8
ARTE EDUCAÇAO: UMA VIVÊNCIA DE INTERCULTURALIDADE *Firpo, Maria Luciana, Universidade FEEVALE. **Dra. Mara Weinreb, Universidade FEEVALE. Palavras-chave: Arte-educação. Cultura. Interculturalidade. 1 INTRODUÇAO O projeto de Extensão Múltiplas Leituras: Povos indígenas e interculturalidade, da Universidade Feevale, liderado pela professora Inês Caroline Reichert, está vinculado à área de direitos humanos e atua na comunidade indígena Por Fi, localizada no Bairro Feitoria Seller, São Leopoldo. Realizando ações para a preservação da cultura indígena Kaingang e a efetivação dos direitos indígenas. A operacionalização do projeto segue um planejamento construído com a comunidade, através da realização de diversas oficinas, incluído as de Arte-educação. As ações com arte ocorreram na escola indígena, durante o ano letivo de 2014, com a presença da professora colaboradora e da bolsista do projeto, atendendo aproximadamente 30 crianças, entre seis e quatorze anos, sempre nas terças feiras a tarde. Hoje, a aldeia Por Fi conta com uma escola indígena dentro da comunidade, que atua com crianças do 1º ao 5º ano fundamental. As oficinas de Arte-educação tinham como objetivo geral estimular a criatividade e o encontro das crianças com as lendas e mitos indígenas. Pensamos que, desta forma, as atividades possam ter contribuído para o desenvolvimento global dos alunos, bem como a sua inclusão

Arte e Interculturaliade

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Resumo expansivo, artigo apresentado no XI Salão de extensão da Universidade FEEVALE

Citation preview

Page 1: Arte e Interculturaliade

ARTE EDUCAÇAO: UMA VIVÊNCIA DE INTERCULTURALIDADE

*Firpo, Maria Luciana, Universidade FEEVALE.**Dra. Mara Weinreb, Universidade FEEVALE.

Palavras-chave: Arte-educação. Cultura. Interculturalidade.

1 INTRODUÇAO O projeto de Extensão Múltiplas Leituras: Povos indígenas e interculturalidade,

da Universidade Feevale, liderado pela professora Inês Caroline Reichert, está

vinculado à área de direitos humanos e atua na comunidade indígena Por Fi, localizada

no Bairro Feitoria Seller, São Leopoldo. Realizando ações para a preservação da cultura

indígena Kaingang e a efetivação dos direitos indígenas. A operacionalização do projeto

segue um planejamento construído com a comunidade, através da realização de diversas

oficinas, incluído as de Arte-educação. As ações com arte ocorreram na escola indígena,

durante o ano letivo de 2014, com a presença da professora colaboradora e da bolsista

do projeto, atendendo aproximadamente 30 crianças, entre seis e quatorze anos, sempre

nas terças feiras a tarde. Hoje, a aldeia Por Fi conta com uma escola indígena dentro da

comunidade, que atua com crianças do 1º ao 5º ano fundamental. As oficinas de Arte-

educação tinham como objetivo geral estimular a criatividade e o encontro das crianças

com as lendas e mitos indígenas. Pensamos que, desta forma, as atividades possam ter

contribuído para o desenvolvimento global dos alunos, bem como a sua inclusão nos

espaços fora da comunidade indígena. Sendo este um dos objetivos específicos

primordiais do presente projeto.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Contextos histórico e cultural

A educação Kaingang não pode ser comparada a nenhuma outra educação

escolar, pois, embora hoje na comunidade tenha uma escola, a educação vai além deste

espaço. A responsabilidade de ensinar os costumes e educar é dos pais”. O artesanato é

entendido

*Ceramista. Discente do curso de Artes Visuais da Universidade Feevale. Bolsista do Projeto de Extensão: Múltiplas leituras da Universidade Feevale.

Page 2: Arte e Interculturaliade

**Doutora em Artes Visuais (UFRGS). Docente da Universidade Feevale e professora colaboradora do Projeto de Extensão Múltiplas leituras da Universidade Feevale.

como uma atividade educativa, a criança acompanhando os pais na coleta de matéria-

prima, sua confecção e sua venda, esta aprendendo para a vida: plantas da mata, tempos

de coleta, matemática nos traçados e na venda. Como explica o professor Kaingang

Dorvalino Cardoso, segundo Schwingel&Pilger (2014) a educação Kaingang é

anterior à colonização e é baseada na oralidade. -"Ela tem que partir da família e

da comunidade, e a escola somente complementa. A proposta pedagógica não indígena

não encaixa na educação Kaingang, por que as crianças Kaingang tem outras

vivencias”.  Na pedagogia Kaingang, os próprios momentos de festa e confraternização

servem como aprendizagem. 

2.2 Arte-educação 

Concordamos com Herbert Read (2001) quando ele declara que uma educação

que tem a arte como uma das suas principais aliadas, permite uma maior sensibilidade e

percepção para o mundo ao nosso redor. Segundo ele, a educação tem por objetivo

desenvolver, a consciência social do indivíduo. 

A arte pode contribuir imensamente para o desenvolvimento da criança, pois é

na interação com seu meio que se inicia a aprendizagem, que inicia quando os sentidos

da criança estabelecem o primeiro contato com o ambiente. Tocar, cheirar, ver,

manipular, saborear, escutar, enfim, qualquer método de perceber o meio e reagir a ele

é, de fato, a base essencial para a produção de formas artísticas. 

Mary Stokrocki (1999) pesquisadora em Arte-educação, acompanhou durante

três anos a educação de uma comunidade Navajo, em especial suas aulas de arte. A

autora parte da ideia de uma valorização da tradição oral junto aos alunos, e que "o

conto oral é o modo mais antigo de ensinar...a história é um registro de acontecimentos

sobre um tema ou figura que tem importância para uma cultura em particular,

integrando fatos, estrutura de tempo, e conexões "(1999, p.159). E conforme Ana Mae

Barbosa (1999), o ensino da arte é uma forma de cultura, com informações e imagens

que possibilitam uma ação intercultural.

3 METODOLOGIA

As atividades com Arte-educação foram planejadas a partir da necessidade em

atender as demandas dos alunos quanto ao desenvolvimento psicomotor, à imaginação

criativa e o relacionamento inter grupal. Em conjunto com as ações pedagógicas e

Page 3: Arte e Interculturaliade

criando um ambiente favorável, colocamos a disposição materiais para que os alunos se

expressassem orientando e propondo novos caminhos, com livros e slides. Quanto às

temáticas, buscou-se desenvolver atividades artísticas articuladas às lendas indígenas

através de vídeos e literatura, como uma valorização da própria cultura, realizadas

através do desenho, da pintura, da colagem, e da argila. As oficinas ocorreram sempre

nas terças feiras a tarde, das 14:30 horas até as 16;30 horas, na escola indígena da aldeia

Kaigang Por Fi, no município de São Leopoldo, com aproximadamente 30 crianças, do

1º ao 5º ano fundamental.

4 RESULTADOS

Percebeu-se ao final do ano letivo de 2014, mudanças no comportamento dos

alunos, em sua participação individual e grupal, como em seu processo criativo em

geral. Podemos afirmar que do total de 30 alunos, 10 deles se destacaram ante os

resultados comparativos de suas produções, ao longo do ano. Utilizamos os seguintes

critério; 1. Preenchimento da folha de papel, 2. Uso de cores, 3. Coerência da expressão

plástica em relação a proposta feita em aula. Estes fatores trouxeram a luz, o

desenvolvimento da criatividade aliada ao trabalho pedagógico.

5 DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos ao final do ano letivo de 2014, junto aos alunos da escola indígena

Por Fi, uma mudança significativa na interação grupal, como na participação e

frequência. Temos alunos se destacaram por sua expressão artística, durantes as

atividades de cerâmica, desenho e colagem. Em geral a turma foi muito criativa,

demonstrando espírito de coletividade, característica muito contundente da comunidade

indígena. Outra característica muito própria das crianças indígenas, é o fato das

faixas etárias não terem importância durante as aulas, víamos os alunos menores se

colocam em pé de igualdade com os maiores, e estes respondem da mesma forma. 

Foi um tempo de aprendizados para a nossa equipe, pois durante as atividades

não era sempre possível sempre conduzir as crianças, elas estabeleciam seu

próprio ritmo, e mesmo que não pareciam estar ouvindo a fala dos professores,

sempre concluíam as propostas, com resultados inesperados. A utilização dos relatos

oriundos dos povos indígenas, além de valorizar e reforçar a auto-estima das crianças

como indígenas, permite uma negociação entre o mundo indígena e não indígena,

espaço este que nos encontramos constantemente, durante as atividades, posto que, os

professores não indígenas permeiam um espaço flutuante, e de negociação intercultural. 

Page 4: Arte e Interculturaliade

O contato com as crianças foi muito importante para a organização e o

planejamento das aulas. Cada encontro era imprevisível, demonstrando que a Arte-

educação é possível em uma proposta de interculturalidade, desde que exista o respeito

ao tempo e ao processo de cada aluno. A educação indígena reflete um tempo, que não

corresponde ao um tempo sistematizado e cronometrado, mas ao tempo da

natureza, onde nada acontece fora de um ritmo muito próprio. Este e outros conceitos

próprios da comunidade, como o conhecimento de sua história e cultura necessitam ser

consideradas ao se elaborar um planejamento futuro. Ressaltamos que o planejamento

do ano de 2015, após discussões com o grupo de trabalho, buscou enfatizar mais a ações

que envolveriam as tradições e a história da comunidade, iniciando com a valorização

de seus nomes indígenas, e a paisagem de sua aldeia, local de inserção cultural e social

indígena como não indígena.

Alunos da escola indígena Kaigang, comunidade Por Fi. São Leopoldo. 2014. Fonte; arquivo dos autores.

Page 5: Arte e Interculturaliade

REFERÊNCIAS

 CHRISTOV, Luiza Helena da Silva, e MATTOS Simone Ribeiro de (orgs.) Arte-

Educação: Experiências, Questões, Possibilidades. São Paulo: Expressão & Arte

Editora, s/d. 

LANIER, Vincent. Devolvendo arte à Arte educação; in: BARBOSA, Ana Mae

(org.). Arte educação: leitura de subsolo. São Paulo: Cortez,1999. 

Projeto de Extensão Múltiplas leituras: Povos indígenas e interculturalidade.

Universidade Feevale. PROACOM- Pró-Reitoria de Extensão e Ação

Comunitária. Líder do projeto: Professora Inês Caroline Reichert, edição 2014/ 2015. 

READ, Herbert. Educação pela Arte. Lisboa: Edições 70, 2013. 

SCHWINGEL, Kassiane & PILGER, Maria Ione (org,) Por Fi Ga Keme. História da

Tovaca. São Leopoldo: Oikos, 2014. 

SILVA, Walde Mar de Andrade e. Lendas e Mitos dos índios brasileiros. São Paulo:

FDT 1997.

STOKROCKI, Mary. Um dia escolar na vida de um menina Navajo: Estudo de caso

em forma de conto oral etnográfico; in: BARBOSA, Ana Mae (org.). Arte educação:

leitura de subsolo. São Paulo: Cortez,1999.