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1 ANÁLISE DO ESTRESSE EM COMPETIÇÕES E SITUAÇÕES DE JOGO NO BASQUETEBOL João Pedro Lopes Gallo 1 Paulo Henrique Xavier de Souza 2 RESUMO O presente estudo objetivou identificar fatores, causas e situações estressantes na modalidade do basquetebol. Objetivou-se, também, caracterizar e identificar os fatores e aspectos estressantes na modalidade do basquetebol; dividir os fatores estressantes mais comuns relatados pelos atletas infantis, infanto-juvenis e adultos; sugerir trabalho psicológico necessário para suprir o déficit causado pelo estresse. Foi realizada uma revisão de literatura a fim de encontrar situações vivenciadas pelos atletas que são possíveis geradoras de estresse, fator o qual poderia diminuir o desempenho dos mesmos. Observou-se que a exclusão social, conflitos com o técnico, problemas relacionados à preparação física, problemas de relacionamento com pessoas importantes, situações relacionadas ao jogo, medo de um desempenho pessoal e/ou coletivo ruim, ansiedade, preocupação com o resultado da partida, nervosismo pré-jogo e a importância da competição ou partida são os problemas mais apontados entre os jogadores de basquetebol. Palavras-chave: Estresse. Competição. Basquetebol _______________________ ¹ Graduando do Curso de Educação Física/Bacharelado do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (CEFID), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis-SC, Brasil. 2 Professor Mestre do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (CEFID) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis-SC, Brasil. Orientador do artigo de conclusão de curso.

Análise do estresse em competições e situações de jogo no basquetebol

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O presente estudo objetivou identificar fatores, causas e situações estressantes na modalidade do basquetebol. Objetivou-se, também, caracterizar e identificar os fatores e aspectos estressantes na modalidade do basquetebol; dividir os fatores estressantes mais comuns relatados pelos atletas infantis, infanto-juvenis e adultos; sugerir trabalho psicológico necessário para suprir o déficit causado pelo estresse. Foi realizada uma revisão de literatura a fim de encontrar situações vivenciadas pelos atletas que são possíveis geradoras de estresse, fator o qual poderia diminuir o desempenho dos mesmos. Observou-se que a exclusão social, conflitos com o técnico, problemas relacionados à preparação física, problemas de relacionamento com pessoas importantes, situações relacionadas ao jogo, medo de um desempenho pessoal e/ou coletivo ruim, ansiedade, preocupação com o resultado da partida, nervosismo pré-jogo e a importância da competição ou partida são os problemas mais apontados entre os jogadores de basquetebol.

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ANÁLISE DO ESTRESSE EM COMPETIÇÕES E SITUAÇÕES DE JOGO NO

BASQUETEBOL

João Pedro Lopes Gallo1

Paulo Henrique Xavier de Souza2

RESUMO

O presente estudo objetivou identificar fatores, causas e situações estressantes na

modalidade do basquetebol. Objetivou-se, também, caracterizar e identificar os fatores e

aspectos estressantes na modalidade do basquetebol; dividir os fatores estressantes mais

comuns relatados pelos atletas infantis, infanto-juvenis e adultos; sugerir trabalho

psicológico necessário para suprir o déficit causado pelo estresse. Foi realizada uma

revisão de literatura a fim de encontrar situações vivenciadas pelos atletas que são

possíveis geradoras de estresse, fator o qual poderia diminuir o desempenho dos

mesmos. Observou-se que a exclusão social, conflitos com o técnico, problemas

relacionados à preparação física, problemas de relacionamento com pessoas

importantes, situações relacionadas ao jogo, medo de um desempenho pessoal e/ou

coletivo ruim, ansiedade, preocupação com o resultado da partida, nervosismo pré-jogo

e a importância da competição ou partida são os problemas mais apontados entre os

jogadores de basquetebol.

Palavras-chave: Estresse. Competição. Basquetebol

_______________________

¹ Graduando do Curso de Educação Física/Bacharelado do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte

(CEFID), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis-SC, Brasil.

2 Professor Mestre do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (CEFID) da Universidade do Estado de

Santa Catarina (UDESC), Florianópolis-SC, Brasil. Orientador do artigo de conclusão de curso.

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INTRODUÇÃO

No momento que falamos de estresse podemos ter a impressão de um fator

negativo e causador de problemas para o organismo humano. Segundo Meleiro (s. d.), o

estresse é um mecanismo fisiológico necessário para nosso processo evolutivo. Sem ele

nem nós e nem os outros animais teriam sobrevivido a situações perigosas. Nossos

ancestrais não teriam deixado descendentes caso algum animal selvagem os atacasse e

estes não reagissem imediatamente.

Segundo Margis et al. (2003), o estresse denota o estado gerado pela percepção

de estímulos que provocam uma excitação emocional. Estes estímulos disparam um

processo de adaptação pelo aumento na produção de adrenalina, o que desencadeia uma

série manifestações como distúrbios fisiológicos e psicológicos. Segundo estes mesmos

autores, um “agente estressor” se define como evento ou estimulo que provoca ou

conduz ao estresse.

Para De Rose Junior et al. (2004), apenas uma minoria dos atletas de alto nível

supera o estresse gerado pelas pressões internas e externas. Treinos, compromissos,

jogos, viagens, contusões, problemas pessoais e de relacionamento são os principais

fatores causadores do estresse. O autor também fala que a maior incidência de atletas

que largaram o esporte está nos jovens. Isso acontece pela exclusão social e alienação

dos estudos causados pelo enorme tempo necessário dedicado ao esporte.

Essas situações podem ser potencialmente geradoras do cansaço mental e

conviver com elas passa a ser fundamental para a manutenção de um estado psicológico

aceitável que permita ao atleta, além de manter seu desempenho esportivo, tomar

conscientemente decisões importantes em diferentes momentos da competição (DE

ROSE JUNIOR, 2002).

Este estudo foi realizado visando à importância da identificação dos fatores

estressantes os quais prejudicam o desempenho dos atletas infantis, infanto-juvenis e

adultos no basquetebol. Considera-se de fundamental relevância esta identificação para

que possam ser desenvolvidos trabalhos psicológicos com a intenção de diminuir e até

anular os efeitos negativos do estresse nos resultados do atleta.

O esporte foco do trabalho dá-se no basquetebol, pois em sendo atleta da

modalidade há mais de dez anos e ter grande afinidade com o esporte foi possível uma

melhor compreensão e familiarização com as situações e os resultados pesquisados de

minha parte.

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Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo identificar fatores, causas e

situações estressantes em atletas da modalidade do basquetebol. Nesta perspectiva,

pretendeu-se também: a) caracterizar e identificar os fatores e aspectos estressantes na

modalidade do basquetebol; b) dividir os fatores estressantes mais comuns relatados

pelos atletas infantis, infanto-juvenis e adultos; c) sugerir trabalho psicológico

necessário para suprir o déficit causado pelo estresse. Uma busca por fatores

psicológicos intrínsecos e extrínsecos capazes de influenciar, tanto positivamente,

quanto negativamente o desempenho de atletas nas situações de jogo no basquetebol.

METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura sobre o estresse em

situações e competições de jogo no basquetebol a partir da análise de livros e artigos

científicos nacionais e internacionais. Para a inclusão dos artigos, foram adotados os

seguintes critérios: relação com situações geradoras de estresse, relação de problemas

causados pelo estresse em atletas de diferentes modalidades e, também, específicos ao

basquetebol.

Esta revisão foi realizada em três fases: Fase 1 - Pesquisar e selecionar os artigos

que atendem aos critérios citados. Fase 2 - Leitura analítica, selecionar, dentre o

material encontrado, artigos diretamente ligado ao tema proposto. Fase 3 - Leitura

crítica, ou seja, excluir artigos os quais não tenham como foco principal do trabalho o

tema proposto.

Para análise, comparação e apresentação dos artigos, estes foram divididos em

duas categorias: relacionados a atletas infantis e infanto-juvenis e relacionados a atletas

adultos.

Foi desenvolvida uma tabela onde se evidencia os autores, objetivos da pesquisa

e os principais resultados a fim de facilitar a compreensão e visualização das

informações mais importantes dos artigos pesquisados.

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AUTOR SUJEITOS OBJETIVO RESULTADOS

Castro (2008) 63 atletas masculinos

de basquetebol de nível escolar (15 a 17 anos)

Analisar situações

competitivas, desencadeadoras

de estresse.

Competência individual:

Errar em momentos decisivos Repetir os mesmos erros

Cometer erros causadores da

derrota da equipe

Problemas com o técnico:

Escolhas consideradas injustas

Técnico que só enxerga o lado

negativo

Não valoriza o esforço

Críticas excessivas

Miguel (2008) 30 atletas da seleção

brasileira juvenil

Analisar emoções

vivenciadas por

jogadores no momento

pré-competição.

Emoções contraditórias

Emoções positivas pelo momento

vivenciado Auto-expectativas positivas

Sentimentos de preocupação e

apreensão

Weis,

Romanzini e

Carvalho

(2011)

37 atletas masculinos

de basquetebol de nível

escolar (11 a 14 anos)

Identificar

principais

indicadores de

estresse nos

atletas de

diferentes

categorias no

basquetebol.

Medo

Ansiedade

Preocupação com o resultado

Nervosismo pré-jogo

Assuntos ligados a competição

Maior responsabilidade

Insegurança em relação às próprias

capacidades

De Rose

Junior,

Deschamps e Korsakas

(1999)

19 atletas com

passagem pela seleção

brasileira de basquetebol

Identificar

situações

consideradas causadoras de

“stress”

relacionadas ao

processo

competitivo

126 situações estressantes:

114 situações diretas:

O jogo A influência de pessoas

importantes

Estados psicológicos

Planejamento/organização da

competição ou jogo

Medos e inseguranças

Problemas com técnico e

companheiros de equipe

Importância/dificuldade do

próximo jogo

12 situações indiretas: Problemas familiares

Relacionamentos amorosos

Falta de vida social

Miguel (2008) 18 atletas da seleção

brasileira adulta

Analisar emoções

vivenciadas por

jogadores no

momento

pré-competição.

61% afirmaram

Valorizar emoções ligadas ao

momento vivenciado

Emoções que levam a atitudes

positivas

Auto-expectativas positivas

Emoções contraditórias

39% afirmaram

Ansiedade, nervosismo e preocupação

Emoções que antecipam

positivamente e negativamente os

resultados

Tabela 1 – Relação dos artigos pesquisados

Fonte: produção do próprio autor

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REVISÃO DE LITERATURA

Partindo do conhecimento sobre os efeitos positivos e negativos do estresse

competitivo, buscou-se revisar na literatura questões biológicas e sociais, procurando

compreender o contexto dos atletas da modalidade do basquetebol e, partindo desta

análise, buscar estudos relacionados com o tema.

Os tópicos foram organizados de forma coerente com a problemática estudada,

para melhor compreensão dos elementos envolvidos, a saber:

Fatores e situações estressantes

Jones & Hardy (1990) afirmam que o desempenho esportivo resulta da

combinação de três fatores: fisiológicos, biomecânicos e psicológicos. Os fatores

fisiológicos apontam para os aspectos da preparação física do atleta, os quais permitem

suportar as diferentes cargas de exigência física das competições, treinamentos e testes.

Os fatores biomecânicos estão ligados à execução dos gestos específicos de cada

esporte, ou seja, seus fundamentos, dentro dos altos padrões técnicos para o nível do

atleta. Diferentemente dos anteriores, os fatores psicológicos são capazes de interferir

no desempenho do atleta, independente de sua condição física, de sua preparação

técnica e tática. Ainda de acordo com estes autores, há diversos exemplos de aspectos

psicológicos. Entre eles: motivação, ansiedade, atenção, concentração, agressividade.

De Rose Junior (2002), comenta que processo competitivo engloba fatores os

quais proporcionam condições para a atuação do atleta. Aspectos como torcida,

técnicos, clima, adversários, árbitros, local da disputa, são citados descrevendo os

agentes externos criadores de estresse. Estes, o atleta não obtém controle. Já noite mal

dormida, carga emocional, medo, insegurança, problemas em relacionamentos e

questões financeiras são exemplos de agentes internos, os quais o atleta está sujeito a

sofrer caso não tenha a preparação psicológica necessária para enfrentar determinada

situação.

Todavia, a competição não representa necessariamente uma fonte de estresse

prejudicial ao atleta. Tudo dependerá da avaliação que ele fará da quantidade e

intensidade das situações provocadas pelo processo competitivo como um todo.

Especialmente por aquelas que surgem nos momentos de decisões importantes, pois

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nestas situações que o atleta utiliza seus recursos psicológicos, técnicos, físicos e táticos

próprios para lidar com elas.

Passer (1984) e Vasconcellos (1992) concordam que à medida que o atleta

vivencia situações e experiências novas, a percepção da competição aumentará e isso,

consequentemente, irá facilitar a analise do atleta, melhorando as respostas deste. Para

atletas bem preparados e com mais experiência, a competição poderá ter um caráter

desafiador, entretanto para novatos ou atletas despreparados, as mesmas situações

poderão ter uma conotação ameaçadora ao seu bem estar, seja ele físico, psicológico ou

social.

Situações geradoras de estresse são comuns e, com o passar dos anos, o

individuo vai estabelecendo um maior controle sobre seus atos. Quando este se depara

com situações estressantes, porém comuns a ele ou até mesmo em novas ocasiões, as

chances de uma escolha mais sábia são maiores. É natural que haja uma evolução nas

interpretações por parte do individuo ao longo dos anos diante destas situações. Caso

não houvesse, seria como se este tivesse parado no tempo, pois teria sempre os mesmos

medos, inseguranças e receios.

A competição testa diversos níveis físicos do atleta que, dependendo da

modalidade, poderão ser a chave para alcançar a vitória. A mesma competição nos

mostra, porém, que nem sempre o mais forte ou o mais habilidoso vencerá. No futebol é

comum um time dito mais frágil, por ser menos organizado, ter menor porte físico,

poucas horas de treinamento e outros fatores, conseguir vencer o time citado como

“favorito”. Jogar na casa do adversário, pressão da torcida, desentendimentos com

companheiros de time e técnico, desfocando o da partida e outros fatores psicológicos

podem ser determinantes no resultado de uma partida de futebol.

Assim, para competir o atleta deve estar muito bem preparado e se destacar entre

aqueles que praticam determinada modalidade esportiva. Pressupõe-se que ele deva

superar os mais elevados níveis de exigência, sejam eles físicos, técnicos, táticos ou

psicológicos. Tudo isto requer muito trabalho, planejamento e organização rigorosa,

visando o aperfeiçoamento dos requisitos necessários para obter os melhores resultados

(LIMA, 1990).

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Fatores estressantes no basquetebol em atletas infanto-juvenis

Weis, Romanzini e Carvalho (2011) afirmam que a competição infanto-juvenil é

compreendida entre os sete anos (período chamado de segunda infância) até o final da

adolescência (por volta de 17 ou 18 anos). De Rose Junior (2002), alega que as

competições dos atletas infanto-juvenis são atividades realizadas por adultos e é onde

começa o processo de formação de equipes e as primeiras participações em torneios e

campeonatos.

Os treinamentos de basquetebol possuem bom nível técnico nos fundamentos

básicos da modalidade, porém, muitas vezes, o mesmo não acontece durante o jogo. Os

atletas respondem bem ao estresse e as situações que o basquetebol é capaz de expô-los,

todavia, quando estes atletas se deparam com uma situação de jogo, estes tendem a uma

redução do desempenho (WEIS, ROMANZINI e CARVALHO, 2011).

Estes mesmos autores elaboraram uma pesquisa com 37 crianças e adolescentes

do sexo masculino com idades entre 11 e 14 anos. A inclusão da amostra se dava com a

presença do atleta 24 horas antes da competição em foco, bem como no dia da

competição. O tempo de prática dos atletas era de 3,8 anos, o que aponta para atletas

com certa experiência na modalidade. A pesquisa constatou que os mais frequentes

apontamentos feitos pelos atletas questionados estão relacionados ao medo de

decepcionar as pessoas os quais o atleta se relaciona (técnico, companheiros de equipe,

pais) por culpa de performances ruins, ansiedade, medo, preocupação com o resultado

da partida, nervosismo antes do inicio da partida, assuntos ligados à competição (falar

muito sobre a partida), não conseguir pensar em outras situações que não na competição

em questão, sentir maior responsabilidade e ter insegurança em relação às próprias

capacidades.

Também foi possível constatar que os atletas da categoria infantil (13 e 14 anos)

apresentaram um maior número de sintomas relacionados ao estresse, comparado aos

atletas mais novos. Isso demonstrou que os atletas mais velhos da pesquisa sentem-se

mais pressionados se comparados às categorias mais novas.

Muñoz (2003) alega que a preparação de play-offs deverá ter uma atenção

especial, visto que os atletas deverão estar preparados para controlar as situações

estressantes, pois estas podem provocar reações emocionais que interferem na eficácia

das soluções encontradas pelos próprios atletas para combatê-las, o que inviabiliza as

ações tomadas contra elas pelo atleta.

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Miguel (2008) realizou um estudo com 30 atletas da seleção brasileira juvenil.

Estes relataram a incidência de diversos fatores psicológicos. O autor questionou como

o atleta se sentia momentos antes da competição. Os resultados afirmaram que os itens

mais apontados foram: emoções contraditórias (emoções contraditórias para o mesmo

fenômeno), emoções positivas pelo momento vivenciado (valorização da posição de

destaque na seleção brasileira), auto-expectativas positivas (confiança nas capacidades,

habilidades, competências físicas, técnico/táticas e psicológicas próprias) e sentimentos

de preocupação e apreensão (preocupação com o desempenho próprio e coletivo nas

competições realizadas).

O autor da pesquisa ainda afirma que quanto mais incerto foi o resultado da

próxima partida ou competição, mais os atletas sofrem com emoções pré-competitivas

relacionadas à preocupação e ansiedade.

Castro (2008) realizou um estudo com 63 atletas de basquetebol em nível

escolar, com idades de 15 a 17 anos, onde concluiu que os fatores mais citados entre os

atletas foram relacionadas a duas categorias: competência individual e ao técnico.

Dentre as competências individuais que mais causam estresse nos atletas, podemos

citar: errar em movimentos decisivos, repetir os mesmos erros e cometer erros que

causem a derrota da equipe. Em relação a problemas com o técnico, os pontos mais

citados foram: condutas e escolhas feitas pelo técnico consideradas injustas, na visão

dos atletas, técnico que só enxerga o lado negativo, técnico que não valoriza o esforço

do atleta e excessivas críticas do técnico.

Fatores estressantes no basquetebol em atletas adultos

De Rose Junior (2001) afirma que o atleta pertencente à classe do alto nível

(participante de competições nacionais ou internacionais) deve estar sempre buscando

melhorar, evoluir, aprender novas técnicas e táticas para que tenha um maior

desenvolvimento. Manter um padrão altíssimo requer do atleta muito sacrifício.

Sacrifício que pode resultar em problemas com relacionamentos, ausência do atleta em

eventos/reuniões sociais, por causa do tempo dedicado a pratica. Isso acontece

independentemente da modalidade praticada, pois todas elas possuem, dia após dia,

níveis mais elevados de exigências físicas, técnicas, táticas e psicológicas e cabe ao

atleta acompanhar, caso este queira ter chances de chegar ao objetivo, que é a vitória.

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Isto já deverá estar inserido no jogador de alto nível. O tempo dedicado à prática será

maior do que o tempo de lazer.

Miguel (2008), em seu estudo, envolveu também 18 atletas da seleção brasileira

adulta. O questionário foi aplicado da mesma maneira tanto para os atletas juvenis

quanto para os adultos, chegando à conclusão que os adultos também vivenciam uma

mistura de emoções. Dentre os atletas entrevistados, 61% valorizam mais emoções

ligadas ao momento vivenciado (posição de destaque na seleção brasileira), emoções

que levam a atitudes positivas, auto-expectativas positivas e também as emoções

contraditórias. Emoções estas que ficaram mais evidentes nos outros 39% dos atletas, os

quais apontaram mais comumente para situações que refletem ansiedade, nervosismo,

preocupação, emoções que antecipam positiva e negativamente os resultados.

O estudo realizado por De Rose Junior, Deschamps e Korsakas (1999) envolveu

19 atletas com passagem pela seleção brasileira de basquetebol. Os atletas foram

entrevistados e suas respostas foram categorizadas como diretamente e indiretamente

relacionadas à competição. No total, os autores registraram 126 situações consideradas

estressantes. Destas situações, 114 (90,5%) estavam diretamente ligadas à competição e

12 (9,5%) foram consideradas situações indiretas.

Em relação às situações diretamente ligadas à competição o estudo concluiu que,

por ordem de ocorrência, as situações causadoras do estresse estão relacionadas com: o

jogo, a influência de pessoas importantes, estados psicológicos e o planejamento e

organização da competição ou jogo. Medos e inseguranças, problemas com técnicos e

companheiros de equipe, a organização das equipes, a importância e dificuldade do jogo

e a própria competência são os fatores mais comuns e estes podem influenciar

negativamente no desempenho do atleta.

Já em relação às situações indiretamente ligadas à competição, os autores

concluíram que situações como problemas familiares, relacionamentos amorosos, falta

de uma vida social e estabelecimento de vínculos de amizades constantes e duradouras

foram algumas das situações apontadas sendo as causas de estresse entre os atletas

entrevistados.

Os autores ressalvam que apesar de terem sido citadas apenas 12 situações

indiretas à competição (número baixo em relação às 114 situações diretamente ligadas),

não se deve descartá-las, pois o estudo não mensurou o impacto e a intensidade delas no

desempenho dos atletas. É importante afirmar que qualquer uma delas pode ter um

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impacto bastante significativo, do mesmo modo que qualquer uma das situações

diretamente ligadas pode ter.

CONCLUSÃO

Levando-se em consideração a literatura investigada, observa-se uma quantidade

relevante de pesquisas e estudos sobre situações e fatores causadores de estresse no

cotidiano de atletas, sejam estes infantis, infanto-juvenis ou adultos. É oportuno

destacar que os estudos citados chegaram a conclusões muito parecidas. Estes

apontaram para problemas de relacionamentos sociais, preocupação com o desempenho

pessoal e/ou coletivo e, ainda, problemas com a organização da equipe (treinamentos,

jogos e eventos), o que identifica a carência de trabalhos psicológicos na preparação

pré-competitiva de atletas, independentemente da modalidade estudada.

Problemas psicológicos poderão afetar o desempenho de um atleta ou time,

independentemente da idade ou categoria destes. Observa-se que o medo de decepcionar

pessoas importantes para os atletas; medo de um mau desempenho pessoal e coletivo;

ansiedade e preocupação com o resultado da partida; nervosismo pré-jogo; assuntos

ligados à competição; importância da competição e partida e o fator técnico foram os

aspectos mais apontados pelos atletas de basquetebol, como fatores estressantes.

A preocupação com o técnico da equipe é crucial no desempenho do atleta.

Quando se trata de atletas de categorias infantis e infanto-juvenis, o medo de

decepcionar o técnico; técnico que só enxerga o lado negativo; técnico que não valoriza

o esforço ou o acerto; excessivas críticas do técnico e conflitos com o mesmo são os

aspectos mais citados entre os problemas com o técnico.

É clara a grande incidência de fatores estressantes relacionados ao desempenho,

como por exemplo: erros em momentos decisivos; preocupações com o desempenho

próprio e dos colegas; nervosismo com o resultado da partida; nervosismo pré-jogo;

ansiedade e responsabilidade (presença na seleção brasileira) foram os mais citados

entre os atletas das categorias infantis e infanto-juvenis.

Os fatores mais citados que acarretam situações de estresse nos adultos foram: a

necessidade de uma contínua evolução; manter um alto padrão de desempenho através

de muito tempo dedicado ao esporte (o que também é um fator estressante por gerar

alienação social); ansiedade; nervosismo pré-jogo; problemas com pessoas importantes;

problemas relacionados ao jogo ou competição; desacordos com os técnicos e

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companheiros de equipe; importância e dificuldade da próxima competição ou

campeonato disputado; medo de mau desempenho próprio; problemas familiares

(relacionamentos amorosos, brigas familiares e amizades pouco duradouras);

planejamento e organização de jogos problemas com treinamentos e ainda viagens

longas.

Todos esses fatores podem estar presentes isoladamente ou de forma combinada,

sendo mediados por características como: nível de habilidade do atleta, grau de

preparação, tempo de prática, experiências anteriores, idade e sexo.

Esta revisão mostra haver um déficit na realização de trabalhos psicológicos com

atletas das mais variadas modalidades e em especial no Basquetebol. Questões como

medo, ansiedade e preocupação são exemplos de dificuldades enfrentadas pelos atletas

que diminuem o desempenho dos mesmos durante a partida.

O presente estudo é apenas uma pequena demonstração da grandiosidade do

problema. Resta aos profissionais do esporte e da psicologia trabalharem juntos a fim de

amenizar os danos causados pelas dificuldades dos atletas. Abre-se, portanto, um

expressivo número de possibilidades de investigações acerca do tema apresentado. Para

melhor compreensão e tendo em vista as limitações deste estudo, sugerem-se novos

estudos na área do basquetebol, pois os artigos selecionados apresentaram diversas

situações comuns aos atletas, situações que poderão ser amenizadas através de trabalhos

psicológicos.

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