an ethnographicstudy with a judo team from Pelotas-RS. After observingfor eight months those f ighters it was possible torealize that judo, practiced by the group. It was foundout that judo is in a constant period of transformationconcerning to the meanings of those fights establishingbonds with the Eastern cultural orientations and therationalization of the practice according to the sportprocess.Key words: Fights. Ethnography. Sport process.

    Arte marcial y deporte: un estudio etnogrficosobre un equipo de judo de Pelotas -RSResumen: En medio a la diversidad de significadosatribuidos a las luchas, un de los aspectos que llamaatencin es ver ellas como una modalidad deportivaen ascendencia en la actualidad. Con el objetivo decompreender los significados que son atribuidos a lasluchas por sus praticantes, realizamos un estudioetnogrfico con un equipo de judo de la ciudad dePelotas/RS. Durante los ocho meses de observacionesfue posible percibir que el judo, practicado por el grupo,se encuentra en un constante periodo detransformacin de significados que establece vinculosa las orientaciones culturales orientales y laracionalizacin de la prctica en funcin de un procesode deportivizacin.Palabras-claves: luchas. Etnografia. proceso dedeportivizacin.

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    Recebido em: 13.04.2012

    Aprovado em: 25.05.2012