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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS FREDERICO MARANGON ANÁLISE AMBIENTAL E CARACTERIZAÇÃO DOS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS DE SANTA CRUZ DAS PALMEIRAS - SP Alfenas/MG 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

FREDERICO MARANGON

ANÁLISE AMBIENTAL E CARACTERIZAÇÃO DOS

DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS DE SANTA CRUZ DAS

PALMEIRAS - SP

Alfenas/MG 2011

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Frederico Marangon

ANÁLISE AMBIENTAL E CARACTERIZAÇÃO DOS DEPÓSITOS

TECNOGÊNICOS DE SANTA CRUZ DAS PALMEIRAS – SP

Monografia de Conclusão de Curso apresentada como parte dos requisitos para conclusão do Curso de Geografia Licenciatura da Universidade Federal de Alfenas. Área de Concentração: Geologia Ambiental Orientador: Ronaldo Luiz Mincato

Alfenas/MG 2011

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FREDERICO MARANGON

ANÁLISE AMBIENTAL E CARACTERIZAÇÃO DOS DEPÓSITOS

TECNOGÊNICOS DE SANTA CRUZ DAS PALMEIRAS – SP

A Banca Examinadora, abaixo-assinada, aprova a Monografia apresentada como parte dos requisitos para conclusão do Curso de Geografia Licenciatura da Universidade Federal de Alfenas. Área de Concentração: Geologia Ambiental

Prof. Dr. Ronaldo Luiz Mincato ________________________________ Universidade Federal de Alfenas

Prof. Dr. Clíbson Alves dos Santos ________________________________ Universidade Federal de Alfenas

Prof. Dr. Lineo Gaspar Júnior ________________________________ Universidade Federal de Alfenas

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Dedicatória Dedico este trabalho a minha família, em especial, aos meus pais Júlio Cesar Marangon e Fátima Marangon, pelo apoio, incentivo e amor durante estes quatros anos de graduação.

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Epígrafe [...] A grandeza de uma profissão é talvez, ante de tudo, unir os homens; só há um luxo verdadeiro, o das relações humanas. Trabalhando só pelos bens materiais construímos nós mesmos nossa prisão. Encerramo-nos lá dentro, solitários, com nossa moeda de cinza que não pode ser trocada por coisa alguma que valha a pena viver. Se procuro entre minhas lembranças as que me deixaram um gosto durável, se faço o balanço das horas que valeram a pena, certamente só encontro aquelas que nenhuma fortuna do mundo ter-meia presenteado. [...] (Antoine de Saint-Exupéry)

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RESUMO ___________________________________________________________________

Este trabalho visa avaliar as implicações geoambientais dos depósitos tecnogênicos

do município de Santa Cruz das Palmeiras, localizado na Região Sudeste do Brasil,

especificamente na Mesorregião de Campinas – Estado de São Paulo. O estudo

visa compreender as formas pelas quais o ambiente responde aos impactos

resultantes de processos diversificados de uso e ocupação do território, em geral, e

do desordenado processo de urbanização, em particular. O trabalho, dessa forma,

correlaciona e integra, historicamente, os processos naturais aos processos sócio-

econômicos. O estudo compreende várias fases que envolvem a caracterização do

arcabouço geológico, da geomorfologia original e daquela alterada pelos processos

tecnogênicos e a caracterização das coberturas superficiais. O estudo envolve,

ainda, a abordagem das questões sócio-econômicas, pelas modificações da

cobertura vegetal e uso da terra e na organização do espaço urbano. A pesquisa

aponta que a dinâmica da sociedade, como resultado da apropriação e utilização

dos recursos naturais, gera múltiplos impactos e alterações na dinâmica do

ambiente natural, que resulta na produção dos depósitos tecnogênicos e na

alteração dos processos geomorfológicos.

Palavras-chave: Depósitos Tecnogênicos, Meio Ambiente, Quinário e Santa Cruz

das Palmeiras.

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SUMÁRIO

___________________________________________________________________

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVAS ................................................ 8

2. OBJETIVOS ..................................................................................... 10

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................... 11

4. DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS:

CONCEITOS E ESTUDOS RELACIONADOS...................................... 13

5. CARACTERISITICAS DE OCUAPAÇÃO E FÍSICAS DE SANTA CRUZ DAS

PALMEIRAS – SP ............................................................................... 23

5.1. OCUPAÇÃO (1816 – 2010)........................................................... 23

5.2 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS ...................................................... 25

6 ANÁLISE AMBIENTAL E DOS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS DE SAN TA

CRUZ DAS PALMEIRAS – SP ............................................................ 33

7 CONCLUSÕES ................................................................................. 41

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 42

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1. INTRODUÇÃO

___________________________________________________________________

A forma variada, rápida e agressiva com que o homem vem modificando a

natureza, já fornece elementos para alguns autores defenderem a idéia de, no

momento atual, estarmos na vigência de um novo período Geológico ou, segundo

Capri (2001), “de uma nova fase ecológica de desenvolvimento do homem”,

tamanha as modificações e interferências que a ação humana desenvolveu na

contemporaneidade.

Após o surgimento da raça humana, o meio natural passou a sofrer alterações

significativas dominadas pela técnica em diferentes espaços geográficos,

concomitantemente usufruindo dos recursos existentes para suprir suas

necessidades vitais. A retirada da cobertura vegetal original para introduzir outros

tipos de atividades como, loteamentos, práticas agrícolas, pastagens, entre outros, é

uma das mais importantes modificações provocadas pelo homem na utilização do

solo.

A utilização do solo pode ser entendida como manifestações objetivadas por

diversas funções. Áreas são destinadas a agricultura, mineração, pastagem, áreas

urbanas, aterros, estradas, entre outras funções como a preservação ambiental da

biota. Com as atuais mudanças ambientais expressivas sobre o meio ambiente,

pode-se constatar que elas são decorrentes de processos naturais e/ou antrópicos.

Alguns dos processos naturais que fazem parte da dinâmica natural da Terra são:

terremotos, ventos, chuvas, vulcanismos, entre outros. Entretanto, problemas

ambientais decorrentes das atividades humanas como, enchentes, despejos de

resíduos sólidos, uso e ocupação do solo sem controle, poluição hídrica,

desmatamento, despejo de efluentes domésticos e industriais, são exemplos típicos

das alterações que o homem vem desencadeando no meio natural, modificando

assim as características físicas, químicas e biológicas dos sistemas ambientais.

Todos estes agravantes, de uma forma ou de outra, são decorrentes do uso e

ocupação do solo e se intensificam dependendo do grau de intensidade dos

impactos ambientais que a ação humana pode desempenhar. O reconhecimento dos

lugares e a identificação dos eventuais problemas de degradação ambiental são de

fundamental importância para a formulação de novas técnicas científicas para o

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estudo do meio físico. Para tanto, a identificação e caracterização dos depósitos

tecnogênicos in loco, segundo sua estrutura, gênese e composição são

extremamente relevantes nos estudos de caráter ambiental, pois apontam a pressão

antrópica exercida pelo homem no meio, o estado que o ambiente se encontra

perante estas ações e as respostas que o mesmo concede.

Apresentam-se aqui o estudo da gênese dos depósitos tecnogênicos

presentes nas proximidades do município de Santa Cruz das Palmeiras – SP (Figura

1), analisando conjuntamente a composição e estrutura dos depósitos, a história da

ocupação urbana local, a análise das características ambientais do município e a

reconstituição da história de transformação da paisagem. Foi analisada, portanto, a

alteração da dinâmica ambiental resultante da influência humana numa área onde

há um grande avançado processo de urbanização e utilização do solo para fins

agrossilvopastoris.

O objeto de estudo utilizado para a compreensão da alteração ambiental e,

conseqüentemente da paisagem, são os depósitos tecnogênicos, que se encontram

relacionados com a capacidade de alteração do ser humano no ambiente, bem

como na capacidade do ser humano em ser reconhecido como agente geológico do

período Quinário. Este período é compreendido como o tempo histórico de

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alteração, sendo esta uma abordagem inovadora estudada no Brasil nas últimas

duas décadas.

2. OBJETIVOS ___________________________________________________________________

Para a elaboração desta monografia, foi necessário o cumprimento de alguns

objetivos. Os principais foram analisar o ambiente e compreender a história da

formação dos depósitos tecnogênicos no município de Santa Cruz das Palmeiras –

SP.

Os objetivos específicos deste trabalho foram:

Caracterização do arcabouço geológico e geomorfológico do município em

foco como requisito da análise ambiental.

Caracterizar as novas formas de relevo, os depósitos tecnogênicos do

município, levando-se em consideração a gênese, a estrutura

(composição, materiais, contexto geológico e ambiental) e a sua formação,

estimando a idade relativa desses depósitos a partir de uma análise

temporal.

Identificar e delimitar em mapa e trabalho de campo, as áreas afetadas

diretamente pelas atividades antrópicas no município, suas principais

causas e as possíveis respostas do ambiente a esses processos

predatórios.

Propor algumas alternativas aos órgãos públicos responsáveis na

execução de medidas mitigadoras aos impactos resultantes das atividades

predatórias do homem em geral, e dos depósitos tecnogênicos e suas

vulnerabilidades ambientais em específico.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ___________________________________________________________________

A fundamentação teórica-metodológica permitiu observar a importância de

inúmeros aspectos de grande relevância para o estabelecimento de um método de

pesquisa que, mesmo diante de algumas limitações de grandeza científica ou

teórica, pode trazer contribuições importantes para a área da Geociências,

principalmente voltada para questões ambientais. Alguns aspectos merecem

considerações, tais como, os processos erosivos influenciados direta ou

indiretamente pelo homem, a criação de novas formas de relevo aquelas

consideradas tecnogênicas e os impactos resultantes dessa nova configuração

morfológica da natureza. Os impactos ou alterações do ambiente físico passam a se

configurarem como formas de risco ambiental, que ao ser identificado pelo homem,

pode se transformar como ponto de partida para ações que visem a melhoria da

qualidade de vida e propriamente do ambiente.

Diante das observações levantadas, a pesquisa propôs uma abordagem que

incorporou alguns dos seguintes princípios:

Levantamento e estudo da literatura relacionada ao tema central e

treinamento nos procedimentos relacionados à pesquisa, envolvendo a

atualização conceitual e metodológica;

Levantamento e compilação a partir de mapas e relatórios técnicos, em

órgãos públicos e privados e instituições de pesquisa das

características geológicas e pedológicas da área do município.

Levantamento e delimitação das características de cobertura vegetal e

do uso do solo no município de Santa Cruz das Palmeiras. Para este

levantamento foram buscadas informações em mapeamentos prévios

disponíveis em órgãos públicos, privados e instituições de pesquisa.

Avaliação dos trabalhos executados, dos resultados obtidos e estudos

comparativos com dados atualizados obtidos a partir da literatura

especializada e redação de relatório de estágio e de artigos científicos

para publicação em periódicos científicos e em eventos científicos da

área.

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Das considerações metodológicas adotadas, acreditou-se primordialmente, na

possibilidade de integração entre o conhecimento acadêmico ou técnico-científico, o

conhecimento empírico e da percepção da comunidade habitante da área enfocada.

Simultaneamente, a pesquisa científica deve conduzir a população a um melhor

conhecimento da área e suas condições e os assuntos relevantes à sua realidade

local, explicando as causas e consequências dos diversos fenômenos que ocorrem

no ambiente.

Para tanto, é preciso que os resultados da pesquisa, retornem à comunidade

de forma clara, objetiva, de fácil compreensão, com textos de comunicação gráfica e

cartográfica que possam ser assimilados por pessoas de vários graus de

escolaridade, de formação profissional e de origens distintas.

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4. DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS: CONCEITOS E ESTUDOS RELACIONADOS ___________________________________________________________________

A necessidade do ser humano em conhecer a história geológica do planeta

levou-o a elaborar diversas teorias e estudos, influenciados pelo momento histórico

no qual estava inserido.

Assim como as demais ciências, a Geologia não foi diferente, passou por

transformações em sua forma de analisar as alterações que ocorreram na Terra.

Segundo Engels (1991) apud Peloggia (1998), em A dialética da Natureza, a ciência

da natural, a princípio, defrontou-se com uma natureza conservadora, onde tudo era

como havia sido criado, e assim para sempre. A Geologia auxiliou na ruptura desta

idéia, ao verificar a existência de camadas sobrepostas no interior do planeta e a

existência de carcaças e esqueletos de espécies animais e vegetais nestas

camadas (Peloggia, 1998).

A obra de Charles Lyell, Principles of Geology, é um bom exemplo da

transformação ocorrida na forma de se analisar as modificações ocorridas na Terra,

no qual, foi introduzida, segundo Engels (1991) apud Peloggia (1998), a idéia de

modificações lentas no planeta. Um erro observado por este mesmo autor nas idéias

de Charles Lyell é a questão da invariabilidade, em quantidade e qualidade, nas

forças que atuam sobre a Terra. Entretanto, esta obra foi uma das pioneiras para se

romper com as idéias de cunho teológico, onde ocorreriam sucessivas criações e

destruições catastróficas. Outra questão observada por Engels (1991) apud Peloggia

(1998) é a decomposição da natureza em partes, fato relacionado a gênese das

ciências naturais, onde há o impedimento da visão de conjunto. Segundo Peloggia

(1998):

[...] as Ciências Geológicas, já desde seus primeiros passos,

caracterizam-se pelo reconhecimento de uma natureza

essencialmente em transformação, caráter este presente na

definição de Lyell e interpretado filosoficamente por Engels. No

entanto não foi possível aos geólogos, em regra, em

decorrência da divisão do trabalho científico, sustentarem uma

visão de conjunto que possibilitasse um mais rico

aproveitamento do desenvolvimento dos seus conhecimentos,

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particularmente no que tange à interação entre o homem e o

ambiente geológico. (PELOGGIA, 1998, p. 233).

Assim, a Geologia ou a Geociências não incorporava a ação humana em suas

pesquisas, fato que atualmente tem sido questionado, devido ao reconhecimento do

homem como agente geológico e geomorfológico.

As formas de organização da sociedade, o modo de produção e a interação

com a Natureza modificam as condições naturais do meio no qual um determinado

grupo reside ou utiliza para suas atividades. Com o modo de produção capitalista

vigente na atualidade, o homem tem transformado cada vez mais rapidamente e

intensamente o meio no qual está inserido, resultando numa realidade que é objeto

de estudo de vários campos da ciência, inclusive da Geologia e da Geomorfologia.

Assim, a intensidade das ações humanas ocasiona mudanças que, em vários casos,

podem ser comparadas com as transformações que ocorrem numa escala de tempo

muito maior que a história humana, ou seja, podem ser comparadas a mudanças

que só ocorreriam em escala de tempo geológica. Desta forma:

[...] A Ciência da Terra, cujas descobertas objetivas tiveram

papel fundamental na mudança da própria concepção de

mundo das ciências naturais, foi ela própria, no entanto,

também englobada pela especialização do trabalho, em

detrimento do entendimento dialético e globalizador dos

fenômenos naturais. Posição conceitual esta última essencial

no momento atual, no qual se faz necessário analisar

profundamente o papel do homem como modificador da

superfície do planeta, ou seja, em que a Geologia expande seu

campo de ação para levar em conta processos e resultados

decorrentes da e impressos pela prática social na natureza. E,

como vimos, o homem é um agente especificamente geológico

na medida em que as conseqüências de suas atividades (sua

ação modificadora na natureza, ação ativa e mediatizada pelo

trabalho) são comparáveis qualitativamente e

quantitativamente significativas em relação a processos

naturais e, ainda mais, quando os efeitos produzidos

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materializam-se em “marcos estratigráficos”. (PELOGGIA,

1998, p. 229).

A capacidade de produzir direta e indiretamente depósitos geológicos

superficiais forneceu elementos para alguns autores reconhecerem o homem como

agente geológico ativo e contemporâneo e estabelecer a denominação do Período

Quinário ou Tecnógeno, por meio de processos relacionados à forma de ocupação

de um local, com determinadas características geomorfológica.

Segundo autores como Ter-Stepanian, o Holoceno, que teve início há

aproximadamente 10.000 anos (Tabela 1) seria uma “época de transição” do

Quaternário para o Quinário ou Tecnógeno, onde a ação humana influencia nas

novas coberturas pedológicas e formações geológicas. Entretanto, do ponto de vista

estratigráfico, a passagem do Quaternário para o Quinário não é igual em todo o

planeta, pois depende do desenvolvimento e difusão das 23 técnicas pelas regiões

da Terra que, como se sabe, não ocorreu de maneira homogênea (PELOGGIA,

1998).

Fonte: Ter-Stepanian, 1988; IUGS, (1989) apud Salgado-Laboriau, (1994).

O termo Tecnogênico foi escolhido para se relacionar as modificações do

ambiente com as ações do ser humano através da técnica, que pertence

exclusivamente ao ser humano.

[...] Poder-se-ia adotar o termo Antropogênico para designá-los;

entretanto, esta palavra também tem sido empregada para

qualificar eventos do Antropógeno, ou Período Antropogênico,

desde que foi proposto por PAVLOV em 1912 (GERASIMOV,

1979). A expressão Antropógeno vem sendo usada por alguns

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autores, sobretudo soviéticos, em substituição ao termo

Quaternário, para identificar o período geológico mais recente,

marcado pela evolução do Homem, desde o mais antigo

representante da família Hominidade até o moderno Homo

sapiens. (GERASIMOV,1979 apud OLIVEIRA, 1990)

As ações do homem no meio produzem efeitos significativos onde, segundo

Suguio & Bigarella (1990) apud Peloggia (1998, p. 27) “toda vez que o homem

interfere na paisagem, surgem desequilíbrios mais ou menos graves”. Estas ações

podem ser analisadas em três níveis de abordagem: formas, processos, formações

e depósitos superficiais do ambiente geológico. Conforme Peloggia (1998), com

referência as proposições metodológicas de Ab’Saber (1968, 1969a) para os

estudos do Período Quaternário:

1- A modificação do relevo e as alterações fisiográficas da

paisagem, (por exemplo, retificações de canais fluviais,

terraplanagem, surgimento de áreas erodidas, áreas

mineradas, etc.). Ter-Stepanian (1988), por exemplo, refere-se

a tais efeitos como “novos tipos de relevo tecnogênico”. Já

Fanning & Fanning (1989) chamam de “superfícies decapadas”

(scalped land surfaces) a algumas paisagens resultantes da

ação do homem como agente geomórfico. Rohde (1996), por

sua vez, cita a expressão “morfotipos artificiais” para referir-se

a unidades paisagísticas geológico-geomorfológicas derivadas

da ação humana. [...]

2- A alteração da fisiologia das paisagens, materializada pela

criação, indução, intensificação ou modificação do

comportamento de processos da dinâmica geológica externa

(tais como o incremento da erosão e da carga sedimentar

correlativa, os escorregamentos em geral, a infiltração, as

drenagens pluvial e fluvial, as taxas de sedimentação, os fluxos

subterrâneos, etc.), que podem atingir portes comparáveis aos

resultantes de variações climáticas ou dos efeitos dos

movimentos tectônicos. [...]

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3- A criação de depósitos correlativos comparáveis aos

quaternários (depósitos tecnogênicos), os quais vão se

constituir em “marcos estratigráfico”, este caráter é

indiretamente ressaltado por Fanning & Fanning (1989), ao

afirmarem que “do ponto de vista de gênese dos solos, a

destruição e formação de solos pelo homem, pela grande

manipulação física dos materiais terrosos, são „eventos

catastróficos‟ que criam novos pontos de partida para a

formação dos solos” [...]

Ao conjunto desses níveis de ação denomina-se

“tecnogênese”. (Peloggia, 1998, p. 19-21)

As primeiras pesquisas em que temas geológicos foram analisados segundo

uma abordagem que tem o homem como agente geológico foram desenvolvidas no

Brasil durante a década de 90. Essa abordagem considera que, assim como os

ambientes geológicos da Terra podem ser associados aos agentes geológicos

naturais (vento, gelo, água, etc), os novos ambientes, criados e influenciados pelo

homem em substituição aos ambientes passados conferem-lhe a qualidade de

agente geológico. Trata-se aí dos ambientes tecnogênicos, compreendendo

ambientes transformados pela urbanização, agricultura, mineração, obras civis, entre

outros.

Segundo Peloggia (1998) ao citar Oliveira (1990), afirma poder classificar os

depósitos tecnogênicos em três tipos principais: os construídos, como aterros e

corpos de rejeito, os induzidos, como resultantes de assoreamento e aluviões

modernos, e os modificados, que correspondem aos depósitos naturais alterados

tecnogenicamente por efluentes, adubos e outros.

Outra questão é a denominação de depósitos tecnogênicos para os chamdos

“solos altamente influenciados pelo homem” (Fanning & Fanning, 1989). De acordo

com o material constituinte do depósito, realiza-se, segundo estes autores, a

seguinte classificação:

1) Materiais “úrbicos” (do inglês urbic) relativos a detritos

urbanos, materiais terrosos que contêm artefatos

manufaturados pelo homem moderno, frequentemente em

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fragmentos, como tijolo, vidro, concreto, asfalto, prego,

plástico, metais diversos, dentre outros; 2) materiais

“garbicos” (do inglês garbage) que são materiais detríticos

como lixo orgânico, de origem humana, e que, apesar de

conterem artefatos em quantidades muito menores que a

dos materiais úrbicos, são ricos em matéria orgânica para

gerar metano em condições anaeróbias; 3) materiais

“espólicos” (do inglês spoil), que correspondem a materiais

terrosos escavados e redepositados por operações de

terraplenagem em minas a céu aberto, rodovias ou outras

obras civis. Incluem-se os depósitos de assoreamento

causados por erosão acelerada; e 4) materiais “dragados”,

oriundos de dragagem de cursos d’água e, em geral,

depositados em diques, topograficamente alçados em

relação à planície aluvial.

Peloggia (1998) classifica os depósitos tecnogênicos considerando,

principalmente, os processos geradores e o material constituinte e, de maneira

complementar, a localização e expressão no relevo, podendo referir-se a um

determinado ambiente deposicional tecnogênico (Korb, 2006).

Assim, classificam-se, segundo a gênese, os depósitos de 1ª Ordem, que

correspondem aos depósitos Construídos, Induzidos e Modificados, na classificação

de Oliveira (1990), e os depósitos de 2ª Ordem, que incorporam os depósitos

remobilizados, como os depósitos de fundos de vale formados por escorregamentos,

e retrabalhados, propostos por Nolasco (1998), como os aterros ravinados

(OLIVEIRA et al., 2005,).

No trabalho de Peloggia (1998), foram trabalhados os depósitos tecnogênicos

no município de São Paulo, com o estudo da formação e características dos

depósitos, os riscos de acidentes geológicos, como escorregamentos relacionados à

ocupação de áreas onde há presença de alterações tecnogênicas no solo.

Neste tipo de depósito, devido à heterogeneidade na composição

granulométrica das coberturas, as características geotécnicas variam de um local

para outro, além da possível variação num mesmo perfil, de acordo com o material

constituinte e condição de deposição de cada camada. Com estas variações de

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características num mesmo depósito pode ocorrer a criação de lençóis suspensos

no interior dos depósitos, pois ocorrem diferenças de permeabilidade entre as

camadas. (PELOGGIA, 1998,)

Outro tipo de depósito trabalhado pelo autor são os depósitos tecnogênicos

induzidos que, conforme definido anteriormente, referem-se aos depósitos

originados em decorrência de processos erosivos, nos quais os sedimentos são

transportados de montante à jusante. Este processo instala-se devido,

principalmente, ao tipo de uso do solo onde os processos erosivos são acelerados.

Entre os exemplos citados por Peloggia (1998) encontram-se os depósitos

sedimentares estudados na represa Billings, onde a camada de sedimentos finos

correspondia a uma espessura anormalmente elevada. Entre os motivos elencados

para tal fato mencionam-se a aceleração da erosão devida ao desmatamento e ao

aporte de sedimentos pelo bombeamento das águas do [“sistema hídrico”] Tietê -

Pinheiros, conforme estudos de Petri & Fúlfaro (1965) apud Peloggia (1998).

Com isto, verificou-se que o processo de urbanização acelerado e sem

controle foram os principais responsáveis pela instalação e intensificação dos

processos erosivos e que, em conseqüência, provocou o assoreamento de redes

hidrográficas, várzeas e terrenos baixos. Sendo estes, os mesmos processos que

ocorreram em Santa Cruz das Palmeiras – SP em dimensões e proporções menores

do que São Paulo e pela quantidade do adensamento populacional.

Além deste depósito, Peloggia (1998) trabalha com os depósitos tecnogênicos

construídos, mencionado inclusive sua ocorrência em alguns lugares do município

de São Paulo. São englobados nesta categoria:

[...] aqueles depósitos resultantes do transporte e deposição de

materiais por intermédio da ação direta do homem, e que

restam no local onde foram criados. De modo geral tais

depósitos podem ser classificados, como foi discutido

anteriormente, em função do material de que se constituem:

em depósitos “espólicos” (sejam aterros compactados

tecnologicamente controlados, as verdadeiras “obras de terra”

de engenharia, ou mais raramente depósitos de “bota-fora”);

em depósitos “úrbicos”, predominantemente lançados em

“bota-fora”, aterrando baixadas, fundos de vale ou

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predominantemente as porções côncavas do relevo, os

“anfiteatros” morfológicos das cabeceiras de drenagem; ou

então em aterros de material 33 inerte; em depósitos de

material “dragado”, englobando, por exemplo, os depósitos de

desassoreamento de canais das drenagens principais, bem

como tanques de decantação de resíduos minerários finos; e

em depósitos “gárbicos”, sejam tecnologicamente controlados

(aterros sanitários) ou simples “lixões”. (PELOGGIA, 1998, p.

129).

A estes depósitos são relacionadas situações potenciais de acidente, no caso

de ocupação humana nestas áreas. Nos casos trabalhados de escorregamentos em

depósitos de “bota-fora” concluiu-se que o agente instabilizador, principal

responsável pelos escorregamentos, foi à possibilidade de percolação de água no

interior de tais depósitos, formando lençóis suspensos entre as camadas de

diferentes níveis de permeabilidade (PELOGGIA, 1998).

É sabido, portanto, que todo tipo de depósito ou alteração tecnogênica

representa a forma de uso e ocupação do solo e a relação que a sociedade tem com

o ambiente. Podem-se citar, tanto nos meios urbanos quanto no rural diversos

processos que influenciam na formação dos depósitos tecnogênicos. Práticas

agrícolas praticadas de maneira inadequadas em relação à conservação do solo

intensificam os processos de erosão, que se constitui no principal fator de liberação

de sedimentos que se acumulam principalmente nos fundos de vales, modificando

assim a dinâmica natural daquele corpo hídrico.

Já no ambiente urbano, à medida que a urbanização se torna

inquestionavelmente grande expressão espacial, a preocupação com o

desenvolvimento de temas direcionados a estudos de casos e sistematizações

metodológicas se amplia. Na Geomorfologia, os trabalhos direcionados ao meio

urbano buscam orientações comuns no sentido de se discriminarem os estádios de

urbanização que possam representar relevantes processos morfodinâmicos; dessa

forma, surge a necessidade de se reconhecerem os diferentes estádios da

urbanização como a pré-urbanização e a consolidação urbana (Rodrigues, 2005).

O crescimento desordenado das cidades, atrelado às formas de apropriação

do território resultaram na estruturação de um ambiente urbano de baixa qualidade,

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de características ambientais desfavoráveis e fortemente suscetíveis à riscos

(BEDUSCHI & GARCIAS, 2008). Para tanto, Filho (2011) esclarece:

“O aprofundamento da interação entre a ação antrópica e o

meio natural no espaço urbano criou situações singulares e

evidências específicas que devem ser analisadas em particular,

como temáticas urbanas: encostas e solos, bacias

hidrográficas, geomorfologia e geotécnica, planejamento e

antropogeomorfologia urbanos”.

Para determinar em estudos as varáveis produzidas por cenários e paisagens

criadas pela interface entre o homem e a natureza, o ambiente urbano pode ser

interpretado como um sistema, como o conjunto de componentes físicos, um

conjunto ou coleção de coisas, unidas ou relacionadas de tal maneira que formam e

atuam como uma entidade, um todo.

O estudo dos depósitos tecnogênicos é, portanto, um viés que possibilita

diversos tipos de análises, pois a atividade do homem produz testemunhos com

características diversificadas e em ambientes variados, que podem produzir

respostas negativas como, assoreamento de cursos d’água, contaminação dos solos

e subsolos, contaminação das águas superficiais e subsuperficiais, intensificação

dos processos erosivos, entre outros.

Nesta abordagem, para tanto, o homem pode ser considerado um agente

geológico – geomorfológico devido à capacidade de produção de testemunhos,

comparáveis a ação dos agentes naturais na escala de tempo geológica. Entretanto,

seu tempo de ação, com modificações na paisagem e possíveis conseqüências ao

meio ambiente, ocorrem no tempo histórico restrito e muito curto comparável aos

grandes acontecimentos geológicos já registrados.

Esta consideração do homem como agente geológico e gemorfológico por

meio dos trabalhos com os depósitos tecnogênicos, são responsáveis por mudanças

na forma de entender e trabalhar com a Geomorfologia. Desta forma, expressa

Suertegaray (2000):

O conceito de depósito tecnogênico expressa à dinâmica

morfogenética ao longo de um tempo – ainda que nesse caso a

dimensão de tempo seja de menos escala (história humana);

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apresenta elementos de superação à medida que o conceito de

depósitos correlativos não incluía os artefatos humanos em

suas análises – resultando daí a concepção clássica do

processo geomorfológico – como processo exclusivamente

natural. Os depósitos tecnogênicos por sua vez permitem a

incorporação, na dinâmica de formação desses depósitos, dos

artefatos humanos, ampliando por conseqüência o conceito de

processo geomorfológico ao introduzir o antropogênico

(SUERTEGARAY, 2002, p. 52).

Exatamente por esta e por outras razões que hoje se visualiza, enquanto

prática e teoria, uma transformação significativa no campo da Geomorfologia e da

Geografia Física, predominando trabalhos, em diversas áreas do conhecimento, na

qual se utiliza o homem ou propriamente suas ações perante o meio físico, como

perspectiva central de análises. Esta ênfase nos reflete a crescente densificação

técnica da natureza, característica deste momento histórico, em virtude da

necessidade presente, de reconhecer as formas e os processos naturais

constituintes fundamentais da base produtiva. Cabe aos geógrafos e profissionais de

áreas correlatas, identificar e caracterizar todos os processos, sendo eles humanos

e/ou naturais, presentes no meio, para que assim sejam feitos diagnósticos com

finalidade de obter ações preventivas, mitigadoras, de reabilitação, de reutilização ou

de reaproveitamento de áreas que foram significativamente modificadas pelo

homem.

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5. CARACTERISITCAS DE OCUPAÇÃO E FÍSICAS DA REGIÃO DE SANTA CRUZ DAS PALMEIRAS – SP ___________________________________________________________________

5.1 OCUPAÇÃO (1816 – 2010)

Segundo MENDES (2000), em 1816, os açorianos desistem de fincar o pé em

Casa Branca, onde em janeiro deste mesmo ano, haviam chegado para assumir a

hercúlea empreitada de derrubada de árvores e destoca de campos em troca de

uma gleba com uma légua de frente por duas da frente dos fundos, e mais

sementes, animais e moradia. Quase tudo fica na promessa. Muitas famílias,

desiludidas, partem para Curitiba.

Em 1850, passada a euforia da mineração, afloradas as enormes dificuldades

para descobrir riquezas nas Gerais, nos cascalhos auríferos de Cuiabá e pedras

preciosas no Goiás, as terras vermelhas do oeste paulista são cobiçadas pelos

plantadores de café que demandam de Campinas à Franca, num convite à aventura,

ao desbravamento e ao progresso. Nessas paragens de luxuriante vegetação, cheia

de palmeiras, entre os Rios Mogi Guaçu e Jaguarí, destemidos agricultores

assentam-se com o objetivo de plantar café (Mendes, 2000).

Já em 1867, em fevereiro, com a conclusão da estrada de ferro Santos a

Jundiaí pelos ingleses da São Paulo Railway Company, os paulistas superam o

maior obstáculo à exportação do café, vencendo a Serra do Mar. A obra foi iniciada

em 1857, por Irineu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá, associado a

empresários ingleses, por concessão do Governo imperial para levar os trilhos do

porto à cidade de Rio Claro (Mendes, 2000).

Ponto de descanso dos tropeiros que seguiam suas caminhadas de

Pirassununga a Casa Branca, o córrego das Palmeiras hoje Pessegueiro recebeu

nas suas imediações, em 1876 a capela em exaltação à Santa Cruz. Algumas

fazendas nos despontam na região na produção de café, a Palmeiras, a Santa

Veridiana, a Aurora, a Maracaju e a Palmares. As margens entre os córregos

Pessegueiro e Tijuco Preto, principais corpos hídricos que cortam a cidade,

ergueram-se trinta e quatro casas – mais a capela – que compuseram o povoado e

delas, vinte e três foram construídas em área de patrimônio de Santa Cruz, que se

enriqueceu com mais de onze alqueires doados por alguns grandes fazendeiros

produtores de café (Mendes, 2000).

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Quase vinte anos após, em 1895, surgirem as primeiras casas ao redor do

córrego das Palmeiras, Santa Cruz conquista autonomia político-administrativa,

através da Lei Provincial, nº48, a Freguesia fora elevada à categoria de Vila. Alguns

anos após esta conquista, as ferrovias assumem caráter vital para o

desenvolvimento da região escoando a produção de café até o porto de Santos. Os

trilhos foram assentados seguindo a marcha do café pelo interior e as companhias

ferroviárias são criadas para atender a interesses específicos dos cafeicultores. O

prestigio, o poder e a influência de Antonio Prado político-fazendeiro-empresário

cresceram e ao assumir a presidência da Cia. Paulista, ele adquire dos ingleses a

Rio Claro Railway. Em 1892 a Paulista liga o ramal de Pirassununga a Santa Cruz

das Palmeiras, inaugurando as Estações de Santa Silvéria e a citadina de Santa

Cruz (Mendes, 2000).

Já em 1922, no ano do centenário da Independência do Brasil, a população

do município atinge os 20mil habitantes, dos quais aproximadamente, 5mil residem

na cidade sendo o restante todos rurais. A força da economia naquela época era

baseada na agricultura e os principais produtos de sua lavoura são o café, o arroz, a

cana de açúcar, o algodão e a mamona. Neste mesmo ano, registram-se fábricas de

sabão, de ladrilhos, de telhas e manilhas, de cerveja, de vinagre, de óleos e resinas.

No censo demográfico do IBGE de 2000, a população do município contou

com cerca de 25mil habitantes aproximadamente. Dez anos após, no último censo

realizado, Santa Cruz das Palmeiras conta com uma população de 30mil habitantes

aproximadamente dos quais 29 mil são da zona urbana e 936 são da zona rural

(IBGE, 2010). O êxodo rural, acumulativo durante esses 90 anos (1922 a 2010),

intensificou os processos naturais existentes no município, em especial, após a

retirada da cobertura vegetal original para alocação desse contingente de população

nos arredores urbanos e para avançar as fronteiras agrícolas. Esse avanço

demográfico culminou em um novo padrão sócio espacial do território, no geral, e

em uma nova configuração da natureza.

As APP´s foram depredadas para darem lugar aos loteamentos urbanos,

inserção da pecuária e avanço da agricultura. A modificação que o homem provocou

neste ambiente, durante este período de ocupação, induziu a criação de novas

formas superficiais de relevo, aqueles ditos tecnogênicos, alterando a dinâmica

natural (meio biótico e abiótico) do município como um todo. Representaremos

essas transformações nos resultados e discussões do presente trabalho.

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25

5.2 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS

5.2.1 Geomorfologia, Geologia e Hidrografia

Para elaboração deste subcapítulo foi realizada a coleta de dados básicos

como bibliografia geológica e geomorfológica, o Mapa Geomorfológico do Estado de

São Paulo (IPT, 1981) e visitas a campo. Os planos integrados de aproveitamento

de recursos naturais e uso do solo passam necessariamente por uma reflexão a

respeito das alternativas estratégicas de ocupação territorial que leve em conta, em

primeira instância, a setorização em subdivisões naturais na área estudada.

A compartimentação geomorfológica do Estado de São Paulo está

diretamente relacionada à seção geológica esquemática do Estado de São Paulo,

como mostra a Figura 1. O círculo vermelho representa a localidade estudada nesta

pesquisa, impreterivelmente na Depressão Periférica.

Figura 1: Seção geológica esquemática do Estado de São

Paulo.

Fonte: Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo. IPT. 1981

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Segundo a compartimentação geomorfológica, apresentada no Mapa

Geomorfológico do Estado de São Paulo (IPT. 1981), mostrado na Figura 2, o relevo

do Estado de São Paulo está dividido em cinco províncias morfoestruturais, são

elas:

I – Planalto Atlântico;

II – Província Costeira;

III – Depressão Periférica

IV – Cuestas Basáltica e;

V – Planalto Ocidental

Figura 2 – Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo

Fonte: Mapa modificado pelo autor da Divisão Geomorfológica do Estado de São

Paulo. IPT. 1981.

As cinco províncias geomorfológicas do Estado de São Paulo estão

subdivididas em zonas e subzonas. A área que abrange esta pesquisa está

localizada na Depressão Periférica na zona 3 – Bacia Hidrográfica Mogi Guaçu. A

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Figura 3 mostra as províncias e suas subdivisões e circulado em vermelho a área na

qual foi desenvolvido o trabalho de conclusão de curso.

Figura 3: Mapa de divisão geomorfológica do Estado de São Paulo

Fonte: Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo. IPT. 1981

A Depressão Periférica Paulista, segundo JUNIOR (2001), corresponde a

uma área do “Estado de São Paulo relativamente rebaixada em relação aos

arredores, com altitudes geralmente entre 500 e 700 m, onde predomina o relevo de

colinas amplas e suaves, com pequena declividade, ocupadas inicialmente por

matas ciliares, cerrados e campos. A origem da província é denudacional, marcando

uma acentuada movimentação do relevo, em relação àquela presente nas áreas

adjacentes”. O relevo mais montanhoso que corresponde à área do Planalto

Atlântico cede lugar, na Depressão Periférica, a um relevo colinoso que nas suas

bordas não estão diretamente vinculados a litologias sedimentares, pois transgride

seus limites e avança sobre rochas graníticas, metamórficas e migmatíticas do

embasamento cristalino.

Devido à inclinação homoclinal das camadas paleozóicas e mesozóicas em

direção à região mais deprimida da bacia, a resistência oferecida à erosão pelos

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derrames basálticos cretáceos que suportam a borda em cuestas do Planalto

Ocidental, escavou-se entre estas e os terrenos elevados das rochas cristalinas

marginais do embasamento, uma longa depressão. É nela que estão expostas as

camadas paleozóicas e mesozóicas pré-basálticas, numa faixa de configuração em

lua crescente que constitui toda Província Geomorfológica da Depressão Periférica

Paulista (Junior, 2001).

Dentro dessa divisão da província, a área aqui estudada e analisada se situa

na Zona do Mogi Guaçu. Toda zona é coberta por uma rede de drenagem

organizada. O padrão geral da drenagem é dendrítico, notando-se algum

descontrole estrutural a partir de diáclasses e da presença de corpos litológicos mais

resistentes, especialmente de diabásios da Formação Serra Geral. No geral,

predominam nesta unidade geomorfológica relevo de colinas amplas e colinas

médias (Figura 4).

Figura 4 – Típico relevo de COLINAS AMPLAS observado nas imediações de Santa

Cruz das Palmeiras – SP.

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29

Em termos geológicos, Santa Cruz das Palmeiras – SP está inserida na

Depressão Periférica como foi apresentada, caracterizada por rochas sedimentares

do Subgrupo Itararé, por intrusivas basálticas da Formação Serra Geral e depósitos

cenozóicos (ALBERTO; CHANG, 2003). O substrato geológico é caracterizado por

unidades sedimentares paleozóicas da Bacia do Paraná, onde são identificadas três

formações distintas, a Formação Corumbataí e Tatuí, ambas pertencentes ao Grupo

Passa Dois do período Permiano, a Formação Botucatu e Pirambóia pertencente ao

Grupo São Bento do período Cretáceo e o Grupo Tubarão do período

Carbonífero/Permiano, expressas no mapa de unidades geológicas. As unidades

sedimentares estão intrudidas e recobertas pelas rochas básicas da Formação Serra

Geral do período Cretáceo/Jurássico, de cerca de 130 milhões de anos.

Fonte: Adaptado de CPRM (1998) por DELANEZE, M. E. (não publicado).

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30

O solo da região é classificado de Latossolo Roxo (Figura 5), um solo

altamente evoluído quimicamente, com horizontes bem definidos, laterizado e rico

em argilominerias como, argilitos, arenitos, siltitos, calcários, diamictitos, rilmitos e

mistitos favorecendo assim, juntamente com o clima tropical do município a prática

das atividades agrícolas (Fonte: Site da Prefeitura Municipal de Santa Cruz das

Palmeiras).

Figura 5 – Perfil esquemático do solo do município.

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O município de Santa Cruz das Palmeiras está localizado a 250 quilômetros

da capital São Paulo. Sua bacia é drenada pelo Rio Mogi Guaçu a oeste do Estado,

como já previamente mencionado. A Bacia Hidrográfica do Rio Mogi Guaçu localiza-

se no centro-leste do Estado de São Paulo e uma pequena porção do Sul de Minas

Gerais, entre as latitudes de 20°05’S e 22°43’S e as longitudes 46°00’W e 48°06’W.

Possui uma área de 17.460km², dos quais 14.534 encontram-se em território

paulista, compondo uma das unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos do

Estado (Figura 6).

Fonte: Junior (2001).

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Atualmente, a economia da cidade não se diferenciou da economia

antepassada, ela continua se resumindo à comercialização dos produtos agrícolas,

em especial e mais fortemente a cana de açúcar. Outras culturas ainda prevalecem

com menor grau de importância como, laranja, milho, arroz, entre outras, expressas

no mapa 1 de uso e ocupação do solo.

Fonte: Modificado de Prefeitura Municipal de Santa Cruz das Palmeiras (Não

Publicado)

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6. ANÁLISE AMBIENTAL E DOS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS DO

MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ DAS PALMEIRAS - SP

___________________________________________________________________

O trabalho de campo realizado nesta pesquisa apresentou como objetivo o

reconhecimento da paisagem local e a caracterização pontual dos depósitos

tecnogênicos do município em foco. Tudo aquilo que vemos, que nossa visão

alcança, é considerado como paisagem. Para tanto, Ross (2007) esclarece:

Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a

vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também

de cores, movimentos, odores, sons, etc.

A paisagem foi escolhida para ser trabalhada devido a possibilidade de

verificação, por meio da configuração que expressa, das alterações causadas pela

forma de ocupação e uso do solo. Trabalhando a abordagem tecnogênica, além da

observação das transformações na composição pedológica e geológica, é

necessário o estudo dos elementos naturais e artificiais constituintes do entorno,

devido a importância dos mesmos na explicação da formação dos depósitos

tecnogênicos.

Uma definição de paisagem que pode ser contextualizada com os estudos

realizados é:

Ao optarmos pela análise geográfica a partir do conceito de

paisagem, poderemos concebê-la como forma (formação) e

funcionalidade (organização). Não necessariamente

entendendo forma-funcionalidade como uma relação de causa

e efeito, mas percebendo-a como um processo de

constituição/reconstituição de formas na sua conjunção com a

dinâmica social. Neste sentido, a paisagem pode ser analisada

como materialização das condições sociais de existência

diacrônica e sincronicamente. Nela poderão persistir elementos

naturais, embora já transfigurados (ou natureza artificializada).

O conceito de paisagem privilegia a coexistência de objetos e

ações na sua face econômica e cultural manifesta

SUERTEGARAY, (2000).

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A área escolhida para analisa ambiental e dos depósitos tecnogênicos foi o

município de Santa Cruz das Palmeiras – SP, no geral, e em especifico o córrego do

pessegueiro principal abastecedor de águas do município e os depósitos ou lixões

de materiais orgânicos e de construção de civil (Figura 7).

Figura 7 – Localização dos lixões de Santa Cruz das Palmeiras – SP

Fonte: Google Earth (2011).

A área de estudo apresenta vertentes com declividade de 5% a 10% e fundo

de vale em berço com uma extensa planície aluvial, conforme os dados

apresentados na caracterização da área. Durante o trabalho de campo observou-se

que a área apresenta acentuados processos erosivos, como assoreamento e

lixiviação do solo. A interferência da sociedade do meio tem ocorrido de forma

inadequada ambientalmente, o que tem causado danos no local de estudo. Para

contextualizar os locais estudados na pesquisa, foi feito um mapa de localização dos

depósitos tecnogênicos in loco.

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Foram visitados cinco locais que identificamos a presença desses materiais

de origem humana e pontualmente foi realizada a interpretação da área com fotos e

coordenadas.

O Primeiro local a ser visitado no trabalho foi o Aterro Sanitário do município

A destinação final para este tipo de material tecnogênico, o material gárbico, se feita

de maneira inadequada e sem planejamento, como é o caso do lixão do município

(Figura 8), o metano e o chorume gerados em condições anaeróbicas contaminam

os subsolos, os solos, as águas superficiais e sub superficiais, modificando a

dinâmica natural deste ambiente. É notória a falta de ordenamento técnico do aterro

e um controle parcial do lixo destinado lá. O aterro que tinha previsão média de

duração até 2021 está com sua capacidade esgotada haja vista o aumento da

população nos últimos 10 anos e conseguintemente na proporção em quantidade de

lixo produzido.

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O segundo local visitado foi o depósito de materiais de construção civil (Figura

9), o local apresenta falta de planejamento com este tipo de material que poderia ser

reutilizado em outras obras e o descaso com o meio ambiente. O material é

despejado em uma área aberta, nas proximidades com o município e sem infra

estrutura técnica organizada. Isto acarreta na falta de compromisso da população

com o local que ao ver a situação mal planejada aproveita para se livrar do seu

problema (lixo) e colocá-lo de imediato no meio.

Figura 8 – Aterro Sanitário Descontrolado de Santa Cruz das Palmeiras – SP. Vala destinada para despejo de materiais gárbicos.

Coordenadas Geográficas: 21°51’38’’S/ 47°17’28’’W; Altitude: 730 metros.

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No local destinado aos materiais úrbicos, foram encontrados plásticos, vidros, restos

de vegetação, entre outros. Todos de origem humana e sem uma adequada

destinação e utilização destes materiais.

Após o surgimento da raça humana, o meio natural passou a sofrer alterações

significativas dominadas pela técnica em diferentes espaços geográficos,

concomitantemente usufruindo dos recursos existentes para suprir suas

necessidades vitais. A retirada da cobertura vegetal original (Figura 10) para

introduzir outros tipos de atividades como, loteamentos, práticas agrícolas,

pastagens, entre outros, é uma das mais importantes modificações provocadas pelo

homem na utilização do solo sendo identificada no terceiro local estudado neste

trabalho.

Figura 9 – Local de despejo de materiais de construção civil ou materiais úrbicos.

Coordenadas Geográficas: 21°50’06’’ S/ 47°15’14’’ W; Altitude: 660 metros.

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A utilização do solo pode ser entendida como manifestações objetivadas por

diversas funções. Na quarta e quinta caracterização foi identificada as áreas que são

destinadas a agricultura, mineração, pastagem, áreas urbanas (Figura 11), estradas

(Figura 12), entre outras. Com as atuais mudanças ambientais expressivas sobre o

meio ambiente, pode-se constatar que elas são decorrentes de processos naturais

e/ou antrópicos. Alguns dos processos naturais que fazem parte da dinâmica natural

da Terra são: terremotos, ventos, chuvas, vulcanismos, entre outros. Entretanto,

problemas ambientais decorrentes das atividades humanas como, enchentes,

despejos de resíduos sólidos e de construção civil, uso e ocupação do solo sem

controle, poluição hídrica e do solo (Figura 13), desmatamento, despejo de efluentes

domésticos e industriais, são exemplos típicos das transformações que o homem

vem desencadeando no meio natural, modificando assim as características físicas,

químicas e biológicas dos sistemas ambientais.

Figura 10 – Retirada da Cobertura Vegetal Original para inserção da pecuária e

de áreas urbanas. Nota-se vegetação terciária, água totalmente poluída e

depósitos tecnogênicos do tipo úrbicos e espólicos nas margens do córrego.

Coordenadas Geográficas: 21º49’33’’S/47º14’33’’W; Altitude: 636 metros

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Figura 11 – Retirada da Cobertura Vegetal Original para inserção de áreas

urbanas. Nota-se a falta de cobertura vegetal, prevalecendo gramas e gramíneas

e o despejo de esgoto direto in natura sem nenhum tratamento.

Coordenadas Geográficas: 21º49’26’’S/ 47º14’40’’W; Altitude: 636 metros

Figura 12 – Retirada da Cobertura Vegetal Original para inserção de áreas

urbanas. Nota-se a falta de cobertura vegetal, prevalecendo gramas e gramíneas

e o despejo de esgoto direto in natura sem nenhum tratamento.

Coordenadas Geográficas: 21º49’26’’S/ 47º14’40’’W; Altitude: 636 metros

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Como pôde ser observado, o local de estudo apresenta diversos elementos

em sua paisagem que, ao serem alterados, geraram graves problemas de

degradação ambiental, com significativas alterações em seus componentes naturais,

como vegetação nativa, composição do solo, cursos d‟água e outros. Esta

modificação ocorreu de forma agressiva, causando aceleramento de processos

erosivos, com intensificação do assoreamento e lixiviação do solo, além do risco de

contaminação dos solos e águas pela deposição de artefatos humanos de vários

tipos e lançamento de esgotos cloacal.

Todos estes agravantes, de uma forma ou de outra, são decorrentes do uso e

ocupação do solo e se intensificam dependendo do grau de intensidade dos

impactos ambientais que a ação humana pode desempenhar. O reconhecimento dos

lugares e a identificação dos eventuais problemas de degradação ambiental são de

fundamental importância para a formulação de novas técnicas científicas para o

estudo do meio físico.

Figura 13 – Processo de lixiviação do solo. Perca das propriedades químicas do

solo com os contaminantes oriundos dos esgotos domésticos e industriais.

Contaminação do solo e das águas.

Coordenadas Geográficas: 21º49’21’’S/ 47º14’22’’W; Altitude: 639 metros

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7. CONCLUSÃO ___________________________________________________________________

As mudanças temporais e espaciais relacionadas às atividades antrópicas

são freqüentes. As alterações provocadas pela implantação das atividades

agrícolas, pastoris, urbanização, industrialização e mineração, que se inserem

transformando radicalmente a estrutura do ecossistema, são comuns nas

sociedades. A tendência desta problemática ambiental é proporcional a

conscientização da comunidade e das autoridades do município. Os estudos

geológicos e ambientais podem diminuir o aspecto negativo e contribuir no futuro,

com medidas mitigadoras às questões ambientais.

Percebe-se, portanto, uma relação sociedade-natureza onde a ação do ser

humano resulta na deposição inadequada tanto de artefatos humanos, como

materiais de construção, quanto de esgoto cloacal, que atuam na alteração da

paisagem e da dinâmica da natureza. Este fato demonstra a capacidade do homem

enquanto agente geológico e geomorfológico capaz de modificar artificialmente a

composição das camadas do solo, através da deposição de materiais e, conforme o

uso do solo, acelerar processos que, numa escala de tempo geológica, levaria um

determinado tempo para ocorrer, como a modificação do relevo durante a

construção do bairro e o aceleramento de processos erosivos.

Podemos concluir que os depósitos Holocênicos, na área estudada,

praticamente não são mais atuantes e ocorrem como relíquias na paisagem, ou seja,

o homem tem alterado todo relevo do período Quaternário. E por esse motivo

geógrafos e geólogos defendem a criação de um novo período, o qual seria o

período Quinário ou Tecnogênico.

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