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Apostilas de Filosifia Da Educacao (1)

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Filosofia da Educação

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    PRESIDENTE DA REPBLICA Luiz Incio Lula da Si lva MINISTRO DA EDUCAO Fernando Haddad GOVERNADOR DO ESTADO DO PIAU Jos Well ington Barroso de Arajo Dias REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU Luiz de Sousa Santos Jnior SECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIA DO MEC Carlos Eduardo Bielschowsky COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL Celso Jos da Costa DIRETOR GERAL DO CENTRO DE EDUCAO ABERTA A DISTNCIA DA UFPI Gildsio Guedes Fernandes DIRETOR DO CENTRO DE CINCIAS DA EDUCAO Jos Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho COORDENADOR DO CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE DE EaD Vera Lcia Costa Olivei ra COORDENADORA DA PRODUO DO MATERIAL DIDTICO DO CEAD/UFPI/UAPI Cleidinalva Maria Barbosa Olivei ra DIAGRAMAO Thamara Lisyane Pires de Olivei ra COORDENADOR DE REVISO DE TEXTO Nazioznio Antonio Larcerda REVISO Augisiana Meneses

  • 3

    Este texto destinado aos estudantes aprendizes que

    participam do programa de Educao a Distncia da Universidade

    Aberta do Piau (UAPI), vinculada ao consrcio formado pela

    Universidade Federal do Piau (UFPI); Universidade Estadual do

    Piau (UESPI); Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia

    do Piau (IFET-PI), com apoio do Governo do estado do Piau,

    atravs da Secretaria de Educao.

    A filosofia da educao enquanto uma disciplina no campo da

    formao do educador, professor e pedagogo, objetiva contribuir

    com a construo de uma base terico-conceitual que d

    sustentao ao docente como prxis. Isto, considerando-se a

    especificidade da filosofia ao tratar a realidade na busca de

    apreender o sentido que, historicamente, lhe institudo, bem como

    em seu processo de instituio.

    Com esta viso de realidade, em confronto constante entre o

    que , com o vir a ser, decorrente do movimento histrico da

    existencialidade humana. O conhecimento em sentido amplo

    legitimado, bem como, possibilita a produo de novos

    conhecimentos, levando os profissionais da educao a buscarem

    novos e diferenciados modos de trabalhar o processo de ensino e

    aprendizagem.

    Desta forma, este texto em sua multidimensionalidade visa

    desenvolver o esprito da pesquisa na realizao do princpio do

    ensinar-aprender dentro da especificidade da Filosofia da Educao,

    tendo sua estrutura disciplinar organizada em seis captulos, da

    seguinte forma:

  • 4

    Unidade 1: A Especificidade da Filosofia. Como Filosofar:

    analisa os modos de se instituir sentido realidade, distinguindo-os

    em suas caracterizaes especficas, como: filosfica, cientfica e o

    senso comum, dando nfase ao processo de produo do

    conhecimento filosfico.

    Unidade 2: As Questes do Conhecer e o Estatuto da

    Filosofia: as racionalidades histricas: abordam a gnese do

    conhecimento, as questes do conhecer segundo uma perspectiva

    histrica, que visam explicar sua produo pela razo humana,

    desde os tericos clssicos ps-modernidade.

    Unidade 3: Filosofia da Educao: conceito, tarefas e

    educabilidade humana: apresenta a filosofia da educao como

    campo de conhecimento e sua contribuio para o entendimento das

    finalidades do educar e das inflexes com que o exerccio do

    filosofar pensa a educao.

    Unidade 4: As Orientaes Filosficas e as Teorias

    Educacionais: discute a importncia da teorizao da educao

    como uma atividade do trabalho pedaggico, apresentando a

    vinculao entre as concepes de ser humano e as propostas

    formativas.

    Unidade 5: A Filosofia da Educao no Brasil: situa a

    discusso da filosofia da educao na realidade educacional

    brasileira, explicitando as abordagens terico-filosficas que

    orientam o exerccio de filosofar. Em um segundo momento, analisa

    as abordagens poltico-ideolgicas com que as propostas de

    educao vm sendo aplicadas no Brasil.

    Unidade 6: A Filosofia na Formao Docente: discute a

    relao teoria e prtica na formao docente e as implicaes

    ticopolticas e estticas, do ser e do fazer docente.

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    Diante desta perspectiva de construo de conhecimento da

    natureza do exerccio do filosofar. Este texto objetiva orientar o

    estudo de apropriao e aprofundamento da cultura filosfica e dos

    procedimentos prprios ao exerccio do filosofar, em sua articulao

    com a formao docente, de forma menos fragmentada, permitindo

    uma viso de totalidade da especificidade das abordagens

    enfocadas.

    Assim, partindo-se dessas caracterizaes supra esta

    proposta disciplinar de Filosofia da Educao ministrada distncia,

    procura acompanhar as inovaes tecnolgicas no campo das

    comunicaes e informao, desenvolvendo os recursos de

    interatividade entre o discente e o tutor.

    Boas leituras Filosficas!!!!!!!!!!!!!!

  • 6

    UNIDADE 1: A ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA. COMO

    FILOSOFAR? ...................................................................... 08

    1.1. Orientao ao estudo de Filosofia............................................. 10

    1.2. O Filosfico, o Cientfico e o Senso Comum ............................. 10

    1.3. Gnese e Conceito de Filosofia: a atitude e a reflexo

    filosfica ........................................................................................... 13

    UNIDADE 2: AS QUESTES DO CONHECER E O ESTATUTO DA

    FILOSOFIA: AS RACIONALIDADES HISTRICAS ............................ 17

    2.1. Gnese do Conhecimento: racionalismo e ceticismo ................ 19

    2.2. Racionalismo Emprico, Racionalismo Idealista, Romantismo .. 22

    2.3. Razo: posies histricas ....................................................... 24

    2.3.1 Razo e Pensamento: mtodo ................................................ 27

    2.3.2 Pensamento, Verdade e Ideologia .......................................... 29

    UNIDADE 3: FILOSOFIA DA EDUCAO: CONCEITO, TAREFAS E A

    EDUCABILIDADE HUMANA ........................................................................ 34

    3.1. O Ser e o Vir a Ser Humano: a educabilidade .......................... 37

    3.2. Exerccio do Filosofar na Educao: as inflexes filosficas .... 39

    3.3. Pedagogia: o Projeto Educativo ................................................ 41

    UNIDADE 4: AS ORIENTAES FILOSFICAS E AS TEORIAS

    EDUCACIONAIS ............................................................................................ 45

    4.1. A Teorizao no campo educacional: conceito e funo

    da Pedagogia ................................................................................... 47

    4.2. As Ontologias do ser humano e as Abordagens Filosficas da

    Educao ......................................................................................... 48

    4.2.1 Abordagens Essencialistas da Educao ............................... 51

  • 7

    4.2.2 Abordagens Positivistas, Existencialistas e Histrico-Crticas

    da Educao .................................................................................... 54

    4.2.3 Abordagens Sistmicas da Realidade Educacional ................ 62

    4.2.4 Abordagens Filosficas Emergentes ...................................... 64

    UNIDADE 5: A FILOSOFIA DA EDUCAO NO BRASIL. .....................68

    5.1. A Tradio Filosfica da Educao Brasileira ........................... 70

    5.2. O Discurso Ideolgico na Educao Brasileira ......................... 77

    5.2.1 Conceituando a Ideologia ....................................................... 79

    5.3. As Contradies Poltico-Ideolgicas do Discurso sobre a

    Educao ......................................................................................... 84

    UNIDADE 6: A FILOSOFIA NA FORMAO DOCENTE .............. 91

    6.1. A Relao Teoria e Prtica na Formao Docente ................... 93

    6.2. As Dimenses ticopolticas e Estticas da Prtica Educativa 95

    Referncias Bsicas ...................................................................... 100

    Dicionrios ..................................................................................... 104

    Revistas ........................................................................................ 103

    Sites ............................................................................................... 104

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    UNIDADE 1: A ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA. COMO

    FILOSOFAR? ..................................................................... 08

    1.1. Orientao ao estudo de Filosofia ............................................ 10

    1.2. O Filosfico, o Cientfico e o Senso Comum ............................ 10

    1.3. Gnese e Conceito de Filosofia: a atitude e a reflexo

    filosfica ........................................................................................... 13

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    1.1. Orientao ao Estudo de Filosofia

    Os hbitos que se devem desenvolver para que o estudo

    sobre determinado assunto proporcione um aproveitamento

    satisfatrio, so definidos a partir da natureza do conhecimento. Um

    conhecimento de constituio terica, em que predomina o

    raciocnio abstrato, argumentativo, exige a aquisio de um estilo

    de leitura analtica, interpretativa e crtica, com vista produo de

    argumentaes prprias, articuladas com o pensamento dos tericos

    usados como suporte e a realidade concreta em que se vive.

    Antecedendo ao momento de sistematizao do produto da

    leitura, a qual deve ser assimilada com o hbito do ato de ler. O

    leitor cria um banco de termos significativos, retirados do texto,

    ampliando o prprio vocabulrio; procura localizar os dados

    biogrficos dos tericos citados no transcorrer do texto, enfatizando

    a produo do mesmo sobre o assunto estudado. Em seguida,

    centrando-se no contedo, procura identificar o tema central

    discutido, a problematizao com que o autor discute o tema, bem

    como, as argumentaes que sustentam o pensamento do autor.

    Aps a realizao das etapas citadas, o leitor ganha

    condies para elaborar o prprio questionamento, articulando a

    compreenso que teve do assunto lido com o entendimento da

    realidade que vive e com a realidade que quer adquirir uma

    formao mais sistemtica e consistente.

    1.2. O Filosfico, o Cientfico e o Senso Comum

    O ser humano em sua constituio antropopsicossocial e

    cultural requer, para uma existncia propriamente humana,

    diferenciando-o dos demais animais, a produo de recursos

    materiais e no materiais, concentrando-se os primeiros na

    tecnologia, em seus momentos mais simples at s esferas mais

    sofisticadas da atualidade.

    Raciocnio abstrato um tipo de pensa-mento elaborado somente com conceitos, sem o recurso dos dados concretos, evitando as interferncias acidentais.

  • 11

    Para Saber Mais

    Para saber mais sobre Filosofia acesse:

    Domnio Pblico - http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa Enciclopdia Simpozio - http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/

    Mundo dos Filsofos - http://www.mundodosfilosofos.com.br/

    Wikipdia http://www.wikipedia.org/wiki/Filosofia

    A modalidade dos recursos no materiais refere-se

    produo de sentido, conceitos, pensamento, linguagem, que, por

    sua vez, vo expressar as normas, o conhecimento de uma forma

    geral. Constitui a dimenso simblica, do imaginrio, da

    imaginao, com que o ser humano elabora e expressa sua

    compreenso de realidade, bem como, sua prtica e agir no mundo.

    Dentro desta produo simblica da realidade e da atuao

    no mundo, distinguem-se tipos ou nveis de elaborao de sentido e

    significado, que se constituem nas diversas modalidades do ser

    humano interagir com o mundo natural, humano e com ele mesmo.

    Sendo essas modalidades de carter do senso comum, mtico,

    mstico, artstico, filosfico e cientfico. Entre os critrios que definem

    a diferena entre estes modos do pensar e expressar humano pode-

    se destacar as exigncias de formalidade, a abrangncia social do

    reconhecimento da validade e os procedimentos necessrios para

    elabor-los.

    A formalidade como um dos critrios, situa-se na linguagem

    empregada na sistematizao e externalizao do sentido da

    realidade. Caracterizando-se como formal e informal, segundo os

    preceitos scio-histricos e culturais do contexto em que se origina.

    Nestas condies, considerando o carter das interaes supra,

    DIMENSO SIMBLICA Expressa a realidade como uma relao de sentido institudo em um contexto cultural.

    O TERMO SENTIDO est sendo usado como a compreenso elaborada de alguma coisa.

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    seguindo o grau crescente de formalidade, tm-se: o senso comum,

    mtico, mstico, artstico, filosfico e cientfico.

    Quanto ao critrio de abrangncia social do reconhecimento

    da validade, referindo-se garantia de certeza da interpretao,

    explicao e expresso da realidade natural e humana, podem-se

    enumerar as modalidades de interaes na seguinte ordem

    crescente: mtico, mstico, artstico, senso comum, filosfico e

    cientfico.

    Em relao ao critrio de procedimentos, visto como a

    exigncia de instituir, objetivamente, meios, mtodos para elaborar a

    interpretao, a explicao e a externalizao do sentido da

    realidade, constata-se que as modalidades de interaes humanas

    se reduzem ao filosfico e cientifico.

    Dessas duas modalidades, o filosfico alm de distinguir-se

    do cientfico pelo estilo metodolgico em que apresenta uma

    diversidade de procedimentos, todos vlidos para interpretar e

    expressar o sentido da realidade, tambm, apresenta diferenas no

    tipo de certeza que proporciona. Assim, constata-se na perspectiva

    histrica a aceitao social de modos excludentes de apreenso da

    realidade.

    Ressalta-se, entretanto, que as diferenas na elaborao das

    modalidades de perceber, interpretar e apreender a realidade, no

    determinam a anulao de nenhuma dessas modalidades. Podendo-

    se mesmo, afirmar uma correlao entre os modos: filosfico,

    cientfico e do senso comum.

    Com a caracterizao das modalidades do ser humano

    interagir com o mundo natural e humano, e consigo mesmo. Aborda-

    se, em seguida, a especificidade do racionalizar filosfico em relao

    aos demais modos de racionalidades, explicitando o que a faz ser

    O TERMO REALIDADE: Expressa a existncia das coisas de forma objetiva e subjetiva.

  • 13

    um campo de conhecimento que institui relaes e interconexes de

    sentido entre a percepo humana e a realidade.

    1.3. Gnese e Conceito de Filosofia: A Atitude e a Reflexo

    Filosfica

    Para um entendimento da especificidade do modo de pensar

    filosfico, pode-se recorrer ao momento histrico que vem sendo

    tomado como da sistematizao de um novo conjunto de princpios,

    conceitos, condies e finalidades, instalado entre os sculos VI e V

    no mundo grego.

    Nesta poca, o modo tradicional do ser humano responder s

    indagaes sobre as realidades - natural e humana -, demonstrava

    certo esgotamento na capacidade de convencimento. Sendo um

    modo institudo na linguagem mtica de representao da

    realidade, que distanciava as respostas dadas, do raciocnio

    argumentativo-discursivo que expressa, de fato, o modo de

    sistematizar o pensar e a externalizao do pensamento humano.

    O surgimento e a consolidao desse novo estilo de elaborar

    o pensamento traduzem um novo modelo de organizao social,

    poltica e cultural da Grcia Antiga. Com isso, mudanas na

    finalidade de se fazer a transmisso da cultura nessa poca

    significando o prprio processo educativo do povo grego , do que

    seja cultura e no modo de proceder transmisso cultural.

    Nesse contexto de mudanas conceituais e de procedimentos

    do pensar, as dvidas e os questionamentos voltam-se para a

    A LINGUAGEM MTICA elaborada usando alegorias, figuraes significativas em uma tradio cultural.

    Para Saber Mais

    Veja alguns textos sobre filosofia e os filsofos no endereo -

    http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/textos.htm

    http://www.cobra.pages.nom.br/filcont.htm

  • 14

    formao humana nas dimenses sociopolticas de sua

    existencialidade no mundo e nas organizaes socioculturais. Tais

    inquietaes personalizam-se na atuao dos sbios ou sofistas e

    nos chamados propriamente filsofos primeiros.

    A diferena essencial entre essas duas personagens

    histricas da filosofia encontra-se no modo de conduzir o exerccio

    do pensar e na determinao dos fins a que deve atender.

    Os sofistas ocupavam-se com uma prtica discursiva,

    argumentativa do convencimento, da persuaso, destituda da

    preocupao com a verdade, no sentido de expressar a essncia do

    ser.

    Eles conduziam o discurso aceitao imediata e

    circunstancial, o que possibilitava a mudana da argumentao sem

    comprometimento dos fins a que se dirigiam. Os filsofos, por sua

    vez, prezavam pelo discurso verdadeiro, que expressasse o ser em

    sua essncia, sem os traos acidentais, circunstanciais adquiridos

    em suas relaes com o mundo e com os outros.

    Desses dois modos de conduzir a construo e os fins do

    pensar humano, sobressai-se, como propriamente filosfico, o

    procedimento que se volta para a busca da verdade enquanto

    expresso da essencialidade dos seres e das manifestaes de

    sentido de ser da realidade.

    Por essa inteno de atingir o sentido primeiro que expressa a

    constituio e a finalidade prpria dos seres e da realidade, a

    filosofia se faz a partir de uma atitude questionadora e crtica,

    levando o ser humano a um processo de desconstruo dos

    conceitos, das convices e das certezas, historicamente,

    consolidadas.

    A atitude filosfica comea pela necessidade de se elaborar

    interpretaes e compreenses que demonstrem argumentaes

    Sofistas que se destacaram: Protgoras de Abdera; Grgias de Lencio, Hpias de Elide.

  • 15

    consistentes quanto ao sentido de ser da existencialidade dos seres

    humanos, dos demais seres e de suas manifestaes.

    O vivenciar desta atitude, exige que se avalie a constituio

    conceitual dos seres e de suas manifestaes, historicamente,

    institudas, buscando atingir o princpio de ser e os fins que os fazem

    da forma como se expem. A atitude avaliativa em que se elabora o

    julgamento, um dos movimentos do ato de pensar, na perspectiva

    filosfica, constitui o momento da crtica, que deve se processar com

    rigor, abrangendo a realidade pensada como um todo, de forma a

    expressar um sentido de ser primeiro, em sua singularidade de

    origem.

    Para Refletir

    Que necessidade o ser humano tem para elaborar conhecimentos

    no materiais, considerando-se que sua ao no mundo

    marcada pela pragmaticidade de realizaes imediatas e

    circunstanciais?

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    Atividades

    1 Discuta a diferena entre as modalidades de pensar: do senso

    comum, filosfica e cientfica.

    2 Explique o procedimento do pensar filosfico na produo de

    sentido da realidade.

    3 Discuta a diferena da postura dos sofistas e a postura dos

    filsofos.

    4 Que tipo de conhecimento deve predominar na formao

    profissional docente?

    Saiba Mais

    Verifique a bibliografia abaixo:

    GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da histria da filosofia. 34. ed. So Paulo: Cia das Letras. 1995.

    PLATO. Apologia de Scrates. 18. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d.].

    SOUZA, Jos Cavalcante de. Os Pr-Socrticos: fragmentos, doxografia e comentrios. 4. ed. So Paulo: Nova Cultural, 1989.

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  • 18

    UNIDADE 2: AS QUESTES DO CONHECER E O ESTATUTO DA

    FILOSOFIA: AS RACIONALIDADES HISTRICAS ............................ 17

    2.1. Gnese do Conhecimento: racionalismo e ceticismo ................ 19

    2.2. Racionalismo Emprico, Racionalismo Idealista, Romantismo .. 22

    2.3. Razo: posies histricas ....................................................... 24

    2.3.1 Razo e Pensamento: mtodo ................................................ 27

    2.3.2 Pensamento, Verdade e Ideologia .......................................... 29

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    No captulo anterior, descrevem-se as modalidades de

    interao do ser humano com o mundo natural e humano em sua

    tipologia formal: mtico, senso comum, filosfico e cientfico.

    Essas modalidades constituem-se, de fato, nos tipos de

    conhecimentos elaborados, todos expressando formalidades

    prprias, bem como, graus de abstraes da realidade objetiva na

    busca de esclarecimentos, explicaes do sentido de ser do

    percebido. Destituindo-se da abstrao da realidade, as

    intervenes de sentido mais imediatas e cotidianas, para atingir

    uma compreenso mais universal, de abrangncia espao-temporal

    mais ampla.

    Com a afirmao de que o conhecimento resulta de um

    processo de construo, expondo-se em modalidades diversas e

    com apreenso diversificada da realidade humana e natural, surge,

    ento, a curiosidade de saber como o ser humano constri esses

    conhecimentos.

    2.1. Gnese do Conhecimento: Racionalismo e Ceticismo

    As explicaes historicamente elaboradas tomam como

    questo central a capacidade do ser humano atingir a realidade nela

    mesma, em sua substancialidade, o que significaria a abstrao do

    sentido verdadeiro da realidade admirada. Nesta perspectiva,

    destacam-se algumas posies entre os pensadores que se

    ocuparam com essa busca, em determinados momentos histricos

    do conhecimento filosfico.

    Entre uma das primeiras posturas resultantes dessa

    admirao, encontram-se os pensadores denominados pr-

    socrticos. A realidade admirada por estes pensadores, sbios na

    poca, era percebida constituda por duas naturezas: a physis

    grega, expressando tudo que existe, sem interveno humana, at o

    prprio ser humano e a ordem natural em si; e, o nomos grego, que

    ABSTRAO: Atividade do esprito, em que retira, separa da ambincia o que se quer compreender em sua consistncia ou constituio particular de sentido.

    REALIDADE OBJETIVA: as coisas percebidas pelos sentidos, que tm suas existncias definidas, exteriores ao sujeito do conhecimento.

    O nomos grego: refere-se ao mundo da cultura, da norma, simblico, criado pelos humanos. A physis grega: refere-se natureza, o mundo no criado pelos humanos.

  • 20

    significa a realidade criada pelo homem, a ordem cultural, o mundo

    simblico das convenes humanas.

    Estas duas posturas dos pensadores pr-socrticos

    inauguraram o modo racional, argumentativo e discursivo, de se

    elaborar a apreenso da realidade e de express-la. Eram os fsicos

    explicando os fenmenos da natureza de forma especulativa, sem a

    constatao de fato, instituindo trs campos de conhecimento a

    meteorologia, a cosmologia e a cosmogonia; ou, inferindo sobre a

    constituio primeira de tudo que existe, o princpio primeiro, que

    dota de existncia as coisas, tais como elas so. a arch grega.

    Esta procura pelo primeiro princpio constitutivo e explicativo

    do tudo que existe, fez surgir pensadores que se aproximam a partir

    da concepo que defendem, sobre qual seja este princpio ou

    causa primeira da qual tudo se origina.

    Assim, tm-se, entre os sculos VII e VI a.C., os jnicos, da

    cidade de Mileto, fundada por Tales de Mileto; os pitagricos,

    escola fundada por Pitgoras de Samos; os eleticos, fundada por

    Xenfanes, cidade da Elia; e, os atomistas, fundada por Lucipo e

    consolidada por Demcrito.

    Os sbios que se voltam para a realidade dos nomos, da

    realidade criada pelos e para os seres humanos, autodenominaram-

    se de sofistas, no sculo V a.C.. A atuao dos sofistas centrava-se

    na elaborao do discurso como uma prtica educativa, tendo como

    finalidade preparar o cidado adequado s novas exigncias do

    contexto sociopoltico e cultural ateniense.

    A prtica desses sbios, por se caracterizar como

    desprendida dos questionamentos e busca da verdade, bem como,

    por se fazer na formalidade do discurso persuasivo, historicamente,

    mesmo influenciando o campo da educao, no vista como uma

    prtica de natureza filosfica.

    Tales de Mileto Fonte: Google-imagens

    Pitgoras Fonte: Google-imagens

  • 21

    Simultnea prtica dos sofistas, os pensadores

    propriamente filsofos desenvolvem seus estilos de elaborar o

    sentido de ser da realidade, nesse momento, mais humana do que

    natural. Dessa forma, surge um novo procedimento para se buscar o

    sentido de ser dos seres humanos e no-humanos, definindo o qu,

    para qu e o porqu de suas existncias. Classicamente, so

    citados como representantes desta poca: Scrates, Plato e

    Aristteles.

    A preocupao em explicar o sentido e constituio do que

    existe. Surge com a admirao da realidade natural, percebida

    objetivamente pelos sentidos humanos, sem uma distino muito

    precisa entre o percebido e a realidade de fato, ou seja, entre o

    pensado e a verdade, torna-se, com os filsofos, uma elaborao

    argumentativa e discursiva que deve expressar a verdade.

    Essa crena, de que o pensamento constri o sentido

    verdadeiro da realidade, certeza atingida, de formas diferenciadas,

    por esses filsofos primeiros, questionada por pensadores que

    duvidam da capacidade da razo abstrair o sentido mesmo da

    realidade. Porque toda proposio que se elabore em relao

    natureza da realidade, conduz a novos questionamentos.

    Por essa postura filosfica denominada de ceticismo, termo

    grego que significa investigao, busca de dados que garanta a

    veracidade, a abstrao do sentido da realidade, procede por

    etapas: a suspenso do juzo (epoch), a insistncia na investigao

    da certeza (ztesis) e o atingimento da tranquilidade do esprito

    (ataraxia), acomodando-se aos limites da condio do pensar

    humano na apreenso do sentido mesmo da realidade.

    Os pensadores clssicos desse modo de pensar foram Pirro e

    Sexto Emprico, sendo que, influenciaram o estilo de ser filosfico

    que surge em confronto com o dogmatismo imposto pelo domnio

    Ceticismo: Postura filosfica que questiona o alcance da razo humana em relao definio da verdade.

    Santo Agostinho Fonte: Google-imagens

  • 22

    dos religiosos, no campo do conhecimento, como o agostianismo e

    o aquinismo.

    At esse momento histrico, que abarca dos pr-socrticos ao

    Renascimento, visto por essa perspectiva de apreenso de sentido

    da realidade natural e humana, os filsofos procuram expressar o

    conhecimento, sem se voltarem para explicar a construo do ato de

    conhecer. Modo filosfico de proceder que predomina at o sculo

    XIV, quando insurge um confronto de ideias entre as concepes

    dogmticas e concepes fundadas na crtica, na dvida diante da

    natureza da certeza historicamente hegemnica.

    2.2. Racionalismo Emprico, Racionalismo Idealista,

    Romantismo

    Com esta postura dos pensadores, so introduzidos os

    elementos bsicos que determinam a ruptura entre o pensar a

    realidade, segundo os modos clssico e helenstico, e, sob a

    influncia de interpretaes desses modos, que caracterizam o ser

    medivico.

    Inicia-se, ento, o exerccio filosfico, que institui como

    realidade pensada o ato mesmo de conhecer, com a busca de

    explicao, esclarecimento mais preciso da origem das ideias. Do

    como se processa o conhecimento? Qual o alcance do pensar

    humano na apreenso da realidade verdadeira? Em que se

    fundamenta o pensamento para garantir a certeza?

    Com esse questionamento, surge uma interpretao

    dicotmica da constituio do ato de conhecer, dando funes

    distintas aos sentidos e razo, da mesma forma, em relao

    origem das ideias, durante o processo de elaborao do

    conhecimento verdadeiro.

    Essa dicotomia interpretativa gera o racionalismo emprico,

    explicando o conhecimento como resultante das sensaes providas

    AGOSTIANISMO: atitude filosfica instituda por Santo Agostinho.

    So Toms de Aquino Fonte: Google-imagens

    AQUINISMO: atitude filosfica instituda por Santo Toms de Aquino.

  • 23

    pelos sentidos e das experincias humanas, situando como posterior

    funo da razo, negando, consequentemente, a concepo

    inatista das ideias. E, a interpretao do racionalismo idealista,

    que explica o ato de conhecer como um processo de articulao das

    faculdades do pensar: abstrao, julgamento, raciocnio,

    confirmando a concepo de que as ideias so inatas.

    Esta forma dicotmica de explicar como se processa o ato de

    conhecer, a produo do conhecimento filosfico ou a prtica de

    filosofar torna-se mais intensa entre os franceses que adotam o

    racionalismo idealista, com Ren Descartes, Leibniz, Spinoza,

    estendendo-se ao pensamento germnico em Kant, Fichte, Schelling

    e Hegel.

    O racionalismo emprico sistematiza-se no pensamento ingls

    atravs de John Locke e David Hume, influenciando a percepo

    da realidade, que toma a experincia como mediao no processo

    de elaborar explicaes de como tal realidade acontece. Os

    pensadores que consideram a experincia como um meio

    necessrio apreenso da realidade, do suporte elaborao do

    conhecimento, que parte da observao, utiliza mtodos

    quantitativos e experimentais, denominado cincia.

    Entretanto, o considerar a experincia como parte da

    produo e aquisio de conhecimento j se encontra no

    pensamento dos sofistas e no pensamento de Aristteles. Em Kant,

    este modo dicotmico de explicar a produo do conhecimento,

    situando sua origem ou nos sentidos ou como resultante das

    atividades da razo, torna-se momento subsequente do ato de

    apreenso da realidade. Esta concepo kantiana supera a

    separao entre os sentidos e a razo, mas institui a existncia de

    duas realidades: a do noumenon e a do phainomenon.

    Como consequncia dessa dualidade, surgem pensadores

    que priorizam a realidade do noumenon, fazendo uma interpretao,

    Noumenon: termo alemo referente ao esprito (nous), s realidades percebidas pelo pensamento.

    Phainomenon: termo grego que significa aquilo que se mostra; tal como se mostra a partir de si mesmo. Distinguindo-se da iluso (Schein) e da aparncia (Erscheinung).

    David Hume Fonte: Google-imagens

    John Locke Fonte: Google-imagens

  • 24

    predominantemente, racionalista idealista, como Hegel; j outros

    filsofos, concebem como nica realidade possvel de explicao, a

    do phainomeno, como os que criam a abordagem positivista, como

    Augusto Comte.

    Diante dessa crena de que o sentido da realidade, tanto na

    perspectiva emprica como na perspectiva idealista, resulta das

    atividades da razo de forma disjuntiva, seletiva, classificadora,

    destituda da vontade, intenes, interesse e sentimentos do sujeito

    cognoscente. Posicionam-se filsofos que veem a construo de

    sentido da realidade como uma expresso particular da

    existencialidade do ser humano no mundo.

    Esses filsofos partem de princpios que consideram

    dimenses da vivncia no explicada e controlada pela faculdade

    racional humana, como a vontade, a liberdade, os sentimentos.

    Assim, por fazerem essa relao e conexo entre a ao

    humana em seu contexto sociopoltico e cultural. Os sentimentos

    que permeiam a percepo de realidade, limitando-a ou ampliando-

    a, bem como, com a definio de um telos, de uma finalidade de ser

    para a existncia humana e sua produo, caracterizam-se como

    romnticos.

    2.3. Razo: Posies Histricas

    A razo, como um conceito dos estudos filosficos, ganha um

    sentido distinto do que usualmente dado. Comumente, este termo

    serve de sinnimo de certeza, motivo, causa; o que, de uma forma

    geral, proporciona certa referncia de origem e definio mais

    precisa de algo, como na frase: Ele colocou, com razo, a

    desconfiana na teoria, podendo entender que, ele tinha uma

    explicao mais esclarecedora da questo.

    A concepo filosfica de razo faz a relao entre a

    capacidade do pensar de forma organizada, sistemtica e

  • 25

    intencionada, e a dimenso da sensibilidade humana, constituda

    das paixes, dos sentimentos. A razo se constitui na ao de

    intelegir, na capacidade de apreenso ordenada das realidades,

    natural e humana, da, a afirmao dos princpios do pensar,

    porque, para que a realidade seja compreendida, precisa seguir uma

    orientao interpretativa, que lhe imprima sentido, fins e forma de

    ser.

    Pelo sentido etimolgico, razo um vocbulo tanto de origem

    latina ratio, como grega logos, ambas, porm, quer dizer reunio,

    ordenamento, medio, clculo, ou seja, algo organizado, com

    critrio, que proporciona certa viso de algo.

    Com esta concepo de razo como a atividade intelectual

    que ordena, dando clareza realidade, historicamente, encontram-

    se posies distintas como dos empiristas, tais como: Francis

    Bacon, Thomas Hobbes, John Locke, David Hume, Bertrand Russell;

    dos racionalistas, como: Plato, Aristteles, Ren Descartes,

    Leibniz, Kant, Hegel; e, dos filsofos que se situam de uma forma

    mais complexa, sem uma definio precisa nesta tipologia clssica,

    sendo vistos como romnticos, pessimistas, irracionalistas, niilistas,

    entre outras nomeaes, sendo alguns deles: Arthur Schopenhauer,

    Sren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche. Estas posies filosficas

    da razo encontram-se como base terica de pensadores

    contemporneos, ainda na perspectiva da modernidade, que

    procuram elaborar uma sntese desta diversidade de modos de

    apreender as realidades humana e natural. Entre estes

    pensadores, Edmund Russerl elabora uma concepo de filosofia

    como cincia rigorosa, extraindo elementos da lgica, da matemtica

    e dos conceitos de Kant e Hegel, nomeada como fenomenologia.

    Em uma perspectiva mais sociopoltica e cultural, filsofos

    como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, procuram

    explicar a construo da razo como conscincia instituda

    Princpios do pensar: Orientam e estruturam o raciocnio lgico formal, sendo: identidade, terceiro excludo, da no-contradico.

    Modernidade: perodo histrico em que se desenvolve uma reao escolstica e ao esprito medieval; exalta a razo, o sujeito do conhecimento, o esprito crtico, tendo como expresses mximas o Iluminismo e as Cincias, situa-se entre o sculo XVI e sculo XVIII.

  • 26

    historicamente, segundo os determinantes do contexto em que as

    pessoas vivem.

    Esses filsofos criadores da Escola de Frankfurt ou Teoria

    Crtica, sob a influncia do materialismo histrico dialtico o

    marxismo - interpretam a construo do pensamento a partir das

    interaes de conflito e contradies, sendo que, ao enfatizarem as

    dimenses sociopolticas e culturais, concebem duas modalidades

    de razo: a razo instrumental ou tcnico-cientfica e a razo

    crtica.

    Outra tendncia filosfica que tem uma concepo prpria de

    razo, seguindo uma orientao mais cientfica de anlise da

    realidade, toma como principal a interpretao da forma ou estrutura

    com que se apresenta a realidade. No se fixando na ideia de

    continuidade ou diacronismo, mas em uma perspectiva de estrutura

    em si, tal qual se apresenta no momento histrico, logo, privilegiando

    o sincronismo - o estruturalismo - aproxima-se do modo de ver

    kantiano.

    Por esta anlise estruturalista, filsofos como Michel Foucault,

    Jacques Derrida, Gilles Deleuze, concebem a criao cientfica,

    filosfica, artstica, tcnica, bem como, das sociedades como

    inserida em um contexto histrico descontnuo, cada momento

    histrico destas criaes se fundam em uma razo estrutural

    sincrnica.

    Entre os filsofos da cincia ou epistemlogos, o estilo

    estruturalista pode ser sentido no pensamento de Thomas Kuhn, ao

    explicar a histria das cincias como realizaes de momentos

    revolucionrios, em que instituem ou validam conjuntos de leis,

    princpios, concepes, hipteses, crenas, procedimentos

    metodolgicos e investigativos, chamados de paradigmas.

    Diacronismo e Sincronismo: conceitos que se referem anlise no tempo. O primeiro interliga o objeto de estudo ao movimento histrico; j o segundo, percebe o objeto de estudo em um momento determinado.

  • 27

    Esses paradigmas ao atingirem os limites de interpretao,

    explicao e apreenso da realidade, provocam crise, surgindo

    espao para novos paradigmas se instalarem, como o caso atual

    das discusses em torno dos limites do paradigma da simplicidade

    ou newtoniano-cartesiano em relao ao paradigma da

    complexidade ou sistmico. Tendo, como um dos representantes,

    Edgar Morin.

    Numa posio mais recente, encontram-se os filsofos tidos

    como ps-modernos, como Franois Lyotard e Richard Rorty, que

    concebem a construo da razo como redes de linguagem, presas

    aos momentos de aceitao e funcionalidade. Vista desta forma, a

    razo apresenta-se com uma natureza instvel, efmera, ou mesmo

    sem consistncia real, sendo meras crenas, mitos do contexto

    histrico-cultural.

    2.3.1 Razo e Pensamento: Mtodo

    Conforme as colocaes citadas acima, a razo promove um

    movimento de construo de sentido da realidade humana e natural,

    o que faz por proceder de forma organizada e segura de um fim a

    atingir, seja com uma garantia de validade histrica, seja com uma

    garantia incerta. Assim, pode-se afirmar que a razo conduz a

    percepo humana na apreenso da realidade, atividade que se

    configura como o ato de pensar, de elaborar o pensamento.

    O pensamento vai se constituir em algo elaborado pela razo,

    na busca de um conhecimento mais preciso, perseguindo a inteno

    de verdadeiro, expressando-se tanto como abstrato e intelectual

    quanto prtico, de agir no mundo.

    Em um sentido geral, o termo pensamento, na acepo do

    verbo latino pendere, quer dizer, suspenso, avaliao, o que induz

    as ideias, os juzos e as opinies j produzidas, que devem ser

    revistas. J na acepo dos verbos cogitare e intelligere, que

    Ps-Modernidade: perodo da histria do pensamento que critica as crenas da modernidade, que tm na cincia e na razo crtica, os meios para superao da explorao econmica e emancipao sociopoltica e cultural humana.

  • 28

    significam, respectivamente, meditar, ter ateno e reunir, escolher,

    ganha a concepo de ser uma atividade da inteligncia de ter

    diante de si algo e escolher, reunindo caracteres com os quais

    elabora ideias, conceitos, juzos, raciocnio, valores.

    Desta forma, pode-se considerar a ao de pensar como o

    movimento que envolve as atividades intelectuais, a imaginao, a

    memria, articulando as experincias sensveis, os elementos da

    linguagem e as dimenses da conscincia, exercitando a reflexo,

    a crtica, a anlise, a sntese, a interpretao e a concluso.

    Com esta concepo, o pensamento tem como finalidade

    primeira a elaborao de conceitos, que expressam relaes e

    interconexes de significados prprios de cada ser, obtido pelo

    processo de abstrao. Enquanto uma expressividade de conexes

    e interconexes de significados, os conceitos resultam da ao dos

    juzos ao avaliar as qualidades, os atributos, as propriedades e

    predicados prprios de um ser, promovendo a afirmao positiva ou

    negativa de seu sentido e consistncia real.

    Resultam do pensamento a formulao de explicaes

    fundamentadas, dentro das exigncias de constataes formais e os

    princpios de racionalidade e demonstrao, podendo-se, assim,

    consider-las verdadeiras ou falsas a partir da consistncia prpria

    com que se expressam. Estas explicaes atendendo a este nvel de

    exigncia constituem uma teoria.

    Para que esse processo de abstrao de caracteres e

    apreenso do sentido de ser e de realidade apresente consistncia

    interna e nexos com o que est sendo pensado, requer a

    elaborao desse processo segundo orientaes sistemticas, que

    constituem o mtodo. O mtodo representa procedimentos definidos

    conforme as situaes e natureza da realidade que se quer construir

    ou apreender o sentido, sendo definido, tambm, pelo tipo de razo

    ou racionalidade com que se percebe a realidade observada.

    Conscincia: Estado do esprito que demonstra possuir noo de acontecimento exterior mente, ou na prpria dinamicidade mental, como distinguir objetos e qualidades dos objetos.

    Consistncia interna: Articulao lgica das ideias, estruturando de forma consistente a elaborao do pensamento.

  • 29

    De forma que, na elaborao das teorias, no percurso

    histrico do conhecimento filosfico, instituram-se procedimentos

    metodolgicos: dialgicos ou maiuticos (Scrates), dialticos

    (Plato, Hegel, Marx), demonstrativos (silogismo aristotlico),

    cartesianos ou dvida metdica (Descartes), fenomenolgico ou

    poche (Edmund Husserl), analtico dos filsofos analticos (Ludwig

    Wittgenstein, Gilbert Ryle), genealgico (F. Nietzsche), arqueolgico

    (M. Foucault), a hermenutico (Dilthey, Heidegger, Gadamer), da

    complexidade (Edgar Morin), entre outros.

    Outros procedimentos definidos a partir da natureza da

    realidade que se quer abstrair o sentido podem ser vistos em suas

    caractersticas gerais, como: dedutivo (das realidades

    virtuais/idealizadas, como a matemtica); indutivo (das realidades

    que se pode observar), desenvolvido por experimentos e hipteses,

    que constituem os mais apropriados das cincias naturais; os das

    realidades humanas, em suas condies histrico-culturais,

    expressas pelos significados, prticas, comportamentos, sendo,

    portanto, compreensivo-interpretativos.

    Do exposto, pode-se perceber que os procedimentos

    metdicos das elaboraes tericas no campo da filosofia,

    diversificam-se com os filsofos no com a natureza da realidade a

    ser pensada; enquanto, no campo da cientificidade, os mtodos so

    determinados pela natureza do problema a ser investigado.

    2.3.2 Pensamento, Verdade e Ideologia

    O pensamento sistemtico, historicamente, apresenta

    diferenas nos aspectos de validao e aceitao. Primeiramente

    com os Sofistas, em que a verdade resultava de habilidades de

    elaborao formal do discurso, sendo a persuaso, o

    convencimento, o critrio de validao; com Scrates e Plato, o

    reconhecimento de validade era dado pela consistncia interna dos

    Mtodos Filosficos: http://www.wikipedia.org/wiki/Filosofia

  • 30

    argumentos, com a inteno de atingir sua constituio primeira, sua

    essncia.

    Com Aristteles, mesmo elaborando um novo procedimento

    de validao, no concordando com o estilo argumentativo

    socrtico-platnico, ainda considera a realidade constituda de uma

    verdade que deveria ser extrada pelo ato de pensar. A verdade

    estaria na evidente correspondncia entre o pensamento elaborado

    e a realidade admirada.

    Outra postura diante da questo da validade do pensamento

    encontra-se em Descartes, para o qual o sentido verdadeiro de tudo

    resultaria de um processo detalhado de investigao, que comearia

    com a negao dos traos falsos da realidade imediata, excludos

    pela dvida metdica, atingindo, ento, as ideias claras e precisas.

    Com esta certeza de que a razo proporciona a verdade, o

    que, alis, predomina durante a modernidade, tem-se a tendncia

    filosfica dos Iluministas ou Enciclopedistas DAlembert,

    Condorcet, Rousseau, Kant, Voltaire, entre outros.

    Estes filsofos acompanham a introduo dos princpios de

    cientificidade no processo de produo de conhecimento, negando

    validade ao estilo essencialista de pensar a realidade, exaltando o

    racionalismo em uma perspectiva de abstrair a verdade das

    realidades naturais e humanas. A razo vista como a fonte de

    aquisio da conscincia do ser e de realidade do mundo, sob duas

    interpretaes de sua constituio, uma naturalista e outra

    romntica, torna-se o fator determinante do pensar dos filsofos.

    Esta posio de excelncia que atribuda razo, imerge

    em um processo de descaracterizao filosfico e poltico, com a

    produo de uma concepo de mundo, concepo de sociedade e

    concepo de ser humano, divergentes com as que se fundavam em

    uma explicao de realidade mstica, considerando a realidade como

  • 31

    uma doao sobrenatural. O ser humano visto na condio natural,

    composto por uma dimenso orgnica e outra dimenso psquica,

    que sofre a interveno de fatores socioculturais.

    O pensar humano, a atuao humana no mundo, as

    interaes sociais, polticas, simblicas e produtivas expressam as

    condies materiais de existncia. No a pr-determinao do

    destino, conforme concluram os filsofos polticos (Feuerbach,

    Marx, Grasmci), que procuram olhar o mundo e o homem sob o

    prisma dos determinantes socioeconmicos, polticos e culturais.

    Desta forma, expem as prticas de conduo intelectual ou

    ideologia a que se expe o ser humano, atravs das instituies

    sociais.

    Da mesma forma, a base do pensamento ou organizao do

    sentido de realidade, expressa na linguagem, nos processos de

    abstrao, est permeada de sentimentos, emoes, valores,

    interesses e outras tendncias de naturezas imprecisas, no

    observveis, logo, no factuais, a que Freud chamou de

    inconsciente. Assim, a constatao dessas dimenses sociopoltica

    e psquica, respectivamente, a ideologia e inconsciente, desvelam a

    fragilidade da razo o lugar de produo da verdade, bem como, o

    conceito de verdade no mais traduz a realidade, tornando-se

    conceito particular, comprometido com o contexto sociocultural e

    histrico em que produzido.

  • 32

    Para Refletir

    As transformaes espirituais que demarcam o capital cultural

    da humanidade tm definido mudanas radicais nas

    concepes de mundo, sociedade, vida e do prprio ser

    humano. Por esta perspectiva, a humanidade caracteriza-se, na

    atualidade, como detentora de uma espiritualidade

    emancipada?

    Atividades

    1. Pesquise os pensadores pr-socrticos e discuta a repercusso

    de suas ideias no campo de conhecimento filosfico e cientfico.

    2. Escolha um filsofo empirista e um filsofo racionalista e elabore

    um confronto do conceito de razo.

    3. Comente a consistncia da apreenso do sentido de ser e de

    realidade elaborada pela atitude filosfica irracionalista.

    4. Analise a relao entre a razo ctica e a racionalidade

    cientfica.

    5. Explique as implicaes dos conceitos de ideologia e

    inconsciente nas crenas de liberdade e emancipao humana,

    fins da racionalidade moderna.

    6. Caracterize a condio ps-moderna em confronto com o

    pensamento da modernidade.

  • 33

    Saiba Mais

    Verifique a bibliografia abaixo:

    FREITAS, Luiz Carlos de. Ps-modernidade e libertao:

    reconstruindo as esperanas. Campinas (SP): Autores

    Associados, 2005.

    LYOTARD, JEAN-FRANOIS. A condio ps-moderna. 6.

    ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 2000.

    MATOS, Olgria. Filosofia a polifonia da razo: filosofia e

    educao. So Paulo: Scipione, 1997.

    NIETZSCHE, Friedrich. Obras incompletas: seleo de

    textos de Gerard Lebrun. 4. ed. So Paulo: Nova Cultural,

    1987. v. I e II. [Os Pensadores]

    SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e

    representao, III parte; Crtica da filosofia Kantiana;

    Parerga e paralipomena, captulos V, VIII, XII, XIV. So

    Paulo: Nova Cultural, 1988. [Os Pensadores]

  • 34

  • 35

    UNIDADE 3: FILOSOFIA DA EDUCAO: CONCEITO, TAREFAS E A

    EDUCABILIDADE HUMANA ........................................................................34

    3.1. O Ser e o Vir a Ser Humano: a educabilidade .......................... 37

    3.2. Exerccio do Filosofar na Educao: as inflexes filosficas .... 39

    3.3. Pedagogia: o Projeto Educativo ................................................ 41

  • 36

    Com a concepo de que o exerccio do filosofar tem como

    fim a elaborao do sentido de ser e da realidade, conforme

    colocado anteriormente. A partir da abstrao dos caracteres

    determinantes da realidade, do fenmeno, do sujeito, enquanto um

    ser em si, a busca da relao entre a filosofia e a educao conduz

    afirmao de que: tal relao se d como dimenso do ser

    educao, ao se considerar a educao um processo de construo

    e aperfeioamento da conscincia no ser humano.

    Pela educao o ser humano elabora a prpria

    existencialidade do que e do que possa vir a ser no mundo, na

    sociedade, assimilando e identificando-se com os referenciais

    sociais, polticos e culturais vivenciados. Esta ao deve se realizar

    de uma forma pensada, refletindo com criticidade as implicaes que

    tal modo de ser pode acarretar.

    Estes fins dados educao definem a relao constitutiva

    com a filosofia como de natureza antropolgica, axiolgica, poltica

    e epistemolgica. A significao antropolgica encontra-se nos fins

    prprios do educar, ou seja, na ao necessria da educao com

    vista a promover, em um primeiro momento, a hominizao do ser

    natural; em seguida, humaniz-lo como um processo formativo de

    elevao espiritual, na condio de ser pensante, que age por

    escolha e deciso e s se realiza na/com a interao consigo, o

    outro e o mundo.

    Desta forma, a educao enquanto definidora do ser e do vir a

    ser humano, requer princpios condutores do agir interativo que

    caracteriza a existencialidade humana. Sendo, esses princpios,

    ticos e estticos fundadores de um estilo poltico de ser humano,

    Axiologia: rea da Filosofia que pensa os valores em sua essencialidade (Max Scheller) e natureza prescritiva (Emmanuel Kant).

    Epistemologia: rea de filosofia que estuda o conhecimento com o objetivo de avaliar consistncia e coerncia terica, metodolgica e tica, em especial, o conhecimento cientfico (Gaston Barchelard, Hilton Japiassu, Luis Carlos Bombassaro).

    Hominizar: Transmitir as qualidades de ser humano a espiritualidade, tornando-o mais do que um ser natural, um complexo sociopsquicobiolgico.

  • 37

    com o qual se expressa de forma autnoma e emancipada nos

    ambientes sociopolticos e culturais.

    A natureza epistemolgica da relao entre filosofia e

    educao explicita-se na atitude reflexiva e crtica com que deve

    conduzir o processo formativo o devir humanizador do ser

    natural em ser humano pela assimilao da cultura. Para a

    concretizao consciente e comprometida dessa formao, o

    educador, mediador do processo, deve saber caracterizar, identificar

    e avaliar as abordagens tericas, metodolgicas e instrumentais que

    do suporte s propostas e prticas educativas.

    Com este entendimento de educao e da relao entre

    filosofia e educao, definir um sentido de ser para a filosofia da

    educao significa conceber a educabilidade humana como uma

    realidade a ser estudada em sua constituio e finalidade de ser,

    segundo as dimenses acima colocadas.

    3.1. O Ser e Vir a Ser Humano: a Educabilidade

    A resposta dada questo para qu educao?, de

    natureza filosfica por buscar a finalidade de ser do ato de educar,

    mas que expressa uma constituio antropolgica ao identificar

    educao com o processo de internalizao de um projeto cultural

    de complementao. Por esse processo, o ser natural, condio

    primeira do ser humano, transforma-se em um indivduo com traos

    tipicamente humanos, expresso complexa constituda de uma rede

    Antropologia: Campo do conhecimento que tem como objeto de estudo o homem, em sentido genrico. No aspecto cientfico estuda o homem como ser natural e cultural. No aspecto filosfico estuda o homem como ser vontade, de escolha, que elabora sentido para atuar no mundo (Emmanuel Kant, Ernst Cassirer, Henrique C, de Lima Vaz).

    www.criticanarede.com/ filos_epis.html www.inep.gov.br/pesquisa-online www.scielo.br www.cobra.pages.nom.br www.ditudo.etc.br/cincia/cincia_humanas/filosofia.html www.wikipedia.org/wiki/Filosofia www.ghiraldelli.pro.br/Filosofia_da_educaao www.wikipedia.org/Portal:Educa www.pedagogiaemfoco.pro.br www.centro-filos.org.br www.dominiopublico.gov.br/pesquisa

  • 38

    de relaes antropobiopsicossocial, a qual se institui em um contexto

    sociopoltico e histrico.

    Com efeito, pela educao se processa a formao da

    conscincia humana, o que implica na realizao da educabilidade

    humana, construo do carter especfico de uma identidade

    prpria, ampliando a condio natural pela capacidade de educar-se

    e ser educado. Processos tipicamente humanos, considerando-se

    que a hominizao e a humanizao so condies adquiridas

    historicamente nas interaes humanas, da mesma forma, os fins a

    que se destina.

    Contudo, a educabilidade humana no se esgota nesta

    dimenso antropolgica de assimilao das normas, tradies,

    comportamentos, crenas e concepes do contexto que vivencia.

    O processo de educao que se realiza ao longo da

    existencialidade humana, constitui um projeto de emancipao dos

    condicionantes e determinantes de uma menoridade espiritual. Em

    que o ser humano se encontra destitudo de uma conscincia

    autntica e autnoma, por conseguinte, sem identidade e liberdade,

    sendo expressividade de uma conduo intelectual autoritria e

    alienante.

    A estruturao do processo educativo, que se realiza como

    educabilidade e historicamente situado, remete s formas com que

    se vivencia ou se conduz s finalidades prprias do projeto

    educativo. Estas finalidades educativas ganham o sentido que a

    conscincia ou a condio do pensar a realidade humana em sua

    complexidade natural, psquica, social, poltica, produtiva e

    simblica, atributo do indivduo, alcana em relao individualidade

    humana e na condio de ser social.

  • 39

    3.2. Exerccio do Filosofar na Educao: as Inflexes Filosficas

    Pensar a educao na perspectiva da educabilidade humana,

    que se faz como formao emancipadora da conscincia de

    realidade e no sentido de ser um devir humanizador, caracteriza a

    abordagem filosfica, que se constitui em uma dimenso do educar,

    pelas inflexes que realiza ao analisar crtica e reflexivamente o

    projeto educativo.

    Este exerccio ou inflexes do filosofar, com a finalidade de

    explicitar o sentido e realidade de ser do educativo enquanto ato

    formativo. Implica na definio interpretativa destes dois indicativos:

    o para qu da educao no ambiente da existencialidade do ser

    humano; o qu educativo conforme as exigncias sociopolticas,

    culturais e histricas do contexto em que se realiza.

    A compreenso da educao, precisando em que consiste de

    fato, qual seria aquele princpio primeiro o arkh grego, buscado

    pelos filsofos primeiros originador do educativo na essencialidade

    dos fins a que se dirige, expe a relao necessria entre educao

    e o ser humano, enquanto se determinam reciprocidade. Isto , o ser

    humano no estado natural s torna-se humano pelo processo

    educativo, bem como o educativo, ontologicamente, existe para

    atender a tais fins, confirmando, desta forma, a estrutura educanda

    humana.

    Com esta dimenso antropolgica da educao, tendo o ser

    humano no centro do processo, ressalta-se a complexidade da

    formao humana, vista na articulao do tico, poltico, cientfico,

    esttico, tecnolgico, etc. Desta forma, a especificidade dada ao ser

    humano pelo processo educativo, torna-o intencionado e

    comprometido com a construo de uma realidade fundada no

    princpio da diversidade, do mltiplo e democrtico, desde que a

    educao enquanto formao desenvolva uma conscincia poltica,

    crtica, tica e sensvel.

  • 40

    O tornar-se humano, acontecimento que envolve a

    subjetividade e as interaes sociais, consiste propriamente no

    processo educativo. A realizao do educativo se faz como um

    fenmeno pensado, intencionado. Supondo tanto uma concepo de

    homem quanto uma viso de mundo, de sociedade, de vida.

    Intencionado, desta forma, o educativo se realiza como um projeto

    de amplitude imediata, de forma conjuntural, e mediata,

    assegurando o sentido prprio de ser da existncia humana dentro

    destas concepes. Confirma-se, assim, a presena da conduo

    ideolgica e utpica, simultaneamente, nos processos formativos de

    ser humano.

    Pensar o educativo como projeto de formao do ser e do vir

    a ser humano requer o entendimento de que, enquanto ato

    intencionado, a educao se faz em um ambiente de imbricaes

    tericas, axiolgicas e teleolgicas, instituindo-se como uma

    prxis. Sistematicamente, o ato educativo se constitui com a

    interconexo dos conhecimentos particulares das cincias empricas

    e das orientaes reflexivas e crticas de natureza filosficas. Na

    busca de apreender as finalidades de ser, o para qu educar.

    Alm destes indicativos das inflexes filosficas em relao

    ao educativo, nos quais a relao filosofia e educao se expressa

    como dimenses antropolgica e ontolgica, a filosofia se ocupa,

    tambm, com o esclarecimento da linguagem utilizada no campo da

    educao.

    A filosofia, com esta tarefa, segue as orientaes de que as

    palavras constituem conceitos com sentido determinado a partir de

    um tipo de racionalidade, podendo-se identificar um estilo de

    linguagem mais elaborada, sofisticada, tpica de um ambiente

    especfico de conhecimento, como o cientfico e o filosfico; da

    mesma forma, h a linguagem comum, em que os termos no

    expressam com rigor o que significam, sendo este estilo

    predominante na educao.

    Subjetividade: O que se refere ao sujeito, expressando suas singularidades; modo como a realidade apreendida pelo sujeito (Emmanuel Kant). Mediato: O que dado conscincia por meio de intermedirio, por mediao (Hegel, Marx). Imediato: Modo de obter os dados da realidade de forma direta, sem intermedirio; o que a conscincia capta diretamente (Henri Bergson, Edmund Husserl). Teleolgico: Conhecimento dos fins, das finalidades das coisas, ope-se a busca das origens; o interesse est no sentido, no propsito das coisas (Emmanuel Kant). Prxis: Relao teoria e prtica que caracteriza a ao humana transformadora da natureza e de si mesma (Karl Marx).

  • 41

    A atividade filosfica de anlise da linguagem, mesmo j

    presente entre os sofistas e filsofos como Plato, s adquire

    expressividade como um modo de pensar filosfico, com as

    interpretaes de realidade institudas pelos empiristas, mediante o

    que, tendncias filosficas com teorias e procedimentos

    metodolgicos prprias, so sistematizadas. Dentro de um processo

    histrico, define-se o neopositivismo como a abordagem filosfica

    que tem na linguagem o objeto de anlise.

    3.3. Pedagogia: o Projeto Educativo

    Nesta perspectiva de considerar o processo educativo como

    uma prxis, intencionalmente estruturada, observa-se a necessidade

    de um suporte terico-metodolgico e instrumental com vistas

    concretizao do ato educativo, enquanto elaborao de um projeto

    formativo, bem como realizao prtica. Desta forma, a educao se

    transforma em um objeto de anlise que deve ser pensado, avaliado,

    planejado e organizado, com a finalidade de proporcionar o devir

    formativo humano.

    A ao de pensar o educativo, segundo procedimentos formais,

    sistemticos, configura-se no saber fazer pedaggico, que envolve

    um conjunto de aportes terico-metodolgicos para fornecer uma

    base slida aos projetos educativos e conduzi-los enquanto uma

    prxis.

    A pedagogia vista desta forma, implica em uma funo

    sistemtica, que pensa a prxis educativa, o que se confirma com

    uma anlise etimolgica e histrica do termo grego paidagoga, a

    qual apresenta uma ambiguidade semntica. Isto , inicialmente,

    significava a conduo, no necessariamente intelectual, da criana,

    do jovem, ao ambiente de aprendizagem, mas, por extenso de

    sentido, passou a ser interpretado como o campo de conhecimento

    que pensa as dimenses, terica e instrumental, da educao.

  • 42

    Desta forma, a pedagogia torna-se um conhecimento que tem

    como finalidade, no s explicar ou expressar uma compreenso de

    uma determinada realidade, mas tambm, avaliar, planejar e

    conduzir a realizao dessa realidade. Definindo, assim, uma

    especificidade fundada em uma razo terico-prtica.

    Este pensar a especificidade da pedagogia como um

    conhecimento terico-prtico, provm da complexidade da ao

    educativa, objeto de estudo da pedagogia, a qual, para se fazer

    acontecimento necessita ser sistematizada, pois no se d

    naturalmente, como um fenmeno espontneo. O educar um ato

    intencionado, planejado e tecnicamente conduzido finalidade

    preestabelecida a atingir.

    Com a compreenso do educativo como atividade intencional,

    comprometida com referenciais conceituais de ser humano,

    conforme o contexto sociopoltico, cultural e histrico, da mesma

    forma, com a dimenso produtiva deste contexto, pens-lo,

    pedagogicamente, implica em um saber-fazer complexo. Isto , um

    pensar interdisciplinar que abarque as dimenses cientfica,

    filosfica e pragmtica do fazer educativo.

    Assim, situar o saber fazer pedaggico na dimenso das

    inflexes filosficas sobre a educao, consiste na busca de

    definio das abordagens tericas, orientadoras dos fins para os

    quais um projeto educativo proposto. Os fins ou telos educativos

    instituem um conjunto de valores e conceitos performativos do ser

    social que se prope formar, definido conforme contexto

    sociocultural, poltico e histrico, em que se deseja form-lo.

    Desta forma, historicamente, encontra-se uma diversidade de

    projetos educativos, sistematizados e conduzidos por pedagogias

    divergentes, tendo em comum, uma dimenso antropolgica, e uma

    natureza ticopoltica.

    Razo: Capacidade de descobrir/estabelecer relaes e interrelaes entre as coisas, a partir de certos princpios pr-estabelecidos. Usa da faculdade de julgar na busca da verdade.

    Interdisciplinar: Procedimento pedaggico de pesquisa e ensino, que articula duas ou mais disciplinas na interpretao da realidade.

  • 43

    Para Refletir

    No atual momento histrico das organizaes sociais, em que a

    racionalidade instrumental, tecnocrtica e com uma forte tendncia

    para uma espiritualidade utilitria, pragmtica. O projeto educativo

    ainda pode ser concebido como proposta de um devir formativo do

    ser social?

    Atividades

    1. Discuta a concepo de educao trabalhada no texto.

    2. Explique as dimenses: antropolgica, poltica, axiolgica e

    epistemolgica da educao.

    3. Comente a ocupao da educao com a hominizao e

    humanizao do ser humano.

    4. Discuta o conceito de educabilidade como finalidade da

    educao.

    5. Explique as inflexes filosficas em relao educao.

    Saiba Mais Links

    Pedagogia em foco < http://www.pedagogiaemfoco.pro.br>

    Diretrio DiTudo

    Epistemologia -

    INEP - < http://www.inep.gov.br/pesquisa/cibec/ >

    Scielo Brasil - http://www.scielo.br/scielo.php/script_sci_home/lng_pt/nrm_iso >

    Cobras Page - < http://www.cobra.pages.nom.br/ >

    Wikipdia - < http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia >

    Wikipdia/ Portal Educao - < http://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Educa%C3

    %A7%C3%A3o >

    Portal da Filosofia < http://www.centro-filos.org.br/ >

    Domnio Pblico - < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObra

    Form.jsp;jsessionid=D525DFD144ED4FA9FACD3256505E0945 >

  • 44

    Saiba Mais

    Verifique a bibliografia abaixo:

    ADORNO, Theodor W. Educao e emancipao. Rio de

    Janeiro: Paz e Terra, 1995.

    ARANHA, Maria Lcia de A. Filosofia da educao. 3. ed. So

    Paulo: Moderna, 2006.

    EM ABERTO, Braslia, ano 9, n. 45, jan.mar. 1990. Disponvel

    em: . Acessado em:

    19/06/2007.

    CARVALHO, Adalberto D. de. Utopia e educao. Porto: Porto,

    1994.

    FULLAT, Octavi. Filosofias da educao. Petrpolis: Vozes,

    1994.

    KANT, Immanuel. Sobre pedagogia. Piracicaba: Ed. da

    Universidade Metodista de Piracicaba, 1996.

    REBOUL, Olivier. A filosofia da educao. Lisboa: Edies 70,

    2000.

    SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histrico-crtica: primeiras

    aproximaes. 8. ed. Campinas (SP): Autores Associados, 2003.

  • 45

  • 46

    UNIDADE 4: AS ORIENTAES FILOSFICAS E AS TEORIAS

    EDUCACIONAIS ............................................................................................ 45

    4.1. A Teorizao no campo educacional: conceito e funo da

    Pedagogia ........................................................................................ 47

    4.2. As Ontologias do ser humano e as Abordagens Filosficas da

    Educao ......................................................................................... 49

    4.2.1 Abordagens Essencialistas da Educao ............................... 51

    4.2.2 Abordagens Positivas, Existencialistas e Histrico-Crticas da

    Educao ......................................................................................... 54

    4.2.3 Abordagens Sistmicas da Realidade Educacional ................ 62

    4.2.4 Abordagens Filosficas Emergentes ....................................... 64

  • 47

    4.1. A Teorizao no Campo Educacional: Conceito e Funo da

    Pedagogia

    Nesta perspectiva de considerar o processo educativo como

    uma prxis, intencionalmente estruturada, observa-se a necessidade

    de um suporte terico-metodolgico e instrumental com vistas

    concretizao do ato educativo, enquanto elaborao de um projeto

    de formao, bem como a realizao prtica deste projeto. Desta

    forma, a educao se transforma em um objeto de anlise, que deve

    ser pensado, avaliado, planejado e organizado com a finalidade de

    proporcionar o devir formativo humano.

    A ao de pensar o educativo, segundo procedimentos

    formais, sistemticos, configura-se no saber-fazer pedaggico, que

    envolve um conjunto de aportes terico-metodolgicos e

    instrumentais para fornecer uma base slida aos projetos educativos

    e conduzi-los enquanto uma prxis.

    Esses projetos educativos, historicamente elaborados,

    expressam um referencial conceitual de ser humano e de modelos

    de sociedade, situando-se, desta forma, no interior de um

    paradigma scio, antropolgico, poltico e cultural.

    Diante desta concepo e considerando a diversidade de

    contextos socioculturais, da mesma forma, a durao histrica da

    humanidade abre-se em um leque de perspectivas tericas de

    natureza cientfica e filosfica, propondo modelos de formao.

    Devir: No sentido etimolgico do latim chegar; aplicado por Herclito com o sentido de movimento, expressando algo que existe em processo.

    Paradigma: No sentido prprio significa modelo; na concepo de Thomas Kuhn um conjunto de conceitos, princpios, leis, teorias, metodologias, tpico de uma abordagem cientfica da realidade.

  • 48

    4.2 As Ontologias do Ser Humano e as Abordagens Filosficas

    da Educao

    Com a concepo de que os fins da educabilidade seja

    promover a formao humana na perspectiva de atingir a totalidade

    do ser social, constitudo na contextualidade histrico-cultural.

    Encontram-se orientaes diferenciadas do dever-ser ou de como

    deve ser o devir formativo do ser humano. Sendo este, definido

    conforme um conjunto de conceitos e valores selecionados por

    princpios poltico-ideolgicos hegemnicos, ou que visam confrontar

    as concepes e crenas que do sustentao ao momento

    histrico.

    Um modo de apresentar essas perspectivas tericas

    encontra-se na produo do filsofo Bogdan Suchodolski (1986), em

    que, partindo de uma lgica dicotmica e disjuntiva, concentra essas

    perspectivas a partir de duas concepes da construo do

    pensamento humano: o essencialismo e o existencialismo. A

    primeira concepo afirma que os conceitos so produes

    idealizadas, sem relao necessria com a ambincia humana, com

    o contexto sociopoltico e cultural, instalando um distanciamento

    entre o ser em si e o ser empiricamente exposto, tomando-os como

    duas realidades distintas.

    Nesta concepo, encontram-se pensadores tais como

    Plato, que pregam a razo como o centro irradiador das ideias,

    bem como, os que seguem a concepo de matria propalada por

    Aristteles.

    Para esses filsofos, a espiritualidade humana se constitui

    de uma substancialidade imaterial, que, mesmo sendo uma

    realidade idealizada, ocupa uma posio determinante no ato de

    deciso da ao humana no mundo concreto, definindo o que deve

    ser vlido e aceito como legtimo para o bem viver. Desta forma,

    Ser Social: Condio humana aps se sujeitar s orientaes socioculturais, polticas e histricas da sociedade.

    Espiritualidade: Dimenso pensante do ser humano, distinta da matria, condio corprea; tambm usada como sinnimo de inteligncia.

  • 49

    somente a razo reteria condies para dar respostas e decidir

    sobre a existencialidade humana no mundo.

    Na concepo existencialista, a dimenso emprica humana,

    sua atuao no mundo, com todas as implicaes que os desejos,

    os prazeres, os sentidos em geral, possam vir a ter nas decises e

    escolhas do bem e da retido, torna-se a referncia para a

    construo dos conceitos. O ser humano elabora as concepes de

    bem, de mundo, de vida, a partir de sua prtica concreta,

    considerando os aspectos indefinidos da irracionalidade humana,

    dos quais a razo no consegue extrair ou imprimir sentido de ser

    justificvel.

    Como primeiras manifestaes de conformidade do

    pragmtico como dimenso significativa do ser humano pode-se

    colocar o modo de pensar e agir dos sofistas, que afirmavam a

    condio social e circunstancial da realidade humana.

    Com a densidade do conhecimento sobre os seres vivos em

    geral e, em especial, sobre o ser humano. O entendimento de que a

    espiritualidade resulta da atividade da razo vai sendo contestada,

    primeiro, pela crtica atuao humana na sociedade, expondo as

    contradies dos hbitos e preceitos morais vigentes, o que

    caracteriza as produes renascentistas.

    Em seguida, na prpria dimenso da produo do

    conhecimento, com a busca de explicaes mais precisas dos

    fenmenos naturais, quando sistematizado um procedimento

    metodolgico que apresenta um alto grau de preciso ao explicar os

    fenmenos empricos.

    Esta explicao resulta no surgimento do mtodo cientfico,

    consequentemente, de um tipo de conhecimento fundado no mundo

    emprico, que vai constituir a cincia, conceito dado a um modo de

    explicao quantitativa, metdica e experimental da realidade natural

    Retido: Caracterstica da razo reta, justa, que age com prudncia, que contem virtude moral e/ou virtude intelectual.

  • 50

    e humana que se instalou e se consolidou durante o momento

    histrico da modernidade.

    Em confronto com estas concepes opostas e contraditrias

    sobre a natureza do ser humano o essencialismo e o

    existencialismo com nfase na razo, na empiria e na prtica,

    segundo uma lgica disjuntiva. Surgem as explicaes desta

    natureza, que a consideram uma realidade constituda pela

    articulao dessas dimenses. Desta forma, confirmando uma

    ontologia do ser humano fundada em uma lgica conjuntiva, que

    busca articular o pensamento com a ao na explicao da

    realidade humana.

    Observa-se que, explicar a realidade humana com esta

    articulao entre pensamento e ao, caracteriza-se na concepo

    de prxis elaborada a partir dos princpios da lgica dialtica e dos

    princpios do materialismo histrico, que fundamentam a produo

    terica dos marxistas e dos tericos da teoria crtica.

    Esta materialidade refere-se concepo de que a

    constituio do ser humano uma realidade scio-histrica, poltica

    e cultural, distanciando-se das perspectivas puramente idealistas

    que defendem uma essencialidade produzida pela razo,

    desvinculada da ao humana no mundo. Da mesma forma,

    posiciona-se contrria s perspectivas que concebem o ser humano

    somente como ser emprico, sendo suficiente a atuao no mundo

    de forma a garantir a constituio de uma espiritualidade, que tem

    nos sentidos, a mediao com o mundo.

    Com estes entendimentos histricos da realidade humana,

    fundados em concepes ontolgicas divergentes, situam-se as

    teorias educacionais que tm como fins a formao deste ser,

    atendendo s concepes antropolgicas, sociopolticas e culturais

    que caracterizam o momento histrico, bem como, os determinantes

    Lgica Dialtica: Atividade de estruturao das ideias em argumentos a partir do princpio de contradio, motor da histria humana.

    Lgica: Atividade que organiza, estruturalmente, as idias, constituindo argumentos em que as ideias podem aparecer relacionadas, mesmo quando de natureza diferentes, demonstrando relaes conjuntivas, ou aparecer sem relao, de forma disjuntiva, separadas.

  • 51

    socioeconmicos que interferem na concretizao dos projetos

    educativos.

    Para que as teorias educacionais tenham o alcance

    teleolgico desejado, ou seja, formar o ser humano dentro de uma

    contextualidade scio-histrica, os tericos da educao apresentam

    taxionomias diversas das teorias pedaggicas, segundo os modelos

    antropolgicos que pretendem confirmar.

    Diante desta proposio, considerando a diversidade

    ontolgica supra, um modo de classificar estas teorias consiste no

    uso das concepes cosmolgicas e antropolgicas em que se

    fundam como princpios de articulao ou disjuno entre elas.

    4.2.1 Abordagens Essencialistas da Educao

    Com uma viso de mundo e de ser humano constitudo por

    uma essencialidade imutvel, atemporal, logo, com a pretenso de

    intocveis pelas oscilaes histricas da existencialidade humana no

    interior de um contexto sociocultural. Encontram-se, de um lado, os

    modelos formativos centrados em base racionalista, vendo na

    intelectualidade, no aperfeioamento espiritual enquanto

    emancipao, os fins a realizar.

    Situa-se, nesta perspectiva, o projeto educativo da Grcia

    Clssica a Paideia que objetivava formar o ser humano como um

    todo, segundo o ideal platnico de formao, que influenciou os

    projetos educativos renascentistas e da modernidade,

    principalmente com a concepo de emancipao humana.

    Alm do idealismo platnico, h o realismo aristotlico que

    prope a formao pelo aperfeioamento das potencialidades do ser

    humano. Tendo como telos atingir as formas que organizam a

    matria, configurando-lhe uma performace, bem como, o controle

    sobre os instintos naturais, as manifestaes passionais,

    considerando a razo como a faculdade mais elevada.

    Modelos Antropolgicos: Tipos de ser humano que se deseja formar com o processo educativo.

    Concepo Cosmolgica: Usada no sentido interpretativo da estruturao e organizao das dimenses sociocultural, poltica e histrica da realidade humana.

  • 52

    Outros modelos antropolgicos fundados no essencialismo,

    voltados para a formao de um ser idealizado, encontram-se nas

    concepes de Ren Descartes (1596-1650), Leibniz (1646-1716),

    E. Kant (1724-1804), Fichet (1762-1814), Hegel (1770-1831) e W.

    Dilthey (1833-1911), que, mesmo diferentes no modo de caracterizar

    a essncia humana, tm em comum, entre outros aspectos, uma

    viso transcendente da espiritualidade humana.

    A fenomenologia idealiza uma proposta formativa, tendo como

    finalidade o desenvolvimento da conscincia humana, com o

    entendimento de que mantm uma relao direta com o mundo,

    elaborando, nesta relao, as representaes e interpretaes que

    passam a ser a realidade para a conscincia que o idealizou. O

    filsofo Edmund Husserl (1859-1938) procurou articular o idealismo

    cartesiano que se reduz a individualidade do eu com o criticismo

    kantiano, no que se refere s possibilidades do conhecimento

    fenomnico.

    Na abordagem fenomenolgica para o aperfeioamento da

    conscincia humana, que elabora a racionalidade do mundo vivido,

    projetando possibilidades de transformao, mudana no modo de

    interpretao e representao do mundo, acarretando, assim, outras

    condies para a existencialidade do ser humano.

    Com base nesta abordagem terico-metodolgica,

    pensadores como M. Heidegger (1889-1976), M. Merleau-Ponty

    (1908-1961), H-G Gadamer (1900) e P. Ricoeur (1913) desenvolvem

    novas perspectivas de formao, em que enfatizam, no mais a

    conscincia em si, considerando-a capaz de apreender diretamente

    a realidade, mas, com o aperfeioamento de mediaes, tais como,

    a percepo e a linguagem.

    Ainda fundados nas ontologias de mundo e de ser humano

    essencialistas, enfatizando, entretanto, as manifestaes psquicas

  • 53

    como os instintos e as pulses, no a razo, surgem dois novos

    modelos antropolgicos em suas concepes de formao humana.

    Um sob orientaes das ideias da psicanlise freudiana,

    elaborando teorias educacionais fundadas nos princpios polticos da

    autogesto, da liberdade e antiautoritria. Entre os tericos que

    tomam as dimenses desejantes e utpicas, tanto no aspecto

    individual quanto no aspecto social, como referncias para a anlise

    da realidade para projetar um estilo formativo, encontram-se T.

    Adorno (1903-1969), F. Guattari (1930-1992), J. Deleuze (1925-

    1995), H. Marcuse (1898-1978), com concepes antropolgicas e

    de fins educacionais diferenciadas.

    Com certa particularidade, neste contexto que prioriza o

    essencialismo e as dimenses mais voluntrias do ser humano,

    podem ser inseridas as abordagens educacionais da Escola de

    Frankfurt, atravs do pensamento de T. Adorno, M. Horkheimer

    (1895-1973), H. Marcuse (1898-1979) e W. Benjamin (1892-1940)

    entre outros, que desenvolvem uma anlise da condio humana a

    partir dos princpios psicanalticos freudianos, do pensamento

    marxista e influncias hegelianas.

    Situados neste modelo antropolgico, mas defendendo uma

    conscincia scio-histrica e poltica, estes tericos trabalham os

    princpios de liberdade, emancipao e superao das estruturas

    capitalistas, procurando desvelar as estruturas dissimuladoras da

    ingerncia poltica nas dimenses socioculturais em que se fundam

    os projetos educativos.

    Encontram-se ainda as teorias de cunho poltico anarquista,

    que propagam um modelo antropolgico centrado no ser em si, a

    formao do indivduo deve ser o fim da educao. A educao deve

    formar no indivduo uma conscincia autogestora da existencialidade

    no mundo, na sociedade, visto que pregam o fim do Estado e

    demais instituies sociais, por consider-las instncias repressoras.

    Ser em si: termo usado para designar a existncia particular dos seres, presente em Hegel, Sartre.

  • 54

    Como representantes dessa abordagem, situam-se Max

    Stirner (1806-1856), com um anarquismo individualista; P. J.

    Proudhon (1809-1865), Saint-Simon (1760-1825), Fourier (1772-

    1837), defendendo a implantao do sistema socialista e o

    fortalecimento da concepo cientfica de mundo; F. Ferrer i Guardia

    (1859-1909), A. S. Neill (1883-1973) propem uma educao

    antiautoritria.

    Empolgado com o avano cientfico-tecnolgico do primeiro

    meado do sculo XX, bem como, enraizado na concepo

    freudomarxista, P. Goodman propaga a ideia de desescolarizao

    da educao, assumida por Ivan Illich (1926-2002), que visa uma

    formao libertadora do ser humano.

    4.2.2 Abordagens Positivistas, Existencialistas e Histrico-

    Crticas da Educao

    A apresentao dessas abordagens tericas, constituindo um

    nico bloco, se justifica pela abrangncia conceitual de homem a ser

    formado pelo projeto educativo, bem como, da cosmoviso que lhe

    serve de contexto, que se caracterizam por um conjunto de traos

    que se fazem presentes com maior ou menor intensidade nessas

    abordagens.

    A concepo de mundo e de ser humano em questo, situa

    ambos em uma realidade natural, mas, retrabalhada pela produo

    cultural humana. De forma que o mundo passa a ser visto como

    passvel de ser conhecido e transformado pelo conhecimento

    cientfico-tecnolgico. Bem como, o homem, que tem sua condio

    de ser, reduzida a uma realidade orgnica, emprica, podendo ser

    explicada como as demais realidades naturais, fenomnicas.

    O ser humano alm de se constituir em um fenmeno

    natural um fenmeno sociocultural, necessitando, porm, de

    instruo para assumir esta dupla natureza. Dito de outra forma,

  • 55

    passar da primeira natureza (biolgica) para a segunda natureza

    (sociocultural).

    Diante desta ambiguidade existencial humana, os tericos

    elaboram propostas explicativas que buscam contemplar os limites e

    possibilidades da formao humana. Entre estas explicaes,

    algumas teorias tendem para uma viso empirista da realidade.

    Considerando o ser humano vazio de espiritualidade, mas, retendo

    condies para assimilar o conhecimento que lhe for dado pela

    realidade objetiva em que est inserido.

    Essa concepo expressa os princpios do empirismo

    clssico, presente no pensamento de J. Locke (1632-1704), D.

    Hume (1711-1776) e dos Iluministas, entre eles, Condillac (1715-

    1780) e Rousseau (1712-1778). Orientados pelos princpios

    empiristas de que as certezas so experimentais, negando as

    orientaes cartesianas dominantes at o sculo XVII, adotam a

    natureza como um princpio regulador universal, centrando nos

    sentidos, nas sensaes, a fonte do conhecimento humano.

    As diversas teorias pedaggicas que influenciam, afirmam a

    importncia da interferncia externa para o desenvolvimento

    psquico, como M. Montessori (1870-1952); das atividades sensrio

    motor, com as atividades ldicas de Frebel (1782-1852); a

    formao social, tica e intelectual, com J. F. Herbart (1776-1841); e,

    propriamente pedaggicos, com J. A. Comnius (1592-1670).

    Em pensadores como Rousseau, a concepo naturalista de

    ser humano afirma-se como instinto, sentimento, espontaneidade. A

    partir destes referenciais, elabora um conceito de sociedade

    danificada pelas transformaes cientfico-tecnolgicas, e uma

    noo de natureza humana que deve ser resguardada dos

    malefcios que o convvio social pode provocar. Diante do que

    prope uma educao que deve estimular a curiosidade espontnea

    da criana, para pensar e produzir o conhecimento.

    Jean Jacques Rousseau Para saber mais acesse: http://www.centrorefeducacional.com.br/rousseau.html

  • 56

    Esta concepo naturalista, centrada nos sentidos, j se faz

    presente no pensamento filosfico renascentista, em Montaigne

    (1533-1592), Erasmo (1467-1536), Coprnico (1473-1543), entre

    outros.

    No campo da pedagogia, as concepes rousseauniana se

    fazem presentes na proposta pedaggica de Pestalozzi (1746-1827).

    Este terico desenvolveu sua pedagogia sob a orientao de que o

    individuo uma unidade entre esprito-corao-mo, que implica na

    trplice atividade do conhecer-querer-agir, correspondendo

    educao da inteligncia, da moral e da tcnica (ARANHA, 2006).

    Assim, com o avano e consolidao da viso naturalista de

    mundo, natural e humana, intensificam-se os estudos experimentais

    da natureza, no campo da fsica e da qumica. O que d um grande

    impulso ao conhecimento cientfico e produo tecnolgica,

    proporcionando transformaes radicais nos meios de produo,

    consolidando, da mesma forma, o modelo de sociedade industrial.

    Neste contexto de desenvolvimento cientfico-tecnolgico

    surgem pensadores como A. Comte (1798-1857), que toma como

    objeto de estudo a realidade humana, considerando-a como um

    fenmeno natural observvel, pois, tem nos sentidos a nica fonte

    de atingir o conhecimento.

    Esta posio terica faz da realidade humana um

    acontecimento positivo, que se institui seguindo leis e etapas

    necessrias para o seu surgimento como fenmeno. O pensamento

    de Comte vai influenciar o evolucionismo de H. Spencer (1820-

    1903), o cientificismo de J. Stuart-Mill (1806-1873), a sociologia de

    E. Durkheim (1858-1917), explicitada em seus estudos sobre a

    educao.

  • 57

    As ideias positivas de Comte tambm se fazem presentes nas

    propostas educacionais de July Ferry, fim do sculo XIX, nas quais

    procura obter um princpio uniformizador das opinies das pessoas.

    As concepes naturalistas da realidade humana, base das

    ideias empiristas e positivistas, conduzem a uma interpretao de

    liberdade, que se transforma em princpios da organizao

    socioeconmica e poltica das sociedades, tendo em J.-J. Rousseau

    (1712-1778), T. Hobbes (1588-1679), J. Locke (1632-1704), David

    Ricardo e Adam Smith (1723-1790), os pensadores clssicos.

    No campo da educao, as ideias de liberdade, autonomia,

    iniciativa, criatividade e indivduo, promovem mudanas nos

    princpios educativos, decretando a substituio do modelo de

    escola tradicional para o modelo de escola nova.

    Estas novas abordagens mantm os critrios dos fenmenos

    da natureza como intrpretes da realidade humana, mas negando a

    concepo tradicional de educao diante das explicaes