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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA CENTRO DE CINCIAS E TECNOLOGIA - CCT
MESTRADO ACADMICO EM GEOGRAFIA - MAG
rea de Concentrao:
Anlise Geoambiental e Ordenao do Territrio nas Regies Semi-ridas e Litorneas
Linha de Pesquisa:
Anlise Geoambiental Integrada e Dinmica das Paisagens Semi-ridas e Litorneas
A DINMICA AMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO CURU - CE: SUBSDIOS PARA O MONITORAMENTO E GERENCIAMENTO
DA REA DE PROTEO AMBIENTAL
Autora: Tatiana Oliveira Falco Quintela
Orientador: Dr. Jder Onofre de Morais
Fortaleza - CE 2008
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR
PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA
CENTRO DE CINCIAS E TECNOLOGIA - CCT
MESTRADO ACADMICO EM GEOGRAFIA - MAG
TATIANA OLIVEIRA FALCO QUINTELA
A DINMICA AMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO
CURU-CE: SUBSDIOS PARA O MONITORAMENTO E
GERENCIAMENTO DA REA DE PROTEO AMBIENTAL
FORTALEZA - CE 2008
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
TATIANA OLIVEIRA FALCO QUINTELA
A DINMICA AMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO
CURU-CE: SUBSDIOS PARA O MONITORAMENTO E
GERENCIAMENTO DA REA DE PROTEO AMBIENTAL
Dissertao submetida ao Curso de Mestrado Acadmico em Geografia do Centro de Cincias e Tecnologia da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial para obteno do grau de mestre em Geografia. rea de Concentrao: A Anlise Geoambiental e Ordenao do Territrio nas Regies Semi-ridas e Litorneas.
Orientador: Prof. Dr. Jder Onofre de Morais
FORTALEZA CE 2008
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
Q7d Quintela, Tatiana Oliveira Falco
A dinmica ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: subsdios para o monitoramento e gerenciamento da rea de Proteo Ambiental/Tatiana Oliveira Falco Quintela. ____ Fortaleza, UECE. 140 p. Orientador: Prof. Dr. Jder Onofre de Morais Dissertao (Mestrado Acadmico em Geografia) Universidade Estadual do Cear, Centro de Cincias e Tecnologia. 1. Esturio. 2. Morfodinmica. 3. Hidrologia. 4. Hidrodinmica. I. Universidade Estadual do Cear, Centro de Cincias e Tecnologia.
CDD: 551.4609
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
TATIANA OLIVEIRA FALCO QUINTELA
A DINMICA AMBIENTAL DO ESTURIO DO RIO
CURU-CE: SUBSDIOS PARA O MONITORAMENTO E
GERENCIAMENTO DA REA DE PROTEO AMBIENTAL
Dissertao submetida ao Curso de Mestrado Acadmico em Geografia do Centro de Cincias e Tecnologia da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial para obteno do grau de mestre em Geografia.
Defesa em: ____/____/_____
Nota obtida: _____________ Conceito obtido: _____________
BANCA EXAMINADORA:
________________________________ Prof. Dr. Jder Onofre de Morais (Orientador)
Universidade Estadual do Cear
________________________________
Profa. Dra. Lidriana de Souza Pinheiro
Universidade Estadual do Cear
________________________________ Prof. Dr. Luis Parente Maia
Universidade Federal do Cear
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
Aceleramos o passo sempre que buscamos
algo importante para nossa existncia.
Quem ama no se cansa facilmente nem se deixa
vencer pelo desnimo. Ao contrrio, enfrenta qualquer
obstculo para conseguir seu objetivo.
NILO LUZA
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
Dedico essa dissertao a Deus pela minha
existncia e sade, aos meus pais (Antonio Luiz
e Maria de Fatima) pelo carinho e apoio no decorrer
da minha vida. Aos meus irmos (Luiz Fabiano e
Thiago) pelos momentos de alegria e amizade, ao
meu grande av (Joo Falco), ao meu esposo
Davi pela compreenso e companheirismo.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Dr. Jder Onofre de Morais pela grande oportunidade, incentivo e
confiana no desenvolvimento desta dissertao, muito obrigada!
A Fundao Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
(FUNCAP), pela concesso da bolsa de mestrado.
Ao Laboratrio de Geologia e Geomorfologia Costeira e Ocenica (LGCO) da
Universidade Estadual do Cear pela concesso do barco e de equipamentos, alm
da anlise e processamento de amostras.
Professora Dra. Lidriana de Souza Pinheiro pela sua ateno durante o decorrer
do mestrado e pela ajuda na organizao das atividades de campos.
Ao Professor Dr. Flvio Rodrigues do Nascimento, pela ajuda e esclarecimentos em
determinados assuntos da geografia e da rea de estudo. Obrigada!
Meus sinceros agradecimentos equipe do Laboratrio de Geologia e
Geomorfologia Costeira e Ocenica (Paulo, La, Irion, Diego, Laldiane, Glacianne,
Glairton, Marisa, Mariana, Miguel, Davis, Raquel, Judria, Andr, Joo Paulo,
Eluziane, Alex, Lilian e Silvio) pelos momentos de alegria e de aprendizagem.
Aos meus grandes amigos Aluzio dos Santos Arajo, Carolina Braga Dias e Paulo
Henrique Gomes de Oliveira Sousa (PH) pelo respeito, sinceridade e ateno. No
sei o que seria sem ajuda de vocs!
Aos meus amigos de graduao Llian Soares, Llian Sorele, Renata Carvalho,
Luciana Freire, Santiago, Helder Gadelha, Lidiane e PH (voc novamente!), pelos
bons momentos.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
A todos os alunos da turma de 2006 do Mestrado Acadmico em Geografia (Cintia,
Juscelino, La, Glairton, Eder, Mrcia, Feliciano, Tlio, Ronny, Iandra, Nayara,
Aridnio, Cisne e Nicolai) pelos bons momentos vividos e pela unio.
Aos professores do Mestrado Acadmico em Geografia da Universidade Estadual do
Cear (Marcos Jos Nogueira de Souza, Fbio Perdigo Vasconcelos, Maria Lcia
Brito da Cruz, Daniel R. de Carvalho Pinheiro, Luzia Neide M. T. Coriolano, Lidriana
de Souza Pinheiro, Zenilde Baima Amora, Sandra Maia Farias Vasconcelos, Jder
Onofre de Morais, Lcia Maria Silveira Mendes e Flvio Rodrigues do Nascimento)
pela aprendizagem e pelo convvio estimulante durante o curso.
Aos professores do Curso de Ps-Graduao em Engenharia Civil (Francisco
Suetnio Bastos Mota e Sandra Tdde Santaella) da Universidade Federal do Cear
pelos bons momentos de aprendizagem.
Aos funcionrios do Mestrado Acadmico em Geografia, em especial, a Sra. Jlia.
Aos motoristas Lucinaldo e Francisco que acompanharam e ajudaram no decorrer
das atividades de campo.
Em fim, a todos que de alguma forma contriburam para o desenvolvimento deste
trabalho. Obrigada!
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
RESUMO
A rea de estudo localiza-se na divisa dos municpios de Paraipaba e Paracuru, na poro noroeste do Estado do Cear, Nordeste do Brasil. Abrange uma rea corresponde a 1.607,39 hectares, sendo que 881,94 hectares (54,86%) pertencem rea de Proteo Ambiental (APA) do Esturio do Rio Curu. O objetivo principal do trabalho consiste em avaliar a interao dos processos costeiros e continentais, com o propsito de gerar informaes teis ao monitoramento e gesto ambiental da APA. A metodologia encontra-se dividida em trs etapas: reconhecimento da rea de estudo, atividades de campo e anlises laboratoriais. A rea de estudo est inserida em terrenos pertencentes aos depsitos sedimentares Cenozicos distribudos em trs unidades geomorfolgicas (plancie litornea, tabuleiro pr-litorneo e plancie fluvial). A morfodinmica atual da desembocadura do rio est subordinada, principalmente, ao regime sazonal da vazo de gua e ao transporte de sedimentos pela deriva litornea. Em 2001, o spit arenoso situado na margem direita do rio apresentava uma extenso de 453,23 m, e em 2007, o comprimento quase que triplicou (1.114,80 m). O Esturio do Rio Curu raso com profundidade mdia de 1,00 m, com valores variando entre 0,10 m a 2,00 m na cota de baixamar. A largura mdia do canal de 242, 28 m, com valores mximos de 1.646,19 m e mnimos de 28,53 m. As mars so do tipo semi-diurnas, com amplitude de sizgia correspondente a 1,70 m. O assoreamento e a presena de um extenso cordo arenoso na desembocadura do rio tm ocasionado um atraso de 02 horas e 37 minutos na baixa-mar. A influncia mxima da mar salina e dinmica foi evidenciada a 7,3 km de distncia da foz. Na poca de chuva, a Zona de Mar do Rio (ZR) foi diagnosticada at 4,8 km de distncia da foz, enquanto na estiagem foi verificada a 7,3 km. Portanto, o esturio tem maior capacidade de diluio durante a quadra chuvosa, pois, a Zona de Mistura encontra-se mais prximo desembocadura. Conforme a classificao CONAMA n 357, de 17 de maro de 2005, as guas foram classificadas como salinas (estiagem) e salobras (chuvoso). O esturio do tipo verticalmente bem misturado e parcialmente misturado durante a estiagem e a chuva, respectivamente. As temperaturas na coluna dgua apresentam uma homogeneidade maior no perodo de estiagem do que de chuva. Atravs do balano do material em suspenso, constatou-se que no perodo de chuva o rio exporta 53,67 t/dia, enquanto na estiagem importa 17,21 t/dia. Considerando os estudos morfodinmicos e hidrodinmicos, constatou-se que o esturio um sistema estuarino-lagunar dominados por ondas. A partir dos dados obtidos e analisados fica como sugesto uma nova delimitao da rea de Proteo Ambiental do Esturio do Rio Curu at a barragem localizada a 7,3 km de distncia da foz, cuja referencia geogrfica em UTM corresponde longitude de 487851 e latitude de 9221088.
Palavras-chave: Esturio, morfodinmica, hidrologia e hidrodinmica.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
ABSTRACT
The study site is localized at the limit of Paraipaba and Paracuru municipalities, in the northwest of the Cear State, Northeast of Brazil. It encloses an area of 1,607.39 ha, and 881.94 ha (54.86%) of this area belongs to the Environmental Protection Area (EPA) of Curu River Estuary. The work aims to evaluate the interaction between the oceanic and continental processes, purposing to generate useful information for the monitoring and environmental management of the EPA. The methods are divided in three steps: recognizing of the study site, field works and laboratorial analyses. The research site is inserted in terrains belonging to Sedimentar Cenozoic deposits distributed on several Geomorphologic Units (Coastal Plain, Pre-coastal Board e Fluvial Plain). The current morphodynamic is s subordinated, mainly, to the seasonal regime of the water flow and the sediment transport for the coastal drift. In 2001, the spit located on the right beach of the river presented an extension of 453.23 m, and in 2007, the width was tripled (1,114.80 m). The Curu River Estuary is shallow with average depth of 1 m, with values varying from 0.10 m to 2.00 m in the low tide. The average width of the channel is of 242. 28 m, with highest values of 1.646,19 m and lowest of 28.53 m. The regimen is semi-day tides with sizigy variation of 1.70 m. The loss of depth and the migration of the channel at the mouth have caused a delay of 2 hours and 37 minutes in the low tide. The maximum influence of the saline and dynamic tide was evidenced along 7,3 km of distance far from the mouth. In the rainy season, the River Tide Zone (TZ) was verified up tp 4.8 km of distance far from the mouth, while in the dry season was verified 7.3 km far from the mouth. Therefore, the estuary has larger dilution capacity during the rainy block, because, the Area of Mixture is closer to the outlet. In the rainy period, the salinity of the estuarine system was classified of the type (mixed) mesohalina and in the dry season as eurihalina. According to the CONAMAa resolution n 357, of March 17, 2005, the waters were classified as salt beds (drought) and salty (rainy). The estuary is of vertically well mixed and partially mixed during the dry season and the rainy season, respectively. The temperatures in the water column present a larger homogeneity in the dry season period than in rainy. Through the evaluation of the material in suspension, was verified that in the rainy period the river exports 53.67 tons/day, while in the drought it imports 17.21 tons/day. Considering the morphodynamic and hydrodynamic studies, was verified that the estuary is an estuarine-lagoon system dominated by waves. Starting from the obtained and analyzed data, consider as a suggestion a new delimitation of the Environmental Protection Area (EPA) of Curu River up to the dam located far 7.3 km from the mouth, whose geographical reference in UTM corresponds to the longitude of 487851 and the latitude of 9221088. Key-words: Estuary, Morphodynamic, Hydrology and Hydrodynamic.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
SUMRIO
LISTA DE FIGURAS...................................................................................... 01
LISTA DE TABELAS...................................................................................... 05
LISTA DE QUADROS.................................................................................... 06
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS......................................................... 07 1. Introduo................................................................................................ 10 2. Referencial Terico.................................................................................. 15
2.1. Zona Costeira e Orla Martima................................................................ 15 2.2. Bacia Hidrogrfica................................................................................... 18 2.3. Esturios................................................................................................. 19 2.3.1. Aspectos Conceituais.......................................................................... 19
2.3.2. Gnese dos Esturios.......................................................................... 22 2.3.3. Aspectos Hidrolgicos e Hidrodinmicos............................................ 23 2.3.4. Classificao Geomorfolgica e Aspectos Sedimentolgicos............. 24 2.3.5. Classificao do Esturio por Estratificao de Salinidade................. 27
2.4. rea de Proteo Ambiental e Gesto Ambiental.................................. 29
3. Metodologia............................................................................................. 31 3.1. Reconhecimento da rea....................................................................... 32 3.1.1. Levantamento Bibliogrfico e Cartogrfico.......................................... 32 3.1.2. Geoprocessamento e Confeco de Material Cartogrfico............... 32
3.2. Atividades de Campo.............................................................................. 34
3.2.1. Processos Hidrodinmicos e Hidrolgicos........................................... 36 3.2.2. Contexto Morfodinmico e Sedimentolgico....................................... 44 3.3. Tcnicas Laboratoriais. ......................................................................... 46 3.3.1. Material em suspenso....................................................................... 46
3.3.2. Anlise Granulomtrica....................................................................... 48 4. Caracterizao da rea de Estudo ........................................................ 51 4.1. Recursos Hdricos .................................................................................. 51
4.2. Caractersticas Geomorfolgicas e Geolgicas .................................... 55
4.3. Aspectos Climticos Regionais e Locais................................................ 66
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
4.4. Parmetros Oceanogrficos................................................................... 71
4.4.1. Ventos............................................................................................... 71
4.4.2. Ondas e Mars.................................................................................... 73
5. Caractersticas Hidrolgicas e Hidrodinmicas do Ambiente Estuarino...................................................................................................... 77
5.1. Salinidade Horizontal e Vertical.............................................................. 77 5.2. Temperatura Horizontal e Vertical.......................................................... 85 5.3. Comportamento das Correntes............................................................... 89
6. O Sistema Estuarino e a Evoluo Morfodinmica da
Desembocadura ....................................................................................... 93 6.1. Morfologia do Esturio............................................................................ 93 6.2. Quantificao Sazonal do Material em Suspenso e Taxa de
Transporte................................................................................................... 98
6.3. Morfodinmica da Desembocadura e Processos Atuantes na Faixa
de Praia Emersa............................................................................................ 110 7. Concluses............................................................................................... 122 8. Referncias Bibliogrficas...................................................................... 128
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Mapa de localizao da rea de estudo.................................... 14 Figura 02: Disposio das zonas de mar do rio (ZR), de mistura (ZM) e
costeira (ZC) no sistema estuarino.............................................................. 21
Figura 03: Diagrama esquemtico de um esturio do tipo altamente
estratificado ou cunha salina (tipo A)........................................................... 28
Figura 04: Diagrama esquemtico de um esturio do tipo
moderadamente ou parcialmente misturado (tipo B)................................... 28
Figura 05: Diagrama esquemtico de um esturio do tipo verticalmente
bem misturado, mas com ligeira estratificao lateral (tipos C e D)............ 29
Figura 06: Fluxograma metodolgico......................................................... 31 Figura 07: Mapa de localizao das clulas, estaes, perfis e sees
monitorados no Esturio do Rio Curu.......................................................... 37
Figura 08: Mini-correntmetro porttil da Sensordata a.s. modelo SD-
6000/30........................................................................................................ 38
Figura 09: Sonda oceanogrfica da Sensordata a. c. (STD/CTD) de
modelo 204.................................................................................................. 39
Figura 10: Disco de Secchi......................................................................... 42 Figura 11: (a) Estao climatolgica modelo WIZARD III. (b) Termo-
anemmetro digital modelo TAD-500 porttil.............................................. 43
Figura 12: GPS GARMIN de modelo GPSmap 60CS................................ 45 Figura 13: Sistema de filtrao acoplado a uma bomba de vcuo............. 47 Figura 14: (a) Dessecador. (b) Balana analtica....................................... 48 Figura 15: (a) Balana analtica. (b) Peneiramento mido......................... 49 Figura 16: (a) Conjunto de peneiras. (b) Peneiramento mecnico............ 50 Figura 17: Distribuio das bacias hidrogrficas no territrio do Estado
do Cear...................................................................................................... 52 Figura 18: Diviso Hidrogrfica Nacional.................................................... 53 Figura 19: Mapa geomorfolgico e geolgico da rea de estudo............... 56 Figura 20: Sedimentos arenosos de colorao avermelhada..................... 57 Figura 21: Perfis transversais na rea de estudo de Paracuru a
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
Paraipaba obtidos atravs do Global Mapper da Imagem SRTM................ 58 Figura 22: Presena de metais pesados na faixa de praia......................... 60 Figura 23 Migrao do campo de dunas em direo a rea de coqueiros
e a exumao de rochas paralela a linha de costa..................................... 62 Figura 24: Presena de rochas prxima a desembocadura do rio............. 63 Figura 25: (a) vegetao de mdio a alto porte localizado prximo a
desembocadura do Rio Curu na margem leste (Paracuru). (b) vegetao
de pequeno a mdio porte situado na margem oeste
(Paraipaba).................................................................................................. 64
Figura 26: Exumao de troncos e razes de mangues na margem oeste
do rio............................................................................................................ 65
Figura 27: Mdia pluviomtrica do posto da FUNCEME localizado no
municpio de Paracuru................................................................................. 67
Figura 28: Precipitao nos municpios de Paracuru e Paraipaba no
perodo de monitoramento........................................................................... 67
Figura 29: Distribuio mdia de temperatura mxima, mdia e mnima
da estao de Fortaleza (1961 - 1990)........................................................ 69
Figura 30: Variao da temperatura durante o monitoramento realizado
em 20 de maro e 24 de novembro de 2007 no Esturio do Rio Curu........ 70
Figura 31: Direo dos ventos na estao de Fortaleza (1987 -1995)....... 71 Figura 32: Velocidade mdia dos ventos na estao de Fortaleza (1987 -
1995)............................................................................................................ 72
Figura 33: Histograma de Hmx referente Pecm (CE) durante maro/
1997 a outubro/2005.................................................................................... 74
Figura 34: Variao da mar de sizgia em 20 de maro de 2007 na
desembocadura do Esturio do Rio Curu.................................................... 76
Figura 35: Distribuio horizontal da salinidade mdia da coluna dgua
no Esturio do Rio Curu durante a vazante e a enchente em mar de
sizgia nos perodos de chuva e de estiagem de 2007................................ 79
Figura 36: Estagnao dgua na estao 01 devido ao banco de areia
que fica emerso durante a vazante e a baixamar........................................ 80
Figura 37: Distribuio vertical da salinidade na coluna dgua do
esturio do Rio Curu durante as fases de enchente e vazante em mar
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
sizgia nos perodos de chuva e de estiagem de 2007................................ 83
Figura 38: Barragem construda para captao de gua para os viveiros
de camares................................................................................................. 84
Figura 39: Distribuio horizontal da temperatura mdia da coluna
dgua no Esturio do Rio Curu durante a vazante e a enchente em mar
de sizgia nos perodos de chuva e de estiagem de 2007........................... 86
Figura 40: Distribuio vertical da temperatura (C) da coluna dgua do
esturio do Rio Curu durante as fases de enchente e vazante em mar
sizgia no perodo de chuva e de estiagem de 2007................................... 88
Figura 41: Direo e intensidade das correntes na fase de vazante e
enchente de mar de sizgia referente ao perodo de chuva e de estiagem
de 2007........................................................................................ 92
Figura 42: Batimetria do sistema estuarino do Rio Curu realizado em
maro de 2007 em mar de sizgia.............................................................. 94
Figura 43: Perfis batimtricos das sees transversais do Esturio do Rio
Curu....................................................................................................... 96
Figura 44: Extenso banco arenoso localizado nas proximidades da
desembocadura........................................................................................... 97
Figura 45: Distribuio horizontal mdia de material em suspenso na
coluna dgua no Esturio do Rio Curu durante a vazante e enchente em
mar de sizgia nos perodos de chuva e de estiagem de 2007.................. 100
Figura 46: Formao de um extenso banco de sedimentos que contribui
na fixao de mangue.................................................................................. 101
Figura 47: Pouca cobertura vegetal na margem oeste do rio expe o solo
eroso durante a vazante.................................................................. 102
Figura 48: Canais localizados na margem oeste do esturio do Rio Curu
para liberao de efluentes dos viveiros de carcinicultura.......................... 103
Figura 49: Pouca vegetao proporciona a intensificao da eroso e
redistribuio de MES na massa dgua durante a enchente de mar....... 104
Figura 50: Descargas Slidas em Suspenso no sistema estuarino do
Rio Curu durante a vazante e a enchente referente ao perodo de chuva
de 2007........................................................................................................ 106
Figura 51: Descarga de Slidos em Suspenso no sistema estuarino do
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
Rio Curu durante a vazante e a enchente referente ao perodo de
estiagem de 2007........................................................................................
107
Figura 52: Balano entre as descargas de vazante e enchente do
Esturio do Rio Curu durante os perodos de chuva e de estiagem de
2007............................................................................................................. 108
Figura 53: Presena de extensos cordes arenosos oriundos da deriva
litornea....................................................................................................... 109
Figura 54: Perfil morfolgico longitudinal do Esturio do Rio Curu com
destaque para rea com maior reteno de sedimentos............................. 109
Figura 55: Variaes morfolgicas da desembocadura do Esturio do Rio
Curu nos anos de 2001 e 2004............................................................. 110
Figura 56: Comportamento morfodinmica da desembocadura do
Esturio do Rio Curu nos meses de janeiro, maro, maio, julho, setembro
e novembro de 2007.................................................................................... 112
Figura 57: Reduo da largura e da extenso do spit arenoso situado na
margem direita do Esturio do Rio Curu devido aos processos costeiros e
continentais............................................................................................... 113
Figura 58: (a) formao de laguna durante a baixa-mar na margem
esquerda do Rio Curu. (b) fixao da vegetao no ms de maio.............. 114
Figura 59: Reduo da laguna situada na margem oeste do Rio Curu...... 115 Figura 60: Na margem leste do rio ocorre fixao de mangue montante
da barra........................................................................................................ 115
Figura 61: Perfis topogrficos da faixa de praia adjacente a
desembocadura do Esturio do Rio Curu.................................................... 118
Figura 62: Volume sedimentar dos perfis monitorados nos meses de
janeiro, maro, maio, julho, setembro e novembro de 2007 em mar de
sizgia........................................................................................................... 119 Figura 63: Balano sedimentar dos perfis monitorados nos meses de
janeiro, maro, maio, julho, setembro e novembro de 2007 em mar de
sizgia............................................................................................................ 120
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
LISTA DE TABELA
TABELA 01: Bacias hidrogrficas do Estado do Cear com suas
respectivas reas, capacidade de armazenamento e nmero de audes... 52
TABELA 02: Audes monitorados na Bacia do Curu, com suas
respectivas localizaes e capacidade de armazenamento........................ 54
TABELA 03: Variao sazonal da concentrao mdia de material slido
em suspenso (mg/L) na coluna dgua no Esturio do Rio Curu.............. 99
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
LISTA DE QUADRO
QUADRO 01: Coordenadas das estaes monitoradas em UTM.............. 36 QUADRO 02: Classificao das guas segundo suas classes e seus
usos preponderantes................................................................................... 40
QUADRO 03: Classificao de guas salobras segundo do Symposium
of Brackish Waters...................................................................................... 42
QUADRO 04: Cotas referentes a cada perfil topogrfico............................ 45 QUADRO 06: reas mdias das sees transversais do Esturio do Rio Curu............................................................................................................. 97
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
LISTA SIGLAS E ABREVIATURAS
ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas
ANA - Agncia Nacional de guas
AS - rea da Seo
APA - rea de Proteo Ambiental
APP - rea de Preservao Permanente BH - Bacia Hidrogrfica
CBH - Comit de Bacia Hidrogrfica CE - Cear CIRM - Comisso Interministerial para os Recursos do Mar CLC - Camada Limite Costeira
CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hdricos.
COGERH - Companhia de Gesto dos Recursos Hdricos
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente CPRM - Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais
CMES - Concentrao de Material em Suspenso
DGPS - Sistema de Posicionamento Global Diferencial
DHN - Diretoria de Hidrografia e Navegao
DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
ENE - Leste-nordeste
ESE - Leste-sudeste
Ev - Evaporao
FUNCAP - Fundao Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e
Tecnolgico
FUNCEME - Fundao Cearense de Meteorologia e Recursos Hdricos
GPS - Sistema de Posicionamento Global
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IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INMET - Instituto Nacional de Meteorologia
INPE - Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais
INPH - Instituto de Pesquisas Hidrovirias
LABOMAR - Instituto de Cincias do Mar
LAGEMAR - Laboratrio de Geologia Marinha
LGCO - Laboratrio de Geologia e Geomorfologia Costeira e Ocenica
MES - Material em Suspenso
NE - Nordeste
P - Precipitao
P(F) - Peso do filtro sem slidos
P(F + S) - Peso do filtro com slidos
PNGC - Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
PNGC II - Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro II
QF - Descarga Fluvial
QMES - Descarga de Material em Suspenso
QSB - Descarga de Sedimentos Transportada em Suspenso Proveniente da Bacia
Hidrogrfica
QSF - Descarga de Sedimentos Transportados por Arrasto de Fundo
QSS - Descarga de Sedimentos Transportada Provenientes do Fundo, Transportada
em Suspenso
QST - Descarga Total de Sedimentos
SAD69 - South America Datum 1969 SAG - Sistema de Anlise Granulomtrica
SE - Sudeste
SEMACE - Superintendncia Estadual do Meio Ambiente
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SIG - Sistema de Informao Geogrfica
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservao SRH- Secretria dos Recursos Hdricos
U - Velocidade Mdia da Corrente
UC - Unidade de Conservao
UECE - Universidade Estadual do Cear
UFC - Universidade Federal do Cear
UFF - Universidade Federal Fluminense
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
UTM - Universal Transversal de Mercator
VOL - Volume
ZC - Zona Costeira
ZCIT - Zona de Convergncia Intertropical
ZM - Zona de Mistura
ZR - Zona de Mar do Rio
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1. INTRODUO
Os esturios so ambientes costeiros de carter transitrio entre o
continente e o oceano. Encontram-se sujeitos a ao combinada de foras oriundas
da atrao gravitacional (terra, sol e lua), centrfuga e a descarga fluvial que ao diluir
a gua salgada ocasiona movimentos devido diferena de densidade.
Apesar de instveis so ambientes que desempenham papis ecolgicos
importantes, servindo de reproduo e de berrio para diversas espcies animais.
Miranda, Castro e Kjerfve (2002), ressaltam que as guas estuarinas so
biologicamente mais produtivas do que as do rio e do oceano adjacente, devido s
caractersticas hidrodinmicas da circulao que, aprisionando nutrientes, algas e
outras plantas, estimulam a produtividade primria desses corpos de gua.
As regies estuarinas constituem reas de alta produtividade e
diversidade biolgica. Juntamente com as zonas de ressurgncia e baas, as reas
costeiras estuarinas, embora correspondam a apenas 10% da superfcie marinha,
produzem mais de 95% do alimento que o homem captura no mar (CIRM, 1981).
Ao longo de aproximadamente 8.500 km do litoral brasileiro, existem
diversos esturios e lagunas costeiras que contriburam para o desenvolvimento de
cidades, tendo como conseqncia, modificaes nos processos de sedimentao e
de eroso e nas caractersticas, tais como: geometria, corrente de mar, descarga
de gua doce e qualidade da gua, que foram alteradas por processos naturais e
antrpicos, no decorrer dos sculos (MIRANDA, CASTRO e KJERFVE, 2002).
De um modo geral, esses ambientes tm sofrido diversos impactos
ambientais relacionados tanto as atividades exercidas no interior da bacia
hidrogrfica quanto aos processos costeiros. Portanto, o turismo, a expanso
urbana, o desmatamento, a agricultura, a aqicultura, as indstrias, a instalao de
portos e a construo de barragens ocasionam modificaes que na maioria das
vezes, torna-se irreversvel.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
A construo de represas mais prximas s reas estuarinas, alm de
reduzir a descarga fluvial e o aporte de sedimentos para a zona costeira, aumenta a
intruso da mar e modificao nos processos hidrodinmicos jusante (DIAS,
2005).
Apesar de necessrias a construo de barragens para abastecimento de
gua, gerao de energia eltrica, piscicultura, irrigao, navegao, e at mesmo,
lazer uma prtica bastante comum e justificvel nas regies semi-ridas. Sabendo
que, o seu funcionamento ocasiona mudanas significativas jusante da barragem,
alm de romper o equilbrio natural do rio.
No Estado do Cear, s irregularidades da quadra chuvosa (janeiro a
junho) e a regularizao da vazo associada s variveis oceanogrficas (ondas,
mars e correntes) e ao elica so responsveis por processos morfodinmicos
acelerados. Isto refletido no deslocamento ou fechamento das desembocaduras de
rios, ocasionando mudanas nos parmetros hidrolgicos, hidrodinmicos e
sedimentolgicos do sistema.
Em razo do exposto, optamos compreender o funcionamento do sistema
estuarino do Rio Curu. Neste caso, utilizamos a rea de estudo como um laboratrio,
procurando interpretar e relacionar as informaes coletadas com os tipos de uso e
ocupao, sempre que possvel. Tais resultados foram analisados com base nos
conhecimentos tericos e semi-empricos.
Em essncia, a proposta de pesquisa A dinmica ambiental do esturio
do Rio Curu - CE: subsdios para o monitoramento e gerenciamento da rea de
Proteo Ambiental tm como objetivo principal avaliar a interao dos processos
costeiros e continentais no Esturio do Rio Curu para gerar informaes teis ao
monitoramento e gesto ambiental da rea de Proteo Ambiental.
Dessa forma, foram estabelecidos os seguintes objetivos especficos:
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Caracterizar a rea de estudo tomando como base a climatologia, geologia,
geomorfologia e hidrologia;
Avaliar e caracterizar as variaes sazonais da hidrologia e da hidrodinmica;
Traar perfis e batimetria atual do esturio;
Quantificar as alteraes sazonais no aporte de gua doce e material em
suspenso para o sistema estuarino;
Identificar os principais processos responsveis pela morfodinmica atual na
desembocadura do rio;
Contribuir com informaes teis sobre esturios costeiros tropicais.
De um modo geral, a rea de estudo est inserida na Bacia Hidrogrfica
do Rio Curu localizado na poro Noroeste do Estado do Cear, Nordeste do Brasil.
O rio homnimo nasce na Serra do Machado, recebe influncia de tributrios da
Serra de Uruburetama e da Serra de Baturit, percorrendo 195 km para desaguar no
Oceano Atlntico, dando origem a um complexo sistema estuarino colonizado por
mangue de pequeno a alto porte.
O Esturio do Rio Curu localiza-se na divisa dos municpios de Paraipaba e Paracuru, a 85 km da cidade de Fortaleza (figura 01). A rea de estudo abrange
1.607,39 hectares, sendo que 881,94 hectares (54,86%) pertencem rea de
Proteo Ambiental (APA) do Esturio do Rio Curu que foi criada por meio do
DECRETO de N 25.416, de 29 de maro de 1999.
O acesso rodovirio da capital do Estado do Cear at a Sede Municipal
de Paracuru feito pela Rodovia CE-085 e a seguir pela Rodovia CE-341.
Posteriormente, o deslocamento at a rea de estudo se d por via pavimentada
(asfalto e calamento) e no pavimentada (barro vermelho).
Em sntese, a dissertao encontra-se dividido em sete captulos, a saber:
o primeiro corresponde parte introdutria onde destacamos conceitos, informaes
e alguns tipos de atividades que ocasionam modificaes no esturio, alm disso,
exposto justificativa e os objetivos.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
No captulo posterior, retratado o referencial terico desta pesquisa,
tomando como base os conceitos, delimitaes e/ou classificaes de zona costeira,
bacia hidrogrfica, esturio, rea de Proteo Ambiental e gesto ambiental.
O terceiro captulo relata de forma detalhada os procedimentos
metodolgicos adotados para delimitao da rea de estudo, estabelecimento de
locais de monitoramento e procedimentos adotados para coleta, anlise e integrao
dos dados.
No captulo subseqente, foi feita uma caracterizao geral, identificando
os aspectos climticos (regional e local) atuantes. Alm disso, foi realizada uma
abordagem sobre a geomorfologia, a geologia e a hidrologia.
O quinto captulo sintetiza o comportamento das variaes longitudinais e
verticais dos parmetros de salinidade e temperatura ao longo do esturio,
procurando sempre que possvel relacionar tais resultados com os tipos de usos e
ocupaes. Alm disso, relatado o processo de mistura e circulao do esturio.
J no sexto captulo so retratadas as caractersticas morfolgicas, a
quantificao de material em suspenso, a vazo de gua e a descarga de
sedimentos em suspenso no sistema estuarino. A partir da, so apontados os
principais processos atuantes na morfodinmica atual da desembocadura do rio.
E finalmente, o stimo captulo que sintetiza de forma clara as concluses
gerais obtidas na rea de estudo, elenca algumas informaes sobre esturios, e
por fim, sugere nova delimitao para rea de Proteo Ambiental do Esturio do
Rio Curu tomando como base os resultados obtidos durante o monitoramento
realizado no ano de 2007.
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Figura 01: Mapa de localizao da rea de estudo
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2. REFERENCIAL TERICO
2.1. Zona Costeira e Orla Martima
A Lei Federal de n 7.661, de 16 de maio de 1998 institui o Plano
Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) que no seu art.2 pargrafo nico
define a zona costeira como sendo espao geogrfico de interao do ar, do mar e
da terra, incluindo seus recursos renovveis ou no, abrangendo uma faixa martima
e outra terrestre.
Na Resoluo n 005, de 03 de dezembro de 1997 que aprova o II Plano
Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC II), alm de apresentar a mesma
definio de zona costeira do PNGC, delimita e estabelece a rea de abrangncia
em duas faixas (martima e terrestre).
A faixa martima se estende mar a fora distando 12 milhas martimas
(22,224 km) da linha de base1 estabelecidas de acordo com a Conveno das
Naes Unidas sobre o Direito do Mar. E a faixa terrestre, sendo formada por
municpios que sofrem influncia dos fenmenos ocorrentes na zona costeira.
Portanto, o estabelecimento de municpios pertencentes zona costeira
segue tais critrios abaixo:
Os municpios defrontantes com o mar, assim considerado em listagem
desta classe, estabelecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
(IBGE);
Os municpios no defrontantes com o mar que se localizem nas regies
metropolitanas litorneas;
Os municpios contguos s grandes cidades e s capitais estaduais
litorneas, que apresentam processo de conurbao;
1 Linha de base no geral, corresponde a linha de baixa-mar do litoral brasileiro, conforme indicada nas cartas nuticas de grande escala. Alm disso, utilizado o mtodo de linhas de base retas estabelecidos pelo Decreto n 1.290 de 21de outubro de 1994.
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Os municpios prximos ao litoral, at 50 km da linha de costa, que
aloquem, em seu territrio atividades ou infra-estruturas de grande impacto
ambiental sobre a zona costeira, ou ecossistemas costeiros de alta
relevncia;
Os municpios estuarinos-lagunares, mesmo que no diretamente
defrontantes com o mar, dada a relevncia destes ambientes para a dinmica
martimo-litornea; e
Os municpios que, mesmo no defrontantes com o mar, tenham todos os
seus limites estabelecidos com os municpios referidos nas alneas anteriores.
Conforme o Diagnstico para a Gesto Integrada do Estado do Cear
(2003), a zona costeira pode ser definida atravs do ponto de vista espacial e da
gesto. O primeiro corresponde a uma estreita faixa de transio entre o continente
e o oceano. E o segundo, consiste num palco onde se acentuam os conflitos de uso,
se aceleram as perdas de recursos e se verificam os maiores impactos ambientais
devido grande concentrao demogrfica e aos crescentes interesses econmicos
e presses antrpicas
Moraes (1999, p.19) diz que:
A zona costeira, em relao ao conjunto de terras emersas, circunscreve um espao dotado de especificidades vantagens locacionais, um espao finito e relativamente escasso. Em outros termos, do ponto de vista global, os terrenos beira-mar constituem pequena frao dos estoques territoriais disponveis, e abrigam amplo conjunto de funes especializadas e quase exclusivas... A conjuno de tais caractersticas qualifica o espao litorneo como raro, e a localizao litornea como privilegiada, dotando a zona costeira de qualidades geogrficas particulares (MORAES, 1999, p.19).
Considerando o contexto acima, principalmente, a Lei Federal de n
7.661, de 16 de maio de 1998 e a Resoluo de n 005, de 03 de dezembro de
1997, a definio da zona costeira vai alm da rea de contato entre o oceano e o
continente, pois, apresenta uma importncia significativa no que se refere aos
aspectos ambientais, econmicos e socioculturais.
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De acordo, com o Projeto ORLA (2002, p.25) a orla martima definida
como unidade geogrfica inclusa na zona costeira, delimitada pela faixa de interface
entre a terra firme e do mar. Sendo que os seus limites encontram-se delimitados
em zona marinha e rea terrestre.
A zona marinha corresponde a isbata de 10,00 metros (assinalada nas
cartas nuticas) de profundidade na qual a ao das ondas passa a sofrer influncia
da morfologia do fundo marinho, proporcionando o transporte de sedimentos.
importante destacar que esse limite pode sofrer alteraes.
A rea terrestre foi estabelecida em 50,00 metros para reas urbanas e
200,00 m para reas no urbanizadas, demarcados na direo do continente a partir
da linha de preamar ou do limite final dos ecossistemas. Alm disso, foram criados
outros tipos de critrios para serem aplicados no litoral brasileiro:
Nas falsias sedimentares, contar 50 metros a partir da borda da falsia;
Nas lagunas e lagoas costeiras, contar 50 metros a partir da praia ou do
limite superior da margem;
Nas falsias e costes em rocha dura, o limite dever ser definido segundo
o plano diretor do municpio, estabelecendo uma faixa de segurana de pelo
menos 1 metro de altura acima da linha mxima de ao das ondas de
tempestade;
Nas reas inundveis, o limite ser definido pela cota de pelo menos 1
metro de altura acima do limite da rea alcanada pela preamar de sizgia;
Nas reas sujeitas eroso, com substratos sedimentares (como cordes
litorneos, ilhas-barreira ou pontais, com larguras inferiores a 150 metros),
bem como em reas prximas a desembocaduras fluviais, que correspondem
a reas de alta instabilidade, deve ser executado um levantamento de
eventos erosivos pretritos para a definio da extenso da faixa emersa da
orla martima;
Nos esturios, tomar o limite de 50 metros contados a partir do fim da praia
ou da borda superior em ambas as margens e ao longo das mesmas, at
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onde a penetrao da gua do mar seja identificada pela presena de
salinidade mnima de 0,5.
Tomando como base a contextualizao da orla martima, e sabendo que,
a rea de estudo engloba diversas feies morfolgicas da plancie litornea, temos
que: o limite da zona marinha estendeu-se at a isbata de -3,22 m de profundidade,
e a rea terrestre (influncia salina no esturio) at 5,4 km (em linha reta) e 7,3 km
(percurso do rio) demarcados em direo ao continente a partir da linha de preamar.
importante destacar que devido necessidade de quantificar o que
entra no sistema estuarino do Rio Curu, a rea de estudo teve como limite final a
barragem localizada a 8,0 km (linha reta) e 11,5 km (percurso do rio) de distncia da
foz. No captulo da metodologia do trabalho, tambm ser elencado os critrios para
delimitao da rea de estudo.
2.2. Bacia Hidrogrfica
As bacias hidrogrficas correspondem a uma rea de captao natural da
gua da precipitao que faz convergir os escoamentos para um nico ponto de
sada, seu exutrio (SILVEIRA, 2004). Alm disso, o autor informa que:
A bacia hidrogrfica pode ser considerada como um sistema fsico onde a entrada de gua precipitado e a sada o volume de gua escoado pelo exutrio, considerando-se como perdas intermedirias os volumes evaporados e transpirados e tambm os infiltrados profundamente (SILVEIRA, 2004, p.41).
Alm disso, considerada como uma rea da superfcie terrestre que
drena gua, sedimentos e materiais dissolvidos para uma sada comum (NETTO,
1994, p. 97; CUNHA e GUERRA, 2006).
Conforme Christofoletti (1974), a bacia hidrogrfica (BH) pode ser
classificada de acordo com o escoamento global, a saber:
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Exorreicas - quando o escoamento das guas da bacia desemboca
diretamente no mar ou no oceano;
Endorreicas - quando as drenagens so internas e no possuem
escoamento at o mar, desembocam em lagos ou dissipando-se nas areias
do deserto, ou perdendo-se nas depresses crsicas;
Arreicas - quando no h nenhuma estruturao em bacias hidrogrficas,
como nas reas desrticas devido quase total ausncia de precipitao e
constante formao de dunas;
Criptorreicas - quando as bacias so subterrneas, como nas reas
crsicas.
A rigor, as bacias hidrogrficas integram uma viso conjunta do
comportamento das condies naturais e das atividades humanas nelas
desenvolvidas... (CUNHA e GUERRA, 2006, p.353).
Sendo que, na maioria das vezes, as ocupaes inadequadas ocorridas
no interior da bacia hidrogrfica (alto, mdio e/ou baixo curso) acarretam mudanas
significativas nas caractersticas morfodinmicas, sedimentolgicas, hidrodinmicas
e hidrolgicas dos rios. Tais mudanas, tambm podem afetar os esturios
localizados no baixo curso do rio.
2.3. Esturios
2.3.1. Aspectos Conceituais
Os oceangrafos, engenheiros, gegrafos e ecologistas, utilizam o termo
esturio para indicar a regio interior de um ambiente costeiro, onde ocorre o
encontro das guas fluviais com a do mar transportada pelas correntes de mar,
estendendo-se rio acima at o limite da influncia da mar (MIRANDA, CASTRO e
KJERFVE, 2002). Portanto, a palavra esturio pode ser definida de vrias formas,
conforme o ponto de vista de cada rea de pesquisa e/ou de interesse.
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Conforme Schmiegelow (2004, p.166):
Os esturios podem ser definidos geograficamente, como uma regio costeira parcialmente fechada, onde a gua doce de um rio e a gua do mar encontram-se e se misturam. Tais regies esto normalmente sujeitas forte influncia da bacia de drenagem do rio e possuem, em regies equatoriais e tropicais, um tipo caracterstico de vegetao denominada manguezal (SCHMIEGELOW, 2004, p.166).
Considerando o contexto acima, o Esturio do Rio Curu s enquadra-se
nesse conceito apenas no perodo de chuva, cuja descarga de gua doce oriundo do
continente contribui na diluio da gua salgada proveniente do oceano.
Segundo Schmiegelow op.cit., o territrio brasileiro podemos encontrar as
mais importantes espcies de vegetao, a saber: o mangue vermelho (Rhizophora
mangle), a siriba (Avicennia schaueriana) e o mangue branco (Laguncularia
racemosa).
Da, o sistema estuarino assumir importncia bastante significativa no
que se refere sedimentao. Dalrymple et al. (1992 apud MIRANDA, CASTRO e
KJERFVE, 2002, p. 37) redefine o conceito:
Esturio a parte voltada para o mar de um sistema de vales inundados, os quais recebem sedimentos de fontes fluviais e marinhas, contendo fcies influenciadas pela mar, onda e processos fluviais. Considera-se que o esturio se estende desde o limite interno das fcies de mar, at o limite ocenico das fcies costeiras na entrada (DALRYMPLE et al., 1992 apud MIRANDA, CASTRO e KJERFVE, 2002, p. 37).
Dentre as importantes contribuies sobre o contexto mencionado,
destacamos uma das definies considerada clssica de esturio proposta por
Pritchard (1955) e Cameron & Pritchard (1963), onde:
Esturio um corpo de gua costeira semifechado, com uma livre conexo com o oceano aberto, no interior a gua do mar mensuravelmente diluda pela gua doce oriunda da drenagem continental (PRITCHARD, 1955; CAMERON & PRITCHARD, 1963)
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Neste caso, o balano de gua que chega ao sistema estuarino atravs
da precipitao (P) e da descarga fluvial (Qf) devem ser maiores do que o volume de
gua transferida para atmosfera por evaporao (E).
Considerando tanto gnese geolgica quanto os processos regionais,
Kjerfve (1987) definiu esturios como sendo: um ambiente costeiro que apresenta
conexo restrita com o oceano adjacente. Tal conexo permanece aberta pelo
menos intermitentemente. Na definio de Kjerfve op. cit., o ambiente estuarino foi
subdividido em trs zonas distintas (figura 02):
FIGURA 02: Disposio das zonas de mar do rio (ZR), de mistura (ZM) e costeira
(ZC) no sistema estuarino.
Fonte: Miranda, Castro e Kjerfve (2002, p.39) adaptada de Simpson (1997).
Dessa forma, temos:
Zona de Mar do Rio (ZR) - corresponde a parte fluvial com salinidade
praticamente igual a zero, mas sujeita influncia marinha.
Zona de Mistura (ZM) - corresponde regio onde ocorre a mistura da gua
doce da drenagem continental com a gua do mar.
Zona Costeira (ZC) - corresponde regio costeira adjacente que se estende
at a frente da pluma estuarina que delimita a Camada Limite Costeira (CLC).
importante destacar que o termo zona estuarina no utilizado apenas
para indicar a definio de esturio, mas indicar todos os ambientes costeiros de
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transio, com maior ou menor influncia da descarga fluvial e da mar
(GEOPHYSICS STUDY COMMITTEE, 1997).
2.3.2. Gnese dos Esturios
Conforme Silva et al. (2004, p. 202) os:
Esturios so encontrados ao redor do globo em qualquer condio de clima de mar, sendo mais bem desenvolvidos nas plancies costeiras das mdias latitudes, ao largo de plataformas continentais extensas que sofreram submerso em funo da elevao relativa do nvel do mar. A ltima transgresso marinha do Holoceno provocou a inundao dos vales fluviais, vales glaciais, fjordes, baas protegidas por barreiras arenosas, ou baas derivadas por eventos de subsidncia tectnica, dando origem maioria dos esturios atuais (SILVA et al., 2004, p. 202).
A elevao relativa do nvel do mar esta associada s variaes do
volume de gua nos oceanos (eustasia) e s mudanas do nvel dos continentes
(isostasia e processos tectnicos). De fato, os esturios podem ser considerados
como evidncia de submerso rpida ou de elevao do nvel do mar, de cujo efeito
ainda no se recuperam at os dias atuais (SUGUIO, 2003, p. 261).
As discusses sobre o perodo e a profundidade referente s variaes
relativas do nvel do mar, apresentam estimativas variadas entre os autores
estudados. Conforme Tessler e Mahiques (2003, p. 270):
O ltimo evento glacial com alcance global teve seu mximo h cerca de 18.000 anos e que o aprisionamento de guas nas calotas levou o abaixamento do nvel do mar em at 160 metros. Isto significa que, durante o ltimo mximo glacial, quase todas as reas que formam as plataformas continentais atuais encontravam-se emersas, ou seja, submetidas a condies ambientais completamente diferentes das atuais (TESSLER E MAHIQUES, 2003, p. 270).
No entanto, Miranda, Castro e Kjerfve (2002) dizem que o avano mximo
ocorreu h cerca de 15.000 a 16.000 anos, quando o nvel encontrava-se
aproximadamente 130 m abaixo do nvel atual.
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Posteriormente, Miranda, Castro e Kjerfve op. cit. relatam que o
aquecimento global ocasionou o degelo das calotas polares elevando o nvel do mar.
Alm disso, os autores ressaltam que as plancies costeiras e vales dos rios foram
gradativamente inundados, dando origem aos esturios, enseadas, baas e lagunas
costeiras. Tal processo se deu na ltima transgresso marinha, conhecida tambm
como transgresso Flandriana.
Para Morais (2000, p.141):
Os esturios e outras feies costeiras foram condicionados e tiveram seu controle sedimentar efetuado pelos processos hidrodinmico-sedimentares que ocorreram ao longo da transgresso holocnica ou transgresso flandriana que aconteceu por volta de 12 mil anos atrs (MORAIS, 2000, p. 141).
Mesmo considerando essa abordagem sobre as oscilaes do nvel do
mar, importante destacar que: uma vez atingindo o nvel do mar atual, suas
variaes com escalas de tempo de segundos (ondas geradas pelo vento), horas
(ondas geradas pela mar astronmica), dias (ondas geradas por influncia
meteorolgicas), meses (meandros e vrtices das correntes ocenicas), anual
(variaes sazonais nos processos de interao oceano-atmosfera, nvel esfrico do
mar, ondas geradas pela mar astronmica), interanual (alteraes climticas
geradas por processos globais do tipo El Nio) passaram a exercer influncia com
diferentes intensidades sobre o comportamento hidrodinmico dos esturios
(MIRANDA, CASTRO E KJERFVE, 2002).
2.3.3. Aspectos Hidrolgicos e Hidrodinmicos
Segundo Santos et al. (2001), levando em considerao o ponto de vista
fsico, as variveis mais importantes no controle da gua nos esturios so as
quantidades de mistura entre gua doce e salgada e a taxa na qual a mistura ocorre.
Essas variveis esto diretamente relacionadas com a descarga fluvial, precipitao,
evaporao, ao elica, amplitude das mars, topografia e o grau de turbulncia.
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Considerando a definio clssica de Cameron & Pritchard (1963), o
esturio pode ser classificado conforme o balano de gua que chega ao sistema
estuarino. Portanto, a soma da precipitao (P) mais a contribuio da descarga
fluvial (Qf) oriundo da bacia hidrogrfica devem ser maiores do que o volume de
gua transferida para atmosfera por evaporao (E). Dessa forma, deve prevalecer
a seguinte situao:
P + Qf > E
Os sistemas estuarinos que satisfazem essa equao so classificados
como esturios positivos, porm, em alguns ambientes pertencentes s regies
tropicais, comum encontrar a seguinte condio:
P + Qf < E
Sob essa condio, o sistema classificado como esturio negativo.
Conforme Miranda, Castro e Kjerfve (2002), essa equao no estaria condizente
com a de definio de Pritchard (1955) e Cameron & Pritchard (1963). Portanto, o
esturio denominado de neutro quando a condio de transio entre os dois
sistemas dada por:
P + Qf = E
Dessa forma, Miranda, Castro e Kjerfve op. cit. informa que a quantidade
de gua recebida pela bacia hidrogrfica vai depender das condies climticas, das
caractersticas do solo, da cobertura vegetal, da ocupao urbana, agrcola e
industrial e da evapotranspirao na regio de captao e de suas interaes com
outros fatores. Alm disso, os autores ressaltam que a ocupao das regies
adjacentes aos esturios ocasionou alteraes drsticas na geometria e nas
condies de drenagem dos rios devido construo de represas, barragens e
canais, desmatamento, pavimentao e construo de estradas.
De acordo com Suguio (2003, p. 262):
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
O ambiente estuarino caracteristicamente submetido influncia das mars. Quando as guas do mar (salgadas penetram) nos esturios tm-se a chamada de mar de salinidade, que se distingue da mar dinmica formada pela propagao de ondas de mar rio acima, sem invaso da gua salgada (SUGUIO, 2003, p. 262).
Segundo Fidelman (1999), a existncia de barragens implica na
passagem de um regime fluvial para uma zona de mar dinmica, modificando a
passagem de um escoamento permanente a um movimento alternativo com
perodos de imobilidade.
2.3.4. Classificao Geomorfolgica e Aspectos Sedimentolgicos
Conforme o tipo de geomorfologia, os esturios podem ser classificados
em: plancie costeira, construdo por barra, fiorde e esturios formados por falhas
tectnicas, erupes vulcnicas, tremores e deslizamentos de terra (PRITCHARD,
1925 apud MIRANDA, CASTRO E KJERFVE et al., 2002). importante destacar
que essa classificao apresenta restries de uso para rea de estudo, porm,
algumas adaptaes foram feitas tomando como base as diferentes classificaes
existentes na literatura referente geomorfologia de esturios.
Alm disso, os esturios tambm podem ser classificados como
dominados por rios, ondas ou mars de acordo com a influncia destes fatores
sobre a distribuio e deposio de sedimentos de origem diferenciada (SILVA et al.,
2004, p.204). Dessa forma, podemos dizer que os processos costeiros e
continentais atuam de forma contnua na variao morfolgica da desembocadura
do rio.
Segundo Dias (2005), os ambientes estuarinos representam o principal
meio atravs dos quais os sedimentos so transportados do continente para a
plataforma continental e exercem influncia direta sobre a dinmica costeira.
Portanto, Dyer et al. (1992) afirma que quantificar as trocas de gua e materiais
atravs das desembocaduras fluviais constitui-se numa tarefa difcil, mas de
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
fundamental importncia para a compreenso do funcionamento tanto dos esturios
como da zona costeira.
Cerca de 70% a 90% dos sedimentos e outros materiais em suspenso
so transportados pelos cursos dgua, em perodos de fortes precipitaes
(CARVALHO, 1994 apud PINHEIRO, 2003). No caso do Estado do Cear, 100% do
material transportado em suspenso ocorrem praticamente em trs meses (maro,
abril, maio), devido s limitaes climticas nos outros meses do ano quando os rios
no tm poder de escoamento prprio (PINHEIRO, 2003).
A quantidade de sedimentos transportados pelos rios de fundamental
importncia para o planejamento e aproveitamento dos recursos hdricos de uma
regio, uma vez que os danos causados pelos sedimentos dependem da quantidade
e da sua natureza, as quais por sua vez dependem dos processos de eroso,
transporte e deposio (PAIVA, 2003).
Sabendo que o transporte de sedimentos em cursos dgua se d atravs
de duas formas: em suspenso e por fundo (salto, rolamento ou deslizamento).
Temos que a quantidade total de sedimentos transportados por um curso dgua
pode ser expressa como (PAIVA, op. cit.):
= + +
Onde, (Qst) a descarga total de sedimentos; (Qsf) a descarga de sedimentos transportados por arrasto de fundo; (Qss) descarga de sedimentos provenientes do fundo, transportada em suspenso e (Qsb) descarga de sedimento
transportada em suspenso proveniente da bacia hidrogrfica.
Considerando que a maior carga dos sedimentos transportados sempre
em suspenso, representando cerca de 90% do total anual (CARVALHO, 2001 apud
PINHEIRO, 2003). Portanto, ser considerado para esta pesquisa apenas o
transporte de sedimentos em suspenso.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
Para determinar a descarga de material em suspenso, depende apenas
de duas grandezas para o seu clculo: concentrao mdia de sedimentos e vazo
lquida.
= ( )
Onde, (QMES) a descarga de material em suspenso (mg/s); (U)
velocidade mdia da corrente (m/s); (As) rea da seo (m2) e (CMES) concentrao
de material em suspenso (mg/L).
2.3.5. Classificao do Esturio por Estratificao de Salinidade
Levando em considerao que um dos objetivos deste trabalho consiste
em avaliar e caracterizar as variaes sazonais da hidrologia e da hidrodinmica ao
longo da plancie estuarina, foi utilizada a classificao proposta por Pritchard (1955
apud MIRANDA, CASTRO E KJERFVE et al., 2002).
Tal mtodo permite estabelecer qualitativamente as principais
caractersticas de circulao da zona de mistura. Dessa forma, temos os seguintes
tipos de esturios: altamente estratificado ou cunha salina (tipo A); moderadamente
ou parcialmente misturado (tipo B) e verticalmente bem misturado (tipos C e D).
Os esturios altamente estratificados ou cunha salina (tipo A) so
dominados pela descarga fluvial e pelo processo de entranhamento, apresentando
duas camadas distintas devido salinidade das guas de superfcie ser menor que a
salinidade das guas de fundo (figura 03). A mistura por difuso turbulenta
considerada desprezvel neste tipo de esturio.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
FIGURA 03: Diagrama esquemtico de um esturio do tipo altamente estratificado
ou cunha salina (tipo A).
Fonte: Miranda, Castro e Kjerfve et al. (2002)
No esturio moderadamente ou parcialmente misturado (tipo B) ocorre
uma troca eficiente entre as guas do rio e a do oceano devido ao processo de
difuso turbulenta. Apresentam estratificao vertical moderada de salinidade,
normalmente sujeitos a ao dos ventos e mars moderadamente intensas (Figura
04).
FIGURA 04: Diagrama esquemtico de um esturio do tipo moderadamente ou
parcialmente misturado (tipo B).
Fonte: Miranda, Castro e Kjerfve (2002).
E por fim, os esturios do tipo verticalmente bem misturado (tipos C e D)
que apresentam um perfil vertical homogneo, ou seja, a salinidade das guas
superficiais no apresenta valores diferenciados e/ou significativos em relao
30
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
salinidade das guas de fundo (figura 05). Mas ocorrem variaes quando
analisamos o sistema estuarino lateralmente, sendo a salinidade mais alta na regio
prxima ao oceano.
FIGURA 05: Diagrama esquemtico de um esturio do tipo verticalmente bem
misturado, mas com ligeira estratificao lateral (tipos C e D).
Fonte: Miranda, Castro e Kjerfve (2002).
A classificao de um esturio varia na direo longitudinal e tambm
com o tempo (MIRANDA, CASTRO e KJERFVE, 2002, p.104). Alm disso, a autora
ressalta que as diferenas topogrficas relacionadas com a largura, profundidade e
tipo de fundo so tambm importantes para ocasionar mudanas na intensidade da
circulao e dos processos de mistura.
2.4. rea de Proteo Ambiental e Gesto Ambiental
De acordo Cabral e Souza (2005, p. 46), a rea de Proteo Ambiental
(APA) uma das categorias de unidades de conservao existentes no conjunto
brasileiro de reas protegidas. Alm disso, as autoras ressaltam que as reas esto
inseridas em grupo de uso sustentvel.
A Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000, dispe no captulo III art. 15 que a
APA:
uma rea em geral extensa, com um certo grau de ocupao humana, dotada de atributos abiticos, biticos, estticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
das populaes humanas, e tem como objetivos bsicos proteger a diversidade biolgica, disciplinar o processo de ocupao e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000).
Conforme Crte (1997) apud Cabral e Souza (2005, p. 46), a criao da
APA no territrio nacional brasileiro tem sido utilizada com um instrumento de
correo e conteno da degradao ambiental. Portanto, o fato de transformar uma
rea em APA no suficiente para controlar o processo de degradao j iniciado,
necessitando exercer sobre espao um conjunto de aes de planejamento e gesto
ambiental.
Dessa forma, a gesto ambiental pode ser entendida como o conjunto de
aes encaminhadas para obter uma mxima racionalidade no processo de deciso
relativo conservao, defesa, proteo e melhoria do meio ambiente (FOGLIATTI
et al., 2004, p. 4).
A Resoluo CONAMA n 306, de 5 de julho de 2002 no anexo I, define
gesto ambiental como: conduo, direo e controle do uso dos recursos naturais,
dos riscos ambientais e das emisses para o meio ambiente, por intermdio da
implementao do sistema de gesto ambiental. Portanto, a gesto ambiental tem
um importante papel no manejo e gerenciamento de reas de Proteo Ambiental.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
3. METODOLOGIA
O fluxograma metodolgico abaixo sintetiza os procedimentos adotados
para o desenvolvimento e concretizao dos estudos na rea estuarina do Curu
(figura 08). Para obteno de dados e concretizao dos resultados a metodologia
encontra-se dividida em trs etapas: reconhecimento da rea de estudo; atividades
de campo e anlises laboratoriais
FIGURA 06: Fluxograma metodolgico
Reconhecimento da
rea de Estudo
ESTURIO DO RIO CURU
1
Atividades de
Campo
2
Anlises Laboratoriais
3
Levantamento bibliogrfico e cartogrfico Analise de imagens de satlites
Analise de imagens areas Tcnicas de geoprocessamento
Confeco de material cartogrfico Delimitao da rea de estudo
Estabelecimento das estaes de monitoramento Estabelecimento de perfis de monitoramento
Aspectos Hidrodinmicos
Aspectos Sedimentolgicos
Aspectos Morfodinmicos
Medies de correntes Amplitude de mar Direo da onda Anemometria Medio de vazo
Salinidade Densidade Temperatura Turbidez Transparncia da gua
Georeferenciamento da foz Levantamento topogrfico Declividade da praia Perfil de praia Batimetria
Coleta de gua na coluna dgua Coleta de sedimentos na faixa de praia
Aspectos Hidrolgicos
Gerao de informaes teis
ao monitoramento e gesto ambiental da
rea de Proteo Ambiental do
Esturio do Rio Curu
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
3.1. Reconhecimento da rea de Estudo
3.1.1. Levantamento Bibliogrfico e Cartogrfico
Para a realizao desta pesquisa foram realizados os levantamentos
bibliogrficos e cartogrficos nas seguintes instituies: Universidade Federal do
Cear (UFC); Universidade Estadual do Cear (UECE); Programa de Ps-
Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Instituto
de Cincias do Mar da UFC; Secretaria de Recursos Hdricos do Governo Estadual
do Cear (SRH); Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS);
Fundao Cearense de Meteorologia e Recursos Hdricos (FUNCEME);
Superintendncia Estadual do Meio Ambiente (SEMACE); Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (IBAMA); Companhia de
Gesto dos Recursos Hdricos (COGERH); Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais (CPRM); Instituto Nacional de Pesquisas Hidrovirias (INPH) e Instituto
Brasileiro de Pesquisas Espaciais (INPE).
3.1.2. Geoprocessamento e Confeco de Material Cartogrfico
Conforme o Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais (INPE), o
geoprocessamento consiste em um conjunto de tecnologias voltadas coleta e
tratamento de informaes espaciais para um objetivo especfico.
Portanto, as aplicaes das tcnicas de geoprocessamento
possibilitaram, primeiramente, no conhecimento do arranjamento espacial da rea
de estudo, e posteriormente, favoreceu na identificao e delimitao das principais
feies morfolgicas georeferenciadas em escala de 1:25.000. Tais informaes
foram dispostas na carta geolgica e geomorfolgica.
importante ressaltar que a carta elaborada foi analisada e comparada
com o material cartogrfico do Plano de Manejo da rea de Proteo Ambiental do
Esturio do Rio Curu, e constatadas em campo.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
Alm disso, foi feito uma base cartogrfica georreferenciada em escala de
1:8.000 com o intuito de analisar o comportamento morfodinmico da
desembocadura do rio Curu nos meses de janeiro, maro, maio, julho, setembro e
novembro de 2007, e correlacion-lo com o principal processo atuante.
Para elaborao do material cartogrfico foram utilizados os seguintes
mapas, cartas e imagens:
Mapas de levantamento de recursos naturais de escala 1:250.000 datadas de
1981 (geolgico, geomorfolgico, exploratrio de solos, fitogeogrfico,
capacidade de uso dos recursos naturais renovveis e potencial dos recursos
hdricos);
Carta So Luiz do Curu de escala 1:100.000 datada de 1969 com inclinao
de 2047W que cresce 5 anual;
Cartas (sistemas ambientais, vegetao e uso/ocupao da terra, unidades
de interveno e ecodinmica da paisagem e zoneamento da unidade de
conservao e do seu entorno) do Plano de Manejo da rea de Proteo
Ambiental (APA) do Esturio do Rio Curu em escala de 1:30.000 de 2004;
Composio colorida da imagem orbital fornecida pelo satlite Landsat 5 TM
datada de 2001;
Carta Batimtrica da Diretoria de Hidrografia e Navegao da Marinha do
Brasil datada 2001;
Imagem Landsat ETM WRS 217_062, datada agosto de 2002;
Imagem SRTM_90 do Estado do Cear;
Imagem orbital de resoluo 70 cm do tipo Quick Bird datada de setembro de
2004.
Foram elaborados overlays temticos a partir das imagens trabalhadas
em meio digital com auxlio dos softwares ARCGIS 8 (estrutura de dados vetorial),
Global Mapper 5 (estrutura de dados raster) e Surfer 8 (estrutura de dados vetorial).
As informaes obtidas a partir da aplicao do geoprocessamento foram
comparadas com os materiais cartogrficos citados acima e ratificados durante os
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
campos experimentais. importante destacar que os dados foram operados em
Sistema de Informaes Geogrficas (SIG).
Dessa forma, a rea de estudo dessa dissertao, compreende:
A rea de Proteo Ambiental do Esturio do Rio Curu estabelecida atravs
do Decreto N25.416, de 29 de maro de 1999 no seu Art. 1. Considerando
apenas os pontos cardeais leste (municpio de Paracuru) e oeste (municpio
de Paraipaba);
Ao norte, a rea de estudo estendeu-se at a cota de -3,22 metros de
profundidade (ao das ondas);
Ao sul, o limite de monitoramento estendeu at a barragem de vertedouro
localizada a 11,5 km da foz, de coordenadas geogrficas 487851 Longitude e
9221088 Latitude. Tal critrio foi estabelecido por causa do local no
apresentar nem influncia salina e nem mar dinmica. Dessa forma, ficou
mais fcil de coletar e analisar os dados para obter informaes do que entra
no sistema estuarino.
Considerando as informaes acima, o local de estudo abriga certa
diversidade de unidades geomorfolgicas em uma rea total de 1.607,39 hectares
com permetro de 21.459,74 m.
3.2. Atividades de Campo
A obteno de dados em campo e a interpretao de informaes so de
fundamental importncia para o conhecimento cientfico, pois trabalhar a teoria
juntamente com a prtica consiste em compreender melhor como se d o
funcionamento desse sistema estuarino, possibilitando um manejo adequado e uma
delimitao correta do ecossistema.
Sabendo que os esturios so ambientes de transio entre o continente
e o oceano, onde rios encontram o mar, resultando da diluio mensurvel da gua
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
salgada (MIRANDA, CASTRO e KJERFVE, 2002, p.15). E que a ao das mars,
ventos, ondas e a introduo de gua doce dos rios, produzem gradientes de
densidade que determinam os processos de circulao estuarina. Alm disso, a
circulao no interior do esturio tambm influenciada pelo tamanho e forma da
bacia (SILVA et. al., 2004, p.201). Desta forma, esta pesquisa tambm se
fundamenta em trabalhos experimentais.
Considerando o comportamento climtico, a variao sazonal e a
amplitude de mars (do tipo meso-mar) do Estado do Cear, optou-se realizar as
atividades de campo levando em considerao as seguintes condies:
Mars de sizgia (lua nova ou cheia);
Fases: vazante e enchente;
Perodo Chuvoso (janeiro a junho de 2007) e
Perodo de Estiagem (julho a novembro de 2007).
Dessa forma, ficou mais fcil de observar o funcionamento e o
comportamento do sistema estuarino tanto no perodo chuvoso quanto de estiagem,
correlacionando s informaes obtidas com os tipos de uso e ocupao do solo que
ocorrem na rea de estudo.
Todos os equipamentos utilizados durante as atividades experimentais
foram disponibilizados pelo Laboratrio de Geologia e Geomorfologia Costeira e
Ocenica (LGCO) da Universidade Estadual do Cear (UECE).
Para melhor compreender os procedimentos realizados nesta etapa, as
atividades de campo encontram-se subdividida em: processos hidrodinmicos e
hidrolgicos, e por contexto morfodinmico e sedimentolgico.
3.2.1. Processos Hidrodinmicos e Hidrolgicos
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
Com o intuito de tornar representativos os estudos hidrodinmicos e
hidrolgicos no esturio do rio Curu foram estabelecidas 11 estaes (quadro 01) e
06 sees de monitoramento em uma extenso de aproximadamente 11,5 km (figura
07). Na seo 6, onde no ocorre influncia da mar foram realizadas medies
de descarga de gua doce, com o intuito de quantificar o que entra no sistema
estuarino.
Estaes Longitude (X) Latitude (Y) 01* 493659 9622804 02* 493175 9622984 03* 492272 9622776 04* 492294 9622876 05* 492313 9622999 06* 490755 9623338 07* 489704 9622603 08* 487999 9621895 09** 486339 9619580 10** 486322 9619572 11** 486311 9619566
QUADRO 01: Coordenadas das estaes monitoradas em UTM. * Perodo monitorado nos meses de maro e novembro de 2007 em mar de sizgia.
** Perodo monitorado nos meses de janeiro, maro, maio, julho, setembro, novembro de
2007 em mar de sizgia.
A primeira atividade experimental no esturio foi realizada entre os dias
19 e 21 de maro de 2007, e a segunda, foi entre os dias 23 a 25 de novembro de
2007. Todas as sondagens ocorreram durante o ciclo de mar.
Para o estabelecimento da distribuio espacial das estaes e das
sees, foram levados em consideraes os seguintes critrios: largura e
profundidade do canal; presena de bancos arenosos; rea de confluncia de
drenagem; formato e margens do canal; influncia da mar e os locais que
desenvolvem as atividades de carcinicultura.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
FIGURA 07: Mapa de localizao das clulas, estaes, perfis e sees monitorados no esturio do Rio Curu.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
As medies dos parmetros hidrodinmicos (direo e velocidade da
corrente) foram realizadas em dois nveis de profundidade (superfcie e fundo)
sempre que possvel. Os dados foram obtidos atravs do mini-correntmetro porttil
da Sensordata a.s. modelo SD-6000/30 (figura 08). As direes utilizadas no
presente trabalho foram relativas ao norte verdadeiro (geogrfico), com declinao
magntica de 23,57 W conforme as informaes fornecidas atravs da Carta de
So Luiz do Curu datada de 1969.
FIGURA 08: Mini-correntmetro porttil da Sensordata a.s. modelo SD-6000/30.
A partir da, foi possvel observar o comportamento das correntes no
sistema estuarino durante as fases de enchente e vazante, tanto no perodo de
chuva quanto de estiagem. Alm disso, foi determinada a vazo de cada seo a
partir do produto entre a rea e a velocidade nas fases de mar.
As oscilaes das mars na rea estuarina foram determinadas atravs
da fixao de uma rgua durante as atividades experimentais. As leituras foram
realizadas a cada quinze minutos durante o ciclo completo de mar. Desse modo,
conseguimos determinar o retardo da mar em relao s estimativas feitas para o
Terminal Porturio do Pecm e obter informaes mais seguras para correo da
malha batimtrica.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
No que se refere ao perodo, altura e direo da onda nas proximidades
da desembocadura do rio Curu, foram estabelecidas duas clulas para coleta de tais
dados (figura 07). Sabendo que o perodo da onda corresponde ao tempo de
passagem de duas cristas ou de duas cavas num determinado ponto em um
intervalo de tempo fixo (Silva et al., 2004, p.183). Tais dados foram obtidos atravs
da leitura do tempo de onze ondas consecutivas, medindo-se dez perodos com
auxlio de um cronmetro.
Para obteno da altura (distncia entre a crista e a cava da onda)
utilizamos uma mira topogrfica posicionada na zona de espraiamento. J a direo
da onda foi obtida atravs da bssola e da estao total.
Para segurana e concretizao dos dados obtidos em campo efetuamos
as analises das sries histricas das amplitudes de mars e das medies de ondas
do Terminal Porturio do Pecm para fins de classificao regional.
Os parmetros hidrolgicos (temperatura, densidade e salinidade) foram
coletados atravs de uma perfilagem vertical da coluna dgua com o auxlio de uma
sonda oceanogrfica da Sensordata a. c. (STD/CTD) de modelo 204 (figura 09).
FIGURA 09: Sonda oceanogrfica da Sensordata a. c. (STD/CTD) de modelo 204.
QUINTELA, T. O. F. A Dinmica Ambiental do Esturio do Rio Curu - CE: Subsdios para o Monitoramento e Gerenciamento da rea de Proteo Ambiental.
Atravs dos parmetros de salinidade, foi possvel classificar as guas
em: doces (salinidade igual ou inferior a 0,5), salobras (salinidade superior a 0,5 e
inferior a 30) e salinas (salinidade igual ou superior a 30). Alm de determinar as
classes e os usos preponderantes do corpo de gua conforme os limites fornecidos
pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente atravs da Resoluo CONAMA n. 357,
de 17 de maro de 2005 (Quadro 02).
QUADRO 02: Classificao das guas segundo suas classes e seus usos
preponderantes.
CLASSIFICAO CLASSE USOS PREPONDERANTES
GUAS DOCES ( 0,5)
Especial
a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfeco; b) preservao do equilbrio natural das comunidades aquticas; e, c) preservao dos ambientes aquticos em unidades de conservao de proteo integral.
1
a) ao abastecimento para consumo humano, aps tratamento simplificado; b) proteo das comunidades aquticas; c) recreao de contato primrio, tais como natao, esqui aqutico e mergulho, conforme Resoluo CONAMA n 274, de 2000; d) irrigao de hortalias que so consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoo de pelcula; e