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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE QUÍMICA
ÁREA DE QUÍMICA INORGÂNICA
IQD 114715
QUÍMICA DOS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO
ROTEIRO DE AULAS
Prof. Marcello Moreira Santos
SEGUNDO PERÍODO DE 2012.
AULAS: SEGUNDAS-FEIRAS – 10h00’ as 11h50’ ICC AT 092 QUARTAS-FEIRAS – 10h00’ as 11h50´ ICC AT 092
Universidade de Brasília - Instituto de Química 2
IQD 114715 - Química dos Elementos de Transição
Prof. Marcello Moreira Santos
2
ÍNDICEA. LIGAÇÃO COORDENADA ............................................................................................... 4
a. Introdução à Química de Coordenação ..................................................................... 4
b. Número de Coordenação e Geometrias ..................................................................... 5
c. Tipos de Ligantes ...................................................................................................... 7
e. Nomenclatura de Complexos de Coordenação .......................................................... 10
g. Efeito Quelato .......................................................................................................... 12
h. Reações de Complexos ............................................................................................ 13
i. Troca Aquosa e Formação de Complexos Íons-Aquoso ............................................. 15
j. Reações de Deslocamento de Ligantes em Complexos Octaédricos .......................... 16
k. Reações de Deslocamento de Ligantes em Complexos Quadrados ........................... 16
l. Reações de Transferência de Elétrons....................................................................... 17
B. TEORIAS DE LIGAÇÃO DE METAIS DE TRANSIÇÃO. .................................................... 20
a. Introdução aos Elementos de Transição .................................................................. 20
b. Teoria da Ligação de Valência (TLV) ........................................................................ 20
c. Teoria do Campo Ligante (TCL) ................................................................................ 21
d. Teoria do Campo Cristalino (TCC) ............................................................................ 21
e. Outras Formas da Teoria do Campo Ligante ............................................................. 22
f. Propriedades Magnéticas dos Complexos de Metais de Transição............................. 23
h. Série Espectroquímica ............................................................................................. 24
Exercícios: ................................................................................................................... 29
C. COMPLEXOS COM LIGANTES Π (Π ÁCIDOS): ............................................................... 30
a. Introdução ................................................................................................................. 30
b. Carbonilas Metálicas Mononucleares ....................................................................... 32
c. Carbonilas Metálicas Polinucleares .......................................................................... 32
d. Flexibilidade Estereoquímica nas Carbonilas ........................................................... 32
e. Preparação das Carbonilas Metálicas ....................................................................... 33
g. Espectro Vibracional das Carbonilas Metálicas ......................................................... 33
h. Reações com Carbonilas Metálicas ........................................................................... 34
i. Ânions Carbonilados e Hidretocarbonilados .............................................................. 34
j. Halogenetos de Carbonilas ....................................................................................... 35
k. Complexos de Isocianeto ......................................................................................... 35
l. Complexos de Dinitrogênio ....................................................................................... 35
m. Complexos de Tiocarbonil ....................................................................................... 36
n. Complexos de Óxido Nítrico ..................................................................................... 36
o. Complexos Dativos de Ligantes do Grupo V e do Grupo VI ....................................... 36
p. Complexos de Cianeto .............................................................................................. 37
D. TEORIAS INORGÂNICAS ............................................................................................. 38
A) Regra dos 18 elétrons e Regra de Wade .................................................................. 38
Regra dos 18 Elétrons .................................................................................38
a. Ligação ...................................................................................................38
b. Contagem dos elétrons de valência .........................................................38
c. A Regra dos 18 elétrons e Fórmulas de carbonilas metálicas ..................38
d. Complexos com 16 elétrons de valência ..................................................39
e. Exceções para a Regra dos 16/18 elétrons .............................................39
f. Resumo ...................................................................................................40
Regra de Wade ...........................................................................................40
g. Princípio .................................................................................................40
h. Contagem ...............................................................................................41
B) Teoria dos Orbitais de Fronteira (TOF) .................................................................... 43
a. Orbitais HOMO e LUMO ............................................................................43
b. Reatividade e TOF ...................................................................................44
E. COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS: ............................................................................. 46
a. Geral de organometálicos ........................................................................................ 46
b. Métodos Sintéticos ................................................................................................... 47
c. Alquinos e Arilas de Lítio .......................................................................................... 47
d. Organocompostos de Sódio e de Potássio ................................................................ 48
e. Organocompostos de Magnésio ............................................................................... 48
f. Organocompostos de Mercúrio ................................................................................. 48
h. Organocompostos de Alumínio ................................................................................ 50
i. Organocompostos de Silício, Germânio, Estanho e Chumbo ...................................... 51
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IQD 114715 - Química dos Elementos de Transição
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3
j. Organocompostos de Fósforo, Arsênio, Antimônio e Bismuto ................................... 52
l. Complexos com Alquenos ......................................................................................... 53
n. Complexos de Grupos Carbonílicos Delocalizados .................................................... 55
o. Complexos dos Alquinos .......................................................................................... 55
p. Complexos de Alila................................................................................................... 56
q. Complexos de Carbeno ............................................................................................ 56
F. PRINCÍPIOS DE CATÁLISE .......................................................................................... 57
a) Descrição de catalisadores ...................................................................................... 58
b) Propriedades de catalisadores ................................................................................ 60
c) Catálise Homogênea ................................................................................................ 61
d) Catálise Heterogênea .............................................................................................. 72
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4
A. LIGAÇÃO COORDENADA
a. Introdução à Química de Coordenação
Em compostos de coordenação, metais são circunvizinhados por grupos que são
chamados de ligantes. Os tipos de grupos que podem circunvizinhar um átomo metálico
ou cátion são variados, ânion ou moléculas neutras, mas eles podem ser considerados
pertencentes a duas classes, os ligantes que se ligam ao metal ou cátion por átomos de
carbono e os ligantes que não o fazem. Os primeiros formam os compostos
organometálicos. O ramo da química inorgânica preocupada com o comportamento dos
cátions e seus ligantes é a Química de Coordenação.
A classificação de muitas substâncias como compostos de coordenação se justifica
por sua química poder ser descrita em termos de uma espécie catiônica central (Mn+), em
torno da qual se pode colocar diversos ligantes, L; L1; L2; etc. em um ilimitado número
de combinações. a carga total do compostos é a carga do metal mais a carga somada
dos ligantes. Exemplo é o Pt2+, que pode formar vários complexos com a alteração das
concentrações de diferentes ligantes:
[Pt(NH3)4]2+ [Pt(NH3)3Cl]1+ [Pt(NH3)2Cl2] [Pt(NH3)Cl3]
1- [PtCl4]2-
I II III IV V
Nestes complexos de Pt2+, os ligantes estão nos vértices de um quadrado com o
metal no centro.
H3NPt
NH3
NH3
H3N
ClPt
NH3
NH3
H3N
ClPt
NH3
Cl
Cl
ClPt
Cl
Cl
Cl
I II IV V
O complexo III apresenta isomeria, sendo possíveis as estruturas cis e trans:
III
ClPt
NH3
NH3
Cl
ClPt
Cl
NH3
H3N
cis trans
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5
Os fundamentos da Química de Coordenação estão nos trabalhos de Jorgensen e
Werner de 1875 a 1915, quando prepararam milhares de compostos de coordenação e
buscaram relações entre eles. Werner desenvolveu o conceito de ligantes em torno de
um íon metálico central (complexo de coordenação) e demonstrou a estrutura
geométrica de muitos compostos.
b. Número de Coordenação e Geometrias
O número de coordenação (NC) indica o número de ligantes em torno do cátion
metálico central, que por sua vez indica a geometria de coordenação do complexo.
- Número de Coordenação Dois; NC = 2; Dois ligantes em torno do cátion central, de
ocorrência rara e geometria linear, ocorre principalmente para os cátions Cu1+, Ag1+,
Au1+ e Hg1+.
Exemplos: [H3N-Ag-NH3]1+; [NC-Ag-CN]1-; [Cl-Au-Cl]1-
- Número de Coordenação Três; NC = 3; Três ligantes, geometria; triângulo plano ou
geometria piramidal:
Exemplos:
[HgI3]1 [SnCl3]
1-
-
I
HgI I
1-
plana
Sn
ClCl Cl
1-
piramidal
Alguns compostos com coordenação sugerida 3, AlCl3, FeCl3, PtCl2PR3 formam
dímeros, sendo assim 4 o número de coordenação do cátion:
- Número de Coordenação Quatro; NC = 4; Quatro ligantes, geometria tetraédrica ou
quadrado planar, a maioria dos cátions formam complexos tetraédricos, os complexos
quadrados são comuns nos cátions, Cu2+. Ni2+, Pd2+, Pt2+, Au3+, Rh1+, Ir1+, que tem oito
elétrons d e formam híbridos dsp2 em preferência a sp3.
ClAl
ClAl
Cl
Cl
Cl
Cl
ClPt
ClPt
Cl
PR3
R3P
Cl
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6
Exemplos:
[CoBr4]2- [PtCl4]
2-
Co
BrBrBr
Br2-
ClPt
Cl
Cl
Cl
2-
- Número de Coordenação Cinco; NC = 5; Cinco ligantes com dois arranjos geométricos
simétricos possíveis, bipirâmide trigonal e pirâmide de base quadrada, que podem se
autoconverterem facilmente, por exemplo [Ni(CN)5]3- há as duas estruturas:
- Número de Coordenação Seis; NC = 6; Seis ligantes, quase todos os cátions formam
complexos com essa coordenação, a geometria mais característica é o octaedro, que é
extremamente simétrico quando as ligações M-L são idênticas, ML6
L
M
L
LLLL
Também é bastante comum a geometria de octaedro distorcido, com distorção
tetragonal (A), onde os eixos a e b são diferentes, a distorção rômbica (B) sendo a, b e c
diferentes e a distorção trigonal (C):
M LLLL
L
L
a
ba
b
b b
a = b(A)
= ca = b a = b
M
L
L
L L
L
La
b
c
ab
c
(B)
L
M
L
L
L L
La
b
(C)tetragonal rômbica trigonal
Outra estrutura geométrica que ocorre, mas com raridade é o prisma triangular,
CN
Ni
CN
NCCN
CN3 - CN
NiNC CN
CNNC
3 -
BPT PBQ
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menos estável, mas autoconversível em octaedro.
M
L
L L
L
L
L
- Número de Coordenação Sete; NC = 7; Sete ligantes ML7 , mais comum para cátions
maiores, possuem quatro formas geométricas regulares, a bipirâmide pentagonal, a
bipirâmide quadrada-trigonal, uma variação do octaedro com um ligante em uma das
faces e uma variação do prisma trigonal com um ligante em uma das faces quadradas:
- Número de Coordenação Oito; NC = 8; Oito ligantes, com três geometrias importantes,
o dodecaedro, o antiprisma e mais raramente o cubo.
- Número de Coordenação Nove; NC = 9; Nove ligantes, com geometria única, um
prisma trigonal com um ligante em cada face quadrada.
c. Tipos de Ligantes
Os ligantes, tanto ânions quanto neutros, são bases de Lewis em relação ao
cátion metálico, ou seja, doadores de pares de elétrons. Quando os ligantes doam um
par de elétrons (formam uma ligação M-L) são chamados monodentados. Os ligantes
capazes de doar dois ou mais pares de elétrons para o mesmo cátion são chamados de
polidentados ou quelatos.
A maioria dos ligantes é monodentado como; F1-, Cl1-, Br1-, CN1-, NH3, H2O, CH3OH
e OH1-.
Entre os ligantes polidentados, os bidentados são os mais comuns, tais como;
diaminas, difosfinas, diéteres, β-quetoenolatos, carboxilatos, ditiocarbonatos, nitratos e
sulfatos:
H2NCH2CH2NH2 - etilenodiamina - en ; (Ph)2PCH2CH2P(Ph)2 - difos
H3COCH2CH2OCH3 - glima H3CCOCHCOCH3 - acetilacetonato – acac
O
CC
C
O
CH3H3C
H
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- Ligantes tridentados
H2NCH2CH2NHCH2CH2NH2
- dietilenotriamina - dien
N
N
N
- terpiridil - terpi
− Ligantes tetradentados de cadeia aberta
− Ligantes tetradentados de cadeia fechada – porfirinas
O ácido etilenodiaminatetracético (H4EDTA) é um ligante hexadentado que pode
funcionar como pentadentado e tetradentado nas suas formas aniônicas H2EDTA2-,
HEDTA3-, EDTA4-
H4EDTA
CC O
NCH3C
H3C
H
O CC
CNCH3
CH3
H
(CH2)2
NCH2CH2NCH2C
CH2C
CCH2
CCH2
O
O
OH
OH
O
O
OH
OH
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d. Isomeria de Compostos de Coordenação
A forma como os ligantes se coordenam aumenta em muito a quantidade de
complexos existentes pela possibilidade da existência de isômeros.
- Isomeria Geométrica:
As formas mais conhecidas são a cis (ligantes do mesmo lado) e a trans (ligantes
opostos), como exemplificado para um complexo quadrado planar ML2X2:
transcis
XM
X
L
L
XM
L
L
X
Para complexos octaédricos ML4X2, também ocorrem os isômeros cis, trans :
X
M
LLL
LXX
M
XLL
LL
cis trans
e os isômeros facial (fac) e meridional (mer) para ML3X3
mer
L
M
XLX
LXX
M
XLL
XL
fac
- Isomeria Ótica:
Isômeros óticos são moléculas com imagens especulares não superponíveis, ou
seja, desviam a luz polarizada em sentidos opostos, também são chamados de formas
enantiomorfas.
Entre os complexos enantiomórficos octaédricos estão os com 2 ou 3 ligantes
bidentados, M(L-L)2X2 e M(L-L)3
Anti-horárioHorário
DextrógiroLevógiro
L
M
L
L
L
L
L
L
M
L
L
L
L
L
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- Isomeria de Ionização:
- [Co(NH3)4Cl2]NO2 = [Co(NH3)4Cl2]1+ + NO2
1-
- [Co(NH3)4Cl(NO2)]Cl = [Co(NH3)4Cl(NO2)]1+ + Cl1-
- CrCl3.6H2O [Cr(H2O)6]Cl3 violeta ppt 3AgCl
[Cr(H2O)5Cl]Cl2 verde ppt 2AgCl
[Cr(H2O)4Cl2]Cl violeta ppt 1AgCl
- Isomeria de Ligação:
[(NH3)5Co-NOO]2+ [(NH3)5Co-ONO]2+
nitro nitrito
ligante, SCN - liga-se pelo S ou pelo N
ligantes, R2SO - liga-se pelo O ou pelo S
- Isomeria de Coordenação:
- [Co(NH3)6]3+[Cr(CN)6]
3- e [Cr(NH3)6]3+[Co(CN)6]
3-
- [Cr(NH3)6]3+[Cr(SCN)6]
3- e [Cr(NH3)4(SCN)2]1+[Cr(NH3)2(SCN)4]
1-
- [PtII(NH3)4]2+[PtIVCl6]
2- e [PtIV(NH3)4Cl2]2+[PtIICl4]
2-
e. Nomenclatura de Complexos de Coordenação
A nomenclatura de compostos de coordenação obedece regras da IUPAC (UIQPA),
o primeiro passo é a designação dos ligantes:
Ligantes: F1- = fluoro; Cl1- = cloro; Br-1- = bromo; I1- = iodo; CN1- = ciano; CO32- =
carbonato; SO42- = sulfato; NO3
1- = nitrato; H3CCOO1- = acetato; C2O42- = oxalato (ox);
H3C- metil (Me); H3CCOCHCOCH3 = acetilacetonato (acac); C2H5 = etil (Et); C6H5- = fenil
(Ph ou φ); C5H5 = ciclopentadienil (Cp); P(φ)3 = trifenilfosfina; H2NCH2CH2NH2 =
etilenodiamina (en); C5H5N = piridina (py); (H3C)2SO = dimetilsulfóxido (dmso);
(NH2)2CO = urea; H2O = aqua ou aquo; NH3 = amin ou amino; CO = carbonil ou
carbonila; NO = nitrosil, O2 = dioxigênio; N2 = dinitrogênio; H1- = hidrido ou hidro; OH1-
= hidróxido, O2- = oxo; O22- = peroxo; NH2
1- = amido; -SCN1- = tiocianato; -NCS1- =
isocianato; -ONO1- = nitrito; -NO21- = nitro
Metal: nos complexos neutros ou catiônicos, o nome do metal é seguido por um número
em algarismo romano indicando o Nox formal, M(II), quando o complexo é um ânion, o
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metal é designado com a terminação “ato” seguido do algarismo romano.
Prefixos: dois ou mais ligantes ou átomos metálicos iguais;
2 - di (bis) 6 - hexa 10 - deca
3 - tri (tris) 7 - hepta 11 - undeca
4 - tetra (tetraquis) 8 - octa 12 - dodeca
5 - penta (pentaquis) 9 - nona (enea)
Isômeros: em itálico com hífen
cis-; trans-; mer-; fac-
Ligantes em ponte: são indicados por μ seguido do nome
Exemplos:
1) Dê os nomes dos complexos:
[Ag(NH3)2]1+; [Li(H2O)4]
1+; [AuCl2]1-; [Fe(CO)5]; [Co(NH3)6]
3+; [Ag(CN)2]1-;[BF4]
1-;
[V(CO)6]1-; [CuCl2]
1-; [HgCl2]; [AlCl4]1-; [Ni(CO)4]; [Zn(NH3)4]
2+; [UF7]3-; [Cu(NO3)6]
2-;
[Pt(en)2]2+; [Co(acac)3]; [Cr(dmso)6]
2+; [V(CO)4Cp]; [(CO)3Feμ(CO)3Fe(CO)3];
[(NH3)5CrOHCr(NH3)5]5+; [Cp(NO)Crμ(NO)2Cr(NO)Cp]; [(CO)5CrμHCr(CO)5];
2) Escreva as fórmulas dos compostos:
- octacianoniobato (III); - eneidridorrenato (VII);
- tetrapiridinoplatina(II); - acetilacetonatodiclorobis(piridino)cobaltato (II);
- hexacianoferrato(III); - aminoclorobis(etilenodiamino)cobalto (III);
- tetraclorozincato (II); - carbonilcloro(dioxigênio)bis(trifenilfosfino)irídio(I)
- tetraoxoferrato (VI);
3) Escreva e desenha as fórmulas de:
a) sulfato de cis-tetraaminodiclorocobalto (III)
b) nitrato de cis-aminoclorobis(etilenodiamino)cobalto (III)
c) cloreto de bi-μ-clorobis(diaminoplatina(II))
f. Constante de Equilíbrio na Formação de Complexos
A formação de compostos em soluções aquosas é um problema termodinâmico
que pode ser tratado por expressões apropriadas das constantes de equilíbrio. Se um íon
metálico e um ligante monodentado são colocados em solução e se admitindo que não se
formem produtos insolúveis e nem complexos com mais de um íon metálico, as
expressões de equilíbrio que descrevem os sistema são:
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- M + L = ML k1 = [ML]/[M].[L]
- ML + L = ML2 k2 = [ML2]/[ML].[L]
- ML2 + L = ML3 k3 = [ML3]/[ML2].[L]
- MLN-1 + L = MLN kN = [MLN]/[MLN-1].[L]
Existem então N equilíbrios, sendo N o número máximo de coordenação do íon
como o ligante.
Outra maneira de expressar as relações de equilíbrio é:
- M + L = ML β1 = [ML]/[M].[L]
- M + 2L = ML2 β2 = [ML2]/[M].[L]2
- M + 3L = ML3 β3 = [ML3]/[M].[L]3
- M + NL = MLN βN = [MLN]/[M].[L]N
sendo βN = k1.k2.k3....kN
Onde k é a constante de estabilidade sucessiva e β é a constante de estabilidade.
Um conjunto de í estabilidades sucessivas ki , permitem que se tenha uma idéia
das espécies presentes em função das concentrações, normalmente os valores de ki
diminuem com o aumento de i.
Exemplo:
- Cd2+ + NH3 = [Cd(NH3)]2+ k1 = 102,65
- [Cd(NH3)]2+ + NH3 = [Cd(NH3)2]
2+ k2 = 102,10
- [Cd(NH3)2]2++ NH3 = [Cd(NH3)3]
2+ k3 = 101,44
- [Cd(NH3)3]2++ NH3 = [Cd(NH3)4]
2+ k4 = 100,93
β4 = 107,12
A diminuição de ki quando i aumenta é regra geral na formação de complexos, e a
principal razão é estatística. Quando da passagem de MLN para MLN+1, a probabilidade de
MLN ganhar outro ligante é menor do que a de MLN+1 perder, pois a medida que N
aumenta existem mais ligantes a serem perdidos do que ligantes adicionais para serem
aceitos.
Muitos métodos de análise e separação são baseados na formação de complexos
em solução que dependem do conhecimento dos valores das constantes.
Por exemplo: determinação de íons de metais de transição pelo ajuste da
concentração de EDTA e do pH.
g. Efeito Quelato
Em geral, um complexo com um ou mais ligantes quelatos é mais estável (tem k
maior) do que outro complexo semelhante, sem a presença de quelatos.
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13
Exemplo:
18,3k = 10
(aq)
Ni(aq)3+
2+
(aq)Ni H2N(CH2)2NH2
en
en
en
A quelação é um efeito entrópico, no exemplo acima, o Ni2+ estava
hexacoordenado com água, que nos dois casos se desligaram para formar os complexos,
no primeiro, seis moléculas de NH3 substituíram as de água, no segundo caso, com o
quelato, seis moléculas de água foram substituídas por três de en, assim no primeiro
caso 6 amônias perderam a liberdade, enquanto no segundo caso, apenas três
etilenodiamina perderam a liberdade, havendo assim, um aumento de três moléculas
com liberdade.
h. Reações de Complexos
Estudaremos o deslocamento dos ligantes, as reações de troca em solução e as
reações de transferência de elétrons.
A labilidade de um complexo é sua capacidade em participar de reações nas quais
um ou mais ligantes são substituídos na esfera de coordenação.
- Lábeis : são os complexos quando este tipo de reação é rápida;
- Inertes : são os complexos quando este tipo de reação é lenta ou não ocorre.
Assim labilidade é um conceito cinético e não termodinâmico. Um complexo pode
ser instável termodinamicamente e inerte quanto a sua labilidade e vice-versa. Não há
necessariamente uma relação entre estabilidade termodinâmica e labilidade cinética.
Exemplo:
- [Co(NH3)6]3+ + 6 H3O
1+ = [Co(H2O)6]3+ + 6 NH4
1+ k = 1025
[Co(NH3)6]3+ - complexo instável e inerte.
- [Ni(CN)4]2- = Ni2+ + 4 CN1- k = 10-22
- [Ni(CN)4]2- - complexo estável e lábil.
Taube propôs uma definição de complexos lábeis e inertes; a) inertes são os
complexos em que as reações de substituição dos ligantes são lentas (meia-vida da
Ni(aq)
2++ NH36 (aq)
NH3
Ni
NH3NH3H3N
NH3H3N2+
(aq)
k = 108,6
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ordem de minutos ou mais) e podem ser estudadas por experiências cinéticas clássicas.
b) lábeis são os complexos que reagem rapidamente e tem que ser estudados por
métodos mais sofisticados.
Há dois mecanismos extremos para estas reações de substituição. SN1 e SN2.
- SN1: o complexo se dissocia, perdendo o ligante a ser substituído e a lacuna da camada
de coordenação é ocupada pelo novo ligante.
- [L5MX]n+ ---> X1- + [L5M](n+1)+ ---> [L5MY]n+
lento rápido + Y1-
com lei de velocidades: v = k.[L5MX]
− SN2: o novo ligante ataca o complexo original e forma um complexo ativado com um
NC maior, que ejeta o antigo ligante:
L5MXn+
+ Y1-
lentoL5M
Y
X(n+1)+
rápido
1-X+
n+L5MY=
com lei de velocidades: v = k.[L5MX].[Y1-]
Estes mecanismos são extremos, porque os mecanismos reais não são tão
simples, pode-se admitir que há a formação de laços antes de haver a completa
eliminação do ligante anterior e o estado de transição não precisa ser uma espécie
coordenada em que entram e saem da esfera de coordenação tendo que estar
simultaneamente ligados ao átomo central. Os mecanismos SN1 e SN2 são utilizados para
descrever mecanismos que se aproximam destes, mas sem a necessidade de seguí-los.
E mesmo que a lei de velocidades seja dos tipos descritos acima, não garantem
que o mecanismo da reação seja SN1 e SN2.
Existem três casos que ilustram este problema; a) intervenção do solvente; b)
formação de par de íons e; c) formação de base conjugada.
a) Intervenção do solvente: a maioria das reações de complexos foram estudadas água,
que é um ligante e está em concentração constante e elevada (~ 55,5 mol/L). Então
pode ser observado o mecanismo:
- [L5MX] + H2O ---> [L5MH2O] + X lento
- [L5MH2O] + Y ---> [L5MY] + H2O rápido
b) Formação de par iônico: quando o complexo reagente é um cátion e o novo grupo é
um ânion, é possível que formem pares iônicos (complexos de camada externa),
especialmente quando um dos dois ou ambos tem carga elevada.
- [L5MX]n+ + Ym- ---> {[L5MX]Y}n-m
com constante de equilíbrio k. Se o único mecanismo da reação entre o complexo e o
ligante for o da formação inicial do par iônico a lei de velocidades pode ser:
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v = k’.k.[L5MX].[Y] = k”.[L5MX].[Y].
que aparentemente é SN2, mas não é possível saber a forma da transformação no
produto [L5MY], se é um processo SN1, SN2 ou se ocorre a intervenção do solvente.
c) Formação de base conjugada: quando a reação envolve OH1-, não se sabe se ocorre o
ataque da hidroxila ao metal numa reação tipo SN1 ou se a hidroxila reage rapidamente
removendo um próton do ligante formando uma base conjugada que começa a reagir.
- [Co(NH3)5Cl]2+ + OH1- ---> [Co(NH3)4(NH2)Cl]1+ + H2O rápido (I)
- [Co(NH3)4(NH2)Cl]1+ + Y1- + H1+ ---> [Co(NH3)5Y]2+ + Cl1- lento (II)
Nos casos que (I) ocorre via SN1, as etapas (I) e (II) formam um mecanismo SN1
base conjugada. Quando não há hidrogênio disponível (ou se (I) é muito lento), a
concentração de OH1- é importante, aparecendo na lei de velocidades, num mecanismo
SN2 típico.
i. Troca Aquosa e Formação de Complexos Íons-Aquoso
A maioria das reações em que se formam complexos ocorre em solução aquosa,
assim deve-se estudar e compreender as reações de substituição das moléculas de água
que solvatam um cátion em solução pelos átomos de outros ligantes. Incluem-se nessas
reações àquelas em que o novo ligante é uma outra molécula de água - reação de troca
aquosa.
Essas reações de troca aquosa são muito rápidas, ou seja, muito lábeis.
Há duas observações gerais relativas às velocidades de combinação nos íons aquo
com os outros ligantes para formar complexos:
a) As velocidades, com de um dado íon, não dependem ou dependem pouco da
identidade do ligante;
b) As velocidades, para um dado íon, são praticamente as mesmas que a da troca
aquosa, cerca de 10 vezes menores.
Admite-se que a reação ocorra nas seguintes etapas:
- [M(H2O)6]n+ + X1- ---> {[M(H2O)6]X}(n-1)+ K
- {[M(H2O)6]X}(n-1)+ ---> {[M(H2O)5]X}(n-1)+ + H2O kaq
- {[M(H2O)6]X}(n-1)+ ---> {[M(H2O)5]X}(n-1)+ muito rápida
na primeira etapa forma-se um par iônico, com constante de equilíbrio k. A molécula de
água coordenada desliga-se dessa espécie com constante de velocidade kaq. Na terceira
etapa, o ligante X1- penetra na esfera de coordenação do metal. A velocidade da reação
completa é:
v = kobs.[M(H2O)6n+].[X1-] = kaq.[M(H2O)6
(n-1)+] = kaq.K.[M(H2O)6n+].[X1-]
A constante de velocidade observada é igual a Kkaq. Para um dado íon metálico e
com íons X1-, os valores de k não são muito diferentes.
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j. Reações de Deslocamento de Ligantes em Complexos Octaédricos
Complexos que estão em meio aquoso são suscetíveis a reações de hidrólise ou de
troca aquosa, nas quais um ligante é substituído por água. Então a entrada do ligante Y é
parte da reação total, há poucas reações onde o ligante de saída X, não é trocado
primeiramente por água. Assim a intervenção do solvente é a chave da troca de X por Y,
sendo a troca aquosa do ligante X fundamental.
Por exemplo a troca aquosa de um ligante X, num complexo amin cobalto (III):
- [Co(NH3)5X]n+ + H2O ---> [Co(NH3)5H2O] (n+1)+ + X1-
A lei de velocidades para essa reação de troca aquosa é:
v = ka. [Co(NH3)5X]n+ + kb. [Co(NH3)5X]n+.[OH1-]
O primeiro termo, constante de hidrólise ácida ka, predomina à baixo pH,
concentração de hidroxila baixa. O segundo termo, com a constante de hidrólise básica
kb, predomina à alto pH. A lei de velocidades é uma indicação que duas etapas de troca
aquosa são possíveis, uma hidrólise ácida e uma hidrólise básica. Com valores de pH
intermediários, ambas as etapas são possíveis. Em geral kb é ~104 vezes maior do que
ka, que é comprovado por complexos inertes em meio ácido e se tornam lábeis em meio
básico.
k. Reações de Deslocamento de Ligantes em Complexos Quadrados
Para complexos quadráticos, o mecanismo de intervenção deve ser mais direto e
de mais fácil entendimento,
Em meio aquoso as reações são do tipo:
[PtL3X] + Y ---> [PtL3Y] + X
com lei de velocidades observada:
v = k1.[PtL3X] + k2.[PtL3X].[Y]
que indica uma reação em duas etapas, a primeira de primeira ordem com k1 e a
segunda de segunda ordem com k2. O mecanismo suposto é o de troca aquosa para a
primeira etapa e um associativo na segunda, com a formação de um complexo
pentacoordenado como intermediário.
=> Efeito da carga: Apesar de se esperar uma maior dificuldade da saída de um ligante
negativo num complexo de alta carga positiva e vice-versa, se observa que a quebra das
ligações M-X e M-OH2 tem comparáveis importância, tendo pouca variação de k1.
=> Efeito da estérico: A aceleração estérica é observada para reações de substituição de
complexos octaédricos, e isso é tomado como evidência da natureza dissociativa de tais
reações. Para complexos quadráticos, as reações de substituição são retardadas pela
aglomeração estérica em torno do metal central. Isso é tomado como evidência que o
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ligante de entrada Y deve aproximar-se do centro metálico para o estado de transição
reagir.
=> Efeito do ligante de entrada: A constante de velocidade k2 é fortemente dependente
do ligante de entrada Y. Uma série de reatividade é dada, que depende do valor de k2:
F1-~H2O~Oh1- < Cl1- < Br1- ~ NH3~alquenos < C6H5NH2 < C5H5N < NO21- < P3
1- < I1-
~SCN1-
que é essencialmente a ordem de nucleofilicidade do metal.
=> Estereoquímica: Reações de substituição complexos quadráticos são
estereoespecíficas, complexos de partida, cis e trans, levam à produtos cis e trans
respectivamente.
=> Ligantes não-lábeis: Efeito trans: Uma característica da substituição em complexos
quadráticos é a importância de ligantes não-lábeis (inertes) que estão trans ao ligante de
saída.
- {PtLX3] + Y ---> [PtLX2Y] + X;
sendo: X- ligante lábil, Y - ligante de entrada e L-inerte.
Qualquer dos 3 X podem ser trocados por Y, levando à complexos cis ou trans em
relação à L. Ligantes L que favorecem fortemente a substituição para dar produtos trans
são chamados de trans diretores, abaixo uma série de força de trans diretores:
H2O, OH1-, NH3, py < Cl1-, Br1-<SCN1-, I1-, NO21-, C6H5
1-<SC(NH2)2, CH31-<H1-, PR3
1- <CN1-
Essa é conhecida como série de Efeito Trans. O efeito trans é um fenômeno
puramente cinético. É o efeito do ligante L na velocidade de substituição na posição
trans. Um forte trans diretor promove uma substituição mais rápida de um ligante trans
do que de um ligante cis.
l. Reações de Transferência de Elétrons
São reações de óxido-redução nas quais um elétron passa de um complexo para
outro. Essas reações podem envolver a troca de um ou mais ligantes na esfera interna de
coordenação dos reagentes ou dos produtos, mas não necessariamente:
Ex.: Fe2+(aq) + Ce4+
(aq) ---> Fe3+(aq) + Ce3+
(aq)
Uma reação de transferência de elétrons pode ocorrer sem alteração na estrutura
química do complexo:
- [*Fe(CN)6]4- + [Fe(CN)6]
3- ---> [*Fe(CN)6]3- + [Fe(CN)6]
4-
tais reações são chamadas de reações de troca interna.
Há dois mecanismos para reações de transferência de elétrons. O primeiro
chamado de mecanismo de transferência de elétrons de camada externa, onde não há
troca de ligantes da camada interna dos complexos, só é necessário que haja alterações
nos comprimentos das ligações M-L. O segundo mecanismo é o de transferência de
elétrons de camada interna, sendo que
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deve haver a troca de um ligante e o novo ligante deve servir como uma ponte entre os
dois centros metálicos conjuntamente. Essa ligação em ponte é feita na esfera de
coordenação interna dos dois centros metálicos.
=> Mecanismo de Camada Externa:
Esse mecanismo é correto quando ambos os complexos tem reações de troca
mais lentas do que as reações de transferência de elétrons.
Ex.: [Fe(CN)6]4- + [IrCl6]
2- ---> [Fe(CN)6]3- + [IrCl)6]
3-
os dois reagentes são “inertes”, mas a reação redox é rápida (k = 105 L/mol.s). O
mecanismo de camada externa também é correto quando não há ligante capaz de servir
como ponte de ligação dos centros metálicos.
As duas etapas de um mecanismo de camada externa são caracterizadas por um
pré-equilíbrio de Kos quando o complexo da camada externa (ou par iônico) é formado:
[Fe(CN)6]4- + [IrCl6]
2- ---> [Fe(CN)6]4-/[IrCl)6]
2- Keq
[Fe(CN)6]4-/[IrCl)6]
2- ---> [Fe(CN)6]3- + [IrCl)6]
3- kv
Esse encontro (complexo de camada externa ou par iônico) entre os reagentes
leva-os a separação intermolecular necessária para a transferência de elétrons. A etapa
de transferência de eletrônica só ocorre na sua camada externa depois que o
comprimento das ligações M-L serem alterados o suficiente para permitir que a
transferência ocorra adequadamente. Para o complexo que está sendo oxidado a ligação
M-L deve geralmente se tornar mais curta e a do complexo reduzido deve alongar-se.
Há duas subdivisões para o mecanismo de camada externa, as reações de troca
interna, quando os complexos são similares.
[Fe(CN)6]4- + [Fe(CN)6]
3-
e as reações cruzadas, quando os complexos são diferentes:
[Fe(CN)6]4- + [Mo(CN)6]
3- ---> [Fe(CN)6]3- + [Mo(CN)6]
4-
=> Mecanismo de Camada Interna:
O estado de transição de ligantes em ponte ocorre para reações que tem este
mecanismo:
[Co(NH3)5X]2+ + Cr2+(aq) + 5 H1+ ---> [Cr(H2O)5X]2+ + Co2+
(aq) + 5 NH41+
X = F1-, Cl1-, Br1-, I1-, SO42-, NCS1-, N3
1-, PO43-, P2O7
4-, etc...
O complexo de Co(III) não é lábil, e o Cr(II)(aq) é. Nos produtos o [Cr(H2O)5X]2+
não é lábil. Assim a transferência de X de [Co(NH3)5X]2+ para [Cr(H2O)5X]2+ é
quantitativa:
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Cr(H2O)6 Co(NH3)5Cl (H2O)5CrClCo(NH3)5
Co(NH3)5(H2O)Cr(H2O)5Cl
Co(H2O)6 NH4
II 2+
+III 2+ 4+II III
transferência de e
(H2O)5CrClCo(NH3)5
4+III II+
+
H , H2O1+
1+2+
2+ 2+III
II
II
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B. TEORIAS DE LIGAÇÃO DE METAIS DE
TRANSIÇÃO.
a. Introdução aos Elementos de Transição
Elementos de Transição são aqueles que na forma elementar tem as camadas d
ou f incompletas. Podem ser considerados, também, elementos de transição os
elementos que além da forma elementar formam compostos com as camadas d ou f
incompletas. Eles são metais, a maioria são duros, fortes e dúcteis, bons condutores de
calor e eletricidade, formam compostos coloridos e paramagnéticos. Existem três teorias
para explicar a formação de compostos de coordenação ou complexos de metais de
transição: Teoria de Ligação de Valência (TLV), Teoria do Campo Cristalino (TCC) e
Teoria de Orbitais Moleculares (TOM), cada qual com suas vantagens e limitações.
b. Teoria da Ligação de Valência (TLV)
Pauling propôs que a formação de complexos de metal de transição (MT) é uma
reação de um ácido de Lewis (metal) com uma base de Lewis (ligante), formando uma
ligação covalente coordenada.
Os orbitais atômicos (OA) do metal sofrem hibridação e os orbitais atômicos
híbridos (OAH) formados dão a geometria do complexo; sp, sp2, sp3, dsp2, dsp3, d2sp3 e
sp3d2. Os pares de elétrons dos ligantes ocupam os OAH formados.
Diagrama de Quadrículas:
Representa a configuração eletrônica da camada de valência do metal de transição
na formação do complexo:
Ex.: [Pt(NH3)4]2+ Pt0 = 4f145d96s1 Pt2+ = 4f145d86s06p0
Ex.: [NiCl4]2- = sp3 e [Ni(CN)4]
2- = dsp2
[Co(NH3)6]3+ = d2sp3 - spin baixo (n-1)d2nsp3
[CoF6]3- = sp3d2 - spin alto nsp3d2
5d 6s 6p
5d dsp2
6p
OA
OAH
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c. Teoria do Campo Ligante (TCL)
Van Vleck (1935) propôs que deve haver alguma covalência nas interações metal-
ligante e não somente interações puramente eletrostáticas
d. Teoria do Campo Cristalino (TCC)
Hans Bethe propôs um modelo de ligação baseado puramente nas interações
eletrostáticas entre o metal central e os ligantes, Teoria do Campo Cristalino, sendo os
ligantes consideradas cargas negativas puntiformes. Esta teoria esta baseada no
desdobramento dos orbitais d do metal, quando um campo ligante ou campo cristalino é
criado pela aproximação dos ligantes ao centro metálico.
Os cinco orbitais d: dxy, dxz, dyz,, dx2y2 e dz2. sofrem uma quebra de
degenerescência com o campo criado e forma dois grupos de orbitais d degenerados, t2g
(dxy, dxz e dyz) e eg (dx2y2 e dz2), como mostrado nos diagramas abaixo:
eg
t2g
dz dx y
dxy dzx dzy
222
3/5
2/5
0
0
0
2
2dx ydz
2
dzydzxdxy dxy
dzxdzy
2dzdx y2
2
2/5
3/5
2
dzydzxdxy
dx ydz
t
2 2
tt
t0 = 4/9OCTAÉDRICO TETRAÉDRICO
MX6 MX4
Energia de Estabilização do Campo Cristalino (EECC)
- d1 = EECC = - 0,4 ∆ο ; - d2 = EECC = - 0,8 ∆ο ; - d3 =
EECC = - 1,2 ∆ο ;
- d4 = EECC = ????
a) todos os elétrons no t2g EECC = -1,6 ∆ο + P
b) 3 elétrons em t2g e 1 em eg, EECC = -0,6 ∆ο
a) Campo Forte ∆ο > P, spin baixo
b) Campo Fraco ∆ο < P, spin alto
dxydzxdzy
2dzdx y2
2
0
0
0
0,4
0,6
22 2
dzydzxdxy
dx ydz
t2g
eg
E
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dn Configuração e1-
desemp.
EECC configuração e1-
desemp.
EECC
d1 t2g (1) eg (0) 1 - 0,4 Δo t2g (1) eg (0) 1 - 0,4 Δo
d2 t2g (2) eg (0) 2 - 0,8 Δo t2g (2) eg (0) 2 - 0,8 Δo
d3 t2g (3) eg (0) 3 - 1,2 Δo t2g (3) eg (0) 3 - 1,2 Δo
d4 t2g (3) eg (1) 4 - 0,6 Δo t2g (4) eg (0) 2 - 1,6 Δo+ P
d5 t2g (3) eg (2) 5 0,0 Δo t2g (5) eg (0) 1 - 2,0 Δo+ P
d6 t2g (4) eg (2) 4 - 0,4 Δo t2g (6) eg (0) 0 - 2,4 Δo + P
d7 t2g (5) eg (2) 3 - 0,8 Δo t2g (6) eg (1) 1 -1,8 Δo + P
d8 t2g (6) eg (2) 2 - 1,2 Δo t2g (6) eg (2) 2 - 1,2 Δo
d9 t2g (6) eg (3) 1 - 0,6 Δo t2g (6) eg (3) 1 - 0,6 Δo
d10 t2g (6) eg (4) 0 0,0 Δo t2g (6) eg (4) 0 0,0 Δo
spin
alto
spin
baixo
Além dos valores para complexos octaédricos e tetraédricos é possível determinar
os valores para cada orbital d:
NC Estrutura dz2 dx2-y2 dxy dxz dyz
1 Linear* 0,514 -0,314 -0,314 0,057 0,057
2 Linear* 1,028 -0,628 -0,628 0,114 0,114
3 Trigona*l -0,321 0,546 0,546 -0,386 -0,386
4 Tetraédrica -0,267 -0,267 0,178 0,178 0,178
4 Quadrado planar* -0,428 1,228 0,228 -0,514 -0,514
5 Bipirâmide trigonal* 0,707 -0,082 -0,082 -0,272 -0,272
5 Pirâmide quadrada* 0,086 0,914 -0,086 -0,457 -0,457
6 Octaédrica 0,600 0,600 -0,400 -0,400 -0,400
6 Prisma trigonal 0,096 -0,584 -0,584 0,536 0,536
7 Bipirâmide pentagonal 0,493 0,282 0,282 -0,528 -0,528
8 Cubo -0,534 -0,534 0,356 0,356 0,356
8 Antiprisma quadrado -0,534 -0,089 -0,089 0,356 0,356
*Nas estruturas lineares os ligantes encontram-se ao longo do eixo z. Nas estruturas trigonal, quadrado planar
e piramidal os ligantes encontram-se no plano xy.
e. Outras Formas da Teoria do Campo Ligante
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A teoria do campo cristalino (TCC) é o modelo mais simples para explicar o
desdobramento dos orbitais d em um complexo, contudo, ele é incompleto para a análise
das ligações M-L, pois envolve somente os orbitais d e não leva em conta a covalência
das ligações. A teoria do campo ligante (TCL) amplia esta visão considerando o caráter
covalente das ligações, mas ainda é insatisfatório. Um modelo mais apurado é a teoria
dos orbitais moleculares (TOM), que será visto mais adiante, que trata a TCC e TCL como
casos espaciais da TOM e tenta explicar as ligações através de orbitais híbridos formados
a partir de orbitais atômicos.
f. Propriedades Magnéticas dos Complexos de Metais de Transição
As propriedades magnéticas dos complexos de metais de transição é uma
ferramenta importante, pois se convenientemente interpretada possibilita a identificação
e caracterização dos complexos.
O magnetismo é dado pelo emparelhamento ou não de elétrons, e pelo
desdobramento dos orbitais d é possível saber se há elétrons desemparelhados e
quantos.
- Diamagnetismo: quando todos os elétrons estão emparelhados, não há suscetibilidade
magnética, não há momento magnético no composto.
- Paramagnetismo: quando há pelo menos um elétron desemparelhado, há
suscetibilidade magnética e o composto tem momento magnético.
- ferromagnetismo: quando a suscetibilidade magnética é fortemente aumentada
pela orientação dos momentos magnéticos de um compostos.
- antiferromagnetismo: quando há um orientação antiparalela dos momentos
magnéticos provocando anulação parcial na suscetibilidade magnética de um
composto.
g. Espectros de Absorção
Determinação do Δo.
Espectro de absorção da transição do estado fundamental para o estado excitado.
Ex.: [Ti(H2O)6]3+ = d1.
t2g (1) eg (0) ---> t2g (0) eg (1) Δo = 20.000 cm-1 = 240 kJ/mol
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h. Série Espectroquímica
Espectro Visível Faixa de comprimento Faixa de comprimento
Violeta 380 - 440 380 – 440
Azul 440 – 490 440 – 485
Ciano *** 485 – 500
Verde 490 – 565 500 – 565
Amarelo 565 – 590 565 – 590
Laranja 590 – 630 590 – 625
Vermelho 630 – 780 625 – 740
20.00015.000 25.000 30.000
600 500 400 300 nm
cm -1
0
t2 g
eg ge
g2t
0
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Espectro Visível Faixa de comprimento Comprimento de onda (nm)
Infravermelho 781,3 - 765,3
Vermelho escuro 731,7 - 722,8
Vermelho 704,2 - 681,8
Laranja 652,2 - 643,8
Laranja Claro 625,0 – 605,8
Amarelo 585,9 – 573,6
Amarelo esverdeado 547,4 – 541,5
Verde 520,8 – 511,0
Verde azulado 487,8 – 482,3
Azul 468,8 – 455,2
Anil 439,2 – 429,8
Violeta 409,8 – 405,4
Ultravioleta 390,6 - 382,7
Só existem compostos de spin alto (campo fraco) EECC máxima = - 1,2 Δt
Cores Complementares
Laranja Celeste
Vermelho Ciano
Rosa Turquesa
Verde Magenta
Amarelo Azul
Oliva Púrpura
Cores Complementares
Azul Alaranjado
Violeta Amarelo
Vermelho Verde
Oliva Púrpura
z
x
y
ge
g2t
t
t
t
0,4
0,6
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26
Amarelo Azul
Laranja Celeste
Vermelho Ciano
Rosa Turquesa
Magenta Verde
Dependência do valor de Δo.
1) Simetria do Campo;
2) Número de Oxidação (Nox) do metal
3) Período do metal;
4) Natureza dos ligantes.
Série Espectroquímica;
campo fraco <-- I1- < Br1- < Cl1- < F1- < OH1- < ox <
H2O < py ≈ NH3 < en < dipy < NO21- < CN1- < CO <-- campo forte.
Complexos Tetraédricos:
i. Efeitos Estruturais e Termodinâmicos do Desdobramento de Orbitais
Efeito Jahn-Teller: (Distorção Tetragonal)
Desdobramento secundário pela mudança da distância M-L no eixo z. Pode
aumentar a estabilidade do complexo. (δ1 > δ2, sempre!!!)
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Ex.: [Cu(NH3)6]2+ MX = 207 pm no plano e 262 pm no eixo z.
Complexo Quadrado Planar (QP)
ge
g2t
0
Oh Th QP
dx y
dxy
dxz
dyz
dz
2
2
2
2
2
2
dz
dyz
dxz
dxy
dx y
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j. Teoria do Orbital Molecular (TOM)
t1u*
a1g*
eg*
t2g
eg
a1g
t1u
OM
(OA)L(OA) M
p
s
d
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Exercícios:
Para os complexos abaixo:
[AuCl2]1-; [Ag(NH3)2]
1+; [Ag(CN)2]1-; [HgI3]
1-; [PtCl4]2-; [Li(H2O)4]
1+; [AlCl4]1-; [Ni(CO)4];
[Zn(NH3)4]2+; [Fe(CO)5]; [Ni(CN)5]
3-; [Co(NH3)6]3+; [Cr(H2O)6]
3+; [Ni(NH3)6]2+; [IrCl6]
2-;
[Fe(CN)6]3-; [Fe(CN)6]
4-;
1. Escreva a configuração eletrônica do metal (TLV) e preveja a geometria pela
hibridação.
2. Utilize a TCC e determine se o complexo é de spin alto ou spin baixo, qual seu
magnetismo, sua EECC e apresente o diagrama de desdobramento.
3. Faça o diagrama de energia e especifique os orbitais moleculares t1u, a1g eg e não
ligantes (TOM). Determine o magnetismo.
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C. COMPLEXOS COM LIGANTES π (π ÁCIDOS):
a. Introdução
Existem três tipos de orbitais nos
ligantes que podem formar ligações π com o metal:
a) Os orbitais p, perpendiculares ao eixo da ligação π , (Cl1-, O2-, CO32-);
b) Os orbitais d em planos que incluam o metal (fosfinas);
c) Os orbitais π * em planos que incluam o metal (π * vazios do CO, CN1- e NO21-)
O metal utiliza seus orbitais d não ligantes (t2g; dxy, dxz e dyz) para formar as
ligações π, já que os outros orbitais deverão estar sendo usados nas ligações π . Assim há
um novo conjunto de orbitais moleculares π , 3 OM π ligantes e 3 OM π antiligantes.
E
eg*
0 0
t 2 g
eg*
(orbitais pi do ligante)(sistema sigma) (pi ligante)
(pi antiligante)
d
s
p
(OA) M (OA)L
OM
t1u
a1g
eg
t2g
eg*
a1g*
t1u*
o
Anteriormente no estudo de
ligações de complexos só considerou-se
a formação de ligações M-L σ (sigma),
mas considerando-se a formação de
ligações π (pi) poder-se-á justificar a
posição de ligantes na série
espectroquímica e responder alguns
aspectos na formação de complexos não
claros pelas teorias propostas, abaixo
está um esquema do diagrama energia
dado pela TOM para um complexo
octaédrico considerando apenas a
formação de ligações σ:
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Quando os ligantes são doadores de densidade eletrônica π para o metal, haletos,
por exemplo, onde os orbitais p estão ocupados, as ligações (d πp) π serão configuradas
pelos elétrons dos ligantes ocupando os OML π formados e os elétrons do metal ocuparão
os OMAL π* formados.
Desta forma, o valor da energia do campo (Δo) é diminuído com a formação da
ligações π e os elétrons do sistema π dos ligante tem sua energia abaixada e os elétrons
(t2g) do metal tem sua energia aumentada. Assim ligantes π doadores (π básicos) estão
na extremidade de campo fraco da série espectroquímica (ver figura acima):
(pi antiligante)
(pi ligante) (sistema sigma)
(orbitais pi do ligante)eg*
t 2 g
0 0
eg*
E
Na situação inversa ligantes π aceptores (π ácidos) as ligações π são formadas
através de orbitais d ou π* dos ligantes que estão vazios e podem receber densidade
eletrônica dos orbitais d do metal.
Desta maneira o valor de Δo aumenta e o complexo é estabilizado, os elétrons do
metal tem sua energia diminuída em relação ao seu nível original. Os ligantes π
aceptores estão no extremo de campo forte da série espectroquímica, CO, CN1- e NO21-.
(ver figura acima);
=> Retrodoação:
Nos complexos com ligantes π ácidos (d π d) π ou (dπ π *) π ocorre um
mecanismo de eliminação do excesso de densidade eletrônica do metal para os ligantes
após a formação das ligações π .
Complexos com carbonila: [Cr(CO)6], neste exemplo CO é uma base fraca de Lewis e doa
um para de elétrons para o cromo formando 6 ligações π . A carbonila (CO) tem sua
densidade eletrônica diminuída (se torna mais positiva) e o Cr tem sua densidade
eletrônica aumentada (se torna negativo).
Os orbitais moleculares antiligante (OMAL π *) vazio da carbonila pode receber a
densidade eletrônica extra do metal formando uma ligação π metal - ligante.
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A retrodoação é esta variação de densidade eletrônica que ocorre na direção
inversa da ligação σ dada pela formação da ligação π num mecanismo sinérgico. O
estabelecimento da ligação σ estimula a formação da ligação π e vice-versa.
b. Carbonilas Metálicas Mononucleares
Dentre os complexos com ligantes π ácidos os de carbonilas são os mais
estudados. As carbonilas mononucleares são do tipo M(CO)x, ou seja, formadas por um
centro metálico e como ligantes somente carbonilas. Todos os complexos são hidrófobos,
voláteis e solúveis em líquidos apolares.
c. Carbonilas Metálicas Polinucleares
Os complexos de carbonilas polinucleares se dividem em homonucleares
[Mx(CO)y], e heteronucleares [M’M”(CO)x]. Nestes complexos não existem somente
ligações M-CO lineares, podem existir ligações M-M e ligações com CO em ponte (dupla
ou tripla)
As pontes de CO ocorrem normalmente aos pares. A estabilidade dada pela
conexão com CO em ponte depende do tamanho do átomo metálico, quanto maiores
forem os átomos metálicos, maior a preferência pela estrutura sem ponte. A existência
de CO em ponte tripla é bastante incomum.
d. Flexibilidade Estereoquímica nas Carbonilas
Nas carbonilas bi ou polinucleares ocorrem modificações intramoleculares de
configuração, onde os ligantes CO movem-se em torno de dois ou mais átomos
metálicos. Este processo de troca pode ser estudado por RMN 13C. O mecanismo de troca
se dá pela abertura e fechamento das carbonilas em ponte:
C
FeCpCpFe
CO
OO OC C
*
*
**
CCOO
OO** CCOO
O
O
C
FeCpCpFe
CCFeCpCpFeC
A facilidade da ocorrência desses processos é atribuível à pequena diferença de
energia que existe na maioria das carbonilas polinucleadas, entre a forma em ponte e a
não conectada. ã temperatura ambiente as velocidades destas trocas está na faixa de 10
a 1000 vezes por segundo.
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e. Preparação das Carbonilas Metálicas
A forma geral de se preparar complexos carbonilados é a redução de compostos
metálicos na presença de CO à alta pressão, comumente de 200 a 300 atm. Em alguns
casos somente com CO como agente redutor:
Re2O17 + 17CO ---> Re2(CO)10 + 7 CO2
E mais comumente com um agente redutor adicional:
2 CoCO3 + H2 + 8 CO ---> Co2(CO)8 + 2CO2 + 2 H2O (250 atm e 120 0C)
2 Mn(acac)2 + 10 CO ---> Mn2(CO)10 (Al(Et)3 - agente redutor)
CrCl3 + 6 CO ---> Cr(CO)6 (C6H5MgBr - Gringnard)
f. Ligação em Grupo M-C-O Lineares
Não é esperado que complexos com metais de Nox igual a zero e em alguns casos
negativos possam formar complexos com carbonilas que são bases de Lewis muito
fracas, mas como já visto por retrodoação há uma estabilização do complexo formado,
outra maneira de entender isto, é utilizando o conceito de híbridos de ressonância, como
demonstrado abaixo;
Desta maneira, espera-se que os comprimentos dos laços M-CO sejam menores
do que os de uma ligação M-C.
g. Espectro Vibracional das Carbonilas Metálicas
No estudo da freqüência de estiramento de CO a molécula tem uma freqüência de
2.143 cm-1 quando isolada. Em carbonilas metálicas as freqüências de estiramento estão
entre 2125 a 1850 cm-1.
Com o aumento da retrodoação na ligação M-C, as freqüências de vibração do CO
descem para valores mais baixos. Por exemplo, em Cr(CO)6 a freqüência é próxima a
2000 cm-1 e para Cr(CO)3dien há duas freqüências de ~ 1900 e ~1700 cm-1 devido à
pequena capacidade aceptora do (dien) que incrementa o recebimento de maior
densidade eletrônica para o CO do dπ do metal. Assim, quando mais negativo o complexo
menor a freqüência de estiramento do CO.
C OM M C O- +
(a) (b)
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(cm-1) (cm-1)
V(CO)61- ~ 1860 Mn(CO)6
1+ ~ 2090
Cr(CO)6 ~2000 Mn(CO)3dien1+ ~2020 -
~1900
Cr(CO)3dien ~1900 -
~1700
O espectro no infravermelho é muito utilizado para diferenciar os grupos CO
terminais e em ponte. Para CO terminal as freqüências estão entre 2125 a 1850 cm-1 e
para CO em ponte as freqüências estão entre 1850 a 1750 cm-1.
h. Reações com Carbonilas Metálicas
As reações mais importantes de carbonilas metálicas são as de deslocamento dos
grupos CO por ligantes RX, PR3, P(OR)3, SR2, OR2, RNC, Cp, Ph, C7H8, etc.
Outro tipo de reação importante é com bases (OH1-, H1-, NH21-) levando à
formação de ânions carbonilados.
As reações de substituição são via ativação térmica ou fotoquímica com a
expulsão do grupo CO e posterior entrada do substituinte na esfera de coordenação.
M(CO)x ---> M(CO)x-1 + CO ---> M(CO)x-1L
i. Ânions Carbonilados e Hidretocarbonilados
- Ânions Carbonilados: são formados quando carbonilas metálicas são tratadas com
bases de Lewis (OH-1, aminas, sulfóxidos) ou com metais alcalinos (Li ou Na).
Fe(CO)5 + 3 NaOH ---> Na[HFe(CO)4] + Na2CO3 + H2O
Co2(CO)8 + 2Na/Hg ---> 2Na[Co(CO)4]
Mn2(CO)10 + 2Li ---> 2Li[Mn(CO)5]
Fe2(CO)9 + 4 OH1- ---> [Fe2(CO)8]2- + CO3
2- + 2H2O
- Hidretocarbonilados: são obtidos pela acidificação de alguns ânions carbonilados ou
pela reação com hidrogênio ou hidretos (redutores).
NaCo(CO)4 + H1+ ---> HCo(CO)4 + Na1+
Mn2(CO)10 + H2 ---> 2 HMn(CO)5
Fe(CO)4I2 + NaBH4 ---> H2Fe(CO)4
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Estes “hidretos” são pouco solúveis em água e quando dissolvidos se comportam
como ácidos
HMn(CO)5 ---> H1+ + Mn(CO)51-
Eles têm uma freqüência de estiramento característica no infravermelho devido a
ligação M-H.
j. Halogenetos de Carbonilas
Mx(CO)yXz são obtidos pela interação direta dos haletos metálicos e CO à alta
pressão ou pela reação de haletos iônicos com carbonilas metálicas
Mn2(CO)10 + Br2 ---> 2 Mn(CO)5Br = [Mn(CO)4Br]2 + 2 CO
Mn2(CO)10 + 2R4N+X- ---> (R4N
+)2[Mn2(CO)8X2]2- + 2CO
Os halogenetos encontram-se em dímeros ou polímeros, com as pontes sendo
feitas de halogênios e não de grupos CO.
k. Complexos de Isocianeto
O isocianeto (CNR) é semelhante eletronicamente ao CO, mas em geral são
doadores mais fortes do que CO e a ligação π tem uma importância menor na formação
de complexos.
Entretanto os isocianetos podem receber densidade eletrônica dos elétrons π do
átomo do metal em baixos estados de oxidação, formando compostos como, Cr(CNR)6 e
Ni(CNR)4 análogos aos complexos com carbonilas. A capacidade do isocianeto atuar como
um ligante π ácido pode ser comprovada por IV, observando-se a diminuição da
freqüência de estiramento da ligação C-N, da mesma maneira que ocorria para CO.
l. Complexos de Dinitrogênio
O ligante N2 (dinitrogênio) também é isoeletrônico do CO e portanto é esperado
que tenham o mesmo tipo de comportamento quanto a formação de complexos com
existência de complexos M-NN,. Muitos complexos de dinitrogênio foram estudados e
caracterizados, no infravermelho o ligante N2 tem bandas na faixa de 1930 a 2230 cm-1,
mais baixas do que as do N2 livre (2331 cm-1).
As diferenças de estabilidade dos complexos de dinitrogênio em relação aos
carbonílicos se deve ao fato da diferença de energia dos orbitais moleculares de CO e N2
e de N2 ser um doador σ e um aceptor π mais fraco do que CO sendo assim, em geral,
seus complexos mais instáveis.
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m. Complexos de Tiocarbonil
A molécula de CS não existe isoladamente sendo estabilizada por complexação
existindo alguns complexos com este ligante. Por infravermelho pode ser caracterizado
pela freqüência na faixa de 1270 a1360 cm-1. Analogamente ao CO forma complexos com
metais em baixo estado de oxidação com a presença de ligações dπ-pπ.
n. Complexos de Óxido Nítrico
Pela TOM se comprova que NO tem um elétron a mais do que CO num orbital π*,
esta diferença faz com que além dos complexos semelhantes às carbonilas os complexos
de NO formem compostos MNO angulares, sem semelhança nos complexos de CO.
Esta diferença de elétrons faz com que possamos considerar o NO como doador de
três elétrons, enquanto o CO é doador de dois elétrons, de maneira geral pode-se ver
que três grupos CO podem ser substituídos por dois grupos NO:
Fe(CO)5 + 2NO →→→→ Fe(CO)2(NO)2 + 3CO
Aparentemente as ligações M-CO e M-NO são igualmente fortes, mas M-NO deve
ser mais forte do que M-CO, visto que, nas reações de substituição o CO é deslocado
preferencialmente ao NO.
A espectroscopia no infravermelho comprova a forte ligação π formada entre o M e
N com a ocupação do orbital π* do NO. Para NO tem-se uma freqüência de 1860 cm-1 e
nos M-NO linear observa-se freqüências na faixa de 1800 a 1900 cm-1, indicando a
presença de um par de elétrons compartilhado entre os orbitais dπ (M) e π* (NO).
O NO pode formar grupos terminais angulares, já que por ter um elétron “livre” há
a possibilidade de formar ligações simples com halogênios e radicais, que levam aos
ligantes angulares, estes ângulos estão entre 120 a 140o. Esse ligante também pode se
ligar em pontes duplas ou triplas, mas são situações bem mais raras do que no caso de
CO.
o. Complexos Dativos de Ligantes do Grupo V e do Grupo VI
Compostos de P, As, Sb e Bi trivalentes e S e Se divalentes podem formar
complexos com metais de transição e possível a retrodoação, visto serem bases de Lewis
fortes e com orbitais dπ vazios. Por estudos no infravermelho foi organizada uma série de
ligantes por ordem de acidez:
CO ~ PF3 > PCl3 ~AsCl3 ~ SbCl3 > PCl2(OR) > PCl2R > PCl(OR)2 > PClR2 ~ P(OR)3 > PR3
~ AsR3 ~ SbR3
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p. Complexos de Cianeto
Apesar de isoeletrônico ao CO a estabilidade de complexos de CN1- é menor do
que a de CO, ou NO ou CNR, pois sua capacidade π aceptora é diminuída por ter uma
carga negativa. Ele é um ligante doador σ forte não sendo necessária a retrodoação para
estabilização de seus complexos, mas não deve excluir esta hipótese.
Dada a semelhança com os ligantes π ácidos é esperado que CN1- forme ligações
em ponte, contudo, não se conhece nenhum exemplo. Somente pontes lineares são
conhecidas M-CN-M.
q. Bipiridina e Aminas Análogas
Os ligantes quelatos de aromáticos de nitrogênio, principalmente, bipy
(bipiridina), phen (fenantrolina) e terpy (terpiridina), formam complexos com metais em
vários estados de oxidação, inclusive em baixos estados de oxidação. Acredita-se que
haja uma estabilização promovida pelos orbitais π* dos ligantes distribuídos no sistema
aromático, sendo possível a transferência de densidade eletrônica Md→π*, demonstrada
pela coloração típica destes complexos.
r. Ligantes de 1,2 ditioleno
Os complexos com 1,2 ditioleno tem fórmula geral como mostrado abaixo:
Este tipo de complexo tem como característica principal a capacidade de sofre
reações redox:
Ni[S2C2(CN)2]2 = Ni[S2C2(CN)2]21- = Ni[S2C2(CN)2]2
2-
Não se tem certeza qual das estruturas corresponde a da 1,2 ditioleno nos seus
complexos, o número de oxidação do metal varia nos dois casos;
SM
S
S
SM
sabe-se somente que há uma deslocalização eletrônica dos orbitais d do metal sobre o
ligante, o que explica a estabilidade obtida na formação deste complexos.
MS
SCC
R
R n
x
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D. TEORIAS INORGÂNICAS
A) Regra dos 18 elétrons e Regra de Wade
Regra dos 18 Elétrons
a. Ligação
Em Química de Organometálicos, como em muitas áreas da química, os conceitos
de camadas eletrônicas fechadas e (menos extensamente) números de oxidação ajudam
a racionalizar a estruturas e reatividades dos compostos.
b. Contagem dos elétrons de valência
Nos anos 20, o químico britânico N. V. Sidgwick reconheceu que o átomo metálico
numa carbonila metálica simples como Ni(CO)4, tem a mesma quantidade de elétrons de
valência do que o gás nobre que termina no período que o metal pertence. Sidgwick
cunhou o termo “Regra dos gás inerte”, para indicar essa estabilidade, mas agora é
usualmente referida como REGRA DOS 18 ELÉTRONS. Deve-se notar, contudo, que a
regra não é uniformemente obedecida para compostos do 2o período. A regra dos 18
elétrons não se aplica aos complexos do bloco f. Veremos que algumas exceções da
regra podem ser racionalizadas.
Quando os elétrons são contados, cada átomo metálico e ligante, são tratados
como neutros. Se o complexo é carregado, então simplesmente adicionamos ou
subtraímos o apropriado número de elétrons do total. Devemos incluir na contagem
todos os elétrons de valência do átomo metálico e todos os elétrons doados pelos
ligantes. Por exemplo, Fe(CO)5 tem 18 elétrons, os 8 de valência do átomo de Fe e mais
10 elétrons da 5 carbonilas ligantes.
c. A Regra dos 18 elétrons e Fórmulas de carbonilas metálicas
A regra dos 18 elétrons sistematiza as fórmulas das carbonilas metálicas. As
carbonilas do 4o período e os grupos de 6 a 10 têm alternativamente um ou dois átomos
metálicos e um decréscimo do número de ligantes CO. As carbonilas com dois metais são
formadas por elementos dos grupos ímpares, os quais tem um número ímpar de elétrons
de valência e assim sofrem dimerização formando uma ligação M-M. O decréscimo no
número de ligantes CO por átomos metálico da esquerda para direita através do período
corresponde a necessidade de menos ligantes CO para alcançar os 18 elétrons de
valência.
Os mesmos princípios são aplicados quando outros ligantes ocupam a camada de
coordenação do metal.
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Dois exemplos são o bisciclopentadienilµdicarbonilbiscarbonildiferro(o) e
benzenotricarbonilmolibdênio(0), ambos obedecem a regra dos 18 elétrons. A regra pode
ser extendida para carbonilas polinucleares simples pela adição de um elétron na
contagem dos elétrons de valência de um átomo metálico específico no cluster para cada
ligação M-M para cada átomo metálico. Contudo, a regra não se aplica a M6 ou clusters
maiores.
d. Complexos com 16 elétrons de valência
Complexos com 16 elétrons de valência são comuns na direita da tabela para os
elementos do bloco d, particularmente nos grupos 9 e 10. Exemplos de complexos
(geralmente quadrado planar) incluem [IrClCO(PPh3)2] e ânions de sais de Ziese
[PtCl3C2H4]1-. Complexos quadrados planares com 16 elétrons são particularmente
comuns para metais d8 dos elementos mais pesados nos grupos 9 e 10, especialmente
Rh(I), Ir(I), Pd(II) e Pt(II). Deve-se lembrar que a EECC de complexos d8 favorece uma
configuração quadrado planar de spin baixo, quando o ∆ é grande, como é típico no 50 e
60 período nos átomos metálicos d e íons. O orbital dx2-y2 é então esvaziado e o dz2, o
qual está duplamente ocupado, é estabilizado.
e. Exceções para a Regra dos 16/18 elétrons
As exceções a Regra dos 16/18 elétrons são comuns à esquerda do bloco d. Aqui
fatores estéricos e eletrônicos estão em competição, e não é possível aglomerar ligantes
suficientes ao redor do metal nem para satisfazer a regra ou permitir a dimerização. Por
exemplo, a mais simples carbonila no grupo 5, V(CO)6 é um complexo de 17 elétrons.
Outro exemplo de desvio inclui W(CH3)6 que tem 12 elétrons e Cr(CO)2(5Cp)(PPh3) com
17 elétrons. Este último é um exemplo do papel do efeito estérico. Quando o ligante CO
está presente no lugar do volumoso PPh3 um composto dimerizado com uma longa, mas
definida ligação Cr-Cr é observado no estado sólido e em solução. A formação da ligação
Cr-Cr em Cr(CO)3(η5Cp) aumenta a contagem de cada átomo metálico para 18 elétrons.
Desvios da regra dos 16/18 elétrons são comuns em complexos
bis(ciclopentadienil) neutros, os quais são conhecidos para muitos dos metais do bloco d.
Já que dois η5Cp contribuem com 10 elétrons de valência, a regra pode ser satisfeita
somente para os compostos neutros do grupo metálico 8 (Fe, Rh e Os). Os complexos
desse tipo que obedecem a regra dos 18 elétrons (ferroceno) são muito estáveis. Sua
estabilidade é sugerida por seus comprimentos de ligação e suas reações redox. Por
exemplo, o complexo com 19 elétrons [Co(η5Cp)2] é rapidamente oxidado para o cátion
[Co(η5Cp)2]+.
Um guia geral da Regra dos 18 elétrons é sua confiabilidade somente quando o
átomo metálico central d tem carga pequena, assim como seus orbitais 3d, 4s e 4p tem
energias similares.
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f. Resumo
- Regra do octeto = 20 e 30 períodos
- Regra dos 18 elétrons = 40, 50 e 60 períodos
Configuração na camada de valência igual a do gás do mesmo período
FORMAS DE CONTAGEM
Ex.: H3CMn(CO)5
- EXCEÇÕES
- ligantes
ex: [FeCl4]2- = 14 elétrons
- metais com poucos elétrons na
camada d:
ex: (Cp)2ZrCl2 = 16 elétrons
(H3C)3TaCl2 = 10 elétrons
- Complexos d8 - quadrado planar:
ex: (PPh3)2IrCOCl = 16 elétrons
Exercícios:
Calcule o número de elétrons na camada valência, pelas duas formas e comprove qual
segue a regra dos 18 elétrons:
a) Cp(CO)3MoH; b) Na[Cp(CO)3Mo]; c) Li[(CO)5Mn]; d) Cr(CO)6; e) Cp2TiCl
Regra de Wade
A regra de Wade é uma parte da Teoria Geral de contagem de elétrons para
esqueletos poliédricos (PSET – Polyhedral Skeletal Electron Pair Theory) que é a base
para a previsão da estruturas de poliedros a partir do número de pares de elétrons nas
camadas de valência. Também é conhecida como Deltahetral, do grego delta (∆) por
indicar a estrutura triangular das faces dos poliedros.
g. Princípio
Lipscomb propõe a previsão da geometria de aglomerados (clusters) de boro
(boranos, hidroboranos e carboranos) é ponto de partida no desenvolvimento de um
conceito de tratamento de orbitais moleculares delocalizados de poliedros de boro para
predição de suas estabilidades. Os compostos de boro foram os primeiros a serem
considerados para interpretar a estabilidade de clusters pela contagem de elétrons
delocalizados em orbitais moleculares que contribuiriam pra a estabilidade da molécula
como um todo.
COVALENTE n0 elétrons IÔNICA n0
elétrons
Mn0 7 Mn+ 6
CH3 1 :CH3 2
CO x 5 10 CO x 5 10
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B
B B
Como a Regra de Wade foi proposta para clusters de boro, todo seu
desenvolvimento está baseado em espécies deste átomo. Assim compostos closo
(gaiola) têm estrutura com átomos de boro no vértice de um poliedro fechado sem
interações 3c-2e B-H-B são estáveis termicamente e relativamente inertes. Os clusters
de boro nido (ninho) podem ser compreendidos como derivados do closo sem um boro
em um dos vértices podendo ter interações 3c-2e B-H-B, além das interações B-B, são
menos estáveis termicamente e mais reativos. Finalmente os clusters de estrutura
aracno (aranha) são derivados do closo sem dois boros em dois vértices do poliedro
tendo também interações 3c-2e B-H-B além das interações B-B são termicamente
instáveis e altamente reativos.
Ligação Tipo B-H 2c-2e terminal
B-H-B 3c-2e ponte
B-B 2c-2e
B-B 3c-2e ponte
3c-2e fechada
h. Contagem
Contagem de elétrons para Boranos e Carboranos:
F = 3B + 4C + H + x – 2n
Sendo: B = átomos de boro; C = átomos de Carbono; H = átomos de Hidrogênio; x =
carga negativa; e n = número de vértices do poliedro (B + C)
Estrutura F
Closo 2n + 2
Nido 2n + 4
Aracno 2n + 6
Hifo 2n + 8
Contagem de elétrons para clusters carbonílicos:
Wade propôs que havia uma analogia entre as geometrias esperadas para
clusters de carbonilas metálicas e hidroboranos e carboranos, depois foi observada a
B
B
B
B B
BH
H
H
H
H
H2 -
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analogia isolobal entre os fragmentos M(CO)3, BH e CH, bases para formação destes
aglomerados. Para a previsão da geometria se aplica a contagem de elétrons nos clusters
TEC (Total Electron Count):
a) T = Número total de elétrons de valência (M = e de valência do metal mais L = 2x nº
de ligantes);
b) ML = Número total de elétrons M-L = (n. 12), sendo n = nº de átomos metálicos;
c) MM = Número total de elétrons M-M, sendo MM = T – (ML);
d) S = Determinante da geometria do poliedro Número “mágico” , sendo S = (M-
M)/2
S Poliedro Closo (s = n+1) Nido (S = n+2) Aracno (S = n +3) Hifo (S =n + 4)
5 Th 4 3 2 1
6 Bpt 5 4 3 2
7 Oh 6 5 4 3
8 Bpp 7 6 5 4
Obs.: Compostos hifo são mais raros.
Exemplo: [Os6(CO)18]2-
T = 86 é ; M-L = 72 é ; M-M = 14 é → S = 7, assim geometria Oh S = n + 1 -
closo
Abaixo estão exemplos da interconversão de boroidretos closo -[B6H6]2- para nido
-[B5H9] e para aracno -[B4H10] e um esquema geral para esta interconversões:
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B) Teoria dos Orbitais de Fronteira (TOF)
Teoria dos Orbitais de Fronteira (TOF) está fundamentada na descrição e cálculos
das densidades eletrônicas dos orbitais moleculares dos compostos. Busca obter
informações, confirmações e previsões sobre reatividade química por superposições
(somas) de orbitais moleculares.
a. Orbitais HOMO e LUMO
Os orbitais de fronteira são os orbitais moleculares preenchidos (ocupados) de
mais alta energia (HOMO) e os orbitais moleculares vazios (desocupados) de mais baixa
energia (LUMO). Em toda molécula pelo diagrama de TOM são observados os orbitais de
fronteira.
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Ex: Molécula de CO.
Ex: Molécula de BeH2
b. Reatividade e TOF
Moléculas reagindo devem provocar perturbações nos orbitais uma da outra.
Estas perturbações devem ocorrer entre os orbitais de fronteira, semelhante, como visto,
na descrição da TOM para a formação de moléculas deve haver uma combinação de
orbitais, agora moleculares e não mais atômicos ou híbridos de maneira ligante e
antiligante. A formação de orbitais ligantes é exotérmica e a de orbitais antiligantes é
LUMO
HOMO s i g m a (a n t i l i g a n t e )
p i (a n t i l i g a n t e )
s i g m a (a n t i l i g a n t e )
p i ( l i g a n t e )
s i g m a ( l i g a n t e )
s i g m a ( l i g a n t e )
2 p
2 s2 p
2 s
OC
LUMO
HOMO
sigma (antiligante)
sigma (antiligante)
sigma (ligante)
sigma (ligante)
(não ligantes)
1s
2p
2s
OM
Be (OA) H (OA)
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endotérmica.
Na interação e superposição de orbitais de fronteira HOMO/HOMO completamente
preenchidos, como no caso da molécula diatômica de hélio não ocorrerá um ganho em
energia dessa combinação, já que similarmente ao He2 a combinação antiligante é mais
energética do que a ligante. Se os orbitais HOMO de duas moléculas estão
semipreenchidos pode haver a combinação com ganho energético. As combinações
LUMO/LUMO não têm significado, já que não há elétrons nos orbitais formadores e assim
não há estabilização.
ENERGIA
LUMO (B)
HOMO (B)LUMO (A)
HOMO (A)
BA
As interações (combinações ligantes e antiligantes) de orbitais HOMO e LUMO são
as efetivamente mais favoráveis, levando em consideração, assim como na TOM, que a
superposição é dependente da energia dos dois orbitais de fronteira e suas simetrias. Um
exemplo bastante explícito é de uma reação de um ácido de Lewis com uma base de
Lewis para a formação de um aduto, sendo que o orbital HOMO da base doa seu par de
elétrons para o orbital LUMO do ácido.
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E. COMPOSTOS ORGANOMETÁLICOS:
a. Geral de organometálicos
Os organometálicos são compostos com átomos de carbono de alguns grupos
orgânicos ligados à átomos metálicos, contudo, não há rigidez nesta definição, já que
compostos com boro, fósforo e silício, como átomos centrais são considerados
organometálicos. Há vários tipos de organocompostos;
1. Compostos iônicos de metais eletropositivos. Os compostos com metais muito
positivos são iônicos, insolúveis em hidrocarbonetos, muito reativos ao ar e água.
2. Compostos com ligação σ (sigma). Em organometálicos onde o átomo de carbono faz
ligação normal com o metal, seguem-se as regras normais de valência e na maioria
desses compostos a ligação é de caráter covalente, mas a química é diferente da do
carbono em compostos orgânicos, devido a ;a) possibilidade de utilização de orbitais d
mais elevados; b) capacidade da alquila e arila doarem pares de elétrons; c) acidez de
Lewis incrementada causada por camadas de valência incompletas e; d) diferente
eletronegatividade das ligações M-C e C-C.
3. Compostos com ligações não-clássicas. Muitos organocompostos são formados por
ligações metal carbono que não são explicadas por ligação iônica ou sigma, como em
casos que grupos alquilas estão ligados aos metais (Li, Be e Al) em ponte ou em
ENERGIA
LUMO (B)
HOMO (B)LUMO (A)
HOMO (A)
BA
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compostos com metais de transição com alquenos, alquinos, benzeno, alila,
ciclopentadieno, etc.
b. Métodos Sintéticos
As principais formas de fazer ligações entre um metal e o carbono estão listadas
abaixo:
1. Reações diretas com os metais. Interação direta de um metal com um halogeneto de
alquila ou arila, reagente de Grignard. Os principais metais são Li, Na, K, Mg, Ca, Zn e Cd
Mg + CH3I →→→→ CH3MgI
2. Emprego de agentes alquilantes. Reagentes de Grignard, halogenetos metálicos de
lítio, alumínio, mercúrio e derivados de sódio (Na1+R1-) são utilizados como agentes
alquilantes para produzir organocompostos metálicos:
PCl3 + 3 PhMgCl → → → → P(Ph)3 + 3 MgCl2
3. Interação de hidreto com alquenos ou alquinos. São exemplos a reação de
hidroboração e de complexos de metais de transição com hidretos.
1/2 B2H6 + C2H4 →→→→ B(C2H4)3
LnMH + C2H4 →→→→ LnMC2H5
4. Reações de adição oxidativa. São reações com inserção levando a formação da ligação
M-C.
[(CN)5Co-Co(CN)5]4- + C2H2 →→→→ [(CN)5Co-C2H2-Co(CN)5]
4-
SbCl5 + 2 C2H2 →→→→ Cl3Sb(CH=CHCl)2
c. Alquinos e Arilas de Lítio
Os organolítios são utilizados como intermediários em reações orgânicas,
semelhante aos reagentes de Grignard, são preparados pela interação do halogeneto
orgânico com Li metálico.
RCl + 2 Li →→→→ RLi + LiCl
Os organolítios reagem espontaneamente com oxigênio, inflamam-se ao ar,
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reagem com água rapidamente, têm propriedades de substâncias covalentes;
solubilidade em líquidos apolares e volatilidade elevadas. A natureza das espécies
organolítio depende do solvente, do radical orgânico e da temperatura,
conseqüentemente há uma grande variação na reatividade desse organocomposto.
d. Organocompostos de Sódio e de Potássio
São essencialmente iônicos, muito reativos, sensíveis ao ar e umidade, são
obtidos da interação do hidrocarboneto ácido com o metal.
2 C5H6 + 2 Na →→→→ 2 C5H5Na ou (CpNa)+ H2
e. Organocompostos de Magnésio
Os organomagnésio estão entre os organocompostos mais utilizados na Química
Orgânica e na síntese de alquilas e arilas de outros elementos. São de dois tipos,RMgX
(Reagente de Grignard) e MgR2. São obtidos como mostrado abaixo:
RX + Mg →→→→ RMgX
HgR2 + Mg →→→→ Hg + MgR2
São bastante reativos, sensíveis ao ar e à água. A natureza dos reagentes de
Grignard depende dos grupos alquila e halogeneto, do solvente, da concentração e da
temperatura. O átomo de Mg normalmente é tetracoordenado, assim há a formação de
pontes, preferencialmente de halogênios.
RMgX2 R2Mg MgX2+ R2MgX
XMgRMg
X
XMgR
f. Organocompostos de Mercúrio
Os organomercúrios são do tipo RHgX e HgR2. Os RHgX são sólidos cristalinos.
Quando X é Cl, Br, I, CN, SCN ou OH são covalentes e solúveis em solventes apolares,
quando X é SO42- ou NO3
1-são salinos com caráter bastante iônico ([RHg]1+NO31-). Os
R2Hg (dialquilas ou diarilas de mercúrio), são apolares, voláteis, tóxicos, incolores e
líquidos ou sólidos de baixo ponto de fusão, não são afetados pelo ar ou pela água, mas
são foto e termicamente instáveis.
O principal uso de organomércúrio é a preparação de outros organocompostos, via
troca:
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(n/2) R2Hg + M →→→→ RnM + (n/2) Hg
O mercúrio é muito tóxico, pode provocar a desmetilação da vitamina B12.
Exemplo de contaminação com mercúrio, caso da Baía de Minamata - Japão.
- Mercuriação e oxomercuriação: Para a formação da ligação Hg-C podem ser usados sais
de mercúrio, acetados, trifluoroacetato ou nitratos, principalmente em compostos
orgânicos insaturados
Quando a reação é realizada em meio protogênico ou alcólico é denominada
oxomercuriação:
Estas reações devem se dar via intermediários do íon mercurínio,
+ Hg(Ac)2
HgAc
+ HAc
C C + HgX2 C C
X
HgX
C C
OEt
HgAc
Hg(Ac)2+C C + EtOH + HAc
Hg
CC
Hg
CC
2+ +
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São empregados para se obter alcóois, éteres, aminas, a partir de alquenos ou
outros compostos insaturados
g. Organocompostos de Boro
As alquil e aril boranas são obtidas a partir de halogenetos de boro com reagentes
de lítio ou Grignard e por hidroboração. As alquilas leves são instáveis e se inflamam ao
ar, as arilas são estáveis. Os organoboranos se comportam como ácidos de Lewis
levando à formação de adutos.
BR3 + :NR’3 → R3B:NR’3
Quando os haletos de boro são tratados com quatro equivalentes de R obtém-se o
ânion B41-. O mais importante deles é o Na[B(C6H5)4], que dá um precipitado com K1+,
Rb1+ ou Me4N1+, úteis em análise gravimétrica. Existem também mono e dialquilboranos
RBX2 e R2BX, sendo X = H ou OH.
h. Organocompostos de Alumínio
Na polimerização de etileno e de propileno são utilizados alquilas de alumínio
(Al(Et)3), são usadas também como agentes redutores e de alquilação de metais de
transição. Podem se preparados assim;
2 Al + 3 R2Hg → 2R3Al ou (R3Al)2 + 3 Hg
RMgCl + AlCl3 → RAlCl2, R2AlCl, R3Al
AlH3 + 3 CnH2n → Al(CnH2n+1)3
LiALH4 + 4 CnH2n → Li[Al(CnH2n+1)4]
As alquilas de alumínio são líquidos reativos, inflamáveis ao ar e explosivos com
água. Algumas se apresentam como dímeros, com pontes de alquilas numa ligação Al-C-
A; de 3c-2e. Assim como organoboranos, são ácidos de Lewis podendo formar adutos ou
espécies iônicas.
Hg(Ac)
H2O, THF
HgAc
OH
NaBH4H
OH
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C
Al
C
Al
H
HH
CH3
CH3H3C
H3C
H
i. Organocompostos de Silício, Germânio, Estanho e Chumbo
Os organocompostos dos elementos do grupo IV são tetravalentes, com fórmula
geral R4-nMXn. As ligações são termicamente mais estáveis e menos reativas do que as C-
Sn e C-Pb, como esperado pela reatividade dos elementos do grupo.
- Organossilício e organogermânio: são bastante semelhantes, mas somente o de Si tem
utilidade prática. Os halogenetos de alquila ou arila silício podem sofre hidrólise e formar
silanóis, intermediários de siloxanas, que podem, dependendo das condições de hidrólise,
formar polímeros com variadas características físicas, líquidos, sólidos, borrachas, com
estabilidade térmica e resistente à oxidação e ao ataque química e isolantes são obtidos.
- Organoestanho: ele diferem dos compostos de Si e Ge pela tendência de ter número de
coordenação maior do que 4, e conseqüentemente serem ionizados. O Sn tem
coordenação próxima à bipirâmide trigonal, em água o ânion perclorato e outros
compostos ionizáveis dão espécies catiônicas [Me3Sn(H2O)2]+
SnOH3C CH3
CH3CH3
CH3H3C
OOCl
OSn
F
SnH3C CH3
CH3CH3
CH3H3CSn
F
O Me2SnF2 é um polímero com átomos de F em ponte, mas Sn tem coordenação
octaédrica, sendo a ligação Me-Sn-Me linear, com moléculas de água completando os
orbitais ”vazios”.
Os hidretos de organoestanho são agentes redutores que podem se adicionar à
alquenos.
- Organochumbo: os mais importantes são o Pb(Me)4 e Pb(Et)4 que são usados como
antidetonantes da gasolina, mas são muitos poluentes e estão sendo substituídos. A
obtenção é dada a seguir:
4 NaPb + 4 RCl → R4Pb + 3 Pb + 4 NaCl
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j. Organocompostos de Fósforo, Arsênio, Antimônio e Bismuto
A químicas dos organocompostos dos elementos do grupo V é bem extensa e mais
voltada para os elementos P e As, a maioria dos organoderivados é composta por 3 ou 4
ligações M-C, mas alguns compostos são R5M. A maioria é obtida por reações simples
com reagente de Grignard:
(O)MX3 + 3 RMgX → OMR3 + 3 MgX2
A trimetilfosfina é inflamável ao ar, as trialquilas mais pesadas sofrem oxidação
mais lentamente, os compostos (O)MX3 são muito estáveis. As fosfinas, arsinas e
estibina terciárias são ligantes π ácidos bastante fortes com metais de transição.
A trifenilfosfina é um ligante utilizado na reação de Witting para a síntese de
olefinas.
[(C6H5)3PCH3] + Br1- → [(C6H5)3P=CH2] + HBr
+
O
(C6H5)3P CH2
O-
CH2P+(C6H5)3
CH2
+ (C6H5)3PO
k. Ligações entre os Metais de Transição(MT) e o Carbono
Com metais de transição as alquilas ou arilass com ligações σ são normalmente
instáveis e lábeis, com as interações σ M-C de grande interesse m reações de alquenos e
alcanos. A existência de orbitais d possibilitam as ligações entre MT e hidrocarbonetos
insaturados e à outras moléculas não clássicas. Devido à baixaestabilidade das ligações
M-C as tentativas de fazer compostos de alquilas com metais de transição através de
reagentes de Grignard não funcionaram, principalmente compostos estáveis a
temperatura ambiente. Contudo, compostos de alquila com ligantes tipo η5 Cp, ou
ligantes π ácidos são estáveis, tipo CH3Mn(CO)5.
A instabilidade de alquilas e/ou arilas se deve ao favorecimento da homólise da
ligação M-C, formando radicais livres e a β eliminação, levando a hidretos metálicoss e
insaturação da cadeia carbônica.
MCH2CH2R M
HCHR
CH2MH + HRC CH2
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Organometálicos que não tem hidrogênio β são mais estáveis, como alquila ou
arila tipo -CH2Ph; -CH2SiMe3; - CH2CMe3; -CH2PMe3. Contudo, é possível que ocorra α
eliminação, produzindo um hidreto carbeno, mas é menos favorável do que a β
eliminação.
MCHRR' M
H
CRR'
Assim, organometálicos metilados tendem a ser mais estáveis, caso seja
adicionado um ligantes que provoque a saturação dos sítios de coordenação do metal de
transição, haverá um aumento da estabilidade do organocomposto.
l. Complexos com Alquenos
O primeiro organometálico de alqueno sintetizado foi o de etilenocom platina,
conhecido como sal de Zeise. [PtCl2C2H2] e K[PtCl3C2H2].
A interação metal-olefina será pela superposição da densidade dos elétrons π da
olefina com um orbital σ vazio do metal, e conseqüente retroligação da densidade
eletrônica extra do orbital d do metal para o orbital π* da olefina, fenômeno semelhante
ao da interação de ligantes π ácidos.
Apesar de ser mantida o caráter duplo das olefinas ligantes, esse tipo de ligação
deve levar a um aumento da distância entre os átomos de carbono na ligação olefínica.
Em casos extremos, a espécie pode ser descrita como um anel metalo-ciclopropano, com
duas ligações M-C 2c-2e e uma ligação simples C-C.
Com alquenos com duplas não conjugadas pode-se formar ligações independentes
com o MT.
MC
C
C
CM ou M
C
C
Retrodoação 2c-2e
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Fe
Com alquenos com duplas conjugadas, há a possibilidade de dois tipos de
interação, curto-longo-curto(a) e longo-curto-longo (b).
sendo o caso (b) mais próximo da disposição real da interação.
Quando alquenos tem várias duplas ligação, como 1,3,5 cicloeptatrieno ou
ciclooctatetraeno, a olefina pode sser considerada como doadora de um par de elétrons e
o metal de transição reage de forma a completar sua coordenação normal, com
preferência de se ligar as duplas não conjugadas.
m. Notação dos Complexos de Alquenos e de outros assemelhados
Há organometálicos formados pela interação de metais de transição sistemas
alicíclicos e outros sistemas com elétrons π. Uma notação para designar o número de
átomos de carbono ligados ao metal foi estabelecido, que usa o prefixo hapto (ηn), sendo
n igual ao número de carbono.
Ru(CO)3
1,4-tetraapto 1,3,5,ciclooctatrienotricarbonilrutênio
MM(a) (b)
M + M
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Ti
(η5C5H5)2(η1C5H5)2Ti ou (η5Cp)2(η1Cp)2Ti
n. Complexos de Grupos Carbonílicos Delocalizados
Há vários complexos com anéis simétricos com 3, 4, 5, 6, 7 e 8 carbonos. Existe
um formalismo que admite que estes anéis têm carga para assumir uma configuração
eletrônica aromática e assim formar os organocompostos:
Ph
Ph Ph
2 2
2e 6e 10e
Essas cargas estão associadas ao Nox do metal no complexo:
- (η5C5H5)2Fe = Fe(II) e C5H51-
- η6C6H6Cr(CO)3 = Cr (0) e C6H6
- (η8C8H8)2U = U (IV) e C8H82-
o. Complexos dos Alquinos
Os alquinos têm duas ligações π, que podem interagir com o metal, como
exemplificado abaixo. Podem também funcionar como ligante alqueno ou como CO. Ou
ainda, semelhantemente aos alquenos formam um metalo-cicplopropeno, principalmente
com Pt, Pd e Ir.
CCR
R
COCOOC
COCOOC
Co
Co
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Ph3P
C
C
Ph3P Ph
Ph
Pt
p. Complexos de Alila
O grupo alilo pode se ligar aos metais de duas maneiras, como η3, triapto doando
3 elétrons ou como η1 em uma ligação σ, formas que podem se autoconverterem.
q. Complexos de Carbeno
Os carbenos :CR2 agem como doadores de dois elétrons, comparável ao CO, e
normalmente são preparados pelo ataque de agentes nucleofílicos ao metal.
Cr(CO)6 + LiR (CO)5CrCO
R
R'3O+
(CO)5CrCOR'
RLi+
Também podem ser obtidos a partir de olefinas ricas em elétrons, que levam a
quebra da dupla ligação.
N
N
N
N
Ph Ph
PhPh
+
Cl
Pt
Cl
PtPh3P
Cl
Cl
PPh3
Pt
Cl
Cl
Ph3PN
N
Ph
Ph
Mn(CO)3 + RC CRUV Mn(CO)2
RC CR
M
H2CCH
CH2M
H2CCH
H2C
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F. PRINCÍPIOS DE CATÁLISE
RESUMO INTRODUTÓRIO
Aplicam-se os conceitos da química dos organometálicos e química de
coordenação à catálise. Enfatizando princípios gerais, tais como, a natureza de ciclos
catalíticos, quando a espécie catalisada é regenerada na reação e o delicado balanço de
reações requerido para o sucesso do ciclo. Ver-se-á quatro pré-requisitos para o sucesso
do processo catalítico: a reação catalisada deve ser termodinamicamente favorável e
veloz o suficiente, o catalisador deve ter uma seletividade apropriada para o produto
desejado e um tempo de vida longo o suficiente para ser econômico. A análise de cinco
tipos de reações que são comumente encontradas em catálise homogênea,
interconversão de hidrocarbonetos, serão vistas, assim como em que condições essas
reações ocorrem e propostas de mecanismos para as mesmas. Por fim, raciocínio
semelhante será aplicado a catálise heterogênea, quando se traçará muitos paralelos
entre catálise homogênea e heterogênea muito além da diferenças de termologia.
Um catalisador é uma substância que aumenta a velocidade de uma reação, mas
não é consumida. Os catalisadores são amplamente encontrados na natureza, na
indústria e nos laboratórios, estima-se que contribuam com um sexto (1/6) do valor de
todos os manufaturados industrializados. Treze dos vinte principais produtos químicos
sintéticos são obtidos direta ou indiretamente por catálise. Por exemplo, a etapa chave
na produção do principal insumo da indústria, o ácido sulfúrico, é a oxidação catalítica de
SO2 à SO3. A amônia, outro importante insumo para a indústria e agricultura, é
produzida por redução catalítica de N2 por H2. Catalisadores inorgânicos são usados para
a produção da maioria de insumos orgânicos e produtos do petróleo, tais como,
combustíveis, petroquímicos e plásticos poliolefínicos. Catalisadores aumento o alcance
do papel de um meio ambiente mais limpo através da destruição de poluentes (como os
catalisadores automotivos) e através do desenvolvimento de processos industriais mais
limpos com menor quantidade de subprodutos. Enzimas, uma classe de elaborados
catalisadores bioquímicos não serão vistos nesta ocasião.
Somando a sua importância econômica e contribuição à qualidade de vida, os
catalisadores são interessantes pela sutileza com que eles são negociados. O
entendimento dos mecanismos de reações catalíticas têm aumentado fortemente nos
últimos anos devido a possibilidade de troca isotópica de moléculas, melhora de métodos
de determinação da velocidade de reação e melhora de técnica de difração e
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espectroscópica.
PRINCÍPIOS GERAIS
Catalisadores são classificados como homogêneo se eles estão presentes na
mesma fase que os reagentes isso normalmente significa que eles estão presentes como
solutos num líquido de uma mistura reacional. Catalisadores são heterogêneos se eles
estão presentes numa fase diferente daquela dos reagentes. Os catalisadores
heterogêneos tem impacto econômico muito maior.
O termo “catalisador negativo” é às vezes aplicado à substâncias que retardam
reações. Este termo não é muito usado sendo melhor considerado como veneno catalítico
que bloqueia uma ou mais etapas elementares numa reação catalisada.
a) Descrição de catalisadores
Uma reação catalisada é mais rápida (ou, em alguns casos, mais específica) do
que a versão não catalisada da mesma reação, porque o catalisador promove um
caminho reacional diferente com uma menor energia de ativação. Para descrever essas
características uma termologia própria é usada para expressar a velocidade de uma
reação catalítica e seu mecanismo.
Eficiência Catalítica
A freqüência de turnover N (formalmente número de turnover) é muitas vezes
usado para expressar a eficiência de um catalisador. Para a conversão de A para B
catalisada por Q, com velocidade v;
BA Q→ dt
Bdv
][= ; freqüência de turnover é ][Q
vN =
se a velocidade da reação não catalisada for desprezível. Um catalisador altamente ativo
resulta numa reação rápida apesar da sua baixa concentração, tem assim maior
freqüência de turnover.
Na catálise heterogênea a velocidade da reação é expressa em termos da
velocidade de mudança na quantidade de produto (ao invés de concentração) e a
concentração do catalisador é substituída pela quantidade de catalisador presente. A
determinação do número de sítios ativos num catalisador heterogêneo é particularmente
desafiante, e muitas vezes o denominador [Q] é simplesmente substituído pela área do
catalisador.
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Ciclos Catalíticos
A essência da catálise é um ciclo de reações que consome os reagentes, forma os
produtos e regenera as espécies catalíticas.Por exemplo, um equilíbrio gera um complexo
fracamente coordenado de Rh(I). Os reagentes, hidrogênio e um alqueno entram no ciclo
pela reação com o complexo para produzir em seguida um complexo híbrido (b) e então
um alqueno complexo (c). Na etapa final de (d) para (a), o produto hidrogenado deixa a
curva com a regeneração do complexo insaturado Rh(i) e o ciclo pode recomeçar.
O ródio transforma através de uma série de complexos, cada qual facilita uma
etapa da reação global. Esse papel múltiplo é comum em catálise homogênea, e
estritamente falando, não há catalisador simples: um ciclo catalítico pode conter vários
complexos cada um participando no processo global. O complexo introduzido no sistema,
nesse caso RhCl(PPh3)3 (a’), é muitas vezes visto como “o catalisador”, mas nos
exemplos com o ilustrado é mais correto chamá-lo de “precursor catalítico” porque ele
não está dentro do ciclo catalítico.
Como com todos os mecanismos, o ciclo tem sido proposto com base nessa série
de informações (esquema). A elucidação do mecanismo catalítico é complicada pela
ocorrência de várias reações de balanço delicado, as quais muitas vezes não se pode
estudar isoladamente.
Dois testes rigorosos de propostas de qualquer mecanismo são a determinação da
lei das velocidades e o entendimento da estequiometria. Se intermediários são
vislumbrados, então sua detecção por RMN e IV também deve comprová-los. Se a
transferência de um átomo específico é proposta, então estudos com traços de isótopos
podem servir como teste. A influência de diferentes ligantes e diferentes substratos é,
também, as vezes informativa. Apesar dos dados de velocidade e correspondentes leis
terem sido determinadas para muitos ciclos catalíticos globais, é também necessário a
determinação da lei das velocidades para as etapas individuais com o objetivo de se ter
confiança razoável no mecanismo. Contudo, devido à complicações experimentais, é raro
que ciclos catalíticos sejam explanados com este detalhamento
Fatores Energéticos
Um catalisador aumenta a velocidade de processos pela introdução de novas
etapas (mecanismo) com energia ativação livre de Gibbs (∆G#) mais baixas e é um fator
importante no perfil da energia livre de uma reação catalítica, não apenas a entalpia ou
perfil de energia, por causa de novas etapas elementares que ocorrem no processo
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catalisado que tem diferentes entropias de ativação. Um catalisador não afeta a energia
livre de Gibbs da reação global ((∆G°) porque G é uma função de estado (isto é, G
depende somente do estado corrente do sistema e não de cada etapa que deixa o
estado). A energia livre de Gibbs é a mesma em ambos perfis. Assim, reações que são
termodinamicamente não favoráveis não podem se tornar favoráveis por um catalisador.
O perfil da energia livre de reações catalisadas não contém picos altos e baixos. O
novo passo introduzido pelo catalisador muda o mecanismo da reação. Como resultado, o
perfil da energia livre é bastante diferente daquela de uma reação não catalisada, e a
energias livres são menores. Entretanto, um ponto igualmente importante é que
intermediários catalíticos estáveis não ocorrem no ciclo catalítico. Similarmente, o
produto estável termodinamicamente deve ser formado numa etapa. Se um complexo
estável é formado com o catalisador, encerra-se o processo com a formação do produto
da reação e o ciclo não poderá continuar. Impurezas podem suprimir a catálise pela forte
coordenação aos sítios cataliticamente ativos. Tais impurezas atuam como venenos
catalíticos.
b) Propriedades de catalisadores
Apesar do aumento de velocidade de uma reação catalítica ser importante, não é
o único critério. De importância semelhante são, um mínimo de produtos laterais e um
tempo de meia-vida longo.
Seletividade
Um catalisador seletivo gera uma alta proporção do produto desejado com o
mínimo de quantidade de produtos laterais (subprodutos). Na indústria, há considerável
incentivo econômico ao desenvolvimento de catalisadores seletivos. Por exemplo, quando
prata metálica é usada para catalisar a oxidação de etileno co oxigênio para formar óxido
de etileno, a reação é acompanhada pela mais termodinamicamente favorável, mas
indesejada, formação de CO2 e H2O. Essa falta de seletividade aumenta o consumo de
etileno, assim a química tenta constantemente encontrar um catalisador mais seletivo
para a síntese de óxido de etileno. A seletividade pode ser ignorada em somente algumas
poucas reações inorgânicas onde há essencialmente um produto termodinamicamente
favorável, como na formação de NH3 a partir de H2 e N2.
Meia-vida
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Uma pequena quantidade de catalisador deve “sobreviver” por um grande número
de ciclos para ser economicamente viável. Contudo, um catalisador pode ser destruído
por reações laterais ao ciclo catalítico principal ou pela presença de pequenas
quantidades de impurezas nos materiais de partida (insumos). Por exemplo, muitos
catalisadores de polimerização de alquenos são destruídos por O2, assim na síntese de
polietileno e polipropileno a concentração de oxigênio no etileno ou no propileno não
pode ser maior do que ouças partes por bilhão (ppb).
Alguns catalisadores podem ser regenerados bem rapidamente. Por exemplo, o
catalisador de metal suportado usado nas conversões de hidrocarbonetos à gasolina de
alta octanagem, tornam-se cobertos por carvão (carbono) porque a reação catalítica é
acompanhada por uma pequena parcela de desidrogenação. Essas partículas de metais
podem ser limpas pela interrupção periódica do ciclo catalítico e queima do carbono
acumulado.
c) Catálise Homogênea
Como em toda química de mecanismo, os mecanismos catalíticos são inferidos de
uma gama de evidências indiretas, e assim um mecanismo está sujeito a um refinamento
ou mudança quando informações de detalhamento experimental são avaliadas.
Deve-se ter em mente que o mecanismo de catálise homogênea é mais acessível
ao detalhamento investigativo do que a catálise heterogênea porque a interpretação de
dados de velocidade é freqüentemente mais fácil. Além disso, espécies em solução são
muitas vezes mais fáceis de caracterizar do que aquelas numa superfície.
Num ponto de vista prático, catálise homogênea é mais atrativa porque é muitas
vezes mais seletiva levando a formação do produto desejado. Em larga escala industrial,
processos catalíticos homogêneos podem ser preferidos para reações exotérmicas porque
é mais fácil dissipar calor de uma solução do que de um leito sólido de um catalisador
heterogêneo
ETAPAS CATALÍTICAS
Coordenação ligante e dissociação
A catálise de transformação de moléculas geralmente requer facilidade de
coordenação de reagentes à íons metálicos e igual facilidade de saída dos produtos da
esfera de coordenação. Ambos os processos devem ocorrer com baixa energia de
ativação livre de Gibbs, assim complexos metálicos altamente lábeis são necessários.
Esses complexos lábeis são coordenados insaturadamente no sentido deles conterem um
sítio de coordenação “aberto” ou mais
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comumente, um sítio que está apenas fracamente coordenado.
Complexos quadrados planares de 16 elétrons são coordenados insaturadamente
e são muitas vezes empregados para catalisar reações de moléculas orgânicas. Essas
facilidades nas reações são bastante comuns para o sistema catalítico envolvendo
complexos ML4 (Pd (II), Pt (II) e Rh (I)) como a hidrogenação catalítica usando
RhCl(PPh3)3.
Inserção e eliminação
A migração de ligantes alquila e hidreto para complexos insaturados, como na
reação:
é um exemplo de uma reação de inserção migratória (ou simplesmente “reação de
inserção”). Um outro exemplo do mesmo tipo de reação é a migração de um ligante
hidreto (H) para um alquino coordenado para produzir um ligante alquila coordenado.
O inverso da inserção é a eliminação. Reações de eliminação incluem a importante
β - eliminação de hidrogênio
MCH2CH3
MCH2
HCH2
M
H CH2
CH2C2H4
+ Sol
-M
HSol
Ataque nucleofílico em ligantes coordenados
A coordenação de ligantes, tais como CO e alquenos à íons metálicos com estados
de oxidação positivo resulta na ativação dos átomos de carbono permitindo o ataque por
L +
R
MC O
L
MC R
O
CH2
CH2 MCH2CH3
M
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nucleófilos. Tais reações são úteis em catálise, assim como na química dos
organometálicos.
A hidratação de etileno ligado à Pd(II) é um exemplo de catálise por ativação
nucleofílica. Evidências estereoquímicas indicam que a reação ocorre pelo ataque direto
no átomo de carbono mais altamente substituído do alqueno coordenado.
1+
H+1+L3Pd C C
H
H
R
R
OH
OH2
2+
C
C
R R
H R
L3Pd
É também possível para a hidroxilação de um alqueno coordenado ser substituído
pela coordenação prioritária de água no complexo metálico, seguida por uma reação de
inserção:
L4M H2O C2H4+ +-2L
ML
L
OH2
CH2
CH2
+LM CH2CH2OHL
L
L
+ H+1
1-
Similarmente um ligante CO coordenado é atacado por um OH1- no átomo de C,
formando um ligante –CO(OH), que subseqüentemente perde CO2:
ML
L L
CO
L
L
OH-1 ML
L L
C
L
LOH
O 1-
ML
L L
H
L
L
CO2+ +
Oxidação e Redução
Complexos metálicos são muitas vezes usados para a oxidação catalítica de
substratos orgânicos, e no ciclo catalítico o átomo metálico alterna entre dois estados de
oxidação. Alguns pares catalíticos de um elétron são: Cu2+/Cu1+; Co3+/Co2+; Mn3+/Mn2+,
um dos exemplos de processos catalíticos que envolvem dois elétrons é o par Pd2+/Pd.
Catalisadores contendo íons metálicos são usados em processos em larga escala
para a oxidação de hidrocarbonetos, como na oxidação de p-xileno à ácido tereftálico. O
íon metálico pode desempenhar vários papéis nessas oxidações radicalares, considere
um mecanismo de forma geral:
a) In + R-H → In-H +R (iniciação)
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b) R + O2 → R-O-O (propagação)
R-O-O + R-H → R-O-O-H + R
c) 2 R → R-R (terminação)
R + R-O-O → R-O-O-R
2 R-O-O → R-O-O-O-O-R → O2 + não radicais
Os íons metálicos controlam a reação pela contribuição na formação de radicais R-
O-O:
Co(III) + ROOH →→→→ Co(ROOH) →→→→ Co(III)OH + RO
Co(III) + ROOH →→→→ Co(III) + ROO + H1+
O átomo metálico “flutua” entre os estados de oxidação destes pares de reação.
Um íon metálico também pode atuar como um inibidor. Por exemplo, quando arenos
estão envolvidos acredita-se que ocorre a inibição por um processo redox simples:
ArCH3 + Co(III) →→→→ ArCH3+ + Co(II)
Adição oxidativa e eliminação redutiva
A adição oxidativa de uma molécula AX à um complexo trata da dissociação da
ligação A-X e a coordenação dos dois fragmentos:
A eliminação redutiva é o processo inverso da adição oxidativa e muitas vezes a
segue num ciclo catalítico.
Os mecanismos das reações de adição oxidativa variam. Dependem das condições
de reação e da natureza dos reagentes, há evidências de adições oxidativas por reações
simples concertadas, adição heterolítica (iônica) de A+ e X-, ou adição radicalar de A e X.
Apesar da diversidade de mecanismos, infere-se que as velocidades de adições
oxidativas de haletos de alquila segue a ordem:
- alquila primária < alquila secundária < alquila terciária
- F << Cl < Br < I
+ ML
L X
L
L
A
AXML
L L
L
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EXEMPLOS DE SISTEMAS CATALÍTICOS
Várias reações elementares individuais combinam forças e contribuem no ciclo
catalítico. Os exemplos a seguir ilustrarão o entendimento atual dos mecanismos de
algumas reações importantes típicas e dão alguma luz na maneira com a qual a atividade
catalítica e a seletividade podem ser alteradas. Como já sabido, há usualmente mais
incertezas associadas com o mecanismo catalítico do que com os mecanismos de
reações simples. Diferente de reações simples, um processo catalítico freqüentemente
contém muitas etapas sobre as quais o experimentalista tem pouco controle. Além disso,
intermediários altamente reativos estão muitas vezes presentes em concentrações muito
baixas para serem detectados espectroscopicamente. A melhor atitude a se adotar para
estes mecanismos catalíticos é aprender sobre a maneira das transformações e inferir
sobre suas implicações, mas estando preparado a aceitar novos mecanismos que podem
ser indicados por trabalhos futuros.
A ação da catálise homogênea pode ser verificada nos exemplos anteriores. As
reações citadas incluem hidrogenação, oxidação, e vários outros processos. Muitas vezes
os complexos de todos os átomos de metais num mesmo grupo exibirão atividade
catalítica para uma reação em particular, mas os complexos 4d são, geralmente,
superiores como catalisadores do que seus congêneres 3d e 5d. Em alguns casos a
diferença pode estar associada com a maior labilidade (poder de substituição) de
compostos organometálicos 4d em comparação com seus análogos. Em várias situações
o custo do complexo metálico pode ser o parâmetro no balanço de sua performance
superior comparada à complexos de metais mais baratos.
Hidrogenação de alquenos
A adição de hidrogênio à um
alqueno para formar um alcano é
altamente favorecida
termodinamicamente (G° = - 101
kJ/mol para a conversão de etileno
à etano). Contudo, a velocidade da
reação é ínfima em condições
normais e na ausência de um
catalisador. Eficientes catalisadores
homogêneos e heterogêneos são
conhecidos para a hidrogenação de
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alquenos e são usados em diversas áreas como na obtenção de margarinas, remédios e
petroquímicos.
Um dos sistemas catalíticos mais estudados é o do complexo de Rh(I),
[RhCl(PPh3)3], que é chamado de catalisador de Wilkinson. Este catalisador hidrogena
uma ampla variedade de alquenos à pressão de hidrogênio de 1 atm ou menos. O ciclo
está próximo do mecanismo proposto por Wilkinson, mas alguns detalhes têm sido
revistos, primeiro através de estudos mais cuidadosos mecanísticos realizados (Jack
Halpern, Universidade de Chigago). Este é um dos poucos ciclos catalíticos que tem cada
etapa postulada checada cineticamente e assim segue-se o mecanismo com algum
detalhamento.
O ciclo dominante para alquenos simples como o cicloexano parece envolver uma
etapa primária na qual Rh(I) adiciona oxidativamente H2. Dados cinéticos indicam que no
ciclo catalítico primário hidrogênio não se adiciona ao complexo precursor, mas ao invés
disso ao complexo gerado pela associação da fosfina substituída a partir do precursor de
16 elétrons. Há também evidência cinética para uma rota alternativa mais lenta, mas
mais direta. Nessa rota o H2 é adicionado diretamente ao complexo precursor
[RhCl(PPh3)3] levando (b) O envolvimento do complexo (a), ou de sua versão livre de
solvente, tem sido um ponto de controvérsia, porque ela contradiz o conceito de
estabilidade de complexos com 14 elétrons e também porque (a) não foi ainda detectado
espectroscopicamente na mistura reacional. Evidências cinéticas indicam que (a) reagem
aproximadamente 10 milhões de vezes mais rápido do que (a’)
A reação do complexo hidrogenado R(III) (b) com o cicloexeno em excesso
(concentração de cicloexeno constante) leva à uma lei de velocidades que é de pseudo
primeira ordem em relação ao complexo desidrogenado:
][][
2222
LRhClHkdt
LRhClHd=−
Análises mais detalhadas com a variação da concentração do alqueno levam a
uma expressão de velocidade mais complexa e coerente com um pré-equilíbrio entre (b)
e o complexo alqueno substituído de 18 elétrons (d). Esse pré equilíbrio é seguido por
uma etapa mais lenta (determinante da velocidade) de reação de inserção migratória
para produzir um complexo hidroalquila (e). A subseqüente eliminação redutiva do
alcano de (f) levando à (a) é o restabelecimento do ciclo. Dados cinéticos com H2 e D2
indicam uma reação mais rápida com H2 que é consistente com a reação de inserção
migratória do hidrogênio sendo a etapa determinante de velocidade da reação.
Experimentos com a adição catalítica de D2 ao ciclo de alquenos indicam que a
adição de hidrogênio em cis é altamente esteroespecífica. Por análise espectroscópica da
mistura reacional observa-se a presença de vários complexos de ródio, mas nenhum dos
complexos ativos de (a) até (e) foram detectados. Por exemplo, análise por ressonância
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magnética nuclear (RMN) demonstra a presença de um dímero com o halogênio (cloro)
em ponte. Um complexo não proposto no ciclo. A prematura controvérsia sobre esse
mecanismo catalítico inclina alguns pesquisadores a não incluírem complexos somente
porque foram observados espectroscopicamente no mecanismo proposto sem a evidência
cinética de seu envolvimento direto.
O catalisador de Wilkinson é altamente sensível à natureza dos ligantes fosfina e
ao substituinte olefínico. Complexos análogos com ligantes alquilfosfina são inativos,
presumivelmente, porque eles estão mais fortemente ligados ao metal e não são
prontamente dissociados. Similarmente, o alqueno deve ter o tamanho certo: alquenos
muito ramificados ou etileno estericamente impedido não são hidrogenados por com
catalisador. Presume-se que alquenos estericamente populados não se coordenam e que
se o complexo olefínico for formado estará fortemente ligado e não reagirá. Essas
observações enfatizam a visão feita anteriormente que um ciclo catalítico é usualmente
uma delicada seqüência de reações e qualquer coisa que perturbar seu fluxo pode
bloquear a catálise ou alterar o mecanismo.
O catalisador de Wilkinson é usado em escala laboratorial em síntese orgânica e
na produção de insumos de química fina. Catalisadores de Rh(I) fosfinas que contém
como ligante fosfina quiral tem sido desenvolvidos para sintetizar produtos oticamente
ativos em reações enantioseletivas. O alqueno a ser hidrogenado deve ser proquiral,
que significa que deve ter uma estrutura que leve a quiralidade R ou S quando
complexado ao metal. O complexo resultante terá então duas formas diastereoisômeros
dependendo do modo de coordenação do alqueno. Em geral, diastereoisômeros têm
diferentes estabilidades e labilidades, e em casos favoráveis um ou outro destes efeitos
leva ao produto enantioseletivo.
Um catalisador de hidrogenação enantioseletivo contém uma fosfina quiral como
ligante como DiPAMP que é usado pela Monsanto para sintetizar L-dopa. Um detalhe do
processo é que o diastereoisômero minoritário na solução leva ao produto majoritário. A
explicação da maior freqüência de turnover do isômero minoritário está na diferença da
energia livre de ativação. Estimulado pelo desenho do ligante, esse rendimento aumenta
rapidamente e permite o uso clínico do composto.
Hidroformilação
Numa reação de hidroformilação um alqueno, CO e H2 reagem para formar um
aldeído contendo um átomo de carbono a mais do que o alqueno original:
RCHCH2 + CO + H2 →→→→ RCH2CH2CHO
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Complexos de cobalto e ródio são empregados como catalisadores. Os aldeídos
produzidos por hidroformilação são normalmente reduzidos à álcoois que são usados
como solventes, plastificantes e na síntese de detergentes. A escala de produção é
enorme, bilhões de quilos por ano.
O termo hidroformilação deriva da idéia que o produto é resultado da adição de
formaldeído ao alqueno, mas o nome tem contra-indicado por dados experimentais que
indicam um mecanismo diferente. Um nome menos comum, mas mais apropriado é
hidrocarbonilização. O mecanismo geral do carbonil cobalto que catalisa a
hidroformilação foi proposto por Heck e Breslow e 1961 por analogia a reações já
conhecidas da química de organometálicos. Esse mecanismo é ainda empregado, mas
tem sido difícil verifica-lo em detalhes.
No equilíbrio proposto um pré-
equilíbrio é estabelecido com a
combinação de cabonilcobalto com
hidrogênio à alta pressão e levando ao
complexo tetracabonilhidrocobalto.
Esse complexo pede CO e produz o
complexo insaturado [CoH(CO)3]:
[CoH(CO)4] = [CoH(CO)3] + CO
E então através de [CoH(CO)3]
que se coordena ao alqueno e há uma
reação de inserção com o ligante hidrido coordenado. Na presença de CO à alta pressão,
o complexo sofre inserção migratória formando o complexo com acila que pode ser
observado por espectroscopia no infravermelho (IV) sob condições de reação catalítica. A
formação do aldeído como produto ocorre pelo ataque de H2 ou pela acidez fortíssima do
complexo [CoH(CO)4] levando ao aldeído e regenerando o complexo insaturado
[CoH(CO)3].
Uma significativa quantidade de aldeído ramificado, também, é formado na
hidroformilação catalisada por cobalto. Estes produtos podem ser resultados do
intermediário 2 alquilcobalto formado na isomerização de (a) e seguida inserção de CO.
O aldeído linear é preferido para algumas aplicações, tais como para a síntese de
detergentes biodegradáveis, e então é necessário suprimir a isomerização. A adição de
um alquilfosfina na mistura reacional provoca seletividade muito maior para o produto
linear. Um explicação plausível é que a troca de CO por um ligante maior desfavorece a
formação de complexos de dois alquenos estericamente impedidos.
Já que a atividade catalítica de metais 4d é maior do que a de 3d, complexos de
ródio são mais ativos como catalisadores de hidroformilação do que complexos de
cobalto. Um efetivo precursor catalítico [RhH(CO)(PPh3)3] perde uma fosfina para formar
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um complexo coordenado insaturado de 16 elétrons [RhH(CO)(PPh2)2] que promove a
hidroformilação a moderadas temperaturas e 1 atm de pressão. Este comportamento
contrasta com o catalisador carbonilcobalto, que tipicamente requer 150 °C e 250 atm.
Devido sua eficiência sob condições convenientes, o complexo de ródio é útil no
laboratório, porque favorece produtos aldeídicos lineares e assim ele compete com
catalisadores modificados com fosfinacobalto usado na indústria.
Síntese de ácido acético - Monsanto
O método de
síntese de ácido
acético pela ação de
bactérias aeróbicas a
partir de etanol
aquoso, que produz
vinagre é bem
conhecido. Contudo,
este processo não é
econômico para a
indústria como fonte
de ácido acético
concentrado. Um processo comercial altamente favorável está baseado na carbonilação
de metanol catalisada por ródio.
A reação é catalisada por todos os
três metais do grupo 9 (cobalto, ródio e
irídio), mas complexos do metal 4d (ródio)
são mais ativos. Originalmente um
complexo de cobalto foi usado, mas o
catalisador de ródio desenvolvido pela
Monsanto reduziu o custo do processo pela
possibilidade de empregar pressões mais
baixas. Como resultado, o processo
Monsanto está licenciado para uso pelo
H3COH + CORhI2(CO)2
H3CCOOH
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mundo todo.
O ciclo catalítico do processo Monsanto é mostrado a acima. Sob condições
normais de operação, a etapa determinante da velocidade é a adição oxidativa de
iodometano ao complexo tetracoordenado com 16 elétrons [RhI2(CO)2], produzindo o
complexo hexacoordenado de 18 elétrons [(H3C)RhI3(CO)2]. Essa etapa é seguida pela
inserção migratória de CO levando ao complexo acílico, que é então recuperado levando
a eliminação redutiva do acetiliodato com a regeneração de [RhI2(CO)2]. A água então
hidrolisa o acetiliodato regenerando HI
H3CCOI + H2O →→→→ H3CCOOH + HI
Nenhum outro ânion funciona tão bem quanto iodeto neste sistema catalítico, e
sua labilidade especial aumenta por vários fatores. Entre eles está a maior velocidade da
adição oxidativa do iodometano relativa à outros haletos de alquila na etapa
determinante da velocidade de reação. Além disso, o iodeto é macio, sendo um bom
ligante para o Rh(I), quando apresenta a forma pentacoordenada [RhI3(CO)2]1- que deixa
a adição oxidativa com iodometano mais rápida do que com [RhI2(CO)2]. O ácido forte HI
é também efetivo na halogenação do metanol;
H3COH + HI →→→→ H3CI + H2O
Oxidação de Alquenos - Wacker
O processo Wacker foi primeiramente usado para produzir acetaldeído a partir
de etileno e oxigênio:
C2H4 (g) + ½ O2 (g) →→→→ CH3CHO (g) ∆∆∆∆G° = - 197 kJ/mol
Sua invenção no Wacker Consortium für Elektrochemiche Industrie (Alemanha
oriental) no final dos anos 50 do século 20 marcou o começo de uma nova era na
produção de produtos químicos a partir de insumos de petróleo. Embora esse não seja
mais o processo industrial majoritário, ele tem algumas apresentações interessantes de
novos mecanismos que são notadamente meritórios. Numa etapa inicial tem-se;
C2H4 + PdCl2 + H2O →→→→ CH3CHO + Pd(0) + 2 HCl
A natureza exata de Pd(0) é desconhecida, mas está provavelmente na forma de
um complexo. A lenta oxidação de Pd(0) retornando à Pd(II) por oxigênio é catalisada
pela adição de Cu(II), que vai a Cu(I) em ciclos;
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Pd(0) + 2 [CuCl4]2- → Pd2+ + 2 [CuCl2]
1- + 4 Cl1-
2 [CuCl2]1- + ½ O2 + 2 H1+ + 4 Cl1-→ 2 [CuCl4]
2- + H2O
Pelo ciclo global, ao lado, e estudos estereoquímicos detalhados indicam que a
hidratação do complexo paládio-alqueno ocorre pelo ataque da água da solução no
etileno coordenado ao invés da inserção de OH coordenado. A hidratação para formar
Pd(CH2CH2OH) é seguida por duas etapas que isomerizam o álcool coordenado. Primeiro,
uma β eliminação ocorre com a formação do composto (c) e então a inserção migratória
resulta na formação do complexo (d). A eliminação de acetaldeído e de um próton leva
ao paládio zero (Pd(0)). Este paládio é novamente convertido à paládio (II) pelo auxílio
do Cu (II) catalisando a oxidação pelo ar.
Ligantes alquenos
coordenados a Pt (II)também são
suscetíveis ao ataque nucleofílico,
mas somente paládio leva a um
sistema catalítico funcional. A
principal razão parece ser a maior
labilidade dos complexos 4d Pd (II)
em comparação com seus
contraparceiros 5d (Pt (II)). Além
disso, o potencial para a oxidação
de Pd (0) para Pd (II) é mais
favorável do que para o par
Pt(0)/Pt(II).
Polimerização de Alquenos
Polialquenos (poliolefinas) são quantitativamente os mais comuns e úteis classes
de polímeros sintéticos e são preparados na maioria das vezes pelo uso de catalisadores
organometálicos, seja em solução ou suportados em superfície sólida (catálise
heterogênea).
Nos anos 50 do século 20, Karl Ziegler, na Alemanha, desenvolveu um processo
catalítico para a polimerização de etileno (eteno) baseado num catalisador formado por
TiCl4 e Al(C2H5)3 e logo em seguida G. Natta, na Itália, utilizou este tipo de catalisador
para a polimerização estereoespecifíca de propileno (propeno). Esse desenvolvimento
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resultou em uma revolução nos materiais de empacotamento, fábricas e materiais de
construção. Um catalisador Ziegler-Natta e um outro catalisador de cromo são
amplamente usados para a polimerização e são partículas sólidas onde a polimerização
ocorre. Em grande parte por conta de seu caráter heterogêneo, o mecanismo de ação
desses catalisadores não tem sido definidos com precisão. Para os catalisadores
homogêneos correlatos, contudo, analogias com as reações organometálicas conhecidas
levam a pistas sobre as reações em curso no sistema heterogêneo. Um modelo
homogêneo é o complexo anelado [η5(C5H5)2Zn(CH3)L]1+ que catalisa a polimerização de
alquenos por sucessivas etapas de inserção que devem envolver a coordenação do
alqueno no centro eletrofílico do Zr. Este tipo de catalisador homogêneo é agora usado
comercialmente para a síntese de polímeros especiais. Com um catalisador de zircônio
quiral é possível obter polipropileno oticamente ativo.
Cicloalquenos, não cicloexeno, são suscetíveis a polimerização com a abertura do
anel e é catalisada por certos complexos organometálicos.
Nessa reação de polimerização um alqueno se insere no carbeno metálico dando
um novo complexo carbênico com uma cadeia lateral maior no carbeno. Inserções
sucessivas levam a cadeias longas. A reação de polimerização é favorecida
termodinamicamente pelo auxílio da tensão
do anel quando o composto cíclico é aberto.
Uma larga variedade de carbenos metálica é
conhecida por catalisar essa reação e muitos
desses resultam em uma “polimerização
viva”.
Uma característica de uma
polimerização viva é que a polimerização
continua até todo o monômero ter sido
consumido e então pode ser reiniciada pela
simples adição de mais monômero. O
polímero isolado de uma polimerização viva é
muitas vezes altamente monodisperso (isto é,
tem uma faixa muito curta de massa molar).
Estas características resultam das reações laterais mínimas, assim cada centro metálico
tem uma cadeia de comprimento semelhante atada a ele durante o processo de
polimerização. A polimerização é terminada por hidrólise
d) Catálise Heterogênea
Catalisadores heterogêneos são usados muito extensivamente na indústria. Um
aspecto atrativo é que muitos destes
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catalisadores sólidos são robustos a altas temperaturas e, além disso, são aplicáveis a
uma larga faixa de condições operacionais. Uma outra razão para sua ampla aplicação é
que etapas extra não são necessárias para separar o produto do catalisador. Tipicamente
reagentes gasosos ou líquidos entram num reator tubular com a finalidade de reagir
quando passam sobre um leito de catalisador, e os produtos são coletados na outra
extremidade do leito. Esse esquema simplificado se aplica a conversão catalítica
empregada na oxidação de CO, hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio reduzidos que
ocorre nos exaustores de automóveis.
A natureza dos catalisadores Heterogêneos
A informação da estrutura de um catalisador heterogêneo pode ser as vezes determinada
por espectroscopia e estudos relacionados a reatividade de moléculas absorvidas na
superfície cristalina. Contudo, estes estudos são geralmente feitos sob condições de
ultravácuo, que são muito diferentes das
condições usadas na prática. Um catalisador
heterogêneo de utilidade prática tem grande
área superficial que em muitos casos contêm
diferentes fases e podem funcionar à uma
atmosfera e/ou pressões mais altas. Em alguns
casos o volume de um material (suporte) de
grande área superficial serve como catalisador, e
em tais casos o material é chamado de
catalisador uniforme. Um exemplo é a zeólita
ZSM-5, que tem canais que permitem a difusão
de moléculas reacionais. Na maioria das vezes os
catalisadores multifásicos são usados. Estes consistem de um material com grande área
superficial que serve como suporte no qual um catalisador ativo é depositado
Área superficial e porosidade
Em catálise heterogênea a interação dos reagentes e catalisadores ocorre
prontamente, mas medidas especiais devem ser tomadas para ter certeza que moléculas
reativas tem contato com os sítios catalíticos. Para muitas aplicações, um sólido denso
comum é insatisfatório como catalisador porque sua área superficial é muito pequena.
Então, α-alumina, que é um material denso com pequena área superficial, é usado muito
menos como um suporte para catalisador do a aluminia microcristalina γ-alumina, que é
constituída de partículas de pequeno tamanho e, portanto, tem grande área superficial. A
grande área superficial é resultante de muitas partículas pequenas, mas conectadas, e
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em um grama de um suporte catalítico típico há uma área superficial igual a de uma
quadra de tênis (centenas de metros quadrados). Similarmente, quartzo não é usado
como um suporte catalítico, mas a versão de SiO2 com grande área superficial, a sílica
gel, é amplamente empregada.
A γ-alumina e a sílica gel são materiais metaestáveis, mas sob condições comuns
elas não convertem em suas fases mais estáveis (α-alumina e quartzo). A preparação de
γ-alumina envolve a desidratação de um hidróxido de alumínio;
2 AlO(OH) → γ→ γ→ γ→ γ-Al2O3 + H2O (por aquecimento)
Semelhantemente a sílica gel é
preparada pela acidificação de silicatos
para produzir Si(OH)4, que
rapidamente forma a sílica gel
hidratada que tem muita água
absorvida podendo ser removida,
também, por aquecimento leve.
Quando vistos com microscópio
eletrônico a textura da sílica gel ou da
γ-alumina tem a aparência de um leito
áspero de cascalho com
irregularidades e formas vazias entre
as partículas interconectadas.
As zeólitas são exemplos de
catalisadores uniformes. Elas são
preparadas como cristais muito finos que contém grandes canais regulares e gaiolas bem
definidas pela estrutura cristalina. A abertura destes canais varia com a forma cristalina
da zeólita, mas estão tipicamente entre 3 a 10 angstron em seus menores diâmetros. As
zeólitas absorvem moléculas pequenas o suficiente para entrar nos canais e excluem
moléculas maiores. Essa seletividade, em combinação com os sítios catalíticos dentro das
gaiolas permitem um grau de controle sobre reações catalíticas que não é obtido com
sílica gel ou γ-alumina. A síntese de novas zeólitas e sólidos similares com seletividade de
forma é a introdução de sítios catalíticos neles é uma forte área de pesquisa atual.
Sítios ácidos e básicos nas superfícies
Quando exposta a atmosfera, a superfície de γ-alumina é coberta por moléculas de
água adsorvida. A desidratação a 100 – 150°C leva a desorção da água, mas grupos OH
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superficiais permanecem e atuam como fracos ácidos de Bronsted.
À temperaturas mais altas os grupos OH adjacentes se condensam liberando mais
água e gerando sítios ácidos de Lewis Al3+, assim como, sítios básicos de Lewis O2-. A
rigidez da superfície permite a coexistência destes sítios de ácidos e bases fortes de
Lewis, que deveriam, ao contrário do que ocorre, se combinarem imediatamente para
formar complexos ácido-base de Lewis (adutos).
As superfícies ácidas e básicas são altamente ativas para reações catalíticas, tais
como, a isomerização de alquenos. Sítios ácidos de Bronsted e Lewis existem no interior
de certas zeólitas
Sítios de Metais na Superfície
Partículas de metais são muitas vezes depositadas num suporte pra fornecer um
catalisador. Por exemplo, ligas de platina-rênio finamente dividida e distribuída pelo
espaço dos poros de γ-alumina é usado para interconverter hidrocarbonetos, e ligas de
platina-ródio finamente dividida e suportada em γ-alumina é usada em catalisadores
automotivos promovendo a conversão de O2, CO e hidrocarbonetos à CO2 e a redução de
óxidos de nitrogênio à N2. Uma partícula de um metal suportado com 25 Angstron de
diâmetro tem algo de 40% de seus átomos na superfície e as partículas são protegidas
da fusão junto a malha metálica na sua separação. A alta proporção de átomos expostos
é uma grande vantagem para estas pequenas partículas suportadas, particularmente
para metais como a platina e até mesmo o ródio, mais caro.
Os átomos de metal na superfície do cluster metálico são capazes de formar
ligações, tasi como, M-CO; M-CH2R; M-H e M-O. Muitas vezes a natureza da superfície
dos ligantes é inferida por comparação de espectros no infravermelho (IV) com os de
organometálicos ou complexos inorgãnicos. Então, CO terminal e em ponte podem ser
identificados na superfície por IV e o espectro no IV de muitos ligantes hidrocarbônicos
na superfície são semelhantes àqueles de complexos organometálicos. O caso do ligante
N2 é um contraste interessante, porque N2 coordenado foi identificado por IV no metal na
superfície e antes complexos de dinitrogênio eram preparados e caracterizados por
Químicos Inorgânicos.
O desenvolvimento de novas técnicas para o estudo de superfície do cristal tem
aumentado o conhecimento de espécies superficiais que podem estar presentes na
catálise. Por exemplo a dessorção de moléculas de superfícies (termicamente, ou por
íons ou por impacto atômico) combinada com a análise por espectroscopia de massas da
substância dessorvida fornecea idéia da identidade química das espécies na superfície.
XPS fornece informações da composição elementar na superfície.
Difração eletrônica de baixa energia (LEED) dá informações sobre a estrutura da
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superfície do cristal e quando moléculas do absorbato estão presentes, seu arranjo na
superfície. Um importante achado da LEED é que a adsorção de moléculas pequenas
pode trazer sobre a modificação estrutural da superfície. Essa superfície reconstruída é às
vezes observada ao inverso, quando a dessorção ocorre. A microscopia de tunelamento
por varredura permite a localização de absorbatos nas superfícieis. Esta técnica
impressionante fornece um mapa do contorno do cristal na superfície tão próximo quanto
a resolução atômica.
Embora muitas dessas modernas técnicas de análise superficial não poderem ser
aplicadas aos estudos de catalisadores suportados multifásicos, elas são muito úteis
revelando a média provável das espécies e circunstâncias que podem ser plausíveis
sendo invocado um mecanismo de catálise heterogênea. A aplicação destas técnicas de
catálise heterogênea é parecida ao uso de difração de raios X e espectroscopia na
caracterização de catalisadores organometálicos homogêneos e compostos modelo.
ETAPAS CATALÍTICAS
Há muitas semelhanças entre as etapas reacionais individuais encontradas na
catálise homogênea e heterogênea.
Quimiossorção e dessorção
A adsorção de moléculas em superfícies muitas vezes ativam as moléculas como
quando da coordenação de moléculas em complexos ativos. A desorção da molécula do
produto é necessária para liberar o sítio ativo da catálise heterogênea sendo análoga a
dissociação de um complexo em catálise homogênea.
Antes de um catalisador heterogêneo ser usado ele é geralmente ativado. A
ativação é um termo geral e em alguns casos se refere a desorção de moléculas
adsorvidas, tais como, água na superfície, como na desidratação de -alumina. Em
outros casos refere-se a preparação do sítio ativo por uma reação química, tal qual a
redução de partículas de um óxido metálico para produzir as partículas do metal ativo.
Uma superfície ativa pode ser caracterizada pela adsorção de vários gases inertes
e reativos. A adsorção pode ser fisiossorção, quando nenhuma nova ligação química é
formada ou quimiossorção, quando ligações adsorbatos-superfícies são formadas. A
fisiossorção à baixa temperarura de um gás como nitrogênio é útil para a determinação
da área total de um sólido, uma vez que a quimiossorção é usada para determinar o
número de sítios ativos expostos. Por exemplo, a quimiossorção dissociativa de H2 em
partículas de platina suportada revela o número de átomos de platina expostos na
superfície.
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Há muitas semelhanças entre a interação de moléculas pequenas com os metais
na superfície e o baixo estado de oxidação do metal em complexos.
Uma grande gama de metais quimiossorvem CO e muito poucos são capazes de
quimiosorverem N2, assim como, há muito maior variedade de metais que formam
complexos carbonílicos do que formam complexos dinitrogênicos. Além disso, apenas nos
complexos metálicos carbonélicos, as ligações em ponte e terminais na superfície têm
sido identificadas por espectroscopia no IV. A quimiossorção dissociativa de H2 é análoga
à adição oxidativa de H2 no metal de um complexo.
Mesmo que a adsorção sendo essencial para a catálise heterogênea ela não deve
ser tão forte a ponto de bloquear os sítios catalíticos e não permitir a reação. Esses fatos
são em parte responsáveis ao número limitado de metais que são cataliticamente ativos.
A decomposição catalítica de ácido fórmico na superfície metálica: HCOOH CO + H2O é
um bom exemplo desse balanço entre adsorção e atividade catalítica. Observa-se que a
catálise é mais rápida em metais nos quais o formato metálico está em estabilidade
intermediária.
O diagrama de Vulcano é típico de muitas
reações catalíticas. A implicação é que os
metais iniciais do bloco d formam compostos
muitos estáveis na superfície, enquanto os
metais mais nobres, tais como, prata e ouro
formam compostos muito fracos nas superfícies,
ambos são prejudicados no processo catalítico.
Entre estes extremos os metais dos grupos de 8
a 10 tem alta atividade catalítica, isto é
essencialmente verdade para a platina metálica.
Como visto anterior e semelhantemente a alta
atividade catalítica de complexos de platina em catálise homogênea na
transformação de hidrocarbonetos.
Os sítios ativos num catalisador heterogêneo não são uniformes e muitos sítios
estão expostos de maneira diversificada na superfície de um sólido pouco cristalino,
como γ-alumina ou um sólido não cristalino como sílica gel. Contudo, mesmo partículas
de metais altamente cristalinos não são uniformes. Um sólido cristalino tem tipicamente
mais do que um tipo de plano exposto, cada qual com sua estrutura característica de
átomos na superfície. Além disso, a célula cristalina com o metal na superfície tem
irregularidades, tais como, etapas que expõem átomos de metal com baixos números de
coordenação. Estes altamente expostos, sítios coordenadamente insaturados parecem
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ser particularmente reativos. Como resultado, os diferentes sítios numa superfície podem
ter diferentes funções numa reação catalítica. A variedade de sítios também leva à baixa
seletividade de muitos catalisadores heterogêneos em comparação ao seu análogo
homogêneo.
Migração na Superfície
Ligantes em complexos organometálicos são às vezes fluxionais. O análogo em
superfícies da fluxiobilidade é a difusão, e há evidências abundantes para a difusão de
moléculas ou átomos em superfícies de catalisadores de metais suportados. Por exemplo,
átomos de hidrogênio adsorvidos e moléculas de CO são conhecidos por se mover sobre
a superfície pelas partículas de metal. Essa mobilidade é importante em reações
catalíticas por permitir que átomos e moléculas se aproximem um do outro. Para
velocidade da migração superficial é difícil de ser ter medidas e dados confiáveis, tem se
conseguido resultados somente muito recentemente.
EXEMPLOS PARA PROCESSOS HETEROGÊNEOS
Há muitos processos industriais que são facilitados por catálise heterogênea.
Apenas alguns exemplos serão expostos aqui. Apesar da similaridade dos dois primeiros
exemplos, a hidrogenação de alquenos e a síntese de amônia (hidrogenação de
nitrogênio) são usadas diferentes condições e catalisadores. O exemplo de isomerização
de aromáticos por zeólitas mostra a catálise ácida. E por fim, ver-se-á a catálise num
eletrodo de uma célula eletroquímica.
Hidrogenação de Alquenos
Um marco na catálise heterogênea foi a observação, em 1900, por Paul Sabatier
que níquel catalisa a hidrogenação de alquenos. Ele
tentava sintetizar tetraetilenoníquel [Ni(C2H4)4] pois já
haviam (Langer e Quinke) sintetizado Ni(CO)4. Contudo,
quando ele passou etileno sobre níquel aquecido detectou
a formação de etano. Assim ele concluiu que se incluísse
hidrogênio ao processo poderia observar um bom
rendimento de etano e foi o que ocorreu.
A hidrogenação de alquenos em partículas metálicas
é entendida de maneira similar àquela em complexos
metálicos. A molécula de hidrogênio é quimiossorvida
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dissociativamente na superfície, migra para uma molécula de etileno adsorvida levando à
uma alquila adsorvida na superfície e então o hidrocarboneto saturado. Quando etileno é
hidrogenado com D2 sobre platina, o mecanismo simples indica que H2D-CH2D deve ser o
produto. De fato, uma completa faixa de C2HnD6-n é observada. Isto porque a terceira
etapa é reversível, a velocidade da reação inversa deve ser maior do que a velocidade
com que a molécula de etano é formada na etapa final de dessorção.
Síntese de Amônia
A síntese de amônia: N2 + 3 H2 → 2 NH3 tem sido discutida por muitos diferentes
pontos de vista. Concentremo-nos nos detalhes das etapas catalíticas. A amônia é um
composto exoérgico e exotérmico à 25°C, os dados termodinâmicos são: ∆G°f = - 16,5
kJ/mol; ∆H°f = - 46,1 kJ/mol; e ∆S°f = - 99,4 J/Kmol. A entropia negativa reflete o fato
de que duas moléculas de gás são formadas a partir de quatro moléculas gasosas como
reagentes.
A grande inércia de N2 (e em menor extensão de H2) requer que um catalisador
seja usado para efetuar a reação. O ferro metálico junto com pequenas quantidades de
alumina e sais de potássio é usado como catalisador. Estudos profundos do mecanismo
de síntese de amônia indicam que a etapa determinante da velocidade sob condições
normais de reação é a dissociação de N2 coordenado à superfície do catalisador. O outro
reagente, H2, sofre dissociação mais facilmente na superfície do metal e uma série de
reações de inserção entre as espécies absorvidas leva à formação de NH3.
Devido a lentidão da dissociação de N2, é necessário fazer a síntese de amônia à
alta temperatura, tipicamente a 400°C. Contudo, já que a reação é exotérmica, a alta
temperatura reduz imensamente a constante de equilíbrio da reação, expresso pela
equação de van’t Hoff:
Então K diminui quando T aumenta. Para recuperar essa redução de rendimento,
pressões da ordem de 100 bar são empregadas. Um catalisador que opere à temperatura
ambiente levando à bons rendimentos de amônia no equilíbrio é procurado, mas tal
catalisador ainda não foi descoberto.
No desenvolvimento do processo original de síntese de amônia, Haber e
colaboradores investigaram a atividade catalítica da maioria dos metais da tabela
periódica, e encontraram que os melhores são ferro, rutênio e urânio. Considerações
sobre o custo e toxicidade levam a escolha
02
<∆
=RT
H
dT
Kd oln
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de ferro como base do catalisador comercial. Outros metais, como lítio, são mais ativo
para a etapa crítica de clivagem de ligação N-N, mas nesses casos as etapas sucessivas
não são favoráveis levando-se em conta a grande estabilidade do composto nitro
metálico. Essa observação mais uma vez enfatiza a natureza supressora de um
intermediário altamente estável no ciclo catalítico.
Oxidação de SO2
A oxidação de SO2 para SO3 é a etapa chave na produção de ácido sulfúrico. A
reação de enxofre com oxigênio para produzir SO3 gasoso é exoérgica (∆G° = - 371
kJ/mol), mas muito lenta, e o principal produto da combustão de enxofre é o SO2:
S(s) + O2 (g) →→→→ SO2 (g)
A combustão é seguida pela oxidação catalítica de SO2
SO2(g) +1/2 O2 (g) →→→→ SO3 (g)
Esta etapa, também, é exotérmica e, assim
como na síntese de amônia, tem uma constante de
equilíbrio menos favorável à altas temperaturas. O
processo, portanto, ocorre geralmente em estágios.
No primeiro estágio, a combustão de enxofre
aumenta a temperatura à algo em torno de 600°C, o
esfriamento antes do estágio catalítico no equilíbrio
direciona a reação a direita e a alta conversão de
SO2 para SO3 é obtida.
Muitos sistemas catalíticos completamente diferentes têm sido usados para
catalisar a combinação de SO2 com O2. O catalisador mais usado no momento é vanadato
de potássio suportado em sílica de grande área superficial (terra diatomácia). Um
aspecto interessante desse catalisador é que o vanadato é um sal fundido sob condições
operacionais. O mecanismo aceito para a reação é aquele em que a etapa determinante
da velocidade é a oxidação de V4+ para V5+.
½ O2 + 2 V4+ →→→→ O2- + 2 V5+
SO2 + 2 V5+ + O2- →→→→ 2 V4+ + SO3
Na massa fundida os íons de vanádio e óxido são parte de um complexo
polivanadato, mas pouco se sabe da evolução de espécies oxo.
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Interconversão de Aromáticos por Zeólitas
Os catalisadores heterogêneos baseados em zeólitas tem importante papel na
interconversão de hidrocarbonetos e na alquilação de aromáticos, bem com em
oxidações e reduções.
A zeólita sintética ZSM-5 (que foi desenvolvida nos laboratórios de pesquisa da
Mobil Oil, as iniciais significam Zeolite Socony-Mobil) é largamente usada pela indústria
petrolífera para uma variedade de interconversões de hidrocarbonetos. A ZSM-5 é um
aluminossilicato zeolítico com uma alta quantidade de silício e muito menor quantidade
de alumínio do que em outras zeólitas. Seus canais constituem um labirinto
tridimensional de túneis interligados. Como com outros catalisadores aluminossilicatos,
os sítios de alumínio são fortemente ácidos. A carga não balanceadas de Al3+ no lugar do
Si4+ tetraedricamente coordenado requer a presença adicional de um cátion de
compensação. Quando este cátion é H+ a acidez de Bronsted do aluminossilicato pode ser
tão grande quanto a de H2SO4 concentrado e a freqüência de turnover para a reações
com hidrocarbonetos nestes sítios pode ser extremamente alta.
Reações como a isomerização de xilenos e desproporcionamento de tolueno são
ilustrativas da seletividade que pode ser obtida com catalisadores zeolíticos ácidos. A
seletividade de forma desses catalisadores tem sido atribuída à mais rápida difusão das
moléculas dos produtos que tem dimensão compatíveis com os canais. De acordo com
esta idéia, moléculas que não tem o tamanho dos canais difundem lentamente, devido a
sua longa residência na zeólita, tem grande chance de ser convertida à isômeros os mais
móveis que podem escapar mais rapidamente. Um ponto de vista atual, mais favorável,
é que a orientação de intermediários reativos dentro dos canais da zeólita é que favorece
à produtos específicos, tal como, dialquilbenzenos:
Além de sua importante seletividade de forma, a acidez de catalisadores zeolíticos
parece promover reações pelo mecanismo padrão de íons carbônio. Por exemplo, a
isomerização de m-xileno para p-xileno, que deve ocorrer pelas seguintes etapas:
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CH3
CH3
H+
H+
+
-
HCH3
H
CH3
+
CH3
HHH3C
+
-
+H+
H+
CH3
CH3
Uma outra reação comum em zeólitas é a alquilação de aromáticos com alquenos.
Eletrocatálise
A barreira cinética para reações eletroquímicas envolvendo H2 e O2 já foi
discutida. As barreiras cinéticas são muito comuns para reações eletroquímicas como
interface entre uma solução e um eletrodo e é comum expressar essas barreiras como
sobrepotenciais.
O sobrepotencial η de uma célula eletrolítica é o potencial adicional ao potencial
de célula à corrente zero que deve ser aplicada para levar uma reação não espontânea
que ocorreria na célula. O sobrepotencial é empiricamente relacionado à densidade de
corrente j (a corrente por unidade de área do eletrodo) que passa através da célula por:
ou ja+=ηequivalentementedcej η=
sendo, a, b, c e d constante empíricas. A constante c, densidade de corrente de troca,
é a medida das velocidades das reações diretas e inversas nos eletrodos a equilíbrio
dinâmico na ausência de sobrepotencial. Para sistemas que obedecem essas relações, a
velocidade da reação (como medida pela densidade de corrente) aumenta rapidamente
com o aumento do potencial aplicado quando ηd > 1. Se a densidade de corrente de
troca é alta, uma apreciável velocidade de reação pode ser obtida para um pequeno
sobrepotencial. Se a densidade de corrente de troca é baixa, um alto sobrepotencial é
necessário. Há, portanto, considerável interesse no controle da densidade de corrente de
troca. Num processo industrial um sobrepotencial numa etapa sintética é muito caro
porque pode representar um desperdício de energia. Contudo, uma baixa densidade de
corrente de troca pode ser benéfica para uma reação lateral, e então bloquear etapas
indesejáveis.
Um eletrodo de superfície catalítica pode aumentar a densidade de corrente de
troca e assim diminui drasticamente o sobrepotencial necessário para as reações
eletroquímicas vagarosas, tais como, a evolução e consumo de H2, O2 ou Cl2. Por
exemplo, platina na forma finamente dividida é muito efetiva para o aumento da
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densidade de corrente de troca e assim diminui o sobrepotencial de reações envolvendo
o consumo ou evolução de H2. O papel da platina está associado a forte ligação H-H. De
modo a reduzir a grande barreira que essa força impõe em reações envolvendo H2. O
paládio metálico também tem uma alta densidade de corrente de troca (por isso requer
um relativamente pequeno sobrepotencial) para o consumo ou evolução de H2.
A eficiência dos metais pode ser julgada por um gráfico como de vulcano de
densidade de corrente de troca versus entalpia de ligação M-H, que indica que a
formação e a quebra da ligação M-H é importante no processo catalítico. Parece que um
intermediário de energia da ligação M-H leva a propor um balanço para a existência de
um ciclo catalítico e os metais mais efetivos para a eletrocatálise estão agrupados
próximo ao grupo 10.
Dióxido de rutênio é um catalisador efetivo para a evolução de O2 e Cl2 e é
também um bom condutor elétrico. A alta densidade de corrente produzida por RuO2 é
mais efetiva para a catálise na evolução de Cl2 do que para a de O2. Entretanto, RuO2 é
amplamente usado como material de eletrodos na produção comercial de cloro. O
processo eletrolítico que contribui para esse efeito catalítico sutil não parece ser bem
entendido.
Há grande interesse na invenção de novos eletrodos catalíticos, particularmente
aqueles que diminuam o sobrepotencial de O2 nas superfícies de grafite. Então,
tetraquis(4-N-metilpiridiltetrafenilporfirinaferro(II) [FeTMPyP)], foi depositado na
superfície exposta de eletrodos de grafite (já que a redução de O2 requer um alto
sobrepotencial) resultando em superfícies de eletrodos de grafite ativas para a catálise
eletroquímica da redução de O2. Uma explicação plausível para esta catálise é que
[FeIII(TMpyP)] que se liga ao eletrodo é primeiramente reduzido eletroquimicamente:
[FeIII(TMpyP)] + e- →→→→ [FeII(TMpyP)]
O compostos resultante [FeII(TMpyP)] forma um complexo com O2
[FeIII(TMpyP)] + e- →→→→ [FeII(TMpyP)]
Esse complexo de ferro(II) oxigênio porfirina é então suscetível à redução para
água e peróxido de hidrogênio:
[[FeII(O2)(TMpyP)] + ne- + m H+ →→→→ [FeII(TMpyP)] + H2O2 + H2O
Apesar dos detalhes do mecanismo serem alusivos ao conjunto geral das reações
dadas acima, eles estão em harmonia com as medidas eletroquímicas e as já conhecidas
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propriedades de ferroporfirinas. A investigação de complexos de porfirinas de ferro(II)
como catalisadores foi indubitavelmente motivada pelo uso na natureza de
metaloporfirinas para a ativação de oxigênio.