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ARMINIANISMO E METODISMO Subsídios para o estudo da História das Doutrinas Cristãs Jos é Gon çal ves Sal vad or Junta Geral de Educação Cristã DA IGREJA METODISTA DO BRASIL SÃO PAUL O ÍNDICE PREFÁCIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I - Como se constrói uma grande nação - A situação Política - O fator Político Religioso CAPÍTULO II - Tiago Armínio no Cenário de sua Pátria - Os primeiros anos - O preparo Escolar - Armínio no exercício do pastorado - O Mestre e o Polemista - O fim da Jornada CAPÍTULO III - As doutrinas arminianas - A respeito de Deus - A predestinação - O homem no conceito de Armínio

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ARMINIANISMO

E

METODISMO

Subsídios para o estudo daHistória das Doutrinas Cristãs

Jos é Gon çal ves Sal vad or

Junta Geral de Educação CristãD A

IGREJA METODISTA DO BRASILSÃO PAULO

Í N D I C E

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - Como se constrói umagrande nação

- A situação Política- O fator Político Religioso

CAPÍTULO II - Tiago Armínio no Cenáriode sua Pátria

- Os primeiros anos- O preparo Escolar- Armínio no exercício do pastorado- O Mestre e o Polemista- O fim da Jornada

CAPÍTULO III - As doutrinas arminianas- A respeito de Deus- A predestinação- O homem no conceito de Armínio

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- O problema do pecado- O decreto eterno de Deus- A obra de Cristo- O lugar da graça na salvação do homem- A perseverança cristã

CAPÍTULO IV - Organização e difusão doarminianismo

- O arminianismo nos Países -Baixos- Introdução e desenvolvimento na

Inglaterra- O impacto sobre o calvinismo francês- O arminianismo na Alemanha e outros

países- A influência do arminianismo na Filosofia,

no Direito, na Política e nas MissõesEvangélicas

CAPÍTULO V - A Gênese do arminianismowesleyano

- A situação da Igreja Anglicana- A influência do casal Samuel e Susana

Wesley- O valor da dedicação pessoal- A contribuição de Aldersgate- A controvérsia predestinista- O contato com as idéias de Tiago Armínio.

CAPÍTULO VI - Arminianismo e Metodismo

- O espírito do metodismo- Distinções doutrinárias:

a) O pecado originalb) A predestinaçãoc) A certeza da salvaçãod) A justificaçãoe) A regeneraçãof) A santificaçãog) O conceito de Deus

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

PR EF ÁC IO

Bis poCésarDa cor

soFi lh o

Li , com pr az er , os or ig in ai s de st el iv r in ho . Por di verso s mo tiv os.Prim eir o, po rque esc r it os po r umco mpa nh ei ro de mi nis t ér io , cujo

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cu rr i cu lum vitae , ven cid o at é aqui,ven ho ac omp anh and o des de opr in c íp io . Dep ois , po rque fruto dees forço s co m que el e se mpr e venc e no sem preen di me nt os que toma a pei t o , eda pi eda de si nc era e pr ofunda que,co mo apa ná gio de se us dia s, el e cu l t iv aem t er mo s es tr it am en te ev an gél icos.En f im, po rqu e camp o cu ltural de sumaim po rtân cia pa ra nó s, qu an do no sco nf ront am os com o di lem a do “si m ounã o” , em face do conv it e qu e o Fil ho deDeu s no s faz, toca nt e à rede nç ão -ca mp o cu ltural qu e el e l av ra co m muit aprudên ci a e ci rcu nsp ecçã o.

Ab rang em mu it os âm bit os que s epr end em ao mag no pr obl em a - e, naTer ra, somo s ou não l ivres pa ra ace i tara cha ma da de Jes us Cr is to par a oRe in o de Deu s, ou se, na Terra,es tamo s ou nã o su je it os apr ede t er min is mo , co m ref erênc ia àsa lv aç ão et erna.

A bas e que se val e, em gran deex t en sã o , o au tor , é a pes soa deAr mí ni o e a co nt rové rs ia a que el a de uca u sa . Par a iss o , e le se fo i à Geo graf ia ,à Hi st ória, ao s impe rat iv os da l ógica eao s l am pej os das ar mas ter çad as nas

ar ena s da Teo l ogia. Co nt udo, se utrab al ho é muit o su ci nto par a mat ériatão ex t en sa e mu ito si mp l es pa ra tematão co mpl ica do .

O au tor foi, no me u en t en de r, fel izem res sa l t ar qu e nó s, met odis t as ,av anç am os mai s na do utr ina do l ivrear b ít r io , que o pr ópr io pa storNee rl an dês . De fat o pr ec is amo sdi st in guir W es l ey de Armín io .

Não pode mos jam ai s neg ar que Deuspr ede st ino u mu it as co is as par a certases feras da v id a human a, sobret udo nocu rso das co isa s mat er iai s. Assi m,quem não co me r e beb er , h á desu cu mbir , e quem, de gran de al tura , selan ça r no esp aç o de sa rmado de pár a-qued as , há de mo rrer ao toca r oso lo.Iss o, par a não referir à ina lte rab ili dadedos gra ndes fenôme nos fís ico s das estaçõ es,das lua s, das chuv as, dos raios, em que quasenão podemos inter fer ir, sen ão par a nos sores gua rdo de seu s efe ito s. Assi m, de u De usse u Fi lh o Un ig ên it o, pa ra qu e to do o qu ene le cr ê, nã o pe re ça, ma s te nh a a vi daet er na . At é aí va i a pr ed es ti na çã o de De us .To da vi a, co me r e be be r, como lançar-nos,de grande al tu ra , ao espaço e, ainda, cr erno Fi lho Un igên ito, é at itude qu e de pe nd e

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de nó s. E aqui é que esta no ss o li vrearbí tr io , no ss a li berd ad e, segu ido s denos sos dev ere s e con seq üente sres pon sab ili dades.

Mas o qu e deduzimos da Bíbl ia , da ló gicae da ex periência, de acordo com o que acab ode decl arar, é que , no campo propriamen temoral e espirit ual (relig ioso ), somo ssoberanamente livres. Para iss o a Providênci anos dotou de in te ligência , razão econsciência, que no s conduzem ao sens o denossos deveres e conseqüentesresponsabi lidades, tão vivo em to dos nós.Sem dúvida, só até onde cheg a no ssoente ndim ento e co mpre en são das co isas , enão do que não ent end emo s e nãocom pre end emo s, podemos dar conta, máximea uma justiça perfei ta.

Fa to qu e le va al gu ma s pe ss oa s a seem ba ra lh ar em e se con fun dir em nacon sid era ção das det erm ina çõe s div inas(me lho r do qu e pred es t in aç ão div in a) , énão dis t in g uir em, pre sci ência depre des tin açã o. Na pre sci ênc ia divi na defu tu ra s de li be ra çõ es hu ma na s ex is te ,ap en as , pre visão e não exi ste qua lquerinf luênc ia sobre elas, ao pa ss o qu e napr ed es ti na çã o di vi na ha ve ri a co mp ul são

sobre elas.

Fina lm ente , é certo que, pelainte li gênc ia , ra zão e con sci ênc ia, sentim osnossos dev eres e res ponsab ilidad e. Por taiscaminhos Deus nos ajuda com maioriluminação de seu Espíri to. Entretanto, não nosforça a qualqu er decisão. Daí decorre que,pass an do dos li mi tes da co nvi cçã o pa ra ote rr en o do "s er ou nã o se r" , nós no sencontra mo s, por efei to de um a le iin coer cíve l, na dependência de nós mesmos,isto é, na necessidade de praticar nossaspróprias vo lições. De mais a mais , sabe mos,de sob ejo , que , se tal con dição não fosse ado ser hum ano , nã o ha ve ri a pa ra el ene nh um se nt id o na do r da cu lp a, na ale gri ado bem que fez , com o, de res to, nasdec lar ações da justiça.

Agra deço ao Re v. Jose Go nç alve sSalv ador o priv ilé gi o de fa ze r es te br ev eexór di o a seu tr abal ho . Co m el e mu it o meco ng ra tu lo à vi st a da co nt ri bui çã o qu etraz, com seu livrinho, à literatura religiosa emportuguês.

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I N T R O D U Ç Ã O

José Gonçalve s Salva dor

Este livr inho, antes de tu do, é urnasati sfação a pe di do s qu e am ig os medi ri gi ra m há te mp os , so li ci ta nd o paraesc rev er alg uma coi sa a respe ito dasrel açõ es ent re a Igreja Metodista e oarminianismo. Em suas missiv as lamen tavameles hav er em nosso mei o desco nheci men toquase total da história e das doutrinas dosistema teológic o, ori gin ado com Tia goArm íni o, na Hol and a, em fin s do sé cu loXV I e, de ig ua l fo rm a, da s af in id ad es dome tod ism o wesleyano com o mesmo , apon to de se atrib uir a amb os afi rmaçõ esque não lhe s são pec ul iar es.

Pus -me, en tã o, a ob se rv ar . Co nv er se ico m de ze na s de pe ss oa s, arrola das numaporção de denomi nações evangé licas, etam bém li jor nais e rev ist as. Emdet erm ina do art igo che ga va- se a di ze r qu eo me to di sm o nã o dá im po rt ân ci a à graçade Deus , que o armin ianismo é episcopal, esendo a Ig re ja Me to di st a ep is co pa l ear mi ni an a, ip so fa to , é um sistema papal.

Ora , ta is dec laraçõe s não con dizem com aver dade e só re ve la m la ment ávelig no rânc ia . A do ut rina da gr aç a éfu nd am en ta l em to do o me to di sm o. Equ an to ao pr eten dido epi sco pal ism o, bas taesc lar ece r que o met odi smo in gl ês , fr ut odi re to de Jo ão We sl ey , nã o é ep is co pa l.Dev o lembrar , ainda , que o arm ini ani smohol and ês ado tou como forma de governoeclesiástico o sistema presb iter iano.

Minhas observaçõ es acab aram por darrazão aos meus amigos missiv istas, levando -me a escrever as notas que id es le r. Tr at a -se de tr ab al ho si mp le s, se m pr op ós it os deeru dição; coi sa que nem de lev e pos suo .Qui s tor ná-lo ace ssí vel ao mai or númer o depes soa s, par a, assim , pre s tar melhorserviço. Limite i- me a meia dúzia depáginas sobre cada capítulo, ou pouco mais,quando poderia escrever cent enas. Se meaprofundasse no estudo, far ia obravolumosa, de maior custo e de int eress e,ta lvez , só para um a pe qu en a el it e. Emto do ca so , as pi ca da s fi c am abertas.

Fa ço , no pr im ei ro ca pí tu lo , um a br evean ál is e da s condições geográficas ,econômicas, sociais, políticas e re li gi os as do sPa ís es -Ba ix os no in íc io do s te mp os

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mo de rn os , po is de ve mo s co nh ec er oce ná ri o on de os fa to s se pro ces sam e ond eos ato res des emp enh am seu s pap éis . Éimp oss íve l a His tór ia sem a Geo gra fia . AHol and a, por exemplo, não se explicaindependentemente do Mar do Norte. Mes moas idé ias soc iais, pol íticas e rel igiosa s têmno tá ve l re la çã o co m o ha bi ta t, ou se ja , oam bi en te no seu ma is am pl o se nt ido. Eis to ta mb ém ex pl ic a po rq ue oarminianismo germinou onde o calv inism ojá se havia rad ica do. A épo ca exi gia mai orcom pre ens ão do homem . A Renascença , ossegu idores de Du ns Scot us , fr anciscanosem sua mai ori a, os arm ini ano s e out ros ,tod os pug navam por sua valorização.

No segundo capítu lo aparece o vultoinconfundível de Ar mí ni o, qu e é fi gu race nt ra l no es tu do em ap re ço , para, então,no capítu lo seguinte, verificarmos quais ascausas de suas idéias e qu ais as su asconcepções dout ri ná ri as .

Já o ca pí tu lo IV é um el o na ca de ia daex po si çã o es ta be le ce nd o um a po nt e en tr eo ar mi ni an ism o e o meto dismo, e nele sedirá da organização e expansão doar mi ni an is mo . Co nv ém ob se rv ar , aí , ain fl uê nc ia qu e aq ue le ex er ce u no

pe ns am en to da ép oc a, pr imei ro na Europae, depois, na América do Norte.

Os do is úl ti mo s ca pí tu lo s sã ode di ca do s ao me to dis mo . At ra vé s de le spr oc ur ar ei mo st ra r co mo o ar mini anismowe sl eyan o se or ig in ou e se de se nv olve u,se m con tac to dir eto com o arm ini ani smo doteó log o hol and ês, e mais , qu e em mui to spontos se dif erencia do mesmo e se lh eav an ta ja . Ce rt as do ut ri na s, de qu e oar mi ni an is mo ne m se qu er co gi to u e, se ofe z, de ix ou -as em pl an o secundário, ocupamlugar saliente no metodismo.

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Os pre zados leito res iri am admir ar- se ,com certeza, das ref erências que , a cad apasso, surgir ão ao cal vinismo. Ma s de sd e jáos pr ev en im os . Se ri a di fí ci l mo st ra r agênese do armini anismo holandês e a suanatureza sem re co rr er ao si st em a qu e lh ede u ca us a. En fa ti za va -se tanto a soberaniaabsoluta e irrestri ta de Deus , em compl et ane gl ig ên ci a do ho me m, qu e a re aç ão te ri ade su rg ir . Co mo di ri a He ge l, a te seor ig in ou a an tí te se e, de am ba s, re su lt oua sí nt es e. No me u en te nd er , o me to dismorepresenta a síntese, porque soube valer-se dasmais justas e melhores concep ções, quer docalvinismo quer do ar mi ni an is mo .En tr et an to , nã o é um a co is a e ne m outra.O metodismo tem a sua própriaindividualidade. Da mesma sorte, quaisquerreferências ao pelagianismo e aocatoli cismo rom ano , visam esc lar ece r asquestões em es tu do . Ni ng ué m, po r is so ,ju lg ue qu e pr et en do fa ze r polêmica. Meuobjetivo é o de torna r melhor conhecido oar mi ni an is mo e re ve la r as af in id ad es edi st in çõ es do metodismo com ele. Esperoconseguir isto.

CAPÍTULO 1

CO MO SE CO NSTR ÓI UM AGR AN DE NA ÇÃO

1 - OS PAÍSES-BAIXOS, CONDIÇÕES

GEOGRÁFICAS.A Ho landa e Bé lg ica, ma is conhec idas

ou trora po r Países-Bai xos , ocupavam umafai xa de ter ras ao longo do Ma r do No rt e,na Eu ro pa No rt e Oc id en ta l. No le st econf ront avam-se com diversos territó riosgermân icos e, no oes te, com a Picard ia eCampanha francesas . Não tinham, pois ,fron te iras na tura is , sa lvo as marít imas,apesar de recortados por movimentadoscursos de água, como o Reno , o Esca lda eou tros .

O ba ixo níve l do seu li to ra l facil ita va ainvasã o qua se con stante da par tecon tinent al pe las águas do mar,ameaçando lavouras e residênc ias. Emvista disso, fazia-se mister construir diques e

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abrir canais, opor -se ao elemento adverso etransformar a pouco fért il planíc ie em soloaproveitável . E, assim , desenvolv eu -se ali ,especialmente nas provínc ias do norte, asquais vieram a cons ti tu ir a modernaHo landa, um povo labo r ioso eempreendedo r, afe ito aos per igos, dado aocom ér cio e amante da liberdade.

1 - O INTERCÂMBIO COMERCIAL.À fa lta de matérias pr imas e de ví veres,

tinha o ho landês que voltar-se para o mar epara o comércio. Dependendo de outra snações, prec isa va estre itar re lações comelas e fazer-se pacífico. A pos içãogeográ fica do país colocava-o, naturalmente,como intermediário entre as regiõessetent rionais e as centra is e , até as domeio-dia, ci rcun stân cias a que sejunt aram as do capi ta li sm o es t rangei ro ,graças ao af luxo de judeus expu lsos deEspanha e Po rtugal , po r seus re is .

As indú st ri as ma is prosper aram então.Mer cadori as sub iam e desciam seus rios,to rnando -se alguns dos seus portos dosmais freqüentados em toda a Europa :Antuérpia e Amsterdã . De lá serecambiavam tecidos de diverso s tip os,

vid ros, cr is ta is , rel ógio s, bacalha u einc lus ive o lat ão e o cob re que Portu ga ltr af ic av a co m o Or ie nt e. Pa ra os Pa ís es-Ba ix os rem eti am os lus os o açú car da Ilhada Mad eira e do Brasi l, vin ho, aze ite , sal ,art igo s da Áfric a e espec iar ias do Le va nt e.

Co m a de rr ot a da "A rm ad aIn ve nc ív el ", na qual os ibé ricos perder amo melhor de suas embarcações, passou aHo landa a predominar nos mares juntocom a Ing lat er ra. Dua s de suascom pan hia s de comérci o gan haram fa ina:a das Índ ias Or ientais e a das ÍndiasOcidenta is . Terras do Índ ico e da Áf ricacaíram sob seu domíni o, nã o es ca pa nd o àsu a co bi ça ne m o ri co no rd es te brasileiro.

3 - A VIDA SOCIAL.Todos est es fator es rep ercuti ram em sua

vid a soc ial e cu ltu ra l. A ar ist ocracia urbanae a rura l viv iam pou co di stanciadas uma daou tra. O número de cidades erare lati vament e grande , emb ora de fra caden sidade . Leiden e Amsterdã, ent re asmaiores, contavam apenas umas 20.000alma s. To das tinh am di re it o a umrepresen tante no gover no pr ov in ci al , ouse ja na As semb lé ia (E stad os Pr ovin cia is) .

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O neg ocian te ain da não era muito ric o, masjá usufruía posição de certo destaque. A ele, esobretudo ao ari stocra ta, cab ia a mai orinf luênci a do govern o do país.

Os artes ãos estavam con cen trado s nascid ade s, reu nidos em co rporações (g ilden) ,ma is ou menos parecidas aos modernossind icatos operár ios. Gozavam de re la ti vasi tua ção econôm ica e de modo geral sab iamler . O res tan te da pop ula ção con st itu ía -sede lavra dores e marin he iro s. O proletariadoera pouco numeroso.

Talvez a Hol and a fos se na épo ca o paísmelho r equ ili brado, socialmente. A riqueza

e a cu ltura es tavam ao al ca nc e de mu it os .Já na Id ad e Mé di a os "I rm ão s da Vid aCom um" tinham estabe lec ido esc ola s par aos fi lho s do po vo . Ho la nd es es fo ra mRe mb ra nd t, Ro es br oe c, Wesse l, Groot,Erasmo agr íco la, Gro tius, Spinoza e TiagoArmínio. Inst rução, espí ri to mercan ti l,in te rcâmbio comerci al , haveria m de cr ia rnos cid adãos o sen so de liberdade e oamor à democrac ia . E agora, sem medo deerrar, podemos acrescentar que ao fat orrel igioso se deve o ap ri mo ra me nt o de ss ees pí ri to de in de pe nd ên ci a, de ap ego àli be rd ad e e de in te re ss e pe la do ut ri na daRe forma.

4 - A SITUAÇÃO POLÍTICA.Tendo pertencido à França, como dote

de Maria de Bor gonha, em vir tude de seucasamento com Max imi liano da Áust ria ,vie ram os Países -Bai xos a cai r sob odom ínio espanhol , porque Carlos V e seufi lho Fe lipe II descendi am em li nh a di re tado s ha bs bu rg os au st rí ac os . Em suasmãos est avam, tam bém , a Ale manha , parteda Améri ca , Áf ri ca e re giõe s da Ás ia . "Oso l nu nc a se pu nh a em tão vastos domínios",como se veio a dizer.

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A po l ít ic a de st es ha bs bu rg os ja ma isfo i be m ac olh id a no s Pa íses-Ba ixos .Ca rlos V fe z o má xi mo pa ra cent ra li za r opo de r es ta ta l, usur pa nd o ao po vo ve lhospri vilégi os já consag rados, nas cendo daiama rga ant ipa tia pa ra co m el e e se usre pr es en ta nt es .

Um de se us er ro s mais graves foi o deque rer ext inguir pela força a inf luência dasidé ias pro tes tan tes , já em franco progressono seio do povo. Por essa causa, em 1523,dois frades agostinhos, res pon dem ainqué rit o em Bruxela s, sen do a segui rque ima do s. São el es , He nr ique Vo es eJo ão Esc h, os do is pr ime iros márti res daRefo rma . Centenas de Outros viera mde po is . No me sm o an o su rg e o No voTe st am en to em ho landês , tr aduz ido deLu te ro . Os ge rmes do mi st icismo deKem pis e de Wesse l, se desper tam.Rea cende-se na alm a de ss a ge nt e am an teda li be rd ad e o de se jo de conhecer a novafé . Querendo Fi lipe apagá-la com mão defe rro, ma is ela se incendeia. Inqu is ição ,execuções, emprego de força mi lit ar , tudose torna em vão. O povo se un e, os no br esse ar re gime nt am , ma ri nh ei ros epe scadores se conver tem em ter ror para ashos tes espanholas. A causa adqu ire fo ros

de nacional idade. Combate-se o in im igoem te rra e no mar. Pe la pá tr ia e pe la férenu nci a-se a tu do . Qu an do Le id en já nã opo de re si st ir ao sí ti o, Gu il he rme deOran ge ma nd a ar romb ar os diques einundá-la . Mas a vit ór ia cabe, por fim, aosnacio na is . Em homenagem ao seuheroísmo, a cidade fo i premiada com umauniversidade (1575).

Em 1579, af inal , as sete prov íncias donorte reso lveram subsc rever o trata do deUtrec ht, em vir tud e do qua l se cons ti tu íamem nação independente , com o nome deProvíncias Unidas. Em 1588 dá-se aderrocada da Armada Invencível. Em 1609,Espanha e Holanda assinam um armi st íc io .Es ta va ganha a independênc ia , e com elao protestantismo também recebia o seureconhecimento.

5. O FATOR POLÍTICO-RELIGIOSO.A causa da revo lta fora po lí ti ca e

re ligiosa. De um lad o est ava m osesp anh óis e o rom ani smo , e do out ro ossúdi tos neer landeses e a dout rina daRefo rma. A Igre ja Católi ca man tinha-seunida ao Estado e o apo iava na luta cont raa fé pr ot es ta nt e. Ao s po uc os o el em en to

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re fo rmado ass umiu as réd eas domovim ent o, de sorte que , ao fim da gue rra ,o dom íni o pol íti co também lhe per ten cia. Olu te rani sm o ce de ra pa ss o ao ca lv in ismo .As ig re jas for am transf ormadas em templo sevangé licos, e os sacerdotes nãoconver tid os à nova dout rin a de ixa ram opaís, embora o tra tado de Utrech t garant issea qua lquer pessoa o di re it o de li vr eco ns ci ên ci a. Co nt udo , o nú me ro decat ól ico s ainda era bem gra nde , havendode igu al forma muitos anabatistas, luteranos,judeus, e socinianos.

Fo i durante os anos da gue rra que oprotes tan tismo se organizou em Igre ja. Jápor volta de 156 1 surge urna Conf issão deFé , redigida pe lo jovem pa stor Guido deBrés , juntamen te com três ou trosmini st ros. Fo i graças a ela que oca lv in is mo ganh ou ascendên cia no sPa íses -Ba ixo s. Depois , em 1563, reúne m-se pela pr imei ra vez em sín odo osdel ega dos de vár ias con gregaç ões ,est abe lecendo o seu próprio sistema degoverno, e por cu jo model o tom aram o daigr eja de Gen ebra. Ado tou-se, ent ão, opre sbi ter ian ismo, mas em cad a uma dasset e província s a administração eclesiást icaera quase autônoma, vist o ser a Ho landa

ma is uma confederação de Es tados queum a nação. Só poderia haver assembléia geral(sínodo) quando todas as províncias dessem oseu assentimento.

Em 1566 a Confissão Belga, de Guido deBrés foi adotada oficialmente pelo sínodo deAntuérpia. Quanto à idéia das relações enteEstado e Igreja, vigorou a da autonomia desta,se bem que aliada ao Estado.

A Igreja Holandesa pode orgulhar-se de suaslutas e vitórias, de seu passado de Heroísmo emartírio. Em suas fileiras militaram vultos doporte de Guilherme de Orange, estadista epatriota, Hugo Grotius, fundador do direitointernacional, Guilherme de Brés e SimãoEscópio, entre os grandes teólogos dahumanidade, convindo lembrar que também naConfissão Belga se inspiraram mais tarde osautores da Confissão de Westminster.

De Tiago Armínio recebemos umainterpretação mais harmoniosa do caráter divinoe da personalidade do homem; por isso, tantomelhor admirado quanto mais decorrer o tempo.

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CAPÍTULO II

TIAGO ARMÍNIO NO CENÁRIO DESUA PÁTRIA

No mu lt ivar iado cená rio do s Pa íses-Ba ixos su rg iu em fins do sécu lo XVI afi gu ra de um personagem, que brevepassar ia à Histór ia . Os pa is deram-lhe onome de Jakobs Hermanns , ou Her mansen ,mas Ele pre fer iu lat inizá -lo para Armin ius ,com o se cos tumava ent ão. Jak obscor res pon de a Jacó, Jaime ou Tiago.

Out ros já hav iam tido idên tico nome nopassado , sagrando-se pelo menos do isde les como campeões da libe rdade. Um fo iaq uele ch ef e ge rm ân ic o qu e no an o 9A. D. ve nc eu as legiões do romano Varo. Osegundo, modesto pastor de ove lhas,notabi liza ra-se nas campanhas da velhaLus itânia .

Qua nto ao ter cei ro, cab e-lhe gló ria ain damaior , embora jama is tenha levantado uma

espada ou lu tado de armas na mã o. Fo i,po ré m, gr an de ba ta lh ad or , mi li ta nd o nocampo árduo das atividades esp iri tuais. Asrevoluções não se fazem sem idé ias , eJak obs (Ti ago Armínio ), nos so bio gra fad o,fo i homem de idéias .

Lu tou por uma in te rpre tação mais libera lda Teolog ia , exal tando a digni dadehumana, sem destronar a Deus da gló riaque Lhe é devid a, atean do as chamas deuma revolução que mais e mais se vemalastrando mundo afora. Sim, porque suainfluênc ia se estendeu ta mb ém a ou tr osse to res. El a se pr oj et ou sobr e a vi dapol ítica, econômica, social e filosóf ica. DosPaíses-Baixos sa ltou pa ra as naçõesvizinh as , transpôs cont inen tes, e agorape rcor re o un iverso . Já é caudal , eninguém a poderá deter.

1. OS PRI ME IRO S AN OS DE SUAVI DA .Arm ínio sab ia despe rta r sim pat ias ,

por que desde pequ eno mani festou boasqual idades . Era humi lde, in te ligente,operoso, dedicado. E isso lhe valeugran jear amizad es sincer as, e com as qua ispode con tar até ao fim de sua jo rnad a

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te rren a. Te ndo nasc ido na pequen a cida dede Oudewater, no su l da Holanda, aos 10de outubro de 1560, teve a infe lic idade deperder o pai , o cute lei ro Hermann Jakobs,alguns anos depois . A mãe, Angélica, viu-se,en tão, em sérias di fi cu ldades para manter-se e aos três fi lhos ór fãos.

Tiago encont rou daí a pouco val iosopro tetor na pes soa do ex-sac erd ote católi corom ano Teo doro Emíli o, alm a bon dos acon ver tida ao pro testa nt ism o. Perce bendono me ni no qu al id ad es ap ro ve it áv ei s,en ca mi nh ou -o a Utrech t a fim de ins tru ir-se.Aos 15 anos, a mor te fere-lhe de novo ocoração, ar reba tando-lhe o amigo. Mas oPa i celest e não o abandonou . O matemá ticoRudolp h Sne lius, in do a Ou de wa te r, su ate rr a na ta l, ac ho u al i o jo ve m Ti ag oArmínio e in te ressou -se po r e le , le vand o-opa ra Marburg, onde exercia oprofessorado.

Pouco tem po depo is , as trop asespa nholas en traram em Ou de wate r,saqueando residênc ias e dest ru indo tudo àsua passagem, de modo que, quandoTiago quis rever os parentes , soube-ostodos mor tos . Só lhe res tava conformar-semais uma vez e prosseguir no caminho da vida.

2. O PREPARO ESCOLARApós os acontec imen tos acima narrados,

vamos enco ntrar Armínio na majestosaRoterdã, não muito longe da ma r. Aq ui ,fa z va le r de no vo a ch av e má gi ca do se ubom caráter, ampl iando sua lista deamizades. Entre elas des tac ou se de pront oa de Ped ro Bertiu s, Sênio r, pasto r da igrejalocal , que o tratou como se fora da famíl ia e ade seu filho , o jovem Pedro . Mais tardehaveria este último de escrever a biografia doamigo de tantos anos e cumpr ir a difíc il tarefade profe rir a oração memorial.

Be rt iu s ma nd ou se u fi lh o Pe dr o eTi ag o pa ra es tu da r na Un iv er si da de deLei den . Con qua nto rec ém-cr iad a, diver sosmestr es emine nte s regiam suas cátedrascom br ilhant ismo, como o erudito LambertDanaeus e o ilustre João Dousa. Em 1578 ovelho amigo de Armín io, Rudolph Snel ius,juntou-se ais grupo desses eficientesprofessores.

Fo ram se is anos úteis os que Armíniopassou em Leiden. Estudou Teologia,Filosof ia, Hebraico, Literatura e out rasdis cip lin as, sem pre com ass idu idade, gosto

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e apr ove itam en to . Se u ex em plo to rnou -seno tó ri o. Mini st ros do Evange lho eautori dades civ is se interessa ram por e le.No va s po rt as se lh e ab re m ! Ma nd am -noen tã o a Ge ne bra, a Roma doprotes tant ismo , pa ra cu rsar aun iversi dade. A Câmara do Comérc ioassumia a responsab ili dade pe lamanutenção do estudante, o qual en travape la casa dos vinte e um anos por essa época.

Na cosmopol ita Gen ebra o moçonee rla ndê s fre qüe ntou as preleções dosprofessores ao lado de co legas de váriasna cion al idades . Pont if icava a li a fi gu ra deTe odoro Beza, sucessor de Calvino, aindamais ext remado do qu e ele nopr ed es ti ni sm o. Nã o fo i is to , po ré m, qu e olevou a incompatib ilizar-se com um dosmestres, mas, sim, a importância que sedava ao ensino ar is to té lico . Transfer iu -se,em conseqüência , para Bas iléa, sendorecebido al i co m si mp at ia . Conv id ad o apr of er ir al guma s pr el eções, tomou a epístolaaos Romanos como texto, e delas sedesincumbiu com agrado gera l. Seupr es tígio cresceu, a po nt o de a pr óp ri aun iv er si da de qu er er di pl om á -lo com oti tu lo de doutor cm Teolog ia : honra querecusou, alegan do se r aind a mu ito jovem.

Lo go de po is regres sou a Ge ne br a, on de otr at aram , ag or a, co m ma is at en çã o. Beza,re spo nd en do a um a ca rta vi nd a deAms te rdã, na qual se inda gava deArmínio, de u o me lhor testem unho quanto àsua piedade e dons intelectuais.

Ao fim deste s tr ês ano s de proveit ososest udo s, res olve u de sc er à It ál ia e ir aPá du a, on de o cé le br e Tia go Zabare lalecionava Fi losofia. Visi tou, também,ou tras cida de s e es te ve em Ro ma , qu e oim pr es si on ou co m re al desagrado. Mas,na pá tr ia distan te , indi víduos ma ldososco me ça ram a ma nc ha r-lhe a re pu ta ção,pr op al an do qu e confabulara com osjesuítas e chegara a be ijar os sapatos doPa pa . Er a o pr incí pi o da lu ta qu e ter ia deen fr en ta r du ra nt e o re st o da vi da .Fe li zm en te le va ra co ns ig o a Ad ri an oJu ni us na viag em e, po r is so , fá ci l lh e fo ipr ovar que nem sequer vira o chefe da IgrejaCatólica.

3. ARMÍNIO NO EXERCÍCIO DOPASTORADO.No pr in ci pi o de 15 88 a Cort e

Ec le si ást ic a de Am ste rdã chamou -o aexames, a fim de conf ia r-lhe enca rgos

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pastorais. Aprovado tanto em sua fé comonas dout rinas pe la unan im idade dosju lgadores , em fe vere iro, Armínio en trouno exercício do serv iço di vino . Em agostooferecera m-lhe o pasto rad o da imp ort ant eigr eja de Amsterd ã. Grande hon ra, semdúvid a, para um moço de vin te e oi to anos ,mas a responsabi lidade não era meno r,sendo uma da s ci da de s ma ismo vime nt ad as na ép oca po r se uin te rcâmbio comercial e pelo afluxo deestrangeiros.

No começo todos o olhavam comexpectativa. Os mais velhos , gera lmenteconservadores, receando as inovações deum rapaz que andara por ou tras te rras; osma is jovens, espe ran do algué m que oscom pre end esse. Os dia s se pas saram ecom o te mpo , Arm ín io se fez mere ce dorda est im a e a preço do seu rebanho.Pregava com sabedoria e poder. Nã ode ix ava impu ne o ma l, ne m de conf or ta ros an gu sti ad os . Ho uv e qu em se re fe ri ss ea el e ch am an do -o de "n av al ha pa ra fe ri ros er ro s da ép oc a" e "f il et e da ve rda de ".O li vr o de Ma la qu ia s e a ep ís to la ao sRo ma no s se rv iram , en tã o, como ba se desuas expo si ções. Se gu indo-se-lhes oEvangelho de Marcos , o li vro de Jonas e a

epístola aos Gálatas. Em 1692 as preleçõesversaram sobre as cartas dirigidas às seteigrejas da Ásia.

O ri co ne gocian te Kooruher t cr it icava,en tão, o ca lvini sm o ex trem ad o, dominant ena Ho land a. Quem , po r conseguint e,me lhor cred en ciado pa ra de fe ndê-lo qu e oex-aluno de Teodo ro Bez a? Ace ita a taref a,que era árd ua, desinc um bi u -se de la aco nt en to , po rém os es tu do s que pa ra is sofi ze ra , le va ra m-no a de sc ob ri r ce rt asim pl ic ações sé rias na do ut ri na dapred es ti na ção. E o resu lt ad o nem opo de re mo s pr ev er : qu er en do ap ag ar um abr as a, ateou uma foguei ra, ne la cres tan doas próprias mãos.

Em br ev e as di sc us sõ es lh e to ma ra mte mp o pr ec io so , co m prejuízos para seuses tudos, seu pastorado e sua famí lia. Osadv ersár ios não lhe dav am des canso .Mui tas vez es distorci am o sen tido de sua spal avras . Em 1591 tac haram-no depel agiano .

Pre cis amo s, no ent ant o, ser verdad eir ose dizer que , nes sa épo ca, sua s novas idéia sjá não se coa dun avam inte iramente com asda Igre ja Refo rmada, Mesmo assim,

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continuava gozando da estima geral, tanto que,em 1594, as au to ridades o chamaram paraco labo rar no plano de reforma das instituiçõeseducativas locais.

Ti ag o Armínio ca sou -se , a 16 dese temb ro de 1590 co m El izab et h Re al ,se nh or a di st in ta , pr ep ar ad a e de bo apo si çã o so ci al , po is se u ir mã o La wr en ceer a ju iz em Amsterdã . Ela sabiacompreendê -lo e se rv iu -lhe de am pa ro na sho ra s am ar ga s de su a vi da , qu er no me iode contendas e calúnias, quer nos momentos deenfermidade.

Uma pro va da ded icação de Tia go e suafam íli a par a com os paroqu ianos econc idadãos, temo-la du rante os te rr ívei sdias em que mort ífera praga se alas trou nacida de . Oran do a Deus , sent iram que lhespe dia fi ca rem ali , ao invés de se afastaremdo per igo. Escrevendo, nes ta oca siã o, aoseu amigo J. Uyt ten bog aert , pas tor daigr eja de Ha ia , di ss e: "as si m eu te nh o-meen co me nd ad o e a minh a vi da àmise ri có rd ia di vi na, ag ua rd an do ,di ar ia ment e, até que a requei ra de mim .. .e is to fa ço com a mente quieta, tranqüila eimperturbável".

Em ci rcun stân cias tã o di fí ce is, Ti ag oArmínio to rnou -se um mo de lo deab ne ga ção; on de ho uv es se uma ovel hapar a ser soc or rid a, lá se enc ont rar ia ele.Gas par Brand t, seu biógrafo, conta , apropós ito , o seguinte caso: achando-se opastor , ce rta vez, num dist ri to pobre, ouviugemidos fracos , pa rt idos do in te rior dehumi lde moradia. En trou e viu algumaspessoas que pareciam dominadas pel aenf erm ida de e pel a sed e. Dep ois de assoc orrer, de ixou rec urs os em din hei ro comos viz inh os par a lhe s mante rem aassi st ên ci a. Da va as si m pr ov as de bo msamaritano.

De out ra fei ta, tra tava-se de doismembro s da Igreja : uma senhora e umvarão. Atacados pe la te rr ível peste,sentiam-se perturbados no espírito. Por que?Indagou de le s Ar míni o. Re sp on de ra m-lh equ e nã o ti nh am ce rteza da própriasa lvação . O pastor lhes fa lou, en tão, dogrande amor de Deus, que mandou SeuFi lho ao mundo para sal var a todos ospecado res , ilustrando o ens ino com asEsc rit uras. "Credes isso? — pois essa é a fépela qua l so mo s ju st if ic ad os e ac ha mo spa z em De us ". Os do is en fermosencont ra ram o confo rto que anelavam,

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vindo o homem a falecer dias depois na maiortranqüilidade.

A pes ti lên cia gra ssou por out ras par tesda Holand a, abr ind o mais cla ros onde ague rra já os dei xara grande s. Le iden fo iat in gida . A un iver si dade pe rdeu al guns deseus mest res ilus tres . E quem ossubs ti tu ir ia? O nome de Armínio fo ilembrado para uma das vagas, efet ivan do-se, de fato, a esc olha dele, após terpercor rido os com petentes trâmites legais.

4. ARMINIO: MESTRE E POLEMISTA.Nã o er a co is a fá ci l pa ra Ti ag o Ar mí ni o

de ix ar o se u reba nh o. Am ster dã quer ia-lh e be m, es ta nd o el e já id en ti fi ca do co mos ha bi ta nt es . E, al ém di ss o, nu nc aas pi ra ra a se r profes so r na Facu ldade deTe olog ia . De outro lado, algun s colegas ocons ideravam elemento perigoso àformação das nova s gerações de min ist ros .

Franz Gom aru s era o pri nci pal del es.Cri tic ava-o e lan çava suspe ita s sobre suascrenças. Foi isso que levou Armínio arecusar o convite. As autoridades públ icasde Amsterdã tam bém não o que ria m ceder ,por jul gar em sua pre sen ça ne ce ssár ia à

cida de . Fo i quan do, pa ra di scut ir o caso ,reuniram-se em Haia delegados de váriasigrejas. O Rev. Uy tt en bo gaer t to mou ade fe sa de Ti ago, pa ssan do , emconseqüência, a ser elemento Suspeito paramuitos. Não contentes, estes apelaram para ochefe da Província, João Oldenbornveldt , pa raque, por in fl uênc ia de le , os Curadores daun ive rs idade não o invest issem no cargo.Os Cu ra do re s, po rém , co nf ir ma ra m ade ci sã o.

Ag ia m mal, então, os in im igos ,envolvendo o Estado em prob lema alh eio àsua alç ada . Afi nal , a igreja de Ams terdãced eu-o median te acordo, nas segu in tesbases: seria designado, pr im ei ro , o se usu bs ti tu to no pa st or ad o; di reito de re tornoa Armínio, como pároco da igre ja , se oqu isesse; atender ao pedido de Armín iopara tratar pessoa lmente com Gomarus doprob lema. Caso as suspei taspermanecessem depo is desta conferênc iaen tre ambos, o pastor recusaria o ingresso naFaculdade.

Arm ínio e Gom arus enc ont raram-se a 6de maio de 1603 , em Ha ia , na presença doSínodo , conforme vonta de do pr im ei ro . Ote ól og o de Le id en co me ço u lo go at ac an do

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o pa st or de Am st er dã , po r di sc or da r desu a suposta op in ião sobre o capi tu lo VI I deRomanos. Mas, depois de ouv ir suasexp licações, inteir ou-se de que eramace itávei s e não cor respondia m ao que delese pro palava . Di sc ut ir am , ta mb ém , ou tr ospo nt os , re pl ic an do el e a todos comsegurança. A reunião encer rou-sefraterna lmente. Todavia ainda restava umaex igem ia a ser transpo st a qu an to àin ve st id ur a na cá te dr a. Ar mí ni o pr ec isavasub met er-se a exame de Teo log ia perant euma com iss ão e def end er tes e dedou torame nto . É escusa do dizer-se qu e sesa iu bem em tu do . A te se ve rs ou sobr e ana tu re za de De us , e os ju lg ad or es fo ra mFr an z Go ma ru s, Hugo Grot ius, ju ri st a ete ólogo, e Méru la , to do s eles possuidoresde respeitável cultura.

Em po ssad o em seu no vo ca rgo,Ar mínio procurou desempenhá-lo comeficiência e dignidade. Numa carta, datada de22 de setemb ro de 1603, diz ia tê-lo ace ito ,não pa ra bu sc ar ho nr as ou ri qu ez as e,si m, pa ra se rv ir o Eva nge lho de Cristo .Pro fessores e alu nos o apr eci ava m. Comest es ins ist ia a que busca sse m aver dad ei ra sab edoria nas Escr ituras ,exempl if icando-o ele mesmo, diar iamente.

Esco lheu o li vro de Jonas pa ra suaspreleções. Ma s nã o po di a de ix ar dere co rr er , ta mb ém , ao No vo Testamento,para se fazer melhor compreendido . E is tofo i o bastan te para desper ta r o ciúme deGomarus, po is con sid era va tal coi sa umaint rom iss ão em seu campo de ensino . Ochoque se ria inev it ável ! Am bosrepresen ta ram te nd ên ci as di fe re nt es .Go ma ru s er a do s ma is ri go rososcalv ini stas, enquan to Arm ínio ado tavapos ição mai s sua ve, sem , no ent ant o, cai rno pel agi ani smo .

Do ter ren o pessoa l passaram aoteo lóg ico; da Facu ldade as discussões sees pr ai aram pe la s ig re jas e, em br ev e, po rtoda s as partes, o prob lema dapredes tinação to rnou-se o "p ra to do dia”.

Armínio não podia se r cu lpado pe lasidéias de ou tros , inclus ive dos alunos, masseus contendores não pensavam assim elhe at ribu íam verdadei ros disparates. Qu efa ze r, en tão? Qu ando poss ível , cham ava-os pa ra uma conferência pessoa l, de modoa di scut irem francamente o ass unt o emfoco. Se algué m tives se razõe s mais for tese coeren tes , ace ita-las-ia porque seu desejoera descob rir a ver dade.

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Um des ses det rator es fo i o clé rig o Fes -tes Hommiu s. Reuni ram -se os dois,con ver ten do-se aqu ele ao ponto de vis ta deArmínio. Outras vezes teve que sa ir apúbl ico para se defender , ou comparecerperante às au to ri da de s, ou ai nd a ,re sp on de r po r es cr it o. Di fa maram-no aténo est rangei ro, especialmente na Alemanha,Fran ça , Inglater ra e Sa vó ia . Sem querer ,de sper tavam interesse por suas opiniões e ofaziam conhecido.

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36 José Go nçalves Salva dor miin ia nimn o e Al eto dsmo 20

A sit uaç ão agravo u-se a tal pon to que asaut ori dad es acharam por bem reun ir emHaia os do is pr incip ais contendores, Tia goe Franz Gomarus, com a presença de oit ominist ros das Provínc ias Unidas, qua tro dosu l e qua tro do norte. A paz ci vi l es tavaameaçada e quer iam saber o qu e ha viaco nt ra Ar mí ni o. Era o qu e es te de se ja va :se r acusad o face a fa ce e nã o co mo sefa zia.

Goma rus compareceu e logo o atacou,af irmando que ensina va a just if ica ção dohomem perante Deus de modo estra nho.Ma s el e resp on de u qu e sua op in iãoco ncer ne nte ao as su nt o es ta va co nf or mea Ig re ja Re fo rm ad a, po is cr ia que ajus tif icação era pela fé, mediante a graça deDeu s.

Havia , de fa to, di fe rença entre ambos ,porque Gom arus dava toda a ênfase àgraça de Deus, mas negava o valor da féco mo o el em en to do la do hu ma no .Ar mí ni o pr ocura va concil iar as duas coi sas .Por fim o Conselho achou qu e aco nt ro vé rs ia nã o er a de mu it aim po rt ân ci a. O essenc ia l se ria ato le rânc ia mú tua, desde que houvessebo m es pí ri to no s do is . Goma rus, po ré m,

ca re ci a de st e sent imento , motivo pe lo qualmu itos dizia m: "é prefer íve l comp ar ec erpe rant e o tr ibun al di vi no com a fé dopas tor Arm íni o do que com a carid ade doteó logo Gom arus ".

A maior di ficu lda de est ava jus tam ent ena dou tri na da pr ed es ti na ção, en sinadapo r Gomarus e pe los ca l vin is tas ma isrigorosos. No concei to de Armínio, aprede st in aç ão ia de en co nt ro à na tu re zade De us e a do homem, gerava odesespero, ti rava o estímulo para uma vidade sant idade e diminu ía a importância doEvan ge lh o. Co nt ud o, de su a pa rt e, ani ng ué m im po ri a su as idéias ; haveriapa z. Gomarus, ao cont rá rio, não perd iaopo rtunidade para condená-lo, fosse nauni versidade , nos púlpitos ou perante oschefes das Províncias.

5. O FI M DA JO RN AD A.A sa úd e de Ar mí ni o, ab al ad a de sd e há

mu it o, em meado s de 160 0 agravou-seain da mais. Os est udos, as discussões e osdeveres univers itá rios exigiam maioresesf orços do que ele realmente podiaexpender . Seus membro s foram aco metidosde lan gor , seu estômago mal tol erava os

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al imentos e ainda por cima, faziam-lhepadecer mui to suas afecçõeshipocondr íacas.

Viu -se obr igado, por iso , a ret ira r-se par aa cid ade nat al e ali sub meter-se aoscu id ad os de um mé di co . Du ra nt e es tela ps o de te mp o Os am ig os tr ad uz ir amsu as ob ra s do la ti m pa ra o ve rnácu lo eescreveram algumas ou tras . O fo go dacont rovérsia se ala strou mais intens amente ,obr igando -o a com parece r de nov o perant eas aut ori dad es civ is e a dis cut ir, mais umavez , com Gom aru s, che fe dos rea cio nár ios.

As discussões foram verbais, mas cadaum ter ia que apresentar , dep ois , por esc rit o,as sua s razões , para ult eri or dec isão doSínodo a convocar -se pa ra breve. Adoença progrediu sem que os clí nic os apud ess em ata lha r. Par a seu s inimigos istocon sti tuía pro va eviden te de cas tigo div ino .Os amigos, no ent anto, lamentavam ospadecim entos de Armínio, o qual so fr iatudo piedosamen te e orava sempr e pe lo sse us e pe la Ig re ja . Re pe ti a co m fe rv orHebreus 13 :20-21 :

"Ora, o Deus da paz, que to rnou atrazer dent re os mortos a Jes us nos so

Sen hor , o gra nde Pas tor das ove lha s, pe losan gue da et er na al ia nç a, vo s ap er fe iç oeem to do o be m, pa ra cu mpri rde s a suavon tad e, ope ran do em vós o que éagradá vel dia nte dele , po r Jesus Cr is to , aquem se ja a glór ia pa ra todo o sempre.Amém"

O Rev. Bartolomeu Proevost ius, seudisc ípulo e, ma is ta rde, pastor emAmsterdã , di zia que o texto não mais lhe saíado pensamento.

Assistiram-no, também, durante toda aenfermidade, Simão Episcópio, Uyt tenbogaer,Adriano Borr ius, bons amigos etestemunhas de sua fide lidade a JesusCr is to .

O testamento que de ixo u é um exemploe fé e uma prova da sincer idade de seuspropós itos . Nele declarava conf iar a almaàs mãos de Deus, a cu ja presença ir ia semtemor, tendo a certe za de que O serv iracom simplicidade e lealmente, jamais sedesviando de sua vocação. E acrescentavanada ter ensinado em sã consciência quefo sse cont rá rio às Escr ituras . Semprebuscara a expansão da verdade cristã.

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Af inal , a 19 de ou tubro, Tiago Armíniodescansou em paz. Morreu como justo.Apenas com 49 anos . Sem dú vida um agr an de pe rda e quem ma is a sent iu fo ramos seus ínt imos. De seus sete fil hos ,res taram-lhe só dois, po is quase todos já oha viam preced ido no cami nho do cé u.La wren ce to rnou -se ne go ci an te emAm ster dã e o outro, Daniel, ganhou reputaçãocomo médico.

Pe dr o Be rt iu s, re gent e da Fa cu ldad e deTe ol og ia , que presid iu à solenidade domemorial, disse de Arm ínio, no di scur so :"vi veu na Ho la nd a um ho me m a qu em osqu e nã o o conhec iam nã o o po diames timar su fi ci en te men te ; aq ue les qu e nã oo es ti ma va m ja ma is o ha vi am con hec idosuf ici entemen te" .

Dom ingos Ban d, Hugo Gro ti us e Da nielHe iu si us , de di ca ram ao am igo e me st reinesquecível significativos poemas elegíacos.

C AP I TULO I I I

AS DO UT RI NA S AR MI NI AN AS

Por ma is or ig inal que alguém nospareça, descobrimos , ao an al is ar mo s suasid éi as qu e el as re fl et em um con jun to de Iatôr es e cir cun stânci as. Nun ca brotamsimplesmente da razão. Alg o lhes est imu louo apa rec imento . Isto par a nad a dizer domuito que se rec ebe por her anç a, di re ta ouindi re tamente. Fo i assim com os grandespensado res, filósof os, mora list as,soc iólo gos, pol íticos, etc . E Tiago Armínio seinclui nessa regra.

As di fi cu ldades gera is que os Países -Ba ixos enfrentaram durante algum asdécadas do sécu lo XVI, ca laram fundo emsua vida econômica, polí tica , social,inte lectual e re ligiosa. A gue rra daindependência , cont ra o domínio espanhol,int ole ran te, fanático, pro duz iu verdadeiratransfo rmação entre os neer landeses . Deum lado desenvol veu-se o ape go àliberdade, tanto civil como re ligiosa e dooutro, fomentou a at iv idade comerc ia l e

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in te lectua l. Aliás, segundo fri samosanteriormente, os germes de tudo isso jávinham de tempos passados.

Era natura l que, em ter reno como esse,desabrochasse tam bém o espíri to deto lerância . E de fato, vem os esta di st as dopo rt e de Jo ão Ol de nb or nv el dt ad vo ga re ma absolu ta liberdade de consciênc ia paratodos, fossem protestantes, roman is tas, ousocinianos . Hugo Grotius pensa va deig ua l mo do . Co ub e, po ré m ao ci da dã oDi rk Koornher t atear as ch ispas dacont rovérs ia que durante anos agitaria aIgreja Reformada dos Países-Baixos,influenc iado, cer tamente, pela obra ant i-cal vin ista de Sebastião Castel lio , pub licadaem 1578, a qua l vinha exercendocons iderável in fluênc ia a fa vor, dali be rdade de pensame nto.

Desde 1544 es se te ólogo vinhaat acando implacavelmente as idéias deCalv ino, na Su íça. No concei to deKoo rnhert todas as forma s de rel igiãodev iam ser tol eradas , mas , ao extern ar seupon to de vis ta, fer iu uma das dou tri nasfundamentais do calvin ismo, úni co sis temaque o Estado favorecia.

Logo a seguir, em 1602, do is ministr osde De lf t ad er ir am ao seu mo do de pe ns ar ,co mb at en do a do ut ri na da pr ed es ti na çã oen si na da po r Be za . Este mes tre eminen te,con forme dissemos, tinha ido mai s longe doque o próprio Calvi no , de sorte adesco ntentar alguns de sua conf issão. Nãose conformavam eles com que Deusdecretasse, só por si mesmo, a queda dohomem antes ainda de o haver cr iado . Issofazia de Deus, como dizia João Kolman, umtirano e executor.

Hav ia, poi s, nos Paí ses-Bai xos , umacor ren te de moder ado s e tol erant es, a qua lse fi lia vam negocia nte s, magistrados ,teólogos e min ist ros evangé licos. GasparKolhares , herói de Lei den , e RudolphSne lius, pat rono de Armínio, eram destes .Em meio da refrega , escre veu o teólogoGuil laum e p r o f e s s o r e m L e i d e n , u mt r a t a d o n o q u a l af irma va que, emma té ri a de re li gi ão , nã o de ve ha ve rconstrangimento. Aí es tá , por conseguinte,uma síntese do espírito da época.

Or a, Ti ag o Ar mí ni o vi vi a ne ss a Ho land ado sé cu lo XVI, hosp ita leir a, libe ral, de vist aslargas, aman te da liberda de, cio sa dosdir ei tos de seu s cid adã os, agi tad a, no

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ent anto, pe la f orç a da s ar ma s e pe laaç ão da s id éi as . Ho me m cul to, sincero ede esp íri to ele vado, não tardar ia a esbarrarcom o dogmatismo de sua Igreja.

A teologia eclesiástica tendia cada vez maisa sobrepor-se à teo logia bíb lica, em prejuízoda próp ria Esc ri tu ra . Discorda r dasdout ri nas já est abe lec ida s, import ava emato de qua se heresi a.

Duas delas constitu íam como queverdadei ros dogmas: a da elei çãoincond icio nal (ou, supralapsarian ismo) e a dagraça irresist ível. Sendo aque la atacadapelos mini stros de Delf t, nin gué m est ar ia emmelho res con diçõe s par a def end ê-la qu e opi ed os o e cu lt o Ti ag o Ar mí ni o. Es teac ei to u o con vit e, mas, à medid a queest uda va e discu tia o pro ble ma, tan to maisse enc ami nha va nou tra dir eção. Emres ulta do de tu do , ac ab ou po r se rco ns id er ad o "o fu nd ad or da es co la anti-calvinista na Teologia Reformada". (1)

Do supralapsariansimo pas sou aoinf ralaps ari ani smo , que ain da é ca lv in ismo,po rém mais suave. Teve, en tão, quede fender -se, escre ven do diversa s obras ,ond e esp elhava o seu pen samento, as qua is

chegaram às nossas mãos como pre cio sasre líq uias . Três dentre elas se destacam ,todas de 1608, e são: "Car ta a Hipo ly tus aCo ll ibus", "U ma De cla ração deSen timentos" e "Apologia".

Em 1629 um dos fi lhos pub lic ou as suasobr as com ple tas, ten do Jam es Nic hol stra duzido-as do Latim par a o Inglê s, em195 3. Por elas podemos ho je aval iar asconcepções re ligiosas de Armínio.

Ve jamos, então, sem mais de longa s, osrespectivos pontos fundamentais.

1. A RESPEITO DE DEUS.O ca lv in ismo da va ên fa se à do ut ri na da

sobe rania de Deu s, fazen do tud o dep enderde Sua exc elsa von tade e de Sua onipotência.Por Sua vontade criou todas coisas pa ra umfim de te rm inado, real izando-as at ravés deSeu poder abso luto. Age, por conseguinte,como Lhe apr az e só Ele con hece seusdes ígn ios. Se a uns pre des tino u pa ra asa lv aç ão e a ou tr os ne gou ta l pr iv il ég io , éporque julgou ser isto justo.

Arm ínio sus ten tava a soberania de Deussem cai r em ri go ri sm o. Ma s nã o

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co nc or da va co m qu e Ele de te rm inas se osato s dos seres livre s, e nem ainda quefosse ina ces sível à cap ac ida de hum ana ,tan to que os cr iar a à Sua imagem e Se lhesrevela ra de muit os modos, no passado e,af in al , co mp le ta me nt e, na pe ss oa de Se uFi lh o Je su s Cri sto . A revela ção é prova deSua boa von tade para com os homens e dacapacidade receptiva deles.

Urna co isa não pode ser boa porqueDeus não que r que se ja bo a. Ê impo ss íve lse r assim, po rque a just iça de Deus nãopermite. A predes ti nação, em vista di sso,não pode ser at o de Deus , nem se exal taao Cr iado r, reba ixan do-Lhe a própria criação.(2)

2. QUANTO À PREDESTINAÇÃO.Como dissemos, foi o pomo da discórdia.

Teodoro Be za, suc essor de Calvi no,Gomarus e outro s sustentavam ocalvini smo extremado. Pa ra eles , Deusmani fe stara a Sua glór ia por um decretoeterno, segundo o qual tinha, em Suamisericó rd ia , esco lh ido determinadonúmero de ho mens para a sa lva çã o, ede ixa do os restantes ao seu des tino, que

era a condenação. Segund o Alb ert Hen ryNewmam, no seu liv ro “A Man ual of ChurchHis tor y”, Vol . II, pág . 339 , s ão de Gom arusas seguin tes expressões : "Deuscons iderou o homem, no decreto dare pr ov aç ão , nã o co mo ca íd o, ma s an te sda qu ed a, e o próprio decreto da reprovaçãoprecedeu ao da criação".

Aí estava a predestinação incond iciona l,estabe lec ida pela von tade e sabedo ria deDeus, antes, até , que os mundos e os seresfossem criados.

Armínio viu as imp licaçõ es de tal doutrina.Ao invés de glo rif ica r a Deus, rebaixava -o eempobrecia a obra rede nt or a de Cr is to . ACr uz pe rd ia se u va lo r tr an sc en dental e ohomem não podia responder, de si mesmo,ao apel o do Sa lvador : "s im" ou "não ".Po is se gundo es sa dout ri na Deus já haviapr edest inado, por Sua vontade, os que iamsa lvar -se , e só est es, de fato, se salva ria m.A queda e a sal vaç ão dec or ri am po r igua ldo plan o di vi no . Todo s os ho me ns ca i riamem Adão. Mas aos esc olh idos o Criado rcon cederi a os meios de salvação e nenhumdeles ser ia capaz de res is tir à Sua graça.Cre r, per severa r na fé e ser salvo ser iamcoisas para eles inevitáveis. Os demais

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ficariam à margem de sse pr iv il ég io . Deusse to rnav a ar bi tr ár io e in just o. A Deus,por tan to, cab ia a culpa pel a int roduçã o dopec ado no mun do e, também, aresponsabilidade pela queda do homem.

Como conc il ia r tudo isso com aperfeição mora l de De us ? Cu lp ar aoho me m po r fa lt a qu e lh e fo rade te rmina da , se ria in just iça, quan do ajust iça é um do s fun dament os da gló ria deDeu s. Nem Ele pod e, por ato arbit rário deSua von tad e, salva r ao inj usto, como nãopod e conden ar ningué minde pe nden temente de sua fé . Deus ésempre coerente consigo mesmo.

Arm ínio, por ess a razão, vol tou -se par a oinf ralaps ari an is mo . Ou , me lh or , ac ei to u apr ed es ti na çã o co nd icion al . Deus sópred es ti no u após a qued a, levand o emcons ideração, po r Sua presciência, aat itude do homem em fa ce da te nt aç ão .Log o, a pr ed es ti naçã o er a co ns eq üênc iado ato hu mano e, de modo algum, oresu ltad o de um de cr et o pr ee st ab el ec id opo r De us . E, as si m, que da re al ça va aim po rtân cia e a re sp on sabi li da de dacriatura sem deixar com o Criador toda a culpa.

3. O HOMEM NO CONCEITO DE TIAGOARMÍNIO.O supralapsarian ismo glor if icava a

Deus, anulando o ho me m: ma s, qu an doArm íni o se de te ve a ex am in ar me lh or opr ob le ma , co nc lu iu , co m a Es cr it ur a, qu ea exal tação do Cr iado r ex ig ia a libe rdadedo homem. De Suas divin as mãos saíra umser racional , fe it o, espi ri tualmente , à Suasem elh anç a, e não um aut ômato. Dot ara-ocom a cap acida de de esc olha e opção ; fê -lores pon sável pe la conseq üên cia dessaesco lha; de u-lhe di spos içõe s paraconhecer a Deus e gozar a vida eterna .Bênção ou ma ld ição , e recompensa oucast igo são o fruto de suas deci sões . Po risso di z a Escr itura: "Aque le que qu iser ","aquele que cre r", "faze isto e vive", e "sêfie l e dar -te-ei a co roa da vida ".

Mas, admi ti da a predes ti naçã oab so luta , o livre-arbí tr io torna -seimpossível , po rque a von tade já se achadeterminada em seu exercí cio. Qualquerordem dada ao homem, nestas condições, écontra-senso.

4. O PROBLEMA DO PECADO

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Se o homem quisesse, poderia manter-se no estado em que Deus o cr ia ra , mesmoem face da tentação . Era li vre e tinhacapacidade para Lhe obedecer . Todavia,ag iu noutra di reção, esco lhendo,conscien temente, o ma l, com o que setornou pecador e, por isso , é responsáve lpor sua fa lta. Só assim, realmente, opecado e possível porque é desobediênciavo luntár ia . Da í a posição, claramenteagostiniana, de Armínio, nesse sent ido,quando fez suas as pa lavra s do Bispo deHipona: "pecado é de ta l mo do um ma lvo lu nt ár io , qu e nã o po de se r de fo rm aalguma pecado até que seja voluntário".

Se, porém, a queda estavapredeterminada, e fo rço samente secum pri ria , o pec ado dei xa de existi r , poi snão houv e li vre es co lh a. O homem ag iuso b o impu lso de uma fo rça ir resist ível ,que no caso era a vontade soberana de

Deus. Não pecara, de fato, por si mesmo . Aculpa recaia sobre Deus.

Armínio es tava longe de concorda r comes tas conclusõe s. Par a ele o hom em erarespon sável tam bém pel a transgressão, e opecado, um fato irrelutavelmente real .Porque o homem era livre , pecara e, comopecador, me rec ia o cas tigo de sua máesc olha. Deu s pod ia chamá-lo a contas .Ninguém Lhe pode imputa r suas própriasfa lta s. Ca da um é se nh or de se u de st in o.Aq ue le qu e se perde, perde-se por culpa sua.

O arm iniani smo , ena lte cendo o valor dohom em sem dim inu ir o caráte r de Deus,deu , então, à obr a div ina um cunho ético deque se ressentia o calvinismo.

5. O DECRETO ETERNO DE DEUS.Ti ago Armínio, o il us tre te ólogo de

Am sterdã também espo sava a idéia de umdecreto di vino, mas o conceb ia de mane iramu ito diversa dos ca lvi nistas . Era um"decreto grac ioso". Por ele Deu s resolve ra,des de a ete rn ida de, envia r ao mundo SeuFil ho na qua lid ade de Sal vad or . Todos

qua nto s cre ssem nEle e ace itassem Suaobr a redent ora , ser iam jus tif icados e salvos,mas quantos permanecessemvoluntar iamente em seus del itos e pecados,ser iam condenados. Sua vontade, porconseguinte, era que todos cressem e fossemsalvos. Po r Sua cu lpa ninguém se pe rder ia .

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Era a promessa do Evangelho.

Pa ra Ar mí ni o, o ho me m sa lv a va-se nãopo rq ue ti vesse sido ele ito , e sim aocon trá rio . Por ace ita r a Cri sto comoSalvador é que se tornava ele ito . A ele içãodecorre da identificação do pecador red imidocom a obra do Filho eterno de Deus.

Deu s, em Sua mis eri córdia , jápro videnc iou tudo que se faz ia mis ter àsalvação dos pecadores. E mais: pô -la aoalcance de quantos a qu iserem. Resta,somente, a cada um, entrar na arca queEle preparou . Se o homem quer , De us osa lv a. Ne m só o ho me m, e ne m De us só .Sã o os dois cooperando para o mesmo fim.Todavia os arminiano s, com exceção do sme todi stas , pa recem da r precedênc ia àação humana , com o que tend iam pa ra ope lagian ismo . O ho mem caminh a pa raDeus e Deus vem ao seu encontro.

6. A OBR A DE CR IS TO .Tiago Armínio insist ia em que a vida

eterna se oferec ia a to do s os home nsme di an te a ob ra ex pi at ór ia de Je su sCri sto. Ou melho r: a sal vaç ão era uni ver sal ,por que Seu sacr if íc io fo ra de ex tensaampl itude. O Fi lho de Deus morrera po rtodos os homens . Seu sangue bastara

su fi ci en te me nt e pa ra re di mi r to da ahu ma ni da de . N ele hav ia sup rimento par atod os os pecado res . A mais abj eta cri aturatin ha a sua sal vaç ão gar ant ida através doVer bo divino , desde que se voltasse paraEle e O acei tasse de coração. Jesusjamais se recusaria a receber a o pecad orarrependido.

Já , de igua l modo , se não podia af irmarta l quanto à dout rina ca lv in is ta . Por ela,Cr is to viera sa lvar aos que Deus deantem ão escolhera para isso. Seu sangu ebeneficiava a esses somente. Aosreprovados o sacr if íc io nã o aprove itava. Aobra expiatór ia limi tava -se, porconseguinte, a um grupo apenas: ospredestinados (para a salva ção) . Mas,segundo a po sição armin ian a, apos sib ili dad e da sal vaç ão exist e para todose não dep ende de determinação (esco lha)divin a. A vontade hum ana é fator "si ne quanon ": Cri sto red ime aos que O acei tamcomo Sa lvador . Is to é: sa lva aos quequei ram ser salvos.

Armíni o ju lgava a ob ra de Cr is to , comoadmi ti da pel os cal vin ist as, um ato hor rívelda par te de Deu s. Sim , po rque tendodecretado a sa lvação de alguns , estes dequa lqu er modo ser iam sal vos , sem havernec ess ida de do sacr if íc io de Seu próprio

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Fi lho. Além disso seria prova de maldade ,por que , pod endo salva r a tod os, não o qui s.João We sley, o fundador do Metodismo,di ria, sécu los depo is , que ta l at itude faziaa Deus pior que o diabo.

7 . O LU GA R DA GR AÇ A DE DE US NASA LV AÇ ÃO DO HO ME M.Aind a que o arminian ismo real ce o va lo r

hu mano , nã o de ve mo s co nf un di r se upo nt o de vi st a co m o do pe lagian ismo ,po is ambos se di st inguem não só quan toao concei to do homem, ma s, também ,quan to ao do pe cado e da graça di vina .

Pe lágio ensina va que o pecado de Adãosomente afe tara a este, nascendo-lhe osfil hos e, de igua l modo, todos os demaisdesce ndentes, com idênti ca spo ss ib il id ad es às qu e ele ti ve ra an te s deca ir . A sua fal ta consis tia , apenas , em mauexemplo para as gerações seguintes.Ninguém, portanto, nasce pecador, sendove rí di co di ze r-se qu e to do s tr azemco ns ig o o do m da graça, ou se ja : os me iosinatos para at ingi r a sa lva ção, caso sefaça prec iso. Aque le que ca ir , pode ráreerguer -se po r si mesmo. Deus já co locouà dispos ição de cada um os recursos pa ratanto. Pelág io , porém, conceb ia essesme ios como dispos ições individuais e

in fluênc ias ext ernas e não com o auxil iopes soa l de Deu s, at ravés do seu Espí ri to .Po r exemplo: a le itura dos Evange lhos , aimitação do procedimento de Nosso Senhor, etc.

Ar mí ni o ap ro xi ma va-se ma is deAg os ti nh o e, em mu itos po nt os , er aag os ti ni an o, de fa to. Nã o acei ta va fosse opecado de Adão só de conseqüênc iaindivid ua l, po is afetara a natureza humanae envolve ra toda a raça. To do s ca íram emAd ão . Ag or a, só pe la graç a de Deus podeo homem regen erar-se e obter a sa lva ção.Sem ela tudo é impossível ao pecador."Sem mim nada pode is", dis ser a bemJes us. Tod avia, Arm ínio dis cor dav a tan to deAgo sti nho com o de Cal vino, qua ndo negavater o homem fi cado reduzido pe lo pecado àinat iv idade. Houve algo que o homem nãoperdeu . Ainda lhe resta a capacidade derespon de r à graça de Deus e acei tá-la ourecusá-la . No ut ra s pa la vr as : ai nd a po ss uili be rd ad e e vo li ção e, assim , éresponsável por suas decisões. O hom emainda pode dizer "sim" ou "não" ao seu Criador.

Para Tiago Armínio a graça de Deus é aação operante do Esp íri to divin o jun to aohom em. É dom gra tui to e, com o ta l, nã ode pe nd e de qual quer mé ri to do ho me m.De us a reparte a todos os Seus filhos. Admitia,contudo, que, excepc iona lmente , alguém

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poderia de ixar de recebê-la . En tr et an to ,ne nh um a pe ss oa é fo rç ad a a ac ei tá -la . Agraça ce lest ia l pode , sim, ser recusadape lo homem, se gundo as seguintes passagensbíblicas: "E estais esquecido s da exo rta çãoque , com o a fi lho s, dis cor re con vosco: Fi lhomeu, não menosprezes a correção quevem do Senhor , nem desma ies quando porele és reprovado" (Hb . 12:5), e em Mt 23:37as signif ica tivas exp ressões do lamento deCristo sobre Jerusa lém: "Jerusalém,Jerusa lém! que matas os pro fetas eape dre jas os que te foram enviados!quantas vezes qu is eu reun ir os teusfi lhos, como a ga linh a ajun ta os seuspint inho s de ba ixo da s asas , e vós não oqui seste s!" Em Lc 7:3 0, lê -se: "Ma s osfariseus e os int érprete s da le i rej ei taram,qua nto a si mesmo s, o desígn io de Deus ,não tendo sido ba ti zados po r e le ". Noco nc ei to de Ar mí ni o a gr aç a pod eta mb ém ser resis tida, con forme a def esade Est evã o per ante o Sinédrio: "Homens dedura cervi z e inci rcuncisos de coração e deouv ido s, vós sem pre resis tis ao Esp ír itoSan to: assim como fizeram vossos pais ,também vós o fazeis" (At 7:51). Igualmente,a graça de Deus pode se r re ce bida em vão ,no s di ze re s de Pa ul o: "E nó s, naqual idade de cooperadores com ele,também vos exortamo s a qu e nã ore ce ba is em vã o a gr aç a de De us " (2C o

6:1).

Se o pecad or con corda em receber oauxíl io divin o, Deu s o coloc a em nov acon dição . Novas per spe ct iva s sedescor tina rão à sua fren te . O caminho daglór ia eterna se ab ri rá pe rant e seus olho s.Mas é ap enas o caminh o. A glór ia só seen cont ra no té rm ino. Impo rta, po is ,pa lmil há -lo at é ao fi m. O ho me m te m qu ese mo ve r e pi sar, às vezes, cardos epedregulhos fer inos . Sobrevi r-lhe-ãotr is te za s e se du çõ es . Po ré m, se mp re qu ede se je pr os segui r, sen ti rá que não seenc ont ra sozin ho: Jes us, o Salvadorcompassivo, caminha a seu lado e lherevig ora as forç as . Je su s nu nc ade sa mp ar a ao s qu e se ac ol he re m à Su aso mb ra am iga. Se qu is er em venc er ,ja ma is lhes faltará o auxílio de Deus, atravésdo Seu Filho.

E, dest e mo do , já en tr am os nado ut ri na da pe rs everança cristã.

8. A PE RS EV ER ANÇA MIS TA .De fi na mo-la , pa ra me lhor a

co mp re en de rmos . En ten de-se, por essadou tr ina , que o cre nte em Jesus , uma ve zre gene rado , jama is ca ir á da graç a di vi na ,

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vi nd o a perder -se de novo. A assistênciade Deus é de ta l modo ef ic iente que elese rá mant ido no caminho e sa lvo po r fim.Nada o ar rebatará de Suas mãos.Conforme Jo 10: 27-29; Rm 11: 29; 2Tm1:1 2; 2Tm 4:1 8 e out ras pas sagens. Era opon to de vis ta dos sup ralap saria nos e o é,ainda, sobretudo, das igrejas Reformadas oucalvinistas.

É in te ressante que Agos tinho, sendopredes tini sta, espos ou idéia bem cont rária,admi tindo que até o elei to podia ca ir e se rcondenado. Os arminianos , lu te ranos,qu aq ue rs , me to di st as e ou tr os ad ot amma is ou me no s es ta úl tima posição. Todosconcordam em que a perse verança nãodepende exclus iva mente de Deus. O crentenecess ita fazer a sua par te, porque a div inao será sempre. E a base se encont ra emtex tos , como Mt 24:12 -13: "E por semulti pl ica r a in iqüidade, o amor de mui tosse esf ria rá. Aqu ele, por ém, que per sever araté o fim, esse será sal vo" . Em Cl 1:2 3 est ádit o: "Se é que per manece is na fé ,al icerçados e fi rme s, não vos de ixa ndoafastar da esperança do evangelho queouvis tes, e que fo i prega do a toda criaturadebaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me torneimin ist ro" . Dando con selhos a Tim óteo,Pau lo diz : "E tu , ó Timóteo, guarda o quete fo i conf iado , ev itan do os fa lat óri os

inú te is e pro fanos , e as con tra diçõe s dosa be r, co mo fa ls amen te lhe ch amam , po isal gu ns professando-o, se desvia ram da fé" .(1Tm 6:20-21) . Outras pas sagens que sedevem examin ar, encont ram -se em Rm 9: 6:2T m 2:17 -18 ; 2T m 4: 10 ; 2P d 2:1-2; Hb2: 1; Hb 3: 14 : Hb 6: 4 a 6, e vs . 11 ;1J o2: 6, 9 e 19 ; e Ap 3:1 a 3.

Armínio parece ter sido mais consis ten teque os seus seguidor es, vis to que elesder am maior ênf ase à von tad e e aosesforços do homem, com o que tendiampara o pelagian ismo. Fo ram, po rconseguinte, ainda ma is libe ra is do que omestre.

Tiago Armínio nunca sistemat izou suasdout rinas. Expô-las segund o ascir cun stâ nci as e só com vis tas adete rm inad as ques tõ es e pe ssoa s.Ja ma is pe ns ou , ce rt a mente , em esc reveruma obr a de Teolo gia Sistemáti ca, edou tri nas houve, con hec ida s ago ra comoarm inianas, em que nem sequer pensara.Isso foi obra de seus discípulos, alguns dosquais fi guram entre os ma is notáve ispensadores dos Países -Baixo s, poden doenqua drar -se ao lado dos maiores teólogo sda Igre ja.

É di fíci l, mesmo, ju lgar a quem dar a

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pr imaz ia e créd ito, se a Simão Ep iscópio,au to r da pri meira con fissão de féarm in ian a, con sti tu ída de vin te e cin cocapí tu los, e, ainda , uma Apolog ia e umaInst itu ti on es Theo logi ca e, ou se a Ph il ipva n Li mb or ch , professor no Ginásio arminianode Amsterdã e redator da mais comple taexposi ção da dou trina de Armínio, em sua"Theo logia Christ iana ", ou , ainda, se aStephen Curcel laeus ou a John Le Clerc.

Foram esses os cont inuadores doinol vidáve l mest re da Un iversidade deLe iden e in icia dor de um dos movim entosque maior in fluênc ia têm exercido na vidada humanidade: Tiago Armínio, Arminius, ouHermanns.

REFERÊNCIAS E NOTAS:(1) Enciclopédia Britânica, vol II: pág. 386.(2) Newman, Albert Henry - A Manual of Church History,Vol II: pág. 339.

C A P Í T U L O I V

OR GA NI ZA ÇÃ O E DI FU SÃ O DOAR MI NI AN IS MO

Com a morte de Armínio o movimentonão cessou . As idéias nem sempredesaparecem com os seus geni tore s.Mu it as ve ze s é de po is qu e ad qu iremma io r forç a, se en cont ram quem asin co rp ore à pr óp ri a vi da . Fo i o que sepasso u na Holanda com o arminian ism o.

Amigos e di sc ípu los levaram-noad iante. Homens , conforme já fr isamos, daenv ergad ura de Oldenbo rnveldt , HugoGro ti os , Jo ha n Uy tt en bo ga er t, qu e er a oma is ínt im o de Armínio, e Simã oEp iscópio, seu sucessor em Le iden .Mui tas pes soa s de pro jeç ão e mais de umadez ena de pas tores se incluíram, desde logo,entre os adeptos.

Assim, a controvérsia prosseguiu, cada vezmais acesa, agitando os Países-Baixos,env olvend o, tam bém, a pol íti ca, em razãodas afi nid ade s que ha via do Es ta do com aIg re ja Re fo rmada e do própr io ca rá te r do

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mo vi me nt o. Ac on te ce qu e Ol de nb or n-ve ld t, al ém de simp át ic o ao armi ni an ismo ,de fe nd ia o regime republ icano, en quan toque o pr íncipe Maur íc io de Or an gepu gn ava pe lo na cion al ismo cent ra li zado re er a supr al ap sa ri an o. O ar mi ni an ismoad vo ga va a to lerância e a liberd aderel igi osa , ao pas so que o cal vin ism o tendia

para o dogmatismo e era poucodem ocráti co. Aquele procurava rea lça r ovalor do hom em, ao passo que esteex al ta va a so be ra ni a de De us . Co mo sepo de ri am , en tão, nessas condições conciliaros dois pontos de vista?

Ia m as co is as em ta l pé , qu an doOl de nb or nv el dt , chefe da Província deHolanda, pediu aos seguidores de Armínio,is to em 1610, preparassem umadeclaração de su a fé , a qu al ve io a se rco nh ec ida como "R ep rese nt ação" , a fimde ser ap resentada ao Governo, pa ra ,de sse mod o, con seguir fossem tolerados ,pel o menos. Daí , também, a denominaçãoque se lhes deu de "Represen tan tes".

Redigi ram, po is , o cé lebre docum ento,ne le expondo os cinco pontos fundamentais,seguintes, por nós assim resumidos:

1) De us , po r me io de um de cr et oet erno e im ut áv el, res olveu sal var , atr avé sde Jesus Cri sto , a tod os que O acei ta ssemcomo Sa lvad or e Lh e fossem fi éi s at é aofim , e con den ar aos que vivess em ali ena dosdEle, con for me Jo 3: 16 : "P or que Deusam ou o mu nd o de ta l mane ira que deu seuFi lho unigên ito , para que todo aque le quenEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna".

2) Jes us é o Sal vador do mundo ,hav end o efetu ado um sac rif íci o por todosos hom ens e em par ticu lar , pel o indivíduo.A reden ção é un ive rsal . Mas só se salva mos que se arrependerem e crerem nEle.

3) Ni ng ué m po de , po r si só , fa ze rqu al qu er be m ou atingir a salvação.

4) O pe ca do r ne ce ss it a da gr aça deDe us , se m a qual nada lhe é possível; todavia,ela não é irresistível.

5) Deus, por Sua graça, assiste aocrente e o ajuda a tudo vencer , caso dese jeo auxíl io divin o e não permaneça inativo.

Os calvi nistas retru caram com uma"Contra-Representaç ão". A po lêmica seamargou. Os contend ores perderam aserenidade. Os argumentos já não tinhameloqüên cia ba stan te . Irmã os pe la cren ça epe lo sangue se ent regara m à luta armada ,legando-nos exemplo dos mais tri ste s.

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Af ina l, Mau ríc io vence u, apo iad o peloscal vin istas, mas, dia le tic amente osarm ini ano s perman ece ram de pé. Nin gué mos derr ibou, embora Oldenbornveldt fossede capi tado na pr isão e Grot ius ti vesse deex il ar-se da pátria.

Já quase senhor da situação, dá opríncipe de Orange . na qual idade deStadtholder dos Estados Gera is , in te irasol ida rie dad e ao Sín odo que se aca bava decon vocar, pre te ndendo , po r esse me io ,un if icar , também, a ad mini stração rel igiosa .

A magna assembléia teve lugar na cidadede Do rt du rant e se te me se s (1 3 no vemb rode 16 18 a 9 de maio de 1619), e nelaest ive ram presen tes 84 teó logos e 18delegados seculares. Diversos governos civis,onde o prot es tant ismo do ti po Refo rmad ofora admi ti do , ma ndar am rep res ent ant es: aIng lat er ra, o Pal at inado , Hes se, Suíça eBre men. Deixa ram de com parec er os daFra nça e Br an de nb ur go .

À fr en te do pa rt id o ar mi ni an o ac ha va-se Simão Episcópio , seu principal guiateo lóg ico desde a morte de Armínio. Eramquatorze , com ele, mas nem tod os tinhamdi re ito a voto. Al iás tomaram-seprov idências para que os cons iderados

heterodoxos perdessem a hab il it ação parao conc lave . O próp rio Síno do sepredi spusera a manter seus padrões e asubjugar a “he resia ” do s Represen tant es(a rm in iano s) . Po uco se po de ria espera rem fa ce dis so. E, de fato, con qua nto fossebel íss ima a exposiç ão dout rin ár ia deEp iscópio, os adeptos do arminian ism oforam tachados de he reges e conf irmada a"Con tra-Representação", a "Con fi ssãoBe lga" e o "Catec ismo de He ide lb er g" .

Os mi ni st ro s ar mi ni an os ti ve ra m qu eop ta r en tre o "A to de Cessação", que osob rigava a si lenc ia r quanto às sua screnças, e o exí lio . O interessante é que seque ria ext inguir a foguei ra, espalhando-lheas brasas, sem se percebe r que elas ir iamcont inua r a arde r nout ros lugares. Iamle vá-las pa ra o es tran ge iro, onde tambémgerminariam . In clus ive de legado s da sna ções , presen te s ao Sínodo , acolhe ramcom simpat ia a bem fundamen tada defesadas idéias arminianas.

Qua ndo , mais tarde, apó s a morte deMau ríc io, oco rrida em 1625, os ex iladosregressa ram à pátr ia , o movime nto já ha viaganhado ma io r ampl itude. E asau to ridades trat am, da i em dian te , comma is clem ên cia ao s ad ep to s doarminian ismo , fa cu ltando -lhes o pr iv ilég io

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de ed if icarem igrejas para si e de terem assua s escolas par ticulares .

Amste rdã e Roterdã tor naram -se, ent ão,os seu s cen tro s pri nci pai s. Naq uel aest abe lec eram um sem iná rio teológico pa rao preparo de minist ros, e em cu jascátedras se assentaram os ilust resEpiscópio, Limborch, Curcellaeus, Le Clerc,Cattenburg e outros.

Organi zando-se em comunidadeeclesiást ica , os arm inianos adotaram osistema presbi teria no como fo rma degoverno. Consta, no entanto, que algun sminist ros se incli navam, pre fer ent emente ,par a o reg ime epi scopal , confo rme exis tiana Igre ja da Inglater ra (Ang li cana).

Ep iscópio redigiu uma Con fissão de Fé,des tinada a ser vir de pad rão dou tri nár io ,mas nenhum pastor era obrigado a acei tá-la ou a pres tar-lhe juramento. A tole rânc ia doarminian ismo via-se ref let ida aqu i mais umavez , e ain da dep ois se af rou xoupaulatinamente, com grandes prejuízos para osistema.

O pro gresso do arm iniani smo foi pequenonos Países-Baixos. É que seu rival, ocalvinismo, já se havia radicado for temente nasprovíncias do nor te, quando ele despontou

al i, es tava melhor organizado e contavacom o apóio do Estado. Não o pod er iadesalo jar, assim, tão faci lmente. Mas,tam bém , est e, fo i imp ote nte par a elim iná-lo .Ain da hoje se mantém lado a lado, se bem queo número de suas congregações e de seuspastores seja reduzid o. A Igre ja Refo rmad aconserva a pred om inân cia.

Cont ud o, no estrange iro, a in fl uênc iado arminian ismo se acen tua dia a dia e nosmais variados seto res. Em diversos países,onde o ca lvi nismo teve épocas deesplendor, perdeu muito de seu br ilho coma in trodução das idéias arminianas,especialmente na In glat er ra , EUA e ou traspa rtes . Além disso, obr igou, por mais deuma vez , cer tos teó logos afe içoados aoca lvi nismo a lhe suaviza rem algum asarestas, ta l como sucede u com Am yraldu s,na Fran ça; Richard Baxte r, na Ing laterra, eNat anael Tay lor , nos Estados Unidos ,chegando todos eles, como veremos, acriarem novos sistemas teológicos.

O ARMINIANIS MO NA INGLATER RANa In glat er ra o arminian ismo se

in trod uz iu de ma nei ra int ere ssante . Ent reos pre sen tes ao Sínodo de Dor t, achava -seo clé rigo John Hales, de Eton, pro fes sor degrego em Oxford, desde 1612. Contou ele

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mesmo que, ouvindo o arrazoado de SimãoEpi scópio sobre João 3:16, quando defend ianaquele conclave a doutr ina dosRepresentantes (armin ianos) , desped iu-sede Calvino, ou seja, de sua dou tri na, comum adeus. Regressando à pátr ia , tornou -selá def ensor ardoroso do arminianismo.Novos simpat izantes surgiram, não obstant eanglicanos e calvin ista s lhes movessemoposição. À cor ren te de ten dên cia sarm ini ana s, que se vinha des envol vendo nopaís, independentemen te da con tinental,graças sobretudo às idéias do pregador PedroRaro (1531-1599), de Cam bri dge , jun tava-se,ago ra, a de John Hales.

A par tir de meados do século XVI I oimpacto do arm iniani smo sobre a teolog iada Igre ja Angl icana fazia -se sent ir, porisso, com maior realce.

Tendo pe rmanec ido fi el à teolog iaromanista até à asc ens ão de Edu ard o VI , aIgr eja da Ing lat erra abr aço u, a segu ir, poralgum tempo, o luteranismo, ader indo, afinal,ao ca lv in ismo, para depo is manter -se en treo protes tant ismo e o romanismo . Cannondiz bem do espírit o angl ic ano, quandodeclara: "O angl ican ismo fo i um te to queagasalhou muitas op in iões". ( 1) Não sedevia es tra nhar que o arminianismo achasselugar ao lado das demais concepções e

costumes adotados pela referida Igreja;naturalmente à custa de reações econt ra tempos. Por exemplo, quan do , em15 95 , Pe dro Baro levantou a suacont rovérs ia , a oposição respondeu-lhe comos "Ar tigo s de Lambeth", for tementecalvin istas. Já o mesmo não acon teceu noreinado de James I, ao tempo de Wi lli amLaud, bispo de Londres e arcebispo deCantuá ria, a pa rt ir de 1633 . Como líde rdos angli canos, moveu Laud tenazcampanha con tra o cal vin ism o. Nadis cus são que , em 162 2, sus ten tou con tra ojesu íta Fisher , reve lou suas incl inaçõespa ra o arminianism o, dan do à fé umaint erpre taç ão rac ion al, de sorte a fazer dohom em ope ran te com Deu s na obr a de suasal vação. Tanto qua nto lhe permi tia m asfunções ep isc opais, ob teve que o re i Carlo sI pusesse à frente das paróquias clé rigosde ten dên cia s semelh ant es às sua s, mastão arb itrá rios se tornaram os dois, por fim ,e a tal pon to des conten tar am pr inc ipa lme nteos calvi nista s, que est es, sob a direção deOliver Cromwell, executaram a ambos eorgani za ram um gove rno repu bl icano.

É da í em dian te que o arminianismoganha terreno, absorvido, em parte, pelosang lo-cat óli cos e, em par te, peloslat itu dinari ano s, ass im chamados osprimei ros por suas simpat ias romanistas e os

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últ imo s, pe la imp ortân cia que davam àrazão nas discussõe s rel igiosas.

Os doi s grupos per tenciam à IgrejaAng licana, um a High Church, o outro aLow Church, ou se quisermos: à Al ta e àBaixa Igre ja. Os lati tudinaria nos, emb orapro tes tan tes mais ort odo xos , de modoalgum , de sejavam na Igre ja, um calvin ismorígido e por isto, vieram a ser cognominadosde "Armin ianos de Cambridge". Ao primeirogru po perte ncera m Hoo ker, Lau d, Lan celotAndr ews , e ao se gundo, ao qual , at é ce rtopont o se po de considerar arminiano, LordFalk land, John Hales, Ch il lingworth,Jeremias Taylor, Whichcote , Cudworth ,Wilkins e outros, diversos dos quais filiadosaos Platonis tas de Cambr id ge .

É impo rtan te lemb ra r, a inda , a po si çãoque nessa mesma época tomou o pur itano,dissidente , Richard Baxter (1615-1691),esforçando-se por conciliar o calvinismo e oarminianismo.

O Bispo Burnet , em 1699, deu novoimpulso às tendências arminianas, quandopub licou sua obra "Exposi ção dos Trinta eNove Art igos ", dedicada ao rei Gui lherme III .Ne la , ao in te rpre ta r o Ar ti go XVII , quetratava da Predestinação, deu -lhe sentidoarminiano e lhe atr ibu iu igual val ide z ao

cal vin ist a. Que r dizer que tan to importavaum qua nto o outro. Ambos p odiam seracei tos. Havia lugar na Igre ja para as duasposições.

Já no sécu lo seguinte o redu toarminiano se apresenta na vanguarda. Oquadro tem, agora, novo aspecto: os "Tr intae Nove Art igos" são, ainda, calvinistas, mas oclero anglicano, de modo geral, é arminiano emsuas concepções. É bom lembrarmos destefat o, vis to que o fut uro organi zador dometod ismo viveu nesse séc ulo e faz ia par tedo min ist éri o da igreja of ici al (An gli can a) .Os wesleyanos não seriam, pois , os únicos aabraçar o arminia nis mo. À mesma linha depen samento se fi liam os Ba tistas Gerais, daInglater ra; os Quaqu ers; os Batistas Li vres,dos Estados Unidos da América; osRepresentantes, da Ho la nd a ; a Ig re jaPr es bi te ri an a Cu mb er la nd , do s EU A; eoutros mais.

O ARM INI ANINMO NA FRA NÇANa Fra nça tam bém o arm in ian ism o

rep ercut iu muito cedo, como bem comprovaa posição tomada por algun s professores daAcademia de Saumur, onde se ensinava,antes, a teolog ia de Ca lv in o. A pa rt ir de1633 contava essa faculd ade em seu rol ,diver sos mestres notáve is, den tre os quaisse des tacavam Lou is Capellus, Moysés

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Amyraldus e Jos ué Pla cae us. Não secon formando ele s com o cal vin ism o pu ro ,ad ot ar am po nt o de vi st a me dian ei ro , en tr ea dou tri na da Igr eja Ref orm ada e a dosarm inian os, torna ndo-se conhe cid o porcal vin ismo uni versal ista ou hipoté tico.

Dois pontos eram fun damentais nes tanova concepção teo lóg ica : o da ação doEspí ri to di vino e o da Graça. En tend iam osseu s aut ore s que Deu s não agiacoe rci tivament e sobre os sen timentos dohomem, mas sim atuando , primei ramente,sobre o intele cto e, ent ão, atr avés des te,sobre a alm a. O int elect o, uma vezesc lar ec ido , é que levav a a alma àregeneração . Deus era a causa pr imár ia dasa lva ção. O hom em, porém, tinha a suaparte ; merecia certa consideração. Osegundo ponto, re fe rente à Graça, teve emAmyraldus o mais ardoroso defensor.Ens inava esse mes tre da Academia deSaumur a interessante concepção da existênciada Graça uni versal hip oté tic a, que eleexp res sava na seguin te lingu agem: há emDeus o desejo (ve llei tas, af fectus ) quetodos se arrependam e sejam salvos(arminian ismo), mas por um motivoqua lqu er a Graça não é ced ida a todos(ca lvinismo). Par a tan to Deu s env iou SeuFil ho ao mundo, mas as c ondiçõesex ig idas são um ób ice a que todo s

pa rt ic ip em da sa lvaç ão . (2 )

Há em Am yral du s um ide ali smounive rsa lis ta ao lad o de um par tic ula rismocalvin ist a acent uado. A sal vaç ão éuni ver sa l ape nas hipot eticamente, ao passoque o número dos salvos é lim itado, porqu enem todos recebem a Graça. Apesar distoo ilus tre pro fesso r de Sau mur tev e quedefend er sua dou tri na, con sideradaincons is tente com os padrões da magnaassemblé ia de Dor t, por qua nto do is sínodosnac ion ais ass im o en te nd ia m.

To da vi a um di sc ípul o, Clau de Pa jo n,pr ofesso r em 1666 na mesma esc ola , nãosó con tin uou a susten tar as idé ias deAmyra ldu s, mas ava nço u ain da mais,ensinando que a operação do Espíri tosobre o in te lecto também se faz por meiosexternos, tais como os evangelhos, asci rcun stân cias , et c.

Na In glat er ra ad ot aram po si ção mais oumenos seme lhan te à de Amyraldus, Wardlaw,John Brown e James Richards e nos EUAalguns teólogos da Nova Inglater ra, comoEmmons, Taylor, Park e Beman.

O ARMINIANISMO NA ALEMANHAE que diremos da Alemanha, berço do

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protestant ismo e de tantos pensado reseminentes? Se quisermos, podemos recuaraos tempos da Reforma. Comecemos pe loinolvid ável Ph il ip Melanchton, amigo ín timode Lutero e seu coad jutor na célebreConf issão de Augsburgo. Nenhum outroviveu tão perto do coração do grande reformadore nem melho r lhe sec und ou os esf orçosnaqueles tem pos da agi tada car rei ra. Hãode ser colocados sempre na lis ta dasgrandes amizades.

Melanchton, não obs tante, eraqua torze ano s mais novo do que Lutero,pro vinha de famíl ia bem dotada e receberaeducação mais aprim orada. Duas pessoas,por tan to, de idades e psicologias diferentes.Mas os do is se completaram. A calma deMelanchton se con trapôs muitas vezes àimpetuosidade de Martinho Lutero, ao passoque o conservan tismo do ex -mon ge deWit tenberg sal vou o com panhei ro dedescamba r com o seu libera lismo parasit uaçõe s per igo sas, tal com o suced eu emAug sbu rgo ao discuti r com os teó logosrom ano s, por ord em do imp era dor Carlo s V,os termo s da conf issão dout rinária doprotestan tismo alemão.

Ninguém pode imag inar que rumotomaria o movimento lu terano sem oauxí lio de Phil ip Melanchton .

Lutero e Melanchton se davam muitobem. Note-se , porém, que suas teologiasdivergem em alguns pontos. Melanchton,por exemplo, em seu con ceito s obre aIgr eja enf ati zava a im portância da razão, epor isso é ela consti tu ída dos que acei tama verdadei ra dout rina do cr is tian ismo. ParaLu tero a Igreja é a comunhão dos fié is.Melanchton pensava da San ta Ceia comosímbolo do sacri fíc io de Cri sto , rece bendo-Oapenas aqueles que tivess em fé nEle .Lut ero, no entanto, era real is ta, emborare je itasse a tra nsubstanciação . Outro pontoé o que diz respei to à sa lva ção do ho mem:Mart inho Lute ro co locava o homem nainte ira de pendência de Deus, enquan to queo companhei ro e amigo também exigia a co -par tic ipa ção da von tad e hum ana . Noconcei to de Melanchton três elementosconcorriam para se efetiva r a salvação: oEspírit o Santo, a verdade bíb lica e a vontade,sendo que o Espírito é a causa eficiente, aPalavra é o meio par a alcançá -la, mas,dep ois de tud o, sem o exercíc io davon tad e, o hom em não a con segue . É o quese chama de "sinergismo".

Algumas das idéias de Melanchtonprovocaram depois verdad eira agi taç ão naAle manha , divid ind o a Igreja em dua s alas:os con servadore s e os fi lip ist as ou

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sin erg istas . As cont rové rsias somentecessaram em 1580 , com a “Fórmula deConcórdia”, e uma de las fo i, exatam en te ,sobre a pre des tinação . Af ina l, a que stã oficou def ini da nesse documento, doseguin te modo: “É da vontade de Deussa lvar a to do s. A Su a Gr aç a é un iv er sa l.En tr et an to Êle sa lv a ap enas ao s qu eacei ta rem a Cr is to . Deus sa lva emcons ideração ao s mé ri to s de Cr is to ”. Oca lv in is mo , en tã o, ma is uma vez, cediacaminho.

Pou co dep ois a contr ové rsi a vol ta aati var -se com a che gada à Alemanh a dosuíço Sam uel Hubber. Obrigado a de ixar apátr ia por causa de seus concei tos anti -ca lv inis tas , fi lio u -se à Igreja Lut erana ,ser vindo com o pasto r em Tubin ga e, aseg uir, como pro fessor da Unive rsi dad e deWittenbe rg. Logo se pôs a ens ina r adou tri na do abs oluto universal ismo: Deusdesde a eternidade elegera todos oshom ens par a a salva ção , mesmo sem levarem con ta a fé . Ora, is to , era demais,cont rariando até o espí ri to da “Fórmula deConcórdia ”. Em conseqüência, dois colegassaíram a campo e lhe rebateram as idéias.

Até no seio da Igreja Cat ól ica Rom anase dis cut ia o momentoso prob lema do livrearbí tr io e da parte do ho mem na sua

sal vaç ão. Dom ini can os (to mista s) eFrancis canos (sc ot ist as) ne le seenvolve ram. Reacendem -no ao tempo daReforma, Michae l Bajus e seus colegastambém scotistas, todos favoráveis àparticipação do homem, ao pass o que osopo nen tes se fi rma vam em Sant oAgo sti nho. Quando os jesuítas quiseramfazer o mesmo, Cornél io Jansen, bispo deYpres, e mais alguns companhe iros daabad ia de Po rt -Ro ia l se le vant aram emde fe sa da dout ri na da sal vaçãoexc lus ivamente pela graça, con for me aacredi tavam esposada por aquele teólogonorte-afr icano (Agost inho ). E o resu ltadove io de pron to : uma pert inaz pe rseguiçãomovida pel os inf lue nte s jesuíta s con tra osjan sen istas, a qua l co limou com a fundação,por estes, de nova ins tituição ecle siá sti ca,ind ependente de Rom a: a Vel ha IgrejaCat óli ca, dos Paí ses -Baixos. Apó s oCon cílio do Vat ica no (18 70), um novo ramose destacou da Igre ja Romana, por causado dogma da infalibil idade pap al, unindo -seà Velha Igreja Católica.

O ARMINIANISMO EM TEMPOS DERENASCENÇA

Agora, podem os leitores compreender melhorpor que escrevemos algures a respei to deArmínio, dizendo que suas idéias reflet iam

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um com plexo de fato s e de ci rcu ns tân cias.É que hav ia por todas as par tes o des ejo deval ori za r o ho me m. Agos ti ni an ismo eca lv in is mo já não se coa dun ava m com aépo ca. A Ren ascen ça, as des cob ertas e aprópria Ref orma tinham proporcio nadonovas luzes. Outros hori zontes sedescortinavam aos homens. O arminianismoencontrava solo propicio!

Mas , para não sermos parcia is, que remosesc lar ece r, ainda, que o arminian ism o fo ialém dos Países-Baixo s e não se limi tou,simp lesmente , ao campo teológ ico. Suainf luên cia calou na Filosof ia, na Ciên cia doDireito, na Polít ica e no terreno da prát ica,pres tando desse modo va liosíss imacontribu ição à humanidade.

Hast ings adverte que nem sempre o fezdiretamente, mas serviu-se de um meio. Foi ocaso, por exemplo , da Filo sof ia. O veículoque lhe levou o arminian ism o fo i opensamento re ligioso. E expl ica-se :du rante o sécu lo XVI a at iv idade teológ icapredominou sobre a Fi loso f ia , dando -se ocont rário no sécu lo XVII , po rém a basees ta va no XVI. E o arminianismocont ri bu iu com a sua pa rte. Real çando acapa cidade do hom em, pod ia maisfacilmente al iar -se à inves tigação, à cr ít icae, en fim, ao avanço cien tífi co . Por isso

vemos a fi loso fia cartes iana serperseguida na Holanda pelos cal vin istasort odoxos , ao pas so que o arm iniani smo afavore cia . (3)

Eis o que a respei to esc reve Van Gelder :"O calvin ismo, que domina va asuni versidades nee rlandesas, não tolerava asidéias divergentes, nem filosóficas, nemfís icas. Ass im, então, por seu esp íri toconservador, a rel igião of ic ia l era causapara que muitos sábios se conservassemlonge das uni versidades. A fil oso fiamoderna não era de todo tolerada pelosprofessores calvinistas: Descartes e Sp in ozaso fr er am a ex pe ri ên ci a ". ( 4 )

Tã o rí gi da po sição soava ma l até nose io da Igre ja Refo rmada, revoltando aindivíduos bem formados, como o teólogoJohannes Cocceius (1603-1669). Nacon tro vérsia que este man teve com Voe tiu s,o govern o teve novamente que se envolver.Cocceius fo i, também , um do s au to res daTe olog ia Feder al, cuj a final ida de era ,out ros sim , a de sua viz ar os rigores docalvinismo.

O arm ini ani smo pos suí a ten dên cia par a amoderação e a tolerância. harmon izando-sefac ilmente com o esp írit o da época.

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Encont ramo -lo , po r esse moti vo , acei tandoa contribuição humanística da Renascença,favorecendo o uso da razão, sem descurar ovalor da ética e da revelação divina. Pôdeassim, livrar-se de cair tanto no racional ismocomo no hum anism o puro. Na Holandasoube com preender Des car tes. NaIng lat er ra ampar ou os lat itu dinaria nos emseus vôos ar ro jados . Na Alemanha ser viude inspiração a Kant e a Schleiermacher,deixando marcas inde léve is em seu ssis tem as.

Sab emos da imp or tân cia que Tia goArm ínio dava à cap acida de e àres pon sab il ida de do hom em. Poi s bem : aênf ase dad a pel o grande fi lósofo de Stu tga rtà natureza moral do homem é ref lexo dainf luência arminiana. E o mesmo se podeafi rmar quanto ao teó logo Schleie rmacher.Hast ings, a quem recorremos mais umavez, in fo rma-nos que "Sch leiermacher, nasua doutri na da absolu ta dependência deDeus , re fle te Calv ino, ao passo que, naimpo rtância dada ao sent imen to re ligioso ,segue Armínio". (5)

No set or dos dir eit os do hom em, oarm ini ani smo fo i além do argumentoteológ ico. Ad vogou a libe rdade deconsciê ncia, ens inando o respei to mútuo.Todos são igua is pe rante a le i e pe rante

Deus . Há di re it os que ningué m pode ti ra rao se r humano . Daí, ve ri fi ca rmos , dent roda própria Holanda, os arminianosbaten do-se pe lo regime repu bl ic an o. É aogr an de ju ri st a Hu go Gr ot iu s qu e se dev e afun daç ão do dir eit o intern aci ona l.Rec ebe ndo dos anti gos filósof os e juri stasos conceitos de "jus natura le" e "jusgen tium", fê-los pas sar pel o cri vo doarm ini ani smo e, assim, os inco rporou àpo lí ti ca , como norma para as naç ões . Hádir eit os nat ura is e os há con ven cionai s:este s são criados pelos homens, aquelesnascem com eles.

O arminian i smo chamou a atenção paraa dign idade hum ana . Deu ao hom em sensomais cla ro do seu pró pr io valor, rea lçandoseus deveres e suas possib ilidades. Fê-loma is cônscio de sua co-parti cipação naobra de Deus. Ince nt ivou -o a me lh orco mp re en de r o pr óx im o e a in te ress ar-sepor seu s pro blemas. Por que , se o des tino anin gué m é imp ost o, a sit uaç ão de qua lqu erum pod e ser modif ica da. Visto que ,igu alm ent e, Cri sto deu Sua vid a por tod os,a sal vaç ão é unive rsa l. Todas as raçasnec ess ita m do Evange lho . É dever,por tan to, dos cri stã os levare m as Boa sNovas a tod os os rec ant os da ter ra. Poriss o afi rma Hast ings , com mu ito acer to ,fa lando do arminian ismo : "com o espí ri to

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humani tá rio que evoca, deu impu lso àsMissões Estrangeiras".

É verdade que a Igreja dosRepresentan tes (arm inianos) quase nada fezneste sent ido, mas quando o espíri tomiss ionário se incorporou nout rasdenominações, o trabalho evangelíst icotomou incremento . Ao arminian ismo aindafa ltava alguma coisa. Como sis tema dedou trina apresentava mui tos aspectos bons.Mas não basta só a dout rin a. O meto dismode Joã o Wesle y ava ntajo u-se-lhe por lhedar a obj et ivi da de de qu e de ca re ci a.Tr az en do fo go no co ra çã o, to rn ou-seprático, dinâmico e ardoroso. São os fatos que oco mp ro va m.

O que devemos, en tão a Tiago Armínio ,é impossível ca lcular. Há mui tas coisasval iosas que escapam aos números e elassão, geralmente, as mais importantes. Nãoseremos inj ustos, poi s, se o col oca rmosent re os maiore s ben fe ito res que ahum ani dad e tem con hec ido . Sua vida,exe mplo e dou trinas con tinuam a produz irfru tos . Contá-los todos, no entanto, só aoSupremo Deus compete.

REFERÊNCIAS E NOTAS:

(1) Cannon, W. Ragsdale - The Teology of John Wesley -Abingdon, Cokesbury Press - New York, Nashville - Pág.32.(2) Hagenbach, Dr. K. R. - A History of Christ. Doctrines -Vol III: págs 108, 109.(3) Hastings - Encycl. Of Relig. And Ethics - Vol I: pág.807.(4) Van Gelder - Histoire des Pays-Bas - Pág. 78.(5) Hastings - Op. Cit. - Pág. 807

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CAPÍTULO V

A GÊNESE DO ARMINIANISMOWESLEYANO

1. A SITUAÇÃO NA IGREJA ANGLICANA.Ser-nos -á fác il compreender a pos ição

que o fund ador do movim ent o metod ist a,João Wesle y, tomou, com rel ação aoarminian ismo, se nos lembramos que elenasceu dentro da Igreja Anglicana, no começodo século XVIII e pertenceu à Igreja Anglicanaaté ao fim de sua vida (1703-1784).

Naquela época os Trinta e Nove Art igosde rel igião continuavam sendo o padrãodout rinário, ca lv in is tas em sua natureza,porém a interpretação que deles se fazia, já erapredom inantemente arm iniana . A transi çãoque nes se sentido se vinha realizando datavade Richard Hooker (1586) e de Pedro Baro, masao tempo da ascensão do rei George I (1714-1727), estava quase conclu ída .

Desde Hooker , por tanto, os teó logostentavam conc iliar a doutrin a calvin ista dagraça com a das obras, esta segundo a IgrejaCatólica, e a conseqüência resultava emevidente aproximação do arm inianismo . A

melhor prova disso encont ra-se, semdúv ida , na obra escri ta pelo bispo GeorgeBul l: a Harmon ia Apostó lica . Tão bem sesaíra no empreend imento o preclaro(ilus tre, brilhante) eclesiástico que ela veio atornar-se clássica e a gozar de gra ndeacei tação na Inglate rra. Muitos minist ros atinham em suas bibl io tecas, pautando pe lare fe rida obra as suas idé ias. A teologia deGeorge Bul l genera lizou -se, pois, no seio daIgreja ofi cia l e para termos uma noção damesma, daremos, a seguir, breve apanhado:Jesus Cristo, por Sua

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obr a exp iat óri a, é o Sal vad or dos homens , mas cad a qua l tem a sua parte a fazer , procura ndo at iva menteref orm ar a própr ia vid a. Se cada um agi r desse modo, torna r -se-á capaz de receber os méri tos daexpiação. Fé e obras são iden tif icadas numa só finalidade. A justif icação é pela fé e pelas obr as. São doi sasp ectos de uma só rea lid ade . Nem Paulo se opõe a Tiago e nem Tiago a Paulo . No conceito do bispo Bul l, afé inc lui todas as obras da piedad e cri stã . A fé não se lim ita só a acei tar como válidos os ensin os doEvangelho: envolve, também, o desejo de ser bom e de fazer o bem. Nout ras palavra s: a fé passa a ser ato dopróprio homem. (1)

A jus tif ica ção exige, igualmente, a co-par tic ipação do homem. Deus considera ao transgressor comojus to, liv re da pena, desde que este assim queira. Ou, melhor, Deus o perd oa, se ele tiver merecid o a sente nçade ino cên cia . O ato div ino é con seqüen te das dis pos içõ es exi ste nte s no homem. Mas iss o não seconfunde com o pelagian ism o, porque , sem o aux ílio de Deus, nada consegue o pecado r. Todosdependemos, antes de tudo, de Cr is to . Somos jus tif icados por Seus mér itos, desde que sat isfaçamos ascondições estabelecidas.

A expiação é de âmbito universal e pod e, poten cia lme nte , sal var a tod os os hom ens, se as ex igências , paratanto, fo rem por eles cumpridas. A re de nç ão , em vi st a di ss o, é co nd ic io na l. Nã o ba st a qu e Deus quei rae possa sa lvar , é prec iso que também o pe cador queira ser salvo.

Not e-se, ent ret ant o, que Deu s já pôs à dis pos içã o do homem os me ios que lhe permit irão obra rdignamen te , de mod o a tornar -se ace itável aos Seu s div ino s olh os, no conceito de George Bull. São ossacramentos. Por meio deles o Senhor dist ribu i a cada um a graça que prec isar para cumpri r a Sua exce lsavontade. O batismo purif ica de todo o pecado e capaci ta a pessoa a dar os pr imei ros passo s na vid acr is tã . Pe la Santa Ceia , Deus a conf irma e fo rtalece e a leva à prát ica do bem. Os me ios são de Deu s,mas a ini cia tiva em bus cá-los per ten ce ao hom em. Ago ra sua s obras passa m a ser boa s e acei távei sper ant e De us , qu e as to ma em co ns id er aç ão ao s mé ri to s de Cristo. Assim o pecador recebe a justificação.

Em um po nto o bi spo Bu ll se ma nt in ha fi el à do u tri na calvi nista : qua ndo sus tenta va a neces sid ade dagraça di vi na pa ra que se real iz as se a sa lv aç ão . Sua in te r pretação do s sacram en tos, de ou tro lado , seconfundia com a de Roma (catol ic ismo ), po is lhes conced ia vi rt ud es . Mas, em lin has gerais, sua

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teo logia con tin ha muito de arminia nismo. Por exemplo: a graça ao alcance de todos, a extensão da obravic ár ia de Cr is to , a responsabi lid ade do hom em por sua pró pr ia salva ção . Alé m de out ros conce ito s.Portan to, não é demais lem bra r que essa teo log ia and ava em vo ga no s di as em qu e Jo ão Wes le y in ic io uo se u mi nistério.

2. A IN FL UÊ NC IA DO S PA IS : SU SA NA E SA MU EL WE SL EY .Os pa is de Jo ão We sley fo ra m os pr im ei ro s a lh e incu lcarem as idéias ac im a exarad as (lavr ad as ,

regist rada s po r escr it o). Ambos, ainda jo vens, deixa ram a Igr eja Diss idente, fi lia ndo -se, por con vicção , àIg re ja Angl icana, ajudando -os bastan te , nesse part i cu la r, a “Ha rmon ia Apos tó li ca ”, do bi sp o Geor geBu ll .

Al guém escreveu que Samuel e Susana discordavam um do ou tro em muitas coisas, mas raramentequanto às suas convicções religiosas. Os esc rit os que nos dei xaram, comprovam -no sobejamente: sejamcartas, estudos ou publicações. Os dois nutriam grande in te resse po r que st ões te ol óg icas . Susa na , ao squaren ta e um anos , escreveu uma exposição do Credo Apos tó lico . Samuel , aos vinte e nove, fo rmavaao lado dos ed itores da Gazeta Aten iense, dest inada a divu lgar conhec imentos re ligiosos e fi losóficos.De sua lavra fo ram, ainda, uma obrazin ha sobre o sacra mento da Santa Ceia e uma exposição sobre o livrode Jó.

Os Wesley, por suas idéias , fi liavam -se à corrente arm ini ana , con cordando em diversos pon tos com obispo Bul l. Jun tam ente com este, con sider ava m ser a expiaçã o im prescin dível à salva ção e de âmbitoun ive rsal , como, de igua l fo rma, faziam depender do homem a sua apro pr iação. Os me ios pa ra aalcançar , são a fé e as ob ras. A fé , como assent imento , antes de tudo, ao que a Escr itura regist ra arespei to de Cr is to . A fé , en tão, é crença e não um dom de Deus implantado no coração do homem: éat it ud e hu ma na . Ma s nã o é só cr en ça : é, ta mb ém , obed iênc ia aos prec ei to s di vinos; é vida prát ica.A fé tem como supo rte as ob ras de obed iênc ia . Uma se am para na ou tra. A fé conduz à p rá tica , mas,po r sua vez, a ação fo rtalece e sustenta a fé . Nenhuma subs is te sem a outra. Ambas se com pletam. Sãomeios concomita ntes da sa lvaç ão . Es tã o ao al ca nc e do home m e de pe nd em mesmo del e. De sor te que ,se o pecado r sat isf izer as con dições, Deus o perdoa e o salva . É necessár io cre r e pra ti ca r o qu e se cr êa fi m de pa rt ic ip ar do s mé ri to s de Cristo , conforme percebemos das seguin tes expressões de Susana

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We sley, em carta de 13 de jane iro de 1710, di ri gida à sua filha Sukey: "Não é aprendendo de cor estascoi sas (is to é, oraçõ es, cat ec ism os, cre dos , pas sagen s da Escritura), nem dizendo algumas orações de manhãe à no ite, que você tra rá o céu para junto de si . Você deve entender o que diz e praticar o que sabe". (9)

O casal Samuel e Susana Wesley entend ia o bat ismo e a Santa Ceia de mo do ma is ou me no sse me lh an te ao do au to r da “Ha rmonia Apos tó lica ” e também lhes at ribu íam ef icác ia . O pr im ei ro li vrada cu lp a or ig in al e dá ac es so à Ig re ja . A Ce ia comp le ta o ba ti smo, dando forç as ao seu pa rt icipantepara vencer o pecado e ajudando -o a cumpri r os deveres da vida cristã.

De ta l tip o fo i a re ligiã o que desde cedo ensin aram ao s fi lhos . A di sc ip li na era ri go rosa . Hav ia , no la r,regras para quase tudo. Ma l começassem eles a fa la r, decoravam o Pai-Nosso. As exigências da Igr eja,de igua l fo rma, devia m ser conhec idas e prat ica das. Em síntese: o casal Wesley expressava de modoconcreto aqui lo em qu e cr ia : a ju st if ic aç ão como resu lt ad o tamb ém do esforço individual.

Quando João We sle y sa iu do lar pe la pr imei ra vez, para in gressa r na escola em Londres, aCha rte rhouse , levava bem fun das as marcas da edu cação dom ést ica . Por algum tempo deixo u de ser tãofervo roso, mas ainda lia as Escr ituras, faz ia orações e comungava três veze s ao ano. Nem em Oxford , nauni versidade , se afastou dos pad rões que cul tivara em casa; nem ain da sob o sopro do rac ion al ismo daépo ca. E, no ent anto, sab emos quã o cur ios a era sua mente , de se jand o semp re saber a razão dasco isas . Nunca, porém, abandonava um velho concei to , enquanto não tivesse mot ivos seguros para deixá-lo. Mui tas das modificações que depo is ne le se operaram, foram o resulta do de conf li tos re li giosos e nãofi losófi cos, sobretudo desde Aldersgate.

Um dos problemas que cedo começaram a preocupá -lo, fo i o da predes tinação. Era quase imposs ívelvive r ce rcado de idéias arminianas e conformar -se com as do calvinismo. Nem precisa va conhecer as deTiago Armínio , pois nos ant igos pad res gregos , Iri neu , Orígenes e out ros , e na literatura ing lesa acha riaconcei tos seme lhan tes aos do teólogo de Le iden.

Quem sabe teria lido algo de Hooker e Baro ? As obras de Wi ll iam Laud, de Ralph Cudwor th , eignora mos qua nto s mais, estavam ao seu red or, nas liv ra ria s e nas bib lio tecas. Além disso, mui tos , den tro

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da Igreja , já haviam abraçado o arminian ismo. Jno. J. Tigg ert , na in trodução à obra de Caspar Brandt ,sobre Armínio, con firma o que por mais de uma vez temos dito: "Quando João We sley es ta va em Ox fo rd ,na te rcei ra dé cada do sécu lo dezoi to , e fo i ordenado diácono e presbí te ro na Igre ja Angl icana, aindaque os Ar tigos perma necessem fié is ao calvin ismo original e a liturg ia tivesse elementos ro ma ni st as , ocl er o ti nh a-se to rn ad o, em ge ra l , ar miniano". (3)

O cer to é que , por vol ta de 172 5, qua ndo se dec idi ra pelo ministér io evangélico, dirigiu-se, em carta, àsua mãe, para de la indagar sobre a predestinação. Pro va de que o problema se agi tava em seu espíri to.Num trecho, diz: "Se est ivesse decretado infalivelmente desde a eternidade que cer ta parte da human ida dese salva ria e nin guém mai s, e uma grande maio ria nascesse para a morte eterna , sem mes mo apos sib ili dad e de evi tá -la, est ari a ist o de aco rdo com a justiça div ina , ou a misericórd ia? Será mise ricórd iaprescrever a uma cria tura a miséria eterna? Que Deus fosse o au to r do pe ca do e da in ju st iç a. .. é um aco nt ra di çã o das idé ias mais cla ras que tem os da nat ureza e per fe içã o div inas". (4)

A respost a de Susana a João Wes ley foi : "Essa dou tri na, como mantida pelos cal vini stas rígi dos, é mu itoho rr ip ilan te , e deve se r od iada, porque dire tamente acusa ao Deus Altí ssimo de ser o auto r do pecado ". Eacrescenta: "Penso que você rac ioc ina bem cont ra ela, porque é incons is te nte com a just iça e a bondadede Deu s dei xar alg uém sob a nec essid ade fís ica ou mora l de comete r pe cado e en tão puni -la po r ele".Ela assevera que "Deus tem uma eleição, mas é baseada na Sua presciênc ia, e de modo alguma der roga(abo le, anu la ) a livre graça de Deus, nem prejud ica a lib erdade do homem."

No conceito de Susana seria absurdo julgar que alguém determine o nascimento do sol só pelo simples fato de prever oseu reerguimento a cada manhã. Assim é com a presciência de Deus: Ele prevê a salvação de uns e a condenação deoutros, mas não é a causa determinante de uma ou de outra. (5) Deus não condena e nem sa lva a quem quer quese ja cont ra a sua própria vontade. Os elei tos são os que se vol tam para Ele ; os condenados são todos queO rejeitam.

Sam uel Wesle y também rep udiava a dou tri na da ele ição inc ond ici ona l. Acred ita va, com o a esp osa, queDeu s por Sua presciênc ia sabe de tudo que há de acontecer e conhece os que acei ta rão Sua graça, mas,de modo algum , int ervém na lib erdade do hom em.

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No Orá cul o Ate niense , II, 101, escreveu: "Se Ele fizesse isso , a natureza do homem ser ia des tru ída, ospro pós ito s de recompen sas e cas tig os seriam irônicos, a pregação seria vã e vã, também, a fé."

E no ut ra pa rte, di z: " Deus fe z o ho me m re to e ag en te liv re. A pre sci ência de Deu s dir ige a liv reagê nci a do homem , mas não a anu la, sa lva ndo-o qua ndo Ele que ira ou não, ou condenando-o injustamente".(6)

Os ev en to s fu tu ro s vi ri am de mo ns tr ar at é on de o pen sam ent o dos pai s inf lu iu na teo logia de Joã oWesle y, fundador e organizador do movimento metodista.

3. O VA LO R DA DE DI CA ÇÃ O PE SS OA L.João Wesley aprendera , no lar , a ser ordeiro (discip linado ) e a fazer o bem. Os pa is lh e en si na ram e

ao s ir mã os que de viam do minar -se, nad a que ren do conse gui r cho ran do, por que não a obteriam. Ésabendo esperar e portando -se conven ientem ente que se colhem resulta dos. Em lugar de mauspensamentos, deviam cult ivar os bons e mani festá -los por meio de ações. Re ligião é co isa tanto in te rnacomo exte rna. Deus abençoa a quem procede dignamente. E, ass im, rea l çavam ele s per ante os fi lho s, ovalor das obr as e de tod a boa ini cia tiva. Joã o che gou mesmo a tom ar a dia nte ira à mãe, poi s na car ta quelhe dirigiu , em 172 5, ond e tra tava da que stã o predes tin ist a, esc reveu: " Est ou persua did o de que pod emo s,ago ra, sab er se est amo s na graça da sal vaç ão , vist o ser isso expressamente promet ido nas Santas Es-cri turas em recompensa de nossos esforços sinceros".( 7) Ob er vemo s be m es te fi na l: "no ssos es fo rçossi nc er os ". At é Aldersga te se ria o pi vô de sua teolog ia: al cançar a sa lvaç ão, confiando no zelo pessoa l;fazer-se digno dos mér itos de Cristo por suas próprias ações. Quem nele se expressava era, de fato, a in fluênc iada educação domést ica e do meio em que vivia.

Em 1725, quando se achava em Oxfo rd , vieram pa rar-lhe às mãos algumas obras que o for talecerammais, no sen tid o de cul tivar vida rel igi osa pes soa l. Uma del as, da aut ori a de Jer emias Taylo r, as "Regr as eExer cíc ios para uma Vid a San ta' ', ens inava que o hom em fo i fe ito par a a prática do bem e, a menos queseus atos sejam acom panhados de boas intenções, Deus não se agradará dos mesmos. O meio para

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consegu ir que as ações sejam boas, é pela busca do inf luxo div ino . Algo semelhante ao mis tic ismo, emborade cunho prá tico. Wesley ace itou as normas sugeridas por Tay lor , res olvend o-se, daí em diante , consag rara Deu s todos os pensamentos, palavras e ações, como bem paten teiam as cél ebr es reg ras queest abeleceu, ent ão, par a seu viver cotidiano, registradas no seu "Diário".

A Regra Geral diz: "Quando tive res de rea lizar qua lquer ação, considera como Deus a fez, ou como a far ia,e imi ta o Seu exemplo." As out ras , em número de nove, referem-se ao emprego do tempo e são conformesegue:

1 - Começa e te rmina o dia com Deu s, e não dur mas des comedid ament e.

2 - Sê di li ge nt e em tu a ca rr ei ra .

3 - Em pr eg a to do o te mp o de lazer, se pos sível, na rel igião.

4 - Todos os fer iados são dias santif icados.

5 - Evi ta os bêbados e int riga ntes.

6 - Evi ta a curio sid ade e tod a ocupa ção e con hec ime nto inú teis.

7 - Exam ina-te cada noi te .

8 - Nunca permitas, sob qualquer hipó tese , que se passe um dia sem que tenhas pelo menos uma horapara a tua vida devocional .

9 - Evi ta a paixão.

Out ro livro que leu , nes se épo ca, fo i a obr a sob eja mente conhec ida "A Imi tação de Cristo", de TomásKempis , presente que lhe fez, segundo parece, a jovem Betty Kirkham, irmã de um colega e sua admirad ora .Wes ley aprendeu, através dessa insp iradora obra , que a reli gião é, acima de tud o, coi sa do coraçã o e que apur eza da alm a é essen cial para o cr ist ão. Ainda outros incent ivo s recebeu , no sen tid o de cul tivar a fé

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pel o zel o pes soa l, como já vinha fazendo , mas agora correndo o risco de se ent rega r à reclusão, perigo esteque aumentou com a leitura de novas obras da mesma natureza, ta is como "A Vida de Deus na alma dohomem", de Scougal, e espec ialmente as duas de Wil liam Law: "A Perfei ção Cr is tã" e "Chamado sé rio pa raum a vid a devota e santa" . Is to sucedeu em 1727, bem depo is de sua ordena ção na qual idad e dediácon o.

João We sley aind a não est ava con ten te com seu est ado espir itu al , mas dese java prossegu ir em seuses fo rços até o encont ra r. A in fluênci a rec ebida de Law, levar am-no a regis trar no seu Diá rio:"Convenceram-me mais do que nunca da absoluta impossib il idade de ser meio cr is tão; e eu determi nei, pe lagraça div ina, devotar-me inteiramente a Deus, dar -Lhe minha alma, meu co rpo e todo o meu se r". ( 8)

Ta nto se enamorou dos ens inos de Law que, se não fora a realidade da vida e os conselhos de pessoasexperimentadas, João Wesley teria caído num pietismo errôneo. Uma delas lhe disse , certo dia : "A Bíb lia nãoconhece nada de religião sol itária". Por isso, quando, em novembro de 1729, deixou a paróquia do velhopai , ond e o estivera auxil ian do, e veio ass umir seu posto de fel low (tu to r) na un ive rs idade, jun tou -se aoClube San to, que o irmão organ iza ra dur ant e sua aus ência , dan do-lhe tod o o apó io, sem se des curar(des cui dar, aba ndo nar) de vis ita r a pre sos, a enf erm os e de aju dar os nec essit ados. Fazer o bem era tãoindispensável à fé como ler as Escrituras, praticar jejun s, orar ou uti lizar -se dos sacramento s. We sley que riareceber as bênçãos da expiação de Cris to por seus próp rios esfo rço s.

Anos mais tarde (1735) mani festa idêntica a titude, ao se ofe recer para ir à América evange lizar ossilvícolas da Geórgia . "Meu principal objetivo, nisso, é a esperan ça de sa lvar minha próp ria alma ,"expl icava ele em carta de 10 de outubro, quat ro dias antes do embarque. Mas tan to na ida como na vol ta,como durante sua estada al i, haveria de compreender que ninguém encontra paz, até que se renda aDeus e conf ie ne le tão somente , e que nen hum homem pode jus tif ica r -se por si mesmo . Daí seu regressoà Inglaterra sob a impressão de fracasso!

4. A CO NT RI BU IÇ ÃO DE AL DE RS GA TE .Longe esteja de nós julgar que João Wesley não fosse um cris tão verdadeiro antes da expe riência de 24

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de maio de 1738, na rua Aldersgat e. Sua conduta e seu car áter provam o contrário. Contudo é inegávelque algo de importa nte acon tec eu naquela memorável reu niã o. O cor ação de Wesle y se aqueceuest ranhamente, seu pensamento recebeu novas luzes, sua vida inf lamou-se com maiores poderes. Passou ater paz e a sen ti r-se segur o qua nto à sua salva ção . Sua teolog ia adquir iu um sabor que não possuíaantes. Não descambou, en tretan to , para o monergismo teocêntr ico, ju lgando que tudo dependesseexclus ivamente de Deus, pois ele bem sab ia de suas lutas para vive r os retos princípio s do Evangel ho.

Exp er iên cia s dur as se ocu ltava m por detrás de Aldersgat e. Estava sa lvo de se desen caminhar para opelagi anismo e liv re, igualmente, da pos ição cal vinis ta. Se antes cr ia na salva ção com o conce dida a tod osos homens, depois de Aldersgate continuava a crer nela mais firmemente. Deus nunca abandona os que batem àporta de Seu coração. Há, porém, agora, uma di fe rença sens ível na mane ira de en carar o assunto. Tudoquan to o Al tí ss imo de se ja do pe cado r é que se arrependa e aceite a obra expiató ria de Cristo ; nada maislhe res ta fazer. Cri sto é o dom gra tui to de Deus para todos os Seus fil hos . Quem se esvazia de si mesmo,Ele o enche com Sua graça. Então a vida se torna produt iva . As boas ações deixam de ser elementoscausais para se convertere m em efe itos (con seq üên cia s). Pra tica-se o bem por que o amo r div ino seder ramou em nossos coraçõe s, fazendo-nos novas cria tu ras. Deus é supremo em nós. Ao humano sean tepõe o divin o. A natureza humana ainda é de importância para Wesley, porém já não conf ia tanto nela.Agora o cent ro de todos os seu s int ere sses é Deus. É par a Ele que João est á voltado e não para si próprio.

Por con seguin te, mesmo anteri ormente a Ald ersgate, pod emos considerar a Wes ley enquadrado, decer to modo, dent ro do armini an ismo . Mas ce rt amen te a ex pe riên cia de 24 de ma io deu melhor estrutura emais firmeza à sua doutrina.

5. A CO NT RO VÉ RS IA PR ED ES TI NI ST A.Não muito depois de Aldersgate, João Wesley precisou enfrentar o prob lema calvinista no seio das nascentes

sociedad es met odi stas. Faz iam par te delas pes soas de todas as igrejas evangélicas: episcopais, moravianos,independentes, presbi te rianos e mu itas que não pertenciam a nenhuma confissão relig iosa. Quantas, enfim,estivessem desejosas de viver cris tãmente. Ele lhes dava as boas-vindas, recebendo-as sempre com simpat iae sem cog ita r se criam ou se dei xavam de cre r na predes tinação. Seu lema resumia -se nas seguintespalavras: "O teu coração está em paz com Deus? Se est á, dá -me tua mão, pois som os irm ãos !"

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Ent ret anto, alguém pôs -se a per turbar essas pessoas com a questão predest in ist a. Estes formaram logoum pequeno grupo chefiado por Geo rge Wh ite field , min ist ro ang lic ano , gra nde evangelista e companheiro deprimeira hora dos irmãos Carlos e João Wesley. Recusando-se os di tos inovadores a ouvir as exor taçõe s quelhe s dir igia, Joã o agiu com maior ene rgia, pre gando, em Bri sto l (1740) , um sermão sob re a "Li vre Graça" ,que publ icou em segu ida, o qual esta va baseado em Rm 8:32 : "Aquele que não poupou a seu próprio Fi lho,an tes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará grac iosamente com ele todas as cousas?"

Em conseqüência os cal vinistas se organizaram num movimento à parte. Wh ite fie ld, então, aci rrou ocombate, brandindo as armas de sua eloqüênc ia tanto cont ra a posição wesleyana como cont ra a pessoa doex-colega, que, apesar disso, preferiu não lhe votar (dedicar) atenção. Numa dessas ocasiões, deu aos que oinci tavam a tomar atitude idêntica à de Whi tefield, esta bela resposta : "Podeis ver White fie ld con tra Wes ley ,porém não Wes ley cont ra Whitefield". Anos mais tarde os dois reataram a amizade. E Whitefield, que veio afalecer na América, deixou em seu testamento alguns presentes para João We sley e o incumbiu do sermãomemoria l.

Apesar de suas divergências, ainda eram irmãos em Cristo Jesus. Em 1770, quase trin ta anos depois daprimei ra con trovérsia , as divergênc ias se reacenderam de novo, saindo em defesa do arminianismo, destavez, dois dos melhores colaboradores de Wesle y: João Fle tcher e Tomas Ol ivers, ês te autor do hino "AoDeus de Abraão Louvai" . E, assim, podemos saber com precisão o conceito wesleyano sobre a referidadoutrina.

Para João Wes ley, "a graça é livre em tudo e livre para todos", o que significa dizer que é distribuídagratuitamente por Deus a cada pessoa. Não depende de mér itos humano s e ne m se pa rt ic ul ar iz a so me nt ea un s ta nt os . A sa lv açã o, por con segui nte , é de alcanc e univ ersal, porqu e a graça fo i posta à dispos içãode todas as pessoas. Deus ser ia incapaz de decretar a salvação de uns e a condenação de out ros , porqueisso é con trá rio à Sua natureza e à natu reza do homem. Sim , por que , se uns foram predes tinados à ruína eterão necessar iamente que viver no pecado, a culpa por esse mal recai sob re o pró pr io Deu s. O fato dese recusar Ele a sal vá-los, quando a out ros concede o privilégio, nos deixa perplexos e nos induz acon jecturas menos apreciáve is a respei to de Seus sentimen tos. O Criador se rebaixa a nossos olhos, poismesmo lim itados como somos, parece que ser íamos incapazes de agir de semelhante modo.

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Daí as expressões de Wes ley a cerca da refe rida doutr ina : "Des trói tod os os seus at rib utos; põe abaix otan to sua justiça como sua mise ricórd ia e verdade; representa ao santo Deus como pior , mais falso, maiscrue l e mais injusto do qu e o diabo. Ma is fa lso, po rque o diab o, ment iros o como é, nunca disse quedeterm inou que todos os homens fossem salvos; mais injusto, porque o diabo não pode, ainda que que ira, serculpável da injust iça que se atr ibu i a Deus quando se diz que milhões de alma s foram condenadas por at odE le ao fo go et er no , pr ep ar ad o pa ra o de mô ni o e seus an jos, po r cont inuarem no pecado que nã opodem ev itar po r fa lt a da graça que Deus não lhes quer da r; é mais cru el, porqu e esse esp íri to inf eli zbus ca des can so e não o acha, de modo que sua própria e inqu ie ta miséria lhe é como tentação para tentarout ros. Mas Deus descansa em seu al to e san to luga r. Assim , sup or que , esp ontan ea mente, por sua pura esimp les vontade e prazer, fel iz como é, condenara suas criaturas à miséria sem fim, queiram ou não, é imputar-Lhe ta l crue ldade que não admit ir íamos igu al ao maior inimigo de Deus e do homem" . ( 9)

E, mais: desonra a Cris to, fazendo-O hipócrita e enganador dos homens, porque é impossíve l negar te r-se Ele apresentado dizend o que rer a sal vação de tod os. Diante de Jer usa lém chora, exc lamando: "Quantasvezes eu qui s reunir os teus fi lhos e tu não qu ises tes " (Mt 23 :37). De outra fe ita , conv idou os pecadorescom expressões repassadas de ternura, pro met end o-lhe s paz e des can so de esp íri to: "Vinde a mim, todosvós que estais cansados e opr imidos , e eu vos alivia rei. Tomai sobre vós o meu jugo , e aprendei de mim,porque sou manso e humilde de coração ; e achare is descanso par a as vos sas almas" (Mt 11: 28-29) .

"Mas se dizeis que não pretendia salvar todos os pecadores, prossegue João Wesley, que chama aos que nãopodem ir, então representais o Filho de Deus zombando de suas necessitadas criaturas, por lhes oferecer o que jamaispretendia dar. Vós o descreveis como dizendo uma coisa e fazendo outra e como praticante de um amor que nãopossuía. Ele, em cuja boca não havia malícia, vós o fazeis cheio de engano, vazio de toda e qualquer sinceridade. Dizesque podes prová-lo com a Escritura. Acautela-te! Que queres provar com as Escrituras? Que Deus é pior que o diabo?Não pode ser!". (10)

A dou tri na da predes tin ação, no con cei to de Wesle y, é con trá ria ao esp íri to da Esc ritura , nul ifi ca oEvange lho , des tró i o amor ao bem e à san tidade . A Bíb lia ens ina que Deus não quer a mo rte do ímpio e,pa ra isso , "mandou seu Fi lho ao mundo, a fim de que todo o que nEle crer seja salvo" (Jo 3:16). Mas, se

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apenas os eleitos se salvarão , para que pregar-lhes? E porque fazê -lo, também, aos não -elei tos? Aque les sesalvarão mesmo, com ou sem evangelho , e estes se perderão ainda que o ouçam. Dest ró i o zelo pe lasant idade, porque leva os homens a neg ligenc iarem a sua condição, seja fís ica , seja esp iri tua l. Wesleycon ta que, ao vis ita r pessoas enfermas , ouv ia respostas como esta : "Se estou decretado a vive r, vive rei; se amor rer , mor rerei; ass im, poi s, não ne cessito per turbar -me com co isa alguma ". Pa ra que remédios? Paraque preo cup açõ es? Mas ten des a certeza de que soi s dos ele ito s? Que prova s ten des dis so? E, seten des , que vos gar ant irá a permanênc ia nessa condição? Mui tos já caí ram da graça e vós podere is ca irtambém. Tendes, então, que conf ia r em Cr is to e vig ia r diuturnamente por vossa fé . Só quem perseveraraté ao fim será salvo".(11)

Era esta, pois, a lin guagem em que Wesley expunha o seu pensamento.

6. O CO NT AT O CO M AS ID ÉI AS DE TI AG O AR MÍN IO .Parece-nos que João Wesley só travou con tato direto com os escritos de Armínio depois de 1770, ano da

segunda cont rovérs ia pred es ti ni sta, po rqua nto é a pa rt ir da í que apa recem, na lit era tur a met odi sta ,ref erê nci as ao teó logo ho land ês . Agora João We sley via qu e an dava be m acompa nhad o. Enc ont rou, emTiago Armínio, muitas idé ias teo lógic as seme lhantes às suas e que o ajudaram a fo rtalecer seus pon tosde vis ta. Se ant es era armin ian o, con forme já deixamos patente, continuou a sê-lo com maior firmeza.

Na edição das "Obras de Wesley", publicada pelo bispo Em or y, há um es tu do in ti tu la do "A pe rg un ta“Qu e é um ar mi ni an o? ” r es po nd id a po r um am an te da Li vr e Graça", escrito, possivelmente, antes de 1770,pois há nele referência à quebra de relações ent re Whitefie ld e Wes ley. Contém ainda lige iro esboço da vi dade Armínio e uma nota sobre as principais diferenças entre o arminianismo e o calv inismo. Nele, Wesley coloca -se, a si mesmo, dentro da tradição arminiana . Se foi por esse tempo que rece beu, de pri meira mão, osesc rit os de Tiago Armín io, é di fícil dizê-lo. Admitimos ser o mais acertado!

Em agosto de 1777, escrevendo para sua revista, Wesley pro nun cio u-se do segui nte modo: "Não sab emosde nad a ma is próp ri o pa ra um tr ab al ho de st a na tu re za qu e um esboço da vida e morte de Armínius",mencionando, aí, o fato que mui tos injuriavam o teó logo neerlandês sem o conhecerem. Quanto a ele, porém,

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sabia de suas idéias e o hon rava, tan to ass im que a rev ist a wes leyana passou a denominar -se, desde 177 8,"A Revis ta Arm in ian a" (The Ar mini an Ma ga zine ). É di gn o de no ta qu e o pr im ei ro artigo publ icado novolume de 1792 é a tradução do escr ito de Armínio, int itu lado "O julgamento de Armínius acerca dos decretosdivinos" , feit a, talvez, por Wes ley, algum tempo antes.

O Rev. Wi lli am P. Harri son , red ato r das not as int rodut óri as dos "Se rmões de Wesle y", nar ra um diá logointeressante travado ent re o jovem min ist ro cal vin ista Car los Simeon, de 28 anos, e o velho João Wesley, comos seus 84. Isto em 1787. Dá-nos ele, uma idéia bem nítida, do conce ito em que se tinha o fundado r dometod ism o e o qua nto se ignorava na Ing la te rra, apesar de tudo, o arminian ism o. "Senho r", disse o jovemSimeon , "Ouço dizer que soi s arm iniano . Quanto a mim, alguma s vezes me chamam cal vinista e, sendoassim, devemos, penso, empunhar nossas adagas um contra o outro. Mas, antes que eu comece o duelo fa re i,com vossa permiss ão, algum as pergu ntas, não por imp ert ine nte cur ios ida de, mas par a min ha rea lins tru ção . Credes, senhor Wes ley, que sois uma cria tura depravada, tão depravada que nun ca ter íei spen sad o ela vol tar -vos par a Deu s, se o mesmo não houvesseposto tal desejo em vosso coração?

- Sim, respondeu o ancião, creio-o de fato.

- E desesperais inteiramente de recomendar-vos a Deus por qualquer co isa que possais f azer ,esperando a salvação exclusivamente do sangue e da justiça de Cristo?

- Sim, exclusivamente através de Cristo.

- Mas, senhor, suponde que inicialmentefostes salvo, de uma maneira ou de outra, pelas boas obras?

- Não, ret rucou Wesley, preciso ser sal vo por Cri sto do começo ao fim.

- Confessais, então, que primeiro fostes desper tado pe la graça de Deus; não so is , agora, de um modoou de outro, guardado pelo vosso poder?

- Não! - foi a resposta.

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- Então? Deveis ser sustentado a cada hora e a cada momento por Deus, tanto como a cr ianc inha nosbraços de sua mãe?

- Perfeitamente. - disse-lhe Wesley.

- Toda a vossa esperança esta posta na graça e na mise ricórdia de Deus , pa ra vos preservar no seuRe ino Celestial?

- Sim; não tenho esperança senão nEle.

- Ent ão, sen hor Wesle y, com vos sa lic ença, vou embainhar minha adaga, porque todo o meucalvin ismo é isso; aí está minha eleição, minha just if icação , minha perseverança fina l. Aí está , emsubstânc ia, tudo que creio e do modo como cre io. Assim, em lugar de buscarmos termos e frases quesir vam de fun dam ento e con tendas ent re nós , unamo-nos, po r fa vor, nestas co isas em que es tamos deaco rdo". (12)

Admiráve l, sem dúv ida , o esp íri to des te moço. Quem der a pud éssemo s tod os com preend er quã o rico é ocri sti anis mo par a nele que rermo s bi tol ar a mente hum ana . Isto nos tornar ia mais tolerantes e simpát icos. Éo que se nota, por exemplo, no arm ini ani smo , no metodismo e no cal vin ism o. Todos ele s são siste mascri stã os, dan do um a mais ênf ase a cer ta dou tri na do que os out ros . Às vezes, no entanto , as diferenças sãomais de aparência. Apenas um caso: a importânc ia que o arminianismo metodista dá a graça de Deus , éfund amenta l em sua teolog ia , no que mu ito se asseme lha ao calvin ismo; inúmeras pessoas, todavia,ignoram est a verdad e. Mas , de out ro lad o, exi stem dif erença s pro fundas ent re os doi s, e até ent re ometodismo e o arm inianismo, como se verá no capítulo seguinte.

A quantos dese jam inteirar-se com segu rança da teo logia wes leyana, rec omenda-se especi alm ent e oexame das Atas das primeiras Conferências do metodismo inglês (Doc trinal Minutes) que, juntamen te com osSermões de Wes ley e sua s Notas Sobre o Novo Tes tamento, além dos "Vinte e Cinco Artigos", por ele redigidosem 1784, para a novel Igreja Met odist a, da América , con sti tuem o melho r repo sit óri o de informaçõesrel ati vam ent e à mencio nad a teo lo gia. Esses Artigos nada mais são que uma síntese dos "Trinta e Nove", da

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Igre ja Angl icana, escoimados (livres), porém, de elementos calvin istas ou, se quisermos, vis tos sobinterpretação arminiana.

REFERÊNCIAS E NOTAS:(1) Cannon, W. R. - The Theology of John Wesley - Pág. 41(2) Cannon, W. R - Op. Cit. - Pág. 47.(3) Brandt, Caspar - The Life of James Arminius - Trad. Por John Guthrie - Nashville, Tenn. - Pág. 15.(4) Joy, James Richard - O Despertamento religioso de João Wesley - Imprensa Metodita - São Paulo - Pág. 38.(5) Carta de 18 de agosto de 1725, in Teyerman - Life and Times of John Wesley, Vol. I, Pág. 40.(6) Oráculo Ateniesne, I, 58, citado por Cannon, Op. Cit., pág. 46.(7) Teyerman - Op. Cit., Vol I, pág. 40.(8) The Works of the Rev. John Wesley - Ed. Thomas Jackson, 3ª ed. - London. Vol XI, pág. 367, cit. por Cannon.(9) Wesley - Sermão sobre a “Livre Graça” - Sermões de Wesley, Imprensa Metodista.(10) Wesley - Sermão sobre a “Livre Graça” - Sermões de Wesley, Imprensa Metodista.(11) Obd. - Op. Cit.(12) Sermões de Wesley - Vol I, págs 125 e 126 - Imprensa Metodista - São Paulo.

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Capítulo VI

AR MI NI AN IS MO E ME TO DI SM O

I — O ES PÍ RI TO DO ME TO DISM O:Metodi smo e arminian ismo têm algo em comum e, tam bém , dif ere nça s. Um não é ape nas con tin uação

his tó rica do outro. Ou, para sermos mais precisos, diremos que o metodismo não é simples cont inuação doarminian ism o. Eles se ligam quan to a cert os conc eitos, mas pouco quan to ao tem po e à histó ria .

O metod ism o, con fo rme já vim os, des envol veu -se qua se indep end ent ement e do movim ent o holandês ,tendo este surgido no iní cio do século XVI I, ao passo que o Metodismo aconteceu na Ing laterra, em meadosdo século XVII I. No pr imei ro caso, a re lig ião of ic ia l era o cal vin ism o; no segun do, re ina va o angli can ism o.A vid a dos fundadores de ambos os sis temas merece igual admiração, vist o serem eles homens cul tos epiedosos, ded icados ao bem estar de seus conter râneos. We sley, no entanto, foi mais longe em suasreal izações e em sua teologia . Podemos, até afi rmar que o arm iniani smo deve sua maior difusão aomov imento wes leyano e quiçá, a sua própri a sob revivência.

Há, até a experi ênc ia de Alders gate, um quê de semelhança ent re João Wesle y e Tiago Arm ínio. Os doi ssão min ist ros de igre jas ofic iais, preparados em universidades e consagrados à obr a do Evange lho . Emamb os, por ém, a piedade estava tingida por sua formação cul tural; mais, sob o domínio da razão que dosentimento. É que nenhum deles havia ingressado na car rei ra rel igiosa através de grandes lutas esp iri tu ai s,como sucede ra ao Ap ós to lo Paulo e a Agos ti nh o de Hipo na. Po r isso , acomodaram-se à situaçãoprevalecente em suas confissõesec lesi ás ti ca s: A rm íni o ab ra çou o Ca lv in ismo ex tr em ad o, enquan to Wes leymais e mais pendia para o pelagianismo.

Qua ndo a cri se se apres ent ou na vid a deste s doi s vul tos , a teolog ia de cada um acabou tomando novafe ição, porque a situação ass im o exigiu , diferindo , por conseguin te, da í por dian te , em sua natureza.Acontece que, para Armínio, o problema tal qual então se apresentava, era fundamenta lmente teo lóg ico eafe tava as Escrituras, ao passo que, pa ra We sley , era a sua próp ria vida espi ri tual que estava em jogo.

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Em resultado , o arm inianismo ser ia fru to de con tro vér sia rel igi osa e o metod ism o, por sua vez , daexperiênc ia de Aldersgate, quando Wesle y, seu fundador, sent iu o coração es tranhamente aquecido .Donde se vê que Armínio reestrutu rou sua teo logia à luz das Escrituras e da razão , fi rma ndo -se noinfrala psar ian ism o, enq uan to João Wes ley o fez estr ibando-se, sobretudo, no testemunho ínt imo do Esp íri toSan to, ao lado de evidên cia s bíb licas.

Da í em dian te , não era só o coração que ardia no vu lto ímp ar de Aldersg ate , mas, tam bém , a teo logiares ul tan te da que la maravil hosa exper iênci a, a qua l lhe comunic ara vida nova e ope ran te, motivo por quejá não mais se con finou aos limi tes acanhados de uma universidade ou às paredes fr ias dos temp los. Aoinvés di sso, sa iu para as ruas e praças pública s, desceu às minas e penetrou nos cor tiç os de miserá vei scri atu ras humana s. O met odi smo fo i, e ainda é, uma revolução em marcha.

Algué m cham ou ao movim ent o wes leyan o de "ar mi n ian ismo agress ivo ", e o dis se com ace rto , porquesen do sua mensagem de caráter universal e tendo fogo no coração , haveria de alastrar -se pelos quatro cantosda terra. E, mui to embora os números estatísticos nem sempre revelem toda a real idade, permitem,contudo, dar-nos idéia do seu ardor evange lizante e da importânc ia vital de suas doutrinas, apesar deexis ti r como organização há menos de duzentos anos. Mantém atividades missionária s em cerca denoventa reg iões do globo, em continentes e ilhas. O total de metod ist as arro lad os nas igrej as apr ox ima-sede 20. 000 .000 (vinte mil hõe s), sem se con tar em os mil hares que viv em sob sua inf luê ncia di reta ouind ire ta. Do bem que fez à Ing laterra, sal vando-a dos possíveis hor rores de uma convulsão semelhante àda Fra nça, regist ram-no his to riadores da competência de Leckv, Green e Ha llevy. Este último, que éfrancês, deduziu de sua s invest igações que a estabil idade e o progresso da Inglaterra, nos anos de 1815 a1841, a cha mada época Victor iana, tin ham a sua razão de ser no Reavivamento Metodista , o qual permeoude influênc ias sa lutares a vid a do povo comum, a Igre ja da Ing lat er ra e os gru pos religio sos não -Con formi stas.

As vel has denominações foram transformadas em seu espírito e em suas organiza çõe s, o mesmosuc ede ndo no set or pol íti co e no soc ial .(1) O que con tin ua ainda a rea liz ar por todas as par tes, tes ti fi cam -no as ger açõ es do prese nte . Hoj e, este "arminianismo agressivo" é, sem dúvida nenhuma, das mais operosasdenominações evangélicas no mundo.

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O arminia nismo dos Representan tes (dos discípu los holandeses de Tiago Armínio) carecia dessesimpulsos . Como revolt a que foi , con tra o dogmat ismo cal vi nis ta, nascido por mot ivos bas icamen teteo lóg icos, ass im se man teve, pou co rea lizand o de prá tico, ao con trá rio do que ocorre com o metodismo, parao qual os problemas da vida rea l assum em o asp ect o de verdad eiro desaf io. O pregador metodista estavamais preocupado em salvar almas e transf ormar os hom ens em pes soas úte is à soc iedade do que emdiscut ir re ligião, ou, ainda, provar a exis tênc ia de Deus. Tinha a Deus no coraçã o e isto lhe bastava . Quemquises se sab er se era ass im ou não , que O experimentasse também. Os metodistas pregavam que Deusestava ao alcance de todos, fossem homens, mulhe res ou crianças, ricos ou pob res , sen hores ou esc ravos ,pat rõe s ou ope rários, vic iad os, decaídos ou gen te de bem. Sim! A quantos Lhe abrissem o coração!

O metodi smo, poi s, conver tia em magníf ica rea lidade a afi rmati va armin ian a da ass ist ênc ia da graçadivina no interior do homem. Deus baixa va ao pecador para tra ns fo rmá-lo em nova cr ia tu ra . E, nestepa rt icular , ad ianta va-se, também ao calvinismo e reagia positivamente contra o pernic ioso de ísmo , a fil oso fiarel igiosa inventada por Lord Herber t de Cherbury (1583-1618), e desenvolv ida a seguir por Voltai re,Rou sseau , Sha ftesb ury, Thomas Pai ne e ou tros.

O metodismo se sobrepunha a estes dois sis temas por que, no seu concei to, a graça de Deus atua sobretodos os ind ivíduos e de modo algum sobre os ele itos unicamente. A Sua operação é universa l e pers isteatravés das gerações .

À alegação de um Criador transcendente e inacessíve l aos homens , o metodi smo respondia com umDeus imanen te e compassivo. Um Deus que é Pai e não padras to, que ouve as pet ições de Seus fil hos eestá pronto a responder -lhes . Não podia, então, concordar com o deísm o qua ndo asse melha va o Cri ado rao reloj oe iro que fizera bon ita máqui na, dera -lhe corda e depo is se ausentara pa ra onde nin guém sabia,de ixando sua be la ob ra a mover -se po r si . Assim, Deus ao cria r o universo , já estabelecera as leis que ocontrolam. Só os tolos, diziam os adeptos do deísmo, podem de sc re r da ex is tênc ia de Deus , po is a ra zãote st ifica a Seu respei to. Mas con fia r no auxíl io div ino é coisa absurda, verdadeiro con tra -senso, vis to queSuas lei s são invio láve is . Deus é o remoto, o outro , o transcendente: está fora de nosso alcance e não nosouve e, se nos ouvisse, nã o in te rf er ir ia no mundo pa ra nos vi r aj udar . Orar , é perder tem po. Todo mi lagreé impossíve l. E desse modo eles faz iam o criador da máqui na tornar -se escravo do seu invento ! Esqueciam -se de que as leis não operam sozinhas, sem ter quem as execute.

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Mas We sle y sent iu co isa bem diversa em sua vid a, pel o que , pod ia rep et ir as pal avras do profetaIsa ías : "O Es pí ri to do Se nhor es tá sobre mi m.. ." (I s 61 :1 -2) , ou con firmar a experi ênc ia de Pau lo quandodec larou: "O Esp ír ito de Deus dá testemu nho junto ao nosso espíri to de que somos fi lhos de Deus " (Rm8:16). Seu velho pai, Sam uel We sley, tam bém lhe dissera: "O testemunho interior , meu fi lho, é a prova, aprova mais fo rte do Cr is tian ismo". De fato , é o ma is importante na re ligião. É Deu s dan do-se a Si mesmoe o hom em com provando-O pe la ex pe ri ên ci a. É o In fi ni to pe ne tran do no fi ni to ; o inc omens urá velcon finan do-se aos rudes lim ites do coração humano.

Eis por que o rea viv ament o metod ist a produzi u tan ta agi tação nos seus dias e ainda apela tão for tementeà nossa me nte e alma . En tre Deus e o pecado r nada ma is se le vanta, nem o sacerdote , nem ossac ramentos, nem os credos , senão o pecado . A graça de Deus não é monopó lio de ninguém , nem privilé gioexclus ivo de quem quer que seja, a não ser, natura lme nte, daqueles que já se conver teram a Cr is to . Deusquer a sa lvação de todos. Até a mais vi l criatura é objeto do Seu divino amor. Quantos O aceitarem serãoremidos de seus pec ados. Jesus Cr ist o, como afi anç ou o eva nge lis ta Joã o, "é a pro pic iaç ão pel os pec ado sdo mundo inteiro” (1Jo 2:2).

II — Distinç ões Doutrinárias:

1 — O PECADO ORIGINAL.É um dos problemas de capi ta l imp or tânc ia na teologia cristã.

A existência do mal é patente em todos os quadrantes de nos so mundo . Som os con stran gid os arec onh ecer que alg o de ano rma l imp ede de con tínuo as boas rel açõ es dos hom ens uns com os outros ecom o seu Cr iador. Não fazemos o bem que gos tar íamos de fazer. Dei xamo-nos con duz ir por másinc lin açõ es. Desde os ten ros ano s da inf ância o egoísm o, a ira, a in ve ja , o ciúm e, no s assa lt am emuitas vezes nos dominam. Como pode a cr iança mani festar tão cedo essas at itudes e sent imentos?Donde lhe vêm eles? Que m lho s incutiu ? Toda sorte de exp lic ações se tem dado, inc lus ive pelosevo luc ion istas materi ali stas, os qua is, não pod end o negar a rea lid ade do mal, af irmam que é a herançarec ebi da dos animais, nos sos predec ess ore s. Para ele s o hom em é animal que ainda não se libert ou de

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sua bestialidade.

O arminiano e o metodista, juntamente com o calvi nis ta , acei tam que a vontade do homem era livreantes da qu ed a, no Éde n, ma s di fe rem qu an to ao es ta do pr i miti vo, sustentando este último, que acond ição do homem, era de perfei ta sant idade. Se, porém, fo i assim, alega o arm inian o, ele não ter iacaído (Co nfess . Remonst r. 5.5 ). Limborch, em sua Teologia (11:21,5) mostra que o estado de inocência comque Deus o dotara, envolvia ignorância, porque, se Adão e Eva tive sse m ciência de tudo, saberiam que aserpen te não fala e, se falou, dev iam ter suspei tado que algo de anorma l e perigoso es ta ria o correndo .Não adm ite , out rossim , fosse a imorta lidade per tin ente a nat u reza humana . Crê , todavia, que Deus opoderia salvaguar dar da morte, caso não tivesse pecado.(2)

Ens inam os calvin istas que, a natureza humana, ficou tota lmente depravada pelo pecado, afetando,também, a todos os descendentes de Adão, de so rte que ninguém, por si próprio, é capaz de reerguer-see ser salvo ou fazer o que é agradáve l a Deus . O metodi smo, com o se ve rá, co locou-se entre oca lvi nismo e o arminian ism o, aproxi mand o-se ora ma is de um , ora ma is do ou tro. Os armi nia nos crêemque a nat ure za humana foi ind ubi tavelm ent e prejud ica da pelo pecado, porém não arru inada tota lme nt e,tan to ass im que , o hom em ain da con serva a pos sib ili dade de obrar o bem e de voltar -se para Deus. Aoinvés da tot al dep ravaç ão, aceit am a idéia do enf raque cimento de no ssa na tu reza . Agora o homem éfr aco por índo le . E porque o é, assiste-o a graça divina a fim de ajudá -lo a rea lizar a vida esp iri tua l e aati ngi r a sal vação. Negam, out rossim, que a culpa de nossos prim eiro s pais, seja impu tada aos seusdescendentes . Indi re tamente, sim, part ic ipam os de sua fal ta, porque nossa natureza ficou enf raquecida,mas só respondemos por nossos pecados individuais.

Neste par ticu lar o metodismo, conf orme frisamos, ado ta posição in te rmed iária. Às vezes é ma isca lv in is ta ou agostiniano, out ras, é mais arminiano e, ainda out ras, nem um a co is a ne m ou tr a. Se nã ove ja mo s: Ac ei ta , in ic ia l mente, a santidade original do homem, como parte desua con sti tu içã o. Graça s a ela aalm a ten dia espon tanea mente a obedece r ao que era reto e a recusar o mal . Nessas condições goza va deíntima comunhão com o seu Criador. Mas quando se deu a queda, sua natureza se corrompeu e o hom emdei xou , em conseqüên cia , de viver nes se est ado . O ho me m pe cou po r se r li vre e po rque po ssuí aca pa ci da de de ação mo ra l. Pe cou po r du vida r de De us e po r querer en grandece r-se a si mesmo. E,

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uma vez que toda a raça estava potenc ialmen te em Adão, o pec ado tornou -se pat rim ôni o com um a tod os(Rm 5:1 2-14, 17, 18) . Ao pecado jun tou-se a mor te . Ambos fru tos da desobediência e da qued a.Recebe mos, assim, um a na tu reza pe camin osa , tra nsm itida por nosso s pr ime iro s pa is, con tud o, nenhumaculpa nos cabe pelo pecado orig inal . Cada pessoa só res ponde por sua s próprias fa lta s. Em um de seu ssermões, Wesley ass im se expressou : "O homem fora fei to à imag em de Deus: santo como é santo o que ocriou; mise ricordioso como o Autor de tudo é mise ricord ioso; per fei to como seu Pai celest ial é per fei to. Era ,con seqüen temente, pu ro como Deus é pu ro, li vre de qualquer nódoa de pe cado. Pelo amor espontâneo egra tui to de Deus, era san to e fel iz, conhecendo, amando e goza ndo a Deus, que é, em substânc ia , a vidaeterna . Nessa vida de amor o homem permanecer ia para sempre, se cont inuasse a obedecer a Deus.. ."

Entre tanto "o homem desobed eceu", perdendo a comunhão com o Cr iado r. Seu corpo, de igua lmodo, to rnou -se corrup tíve l e mortal . Assim, "por um homem en trou o pe cado no mund o, e pe lo pecadoa morte. E a mor te pas sou a todos os homens , vis to estare m estes compre end ido s no pai comum erep res ent ante de todos nós". "Nesse es tado nos encont rávamos, nós e toda a humanidade, quando Deusenviou seu único filho ao mundo a fim de nos res gat ar do pec ado", "pe la oblaçã o (ofe rta) de si mesmo,ofe rec ida uma vez , Ele nos resgatou e a toda humanidade", desde que acei temos por sua graça, a obraredentora do segundo Adão, Cr is to Jesus .(3 ) O que cabia a Deus, Ele o fez . Agora res ta ao homem fazera sua par te. Se qui ser rej eit ar a dád iva pre ciosa da salvação, ist o fica sob sua exclusiva responsabil idade.Os artigos de nºs 7 e 8 de nosso padrão dou triná rio , sin tet izam mui to bem o pensamento de Wesley e apos ição da Igreja Metodista . Que i ram, pois, examiná-los os diletos leitores.

2 — A PREDESTINAÇÃO.Aqui o metodismo se afasta do calvin ismo e, de igual sorte, do arminianismo, visto ambos serem

deterministas: supralapsariano um, in fralapsariano o outro. Para o pr ime iro, a pred es ti na ção ou elei ção éan te rior à ob ra da criação e é incond iciona l. Para o segundo (inf ra lapsum ), a predestinação base ia-se napresciência de Deus a respeito da at it ude do ho mem em fa ce de su a prov a e queda , e não é desde aeternidade e nem incond ic iona l. Naquele caso , Deus perm it iu a queda do homem co mo meio deexe cut ar o Seu ete rno dec ret o e, pel a mesma razão , esco lheu os que hã o de sal var -se. No segundo, aqueda não é decorrente do decreto da eleição, e os esco lhidos são todos aqueles que Deus previu ace ita riama Cristo pela fé. Aqueles ace ita m -nO, por que ass im tem que ser ; mas est es, se O quiser em. Os

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arm ini ano s, por tan to, con cedi am cer ta lib erdade ao homem.

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O metod ism o rej ei ta os doi sdet erm in ism os. Wesle y cr ia com o escr itorsagrado que, para Deus , não ex is tepa ssad o e nem fu tu ro . Para ele só hápresen te . Tudo é presente. Verifiquemos assuas palavras: "O todo-poderoso, oni sci ent eDeu s, vê e sab e, desde a ete rnidade até aete rni da de , tu do qu e é, qu e fo i e qu e se rá ,at ra vé s de um eterno agora. Para ele nadaé passado ou fu turo, mas t odas as coisa sigu almen te são prese nte s. Ele não tem,por tan to, se falamos conforme a verdade dascoisas, presciência, nem postciência. .. Aindaquando nos fa la , sabendo do que somosfe ito s, conhecendo a ex igüidade de nossoentend imento , ele se nive la até nossacapacidade e fa la de Si mesmo em termo shumanos. Ass im, con des cen den do -se denos sa fraqu eza , ele nos fal a de Seu própr iopropós ito , con selho, pla no, pre sciênc ia. Nãoque Deu s tenha necess idade de conselho, depropósito, ou de planejar Seu tra balho deant emã o. Lon ge de nós imputar ist o aoAlt íssimo: medi -LO po r nós mesmos ! Émeramente em co m pai xão de nós que nosfal a ass im de Si mesmo, como pre vendo asco isas no céu e na terra e comopredetermin ando -as ou preo rdenando-as ".(4)

Wesley só concebia a ele ição no se nt idoqu e "t od o o que crer se rá sa lv o; o qu e não

crer , será condenado ," porque prefer iu viverno seu velho estado . Sal va-se quem ace ita aCri sto e se conver te a ele; perde-se quemresiste à graç a de Deus e re je ita amis eri cór dia div ina ofe rec ida em Cri sto . Asal vação, por con seg uin te, é con dicio nal ,por que basea da na ace itaçã o ou recusa daoferta divina.

3 - A CERTEZA DA SALVAÇÃO.Algumas das caracterí sti cas do

metodismo , tan to práticas como dou tri nárias,são decorrentes da ênfase que dá àexp eri ênc ia rel igiosa . O hom em foi fei to seresp iri tua l, à seme lhan ça do Cr iado r, pa rate r co mu nh ão com Ele , andar em Suapresença e senti-Lo no âmago da alma. Deusse torna real para aque le que vive ne le.Porta nto, é uma abe rra ção inc omp reensí velsen tir -se alguém perdoa do de seu s pec ado s,est ar rec onc ili ado com o Pai cel est ial ,usu frui r nova vid a, experim entar outrasdispos içõ es e at itu des e não saber disso.Não nos diz a Esc rit ura que "Todos que sãocon duzid os pelo Esp íri to de Deu s" têmcon sciên cia de que também "são fil hos deDeu s" e, como tais, pro duzem ob ras dignasdos fi lhos de Deus? (G l 5:18 ,22; Rm 8:14-16).

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Por incríve l que pareça, a vida cristã move-se no meio de esp lêndi das certe zas . Tem ocre nte a fi rme convicç ão de que, pe la graçade Deus, seus pecados lhe fo ram perdoado spor meio de Cr ist o; que em Jes us é nov acri atu ra e já pa ss ou da mo rt e pa ra a vi da .Te m, en fi m, pl en a segurança da eternidadepor sua identi fi cação com o di vinoRede ntor . E quem lhos af iança é o du plotestemunho den tro de si mesmo : o de seuesp íri to e o do Esp íri to Santo, confo rme aexperiência pessoal de muitos e o ensino dasEscri turas (Rm 8:14-16; 2Cr 1:22; 2Cr5:1,8 ,17). "Quanto ao test em unho de no ssoes pír it o, es creve We sley , a alma pe rcebetão ín tima e ev iden temente quando ama,alegra-se e regozi ja-se em Deus, comoquando ama a qua lque r coi sa da ter ra e nel ase del eit a ." Se ist o sucede , não pod e duv ida rde que é fi lho de Deus.(5)

Ace rca do testemunho do Espírito de Deus,também assim se expressou: “Por tes temunhodo Espírit o, quero dizer a impressão íntimafe ita sob re a alm a, pel a qua l o Esp íri to deDeu s diret amente test if ica a meu espíri toque sou fi lho de Deus: que Jes us Cri sto meamou e deu-se a Si mes mo por mim ; e quetodos os meus pecados estão cancelados, eeu, estou reconciliado com Deus".(6)

A dou tr ina da segur anç a é, po is, parteint egran te do me todi sm o, que lhe de ucunh o un iversa l. Uma vez qu e aexperiê nc ia rel igiosa é possíve l a todos oshomens, ind istin tamente, todos, igualmente,devem saber se têm cer teza de suasa lvação. O apósto lo Paulo gozou-a nestavida , tendo a convicção de que nada opoderia separar do amor de Deus (Rom.8:38 ,39) . O grande doutor dos gent ios jamaissent iu a me no r dú vida a respei to de seude st ino eterno . E do apósto lo Joãopossu ímo s idêntico testemunho. Numa desu as ep ís to la s re gi st ro u : "A qu el e qu e cr êno Fi lh o de De us tem em si otestemunho .. . E o te stemunho é es te: queDeus nos deu a vida eterna ; e es ta vidaestá no seu Fi lh o. Qu em te m o Fi lh o te m avida ; qu em nã o tem o Fi lho de Deus nãotem a vid a. Estas coisas vos escrev i, a fimde saberdes que tendes a vida..." (1Jo 5:10-13).

Os arminian os pr im it ivos pu nh am aques tão da se guranç a nou tros ter mos , vis toens ina rem que somen te em casosexcepc iona is alguém poderia ter delaconsciê ncia. O Sínodo de Dort, calvinistaconforme notamos, opôs-se energicamente aosseguidores de Armín io, co mbatendo essa eoutra s af irm at iva s, mas também é verdade

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que definiu o problema de tal forma que oswesl eyanos não a podem ace ita r. Sim,porque para os defensores do Sínodo , osele itos gozam do pr iv ilég io da segurança,mas tão sómente os eleitos.

A experiência do testemunh o do Espíri topermit iu a We sle y compreender ma isclaramente a dout rina da justif ica ção pela fé .Dur ant e quinze ano s escuda ra-se ele nosseus próprio s esforços , pensando, assim,ganhar o favor div ino , embora um dos "Tr intae Nove Art igos" afi rmasse que o hom em só éjus tif icado pelos mér itos de Cri sto , mediantea fé. Seu irm ão Carlo s lab orava em idê nti cafa lta , pretendendo salva r-se através de suasobras, como bem atesta o diá logo quemante ve com o pas tor morav ian o, Ped roBöhl er , qu an do de um a vi si ta qu e es te lh efe z em momento de sua enfermidade.Perguntando-lhe Pedro se espera va sersal vo, res pon deu -lhe Carlo s: "S im" .

— "E que razão ten s par a iss o?"— "Po rque ten ho -me esf orç ado ao

máx imo par a servir a Deus" - disse-lhe CarlosWesley.

Era a men tal idade de mui tos no seio domin ist éri o ang licano dev ido ao erro deatr ibu írem à fé e às ob ras um se nt ido qu enã o ti nh am . A ve rdade achava-se mani festa

nas Escr ituras e no padrão ofic ial dedout rinas, poré m o tempo se encarregara deto ldá-la . Novas con cep çõe s e prá tic asves tir am -na com roupag ens di fe rentes. Aosmoravia nos caberia, en tão , a subl ime ta refade des per tar aos dois irm ãos Wesle y, par a area lid ade e, por meio del es, des per tar atan tos out ros na Ingla ter ra e no mun do.

Os morav ian os ens ina ram a Jo ão e aCa rl os Wes le y qu e a fé é ex pe ri me nt al enã o me ro assent imento às doutrinas daIgre ja , ainda que verdadei ras; que ela nãodepende dos sacramentos e nem seconfunde com as obras . A fé e as obras sãocoisas dist int as, sem mérit os int rínse cos. Asal vaç ão é o dom gra cio so de Deus,providenc iada pelo sacrif ício exp iatório deSeu ben dit o Fil ho. Cri sto é o Red ent or úni coe exc lus ivo de nossa alma. A fé nos conduz aEle e nos move a lhe entregarmos todo o nossose r. Pe la fé nos apropr iamos de Seusmérit os. Pela fé nos ide nt ificam os com oSal vad or Jesus e nos fazem os he rdei ro s doSe u Re ino. Pe la fé vi semo s uma vida desant idade, de paz e de amor .

As obras, en tão, resu ltam de nossaent rega a Cristo Jesus, ete rno Sal vador denos sa alma. Entretan to , só a part ir damemo rável experiência re ligiosa de maio de

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1738 os dois irmãos We sle y veri fi cariamque, de fato, nada exis te em nós que nosgaranta a salvaçã o: o homem só pode salvar -se pela fé em Cristo —"sol a fid es". E nist oele s con corda vam com os Ref orma dos(Luteranos ).

Falando do acontecimento de 24 de maio,em Alders ga te , João We sley conta em seu"D iá rio" : “À no ite fu i, mu it o co nt ra mi nh avo nt ad e, a um a so ci ed ad e (re un iã o do scr en te s mo ra vi an os ) na ru a Aldersgate,onde alguém estava lendo o prefácio de Lute roà ca rta aos Romanos. Fa ltava c erca de umquar to pa ra as nove horas (20:45h), enquantoele descrevia a mudança que Deus opera noco ração pe la fé em Cr is to , sent i meuco ração ab ra sa do d e mane ir a es tr an ha .Se nt i qu e co nf iava em Cr is to , Cr is tosomente pa ra a sa lvação ; e fo i -me dadacerte za de que Ele tin ha ti rado os meuspecados, sim os meus pecados e me salvavada lei do pecado e da morte".

Tiago Armín io adotava in terpretaçãosemelhante à dos lu ter anos, cal vin ist as emetod istas. No seu con cei to somosjus tif icados graciosamente por Deus, emate nção aos mé ri tos de Cr is to , ao qual nosunimos pe la fé . Cr is to é a causa meri tó ria

da just if icação ; a fé a causa inst rumen tal .(7)

Todavia seus seguid ores imedia tos , osRep resen tantes , afas taram-se dain terpre tação do mest re , aproxi mando -semais do rom ani smo e do angli canismo , emvir tude de atribuírem à fé, certo valor meritório.Na verdade ela é um dom de Deus, através decujo exe rcício a pessoa faz-se merec edo rade maiores bên çãos e, mui to emb ora ajust if icação não dependa das boas ações,ta is obras são consideradas ind ispensáveis.Ainda que imperfeitas, Deus as acei ta ere co mp ensa aque le que as prom ov e. Ei s, apropós ito , a declaraç ão do teólogoLimborch: "Deve-se lembra r que , quandodizemo s que somos jus tif icados pela fé, nãoexc luí mos as obr as exi gid as pela fé,con for me as pro duz uma fru tíf era mãe , masas inc lui ".(8) Ali ás, ele fo i ainda mais enf áti coe ob jetivo ao decla rar que "Sem obras a fé émor ta e a just ifi cação inef icaz" (Sine operibusfides mortua et ad justificationem inefficax est). (9)

Há, porém, um ponto em que arminianos emetodistas divergem dos ca lv in is tas, quantoà just if icação pe la fé . Tod os os trê sace itam-na como ato de Deus, ins tan tân eo,comple to e dis tin to, ainda, da santif icação.Mas, enquanto os doi s pr ime iro s admit emque o pec ado r é ape nas con siderado por

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9" José Gonçalves Salvador Arminianistno e Metodismo 93

Deus em uma nova cond ição perante Ele,os segu idores de Ca lv ino dão -lhe sent idoma is am plo, in cl ui nd o ne la , ta mb ém aad oç ão e a vi da et erna . Pa ra ambos osarminian ismo s, o dos Represen tantes e odo s wesleyanos, a vid a eterna é concedidaaos crentes como recompensa por suapers is tênc ia na dedicação a Cr is to , po issão susce tí ve is de ca ir da graça epe rderem a sa lvação . Além disso, osca lv in is ta s li gam a just if icação aos eternosdecretos de Deus, desde que a fésa lvadora só é concedida aos eleitos. (10)

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5. A DOUTRINA DA REGENERAÇÃO.A jus tif ica ção e a regene ração são

con com itante s, se bem que de na tu rezasdi fe rentes . Aque la tem lugar em Deus , aopa sso qu e es ta se pr oc es sa no s ho me ns .De us acei ta com o justo ao pecador,quando este se arrepende de suas fal tas .Adm ite -o em nova sit uação, como se nadati vess e ha vido , o qu e, de mo do al gumsi gn if ic a que o on iscien te e justo Deus seesqueça ou fique a igno rar o seu pas sado.Tra ta-o, com o o vel ho pai da bel a par ábo lade Jesus, tratou ao fi lho pród igo, quandoeste re to rnou ao la r. Não é ne nhum santo,ma s sua muda nça de vida e de propós itoslhe abrem novas opor tunidades. Se soubercor res pon der à fé em Cri sto , Deus, lhepro por cio nará cada vez maiores bênçãos e,por fim, a vida eterna.

O arm in ian ism o e o metod ism o sedis tingu em, aqu i, um do ou tro, em algumaco isa . Ambos vêem na regene ra çã o ore su lt ad o de um a ob ra di vi no -hu ma na .Ne m só Deus e nem só o homem,afastando-se assim , mutuamente, tanto doca lv in ismo como do pelagian ismo, que sã omo ne rg is ta s. Co nt ud o os ar mi ni an os

pa re ce m da r a pr im az ia da in ic ia ti va aoho me m, en qu an to os we sl eya nos acon ced em ao Esp íri to San to. É Ele , oEsp íri to Sa nto, que procura, an tes,il um iná-lo e pe rsua di -lo . O homem,todavia, se qu iser , pode resist ir à açãodi vina . Po r conseguinte, no bom en tend erdo metod ismo , a re gen eraçã o é o traba lhodo Esp íri to San to em coo per açã o co m avo ntad e do ho mem. Pa ra os ar mini an osta l op eração se exerce pr imei ro sobre amente e at ravés da Pala vra de Deus(C on f. Remo ns tr . 17 :2 ,5 ), ao pa ss o qu eos wesleyanos não lhe determinam setor deinfluência, pois ac redi ta m que el a po deef et ua r -se po r me io da me nt e ou docoração, como usar os mais diversos recursos.

6 - A SANTIFICAÇÃO.Como se comporta aquele que um dia foi

regenerado?

O crente nã o mais proced e como dan tes :já não vive no es tado de simp les cr ia tu rae sim no de fi lho di le to de De us . Is to é,bu sc a vi ve r co nf or me a vo nt ad e do Pa iceleste, sendo -lhe agradável em tudo;

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72 Jose' Gorrçah'es S a l ra do r A rn i t ia t r ismo e Metodismo107

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procura cresce r em san tid ade , par a, a cadains tan te mais se par ece r com Ele. Aperfeição é um desafio persistente a estimulá-lono jornadear em Cri sto. Não pára nuncadurante a via gem. O novo nasc imento fo iapenas o in íc io da caminhada e dodesenvol vimento. É prec iso prossegu ir .Como dizia o após to lo Paulo: "Não que jáa te nha al cançado, ou se ja pe rfe it o; ma spr os si go pa ra al ca nç ar aq ui lo pa ra oqu e fui também preso por Cristo Jesus.Irmãos , quanto a mim, não jul go que o haj aalc ançad o; mas uma coi sa faço, e é que,esquece ndo-me das coisas que para trásficam, e avançando para as que est ãod ia nte de mi m, pross ig o pa ra o al vo .. ."(Fp 3: 12 -14 ).

Qu em se sa ti sf az com as bênçãos járecebidas, incapacita-se para melhores ema iores dádivas. Deus tem coisa sincontáveis para Seus fi lhos . Contudo,pa ra alcançá-las, mister se faz avançardia a dia em dem and a da per fe içã o, cu joalvo é o Sen hor Jesus. Da í arecomendação da Escr itura: "Mas , como ésanto aquele que vos chamou, tornai-vossantos também vós mesmos em todo vossoproced imento , porque está escrito: Sed e

san tos , porqu e eu sou san to" (1P d 1:15-16) . E out ra vez diz o nosso Deus pelosláb ios de Seu Servo: "E vós também, pondonis to mesmo toda a dil igência, acrescentai àvossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e àciência a temperança, e à temperança apaciência, e à paciência a piedade, e àpiedade o amor fraterna l; e ao amorfraternal a caridade" (2Pd 1:5-7).

De onde concluímos que a vida cristã secaracteriza por um mo viment o prog ress ivo,co nt ínu o e as cenden te . É um "m ai s"pe rm an en te , u ma so ma in in te rr up ta devi rt u des. É um crescimento em divindade,porque mais se iden tif ica com a nature za e .

os pro pós ito s div ino s. E se tud o isto nãofo sse mais do que compensador, bas tar ialembrar a promessa glor iosa de Jesus: "Bem-aventurados os limpos de cora çã o, po rq ueele s verã o a De us " ( Mt 5:8).

João Wesley foi ao pon to de rea lçar umsegundo est ágio no pro ces so dasan tif icação , des ignado por ele como: "acomp le ta sant if icação", "a segundabênção" ou , ainda, "a segunda obra dagraça. " É conhecido, out ross im, por"per fe ição cr is tã " e "per fe ição fi na l" .

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73 Jose' Gorrçah'es S a l ra do r A rn i t ia t r ismo e Metodismo107

Ac redi ta -se te nh a chegado ao seureconhecimen to por tes temunho de out raspessoas primei ro, a seguir pelo exame daPalavra de Deus e, tal vez , por sua própri aexperi ênc ia; em tex tos como os de 1Pd1:1 6; Mt 5:18; 1Co 2:6 ; 2Co 5:1 7; Ef 5:27;Hb 5:1 -1; Fp 5:13; 1Jo 3:6 ,8,9. Tan to par aele com o par a o met odi smo pri mit ivocon sti tuí a uma dout ri na ca rd ia l, de sorteque ao se r ad mi ti do um novo pregador ,Wesle y lhe pergu ntava perante aConferência (Co ncílio): "Es pera is tornar-vos perfeit o em amor nes ta vida?"

Sabemos, outrossim, que, em alguns ramosda Igreja Met odi sta , idê nti ca pergun ta ain dase faz aos can did atos ao pre sbi ter ado . Porexe mplo, em nos sa Igreja , no Bra sil , opre sidente do Concílio Reg ional dir ige -se aocandidato , assim: "Caminha is em demandada perfeição em Jesus Cris to e vos esta isesfo rçando para alcançá-la?" E a resposta é:"Sim, com o auxílio de Deus". (11)

Realmente esse estado não depen deexclus iva mente do esforço hum ano, er roem que incid iam os pe lagianos com sua

exagerada confiança no homem e nos meiosna turais da graça. Negando a transmissão dopecado original, ensinavam que através de suasfaculdades naturais e daqueles meios, pod iacumpri r as exigências de Deus e ati ngi r aperfeição cr is tã , mesmo porque Ele nadalhe pede que seja impossível.

A sant ificação é obra divino-humana.Deus quer aben çoar o crente e o envolvecom Sua graça, mas é prec iso que es teande por ela e a busque de todo oco ração, alma e mente. En fim, com toda sas suas fo rças . Toda via, a pa rte pr inci pa lé a di vina . Ar mí ni o es cr eveu em um deseus trabalhos que o homem ja mais aconsegui ria sem o au xíli o de Cr is to ( 12),af irmação que os me todistas en dossaminteiramente.

Mas , em que consis te, a per fei ção cri stãou comple ta santificação?

Com eça remos por dec larar que nãosignif ica isenção de ignorância ou de erro oude ten tação. Há mui tas coi sas que o cr is tãonunca chegará a saber ou a real izar nestavida; fini to e lim ita do com o é, pod e err ar e

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ser ind uzido à tentação. Os mais dedicadosservos de Deus sofreram pro vaç ões ,inf ort ún ios , ul traje s, morte . Jó, Joã o Bat ist a,Tiago, Pau lo , são exemplos dos maiseloqüentes. O que Wes ley quer ia di ze r,quan do se re fe ria à do ut rina , era que ocre nte dot ado com aqu ela bên ção não ter iadis pos ição para o pecado e, se acontecessepassar por tentação, sentir ia o auxí lio dagraça div ina , capaci tando-o para vencer .Quando alcançasse a perfeição cr is tã , obem seria posi ti vo , já nenhum domínioexercendo sobre de os maus pensamentos ouinclinações perversas. Ao invés disto o amor paracom Deus e os homens seria nele perfeito.

A sant ificação pode conduzir àperfeição, e até confundir-se com ela,segundo depreendemos destas palavras do Dr.Harmon : "Signi fica, diz o ilustre bispometodista , que se pod emos viver um diasem pec ado , tam bém pod emos vi ve r doi s;e se po de mo s vi ve r do is di as se mpe ca do , po de mo s vi ve r mu it os dia s se mpe ca do — po r qu e nã o? Assim ha verá umcr escimento em graça e uma aproximaçãocada vez ma io r de Deus até àque le dia emque a pessoa se to rna o que Deus queriaque fosse — e isto não é ser homem

perfei to?" (1 3)

Mas a perfeição cr is tã é ma is do queiss o, porque , com o graça esp ecial de Deus,o cre nte pode recebê -la num instan te e aqualquer momento em sua vid a, noconcei to wesleyano. Os ca lvi nistas, por ém,ad mi te m qu e se ja al ca nç ad a s ome nt e nomo me nt o da morte ou após ela. Osarminianos ho landeses concebiam-na maisou menos conforme os metod istas wesleyanos,ma s não lhe de ram tant a impo rtânciaquan to es tes. As igre jas "Ho lyness" e de"Jesus Nazareno" sust entam ainda a posiçãomant ida por João W esley, cons iderando-ade capital relevância.

7. O CONCEITO DE DEUS.É muitíssimo importante o que pensamos

acerca de Deus.

Nossa vida, nossas atitudes epensamentos dependem do que crermos notocante a Ele. A conduta de cada um ésimplesmente o resultado de suasconcepções. Nas palavra s expressivas doinsigne Ru i Barbosa: "As dout rin as

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precedem os atos". Ninguém vai além do quecrê. Toda crença está constituída de umasér ie de valores que apre ciamos eincorporamos à vida e, de conformidade comos quais formamos nossos háb ito s esentimentos.

Pela nossa crença nos conduz imos,pensamos e agimos. Imaginemos. por exemplo, adif ere nça entre uma pes soa que cre ia naexi stê ncia do Deus Todo-Poderoso,Onisc iente, Santo, Justo e Miser icordioso eaque la que assim não creia. A pr imei rasente-o em tudo e em todas as partes; é -Lhe agradecida pe las incontáveismanifestações de Seu amo r; recebe compaciê nc ia as provações, certa de que o PaiCeleste está a seu lado para ajudá -la avencê-las. Assim , ao evitar o mal, não éporque tema cast igo s, e sim porque, deforma algum a, deseja entr ist ecer ao Deusde amor, que só lhe tem fe ito o bem.Procederá a segun da pesso a de modosemelhante?

Razão, por isso , teve João We sleyquando , numa carta ao Dr . ConyersMidd lenton , escreveu que o cri stão é fel iz

po r sab er que o "Criado r de tod as as coi sasé um ser de imensa sab edo ria , de pod erinf ini to par a exe cutar tod os os des ígn ios deSua sab edo ria , e de não menos inf ini tabon dad e par a dir igi r tod o o Seu pod er par abenefi cio de todas as Suas criaturas". Deusest á dispost o a distrib uir as bênçãos de Suajustiça , sant idade e perfeição a quan toscumpram as condições que para tantoestabe leceu, disse Wesley noutra ocasião emum de seus serm ões. (14) Deus é o mesmosempre: não muda.

Deus é imutável em Sua essênc ia ,at ribu tos, propós ito e consciência. Há nele amais perfeita harmonia. Mas, quanto aosarminia nos e pelagianos, temos algumasrest rições a fazer quanto ao seu conceito deDeus, porque, embora acei tassem aimutabil idade do Ser divino, negavam que talimutabilidade existisse no conhecimento e navontade de Deus. Vamos esc larecer melhor :acredi tavam os do is que o homem é um serli vre e Deus , po r conseguinte, agia decon formi dad e com seu s ato s. Deu s tinhaque levar em conta as ações do homem.

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8. A TR IN DA DEArminianos e metodistas reconhecem

como váli da a ve lh a do ut ri na or to do xa daIg re ja Cr is tã : da Tr inda de div ina — Pai,Filho e Espírit o Santo.

Discordam, contudo, a respei to dasre lações das três pessoas en tre si . Ossegu id or es de Wes le y sã o fi éi s ao cr ed oNi ce no -Co ns ta nt in op ol it an o, qu e de fi ni ues se ma gn o pr ob le ma da ec on om iadi vi na , co ns id er an do -as de id ênt ic aes sê ncia e co m id ên t ic os at ri but os e,a in da, co - ete rn as.

Fo i a po si çã o ad ot ad a pe la Ig re jaAn gl ic an a e ig ua lme nt e po r Jo ãoWes le y, ta nt o as s im qu e, na re vi sã o dos"Trin ta e Nove Artigos " ele a mante ve: "Nauni dad e desta Div indade há três pessoas deuma substância, poder e eternidade: o Pai,o Fi lho e o Espíri to Santo". A Igre jaMet odi sta do Bra sil , no cap ítu lo que tra tadas dou tri nas , reve la-se nesta questã o,digna continuadora do movimentowesleyano, po is no Ar t. I, inci so 1, lê -se:"Há um só Deu s vivo e verdadeiro, ete rno ,sem corpo nem par tes ; de poder, sabedoria ebondade infinitos, criador e conservador de

tod as as coi sas vis íve is e inv isívei s. Nauni dad e des ta div indade , há trá s pes soa s dames ma sub stâ nci a, pod er e eternidade —Pai , Filho e Espíri to San to".

Porém os arminianos, emb ora ace ita ssema existê nci a das três pes soas, adm itiam osub ord inacionismo. Ist o é, o Fil ho estásubo rdinado ao Pai, e o Espírit o Santo aoFilho, o que equivale a atr ibu ir-Lhe sgradaç ões de existê nci a, de ação e até deessência.

REFERÊNCIAS E NOTAS:(1) Hallevy, E. - “Histoire du Peuple Anglais au XIX Siècle”,em quatro volumes. Vol I, págs. 359, 371 e outras.(2) Hagenbach, K. R. - History of Doctrines - Vol III - Págs.75 e 76.(3) Wesley - Sermões - Vol I, Págs 109 a 11 - ImprensaMetodista - São Paulo - 1953.(4) Sermão “Sobre a Predestinação” - Cit. por Burtner eChiles - Compêndio de Teologia de João Wesley - Pág. 50.(5) Wesley - Sermões - Vol. I, Págs 205 a 207.(6) Wesley - Op. Cit. - Vol I, páginas 205 a 207.(7) Pope, William Burt - A Comp. of Christ. Teology - Vol. II,Pág. 445.(8) Pope, Op. Cit. - Vol. II - Pág. 444, citando Limborch, inTheol. VI, pág. 4, 32.(9) Hagenbach, Op. Cit - Vol. III, Pág. 116, citandoLimborch, in Theol. Chr.VI, Págs 4, 22 e 31.(10) Pope - Op. Cit. - Vol II, Pág. 440.

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(11) Cânones da Igreja Metodista do Brasil - Ano de 1955 -Pág. 198.(12) Pope - Op. Cit. - Vol III, Págs 84 a 85.(13) Harmon, Nolan B. - Understanting The Method.Church - The Method. Publi. House - 1955 - Pág. 72.(14) Sermão “Sobre Predestinação” - Cit. por Burtner eChiler - Pág. 50.

CONCLUSÃO

De tu do qu an to fo i di to , fo rm ul em osum a sí nt es e global , que nos permita ver derelance o quadro ana lisado e mais facilmentereter as evidências apontadas.

1 — O espí ri to huma no longe de serum a en ti da de pas siv a, aco modad a àscir cun sta nc ias de qua isq uer nat urezas, éelemento ativo, sofre, sente e reage. Motivopor que nossa vida se dis tin gue da de out rosseres. É verdade que também eles reagemaos estímulos externos, mas não sabemporque o fazem e nem são capazes de cr ia rme ios inte ligent es par a os tra nsf orm aremem seu ben efí cio . Por iss o, no qu e di z

re sp ei to ao ho me m, o de te rm in ismo só emparte é vá lido .

Ci ta ríamos, se qu iséssemos, centenasde exemplos. Mas , doi s apenas nosbas tarão:

A Holanda, em sua per manen te luta como mar, usu rpou -lhe dez ena s de qui lôm etrosde sol o est éril e o tra nsf orm ou em ter ra dasma is produt ivas .(1) Al i es tá uma prova doque pode o eng enho hum ano .

O out ro nos é dado pel a Grã-Bre tan ha.Pequena e rodeada pelo Atlânt ico ,con ver teu -se num a das maior es pot ênc iasmarít ima s do globo. E se exa min ard es avida pol ítica, soc ial e reli giosa de hola ndesese ing leses, notare is coi sa semelhante. Suagen te soube reagir sempre co nt ra os qu elh e fe ri ra m o br io . A in de pe nd ên ci a daHol and a é fruto do des pot ismo dos fan áti coshab sbu rgos espanhóis. Conscien tes de seupróprio valo r, alen tados pela doutr inaevangélica, in flamaram-se de zelo esacudi ram de vez o jugo estrangeiro.

Fato idêntico nos apresenta a velha

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Ing laterra, a qua l, não só expulsou a quantosinimigos lhe pisaram o solo pátrio, mas aindase fez a paladina da democracia nos temposmodernos. Lembrar -vos-ei apenas que ,séc ulo s ant es de se fa lar no dip lom a dosdir eit os do homem, já os barões ing lesestinham exigido do Rei João subscrever aMagna Carta, de perduráveis conseqüências:Onde, por tanto, se tente diminui r o valor doespírit o humano, a reação se levantará,infalivelmente.

2 — Tiago Armínio e João Wesley ref letemo espírit o de seus povos, de amor àliberdade e de respei to para com a vi dahu ma na . Ma s, de ou tr o la do , el es sefi rm ar am nesses princípios, observando quese coadunavam com a nat ure za do homem,que exa lta vam ao Criado r, tin ham o apoiodas Escrituras e hav iam sido susten tados poralguns escritores da Igreja Primitiva.

Recorrendo à Santa Palavra reconheceramque Deus fi zera o homem cr ia tu ra li vre,conscie nte, responsável, e não um autômato.A obra condizia com o art ífi ce e, por isso, odignif icava. Só ass im Ele podia chamá-lo acontas e exigir sat isfação por seus atos . Sepecou, não fo i porqu e a tanto estives se

determinado, mas por que fez mau uso dalib erdad e, embor a adver tido de an temão daposs ib il idade de ca ir . Prefer iu , todavia,agi r na direção con tra -ind icada.

E como procedeu o Pai celestial?Abandonou o filho que se fizera escravo domal? Não ! Ao invés de dei xá-lo aoaba ndo no, con tinuou ofer tando-lhe Suagraça, enviando-lhe, por- fim, o Verbo eterno,Cri sto Jes us. Atr avés do bendito Redentor asal vação fo i posta ao alcance de todos oshomens.

Há, por conseguinte, diversos pontos decontato entre arminianismo e metodismo. Ambosnegam que Deus tenha pre des tinado o homemà queda. Ele jamais pro ced eri a de tal modo,pois é bom e justo, e não pode agircontrariamente à Sua natureza e nem à dohomem. Se alguém se per de, não é doCriado r a culpa. Deus que r a salvação dope cado r que, pa ra ta nto, lh e of erec e orecu rso , ma s o homem é livre para aceitá-lo oupara recusá-lo.

Ninguém, contudo, deduza disto, que ometodismo seja arminiano por excelênc ia.Talvez possamos dize r que o é, tão semente,

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naqueles conceitos relacionados com apredestinação.

3 — Ireis permitir , então, que vos lembrealguns pontos em que o metodismo e ocalvin ismo se ajustam bem. Um deles é o dacorrupçã o da natu reza humana, após opecado. De sorte que, quando Adão caiu,toda a raça humana caiu com ele. Outroponto é o da absoluta necess idade da graçade Deus, sem a qua l o homem é incapaz debus car a sal vação. A ini cia ti va é de Deus etambém a sua real ização. Ainda ou tro estána interp retaçã o que os doi s sis tem as dãoaos sac ramentos, cons iderando-os nãoapenas símbolos , mas também meios pel osqua is a fé recebe al ime nto e o fiel mais seedifica em Cristo. Ambos rejeitam atransubstanciação e a consubstanciação.

4 — Se, porém, nos det ive rmo s aexamin ar com mais precisão os postu ladosdo metod ismo wesleyano , teremos o ensejode conclu ir que , em alguns del es, é maisant i-cal vinista que o sistema de TiagoArmínio. Nada há, pois , que est ran har ! Sim !Por quanto vimos que o arm ini ani sm oace itava a predes tinação condic ional, ou

inf ralapsarianismo. Ist o é, baseada napre sciênc ia de Deus e não em Seu decretoeterno, a par tir da queda, e nãoanteriormente à mesma. O metodismo ,embora reconheça a presciênc ia de Deus,nega qua lquer uma das duas fo rma s depredes tinação: inf ralapsariana ousup ralapsaria na. Também rejeita lim ita çõesna obra expiatória de Cristo, como quando sepretende que Ele tenha morri do ape nas pelosele itos.

Par a Wesle y e seus segu idores aexpiação e a graça são un iversa is . Cr is tofez tudo que depend ia de Si para redimi r ahuma nidade do pecado, Sua obra foi extensa,perfeita , completa única e abrange a todos oshomens , como vemos, por exemplo, em Jo3:16; Rm 5:18 e Hb 8:10.

5 — O metodi smo é, por tai s mot i vos, umsis tema teo lóg ico peculi ar. Nem arm inianointeiramente e nem cal vi nis ta. Man tém, noent anto, dou tri nas que são fundamen ta ispara os dois , agrupando -as em um todoharmonios o e equi librado. De um ladosustenta a glór ia e soberania de Deus e, doout ro, a liberdade do homem. A salvação é

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dom gra tui to, conced ido aos homens semque o mereçam, mas não vai ao pon to dedei xar tud o exclu siv ament e nas mão sdiv inas. A sal vação é obra divino-humana . Oenfermo cura-se quando se dispõe asubmeter-se às prescr ições do méd ico etoma os remédios que lhe ind ica . O maisimportan te , pe lo menos em si tuaçãode licada, depende do clínic o, mas, passad aa cri se, a coo peraçã o do enf ermo éimprescind ível . Por me lhor que se ja ummedicamento, o ef ei to de pe nd erá dare aç ão do or ga ni smo. A graça de De us ,de ig ua l mo do , só co mp le ta su a ob raqu an do o homem diligencia em secundá-la.

Fatalismo, determinismo,transcendentalismo, ou panteísmo ehumanismo , são uns tantos "ismos" que osseguidores de Wesley repe lem comoperigosos. Se é absurdo af irma r-se que "ohomem é homem simp lesmen te porque nãoé gato ”, não é menos grave tomá-lo comoafe ridor (ava liador , med ido r, jul gador) devalore s. Nun ca nos podemo s esquec er queele é finit o, limi tado , perecíve l, suje ito afalhas, mas também que Deus o fez à Suaima gem moral e esp iri tua l.

Jam ais compree nderemos o Criador se odivorciarmos do homem, assim como seremosincapazes de conhec er o homem isolando -ode Deus. Quantas vezes se tem eleva dotanto a Deus ao pont o de o homem fi ca rob scurec ido? Ainda agora se propala umateo logia transcendentalista , na qual oAlt íssimo est á fora do alcanc e de nossa sesp ecu lações. Bon ita , sem dú vida, masnada con fortador a! Mas , também , não épossível ent ron izar a rid ícu la razão dacriatu ra a que cha mamos hom em. Os seu sdes ati nos são eviden tes até par a os cegos.

6 — Diremos, fina lmente, que a sociedadehodierna necess ita conhecer e experimen tara teo log ia metodista . Em um mu nd oin qu ie to e de sn or te ad o co mo o no ss o, el afa rá mu ito bem. Se rá u ma bê nção sent ir amão di vina segurando a nossa ao invés denos julgarmos quais cascas de nozesagitadas pe los vagalhõ es da vid a, ou qua isinde fesos órfãos abandonados ao léu dasor te. Há, para todos, um timoneiro seguro,um Pai acessível e de in fini ta mi se ricó rd ia .Seus são os tesouros nos céus e na te rra,e Ele quer di st ribu í -los com os Seus fi lhos ,de qualquer raça, de qua lquer cont inent e ede qua lquer cond içã o so cia l. Até o mais vil

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pecado r. Não há exceções para Deus. Só opróprio homem se pode excluir do reino celestial.

Não ex is te mensagem mais confor tadorae mais en tusias ta . Ela nos ensina overdadei ro sent ido da fra te rni da de , po rq ueno s aj ud a a ve r em no sso pr óx imo umirmão pe lo qual Jesus também derramou oSeu sangue. Ela nos fa z cônscio s de nossodever de anunciar o Evangelho por todas asparte s. Ela nos con st range a bata lhar porum mundo de paz e de boa vontade, dejust iça e de res pei to para com tod os oshom ens . "O metod ism o, dis se algué msabiamente, é uma revolução em marcha".

Deus o permita!

REFERÊNCIAS E NOTAS:(1) Fautcher, Daniel - Geografia Agrária”.

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