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O manejo químico de plantas daninhas através de herbicidas já é algo
bastante difundido na cultura canavieira. Mas como prevenir é melhor do
que remediar, o uso de herbicidas pré-emergenciais aplicados em pré e pós-
-plantio da cultura tem se tornado algo cada vez mais comum nas usinas.
Segundo o professor doutor do Departamento de Produção Vegetal da
Esalq/USP (Escola de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São
Paulo), Pedro Christoffoleti, a aplicação em Pré-Plantio Incorporado (ppi)
é realizada normalmente em áreas de alta infestação de plantas daninhas
de difícil controle.
“Áreas com plantas daninhas do tipo gramíneas, principalmente com
alta infestação de capim-braquiária (Brachiaria decumbens) e capim-co-
lonião (Panicum maximum), são tratadas com herbicidas de pré-plantio
de ação graminicida. Dentre os principais herbicidas utilizados para con-
trole pré-plantio destas plantas daninhas, destacam-se a trifluralina e o
isoxaflutole, sendo que o primeiro necessita de uma incorporação ime-
diata após a aplicação devido a sua acentuada fotodegradação e volatili-
zação. No entanto, o isoxaflutole é incorporado apenas com o objetivo de
melhorar o contato do herbicida com as sementes das plantas daninhas”,
explica Christoffoleti.
Após a aplicação do herbicida de pré-plantio é feito o plantio da cana,
preferencialmente com a ocorrência de uma chuva entre a aplicação do
tec. agrícola
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tecnologia agrícola
ppi e o plantio da cana.
Depois do plantio pode ser aplicado um herbicida de pré-
-emergência com o objetivo de controlar os fluxos de emergên-
cia que surgem após o plantio da cana. Segundo Christofolleti,
a diferença fundamental dos herbicidas de ppi com os de pré-
-emergência pós-plantio da cana está na dose do herbicida pré
que deve estar fundamentada na seletividade para a cultura.
O pesquisador do IAC (Instituto Agronômico de Campinas)
da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo, Carlos Alberto Mathias Azania, afirma que dar uma
recomendação específica para aplicação de pré-emergenciais
na cana é uma questão complexa.
“O produtor deve conhecer as características físico-quí-
micas dos herbicidas e a característica física do solo. Depois
deve escolher as moléculas herbicidas de acordo com a épo-
ca do ano. Em períodos de estiagem, os herbicidas a serem
escolhidos deverão atender as características físico-químicas
específicas a estiagem e, se for período de chuvas, as caracte-
rísticas físico-químicas dos herbicidas devem atender as es-
pecificações de umidade no solo. Em todo caso, para ambas
as épocas, o produtor deve também conhecer as plantas da-
ninhas presentes por meio de levantamentos fitossociológi-
cos”, diz Azania.
Para Christoffoleti não existe uma recomendação padrão
para os herbicidas aplicados em pré, porém sua recomenda-
ção é baseada nos parâmetros culturais como suscetibilidade
varietal, tipo de solo e clima, principalmente com relação a
quantidade de chuvas.
“A aplicação de herbicidas pré-emergenciais após o plan-
tio podem representar menores riscos de perdas do potencial
produtivo da cana, quando comparado com sistemas que ado-
tam a aplicação de herbicidas apenas em pós-emergência. Es-
tes riscos estão associados à necessidade de aplicação rápida
durante o período chuvoso, pois caso haja matocompetição
nesta época, as perdas são significativas. A aplicação pós-
-emergente pode gerar sintomas severos de fitotoxicidade,
principalmente quando a superfície foliar é atingida durante
o processo. Ela exige, normalmente, aplicações em jato dirigi-
do. O período de 90 dias após o corte e sem aplicação de um
pré-emergente, pode representar uma perda de cerca de 35%
da produção final”, explica Christoffoleti.
Azania afirma que herbicidas pré-emergentes têm como
vantagem a contenção dos fluxos de emergência e persistência
no solo, que chegam até aproximados 100 dias. “Uma das des-
vantagens é quando a modalidade é usada em período de es-
tiagem. Nessas ocasiões a pouca umidade no solo desfavorece
a dinâmica do herbicida no solo e os ventos, que são constantes
no período, podem remover parte do herbicida que fica depo-
sitado sobre a superfície do solo ou palha do canavial. Assim,
quando iniciam as chuvas, é possível encontrar clareiras (re-
boleiras) sem o controle de plantas daninhas.”
Já para Caio Querne de Carvalho, Marketing Developer parar
Cana-de-açúcar da Dow AgroSciences, além de facilitar o pro-
cesso de manejo dos canaviais, visto que agilizam o processo
de limpeza das áreas, a aplicação pré-emergente ainda reduz a
necessidade de maior número de máquinas em uma determina-
da propriedade. “Quanto as desvantagens, devido a mudança
da flora em anos subsequentes, podem surgir na área plantas
daninhas que ainda não haviam sido identificadas. Caso o pro-
duto não seja a melhor ferramenta para aquela determinada
planta daninha, pode haver escapes.”
Marcelo Montezuma, coordenador de Desenvolvimento Tec-
nológico da Monsanto aponta os prós e contras do tratamento
pré-emergencial (vide quadro abaixo).
- a cultura se desenvolve em solo limpo;
- permite melhor dimensionamento do parque de máquinas e
mão de obra para manejo de herbicida por conta do maior pe-
ríodo útil de manejo;
- há menor fitotoxicidade visual da cultura;
- são mecanismos de ação alternativos;
- há a possibilidade de se associar a aplicação ao manejo de cul-
tivo da soqueira.
- maior dependência das condições de preparo de solo e das con-
dições climáticas para performance;
- atrasos de manejo podem levar a menor eficiência de controle
pelo início de germinação das plantas daninhas;
- operação de quebra de lombo para nivelamento do terreno em
cana planta ou o cultivo da área em cana soca, pode demandar
uma nova aplicação de manejo;
- baixa eficiência em áreas com muita presença de palha;
- eficiência relativa à expressão do banco de sementes presente
no solo.
tecnologia agrícola
Dentre os herbicidas pré-emergentes pa-
ra a cana-de-açúcar, a Dow AgroScience
oferece o Combine (Tebuthiuron), o Com-
binado (Tebuthiuron e Hexazinona), o Goal
(Oxyfluorfen) e o Coact (Diclosulam).
Segundo Carvalho, todos os produtos
são seletivos para a cultura de cana. “As
aplicações mais comuns são realizadas de
forma tratorizada, em plantios, soqueiras,
quebra–lombos e em diferentes estágios da
cultura. Quanto à época de aplicação, há
uma diferença com relação a cada molécu-
la. O produto Combine (Tebuthiuron) pode
ser utilizado durante o ano todo, tanto nas
águas como na época seca, em qualquer es-
tágio da cultura, conferindo controle em um grande espectro
de plantas daninhas, tanto de folhas largas como estreitas.”
O produto Goal (Oxyfluorfen) é específico para épocas úmi-
das, devido a sua baixa solubilidade. Pode ser aplicado desde a
cultura pré-emergida até o estágio de esporão da cultura. Con-
fere enorme residual e controle de diversas plantas daninhas
que estão se tornando problema na cultura de cana-de-açúcar,
como a mamona.
O Coact (Diclosulam) também é ideal
para aplicação em época úmida em qual-
quer estágio da cultura e apresenta bom
controle em plantas daninhas de folha lar-
ga.
De acordo com Carvalho, além do mane-
jo dos herbicidas, existem outros cuidados
durante o plantio que a usina deve tomar
para um melhor resultado, como seguir as
indicações de quando e como proceder a
aplicação de cada herbicida a ser utilizado.
“Outro fator fundamental refere-se à
qualidade da água que será utilizada co-
mo veículo para a aplicação de herbicida.
Nunca aplicar produto com água de rios,
açudes ou tanques, devido as impurezas presentes nestes lo-
cais, tais como os sedimentos de argila que geram, em diversos
casos, redução da eficiência”, salienta Carvalho.
A Basf oferece o Plateau, registrado na cultura de cana-de-
-açúcar para controle de folhas largas e gramíneas. Marcus
Brites, gerente de Cana e Citrus da Basf conta que a empresa,
com o intuito de reduzir o consumo de água nas aplicações de
A Lipow apresenta a tecnologia Penta para preparo do solo,aumente a produtividade do seu canavial em até 12 t/ha.
Penta, tecnologia desenvolvida pelaMafes Inteligência Agrícola, eproduzido pela Lipow.
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lipow.com.br
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herbicidas na cultura da cana e trazer ganhos econômicos e
ambientais, criou o Projeto “Provar” com o uso do herbicida
Plateau.
“Os estudos do Provar tiveram início em 2007 sob a coor-
denação do diretor do Centro de Engenharia e Automação do
IAC, Hamilton Ramos. No terceiro ano do projeto também foi
feita uma parceria com a Ufscar (Universidade Federal de São
Carlos) para estudo do banco de sementes nas áreas do pro-
jeto. Quanto maior o volume de água, menor o rendimento
operacional e maior o custo do seu transporte. Assim, a ade-
quação do volume de água pode reduzir sensivelmente o custo
de aplicação de herbicidas. A adoção de menores volumes de
água pode representar para as usinas redução no custo opera-
cional da aplicação, que varia de 4% a 30% do total investi-
do”, revela Brites.
A pesquisa constatou que é possível diminuir o volume de
calda em até 60% e aumentar o ganho ope-
racional em até 30%.
Paulo Donadoni, gerente de Cultura da
Cana da Bayer CropScience afirma que o
destaque da empresa para aplicação em
pré-emergência é o Provence, que pode ser
usado em qualquer época do ano e propor-
ciona controle para gramíneas e todas as
plantas daninhas do gênero Digitaria, es-
pecialmente a Digitaria nuda.
“O herbicida Provence pode ser aplica-
do em ppi reduzindo o banco de plantas
daninhas infestantes, facilitando o controle
destas invasoras e auxiliando na eficácia
do herbicida aplicado no pós-emergência. É
um herbicida com flexibilidade total, pois
pode ser aplicado tanto em cana planta e
soca quanto em cana crua, em qualquer
época do ano, além de poder ser associado
a todos os produtos disponíveis no merca-
do”, destaca Donadoni.
O outro destaque da empresa é o Sencor, graminicida e la-
tifolicida com largo espectro de ação e que controla gramíneas
e folhas largas em pré e pós-emergência das plantas daninhas
e também na pós-cultura.
A DuPont traz em sua linha os pré-emergentes Front e Vel-
par. Segundo Manoel Pedrosa, gerente de Marketing em Cana-
-de-açúcar da DuPont, a empresa recomenda o uso dos seus
produtos em épocas diferentes.
“O Front é para ser aplicado em soqueira na pré-emergência
na época seca do ano e o Velpar na cana planta e soqueira de
época úmida. Ambos podem ser aplicados via pulverizadores
tratorizados ou avião. O Front, que é um herbicida de amplo
espectro, controla as principais plantas daninhas infestantes
em cana-de-açúcar como capim colonião, complexo de digi-
tarias (incluindo Digitaria nuda), complexo de braquiarias e
complexo de cordas-de-viola”, salienta Pedrosa.
A Arysta LifeScience possui em sua linha de herbicidas pa-
ra cana-de-açúcar o Dinamic, desenvolvido com o exclusivo
ingrediente ativo amicarbazone que controla plantas daninhas
com sucesso.
“Oferecemos ainda, o Lava 800 (tebuthiuron), de uso des-
tacado em plantio e comercializado em moderna formulação
WDG, que facilita o manuseio e descarte das embalagens, e
o herbicida Dizone (hexazinona + diuron), molécula padrão
de mercado para o manejo das principais espécies de plantas
daninhas, com excelente desempenho em épocas de transição
entre período úmido e chuvoso”, afirma José Gambassi, coor-
denador do Mercado de Cana Brasil, da Arysta LifeScience.
Segundo ele, os herbicidas fornecidos
pela empresa podem ser aplicados nas di-
versas fases da cultura, desde a dessecação
com Glifosato, passando pelo pré-plantio
incorporado (ppi), pós-plantio, quebra-lom-
bo e em cana soca. “Destacamos aqui a uti-
lização do Dinamic como importante herbi-
cida para controle das difíceis espécies de
plantas daninhas como mamona, mucuna
e várias espécies de ipoméas ou corda-de-
-violas, entre outras”, salienta Gambassi.
A Ihara possui o herbicida Flumyzin,
chamado de herbicida flex, pois funciona
tanto em épocas secas quanto úmidas, em
cana planta e em cana soca, além de con-
trolar folhas largas e estreitas.
José Antonio de Souza Junior, adminis-
trador Técnico de Pesquisa da Ihara, explica
que o Flumyzin deve ser utilizado essen-
cialmente em pré-emergência das plantas
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daninhas. “Devido as características
físico-químicas únicas, é um produto
eclético e pode ser utilizado em época
seca, úmida, semisseca e semi úmida.
Sua alta seletividade permite que seja
aplicado em cana planta, em épocas
de seca ou umidade. Pode ser traba-
lhado em cana soca também, inclusive
em áreas de colheita mecanizada que
apresentam alto volume de palha sobre
a superfície do solo. Herbicidas pré-
-emergentes impedem que a população
de infestante se estabeleça. Pesquisas
mostram redução de até 40% na pro-
dução de colmos devido a infestação
de plantas daninhas”, destaca Souza
Junior.
A Syngenta, ao longo dos anos, trouxe para o mercado os
produtos Dual Gold, Gesapax e Gesaprim GRDA.
Segundo Benedito Aparecido Braz, gerente de Novas Tec-
nologias para Cana da Syngenta, a aplicação dos produtos
pode ser feita via trator, via aérea e em cobertura total.
“Eles podem ser aplicados em pré ou pós-emergência das
plantas infestantes na cana-de-açúcar devido à boa seletivida-
de proporcionada. O Dual Gold controla muito bem as gramí-
neas como o capim-colonião, braquiária, capim pé-de-galinha,
capim-marmelada e todas as espécies de capim-colchão. Esse
produto oferece também um bom controle para trapoeraba,
caruru, beldroega, apaga-fogo e poaia-branca. O Gesapax pro-
porciona bom controle para capim-colchão, capim-marmelada
e as folhas largas em geral. E o Gesaprim é eficiente para as
folhas largas em geral. A associação dos herbicidas da linha
Syngenta propicia bom controle de gramíneas e folhas largas
em cana”, destaca Braz.
No entanto, Braz salienta que apesar de o mercado ter
dado preferência para aplicação em pré-emergência, existem
produtos com alta seletividade para pós-emergência. “Não so-
mos a favor apenas da aplicação em pré-emergência. Quando
se aplica em pós, podemos escolher as áreas que receberão
o produto, pois as plantas daninhas já emergiram e a admi-
nistração do produto é feita apenas onde é necessário. Isto
pode representar economia, pois, de acordo com trabalhos
técnicos, as plantas daninhas não emergem entre 30% e 40%
das áreas de cana.”
Apesar de possuir o registro de alguns herbicidas de carac-
terística pré e pós-inicial como o Boxer (alacloro + atrazina),
o Laço EC (alacloro) e o Fist EC (acetocloro), Montezuma diz
que a Monsanto não comercializa estes produtos por decisão
mercadológica.
O controle total de plantas daninhas
é algo que dificilmente pode ser obtido.
E não existe receita mágica para erradi-
cação total destas pragas.
Segundo Azania, cada canavial pode
ser comparado ao metabolismo de uma
pessoa, cada qual com suas particulari-
dades. Além da aplicação dos herbici-
das, existem outros cuidados preventi-
vos que podem minimizar o ataque de
plantas daninhas como o uso do espa-
çamento correto, que proporciona o fe-
chamento mais rápido do talhão de ca-
na e, consequentemente, traz à sombra,
um agente de controle sobre as plantas
daninhas.
“Além disso, deve-se tomar cuidado com plantio de mudas
que tenham tido contato com espécies daninhas e observar
se a torta de filtro está livre de sementes de plantas dani-
nhas. Deve-se ainda manter os canais de vinhaça limpos de
plantas daninhas porque as sementes pequenas de algumas
espécies podem facilmente circular entre a tubulação dos
equipamentos e contribuir com a disseminação das espécies”,
explica Azania.
Montezuma diz que é importante fazer um planejamento
de controle para cada época do ano com foco na melhor per-
formance de cada herbicida e das condições de infestação,
clima e período de controle esperado, sendo que, para cana
planta ou cana soca, em algumas situações específicas, deve
se programar duas aplicações no ano safra, principalmente nos
primeiros anos de instalação da cultura, para que se permita
um canavial mais limpo e com maior potencial de longevida-
de em número de cortes.
Ainda segundo ele, o planejamento de atividades das di-
versas áreas da usina deve se ajustar aos planejamentos de
ações para que o preparo, plantio, adubação, cultivo, colheita
e manejo de herbicida ocorram dentro de um planejamento
mais assertivo, de forma que uma operação não comprometa
ou interfira na performance da outra.
Montezuma faz um alerta com relação ao conhecimento e
o entendimento dos mecanismos de ação herbicidas, o correto
planejamento de produtos ao longo das safras, de forma a se mi-
nimizar ou mitigar possíveis casos de resistência ou tolerância
que se possam fazer presentes. “Ainda é preciso estar atento na
dose correta, momento e condição de manejo correto, tecnologia
de aplicação adequada, ter cuidado na limpeza de máquinas e
implementos e das divisas e carreadores, que são focos de in-
festação potencial para entrada nos talhões”, finaliza.