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. 26 | Empresas | Jornal de Negócios | Quinta-Feira, 20 de Outubro de 2011 ISABEL AVEIRO [email protected] Há cerca de um ano, ano e meio, José Neiva Correia teve um so- bressalto. O seudistribuidorpara o mercado da Noruega informa- va-o que, de lá, lhe garantiamque iam retirar das prateleiras e de- volvero seu vinho Paxis, que não se estavaavender. ADFJ Vinhos defendeu-se: “não investimos parasair, mudámos acolheita” e “desenvolvemos o Paxis Arinto” ao gosto norueguês “paravender mais”. A devolução agendada nunca aconteceu, porque a avaliação “muito positiva” de um crítico norueguês do novo produto aca- bou por reconhecer o investi- mento feito e resultou num au- mento das vendas. Hoje, garante o dono e fundadordaempresade vinhos, o Paxis vende 1.500 gar- rafas por dia na Noruega. A história serve ao enólogo paraexplicarque avitivinicultu- raé “umsectorcommuitas espe- cificidades”. “É preciso ter nas- cido no sector para sentir a acti- vidade, que é bastante difícil”. “Muitos pensaramque iriamno- bilitar-se através do vinho e ga- nharmuito dinheiro”, mas “algu- mas empresas vão ter mesmo que ir falência”, acredita. ANoruegaé um dos seis mer- cados mais importantes para a DFJ, empresa que em 2010 fac- turou cerca de 10 milhões de eu- ros com seis milhões de garrafas vendidas. Em 2011, o crescimen- to previsto é de 2,5%, em valor, e de 8,5%, em volume. Pelaprestação deste ano, aca- pacidade exportadora da DFJ poderá crescer, aumentando o peso na facturação total de 80% para90%. José NeivaCorreiare- conhece: o nível das actuais ven- das em Portugal “já é bastante bom, mas estamos afazerum es- forço para vender mais”. Mas numcontexto emque a“DFJ au- mente [as vendas ] lá fora” tam- bém. “O que gostaria”, frisa, “é que se mantivesse” o equilíbrio hoje existente, entre mercado nacional e exportação. “Não me interessa ter mais de 10% [das vendas] no mercado nacional”, sublinha. Com a grande distribuição, à qual aponta tendências “ditato- riais”, a negociação é por vezes complicada. Em geral, considera Neiva Correia, o actual panora- ma de Portugal não recomenda assumir muitos riscos na altura de assinar contratos: “vender é fácil, cobrar é difícil” e não reco- mendável sem garantias firmes da outra parte. Hoje com33 marcas e mais de 100 referências (entre as gamas ‘basic’, ‘standard’, ‘premium’,‘su- per premium’/Grand’Arte e ‘icon’), a DFJ prepara-se para mudanças. Vai apostar mais nos vinhos daregião de Lisboae Ter- ras do Sado e manter Algarve e Alentejo. Mas Bairrada, Beiras e Dão “é para acabar”, garante o enólogo. Criada há 13 anos, a companhia de vinhos DFJ está desde o início vocacionada para o exterior, onde faz hoje mais de 80% das vendas José Neiva Correia | Enólogo prepara mudanças no perfil da oferta da DFJ. Lisboa e Sado são apostas para “expandir”. PERGUNTAS A ... “Negócio não está a ser fácil em Portugal por incertezas quanto aos pagamentos” Qual a expectativa tem para 2012? Não estáaserfácil o negócio em Portugal,porincertezasquantoaos pagamentos. Não temos a certeza quevamosreceber[dealgunsagen- tes]e,porisso,nãopodemosdepen- der muito do mercado nacional. Para fazermos negócio e garantir- mos os pagamentos do vinho que vendemos, ou são entidades acima dequalquersuspeitaemquemcon- fiamos;ounosfazemseguro;ounos dão garantias bancárias – o que al- guns recusam. E, portanto, a situa- ção está complicadíssima, porque os bancos também não querem ar- riscar.Osprodutores,ouseassocia- ram agrandes distribuidores [para escoar os seus produtos] ou estão sozinhos,enestecasomuitosestão numasituaçãoconstrangedora.Vai darmauresultado. Acrise vaiafec- tar ainda mais a produção [de vi- nhos] a médio prazo. Vai dar mau resultado. Um aumento do IVA sobre o vinho te- ria que consequências? Qualqueralteração nas taxas do IVA, para nós, vai afectar muito pouco, porque só 10% das nossas vendas serão em Portugal. Outra questão é arelação comadistribui- ção.Estamosasofrerumaditadura dagrandedistribuição,comalguns operadores,queintroduzemregras quenãoestavamacordadasinicial- mente – uma situação que cabe à Autoridade da Concorrência fisca- lizar.Énasredesregionaisdedistri- buiçãoondeaDFJpodeentãocon- solidarassuasvendas.Porqueatra- vés da grande distribuição é difícil paraamaioriados produtores [na- cionais],porqueaíéparaterprejuí- zo.Osgrandesgruposdosdistribui- ção quase obrigam alguns fornece- dores a vender abaixo do preço de custo. Emalgumarestauraçãotam- bém estamos com dificuldades em receber. JOSÉ NEIVA CORREIA PROPRIETÁRIO E ENÓLOGO-CHEFE DA DFJ Prémios Exportação & Internacionalização “Não me interessa ter mais de 10% em Portugal” Saiba mais negocios.pt > Especial Prémios de exportação Leia mais em http://premiosexportaçaoeintern acionalizacao.negocios.pt.

“Nãome interessater maisde10% emPortugal”...JornaldeNegócios|Quinta-Feira,20deOutubrode2011|Empresas|27 MiguelBaltazar JornaldeNegócios|Quinta-Feira,20deOutubrode2011|Empresas|39

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.26 | Empresas | Jornal de Negócios | Quinta-Feira, 20 de Outubro de 2011

ISABEL [email protected]

Há cerca de um ano, ano e meio,José Neiva Correia teve um so-bressalto.Oseudistribuidorparao mercado daNoruegainforma-va-oque,delá,lhegarantiamqueiam retirar das prateleiras e de-volvero seuvinho Paxis, que nãoseestavaavender.ADFJVinhosdefendeu-se: “não investimosparasair, mudámos acolheita” e“desenvolvemos o Paxis Arinto”aogostonorueguês“paravendermais”.

Adevolução agendada nuncaaconteceu, porque a avaliação“muito positiva” de um críticonorueguês do novo produto aca-bou por reconhecer o investi-mento feito e resultou num au-mento das vendas. Hoje, garanteodonoefundadordaempresadevinhos, o Paxis vende 1.500 gar-rafas por dianaNoruega.

A história serve ao enólogoparaexplicarque avitivinicultu-raé“umsectorcommuitasespe-cificidades”. “É preciso ter nas-cido no sector para sentir a acti-vidade, que é bastante difícil”.“Muitospensaramqueiriamno-bilitar-se através do vinho e ga-nharmuitodinheiro”,mas“algu-mas empresas vão ter mesmoque ir falência”, acredita.

ANoruegaé umdos seis mer-cados mais importantes para aDFJ, empresa que em 2010 fac-turou cercade 10 milhões de eu-ros com seis milhões de garrafasvendidas. Em2011, o crescimen-to previsto é de 2,5%, em valor, ede 8,5%, em volume.

Pelaprestaçãodesteano,aca-pacidade exportadora da DFJpoderá crescer, aumentando opeso na facturação total de 80%para90%.JoséNeivaCorreiare-conhece: o níveldas actuais ven-das em Portugal “já é bastantebom, mas estamos afazerumes-forço para vender mais”. Mas

numcontextoemquea“DFJau-mente [as vendas ] lá fora” tam-bém. “O que gostaria”, frisa, “éque se mantivesse” o equilíbriohoje existente, entre mercadonacional e exportação. “Não meinteressa ter mais de 10% [dasvendas] no mercado nacional”,sublinha.

Com a grande distribuição, àqual aponta tendências “ditato-riais”, a negociação é por vezescomplicada. Emgeral, consideraNeiva Correia, o actual panora-ma de Portugal não recomendaassumir muitos riscos na alturade assinar contratos: “vender éfácil, cobrar é difícil” e não reco-mendável sem garantias firmesdaoutraparte.

Hojecom33marcasemaisde100 referências (entre as gamas‘basic’, ‘standard’,‘premium’,‘su-per premium’/Grand’Arte e‘icon’), a DFJ prepara-se paramudanças. Vai apostarmais nosvinhosdaregiãodeLisboaeTer-ras do Sado e manter Algarve eAlentejo. Mas Bairrada, Beiras eDão “é para acabar”, garante oenólogo.

Criada há 13 anos, a companhia de vinhos DFJestá desde o início vocacionada para o exterior,onde faz hoje mais de 80% das vendas

José Neiva Correia | Enólogo prepara mudanças no perfil da oferta da DFJ. Lisboa e Sado são apostas para “expandir”.

PE RG U N TAS A . . .

“Negócio não está a ser fácil em Portugalpor incertezas quanto aos pagamentos”

Qual a expectativa tem para 2012? Não estáaserfácilo negócio em

Portugal,porincertezasquantoaospagamentos. Não temos a certezaquevamosreceber[dealgunsagen-tes]e,porisso,nãopodemosdepen-der muito do mercado nacional.Para fazermos negócio e garantir-mos os pagamentos do vinho quevendemos, ou são entidades acimadequalquersuspeitaemquemcon-fiamos;ounosfazemseguro;ounosdão garantias bancárias – o que al-guns recusam. E, portanto, asitua-ção está complicadíssima, porqueos bancos tambémnão queremar-riscar.Osprodutores,ouseassocia-

ramagrandes distribuidores [paraescoar os seus produtos] ou estãosozinhos,enestecasomuitosestãonumasituaçãoconstrangedora.Vaidarmauresultado. Acrisevaiafec-tar ainda mais a produção [de vi-nhos] a médio prazo. Vai dar mauresultado.

Um aumento do IVA sobre o vinho te-ria que consequências? Qualqueralteração nas taxas do

IVA, para nós, vai afectar muitopouco, porque só 10% das nossasvendas serão em Portugal. Outraquestãoéarelaçãocomadistribui-ção.Estamosasofrerumaditadura

dagrandedistribuição,comalgunsoperadores,queintroduzemregrasquenãoestavamacordadasinicial-mente – uma situação que cabe àAutoridade daConcorrênciafisca-lizar.Énasredesregionaisdedistri-buiçãoondeaDFJpodeentãocon-solidarassuasvendas.Porqueatra-vés da grande distribuição é difícilparaamaioriados produtores [na-cionais],porqueaíéparaterprejuí-zo.Osgrandesgruposdosdistribui-ção quase obrigamalguns fornece-dores a vender abaixo do preço decusto. Emalgumarestauraçãotam-bém estamos com dificuldades emreceber.

� J O S É N E I VA CO RRE I APROPRIETÁRIO E ENÓLOGO-CHEFE DA DFJ

Prémios Exportação & Internacionalização

“Não meinteressa termais de 10%em Portugal”

S ai b a m ai s

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Miguel Baltazar

Jornal de Negócios | Quinta-Feira, 20 de Outubro de 2011 | Empresas | 39Pub

I D E I AS - CH AVE

PRODUTODirectamente, a DFJ não detémvinhas. Adquire a produção de

terceiros, em várias partes do País,para criar as suas várias marcas.Nos últimos anos, o grupo investiu250 mil euros na Quinta da FonteBela (adquirida há cinco anos) paraaumentar a capacidade dearmazenagem e de enchimento devinhos nas suas próprias instalações.

MERCADOSA companhia vende para trêsdezenas de mercados o

equivalente a seis milhões degarrafas de vinho. Em 2010 ficouperto dos 10 milhões de euros,prestação que espera aumentar em250 mil euros, pelo menos, este ano.Reino Unido, Noruega, Finlândia,

Alemanha, Polónia e Canadá sãoos principais mercados da DFJ.

CERTIFICAÇÃOPara passar as portas eocupar espaço nas

prateleiras de cadeias desupermercados como as britânicasTesco ou Sainsbury’s compensainvestir na certificação. Foi o quefez a DFJ, cuja obtenção de “um doscertificados mais exigentes”, o BRC –Global Standards for Food QualityCertification, serve como garantia adistribuidores e consumidores noReino Unido, EUA, Canadá eAlemanha.

PESSOASA tempo inteiro, a DFJemprega 28 pessoas.

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NA QUINTA DA FONTE BELA, A COMPANHIA DFJ CRIA, ARMAZENA,FAZ O ENCHIMENTO E CONTROLA A PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO