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1 Noção de desenvolvimento: modelos, princípios e aspectos gerais. O Desenvolvimento Humano O estudo do desenvolvimento humano é feito desde a concepção até à morte humana. Este estudo é feito através do da observação cientifica de mudanças causadas tanto por maturacao (seguindo o determinismo genético) ou por aprendizagem (mudanca causada por experiência). Desenvolvimento inclui mudancas no crescimento humano que sao facilmente observaveis e mensuraveis. Estas mudanças são rápidas e permitem as crianças maior diferenciação e consequentemente, maior adaptação ao meio, como capacidade de suporte do seu corpo, locomoveremse, manipularem e construírem. O desenvolvimento referese também ao processo de maturação ou ao plano biológico contido nos nossos genes. Estes são o material hereditário que é transmitido de geração em geração que determina parcialmente as etapas biológicas que irão ocorrer no seu desenvolvimento. Mudança Vs Desenvolvimento O conceito de mudança está simbioticamente ligado ao conceito de desenvolvimento. Sendo que o desenvolvimento implica algum tipo de mudanças ao longo de um determinado espaço de tempo, que poderão levar a novos níveis qualitativos de organização de um determinado organismo. O processo de desenvolvimento em si é um processo contínuo, desde concepção até à morte, sendo assim um fenómeno histórico. O aspecto fulcral aquando conceptualizando “desenvolvimento” é a sua direcção, i.e. Telos. Embora a sua direcção não seja determinística, pois para além dos processos de maturação, o desenvolvimento prossegue também de acordo com as mudanças feitas por experiência do organismo, como a aprendizagem; Estas mudanças poderão ser qualitativas ou quantitativas. Mudanças quantitativas referemse a mudanças que os indivíduos sofrem aquando adquirem conhecimento ou crescem fisicamente , sendo este um processo gradual, de fácil observação. Ex: Peso/altura; Aprendizagem linguística Mudanças qualitativas referemse a mudanças que ocorrem na forma como o individuo pensa, comportase e percepciona o mundo, sendo este feito por estádios. São mais difíceis de medir, pois assentam em qualidades ao invés de quantidades. Ex. Aprender a andar; Comportamento social/egocentrismo Quantitativo Qualitativo

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Page 1: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  1  

Noção  de  desenvolvimento:  modelos,  princípios  e  aspectos  gerais.  

O  Desenvolvimento  Humano  

O  estudo  do  desenvolvimento  humano  é  feito  desde  a  concepção  até  à  morte  humana.  Este  estudo  é  

feito   através   do   da   observação   cientifica   de  mudanças   causadas   tanto   por  maturacao   (seguindo   o  

determinismo  genético)  ou  por  aprendizagem  (mudanca  causada  por  experiência).  

 

Desenvolvimento   inclui   mudancas   no   crescimento   humano   que   sao   facilmente   observaveis   e  

mensuraveis.   Estas   mudanças   são   rápidas   e   permitem   as   crianças   maior   diferenciação   e  

consequentemente,   maior   adaptação   ao   meio,   como   capacidade   de   suporte   do   seu   corpo,  

locomoverem-­‐se,  manipularem  e  construírem.  O  desenvolvimento  refere-­‐se  também  ao  processo  de  

maturação  ou  ao  plano  biológico   contido  nos  nossos   genes.   Estes   são  o  material   hereditário  que  é  

transmitido  de  geração  em  geração  que  determina  parcialmente  as  etapas  biológicas  que  irão  ocorrer  

no  seu  desenvolvimento.    

 

Mudança  Vs  Desenvolvimento  

 

O  conceito  de  mudança  está  simbioticamente  ligado  ao  conceito  de  desenvolvimento.    Sendo  que  o  

desenvolvimento   implica  algum  tipo  de    mudanças  ao   longo  de  um  determinado  espaço  de   tempo,  

que  poderão  levar  a  novos  níveis  qualitativos  de  organização  de  um  determinado  organismo.  

O  processo  de  desenvolvimento  em  si  é  um  processo  contínuo,  desde  concepção  até  à  morte,  sendo  

assim  um  fenómeno  histórico.    O  aspecto   fulcral  aquando  conceptualizando  “desenvolvimento”  é  a  

sua  direcção,  i.e.  Telos.  Embora  a  sua  direcção  não  seja  determinística,  pois  para  além  dos  processos  

de   maturação,   o   desenvolvimento   prossegue   também   de   acordo   com   as   mudanças   feitas   por  

experiência  do  organismo,  como  a  aprendizagem;  

 

Estas  mudanças  poderão  ser  qualitativas  ou  quantitativas.    

Mudanças   quantitativas   referem-­‐se   a   mudanças   que   os   indivíduos   sofrem   aquando   adquirem  

conhecimento   ou   crescem   fisicamente   ,   sendo   este   um   processo   gradual,   de   fácil   observação.   Ex:  

Peso/altura;  Aprendizagem  linguística  

 

Mudanças  qualitativas   referem-­‐se  a  mudanças  

que  ocorrem  na  forma  como  o  individuo  pensa,  

comporta-­‐se   e   percepciona   o   mundo,   sendo  

este   feito   por   estádios.   São   mais   difíceis   de  

medir,   pois   assentam   em   qualidades   ao   invés   de  

quantidades.   Ex.   Aprender   a   andar;   Comportamento  

social/egocentrismo  

Quantitativo  Qualitativo  

Page 2: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  2  

Os  4  Planos  de  Desenvolvimento  

O  desenvolvimento  humano  pode  ser  estudado  de  acordo  com  4  planos  de  desenvolvimento.    

Desenvolvimento  Físico:  Refere-­‐se  a  mudanças  em  tamanho  de  corpo  (crescimento)  e  proporções;  a  

ordem  e  aquisição  de  capacidades  motoras;  capacidades  perceptivas  e  motoras;  

Desenvolvimento   Cognitivo:   Pensamento   e   processos   intelectuais,   que   incluem  atenção,  memoria,  

conhecimento,  resolução  de  problemas  e  criatividade,  linguagem  e  comunicação;  

Desenvolvimento  Social:  Compreensão  do  “Self”,  relações  interpessoais  e  socialização;  

Desenvolvimento  Emocional:  Expressão  emocional,  personalidade,  temperamento  e  afeiçoamento.      

 

Plasticidade  de  Desenvolvimento  

Plasticidade   em   Psicologia   de   Desenvolvimento,   refere-­‐se   o   grau   a   que,   e   as   condições   onde,   o  

desenvolvimento  está  aberto  a  mudança  e  intervenção.    

As  primeiras  conceptualizações  de  “plasticidade”  foram  influenciadas  pela  identificação  de  “períodos  

críticos”   em   várias   espécies.   Define-­‐se   Período   Critico   como   um   período   de   desenvolvimento,  

durante  o  qual  uma  determinada  experiencia   terá  que  ocorrer  ou  um  comportamento  não   se   irá  

desenvolver.   Por   outras   palavras,   existe   plasticidade   para   um   determinado   aspecto   de  

desenvolvimento   APENAS   durante   este   período.   Ex.   As   crias   de   um   pato   terão   que   ter   contacto  

directo   com   a   mãe   ,   ou   irão   criar   um   vinculo   com   o   primeiro   objecto   em   movimento,   que  

percepcionarem.    –Konrad  Lorenz  

Embora  existam  poucas  evidencias  de   “períodos   críticos”  após  o  nascimento  em  humanos,  existem  

abundantes  evidencias  de  “Períodos  sensíveis”.  

Períodos  Sensíveis  são  definidos  como  momentos  no  desenvolvimento  de  um  organismo,  durante  

os   quais   uma   determinada   experiência   (ou   ausência   desta)   tem   um   efeito  mais   pronunciado   no  

organismo,   do   que   teria   em   qualquer   outro   momento   do   seu   desenvolvimento.   Ex   As   crianças  

parecem  ser  mais  sensíveis  à  aprendizagem  linguística  nos  primeiros  anos  de  vida,  adquirindo  assim  

facilmente   linguagem   a   que   estão   expostos   regularmente.   Contudo,  mesmo   que   não   tenham   sido  

expostos   regularmente   a   linguagem,   até   por   volta   dos   6,   7   anos   de   idade,   são   ainda   capazes   de   a  

aprenderem.  A  partir  desse  período,  torna-­‐se  cada  vez  mais  difícil  a  aquisição  de  linguagem.  

As  questões  à  volta  da  plasticidade  contêm  importantes  implicações.  As  suas  respostas  são  essenciais  

à  compreensão  de  como  o  desenvolvimento  humano  poderá  ser  modificado  através  de   intervenção  

deliberada,  como  terapia  ou  educação,  de  forma  ultrapassar  experiências  traumáticas,  etc.    

 

Page 3: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  3  

O  caso  de  Victor  D’Aveyron  

Em   1800   foi   encontrado   um   rapaz   perdido,   na   província   francesa   de   Aveyron.   Aquando   vários  

médicos   examinaram   o   rapaz   concluíram   que   este   teria   uma   deficiência  mental,   escolhendo   assim  

transferir  o  rapaz  para  um  asilo.  Contudo,  um  medico,  Jean-­‐Marc  Itard  desafiou  o  consenso  entre  os  

seus   colegas,   afirmando   que   se   o   rapaz   tivesse   realmente   algum   tipo   de   deficiência,   não   teria  

sobrevivido  sozinho.  Assim,  Itard  denominou  o  rapaz  de  Victor.    

Querendo   provar   que   o   contexto   influencia   o   desenvolvimento   humano,   Itard   propôs-­‐se   a   ensinar  

Victor  a   falar.  Nos  primeiros   tempos,  Victor  aprendeu  a   transmitir  as   suas  necessidades  por  poucas  

palavras,  aprendeu  também  a  reconhecer  e  escrever  algumas  palavras,  aprendeu  a  utilizar  um  penico  

e  criou  laços  de  afecto  pelos  seus  tutores.  Contudo,  o  seu  progresso  estagnou  e  Itard  viu-­‐se  forcado  a  

termina  a  experiencia,  entregando  Victor  a  uma  senhora,  com  quem  iria  permanecer  até  a  sua  morte.    

Este   caso   é   de   extrema   importância   para   o   estudo   de   desenvolvimento,   pois   levanta   a   dualidade  

existente   “Nature   Vs   Nurture”.   Actualmente,   alguns   académicos   postulam   que   Victor   poderia   ser  

autista,   enquanto  que  outros   concluem  que  Victor  possuía  o  potencial   de   ser  uma  pessoa   comum,  

contudo,   devido   à   ausência   de   estímulos   e   à   não   exposição   desde   cedo   a   uma   linguagem,   o   seu  

desenvolvimento  linguístico  estagnou.    

 

Teorias  de  Desenvolvimento    

(importância  dos  factores  socioculturais)  

Teoria  Biológica  

É  acreditada  a  emergência  das  teorias  de  desenvolvimento  biológicas  a  Sigmund  Freud,  neurologista.  

Captivado   pela   ideia   de   que   poderia   reverter   comportamentos   causados   por   experiências  

traumáticas,   Freud   teorizou   que   todo   o   comportamento   teria   uma   base   biológica.   Sendo   que  

qualquer  impulso  biológico  tem  como  objectivo  a  sobrevivência  da  espécie,  tornou-­‐se-­‐lhe  claro  que  o  

desenvolvimento   infantil   tem   a   sua   base   na   satisfação   de   impulsos   biológicos   sexuais.   Desde   a  

infância,  passando  pela  adolescência  até  à  idade  adulta,  as  formas  de  gratificação  sexual  mudam,  ao  

longo  de  etapas  sequenciais  de  desenvolvimento.    (Fase  oral,  Fase  Anal,  Fase  Fálica,  Latência  e  Fase  

Genital).  

Assim,   as   teorias   biológicas   de   desenvolvimento   focam-­‐se   em  mecanismos   como   a  maturação,   de  

forma  a  explicarem  o  desenvolvimento  humano,  categorizando  o  contexto  sociocultural  como  quase  

que  irrelevante.    

 

 

 

 

 

 

Page 4: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  4  

 

Teoria  de  Aprendizagem-­‐  (Social)  

Existem   vários   tipos   de   teorias   de   aprendizagem   social,   contudo,   todas   estas   partilham   um  

denominador   comum:   o   processo   de   aprendizagem   envolve   a   modificação   de   comportamento,  

através  da   formação  de  associações  entre   comportamento  observável  e   suas   consequências,   sejam  

elas   favoráveis   ou   desfavoráveis.   Esta   escola   de   pensamento,   foca-­‐se   no   desenvolvimento   das  

estruturas   internas   de   personalidade   e   resolução   de   conflictos   internos.   Assim,   os   teoristas   de  

aprendizagem   social   exploram   como   certas   experiências   como   recompensas,   punições   ou   outros  

reforços,   mudam   a   probabilidade   de   ocorrência   de   um   determinado   comportamento.   Num   polo  

extremo   desta   escola   de   pensamento,   poderemos   encontrar   teoristas   que   afirmam   que   o  

desenvolvimento   assenta   apenas   na   aprendizagem,   assim,   as   mudanças   de   desenvolvimento   são  

vistas  como  graduais  e  continuas.    

Estas  teorias  tem  feito  grandes  contribuições  ao  estudo  do  desenvolvimento  humano,  dando  especial  

enfâse  a  2  contribuições  de  Albert  Bandura.  Uma  contribuição  é  o  conceito  de  modelagem,  isto  é,  o  

processo  pelo  qual  as  crianças  observam  e   imitam  outros.  Outra  contribuição  é  o  conceito  de  auto-­‐

eficacia,   referindo  se  a  percepção  do  sujeito  da  eficácia  das   suas  acções,   sendo  que  a  auto  eficácia  

tem  um  papel  crucial  no  processo  de  aprendizagem.  

Estes   teoristas  postulam  que  muitos   aspectos  da  personalidade   como  agressão  e  dependência,   são  

comportamento   aprendidos   e   que,   consequentemente   poderão   ser   “desaprendidos”.   Este  

pressuposto   levou   à   emergência   da   modificação   comportamental,   uma   técnica   de   desassociação  

entre  comportamentos  e  as  consequências  ambientais  que  os  sustêm.  

   

Page 5: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  5  

Teorias  Construtivistas    

Uma   das   teorias   mais   influenciais   no   que   concerne   ao   desenvolvimento   humano,   é   a   teoria  

construtivista   de   Jean   Piaget.   Piaget   enfatizava   o   papel   activo   do   sujeito   (criança)   no   seu  

desenvolvimento   cognitivo.   Este   afirmava   que   as   crianças   não   vão   descobrindo   como   o   mundo  

funciona,  mas  sim,  que  constroem  uma  visão  do  mundo,  que  assenta  consoante  as  experiencias  que  

viveram.    Assim,  de  acordo  com  a  teoria  construtivista  de  Piaget,  a  aquisição  de  conhecimento  é  um  

processo  criativo  e  inventivo  e  não  um  processo  de  descobrimento  de  factos.    

Piaget  criou  um  modelo  explicativo  do  desenvolvimento  humano,  onde  identificou  vários  estádios  de  

desenvolvimento  cognitivo,    cada  um  sendo  um  reflexo  de  uma  determinada  idade.  

Após   estudar   várias   culturas,   Piaget   concluiu   que   o   desenvolvimento   poderá   ser   acelerado   ou  

abrandado,   consoante   o   ambiente   onde   o   sujeito   se   encontra   inserido,   mas   que   contudo,   o  

desenvolvimento   terá   que   passar   por   ditas   fases.   Assim,   a   teoria   construtivista   presume   que   os  

processos  de  desenvolvimento  são  universais  em  toda  a  raça  humana.    

 

Teorias  socioculturais/  co-­‐construtivistas  

Elaborada   por   Lev   Vygotsky,   este   postula   que   tanto   factores   biológicos   como   factores   ambientais  

desempenham   um   papel   fundamental   no   desenvolvimento.   Contudo   Vygostky   identifica   uma   3a  

forca,   a   cultura.   De   acordo   com   vygostky,   os   conceitos   tanto   nature   como   de   nurture,   moldam   o  

desenvolvimento,  mas  não   actuam  directamente   no   individuo.  Ao   invés   disso,   é   através   da   cultura  

que  os  factores  biológicos  e  ambientais  interagem.    

 

Page 6: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  6  

 

   

Page 7: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  7  

Contexto  Socio-­‐cultural  e  Desenvolvimento  

Das   várias   teorias   modernas   de   desenvolvimento,   destacam-­‐se   as   teorias   de   sistema.   Esta   teorias  

definem-­‐se  como  teorias  que  abordam  os  fenómenos  presentes  no  desenvolvimento  humano  como  

“todos”  (sistemas)  complexos  ,  constituído  por  varias  partes.  Explora-­‐se  assim  como  estes  “todos”  e  

estas  partes  interagem  uns  com  os  outros.  

A   teoria   de   sistema   ecológica,   foca-­‐se   na   organização   e   interacção   de   múltiplos   contextos   de  

desenvolvimento.   Um   dos   modelos   mais   influenciais   das   teorias   ecológicas,   foi   elaborado   por  

Bronfenbrenner,  que  centra  a  criança  no  cerne  de  4  sistemas  internacionais.    

1. O   sistema   central   ou   Microssistema,   inclui   todos   os   cenários   que   a   criança   habita  

quotidianamente  –  como  o  escolar,  casa  e  grupos  de  peers  ou  pares/colegas;  

2. O   Mesosistema,   é   visto   como   tecido   conectivo,   que   liga   os   vários   ambientes   do  

microssistema   uns   com   os   outros,   como   o   envolvimento   parental   na   escola.   A   forca   e  

natureza  destas  ligações  são  de  extrema  importância  ao  desenvolvimento  infantil;  

3. O   Exosistema,   consiste   em   ambientes   ou   cenários   que   afectam   mas   que   não   incluem   a  

criança,  como  o  local  de  trabalho  dos  pais.    

4. O  Macrosistema,   é   constituído   por   valores,   normas,   ideologias   e   recursos   de   uma   cultura  

maior  em  acção,  que  modelarão  os  restantes  sistemas.  

 

Assim,  os  4  sistemas  apresentados  são  compreendidos  na  forma  como  interagem  uns  com  os  outros.    

   

Page 8: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  8  

Capacidades  Precoces    

Desde  o  inicio  do  estudo  do  desenvolvimento  humano  que  se  põe  a  questão  da  dualidade  “Nature  vs  

Nurture”.   Quando   um   bebe   nasce,   este,   tipicamente,   apresenta   algumas   capacidades   cognitivas   já  

parcialmente  desenvolvidas.    

De   forma   a   podermos   responder   a   esta   questão,   teremos   que  medir   as   capacidades   precoces   dos  

bebés.    

Dado  que  os  bebes  encontram-­‐se  num  estado  imatura,  que  os  impossibilita  de  comunicarem  as  suas  

experiencias  de   forma  organizada,  psicólogos  na  área  criaram   ferramentas  que  possibilitassem  esta  

mensuração.  

O  método  básico  de  mensuração  de  capacidades  precoces  assenta  na  apresentação  de  um  estimulo  

ao  bebe  e  consequente  observação  das  respostas.    

 

De   acordo   com   o   paradigma   de   preferência,   o   investigador   apresentará   2   estímulos  

simultaneamente,  de  forma  a  determinar  se  o  bebe   irá  demonstrar  alguma  preferência  por  um  dos  

estímulos,  olhando  durante  mais   tempo  para  um.  Conclui-­‐se,   a  partir  disto  que,  o  bebe  é   capaz  de  

distinguir  entre  2  estímulos  diferentes.  Variáveis:  Tempo  de  olhar  

 

De   acordo   com   o   paradigma   de   surpresa,   o   investigador   irá   apresentar   um   estimulo   novo   que  

capturará  a  atenção  do  bebe,  como  um  tom  musical.  Irá  continuar  a  expor  o  bebe  a  este  estimulo  até  

que  este  se  farte  dele  e  não  lhe  de  mais  atenção.  Este  processo  onde  a  atenção  a  um  novo  estimulo  

diminui  após  exposição  continua  a  esta,  é  denominado  de  habituação.  O  próximo  passo  será  alterar  

ligeiramente  o  estimulo,  neste  caso  alterando  a  nota  do  tom.  Caso  o  infante  mostre  interesse  de  novo  

após  a  alteração  do  estimulo,  é  dito  que  exibe  desabituação.  Assim,  o   investigador  poderá  concluir  

que  o  bebe  percepciona  mudança.  Variáveis:  Tempo  de  olhar  •  Ritmo  de  sucção  •  Ritmo  cardíaco  •  

Ondas  cerebrais,  etc.  

 

 

   

Page 9: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  9  

Capacidades  Sensoriais  

Visão  

Os  componentes  básicos  anatómicos  do  sistema  visual,  encontram-­‐se  presentes  desde  o  nascimento,  

mas   não   completamente   desenvolvidos.   A   lente   (cristalino)   do   olho   e   as   células   da   retina   são   algo  

imaturos,   limitando  a  definição  visual  A  imaturidade  de  algumas  redes  neuronais,  que  transmitem  a  

informação   da   retina   para   o   cérebro,   limitam   a   capacidade   visual   dos   recém   nascidos.   Para   além  

disso,  os  movimentos  oculares  do  bebé  não  são  coordenados  o  suficiente  de  forma  a  produzir  uma  

imagem  composta.  O  resultado  traduz-­‐se  numa  visão  desfocada.  

 

Acuidade  Visual  

Um   ponto   de   interesse   bastante   estudado   no   que   concerne   a   visão   dos   recém   nascidos,   é   a   sua  

acuidade  visual,  i.e.  a  sua  definição  visual.    

Assim,  os  recém  nascidos  são  bastante  míopes,  com  uma  acuidade  visual  de  20/300  ou  20/600.  Por  

outras  palavras,  conseguem  ver  apenas  até  6  metros.    

O  seu  sistema  visual  está  afinado  o  suficiente  para  percepcionarem  objectos  com  facilidade,  a  30  cm  

de  distância.   Isto  permite-­‐lhes  percepcionarem  a  cara  da  mãe,  por  exemplo.  Este  nível  de  acuidade  

visual   permite-­‐lhes   estabelecerem   contacto   visual,   de   forma   a   estabelecerem   também   relações  

sociais,  entre  mãe  e  filho,  por  exemplo.    

Por  entre  os  2  a  3  meses  de  idade,  os  recém  nascidos  poderão  coordenar  a  sua  visão  com  ambos  os  

olhos.    

Por  entre  os  7  a  8  meses  de  idade,  aquando  podem  gatinhar,  a  sua  acuidade  visual  é  quase  a  mesma  

que  a  de  um  adulto.  

 

Varrimento  do  Campo  Visual  

Apesar  da   sua  miopia   e  dificuldade  em   focar,   os   recém  nascidos   varrem  o   seu   ambiente,   desde  os  

primeiros  dias  de  sua  vida.    

Marshall   Haith   desenvolveu   técnicas   de   registo   que   lhes   permitia   determinar   com   precisão,   para  

onde  os  infantes  olhavam  e  também,  para  monitorizar  os  seus  movimentos  oculares  em  quartos  com  

luz  ou  sem  luz.  

Este   descobriu   que  mesmo   num   quarto   completamente   escuro,   os   neonatos   varrem   o   seu   campo  

visual.  Sendo  que  os  olhos  não  eram  estimulados  por   luz  alguma,  então  estes  movimentos  oculares  

não  estavam  a  ser  estimulados  pelo  ambiente  exterior.    Por  conseguinte,  Haith  concluiu  que  deveriam  

ser   movimentos   oculares   endógenos,   tendo   origem   na   actividade   neuronal   do   sistema   nervosa  

central.   Assim,   os   movimentos   oculares   endógenos,   parecem   ser   uma   base   inicial   e   primitiva   de  

comportamento  ocular.  

 

 

Page 10: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  10  

Os   estudos   de   Haith   também   concluíram   que   os   neonatos   exibem   uma   forma   inicial   de  

comportamento   ocular   exógeno,   ou   seja,   comportamento   ocular   que   é   estimulado   pelo   ambiente  

exterior.  Assim  sendo,  os  neonatos,  aquando  a  luz  de  um  quarto  se  encontra  ligada,  pausam  a  olhar  

para  um  determinado  objecto  ou  para  alguma  mudança  de  claridade  no   seu  campo  de  visão.     Esta  

sensibilidade  inicial  a  alterações  de  brilho  ou  claridade,  que  é  normalmente  associada  com  os  vértices  

ou   ângulos   de   objectos,   parece   ser   um   componente   importante   da   capacidade   neonata   em  

percepcionar  formas.    

 

Percepção  de  Cores  

Os  neonatos  parecem  possuir   todos,  ou  quase   todos,  os  pré-­‐requisitos  de   forma  a  percepcionarem  

cor,   de   maneira   rudimentar.   Contudo,   quando   2   cores   são   igualmente   brilhantes,   estes   não  

conseguem  discernir  entre  elas.  A  partir  dos  2  meses  de  idade,  a  sua  capacidade  em  percepcionarem  

diferentes  core,  aproxima-­‐se  da  capacidade  de  um  adulto.  

 

Percepção  de  Padrões  e  Objectos  

Até   à   década   de   60,   era   comummente   aceite   que   os   neonatos   apenas   percepcionam   uma   forma  

abstracta  de  luz.  

 

Robert   Fantz   refutou   esta   ideia,   demonstrando   que   os   neonatos   com   menos   de   2   dias   de   idade  

conseguem  discernir    entre  formas  visuais.  A  técnica  usada  era  bastante  simples.      

Os  neonatos  eram  colocados  de  barriga  para   cima,  numa  câmara  personalizada,  onde  depois   eram  

expostos  a  várias  formas.  Dado  que  os  neonatos  passavam  mais  tempo  olhando  para  umas  formas  do  

que   para   outras,   presumivelmente,   estes   conseguiam   distingui-­‐las   umas   das   outras.   Assim,   Fantz  

concluiu   que   os   neonatos   preferiam   olhar   para   figuras   com   padrões,   como   caras   e   círculos  

concêntricos.    

 

Os   resultados  das   experiências   de   Fantz   impulsionaram  uma   investigação  de   forma  a  determinar  o  

grau  das  capacidades  neonatas  em  percepcionar  objectos,  e  porque  razão  preferiam  umas  formas  a  

outras.   Estas   investigações   têm   vindo   a   confirmar   que  os   infantes   percepcionam  o  mundo  de   uma  

forma  mais   organizada   do   que   previamente   se   pensou,   contudo,   sendo   ainda   bastante   longes   das  

capacidades  adultas.  

 

A   partir   dos   2   meses   de   idade,   os   infantes   começam   a   demonstrar   que   percepcionam   a  

tridimensionalidade  dos  objectos,  para  além  dos  seus  ângulos  e  vértices.    

Um  grande  número  de  estudos  demonstram  que  a  visão  dos  infantes  demonstram  mais  facilidade  de  

diferenciação  visual,  aquando  se  observa  um  grande  contraste  de  cores,  como  um  gato  preto  em  uma  

cadeira  branca.  

 

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  11  

   Percepção  de  distância:    

Comportamento  defensivo  à  aproximação  do  objeto  –  2a  semana  de  vida  (Tom  Bower):  

1)  arregalar  de  olhos  

2)  retraimento  da  cabeça  

3)  interposição  das  mãos  entre  a  face  e  o  objeto.  

 Percepção  do  Rosto  Humano    Em   alguns   dos   seus   estudos   iniciais,   Fantz   expôs   os   neonatos   a   um   diagrama   esquemático   de   um  

rosto   humano   e   a   um  diagrama  um   formas   abstractas   similares   a   rostos   humanos,   que   continham  

elementos  faciais.    

O  estudo   revelou  que  os  neonatos  ou   infantes     conseguiam  distinguir  um   rosto  normal  a  um   rosto  

abstracto.   Embora   a   diferença   tenha   sido  pequena,   a   possibilidade  que  os   neonatos   possuem  uma  

preferência   inata   para   formas   com   relevância   biológica,   como   um   rosto   humano,   atraiu   mais  

investigadores  à  área.    

 

Investigações  mais  recentes  têm  demonstrado  que  um  factor  crucial  nesta  preferência,  é  a  presença  

de  mais  elementos  na  parte  superior  da  forma  do  que  na  parte  inferior.  Esta  preferência  corresponde  

ao  facto  biológico  de  que  existem  mais  elementos  na  parte  superior  do  rosto  do  que  na  parte  inferior,  

e  de  que  os  neonatos  são  sensíveis  a  esta  proporção  desequilibrada.    

Outra   conclusão   chave   é   a   de   que   o  movimento   influencia   drasticamente   a   percepção   neonata   de  

rostos   humanos.     Estudos   demonstram   que   os   infantes,   tal   como   os   adultos,   distinguem   e  

memorizam   rostos   dinâmicos,   ao   invés   de   rostos   estáticos.   Isto   poderá   explicar   o   facto   de   os  

neonatos  com  apenas  2  a  7  horas  de  vida,  reconhecem  e  demonstram  preferência  pelo  rosto  da  mãe  

em  contraste  pelo  rosto  de  um  estranho.  

 

Em   suma,  o  sistema  visual  em  desenvolvimento  é  altamente  sensível  às  experiências   individuais  do  

bebé.  Assim,  aos  3  meses  de  idade,  os  infantes  tendem  a  olhar  mais  para  rostos  com  características  

étnicas  similares  aos  que  estão  mais  familiarizados.  Analogamente,  durante  o  primeiro  ano  de  vida,  os  

infantes  encontram-­‐se  capazes  de  distinguirem  entre  caras  da  etnicidade  que  lhes  é  mais  familiar.      

 

 

 

 

 

Page 12: Apontamentos Psi Desenvolvimento

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Audição  

Dado  que  os   fetos   respondem  a  estímulos   sonoros  ainda  no  útero  da  mãe,   seria  bastante   razoável  

presumir  que  um  neonato  responde  aos  mesmos  estímulos  de  forma  instantânea.  E  assim  o  é.  

Um  neonato,  aquando  estimulado  sonoramente,  irá  mover  e  direcionar  a  sua  cabeça  para  a  fonte  do  

estímulo  ou  barulho,  indicando  assim  que  percepciona  som.    

Desta   forma,   um  neonato   consegue  distinguir   o   som  de  uma   voz   humana  de  outros   tipos   de   som,  

demonstrando   também   uma   preferência   pelo   mesmo.   Estes   estão   especificamente   “sintonizados”  

aos  sons  da  linguagem.    

Neonatos   em   qualquer   parte   do   mundo   demonstram   um   particular   interesse   em   linguagem   ou  

discursos  com  tom  agudo  e  lento  e  com  pronunciação  exagerada,  o  que  é  hoje  denominado  de  baby  

talk.    

Um   dos   resultados   mais   entusiasmantes   é   a   sua   capacidade   em   distinguir   diversos   fonemas,  

capacidade   esta   que   diminui   com   o   tempo,   centrando-­‐se   depois   na   diferenciação   de   fonemas   na  

linguagem  nativa.    

 

Num   estudo   pioneiro,   Peter   Eimas   demonstrou   que   neonatos   com   2   meses   de   idade   conseguem  

distinguir  por  entre  uma  grande  variedade  de  fonemas.  

Neste   estudo,   os   infantes   teriam   que   chupar   numa   chucha   que   estaria   ligada   a   um   sistema   de  

gravação.   Após   estabelecerem   um   ritmo   base   de   sucção   para   cada   bebé,   os   investigadores  

apresentaram   o   som   /pa/   aos   bebés   cada   vez   que   sugassem.   Num   primeiro  momento   o   ritmo   de  

sucção   dos   bebés   aumentou,   contudo,   após   algum   tempo   os   infantes   voltavam   ao   ritmos   base   de  

sucção.  

Quando   os   infantes   se   tornassem  muito   habituados   aos   som   /pa/,   alguns   foram   expostos   a   outro  

som,   /ba/,   similar   mas   diferente   do   som   inicial.     Outros   foram   expostos   ao   mesmo   som,   mas   na  

mesma  categoria  que  o  fonema  /p/.  

Assim,   os   bebés   começaram   a   sugar   mais   rapidamente   quando   eram   expostos   a   categorias   de  

fonemas  diferentes,  indicando  uma  sensibilidade  especial  a  fonemas  diferentes.  

 

A   capacidade   neonata   de   distinguir   diversos   fonemas   só   começa   a   especilizar-­‐se   na   sua   língua  

materna  a  partis  dos  6  a  8  meses  de  idade,  por  volta  também  da  mesma  altura  em  que  começam  a  

produzir  formas  inicias  de  fala.    

Dado   o   padrão   de   crescimento   cerebral   nos   infantes   durante   esta   altura,   alguns   investigadores   na  

área  especulam  que  esta  especialização  na  língua  materna  demonstra  o  impacto  dos  factores  sociais  

em  estruturas  biológicas  inatas.  

 

 

 

 

Page 13: Apontamentos Psi Desenvolvimento

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Paladar  

Os  neonatos  possuem  uma  capacidade  inata  em  distinguirem  diferentes  sabores  e  odores,  mostrando  

uma  grande  preferência  por  sabores  doces,  tal  como  a  sua  fonte  de  alimentação,  o  leite  materno.  

Estudos  demonstram  que  um  sabor  doce  tem  um  efeito  calmante  em  bebés  aquando  estão  a  chorar,  

diminuindo  indicações  de  dor,  tanto  fisiológica  como  comportamental.  

Para   além   da   sua   capacidade   em   distinguir   doce   de   não   doce,   até   que   ponto   é   que   os   neonatos  

conseguem  distinguir  outros  sabores?    

 

Diana   Rosenestein   e   Harriet   Oster   concluíram  que  bebés   com  apenas  2  horas  de   idade  produzem  

diferentes  expressões  faciais    como  resposta  a  sabores  doces,  amargos  e  salgados.    

As  expressões  faciais  características  que  produzem  como  resposta  a  sabores  específicos  assimilam-­‐se  

bastante  aos  produzidos  em  adultos,  indicando  assim  que  estas  expressões  são  inatas  e  que  poderão  

ter  importantes  implicações  biológicas.  

Oster,   sugere  que  quando  o  rosto  se   franze  em  resposta  a  um  sabor  azedo,  este  está  a  estimular  a  

boca  de  forma  a  produzir  saliva,  diluindo  assim  o  elemento  amargo.  

Em   contraste,   como   resposta   a   sabores   amargos,   a   boca   irá   abrir   e   fechar-­‐se,   de   forma   a   poder  

ejectar   a   comida,   sendo   assim   uma   resposta   adaptativa   a   substâncias   que   não   são   comestíveis   e  

potencialmente  perigosas  ou  fatais.  

As   respostas   dos  neonatos   em   seu  paladar   envolvem   também   factores   culturais.   Como  exemplo,   é  

sabido   há   muito   tempo   que   os   sabores   presentes   na   dieta   materna,   aquando   a   gravidez,   são  

transmitidos  ao  feto  através  do   liquido  amniótico.  De  forma  análoga,  sabores  da  dieta  materna  são  

transmitidos  através  do  leite  materno.  

 

Um  estudo  cuidadosamente  controlado,  sugere  que  estas  formas  de  exposição  Indirectas  aos  sabores  

comuns  na  dieta  materna,  afectam  as  preferências  de  paladar  de  um  neonato.    

Neste  estudo  de  Menella,   Jagnow  e  Beauchamp,  mulheres  grávidas  planeando  amamentar  os  seus  

infantes,   foram   aleatoriamente   colocadas   a   grupos   experimentais   e   de   controlo.   Aquelas   no   grupo  

experimental,   beberam   uma   quantidade   específica   de   sumo   de   cenoura   várias   vezes   por   semana,  

aquando  o  seu  último  trimestre  de  gravidez,  em  contraste  com  as  mulheres  do  grupo  de  controlo  que  

beberam  água.    

As   preferências   de   paladar   dos   infantes   foram   testadas   vária   semanas   após   começarem   a   comer  

cereais,  mas  antes  de  terem  qualquer  tipo  de  exposição  directa  a  cenouras.    

Comparados   com   os   infantes   do   grupo   de   controlo,   os   infantes   do   grupo   experimental   exibiram  

menos  expressões  faciais  negativas  aquando  foram  alimentados  com  cereais  com  sabor  a  cenoura,  e  

tenderam   também   a   comerem   mais   cereais   destes.   Os   bebés   no   grupo   de   controlo   não  

demonstraram  preferências.  

Esta   investigação   sugere   que   a   dieta   pré   natal   materna   prepara   as   crianças   para   os   elementos  

nutricionais  existentes  no  ambiente  em  que  se  desenvolveram.  

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Olfacto  

   

Os  neonatos  têm  a  capacidade  de  distinguirem  entre  vários  odores.  Passados  alguns  minutos  de  vida,  

os  neonatos  irão  mover  a  sua  cabeça  para  onde  se  encontra  o  odor  do  leite  materno,  direccionando-­‐

se  assim  para  o  mamilo  da  mãe.  Assim,  são  capazes  de  distinguir  o  cheiro  do  leite  das  suas  mães  do  

de  outras  mães;  preferem  odor  leite  materno  –  8  –  10  dias  

Um  teste  para  determinar  o  grau  das  capacidades  olfactivas  neonatas,  é  realizado  com  um  cotonete  

com  um  cheiro  específico  debaixo  do  nariz  do  bebé.  Os  bebé   com  um  sentido  de  olfacto   funcional  

irão  reagir   facialmente  ao  odor,  caso  seja  um  odor  desagradável  como  o  cheiro  de  alho,  o  bebé   irá  

franzir  o  nariz,  possibilitando  a  saída  do  agente  estranho,  caso  seja  agradável,  o  bebé  poderá  sorrir.  

 

Tacto/  Temperatura  /P.  Vestibular  

•  São  sensíveis  ao  toque  e  demonstram-­‐no  virando-­‐  se  para  o  local  onde  foram  tocados.  

•  Tornam-­‐se  mais  ativos  se  a  temperatura  baixa.  

•  Respondem  com  movimentos  oculares  a  mudanças  bruscas  na  sua  posição.    

 

Percepção  Intermodal  

Uma   das   áreas   mais   intrigantes   nas   capacidades   perceptuais   neonatas,   foca-­‐se   na   percepção  

intermodal,   i.e.   a   habilidade   neonata   em   processar   2   estímulos   sensoriais   diferentes  

simultaneamente.    

Estudos   recentes   sugerem  que  os   infantes   poderão  nascer   preparados  para   percepcionarem  dados  

estímulos  como  correlacionados  (capacidade  de  condicionamento).  

 

Um  demonstração  inicial  de  percepção  intermodal  foi  providenciada  por  um  estudo,  onde  foi  dado  a  

um  grupo  de  infantes  com  29  dias  de  idade,  uma  forma  de  borracha  para  sentirem  na  boca  (chucha).  

Após   terem  explorado  a   forma  por  90  segundos,  a   forma   foi  cobrida  para  os   infantes  não  a  verem.  

Quando  foram  mostrados  aos  infantes  um  par  de  formas,  eles  olharam  mais  tempo  para  aquela  que  

tinham   posto   na   boca.   Sugerindo   assim,   que   estabeleceram   uma   conexão   intermodal   entre   o   que  

sentiram    com  o  que  viam.    

Outros   estudos   têm   investigado   como   a   percepção   intermodal   poderá   ser   um   veículo   de  

aprendizagem  nas  primeiras  horas  de  vida.    Dado  que  o  bebé  consegue  reconhecer  a  cara  da  mãe  em  

contraste   com  a  um  de  um  estranho,   seria   razoável   investigar   se   será   apenas   a   cara   a  que  o  bebé  

responde,  mas  como  também  a  voz  da  mãe.    

Assim,   investigadores   compararam  preferências  pela   cara  da  mãe  em  grupos  de  bebés   com  2  a  12  

horas  de  vida  após  o  nascimento.  

Em   um   grupo,   os   infantes   não   ouviram   a   voz   da   mãe.   Enquanto   que   as   mães   no   segundo   grupo  

interagiram  normalmente  com  o  bebé.  

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Um  teste  estandardizado  de  preferência,  aonde  o  neonato  é  exposto  tanto  à  cara  da  mãe  como  a  de  

um  estranho,   foi  utilizado  para  determinar  se  os  neonatos  reconheceriam  a  cara  das  mães  (Tanto  a  

mãe   como   o   estranho   teriam   apenas   a   sua   cabeça   exposta,   enquanto   que   o   resto   do   corpo   se  

encontrava  tapado  por  um  lençol).  Foi  revelado  assim,  que  os  bebés  que  foram  impedidos  de  ouvirem  

a   voz   da   mãe   não   conseguiram   reconhecer   a   cara   da   mãe,   sugerindo   assim   que   a   percepção  

intermodal  do  rosto  materno  e  da  voz  materna  é  essencial  à  aprendizagem  inicial  dos  neonatos.  

 

Em  suma,  existem  bastantes  evidências  para  assumirmos  que  os  neonatos  nascem  com  boas  

capacidades  sensoriais  e  muito  mais  organizadas  que  previamente  se  pensou.  

 

 

Capacidades  Precoces  Sensoriais  

Sentido   Capacidade  

Visão   ⇒ Ligeiramente  desfocada;  

⇒ Visão  a  cores  a  partir  dos  2  meses  de  

idade;  

⇒ Capacidade  de  distinção  entre  estímulos  

padronizados  ou  sólidos;  

⇒ Preferência  por  estímulos  semelhantes  a  

rostos;  

Audição   ⇒ Capacidade  de  distinção  de  fonemas;  

⇒ Preferência  pela  língua  nativa  ou  

materna;  

Olfacto   ⇒ Capacidade  neonata  de  distinção  de  

odores;  

Paladar   ⇒ Capacidade  neonata  d  distinção  de  

sabores  

Tacto   ⇒ Responde  a  estímulos  tactuais  desde  o  

nascimento;  

Temperatura   ⇒ Sensível  às  mudanças  de  temperatura;  

Posição   ⇒ Sensível  às  mudanças  de  posição;  

 

 

 

 

 

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Capacidade  de  Aprendizagem  

Glossário  

Aprender:  Uma  mudança  comportamental,  relativamente  permanente,  despoletada  ela  realização  de  

associações  entre  comportamento  e  eventos  ambientais;  

Condicionamento   Clássico:   processo   de   aprendizagem,   onde   comportamentos   já   existentes   são  

estimulados  por  novos  estímulos;  

Estímulo  Condicionado   (E.C):  Um  estímulo  que  suscita  um  comportamento,  sendo  este  dependente  

da  maneira  como  é  associado  ao  estímulo;  

Estímulo   Incondicionado   (E.I):  O   estímulo,   como   a   comida   na   boca,   que   irá   causar   uma   resposta  

incondicionada,  como  a  salivação;  

Resposta   Incondicionada   (R.I):   A   resposta,   como   a   salivação,   que   foi   suscitada   pelo   estímulo  

incondicionado,  como  a  comida  na  boca;  

Resposta   Condicionada   (R.C):     Uma   resposta   suscitada   pelo   emparelhamento   entre   o   estímulo  

condicionado  (E.C)  e  o  estimulo  incondicionado  (E.I);  

Condicionamento   Operante:   Aprendizagem   ou   mudanças   comportamentais   são   modeladas   pelas  

consequências  do  comportamento,  dando  lugar  a  comportamentos  desejados.  

 

Condicionamento  Clássico  

Tipo  de  aprendizagem  onde,  comportamentos  previamente  existentes  tornam-­‐se  associados  com  e  

suscitados  por  novos  estímulos.  A  existência  deste  tipo  básico  de  aprendizagem  foi  demonstrado  por  

Ivan  Pavlov.  

Pavlov  conseguiu  demonstrar  que  após  várias  experiências  em  ouvir  um  tom  antes  de  comer  comida,  

um  cão  iria  começar  a  salivar  como  resposta  ao  tom.  

Um   grande   número   de   investigadores,   utilizou   as   experiências   de   Pavlov   no   âmbito   do   estudo   de  

desenvolvimento   humano,   de   forma   a   demonstrar   um   possível   modelo   de   aprendizagem   para  

infantes.    

Um  dos   colegas  de  Pavlov  demonstrou   respostas  de  alimentação   condicionadas  num   infante  de  14  

meses  de   idade,  baseado  nos  princípios  do  condicionamento  clássico.    Assim,  o  neonato   iria  abrir  a  

sua  boca  e  faria  movimentos  de  sucção  (R.C)  aquando  via  um  copo  de  leite  (E.C).  Um  sino  foi  tocado  

múltiplas  vezes  (novo  E.C)  momentos  antes  do  aparecimento  do  copo  de  leite.  Consequentemente,  o  

neonato   começou   a   abrir   a   sua   boca   e   fazer  movimentos   de   sucção,   aquando   o   sino   tocava.   Esta  

experiência   foi   demonstrativa   da   capacidade   do   condicionamento   clássico,   onde   irão   construir  

expectativas  no  infante,  através  de  um  processo  de  associação.    

O  ponto  crucial  nestas  observações  é  o  de  que  não  existe  qualquer  tipo  de  ligação  biológica  entre  o  

som  do  sino  e  o  acto  de  abrir  a  boca  ou  dos  movimentos  de  sucção.  Em  contraste,  novos  estímulos  

suscitaram  respostas  demonstrativas  da  ocorrência  de  aprendizagem.  

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Condicionamento  Operante  

O   condicionamento   clássico   explica   como   os   infantes   começam   a   criar   as   suas   expectativas,   por  

associação,  entre  eventos  no  seu  ambiente,   contudo,  não  explica  o  aparecimento  dos  mais   simples  

comportamentos.  

O  princípio  básico  do  condicionamento  operante  é  o  de  que  os  comportamentos  são  modelados  pelas  

consequências   dos   mesmos,   ou   seja,   que   os   organismos   têm   tendência   a   repetir   certos  

comportamentos  que   tenha   consequências   gratificantes,   ao   invés  de   comportamentos  que   tenham  

consequências   desagradáveis.   Uma   consequência,   como   uma   recompensa,   que   irá   aumentar   a  

probabilidade  de  ocorrência  de  dado  comportamento,  denomina-­‐se  de  reforço.    

Rovee-­‐Collier   demonstrou   como   os   infantes   irão   repetir   comportamentos,   de   forma   a   produzir  

efeitos  visuais  interessantes.    

Os  investigadores  ataram  a  ponta  de  uma  fita  ao  tornozelo  de  um  bebé,  e  a  outra  ponta  a  um  móbile  

pendurado  por  cima  do  berço.  Após  alguns  minutos,  o  bebé  aprendeu  que  ao  mexer  o  tornozelo,  iria  

causar  efeitos  visuais  interessantes  no  móbile.  Assim,  os  efeitos  visuais  interessantes  actuaram  como  

um  reforço  positivo.  

Existem   ainda   mais   evidências   que   suportam   a   premissa   que   a   aprendizagem   é   um   colaborador  

importante   no   desenvolvimento   de   organização   comportamental.   Estas   evidências   provêm   de  

estudos  demonstrativos  que  infantes  são  capazes  de  se  lembrarem  o  que  aprenderam,  de  sessão  para  

sessão,  capacidade  esta  que  melhora  exponencialmente  nos  primeiros  meses  de  vida.    

 

Imitação  

Entre   os   18   a   24   meses   de   idade,   os   bebés   começam   a   basear   as   suas   acções   em   simbolismos  

mentais,   isto   é   representações   de   experiência.   A   capacidade   neonata   em   representar   pessoas,  

objectos,   eventos   e   experiências  mentalmente   tem   sido   o   foco   de   vários   investigadores,   dado   que  

esta  capacidade  tem  implicações  enormes  em  outras  áreas  de  desenvolvimento.  

Uma  vez  que  os  bebés  se  tornam  capazes  de  representação,  estes  iniciam  brincadeiras  simbólicas  (i.e.  

faz  de  conta),  onde  utilizam  um  objecto  de  forma  a  representar  mentalmente  outro.  

A  representação  dá   lugar  também  a   imitação  deferida,  ou  seja,  a   imitação  de  acções  aprendidas  no  

passado,  sendo  que  esta  capacidade  tem  tremendas  vantagens  na  socialização  e  aprendizagem  geral.  

 

 

 

 

 

 

 

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Temperamento  

É   sabido   que  os   infantes   nascem   com  diferenças   individuais   a   como   reagem  ao   ambiente   exterior.  

Estas  diferenças   individuais  são  associadas  a  variações  de  temperamento,  ou  seja,  as  características    

emocionais   ou   comportamentais   de   um   indivíduo,   que   parecem   ser   constantes   numa   panóplia   de  

situações,  ao  longo  do  tempo.  

Thomas  e  Chess  desenvolveram  um  estudo,  com  141  neonatos  caucasianos,  abrangendo  depois  mais  

95  neonatos  de  etnia   latina,  bem  como,  neonatos  que  sofrem  doenças,   incapacidades  neurológicas  

retardação  mental.  Chess  e  Thomas  começaram  o  seu  estudo,  conduzindo  entrevistas  clínicas  com  os  

pais  das  crianças,  pouco  depois  do  seu  nascimento.  Questionaram  os  pais  acerca  de  assuntos,  como  

as   reacções  das  crianças  a   tomar  banho,  a   fraldas  molhadas  e  a  comer  comida  sólida  pela  primeira  

vez.  À  medida  que  as  crianças  cresciam,  estas  entrevistas  eram  complementadas  com  entrevistas  a  

professores,  e  também,  por  testarem  as  crianças  por  si  mesmos.  

 

Thomas  &  Chess  (1968,  1977)  desenvolveram  estudos  pioneiros  nesta  área  e  definiram  9  dimensões  

ao  nível  do  temperamento  do  RN,  nomeadamente:  

 

• Nível  de  Actividade:  tempo  passado  em  acção  e  inactivo.    

• Regularidade:   regularidade   e   previsibilidade   das   funções   biológicas   básicas.   Perante  

determinada  situação  espera-­‐se  que  o  bebé   reaja  de  uma  certa   forma.  Esta  previsibilidade  

do  comportamento  é  confortável  para  os  pais.  Esta  é  uma  questão  muito   importante.  Se  o  

bebé   for   irregular   tudo  o  que  acontecer  de   forma   imprevisível   irá  provocar-­‐lhe  ainda  mais  

irregularidade.  

• Aproximação/  Afastamento:  natureza  da  resposta  inicial  do  bebé  a  algo  novo.  Se  a  mãe  se  

afasta  e  o  bebé  chora  sem  ninguém,  excepto  a  mãe,  ser  capaz  de  o  acalmar,  a  relação  mãe-­‐

bebé  torna-­‐se  sufocante  para  a  mãe.    

• Adaptabilidade:  facilidade  com  que  o  bebé  muda  a  sua  resposta  a  uma  dada  situação,  ou  se  

adapta  a  outras  pessoas.  Esta  questão  pode,  por  vezes,  deixar  os  pais  inseguros.  

• Limiar   de   capacidade:   nível   de   intensidade   necessário   para   desencadear   uma   resposta.  

Refere-­‐se  também  às  capacidades  espetaculares  que  os  pais  reconhecem  nos  seus  bebés,  ou  

pelo   contrário,   pela   falta   delas,   quando   os   pais   consideram   que   o   seu   filho   está   sempre  

atrasado  em  relação  aos  outros.  

• Intensidade  de  Reacção:  nível  de  energia  de  uma  resposta.  Por  exemplo,  quando  o  bebé  tem  

fome,  se  reage  de  forma  muito  negativa  e   intensa,  pode  ajudar  a  desequilibrar/destabilizar  

os   pais.   Cada   vez   que   o   bebé   se   desorganiza   com   tal   intensidade,   precisa   que   o   voltem   a  

organizar,  o  que  vai  acabando  por  provocar  um  desgaste  em  quem  o  organiza.  

• Qualidade   de  Disposição:   quantidade  de   comportamentos  amigáveis  e  não  amigáveis.  Por  

exemplo,  um  bebé  mais  simpático  dá  maior  prazer  de  interagir.  

Page 19: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  19  

• Susceptibilidade:  até  que  ponto  um  novo  estímulo  atrasa  ou  atrapalha  um  comportamento  

anteriormente   iniciado.   Um   bebé   muito   susceptível   (que   muito   facilmente   chora   quando  

estamos  a  brincar  com  ele)  vai  prejudicar  a  relação  uma  vez  que  não  promove  a  interacção.  

• Espectro  de  Atenção/  Persistência:  até  que  ponto  o  bebé  inicia  uma  actividade  e  a  mantém.  

Se  o  seu  espectro  de  atenção  for  muito  curto  não  dá  muito  prazer  interagir  com  esse  bebé.  

 

Após  a  avaliação  dos  resultados,  concluíram  que  a  maior  parte  das  crianças  poderiam  ser  organizadas  

em  3  categorias  de  temperamento:  

• Temperamento  Fácil,  bebés  que  são  brincalhões,  regulares  nas  suas  funções  biológicas  e  que  

se  adaptam  com  facilidade  a  novas  circunstâncias;  

• Temperamento     Difícil,   bebés   que   são   irregulares   nas   suas   funções   biológicas,   irritáveis   e  

costumam  responder  com  intensidade  e  negatividade  a  novas  situações,  tendo  tendência  de  

afastamento  destas;  

• Adaptação  Lenta,  bebés  que  têm  um  nível  de  actividade  baixa,  onde  as  suas  respostas  são  

suaves  e  moderadas.  Tendem  a  ter  uma  atitude  de  evitamento,  contudo  de  forma  calma,  e  

requerem  mais  tempo  de  forma  a  adaptarem-­‐se  a  novas  situações.  

 

Existe   um   consenso   geral   de   que   factores   genéticos   providenciam   a   base   para   diferenças  

temperamentais.   Stephen   Suomi,   descobriu   um   alelo   que   torna   os   macacos   mais   tendenciosos   a  

comportamentos  agressivos.  

Uma  base  genética  para  traços  temperamentais,   implica  que  devemos  esperar  vieses  relativamente  

estáveis   na   forma   como   um   indivíduo   reage,   e   consequentemente,   seria   possível   de   prever   as  

características  temperamentais  como  irritabilidade,  etc.  

Embora  existam  bastantes  evidências  de  que  o   temperamento  é  estável  ao   longo  do   tempo,  e  que  

estes   se   tornaram  problemáticos  em   fases  mais   tardias  de  desenvolvimento,   é  necessário  enfatizar  

que   a   maior   parte   dos   estudos   observa   correlações   modestas   de   temperamento   em   diferentes  

idades,  indicando  que  o  temperamento  é  um  traço  complexo  que  poderá  ser  influenciado  por  vários  

factores.  

Page 20: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  20  

Repertório  mãe-­‐bebé  

Interacção  Mãe  –  Bebé  

 Este  diálogo  entre  os  educadores  é  como  se  fosse  uma  dança,  todos  os  olhares,  sons,  movimentos,  

etc.   estão   bem   coordenados   e,   são   importantes.   Nem   sempre   é   assim,   surgem   dificuldades   por  

diversas  razões:  temperamento,  personalidade  da  mãe,  etc.  

Papel  adaptativo  da  interacção  

� Os  bebés  humanos  são  dependentes  dos  cuidados  das  figuras  parentais  para  sobreviver.    

� Estabelecimento   de   uma   relação   próxima   é   crucial.   Não   só   pela   questão   da   dependência  

física,  como  também  pela  afectiva,  que  se  sobrepõe  à  sobrevivência  física.    

� Não  é   inevitável,  nem  automática   (“instintiva”),   se   fosse  era  generalizável  a   toda  a  espécie  

humana  e,  não  é.  Nem  todas  as  mães  são  capazes  de  responder  adequadamente,  a  todas  as  

solicitações  do  bebé.  Há  um  repertório  da  mãe  que  deve  ser  desenvolvido  ao  mesmo  tempo  

que  o  do  bebé.  A  mãe   também  aprende  com  o  bebé.  A  vinculação  da  mãe  ao  bebé  não  é  

imediata,  é  algo  que  dá  trabalho.    

� Stern   (1977)   :   micro-­‐análises   do   comportamento   do   bebé   em   interacção   social  

demonstraram   o   papel   activo   que   o   bebé   tem   no   decorrer   destas.   O   bebé   vai   tendo   um  

papel  cada  vez  mais  activo.  

� Até   aos   2  meses:   regulação   dos   ciclos   biológicos   (sono   e   alimentação).   Até   esta   idade   os  

ciclos  do  bebé  ainda  não  se  encontram  socialmente  regulados.  Não  têm  fome  às  horas  das  

refeições,  nem  dormem  só  à  noite.  –  1ª  fase  do  repertório  mãe-­‐bebé  (tanto  um  como  outro  

vão-­‐se  organizar  em  torno  do  sono  e  da  alimentação).  

� Depois  dos  2  meses:  regulação  mútua  de  expressões,  gestos  e  respostas  (Trevarthen,  1977,  

1998)   em   situação   de   interacção   social   –   início   da   intersubjectividade.  Os   bebés   focam-­‐se  

mais  no  olhar  do  que  na  totalidade  da  face  humana.  No  que  diz  respeito  à  interacção  social,  

o  olhar  é  fundamental  para  a  tal  dança  que  Stern  fala.  

Aparência  física  das  crias  

Adultos,   especialmente   mulheres,   tendem   a   preferir   rostos   de   crianças/crias   humanas   e   animais  

(Fullard   and   Reiling,   1976).   Estas   despertam   mais   facilmente   afecto   em   nós.   Esta   é   já   uma  

característica  do  repertório  da  mãe.  

Regulação  dos  ciclos  biológicos  

Os   progenitores   tentam  modificar   os   ciclos   biológicos   dos   recém-­‐nascidos   de   forma   a   que   eles   se  

adeqúem  aos  ritmos  da  família.  

 

Page 21: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  21  

Estados  de  consciência  

Estevez  et  al.  (2002):  a  cada  estado  de  vigília  corresponde  um  padrão  de  actividade  cerebral.  Existem  

6   estados   de   consciência,   se   não   considerarmos   estes   estados   quando   interagimos   com   o   bebé,  

vamos  comprometer  a  interação.  

1. Sono  activo  

� REM   (rapid-­‐eye-­‐movement)   –   sono  mais   agitado:   respiração   instável.   Pode   haver  

movimento.  

2. Sono  passivo  

� NREM  (non-­‐rapid-­‐eye-­‐movement)  –  respiração  regular.  Sem  movimentos.    

§ Até   aos   2   /   3   meses:   os   bebés   começam   a   dormir   com   o   sono   REM   e  

passam  gradualmente  para  NREM  

§  Depois  dos  3  meses:  verifica-­‐se  a  sequência  inversa,  tal  como  no  adulto.  

3. Estado  de  sonolência  ou  intermédio  

� Não   está   a   dormir   nem   acordado.   Está   tranquilo,   sem   actividade   motora   mas,  

qualquer   estímulo   facilmente   o   acorda.  Não   é   a   altura   ideal   para   interagir   com  o  

bebé.  

4. Estado  acordado  ou  estado  de  alerta  

� Está  tranquilo,  respiração  estável,  etc.  É  uma  boa  altura  para  interagir  com  o  bebé,  

ele  responde  facilmente  a  estímulos.  

5. Estado  de  alerta  irritado  

� Respiração   irregular.   Pede   ajuda   para   se   organizar.   Muitas   vezes,   é   confrontado  

com  um  excesso  de  estimulação  então,  desorganiza-­‐se.  Precisa  de  ser  acalmado  e  

organizado  e  facilmente  adormece.  Se  não  for  acalmado  passa  para  o  choro.    

6. Choro    

 

Duração  e  Padrão  do  Sono  

A  quantidade  de  sono  é  muito  importante,  mesmo  nos  adultos.    

� Recém-­‐nascidos:  dormem  em  períodos  que  podem  durar  apenas  alguns  minutos  ou  algumas  

horas.  Com  o  tempo  vão  prolongando  o  sono  e  a  adaptando-­‐o  ao  ritmo  da  família.  

�  Podem,  assim,  estar  acordados  em  qualquer  momento  do  dia  ou  da  noite.    

� Ao  longo  dos  primeiros  meses,  os  períodos  de  sono  vão  sendo  mais  duradouros  e  coincidem  

cada  vez  mais  com  o  período  nocturno.  

 

 

 

Page 22: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  22  

 

Alimentação    

� “A  pedido”  

§  Recém-­‐nascidos:  cada  3  horas    

§  2  meses  e  meio:  cada  4  horas    

§  7  /  8  meses:  4  vezes  por  dia    

�  Não  se  verificaram  diferenças  no  crescimento  das  crianças  alimentadas  a  pedido  ou  de  acordo  

com  um  horário  pré-­‐estabelecido  (Saxon  et  al.,  2002)  

� No  entanto,  os  bebés  alimentados  de  acordo  com  um  horário  choravam  mais  (é  discutível).  

 

Depois  dos  2  meses:  início  da  reciprocidade  

� Os  bebés  estão  acordados  e  alerta  por  períodos  de  tempo  cada  vez  maiores.  

� Começam  a  ser  capazes  de  controlar  a  atenção  e  o  olhar,  de  se  orientar  ou  de  evitar  a  fonte  

de  estímulos.  São  capazes  de  regular  a  interacção.  

§ Os   pais   aproveitam   estas   competências   dos   bebés   para   construírem   cadeias   de  

interacção  mais  longas  e  mais  complexas.  

� Os  pais   chamam  a  atenção  dos  bebés,  envolvem-­‐nos  na   interacção,  alteram  a  estimulação  

em   coordenação   com   os   sinais   dados   pelos   bebés   –   estão   em   sintonia   (Stern,   1985).   É  

importante  os  pais  perceberem  os  bebés  e  darem-­‐lhe  a  entender  que  o  percebem,  para  que  

ele  se  sinta  compreendido.  Ex.:  situação  de  amamentação  –  durante  esta  situação  criam-­‐se  

laços  e,  também  se  regulam  os  ciclos.  Exemplo:  a  mãe  está  mais  disponível  durante  o  dia  e,  

dá  claros  sinais  ao  bebé  da  sua  disponibilidade  logo,  o  bebé  vai-­‐se  organizar  para  que  o  seu  

estado  de  alerta  seja  durante  o  dia.    

§ O   bebé   é   iniciado   no   padrão   de   tomada   de   vez   da   comunicação   humana.   Tem  

choros  diferentes  para  se  fazer  entender.  Com  o  tempo,  começa  a  fazer-­‐se  entender  

de  outras  formas.  

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 23: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  23  

 

Repertório  do  bebé  

Conjunto  de  meios  que  o  bebé  utiliza  para  entrar  em  comunicação  com  os  outros.  

� Olhar    

§ 6ª  semana:  é  capaz  de  fixar  os  olhos  da  mãe  e  manter  essa  fixação.  Começa  a  controlar  o  

movimento  ocular.  

§ 3  meses:  maturação  visuo-­‐motora;  as  relações  deixam  de  ser  simbióticas,  o  bebé  e  a  mãe  

não   são   um   só   sujeito.   É   a   partir   daqui   que   ele   começa   a   protestar   quando   a  mãe   se  

ausenta.   Os   olhares   regulam   a   interacção   e   permitem   adquirir   uma   noção   de  

individualidade.  

§ 5/6  meses:   coordenação   óculo-­‐manual.   O   que   permite   explorar   os   objectos   diferentes  

formas.  

§ O  olhar  pode  ser  subdividido  entre  a  visão  e  capacidade  de  controlar  os  movimentos  dos  

olhos   e   da   cabeça   de   forma   a   seguir   um   alvo   visual.   Quando   consegue   controlar   o  

movimento  ocular  e  da  cabeça  começa  a  ser  capaz  de  controlar  a  interacção  (se  não  lhe  

interessa  desvia  o  olhar  ou  a  cabeça,  não  tem  que  prestar  atenção  a  estímulos  que  não  

lhe  interessam).    

§ A  visão  pode  ser  “ligada”  ou  “desligada”  

� Movimentos  da  cabeça    

§ São  geralmente  coordenados  com  as  mudanças  do  olhar    

o Posição  central  

o Posição  periférica    

o Baixar  da  cabeça    

§ Sinalização:  pelo  choro  a  criança  preludia  a  palavra.    

§ Organização  endógena    

§ Inicialmente  reflexo,  torna-­‐se  num  acto  voluntário  ao  longo  dos  primeiros  meses  de  vida.  

� Vocalizações    

§ Choro    

o Primeira  forma  que  o  bebé  tem  de  interagir  e  comunicar  com  o  outro  é  através  

do  choro.  Existem  diferentes  choros,  que  sinalizam  diferentes  necessidades.  

o Padrões  de  choro:    

ü Básico  (aborrecido/sono):  início  arrítmico,  rítmico  e  cada  vez  mais  forte  

ü Colérico:   choro   –   pausa,   inspiração,   pausas   mais   curtas,   inspiração;  

quando  está  incomodado.  

ü Dor:  brusco,  início  forte,  pausa,  brusco,  forte.  

o Os  adultos  são  capazes  de  distinguir  os  diferentes  choros  (Zeskind  et  al.,  1992).  

� Expressões  faciais    

Page 24: Apontamentos Psi Desenvolvimento

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§ Sorriso    

o Também  sofre  uma  evolução,  tal  como  o  choro,  começa  por  não  ser  intencional,  

ser   apenas   reflexo.   Com   o   tempo,   o   bebé   vai-­‐se   organizando   e,   tornando   o  

sorriso  voluntário  e  desencadeado  por  estimulações  externas.    

o 2  semanas:  endógeno  ou  reflexo  

ü Surge  quando  os  bebés  estão  a  dormir  (REM)  

ü Pela  segunda  semana  podem  observar-­‐se  com  o  bebé  acordado,  mas  não  

se  correlacionam  com  nenhum  acontecimento  em  particular.  

o 6  semanas  /  3  meses:  exógeno    

ü Solicitado   por   acontecimentos   exteriores,   como   visões   e   sons,   mas  

sobretudo   o   rosto   humano,   o   olhar   humano,   o   tom   de   voz   agudo   e  

cócegas.  

o Depois  dos  3  meses:  instrumental  

ü Para  que  o  sorriso  instrumental  surja,  é  necessária  a  interacção.  

ü Já   funciona   como   um   comportamento   social   em   que   o   bebé   usa   esse  

sorriso   como   uma   forma   de   se   aproximar   de   alguém.   O   bebé   pode  

reproduzir   o   sorriso   para   obter   de   alguém   uma   reacção,   tal   como   um  

outro  sorriso  da  mãe  ou  uma  palavra  dela.  

• Maior  qualidade  emocional  na  relação  dos  pais  com  os  bebés    

Repertório  da  mãe  

� Formas   de   interacção   que   se   ajustam   às   capacidades   precoces   do   bebé.   Há   um   repertório  

característico  dos  adultos  (não  apenas  das  mães).  

� O  comportamento  materno  constitui  o  primeiro  conhecimento  que  o  bebé  tem  acerca  de  tudo  o  

que  é  humano.  

� As  mães   agem   com   os   bebés   de   uma   forma   diferente   da   que   agem   com   os   outros   adultos   e  

crianças  mais  velhas.  

§ Expressões  faciais    

ü Exageradas  no  espaço  e  no  tempo.    

ü Surpresa  fingida;  Careta;  Sorriso;  Expressão  de  preocupação  e  de  simpatia;  

Neutra.  

ü Têm  que  ser  mais  lentas  para  dar  tempo  ao  bebé  de  a  decifrar  

ü Neste   período   de   desenvolvimento   é   necessário   um   número   limitado   de  

expressões  para  regular  o  fluir  normal  da  interacção.  

§ Vocalizações    

ü Responsável   pelo   desenvolvimento   da   linguagem.   Estimulação   muito  

importante.  Permitem  ao  bebé  assimilar   todas  as  características  da   língua  

materna.  

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ü “baby-­‐talk”   -­‐   Diálogo   imaginário   em   que   a   mãe   reage   como   se   o   bebé  

respondesse  sempre    

§ Entoação  elevada  (falsete)  

§ Tonalidade  elevada  (todos  os  tipos  de  sons)  

§ Intensidade  exagerada  (desde  murmúrios  até  sons  altos)  

§ Ênfase  pronunciada  nas  palavras  ou  nas  sílabas    

§ Velocidade  alterada    

§ Pausas  mais  prolongadas  

§ Olhar    

ü Na  nossa  cultura  o  olhar  mútuo  raramente  dura  mais  do  que  10  segundos.  

ü Na  interacção  mãe-­‐bebé:  30  segundos  ou  mais.  

ü As  mães  olham  e  vocalizam  em  simultâneo,   ao   contrário  do  que   se  passa  

nas  interacções  entre  os  adultos.  

ü Passam  mais  de  70%  do  tempo  com  o  olhar  fixo.  

§ Apresentações  faciais  e  movimentos  da  cabeça    

ü “Cu-­‐cu”:   série   de   aparecimentos   e   desaparecimentos   do   rosto.   Ajuda   na  

construção   da   permanência   do   objecto,   promove   o   desenvolvimento  

cognitivo.  

ü Acenar   da   cabeça;   sacudir   da   cabeça;   desviar   da   cabeça   em   proporções  

exageradas.  

§ Espaço  interpessoal  

ü Na  nossa  cultura,  cerca  de  60  centímetros.  

ü As  mães  não  respeitam  estas  convenções  espaciais  quando  interagem  com  

os  seus  bebés.  

§ Interacção  social  

ü A   tarefa   desenvolvimental   do   bebé   consiste   em   construir   com   o   adulto  

competências  de  comunicação  a  partir  das  rotinas  interactivas.  Amamentar  

e   ir   deitar   são   momentos   fundamentais   para   que   o   bebé   se   organize,  

comece  a  conhecer  e  compreender  o  meio.  

ü Desenvolvimento   da   comunicação:   momento   sensível   do   ponto   de   vista  

emocional  e  cognitivo.  

 

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Desenvolvimento  Psicomotor  

 

Entre  os  3  a  24  meses  de  idade,  dá-­‐se  um  dos  mais  dramáticos  desenvolvimentos  no  humano.  Emerge  

assim,   a   capacidade   infantil   de   explorar   o   ambiente   exterior,   através   de   movimentos   preenseis  

(agarrar)   e   através   de   se   locomover   pelo   espaço,   explorando-­‐o.   Estas   capaciadades   motoras   têm  

drásticas  consequências  no  seu  desenvolvimento  cognitivo,  social  e  emocional.  Á  medida  que  as  suas  

capacidades  motoras  se  desenvolvem,  os  bebés  adquirem  informação  valiosa  sobre  as  características  

do  ambiente  exterior  e  de  como  este  é  estruturados.    

 

De   forma   importante,   os   avanços   nas   capacidades   motoras   providenciam   os   bebés   com   novas  

oportunidades   de   seguir   (literalmente)   as   pessoas   e   de   comunicar   com   estas,   recebendo   depois  

feedback  sobre  os  interessantes  objectos  que  encontram.  

   

è Caracterização  dos  movimentos:  

Ü Movimentos  Incontrolados  e  Não  Coordenados  

Ü Movimentos  Voluntários  e  Coordenados  (Por  volta  dos  2  anos)  

Leis  do  Desenvolvimento  Psicomotor  

è Lei  Céfalo-­‐caudal  

Ü O   desenvolvimento   processa-­‐se   na   direcção   cabeça-­‐pés   (as   partes   superiores   do  

corpo  desenvolvem-­‐se  primeiro).  

è Lei  Próximo-­‐distal  

Ü O   desenvolvimento   processa-­‐se   na  direcção   de   dentro   para   fora   (as   partes  mais  

próximas  do  eixo  corporal  desenvolvem-­‐se  antes  das  extremidades).  

 

Distinguem-­‐se  assim  2  tipos  de  capacidades  motoras:  

• Capacidade   Motora   Fina,   que   involve   o   desenvolvimento   e   coordenação   de   pequenos  

músculos,  como  dedos  ou  olhos;  

• Capacidade  Motora  Grossa,  que  involve  músculos  grandes,  tornando  a  locomoção  possível.    

 

 

 

 

 

 

 

 

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Capacidades  Motoras  Finas  

Alcançar  e  Agarrar  

Por   volta   dos   3  meses  de   idade,   os   bebés  obtêm  controlo   voluntário  dos   seus  movimentos,   dando  

lugar   a  movimentos  para   tentar   alcançar  ou  agarrar   alguma  coisa.  Com  prática,   a   sua   coordenação  

das  capacidades  motoras  finas,  melhora  gradualmente.  

Por  volta  dos  5  meses  de  idade,  os  infantes  olham  para  o  

objecto,   avaliando-­‐o   mas   sem   o   tentarem   alcançar.   Por  

volta  dos  9  meses  de   idade,  a  maior  parte  dos  neonatos  

consegue  coordenar  os  seus  movimentos  de  alcance  e  de  

agarrar   (preênsil)   com   apenas   um   olhar,   e   executam-­‐no  

de  maneira  bem  integrada  e  automática.  

Entre   o   periodo   dos   7   a   12   meses   de   idade,   os  

movimentos   motores   finos   tornam-­‐se   mais   bem  

coordenados.   Um   neonato   de   7  meses   de   iade   ainda   se  

encontra   incapaz   de   utilizar   os   seus   polegares   em  

oposição   aos   restantes   dedos,   de   forma   a   agarrar  

objectos.   Contudo,   aos   12   meses   de   idade   os   neonatos  

são   capazes   de   moverem   os   seus   polegares   e   outros  

dedos,   em  posições   apropriadas   ao   tamanho   do   objecto  

que  tentam  agarrar.  

Á  medida  que  os  bebés  possuem  controlo  das  suas  mãos,  

diferentes   objectos   convidam   diferentes   tipos   de  

exploração-­‐   bater,   agitar,   apertar   e   atirar.   Todas   estas   acções   providenciam   o   bebé   com  

conhecimento  sobre  as  características  do  mundo  exterior.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura  1  -­‐  Neonatos  encontram  formas  de  agarrarem  objectos,  desde  cedo.  Mas  boa  coordenação  do  polegar  e  dedo  indicador,  requer  pelo  menos  um  ano  

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  28  

 

Destreza  Manual  

Infantes  de  10  a  23  meses  de  idade  tentam  agarrar  uma  colher,  contudo  com  dificuldade.  Aos  10  a  12  

meses   de   idade,   os   neonatos   conseguem   realizar   apenas  movimentos   simples   com   a   colher,   como  

batê-­‐la  na  mesa.  Crianças  ligeiramente  mais  velhas  conseguem  coordenar  a  acção  de  imergir  a  colher  

na  sopa,  para  depois  a  levar  à  boca,  contudo,  na  maior  parte  das  vezes,  deixam  cair  o  seu  conteúdo  a  

meio  caminho.  Uma  vez  dominada  esta  capacidade,  a  sequência  de  acções  é  ajustada  até  se  tornar  

automática.  

A  coordenação  de  capacidades  motoras  finas  aumenta  significativamente  durante  o  2º  ano  de  vida.    

Com  2  anos  de  idade,  os  infantes  podem  também  virar  as  páginas  de  um  livro,  construir  uma  torre  de  

blocos  alta,  pegar  um  copo  de  leite  ou  vestirem-­‐se  sozinhos.  

Cada  um  destes  feitos  poderão  parecer  pequenos  em  valor,  contudo,  são  estas  mesmas  capacidades  

que  nos  possibilitaram  a  utilização  de  ferramentas.    

 

 

 

 

 

 

 

Figura  2  -­‐    Capacidade  Motora  Fina:  O  desenvolvimento  e  coordenação  de  pequenos  músculos,  que  controlam  os  dedos  e  mãos,  são  associados  com  uma  variedade  de  capacidades  importantes,  seguindo  um  ritmo  relativamente  previsível  

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  29  

Capacidades  Motoras  Grossas  

O   progresso   da   locomução   é   uma  

mudança  central  que  ocorre  no   fim  do  

1º  ano  de  vida.  O  desenvolvimento  das  

capacidades   motoras   grossas   permite  

ao   infante   explorar   o   mundo,   e  

depender   menos   dos   seus   pais   ou  

tutores.    

 

Rastejar  e  Gatinhar  

Durante  o  1º  mês  de  vida,  aquando  os  seus  movimentos  parecem  ser  primeiramente  controlados  por  

áreas   subcorticais   do   cérebro,   os   infantes   poderão   ocasionalmente   rastejas   curtas   distâncias,  

impulsionados   pelos   seus   joelhos   e   dedos   dos   pés.   Por   volta   dos   2   meses   de   vida,   este  

impulsionamento  reflexivo  desaparece,  e  só  após  5  a  6  meses  é  que  o  infante  poderá  gatinhar.  

Por  volta  dos  8  a  9  meses  de  idade,  a  maior  parte  dos  infantes  consegue  gatinhar  em  superficies  lisas,  

com  alguma  habilidade.  Tendo  um  papel  adaptativo  ao  meio,  gatinhar  previne  que  o  bebé  se  magoe  

ao  explorar,  sendo  que  a  gatinhar  o  bebé  tem  mais  facilidade  em  não  cair  e  magoar-­‐se.  

Andar  

No  seu  1º  ano  de  vida,  muitos   infantes  tornam-­‐se  capazes  de  se   levantarem  e  andarem,  o  que   lhes  

permite  explorar  com  as  duas  mãos  livres.    Não  existe  nenhum  factor  crucial  para  andar,  mas  sim,  um  

conjunto  de  factores  que  tornam  andar  possível,  como  postura,  alternação  de  pernas,  força  muscular,  

peso  e  sentido  de  equilíbrio,  sendo  que  estes  terão  que  ser  praticados  de  forma  a  tornarem  o  acto  de  

andar  automático  e  bem  integrado.  

 

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Gesell  

Psicólogo   Americano   que   se   especializou   na   área   do   desenvolvimento   infantil.   Os   seus   primeiros  

trabalhos   visaram   o   estudo   do   atraso  mental   nas   crianças,  mas   cedo   percebeu   que   é   necessária   a  

compreensão  do  desenvolvimento  normal  para  se  compreender  um  desenvolvimento  anormal.  

 

·∙        Foi  pioneiro  na  sua  metodologia  de  observação  e  medição  do  comportamento  e,  portanto,  foi  dos  

primeiros   a   implementar   o   estudo   quantitativo   do   desenvolvimento   humano,   do   nascimento   até   à  

adolescência.  

 

·∙         Realizou  uma  descrição  detalhada  e   total   do  desenvolvimento  da   criança;   realça,   com  base  em  

pesquisas  rigorosas  e  sistemáticas,  o  papel  do  processo  de  maturação  no  desenvolvimento.  

 

·∙        Gesell  e  colaboradores  caracterizaram  o  desenvolvimento  segundo  quatro  dimensões  da  conduta:  

motora,  verbal,  adaptativa  e  social.  Nesta  perspectiva  cabe  um  papel  decisivo  às  maturações  nervosa,  

muscular  e  hormonal  no  processo  de  desenvolvimento.  

 

·∙         Desenvolveu,   a   partir   dos   seus   resultados,   escalas   para   avaliação   do   desenvolvimento   e  

inteligência.  

 

·∙         Inaugurou   o   uso   da   fotografia   e   da   observação   através   de   espelhos   de   um   só   sentido   como  

ferramentas  de  investigação  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Da   contribuição   de   Gesell   e   outros   importantes   pesquisadores   do   desenvolvimento   infantil,   seis  

princípios  gerais  foram  estabelecidos.  

 

1.  Princípio  da  Integração  dos  Reflexos  e  Emergência  das  Reações  Posturais  

O   recém-­‐nascido   traz   consigo   uma   variedade   de   reflexos   primitivos   que   são   considerados  

mecanismos  de  sobrevivência.  A  sua  presença  em  determinadas   idades   indica  se  o  SNC  está   intacto  

ou   não.   Estes   reflexos   que   têm   características   estereotipadas,   eliciados   sob   a   presença   de   um  

estímulo  específico  sob  certa  intensidade  constante,  têm  duração  limitada.  O  primeiro  semestre  em  

geral   é  marcado   pelo   desaparecimento   ou,  mais   apropriadamente   falando,   pela   integração   destes  

reflexos.   Em   contrapartida,   reações   posturais   tornam-­‐se   mais   evidenciadas   com   o   repertório  

comportamental   mais   complexo.   Não   há   uma   clara   separação   temporal   entre   o   fenômeno   da  

integração   destes   reflexos   e   o   aparecimento   das   reações   posturais.   As   reações   posturais   são  

consideradas  reações  de  equilíbrio.  Sua  função  principal  é  responder  automaticamente  ao  efeito  das  

forças  gravitacionais  durante  mudanças  súbitas  na  orientação  do  corpo  no  espaço.  Antes  do  ganho  da  

posição  bípede  estas  reações  são  observadas  na  posições  decúbito  e  depois  sentada.  

 

2.  Princípio  da  uniformidade  na  sequência  e  progressão  ordenada  

Este   princípio   determina   que   a   emergência   dos   componentes   de   comportamentos   tem   uma  

seqüência  uniforme.  Por  exemplo,  a  alternância  entre  os  movimentos  oscilatórios  dos  braços  durante  

a  marcha   aparece   depois   de   um   período   onde   os   braços   foram  mantidos   abduzidos   e   elevados   à  

lateral   do   corpo.   A   progressão  ordenada   refere-­‐   se   à   sequência   em  que  um   comportamento   surge  

após  o  outro,  sem  inversão.  Por  exemplo,  antes  de  uma  criança  ficar  em  pé  sozinha,  tipicamente  ela  

deverá  ter  a  capacidade  de  sentar  e  rolar  independentemente.  

 

3.  Princípio  da  atividade  geral-­‐para-­‐específica  ou  diferenciação  

Movimentos  de  pegar  objetos  podem  parecer  grosseiros  no  início  das  manipulações.  Com  a  prática,  a  

acurácia   e   a   rapidez   tomam   lugar   dando   ao   gesto   uma   aparência   fluída   e   diferenciada   com   as  

propriedades  específicas  dos  objetos  ou  ambiente.  

 

4.  Princípio  da  direção  céfalo-­‐caudal  

O  controle  motor  segue  uma  progressão  de  desenvolvimento  que  vai  das  movimentações  da  cabeça  

(postural   e   exploratórias),   seguindo   de   um   controle   da   cintura   escapular,   abdominal,   pélvica   e  

membros   inferiores.  Desde   o   início   dos   ganhos   posturais   até   o   início   da  mobilidade   independente,  

decorre  um  ano.  Esta  evolução  é  o  resultado  do  aperfeiçoamento  de  suas  ações  mais  ou  menos  na  

direção  céfalo-­‐caudal.  

 

 

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5.  Princípio  da  coordenação  próximo-­‐distal  

Gesell  observa  que  o  aperfeiçoamento  coordenativo  e  postural  que  iniciam-­‐se  no  eixo  do  corpo  é  pré-­‐

requisito  para  a  coordenação  distal  fina,  particularmente  aquela  observada  nos  membros  superiores  

durante  a  coordenação  olho-­‐mão.  

 

6.  Princípio  da  coordenação  motora  bilateral  para  cross-­‐lateral  

É   um   princípio   de   que   os   movimentos   iniciais   ocorrem   de   forma   bilateral,   como   por   exemplo,   a  

elevação   e   abdução   dos   braços   nas   primeiras   semanas   de   experiência   com   a   locomoção  

independente  para  depois  dar  lugar  à  alternância  dos  mesmos.  

 

Provas  de  Gesell  

É   um   teste   de   desenvolvimento   infantil.   ''As   tabelas   de   Gesell   consistem   numa   série   de   27  

observações  e  reações,  registradas  por  nível  etário,  a  diversas  situações  padroni-­‐zadas  do  nascimento  

até  os  cinco  anos  de  idade.  Em  cada  nível  etário;  um  ínventário  de  ativi-­‐dades  é  dividido  em  quatro  

categorias   de   com-­‐portamento:   (1)   Motor;   (2)   Adaptativo;   (3)   Linguagem;   (4)   Pessoal-­‐Social.   Cada  

uma  des-­‐sas  categorias  de  comportamento  é  avaliada  observando-­‐se  a  criança  num  certo  número  de  

situações  padronizadas.".    

Os  trabalhos  de  Gesell  e  a  forma  estruturada  como  estabeleceu  o  exame  para  diagnóstico  dos  desvios  

do  desenvolvimento  trouxeram  enorme  contribuição  para  a  pratica  da  Pediatria  do  Desenvolvimento;  

servindo   de   base   para   estudos   posteriores   na   área   do   comportamento   infantil,   assim   como  para   a  

elaboração  de  outras  escalas  de  desenvolvimento.    

 

A  padronização  das  respostas  da  criança  em  diferentes  situações,  nas  idades  cronológicas  especificas,  

foram  divididas  em  quatro  aspectos  principais:    

1.  COMPORTAMENTO  MOTOR   =   aquisições  motoras   como:   sustentar   a   cabeça,   sentar,   engatinhar,  

andar  e  incluindo-­‐se  também  a  atividade  das  mãos  em  pegar  e  manipular  objetos.    

2.   COMPORTAMENTO   ADAPTATIVO   =   organização   e   adaptação   sensorio-­‐motora   frente   aos  

estímulos,  estando  intimamente  relacionado  ao  aspecto  cognitivo.    

3.  COMPORTAMENTO  DE   LINGUAGEM  =   comunicação  verbal  e/ou  não-­‐verbal  para  compreensão  e  

expressão.    

4.   COMPORTAMENTO   PESSOAL-­‐SOCIAL   =   reações   da   criança   relacionadas   a   sua   cultura   social  

(influenciadas  pelo  ambiente).  

 

 

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 Vinculação  

Pesquisas   com   tanto   macacos   como   humanos,   indica   como   o   equilíbrio   entre   a   exploração   e   a  

segurança  é  criado  e  mantido,  de  forma  a  permitir  a  continuação  do  desenvolvimento.  

Um   elemento   chave   neste   processo,   é   o   laço   emocional,   denominado   de   vinculação,   sendo   esta  

criada  entre  os  7  a  9  meses  de  idade.    

Teorias  de  Vinculação  

O  facto  de  que  crianças  dos  7-­‐9  meses  de  idade,  em  qualquer  parte  do  mundo,  ficam  tristes  quando  

os   seus   tutores   primários   de   ausentam,   indica   que   a   vinculaçao   é   um   factor   universal   no  

desenvolvimento   humano.   Esta   possibilidade   tem   impulsionado   várias   teorias   explicativas   sobre   a  

vinculação,  de  forma  a  responder  a  questões  como,  as  razões  evolucionárias  da  vinculação,  as  causas  

dos  comportamentos  vinvulativos  ao  longo  do  tempo  e  a  influência  da  qualidade  inicial  de  vinculação  

nas  fases  mais  tardias  de  desenvolvimento.  

Psicanálise  –  Sigmund  Freud  

Sigmund  Freud  acreditava  que  os  humanos,  como  os  restantes  organismos,  são  motivados  em  grande  

parte  por   impulsos  biológicos  –   impulsos  do  organismo  de  satisfação  de  necessidades  básicas  como  

fome,  ou  sede,  criando  tensão  e  um  estado  de  excitamento  no  organismo.  Quando  certa  necessidade  

é  satisfeita,  o  impulso  é  reduzido  e  o  equilibrio  biológico  é  restaurado  e  o  organismo  experiencia  um  

sentimento  de  prazer.  Pode-­‐se  afirmar  desta  maneira,  que  a  procura  de  prazer  é  um  princípio  básico  

da  existência.  

No   que   concerne   a   vinculação,   Fred   afirmava   que   “o   amor   tem   a   sua   origem   na   vinculação   à  

necessidade  satisfeita  de  alimento”.  Assim,  de  acordo  com  Freud,  as  crianças  tornam-­‐se  vinculadas  à  

mãe,  pois  esta  é  a  sua  fonte  mais  segura  e  provável  de  alimento.  

O  maior  problemas  com  esta  explicação  é  a  de  que  a  maior  parte  das  pesquisas  recentes  não  validam  

esta  teoria,  e  pelo  contrário,  refutam-­‐na.  Harlow  conduziu  uma  experiência  com  macacos  de  forma  a  

perceber  se  seria  a  necessidade  de  alimento  ou  necessidade  de  toque  do  tutor  que   impulsionaria  a  

vinculação.  Harlow  concluiu  das  suas  experiências  que  era  a  necessidade  de  toque.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Etologia  –  Konrad  Lorenz  (e  Bowlby)  

Konrad   Lorenz:   A   natureza   inata   da   vinculação   foi   ilustrada   por   Lorenz   nos   seus   estudos   sobre  

“imprinting”  em  gansos.  Lorenz  organizou  2  grupos  de  ovos  de  gansos,  onde  um  grupo  permaneceria  

com   a   sua   mãe   biológica   e   o   outro   numa   incubadora   artificial.   A   primeira   coisa   que   o   grupo   da  

incubadora   visse  a  mexer-­‐se   foi   Lorenz,   sendo  que  os  pequenos  gansos   começaram  a   segui-­‐lo   logo  

quando  eclodiram.  Quando  os  2  grupos  se  juntavam,  rapidamente  se  separavam  nos  grupos  originais,  

onde  o  grupo  da  incubadora  seguia  Lorenz  e  o  outro  a  mãe  biológica.  Lorenz  demonstrou  a  existência  

d  periodos  críticos  de  desenvolvimento,  onde  o  individuo  tem  de  adquiri  uma  certa  capacidade,  caso  

isto  falhe  em  acontecer,  dá-­‐se  uma  perda  no  desenvolvimento  do  individuo  irreversivel.  

 

John  Bowlby  estudou  crianças  britânicas  que  ficaram  orfãs  após  a  Segunda  Guerra  Mundial.    

As   suas   observações   indicaram   que   quando   as   crianças   se   separavam   das   suas   mães,   sentiam-­‐se  

aterrorizados,   chorando   e   tentando   escapar   do   seu   ambiente.   Num   segundo   momento,   sentiam  

bastante  desepero  e  depressão.  Caso  a  separação  continuasse,  e  nenhuma  outra  relação  estável  de  

vinculação   fosse   formada,   as   crianças   tornar-­‐se-­‐ião   indiferentes   às   outras   pessoas.   Bowlby  

denominou  este  estado  de  indiferença  como  desapego.    

Bowlby   foi   influenciado  pelo   trabalho  de  etólogos,  que  enfatizam  uma  abordagem  evolucionária  ao  

entendimento  do  comportamento  humano.  

Estudos  etológicos  com  macacos  revelaram  que   infantes  destas  espécies  passam  as  suas  semanas  e  

meses   iniciais   em   contacto   directo,   quase   constante,   com   as   suas  mães   biológicas.   Estes   primatas  

infantis  demonstraram  respostas  vinculativas,   similares  às  dos  humanos,  como:  chupar,  chorar,  etc.  

Após  algumas  semanas  ou  mese,  os  infantes  começam  a  explorar  o  mundo  exterior,  contudo,  quando  

se   deparam   com  alguma   situação  desagradável,   voltam  para   junto   da  mãe.   Estes   comportamentos  

primatas  são  as  bases  evolucionárias  para  o  desenvolvimento  de  vinculação  humana.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Psicologia  Comparada  –  Harry  Harlow  

Em   contraste   com  a   teoria   freudiana,  Harlow   encontraram,   em   suas   experiências,   suporte   à   teoria  

etológica  de  Bowlby.  

Sabendo   que   os   bebés,   tanto   humanos   como   primatas,   fogem   para   junto   da   mãe   em   situações  

problemáticas,   Harlow   criou   uma   situação   onde   o   bebé   primata   iria   a   fugir   para   a   sua   “mãe”    

simbólica.  

Este  colocou  cada  macaco  ao  pé  de  um  peluch  que  fazia  muito  barulho.  Os  bebés  fugiram  para  junto  

da  sua  “mãe”  –  sendo  que  existiam  2  opções  onde,  uma  era  constituida  por  arame  e  teria  um  biberão  

com  leite  acessível  ao  bebé  e  outra  seria  também  de  arame,  mas  estaria  revestida  por  um  pano  com  

textura  agradável,  mas  sem  biberão  de  leite.  Harlow  notou  que  os  bebés  fugiram  para  ao  pé  da  “mãe”  

revestida  por  tecido,  sendo  que  devido  ao  tecido,  os  bebés  acalmaram-­‐se.    

 

Harlow  concluíu  que  sensações  tactuais  agradáveis  ofereciam  ao  bebé  um  sentimento  de  segurança,  

sendo  assim  mais  importante  à  vinculação  que  a  comida.  

No   entanto   Harlow   conlcluiu   também   que,   embora   o   toque   seja   um   factor   crucial   no   processo  

vinculativo,   não   o   era,   por   si   só,   suficiente.   Á   medida   que   os   macacos   se   desenvolviam,   estes  

comportavam-­‐se   de   modo   agressivo   ou   indiferente   com   os   outros   macacos   e   não   copulavam   de  

forma  normal.  

Em  suma,  Harlow  e  colegas  concluíram  que  o  conforto  fisico  providenciado  pela  “mãe”,  não  produz  

um  indivíduo  adolescente  ou  adulto  normal  e  funcional.  Aplicando  o  principio  de  intersubjectividade,  

parece   ser   que   a   ausência   de   um   parceiro   social   responsável   e   sensível   interfere   com   o  

estabelecimento   de   uma   relação   emocional   mãe-­‐bebé,   sendo   esta   tão   crítica   para   um  

desenvolvimento  emocional  e  social  saudável.    

Funções  da  Vinculação  

Função  biológica  

• Manutenção  da  proximidade  conforto/  proteção;  

 Função  psicológica  

• Construção  de  base  segura  (necessária  à  exploração  do  meio);    

• Construção  de  modelo  interno  (modelo  para  futuras  relações);  

Aspectos  Básicos  da  Vinculação  

•  Seletiva  

•  Segurança  

•  Proximidade-­‐exploração  

Modelos  Internos  

Modelo  mental  

•  Construído  a  partir  da  experiência  com  o  prestador  de  cuidados  

•  Guia  comportamento  para  as  relações  interpessoais  

 

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Comportamentos  Vinculativos  

Sinalização:  Chorar,Sorrir,  Vocalizar;  

Aproximação:  Seguir,  Agarrar,  Trepar;  

 

Glossário  Bowlby  

Base  segura:  Os  indivíduos  cuja  presença  oferece  à  criança  segurança  aquando  explora  o  mundo;  

Modelo  Mental   Interno:  Um  modelo  mental  onde  as  crianças  constróem,  como  resultado  das  suas  

experiências  com  os  seus  tutores,  de  forma  a  guiá-­‐los  em  suas  interacções  diárias;  

Situação  Estranha:  Procedimento  elaborado  de  forma  a  avaliar  o  apego  de  uma  criança,  tendo  como  

base  a  utilização  da   sua  mãe   como  uma  base   segura  de  exploração,   as   suas   reacções  aquando   são  

deixadas  sozinhas  com  um  estranho  e  depois  completamente  sozinhas,  como  também  a  sua  resposta  

aquando  são  reunidos  com  a  mãe.  

 

Fases  de  Vinculação  

• Fase  indiscriminada,  0-­‐2  meses  :  nas  primeiras  semanas  de  vida,  os  neonatos  permanecem  

em  contacto  próximo  com  os  seus  tutores  primários,  não  se  tornando  tristes  quando  estes  se  

ausentam;  

• Fase  de  reconhecimento  da  figura  materna  (medo  de  estranhos),  2-­‐7  meses  :  Os  neonatos  

começam  a  responder  de  forma  distinta  a  rostos  familiares  e  estranhos;  

• Fase  de  Vinculação,  -­‐7  meses:  Durante  este  período,  a  mãe  torna-­‐se  numa  base  segura.  É  

também  neste  periodo  que  o  neonato  experiencia  ansiedade  por  separação,  tornando-­‐se  

triste  quando  a  mãe  se  ausenta.  Aquando  esta  fase  é  alcançada,  a  vinculação  regula  a  relação  

emocional  e  física  entre  a  criança  e  a  quem  está  vinculada.    

 

Aquando   alcançada,   uma   vinculação   firme  ajuda  os   infantes   a   sentirem   constantes   sentimentos  de  

segurança  à  medida  que  passam  mais  tempo  longe  dos  tutores.  Note-­‐se  que  esta  fase  desenvolve-­‐se  

ao   mesmo   tempo   que   a   emergência   das   representações   mentais.   Bowlby   acreditava   que   como  

consequência   das   crescentes   capacidades   simbólicas   dos   infantes,   que   a   vinculação   mãe-­‐bebé  

começaria   a   servir   como   um   modelo   interno   funcional,   i.e.   um   modelo   mental   que   as   crianças  

constroem   como   resultado   das   suas   experiências,   utilizando   este   modelo   como   um   guia   na   sua  

interacção  com  os  outros.  

 

 

 

 

 

 

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Tipos  e  Padrões  de  Vinculação  

Que  tipos  de  interacção  entre  a  criança  e  os  seus  tutore  primários,  providenciam  a  base  mais  eficaz  

para   um   desenvolvimento   suadável   de   relações   humanas.   Embora   não   existam   indivíduos   iguais,  

vários   académicos   acreditam   que   é   possível   identificar   padrões   gerais   de   vinculação,   entre  mãe   e  

bebé,  que  sejam  mais  inducentes  de  um  desenvolvimento  saudável.  

 

As  pesquisas  actuais  em  tais  padrões,  foi  fortemente  influenciado  pelo  trabalho  de  Mary  Ainsworth.    

Com   base   nas   suas   observações,   de   relações   mãe-­‐bebé   nos   países   de   Uganda   e   E.U.A,   Ainsworth  

concluiu  que  existem  padrões  consistentes,  estáveis  e  distintos  de  vindulação,  durante  o  2º  e  3º  ano  

de  vida  do  neonato.  

Ainsworth  afirmava  que  de  forma  a  alcançar  uma  relação  vinculativa  segura,  entre  mãe  e  bebé,  teria  

que   existir   sensibilidade  materna.   O   conceito   de   sensibilidade  materna   foi   definido   por   Ainsworth  

como   “   a   capacidade   materna   em   percepcionar   e   interpretar   de   forma   correcta,   os   sinais   e  

comunicações  do  seu  infante,  respondendo  depois  de  forma  apropriada”.  

 

De   forma   a   testar   a   segurança   da   relação   mãe/criança,   Ainsworth   elaborou   um   procedimento  

denominado  de  “Situação  Estranha”.    

Tendo   lugar  num   laboratório   com  brinquedos,  o  procedimento  consiste  em  8  breves  episódios,  em  

ordem  sequencial,  que  incluem  situações  como:  

1. Criança  encontra-­‐se  na  presença  da  mãe;  

2. Criança  encontra-­‐se  na  presença  da  mãe  e  de  um  estranho;  

3. Criança  encontra-­‐se  na  presença  apenas  de  um  estranho;  

4. Criança  encontra-­‐se  sozinha;  

5. Criança  é  reunida  com  a  mãe.  

 

O  fim  deste  procedimento,  é  o  de  observar  como  os  infantes  utilizam  a  presença  da  mãe  como  uma  

base   segura,   de   forma   a   poderem   explorar   a   sala,   como   respondem   à   separação   da  mãe   e   como  

respondem  à  presença  de  um  estranho.  Ainsworth  preveu  que  diferentes  padrões  de  reacção   iriam  

reflectir  qualidades  diferentes  na  relação  vinculativa.  

 

 

 

 

 

 

 

 

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  38  

A   partir   dos   resultados   obtidos,   Ainswort   categorizou   as   respotas   dos   infantes   em   3   tipos   de  

vinculação:  

• Vinculação  Segura:  Padrão  de  vinculação  onde  a  criança  brinca  confortavelmente  e  reage  de  

forma   positiva   a   um   estranho,   desde   que   a   mãe   se   encontre   presente.   A   criança   fica  

perturbada  aquando  a  mãe  se  ausenta  da  sala,  e  é  improvável  que  se  acalme.  Só  se  acalma  

quando  a  mãe  reaparece;  

• Vinculação   Evitante:  Padrão  de   vinculação  onde  a   criança  é   indiferente   à  mãe,   poderá  ou  

não  chorar  na  ausência  da  mãe.  É  tão  provável  ser  consolado  pela  mãe  ou  por  um  estranho.  

Respondem  de  forma  indiferente  quando  a  mãe  reaparece;  

• Vinculação   Ambivalente:   Padrão  de   vinculação  onde   a   criança  não   se  distancia   da  mãe,   e  

simultaneamente,   mostra-­‐se   ansiosa   na   presença   da   mesma.   Tornam-­‐se   bastante  

perturbados   na   ausência   da   mãe,   mas   não   são   confortados   quando   esta   reaparece.  

Procuram  simultaneamente  contacto  com  a  mãe,  contudo,  resistem  às  tentativas  da  mãe  de  

consolo.  

 

Destas  forma,  a  relação  vinculativa  torna-­‐se  mais  complexa,  levantando  questões  como:  O  que  causa  

a  variação  em  tipos  de  vinculação  ?  Será  que  estas  variações  têm  consequências  em  fases  mais  tardias  

de  desenvolvimento  ?  

 

Modelos  Internos  

 

A  maneira  como  as  relações  vinculativas  são  eficazes  em  criar  bases  seguras  depende,  não  apenas  no  

comportamento  dos  parceiros  vinculativos  (mãe,  pai  ou  tutore  primário),  como  também  na  tradução  

dos  seus  padrões  de  interacção  em  representações  mentais,  ou,  modelos  internos.  

Os  modelos   internos  do   self   e  do  outro,   em   relações   vinculativas   ajuda  os  membros  de  uma  díade  

vinculativa  a  anteverem,  interpretarem  e  guiarem  as  suas  interacções  com  os  seus  parceiros.  

 

Durante   o   curso   de   desenvolvimento   ,   os   modelos   internos   dos   infantes   tornam-­‐se   gradualmente  

mais   complexos   e   manipuláveis   mentalmente,   pemitindo   não   só   previsões   a   curto   prazo,   como  

também  reflexões  sobre  relações  actuais,  passadas  e  futuras,  através  de  simulações  internas.  

 

O   termo   “modelo   interno”   implica   um   sistema   representacional   que   nos   permite,   por   exemplo,  

imaginar  interacções  com  outros,  baseados  nas  nossas  experiências  com  estes.  

 

Bowlby   postulou   que   os   modelos   internos   de   vinculação   de   uma   criança   são   baseados   “em  

experiências   reais,   de   interacções   quotidianas   com   os   pais”,   sendo   assim   modelos   internos  

direccionados   a   relações.   Para   além   disto,   dado   que   são   construidos   com   base   em   relações  

Page 39: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  39  

interpessoais,   modelos   de   self   e   figuras   de   vinculação,   que   irão   reflectir   como   a   criança   se  

percepciona  e  sente  (pais  amam  e  protegem,  consequentemente,  self  é  amado  e  protegido).  

 

“Nos  modelos   internos   que   cada   um   de   nós   constrói,   uma   característica   chave   é   a   nossa   noção   de  

quem   são   as   figuras   de   vinculação,   onde   poderão   ser   encontradas   e   como   será   esperado   estas  

responderem.   De   forma   similar,   no   modelo   interno   do   self,   que   cada   um   de   nós   constrói,   uma  

característica   chave   é   a   noção   do   quão   aceitável   ou   inaceitável   o   self   é   aos   olhos   das   suas   figuras  

vinculativas.   A   estrutura   deste   modelos   são   baseados   nas   previsões   do   indivíduo   sobre   o   quão  

accessíveis  as  suas  figuras  de  vinculação  são,  caso  o  indivíduo  necessite  de  lhes  pedir  ajuda.  “  

 

Em  suma,  os  modelos   internos  de  self  e   figuras  vinculativas  representam  os  dois   lados  da  relação  e  

irão  influenciar  drasticamente  os  padrões  de  vinculação  do  indivíduo.  

 

Modelos  Intenos  Múltiplos  

(Importância  da  primeira  relação  afetiva  como  modelo  interno)  

 

A  partir  da  sua  teoria  de  modelos  internos,  e  suas  implicações  nas  relações  de  vinculação  da  criança,  

Bowlby  identifica  3  tipos  de  modelos  internos,  associados  a  tipos  de  vinculação  existentes.  

Bolwby  postula  que  uma  criança  irá  ter  múltiplas  relações  de  vinculação,  contudo  existe  um  modelo  

interno  onde  a  criança  criará  uma  relação  vinculativa  com  o  seu  tutor  primário,  denominando-­‐se  de  

modelo  monotrópico.    

 

Embora  a  criança  se  vincule  primariamente  ao  seu  tutor  primário,  Bolwby  defende  a  existência  de  um  

modelo  hierárquico   composto  por  outras   figuras  de   vinculação  e   suas   relações   com  a   criança.   Esta  

hierarquia   será  definida  por   factores  como,  quem  passa  mais   tempo  com  a  criança,  a  qualidade  de  

cuidado  que  a  figura  oferece,  o  investimento  emocional  do  adulto  na  criança  e  pistas  sociais.    

 

Por   fim,   Bolwby   identifica   um   modelo   integrativo   de   múltiplas   vinculações.   Este   tipo   de   modelo  

interno  de  vinculação,  refere-­‐se  a  2  modelos   internos  de  vinculação  opostos  e  contraditórios,  que  a  

criança   irá   integrar  como  um  único  modelo   interno.  Por  exemplo,  a  relação  vinculativa  com  um  dos  

tutores   poderá   ser   segura   enquanto   a   outra   relação   será   insegura,   criando   assim   um   conflicto   de  

modelos  internos  vinculativos.    

 

 

 

 

Page 40: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  40  

Modelo  Monotrópico  –  a  criança  dá-­‐se  com  outras  pessoas  mas  apenas  estabelece  uma  vinculação  

com  a  mãe.   Segundo  Bowlby,   a   criança   criou  um  modelo   relacional,   um  padrão   interno   através  da  

relação  que  estabelece  com  a  mãe  que  irá  usar  como  referência  para  futuras  relações.  

 

Modelo   Hierárquico   –   não   há   apenas   uma   única   relação   se   vinculação   mas   elas   encontram-­‐se  

hierarquizadas.   A   relação   de   vinculação   com   a  mãe   encontra-­‐se   no   topo,   caso   (excepcionalmente)  

não  seja  com  a  mãe,  há  sempre  uma  relação  de  vinculação  que  se  sobrepõe  às  restantes.  

 

Modelo   Integrativo   –   o   bebé   integra   todas   as   relações   de   vinculação.   Elas   são   interdependentes,  

todas  se  influenciam  mutuamente,  não  há  nenhuma  que  se  sobreponha  às  restantes.  

 

Modelo   Individual   –   o   bebé   estabelece   diferentes   relações   de   vinculação,   mas   estas   são  

independentes,  não  se  condicionam.  Pode  haver  uma  má  qualidade  de  relação  com  a  mãe  e,  uma  boa  

com,  por  exemplo,  a  educadora.  

 

Há  uma  forte  relação  entre  a  qualidade  de  vinculação  e  o  desenvolvimento  social,  quanto  melhor  a  

qualidade   da   vinculação,   melhor   o   desenvolvimento   social,   melhor   auto-­‐estima,   independência,  

confiança  e,  popularidade.  

Os   indivíduos   que   se   revelam   inseguros   e   independentes   são   os  menos   competentes   socialmente.  

Não  foram  capazes  de  criar  um  modelo  interno  de  referência  para  outras  relações.    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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  41  

Efeitos  a  Longo  Prazo  

Qualidade  da  Vinculação  e  Socialização  

Existem  várias  razões  teóricas  para  esperar  uma  associação  entre  a  segurança  da  vinculação  com  os  

cuidadores   primários   e   a   qualidade   das   relações   da   criança   com   outras   pessoas   nomeadamente  

através   da   construção   de   modelos   internos   dinâmicos.   Crianças   com   vinculação   segura   podem  

construir   modelos   internos   dinâmicos   caracterizados   por   expectativas   sociais   positivas   para   as  

relações.  Simultaneamente  o  fenómeno  da  “base  segura”  pode  promover  a  exploração  do  meio  e  as  

interacções   com   novas   crianças,   representando   oportunidades   para   exercer   e   desenvolver  

competências  sociais  gerais.    

Uma   vinculação   segura   pode   determinar   uma   boa   auto-­‐estima   e   sentimentos   de   eficácia,   o   que  

combinado  com  a  aprendizagem  de   interacções   recíprocas   satisfatórias  nas   relações  precoces  pode  

resultar  numa  tendência  a  obter  respostas  positivas  dos  pares  e  a  formar  laços  de  amizade.    

Desta   forma,   vários   podem   ser   os   processos   que   podem   ligar   causalmente   os   fenómenos   de  

vinculação  aos  pais  e  a  relação  da  criança  com  as  outras  crianças.    

Sendo   assim   os   efeitos   de   uma   vinculação   segura   influenciam   4   dimensões:   1)   modelos   internos  

dinâmicos,   2)   imagem   de   si   e   auto-­‐estima,   3)   regulação   emocional,   de   forma   a   confiar   e   ser  

independente  4)  competências  sociais  bem  adaptadas.  

 

Consequências  cognitivas  e  sociais  de  uma  vinculação  segura  

Observa-­‐se  um  consenso  geral  em  que  uma  relação  vinculativa  segura  é  crucial,  não  só  ao  bem  estar  

do  infante,  como  também  para  a  qualidade  das  suas  futuras  relações.  

Apoiando  esta  afirmação,  Alan  Soufre  afirmou  que  crianças  observadas  com  uma  vinculação  segura  

aos  12  meses  de  idade  e  que  são  novamente  avaliadas  aos  3  anos  e  meio  de  idade,  são  observadas  

como  sendo  mais  curiosas,  bricam  mais  eficazmente  com  os  seus  pares  e  possuem  melhores  relações  

com   os   seus   professores,   em   contraste   com   as   crianças   de   vinculação   insegura   (evitante   ou  

ambivalente).  Em  observações  posteriores,  aos  10  anos  de  idade  e  depois  novamente  aos  15  anos  de  

idade,   investigadores   observaram   que   as   crianças   ditas   de   uma   vinculação   segura   na   sua   infância,  

eram   mais   habilidosos   socialmente,   tinham   mais   amigos,   demonstravam   mais   auto-­‐confiança   e  

estavam  mais  disponíveis  em  partilharem  os  seus  sentimentos.  

 

Estudos  longitudinais  mais  recentes  sugerem  também  a  continuidade  dos  padrões  de  vinculação,  da  

infância   à   idade   adulta.    Everett  Waters,  num  dos   seus   estudos,   indicou  que  no  que   concerne   aos  

padrões   de   vinculação,   em   adultos,   72%   da   amostra,   foi   categorizada   da   mesma   forma   que  

inicialmente   (na   infância).   Em   relação   à   minoria,   que   mudou   de   vinculação   segura   para   insegura,  

observou-­‐se  pelo  menos  um  evento  traumático  (abuso  sexual;  doença,  morte  de  um  familiar;  doença  

mental  parental;  divórcio  parental)  após  a  avaliação  inicial.    

 

Page 42: Apontamentos Psi Desenvolvimento

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Métodos  de  Avaliação  de  Vinculação  

 

Situação  Estranha  

Neste  procedimento,   criado  por  Mary  Ainsworth,  a  avaliação  de  vinculação  é   realizada  em   infantes  

dos   12   a   20   meses   de   idade.   Trata-­‐se   de   um   procedimento   laboratorial,   elaborado   de   forma   a  

capturar  o  balanço  entre  comportamentos  vinculativos  e  exploratórios,  sob  condições  que  aumenta  

gradualmente  em  stress.  

O  sistema  de  Ainsworth  providencia  instruções  de  forma  a  classificar  a  relação  vinculativa  do  infante  

em  3  grupos  gerais:  um  grupo  seguro  e  2  grupos  inseguros,  neste  caso,  evitante  ou  ambivalente.  

A  classificação  é  baseada  no  comportamento  do  infante  em  relação  ao  tutor  ou  estranho,  durante  8  

episódios  de  reunião.    

Uma  das   contribuições  mais   significativas  deste  método,   provém  do   reconhcimento  de  padrões  ou  

tipos   de   vinculação,   permitindo   assim   a   investigadores   descreverem   e   explicarem   diferenças  

individuais,  de  forma  a  prever  resultados  de  desevnvolvimento  em  fases  mais  tardias.  

 

Q-­‐Sort  

Q-­‐Sort  é  um  método  de  avaliação  de  vinculação  utilizado,  de  forma  avaliar  crianças  dos  12  a  48  meses  

de  idade.  Este  método  foi  desenvolvido  por  Waters  e  Deane,  sendo  composto  por  numerosas  cartas  

(75,  90  ou  100).  Aquando  utilizando  este  método,  um  único  observador  treinado,  utiliza  estas  cartas  

de   forma   a   pontuar   o   comportamento   de   uma   criança,   após   várias   horas   de   observação  

(recomendam-­‐se  vários  períodos   intercalados  de  observação,   com  uma  duração  média  de  3  horas),  

em  múltiplos   contextos.  Após   concluida  a  observação  do   sujeito,   as   cartas   são  avaliadas  de  acordo  

com  um  espectro.  Cada  carta  é  colocada  em  um  ou  mais  montes,  de  acordo  com  as  caracteristicas  

observadas   na   criança.   Assim,   uma   vez   que   as   cartas   tenham   sido   avaliadas,   o   resultado   final   é  

comparado  a  resultados  típicos  de  crianças  de  vinculação  segura.  

Uma   correlação   perfeitamente   positiva   indica   uma   vinculação   segura,   em   contraste   com   uma  

correlação  perfeitamente  negativa,  indicadora  de  uma  vinculação  insegura.    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 43: Apontamentos Psi Desenvolvimento

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Adult  Attachment  Interview  

 

O  Adult  Attachement  Interview  (AAI)  é  um  método  de  classificação  do  estado  mental,  composto  por  

uma  entrevista  semi-­‐estruturada,  utilizada  de  forma  a  classificar  o  estado  mental,  no  que  concerne  à  

vinculação  em  adultos.  Estas  classificações  são  as  seguintes:  seguro-­‐autónomo,  omisso,  preocupado  e  

desorganizado.  A  entrevista  consiste  em  20  questões,   focando-­‐se  nas  relações  com  pais  e  ambiente  

familiar,  tendo  uma  duração  de  45  a  90  minutos.  

O  AAI   foi  desenvolvido  como  uma  avaliação  narrativa  do  estado  mendal  adulto,  no  que   respeita  às  

suas   figuras  de  vinculação  e  padrões  de  organização  de  experiências.    De   forma   interessante,  o  AAI  

tem  em  conta  a  forma  como  a  narrativa    do  participante  é  apresentada,  focando-­‐se  assim  em  pausas,  

escolha  de  vocabulário  etc.  

Este  método  avaliativo  é   capaz  de  prever   a  qualidade  de   vinculação  entre   adultos  e  os   seus   filhos,  

reflectindo   também   a   qualidade   parental   que   o   adulto   tem   a   oferecer.   Esta   factor   poderá   ter   um  

grande   impacto   em   várias   famílias,   alertando-­‐as   das   suas   falhas   nas   relações   vinculativas   que  

possuem,  ajudando  assim  interromper  a  transmissão  de  relações  vinculativas  inseguras.    

 

Attachment  Story  Completion  Protocolo  

O  ASCT   procura   captar   diferenças   individuais   na   forma   como   as   crianças   constroem   narrativas   em  

torno  de   cenários  do  quotidiano   familiar   relacionados   com  a  vinculação,   sendo  hipotetizado  que,   a  

partir  das  respostas  dadas,  é  possível   inferir  sobre  a  qualidade  dos  MID  emergentes.  Aplicável  entre  

os  3  anos  e  os  6  anos,  sendo  que  consiste  numa  entrevista  de  cerca  de  30  minutos,  durante  a  qual,  

com   a   ajuda   de   uma   família   de   pequenas   figuras   moldáveis   (i.e.   pai,   mãe,   filho   “protagonista”   e  

respectivo  irmão/ã,  ambos  do  mesmo  género  da  criança  entrevistada),  são  apresentados  6  inícios  de  

histórias,  sendo  pedido  à  criança  que,  ilustrando  as  interacções  entre  as  personagens,  complete  cada  

história   livremente.     Cada   uma   das   instruções   do   ASCT   foi   construída   de   modo   a   evocar   uma  

problemática  distinta:  figura  de  vinculação  em  situação  de  autoridade  face  a  um  percalço  acidental  da  

criança   (Sumo   Entornado);   activação   do   sistema   de   vinculação   e   resposta   parental   à   dor   (Joelho  

Magoado)   e   ao   medo   (Monstro   no   Quarto)   da   criança;   ansiedade   de   separação   e   capacidade   de  

coping  com  um  cuidador  substituto  (Partida)  e  tonalidade  afectiva  da  reunião  familiar  (Reencontro).  

Uma   instrução   adicional   neutra   (Bolo   de  Aniversário)   é   adminis43rada   inicialmente,   para   assegurar  

que  a  criança  compreende  o  procedimento,  mas  não  é  cotada.    

 

 

 

 

   

 

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Vinculação/separação    

Três   fases   características   que   ocorrem   face   à   separação   materna   (Bowlby,   1969;   1973;   1980)   –  

dependem  do  dramatismo  da  separação:  

1. Protesto   –   caracterizada   por   uma   grande   actividade   (choro,   grito,  movimento,   etc.).   Ao   ver   a  

figura   vinculativa   sair  mostra  desagrado.  Não   se  deixa   confortar  por  outros  e,   está   sempre  na  

expectativa  que  essa   figura  volte,  daí  a  agitação.  A  separação   foi   claramente   incómoda  para  a  

criança.  Se  a  qualidade  de  vinculação  for  boa,  nesta  fase  o  estranho  não  é  capaz  de  a  acalmar.  

2. Apatia   –   segue-­‐se   uma   fase   de   apatia   em  que   a   criança   se   torna   inactiva.   A   criança   continua  

triste   (paralelismo   com   um   estado   de   luto)   mas,   acha   que   já   não   vale   a   pena   protestar.  

Transmite   a   sensação   de   que   se   organizou,   mas   isso   não   é   verdade   ela   está   deprimida   ou  

mesmo,   desesperada.   Nesta   fase,   quando   a   mãe   volta   a   sua   presença   não   lhe   é   indiferente,  

ainda  não  se  desvinculou  e  espera  que  ela  volte.  

3.    –  a  criança  desiste  da   figura  vinculativa.  Se  ela  não  regressa  depressa,  a  criança  acaba  por  se  

desvincular.   Passa   a   olhar   para   essa   figura   de   forma   neutra,   não   há   vinculação.   Torna-­‐se  

independente  e  começa  a  explorar  o  meio  de  outra  forma.  Esta  desvinculação  não  é  irreversível.  

Esta  desvinculação  pode  ser  vista  como  um  comportamento  adaptativo,  na  medida  em  que,  se  a  

mãe  a  abandona,  este  comportamento  torna-­‐a  disponível  para  se  vincular  a  outra  pessoa.  

Separação  vs  Privação  

� Separação   pressupõe  que   há   uma   ausência   da   figura   vinculativa,  mas   que   a   criança   não   é  

privada  dos  cuidados  maternos.  Há  alguém  que  toma  o  lugar  da  mãe  e  cuida  da  criança  

� Privação  pressupõe,  para  além  da  ausência  da  figura  vinculativa,  uma  privação  dos  cuidados.  

As  consequências  neste  caso  são  mais  graves  do  que  na  separação.  

Separação  

Qual  o  impacto  da  separação?  

� Curto   prazo/temporária:   manifesta   algum   stress,   a   recuperação   depende   dos   factores  

citados  e  da  atitude  da  mãe.  Exemplo:  creche,  hospitalizações,  etc.  No  caso  da  creche,  se  a  

mãe  estabelecer  uma  relação  próxima  com  a  educadora  transmite  segurança  à  criança.  Se  a  

mãe  se  sente  segura  na  creche  a  criança  também.  A  criança  pode  ainda  estabelecer  uma  boa  

qualidade  de  vinculação  com  a  educadora.  

� Separações   longas  ou  múltiplas:  se  for  superior  a  6  meses,  em  princípio,  não  há  problema.  

Bowlby   referiu   um   grande   número   de   casos   de   delinquência   e   transtornos   afectivos  

relacionados   com   separações,   pela   ausência   da   figura   vinculativa   e,   de   um   quadro   de  

referência   que   lhe   transmita   um   modelo   de   comportamento.   Exemplo:   adopção,  

institucionalização,  etc.    

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  45  

Que   variáveis   devemos   ter   em   conta?   Uma   separação   inferior   a   6  meses,   em   princípio,   não   traz  

danos   irreversíveis,  ou  seja,  não  afecta  o  desenvolvimento  da  criança.  É  necessário,  no  entanto,   ter  

em  consideração  as  características  da  criança,  da  mãe,  a  altura  em  que  ocorre  a  separação,  o  tipo  de  

separação,  como  era  a  relação  de  vinculação  antes  da  separação,  a  qualidade  dos  cuidados  maternos  

(quanto  mais  estável  for  o  comportamento  materno/paterno,  melhor),  etc.  

Privação  

� Atrasos  cognitivos  e  ao  nível  da  linguagem  

� Problemas  ao  nível  do  peso  

� Depressão  no  estado  adulto  

� Transtornos  afectivos  

 

Self  –  Auto-­‐Conceito  de  Identidade  

Por  altura  dos  6  meses  de  idade,  os  infantes  já  adquiriram  uma  grande  quantidade  de  experiência  ao  

interargir   com   objectos   e   pessoas,   desenvolvendo,   como   resultado,   um   sentido   de   “self”   ou   auto-­‐

identidade.  Tendo  um  sentido  de  “self”  mais  explicito,  separado  de  outros,  promove  novas  formas  de  

relações   sociais.  Os   infantes   nesta   idade   começam  a   aprender   que   podem  partilhar   e   comparar   as  

suas   próprias   experiências   com   os   outros,   especialmente   com   a   emergência   da   utilização   da  

linguagem.  

 

Auto-­‐Reconhecimento  

A   consciência   do   self   tem   sido   proposta   como   a   grande   diferença   que   nos   distingue   dos   restantes  

animais,  contudo,  as  evidências  apontam  para  o  contrário.  

 

Gordon   Gallup   argumentou   que   uma   forma   de   autoconsciência   é   a   aparente   capacidade   de   um  

individuo   em   se   reconhecer   visualmente   num   espelho.   Assim,   Gallup   elaborou   uma   série   de  

experiências   com   chimpazés   adolescentes,   expondo-­‐os   a   um   espelho   regularmente.   Pouco   tempo  

depois,   observou-­‐se   que   os   chimpazés   utilizavam   o   espelho   apropriadamente,   utilizando-­‐o   para  

limparem  a  cara,  etc.  Gallup  concluiu  que  os  chimpazés  aprenderam  a  reconhecerem-­‐se  ao  espelho.  

 

Desta   forma,   com   subsequentes   estudos,   identificaram-­‐se   várias   etapas   na   aprendizagem   de  

reconhecimento  do  “self”:  

 

• 0  -­‐  3  Meses:  

o Pouco  interesse  pela  imagem  refletida  pelo  espelho  

 

 

 

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  46  

• 4-­‐10  Meses:  

o Procuram  agarrar  e   tocar  objetos  e  pessoas  no  espelho;  não  compreendem  que  é  

uma  imagem  refletida  

 

• 10  Meses:  

o Agarram  o  objeto  atrás  de  si  enquanto  olham  para  o  espelho;  não  reagem  ao  sinal  

vermelho  colocado  na  teste  ou  nariz  

 

• 18  Meses:  

o Tocam  nos  narizes:  capacidade  de  se  reconhecerem  a  si  próprias  no  espelho  

 

Self  como  Agente  

Apartir  dos  18  a  24  meses  de  idade,  por  volta  do  mesmo  periodo  onde  as  crianças  começam  a  utilizar  

produções  telegráficas  de  frases  (frases  de  duas  palavras),  estas  também  começam  a  descrever  o  seu  

próprio   comportamento   –   “o   joão   fez!”   –   A   produção   destas   frases   demonstra   que   as   crianças  

começam   a   referir-­‐se   a   si   próprias   como   agentes   que   exercem   controlo   e   poder   sobre   os   seus  

ambientes.  

Self  –  sentido  do  “eu”    

Modelos   internos:   a   criança   constrói   representações   de   si   própria   e   do   outro   que   regulam   o  

comportamento  interpessoal.  

Permite  ao  indivíduo  adoptar  uma  posição  a  partir  da  qual  tem  uma  visão  do  mundo.  Self:  

o Medeia  a  experiência  social;  

o Organiza  o  comportamento  em  relação  aos  outros;  

o Determina  o  modo  como  se  interpreta  a  realidade;  

o Decide  as  experiências  que  se  procuram  (corresponder  a  auto-­‐imagem)  

O  Self  ou  auto-­‐conceito  é  a  imagem  do  que  acreditamos  ser.  Pode  ser  descrito  como  o  produto  dos  

esforços   de   formação.   Refere-­‐se   aos   aspectos   cognitivos   da   auto-­‐estima.   Exprime   o   conhecimento  

subjectivo   que   o   indivíduo   tem   de   si   próprio,   enquanto   ser   físico   e   psicológico.   É   um   produto   do  

biológico  (genético),  social  e  cultural.  É  um  produto  dinâmico  que  vai  sofrendo  alterações,  é  afectado  

pelas  experiências  da  vida.  

 

 

 

 

Page 47: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  47  

O  “eu”  é  o  mais  privado  dos  aspectos  da  identidade.  É  um  sistema  complexo  de  diferentes  facetas,  de  

acordo  com  a  situação  e  papel  que  desempenho  salientam-­‐se  diferentes  atributos  do  self.  2  tipos  de  

“eu”:  

� Eu  existencial  

§ 3  meses:  sentido  primitivo  de  separação  

§ 9  meses:  sentido  de  continuidade  (na  separação)  

§ 2  anos:  auto-­‐percepção  (auto-­‐reconhecimento  visual)  

� Eu   Conceptual:   capacidade  de   as   crianças   se  definirem  a   si   próprias   em   termos  de   categorias  

(idade,  sexo,  tamanho,…)  

Desenvolvimento  do  Auto-­‐conceito  

De  �  a   Descrição  

Simples     Diferenciado     De   conceitos   globais   (crianças   mais   novas)   a   definições   mais  

minuciosas   e   que   consideram   as   circunstâncias   (crianças   mais  

velhas).    

Inconsistente     Consistente     Alterações  da  auto-­‐avaliação  para  uma  maior  estabilidade  no  auto-­‐

conceito.  

Concreto     Abstracto     Dos  aspectos  exteriores,  visíveis  e  físicos  para  os  aspectos  interiores,  

invisíveis  e  psicológicos.  

Absoluto     Comparativo     O   eu   sem  os   outros   como   referência   até   uma   comparação   com  os  

outros.  

Eu  público   Eu  privado   As   mais   novas   não   distinguem   entre   os   sentimentos   privados   e   o  

comportamento   público.   As   mais   velhas   consideram   o   eu   privado  

como  o  “verdadeiro  eu”.    

 

Auto-­‐estima  

Sentimentos  de  um  sujeito  acerca  do  seu  próprio  valor  e  competência.  Tem  impacto  no  seu  estado  

emocional.  

Comparações  com  o  eu  ideal:    

§ baixa  auto-­‐estima  (grande  discrepância  com  o  “eu-­‐ideal”)  

§ alta  auto-­‐estima  (pouca  discrepância  com  o  “eu-­‐ideal”)  

§ Volúvel:  

� Controlo  constante  do  comportamento;  

� Avaliação  perante  padrões.  

� 7/8   anos:   distanciamento   suficiente   para   a   auto-­‐avaliação   no   desempenho   de  

diferentes  funções  e  em  diferentes  domínios.  

A  auto-­‐estima  parece  depender  da  relação  com  os  pais,  do  apoio  social  e,  de  uma  influência  genética.    

 

Page 48: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  48  

Diferenças  individuais  

� Comportamento   parental   (vinculação,   etc)   –  mensagem  que   passa   para   as   crianças   da   forma  

como   a   figura   de   autoridade   (pais,   professores,   etc.)   transmite   valores.   Se   esses   valores   não  

correspondem   aos   comportamentos   expectáveis,   as   crianças   podem   sentir   um   desajuste.   Os  

próprios  valores  dos  pais  são  considerados  mais  tarde  na  adolescência.  A  vinculação  surge  como  

um  modelo  de  interacção  com  os  outros.  

� Companheiros   (ser  popular)  –  o  facto  de  ser  popular  pode  condicionar  a  forma  como  me  vejo.  

Sentir  que  os  outros  me  acolhem  bem  vai  potenciar  a  minha  auto-­‐estima  e  o  meu  desempenho.  

A   forma  como  me  valorizo   também  é   influenciada,   sinto-­‐me  escolhido.  Se,  pelo  contrário,   sou  

sempre   o   que   fica   para   trás,   isso   vai   prejudicar   a  minha   auto-­‐estima.   Estas   situações   podem  

ocorrer   desde   muito   cedo   o   que,   vai   prejudicar   o   desenvolvimento   de   algumas   áreas   de  

competências.  

O  “eu”  emocional  

� Quando  o  eu  avalia  o  eu:  emoções  (vergonha,  orgulho)  

§ Até  aos  2  anos:  tira  prazer  da  sua  realização  mas  não  dá  atenção  às  reacções  do  adulto.  

§ Depois  dos  2  anos:  revelam  crescente  necessidade  de  aprovação  dos  adultos.  

§ No  final  do  pré-­‐escolar:  auto-­‐avaliação  autónoma.  

Vou-­‐me  autonomizando  e,  a  partir  dos  5  anos  já  construi  balizas  sobre  o  que  está  bem  feito,  a  minha  

percepção  do  meu  próprio  desenvolvimento  é  eficaz   (sei  o  que   faço  bem  e  o  que   faço  mal),   já  não  

preciso   da   constante   aprovação   do   adulto.   No   entanto,   essa   valorização   continua   a   ser   boa   como  

reforço.    

A  valorização  em  excesso  é  má,  a  criança  tem  noção  do  que  faz  e  a  valorização  por  parte  do  adulto  do  

que  está  mal  é  percepcionada  pela  criança,  vai  desacreditar  a  valorização  do  adulto,  mesmo  quando  

estiver  bem  feito.  Perde  o  seu  significado.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 49: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  49  

Identidade  

Self-­‐Saturado  

Em  seu  livro  “The  saturated  self”,  Gergen  analisa  as  condições  de  emergência  de  um  nova  forma  de  

descrever   o   self   –   o   self   saturado,   identificadas   ao   processo   de   saturação   social   promovido   pelo  

desenvolvimento   tecnológico,   especialmente   dos   meios   de   transporte,   das   telecomunicações   e  

variadas  formas  de  mídia,  nas  últimas  décadas.  O  self  saturado  aí  descrito  relaciona-­‐se  aos  padrões  de  

relacionamento  social  de  um  mundo  pós-­‐moderno,  no  qual  há  um  intenso  fluxo  e  contato  de  pessoas  

e   tradições   que   levam   ao   questionamento   reflexivo,   a   inúmeras   possibilidades   de   negociação   e  

reconstrução.   Neste   processo   de   saturação   social,   emerge   um   self   povoado   por   múltiplas   e  

contraditórias  possibilidades  de  ser,  para  o  qual  se  ampliam  as  oportunidades  de  relacionamento  com  

os  outros,  se  complexificam  os  diálogos  internos  e  aumenta  a  dificuldade  de  compromisso  com  uma  

identidade  assimilável  à  idéia  de  unicidade.  

 

Desenvolvimento  de  Identidade    

Processo  através  do  qual  os   individuos  constroem  uma  compreensão  coerente  de  si  próprios  como  

sujeitos,  em  relação  com  a  sociedade  em  que  se  inserem.  

A   formação   da   identidade   está   intimamente   associada   ao   estudo   da   adolescência.   Muitos   são   os  

autores  que  estabelecem  a  aquisição  da  identidade  como  a  principal  tarefa  desse  período.  

 

Dominio  Ocupacional  

Marcia,  em  1966,  publicou  um  artigo  operacionalizando  o  conceito  de   identidade  e  sistematizando,  

de   forma   bastante   simples,   as   duas   dimensões   essenciais   na   formação   da   identidade   pelo  

adolescente:  exploração  e  compromisso.  

 

Por   exploração,  Márcia   (1966)   entendia   o   período   de   tomada   de   decisão,   quando   antigos   e   novos  

valores  e  escolhas  são  examinados.  Época  em  que  o   indivíduo  ativamente  se  envolve  na  exploração  

de   alternativas   ocupacionais   ou   ideológicas.   O   resultado   desejado   da   exploração   é   o   compromisso  

com  alguma  idéia  ou  papel  específico.  

 

Por   compromisso  ou  comprometimento,  Márcia   (1966)   supõe  que  o   indivíduo   tenha   realizado  uma  

escolha   relativamente   firme,   servindo   como   base   ou   guia   para   sua   ação.   O   comprometimento   é  

medido  pelo  grau  de   investimento  pessoal  que  o   indivíduo  expressa.  Corresponde  às  questões  que  

mais  valoriza  e  com  as  quais  mais  se  preocupa,  refletindo  o  sentimento  de  identidade  pessoal.  

Para   estudar   como   é   o   desenvolvimento   da   identidade,  Márcia   (1966)   utilizou  medidas   e   critérios  

congruentes   com   as   postulações   da   Teoria   Psicossocial.   Elaborou   uma   entrevista   semi-­‐estruturada,  

formulando  perguntas  destinadas  a  revelar  em  que  medida  os  adolescentes  estão  explorando  ou  se  

comprometendo  com  os  temas.  

 

Page 50: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  50  

 

Medindo  as  duas  dimensões  –  exploração  e  

compromisso   –,   propôs   quatro   estados   de  

identidade:   Identidade   Delegada,  

Moratória,   Difusa   e   Identidade  

Conquistada.  

 

 

No  estado  de  Identidade  Delegada,  o  adolescente  persegue  metas  ideológicas  e  profissionais  eleitas  

por   outros   (pais,   figuras   de   autoridade).   O   adolescente   não   explora,   porque   aceita   os   valores   e  

expectativas  dos  outros.  Compromete-­‐se  com  o  que  foi  definido  pelos  pais  ou  pela  cultura.  Pode  ser  o  

estado  inicial  do  processo  de  formação  da  identidade  adulta,  partindo  dos  valores  infantis  .  

 

No   estado  de  Moratória,   os   compromissos   são   postergados   e   o   adolescente   debate-­‐se   com   temas  

profissionais  ou  ideológicos.  Está  explorando  as  alternativas  e  ainda  não  escolheu  nenhuma.  

 

No  estado  de  Identidade  Conquistada,  o  jovem  fez  suas  escolhas  e  persegue  metas  profissionais  ou  

ideológicas.  Explorou  e  chegou  a  algum  compromisso.  

 

No   estado   de   Identidade   Difusa,   o   adolescente   não   está   explorando,   embora   possa   tê-­‐lo   feito   no  

passado,   e   não   chegou   a   nenhum   compromisso.   Pode   ter   tentado   tratar   algum   tema  ou   ignorado,  

mas  não  tomou  decisões  e  não  está  preocupado  em  fazê-­‐lo.  O  jovem  não  se  sente  pressionado  neste  

sentido.  Pode  representar  um  estágio   inicial  no  processo  de  aquisição  de   identidade,  no  período  da  

adolescência  inicial,  ou  representar  o  fracasso  em  estabelecer  compromissos.  

 

Factores  Familiares  

 

Contextos   favoráveis:   abertos,   aceitam   mudanças,   oferecem   apoio,   confiança   e   encorajam   a  

descoberta  de  identidade  distinta;  

 

Tarefa  de  interação  familiar  (Grotevant  &  Cooper,  1998):  

–Planificação  viagem  

–Cotação:  individualidade  (e.g.,  expressar  o  seu  ponto  de  vista  ou  desacordo  com  outro  membro  da  

família)  Ligação,  (e.g.,  responsividade  ou  sensibilidade  aos  pontos  de  vista  do  outro);  

 

–>  individualidade  e  responsividade  -­‐  >  Exploração  de  identidade  

 

 

Page 51: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  51  

 

 

 

 

Factores  Pessoais  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                       

•Identidade  Conquistada  

-­‐encorajadores  de  autonomia  

-­‐diferenças  exploradas  dentro  do  contexto  de  mutualidade  

 

•Identidade  Delegada  

-­‐Envolvimento  excessivo  

-­‐Evitam  expressão  de  diferenças  

-­‐Negação  e  repressão  para  evitar  o  confronto  com  diferenças  

•Identidade  Difusa  

-­‐Liberais  

-­‐Rejeição  

-­‐Negligência  

 

•Moratória  

-­‐Ambivalente  com  autoridade  dos  pais  

•Identidade  Conquistada  

-­‐Elevado  desenvolvimento  do  eu  

-­‐Julgamento  moral  

-­‐Locus  de  controlo  interno  

-­‐Autoestima  

-­‐Desempenho  sob  stress  

-­‐Intimidade  

•Identidade  Delegada  

-­‐Autoritarismo  

-­‐Pensamento  estereotipado  

-­‐Obediência  à  autoridade  

-­‐Locus  de  controlo  externo  

-­‐Relacionamentos  dependentes  

-­‐Baixos  níveis  de  ansiedade  

•Identidade  Difusa  

-­‐Baixo  desenvolvimento  do  self  

-­‐Complexidade  cognitiva  

-­‐Segurança  própria  

-­‐Julgamento  moral  

-­‐Fraca  capacidade  de  cooperação  

•Moratória  

-­‐Ansiedade  

-­‐Receoso  do  sucesso  

-­‐Elevado  desenvolvimento  do  eu  

-­‐Julgamento  moral  

-­‐Autoestima  

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     O  Género  

A  forma  como  me  vejo  é  essencial  para  a  elaboração  do  meu  conceito.  A  concepção  física  é  a  primeira  

a   surgir   e,   é   um   aspecto   fundamental   do   auto-­‐conceito   de   um   indivíduo.   As   questões   do   género  

predominam  em  qualquer  avaliação  feita  a  outro  indivíduo.  

Na  nossa  sociedade,  rapazes  e  raparigas  tratados  de  modo  diferente,  surgem  diferentes  expectativas  

em   função   do   género.   Há   uma   aprendizagem   precoce   de   estereótipos   sociais   de   cada   género  

(actividades/  preferências/  estilos  sociais).    

Segundo  Maccoby  e  Jacklin  (1987)  a  questão  social  e  cultural  da  aprendizagem  é  muito  importante,  é  

ela  que  vai  condicionar  as  escolhas  das  crianças.  Os  meninos  também  pegam  espontaneamente  numa  

boneca,  mas   esse   comportamento   é   condenado,   ao   contrário   do   que   se   verifica   se   ele   pegar   num  

carro,  que  é  um  comportamento  valorizado.  

 

Desenvolvimentos  gerais:  

• 2  anos  –  Identidade  -­‐  rotulam  verbalmente  os  outros  como  masculinos  e  femininos.  

• 2   /   3   anos:  não   têm   consciência   da   estabilidade,   não   sabem  que  o   género   se  mantém  ao  

longo  da  vida.  Estereotipificação  do  sexo  na  escolha  de  brinquedos  e  também,  em  relação  ao  

que  não  é  material  (exemplo:  numa  carta  ao  pai  natal  as  meninas  pedem  “paz  no  mundo”,  

enquanto  os  meninos  não  se  preocupam  com  esse  tipo  de  coisas)  

• A   partir   dos   3   anos:   preferem   brincar   com   companheiros   do   mesmo   sexo.   As   raparigas  

desenvolvem-­‐se  mais  cedo  nomeadamente,  no  que  toca  à  linguagem.  Esta  é  uma  das  razões  

apontadas   para   a   preferência   para   brincar   com   crianças   do  mesmo   sexo,   como  o   nível   de  

desenvolvimento  é  semelhante  a  interacção  dá  mais  prazer.  Esta  segregação  de  género  é  um  

fenómeno  espontâneo  e  quase  universal.    

• 3   /   4   anos:  estereótipos   rígidos  quanto  às  ocupações  e  às  actividades  que   são  “correctas”  

para  o  sexo  feminino  e  masculino.  

• 3/5  anos  –  estabilidade  -­‐  Compreende  que  os  indivíduos  mantêm  o  género  ao  longo  da  vida.  

Já  se  projectam  no  futuro.  

• 5/7   anos  –  constância   -­‐  O  género  não  depende  de  alterações  na  aparência   (“Se  um   rapaz  

vestir  uma  saia  passa  a  ser  uma  rapariga?”)  

 

 

 

 

 

 

 

Page 53: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  53  

 

 

Desenvolvimento  de  um  conceito  de  Self  baseado  no  Género  –  3  passos:    

• Comportamento  Sexualmente  Tipificado:  

• Acções  confirmam  as  expectativas  culturais  

 

Desenvolvimento  de  um  conceito  de  Self  baseado  no  Género  –  3  passos:  

• Comportamento  Sexualmente  Tipificado:  

o Acções  confirmam  as  expectativas  culturais  

Até  aos  2  anos  Pais  Incutem   o   C.S.T.   às   crianças   desde   o   nascimento   (vestuário,   decoração   do   quarto).   Encorajam  

brincadeiras  sexualmente  tipificadas.  Reagem  mais  positivamente  quando  as  crianças  o  fazem.  

2  Anos  Crianças   Preferência  por  determinados  brinquedos.  Aprendizagem  baseada  na  imitação  e  reforço.  

3-­‐4  anos  Crianças  

Pensamento   Categorial   sobre   actividades,   profissões   e   objectos   apropriados   para   cada   género.  

Apresentam   muito   mais   comportamentos   tipificados   sexualmente.   Feedback   positivo/   negativo  

como  reforço.  

 

• Papéis  de  Género:  

o Conhecimento   dos   estereótipos   culturais.   Conceitos   e   estereótipos   relativos   ao  

modo   como   os   indivíduos   masculinos   e   femininos   se   devem   comportar   e   que  

actividades  devem  realizar.  

• Constância  do  Género:  

o Compromisso  emocional  com  o  género  (processo  de  identificação).  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 54: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  54  

 

 

Práticas  Parentais  

Familia:  

• São   grupos   restritos   e   íntimos   que   facilitam   à   criança   a   aquisição   de   regras   de  

comportamentos  consistentes.  

• É  a  unidade  básica  dentro  do  qual  a  criança  é  apresentada  à  vida  social.  

 

Família,  primeiro  contexto  de  desenvolvimento  

• Relevante  na  socialização  da  criança:  

o Processo  que  ocorre,  em  primeiro  lugar,  no  âmbito  das  famílias  

o É  desenvolvido  pela  atuação  dos  progenitores  

o Tem  como  objetivo  adaptar  a  criança  às  características  da  sociedade  em  que  nasce  

 

Relações  Intrafamiliares  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4  domínios  centrais:  

• Relacionamento  Conjugal  e  Desenvolvimento  da  Criança  

• Natureza  da  Criança/Relacionamento  Conjugal/Ação  Parental  

• Conflitos  Conjugais  e  Relação  da  Criança  com  a  Mãe  /  Pai  

• Relações  Conjugais  e  Relações  entre  Irmãos  

 

Relacionamento  Conjugal  e  Desenvolvimento  Infantil  

Um   bom   relacionamento   conjugal   tende   a   ser   associado   a   um   relacionamento   progenitor-­‐criança  

satisfatório  e,  logo,  a  um  bom  desenvolvimento  da  criança  (Goldberg  &  Easterbrooks,1984)  

• Progenitores   com   um   baixo   ajustamento   conjugal   estabelecem   relações   de   vinculação  

inseguras.  

• Casamento  isento  de  conflitos  favorece  o  estabelecimento  de  relações  de  vinculação  segura.  

Page 55: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  55  

 

 

Características  da  Criança/  Relacionamento  Conjugal/  Ação  Parental  

 

Natureza  da  criança  pode  afetar:  

• relacionamento  conjugal;  

• tipo  de  ação  parental;  

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dificuldades  conjugais  -­‐  Relação  pai  /mãe  

Problemas   conjugais   afetam   mais   a   relação   da   criança   com   o   pai   do   que   com   a   mãe   (Belsky,  

Youngblade  e  Volling,  1991):  

• Comportamento   dos   pais   em   relação   à   criança   mais   negativo   e   intrusivo:   criança   mais  

desobediente  ao  pai  

• Relacionamento  mãe-­‐filho  revelava  poucas  dificuldades  

 

Relações  conjugais  e  relação  entre  irmãos  

• As  relações  entre  irmãos  influenciam  e  são  influenciadas  pelas  relações  conjugal  e  parental;  

• Quando   existe   discórdia   e   falta   de   coesão   entre   os   progenitores,   verifica-­‐se   uma   maior  

conflictualidade  entre  irmãos;  

Um  filho  deficiente  ou  “difícil”,  Prematuro  ou  Indesejado  

Repercussões  a  nível  conjugal  e  a  nível  parental  

Tensão  nos  pais;  

Ambiente  adverso  para  desenvolvimento  harmonioso  

O  que  a  poderá  tornar  ainda  mais  difícil  a  tarefa  de  educar  

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Acção  Parental  Objectivos    Robert  Levine  propôs  3  objectivos,  partilhados  por  pais  globalmente:  

• Sobrevivência:   assegurando   a   sobrevivência   dos   seus   filhos,   providenciando   saúde   e  

segurança;  

• Económico:   assegurando   que   os   seus   filhos   adquiram   capacidades   e   outros   recursos  

necessários  a  serem  adultos  económicamente  produtivos;  

• Cultural:  assegurando  que  os  seus  filhos  adquiram  os  valores  e  normas  culturais  do  grupo;  

 

Estes   objectivos   formam   uma   hierarquia   entre   eles,   sendo   que   o   objectivo   mais   urgente   é   a  

sobrevivência  fisica  do  filho,  só  após  de  assegurada  a  asobrevivência,  que  os  pais  se  focam  nos  outros  

dois  objectivos.  

 

Estilos  Parentais  

 

2  Dimensões  Importantes  na  sua  Categorização:  

• Permissividade/  Severidade/  Restrição  -­‐  Grau  de  Liberdade:  

o Pais  demasiado  tolerantes  e  que  não  têm  regras  definidas;  

o Pais  impõem  inúmeras  restrições:  regras  são  obedecidas;  

• Calor  Humano/  Hostilidade  —  Amor  demonstrado:  

o Pais   calorosos   –   exprimem   livremente   afeto,   manifestando   a   sua   aprovação   e  

elogio;  

o Pais  hostis  –  frios,  indiferentes  e  desinteressados,  inferiorizam  os  filhos.  

 

É   possível   encontrar   diferentes   padrões   de   comportamento,   nomeadamente   pelo   cruzamento   do  

nível  de  controlo  (liberdade  que  os  adultos  dão  aos  filhos)  com  a  afectividade  (quantidade  de  amor  

versus  hostilidade).    Diane  Baumrind  (1970)  considera  quatro  estilos  parentais:    

 

• Autoritário  -­‐  caracterizado  por  pais  excessivamente  controladores  e  directivos.  Priveligiam  o  

poder  e  a  obediência,  não  estão  disponíveis  para  ouvir  as  opiniões  dos   filhos    ou  para  que  

estes  questionem  as  suas  regras.  Este  tipo  de  pais  tem  uma  maior  tendência  para  recorrer  a  

punições.  São  pais  pouco  afectuosos.    

o Consequências:   são   incompetentes   socialmente,   normalmente   afirmam-­‐se   pela  

força,   são   agressivas.   Reproduzem   a   falta   de   ferramentas   ou   imita   as   que   vê   em  

casa.  São  crianças  que  tendem  a  exteriorizar  os  problemas.  

 

 

Page 57: Apontamentos Psi Desenvolvimento

  57  

• Democrático  -­‐  pais  que  possuem  regras  bem  definidas,  mas  que  não  as  impõem,  preocupam-­‐

se  em  explicar  as  razões  que  os  levam  a  tomar  aquelas  medidas  e  não  outras.  Afirma-­‐se  pela  

autoridade   e   pela   consistência.   Promovem   o   diálogo   e   incentivam   a   autonomia   dos   seus  

filhos.  São  pais  afectuosos  que  por  norma  não  usam  medidas  punitivas  com  os  seus   filhos.  

Estão  disponíveis  para  os  filhos.  

o Consequências:   são   crianças   socialmente   competentes,   os   pais   estão   disponíveis  

para  eles  e  transmitem-­‐lhes  ferramentas  importantes  que  lhes  permite  balizar  o  seu  

próprio  comportamento.  São  auto-­‐confiantes,  estão  habituadas  a  negociar,  a  serem  

consideradas.  São  cooperantes  com  os  adultos  e  companheiros.  Normalmente,  são  

crianças  alegres.  

• Permissivo   -­‐   pais   afectuosos,   mas   pouco   controladores.Consideram   que   as   crianças  

aprenderão  pela  sua  própria  experiência.  Apagam-­‐se  em  relação  à  disciplina  e  às  regras,  são  

inconsistentes   o   que   os   leva   a   perder   autoridade.   Consultam   os   filhos   sobre   a   tomada   de  

decisões.  Estão  muito  próximos  dos  filhos,  quase  se  confundem  com  amigos.  

o Consequências:  crianças  com  falta  de  objectivos,  estão  entregues  a  elas  próprias  o  

que   não   lhes   permite   estruturar   objectivos,   tornam-­‐se   pouco   exigentes   consigo  

próprias.   São   desinteressadas,   valorizam   pouco   o   que   têm   pelo   facto   de   terem  

consigo   tudo   com   facilidade.   E,   são  pouco  afirmativas,  não  estão  preparadas  para  

lutar  por  alguma  coisa,  para  resistir  a  contrariedades.  Têm  dificuldade  em  lutar  pelo  

que  exige  muito  deles.  

 

• Negligentes   -­‐   tal   como  os  permissivos,   também  são  pouco  controladores.  Para  além  disso,  

este   estilo   parental   é   também   pouco   afectuoso.   São   pais   que   providenciam   poucas  

estruturas   para   as   crianças   incorporarem   as   regras   sociais   e   culturais.   Os   pais   não   são  

reactivos  nem  exigentes  em  relação  aos  filhos.  Não  orientam  nem  apoiam.  Rejeição  activa  da  

criança.  Negação  das  responsabilidades  pela  educação  da  criança.  

o Consequências:   são   crianças   que   não   se   sabem   adaptar   ao  mundo.  Muitas   vezes  

isolam-­‐se.   É   o   estilo   parental   que   trás   consequências   mais   graves   para   o  

desenvolvimento  das  crianças  (por  exemplo  psicopatologia).  

 

Estas  características  são  visíveis  durante  a  infância  e  mesmo  no  período  da  adolescência.  No  entanto,  

visto   que   a   família   é   um   sistema   complexo   e   dinâmico,   exposto   a   inúmeras   influências   internas   e  

externas,   não   podemos   afirmar   que   o   estilo   parental   seja   o   único   responsável   por   estes   padrões  

observados  nas  crianças.    

   

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Relações  entre  Pares  

Relacionamentos  Verticais  Vs.  Horizontais  

 

Verticais   –   são   relações   assimétricas.   São   estabelecidas   com   um   indivíduo   que   tem   maior  

conhecimento   e   poder   do   aquele   que   uma   criança   possui.   A   criança   atribui-­‐lhe   competências   que  

reconhece  como  superiores,  esta  pessoa  pode  ser  uma  referência.  São  interacções  complementares,  

o  sujeito  não  compete  com  a  criança,  é  alguém  que   lhe  dá  respostas  contingentes.  A  função  destas  

relações  é  proporcionar  segurança,  protecção  e  conhecimento.  Ex.:  progenitor,  professor.  

 

Horizontais   –   estabelece-­‐se   entre   indivíduos   que   têm   o   mesmo   poder   social   que   a   criança.   São  

relações   igualitárias.   São   interacções   recíprocas.   Aprendizagem   de   aptidões   sociais   como   a  

cooperação  e  a  competição.  Ex.:  outras  crianças.  Depende  de  criança  para  criança,  há  umas  que  se  

desenvolvem  mais  em  ambientes  de  competição  e  outras  em  ambientes  de  cooperação.  

 

Estatuto  sociométrico  

•Popularidade  entre  os  companheiros.  

•Implicações  no  bem-­‐estar  do  indivíduo.  

•Implicações  no  ajustamento  futuro  e  na  saúde  mental.  

 

Grupos  de  estatutos  sociométricos  

Populares  

•   Positivas,  bem  dispostas  

•   Fisicamente  atraentes  

•   Intensa  interacção  diádica    

•   Níveis  elevados  de  jogo  cooperativo  

•   Vontade  de  partilhar  

•   Capazes  de  manter  uma  interacção  

•   Consideradas  boas  dirigentes  

•   Pouco  agressivas  

São  crianças  socialmente  competentes  e  com  melhor  desenvolvimento.  

 

 

 

 

 

 

 

 

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Rejeitadas  

•   Comportamento  muito  destrutivo  

•   Conflituosas  e  anti-­‐sociais  

•   Extremamente  activas  

•   Faladoras  

•   Tentativas  frequentes  de  aproximação  social  

•   Jogo  pouco  cooperativo,  sem  vontade  de  partilhar  

•   Muita  actividade  solitária  (não  por  vontade  própria  mas  porque  o  grupo  não  as  quer)  

•   Comportamento  inadequado  

Crianças  rejeitadas  gostam  de  se  impor  aos  outros,  gostavam  de  ser  líderes,  de  serem  populares.  

 

Negligenciadas  

•   Tímidas  

•   Raramente  agressivas;  retraídas  perante  a  agressão  de  outras  

•   Comportamento  ligeiramente  anti-­‐social  

•   Não  afirmativas  (oposto  das  rejeitadas  que  constantemente  se  tentam  afirmar)  

•   Muita   actividade   solitária   (isolam-­‐se   porque   querem,   evitam   o   mais   possível   estar   c   os  

outros)  

•   Evitam  a  interacção  diádica,  mais  tempo  em  grupos  maiores  

Estas  crianças  têm  uma  maior  probabilidade  que  as  rejeitadas  de,  mudando  de  grupo,  conseguirem  

integrar-­‐se.  

 

Controversas  

Despertam   no   grupo   sentimentos   contraditórios   de   estima   e   de   indesejabilidade.   Apresentam  

características  das  crianças  populares  e  das  crianças  rejeitadas.  

 

Amizade    

(não  há  necessariamente  reciprocidade)  Ser  popular  ≠  ter  amigos  (tem  que  haver  reciprocidade)  

As  amizades  permitem:  

• Aquisição  de  aptidões  sociais  básicas  

• Auto  e  heteroconhecimento    

• Apoio  emocional  

• Precursoras  de  relacionamentos  subsequentes  

Há  amizades  que  não  são  positivas,  não  desenvolvem  a  autonomia  de  um  dos  sujeitos.  

 

 

 

 

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Desenvolvimento  da  amizade  

• 3  –  9  anos:  Companheiros  com  quem  as  crianças  podem  partilhar  algumas  actividades  ou  de  

quem   estão   próximas.   Amizades   muito   dependentes   dos   contextos.   Ainda   não   há  

descentralização.  

• 9   –   12   anos:   Partilha   de   valores   (conceito   abstracto   que   já   começa   a   ter   alguma   força)   e  

gostos.  Prazer  na  companhia  recíproca.  Relações  assumem  uma  maior  estabilidade.  

• Mais   de   12   anos:   Intimidade:   partilha   de   segredos   e   sentimentos   e   apoio   nos   problemas  

psicológicos.  Ideia  de  exclusividade  pela  construção  de  identidade.    

 

Consequências  da  ausência  de  amizades  

•   Problemas  emocionais  

•   Menos  altruístas  

•   Menos  aptidões  sociais  

•   Menos  sociáveis  

•   Menor  adaptação  escolar  

•   Menos  progressos  educacionais  

 

Interacções  entre  Pares  

• Positivas  –  comportamento  pró-­‐social    

o Cooperação  

o Altruísmo  (atitude  no  sentido  de  ajudar  o  outro  a  ultrapassar  esse  momento)  

o Empatia  (ser  capaz  de  me  colocar  no  lugar  do  outro  e  compreendê-­‐lo.  Descodificar  

as  suas  emoções)  

o Empatia   e   altruísmo   -­‐   Agir   de   modo   a   favorecer   uma   outra   pessoa   sem   óbvios  

benefícios  próprios.   Implica  uma  partilha  das  emoções   com  essa  outra  pessoa,  de  

modo  a   compreender   as   suas  necessidades.   Pode  manifestar-­‐se  desde  o   início  do  

segundo  ano  de  vida.  

o altruísmo  pressupõe  empatia,  mas  a  empatia  não  pressupõe  altruísmo  

• Negativas  –  comportamento  anti-­‐social  

o Competição,  conflito,  rivalidade,  agressão