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José Antonio Ferrer-benimeli PREFÁCIO DE MICHEL RIQUET, S.J. TRADUÇÃO: SILVIO FLOREAL DE JESUS ANTUNHA HISTÓRIA DE UMA CONDENAÇÃO PONTIFÍCIA Arquivos Secretos dO E A FRANCO-MAÇONARIA V ATICANO

Arquivos Secretos Do Vaticano - E a FRANCO-MAÇONARIA

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  • Jos Antonio Ferrer-benimeli

    PREFCIO DE

    MICHEL RIQUET, S.J.TRADUO:

    SILVIO FLOREAL DE JESUS ANTUNHA

    HISTRIA DE UMA CONDENAO PONTIFCIA

    Arquivos Secretos dO

    E A FRANCO-MAONARIA

    VATICANO

  • 5

    ndice

    Prefcio da 5 edio .......................................................................................... 15Prefcio do Autor ................................................................................................ 18Abreviaes ......................................................................................................... 23

    Introduo

    1. O que a Franco-Maonaria? ....................................................................... 25Teorias e lendas a respeito de sua origem .................................................... 25A lenda de Hiram ........................................................................................... 28A corporao de Construtores ...................................................................... 30Os talhadores de pedra da Idade Mdia ....................................................... 31A Loja ............................................................................................................. 34O Grande Arquiteto do Universo................................................................... 35O nome de franco-maons ........................................................................ 36Os Quatro Santos Coroados .......................................................................... 39

    2. A Passagem da Maonaria Operativa Especulativa ................................... 40As constituies de Anderson ....................................................................... 43O problema religioso ...................................................................................... 46Juramento e segredo ...................................................................................... 51

    3. A Maonaria no Sculo XVIII ........................................................................ 58Tentativa de definio .................................................................................... 59Desvios e seitas ............................................................................................. 60A Maonaria Regular .................................................................................... 64

    1. A primeira condenao pontifcia da Maonaria

    1. Antecedentes polticos .................................................................................... 67Resoluo dos Estados Gerais da Holanda (1735) ....................................... 68Proibio do Conselho de Genebra (1737) ................................................... 77Sentena da polcia de Paris (1737) .............................................................. 79Decreto do prncipe eleitor do Palatinado (1737) ........................................100Resoluo da magistratura de Hamburgo (1738) ........................................100dito do rei da Sucia (1738) .......................................................................101

    2. O Santo Ofcio e a Maonaria .......................................................................102Investigao do Santo Ofcio romano (1736) ..............................................102A Maonaria em Florena (1737) ................................................................104Relatrios do grande inquisidor florentino (1737) ........................................106Diretrizes do cardeal secretrio de Estado (1737) ......................................106

  • ARQUIVOS SECRETOS DO VATICANO E A FRANCO-MAONARIA6

    Condenao da Maonaria pelo gro-duque da Toscana (1737) ................109Repercusso na Repblica de Lucques ....................................................... 112Interveno de Franois de Lorraine ........................................................... 114O problema da jurisdio eclesistica .......................................................... 116

    3. A Roma de Clemente XII ..............................................................................120A influncia dos Corsini ................................................................................120O estado de sade de Clemente XII ............................................................121A primeira Loja romana ................................................................................124O Consistrio de 1737 ..................................................................................126Atitude do novo assessor do Santo Ofcio ...................................................128

    4. Constituio Apostlica In Eminenti .............................................................130Comentrio da condenao pontifcia ..........................................................130Publicaes na imprensa da poca ..............................................................133

    5. Difuso da Bula de Clemente XII .................................................................136Frana: atitude do cardeal Fleury e de Lus XV (1738) ..............................136Portugal: dito do inquisidor geral (1738) .....................................................143Relatrio da Inquisio de Lisboa (1738) ....................................................150Espanha: dito do inquisidor mor (1738) ......................................................164Polnia: Circular do nncio apostlico (1739) ..............................................168Pases Baixos: dito do imperador Carlos VI (1738) ..................................171Veneza Florena Irlanda ........................................................................173Estados pontifcios: dito do cardeal Firrao (1739) ......................................174Condenao de uma publicao manica (1739) ......................................179

    2. O processo de Tommaso Crudeli emFlorena (1739-1741)

    1. Consequncias da condenao pontifcia ......................................................183A Maonaria em Florena. O baro Stosch. ...............................................183Petio do cardeal Corsini a S.A.R. ............................................................185Deteno do dr. Crudeli ................................................................................189

    2. Interferncias de Jurisdio do Tribunal da Inquisio ................................194Relatrio do senador Rucellai .......................................................................194Relatrio do conde de Richecourt ................................................................198Atividade do inquisidor de Florena .............................................................204Resposta do gro-duque da Toscana ...........................................................205

    3. Preliminares do processo de Crudeli .............................................................210Investigaes do senador Rucellai ...............................................................210Interrogatrio preliminar ............................................................................... 211Denncias sobre a maneira de agir do Tribunal ..........................................212Declarao espontnea de Crudeli ..............................................................215Delaes das testemunhas ...........................................................................223Acusao fiscal ............................................................................................227

  • NDICE 7

    4. O andamento do processo .............................................................................228Primeiros interrogatrios ...............................................................................228Interveno de Richecourt junto ao gro-duque ..........................................232A denncia do dr. Pupigliani .........................................................................236Tentativa de fuga do dr. Crudeli ...................................................................239Concesso de um advogado defensor ..........................................................241

    5. O Desfecho do caso Crudeli .........................................................................244O estado de sade do acusado .....................................................................244Interveo do nncio em Florena ...............................................................245Transferncia de Crudeli para uma fortaleza do Estado .............................246Retrataes de Minerbetti e de Pupigliani ...................................................248Sentena condenatria ..................................................................................252

    6. Consequncias do processo ...........................................................................256Tenso nas relaes entre o governo da Toscana e a Corte de Roma ......256Providncias do nncio de Sua Santidade em Viena ...................................256Interveno do enviado especial da Santa S ..............................................258Tentativas de reforma do Santo Ofcio em Florena ...................................260Queixas contra o padre inquisidor ................................................................261Transferncia do padre inquisidor, Perdo e morte do Dr. Crudeli .............262Reforma da Inquisio na Toscana ..............................................................265

    3. A Maonaria depois da proibio pontifcia(1740-1750)

    1. Repercusses na ustria, na Holanda, em Malta e na Frana ....................270A Universidade de Salzburgo e Muratori (1740) .........................................270A Universidade de Innsbruck e a Academia Taxiana (1740-41) ................272Os Estados Gerais da Holanda .....................................................................273Proibio do Gro-Mestre da Ordem de Malta (1740) ...............................274Advertncia do bispo de Marselha (1742) ...................................................275O Intendente de Bordeaux e a Maonaria (1742) .......................................276

    2. Perseguio da Maonaria em Viena ...........................................................277Fundao da primeira Loja em Viena ..........................................................277O prncipe-bispo de Breslau, conde de Schaffgotsch ..................................278Maria Tereza e os maons vienenses ..........................................................279Interveno do nncio e do cardeal arcebispo de Viena .............................283Instrues de Bento XIV .............................................................................286A Maonaria na diocese de Olmtz .............................................................287

    3. O Tribunal da Inquisio de Lisboa e a Maonaria ......................................291O processo de Coustos na literatura manica ...........................................291Atividade da Inquisio de Lisboa ................................................................293Denncias perante o Santo Tribunal .............................................................294Ordem de priso contra vrios maons .......................................................298

  • ARQUIVOS SECRETOS DO VATICANO E A FRANCO-MAONARIA8

    4. O Processo de Alexandre Jacques Motton...................................................299Interrogatrios iniciais ...................................................................................299Admoestao do acusado .............................................................................304Interrogatrios de genealogia, in genere e in specie .........................305Instruo das acusaes ...............................................................................307Publicao da prova de justia .....................................................................308Sesso de tortura [questionamento] .............................................................309Sentena final ................................................................................................313

    5. O Processo de Joo Thomas Brusl .............................................................316A confisso do acusado ............................................................................316Interrogatrios de genealogia e in specie ..............................................320Publicao da prova de justia .....................................................................321Sesso de tortura ..........................................................................................321Sentena final ................................................................................................322

    6. O Processo de Joo Bauptista Richard ........................................................323Interrogatrios iniciais ...................................................................................323Interrogatrio de genealogia e in specie ...............................................324Instruo das acusaes ...............................................................................325Defesa do Procurador ..................................................................................326Publicao da prova de justia .....................................................................328Sesso de tortura ..........................................................................................330Sentena final ................................................................................................331

    7. Processo de John Coustos e Lamberto Bolanger .........................................333Interrogatrios iniciais ...................................................................................333Instruo de acusaes ................................................................................336Publicao da prova de justia .....................................................................337Sesso de tortura. Sentena final .................................................................338Comutao da pena ......................................................................................339Declarao de Lamberto Bolanger ..............................................................341

    8. Incidentes Manicos em diversos pases ....................................................343Interveno de Bento XIV em Avignon (1744) ...........................................343Alerta do procurador real e do bispo de Orlans (1744) .............................344Ao da polcia de Paris (1744) ...................................................................347Inquietao do bispo de Lige (1744) ..........................................................350Resoluo do conselho de Genebra (1744) .................................................350Decreto do canto de Berna (1745) .............................................................355Decreto do consistrio de Hanver (1745) ..................................................361Atividade do intendente de Toulon (1745) ...................................................363Nova interveno da polcia de Paris (1745) ...............................................363Mandamento do bispo de Marselha .............................................................368Consulta da Sorbonne (1748) .......................................................................372Ordem do gro-sulto de Constantinopla (1748) .........................................376A Inquisio de Toledo e a Maonaria (1746-1748) ....................................377Ordem da Inquisio da Capital (1748) .......................................................379

  • NDICE 9

    4. A condenao pontifcia de Bento XIV (1751)

    1. Influncia de Npoles na deciso pontifcia ..................................................382Interveno do jesuta padre Pepe e do dominicano padre Rocco .............382A Maonaria em Npoles (1750) .................................................................383Medidas adotadas pelo governo de Carlos VII (1750) ................................384Correspondncia do nncio monsenhor Gualtieri .........................................385

    2. A constituio apostlica Providas ...............................................................387O pensamento do cardeal secretrio de Estado ..........................................387Publicao da condenao pontifcia ...........................................................388Motivos invocados para a condenao ........................................................389Comentrio do documento ............................................................................390Lambertini acusado de ser franco-maom ..................................................391

    3. Repercusso da Bula em Npoles ................................................................394Relatrios do nncio napolitano ....................................................................394Projeto de um dito antimanico do rei Carlos VII ...................................396Variantes sugeridas por Bento XIV .............................................................398Relatrio sobre a Maonaria Napolitana .....................................................399Memorial contra os maons de Npoles ......................................................402Correspondncias do nncio s vsperas do decreto real ...........................404Correspondncia do papa com o cardeal Tencin e Lonard dePort-Maurice .................................................................................................406

    4. dito do Rei de Npoles (1751) .....................................................................407Correspondncia entre Bento XIV e Carlos VII (1751) .............................407Publicao do dito .......................................................................................408Comentrio e finalidade ................................................................................409Consequncias de sua aplicao ..................................................................412Repercusso na Ilha da Siclia ......................................................................416

    5. Atitude da Maonaria Partenopeia ................................................................417Carta do Gro-Mestre, prncipe de San Severo a Sua SantidadeBento XIV .....................................................................................................417Comentrios que a carta suscitou ................................................................421Resposta do cardeal secretrio de Estado ...................................................424Atividades do nncio .....................................................................................425Documentos enviados ao papa pelo rei de Npoles ....................................427O pensamento de Bento XIV por meio de sua correspondncia como rei de Npoles ............................................................................................428

    6. Repercusses da Bula na Espanha ...............................................................432Memorial do padre Rvago ..........................................................................432Decreto e dito de Fernando VI (1751) ......................................................440Circular do Conselho do Santo Ofcio espanhol ..........................................441Resposta da Inquisio de Lima ...................................................................443Denncias voluntrias de Le Roy e de Clauwes .........................................444A Sentinela contra Franco-Maons do padre Torrubia ............................450

  • ARQUIVOS SECRETOS DO VATICANO E A FRANCO-MAONARIA1 0

    A Pastoral do bispo de Vintimille ..................................................................458A obra do frei Juan de la Madre de Dios ....................................................461Jernimo Feij e a Maonaria ......................................................................462

    7. Impacto do Documento de Bento XIV em Outros Pases ...........................466O Imprio Austro-Hngaro (1751) Adeso do Prncipe de Bandel ............466O conhecimento na Frana (1751) ...............................................................466Ordenana do Arcebispo de Avignon (1751) ...............................................467O bispo de Poitiers e a Maonaria de Chtellerault (1753) ........................468Denncia do Tribunal da Inquisio de Cpua (1752) .................................471Discursos do Pregador de Quaresma de Lucca (1753) ..............................473

    8. A Maonaria e a Inquisio Espanhola (1753-1757) ....................................474Interveno do Tribunal da Inquisio de Crdova (1753) ..........................474A Maonaria nos ditos da F (1755) .........................................................477Denncias espontneas perante a Inquisio de Sevilha (1756) ................477Denncias contra o governador de Valdvia perante a Inquisio deLima (1755-1756) .........................................................................................479Processo contra o francs Tournon perante a Inquisio deMadri (1757) .................................................................................................482

    5. A Maonaria e a Igreja na segunda metade dosculo XVIII

    1. Alguns incidentes manicos .........................................................................489Queixas do procurador de Angers (1757) ....................................................489Expulso de maons na Lombardia (1757) ..................................................490dito do bispo de Lige (1760) .....................................................................491Interveno da Inquisio no Mxico (1760-1768) .....................................492dito dos magistrados de Dantzig (1763) ....................................................493Perseguio Maonaria em Viena (1764-1766) .......................................495Medidas adotadas pelo conselho de Berna (1764) ......................................496Regras dadas ao juiz de justia de Saint-Just (1766) ...................................498

    2. A Polmica de Lunville (1770) .....................................................................498Os funerais do cura de Couvas (1770) ........................................................498Queixa do Gro-Mestre de Plombires ao bispo de Toul.Justificativa de monsenhor Drouas ..............................................................499Resposta do Gro-Mestre ............................................................................500Soluo imposta pelos juzes .........................................................................502

    3. Trs aspectos de um mesmo problema .........................................................503Perseguio aos maons na Ilha da Madeira (1770) ..................................503Sua motivao autntica ...............................................................................504Proibio do governo de Berna (1770). Queixas do vigrio-geral deLisboa (1771) ................................................................................................505

  • NDICE 1 1

    Medidas adotadas pelo governador da cidade .............................................5064. A Universidade de Louvain e a Maonaria...................................................506

    Fundao de uma Loja para estudantes da Faculdade de Direito ..............506Investigao da autoridade acadmica ........................................................507Sentena do Reitor Magnfico ......................................................................507Apelo dos estudantes imperatriz ................................................................507Relatrio do Reitor para Sua Majestade a Rainha ......................................508Deliberao do conselho ............................................................................... 511Proibio da Maonaria pela Universidade (1774) .....................................512Reao da Maonaria Belga ........................................................................514Carta de um doutor em teologia da Universidade de Louvain a umestudante de direito da mesma universidade sobre a Maonaria ................515

    5. Interveno de Altos Eclesisticos ................................................................517O cardeal arcebispo de Malines e a questo manica (1777) ..................517Proibio do prncipe-bispo de Hildesheim (1775)Ao do Inquisidor de Avignon (1775) .........................................................519Recusa do bispo de Luon (1776) ................................................................520Hostilidade do bispo de Quimper (1776) ......................................................521Defesa do arcebispo de Tours (1776) ..........................................................524Procedimento do inquisidor de Lima (1773-1777) .......................................526

    6. A Maonaria em Npoles na poca de Fernando IV ..................................533Descoberta de uma Loja no corpo de Cadetes ...........................................533 Correspondncias de Carlos III com Fernando IV e com Tanucci ...........534Maria Carolina e o embaixador em Turim. Proteo Maonaria pela rainha ..................................................................................535dito de proibio da Maonaria (1775) ......................................................537Reao dos maons napolitanos ...................................................................539

    7. O Processo contra a Maonaria de Npoles ................................................540Tanucci obedece s ordens de Carlos III ....................................................540Pallante e a Loja descoberta por ele ............................................................541Interveno do nncio em Npoles ..............................................................543Impresso causada no rei de Espanha .........................................................544Defesa do advogado Lioy .............................................................................545Memorial justificativo da conduta de Pallante .............................................547

    8. O Desfecho do Caso dos Franco-Maons Napolitanos ...............................549A queda de Tanucci ......................................................................................549Descoberta da farsa da Justia ....................................................................550Liberdade dos maons em julgamento .........................................................551Fernando IV informa o rei da Espanha........................................................552A ao de Pallante desmascarada ............................................................553Procedimentos do embaixador em Paris em favor de Lioy ........................554Deciso real definitiva ..................................................................................556

  • ARQUIVOS SECRETOS DO VATICANO E A FRANCO-MAONARIA1 2

    6. Panorama do ltimo Quarto de Sculo

    1. Presena da Maonaria Estrangeira na Espanha .........................................558A Inquisio de Sevilha e a Maonaria ........................................................558Atividade do comissrio de Cdiz ................................................................558

    2. O Incidente de Aix-la-chapelle (1779) ..........................................................563Proibio da Maonaria pelo magistrado da cidade. Pregaes deQuaresma antimanicas. ............................................................................563Repercusso no Grande Oriente da Frana ................................................565Carta de um maom prussiano .....................................................................565

    3. Dificuldades Encontradas pela Maonaria ...................................................568Causa inquisitorial em Manila (1780) ...........................................................568A Inquisio de Veneza e a Maonaria (1780) ............................................568Interveno da rainha de Npoles e de suas irms Maria Ana, MariaAntonieta e Maria Cristina. ..........................................................................570Proibio da Maonaria em Berna e Genebra (1782), Mnaco (1784),Baviera (1784) e Bade (1785). .....................................................................572Incidentes em Rouen, Paris e Chambry (1783-1787) ................................574A Maonaria no Imprio Austro-Hngaro de Jos II (1785-1786) ............574

    4. Diversos Aspectos Antimanicos da Inquisio .........................................578Descoberta de uma Loja pela Inquisio daRepblica de Veneza (1785) .........................................................................578Processo da Inquisio do Mxico contra o venezianoFabris (1785) .................................................................................................581Papis recolhidos na Espanha (1790) ..........................................................588Memorial endereado ao secretrio de Estadoda Sardenha (1790) .......................................................................................591Controle da Inquisio romana (1790) .........................................................592

    5. Alguns Processos Famosos ...........................................................................595Processo em Roma do conde de Cagliostro e seus discpulos (1791) ........595Processo de Inquisio de Foligno contra Fontana (1792) ..........................600Precaues da Inquisio veneziana (1793) ................................................602Processo da Inquisio do Mxico contra Burdales (1793-1794) ..............604Processo da Inquisio do Mxico contra Laussel (1794) ..........................608

    6. A Maonaria nos ltimos anos do sculo XVIII ...........................................613A Maonaria na imprensa de Paris (1796) ..................................................613Relatrios da polcia francesa (1798) ...........................................................614Medidas adotadas pelo imperador da Alemanha, Francisco II; o rei daSardenha, Victor Amadeu; e o imperador da Rssia, Paulo I (1794). ........616Frederico Guilherme III da Prssia e a Maonaria (1798) .........................616Lei do Parlamento da Inglaterra sobre as sociedades secretas (1799) ......619

  • NDICE 1 3

    7. Atitude da Maonaria emrelao Igreja

    1. O sentido religioso da Maonaria ..................................................................621Presena catlica nas Lojas .........................................................................621Obrigao de um Venervel do sculo XVIII .............................................622Celebraes das Festas Patronais ................................................................623Servios fnebres manicos .......................................................................629

    2. A Benemerncia Manica ...........................................................................633Ajuda por meio das instituies eclesisticas ..............................................633Repercusses benficas dos acontecimentos da famlia real .....................634Diversos aspectos da ao filantrpica ........................................................638Participao nas obras de caridade paroquiais ............................................640

    3. O Clero Franco-Maom ...............................................................................641Presena do clero catlico nas Lojas Manicas ........................................641O problema que se coloca ............................................................................643Eclesisticos Venerveis e fundadores de Lojas .........................................643Os padres maons e a Revoluo Francesa ...............................................651Tentativa de explicao ................................................................................656Deveres em relao a Deus e Religio ....................................................656Deveres acerca do soberano e da ptria. ....................................................657

    4. Catlogo do Clero Maom do Sculo XVIII ................................................659A vida nas Lojas ...........................................................................................659

    Concluso ...........................................................................................................667Apndice .............................................................................................................673Inventrio geral alfabtico dos membros do clero pertencentes sLojas Manicas do sculo XVIII .....................................................................684

  • ARQUIVOS SECRETOS DO VATICANO E A FRANCO-MAONARIA1 4

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    Prefcio da 5 edio(2 edio francesa)

    Esta obra resume uma tese de doutorado em oito volumes defendida em1972, na Universidade de Saragoa (Espanha). Vrias edies deste livro j fo-ram publicadas, especialmente em Caracas, Madri e Paris. Este estudo histrico,baseado em documentos do sculo XVIII, que podem ser consultados em nume-rosos arquivos e bibliotecas europeias e latino-americanas, revela-nos a Franco-Maonaria* das Luzes, tal qual ela era realmente e no como quiseram v-la apartir do sculo XIX ou ainda como alguns a apresentam hoje em dia. Trata-seaqui da Franco-Maonaria majoritria. Ns descartamos os grupos mais ou me-nos particulares, como o crculo mstico-esotrico de Lyon e o grupo poltico-ocultista dos iluministas bvaros de Weishaupt com seus partidrios, que algumasescolas historiogrficas como Firenze de Francovich e seus discpulos, entreoutros , tentaram elevar categoria de casos generais. Esta abordagem contrastacom a de Forestier, que limitou claramente o objeto de suas pesquisas Franco-Maonaria Templria e Ocultista.

    Com seu modo de vida simples, suas vises grandiosas, sua fidelidade monarquia e suas vinculaes religiosas na Europa catlica e protestante da po-ca, sem falar de sua composio social especfica, mais prxima da nobreza queda burguesia, a Franco-Maonaria do sculo XVIII tem poucos traos comunscom a nova Maonaria continental do sculo seguinte. Aps a Revoluo France-sa, esta nova Maonaria se coloca, a princpio, a servio de Napoleo Bonapartee, depois, por ocasio das revolues no incio do sculo, aproxima-se do liberalis-mo republicano com seus ideais de liberdade dos indivduos e de independnciados povos. No decorrer do sculo XIX, esses ideais vo adquirir progressivamente,sobretudo dentro da Maonaria francesa e sua zona de influncia, uma coloraocada vez mais laica, e at mesmo anticlerical. Esta situao no existia no sculoXVIII e suscitou muitas tentativas de explicao quase sempre tendenciosas epouco convincentes.

    Alm dos documentos que se encontram nos arquivos secretos do Vaticano**e da Inquisio, particularmente nos de Madri, Lisboa e Mxico, as principaisfontes deste livro vm dos arquivos nacionais e manicos de vrios pases euro-peus: Alemanha, ustria, Itlia, Portugal, Holanda, Blgica, Sua, Inglaterra,Frana... Os arquivos da Franco-Maonaria, conservados no Gabinete dos Ma-nuscritos da Biblioteca Nacional de Paris, dispem de documentos preciosos evariados, cuja importncia j foi destacada por historiadores, como Le Bihan,Chevallier, Ligou, Agulhon, Luquet, Ladret, Amiable, Dor, Bernheim e muitosoutros. Nos ltimos anos, essas fontes chamaram a ateno de pesquisadores comoCoutura, Taillefer, Beaurepaire, Halevy, Saunier, Porset, Lamarque, Mollier,

    *Sugerimos a leitura de Maonaria Escola de Mistrios, de Wagner Veneziani Costa, Madras Editora.** Para saber mais sobre o assunto leia Enigmas do Vaticano, de Alfredo Lissoni, Madras Editora.

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    Lassalle, Combes, Bacot, Lefevbre, Debrosse, Masgnaud, Dachez, Pistre, Faucher,Gayot, Hivert-Messeca, Ferro,1 etc.

    A estes preciso acrescentar uma vez catalogados e colocados disposiodos pesquisadores os arquivos manicos recentemente recuperados pelo GrandeOriente da Frana, que haviam sido confiscados pela Alemanha, quando de suachegada a Paris durante a Segunda Guerra Mundial. Esses arquivos foram enviados Alemanha, depois tomados pelos soviticos e agora devolvidos pelos russos.

    Este livro tem o objetivo de estudar as relaes difceis entre a IgrejaCatlica e a Franco-Maonaria europeia e latino-americana no sculo XVIII. Oenfoque destaca especialmente as motivaes polticas das primeiras condena-es pontifcias. Apesar das pesquisas mais recentes, amplamente baseadas nosdocumentos que ns utilizamos e nas teses que defendemos, esta reedio mantmsua atualidade e seu interesse. Ns, portanto, nos limitamos, em nosso captulofinal dedicado ao clero catlico manico, a integrar os dados estatsticos reveladospor esses estudos recentes. Os mesmos permitem efetivamente completar o ndicegeral alfabtico dos membros do clero pertencentes s Lojas manicas do sculoXVIII, acrescentando vrias centenas de nomes, para chegar a um total superior a3 mil. Referimo-nos principalmente aos trabalhos de ric Saunier, Johel Coutura,F. Masgnaud, Daniel Ligou, Jean-Paul Lefevbre-Filleau, etc. Publicados depoisde 1978, esses trabalhos no foram integrados edio anterior. Embora encon-tremos padres e bispos franco-maons em quase todos os pases ocidentais, amaioria deles de franceses, constituindo cerca de 10% da Franco-Maonariadesse pas naquela poca. Sem dvida, essa presena importante de um cleromanico levanta muitas questes para algumas pessoas...

    Alm disso, a atualidade deste livro resulta de uma abordagem que, delibera-damente, ignora as polmicas mais recentes a respeito das origens da Franco-Mao-naria Especulativa, por um lado,2 e sobre o papel desempenhado pelos franco-ma-ons na preparao e no desenvolvimento da Revoluo Francesa, por outro lado.3

    Eu me dedico a esses debates na nova edio da minha Bibliografia de laMasonera [Bibliografia da Maonaria] (Madri 2001). Um volume suplementarveio completar a edio de 1978, que contava com 6 mil ttulos. Esse novo volu-me, referente ao perodo de 1978-2001, contm mais de 10 mil ttulos.

    1. Em seus estudos sobre os padres franco-maons de Portugal, Pedro Joo Ferro utiliza comofonte principal seu mestre Oliveira Marques. Este ltimo, na maioria das vezes, no cita as Lojasde filiao, ao contrrio dos autores franceses consultados que dispem de arquivos melhores emais completos.2. A de Stevenson versus Hamill, ou da Esccia contra a Inglaterra. Trata-se nesse caso de umponto muito sensvel do outro lado do Canal da Mancha, no mbito de uma nova disputa pelospoderes e as influncias manicas internacionais onde a Frana toma partido em favor da Esccia,de preferncia Inglaterra, com as notveis intervenes de Dachez e Boudignon, entre outros.3. Aqui, reduzindo a duas grandes tendncias as diversas posies histrico-filosficas, podemosmencionar a controvrsia entre Poset e Ligou, ou ainda entre Chapuisset Le Merle e Porset.

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    De qualquer maneira, a leitura desta obra, Arquivos Secretos do Vaticanoe a Franco-Maonaria, ajuda a esclarecer e compreender a situao da Fran-co-Maonaria Europeia antes e durante a Revoluo Francesa. Eu gostaria ape-nas de destacar a importncia e o carter relativamente novo de uma abordagemda Franco-Maonaria, no desde uma perspectiva local, regional ou nacional, maseuropeia, e at mesmo universal, aqui sinnimo de ocidental, em uma poca emque a Franco-Maonaria ainda no havia sido implantada em alguns pases. Essaabordagem permite assim deixar de lado os aspectos mais particulares e melhorcompreender os que so comuns a pases como Itlia, Portugal, ustria, Alema-nha, Espanha, Holanda, Sua, etc. Esses traos nos ajudam a entender e situar oque aconteceu na Maonaria Francesa ou Inglesa do sculo XVIII, sem conside-rar as lutas de influncias internas e as interpretaes do sculo seguinte. Estas,de fato, se distanciam muito desse fenmeno de sociabilidade que constitua aFranco-Maonaria das Luzes. Alguns elementos fundamentais particularmente areligiosidade e a crena quase deveriam desaparecer no sculo XIX, tornando,assim, mais difcil a compreenso daquilo que foram e que fizeram os franco-maons no sculo anterior.

    O Autor

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    Prefcio do Autor

    O trabalho do historiador deve concentrar-se em buscar, nos protagonistasda Histria, uma razo ltima, uma razo nobre ou, pelo menos, uma razo huma-na. No se trata aqui, bem entendido, de conceder uma validade idntica a todasessas razes. Mas nunca ser demais destacar que todo homem assim como todaorganizao ou partido poltico tem suas razes, que cabe ao historiador des-cobrir e evidenciar.

    Por outro lado, do estudo da histria devemos extrair algo mais que a satis-fao da curiosidade pelos fatos ocorridos em outras pocas. H outros valores,como o conhecimento dos elementos que constituram a sociedade, no fato desaber como se encadeiam as circunstncias que influram sobre seus avanos eseus retrocessos, ou simplesmente constatar a confirmao irrevogvel das verda-des e dos preceitos da moral universal. No basta contentar-se, consequentemen-te, de contar os acontecimentos tais como ocorreram em sua poca. Os fatos queo historiador conta se situam em outro sculo, mas somos ns que sofremos ainfluncia das ideias e das razes de nosso tempo, ns que devemos julg-las.Para poder explicar como um determinado fato aconteceu de uma certa maneira,em um dado momento, preciso adaptar-se mentalidade do sculo pesquisado,isto , integrar-se nas aspiraes, necessidades, ideais da gerao que viveu na-quele exato momento, e compreender a evoluo e interdependncia dos fatoshistricos, o costume e a moral da Sociedade. interessante lembrar o que disseLeo XIII em sua Bula Papal, de 18 de agosto de 1883, sobre os estudos histricos.Ele afirmou que necessrio se esforar energicamente para refutar as mentirase inexatides recorrentes das fontes. necessrio principalmente ter presente noesprito que a primeira lei da histria jamais ousar mentir e a segunda ousardizer a verdade.4

    O sculo XVIII no foi somente a poca em que triunfou a revoluo atln-tica, mas principalmente um momento de transio entre o pensamento teolgicoe o positivo, entre uma filosofia do absoluto e uma filosofia da histria.5 O sculoXVIII no aboliu o sobrenatural, limitou-se a racionaliz-lo. No foi sequerirreligioso. Foi um sculo que, apesar de ter sido por essncia o sculo do Esp-rito, do livre pensamento,6 ao mesmo tempo teve uma forte inclinao para oextraordinrio, o maravilhoso, o misterioso e o secreto. O que no representounenhum obstculo para que de todas as partes surgisse um vasto movimento rumoao ideal de liberdade, igualdade e, de uma certa maneira, de fraternidade.7

    4. Enitendum levitati magnopere, ut omnia ementia et falsa, adeundis rerum fortibus refutentur. Etillud in primis scribentium observetur animo: primam esse historia legem ne quid falsi dicereaudeant; deinde ne quid veri non audaet. Leo XIII, De Studs historicis, 18 de agosto de 1883.Na verdade, essas palavras foram tomadas de Ccero, De Oratore, II, XV.5. Mauzi R., Lide de bonheur au XVIIIe sicle [A Ideia de Felicidade no Sculo XVIII], Paris,Colin, 1960, p. 12.6. Nys E., Ides modernes. Droit International et Franc-Maonnerie [Ideias Modernas. DireitoInternacional e Franco-Maonaria], Bruxelas, Weissenbruch, 1908, p. 33.7. Algumas pessoas chegaram a afirmar que as palavras Liberdade, Igualdade, Fraternidade, divisa

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    neste sentido que se deveria considerar o surgimento de uma organizao,a Franco-Maonaria, que no sculo XVIII partilhou intimamente de todas essascaractersticas, e da talvez o pensamento comum de que sua histria tenha sidoalgo totalmente parte da histria ordinria. Abstrao feita questo de saber sea histria da Franco-Maonaria um ramo da histria social, como afirmam Knoope Jones,8 no h dvida alguma de que no sculo XVIII ela cumpriu um papel cujaimportncia difcil de avaliar. Isso se deve em parte grande ignorncia queexiste, em geral, sobre a Ordem do Grande Arquiteto do Universo, e, por outrolado, ao esprito polmico com o qual frequentemente foi tratada a questo.

    J em 1923, na revista manica espanhola Latomia, falando exatamentesobre a Histria da Maonaria Espanhola, algum j acusava essa falha e afirma-va que, se os ataques eram banais, as apologias no eram mais que medianas.9 por isso que as pessoas se limitavam a desejar diante da carncia de uma autnticaHistria manica um estudo no qual, com uma relativa ordem dos materiaisdispersos, fossem evitadas as afirmaes duvidosas e os fatos sem provas. Umahistria, enfim, livre de mitos e desembaraada de teses aventureiras, mas princi-palmente escrita de acordo com a verdade. Essa verdade qual o historiador devededicar-se como disse Tcito e em honra da qual ele deve falar, sem amor esem dio.

    Uma das falhas mais comuns da historiografia manica, tanto no chamadogrupo dos apologistas como no dos difamadores, foi a de tratar o adversrio comoinduzido em erros monumentais, ou culpado de alguma inaptido especial. O pro-cedimento, parte sua indigncia, no deixa de ser extremamente inconsequente.Em Histria no se deve falar de bons e maus.

    Essa a razo pela qual uma das primeiras tarefas que se impe quando oassunto Maonaria retirar do terreno os espinhos e o matagal que o recobremh mais de dois sculos, quer dizer, as explicaes falsas, as lendas e at mesmoas calnias, pois o nmero de obras consagradas a esse tema esmagador. S aBibliographie der freimaurerisehen Literatur, de August Wolfstieg, contm mais

    da Repblica Francesa contempornea, eram de inspirao manica. Segundo Jean Baylot, uma lenda na qual um grande nmero de pessoas ainda acredita, j que a tripla divisa no data daRevoluo de 1789, que s conheceu como divisa as palavras: Liberdade, Igualdade ou a Morte.A palavra Fraternidade somente foi acrescentada em 1848. Em algumas Lojas manicas, essatripla aclamao ritualista s foi introduzida sob a Terceira Repblica Francesa. Cf. Baylot J.,Dossier franais de la Franc-Maonnerie rgulire [Dossi Francs da Franco-Maonaria Regular].Paris, Vitiano 1965, 94-95. Amadou R., Libert, galit, Fraternit: La Devise rpublicaine etla Franc-Maonnerie [Liberdade, Igualdade, Fraternidade: A Divisa Republicana e a Franco-Maonaria]. Paris, Renaissance Traditionnelle, 1974. 2-25; (1975) 23-37.8. Knoop-Jones, The Genesis of Free-Masonry [A Gnese da Franco-Maonaria]. Manchester,University Press, 1949, p. V.9. Annimo, Historia sucinta de la Masoneria espaola, Latomia, Madri, III, 1923. 76-77: E no que acusemos de parcialidade uns e outros. Ao contrrio, a imparcialidade em Histria umacoisa to pouco concebvel quanto o vcuo na Fsica. Ela parece um pouco com a nulidade. Todosos homens tm suas tendncias, suas perspectivas naturais, suas paixes. Mas existe a perspectivada guia e a do grilo. Existe paixo e paixes das mais diversas qualidades.

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    de 50 mil ttulos.10 Por outro lado, a oposio das teses, quer se trate de historia-dores maons e ou de historiadores no maons, tamanha que a confuso serenorme, se as pessoas no se apoiarem no que seguro e slido, quer dizer, nosdocumentos que, certamente, no so assim to raros como normalmente se acre-dita. Porm, reconstruir o passado da Franco-Maonaria no tarefa muito fcil,por causa do segredo que s vezes envolve sua origem e seu desenvolvimentoprimitivo, e tambm pela variedade das formas com as quais ela foi se revestindoao se adaptar identidade de cada pas.

    Exatamente este segredo, mais fictcio que real, esteve na origem de umaescola histrica, que, acreditando no poder oculto e nos superiores desconhecidos,conseguia explicar tudo literalmente, sem que fosse necessrio apresentar provasde apoio. Quando algo no era compreendido, respondia-se que isso no se podiacompreender e se tentava provar a existncia do poder oculto, exatamente por-que, por definio, o mesmo era indemonstrvel. E essa falta de provas acabavase convertendo em uma demonstrao. No de estranhar que grande parte dosautores que se ocuparam da Franco-Maonaria, quer sejam maons ou no, pou-co tenha utilizado as fontes documentadas, recorrendo ao uso quase constante dehipteses, em vez de fornecer fatos positivos. Consequentemente, o grande pbli-co e os historiadores em geral, de fato, sabem muito poucas coisas a respeito daFranco-Maonaria, sua histria, suas tendncias e suas intenes reais. Essa foiuma das razes pelas quais, mesmo tendo conscincia das dificuldades a enfren-tar e as crticas a receber, nas pginas a seguir, o mtodo utilizado talvez levadoao extremo foi o do aporte detalhado e cronolgico dos fatos apoiados pordocumentos cuja anlise e recapitulao so suficientemente eloquentes e instru-tivas, evitando qualquer comentrio que possa deform-los ou descaracteriz-los.

    O objetivo deste estudo , portanto, oferecer uma viso da histria da Fran-co-Maonaria no sculo XVIII, essa Maonaria da qual se ocupam to frequen-temente as histrias, tanto da Espanha como dos outros pases, constatando suapresena e suas atividades poltico-religiosas, e qual so atribudas ligaes compersonalidades-chave da poltica nacional e estrangeira. Atividades e ligaessuficientemente difusas ou sem provas para suscitar obrigatoriamente uma sriede questes s quais este trabalho tenta responder. A primeira consiste em nosperguntarmos o que era a Franco-Maonaria nessa poca. A essa se juntam ou-tras como: qual sua participao na poltica? Qual foi sua influncia nos assuntosreligiosos? Que esprito animava essa associao? Qual era sua ideologia? Porque seu segredo? E principalmente qual a razo das condenaes pontifcias equais repercusses elas tiveram sobre as proibies posteriores?

    Considerando as ideias dominantes da historiografia espanhola a respeito daMaonaria, baseadas e justificadas em uma realidade muito concreta e amplamente

    10. Wolfstieg A., Bibliographie der freimaurerischen Literatur [Bibliografia da Literatura Franco-Manica]. Burg, 1926, Vol 3.

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    conhecida, durante os sculos XIX e XX, tornava-se igualmente imperioso saberat que ponto se podem aplicar essas realidades do sculo XIX ao sculo das Luzes.Ou, em outras palavras, at que ponto a Maonaria que conheceu e sofreu a Espa-nha dos sculos XIX e XX da qual existem mltiplas provas das atividades polti-co-religiosas foi a mesma que a do sculo XVIII, da qual quase nada era sabido,embora muito lhe fosse atribudo.

    Para obter uma resposta satisfatria a todas essas questes era indispensvelestudar sua organizao, no apenas na Espanha,11 mas dentro de sua realidadeeuropeia, da qual, no fim das contas, ela fazia parte. Isso me levou anlise dasorigens da Franco-Maonaria, de sua difuso pela Europa, do impacto e das rea-es que ela provocou no meio polticos, nos meios eclesisticos e sociais dosculo XVIII.

    E tendo em vista o tom religioso com que a histria cercou os comportamen-tos manicos no sculo XVIII, era preciso dar uma ateno especial ao aspecto dasrelaes entre a Igreja Catlica e essa organizao, a fim de descobrir as derradeirasrazes da primeira condenao pontifcia, objeto principal deste estudo.

    Para situar essa condenao em um contexto histrico que ajude a compreen-der sua motivao e seu alcance, esforcei-me para assinalar, sempre que possvel,os atos que provocaram aquilo que chamamos de enfrentamento entre a Igreja e aMaonaria, no sculo XVIII, fornecendo uma relao detalhada de fatos seme-lhantes, provenientes das igrejas reformadas e, principalmente, dos diversos pasese governos europeus, muito diferentes em suas ideologias, no somente polticasmas tambm religiosas.

    Considerando que o presente trabalho foi o resultado de um estudo prolonga-do nos principais arquivos e bibliotecas da Europa,12 que me permitiram buscar elocalizar documentos e peas bibliogrficas da poca, com autenticidade garantida e sem a existncia das quais ele no se justificaria , o mtodo seguido se baseiaprincipalmente na apresentao desses dados, correspondncias e documentos pou-co conhecidos, de onde, por intermdio de sua leitura, as concluses surgiroespontaneamente. Da mesma forma, a prpria histria da Maonaria europeiano sculo das Luzes, e sua identidade verdadeira e sua finalidade, sua autnticaimplicao religiosa, vo tomando corpo pouco a pouco, por meio de uma srie defatos que talvez sejam desconcertantes, exatamente porque eles tentam ser objetivos esem paixes.

    No segredo para ningum que existe a necessidade, cada vez mais urgen-te, de rever tantas posies estereotipadas, no s no domnio eclesistico, mastambm no histrico. Tambm no um segredo, da mesma forma, que a reforma

    11. Sobre esse assunto, cf. meu estudo recente: La Masoneria espaola en el siglo XVIII [AMaonaria Espanhola no Sculo XVIII], Madri: Sculo XXI, 1974, 507 pp., 2 ed. 1986.12. De maneira especial, preciso assinalar o valor da documentao proveniente dos ArquivosSecretos do Vaticano e de outros arquivos no menos secretos, tanto os da Inquisio como os daprpria Franco-Maonaria.

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    do direito cannico est bem avanada, esse direito que ainda hoje pune comgraves penas a filiao ou a participao nas Lojas manicas.13

    J no Vaticano II, essa questo foi levantada. Desde ento se sucederamcolquios, entrevistas e estudos, em uma srie ininterrupta, reunindo especialistasno assunto e altas autoridades eclesisticas, a fim de passar a limpo uma situaoque, embora pertencesse a um passado bem distante, teve e continua a ter reper-cusses dolorosas e nem sempre suportveis em nossos dias.

    Em um assunto que sempre, mesmo atualmente, despertou interesse e le-vantou paixes, a nica inteno que me animou foi fazer histria, isto , dizer averdade, seja ela qual for, omitindo as teses ou as hipteses. Esse trabalho, por-tanto, no nasceu do esprito polmico nem de uma atitude preconcebida. Eletambm no foi imaginado como uma apologia, mas como vindo da necessidadede exprimir e consagrar, em um plano cientfico, uma fase caracterstica da hist-ria poltico-eclesistica do sculo XVIII, e um aporte a mais para ajudar a com-preender e a esclarecer um dos problemas cuja reviso envolve ao mesmo tempoa Igreja e a cincia histrica.

    Servir verdade servus veri prestar servio ao mesmo tempo Histriada Igreja e Histria Geral do sculo das Luzes, no qual a Ordem do GrandeArquiteto do Universo um dos aspectos mais originais e tambm um dos maisdesconhecidos.

    13. A ttulo de informao sobre essa questo, cf. meu livro: La Masoneria despus del Concilio[A Maonaria depois do Conclio] Barcelona, A.H.R., 1968, 380 pp., e meu trabalho: Los Catlicosy la Masoneria [Os Catlicos e a Maonaria]. Madri, Vida Nueva, n 966, 25 de janeiro de 1975.

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    Abreviaes

    L Loja.O Oriente.A Aprendiz.C Companheiro.V Venervel.M Mestre.F M ou ainda M Franco-Maonaria, Franc-Maonnerie, Free-Masonry,

    Franc-Masoneria, Freimaurerei.A.C.F. Arquivos Capitulares Foligno.A.D.G. Arquivos Departamentais da Gironda, Bordeaux.A.D.P. Arquivos Diplomticos, Paris (Ministrio das Relaes Exteriores).A.E.E.R. Arquivos da Embaixada Espanhola em Roma (Ministrio das Re-

    laes Exteriores, Madri).A.E.G. Arquivos do Estado, Genebra.A.G.B. Arquivos Gerais do Reino, Bruxelas.A.G.M. Arquivos Gerais, Mxico.A.G.P. Arquivos Gerais do Palcio, Madri.A.G.S. Arquivos Gerais de Simancas.A.H.E.W. Ato Histrico-Eclesistico, Weimar.A.L. Thory, Acta Latomorum, Paris 1815.A.N.L. Arquivos Nacionais da Torre do Tombo, Lisboa.A.N.P. Arquivos Nacionais, Paris.A.Q.C. Ars Quator Coronation, Londres.A.S.F. Arquivos do Estado, Florena.A.S.G. Arquivos do Estado, Genebra.A.S.L. Arquivos do Estado, Lucques.A.S.N. Arquivos do Estado, Npoles.A.S.V. Arquivos Secretos do Vaticano.A.V.S. Arquivos do Estado, Veneza.B.A.C. Biblioteca de Autores Catlicos, Madri.B.A.E. Biblioteca de Autores Espanhis, Madri.B.A.P. Biblioteca do Arsenal, Paris.B.A.V. Biblioteca Apostlica Vaticana.B.C.A. Biblioteca do Museu Calvet, Avignon.B.C.R. Biblioteca Corsiniana e da Academia dos Lincei, Roma.B.D.E. Biblioteca de Epernay, Epernay.B.H.V.P. Biblioteca Histrica da Cidade de Paris, Paris.B.M.L. British Museum, Londres.B.N.L. Biblioteca Nacional, Lisboa.B.N.M. Biblioteca Nacional, MadriB.N.P. Biblioteca Nacional, Paris.

    ~

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    B.P.G. Biblioteca Pblica e Universitria, Genebra.CivCatt. Civilt Cattolica (La), Roma.C.S.I.C. Conselho Superior de Investigaes Cientficas, Madri.G.A.D.U. Grande Arquiteto do Universo.G.L. Grande Loja.G.L.N. Grande Loja Nacional.G.L.N.F. Grande Loja Nacional Francesa.G.M. Gro-Mestre.G.O. Grande Oriente.H.H.S.W. Haus-Hof e Arquivo do Estado, Viena.P.U.F. Presses Universitaires de France [Imprensa Universitria da Fran

    a], Paris.R.I.S.S. Revista Internacional das Sociedades Secretas, Paris.S.K.B. Arquivos do Estado dos Cantes, Berna.S.R.E. Da Santa Igreja de Roma.

    Nota: Ao longo de todo o trabalho, os franco-maons so designados indis-tintamente segundo as diversas acepes nacionais: Frammassoni, Francmasones,Francs-Maons, Free-Masons, Frey-Massons, Freymaurern, Frey-Metzelers,Frimureriet, Liberi Muratori, Libres Muradores, Muradores, Pedreiros Livres,Vrye Metzelaars.

  • 2 5

    Introduo

    1. O que a Franco-Maonaria?

    Teorias e lendas a respeito de sua origem

    Os primeiros historiadores da Ordem, os Anderson, Desaguliers, Ramsay,Lalande, etc, ao buscar as origens da Maonaria, inventaram lendas sobre suacriao, esperando dessa maneira lhe dar uma certa nobreza. Era essa a menta-lidade do sculo, a poca da grandeza. Eles queriam que sua associao tivesseuma origem nobre. Cegos pela vaidade e pela ambio de remontar a gnese dainstituio a uma alta antiguidade, houve escritores que se deixaram induzir emerro pela analogia existente entre os smbolos e os costumes das Lojas e os dosantigos mistrios. Em vez de procurar a maneira como essas prticas foramintroduzidas na Franco-Maonaria, eles se apoiaram em hipteses para convert-lasna prpria origem da instituio, considerando-as como indicao certa de filiaodireta.

    Naturalmente, tantas alegorias, tantos ritos diversos deviam dar margem paratodo tipo de interpretaes. Para uns (os maons bblicos), a Maonaria teve suaorigem no Templo de Salomo* e na Fraternidade dos Obreiros Construtores.Para outros (os maons templrios), ela surgiria das cruzadas ou da Ordem doTemplo. Outros ainda creem que a Maonaria uma imitao dos Mistrios doEgito e da Prsia. Finalmente, no poderiam faltar aqueles que derivam os LiberiMuratori como eles eram chamados no sculo XVIII dos terapeutas, dosessnios, dos maniquestas, dos druidas, dos gnsticos, dos albigenses e at mes-mo dos luciferianos, dos ismaelitas, dos socinianos, dos franco-juzes e dos ofitas.

    Assim no de se admirar que tenham sido citadas como fundadores daMaonaria pessoas to diferentes como Jlio Csar, Moiss, Bacon, Socin,Hiram**, No, Godofredo de Bulhes, Ashmole, o rei Arthur, Alexandre, o Gran-de... e at mesmo Ado.14 J no sculo XVIII, Enoch, que muito simplesmente sedava o ttulo de Verdadeiro Maom, esforava-se para provar que os filhos deSeth se reuniram na primeira Loja, sob a presidncia do Arcanjo So Miguel.15

    * Sugerimos a leitura de As Chaves de Salomo, de Ralph Ellis, Madras Editora.** Para saber mais sobre o assunto leia O Livro de Hiram, de Christopher Knight e Robert Lomas,e Girando a Chave de Hiram, ambos da Madras Editora.14. Outros supostos fundadores da F.M. citados por uma determinada pseudoliteratura so: Arobav(imperador mongol); Augusto; imperador Carasius; Christopher Wren; Cromwell; a rainha Elfrida daInglaterra; Erwin de Steinbach; Fo-Hi (imperador da China); o rei Haroldo; Ingon, rei da Sucia; James,rei da Inglaterra; Jacques Molay; Jesus Cristo; Numa; Ormuzd; Phaleg, arquiteto da torre de Babel;Pedro, o Eremita; Ricardo Corao de Leo; Rmulo; Salomo; Santo Albano; Tubalcain; etc.15. Enoch, Le vrai Franc-Maon qui donne lorigine et le but de la F.M. [Enoch, O VerdadeiroFranco-Maom que d a Origem e o Objetivo da F.M.]. Lige, 1773. 75.

  • ARQUIVOS SECRETOS DO VATICANO E A FRANCO-MAONARIA2 6

    Bernardin,16 em sua obra Anotaes para Servir Histria da Franco-Maonaria em Nancy, descobriu, aps ter examinado 206 obras que tratavamdas origens da Maonaria, 39 opinies diversas, algumas delas to originais quan-to aquelas que descendem a Maonaria dos primeiros cristos ou do prprio JesusCristo, de Zoroastro, dos magos ou dos jesutas. Para no citar as teorias maisconhecidas aquelas que chamamos de clssicas que remontam a Franco-Maonaria aos templrios, aos rosa-cruzes ou aos judeus17.

    Toda a dificuldade que existe a respeito da origem da Maonaria, e a razodas trevas que a rodeiam, deve-se simplesmente ao fato de que uns e outros, fas-cinados por uma fraseologia caduca e por afirmaes categricas, querem procu-rar a origem onde ela no est. Ou, como afirma Sbigoli, seria preciso encontrar acausa no segredo em que ela se esconde, nos smbolos de que ela se nutre, nodio, no amor ou no fanatismo, no desejo de engrandecer a organizao exage-rando sua antiguidade, seu poder, e a estima que lhe devotam no somente osnefitos mas tambm o vulgo profano.18 Tudo isso levou os historiadores da Ma-onaria a pesquisar sua origem nos sculos mais distantes.

    a vaidade que estabelece como mxima que quanto mais distante no pas-sado estiver a origem de qualquer coisa ou de algum, mais evidente fica a provade sua grandeza e de seu mrito. E a opinio pblica, que se entrega de bom gradoa todas as iluses do esprito humano, consagrou essa ideia, como se o riacho, quese perde no oceano, pudesse enobrecer-se a cem lguas de sua embocadura. Cer-tos historiadores, tanto maons como profanos, caram nesse erro, embora evi-dentemente eles estejam muito pouco de acordo sobre sua origem verdadeira,ainda que seja certo que essa mesma dificuldade para localizar sua origem emuma poca concreta seja com certeza a garantia, segundo Vernhes, da antiguidadede sua instituio.19

    fato comprovado que o homem, instintivamente, deseja se sentir cercado eapoiado por seus semelhantes. Para isso, ele recorre a associaes que defendem

    16. Bernardin Ch., Notes pour servir lhistoire de la F.M. Nancy jusquen 1805 [Anotaes paraServir Histria da F.M. em Nancy at 1805, Nancy, 1909. 15.17. Entre eles, 28 autores atriburam as origens da F.M. aos pedreiros construtores do perodogtico. Vinte outros se perdem na antiguidade mais remota. Dezoito as situam no Egito. Quinzeremontam Criao, mencionando a existncia de uma Loja Manica no Paraso Terrestre; 12,aos Templrios; 11, Inglaterra; dez, aos primeiros cristos e ao prprio Jesus Cristo; nove, Roma Antiga; sete, aos Rosa-Cruz primitivos; seis, Esccia; outros seis, aos Judeus; cinco, aospartidrios dos Stuarts, cinco outros aos Jesutas, quatro aos Druidas, trs Frana, e em mesmonmero a atribuem aos Escandinavos, aos construtores do Templo de Salomo, aos sobreviventesdo dilvio, dois sociedade Nova Atlntida de Bacon e pretensa Torre de Wilwinning.Finalmente, h uma srie de autores que atribuem a origem da F.M. respectivamente Sucia, China, ao Japo, a Viena, a Veneza, aos Magos, Caldeia, ordem dos Essnios, aos Maniquestas,aos que trabalharam na Torre de Babel e, enfim, um que afirma que a F.M. existia antes da criaodo mundo.18. Sbigoli F., Tommaso Crudeli e i primi framassoni in Firenze [Tommaso Crudeli e os PrimeirosFranco-Maons em Florena], Milo, 1884. 32.19. Vernhes, Essai sur lhistoire gnrale de la F.M. [Ensaio sobre a histria geral da F.M.], Paris, s.d. 6.

  • INTRODUO 2 7

    seus direitos de classe, e de profisso, ou simplesmente suas opinies poltico-sociais. Mas, alm disso, o homem deseja saber de onde veio, qual a finalidade desua vida na Terra e para onde vai aps a morte. por isso que muitas vezes, margem da religio, quando alguma organizao o deixa antever a possibilidadede ingressar nos mistrios da vida e da morte, ele adere mesma facilmente. Equanto mais fechada for essa organizao, mais o homem deseja fazer parte dela.Ao acompanhar o curso da Histria, ns encontramos o homem membro de nu-merosas sociedades secretas, religiosas ou polticas. Cada um quer saber um pou-co mais a respeito do que os outros. Querendo ou no, somos todos, em um certosentido, conspiradores. E quando a sociedade mais secreta, e as dificuldadespara chegar a ela so maiores, mais vontade as pessoas tm de fazer parte damesma. As sociedades secretas, sejam elas de qualquer ordem, religiosas, polticas,profissionais, econmicas ou comerciais, observavam outrora um ritual durantesuas reunies. Elas tinham smbolos, programas, instrues ou senhas.

    Durante a Antiguidade e a Idade Mdia, normalmente aquilo que se apren-dia era mantido em sigilo. Assim compreendemos porque era to difcil, senoimpossvel, passar de uma classe a outra, ou mesmo trocar de ofcio. Essas associa-es ou sociedades correspondiam a grupos ou categorias sociais, e algumas, porinteresse ou crena, tinham o costume de guardar com cime seus segredos.

    Associaes semelhantes se formaram em todas as corporaes de ofcios.Os Collegia da poca romana, chamados posteriormente de Scholae, no eramoutra coisa. Os mais importantes foram os dos construtores. Essas associaesde construtores erguiam altares e templos, e tambm as casas e as fortificaes deantigamente. Elas atravessaram toda a Idade Mdia e chegaram at o comeo dosculo XVIII, tendo conservado suas tradies, seu ritual, seus simbolismos, suaspalavras de ordem e seus sinais de reconhecimento por meio do tato, que permi-tiam a seus membros se reconhecerem e se ajudarem. Estamos na presenadaquilo que foi chamado de Maonaria Operativa. E neste sentido que existemautores como Moreau e Rebold que sustentam que preciso procurar a origem daMaonaria nas organizaes corporativas de Roma.20

    Outros, como Schaurer autor de um volumoso estudo sobre a histria daArquitetura e do Direito e Mitchell, tentam mostrar a conexo entre a Maona-ria e os colgios ou as corporaes [corpos] de ofcios dos Obreiros romanos, e asdestes ltimos com as escolas de Artes e Ofcios, e com os mistrios da Grcia edo Egito.21

    20. Moreau C., Prcis sur la F.M., son origine, son histoire, ses doctrines, etc [Resumo Sobre aF.M., sua Origem, Histria, Doutrinas, etc. Paris, 1855. Rebold E., Histoire gnrale de la M.depuis sa fondation en lan 715 av. J.-C. jusquen 1850 [Histria Geral da M. desde sua Fundaono ano 715 a.C. at 1850]. Paris, 1851.21. Schaurer J., Vergleichendes Handbuch der Symbolik der Freimaurerei [Manual Comparativoda Simbologia dos Franco-Maons]. Zurique, 1861-63. Mitchell, The History of Freemasonry andmasonic digest [Histria da Franco-Maonaria e Resenha Manica]. Marietta, 1859. II, 50 e seguintes.

  • ARQUIVOS SECRETOS DO VATICANO E A FRANCO-MAONARIA2 8

    Foi precisamente dentro dessa relao da Maonaria com a arte da constru-o que surgiram no somente teorias, mas tambm muitas e fantsticas lendas,mais ou menos inspiradas em certos rituais que remontam as origens manicasaos tempos mais antigos, chegando mesmo at Ado.22 Aps o dilvio, Noquem vai salvar a Maonaria. Mais tarde, segundo a teoria de Des tangs, compi-lada e interpretada por Creus y Corominas,23 a arte dos maons [pedreiros] ouconstrutores se manifestar nos gimnosofistas da ndia; nas diversas reunies demagos; nos mistrios egpcios;24 nos preceitos de Moiss; na religio dos gregos;na escola elica, fundada por Tales de Mileto; na doutrina de Pitgoras; no siste-ma alegrico do Templo de Salomo; na doutrina mista dos essnios; no retirodos terapeutas do Egito; no culto dos druidas; nos ritos mitricos dos magos, quepassaram dos persas aos romanos; no culto da boa deusa que os romanos adota-ram igualmente; nas reunies dos primeiros cristos; na abnegao dos cruzados;na ordem dos templrios; nos mistrios primitivos da instituio do tribunal se-creto da Alemanha; e, para finalizar, na Maonaria da Esccia, da Inglaterra, daFrana e do resto das principais potncias do Midi [o sul da Frana] e do Norte[da Frana].

    Nessa tendncia, to absurda como pouco cientfica, mas muito apreciadapor determinados pseudo-historiadores, convm assinalar a opinio de Tirado yRojas, que admite que a Maonaria remonta aos tempos de Zoroastro e Confcio,ou mesmo at Lamech. Ou a opinio de Comin Colomer, que chega a afirmartextualmente isto: A nosso ver podemos dizer isso agora porque nos ocupamosem pesquisar com o maior cuidado possvel as origens da Maonaria e de outrasassociaes secretas muito importantes e quase desconhecidas , a Franco-Mao-naria reuniu as doutrinas e os princpios de muitas seitas, desde os ebionitas, osessnios e os pitagricos, at as mais modernas, sem contar os aportes da Rosa-Cruz e de outros grupos esotricos.25

    A lenda de Hiram

    Nessa linha da lenda ritualista, preciso citar a de Hiram. No primeiro livro deReis fala-se longamente de um personagem chamado Hiro (ou Hiram), rei de Tiro,

    22. Schreiber H., Mistagogos, Masones y Mormones [Mistagogos, Maons e Mrmons]. Barcelona,1958. 240: Ado, cuja folha de figueira seria uma prefigurao do avental dos maons e cujofilho Caim teria sido o primeiro maom....23. Des tangs N. Ch., La F.M. justifie de toutes les calomnies rpandues contre elle [A F.M.Justificada de Todas as Calnias Espalhadas contra Ela]. Lyon, 1839. Creus y Corominas, La M.[A M.]. Barcelona, 1889. 34.24. A opinio de que a F.M. teve sua primeira origem nos antigos mistrios da ndia e do Egito seespalhou rapidamente e foi apoiada por um bom nmero de escritores. O erudito arquelogoAlexandre Lenoir defendeu essa tese com bastante eloquncia em sua obra: La F.M. rendue savritable origine, ou lantiquit de la F.M. prouve par lexplication des Mystres anciens etmodernes [A F.M. Restituda Sua Verdadeira Origem, ou a Antiguidade da F.M. provada pelaExplicao dos Mistrios Antigos e Modernos]. Paris, 1814.25. Tirado y Rojas, La M. en Espaa [A M. na Espanha]. Madri, 1893. I, 46-47. Comin Colomer,Lo que Espaa debe de la M. [O Que a Espanha Deve M.]. Madri, 1956. 20.

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    a quem recorreu Salomo a fim de que ele lhe fornecesse os cedros do Lbano para aconstruo do Templo de Jerusalm.26 Mas o Hiram que se fala em rituais mani-cos est longe de ser o rei de Tiro. Era um operrio especializado no trabalho demetais, principalmente do ouro, da prata e do cobre.27 O primeiro livro de Reis nosd tambm sua apresentao.28 Filho de um operrio do bronze, tambm de Tiro, ede uma viva da tribo de Neftali, ele tinha grande habilidade, destreza e intelign-cia para executar todos os tipos de trabalhos em bronze. Salomo o fez vir de Tiropara trabalhar na decorao do Templo, e ele executou todos os seus servios. Noprimeiro livro de Reis podemos ver todos os detalhes das obras que ele fez paraembelezar o Templo de Jerusalm. Entre outras, so destacadas nas Sagradas Escri-turas duas colunas de cobre que tinham cada uma 18 cvados de altura, terminandoem capitis em formato de flores. Hiram colocou as colunas na frente do vestbulodo santurio e chamou de YAKIN a da direita e de BOAZ a da esquerda. Segundo alenda, o arquiteto Hiram tinha sob suas ordens muitos Obreiros. Ele os dividiu emtrs categorias, e cada uma delas recebia o salrio proporcional ao grau de habilida-de que a distinguia. Essas trs categorias eram as de Aprendiz, de Companheiro e deMestre, tendo cada uma delas seus prprios mistrios e se reconhecendo mutua-mente, por meio de palavras, sinais e gestos que lhes eram particulares. O fato de seuassassinato, cometido por trs de seus discpulos aos quais ele no quis revelarseu segredo de Mestre, serviu Maonaria ritualstica e simblica para algumas desuas cerimnias.29

    Mas, na Histria da Maonaria, a morte assustadora e impune do arquitetofencio que ergueu o templo de Salomo devia ser relegada na expresso deMenndez y Pelayo no plano do romance fantstico, assim como suas conexescom os sacerdotes egpcios, os mistrios de Elusis e as cavernas de Adonir.30 Namesma linha devem ser includos outros ancestrais dos franco-maons, enumera-dos por Hello, Jannet e Preclin, dos quais a Maonaria teria vindo, conforme essesautores, no somente quanto sua doutrina, mas tambm por suas prticas e seusritos. Esses ancestrais seriam destas ingleses, os sectrios do sculo XVIII, osrosa-cruzes, os sectrios protestantes, os socinianos, as associaes de obreiros,os templrios, os gnsticos, os maniquestas e albigenses, e finalmente os judeus.31

    26. I Reis, 5, 15-32; 9, 10-14; 10, 22-23.27. Larudan, LOrdre des F.M. trahi et le secret des Mopses rvl [A Ordem dos F.M. Trada e oSegredo Mopses Revelado]. Amsterd, 1747. 78-79.28. I Reis, 7, 13-48.29. Os nomes desses obreiros eram: Matusel, Fanor e Amru. Cf. Mason-Allen J., The Legend ofHiram Abiff. It s source and its significance [A Lenda de Hiram Abiff, Sua Fonte e Seu Significado].Edimburgo, 1956, e Ward J., Who was Hiram Abiff? [Quem Foi Hiram Abiff?]. Londres, 1925.30. Menendez y Pelayo M., Historia de los Heterodoxos espaoles [Histria dos HeterodoxosEspanhis]. Madri, 1956. II, 447.31. Jannet C., Les Prcurseurs de la F.M. au XVIe et XVIIe sicles [Os Precursores da F.M. nosSculos XVI e XVII]. Paris, 1887. Hello H., LAction maonnique au XVIIIe sicle [A Ao Manicano Sculo XVIII]. Paris,1907. Preclin Jarry, Les Luttes politiques et doctrinales aux XVIIe et XVIIIe

    sicles [As Lutas Polticas e Doutrinais nos Sculos XVII e XVIII]. Paris, 1956. 747.

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    A corporao de construtores

    No fim do sculo XVIII, o abade Grandidier, de Estrasburgo, que no per-tencia Maonaria, foi o primeiro a emitir a opinio, fundamentada nos dadosexistentes nos Arquivos da Catedral dessa cidade, de que existiam fatos histricosanlogos entre a sociedade [associao] de franco-maons e a dos arquitetos.32

    Esse mesmo escritor, em uma carta particular endereada a uma senhora em24 de novembro de 1778, declarou o seguinte: No pretendo recuar a origem daMaonaria Arca de No, como faz um franco-maom mui digno. Nem ao templode Salomo, considerado por algumas pessoas um maom muito distinto. Tambmno a recuarei s Cruzadas, para encontrar os primeiros maons nos batalhes dascruzes, considerados por alguns como dedicados obra real e divina da re-construo do Templo. Eu no a buscarei tampouco entre os antigos soldados daPalestina, chamados de Cavaleiros do Oriente e da Palestina. Nenhuma dessasopinies ridculas, que nem os prprios maons ousam emitir, salvo sob a nuvemda iluso, merece que algum profano a revele. Eu me orgulho, senhora, de podergarantir, para tal sociedade, a sua origem mais verdica. No preciso busc-lanem no Oriente nem no Ocidente. E essa frase a Loja est bem guardada nome daria de forma alguma a prova de tais suposies. E, ainda, no tive a felicidadede trabalhar da segunda-feira de manh ao sbado noite, mas tive em minhasmos profanas provas autnticas e verdicas, que datam de trs sculos, e noslevam a reconhecer que a sociedade dos franco-maons no outra seno umainstituio obreira da antiga e til corporao de maons [pedreiros] cujo quartel-general ficava em Estrasburgo.

    Contemporneo de Grandidier, Joseph de Maistre, depois de ter vivido al-gum tempo na Ordem, perguntou-se qual seria a origem desses mistrios que noescondem nada, e desses smbolos que no representam nada, admirando-se como fato de homens de todos os pases se reunirem (talvez h vrios sculos) para sealinhar em duas fileiras, jurar jamais revelar um segredo que no existia, levar amo direita ao ombro esquerdo, retorn-la ao ombro direito e sentar-se mesa.Por acaso no era possvel cometer extravagncias, comer e beber em excessosem falar de Hiram, do templo de Salomo ou da Estrela Flamejante...?.33

    Essas questes prossegue Joseph de Maistre so em todo caso simples esensatas. Mas infelizmente no vemos a histria, nem mesmo a tradio oral, sedignar responder a respeito. Nossa origem foi sempre envolvida em espessas trevas,e todos os esforos de Irmos bem intencionados para esclarecer um fato to inte-ressante esto sendo, at o presente, quase que inteis. Maistre, ao escrever issoem 1782, pensava principalmente na soluo dos templrios, para a qual se inclina-vam alguns autores: H alguns anos esto tentando nos apresentar, sob a mscara

    32. Grandidier Ph., Essai historique et topographique sur lglise cathdrale de Strasbourg [EnsaioHistrico e Topogrfico sobre a Igreja Catedral de Estrasburgo]. Estrasburgo, 1782.33. Maistre J., La F.M. Mmoire indit au duc de Brunswick [A F.M. Memria Indita ao Duque deBrunswick], 1782. Paris, 1925. 55-56.

  • INTRODUO 3 1

    de alegorias manicas, as vicissitudes da Ordem dos templrios. E a respeito disso, bom lembrar um axioma que parece incontestvel quando se fala em smbolos ealegorias, e que diz que o smbolo que representa muitas coisas no representanada. Praticamente, quase todo o documento de Maistre tende a fazer uma sriede reflexes sobre os templrios e a Maonaria, terminando por mostrar a contradi-o que existe nessa relao e at mesmo sua impossibilidade, a menos que queiracair em um sofisma popular: post hoc, ergo propter hoc. E, no entanto, uma vezrejeitadas a lenda de Hiram e a dos templrios, ele prope como uma soluo queachou digna de interesse a das corporaes dos construtores de catedrais.

    Assim, Maistre e Grandidier chegaram mesma concluso, embora, na ver-dade, por caminhos diferentes. Grandidier no era maom e se baseava em pes-quisas e documentos que ele mesmo descobriu. Maistre, da sua parte, o era, einspirou-se principalmente em um livro que acabava de ser publicado sobre ahistria da Gr-Bretanha e no qual se falava do estado das artes na Inglaterra nossculos XIII e XIV.

    O pargrafo de Robert Henri reproduzido por Maistre o seguinte: A opu-lncia do clero e o fervor dos leigos forneciam fundos suficientes para a constru-o de um nmero to grande de igrejas e de monastrios que dificilmente seencontravam os obreiros necessrios. Os papas,* interessados em favorecer es-ses tipos de associaes, concederam indulgncias s corporaes de maonspara aumentar o nmero deles, o que deu certo principalmente na Inglaterra, ondeitalianos, refugiados gregos, franceses, alemes, flamengos se reuniram e forma-ram uma sociedade de arquitetos. Eles obtiveram bulas de Roma e privilgiosparticulares, e adotaram o nome de franco-maons. Eles passaram de uma nao outra, onde houvesse igrejas a serem construdas; e, como j dissemos, constru-am prodigiosamente. Os maons seguiam um regulamento fixo. Eles montavamum acampamento perto do edifcio a construir. Um intendente ou inspetor tinha ocomando como chefe; em cada grupo de dez, um superior conduzia os outrosnove. Por caridade ou por penitncia, os fidalgos da vizinhana forneciam osmateriais e veculos. As pessoas que viram seus registros, nas contas das fbricasde nossas catedrais, feitas h quase 400 anos, s podem admirar-se com a econo-mia e a rapidez com as quais eram construdos os mais vastos edifcios.34

    Os talhadores de pedra da Idade Mdia

    Mas aquilo que para Maistre no era mais que intuio, chega a ser evidn-cia para Grandidier. O cnego Grandidier, um dos melhores e dos mais antigoshistoriadores da catedral de Estrasburgo, em seu Ensaio Histrico e Topogrficoda Catedral da Igreja de Estrasburgo, d um resumo do status dos talhadores[cortadores] de pedra da Idade Mdia:

    Na frente da Catedral e do Palcio Episcopal, escreveu ele, h um edifciocontguo capela de Santa Catarina. Esse edifcio o Maurer-Hoff, o ateli dos

    * Sugerimos a leitura de Os Crimes dos Papas, de Maurice Lachatre, Madras Editora.34. Henri R., History of Great Britain [Histria da Gr-Bretanha]. Londres, 1781. IV.

  • ARQUIVOS SECRETOS DO VATICANO E A FRANCO-MAONARIA3 2

    maons (obreiros) e dos talhadores de pedra da catedral. Sua origem vem de umaantiga fraternidade de maons livres da Alemanha.

    Essa confraternidade, composta de Mestres, Companheiros e Aprendizes,possua uma jurisdio particular, independente da corporao dos maons. Asociedade de Estrasburgo compreendia todas as da Alemanha. Ela tinha seu tribu-nal dentro da Loja e julgava sem apelao todas as causas que lhe eram submeti-das, segundo as regras e os estatutos da confraternidade.

    Os membros dessa Sociedade no tinham nenhum contato com outrosmaons, que s sabiam manejar a argamassa e a colher de pedreiro (Art. 2). Seuprincipal trabalho era desenhar os edifcios e talhar as pedras, o que eles conside-ravam como uma arte muito superior dos outros maons. O esquadro, o nvel eo compasso converteram-se em seus atributos e smbolos caractersticos. Decidi-dos a formar um corpo independente da massa de obreiros, imaginaram senhasentre si e toques para se reconhecer. Chamavam isso de instruo verbal, saudaoe senha manual. Os Aprendizes, os Companheiros e os Mestres eram recebidoscom cerimnias particulares e secretas. O Aprendiz elevado ao grau de Companheirojurava jamais divulgar, em palavras ou por escrito, os dizeres secretos de saudao(Art. 55). Era proibido aos Mestres, e tambm aos Companheiros, ensinar aosestranhos os estatutos constitutivos da Maonaria (Art. 13).

    O dever de cada Mestre das Lojas era de conservar escrupulosamente oslivros da Sociedade a fim de que ningum pudesse copiar os regulamentos deles(Art. 28). Ele tinha o direito de julgar e punir todos os Mestres, Companheiros eAprendizes inscritos em sua Loja (Art. 22 e 23). O Aprendiz que quisesse chegara ser Companheiro era proposto por um Mestre que, como padrinho, testemunha-va a respeito de sua vida e de seus costumes (Art. 65). Ele prestava o juramento deobedecer a todas as regras da Sociedade (Art. 56 e 57). O Companheiro ficavasubmisso ao Mestre por um perodo fixado pelos estatutos, e que era de cinco asete anos (Art. 43 e 45). Ento ele poderia ser admitido na Mestria (Art. 7 e 15).Todos aqueles que no cumpriam os deveres de sua religio e que levavam umavida libertina ou pouco crist, ou eram reconhecidos infiis sua esposa, nopoderiam ser admitidos na Sociedade ou eram dela expulsos. E todo Irmo,Mestre ou Companheiro, proibido de manter relaes com eles (Art. 16 e 17).Nenhum Companheiro podia sair da Loja ou falar sem permisso do Mestre (Art.53 e 54). Cada Loja tinha uma caixa: a se colocava o dinheiro que os Mestres eCompanheiros davam em suas recepes. Esse dinheiro era destinado a prover asnecessidades dos Irmos pobres ou doentes (Art. 23 e 24).35

    Aps este resumo, cujos elementos lhe foram fornecidos pelos documentosque ele prprio consultou nos arquivos de talhadores de pedra de Estrasburgo, ocnego Grandidier acrescenta:

    Vocs no reconhecem os franco-maons modernos sob esses traos dosmaons venerveis, dos maons perfeitos iniciados nos mistrios dos Santos No-mes? Ser que por acaso a analogia no clara? Nem mesmo, exata? O mesmo

    35. Grandidier, op. cit. 360.

  • INTRODUO 3 3

    nome de Loja, para designar o lugar das assembleias, a mesma ordem na suadistribuio, a mesma diviso de Mestre, Companheiro e Aprendiz? Uns e outrosso presididos por um Gro-Mestre. Eles tm igualmente sinais particulares, leissecretas, estatutos contra os profanos. Uns e outros podem dizer: meus Irmos emeus companheiros me reconhecem como maom.

    Mas nos maons de Estrasburgo, apesar da obscuridade de seu trabalho,provam seu estado e sua origem com ttulos antigos e autnticos. Eu desafio osfranco-maons franceses, ingleses, alemes, escoceses, mesmo aqueles que al-canaram o grau de perfeito maom, de grande Arquiteto, de cavaleiro da espadae de Noaquita, a fazerem o mesmo, apesar de Hiram e do Templo de Salomo...Apesar de Faleg e da torre de Babel.

    A opinio de Grandidier foi acolhida, entre 1785 e 1792, por Vogel e Albrecht,36embora nenhum dos dois tenha chegado a uma posio definitiva, j que nodispunham, nessa poca, de documentos histricos suficientes. Alguns anos maistarde, Schneider, Altenbourg, Krause, Mossdorf, Lenning, Heldmann, Schrder eFessler37 publicaram trabalhos fazendo amplamente a histria nessa poca delutas e aspiraes segundo a identidade manica. Outros publicistas afiliados Ordem realizaram novas pesquisas, demonstrando com provas dignas de f que aidentidade no tinha de modo algum a finalidade que pretendiam lhe atribuir auto-res como Ramsay,38 e tambm no era mais uma Ordem da cavalaria entre tantasoutras, mas sim uma sociedade de uma certa forma anloga s organizaesobreiras da Idade Mdia.

    Dentro dessa mesma linha, historiadores clssicos da Maonaria, comoFindel, Bernard, E. Jones e Kloss,39 ao fazer pesquisas nos estatutos da associa-o dos escavadores [cavouqueiro, cavadores em pedreiras] alemes e dos cons-trutores ingleses de edifcios, chegaram concluso de que a Maonaria atual

    36. Vogel, Briefen ber die F.M. [Cartas sobre a F.M.]. 1785; Albrecht H., Materialen zu einerkritischen Geschichte der F.M. [Materiais para uma Histria Crtica da F.M.]. Hamburgo, 1792.37. Schneider F., Die F.M. und ihr Einfluss auf die geistige Kultur in Deutschland am Ende des 18Jahrhunderts [A F.M. e Sua Influncia sobre a Cultura Espiritual na Alemanha no Fim do SculoXVIII]. Praga, 1909. Krause, Die drei ltesten Kunsturkunder der Freimaurereibrder-schaft [OsTrs mais Antigos Clientes da Arte da Fraternidade dos Franco-Maons]. Dresda, 1819. Lenning,Das Handbuch der F.M. [O Manual da F.M.]. Leipzig, 1863; Heldmann, Les trois plus anciensmonuments de la confraternit maonnique allemande [Os Trs mais Antigos Monumentos daConfraternidade Manica Alem]. Aaran, 1819. Schroder F., Materialen zur Geschichte der F.M.seit ihrer Entstehung [Materiais da Histria da F.M. desde Sua Origem]. Jena, 1806.38. Cherel A., Un aventurier religieux au XVIIIe sicle: Andr-Michel Ramsay [Um AventureiroReligioso no Sculo XVIII: Andr-Michel Ramsay]. Paris, 1926. Batham C., Chevalier Ramsay[Cavaleiro Ramsay]. A.Q.C. 81, 1968, 280-315. Henderson G., Chevalier Ramsay [CavaleiroRamsay]. Londres, 1852. Weil F., Ramsay et la F.M. [Ramsay e a F.M.]. Rev. Hist. Litt. de laFrance [Revista Hist. Lit. da Frana], 1963. 276 e seguintes.39. Findel, Geschichte der F.M. von der Zeit ihres Entstehung bis auf die Gegenwart [Histria daF.M. do Tempo de Sua Origem at o Presente]. Leipzig, 1898. Jones, Freemason s Guide andCompendium [Guia e Compndio dos Franco-Maons]. Londres, 1961. Knoop-Jones, The medievalMason [O Maom Medieval]. Manchester, 1949. Idem, The Genesis of F.M. [A Gnese da F.M.].Manchester, 1949. Kloss, Die F.M. in ihrer wahren Bedeutung [A F.M. em Seu Verdadeiro Significado].Berlim, 1865.

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    deriva diretamente de uma antiga corporao de talhadores de pedras e de outrosagrupamentos profissionais unidos a ela.

    Para resolver a questo de saber se os smbolos e os usos atuais da Mao-naria vm diretamente da Idade Mdia ou se sua origem mais antiga, A. Falloue J. Winzer, em suas publicaes,40 trouxeram muitos dados interessantes com osquais chegaram a provar que os escavadores alemes e os construtores inglesesno constituam somente corporaes profissionais, mas fraternidades onde seensinava e se praticava uma cincia secreta de seus respectivos ofcios e artes. Osdois autores mostraram sem dvida que os maons atuais no haviam inventadosua liturgia e seus smbolos, e tambm no os tinham tomado de outras socieda-des secretas, mas que os mesmos lhes foram transmitidos, por sucesso direta,dos organismos obreiros mencionados.

    A LojaNessa mesma tendncia podemos igualmente citar a obra recentemente di-

    rigida pelo professor Joan Evans, sob o ttulo: Le Bas Moyen Age [A BaixaIdade Mdia], e, em particular, o trabalho realizado por John Harvey sobre Lartdu maon et le dveloppement de larchitecture [A Arte do Maom e o Desenvol-vimento da Arquitetura],41 onde ele fala dos construtores (maons) da Idade M-dia. Diz que a Loja (Htte em alemo, Cassina em italiano) era uma oficina e umrefgio, e em certos casos podia ser uma construo permanente, o que normal-mente era uma casa de madeira ou de pedra, onde os obreiros trabalhavam abriga-dos das intempries, e que podiam conter de 12 a 20 talhadores de pedras. Narealidade, do ponto de vista do trabalho, era um escritrio provido de mesas ouquadros de desenho onde havia um solo de estuque para traar o