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Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro É antes do ópio que a minh'alma é doente. Sentir a vida convalesce e estiola E eu vou buscar

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    Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro                                                                                                                   É antes do ópio que a minh'alma é É antes do ópio que a minh'alma é

doente. doente.                            Sentir a vida convalesce e estiola                            Sentir a vida convalesce e estiola                            E eu vou buscar ao ópio que consola                            E eu vou buscar ao ópio que consola                            Um Oriente ao oriente do Oriente.                            Um Oriente ao oriente do Oriente.

                                                          Esta vida de bordo há-de matar-me. Esta vida de bordo há-de matar-me.                            São dias só de febre na cabeça                            São dias só de febre na cabeça                            E, por mais que procure até que adoeça,                            E, por mais que procure até que adoeça,                            já não encontro a mola pra adaptar-me.                            já não encontro a mola pra adaptar-me.

                                                          Em paradoxo e incompetência astral Em paradoxo e incompetência astral                            Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,                            Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,                            Onda onde o pundonor é uma descida                            Onda onde o pundonor é uma descida                            E os próprios gozos gânglios do meu mal.                            E os próprios gozos gânglios do meu mal.

pág. 65

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[…]

Eu, que fui sempre um mau estudante, Eu, que fui sempre um mau estudante, agora agora                             Não faço mais que ver o navio ir                             Não faço mais que ver o navio ir                             Pelo canal de Suez a conduzir                             Pelo canal de Suez a conduzir                             A minha vida, cânfora na aurora.                             A minha vida, cânfora na aurora.                                                     

    Perdi os dias que já aproveitara. Perdi os dias que já aproveitara.                            Trabalhei para ter só o cansaço                            Trabalhei para ter só o cansaço                            Que é hoje em mim uma espécie de braço                            Que é hoje em mim uma espécie de braço                            Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.                            Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

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[…][…] A vida a bordo é uma coisa triste, A vida a bordo é uma coisa triste,   Embora a gente se divirta às vezes.   Embora a gente se divirta às vezes.   Falo com alemães, suecos e ingleses   Falo com alemães, suecos e ingleses   E a minha mágoa de viver persiste.   E a minha mágoa de viver persiste.                                                          Eu acho que não vale a pena ter Eu acho que não vale a pena ter   Ido ao Oriente e visto a índia e a   Ido ao Oriente e visto a índia e a China. China.   A terra é semelhante e pequenina   A terra é semelhante e pequenina E há só uma maneira de viver. E há só uma maneira de viver.

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  O “Opiário”, é um poema decadente. Dedicado a Sá-

-Carneiro, imita-lhe desde a nostalgia do além, a morbidez snob de um saturado da civilização, a embriaguez do ópio e dos sonhos de um Oriente que não há, o horror à vida, o realismo satírico de certas notações, até ao vocabulário entre precioso e vulgar, às imagens, aos símbolos, ao estilo confessional brusco, amimado e divagativo.

  Este Campos situa-se também muito próximo

de Pessoa paúlico, uma vez que também utiliza imagens, metáforas, símbolos, que por vezes se sobrepõem.

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No poema, “Opiário”, cruzam-se vários motivos ou vectores temáticos:

Doença da alma Busca de caminhos de evasão.

Esta busca é inviabilizada por causas diversas:

Predestinação familiar e pátria Abulia Incapacidade de agir

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Esquema rimático

•Interpolada (abba)

Ex.:” Pertenço a um género de portugueses Que depois de estar a Índia descoberta Ficaram sem trabalho A morte é certa.

Tenho pensado nisto muitas vezes.”

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A métrica é irregular:

ex.: “Sen/tir/ a /vi/da/ com/va/les/ce e es/ti/o/laSen/tir/ a /vi/da/ com/va/les/ce e es/ti/o/la.” (11 sílabas métricas)

ex.: “ A/ vi/da/ sa/be/-me a/ ta/ba/co/ lou/ro.” (10 sílabas métricas)

Métrica

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Figuras de estilo:

•Metáfora: ex: “Moro no rés-do-chão do pensamento”

•Comparação: ex: “Que é hoje em mim uma espécie de braço”

•Imagem: ex: “Meu coração é uma avòzinha que anda”

•Interjeição: ex: “Ora!  “(estrofe 19 verso 1 pág.66)

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Enumeração/adjectivação expressiva: ex: “Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!”

Anáfora: ex:”E afinal o que quero é fé, é calma,”

Frases reticentes: ex: “A minha vida mude-a Deus ou finde-a…”

Interrogação retórica: ex: “Não terão como eu o horror à vida?”

Frase exclamativa:   ex: “Ah que bom que era ir daqui de caída!”

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Verbos:

•Predominam os verbos no presente: ex: “Escrevo estas linhas. Parece impossível”

Adjectivos:•Predominam os adjectivos qualificativos: ex:”Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!”

Análise Morfossintáctica

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Trabalho realizado por: Cátia Coelho Cátia Santos Tânia Maçorano Fanny Azevedo