Analise de uma Fotografia

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O que faz uma fotografia ser boa? Retire suas conclusões depois de ler este artigo-

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    O que faz uma fotografia ser

    boa?

  • Fonte

    http://www.forumfotografia.net/topic/29261-o-que-faz-uma-fotografia-ser-boa/page-2

    Publicado 19 Novembro 2012

  • "Em primeiro lugar analisar uma imagem bem mais do que dizer

    que gostamos ou no gostamos.

    O gostar de uma imagem no faz dela uma boa ou m imagem.

    Confundir o gosto pessoal com a qualidade significa fecharmos a

    nossa capacidade de anlise a um mundo restrito, que nos torna

    incapazes de analisar uma obra de arte. Alis, por isso que uma

    imagem (ou uma obra de arte) em si boa ou m e no relativa

    esta classificao e no depende do gosto de cada um.

    Quando se diz que uma imagem pode ser boa para uns e horrvel

    para outros, estamos a cair neste erro de relatividade, de misturar o

    gosto com a anlise objectiva. O facto de no gostarmos da obra de

    um fotgrafo no nos deve impedir de reconhecer um bom trabalho.

    Mais, uma fotografia, tal como uma pintura, tem um valor intrnseco,

    independentemente da poca ou da anlise.

    Isto para alm de podermos questionar a capacidade de anlise e

    conhecimentos de quem gosta ou no gosta. Tambm tudo isto nada

    tem a ver com estilos pessoais, que muitas vezes no passam de

    desculpas pelos erros, ou razes para alguns teimosamente se

    manterem no mesmo caminho.

    Por isso a qualidade no relativa. Um Picasso ou um Rembrant so

    sempre um Picasso ou um Rembrant. Gostemos ou no. Claro que

    no h uma escala e clara que ao fim de muitos anos a ver milhares

    (sublinho milhares) de exposies as imagens boas sentem-se em 2

    segundos.

    A qualidade tambm no uma questo de recordarmos uma

    imagem mais ou menos facilmente. Vejamos a publicidade. As

    imagens so construdas para terem impacto, para ficarem na

    memria, e raramente so grandes obras de arte.

    No acho errada a pergunta, embora cometa o erro de se resumir

    excessivamente ao campo tcnico, o que pode significar ficar preso a

    espartilhos formais pouco criativos. Como algum j aqui escreveu a

    fotografia estuda-se. A educao visual, obtm-se vendo exposies,

    no s de fotografia, mas de pintura, escultura ou outras, tendo uma

    cultura geral o mais abrangente possvel, sabendo Histria, histria

    de Arte, arquitectura, etc. Caso contrario apenas sabemos mexer nos

    botes da mquina, e isso pouco.

    Quando na crtica fotogrfica se analisa uma imagem temos de

    considerar;

  • - O sentimento que ela desperta, j que uma imagem tem de

    transmitir algo, que poder ser semelhante ou diferente do que o

    fotgrafo sentiu, segundo as correntes estticas seguidas. H quem

    entenda que o sentir do fotgrafo se deve transmitir ao pblico, linha

    seguida por Sebastio Salgado, por exemplo, e h quem considere

    que essa preocupao s por si castradora da capacidade criativa

    do artista. Independentemente da mensagem que chega ao pblico

    ser ou no a mesma do emissor/fotgrafo, o facto que ter de

    haver uma mensagem no receptor/pblico;

    - A sua execuo tcnica, tendo em conta a medio de luz, a

    focagem e a profundidade de campo, entre outros aspectos. A tcnica

    , no entanto, algo que deve suportar a esttica e deve servir-nos

    para no perdermos oportunidades. No deve nunca ser o suporte

    nico da fotografia. Ateno tambm aos conceitos de qualidade,

    esses sim subjectivos e adequados ao fim. Uma fotografia feita com

    uma pinhole ou um telemvel pode ser adequada para figurar numa

    galeria e pode no ser adequada para outros fins;

    - A inovao e maturidade esttica nela expressa, que por vezes pode

    subverter a tcnica.

    importante reflectir se essa imagem inovadora ou no, ou de que

    modo ela se enquadra numa dada poca ou movimento esttico. S

    por isso, julgar uma imagem muito mais do que dizer que se gosta

    ou no;

    - A luz, quer em termos de qualidade quer no facto de respeitar a

    realidade;

    - O ambiente transmitido, que se pode traduzir pelo sentir de um

    momento ou de um local como se l estivssemos;

    - O momento certo do disparo, que pode ter a sua traduo na

    expressividade quando fotografamos pessoas;

    - A mensagem ou contedo da imagem;

    - A composio, tendo em conta o que a imagem sugere, a

    distribuio dos elementos no espao fotogrfico e o sentido da

    leitura de uma imagem, que da esquerda para a direita, em

    varrimento horizontal, para quem escreve com a mo direita e da

    esquerda para a direita, independentemente de uma esttica mais

    moderna ou mais conservadora. H tambm que no esquecer que a

  • ruptura das normas deve ser consciente e motivada pelo sentir da

    imagem e nunca pelo seguidismo de modas ou imitaes.

    Por isso se torna absurdo julgar uma imagem pelos filtros que usa,

    pela tcnica mais ou menos rebuscada, pelas cores ou pela definio.

    Alis, a fotografia no vive desses enfeites que so os filtros e os

    efeitos de Photoshop, admitindo-se estes apenas como opo de

    desconstruo da imagem e nunca como forma de valorizar aquilo

    que banal. A fotografia no vive dos efeitos, mas antes de uma

    variedade de qualidades que valem pelo seu conjunto e, como prova

    disso, temos um vasto conjunto de imagens que tm ficado para a

    Histria da Fotografia.

    Por outro lado quando se reflecte sobre o trabalho de um fotgrafo

    devemos tentar compreender aquele como parte de um percurso.

    Conhecer esse percurso compreender o porqu das imagens que

    temos frente e no sermos influenciados ou desculparmos

    momentos menos bons que todos temos.

    Este percurso tem tambm muito a ver com a gesto do nome, algo

    to ignorado no nosso pas pela grande maioria dos fotgrafos. Em

    que galerias exps, que coleces integra ou qual a sua cotao no

    mercado da arte so elementos importantes, e to importantes

    quanto a ordem de crescente importncia dos locais onde exps.

    Atravs deste percurso tambm se podem compreender rupturas ou

    continuidades estticas, que preciso ter em ateno para o historial

    do fotgrafo. Juntemos a isto o conceito que est presente na

    coerncia dos trabalhos. Se todos os que usam uma mquina

    dominarem a tcnica, o conceito o elemento diferenciador, aquilo

    que torna a imagem pensada e sentida, ou seja a marca pessoal do

    artista.

    Tambm a luz fundamental na beleza da imagem e na composio.

    A luz varia na sua qualidade, intensidade e direccionalidade, o que se

    reflecte no apenas na leitura do objecto, mas tambm na ambincia

    que a imagem traduz, o que tem uma estreita relao com a atitude

    esttica, que varia de fotgrafo para fotgrafo, ou mesmo de trabalho

    para trabalho. A luz escolhida para trabalhar em fotografia de turismo

    pode nada ter a ver com a luz que se adopta em fotografia de autor

    de tendncia mais contempornea. Compreender isso , logo

    partida, perceber o tipo de trabalho que estamos a ver. Claro que isto

    j est muitos degraus acima da medio de luz ou de quaisquer

  • outras abordagens de ordem meramente tcnica, que pode mesmo

    motivar opes tecnicamente erradas, quer seja na temperatura de

    cor, quer seja na exposio.

    O ambiente tambm algo que a imagem ter de captar. um

    elemento subjectivo e difcil de definir, mas que de facto existe. Est

    relacionado com o posicionamento da mquina, importante para os

    planos e a composio, com o momento, com a objectiva usada e,

    fundamentalmente, com o grau de envolvimento que o fotgrafo

    mantm com o conjunto dos objectos e pessoas fotografados.

    Um dos elementos mais crticos de uma imagem o momento da

    deciso do disparo. O que se pretende fotografar aquilo que prev

    ir acontecer ou aquilo que visualiza? Neste ltimo caso, entre o acto

    de visualizar uma dada imagem no visor, reagir carregando no boto,

    ocorrer a abertura do obturador e ser efectuado o registo pelo sensor,

    pode ocorrer um espao de tempo que faa com que aquilo que

    registamos j no seja aquilo que vimos, mas antes aquilo que

    ocorreu depois. Pode ser uma fraco de segundo, mas esse tempo

    que far toda a diferena. aquilo a que Cartier Bresson chamava de

    o instante decisivo.

    Embora hoje ele no constitua um elemento totalizador da anlise

    fotogrfica, a verdade que continua a desempenhar um importante

    papel. Assim, o fotgrafo ter de gerir algo que contraditrio por

    um lado tem de ser rpido a reagir, por outro lado ser ponderado,

    atendendo a diversos aspectos tcnicos e estticos, o que o torna

    lento. Por isso a esttica deve ser intuitiva evitando com isso a perda

    de tempo precioso. Da ser to importante a educao visual.

    Sob o ponto de vista tcnico a aco deve tambm ser intuitiva e

    quase mecnica, mas consciente e acertada. Isso evita excessos de

    formalismo incompatveis com uma modernidade no olhar. A

    instantaneidade representa uma pequena fraco do tempo,

    contnuo, que registmos fotograficamente.

    A escolha desse momento no deve ser fruto do acaso, mas antes de

    uma atitude, de uma predisposio, da concentrao do fotgrafo e

    do seu domnio tcnico e esttico, onde, neste ltimo item no se

    pode deixar de acrescentar uma genuidade esttica.

    No meio de tantos considerandos tericos h que nunca esquecer que

    a imagem fotogrfica deve proporcionar sempre um momento de

  • fruio, quer de quem a efectua, quer de quem a v.

    Independentemente de gostarmos ou no dela.

    Estes so alguns dos aspectos que se analisam numa imagem. S

    acrescentaria mais dois aspectos, mais subjectivos, mas nem por isso

    menos importantes. Um ter uma mente aberta. Ver uma imagem

    significa v-la sem preconceitos, sem ter ideias feitas partida e, se

    no se gostar ou no se compreender, em vez de recusar logo, cada

    um interrogar-se se est preparado para compreender aquilo que v.

    O outro aspecto que por vezes no h palavras para certas

    justificaes.

    H imagens que se sentem, o que tem a ver com educao visual,

    fruto de se verem muitas exposies, sejam de fotografia, sejam de

    escultura, pintura, artes decorativas, etc"

    *APAF - Associao Portuguesa de Arte Fotogrfica