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Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Faculdade de Medicina Programa de Pós-Graduação em Medicina Doenças Infecciosas e Parasitárias ANÁLISE DE MARCADORES MOLECULARES E DE RESISTÊNCIA IN VITRO ÀS QUINOLÉINAS EM ISOLADOS DE PLASMODIUM FALCIPARUM CAROLINA DE BUSTAMANTE FERNANDES Rio de Janeiro 2009

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde

Faculdade de Medicina Programa de Pós-Graduação em Medicina

Doenças Infecciosas e Parasitárias

ANÁLISE DE MARCADORES MOLECULARES E DE RESISTÊNCIA IN

VITRO ÀS QUINOLÉINAS EM ISOLADOS DE PLASMODIUM

FALCIPARUM

CAROLINA DE BUSTAMANTE FERNANDES

Rio de Janeiro

2009

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ANÁLISE DE MARCADORES MOLECULARES E DE

RESISTÊNCIA IN VITRO ÀS QUINOLÉINAS EM ISOLADOS

DE PLASMODIUM FALCIPARUM

CAROLINA DE BUSTAMANTE FERNANDES

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Medicina

(Doenças Infecciosas e Parasitárias), Faculdade

de Medicina, da Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Mestre em Ciências

Aplicadas à Infectologia

Orientador: Prof. Dr. Mariano Gustavo Zalis

Rio de Janeiro

Maio/2009

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Bustamante, Carolina Análise de marcadores moleculares e de resistência in vitro às quinoleínas em isolados de Plasmodium facilparum. – Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2009. xv, 202 f. : il. ; 31 cm. Orientador: Mariano Gustavo Zalis Dissertação (Mestrado) – UFRJ, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Medicina – Doenças Infecciosas e Parasitárias, 2008. Referências Bibliográficas: f. 109-124 1. Antimaláricos. 2. Resistência. 3.Plasmidium falciparum. 4.pfcrt. 5. pfmdr1 – Tese. I. Bustamante, Carolina. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Medicina – Doenças Infecciosas e Parasitárias. III. Título.

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ANÁLISE DE MARCADORES MOLECULARES E DE RESISTÊNCIA IN

VITRO ÀS QUINOLÉINAS EM ISOLADOS DE PLASMODIUM

FALCIPARUM

Carolina de Bustamante Fernandes

Orientador: Prof. Dr. Mariano Gustavo Zalis

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias), Faculdade de Medicina, da

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Aplicadas à Infectologia

Aprovada por: __________________________________________ Presidente, Prof. Dr. __________________________________________ Prof. Dr. __________________________________________ Prof. Dr.

Maio/2009

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A meus pais, Marcio Fernandes e Glaucia

Bustamante, que desde sempre me conduziram ao

caminho do saber.

À minha família, em especial minha irmã Luisa e

minha avó Ivana pelo constante apoio e estímulo no

meu desenvolvimento pessoal. Ao meu namorado,

Marco, pela dedicação, amor e incentivo.

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AGRADECIMENTOS

Essa tese foi construída e realizada com o apoio infinito de diversas pessoas

e instituições. Deixo aqui meus sinceros agradecimentos:

Ao Prof. Mariano Zalis, meu orientador, pela atenção, amizade, apoio e

paciência durante todos esses anos, agradeço por me ensinar que sempre é

possível ir além, mesmo tendo que dar um passo para trás a fim de alcançar dois à

frente.

Ao Laboratório de Infectologia e Parasitologia Molecular e a meus colegas

de trabalho que me acompanharam de perto nessa jornada, agradeço pelo apoio e

descontração de todos os dias. Sem dúvida, muitos se tornaram amigos e a esses

sou grata, em especial, à Zalona, pelo apoio incondicional de todas as horas, dentro

e fora do laboratório, por toda a ajuda nos procedimentos, correção da tese e pela

constante amizade. À Camomila, companheira desde o primeiro semestre da

faculdade, agradeço por todas as gargalhadas, descontração e pela amizade. A

Rafael, pela rabugice engraçada que sinto tanta falta, agradeço por toda ajuda na

parte estatística dessa tese. Ao querido Aspira, André, pela descontração de todos

os dias. Aos outros membros do laboratório, mesmo os que estão longe ou os que

traçaram outros caminhos: Anna Carla, Dani, Flávia, Luis, Martolina, Larissa, Camile,

Alex, Érica, Omaira, Babs.

À Elieth Mesquita e à minha segunda família de Porto Velho, que me

receberam de braços abertos, agradeço por todos os momentos e pelo

conhecimento que adquiri neste tempo.

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Ao Prof. Amilcar Tanuri e seu laboratório, onde realizei todo o

sequenciamento. Em especial à Monica e à Anna Flavia por toda paciência e ajuda.

À tia Wilma, secretária da DIP, por ajudar na elaboração da estrutura da

tese.

Ao seminário Laveran & Deane sobre malária, pela semana de intenso

aprendizado.

À pós-graduação em Medicina – Doenças Infecciosas e Parasitárias.

À minha família, por todos os conceitos divididos, ensinados e aprendidos,

pelo apoio e confiança em mim depositados em todos os momentos de minha vida.

Agradeço, em especial à minha avó, que mesmo na distância, está sempre em meu

pensamento e a meus irmãos, a constante alegria e muito amor.

Aos meus pais, pela confiança que possuem em mim, desde a minha

infância até os dias de hoje. São exemplos de determinação, dedicação,

honestidade, muita felicidade e amor. Agradeço por todos os momentos em que

estamos juntos, sempre nos passando segurança e tranqüilidade a fim de que

realizássemos todos os nossos objetivos.

À minha mãe, minha irmã e namorado pela paciência infinita na correção da

tese.

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RESUMO

ANÁLISE DE MARCADORES MOLECULARES E DE RESISTÊNCIA IN VITRO ÀS QUINOLÉINAS EM ISOLADOS DE PLASMODIUM FALCIPARUM

Carolina de Bustamante Fernandes

Orientador: Prof. Dr. Mariano Gustavo Zalis

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação

em Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Aplicadas à Infectologia.

A malária é a doença parasitária de grande impacto na saúde pública, causando

aproximadamente 500 milhões de casos clínicos e um milhão de óbitos. A emergência de parasitos resistentes representa um grande desafio para o controle da doença nas áreas endêmicas. Estudos sugerem que mutações pontuais, principalmente em proteínas transportadoras, são responsáveis pela redução da sensibilidade do parasito aos antimaláricos. Um estudo realizado por Mu e cols (2003) demonstrou que 11 genes tiveram uma associação significativa com a susceptibilidade in vitro à CQ e à QN de cepas de laboratório. Dois destes genes, pfcrt e pfmdr1 já foram bem caracterizados, enquanto pouco se conhece sobre os outros nove. Nesse estudo associamos os níveis de susceptibilidade in vitro de P. falciparum às mutações nos genes pfcrt, pfmdr1, PfA0590w (G2), PfE0775c (G47) e Pf13-0271 (G7) de amostras coletadas em Porto Velho, Rondônia, Brasil e em Ibadan, Nigéria. A avaliação da susceptibilidade in vitro à Cloroquina, Mefloquina, Amodiaquina e Quinina foi realizada pelo microteste e a análise das mutações por sequenciamento. Foi demonstrada resistência à Cloroquina em 96,5% dos isolados brasileiros e em 22,1% dos isolados nigerianos e resistência à Amodiaquina em 15% dos isolados brasileiros e 33,9% dos isolados nigerianos. As mutações K76T, N86Y, S263P e S241A nos genes pfcrt, pfmdr1, G47 e G2, respectivamente, foram associados à resistência à Cloroquina. Enquanto que mutações K76T, N86Y e N834N&1 no gene G7 foram associadas à resistência à Amodiaquina. Além disso, foi observada resistência cruzada entre as drogas Cloroquina e Amodiaquina e Amodiaquina e Mefloquina. Esse estudo demonstrou um aumento da resistência à Amodiaquina no Brasil e na Nigéria, e uma redução na susceptibilidade do parasito à Cloroquina no Brasil. Também ficou evidenciado que mutações nos genes pfcrt, pfmdr1, G2, G7 e G47 estão associadas à susceptibilidade à Amodiaquina e à Cloroquina.

Palavras-chave: Antimaláricos, resistência, malária, falciparum, pfcrt, pfmdr1

Rio de Janeiro Maio/2009

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ABSTRACT

ANALYSIS OF MOLECULAR MARKERS AND OF IN VITRO RESISTANCE TO QUINOLEINES FROM PLASMODIUM FALCIPARUM ISOLATES

Carolina de Bustamante Fernandes

Orientador: Prof. Mariano Gustavo Zalis

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias), Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Mestre em Ciências Aplicadas à Infectologia

Malaria is a parasitic disease with major impact in the public health, causing approximately 500 million clinical cases and a million of deaths. The emergence of resistant parasites is one of the major challenges to control malaria in the endemic areas. The literature describes punctual mutations, mainly in transporter proteins, as responsible for the susceptibility decrease to antimalarial drugs. A study performed by Mu et. al. (2003) showed that 11 genes had a significant association with in vitro resistance to CQ and QN. Two of these genes, pfcrt and pfmdr1, are well characterized, albeit little is known about the other nine genes. In this study we have associated the in vitro susceptibility levels with the mutations in the pfcrt, pfmdr1, PfA0590w (G2), PfE0775c (G47) and Pf13-0271 (G7) genes from P. falciparum samples collected at Porto Velho, Rondônia, Brasil and Ibadan, Nigeria. The evaluation of the in vitro susceptibility was performed by microtest and the mutations analysis by direct DNA sequencing of PCR products. Our in vitro test results showed resistance to Chloroquine in 96.5% of the Brazilian isolates and in 22.1% of the Nigerian isolates and resistance to Amodiaquine in 15% of the Brazilian isolates and in 33.9% of the Nigerian isolates. The mutations K76T, N86Y, S263P and S241A in the Pfcrt, pfmdr1, G47 and G2 genes respectively were associated to Chloroquine resistance while the mutations K76T, N86Y and N834N&1 in the G7 gene were associated to Amodiaquine resistance. Furthermore it has been demonstrated cross resistance between Chloroquine and Amodiaquine and Amodiaquine and Mefloquine. This study showed an increase resistance to Amodiaquine in Brazil and Nigeria and susceptibility reduction to Chloroquine in Brazilian parasites. Moreover it made evident that mutations in pfcrt, pfmdr1, G2, G7 e G47 genes are associated to Amodiaquine and Chloroquine susceptibility. Key words: Antimalarials, resistance, malaria, falciparum, pfcrt, pfmdr1

Rio de Janeiro Maio/2009

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS E TABELAS ........................................................ XII

1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................. 4 2.1 AGENTE ETIOLÓGICO E VETOR ................................................................ 4 2.2 CICLO BIOLÓGICO DO P. falciparum ......................................................... 5 2.3 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA MALÁRIA ............................................ 7 2.4 TRATAMENTO DA MALÁRIA POR P.falciparum ..................................... 10 2.5 MECANISMOS DE AÇÃO DAS QUINOLEÍNAS ......................................... 15 2.6 SENSIBILIDADE AOS FÁRMACOS ........................................................... 19 2.7 DETERMINANTES MOLECULARES E MECANISMOS DE

RESISTÊNCIA AOS ANTIMALÁRICOS ..................................................... 21 2.7.1 Gene pfcrt e a resistência à Cloroquina .................................................. 23 2.7.2 Gene pfmdr1 e resistência a multidrogas ............................................... 29 2.7.3 Outros genes envolvidos na susceptibilidade às Quinoleínas ................ 33

3 JUSTIFICATIVA ............................................................................... 36

4 OBJETIVOS ..................................................................................... 38

5 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................... 39 5.1 ÁREA DE ESTUDO E CASUÍSTICA ........................................................... 39 5.2 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE IN VITRO DO PARASITO ........................... 40 5.2.1 Preparo da suspensão das hemácias ..................................................... 40 5.2.2 Diluição dos antimaláricos ...................................................................... 41 5.2.3 Preparo das placas de microcultura ....................................................... 42 5.2.4 Contagem da parasitemina e determinação do IC50 ............................... 43 5.2.5 AVALIAÇÃO DAS MUTAÇÕES GENÉTICAS ............................................ 44 5.2.6 Extração do DNA Plasmodial ................................................................. 44 5.2.7 Amplificação do DNA .............................................................................. 45 5.2.8 Purificação do produto da amplificação .................................................. 48 5.2.9 Quantificação do produto purificado ....................................................... 48 5.2.10 Concentração de DNA dos produtos da purificação .............................. 49 5.2.11 Reação de Sequenciamento .................................................................. 49 5.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................. 50

6 RESULTADOS ................................................................................. 51 6.1 QUIMIOSSENSIBILIDADE IN VITRO DAS AMOSTRAS............................ 51 6.1.1 Teste in vitro da CQ ................................................................................ 51 6.1.2 Teste in vitro da AQ ................................................................................ 53 6.1.3 Teste in vitro da QN ................................................................................ 55

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6.1.4 Teste in vitro da MQ ............................................................................... 57 6.2 AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA CRUZADA ENTRE OS

ANTIMALÁRICOS ....................................................................................... 58 6.3 ANÁLISE GENOTÍPICA .............................................................................. 62 6.3.1 Gene pfcrt ............................................................................................... 62 6.3.2 Gene pfmdr1 ........................................................................................... 64 6.3.3 Gene G7 ................................................................................................. 64 6.3.4 Gene G47 ............................................................................................... 65 6.3.5 Gene G2 ................................................................................................. 66 6.4 ANÁLISE FILOGENÉTICA DAS AMOSTRAS ............................................ 67 6.5 CORRELAÇÃO ENTRE OS POLIMORFIMOS E OS VALORES DE

IC50 IN VITRO .............................................................................................. 72 6.5.1 Correlação entre a atividade in vitro da CQ e os polimorfismos ............. 72 6.5.2 Correlação entre a atividade in vitro da AQ e os polimorfismos ............. 78 6.5.3 Correlação entre a atividade in vitro dos antimaláricos e os

polimorfismos pelo teste de Kruskal- Wallis ........................................... 86

7 DISCUSSÃO .................................................................................... 88

8 CONCLUSÃO ................................................................................. 107

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 108

ANEXOS ............................................................................................... 125 ANEXO 1: Carta de colaboração com a Prof. Elieth Mesquita (CEPEM) ......... 125 ANEXO 2: Carta da aprovação do comitê de ética para as amostras da

Nigéria ....................................................................................................... 127 Anexo 3: Carta de coleboração com o Dr. Christian Happi, Nigéria ................ 128 Anexo 4: Manuscrito do artigo ............................................................................ 129

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

µL Microlitro

µM Micromolar

A Alanina

ACTs

Artemisinine-based combination therapies - Combinação terapêutica com base em

derivados da Artemisinina

AQ Amodiaquina

ART Artemisinina

ASMQ Artesunato-Mefloquina

ATP Adenosina 5'-trifosfato

C Cisteína

CDC Center for Disease Control - Centro de Controle de Doenças

cols. Colaboradores

CQ Cloroquina

D Ácido Aspártico

DDT Dicloro-Difenil-Tricloroetano

DNA Ácido Desoxiribonucleico

dNTP Desoxirribonucleotídeos trifosfatados

E Ácido Glutâmico

EDTA Ethylenediamine tetraacetic acid - ácido etilenodiamino tetra-acético

F Fenilalanina

H Histidina

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HF Halofantrina

HXA Hipoxantina tritiada

I Isoleucina

IC50 Concentração inibitória de 50% dos parasitos

K Lisina

kb Kilobase

kDa kiloDalton

L Leucina

Mb Megabase

MDR Multidrug resistance - resistência à múltiplas drogas

mL Mililitro

mM Milimolar

MQ Mefloquina

N Asparagina

nM Nanomolar

OMS Organização Mundial da Saúde

PCR Polymerase chain reaction - Reação em cadeia da polimerase

pfcrt

Plasmodium falciparum chloroquine resistant transporter - transportador de

resistência à CQ do P. falciparum

pfmdr1

Plasmodium falciparum multidrug resistant - gene de resistência à multiplas drogas

do P. falciparum

pfmrp

Plasmodium falciparum multiresistent protein - Proteína de resistência múltipla do

P. falciparum

Pgh-1 Glicoproteína – 1

Q Glutamina

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QN Quinina

R Arginina

RFLP

Restriction fragment length polymorphism - Polimorfismo do Tamanho do

Fragmento de Restrição

S Serina

SNP Single nucleotide polymorphism - Polimorfismo de único nucleotídeo

T Treonina

TBE Tris/Borato/EDTA

TCLE Termo de consentimento livre e esclarecido

VD Vacúolo digestivo

Y Tirosina

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LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figura 1 Ciclo do P. falciparum ……………….…………………..............…… 6 Figura 2 Mapa de risco da malária na Amazônia Lega…...............………… 8 Figura 3 Proporção de casos de malária, por espécie de plasmódio…………………………………………...............………….. 9 Figura 4 Casos de P. falciparum reportador na Nigéria …………….............. 10 Figura 5 Formação da hemozoína..…………………………………................ 16

Figura 6 Formação da hemozoína no vacúolo digestivo………………….………….................................................. 18

Figura 7 Complexo formado pela ligação da CQ e o grupo heme…............. 19 Figura 8 Estrutura da proteína do pfcrt……………….................................... 25 Figura 9 Representação da estrutura da Pgh-1………….................…….…. 30 Figura 10 Figura esquemática da placa de teste in vitro…….......................... 43 Figura 11 Distribuição das amostras dispostas pelo valor de IC50 para CQ em nM............................................................................... 53 Figura 12 Distribuição das amostras dispostas pelo valor de IC50 para AQ em nM............................................................................... 55 Figura 13 Distribuição das amostras dispostas pelo valor de IC50 para QN em nM............................................................................... 56 Figura 14 Distribuição das amostras dispostas pelo valor de IC50 para MQ em nM............................................................................... 58 Figura 15 Correlação entre os IC50s da AQ e da CQ no n total de amostras…………........................................................................... 59 Figura 16 Correlação entre os IC50s da AQ e da CQ em amostras do Brasil…………............................................................................ 60 Figura 17 Correlação entre os IC50s da AQ e da CQ em amostras da Nigéria………….......................................................................... 61

Figura 18 Correlação entre os IC50s da AQ e da MQ em amostras do Brasil………..................................................................................... 62

Figura 19 Árvore filogenética das amostras com seqüencia dos cinco genes………. ......................................................................... 68 Figura 20 Ramo superior da árvore filogenética……………………................. 69 Figura 21 Ramo inferior da árvore filogenética ……………………….............. 71

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Figura 22 Gráfico de IC50 para CQ das amostras brasileiras e nigerianas e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, pfcrt e pfmdr1………....................................................... 73 Figura 23 Gráfico de IC50 para CQ das amostras nigerianas e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, pfcrt e pfmdr1………………………............................................................ 75 Figura 24 Gráfico de IC50 para CQ das amostras brasileiras e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, pfcrt e pfmdr1………................................................................................... 77 Figura 25 Gráfico de IC50 para AQ das amostras brasileiras e nigerianas e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, Pfcrt e Pfmdr1………….................................................... 80 Figura 26 Eletroferograma do seqüenciamento do pfcrt apresentando duas bases na mesma posição....................................................... 82 Figura 27 Gráfico de IC50 para AQ das amostras nigerianas e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, pfcrt e pfmdr1…......................................................................................... 83 Figura 28 Gráfico de IC50 para AQ das amostras brasileiras e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, pfcrt e pfmdr1………................................................................................... 85

Tabela 1 Mutações em 15 códons associadas à resistência no gene pfcrt

e os haplótipos encontrados em diferentes regiões geográficas.. 28

Tabela 2 Mutações e número de cópias do gene pfmdr1 associados à

resistência à múltiplas drogas e os haplótipos encontrados em

diferentes regiões do mundo ........................................................ 32

Tabela 3 Concentração de cada droga e diluições...................................... 41

Tabela 4 Limiares de resistência da CQ, AQ, QN e MQ ............................. 44

Tabela 5 Sequência dos oligonucleotídeos.................................................. 47

Tabela 6 Média, intervalo de confiança e Variação de IC50 da CQ.............. 51

Tabela 7 Média, IC 95% e variação do IC50 da CQ em amostras

sensíveis e resistentes.................................................................. 52

Tabela 8 Média, intervalo de confiança e Variação de IC50 da AQ.............. 54

Tabela 9 Média, IC 95% e variação do IC50 da AQ em amostras

sensíveis e resistentes.................................................................. 54

Tabela 10 Média, intervalo de confiança e variação de IC50 da QN.............. 56

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Tabela 11 Média, intervalo de confiança e Variação de IC50 da MQ.............. 57

Tabela 12 Correlação das atividades in vitro da CQ, AQ, QN e MQ.............. 59

Tabela 13 Haplótipos do gene pfcrt em amostras da Nigéria e do Brasil...... 63

Tabela 14 Frequencia da mutação K76T do gene pfcrt no Brasil e na

Nigéria............................................................................................ 63

Tabela 15 Frequencia da mutação N86Y do gene pfmdr1 no Brasil e na

Nigéria............................................................................................ 64

Tabela 16 Frequencia da mutação 834N&1 do gene G7 no Brasil e na

Nigéria............................................................................................ 65

Tabela 17 Haplótipos do gene G47 em amostras da Nigéria e do Brasil....... 66

Tabela 18 Freqüencia da mutação S437A do gene G2 no Brasil e na

Nigéria............................................................................................ 66

Tabela 19 Resistência à CQ em função das mutações nos genes................ 74

Tabela 20 Resistência à CQ em função das mutações nos genes em

amostras da Nigéria....................................................................... 76

Tabela 21 Resistência à AQ em função das mutações nos genes................ 81

Tabela 22 Resistência à AQ em função das mutações nos genes em

amostras da Nigéria....................................................................... 84

Tabela 23 Teste de Kruskal-Wallis................................................................. 87

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1 INTRODUÇÃO

A malária é uma doença infecciosa grave, causada por um protozoário do

gênero Plasmodium e transmitido através do repasto sanguíneo do mosquito-fêmea,

gênero Anopheles (Cowman e Crabb, 2006). É considerada uma das doenças

reemergentes mais graves, provocando cerca de 250 milhões de casos clínicos e

um milhão de óbitos ao ano, em todo o mundo. Afeta principalmente crianças abaixo

de cinco anos e estima-se que haja o óbito de uma criança a cada 40 segundos na

África (Sachs e Malaney, 2002). A malária é um problema que, não só atinge a

saúde da população, como também, incide diretamente no caráter sócio-econômico

dos países. Em regiões endêmicas, a doença ocasiona ausência do trabalho e

escolas, gerando estagnação econômica (Sachs e Malaney, 2002; Lewison e

Srivastava, 2008).

O parasito acomete o homem desde a pré-história. Provavelmente originário

do continente africano, acompanhou a saga migratória do ser humano pelas regiões

do Mediterrâneo, Mesopotâmia, Índia e Sudeste Asiático. Sua chegada às Américas,

ainda hoje, é motivo de especulações (Dobson, 1994).

Em 1880, o médico do exército francês Charles Alphonse Laveran, em

exercício na Argélia, foi o primeiro a descrever parasitos da malária no interior dos

glóbulos vermelhos humanos. Já em 1897, o médico britânico Ronald Ross, na

Índia, elucidou o modo de transmissão do parasito, ao encontrar o protozoário no

interior de um mosquito que exercera hematofagia em um portador da doença. O

ciclo completo do desenvolvimento do parasito, no homem e na fêmea do

Anopheles, foi descrito em seguida pelos pesquisadores italianos Amico Bignami,

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Giuseppe Bastianelli e Batista Grassi, em estudos realizados entre 1898 e 1899

(Villalon et al., 2003).

Como não há vacina contra a malária, o controle da doença depende do uso

de antimaláricos e de medidas contra o vetor anofelino (Chatterjee et al., 2006). No

entanto, a emergência de parasitos resistentes à maior parte dos antimaláricos

disponíveis e mosquitos resistentes ao DDT (Dicloro-difenil-tricoloetano) tem se

revelado como o maior obstáculo na contenção da doença (Diallo et al., 1999).

Algumas drogas, como a cloroquina (CQ) e o Fansidar, não têm mais eficácia e

outras, como a mefloquina (MQ), amodiaquina (AQ) ou até mesmo a quinina (QN),

têm efeito reduzido sobre o parasito. Muito preocupante é o fato de que, em regiões

endêmicas, o parasito possa ser resistente a dois ou mais fármacos, fenômeno

conhecido como “resistência a multidrogas” (Wongsrichanalai et al., 2002).

O monitoramento de parasitas resistentes a determinado fármaco é um fator

determinante no controle da doença. Testes in vitro, onde o sangue do paciente

parasitado é exposto a concentrações precisas do composto, são utilizados para

determinar o grau de susceptibilidade do parasito à droga. Uma vez determinada

sua susceptibilidade, é possível monitorar o efeito do medicamento e assim

determinar a melhor escolha terapêutica para indivíduos de uma mesma região

(WHO, 2006).

O seqüenciamento possibilitou a busca por homologia de proteínas

transportadoras que pudessem estar associadas à resistência aos antimaláricos e à

identificação de marcadores moleculares, os quais permitem prever rapidamente a

resposta dos parasitos às drogas (Wernsdorfer e Noedl, 2003).

Estudos de mapeamento genético e associação de mutações com o perfil de

susceptibilidade in vitro identificaram mutações nos genes pfcrt e pfmdr1, que atuam

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nas respostas do parasito aos antimaláricos (Reed et al., 2000; Johnson et al.,

2004). O fenótipo de resistência pode estar associado a apenas um gene

predominante, no qual há mutações críticas que elevam o IC50 em testes in vitro - é

o caso do gene pfcrt. No entanto, pode ocorrer a interação de outros genes que

contribuem para a escala variada de resposta in vitro, encontrada entre amostras de

plasmódio (Su e Wootton, 2004). Em um estudo realizado por Mu e cols. (2003),

baseado em ensaios in vitro de resposta à CQ, foi encontrada variação quantitativa

de susceptibilidade associada aos alelos de genes codificadores de proteínas

transportadoras, incluindo o pfmdr1 em adição ao efeito do pfcrt (Mu et al., 2003).

Isto é, a correlação da resposta in vitro com os marcadores varia de acordo com a

origem geográfica dos isolados. Ou seja, em algumas regiões e possível observar

correlação entre certa droga e um marcador, no entanto, essa correlação pode não

ser encontrada em relação à mesma droga e o marcador em outras regiões. Esse

fato está possivelmente relacionado à seleção dos parasitos pelos antimaláricos

utilizados no esquema terapêutico de cada região. Sendo assim, os esquemas

terapêuticos de cada país selecionam uma coorte de marcadores moleculares

distintos de uma região à outra.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 AGENTE ETIOLÓGICO E VETOR

Os agentes etiológicos da malária são protozoários pertencentes ao filo

Apicomplexa, ordem Eucoccidiidae, subordem Haemosporinae, família Plasmodiae,

Gênero Plasmodium, com 172 espécies que infectam aves, répteis e mamíferos

(Levine, 1988). Cinco dessas espécies infectam naturalmente o homem:

Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax, Plasmodium ovale, Plasmodium

malariae e Plasmodium knowlesi (Singh et al., 2004).

Entre as cinco espécies de plasmódio, a malária que é causada por P.

falciparum, destaca-se como a forma mais maligna por ser responsável pela

aderência dos eritrócitos infectados ao endotélio vascular (citoaderência), causando

assim obstrução de pequenos vasos sanguíneos e complicações graves, como

malária cerebral (Heddini, 2002; Kirchgatter e Del Portillo, 2005). P. vivax é menos

letal, porém causa maior morbidade. É comum em áreas tropicais fora da África,

visto que a maioria da população africana não possui o antígeno Duffy na superfície

dos eritrócitos necessário para a invasão dessa espécie (Mendis et al., 2001). As

espécies P. vivax e P. ovale possuem a habilidade de permanecer latente como

hipnozoítos nos hepatócitos (Aguas et al., 2008). Por sua vez, as espécies P.

malariae e P. falciparum não formam hipnozoítos, mas podem persistir por décadas

no organismo do homem sem manifestar sintomas. A quinta espécie, P. knowlesi,

originalmente descrita como infectante apenas de macacos, provou-se, infectar

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também os humanos, tendo sido vinculada como infecção natural do homem na

Malásia e no sudeste asiático (White, 2008a).

O plasmódio é transmitido ao homem através de vetores da ordem Díptera,

família Culicidae, gênero Anopheles. A espécie Anopheles darlingi é aquela de maior

abundância no Brasil. Esse mosquito possui alto grau de antropofilia e é capaz de

transmitir diferentes espécies de plasmódio (Povoa et al., 2000). Os anofelinos

utilizam como criadouros preferenciais as águas limpas, quentes, sombreadas e de

baixo fluxo, situação muito frequente na região amazônica (Deane et al., 1969). Na

Nigéria, os vetores de maior distribuição e eficiência são An.arabiensis e

An.gambiae (Matthews et al., 2007).

2.2 CICLO BIOLÓGICO DO P. falciparum

O parasito possui um ciclo biológico complexo em que a transmissão ocorre

através da fêmea do mosquito Anopheles. O parasito tem estágios sexuais

obrigatórios – os gametas masculinos fecundam os femininos no intestino

intermediário do mosquito. O zigoto representa o único estágio diplóide do ciclo

biológico do plasmódio. A meiose ocorre em até 3 horas após a fertilização e todos

os estágios subseqüentes no mosquito e no humano são haplóides (Sinden e

Hartley, 1985). Quando o mosquito ingere o sangue de um indivíduo infectado com

parasitos geneticamente distintos, a fertilização e a recombinação entre os parasitos

geram novos genótipos. A recombinação genética ocorre frequentemente em

regiões geográficas com alta taxa de transmissão de malária, ao contrário de regiões

onde essa taxa é baixa (Babiker et al., 1994; Paul et al., 1995).

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O ciclo biológico do parasito possui três estágios, dois no humano (estágios

exo-eritrocítico e eritrocítico, ambos assexuados) e um no mosquito (estágio

sexuado ou esporogônico). As etapas do ciclo estão representadas na Figura 1.

Figura 1: Ciclo do P. falciparum. A infecção nos humanos inicia-se quando a fêmea infectante do mosquito Anopheles, ao exercer hematofagia, inocula esporozoítos de sua glândula salivar nos capilares da pele (1). Em 30 minutos, os esporozoítos invadem os hepatócitos (2), onde se reproduzem assexuadamente, formando milhares de merozoítos (3). De 7 a 14 dias, os merozoítos rompem o hepatócito e são liberados na corrente sanguínea (4), onde invadem as hemácias (5) e sofrem maturações morfologicamente distintas, compreendendo três fases, respectivamente: trofozoíto jovem (6), trofozoíto (7) e esquizonte (8). Com a maturação completa, os eritrócitos se rompem, liberando novos merozoítos na corrente sanguínea (9). Em seguida, invadem novas hemácias, reiniciando o ciclo. Após sucessivas gerações de merozoítos, algumas formas se diferenciam em estágios sexuados, os gametócitos (10), que são formas infectantes para o mosquito.

A infecção do vetor ocorre quando a fêmea do mosquito Anopheles, durante a hematofagia em indivíduo infectado, ingere os gametócitos femininos e masculinos (11). No estômago do mosquito, o gametócito masculino fecunda o gametócito feminino, gerando o zigoto (12), o qual se alonga, gerando o oocineto (13) que atravessa a parede estomacal (14) do inseto e se transforma em oocisto (15), cujo conteúdo se divide para formar esporozoítos (17). Estes migram para a glândula salivar do mosquito, estando assim prontos para infectarem um novo indivíduo (CDC, 2004).

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2.3 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA MALÁRIA

De acordo com os dados da OMS de 2008, a malária é difundida em

aproximadamente 100 países, localizados nas regiões tropicais e subtropicais do

planeta (WHO, 2008).

Cerca de um terço da população mundial está exposta ao risco de

transmissão da doença, sendo que 90% dos casos ocorrem na África subsaariana,

fazendo, principalmente, vítimas as crianças e gestantes (WHO, 2001). Em outros

países, os óbitos acorrem, geralmente, em pessoas não imunes e infectadas por P.

falciparum, que não tiveram diagnóstico e tratamento adequados (Baird, 2005).

O risco de aquisição da doença não é uniforme dentro de um mesmo país e é

frequentemente desigual entre locais situados em uma mesma região, além de

sofrer variações com as estações do ano e ao longo do tempo (CDC, 2004). A

densidade populacional do parasito nas regiões endêmicas é resultado de um

conjunto de fatores climáticos, tais como temperatura, umidade e pluviosidade,

condições estas essenciais à sobrevivência e multiplicação do mosquito transmissor.

Mesmo nas regiões tropicais e subtropicais não ocorre transmissão em locais

de grande altitude, em estações frias, nos desertos, em algumas ilhas do Oceano

Pacífico onde não há vetor e em lugares onde a transmissão foi erradicada

(Costantini et al., 1996).

Em regiões temperadas, como Estados Unidos da América (EUA) e Europa,

houve erradicação bem sucedida da malária. Entretanto, o vetor Anopheles ainda

está presente, sendo um potencial transmissor à população, se porventura

imigrantes ou turistas chegarem contaminados a esses países (CDC, 2004).

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No Brasil, a malária é a mais expressiva das endemias (Brasil/MS/FNS/SVS,

2005). Cerca de 99% dos casos clínicos estão concentrados na Amazônia Legal

Brasileira, onde residem apenas 12% da população (Figura 2). Os Estados de maior

incidência de malária são Amazonas (38%), Pará (25%) e Acre (22%), seguidos de

Roraima (7%), Rondônia (5%), Maranhão (1%), Amapá (1%) e Mato Grosso (1%),

com cerca de 460 mil casos reportados no ano de 2007 (Brasil/MS/FNS/SVS, 2008).

Ver figura 2.

Figura 2: Mapa de risco da malária na Amazônia Legal, 2007. Baixo risco: IPA < 10; médio risco IPA 10-49; alto risco IPA ≥ 50 (Brasil-MS/FNS/SVS, 2005).

No Brasil, há transmissão de três espécies do parasito: P. vivax, P. falciparum

e P. malariae (Brasil/MS/FNS/SVS, 2008). As infecções causadas por P. vivax são

predominantes (79,6%) Figura 3. Houve redução dos casos de malária por P.

falciparum de 25% em 2006, para 19% em 2007, provavelmente devido à ação

rápida no tratamento e no diagnóstico realizado pelo governo e à alteração do

esquema terapêutico para o tratamento da malária causada por P.falciparum (Brasil

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– MS/FNS/SVS, 2005). Além disso, o controle de P. falciparum ocorre de forma mais

fácil porque essa espécie produz gametócitos mais tardiamente do que P. vivax

(Price et al., 2007).

Figura 3: Proporção de casos de malária, por espécie de plasmódio. Amazônia Legal, 2007. F+V = Infecção mista por P. falciparum e P. vivax (Brasil – MS/FNS/SVS, 2008).

A Nigéria está localizada na África Ocidental e possui a maior densidade

populacional do continente africano – as Nações Unidas estimam que a população,

em 2005, era de 141 milhões. Suas maiores cidades encontram-se localizadas nas

terras baixas do sul, a parte central do país é composta por colinas e planaltos e o

norte consiste de terras baixas áridas. Seus países limítrofes são Benim, Níger,

Chade e Camarões. Em comparação, sua área geográfica é pouco maior que o

estado de Mato Grosso.

A floresta e os bosques se localizam principalmente no terço sul do país, que

é afetado por chuvas sazonais oriundas do Oceano Atlântico entre junho e

setembro. À medida que segue para norte, o país se torna mais seco e a vegetação

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mais semelhante à da savana. O terço norte do país está incluído na região semi-

árida do Sahel, que marca o limite sul do deserto do Saara.

O país demarca um quarto de todos os casos de malária da África. Em 2007,

houve cerca de três milhões de casos e 10.300 óbitos, a maioria causada por P.

falciparum. A transmissão ocorre de forma perene no sul do país e de forma sazonal

no norte (Figura 4).

Figura 4. Casos reportados/1000 na Nigéria.

2.4 TRATAMENTO DA MALÁRIA POR P.falciparum

Na ausência de uma vacina antimalárica até a presente data, o controle da

doença depende, quase que exclusivamente, da quimioterapia (Chatterjee et al.,

2006), portanto, o diagnóstico rápido, seguido de tratamento imediato são os

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principais componentes da estratégia de controle da doença (WHO, 2005). A

eficácia dessa intervenção é dependente dos antimaláricos, que devem ser seguros,

eficazes, disponíveis e aceitos pela população em risco (Talisuna et al., 2004). O

uso racional desses compostos não só reduz o risco de sintomas graves e encurta o

tempo da doença, como também contribui para a redução do desenvolvimento de

parasitos resistentes (WHO, 2000).

Os antimaláricos são baseados em produtos naturais ou compostos sintéticos

produzidos a partir da década de 40 do século passado e são específicos para cada

etapa do ciclo de vida do plasmódio. Existem fármacos chamados eritrocíticos, que

atuam nas formas presentes nas hemácias. Já os compostos gametocíticos

eliminam as formas sexuadas do parasita no indivíduo infectado, impedindo que o

hospedeiro transmita a doença para novos mosquitos. Existem ainda os fármacos

que agem sobre a forma hepática do parasito, os hipnozoítas.

O antimalárico mais antigo e conhecido no ocidente é a QN, composto

extraído da casca de várias espécies de árvores, do gênero Cinchona e natural do

Peru. A casca era transformada em pó e servida em forma de bebida para curar a

doença. Após a conquista do império Inca, a QN foi levada pelos espanhóis para a

Europa e teve seu composto ativo isolado, em 1820, pelos químicos franceses

Pierre Pelletier e Joseph Caventou, sendo sintetizado em laboratório na década de

40 (Foley e Tilley, 1998).

A QN faz parte da família das quinoleínas, que incluem as 4-

aminoquinoleínas, as 8-aminoquinoleínas e os alcoóis quinoleínicos (Steck et al.,

1948). Durante a segunda guerra mundial, o fornecimento da droga foi interrompido

devido às sucessivas invasões de regiões que cultivavam a Cinchona, o que

estimulou a substituição da droga pela CQ (Coatney, 1949). Produzida desde 1934,

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a CQ foi considerada o “fármaco perfeito”, altamente eficaz contra as formas

eritrocíticas de P. falciparum, de baixo custo e ausente de efeitos colaterais (White et

al., 1992). Devido a seu sucesso, a partir de 1946, passou a ser utilizada

extensivamente em todas as regiões endêmicas de malária. A droga era utilizada

como tratamento empírico, para qualquer febre e adicionada indiscriminadamente ao

sal de cozinha como profilaxia. Com o uso abusivo, muitas vezes em concentrações

sub-letais para o parasito e a alta pressão seletiva exercida pela droga, foram

reportados os primeiros casos de falha terapêutica no final da década de 50

(Wellems, 1991). Os focos de resistência iniciais foram reportados em 1957, 1959 e

1960, em três lugares geograficamente distantes: Tailândia, Colômbia e Brasil,

respectivamente. A partir desses focos iniciais, os parasitos resistentes se

alastraram para o sul do continente americano e para o sudeste Asiático. Da

Tailândia, difundiram-se para o Ocidente, atingindo o continente africano no final dos

anos 70 (Cowman e Foote, 1990). Desde então, a disseminação da resistência à CQ

foi lenta e está estabelecida, atualmente, na maioria das regiões onde existe

malária. No entanto, ao longo do tempo, outras drogas foram desenvolvidas e

passaram a substituir a CQ (Peters, 1985).

A AQ foi introduzida em algumas regiões em 1951 e a Sulfadoxina-

Pirimetamina (SP), em outras em 1957. Contudo, no início dos anos 70 foram

reportados diversos casos de resistência a essas drogas. A MQ, um composto

derivado do quinino, foi produzido, na mesma década, pelo exército norte americano

com o objetivo principal de combater a resistência dos parasitos aos fármacos

utilizados à época da guerra do Vietnã (Oduola et al., 1987). Quando a MQ passou a

ser administrada em larga escala, surgiram os primeiros casos de falha terapêutica à

droga (Nosten et al., 1991). A MQ é um composto que se liga às proteínas

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plasmáticas, portanto, tem meia-vida longa, permanecendo em concentrações sub-

terapêuticas no sangue, o que facilita a seleção de parasitos resistentes (White,

2004). Verificou-se também o fenômeno de resistência à droga em lugares onde

esta nunca havia sido utilizada, sendo esse um possível fenômeno da pressão

seletiva de outros fármacos (White, 1994).

Os chineses, com o intuito também de proteger seu exército na guerra do

Vietnã e de conseguir uma vantagem em relação ao exército norte-americano,

desenvolveram em 1967 um projeto com o extrato de uma erva medicinal, a

Artemisia annua, utilizada para o tratamento de febres desde 340 a.C (Wright, 2005).

Em 1970, foi isolada a Artemisinina ou Quinghaosu e a partir dela foram sintetizados

vários análogos como o Artesunato e o Arteméter. Esses compostos têm ação

esquizonticida e atividade gametocida, limitando assim a transmissão da doença

para outros hospedeiros (Hyde, 2002). As drogas também são ativas contra

parasitos resistentes aos outros antimaláricos e sua aplicação no tratamento da

malária é cada vez mais crescente. Não há relatos de falha terapêutica nos

derivados da Artemisinina, contudo, foram reportados alguns isolados de P.

falciparum da China e do Vietnã, com sensibilidade in vitro reduzida (Faye et al.,

2007).

A rápida disseminação de parasitos resistentes a todos os antimaláricos, em

sua maioria utilizados como monoterapias, induziu os países a reverem seus

esquemas terapêuticos. Ficou então estabelecido que o tratamento contra a malária

devesse ser realizado com a combinação de dois antimaláricos, em regime

terapêutico denominado de ACTs (Artemisinin-based combination therapies) (Olliaro

et al., 1996; White e Olliaro, 1996; White et al., 1999a). Os novos esquemas

terapêuticos seriam baseados na combinação de um composto derivado da

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artemisinina com outro antimalárico de ação distinta. A utilização de um único

fármaco no tratamento da malária ocasiona a seleção e a disseminação de parasitos

resistentes. Já a combinação de dois antimaláricos que atingem alvos diferentes no

parasito, é mais eficiente e diminui a probabilidade de surgimento de cepas

resistentes (White, 2004).

No Brasil, o esquema terapêutico para P. falciparum foi alterado

recentemente. Até o ano de 2007, eram utilizados os antimaláricos QN associados

com doxiciclina como primeira escolha terapêutica, seguido de MQ como segunda

escolha para malária não grave. Devido à disseminação de parasitos resistentes, o

Brasil aderiu à campanha da OMS para usar a combinação de antimaláricos. A partir

de 2007, passou a utilizar o Coartem, combinação entre arteméter e lumefantrina,

esse último antimalárico análogo à QN. O laboratório estadual, ligado à Fundação

Oswaldo Cruz, lançou uma nova combinação de artesunato e de MQ, denominada

de ASMQ, que também será utilizada no combate da malária na América Latina e na

Ásia.

Em 2003, o esquema terapêutico para tratar infecções por P. falciparum não

complicadas, na Nigéria, ainda era de CQ, mesmo havendo falha terapêutica em

cerca de 15%. A segunda escolha terapêutica era AQ para os casos de falha

terapêutica com CQ. De 2003 em diante, o país adotou a política de combinação de

antimaláricos da ONU (Organização das Nações Unidas), com a utilização, desde

então, de arteméter-lumefantrina ou de artesunato-amodiaquina (WHO, 2005; WHO,

2008). No entanto, a distribuição desses medicamentos não é governamental e

muitos médicos ainda prescrevem a CQ devido ao seu baixo custo, já que a

população nigeriana em sua maioria é de baixa renda.

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2.5 MECANISMOS DE AÇÃO DAS QUINOLEÍNAS

Os principais antimaláricos são classificados de acordo com o seu alvo no

parasito. As quinoleínas têm como alvo a síntese de hemozoína no vacúolo digestivo

(Geary et al., 1986). A SP age em enzimas da rota bioquímica de síntese do DNA

(Ferone, 1977). Ainda não foi estabelecido ao certo o alvo da artemisinina e seus

derivados; acredita-se que seja um inibidor da Ca2+ ATPase do retículo

sarcoplasmático (Dyer et al., 1996). Os antibióticos, como a tetraciclina e a

doxiciclina, agem no plastídeo, uma estrutura homóloga aos cloroplastos de plantas

presente no parasito (Dahl e Rosenthal, 2008).

O parasita da malária adquire a hemoglobina do hospedeiro para manter seu

ciclo biológico. Essa molécula é uma fonte de aminoácidos e extremamente

abundante no citoplasma dos eritrócitos humanos, é capturada do citoplasma do

eritrócito pela invaginação da membrana, formando uma vesícula de transporte

(Yayon et al., 1984). Esse processo ocorre através de uma estrutura tubular

periférica denominada citostomo. As membranas, em duplicidade, formam uma

vesícula de transporte, que posteriormente se fundem ao vacúolo digestivo (Figura

5).

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Figura 5: Formação da hemozoína. A invaginação do citoplasma pelo

Citostomo (C) forma a vesícula de transporte (VT) que posteriormente irá fundir-se ao vacúolo digestivo. MVP = Membrana do vacúolo parasitóforo; MP = membrana plasmática; RER = retículo endoplasmático rugoso; N= núcleo; CG = Complexo de Golgi; P = Plastídeo; M = Mitocôndria; h= heme; H = hemozoína (Bustamante et al., 2009).

No vacúolo digestivo, a hemoglobina é digerida pela ação de proteases

aspárticas (Plasmepsina I, II, IV) e histoaspárticas (Egan e Ncokazi, 2004). A reação

de catálise culmina na liberação de peptídeos que posteriormente são degradados

no citoplasma do parasito, originando aminoácidos necessários à sua sobrevivência.

Outro composto originário da digestão da hemoglobina é o heme,

(Ferridoprotoporfirina IX), um composto extremamente tóxico que se intercala na

membrana do vacúolo digestivo, causando aumento da permeabilidade, estresse

oxidativo e a morte do parasito (Eggleson et al., 1999; Kumar e Bandyopadhyay,

2005). Para evitar os danos causados pelo heme, o plasmódio desenvolveu um

mecanismo de detoxificação através da formação de hemozoína, o pigmento

malárico (Egan et al., 2002).

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Estudos recentes mostram que a digestão da hemoglobina pode ser iniciada

antes da fusão entre a vesícula de transporte e o vacúolo digestivo. A análise da

ultra-estrutura do parasito, na microscopia eletrônica conjunta dos estudos químicos,

demonstrou a digestão da hemoglobina e a formação da hemozoína, além de indicar

que a vesícula de transporte possui pH ácido, criado por bombas de prótons, ideal

para iniciar a digestão da hemoglobina (Hempelmann e Egan, 2002). O heme,

originário da digestão, forma um complexo com as proteínas da membrana da

vesícula interna e assim desestabiliza a estrutura de camada dupla, ocasionando

permeabilidade do vacúolo digestivo (Schmitt et al., 1993). A membrana interna é

sacrificada para prover um ambiente hidrofóbico ideal na nucleação da hemozoína,

assim como a formação de ligações de ferro-carboxilato dos dímeros de beta

hematina (Hempelmann, 2007). O complexo formado pelo heme e a membrana

interna também serve de molde para o crescimento do cristal de hemozoína (Egan,

2008). Esse processo é conhecido por biocristalização, em que ocorre um grande

esforço de controle da nucleação e do crescimento de cristais (Figura 6).

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Figura 6: Formação da hemozoína no vacúolo digestivo. A VT se funde ao vacúolo digestivo liberando hemoglobina no citoplasma, que é degradada por catálise (1). Da reação são liberados peptídeos (3a), heme (3b) e os fragmentos de membrana (2). Os fragmentos da membrana interna da VT irão formar um ambiente lipofílico ideal para a formação da hemozoína (4). O grupo heme forma dímeros (5) e por biocristalização ocorre a formação da hemozoína (6,7,8) (Bustamante et al., 2009).

As aminoquinoleínas e seus derivados interagem com a formação da

hemozoína, inibindo ou diminuindo a formação desse cristal (Egan et al., 2000; Egan

e Ncokazi, 2005). A CQ pode interagir com os dímeros de heme, formando um

complexo heme-CQ (Figura 7) e uma vez formado o complexo, a biocristalização é

bloqueada com a permanência do heme em sua forma livre e tóxica, causando

estresse oxidativo e a consequente morte do parasito (Loria et al., 1999; Kumar e

Bandyopadhyay, 2005). A QN também afeta a formação da hemozoína, porém,

causa um decréscimo da formação e não o bloqueio da formação, como faz a CQ

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(Egan e Ncokazi, 2005). Pouco se sabe sobre a ação da MQ e da AQ, mas acredita-

se que o mecanismo de ação seja semelhante ao da CQ e QN.

Figura 7: A. Complexo formado pela ligação da CQ e o grupo heme. B. Estrutura química da CQ (Egan, 2006)

2.6 SENSIBILIDADE AOS FÁRMACOS

A ineficácia crescente de muitos quimioterápicos empregados habitualmente

no tratamento da malária, caracterizando resistência em P. falciparum, é um fato

amplamente documentado por estudos já realizados em diversas partes do mundo

(WHO, 2001). Com a disseminação de parasitos resistentes, especialmente à CQ

em diversas regiões, o problema da eficácia terapêutica na malária emergiu como

uma questão de saúde pública de grande relevância, já que causa disseminação da

doença em novas áreas e sua reemergência, onde antes havia sido erradicada

(Talisuna et al., 2004).

O monitoramento da susceptibilidade dos parasitas a um determinado

composto é um fator determinante no controle da malária. Com esse conhecimento,

pode-se aplicar o melhor protocolo terapêutico, garantindo, assim, a cura da doença

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e a interrupção da pressão seletiva sobre parasitas resistentes ao fármaco utilizado

previamente (WHO, 2001)

Os métodos tradicionais de avaliação da sensibilidade de P. falciparum a

antimaláricos se baseiam, sobretudo, em testes in vitro e/ou in vivo. Os testes in vivo

consistem no tratamento de um grupo de indivíduos parasitados, com concentrações

pré-determinadas da droga, seguido de monitoramento da resposta clínica e/ou

parasitológica durante um determinado período. O teste permite a avaliação das

interações entre parasito e hospedeiro, refletindo uma situação clínica e

epidemiológica real. No entanto, pode apresentar problemas éticos de

acompanhamento do paciente por todo o processo e no controle individual de

ingestão do medicamento. Os testes in vitro, por sua vez, baseiam-se na coleta de

sangue de um paciente parasitado, de onde os parasitas são expostos às

quantidades precisas de um determinado composto em uma placa de microcultura.

O teste avalia o grau de inibição de crescimento e/ou morte parasitária, refletindo o

nível de susceptibilidade dos parasitas a um determinado fármaco e a uma

determinada concentração. Os testes in vitro são laboriosos, porque requerem uma

estrutura de laboratório, muitas vezes incomum em campo; é um teste invasivo de

coleta de sangue de pacientes, difíceis de serem reproduzidos, e que não considera

a questão da policlonalidade das amostras (WHO, 2005).

Durante a última década, a procura de métodos alternativos que permitam

prever, rapidamente, a resposta dos parasitas aos antimaláricos, tem sido

primariamente centrada na procura de marcadores moleculares que possibilitam, a

partir de uma reação em cadeia da polimerase (PCR), ou seguida de incubação com

uma enzima de restricção (PCR-RFLP) ou de sequenciamento, a detecção da(s)

mutação(ões) causadora(as) da resistência a um determinado composto.

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2.7 DETERMINANTES MOLECULARES E MECANISMOS DE RESISTÊNCIA

AOS ANTIMALÁRICOS

A disponibilidade da sequência completa de nucleotídeos de P. falciparum

possibilitou a aplicação de diversas metodologias baseadas no genoma do parasito.

Este contém ~23 megabases (Mb) de nucleotídeos responsáveis por codificarem

~5400 genes localizados em 14 cromossomos. O parasito também possui um

plastídeo circular de 3 kilobases (kb) e genoma mitocondrial de 6 kb.

Aproximadamente, 60% dos genes preditos codificam proteínas hipotéticas, o que

caracteriza um desafio aos pesquisadores que desejam decifrar a função do gene e

sua interação com as proteínas. Até o momento, foram utilizadas diversas técnicas

para decifrar a função gênica do parasito - micro-arranjos, expressão gênica,

sequenciamento, transformação gênica, entre outros - e todas essas técnicas vêm

incrementando o conhecimento sobre os mecanismos de resistência do parasito aos

antimaláricos (Gardner et al., 2002).

Os eventos genéticos que conferem resistência aos antimaláricos são

espontâneos e raros, e acredita-se que sejam independentes do uso da droga: o

fármaco apenas irá selecionar os parasitos que forem resistentes. Esses eventos

são mutações no gene ou mudanças no seu número de cópias. Tanto um quanto

outro estão relacionados ao alvo da droga no parasito, podendo afetar uma bomba

de influxo/efluxo, alterando a concentração do antimalárico no parasito (White,

2004).

Em modelos experimentais, as mutações que conferem resistência podem ser

selecionadas ao se expor um grande número de parasitos a concentrações sub-

terapêuticas da droga. A resistência, então, é selecionada em concentrações da

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droga suficientes para eliminar parasitos sensíveis, mas não os resistentes (Peters,

1984). As características farmacocinéticas dos antimaláricos podem influenciar na

seleção de parasitos resistentes, já que muitas drogas (lumefantrina, halofantrina,

atovaquona e MQ) são lipofílicas, hidrofóbicas e apresentam absorção variada, o

que ocasiona a existência de concentrações diferentes da droga no organismo de

um indivíduo, facilitando, assim, a seleção da resistência (White, 1992; White et al.,

1999b). A meia-vida da droga, também, é outro fator importante na seleção de

parasitos resistentes. Dessa maneira, quanto maior a meia-vida de uma droga,

maior será a probabilidade de parasitos recém adquiridos encontrarem uma

concentração parcialmente efetiva (isto é, seletiva) da droga (Watkins e Mosobo,

1993). Alguns antimaláricos, como a artemisinina e seus derivados, nunca

apresentam concentração intermediária que selecione parasitos, porque tais drogas

são rapidamente eliminadas, o que já não ocorre em outras, como a MQ, pois há

eliminação em semanas ou meses. A resistência do parasito a um fármaco também

pode ocorrer de forma cruzada, isto é, quando a tolerância adquirida pelo parasito a

um composto, ocorre como resultado da exposição direta de outro, de estrutura

química semelhante (White, 2004).

A resistência aos antimaláricos se dissemina, porque é uma vantagem para a

sobrevivência do parasito na presença de um fator adverso do ambiente (droga) e,

portanto, resulta em maior chance de transmissão de parasitos resistentes do que

sensíveis. A probabilidade da transmissão dos resistentes, previamente

selecionados, irá depender da capacidade de adaptação sobre o estresse no

tratamento do parasito, já que a mutação pode ocasionar uma desvantagem na

fitness do parasito (White et al., 1999b). Outro fator que altera a probabilidade de

transmissão dos parasitos resistentes é o nível de imunidade do indivíduo. Uma

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pessoa infectada com plasmódio pode possuir uma população tanto de resistentes,

quanto de sensíveis a certo antimalárico, mas uma vez que o indivíduo é tratado, a

droga pode exterminar os sensíveis, restando apenas os resistentes. A pequena

população de parasitos restantes pode ser por sua vez, eliminada pela ação do

sistema imunológico do indivíduo. Outro fator que altera a probabilidade da

transmissão dos parasitos resistentes é a competição intra-específica entre os

sensíveis e os resistentes coexistentes em um mesmo indivíduo (White, 2004).

A literatura descreve a importância das mutações e da superexpressão de

certos transportadores, principalmente daqueles que pertencem à superfamília ABC,

na resistência aos antimaláricos (Peel, 2001; Bodo et al., 2003; Klokouzas et al.,

2003)

2.7.1 Gene pfcrt e a resistência à Cloroquina

Desde que parasitos da malária desenvolveram resistência à CQ, houve

grande empenho para a melhor compreensão dos mecanismos biológicos e

moleculares da resistência. Os parasitos resistentes à CQ acumulam menos droga

do que os sensíveis, conseqüentemente, a menor concentração da droga no vacúolo

digestivo não bloqueia a formação da hemozoína e o parasito sobrevive, mesmo se

o indivíduo estiver se tratando com CQ (Sanchez et al., 2003). No caso dos

parasitos sensíveis, a CQ permanece acumulada no vacúolo digestivo, devido a um

mecanismo de captura de prótons, em que essa droga, como base fraca, se difunde

passivamente através de membranas. A CQ, ao entrar em contato com gradientes

de pHs ácidos, torna-se mono ou diprotonada (Kumar e Bandyopadhyay, 2005).

Uma vez possuindo carga, a droga passa a ser impermeável às membranas e

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permanece acumulada no vacúolo digestivo (Homewood et al., 1972). A CQ também

possui alta afinidade de ligação ao heme, o que explica a alta concentração da

mesma em parasitos resistentes e, uma vez presa no vacúolo digestivo, a droga

pode atingir concentrações milimolares (Chou et al., 1980; Bray et al., 1999). Como

parasitos resistentes acumulam menos droga do que os sensíveis, os pesquisadores

passaram a especular a possibilidade de a CQ estar sendo repelida do vacúolo

digestivo de parasitos resistentes, fenômeno este atribuído a uma proteína na

membrana do vacúolo digestivo, codificada pelo gene pfcrt (Sanchez et al., 2005;

Bray et al., 2006; Sanchez et al., 2007a). A descoberta deste gene foi realizada

através de um experimento de cruzamento genético entre uma cepa do parasito

resistente e uma sensível (Wellems et al., 1990). A partir de então, identificou-se um

segmento de ~330kb no cromossomo 7, responsável pela segregação da resistência

à CQ (Su et al., 1997). Estudos subsequentes foram capazes de caracterizar um

gene de 13 exons, codificando uma proteína de 48 kDA de 10 domínios

transmembranares neste cromossomo a que denominaram de pfcrt (P. falciparum

CQ Resistance Transporter) Ver figura 8 (Fidock et al., 2000; Cooper et al., 2002;

Martin e Kirk, 2004).

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Figura 8: Estrutura da proteína codificada pelo gene pfcrt. Os pontos pretos, o vermelho e o amarelo representam as mutações associadas à resistência. Cada uma possui a numeração do códon onde é encontrada. Os pontos brancos representam a sequencia de aminoácido e em azul estão definidos os domínios transmembranares (Valderramos e Fidock, 2006).

O alelo resistente do gene pfcrt transfectado em uma cepa sensível à CQ foi

capaz de reduzir a sensibilidade e o acúmulo da droga no vacúolo digestivo, fato

este que estabeleceu o papel central do gene pfcrt na resistência a CQ (Johnson et

al., 2004). Ao longo do tempo, uma série de mutações foi associada ao fenótipo de

resistência, no entanto, a substituição de uma lisina (K) por uma treonina (T) no

códon 76 (K76T), destaca-se, por ser considerada uma mutação crucial que

discrimina parasitos resistentes dos sensíveis. Uma vez que o parasito possua o

alelo Lys76 (K76), jamais apresentará susceptibilidade acima de 100 nanomolar

(nM), ou será resistente à CQ. Os que possuem o alelo 76Thr (76T), geralmente,

têm fenótipo de resistência, no entanto, alguns estudos reportaram a presença

dessa mutação em parasitos sensíveis. Acredita-se que essa observação seja

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resultado da interação de duas ou mais mutações, a do códon 76 e uma outra no

códon 163 (Ser163Arg), por exemplo (Cooper et al., 2002; Johnson et al., 2004).

Outros polimorfismos nos códons Ala220Ser (A220S), Asp326Ser, Ile356Thr e

Arg371Ile do gene pfcrt, também, foram associados à resistência in vitro à CQ, junto

com outras 15 mutações encontradas em isolados de campo e parasitos

selecionados in vitro (Jiang et al., 2006). Embora a mutação A220S seja menos

freqüente do que a K76T, ela é altamente prevalente entre parasitos CQR (Durrand

et al., 2004).

Existem três modelos que explicam o mecanismo de resistência do gene pfcrt:

efluxo da CQ através de um transportador dependente de energia; escapamento da

droga por um poro na membrana do vacúolo digestivo contra seu gradiente de

concentração; e um poro que permite o movimento passivo de formas protonadas da

droga para fora do vacúolo digestivo.

O modelo proposto por Johnson e cols. (2004), no qual o gene pfcrt é um

canal por onde a CQ escapa do vacúolo digestivo, sugere que parasitos sensíveis

contendo lisina (K76), um aminoácido de carga positiva no códon 76 do gene pfcrt,

repelem a CQ, pois esta, também de carga positiva, consequentemente bloqueia a

saída da droga da membrana do vacúolo digestivo (Johnson et al., 2004). Quando a

lisina é substituída pela treonina no códon 76, a carga positiva é perdida e a CQ

escapa do vacúolo digestivo e, portanto, de seu alvo heme. Quando a CQ é

adicionada à solução de parasitos junto com a Halofantrina (HF), uma base fraca e

muito lipofílica, sua concentração decai completamente, já que a HF se liga com

maior afinidade ao heme, indicando que o mecanismo de captura de prótons não é o

único atuando na alta concentração da CQ no vacúolo digestivo (Bray et al., 2006).

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Em contraste, outro modelo sugere a aquisição de um processo de efluxo

dependente de energia, expelindo a droga do vacúolo. Sanchez e cols. (2003)

compararam o acúmulo da CQ no exterior e interior do vacúolo digestivo e a cinética

de absorção dessa droga em parasitos resistentes e sensíveis e concluíram que os

parasitos resistentes são capazes de acumular CQ no vacúolo digestivo por um

processo conhecido como trans-estimulação, sugerindo um mecanismo dependente

de energia, possivelmente, envolvendo Adenosina 5'-trifosfato (ATP) (Sanchez et al.,

2003; Sanchez et al., 2005; Sanchez et al., 2007b). A trans-estimulação é bloqueada

pelo Verapamil e ocorre também quando a CQ pré-carregada no parasito é

substituída por outros antimaláricos como AQ e QN e pelo bloqueador de cálcio

Quinidina.

Contrariando os modelos anteriores, Bray e cols. (2006) propuseram um

terceiro, ao investigar o acoplamento energético do processo de efluxo da CQ (Bray

et al., 2006), no qual não ocorre nenhum efeito no efluxo da droga quando os

parasitos resistentes são privados de glicose ou diante da presença de um inibidor

eletroquímico de gradiente de prótons. O esperado nessa situação seria uma

redução do efluxo da droga, se o gene pfcrt estivesse agindo como uma bomba ou

como um transportador dependente de energia, o que não ocorreu. Então, concluiu-

se que a força energética estaria na forma de gradiente de próton eletroquímico

através da membrana do vacúolo digestivo, já que, ao se colapsar esse gradiente,

parasitos sensíveis e resistentes apresentaram acúmulo semelhante da droga no

vacúolo digestivo. O modelo sugere, portanto, que o gene pfcrt é um poro aquoso

que permite o extravaso passivo de formas protonadas da droga.

Os cinco haplótipos de aminoácidos encontrados nos códons 72 a 76 do pfcrt

estão relacionados com a origem geográfica do parasito (Tabela 1). Parasitos

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sensíveis possuem haplótipo Cys-Val-Met-Asn-Lys (CVMNK) e são encontrados em

quase todas as regiões do mundo. Os parasitos resistentes que possuem haplótipo

Cys-Val-Ile-Glu-Thr (CVIET) são originários da África e da Ásia. No sudeste asiático,

por sua vez, são encontrados parasitos com o haplótipo Cys-Val-Ile-Asp-Thr

(CVIDT), no Pacífico se encontram dois haplótipos diferentes: Cys-Val-Ile-Lys-Thr

(CVIKT) e Ser-Val-Met-Asn-Thr (SVMNT) e por fim, há, nas Américas, o haplótipo

SVMNT (Su et al., 1999; Wootton et al., 2002; Chen et al., 2003)

Linhagem 72 74 75 76 97 144 148 160 194 220 271 326 333 356 371CQS C M N K H A L L I A Q N T I R(HB3, Honduras)CQRDd2 (Indochina) C I E T H A L L I S E S T T I734 (Cambodia) C I D T H F I L T S E N S I R2300 (Indonesia) C I K T H A L L I S E S T I IPH2 (Filipinas S M N T H T L Y I A Q D T I R

América do Sul 7G8 (Brasil) S M N T H A L L I S Q D T L R

e os haplótipos encontrados em diferentes regiões geográficasTabela 1: Mutações em 15 códons associados à resistência no gene pfcrt

Sudeste Asiático

Pacífico

Posição do pfcrt e o aminoácido codificanteRegião

Todas

Ásia e África

CQR = Resistentes à Cloroquina e CQS = Sensíveis à Cloroquina (Valderramos e Fidock, 2006).

Como os experimentos moleculares vieram depois de um longo período de

pressão da CQ, é difícil saber qual era o genoma do parasito antes do uso da droga.

Ao modificar o esquema terapêutico, muitos países retiraram a pressão desse

antimalárico sobre os parasitos, portanto, tem-se observado um aumento da

prevalência do haplótipo sensível à CQ, possivelmente devido a uma perda na

fitness do parasito causada pelas mutações no gene (Temu et al., 2006).

O gene pfcrt também pode estar envolvido na resposta a outros antimaláricos,

como QN, AQ e MQ. Cooper e cols. (2007) realizaram um experimento em que

expuseram parasitos sensíveis (linhagem 106/1) a doses letais de CQ e observaram

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a sobrevivência de parasitos com novas mutações (K76N ou K76I), que mais tarde,

apresentaram, não apenas um aumento de 8 a 12 vezes no IC50, como também, um

aumento na sensibilidade à QN e redução de sensibilidade à Quinidina (Cooper et

al., 2007). Em outro experimento, em que o alelo de um parasito sensível à CQ

(linhagem GC03) foi substituído por um alelo de uma linhagem resistente, observou-

se aumento da susceptibilidade à QN e à MQ (Sidhu et al., 2002). Outro estudo

reporta que os polimorfismos no gene pfcrt também podem atuar na resposta à AQ

(Echeverry et al., 2007).

2.7.2 Gene pfmdr1 e resistência a multidrogas

O fenótipo de resistência às múltiplas drogas foi originalmente identificado em

linhagens de células cancerígenas e está associado à super expressão de certos

transportadores da superfamília ABC (Borst et al., 1999; Bodo et al., 2003). Um

desses transportadores é conhecido como MDR (resistência à multidrogas) e

codifica uma proteína denominada de P-glicoproteína (Pgh), responsável por

eliminar drogas e manter a concentração do composto citotóxico abaixo do nível letal

(Bodo et al., 2003). A extrusão da droga é mediada por hidrólise de ATP, sugerindo

a dependência de energia na ação da Pgh (Deeley e Cole, 1997). O MDR não é

seletivo e pode reconhecer a estrutura de substratos não relacionados e translocar

muitos compostos hidrofóbicos distintos (Zeng et al., 1999).

Devido à similaridade de redução do acúmulo da CQ em parasitos resistentes

e células tumorais, pesquisadores procuraram por homologia entre os dois genomas

e identificaram um ortólogo em P. falciparum, posteriormente denominado de pfmdr1

(Peel, 2001; Klokouzas et al., 2003), que é um gene codificador da proteína Pgh-1

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de ~162kDA, localizada na membrana do vacúolo digestivo (Figura 9). O domínio de

ligação do ATP da Pgh-1 está localizado na porção do citoplasma do vacúolo

digestivo, surgindo o transporte de substratos na direção do vacúolo digestivo (Foote

et al., 1989; Wilson et al., 1993)

Com o objetivo de caracterizar as propriedades de transporte da Pgh-1 e sua

interação com os antimaláricos, Saliba e cols. (2008) avaliaram a expressão de

cinco diferentes formas polimórficas do gene em oocistos de Xenopus laevis (Saliba

et al., 2008). Concluíram que a proteína é apta a translocar CQ, QN e HF e o

transporte varia entre o haplótipo selvagem e seus variantes polimórficos. O

haplótipo selvagem transporta CQ e QN, mas não HF, enquanto que seus variantes

transportam HF, mas não CQ e QN para o vacúolo digestivo, indicando que

polimorfismos no gene pfmdr1 alteram a especificidade do substrato na proteína

(Volkman et al., 1993).

Figura 9: Representação da estrutura da Pgh-1. codificada pelo gene pfmdr1, uma transportadora da família ABC, com 12 domínios transmembranares representados em azul. Os pontos brancos simbolizam os aminoácidos da seqüencia e as mutações associadas à resistência estão representadas por pontos vermelhos. Cada um destes pontos vermelhos têm sua localização numerada. (Valderramos e Fidock, 2006).

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O gene pfmdr1 foi ainda associado à susceptibilidade à MQ, QN, CQ e ART.

Reed e cols. (2000) realizaram experimentos de transformação e de permuta alélica

para examinar o papel das mutações na susceptibilidade a diversas drogas. Foram

geradas diferentes linhagens, com combinações distintas de três mutações

(Ser1034Cys, Asn1042Asp e Asp1246Tyr). A inserção do alelo, contendo as três

mutações na linhagem sensível à CQ, não alterou a susceptibilidade à droga,

indicando que as mutações no gene pfmdr1 são insuficientes para conferir

resistência à CQ. Entretanto, a transfecção do alelo não mutante na linhagem 7G8

(CQR), resultou numa redução drástica do IC50 da CQ, implicando que, embora as

mutações no gene não sejam suficientes para conferir resistência à CQ, podem agir

na modulação do nível da resistência. Além disso, a remoção das três mutações da

linhagem 7G8 resultou na reversão da sensibilidade à QN. No entanto, a transfecção

das mesmas, na linhagem 7G8, originou parasitos resistentes à MQ e

contrariamente, aumentou a sensibilidade à ART, indicando correlação entre

mutações no gene pfmdr1 e a susceptibilidade à MQ e à ART. No mesmo

experimento, a inserção de uma única mutação (Asp1246Tyr) foi capaz de aumentar

mais ainda o IC50 à MQ e HF (Reed et al., 2000).

A tabela 2 indica os códons mutantes do gene pfmdr1 e a respectiva mudança

de aminoácidos em parasitos oriundos de diversas regiões do mundo:

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Númerode cópias

Região Linhagem (Origem) 86 184 1034 1042 1246Todas Tipo selvagem (3D7, Holanda) N Y S N D 1

Ásia e África FCB (Sudeste Asiático) N Y S N D ≥2K1 (Tailândia) Y Y S N D 1

América do Sul 7G8 (Brasil) N F C D Y 1

Posição do aminoácido no pfmdr1

Tabela 2: Mutações e número de cópias do gene pfmdr1 associados àresistência à múltiplas drogas e os haplótipos encontrados em diferentes

regiões do mundo

O tipo selvagem é encontrado em todas as regiões do mundo (Todas) enquanto que os mutantes podem ser encontrados na Ásia, África e América do Sul. Tabela adaptada de Fidock e cols. (2000) (Fidock et al., 2000).

Alguns estudos também encontraram associação entre a presença da

mutação Asn86Tyr (N86Y) e a resistência à CQ em isolados africanos. O alelo Ans

86 (N86), inclusive, está envolvido na tolerância in vivo à lumefantrina e pode,

portanto, funcionar como um marcador molecular (Sisowath et al., 2005; Sisowath et

al., 2007). Por fim, em um estudo na América do Sul realizado por Zalis e cols.

(1998), encontrou-se uma forte correlação entre mutações no gene pfmdr1 e

resistência à CQ, porém não à QN (Zalis et al., 1998).

A amplificação ou super expressão do gene pfmdr1 influencia a

susceptibilidade a diferentes antimaláricos (Price et al., 2004). Observou-se que a

amplificação gênica tem papel importante na resistência: o aumento do número de

cópias do gene é um grande determinante da resistência in vitro e in vivo à MQ,

podendo também determinar a sensibilidade a ART in vitro e capaz de influenciar o

aumento do IC50 da QN. Em outro estudo, Jiang e cols. (2008) estudaram o número

de cópias e sua correlação com a resposta às drogas, e verificaram que esse

comportamento está associado ao aumento do IC50 de ART e MQ e diminuição do

IC50 de CQ (Jiang et al., 2008).

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2.7.3 Outros genes envolvidos na susceptibilidade às Quinoleínas

Diferentes clones de P. falciparum, contendo os mesmos alelos e com o

mesmo perfil polimórfico, possuem uma vasta gama de susceptibilidade aos

antimaláricos, indicando, portanto, a ação de outros genes na resistência dos

parasitos. Foi verificado que quanto maior é o IC50, maior é o acúmulo de mutações

no genoma do parasito na resistência a CQ e a QN. Em outro estudo, Ferdig e cols.

(2004) encontraram a ação de um novo gene (Pgnhe-1), além do gene pfcrt e do

gene pfmdr1 atuando na resistência à QN (Ferdig et al., 2004).

Como proteínas transportadoras estão associadas com a resistência a drogas

em diversos microorganismos, Mu e cols. (2003), procuraram por transportadores no

genoma de P. falciparum e encontraram 49 destes em 97 linhagens oriundas de

diferentes regiões geográficas. Em sua análise, Mu e cols. (2003). associaram 11

transportadores ligados à resposta à QN e a CQ (pfcrt, Pfmdr-1 e PFA0590w PF13-

0271, PF14-0292, PF08-0078, PF14-0321, PFE0775c, PF14-0260, PF14-0133,

PFL0620c). No mesmo estudo, os autores também perceberam que a combinação

das mutações nos 11 transportadores é responsável por diferentes níveis de

susceptibilidade às drogas. Uma observação interessante, no mesmo experimento,

foi a associação entre padrões de polimorfismos e a suscetibilidade de parasitos de

regiões geográficas distintas (Mu et al., 2003). Isto é, enquanto algumas mutações

apresentaram associação com a resposta à QN e/ou CQ em parasitos africanos, a

mesma associação foi muito fraca ou nula em parasitos de outras regiões

geográficas, o que indica a importância da pressão da droga exercida nos parasitos

oriundos de diferentes políticas de tratamento adotadas pelos países. Assim sendo,

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essa pressão seleciona uma combinação de mutações, podendo estar associadas à

suscetibilidade às drogas em algumas regiões e não em outras.

Anderson e cols. (2005), utilizando uma abordagem estatística diferente,

analisaram a associação entre os polimorfismos previamente descritos por Mu e

cols. (2003) e a susceptibilidade à droga em isolados coletados de pacientes da

Tailândia. Ao contrário do estudo de Mu e cols. (2003), não encontraram nenhuma

associação entre os nove novos transportadores e a resposta à QN e CQ. Essa não-

correlação pode ser devida à origem geográfica das amostras. Em adição, foi

encontrada associação entre o gene G7 com a suscetibilidade ao Artesunato

(Anderson et al., 2005).

Estudos recentes encontraram associação entre o gene pfmrp (G2) e a

susceptibilidade à QN (Mu et al., 2003; Klokouzas et al., 2004; Ursing et al., 2006;

Henry et al., 2008a). Esse gene codifica uma transportadora da família ABC e tem

papel importante no transporte de glutationa na membrana plasmática do parasito, e

a redução na susceptibilidade à CQ e à QN foi significantemente associada às

mutações nos códons 191 e 437 (His191Tyr e Ser337Ala) (Henry et al., 2008a).

Ferdig e cols. (2004) identificaram um papel importante do cromossomo 13 na

resistência a QN, assim como o efeito do cromossomo 9 que interage com o

cromossomo 13. Um segmento nesse cromossomo contém um gene que codifica

uma permutadora de Na+/H+, a Pfnhe-1, associada à regulação do pH na

transmembrana do vacúolo digestivo e do citosol. O número de repetições da

sequência de aminoácidos Asp-Asn-Asn-Asn-Asp (DNNND) na proteina Pfnhe-1

está relacionado com a susceptibilidade à QN. Estudos subseqüentes examinaram o

pH do citosol e do vacúolo digestivo e a atividade da proteína Pfnhe-1 em diferentes

linhagens de parasitos, observando-se que o pH do citosol elevado está associado

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com o aumento da atividade da proteína Pfnhe-1 e com o elevado nível de

resistência à QN, devido a interação entre os cromossomos 13 e 9. Essa

associação, por sua vez, não foi identificada em relação à CQ (Ferdig et al., 2004).

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3 JUSTIFICATIVA

A compreensão dos mecanismos de resistência aos antimaláricos é

fundamental no entendimento da ação das drogas, no desenvolvimento de novos

alvos terapêuticos e na descoberta de biomarcadores que servem como uma

ferramenta no diagnóstico e na epidemiologia molecular da resistência do parasito

aos antimaláricos.

A capacidade de resistência a drogas em parasitos retrata um grande

impasse na quimioterapia da malária. Este fenótipo, frente a diferentes classes de

drogas citotóxicas, está freqüentemente associado com as mutações em um ou mais

membros de proteínas da superfamília ABC que são transportadoras

transmembranas dependentes de energia. Estes transportadores incluem a proteína

Pgh-1, codificada pelo gene pfmdr1. A fim de verificar se outros transportadores

também poderiam estar associados ao fenótipo de resistência às drogas, Su e cols.

(dados não publicados) procuraram por estas proteínas no genoma do plasmódio e

identificaram 22 mutações em sete proteínas transportadoras. Em seguida, foi

realizado o teste in vitro para CQ e QN e observou-se que quanto maior era o IC50,

maior era a freqüência de mutações, havendo consideravelmente mais mutações em

parasitos resistentes do que em sensíveis.

Em seguida, Mu e cols. (2003) identificaram nove novos transportadores,

além do pfcrt e do pfmdr1 com associação à resposta in vitro à CQ e à QN.

Verificou-se que essa associação variava de acordo com a origem geográfica das

amostras, sendo mais significativa em algumas regiões do que em outras. O gene

G2, por exemplo, teve associação significativa à resposta in vitro à CQ na Ásia, mas

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não nas Américas; o gene G7 foi associado à resposta in vitro à CQ na África, no

entanto não houve esta associação nas Américas. As amostras estudadas por Mu e

cols. (2003) eram provenientes de cepas de laboratório, que permaneceram sem a

pressão seletiva da droga em cultivo. O número pequeno de amostras

geograficamente semelhantes dificulta o estudo da relação entre as mutações

genéticas e a resposta in vitro em cada região endêmica. Portanto, é necessário um

estudo que, em lugar de cepas de laboratório, utilize isolados de campo originários

de duas regiões geograficamente distintas, que tiveram pressão seletiva de

antimaláricos diferentes.

Em nosso estudo as amostras foram selecionadas no Brasil e na Nigéria, por

serem países que tiveram escolhas terapêuticas distintas até 2007. Foram

selecionados os marcadores moleculares pfcrt, pfmdr1, G2, G7 e G47 para análise

de relação das mutações genéticas e da resposta in vitro, não apenas à CQ e à QN,

mas também à MQ e à AQ. A associação das mutações com a susceptibilidade in

vitro a essas duas últimas drogas não foi analisada em outros estudos. Como são

quinoleínas e, portanto, estruturalmente semelhantes, é possível obter-se uma

associação significativa entre as mutações e a resposta in vitro a essas drogas.

Embora o tratamento de P. falciparum de primeira linha tenha sido modificado

no Brasil e na Nigéria, a compreensão dos mecanismos de resistência aos

antimaláricos ainda é escasso, principalmente em relação a outros antimaláricos

diferentes da CQ. Portanto, a melhor compreensão de genes associados à

resistência a todos os antimaláricos pode realçar o entendimento dos mecanismos

moleculares envolvidos na resistência e a descoberta de biomarcadores que atuam

como ferramentas de diagnóstico da resistência aos antimaláricos.

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4 OBJETIVOS

O principal objetivo do presente estudo é determinar se os níveis de

resistência do P. falciparum aos antimaláricos in vitro estão associados às

combinações de mutações nos genes pfcrt, pfmdr1, G2, G7 e G47 em duas

coleções de plasmódio obtidas no Brasil e na Nigéria.

Os objetivos específicos desse trabalho são:

• Determinar a presença das mutações K76T (pfcrt), N86Y (pfmdr1), S437A

(G2), N834N&1 (G7) e V241L e S263P (G47) em isolados de P. falciparum

obtidos dos pacientes.

• Comparar a freqüência das mutações com o perfil de susceptibilidade in

vitro dos antimaláricos CQ, AQ, MQ e QN.

• Associar as combinações polimórficas dos cinco genes ao perfil de

susceptibilidade in vitro.

• Comparar o perfil de susceptibilidade e a associação das mutações entre

Nigéria e Brasil.

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5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 ÁREA DE ESTUDO E CASUÍSTICA

Esse é um estudo retrospectivo a partir de uma coleção de 150 amostras de

um banco de dados do Centro de Pesquisa de Patologias Tropicais –

CEPEM/IPEPATRO, em Porto Velho, Rondônia e do Laboratório de Pesquisa de

Malária da Universidade de Medicina do Ibadan, em Ibadan, Nigéria. As amostras do

CEPEM foram coletadas entre 2006 e meados de 2008, como parte de um banco de

dados do projeto “Interações Moleculares do Receptor da Célula Vermelha com

Ligantes de P. falciparum" (CEP n̊ 045/06), bem como, de outro projeto:

“Determinantes Moleculares da Resistência de P. falciparum a drogas antimaláricas”

(CEP n̊ 046/06). Em anexo, segue a carta de colaboração com a Prof. Elieth de

Afonso Mesquita do CEPEM (Anexo 1).

As amostras nigerianas foram coletadas entre 2006 e 2007 como parte do

projeto “Molecular determinants of drug response and resistance in P. falciparum

from Africa and South America” aprovado pelo UI/UCH Institutional Review Committe

da Universidade do Ibadan, na Nigéria. Em anexo, segue a carta de aprovação do

projeto pelo comitê de ética (Anexo 2) e a carta de colaboração com o Dr. Christian

Happi (Anexo 3).

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5.2 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE IN VITRO DO PARASITO

O teste in vitro dos parasitos provenientes do Brasil e da Nigéria foi realizado

pelo método de microteste com incorporação de hipoxantina tritiada (HXA), em

ambos os países, segundo protocolo previamente estabelecido (Desjardins et al.,

1979). Os parasitos da Nigéria foram testados, apenas, para os antimaláricos CQ e

AQ, já que usualmente não possuem QN e MQ para o teste in vitro enquanto que,

os do Brasil tiveram o teste in vitro realizado com os antimaláricos CQ, AQ, QN e

MQ. Todos os fármacos foram obtidos do Walter Reed Army Institute of Research,

Washington, EUA. O teste in vitro foi realizado diretamente após a coleta de sangue

do paciente, sem adaptação do parasito em cultivo.

5.2.1 Preparo da suspensão das hemácias

A coleta de sangue do paciente se procedeu por punção venosa com tubo

vacuntainer contendo heparina. Em seguida o tubo vacuntainer foi centrifugado para

a separação do plasma das hemácias. O plasma foi retirado do tubo e o sangue

posteriormente lavado duas vezes com meio de cultivo RPMI 1640 (Roswell Park

Memorial Institute médium). Após a lavagem, 250 µL de sangue foram adicionados a

um microtubo de 1,5 mL e 100 µL foram adicionados ao papel de filtro (Whatman

International Maidstone, UK). Outra alíquota de 700 µL foi adicionada a um tubo

falcon de 15 mL para o teste in vitro. Nesse tubo foram adicionados 13,3 mL de meio

RPMI 1640 da Gibco, adicionado de bicarbonato de sódio e L-glutamato, Hepes,

Bicarbonato, Hipoxantina, Gentamicina e 0,5% de Albumax e também sangue não

parasitado do tipo O negativo para o ajuste da parasitemia para 1% e hematócrito de

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1,5%.

5.2.2 Diluição dos antimaláricos

Os antimaláricos CQ e QN foram solubilizadas a 1mg/mL em água MilliQ a

fim de se preparar o filtrado. A MQ e a AQ foram solubilizados a uma 1mg/mL, em

Metanol (Metanol Absoluto, Biolab, BR). Após esse procedimento, realizou-se uma

diluição das drogas de 1:4 em meio RPMI 1640 da Gibco, adicionado de bicarbonato

de sódio e L-glutamato, Hepes, Bicarbonato, Hipoxantina e Gentamicina para a

preparação da solução mãe. Após essa diluição, realizou-se a preparação da

solução estoque, em que se diluiu o filtrado em 1:10 com meio RPMI 1640 da Gibco,

adicionado de bicarbonato de sódio e L-glutamato, Hepes, Bicarbonato, Hipoxantina,

Gentamicina e 10% de Albumax. Para MQ e AQ foi realizada novamente uma

diluição 1:10 com meio RPMI 1640 da Gibco, adicionado de bicarbonato de sódio e

L-glutamato, Hepes, Bicarbonato, Hipoxantina, Gentamicina e 10% de Albumax. A

tabela com a concentração das drogas em cada procedimento de diluição encontra-

se e a seguir (tabela 3).

Tabela 3: Concentração de cada droga em cada diluíção

Diluição CQ QN MQ AQ Peso molecular 515,9g 361g 414,77g 464,8g [ ] no filtrado 1mg/mL 1938 µM 2770 µM 2410,9 µM 2151 µM [ ] na solução mãe 4x 484,5 µM 692,5 µM 692,74 µM 537,75 µM [ ] na solução estoque 1 10x 48,45 µM 69,25 µM 60,27 µM 53,77 µM [ ] na solução estoque 2 10x NR NR 6,027 µM 5,377 µM

NR – não realizado. [ ] - concentração

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5.2.3 Preparo das placas de microcultura

Após a preparação da solução estoque dos antimaláricos, as placas de 96

poços foram preparadas com a droga em duplicata e o sangue parasitado do

paciente. A solução estoque do antimalárico foi adicionada nos primeiros poços

(poços A) em duplicata e a droga foi diluída em 1:3 em cada poço seguinte (B, C, D,

E, F e G) a fim de se obter diluições seriadas dos antimaláricos. A concentração final

variou de 6,64 a 4845 nM para Cloroquina, de 9,49 a 6925 nM para Quinina, de

0,826 a 602,7 nM para Mefloquina e de 0,736 a 537 nM para Amodiaquina. A última

fileira de poços (H) foi reservada para o controle do crescimento do parasito, não

possuindo, assim, adição de qualquer um dos fármacos. Após a adição dos

antimaláricos foi adicionada em cada poço as suspensões de hemácias preparadas

anteriormente (parasitemia de 1% e hemotócrito de 1,5%), inclusive na última fileira

de poços. As placas foram incubadas por 48 horas em microaerofilia a 37°C. A HXA

foi utilizada para estimar o crescimento do parasito. Para tanto, 50 µL de HXA foi

adicionado em cada poço, 24 horas após o início do experimento.

Ao final de 48 horas, a placa foi congelada a – 20 °C para a lise celular. Após

a transferência dos parasitos para um filtro de fibra de vidro utilizando um coletor de

células, foi determinada a quantidade de HXA incorporada no parasito com o uso do

contador Liquid Cintilation Wallac Beta Plate 1205 (Perkin-Elmer). A figura 10

apresenta o desenho da placa com a concentração dos antimaláricos em cada poço.

O experimento e as concentrações utilizadas foram baseados em estudos realizados

anteriormente (Zalis et al., 1998; Vieira et al., 2004).

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Figura 10: Acima, Placa de 96 poços com a disposição dos fármacos e suas concentrações finais em cada poço. Abaixo, direita, placa de microteste com os fármacos nas concentrações finais e o sangue do paciente. À esquerda, Placas em condições de microaerofilia na estufa a 37°C. SD: Sem droga; CTRL, controle.

5.2.4 Contagem da parasitemina e determinação do IC50

A concentração inibitória de crescimento 50% (IC50) é uma medida de

efetividade do composto de inibir uma função biológica. A medida quantitativa indica

o quanto da droga é necessário para inibir o crescimento biológico do parasito pela

metade. Ou seja, o IC50 corresponde à concentração que inibe 50 % do crescimento

do parasito e é determinado através da curva dose-resposta obtida do experimento

in vitro.

Os limiares in vitro de resistência aos antimaláricos que discriminam parasitos

sensíveis dos resistentes foram considerados de acordo com a literatura e seus

Placa de 96 poços com as concentrações e as disposições das drogas em nM Cloroquina Quinina Mefloquina Amodiaquina 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 A 4845 4845 SD 6925 6925 SD 602,7 602,7 SD 537 537 SD B 1615 1615 SD 2308 2308 SD 200,9 200,9 SD 179 179 SD C 538,3 538,3 SD 769,4 769,4 SD 66,96 66,96 SD 59,66 59,66 SD D 179,4 179,4 SD 256,4 256,4 SD 22,32 22,32 SD 19,88 19,88 SD E 59,81 59,81 SD 85,49 85,49 SD 7,44 7,44 SD 6,629 6,629 SD F 19,93 19,93 SD 28,49 28,49 SD 2,48 2,48 SD 2,209 2,209 SD G 6,64 6,64 SD 9,49 9,49 SD 0,826 0,826 SD 0,736 0,736 SD H CTRL CTRL SD CTRL CTRL SD CTRL CTRL SD CTRL CTRL SD

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valores encontram-se na tabela 4.

Drogas Limiar de resistência (nM) ReferênciasCQ 100 Wellems e Plowe (2001)AQ 30 Pradines e cols. (2006)QN 500 Basco e cols. (1994)MQ 30 Hatin e cols. (1992)

Tabela 4: Limiares de resistência da CQ, AQ, QN e MQ

5.2.5 AVALIAÇÃO DAS MUTAÇÕES GENÉTICAS

5.2.6 Extração do DNA Plasmodial

Para a extração do DNA genômico, foi utilizado o sangue impregnado em

papel de filtro Whatman, de 5,5cm de diâmetro (Whatman International Maidstone,

UK), doado pela Prof. Elieth Mesquita, do Centro de Pesquisa de Patologias

Tropicais e pelo Dr. Christian Happi, da Universidade de Medicina do Ibadan.

O DNA plasmodial foi extraído, utilizando-se o método fenol-clorofórmio com

lise por saponina a 0,05% (Cox-Singh et al., 1995). Do papel de filtro, foi removido

um fragmento de, aproximadamente, 3 mm, com a utilização de uma tesoura estéril.

O fragmento foi, em seguida, reduzido em tamanhos menores e adicionado a uma

solução de PBS 1x com 0,05% de Saponina, por 2 horas a 37°C. Retirou-se o

sobrenadante e adicionou-se o tampão de lise (40 mM de Tris-HCl pH 8,0, 80 mM de

EDTA, pH 8,0, SDS a 0,2% e 150 μL de Proteinase K), por 2 horas, a 37°C, para a

remoção das proteínas. Após a fragmentação e digestão das proteínas da amostra,

foi adicionado fenol-clorofórmio (Invitrogen) v/v na amostra, para a desnaturação das

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proteínas restantes. Depois de sucessivas centrifugações para a remoção dos

resíduos, o sedimento restante foi ressuspedido em 50μL de H2O MiilliQ. Aplicou-se

2 μL do produto, em gel de agarose a 2% (Ultra Pure Agarose, Invitrogen), contendo

solução de brometo de etídeo (5 μL/mL em TBE). As bandas foram fracionadas por

eletroforese, a 90 volts, por 40 minutos e visualizadas com luz ultravioleta (Fluo-Link,

Fluogen) e posteriormente armazenadas a -20°C.

5.2.7 Amplificação do DNA

Foram desenhados oligonucleoídeos específicos para a região que contém a

mutação descrita por Mu e cols. (2003). Os oligonucleotídeos foram diluídos a 50

pmoles com água MilliQ. Utilizou-se a técnica de “nested-PCR”com Taq polimerase

Platinum (Invitrogen, BR).

A reação com a Taq polimerase Platinum (Invitrogen, BR) foi realizada para

um volume final de 50 μL. Na reação, foi adicionado Tampão 1x (20 mM Tris-HCL –

pH 8,0, 0,1 mM de EDTA, 1 mM DTT, 50% (v/v) glycerol), 0,25 mM de dNTP

(Invitrogen, BR), 1,5 mM de Cloreto de Magnésio, 50 pmol do oligonucleotídeo

“forward” (específico para cada gene), 50pmol do oligonucleoídeo “reverse”

(específico para cada gene), 2,5 U de Taq polimerase e 3 μL de DNA da extração

descrita acima. Para a reação de nested, foi utilizado o mesmo protocolo, alterando-

se apenas o volume DNA, agora amplicon, para 1 μL. Esse protocolo foi utilizado

para amplificação de todos os genes, alterando apenas a ciclagem do termociclador

para cada um dos genes.

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Para o gene pfcrt, foram utilizados os oligonucleotídeos CRTP1 e CRTP2 na

primeira amplificação e CRTD1 e CRTD2 na segunda, com a intenção de se verificar

o perfil polimórfico do lócus 72 ao 76. A ciclagem do termociclador foi de 95°C para

desnaturação, por 3 minutos; 45 ciclos de 95°C, por 30 segundos; 56°C por 30

segundos e 60°C por 60 segundos e temperatura final de extensão de 60°C por 5

minutos para o primeiro nested. A segunda amplificação teve sua ciclagem de 95°C

para desnaturação por 3 minutos, 30 ciclos de 95°C por 30 segundos, 48°C por 30

segundos e 65°C por 60 segundos e temperatura final de extensão de 65°C por 5

minutos (Djimde et al., 2001).

O gene pfmdr1 teve seu fragmento amplificado pelos oligonucleotídeos MDR1

e MDR2 para a primeira amplificação seguida dos oligonucleotídeos MDR3 e MDR4.

Essas regiões cobriam o lócus 86 do gene para a observação do polimorfismo

N86Y. As temperaturas do termociclador foram ajustadas em 95°C por 5 minutos, 45

ciclos de 95°C por 30 segundos, 45°C por 30 segundos e 65°C por 45 segundos e

finalmente extensão de 72°C por 5 minutos para ambas as amplificações (Duah et

al., 2007) .

O gene G2 foi amplificado com os oligonucleotídeos G2bFext e G2bRext na

primeira amplificação e com os oligonucleotídeos G2bFin e G2bRin na segunda

amplificação, no intuito de se verificar a presença da mutação S437A (Mu et al.,

2003).

O gene G7 foi amplificado com os oligonucleotídeos G7Fex e G7Rex na

primeira amplificação e G7Fin e G7Rin na segunda amplificação para a observação

da presença de uma inserção de Asparagina no locus 834 (N834N&1) (Mu et al.,

2003).

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O gene G47 foi amplificado, utilizando-se na primeira amplificação os

oligonucleotídeos G47Fex e G47Rex e na segunda, os oligonucleotídeos G47Fin e

G47Rin para a observação das mutações no locus V241L e S263P (Mu et al., 2003).

A tabela 5 apresenta a sequência dos oligonucleotídeos de todos os genes.

Gene Nome Seqüencia do oligonucleotídeoPfcrt CRTP1 5'CCGTTAATAATAAATACACGCAG 3’

CRTP2 5'CGGATGTTACAAAACTATAGTTACC 3’CRTD1 5'TGTGCTCATGTGTTTAAACTT 3’CRTD2 5'CAAAACTATAGTTACCAATTTTG 3’

pfmdr1 MDR1 5’CGCGCGTTGAACAAAAAGAGTACCGCTG 3’MDR2 5'GGGCCCTCGTACCAATTCCTGAACTCAC 3'MDR3 5’TTTCCGTTTAAATGTTTACCTGC 3’MDR4 5’CCATCTTGATAAAAAACACTTCTT 3’

G2 g2bFex 5'ATTTATAATATTATGTTTC 3'g2bRex 5'TTTCTTCTTTCTTATTTAATC 3'g2bFin 5'CAATGATACTATTTGAATTT 3'g2bRin 5'CTTATTAATCTATCTTTTA 3'

G7 g7Fex 5'GTAATGTGAAGAATATCTA 3'g7Rex 5' TTGAAGCTTGAATCATTTGTTTATC 3'g7Fin 5' CAAATCCAAATATTACGAAAA 3'g7Rin 5' AGTATCTTGTGGTACGACACTT 3'

G47 g47Fex 5' GTATAGATATTAAAGATGCC 3'g47Rex 5'CATATTTTCAAATACACTCGCCAT 3'g47Fin 5'GATGCCAAAGAAAAAGAACG 3'g47Rin 5'GACCAGAAGAATGAAATACATCCA 3'

Tabela 5: Sequência dos oligonucleotídeos

Os ciclos térmicos foram semelhantes para os três genes (G2, G7 e G47),

sendo apenas alterada a temperatura de hibridização: 95°C por 5 minutos para

desnaturação, 35 ciclos de 95°C por 30 segundos, 49°C para G2, 50°C para G7 e

55°C para G47 por 30 segundos e 70°C por 30 segundos, finalizando com 70°C por

5 minutos de extensão.

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Após a amplificação, 2 μL do produto de cada amostra foi aplicado em gel de

agarose a 2% (Ultra Pure Agarose, Invitrogen), contendo solução de brometo de

etídeo (5 μL/mL em TBE – Tris-base, ácido bórico e EDTA). As bandas foram

fracionadas por eletroforese a 90 volts por 40 minutos e visualizadas em um

transiluminador (Fluo-Link, Fluogen).

5.2.8 Purificação do produto da amplificação

A purificação do produto de PCR foi realizada com o método de colunas do kit

Wizard SV Gel and PCR Clean-Up System (Promega, UK). As amostras que

apresentaram apenas uma banda no gel foram purificadas diretamente com o kit, as

amostras que tiveram mais de uma banda foram fracionadas em gel de agarose a

2% (Ultra Pure Agarose, Invitrogen) e coradas com brometo de etídeo (5 μL/mL em

TBE). A banda correspondente ao amplicon foi retirada do gel por incisão, utilizando

bisturi estéril e, após separação por eletroforese a 90 volts por 40 minutos, foi

retirada e armazenada em microtubo a -20°C ou imediatamente purificada com o kit.

5.2.9 Quantificação do produto purificado

A concentração ideal para o seqüenciamento das amostras é de 100 nM de

DNA por reação, portanto, é necessário o conhecimento da concentração de cada

amostra a fim de se ajustar os volumes da reação de seqüenciamento. Por esse

motivo, 2μL do produto purificado foram aplicados em gel de agarose a 1% (Ultra

Pure Agarose, Invitrogen) para a quantificação, utilizando o Low DNA Mass Ladder

(Invitrogen, UK) (Plasmídios com fragmentos de 100 a 2000pb em tampão de 10 mM

Tris-HCl (pH 7.5), 1 mM EDTA). O produto é composto de bandas de tamanhos e

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49

pesos conhecidos, produzindo, assim, fragmentos contendo 100, 60, 40, 20, 10 e

5ng de DNA. A quantificação foi realizada através da comparação da intensidade da

emissão de luz das bandas purificadas com a emissão das bandas do kit por

inspeção visual.

5.2.10 Concentração de DNA dos produtos da purificação

As amostras que não possuíam concentração mínima de 10ng/μL de DNA

foram concentradas no SpeedVac® Concentrator (Savant, EUA) a 30°C, por 40

minutos. Esse equipamento concentra as amostras pelo sistema a vácuo.

Posteriormente, o produto concentrado foi ressuspenso em 13 μL de H20 MilliQ e re-

quantificado.

5.2.11 Reação de Sequenciamento

As amostras foram sequenciadas, utilizando-se um sequenciador automático

ABI PRISM® 3100-Avant Genetic Analyzer com o kit BigDye Terminator v3.1 Cycle

Sequencing. Para a reação, foram utilizados 6μL de Tampão, 2μL de BigDye, 1μL de

iniciador “forward”, H20 MilliQ e 100ng de DNA para volume final de 20μL (kit BigDye

Terminator – Applied Biossystem, EUA). O produto, posteriormente, foi precipitado

com etanol e isopropanol (MLR, EUA) e diluído em formamida (Applied Biosystems,

EUA).

As sequências foram montadas pelo software Sequencing Analysis 3.7

(Applied Biosystems) e, por alinhamento, através do programa Mutation Surveyor

(Softgenetics, LLC.) e FinchTV (Geospiza).

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50

5.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Foi criado um banco de dados em planilha Excel, contendo as mutações e os

valores de IC50. Os testes de média, os intervalos de confiança e os intervalos da

amostra foram calculados pelo suplemento xlstat (Microsoft). A análise filogenética

foi realizada a partir do programa CLC Workbench da CLCbio, utilizando o critério

UPGMA (Unweighted Pair Group Method with Arithmetic mean ) para a construção

da árvore filogenética. A correlação dos valores de IC50 entre os antimaláricos foi

medida através do coeficiente de determinação (r2) e a correlação entre os valores

de IC50 e as mutações foi calculada pelo teste de Kruskal-Wallis. A correlação entre

os antimaláricos foi calculada pelo exato de Fisher, utilizando tabelas 2x2. O cálculo

da prevalência foi realizado por odds ratio utilizando o programa MedCalc (Versão

10.3.2.0). A significância estatística foi determinada por p < 0,05.

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6 RESULTADOS

6.1 QUIMIOSSENSIBILIDADE IN VITRO DAS AMOSTRAS

6.1.1 Teste in vitro da CQ

O teste in vitro para CQ apresentou como resultado, valores de IC50, variando

de 6,56 nM a 1.400 nM, com média de 241,3 nM em 88 amostras provenientes de

ambos os países. Dessas amostras, 47 (53,4%) eram sensíveis e 41 (46,6%)

resistentes à droga (Tabela 6). A média do IC50 da CQ das amostras provenientes

do Brasil foi nove vezes maior do que a média do IC50 das amostras nigerianas.

Média (IC 95%) Variação de IC50

n (nM) (nM) R%

Nigéria 59 66,2 (54,8-77,5) 6,56 - 197,2 22.10%

Brasil 29 597,6 (437,8 - 757,4) 58,8 - 1.400 96.50%

Total 88 241,3 (167,5 - 315,1) 6,56 - 1.400 46.59%

Tabela 6: Média, intervalo de confiança e Variação de IC50

da CQ

IC = Intervalo de confiança; n = número de amostra.

Das 59 amostras nigerianas, 46 (77,9%) eram sensíveis à CQ e 13 (22,1%),

apresentaram valores acima do limiar de sensibilidade (100 nM). As sensíveis

variaram de 6,56 a 99,67 nM com média de 48,3 nM. As resistentes tiveram variação

de 100,46 a 197,2 nM e média de 129,3 nM.

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Nas 29 amostras brasileiras, apenas 1 (3,5%) apresentou ser sensível à

droga e 28 (96,5%) possuíam fenótipo de resistência. A variação foi de 58,8 a 1.400

nM, com média de 597,6 nM e as resistentes variaram de 113 a 1.400 nM, com

média de 616,9 nM (tabela 7).

Média (IC 95%) Variação de IC50 Média (IC 95%) Variação de IC50

Origem n nM nM n nM nM

Nigéria 46 48,3 (40,2 - 56,4) 6,56 - 99,67 13 129,3 (111,46 - 147,1) 100,46 - 197,2

Brasil 1 58.8 58.8 28 616,9 (456,1 - 777,7) 113 - 1.400

Sensíveis Resistentes

Tabela 7: Média, IC 95% e variação do IC50 da CQ em amostras sensíveis

e resistentes

Legenda: IC = Intervalo de confiança; n = número de amostra.

A partir dos valores de IC50 da CQ foi criado um gráfico da distribuição das

amostras (Figura 11).

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Figura 11: Distribuição das amostras dispostas pelo valor de IC50 para CQ em nM. As linhas mais escuras representam o limiar de sensibilidade para CQ (100 nM) (Wellems e Plowe, 2001).

6.1.2 Teste in vitro da AQ

Os valores de IC50 obtidos no teste in vitro para AQ variaram de 1,25 a 88,79

nM e tiveram média de 21,9 nM em 79 amostras analisadas. Dessas, 56 (70,9%)

eram sensíveis à droga e 23 (29,1%), mostraram-se resistentes. As amostras

sensíveis variaram de 1,25 a 29 nM, com média de 12,3 nM e as resistentes de

30,24 a 88,79 nM, com média de 45,4 nM (tabela 8). As amostras da Nigéria tiveram

valores de IC50 de AQ 1,5 vezes maiores do que as amostras do Brasil.

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Média (IC 95%) Variação de IC50

n (nM) (nM) R%

Nigéria 59 24,2 (19,1-29,3) 1,25 - 88,79 33.90%

Brasil 20 15,2 (10,2 - 20,2) 3,7 - 39,7 15.00%

Total 79 21,9 (17,85 -25,98) 1,25 - 88,79 29.10%

Tabela 8: Média, intervalo de confiança e Variação de IC50

da AQ

IC = Intervalo de confiança; n = número de amostra.

Foram analisadas 59 (74,6%) amostras provenientes da Nigéria e 20

(35,4%), do Brasil. Trinta e nove (66,1%) amostras da Nigéria eram sensíveis à AQ e

20 (33,9%) eram resistentes. As sensíveis variaram de 1,25 a 27,87 nM, com média

de 12,5 nM e as resistentes de 30,24 a 88,79 nM, com média de 46,9 nM. Das 20

amostras provenientes do Brasil, 17 (85%) eram sensíveis e 3 (15%) eram

resistentes. As sensíveis variaram de 3,7 nM a 29 nM, com média de 11,8 nM e as

resistentes de 31,5 a 39,7 nM, com média de 34,9 nM (tabela 9).

e resistentes

Média (IC 95%) Variação de IC50 Média (IC 95%) Variação de IC50

Origem n nM nM n nM nM

Nigéria 39 12,5 (9,9 -15,1) 1,25 - 27,87 20 46, 9 ( 40 - 53,90) 20,24 - 88,79

Brasil 17 11,8 (8,2 - 15,2) 3,7 - 29 3 34,9 (24,3 - 45,5) 31,5 - 39,7

Sensíveis Resistentes

Tabela 9: Média, intervalo de confiança e variação do IC50 de AQ em amostras

IC = Intervalo de confiança; n = número de amostra.

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A partir dos valores de IC50 da AQ foi criado um gráfico da distribuição das

amostras provenientes da Nigéria e do Brasil (figura 12).

Figura 12: Distribuição das amostras dispostas pelo valor de IC50 para AQ em nM. As linhas mais escuras representam o limiar de sensibilidade da AQ (30 nM) (Childs et al., 1989).

6.1.3 Teste in vitro da QN

As amostras provenientes do Brasil foram testadas in vitro para QN. Como

esse antimalárico não é usualmente utilizado nas placas de microteste na Nigéria,

não foram obtidos dados de IC50 em amostras provenientes deste país. Os valores

de IC50 variaram de 25,5 a 310 nM, com média de 130,5 nM nas amostras do Brasil.

Todas eram sensíveis (tabela 10).

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Média (IC 95%) Variação de IC50

Origem n nM nMBrasil 20 130,5 (89,4 - 171,5) 25,5 - 310

Sensíveis

Tabela 10: Média, intervalo de confiança e variação do IC50 de QN

IC = Intervalo de confiança; n = número de amostra.

A partir dos valores de IC50 da QN foi criado um gráfico da distribuição das

amostras (figura 13)

Figura 13: Distribuição das amostras dispostas pelo valor de IC50 para QN em nM. A

linha mais escura representa o limiar de sensibilidade para QN (500 nM) (Basco et

al., 1994).

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6.1.4 Teste in vitro da MQ

As amostras brasileiras foram testadas in vitro para MQ. Este antimalárico,

assim como a QN, não é adicionado à placa de microteste na Nigéria, portanto as

amostras nigerianas não possuíam valores de IC50 para MQ. Já nas amostras

brasileiras o IC50 variou de 2,6 a 206 nM, com média de 39,9 nM. Treze (65%)

amostras apresentaram fenótipo de sensibilidade e 7 (35%) apresentaram fenótipo

de resistência (tabela 11). As amostras sensíveis variaram de 2,6 a 22,3 nM, com

média de 11, 3nM e as resistentes, de 31 a 206 nM, com média de 92,6 nM.

Média (IC 95%) Variação de IC50 Média (IC 95%) Variação de IC50

Origem n nM nM n nM nM

Brasil 13 11,5 (7,5 - 15,6) 2,6 - 22,3 7 92,6 (21,6 - 163,3) 31 - 206

Sensíveis Resistentes

Tabela 11: Média, intervalo de confiança e variação do IC50 de MQ

Legenda: IC = Intervalo de confiança; n = número de amostra.

A partir dos valores de IC50 da MQ foi criado um gráfico da distribuição das

amostras (figura 14).

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Figura 14: Distribuição das amostras dispostas pelo valor de IC50 de MQ em nM. As linhas mais escuras representam o limiar de sensibilidade para MQ (30nM) (Hatin et al., 1992).

6.2 AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA CRUZADA ENTRE OS ANTIMALÁRICOS

A correlação pareada das atividades in vitro da CQ, AQ, QN e MQ foi

analisada com o propósito de avaliar a resistência cruzada entre estes antimaláricos

(tabela 12). A estimativa dessa correlação foi determinada através do coeficiente de

correlação de Pearson (r) e do coeficiente de determinação (r2). A correlação foi

analisada em um total de amostras (n total) e nos países em separado (origem -

Nigéria ou Brasil)

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Origem n r r2 pCloroquina Amodiaquina n total 79 0.46 0.21 <0,001

Cloroquina Quinina Brasil 20 0.28 0.078 0.23

Cloroquina Mefloquina Brasil 20 0.29 0.008 0.22

Amodiaquina Quinina Brasil 20 -0.18 0.003 0.44Amodiaquina Mefloquina Brasil 20 0.71 0.51 <0,001

Quinina Mefloquina Brasil 20 0.002 <0,001 0.99Cloroquina Amodiaquina Nigéria 59 0.88 0.77 <0,001Cloroquina Amodiaquina Brasil 20 0.47 0.22 0.036

Par de drogas

Tabela 12: Correlação das atividades in vitro da CQ, AQ, QN e MQ

n = número de amostras; r = coeficiente de correlação; r2 = coeficiente de determinação; p = p valor.

Uma correlação positiva significativa (p <0,05) foi obtida entre os

antimaláricos AQ e CQ e AQ e MQ. A AQ e a CQ apresentaram uma baixa

correlação (r2 = 0,21) em amostras de ambos os países (Figura 15).

Figura 15: Correlação entre os IC50s da AQ e da CQ no n total de amostras

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Após a divisão dessas amostras de acordo com suas origens, o coeficiente de

determinação manteve-se baixo (r2 = 0,22) em amostras provenientes do Brasil

(Figura 16).

Figura 16: Correlação entre os IC50s da AQ e da CQ em amostras do Brasil

No entanto, o coeficiente de determinação apresentou-se alto (r2 = 0,77) em

amostras da Nigéria (Figura 17).

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Figura 17: Correlação entre os IC50s da AQ e da CQ no em amostras da Nigéria

O coeficiente de determinação entre AQ e MQ também foi alto (r2=0,51) nas

amostras provenientes do Brasil (figura 18).

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Figura 18: Correlação entre os IC50s da AQ e da MQ em amostras do Brasil

Não houve observação de resistência cruzada entre os antimaláricos CQ e

QN, CQ e MQ, AQ e QN e QN e MQ.

6.3 ANÁLISE GENOTÍPICA

6.3.1 Gene pfcrt

O sequenciamento do pfcrt foi realizado para a observação dos haplótipos

nos códons 72-76. Obteve-se a seqüencia de 133 amostras que apresentaram

quatro haplótipos distintos: CVMNK, CVMNT, SVMNT e CVIET. O haplótipo CVIET

foi observado em 65 (48,9%) amostras, o haplótipo CVMNK foi observado em 25

(18,8%) amostras, CVMNT em três (2,2%) e SVMNT em 40 (63,1%) amostras. Das

133 amostras, 92 eram provenientes da Nigéria, onde somente os haplótipos

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CVMNK, CVMNT e CVIET foram observados. As 41 amostras provenientes do Brasil

apresentaram os haplótipos SVMNT e CVIET. As proporções dos alelos de cada

país podem ser observadas na tabela 13.

Tabela 13: Haplótipos do pfcrt em amostras da Nigéria e do Brasil

Códon do pfcrt

72 73 74 75 76 Nigéria Brasil Total

C V M N K 25 (27,2%) 0 (0%) 65

C V M N T 3 (3,3%) 0 (0%) 40

C V I E T 64 (69,5%) 1 (2,4%) 25

S V M N T 0 (0%) 40 (97,6%) 3

41 92 133Total

Origem

A mutação no códon 76 (K76T), associada previamente à resistência a CQ,

foi observada nas 41 (100%) amostras brasileiras e em 67 (72,8%) amostras

nigerianas (tabela 14). Vinte e cinco (27,2%) amostras nigerianas apresentaram o

códon selvagem (K76).

Tabela 14: Frequencia da mutação K76T do pfcrt no Brasil e na Nigéria

Códon76 Nigéria Brasil TotalK 25 (27,2%) 0 (0%) 25T 67 (72,8%) 41 (100%) 108

Total 92 41 133

Origem

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6.3.2 Gene pfmdr1

O sequenciamento de 147 amostras resultou em 103 amostras contendo N e

44, Y no códon 86. Nenhuma amostra brasileira apresentou a mutação N86Y. Das

106 amostras nigerianas, 62 (58,5%) eram N86 e 44 (41,5%) 86Y. (Tabela 15).

Tabela 15: Frequencia da mutação N86Y do pfmdr1 no Brasil e na Nigéria

Códon86 Nigéria Brasil TotalN 62 (58,5%) 41 (100%) 103Y 44 (41,5%) 0 (0%) 44

Total 106 41 147

Origem

6.3.3 Gene G7

O gene G7 possui uma inserção de uma asparagina no codon 834 (834N&1)

associada à susceptibilidade das amostras aos antimaláricos CQ e QN (Mu et al.,

2003). O sequenciamento de 107 amostras resultou em 60 (56%) amostras

selvagens (N834) e 47 (44%) mutantes. Foram sequenciadas 78 amostras

nigerianas e 29 amostras brasileiras. Das amostras nigerianas, 37 (47,4%) eram

selvagens e 41 (52,6%), mutantes. Das 29 brasileiras, 23 (79,3%) eram selvagens e

6 (20,7%), mutantes (Tabela 16).

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Tabela 16: Frequencia da mutação N834N&1 do G7 no Brasil e na Nigéria

Códon834 Nigéria Brasil TotalN 37 (47,4%) 23(79,3%) 60

N&1 41(52,6%) 6(20,7%) 47Total 78 29 107

Origem

6.3.4 Gene G47

No gene G47 foram encontradas duas mutações, V241L e S263P. A primeira

já havia sido descrita por Mu e cols. (2003) e associada à resistência à CQ e à QN,

principalmente em isolados asiáticos (Mu et al., 2003). Não foi encontrada nenhuma

referência na literatura sobre a mutação S263P, sendo esta observada pela primeira

vez neste estudo. A partir de 134 amostras (104 nigerianas e 30 brasileiras),

obtiveram-se quatro haplótipos distintos: VS, VP, LS e LP. Do total de 134 amostras,

96 (71,6%) possuíam VS; 25 (18,6%), VP; 10 (7,5%), LS e 3 (2,3%), LP. Das

amostras nigerianas, 69 (67%) eram VS; 23 (22,3%) eram VP; 9 (8,7%) eram LS e 3

(2,0%) eram LP. Das 30 amostras brasileiras, 27 (90%) possuíam o haplótipo VP;

duas (6,6%) o VS e uma (3,4%), o LS. O haplótipo LP não foi observado em

amostras brasileiras (Tabela 17)

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Tabela 17: Haplótipos do G47 em amostras da Nigéria e do Brasil

241 263 Nigéria Brasil Total

V S 69 (67%) 27 (90%) 96

V P 23 (22,3%) 2 (6,6%) 25

L S 9 (8,7%) 1 (3,4%) 10

L P 3 (2,0%) 0 (0%) 3

104 30 134Total

Origem Códon

6.3.5 Gene G2

No gene G2 foi observada a mutação A437S. A partir da sequencia de 139

amostras, obteve-se 119 (85,6%) selvagens e 20 (14,4%) mutantes. Das 100

nigerianas, 97 (97%) eram selvagens e 3 (3%), mutantes. Das 39 brasileiras, 21

(53,8%) eram selvagens e 18 (46,2%), mutantes (tabela 18).

Tabela 18: Frequencia da mutação S437A do G2 no Brasil e na Nigéria

Códon437 Nigéria Brasil TotalS 97 (97%) 21 (53,8%) 119A 3 (3%) 18 (46,2%) 20

Total 100 39 139

Origem

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6.4 ANÁLISE FILOGENÉTICA DAS AMOSTRAS

A partir das amostras que apresentaram sequencia para os cinco genes,

criou-se um alinhamento dos haplótipos seguido da construção de uma árvore

filogenética, utilizando-se o critério UPGMA do programa científico CLC Main

Workbench 5.02. (Figura 19). Na base de cada ramo está representado o haplótipo

dos cinco genes. O primeiro nucleotídeo (Y ou N) corresponde ao gene pfmdr1 e os

quatro nucleotídeos seguintes correspondem ao gene pfcrt (CMNT, SMNT, CMNK e

CIET). Logo após o gene pfcrt, encontra-se o gene G7 representado por três ou

quatro Asparaginas seguidas (NNN ou NNNN). Em seguida, encontra-se o perfil

genético do gene G47 (VS, VP, LS ou LP) e, por fim, o gene G2 representado por A

ou S.

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Figura 19: Árvore filogenética das amostras com seqüencia dos cinco genes. BRA = Brasil; NIG = Nigéria. O haplótipo está representado ao lado de cada ramo.

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A árvore filogenética dividiu-se em basicamente dois ramos. O primeiro

contendo amostras com o perfil polimórfico CIET do codon 72-76 do gene pfcrt,

variando entre os outros genes (Figura 20).

Figura 20: Ramo superior da árvore filogenética contendo os haplótipos obtidos da seqüencia dos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e G2. Estes haplótipos foram organizados do seguinte modo: o primeiro aminoácido N ou Y corresponde ao gene pfmdr1; os quatro aminoácidos seguintes (CIET) correspondem ao haplótipo do gene pfcrt. Em seguida encontra-se a inserção da N no gene G7 (NNN ou NNNN), os haplótipos do gene G47 (VS,VP, LS ou LP) e, por fim, os aminoácidos A ou S do gene G2. Todas as amostras deste ramo possuem o haplótipo CIET do pfcrt. As amostras foram subdivididas em três ramos menores, em que o primeiro e o segundo se diferenciam, principalmente, devido à mutação no gene pfmdr1. O primeiro contém amostras selvagens (N86) e o segundo as amostras mutantes (N86Y). Na terceira subdivisão do ramo, as amostras foram segmentadas de acordo com a mutação V241L do gene G47. O ramo contém amostras nigerianas e uma brasileira (89BRA) BRA = Brasil; NIG = Nigéria.

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As amostras do segundo ramo foram segmentadas em duas, uma contendo

SMNT/CMNK, também do gene pcrt, e a outra, CMNT. As brasileiras, por

apresentarem pouca variação genética nos cinco genes, ficaram concentradas

próximas umas às outras, com exceção da amostra 89BRA que, ao contrário das

demais, possuía perfil CVIET nos codons 72-74 do gene pfcrt, e ficou localizada no

primeiro ramo. A maioria das amostras provenientes do Brasil apresentou o

haplótipo NSMNTNNNVSS. As outras amostras se diferenciaram, apenas, pelas

mutações nos genes G2, G7 e G47. As amostras nigerianas se distribuíram ao

longo de toda a árvore por apresentarem grande variação genética (Figura 21).

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Figura 21: Ramo inferior da árvore filogenética contendo os haplótipos obtidos da sequencia dos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e G2. Estes haplótipos foram organizados do seguinte modo: o primeiro aminoácido N ou Y corresponde ao gene pfmdr1; os quatro aminoácidos seguintes (CIET) correspondem ao haplótipo do gene pfcrt. Em seguida encontra-se a inserção da N no gene G7 (NNN ou NNNN), os haplótipos do gene G47 (VS,VP, LS ou LP) e por fim os aminoácidos A ou S do gene G2. As amostras foram subdivididas em três ramos menores. O primeiro contém amostras com o haplótipo CMNK e CMNT do gene pcrt. O segundo contém o haplótipo SMNT do gene pfcrt e o terceiro apenas as amostras que contêm o haplótipo. O ramo contém amostras nigerianas e brasileiras. As provenientes do Brasil se encontram agrupadas em sub-ramos muito próximos uns aos outros. BRA = Brasil; NIG = Nigéria.

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6.5 CORRELAÇÃO ENTRE OS POLIMORFIMOS E OS VALORES DE IC50 IN

VITRO

6.5.1 Correlação entre a atividade in vitro da CQ e os polimorfismos

Os polimorfismos observados nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e G2 foram

associados aos níveis de IC50 das amostras (Figura 22). No gráfico obtido desta

associação, cada amostra foi representada por um losango azul e distribuída de

acordo com seu IC50, e as mutações foram representadas por quadrados, triângulos

e círculos de cores diferentes. Apenas as mutações foram representadas no gráfico.

A linha vermelha representa o limiar de resistência.

As duas amostras com os menores valores de IC50 - 6,56 nM e 12,10 nM,

respectivamente - são as únicas que não contêm mutação em nenhum dos genes

analisados no estudo. As com IC50 acima destes valores contêm, no mínimo, uma

mutação. A prevalência das mutações em amostras resistentes é 1,85 vezes maior

do que a prevalência de mutações em amostras sensíveis (OR = 1,85; IC95% = 1,15

– 2,97; p = 0,01).

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Figura 22: Gráfico de IC50 para CQ das amostras brasileiras e nigerianas e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, Pfcrt e Pfmdr1

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A tabela 19 demonstra os polimorfismos nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e G2 agrupados de acordo com o fenótipo de susceptibilidade da amostra à CQ. Não foi possível estabelecer uma correlação significativa entre a presença das mutações N86Y (pfmdr1), 834N&1 (G7), V241L (G47) e S263P (G47) e S347A (G2) e o fenótipo de resistência ao antimalárico CQ (valores de p na tabela 19). No entanto, a presença da mutação K76T do gene pfcrt e S347A do gene G2 apresentou associação com a resistência à CQ. (p= <0,0001 e p=0,005, respectivamente).

Gene Códon e aminoácido n % n % p

pfmdr1 N86 32 71.1% 33 67.3% 0.8

86Y 13 28.9% 16 32.7%

pfcrt K76 13 31.0% 0 0.0% < 0,0001

76T 29 69.0% 41 100.0%

G7 N834 23 59.0% 21 67.7% 0.5

834N&1 16 41.0% 10 32.3%

G47 V241 42 89.4% 30 90.9% 1

241L 5 10.6% 3 9.1%

S263 40 83.3% 24 72.7% 0.2

263P 8 16.7% 9 27.3%

G2 S437 42 95.5% 28 71.8% 0.005

437A 2 4.5% 11 28.2%

Tabela 19: Resistência à CQ em função das mutações nos genes

Sensível Resistente

Amostras

n = número de amostras; % = porcentagem de cada alelo; p = p valor

A fim de se avaliar a associação das mutações com o fenótipo da

susceptibilidade in vitro de cada país em separado, as amostras foram divididas de

acordo com a sua origem. As brasileiras tiveram baixa variabilidade genética e

pequeno número amostral, portanto não foi possível obter uma associação

significante entre as mutações e o fenótipo de resistência. No entanto, essa

associação foi possível nas amostras provenientes da Nigéria (Figura 23).

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Figura 23: Gráfico de IC50 para CQ das amostras nigerianas e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, Pfcrt e Pfmdr1

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A prevalência de mutações nas amostras resistentes foi 2,36 vezes maior do

que a prevalência de mutações nas amostras sensíveis (OR = 2,36; IC95% = 1,32 –

4,21; p = 0,0036).

A tabela 20 demonstra os polimorfismos nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e

G2 agrupados de acordo com o fenótipo de susceptibilidade à droga em amostras

nigerianas. Não foi possível estabelecer uma correlação significante entre a as

mutações N834&1 (G7), V241L (G47), e S347 (G2) e o fenótipo de resistência à CQ

(valores de p na tabela 20). No entanto, as mutações N86Y do gene pfmdr1, K76T

do gene pfcrt e S263P do gene G47 tiveram uma associação estatisticamente

significante (p=0,005, p=0,02 e p=0,003, respectivamente) com a resistência à CQ.

Gene Códon e aminoácido n % n % ppfmdr1 N86 32 66.7% 3 21.4% 0.005

86Y 16 33.3% 11 78.6%pfcrt K76 0 0.0% 13 33.3% 0.02

76T 13 100.0% 26 66.7%G7 N834 16 42.1% 9 69.2% 0.12

834N&1 22 57.9% 4 30.8%G47 V241 41 89.1% 12 85.7% 0.6

241L 5 10.9% 2 14.3%S263 39 84.8% 6 42.9% 0.003263P 7 15.2% 8 57.1%

G2 S437 41 95.3% 12 100.0% 1437A 2 4.7% 0 0.0%

Tabela 20: Resistência à CQ em função das mutações nos genes em

Sensível Resistente

amostras da Nigéria

Amostras

Legenda: n = número de amostras; % = porcentagem de cada alelo; p = p valor

A respeito das amostras brasileiras (figura 24), apenas uma apresentou

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sensibilidade à CQ. A mutação N86Y não foi observada nas amostras. Todas as

amostras possuíam a mutação K76T.

Figura 24: Gráfico de IC50 para CQ das amostras brasileiras e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, Pfcrt e Pfmdr1

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6.5.2 Correlação entre a atividade in vitro da AQ e os polimorfismos

Os polimorfismos observados nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e G2 foram

associados aos níveis de IC50 para AQ (Figura 22). Trinta e quatro amostras

apresentaram fenótipo de sensibilidade e 16, fenótipo de resistência à AQ.

A prevalência de mutações nas amostras resistentes foi 2,63 vezes maior do

que a prevalência de mutações nas amostras sensíveis (OR = 2,63; IC95% = 1,6 –

4,3; p = 0,0001).

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Figura 25: Gráfico de IC50 para AQ das amostras brasileiras e nigerianas e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, Pfcrt e Pfmdr1

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As duas amostras com os menores valores de IC50 - 1,35 e 1,37nM,

respectivamente – foram as que não apresentaram nenhuma mutação. Com

exceção da amostra de IC50 de 2,30 nM (quarta amostra da esquerda para direita na

figura 26). Esta amostra contém duas bases localizadas na mesma posição (a

adenosina e a citosina) (figura 25).

Figura 26: Eletroferograma do seqüenciamento do gene pfcrt apresentando duas bases na mesma posição. A. Amostra com apenas uma base na posição 76. B. Amostra com as duas bases na mesma posição (adenosina e citosina).

A tabela 21 demonstra os polimorfismos nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e

G2 agrupados de acordo com o fenótipo de susceptibilidade à AQ.

B

A

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Não foi possível estabelecer uma correlação significante entre a presença das

mutações, V241L (G47), S263P (G47) e S347 (G2) e o fenótipo de resistência ao

antimalárico CQ (valores de p na tabela 21). No entanto, as mutações K76T do gene

pfcrt, N86Y do gene pfmdr1 e N834&1 do gene G7 apresentaram associação

significante com o fenótipo de resistência à AQ (p=0,0001; p=0,007; p=0,03,

respectivamente).

Gene Códon e aminoácido n % n % p

pfmdr1 N86 41 82.0% 8 33.3% 0.0001

86Y 9 18.0% 16 66.7%

pfcrt K76 13 25.5% 0 0.0% 0.007

76T 38 74.5% 22 100.0%

G7 N834 32 72.7% 9 42.9% 0.03

834N&1 12 27.3% 12 57.1%

G47 V241 31 88.6% 17 81.0% 0.22

241L 4 11.4% 4 19.0%

S263 42 84.0% 13 61.9% 0.06

263P 8 16.0% 8 38.1%

G2 S437 44 84.6% 19 86.4% 1

437A 8 15.4% 3 13.6%

Tabela 21: Resistência à AQ em função das mutações nos genes

Sensível Resistente

Amostras

Legenda: n = número de amostras; % = porcentagem de cada alelo; p = p valor

A fim de se avaliar a associação das mutações com o fenótipo da

susceptibilidade in vitro de cada país, as amostras foram separadas de acordo com

a sua origem. As brasileiras tiveram baixa variabilidade genética e pequeno número

amostral, portanto não foi possível obter uma associação significante entre as

mutações e o fenótipo de resistência. No entanto, essa associação foi possível nas

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amostras provenientes da Nigéria (figura 27).

No que tange às amostras nigerianas, a prevalência de mutações nas

amostras resistentes foi 2,86 vezes maior do que nas amostras sensíveis (OR =

2,86; IC95% = 1,67 – 4,89; p = 0,0001).

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Figura 27: Gráfico de IC50 para AQ das amostras nigerianas e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, Pfcrt e Pfmdr1

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A tabela 22 demonstra os polimorfismos nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e

G2 agrupados de acordo com o fenótipo de susceptibilidade à AQ em amostras

provenientes da Nigéria. Pôde-se observar uma correlação significante entre a

presença das mutações N86Y do gene pfmdr1 e K76T do gene pfcrt com o fenótipo

de resistência à AQ (p=0,0001 e p=<0,0003, respectivamente) Essa correlação não

se apresentou significante nas mutações V241L (G47), S263P (G47) e S347 (G2).

Gene Códon e aminoácido n % n % p

pfmdr1 N86 29 76.3% 5 23.8% 0.0003

86Y 9 23.7% 16 76.2%

pfcrt K76 13 39.4% 0 0.0% < 0,0001

76T 20 60.6% 19 100.0%

G7 N834 20 66.7% 8 40.0% 0.08

834N&1 10 33.3% 12 60.0%

G47 V241 36 92.3% 17 81.0% 0.22

241L 3 7.7% 4 19.0%

S263 32 82.1% 12 60.0% 0.11

263P 7 17.9% 8 40.0%

G2 S437 34 94.4% 19 100.0% 0.6

437A 2 5.6% 0 0.0%

Tabela 22: Resistência à AQ em função das mutações nos genes em

Sensível Resistente

amostras da Nigéria

Amostras

Legenda: n = número de amostras; % = porcentagem de cada alelo; p = p valor

A respeito das amostras brasileiras, a mutação N86Y não foi observada nas

amostras. Todas as amostras possuíam a mutação K76T.

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Figura 28: Gráfico de IC50 para AQ das amostras brasileiras e as mutações observadas nos genes G2, G47, G7, Pfcrt e Pfmdr1

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6.5.3 Correlação entre a atividade in vitro dos antimaláricos e os polimorfismos

pelo teste de Kruskal- Wallis

Para verificar se houve correlação entre as mutações nos genes e os perfis

de susceptibilidade in vitro, realizou-se o teste Kruskal-Wallis. Nesta análise, as

amostras não foram divididas de acordo com o seu fenótipo de susceptibilidade

(sensível ou resistente) e, sim, segundo o valor crescente de IC50, e foram também

analisadas conforme seu haplótipo. Já no gene pfcrt, por exemplo, não foi avaliada a

mutação K76T e, sim, seus haplótipos (CVIET, CVMNT, CVMNK E SVMNT). O

mesmo ocorreu com o gene G47 de haplótipos: VS, VP, LS e LP. Como o número

de observações é pequeno e não se pôde garantir a premissa da normalidade para

análise de variância, optou-se pelo teste não paramétrico (Kruskal-Wallis). Então,

inicialmente, os testes foram realizados, combinando-se os dados do Brasil e da

Nigéria, sendo em seguida realizada a análise específica de cada país.

Na análise, observou-se correlação de mutações nos genes pfcrt e G2 com

baixa susceptibilidade in vitro a CQ (p= <0,0001 e p=0,008, respectivamente),

quando analisadas amostras sem distinção de origem. Ao realizar-se tal distinção,

apenas os genes pfcrt e pfmdr1 apresentaram correlação com as amostras da

Nigéria (p=0,0002 e p=0,0022). Não foi possível realizar a correlação entre amostras

brasileiras devido à baixa variabilidade genética. Em relação à correlação da

susceptibilidade da AQ com os genes, observou-se p-valores menores que 0,005 em

relação aos genes pfcrt e pfmdr1 no número total de amostras ou quando analisadas

apenas as amostras nigerianas. O número total das amostras, também, apresentou

correlação entre a mutação no gene G7 e a AQ (p=0,003), fato não observado ao se

distinguir as origens das amostras (Tabela 23).

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CQ AQ

Gene Total Nigéria Brasil Total Nigéria Brasil

pfmdr1 0.7 0.0002 ND < 0,0001 0.0002 ND

pfcrt <0,0001 0.0022 ND 0.0001 0.0007 ND

G7 0.9 0.1 0.7 0.03 0.1 0.3

G47 0.6 0.17 0.2 0.2 0.2 0.9

G2 0.008 0.9 0.2 0.6 0.8 0.9

Tabela 23: Teste de Kruskal-Wallis

Legenda: ND = Não determinado. Valores em p-valor

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7 DISCUSSÃO

A resistência aos antimaláricos contribuiu para um aumento substancial na

mortalidade e morbidade da malária em diversos países no mundo (White, 1999a). A

CQ foi o antimalárico mais utilizado como primeira linha terapêutica nos últimos 40

anos, devido ao seu efeito contra as formas do P. falciparum e ao seu baixo custo e

toxicidade (Arya, 2002). Este medicamento é de fácil produção e sua estrutura

química estável permite o estoque e transporte mesmo em condições climáticas

extremas. O uso da CQ no Brasil foi abandonado na década de 80, mas na Nigéria,

foi utilizado no tratamento da malária por tempo superior ao Brasil, possivelmente

devido a seu baixo custo e aparecimento mais tardio da resistência em comparação

a outras regiões endêmicas no mundo (Ogungbamigbe et al., 2007). O preço deste

fármaco é o mais acessível, custando US$ 0,07 dólares por comprimido, enquanto

os outros antimaláricos podem custar entre $0,082 (SP) e $ 2,5 dólares (Coartem).

Em um país, onde 70% da população vive na pobreza, o preço de antimaláricos

mais efetivos é impraticável (Molyneux et al., 2005). No entanto, o governo da

Nigéria, através de fundos gerados pela OMS, passou a substituir gradativamente a

CQ pela combinação de artesunato- AQ ou arteméter-lumefantrina a partir de 2003

(WHO, 2005). A falha terapêutica à CQ na Nigéria foi documentada ocorrendo na

faixa de 31 a 39% da população, uma taxa muito superior à recomendada (10%)

pela OMS para a mudança na política de tratamento (Kabanywanyi et al., 2007;

Ojurongbe et al., 2007). O teste in vitro em nosso estudo demonstrou 25,4% de

resistência à CQ nos parasitos oriundos da Nigéria.

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No Brasil, onde a CQ não é utilizada há mais de 15 anos para o tratamento da

malária por P. falciparum, nenhum parasito sensível à droga foi demonstrado em

estudos anteriores (Zalis et al., 1998; Cerutti Junior et al., 1999; Vieira et al., 2001;

Gonzalez et al., 2003; Vieira et al., 2004). O teste in vitro para esta droga, em

amostras brasileiras, demonstrou resistência in vitro em 97,5 % dos parasitas

analisados. Neste estudo, um parasito apresentou sensibilidade à CQ,

representando possivelmente um aumento da suscetibilidade a esta droga no país.

A média de IC50 da CQ em isolados brasileiros foi cerca de nove vezes superior à

média de IC50 dos isolados nigerianos. Como na América do Sul são encontrados

como principais agentes etiológicos P. vivax e P. falciparum, este resultado pode ser

interpretado pelo uso desta droga no tratamento da malária por P. vivax, exercendo

uma pressão constante em P. falciparum.

Recentemente tem-se observado um declínio da resistência e a consequente

reemergência de parasitos sensíveis à droga. No Malaui houve declínio da

resistência in vitro de 50% para 1%, após 12 anos sem o uso da CQ (Laufer et al.,

2006). Na China, a resistência in vitro dos parasitos era 97,9% em 1981 e decaiu

para 60,9% em 1991 (Liu et al., 1995). Este declínio da resistência e a consequente

emergência de parasitos sensíveis ocorre, possivelmente, pela perda da fitness

associada a várias mutações adquiridas pelas populações de parasitas durante a

pressão da droga. Estas mutações, por sua vez, ocasionam um custo biológico extra

no metabolismo do parasito, resultando em uma diminuição na geração de

descendentes. Com a remoção da pressão exercida pela CQ, mutações associadas

à resistência se tornaram uma desvantagem ao parasito e, devido à seleção natural,

a população de parasitos com códons selvagens passou a prevalecer

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gradativamente sobre a população de parasitos mutantes (Hastings e Donnelly,

2005; Hayward et al., 2005; Walliker et al., 2005).

A identificação da associação do gene pfcrt com a resistência a CQ

representou um dos grandes avanços no conhecimento da resistência aos

antimaláricos (White, 2004). A substituição de uma Lisina (K) por uma Treonina (T)

no códon 76 (K76T) tem sido encontrada em todos os parasitos resistentes e

fortemente associada à resistência do parasito à CQ (Fidock et al., 2000; Anderson

et al., 2005). A prevalência desta mutação foi monitorada no Malaui após a

substituição da CQ por outros antimaláricos e observou-se um declínio da

prevalência da mutação de 85% em 1992 para 13% em 2000 (Kublin et al., 2003). O

mesmo ocorreu em outro estudo onde a prevalência da K76T que decaiu de 17% em

1998 para 2% em 2000 (Mita et al., 2003). Estes estudos sugeriram um decréscimo

de 5% na fitness do parasito causado pela mutação K76T. Abdel-Muhsin e cols.

(2003). acompanharam a frequência de alelos do gene pfcrt em uma coorte de

habitantes residentes de uma vila no Sudão durante as estações secas de 1999 e

2000, quando não havia transmissão de malária e o uso da CQ era muito limitado

(Abdel-Muhsin et al., 2003). No final de cada estação seca, puderam observar que

houve um declínio da prevalência da mutação K76T, sugerindo mais uma vez, a

desvantagem seletiva da mutação.

Ao contrário do que ocorreu no Malaui, onde a sensibilidade à CQ retornou

em 99% dos pacientes tratados com a droga, o declínio da resistência pode ocorrer

de forma lenta ou gradual. Um decréscimo parcial da resistência à CQ foi observado

na China, Guiana Francesa e Camboja (Lim et al., 2003; Durrand et al., 2004; Wang

et al., 2005; Legrand et al., 2008). A manutenção de graus substanciais dessa

resistência em países não africanos, após a descontinuação do tratamento com CQ,

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reflete no fato de que nem toda a pressão da droga foi removida dessas regiões. A

CQ permanece prescrita no tratamento da malária por P. vivax, responsável pela

maior frequência de casos em países como Brasil e Guiana Francesa (Legrand et

al., 2008). Portanto, nos países onde ainda ocorre o uso da CQ para o tratamento de

outras espécies de plasmódio, espera-se encontrar um declínio lento e gradual da

resistência.

Em diversas regiões, a redução da prevalência da mutação K76T não está

associada ao declínio da resistência e é possível encontrar a mutação em parasitos

sensíveis (Lim et al., 2003). No Camboja, embora a resposta in vitro à CQ esteja

associada com a mutação K76T, esta correlação não é perfeita, já que a mutação foi

constatada em 15 dos 17 isolados sensíveis à CQ (Durrand et al., 2004). Na Índia,

esta mutação foi detectada em todos os isolados obtidos de pacientes com

resistência in vivo à CQ, no entanto, sua presença foi confirmada em 96% dos

pacientes com sensibilidade in vivo ao fármaco (Vinayak et al., 2003). Em nosso

estudo, a mutação K76T esteve presente em 26 dos 39 isolados sensíveis e foi

fortemente associada à resistência a CQ nos parasitos provenientes de ambos os

países (p < 0,0001) e nos parasitos oriundos apenas da Nigéria (p = 0,02). Esta

associação da mutação K76T com a resistência à CQ já era esperada e é

amplamente descrita em diversos estudos. A prevalência da mutação em isolados

sensíveis foi descrita em um estudo de resistência in vivo na Nigéria. No Brasil não

havia sido reportado ainda nenhum isolado sensível.

Esta prevalência da mutação K76T em parasitos sensíveis, mesmo após a

ausência da pressão da CQ, pode ocorrer, devido a mutações compensatórias que

superam a perda da fitness do parasito (Walliker et al., 2005). Em um experimento

realizado por Rosario e cols.(1978) um inóculo contendo P. chabaudi resistentes e

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sensíveis à CQ foi infectado em camundongos e após alguns ciclos, os mutantes

eram mais prevalentes do que os sensíveis. Mesmo quando o inóculo consistia de

90% de parasitos sensíveis e 10% de resistentes, os resistentes ainda prevaleciam

sobre os sensíveis (Rosario, 1978). Alguns parasitos resistentes a CQ (linhagens

FCB e Dd2), aparentemente, estão bem adaptados em cultivo apesar da ausência

da pressão da CQ, sugerindo a ação de mutações compensatórias ou adaptativas

que superam as mudanças deletérias dos genes associados à resistência (Walliker

et al., 2005). Estas mutações compensatórias parecem ocorrer tipicamente na

seleção da droga para minimizar o custo biológico da aquisição de uma mutação. A

seleção exercida pela CQ em P. falciparum pode ter conduzido a um conjunto de

alelos que modula o nível de resistência e estabiliza as funções biológicas básicas

da célula.

Essas mutações adicionais podem estar embutidas no gene que já sofreu

uma mutação de resistência ou na modificação de outras proteínas envolvidas em

funções biológicas semelhantes. Em um experimento realizado por Jiang e cols.

(2008) onde a expressão de diversos genes na presença e na ausência da pressão

da CQ foi analisada, verificou-se que a mutação K76T afetava indiretamente certas

funções normais envolvidas na invasão e no crescimento do parasito. Além do mais,

alguns transportadores como o PfVP2 estariam atuando na compensação dessa

perda fisiológica do parasita (Jiang et al., 2008).

Um exemplo prático da ação de uma mutação adaptativa na resistência à CQ

está representada no modelo proposto por Johnson e cols (2004) para o mecanismo

de ação do gene pfcrt. A lisina no códon 76 do gene pfcrt adiciona uma carga

positiva na membrana interna do vacúolo digestivo, bloqueando o efluxo da CQ

diprotonada. Na substituição da lisina por uma treonina, um aminoácido neutro, a

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carga positiva no gene pfcrt é perdida, permitindo o efluxo da CQ do vacúolo

digestivo. Quando o gene pfcrt possui uma outra mutação, a S163R, além da

mutação K76T, observa-se o acúmulo da CQ, provavelmente porque a R (Arginina),

um aminoácido de carga positiva, restaura a perda desta carga perdida no vacúolo

digestivo e bloqueia o efluxo da CQ (Johnson et al., 2004). Em nosso estudo,

postulamos que, em um momento inicial, a mutação K76T pode causar uma perda

de fitness no parasito. No entanto, após a pressão de uma determinada droga, os

parasitos adquirem mutações compensatórias que minimizaram o custo biológico

causado por esta mutação inicial.

Em relação ao gene pfcrt, não há como prever se a presença da mutação

K76T em parasitos sensíveis no Brasil e na Nigéria ocorre devido à compensação da

fitness pela ação das mutações compensatórias. Ou se as populações parasitárias

na Nigéria estão em uma fase de transição onde os alelos selvagens do gene pfcrt

ainda estão competindo com os mutantes, e ainda não se sobrepuseram em

prevalência, visto que a pressão da CQ foi removida apenas recentemente. Apesar

da CQ não ser utilizada há mais de 15 anos na Venezuela e no Brasil, não foi

observada a re-emergência do alelo selvagem nestes países, possivelmente porque

não existem mais parasitos com estes alelos na região amazônica (Contreras et al.,

2002).

Além da mutação K76T, foram observados, nesse estudo, quatro haplótipos

distintos nos códons 72 a 76 do gene pfcrt. Nos isolados brasileiros, foram

constatados apenas dois haplótipos, SVMNT em maior prevalência (97,6%) e CVIET

em apenas um isolado (3,4%). O haplótipo CVIET, após ter sido originado no

sudeste asiático no final da década de 1950, disseminou-se até a África, entre 1970

e 1980, e possivelmente, foi trazido para a América do Sul nos últimos 20 anos.

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Vieira e cols. (2004), após genotiparem os isolados brasileiros, verificaram

que CVIET não formava um agrupamento (cluster) com nenhum outro haplótipo

analisado no estudo, concluindo assim, a recente introdução deste alelo na

população da América do Sul (Vieira et al., 2004), o que provavelmente ocorreu

devido às frequentes migrações asiáticas e principalmente africanas ao Brasil. Entre

os isolados provenientes da Nigéria foram encontrados os haplótipos CVIET,

CVMNT e o haplótipo selvagem CVMNK, dos quais o haplótipo CVIET é mais

prevalente (69,5%) seguido de CVMNK (27,2%), e, por fim, de CVMNT (3,3%). Na

Nigéria seria possível a associação do declínio da resistência com o declínio da

prevalência da mutação K76T, porque o haplótipo selvagem é comum na região. Os

parasitos selvagens poderiam, por sua vez, competir com os mutantes devido ao

déficit de fitness presente neles. Já no Brasil, o haplótipo selvagem nunca foi

encontrado.

Outros transportadores, além do gene pfcrt, também apresentaram

associação com a resistência ou com o nível de suscetibilidade dos parasitos à CQ e

outras drogas antimaláricas (Mu et al., 2003). O gene pfmdr1, há algum tempo, foi

foco de interesse como um possível gene atuando na resistência à CQ. No entanto,

seu papel na resistência ao fármaco ainda não é claro. A associação da mutação

N86Y com a resistência é controversa: alguns experimentos realizados na Malásia,

Indonésia, Guiné-Bissau, Nigéria e África subsaariana demonstraram a presença da

mutação em isolados resistentes à CQ. Entretanto, estudos realizados na Uganda,

Laos, Camarões, África do Sul, Brasil e Peru não demonstraram a relevância desta

mutação na previsão da resposta in vivo à CQ. A análise de isolados africanos

demonstrou a alta prevalência da mutação N86Y no gene pfmdr1 e sua associação

positiva com a resistência à CQ (Adagu et al., 1995; Basco et al., 1995).

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Em nosso estudo, todas as amostras brasileiras analisadas não apresentaram

a mutação N86Y, embora tal mutação tenha sido observada em 41,5% das amostras

nigerianas. Não houve associação significante entre a mutação e a resistência in

vitro quando analisadas as amostras provenientes do Brasil e da Nigéria. Contudo,

os isolados nigerianos apresentaram esta associação com a resposta in vitro à CQ

(p = 0,005). Esses dados são condizentes com os achados de Mu e cols. (2003) que

encontraram uma associação da resposta à CQ, apenas em isolados da Ásia e da

África, mas não das Américas. Quando analisadas amostras dos continentes juntos,

esta associação não foi significante, possivelmente porque nenhum isolado brasileiro

possui a mutação N86Y. Tal mutação também é ausente ou rara em isolados

provenientes de outros países da América do Sul.

Outros transportadores da superfamília ABC, além do gene pfmdr1, foram

associados aos elevados níveis de IC50 da CQ e da QN (Mu et al., 2003; Anderson

et al., 2005). Recentemente, demonstrou-se que o gene G2, localizado no

cromossomo 1 de P. falciparum, tem um papel no efluxo da glutationa e dos

antimaláricos CQ e QN . Este gene contribui para a resposta do parasito a múltiplas

drogas, possivelmente por bombeá-las para fora do parasito (Raj et al., 2009). Duas

mutações presentes no gene foram associadas à resistência à CQ e à QN: a Y191H

e a S437A (Mu et al., 2003; Henry et al., 2008b). A freqüência destas mutações em

isolados africanos é muito baixa e, portanto, não há dados estatísticos de sua

importância no continente. Entretanto, a mutação Y191H foi associada à CQ em

isolados asiáticos e a mutação S437A em isolados sul americanos (Mu et al., 2003).

Nesse estudo, foi analisada apenas a mutação S437A. A sua prevalência em

isolados nigerianos mostrou-se baixa (3%) e, conseqüentemente, não houve

correlação com a resposta in vitro à CQ (p = 1). No entanto, quando analisadas

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amostras de ambos os países, a mutação S437A apresentou associação à resposta

in vitro à droga no total de amostras. Esse estudo é o primeiro que associou esta

mutação em isolados de campo.

Mu e cols. (2003), os primeiros a descreverem o gene G2, utilizaram cepas de

laboratório e Anderson e cols. (2005). não encontraram a associação da mutação

em isolados da Tailândia (Mu et al., 2003; Anderson et al., 2005). A associação

aparentemente ocorre em apenas algumas regiões, possivelmente devido à política

diferenciada de antimaláricos prescritos pelos países. No Brasil, quando a CQ

perdeu sua eficácia, o esquema terapêutico foi modificado para a combinação da

QN com a doxiciclina (Legrand et al., 2008). Na África, a CQ permaneceu em uso

até recentemente, mesmo com altas taxas de falha terapêutica. Na Tailândia uma

vasta gama de antimaláricos foi utilizada no tratamento: MQ, SP, AQ e QN. O G2

está fortemente associado à resposta à QN, portanto a pressão deste antimalárico

no Brasil pode ter selecionado a mutação, causando não apenas uma maior

prevalência em isolados brasileiros (46,2%), como também a sua associação com a

resposta aos antimaláricos QN e CQ.

A mutação S263P do gene G47 também apresentou correlação com a

resposta à CQ. O gene G47, assim como o gene G2, é um transportador da

superfamília ABC, e está localizado no cromossomo 5 e sua mutação V241L foi

associada à resposta à CQ por Mu e cols. (2003). Esta mutação não apresentou

correlação com a resposta in vitro à CQ em nosso estudo. Sua prevalência mostrou-

se baixa entre as amostras: 11,5% na Nigéria e 3,3% no Brasil. Entretanto, foi

observada uma nova mutação, nunca antes descrita, no códon 263 deste gene:

S263P. A prevalência da S263P é maior do que da V241L. Entre as amostras

nigerianas, esta mutação foi observada em 26 isolados (25%) e no Brasil apenas em

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dois (6,6%). Sua associação com a resistência à CQ mostrou-se significante (p =

0,003) em isolados provenientes da Nigéria. O transportador G7 não apresentou

correlação com resposta in vitro à CQ nos isolados provenientes do Brasil e da

Nigéria.

Recentemente, a Nigéria modificou sua política de tratamento de P.

falciparum para a combinação de artesunato e AQ ou arteméter e lumefantrina. O

artesunato e o arteméter são compostos derivados da artemisinina e agem como

esquizonticidas rápidos, podendo também eliminar os gametócitos bloqueando a

transmissão da malária (Happi et al., 2006b; WHO, 2006). Estes compostos não

foram utilizados anteriormente no tratamento na Nigéria, mas a AQ era prescrita no

caso de falha terapêutica em pacientes tratados com CQ. Apesar disso, vem-se

constatando uma elevação da falha terapêutica à AQ (White, 2008b). Em 2001,

apenas 4,8% dos pacientes não respondiam ao tratamento com AQ; em 2005, a

falha terapêutica elevou-se para 13% entre os pacientes (Ogungbamigbe et al.,

2007; Ogungbamigbe et al., 2008).. Em outros países da África como Burkina Faso e

São Tomé do Príncipe, a resistência in vivo à AQ é de 9 e 10%, respectivamente

(Zongo et al., 2005).

Infelizmente, não é possível estabelecer associação entre os resultados dos

testes in vitro com os in vivo da AQ, como ocorre com a CQ. Em um estudo onde a

resistência in vitro à AQ era de 5,4%, a equivalente in vivo mostrou-se 40,5%

resistente (Aubouy et al., 2004).

Brasseur e cols. (2005) demonstraram que a resistência in vivo era duas

vezes superior à resistência in vitro (Brasseur et al., 1995).. Em contraste, Basco e

cols. (2001) encontraram taxas de falhas terapêuticas menores do que as

resistências do teste in vitro (Basco, 1991). Essa falta de associação entre as

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respostas in vitro e in vivo pode estar relacionada com o limiar de sensibilidade à

AQ, que não é bem estabelecido, podendo variar de 15, 30 a 60 nM (Childs et al.,

1989). Recentemente, Pradines e cols. (2006) realizaram um estudo onde sugerem

um limiar de sensibilidade de 30 nM, já que foi observada uma maior correlação

entre os marcadores moleculares e a AQ quando o limiar era estabelecido neste

valor (Pradines et al., 2001; Pradines et al., 2006).. Seguindo o trabalho de Pradines

e cols. (2006) utilizamos o limiar de sensibilidade de 30 nM para o teste in vitro para

AQ e constatamos 33,9% e 15% de isolados resistentes na Nigéria e no Brasil

respectivamente. A média de IC50 na Nigéria apresentou-se 2,2 vezes superior à

média de IC50 de isolados brasileiros, o que não é de surpreender porque a AQ foi

utilizada no tratamento da malária por P. falciparum na Nigéria, e nunca no Brasil

como primeira linha terapêutica.

A presença de isolados resistentes no Brasil, onde nunca houve o uso da AQ

e a alta incidência de isolados resistentes à AQ na Nigéria pode ser explicada pela

resistência cruzada constatada entre a AQ e a CQ. A resistência cruzada é um

fenômeno onde microorganismos resistentes a certas drogas também apresentam

resistência a outras drogas que possuem os mecanismos de ação e mecanismos

moleculares semelhantes (Ochong et al., 2003). Essa correlação existe

principalmente em agentes com estruturas químicas similares e que tenham os

mesmos sítios de ligação. A resistência cruzada entre CQ e AQ pode ocorrer,

porque ambas fazem parte da mesma classe, as 4-aminoquinoleínas, e diferem

entre si apenas por um anel aromático p-hidroxianilino, presente na cadeia da AQ

(Ringwald et al., 1998). A AQ inibe competitivamente o acúmulo da CQ e vice versa,

sugerindo mecanismos de acúmulo similares entre as drogas. Como a CQ, a AQ é

uma base fraca e, portanto, acumula-se no vacúolo digestivo, devido à captura

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iônica, e é também capaz de se ligar ao heme e, assim, atuar na inibição da

formação da hemozoína (Hawley et al., 1996).

Uma correlação positiva entre os IC50s de dois antimaláricos sugere o

fenômeno de resistência cruzada in vitro (Dow et al., 2004). No entanto, a relação

entre resistência in vitro e in vivo irá depender do nível de resistência e do

coeficiente de correlação (r2) (Pradines et al., 2006). Para que dois compostos

estejam envolvidos no mesmo mecanismo de ação que poderia assim induzir

resistência cruzada entre eles, o r2 deve ser maior do que 0,5 (Ochong et al., 2003).

Nesse estudo, foi observada uma correlação positiva fraca entre os antimaláricos

AQ e CQ em amostras analisadas dos dois países (r2 = 0,21), ou mesmo quando as

amostras brasileiras foram separadas deste total (r2 = 0,22). Entretanto, a correlação

foi alta entre AQ e CQ em amostras provenientes apenas da Nigéria (r2 = 0,77). A

maior correlação encontrada na Nigéria pode ser devido às diferentes políticas de

tratamento adotadas em cada país. A CQ não é utilizada no tratamento da malária

por P. falciparum há décadas, enquanto que, apenas recentemente, essa droga foi

retirada da Nigéria e ainda hoje é prescrita em algumas regiões do país (Happi et al.,

2006a). Portanto, a CQ permaneceu exercendo pressão exclusiva em P. falciparum

por muito mais tempo na Nigéria do que no Brasil. A AQ nunca foi utilizada no Brasil

para o tratamento de primeira linha e, no entanto, foi utilizada na Nigéria como

alternativa à resistência à CQ, exercendo também pressão nos parasitos e, logo,

podendo aumentar a correlação entre os dois antimaláricos na Nigéria. Contudo, a

resistência cruzada explica por que, apesar da AQ nunca ter sido usada no Brasil,

foram observados 15% de parasitos resistentes à droga no país.

Outra correlação positiva significante entre os IC50s foi observada entre AQ e

MQ (r2 = 0,51 e p = < 0,001) em isolados brasileiros. Não é possível prever se esta

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correlação entre os IC50s é indicativa de mecanismos de ação semelhantes ou de

resistência cruzada. A MQ é uma quinoleína pertencente à classe da 8-

aminoquinolinas (Karle e Karle, 1991). Sua estrutura se difere da AQ e da CQ, já

que possui um núcleo quinolínico aclopado a uma cadeia amino-alcool. A estrutura

da MQ é mais similar à QN do que às 4-aminoquinoleínas (Carroll et al., 1976).

Tanto a MQ quanto a QN inibem competitivamente o acúmulo da CQ e da AQ,

sugerindo mecanismos similares de acúmulo no parasito e são bases muito mais

fracas do que a AQ, tornando-se monoprotonadas, ao invés de diprotonadas no

vacúolo digestivo (Evans e Havlik, 1996). Altas concentrações da MQ no vacúolo

digestivo são capazes de bloquear a polimerização do grupo heme em hemozoína

(Zhang et al., 1999).

Estudos, avaliando a ultra-estrutura do parasito, demonstram alterações

morfológicas no vacúolo digestivo, após o tratamento com MQ, muito similares aos

da AQ e da CQ (Saxena et al., 1989). A MQ também forma ligações com o heme, no

entanto, esta ligação e seu acúmulo no vacúolo digestivo é menor do que o da CQ.

Apesar disto, a MQ é um inibidor mais potente do que a CQ e a AQ em parasitos

sensíveis, indicando a ação de outros transportadores que não os mesmos que a

CQ (Begum et al., 2002). Muitos estudos indicam a ação da proteína transportadora

Pgh-1 na resposta do parasito à MQ (Ruetz et al., 1996; Duraisingh e Cowman,

2005; Rohrbach et al., 2006). A correlação positiva da MQ e da AQ pode ter ocorrido

porque ambos antimaláricos têm o gene pfmdr1 como mesmo alvo. Não há relatos

desta associação em outros estudos.

A mutação N86Y no gene pfmdr1 foi associada à resposta à AQ em

Madagascar, Burkina Faso, África Oriental e Tanzânia (Best Plummer et al., 2004;

Happi et al., 2006a; Jalousian et al., 2008). A mesma correlação não foi significativa

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na Colômbia, Sudão e Quênia. Em nosso estudo houve uma correlação significativa

entre a mutação e a resposta in vitro à AQ (p=0,0001) (Legrand et al., 2008;

Rungsihirunrat et al., 2009).

Além do gene pfmdr1, o gene pfcrt também apresentou correlação com a

resistência à AQ (p = 0,007). O fato da resposta à AQ estar associada à mutação

K76T reitera a possibilidade da resistência cruzada com a CQ por possuírem os

mesmos alvos e mecanismos de ação. A mutação no gene G7 também foi

associada à resposta à AQ (p = 0,03). Este gene está localizado no cromossomo 13,

é um transportador da família ABC e possui uma inserção de uma N no códon 834

do gene. O gene G7 foi associado à resistência à CQ por Mu e cols. (2003) e ao

Artesunato por Anderson e cols (2005). Entretanto, sua associação com a AQ nunca

foi descrita anteriormente.

Em nosso estudo, não foi possível associar as mutações com as respostas in

vitro em isolados brasileiros, devido ao baixo número amostral e porque tais isolados

apresentaram baixa variabilidade genética. A mutação N86Y do gene pfmdr1 não é

encontrada em isolados brasileiros e é muito rara em alguns países da América do

Sul. O alelo selvagem do gene pfcrt também é ausente no Brasil. As mutações no

gene G47, apesar de presentes nos isolados brasileiros, têm baixa prevalência no

país: 3,3% de V241L e 6,6% de S263P. A mutação 834N&1 no gene G7 e a

mutação S437A no gene G2 foram mais prevalentes, porém, o baixo número

amostral de amostras brasileiras não possibilitou uma análise estatística significante.

A baixa variabilidade genética nas amostras brasileiras já foi descrita

anteriormente através de antígenos polimórficos e de microsatélites (Wootton et al.,

2002; Su et al., 2007; Winzeler, 2008).. A genotipagem por micrisatélites de

parasitas da África e do Sudeste Asiático demonstraram uma grande diversidade

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populacional devido a transmissão intensa, favorecendo a recombinação genética.

Já na América do Sul a diversidade mostrou-se menor, porque a transmissão é bem

mais baixa que na África, tornando-se assim uma infecção quase clonal (Wootton et

al., 2002)..

Na Nigéria, a espécie P. falciparum é responsável por 90% dos 3 milhões de

casos de malária. No Brasil, esta espécie é responsável por 19,3% de 460 mil casos,

significando que na Nigéria há 30 vezes mais casos do que no Brasil e, portanto,

uma transmissão muito mais intensa (WHO, 2008)..

Outro fator atuante na variabilidade genética além da taxa de transmissão é a

pressão seletiva da droga, capaz de reduzir a variabilidade dos nucleotídeos

próximos à região do genoma onde ocorreu a mutação de resistência (Wootton et

al., 2002). Esse fenômeno denominado de “selective sweeps” ou Varredura Seletiva

ocorre quando uma nova mutação favorece o parasito (resistência a uma droga) em

relação a outros da população (Wootton et al., 2002). Uma forte seleção pode

resultar em uma região no genoma onde os haplótipos são positivamente

selecionados e passam a ser os únicos encontrados em uma população, reduzindo,

portando, a variabilidade genética naquela região do cromossomo (Su et al., 2007).

Esse fenômeno ocorreu provavelmente através da pressão seletiva da CQ no gene

pfcrt. Foi constatado que os parasitos sensíveis com o haplótipo CVMNK possuem

uma variabilidade genética muito superior aos parasitos resistentes. No Brasil, além

da baixa transmissão que confere menor variabilidade genética ao parasito, ainda

houve a pressão intensa da CQ, causando assim uma variabilidade muito inferior

àquela encontrada na África e, ainda, a baixa variabilidade genética inicial em

conjunto com a intensa pressão da droga pode ter eliminado os parasitos com

haplótipo de sensibilidade à droga do país (Wootton et al., 2002).

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O teste in vitro para Quinina demonstrou 100% de sensibilidade dos parasitos

provenientes do Brasil. Zalis e cols. (1998) demonstraram que parasitas isolados de

uma região endêmica de malária, na Amazônia, apresentaram valores de IC50

abaixo do limiar de sensibilidade, porém com uma redução na suscetibilidade dos

parasitos à esta droga (Zalis et al., 1998). Estudos anteriores já haviam reportado a

redução no tempo de eliminação do parasito no sangue. Em 1995, 10% das

infecções por P.falciparum não responderam ao tratamento com QN. Cerutti e cols.

(1999) encontraram 3,3% de parasitos resistentes à QN, indicando mais uma vez a

redução da sensibilidade dos parasitos a este antimalárico. Esta redução,

provavelmente, corresponde à evolução natural da resistência dos parasitos à QN,

devido à pressão do antimalárico utilizado extensivamente como primeira escolha no

tratamento da malária por P. falciparum (Cerutti et al., 1999).

O teste in vitro para Mefloquina, utilizada como segunda escolha terapêutica

até 2007, demonstrou a existência de 35% de parasitos resistentes ao antimalárico.

A resistência à MQ foi inicialmente descoberta na fronteira entre a Tailândia e o

Camboja na década de 80. O aparecimento da resistência, possivelmente, está

relacionado ao uso anterior da QN para o tratamento, por possuírem estruturas

químicas semelhantes. A MQ, como monoterapia, perdeu sua efetividade no

tratamento da malária na fronteira da Tailândia e do Camboja, embora ainda seja

eficaz em 75% dos tratamentos da malária por P. falciparum em regiões endêmicas,

próximas à fronteira (Cowman e Foote, 1990). No Brasil, o primeiro parasito

resistente in vitro a MQ foi descrito em 2001 por Calvosa e cols. (2001) e alguns

casos de falha terapêutica foram reportados na Região Amazônica. Porém, a

extensão da resistência na América do Sul ainda é muito menor se comparada à do

sudeste asiático. Possivelmente porque no Brasil a MQ foi utilizada como segunda

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escolha no tratamento, enquanto que no sudeste asiático foi amplamente utilizada

por um longo período (Calvosa et al., 2001). Como é um composto de meia vida

longa e pode permanecer em concentrações sub-terapêuticas no plasma do

indivíduo, a emergência de parasitos resistentes somada à pressão seletiva intensa

da droga em concentrações sub-terapêuticas, causou uma disseminação da

resistência no sudeste asiático (Wellems et al., 1991). No Brasil, como não ocorre

essa pressão extensiva, a resistência se resume a apenas alguns focos. Na África a

falha terapêutica à MQ é muito rara, e apenas alguns isolados foram descritos com

baixa susceptibilidade à droga.

Muitas questões ainda permanecem desconhecidas em relação às mudanças

genotípicas e fenotípicas dos parasitos sob pressão das drogas. Em nosso estudo

verificamos que a média de IC50 da CQ em isolados brasileiros é nove vezes

superior à média de IC50 dos parasitos nigerianos. Isso pode ser explicado no Brasil

pela pressão da droga em uma população com homogeneidade nas mutações que

conferem baixa susceptibilidade à CQ. Quando essa população de baixa

variabilidade genética, porém com mutações que conferem resistência, são

submetidas à pressão seletiva da droga, toda uma população pode expressar um só

fenótipo in vitro com alto IC50, como é visto em nosso estudo com as amostras

brasileiras. As amostras africanas, por possuírem uma alta variabilidade genética

que expressa sensibilidade e resistência ao mesmo tempo, conferem uma

variabilidade no fenótipo in vitro para CQ. A média desses IC50s numa população

com fenótipos variados será sempre menor que um grupo homogêneo resistente.

Além do mais, a CQ utilizada no tratamento de outras espécies do plasmódio exerce

uma pressão constante sob uma população inteira de parasitos independente de

espécies.

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Durante a última década, os progressos no conhecimento da base molecular

da resistência de P. falciparum a diversos antimaláricos têm sido bastante

significativos. A utilização de ferramentas moleculares no diagnóstico da resistência

ainda está em fase inicial. A identificação de novos marcadores moleculares é

importante para a detecção prévia da resistência, facilitando a implementação de

medidas preventivas adequadas. A compreensão dos mecanismos de resistência e

da biologia da quimiorresistência é, portanto, fundamental para uma ação efetiva no

controle da doença.

No caso da CQ, a mutação K76T no gene pfcrt era um marcador de

resistência que podia ser utilizado para prever a susceptibilidade do parasito à

droga. No entanto, essa correlação não é perfeita, porque a mutação também é

detectada em parasitos sensíveis, tanto em experimentos in vivo quanto in vitro.

Embora o gene pfcrt também esteja associado à resposta in vitro e in vivo à outros

antimaláricos, como AQ e QN, esta associação nem sempre é significante. O papel

do gene pfmdr1 na resistência à CQ ainda não é bem estabelecido e sua correlação

com a resistência varia de região para região. Alguns estudos associam a mutação

N86Y do gene pfmdr1 à resistência à AQ, outros não encontram tal associação.

Diversos outros marcadores foram associados à resposta in vitro aos antimaláricos,

no entanto, a associação destes com a resistência in vivo ainda é desconhecida.

Nesse estudo foi detectada a associação das mutações K76T do gene pfcrt, N86Y

do gene pfmdr1, S263P do gene G47 e S437A do gene G2 com a resposta à CQ e

as mutações K76T do gene pfcrt, N86Y do gene pfmdr1 e N834&1 do gene G7 à

resposta à AQ. No entanto não é possível prever se as novas mutações terão papel

de marcador molecular in vivo ou mesmo se estão associadas à resposta aos

antimaláricos em apenas algumas regiões. A resposta in vivo é muito mais complexa

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do que a in vitro, pois não depende exclusivamente das características intrínsecas

do parasito, mas também de diversos fatores do hospedeiro, como sua imunidade e

a farmacocinética da droga.

A alteração da política de tratamento substituindo a monoterapia pela

combinação de antimaláricos é realmente importante na contenção da resistência,

porque reduz a probabilidade da emergência de parasitos resistentes a dois

fármacos de alvos distintos. Embora o esquema terapêutico mundial tenha sido

alterado recentemente, muitos compostos utilizados na combinação são

estruturalmente semelhantes aos já utilizados. A lumefantrina, utilizada na

combinação com o arteméter no Coartem, é estruturalmente semelhante à Quinina,

que por um longo período exerceu pressão nos parasitos brasileiros. Outros, como a

AQ e a MQ foram utilizados por um longo tempo em diversos países. A resistência

cruzada destes antimaláricos com a CQ e a crescente taxa de falha terapêutica

constatada pode ser alarmante porque, mesmo que utilizados em combinação com

outros antimaláricos, diversos parasitos já foram previamente selecionados pela

resistência.

Recentemente foi constatado um decréscimo na susceptibilidade dos

parasitos à Artemisinina e seus derivados. Mesmo com a probabilidade de

emergência da resistência, utilizando a combinação de medicamentos de alvos

distintos ser muito pequena, a probabilidade de surgir parasitos resistentes não é

nula. Sendo assim, o conhecimento prévio dos mecanismos de resistência e da

biologia da quimiorresistência, em conjunto com o constante monitoramento da

susceptibilidade dos parasitos, são fundamentais para contornar os possíveis

problemas do advento da resistência aos combinados.

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8 CONCLUSÃO

O monitoramento da sensibilidade in vitro dos isolados de P. falciparum é

importante para o controle da disseminação da resistência do parasito aos

antimaláricos. Esse estudo demonstrou que a espécie P. falciparum ainda

permanece resistente à CQ no Brasil, embora tenha sido constatado um parasito

sensível à CQ, o que indica uma possível redução da resistência à droga em

isolados brasileiros. Já na Nigéria, observou-se a presença de 22,1% de parasitos

resistentes. Apesar da AQ nunca ter sido utilizada no tratamento da malária por P.

falciparum no Brasil, foi constatada 15% de resistência à droga em isolados

brasileiros, indicando uma possível resistência cruzada entre CQ e AQ (r2=0,22). Na

Nigéria, ocorreu o uso desse fármaco no caso de falha terapêutica à CQ. Foram,

portanto, observados 33,9% de parasitos resistentes à AQ. A alta taxa de resistência

a esse fármaco também pode ser explicada pela resistência cruzada (r2=0,77).

As mutações nos genes que codificam proteínas transportadoras estão

associadas à variação da susceptibilidade de diversos microorganismos às drogas.

Nesse estudo analisamos cinco genes associados ao transporte de moléculas

através da membrana do parasito. Os genes pfcrt e pfmdr1 já foram previamente

associados à susceptibilidade do parasito à CQ e outros fármacos como QN, MQ e

AQ. Nesse estudo constatamos que as mutações K76T no gene pfcrt e N86Y no

gene pfmdr1 estão associadas à susceptibilidade dos isolados à CQ e à AQ. Além

dessas, as mutações S263P no gene G47 e S241A no gene G2 foram associadas à

resistência à CQ e a mutação N843N&1 foi associada à resistência à AQ.

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ANEXOS

ANEXO 1: Carta de colaboração com a Prof. Elieth Mesquita (CEPEM)

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ANEXO 2: Carta da aprovação do comitê de ética para as amostras da Nigéria

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Anexo 3: Carta de coleboração com o Dr. Christian Happi, Nigéria

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Anexo 4: Manuscrito do artigo

Título: ANÁLISE DE MARCADORES MOLECULARES E DE RESISTÊNCIA IN

VITRO ÀS QUINOLÉINAS EM ISOLADOS DE PLASMODIUM FALCIPARUM

Autores: Carolina Bustamante e Mariano Zalis Resumo:

A malária é a doença parasitária de grande impacto na saúde pública,

causando aproximadamente 500 milhões de casos clínicos e um milhão de óbitos. O

surgimento de parasitos resistentes representa um grande desafio para o controle da

doença. Estudos sugerem que mutações pontuais, principalmente em proteínas

transportadoras, são responsáveis pela redução da sensibilidade do parasito aos

antimaláricos. Um estudo realizado por Mu e cols (2003) demonstrou que 11 genes

tiveram uma associação significativa com a susceptibilidade in vitro à CQ e à QN de

cepas de laboratório. Dois destes genes, pfcrt e pfmdr1 já foram bem caracterizados,

enquanto pouco se conhece sobre os outros nove. Nesse estudo associamos os

níveis de susceptibilidade in vitro de P. falciparum às mutações nos genes pfcrt,

pfmdr1, PfA0590w (G2), PfE0775c (G47) e Pf13-0271 (G7) de amostras coletadas

em Porto Velho, Rondônia, Brasil e em Ibadan, Nigéria. A avaliação da

susceptibilidade in vitro à Cloroquina, Mefloquina, Amodiaquina e Quinina foi

realizada pelo microteste e a análise das mutações por sequenciamento. Foi

demonstrada resistência à Cloroquina em 96,5% dos isolados brasileiros e em

22,1% dos isolados nigerianos e resistência à Amodiaquina em 15% dos isolados

brasileiros e 33,9% dos isolados nigerianos. As mutações K76T no gene pfcrt, N86Y

no gene pfmdr1, S263P no gene G47 e S241A no gene G2 foram associados à

resistência à Cloroquina. Enquanto que mutações K76T no gene pfcrt, N86Y no

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130

gene pfmdr1 e N834N&1 no gene G7 foram associadas à resistência à

Amodiaquina. Além disso, foi observada resistência cruzada entre as drogas

Cloroquina e Amodiaquina e Amodiaquina e Mefloquina. Esse estudo demonstrou

um aumento da resistência à Amodiaquina no Brasil e na Nigéria, e uma redução na

susceptibilidade do parasito à Cloroquina no Brasil. Também ficou evidenciado que

mutações nos genes pfcrt, pfmdr1, G2, G7 e G47 estão associadas à

susceptibilidade à Amodiaquina e à Cloroquina.

Introdução:

A malária é uma doença infecciosa grave, causada por um protozoário do

gênero Plasmodium e transmitido através do repasto sanguíneo do mosquito-fêmea,

gênero Anopheles (Cowman e Crabb, 2006). É considerada uma das doenças

reemergentes mais graves, provocando cerca de 250 milhões de casos clínicos e

um milhão de óbitos ao ano, em todo o mundo. Afeta principalmente crianças abaixo

de cinco anos e estima-se que haja o óbito de uma criança a cada 40 segundos na

África (Sachs e Malaney, 2002). A malária é um problema que, não só atinge a

saúde da população, como também, incide diretamente no caráter sócio-econômico

dos países. Em regiões endêmicas, a doença ocasiona ausência do trabalho e

escolas, gerando estagnação econômica (Sachs e Malaney, 2002; Lewison e

Srivastava, 2008).

Como não há vacina contra a malária, o controle da doença depende do uso

de antimaláricos e de medidas contra o vetor anofelino (Chatterjee et al., 2006). No

entanto, a emergência de parasitos resistentes à maior parte dos antimaláricos

disponíveis e mosquitos resistentes ao DDT (Dicloro-difenil-tricoloetano) tem se

revelado como o maior obstáculo na contenção da doença (Diallo et al., 1999).

Algumas drogas, como a cloroquina (CQ) e o Fansidar, não têm mais eficácia e

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131

outras, como a mefloquina (MQ), amodiaquina (AQ) ou até mesmo a quinina (QN),

têm efeito reduzido sobre o parasito. Muito preocupante é o fato de que, em regiões

endêmicas, o parasito possa ser resistente a dois ou mais fármacos, fenômeno

conhecido como “resistência a multidrogas” (Wongsrichanalai et al., 2002).

O monitoramento de parasitas resistentes a determinado fármaco é um fator

determinante no controle da doença. Testes in vitro, onde o sangue do paciente

parasitado é exposto a concentrações precisas do composto, são utilizados para

determinar o grau de susceptibilidade do parasito à droga. Uma vez determinada

sua susceptibilidade, é possível monitorar o efeito do medicamento e assim

determinar a melhor escolha terapêutica para indivíduos de uma mesma região

(WHO, 2006).

O seqüenciamento completo do genoma do P. falciparum possibilitou a

busca por homologia de proteínas transportadoras que pudessem estar associadas

à resistência aos antimaláricos e à identificação de marcadores moleculares, os

quais permitem prever rapidamente a resposta dos parasitos às drogas (Wernsdorfer

e Noedl, 2003). Estudos de mapeamento genético e associação de mutações com o

perfil de susceptibilidade in vitro identificaram mutações nos genes pfcrt e pfmdr1,

que atuam nas respostas do parasito aos antimaláricos (Reed et al., 2000; Johnson

et al., 2004). O fenótipo de resistência pode estar associado a apenas a um gene

predominante, no qual há mutações críticas que elevam o IC50 em testes in vitro - é

o caso do gene pfcrt. No entanto, também pode ocorrer a interação de outros genes

que contribuem para a escala variada de resposta in vitro, encontrada entre

amostras de plasmódio (Su e Wootton, 2004). A fim de verificar se outros

transportadores também poderiam estar associados ao fenótipo de resistência às

drogas, Su e cols. (dados não publicados) procuraram por essas proteínas no

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genoma do plasmódio e identificaram 22 mutações em sete proteínas

transportadoras. Em seguida, foi realizado o teste in vitro para CQ e QN e observou-

se que quanto maior era o IC50, maior era a freqüência de mutações nesses

transportadores, havendo consideravelmente mais mutações em parasitos

resistentes do que em sensíveis. Em seguida, (Mu et al., 2003) identificaram nove

novos transportadores, além do gene pfcrt e do gene pfmdr1 com associação à

resposta in vitro à CQ e à QN. Verificou-se que essa associação variava de acordo

com a origem geográfica das amostras, sendo mais significativa em algumas regiões

do que em outras. O G2, por exemplo, teve associação significativa à resposta in

vitro à CQ na Ásia, mas não nas Américas; o G7 foi associado à resposta in vitro à

CQ na África, no entanto não houve esta associação nas Américas. As amostras

estudadas por Mu e cols. (2003) eram provenientes de cepas de laboratório, que

permaneceram sem a pressão seletiva da droga em cultivo. O número pequeno de

amostras geograficamente semelhantes dificulta o estudo da relação entre as

mutações genéticas e a resposta in vitro em cada região endêmica. Portanto é

necessário um estudo que, em lugar de cepas de laboratório, utilize isolados de

campo originários de regiões geograficamente distintas, que tiveram pressão

seletiva de antimaláricos diferentes.

Em nosso estudo as amostras foram selecionadas no Brasil e na Nigéria,

por serem países que tiveram escolhas terapêuticas distintas até 2007. Foram

selecionados os marcadores moleculares pfcrt, pfmdr1, G2, G7 e G47 para análise

de relação das mutações genéticas e da resposta in vitro, não apenas à CQ e à QN,

mas também à MQ e à AQ. A associação das mutações com a susceptibilidade in

vitro a essas duas últimas drogas não foi analisada em outros estudos. Como são

quinoleínas e, portanto, estruturalmente semelhantes, é possível obter-se uma

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associação significativa entre as mutações e a resposta in vitro a essas drogas.

Nesse estudo, determinamos a presença das mutações K76T (pfcrt), N86Y (pfmdr1),

S437A (G2), N834N&1 (G7) e V241L e S263P (G47) em isolados de P. falciparum

provenientes do Brasil e da Nigéria e comparamos a freqüência das mutações com o

perfil de susceptibilidade in vitro dos antimaláricos CQ, AQ, MQ e QN.

Materiais e métodos: Amostras Esse é um estudo retrospectivo a partir de uma coleção de 150 amostras de

um banco de dados do Centro de Pesquisa de Patologias Tropicais –

CEPEM/IPEPATRO, em Porto Velho, Rondônia e do Laboratório de Pesquisa de

Malária da Universidade de Medicina do Ibadan, em Ibadan, Nigéria. As amostras do

CEPEM foram coletadas entre 2006 e meados de 2008, como parte de um banco de

dados do projeto “Interações Moleculares do Receptor da Célula Vermelha com

Ligantes do P. falciparum" (CEP n̊ 045/06), bem como, de outro projeto:

“Determinantes Moleculares da Resistência do P. falciparum a drogas antimaláricas”

(CEP n˚ 046/06). As amostras nigerianas foram coletadas entre 2006 e 2007 como

parte do projeto “Molecular determinants of drug response and resistance in P.

falciparum from Africa and South America” aprovado pelo UI/UCH Institutional

Review Committe da Universidade do Ibadan, na Nigéria. Foi analisado um total de

109 amostras nigerianas e 41 amostras brasileiras.

Teste in vitro O teste in vitro dos parasitos provenientes do Brasil e da Nigéria foi realizado

pelo método de microteste com incorporação de hipoxantina tritiada (HXA), em

ambos os países, segundo o protocolo de (Desjardins et al., 1979). Os parasitos da

Nigéria foram testados, apenas, para os antimaláricos CQ e AQ, já que usualmente

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não possuem QN e MQ para o teste in vitro enquanto que, os do Brasil tiveram o

teste in vitro realizado com os antimaláricos CQ, AQ, QN e MQ. Todos os fármacos

foram obtidos do Walter Reed Army Institute of Research, Washington, EUA. O teste

in vitro foi realizado diretamente após a coleta de sangue do paciente, sem

adaptação do parasito em cultivo.

A coleta de sangue do paciente se procedeu por punção venosa com tubo

vacuntainer contendo heparina. Em seguida o tubo vacuntainer foi centrifugado para

a separação do plasma das hemácias. O plasma foi retirado do tubo e o sangue

posteriormente lavado duas vezes com meio de cultivo RPMI 1640 (Roswell Park

Memorial Institute médium). Após a lavagem, os parasitos foram ressuspendidos em

meio RPMI 1640 da Gibco, adicionado de bicarbonato de sódio e L-glutamato,

Hepes, Bicarbonato, Hipoxantina, Gentamicina e 0,5% de Albumax e também

sangue não parasitado do tipo O negativo para o ajuste da parasitemia para 1% e

hematócrito de 1,5%.

A diluição das drogas foi realizada de 1:4 em meio RPMI 1640 da Gibco,

adicionado de bicarbonato de sódio e L-glutamato, Hepes, Bicarbonato, Hipoxantina

e Gentamicina para a preparação da solução mãe. Após essa diluição, realizou-se a

preparação da solução estoque, em que se diluiu o filtrado em 1:10 com meio RPMI

1640 da Gibco, adicionado de bicarbonato de sódio e L-glutamato, Hepes,

Bicarbonato, Hipoxantina, Gentamicina e 10% de Albumax. Para MQ e AQ foi

realizada novamente uma diluição 1:10 com meio RPMI 1640 da Gibco, adicionado

de bicarbonato de sódio e L-glutamato, Hepes, Bicarbonato, Hipoxantina,

Gentamicina e 10% de Albumax. A tabela com a concentração das drogas em cada

procedimento de diluição encontra-se e a seguir (tabela 3).

Os antimaláricos CQ e QN foram solubilizadas a 1mg/mL em água MilliQ a

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fim de se preparar o filtrado. A MQ e a AQ foram solubilizados a uma 1mg/mL, em

Metanol (Metanol Absoluto, Biolab, BR). Após esse procedimento, foram preparadas

soluções estoques e diluições seriadas das drogas. A concentração final de cada

droga variou de 6,64 a 4845 nM para Cloroquina, de 9,49 a 6925 para Quinina, de

0,826 a 602,7 nM para Mefloquina e de 0,736 a 537 nM para Amodiaquina. Foram

adicionados 50 µL de cada antimalárico na placa e 200 µL de sangue do paciente

(parasitemia de 1% e hemotócrito de 1,5%), nos poços A a G. N poço H foi

adicionado apenas o sangue do paciente sem droga. As placas foram incubadas por

48 horas em microaerofilia a 37°C. A HXA foi utilizada para estimar o crescimento do

parasito. Para tanto, 50 µL de HXA foi adicionado 24 horas após o início do

experimento em cada poço.

Ao final de 48 horas, a placa foi congelada a – 20 °C para a lise celular. Após

a transferência dos parasitos para um filtro de fibra de vidro utilizando um coletor de

células, foi determinada a quantidade de HXA incorporada no parasito com o uso do

contador Liquid Cintilation Wallac Beta Plate 1205 (Perkin-Elmer).

A concentração inibitória de crescimento 50% (IC50) é uma medida de

efetividade do composto de inibir uma função biológica. A medida quantitativa indica

o quanto da droga é necessário para inibir o crescimento biológico do parasito pela

metade. Ou seja, o IC50 corresponde à concentração que inibe 50 % do crescimento

do parasito e é determinado através da curva dose-resposta obtida do experimento

in vitro.

Os limiares in vitro de resistência aos antimaláricos que discriminam parasitos

sensíveis dos resistentes foram considerados de acordo com a literatura: 100 nM

(CQ), 30 nM (AQ), 500 nM (QN) e 30 nM (MQ).

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Extração do DNA

O DNA plasmodial foi extraído, utilizando-se o método fenol-clorofórmio com

lise por saponina a 0,05% (Cox-Singh et al., 1995). Do papel de filtro, foi removido

um fragmento de, aproximadamente, 3mm, com a utilização de uma tesoura estéril.

O fragmento foi, em seguida, reduzido em tamanhos menores e adicionado a uma

solução de PBS 1x com 0,05% de Saponina, por 2 horas a 37°C. Retirou-se o

sobrenadante e adicionou-se o tampão de lise (40mM de Tris-HCl pH 8,0, 80mM de

EDTA, pH 8,0, SDS a 0,2%e 150 μL de Proteinase K), por 2 horas, a 37°C, para a

remoção das proteínas. Após a fragmentação e digestão das proteínas da amostra,

foi adicionado fenol-clorofórmio (Invitrogen) v/v na amostra, para a desnaturação das

proteínas restantes. Depois de sucessivas centrifugações para a remoção dos

resíduos, o sedimento restante foi ressuspedido em 50μL de H2O MiilliQ.

Análise de polimorfismos

A reação com a Taq polimerase Platinum (Invitrogen, BR) foi realizada para

um volume final de 50 μL foi adicionado Tampão 1x (20 mM Tris -HCL – pH 8,0, 0,1

mM de EDTA, 1 mM DTT, 50% (v/v) glycerol), 0,25Mm de dNTP (Invitrogen, BR) ,

1,5 mM de Cloreto de Magnésio, 50 pmol do oligonucleotídeo “forward” (específico

para cada gene), 50pmol do oligonucleoídeo “reverse” (específico para cada gene),

2,5 U de Taq polimerase e 3 μL de DNA da extração descrita acima, obtendo-se um

volume final de 25 μL. Para o segundo nested, foi utilizado o mesmo protocolo do

primeiro, alterando-se apenas o volume DNA, para 1 μL

O gene pfcrt foi sequenciado utilizando o protocolo previamente descrito por

Djimde e cols. (Djimde et al., 2003). Para tanto foram utilizados os iniciadores

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CRTP1 (5’CCGTTAATAATAAATACACGCAG 3’) e CRTP2

(CGGATGTTACAAAACTATAGTTACC 3’) na primeira amplificação e CRTD1

(TGTGCTCATGTGTTTAAACTT 3’) e CRTD2 (CAAAACTATAGTTACCAATTTTG 3’)

na segunda, com a intenção de se verificar o perfil polimórfico do lócus 72 ao 76 do

pfcrt. A ciclagem do termociclador foi de 95°C para desnaturação, por 3 minutos; 45

ciclos de 95°C, por 30 segundos; 56°C por 30 segundos e 60°C por 60 segundos e

temperatura final de extensão de 60°C por 5 minutos para o primeiro nested. A

segunda amplificação teve sua ciclagem de 95°C para desnaturação por 3 minutos,

30 ciclos de 95°C por 30 segundos, 48°C por 30 segundos e 65°C por 60 segundos

e temperatura final de extensão de 65°C por 5 minutos

O gene pfmdr1 teve seu fragmento amplificado pelos iniciadores MDR1

(5’CGCGCGTTGAACAAAAAGAGTACCGCTG 3’) e MDR2

(GGGCCCTCGTACCAATTCCTGAACTCAC) para a primeira amplificação seguida

dos iniciadores MDR3 e MDR4. Essas regiões cobriam o lócus 86 do gene para a

observação do polimorfismo N86Y. As temperaturas do termociclador foram

ajustadas em 95°C por 5 minutos, 45 ciclos de 95°C por 30 segundos, 45°C por 30

segundos e 65°C por 45 segundos e finalmente extensão de 72°C por 5 minutos

para ambas as amplificações (Duah et al., 2007) .

O gene G2 foi amplificado com os oligonucleotídeos G2bFext (5'-

ATTTATAATATTATGTTTC-3') e G2bRext (5'-TTTCTTCTTTCTTATTTAATC-3') na

primeira amplificação e com os oligonucleotídeos G2bFin (5'-

CAATGATACTATTTGAATTT-3') e G2bRin (5'-CTTATTAATCTATCTTTTA-3') na

segunda amplificação, no intuito de se verificar a presença da mutação S437A (Mu

et al., 2003).

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O gene G7 foi amplificado com os oligonucleotídeos G7Fex (5'-

GTAATGTGAAGAATATCTA-3') e G7Rex(5'-TTGAAGCTTGAATCATTTGTTTATC-

3') na primeira amplificação e G7Fin(5'-CAAATCCAAATATTACGAAAA-3')e

G7Rin(5'-AGTATCTTGTGGTACGACACTT-3') na segunda amplificação para a

observação da presença de uma inserção de Asparagina no locus 834 (834&1) (Mu

et al., 2003).

O gene G47 foi amplificado, utilizando-se na primeira amplificação os

oligonucleotídeos G47Fex(5'-GTATAGATATTAAAGATGCC'-3') e G47Rex(5'-

CATATTTTCAAATACACTCGCCAT-3') e na segunda, os oligonucleotídeos

G47Fin(5'-GATGCCAAAGAAAAAGAACG-3') e G47Rin(5'-

GACCAGAAGAATGAAATACATCCA-3') para a observação das mutações no locus

V241L e S263P (Mu et al., 2003).

Os ciclos térmicos foram semelhantes para os três genes (G2, G7 e G47),

sendo apenas alterada a temperatura de hibridização: 95°C por 5 minutos para

desnaturação, 35 ciclos de 95°C por 30 segundos, 49°C para G2, 50°C para G7 e

55°C para G47 por 30 segundos e 70°C por 30 segundos, finalizando com 70°C por

5 minutos de extensão.

As amostras foram sequenciadas, utilizando-se um sequenciador automático

ABI PRISM® 3100-Avant Genetic Analyzer com o kit BigDye Terminator v3.1 Cycle

Sequencing. Para a reação, foram utilizados 6μL de Tampão, 2μL de BigDye, 1μL de

iniciador “forward”, H20 MilliQ e 100ng de DNA para volume final de 20μL (kit BigDye

Terminator – Applied Biossystem, EUA). O produto, posteriormente, foi precipitado

com etanol e isopropanol (MLR, EUA) e diluído em formamida (Applied Biosystems,

EUA).

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As sequências foram montadas pelo software Sequencing Analysis 3.7

(Applied Biosystems) e, por alinhamento, através do programa Mutation Surveyor

(Softgenetics, LLC.) e FinchTV (Geospiza).

Análise estatística

Foi criado um banco de dados em planilha Excel, contendo as mutações e os

valores de IC50. Os testes de média, os intervalos de confiança e os intervalos da

amostra foram calculados pelo suplemento xlstat (Microsoft). A análise filogenética

foi realizada a partir do programa CLC Workbench da CLCbio, utilizando o critério

UPGMA (Unweighted Pair Group Method with Arithmetic mean ) para a construção

da árvore filogenética. A correlação dos valores de IC50 entre os antimaláricos foi

medida através do coeficiente de determinação (r2) e a correlação entre os valores

de IC50 e as mutações foi calculada pelo teste de Kruskal-Wallis. A correlação entre

os antimaláricos foi calculada pelo exato de Fisher, utilizando tabelas 2x2. O cálculo

da prevalência foi realizado por odds ratio utilizando o programa MedCalc (Versão

10.3.2.0). A significância estatística foi determinada por p < 0,05.

Resultados: Teste in vitro

O teste in vitro para CQ apresentou como resultado, valores de IC50, variando

de 6,56 nM a 1.400 nM, com média de 241,3 nM em 88 amostras provenientes de

ambos os países. Dessas amostras, 47 (53,4%) eram sensíveis e 41 (46,6%)

resistentes à droga. A média do IC50 da CQ das amostras provenientes do Brasil foi

nove vezes maior do que a média do IC50 das amostras nigerianas.

Das 59 amostras nigerianas, 46 (77,9%) eram sensíveis à CQ e 13 (22,1%),

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apresentaram valores acima do limiar de sensibilidade (100 nM). As sensíveis

variaram de 6,56 a 99,67 nM com média de 48,3 nM. As resistentes tiveram variação

de 100,46 a 197,2 nM e média de 129,3 nM. Nas 29 amostras brasileiras, apenas 1

(3,5%) apresentou ser sensível à droga e 28 (96,5%) possuíam fenótipo de

resistência. A variação foi de 58,8 a 1.400 nM, com média de 597,6 nM e as

resistentes variaram de 113 a 1.400 nM, com média de 616,9 nM.

Os valores de IC50 obtidos no teste in vitro para AQ variaram de 1,25 a 88,79

nM e tiveram média de 21,9 nM em 79 amostras analisadas. Dessas, 56 (70,9%)

eram sensíveis à droga e 23 (29,1%), mostraram-se resistentes. As amostras

sensíveis variaram de 1,25 a 29 nM, com média de 12,3 nM e as resistentes de

30,24 a 88,79 nM, com média de 45,4 nM. As amostras da Nigéria tiveram valores

de IC50 de AQ 1,5 vezes maiores do que as amostras do Brasil.

Foram analisadas 59 (74,6%) amostras provenientes da Nigéria e 20

(35,4%), do Brasil. Trinta e nove (66,1%) amostras da Nigéria eram sensíveis à AQ e

20 (33,9%) eram resistentes. As sensíveis variaram de 1,25 a 27,87 nM, com média

de 12,5 nM e as resistentes de 30,24 a 88,79 nM, com média de 46,9 nM. Das 20

amostras provenientes do Brasil, 17 (85%) eram sensíveis e 3 (15%) eram

resistentes. As sensíveis variaram de 3,7 nM a 29 nM, com média de 11,8 nM e as

resistentes de 31,5 a 39,7 nM, com média de 34,9 nM.

As amostras provenientes do Brasil foram testadas in vitro para QN. Como

esse antimalárico não é usualmente utilizado nas placas de microteste na Nigéria,

não foram obtidos dados de IC50 em amostras provenientes deste país. Os valores

de IC50 variaram de 25,5 a 310 nM, com média de 130,5 nM nas amostras do Brasil.

Todas eram sensíveis.

As amostras brasileiras foram testadas in vitro para MQ. Este antimalárico,

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assim como a QN, não é adicionado à placa de microteste na Nigéria, portanto as

amostras nigerianas não possuíam valores de IC50 para MQ. Já nas amostras

brasileiras o IC50 variou de 2,6 a 206 nM, com média de 39,9 nM. Treze (65%)

amostras apresentaram fenótipo de sensibilidade e 7 (35%) apresentaram fenótipo

de resistência. As amostras sensíveis variaram de 2,6 a 22,3 nM, com média de 11,

3nM e as resistentes, de 31 a 206 nM, com média de 92,6 nM.

Avaliação da resistência cruzada entre os antimaláricos

A correlação pareada das atividades in vitro da CQ, AQ, QN e MQ foi

analisada com o propósito de avaliar a resistência cruzada entre estes antimaláricos

(tabela 1). A estimativa dessa correlação foi determinada através do coeficiente de

correlação de Pearson (r) e do coeficiente de determinação (r2). A correlação foi

analisada em um total de amostras (n total) e nos países em separado (origem -

Nigéria ou Brasil)

Origem n r r2 pCloroquina Amodiaquina n total 79 0.46 0.21 <0,001Cloroquina Quinina Brasil 20 0.28 0.078 0.23Cloroquina Mefloquina Brasil 20 0.29 0.008 0.22

Amodiaquina Quinina Brasil 20 -0.18 0.003 0.44Amodiaquina Mefloquina Brasil 20 0.71 0.51 <0,001

Quinina Mefloquina Brasil 20 0.002 <0,001 0.99Cloroquina Amodiaquina Nigéria 59 0.88 0.77 <0,001Cloroquina Amodiaquina Brasil 20 0.47 0.22 0.036

Par de drogas

Tabela 1: Correlação das atividades in vitro da CQ, AQ, QN e MQ

n = número de amostras; r = coeficiente de correlação; r2 = coeficiente de determinação; p = p valor.

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Uma correlação positiva significativa (p <0,05) foi obtida entre os

antimaláricos AQ e CQ e AQ e MQ. A AQ e a CQ apresentaram uma baixa

correlação (r2 = 0,21) em amostras de ambos os países. Após a divisão dessas

amostras de acordo com suas origens, o coeficiente de determinação manteve-se

baixo (r2 = 0,22) em amostras provenientes do Brasil. No entanto, o coeficiente de

determinação apresentou-se alto (r2 = 0,77) em amostras da Nigéria. O coeficiente

de determinação entre AQ e MQ também foi alto (r2=0,51) nas amostras

provenientes do Brasil. Não houve observação de resistência cruzada entre os

antimaláricos CQ e QN, CQ e MQ, AQ e QN e QN e MQ.

Análise Genotípica

Gene pfcrt

O sequenciamento do pfcrt foi realizado para a observação dos haplótipos

nos códons 72-76. Obteve-se a seqüencia de 133 amostras que apresentaram

quatro haplótipos distintos: CVMNK, CVMNT, SVMNT e CVIET. O haplótipo CVIET

foi observado em 65 (48,9%) amostras, o haplótipo CVMNK foi observado em 25

(18,8%) amostras, CVMNT em três (2,2%) e SVMNT em 40 (63,1%) amostras. Das

133 amostras, 92 eram provenientes da Nigéria, onde somente os haplótipos

CVMNK, CVMNT e CVIET foram observados. As 41 amostras provenientes do Brasil

apresentaram os haplótipos SVMNT e CVIET. As proporções dos alelos de cada

país podem ser observadas na tabela 2.

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143

Tabela 2: Haplótipos do pfcrt em amostras da Nigéria e do Brasil

Códon do pfcrt

72 73 74 75 76 Nigéria Brasil Total

C V M N K 25 (27,2%) 0 (0%) 65

C V M N T 3 (3,3%) 0 (0%) 40

C V I E T 64 (69,5%) 1 (2,4%) 25

S V M N T 0 (0%) 40 (97,6%) 3

41 92 133Total

Origem

A mutação no códon 76 (K76T), associada previamente à resistência a CQ,

foi observada nas 41 (100%) amostras brasileiras e em 67 (72,8%) amostras

nigerianas (tabela 3). Vinte e cinco (27,2%) amostras nigerianas apresentaram o

códon selvagem (K76).

Tabela 3: Frequencia da mutação K76T do pfcrt no Brasil e na Nigéria

Códon76 Nigéria Brasil TotalK 25 (27,2%) 0 (0%) 25T 67 (72,8%) 41 (100%) 108

Total 92 41 133

Origem

Gene pfmdr1

O sequenciamento de 147 amostras resultou em 103 amostras contendo N e

44, Y no códon 86. Nenhuma amostra brasileira apresentou a mutação N86Y. Das

106 amostras nigerianas, 62 (58,5%) eram N86 e 44 (41,5%) 86Y. (Tabela 4).

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144

Tabela 4: Frequencia da mutação N86Y do pfmdr1 no Brasil e na Nigéria

Códon86 Nigéria Brasil TotalN 62 (58,5%) 41 (100%) 103Y 44 (41,5%) 0 (0%) 44

Total 106 41 147

Origem

Gene G7

O gene G7 possui uma inserção de uma asparagina no codon 834 (834N&1)

associada à susceptibilidade das amostras aos antimaláricos CQ e QN (Mu et al.,

2003). O sequenciamento de 107 amostras resultou em 60 (56%) amostras

selvagens (N834) e 47 (44%) mutantes. Foram sequenciadas 78 amostras

nigerianas e 29 amostras brasileiras. Das amostras nigerianas, 37 (47,4%) eram

selvagens e 41 (52,6%), mutantes. Das 29 brasileiras, 23 (79,3%) eram selvagens e

6 (20,7%), mutantes (Tabela 5).

Tabela 5: Frequencia da mutação N834N&1 do G7 no Brasil e na Nigéria

Códon834 Nigéria Brasil TotalN 37 (47,4%) 23(79,3%) 60

N&1 41(52,6%) 6(20,7%) 47Total 78 29 107

Origem

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145

Gene G47

No gene G47 foram encontradas duas mutações, V241L e S263P. A primeira

já havia sido descrita por Mu e cols. (2003) e associada à resistência à CQ e à QN,

principalmente em isolados asiáticos (Mu et al., 2003). Não foi encontrada nenhuma

referência na literatura sobre a mutação S263P, sendo esta observada pela primeira

vez neste estudo. A partir de 134 amostras (104 nigerianas e 30 brasileiras),

obtiveram-se quatro haplótipos distintos: VS, VP, LS e LP. Do total de 134 amostras,

96 (71,6%) possuíam VS; 25 (18,6%), VP; 10 (7,5%), LS e 3 (2,3%), LP. Das

amostras nigerianas, 69 (67%) eram VS; 23 (22,3%) eram VP; 9 (8,7%) eram LS e 3

(2,0%) eram LP. Das 30 amostras brasileiras, 27 (90%) possuíam o haplótipo VP;

duas (6,6%) o VS e uma (3,4%), o LS. O haplótipo LP não foi observado em

amostras brasileiras (Tabela 6)

Tabela 6: Haplótipos do G47 em amostras da Nigéria e do Brasil

241 263 Nigéria Brasil TotalV S 69 (67%) 27 (90%) 96V P 23 (22,3%) 2 (6,6%) 25L S 9 (8,7%) 1 (3,4%) 10L P 3 (2,0%) 0 (0%) 3

104 30 134Total

Origem Códon

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146

Gene G2

No gene G2 foi observada a mutação A437S. A partir da sequencia de 139

amostras, obteve-se 119 (85,6%) selvagens e 20 (14,4%) mutantes. Das 100

nigerianas, 97 (97%) eram selvagens e 3 (3%), mutantes. Das 39 brasileiras, 21

(53,8%) eram selvagens e 18 (46,2%), mutantes (tabela 7).

Tabela 7: Frequencia da mutação S437A do G2 no Brasil e na Nigéria

Códon437 Nigéria Brasil TotalS 97 (97%) 21 (53,8%) 119A 3 (3%) 18 (46,2%) 20

Total 100 39 139

Origem

Correlação entre os polimorfismos e os valores de IC50 in vitro

Correlação entre a atividade in vitro da CQ e os polimorfismos

Os polimorfismos observados nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e G2 foram

associados aos níveis de IC50 das amostras. As duas amostras com os menores

valores de IC50 - 6,56 nM e 12,10 nM, respectivamente - foram as únicas que não

apresentaram mutação em nenhum dos genes analisados no estudo. As amostras

com IC50 acima destes valores contêm, no mínimo, uma mutação. A prevalência

das mutações em amostras resistentes é 1,85 vezes maior do que a prevalência de

mutações em amostras sensíveis (OR = 1,85; IC95% = 1,15 – 2,97; p = 0,01).

A tabela 8 demonstra os polimorfismos nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e

G2 agrupados de acordo com o fenótipo de susceptibilidade da amostra à CQ. Não

foi possível estabelecer uma correlação significativa entre a presença das mutações

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147

N86Y (pfmdr1), 834N&1 (G7), V241L (G47) e S263P (G47) e S347A (G2) e o

fenótipo de resistência ao antimalárico CQ. No entanto, a presença da mutação

K76T do gene pfcrt e S347A do gene G2 apresentou associação com a resistência à

CQ. (p= <0,0001 e p=0,005, respectivamente).

Gene Códon e aminoácido n % n % ppfmdr1 N86 32 71.1% 33 67.3% 0.8

86Y 13 28.9% 16 32.7%

pfcrt K76 13 31.0% 0 0.0% < 0,000176T 29 69.0% 41 100.0%

G7 N834 23 59.0% 21 67.7% 0.5

834N&1 16 41.0% 10 32.3%

G47 V241 42 89.4% 30 90.9% 1

241L 5 10.6% 3 9.1%

S263 40 83.3% 24 72.7% 0.2

263P 8 16.7% 9 27.3%

G2 S437 42 95.5% 28 71.8% 0.005437A 2 4.5% 11 28.2%

Tabela 8: Resistência à CQ em função das mutações nos genes

Sensível ResistenteAmostras

n = número de amostras; % = porcentagem de cada alelo; p = p valor

A fim de se avaliar a associação das mutações com o fenótipo da

susceptibilidade in vitro de cada país em separado, as amostras foram divididas de

acordo com a sua origem. As brasileiras tiveram baixa variabilidade genética e

pequeno número amostral, portanto não foi possível obter uma associação

significante entre as mutações e o fenótipo de resistência. No entanto, essa

associação foi possível nas amostras provenientes da Nigéria.

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148

A prevalência de mutações nas amostras resistentes foi 2,36 vezes maior do

que a prevalência de mutações nas amostras sensíveis (OR = 2,36; IC95% = 1,32 –

4,21; p = 0,0036).

A tabela 9 demonstra os polimorfismos nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e

G2 agrupados de acordo com o fenótipo de susceptibilidade à droga em amostras

nigerianas. Não foi possível estabelecer uma correlação significante entre a as

mutações N834&1 (G7), V241L (G47), e S347 (G2) e o fenótipo de resistência à CQ

(valores de p na tabela 20). No entanto, as mutações N86Y do gene pfmdr1, K76T

do gene pfcrt e S263P do gene G47 tiveram uma associação estatisticamente

significante (p=0,005, p=0,02 e p=0,003, respectivamente) com a resistência à CQ.

Gene Códon e aminoácido n % n % ppfmdr1 N86 32 66.7% 3 21.4% 0.005

86Y 16 33.3% 11 78.6%pfcrt K76 0 0.0% 13 33.3% 0.02

76T 13 100.0% 26 66.7%G7 N834 16 42.1% 9 69.2% 0.12

834N&1 22 57.9% 4 30.8%G47 V241 41 89.1% 12 85.7% 0.6

241L 5 10.9% 2 14.3%S263 39 84.8% 6 42.9% 0.003263P 7 15.2% 8 57.1%

G2 S437 41 95.3% 12 100.0% 1437A 2 4.7% 0 0.0%

Tabela 9: Resistência à CQ em função das mutações nos genes em

Sensível Resistente

amostras da Nigéria

Amostras

Legenda: n = número de amostras; % = porcentagem de cada alelo; p = p valor

A respeito das amostras brasileiras, apenas uma apresentou sensibilidade à

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149

CQ. A mutação N86Y não foi observada nas amostras. Todas as amostras

possuíam a mutação K76T.

Correlação entre a atividade in vitro da AQ e os polimorfismos

Os polimorfismos observados nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e G2 foram

associados aos níveis de IC50 para AQ. Trinta e quatro amostras apresentaram

fenótipo de sensibilidade e 16, fenótipo de resistência à AQ.

A prevalência de mutações nas amostras resistentes foi 2,63 vezes maior do

que a prevalência de mutações nas amostras sensíveis (OR = 2,63; IC95% = 1,6 –

4,3; p = 0,0001). As duas amostras com os menores valores de IC50 - 1,35 e 1,37nM,

respectivamente – foram as que não apresentaram nenhuma mutação. Com

exceção da amostra de IC50 de 2,30 nM. Esta amostra contém duas bases

localizadas na mesma posição (a adenosina e a citosina).

A tabela 10 demonstra os polimorfismos nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e

G2 agrupados de acordo com o fenótipo de susceptibilidade à AQ.

Não foi possível estabelecer uma correlação significante entre a presença das

mutações, V241L (G47), S263P (G47) e S347 (G2) e o fenótipo de resistência ao

antimalárico CQ (valores de p na tabela 21). No entanto, as mutações K76T do gene

pfcrt, N86Y do gene pfmdr1 e N834&1 do gene G7 apresentaram associação

significante com o fenótipo de resistência à AQ (p=0,0001; p=0,007; p=0,03,

respectivamente).

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150

Gene Códon e aminoácido n % n % ppfmdr1 N86 41 82.0% 8 33.3% 0.0001

86Y 9 18.0% 16 66.7%

pfcrt K76 13 25.5% 0 0.0% 0.00776T 38 74.5% 22 100.0%

G7 N834 32 72.7% 9 42.9% 0.03834N&1 12 27.3% 12 57.1%

G47 V241 31 88.6% 17 81.0% 0.22

241L 4 11.4% 4 19.0%

S263 42 84.0% 13 61.9% 0.06

263P 8 16.0% 8 38.1%

G2 S437 44 84.6% 19 86.4% 1

437A 8 15.4% 3 13.6%

Tabela 10: Resistência à AQ em função das mutações nos genes

Sensível ResistenteAmostras

Legenda: n = número de amostras; % = porcentagem de cada alelo; p = p valor

A fim de se avaliar a associação das mutações com o fenótipo da

susceptibilidade in vitro de cada país, as amostras foram separadas de acordo com

a sua origem. As brasileiras tiveram baixa variabilidade genética e pequeno número

amostral, portanto não foi possível obter uma associação significante entre as

mutações e o fenótipo de resistência. No entanto, essa associação foi possível nas

amostras provenientes da Nigéria.

No que tange às amostras nigerianas, a prevalência de mutações nas

amostras resistentes foi 2,86 vezes maior do que nas amostras sensíveis (OR =

2,86; IC95% = 1,67 – 4,89; p = 0,0001).

A tabela 11 demonstra os polimorfismos nos genes pfcrt, pfmdr1, G7, G47 e

G2 agrupados de acordo com o fenótipo de susceptibilidade à AQ em amostras

provenientes da Nigéria. Pôde-se observar uma correlação significante entre a

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presença das mutações N86Y do gene pfmdr1 e K76T do gene pfcrt com o fenótipo

de resistência à AQ (p=0,0001 e p=<0,0003, respectivamente) Essa correlação não

se apresentou significante nas mutações V241L (G47), S263P (G47) e S347 (G2).

Gene Códon e aminoácido n % n % ppfmdr1 N86 29 76.3% 5 23.8% 0.0003

86Y 9 23.7% 16 76.2%

pfcrt K76 13 39.4% 0 0.0% < 0,000176T 20 60.6% 19 100.0%

G7 N834 20 66.7% 8 40.0% 0.08

834N&1 10 33.3% 12 60.0%

G47 V241 36 92.3% 17 81.0% 0.22

241L 3 7.7% 4 19.0%

S263 32 82.1% 12 60.0% 0.11

263P 7 17.9% 8 40.0%

G2 S437 34 94.4% 19 100.0% 0.6

437A 2 5.6% 0 0.0%

Tabela 11: Resistência à AQ em função das mutações nos genes em

Sensível Resistente

amostras da Nigéria

Amostras

Legenda: n = número de amostras; % = porcentagem de cada alelo; p = p valor

A respeito das amostras brasileiras, a mutação N86Y não foi observada nas

amostras. Todas as amostras possuíam a mutação K76T.

Correlação entre a atividade in vitro dos antimaláricos e os polimorfismos pelo teste

Kruskal-Wallis

Para verificar se houve correlação entre as mutações nos genes e os perfis

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152

de susceptibilidade in vitro, realizou-se o teste Kruskal-Wallis. Nesta análise, as

amostras não foram divididas de acordo com o seu fenótipo de susceptibilidade

(sensível ou resistente) e, sim, segundo o valor crescente de IC50, e foram também

analisadas conforme seu haplótipo. Já no gene pfcrt, por exemplo, não foi avaliada a

mutação K76T e, sim, seus haplótipos (CVIET, CVMNT, CVMNK E SVMNT). O

mesmo ocorreu com o gene G47 de haplótipos: VS, VP, LS e LP. Como o número

de observações é pequeno e não se pôde garantir a premissa da normalidade para

análise de variância, optou-se pelo teste não paramétrico (Kruskal-Wallis). Então,

inicialmente, os testes foram realizados, combinando-se os dados do Brasil e da

Nigéria, sendo em seguida realizada a análise específica de cada país.

Na análise, observou-se correlação de mutações nos genes pfcrt e G2 com

baixa susceptibilidade in vitro a CQ (p= <0,0001 e p=0,008, respectivamente),

quando analisadas amostras sem distinção de origem. Ao realizar-se tal distinção,

apenas os genes pfcrt e pfmdr1 apresentaram correlação com as amostras da

Nigéria (p=0,0002 e p=0,0022). Não foi possível realizar a correlação entre amostras

brasileiras devido à baixa variabilidade genética. Em relação à correlação da

susceptibilidade da AQ com os genes, observou-se p-valores menores que 0,005 em

relação aos genes pfcrt e pfmdr1 no número total de amostras ou quando analisadas

apenas as amostras nigerianas. O número total das amostras, também, apresentou

correlação entre a mutação no gene G7 e a AQ (p=0,003), fato não observado ao se

distinguir as origens das amostras (Tabela 12).

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CQ AQGene Total Nigéria Brasil Total Nigéria Brasilpfmdr1 0.7 0.0002 ND < 0,0001 0.0002 ND

pfcrt <0,0001 0.0022 ND 0.0001 0.0007 ND

G7 0.9 0.1 0.7 0.03 0.1 0.3

G47 0.6 0.17 0.2 0.2 0.2 0.9

G2 0.008 0.9 0.2 0.6 0.8 0.9

Tabela 12: Teste de Kruskal-Wallis

Legenda: ND = Não determinado. Valores em p-valor

Discussão:

A resistência aos antimaláricos contribuiu para um aumento substancial na

mortalidade e morbidade da malária em diversos países no mundo (White, 1999b). A

CQ foi o antimalárico mais utilizado como primeira linha terapêutica nos últimos 40

anos, devido ao seu efeito contra as formas do P. falciparum e ao seu baixo custo e

toxicidade (Arya, 2002). Este medicamento é de fácil produção e sua estrutura

química estável permite o estoque e transporte mesmo em condições climáticas

extremas. O uso da CQ no Brasil foi abandonado na década de 80, mas na Nigéria,

foi utilizado no tratamento da malária por tempo superior ao Brasil, possivelmente

devido a seu baixo custo e aparecimento mais tardio da resistência em comparação

a outras regiões endêmicas no mundo (Ogungbamigbe et al., 2007). O preço deste

fármaco é o mais acessível, custando US$ 0,07 dólares por comprimido, enquanto

os outros antimaláricos podem custar entre $0,082 (SP) e $ 2,5 dólares (Coartem).

Em um país, onde 70% da população vive na pobreza, o preço de antimaláricos

mais efetivos é impraticável (Molyneux et al., 2005). No entanto, o governo da

Nigéria, através de fundos gerados pela OMS, passou a substituir gradativamente a

CQ pela combinação de artesunato- AQ ou arteméter-lumefantrina a partir de 2003

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154

(WHO, 2005). A falha terapêutica à CQ na Nigéria foi documentada ocorrendo na

faixa de 31 a 39% da população, uma taxa muito superior à recomendada (10%)

pela OMS para a mudança na política de tratamento (Kabanywanyi et al., 2007;

Ojurongbe et al., 2007). O teste in vitro em nosso estudo demonstrou 25,4% de

resistência à CQ nos parasitos oriundos da Nigéria.

No Brasil, onde a CQ não é utilizada há mais de 15 anos para o tratamento da

malária por P. falciparum, nenhum parasito sensível à droga foi demonstrado em

estudos anteriores (Zalis et al., 1998; Cerutti Junior et al., 1999; Vieira et al., 2001;

Gonzalez et al., 2003; Vieira et al., 2004). O teste in vitro para esta droga, em

amostras brasileiras, demonstrou resistência in vitro em 97,5 % dos parasitas

analisados. Neste estudo, um parasito apresentou sensibilidade à CQ,

representando possivelmente um aumento da suscetibilidade a esta droga no país.

A média de IC50 da CQ em isolados brasileiros foi cerca de nove vezes superior à

média de IC50 dos isolados nigerianos. Como na América do Sul são encontrados

como principais agentes etiológicos P. vivax e P. falciparum, este resultado pode ser

interpretado pelo uso desta droga no tratamento da malária por P. vivax, exercendo

uma pressão constante em P. falciparum.

Recentemente tem-se observado um declínio da resistência e a consequente

reemergência de parasitos sensíveis à droga. No Malaui houve declínio da

resistência in vitro de 50% para 1%, após 12 anos sem o uso da CQ (Laufer et al.,

2006). Na China, a resistência in vitro dos parasitos era 97,9% em 1981 e decaiu

para 60,9% em 1991 (Liu et al., 1995). Este declínio da resistência e a consequente

emergência de parasitos sensíveis ocorre, possivelmente, pela perda da fitness

associada a várias mutações adquiridas pelas populações de parasitas durante a

pressão da droga. Estas mutações, por sua vez, ocasionam um custo biológico extra

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155

no metabolismo do parasito, resultando em uma diminuição na geração de

descendentes. Com a remoção da pressão exercida pela CQ, mutações associadas

à resistência se tornaram uma desvantagem ao parasito e, devido à seleção natural,

a população de parasitos com códons selvagens passou a prevalecer

gradativamente sobre a população de parasitos mutantes (Hastings e Donnelly,

2005; Hayward et al., 2005; Walliker et al., 2005).

A identificação da associação do gene pfcrt com a resistência a CQ

representou um dos grandes avanços no conhecimento da resistência aos

antimaláricos (White, 2004). A substituição de uma Lisina (K) por uma Treonina (T)

no códon 76 (K76T) tem sido encontrada em todos os parasitos resistentes e

fortemente associada à resistência do parasito à CQ (Fidock et al., 2000; Anderson

et al., 2005). A prevalência desta mutação foi monitorada no Malaui após a

substituição da CQ por outros antimaláricos e observou-se um declínio da

prevalência da mutação de 85% em 1992 para 13% em 2000 (Kublin et al., 2003). O

mesmo ocorreu em outro estudo onde a prevalência da K76T que decaiu de 17% em

1998 para 2% em 2000 (Mita et al., 2003). Estes estudos sugeriram um decréscimo

de 5% na fitness do parasito causado pela mutação K76T. (Abdel-Muhsin et al.,

2003). acompanharam a frequência de alelos do gene pfcrt em uma coorte de

habitantes residentes de uma vila no Sudão durante as estações secas de 1999 e

2000, quando não havia transmissão de malária e o uso da CQ era muito limitado

(Abdel-Muhsin et al., 2003). No final de cada estação seca, puderam observar que

houve um declínio da prevalência da mutação K76T, sugerindo mais uma vez, a

desvantagem seletiva da mutação.

Ao contrário do que ocorreu no Malaui, onde a sensibilidade à CQ retornou

em 99% dos pacientes tratados com a droga, o declínio da resistência pode ocorrer

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de forma lenta ou gradual. Um decréscimo parcial da resistência à CQ foi observado

na China, Guiana Francesa e Camboja (Lim et al., 2003; Durrand et al., 2004; Wang

et al., 2005; Legrand et al., 2008). A manutenção de graus substanciais dessa

resistência em países não africanos, após a descontinuação do tratamento com CQ,

reflete no fato de que nem toda a pressão da droga foi removida dessas regiões. A

CQ permanece prescrita no tratamento da malária por P. vivax, responsável pela

maior frequência de casos em países como Brasil e Guiana Francesa (Legrand et

al., 2008). Portanto, nos países onde ainda ocorre o uso da CQ para o tratamento de

outras espécies de plasmódio, espera-se encontrar um declínio lento e gradual da

resistência.

Em diversas regiões, a redução da prevalência da mutação K76T não está

associada ao declínio da resistência e é possível encontrar a mutação em parasitos

sensíveis (Lim et al., 2003). No Camboja, embora a resposta in vitro à CQ esteja

associada com a mutação K76T, esta correlação não é perfeita, já que a mutação foi

constatada em 15 dos 17 isolados sensíveis à CQ (Durrand et al., 2004). Na Índia,

esta mutação foi detectada em todos os isolados obtidos de pacientes com

resistência in vivo à CQ, no entanto, sua presença foi confirmada em 96% dos

pacientes com sensibilidade in vivo ao fármaco (Vinayak et al., 2003). Em nosso

estudo, a mutação K76T esteve presente em 26 dos 39 isolados sensíveis e foi

fortemente associada à resistência a CQ nos parasitos provenientes de ambos os

países (p < 0,0001) e nos parasitos oriundos apenas da Nigéria (p = 0,02). Esta

associação da mutação K76T com a resistência à CQ já era esperada e é

amplamente descrita em diversos estudos. A prevalência da mutação em isolados

sensíveis foi descrita em um estudo de resistência in vivo na Nigéria. No Brasil não

havia sido reportado ainda nenhum isolado sensível.

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157

Esta prevalência da mutação K76T em parasitos sensíveis, mesmo após a

ausência da pressão da CQ, pode ocorrer, devido a mutações compensatórias que

superam a perda da fitness do parasito (Walliker et al., 2005). Em um experimento

realizado por Rosario e cols.(1978) um inóculo contendo P. chabaudi resistentes e

sensíveis à CQ foi infectado em camundongos e após alguns ciclos, os mutantes

eram mais prevalentes do que os sensíveis. Mesmo quando o inóculo consistia de

90% de parasitos sensíveis e 10% de resistentes, os resistentes ainda prevaleciam

sobre os sensíveis (Rosario, 1978). Alguns parasitos resistentes a CQ (linhagens

FCB e Dd2), aparentemente, estão bem adaptados em cultivo apesar da ausência

da pressão da CQ, sugerindo a ação de mutações compensatórias ou adaptativas

que superam as mudanças deletérias dos genes associados à resistência (Walliker

et al., 2005). Estas mutações compensatórias parecem ocorrer tipicamente na

seleção da droga para minimizar o custo biológico da aquisição de uma mutação. A

seleção exercida pela CQ em P. falciparum pode ter conduzido a um conjunto de

alelos que modula o nível de resistência e estabiliza as funções biológicas básicas

da célula.

Essas mutações adicionais podem estar embutidas no gene que já sofreu

uma mutação de resistência ou na modificação de outras proteínas envolvidas em

funções biológicas semelhantes. Em um experimento realizado por Jiang e cols.

(2008) onde a expressão de diversos genes na presença e na ausência da pressão

da CQ foi analisada, verificou-se que a mutação K76T afetava indiretamente certas

funções normais envolvidas na invasão e no crescimento do parasito. Além do mais,

alguns transportadores como o PfVP2 estariam atuando na compensação dessa

perda fisiológica do parasita (Jiang et al., 2008).

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Um exemplo prático da ação de uma mutação adaptativa na resistência à CQ

está representada no modelo proposto por Johnson e cols (2004) para o mecanismo

de ação do gene pfcrt. A lisina no códon 76 do gene pfcrt adiciona uma carga

positiva na membrana interna do vacúolo digestivo, bloqueando o efluxo da CQ

diprotonada. Na substituição da lisina por uma treonina, um aminoácido neutro, a

carga positiva no gene pfcrt é perdida, permitindo o efluxo da CQ do vacúolo

digestivo. Quando o gene pfcrt possui uma outra mutação, a S163R, além da

mutação K76T, observa-se o acúmulo da CQ, provavelmente porque a R (Arginina),

um aminoácido de carga positiva, restaura a perda desta carga perdida no vacúolo

digestivo e bloqueia o efluxo da CQ (Johnson et al., 2004). Em nosso estudo,

postulamos que, em um momento inicial, a mutação K76T pode causar uma perda

de fitness no parasito. No entanto, após a pressão de uma determinada droga, os

parasitos adquirem mutações compensatórias que minimizaram o custo biológico

causado por esta mutação inicial.

Em relação ao gene pfcrt, não há como prever se a presença da mutação

K76T em parasitos sensíveis no Brasil e na Nigéria ocorre devido à compensação da

fitness pela ação das mutações compensatórias. Ou se as populações parasitárias

na Nigéria estão em uma fase de transição onde os alelos selvagens do gene pfcrt

ainda estão competindo com os mutantes, e ainda não se sobrepuseram em

prevalência, visto que a pressão da CQ foi removida apenas recentemente. Apesar

da CQ não ser utilizada há mais de 15 anos na Venezuela e no Brasil, não foi

observada a re-emergência do alelo selvagem nestes países, possivelmente porque

não existem mais parasitos com estes alelos na região amazônica (Contreras et al.,

2002).

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Além da mutação K76T, foram observados, nesse estudo, quatro haplótipos

distintos nos códons 72 a 76 do gene pfcrt. Nos isolados brasileiros, foram

constatados apenas dois haplótipos, SVMNT em maior prevalência (97,6%) e CVIET

em apenas um isolado (3,4%). O haplótipo CVIET, após ter sido originado no

sudeste asiático no final da década de 1950, disseminou-se até a África, entre 1970

e 1980, e possivelmente, foi trazido para a América do Sul nos últimos 20 anos.

Vieira e cols. (2004), após genotiparem os isolados brasileiros, verificaram

que CVIET não formava um agrupamento (cluster) com nenhum outro haplótipo

analisado no estudo, concluindo assim, a recente introdução deste alelo na

população da América do Sul (Vieira et al., 2004), o que provavelmente ocorreu

devido às frequentes migrações asiáticas e principalmente africanas ao Brasil. Entre

os isolados provenientes da Nigéria foram encontrados os haplótipos CVIET,

CVMNT e o haplótipo selvagem CVMNK, dos quais o haplótipo CVIET é mais

prevalente (69,5%) seguido de CVMNK (27,2%), e, por fim, de CVMNT (3,3%). Na

Nigéria seria possível a associação do declínio da resistência com o declínio da

prevalência da mutação K76T, porque o haplótipo selvagem é comum na região. Os

parasitos selvagens poderiam, por sua vez, competir com os mutantes devido ao

déficit de fitness presente neles. Já no Brasil, o haplótipo selvagem nunca foi

encontrado.

Outros transportadores, além do gene pfcrt, também apresentaram

associação com a resistência ou com o nível de suscetibilidade dos parasitos à CQ e

outras drogas antimaláricas (Mu et al., 2003). O gene pfmdr1, há algum tempo, foi

foco de interesse como um possível gene atuando na resistência à CQ. No entanto,

seu papel na resistência ao fármaco ainda não é claro. A associação da mutação

N86Y com a resistência é controversa: alguns experimentos realizados na Malásia,

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Indonésia, Guiné-Bissau, Nigéria e África subsaariana demonstraram a presença da

mutação em isolados resistentes à CQ. Entretanto, estudos realizados na Uganda,

Laos, Camarões, África do Sul, Brasil e Peru não demonstraram a relevância desta

mutação na previsão da resposta in vivo à CQ. A análise de isolados africanos

demonstrou a alta prevalência da mutação N86Y no gene pfmdr1 e sua associação

positiva com a resistência à CQ (Adagu et al., 1995; Basco et al., 1995).

Em nosso estudo, todas as amostras brasileiras analisadas não apresentaram

a mutação N86Y, embora tal mutação tenha sido observada em 41,5% das amostras

nigerianas. Não houve associação significante entre a mutação e a resistência in

vitro quando analisadas as amostras provenientes do Brasil e da Nigéria. Contudo,

os isolados nigerianos apresentaram esta associação com a resposta in vitro à CQ

(p = 0,005). Esses dados são condizentes com os achados de Mu e cols. (2003) que

encontraram uma associação da resposta à CQ, apenas em isolados da Ásia e da

África, mas não das Américas. Quando analisadas amostras dos continentes juntos,

esta associação não foi significante, possivelmente porque nenhum isolado brasileiro

possui a mutação N86Y. Tal mutação também é ausente ou rara em isolados

provenientes de outros países da América do Sul.

Outros transportadores da superfamília ABC, além do gene pfmdr1, foram

associados aos elevados níveis de IC50 da CQ e da QN (Mu et al., 2003; Anderson

et al., 2005). Recentemente, demonstrou-se que o gene G2, localizado no

cromossomo 1 de P. falciparum, tem um papel no efluxo da glutationa e dos

antimaláricos CQ e QN . Este gene contribui para a resposta do parasito a múltiplas

drogas, possivelmente por bombeá-las para fora do parasito (Raj et al., 2009). Duas

mutações presentes no gene foram associadas à resistência à CQ e à QN: a Y191H

e a S437A (Mu et al., 2003; Henry et al., 2008b). A freqüência destas mutações em

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isolados africanos é muito baixa e, portanto, não há dados estatísticos de sua

importância no continente. Entretanto, a mutação Y191H foi associada à CQ em

isolados asiáticos e a mutação S437A em isolados sul americanos (Mu et al., 2003).

Nesse estudo, foi analisada apenas a mutação S437A. A sua prevalência em

isolados nigerianos mostrou-se baixa (3%) e, conseqüentemente, não houve

correlação com a resposta in vitro à CQ (p = 1). No entanto, quando analisadas

amostras de ambos os países, a mutação S437A apresentou associação à resposta

in vitro à droga no total de amostras. Esse estudo é o primeiro que associou esta

mutação em isolados de campo.

Mu e cols. (2003), os primeiros a descreverem o gene G2, utilizaram cepas de

laboratório e Anderson e cols. (2005). não encontraram a associação da mutação

em isolados da Tailândia (Mu et al., 2003; Anderson et al., 2005). A associação

aparentemente ocorre em apenas algumas regiões, possivelmente devido à política

diferenciada de antimaláricos prescritos pelos países. No Brasil, quando a CQ

perdeu sua eficácia, o esquema terapêutico foi modificado para a combinação da

QN com a doxiciclina (Legrand et al., 2008). Na África, a CQ permaneceu em uso

até recentemente, mesmo com altas taxas de falha terapêutica. Na Tailândia uma

vasta gama de antimaláricos foi utilizada no tratamento: MQ, SP, AQ e QN. O G2

está fortemente associado à resposta à QN, portanto a pressão deste antimalárico

no Brasil pode ter selecionado a mutação, causando não apenas uma maior

prevalência em isolados brasileiros (46,2%), como também a sua associação com a

resposta aos antimaláricos QN e CQ.

A mutação S263P do gene G47 também apresentou correlação com a

resposta à CQ. O gene G47, assim como o gene G2, é um transportador da

superfamília ABC, e está localizado no cromossomo 5 e sua mutação V241L foi

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associada à resposta à CQ por Mu e cols. (2003). Esta mutação não apresentou

correlação com a resposta in vitro à CQ em nosso estudo. Sua prevalência mostrou-

se baixa entre as amostras: 11,5% na Nigéria e 3,3% no Brasil. Entretanto, foi

observada uma nova mutação, nunca antes descrita, no códon 263 deste gene:

S263P. A prevalência da S263P é maior do que da V241L. Entre as amostras

nigerianas, esta mutação foi observada em 26 isolados (25%) e no Brasil apenas em

dois (6,6%). Sua associação com a resistência à CQ mostrou-se significante (p =

0,003) em isolados provenientes da Nigéria. O transportador G7 não apresentou

correlação com resposta in vitro à CQ nos isolados provenientes do Brasil e da

Nigéria.

Recentemente, a Nigéria modificou sua política de tratamento de P.

falciparum para a combinação de artesunato e AQ ou arteméter e lumefantrina. O

artesunato e o arteméter são compostos derivados da artemisinina e agem como

esquizonticidas rápidos, podendo também eliminar os gametócitos bloqueando a

transmissão da malária (Happi et al., 2006b; WHO, 2006). Estes compostos não

foram utilizados anteriormente no tratamento na Nigéria, mas a AQ era prescrita no

caso de falha terapêutica em pacientes tratados com CQ. Apesar disso, vem-se

constatando uma elevação da falha terapêutica à AQ (White, 2008b). Em 2001,

apenas 4,8% dos pacientes não respondiam ao tratamento com AQ; em 2005, a

falha terapêutica elevou-se para 13% entre os pacientes (Ogungbamigbe et al.,

2007; Ogungbamigbe et al., 2008).. Em outros países da África como Burkina Faso e

São Tomé do Príncipe, a resistência in vivo à AQ é de 9 e 10%, respectivamente

(Zongo et al., 2005).

Infelizmente, não é possível estabelecer associação entre os resultados dos

testes in vitro com os in vivo da AQ, como ocorre com a CQ. Em um estudo onde a

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resistência in vitro à AQ era de 5,4%, a equivalente in vivo mostrou-se 40,5%

resistente (Aubouy et al., 2004).

Brasseur e cols. (2005) demonstraram que a resistência in vivo era duas

vezes superior à resistência in vitro (Brasseur et al., 1995).. Em contraste, Basco e

cols. (2001) encontraram taxas de falhas terapêuticas menores do que as

resistências do teste in vitro (Basco, 1991). Essa falta de associação entre as

respostas in vitro e in vivo pode estar relacionada com o limiar de sensibilidade à

AQ, que não é bem estabelecido, podendo variar de 15, 30 a 60 nM (Childs et al.,

1989). Recentemente, Pradines e cols. (2006) realizaram um estudo onde sugerem

um limiar de sensibilidade de 30 nM, já que foi observada uma maior correlação

entre os marcadores moleculares e a AQ quando o limiar era estabelecido neste

valor (Pradines et al., 2001; Pradines et al., 2006).. Seguindo o trabalho de Pradines

e cols. (2006) utilizamos o limiar de sensibilidade de 30 nM para o teste in vitro para

AQ e constatamos 33,9% e 15% de isolados resistentes na Nigéria e no Brasil

respectivamente. A média de IC50 na Nigéria apresentou-se 2,2 vezes superior à

média de IC50 de isolados brasileiros, o que não é de surpreender porque a AQ foi

utilizada no tratamento da malária por P. falciparum na Nigéria, e nunca no Brasil

como primeira linha terapêutica.

A presença de isolados resistentes no Brasil, onde nunca houve o uso da AQ

e a alta incidência de isolados resistentes à AQ na Nigéria pode ser explicada pela

resistência cruzada constatada entre a AQ e a CQ. A resistência cruzada é um

fenômeno onde microorganismos resistentes a certas drogas também apresentam

resistência a outras drogas que possuem os mecanismos de ação e mecanismos

moleculares semelhantes (Ochong et al., 2003). Essa correlação existe

principalmente em agentes com estruturas químicas similares e que tenham os

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mesmos sítios de ligação. A resistência cruzada entre CQ e AQ pode ocorrer,

porque ambas fazem parte da mesma classe, as 4-aminoquinoleínas, e diferem

entre si apenas por um anel aromático p-hidroxianilino, presente na cadeia da AQ

(Ringwald et al., 1998). A AQ inibe competitivamente o acúmulo da CQ e vice versa,

sugerindo mecanismos de acúmulo similares entre as drogas. Como a CQ, a AQ é

uma base fraca e, portanto, acumula-se no vacúolo digestivo, devido à captura

iônica, e é também capaz de se ligar ao heme e, assim, atuar na inibição da

formação da hemozoína (Hawley et al., 1996).

Uma correlação positiva entre os IC50s de dois antimaláricos sugere o

fenômeno de resistência cruzada in vitro (Dow et al., 2004). No entanto, a relação

entre resistência in vitro e in vivo irá depender do nível de resistência e do

coeficiente de correlação (r2) (Pradines et al., 2006). Para que dois compostos

estejam envolvidos no mesmo mecanismo de ação que poderia assim induzir

resistência cruzada entre eles, o r2 deve ser maior do que 0,5 (Ochong et al., 2003).

Nesse estudo, foi observada uma correlação positiva fraca entre os antimaláricos

AQ e CQ em amostras analisadas dos dois países (r2 = 0,21), ou mesmo quando as

amostras brasileiras foram separadas deste total (r2 = 0,22). Entretanto, a correlação

foi alta entre AQ e CQ em amostras provenientes apenas da Nigéria (r2 = 0,77). A

maior correlação encontrada na Nigéria pode ser devido às diferentes políticas de

tratamento adotadas em cada país. A CQ não é utilizada no tratamento da malária

por P. falciparum há décadas, enquanto que, apenas recentemente, essa droga foi

retirada da Nigéria e ainda hoje é prescrita em algumas regiões do país (Happi et al.,

2006a). Portanto, a CQ permaneceu exercendo pressão exclusiva em P. falciparum

por muito mais tempo na Nigéria do que no Brasil. A AQ nunca foi utilizada no Brasil

para o tratamento de primeira linha e, no entanto, foi utilizada na Nigéria como

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alternativa à resistência à CQ, exercendo também pressão nos parasitos e, logo,

podendo aumentar a correlação entre os dois antimaláricos na Nigéria. Contudo, a

resistência cruzada explica por que, apesar da AQ nunca ter sido usada no Brasil,

foram observados 15% de parasitos resistentes à droga no país.

Outra correlação positiva significante entre os IC50s foi observada entre AQ e

MQ (r2 = 0,51 e p = < 0,001) em isolados brasileiros. Não é possível prever se esta

correlação entre os IC50s é indicativa de mecanismos de ação semelhantes ou de

resistência cruzada. A MQ é uma quinoleína pertencente à classe da 8-

aminoquinolinas (Karle e Karle, 1991). Sua estrutura se difere da AQ e da CQ, já

que possui um núcleo quinolínico aclopado a uma cadeia amino-alcool. A estrutura

da MQ é mais similar à QN do que às 4-aminoquinoleínas (Carroll et al., 1976).

Tanto a MQ quanto a QN inibem competitivamente o acúmulo da CQ e da AQ,

sugerindo mecanismos similares de acúmulo no parasito e são bases muito mais

fracas do que a AQ, tornando-se monoprotonadas, ao invés de diprotonadas no

vacúolo digestivo (Evans e Havlik, 1996). Altas concentrações da MQ no vacúolo

digestivo são capazes de bloquear a polimerização do grupo heme em hemozoína

(Zhang et al., 1999).

Estudos, avaliando a ultra-estrutura do parasito, demonstram alterações

morfológicas no vacúolo digestivo, após o tratamento com MQ, muito similares aos

da AQ e da CQ (Saxena et al., 1989). A MQ também forma ligações com o heme, no

entanto, esta ligação e seu acúmulo no vacúolo digestivo é menor do que o da CQ.

Apesar disto, a MQ é um inibidor mais potente do que a CQ e a AQ em parasitos

sensíveis, indicando a ação de outros transportadores que não os mesmos que a

CQ (Begum et al., 2002). Muitos estudos indicam a ação da proteína transportadora

Pgh-1 na resposta do parasito à MQ (Ruetz et al., 1996; Duraisingh e Cowman,

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2005; Rohrbach et al., 2006). A correlação positiva da MQ e da AQ pode ter ocorrido

porque ambos antimaláricos têm o gene pfmdr1 como mesmo alvo. Não há relatos

desta associação em outros estudos.

A mutação N86Y no gene pfmdr1 foi associada à resposta à AQ em

Madagascar, Burkina Faso, África Oriental e Tanzânia (Best Plummer et al., 2004;

Happi et al., 2006a; Jalousian et al., 2008). A mesma correlação não foi significativa

na Colômbia, Sudão e Quênia. Em nosso estudo houve uma correlação significativa

entre a mutação e a resposta in vitro à AQ (p=0,0001) (Legrand et al., 2008;

Rungsihirunrat et al., 2009).

Além do gene pfmdr1, o gene pfcrt também apresentou correlação com a

resistência à AQ (p = 0,007). O fato da resposta à AQ estar associada à mutação

K76T reitera a possibilidade da resistência cruzada com a CQ por possuírem os

mesmos alvos e mecanismos de ação. A mutação no gene G7 também foi

associada à resposta à AQ (p = 0,03). Este gene está localizado no cromossomo 13,

é um transportador da família ABC e possui uma inserção de uma N no códon 834

do gene. O gene G7 foi associado à resistência à CQ por Mu e cols. (2003) e ao

Artesunato por Anderson e cols (2005). Entretanto, sua associação com a AQ nunca

foi descrita anteriormente.

Em nosso estudo, não foi possível associar as mutações com as respostas in

vitro em isolados brasileiros, devido ao baixo número amostral e porque tais isolados

apresentaram baixa variabilidade genética. A mutação N86Y do gene pfmdr1 não é

encontrada em isolados brasileiros e é muito rara em alguns países da América do

Sul. O alelo selvagem do gene pfcrt também é ausente no Brasil. As mutações no

gene G47, apesar de presentes nos isolados brasileiros, têm baixa prevalência no

país: 3,3% de V241L e 6,6% de S263P. A mutação 834N&1 no gene G7 e a

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mutação S437A no gene G2 foram mais prevalentes, porém, o baixo número

amostral de amostras brasileiras não possibilitou uma análise estatística significante.

A baixa variabilidade genética nas amostras brasileiras já foi descrita

anteriormente através de antígenos polimórficos e de microsatélites (Wootton et al.,

2002; Su et al., 2007; Winzeler, 2008).. A genotipagem por micrisatélites de

parasitas da África e do Sudeste Asiático demonstraram uma grande diversidade

populacional devido a transmissão intensa, favorecendo a recombinação genética.

Já na América do Sul a diversidade mostrou-se menor, porque a transmissão é bem

mais baixa que na África, tornando-se assim uma infecção quase clonal (Wootton et

al., 2002)..

Na Nigéria, a espécie P. falciparum é responsável por 90% dos 3 milhões de

casos de malária. No Brasil, esta espécie é responsável por 19,3% de 460 mil casos,

significando que na Nigéria há 30 vezes mais casos do que no Brasil e, portanto,

uma transmissão muito mais intensa (WHO, 2008)..

Outro fator atuante na variabilidade genética além da taxa de transmissão é a

pressão seletiva da droga, capaz de reduzir a variabilidade dos nucleotídeos

próximos à região do genoma onde ocorreu a mutação de resistência (Wootton et

al., 2002). Esse fenômeno denominado de “selective sweeps” ou Varredura Seletiva

ocorre quando uma nova mutação favorece o parasito (resistência a uma droga) em

relação a outros da população (Wootton et al., 2002). Uma forte seleção pode

resultar em uma região no genoma onde os haplótipos são positivamente

selecionados e passam a ser os únicos encontrados em uma população, reduzindo,

portando, a variabilidade genética naquela região do cromossomo (Su et al., 2007).

Esse fenômeno ocorreu provavelmente através da pressão seletiva da CQ no gene

pfcrt. Foi constatado que os parasitos sensíveis com o haplótipo CVMNK possuem

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uma variabilidade genética muito superior aos parasitos resistentes. No Brasil, além

da baixa transmissão que confere menor variabilidade genética ao parasito, ainda

houve a pressão intensa da CQ, causando assim uma variabilidade muito inferior

àquela encontrada na África e, ainda, a baixa variabilidade genética inicial em

conjunto com a intensa pressão da droga pode ter eliminado os parasitos com

haplótipo de sensibilidade à droga do país (Wootton et al., 2002).

O teste in vitro para Quinina demonstrou 100% de sensibilidade dos parasitos

provenientes do Brasil. Zalis e cols. (1998) demonstraram que parasitas isolados de

uma região endêmica de malária, na Amazônia, apresentaram valores de IC50

abaixo do limiar de sensibilidade, porém com uma redução na suscetibilidade dos

parasitos à esta droga (Zalis et al., 1998). Estudos anteriores já haviam reportado a

redução no tempo de eliminação do parasito no sangue. Em 1995, 10% das

infecções por P.falciparum não responderam ao tratamento com QN. Cerutti e cols.

(1999) encontraram 3,3% de parasitos resistentes à QN, indicando mais uma vez a

redução da sensibilidade dos parasitos a este antimalárico. Esta redução,

provavelmente, corresponde à evolução natural da resistência dos parasitos à QN,

devido à pressão do antimalárico utilizado extensivamente como primeira escolha no

tratamento da malária por P. falciparum (Cerutti et al., 1999).

O teste in vitro para Mefloquina, utilizada como segunda escolha terapêutica

até 2007, demonstrou a existência de 35% de parasitos resistentes ao antimalárico.

A resistência à MQ foi inicialmente descoberta na fronteira entre a Tailândia e o

Camboja na década de 80. O aparecimento da resistência, possivelmente, está

relacionado ao uso anterior da QN para o tratamento, por possuírem estruturas

químicas semelhantes. A MQ, como monoterapia, perdeu sua efetividade no

tratamento da malária na fronteira da Tailândia e do Camboja, embora ainda seja

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eficaz em 75% dos tratamentos da malária por P. falciparum em regiões endêmicas,

próximas à fronteira (Cowman e Foote, 1990). No Brasil, o primeiro parasito

resistente in vitro a MQ foi descrito em 2001 por Calvosa e cols. (2001) e alguns

casos de falha terapêutica foram reportados na Região Amazônica. Porém, a

extensão da resistência na América do Sul ainda é muito menor se comparada à do

sudeste asiático. Possivelmente porque no Brasil a MQ foi utilizada como segunda

escolha no tratamento, enquanto que no sudeste asiático foi amplamente utilizada

por um longo período (Calvosa et al., 2001). Como é um composto de meia vida

longa e pode permanecer em concentrações sub-terapêuticas no plasma do

indivíduo, a emergência de parasitos resistentes somada à pressão seletiva intensa

da droga em concentrações sub-terapêuticas, causou uma disseminação da

resistência no sudeste asiático (Wellems et al., 1991). No Brasil, como não ocorre

essa pressão extensiva, a resistência se resume a apenas alguns focos. Na África a

falha terapêutica à MQ é muito rara, e apenas alguns isolados foram descritos com

baixa susceptibilidade à droga.

Muitas questões ainda permanecem desconhecidas em relação às mudanças

genotípicas e fenotípicas dos parasitos sob pressão das drogas. Em nosso estudo

verificamos que a média de IC50 da CQ em isolados brasileiros é nove vezes

superior à média de IC50 dos parasitos nigerianos. Isso pode ser explicado no Brasil

pela pressão da droga em uma população com homogeneidade nas mutações que

conferem baixa susceptibilidade à CQ. Quando essa população de baixa

variabilidade genética, porém com mutações que conferem resistência, são

submetidas à pressão seletiva da droga, toda uma população pode expressar um só

fenótipo in vitro com alto IC50, como é visto em nosso estudo com as amostras

brasileiras. As amostras africanas, por possuírem uma alta variabilidade genética

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que expressa sensibilidade e resistência ao mesmo tempo, conferem uma

variabilidade no fenótipo in vitro para CQ. A média desses IC50s numa população

com fenótipos variados será sempre menor que um grupo homogêneo resistente.

Além do mais, a CQ utilizada no tratamento de outras espécies do plasmódio exerce

uma pressão constante sob uma população inteira de parasitos independente de

espécies.

Durante a última década, os progressos no conhecimento da base molecular

da resistência de P. falciparum a diversos antimaláricos têm sido bastante

significativos. A utilização de ferramentas moleculares no diagnóstico da resistência

ainda está em fase inicial. A identificação de novos marcadores moleculares é

importante para a detecção prévia da resistência, facilitando a implementação de

medidas preventivas adequadas. A compreensão dos mecanismos de resistência e

da biologia da quimiorresistência é, portanto, fundamental para uma ação efetiva no

controle da doença.

No caso da CQ, a mutação K76T no gene pfcrt era um marcador de

resistência que podia ser utilizado para prever a susceptibilidade do parasito à

droga. No entanto, essa correlação não é perfeita, porque a mutação também é

detectada em parasitos sensíveis, tanto em experimentos in vivo quanto in vitro.

Embora o gene pfcrt também esteja associado à resposta in vitro e in vivo à outros

antimaláricos, como AQ e QN, esta associação nem sempre é significante. O papel

do gene pfmdr1 na resistência à CQ ainda não é bem estabelecido e sua correlação

com a resistência varia de região para região. Alguns estudos associam a mutação

N86Y do gene pfmdr1 à resistência à AQ, outros não encontram tal associação.

Diversos outros marcadores foram associados à resposta in vitro aos antimaláricos,

no entanto, a associação destes com a resistência in vivo ainda é desconhecida.

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Nesse estudo foi detectada a associação das mutações K76T do gene pfcrt, N86Y

do gene pfmdr1, S263P do gene G47 e S437A do gene G2 com a resposta à CQ e

as mutações K76T do gene pfcrt, N86Y do gene pfmdr1 e N834&1 do gene G7 à

resposta à AQ. No entanto não é possível prever se as novas mutações terão papel

de marcador molecular in vivo ou mesmo se estão associadas à resposta aos

antimaláricos em apenas algumas regiões. A resposta in vivo é muito mais complexa

do que a in vitro, pois não depende exclusivamente das características intrínsecas

do parasito, mas também de diversos fatores do hospedeiro, como sua imunidade e

a farmacocinética da droga.

A alteração da política de tratamento substituindo a monoterapia pela

combinação de antimaláricos é realmente importante na contenção da resistência,

porque reduz a probabilidade da emergência de parasitos resistentes a dois

fármacos de alvos distintos. Embora o esquema terapêutico mundial tenha sido

alterado recentemente, muitos compostos utilizados na combinação são

estruturalmente semelhantes aos já utilizados. A lumefantrina, utilizada na

combinação com o arteméter no Coartem, é estruturalmente semelhante à Quinina,

que por um longo período exerceu pressão nos parasitos brasileiros. Outros, como a

AQ e a MQ foram utilizados por um longo tempo em diversos países. A resistência

cruzada destes antimaláricos com a CQ e a crescente taxa de falha terapêutica

constatada pode ser alarmante porque, mesmo que utilizados em combinação com

outros antimaláricos, diversos parasitos já foram previamente selecionados pela

resistência.

Recentemente foi constatado um decréscimo na susceptibilidade dos

parasitos à Artemisinina e seus derivados. Mesmo com a probabilidade de

emergência da resistência, utilizando a combinação de medicamentos de alvos

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distintos ser muito pequena, a probabilidade de surgir parasitos resistentes não é

nula. Sendo assim, o conhecimento prévio dos mecanismos de resistência e da

biologia da quimiorresistência, em conjunto com o constante monitoramento da

susceptibilidade dos parasitos, são fundamentais para contornar os possíveis

problemas do advento da resistência aos combinados.

Conclusão:

O monitoramento da sensibilidade in vitro dos isolados de P. falciparum é

importante para o controle da disseminação da resistência do parasito aos

antimaláricos. Esse estudo demonstrou que a espécie P. falciparum ainda

permanece resistente à CQ no Brasil, embora tenha sido constatado um parasito

sensível à CQ, o que indica uma possível redução da resistência à droga em

isolados brasileiros. Já na Nigéria, observou-se a presença de 22,1% de parasitos

resistentes. Apesar da AQ nunca ter sido utilizada no tratamento da malária por P.

falciparum no Brasil, foi constatada 15% de resistência à droga em isolados

brasileiros, indicando uma possível resistência cruzada entre CQ e AQ (r2=0,22). Na

Nigéria, ocorreu o uso desse fármaco no caso de falha terapêutica à CQ. Foram,

portanto, observados 33,9% de parasitos resistentes à AQ. A alta taxa de resistência

a esse fármaco também pode ser explicada pela resistência cruzada (r2=0,77).

As mutações nos genes que codificam proteínas transportadoras estão

associadas à variação da susceptibilidade de diversos microorganismos às drogas.

Nesse estudo analisamos cinco genes associados ao transporte de moléculas

através da membrana do parasito. Os genes pfcrt e pfmdr1 já foram previamente

associados à susceptibilidade do parasito à CQ e outros fármacos como QN, MQ e

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AQ. Nesse estudo constatamos que as mutações K76T no gene pfcrt e N86Y no

gene pfmdr1 estão associadas à susceptibilidade dos isolados à CQ e à AQ. Além

dessas, as mutações S263P no gene G47 e S241A no gene G2 foram associadas à

resistência à CQ e a mutação N843N&1 foi associada à resistência à AQ.

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