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Filosofia da Educação
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PRESIDENTE DA REPBLICA Luiz Incio Lula da Si lva MINISTRO DA EDUCAO Fernando Haddad GOVERNADOR DO ESTADO DO PIAU Jos Well ington Barroso de Arajo Dias REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU Luiz de Sousa Santos Jnior SECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIA DO MEC Carlos Eduardo Bielschowsky COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL Celso Jos da Costa DIRETOR GERAL DO CENTRO DE EDUCAO ABERTA A DISTNCIA DA UFPI Gildsio Guedes Fernandes DIRETOR DO CENTRO DE CINCIAS DA EDUCAO Jos Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho COORDENADOR DO CURSO DE PEDAGOGIA NA MODALIDADE DE EaD Vera Lcia Costa Olivei ra COORDENADORA DA PRODUO DO MATERIAL DIDTICO DO CEAD/UFPI/UAPI Cleidinalva Maria Barbosa Olivei ra DIAGRAMAO Thamara Lisyane Pires de Olivei ra COORDENADOR DE REVISO DE TEXTO Nazioznio Antonio Larcerda REVISO Augisiana Meneses
3
Este texto destinado aos estudantes aprendizes que
participam do programa de Educao a Distncia da Universidade
Aberta do Piau (UAPI), vinculada ao consrcio formado pela
Universidade Federal do Piau (UFPI); Universidade Estadual do
Piau (UESPI); Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia
do Piau (IFET-PI), com apoio do Governo do estado do Piau,
atravs da Secretaria de Educao.
A filosofia da educao enquanto uma disciplina no campo da
formao do educador, professor e pedagogo, objetiva contribuir
com a construo de uma base terico-conceitual que d
sustentao ao docente como prxis. Isto, considerando-se a
especificidade da filosofia ao tratar a realidade na busca de
apreender o sentido que, historicamente, lhe institudo, bem como
em seu processo de instituio.
Com esta viso de realidade, em confronto constante entre o
que , com o vir a ser, decorrente do movimento histrico da
existencialidade humana. O conhecimento em sentido amplo
legitimado, bem como, possibilita a produo de novos
conhecimentos, levando os profissionais da educao a buscarem
novos e diferenciados modos de trabalhar o processo de ensino e
aprendizagem.
Desta forma, este texto em sua multidimensionalidade visa
desenvolver o esprito da pesquisa na realizao do princpio do
ensinar-aprender dentro da especificidade da Filosofia da Educao,
tendo sua estrutura disciplinar organizada em seis captulos, da
seguinte forma:
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Unidade 1: A Especificidade da Filosofia. Como Filosofar:
analisa os modos de se instituir sentido realidade, distinguindo-os
em suas caracterizaes especficas, como: filosfica, cientfica e o
senso comum, dando nfase ao processo de produo do
conhecimento filosfico.
Unidade 2: As Questes do Conhecer e o Estatuto da
Filosofia: as racionalidades histricas: abordam a gnese do
conhecimento, as questes do conhecer segundo uma perspectiva
histrica, que visam explicar sua produo pela razo humana,
desde os tericos clssicos ps-modernidade.
Unidade 3: Filosofia da Educao: conceito, tarefas e
educabilidade humana: apresenta a filosofia da educao como
campo de conhecimento e sua contribuio para o entendimento das
finalidades do educar e das inflexes com que o exerccio do
filosofar pensa a educao.
Unidade 4: As Orientaes Filosficas e as Teorias
Educacionais: discute a importncia da teorizao da educao
como uma atividade do trabalho pedaggico, apresentando a
vinculao entre as concepes de ser humano e as propostas
formativas.
Unidade 5: A Filosofia da Educao no Brasil: situa a
discusso da filosofia da educao na realidade educacional
brasileira, explicitando as abordagens terico-filosficas que
orientam o exerccio de filosofar. Em um segundo momento, analisa
as abordagens poltico-ideolgicas com que as propostas de
educao vm sendo aplicadas no Brasil.
Unidade 6: A Filosofia na Formao Docente: discute a
relao teoria e prtica na formao docente e as implicaes
ticopolticas e estticas, do ser e do fazer docente.
5
Diante desta perspectiva de construo de conhecimento da
natureza do exerccio do filosofar. Este texto objetiva orientar o
estudo de apropriao e aprofundamento da cultura filosfica e dos
procedimentos prprios ao exerccio do filosofar, em sua articulao
com a formao docente, de forma menos fragmentada, permitindo
uma viso de totalidade da especificidade das abordagens
enfocadas.
Assim, partindo-se dessas caracterizaes supra esta
proposta disciplinar de Filosofia da Educao ministrada distncia,
procura acompanhar as inovaes tecnolgicas no campo das
comunicaes e informao, desenvolvendo os recursos de
interatividade entre o discente e o tutor.
Boas leituras Filosficas!!!!!!!!!!!!!!
6
UNIDADE 1: A ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA. COMO
FILOSOFAR? ...................................................................... 08
1.1. Orientao ao estudo de Filosofia............................................. 10
1.2. O Filosfico, o Cientfico e o Senso Comum ............................. 10
1.3. Gnese e Conceito de Filosofia: a atitude e a reflexo
filosfica ........................................................................................... 13
UNIDADE 2: AS QUESTES DO CONHECER E O ESTATUTO DA
FILOSOFIA: AS RACIONALIDADES HISTRICAS ............................ 17
2.1. Gnese do Conhecimento: racionalismo e ceticismo ................ 19
2.2. Racionalismo Emprico, Racionalismo Idealista, Romantismo .. 22
2.3. Razo: posies histricas ....................................................... 24
2.3.1 Razo e Pensamento: mtodo ................................................ 27
2.3.2 Pensamento, Verdade e Ideologia .......................................... 29
UNIDADE 3: FILOSOFIA DA EDUCAO: CONCEITO, TAREFAS E A
EDUCABILIDADE HUMANA ........................................................................ 34
3.1. O Ser e o Vir a Ser Humano: a educabilidade .......................... 37
3.2. Exerccio do Filosofar na Educao: as inflexes filosficas .... 39
3.3. Pedagogia: o Projeto Educativo ................................................ 41
UNIDADE 4: AS ORIENTAES FILOSFICAS E AS TEORIAS
EDUCACIONAIS ............................................................................................ 45
4.1. A Teorizao no campo educacional: conceito e funo
da Pedagogia ................................................................................... 47
4.2. As Ontologias do ser humano e as Abordagens Filosficas da
Educao ......................................................................................... 48
4.2.1 Abordagens Essencialistas da Educao ............................... 51
7
4.2.2 Abordagens Positivistas, Existencialistas e Histrico-Crticas
da Educao .................................................................................... 54
4.2.3 Abordagens Sistmicas da Realidade Educacional ................ 62
4.2.4 Abordagens Filosficas Emergentes ...................................... 64
UNIDADE 5: A FILOSOFIA DA EDUCAO NO BRASIL. .....................68
5.1. A Tradio Filosfica da Educao Brasileira ........................... 70
5.2. O Discurso Ideolgico na Educao Brasileira ......................... 77
5.2.1 Conceituando a Ideologia ....................................................... 79
5.3. As Contradies Poltico-Ideolgicas do Discurso sobre a
Educao ......................................................................................... 84
UNIDADE 6: A FILOSOFIA NA FORMAO DOCENTE .............. 91
6.1. A Relao Teoria e Prtica na Formao Docente ................... 93
6.2. As Dimenses ticopolticas e Estticas da Prtica Educativa 95
Referncias Bsicas ...................................................................... 100
Dicionrios ..................................................................................... 104
Revistas ........................................................................................ 103
Sites ............................................................................................... 104
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UNIDADE 1: A ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA. COMO
FILOSOFAR? ..................................................................... 08
1.1. Orientao ao estudo de Filosofia ............................................ 10
1.2. O Filosfico, o Cientfico e o Senso Comum ............................ 10
1.3. Gnese e Conceito de Filosofia: a atitude e a reflexo
filosfica ........................................................................................... 13
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1.1. Orientao ao Estudo de Filosofia
Os hbitos que se devem desenvolver para que o estudo
sobre determinado assunto proporcione um aproveitamento
satisfatrio, so definidos a partir da natureza do conhecimento. Um
conhecimento de constituio terica, em que predomina o
raciocnio abstrato, argumentativo, exige a aquisio de um estilo
de leitura analtica, interpretativa e crtica, com vista produo de
argumentaes prprias, articuladas com o pensamento dos tericos
usados como suporte e a realidade concreta em que se vive.
Antecedendo ao momento de sistematizao do produto da
leitura, a qual deve ser assimilada com o hbito do ato de ler. O
leitor cria um banco de termos significativos, retirados do texto,
ampliando o prprio vocabulrio; procura localizar os dados
biogrficos dos tericos citados no transcorrer do texto, enfatizando
a produo do mesmo sobre o assunto estudado. Em seguida,
centrando-se no contedo, procura identificar o tema central
discutido, a problematizao com que o autor discute o tema, bem
como, as argumentaes que sustentam o pensamento do autor.
Aps a realizao das etapas citadas, o leitor ganha
condies para elaborar o prprio questionamento, articulando a
compreenso que teve do assunto lido com o entendimento da
realidade que vive e com a realidade que quer adquirir uma
formao mais sistemtica e consistente.
1.2. O Filosfico, o Cientfico e o Senso Comum
O ser humano em sua constituio antropopsicossocial e
cultural requer, para uma existncia propriamente humana,
diferenciando-o dos demais animais, a produo de recursos
materiais e no materiais, concentrando-se os primeiros na
tecnologia, em seus momentos mais simples at s esferas mais
sofisticadas da atualidade.
Raciocnio abstrato um tipo de pensa-mento elaborado somente com conceitos, sem o recurso dos dados concretos, evitando as interferncias acidentais.
11
Para Saber Mais
Para saber mais sobre Filosofia acesse:
Domnio Pblico - http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa Enciclopdia Simpozio - http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/
Mundo dos Filsofos - http://www.mundodosfilosofos.com.br/
Wikipdia http://www.wikipedia.org/wiki/Filosofia
A modalidade dos recursos no materiais refere-se
produo de sentido, conceitos, pensamento, linguagem, que, por
sua vez, vo expressar as normas, o conhecimento de uma forma
geral. Constitui a dimenso simblica, do imaginrio, da
imaginao, com que o ser humano elabora e expressa sua
compreenso de realidade, bem como, sua prtica e agir no mundo.
Dentro desta produo simblica da realidade e da atuao
no mundo, distinguem-se tipos ou nveis de elaborao de sentido e
significado, que se constituem nas diversas modalidades do ser
humano interagir com o mundo natural, humano e com ele mesmo.
Sendo essas modalidades de carter do senso comum, mtico,
mstico, artstico, filosfico e cientfico. Entre os critrios que definem
a diferena entre estes modos do pensar e expressar humano pode-
se destacar as exigncias de formalidade, a abrangncia social do
reconhecimento da validade e os procedimentos necessrios para
elabor-los.
A formalidade como um dos critrios, situa-se na linguagem
empregada na sistematizao e externalizao do sentido da
realidade. Caracterizando-se como formal e informal, segundo os
preceitos scio-histricos e culturais do contexto em que se origina.
Nestas condies, considerando o carter das interaes supra,
DIMENSO SIMBLICA Expressa a realidade como uma relao de sentido institudo em um contexto cultural.
O TERMO SENTIDO est sendo usado como a compreenso elaborada de alguma coisa.
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seguindo o grau crescente de formalidade, tm-se: o senso comum,
mtico, mstico, artstico, filosfico e cientfico.
Quanto ao critrio de abrangncia social do reconhecimento
da validade, referindo-se garantia de certeza da interpretao,
explicao e expresso da realidade natural e humana, podem-se
enumerar as modalidades de interaes na seguinte ordem
crescente: mtico, mstico, artstico, senso comum, filosfico e
cientfico.
Em relao ao critrio de procedimentos, visto como a
exigncia de instituir, objetivamente, meios, mtodos para elaborar a
interpretao, a explicao e a externalizao do sentido da
realidade, constata-se que as modalidades de interaes humanas
se reduzem ao filosfico e cientifico.
Dessas duas modalidades, o filosfico alm de distinguir-se
do cientfico pelo estilo metodolgico em que apresenta uma
diversidade de procedimentos, todos vlidos para interpretar e
expressar o sentido da realidade, tambm, apresenta diferenas no
tipo de certeza que proporciona. Assim, constata-se na perspectiva
histrica a aceitao social de modos excludentes de apreenso da
realidade.
Ressalta-se, entretanto, que as diferenas na elaborao das
modalidades de perceber, interpretar e apreender a realidade, no
determinam a anulao de nenhuma dessas modalidades. Podendo-
se mesmo, afirmar uma correlao entre os modos: filosfico,
cientfico e do senso comum.
Com a caracterizao das modalidades do ser humano
interagir com o mundo natural e humano, e consigo mesmo. Aborda-
se, em seguida, a especificidade do racionalizar filosfico em relao
aos demais modos de racionalidades, explicitando o que a faz ser
O TERMO REALIDADE: Expressa a existncia das coisas de forma objetiva e subjetiva.
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um campo de conhecimento que institui relaes e interconexes de
sentido entre a percepo humana e a realidade.
1.3. Gnese e Conceito de Filosofia: A Atitude e a Reflexo
Filosfica
Para um entendimento da especificidade do modo de pensar
filosfico, pode-se recorrer ao momento histrico que vem sendo
tomado como da sistematizao de um novo conjunto de princpios,
conceitos, condies e finalidades, instalado entre os sculos VI e V
no mundo grego.
Nesta poca, o modo tradicional do ser humano responder s
indagaes sobre as realidades - natural e humana -, demonstrava
certo esgotamento na capacidade de convencimento. Sendo um
modo institudo na linguagem mtica de representao da
realidade, que distanciava as respostas dadas, do raciocnio
argumentativo-discursivo que expressa, de fato, o modo de
sistematizar o pensar e a externalizao do pensamento humano.
O surgimento e a consolidao desse novo estilo de elaborar
o pensamento traduzem um novo modelo de organizao social,
poltica e cultural da Grcia Antiga. Com isso, mudanas na
finalidade de se fazer a transmisso da cultura nessa poca
significando o prprio processo educativo do povo grego , do que
seja cultura e no modo de proceder transmisso cultural.
Nesse contexto de mudanas conceituais e de procedimentos
do pensar, as dvidas e os questionamentos voltam-se para a
A LINGUAGEM MTICA elaborada usando alegorias, figuraes significativas em uma tradio cultural.
Para Saber Mais
Veja alguns textos sobre filosofia e os filsofos no endereo -
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/textos.htm
http://www.cobra.pages.nom.br/filcont.htm
14
formao humana nas dimenses sociopolticas de sua
existencialidade no mundo e nas organizaes socioculturais. Tais
inquietaes personalizam-se na atuao dos sbios ou sofistas e
nos chamados propriamente filsofos primeiros.
A diferena essencial entre essas duas personagens
histricas da filosofia encontra-se no modo de conduzir o exerccio
do pensar e na determinao dos fins a que deve atender.
Os sofistas ocupavam-se com uma prtica discursiva,
argumentativa do convencimento, da persuaso, destituda da
preocupao com a verdade, no sentido de expressar a essncia do
ser.
Eles conduziam o discurso aceitao imediata e
circunstancial, o que possibilitava a mudana da argumentao sem
comprometimento dos fins a que se dirigiam. Os filsofos, por sua
vez, prezavam pelo discurso verdadeiro, que expressasse o ser em
sua essncia, sem os traos acidentais, circunstanciais adquiridos
em suas relaes com o mundo e com os outros.
Desses dois modos de conduzir a construo e os fins do
pensar humano, sobressai-se, como propriamente filosfico, o
procedimento que se volta para a busca da verdade enquanto
expresso da essencialidade dos seres e das manifestaes de
sentido de ser da realidade.
Por essa inteno de atingir o sentido primeiro que expressa a
constituio e a finalidade prpria dos seres e da realidade, a
filosofia se faz a partir de uma atitude questionadora e crtica,
levando o ser humano a um processo de desconstruo dos
conceitos, das convices e das certezas, historicamente,
consolidadas.
A atitude filosfica comea pela necessidade de se elaborar
interpretaes e compreenses que demonstrem argumentaes
Sofistas que se destacaram: Protgoras de Abdera; Grgias de Lencio, Hpias de Elide.
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consistentes quanto ao sentido de ser da existencialidade dos seres
humanos, dos demais seres e de suas manifestaes.
O vivenciar desta atitude, exige que se avalie a constituio
conceitual dos seres e de suas manifestaes, historicamente,
institudas, buscando atingir o princpio de ser e os fins que os fazem
da forma como se expem. A atitude avaliativa em que se elabora o
julgamento, um dos movimentos do ato de pensar, na perspectiva
filosfica, constitui o momento da crtica, que deve se processar com
rigor, abrangendo a realidade pensada como um todo, de forma a
expressar um sentido de ser primeiro, em sua singularidade de
origem.
Para Refletir
Que necessidade o ser humano tem para elaborar conhecimentos
no materiais, considerando-se que sua ao no mundo
marcada pela pragmaticidade de realizaes imediatas e
circunstanciais?
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Atividades
1 Discuta a diferena entre as modalidades de pensar: do senso
comum, filosfica e cientfica.
2 Explique o procedimento do pensar filosfico na produo de
sentido da realidade.
3 Discuta a diferena da postura dos sofistas e a postura dos
filsofos.
4 Que tipo de conhecimento deve predominar na formao
profissional docente?
Saiba Mais
Verifique a bibliografia abaixo:
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da histria da filosofia. 34. ed. So Paulo: Cia das Letras. 1995.
PLATO. Apologia de Scrates. 18. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d.].
SOUZA, Jos Cavalcante de. Os Pr-Socrticos: fragmentos, doxografia e comentrios. 4. ed. So Paulo: Nova Cultural, 1989.
17
18
UNIDADE 2: AS QUESTES DO CONHECER E O ESTATUTO DA
FILOSOFIA: AS RACIONALIDADES HISTRICAS ............................ 17
2.1. Gnese do Conhecimento: racionalismo e ceticismo ................ 19
2.2. Racionalismo Emprico, Racionalismo Idealista, Romantismo .. 22
2.3. Razo: posies histricas ....................................................... 24
2.3.1 Razo e Pensamento: mtodo ................................................ 27
2.3.2 Pensamento, Verdade e Ideologia .......................................... 29
19
No captulo anterior, descrevem-se as modalidades de
interao do ser humano com o mundo natural e humano em sua
tipologia formal: mtico, senso comum, filosfico e cientfico.
Essas modalidades constituem-se, de fato, nos tipos de
conhecimentos elaborados, todos expressando formalidades
prprias, bem como, graus de abstraes da realidade objetiva na
busca de esclarecimentos, explicaes do sentido de ser do
percebido. Destituindo-se da abstrao da realidade, as
intervenes de sentido mais imediatas e cotidianas, para atingir
uma compreenso mais universal, de abrangncia espao-temporal
mais ampla.
Com a afirmao de que o conhecimento resulta de um
processo de construo, expondo-se em modalidades diversas e
com apreenso diversificada da realidade humana e natural, surge,
ento, a curiosidade de saber como o ser humano constri esses
conhecimentos.
2.1. Gnese do Conhecimento: Racionalismo e Ceticismo
As explicaes historicamente elaboradas tomam como
questo central a capacidade do ser humano atingir a realidade nela
mesma, em sua substancialidade, o que significaria a abstrao do
sentido verdadeiro da realidade admirada. Nesta perspectiva,
destacam-se algumas posies entre os pensadores que se
ocuparam com essa busca, em determinados momentos histricos
do conhecimento filosfico.
Entre uma das primeiras posturas resultantes dessa
admirao, encontram-se os pensadores denominados pr-
socrticos. A realidade admirada por estes pensadores, sbios na
poca, era percebida constituda por duas naturezas: a physis
grega, expressando tudo que existe, sem interveno humana, at o
prprio ser humano e a ordem natural em si; e, o nomos grego, que
ABSTRAO: Atividade do esprito, em que retira, separa da ambincia o que se quer compreender em sua consistncia ou constituio particular de sentido.
REALIDADE OBJETIVA: as coisas percebidas pelos sentidos, que tm suas existncias definidas, exteriores ao sujeito do conhecimento.
O nomos grego: refere-se ao mundo da cultura, da norma, simblico, criado pelos humanos. A physis grega: refere-se natureza, o mundo no criado pelos humanos.
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significa a realidade criada pelo homem, a ordem cultural, o mundo
simblico das convenes humanas.
Estas duas posturas dos pensadores pr-socrticos
inauguraram o modo racional, argumentativo e discursivo, de se
elaborar a apreenso da realidade e de express-la. Eram os fsicos
explicando os fenmenos da natureza de forma especulativa, sem a
constatao de fato, instituindo trs campos de conhecimento a
meteorologia, a cosmologia e a cosmogonia; ou, inferindo sobre a
constituio primeira de tudo que existe, o princpio primeiro, que
dota de existncia as coisas, tais como elas so. a arch grega.
Esta procura pelo primeiro princpio constitutivo e explicativo
do tudo que existe, fez surgir pensadores que se aproximam a partir
da concepo que defendem, sobre qual seja este princpio ou
causa primeira da qual tudo se origina.
Assim, tm-se, entre os sculos VII e VI a.C., os jnicos, da
cidade de Mileto, fundada por Tales de Mileto; os pitagricos,
escola fundada por Pitgoras de Samos; os eleticos, fundada por
Xenfanes, cidade da Elia; e, os atomistas, fundada por Lucipo e
consolidada por Demcrito.
Os sbios que se voltam para a realidade dos nomos, da
realidade criada pelos e para os seres humanos, autodenominaram-
se de sofistas, no sculo V a.C.. A atuao dos sofistas centrava-se
na elaborao do discurso como uma prtica educativa, tendo como
finalidade preparar o cidado adequado s novas exigncias do
contexto sociopoltico e cultural ateniense.
A prtica desses sbios, por se caracterizar como
desprendida dos questionamentos e busca da verdade, bem como,
por se fazer na formalidade do discurso persuasivo, historicamente,
mesmo influenciando o campo da educao, no vista como uma
prtica de natureza filosfica.
Tales de Mileto Fonte: Google-imagens
Pitgoras Fonte: Google-imagens
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Simultnea prtica dos sofistas, os pensadores
propriamente filsofos desenvolvem seus estilos de elaborar o
sentido de ser da realidade, nesse momento, mais humana do que
natural. Dessa forma, surge um novo procedimento para se buscar o
sentido de ser dos seres humanos e no-humanos, definindo o qu,
para qu e o porqu de suas existncias. Classicamente, so
citados como representantes desta poca: Scrates, Plato e
Aristteles.
A preocupao em explicar o sentido e constituio do que
existe. Surge com a admirao da realidade natural, percebida
objetivamente pelos sentidos humanos, sem uma distino muito
precisa entre o percebido e a realidade de fato, ou seja, entre o
pensado e a verdade, torna-se, com os filsofos, uma elaborao
argumentativa e discursiva que deve expressar a verdade.
Essa crena, de que o pensamento constri o sentido
verdadeiro da realidade, certeza atingida, de formas diferenciadas,
por esses filsofos primeiros, questionada por pensadores que
duvidam da capacidade da razo abstrair o sentido mesmo da
realidade. Porque toda proposio que se elabore em relao
natureza da realidade, conduz a novos questionamentos.
Por essa postura filosfica denominada de ceticismo, termo
grego que significa investigao, busca de dados que garanta a
veracidade, a abstrao do sentido da realidade, procede por
etapas: a suspenso do juzo (epoch), a insistncia na investigao
da certeza (ztesis) e o atingimento da tranquilidade do esprito
(ataraxia), acomodando-se aos limites da condio do pensar
humano na apreenso do sentido mesmo da realidade.
Os pensadores clssicos desse modo de pensar foram Pirro e
Sexto Emprico, sendo que, influenciaram o estilo de ser filosfico
que surge em confronto com o dogmatismo imposto pelo domnio
Ceticismo: Postura filosfica que questiona o alcance da razo humana em relao definio da verdade.
Santo Agostinho Fonte: Google-imagens
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dos religiosos, no campo do conhecimento, como o agostianismo e
o aquinismo.
At esse momento histrico, que abarca dos pr-socrticos ao
Renascimento, visto por essa perspectiva de apreenso de sentido
da realidade natural e humana, os filsofos procuram expressar o
conhecimento, sem se voltarem para explicar a construo do ato de
conhecer. Modo filosfico de proceder que predomina at o sculo
XIV, quando insurge um confronto de ideias entre as concepes
dogmticas e concepes fundadas na crtica, na dvida diante da
natureza da certeza historicamente hegemnica.
2.2. Racionalismo Emprico, Racionalismo Idealista,
Romantismo
Com esta postura dos pensadores, so introduzidos os
elementos bsicos que determinam a ruptura entre o pensar a
realidade, segundo os modos clssico e helenstico, e, sob a
influncia de interpretaes desses modos, que caracterizam o ser
medivico.
Inicia-se, ento, o exerccio filosfico, que institui como
realidade pensada o ato mesmo de conhecer, com a busca de
explicao, esclarecimento mais preciso da origem das ideias. Do
como se processa o conhecimento? Qual o alcance do pensar
humano na apreenso da realidade verdadeira? Em que se
fundamenta o pensamento para garantir a certeza?
Com esse questionamento, surge uma interpretao
dicotmica da constituio do ato de conhecer, dando funes
distintas aos sentidos e razo, da mesma forma, em relao
origem das ideias, durante o processo de elaborao do
conhecimento verdadeiro.
Essa dicotomia interpretativa gera o racionalismo emprico,
explicando o conhecimento como resultante das sensaes providas
AGOSTIANISMO: atitude filosfica instituda por Santo Agostinho.
So Toms de Aquino Fonte: Google-imagens
AQUINISMO: atitude filosfica instituda por Santo Toms de Aquino.
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pelos sentidos e das experincias humanas, situando como posterior
funo da razo, negando, consequentemente, a concepo
inatista das ideias. E, a interpretao do racionalismo idealista,
que explica o ato de conhecer como um processo de articulao das
faculdades do pensar: abstrao, julgamento, raciocnio,
confirmando a concepo de que as ideias so inatas.
Esta forma dicotmica de explicar como se processa o ato de
conhecer, a produo do conhecimento filosfico ou a prtica de
filosofar torna-se mais intensa entre os franceses que adotam o
racionalismo idealista, com Ren Descartes, Leibniz, Spinoza,
estendendo-se ao pensamento germnico em Kant, Fichte, Schelling
e Hegel.
O racionalismo emprico sistematiza-se no pensamento ingls
atravs de John Locke e David Hume, influenciando a percepo
da realidade, que toma a experincia como mediao no processo
de elaborar explicaes de como tal realidade acontece. Os
pensadores que consideram a experincia como um meio
necessrio apreenso da realidade, do suporte elaborao do
conhecimento, que parte da observao, utiliza mtodos
quantitativos e experimentais, denominado cincia.
Entretanto, o considerar a experincia como parte da
produo e aquisio de conhecimento j se encontra no
pensamento dos sofistas e no pensamento de Aristteles. Em Kant,
este modo dicotmico de explicar a produo do conhecimento,
situando sua origem ou nos sentidos ou como resultante das
atividades da razo, torna-se momento subsequente do ato de
apreenso da realidade. Esta concepo kantiana supera a
separao entre os sentidos e a razo, mas institui a existncia de
duas realidades: a do noumenon e a do phainomenon.
Como consequncia dessa dualidade, surgem pensadores
que priorizam a realidade do noumenon, fazendo uma interpretao,
Noumenon: termo alemo referente ao esprito (nous), s realidades percebidas pelo pensamento.
Phainomenon: termo grego que significa aquilo que se mostra; tal como se mostra a partir de si mesmo. Distinguindo-se da iluso (Schein) e da aparncia (Erscheinung).
David Hume Fonte: Google-imagens
John Locke Fonte: Google-imagens
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predominantemente, racionalista idealista, como Hegel; j outros
filsofos, concebem como nica realidade possvel de explicao, a
do phainomeno, como os que criam a abordagem positivista, como
Augusto Comte.
Diante dessa crena de que o sentido da realidade, tanto na
perspectiva emprica como na perspectiva idealista, resulta das
atividades da razo de forma disjuntiva, seletiva, classificadora,
destituda da vontade, intenes, interesse e sentimentos do sujeito
cognoscente. Posicionam-se filsofos que veem a construo de
sentido da realidade como uma expresso particular da
existencialidade do ser humano no mundo.
Esses filsofos partem de princpios que consideram
dimenses da vivncia no explicada e controlada pela faculdade
racional humana, como a vontade, a liberdade, os sentimentos.
Assim, por fazerem essa relao e conexo entre a ao
humana em seu contexto sociopoltico e cultural. Os sentimentos
que permeiam a percepo de realidade, limitando-a ou ampliando-
a, bem como, com a definio de um telos, de uma finalidade de ser
para a existncia humana e sua produo, caracterizam-se como
romnticos.
2.3. Razo: Posies Histricas
A razo, como um conceito dos estudos filosficos, ganha um
sentido distinto do que usualmente dado. Comumente, este termo
serve de sinnimo de certeza, motivo, causa; o que, de uma forma
geral, proporciona certa referncia de origem e definio mais
precisa de algo, como na frase: Ele colocou, com razo, a
desconfiana na teoria, podendo entender que, ele tinha uma
explicao mais esclarecedora da questo.
A concepo filosfica de razo faz a relao entre a
capacidade do pensar de forma organizada, sistemtica e
25
intencionada, e a dimenso da sensibilidade humana, constituda
das paixes, dos sentimentos. A razo se constitui na ao de
intelegir, na capacidade de apreenso ordenada das realidades,
natural e humana, da, a afirmao dos princpios do pensar,
porque, para que a realidade seja compreendida, precisa seguir uma
orientao interpretativa, que lhe imprima sentido, fins e forma de
ser.
Pelo sentido etimolgico, razo um vocbulo tanto de origem
latina ratio, como grega logos, ambas, porm, quer dizer reunio,
ordenamento, medio, clculo, ou seja, algo organizado, com
critrio, que proporciona certa viso de algo.
Com esta concepo de razo como a atividade intelectual
que ordena, dando clareza realidade, historicamente, encontram-
se posies distintas como dos empiristas, tais como: Francis
Bacon, Thomas Hobbes, John Locke, David Hume, Bertrand Russell;
dos racionalistas, como: Plato, Aristteles, Ren Descartes,
Leibniz, Kant, Hegel; e, dos filsofos que se situam de uma forma
mais complexa, sem uma definio precisa nesta tipologia clssica,
sendo vistos como romnticos, pessimistas, irracionalistas, niilistas,
entre outras nomeaes, sendo alguns deles: Arthur Schopenhauer,
Sren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche. Estas posies filosficas
da razo encontram-se como base terica de pensadores
contemporneos, ainda na perspectiva da modernidade, que
procuram elaborar uma sntese desta diversidade de modos de
apreender as realidades humana e natural. Entre estes
pensadores, Edmund Russerl elabora uma concepo de filosofia
como cincia rigorosa, extraindo elementos da lgica, da matemtica
e dos conceitos de Kant e Hegel, nomeada como fenomenologia.
Em uma perspectiva mais sociopoltica e cultural, filsofos
como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, procuram
explicar a construo da razo como conscincia instituda
Princpios do pensar: Orientam e estruturam o raciocnio lgico formal, sendo: identidade, terceiro excludo, da no-contradico.
Modernidade: perodo histrico em que se desenvolve uma reao escolstica e ao esprito medieval; exalta a razo, o sujeito do conhecimento, o esprito crtico, tendo como expresses mximas o Iluminismo e as Cincias, situa-se entre o sculo XVI e sculo XVIII.
26
historicamente, segundo os determinantes do contexto em que as
pessoas vivem.
Esses filsofos criadores da Escola de Frankfurt ou Teoria
Crtica, sob a influncia do materialismo histrico dialtico o
marxismo - interpretam a construo do pensamento a partir das
interaes de conflito e contradies, sendo que, ao enfatizarem as
dimenses sociopolticas e culturais, concebem duas modalidades
de razo: a razo instrumental ou tcnico-cientfica e a razo
crtica.
Outra tendncia filosfica que tem uma concepo prpria de
razo, seguindo uma orientao mais cientfica de anlise da
realidade, toma como principal a interpretao da forma ou estrutura
com que se apresenta a realidade. No se fixando na ideia de
continuidade ou diacronismo, mas em uma perspectiva de estrutura
em si, tal qual se apresenta no momento histrico, logo, privilegiando
o sincronismo - o estruturalismo - aproxima-se do modo de ver
kantiano.
Por esta anlise estruturalista, filsofos como Michel Foucault,
Jacques Derrida, Gilles Deleuze, concebem a criao cientfica,
filosfica, artstica, tcnica, bem como, das sociedades como
inserida em um contexto histrico descontnuo, cada momento
histrico destas criaes se fundam em uma razo estrutural
sincrnica.
Entre os filsofos da cincia ou epistemlogos, o estilo
estruturalista pode ser sentido no pensamento de Thomas Kuhn, ao
explicar a histria das cincias como realizaes de momentos
revolucionrios, em que instituem ou validam conjuntos de leis,
princpios, concepes, hipteses, crenas, procedimentos
metodolgicos e investigativos, chamados de paradigmas.
Diacronismo e Sincronismo: conceitos que se referem anlise no tempo. O primeiro interliga o objeto de estudo ao movimento histrico; j o segundo, percebe o objeto de estudo em um momento determinado.
27
Esses paradigmas ao atingirem os limites de interpretao,
explicao e apreenso da realidade, provocam crise, surgindo
espao para novos paradigmas se instalarem, como o caso atual
das discusses em torno dos limites do paradigma da simplicidade
ou newtoniano-cartesiano em relao ao paradigma da
complexidade ou sistmico. Tendo, como um dos representantes,
Edgar Morin.
Numa posio mais recente, encontram-se os filsofos tidos
como ps-modernos, como Franois Lyotard e Richard Rorty, que
concebem a construo da razo como redes de linguagem, presas
aos momentos de aceitao e funcionalidade. Vista desta forma, a
razo apresenta-se com uma natureza instvel, efmera, ou mesmo
sem consistncia real, sendo meras crenas, mitos do contexto
histrico-cultural.
2.3.1 Razo e Pensamento: Mtodo
Conforme as colocaes citadas acima, a razo promove um
movimento de construo de sentido da realidade humana e natural,
o que faz por proceder de forma organizada e segura de um fim a
atingir, seja com uma garantia de validade histrica, seja com uma
garantia incerta. Assim, pode-se afirmar que a razo conduz a
percepo humana na apreenso da realidade, atividade que se
configura como o ato de pensar, de elaborar o pensamento.
O pensamento vai se constituir em algo elaborado pela razo,
na busca de um conhecimento mais preciso, perseguindo a inteno
de verdadeiro, expressando-se tanto como abstrato e intelectual
quanto prtico, de agir no mundo.
Em um sentido geral, o termo pensamento, na acepo do
verbo latino pendere, quer dizer, suspenso, avaliao, o que induz
as ideias, os juzos e as opinies j produzidas, que devem ser
revistas. J na acepo dos verbos cogitare e intelligere, que
Ps-Modernidade: perodo da histria do pensamento que critica as crenas da modernidade, que tm na cincia e na razo crtica, os meios para superao da explorao econmica e emancipao sociopoltica e cultural humana.
28
significam, respectivamente, meditar, ter ateno e reunir, escolher,
ganha a concepo de ser uma atividade da inteligncia de ter
diante de si algo e escolher, reunindo caracteres com os quais
elabora ideias, conceitos, juzos, raciocnio, valores.
Desta forma, pode-se considerar a ao de pensar como o
movimento que envolve as atividades intelectuais, a imaginao, a
memria, articulando as experincias sensveis, os elementos da
linguagem e as dimenses da conscincia, exercitando a reflexo,
a crtica, a anlise, a sntese, a interpretao e a concluso.
Com esta concepo, o pensamento tem como finalidade
primeira a elaborao de conceitos, que expressam relaes e
interconexes de significados prprios de cada ser, obtido pelo
processo de abstrao. Enquanto uma expressividade de conexes
e interconexes de significados, os conceitos resultam da ao dos
juzos ao avaliar as qualidades, os atributos, as propriedades e
predicados prprios de um ser, promovendo a afirmao positiva ou
negativa de seu sentido e consistncia real.
Resultam do pensamento a formulao de explicaes
fundamentadas, dentro das exigncias de constataes formais e os
princpios de racionalidade e demonstrao, podendo-se, assim,
consider-las verdadeiras ou falsas a partir da consistncia prpria
com que se expressam. Estas explicaes atendendo a este nvel de
exigncia constituem uma teoria.
Para que esse processo de abstrao de caracteres e
apreenso do sentido de ser e de realidade apresente consistncia
interna e nexos com o que est sendo pensado, requer a
elaborao desse processo segundo orientaes sistemticas, que
constituem o mtodo. O mtodo representa procedimentos definidos
conforme as situaes e natureza da realidade que se quer construir
ou apreender o sentido, sendo definido, tambm, pelo tipo de razo
ou racionalidade com que se percebe a realidade observada.
Conscincia: Estado do esprito que demonstra possuir noo de acontecimento exterior mente, ou na prpria dinamicidade mental, como distinguir objetos e qualidades dos objetos.
Consistncia interna: Articulao lgica das ideias, estruturando de forma consistente a elaborao do pensamento.
29
De forma que, na elaborao das teorias, no percurso
histrico do conhecimento filosfico, instituram-se procedimentos
metodolgicos: dialgicos ou maiuticos (Scrates), dialticos
(Plato, Hegel, Marx), demonstrativos (silogismo aristotlico),
cartesianos ou dvida metdica (Descartes), fenomenolgico ou
poche (Edmund Husserl), analtico dos filsofos analticos (Ludwig
Wittgenstein, Gilbert Ryle), genealgico (F. Nietzsche), arqueolgico
(M. Foucault), a hermenutico (Dilthey, Heidegger, Gadamer), da
complexidade (Edgar Morin), entre outros.
Outros procedimentos definidos a partir da natureza da
realidade que se quer abstrair o sentido podem ser vistos em suas
caractersticas gerais, como: dedutivo (das realidades
virtuais/idealizadas, como a matemtica); indutivo (das realidades
que se pode observar), desenvolvido por experimentos e hipteses,
que constituem os mais apropriados das cincias naturais; os das
realidades humanas, em suas condies histrico-culturais,
expressas pelos significados, prticas, comportamentos, sendo,
portanto, compreensivo-interpretativos.
Do exposto, pode-se perceber que os procedimentos
metdicos das elaboraes tericas no campo da filosofia,
diversificam-se com os filsofos no com a natureza da realidade a
ser pensada; enquanto, no campo da cientificidade, os mtodos so
determinados pela natureza do problema a ser investigado.
2.3.2 Pensamento, Verdade e Ideologia
O pensamento sistemtico, historicamente, apresenta
diferenas nos aspectos de validao e aceitao. Primeiramente
com os Sofistas, em que a verdade resultava de habilidades de
elaborao formal do discurso, sendo a persuaso, o
convencimento, o critrio de validao; com Scrates e Plato, o
reconhecimento de validade era dado pela consistncia interna dos
Mtodos Filosficos: http://www.wikipedia.org/wiki/Filosofia
30
argumentos, com a inteno de atingir sua constituio primeira, sua
essncia.
Com Aristteles, mesmo elaborando um novo procedimento
de validao, no concordando com o estilo argumentativo
socrtico-platnico, ainda considera a realidade constituda de uma
verdade que deveria ser extrada pelo ato de pensar. A verdade
estaria na evidente correspondncia entre o pensamento elaborado
e a realidade admirada.
Outra postura diante da questo da validade do pensamento
encontra-se em Descartes, para o qual o sentido verdadeiro de tudo
resultaria de um processo detalhado de investigao, que comearia
com a negao dos traos falsos da realidade imediata, excludos
pela dvida metdica, atingindo, ento, as ideias claras e precisas.
Com esta certeza de que a razo proporciona a verdade, o
que, alis, predomina durante a modernidade, tem-se a tendncia
filosfica dos Iluministas ou Enciclopedistas DAlembert,
Condorcet, Rousseau, Kant, Voltaire, entre outros.
Estes filsofos acompanham a introduo dos princpios de
cientificidade no processo de produo de conhecimento, negando
validade ao estilo essencialista de pensar a realidade, exaltando o
racionalismo em uma perspectiva de abstrair a verdade das
realidades naturais e humanas. A razo vista como a fonte de
aquisio da conscincia do ser e de realidade do mundo, sob duas
interpretaes de sua constituio, uma naturalista e outra
romntica, torna-se o fator determinante do pensar dos filsofos.
Esta posio de excelncia que atribuda razo, imerge
em um processo de descaracterizao filosfico e poltico, com a
produo de uma concepo de mundo, concepo de sociedade e
concepo de ser humano, divergentes com as que se fundavam em
uma explicao de realidade mstica, considerando a realidade como
31
uma doao sobrenatural. O ser humano visto na condio natural,
composto por uma dimenso orgnica e outra dimenso psquica,
que sofre a interveno de fatores socioculturais.
O pensar humano, a atuao humana no mundo, as
interaes sociais, polticas, simblicas e produtivas expressam as
condies materiais de existncia. No a pr-determinao do
destino, conforme concluram os filsofos polticos (Feuerbach,
Marx, Grasmci), que procuram olhar o mundo e o homem sob o
prisma dos determinantes socioeconmicos, polticos e culturais.
Desta forma, expem as prticas de conduo intelectual ou
ideologia a que se expe o ser humano, atravs das instituies
sociais.
Da mesma forma, a base do pensamento ou organizao do
sentido de realidade, expressa na linguagem, nos processos de
abstrao, est permeada de sentimentos, emoes, valores,
interesses e outras tendncias de naturezas imprecisas, no
observveis, logo, no factuais, a que Freud chamou de
inconsciente. Assim, a constatao dessas dimenses sociopoltica
e psquica, respectivamente, a ideologia e inconsciente, desvelam a
fragilidade da razo o lugar de produo da verdade, bem como, o
conceito de verdade no mais traduz a realidade, tornando-se
conceito particular, comprometido com o contexto sociocultural e
histrico em que produzido.
32
Para Refletir
As transformaes espirituais que demarcam o capital cultural
da humanidade tm definido mudanas radicais nas
concepes de mundo, sociedade, vida e do prprio ser
humano. Por esta perspectiva, a humanidade caracteriza-se, na
atualidade, como detentora de uma espiritualidade
emancipada?
Atividades
1. Pesquise os pensadores pr-socrticos e discuta a repercusso
de suas ideias no campo de conhecimento filosfico e cientfico.
2. Escolha um filsofo empirista e um filsofo racionalista e elabore
um confronto do conceito de razo.
3. Comente a consistncia da apreenso do sentido de ser e de
realidade elaborada pela atitude filosfica irracionalista.
4. Analise a relao entre a razo ctica e a racionalidade
cientfica.
5. Explique as implicaes dos conceitos de ideologia e
inconsciente nas crenas de liberdade e emancipao humana,
fins da racionalidade moderna.
6. Caracterize a condio ps-moderna em confronto com o
pensamento da modernidade.
33
Saiba Mais
Verifique a bibliografia abaixo:
FREITAS, Luiz Carlos de. Ps-modernidade e libertao:
reconstruindo as esperanas. Campinas (SP): Autores
Associados, 2005.
LYOTARD, JEAN-FRANOIS. A condio ps-moderna. 6.
ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 2000.
MATOS, Olgria. Filosofia a polifonia da razo: filosofia e
educao. So Paulo: Scipione, 1997.
NIETZSCHE, Friedrich. Obras incompletas: seleo de
textos de Gerard Lebrun. 4. ed. So Paulo: Nova Cultural,
1987. v. I e II. [Os Pensadores]
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e
representao, III parte; Crtica da filosofia Kantiana;
Parerga e paralipomena, captulos V, VIII, XII, XIV. So
Paulo: Nova Cultural, 1988. [Os Pensadores]
34
35
UNIDADE 3: FILOSOFIA DA EDUCAO: CONCEITO, TAREFAS E A
EDUCABILIDADE HUMANA ........................................................................34
3.1. O Ser e o Vir a Ser Humano: a educabilidade .......................... 37
3.2. Exerccio do Filosofar na Educao: as inflexes filosficas .... 39
3.3. Pedagogia: o Projeto Educativo ................................................ 41
36
Com a concepo de que o exerccio do filosofar tem como
fim a elaborao do sentido de ser e da realidade, conforme
colocado anteriormente. A partir da abstrao dos caracteres
determinantes da realidade, do fenmeno, do sujeito, enquanto um
ser em si, a busca da relao entre a filosofia e a educao conduz
afirmao de que: tal relao se d como dimenso do ser
educao, ao se considerar a educao um processo de construo
e aperfeioamento da conscincia no ser humano.
Pela educao o ser humano elabora a prpria
existencialidade do que e do que possa vir a ser no mundo, na
sociedade, assimilando e identificando-se com os referenciais
sociais, polticos e culturais vivenciados. Esta ao deve se realizar
de uma forma pensada, refletindo com criticidade as implicaes que
tal modo de ser pode acarretar.
Estes fins dados educao definem a relao constitutiva
com a filosofia como de natureza antropolgica, axiolgica, poltica
e epistemolgica. A significao antropolgica encontra-se nos fins
prprios do educar, ou seja, na ao necessria da educao com
vista a promover, em um primeiro momento, a hominizao do ser
natural; em seguida, humaniz-lo como um processo formativo de
elevao espiritual, na condio de ser pensante, que age por
escolha e deciso e s se realiza na/com a interao consigo, o
outro e o mundo.
Desta forma, a educao enquanto definidora do ser e do vir a
ser humano, requer princpios condutores do agir interativo que
caracteriza a existencialidade humana. Sendo, esses princpios,
ticos e estticos fundadores de um estilo poltico de ser humano,
Axiologia: rea da Filosofia que pensa os valores em sua essencialidade (Max Scheller) e natureza prescritiva (Emmanuel Kant).
Epistemologia: rea de filosofia que estuda o conhecimento com o objetivo de avaliar consistncia e coerncia terica, metodolgica e tica, em especial, o conhecimento cientfico (Gaston Barchelard, Hilton Japiassu, Luis Carlos Bombassaro).
Hominizar: Transmitir as qualidades de ser humano a espiritualidade, tornando-o mais do que um ser natural, um complexo sociopsquicobiolgico.
37
com o qual se expressa de forma autnoma e emancipada nos
ambientes sociopolticos e culturais.
A natureza epistemolgica da relao entre filosofia e
educao explicita-se na atitude reflexiva e crtica com que deve
conduzir o processo formativo o devir humanizador do ser
natural em ser humano pela assimilao da cultura. Para a
concretizao consciente e comprometida dessa formao, o
educador, mediador do processo, deve saber caracterizar, identificar
e avaliar as abordagens tericas, metodolgicas e instrumentais que
do suporte s propostas e prticas educativas.
Com este entendimento de educao e da relao entre
filosofia e educao, definir um sentido de ser para a filosofia da
educao significa conceber a educabilidade humana como uma
realidade a ser estudada em sua constituio e finalidade de ser,
segundo as dimenses acima colocadas.
3.1. O Ser e Vir a Ser Humano: a Educabilidade
A resposta dada questo para qu educao?, de
natureza filosfica por buscar a finalidade de ser do ato de educar,
mas que expressa uma constituio antropolgica ao identificar
educao com o processo de internalizao de um projeto cultural
de complementao. Por esse processo, o ser natural, condio
primeira do ser humano, transforma-se em um indivduo com traos
tipicamente humanos, expresso complexa constituda de uma rede
Antropologia: Campo do conhecimento que tem como objeto de estudo o homem, em sentido genrico. No aspecto cientfico estuda o homem como ser natural e cultural. No aspecto filosfico estuda o homem como ser vontade, de escolha, que elabora sentido para atuar no mundo (Emmanuel Kant, Ernst Cassirer, Henrique C, de Lima Vaz).
www.criticanarede.com/ filos_epis.html www.inep.gov.br/pesquisa-online www.scielo.br www.cobra.pages.nom.br www.ditudo.etc.br/cincia/cincia_humanas/filosofia.html www.wikipedia.org/wiki/Filosofia www.ghiraldelli.pro.br/Filosofia_da_educaao www.wikipedia.org/Portal:Educa www.pedagogiaemfoco.pro.br www.centro-filos.org.br www.dominiopublico.gov.br/pesquisa
38
de relaes antropobiopsicossocial, a qual se institui em um contexto
sociopoltico e histrico.
Com efeito, pela educao se processa a formao da
conscincia humana, o que implica na realizao da educabilidade
humana, construo do carter especfico de uma identidade
prpria, ampliando a condio natural pela capacidade de educar-se
e ser educado. Processos tipicamente humanos, considerando-se
que a hominizao e a humanizao so condies adquiridas
historicamente nas interaes humanas, da mesma forma, os fins a
que se destina.
Contudo, a educabilidade humana no se esgota nesta
dimenso antropolgica de assimilao das normas, tradies,
comportamentos, crenas e concepes do contexto que vivencia.
O processo de educao que se realiza ao longo da
existencialidade humana, constitui um projeto de emancipao dos
condicionantes e determinantes de uma menoridade espiritual. Em
que o ser humano se encontra destitudo de uma conscincia
autntica e autnoma, por conseguinte, sem identidade e liberdade,
sendo expressividade de uma conduo intelectual autoritria e
alienante.
A estruturao do processo educativo, que se realiza como
educabilidade e historicamente situado, remete s formas com que
se vivencia ou se conduz s finalidades prprias do projeto
educativo. Estas finalidades educativas ganham o sentido que a
conscincia ou a condio do pensar a realidade humana em sua
complexidade natural, psquica, social, poltica, produtiva e
simblica, atributo do indivduo, alcana em relao individualidade
humana e na condio de ser social.
39
3.2. Exerccio do Filosofar na Educao: as Inflexes Filosficas
Pensar a educao na perspectiva da educabilidade humana,
que se faz como formao emancipadora da conscincia de
realidade e no sentido de ser um devir humanizador, caracteriza a
abordagem filosfica, que se constitui em uma dimenso do educar,
pelas inflexes que realiza ao analisar crtica e reflexivamente o
projeto educativo.
Este exerccio ou inflexes do filosofar, com a finalidade de
explicitar o sentido e realidade de ser do educativo enquanto ato
formativo. Implica na definio interpretativa destes dois indicativos:
o para qu da educao no ambiente da existencialidade do ser
humano; o qu educativo conforme as exigncias sociopolticas,
culturais e histricas do contexto em que se realiza.
A compreenso da educao, precisando em que consiste de
fato, qual seria aquele princpio primeiro o arkh grego, buscado
pelos filsofos primeiros originador do educativo na essencialidade
dos fins a que se dirige, expe a relao necessria entre educao
e o ser humano, enquanto se determinam reciprocidade. Isto , o ser
humano no estado natural s torna-se humano pelo processo
educativo, bem como o educativo, ontologicamente, existe para
atender a tais fins, confirmando, desta forma, a estrutura educanda
humana.
Com esta dimenso antropolgica da educao, tendo o ser
humano no centro do processo, ressalta-se a complexidade da
formao humana, vista na articulao do tico, poltico, cientfico,
esttico, tecnolgico, etc. Desta forma, a especificidade dada ao ser
humano pelo processo educativo, torna-o intencionado e
comprometido com a construo de uma realidade fundada no
princpio da diversidade, do mltiplo e democrtico, desde que a
educao enquanto formao desenvolva uma conscincia poltica,
crtica, tica e sensvel.
40
O tornar-se humano, acontecimento que envolve a
subjetividade e as interaes sociais, consiste propriamente no
processo educativo. A realizao do educativo se faz como um
fenmeno pensado, intencionado. Supondo tanto uma concepo de
homem quanto uma viso de mundo, de sociedade, de vida.
Intencionado, desta forma, o educativo se realiza como um projeto
de amplitude imediata, de forma conjuntural, e mediata,
assegurando o sentido prprio de ser da existncia humana dentro
destas concepes. Confirma-se, assim, a presena da conduo
ideolgica e utpica, simultaneamente, nos processos formativos de
ser humano.
Pensar o educativo como projeto de formao do ser e do vir
a ser humano requer o entendimento de que, enquanto ato
intencionado, a educao se faz em um ambiente de imbricaes
tericas, axiolgicas e teleolgicas, instituindo-se como uma
prxis. Sistematicamente, o ato educativo se constitui com a
interconexo dos conhecimentos particulares das cincias empricas
e das orientaes reflexivas e crticas de natureza filosficas. Na
busca de apreender as finalidades de ser, o para qu educar.
Alm destes indicativos das inflexes filosficas em relao
ao educativo, nos quais a relao filosofia e educao se expressa
como dimenses antropolgica e ontolgica, a filosofia se ocupa,
tambm, com o esclarecimento da linguagem utilizada no campo da
educao.
A filosofia, com esta tarefa, segue as orientaes de que as
palavras constituem conceitos com sentido determinado a partir de
um tipo de racionalidade, podendo-se identificar um estilo de
linguagem mais elaborada, sofisticada, tpica de um ambiente
especfico de conhecimento, como o cientfico e o filosfico; da
mesma forma, h a linguagem comum, em que os termos no
expressam com rigor o que significam, sendo este estilo
predominante na educao.
Subjetividade: O que se refere ao sujeito, expressando suas singularidades; modo como a realidade apreendida pelo sujeito (Emmanuel Kant). Mediato: O que dado conscincia por meio de intermedirio, por mediao (Hegel, Marx). Imediato: Modo de obter os dados da realidade de forma direta, sem intermedirio; o que a conscincia capta diretamente (Henri Bergson, Edmund Husserl). Teleolgico: Conhecimento dos fins, das finalidades das coisas, ope-se a busca das origens; o interesse est no sentido, no propsito das coisas (Emmanuel Kant). Prxis: Relao teoria e prtica que caracteriza a ao humana transformadora da natureza e de si mesma (Karl Marx).
41
A atividade filosfica de anlise da linguagem, mesmo j
presente entre os sofistas e filsofos como Plato, s adquire
expressividade como um modo de pensar filosfico, com as
interpretaes de realidade institudas pelos empiristas, mediante o
que, tendncias filosficas com teorias e procedimentos
metodolgicos prprias, so sistematizadas. Dentro de um processo
histrico, define-se o neopositivismo como a abordagem filosfica
que tem na linguagem o objeto de anlise.
3.3. Pedagogia: o Projeto Educativo
Nesta perspectiva de considerar o processo educativo como
uma prxis, intencionalmente estruturada, observa-se a necessidade
de um suporte terico-metodolgico e instrumental com vistas
concretizao do ato educativo, enquanto elaborao de um projeto
formativo, bem como realizao prtica. Desta forma, a educao se
transforma em um objeto de anlise que deve ser pensado, avaliado,
planejado e organizado, com a finalidade de proporcionar o devir
formativo humano.
A ao de pensar o educativo, segundo procedimentos formais,
sistemticos, configura-se no saber fazer pedaggico, que envolve
um conjunto de aportes terico-metodolgicos para fornecer uma
base slida aos projetos educativos e conduzi-los enquanto uma
prxis.
A pedagogia vista desta forma, implica em uma funo
sistemtica, que pensa a prxis educativa, o que se confirma com
uma anlise etimolgica e histrica do termo grego paidagoga, a
qual apresenta uma ambiguidade semntica. Isto , inicialmente,
significava a conduo, no necessariamente intelectual, da criana,
do jovem, ao ambiente de aprendizagem, mas, por extenso de
sentido, passou a ser interpretado como o campo de conhecimento
que pensa as dimenses, terica e instrumental, da educao.
42
Desta forma, a pedagogia torna-se um conhecimento que tem
como finalidade, no s explicar ou expressar uma compreenso de
uma determinada realidade, mas tambm, avaliar, planejar e
conduzir a realizao dessa realidade. Definindo, assim, uma
especificidade fundada em uma razo terico-prtica.
Este pensar a especificidade da pedagogia como um
conhecimento terico-prtico, provm da complexidade da ao
educativa, objeto de estudo da pedagogia, a qual, para se fazer
acontecimento necessita ser sistematizada, pois no se d
naturalmente, como um fenmeno espontneo. O educar um ato
intencionado, planejado e tecnicamente conduzido finalidade
preestabelecida a atingir.
Com a compreenso do educativo como atividade intencional,
comprometida com referenciais conceituais de ser humano,
conforme o contexto sociopoltico, cultural e histrico, da mesma
forma, com a dimenso produtiva deste contexto, pens-lo,
pedagogicamente, implica em um saber-fazer complexo. Isto , um
pensar interdisciplinar que abarque as dimenses cientfica,
filosfica e pragmtica do fazer educativo.
Assim, situar o saber fazer pedaggico na dimenso das
inflexes filosficas sobre a educao, consiste na busca de
definio das abordagens tericas, orientadoras dos fins para os
quais um projeto educativo proposto. Os fins ou telos educativos
instituem um conjunto de valores e conceitos performativos do ser
social que se prope formar, definido conforme contexto
sociocultural, poltico e histrico, em que se deseja form-lo.
Desta forma, historicamente, encontra-se uma diversidade de
projetos educativos, sistematizados e conduzidos por pedagogias
divergentes, tendo em comum, uma dimenso antropolgica, e uma
natureza ticopoltica.
Razo: Capacidade de descobrir/estabelecer relaes e interrelaes entre as coisas, a partir de certos princpios pr-estabelecidos. Usa da faculdade de julgar na busca da verdade.
Interdisciplinar: Procedimento pedaggico de pesquisa e ensino, que articula duas ou mais disciplinas na interpretao da realidade.
43
Para Refletir
No atual momento histrico das organizaes sociais, em que a
racionalidade instrumental, tecnocrtica e com uma forte tendncia
para uma espiritualidade utilitria, pragmtica. O projeto educativo
ainda pode ser concebido como proposta de um devir formativo do
ser social?
Atividades
1. Discuta a concepo de educao trabalhada no texto.
2. Explique as dimenses: antropolgica, poltica, axiolgica e
epistemolgica da educao.
3. Comente a ocupao da educao com a hominizao e
humanizao do ser humano.
4. Discuta o conceito de educabilidade como finalidade da
educao.
5. Explique as inflexes filosficas em relao educao.
Saiba Mais Links
Pedagogia em foco < http://www.pedagogiaemfoco.pro.br>
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44
Saiba Mais
Verifique a bibliografia abaixo:
ADORNO, Theodor W. Educao e emancipao. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1995.
ARANHA, Maria Lcia de A. Filosofia da educao. 3. ed. So
Paulo: Moderna, 2006.
EM ABERTO, Braslia, ano 9, n. 45, jan.mar. 1990. Disponvel
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CARVALHO, Adalberto D. de. Utopia e educao. Porto: Porto,
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FULLAT, Octavi. Filosofias da educao. Petrpolis: Vozes,
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KANT, Immanuel. Sobre pedagogia. Piracicaba: Ed. da
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SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histrico-crtica: primeiras
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45
46
UNIDADE 4: AS ORIENTAES FILOSFICAS E AS TEORIAS
EDUCACIONAIS ............................................................................................ 45
4.1. A Teorizao no campo educacional: conceito e funo da
Pedagogia ........................................................................................ 47
4.2. As Ontologias do ser humano e as Abordagens Filosficas da
Educao ......................................................................................... 49
4.2.1 Abordagens Essencialistas da Educao ............................... 51
4.2.2 Abordagens Positivas, Existencialistas e Histrico-Crticas da
Educao ......................................................................................... 54
4.2.3 Abordagens Sistmicas da Realidade Educacional ................ 62
4.2.4 Abordagens Filosficas Emergentes ....................................... 64
47
4.1. A Teorizao no Campo Educacional: Conceito e Funo da
Pedagogia
Nesta perspectiva de considerar o processo educativo como
uma prxis, intencionalmente estruturada, observa-se a necessidade
de um suporte terico-metodolgico e instrumental com vistas
concretizao do ato educativo, enquanto elaborao de um projeto
de formao, bem como a realizao prtica deste projeto. Desta
forma, a educao se transforma em um objeto de anlise, que deve
ser pensado, avaliado, planejado e organizado com a finalidade de
proporcionar o devir formativo humano.
A ao de pensar o educativo, segundo procedimentos
formais, sistemticos, configura-se no saber-fazer pedaggico, que
envolve um conjunto de aportes terico-metodolgicos e
instrumentais para fornecer uma base slida aos projetos educativos
e conduzi-los enquanto uma prxis.
Esses projetos educativos, historicamente elaborados,
expressam um referencial conceitual de ser humano e de modelos
de sociedade, situando-se, desta forma, no interior de um
paradigma scio, antropolgico, poltico e cultural.
Diante desta concepo e considerando a diversidade de
contextos socioculturais, da mesma forma, a durao histrica da
humanidade abre-se em um leque de perspectivas tericas de
natureza cientfica e filosfica, propondo modelos de formao.
Devir: No sentido etimolgico do latim chegar; aplicado por Herclito com o sentido de movimento, expressando algo que existe em processo.
Paradigma: No sentido prprio significa modelo; na concepo de Thomas Kuhn um conjunto de conceitos, princpios, leis, teorias, metodologias, tpico de uma abordagem cientfica da realidade.
48
4.2 As Ontologias do Ser Humano e as Abordagens Filosficas
da Educao
Com a concepo de que os fins da educabilidade seja
promover a formao humana na perspectiva de atingir a totalidade
do ser social, constitudo na contextualidade histrico-cultural.
Encontram-se orientaes diferenciadas do dever-ser ou de como
deve ser o devir formativo do ser humano. Sendo este, definido
conforme um conjunto de conceitos e valores selecionados por
princpios poltico-ideolgicos hegemnicos, ou que visam confrontar
as concepes e crenas que do sustentao ao momento
histrico.
Um modo de apresentar essas perspectivas tericas
encontra-se na produo do filsofo Bogdan Suchodolski (1986), em
que, partindo de uma lgica dicotmica e disjuntiva, concentra essas
perspectivas a partir de duas concepes da construo do
pensamento humano: o essencialismo e o existencialismo. A
primeira concepo afirma que os conceitos so produes
idealizadas, sem relao necessria com a ambincia humana, com
o contexto sociopoltico e cultural, instalando um distanciamento
entre o ser em si e o ser empiricamente exposto, tomando-os como
duas realidades distintas.
Nesta concepo, encontram-se pensadores tais como
Plato, que pregam a razo como o centro irradiador das ideias,
bem como, os que seguem a concepo de matria propalada por
Aristteles.
Para esses filsofos, a espiritualidade humana se constitui
de uma substancialidade imaterial, que, mesmo sendo uma
realidade idealizada, ocupa uma posio determinante no ato de
deciso da ao humana no mundo concreto, definindo o que deve
ser vlido e aceito como legtimo para o bem viver. Desta forma,
Ser Social: Condio humana aps se sujeitar s orientaes socioculturais, polticas e histricas da sociedade.
Espiritualidade: Dimenso pensante do ser humano, distinta da matria, condio corprea; tambm usada como sinnimo de inteligncia.
49
somente a razo reteria condies para dar respostas e decidir
sobre a existencialidade humana no mundo.
Na concepo existencialista, a dimenso emprica humana,
sua atuao no mundo, com todas as implicaes que os desejos,
os prazeres, os sentidos em geral, possam vir a ter nas decises e
escolhas do bem e da retido, torna-se a referncia para a
construo dos conceitos. O ser humano elabora as concepes de
bem, de mundo, de vida, a partir de sua prtica concreta,
considerando os aspectos indefinidos da irracionalidade humana,
dos quais a razo no consegue extrair ou imprimir sentido de ser
justificvel.
Como primeiras manifestaes de conformidade do
pragmtico como dimenso significativa do ser humano pode-se
colocar o modo de pensar e agir dos sofistas, que afirmavam a
condio social e circunstancial da realidade humana.
Com a densidade do conhecimento sobre os seres vivos em
geral e, em especial, sobre o ser humano. O entendimento de que a
espiritualidade resulta da atividade da razo vai sendo contestada,
primeiro, pela crtica atuao humana na sociedade, expondo as
contradies dos hbitos e preceitos morais vigentes, o que
caracteriza as produes renascentistas.
Em seguida, na prpria dimenso da produo do
conhecimento, com a busca de explicaes mais precisas dos
fenmenos naturais, quando sistematizado um procedimento
metodolgico que apresenta um alto grau de preciso ao explicar os
fenmenos empricos.
Esta explicao resulta no surgimento do mtodo cientfico,
consequentemente, de um tipo de conhecimento fundado no mundo
emprico, que vai constituir a cincia, conceito dado a um modo de
explicao quantitativa, metdica e experimental da realidade natural
Retido: Caracterstica da razo reta, justa, que age com prudncia, que contem virtude moral e/ou virtude intelectual.
50
e humana que se instalou e se consolidou durante o momento
histrico da modernidade.
Em confronto com estas concepes opostas e contraditrias
sobre a natureza do ser humano o essencialismo e o
existencialismo com nfase na razo, na empiria e na prtica,
segundo uma lgica disjuntiva. Surgem as explicaes desta
natureza, que a consideram uma realidade constituda pela
articulao dessas dimenses. Desta forma, confirmando uma
ontologia do ser humano fundada em uma lgica conjuntiva, que
busca articular o pensamento com a ao na explicao da
realidade humana.
Observa-se que, explicar a realidade humana com esta
articulao entre pensamento e ao, caracteriza-se na concepo
de prxis elaborada a partir dos princpios da lgica dialtica e dos
princpios do materialismo histrico, que fundamentam a produo
terica dos marxistas e dos tericos da teoria crtica.
Esta materialidade refere-se concepo de que a
constituio do ser humano uma realidade scio-histrica, poltica
e cultural, distanciando-se das perspectivas puramente idealistas
que defendem uma essencialidade produzida pela razo,
desvinculada da ao humana no mundo. Da mesma forma,
posiciona-se contrria s perspectivas que concebem o ser humano
somente como ser emprico, sendo suficiente a atuao no mundo
de forma a garantir a constituio de uma espiritualidade, que tem
nos sentidos, a mediao com o mundo.
Com estes entendimentos histricos da realidade humana,
fundados em concepes ontolgicas divergentes, situam-se as
teorias educacionais que tm como fins a formao deste ser,
atendendo s concepes antropolgicas, sociopolticas e culturais
que caracterizam o momento histrico, bem como, os determinantes
Lgica Dialtica: Atividade de estruturao das ideias em argumentos a partir do princpio de contradio, motor da histria humana.
Lgica: Atividade que organiza, estruturalmente, as idias, constituindo argumentos em que as ideias podem aparecer relacionadas, mesmo quando de natureza diferentes, demonstrando relaes conjuntivas, ou aparecer sem relao, de forma disjuntiva, separadas.
51
socioeconmicos que interferem na concretizao dos projetos
educativos.
Para que as teorias educacionais tenham o alcance
teleolgico desejado, ou seja, formar o ser humano dentro de uma
contextualidade scio-histrica, os tericos da educao apresentam
taxionomias diversas das teorias pedaggicas, segundo os modelos
antropolgicos que pretendem confirmar.
Diante desta proposio, considerando a diversidade
ontolgica supra, um modo de classificar estas teorias consiste no
uso das concepes cosmolgicas e antropolgicas em que se
fundam como princpios de articulao ou disjuno entre elas.
4.2.1 Abordagens Essencialistas da Educao
Com uma viso de mundo e de ser humano constitudo por
uma essencialidade imutvel, atemporal, logo, com a pretenso de
intocveis pelas oscilaes histricas da existencialidade humana no
interior de um contexto sociocultural. Encontram-se, de um lado, os
modelos formativos centrados em base racionalista, vendo na
intelectualidade, no aperfeioamento espiritual enquanto
emancipao, os fins a realizar.
Situa-se, nesta perspectiva, o projeto educativo da Grcia
Clssica a Paideia que objetivava formar o ser humano como um
todo, segundo o ideal platnico de formao, que influenciou os
projetos educativos renascentistas e da modernidade,
principalmente com a concepo de emancipao humana.
Alm do idealismo platnico, h o realismo aristotlico que
prope a formao pelo aperfeioamento das potencialidades do ser
humano. Tendo como telos atingir as formas que organizam a
matria, configurando-lhe uma performace, bem como, o controle
sobre os instintos naturais, as manifestaes passionais,
considerando a razo como a faculdade mais elevada.
Modelos Antropolgicos: Tipos de ser humano que se deseja formar com o processo educativo.
Concepo Cosmolgica: Usada no sentido interpretativo da estruturao e organizao das dimenses sociocultural, poltica e histrica da realidade humana.
52
Outros modelos antropolgicos fundados no essencialismo,
voltados para a formao de um ser idealizado, encontram-se nas
concepes de Ren Descartes (1596-1650), Leibniz (1646-1716),
E. Kant (1724-1804), Fichet (1762-1814), Hegel (1770-1831) e W.
Dilthey (1833-1911), que, mesmo diferentes no modo de caracterizar
a essncia humana, tm em comum, entre outros aspectos, uma
viso transcendente da espiritualidade humana.
A fenomenologia idealiza uma proposta formativa, tendo como
finalidade o desenvolvimento da conscincia humana, com o
entendimento de que mantm uma relao direta com o mundo,
elaborando, nesta relao, as representaes e interpretaes que
passam a ser a realidade para a conscincia que o idealizou. O
filsofo Edmund Husserl (1859-1938) procurou articular o idealismo
cartesiano que se reduz a individualidade do eu com o criticismo
kantiano, no que se refere s possibilidades do conhecimento
fenomnico.
Na abordagem fenomenolgica para o aperfeioamento da
conscincia humana, que elabora a racionalidade do mundo vivido,
projetando possibilidades de transformao, mudana no modo de
interpretao e representao do mundo, acarretando, assim, outras
condies para a existencialidade do ser humano.
Com base nesta abordagem terico-metodolgica,
pensadores como M. Heidegger (1889-1976), M. Merleau-Ponty
(1908-1961), H-G Gadamer (1900) e P. Ricoeur (1913) desenvolvem
novas perspectivas de formao, em que enfatizam, no mais a
conscincia em si, considerando-a capaz de apreender diretamente
a realidade, mas, com o aperfeioamento de mediaes, tais como,
a percepo e a linguagem.
Ainda fundados nas ontologias de mundo e de ser humano
essencialistas, enfatizando, entretanto, as manifestaes psquicas
53
como os instintos e as pulses, no a razo, surgem dois novos
modelos antropolgicos em suas concepes de formao humana.
Um sob orientaes das ideias da psicanlise freudiana,
elaborando teorias educacionais fundadas nos princpios polticos da
autogesto, da liberdade e antiautoritria. Entre os tericos que
tomam as dimenses desejantes e utpicas, tanto no aspecto
individual quanto no aspecto social, como referncias para a anlise
da realidade para projetar um estilo formativo, encontram-se T.
Adorno (1903-1969), F. Guattari (1930-1992), J. Deleuze (1925-
1995), H. Marcuse (1898-1978), com concepes antropolgicas e
de fins educacionais diferenciadas.
Com certa particularidade, neste contexto que prioriza o
essencialismo e as dimenses mais voluntrias do ser humano,
podem ser inseridas as abordagens educacionais da Escola de
Frankfurt, atravs do pensamento de T. Adorno, M. Horkheimer
(1895-1973), H. Marcuse (1898-1979) e W. Benjamin (1892-1940)
entre outros, que desenvolvem uma anlise da condio humana a
partir dos princpios psicanalticos freudianos, do pensamento
marxista e influncias hegelianas.
Situados neste modelo antropolgico, mas defendendo uma
conscincia scio-histrica e poltica, estes tericos trabalham os
princpios de liberdade, emancipao e superao das estruturas
capitalistas, procurando desvelar as estruturas dissimuladoras da
ingerncia poltica nas dimenses socioculturais em que se fundam
os projetos educativos.
Encontram-se ainda as teorias de cunho poltico anarquista,
que propagam um modelo antropolgico centrado no ser em si, a
formao do indivduo deve ser o fim da educao. A educao deve
formar no indivduo uma conscincia autogestora da existencialidade
no mundo, na sociedade, visto que pregam o fim do Estado e
demais instituies sociais, por consider-las instncias repressoras.
Ser em si: termo usado para designar a existncia particular dos seres, presente em Hegel, Sartre.
54
Como representantes dessa abordagem, situam-se Max
Stirner (1806-1856), com um anarquismo individualista; P. J.
Proudhon (1809-1865), Saint-Simon (1760-1825), Fourier (1772-
1837), defendendo a implantao do sistema socialista e o
fortalecimento da concepo cientfica de mundo; F. Ferrer i Guardia
(1859-1909), A. S. Neill (1883-1973) propem uma educao
antiautoritria.
Empolgado com o avano cientfico-tecnolgico do primeiro
meado do sculo XX, bem como, enraizado na concepo
freudomarxista, P. Goodman propaga a ideia de desescolarizao
da educao, assumida por Ivan Illich (1926-2002), que visa uma
formao libertadora do ser humano.
4.2.2 Abordagens Positivistas, Existencialistas e Histrico-
Crticas da Educao
A apresentao dessas abordagens tericas, constituindo um
nico bloco, se justifica pela abrangncia conceitual de homem a ser
formado pelo projeto educativo, bem como, da cosmoviso que lhe
serve de contexto, que se caracterizam por um conjunto de traos
que se fazem presentes com maior ou menor intensidade nessas
abordagens.
A concepo de mundo e de ser humano em questo, situa
ambos em uma realidade natural, mas, retrabalhada pela produo
cultural humana. De forma que o mundo passa a ser visto como
passvel de ser conhecido e transformado pelo conhecimento
cientfico-tecnolgico. Bem como, o homem, que tem sua condio
de ser, reduzida a uma realidade orgnica, emprica, podendo ser
explicada como as demais realidades naturais, fenomnicas.
O ser humano alm de se constituir em um fenmeno
natural um fenmeno sociocultural, necessitando, porm, de
instruo para assumir esta dupla natureza. Dito de outra forma,
55
passar da primeira natureza (biolgica) para a segunda natureza
(sociocultural).
Diante desta ambiguidade existencial humana, os tericos
elaboram propostas explicativas que buscam contemplar os limites e
possibilidades da formao humana. Entre estas explicaes,
algumas teorias tendem para uma viso empirista da realidade.
Considerando o ser humano vazio de espiritualidade, mas, retendo
condies para assimilar o conhecimento que lhe for dado pela
realidade objetiva em que est inserido.
Essa concepo expressa os princpios do empirismo
clssico, presente no pensamento de J. Locke (1632-1704), D.
Hume (1711-1776) e dos Iluministas, entre eles, Condillac (1715-
1780) e Rousseau (1712-1778). Orientados pelos princpios
empiristas de que as certezas so experimentais, negando as
orientaes cartesianas dominantes at o sculo XVII, adotam a
natureza como um princpio regulador universal, centrando nos
sentidos, nas sensaes, a fonte do conhecimento humano.
As diversas teorias pedaggicas que influenciam, afirmam a
importncia da interferncia externa para o desenvolvimento
psquico, como M. Montessori (1870-1952); das atividades sensrio
motor, com as atividades ldicas de Frebel (1782-1852); a
formao social, tica e intelectual, com J. F. Herbart (1776-1841); e,
propriamente pedaggicos, com J. A. Comnius (1592-1670).
Em pensadores como Rousseau, a concepo naturalista de
ser humano afirma-se como instinto, sentimento, espontaneidade. A
partir destes referenciais, elabora um conceito de sociedade
danificada pelas transformaes cientfico-tecnolgicas, e uma
noo de natureza humana que deve ser resguardada dos
malefcios que o convvio social pode provocar. Diante do que
prope uma educao que deve estimular a curiosidade espontnea
da criana, para pensar e produzir o conhecimento.
Jean Jacques Rousseau Para saber mais acesse: http://www.centrorefeducacional.com.br/rousseau.html
56
Esta concepo naturalista, centrada nos sentidos, j se faz
presente no pensamento filosfico renascentista, em Montaigne
(1533-1592), Erasmo (1467-1536), Coprnico (1473-1543), entre
outros.
No campo da pedagogia, as concepes rousseauniana se
fazem presentes na proposta pedaggica de Pestalozzi (1746-1827).
Este terico desenvolveu sua pedagogia sob a orientao de que o
individuo uma unidade entre esprito-corao-mo, que implica na
trplice atividade do conhecer-querer-agir, correspondendo
educao da inteligncia, da moral e da tcnica (ARANHA, 2006).
Assim, com o avano e consolidao da viso naturalista de
mundo, natural e humana, intensificam-se os estudos experimentais
da natureza, no campo da fsica e da qumica. O que d um grande
impulso ao conhecimento cientfico e produo tecnolgica,
proporcionando transformaes radicais nos meios de produo,
consolidando, da mesma forma, o modelo de sociedade industrial.
Neste contexto de desenvolvimento cientfico-tecnolgico
surgem pensadores como A. Comte (1798-1857), que toma como
objeto de estudo a realidade humana, considerando-a como um
fenmeno natural observvel, pois, tem nos sentidos a nica fonte
de atingir o conhecimento.
Esta posio terica faz da realidade humana um
acontecimento positivo, que se institui seguindo leis e etapas
necessrias para o seu surgimento como fenmeno. O pensamento
de Comte vai influenciar o evolucionismo de H. Spencer (1820-
1903), o cientificismo de J. Stuart-Mill (1806-1873), a sociologia de
E. Durkheim (1858-1917), explicitada em seus estudos sobre a
educao.
57
As ideias positivas de Comte tambm se fazem presentes nas
propostas educacionais de July Ferry, fim do sculo XIX, nas quais
procura obter um princpio uniformizador das opinies das pessoas.
As concepes naturalistas da realidade humana, base das
ideias empiristas e positivistas, conduzem a uma interpretao de
liberdade, que se transforma em princpios da organizao
socioeconmica e poltica das sociedades, tendo em J.-J. Rousseau
(1712-1778), T. Hobbes (1588-1679), J. Locke (1632-1704), David
Ricardo e Adam Smith (1723-1790), os pensadores clssicos.
No campo da educao, as ideias de liberdade, autonomia,
iniciativa, criatividade e indivduo, promovem mudanas nos
princpios educativos, decretando a substituio do modelo de
escola tradicional para o modelo de escola nova.
Estas novas abordagens mantm os critrios dos fenmenos
da natureza como intrpretes da realidade humana, mas negando a
concepo tradicional de educao diante das explicaes