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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PATRICIA TEOCHI BREZOLIN ANÁLISE DA VARIAÇÃO E ESTABILIDADE DA LINHA DE COSTA DA PRAIA DA ARMAÇÃO, FLORIANÓPOLIS LITORAL SUL DA ILHA DE SANTA CATARINA. ITAJAÍ 2011

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

PATRICIA TEOCHI BREZOLIN

ANÁLISE DA VARIAÇÃO E ESTABILIDADE DA LINHA DE COSTA DA PRAIA DA ARMAÇÃO, FLORIANÓPOLIS – LITORAL SUL DA

ILHA DE SANTA CATARINA.

ITAJAÍ 2011

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PATRICIA TEOCHI BREZOLIN

ANÁLISE DA VARIAÇÃO E ESTABILIDADE DA LINHA DE COSTA DA PRAIA DA ARMAÇÃO, FLORIANÓPOLIS – LITORAL SUL DA ILHA DE SANTA CATARINA.

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Oceanógrafo, na Universidade do Vale do Itajaí.

Orientador: João Thadeu de Menezes

ITAJAÍ 2011

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I

DEDICATÓRIA

“Aos meus pais Saionara e Sergio, aos meus avós Vanilsa e

Nelson e ao Minhoca, que sempre estiveram ao meu lado

me apoiando e acreditando nos meus sonhos

Amo vocês”

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II

AGRADECIMENTOS

A minha mãe/minha Heroína e ao Minhoca por sempre me darem forças e possibilitarem a

realização deste sonho. Aos meus avós pela criação, educação, apoio e amor que nunca me faltaram.

Ao meu pai pelas palavras sabias e pelo orgulho que sempre teve em ser o meu pai.

Ao professor João Thadeu, por me orientar, e acreditar no meu trabalho, muito obrigada.

Ao professor Fabrício por todas as duvidas tiradas, por seu carisma e aptidão em

ajudar.

A Débora/Azeitão pelos 5 anos de convivência e sem dúvida alguma a melhor pessoa que Deus

colocou no meu caminho nesses últimos anos, muito obrigada pela amizade, pelas palavras de

conforto, pelos conselhos, pelas risadas, pelas viagem, pelas pipocas, por ter aparecido na minha

vida e nunca mais sair dela.Te amo muito e tu faz muita falta.

As irmãs que a vida me deu, colegas da Gaiola das Popozudas (Débora,Renata Deisy, Priscila,

Jaqueline e Jeane), com certeza esses 5 anos de meio foram muito mais divertido e bem aproveitado

com vocês, muito obrigada pela amizade verdadeira, pelos conselhos, pelas ajudas, pelas jantas e por

fazem parte da minha história, vou sempre guardar vocês nas melhores lembranças e com certeza

essa amizade que começou do nada vai durar para toda a vida amo vocês.

Ao Reges e ao Kadu, os melhores e verdadeiros amigos meu obrigada por me receberem sempre

de portas abertas em qualquer momento não importando se fosse para fazer um churrasco e beber

algumas cervejas ou se fosse para me ajudar, me aconselhar, me fazer companhia, ir pescar,

mergulhar, viajar não importa o motivo vocês sempre foram e vão continuar sendo pessoas

essenciais na minha vida, de coração eu amo vocês.

A Marina e a Olivia que além de serem amigas, companheiras sempre estiveram dispostas a me

ajudar na elaboração deste trabalho, muito obrigada pela paciência que sempre tiveram comigo,

grande parte deste trabalho eu dedico a vocês.

Ao Eze pelo companheirismo, amor, por sempre me apoiar e me incentivar, Te amo.

Aos meus companheiros de laboratório e agregados Camila, Paula, Charline, Michel, Igor, Bauru

e Léo que além de serem grandes amigos sempre que eu precisei me ajudaram tanto na realização

deste trabalho quando em qual quer ocasião. Junto com vocês esses anos de academia foram mais

divertidos e prazerosos, com certeza esses anos vão deixar muitas saudades e boas lembranças.

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III

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. IV

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. VI

LISTA DE ABREVIAÇÕES .................................................................................................. VII

RESUMO ............................................................................................................................ VIII

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 2

2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 2

2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................... 2

3. ÁREA DE ESTUDO ......................................................................................................... 2

3.1 Problemas de erosão na praia ...................................................................................... 3

3.2 Caracterização da Área de Estudo ............................................................................... 4

4. REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 5

4.1 Morfodinâmica .............................................................................................................. 5

4.2 Linha de Costa ............................................................................................................. 6

4.2.1 Sensoriamento Remoto (fotografias aéreas e imagens de satélite) ........................ 6

4.2.2 Detecção da linha de costa .................................................................................... 7

4.2.3 Quantificação da evolução e a previsão de futuras linhas de costa ........................ 7

4.3 Estabilidade da Forma em Planta ................................................................................. 8

5. METODOLOGIA ............................................................................................................ 11

5.1 Aquisição e Digitalização das Imagens ....................................................................... 11

5.1.1 Georreferenciamento e Construção dos Mosaicos ............................................... 12

5.1.2 Erros inerentes ao processo fotogramétrico ......................................................... 13

5.1.3 Extração da linha de costa ................................................................................... 14

5.1.4 Cálculo da evolução (DSAS) ................................................................................ 14

5.1.5 Análise da evolução da linha de costa .................................................................. 16

5.2 Análises da projeção de futuras linhas de costa ......................................................... 16

5.3 Análise da estabilidade da forma em planta ................................................................ 17

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 18

6.1 Aquisição e digitalização das imagens ........................................................................ 18

6.2 Evoluções da Linha de Costa ..................................................................................... 19

6.3 Projeção de Futuras Linhas de Costa ......................................................................... 32

6.3 Estabilidades da Forma em Planta ............................................................................. 33

7. CONCLUSÕES ............................................................................................................. 35

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 36

9. REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO ................................................................................. 37

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IV

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização da área de estudo, em destaque a Praia da Armação, litoral sul da ilha

de Santa Catarina. ................................................................................................................. 3

Figura 2: Problemas de erosão na Praia da Armação. (Fonte: Defesa Civil municipal, 2010) 4

Figura 3: Componentes primários envolvidos na morfodinâmica costeira. ∆t representa o

tempo decorrido no processo de evolução costeira (CARTER E WOODROFFE, 1994). ....... 5

Figura 4: Desenho esquemático das variáveis da equação parabólica (modificado de HSU e

EVANS, 1989, apud SILVEIRA et al.,2010). .......................................................................... 9

Figura 5: Interface do software MEPBAY® (VARGAS et al., 2002), indicando os pontos de

controle. Aplicação para a praia da Armação – Florianópolis - SC. ...................................... 10

Figura 6: Fluxograma da metodologia utilizada na análise da evolução e estabilidade da

linha de costa. (EQM = erro quadrático médio, IPUF = Instituto do Planejamento Urbano de

Florianópolis – SC). ............................................................................................................. 11

Figura 7: Exemplo do georreferenciamento, Praia da Armação, 1977. Em destaque na figura

o EQM referente à imagem e os pontos de controle. ........................................................... 13

Figura 8: Setores da área de estudo com um total de 20 transectos perpendiculares à costa,

dispostos de Norte para Sul. ................................................................................................ 15

Figura 9: Variação da linha de costa para o setor norte da Praia da Armação. Valores

positivos indicam progradação da linha de costa ao passo que negativos indicam retração.

............................................................................................................................................ 19

Figura 10: Transectos referentes ao setor norte, gerados a partir do DSAS para a análise da

linha de costa da Praia da Armação. Como exemplo: imagem QuickBird disponível como

mapa base do ArcGIS® 10. .................................................................................................. 21

Figura 11: Variação da linha de costa para o setor centro da Praia da Armação. Valores

positivos indicam progradação da linha de costa ao passo que negativos indicam retração.

............................................................................................................................................ 22

Figura 12: Transectos referentes ao setor centro, gerados a partir do DSAS para a análise

da linha de costa da Praia da Armação. Como exemplo: imagem QuickBird disponível como

mapa base do ArcGIS® 10. ................................................................................................. 24

Figura 13: Variação da linha de costa para o setor sul da Praia da Armação. Valores

positivos indicam progradação da linha de costa ao passo que negativos indicam retração.

............................................................................................................................................ 25

Figura 14: Transectos referentes ao setor sul, gerados a partir do DSAS para a análise da

linha de costa da Praia da Armação. Como exemplo: imagem QuickBird disponível como

mapa base do ArcGIS® 10. ................................................................................................. 27

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V

Figura 15: Figura ilustrativa da Praia da Armação. A esquerda uma imagem de 2010 com os

transectos gerados a partir do DSAS e a direita um gráfico representando a variação da

linha de costa referente a cada ano analisado. .................................................................... 29

Figura 16: Aplicação do modelo Mepbay para a Praia da Armação, utilizando uma imagem

georreferenciada referente ao ano de 2007. ........................................................................ 34

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VI

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Características das fotografias aéreas e imagens. ............................................... 12

Tabela 2: Erros calculados para cada imagem. Em negrito, os erros dos mosaicos que foram

considerados nas análises. .................................................................................................. 14

Tabela 3: EQM95% utilizado quando comparados os anos. ................................................... 16

Tabela 4: Valores do pixel para cada imagem ..................................................................... 18

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VII

LISTA DE ABREVIAÇÕES

SIG - Sistema de Informações Geográficas

DSAS - Digital Shoreline Analysis System

EPR - End Point Rate

IPUF - Instituto do Planejamento Urbano de Florianópolis – SC

RP - Representatividade do pixel

PCs - Pontos de controles

EQM - Erro quadrático médio

EQMlimite - Erro quadrático médio limite

ArcGIS® - Sistema de Informação Geográfica

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VIII

RESUMO

A ocupação indiscriminada e desordenada em praias e balneários vem provocando impactos negativos a estes frágeis ambientes. Este trabalho teve como objetivo analisar a variação e estabilidade da linha de costa da Praia da Armação, Florianópolis – SC. A metodologia desenvolvida constituiu na análise de fotografias aéreas referentes aos anos de 1938, 1957, 1977, 1994, 1998 e 2002 e imagens de satélite dos anos de 2007 e 2010. Tanto as fotografias quanto as imagens foram georreferenciadas com o auxilio do Sistema de Informações Geográficas ArcGIS® 10 e o erro relacionado ao georreferenciamento foi calculado com um intervalo de confiança de 95% para todas as imagens. Para os mosaicos o erro considerado foi o maior erro encontrado de cada imagem que o compõem. A partir disso, as linhas de costa foram confeccionadas e suas variações ao longo dos 72 anos estudados foram calculadas pela ferramenta computacional Digital Shoreline Analysis System (DSAS). A projeção de linhas de costa futuras foi adquirida através do valor do End Point Rade (EPR). A estabilidade da forma em planta foi calculada a partir da imagem de satélite já georreferenciada do ano de 2007 por intermédio do programa computacional Mepbay. Nos 72 anos analisados no geral a praia se comportou da seguinte maneira; setor norte manteve-se praticamente estável, variando apenas entre os anos de 1938 a 1957 e 1957 a 1977. O setor centro não apresentou um padrão de variação, ocorreram tanto variações positivas quanto negativas. Já para o setor sul foi o setor no qual apresentou maiores variações, no geral foram variações positivas, mas que indicam uma tendência erosiva para esta porção da praia. Em relação à projeção de futuras linhas de costa, as taxas de migração encontradas para o setor norte e para o setor centro apresentaram comportamento semelhante, onde constatou-se apenas valores negativos , indicando retração da linha de costa, enquanto que para o setor sul, encontrou-se apenas valores positivos indicando uma progradação da linha de costa. Quanto à estabilidade de sua forma em planta, as praias de enseada podem ser classificadas como: (1) equilíbrio estático, (2) equilíbrio dinâmico, (3) instável e (4) remodelamento natural. A praia da Armação foi classificada no setor centro em equilíbrio estático e no setor sul em equilíbrio dinâmico. Percebe-se que a praia busca se ajustar as variações de energia hidrodinâmica, variando sua largura na área mais interna da parábola. Mas devido à urbanização presente nesta área, em situações de alta energia hidrodinâmica esta busca pelo equilíbrio é interrompida, aumentando os problemas de erosão nesta região.

Palavras – chave: Georreferenciamento; Fotografias aéreas; Retração; Progradação

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1. INTRODUÇÃO

O crescimento populacional e o incentivo ao turismo em zonas litorâneas e costeiras

vêm gerando impactos negativos, devido à ocupação indiscriminada e desordenada em

praias e balneários, colocando em risco a população local (ZIMMERMANN & LOCH, 1993).

O Estado de Santa Catarina tem cerca de 68% da sua população assentada em zonas

costeiras (POLETTE et.al. 1995). Isso se deve a disponibilidade de recursos vindos tanto da

terra quanto do mar.

A ocupação da linha de costa de praias arenosas vem crescendo cada dia mais, pois a

mesma é utilizada pelo homem para diversos fins, como lazer e turismo, este crescimento

muitas vezes leva a um desenvolvimento sem planejamento, desconsiderando a natureza

móvel e a dinâmica da linha de costa, (MAZZER & DILLEMBURG, 2009).

Segundo Short (1999), as praias arenosas resultam da ação das ondas interagindo com

sedimentos acomodados na linha de costa, sendo que a extensão e características destas

são dependentes da variação de maré, altura e período de onda, tamanho do grão e forma

da praia em planta.

Sabe-se que muitas das regiões costeiras estão em risco não apenas pelos perigos

gerados por ações antrópicas, mas também pelos perigos naturais decorrentes das

alterações no balanço sedimentar, aumento do nível médio do mar e ocorrências de grandes

tempestades, gerando retração da linha de costa e inundações costeiras (FERREIRA et al.

2006).

Tanto os perigos naturais e os de interferências antrópicas são os grandes

responsáveis pelos processos de erosão costeiros das praias arenosas de todo o mundo

(KOMAR, 1983; CHARLIER & MEYER, 1998). Somente na Ilha de Santa Catarina (SIMÓ &

HORN FILHO, 2004) identificaram 18 episódios de ressacas no período de 1991 a 2001,

que acarretaram em grandes prejuízos econômicos para a população local.

De acordo com Anders & Byrnes (1991), o mapeamento da linha de costa e o

acompanhamento de suas mudanças fornecem subsídios para a determinação de áreas de

risco de erosão nas zonas costeira e geram informações de grande valor para o manejo

destas áreas, como por exemplo, informações para a implantação de obras de mitigação

dos processos erosivos.

O uso do Sistema de Informações Geográficas (SIG) para o mapeamento da linha de

costa vem apresentando grandes evoluções, devido ao rápido avanço tecnológico e a

popularização das suas técnicas (LEATHERMANN, 2003). Esta melhora é comprovada pelo

desenvolvimento de muitos trabalhos que demonstram a utilização do SIG para resolver

diversas questões, tais como, tratamento de dados, métodos de análise e predição da

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2

posição da linha de costa (MAZZER & DILLEMBURG. 2009; ANDERS & BYRNES 1991;

OLIVEIRA et al. 2009).

Neste contexto o presente trabalho busca abordar a variação e estabilidade da linha de

costa da Praia da Armação, litoral sul da Ilha de Santa Catarina e desta forma contribuir

para um melhor conhecimento dos processos ali presentes e fornecer informações que

possam vir a colaborar com os planos de gerenciamento costeiro.

O presente trabalho contribuirá no desenvolvimento de um Atlas morfodinâmico e de

variação da linha de costa ao longo do litoral de Santa Catarina, que vem sendo

desenvolvido pelo Grupo de Oceanografia Geológica de Ambientes Costeiros e Oceânicos

da UNIVALI.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar a variação e estabilidade da linha de costa da praia da Armação, Florianópolis -

SC.

2.2 Objetivos Específicos

- Analisar a variação da linha de costa referente aos últimos 72 anos (1938-2010).

- Projetar linhas de costa futuras para 10, 20, 50 e 100 anos.

- Testar a estabilidade da forma em planta da praia da Armação, Florianópolis – SC,

através do Mepbay.

3. ÁREA DE ESTUDO

A Praia da Armação está localizada no município de Florianópolis - SC, entre as

coordenadas geográficas 27°45’02’’S/48°30’03’’W e 27°43’24”S/48°30’15”W, na parte sul da

Ilha de Florianópolis (Figura 1). Delimita-se ao norte pelo promontório rochoso do Morro das

Pedras e na porção sul pelo tômbolo formado entre a praia e a Ilha das Campanhas, e pelo

Rio Quinca Antônio (sangradouro da Lagoa do Peri) denotando uma enseada em espiral

(MAZZER et al. 2008). Abrange uma área de 3.500 metros, orientada no sentido N-S, e

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apresentando estágio refletivo ao norte passando a intermediário na porção central, e a

dissipativo ao sul (ABREU de CASTILHOS,1995).

Figura 1: Localização da área de estudo, em destaque a Praia da Armação, litoral sul da ilha de Santa Catarina.

3.1 Problemas de erosão na praia

Moradores da Praia da Armação relatam que sofrem com problemas de erosão costeira

há mais de dez anos, porém, estes eram de forma lenta e progressiva. Mas durante os

meses de abril e maio de 2010 (Figura 2) a praia sofreu um fenômeno de intensa, rápida e

progressiva erosão, o que causou danos na área urbana e colocou em risco a segurança de

seus moradores (NICOLAU & THIESEN, 2011).

Em junho de 2010 a Prefeitura de Florianópolis por intermédio da empresa SOTEPA

construiu na praia uma barreira artificial, para evitar a destruição de mais residências e

garantir a segurança na comunidade local.

Esta barreira construída por meio de um dique de enrocamento longitudinal se estende

ao longo da área mais crítica da praia (1.600 metros) chegando a atingir em alguns pontos 5

metros de altura.

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Figura 2: Problemas de erosão na Praia da Armação. (Fonte: Defesa Civil municipal, 2010)

3.2 Caracterização da Área de Estudo

O regime de ondas na área de estudo é caracterizado em cinco sistemas. Isto foi

identificado por Araujo et al. (2003) a partir de análise estatística obtidos por um ondógrafo

fundeado em águas profundas ao longo da Ilha de Santa Catarina. Dois deles estão

associados à passagem de sistemas frontais, que formam vagas (seas) com período de 4-5

s de nordeste na fase pré-frontal, evoluindo para vagas bem desenvolvidas de sul com

períodos de 5-7,5 s na fase pós-frontal. Outro sistema é caracterizado por vagas bem

desenvolvidas de leste (8s) que são formadas pelo anticiclone semi-permanente do Atlântico

Sul. Os marulhos (swells) geralmente provêm de sudeste e também são formados pela

passagem de sistemas frontais, mas são gerados a grandes distâncias da costa, com

períodos de 11 a 14s. Durante o outono e o inverno ocorrem as maiores ondulações, no

verão há um balanço entre as mesmas e na primavera prevalecem as vagas de leste Araujo

et al. (2003).

A variação de marés na Ilha de Santa Catarina está classificada em regime de

micromaré, com amplitude máxima de 1,2 metros, condições de sizígia e regime semidiurno

(DAVIES, 1964). De acordo com Trucollo (1998) as maiores variações do nível do mar na

região ocorrem devido às marés meteorológicas, pois podem provocar uma elevação de no

máximo 1 metro acima da maré astronômica e ocorrer na frequência de 10 dias.

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 Morfodinâmica

A morfodinâmica é definida como o ajuste mútuo da topografia e da dinâmica dos

fluidos (ondas, marés e correntes) envolvidos no transporte sedimentar (WRIGHT e THOM

1977 apud: CARTER & WOODROFFE, 1994). Sendo um ciclo contínuo entre a topografia e

a dinâmica dos fluidos pelo transporte de sedimento. Este transporte é um intermediário que

une o sistema e ajusta a topografia e a dinâmica dos fluidos, por sua vez resulta no

transporte concluindo um esquema de retroalimentação (Figura 3).

Figura 3: Componentes primários envolvidos na morfodinâmica costeira. ∆t representa o tempo decorrido no processo de evolução costeira (CARTER E WOODROFFE, 1994).

Segundo Hoefel (1998) o conhecimento do comportamento morfodinâmico para uma

praia especifica permite o acompanhamento espaço–temporal de ciclos de

erosão/deposição e definição de patamares esperados de variação morfológica.

Klein (2004) assume que praias de enseada podem ter diferentes características

morfodinâmicas em diferentes pontos, devido a variação no grau de exposição às ondas ao

longo de toda a praia.

De acordo Short (1999) a porção mais protegida da praia (curva), que está sujeita a

menores ondas, propende a ser mais refletiva, enquanto que a região mais distante do

promontório tende a ser mais retilínea e dissipativa. Por outro lado Klein & Menezes (2001)

sustentam que para as duas regiões, o tipo de praia irá depender do tamanho do grão de

sedimento disponível. Eles ressaltam ainda que o estado morfodinâmico das praias

dependente do contexto geológico e dos fatores hidrodinâmicos da área.

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4.2 Linha de Costa

Dolan et al.(1980) apud Boak & Turner 2005, definem que a linha de costa coincide

com a interface física da costa emersa/imersa. Entretanto Suguio (1992) define a linha de

costa como o limite entre o continente e o mar, onde não há efetiva ação marinha no

alcance máximo das ondas.

De acordo com Camfield & Morang (1996) a linha de costa é um elemento

geomorfológico que apresenta alta dinâmica espacial decorrente de respostas aos

processos costeiros de diferentes magnitudes e frequências. Suas mudanças de posição

são de natureza complexa, envolvendo diversos processos ligados a elevação do nível do

mar em curto e longo prazo, balanço de sedimentos, movimentos tectônicos entre outros.

Boak & Turner (2005) relatam que a linha de costa está continuamente sofrendo

alterações ao longo do tempo, pelo transporte transversal e longitudinal de sedimentos

principalmente pela dinâmica natural do nível do mar, devido à ação das ondas, maré e

tempestades, portanto a linha de costa pode ser considerada como uma linha móvel e a sua

posição pode variar em todas as escalas.

A definição da posição da linha de costa, em função da sua continua variação espaço -

temporal, tornou-se um desafio para os pesquisadores, nesse sentido convencionou-se o

uso de indicadores para determinar a variação da linha de costa, pois estes reduziram esta

dificuldade (ARAUJO et. al. 2009).

Segundo Boak & Turner (2005) um indicador é uma feição usada como aproximação

para a linha de costa “verdadeira”, devendo ser facilmente visualizado em campo, em

fotografias aéreas e em qualquer praia.

Diversos indicadores já foram sugeridos, tais como, topo ou base da falésia, escarpas,

linha de vegeta o, linha de dei a ou de detritos, linha d água instantânea, interface areia

seca/areia molhada. A interface areia seca/areia molhada caracteriza-se por uma notória

mudança de tonalidade na areia da praia e geralmente é o mais utilizado por apresentar

uma melhor visualização tanto em fotografias aéreas quanto em campo (MORTON &

SPEED, 1998; PAJAK & LEATHERMAN, 2002).

4.2.1 Sensoriamento Remoto (fotografias aéreas e imagens de satélite)

De acordo com Anders & Byrnes (1991), as avaliações da variação da linha de costa

através do uso de fotografias aéreas apresentam grandes vantagens, como, um dos

métodos mais acessíveis, econômicos e por não necessitar de uma extensa atividade em

campo. Araujo et al. (2009) relatam que para identificação da linha de costa através de

fotografias aéreas, várias feições podem ser utilizadas, como por exemplo, linha de água

mais elevada (preamar), linha de duna e linha de vegetação. Klein et al. (2006) afirmam que

fotografias aéreas também permitem analisar diversas características das praias como, a

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extensão das zonas de surfe e de espraiamento, presença de bancos, correntes de retorno

e cúspides praiais.

Após os objetivos da fotointerpretação serem escolhidos a acurácia dos resultados

dependerá da habilidade do intérprete em identificar os elementos de forma correta

(BARRET & CURTIS, 1992).

Moore (2000) salienta a necessidade da retificação da ortofotografias através do

georreferenciamento, devido à: (1) distorção radial em função da lente da câmera, (2)

distorção por relevo, (3) distorções devido à inclinação da aeronave e (4) variação na escala

da imagem por mudanças na altitude do vôo.

Na década de 1960 o termo sensoriamento remoto foi conceituado como, uma

ferramenta de obtenção e medição de um objeto sem tocá-lo, a partir desta época ele

tornou-se essencial nas ciências que estudam o meio ambiente (FISCHER 1975, apud

CURRAN, 1986).

Nas últimas décadas devido ao avanço tecnológico, foram desenvolvidos pacotes de

softwares que facilitaram a extração dos dados referentes à posição da linha de costa como

por exemplo, o “Digital Shoreline Analysis System” ou “DSAS” que permite calcular as taxas

de variação da linha de costa, a partir de uma serie de dados (THIELER et al. 2005).

4.2.2 Detecção da linha de costa

Para a detecção da linha de costa primeiramente necessita-se escolher o indicador da

mesma, que servirá como uma melhor aproximação da linha de costa verdadeira e então

detectar este indicador na fonte de dados (e.g. fotografias aéreas e mapas). A escolha e a

detecção do indicador da linha de costa são possíveis fontes de erros na estimativa da linha

de costa, e devem ser levados em consideração (STOCKDON et al. 2002).

4.2.3 Quantificação da evolução e a previsão de futuras linhas de costa

Ferreira et al. (2006) em um estudo sobre a variação da linha de costa, realizado em

Algarve, Portugal, enquadraram a taxa da variação da linha de costa em três situações

possíveis: (1) erosão (o valor da variação média da linha de costa é negativo, considera-se

então que a mesma está enfrentando um processo de retração), (2) estabilidade dinâmica (o

valor da variação média da linha de costa for próximo de zero ou zero, a linha de costa não

migra) e (3) progradação (o valor da variação média da linha de costa é positivo, assume-se

então que a costa está sob um processo de progradação em direção ao mar). O mesmo foi

adotado nesse estudo.

Para projeção de futuras linhas de costa Ferreira et al. (2006), usaram um período de

50 anos, pois se trata de uma aproximação de longo-período (décadas) e é adequada para

definição de processos de gestão costeira. O método utilizado envolve quatro

procedimentos principais: (1) a quantificação da evolução da orla costeira e da previsão de

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futuras linhas de costa, (2) ajuste da aceleração do nível do mar, (3) avaliação dos impactos

por tempestades e (4) representação dos cenários de linha de costa.

O presente trabalho utilizou um período de 10, 20, 50 e 100 anos e a análise foi feita a

partir dos valores de End Point Rate (EPR) encontrados para o período de 1938 a 2010,

método detalhado na metodologia.

4.3 Estabilidade da Forma em Planta

A forma em planta que as praias sedimentares adotam, seja natural ou artificial, é o

produto da interação dos agentes dinâmicos que atuam sobre a praia e as próprias

características físicas da costa. Entre os agentes que atuam sobre a costa, as ondas são as

que fornecem mais energia ao sistema (em uma escala de dias a anos), devido a isso as

ondas são o principal agente na determinação da forma em planta de uma praia (JIMÉNES

et al. 1995). Outros agentes que influenciam nesta forma são os tipos de sedimento

existente e a geometria tanto lateral quanto transversal da praia (MEDINA et al. 2001).

Uma praia de enseada é considerada estável quando seu perfil praial e a sua forma em

planta se encontram em equilíbrio (BRUUN 1953, apud HSU et al., 2008). Os mesmos

autores descreveram que uma linha de costa que mantém sua forma geométrica se

encontra em estado de equilíbrio.

Em razão da grande importância da estabilidade da linha de costa, diversos modelos

foram criados para tentar ajustar a forma em planta de praias de enseadas através de

diversas equações, as três principais são: (1) a equação da espiral logarítmica (KRUMBEIN,

1944; YASSO, 1965), (2) a equação da tangente hiperbólica (MORENO & KRAUS, 1999;

MARTINO et al. 2003) e a (3) equação parabólica (HSU e EVANS, 1989; HSU et al. 2000,

2008) .

De acordo com Klein et al. (2003), o modelo parabólico é mais robusto que os demais,

por não representar apenas uma solução matemática que define a forma da enseada a

partir de dados geométricos, mas leva em consideração parâmetros relacionado com a

direção da onda de maior energia (obliquidade).

A equação parabólica (equação 1) desenvolvida por Hsu & Evans (1989) é uma

equação polinomial de segunda ordem, com coordenadas polares, que foi desenvolvido

para se adequar á forma de 27 protótipos e modelos de enseadas que acredita-se estarem

em equilíbrio estático.

Eq. 1

Os parâmetros principais são; o comprimento da linha de controle supracitada R0 e o

ângulo entre a direção de onda e a linha de controle, ângulo β como representado na Figura

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4, os valores de R0 e β podem ser obtidos através de mapas, fotografias aéreas e dados de

ondas. A direção de onda é assumida como sendo a tangente à porção retilínea da costa.

Cada comprimento RN forma um ângulo θN com a crista da onda que difrata na ponta do

promontório. As 3 constantes C0, C1 e C2 geradas pela análise da regressão variam em

função do ângulo β, e são definidas através de testes e experimentos tabelados. Os

parâmetros da equa o s o apresentados na forma de razões (e.g. RN/R0, β/θN) para que

a aplicação do modelo possa ser realizada independente da escala.

Figura 4: Desenho esquemático das variáveis da equação parabólica (modificado de HSU e EVANS, 1989, apud SILVEIRA et al.,2010).

A partir da definição dos 3 pontos de controle, (1) ponto de difração (P) (é definido como

último ponto onde a ondulação incidente sofre difração antes de chegar à praia), (2) ponto

de encerramento da influência do promontório na praia (E) (é definido como sendo o início

da porção retilínea da costa), (3) direção de onda (R) (é definida como a tangente a esse

ponto), o modelo gera a forma em planta estável da praia, definida pela ação da direção de

onda indicada, em condições de balanço sedimentar nulo (HSU & EVANS, 1989).

Hsu et al. (2008) definiram que as praias podem ser classificadas quanto à estabilidade

da forma em planta, em quatro estados, são eles:

Equilíbrio estático, é o estado no qual as ondas quebram simultaneamente ao longo de

toda enseada, não ocorrendo deriva litorânea e nem processos de erosão e acresção de

longo período.

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Equilíbrio dinâmico, é o estado no qual as ondas quebram obliquamente, fazendo surgir

correntes longitudinais que transportam o sedimento. Enquanto que a fonte de sedimento

estiver mantida a forma em planta da praia não coincide com a calculada.

Instável, é o estado no qual o aporte de sedimento é reduzido e a linha de costa

regredirá para a linha de costa calculada, podendo causar destruições e prejuízos em locais

onde existiam construções muito próximas a linha de costa.

Remodelamento natural, são aquelas praias que apresentam estruturas induzidas pelo

homem, visando à estabilidade da linha de costa.

Hsu et al. (2000) sugerem para locais que vem sofrendo problemas de erosão a

construção de estruturas que coloquem a praia na forma de equilíbrio estático, pois é a

forma mais estável sobre a ação das ondas.

Ao analisar a aplicação do modelo parabólico Vargas et al. (2002) perceberam que

apesar de ser simples, é trabalhosa e demorada, porém a mesma poderia ser feitas com o

auxilio do processamento computacional. A partir disso os autores desenvolveram o

software MEPBAY®, cuja sua finalidade é facilitar e tornar mais precisa a aplicação do

modelo parabólico na análise da estabilidade da forma em planta das praias de enseada

(Figura 5).

Figura 5: Interface do software MEPBAY® (VARGAS et al., 2002), indicando os pontos de controle.

Aplicação para a praia da Armação – Florianópolis - SC.

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5. METODOLOGIA

A metodologia do presente projeto foi realizada de acordo com a Figura 6.

Figura 6: Fluxograma da metodologia utilizada na análise da evolução e estabilidade da linha de costa. (EQM = erro quadrático médio, IPUF = Instituto do Planejamento Urbano de Florianópolis – SC).

5.1 Aquisição e Digitalização das Imagens

Para desenvolver os objetivos deste trabalho, as fotografias aéreas referente aos anos

de 1938, 1957, 1977, 1994, 1998 e 2002 foram obtidas no Instituto do Planejamento Urbano

de Florianópolis – SC (IPUF). A imagem de 2007 foi adquirida do satélite Quickbird online

pelo software GoogleEarth®, enquanto que para o ano de 2010 foi utilizado à imagem

QuickBird disponível como mapa base do Sistema de Informações Geográficas ArcGIS® 10

(DIGITALGLOBE CORPORATE, Google Earth).

Com o intuito de realizar a padronização das fotografias aéreas e imagens de satélite

Araujo et. al (2009) sugerem manter uma representatividade do pixel (RP) de 1 metro, ou

seja, cada pixel das fotografias e imagens representam aproximadamente 1 metro no

terreno.

Isso se deu pela multiplicação da escala da imagem pelo valor em metros de uma

polegada (2.54x10-2) e o seu resultado foi dividido pela resolução que a imagem foi

digitalizada (equação 2).

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Eq. 2

Na Tabela 1, consta o ano de referência de cada imagem digital, as respectivas escalas e altitudes, a resolução de cada imagem digital, a representação do pixel no terreno e a fonte.

Tabela 1: Características das fotografias aéreas e imagens.

Ano Escala/Altitude (m) Resolução Representação do

pixel no terreno (m) Fonte

1938 1/30.000 300 dpi 2,54 Ipuf

1957 1/25.000 300 dpi 2,12 Ipuf

1977 1/25.000 300 dpi 2,12 Ipuf

1994 1/25.000 300 dpi 2,12 Ipuf

1998 1/15.000 300 dpi 1,27 Ipuf

2002 1/15.000 300 dpi 1,27 Ipuf

2007 3.670 4800x4121

pixel

GoogleEarth®

2010 1/1.250

QuickBird disponível como mapa base do

ArcGIS® 10

5.1.1 Georreferenciamento e Construção dos Mosaicos

Após a digitalização as imagens foram georreferenciadas utilizando a imagem QuickBird

disponível como mapa base do Sistema de Informações Geográficas ArcGIS® 10. Onde as

mesmas auxiliaram a fixação dos pontos de controles (PCs), necessários ao processo de

correção.

Para cada imagem foi utilizado no mínimo 20 PCs (Figura 7), distribuídos ao longo de

toda área de estudo, com maior ocorrência próxima a linha de costa. Como referência para

esses PCs foram utilizados, na sua maioria, casas e cruzamentos de ruas.

Após executou-se a retificação de cada imagem e para a visualização total da área de

estudo e confeccionar as linhas de costa para os anos de 1957, 1977 e 1998 foi necessário

a construção dos mosaicos.

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Figura 7: Exemplo do georreferenciamento, Praia da Armação, 1977. Em destaque na figura o EQM referente à imagem e os pontos de controle.

5.1.2 Erros inerentes ao processo fotogramétrico

Com a realização do georreferenciamento é gerado um erro quadrático médio (EQM),

que corresponde à média geométrica dos erros para todos os PCs. Para o desenvolvimento

deste projeto, foi definido o erro quadrático médio limite (EQMlimite) de acordo com os

padrões da Federal Geographic Data Committee (1998). Esse padrão tende a medir

imprecisões decorrentes do processo fotogramétrico e nos mostra uma relação linear entre

a escala da imagem e o EQMlimite, através da equação3.

Eq. 3

Após os EQM serem gerados, estes foram multiplicados por uma constante no valor de

1,7308, com o objetivo de adquirir um EQM95% (equação 4), que corresponde a um nível de

confiança de 95% em relação à verdadeira posição dos pontos no mapa base. Com isso

podemos garantir que qualquer ponto terá um erro menor ou igual ao EQM95%, onde o

mesmo não deve ser maior que o EQMlimite.

Eq. 4

Para os mosaicos de cada ano o erro adotado foi sempre o erro referente à imagem

com maior EQM95%. Os erros encontrados para cada ano e suas confiabilidades estão

demonstrados na Tabela 2.

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Tabela 2: Erros calculados para cada imagem. Em negrito, os erros dos mosaicos que foram considerados nas análises.

Ano Base utilizada EQM

encontrado (m)

Erro com nível de confiança de 95% (EQM

*1, 7308) (m)

1938 Mapa base do ArcGIS® 10 1,49 2,58

1957 Mapa base do ArcGIS® 10 1,53 2,65

1957 Mapa base do ArcGIS® 10 1,59 2,75

1977 Mapa base do ArcGIS® 10 1,26 2,18

1977 Mapa base do ArcGIS® 10 1,42 2,45

1994 Mapa base do ArcGIS® 10 0,77 1,34

1998 Mapa base do ArcGIS® 10 0,85 1,47

1998 Mapa base do ArcGIS® 10 0,91 1,58

2002 Mapa base do ArcGIS® 10 0,88 1,52

2007 Mapa base do ArcGIS® 10 0,54 0,94

2010 Mapa base do ArcGIS® 10 0,00 0,00

5.1.3 Extração da linha de costa

O indicador ideal para a extração da linha de costa é aquele que apresenta melhor

visualização em campo, em fotografias e imagens aéreas, devendo estar presente em todas

as séries temporais já que o presente trabalho utiliza comparação em escala temporal

(BOAK & TURNER, 2005).

Levando em consideração esses fatores, a extração desta foi efetuada através do

indicador mais evidente e de melhor visualização nas imagens, a interface Vegetação/Praia.

5.1.4 Cálculo da evolução (DSAS)

Através da ferramenta computacional DSAS, proposta por Thieler et al. (2008) e

desenvolvida para uso no sistema de informação geográfica ArcGIS®, foi calculado a taxa

de variação da linha de costa.

Esta ferramenta consiste em gerar transectos ortogonais a linha de costa, com

espaçamento pré-definido entre si. Por meio desses transectos, as variações são calculadas

comparando a distância das linhas de cada ano, com a posição de uma linha base e as

dividindo pelo tempo decorrido entre as duas datas. Obtendo-se como resultado a taxa

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anual de migração em metros. Este método de calcular a taxa de variação linear entre duas

linhas de costa é denominado EPR (End Point Rate).

Os 3.500 m de extensão do arco praial da Enseada da Praia da Armação foram

divididos em 20 perfis transversais (transectos), com espaçamento entre si de 150 m,

distribuídos no sentido norte – sul.

Para melhor visualização e análise da área de estudo esta foi divida em 3 setores

(Figura 8), setor norte corresponde dos transectos 1 ao 8, setor centro dos transectos 9 ao

14 e para o setor sul dos transectos 15 ao 20.

Figura 8: Setores da área de estudo com um total de 20 transectos perpendiculares à costa,

dispostos de Norte para Sul.

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Os cálculos das evoluções das linhas de costa foram analisados em ordem cronológica,

começando pelas linhas de costa de 1938 a 1957, 1957 a 1977, 1977 a 1994, 1994 a 1998,

1998 a 2002, 2002 a 2007, 2007 a 2010 e 1938 a 2010.

Para garantir a confiabilidade dos dados foram somados os EQM95% para cada ano.

Sendo assim, entre os anos de 1938 a 1957, somaram-se os valores dos EQM95% referentes

a cada ano e, portanto, não foram consideradas variações totais menores ou iguais a 5,33

m, pois esse é o erro que pertence a essa comparação e assim consecutivamente às outras

datas (Tabela 3).

Tabela 3: EQM95% utilizado quando comparados os anos.

Anos Comparados EQM95%(m)

1938-1957 5,33

1957-1977 5,21

1977-1994 3,79

1994-1988 2,92

1998-2002 3,10

2002-2007 2,46

2007-2010 0,94

1938-2010 5,33

5.1.5 Análise da evolução da linha de costa

Após o cálculo da evolução da linha de costa foram criados gráficos para auxiliar na

visualização da evolução e variação da mesma. Os parâmetros assumidos para está análise

foram os de progradação, estabilidade dinâmica e retração da linha de costa. Onde valores

positivos indicam progradação da linha de costa, valores próximos de zero ou zero

significam que a linha de costa esta em estabilidade dinâmica e valores negativos indicam

retração da linha de costa.

5.2 Análises da projeção de futuras linhas de costa

Esta análise foi feita a partir dos valores de EPR encontrados para o período de 1938 a

2010, valores estes, calculados com o auxílio da ferramenta computacional DSAS. Estes

valores foram multiplicados por 10, 20, 50 e 100 anos.

Para garantir a confiabilidade dos valores das futuras taxas de variação da linha de

costa foram somados os valores dos EQM95% referentes aos anos de 1938 a 2010 e o

resultado dividido pela quantidade de anos decorridos. Sendo utilizados apenas os valores

de EPR maiores que os encontrado no EQM95%.

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5.3 Análise da estabilidade da forma em planta

A análise utilizou o software MEPBAY® 2.0, cuja sua finalidade é facilitar e tornar mais

precisa a aplicação do modelo parabólico na análise da estabilidade da forma em planta das

praias de enseada (VARGAS et al.,2002).

O software sugere os seguintes passos: (1) carregar as fotografias/imagens no formato

JPG ou BMP; (2) apontar a escala, tendo como referência a escala gráfica das

fotografias/imagens carregadas, para obter resultados em metros; (3) posicionar os pontos

de controle: ponto de difração, ponto de início da porção retilínea e a tangente a esse ponto;

(4) indicar qual a orientação relativa entre a costa e o promontório; (5) indicar qual o

incremento do ângulo θ entre dois raios consecutivos que se deseja verificar; (6) ajustar o

limite do incremento do ângulo θ para se assemelhar à forma de toda a baía; e (7) observar

a linha de costa gerada pelo software e compará-la com a praia. Para posteriormente

interpretar os resultados e determinar o estado de equilíbrio da mesma.

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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 Aquisição e digitalização das imagens

Devido às diferentes escalas nas quais as imagens foram obtidas, a padronização do

pixel variou entre 1 e 2,5 m (Tabela 4). Conforme sugerido por Araujo et. al. (2009) para

fotografias aéreas e imagens de satélite deve-se manter uma representação do pixell de 1

metro aproximadamente, ou seja, cada pixel das fotografias e imagens representando 1

metro no terreno.

Mas para isso acontecer uma solução seria realizar o cálculo da padronização antes de

digitalizar as imagens, pois assim a qualidade em dpi que a imagem seria digitalizada

poderia ser escolhida de acordo com a escala de cada foto, já que a escala das imagens

não permite alterações.

Tabela 4: Valores do pixel para cada imagem

Anos Escala/altitude do vôo

(m) Representatividade do pixel

(m)

1938 1/30.000 2,54

1957 1/25.000 2,12

1977 1/25.000 2,12

1994 1/25.000 2,12

1998 1/15.000 1,27

2002 1/15.000 1,27

2007 3.67 -

2010 1/1.25 -

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6.2 Evoluções da Linha de Costa

A Figura 9 apresenta os resultados da variação da linha de costa para o Setor Norte da

Praia da Armação entre os anos de 1938 a 2010.

Figura 9: Variação da linha de costa para o setor norte da Praia da Armação. Valores positivos indicam progradação da linha de costa ao passo que negativos indicam retração.

1938- 1957

Foi observado neste período que a linha de costa sofreu retração em todos os

transectos, sendo que a partir do transecto T4 essa retração foi menor.

1957- 1977

A linha de costa para este período na sua maioria ficou fora do intervalo de confiança

(5,206 m). Quando comparada com os anos de 1938 a 1957, a linha de costa apresentou

comportamento inverso. Para este período a linha de costa apresentou apenas valores

positivos, indicando progradação, esta progradação foi marcada por uma queda na porção

inicial do setor seguida de uma estabilidade e ao se aproximar do setor centro ocorreu um

acréscimo nos valores,tendendo a progradação.

1977–1994, 1994-1998, 1998-2002, 2002-2007 e 2007-2010

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Para estes anos obedecendo à margem de erro referente ao intervalo de cada análise,

a variação da linha de costa tendeu a um padrão de estabilidade. As variações máximas e

mínimas ficaram entre +10 e -10m.

1938 – 2010

No geral, para o período de 72 anos a linha de costa no setor norte, do transecto T1 ao

T4 diminuiu o processo de retração, no transecto T5 esta retração aumentou quando

comparada com o restante do setor. Ao longo dos 72 anos a variação média foi de

aproximadamente -13,5 m (Figura10).

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Figura 10: Transectos referentes ao setor norte, gerados a partir do DSAS para a análise da linha de costa da Praia da Armação. Como exemplo: imagem QuickBird disponível como mapa base do ArcGIS

® 10.

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A Figura 11 apresenta os resultados da variação da linha de costa para o Setor Centro da

Praia da Armação entre os anos de 1938 a 2010.

Figura 11: Variação da linha de costa para o setor centro da Praia da Armação. Valores positivos indicam progradação da linha de costa ao passo que negativos indicam retração.

1938-1957

Foi possível observar para este intervalo que a variação da linha de costa em sua

maioria assumiu valores negativos indicando retração, mas a partir do transecto T13 ocorreu

progradação da linha de costa.

1957 – 1977

Neste período levando em consideração à margem de erro de 5,2 m, a linha de costa

sofreu programação crescente no sentido T9 para T14, o único ponto no qual essa

progradação teve uma queda foi o transecto T13.

1977 – 1994

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Ao contrario do período anterior este intervalo apresentou retração da linha de costa em

todas as porções, decrescendo do transecto T9 ao T14 e tendo variação máxima de

aproximadamente -22 m.

1994 - 1998

Para este período os seis transectos analisados (T9 ao T14), ficaram dentro da margem

do erro de confiabilidade, não havendo variações consideráveis.

1998 – 2002

Neste intervalo observou que apenas o transecto T9 ficou fora da margem de erro de

3,099 m encontrada para este período, onde nesta porção do setor ocorreu progradação.

2002 - 2007

Foi observado neste intervalo que a linha de costa sofreu retração ao longo de todo o

setor, desconsiderando os transectos T10 e T14 que estão dentro da margem de erro, é

notório o aumento desta retração quando comparada entre os transectos T9 ao T13.

2007 – 2010

Este período foi marcado pela diminuição da progradação da linha de costa referente ao

transecto T9, chegando a atingir valores negativos no transecto T10 o que indica retração da

linha de costa nesta porção. A partir disso ocorreu progradação crescente do T11 ao T14.

1938 - 2010

Para todo o período analisado, assim como o setor norte o setor centro apresentou

retração ao longo de todos os transectos, esta retração foi decrescente no sentido T10 ao

T14, no qual apresentou variações máximas de aproximadamente -25 m (Figura12).

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Figura 12: Transectos referentes ao setor centro, gerados a partir do DSAS para a análise da linha de costa da Praia da Armação. Como exemplo: imagem QuickBird disponível como mapa base do ArcGIS® 10.

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A Figura 13 apresenta os resultados da variação da linha de costa para o Setor Sul da Praia

da Armação entre os anos de 1938 a 2010.

Figura 13: Variação da linha de costa para o setor sul da Praia da Armação. Valores positivos indicam progradação da linha de costa ao passo que negativos indicam retração.

1938 – 1957

Para este período foi observado tanto progradação quanto retração da linha de costa.

Notou-se acréscimo na progradação quando comparado o transecto T16 ao T15, mas ao

comparar o transecto T16 ao T18 percebeu-se retração da linha de costa, esta retração que

tende a diminuir ate começar a atingir valores positivos novamente.

1957 – 1977

Neste período assumiu-se que a linha de costa no geral apresentou valores positivos

indicando progradação da mesma. Na porção T19 essa progradação tendeu a diminuir ate

atingir valores negativos, ocorrendo retração de até -7,3 m no transecto T20.

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1977-1994

Para este período, constatou-se que todos os transectos estiveram acima da margem

de erro de 3,789 m. A praia apresentou dois picos bem marcados, T17 e T20 que se

destacam dos outros transectos por apresentarem as menores retrações para o período

analisado.

1994-1998

Devido à grande maioria dos transectos terem ficado dentro da margem de erro apenas

os transectos T18 e T20 foram analisados. Ocorrendo diminuição da retração ate atingir o

limite zero e começarem a assumir valores positivos, indicando progradação.

1998-2002

Verificou-se neste período que ocorreu progadação da linha de costa, do início da

porção sul até o transecto T17 a variação aumentou, a partir disso a variação da linha de

costa quando comparada em ordem crescente dos transectos, diminuiu significativamente

até assumir valores negativos, ocorrendo retração da linha de costa de aproximadamente

5,5m na porção T20.

2002 – 2007

Obedecendo ao intervalo de confiança referente para este período, dos seis transectos

analisados apenas três ficaram superiores, T16, T17 e T19, onde a retração da linha de

costa aumentou do transecto T16 para o T17 e na porção T19 apresentou valores positivos.

2007 – 2010

Para este intervalo a linha de costa sofreu progradação ao longo de todo setor, esta

progradação aumentou na porção T16 ao T17 e tendeu a estabilizar nos transectos T19 e

T20.

1938 - 2010

Diferente dos outros dois setores ao analisar o maior intervalo de anos o setor sul foi o

único que ao longo de toda área estudada apresentou progradação da linha de costa, a

variação média para este período foi de aproximadamente 8 m. E o setor foi marcado por

dois picos de queda desta progradação T18 e T20 (Figura 14).

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Figura 14: Transectos referentes ao setor sul, gerados a partir do DSAS para a análise da linha de costa da Praia da Armação. Como exemplo: imagem QuickBird disponível como mapa base do ArcGIS® 10.

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A praia da Armação consiste numa praia exposta às ondulações dos quadrantes

leste e sul, e apresenta um grau de ocupação crescente de norte para sul (MAZZER &

DILLENBURG, 2009). No setor norte da área de estudo a praia apresenta perfil reflectivo e

em sua maioria ocorreram variações negativas da linha de costa, indicando retração da

mesma. Essa retração tendeu a diminuir quando comparada ao longo dos transectos, T1

para T8. Para o setor centro, onde a praia apresenta estágio intermediário, não foi

observado um padrão de variação. Verificou-se intervalos de anos apenas com valores

negativos, alguns intervalos só com valores positivos e outros intercalando entre negativo e

positivo. Já o setor sul, onde a praia é dissipativa, foi o que apresentou as maiores

variações. No geral o seotr sul teve variações positivas indicando progradação da linha de

costa, esta progradação diminuiu quando comparada ao longo dos transectos T15 ao T20.

(Figura15). Esta diminuição nos valores de progradação pode estar indicando uma

tendência erosiva neste setor.

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Figura 15: Figura ilustrativa da Praia da Armação. A esquerda uma imagem de 2010 com os transectos gerados a partir do DSAS e a direita um gráfico representando a variação da linha de costa referente a cada ano analisado.

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O processo erosivo que está ocorrendo na praia da Armação, segundo Bird (1985) apud

Mazzer, (2007) está ocorrendo em 70% das linhas de costa de praias arenosas em todo o

mundo.

Bruun (1972) relata que as causas da erosão costeira não resultam apenas de fatores

antrópicos, mas também de alterações no nível médio do mar, influências de rios, ação de

ondas e de correntes litorâneas

As possíveis causas da variação da linha de costa podem estar relacionadas à

alteração no padrão de circulação hidrológica e sedimentar que ocorre na praia,

provavelmente devido às construções irregulares e as obras de contenção a erosão.

Ressaltando que na porção sul da Praia da Armação foi construído um molhe, impedindo o

aporte sedimentar do Rio Quinca Antônio para a mesma, acarretando na diminuição do

aporte sedimentar.

A Defesa Civil municipal de Florianópolis, concluiu em julho de 2010 que os molhes da

Armação e da Barra da Lagoa são os responsáveis pelos efeitos devastadores das ressacas

que ocorreram nos últimos tempos. A Defesa Civil falou ainda que os molhes alteram a

deriva litorânea e provocam efeito dominó nas praias próximas as que têm os molhes

(clicrbs, 2010; floripamanha.org, 2010)

Não sabe-se ao certo a data da construção do molhe da Armação, pois ele foi

construído antes da legislação ambiental do Estado, que foi instituída em 1981, devido a

isso o molhe não passou por licenciamento dos órgãos competentes (FATMA E FLORAM).

O presidente da Associação dos Pescadores, Fernando Sabeno, relata que o molhe da

Armação foi construído em 1972, pela Companhia Baleeira da Armação, não sabendo bem

ao certo qual a sua verdadeira função. Acredita-se que foi feito para auxiliar os moradores

que viviam da caça da baleia. Por outro lado, pescadores descrevem que possuem fotos da

infância, década de 1950, e que o molhe já existia.

Os processos naturais da dinâmica praial, como correntes, ondas e ventos, alteram a

morfologia praial resultando na variação da linha de costa, o que pode ser considerado outra

hipótese dos processos ocorrentes na Praia da Armação. Simó & Horn Filho (2004) a partir

de bibliografias levantadas e saídas de campo verificaram estes processos para a mesma

praia.

Praia da Armação pode estar sofrendo com eventos de alta pluviosidade na região, que

causam a elevação nível do lençol freático e a diminuição da permeabilidade do sedimento,

aumentando a velocidade do espraiamento das ondas sobre a face praial, podendo causar

maiores variações da linha de costa e salientar os processos erosivos.

As maiores variações da linha de costa encontradas na análise podem estar associadas

à variação do estágio morfodinâmico. Como já citado anteriormente a praia apresenta

estágio reflectivo no setor norte, intermediário no setor centro passando a dissipativo no

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setor sul (ABREU de CASTILHOS, 1995). De acordo com Short (1999) o estágio

intermediário apresenta maior mobilidade, o que pode explicar a ocorrência das maiores

variações encontradas no setor centro passando para o setor sul. O setor centro é o setor

mais exposto as ondulações provenientes de leste e sul, a ação destas ondas aumenta a

declividade da face praial, favorecendo os processos erosivos (ABREU de CASTILHOS et

al., 2005).

De acordo com Oliveira (2009) a Praia da Armação é composta de areia grossa

moderadamente selecionada e declividade moderada a alta, o mesmo autor relata que em

eventos de grandes ressacas, praias expostas de areia fina apresentam menor declividade

enquanto que praias expostas de areia grossa podem exibir maior declividade.

Simó & Horn Filho (2004) relatam que os episódios de ressacadas na Ilha de Santa

Catarina vêm aumentando com o decorrer dos anos. Sugere-se que estes episódios quando

associados à ocupação irregular colaboram com as variações da linha de costa. Os autores

também assumem que a ocupação irregular de praias e balneários está diretamente

relacionada com os episódios de ressacas, pois estas ocupações não levam em

consideração ambientes como pós-praia e ou dunas frontais, impedindo a troca de

sedimento entre estes ambientes, intensificando os processos erosivos

Nos últimos anos a Praia da Armação vem sofrendo com os processos erosivos,

principalmente na porção sul do setor centro e em todo setor sul (RUDORFF & BONETTI,

2010). De modo geral, a análise para este setor apresentou uma diminuição na

progradação, tendendo à erosão.

Ao constatar o grau de ocupação crescente de norte para o sul, a construção do molhe,

o aumento das ressacas, as diferenças no estágio morfodinâmico dos setores, o relato dos

moradores sobre os problemas com erosão bem como as análises feitas, supõe-se que a

praia esteja buscando a estabilidade e que as variações da linha de costa são decorrentes

desta busca. Quanto ao problema erosivo, de maneira geral acredita-se que as construções

sobre a faixa de areia fixaram a linha de costa, não permitindo a mobilidade da mesma, por

exemplo, com a entrada de fortes ressacas a praia não tem mais condições de se recompor

naturalmente. A Defesa Civil propõe a recuperação da Praia da Armação a partir do desvio

do leito do Rio Quinca Antônio para voltar a correr no sentido da praia, desassorear o Rio

Quinca Antônio e fazer o engordamento da praia.

A metodologia aplicada não levou em consideração o grau de urbanização da praia,

devido a isso, segere-se analisar as variações da linha de costa geradas pelo programa

juntamente com o nível de ocupação da área.

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6.3 Projeção de Futuras Linhas de Costa

Na Tabela 5 encontram-se os dados de projeção de taxas de linhas de costa para os

próximos 10, 20, 50 e 100 anos.

As taxas de migração do setor norte e do setor centro, apresentaram comportamento

semelhante, os valores estimados de variação da linha costa para os próximos 10 anos

representaram riscos para algumas das estruturas até então presentes na região, visto que

os valores de retração encontrados para este período alcançaram uma migração de 4,3

metros para o setor norte e 3,5 metros para o setor centro. Enquanto para os próximos 20,

50 e 100 anos, se a linha de costa obedecer aos valores de retração apresentados na

análise os valores de retração poderão chegar a 43 metros no setor norte e 35 metros no

setor centro, comprometendo assim todas as estruturas ali presentes.

Enquanto que para o setor sul, encontrou-se apenas valores positivos indicando uma

progradação da linha de costa, não indicando perigo para as construções presentes no

setor.

Esta análise quando assume os piores cenários pode ser considerada como uma

ferramenta de grande importância e auxílio para o gerenciamento costeiro. Klein (2006)

afirma que o litoral centro-norte catarinense vem sofrendo diversos processos erosivos, e

que urgentemente necessita-se de métodos e soluções para a recuperação desses

ambientes.

Na medida em que as projeções futuras geram informações preocupantes e

aproximação com a realidade, devem-se realizar medidas cabíveis para evitar a destruição

de patrimônios públicos e privados.

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Quadro 1:Valores da projeção das futuras linhas de costa, em destaque os valores utilizados para análise dos dados (valores de EQM 95%).

Transectos EPR 10 anos

20 anos

50 anos 100 anos

Seto

r N

ort

e

1 -0,43 -4,3 -8,6 -21,5 -43

2 -0,26 -2,6 -5,2 -13 -26

3 -0,14 -1,4 -2,8 -7 -14

4 -0,03 -0,3 -0,6 -1,5 -3

5 -0,2 -2 -4 -10 -20

6 -0,11 -1,1 -2,2 -5,5 -11

7 -0,12 -1,2 -2,4 -6 -12

8 -0,2 -2 -4 -10 -20

Seto

r C

entr

o

9 -0,29 -2,9 -5,8 -14,5 -29

10 -0,35 -3,5 -7 -17,5 -35

11 -0,23 -2,3 -4,6 -11,5 -23

12 -0,2 -2 -4 -10 -20

13 -0,13 -1,3 -2,6 -6,5 -13

14 0,02 0,2 0,4 1 2

Seto

r S

ul

15 0,15 1,5 3 7,5 15

16 0,15 1,5 3 7,5 15

17 0,18 1,8 3,6 9 18

18 0,02 0,2 0,4 1 2

19 0,17 1,7 3,4 8,5 17

20 0,02 2 4 10 20

6.3 Estabilidades da Forma em Planta

Para obter o resultado da estabilidade da forma em planta da Praia da Armação, foi

utilizada a imagem georreferenciada do ano de 2007.

A análise foi realizada com o auxílio do software Mepbay (Vargas et al. 2002). A praia

da Armação apresenta excelente similaridade à forma em planta de uma enseada, onde se

percebe uma extremidade aproximadamente retilínea, uma porção intermediária com leve

curvatura e uma zona de sombra fortemente curvada. E com maior predominância a praia

apresenta as ondulações de leste.

Quando comparado a linha de costa existente com aquela prevista pelo modelo

Mepbay, percebemos que o setor centro da praia encontra-se em equilíbrio estático, ou seja,

o balanço sedimentar é aproximadamente nulo. O balanço sedimentar é um dos fatores para

determinar o estágio de equilíbrio de uma praia (KLEIN, 2004). A praia da Armação sofre

maior influência da Região Hidrográfica Litoral Centro (área de drenagem é de 5828 km2),

indicando baixa contribuição do aporte sedimentar fluvial.

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Enquanto que para o setor sul a linha de costa quando comparada com a obtida a partir

do modelo, indica que este setor encontra-se em equilíbrio dinâmico, ou seja, a linha de

costa nesse caso não coincide com a linha de costa em equilíbrio estático. Isso pode estar

ocorrendo devido à transferência de sedimento entre praias adjacentes. Por via eólica esta

transferência pode não estar ocorrendo, pois a alta urbanização neste setor pode estar

impedindo este aporte. Outro fator que pode ter influenciado na transferência de sedimento

para a praia foi a construção do molhe na porção sul, impedindo o aporte sedimentar do Rio

Quinca Antônio para o setor sul da praia. A dimensão e orientação dos promontórios

também são fatores de influência, pois dependendo do seu tamanho irá permitir ou não a

transferência de sedimento entre praias adjacentes (KLEIN, 2004).

Figura 16: Aplicação do modelo Mepbay para a Praia da Armação, utilizando uma imagem georreferenciada referente ao ano de 2007.

A partir da Figura 16 percebe-se que a linha de costa gerada pelo modelo abrange a

seção retilínea da praia e a zona de sombra, áreas que de acordo com (MAZZER, 2007) são

classificadas como zonas de vulnerabilidade à erosão.

Percebe-se que a praia busca se ajustar às variações de energia hidrodinâmica,

variando sua largura na área mais interna da parábola. Mas devido à urbanização presente

nesta área, em situações de alta energia hidrodinâmica esta busca pelo equilíbrio é

interrompida, aumentando os problemas de erosão nesta região.

O estado de equilíbrio da forma em planta da Praia da Armação definido neste trabalho

está de acordo com Nicolau & Thiesen (2011). Onde os autores em um estudo com o intuíto

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de elaborar uma proposta para a recuperação da Praia da Armação, utilizando o modelo

parabólico definiram a estabilidade da forma em planta em equilíbrio dinâmico. Por outro

lado Silveira et al. (2010) em uma análise da estabilidade da forma em planta das praias de

enseada do estado de Santa Catarina e do litoral norte de São Paulo, com o auxílio do

Mepbay definiram a praia da Armação em equilíbrio estático. Entretanto Klein et al. (2003),

em um estudo de caso sobre a estabilidade das praias de Santa Catarina, classificou como

quase - estático o estado de estabilidade da forma em planta da praia da Armação. Esta

diferença pode ter ocorrido devido à diferença do local adotado para o ponto de difração, ou

talvez pela diferença do ano referente à imagem utilizada, pois para o ano de 2007 a praia

em vários pontos ao longo da enseada já se encontrava ocupada e devido a isso considera-

se a linha de costa como fixa.

7. CONCLUSÕES

Para a análise da variação da linha de costa ao longo dos 72 anos pode-se concluir que

o setor norte manteve-se praticamente estável, variando apenas entre os anos de 1938 a

1957 e 1957 a 1977. O setor centro não apresentou um padrão de variação, ocorreram tanto

variações positivas quanto negativas. Já o setor sul foi o setor que apresentou maiores

variações, no geral positivas, mas que indicam uma tendência erosiva para esta porção da

praia.

Em relação à projeção de futuras linhas de costa se as mesmas obedecerem ao padrão

de migração encontrado na analise, faz-se necessário para o setor norte e centro realizar

uma tomada de medidas com o intuito de evitar a perda do patrimônio tanto público quanto

privado. Entretanto para o setor sul não foi detectado nenhum risco para a região, mas da

mesma forma torna-se necessário e fundamental o monitoramento, para verificar possíveis

mudanças.

Ao observar a estabilidade da forma em planta encontrada neste trabalho com a

proposta por Klein (2003) e Silveira et al. (2010) encontramos discordâncias que podem

estar relacionadas com a escala das imagens utilizadas, conforme verificado por Klein et al.

(2003).

A porção sul da praia é que apresenta maior grau de urbanização e onde a praia se

encontra em equilíbrio dinâmico. Isso indica que a linha de costa deve ter uma gestão bem

executada e com frequente monitoramento, uma vez que o estado de equilíbrio dinâmico

pode ser um fator que influência os processos erosivos já existentes.

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Por fim, tendo em vista os processos de variação da linha de costa da Praia da

Armação, percebe-se que as metodologias utilizadas se mostraram apropriadas para o

alcance dos objetivos.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi analisar a variação e a estabilidade da linha de costa da

Praia da Armação. As análises aqui apresentadas se mostram uma ferramenta importante

para o gerenciamento costeiro, pois praias arenosas são ambientes altamente dinâmicos e o

crescimento desordenado da população nestes ambientes, pode gerar risco para a

população ali presente.

O uso de fotografias aéreas e imagens de satélite é útil para compreender e analisar a

área que se deseja estudar. Apesar de não poder substituir saídas de campo que tem como

intuito a coleta de dados, as fotografias aéreas e imagens de satélite são ferramentas muito

úteis no planejamento de trabalhos, na obtenção preliminar de dados secundários e sem

contar que são ferramentas de baixo custo.

O modelo parabólico de Hsu e Evans (1989) pode ser considerado de grande utilidade

para definir o estado de equilíbrio da forma em planta de uma praia de enseada.

Nota-se a necessidade de fornecer soluções para converter o estado de equilíbrio

dinâmico para uma condição de equilíbrio estático, mas para isso se faz necessário um

estudo mais aprofundado do funcionamento das correntes, ondas e transporte sedimentar

da região.

Devido ao deslocamento da linha de costa colocar em perigo a população ali presente

devem-se buscar soluções para mitigar a erosão, como alimentação da praia entre outras,

que gerem uma linha de costa estável.

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9. REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO

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