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APRENDIZAGEM INFANTIL
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Uma aordagem da neurocincia, economia epsicologia cognitia
Rio de Janerio
Aloisio Araujo
Coordenador do Grupo de Estudo
APRENDIZAGEM INFANTIL
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2011
© Direitos autorais, 2010, de organiao, da
Academia Brasileira de Cincias
Rua Anlo de Carvalho, 29 3o Andar
20030060 Rio de Janeiro, RJ Brasil
Tel: (55 21) 39078100
Fax: (55 21) 39078101
© Direitos de publicao reservados por
Academia Brasileira de Cincias e
Fundao Conrado Wessel
Rua Par, 50 15º andar
01243020 So Paulo, SP Brasil.
Tel/Fax: (55 11) 32372590
Coordenação e Edição:
Fernanda Wolter
Marcia de Castro Faria Graa Melo
José Moscogliatto Caricatti
Revisora :
Mirian Cavalcanti
Aprendizagem inantil : uma abordagem da neurociência, economia e psicologia
A654 cognitiva / Aloísio Pessoa de Araújo, coordenador. – Rio de Janeiro:
Academia Brasileira de Ciências, 2011.264 p. - (Ciência e tecnologia para o desenvolvimento nacional. Estudos
estratégicos)
Inclui bibliograa.
ISBN: 878-85-85761-33-2
1. Aprendizagem. 2. Educação de crianças. 3. Desenvolvimento cognitivo. 4.
Capital humano. 5. Rendimento escolar. I. Araújo, Aloísio Pessoa de, 1946-.II.
Academia Brasileira de Ciências
CDU: 370.1523
CDD: 37.015.3
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G R U P O D E E S T U D OAloisio Araujo (Coordenador FGV/IMPA/ABC)
Edson Amaro (USP)
Erasmo Barbante Casella (USP)
Flvio Cunha (University o Pennsylvania)
Jaderson Costa da Costa (PUC/RS)
Joo Batista Araujo e Oliveira (Inst. Ala e Beto e JM Associados)
Lui Carlos Faria da Silva (Universidade Estadual de Maring)
Lui Davidovich (Responsvel pela Diretoria da ABC)Simon Schwartman (IETS/ABC)
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PALAvRA DO PRESIDENTE
A Academia Brasileira de Cincias ABC, com o intuito de promover o desenvolvimento da
Cincia, Tecnologia e Inovao em benecio da nossa sociedade, tem elaborado estudos sobre
temas estratégicos para o pas. Dentre relevantes iniciativas em curso podemos citar aes
nas reas de saúde, mudanas ambientais globais, recursos hdricos e educao, sempre com
enoue em C,T&I como base para a soluo de uestes crticas. Tais estudos tm recebido o
apoio da FINEP e sido publicados em cooperao com a Fundao Conrado Wessel.
O Grupo de Estudos de Aprendiagem Inantil, coordenado pelo Acadmico e matemtico
economista do Instituto Nacional de Matemtica Pura e Aplicada e da Fundao Getúlio Vargas,
Alosio Pessoa de Araújo, deende ue os investimentos em educao durante os primeiros anos
de vida da criana geram maiores benecios. Alunos ue tiveram mais estmulos cognitivos até
os uatro anos de idade chegam à escola em melhores condies de aprender. A partir dessa
idade, a escola tem menos chance de iniciar uma alabetiao adeuada, permitindo aos alunosestabelecer as conexes neuronais necessrias ao processo de aprendiagem. Além disso, as
habilidades no cognitivas, tais como capacidade de socialiao, perseverana, disciplina e
criatividade também icam comprometidas.
Em sua metodologia, o estudo englobou trs reas distintas do processo de construo do
conhecimento: a neurobiologia do desenvolvimento cognitivo; a economia do desenvolvimento
cognitivo; a aprendiagem da leitura e escrita.
Além das reunies peridicas do Grupo de Estudos, workshops e palestras oram promovidas
dentro das trs reas citadas. Dentre essas, destacase o encontro internacional sobre Educao
na Primeira Inncia, ue contou com a participao de James Heckman, prmio Nobel de
Economia em 2000. A conerncia “Meeting on Early Childhood Education”, teve lugar em 17 e
18 de deembro de 2009 e oi organiada em parceria com a Fundao Getúlio Vargas. Reuniu
renomados cientistas do Canad, Estados Unidos, Reino Unido e Frana e os especialistas André
Portela, Ricardo Paes e Barros e Flavio Cunha. Eles debateram com os Ministros da Educao,
Fernando Haddad, e da Saúde, José Gomes Temporo, possveis caminhos para ue educao
e saúde inantil tornemse uma prioridade em nosso pas, possibilitando um desenvolvimento
social orte e sustentvel de nossa economia em expanso.
Como é tradio de nossa Casa, os Membros da ABC tiveram a oportunidade de opinar sobre o
estudo. Assim, suas concluses tm o amplo apoio da ABC.
Por im, maniesto minha alegria pela receptividade ue os estudos vm alcanando junto à
comunidade acadmica e ao Governo. No poderia deixar de agradecer o amplo apoio da FINEP
e também de nossa parceira FGV.
À Fundao Conrado Wessel nossos melhores agradecimentos por mais esta especial contribuio
à ABC ao publicar nosso estudo sobre aprendiagem inantil, um tema de primeira importnciapara o nosso pas.
Jacob Palis
Presidente da Academia Brasileira de Ciências
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Devido ao descaso com a educao, agravado pelo seu passado escravocrata, o Brasil
historicamente possui altos nveis de desigualdade de renda, o ue inclusive prejudica seu
desenvolvimento econômico.
Embora a desigualdade de renda tenha cado um pouco nos últimos anos, e tenha havido
para algumas aixas etrias a universaliao do ensino, como por exemplo, na aixa dos sete
aos 14 anos, ortes problemas persistem. O desempenho medocre em avaliaes nacionais e
internacionais pode comprovar esta airmao.
Avanos da neurocincia permitem concluir ue grande parte do desenvolvimento cerebral,
bem como a capacidade posterior de aprendiado dse no prénatal aos primeiros anos de vida.
Corroborando este entendimento, estudos eitos por economistas, notadamente, os do proessor
James Heckman, prmio Nobel de Economia, e da Universidade de Chicago, comprovam ueintervenes educacionais eitas durante a primeira inncia com crianas de baixa renda
possuem taxa de retorno muito superiores a investimentos eitos em idades posteriores.
Destauese também os estudos de James Heckman e Flvio Cunha, ue constatam ue
desigualdades de rendimento escolar no desenvolvimento cognitivo, observado aos uatro anos
como uno de dierenas educacionais da me, persistem, na média, ao longo da trajetria
educacional da criana.
Concluise ento ue, para corrigir as desigualdades educacionais e permitir um maiordesenvolvimento econômico através da incorporao de um número maior de adolescentes em
aixas mais elevadas de educao, é preciso aer intervenes na ase mais precoce da criana.
Isto porue boa parte da ormao de capital humano dse no seio intraamiliar, nos primeiros
anos de vida, onde os pais mais educados, através de leituras e estmulo, conseguem preparar
melhor a criana para uando ela ingressar na escola.
Mais ainda, Heckman e Cunha observam ue a educao aduirida numa certa etapa da vida
acilita o aprendiado nas seguintes.
Estas ideias, tanto da neurocincia uanto da educao e da economia, se complementam,
da a deciso por uma abordagem multidisciplinar do aprendiado inantil. A ideia deste livro
ocorreunos devido à combinao do interesse cientico do tema e de sua alta relevncia para
o pas. Isto porue no Brasil , além de possuirmos baixas taxas de escolariao e desempenho
medocre nas avaliaes, a ecundidade e’ maior justamente entre as mulheres de menor ndice
de instruo.
Outro ator importante em nossa deciso é ue outras academias de cincias, como a americana,
realiaram estudos semelhantes, com alto impacto nas polticas educacionais destes pases.
A proposta deste estudo oi aceita pela Academia Brasileira de Cincias, ue j tinha interesses
semelhantes ao nosso. Assim, gostaria de agradecer o apoio recebido, durante os últimos trs
anos, ao grupo constitudo oicialmente pela Academia, ue vrias vees se reuniu para debater
APRESENTAÇÃO DO COORDENADOR
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e propor ideias, resultando em um trabalho apresentado para crticas e sugestes, via internet,
em encontro dos membros da Academia em 6 de maio de 2009.
Organiamos também, um encontro cientico, nos dias 16, 17 e 18 de deembro de 2009,
com alguns dos maiores especialistas internacionais, onde nossos trabalhos oram igualmente
apresentados para a comunidade internacional. Este encontro contou com a participao de
eminentes cientistas nacionais e internacionais das reas de neurobiologia, economia, psiuiatriainantil, educao, medicina, entre outros. Também participou o ministro da Educao, Fernando
Haddad, o ministro da Saúde, José Gomes Temporo, o secretrio de Faenda do estado do Rio
de Janeiro, Joauim Lévy, e o expresidente da Academia Brasileira de Cincias, Maurcio Marues
Peixoto. O encontro teve ampla repercusso na mdia, com extensos espaos nos jornais.
Os trabalhos do grupo durante este encontro, ue resultou no presente livro, oram compostos de
textos com recomendaes de polticas públicas de responsabilidade de todos ns , além de trs
artigos de participantes especicos, e de alguns palestrantes no pertencentes ao grupo da Academia.
O primeiro artigo, de autoria dos proessores James Heckman ( Universidade de Chicago) e Flvio
Cunha (Universidade da Pensilvnia), desenvolve e estima econometricamente um modelo
de ormao de capital humano e chega à interessante concluso de ue existe uma grande
interao entre o capital humano aduirido em diversas ases da vida. Os autores também
concluem ue é dicil a auisio de habilidades cognitivas em ases posteriores da criana,
embora habilidades no cognitivas, como disciplina, interao social, obedincia à hieraruia
ainda possam ser aduiridas em ases posteriores do processo educacional.
O subgrupo de neurocincia, de autoria do proessor Jaderson Costa da Costa (PUC/RS) e
dos proessores Erasmo Barbante e Edson Amaro (Universidade de So Paulo USP) produiu
um artigo no ual se descrevem as diversas ormas de medio da atividade cerebral, e sua
importncia para o aprendiado.
O terceiro artigo é de autoria dos especialistas em educao, Joo Batista Araujo e Oliveira e Lui
Carlos Faria da Silva. Neste artigo os autores, baseados em experincias de trabalhos cienticos
internacionais, arguem ue é importante ue se introduam prticas do método ônico nos
processos de alabetiao das crianas brasileiras. A ausncia de tal prtica tem provocado
vrios prejuos para o processo de alabetiao no Brasil, o ue em grande parte j oi corrigido
em vrios outros pases, conorme descrito pelos autores.
Temos também trs artigos de palestrantes no pertencentes ao grupo da ABC, transcritos de
nosso seminrio internacional. O primeiro, do proessor Ricardo Paes e Barros, do IPEA, ue
conclui, através de estudos econométricos, ue creches de baixa ualidade no conseguem ter
eeitos signiicativos no desempenho educacional posterior. O segundo, do proessor Fernando
Capovilla da USP, ue estuda e sugere métodos educacionais apropriados para crianas com
necessidades especiais. O terceiro, do proessor Andre Portela da EESPFGV, d evidncias de ue
a préescola (ensino de uatro e cinco anos) tem orte impacto positivo no aprendiado.
O livro conta também com o resumo eito pelos proessores Jaderson Costa da Costa (PUC/RS),
Erasmo Barbante e Edson Amaro (Universidade de So Paulo) das palestras dos convidados
internacionais . Como se sabe, situao da educao inantil no Brasil ainda est muito longe de
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uma situao satisatria. Um grande avano oi obtido com o projeto de emenda constitucional
aprovado pelo Congresso Nacional em 2009, ue torna mandatria a matrcula para crianas de
uatro a cinco anos e prev a universaliao em 2016. Também, o plano nacional de educao
a ser implementado em breve prev a matrcula para 50% das crianas de ero a trs anos em
2022, a partir da cobertura atual de pouco mais de 20%. No entanto, isto é muito pouco para
um pas como o Brasil, onde a maioria das crianas vem de amlia de baixa renda per capita, e
baixa educao dos pais, e ue, portanto, devido a sua baixa vocaliao poltica se encontraainda menos representados nas creches. Esta situao tende a perpetuar boa parte da alta
desigualdade de renda em nosso pas. Isto agravado por serem as creches, em sua maioria, de
ualidade duvidosa.
É bem verdade ue existem iniciativas importantes de governos ederal, estaduais e municipais
(estes responsveis pela educao inantil) de se abrirem mais vagas. Concentrar recursos
nas crianas de baixa renda, construindose creches de alta ualidade nas regies de baixo
desempenho escolar parece ser uma poltica adeuada.
Outro caminho é concentrar recursos j no prénatal, aliando polticas de saúde e educao,
inclusive com a instruo dos pais para o problema. Como enatiou o proessor Mustard em
nosso seminrio internacional, um dos pioneiros em educao inantil, oi esta a base de sucesso
de Cuba no campo da saúde e da educao da sua populao. Iniciativas semelhantes oram eitas
no Chile e mesmo em nosso pas, embora de orma incipiente. Pois, como é sabido, os cuidados
com a saúde e nutrio durante o prénatal e nos primeiros anos de vida so determinantes na
plasticidade cerebral e conseuentemente no desenvolvimento educacional, além da saúde do
indivduo ao longo de sua vida.
É igualmente importante ue se criem centros de pesuisa em educao inantil em nossas
universidades, sejam públicas ou privadas. Estes centros poderiam ser inanciados tanto pela
iniciativa privada uanto por rgos públicos como o MEC. Estes centros deveriam ser conduidos
tanto por educadores como por neurocentistas e pediatras. Também poderiam ser dirigidos por
economistas ue poderiam aer estudos uantitativos sobre os custos e benecios dos diversos
métodos utiliados.
Por im, gostaria de agradecer à Academia Brasileira de Cincias, ao seu presidente, Jacob Palis
Jr., às uncionrias Mrcia Graa Melo, Fernanda Wolter, e Sandra Frias, designer grica, ue nosprestaram inestimvel apoio durante o processo de realiao deste trabalho. Agradeo, também,
ao proessor James Heckman pelo apoio dado para traermos ao Brasil cientistas internacionais
notveis, especialistas na rea de educao inantil.
Meus agradecimentos especiais ao Itaú Social, ao Dr. Pedro Henriue Mariani e à Fundao
Getulio Vargas pelo auxlio dado, e em especial à Fundao Conrado Wessel.
Alosio Pessoa de Araújo
Coordenador Membro da ABC
Fundação Getúlio Vargas
Instituto de Matemãtica Pura e Aplicada
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RAíZES DE UMA TRANSFORMAÇÃO NACIONAL
A Fundao Conrado Wessel, associada institucional da Academia Brasileira de Cincias, temse
vinculado a diversas iniciativas promovidas pela ABC em prol da cincia e, obviamente, em prol
de nossa nao. É motivo de orgulho, reerncia magna da trajetria da FCW, impulso para sua
vocao de promotora da arte, da cincia e da cultura, conorme desgnio de seu instituidor,
Conrado Wessel. Nesse prisma inserimos a presente publicao, continuando a série de estudos
estratégicos, cujos ttulos j publicados “Amaônia”, “O Ensino de Cincias e a Educao Bsica”
e “Doenas Negligenciadas” tornaramse indispensveis a ualuer programa de governo ou
anlise da nao.
Com os mesmos critérios de segurana nas inormaes, apurao exigente dos dados, iseno
no diagnstico e euilbrio nas expectativas, promovemos agora este excelente trabalho
organiado pela ABC sobre educao inantil, destinado a propiciar os parmetros mnimos com
ue devemos transormar nossa nao. O grupo de trabalho elaborou uma exaustiva anlise da
viso menor com ue a educao inantil vem sendo conduida no Pas. Sua leitura serve como
alerta e bússola para conseguir, nos prximos vinte anos, contar com uma comunidade avanada
e eiciente, capa de traer um retorno euivalente aos obstculos j antevistos.
A viso gerencial do tema deve ser abrangente, seja na poltica de ormao e acompanhamento
dos proessores, seja na implementao de um intercmbio ativo entre a escola, a amlia e os
servios da rea da saúde e da assistncia pública, seja na aplicao dos resultados j alcanados
pela cincia , seja no desenvolvimento de outros estudos ains e pesuisas eicaes.
Este trabalho sobre educao inantil, de ato, identiica o ponto centro de nossa metamorose.
No podemos permanecer inertes, assistindo a uma gradativa eroso de valores culturais
e a uma perda galopante de capacidade inovadora num panorama mundial de soberania do
conhecimento.
Com o respeito à comunidade cientica de ue sempre nos valemos, em particular à dedicao
do digno proessor Alosio Pessoa de Araújo, a Fundao Conrado Wessel elicita a ABC por mais
este valioso estudo estratégico.
Américo Fialdini Júnior
Diretor-Presidente
FCW
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íNDICE
INTRODUCAO Concluses e Recomendaçes 1
SUMáRI O DAS CON CLUSõES E RECOMENDAçõES DO GRUPO DE TRABALHOSOBRE EDUCAçãO INFANTIL 3
PARTE I Capital Humano 9
1. INTRODUçãO 11
2. A PRODUç ãO DE CAPITAL HUMANO 14
3. OS PROGRAMAS DE FORMAçãO DE CAPITAL HUMANO NAPRIMEIRA INFâNCIA 16
4. AS INTERVENçõES NA ADOLESCêNCIA 28
5. CONCLUSãO 31
REFERêNCIAS 32
PARTE II Neuroiologia 35
AS BASES NEUROBIOLóGICAS DA APRENDIzAGEM DA LEITURA 37
I. INTRODUçãO 39
II. OBJETIVOS 42
III. MÉTODOS DE ESTUDO 43
IV. NEUROPLASTICIDADE E APRENDIzAGEM 48
V. DESENVOLVIMENTO DAS ESTRUTURAS ENCEFáLICAS EN VOLVIDASCOM A APRENDIzAGEM, LEITURA E LINGUAGEM 50
V.A. Desenvolvimento de estruturas regionais 50
V.B. Desenvolvimento do comportamento e aprendiagem 50
VI. A CAPACIDADE DA LEITURA ESTá RELACIONADA A REGIõES
ESPECíFICAS DO CÉREBRO 54
VI.A. Circuito Temporoparietal 55
VI.B. Circuito Temporooccipital ou via direta 58
VII. LEITURA E MOMENTO DE ATIVAçãO DAS DIFERENTES
REGIõES CEREBRAIS DURANTE A LEITURA 59
VIII - ESTáGIOS INICIAIS DO APRENDIzADO DA LEITURA 61
VIII.A. Processamento onolgico 63
VIII.B. Processamento ortogrico 64
VIII.C. Processamento semntico 64
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IX- NEUROBIOLOGIA E MÉTODOS DE ENSINO DA LEITURA 66
X. REFERêNCIAS 70
PARTE III Mtodos de Alfaetização 79
MÉTOD OS DE ALFABETIzAçãO: O ESTADO DA ARTE 81
INTRODUçãO 81
A EVIDêNCIA SOBRE EFICáCIA DOS MÉTODOS DE ALFABETIzAçãO 86
ESTUDOS SOBRE CUSTO DE OPORTUNIDADE DO USO DO TEMPO NASCLASSES DE ALFABETIzAçãO 95
VALIDADE DOS ESTUDOS SOBRE ALFABETIzAçãO EM PAíSES CUJAS
LíNGUAS POSSUEM ESCRITAS ALFABÉTICAS 113
MUDANçAS E TENDêNCIAS NAS POLíTICAS DE ALFABETIzAçãO 117
MUDANçAS E TENDêNCIAS DAS POLíTICAS DE ALFABETIzAçãONO MUNDO 120
REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS 124
ANEXOS Meeting on early childhood education 135
AGENDA 137
RESUMO DAS APRESEN TAçõES COMPILADAS PELOS PROFESSORESEDSON AMARO, ERASMO BARBANTE E JADERSON COSTA 139
MINICURRíCULOS 186
POLíTICAS DE EDUCAçãO REGULAR E ESPECIAL NO BRAS IL: SOBRE OSPERIGOS DE TRATAR AS CR IANçAS OUVINTES COMO SE FOSSEM SURDAS,E AS SURDAS, COMO SE FOSSEM OUVINTES 190
A IMPORTâNCIA DA qUALIDADE DA CRECHE PARA A EFICáCIA NAPROMOçãO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL 212
IMPACTOS DA PRÉ-ESCOLA NO BRASIL 231
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SUMáRIO DAS CONCLUSõES E RECOMENDAÇõES DOGRUPO DE TRAbALHO SObRE EDUCAÇÃO INFANTIL
O Problema
• O desempenho educacional das crianas brasileiras é
muito inadeuado. Resultados da Avaliao Brasileira do
Final do Ciclo de Alabetiao, a Prova ABC, avaliao do
movimento Todos pela Educao divulgada em agosto
de 2011, mostram ue 57,2% dos estudantes do terceiro
ano do ensino undamental, o ue corresponde à antiga
segunda série, no conseguem resolver problemas bsicos
de matemtica, como soma ou subtrao. Resultados
semelhantes so encontrados na avaliao dos estudantes
brasileiros no Programa Internacional de Avaliao de
Estudantes da OECD, PISA.
• Diiculdades de linguagem so associadas às de
processamento matemtico e de lgica. Falhas na
alabetiao diicultam a incorporao de conhecimentos
importantes para o desenvolvimento proissional.
• Embora o número de alunos no ensino médio venha
aumentando de orma signiicativa nos últimos vinte anos,
menos de 60% dos jovens de uma coorte conseguem
conclulo; esse número, porém, tem se estabiliado. Uma
rao ainda menor ingressa no ensino superior.
Causas
• Parte do problema devese tanto à alta de recursos em utiliao destes, uanto à ausncia de uma poltica
nacional eica de atrao, seleo e reteno de melhores
proessores. Outra parte ao descompasso entre as polticas
especicas de ateno às crianas (antes da escola e na
alabetiao) e as recomendaes ue decorrem de
evidncia cientica internacional.
• De acordo com a neurobiologia, sabese ue o
desenvolvimento mais acentuado da estrutura cerebral(volume e maturao cerebral e, notadamente,
sinaptogenese) ocorre nos primeiros anos de vida.
Conseuentemente, este é um perodo sensvel para
o desenvolvimento das habilidades envolvidas no
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o desenvolvimento das habilidades envolvidas no
processo de aprendiagem da linguagem. Eventual
atraso na estimulao dessa habilidade poderia implicar
perda do melhor momento para o desenvolvimento
do reconhecimento da relao graemaonema,
to importante para a leitura, no uturo, de palavras
desconhecidas. Este ato tem sido ignorado na ormulao
de polticas públicas de educao.
• Essa evidncia se complementa pelos estudos em economia
ue mostram a grande rentabilidade de investimentos
ue ocorrem na mais tenra idade e produem habilidades
ue so utiliadas para acumulao de outras habilidades
(“habilidade produ habilidade”). Por exemplo, é muito
dicil ormar um engenheiro ue no tenha desenvolvido
habilidades bsicas de lgebra. Estudos recentes mostram
ue investimentos ue ocorrem entre os trs e uatro anos
de idade tm uma taxa de retorno de 17% ao ano, enuanto
alguns programas de recuperao tardia apresentam
retornos ue so nulos e muitas vees negativos (custo
maior do ue o benecio).
Recomendações
Atenção à inância: é importante investir na educação duranteos primeiros anos
• Estabelecer polticas integradas e lexveis de atendimento
às amlias com crianas peuenas, conorme suas dierentes
circunstncias e necessidades, visando assegurar o direito a
condies bsicas de se desenvolver. Estas polticas devem
minimiar o eeito dos atores de risco, entre os uais a
condio social e econômica de seus pais. Famlias em
condies crticas, especialmente em relao à violncia,pobrea extrema, ambientes txicos, e monoparentais,
reuerem atendimento dierenciado.
• Desenvolver polticas públicas ue apoiem as mes na
educao e no desenvolvimento dos seus ilhos.
• Incorporar no atendimento pré e psnatal dos servios
de saúde pública e da assistncia amiliar j existentes as
dimenses de desenvolvimento cognitivo e lingusticodas crianas. Inovaes tecnolgicas no tratamento de
epidemias e a acentuada ueda da taxa de ecundidade
abrem espao para ue a estrutura sica e os recursos
humanos da rea de saúde sejam mobiliados para
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humanos da rea de saúde sejam mobiliados para
estimular o desenvolvimento cognitivo, ue é precrio
em boa parte das amlias brasileiras, principalmente
auelas provenientes de amlias de baixa condio
socioeconômica. Tanto a evidncia da neurobiologia
uanto a da economia apontam altos retornos para essa
realocao de recursos na ase inicial da vida. Para tanto,
ser importante incentivar e capacitar os proissionais da
rea, especialmente os proissionais da saúde.
• Dar prioridade para o diagnstico precoce de condies ue
aetam o desenvolvimento posterior da criana, tanto na
linguagem uanto na sociabilidade. Propiciar tratamentos
adeuados para as crianas com necessidades especiais, tais
como deicits auditivos, visuais, e crianas ue possam ser
includas no espectro autista.
• Estabelecer, para as creches e préescolas, mecanismos
de regulao ue assegurem a ualidade dos atendentes,
proporo adeuada entre adultos e crianas,
euipamentos, livros e inraestrutura, de modo a promover
o desenvolvimento integral da criana, incluindo o seu
desenvolvimento lingustico e lgicomatemtico, e atitudes
ue avoream uma posterior escolariao bemsucedida.
• Desenvolver programas de capacitao e certiicao de
educadores da primeira inncia de nvel médio e superior
ue levem em conta os conhecimentos cienticos sobre os
atores ue promovem o desenvolvimento inantil.
• Estimular programas para promover o hbito da leitura em casa.
Alabetização: devem ser utilizados métodos baseados em
evidência cientíica
• Levar em considerao a evidncia cientica e as orientaes
oiciais dos pases mais avanados com relao à importncia
de adoo de polticas, materiais e métodos adeuados de
alabetiao. Ainda no h estudo nacional semelhante.
• Tomar como reerncia os estudos sobre a neurobiologia
da aprendiagem para se repensar a prtica educacional. O
melhor conhecimento dos circuitos neurais para a expressoe entendimento verbal, auisio da habilidade da leitura e
manuteno dos mecanismos atencionais e estratégia de
aprendiagem so importantes para estabelecer processos
mais eicientes de alabetiao
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mais eicientes de alabetiao
• Reorar a importncia da estimulao da capacidade
de decodiicao onolgica, no incio da alabetiao,
independentemente da interveno escolhida para o
ensino da leitura.
• Estabelecer orientaes, currculos e programas de
ensino de alabetiao ue levem em considerao a
evidncia acima.
• Estabelecer critérios, indicadores ou expectativas para
indicar ue o aluno oi alabetiado até no mximo seteanos de idade.
• Estabelecer polticas de adoo e auisio de livros e
materiais didticos ue estimulem a proviso de materiais
ricos e variados adeuados para ensinar, de orma
consistente, as múltiplas competncias associadas ao
processo de alabetiao.
• Incluir, nos programas de ensino das préescolas,competncias ue acilitem e preparem o aluno para o
processo de alabetiao.
• Estimular a leitura em vo alta, considerando ue isso
contribui para a ativao da rea cerebral relacionada ao
processamento auditivo, avorecendo o desenvolvimento
da capacidade da associao onemagraema.
• Estabelecer polticas e assegurar recursos para criar emanter atualiadas bibliotecas escolares e bibliotecas de
sala de aula.
Evidência internacional e orientação dos países sobre métodos de alabetização
• EUA: National Reading Panel Report, 2000.
• Austrália: Department o Education, Employment, and Workplace Relations: National Inquiry into
the Teaching o Literacy – Report and Recommendations, 2004.
• Israel: A Reerence Guide to Reading Education in Countries Participating in IEA’s Progress in
International Reading Literacy Study, 2002.
• Finlândia: The Finnish Board o Education. National Core Curriculum or Basic Education, 2004.
• França: Noveaux Programmes de L’École Primaire. Buletin Oiciel hors-serie no. 3, 2008.
• Inglaterra: Primary Framework or Literacy and Mathematics: Core Position Papers Underpinning
the Renewal o Guidance or Teaching Literacy and Mathematics, 2006.
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Pesquisa e ormação proissional: a ormação de
proissionais para a pré-escola e as séries iniciais deve ser
alinhada às necessidades especíicas da primeira inância e
da alabetização
• Estimular o desenvolvimento de pesuisas através da
ormulao de experimentos e levantamento sistemtico
de dados ue explorem o relacionamento da dimenso
neurobiolgica e psicolgica com a educao. Determinar
os custos e os benecios de dierentes intervenes
voltadas para o desenvolvimento inantil.
• Criar centros de ensino e ormao de proissionais para
apoio às instituies ue cuidam da primeira inncia.
• Rever as orientaes sobre ormao de proessores
alabetiadores, assegurando ue essa ormao seja eita
de orma terica e prtica e em consonncia com princpios
cienticos atualiados, consistentes com a cincia cognitiva
da leitura.
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Recentes estudos sobre o desenvolvimento humano mostram
ue as pessoas so dierentes em vrias habilidades, e ue
estas habilidades explicam uma grande parte da variao
interpessoal no sucesso econômico e social, diversidade
ue se maniesta na mais tenra idade. A amlia desempenha
um papel crucial na ormao dessas habilidades, pois
ornece tanto os genes uanto o meio ambiente com os
uais tais habilidades so determinadas. Algumas amlias
no conseguem criar ambientes propcios e isso tem
resultados neastos para os seus ilhos. No entanto, vrios
estudos mostram ue é possvel compensar parcialmente os
ambientes adversos se investimentos de alta ualidade oremeitos suicientemente cedo na vida da criana. O objetivo
deste artigo é resumir uma volumosa literatura para orientar
a ormulao de polticas públicas no Brasil.
As recentes pesuisas empricas tm melhorado
substancialmente a nossa compreenso do modo como as
competncias e habilidades so ormadas ao longo do ciclo
da vida. O incio da literatura em economia (Becker, 1964)
introduiu o capital humano como uma explicao alternativapara a capacidade geneticamente determinada para explicar
a distribuio de renda e outras medidas de sucesso
socioecônomico. Diante do volume de conhecimento gerado
por pesuisas recentes, entendemos ue o capital humano
é o resultado de competncias aduiridas e competncias
geneticamente determinadas.
Ao contrrio do ue é geralmente assumido pela literatura
em economia, a ormao de habilidades é um processodinmico. Com a base de dados norteamericana National
Longitudinal Survey o the Youth (NLSY), podemos
acompanhar o desenvolvimento cognitivo e emocional das
crianas desde a inncia até a adolescncia Acompanhando
CAPITAL HUMANO
Autores:Flvio Cunha
James Heckman
1. INTRODUÇÃO
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crianas desde a inncia até a adolescncia Acompanhando
as mesmas crianas através de entrevistas, durante vrios
anos, é possvel comparar o desenvolvimento dauelas
de amlias ricas com as de amlias mais carentes. Como
podemos ver na Figura 1, a dierena de desenvolvimento
cognitivo entre as crianas mais ricas (uartil de maior
renda) e as mais pobres (uartil de menor renda) é de uase
25 percentis. Esta é uma dierena enorme, ue explica,
em larga medida, ue uma criana de amlia com maiores
recursos ser mais propensa a reuentar uma universidade
do ue auela criana de amlia mais carente. Entretanto, é
importante notar ue grande parte da dierena entre essas
crianas j est presente aos seis anos de idade. O mesmo
ocorre em relao ao desenvolvimento emocional, como
podemos ver na Figura 2.
Figura 1
Figura 2
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As competncias aduiridas em uma etapa do ciclo de vida
aetam a aprendiagem na prxima ase da vida. Como
ressaltado nos recentes estudos sobre o desenvolvimento
inantil (Shonko e Phillips, 2000), dierentes habilidades so
ormadas e moldadas em dierentes ases do ciclo da vida. A
evidncia emprica nos ensina ue uando as oportunidades
de ormao dessas habilidades so perdidas, a reabilitao
pode ser onerosa e a plena reabilitao proibitivamente
custosa (Cameron, 2004; Knudsen et al., 2006; Knudsen,
2004). Estes resultados salientam a necessidade de ue os
cientistas sociais e os ormuladores de polticas públicas
tenham uma viso abrangente da ormao de habilidades
ao longo da vida.
A seguir, apresentamos uma discusso sobre a teoria do
investimento em capital humano ao longo da inncia e
da adolescncia. Na terceira seo, temos um resumo da
literatura sobre o impacto dos investimentos na inncia na
produo de capital humano. Na Seo 4, a evidncia sobre
o impacto dos investimentos durante a adolescncia, e,
inalmente, as consideraes inais.
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Apresentamos, em uma orma resumida, a teoria introduida
por Cunha e Heckman (2007) sobre a produo de capital
humano em dierentes estgios da inncia. Para simpliicar,
a nossa anlise parte de um modelo com dois perodos de
inncia, ue so denotados pelo index t , t = {1,2} . O capital
humano desta pessoa uando adulta h é produido durante
a inncia através de investimentos I t
eitos pela amlia em
cada perodo t . A uno de produo ue liga investimentos
I t
à habilidade h é:
h = [ γ(I 1
)ϕ + (1- γ) (I 2
) ϕ]
O parmetro γ, γ ∈[0,1], é chamado de multiplicador. Ele nos
inorma a importncia relativa do investimento ue ocorre
na ase mais tenra da inncia para a produo de capital
humano. Por exemplo, se γ = 1 , ento todo o capital humano
é produto do investimento durante o primeiro perodo da
inncia. quando γ = 0, nada ue se produ de capital humano
decorre de investimentos na primeira inncia.
O parmetro ϕ, ϕ ∈(-∞,1] nos inorma a proporo
necessria de investimentos no primeiro e segundo perodos
da inncia para produir capital humano. Em outras
palavras, ϕ determina a elasticidade de substituio entre I 1
e I 2. Por exemplo, uando ϕ → -∞, ento para produir uma
unidade de capital humano h é necessrio uma unidade de
investimento I 1
e uma unidade de investimento I 2
. Ou seja,
ambos devem ocorrer na mesma proporo. Neste caso,
diramos ue a elasticidade de substituio entre I 1 e I 2 é eropois no é possvel substituir um pelo outro. Por outro lado,
uando ϕ = 1, podese usar apenas I 1
, ou apenas I 2, ou até
mesmo uma combinao de I 1
e I 2
para se produir h. Neste
caso, diemos ue a elasticidade de substituio é ininita.
Admita ue a amlia tenha uma uantidade de recursos R
para investir na criana. A uesto é: Como repartir esses
recursos entre I 1
e I 2? Para responder, admitase ue ambos os
investimentos so compostos pelos mesmos tipos de produtos,digamos livros. Suponha ue o preo dos livros seja p. A amlia
pode comprar livros agora e pagar p por cada livro, ou pode
depositar p em uma poupana e resgatar (1+r ) p no uturo
uando or comprar livros para o investimento I Isto uer dier
2. A PRODUÇÃO DE CAPITAL HUMANO
ϕ1
(1)
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uando or comprar livros para o investimento I Isto uer dier
ue o valor presente do livro no perodo t = 2 é . Dessa
maneira, a restrio oramentria é dada pela euao:
Como discutido em Cunha e Heckman (2007), uando ϕ ∈(-∞,1)
a proporo tima entre investimentos I 1
e I 2
é dada pela rmula:
(2)
A euao (2) nos inorma ue a proporo deve ser maior
uanto mais importante or o investimento na determino
do capital humano, ue é capturado pelo parmetro γ . Ela
também nos di ue uanto mais barato o investimento or
em relao ao investimento (i.e., uanto mais alta or a taxa
de juros r ), ento menor deve ser a proporo . Finalmente,
esta proporo deve ser mais prxima de um uanto menor
or o parmetro da elasticidade de substituio entre os
investimentos.
I 1
1 + r
p
1 + r
p p I
1+ I
2= R
I 2
I 1 =
(1 - γ) (1 + r )
γ 1-ϕ1
I 2
I 1
I 2
I 1
I 2
I 1
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J existe pesuisa abrangente sobre diversos programas de
interveno para idade préescolar voltados para crianasdesavorecidas.1 Nesses programas oram coletados dados
detalhados ue permitiram mensurar os seus custos e
benecios. Os programas analisados variam tanto em termos
da idade da criana no incio da interveno, uanto na idade
na época da sada. Geralmente, o desempenho das crianas
na escola melhora em termos de aproveitamento, nas notas
escolares e no menor ndice de repetio. Inelimente, muitas
das avaliaes desses programas no seguem as crianas na
adolescncia ou vida adulta. As intervenes ue comeam
na mais tenra idade produem os maiores eeitos.
quatro programas possuem avaliao de impactos de longo
prao. Trs deles so direcionados para crianas consideradas
de alto risco e vindas de amlias desavorecidas. O primeiro
é a PréEscola Perry, ue é um programa dirio de duas horas
e meia, durante o ano acadmico, no estado de Michigan,
nos EUA. O segundo é o “Abecedarian”, um programa de
horrio integral, durante os 12 meses do ano, no estado daCarolina do Norte. O terceiro também é um programa em
tempo integral, durante o ano acadmico, nas Ilhas Maurcio,
e oi oerecido para todas as crianas, carentes e as mais
avorecidas. O uarto programa é o Centro de Pais e Filhos
de Chicago, um programa dirio de trs horas, durante o ano
acadmico, no estado de Illinois, nos EUA. Ao contrrio dos
demais programas, este é implementado em uma grande
escala e atende às comunidades carentes de Chicago.
i) O Programa Perry
O projeto PréEscola Perry é um programa educacional
ue oi implementado em Ypsilanti, Michigan, nos EUA. O
tratamento constou de aulas dirias durante o ano escolar,
suplementado com uma visita semanal à casa do aluno pelo
1 Veja Cunha et al. (2006).
3. OS PROGRAMAS DE FORMAÇÃO DE CAPITALHUMANO NA PRIMEIRA INFâNCIA
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proessor. Todas as proessoras eram treinadas e certiicadas
para exercer a educao elementar e de primeira inncia.3
O estudo consiste em cinco coortes ue entraram no
programa durante o perodo de 1961 a 1965. Durante esses
anos, 123 crianas participaram do programa, sendo 58 no
grupo de tratamento e 65 no de controle. As crianas do
grupo de tratamento estavam matriculadas na Escola Perry
desde os trs anos de idade por um perodo de dois anos.
As crianas eram negras e provenientes de amlias muito
desavorecidas, o ue relete a realidade da populao de
Ypsilanti. Elas oram localiadas através de uma pesuisa com
as amlias ue eram de alguma maneira associadas à escola
local, assim como de indicao de pessoas da comunidade
e de um levantamento eito porta a porta. As crianas do
grupo de risco oram identiicadas através de um teste de
inteligncia e de um ndice de status socioeconômico.4 O nvel
de desenvolvimento socioeconômico oi calculado por uma
combinao linear com trs componentes: a ocupao dos
pais, o nvel educacional dos pais e o número de cômodos por
pessoa residente na casa da amlia.5 As crianas provenientes
de amlias com um nvel socioeconômico acima de certo
grau (ixado antes da execuo do programa) oram excludasdo estudo.
Sobraram, ento, 123 crianas negras. Dessas, 58 crianas
oram selecionadas aleatoriamente para receber o tratamento.
As demais, 65 crianas, oram alocadas ao grupo de controle,
o ue providenciou aos pesuisadores uma reerncia
adeuada para avaliar os eeitos do programa préescolar.
O custo do programa, em dlares de 2006, oi por volta de
de mil dlares por criana participante.6 O programa coletoudados detalhados das crianas, tanto no grupo de controle
uanto no de tratamento, anualmente dos trs aos 15 anos,
assim como aos 19, 27 e 40 anos de idade.
2 O ano escolar tem duração de 30 semanas, começando em outubro eterminando em maio.
3 Schweinhart et al. (1993) argumentam que a certicação dos proessores éum componente importante para o êxito do Perry.
4 O nível de inteligência, ou desenvolvimento cognitivo, oi medido pelo testede Stanord-Binet, que tem média 100 e desvio padrão 15.
5 O número de cômodos per capita é uma variável que aproxima a riqueza daamília.
6 É importante ressaltar que a maior parte desse custo é de mão de obra, que él ti t i EUA d B il
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relativamente mais cara nos EUA do que no Brasil
Durante o perodo do experimento, cada classe de préescola
tinha entre 20 e 25 alunos com trs ou uatro anos de idade.
A primeira coorte oi admitida com crianas de uatro anos
de idade e ue receberam apenas um ano de tratamento. A
última coorte recebeu o tratamento junto com um grupo de
crianas de trs anos de idade ue no a parte do estudo.
As aulas ocorriam todos os dias da semana por 2,5 horas
por dia durante o ano escolar. De proessoras ocuparam
as uatro vagas de ensino necessrias, ao longo do estudo,
resultando em uma média crianaproessor na rao de 5,7
para o perodo de durao do programa. Todas j tinham sido
proessoras em escolas públicas.
Durante o programa, as proessoras visitavam a casa das
crianas uma ve por semana por 1 hora e meia. O propsitoda visita era para envolver as mes no processo educacional
de seus ilhos e para ue estas também implementassem o
currculo em casa.7 Para incentivar a participao das mes,
as proessoras também ajudavam com uaisuer outros
problemas amiliares. Por exemplo, muitos proessores
ensinavam os pais a obter ajuda governamental caso a
criana ou alguma outra pessoa na amlia precisasse de
algum tratamento médico. Ocasionalmente, essas visitas
eram substitudas por passeios instrutivos, como uma idaao oolgico.
O programa desenvolveu um currculo piagetiano de
aprendiado ativo, ue é centrado em jogos e brincadeiras
baseados em solues de problemas e guiados por perguntas
indiretas.8 As crianas so incentivadas a planejar, executar e
reletir sobre as suas prprias atividades. Os tpicos no currculo
eram baseados em atoreschave de desenvolvimento
cognitivo relacionados ao planejamento, expresso ecompreenso. Esses atores oram organiados em de
categorias tais como “representao criativa”, “classiicao”
(reconhecimento de similaridades e dierenas), “números”
e “tempo”. Esses princpios educacionais oram baseados
nos tipos de perguntas indiretas eitas pelas proessoras. Por
7 Schweinhart et al. (1993).
8 Um exemplo de pergunta direta é “Você tem um bom relacionamento com oseu pai?”. A mesma pergunta pode ser eita indiretamente da seguinte orma:“Por avor, diga-me como é o seu relacionamento com o seu pai”. As perguntasdiretas incentivam uma resposta curta e simples. As perguntas indiretasincentivam uma resposta mais elaborada, utilizando todo o conhecimento dapessoa que está respondendo. Além disso, as perguntas indiretas tendem a ser
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i d di S h i h l ( 993)
exemplo, “Me conte o ue voc e. Descrevame como voc
e isto”.9 O currculo oi apereioado ao longo do programa
e culminou com a aplicao sistemtica de princpios de
instruo ue eram essencialmente undamentados na teoria
de Piaget. Isto e com ue todas as atividades acontecessem
dentro de uma rotina diria estruturada para ajudar as
crianas a desenvolverem um senso de responsabilidade e a
desrutar oportunidades para independncia.
ii) O Programa Abecedarian
O projeto Abecedarian recrutou 111 crianas nascidas
entre 1972 e 1977, vindas de 109 amlias ue tiveram uma
elevada nota no ndice de alto risco.10 As amlias oram
matriculadas e a interveno comeou poucos meses aps onascimento. A seleo dos participantes teve como base mais
as caractersticas das amlias do ue as das crianas, como
no programa Perry. Praticamente todas as crianas eram
negras, seus pais tinham baixos nveis de escolaridade, renda,
capacidade cognitiva e nveis elevados de comportamento
patolgico. As crianas oram testadas para detectar se havia
retardamento mental. Setenta e seis por cento das crianas
viviam com somente um dos pais ou eram criadas pelos
avs. A idade das mes neste grupo era em média ineriora vinte anos, com de anos de escolaridade e qI de 85, ou
seja, um desviopadro abaixo da média de desenvolvimento
cognitivo normal para a idade da me. Foram ormados
uatro grupos de cerca de 28 crianas cada.
quando os bebs completaram seis semanas de idade,
eles oram distribudos aleatoriamente entre o grupo de
interveno préescolar e o grupo de controle. A idade
média de entrada oi de 4,4 meses. Aos cinco anos de idade,exatamente uando estavam prestes a entrar no jardim de
inncia, todas as crianas oram novamente distribudas
entre os grupos de tratamento e o de controle. Esta ase
durou até as crianas completarem oito anos de idade.
Ao inal havia uatro dierentes grupos: crianas ue no
soreram nenhuma interveno, crianas ue soreram
9 Schweinhart et al. (1993).
10 Para construir o índice de alto risco oram ponderadas a escolaridade do paie da mãe, a renda da amília, a ausência paterna, a existência ou não de umapoio amiliar para a mãe, indicação de problemas acadêmicos soridos pelosirmãos da criança, o uso de beneícios da seguridade social e o baixo nível deQI d i
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QI d i
uma interveno uando elas eram muito jovens, crianas
ue soreram interveno a partir dos cinco anos de idade
e auelas ue receberam o tratamento durante toda a sua
inncia. As crianas oram acompanhadas até os 21 anos
de idade.11
O Programa Abecedarian usou o mesmo currculo do
Programa Perry e por essa rao no iremos repetir os seus
detalhes. No entanto, o Abecedarian oi um programa mais
intenso do ue o Perry: ele oi conduido em tempo integral,
durante os 12 meses do ano. Na ase inicial existia um
proessor para cada trs crianas, mas este número cresceu
para uma rao de 6:1 com a continuao do programa. Por
uncionar em tempo integral durante todo o ano, o custo per
capita do Abecedarian oi de US$ 15.125 em dlares de 2006.
Durante os trs primeiros anos do ensino primrio, um
proessor aia visitas regulares às casas das crianas
envolvidas para reunirse com os pais e ajudlos na prestao
suplementar de atividades educativas em casa. Ele ornecia
um currculo de atividades individualmente planejado e
adaptado para cada criana e também servia como ligao
entre os proessores regulares e a amlia, interagindo com
estes a cada duas semanas. Ele também ajudava a lidar comoutras uestes ue poderiam melhorar a capacidade da
amlia de cuidar da criana, tais como encontrar emprego,
navegar pela burocracia das agncias de servios sociais e
transportar as crianas para consultas e compromissos.
Grande parte das crianas do grupo de controle oi matriculada
em creches e préescolas ue existiam na comunidade. Dessa
maneira, podemse interpretar os impactos do Programa
Abecedarian em relao à opo existente na época, ue eraa matrcula em creches. Como veremos adiante, as crianas
nas creches no se desenvolveram tanto uanto auelas ue
oram parte do programa de primeira inncia. As dierenas
nos resultados so muito grandes e podem ser explicadas
por uatro raes ue no so mutuamente exclusivas: (1)
os proessores nos programas de primeira inncia recebiam
treinamento intenso; (2) a rao crianaproessor era baixa;
(3) a estrutura curricular deu uma rotina de ensino estruturada
ue permitiu às crianas desenvolveremse plenamente; (4)
11 Os bebês no grupo de controle receberam uma órmula de leite em póorticada com erro e tantas raldas quanto necessárias, como incentivo para
ti ti i ã
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garantir sua participação
a visitao às casas dos pais pode ter incentivado um maior
envolvimento deles na educao dos seus ilhos. Esses uatro
componentes so partes undamentais de uma educao
de primeira inncia de ualidade e comum a todos os trs
projetos ue aui descrevemos.
iii) O Projeto de Saúde Inantil das Ilhas Maurício
Em 1972, oi implementado, nas Ilhas Maurcio, um programa
de educao de primeira inncia para estudar o impacto de
um ambiente estimulante no desenvolvimento cognitivo e
emocional das crianas. Nesse estudo, todas as crianas ue
haviam nascido entre os anos de 1969 e 1970 nas cidades
de Vacoa e quatreBorne poderiam participar do projeto. As
crianas no grupo de tratamento comearam a reuentara escola de primeira inncia aos trs anos de idade, entre
setembro de 1973 e agosto de 1974. As duentas crianas
ue participaram do projeto oram alocadas aleatoriamente
para um grupo de tratamento e um grupo de controle, cada
um com cem crianas.12
O programa de primeira inncia consistia em educao,
alimentao das crianas, exames médicos peridicos,
soluo de problemas comportamentais e de aprendiagem,exerccios sicos, e visitao amiliar para incentivar o
envolvimento dos pais no desenvolvimento das crianas.
Para implementar o programa, oram construdas nas duas
cidades das Ilhas Maurcio dois centros de educao de
primeira inncia. Estes dois centros oram administrados por
duas proessoras dinamaruesas com vasta experincia em
educao préescolar. Elas treinaram e supervisionaram em
tempo integral as proessoras originais das Ilhas Maurcio uede ato ensinavam as crianas. Cada escola tinha cinuenta
crianas, sete proessoras e duas assistentes das proessoras,
além de uma coinheira, um assessor administrativo e um
motorista. As salas de aula tinham em média um proessor
para cada grupo de 5,5 alunos.
As 14 proessoras e uatro assistentes oram selecionadas
entre duentas ue aplicaram para os empregos. Elas
passaram por um treinamento ue consistia em uatro
12 Os grupos de controle e tratamento eram idênticos no que tangeàs características das crianças em relação ao sexo, grupo étnico e
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d l i i i ló i R i l (200 )
componentes: (1) treinamento em educao de primeira
inncia; (2) treinamento em psicologia; (3) saúde sica;
(4) inormao sobre programas governamentais nas Ilhas
Maurcio para ajudar as amlias com seus diversos problemas.
O treinamento dos proessores continuou durante o perodo
de implementao do programa para apereioar e aumentar
o repertrio de atividades na escola.
A Tabela 1 mostra como eram organiadas as atividades
durante o dia. O desenvolvimento cognitivo das crianas
teve um componente de desenvolvimento verbal através de
sesses de conversao, canto e de nomeao de objetos.
As habilidades visuoespaciais oram incentivadas através
de jogos de construo de objetos ou uebracabeas.
A coordenao visuomotora oi desenvolvida através de
jogos com bola, danas, instrumentos musicais simples. A
criatividade oi trabalhada com atividades de desenho e
colagem e atividades teatrais. A memria das crianas oi
desenvolvida com jogos ou repasse de estrias lidas na sala
de aula. O desenvolvimento da percepo e dos sentidos oi
promovido com aulas de jardinagem e sesses temticas
sobre textura, sabor, cheiro, aparncia e ormato de tecidos,
plantas e alimentos.
Fonte: Raine et alii (2001).
Tabela 1Grade de Horrios
Horrio Atividade Horrio Atividade
9:009:30 Conversa sobre temas variados. 11:3012:00 Aula de música e canto.
9:3010:00 Jogos educacionais 12:0012:30 Almoo
10:0010:10 Alimentao: suco de ruta 12:302:00 Repouso
10:1010:30 Jogos educacionais 2:002:10 Alimentao: leite
10:3011:30 Desenvolvimento cognitivo. 2:104: 00 Exerccios sicos
Outro componente oi o ensinamento de higiene e saúde. As
aulas bsicas de higiene ensinavam como escovar os dentes,
lavar as mos antes das reeies etc. As crianas também
oram ensinadas a usar seus prprios pratos e utenslios
durante a alimentao. O programa nutricional na escola oi
estruturado com o ornecimento de um suco de rutas de
manh, um almoo ao meiodia e um copo de leite à tarde.Aps o almoo, as crianas dormiam por volta de uma hora
e meia.
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O programa também oerecia exames eitos por médicos
ue visitavam as escolas de primeira inncia uma ve a
cada dois meses e, caso necessrio, enviavam as crianas
para tratamento em hospitais ou clnicas especialiadas.
Além disso, aulas de educao sica oram dadas durante as
sesses na parte da tarde.
Caso uma criana exibisse um mau comportamento, a
brincadeira ou atividade era interrompida para ue ela
recebesse uma explicao sobre a rao pela ual auele
comportamento no era socialmente aceitvel. Houve
um esoro para ue as crianas no ossem socialmente
isoladas ou deixadas de lado. Certamente, no houve
punio sica. As sesses de conversao oram usadas para
trabalhar os conceitos de sentimento como amor e tristea.
Peuenas peas de teatro oram montadas para estimular
o desenvolvimento emocional das crianas. As sesses de
jogos promoviam o entendimento da importncia de se
seguir as regras. As crianas tinham um uniorme para tentar
inibir a ormao de grupos sociais entre as crianas.
Além das aulas normais, houve ainda um programa de reoro
onde as crianas com diiculdade de aprendiado recebiam
ateno única. Além disso, os proessores visitavam os laresdas crianas para ue eles pudessem estabelecer uma relao
prxima com os pais, aprender mais sobre o ambiente amiliar
e discutir uaisuer necessidades especiais ou problemas
comportamentais dos alunos. Os pais eram convidados para
uma reunio mensal com os proessores na escola.
iv) Os Centros de Pais e Filhos de Chicago
Os Centros de Pais e Filhos de Chicago (CPC) oram abertosem 1967 para servir crianas em 25 reas de extrema pobrea
na cidade de Chicago. Embora antigo, no houve coleta de
dados desde o comeo do programa. A coleta de dados
comeou com a gerao das crianas nascidas em 1980.
A participao no programa oi voluntria e 989 crianas
nascidas em 1980 oram matriculadas aos trs anos de
idade. Foram identiicadas 550 crianas ue poderiam ser
matriculadas no projeto, mas ue no oram. Ao contrrio dos
demais programas, a avaliao do CPC no oi experimental,e sim uase experimental.
O programa CPC tem uma estrutura similar ao do programa
P é E l P d
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P é E l P d
poucas dierenas entre eles. O CPC unciona trs horas por
dia durante o ano acadmico e também por seis semanas
durante o vero. As atividades so estruturadas e enatiam a
aprendiagem de linguagem e matemtica. Ao contrrio do
Programa Perry, ue usa o modelo de Piaget, o programa CPC
usa o método ônico para ensinar linguagem. No entanto,
o CPC tem menos proessores por aluno do ue o Perry:
enuanto este tem em média 5,7 crianas por proessora,
auele tem 8,5 crianas por proessora. Esse ato a com ue
o custo per capita do CPC seja de aproximadamente oito mil
dlares em dlares de 2006, sendo assim 15% mais barato do
ue o Perry.
A evidncia gerada pelos projetos Perry, Abecedarian, Saúde
Inantil das Ilhas Maurcio e CPC comprova, entre outras
coisas, ue os participantes oram mais propensos a concluir
o ensino médio e tornaramse menos propensos a participar
em atividades relacionadas ao crime e delinuncia.
No Projeto Perry as crianas ue participaram do programa
oram acompanhadas até os 40 anos de idade, enuanto no
Abecedarian e CPC elas oram acompanhadas até os 21.13 Os
trs programas tiveram eeitos signiicativos na dimenso
educacional.14
Como mostra a Figura 3, enuanto 45% dosparticipantes no grupo de controle concluram o ensino
médio, o mesmo percentual para o grupo de tratamento
no Programa Perry oi de 66%. Essa dierena é estatstica e
economicamente signiicativa. Os números para o Projeto
Abecedarian so similares: enuanto 51% do grupo de
controle chegaram ao im do ensino médio, o mesmo
percentual para o grupo de tratamento oi de 67%.
Os trs programas reduiram a necessidade de educaoespecial e contriburam em muito para a reduo do problema
de repetio escolar. Uma inormao interessante ue no
mostramos na Figura 3: na avaliao do Projeto Abecedarian,
percebeuse ue enuanto apenas 13% das crianas no grupo
de controle concluram o ensino superior, um percentual
uase trs vees maior no grupo de tratamento conseguiu o
diploma universitrio.
13 A evidência descrita aqui oi primeiramente apresentada por Barnett (2004).
14 Pelo que sabemos, não houve mensuração sobre impactos educacionais no
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j d úd d C i Ilh M í i
O Projeto Perry, o CPC e o Projeto nas Ilhas Maurcio tiveram
impactos ortes na reduo da participao em crimes
relacionados, entre outros, ao comércio de drogas ilegais,
roubo, homicdio e estupro para os meninos.15 Enuanto 44%
dos meninos no grupo de controle oram condenados e presos
por este tipo de crime, o mesmo número para os meninos no
grupo de tratamento oi de 28%. O Projeto nas Ilhas Maurcio
encontrou eeitos similares: no grupo de controle, 36% dos
participantes oram condenados por algum tipo de crime
enuanto ue, no grupo de tratamento, esse número oi de
aproximadamente 23.6%.16 No CPC, 25% dos jovens ue no
participaram do programa j tinham sido presos pelo menos
uma ve até os 21 anos de idade. O mesmo percentual para o
grupo ue recebeu o tratamento oi 30% menor.
Os programas de primeira inncia previnem ue crianas
se tornem pessoas violentas. Hoje sabemos ue o
comportamento antissocial pode ser classiicado de acordo
com a ase da vida onde ele surge: antes da puberdade (durante
a inncia) e aps a puberdade (durante a adolescncia).17 O
comportamento violento ue surge na inncia ocorre com
baixa reuncia na populao, mas se trata de um problema
sério: tais crianas exibem um comportamento violento com
as demais crianas e uma crueldade extrema com os animais.O comportamento antissocial ue surge na adolescncia
tende a ser mais comum, mas também menos extremo. A
maior parte desses adolescentes tende a cometer peuenos
roubos e urtos e a mentir para os pais e proessores.
O comportamento antissocial ue surge durante a inncia
est intimamente associado com déicits neuropsicolgicos
(capacidade intelectual subdesenvolvida) e pouco
envolvimento dos pais com os ilhos durante os primeirosanos de vida.18 Dessa maneira, os programas de primeira
inncia reduem a criminalidade, pois eles elevam o
desenvolvimento intelectual das crianas, prevenindo, assim,
o aparecimento de comportamento antissocial na inncia.
15 Esse tipo de crime não é praticado pelas meninas no grupo de controleou no grupo de tratamento. Entretanto, para as meninas, o Programa Perry
reduziu em quase 50% o número de condenações por crimes associados aovandalismo, à prostituição e a outros tipos de crimes menores.
16 Veja evidência em Raine et al. (2003).
17 Veja Patterson et al. (1989) e Mott (1993).
18 Veja Mott (1993) e Raine et al. (1994).
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Embora esses programas sejam caros, eles traem benecios
muito superiores aos custos. A evidncia mostra ue, para
cada dlar investido no Programa Perry, o retorno estimadopara a sociedade oi de US$9. Cada dlar investido no
programa CPC produiu um retorno de aproximadamente
US$7. Para o Programa Abecedarian, o mesmo número oi de
US$2,5.19
Uma Metodologia para Avançar na Solução dos Problemas
Este artigo resume a evidncia internacional produida por
dierentes campos das cincias biolgicas e cincias sociais
sobre a importncia da educao ue ocorre na idade mais
tenra. Como vimos, os programas ue encontram impactos
no aumento da escolaridade e reduo da criminalidade
tm uatro caractersticas em comum: (1) os proessores
nos programas de primeira inncia recebem treinamento
intenso e especico; (2) uma baixa rao crianaproessor,
ue permite uma ateno pessoal à criana; (3) uma estrutura
curricular ue ornece uma rotina de ensino estruturada; (4)
um componente de visitao nas casas para gerar um maior
envolvimento dos pais na educao dos seus ilhos. Para
ue as crianas carentes tenham as mesmas oportunidades
das mais avorecidas, devemos instituir programas ue no
tenham como princpio substituir a amlia, mas ue busuem
envolvla em todo o processo.
A existncia de um programa de primeira inncia de
ualidade para a populao carente é uma condionecessria, mas no suiciente, para avanarmos em direo a
19 As estimativas para os programas Perry e Abecedarian são de Barnett eMasse (2007). A onte para as estimativas do programa CPC é Reynolds et al.
Fonte: Barnett (2004).
Figura 3
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(2002)
uma sociedade mais educada, igualitria e, sobretudo, menos
violenta. A ormao de capital humano comea na idade
mais tenra e prossegue ao longo da vida. Precisamos estudar
o ue aer para melhorar a ualidade das escolas. No Brasil
atual, vrios programas so implementados em larga escala
sem ualuer contrapartida de avaliao. Mesmo uando h
avaliao, os resultados so pouco diundidos. Essa dinmica
impede a criao de um conjunto de evidncia ue nos
permita aprender com as experincias passadas, tenham sido
elas boas ou ruins.
O modelo a ser seguido deve ser outro. Devese criar uma
cultura de coleta de dados ue permita acompanhar o
desenvolvimento inantil do perodo prénatal até a ase
adulta. Estes dados devem ter inormaes detalhadas sobre
o ambiente amiliar, o status intelectual e emocional dos pais,
os recursos ue as amlias dispem para investir na educao
dos ilhos e as caractersticas das escolas e dos proessores
com uem as crianas passam boa parte do tempo. Muitos
pases desenvolvidos e alguns viinhos latinoamericanos
j coletam esse tipo de dados e os usam para saber mais a
respeito do desenvolvimento de suas crianas. J passou da
hora de comearmos a aer o mesmo.
Além disso, os projetos criados com o intuito de melhorar
a educao devem ser primeiramente implementados em
peuena escala e avaliados. A implementao em peuena
escala permite apereioar a execuo do programa antes
de repliclo em larga escala. É necessrio ue esses projetos
sejam sistemtica e objetivamente avaliados: (1) uanto custa;
(2) uais os benecios; (3) ual a parcela da populao ue se
beneicia mais; e, inalmente, (4) ual a populao ue no
se beneicia. Esta inormao ser valiosa para decidir uaisprojetos devero ter prioridade para serem implementados
em escala nacional. Somente com esse conhecimento
poderemos colocar em prtica polticas públicas ue iro
aumentar a ualidade da educao e reduir a violncia na
nossa sociedade.
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quo eicaes so as intervenes eitas na adolescncia?
É possvel remediar as conseuncias de negligncia e
abandono nos primeiros anos? Estas uestes so pertinentes,
pois é possvel ue vrias crianas no estejam recebendo osinvestimentos timos durante a inncia. A evidncia mostra
ue intervenes eitas durante a adolescncia produem
benecios ue so mais reduidos do ue aueles obtidos
com as intervenes ue ocorrem durante a inncia.
Iremos discutir brevemente o ue é conhecido sobre
intervenes desenvolvidas nas escolas. Alguns estudos
recentes sobre “Big Brothers/Big Sisters” (BB/BS) e “Patrocine
um Estudante” tm demonstrado ue estes programas tm
amplo impacto social e acadmico sobre as crianas e os
adolescentes participantes. No programa BB/BS, adultos
voluntrios so emparelhados aleatoriamente com ilhos de
mes solteiras com a inalidade de ornecer uma amiade
adulta e responsvel ao menor. O objetivo desta amiade
é promover o desenvolvimento do jovem. No oi eita
nenhuma tentativa especica de melhorar deicincias
especicas ou alcanar metas educacionais. Tierney et al.(1995) mostrou ue 18 meses aps a introduo da igura do
um mentor, os participantes, ue tinham idades de de a 16
anos na época, tornaramse menos propensos a iniciar uso de
drogas ou lcool, agredir alguém, altar aula ou mentir para
a me. As suas notas melhoraram e eles passaram a se sentir
mais competentes em seu trabalho escolar.
A principal meta do programa “Patrocine um Estudante” oi
ajudar os estudantes de escolas públicas secundrias dacidade de Filadélia a chegar à universidade. O programa previa
reoro escolar através de um tutor por vrios anos (durante
o ensino médio e um ano aps a graduao), ajuda para as
despesas com os preparativos para a universidade. Mentores
individuais incentivaram, apoiaram e acompanharam o
progresso do estudante. O programa previa ainda uma ajuda
inanceira de US$ 6 mil durante o perodo em ue estivessem
matriculados em cursos credenciados em uma universidade.
Usando uma amostra similar de jovens ue no participaramdo programa, Johnson (1996) encontrou um impacto nas
notas do segundo e terceiro anos do segundo grau e aumento
de 22% no ingresso à universidade um ano aps a graduao
da escola secundria
4. AS INTERvENÇõES NA ADOLESCêNCIA
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da escola secundria
O “quantum Opportunity Program” (qOP) oereceu à minoria
desavorecida assessoramento e incentivos inanceiros
(US$1 para despesas imediatas e US$1 depositado em
uma poupana para a universidade), para cada hora
gasta pelos estudantes em atividades relacionadas a
investimentos em capital humano. Os alunos, ue oram
sorteados aleatoriamente para participar do programa,
oram designados a um mentor no incio da primeira série
do segundo grau. Todos os participantes oram mantidos
no programa por uatro anos, independentemente de
sua permanncia na escola. Durante este perodo, os
participantes tiveram em média 1.286 horas de atividades
educativas. O programa aumentou em 33% a graduao
no ensino médio. A taxa de deteno para os participantes
do programa oi metade dauela dos no participantes.
Esses benecios no vieram sem ue se gastasse bastante
dinheiro: a média por estudante nos uatro anos oi de de
mil e uinhentos dlares por participante. Ainda assim,
uma anlise custobenecio estima um ganho social
luido positivo com o programa qOP (Taggart, 1995).
Novamente, a evidncia mostra ue o qOP e programas
como ele podem melhorar drasticamente as competncias
sociais e a adaptao dos adolescentes à sociedade. Mas
esses programas no produem milagres. Numa avaliaorecente do qOP por Maxiel e Schirm (2003) encontrou
se ue os eeitos do programa sobre comportamentos
de risco oram ambguos. Também oi mais eica para os
adolescentes das séries intermedirias do ue para aueles
das primeiras ou últimas séries elegveis para a interveno.
Houve grande variabilidade nos eeitos estimados do
programa por localidade.
Dois outros estudos ornecem provas adicionais de ueprogramas criativos, projetados para manter adolescentes
na escola, podem ser eicaes. O programa “Ohio’s Learning,
Earning, and Parenting” (LEAP) e o programa “Teenage
Parent Demonstration” (TPD) proporcionaram incentivos
inanceiros para os pais de adolescentes para ue estes
icassem ou voltassem para a escola. O programa LEAP
apresentou aumento nas taxas de graduao do ensino
médio dos adolescentes ue ainda estavam matriculados na
escola uando eles entraram no programa. No programa TPDos resultados no oram muito claros, houve divergncias
de acordo com a localiao. Tanto o LEAP uanto o TPD
apresentaram eeitos positivos sobre os rendimentos e
empregabilidade dos participantes ue ainda estavam
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empregabilidade dos participantes ue ainda estavam
na escola uando os programas comearam. Os eeitos
estimados eram muitas vees negativos, mas para os
participantes ue j tinham sado da escola antes do incio
dos programas.
A literatura disponvel sobre escolaridade demonstra ue
oerecer a estudantes desavorecidos incentivos inanceiros
para permanecer na escola e participar nas atividades de
aprendiagem escolar pode aumentar seu tempo na escola
e melhorar sua empregabilidade no uturo. Devese notar
ue, embora tais programas tm comprovado sua inluncia
positiva sobre emprego e salrios (e, no caso do qOP, reduir
a criminalidade), eles no produem milagres. Embora
positivos, os impactos so modestos e os custos so altos.
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5.CONCLUSÃO
Este artigo resume a evidncia sobre a ormao de capital
humano ao longo do ciclo de vida. A literatura mostra ue é
possvel compensar parcialmente os ambientes adversos na
amlia. A evidncia de estudos experimentais em matéria de
interveno de programas dirigidos a crianas desavorecidas
sugere ue é possvel eliminar algumas das lacunas devido à
desvantagem inicial. quando adultas, as crianas geralmente
aduirem maior escolaridade e so menos propensas a
participar de atividades criminosas ou violentas. Intervenes
preventivas tm alto retorno econômico.
A reabilitao mais tardia é possvel, porém mais custosa. A
remediao através de programas destinados a combater
deicits cognitivos tem um pobre desempenho histrico.
Em termos do modelo econômico apresentado na segunda
parte do artigo, esta evidncia é coerente com alguma
complementaridade do investimento ao longo do ciclo de
vida e uma importncia preponderante para os investimentos
ue ocorrem nos perodos mais tenros da inncia.
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Autores:
Erasmo Barbante Casella ([email protected]),
Edson Amaro Jr. ([email protected]) eJaderson Costa da Costa ([email protected])
AS bASES NEURObIOLóGICAS DA APRENDIZAGEMDA LEITURA
I. Introduo
II. Objetivos
III. Métodos de estudo
a. Observaes da patologia humana e
experimentao em animais
b. Estudos Funcionais: Ressonncia MagnéticaFuncional Tomograia por Emisso de Psitrons e
Magnetoencealograia.
IV. Neuroplasticidade e Aprendiagem
V. Desenvolvimento das estruturas encelicas
envolvidas com a aprendiagem, leitura e linguagem.
VI. A capacidade da leitura est relacionada a regies
especicas do cérebro
VII. Leitura e momento de ativao das dierentes
regies cerebrais durante a leitura
VIII. Estgios iniciais do aprendiado da leitura
a. Processamento onolgico
b. Processamento ortogrico
c. Processamento semntico
IX. Neurobiologia e métodos de ensino da leitura
A presente reviso oi realiada com base em estudos
publicados em revistas internacionais conceituadas, sendo
organiada em nove partes:
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A auisio da capacidade de eetuar uma leitura eiciente
é undamental para o progresso de uma cultura. Um dos
maiores problemas do Brasil e provavelmente o mais grave
é o péssimo status educacional da populao, e isto tem
sido demonstrado repetidamente por meio das avaliaes
do Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica
(SAEB), divulgadas pelo Ministério da Educao. No muito
dierente dos anos anteriores, os resultados do SAEB para
o ano de 2005 apontam ue 59% das crianas inaliaram
o uarto ano do ensino undamental sem ter aduirido
um grau de alabetiao raoavelmente adeuado. Esses
dados podem ter alguma relao com problemas sociais
do pas, todavia so maiores ue aueles observados em
pases de nvel socioeconômico semelhante, e com certea
também tm relao com a uantidade e tipo de instruo
oerecida, de acordo com as avaliaes eetuadas pelo
Programa Internacional de Avaliao de Alunos (PISA do
ingls Programme or International Student Assessment ;
http://www.oecd.org/dataoecd/30/17/39703267.pd), ue
avalia estudantes de 15 anos de idade, comparando osresultados em testes de matemtica, leitura e cincias. Estas
avaliaes ocorrem a cada trs anos, e, nos exames de 2009,
os alunos brasileiros obtiveram médias ue os colocam na
53ª posio, entre 65 pases [1]. Atuaes ue possam ajudar
a minimiar este tipo de problema, obviamente, so de
carter multidisciplinar e implicam atuao dos mais diversos
segmentos da sociedade.
Dierentemente da ala ou da marcha, a auisio dacapacidade de leitura corresponde a um processo de
complexas adaptaes do sistema nervoso, ue necessitam
de estimulao e orientao externa, ocorrendo de modo mais
lento ue outros padres citados, os uais se desenvolvem
de modo muito menos dependentes do ambiente externo
[2]. Na realidade, a aprendiagem da leitura é baseada no
reconhecimento ue smbolos representam unidades ue
uando agrupadas ormam palavras, e a auisio deste
conhecimento tornase mais cil, uando estas palavras j so de conhecimento prévio do aprendi. A unidade da
escrita conhecida como graema é o correspondente da
unidade sonora, denominada onema, e esta conscincia é
undamental na auisio da leitura [3] Esta capacidade é
I. INTRODUÇÃO
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undamental na auisio da leitura [3] Esta capacidade é
denominada conscincia onolgica e est presente de orma
estvel em crianas a partir dos cinco anos de idade [2, 4].
Este tipo de percepo representa um passo inicial para o
desenvolvimento da capacidade da leitura e est associado
à ativao e desenvolvimento de circuitos neurais em regies
especicas do cérebro, ue desde a idade préescolar j se
mostram presentes, localiandose principalmente em reas
do hemisério cerebral esuerdo [58]. Salientamos ue a
auisio da leitura est também relacionada logicamente
a outras capacidades como a ateno e memria, ue no
sero abordadas de modo destacado neste documento.
Todo o processo de auisio de ualuer inormao pelo
cérebro passa pelos caminhos sensoriais ue permitem
“captar” as ualidades do mundo externo e transmitilas ao
sistema nervoso central. O processamento central ocorre em
vrios nveis de integrao, mas, certamente a integrao
sensriomotora cortical é undamental para os mecanismos
perceptuais. A extensa rea cortical humana responsvel
pela associao de inormaes sensitivosensoriais permite
dar sentido às inormaes ue recebemos do ambiente ou
ue geramos internamente. É o “cérebro” podendo pensar,
conhecer, comunicar e decidir [9, 10].
O cérebro humano é estruturado por sistemas complexos
bem organiados. No cognitivismo computacional, o cérebro
é metaoricamente entendido como um dispositivo ue
unciona à semelhana de um computador ue processa a
inormao de entrada (input ) e emite respostas adeuadas
(output ). Entretanto, esta concepo simpliicada no
considera as complexas conexes crticocorticais e crtico
subcorticais, bem como as vias de associao interhemiséricas
e o processamento paralelo multi e intersegmentar. O crtexcerebral e o tlamo esto interconectados por uma extensa
via de projees excitatrias (conexes crticosubcorticais)
ue mantém a reverberao autossustentada associada aos
processos sensoriais, cognitivos, emocionais e motores [10].
Entendese por reverberao a automanuteno de uma
atividade num circuito neuronal aps um estimulo transitrio
[11], e ue é undamental para a gerao e persistncia do
processo cognitivo. Os processos neurobiolgicos ue
participam do processo de aprendiagem oram estudadosem animais de experimentao, destacandose os processos
de auisio e armaenamento da memria, desempenho
em determinadas tareas e aprendiado espacial. Nas últimas
décadas o desenvolvimento tecnolgico disponibiliou
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décadas o desenvolvimento tecnolgico disponibiliou
novos instrumentos ue permitem avaliar de maneira
no invasiva as unes neurolgicas em seres humanos.
Assim, tornouse possvel com a utiliao da tomograia
de emisso de psitrons (PET, do ingls positron emission
tomography ), da ressonncia magnética uncional (RM) e da
magnetoencealograia (MEG), avaliar a ativao das reas
cerebrais envolvidas na execuo de determinadas tareas. O
aporte de novas tecnologias e a investigao interdisciplinar
permitiram um importante progresso nos conhecimentos
cienticos dos processos de aprendiagem da leitura e escrita.
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O objetivo do grupo de Neurocincias, convidado pela
Academia Brasileira de Cincias, é atualiar e divulgar
os conhecimentos de como o cérebro atua durante o
processo de aprendiado da leitura, de modo ue esses
dados possam ter um papel signiicativo como aliado dos
educadores, no sentido de acilitar o ensino, seja na escolha
de determinada estratégia de ensino, seja na mudana da
opo escolhida, uando diante de alunos ue, por causas
diversas, possam apresentar limitaes em um determinado
tipo de aprendiado. Nossa inteno é de aproundar a
undamentao neurobiolgica, permitindo ampliar a base
de documentos nacionais disponveis para uma relexo
crtica dos processos de aprendiagem da leitura e escrita.
II. ObjETIvOS
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a. Observações da patologia humana e experimentação em
animais.
A observao de pacientes com leses ocais cerebrais oi
durante muito tempo a única janela para o conhecimento do
cérebro e constitui o método neuropatolgico ou antomo
clnico baseado na constatao de ue as leses cerebrais
podem determinar deicits uncionais perceptuais, motores, ou
cognitivos. Por outro lado, estudos experimentais de ablao
ou estimulao cortical em animais permitiram a correlao
antomouncional [10]. Embora o cérebro humano seja uma
estrutura complexa composta por reas com unes bem
determinadas, lembramos ue geralmente existem muitas
interconexes entre dierentes reas cerebrais, ue diicultam
as interpretaes de experimentos, os uais, muitas vees no
so idedignamente representativos das situaes reais [12
15]. Devemos ter em mente ue os experimentos de ablao
ou as leses cerebrais representam em verdade a perda de
uma rea uncional do cérebro, ue também interrompe
a conexo com outras reas do sistema nervoso central,
promovendo, portanto, no s a perda da uno relacionada
à regio lesada, mas também à desconexo do circuito
envolvido nauela uno. Assim, as leses podem conirmar
a “necessidade”, mas no a “suicincia” de uma determinada
regio cerebral. Além disso, estes “mapas” ue dispem
as unes cerebrais relacionadas a regies especicas do
cérebro como se este osse um mosaico de unes expem
limites precisos entre estas reas uncionais, o ue nem
sempre corresponde à realidade [10, 16]. As reas cerebrais j mapeadas nem sempre correspondem a representaes
uncionais uniormes ou precisamente delimitadas, podendo
haver superposies uncionais [12, 16]. Algumas unes no
icam limitadas a ronteiras rgidas, como é o caso das unes
cognitivas ue dependem de amplas reas do cérebro e de
conexes e associaes entre elas. O processo de inormao
central também envolve os mecanismos atencionais, de
memoriao e aetivos relacionados à motivao.
III. MéTODOS DE ESTUDO
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b. Estudos Funcionais: Ressonância Magnética
Funcional, Tomograia por Emissão de Pósitrons e
Magnetoencealograia.
Para estudos diretamente relacionados à investigao das
unes cerebrais, a ressonncia magnética uncional (RM)
tem sido a técnica de escolha. A RM se sustenta nos mesmos
princpios sicos da ressonncia magnética (RM), ue
permitem a construo de imagens tomogricas detalhadas
do cérebro. A molécula de hemoglobina completamente
desoxigenada possui uma susceptibilidade magnética
aproximadamente 20% maior do ue a hemoglobina
completamente oxigenada [17]. O contraste entre as
imagens com sangue oxigenado e com sangue venoso oi
posteriormente denominado “contraste BOLD” (do ingls,
Blood-Oxygenation-Level Dependent ) e é utiliado em exames
de rotina de RM. O aumento da atividade neuronal decorrente
de determinada tarea ou ao realiada pelo sujeito causa
um discreto aumento da extrao de oxignio pelos tecidos
e um grande aumento da peruso cerebral regional. Por
conseuncia, ocorre um aumento da concentrao de
oxihemoglobina em relao à desoxihemoglobina, o ue
inalmente determina aumento do sinal T2*. O desaio tem
sido superar as suas limitaes técnicas: a) O sinal BOLD éraco. A variao de sinal na prtica em tareas motoras (ue
tipicamente produem os sinais mais intensos) é da ordem
de 0,53% na maior parte dos euipamentos atualmente
instalados; b) É uma medida indireta de atividade neuronal,
e o mecanismo ue correlaciona às variveis de atividade
neuronal e de intensidade de sinal BOLD ainda no é
completamente entendido; c) Tanto o movimento de cabea
como o rudo dentro do aparelho de RM comumente causam
arteatos; d) Ainda existe grande variabilidade inter eintrassujeitos [18, 19] maior ue entre os euipamentos de
RM [20]. Para superar todas essas diiculdades, pesuisadores
passaram a aplicar métodos estatsticos à RM, de orma
semelhante à j realiada em estudos de PET. A orma
de lidar com as incerteas listadas acima passou a ser a
obteno de muitas imagens do cérebro em dierentes
“estados” ou “condies”, organiados em “paradigmas”, para
ue a dierena entre elas pudesse ser estatisticamente
determinada [21]. O mais simples desses paradigmas é o“paradigma em bloco”. No paradigma em bloco, duas ou mais
condies so comparadas em uma mesma seuncia através
de dois ou mais blocos. Sujeitos podem alternar blocos de
tarea propriamente dita (como mexer a mo por exemplo)
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tarea propriamente dita (como mexer a mo por exemplo)
com blocos de controle. As imagens obtidas durante cada
um dos tipos de blocos podem ento ser comparadas
estatisticamente [17]. Os estudos com RM detectam reas
de ativao como parte de uma complexa rede neural: no
devemos incorrer nos mesmos erros anteriores e construir
uma “nova renologia” baseada num “mosaico” uncional sem
interpretarmos a participao das conexes amplas entre as
reas corticais e subcorticais [10]. Os exames com capacidade
de avaliao de alteraes hemodinmicas e metablicas
como a RM e o PET permitiram uma localiao muito precisa
destas regies cerebrais envolvidas no ato da leitura.
Por outro lado, técnicas de medicina nuclear com o uso de
PET ou SPECT (do ingls, Single Photon Emission Computed
Tomography ) oram inicialmente utiliadas, e hoje ainda
o so, mas apenas em algumas aplicaes especicas,
para avaliar alteraes metablicas (ex. PET) ou de luxo
sanguneo (ex. SPECT), associado ao aumento de atividade
neural [22]. Atualmente essas técnicas so mais utiliadas
em estudos de neuroimagem molecular, ue mostram o
estado e disponibilidade de receptores ou transmissores
neurais. Dessa maneira, temos a possibilidade de investigar
os componentes umicos e ultraestruturais do cérebro de
maneira especica.
O PET permite obter imagens tridimensionais de processos
uncionais no ser vivo. Certas substncias so emissoras
de psitrons, e, por sua ve, uando um desses é emitido
imerso na matéria, ele viaja uma peuena distncia e ento
interage com um elétron do meio. A interao de matéria
com antimatéria resulta na completa aniuilao de ambas
as partculas. Devido à conservao de energia e momento,
suas massas so convertidas em um par de tons ue viajamem direes opostas. A deteco simultnea desses ótons
emitidos indiretamente pelo radioistopo (radiotraador)
emissor de psitrons torna possvel a produo de imagens
tomogricas. Assim, uando introduimos no corpo
uma molécula emissora de psitrons e biologicamente
ativa, o sistema detecta esse par de tons e as imagens
da concentrao do radiotraador ue é introduido no
corpo so reconstrudas por anlise computadoriada. Se
a molécula biologicamente ativa escolhida para o PET or a18Flúordeoxi2glicose (18FDG), um anlogo da glicose, as
concentraes do radiotraador expressam a atividade do
tecido em termos de captao regional da glicose. quando
se uer por exemplo estudar a uno de determinados
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se uer por exemplo estudar a uno de determinados
receptores cerebrais, so usados radiotraadores ue se
ligam uimicamente a esses receptores. Normalmente esses
radiotraadores se distribuem em proporo direta com
o luxo sanguneo ou o consumo de glicose no cérebro,
os uais representam medidas iéis do uncionamento
cerebral regional. Atualmente temse usado radiotraadores,
antagonistas de tipos especicos de receptores cerebrais oubloueadores présinpticos. Esses novos radiotraadores
permitem a construo de imagens tomogricas de PET
e SPECT ue correspondem à distribuio muito especica
tanto de receptores [23, 24] uanto neurotransmissores
[25]. Assim, é possvel mapear os terminais présinpticos
dopaminérgicos, os receptores dopaminérgicos D1 e D2,
os receptores serotonérgicos 5HT1Ae 5HT2, os receptores
GABAérgicos, colinérgicos e dos opioides, entre outros. O
PET no mostra as regies anatômicas to bem uanto a RM
[26], mas é excelente para mapear a expresso metablica
associada à atividade cerebral. A utiliao dessas técnicas
permite avaliar o estado “umico” ou ultraestrutural em
pacientes ou indivduos em desenvolvimento e podem
contribuir principalmente para o entendimento dos
mecanismos bioumicos cerebrais, e assim investigar a
inluncia de medicaes ou de terapias de interveno em
aprendiado ou distúrbios de desenvolvimento.
A magnetoencealograia (MEG) analisa as correntes
elétricas e os campos magnéticos gerados pelo luxo de ons
intra e extracelulares nos circuitos neurais envolvidos em
uma determinada atividade, ue so interpretados como
potenciais evocados, na orma de ondas [27]. Esse tipo de
avaliao permite uma preciso temporal única para o ato
sendo analisado, alem de produir vetores direcionais a
respeito do luxo magnético, o ue a diere, entre outraspropriedades, da eletrencealograia. Os estudos uncionais
com MEG baseiamse em aplicar tareas e avaliar a variao
do campo elétrico e magnético relacionados a esses eventos.
A técnica tem excelente resoluo temporal, permitindo
seguir a seuncia de participao de cada rea cerebral na
ordem de milissegundos de preciso. H diiculdades, porém,
em registrar atividade cerebral prounda e de localiao
espacial. Para a localiao anatômica do sinal medido na
MEG, so realiados mapas de probabilidade onde o resultadoda MEG é mostrado em imagens do encéalo obtidas por RM,
estimandose as regies ue potencialmente seriam a onte
do sinal medido (Mapeamento por MEG). Essa localiao
espacial tem portanto alguma parcela de impreciso
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espacial tem portanto alguma parcela de impreciso
A Figura 1 demonstra a anlise temporal da leitura, através
de dados obtidos pela MEG em uma criana com risco
para dislexia, demonstrando o papel deste exame, ue
acoplado aos dados anatômicos da RM permitiro uma
interpretao mais adeuada do ue realmente ocorre em
situaes especicas.
Desta maneira, as dierentes técnicas de imagem cerebral
so hoje complementares. Podese pensar ue a preciso
espacial (a capacidade de dier o local), é mais precisa
uando se utilia a RM, e a preciso temporal (a capacidade
de dier uando) é mais precisa através da MEG. Técnicas de
SPECT e PET nos ajudam a entender a composio umica e
distribuio de receptores especicos em sinapses cerebrais,
mas ambas tm diiculdades tanto em preciso espacial,uanto temporal. Cabe ao neurocientista interpretar o grande
volume de inormao gerado dentro deste cenrio para
entender melhor um enômeno, reuentemente baseando
se em mais ue uma técnica (avaliao multimodal), e assim
chegar à resposta cientica.
Figura 1: Magnetoencealografadurante teste de decodifcaçãoonológica em crianças [28]. a)
de uma criança sem distúrbio deleitura e b) de uma criança comdistúrbio de leitura. A atividadedetectada após 200ms, querepresenta o momento inicial da decodifcação onológica,está representada em vermelhoe está claramente diminuídano hemisério esquerdo (LH) do paciente com dislexia, onde seobserva ainda maior ativaçãodo hemisério direito (RH).Modifcado de Papanicolau ecolaboradores 2003 [29] - A utilização da imagem oi autorizada pelo autor: PG. Simos.
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A Neuroplasticidade é a adaptao uncional/estrutural ue
minimia ou reverte os eeitos das alteraes estruturais
(lesionais) ou uncionais do sistema nervoso e ue também
permite a auisio do conhecimento. Este processo envolve
a (1) reparao [3034], a (2) reorganiao ou rearranjo
estrutural [30, 33, 34], a (3) sinaptognese reativa como o
denominado “brotamento” dos terminais axônicos [9, 35] e
(4) a neurognese [32, 3640]. Paralelamente a este processo
de reorganiao morouncional, ocorrem modiicaes nassinapses umicas, por perodos curtos ou longos (plasticidade
sinptica) para o ual concorrem modiicaes moleculares
intraneuronais e processos extrnsecos (ambientais) ue
também podem modiicar a uncionalidade neuronal [41
43]. O potencial de ao no terminal présinptico promove
a liberao do neurotransmissor na enda sinptica ue se
ir acoplar aos receptores da membrana pssinptica; da
interao do neurotransmissor com o receptor da membrana
pssinptica resultaro as trocas iônicas e a converso doenômeno umico em elétrico, com o aparecimento dos
potenciais pssinpticos. As modiicaes na eicincia da
transmisso sinptica, principalmente a potencialiao
de longa durao (LTP do ingls, Long-term potentiation),
acompanham os processos de aprendiado e de memria
[10, 42].
A plasticidade cerebral durante o processo de auisio
da leitura provavelmente indu outras modiicaes nocircuito neural envolvido com o aprendiado. Assim, as
unes de memria so armaenadas no hipocampo por
semanas ou meses e através do processo de consolidao
so transeridas e armaenadas no neocrtex temporal.
Durante este processo, as modiicaes nas conexes neurais
permitem ue se aprenda a solucionar novos problemas. Isto
é de extrema importncia para a memria, aprendiagem
e outras unes simblicas do cérebro demonstrando a
contnua plasticidade de alguns circuitos neurais com oaprendiado. Este processo é ortemente dependente de
atores neurobiolgicos, genéticos e ambientais/amiliares
[44]. Devese enatiar ue mesmo na idade adulta h
redistrib io das nes sensrio motoras dependentes
Iv. NEUROPLASTICIDADE E APRENDIZAGEM
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redistribuio das unes sensrio motoras dependentes
de treino. Assim, pacientes leitores com Braille, apresentam
maior representao sensorial e motora para a rea do
dedo indicador (dedo utiliado na leitura) uando avaliados
por estimulao magnética transcraniana (TMS do ingls
transcranial magnetic stimulation) e Potenciais evocados
somatosensoriais [45]. Em músicos de instrumentos de
corda ou teclado oi evidenciado aumento do sulco do
giro précentral como um correlato da expanso da rea
motora nestes indivduos e inversamente relacionado à
idade do incio deste treinamento musical [46]. Embora a
macroestrutura do encéalo seja relativamente constante,
a complexa microestrutura pode ser signiicativamente
modelada pelo ambiente antes do nascimento, durante o
desenvolvimento do indivduo e mesmo durante toda a sua
vida. A maioria dos estudos oram realiados com animais
de experimentao, principalmente com roedores, onde o
ambiente era enriuecido com objetos, estmulo à atividade
sica etc., evidenciando um melhor desempenho em
atividades de aprendiagem e no desenvolvimento cortical;
o mesmo é evidenciado uando se comparam animais com
adeuada disponibilidade de alimentos com aueles em ue
oi induida alguma deicincia [47]. Jacobs e colaboradores
(1993), estudando a rea de Wernicke obtidas de cérebro de
indivduos ue tiveram maior educao ormal, comparadocom aueles com menor nvel educacional, demonstraram
maior densidade de dendritos nos primeiros [48].
Nos organismos multicelulares, o genoma celular é
homogneo, mas pode sorer modiicaes com o
desenvolvimento. Estas modiicaes podem ocorrer devido
à expresso de determinados genes, ue ser transmitida
pela mitose. As modiicaes estveis so denominadas
de “epigenéticas” por poderem ser herdadas e no sodecorrentes de mutao do DNA. Nos últimos anos, dois
mecanismos moleculares relacionados com o processo
epigenético oram muito estudados: a metilao do DNA e as
modiicaes das histonas. Portanto, o processo epigenético
permite ao organismo responder a modiicaes do ambiente
pela expresso de determinados genes [49]. Estas pesuisas
reoram a importncia do ambiente e principalmente
do estmulo ambiental no desenvolvimento do cérebro
e conseuentemente da auisio do conhecimento,desenvolvimento de habilidades e do comportamento.
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V.A- Desenvolvimento de estruturas regionais
Nos dois primeiros anos de vida ocorre o desenvolvimento
mais acentuado do cérebro: o seu peso duplica, h aumento
importante do volume da substncia branca e do grau de
mieliniao e um aumento menor do volume da substncia
cinenta [50, 51]. Além disso, h aumento importante
do volume hipocampal [51, 52]. Até os oito anos de vida
ocorre um aumento lento do volume da substncia cinenta
prérontal ue depois se acelera entre oito e 14 anos [53].
A rpida ormao de sinapses iniciase nos primeiros
meses de vida psnatal e atinge o mximo de densidade
aproximadamente aos trs meses no crtex sensorial, e entre
dois e 3,5 anos no crtex rontal [54, 55]. É importante salientar
ue os cuidados dos pais, o ambiente, as interaes sociais
e aetivas etc. podem inluenciar este desenvolvimento.
Dados experimentais demonstram a inluncia ambientalna ormao sinptica e organiao cortical: animais ue
se desenvolvem em meio enriuecido apresentam maior
densidade sinptica em determinadas reas do cérebro
uando comparados com os animais ue se desenvolveram
em meios no enriuecidos [56].
V.B- Desenvolvimento do comportamento e aprendizagem
As bases neurobiolgicas para o desenvolvimentocomportamental e aprendiagem envolvem múltiplas
plataormas de investigao. A convergncia dos dados
de diversos grupos de pesuisa mostra um cenrio de
constantes mudanas, e ue atualmente est alicerado em
alguns achados com maior grau de reproduo entre os
pesuisadores.
O sistema de linguagem é composto por vrios
subsistemas, mas abordaremos aui aueles mecanismosconcernes à leitura principalmente. Por outro lado, o
sistema de aprendiagem é talve ainda mais complexo,
mas h indcios ue sugerem orte interao com
linguagem e principalmente uando analisamos os
v. DESENvOLvIMENTO DAS ESTRUTURASENCEFáLICAS ENvOLvIDAS COM A APRENDIZAGEM,LEITURA E LINGUAGEM
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linguagem e principalmente uando analisamos os
estudos de pacientes com leses cerebrais ou alteraes
comportamentais.
Sistemas de Neurônios Espelho
“Neurônios espelho” aem parte de um sistema ormado por
grupos de neurônios ue oram descobertos e nomeados
h aproximadamente de anos [57]. Descobriuse ue uma
classe de neurônios ue disparam uando os chipanés
executam aes dirigidas a metas, como apanhar um
objeto, também disparam uando estes observam outros
indivduos executando aes similares. Atualmente é bem
conhecido ue observao de aes causa no observador
ativao automtica do mesmo mecanismo neural disparado
pela ao executante. Um grupo de pesuisadores [57, 58]
propôs ue este mecanismo permitiria a compreenso
da ao de uma orma direta. Alguns autores deendem a
tese de ue a imitao e a compreenso de outras unes
mentais poderiam estar relacionadas à ativao de circuitos
“em espelho”. Os neurônios espelho oram descobertos
em primatas em regio parietal posterior, reciprocamente
conectado com a rea F5 [59]. O sistema neuronal humano
tem sido descrito como HMNS (do ingls, Human Mirror
Neuron System) e h evidncias de interao da rea de Broca(relacionada aos mecanismos de linguagem descritos) e a rea
motora primria M1 [60]. Esta interao é entendida como
base para aprendiado. A observao de aes realiadas
por outros e reproduidas internamente produ resposta dos
sistemas neurais motor e de linguagem de maneira integrada,
e envolve racionaliao e concepo imaginativa menos
intensa para realiao do ato. Assim, este sistema poderia
estar relacionado à capacidade de integrao de estmulos
no contexto de aprendiado.
Sistemas de Linguagem
H trs modelos de linguagem descritos: o modelo do século
19, ue descreve o modelo neurolgico com a anatomia e os
componentes cognitivos do processamento auditivo e visual
de palavras, e dois modelos cognitivos do século 20, ue no
so restritos pela anatomia e enatiam duas dierentes rotas
de leitura ue no esto presentes no modelo neurolgico.As mais recentes séries de estudos com neuroimagem
mostram ue, conorme predito pelos neurologistas do
século 19, a repetio de palavras apresentadas, de modo
verbal ou visual envolve a regio posterior da borda do
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verbal ou visual envolve a regio posterior da borda do
sulco temporal superior e na borda posterior entre o giro
rontal inerior e a nsula anterior à esuerda. Apesar de
estudos neuropsicolgicos e psicolingusticos mostrarem
o envolvimento das reas perisilvianas anteriores como
geradoras e posteriores como “receptoras” (Broca e Wernicke,
respectivamente), estudos de neuroimagem uncional
tm mostrado consistentemente ue a rea de Broca est
envolvida em percepo auditiva de palavras e repetio
[61]. Por outro lado, o pico de atividade na regio rontal
anterior em resposta às palavras ouvidas é mais associada à
repetio e mais localiada na subregio 45 de Brodmann.
A atividade da rea de Broca é mais sutil e complexa ue da
rea de Wernicke, a ual é mais reuentemente demonstrada
com diversas modalidades de estmulos [62]. Além disso, é
reuente a identiicao da regio posterior inerior temporal
bilateral, e mais à esuerda, durante tarea de nomeao,
desta maneira relacionada à segunda via de leitura, conorme
predito pelos modelos cognitivos do século 20. Esta regio e
sua uno no oram descritas pelos neurologistas do século
19, muito provavelmente pela diiculdade devido à raridade
de leses seletivas nesta rea. Por outro lado, o giro angular,
previamente relacionado ao processamento visual da palavra,
também tem sido implicado como parte de um sistema
semntico distribudo ue pode ser “acessado” durante oprocessamento de objetos e aces, além da ala. E mais, h
outros componentes do sistema semntico incluindo vrias
regies, novamente nas reas dos giros temporais ineriores
e médios, e lobo occipital [63].
Destas novas teorias, ue emergiram em grande parte a partir
de estudos de neuroimagem, um modelo anatomicamente
plausvel de processamento de linguagem oi proposto, e
ue integra as regies anatômicas clssicas do século 19 àsinormaes dos modelos cognitivos [62].
Por outro lado, o processo de leitura tem sido muito
mais pautado pelo reducionismo experimental ocado
em palavras. Progresso em desvendar o processamento
de linguagem depende da integrao de dados
comportamentais e neuropsicolgicos, nem sempre
possveis em setup experimental para neuroimagem [64].
Além de tais consideraes, h necessidade de levar emconta a integrao entre estas reas, além da compreenso
da hieraruia de sistemas. Destacaremos abaixo as trs
principais regies do sistema nervoso central envolvidas nos
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processos de linguagem. Esta abordagem é contextualiada
tendo em vista os distúrbios de aprendiagem.
quando avaliamos os distúrbios ue podem determinar
diiculdades com o processo de leitura, identiicamos duas
classes (1) sensriomotor, i.e aueles relacionados a deicits
auditivos, visuais e/ou motores, e o (2) onolgico. De modo
simpliicado, todo o processo de aprendiagem envolve
a ateno, a percepo, as unes simblicas como a
linguagem e praxias, os processos de raciocnio, memoriao
e as unes executivas.
As unes simblicas e as executivas dependem do
crtex associativo, e seu processamento é cortical, com
ortes interaes subcorticais. A linguagem é o sistema
de simboliao prototpico. O estudo da auisio da
linguagem é um excelente paradigma para a compreenso
do desenvolvimento da cognio em seres humanos [65].
A uno da linguagem tem a maior parte dos substratos
neurais localiados no hemisério cerebral dominante.
Na imensa maioria dos indivduos (mais de 90%), este é o
hemisério cerebral esuerdo. A expresso verbal depende
da rea de Broca localiada no giro rontal inerior; no crtex
das bordas posteriores do sulco temporal superior encontrase a rea de Wernicke, classicamente responsvel pela
compreenso e interpretao simblica da linguagem. Os
estudos de neuroimagem para entender as bases biolgicas
da leitura nos permitem conhecer os mecanismos cognitivos
do aprendiado em geral. O processo de leitura depende
da decodiicao das palavras, luncia e compreenso
da escrita. Neste processo, ocorre inicialmente a anlise
visual, dependente, portanto, deste sistema sensorial e da
ateno seguida do processamento lingustico da leitura,para a associao graemaonema (correspondncia
graoonmica) e leitura global da palavra. Participam a
regio occipital onde se localia o crtex visual primrio,
associada ao processamento dos smbolos gricos e reas do
lobo parietal, associadas à uno visoespacial diretamente
relacionadas ao processo grico.
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A importncia do hemisério esuerdo na atividade da
leitura em adultos j é conhecida desde o inal do século
XIX, uando Déjerine relacionou leses dos giros angular,
supramarginal e temporal superior esuerdo com uadros
de perda da capacidade da leitura [66]. Nos últimos anos
vrios estudos tm mostrado resultados na mesma direo,
de um grande número de inerncias previamente realiadas
por Déjerine sobre os aspectos neurobiolgicos da leitura;
outros pesuisadores interpretando os distúrbios aduiridos
da leitura, decorrentes de leses cerebrais, apresentam
resultados ue se alinham com esse conceito [6771]. As
estruturas neurais relacionadas à leitura esto distribudas
principalmente no hemisério cerebral esuerdo, incluindo
a regio occipital, temporal posterior, giros angular e
supramarginal do lobo parietal e o giro rontal inerior e
estas reas so ativadas em dierentes tipos de situaes ue
ocorrem durante a leitura. A Figura 2 demonstra de modo
esuemtico as principais regies cerebrais envolvidas noprocessamento da leitura.
vI. A CAPACIDADE DA LEITURA ESTá RELACIONADA AREGIõES ESPECíFICAS DO CéREbRO
Figura 2. Representação didáticadas áreas cerebrais associadas àleitura: a) Área visual primária,situada nos lobos occipitais deambos os hemisérios, que estáassociada à percepção visual da palavra a ser lida; b) Porção posterior do giro temporal superior, girosangular e supramarginal, que estão
associadas ao processo de análiseonológica de uma palavra, ou seja,na segmentação das unidades que acompõe; c) Junção dos lobos temporal (mais ineriormente) e occipital, quesão consideradas áreas secundáriasda visão, destacando-se maisespecifcamente os giros lingual eusiorme, além de partes do temporal médio, que estão associadas ao ato daanálise visual da palavra. Especula-se que aça parte de processos deinterpretação direta da palavra, ou
seja, da transerência da análiseortográfca para o signifcado; e d)Giro rontal inerior esquerdo (“áreade Broca”), que participa no processode decodifcação onológica.
De modo didtico, podemos citar a presena de dois circuitos
principais no cérebro (Figura 3), ue so ativados uando
uma palavra escrita é visualiada pelo crtex responsvelpela viso: o circuito temporoparietal e o circuito temporo
occipital; e ainda devemos salientar o importante papel do
giro rontal inerior (rea de Broca), ue atua em determinadas
situaes associadamente ao circuito temporoparietal
Figura 2
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situaes associadamente ao circuito temporoparietal
VI.A. Circuito Temporoparietal
A inormao da palavra previamente processada pelo
crtex da viso é “transmitida” por este circuito para reas do
parnuima encelico na regio correspondente à juno
dos lobos temporal e parietal esuerdo, mais precisamente
para pores mais posteriores dos giros temporal superior,angular e supramarginal, (Figura 2 – b); inclui também
reas do giro rontal inerior (Figura 2 – d), ue so ativadas
principalmente durante o processo de anlise onolgica
de uma palavra, ou seja, na segmentao das unidades ue
a compe, ue implica a transormao do graema para o
onema [72]. Estas reas esto associadas ao processo de
decodiicao da palavra durante a leitura em seus menores
segmentos, ue so as letras, as uais so correlacionadas
com os seus respectivos sons. Assim, aps a visualiao dapalavra “BOLA” (pelas regies occipitais), os uatro smbolos
alabéticos so “analisados” na regio temporoparietal, a ual
eetua a correlao dos sons “be + o + ele + a”, com as suas
letras correspondentes.
A rea de Broca (no giro rontal inerior, correspondente às
reas de Brodmann 44 pars opercularis e 45 pars triangularis)
também tem participao no ato da leitura, uer seja silenciosa
ou em vo alta, uando esto ocorrendo os processos de
decodiicao e recodiicao onolgica e provavelmente
est associada à ormao da estrutura sonora, através da
movimentao dos lbios, lngua e aparelho vocal [62, 63,
73]. Alguns autores, avaliando crianas de sete a 17 anos de
idade, sem ualuer problema de aprendiado, observaram
ue durante testes de leitura, nas ases mais iniciais do
aprendiado da leitura, ocorria maior participao das
reas do circuito parietotemporal e também do giro rontal
inerior, e em contrapartida, observaram menor participao
das reas do circuito temporooccipital. Por outro lado,
estes autores também registraram maior participao
das reas temporooccipitais nas crianas de maior idade.
Estas regies cerebrais envolvidas principalmente durante
as ases iniciais do aprendiado da leitura so as reas
estimuladas, independentemente da idade e da capacidade
do leitor, diante de testes com pseudopalavras (Figura 3).
Pseudopalavras correspondem às junes de letras ueapesar de inexistentes na ortograia da lngua do indivduo
avaliado e no terem ualuer signiicado, obedecem às
regras gerais de ortograia e pronúncia desta lngua [61,
74]). Exemplos de pseudopalavras na lngua portuguesa
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g g
so rinte, cocarelo, porate, sambrinha, ue correspondem a
aglutinaes de letras de modo ue a ormao no pudesse
ser previamente conhecida e memoriada pelo paciente
avaliado. Salientamos ue para a leitura destas pseudopalavras
é necessrio ue seja eetuada uma decodiicao onolgica
adeuada, salientandose a importncia de um adeuado
uncionamento das vias do circuito anterior.
Vrios estudos com PET, RM e MEG tm demonstrado a
ativao destas regies (temporoparietal e rontal) durante
a realiao de testes de conscincia onolgica [7484]. A leitura de palavras irregulares tem reas cerebrais
dierentes associadas uando comparada ao processo de
leitura de palavras regulares, mesmo uando realiada
leitura em dierentes sistemas de escrita, por exemplo, em
japons (Figura 4).
Figura 3: Esquema representativo doscircuitos cerebrais para a realizaçãodo processamento onológico eortográfco das palavras
Figura 4: Áreas cerebrais
relacionadas à leiturade palavras (A) e pseudopalavras (B). Asáreas são semelhantes, porém não idênticas.Mais detalhes encontram-se em Senaha et al [75].
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Esta observao implica a existncia de vias dierentes
para processos de leitura ue acontecem em um mesmo
sistema de escrita. Mais ainda, durante a leitura de um
texto, estes sistemas interagem e dividem reas cerebrais
enuanto o signiicado global da mensagem é processado
em um sistema comum. Assim, podese inerir ue o modo
de ensino (ou de aprendiado) da leitura pode inluenciar
os mecanismos cerebrais envolvidos na compreenso do
signiicado. Dierentes ormas de ensino envolvem processos
ue podem aetar um ou outro mecanismo. Devemos
reorar ue embora existam duas rotas no cérebro para a
palavra escrita (rota lexical, ou logogrica e rota perilexical,
ou onemagraema) no necessariamente o processo seja
“seuencial”; provavelmente, à lu dos conhecimentos atuais,
este processo seja “paralelo” [85, 86]
Conscincia onolgica é a capacidade de se raciocinar
explicitamente sobre os sons da lngua, de manipular os
sons isolados da linguagem alada, ou seja, é a capacidade
de reconhecer o onema como a menor unidade sonora. A
conscincia onolgica das crianas pode ser analisada com
testes ue avaliam a capacidade de soletrar, de reconhecer
e ormar rimas, de identiicar palavras ue comeam com
uma mesma letra, de identiicar o primeiro e o último som deuma palavra e de criar novas palavras aps a retirada de uma
letra de outra “palavra” previamente ornecida. As crianas
em idade préescolar podem ser avaliadas neste uesito
por meio de testes ue correlacionem a identiicao da
correspondncia dos sons das letras ou ainda pela ormao
de rimas mais simples.
A ativao destas regies (temporoparietal e rontal) ocorre
previamente à interpretao do signiicado da palavra lida[76]. Deste modo, a interpretao semntica da palavra
ocorre apenas aps a decodiicao da mesma e é eetuada
em reas do giro temporal médio ventral inerior [87]. Apesar
de vrios estudos relacionarem o papel do crtex parietal
inerior esuerdo (giros supramarginal e angular) durante
a decodiicao onolgica [76, 77], outros estudos [78, 79]
sugerem ue estas regies atuam apenas com uno de
suporte para a leitura, uncionando como um “armaém” de
unidades onolgicas para o processamento mais imediatoda memria operacional.
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VI. B. Circuito Temporo-occipital ou via direta
Uma segunda regio com papel importante na atividade
da leitura est localiada nas junes dos lobos temporal e
occipital esuerdo, ue so consideradas reas secundrias
da viso, destacandose mais especiicamente os giros
lingual e usiorme e partes do giro temporal médio, ue soativados principalmente durante a anlise visual da palavra,
permitindo uma interpretao mais imediata direta da palavra,
ou seja, é eetuada uma transerncia direta e praticamente
simultnea da anlise ortogrica para o signiicado (Figura
2c) [80]. Esta via, conhecida como direta ou léxica, é ativada
durante a leitura de palavras regulares (ue apresenta
correspondncia entre letra e som) e mais reuentemente
utiliadas, ou seja, em um momento de maior experincia do
leitoraprendi, ue j teve contacto com elas por inúmerasvees, como “GATO, BOLA, PATO, MACACO”, estas palavras
passam a ser analisadas de modo mais automtico [75, 81].
Nesta regio estariam armaenadas todas as inormaes
importantes sobre estas palavras, necessrias para soletr
las, pronuncilas ou compreendlas de modo simultneo.
Assim a identiicao das palavras vai ocorrer em um tempo
signiicativamente inerior ao ue ocorre durante a leitura
de uma palavra desconhecida, ue é realiada através da
via indireta. quanto mais palavras so armaenadas nestaregio, pela prtica repetitiva, mais luente ser a leitura.
Est regio cerebral participa também na anlise de palavras
irregulares, as uais no representam estrutura sonora da
lngua, necessitando ser conhecidas através de processos de
memoriao, como “EXCEçãO, EXEMPLO, HOJE, AMANHã,
BOXE OU VEXAME” [82]. Est regio estaria representando um
sistema de identiicao da palavra baseado na memria da
orma da mesma. Assim, crianas préescolares expostas à
palavra cocacola, como representada simbolicamente pelo
abricante, a reconhecem rapidamente, o ue no ocorre
uando estas mesmas letras esto escritas em letra basto,
por exemplo.
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Os estudos de Papanicolaou e colaboradores [29, 83, 84]
utiliando mapas por magnetoencealograia demonstraram
ue a lateralidade da linguagem na verdade no era to
marcada como se imaginava, e ue também se observa a
ativao do hemisério no dominante, porém, em menor
intensidade. A MEG permitiu obtermos dados em tempo real
do ue ocorre durante o ato da leitura. Nos primeiros 150ms
aps a visualiao de uma palavra, h um componente
inicial ue representa a ativao do crtex sensorial
primrio da viso. No intervalo entre 100 e 150ms, observa
se ativao bilateral dos giros temporal superior, ue inclui
o giro de Heschl. No intervalo entre 150300ms ocorre a
ativao de regies corticais occipitotemporal e temporal
basal bilateralmente, todavia predominando à esuerda,
principalmente no giro temporal médio. Logo em seguida
ocorria a ativao das regies cerebrais temporal superior,
parietal inerior e rontal inerior, também predominando à
esuerda (Figura 5).
vII. LEITURA E MOMENTO DE ATIvAÇÃO DAS DIFERENTESREGIõES CEREbRAIS DURANTE A LEITURA
Figura 5: Padrão de ativação cerebral durante os estágios iniciais daaquisição da leitura. A) Durantes provas de decodifcação neurológicaem crianças com e sem risco paradistúrbio da leitura; B) Padrão de
ativação cerebral em adultos, semdistúrbio de leitura, durante provas dedecodifcação neurológica. GTS: Girotemporal posterior (adaptado comautorização de Simos et al, 2002).
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Salientamos ue os estudos com MEG no evidenciam a
participao das reas rontais, ue s oram identiicadas
através dos estudos de RM.
Diiculdades de aprendiagem reeremse a alteraes no
processo de desenvolvimento do aprendiado da leitura,
escrita e raciocnio lgicomatemtico, podendo estar
associadas a comprometimento da linguagem oral. A
diiculdade especica na realiao da leitura e da escrita
decorrente da diiculdade em decodiicar palavras isoladas e
no resultantes de um distúrbio global do desenvolvimento
ou alteraes sensoriais é denominada de dislexia. Os
estudos realiados com RM mostram ue o crtex temporo
parietal esuerdo est envolvido no processo de auisio
onolgica tanto em crianas uanto em adultos e podeestar interrompido durante o processamento onolgico em
pacientes disléxicos adultos e crianas [88, 89]. Em pacientes
disléxicos observase reduo de atividade no giro temporal
superior esuerdo durante o processo de leitura e de
processamento onolgico [88, 89]. Estes achados esto de
acordo com as primeiras observaes de Galaburda uanto à
ocorrncia de heterotopias neuronais em pacientes disléxicos,
sugerindo interrupo ou deormao da rede neuronal
envolvida no processamento da leitura [69, 71, 9093]. Outrasreas, tais como o giro rontal inerior esuerdo, também
esto envolvidas com o processo de leitura e discutese uma
possvel diviso uncional conorme o envolvimento com os
processos semnticos e os onolgicos [62]. Estes sistemas
de processamento no so especicos, eles também esto
envolvidos em dierentes tareas; isto supre um mecanismo
pelo ual o aprendiado da leitura aeta o desempenho de
tareas de no leitura tais como a repetio de pseudopalavras.
O giro usiorme direito envolvido no reconhecimento deaces e constituindo o ue denominamos de crtex visual
extraestriado abriga os processos relacionados à aptido
para o aprendiado da leitura [74].
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a. Processamento onolgico
b. Processamento ortogrico
c. Processamento semntico
O aprendiado da leitura no é to natural como o da
linguagem alada ou da marcha, conorme j apontamos
anteriormente. Ele ocorre através de uma série de estgios,
nos uais novas habilidades so aduiridas gradativamente.
Inicialmente a criana aduire um vocabulrio ao ouvir as
pessoas ao seu redor e ao praticar através da repetio.
A criana em idade préescolar passa a identiicar uma
correlao entre determinados sons como representativos
de determinadas letras, ue aos poucos vo lhe sendo
apresentadas. A percepo do ato de ue a ala é composta
da associao dos dierentes sons, ue so os onemas, e ue
estes so representados na escrita pelas letras, em última
anlise é o princpio alabético e corresponde ao incio da
conscincia onolgica, undamental para o aprendiado da
leitura e ue precisa ser ensinado [2].
O estudo citado anteriormente (Estudo NRP do ingls National
reading Panel , 2000, http://www.nichd.nih.gov/publications/
nrp/smallbook.htm) reairmou conceitos previamente
irmados de ue a conscincia onolgica e o conhecimento
das letras aos cinco anos de idade seriam os dois principais
atores preditivos para o aprendiado da leitura [94, 95]. O
sistema alabético é muito eiciente, pois um peueno número
de letras pode ser utiliado com dierentes associaes de
modo a ormar um número enorme de palavras. Todavia, oaprendiado do princpio alabético no é to cil, pois em
primeiro lugar os onemas na verdade apresentam um grau
de abstrao, nem sempre to cil de ser aduirido por todas
as crianas e, além disso, no representam os segmentos
naturais da ala, ue é mais silbica. Somase a estes pontos
ainda o ato de existirem mais onemas ue letras, j ue o
som emitido para representar uma determinada letra pode
variar, dependendo das outras letras prximas ou de um
acento, como por exemplo, na palavra “POLO”, na ual a letra“O” tem dois sons dierentes. E esta diiculdade varia muito
de uma lngua para outra, j ue existem algumas com um
número imensamente maior de sons como o ingls, ue
tem 44 tipos de sons (onemas) para as 26 letras existentes
vIII - ESTáGIOS INICIAIS DO APRENDIZADO DA LEITURA
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tem 44 tipos de sons (onemas) para as 26 letras existentes
porém mais de mil possibilidades dierentes de maneiras
de soletrar os sons, enuanto o espanhol apresenta apenas
38 e o italiano 25 modos dierentes [96]. No se sabe ainda
totalmente o ue ocorre na aruitetura cerebral da criana
para permitir a identiicao de cada som com cada letra, mas
sabemos ue existem estgios de aprendiagem de leitura,
ue podem ser visualiadas como no modelo proposto por
Ehri [97, 98]. Este modelo é baseado em uatro ases: pré
alabética, alabética parcial, alabética plena e alabética
consolidada. A velocidade com ue cada criana ultrapassa
estas dierentes ases varia muito de acordo com o ambiente,
com a lngua e também com a capacidade individual, mas de
modo geral a seuncia é sempre a mesma e a transio de
uma para outra é sempre gradativa. Segundo Ehri, na ase pré
alabética a criana no apresenta ainda um reconhecimento
da correlao onemagraema, lembrando apenas de pistas
visuais da palavra como o “M” de McDonald ou o “S” da Sadia, e
assim pode interpretar, erroneamente, palavras similares ue
contenham estas iniciais. Na ase alabética parcial, a criana
identiicaria apenas algumas letras de cada palavra, como,
por exemplo, o “S” e o “O” da palavra sono, o ue poderia
implicar diiculdade de interpretao uando estivesse
diante da palavra sino, por exemplo. A ase alabética plena
caracteriase pela completa identiicao de todas as letrasde cada palavra e sua respectiva correspondncia sonora,
permitindo assim uma leitura correta, ue vai ser muito mais
rpida em uma ase posterior, alabética consolidada, na ual
o leitor é capa de ler seuncias de letras ue ocorrem com
uma grande reuncia, como, por exemplo, ENTE, ue est
presente em dente, mente, carente, saliente etc., em ve de
ler cada letra isoladamente.
O modelo de auisio da leitura previamente apresentadoé baseado principalmente em estudos de neuroimagem
em adultos, e sugere a relao com o desenvolvimento de
redes neurais predominantemente no hemisério cerebral
esuerdo, e ue incluem o giro temporal superior, associado
principalmente com os processos de decodiicao
onolgica, o giro usiorme e reas viinhas de associao
ao processamento visual correlacionadas ao processamento
ortogrico e, ainda, ao giro temporal médio associado
à decodiicao semntica. Em paralelo a tudo isto,salientamos o papel do giro rontal inerior, ue apresenta
um grande número de conexes com estas reas cerebrais
mais posteriores. Tem sido observado ainda um papel mais
importante das reas mais anteriores do giro rontal inerior
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importante das reas mais anteriores do giro rontal inerior
no processamento semntico, e das reas mais posteriores no
processamento onolgico e gramatical [99, 100].
A seguir, apresentamos as modiicaes anatômicas e
uncionais, associadas à especialiao e integrao das
principais reas cerebrais relacionadas à aprendiagem da
leitura, desde a inncia até a adolescncia.
VIII.A. Processamento onológico
J no primeiro ano de vida, no incio do desenvolvimento do
processamento onolgico, tem sido observada a ativao de
regies cerebrais occipitais e temporais dos hemisérios direito e
esuerdo [101]. Nos anos seguintes observase a consolidao
da ativao principalmente do giro temporal esuerdo, porém
dos nove aos 11 anos de idade ainda ocorre uma ativao desta
regio durante o processamento visual e auditivo da palavra
[102], dierentemente dos adultos, onde apenas o estmulo pela
via auditiva vai determinar a ativao desta regio.
Vrios estudos demonstram ue o crtex temporal superior
esuerdo desenvolvese antes ue outras reas relacionadas à
linguagem e acreditase ue, com o desenvolvimento do corpocaloso, ocorreria um eeito inibitrio das regies temporoparietais
do hemisério esuerdo sobre reas homlogas do direito [103].
Além disso, a importncia dessa regio no desenvolvimento
da leitura pode ser conirmada através da anlise de pacientes
com dislexia do desenvolvimento submetidos a estudos
anatomopatolgicos, onde pode ser observada a presena de
distúrbios da migrao neuronal no crtex temporal superior
esuerdo [69, 71]. H também uma menor ativao desta regio
em testes de decodiicao onolgica durante a realiaode exames de neuroimagem, comprovando o papel do giro
temporal superior na interpretao e correlao dos sons com
os graemas [104, 105]. A ativao das reas do giro rontal
inerior durante a decodiicao onolgica aumenta com o
desenvolvimento da criana e da melhora da capacidade da
leitura [106]. Conorme j citado anteriormente, vrios estudos
tm demonstrado ue na verdade existe uma segmentao
uncional em relao à leitura no giro rontal inerior ue
apresenta, em sua poro mais dorsal, uma maior especialiaopara auxiliar a decodiicao onolgica (associadamente a
regies temporoparietais), e uma rea mais anterior, ue
participa da interpretao do signiicado da palavra [99, 100].
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VIII. B. Processamento ortográico
VIII. C. Processamento semântico
O giro usiorme esuerdo, ue corresponde a “rea
visual da palavra” é mais ativado à medida ue ocorre
o desenvolvimento da leitura na criana, ocorrendo
predominantemente uando diante da visualiao
de palavras de uso rotineiro [107]. As crianas na asepréalabética costumam apresentar ativao do giro
usiorme bilateralmente durante o reconhecimento de
uma palavra, uer apresentada por estmulos visuais
ou auditivos [102]. À medida ue vo atingindo a ase
alabética, eles passam a recrutar cada ve menos os
neurônios do giro usiorme direito e intensiicam a
ativao do lado contralateral. No adulto, além de
ocorrer a ativao apenas do giro rontal esuerdo
durante a apresentao de estmulos visuais, no seobservam alteraes uncionais por estmulos auditivos
[102]. Esta lateraliao e participao mais imediata
do giro usiorme esuerdo, observada durante o
desenvolvimento literrio da criana, est diretamente
relacionada a uma maior capacidade de leitura ue
ocorre com o passar dos anos.
A capacidade de processamento semntico durante a
leitura também se apereioa durante o desenvolvimento,
sendo observado de modo gradativo uma maior ativao
das regies posteriores do giro temporal médio [108,
109]. Com o passar dos primeiros anos de treinamento
da leitura, observase também durante testes de
interpretao semntica uma gradativa ativao dasreas do giro rontal inerior.
Conorme j comentamos anteriormente, durante a
interpretao do signiicado da leitura, observase no
adolescente e no adulto uma maior ativao de reas
mais anteriores do giro rontal, lembrando ue as pores
mais posteriores apresentam maior especialiao para
auxiliar a decodiicao onolgica. Esta menor ativao
das reas mais anteriores em crianas, provavelmente,est relacionada a uma imaturidade do giro rontal inerior
das crianas [110, 111] ou a uma maior inluncia do
processamento semntico na rapide da decodiicao
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onolgica e reconhecimento ortogrico da palavra [108],
ue no é to necessria no leitor mais experiente. O ato
de o giro rontal inerior ser ativado apenas posteriormente
durante o desenvolvimento evidencia o seu papel na melhor
capacidade de leitura.
Salientamos ainda o ato de ue a menor modulao docrtex prérontal em crianas determina um insuiciente
controle cognitivo e maior susceptibilidade à intererncia de
estmulos irrelevantes, prejudicando muito a compreenso do
texto [111]. Com base no estudo de Suuki e colaboradores,
ue avalia a presena de um uadro de hiperlexia aduirida
em adulto com leso de reas rontais do hemisério esuerdo,
e nos estudos acima citados [99, 100, 112], podemos inerir
ue os pacientes com uadro de hiperlexia, ue apresentam
capacidade de ler, porém sem uma compreenso adeuada,apresentam uma ativao das pores mais posteriores de
reas do crtex prérontal esuerdo e no das reas mais
anteriores, ue teriam o papel da interpretao semntica.
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A compreenso dos processos associados ao desenvolvimento
uncional e anatômico das dierentes reas cerebrais
relacionadas ao aprendiado da leitura pode contribuirde maneira undamental para um melhor entendimento e
abordagem do aprendiado desta importante habilidade,
cada ve mais necessria para o desenvolvimento da
humanidade. Os conhecimentos mais precisos através da
neurocincia, aduiridos com os estudos mais atuais (RM,
PET e MEG) e ue devem ser acrescidos com o advento
de outras técnicas avanadas (estimulao magnética
transcraniana, diusion tensor imaging, near-inrared optical
imaging), ue possam demonstrar um atraso na ativao
de regies cerebrais — como o giro temporal superior ou
anomalias de lateralidade, como uma maior ativao de
estruturas do hemisério direito — podero servir, no uturo,
para uma identiicao mais precoce, ainda na ase pré
escolar, de crianas ue tero diiculdade para leitura. Ao
mesmo tempo, os conhecimentos da neuroplasticidade e
também dos dierentes métodos de ensino vo poder ajudar
os educadores a atuarem nos momentos e através das ormasmais adeuadas para o aprendiado da leitura, permitindo
melhores resultados na alabetiao de nossas crianas e
ainda uma interveno mais precoce e adeuada nos casos
com diiculdade, demonstrando assim o importante papel do
conhecimento cientico no aprendiado.
O ensino da leitura tem sido realiado através de dois métodos,
um mais global, denominado de “whole-language” (GLOBAL) e
outro mais analtico, denominado ônico. Este último é realiadoatravés do ensino do princpio alabético, ue é o conhecimento
de ue os smbolos gricos ue so representados pelas letras
correspondem aos sons da ala, e ue estes smbolos e sons
podem ser associados para ormar as palavras [3, 113]. Este
método considera ue o aprendiado da leitura no é uma
habilidade natural do cérebro, como a linguagem alada, e ue
existe a necessidade do aprendiado ormal do alabeto, ue
no ocorre de modo espontneo. Os estudiosos avorveis a
esta metodologia salientam a importncia do aprendiadoda leitura através do ensino da conscincia onolgica, ue
implicaria maior rendimento uturo uando o leitor estivesse
diante de palavras desconhecidas, ue seriam mais acilmente
identiicadas através da decodiicao onolgica
IX- NEURObIOLOGIA E MéTODOS DE ENSINO DA LEITURA
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identiicadas através da decodiicao onolgica
O método global baseiase no reconhecimento de palavras
inteiras como a unidade da leitura, sendo utiliadas
palavras do cotidiano e da cultura da criana [113]. De
modo geral, seguem este conceito as teorias construtivistas
e sociointeracionistas, entre outras. A criana aprende
a memoriar a pronúncia da palavra toda e no de uma
parte dela. Os adeptos desta metodologia salientam a sua
utilidade principalmente para o aprendiado de palavras
irregulares (“EXCEçãO, EXEMPLO, HOJE, AMANHã”) e o
ensino do som das letras no ocorre de modo explcito.
Estes autores argumentam ainda como avorvel ao
método global o ato de palavras apresentarem signiicado,
dierentemente das letras e das slabas, o ue determinaria
maior motivao das crianas.
Os estudos de imagem uncional e neuroisiolgicos tm
demonstrado, conorme j comentamos anteriormente, ue
durante o aprendiado da leitura de acordo com o modelo
onolgico, o ensino da correspondncia onemagraema
implica uma maior ativao dos giros temporal superior,
angular e supramarginal, do hemisério esuerdo, ue é
a denominada via indireta. A leitura da palavra bola, por
exemplo, ocorreria através da interpretao de ue as letras
visualiadas, B+O+L+A seriam associadas por estas regiescerebrais, resultando na palavra BOLA e esta mensagem
seria na seuncia transerida para o giro temporal médio,
ue eetuaria a interpretao do signiicado e as associaes
necessrias. À medida ue o indivduo memoria esta
associao, pela repetio natural, ocorreria uma interpretao
inicial da palavra BOLA, como um todo, sendo ativadas neste
caso reas da regio occipitotemporal esuerda, conhecida
como via direta e ue implicaria um imediato reconhecimento
e interpretao semntica da palavra. Palavras novas ou outrasmenos comuns e as pseudopalavras seriam “lidas” através
dos processos de decodiicao onolgica, no ocorrendo
ativao da via direta. Por outro lado, o aprendiado da
leitura através do método global envolve a ativao direta de
regies dos lobos occipitais e temporal médio e inerior, mais
precisamente do giro usiorme esuerdo, denominado de
“rea visual da palavra” (AVP) devido à grande reuncia com
ue é detectada em estudos de neuroimagem, envolvendo
tareas de nomeao, principalmente. Entretanto, devemoschamar a ateno para o ato de ue a maioria dos estudos
utiliando técnicas uncionais no invasivas oram realiadas
com indivduos de lngua inglesa, onde h 40 sons a mais do
ue o número de letras [114]
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ue o número de letras [114]
Sabemos ue obviamente no existe um único programa de
ensino ue possa ser considerado como o melhor para todas
as crianas. O avano das pesuisas neurocienticas sobre
os circuitos envolvidos na aprendiagem e os mecanismos
de auisio do conhecimento podem ser relevantes para
a educao. Assim, deveriam ser tomados como reerncia
os estudos sobre a neurobiologia da aprendiagem, para
se repensar a prtica educacional. Por exemplo, o melhor
conhecimento dos circuitos neurais para a expresso e
entendimento verbal, auisio da habilidade da leitura
e manuteno dos mecanismos atencionais e estratégia
de aprendiagem so importantes para estabelecer
processos mais eicientes de alabetiao. Vrias iniciativas
governamentais demonstram essa preocupao com as
uestes de aprendiagem, suas diiculdades e prevenes.
Como exemplo, o Congresso norteamericano solicitou ue
o National Institute o Child Health and Human Development
(NICHD) com o Ministério da Educao convocasse um painel
Nacional para estabelecer o estadodaarte do conhecimento
cientico sobre o processo de aprendiagem da leitura [115]
http://www.nichd.nih.gov/publications/nrp/smallbook.htm);
oram avaliados centenas de estudos cienticos e a concluso
oi ue “as evidncias cienticas indicavam ue os programas
de leitura ue se baseavam de modo mais intenso no ensinoda conscincia onolgica resultavam em maior grau de
sucesso para o aprendiado inicial da leitura” [115].
Na Europa, os Estados da Organiao para a Cooperao
Econômica e Desenvolvimento, OECD (Organiation or
Economic Cooperation and Development) desenvolveu um
Projeto de investigao PISA [116]. O ponto dicil do teste
era a medida das competncias de leitura, para os uais
oram utiliados testes ue medem os dierentes “grausde competncia”, ue vo desde a simples compreenso
(grau de competncia I) até a interpretao e ormulao
de problemas (grau de competncia V). Os resultados do
Estudo PISA oram apresentados pela OECD [117], onde os
estudantes da Finlndia obtiveram os melhores escores [116].
Em decorrncia de resultados discrepantes entre os vrios
pases e os baixos escores obtidos por parcela signiicativa
dos estudantes, o Centro para a Investigao da Educao
e Inovao da OECD (Centre or Educational Research andInnovation CERI) pôs em curso, em 23 de novembro de
1999, o projeto Cincias da aprendiagem e investigao do
cérebro: implicaes potenciais para as polticas e prticas
da educao [118 120] O objetivo deste projeto é o de
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da educao [118120] O objetivo deste projeto é o de
undamentar e deinir os reuisitos para uma colaborao
entre a cincia da educao e a investigao do cérebro [116].
Iniciativa semelhante teve a nossa Cmara dos Deputados
encomendando um relatrio ao painel internacional de
especialistas em alabetiao inantil [121].
A utiliao dos avanos da neurocincia para polticas
educacionais constitui um excelente exemplo da cincia
translacional sendo utiliada para o benecio público [121,
122]. Nas palavras de Manred Spiter [116], reerindose ao
objetivo da OECD “em undamentar e deinir os reuisitos
para uma colaborao entre a cincia da educao e a
investigao do cérebro” e “em promover a aproximao entre
os polticos de educao e os investigadores do cérebro, bem
como apresentar atos de investigao, ue possamos (e ue
devamos e devemos) transpor para as prticas, se uisermos
tornar o sistema educativo mais eiciente”. Os estudos de
desenvolvimento cerebral e do uncionamento cerebral de
acordo com os dierentes testes de leitura e de outros estudos
reerentes à plasticidade cerebral reoram a importncia da
estimulao da capacidade de decodiicao onolgica, no
incio da alabetiao, independente do método escolhido
para o ensino da leitura. Eventual atraso na estimulao desta
habilidade poderia implicar a perda do melhor momento parao desenvolvimento do reconhecimento da relao graema
onema, to importante para a leitura no uturo de palavras
desconhecidas. A perda do momento inicial mais propcio para
o desenvolvimento da capacidade de leitura e escrita determina
ue se procure, aps esta aixa etria, resgatar este aprendiado
com o desenvolvimento de certas habilidades dentro de um
processo de aprendiado e reabilitao. Isto determina outro
planejamento da estratégia de ensino estimulando a capacidade
associativa e as habilidades de percepo e execuo. Deualuer orma, devese estimular o aprendiado ônico, visto
ue as pesuisas uantitativas evidenciam ue é benéico e ue
h correspondncia com o processo neurobiolgico.
No podemos deixar de salientar a extrema importncia das ases
iniciais do desenvolvimento, desde o perodo gestacional, e de
ue o ensinamento da leitura s ocorrer de modo totalmente
satisatrio, também independentemente do método de ensino,
uando or baseado em uma intensa motivao do aprendi,no s no ambiente escolar, mas também no domiciliar.
Agradecimentos pela leitura e sugestes: Ana Maria Alvare,
Victor Haase e Mirna Wetters Portugue
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MéTODOS DE ALFAbETIZAÇÃO: O ESTADO DA ARTE20
Autores:
Joo Batista Araújo e Oliveira21
Lui Carlos Faria da Silva22
“No one I know denies the artistic component to teaching. I now
think however, that such artistry should be research based. I
view medicine as an art but I recognize that without its close
ties to science it would be without success, status, or power in
our society. Teaching, like medicine, is an art that also can be
greatly enhanced by developing a close relationship to science”.
Berliner, D. C.(1987).
A mais atualiada cincia da leitura est undada em
evidncias de ue o ato de ler envolve complexa atividadecerebral de processamento paralelo, simultneo e distribudo
de inormaes lingusticas ortogrica e onologicamente
encapsuladas em um cdigo. A partir desse euacionamento,
a classiicao dos métodos de alabetiao passou a ter
como critério undamental a abordagem e o uso didtico dos
elementos do continuum ortogrico da escrita: texto integral,
pargrao, rase, palavras, slabas, letras e onemas: Adams
(1991), Snow, Burns & Griin (1998), ONL (1998), NICHD (2000),
Reyner et al. (2001), Dehaene (2007). Para aprender a operarcom uma escrita baseada em alabeto, o aluno precisa tornar
se consciente de ue um princpio a rege: as letras representam
sons da ala. Tratase do princpio alabético. Sobre ele a
escrita se unda como um cdigo. Além da compreenso
desse princpio, é indispensvel o aprendiado das regras de
operao do cdigo, vale dier, das correspondncias usuais e
permitidas entre onemas e graemas.
20 Este documento é baseado no Documento de trabalho intitulado Métodosde alabetização: o estado da arte, elaborado pelos autores do presentetrabalho como contribuição aos trabalhos do Grupo de Trabalho sobreEducação Inantil da Academia Brasileira de Ciências.21 Ph.D. em Educação, atualmente preside o Instituto Ala e Beto.22 Doutor em Educação pela UNICAMP, Proessor Adjunto, Departamento deFundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá
INTRODUÇÃO
A questão dos métodos
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Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá
Fônicos so os métodos ue ensinam, de maneira explcita,
as relaes entre as menores unidades abstratas signiicativas
e dierenciais na ala (onemas) e certos componentes da
escrita (graemas, isto é, letras e grupos de letras). Suas
caractersticas, bem como as dierenas existentes entre
eles, sero explicitadas ao longo desse trabalho. Ao conjunto
ormado pelos métodos restantes pertencem, de uma parte,
os métodos alabéticosilbicos, e, de outra, os métodos
constitudos sob a abordagem ideovisual – alguns entre eles
considerados mais como uma ilosoia da aprendiagem da
leitura do ue propriamente um método.
Em sua essncia, métodos ônicos baseiamse no princpio
subjacente ao Sistema Alabético de Escrita, ue codiica os
onemas da lngua em smbolos denominados graemas.
Métodos ônicos – também chamados de métodos alabéticos
em alguns pases da Europa – se opem aos métodos ue o
chegam de orma explícita ao nvel do onema – como, por
exemplo, os ue ensinam a partir de textos, rases, palavras, ou
mesmo de slabas e letras, sem, entretanto, colocar no centro
do processo de ensino a notao ortogrica da realidade
lingustica do onema. Esses incluem, para surpresa dos ue
no esto inormados do estado da arte sobre métodos de
alabetiao, os conhecidos métodos alabéticos, os métodosde silabao, os métodos globais ou semiglobais e os assim
ditos métodos mistos (decorar palavras, mesmo ue seja a
partir de “senhas” como “o a da abelha, o b da bola etc, “whole
language”, procedimentos de inspirao construtivista etc.).
Independentemente da caracterstica dos métodos, a criana,
para se alabetiar, precisa, primeiro, apreender o princpio
alabético, ou seja, ser instruda sobre o ato de ue as letras
ou grupo de letras (graemas) representam aspectos sonoros
da ala, e, em segundo lugar, aprender a valncia sonorados graemas nas diversas posies em ue aparecem nas
seuncias de letras e palavras. Os métodos podem avorecer
ou criar obstculos a esse aprendiado.
Os métodos ônicos atualmente conhecidos e utiliados no
ensino da alabetiao so originrios do século XIX. Eles
so, todos, de algum modo, provenientes de um programa
de alabetiao de crianas desenvolvido por Nellie Dale
(1899), ue se baseia no ensino de onemas e em exercciosde anlise e sntese. Esse programa oi aprimorado por James
Pitman e John St. John (1969), neto do inventor da tauigraia,
atualiado por Lindamood & Lindamood (1969) e também
por Hay & Wingo (1954)
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por Hay & Wingo (1954)
O Relatrio do National Reading Panel (NRP), ue ser
abordado adiante, assim deine o método ônico: “o ensino
ônico sistemtico é uma orma de ensino ue enatia a
auisio das correspondncias entre letras e som e seu uso
para ler e soletrar palavras. O ensino pelo método ônico
destinase a alunos de alabetiao nos anos iniciais da
escolaridade e para crianas ue tm diiculdade de leitura”
(NICHD 2000, p. 289).
Dianne McGuinness (2005, p. 130) oerece deinies mais
precisas de “método ônico”, o ue lhe permitir analisar
separadamente, como veremos adiante, a variabilidade
do impacto de dierentes métodos ônicos no ensino/
aprendiagem da leitura. De acordo com a evidncia
revista a seguir apenas os métodos ônicos ue apresentam
determinadas caractersticas, como as descritas no quadro
1, possuem eiccia dierenciada em relao a uaisuer
outros métodos. Dentre as caractersticas mencionadas, as
mais importantes so a ordem e a direo da apresentao
do cdigo alabético (dos onemas para os graemas e dos
onemas codiicados mais simples e diretamente para os
ue possuem codiicao varivel e complexa), o carter
sistemtico e explcito dessa apresentao (do cdigo bsico
para as ormas menos usuais) e o uso de técnicas de anlise esntese de onemas (McGuinness, 2005, p. 121).
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• Aluno não decora palavras
• Aluno não parte do nome das letras
• Parte do som para a letra. Os onemas são a base do códigoalabético23.
• Só ensina onemas – não ensina outras unidades (sílabas,moremas etc.)
• Começa do código básico (correspondência biunívoca entreos onemas e as letras que usualmente o representam).
• Ensina a criança a identiicar e sequenciar sons em palavras reais, empregando técnicas de análise e síntesede onemas, usando letras.
• Ensina a criança a escrever cada letra (caligraia). O ensinodas letras é concomitante com o ensino dos sons.
• Relaciona escrita (soletrar) com leitura, para que a criançaentenda que o código alabético é reversível: codiicar,decodiicar.
• Escrita deve ser precisa (ortográica) ou, pelo menos,oneticamente precisa.
• Ensino deve evoluir progressivamente para ensinar combinações menos usuais.
A abordagem da problemtica dos métodos de alabetiao
no Brasil no é somente discrepante do enuadramento
cientico mundialmente consagrado h pelo menos trs
décadas. Os Parmetros Curriculares Nacionais para o ensino
da leitura e da escrita bem como diretries curriculares
oiciais de importantes cidades e estados brasileiros contm
airmaes ue se encontram num polo diametralmente
oposto ao ue estabelece o estado da arte nesse campo. Da
mesma orma, o mais recente documento publicado peloMEC com orientaes sobre alabetiao, além do mais
conhecido programa oicial de orientao de proessores
alabetiadores do MEC, elaborado pelo CEALE/UFMG,
so rontalmente divergentes do conhecimento cientico
Quadro 1 - Protótipo de ummétodo ônico linguístico
23A questão de partir dos “sons” ou das letras para alabetizar não é arbitrárianem trivial. O código alabético sempre parte dos sons da língua, e os
representa por letras. Os sons ou onemas são sempre bastante reduzidos:31 na Língua Portuguesa, segundo Scliar-Cabral (2003), 40 na LínguaInglesa, segundo McGuinness. Já o número de “sons” possíveis a partir decombinação de letras é innitamente maior, e coloca sérios problemas deaprendizagem. Daí a vantagem de usar o “som” ou onema mais característicode uma letra nos estágios iniciais de alabetização, mas sempre partindo dosonemas e não das letras ou de seu nome
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onemas e não das letras ou de seu nome
atualmente consagrado. Hoje, particularmente no Brasil, é
comum um manejo didtico do ensino de leitura ue, além
de no proporcionar a compreenso do princpio alabético,
negligencia ou desdenha o esio explícito e sistemtico24
das correspondncias usuais e permitidas entre graema e
onema. Nesses casos os alunos, inevitavelmente, tero ue
intuir, por conta prpria, o princpio alabético; e adivinharas correspondncias permitidas entre graema e onema.
É importante observar ue as reerncias bibliogricas
apresentadas nesses documentos no incluem nenhum autor
e nenhuma obra representativa do conhecimento cientico
atualiado sobre o assunto.25 Da decorre a necessidade e
atualidade do presente documento.
24No Brasil, a pedagogia ocial, os ormuladores de políticas educacionaise os pais ignoram a existência de evidências cientícas de que a maioriados problemas no aprendizado da leitura resulta de decits cognitivosexperienciais e instrucionais e não de decits cognitivos de origem biológica(VELLUTINO et al., 2004).25 C., nessa ordem: BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria deEducação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa.Brasília, 1997. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pd/livro02.pd Acesso em 20 de setembro de 2011.BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. PROFA– Programa de Formação de Proessores Alabetizadores. Documento deApresentação. Brasília, 2001. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/
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Alabetizador. 1º Ano, 2011. Disponível para leitura em http://devotuporanga.edunet.sp.gov.br/OFICINA/ciclo1-guia1ano.pd Acesso em 20 de setembrode 2011. Esse programa oi apresentado no mesmo ano em que a secretáriaestadual de Educação de São Paulo, em entrevista à revista Veja, Edição 2047,de 13 de evereiro de 2008, insistia no tema da educao baseada emevidêcias cietícas.
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Os estudos de Chall: o “grande debate”
A EvIDêNCIA SObRE EFICáCIA DOS MéTODOS DEALFAbETIZAÇÃO
A primeira grande discusso acadmica mundialmente
relevante sobre métodos de alabetiao dse com a
publicao do livro Why Johnny Can’t Read (Flesh, 1953). A
obra chama a ateno para os problemas dos alunos norte
americanos ue no aprendem a ler. E atribui as diiculdades
ao uso de métodos globais. Até a década de 60 so poucos
os estudos sobre métodos de alabetiao ue vo além da
comparao de médias, e diicilmente se pode concluir algo
desses estudos.
A reviso pioneira da uesto da eiccia dos métodos
de alabetiao chegou na esteira de uma seuncia
de iniciativas desencadeadas a partir de um seminrio
promovido pela National Conerence on Research in English
(NRCE) em outubro de 1959. Esses esoros culminaram tanto
nos estudos de Jeanne Chall, ue renderam a publicao do
livro Learning to Read: The Great Debate (1967), uanto na
iniciativa do Cooperative Research Program (CRP) in First
grade Reading Instruction (Bond e Dykstra, 1967, republicadoem 1997).
Os resultados das pesuisas de Chall oram publicados
em 1967 no livro Learning to Read: The Great Debate.
Sua publicao teve enorme repercusso no debate
sobre alabetiao. O estudo cujos resultados oram ali
apresentados incluiu o seguinte rol de aes: anlise de
22 programas de alabetiao, 300 horas de observao
em sala de aula, entrevistas de 245 autores de programas
de alabetiao e uma reviso de literatura. A maioria dos
programas de ensino avaliados era usada em pases de
lngua inglesa e tinha trs caractersticas centrais: a nase
no ensino de vocabulrio, isto é, no sentido, e no na orma
das palavras; o ensino da leitura antes do ensino da escrita, e,
conseuentemente, o ensino da leitura separado do ensino
da escrita.
Na época do estudo de Chall, mais de 95% das classes
de alabetiao nos Estados Unidos usava materiais
semelhantes entre si, os chamados ”basal-reading programs”.
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“Basal reading” era a modalidade de material didtico mais
usado nos Estados Unidos nas séries iniciais, inclusive nas
classes de alabetiao. Tipicamente incluam um conjunto
de orientaes e uma grande variedade de materiais ue
cobria todas as rentes, inclusive, no caso da alabetiao,
exerccios para o desenvolvimento de habilidades ônicas.
Como se destinavam a conuistar grandes mercados, esses
programas de ensino de leitura normalmente procuravam
contemplar as vrias correntes e modismos e apresentavam
material rico e variado. Também predominava, à época, o
consenso sobre as explicaes dadas para o racasso em
ensino de leitura: alta de apoio das amlias, problemas das
crianas etc.
A metodologia utiliada nos estudos de Chall incluiu uatro
etapas. Primeiramente ela classiicou os programas em trs
tipos: ônica analtica, ônica sintética, programas lingusticos.
Dentro de cada grupo havia dierenas importantes na
abordagem. Em seguida, ela analisou, em proundidade, trs
programas de alabetiao. Dois deles eram do tipo “basal
reading”: os programas ScottForesman e Ginn. O terceiro, oi
o programa Lippincott (ônica sintética). Subseuentemente,
Chall realiou 300 horas de observaes em salas de aula
das séries iniciais do ue aui corresponderia hoje ao EnsinoFundamental. Pelos padres atuais de observao controlada,
tratase de um estudo pouco rigoroso, embora extremamente
audacioso e avanado à época de sua realiao. Finalmente,
ela realiou uma reviso da literatura onde pôde constatar
o ato de ue a maioria dos estudos s apresentava médias.
Apenas de 1960 em diante os estudos comparando métodos
passaram a usar testes de signiicncia de médias. H,
portanto, sérios limites à realiao de inerncias a partir dos
dados coletados em estudos anteriores a essa data.
O reexame dos dados e anlises de Chall indicou ue, apesar
das limitaes metodolgicas apontadas, os métodos
ônicos eram superiores: 49 casos para ônica sintética, 11
para ônica analtica e 34 casos sem dierena signiicativa.
Apesar da ineuvoca superioridade dos métodos ônicos
apresentada pelos dados, Chall no enatiou esse aspecto
na sua anlise. Segundo as observaes de McGuinness
(2005), ue reviu cuidadosamente este e outros estudos uemencionaremos adiante, isso se deveu ao ato de ue Chall
icou impressionada com as observaes do ue ocorria em
sala de aula. Esse impacto proporcionoulhe dois insights
importantes Primeiro o ato de ue os proessores
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importantes Primeiro o ato de ue os proessores
26 A partir dessa constatação as principais revistas cientícas passaram arejeitar, especialmente a partir da publicação do NRP Report, estudos sobremétodos em que o critério para denir método se baseia em declarações dosproessores. O critério aceitável pelas revistas de maior rigor cientíco requer aobservação e registro detalhado do que eetivamente ocorre na sala de aula
ue usam princpios de bom ensino tm classes mais
entusiasmadas e participativas, e, portanto, obtm melhores
resultados. Segundo, os proessores, em sua esmagadora
maioria, gostam de ser “ecléticos”, no resistem a inovaes, e
misturamnas com velhas prticas. Essa prtica de amalgamar
procedimentos anula o eeito de potenciais inovaes. 26 Ou
seja, apesar da evidncia sobre a superioridade dos métodosônicos, a autora se deixou impressionar mais pelo suposto
eeitoproessor, e acabou relegando a um segundo plano os
resultados mais robustos de sua prpria pesuisa.
A orma de apresentao do relatrio de Chall deixou
a impresso de ue o assunto icou inconcluso e ue
métodos de alabetiao no eram relevantes. O proessor
seria o ator mais importante. Em trabalhos posteriores,
notadamente Chall et alia (1990), Chall (2000), e Challe Adams (2001), Chall reconhece as limitaes de sua
anlise original e reairma, inclusive incorporando dados
mais recentes, a ineuvoca superioridade dos métodos
ônicos e a importncia de uso de materiais sistemticos e
estruturados para promover a alabetiao.
O Cooperative Research Program in First-grade Reading
Instruction
Esse estudo também decorreu da j citada National
Conerence on Research in English e deuse num contexto
ainda ortemente impactado pelo livro de Flesh publicado em
1953. Foi igualmente um momento de grande agitao nos
EUA, em uno do sucesso com ue a URSS lanou o Sputnik,
primeiro satélite artiicial. A grandea desse eito cientico
alimentou uma intensa discusso sobre a ualidade da
educao escolar americana. O estudo envolveu 27 projetos
independentes, ue oram reduidos a 15 comparaes para
eeito de anlise.
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observação e registro detalhado do que eetivamente ocorre na sala de aula
Quadro 2 Amostragem dos métodos usadosno estudo do Cooperative ResearchProgram.
Método Número de projetos
Initial Teaching Alphabet (i.t.a.) 5
Basal reader + método ônico 4
Experincia com linguagem 4
Lingustica 3
Lippincott (ônico) 3
O estudo de cada interveno durou um ano letivo – a
1ª série do sistema americano, reuentada por crianas
de seis anos de idade ue j passaram pela classe inicial, a
classe K Kindergarten. Testes padroniados oram usados
como controles em todos os estudos. A comparao geral
das médias levou os autores a concluir pela inexistncia de
dierenas signiicativas entre as intervenes. Esse relatrio,
de publicao uase simultnea ao livro de Chall, contribuiu
para manter aceso e inconcluso o debate sobre métodos dealabetiao. E desencorajou o surgimento de novos estudos
sobre a uesto.
McGuinness (2005) também revisou os resultados desse
estudo. Ela mostrou ue apesar dos cuidados tomados pelos
autores, e no obstante tratarse de um trabalho de amplas
propores, vrios problemas metodolgicos esconderam
importantes resultados contidos nos dados. Entre esses
problemas, dois se destacam por sua gravidade. O primeiro
oi ue os autores utiliaram as médias das turmas nos testes
de leitura. O detalhamento envolveu apenas o cômputo
separado das médias por gnero. Assim, para realiarem os
clculos estatsticos, substituram o uso de escores individuais
pelas médias. Isso reduiu a comparao a apenas duas
inormaes por sala de aula: a média dos meninos e a média
das meninas. O segundo problema relacionase com o uso
indevido de técnicas de anlise de varincia (ANOVA) paralidar com as comparaes. O uso de ANOVA pressupe uso de
varincias decorrentes de distribuies de notas individuais,
e no de médias de grupos. Esse problema ocorreu, em parte,
devido à inexistncia de computadores à época, mas isso
Cada projeto oi desenhado e levado a eeito de orma
a comparar a prtica predominante nas escolas norte
americanas (basal readers) com alternativas (ônico). Cinco
programas de ensino tiveram seus resultados comparados e
cada um oi objeto de estudos eitos por dierentes grupos
de pesuisadores, em dierentes localidades, conorme
sintetiado no quadro 2:
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no valida o uso imprprio da anlise da varincia nem as
concluses tiradas pelos autores.
Em uno desses euvocos metodolgicos, a varincia ue
seria devida às dierenas entre classes passou a incluir a
varincia dos alunos dentro das classes. Isso mudou o oco
do estudo. Ele deixou de ser um estudo sobre o impacto
ue o método produia no aprendiado de leitura de cada
aluno e passou a ser, na verdade, um estudo em ue se
comparavam os eeitos dos desempenhos dos proessores,
ou de seus estilos de ensino. Outra conseuncia oi a perda
de “statistical power ”, j ue o total de dados de 9.141 crianas
oi reduido à comparao de 15 médias. É curioso observar
ue mesmo pesuisadores renomados, como os autores
desse estudo, incorreram em erros desse tipo. Mais graveainda, tentaram superar esses problemas usando ANCOVA
(anlise de covarincia), mas caram nos mesmos problemas,
pelas mesmas raes. É relevante mencionar ue um artigo
contendo os resultados desses estudos, de autoria de Bond
e Dykstra, oi republicado no ano de 1997, na edio de
OutubroDeembro da Reading Research Quarterly , revista da
International Reading Association (IRA)27 .
O ue importa para os eeitos da presente reviso so assurpresas escondidas por trs de uma reanlise estatstica
rigorosa dos estudos de Bond e Dykstra, tal como a realiada
por McGuinness (2005). Em primeiro lugar, a reerida autora
identiicou os dados de desempenho individual dos alunos
nos testes Fry Oral Reading Test e GatesMacGinities Reading
Test (testes de leitura de palavras). Essa anlise apresentou os
seguintes resultados:
•Ométodo Lippincott oi superior em seis de seis comparaescom Initial Teaching Alphabet e em sete de 10 comparaes
com Basal Readers.
•Ométodo Basal + phonics oi superior em cinco de oito
comparaes.
27 A IRA – International Reading Association – endossou institucionalmentea concepção do ensino da “whole language” até quase o nal da década de
1990. Como resposta à publicação do livro Beginning to Read , a IRA expulsoude seus quadros a autora, Marilyn Jaeger Adams. Dezessete anos depois de suapublicação pela MIT Press o livro é a obra mais citada do mundo no campo dareading research. À época de seu lançamento colocou em cheque a sabedoriaconvencional sobre alabetização. E oi tido por membros da IRA como “the
work o the devil” . Já sua autora oi identicada como alguém que deveria serÉ
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“ h i h il b ll ” É l Li Eh i R h L i
• Ométodo do language experience oi superior em duas
comparaes.
• O método de Linguística no oi superior em nenhuma
comparao.
•Ométodo“basal-reader”–queeraaestratégiadealfabetização
utiliada em mais de 95% das classes no pas no oi superior
em nenhuma de 36 comparaes com outros métodos.
Em segundo lugar, McGuinness reanalisou os resultados com
base nos escores individuais dos alunos, e no com base nas
médias dos grupos. Os resultados esto apresentados nos
quadros 3 e 4.
Com base nas notas individuais dos alunos, McGuinnessobservou ue a maioria se encontrava no nvel de leituraesperado para a série respectiva, ou seja, o nvel 1.7 (primeirasérie, sétimo ms de aula). Em todas as comparaes, o escoredos grupos ue usaram algum tipo de Basal-reader é prximodisso, porue os testes usados haviam sido calibrados com a“norma”, ou seja, a norma estabelece, por deinio, o nvelesperado de leitura para cada ms do ano letivo. No entanto,os resultados do método Lippincott situavamse um pouco,
mas no muito, acima dos demais: o “no muito acima” (2.2)euivale a 6 meses letivos de avano, eeito ue no existeem nenhuma das outras intervenes.
Com base em sua reviso dos estudos de Chall e de Bond &Dykstra, McGuinness observa ue o impacto produido poreles oi negativo, na medida em ue, ao invés de estimularnovas pesuisas, inibiram a produo de novos estudos sobreimpacto dos métodos de alabetiao no desempenho
Read and Spell: a personal-historical perspective, na 1997 Society or the Scientifc
Studies o Reading Presidencial Adress. A IRA só abandonou sua postura militantee anticientíca nesse campo quase ao nal da década de 1990, às vésperasda publicação do NRP Report , quando readmitiu Adams em seus quadros. Tudo isso é mencionado para sublinhar o contexto ideológico em que as
discussões sobre alabetização ainda continuaram a transcorrer, mesmo dentrode círculos relativamente sosticados da comunidade acadêmica e cientíca.Isso também é posto em relevo para registrar que nem toda publicação emrevista com conselho editorial está isenta de erros, preconceitos e viesesanticientícos. O texto da conerência de Linnea Ehri está disponível paraleitura integral em http://www.triplesr.org/misc/97ehri.html Acesso em 20 de
b d 2011
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t b d 2011
Quadro 4 Médias nos testes individuais
Grupo NGilmorePreciso
GilmoreRitmo
FryPalavra
GatesPalavra
Basal 149 23.3 59.0 7.4 13.3
I.T.A. 163 26.0 60.0 17.2 19.3
Basal 161 21.6 59.2 6.2 12.1
Basal +Fônico
204 23.5 59.9 9.9 14.5
Basal 138 18.9 52.2 5.9 12.1
Experincia c/linguagem
134 21.8 53.0 9.1 13.8
Basal 120 23.3 59.1 6.5 12.1
Lingustico 146 17.9 43.8 7.8 10.5
Basal 97 24.4 56.2 6.0 12.3
Lippincott 94 29.5 62.4 18.4 20.5
Média Basal 22.3 57.2 6.4 12.4
GrupoLeitura de
palavraNvel na
sérieCompreensode pargrao
Nvel nasérie
VocabulrioNvel na
sérieSoletrar
Nvel nasérie
Estudo depalavras
Nvel nasérie
Basal1.028 20.1 1.7 19.6 1.7 22.0 1.9 11.4 1.9 35.9 1.9
I.T.A.1.055 23.2 1.9 20.9 1.8 21.9 1.9 10.8 1.9 38.6 2.0
Basal722 19.0 1.7 16.7 1.7 20.2 1.7 8.7 1.7 32.8 1.7
Basal+ Fônico
1.02220.9 1.8 20.5 1.8 21.1 1.8 10.8 1.9 35.3 1.8
Basal1.523 20.0 1.7 20.7 1.8 21.2 1.8 12.1 2.0 36.6 1.9
Exp Ling.1.431 21.5 1.8 21.1 1.8 22.1 1.9 12.3 2.0 37.3 1.9
Basal597 19.1 1.7 19.2 1.7 21.5 1.9 10.8 1.9 36.3 1.9
Lingüstico760 19.0 1.7 15.8 1.6 19.6 1.7 9.3 1.7 33.8 1.8
Basal525 19.6 1.7 19.6 1.7 22.2 1.9 10.8 1.9 36.1 1.9
Lippiccott488 26.6 2.2 24.4 1.9 23.7 2.2 14.1 2.2 41.4 2.2
Basaltotal.405 19.6 1.7 19.2 1.7 21.4 1.8 10.8 1.9 35.6 1.9
Quadro 3Médias e nível equivalente na série escolar nossubtestes do Stanord Reading Reading Test
Obs. O número abaixo dos grupos reere-se ao tamanho das respectivas amostras
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em leitura. Nas concluses daueles autores – ue ou noanalisaram devidamente os dados ou no ocaliaram suaateno no ue os dados diiam – icou a impresso de uemétodos pareciam no aer dierena e o desempenho noaprendiado de leitura parecia depender exclusivamente dahabilidade do proessor28. A uesto do impacto dos métodos
no desempenho em leitura perdeu interesse, pois tanto Challuanto Bond & Dykstra, apesar das evidncias, deixaram aimpresso de ue a discusso sobre métodos era irrelevante.
É curioso ressaltar ue, tal como no estudo de Chall, aconcluso do relatrio de Bond e Dykstra mencionou – emborano tenha chamado ateno para isso – alguns aspectos uepoderiam ter mudado o curso das pesuisas e das polticaspúblicas de alabetiao. Os autores do reerido estudoreconhecem, nas suas concluses e recomendaes, ue os
métodos ITA e Lippincott, ue oram superiores aos demais,“encorajam as crianas a escrever smbolos na medida em ueeles aprendem a reconheclos e a associar esses smboloscom sons”. A observao, inteiramente suportada pelos dados,icou enterrada no meio a outras consideraes, e poderia termudado o curso da discusso sobre métodos de alabetiao.Mas no oi isso ue ocorreu. As seguintes airmaes tambémse encontram “enterradas” em dierentes partes do relatrio:
•Discriminarfonemaspodeserimportanteparaaprenderaler.
•Aprenderadecodificarémaisimportantedoquedecorarpalavras. Crianas ue utiliam apenas os “basal readers”apresentam sérios problemas de decodiicao.
•Ummétododealfabetizarcomasseguintescaracterísticasproduiu ganhos muito maiores do ue os demais:regularidade smbolossons, vocabulrio amplo mas
controlado, introduido sistematicamente, copiar letras,palavras e rases diendo a ue smbolo corresponde aspalavras, ler textos com nase num onema em particular.
•Oqueosprofessoresfazemnãoépredizível,temenormeimportncia e precisa ser investigado de orma uantitativa,em conjuno com estudos sobre métodos em salas de aula.
28 A posição relativista nesse campo, que atribui todas as dierenças ao
proessor, vem sendo avaliada mais recentemente no contexto dos estudossituados sob a égide da “educação baseada em evidências”. A ideia de quetudo depende do proessor é considerada perigosa na medida em que, porum lado, ignora o ato de que o proessor aprendeu suas práticas em algumlugar, e, portanto, ela não é espontânea ou natural. Por outro lado, exclui aatividade de ensino e a prossão do magistério do âmbito do estudo cientíco, já que tudo dependeria exclusivamente de intuições particulares, pessoais, não
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i á i idi i á i á i à i l i
• É pouco relevante perguntar ao professor sobre o queele a ou pensa ue a, bem como analisar dirios dosproessores. Para se chegar a alguma concluso segura sobreo eeito de métodos ou da ao de proessores é observar oue eetivamente ocorre na sala de aula.
Em sntese, os estudos de Chall, e de Bond e Dykstra alharamem revelar o ue realmente aconteceu: a superioridade
do programa Lippincott em todas as comparaes. Além
disso, deixaram a impresso de ue sucesso de métodos de
alabetiao no pode ser previsto. Isso levou a reorar a
ideia euivocada de ue o ue importa é o proessor. Um dos
resultados negativos desses estudos oi ue eles ensejaram
poucos trabalhos rigorosos sobre métodos de alabetiao.
Foi por essa rao ue o NRP ao ual nos reeriremos
detalhadamente adiante, s conseguiu ualiicar 38 estudosde comparao do eeito de métodos de alabetiao num
total de 1072 inicialmente identiicados. E uase metade era
relativo a alunos atrasados, com diiculdades de aprendiagem
de leitura. Ou seja: sobraram apenas poucos estudos rigorosos.
Esse vcuo na literatura permitiu o lorescimento dos “basal
readings” e do movimento do “whole language” 29.
29 Sob a designação genérica de concepção construtivista da educação, sejaem versão sociointeracionista seja em sua versão psicogenética, ideias e
práticas do movimento whole language oram assimilados pela intelligentsia educacional brasileira e integrados a nossa educação escolar nas últimas duasdécadas e meia, particularmente no campo do ensino da língua portuguesa. Teóricos da pedagogia alabetizadora mainstream brasileira tendem a rejeitartal armação. Acoimam-na de simplicadora. Não obstante, é impossível negara identidade entre o equacionamento pedagógico da questão do ensinoda leitura consignado nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nas Diretrizes
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da leitura consignado nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nas Diretrizes
Curriculares das Secretarias Estaduais de Educação de todos os estados doBrasil e a caracterização que os próprios elaboradores e divulgadores da whole
language azem de seu movimento. Whole language (WL) é, antes de tudo,uma abordagem teórico-prática que visa uma sociedade justa, democrática eacolhedora da diversidade. A perspectiva da whole Language privilegia noçõesteórico-losócas tanto sobre a linguagem e aprendizagem de línguas quantosobre a própria realidade. No horizonte da whole Language a linguagemé uma extraordinária erramenta humana de construção (não de simplesreconhecimento) de signicados. Do seu ponto de vista, o aprendizado da
linguagem não signica o domínio de elementos separados (palavras, sons,rases), mas sim o apossar-se do supersistema de uma prática social que, a umsó tempo, libera e constrange. Não é por meio de exercícios repetidos, demodo a que os elementos da linguagem possam ser usados posteriormenteem outras situações, que se entra na posse da linguagem. Ao contrário, é peloseu uso real e mais produtivo possível, em interação com quem, além de usá-
ESTUDOS SObRE CUSTO DE OPORTUNIDADE DOUSO DO TEMPO NAS CLASSES DE ALFAbETIZAÇÃO
Apesar do desinteresse pela uesto, durante as trs últimas
décadas do século XX oram produidos alguns estudos
importantes ue lanaram lu sobre aspectos dos métodos
de alabetiao, e ue, no seu todo, reoram as evidncias
sobre a superioridade dos métodos ônicos, bem como
sobre as raes pelas uais eles so mais eicaes. Nesta
seo sero revistos os principais estudos e suas concluses.
Esses estudos dose paralelamente à importante reviso da
literatura sobre alabetiao realiada por Adams (1990) e so
concomitantes com o trabalho ue culminou na publicao
do Relatrio do NRP no ano de 2.000. Sintetiamos abaixo as
principais concluses desses estudos.
1. Projeto Followthrough
O projeto Followthrough oi o maior experimento
educacional conduido no mundo. Ele investigou diversas
intervenes nas uais oram empregados distintos
materiais e métodos de alabetiao. O projeto oidesenvolvido em mais de cem distritos escolares dos
Estados Unidos a partir do ano de 1969. Os modelos de
alabetiao variaram desde concepes cognitivas
genéricas (intervenes baseadas em teorias psicolgicas
de desenvolvimento) até modelos com nase em variveis
aetivas ou desenvolvimento de “autoestima”.
Dentre essas intervenes, a ue utiliou o Programa DISTAR
(Stebbins et al. 1977) teve resultados melhores ue os demais.
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l i á i lid d
Tratase de um programa estruturado de ensino ue
usou método ônico. Esse programa oi comparado com
oito modelos dierentes de alabetiao e mostrouse
signiicativamente superior a todos eles nos trs conjuntos de
indicadores: habilidades bsicas de alabetiao, habilidades
cognitivas e habilidades aetivas.
2. Estudo de Evas e Carr (1985)
Esses autores compararam dois grupos de 10 classes. O
tratamento A oi baseado na proposta “whole language”, e o
tratamento B, no “método ônico”. Participaram do estudo 400
crianas, tendo sido eitas 50 observaes em perodos de 10
segundos. O comportamento do proessor e suas interaes
com os alunos em sala de aula também oram codiicados.
Os pesuisadores observaram dierenas marcantes entreos proessores na alocao do tempo às diversas atividades.
Os resultados no teste de compreenso de leitura revelaram
ue os alunos ue participaram do tratamento B obtiveram
resultados signiicativamente superiores. Outros resultados
de interesse do estudo encontramse sintetiados abaixo:
•Otempogastomemorizandopalavrasfoinegativamente
relacionado com leitura.
•OmaiortempoempregadopelogrupoAematividadesde
compreenso no aetou a nota em compreenso.
•A leitura silenciosa emgrupoteve correlação fortemente
positiva com desempenho.
•Aleiturasilenciosaindividualnãotevecorrelaçãocom
o desempenho.
• As observações acima, algumas das quais contrariam o
senso comum, sero retomadas adiante.
3. Sumbler (1999)
Sumbler (1999) replicou a pesuisa anterior de Evans e
Carr. Ele também comparou dois grupos de 10 classes. O
Grupo A adotou um enoue eclético, balanceado, a critériodo proessor. O Grupo B utiliou o método Jolly Phonics, o
mais semelhante ao prottipo apresentado no incio deste
trabalho. Exemplos de atividades de “ônica” usadas nesse
método incluam soletrar oralmente, identiicar oralmente
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,
a letra correspondente ao som, aprender correspondncias
entre sons e letras, analisar e sintetiar onemas.
Os resultados indicaram dierenas marcantes entre os
proessores no tempo dedicado a atividades relevantes à
alabetiao, replicando, também nisso, os achados de
Evans e Carr. Foram usados testes padroniados de leiturae ditado. Em todos os testes o grupo B se mostrou à rente
do outro grupo. Outro resultado interessante oi a veriicao
de correlaes altas entre tempo gasto em atividades de
“ônica” (.48 a .62) e cpia ou escrita de letras e palavras (.50
e .55). Como no estudo de Evans e Carr, Sumbler também
identiicou o eeito negativo de atividades de leitura,
vocabulrio e compreenso de textos nos resultados do teste,
o ue possivelmente se explica pelo custo de oportunidade
ue essas tareas exerceram, em detrimento de atividadesprprias de alabetiao.
4. Meyer et al. (1994)
No estudo de Meyer et al. (1999) oi eita uma comparao
entre dois grupos de crianas de duas coortes (kindergarten
e 1ª série, crianas de cinco e seis anos), em trs distritos
escolares. O estudo oi realiado e acompanhado durante
dois anos letivos. Esse estudo corrobora estudos anteriores
sobre o custo de oportunidade de tareas no diretamente
relevantes ao processo de alabetiao. Os autores
encontraram correlao negativa entre tempo de leitura de
histrias e desempenho nos vrios testes, especialmente
no teste de decodiicao. Por outro lado encontraram
correlao positiva (. 44 a .66) entre ensinar a decodiicar e
desempenho nos cinco testes de competncias especicas de
leitura. Esse estudo, como outros selecionados nesta seo,ilustram a importncia da escolha da varivel independente,
ou seja, de testes de alabetiao ue eetivamente meam
as competncias relevantes, e no apenas das variveis
dependentes, ou seja, das variveis associadas aos métodos
de alabetiao sendo comparados.
5. Estudos sobre a importcia de escrever as letras:
Hulme (1981), Hulme e Bradley (1984), Hulme, Mok e
Ives (1987).
Hulme liderou vrios estudos ue nos permitem entender a
importncia de escrever as letras para a auisio das relaes
entre onemas e graemas. Para tanto, ele usou dierentes
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entre onemas e graemas. Para tanto, ele usou dierentes
métodos de lidar com as letras, tais como copiar, usar cartes,
usar cartelas. Nesses estudos, o autor comparou o tempo
de aprendiagem das crianas para aprender relaes entre
onemas e graemas. Os resultados oram mais avorveis
ao grupo ue escrevia ou copiava as letras. A explicao
subjacente é ue a atividade motora promove a memria,
ora o aluno a prestar a ateno e manter na memria a
imagem da palavra de orma mais dierenciada. Esses estudos
so corroborados por vrios outros mais recentes a respeito
dos benecios do ensino da caligraia, cpia, bem como das
vantagens superiores em ortograia de alunos ue, durante
o processo de alabetiao, escrevem à mo vs. usando
o computador. Esses achados também oram reorados
com as concluses do estudo de Cunningham e Stanovich
(1990), ue comparou trs grupos engajados numa tarea de
aprender a soletrar palavras novas. Os tratamentos incluram
copiar as palavras à mo, usar cartelas ou digitar as palavras
no computador. O grupo ue copiou à mo escreveu o dobro
de palavras corretas comparado aos demais grupos.
6. Estudos sobre o eeito de exposio à ortograia correta
e icorreta
Outro tema relacionado à importncia da exposio àsletras e à orma correta das palavras durante o processo
de alabetiao oi aproundado nos estudos de Ehri e
Wilce (1987 Urhy e Shepherd (1993), ao contrrio do ue é
proposto pelos deensores da “escrita espontnea” e pelos
adeptos de métodos naturais, lingusticos, “whole language”,
construtivistas e sociointeracionistas. A evidncia emprica
a respeito da eiccia da escrita espontnea ou escrita
emergente como método de ensinar a escrever aponta para
vrias inconvenincias de seu uso. Os estudos j mencionadosde Uhry e Shepherd demonstraram ue dier o nome da letra
no ajuda a ormar a nova palavra (como no babrar
tata, barata). Pesuisas cujos resultados oram publicados
recentemente mostram como é euivocada a crena de
ue no processo de aprendiagem da leitura e escrita as
crianas passariam por um estgio silbico. Tal crena ainda é,
atualmente, muito enraiada; tanto entre educadores latino
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americanos uanto entre educadores europeus da pennsula
ibérica (Pollo et al, 2005). Sobre isso, Snow (2006) relembra as
diiculdades relatadas por Gabriel Garcia Marues: “Me costó
mucho aprender a leer. No me parecía lógico que la letra m se
llamara eme, y sin embargo con la vocal siguiente no se dijera
emea sino ma. Me era imposible leer así .” 30
Os resultados dos estudos com o método de Lippincott, ao
contrrio, diem ue identiicar o som das letras ajuda. Um
estudo de Treiman e Tinco (1997) demonstrou ue aprender o
nome das letras ocalia a ateno na slaba, e no nos onemas,
o ue bloueia a aprendiagem do princpio alabético.
O objetivo de incluir na presente reviso esse conjunto de
estudos aparentemente to dspares, e mesmo antes de
apresentar os resultados do NRP, oi para ressaltar o custo
de oportunidade do emprego de tempo nas classes de
alabetiao. Esses vrios estudos mostram ue o uso
do tempo nas classes de alabetiao é mais produtivo
com atividades de ônica, ue promovem a competncia
de leitura. Em outras palavras, h um trade-o entre aer
certas coisas em detrimento de outras. As evidncias sobre
o ue aer so contraintuitivas. É dicil imaginar ue
contar histrias ou desenvolver vocabulrio e tantas outrasatividades possa prejudicar os alunos. No entanto, uando se
mede a capacidade de leitura, elas se revelam no produtivas
ou deixam transparecer seu impacto negativo. Alguns
estudos também demonstram o eeito negativo de adivinhar
o ormato das palavras ou decorar palavras ao invés de usar
esse tempo para desenvolver a habilidade de decodiicar.
Essa evidncia est amplamente documentada em estudos
como os de McGuinness (1997 e 1997a), Barr (1972, 1974/75),
Vellutino e Scanlon, 1987). Também est documentada arao do seu eeito negativo (Boronat e Logan, 1997): o
aprendi presta ateno àuilo ue est automaticamente
codiicado no cérebro e é automaticamente sinaliado para
a memria. A ateno age como uma pista para recuperar as
associaes ue esto na memria. O ue voc ignora no
é codiicado. quanto mais uma criana presta ateno nos
padres errados e em combinaes de letras e seuncias
30 Esse relato de Garcia Marquez está citado à página 7 do artigo “What Countsas Literacy in Early Childhood”. Trata-se de um texto publicado em K. McCartney& D. Phillips (Eds.), Blackwell handbook o early childhood development. Malden,MA: Blackwell. Pode-se ler uma versão integral do artigo em http://gseweb.harvard.edu/~snow/CV/Publication%20PDFs/SNOWWhat%20counts%20as%20li %20i %20 l %20 hildh d l d A 20 d b d
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literacy%20in%20early%20childhood nal pd Acesso em 20 de setembro de
de letras (e no nos onemas), mais isso se torna habitual e
automtico. Com essas advertncias em mente, analisemos
agora as evidncias do NRP.
Evidências do National Reading Panel Report (NRP)
O NRP Report (NRP2000) tem como subttulo “Uma avaliao
baseada em evidncias da literatura cientica sobre leitura
e suas implicaes para o ensino da leitura”. Em 1997, por
determinao do Department o Labor, Health and Human
Services, and Education and Related Agencies do Senado
dos EUA o painel oi convocado pelo diretor do National
Institute o Child Health and Human Development e pelo
Departamento de Educao. Sua tarea: aer um balano
das evidncias cienticas sobre alabetiao e ensino da
leitura ue poderiam ser usadas na sala de aula. O painel
incluiu 14 cientistas renomados e teve como ponto de
partida a publicao de Snow, Burns e Griin (1998) ue
havia sido elaborada sob a égide do National Research
Council (NRC). Com base nesse estudo, ue j identiicara as
reas mais crticas para o ensino da leitura e sobre as uais
havia um corpo suiciente de pesuisas e evidncias, oram
selecionados os tpicos ue seriam objeto da reviso. O NRP
decidiu concentrarse nos seguintes temas, consideradosmais crticos e relevantes para responder ao seu mandato:
conscincia onmica, métodos ônicos, luncia, vocabulrio
e compreenso de leitura 31. A presente reviso da literatura
se concentra no captulo II do NRP, ue trata dos métodos.
Uma das perguntas especicas eita pelo grupo de trabalho
era se “o ensino por métodos ônicos contribui para melhorar
o desempenho dos alunos, e, em caso airmativo, como é a
melhor orma de promover esse ensino”. Os detalhes sobre
metodologia, critérios, amostras e outras tecnicalidadesdo NRP encontramse na introduo do reerido relatrio.
Apresentamos uma breve sntese dos aspectos metodolgicos
mais relevantes para a presente reviso.
A reviso da literatura partiu do exame de mais de 100 mil
estudos publicados desde 1970, ue oram identiicados pelo
31 O subgrupo responsável pela análise da importância do ensino deconsciência onêmica, por exemplo, encontrou “eect sizes” de .86, o quesignica que os alunos submetidos a esse tipo de treinamento orambeneciados na aprendizagem de leitura e escrita. Os resultados relacionadosao ensino de vocabulário e compreensão também lançam novas luzes sobrealgumas questões importantes do ensino da língua, mas não têm relação
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di bj d i ã
cruamento localiadores em vrias bases de dados. Cada
artigo oi submetido a uma triagem com base em uatro
critérios: (1) estudo experimental ou uaseexperimental
com grupo de controle; (2) publicado aps em 1970 e em
revistas cienticas com conselho editorial (reerees); (3) os
dados deveriam ter sido usados para testar hipteses sobre
eiccia de métodos ônicos vs. no ônicos; (4) o teste
para comparar desempenho deveria medir indicadores de
competncia de leitura – e no de vocabulrio, compreenso
ou outras variveis no diretamente relevantes ao processo
de alabetiao. 32
Como resultado dessa triagem, 75 estudos oram
selecionados para anlise, posteriormente reduidos a
38, aps uma aplicao mais rigorosa dos critérios acima
listados. Disso resultou um conjunto de 66 casos ue, por
sua ve, permitiu realiar 62 comparaes entre vrios tipos
de interveno. A pergunta central a ser respondida pelos
testes estatsticos era se o uso de métodos ônicos aumenta
o desempenho da leitura e, se positivo, uais os tipos mais
eicaes de interveno.
A rao do grupo para ocaliar a anlise na eiccia dos métodos
ônicos decorreu do estudo anterior j mencionado do NRC eue indicava a superioridade desses métodos. Além disso, os
investigadores constataram a alta de estudos cienticos sobre
o enoue global (whole language) e de outras intervenes
baseadas em “basal readers” – apesar de essas abordagens
serem usadas em mais de 90% das salas de aula ao longo das
décadas de 70 a 90, uando se publicou a maioria dos estudos
revistos pelo NRP. STAHL e MILLER (1989) ieram reviso
de literatura sobre “whole language/language experience” eencontraram apenas 46 estudos, dos uais apenas 17 com
dados ue permitiram computar “eect sizes”. Esse estudo
apresenta 58 comparaes no signiicativas, 26 avorveis
ao “whole language” e 16 avorveis aos “basal readers”. Essa
vantagem, no entanto, somente aparecia em testes ue no
32 O leitor brasileiro deve observar a importância desse aspecto, pois no Brasil é
usual a conusão entre alabetização e compreensão. Em nosso país, para alarem termos rigorosamente cientícos, não há testes de alabetização. Aqui, os“testes” normalmente usados para “medir nível de alabetização” na verdadenão contemplam dimensões relevantes da alabetização. O NRP, partindo deuma denição clara do que é ler e do que é compreender, pode controlar oimpacto de intervenções sobre essas dierentes dimensões da aprendizagemda leitura
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da leitura
mediam leitura (ex: conceitos de texto impresso), e eram
limitados a classes de préescola (kindergarten, crianas de
cinco anos). Ademais, dos 17 estudos com dados suicientes
para computar “eect sizes”, apenas uatro haviam sido
publicados em revistas com conselho editorial e, nesses uatro
estudos, as vantagens dos métodos de “whole language” selimitaram a conceitos de “amiliaridade com texto impresso”ou
“prontido para alabetiar”.
O estudo do NRP consistiu na realiao de metanlises dos
estudos selecionados, comparandose as médias obtidas nos
estudos com a utiliao de anlise de varincia. As dierenas
so apresentadas na orma de E.S. (eect size). O E.S. é obtido
pela transormao de médias e desviospadro em unidades
de desvio padro (m1 – m2/dp1 + dp2 x .5). Dessa orma um
E.S. de 1.0 signiica uma dierena de 1 desvio padro. Num
teste padroniado de leitura, nos EUA, um E.S. de 1 signiica
uma dierena de 15 pontos, ou seja, percentil 80 vs. percentil
50. Tratase, portanto, de uma dierena aprecivel. Os
resultados apresentados adiante constituem uma sntese do
ue é apresentado nas pginas 292 a 2176 do NRP.
A pergunta central do estudo era se os métodos ônicos seriammais eicaes. O resultado global das comparaes indica um
E.S. de .44 a avor de métodos ônicos vs. outros métodos.
Esse E.S. inclui o cômputo de todas as medidas de leitura,
grupos de idade, tipos de populao e nos vrios desenhos
experimentais. A resposta, portanto, é ineuivocamente
positiva em relao aos métodos ônicos. A dierena a avor
dos métodos ônicos euivale a praticamente meio desvio
padro. Essa pergunta também oi ormulada de maneiradierente, para saber se os métodos ônicos oram superiores
a cada uma das outras intervenes analisadas, tais como
programas de ônica no sistemtica, “basal programs”,
“whole language” e “wholeword”. A resposta oi avorvel
aos métodos ônicos, o E.S. varia de .31 a .51 dependendo da
comparao. O relatrio airma textualmente ue “os alunos
submetidos ao método ônico superaram o desempenho dos
alunos ensinados por todos os outros métodos”.
A segunda pergunta era se alguns, dentre os métodos ônicos,
seriam mais eicaes do ue outros. O relatrio aponta ue
os métodos ônicos sintéticos apresentam E.S. superiores de
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os métodos ônicos sintéticos apresentam E.S. superiores de
.27 a .45 aos demais tipos de métodos ônicos, dependendo
da intensidade da implementao. A comparao entre sete
programas de ônica sintética no demonstrou dierena
entre eles. Portanto, a resposta do NRP é ue existem métodos
ônicos mais eicaes do ue outros.
Outra pergunta respondida pelo relatrio era se o método
ônico unciona melhor com crianas mais novas. A resposta
é positiva: os E.S. oram de .56, .54 e .27 respectivamente
para alunos de cinco, seis e sete anos ou mais. Esses dados
so importantes na medida em ue corroboram os achados
da neurocincia em relao à idade mais apropriada para
iniciar o processo de alabetiao. Também conirmam
dados reportados no estudo j mencionado de Chall (1990) a
respeito da diiculdade crescente em alabetiar crianas ue
no oram alabetiadas no tempo correto.
O método ônico seria mais adeuado para crianas ue
apresentam diiculdades para aprender a ler? A resposta a
essa pergunta também oi positiva. Os dados do NRP indicam
E.S. de.58 e .74 respectivamente para crianas de seis e sete
anos de idade consideradas como de alto risco.
Uma pergunta adicional respondida pelo NRP era se o método
ônico ajuda a desenvolver competncias de compreenso,
além de competncias de decodiicao. Também nesse aspecto
a resposta é positiva, e indicada pelo E.S. de .51 para crianas
de seis anos. Os resultados no so conclusivos para crianas
de sete anos e mais. Isso possivelmente revela a exigncia
crescente de competncias de vocabulrio e compreenso
nas séries mais avanadas, e reora a independncia entre ascompetncias de leitura e compreenso.
Uma das uestes j antecipadas no presente documento
reerese à aprendiagem da ortograia e da inluncia de
métodos de alabetiao sobre o desempenho ortogrico.
O NRP pesuisou se o uso do método ônico ajudaria no
desenvolvimento da ortograia (soletrar). O E.S. oi de .67
a avor das intervenes ue usaram o método ônico nas
séries iniciais, portanto, rancamente positivo. Nas demais
séries o resultado é misto. Isso se deve ao ato de ue a
ortograia exigida em nveis mais elevados de escolaridade
reuer outras inormaes além da transcrio onética.
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reuer outras inormaes além da transcrio onética.
Uma das uestes mais importantes – ue j havia sido
suscitada no relatrio anterior do NRP – reerese à eiccia
dierencial dos métodos ônicos: seriam eles igualmente
eicaes para crianas de todos os nveis socioeconômicos?
A evidncia é positiva: o E.S. oi de .66 para crianas de baixo
nvel socioeconômico e de .44 para alunos de classe média.Isso signiica ue os métodos ônicos so eicaes para todos
os tipos de aluno, mas particularmente mais eicaes com
alunos ue provm de ambientes mais desavorecidos do
ponto de vista socioeconômico.
Do ponto de vista metodolgico, os autores do NRP tentaram
veriicar se os estudos ue demonstram a superioridade dos
métodos ônicos eram os mais rigorosos ou os menos rigorosos
dentre os estudos em anlise. Os resultados indicaram
ue os eeitos positivos do método ônico permaneceram
uando se utiliaram os dados dos estudos mais rigorosos,
apresentando E.S. de .45 – semelhante aos resultados de
estudos uaseexperimentais ue apresentaram E.S. de .43.
Finalmente, o NRP responde de maneira categrica ao
mandato ue lhe oi coniado: as evidncias so suicientes
para recomendar o uso sistemtico de métodos ônicos nasescolas? Apesar dos dados apresentados acima, o relatrio é
reticente na sua resposta. Mas di, com clarea, ue
“.... these acts should persuade educators and the public
that systematic phonics instruction is a valuable part o a
successul classroom reading program. The Panel’s indings
summarized above serve to illuminate the conditions that
make phonics instruction especially eective”.
33 Rayner, Keith; Foorman, Barbara; Peretti, Charles; Pesestsky, David;Seidenberg, Mark S. How should reading be taught? Scientic American,March, 2002. Esse artigo, escrito por alguns dos cientistas que maiscontribuíram para o conhecimento cientíco da leitura nas últimas décadas,está acompanhado do seguinte comentário de capa: “Educators have long
argued over the best way to teach reading to children.” The research, however,
indicates that a highly popular method is inadequate on its own.” Esse mesmoartigo revela o episódio em que dezenas de pesquisadores, linguistase psicolinguistas, inclusive dois dos autores desse artigo, assinaram um
documento rejeitando a aprovação do Massachusetts Education ReormAct o 1993, que tornou ocial no Estado um currículo de alabetização queia de encontro às evidências cientícas sobre procedimentos ecazes paraalabetização. Tratava-se de um currículo de alabetização baseado na whole
language, e que oi revogado em unção das evidências apresentadas nessedocumento.34É curioso ressaltar que em nenhuma publicação acadêmica, dissertação
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É curioso ressaltar que em nenhuma publicação acadêmica, dissertação
Menos do ue dúvidas metodolgicas, esse pargrao pode
ser interpretado como a deerncia dos autores do relatrio
ao clamor corporativista a avor dos métodos prevalentes,
mesmo ue ineicaes, de alabetiao.33
Também no caso do NRP, os atos apresentados alam mais alto
do ue as concluses dos seus autores. Mas, dierentemente
dos estudos de Chall (1967) e Bond e Dykstra (1977), o
NRP suscitou uma avalanche de estudos e publicaes.
Até o momento no oi publicado, em revistas cienticas,
nenhum artigo ue invalide suas recomendaes centrais
sobre a uesto dos métodos de ensino. Houve, e continua
havendo uestionamentos de naturea geral a respeito do
mesmo (Strauss, 2003; Garan, 2002 e 2004). Para responder
a esses uestionamentos, o NICHD publicou, em 2007, o
livro The Voice o Evidence in Reading Research, e, em seu
captulo 11 analisa as crticas levantadas ao NRP (McCardle &
Chhabra, 2004). A uase totalidade dessas crticas é de undo
ideolgico e/ou no tinha consistncia cientica. As crticas
oram devidamente rebatidas no reerido estudo. Ao lado do
livro seminal de Adams (1990), o NRP continua batendo todos
os recordes de citao nas publicaes acadmicas sobre
alabetiao e nas propostas de polticas de alabetiao
dos governos em todo o mundo34
.
Mas a principal crtica ao NRP no veio dos ue contestam
a superioridade dos métodos ônicos. Surpreendente e
ironicamente ela oi publicada por McGuinness, ue h
décadas demonstrava, por meio de investigaes cienticas
e revises de outros estudos, a importncia e eiccia do
uso desses métodos. Dessa crtica nos ocuparemos em
seguida, depois de apontarmos os resultados de uma reviso
sistemtica da literatura ue conirmou os dados de umimportante trabalho realiado no mbito do NRP.
de mestrado ou tese de doutorado sobre alabetização no Brasil, programasociais ou recomendações do Ministério da Educação ou das Secretarias deEducação, no Brasil, conste qualquer menção sequer à existência de trabalhoscomo os citados na presente revisão da literatura. Ver, por exemplo, A PesquisaSobre Leitura no Brasil: 1980-2000. Ela constitui uma base de dados de umprojeto dirigido por Norma Sandra de Almeida Ferreira disponível paraconsulta online em http://www.e.unicamp.br/alle/catalogo_on-line/abrir.sw Acesso em 20 de setembro de 2011.35 Carole Torgerson é Proessor o Experimental Design in the University o Birmingham School o Education. Sua área de interesse está conguradanos campos da research synthesis e do desenho experimental na pesquisaeducacional. Seu trabalho mais substantivo nesses campos reere-se àalabetização e ao aprendizado do inglês como língua materna. Ela se dedicahoje ao empreendimento de várias revisões sistemáticas e a discussão de
d ló l d
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tõ t d ló i l id i õ
A revisão de Carole Torgerson 35
O termo “tertiary ” review poderia ser livremente traduido naexpresso reviso de revises. Reerese ao aproundamentoe apereioamento da metodologia das revises sistemticasde literatura cientica. A visibilidade dos resultadosproduidos por essas revises transormouse em um dos
atores de induo do paradigma da evidence based policy .Isso reora o elo entre a pesuisa e a prtica. Essas revisesso potentes mecanismos de transormao de inormaoem conhecimento. Elas reúnem, organiam e avaliamcriticamente as inormaes cienticas disponveis. Alémdisso, dierentemente do ue aem as revises narrativas,usam parmetros objetivos para julgar a relevnciacientica das evidncias disponveis e uantiicam essasinormaes, sobretudo uando as utiliam o procedimento
da metanlise. Metanlise é o método estatstico ue integrao resultado de dois ou mais estudos primrios. Assim, asrevises sistemticas, principalmente com metanlise,transormamse em mananciais de evidncias. Tomadoresde deciso, principalmente no mbito dos governos,pressionados pela demanda social de eiccia das aes e debom uso dos recursos sempre limitados, podem lanar modessas evidncias para ormular e aplicar polticas públicas(uando conseguem vencer as oras polticas e ideolgicasue se organiam para neutraliar essa dinmica e uando
conseguem escapar dos circunluios pseudoilosicos).
Com o aumento da ateno dada à educao no campo daspolticas governamentais, merc do conhecimento crescentesobre seu o impacto na economia (HANUSHEK et al. 2008)e em uno da percepo dos benecios individuais esociais de uma educao eica (OECD 2007), intensiicouse a demanda por evidncias acumuladas na pesuisaeducacional. Mas nessa maré montante de demanda porevidncia vieram à tona, e icaram patentes, a ragilidade
dos conhecimentos produidos no campo da pesuisaeducacional e a precariedade da inormao educacionalpara embasar polticas eetivas (Shavelson & Towne, 2002).Esse processo induiu, sobretudo nos EUA e Inglaterra,modiicaes no campo da pesuisa social em geral e nocampo da pesuisa educacional em particular.
No caso da educao, a pesuisa em leitura oi uma das reasem ue houve verdadeira revoluo nos últimos 25 a 30 anos. Otrabalho de Carole Torgensen aui examinado concretia umaao de aproundamento e de reinamento do grau de relevnciacientica da pesuisa educacional. Adotando os parmetrosde cientiicidade do campo das pesuisas médicas a pesuisaeducacional, pode se credenciar a prover adeuadamente ademanda de evidence based educational policies
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demanda de evidence based educational policies
O oco da reviso oi uma deinio psicologicamente estritade leitura ue envolveu a identiicao e reconhecimentode palavra, além da compreenso e produo de texto.A ualidade das revises nela analisadas oi aerida porintermédio de uma adaptao do qUOROM – Quality o Reporting o Meta-analyses – um protocolo para apropriadadivulgao de relatrios de metanlises desenvolvido paraa pesuisa na rea de saúde. O checklist do qUOROM oiadaptado para metanlise educacional. Reconhecendo ueé de larga aceitao na comunidade cientica o ato de ueo método de maior coniabilidade para o estabelecimentode conexes causais entre interveno de ensino de leiturae resultado em aprendiado de leitura é alguma orma depesuisa experimental, o objetivo do trabalho oi: identiicartodas as revises sistemticas sobre ensino de leitura,avaliar sua ualidade usando a adaptao do qUOROM
especialmente desenvolvida para tal e reportar os achadosmais substantivos dessas revises sistemticas.
O levantamento inicial identiicou 206 possveis revises aptas àincluso no estudo. Aplicados os critérios de incluso/excluso,apenas 14 oram habilitadas. Entre as 14 systematic reviewsincludas nesta tertiary review estava a reviso sistemtica (commetanlise) sobre o eeito da instruo ônica no aprendiadoda leitura, realiada no mbito do subgrupo ALPHABETICSdo NRP, acima comentada e descrita (Ehri et al, 2001).36 Duas
oram as concluses do estudo de Carole Torgerson sobre areviso sistemtica realiada por Ehri et al no NRP:
•ElapassouemtodosositensdochecklistdaadaptaçãodoqUOROM para revises sistemticas na rea da educao.Sua ualidade cientica é indiscutvel.
•AsuperioridadedoEffectSizecalculadoparaasintervençõescom método ônico conirma ue existem undadas
36
Esse trabalho oi publicado no ano que se seguiu à divulgação do NRP Report.Ele comporta, para nós brasileiros, uma curiosidade e um enigma. A curiosidadedecorre do seguinte: uma de suas coautoras, a brasileira Simone Nunes, mereceuagradecimento explícito na publicação do NICHD que divulgou o NRP Report. Oartigo aqui reerido, que ela assina em coautoria com Linnea Ehri, oi publicado naReview o Educational Research em 2001, à época número 1 do ranking por ator deimpacto no Social Sciences Journal Citation Report, área de Education & EducationalResearch. Atualmente a revista ocupa a segunda posição nesse ranking. O enigmadeve-se ao seguinte: o trabalho de Simone Nunes não é somente desconhecidoda pedagogia ocial e da produção acadêmica brasileira na área de alabetização.Relembrando o já indicado na nota 25 acima, ressaltamos aqui o ato de que omaterial que a Secretaria de Educação Básica do MEC e as Secretarias de EducaçãoEstaduais e Municipais de Educação do Brasil adquirem e diundem para treinamento
e apereiçoamento de alabetizadores brasileiros colide rontalmente com asevidências apresentadas no trabalho do qual Simone Nunes é coautora. Já paísescomo EUA, Inglaterra e França usam, para melhorar o desempenho em leitura desuas crianças, o conhecimento cientíco de cuja produção ela participou. Outrosautores brasileiros com produção acadêmica internacional nesse campo, comoCardoso-Martins e Pinheiro, são ignorados de orma ostensiva nas publicações ociais
dê i b il i t t d tã d l b ti ã
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e acadêmicas brasileiras que tratam da questão da alabetização
evidncias cienticas de ue a instruo ônica estruturada,
sistemtica e precoce impacta positivamente o aprendiado
da leitura, sobretudo em populaes com diagnstico de
risco de racasso na alabetiao.
As revisões do NRP por Dianne McGuinness
Da mesma orma ue havia revisto as pesuisas de Chall e
Bond e Dykstra, em seu livro Early Reading Instruction: What
science really tell us about how to teach reading (2004), Diane
McGuinness analisa com rigor as evidncias apresentadas
pelo NRP e contesta algumas de suas concluses. Ressalta
a reticncia de seus autores, ue se sentiram pressionados
entre a evidncia dos atos e as presses corporativas. As
rigorosas anlises de McGuinness vo em duas direes,
uma de naturea metodolgica e outra de naturea lgicoconceitual.
Do ponto de vista metodolgico ela apresenta duas crticas.
De um lado ela critica o uso indevido das técnicas estatsticas
de anlise de varincia e covarincia utiliando médias
de grupos, e no de indivduos. Ao utiliar as médias de
indivduos, os resultados ue j eram avorveis aos métodos
tornamse ainda muito mais avorveis. Acrescentando
dados de outros estudos no includos no NRP, os resultadostornamse mais avorveis ainda. De outro lado ela analisa,
separadamente, o impacto de cada tipo de método ônico,
concluindo ue alguns deles, especialmente os chamados
métodos ônicos sintéticos, so muito mais superiores do ue
todos os demais métodos, ônicos ou no, com dierenas
superiores a 1 E.S. (eect size) no caso de intervenes como
os Programas Lippicott, Lindamood e Jolly Phonics. No
por coincidncia esses so programas ue incorporam as
variveis descritas no prottipo de métodos ônicos eicaes
apresentados no quadro 1. Outras crticas também se reerem
ao uso de variveis dependentes – sempre ue a varivel
dependente se reere a habilidades prprias de leitura, os
resultados dos métodos ônicos so mais positivos.
O outro conjunto de crticas de McGuinness ao NRP reerese
à reticncia com ue seus membros acolheram suas prprias
anlises. McGuinness é mais categrica nas concluses uetira de suas revises. Em sntese, ela conclui (op. cit. p. 319):
“Com base nas evidncias ue sempre estiveram disponveis
em ualuer momento do passado, ou seja, desde a inveno
do primeiro alabeto, a uesto ue se coloca para a cincia
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37 Em 1994, um esorço de atuação conjunta reuniu numa mesma ação váriosorganismos, entre eles a OECD e a Statistics Canada. Ele resultou na condução doprimeiro estudo internacional de aerição e comparação dos níveis de alabetismoadulto das populações dos seguintes países: Canadá, França, Alemanha,Polônia, Suécia, Irlanda, Holanda, Suíça. E apresentou evidências de que o nívelde alabetismo das populações adultas repercutia no desenvolvimento dospaíses. Trata-se do International Adult Literacy Survey. O relatório do IALS 1994
intitulou-se Literacy, economy and society: Results o the rst International AdultLiteracy Survey”. Foi publicado sob os auspícios da Organisation or Economic Co-operation and Development e do Statistics Canada.38O Relatório que divulgou os resultados dessa primeira edição do IALS,Literacy, economy and society: Results o the rst International Adult LiteracySurvey” contribuiu para sedimentar a percepção dos beneícios econômicos e
e para a poltica pública no é e nunca deveria ter sido a
dos métodos ônicos vs. no ônicos: esta no é a uesto.
A uesto ue importa é saber ue tipo de método ônico
unciona melhor. A evidncia coletada pelo NRP, e revista em
detalhe, mostra a superioridade de dois tipos de métodos
ônicos: ônica visual e ônica lingustica. Nos métodos de
ônica lingustica o proessor parte dos sons dos principaisonemas (40 em ingls) e os associa com letras. Isso permite
ao aluno compreender a reversibilidade do cdigo. J no
método da ônica visual o proessor parte das letras, cujas
combinaes podem gerar mais de 250 sons – isso no
permite aprender a reversibilidade.
Estudos recentes na Europa
Embora os problemas de leitura na maioria dos paseseuropeus no sejam to graves uanto nos Estados Unidos,
onde se concentra a maior parte das pesuisas sobre o
tema, o problema alorou a partir da publicao do primeiro
estudo internacional ue aeriu, por intermédio de testes
padroniados, as habilidades de leitura de jovens e adultos
de vrios pases da América do Norte e da Europa. 37 As
inormaes decorrentes da realiao de avaliaes
em larga escala conduidas internamente por agncias
governamentais, e internacionalmente por agnciasintergovernamentais, passaram a mostrar ue grande parte
da populao adulta dos pases desenvolvidos no possua
o nvel necessrio de alabetismo para continuar a se inserir
com sucesso na vida ativa de suas sociedades aluentes. Foi
nesse contexto de preocupao crescente com o impacto
econômico e social dos nveis de alabetismo das populaes
ue, na Europa, a partir do inal da década de 1990, Frana e
Inglaterra protagoniaram episdios de reorma das polticas
para a educao primria em geral e para o ensino de leituraem particular. 38 Grande contribuio para essas aes veio
da pesuisa cientica.
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i i t d lt í i d l b ti õ
Nos meios acadmicos e cienticos envolvidos com a pesuisa
sobre leitura na Frana, vrios laboratrios e cientistas vm
revelando, nos últimos anos, em vrias rentes, importantes
achados. É o ue ocorre, por exemplo, nas pesuisas sobre
suporte neurobiolgico da aruitetura cognitiva envolvida
no ato de ler. E também no mbito dos condicionantes
genéticos da ormao e desenvolvimento desse suporte.
Idem no campo dos mecanismos psicolingusticos envolvidos
na leitura. 39 Tais achados tm dado lugar a publicaes de
obras especicas e balanos do estado da arte da uesto
da leitura e de seu ensino ue aumentam a visibilidade das
evidncias da eiccia dos métodos ônicos.
Recentemente, dois ecundos conjuntos de iniciativas
de pesuisa, ambos ranceses, resultaram na publicaode trabalhos de grande envergadura terica e ôlego
cientico. Uma reviso médicocientica sobre os temas
da aprendiagem resultou na publicao de um relatrio
intitulado Dyslexie, Dysorthographie et Dyscalculie: bilan de
donnés scientiiques (2007). Tratase de um trabalho extensivo
e completo. Ele contém um estado da arte sobre as uestes
do aprendiado da leitura, da escrita e da matemtica e oi
publicado na Colletion Expertise Collective do INSERM –
Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (2007).Outra, chancelada por precio de JeanPierre Changeux,
culminou na apresentao de evidncias para comprovar
hiptese cientica nova: durante o aprendiado da leitura
ocorre uma lenta, penosa e parcial reconverso dos circuitos
neuronais ue a ilognese destinou ao reconhecimento de
realidades e objetos do mundo exterior. O exame dessas
evidncias revela ue todos mobiliam as mesmas rede
neuronais durante a realiao da leitura. Mesmo na leitura
em lnguas cujas escritas no so baseadas em alabetos,
39Uma lista com os pesquisadores importantes certamente envolveriaos nomes de Stanislas Dehaene, Diretor do INSERM – CEA CognitiveNeuroimaging Unit, Proessor no College de France Chair o ExperimentalCognitive Psychology, Membro da Académie des Sciences, Michel Fayol,Diretor do Laboratoire de Psicologie Sociale et Cognitive da UniversitéBlaise Pascal; Frank Ramus, do Laboratoire de Sciences Cognitives etPsycholinguistique da École des Hautes Études en Sciences Sociales;Johannes Ziegler, Directeur de Recherche CNRS, do Laboratoire PsychologieCognitive, Université d’Aix-Marseille; Jean-Émile Gombert, Vice-président du
Conseil Scientique Université Rennes 2; Liliane Sprenger-Charolles, Directeurde Recherche CNRS au Laboratoire d’Études sur l’Acquisition et la Pathologiedu Langage; Jean-François Démonet, do INSERM e Pascale Colé, Laboratoirede Psychologie et Neurocognition, Université de Savoie, e também, JoséCarlos Junca de Morais, que na Université Libre de Bruxelles é co-diretor doUNESCOG – Unité de recherche en Neurosciences Cognitives da Faculté dês
É
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S i P h l i d l’Éd i
como o chins e o japons, uma regio conhecida como a
da orma visual das palavras, localiada sempre no mesmo
lugar, ao lado do sulco occipitotemporal, na regio usiorme
do hemisério esuerdo, entra em atividade diante de
estmulo representado por palavra escrita, mesmo ue o
estmulo esteja mascarado. A variao local é de no mximo
5 milmetros levandose em conta o sistema de coordenadas
do reerencial de Talairach (Dehaene, 2007, p. 106107).40
Aps a realiao de testes controlados em ue so submetidos
à prova da aplicao em sala de aula, esses avanos no
conhecimento detalhado da base neural do processamento
de inormaes visuais e auditivas nas últimas duas décadas
tm resultado em veriicao, no sentido popperiano do
termo, de hipteses sobre o uncionamento da aruitetura
cognitiva envolvida no ato de ler (SHAYWITz et al., 2004,
HOEFT, F., 2004, 2006, 2007). Reerimonos aui a hipteses
cuja elaborao nasce de modelagem e simulao do ato de
leitura de palavras. Os psiclogos cognitivos as desenvolvem
para representar o processamento de inormaes no cérebro
durante o ato de ler. Inclusive com o auxlio da inteligncia
artiicial. 41 Em ue pesem as postulaes relativistas e
culturalistas sobre o aprendiado da leitura, as evidncias
colhidas nesses estudos, em contextos didticos, culturaise lingusticos os mais diversos, so claras. Cada criana é
única. Mas no h mil maneiras ou estilos de aprendiagem
da leitura. quando se trata de aprender a ler ninguém pode
dispensar seu cérebro. Todo cérebro est submetido a
padres uncionais e estruturais e a aprendiagem da leitura
se d sempre na mesma seuncia (Dehaene, 2007, p 290):
40 Na edição do dia 25 de setembro de 2008, o Jornal Nacional, da Rede Globode Televisão, levou ao ar reportagem de Marcelo Canellas. A âncora FátimaBernardes disse: “O Jornal Nacional começa com uma descoberta histórica.Pela primeira vez, (grio nosso) cientistas conseguiram identicar a regiãodo cérebro responsável pela leitura. Com a participação de pesquisadoresbrasileiros (grio nosso), a Ciência conseguiu, pela primeira vez, azer o mapada leitura no cérebro humano.” É gravíssimo alardear atos inexistentes. Atese de que há certas áreas do cérebro envolvidas no ato de ler é do séculoXIX (DÉJERINE, 1892). Sua vericação cientíca (sentido popperiano), com aprodução de imagens PET das áreas ativadas, é do nal da década de 1980(PETERSEN, 1988). Há exatos 23 anos. Reportagem do Jornal Nacional pode serlida em http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL774322-5603,00.html
Acesso em 20 de setembro de 2011.41São conhecidos: o connectionist triangle model, o dual-route cascademodel, o connectionist dual process model. Cientistas da Università di Padova,Swinburne University o Technology e do Centre National de RechercheScientique et Université de Provence apresentaram um modelo incrementalbaseado nesses modelos anteriores: CDP + Model o Reading Aloud (PERRY,
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200 )
Um destaue especial deve ser concedido, nesse campo,
ao Reino Unido. Uma seuncia de atos e aes a partir da
segunda metade da década de 1990 levou a uma situao
especial. Em meados da década de 1990 dados de avaliaes
peridicas mostravam estagnao dos escores médios em
leitura nos testes nacionais em uase 30 anos, com pouco
mais da metade dos alunos atingindo as metas estabelecidas.
Diversos grupos de trabalho e iniciativas governamentais
oram estabelecidos. Decisivos na orientao das polticas
oram alguns estudos empricos, notadamente aueles
desenvolvidos por Johnston e Watson (2004), ue
demonstraram a superioridade de métodos ônicos sintéticos
em intervenes de escala relativamente grande. 42
A Figura 1 abaixo apresenta os resultados de uma dessas
comparaes, em ue aparece o eeito superior dos métodos
ônicos para todos os alunos, mas especialmente superior
para os alunos com diiculdades de aprendiagem da leitura,
corroborando os resultados de todos os estudos acima citado,
particularmente do NRP.
Figura 1
42 Os resultados desse estudo estão publicados numa das mais importantes
revistas da área de pesquisa em leitura no mundo: Reading and Writing:An Interdiscyplinary Journal, 17: 327-357, 2004. E também na revistaInsight, número 17. Trata-se de uma revista da Inormation, Analysis andCommunication Division, órgão de assessoria do Scottish Executive EducationDepartment (SEED, Escócia. O texto está disponível para leitura integral emhttp://www.scotland.gov.uk/Resource/Doc/36496/0023582.pd Acesso em 01
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d b d 2010
Para o leitor no especialiado nas uestes de alabetiao
admitese a pergunta a respeito da validade desses achados,
baseados principalmente em estudos realiados em pases
de lngua inglesa, para pases ue usam o sistema alabético
de escrita em outras lnguas. A predominncia dos estudos
em lngua inglesa devese a vrios atores conhecidos, mas
também ao ato de ser a lngua em ue a correspondncia
entre graemas e onemas é mais inconsistente.
Cabe registrar, em primeiro lugar, ue a airmao acima
no é totalmente correta. Tanto no ue se reere a pesuisas
de laboratrio, como oi demonstrado acima, uanto no
ue di respeito a estudos de interveno em situao de
ensino e aprendiagem, h importantes contribuies de
autores trabalhando com esse corpo de conhecimentos
em dierentes pases e com dierentes lnguas. Todas com
veriicaes (sentido popperiano) desses achados. 43 Em
segundo lugar, essa pergunta perde a rao de ser uandose conhece, por exemplo, os dados acumulados nas
investigaes ue compuseram um megaprojeto de pesuisa
cujo inanciamento oi realiado pelo COST com uma dotao
oramentria de cinco milhes de euros. 44
43 (Elkonin,1973), em russo, (Cossu, Shankweiler, Liberman, Tola e Katz, 1998)em italiano, (HOIEN, Lundberg, Stanovich e Bjaalid, 1995), em norueguês,(Alegria, Pignot & Morais, 1982), em rancês, (deManique and Cramigna,1984; Denton et al. 2000), em espanhol, (Lundberg, Olosoon e Wal, 1980),em sueco, (Silva e Alves-Martins, 2002), em português europeu, (Cardoso-Martins, 1995; Cardoso Martins et al., 2006; Pollo, Kessler and Treimann,2005, 2008), em português brasileiro, (Oktay e Aktan, 2002), em turco, (Choe McBride-Chand, 2005), em hangul coreano, (Schneider et al., 1997), emalemão, (Rahbari, Sénechal e Arab-Moghaddam, 1999), em persa, (Saiegh
e Geva, 2007), em árabe, (Nag, Sonali, 2007) em Kannada, língua alada nosudoeste da Índia.44COST é o acróstico de European Cooperation in the Field o Scienticand Technical Research. Trata-se de um órgão que procura coordenaros esorços de provisão de undos de pesquisa na Europa. Esse projeto,identicado sob a sigla Cost Action A 8, intitulou-se Learning disorders as a
vALIDADE DOS ESTUDOS SObRE ALFAbETIZAÇÃOEM PAíSES CUjAS LíNGUAS POSSUEM ESCRITASALFAbéTICAS
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b i h d l
Figura 2
Entre as 13 lnguas cujo aprendiado inantil de leitura oi
objeto de anlise comparada nesse estudo estava o portugus
de Portugal. E podese ver claramente ue nossa lngua
portuguesa ica a meio caminho entre a transparncia e a
Fonte: (Seymour, Aro e Erskine, 2003, p. 146).
45O estudo que Seymour desenvolveu serve-se do equacionamento da leitura depalavras nos termos do dual-route model o word recognition. Há acordo sucienteno campo da pesquisa em leitura para armar que durante o ato leitor ativam-seno cérebro regiões de processamento tanto dos signos de um código comrepresentações abstratas e arbitrárias da ortograa quanto dos signos de umcódigo que encapsula a inormação onêmica na estrutura graêmica. A questãoestá exatamente em medir o eeito de cada um desses processos concomitantesde ativação nas tareas de decisão lexical. Nos termos de um estudo quecomparou as ações de decisão lexical durante leitura em inglês e em servo-croata, FROST, KATZ e BENTIN (1987, 104) assim equacionaram a questão datransparência ou opacidade das ortograas: “Ortograas alabéticas podem serclassicadas em unção da complexidade com que unidades grácas mapeiam
unidades sonoras. Desse ponto de vista uma escrita transparente possui códigosortográco e onêmico isomórcos; os onemas que se realizam acusticamentena língua alada são representados de maneira direta e inequívoca por graemasda linguagem escrita. Em contraste, numa ortograa opaca, a relação entreletras e sons é mais turva e menos previsível. A mesma letra pode representardierentes onemas em dierentes contextos. Ademais, dierentes letras podem
Uma das principais investigaes realiadas no mbito
desse consrcio, desenvolvida por Seymour, Aro e Erskine
(2003), teve seus resultados publicados no British Journal o
Psychology. A reerida investigao oi decisiva para esclarecer
as semelhanas, dierenas e diiculdades na alabetiao de
crianas em dierentes lnguas. O estudo mapeou e descreveu
a complexidade silbica e o grau de transparncia/opacidadedas ortograias de dierentes escritas. A complexidade silbica
reerese ao grau de predominncia das slabas abertas (CV),
tpicas das lnguas romnicas, como o Finlands, Grego,
Portugus, ou de slabas do tipo CVC e conglomerados
complexos de consoantes (denominados onogramas), como
nas lnguas germnicas, especialmente no Ingls. O grau
de transparncia/opacidade di respeito aos padres de
codiicao dos onemas em graemas45. A Figura 2 mostra
um diagrama do grau de visibilidade e da estrutura silbica
das ortograias nas 13 lnguas do estudo:
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”
Fonte: Les Neurones de la Lecture Stanislas Dehahene
Figura 3
opacidade do seu cdigo de escrita. No houve comparaes
eitas com o portugus brasileiro. Mas o conhecimento da
estrutura onolgica de nossa lngua permite ver ue no é
tarea das mais ceis ensinar a ler o portugus brasileiro.
Mais do ue as dierenas entre as escritas de diversas lnguas,
o estudo de Seymour, Aro e Erskine (2003) documenta o ue écomum aos vrios sistemas alabéticos de escrita, e, portanto,
reora, além da universalidade das evidncias cienticas
ue examinamos acima, a necessidade de sua aplicao à
aprendiagem da leitura e escrita em todas as lnguas cujas
escritas se baseiam em sistemas alabéticos.
Os dados deixam muito claras as dimenses comuns de
complexidade na aprendiagem do uncionamento de
cdigos alabéticos. Além disso, revelam o euvoco, habitualentre ns, de se considerar ue ensinar a ler é, desde o
incio, e sobretudo, ensinar a compreender. Se assim o osse
o desempenho dos alunos no variaria tanto conorme as
caractersticas das lnguas nacionais. Na Figura 3, dois dos
principais resultados desse trabalho oerecem conirmao
de ue as diiculdades devemse à estrutura de mapeamento
graoonmico do cdigo em cada escrita.
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Fonte: Les Neurones de la Lecture. Stanislas Dehahene
No item leitura de palavras h uma dierena marcante
de acordo com o nvel de transparncia ou opacidade
da escrita. Ao inal do primeiro ano de alabetiao, as
crianas ue aprendiam a ler escritas transparentes (alemo,
espanhol, italiano, por exemplo) j haviam dominado as
competncias undamentais de leitura (conhecimento da
relao graemaonema e procedimento de decodiicao).Sua taxa de erro na leitura de palavras era muito baixa. J
para as crianas ue aprendiam a ler escritas opacas (Ingls
e Francs, por exemplo) a taxa de erro na leitura de palavras
era incomparavelmente mais alta. quando o caso era de
uma lngua cuja escrita é relativamente menos transparente,
como o Portugus (de Portugal no caso), o desempenho era
inerior vis-à-vis o desempenho nas lnguas cujas escritas
eram transparentes. Mas superior ao desempenho em
pases como Inglaterra e Frana.
Ao inal do perodo de alabetiao, portanto, as crianas
ue aprendiam a ler escritas opacas estavam lutando para
dominar as estratégias de decodiicao. Enuanto isso,
as ue aprendiam a ler escritas transparentes j haviam
dominado completamente essas estratégias. E as ue
aprendiam a ler escritas como a do Portugus embora
ainda no apresentassem domnio pleno das estratégias de
decodiicao estavam, uanto a isso, em melhor situao doue as crianas da Frana e Inglaterra.
Em relao às pseudopalavras, ue s podem ser lidas pela
estratégia da decodiicao, as dierenas ocorrem na direo
esperada, ou seja:
•Emlínguascujasescritassãomaistransparentes(oespanhol
no grico da parte inerior da igura), a linha ue representa a
evoluo da taxa de erro entre os sete e nove anos assemelhase a uma reta.
•Em línguas cujas escritas são relativamente menos
transparentes (o rancs no grico da parte inerior da igura),
essa linha apresenta maior inclinao.
•Jánoaprendizadodaleituradoinglêsocontrasteénotável.
•Pode-severnográficoqueaevoluçãodousodeestratégiasde decodiicao para o uso de estratégias ortogricas de
leitura é distinta. Mais penosa e morosa, no aprendiado
da leitura em ingls e rancs, nessa ordem, do ue no
aprendiado da leitura em espanhol.
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Muitos dos estudos citados no presente documento esto
relacionados com a introduo ou modiicao de polticas
públicas de alabetiao. O crescimento do dinamismo
das aes educativas nesse campo da préalabetiao
e da alabetiao é paralelo à elevao da demanda de
conhecimentos e habilidades na sociedade contempornea
tanto em uno da emergncia de uma assim chamada
economia do conhecimento uanto do aumento de
aspiraes de democratiao dos sistemas polticos.
Com eeito, desde década de 1990 se intensiica, em todo o
mundo, a percepo de ue a avaliao de habilidades ue
integram o desempenho escolar de crianas e adolescentes
é condio indispensvel para a aerio da eetividade das
polticas educacionais. Esse movimento induiu o aumento
da preocupao com a montagem e/ou apereioamento de
sistemas de avaliao em larga escala. E colocou na ordem
do dia a integrao de testes padroniados a esses sistemas
de avaliao. O processo est mais adiantado e enraiadoem pases cujas sociedades so economicamente aluentes
e cujas institucionalidades polticas caracteriam estados de
direito democrtico. E internacionalmente ganha impulso
desde 2000 com o PISA e o PIRLS.
Tais sistemas vm produindo dados abundantes sobre
desempenho escolar nas diversas naes. E permitido o
posicionamento dos resultados nacionais numa perspectiva
de comparao internacional. Nos pases mais desenvolvidose avanados uando o monitoramento de dados aponta
a ineetividade de uma poltica, e na proporo em ue
avanam os conhecimentos sobre a eetividade das polticas,
mudanas se realiam. Assim é ue nesses pases uma nova
gerao de polticas educacionais, particularmente no campo
da alabetiao, vm sendo aplicadas com o ito de ajustar a
ao educativa às evidncias cienticas.
O reconhecimento da universalidade das evidnciascienticas aui revistas no pode ser negado a no ser
ue se negue, igualmente, a prpria validade dos cnones
cienticos. Paralelamente, nada poderia ocultar de uma viso
cientiicamente esclarecida a gravidade das inormaes
MUDANÇAS E TENDêNCIAS NAS POLíTICAS DEALFAbETIZAÇÃO
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cientiicamente esclarecida a gravidade das inormaes
representadas nos dados ue os sistemas nacionais e
internacionais de avaliao em larga escala publicam uando
se trata das habilidades de leitura e do desempenho leitor de
nossa populao escolar inantil e adolescente. Ou a situao
desavorvel uanto aos nveis de alabetismo uncional da
populao jovem e adulta brasileira.46 Segundo cientistas, o
Brasil tanto se encontra à margem do progresso ue levou,nos últimos 30 anos, à constituio de novos conhecimentos
no campo da cincia cognitiva da leitura. Esses mesmos
cientistas avaliam ue o pas tem diiculdade de usar tanto
conhecimentos cienticos uanto dados dos sistemas de
avaliao para melhorar a ualidade da educao (Brasil,
p.13, 2007).
É, pois, oportuno, encerrar esse trabalho pela apresentao
de situaes nas uais o uso proveitoso do avano doconhecimento e dos dados produidos por sistemas de
monitoramento do desempenho escolar no campo da leitura
tem levado ao desenvolvimento e à implantao de polticas
evidence based .
Assim é ue nos EUA os resultados do NRP, divulgados em
2000, induiram, e vm induindo, mudanas na legislao
educacional. A divulgao do NRP Report gerou nauele
pas um desaio às instituies responsveis pela ormao
de proessores. Elas discutem e pesuisam as melhores
ormas de adaptar, reposicionar, enim, atualiar o preparo
dos proissionais do ensino. Particularmente daueles sobre
os uais recai a tarea da alabetiao. O mesmo ocorreu na
Inglaterra. Depois de lanar uma National Literacy Strategy
em 1998 o pas acompanhou criteriosamente a evoluo
do desempenho leitor dos alunos. Essa ateno levou a
uma reavaliao e a uma reorientao da National Literacy
Strategy a partir de 2006 (DCFS, 2007). Em Israel, processo
idntico, de acompanhamento dos dados dos testes
nacionais e internacionais, levou a uma avaliao rigorosa
46 São conhecidos os dados do SAEB, PISA e INAF, este divulgadopelo Instituto Paulo Montenegro. As inormações sobre o SAEB estãodisponíveis no sítio eletrônico que o INEP mantém na rede mundial decomputadores. Ver em http://provabrasil.inep.gov.br/ Relatórios do PISApodem ser baixados e lidos em http://www.pisa.oecd.org/pages/0,2987,
en_32252351_32235731_1_1_1_1_1,00.html E dados do INAF – Indicador deAlabetismo Funcional, elaborado pelo Instituto Paulo Montenegro e AçãoEducativa são encontrados em HTTP://www.ipm.org.br Acesso em 01 desetembro de 2010. A despeito das comemorações do MEC após a divulgaçãodos resultados do PISA 2009 somente por olta de 2033 atingiríamos aprociência média em leitura dos países da OECD se esses cassem onde estão
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h j d l id d d h l ã à dé d d
no inal da década de 1990. E a uma reorientao a partir
do ano 2000. A Austrlia encontrase no mesmo caminho
desde a realiao do National Inuiry Into The Teaching o
Literacy em 2004/05. E a Frana, avaliando os resultados de
seus alunos em leitura nos testes nacionais e internacionais,
e em consonncia com os estudos e relatrios produidos
pelo Observatoire National de la Lecture, sobretudo a
partir da publicao do relatrio Apprendre à Lire em 1998,
encontrase, desde 2002, em processo intenso de busca das
melhores ormas de adaptao de sua poltica nacional de
alabetiao. Isso apareceu concretamente nas iniciativas de
sucessivos ministros da Educao como Jack Lang e Gilles de
Robien. O pas acabou de aprovar nova mudana proposta
pelo atual ministro da Educao Xavier Darcos, apresentada
solenemente, junto com o presidente da República, em
evereiro de 2008. Ela acaba de entrar em vigor (France, 2008).
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Pases Reerncia Bsica Observaes
Frana
Nouveaux Programmes de L’École Primaire.
Boletin Oiciel horssérie n° 3 du 19 juin 2008.Programme de l’École Maternelle – PetiteSection, Moyenne Section, Grande Section.
Prescreve o ensino do princpio alabético e dadecodiicao e descreve as habilidades ônicas a
serem dominadas ao inal da escola maternal nostermos dos princpios instrucionais da abordagemônica.
Inglaterra
Des – Department or Education and Skills(atual DCFS – Department or Children,Schools and Families). Primary NationalStrategy. The Primary Framework or literacyand mathematics: core position papersunderpinning the renewal o guidance orteaching literacy and mathematics, 2006.
O Primary Framework publicado em 2006/2007revisou a National Literacy Strategy. Esse documentoaprounda e detalha os procedimentos de ensinométodos ônicos
EUA
NICHD – National Institute or Children Healthand Human Development. National ReadingPanel Teaching Children To Read: Na EvidenceBased Assessment o The Scientiic ResearchLiterature on Reading and Its Implications orReading Instructions, 2000.
Partnership or Reading. Put Reading First. The
Research Building Blocks or Teaching to Read.
O National Reading Panel tornase a reerncia bsicapara a reormulao das polticas nacionais (PutReading First) e da reviso dos currculos nos vriosestados.
Partnership or Reading é um esoro colaborativoentre o NICHD, o NIFL e US Department o Education.
Apresenta princpios para uma ensino de leiturascientiically evidence-based , iniciandose por treinoda conscincia onmica, ensino do princpioalabético e decodiicao, procedimentos bsicosdos métodos ônicos. Recursos ederais so liberadosapenas para programas estaduais ue seguem essasrecomendaes.
Quadro 5
Os quadros 5, 6, 7 e 8, abaixo, ilustram como alguns pases
desenvolvidos vm reagindo às evidncias cienticas sobre
como alabetiar.
MUDANÇAS E TENDêNCIAS DAS POLíTICAS DEALFAbETIZAÇÃO NO MUNDO
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Pases Reerncia Bsica Observaes
EUACALIFORNIA
Reading/Language ArtsFramework or Caliornia PublicSchools Kindergarten ThroughGrade Twelve.
Developed by CurriculumDevelopment andSupplemental MaterialsCommission.
Adopted by the Caliornia StateBoard o Education.
Published by the CaliorniaDepartment o Education.
A capacidade de ler é crucial para transormar alguém em umaprendi autônomo de todas as disciplinas do conhecimento.De longa data a sociedade reconhece a importncia do sucessona leitura. Mas s recentemente ns comeamos a compreendertanto as proundas e duradouras conseuncias advindas do
mau aprendiado da leitura uanto as últimas evidncias sobrea brevidade do perodo em ue podemos modiicar situaesde racasso no seu aprendiado (Biancarosa and Snow 2004;Caliornia Department o Education 1995; Juel 1988; Lyonand Chhabra 1996; Shaywit 2003; Snow 2002; Torgesen 2002).Mais importante ainda do ue isso, hoje reconhecemos aconvergncia das evidncias sobre como dirigir a instruoem leitura. (National Reading Panel 2000; National ResearchCouncil 1998).
A Calirnia desenvolveu um sistema amplo de instruo baseadonos achados ue a pesuisa cientica vem conirmando a respeitode como as crianas aprendem a ler e a escrever. Tornouse
consciente dos ganhos e das desigualdades de aprendiagem deleitura e escrita entre seus alunos. Comprometeuse com o sucessoacadmico tanto dos ue aprendem acilmente a ler, escrever ecompreender o ue lm e escrevem uanto com os ue precisamse esorar para ser bem sucedidos nessas tareas.
Consistente com o nosso padro curricular, a modelagem doensino de leitura e escrita na Caliornia reconhece ue as avanadashabilidades de compreenso de textos narrativos e inormacionais,de anlise literria e de criao de uma prosa elouente,depedem, todas e cada uma, da aquisio e desevolvimetode vocabulrio, da capacidade de decodiicar, da capacidadede recohecer palavras, habilidades essas promovidas e
alimetadas os albores da vida escolar e sedimentadas aolongo do ensino undamental.
AUSTRáLIA
Australian Government –Department o EducatinEmployement and WorkplaceRelations.National Inuiryinto The Teaching o Literacy.Report and Recomendations.
Hon Dr. Brendon Nelson, convocou, em 2004, painel sobre leitura.O Painel oi dirigido por especialista da ACER a mesma agnciaue dirige o consrcio PISA. Os achados do relatrio oramintegrados pelo Council o Australian Governments (COAG)à National Reorm Agenda. Eles conirmam a superioridadeda eiccia dos métodos ônicos e se tornaram a base para aormulao dos programas de ensino.
Quadro 6
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Pases Reerncia Bsica Observaes
ISRAEL
Shapira, R., Valdan, z., Levin, I., Lachman,S., Frost, R., Friedman, I. & Katir, R. (2001).The committee on reading: Final report .Submitted to Mrs Limor Livnat, Minister o
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Ministry o Education Circular No. 61,11. (2001). [Hebrew version]. Jerusalem:Ministry o Education. C. PIRLS 2001Encyclopedia A Reerence Guide to ReadingEducation in the Countries Participatingin IEA’s Progress in International ReadingLiteracy Study (PIRLS). Edited by Ina V.S.Mullis Michael O. Martin Ann M. KennedyCheryl L. Flaherty September 2002
Em 2000, zevulun Orlev, presidente do The KenessetEducation, Culture and Sports Committee nomeouum comit, dirigido por Rina Shapira, para reveras evidncias cientcas sobre as mais ecaesprticas de alabetiao no mundo. As conclusese recomendaes oram consistentes com as doNational Reading Panel. O Ministério da Educaoacatou as concluses e agiu para ocialiar asrecomendaes do relatrio na circular 61.11 (2001).
FINLâNDIA
FNBE The Finnish National Board o Education. National Core Curriculum orBasic Education 2004. Learning Objectivesand Core Contents o Education. MotherTongue and Literature.
O currculo nacional descreve precisa edetalhadamente as habilidades a serem aprendidas.No ue di respeito ao aprendiado da leitura,prescreve o ensino explcito das relaes letra/som,identiicao, juno, decomposio e isolamento deslabas e sons bsicos nas palavras, reconhecimentode palavras iniciandose pelas mais usuais e regulares.No caso da caligraia, por exemplo, prescreve o ensinode letra cursiva e caixa alta e apresenta os modelos de
letras a serem ensinadas, com o objetivo de assegurara eicincia e luncia na escrita.
Quadro 7
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Pases Reerncia Bsica Observaes
EUA
National Early Literacy Panel. DevelopingEarly Literacy. A Scientiic Synthesis o EarlyLiteracy Development and Implications orIntervention.
O Paiel Apredizagem Iatil da Leitura oi criadocom o expresso objetivo de resumir as evidnciascientcas em dois campos do aprendiado inantil:alabetiao e inuncia do ambiente amiliar no
aprendiado inicial da leitura. A nalidade precpua doPainel oi aer uma sntese dos achados da pesuisacientca para, assim, subsidiar decises no campoda ormulao de polticas e desenvolvimento deprticas ue aetam o aprendiado inicial da leitura,além de determinar como proessores e amliaspodem apoiar o desenvolvimento da linguageminantil e o aprendiado da leitura.
O primeiro alvo do Painel oi a identicao dasintervenes, atividades parentais, e prticasinstrucionais ue promovem o desenvolvimento dashabilidades bsicas de alabetiao das crianas.
Para atingir tal nalidade o Painel elaborou uatroperguntas:
1. quais so as capacidades e habilidades das crianaspeuenas (do nascimento aos cinco anos) passveis depredier o desempenho uturo em leitura, soletraoe escrita?
2. que programas, intervenes e abordagensinstrucionais tm contribudo, tanto para desenvolveruanto para, ao contrrio, inibir ganhos nascapacidades e habilidades ue esto associadas aodesempenho uturo em leitura, soletrao e escrita?
3. que ambientes e cenrios tm contribudo tantopara o desenvolvimento uanto para, reversamente,inibir avanos nas capacidades e habilidades ueesto associadas ao desempenho uturo em leitura,soletrao e escrita?
4. que caractersticas inantis tm contribudo sejapara incrementar seja para, antagonicamente,inibir ganhos nas capacidades e habilidades ueesto associadas ao desempenho uturo em leitura,soletrao e escrita?
Quadro 8
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December, 17th
8:30 - 9:00 Registration
9:00 - 9:45
Opening Remarks
Aloisio AraujoFernando HaddadGoverno do EstadoSergio Quintela
9:45 - 10:00 coffee break
10:00 - 11:00
Understanding the Sources o and Solutions to HumanInequality
James Heckman
11:00 – 12:00TBA
Flavio Cunha
12:00 – 13:00 lunch
13:00 - 14:00
Prerontal Cortex and Early Child Development
Adele Diamond
14:00 –15:00
Enduring Cognitive and Social Benefts o EarlyEducational Programs
Craig Ramey
15:00 – 15:15 coffee break
15:15 – 16:15
Eective Early Interventions or Biologically VulnerableChildren: The Importance o Dosage
Sharon Ramey
16:15 - 17:15TBA
Rodrigo Pinto
17:15 – 18:15
Literacy
João Batista de Araujo e OliveiraLuiz Carlos Faria da Silva
18:15 - 19:30 Brazilian Public Policy Round Table
AGENDA
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December, 18th
9:00 - 10:00
Early Child Development: Myths & Substance
Michael Rutter
10:00 - 11:00
The Eects o Early Human Development on Health,Behaviour and Learning
James Fraser Mustard
11:00 - 11:15 coffee break
11:15 – 12:15
Mechanisms underlying the early origins odevelopmental risk and opportunities to intervene
Mark Hanson
12:15 – 13:15 lunch
13:15 - 14:15
Why early lie events have longer term consequences –implications or public policy
Peter Gluckman
14:15 - 15:15
Risk, resilience, and gene x environment interactions inprimates
Stephen Suomi
15:15 – 15:30 coffee break
15:30 - 16:30
Neurosciences
Edson AmaroErasmo Casela Barbante
Jaderson Costa da Costa
16:30 - 18:00 Scientifc Roundtable
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Dia 17/12/2009 10:0012:00
Uderstadig the Sources o ad Solutios to Huma
Iequality - James Heckman / Flavio cunHa
Esta palestra analisa as evidncias de pesuisas recentes
ue abordam as origens da desigualdade e da evoluo
das capacidades (recursos) pessoais ue, em parte,
podem determinar estas desigualdades. Um conjunto
comum de recursos, juntamente com incentivos para
usar estes recursos, explica uma variedade de resultados,
tais como salrio, nvel educacional, crime e doena.
Desigualdades destes recursos so uma importante onte
de desigualdade na sociedade. Os recursos incluem a
cognio (eg, qI), personalidade, motivao e atitudes
saudveis. Estes recursos, ou capacidades, interagem para
produir os resultados, e dierentes resultados dependem
dos recursos bsicos de dierentes maneiras. Por exemplo,o nvel educacional é relativamente mais dependente da
cognio, mas outros recursos também so importantes;
a criminalidade é relativamente mais dependente de
herana de traos de personalidade (por exemplo,
autocontrole, agressividade).
E estes recursos pessoais podem ser reorados. As
capacidades dierentes so mais ou menos maleveis em
dierentes ases do ciclo de vida. As polticas de ensino devemreconhecer isso e ocar aes nas janelas de oportunidade.
Além disto, h sinergismo na produo de recursos.
As capacidades pessoais reoram a produtividade de outros
recursos (“habilidade gera habilidade”) e estas capacidades
podem tornar um investimento mais produtivo. Neste caso,
investimento inclui os pais, escolas e outras inluncias
ambientais sobre a criana.
Ambas as capacidades cognitivas e no cognitivas so
importantes na produo de uma variedade de resultados.
Uma nova linha na literatura relaciona medidas psicolgicas
d lid d d i l t
RESUMO DAS APRESENTAÇõES COMPILADAS PELOSPROFESSORES EDSON AMARO, ERASMO bARbANTEE jADERSON COSTA
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da personalidade e da cognio em relao aos parmetros
econômicos e se estende às especiicaes de preerncia
convencional em economia.
Um ponto importante é considerar as lacunas de capacidades
entre avorecidos e desavorecidos na sociedade. Estas
dierenas emergem cedo na vida pessoal e podem persistir.
O incio precede a escolariao, de maneira ue o papel
da amlia é bastante importante. E a inluncia da amlia
vai muito além de transmitir os seus genes: as intervenes
ue complementam as ases iniciais de vida das crianas
desavorecidas tm alto retorno econômico em comparao
com outras intervenes, nominalmente as intervenes ue
tm oco na cognio.
Intervenes em ase posterior também podem ser eicaes,
mas a produtividade das intervenes mais tardias é reorada
se houver uma orte base inicial de recursos j estabelecida.
Existe uma complementaridade dinmica na ormao
de capacidade. O investimento precoce é importante,
mas soinho no é suiciente. No apenas isto, mas para
o desenvolvimento de mais capacidades, a interveno
precoce deve ser seguida por intervenes posteriores.
O conjunto timo de intervenes em um determinadoestgio do ciclo de vida e também durante as diversas
ases do ciclo de vida deve explorar a complementaridade
(sinergismo) das capacidades pessoais j acumuladas.
Uma uestochave para polticas de ensino é determinar
uanto mais rentvel é investir cedo em ve de investir mais
tarde e em uais capacidades? A evidncia sugere ue é
melhor prevenir do ue remediar.
Esta abordagem rompe nichos polticos e acadmicos. Ela
sugere ue é necessrio se deslocar para além do campo
tradicional de abordagem acadmica e poltica de “um
problema para um especialista de cada ve”. Uma poltica ue
promova boa educao, saúde e controle da criminalidade é
uma boa poltica para a amlia o agente mais importante
para implementar as intervenes ue iro potencialiar/
desenvolver as capacidades. Em ve de contratar mais
policiais, é melhor produir os recursos ue levam a menoragresso na sociedade. Em ve de tratar a doena uando
ela ocorre, é melhor prevenir através da promoo de
comportamentos saudveis. Em ve de pagar os pais ou
as crianas para ue elas permaneam na escola é melhor
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as crianas para ue elas permaneam na escola é melhor
promover a preparao para a escola e promover a motivao
intrnseca para a aprendiagem.
Certamente ue estas aes so eicaes em uma sociedade
euilibrada e no invalidam algumas aes irmes e imediatas
necessrias para se atingir este euilbrio. Pelo contrrio, caso
a sociedade esteja em deseuilbrio crtico, o estabelecimento
imediato de condies de aprendiagem devem preceder
as aes de mais longa durao. Estas condies envolvem
melhor controle de criminalidade, valoriao de sentimento
de justia e promoo da saúde.
Esta palestra revisa alguns resultados recentes na rea de
Economia e em Desenvolvimento Humano e apresenta
uma plataorma simples ue uniica as provas e serve
como um guia para as polticas de ensino. Sete pontos so
importantes: 1) um conjunto de capacidades bsicas explica
uma variedade de dierentes resultados socioeconômicos; 2)
capacidades cognitivas e no cognitivas so determinantes
causais importantes com igual ora para muitos resultados;
3) habilidades no cognitivas incluem personalidade e
saúde; 4) considerar perodos crticos e sensveis: (a) atuar
precocemente em capacidades cognitivas, (b) atuar um
pouco mais tarde em capacidades no cognitivas, incluindoa personalidade e a saúde; 5) lacunas entre dierentes
habilidades cognitivas e no cognitivas se iniciam cedo,
persistem mais signiicativamente para as capacidades
cognitivas, e so menos crticas em termos de capacidades
no cognitivas; 6) muitas das intervenes na inncia
devem operar principalmente por meio de capacidades
no cognitivas – por exemplo, muitas intervenes de
sucesso no tiveram planejamento de aes voltadas para
o qI; 7) programas de remediao do adolescente soineicaes, especialmente para as intervenes ocaliadas
em aspectos cognitivos. Estas aes so muito mais eicaes
uando o alvo da melhoria est na personalidade e em
outros recursos no cognitivos.
O oco de desenvolvimento adotado nesta palestra e em nosso
corpo de trabalho sugere novos canais de inluncia poltica
para remediar disparidades bem documentadas na saúde, na
educao e outras eseras. A interveno precoce na inncia,envolvendo traos de personalidade e habilidades cognitivas
(e ue promovem a saúde), podem ser instrumentos de
poltica – eicaes e importantes – na preveno e cura de
doenas promoo da educao e reduo da criminalidade
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doenas promoo da educao e reduo da criminalidade
Uma plataorma simples de investimento permite uniicar a
literatura cientica atual e servir como um guia para poltica
de ensino. Esta plataorma pode revelar avenidas atualmente
no exploradas para uturas pesuisas e polticas, e ser
utiliada para analisar as sinergias na produo de saúde, as
habilidades cognitivas e no cognitivas – o ue agrupamos
em um conjunto chamando de capacidades humanas.
O modelo tem uatro componentes principais: (a) unes
matemticas ue mostram como recursos, esoros e
incentivos aetam os resultados; (b) tecnologias dinmicas
para a produo de recursos; (c) preerncias dos pais; e (d)
restries de acesso aos mercados inanceiros. A utiliao deste
modelo (plataorma) mostra alguns aspectos interessantes e
semelhantes ao encontrado em estudos anteriores.
Aumentar o investimento na primeira ase em 10% leva a
aumento de 0,25% em salrio de adulto. O aumento opera
igualmente através de habilidades cognitivas e no cognitivas.
De por cento de incrementos de investimento na segunda
ase tm um eeito maior (0,3%), mas, sobretudo, através de
melhoria das competncias no cognitivas. Investimento na
terceira ase tem eeitos mais racos e opera principalmente
através do seu eeito sobre as habilidades no cognitivas.
As principais concluses desta anlise so: (A) O aumento de
produtividade tornase mais orte à medida ue as crianas
icam mais velhas, tanto para a ormao de capacidades
cognitivas uanto para no cognitivas; (B) A elasticidade de
substituio de insumos cognitivos é menor em produo
da segunda etapa. É mais dicil para compensar os eeitos
dos ambientes adversos sobre heranas cognitivas em
idades mais avanadas do ue em idades mais precoces. Issoajuda a explicar os elementos de estratégias de remediao
cognitiva para adolescentes carentes ue se mostraram
ineicaes; (C) É um pouco mais cil nas ases posteriores
da inncia para remediar a desvantagem inicial usando
os investimentos em habilidades no cognitivas; (D) Este
ato est relacionado ao aparecimento de novos traos de
personalidade com a idade.
Outro dado importante: 34% da variao no nvel deescolaridade so explicados pelas medidas de capacidades
cognitivas e no cognitivas ue usamos. Deesseis por cento
devese a capacidades cognitivas do adolescente. Doe
por cento so devidos a capacidades no cognitivas do
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por cento so devidos a capacidades no cognitivas do
adolescente. Investimentos parentais mensurados respondem
por 15% da variao no nvel de escolaridade.
A anlise da Moon (2009) mostra ue os investimentos
recebidos em uno de heranas de uma criana so
tipicamente na ordem inversa dos ue so necessrios para
atingir a meta universal da escola de segundo grau. Crianas
ue nascem com dons vantajosos normalmente recebem
maior investimento dos pais do ue crianas de ambientes
menos avorecidos.
Ao analisar os investimentos necessrios para um conjunto
de heranas, ns ajustamos as heranas em outros valores
médios. Oitenta por cento de investimento a mais so exigidos
para crianas com heranas pessoais mais desavorecidas.
O valor correspondente para as crianas com os dons mais
desavorecidos dos pais é de 95%. Os percentuais negativos
para as crianas com heranas iniciais de alto valor so uma
medida da sua vantagem.
Para os mais desavorecidos, a poltica tima é investir muito
nos primeiros anos. Peris de investimento no segundo
perodo do retornos muito mais sutis e levemente a avor
das crianas mais avorecidas. Esta é uma maniestao dacomplementaridade dinmica ue produ uma compensao
de euidadeeicincia ue caracteria a ase posterior de
investimento, mas no o investimento inicial. É socialmente
timo investir mais no segundo perodo da vida das crianas
avorecidas do ue nas crianas desavorecidas. Um peril
semelhante emerge para investimentos destinados a reduir
a criminalidade global.
A taxa de investimento inicial/inal ideal como unodos dotes pessoais da criana decai com o ndice de
avorecimento desta criana, independentemente se o
planejador social visa maximiar a escolaridade ou minimiar
a criminalidade. Um padro semelhante surge para a melhor
taxa de investimento inicial/inal em uno de dotes
maternos. A taxa de investimento ideal é no monotônica em
relao à habilidade cognitiva da me para cada nvel de suas
habilidades no cognitivas. Em nveis muito baixos ou muito
altos de habilidades cognitivas maternas, é melhor investirrelativamente mais no segundo perodo do ue uando seus
dotes est na média.
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Padro: retorno em programas de vida é mais elevado para
maior poder. Retornos mais baixos para os adolescentes com
menos poder (tanto cognitivos e no cognitivos). No entanto,
programas motivacionais, ue desenvolvem habilidades
sociais e promovem um comportamento social, parecem ser
eicaes na adolescncia.
A evidncia apoia ortemente a eicincia econômica do
investimento inicial precoce ue se mantém. Excelente
distribuio do investimento: Investir cedo? Sim. Mas deve
ser seguido para ser eica. Isto é uma conseuncia da
complementaridade dinmica. Depois a remediao é
possvel, mas para atingir o ue é conseguido através do
investimento inicial é muito mais caro (40%). Se comearmos
com um nvel muito baixo, o investimento na habilidade
tornase economicamente ineiciente.
A proporo ideal de investimento inicial para o inal depende
do resultado desejado, das dotaes do oramento da
criana e de um ndice (o B). O resultado de interveno na
criminalidade é mais eica em habilidades no cognitivas
do ue em nvel de escolaridade, ue depende muito mais
ortemente de habilidades cognitivas. A compensao para a
adversidade em habilidades no cognitivas é menos onerosapara o segundo perodo do ue no primeiro perodo, enuanto
o oposto é verdadeiro para as habilidades cognitivas: é ideal
para investimentos de peso no primeiro e segundo perodo.
Como implementado atualmente, muitos esoros para a
recuperao de adolescentes, especialmente aueles voltados
para a melhoria de habilidades cognitivas especicas para os
mais desavorecidos, tm baixos retornos. Por exemplo: 1) os
programas ativos de preparao para o mercado; 2) reduesde tamanho de classes (reduindo o tamanho das turmas de
cinco alunos por sala de aula); 3) programas de alabetiao
de adultos; 4) programas públicos de treinamento de
trabalho; e 5) poltica de reduo de taxa de matrcula.
A vantagem comparativa é uma caracterstica empiricamente
importante na vida econômica e social. O mesmo pacote
de produtividade pessoal tem caractersticas dierentes em
dierentes tareas. Trabalhos recentes sobre a tecnologia deormao de capacidade ornecem um uadro operacional
emprico. Capacidades no so caractersticas invariveis e
so causalmente aetadas pelo investimento parental. Os
genes e ambientes interagem para determinar os resultados
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genes e ambientes interagem para determinar os resultados
A tecnologia de ormao de capacidades racionalia um
grande corpo de evidncias em economia, psicologia e
neurocincias. Habilidades so autoprodutivas e coprodutivas.
A complementaridade dinmica explica por ue é produtivo
investir precocemente nas habilidades cognitivas de
crianas desavorecidas, mas porue as recompensas so
muito baixas para investimentos cognitivos em crianas
mais velhas desavorecidas e ainda mais baixas para adultos
idosos desavorecidos.
Embora os investimentos em ases posteriores levem a
retornos relativamente menores, em geral, tais investimentos
ainda so claramente benéicos. Na verdade, as vantagens
obtidas a partir de intervenes eicaes precoces so mais
bem sustentadas uando elas so seguidas por experincias
continuadas de aprendiagem de alta ualidade.
A anlise de ormao de competncias mostra ue o retorno
sobre o investimento da escola é maior para as pessoas
com maior capacidade, onde a capacidade é ormada nos
primeiros anos.
Devido à dinmica de complementaridade, os investimentosiniciais devem ser seguidos por investimentos, mais tarde,
para ue se possa atingir o valor mximo a ser realiado.
Dia 17/12/2009 13:0014:00
Prerotal Cortex ad Early Child Developmet
adele diamond
A proa. Adele Diamond apresentou o tema FunesExecutivas (FE) com ilustraes a respeito de sua importncia
nos processos de aprendiado das crianas.
As FE dependem do crtex prérontal e so compostas
de trs competncias essenciais: (a) o Controle de Inibio
(autocontrole), (b) Memria de Trabalho e (c) Flexibilidade
Cognitiva. A palestra versou a respeito de cada uma destas
propriedades. O controle de inibio é a capacidade de resistir a
uma orte inclinao para aer uma coisa, e, em ve disso, aero ue é mais adeuado ou necessrio. Para exercer este controle
a criana deve ser capa de (1) prestar ateno, (2) permanecer
na tarea apesar de distrao e (3) inibir o agir impulsivamente.
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Prestar ateno envolve, por exemplo, suprimir o ue os
outros esto diendo, ou outros itens visveis ue no sejam o
ue é mais relevante. Esta propriedade é chamada de ateno
seletiva ou ocaliada. A criana também deve ser capa
de permanecer na tarea, apesar do tédio, de alhas iniciais,
“periéricos” interessantes, ou uma distrao tentadora –
como resistir à tentao de aer algo mais divertido, ao
invés de terminar o ue comeou. A palavrachave aui é
disciplina. As evidncias mostram ue disciplina conta duas
vees mais para a variao de qI nos anos inais da escola, e
na aculdade (Duckworth e Seligman, 2005). Apesar de no
sermos capaes de mudar o qI, podemos certamente aetar
a uantidade de esoro e disciplina ue aemos. Disciplina
pode ser treinada.
Controle de inibio também reuer no agir impulsivamente
(ao invés, possa dar uma resposta mais ponderada), permitir
criana no pegar brinuedo de outra criana, resistir a dier
algo socialmente inadeuado (ou prejudicial), resistir ao “olho
por olho” (erir alguém porue essa pessoa te machucou),
resistir a uma interpretao do signiicado de algo ue “deve
ser”, ou porue “oi eito por alguém”, resistir a uma deliciosa
sobremesa uando est de dieta.
O segundo item ue compe as unes executivas é a
memria de trabalho: manter inormaes na memria
enuanto mentalmente trabalha esta inormao. A memria
de trabalho é undamental para dar sentido a algo ue se
desenrola ao longo do tempo, para algo ue exige ter em
mente o ue aconteceu anteriormente em relao ao ue
o ue est acontecendo agora. A memria de trabalho é
emera, como “escrever no vidro embaado”, como uando
relacionamos uma ideia a outra, relacionamos o ue sel (ou aprendeu/ouviu) mais cedo com o ue est lendo
(aprendiagem/audio) agora. É necessria para entender
causa e eeito, para compreenso e para aer clculos
mentais (por exemplo, adio ou subtrao), na seuncia de
uma conversa, mantendo em mente o ue voc uer dier.
O terceiro item das FE é a lexibilidade cognitiva: ser capa de
mudar rapidamente e acilmente perspectivas ou o oco de
ateno. A lexibilidade de ajuste às exigncias de alteraesdo ambiente, ou prioridades – ser capa de “pensar ora da
caixa”. Flexibilidade cognitiva é undamental para a resoluo
criativa de problemas. quais so as maneiras para reagir
uando algo acontece? quais so as maneiras ue eu possa
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uando algo acontece? quais so as maneiras ue eu possa
conceituar um problema (por exemplo, talve seja uma
oportunidade)? quais so as maneiras ue eu possa tentar
superar um problema? Podemos mudar o oco da nossa
ateno, trocando o oco no ue os outros esto aendo
de errado para se concentrar em como poderamos estar
contribuindo para ue isso d errado, ou como podemos
aer o melhor para a situao.
Como medir as FE? Os testes tradicionais de qI s avaliam as
unes executivas de uma orma muito mnima. Se voc tem
um paciente com lobotomia rontal, este poder apresentar
uma pontuao de 80 ou 90 em testes de qI tradicionais (ou
seja, dentro do intervalo normal).
Por outro lado, as habilidades em unes executivas so mais
importantes para a preparao para a escola do ue os de qI
ou de entrada de leitura ou matemtica (Blair, por exemplo, de
2002e 2003; Blair e Raa, 2007; Normandeau e Guay, 1998).
Muitas crianas comeam a escola com muito pouca habilidade
nas FE e h pesuisas mostrando ue as crianas de cinco anos
de hoje esto atrs no desenvolvimento de FE em comparao
com as crianas de cinco anos de idade de geraes passadas
(Smirnova, 1998; Smirnova e Gudareva, 2004).
Crianas do jardim de inncia em risco por causa das
desvantagens econômicas so desproporcionalmente
atrasadas em FE em relao a outras habilidades cognitivas e
em relao a crianas de amlias de renda média. E como um
ciclo, as unes executivas também so importantes para o
sucesso escolar. A memria de trabalho e o controle de inibio,
cada um independentemente, preveem a competncia em
matemtica e leitura ao longo dos anos escolares.
Como podemos ajudar as crianas a desenvolver habilidades
em unes executivas?
Por exemplo, uma cantiga pode ajudar a criana a desenvolver
o controle inibitrio. Numa tarea de ateno (tarea “noite e
dia”, onde iguras de sol e lua/estrelas so mostradas à criana
e ela deve dier o nome oposto – noite para a igura do sol,
e dia para a igura de lua/estrelas), o experimentador canta
uma cantiga peuena – pense sobre a resposta, mas no mediga antes ue a criana responda. Isto impe o tempo entre
a apresentao de estmulo e resposta para ue as crianas
aprendam a utiliar o tempo ue elas precisam para “calcular”
a resposta A porcentagem de acertos por crianas de uatro
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a resposta A porcentagem de acertos por crianas de uatro
anos uando se utilia este articio (cantiga) é de 89% e se
realiam a tarea sem este “truue” o desempenho é igual à
chance estatstica: 56%, ou seja, elas no tm desempenho
dierente do acaso.
Vygotsky deende a ideia de ue se engajar em brincadeiras
sociais é undamental para o desenvolvimento de
competncias de unes executivas em crianas muito
jovens. Isto é ressaltado no livro chamado Ferramentas
da mente. Durante a brincadeira social, as crianas devem
desenvolver o seu prprio papel e manter o dos outros em
mente (memria de trabalho). Eles devem inibir aes ora
do seu personagem (empregam o controle inibitrio), e ter
lexibilidade para ajustar as voltas e reviravoltas à medida ue
a trama evolui (lexibilidade cognitiva).
Pesuisadores aplicaram as atividades de FE em um mdulo
acrescentado ao currculo. Eles descobriram ue as crianas
melhoraram no ue eles praticavam no mdulo, mas os
benecios no oram transeridos para outros contextos
ou outras habilidades além de FE. Eles descobriram
ue os benecios podem ser generaliados para outros
contextos e outras habilidades se houver suporte para ue
o desenvolvimento de FE seja incorporado em todos osaspectos do dia a dia na escola.
Em outro teste, as crianas teriam de transerir a sua
ormao em FE para absolutamente novas situaes.
Foram selecionadas crianas ue trabalharam com mesmos
materiais e ambientes, e os proessores oram aleatoriamente
alocados entre os grupos controle e de um e dois anos de
uso do Ferramentas da mente. Os resultados mostram ue
as crianas ue aprenderam com a técnica livro tiveram umdesempenho melhor no teste Reverse Flanker Trials, e esta
varivel oi mais importante para a varincia da FE do ue
a idade ou sexo (Diamond et al., Science, 30/11, 2007). O
desempenho acadmico superior de crianas ue passaram
por “Ferramentas”, neste estudo, tem sido replicado em
outros programas de erramentas da mente, com outras
crianas, com outros proessores, em outras escolas, em
outros estados, e com condies de comparao dierentes.
Mensagem para levar para casa nº 1: As habilidades em FE
podem ser melhoradas, mesmo em crianas a partir dos
uatro/cinco anos, sem euipamento caro, sem treinamento
altamente técnico de proessores em sala de aula regular
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altamente técnico de proessores em sala de aula regular
Mesmo aueles ue acreditavam ue as FE podem ser
melhoradas, tinham dúvidas se isso poderia ser eito ainda
na préescola, j ue as FE dependem do crtex prérontal
(CPF), ue no est totalmente maduro até a idade adulta
jovem (analogia com comprimento de perna aos dois anos e
a capacidade de caminhar e até mesmo correr aos dois anos
de idade). S porue o CPF no est totalmente uncional,
no signiica ue no esteja uncional em tudo (Kovcs e
Mehler, 2009). Além disso, h relatos de ganhos cognitivos
em crianas bilngues de sete meses de idade (Proceedings
o National Academy o Sciences,v. 106, p. 65566560). Muito
pouco é ixo ou imutvel. Cerca de 90% dos nossos genes
esto desligados. Em grande parte, nossas experincias e
nossas reaes a elas determinam uais genes sero ligados,
e uais iro icar. A experincia esculpe o cérebro, e o cérebro
muda ao longo da vida (neuroplasticidade).
Mensagem para levar para casa nº 2: Escolas esto sob presso
para cortar o tempo permitido para o jogo, e proporcionar
mais tempo para a instruo acadmica. Entretanto, as
crianas ue ieram “erramentas da mente” tm mais tempo
para jogar, apresentam melhor desempenho em medidas de
resultados acadmicos do ue as crianas ue tinham mais
tempo no ensino acadmico direto.
Mensagem para levar para casa nº 3: Importncia da ao
(aer) para a aprendiagem.
Um provérbio chins di: ouo e esueo; vejo, e me lembro;
ao, e entendo. Se a inormao no é relevante para a ao,
ns no prestamos ateno, da mesma orma (da a dierena
na memria de rota para o motorista, e para o passageiro
de um veculo). Um aspecto undamental das “erramentasda mente” é um tempo mnimo destinado às atividades em
grupos maiores e com nase para ue as crianas participem
ativamente com os demais e com o material.
Mensagem para levar para casa nº 4: Reoro positivo. Crianas
em situao de risco progressivamente icam mais distantes
de outras crianas no desempenho escolar ao longo dos anos
escolares. Essa lacuna de realiao ampliada pode resultar
de dois dinamismos indo em direes opostas. Considere oincio de um reoro negativo com crianas inicialmente com
baixos desempenhos em FE : isto pode levar a problemas de
ateno em sala de aula, para completar tareas, e alta de
inibio de comportamentos impulsivos A escola ica menos
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inibio de comportamentos impulsivos A escola ica menos
divertida. O proessor est sempre aborrecido com a criana
e exige o cumprimento das tareas, a escola é muito dicil.
Os proessores ento no esperam muita autorregulao e
trabalhos precrios, e as crianas veemse como estudantes
pobres. Por outro lado, as crianas ue tm melhores FE tm
mais chances de serem elogiadas por bom comportamento,
gostam mais da escola e uerem gastar mais tempo em aulas.
Seus proessores iro aprecilos e um ciclo de realimentao
de autorreoro positivo é criado. Este é o poderoso papel das
expectativas na atitude do aluno. A hiptese da dra. Diamond
é de ue os benecios do treinamento precoce de FE podem
aumentar ao longo do tempo. Melhorar as competncias
das FE precocemente coloca as crianas mais cedo em uma
trajetria de sucesso. Por outro lado, deixar as crianas
comearem a escola atrasadas nestas habilidades é deixlas
comear a aer uma trajetria negativa ue pode ser dicil
e extremamente cara para reverter. A dra. Diamond também
acredita ue (e isto est se testando agora) a ormao
precoce de habilidades de FE pode reduir a incidncia
ou gravidade de problemas de saúde mental envolvendo
a uno executiva, tais como ADHD ou vcios, porue as
crianas vo ter aprendido a exercer a autorregulao.
Muitas uestes no so simples uestes de educao ou
problemas de saúde. So ambas.
Mensagem para levar para casa nº 5: Ferramentas da mente
no envolvem apenas as FE ou apenas o desenvolvimento
cognitivo, h menor nvel de estresse na sala de aula. Porue
as crianas exercitam mais as FE, os proessores no precisam
disciplinlas to reuentemente e h menos interrupes.
Ao ajudar as crianas a inibir seus comportamentos
impulsivos e agir de orma adeuada, “Ferramentas” redu o
estresse experimentado por ambos os proessores e alunos.Além disso, as crianas executam atividades em pares, o ue
cria uma atmosera positiva de cooperao e amiade.
É importante ter em mente ue h outros mecanismos
de variaes individuais ue devem ser observados. Por
exemplo, o nvel de neurotransmissores importantes para as
FE certamente modulam o comportamento. Por outro lado,
h interaes com o ambiente.
Um exemplo disto é a dopamina (DA), importante para as
unes executivas. Se os nveis de dopamina no CPF esto
baixos, é pior o desempenho em testes de FE. O melhor
mecanismo de metaboliao de DA so as protenas
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mecanismo de metaboliao de DA so as protenas
transportadoras de dopamina na enda sinptica. Estes
transportadores de DA so abundantes no núcleo estriado,
mas escassos no crtex prérontal. Isso a com ue o
crtex prérontal seja mais dependente de mecanismos
secundrios de regulao (tais como a enima COMT [catecol
Ometiltranserase] ue metila – processa DA) para ue a
dopamina se mantenha no espao extracelular – em relao
às outras regies do cérebro, como o núcleo estriado. Pessoas
ue apresentam menor atividade de COMT (portanto, ue no
degradam to eicientemente a dopamina) mantm mais DA
disponvel para realiar os processos de neurotransmisso.
Se o gene da COMT (catecolOmetiltranserase), ue codiica
a enima COMT, é mutante, a enima tem uno modiicada.
Este gene est situado no cromossomo 22. A substituio
de um único par de bases: a CGTG CATG tradu em uma
substituio do aminocido metionina para Valina no cdon
158: leva a AGVKD vs AGMKD. A atividade baixa do alelo M da
COMT a com ue a DA seja processada mais devagar. E isto
est associado com melhor uno CPF. Adultos homoigotos
para a variante metionina do gene COMT tm melhor
desempenho em testes de FE, e precisam de menos ativao
CPF para o mesmo nvel de desempenho na tarea de memria
de trabalho (Egan, Goldberg, Kolachana, Callicott, Maanti,Straub, Goldman e Weinberger, 2001. Anais da Academia
Nacional das Ciências, 98: 69176922). Pessoas homoigotas
para a variante MET do gene COMT (o ue resulta em DA mais
ativa no CPF) tm uma melhor uno executiva, mas também
tendem a ser mais sensveis ao estresse, ter uma maior
ansiedade, e maiores respostas de estresse pela dor.
Aui é importante notar ue colocar sentimentos em palavras
produ eeitos teraputicos sobre o cérebro. quando secoloca os sentimentos em palavras, aumenta a ativao do
crtex prérontal, e isto produ uma resposta reduida na
amgdala. Por sua ve, leva à menor liberao de hormônios
moduladores de estresse, e a resposta ao estresse é diminuda.
Traduindo uma experincia emocional para a linguagem,
alando ou escrevendo, altera a maneira como é representado
e compreendido em nossa mente, no nosso cérebro (crtex
prérontal é uma das reas do crtex mais envolvidas).
Desta maneira, vemos ue apesar de os mecanismos externos
do processo de aprendiagem se beneiciarem de habilidades
das FE, o material biolgico subjacente é um importante
modulador dessas intervenes Ainda h dierenas
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modulador dessas intervenes Ainda h dierenas
entre homens e mulheres neste aspecto. As mulheres so
mais predispostas a inluncias negativas de nveis de
estresse ambiental ue os homens. O estrognio modula
negativamente a transcrio COMT humana (Ho, 2006). A
atividade da COMT é 30% menor nas mulheres do ue nos
homens e h uma relao inversa entre a atividade da COMT
e os nveis de estrognio. quanto maior o nvel de estrognio
em um rato mea, mais prejudicado é seu desempenho
em tareas mediadas pelo CPF em ace do estresse natural
ou armacolgica (agonista inverso benodiaepnico).
Portanto, h um nvel timo de estresse natural ue avorece
o desempenho dos homens, mas no no caso das mulheres.
Para estas, um peueno aumento do nvel de estresse redu
o desempenho em tareas de FE. Este ato ajuda a entender
as dierenas entre os sexos nestes testes e pode ajudar a
moldar prticas de ensino para meninos e meninas.
A experincia social é também um ator relevante para o
timo desempenho das FE. Roy Baumeister e colaboradores
(2002, Journal o Personality and Social Psychology ) realiaram
um estudo em ue um grupo de indivduos oi inormado de
antemo ue teriam relaes estreitas entre eles ao longo das
suas vidas; a outro grupo oi dito o contrrio, ue as pessoas
no iriam ter boas relaes; e a um terceiro grupo oraminormadas ms notcias no relacionadas aos participantes
dos experimentos. Estes grupos realiaram os mesmos testes,
e em uestes de simples memoriao, os grupos eram
comparveis. Em uestes envolvendo raciocnio lgico
(FE), os indivduos ue receberam a notcia de ue estariam
soinhos apresentaram desempenho muito pior.
Um estudo posterior realiado por um grupo de pesuisa
independente concluiu ue, durante os testes de matemtica,houve uma menor atividade no crtex prérontal entre
participantes ue se sentiam isolados.
A evidncia também mostra ue a atividade sica eica
(especialmente o exerccio aerbico) melhora a cognio
e a uno cerebral. Em particular, o lobo rontal e unes
executivas ue dependem dele mostram o maior benecio
da melhoria da aptido sica. Os eeitos positivos da atividade
sica aerbica sobre a cognio e a uno cerebral soevidentes em vrios nveis: sistemas moleculares, celulares
e comportamentais. Os mesmos ou substancialmente os
sistemas de cérebro subservem a uno motora e a cognitiva.
Se lev los a uncionar melhor através do exerccio sico
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Se levlos a uncionar melhor através do exerccio sico
motor e desaios cognitivos, é lgico ue eles poderiam,
ento, multiplicar os eeitos mutuamente.
“We are ot just itellects, we have emotios, we have
social eeds & we have bodies” – o somos apeas
itelectos, temos emoões, temos ecessidades sociais
e temos corpos. Nosso cérebro unciona melhor uando
no estamos em um estado emocional exacerbado. Nossos
cérebros uncionam melhor uando no estamos nos sentindo
solitrios ou isolados socialmente. Nossos cérebros uncionam
melhor uando o nosso corpo est isicamente apto.
J chegando ao inal de sua palestra, a proessora Diamond
apresentou duas iniciativas sociais ue so exemplo de
estmulo de FE: 1) o Sistema nacional da Veneuela de
Oruestras Juvenis e Inantis, também conhecido como
El Sistema, ideia do economista veneuelano, maestro e
compositor, José Antônio Abreu, ue em 1975 imaginou a
ormao de música clssica como uma interveno social
ue pode transormar a vida das crianas pobres. 2) o Instituto
Nacional de Dana (NDI) oi undado em 1976 por Jacues
d’Amboise, exbailarino principal do American Ballet Theater
de danas coreograadas, agraciado com a Medalha Nacional
de Honra – por ajudar jovens problemticos. Jacues veio deuma amlia pobre, saiu da escola, e estava destinado para
uma vida problemtica. Sua vida oi transormada pela dana.
O NDI reuniu com grande sucesso algumas das crianas mais
necessitadas em avelas de NovaYork, reservas de americanos
nativos, e no exterior, incluindo o Senegal.
A mensagem desta palestra pode ser resumida no seguinte:
as unes executivas so as habilidades cognitivas essenciais
para o sucesso na escola e na vida. A maioria das crianas e os jovens hoje em dia, independentemente de sua origem, esto
atrasados nestas uestes cruciais em relao às geraes
passadas. Mas estas habilidades podem ser melhoradas
em crianas peuenas, sem especialistas ou euipamentos
soisticados. Basta olhar o ue tem sido parte da experincia
das crianas por deenas de milhares de anos em todas as
culturas – brincar, contar histrias, ouvir música e danar.
Melhorar as competnciaschave para as FE precocemente
coloca as crianas em uma trajetria de sucesso. Por outrolado, deixar as crianas comearem a escola tarde nestas
habilidades é deixlas aer uma trajetria negativa ue
pode ser dicil e extremamente cara para reverter.
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Dia 17/12/2009 14:0015:00
Edurig Cogitive ad Social Beeits o Early
Educatioal Programs - craig ramey
O pro. Ramey conduiu vrios ensaios clnicos randomiados
(ECR) no Laboratrio de Pesuisas da Inncia. Entre
1968 e1969 realiou estudos da resposta a estmulo do
contingente da Universidade da CalirniaBerkeley, de 1970
a 1971 realiou estudos de interveno em crianas com
diiculdades para desenvolvimento, Wayne State University,
e de 1971 a 1972 realiou uma série de ECR ue culminaram
nas bases para o Projeto Abecedrio.
Do total de estudos ECR para avaliar Intervenes para
Melhorar os Resultados das Crianas, uatro se destacam: o
Projeto Abecedrio (1971 presente, o Projeto CARE (1977
presente), o Programa de Desenvolvimento e Saúde Inantil
(oito instituies) (19842005) e os Estudos de Oranatos
Romenos (19911994). A palestra do pro. Ramey discorreu
sobre cada um deles.
A perguntachave de pesuisa para o projeto (ABC) alabético
é se o dano cumulativo de desenvolvimento em crianas de
alto risco pode ser prevenido ou signiicativamente reduidoatravés de educao inantil sistemtica e de alta ualidade –
desde o nascimento até a entrada do jardim de inncia e/ou
desde o jardim de inncia até o segundo grau?
O estudo de Transio K2 do Programa Abecedrio tem oco
individualiado em atividades acadmicas e de aprendiagem
na escola e em casa, nase em leitura, matemtica e
escrita, proessores bem preparados em casa e na escola
(12 crianas/amlias por proessor), desenvolvimento deum currculo individualiado e documentado suplementar
para cada criana, ateno explcita e ao relevante para
a situao amiliar, se necessrio, acampamentos de vero
com experincias academicamente relevantes (Ramey e
Ramey, 1999).
As principais concluses do Projeto Abecedrio, de 18 meses à
idade adulta, oram: melhorias na inteligncia (qI), habilidades
de leitura e matemtica, ascendncia acadmica, número deanos na escola, incluindo o colégio e emprego de tempo
integral. Menores ndices de repetncia, de necessidade de
educao especial, de gravide na adolescncia, tabagismo e
uso de drogas e de depresso na adolescncia E além destes
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uso de drogas e de depresso na adolescncia E além destes
notaramse mais benecios para as mes dessas crianas
(educao, emprego).
O Projeto CARE oi um ECR concebido para replicar o Projeto
Abecedrio (ABC) com um grupo de tratamento adicional
para testar a eiccia de programa de visitas domiciliares de
grande intensidade durante cinco anos para ue as mes
utiliassem o currculo abecedrio em casa. Este programa
mostra um aumento do qI, inclusive acima da média entre o
primeiro e segundo ano do projeto.
O Programa de Saúde Inantil e Desenvolvimento (PSID)
oi projetado para replicar o Projeto Abecedrio aplicado a
crianas prematuras, de gestao de baixo e com peso ao
nascer <2500g. Foi realiado em oito instituies (N = 985
crianas/amlias), com interveno modiicada de acordo
com os atores de risco biolgico e cuja interveno precoce
durou apenas trs anos. Os resultados com eeitos positivos
(* p <0,01) no PSID aos 12 meses oram no signiicativos;
aos 24 meses houve eeito positivo no desenvolvimento
cognitivo, reduo dos problemas de comportamento,
melhoria do vocabulrio e de linguagem receptiva; aos
36 meses os benecios dos 24 meses permaneceram e se
acrescentaram melhoras no comportamento adaptativoe prsocial, raciocnio, melhoras no ambiente domiciliar,
no comportamento interativo materno e na resoluo de
problemas maternos (Ramey 1999, adaptado de Gross, Spiker
e Haynes, 1997).
Ao analisar os vrios ECR notamse benecios dierenciais
(entre os estudos) na interveno precoce: a maioria das
crianas ue mais beneiciaram tinha mes com qI abaixo
de 70, mes com baixos nveis de educao, indicadores debaixo prognstico ao nascimento (PI, Apgar, baixo peso ao
nascer) e so ilhos de mes adolescentes (Martin, Ramey
e Ramey, 1990 American Journal o Public Health; Ramey e
Ramey, 2000).
Os estudos de oranatos romenos oram projetados para
reproduir o Projeto ABC, e modiicados para atender às
necessidades das crianas ue tinham privao extrema
prolongada de aprendiagem e socioemocional. Foi realiadoem duas dierentes aixas etrias e parte de um programa de
capacitao na Romnia, em parceria com universidades. Os
resultados mostram ue todas as crianas podem aprender,
uando tm acesso à experincia em ambientes de resposta
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uando tm acesso à experincia em ambientes de resposta
precoce ao contexto, cuidados de alta ualidade para o
desenvolvimento socioemocional e necessidades de saúde e
desaios bem dosados de aprendiagem em vrios domnios.
Por outro lado, sem exposio adeuada a essas experincias
positivas precocemente, as crianas vo icar para trs em seu
desenvolvimento potencial. A interveno precoce, por si s,
no é suiciente para superar todos os riscos da vida dessas
crianas. Se a experincia precoce no é seguida por mais
suportes adicionais, os benecios podem sorer eroso em
muitas crianas.
As principais concluses desses estudos mostram ue todas
as crianas podem aprender (apesar de privao de casa ou
riscos biolgicos) ue as intervenes mais precoces ue
atendem a cuidados de saúde, aprendiagem com resposta
contextualiada (linguagem, social, emocional, cognitivo)
podem levar a grandes benecios – com maiores benecios
para as amlias ue realiam menos estmulos (mais
carentes). E mais: a manuteno dos benecios a longo prao
depender, em parte, das experincias subseuentes.
Dia 17/12/2009 15:1516:15 Efective Early Itervetios or Biologically Vulerable
Childre: The Importace o Dosage sHaron ramey
A proesora Sharon Ramey comeou a palestra listando
undamentos cientcos para a nova “Educao Cientca”:
investigao sobre a neuroplasticidade (modelos animais);
estudos de privao extrema (oranatos, privao materna,
isolamento); os projetos de demonstrao naturalista eestudos longitudinais; os ensaios clnicos randomiados
(ECR) para testar a eccia da “criana completa” de ensino
e das intervenes para alterar o curso da vida; tratamentos
tradicionais e “tratamentos” inovadores.
Os ensaios clnicos randomiados (ECR) ue realiamos incluem:
1) Projeto Abecedrio (ABC); 2) Projeto CARE; 3) Programa
de Desenvolvimento e Saúde Inantil (oito instituies);
4) Estudo de oranatos romenos; 5) Terapia intensiva deconteno induida peditrica (paralisia cerebral); 6) Estudo de
demonstrao nacional de transio (31 instituies); 7) Teste
de currculos e treinamento préjardim da inncia; 8) Estudos
do sistema e de estudos estaduais ue escalam
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do sistema e de estudos estaduais ue escalam.
A experincia mostra ue h alguns princpios de interveno
precoce EFICAz: 1. Timing (incio, durao, ofset ); 2.
Intensidade (por dia/semana/ms/ano (s); 3. Experincias de
aprendiagem direta; 4. Maior amplitude de servios/suporte;
5. Levar em conta as dierenas individuais; 6. Manuteno do
ambiente. A seguir, cada um destes ser mais bem exposto.
O princpio do tempo é importante. Sabemos ue o
momento ue a interveno comea e o momento ue
termina inuencia signicativamente a magnitude dos
eeitos. A teoria do desenvolvimento neurolgico e pesuisa
so undamentais para a compreenso das caractersticas
importantes do sistema nervoso central ue se desenvolve
rapidamente em determinadas idades.
O desenvolvimento em ases anteriores estabelece condiespara as ases posteriores, e, desta maneira, prticas clnicas
tm adiantado o incio de tratamentos (o princpio é muito
semelhante ao ue acontece em teratologia, onde os eeitos
so mais intensos uanto mais precoce a criana é exposta).
H algumas observaes ue sustentam o princpio do
tempo. Derivam de estudo de comparaes cruadas, e
de metaanlises de mais de 25 intervenes na primeira
inncia. Geralmente eeitos mais duradouros e maioresocorrem uando a interveno comea mais cedo e dura mais
tempo. A conrmao também vem de experincias com
animais. Entretanto, h uma limitao: variveis de conuso
inerente aos ensaios clnicos randomiados comeam mais
cedo, continuam por mais tempo, e, provavelmente, mais
adeuadamente implementadas – ento pode ser por estas
raes ue produiram resultados com maiores ganhos. Em
tempo, o mecanismo de sinaptognese orma uma base
biolgica plausvel para o princpio de tempo: o cérebro
apresenta desenvolvimento de vias primrias nas ases mais
precoces, uando podem ser moldadas.
O princpio da dosagem (intensidade) das intervenes
mostra ue auelas mais intensivas (mais horas por dia,
dias por semana, durao total) tendem a produir grandes
mudanas. A especicao exata de “doses ideais” no
ocorreu, em grande parte devido ao custo e uestes
pragmticas na pesuisa de interveno. Entretanto, h
alguma evidncia consistente com a “hiptese de limite”
(principalmente em limite inerior). Novamente, as curvas
de dados so muito semelhantes aos princpios da curva de
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doseresposta em teratologia. Um dado ue suporta este
princpio é a inuncia do discurso das mes e o vocabulrio
de bebs: uanto mais as mes alam com os bebs, maior é o
vocabulrio desenvolvido – evidncias naturais consistentes
com os resultados de ECR.
O princpio das experincias com aprendiagem diretasmostra ue intervenes ue alteram diretamente as
experincias de aprendiado da criana (ou seja, as relaes
com os outros e do meio ambiente) tm maiores benecios
sobre as crianas do ue intervenes indiretas (por exemplo,
pais e programas de visitas domiciliares, coordenao de
entrega de servios/suporte, ormao de proessores). Nota:
a maioria das intervenes precoces tem enoue nos eeitos
indiretos via intervenes com pais, com base na esperana
de elas levariam suporte para a sustentabilidade ambiental.
O princpio da oerta de servios/suporte mostra ue as
intervenes precoces baseadas em multicomponentes
tendem a produir benecios maiores e mais duradouros.
Estas iniciativas simultaneamente atendem às necessidades
de uma criana na saúde, na cognio, na linguagem
e no desenvolvimento socioemocional. H, entretanto,
limitaes: variveis de conuso em programas mais
abrangentes ue tendem a ser mais intensos e incluem
experincias diretas de aprendiagem. A maioria dos
programas de interveno testados em ECR ocaliase em
crianas com múltiplas necessidades e condies de risco
(devido à coocorrncia natural).
O princpio das dierenas individuais mostra ue algumas
crianas se beneciam mais (ou menos) das intervenes. Este
princpio tem sido armado primeiramente porue crianas
com maiores necessidades de suporte do ambiente tendem
a se beneciar mais de intervenes. E, por outro lado, as
crianas com alteraes do sistema nervoso, mais graves,
no podem se beneciar tanto a partir de intervenes de
enriuecimento geral (ou seja, sem interveno de espectro
especco). A anlise das curvas de crescimento individual
também é uma clara demonstrao do potencial genético
dierente entre as crianas. Aui também o princpio é similar
ao princpio da teratologia da susceptibilidade dierencialgenético ou interao gene X ambiente.
O princpio da manuteno do meio ambiente mostra ue os
benecios de intervenes precoces tendem a durar mais se
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as crianas continuarem a receber suporte ambiental amplo
depois ue a interveno precoce termina. Uma limitao
desta observao é ue é uase impossvel separar os
eeitos da alta de “manuteno” verdadeira de ambientes
subseuentes com privaes ou dos eeitos prejudiciais do
meio (o ue poderia reverter os benecios da interveno
precoce). Estes princpios so inuenciados pelo ato de ue
crianas com necessidades especiais dierentes resultam em
“problemas” ue dependem de sua idade e congurao
para serem mais bem abordados.
Oportunidade de aplicar os novos conhecimentos e
habilidades pode variar, aumentando ou restringindo o
desenvolvimento uturo.
Exemplos ue conrmam estes princpios podem ser
observados em alguns de nossos ECR longitudinais:
intervenes em crianas muito carentes, muitas vees de
ambientes caticos (Projeto Abecedrio, Projeto CARE e
estudos de oranatos romenos) e as intervenes direcionadas
para baixo peso ao nascer, prematuros, e crianas com
decincias neuromotoras, de moderada a grave (Projeto
ACqUIRE). Um exemplo de interveno intensiva ue desaa
as “prticas convencionais” é o de crianas com decincias
neuromotoras (paralisia cerebral).
A maioria das intervenes mais reuisitadas e previstas
é sica e/ou terapia ocupacional (universal). A terapia mais
popular é descrita como Terapia do Neurodesenvolvimento
(TND). A dose tpica é de uma ou duas sesses de hora em hora
por semana. Porém, evidncias na literatura no suportam
a sua eccia (por exemplo, Palmer, Shapiro, Wachtel et al.,
1988,NEJM; Hur, 2005; Barry, 2001).
A terapia intensiva peditrica de contenso induida de
movimento para crianas com paralisia cerebral tem base
nos princpios undamentais da teoria de aprendiagem, os
relatrios clnicos de reabilitao de adultos com acidente
vascular cerebral e as experincias com animais. Este é o
primeiro ECR para testar uma orma altamente intensiva
de terapia direcionada para crianas com paralisia cerebral
hemiparética. Os resultados demonstraram benecios
importantes e duradouros, além de eeitos no previstos
para outros domnios do desenvolvimento (Taub, Ramey,
DeLucaeEchols, 2002, Pediatria; DeLuca, EcholseRamey, 2006,
Neurologia Inantil ).
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As principais caractersticas desse estudo (ACqUIRETherapy)
so: altamente intensivo (seis horas por dia, 21 dias
consecutivos), envolvimento direto e ativo da criana como
aluno, resposta aos interesses da criana e à sua competncia
inicial, com base em princpios da teoria de aprendiagem.
Esse estudo oi projetado para promover a generaliao,
sendo ue a conteno leva a criana a ter “oco” na parte
prejudicada, e superar o “descaso do desenvolvimento,
eliminar respostas concorrentes, criar novas conexes no
SNC (DeLuca, Echols e Ramey, 2007).
Ciclo Bsico de Terapia ACqUIREc: MR3 (MR3 = Movimento
Reoro Repetio Renamento). O movimento é incentivado,
estimulado, e este ciclo é iniciadopelo movimento da
extremidade superior. O reoro é imediato, positivo,
inormativo e recompensa/motiva a criana. A repetio
ocorre imediatamente, muitas vees, bem como durante
longos perodos de tempo (ou seja, depois de outros ciclos
de tratamento MR3 de dierentes habilidades e movimentos).
O renamento ocorre em momentos onde a habilidade
naturalmente progride.
Os eeitos benécos no previstos da terapia intensiva
peditrica de conteno induida envolvem o aumento da
capacidade de resposta socioemocional positiva, a reduo
dos problemas de comportamento, a melhoria da capacidade
de comunicao, a menor averso sensorial ao toue, a
melhoria motora e das habilidades de mobilidade globais,
o aumento da autoconana e a independncia (DeLuca,
Echols e Ramey, 2007).
A clnica de pesuisa peditrica neuromotora conta com
mais de 160 crianas ue receberam o protocolo de
tratamento padroniado completo (com documentao
sistemtica de delidade ao tratamento). Os pais (e lhos,
uando or o caso) concederam o consentimento inormado
(parecer avorvel) para participar no estudo clnico e as
avaliaes padroniadas, prée pstratamento. Os dados de
comparao de amostras de pesuisa clnica (APC) e de ECR
mostram ualidade dos escores de ganho movimento: 2.0
(ECR) vs. 2,4 (APC); reuncia dos escores de ganho de uso:
1,9 (ECR) vs. 1,9 (APC); número de novos comportamentos:9.3 (ECR) vs. 10,93 (APC); manuteno dos benecios aos seis
meses (e além) em ambas as amostras.
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Est em andamento um ECR com trs instituies concebido
para testar os eeitos da dose de ACqUIREC. Foram includas
crianas (idades de trs a seis anos) aleatoriamente alocadas
para receber trs ou seis horas por dia durante 21 dias.
Terapeutas receberam treinamento comum para os padres
do protocolo de tratamento, e so alocados aleatoriamente
para as crianas. Os resultados apresentados na AACPMD
reunio (setembro 2009) mostram os benecios ue
suportam ambos os nveis, mas maior para crianas ue
receberam seis horas por dia. Permanece ainda uma pergunta
sem resposta: as mudanas a longo prao esto relacionadas
com a dosagem inicial?
Ainda, no ue se reere a crianas com decincias, ou em
risco, oi realiado um estudo das crianas biologicamente
vulnerveis do Projeto Abecedrio. Esse estudo envolveu
crianas nascidas de mes com baixo qI (<70), crianas com
menor pontuao APGAR, crianas com ndice ponderal no
ideal (peso em relao do comprimento). Os resultados das
anlises conrmaram ue essas crianas mostraram mais
benecios de intervenes nas idades de trs e uatro anos.
Para uma anlise mais detalhada dos dados, oi investigada
a participao das crianas no programa. Primeiramente oi
criado um ndice de participao de crianas no programa de
saúde inantil e desenvolvimento. O escore oi gerado a cada
ano e composto pelo número de visita domiciliar à amlia
concluda bissemanal ou mensal, número de sesses de
inormao mensal atendidos pelos pais e total de dias da pré
escola especial atendidos pela criana (apenas 1236 meses).
Este ndice de participao previu o escore de qI Stanord
Binet em trs anos. Houve dierenas signicativas nos grupos
de alta participao, média e baixa aps o controle de outras
variveis associadas a nveis de participao. Crianas com
baixo nvel de participao tiveram desempenho semelhante
ao grupo controle ue s recebeu saúde e servios sociais
(Ramey et al., 1992, Pediatria).
Outra pergunta importante é por ue as crianas
biologicamente vulnerveis com baixo peso ao nascimento
(BPN) se beneciam menos. Os benecios para grupo BPN
(<2.000 g) desapareceram aps cinco anos, no houve
benecios cognitivos para as crianas com baixo peso ao
nascer com paralisia cerebral, mesmo em trs anos. Parece
ue em 18 anos de seguimento a hiptese de ue os nveis
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de participao inerior a 400 (de 500 possveis) dias de
atendimento pode ter sido responsvel por este eeito mais
raco (McCormick et al., 2006, Pediatrics). Além disso, crianas
de BPN tm mais probabilidade de entrar cedo em programas
de educao especial, portanto o ganho (dierencial) poderia
ter sido peueno.
Evidncias recentes ue apontam para o princpio de
dosagem envolvem crianas provenientes de ambientes com
poucos recursos. Em Louisiana, um programa préjardim de
inncia oi oerecido em dois regimes: o dia inteiro, meio
ano; ou dia todo, o ano todo. Em Maryland, um programa
muito semelhante antes do jardim da inncia oi oerecido,
com durao de meio dia. O resultado destes dois programas
mostra o eeito de dose, com as crianas submetidas ao
programa de dia inteiro e ano todo apresentando melhor
desempenho.
Como pensar a respeito de “dose” para uturas pesuisas e
intervenes planejadas? O mais extensamente estudado so
as intervenes precoces para crianas subestimuladas ou
em situaes da vida, por vees, negligentes. Para crianas de
poucos recursos, o aumento da dose e da maior participao
pode levar a mais benecios (dosagem enriuecedora). Para
as crianas com as condies ue mais severamente aetam o
desenvolvimento biolgico, intervenes mais especialiadas
e maior dose podem ser essenciais para a percepo de
benecios.
Dia 17/12/2009 16:1517:15
Reaalysis o Perry Preschool Program rodrigo Pinto
O Dr. Rodrigo Pinto analisou uma série de artigos a respeito
deste importante experimento social sobre Interveno
Precoce na Inncia. Muitos experimentos sociais tentam
medir o impacto do investimento na primeira inncia sobre
os resultados para toda a vida. O Perry Preschool Program é
considerado um marco para justicar intervenes precoces.
O Programa de Estudos Perry Preschool é considerado
um experimento com peuena casustica (123 crianas:
58 submetidas a tratamento e 65 controles) realiado em
Ypsilanti, Michigan (EUA) no incio dos anos 1960 em crianas
aroamericanas com qI baixo, e baixo status socioeconômico.
Foram realiadas vrias medidas de atividade ao longo do
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(vagamente) baseada no escore de qI de StanordBinet e uma
medida de nvel socioeconômico: aueles com pontuaes
de qI ora de 7085 oram excludos. O nvel socioeconômico
oi avaliado como uma combinao linear ponderada do
nvel de habilidade paterna, escolaridade paterna e o número
de uartos por pessoa em casa. Aueles com pontuao
socioeconômica acima de certo limiar oram excludos.
Os dados em linhas gerais consistem em entrevistas ue
incluram uestes sobre a estrutura amiliar, o estado civil,
testes de desempenho cognitivo e no cognitivos, educao,
comportamento criminal, emprego e renda.
O Programa High/Scope Perry – incio da Idade: Crianas
tinham idade de 35 anos durante a interveno. O programa
durou 30 semanas/ano, de meados de outubro até maio.O currculo consistia em uma sesso diria de sala de
aula ocupando duas horas e meia nas manhs dos dias da
semana. Houve também visitas domiciliares semanais, com
durao de uma hora e meia, realiadas pelo proessor. Os
proessores tinham certicados de educao elementar
(inicial) e educao especial. Custo do programa: U$ 9.785
por participante por ano (atualiados para valores em dlares
no ano de 2006).
Caractersticas do currculo préescolar Perry: as crianas so
tratadas como aprendies ativos (teoria de Piaget). Proessores
deveriam incentivar as crianas em atividades lúdicas ue
envolvem aer escolhas e resolver problemas. As tareas
incluam planejar, executar e avaliar as atividades; promover
a cooperao entre os pares; incentivar a comunicao na
resoluo de conitos pessoais; habilidades de omento
social (Schweinhart et al., 1993). Os dados oram colhidos em
ondas: crianas com ano de nascimento de 1958, 1959, 1960,
1961 e 1962.
Por ue reanalisar estes dados? A rigor, dados da literatura
anterior no seriam conveis por trs elementos
estatsticos do estudo de Perry: (A) peueno tamanho da
amostra; (B) Irregularidades no protocolo de randomiao
(principal crtica); (C) denir uma grande uantidade de
medidas de acompanhamento (maior número de medidas
do ue observaes).
Desaos de estatstica para cada item tiveram algumas
abordagens possveis: (A) peueno tamanho da amostra
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i d d (b d
permutao); (B) Comprometimento da randomiao
com duas abordagens:uma com base no protocolo de
aleatoriao implementado ue assume como vlidas as
propriedades de intermutabilidade condicionais de Perry.
Teste no paramétrico de permutao de blocos ue acomoda
esta necessidade, e, a segunda, abordagem conservadora
baseada em um modelo de amostragem parcial. Hipteses
mais racas, ue acomodam a heterogeneidade latente; (C)
“cherry picking” (divulgao seletiva de resultados) oi tratado
com vrios testes de hipteses através de um processo
stepdown ue usa um algoritmo de inerncia de hipteses
múltiplas.
E, por m, o peueno tamanho da amostra é um problema
desaador. Os testes estatsticos clssicos (F, t, e testes χ2)
so apenas assintoticamente corretos. Mostram resultados
inseguros uando a amostra é peuena e dados apresentam
distribuio no normal. Faltam graus de liberdade ao testar
as muitas hipteses conjuntas.
Em resumo, as condies de erros de produo caracteriam
os dados Perry.
A soluo para peuena amostra: Inerncia Baseada em
Permutao. A inerncia baseada em permutao (muitasvees chamada de dados dependentes) calcula valores de p
dependentes dos dados observados. Distribuio livre: no
exige pressupostos paramétricos sobre amostragem de
dados de distribuio (por exemplo, a normalidade). É mais
convel uando a distribuio de amostras é enviesada,
peuenas ou no normais. No se baseia em teoria assinttica,
vlida para a amostra peuena.
Implementao do Processo de Inerncia para randomiao
comprometida. Ns mostramos ue algumas propriedades
da permutabilidade condicional permanecem vlidas
mesmo com a randomiao comprometida. Nosso teste de
permutao adapta o procedimento de Freedman e Lane
(1983) para as caractersticas do protocolo de randomiao
do estudo Perry.
Produtos derivados do nosso processo de permutao
condicional respeitam a impossibilidade de determinadas
atribuies no mbito do protocolo original de randomiao
(executado), como, por exemplo, o agrupamento amiliar;
impede ue o deseuilbrio das variveis antecedentes
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(SES ndice, qI e sexo) em permutaes; leva em conta a
dependncia entre a atribuio de tratamento e as variveis de
undo. É vlido para a randomiao de Perry comprometida.
Para aer o controle de erro Tipo I em teste de múltiplas
hipteses, uma nova técnica oi utiliada. O objetivo do teste
de hipteses múltiplas é controlar a taxa de erro amilywise (FWER, do ingls amily wise error rate) a um dado nvel α: FWER
= P {rejeitam ualuer hiptese nula} ≤ α. Controles FWER
pesados permitem um controle FWER independentemente
de ual subconjunto das hipteses nulas é realmente
verdadeiro. J FWER leves controla FWER somente uando
todas as hipteses nulas so verdadeiras.
Realiamos vrios testes de hipteses utiliando o algoritmo
stepdown. Este algoritmo tem trs passos: 1) inicia visandoo teste a estatstico mais signicativo; 2) decide se ele
é estatisticamente signicativo ou no; 3) “desce” para
testes estatsticos menos signicativos. Esta abordagem
é menos conservadora ue os processos tradicionais de
Boneroni e Holm, integrando a estrutura de dependncia
dos testes estatsticos. Romano e Wol (2005) mostraram
ue stepdown ornece controle um FWER orte sob condio
de certa monotonia dos testes estatsticos. Além disso, este
procedimento corrige o potencial erro de préteste, “cherry
picking” ou “Pesca”.
Os resultados empricos de testes cognitivos mostram
ue o grande eeito de escala do tratamento sobre o qI
desaparece. Porém os eeitos da interveno persistem em
testes de desempenho e os eeitos da interveno so mais
ortes em mulheres.
Os resultados empricos de educao mostram ue
as mulheres ue soreram a interveno apresentam
desempenho excepcional em escolaridade, mas ue este
eeito no é signicativo para resultados escolares de homens
ue receberam a interveno. De ato, as trs variedades de
resultados educacionais testadas e indicadores mostram
um padro de resultados signicativos para as mulheres em
vrias idades e pouco ou nenhum resultado signicativo para
o sexo masculino.
Os resultados empricos de Emprego e Renda mostram ue
os adultos tratados ganham mais, tm mais emprego, e as
mulheres mostram eeitos sobre o emprego mais precoces
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h P l d l d ô i
(bens, servios nanceiros e de Previdncia) mostram ue os
homens ue soreram a interveno tm melhor desempenho
ue os controles, mas a evidncia é raca para as mulheres.
Os resultados empricos em relao à criminalidade mostram
ue os adultos tratados cometem menos crime e h maior
reduo da criminalidade proporcional para o sexo masculino.
O desao aui é saber como habilidades cognitivas e no
cognitivas mudam em resposta ao investimento experimental
e como saber se essas mudanas de competncias se
traduem em melhores resultados durante a vida. Temos
uma estimativa dos eeitos da interveno experimental
sobre as capacidades cognitivas e no cognitivas (Sistema
de Medio). Em seguida, estimamos os eeitos ue mediam
estes recursos em resultados, mais tarde, ao longo da vida.
Como competncias humanas no podem ser resumidas em
uma única medida, os cinco maiores traos de personalidade
de Digman oram considerados em nossa anlise. A
taxonomia inclui os cinco traos: abertura (O), conscincia (C),
extroverso (E), aabilidade (A) e neuroticismo (N). Os cinco
grandes traos esto ligados a duas caractersticas robustas
de ordem superior chamadas “α” (CAN) e “β” (EO) no modelo
hierruico da personalidade de Digman (1997). Usamos asmedidas Perry no cognitivas para mapear Digman de “α”
(Comportamento Pessoal) e “β” (Desenvolvimento Social). E,
por outro lado, usamos testes de qI como medida cognitiva.
O mecanismo através do ual as intervenes precoces na
inncia uncionam parece ser através de: 1) melhora das
competncias; 2) algumas competncias so habilidades no
observadas; 3) competncias podem ser aproximadamente
avaliadas por testes cognitivos e no cognitivos; 4)
competncias aetam todos os resultados, mas de maneiras
dierentes; 5) Os eeitos da interveno operam nos resultados
através destas competncias reoradas.
As concluses da nossa reanlise do Programa PréEscolar
de Perry so de ue h uma orte evidncia de ue as
intervenes precoces na inncia so relevantes, ue a
randomiao comprometida e problemas de peuena
amostra demandam uma nova abordagem estatstica, ue
estes desaos estatsticos no excluem a possibilidade de
desenvolver inerncias vlidas ormais e ue os resultados
sobreviveram à correo para as caractersticas dos dados do
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d P
Dia 18/12/2009 09:0010:00
Early Child Developmet: Myths & Substace
micHael rutter
O proessor Rutter desenvolveu o assunto a partir da
contraposio entre crenas de muitos e atos apurados até
o momento a respeito de desenvolvimento inantil. Destacou
sete mitos, enumerados a seguir.
MITO I: É somente nos anos préescolares ue as inuncias
ambientais podem ter um impacto duradouro biolgico
porue é s assim ue o crescimento rpido do cérebro ocorre.
Este conceito é errado porue: i. O crescimento do cérebro
continua na vida adulta; ii. Experincias mais tarde na vida
mostraram ter eeitos neurais. Padro de desenvolvimento
cerebral tem base em evidncias de estudos post-mortem
(Huttonlocher) e a partir de estudos de imagens cerebrais
longitudinais (Giedd et al.). Em resumo, inicialmente h
superproduo de neurônios e sinapses seguidas de
poda seletiva de ligaes no uncional (“princpio use ou
perca”). Esse processo ocorre na inncia, mas também na
adolescncia. O tempo varia em dierentes partes do cérebro.
H também dierenas individuais no tempo. Por outro lado,
h eeitos de experincias de adultos na estrutura neural. Por
exemplo, motoristas de txi de Londres mostram aumento de
tamanho do hipocampo posterior, h correlatos neurais da
habilidade de tocar violino e eeitos longitudinais neurais de
aprendiagem de malabarismo.
MITO II: Existe apenas um tipo de eeito biolgico. Errado,
porue h pelo menos trs variedades dierentes:
i. Eeitos Experinciaexpectantes (conorme experimentos de
Hubel e Wiesel sobre a viso binocular e o desenvolvimento
do crtex visual). Denominado “expectante”, porue em
todas as circunstncias normais as experincias necessrias
estaro sempre disponveis;
ii. Eeitos Experinciaadaptativos (conorme a hiptese de
Barker a respeito de eeitos a longo prao das restries no
crescimento inicial). Denominado “adaptativo” porue o
corpo est se adaptando à naturea da experincia precoce.
iii. Eeitos Experinciadependentes (c. a experincia do
adulto). Ao contrrio das primeiras duas variedades, estes
no esto restritos a ualuer tipo de restrio.
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MITO III: Se h um eeito neural, isto necessariamente levar
a uma mudana permanente na uno. Inversamente, se
no h eeito neural, no pode haver nenhuma mudana
permanente, em uno. Errado, porue h muitos exemplos
de recuperao aps leso cerebral denitiva (como, por
exemplo, acompanhamento de crianas com paralisia
cerebral, e a alta de aasia em leses cerebrais lateraliadas
na inncia). Por outro lado, eeitos epigenéticos ue no so
uma uno do crescimento neuronal/poda, e h evidncias de
eeitos duradouros de estresse sico sobre a estrutura e uno
neuroendcrinas (c. estudos de Levine, na década de 1960).
MITO IV: Os eeitos ambientais sobre o cérebro durante os
perodos crticos de crescimento so universais e imutveis.
Errado, porue h evidncias de inuncias genéticas sobre
a vulnerabilidade ambiental. Aparentemente experincias
semelhantes podem levar a eeitos de “perda” (ou seja, proteo)
ou “sensibiliao” (vulnerabilidade). H também evidncias de
eeitos do contexto social e de experincias anteriores.
MITO V: Eeitos de variaes nas experincias normais so
similares aos eeitos de experincias extremamente anormal.
Errado, porue h provas abundantes dos eeitos a longo
prao do abuso sico e sexual, mas h alta de provas dos
eeitos da variao no nvel de punio corporal. Achados da
genética realam as dierenas entre os castigos corporais e
maus tratos sicos.
MITO VI: Devido ao ato de ue as experincias “comuns”
em adultos no costumam mudar a estrutura neural, é
improvvel ue elas tenham grandes eeitos psicolgicos.
Errado, porue h exemplos replicados de eeitos
psicolgicos em ases crticas da vida adulta ue esto
associados, por exemplo, ao casamento.
MITO VII: Se as primeiras experincias so probabilsticas e
individualmente variaram em seus eeitos, no h nenhum
ponto de intervenes centradas principalmente nos primeiros
anos de vida. Errado, porue as primeiras experincias vm
em primeiro lugar e podem, portanto, moldar as experincias
subseuentes. Em algumas circunstncias, experincias
precoces extremas podem ter eeitos marcadamente
duradouros. Mas esse mito est parcialmente certo, na
medida em ue a eetiva interveno precoce no elimina
a necessidade de ateno para experincias posteriores. Os
eeitos duradouros da experincia precoce no signicam
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Temos uma triste experincia natural, porém importante
para testar hipteses causais sobre os riscos genéticos
mediados pelo ambiente: o estudo com ros da Romnia.
Durante a ditadura de Nicolae Ceausescu havia um programa
aparentemente criado com intuito de aumentar a ora de
trabalho, e baseado em ausncia de poltica de controle
da natalidade e incentivo a mes desempregadas ue no
podiam criar seus lhos: oram construdos 650 oranatos
mantidos pelo Estado, onde crianas eram criadas em grandes
dormitrios em condies precrias. No nal da ditadura oram
encontradas cerca de 100 mil crianas em estado deplorvel. O
estudo dessas crianas nos 15 anos aps a ueda da ditadura
(muitas oram adotadas por amlias de outros pases) permitiu
avaliar o grau de dano causado pela privao de contato,
alimentar e sica, no desenvolvimento inantil.
Por ue estudar essas crianas: a privao prounda seguida
de um ambiente de criao acima da média oerece uma
oportunidade para estudar os eeitos da mudana ambiental
radical. As crianas eram colocadas em instituies durante a
primeira inncia por raes econômicas gerais do pas (assim,
a seleo no era eita com base em instituies dedicadas à
decincia da criana). Pela durao de privao em uno
da idade da criana no momento da ueda do regime de
Ceausescu, podese ter uma ideia do impacto em dierentes
ases do desenvolvimento. A anlise dos dados longitudinais
permite o estudo da mudana intraindividual. A mudana
de ambiente rpida pode ser acilmente cronometrada. Os
resultados mostram ue as crianas oriundas dos oranatos da
Romnia ao atingir 15 anos tinham maior incidncia de uatro
alteraes (92% apresentavam todas uatro): do espectro de
autismo (93%), aeto inapropriado (93%), comprometimento
cognitivo (100%), decit de ateno e hiperatividade (100%)uando comparados à populao normal (ue apresenta
ndice de 8% destas uatro alteraes).
Concluses gerais da pesuisa: os primeiros anos no
so determinantes. No entanto, os primeiros anos so
particularmente importantes porue eles vm em primeiro
lugar, e podem moldar as experincias posteriores. Em
algumas circunstncias ambientes extremos podem provocar
eeitos biolgicos duradouros. As intervenes precoces noso sucientes por si ss: intervenes posteriores também
so cruciais. Ainda h muito a ser aprendido sobre os
elementoschave para planejar intervenes ecaes e uais
atores determinam as dierenas individuais na resposta.
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Dia 18/12/2009 10:0011:00
The Efects o Early Huma Developmet o Health,
Behaviour ad Learig James Fraser mustard
O desenvolvimento do cérebro nos primeiros anos de vida
dene caminhos neurolgicos e biolgicos ue aetam toda a
vida: saúde, aprendiagem (alabetiao) e comportamento.
Este é o conceito das origens desenvolvimentistas da saúde e
da doena (sigla DOHaD – Developental Origins o Health and
Disease). O incio do desenvolvimento neurobiolgico dene
os caminhos ue aumentam o risco de hipertenso e doena
coronariana na vida adulta (Barker e Robinson, 1992).
As observaes epidemiolgicas de ue menor tamanho ou
peso ao nascimento e durante a inncia esto associados
a maiores taxas de doenas coronrias, derrame, diabetesmellitus tipo 2, obesidade, sndrome metablica e
osteoporose na vida adulta tm sido amplamente replicado
(Gluckman et al., 2008).
O desenvolvimento na primeira inncia e a linguagem
comeam muito cedo (primeiros sete meses), uando
os neurônios j mostram resposta para dierenciar os
sons da linguagem (e.g. ingls, japons). Esta ase dene
as capacidades para dominar vrios idiomas, dene aalabetiao e a trajetria da aprendiagem de lnguas para
a segunda e terceira ases do desenvolvimento. O substrato
ue acompanha esse desenvolvimento so as redes cerebrais.
“Nveis de circuitos cerebrais hieraruicamente superiores
dependem de inormaes precisas e conveis dos nveis
ineriores, a m de cumprir a sua uno. Perodos sensveis
para o desenvolvimento de circuitos de nvel inerior
terminam cedo na vida. Circuitos de alto nvel continuamcom plasticidade por um longo perodo” (Knudsen, 2004).
Por outro lado, o cérebro no é apenas produido por
seus genes. O cérebro é esculpido por uma vida inteira
de experincias. O momento mais importante no
desenvolvimento do cérebro é durante os primeiros anos
de vida (Kolb, Lethbridge U). Experincia é tudo o ue
encontramos no pré e psnatal, bem como na idade adulta.
Exemplos: som, toue, lu, cheiro, comida, pensamentos,lcool e drogas, leso, doena... (Kolb, Lethbridge U).
Um ato a ser considerado é ue todos os neurônios tm o
mesmo DNA (como a grande maioria das células do corpo)
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mesmo DNA (como a grande maioria das células do corpo).
Como estes 100 bilhes de neurônios no cérebro podem se
dierenciar para exercer suas diversas unes? A resposta
est no meio ambiente, ue aeta a uno normal do gene.
A resultante da interao entre naturea e criao, genética e
meio ambiente. Duas ormas so exemplos desta interao:
epigenética e microRNAs.
A metilao do DNA e acetilao das histonas so a base da
epigenética. Em resumo, um gene pode ser ligado se: citosina
no estiver metilada e as histonas orem acetiladas. E um
gene é desligado uando: o DNA da citosina est metilada e
as histonas no esto acetiladas
Estes so os mecanismos bsicos através dos uais a
experincia precoce modica a aruitetura e uno
cerebral. Estes enômenos moldam a expresso de genes e
vias neurais. Por conseguinte, moldam a emoo, regulam
o desenvolvimento do temperamento e comportamento
social, moldam a capacidade perceptiva e cognitiva, moldam
a saúde sica e mental e de comportamento na vida adulta,
moldam a atividade sica (por exemplo, natao, esui etc.) e
também moldam a capacidade de linguagem e alabetiao.
O estudo High/Scope Perry Preschool EUA envolveu
crianas com trs anos de alto risco para marginaliao
social. Foram eitas comparaes entre o grupo de
interveno e o grupo controle, uando estas crianas
atingiram 45 anos (resultados na ase adulta). O resultado
mostra empregos com salrio duas vees melhor, taxa de
concluso de segundo grau um tero superior, 40% menos
de criminalidade, gravide na adolescncia 40% menor e
reduo substancial do uso de drogas.
Outro estudo (Retardo do Crescimento e Desenvolvimento
na Jamaica) mostra ue estmulo e suplementos alimentares
tm normaliado o desenvolvimento uando a criana tem
dois anos de idade. Aos 11 anos de idade os benecios de
estimulao precoce ainda estavam presentes, mas no os
benecios de suplementao alimentar.
A experincia “natural”: Estudo de ros romenos: crianas
adotadas em lares de classe média (depois de oito meses no
interior de oranatos) mostram ue, aos 11 anos, em contraste
com os lhos adotados antes: 1. O desenvolvimento anormal
do cérebro (cérebro peueno, baixa atividade metablica,
EEG anormal); 2. Problemas sociais e cognitivos (perda de
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qI); 3. Alta vulnerabilidade a problemas de comportamento
(ADHD, agresso e espectro de autismo (Kolb, Lethbridge U).
Outro estudo também demonstra o eeito de interveno
precoce. O Projeto de Interveno Precoce de Bucareste
compara crianas criadas pelos pais legtimos e auelas
cuidadas em oranatos. As crianas ue eram mais jovens uando colocadas sob cuidados de pai adotivo
esto se aproximando do normal, uma recuperao ue,
inelimente, no parece estar ocorrendo em crianas
inicialmente colocadas em lares adotivos, bem depois
de dois anos de idade (C. Nelson, Projeto de Interveno
Precoce de Bucareste).
Neste contexto é importante instalar polticas de ormao
de capital humano: “No podemos nos dar ao luxo de adiar a
investir nas crianas até se tornarem adultas, nem podemos
esperar até ue elas cheguem à escola — um momento em
ue pode ser tarde demais para intervir” (Heckman, 2001,
Prmio Nobel de Economia 2000). Outra importante citao
é de Mães e outros, de Sarah Hrdy, p. 289: «inuietante é a
constatao de ue 15 por cento das crianas em amlias
de classe média normal apresentam sintomas de aeto
desorganiado (mau comportamento)».
E com a ideia de um melhor uturo, o relatrio Pascal
oi gerado para o governo canadense com as seguintes
recomendaes: 1 O Estado deve criar um processo
contnuo de aprendiagem precoce, assistncia à criana, e
apoiar a amlia desde o perodo prénatal até a adolescncia,
sob a liderana do ministro da Educao; 2 O Ministério da
Educao deve estabelecer uma Diviso de Primeiros Anos
para desenvolver e implementar uma poltica de aes em
idades iniciais com intuito de criar uma continuidade das
primeiras experincias de aprendiagem para crianas de
ero aos oito anos de idade (Pascal, 2009). A Comisso Marmot
da OMS sobre Determinantes Sociais da Saúde também
apresenta recomendaes neste sentido, no Captulo 5
Euidade desde o incio:Recomendação 5.1: OMS e o Fundo
das Naes Unidas para a Inncia (UNICEF) devem criar um
mecanismo de interagncias para garantir a coerncia das
polticas para o desenvolvimento inantil precoce, de talorma ue, através das agncias, uma abordagem abrangente
para o desenvolvimento inantil precoce deva ser executado.
Recomendação 5.2: A Comisso recomenda ue os governos
devam construir uma cobertura universal de um pacote global
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p g
de ualidade para programas de desenvolvimento inantil
precoce e servios para crianas, mes e outros cuidadores,
independentemente da capacidade de pagamento (OMS,
agosto de 2008).
Dia 18/12/2009 11:1512:15 Mechaisms uderlyig the early origis o
developmetal risk ad opportuities to itervee
mark Hanson
Das doenas no transmissveis, as enermidades
cardiovasculares, diabetes, doena pulmonar crônica, alguns
tipos de cncer so os maiores assassinos do mundo — 35
milhes de mortes/ano, 60% de todas as mortes globais. Isto
nos pases desenvolvidos, mas também em 80% dos pases
de renda baixa e média, especialmente nos ue se submetem
a melhoria socioeconômica na seuncia das redues de
doenas inecciosas. A OMS projeta um aumento de 17%
em doenas no transmissveis na prxima década, em nvel
global. O interessante é notar ue estas so potencialmente
evitveis. A estratégia de preveno, porém, est atualmente
ausente na maioria destes pases (dr. Ala Alwan, 2008, OMS
Plano de Ao para a Estratégia Global para a Preveno eControle das Doenas No Transmissveis).
Um conceito importante é ue o corpo da me inuencia
o desenvolvimento do seu lho desde o momento da
concepo. Sua composio corporal, dieta e estilo de vida
ensinam seu beb sobre o mundo em ue vive. Mas, e se o
seu mundo acaba por ser dierente? O ue sabemos é ue
este desajuste leva a conseuncias patolgicas. O maior
ganho de peso da gravide est associado, por exemplo, a ummaior ndice de massa corporal da criana uando ela atingir
os trs anos.
Estes so os eeitos epigenéticos. Eles permitem ue vrios
entipos sejam produidos a partir de um gentipo,
dependendo do ambiente, e aetam a expresso gnica sem
alterar o cdigo genético.
Abrange no apenas genes herdados — em parte porueeles no esto envolvidos nas mudanas na dierenciao das
células ue esto na base da plasticidade do desenvolvimento
Fentipo versus gentipo. Um exemplo interessante é o ato
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dias resulta em uma abelha operria, mas se or utiliada para
alimentar larvas por seis dias provoca transormao destas
em uma abelha rainha.
Em ratos, a dieta materna durante a gravide indu
alteraes epigenéticas na metilao do DNA em CpGs
especcas nos tecidos dos lhos, associado com oentipo metablico: entipo metablico é uma condio
mal adaptada (metabolismo de carboidratos e gordura
reduidos e obesidade).
Uma pergunta importante é se esses processos também
operam em seres humanos (Estudo de Nutrio do Hospital
Princesa Anne Southampton). Foram computados
nascimentos em 19901991, a nutrio da me oi avaliada
aos 14 e 32 semanas de gestao, oram coletadas amostrasdo cordo umbilical e realiada antropometria neonatal,
9º ano de acompanhamento — adiposidade das crianas
medida pela absoro de duplo raioX (DEXA), primeiro
estudo — 68 crianas estudadas, genes candidatos e
amplicons resultantes de anteriores trabalhos experimentais
da literatura oram colhidos, e os resultados medidos por um
microarray MEDIP.
Os resultados mostram ue a baixa ingesto de carboidratosmaterna no incio da gravide est associada à maior
metilao do promotor do gene RXRA no cordo umbilical
— um gene associado à porcentagem de gordura corporal,
gordura total e rao entre gordura no tronco e membros.
Outro estudo (Inuérito de Mulheres Southampton SWS)
incluiu uma populao de 12.500 mulheres no grvidas da
regio de Southampton com idade entre 20 e 34 anos. Foram
entrevistadas a respeito de dieta, atividade sica, condiessociais e estilo de vida, a gordura corporal medida, e amostras
de DNA e de sangue colhidas. No total, 3.150 gestaes
desta populao oram acompanhadas, realiados exames
de ultrassom em 11, 19, 34 semanas, entrevistas em 11 e 34
semanas. Aps o nascimento, as crianas oram avaliadas,
sendo observados: o tamanho neonatal e magrea/gordura,
sangue do cordo umbilical, da placenta, avs, amostras
de DNA materno. Os resultados mostraram ue atores
chamados de “Detonadores de Fgado” (baixa ingesto derutas/legumes, alta ingesto de carne vermelha de po
branco, aúcar, batatas ritas) e maior uxo sanguneo
no gado etal esto associados com um beb gordo,
i d d d d d d (I ki
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i d d t t d d d d (I ki t
al., 2009, BMJ, 12 ev., 338: b481). Apenas uma peuena
proporo de mulheres ue planejam uma gravide, segue
as recomendaes para a nutrio e estilo de vida (consumo
de suplemento de cido lico, o consumo de lcool,
tabagismo, dieta e atividade sica). Além disto, as mulheres
jovens Southampton, com um baixo nvel de escolaridade,
so mais propensas a aer uma dieta deseuilibrada
“imprudente” (EJCN, 2004, 58:1174280).
quais poderiam ser as estratégias para intervenes?
H evidncia de ue as principais opes parecem ser
intervenes especcas e com prova de princpio, como,
por exemplo, administrar cido lico, micronutrientes/
colina, leptina neonatal, e estatinas à me durante o
acompanhamento da gravide (onde a necessidade ser
avaliada para algumas destas substncias). O tratamento
com estatina prénatal pode prevenir o desenvolvimento do
entipo metablico (Elahiet al., 2008, Hipertenso).
Porém parece ser muito importante, e coadjuvante das
intervenes acima, o uso de estratégias de intervenções
sociais complexas, que envolvem a educação para produzir
mudança de comportamento, o acesso a uma melhor nutrição
e capacitação de mulheres jovens. Este é o conceito de
alabetiao em saúde. Traer os conceitos de promoo da
saúde e comportamentos culturalmente relevantes é parte
do ambiente da criana. Esta capacitao se desenvolve
mais cedo do ue, muitas vees, é considerada, e as prprias
crianas podem se tornar agentes de mudana: o oco no
deve ser tanto sobre a capacidade de ler um texto de saúde,
mas sobre a prpria saúde.
Esta abordagem pode ortalecer os grupos vulnerveis e
marginaliados (Borekowski, 2009, Pediatrics, 124: S282288).
Conceito de alabetiao em saúde (Nutbeam, 2000): o grau
em ue os indivduos tm a capacidade de obter, processar
e compreender inormaes de saúde e servios bsicos
necessrios para tomar decises de saúde adeuadas. Uma
pessoa pode ter sua alabetiao em saúde graduada em: 1.
Bsica ou de alabetiao uncional de saúde; 2. Alabetiada
em saúde comunicativa ou interativa; 3. Totalmente
alabetiada em saúde (autonomia e poder pessoal).
Nesta direo, o projeto LieLab Southampton visa capacitar
os alunos a ter a experincia por si s em uma pesuisa
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hospitalar, alguns dos mais recentes desenvolvimentos
emocionantes na cincia, com oco na compreenso de como
nossas vidas precoces tm eeitos sobre a nossa saúde mais
tarde. Permite aprender sobre como eles podem melhorar sua
prpria saúde e a saúde de seus uturos lhos, num uadro
de “Eu, minha saúde e meus lhos”. Além disto, podem tornar
se entusiasmados com cincia de tal orma ue considerem
disciplinas cientcas em suas carreiras.
Em resumo, as doenas de origem do desenvolvimento
oerecem um novo modelo de doena. O risco de doena
est relacionado a uma resposta pobre ao ambiente (baixa
capacidade adaptativa) e comea cedo. A dieta da me, a
composio corporal, estilo de vida desde a concepo e a
prégestao precoce modulam o risco da prole. Estamos
buscando biomarcadores precoces de risco de vida da criana.
As intervenes devem incluir aes junto a mulheres jovens
e adolescentes prégravide.
Dia 18/12/2009 13:1514:15
Proximate ad ultimate explaatios o why early lie
evets have loger term cosequeces Implicatios or
public policy. sir Peter gluckman
A palestra de Sir Gluckman oi marcada pela apresentao
de vrias evidncias cientcas a respeito de enômenos
epigenéticos em modelos animais e humanos. A base
principal oi o argumento de ue todas as crianas so
aetadas por condies prénatais, com conseuncias
enotpicas de longo prao. O palestrante discutiu as raes,
as implicaes cientcas e poltica de saúde/ensino.
•Porquetodasascriançassãoafetadasporcondiçõespré-
natais, com conseuncias enotpicas de longo prao?
O conceito abordado é também conhecido como origens
desenvolvimentistas da saúde e da doena (sigla DOHaD –
Developental Origins o Health and Disease).
Hoje h um corpo irreutvel de evidncias experimentais,
clnicas e epidemiolgicas ue ligam o padro de
desenvolvimento precoce (embrionria, etal, neonatal),
na maioria das vees medido pelo peso ao nascer, ao risco
de mais tarde estas crianas desenvolverem doenas
no transmissveis e os riscos de terem suas capacidades
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comprometidas (longevidade, sndrome metablica:
obesidade, resistncia à insulina e diabetes tipo 2, doena
cardiovascular, osteoporose, transtornos do humor, prejuos
na cognio, cncer de mama e de ovrio).
Crianas com desenvolvimento normal também passam
pelo processo: este é um enômeno normativo. O enômenoDOHaD se situa no contexto evolutivo e biolgico.
O conceito de DOHaD (biologia do curso da vida) exige
explicaes denitivas (evolutivas), bem como uma
explicao centesimal (mecanicista). As principais uestes
evolutivas incluem: Por ue a seleo tem protegido a
plasticidade do desenvolvimento de uma espécie de vida
longa como um processo normativo? qual é a vantagem
seletiva? Por ue a plasticidade de desenvolvimento, àsvees, pode se maniestar como doena? Por ue no oi
esse mecanismo escolhido? qual é o signicado evolutivo
dos eeitos materno e transgeracional “herana sot”? Tais
uestes esto parcialmente respondidas. E nesta linha de
raciocnio é interessante ter uma perspectiva evolutiva sobre
DOHaD. Alguns conceitos preliminares so importantes para
se entender esta relao: aptido (reproduo), a longevidade
e saúde no so a mesma entidade.
A Seleo Natural age para proteger ou promover uma
adeuao. Por exemplo, a longevidade humana aumentou
drasticamente, e a adeuao ao ambiente é aetada
principalmente pelas caractersticas da histria de vida (ex.:
idade da puberdade). Os seres humanos modernos agora
geralmente vivem em ambientes evolutivamente novos,
tanto do ponto de vista nutricional uanto social.
E do ponto de vista da Seleo Natural e manuteno da
espécie, o maior eeito sobre a adaptao é a sobrevivncia
até a puberdade. Desta maneira, é interessante ue a maior
parte dos indivduos de uma espécie possa chegar até a
ase reprodutiva. Entretanto, este mecanismo de adaptao
também pode modular o risco de doenas durante a vida.
quais as vias pelas uais os processos evolutivos podem
aetar o risco de doena? Sir Gluckman cita estes: 1. Fatores
associados à histria de vida: plasticidade do desenvolvimento
e as compensaes, pleiotropia antagônica e mudana
nos padres de histria de vida; 2. Um ambiente evolutivo
incompatvel ou um novo ambiente: nutrio, estrutura social
e o ambiente urbano; 3. Mecanismos de deesa excessivos ou
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descontrolados; 4. Perder a corrida evolutiva contra outras
espécies; 5. Resultados das limitaes da evoluo (“desenho
evolutivo”); 6. Balanceamento de seleo; 7. Seleo sexual e
concorrncia, e suas conseuncias; 8. Os resultados da histria
demogrca. A seguir, um resumo de cada um destes atores.
Fatores associados à histria de vida: compromisso entrereproduir agora versus reproduo posterior – o sucesso
reprodutivo (adaptao) é o principal impulsionador da
evoluo. Este é o principal dilema evolucionista ou de
adaptao. É importante lembrar a naturea mutvel
do ciclo da vida humana, ue tem motivos intrnsecos –
Nutrio, reduo da ineco, e longevidade, por exemplo.
E extrnsecos – Cultura, por exemplo, determinando idade
tardia de reproduo.
Como uma regra geral, a maior mortalidade extrnseca est
associada com a menarca mais cedo em sociedades estveis
de caadorescoletores em todas as espécies, inclusive
Homo sapiens.
As respostas do organismo em desenvolvimento a estmulos
ambientais podem também ser um conjunto prejudicial
para o programa de desenvolvimento, o organismo precisa
lidar com as conseuncias (teratognese, hospedagemenotpica). H necessidade de ajustar o programa de
desenvolvimento (plasticidade do desenvolvimento):
resposta a estmulos ecolgicos, tais como nutrio alterada,
risco de predao e estresse.
Estas respostas, ou classes de resposta plstica durante o
desenvolvimento dos mameros, so classicadas de acordo
com o tempo do benecio da compensao. Respostas
imediatas para a adaptao etal aguda (ou materna?)
representam em geral maior chance de sobrevivncia, mas
ue mais tarde traem custos. Um conceito importante é o
da resposta antecipatria ou preditiva adaptativa, onde o
organismo em desenvolvimento utilia sinais de previso
do ambiente e ajusta mais tarde sua trajetria enotpica
em conormidade. Esta resposta é a essncia da regulao
epigenética durante o ciclo gravdico. Isso ocorre de orma
isolada uando o estmulo do ambiente é mais sutil (escala
normativa, ou seja, de experincias etais). Se a antecipao
estiver errada, ento haver conseuncias para o organismo,
secundrias às caractersticas mal adaptadas.
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No h nenhuma rao intrnseca para ue a direo do eeito
de uma induo epigenética seja a mesma em dierentes
perodos no curso da vida.
Uma regra geral rege a interao entre nutrio, maturao e
longevidade: a subnutrio no prénatal redu a longevidade,
e leva à menarca antecipada; a desnutrio no pspartoaumenta a longevidade, e prorroga a menarca.
Conceitos de previso e antecipao explicam a programao
onde no h entipo nascimento bvio. Antecipao de
desenvolvimento é universal entre as espécies de bactérias aos
seres humanos. quando o resultado é invarivel, a antecipao
pode ser incorporada no genoma por assimilao genética
(por exemplo, o centro do calcanhar engrossado). quando
no é invarivel, a plasticidade é a soluo. Plasticidade temum custo e é limitada por restries temporais. A plasticidade
é limitada pelas janelas crticas de desenvolvimento, da a
utilidade de mudar as trajetrias de desenvolvimento para
planejar intervenes na educao/saúde.
Discordncia da previso epigenética: o indivduo oi
exposto a um ambiente ue est além de sua capacidade
de adaptao, ou a um ambiente ou novo desao. quando
um eto se desenvolve em um ambiente de pouca nutrio,passa a desenvolver propenso para este ambiente. Desta
maneira tem caractersticas de apresentar alimentao
pautada por alimentos de muita energia, diminuio do
gasto energético, adaptaes “uestionveis” ao novo
ambiente sico (por exemplo, miopia parece mais adaptada
à lu articial), resultando em novas presses sociais
(organismo dierente); mudana no ambiente simbitico
gera estresse. A via da incompatibilidade leva à induo
do desenvolvimento de um entipo ue resulta em:
obesidade, sarcopenia (reduo da massa muscular), gado
gorduroso, hipertenso, disuno endotelial, termognese
prejudicada, resistncia à insulina, resistncia à leptina,
uno neuroendcrina alterada, puberdade precoce,
aumento da ansiedade, reduo do movimento voluntrio,
hiperagia, preerncia de gordura na dieta.
Na linha destes enômenos, alguns estudos so relatados em
humanos: meninas ue eram menores ao nascerem, acabam
maiores aos oito anos e chegam mais cedo à menarca. Em
particular, a uesto da menarca precoce é um assunto ue
merece detalhamento. A puberdade em migrantes é um bom
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exemplo deste mecanismo. As provas de ao da plasticidade
do ambiente sobre a uno reprodutiva se estendem bem
além do nascimento. As primeiras ormas da puberdade
precoce central na ausncia de doena so encontradas em
crianas adotadas, do sexo eminino (antes da idade de dois
anos) do sul da ásia, de amlias de classe média do ocidente.
Menarca <8,5 anos é comum e pode ser observada a partir
dos seis anos. (Para mais reerncias bibliogrcas, ver artigos
de Parent et al. no peridico Endocrine Reviews)
O impacto da mudana demogrca signica ue a
incompatibilidade é exagerada por constrangimento etal
aumentado (me sore com adaptaes), bem como por
ambientes mais obesognicos (melhores condies de vida).
As crianas lhas de migrantes apresentam: maior número de
primigestas, mais lhos múltiplos, primigestas mais idosas,
altos ndices de gestaes na adolescncia, em algumas
populaes, problemas na dieta (ásia).
Por outro lado, problemas de diabetes gestacional e
obesidade materna caminham em direo semelhante, mas
com caractersticas dierentes. Nestes casos: h aumento
de incidncia, proles tm alta morbidade e a biologia deste
processo no é totalmente compreendida. Nas investigaes
h pelo menos trs vias: hiperinsulinemia, obesidade
materna e da prole normal/grande e obesidade materna e
lhos peuenos. No se sabe se este mecanismo é txico ou
adaptvel, e h ainda a necessidade de estudos clnicos e
experimentais para entender eeitos epigenéticos da diabetes
gestacional e obesidade materna na regulao epigenética.
Um enômeno j conhecido é a ueda da idade da
puberdade nos últimos tempos nas sociedades ocidentais.
A adolescncia é agora um componente (e essencialmente
novo) mais importante do ciclo de vida em tais sociedades,
uma ve ue dura mais tempo no ciclo de vida do indivduo,
e a adolescncia tem um custo maior. Importante lembrar
ue, em contrapartida, a adolescncia nas sociedades pré
modernas durava menos de dois anos (mulheres), e nas
sociedades ocidentais, a adolescncia dura mais de 10 anos.
Entre as possveis explicaes para esta constatao esto trs
teorias: 1) a maturao cerebral sempre tomou muito tempo
– mas estas habilidades avanadas no eram relevantes em
uma sociedade simples (o ue seria uma incompatibilidade
evolucionista...); 2) o indivduo leva mais tempo para aprender
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a grande uantidade de inormao gerada pela humanidade
nos últimos anos; e 3) as prticas culturais tm retardado a
maturao do cérebro. H argumentos para cada uma destas
hipteses, ou talve a resposta seja uma combinao das trs.
Seja ual or a rai do enigma da incompatibilidade puberal,
é importante risar ue: o problema da incompatibilidade
de puberdade é uma novidade evolucionria; no vai
desaparecer; a maior parte das crianas iro permanecer
saudveis apesar disto; e a sociedade vai se tornar mais
complexa e agravar a incompatibilidade – talve ento
a maioria das crianas no mais ser saudvel. E o mais
importante: os costumes, as instituies e a estrutura da
sociedade baseiamse na presuno de correspondncia
adaptativa (no existente!).
• As crianças são afetadas por condições pré-natais, com
conseuncias enotpicas de longo prao Implicaes
Cientcas.
É necessria a adoo de uma nova denio de mau incio
para a vida. O problema oi centrado no peso ao nascer: baixo
peso representa risco – mas no revela toda complexidade
envolvida. É um beb de 3,4 kg, nos EUA, normal, grande ou
peueno? Certamente um beb de 2,9 kg na índia rural é
patologicamente grande. É necessrio buscar uma denio
molecular da trajetria de desenvolvimento, inclusive com
potencial para recategoriar o Retardo de Crescimento
Intrauterino (RCIU). É importante incorporar conceitos de
genômica e/ou denio epigenômica.
Na prtica esta modicao pode signicar modicaes
diretas no desenvolvimento da criana. Um exemplo de como o
conhecimento de mecanismos epigenéticos permitiu elaborar
intervenes para reeuilibrar a adaptao discordante é a
descoberta de ue crianas ue desenvolvem sndrome metablica
a partir de adaptaes discordantes tm menor concentrao de
leptina, uma adipocina capa de inibir centralmente o impulso
alimentar e aumentar o gasto de energia. O tratamento com
leptina no perodo neonatal inverte todas as acetas do entipo
adulto (D170), induido pela incompatibilidade (Gluckman et
al.,2007 ,Proc. Natl. Acad. Sci. USA ,104:12796).
Em linhas gerais, podemos otimiar o desenvolvimento
precoce adeuado destes mecanismos com adeuao da
idade materna (> 5 anos aps a menarca); composio corporal
no momento da concepo; educao do adolescente do
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sexo eminino e sua ormao (conjunto de capacidades
aduiridas); controle de ganho de peso na gravide; controle
de cargas de trabalho e estresse materno; erradicao do
umo, das drogas, da malria, HIV; e correspondncia entre o
crescimento psnatal.
As mulheres jovens Southampton com um baixo nvelde escolaridade so mais propensas a comer uma dieta
deseuilibrada “imprudente” (Robinson et al., 2004, Eur J Clin
Nutr , 58:11741180).
• Implicações Cientícas: o estado epigenético no
nascimento pode prever mais tarde resultado enotpico
(independentemente do peso ao nascer); o perl epigenético
no nascimento est relacionado com aspectos da dieta da
me; para os genes candidatos, metilao explica uma grande
uantidade de varincia da adiposidade na inncia, medido
69 anos mais tarde – e os dados iniciais sugerem um eeito
maior do ue variaes genômicas; as medidas de modicaes
epigenéticas podem permitir estimar a contribuio do meio
no desenvolvimento; e um alento: o estado epigenético é
reversvel (ao menos em experimentos)
•Asimplicaçõespolíticas-Quãoimportanteéoproblema-
Como intervir economia.
H um corpo de evidncias irreutveis ue liga o padro de
desenvolvimento precoce para, mais tarde, o risco de doenas
no transmissveis. Esta massa de evidncias oi acumulada
em uma gerao, e deveria ter levado à adoo de novas
estratégias para melhorar a saúde materna e inantil. Mas, em
geral, a absoro do conceito DOHaD em polticas públicas
tem sido insuciente. Por u?
Primeiro, é importante esuematiar os passos na transerncia
de conhecimento para a poltica:> Novos conhecimentos da
cincia devem evoluir para: > Posio cientca aceita: deve
evoluir para: >a compreenso e aceitao públicas: deve
evoluir para: > cultura e costumes: deve evoluir para: > anlise
de custo/benecio: deve evoluir para: > agenda poltica.
A seguir so analisados, em detalhe, estes passos. Mas antes
é importante entender ue h muitos desaos oriundos danoo de determinismo genético, do enoue do governo
em polticas baseadas no determinismo do estilo de vida
em adultos, bem como a alha em reconhecer as ontes de
i i di id l d l i d l bilid d
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i i di id l d l i t d l bilid d
Novos conhecimentos da cincia devem evoluir para: >
Posio cientca aceita, superando a “sabedoria” cientca
convencional. Aui trs pontos principais atrasaram a
aceitao da comunidade cientca dos conceitos de
adaptao incorreta: 1. O oco no peso ao nascer; 2. A
necessidade de um mecanismo biolgico plausvel; 3.
Demonstrao da importncia do processo.
A partir da posio cientca aceita, é necessrio haver a
compreenso e aceitao públicas e introduir os conceitos
na cultura e costumes. A abordagem DOHaD em grande
parte se encaixa com uma “biologia popular”, j ue
undamentalmente é um modelo de nutrir durante a gravide,
prtica ue sempre ocupou a sociedade uando se trata do
ciclo reprodutivo. Mas aui o oco sobre a capacitao (do
ingls empowerment ) das mulheres pode entrar em conito
com alguns pontos de vista em certas culturas.
E aps o engajamento cultural e da sociedade, passamos
para o ponto de vista contbil: qual o custobenecio?
quais as relaes com as demais polticas? O problema de
descontos ao longo da vida. Para se persuadir o Tesouro é
necessrio uma clara demonstrao de ue a proposio de
valor para melhorar a vida inicial pode: reduir a mortalidade
inantil, reduir a carga sobre as amlias, reduir os custos dos
cuidados de saúde neonatal, reduir os custos dos cuidados
de saúde para crianas, melhorar o progresso ao longo da
adolescência, melhorar as capacidades sociais, aumentar a
produtividade através da reduo nanismo, aumentar a
produtividade através do aumento da capacidade cognitiva,
reduir os custos das doenas crônicas e melhorar a saúde da
prxima gerao.
Segundo Alderman e Berhman (World Bank Res Obs,v.
21, n. 1,p. 2548, 2006), uase todos estes pontos podem
se beneciar de uma poltica de interveno precoce em
crianas com baixo peso em pases em desenvolvimento.
Eles mostraram ue esta poltica pode reduir a mortalidade
inantil, reduir a carga sobre as amlias, reduir os custos dos
cuidados de saúde neonatal, reduir os custos dos cuidados
de saúde para crianas, aumentar a produtividade através
da reduo nanismo, aumentar a produtividade através doaumento da capacidade cognitiva, reduir os custos das
doenas crônicas e melhorar a saúde da prxima gerao.
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É preciso, porém, ir além das abordagens simplistas – modelos
so úteis, porém no correspondem à realidade em todas
as ocasies. É necessrio utiliar dados reais versus dados
estiliados, medida compulsria do peso ao nascer em uma
populao, enuadramento genérico aplicado a populaes
de renda alta, média e baixa em nvel mundial. Além disso, é
desejvel passar para uma abordagem do capital humano, e
analisar a utilidade e aspectos de advocacia envolvidos.
Finalmente, aps uma anlise de custobenecio, a agenda
poltica. Aui esbarramos na alta de uma interveno
especca e de naturea noespecca das abordagens
atuais. Os polticos pensam ue j investem mais ue
adeuadamente em saúde materna e inantil. H ainda
outros elementos a enrentar: prioridades polticas, ideologia,
ciclos de voto e de opinio pública.
No ponto de vista pragmtico, esta perspectiva signica
ue dierentes estratégias podem ser mais apropriadas para
a reduo da doena em dierentes populaes (Gluckman
et al., 2005b). Assim, nos pases desenvolvidos, o oco deve
car sobre intervenes psnatais para limitar o consumo
de energia e aumentar o gasto energético. Em populaes de
pases em desenvolvimento uma maior nase no bemestar
da me pode ser importante para permitir ue as geraes
seguintes mantenham a saúde metablica durante a transio
para um ambiente socioeconômico de maior densidade
energética. Abordagens importantes nesta congurao
incluem o adiamento da primeira gravide até ue a me
esteja totalmente madura, por exemplo, pelo menos, 45 anos
aps a menarca, garantindo um estado nutricional adeuado
no momento da concepo, e com oco na saúde materna e
nutrio durante a gravide (Gluckman et al., 2007, Am J HumBiol,v. 19,p. 119).
Dia 18/12/2009 14:1515:15
Risk, resiliece, ad gee x eviromet iteractios i
primates s tePHen suomi
A apresentao do Pro. Suomi oi pautada principalmente
pela apresentao de vdeos e de conceitos etolgicos. A
pesuisa apresentada é baseada no estudo da relao entre a
criao de macacos Rhesus pelas progenitoras ou por outros
macacos e na demonstrao do uso deste modelo em diversos
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aspectos da interao social, expresso gnica, entipos de
neurotransmissores cerebrais e capacidade de imitao dos
animais. Foram mostrados, principalmente, vdeos e guras
de aspectos da interao social de macacos Rhesus. Genes
envolvidos nas vias de serotonina so signicativamente,
dierencialmente, metilados entre macacos Rhesus criados
pela me e criados num berrio. Desta maneira, mecanismos
epigenéticos podem ser vericados neste modelo. Por
outro lado, macacos Rhesus criados pela me tm mais
serotonina em núcleos da rae, tlamo, núcleos estriados,
lobos temporal e rontal. Um achado similar também oi
encontrado nos trabalhos apresentados. Genes envolvidos
no eixo hipotlamohipseadrenal so signicativamente,
dierencialmente, metilados entre macacos Rhesus criados
pela me e criados num berrio.
Numa outra investigao oram apresentados trabalhos
mostrando ue macacos Rhesus criados por outros macacos
num berrio (e no pela progenitora) so mais propensos
a consumir lcool (Schwandt et al., Feb. 2010,Alcohol,v. 44,
n. 1,p. 67.)
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MINICURRíCULOS
O proessor James Heckma ormouse em matemtica
pelo Colorado College em 1965 e completou o doutorado em
economia pela Princeton University em 1971. Atualmente,
é titular da cadeira Henry Schult do Departamento de
Economia da Universidade de Chicago e diretor do Economics
Research Center e do Center or Social Program Evaluation at
the Harris School o Public Policy. Também é senior research
ellow da American Bar Foundation. Por seu trabalho, recebeu
a medalha John Bates Clark da Associao Americana de
Economia em 1983 e o Prmio Nobel em Economia em 2000.
Sua pesuisa dedicase ao desenvolvimento de uma base
cientca para a avaliao de polticas econômicas, e sua mais
recente pesuisa enoca o desenvolvimento humano e dos
ciclos de vida habilidade ormao, com uma nase especial
sobre a economia da primeira inncia. Sua pesuisa gerou
polticas públicas importantes em reas como educao,
legislao trabalhista, programas de salrio mnimo, lei
antidiscriminao e direitos civis. Ele recebeu numerosos
prmios por seu trabalho, incluindo o prmio John Bates Clark
da American Economic Association, em 1983; o Prmio Nobelem Cincias Econômicas (com Daniel McFadden) em 2000; o
Prmio Dennis Aigner de Econometria Aplicada do Journal
o Econometrics, Prmio Theodore W. Schult da American
Agricultural Economics Association em 2007; o Prmio
Jacob Mincer Lietime Achievement Award em Economia
do Trabalho em 2005; bem como a Medalha Ulysses da
University College Dublin, também em 2005. Atualmente é
editor associado do Journal o Labor Economics e membro da
National Academy o Sciences, da American Academy o Artsand Sciences, da Econometric Society, da Society o Labor
Economics e da American Statistical Association.
Peter Gluckma é proessor de Pediatria e Biologia Perinatal
e exdiretor liggins do Institute or Medical Research e do
National Research Centre or Growth and Development, na
University o Auckland, Nova zelndia. Desde maio de 2009, ele
serve como chie science advisor do primeiroministro da Nova
zelndia. Foi chee do departamento de Pediatria e diretor daFaculty o Medical and Health Sciences. É o único neoelands
eleito para o Institute o Medicine o the National Academies o
Science (EUA) e para a Academy o Medical Sciences o Great
Britain (GrBretanha). Proundamente envolvido em dierentes
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Britain (Gr Bretanha). Proundamente envolvido em dierentes
aspectos de polticas de desenvolvimento em cincia, saúde
e educao. Sua pesuisa estuda a importncia do incio da
vida dos seres humanos. Procura entender como o ambiente
a ue est exposto o beb entre a concepo e o nascimento
determina sua inncia e saúde ao longo da vida – e o impacto
deste conhecimento para indivduos e populaes. Autor de
mais de 500 artigos cientcos e editor de oito livros, incluindo
dois de prestgio em sua rea de atuao. Sua pesuisa
recebeu diversos prmios e reconhecimento internacional de
importantes organiaes, incluindoThe Royal Society, Londres.
O proessor Sir Michael Rutter é clnicogeral, neurologista,
pediatra e psiuiatra. Primeiro consultor em psiuiatria
inantil no Reino Unido e chee do Department o Child and
Adolescent Psychiatry at the Institute o Psychiatry, Londres,
e diretor honorrio do Medical Research Council Child
Psychiatry Unit, Reino Unido. Seus estudos sobre autismo,
depresso, comportamentos antissociais, diculdades de
leitura, crianas carentes, crianas hiperativas, resultados
e eeitos das escolas e sobre crianas cujo problema
psiuitrico tem claramente um componente orgnico
resultaram em inúmeras publicaes. Uma das mais
importantes oi Maternal Deprivation Reassessed , de 1972,
na ual ele deende (contra John Bowlby) ue a normapara crianas é a ormao de múltiplas ligaes ao invés
de ligao com apenas uma pessoa. Reconhecido como
um dos responsveis pelo estabelecimento da psiuiatria
inantil como uma especialidade médica e biopsicossocial,
com orte base cientca. Em 1994, criou o Social, Genetic
and Developmental Psychiatry Unit no Institute o Psychiatry.
O objetivo do centro é encontrar a ponte entre “nature”
(genética) e “nurture” (ambiente) e entender como eles
interagem no desenvolvimento das complexidades docomportamento humano, como depresso, distúrbios de
decit de ateno e de hiperatividade em crianas. Proessor
Rutter oi condecorado cavaleiro pela Rainha da Inglaterra
em 1992 e é membro honorrio da British Academy, membro
da Royal Society e scioundador da Academia Europeia e
da Academy o Medical Sciences. O Michael Rutter Centre
or Children and Adolescents at the Maudsley Hospital, em
Londres, recebeu seu nome como homenagem.
O proessor Stephe J. Suomi é chefe do Laboratory o
Comparative Ethology no National Institute o Child Health
and Human Development (NICHD), National Institutes o
Health (NIH), EUA. Proessor pesuisador na University o
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( ), p y
Virginia (Psicologia), na University o Maryland, College Park
(Desenvolvimento Humano) e na Johns Hopkins University
(Higiene Mental), EUA. Proessor adjunto na Pennsylvania
State University (Desenvolvimento Humano) e na University o
Maryland, Baltimore County (Psicologia), EUA. Autor e coautor
de mais de 300 artigos em publicaes cientcas e captulos
de livros, tendo apresentado seu trabalho em convenes,
coluios e workshops nos Estados Unidos e em 12 outros
pases. Formouse em Psicologia pela Stanord University
e e doutorado na University o WisconsinMadison, onde
oi proessor antes de ingressar na NICHD. Reconhecido
internacionalmente por sua extensa pesuisa com rhesus
monkeys e outros primatas na area de desenvolvimento
biocomportamental. Sua pesuisa atual estuda trs assuntos:
a interao entre genética e o meio para ormao de
trajetrias individuais, o ator de continuidade x mudana e a
estabilidade relativa de caractersticas individuais ao longo do
desenvolvimento e o nvel onde descobertas e observaes,
eitas em macacos em cativeiro, podem ser consideradas
no somente para macacos selvagens mas também para
humanos vivendo em culturas dierentes.
O proessor Mark Haso é directorundador do
Institute o Developmental Sciences (URL) na University o
Southampton, diretor da Division o Developmental Origins
o Health and Disease na University’s School o Medicine e
proessor de cardiovascular sciencenaBritish Heart Foundation.
Sua pesuisa ocase nas condies de desenvolvimento do
eto no útero materno e na inuncia deste perodo para
desenvolvimento de enermidades posteriores, incluindo
doenas circulatrias, do corao, diabetes do tipo 2 e
obesidade. Autor de livros e publicaes cientcas.
Adele Diamod é proessora de Developmental Cognitive
Neuroscience Canada Research Chair 1, Department o
Psychiatry, The University o British Columbia, Canad. Uma das
pioneiras no campo de developmental cognitive neuroscience.
Sua pesuisa estuda o desenvolvimento inicial de controle
de unes cognitivas dependentes do crtex prérontal,
mecanismos neuroanatômicos, genéticos e neuroumicos ue
tornam essas unes possveis, e em como atores do meio e
biolgicos podem modicar estas unes cognitivas. Recebeuos prmios 21st Century Award or Achievement, International
Biographical Centre, Cambridge, UK, Tier 1 Canada Research
Chair e YWCA Woman o Distinction Award. Formouse em
psicologia no Swarthmore College, EUA, e doutorado em
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Developmental Psychology em Harvard, EUA e psdoutorado
em Neuroanatomy na Yale Medical School, EUA.
O proessor Craig T. Ramey é diretor do Center or Health and
Education. Especialiado em estudo de atores ue aetam o
desenvolvimento da inteligncia, comportamento social e
desempenho escolar em crianas peuenas. Nos últimos 30anos, juntamente com a dra. Sharon Ramey, tem conduido
uma pesuisa envolvendo 14 mil crianas e amlias em em
40 estados. Autor de mais de 225 publicaes, incluindo
cinco livros, atua como consultor de governos ederais e
estaduais, além de agncias privadas, undaes e mdia.
Formouse em psicologia pela West Virginia University, EUA,
e doutorado na mesma universidade no campo de Lie Span
Developmental Psychology, e seu psdoutorado em human
development , pela University o Caliornia, Berkeley, EUA.
A proessora Sharo L. Ramey é diretora do Georgetown
University Center or Health and Education, EUA, recebeu
muitos prmios por seu trabalho. Seus interesses prossionais
incluem o estudo do desenvolvimento da inteligncia e
desempenho inantil, intervenes na tenra inncia, as
mudanas na amlia americana e a transio para a escola,
incluindo 8 mil crianas exparticipantes do programa Head
Start, e 3 mil outras crianas e amlias. Sua pesuisa tem
estudado os eeitos do ambiente no comportamento e nos
eeitos prénatais do lcool, nicotina e cocana.
O Dr. James Fraser Mustard é um dos lderes mundiais em
pesuisa na rea médica. Atualmente, dedicase à inncia e
desenvolvimento e seu perodo crucial, até os seis anos de
idade. Estabeleceu o Council or Early Child Development and
Parenting, Canad e tornouse nacional e internacionalmente
um deensor da importncia do desenvolvimento cerebral
nos primeiros anos de vida para a saúde, ualidade de vida,
comportamento e aprendiado pelo resto da vida. Ao longo de
sua carreira recebeu diversos prmios e inuenciou polticas
de saúde no Canad, servindo em diversos comits ederais
e locais, conselhos e comisses. Formouse em medicina pela
University o Toronto, Canad, e doutorado pela Cambridge
University, Reino Unido. Atualmente envolvido em projetos
com os governos do Canad e Austrlia, Banco Mundial,Banco Interamericano de Desenvolvimento, Unice e Aga
Khan University, Pauisto, sempre enatiando a enorme
importncia do desenvolvimento de crianas na tenra
inncia e seu impacto na sociedade.
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p
RESUMOS
POLíTICAS DE EDUCAÇÃO REGULAR E ESPECIALNO bRASIL: SObRE OS PERIGOS DE TRATAR ASCRIANÇAS OUvINTES COMO SE FOSSEM SURDAS, E
AS SURDAS, COMO SE FOSSEM OUvINTES *
Todo e qualquer sistema de escrita viável do passado, presente ou
uturo mapeia a ala, especialmente as ortograas alabéticas.
O princípio alabético é o de mapeamento graema-onema
(Robinson, 1995, The story o writing)
Nem todas as línguas são aladas, nem todos os sistemas de
escrita mapeiam a ala: Quando a língua de sinais é escrita
por meio de sistemas como SignWriting (Capovilla e Sutton,
2009), simatosemas mapeiam quiremas e propriedades de
mão, tais como conguração, orientação da palma, local de
articulação e movimento. Tal mapeamento permite codicar,
armazenar, processar, recuperar, decodicar, compreender e expressar inormação; e é uma erramenta poderosa para
desenvolver o pensamento ormal. Já que o surdo deve aprender
a ler e escrever alabeticamente, é preciso cuidar de arquitetar
um sistema de suporte para promover o desenvolvimento de
habilidades de leitura e escrita. Para isso é preciso omentar as
habilidades de expressão e compreensão por meio de língua
de sinais, e as habilidades de codicação e decodicação
por meio da ancoragem na ala. É preciso tratar as crianças
ouvintes como ouvintes ao ensiná-las a ler e escrever com baseno mapeamento graema-onema; e tratar as crianças surdas
como surdas ao combinar língua de sinais naturais e sistemas
de sinais especialmente desenhados como cued speech e visual
phonics, cada qual em seu tempo certo, para ensiná-las a ler
e escrever alabeticamente e omentar suas habilidades de
compreensão da língua alada.
(Capovilla, Tratado de educao de surdos, no prelo)
Autores:
Fernando C. Capovilla
Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo
*Conerência proerida na Academia Brasileira de Ciências, Meeting on EarlyChildhood Education, Brazilian Public Policy Roundtable, Public Policies inLiteracy Acquisition or Hearing and Dea Children, inverno de 2010.
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y q g
Este breve captulo comenta os perigos de estabelecer
polticas públicas em educao contrrias à evidncia
cientca, especialmente os riscos de tratar crianas ouvintes
como se ossem surdas, e crianas surdas como se ossem
ouvintes ou decientes auditivas. Crianas ouvintes so
tratadas como se ossem surdas uando so impedidas de
aprender a ler por decodicao graoonmica e a escrever
por codicao onogramica. Crianas surdas so tratadas
como se ossem ouvintes ou decientes auditivas uando
so impedidas de usar a lngua de sinais como erramenta
metalingustica, para aprender a ler e escrever, e oradas a
tentar compreender a lngua alada (presumivelmente por
leitura labial) em escolas comuns de modo a se alabetiar. Tal
cenrio da poltica pública de educao brasileira é criticado
com base na evidncia cientca.
As ortograas alabéticas oram criadas para codicar e
decodicar a ala. Da a importncia de ancorar a alabetiao
em alguma propriedade conspcua da ala, de preerncia
os sons da ala, os onemas; ou, na ausncia completa de
audio e de memrias auditivas, os seus correspondentesvisveis, os anerolaliemas, desde ue orientados por
tabelas de legibilidade oroacial e de correspondncia entre
anerolaliemas e graemas (c. Capovilla, 2010). qualuer um
ue tente aprender a ler e escrever com preciso sem aer
uso de alguma propriedade conspcua da ala se conronta
com uma tarea de memoriao visual praticamente
impossvel de cumprir, estando adado a cometer uma
prouso de paralexias e paragraas ideogrcas, como as
de tomar uma palavra por outra visualmente parecida, trocarletras por outras letras e números, e trocar a ordem das
letras nas palavras. Este é precisamente o caso com alunos
surdos, cuja abordagem visual ideogrca e global, baseada
no processamento do hemisério cerebral direito, a com
ue sua leitura e escrita sejam praguejadas de paralexias
e paragraas ideogrcas (Capovilla e Capovilla, 2006;
Capovilla, Capovilla, Maa, Ameni, Neves, 2006; Capovilla
e Maa, 2008; Capovilla, Maa, Ameni, Neves e Capovilla,
2006). Tais paralexias e paragraas persistentes decorremda abordagem ideovisual e global à leitura, cuja persistncia
revela sua diculdade em alabetiarse, a aprender a
decodicar. Tal diculdade persiste até ue os surdos sejam
auxiliados a tomar atalhos ecaes para contornar sua alta de
Parte 1: Sobre os perigos de tratar criaas ouvites como se ossem surdas
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auxiliados a tomar atalhos ecaes para contornar sua alta de
acesso à dimenso onolgica da ala, tais como cued speech,
visual phonics e métodos de ancoragem na ala, orientados
sistematicamente pela legibilidade oroacial e estabilidade
das correspondncias entre anerolaliemas e graemas (c.
Capovilla, 2010). Até ue consigam aprender a uebrar o
cdigo da escrita por mapeamento na ala, o padrão de leitura
surdo é essencialmente ideográco, e consiste em tentar
basearse exclusivamente em reconhecimento visual direto
sem ualuer auxlio de decodicao.
Ainda ue possa parecer surpreendente, o ato é ue
esse padrão de leitura ideográco surdo no é exclusivo de
pessoas surdas. Assim como a perda auditiva pode ser uma
disuno iatrognica, produida por impercia médica, o
padrão de leitura ideográco surdo em alunos ouvintes sem
dislexia do desenvolvimento é uma condio ou disuno
essencialmente pedagognica, produida por nada além de
mera e acentuada impercia pedaggica. De ato, no último
uarto de século, o establishment pedaggico brasileiro
impôs um método visual ideogrco global ue criou
orte prevalncia do padrão de leitura ideográco surdo na
populao escolar brasileira. Ironicamente, a irresponsvel
abordagem responsvel por isso, obcecada por desinventar e
desconstruir o princpio alabético e ue, ao cabo de 25 anos,
logrou arruinar as habilidades de leitura e escrita de geraes
de escolares brasileiros, é a mesma ue atribuiu a si prpria,
cinicamente, a melua alcunha de “construtivismo”. Depois
de ortes acusaes do Comit Internacional de Especialistas
em Alabetiao Inantil da Cmara dos Deputados (c.
CardosoMartins, Capovilla, Gombert, Oliveira, Morais, Adams
e Beard, 2007) e de pesuisadores da Universidade de So
Paulo (e.g., Seabra e Capovilla, 2010) acerca dos desastrosos
resultados dessa abordagem, os prprios arautos dessaabordagem comearam a reconhecer seus desacertos, ainda
ue de modo ainda po e melanclico em espordicos mea
culpa (e.g., Soares, 2003).
Nos últimos 25 anos, o establishment pedaggico neste
pas impôs o método ideogrco visual global ue criou
orte prevalncia do padrão de leitura ideográco surdo
na populao escolar brasileira. Ao arrepio da cincia
da leitura, em especial desde a década do cérebro, esseestablishment pregou anaticamente a alsa crena de ue
a alabetiao seria um processo natural pouco relevante
ue, eventualmente, ao longo dos anos, acaba acontecendo
de ualuer modo, desde ue no seja ensinado pois, se
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, j p ,
or, as crianas deixaro de aprender e se transormaro
em robôs descerebrados. Essa crena permeia documentos
como os Parmetros Curriculares Nacionais de Alabetiao
(PCNs em alabetiao), ue decretam o ue os proessores
devem aer e o ue eles no devem aer. A essncia dessas
recomendaes pode ser assim sumariada: 1) Com respeito
à leitura: a) Devese suprimir cartilhas e introduir textos
sosticados em seus portadores originais j desde o incio do
ano letivo; b) Devese evitar a todo custo ensinar decodicao
graoonmica, do contrrio, as crianas se tornaro
descerebradas; c) Devese incentivar as crianas a adivinhar o
ue est escrito com base em ilustraes e no contexto, mas
jamais na decodicao; se alguma decodicao se mostrar
inevitvel, ento ela deve ser eita apenas incidentalmente,
aui ou ali, mas jamais de modo sistemtico para ensinar
ciragem de sons por letras e deciragem de letras em sons;
d) Devese impedir as crianas de ler em vo alta; em ve
disso, devese incentivar apenas a leitura silenciosa de
textos ue elas tenham ouvido previamente sob a orma de
contar histrias; e) Devese evitar pedir às crianas para ler
novos textos; em ve disso, devese ler as histrias em vo
alta para elas, pedir a elas ue aam leitura silenciosa dessas
mesmas histrias, e ento devese pedir ue elas aam uma
contao coletiva da histria a partir da memria do grupo,como se elas tivessem realmente lido, e ngir, ento, ue essa
contao coletiva reete o conteúdo ue elas conseguiram
ler silenciosamente e no o mesmo conteúdo ue elas
simplesmente haviam ouvido anteriormente; 2) Com respeito
à escrita: a) Devese evitar a todo custo ensinar codicao
onogramica, assegurandose ue a criana jamais aprenda
a escrever por codicao de sons em letras; do contrrio,
ela ser incapa de escrever ualuer coisa com signicado;
b) Devese evitar reuerer escrita sob ditado, ou as crianaspodem desconar ue o cdigo alabético consegue
mapear os sons da ala, registrando o pensamento em papel
por codicao; c) Devese ter certea de ue as crianas
no se dediuem a exerccios caligrcos ue poderiam
desenvolver a coordenao oculomanual visoespacial, do
contrrio elas poderiam se tornar robotiadas; d) Em ve
disso, devese considerar ualuer garrancho sem sentido
como se osse escrita; no caso de alguém criticar a caligraa
da criana como ilegvel, devese ter certea de ue no seperceba ue exerccios caligrcos poderiam melhorla;
e) Mais importante ue o aspecto sico garranchento da
escrita é a sua composio em termos da escolha das letras a
serem arranjadas serialmente; para tanto é importante ue o
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serem arranjadas serialmente; para tanto é importante ue o
proessor, além de jamais ensinar a escrever por codicao
de sons em letras, jamais corrija a escrita para adeula à
ala; do contrrio, as crianas poderiam virar robôs de um dia
para o outro.
Tais mandamentos conguram o método ideovisual global
ue, preconiando a ciso entre lngua alada e a lnguaescrita (como se a segunda no mapeasse a primeira, mas
osse independente dela), probe o ensino de leitura por
decodicao e o ensino de escrita por codicao, como
se a articulao da escrita no alar e no pensar em palavras
no contribusse para tornar a criana mais articulada e
inteligente, mas tivesse a misteriosa capacidade mgica de
transormar a criana num asno. Nesse uarto de século,
os idelogos dessa crena e seus inspetores, entroniados
nas delegacias de ensino e secretarias de Educao, se
esmeraram em suocar ualuer livre iniciativa em pesuisa
em alabetiao e ualuer liberdade de pensamento
divergente. Proessores alabetiadores ue ousassem pensar
dierente e ossem pegos ensinando a codicar e decodicar,
tomando ditado, ou corrigindo a escrita de seus alunos,
eram sujeitos a sorer repreenses severas e, na reincidncia,
mesmo, processos administrativos. Os cadernos dos alunos
contendo essas atividades serviam de prova do crime, noimportando o uanto esses alunos estivessem aprendendo.
As conseuncias das polticas públicas ue entroniam esse
método ideovisual oram analisadas em diversos estudos.
Num desses, Seabra e Capovilla (2010) entrevistaram 14
proessores de 1º ano de ensino undamental no incio
do primeiro semestre e pediram a eles ue declarassem a
porcentagem de tempo ue pretendiam gastar no ensino de
leitura baseado em textos ou onemas. Ao cabo do primeirosemestre, os autores avaliaram as habilidades de leitura dos
345 alunos de 1º ano daueles proessores por meio de
testes validados e padroniados de habilidades de leitura
de palavras isoladas por decodicao e reconhecimento
visual, bem como de compreenso de leitura de textos. Os
resultados encontramse representados nas Figuras 1 e 2.
Tais achados revelam algumas das conseuncias de tratar
crianas ouvintes como se ossem surdas (i.e., de impedilas de
ancorar o texto nos sons da ala). A primeira conseuncia é asabotagem das habilidades de decodicao e codicao e,
com isso, a sabotagem da ormao do léxico ortogrco ue
deveria permitir a leitura e a escrita uentes. Isso é ilustrado
na Figura 1: quanto maior o tempo gasto na tentativa de
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na Figura 1: quanto maior o tempo gasto na tentativa de
ensinar desde o incio com base em textos sosticados nos
portadores originais, tanto menor o nvel de competncia de
leitura de palavras ao nal do 1º semestre. Reciprocamente,
uanto maior o tempo investido no ensinoaprendiagem
de leitura escrita com base nas correspondncias entre
graemas e onemas no incio do 1º semestre, tanto maior
o nvel de competncia de leitura de palavras ao nal do 1ºsemestre. (Nota: todos os testes citados neste captulo, como
TCLPP, TCLS, TVRSL e TNFEscrita podem ser encontrados em
Capovilla e Raphael, 2005).
Figura 1. Escore de competência deleitura de palavras por decodifcaçãoe reconhecimento (TCLPP) ao fnal
do 1º semestre, como unção da porcentagem de tempo gasto pelo proessor em alabetizar a partir detextos ou de onemas no início do 1º semestre. A segunda consequênciade tratar crianças ouvintes comose elas ossem surdas (ou seja, deimpedir a ancoragem do textonos sons da ala) é a sabotagemda compreensão de textos, comoilustrada na Figura 2. Quanto maior otempo gasto na tentativa de ensinar a ler e escrever com base em textos
sofsticados em seus portadoresoriginais introduzidos logo noinício do 1º semestre (antes que ascrianças tivessem tido chance deaprender a decodifcar e a codifcar),tanto pior o nível de competência decompreensão de textos ao fnal dessesemestre. Reciprocamente, quantomaior o tempo dedicado ao ensino-aprendizagem de correspondênciasgraema-onema para codifcar edecodifcar no início do 1º semestre,tanto maior o nível de competência de
compreensão de textos ao fnal desse1º semestre.
Figura 1
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O estudo demonstrou ue, ao adotar uma postura, à la
Mahatma Gandhi, de desobedincia civil das diretries tortas
dos PCNs em alabetiao ue insistem em desorientar osproessores para ue tratem as crianas ouvintes como se
ossem surdas, os proessores podem, de verdade, passar a
omentar ortemente o desenvolvimento das competncias
de decodicao uente na leitura e de conseuente
ormao de léxico ortogrco e compreenso de textos de
seus estudantes j no 1º semestre. A conscincia disso tem
mudado a postura de boa parte do proessorado alabetiador
desde ue esses estudos seminais oram conduidos no incio
do século, bem como a postura das secretarias de Educao
ue, incapaes de continuar tentando esconder o sol com
a peneira, tm passado a permitir aos proessores cada ve
maior liberdade e autonomia.
Esses achados seminais ilustram as descobertas de diversas
pesuisas conduidas desde ento, todas elas demonstrando
ue, uando o establishment pedaggico brasileiro impe os
PCNs em alabetiao e ora os proessores a usar o alido
método ideovisual global, ele condena a populao escolar
brasileira a sorer dessa séria disuno pedagognica ue
é o prevalente e persistente padrão de leitura ideográco
surdo, um padrão dislexicoide ue, embora supercialmente
Figura 2. Escore de compreensãode leitura de textos (TCLS) ao fnal do 1º semestre, como unção da porcentagem de tempo gasto pelo proessor em alabetizar a partir detextos ou de onemas no início do 1º semestre.
Figura 2
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semelhante ao da dislexia do desenvolvimento, decorre
apenas e to somente da inépcia do establishment
pedaggico ue consterna os proessores e os probe
de alabetiar, e desorienta as crianas e as impede de
aprender. Evidncia ulterior pode ser encontrada em estudos
sumariados em Seabra e Capovilla (2010), ue demonstram
ue escolas ue usam o método ônico alcanam escores
signicativamente superiores em avaliaes nacionais, como
o Saeb e a Prova Brasil. A alabetiao ônica engaja a ala e o
pensar em palavras como base para o ensinoaprendiagem
do decodicar o texto em ala, e do codicar a ala em texto.
Por isso desenvolve no apenas as competncias de leitura
escrita como, também, a inteligncia verbal e a aprendiagem
por meio da leitura.
Parte 2: Sobre os perigos de tratar criaas surdas como se ossem ouvites
Na seo anterior vimos como as maladadas polticas públicas
de educao, impostas pelo lobby construtivista nos últimos
25 anos, tm levado as escolas a tratar crianas ouvintes como
se ossem surdas. Essas polticas tm logrado cumprir essa
estapaúrdia misso ao privar as crianas do método ônico.
Veremos agora como as polticas públicas em educao,oruestradas pelo mesmo establishment construtivista, tm
ameaado por uma p de cal na educao de surdos e no
uturo das crianas surdas, ao desmontar as escolas bilngues
ue, até ento, as educavam em LibrasPortugus, espalhar
as crianas surdas em escolas comuns despreparadas para
compreendlas e ensinlas em sua lngua, e instruir essas
escolas comuns a tratar as crianas surdas como se ossem
ouvintes ou, na melhor das hipteses, decientes auditivas,
ao arrepio dos direitos humanos, dos direitos da criana a umaeducao adeuada às suas necessidades, e à especicidade
lingustica da Libras, reconhecida em lei ederal.
Essas polticas tm se esorado em lograr essa estapaúrdia
misso ao privar as crianas de sua lngua materna, a Libras
(Libras, c. Capovilla, Raphael e Mauricio, 2009ª e 2009b),
como metalinguagem e veculo do ensinoaprendiagem, e
ao arrancla do seio de sua comunidade escolar sinaliadora,
onde costuma(va) compreender e aerse compreender emsinais e onde costuma(va) aprender em sua lngua materna, a
mesma lngua reconhecida em Lei Federal Nº 10.436, de 24 de
abril de 2002, e regulamentada pelo Decreto Federal Nº 5.626,
de 2 de deembro de 2005 cujo esprito é o de reconhecer
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de 2 de deembro de 2005, cujo esprito é o de reconhecer
ocialmente a Libras e estabelecer seu ensino e divulgao,
para ue a educao possa se dar em Libras.
Contrariando esse esprito, j ue as escolas comuns no
esto ainda capacitadas em absoluto para receber crianas
surdas, o Decreto Federal Nº 6.571, outorgado em 2008,
estabeleceu ue: O sistema escolar deve matricular crianascom decincias, distúrbios globais de desenvolvimento
e habilidades intelectuais elevadas em classes comuns
de escolas comuns no perodo principal, bem como, no
contraturno, em atendimento escolar especialiado a ser
oerecido preerencialmente em classes especiais de escolas
comuns, mas também, eventualmente, em instituies
especiais públicas ou privadas sem ns lucrativos.
Em conseuncia desse decreto, e para assegurar orecebimento dos recursos do Fundeb em dobro por criana
matriculada no turno principal em escola comum e no turno
complementar em atendimento educacional especialiado, as
preeituras em todo o Brasil tm iniciado o tenebroso processo
de descaracteriao das escolas especiais, de remoo das
crianas surdas das escolas bilngues (escolas especiais ue
ensinam em Libras e Portugus), e de sua disperso em
escolas comuns monolngues, ue ensinam em Portugus
apenas, e ue ainda esto completamente despreparadas
para seuer se comunicar com a criana em Libras, uanto
mais para educla nessa lngua. As conseuncias dessa
neasta poltica podem ser antevistas claramente a partir
do conjunto de achados de um dos programas de pesuisa
mais compreensivos j conduidos no mundo, o Pandesb
(Programa de Avaliao Nacional do Desenvolvimento da
Linguagem do Surdo Brasileiro) nanciado pela Capes, pelo
CNP e pelo Inep.
Ao longo de uma década, o Pandesb examinou 8 mil
estudantes surdos brasileiros do 1º ano do ensino
undamental até o ensino superior de 15 estados brasileiros,
representando todas as regies geogrcas do Brasil. Cada
um dos 8 mil estudantes surdos oi examinado durante 20
horas em diversas baterias de testes estandardiados ue
avaliam diversas competncias como leitura alabética e
oroacial, compreenso de leitura de textos, vocabulriode escrita e ualidade ortogrca da escrita, vocabulrio
em Libras e Portugus, memria de trabalho, entre outras.
O estudo examinou o desenvolvimento de linguagem
em crianas surdas como uno das caractersticas do
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estudante (idade e grau de perda auditiva), alocao escolar
(escola comum versus especial), lngua de ensino (Portugus
apenas versus Libras e Portugus), tendo como covariantes
atores como a série escolar, a idade cronolgica e o nvel
de inteligncia. A Figura 3 representa os eeitos da alocao
escolar e da linguagem de ensino sobre a auisio de
linguagem em Portugus e Libras. Os resultados mostram
ue os estudantes surdos aprendem mais e melhor em
escolas bilngues (escolas especiais ue ensinam em Libras e
Portugus) do ue em escolas monolngues (escolas comuns
ue ensinam em Portugus apenas). De ato, competncias
como decodicao de palavras e reconhecimento de
palavras, compreenso de leitura de textos, vocabulrio em
Libras, entre outras, oram signicativamente superiores em
escolas bilngues do ue em escolas comuns.
Figura 3. Eeito da alocação escolar (escolas bilíngues especiais versusescolas monolíngues comuns), elíngua de ensino (Libras-Portuguêsversus Português apenas) sobreescores de decodifcação ereconhecimento de palavras,
compreensão de texto, e vocabulárioem Libras de 8 mil surdos: Criançassurdas aprendem mais e melhor emescolas bilíngues especiais (Libras-Português) do que em escolasmonolíngues comuns (Portuguêsapenas).
Figura 3
Esse mesmo programa de pesuisas revelou o seguinte
conjunto de achados:
1. Estudantes surdos comeam aduirindo leitura escrita na 4ª
série (aos nove anos de idade). Como representado na Figura
4, eles comeam a exibir, em nvel acima do acerto casual,
competncias decodicao de palavras e reconhecimento
visual de palavras apenas na 4ª série.
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2. À medida ue os estudantes surdos comeam a decodicar
e compreender as palavras na escrita alabética, eles comeam
a decodicar e compreender a ala por meio de leituraoroacial. Como representado na Figura 5, eles comeam a
decodicar e reconhecer a ala por meio de leitura oroacial
apenas uando comeam a decodicar e reconhecer a
escrita na leitura alabética. Ou seja, a habilidade de processar
anerolalemas (unidades de ala visvel) s emerge com a
auisio da habilidade de processar graemas (unidades de
escrita). Tais achados coincidem com aueles encontrados
com crianas ouvintes do ensino inantil de trs a seis anos, as
uais s conseguem aer leitura oroacial uando comeam ase alabetiar (Capovilla, de Martino et al., 2009). (Nota: a Prova
de Leitura Oroacial (Plo) tem 144 itens com 12 alternativas,
logo, sua pontuao casual é de 12. O Teste de Competncia
de Leitura de Palavras e Pseudopalavras tem 70 itens com duas
alternativas, logo, a pontuao casual é de 35.)
Figura 4. Aumento na competênciade leitura alabética de palavras(decodifcação e reconhecimentovisual no TCLPP) como unção doano escolar do ensino undamental. A pontuação se destaca do nível deacerto casual no 4º ano.
Figura 4
Figura 5. Aumento na competênciade leitura oroacial de palavras(Plo) como unção da competênciade leitura alabética de palavras(decodifcação e reconhecimentovisual no TCLPP). Crianças surdascomeçam a decodifcar e reconhecer a ala por meio de leitura oroacial
apenas quando começam adecodifcar e reconhecer a escrita naleitura alabética.
Figura 5
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3. Estudantes surdos comeam a compreender textos na 4ª
série (aos nove anos de idade). Como representado na Figura
6, eles comeam a exibir compreenso de leitura de textos
acima do nvel do acaso no 4º ano.
Figura 6. Aumento na compreensãode leitura de sentenças (TCLS) comounção do ano escolar do ensinoundamental. A pontuação destaca-sedo nível de acerto casual no 4º ano.
Figura 6
4. À medida ue os estudantes surdos comeam a
compreender textos escritos, eles comeam a compreender
a ala por leitura oroacial. Como representado na Figura 7,
eles comeam a compreender Portugus por leitura oroacial
(escore no TVPLOF) apenas uando comeam a compreender
textos escritos (escore no TCLS). (Nota: o Teste de Vocabulrio
em Portugus por Leitura Oroacial (TVPlo) tem 100 itenscom uatro alternativas cada um, logo, a pontuao casual
é de 25. O Teste de Competncia de Leitura de Sentenas
(TCLS) tem 40 itens com uatro alternativas cada uma, logo, a
pontuao casual é de 10.)
Figura 7
Figura 7. Aumento na compreensãoda ala por leitura oroacial (TVPlo)como unção da compreensão deleitura alabética de sentenças (TCLS).Em crianças surdas, a compreensãoda ala por leitura oroacial é unçãodireta da compreensão de leituraalabética. Crianças surdas começama decodifcar e reconhecer a ala por meio de leitura oroacial apenasquando começam a decodifcar
e reconhecer a escrita na leituraalabética.
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Raciocinando com tais dados, percebese ue a impor
essa poltica de incluso (ue remove as crianas surdas
de sua escola bilngue e as espalha em escolas incapaes
de compreendla e ensinla em sua lngua) com base na
expectativa de ue as crianas préalabetiadas possam vir
a aer uso da leitura oroacial para aprender a ler e escrever
é uma medida v, irresponsvel e alaciosa. A leitura oroacial
no se desenvolve à parte da alabetiao, a menos ue
a criana surda receba ajuda prossional especialiada
intensiva, baseada em métodos comprovadamente ecaes,
ora do contexto escolar. De outro modo, antes de serem
capaes de aer leitura oroacial, as crianas surdas tero ue
aduirir a competncia de leitura escrita alabética, e, isso, a
pesuisa mostrou como elas aprendem mais e melhor em
escolas bilngues especiais do ue em escolas comuns. Como
essas crianas surdas de escola pública so alabetiadas
mais acilmente em escolas bilngues do ue em escolas
comuns, ca claro ue removlas da escola bilngue antes
ue elas possam se alabetiar é uma deciso agrantemente
contraproducente e danosa, baseada em nada menos ue
completa ignorncia. A concluso peremptria e clara é ue
as crianças surdas de escola pública só devem ser alocadas em
turno principal de escolas comuns depois que elas tenham tido
a chance de adquirir competência de leitura e escrita em turno principal na escola bilíngue.
A pesuisa também identicou uma interação signicativa
entre tipo de estudante e tipo de escola: enquanto a alocação,
pelo critério inclusivo, na escola comum é mais adequada para
estudantes com deciência auditiva, a alocação, pelo critério
linguístico, na escola bilíngue é mais adequada para a criança
surda (cuja lngua materna é a Libras). De ato, a Figura 3, j
discutida, representa o eeito da alocao escolar (escolasbilngues especiais versus escolas monolngues comuns),
e lngua de ensino (LibrasPortugus versus Portugus
apenas) sobre escores de decodicao e reconhecimento
de palavras, compreenso de texto, e vocabulrio em Libras.
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Um estudo recente (Capovilla, Temoteo, Brito, no prelo)
orneceu evidncia ulterior sobre a importncia da lngua
de sinais para a alabetiao e o desempenho de leitura
de crianas surdas do ensino undamental. Esse estudo
concentrouse na Provinha Brasil, a avaliao nacional de
leitura em Portugus destinada a estudantes da 1ª série (2º
ano) e a adaptou em Libras. Denominada PBL2, a Provinha
Brasil em Libras, ue resultou dessa adaptao, é composta de
28 itens, cada ual com uatro alternativas. Nesse estudo, ela
oi aplicada a centenas de alunos do 2º ao 5º ano, juntamente
com testes de vocabulrio em Libras (TVRSL), nomeao
de guras por escrita (TNFEscrita), compreenso de leitura
de sentenas (TCLS), e decodicao e reconhecimento de
palavras (TCLPP), de modo a descobrir ue competncias
contribuem mais para o desempenho de leitura na Provinha
Brasil em Libras. Os achados so reveladores.
Como representado na Figura 8, os escores de leitura
aumentaram signicativamente, de ano a ano, do 2º ano ao
5º ano. Como a Provinha Brasil em Libras tem 28 itens, com
uatro alternativas cada um, a pontuao casual é de sete
acertos. Conorme a gura, a pontuao se destacou do
nvel de acerto casual j no 2º ano, e cresceu, ano a ano, atéo 5º ano. Isso permitiu normatiar a PBL2 como prova vlida
para avaliar rendimento escolar de surdos do 2º ao 5º ano.
A partir dessa Provinha Brasil validada e normatiada para o
alunado surdo, tornase possvel aer uso dela para sondar
ue competncias cognitivas poderiam estar relacionadas
ao desempenho, de modo a descobrir como melhorar o
desempenho nessa Provinha Brasil e, por conseguinte, o
rendimento escolar dos surdos.
Figura 8. Aumento na pontuaçãona Provinha Brasil em Libras (PBL2)como unção do ano escolar do ensinoundamental (do 2º ao 5º ano) e idade(sete a 10 anos) das crianças surdas.
Figura 8
Provinha Brasil em Libras
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O arraoado é o seguinte: Considerando a Provinha Brasil como
indicativa de rendimento escolar dos surdos, e descobrindo a
contribuio relativa de algumas competncias para o bom
desempenho na Provinha Brasil, seria possvel estimar a
contribuio dessas competncias para o rendimento escolar,
de modo a ajuiar o eeito da privao de desenvolvimento
de uma ou outra dessas competncias. Isso oi eito
preliminarmente nesse estudo, cujos resultados encontram
se representados na Figura 9. Como se depreende da gura,
as competncias ue contriburam mais para o desempenho
na Provinha Brasil em Libras, como medida de rendimento
escolar de surdos, oram, em ordem decrescente, vocabulrio
em Libras (compreenso de sinais: TVRSL), nomeao de
guras por escrita (TNFEscrita), compreenso de leitura
de sentenas (TCLS), e decodicaoreconhecimento de
palavras (TCLPP).
Figura 9
Diante de tais achados, poderseia perguntar o ue distingue
crianas surdas de crianas decientes auditivas, e por
ue, até o Decreto Federal Nº 6.571 de 2008, a maior parte
das crianas surdas encontra(va)se em escolas bilngues
especiais, enuanto a maior parte das crianas decientesauditivas encontra(va)se em escolas comuns em incluso. A
resposta é simples e se baseia no critério lingustico bvio:
O ue distingue as crianas surdas das crianas decientes
diti i l l t d i
Figura 9. Competências subjacentes
ao desempenho na Provinha Brasil em Libras: primeiro Libras, depoisescrita, depois compreensão de leiturade sentenças, por fm decodifcação ereconhecimento de palavras.
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auditivas e ue sempre oi responsvel pelo ato de a maior
parte das crianas surdas sempre ter procurado estudar em
escolas bilngues especiais (enuanto a maior parte das
crianas decientes auditivas podia ter sucesso em escolas
comuns em incluso), é o ato de ue o sucesso da educao
das crianas depende de a educao ser ministrada na
lngua materna (L1) dessas crianas. Como as crianas surdas
tm Libras como sua L1, elas aprendem mais e melhor emescolas bilngues. Como as crianas decientes auditivas tm
Portugus como sua L1, elas aprendem mais e melhor em
escolas comuns sob incluso. Esse arranjo é sumariado no
quadro 1.
Como sumariado pelo uadro:
A. Crianas surdas se comunicam em Libras, pensam em Libras,
sonham em Libras, porue tm na Libras a sua lngua materna.
Isso ocorre com essas crianas usualmente devido à conuncia
de dois atores: 1) a ocorrncia de perda auditiva prounda
prélingual, ue dicultou a auisio do Portugus como
lngua materna; 2) a oportunidade de acesso relativamente
precoce a uma comunidade sinaliadora durante a janela de
desenvolvimento da linguagem, até seis anos.
Para essas crianas surdas, cuja L1 é a Libras e o Portugus é
L2, o melhor arranjo educacional consiste em: 1) educao
bilngue dos dois aos seis anos em escolas bilngues especiais;
2) dos seis aos nove anos educao em turno duplo BC
(bilngue comum, i.e., com turno principal em escola bilngue
e turno secundrio em escola comum); e 3) a partir dos oito
10 anos (dependendo da criana), educao em turno duplo
CB (comumbilngue, i.e., com turno principal em escola
comum em incluso e turno secundrio em escola bilngue).
B. Crianas com decincia auditiva comunicamse em
Portugus, pensam em Portugus, sonham em Portugus,
por e tm no Port g s a s a lng a materna Isso ocorre
quadro 1
Tipo de estudante Perda auditiva: grau e idade Lngua Contexto escolar ideal
Surdo prélingual proundaL1: Libras
L2: Portugus
Período pricipal: escolar bilngue (especial)
Período complemetar: escolar comum (incluso)
Deicienteauditivo
pslingual proundaou severa, ou prélingual
moderadaL1: Portugus
Período pricipal:escola comum (incluso)
Período complemetar: atendimentoeducacional especialiado (exclusivo)
Quadro 1. Recomendações derivadasdo Pandesb, com 8 mil surdos do1º ano do ensino undamental aoensino superior de 15 estados detodas as regiões brasileiras, paraalocação escolar de estudantes surdose defcientes auditivos a partir docritério linguístico e de rendimentoescolar por alocação.
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porue tm no Portugus a sua lngua materna Isso ocorre
com essas crianas usualmente devido à conuncia de dois
atores: 1) ocorrncia de perda auditiva ue é ou: 1.1) prounda
ou severa, mas pslingual (de modo a no ter impedido a
constituio de um léxico onolgico ue permita à criana
continuar pensando em palavras), ou 1.2) prélingual,
mas moderada (de modo a no impedir audio residual
suciente para, reuentemente com o apoio de prteses de
amplicao, ter preservado desempenho auditivo suciente
para permitir à criana aduirir Portugus), ou 1.3) prounda
ou severa e prélingual mas com implante coclear bem
sucedido; e 2) alta de oportunidade de acesso relativamente
precoce a uma comunidade sinaliadora durante a janela
de desenvolvimento da linguagem, ou alta de interesse ou
necessidade em obter esse acesso.
Para essas crianas com decincia auditiva, cuja L1 é o
Portugus, o melhor arranjo educacional consiste em: 1)
educao inclusiva em contraturno desde a educao inantil,
com escola inclusiva no turno principal e atendimento
educacional especialiado no turno complementar. Nesse
turno complementar, o objetivo deve ser o de aprimorar o
desenvolvimento da conscincia onolgica e anerolalimica
desde a educao inantil, e, a partir do ensino undamental,
aer uso dessas competncias metalingusticas em auxlio à
auisio de leitura e escrita ancoradas na ala auxiliada pela
leitura oroacial suplementada por cued speech e visual phonics.
Portanto: 1) Como L1 (lngua materna) das crianas surdas,
a Libras deve ser aduirida por imerso numa comunidade
sinaliadora. Na educao pública, essa comunidade
costuma(va) ser ornecida por proessores sinaliadores
uentes e colegas surdos em escolas especiais. Como
ualuer L1, Libras no pode ser “ensinada” para crianas
surdas num “atendimento escolar especialiado” por
proessores no uentes ue precisam atender crianas
com outras condies (e.g., autismo, paralisia cerebral,
decincia intelectual, dislexia, cegueira); 2) Para crianas
de escola pública (ue no tm acesso a tratamento
onoaudiolgico disponvel em perodo integral para treino
de leitura oroacial), Libras constitui a erramenta ideal para
o desenvolvimento metalingustico, sendo especialmente
importante do ensino inantil até a 4ª série, uando omentaa alabetiao. De ato, evidncia cientca (Capovilla, 2009)
demonstra ue as escolas bilngues especiais produem
maior competncia de leitura e escrita em Portugus ue
as monolngues comuns; 3) Tragicamente, contudo, em
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g ; ) g , ,
conseuncia do Decreto Federal Nº 6.571, as escolas
bilngues especiais tradicionais esto sendo descontinuadas,
e sua populao escolar est sendo espalhada numa mirade
de escolas comuns despreparadas, na esperana ingnua
e desinormada de ue a leitura oroacial v salvlas; 4) Tal
poltica desinormada e irresponsvel vem sendo adotada ao
arrepio da evidncia cientca de um dos maiores programas
do mundo de avaliao de desenvolvimento lingustico em
escolares surdos, o Pandesb (Capovilla, 2009), nanciado
pela Capes, pelo CNP, e pelo Inep, cujos achados com mais
de 8 mil surdos em 15 anos, sugerem ue a leitura oroacial
emerge apenas em conseuncia da alabetiao, e ue
esta se d melhor e mais cedo em escolas bilngues do ue
em escolas comuns.
Para ns de polticas públicas em educao de surdos, no
podemos ter incluso escolar bemsucedida sem ue as
crianas surdas possam estudar, no turno principal, em escolas
bilngues do ensino inantil (aos dois anos de idade) até o 4º
ano do ensino undamental (aos nove anos) e, no contraturno
(a partir dos oito10 anos, dependendo da criana) em escolar
comuns. Nas últimas décadas, as escolas bilngues especiais
tm ornecido a comunidade lingustica sinaliadora na
L1 da criana surda, permitindo o desenvolvimento desua personalidade e de suas competncias cognitivas e
lingusticas. Se as escolas remanescentes orem destrudas,
assistiremos ao declnio do desenvolvimento cognitivo,
lingustico e metalingustico das crianas, com atraso da
alabetiao e da leitura oroacial, e severos prejuos para a
incluso escolar e social.
Em suma, para ue possamos ter polticas públicas mais
responsveis e alinhadas com o conhecimento cientco sobredesenvolvimento de linguagem inantil para a educao de
ouvintes, decientes auditivos e surdos, é preciso atentar às
seguintes recomendaes:
1. Tratar crianças ouvintes como ouvintes consiste em
tirar vantagem do princpio alabético implementando
o método ônico de alabetiao, como aem os pases
recordistas de competncia de leitura em todo o mundo
ocidental. É essencial ue as crianas aprendam a articularleitura e audio, escrita e ala, para ue as competncias
de ler e compreender, e escrever e alar possam ortalecer
se mutuamente num crculo virtuoso. Na articulao entre
leitura e audio, as crianas devem aprender a tratar o ato
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, p
de ler como o ato de ouvir, com compreenso, o resultado da
decodicao. Na articulao entre escrita e ala, as crianas
devem aprender a tratar o ato de escrever como o ato de
expressar signicado por meio da ala, codicada na graa;
2. Tratar crianças decientes auditivas como decientes
auditivas consiste em ornecer incluso no turno principale atendimento educacional especialiado no contraturno
complementar, com ateno especial à auisio de leitura
e escrita por meio de métodos de ancoragem da escrita
na audio residual e/ou memrias onolgicas, como o
método ônico de correspondncias onemagraema, e de
ancoragem da escrita na leitura oroacial, como o método
de correspondncias anerolaliemasgraemas orientado
por tabelas de legibilidade oroacial e de codicabilidade
anerolaliemagraema, de Capovilla (2010), e por sistemas
como Cued Speech e Visual Phonics.;
3. Tratar crianças surdas como surdas consiste em prover
sua imerso em Libras desde a educao inantil aos dois
anos de idade até o 4º ano do ensino undamental. A partir
dos seis anos de idade, prover educao bilngue no turno
principal e incluso no turno complementar. A partir do 4º
ano, prover incluso no turno principal e educao bilngue
no complementar. A partir dos seis anos de idade, auxiliar
a auisio de leitura escrita por meio de métodos de
alabetiao ue combinem estratégias de processamento
proundo (com base nas correspondncias mormicas Libras
Portugus) e estratégias de processamento transparente
(com base no grau de conspicuidade dos anerolaliemas e
da estabilidade de sua relao com os graemas, auxiliada
essa ancoragem por meio de ormas de mo adicionais como
as da Cued Speech ou Visual Phonics). Para auxiliar esseprocesso, devem ser usadas tabelas de legibilidade oroacial
e de correspondncia entre anerolaliemas e graemas, para
permitir a ancoragem sistemtica da escrita na leitura oroacial.
Essas tabelas podem ser encontradas em Capovilla (2010) e
Capovilla, Jacote, SousaSousa e GratonSantos (2010).
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CARDOSOMARTINS, C. C.; CAPOVILLA, F. C.; GOMBERT, J. E.;
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1. Itroduo
Os primeiros anos de vida so crticos para o desenvolvimentoda inteligncia, da personalidade e do comportamento
social. Como ressaltado por Heckman et al. (2005), os
investimentos realiados na primeira inncia aumentam a
eiccia dos investimentos posteriores (so complementares).
Assim, uanto melhor a ateno nos primeiros anos de vida
maior ser a capacidade das crianas no aproveitamento
das oportunidades educacionais uturas e menores sero
os custos envolvidos na garantia dessas oportunidades.
Portanto, a ualidade do atendimento na primeira inncia
é capa de aetar a renda nacional, os nveis de pobrea e
a necessidade de programas sociais compensatrios para
jovens e adultos.
É também durante os primeiros anos de vida ue as sinapses e
conexes neurais do cérebro esto se ormando. As respostas
a ualuer estmulo so muito rpidas, elevando a eccia das
intervenes realiadas. Neste sentido, tornase undamental
ue a criana receba todos os cuidados, ateno e estmulosnecessrios para o seu pleno desenvolvimento. Os impactos
dos cuidados na primeira inncia so, em parte, imediatos,
mas tero também eeitos duradouros, inuenciando todo o
ciclo de vida do indivduo.
Mesmo se o desenvolvimento nos primeiros anos de vida no
osse particularmente crtico, ainda assim existiria uma rao
A IMPORTânCIA DA QUALIDADE DA CRECHEPARA A EFICáCIA nA PROMOçãO DODESEnVOLVIMEnTO InFAnTIL*
Autores:Ricardo Barros – SAE; Mirela de Carvalho – SEERJ; Samuel Franco – IETS; Rosane Mendona –
SAE; Eduardo de Pdua – SMERJ; Andrea Rosalém – IETS; Rauel Tsukada – SAE
* Uma versão mais extensa deste trabalho, com uma descrição detalhadada metodologia utilizada, encontra-se na revista Pesquisa e Planejamento
Econômico - PPE - vol. 41, n. 2 (ago. 2011).Os autores gostariam de agradecer os preciosos comentários, críticas e
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d l
para se investir nessa etapa da vida, ue é o ato de ela ocorrer
antes das demais. Becker (1975) enatia ue, como a vida é
nita, uanto mais cedo orem realiados os investimentos
em capital humano, mais longo é o perodo em ue podemos
nos beneciar dele e, portanto, maior ser o retorno desses
investimentos. Assim, o ue importa no é o ato de os
investimentos serem complementares e ecaes, mas o atode eles serem eitos em um determinado momento em ue
ainda se tem a vida inteira para aproveitlos.
Adicionalmente, a deesa de uma ateno de ualidade para a
primeira inncia undamentase no apenas em argumentos
de ecincia, mas também no princpio da euidade. Uma
ve ue os impactos dessa ateno na primeira inncia
persistem por todo o curso de vida, uanto mais euitativa
ela or nessa etapa, menor ser a desigualdade de resultadosentre os adultos (por exemplo, escolaridade nalmente
atingida, renda, saúde, produtividade, entre outras). Além
disso, conorme destaca Heckman et al. (2005), a ateno
euitativa na primeira inncia é uma orma de combater
a desigualdade utura ue no sacrica a ecincia. Anal,
nas idades mais avanadas, uando j existem notveis
dierenas de resultados entre os indivduos, o ideal em
termos de ecincia é investir preerencialmente naueles
com melhor desempenho e maior talento (investimentomeritocrtico), o ue acaba reorando as desigualdades.
Durante a primeira inncia, no entanto, todas as crianas
so potencialmente iguais e o atendimento euitativo no
compromete a ecincia.
Contudo, se por um lado existe consenso sobre a importncia
da ateno euitativa e de ualidade na primeira inncia e de
ue tipo de ateno deve ser dada, por outro, h ainda muita
dúvida sobre uem deve ser o principal responsvel porprover tal ateno: a amlia ou o Estado? qual seria a melhor
diviso de responsabilidades entre os dois permanece uma
uesto em investigao.
Embora os primeiros anos de vida seja o perodo onde so
desenvolvidas as habilidades mais bsicas do indivduo, ele
exige bastante de uem cuida da criana, pois precisa ser
capa de oerecerlhe os estmulos adeuados, ateno e
aeto. A partir dos seis anos de idade,1 o desenvolvimentocognitivo das crianas é seguramente mais dependente da
1 No Brasil, a idade escolar começa a partir dos seis anos, quando a criança
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i i d l
escola e, portanto, dos servios públicos. Poucos discordariam
ue ensinar portugus, matemtica e outras disciplinas é
uno prioritria da escola e no da amlia. Muitas dúvidas,
entretanto, cercam a deciso dos pais sobre a melhor orma
de desenvolver as potencialidades de suas crianas antes
da idade escolar. No caso de uma criana de trs anos, por
exemplo, a uem caberia oerecer o ue ela deve aprendere os estmulos ue precisa? Seriam os pais, os educadores ou
agentes de saúde? A melhor resposta é provavelmente todos
estes e de orma coordenada. Assim, resta ainda analisar ual
o exato papel de cada um na ateno à criana. Um Estado
ue atende todas as crianas em creches em tempo integral
estaria reduindo em demasiado o papel da amlia?
quando as crianas esto em situao de risco por causa
de violncia e maus tratos, a responsabilidade do Estado éinuestionvel. Contudo, o ue dier dos casos em ue a
integridade sica das crianas no est ameaada, mas os
responsveis no dispem de recursos sucientes (renda
e inormao, em particular) para cuidar e estimular seus
lhos. Principalmente uando as crianas tm alguma
necessidade especial, o esoro necessrio para cuidar delas
pode ser considervel. E como avaliar situaes em ue os
responsveis até dispem de recursos, mas precisam ou
uerem trabalhar? O ato é ue os servios de creche souma alternativa real de atendimento à primeira inncia
undamental para essas amlias.
Se os responsveis, no entanto, pudessem estar em casa com
as suas crianas e contassem com recursos e inormaes
sucientes para lhes estimular e cuidar, seria evidente
ual dos dois tipos de ateno (creche ou amlia ou uma
combinao dos dois) é o mais eca e custoeetivo em
promover o desenvolvimento inantil? A evidncia existenteainda é limitada. É preciso avanar nas avaliaes criteriosas
de impacto desses dois modelos polares e suas contribuies.
Alguns estados2 brasileiros e também alguns pases3 buscaram
balancear as responsabilidades do Estado e da amlia no
desenvolvimento inantil por meio de uma estratégia em
dois nveis. Primeiro, h o acompanhamento de todas as
2 Por exemplo, o Rio Grande do Sul com o programa Primeira Inância Melhor(PIM), o Acre com o Programa Asas da Florestania Inantil (este apenas paracrianças de quatro a cinco anos), ou o programa Mãe Curitibana.
3 Ver a experiência cubana com o programa Educa a tu Hijo e a chilena com o
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Chil C C i
amlias com crianas, seja através de visitas domiciliares
ou de atendimento especco nas unidades de saúde. O
objetivo é, por um lado, garantir o acesso à inormao e aos
recursos necessrios para ue as amlias cuidem de suas
crianas e, por outro, monitorar o desenvolvimento de todas
as crianas com até trs anos de idade, identicando auelas
ue necessitam de maior ateno. Os cuidados precoces
aumentam a probabilidade de se corrigir atrasos ou desvios no
desenvolvimento da criana, garantindo oportunidades para
um crescimento mais saudvel e um melhor aprendiado. O
atendimento nas unidades de saúde é realiado por médicos
e outros prossionais da rea, e a visita domiciliar é eita
por uma euipe de agentes com capacitao especca
direcionada para promover o desenvolvimento inantil.
Tanto nas unidades de saúde, uanto nas visitas domiciliares,
so trabalhados com os responsveis conteúdos sobre
como estimular as crianas, uais servios para a primeira
inncia esto disponveis na comunidade, como avaliar o
desenvolvimento inantil e para onde encaminhlas uando
or detectada a necessidade de ateno especial.
Uma ve ue existe um sistema ue permite acompanhar
todas as crianas com até trs anos de vida4 e ue leva
inormaes relevantes aos seus responsveis, um segundo
nvel de atendimento é voltado para as amlias ue
precisam e demandam do Estado um servio de ateno
à criana oerecido por prossionais em estabelecimentos
como as creches.
A estruturao da poltica de ateno à primeira inncia
em dois nveis coloca a amlia no centro do atendimento
e visa promover e acilitar sua contribuio. A inormao
necessria é levada às amlias em bases universais e o
desenvolvimento de todas as crianas é monitorado. O
servio de creches é oerecido apenas para um subgrupo de
amlias ue realmente preerem ou necessitam, por raes
diversas, desse atendimento uando impossibilitadas de
cuidar e estimular a criana em casa. Vale ressaltar ue
tanto o atendimento direto às amlias uanto o realiado
nas creches precisam estar vinculados aos demais servios
públicos, em particular aos servios de saúde, nutrio,
assistncia social e direitos humanos.
4A idade de atendimento da criança varia nos diversos programas. No Chile
C C ti PIM l i té i
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Crece Contigo e no PIM por exemplo vai até os seis anos
Se a creche é uma alternativa importante a ser considerada
por uma boa parte da populao, ento, é preciso garantir
ue ela obedea a um patamar mnimo de ualidade.
É preciso assegurar às crianas em creches um nvel de
desenvolvimento igual ou superior ao dos cuidados
dispensados por uma amlia devidamente orientada e com
um mnimo de recursos.
Este estudo tem como principal objetivo estimar a
importncia da ualidade dos servios de creche para a
eccia na promoo do desenvolvimento inantil. Para tanto,
estimamos duas importantes relaes bsicas. Em primeiro
lugar, a relao entre o desenvolvimento da criana e a
ualidade da creche, controlando as caractersticas amiliares
e as caractersticas pessoais da criana. A relao estimada
lana lu sobre uo importante é a ualidade da creche
para a eccia na promoo do desenvolvimento inantil.
Em segundo lugar, estimamos a relao entre ualidade das
creches e custos. Ao combinar essas duas relaes estimadas
é possvel, ento, avaliar o custoeccia das creches de mais
alta ualidade.
Para estimarmos estas duas relaes, utiliamos um conjunto
de dados muito especial e pouco utiliado5, abrangendo
uma amostra de cem creches nanciadas publicamente na
cidade do Rio de Janeiro. Este conjunto de dados contém
inormaes sobre a ualidade e o custo das creches,
bem como medidas de desenvolvimento da criana e do
ambiente amiliar.
2. Fote de dados e medidas de qualidade
2.1 Dados
Tradicionalmente, o municpio do Rio de Janeiro prov
servios de creche gratuitos através de dois canais: i) creches
do municpio (administrao do municpio) e ii) ONGs
e servios comunitrios parcialmente nanciados pelo
municpio. Em 2001 o sistema era composto por cerca de 200
creches municipais e 200 ONGs e servios comunitrios ue
recebiam recursos públicos.
5 Exceções são os estudos de Pacheco e colaboradores (2002), Pacheco eD t (2004) P h M ll T i i (2004) P h (2009)
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Dupret (2004) Pacheco Meller e Teixeira (2004) e Pacheco (2009)
Desse total, aproximadamente 25% (cerca de cem creches)
oram selecionados aleatoriamente para serem avaliados.
Em cada uma das creches do Rio de Janeiro na amostra, oi
realiada uma avaliao abrangente dos custos e da sua
ualidade. Foram organiadas visitas de cinco dias a cada
creche com o objetivo de preencher um uestionrio objetivo
detalhado, envolvendo tanto a inormao observacional
uanto as entrevistas com atoreschave. Para avaliar o
custo econômico dos servios oi realiada uma pesuisa
complementar de preos para todos os principais insumos
utiliados na produo destes servios.
No nal, o custo econômico anual de cada creche na
amostra oi estimado, bem como um conjunto de uase 500
indicadores individuais de ualidade estruturados em cinco
macrodimenses, 15 dimenses e 63 subdimenses.6 Com
base nestas inormaes oi possvel estimar uma uno custo,
relacionando os custos unitrios com a ualidade das creches.
Além disso, para cada creche na pesuisa uma amostra de
de crianas oi aleatoriamente selecionada e submetida a
um teste psicolgico com o objetivo de avaliar o seu estgio
de desenvolvimento.7 Mais especicamente, esse teste
ornece inormaes sobre a idade de desenvolvimento
de cada criana, em meses, ao longo de trs dimenses
(mental, sica e social), bem como uma medida global da
sua idade de desenvolvimento. A dierena entre a idade
de desenvolvimento e a idade cronolgica é uma medida
adeuada de desenvolvimento da criana.
Em relao à naturea observacional do estudo, para
subsidiar a avaliao realiamos entrevistas complementares
com as amlias de cada criana na amostra, a m de coletar
inormaes detalhadas sobre suas condies de vida
(como renda amiliar, escolaridade dos pais e atividades no
mercado de trabalho, acesso a bens durveis, condies de
habitao e acesso a servios públicos como eletricidade e
gua encanada, entre outros). Ademais, como uma medida
secundria de ualidade, coletamos inormaes sobre a
percepo subjetiva dos pais sobre a ualidade dos servios
de creche.
6 Ver apêndice ao nal deste texto.
7 A escala utilizada oi o Carto da Criaa, instrumento desenvolvidopelo IPHEM (Instituto de Pesquisas Heloísa Marinho) para acompanhar o
d l l d d
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i t d l i t i til d i d i
Com base nas inormaes disponveis sobre o
desenvolvimento inantil, por um lado, e a ualidade das
creches, os antecedentes amiliares e as caractersticas da
criana, por outro, oi possvel estimar, sob certas hipteses,8
o impacto da ualidade no desenvolvimento da criana, de
acordo com a ualidade das creches, observando a situao
amiliar e as caractersticas individuais das crianas (idade,
raa e sexo). Combinando a uno custo com a relao
ualidade e desenvolvimento da criana, oi possvel, ento,
avaliar a relao custobenecio de uma melhor ualidade
das creches.
A riuea das inormaes disponveis nesta base de
dados contrasta ortemente com o peueno tamanho
da amostra. H mais indicadores de ualidade (perto de
500) do ue creches na amostra (aproximadamente 100).
Conseuentemente, as redues na dimensionalidade de
todos os conceitos empricos no estudo so préreuisitos
para ualuer estimao signicativa. Assim, o principal
desao é a reduo da dimensionalidade de ualidade de
creches, uesto tratada a seguir.
2.2. Reduzido a dimesioalidade da qualidade decreches
Como o número de indicadores bsicos de ualidade (500)
excede em muito o número de creches na amostra (100),
é imprescindvel obter medidas sintéticas de ualidade.9
Uma ve ue os indicadores bsicos de ualidade esto
naturalmente estruturados em cinco macrodimenses, 15
dimenses e 63 subdimenses, procedemos em uatro
passos: i) obtivemos uma medida sintética de ualidadepara cada subdimenso agregando todos os indicadores
8 Condicionada às características da criança e da amília, a qualidade dascreches e outros atores que infuenciam o desenvolvimento da criança sãoindependentes. Reerimo-nos a essa hipótese como exogeneidade condicional da qualidade.
9 Construímos medidas sintéticas simplesmente dando pesos iguais paratodos os indicadores básicos considerados. Usamos também procedimentosestatísticos (componentes principais, análise de correspondência e análiseatorial) para encontrar a melhor combinação linear, no sentido de responder
pela maior parcela da variação total nos dados. Apesar de esses procedimentoscertamente terem um maior apelo estatístico do que médias simples,empiricamente eles acabaram gerando pesos muito próximos de umamédia simples. Por isso, decidimos usar a abordagem mais simples. Deve-se ter em mente que o peso atribuído a cada indicador com base nestesprocedimentos não está necessariamente relacionado à sua importância para
d l i t d i
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o desenvolvimento da criança
bsicos em cada subdimenso; ii) agregamos essas medidas
sintéticas de cada subdimenso em indicadores para cada
dimenso; iii) agregamos ainda mais para obter uma medida
escalar para cada macrodimenso; e iv) agregamos todas as
cinco macrodimenses em um ndice global sintético.10
Como resultado nal, obtivemos para cada creche na amostrauma medida global sintética de ualidade e um conjunto de
indicadores especcos da ualidade ue medem ualidade
ao longo das cinco categorias amplas: i) inraestrutura; ii )
saúde e saneamento; iii) atividades e estrutura do programa;
iv) recursos humanos; e v) pais e relaes comunitrias. As
medidas de ualidade variam entre 0 (pior desempenho) e 1
(melhor desempenho).
A Tabela 1 apresenta para cada uma dessas medidas de
ualidade a média global e a média das creches de baixa
ualidade (20% inerior) e de alta ualidade (20% superior).
Em nosso universo de anlise a ualidade média é 0,43,
variando de 0,28 para o grupo de baixa ualidade (20%
inerior) a 0,57 para o grupo de alta ualidade (20% superior).
Estes resultados indicam a existncia de um elevado grau de
heterogeneidade da ualidade em creches. Contudo, sem
essa variao considervel seria empiricamente impossvel
estimar com preciso o impacto da ualidade da creche no
desenvolvimento inantil.
10 Em todos os casos os procedimentos estatísticos geraram medidas sintéticas
estreitamente correlacionadas com uma média simples.
Dimensão Média globalBaixa qualidade
(piores 20%)
Alta qualidade
(melhores 20%)
Hiato de
qualidade
Medida sintética geral 0,43 0,28 0,57 0,29
Infraestrutura 0,39 0,27 0,51 0,24
Saúde e saneamento 0,45 0,27 0,62 0,34
Atividades e estrutura do programa 0,46 0,26 0,68 0,42
Recursos humanos 0,30 0,16 0,51 0,35
Pais e relações comunitárias 0,60 0,33 0,83 0,49
Tabela 1: Qualidade média de creches financiadas publicamente no
município do Rio de Janeiro, 2001
Fonte: Estimativas produzidas com base na pesquisa "Avaliação dos s erviços de creche no município do Rio de Janeiro, 2001”.
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estreitamente correlacionadas com uma média simples.
A heterogeneidade é também bastante elevada em todas
as cinco macrodimenses. No entanto, é relativamente
menor para a inraestrutura e, em particular, maior para os
pais e relaes comunitrias. Uma anlise da correlao
entre as macrodimenses da ualidade revelou um
elevado grau de associao, o ue diculta isolar o impacto
de cada macrodimenso da ualidade no desenvolvimento
da criana.
3. Avaliado a exogeeidade da qualidade
Para avaliar o impacto da ualidade da creche no
desenvolvimento da criana, o ideal seria ue a distribuio
das creches no estivesse relacionada a outros atores,ue também determinam o desenvolvimento da criana.
Para avaliar a ora desta relao regredimos o logit do
indicador de ualidade global da creche em um conjunto
de caractersticas da criana e da amlia (ver Tabela 2). 11
Os resultados revelam ue, apesar da grande variao de
ualidade entre as creches públicas, a ualidade no est
relacionada a nenhuma medida observada de caractersticas
da criana ou do ambiente amiliar.
Em grande medida, a alta de correlao decorre de trs atores.
O primeiro resulta do ato de ue na cidade do Rio de Janeiro
as creches públicas de melhor ualidade no esto localiadas
em bairros particularmente pobres. Creches de alta e de
baixa ualidade esto dispersas em todas as reas pobres da
cidade. Em princpio, mesmo se as creches ossem distribudas
aleatoriamente por toda a cidade, dentro de cada bairro um
mecanismo de autosseleo poderia ainda levar a vieses. Se
creches públicas de maior ualidade so demandadas portodos, enuanto creches de pior ualidade so deixadas para
uso exclusivamente dos mais pobres, ualidade e ambiente
amiliar poderiam ainda estar correlacionados, mesmo se a
distribuio geogrca das creches no estivesse relacionada
às condies socioeconômicas da comunidade. Os resultados
apresentados na Tabela 2, no entanto, so uma evidncia
clara contra esta conjectura.
11 O logit (p) = log (p/(1-p)).
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g (p) g (p ( p))
O segundo ator é ue existem evidncias claras de ue as amlias
tendem a usar o servio mais prximo. De ato, o tempo médio
gasto pelas amlias no trajeto casacreche é de 14 minutos, com
uase ¾ declarando levar menos de 15 minutos. Além disso, as
chas de inscrio das crianas do municpio indicam ue 84%
de todos os novos candidatos moram no bairro onde se localiaa creche para a ual eles se candidataram.
Por m, a raca relao entre a ualidade das creches e as
caractersticas das crianas e do ambiente amiliar também
est ligada à alta de conhecimento das amlias sobre a real
ualidade das creches. De ato, uma comparao entre a
ualidade observada pelas amlias e uma medida objetiva
de ualidade indica ue a percepo das amlias sobre os
servios no é correlacionada com a sua real ualidade. Os
dados indicam ue a percepo subjetiva da amlia sobre a
ualidade é completamente independente, e exagera, em
muito, a nossa medida objetiva sintética. Sem o conhecimento
adeuado da ualidade dos servios de creche, as amlias,
em geral, e as amlias em melhor situao, em particular, no
poderiam escolher propositadamente creches de melhor
ualidade. Assim, segue a inexistncia de ualuer relao
clara entre a ualidade da creche e as caractersticas das
crianas e do ambiente amiliar.
Conseuentemente, no h grande necessidade de controle
para as disparidades no ambiente amiliar ao se estimar
Coeficiente P-valor (%)
Intercepto -0,272 6
Gênero (masculino) -0,039 21
Raça (branco) -0,018 59
Presença da mãe -0,109 15
Anos de escolaridade do responsável pela criança 0,002 68
Logaritmo da renda familiar per capita (R$/mês) 0,017 50
Número de observações
R 2 - ajustado
Tabela 2: Relação entre o logit do indicador da
qualidade geral das creches, características da
criança e ambiente familiar - Município do Rio de
Janeiro, 2001
Fonte: Estimativas produzidas com base na pesquisa "Avaliação dos serviços de creche no município
do Rio de Janeiro, 2001”.
Variável
-0,001
752
Características da criança
Ambiente familiar
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i d lid d d h d l i
inantil. Além disso, uma ve ue a ualidade da creche no
est relacionada com o ambiente amiliar, ela pode também
no estar relacionada a outros atores no observveis,
responsveis pelo desenvolvimento da criana. Isso mostra
ue os indicadores de ualidade so possivelmente exgenos,
um pressuposto central necessrio para a consistncia das
nossas estimativas de impacto da ualidade da creche nodesenvolvimento inantil.
4. Estimado o impacto da qualidade de crecheso desevolvimeto da criaa
O impacto da ualidade de creches no desenvolvimento
da criana oi estimado considerandose duas abordagens.
Em ambos os casos assumimos ue, entre as crianas com
caractersticas pessoais e ambientes amiliares idnticos, a
ualidade da creche ue reuentavam no estava relacionada
com ualuer outra varivel ue pudesse determinar o seu
desenvolvimento. As duas abordagens dierem apenas na
orma como se mede a ualidade das creches.
Consideramos, em primeiro lugar, apenas o impacto da
medida global de ualidade. Ao avaliar o impacto da ualidade
dos servios de creche no desenvolvimento da criana,
consideramos tanto o impacto sobre o desenvolvimento
inantil global uanto os impactos em cada um dos seus trs
componentes especcos: social, sico e mental. Na segunda
abordagem, estimamos o impacto especco de cada dimenso
da ualidade no desenvolvimento da criana. As estimativas
obtidas encontramse apresentadas nas Tabelas 3 e 4.
MesesDesviopadrão
MesesDesviopadrão
MesesDesviopadrão
MesesDesviopadrão
Qualidade 4,13 1,2 0,17 11 7,92 2,3 0,23 3 1,03 0,3 0,04 70 6,06 1,8 0,18 9
Logaritmo da qualidade 1,78 1,3 0,18 9 3,11 2,2 0,22 4 0,00 0,0 0,00 100 2,54 1,8 0,18 9
Logit da qualidade 0,97 1,2 0,17 11 1,82 2,2 0,22 3 0,17 0,2 0,03 78 1,44 1,7 0,18 9
Qualidade 0,103 1,3 0,18 17 0,206 1,1 0,11 7 -0,009 1,3 0,18 92 0,109 1,5 0,16 30
Logaritmo da qualidade 0,043 1,3 0,18 16 0,079 1,1 0,11 9 -0,017 1,4 0,19 65 0,045 1,6 0,16 30
Logit da qualidade 0,024 1,2 0,18 17 0,047 1,1 0,11 7 -0,004 1,3 0,18 85 0,026 1,5 0,15 30
Social Físico Mental
EspecificaçãoCoeficiente
da regressão
Impacto de frequentar creches de alta
qualidade em oposiçãoà creches de baixa
qualidade em:P-valor
(%)Coeficiente
da regressão
Tabela 3: Impacto da qualidade global da creche no desenvolvimento infantil - Município do Rio de Janeiro, 2001
Idade do desenvolvimento
Log da idade dodesenvolvimento
Notas:
Global
Impacto de frequentar creches de alta
qualidade em oposiçãoà creches de baixa
qualidade em:
Impacto de frequentar creches de alta
qualidade em oposiçãoà creches de baixa
qualidade em:P-valor
(%)
Fonte: Estimativas produzidas com base na pesquisa "Avaliação dos serviços de creche no município do Rio de Janeiro, 2001” (IPEA/UNESA).
Tamanho da amostra: 752 crianças.
Impacto de frequentar creches de alta
qualidade em oposiçãoà creches de baixa
qualidade em:Coeficiente
da regressãoP-valor
(%)Coeficiente
da regressãoP-valor
(%)
O modelo inclui controles para a idade da criança, gênero e raça, presença dos pais, escolaridade do chefe do domicílio e renda per capita.
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Impacto da qualidade global da creche no desenvolvimento
da criança: uma ve ue as especicaes apresentadas na
Tabela 3 produiram resultados muito similares, centramosa nossa ateno sobre a especicao linear mais simples.
No nosso universo de anlise, uando as creches esto
ordenadas por seu nvel global de ualidade, a média
das creches de baixa ualidade (20% inerior) é 0,28 e a
média correspondente das creches de alta ualidade (20%
superior) é 0,57 (ver Tabela 1). Tomamos, ento, como uma
meta para melhorar a ualidade das creches a dierena
(29 pontos percentuais) entre os dois grupos: baixa e alta
ualidade. Assim, na medida em ue um ponto percentualde aumento na ualidade levaria a uma melhoria de 0,04
ms no desenvolvimento da criana, o correspondente a
29 pontos percentuais levaria a uma melhoria de 1,2 meses
(ver Tabela 4), com esta estimativa sendo marginalmente
signicativa (pvalor igual a 11%). Em outras palavras, estima
se ue crianas ue reuentam creches de alta ualidade
tero uma idade de desenvolvimento 1,2 ms superior
àuelas ue reuentam creches de baixa ualidade. Uma
ve ue o desvio padro da idade de desenvolvimento entrecrianas da mesma idade est perto de 7,0 meses, estimase
ue reuentar uma creche de alta ualidade em oposio
a uma creche de baixa ualidade aumentaria a idade de
desenvolvimento da criana em uase 0,17 desvio padro, o
ue pode ser considerado um impacto modesto.12
12
A magnitude desse impacto não é muito dierente das estimativastradicionais obtidas para o impacto da qualidade da escola na aprendizagem.As melhores estimativas disponíveis para o impacto de um proessor de altaqualidade (20% superior) sobre a aprendizagem, em oposição a um proessorde baixa qualidade (20% inerior), também é aproximadamente 0,2 desvio
padrão (ver Barros, 2011).
MesesDesvio
padrãoMeses
Desvio
padrãoMeses
Desvio
padrãoMeses
Desvio
padrão
Infraestrutura -3,74 -0,9 -0,13 36 15,71 3,8 0,38 1 9,76 2,4 0,33 2 4,92 1,2 0,12 39
Saúde e saneamento -4,97 -1,7 -0,24 17 -8,11 -2,8 -0,28 11 -8,66 -3,0 -0,41 2 -8,55 -2,9 -0,30 9
Atividades e estrutura do programa 5,86 2,5 0,35 3 7,60 3,2 0,32 4 -0,04 0,0 0,00 99 7,49 3,1 0,32 5
Recursos humanos 4,78 1,7 0,24 6 -2,07 -0,7 -0,07 55 5,74 2,0 0,28 3 3,28 1,2 0,12 35
Pais e relações comunitárias -0,37 -0,2 -0,03 84 -1,83 -0,9 -0,09 47 -1,29 -0,6 -0,09 50 -1,04 -0,5 -0,05 68
Tabela 4: Impacto de dimensões da qualidade da creche no desenvolvimento infantil - Município do Rio de Janeiro, 2001
Coeficiente
da
regressão
P-valor
(%)
Coeficiente
da
regressão
Global Social
Impacto de frequentar
creches de alta
qualidade em
oposição à creches
de baixa qualidade
em:
P-valor
(%)
Fonte: Estimativas produzidas com base na pesquisa "Avaliação dos serviços de creche no município do Rio de Janeiro, 2001”.
Nota 1: O modelo inclui controles para a idade da criança, gênero e raça, presença dos pais, escolaridade do chefe do domicílio e renda per capita .
Nota 2: Tamanho da amostra: 752 crianças.
Nota 3: R2 varia de 0,64 a 0,66.
Impacto de frequentar
creches de alta
qualidade em
oposição à creches
de baixa qualidade
em:
Dimensão
Físico Mental
P-valor
(%)
Impacto de frequentar
creches de alta
qualidade em
oposição à creches
de baixa qualidade
em:
Coeficiente
da
regressão
Coeficiente
da
regressão
Impacto de frequentar
creches de alta
qualidade em
oposição à creches
de baixa qualidade
em:
P-valor
(%)
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Impacto da qualidade global da creche nos três componentes
(social, ísico e mental) do desenvolvimento da criança:
na Tabela 3 apresentamos também estimativas do impacto
da ualidade geral das creches sobre cada componente
do desenvolvimento da criana (social, sico e mental).
Esta tabela revela ue os eeitos variam consideravelmente
entre os componentes. A ualidade da creche tem um
impacto considervel e estatisticamente signicativo sobre
o desenvolvimento mental e, particularmente, sobre o
desenvolvimento social da criana. Estimamos ue crianas
ue reuentam creches de alta ualidade (20% superior)
tero uma idade mental e social de desenvolvimento entre
1,8 e 2,3 meses (0,18 e 0,23 desvio padro) maior do ue
auelas ue reuentam creches de baixa ualidade (20%
ineriores). O desenvolvimento sico das crianas, por outro
lado, revelouse bastante insensvel à ualidade das creches,
com nossas estimativas de impacto sendo estatisticamente
insignicantes (pvalor de 70%) e de magnitude muito
peuena. Em suma, encontramos evidncias de ue a
ualidade das creches tem um impacto substancial no
desenvolvimento social e mental das crianas, embora no
apresente impacto em seu desenvolvimento sico.
Impacto específco das dimensões de qualidade da crecheno desenvolvimento da criança: as estimativas do impacto
da ualidade da creche no desenvolvimento global, bem
como em cada um dos seus componentes desagregados por
macrodimenses da ualidade, encontramse apresentadas
na Tabela 4. Os resultados indicam ue a signicncia estatstica
e a magnitude dos impactos variam consideravelmente
entre as dimenses da ualidade. De todas as cinco
macrodimenses consideradas, apenas atividades e estrutura
do programa tm um impacto signicativo de magnitudeelevada e consistente sobre o desenvolvimento global, social
e mental das crianas. Neste caso, nossas estimativas indicam
ue crianas ue reuentam creches de alta ualidade (20%
superior) tero uma idade mental e social cerca de 3,0 meses
(0,32 desvio padro) maior do ue auelas em creches de
baixa ualidade (20% inerior) nesta dimenso. O impacto
sobre a medida global do desenvolvimento é de cerca de 2,5
meses ou 0,35 desvio padro. A ualidade da inraestrutura
parece ter um impacto considervel e estatisticamentesignicativo sobre o desenvolvimento social e sico, mas
no sobre o desenvolvimento mental. Nem os recursos
humanos, nem a dimenso pais e relações comunitárias
revelaram um impacto estatisticamente signicativo sobre o
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revelaram um impacto estatisticamente signicativo sobre o
desenvolvimento social ou mental. Os recursos humanos, no
entanto, parecem ter um impacto importante e signicativo
no desenvolvimento sico. Contrariando o senso comum,
também no encontramos evidncias de ue melhorias na
dimenso saúde e saneamento tenham um impacto positivo
em ualuer uma das trs dimenses do desenvolvimento
inantil ue investigamos.
5. O Impacto da qualidade de creches sobreocusto dos servios
Para cada creche na pesuisa temos inormaes
sobre seu custo anual, e estimamos também a relao entre
custo e ualidade. Como na seo anterior, nossa segunda
abordagem tenta medir o impacto individual de cada
macrodimenso de ualidade sobre o custo das creches. Os
resultados obtidos revelam ue o custo unitrio declina com
o tamanho e, portanto, h evidncias de economias de escala
(ver Tabela 5a). Encontramos também evidncias claras
de ue aumentar a ualidade dos servios tem um custo.
Cada ponto percentual adicional na ualidade aumenta o
custo unitrio em 1,9%. Uma ve ue a dierena entre a alta
ualidade (20% superior) e baixa ualidade (20% inerior) dosservios de creche é de 29 pontos percentuais na escala de
ualidade, o custo unitrio dos servios de alta ualidade é
72% maior ue o custo unitrio correspondente para servios
de baixa ualidade.
Coeficiente P-valor (%)
Intercepto 8,6 0
Tamanho da creche
Logaritmo do tamanho da creche (número de
crianças equivalentes em tempo integral)-0,4 0
Qualidade da creche
Função da medida de qualidade global 1,9 0
Impacto sobre os custos de oferecer um serviços de
alta qualidade em oposição a um de baixa qualidade72
Número de observações
R2 - ajustado
Nota: Variável dependente: Logaritimo do custo unitário; resultados apenas para o modelo linear.
Fonte: Estimativas produzidas com base na pesquisa "Avaliação dos serviços de creche no município do
Rio de Janeiro, 2001”.
109
0,33
Tabela 5a: Relação entre custo anual por criança e
qualidade da creche: Município do Rio de Janeiro, 2001
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Entretanto, nem todas as dimenses de ualidade so
igualmente caras. Na verdade, apenas a inraestrutura
(espao sico adicional) e os melhores recursos humanos tm
um impacto estatisticamente signicativo sobre os custos
unitrios. Um ponto percentual de melhoria na ualidade dos
recursos humanos na escala ue usamos aumentaria os custos
unitrios em 1,6%, e um ponto percentual correspondente de
melhoria na inraestrutura aumentaria os custos unitrios em
1,4% (ver Tabela 5b).
Variáveis explicativas Coeficiente
Impacto sobre os custos de
oferecer um serviços de alta
qualidade em oposição a um
de baixa qualidade (%)
P-valor (%)
Intercepto 8,6 0
Tamanho da creche
Logaritmo do tamanho da creche (número de
crianças equivalentes em tempo integral)-0,3 0
Qualidade da creche
Infraestrutura 1,4 40 1
Saúde e saneamento -0,5 -15 27
Atividades e estrutura do programa 0,4 19 21
Recursos humanos 1,6 72 0
Pais e relações comunitárias -0,4 -19 6
Número de observações 109
R2
- ajustado 0,48
Nota: Variável dependente: Logaritimo do custo unitário.
Fonte: Estimativas produzidas c om base na pesquisa "A valiação dos serv iços de c reche no município do Rio de Janeiro, 2001”.
A dierena entre recursos humanos e inraestrutura e as 20%
ineriores e as 20% superiores é, segundo a nossa escala, de 35e 24 pontos percentuais, respectivamente. Portanto, o custo
unitrio de uma creche de alto nvel na ualidade de recursos
humanos seria 72% maior ue o custo correspondente
de uma creche com baixa ualidade nessa dimenso. A
dierena correspondente aos custos de disponibilidade de
inraestrutura é de 40%.
Tabela 5b: Relação entre custo anual por criança e qualidade da creche:
Município do Rio de Janeiro, 2001
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6. Coclusões
Neste estudo utiliamos um rico conjunto de dados contendo
inormaes sobre o custo e a ualidade dos servios de creche,
por um lado, e medidas de desenvolvimento da criana e do
ambiente amiliar, por outro. Com base nessas inormaes,
estimamos o impacto da ualidade dos servios de crechesobre o desenvolvimento da criana e os custos de creche.
Para resumir os resultados encontrados, comparamos os
impactos sobre o desenvolvimento inantil e os custos da
creche de aumentar a ualidade da média dos 20% ineriores
(servios de baixa ualidade) para a média dos 20% superiores
(servios de alta ualidade). No ue di respeito à medida da
ualidade geral das creches, esta dierena é de 29 pontos
percentuais em nossa escala. Encontramos, por um lado,ue o custo de prover servios de creche de alta ualidade
é 72% maior do ue prover servios em sua contraparte de
baixa ualidade. Por outro lado, também constatamos ue
a idade de desenvolvimento das crianas ue reuentam
creches de alta ualidade é 1,2 ms maior do ue auelas
ue reuentam uma creche de baixa ualidade.
Como conseuncia, a m de aumentar o impacto de uma
creche sobre a idade de desenvolvimento da criana em umms através de uma melhoria na ualidade, é necessrio
aumentar a ualidade dos servios em 26 pontos percentuais
e, conseuentemente, seu custo unitrio em 60%. Esta é,
portanto, a relao custoeetividade ue obtivemos para
melhorias na ualidade das creches: um aumento adicional
de 60% nos custos por cada ms na idade de desenvolvimento
da criana.
A ualidade das creches, no entanto, poderia ser melhoradaem muitas dimenses e nem todas tm o mesmo custo ou
impacto no desenvolvimento inantil. Na verdade, poucas
dimenses, mais especicamente a ualidade das atividades
e estrutura do programa, tm um impacto considervel no
desenvolvimento da criana. Mais importante, em geral
as dimenses com maior impacto no desenvolvimento da
criana so auelas com menor impacto sobre os custos.
Assim, uando a melhoria da ualidade pode serimplementada escolhendose cuidadosamente as dimenses,
o seu custo pode ser muito menor e sua eetividade muito
maior. Por exemplo, como j mencionado, um aumento
l b l d lid d t i id d d d l i t
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global da ualidade aumentaria a idade de desenvolvimento
inantil em 1,2 ms e exigiria um aumento de 72% nos
custos. No entanto, se o aumento da ualidade ocar na
melhoria das atividades e estrutura do programa, a idade
de desenvolvimento da criana aumentaria em 3,0 meses,
e isso exigiria apenas um aumento de 6% nos custos. Como
conseuncia, com 1/12 dos recursos podese conseguir um
impacto uase trs vees maior. Comparado a um aumentogeral na ualidade, o custoeetividade de melhorias na
ualidade das atividades e estrutura do programa é 36 vees
mais avorvel.
Por m, vale mencionar ue a melhoria na ualidade
das creches no aeta igualmente todos os domnios
do desenvolvimento da criana. De ato, os resultados
encontrados indicam ue a ualidade tem eeitos
considerveis sobre o desenvolvimento social e mental dascrianas, mas nenhum sobre o seu desenvolvimento sico.
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IMPACTOS DA PRÉ-ESCOLA nO BRASIL
Autor:
André Portela Soua
(Centro de Microeconomia Aplicada / Escola de Economia de So Paulo
/ Fundao Getúlio Vargas)
Email: [email protected]
Resumo
A reuncia à préescola no Brasil ainda no é universal:
alcana menos de 80% das crianas brasileiras. Esse número
é ainda menor entre as crianas cujas mes so menos
escolariadas. Contudo, os gastos públicos em educao
avorecem relativamente mais os alunos da educao
superior ue os de nveis iniciais de educao. Para saber se
pode ser mais eciente em termos de aprendiado realocar
os gastos educacionais de modo a se investir relativamente
mais em educao inantil, é importante mensurar os
impactos da préescola sobre os resultados educacionais
dos alunos. Em particular, mensuramse nesse captulo
os impactos da préescola sobre o atraso escolar e sobre o
aprendiado em matemtica dos alunos da uarta série do
ensino undamental em 2005. Estimase ue, em média,
para uma criana ue aleatoriamente seja colocada na pré
escola, ela apresente uma reduo no atraso escolar de 1,2
ano de atraso e um aumento na procincia de matemtica
de 0,47 desvios padres, o ue corresponde em termos de
aprendiado a trs anos a mais de escolaridade.
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I. Itroduo
A literatura econômica tem enatiado a importncia de
uma inncia saudvel para o bemestar do indivduo. Existe
uma série de evidncias empricas ue indicam ue vrios
resultados econômicos das pessoas adultas, como o estoue
do capital humano, produtividade, salrios etc., dependem
primordialmente de atores associados à primeira inncia.
Muitas habilidades cognitivas e no cognitivas ue so
importantes para uma boa vida adulta so desenvolvidas nos
primeiros anos de vida da pessoa. Por exemplo, Araujo et al.
(2009) apresenta resultados de pesuisas ue documentam
o desenvolvimento cognitivo de uma amostra de crianas
americanas. Eles mostram ue as crianas de mes com
dierentes nveis de educao no apresentam dierencial
de desenvolvimento cognitivo ao nascer, mas o dierencial
cognitivo entre elas passa a ser pronunciado a partir dos
primeiros cinco anos de vida. Surpreendentemente, o
dierencial cognitivo avorvel às crianas de mes mais
escolariadas observado aos cinco anos de idade permanece
inalterado até a adolescncia. Por sua ve, Case e Paxson
(2008) estudam o dierencial de salrios entre trabalhadores
adultos nos EUA e Inglaterra associado ao dierencial de
alturas. As autoras estimam ue uma dierena de uatropolegadas esteja associada a um aumento de 10% nos
salrios. Contudo, esta dierena é eliminada uando se
controla por habilidades cognitivas da pessoa uando
criana. Como altura uando adulto est ortemente
correlacionada com a altura uando criana, e altura uando
criana é um indicador de nutrio, elas interpretam estes
resultados como evidncias ue o dierencial de salrios por
altura capta o dierencial de habilidades dos adultos devido
ao dierencial nutricional uando criana.
Evidncias como estas sugerem ue investimentos na inncia
tm impactos duradouros e ue intervenes apropriadas
na inncia podem mitigar ou mesmo compensar condies
iniciais desavorveis. De ato, Cunha et al. (2005) sumaria
uma série de resultados de estudos sobre intervenes
educacionais na inncia com resultados positivos no longo
prao. Crianas em condies socioeconômicas menos
avorecidas e ue passaram por atividades préescolaresapresentam melhores indicadores de bemestar como
educao, salrio, entre outros, em comparao às crianas
também em condies menos avorecidas, mas ue no
oram estimuladas por atividades préescolares Cunha e
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oram estimuladas por atividades préescolares Cunha e
Heckman (2007) argumentam ue a boa ormao do capital
humano ao longo do ciclo de vida depende de investimentos
corretos em certas habilidades uando elas podem ser
mais bem aduiridas. Muitas habilidades cognitivas e no
cognitivas so mais bem desenvolvidas na inncia e so
importantes para a obteno de outras habilidades uando
adulto. Investimentos adeuados na ase de préescola so
canais relevantes de desenvolvimento dessas habilidades
uando crianas.
Este captulo apresenta algumas evidncias sobre o
investimento na préescola no Brasil e suas conseuncias
sobre a ormao do capital humano das crianas brasileiras.
Para tanto, a Seo II apresenta os dados sobre o acesso e
gastos em préescola no Brasil, a Seo III estima os impactos
da préescola sobre o atraso escolar e o aprendiado dos
alunos no ensino undamental e a Seo IV tra as principais
concluses do captulo.
II. A préescola o Brasil
a. Acesso e Oerta de Pré-Escolas
Em 2005 havia cerca de de milhes de crianas de uatro
a seis anos de idade no Brasil. Destas, 7,1 milhes, o ue
corresponde a 72%, reuentavam préescola. Entre as
ue reuentavam préescola, 72% estavam em pré
escolas públicas e 28% em préescolas privadas. O Brasil
experimentou uma rpida expanso do acesso à préescola
nos últimos anos. Em 1992 apenas 45% das crianas de
uatro a seis anos reuentavam a préescola. Essa expanso
é explicada em parte pelo aumento da escolaridade dos paise, em parte, pelo aumento da oerta de préescolas (Cunha e
Soua (2010)).
Existe ainda, contudo, um desigual acesso à préescola
no pas. Crianas cujas mes so menos escolariadas
tm menores reuncias à préescola. A Figura 1 abaixo
apresenta o percentual crianas de uatro a seis anos ue
reuentavam préescola em 2005 por anos de escolaridade
da me.
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Figura 1
Do total das crianas brasileiras de uatro a seis de
idade, 70% delas so lhas de mes com até oito anos de
escolaridade. A Figura 1 indica ue, do total das crianas
cujas mes no possuem nenhuma escolaridade, apenas
60% delas reuentavam a préescola. Por outro lado, dototal de crianas com mes ue tm educao superior
completa (15 anos ou mais), 90% delas reuentavam a pré
escola. Esta dierena devese tanto ao ato de ue mes mais
escolariadas valoriam mais a educao dos seus lhos bem
como maior escolaridade est associada a maior nvel de
renda amiliar. Portanto, parte desse dierencial devese aos
custos de acesso à préescola.
A oerta de préescola no Brasil ainda é relativamente limitadaem comparao ao ensino undamental e desigualmente
distribuda entre os municpios brasileiros. A média de
préescolas por cada mil crianas de uatro a seis anos de
idade entre os municpios brasileiros é de 12,4 préescolas
(públicas e privadas) por mil crianas em 2004. Contudo, 25%
dos municpios tinham menos de seis préescolas por cada
mil crianas e apenas 5% dos municpios tinham mais de 30
préescolas para cada mil crianas. Por sua ve, a média de
proessores na préescola entre os municpios brasileiros é
de 28,5 proessores para cada mil crianas de uatro a seis
anos; 25% dos municpios tinham menos de 19 proessores
para cada mil crianas e somente 5% deles tinham mais de 50
Fonte: PNAD/IBGE, 2005.
Frequencia à Pré-Escola Por Escolaridade das Mães (%) -
Brasil 2005
50
60
70
80
90
100
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Anos de Escolaridade da Mãe
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b. Gastos Públicos em Pré-Escola
Essa oerta limitada de préescolas é um reexo das polticas
públicas de gastos em educao. O gasto público em educao
no Brasil era de cerca de 5% do PIB em 2005, prximo à média
dos gastos dos pases da OCDE (5,5%). Contudo, esses gastos
so relativamente mais desigualmente distribudos entre osnveis educacionais em comparao aos pases da OCDE. A
Figura 2 abaixo apresenta os gastos públicos por nvel de
educao para o Brasil e pases selecionados em 2005. A
unidade de medida é o gasto por aluno como proporo da
renda per capita do pas.
0
20
40
60
80
100
120
140
Média
OCDE
Brasil Chile México Coréia
do Sul
% P I B P e r C a p i t a
Pré-Escola
Primária
Secundária
Terciária
Todos os pases gastam proporcionalmente mais por aluno
nos nveis superiores de educao do ue nos nveis iniciais e
intermedirios. Anal, educao superior é de ato mais cara.
Contudo, essa dierena é muito mais acentuada no Brasil.Enuanto um aluno em educao superior ou terciria custa
aos pases da OCDE cerca de 40% das suas rendas per capita,
o Brasil gasta 120% de sua renda per capita em cada aluno do
ensino superior. Por outro lado, os pases da OCDE gastam
20% de suas rendas per capita por cada aluno na préescola,
enuanto o Brasil gasta cerca de 10%. O Chile e México,
por exemplo, gastam o dobro disso (20%). Claramente, o
Brasil optou por investimentos públicos em educao ue
privilegiam os nveis mais avanados de educao em relaoaos nveis iniciais e intermedirios.
Figura 2
Gastos Públicos por Nvel de Educao – 2005
Fonte: OCDE, 2005.
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III. Impactos da PréEscola Sobre ResultadosEducacioais da Criaa
Investigase nessa seo o impacto de reuentar a préescola
sobre o atraso escolar e a procincia em matemtica para
os alunos da uarta série do ensino undamental em 2005.
Para tanto, ase uso dos dados do Sistema de Avaliaodo Ensino Bsico do Ministério da Educao de 2005 (SAEB/
MEC). Para uma amostra representativa desses alunos, o
SAEB obtém inormao retrospectiva sobre uando o aluno
entrou na escola, se na creche, na préescola ou no primeiro
ano do ensino undamental. Além disso, obtém inormaes
sobre as caractersticas do aluno e de sua amlia, da escola
e do proessor bem como da notas de desempenhos das
provas de matemtica e portugus.
Se a préescola desenvolve habilidades ue so relevantes
para a obteno de outras habilidades uturas, pode
se esperar ue os alunos ue reuentaram a préescola
apresentem resultados educacionais melhores ue os ue
no reuentaram. Em particular, a préescola pode estimular
hbitos importantes para o aprendiado como disciplina,
ateno, curiosidade, estmulo para aprender etc., de tal
modo ue isso se tradua num uxo escolar mais regular e
uma maior assimilao do conteúdo ensinado.
De ato, os alunos ue reuentaram a préescola esto
menos atrasados em relao à idade correta na uarta
série do ensino undamental e em média tm melhores
desempenhos em matemtica. A Figura 3 abaixo apresenta
as distribuies etrias dos alunos da uarta série por status
de terem ou no reuentado a préescola (coluna esuerda).
A Figura 3 também apresenta as notas médias na prova de
matemtica por idade e status de préescola, separadamente
(coluna direita).
Distribuição por Idade e Proficiência em Matemática dos
Alunos da 4a Série - Brasil 2005
0
10
20
30
40
50
60
8 9 10 11 12 13 14 >15
140
150
160
170
180
190
200
210
220Pré-escola
Não Pré-escola
Proficiência se Pré-escola
Proficência se Não Pré-escola
Figura 3
Fonte: SAEB/MEC, 2005.
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8 9 10 11 12 13 14 >15
Como se v na Figura 3, existe uma maior proporo de
atrasados na uarta série entre os ue no reuentaram a
préescola, em comparao aos ue reuentaram. Entre os
ue no reuentaram a préescola, cerca de 65% tinham até
11 anos de idade. Por sua ve, entre os ue reuentaram,
cerca de 90% tinham até 11 anos de idade.
Em relao à procincia, os alunos ue reuentaram
a préescola tm desempenhos superiores aos ue no
reuentaram para todas as idades, com exceo dos muito
atrasados (13 anos de idade ou mais).
O uanto dessas associaes de préescola com menor
atraso e maior desempenho é causal é uma inormao
undamental para polticas públicas educacionais. Saber sese deve ou no expandir o acesso à préescola, por exemplo,
depende do impacto esperado sobre os resultados desejados.
As correlaes da Figura 3 so resultados de escolhas das
amlias. As amlias dierem em riueas, habilidades e
preerncias, ue esto associadas às dierenas educacionais
dos seus lhos. As correlaes observadas podem no ser
eeitos causais da préescola. Estimar o eeito causal da pré
escola envolve controlar por potencial viés de (auto)seleo
das amlias imbudos nessas correlaes.
a. Metodologia
A m de estimar o impacto da préescola sobre atraso escolar
e procincia, ase uso do modelo de seleo de Heckman
estendido ao modelo de resultados potenciais (Heckman et
al. (2001), Heckman (2001), Heckman e Vytlacil (2005)). Seja
Y1 e Y0 os resultados educacionais potenciais caso o indivduo
tenha reuentado a préescola (Y1) ou no (Y0). Observase apenas um dos possveis estados, Y1 ou Y0. Observa
se também um conjunto de caractersticas individuais
associadas aos resultados educacionais representados pelo
vetor X. Supese ue os resultados potenciais so dados
pelas euaes abaixo:
onde Ui so as caractersticas no observadas dos indivduos
como habilidades, preerncias etc. Seja D(z) a deciso
observada de reuentar ou no a préescola, onde D(z) =
1 se reuentou a préescola e D(z) = 0 caso contrrio. D* é
uma varivel latente ue gera D(z) de acordo com a regra de
Y1 = Xβ1 + U1, Y0 = Xβ0 + U0 e D* = Zθ + UD
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deciso .
z é um conjunto de caractersticas observadas ue inclui X
além de variveis associadas à participao na préescola,
mas no diretamente associada aos resultados educacionais
potenciais. As variveis includas no vetor X so caractersticas
das crianas e de seus pais, caractersticas de suas escolas
e um conjunto de variveis indicadoras do estado de
residncia da criana uando na uarta série. O vetor z
inclui adicionalmente duas variveis associadas ao custo de
reuentar a préescola. So o número de préescolas para
cada 100 crianas de uatro a seis anos de idade e o número
de proessores por préescola no municpio de residncia das
crianas. Essas variveis so indicadoras da oerta local de
préescola e so calculadas pela média dos anos de 1998 a
2001, perodo ue a maioria das crianas de uarta série em
2005 poderia reuentar a préescola. Existe, portanto, uma
restrio de excluso nesse modelo. A oerta local de pré
escola aeta a participao na préescola, mas no impacta
diretamente os resultados educacionais na uarta série.
Supese ue os erros U D, U 1 e U 0 so conjuntamente
normalmente distribudos. So estimados dois parmetros:
(i) O eeito tratamento médio: É o impacto da préescola
caso uma criana osse aleatoriamente escolhida parareuentar a préescola. Condicional a X=x, ele é dado por
)(/)(0101 β β -==-= x x X Y Y E x ATE . O impacto
no condicional pode ser obtido integrando o eeito
condicional ao longo da distribuio de X;
(ii) O eeito tratamento sobre os tratados: É o impacto de
reuentar a préescola sobre as crianas ue reuentaram
a préescola. Condicional a X=x, ele é dado por
Ondei
ρ é a correlao de U i e U D , i =0,1,i
σ é o desvio padro
de U i , i = 0,1, )( θ φ z e )( θ z Φ so as unes densidade e
acumulada da distribuio normal, respectivamente. Por m,
impacto no condicional pode ser obtido integrando o eeito
condicional ao longo da distribuio de X.
[ 1)(,,/)(01
Z D z Z x X Y Y E x ATT ===-=
[ ]/)( 0101 θ β β z U U U E x D -≥-+-=
( ) .)(
)()( 0011
01
θ
θ φ σ ρ σ ρ β β
z
z x
Φ-+-=
D(Z) = 1[D* (Z) ≥ 0] = 1 [Zθ + UD ≥ 0]
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b. Impacto Sobre Atraso Escolar
Os resultados das regresses de reuncia à préescola e
atraso escolar so apresentados na Tabela A.1 do Apndice.
A varivel de atraso escolar é medida em anos de atraso. Um
aluno com de anos de idade tem ero ano de atraso. Com
base nesses coecientes, estimamse o eeito médio e oeeito tratamento sobre os tratados.
A média de anos de atraso entre os alunos da uarta série em
2005 era de 0,7 ano. O eeito tratamento médio da préescola é
de 1,2 ano de atraso. Ou seja, ao se selecionar aleatoriamente
uma criana e colocla na préescola, esperase ue em
média essa criana redua o atraso escolar na uarta série
do ensino undamental em um ano e dois meses e meio. Em
geral, a préescola pode praticamente eliminar o problemade atraso escolar.
Obviamente esse eeito no é homogneo. Entre as crianas
ue reuentaram a préescola, a média de anos de atraso
é de 0,51. Entre as ue no reuentaram a préescola, a
média é de 1,16. A reuncia à préescola é uma escolha
das amlias. As crianas ue reuentaram a préescola
podem ser de amlias mais ricas e com maiores preerncias
por educao. O eeito da préescola entre as crianas uereuentaram a préescola pode ser dierente do eeito
tratamento médio. De ato, o eeito da préescola sobre as
crianas ue reuentaram a préescola (em comparao
com a situao de caso elas no tivessem reuentado a pré
escola) é de 0,35. Ou seja, o eeito de tratamento sobre os
tratados é de reduo do atraso de cerca de uatro meses.
c. Impacto Sobre Proiciência Escola
A Figura 3 mostra ue a dierena de desempenho em
matemtica na uarta série entre os ue reuentaram a
préescola e os ue no a reuentaram é dierente entre as
idades. A partir dos 13 anos parece no haver mais dierena
avorvel aos ue reuentaram a préescola. A seo anterior
demonstrou ue a préescola tem um eeito direto sobre o
atraso escolar. Sabese ue o atraso escolar aeta diretamente
o desempenho dos alunos. Assim, existe um canal da pré
escola sobre o aprendiado através da idade na uarta série.Em outras palavras, idade é uma varivel endgena. A m
de estimar o eeito direto da préescola sobre o aprendiado
(eliminando o eeito indireto via atraso escolar), utiliase
apenas a subamostra de alunos em idade correta na uarta
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apenas a subamostra de alunos em idade correta na uarta
série, isto é, alunos com nove ou de anos de idade. Os
resultados das regresses de participao na préescola e
desempenho em matemtica so apresentados na Tabela A.2
do Apndice.
As notas de procincia em matemtica so normaliadas
para ter média igual a 0 e desvio padro igual a 1. O eeitotratamento médio da préescola sobre a procincia é de
0,47 desvio padro. Em outras palavras, ao se selecionar
aleatoriamente uma criana e colocla na préescola,
esperase ue em média essa criana tenha um aumento na
procincia de matemtica de 0,47 desvio padro. Estima
se ue um aluno brasileiro ao longo do ensino undamental
aprende mais a cada ano cerca de 0,14 desvio padro. O
eeito da préescola, portanto, corresponde a um aumento
de aprendiado de trs anos de escolaridade.
Por m, o eeito da préescola sobe as crianas ue
reuentaram a préescola, i.e. o eeito do tratamento sobre os
tratados, é de 0,57 desvio padro.
IV. Coclusões
Este captulo investiga os impactos da préescola sobre osresultados educacionais das crianas em idade escolar no
Brasil. Investimentos educacionais na inncia tm impactos
duradouros. A literatura especialiada tem enatiado a
importncia da educao inantil sobre resultados uturos
dos indivduos como nvel de educao, salrios etc. Assim,
intervenes apropriadas na inncia podem mitigar ou mesmo
compensar condies iniciais desavorveis dos indivduos.
A reuncia à préescola no Brasil ainda no é universal.Menos de 80% das crianas brasileiras reuentam a pré
escola. Esse número é ainda menor entre as crianas cujas
mes so menos escolariadas. Contudo, os gastos públicos
em educao avorecem relativamente mais os alunos da
educao superior ue os de nveis iniciais de educao. Para
saber se pode ser mais eciente em termos de aprendiado
realocar os gastos educacionais de modo a se investir
relativamente mais em educao inantil, é importante
mensurar os impactos da préescola sobre os resultados
educacionais dos alunos. Em particular, mensuramse nesse
captulo os impactos da préescola sobre o atraso escolar e
sobre o aprendiado em matemtica dos alunos da uarta
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série do ensino undamental em 2005. Estimase ue, em
média, para uma criana ue aleatoriamente seja colocada
na préescola, ela apresente uma reduo no atraso escolar
de 1,2 ano de atraso e um aumento na procincia de
matemtica de 0,47 desvio padro, o ue corresponde em
termos de aprendiado a trs anos a mais de escolaridade.
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Reerêcias
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Apêdice
Tabela A.1
Modelo de Seleo de Heckma
Préescola Aos de Atraso
Frequetou
Préescola
no
Frequetou
Préescola
Variáveis Coe. Erro Padrão Coe.
Erro
Padrão Coe.
Erro
Padrão
Instrumentos
Número de préescolas (por 100
crianas) 0,092 0,017
Número de proessores por préescolas 0,016 0,004
Características do aluno
Homem 0,099 0,017 0,114 0,029 0,322 0,045
Branco 0,081 0,018 0,004 0,030 0,123 0,044
Mora com a me 0,069 0,030 0,205 0,051 0,371 0,059
Mora com o pai 0,055 0,019 0,125 0,032 0,258 0,041
Escolaridade do pai
Nunca estudouNo completou o (antigo)
primrio 0,180 0,051 0,067 0,104 0,036 0,098
Completou o (antigo) primrio 0,288 0,049 0,068 0,108 0,224 0,116
No completou a (antigo) ginsio 0,275 0,055 0,120 0,115 0,215 0,127
Completou o (antigo) ginsio 0,297 0,052 0,106 0,112 0,389 0,125
No completou o ensino médio 0,357 0,074 0,141 0,139 0,035 0,179
Completou o ensino médio 0,385 0,054 0,095 0,118 0,316 0,152
No completou a aculdade 0,393 0,069 0,144 0,131 0,015 0,186Completou a aculdade 0,478 0,051 0,133 0,118 0,333 0,177
No sabe 0,312 0,043 0,044 0,102 0,275 0,115
Escolaridade da mãe
Nunca estudou 0,250 0,054 0,077 0,119 0,474 0,108
No completou o (antigo)
primrio 0,352 0,053 0,110 0,127 0,701 0,129
Completou o (antigo) primrio 0,494 0,058 0,044 0,147 0,830 0,174
No completou a (antigo) ginsio 0,483 0,057 0,092 0,145 0,875 0,171Completou o (antigo) ginsio 0,680 0,073 0,123 0,176 0,890 0,248
No completou o ensino médio 0,756 0,057 0,025 0,168 1,038 0,254
Completou o ensino médio 0,700 0,069 0,081 0,169 0,966 0,255
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N l ld d
Completou a aculdade 0,429 0,050 0,170 0,133 0,839 0,147
No sabe 0,181 0,034 0,151 0,069 0,065 0,084
Características da escola
Pública 0,602 0,024 0,090 0,079 0,743 0,211
Proessor homem 0,036 0,032 0,058 0,054 0,092 0,061
Proessor branco 0,019 0,019 0,016 0,030 0,011 0,038Idade de proessor 0,002 0,001 0,001 0,002 0,002 0,003
Escolaridade do proessor 0,009 0,005 0,008 0,008 0,002 0,010
Salrio do proessor 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Experincia do proessor 0,007 0,002 0,002 0,003 0,002 0,004
Números de alunos na turma 0,002 0,001 0,003 0,002 0,005 0,002
Estados
Rondônia 0,227 0,081 0,348 0,127 0,926 0,191
Acre 0,066 0,085 0,289 0,130 0,754 0,176
Amaonas 0,211 0,086 0,097 0,137 0,226 0,194
Roraima 0,140 0,096 0,319 0,150 0,926 0,200
Par 0,138 0,079 0,022 0,117 0,118 0,173
Amap 0,169 0,081 0,323 0,127 0,588 0,178
Tocantins 0,131 0,086 0,225 0,130 0,451 0,181
Maranho 0,235 0,080 0,232 0,122 0,590 0,186
Piau 0,145 0,082 0,105 0,121 0,568 0,177
Cear 0,004 0,083 0,133 0,117 0,832 0,169
Rio Grande do Norte 0,101 0,083 0,099 0,119 0,746 0,175
Paraba 0,053 0,087 0,020 0,122 0,377 0,181
Pernambuco 0,007 0,085 0,082 0,120 0,610 0,172
Alagoas 0,069 0,081 0,055 0,117 0,368 0,171
Sergipe 0,106 0,083 0,369 0,119 0,232 0,175
Bahia 0,026 0,084 0,059 0,117 0,420 0,168
Minas Gerais 0,228 0,078 0,004 0,111 0,988 0,173
Esprito Santo 0,010 0,085 0,227 0,124 0,924 0,176
Rio de Janeiro 0,084 0,082 0,170 0,118 0,204 0,173
So Paulo 0,063 0,080 0,276 0,115 1,182 0,167
Paran 0,089 0,078 0,582 0,114 1,392 0,167
Santa Catarina 0,103 0,080 0,424 0,117 1,014 0,168
Rio Grande do Sul 0,304 0,075 0,551 0,118 0,924 0,189
Mato Grosso do Sul 0,378 0,077 0,683 0,128 0,986 0,206
Mato Grosso 0,094 0,080 0,419 0,120 1,011 0,171
Gois 0,067 0,078 0,184 0,113 0,914 0,166
Distrito Federal
Constante 0,490 0,132 0,014 0,376 3,619 0,381
Lambda 2 193 0 344 0 037 0 432
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Lambda 2,193 0,344 0,037 0,432
Tabela A.2
Modelo de Seleo de Heckma: no Atrasados 4a Série
Préescola Prociêcia em Matemtica
Frequetou Pré
escola
no Frequetou
Préescola
Variáveis Coe,
Erro
Padrão Coe,
Erro
Padrão Coe,
Erro
Padrão
Instrumentos
Número de préescolas (por 100 crianas) 0,092 0,027
Número de proessores por préescolas 0,004 0,006
Características do aluno
Homem 0,071 0,024 0,123 0,015 0,086 0,037
Branco 0,062 0,025 0,091 0,016 0,047 0,037
Mora com a me 0,046 0,048 0,082 0,031 0,031 0,059
Mora com o pai 0,040 0,028 0,052 0,017 0,022 0,036
Escolaridade do pai
Nunca estudou
No completou o (antigo) primrio 0,160 0,090 0,135 0,072 0,072 0,101
Completou o (antigo) primrio 0,317 0,085 0,356 0,074 0,082 0,126
No completou a (antigo) ginsio 0,278 0,093 0,292 0,077 0,041 0,127
Completou o (antigo) ginsio 0,259 0,088 0,256 0,073 0,135 0,117
No completou o ensino médio 0,350 0,113 0,298 0,087 0,164 0,163
Completou o ensino médio 0,369 0,088 0,412 0,077 0,234 0,143
No completou a aculdade 0,467 0,106 0,462 0,085 0,399 0,191
Completou a aculdade 0,494 0,084 0,417 0,080 0,167 0,176
No sabe 0,339 0,078 0,338 0,072 0,099 0,125
Escolaridade da mãe
Nunca estudou
No completou o (antigo) primrio 0,149 0,103 0,185 0,085 0,113 0,111
Completou o (antigo) primrio 0,238 0,099 0,266 0,085 0,094 0,120
No completou a (antigo) ginsio 0,357 0,105 0,378 0,093 0,012 0,149
Completou o (antigo) ginsio 0,363 0,103 0,313 0,093 0,059 0,150
No completou o ensino médio 0,543 0,119 0,559 0,106 0,154 0,212
Completou o ensino médio 0,597 0,102 0,603 0,102 0,082 0,212
No completou a aculdade 0,604 0,113 0,609 0,104 0,109 0,226
Completou a aculdade 0,567 0,101 0,575 0,099 0,079 0,206
No sabe 0,310 0,095 0,353 0,087 0,060 0,131
Características da escola
Rural 0,193 0,050 0,142 0,041 0,121 0,082
Pública 0,459 0,032 0,750 0,040 0,718 0,155
Proessor homem 0 078 0 049 0 119 0 031 0 053 0 064
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Proessor homem 0 078 0 049 0 119 0 031 0 053 0 064
Proessor branco 0,040 0,027 0,064 0,016 0,021 0,036
Idade de proessor 0,004 0,002 0,002 0,001 0,002 0,003
Escolaridade do proessor 0,008 0,007 0,021 0,004 0,013 0,009
Salrio do proessor 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Experincia do proessor 0,010 0,003 0,007 0,002 0,003 0,005
Números de alunos na turma 0,003 0,002 0,000 0,001 0,003 0,002Estados
Rondônia 0,453 0,120 0,493 0,075 0,524 0,217
Acre 0,204 0,129 0,428 0,072 0,560 0,182
Amaonas 0,267 0,138 0,516 0,078 0,635 0,201
Roraima 0,258 0,141 0,471 0,081 0,595 0,198
Par 0,293 0,122 0,527 0,066 0,754 0,187
Amap 0,228 0,123 0,747 0,068 0,783 0,179
Tocantins 0,309 0,130 0,514 0,072 0,642 0,194Maranho 0,388 0,121 0,598 0,068 0,759 0,197
Piau 0,343 0,123 0,549 0,067 0,645 0,190
Cear 0,222 0,124 0,593 0,063 0,863 0,171
Rio Grande do Norte 0,117 0,122 0,677 0,062 0,789 0,168
Paraba 0,045 0,132 0,381 0,064 0,633 0,178
Pernambuco 0,246 0,126 0,383 0,065 0,715 0,180
Alagoas 0,220 0,123 0,576 0,064 0,803 0,180
Sergipe 0,067 0,132 0,501 0,065 0,603 0,178
Bahia 0,208 0,127 0,325 0,064 0,723 0,175
Minas Gerais 0,008 0,116 0,156 0,057 0,324 0,156
Esprito Santo 0,192 0,124 0,113 0,066 0,372 0,177
Rio de Janeiro 0,008 0,133 0,117 0,065 0,440 0,181
So Paulo 0,160 0,116 0,259 0,060 0,463 0,166
Paran 0,315 0,113 0,046 0,062 0,197 0,183
Santa Catarina 0,276 0,117 0,215 0,062 0,170 0,176
Rio Grande do Sul 0,448 0,111 0,404 0,066 0,288 0,206
Mato Grosso do Sul 0,539 0,114 0,299 0,073 0,309 0,228
Mato Grosso 0,285 0,120 0,544 0,066 0,495 0,184
Gois 0,303 0,116 0,390 0,063 0,603 0,182
Distrito Federal
Constante 0,199 0,206 1,202 0,204 0,786 0,488
Lambda 0,457 0,256 0,151 0,407
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