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Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 179
ANÁLISE DA FLEXÃO EM MODELOS QUALITATIVOS DE VIGAS
Bárbara Siqueira (1); Cesar Fabiano Fioriti (2)
(1) Bolsista FAPESP, Aluna de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT, Campus de Presidente Prudente..(2) Orientador, Professor Doutor, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Faculdade de Ciências e Tecnologia – FCT, Campus de Presidente Prudente. E‐mail: [email protected]
RESUMO Este trabalho teve como objetivo geral o estudo e o aprimoramento de modelos qualitativos de sistemas estruturais. Dessa maneira foram estudadas três vigas com o mesmo comprimento, diferenciando‐se nas dimensões das seções transversais. O trabalho foi, basicamente, experimental, com vistas ao desenvolvimento, aplicação e analise da maquete estrutural. Para isso foram realizados ensaios de flexão simples nos três modelos qualitativos, utilizando a aplicação de quatro diferentes carregamentos, onde os resultados foram medidos com o auxílio de um relógio comparador. Com os resultados obtidos, pode‐se dizer que a capacidade de percepção do aluno foi aprimorada, e o profissional se torna mais capacitado para conceber a estrutura de uma edificação. Palavras‐chave: maquete estrutural, modelos qualitativos, sistemas estruturais, ensino, estruturas.
INTRODUÇÃO E OBJETIVO
As primeiras estruturas foram criadas a partir de materiais rústicos pouco elaborados. Não
havia regras para idealização de ações, modelos de comportamento tanto da estrutura como dos
materiais, critérios de segurança. A construção de novas estruturas era empírica (experimental)
baseada em experiências prévias. Assim, podemos verificar que os modelos qualitativos (hoje em
dia com muito mais cautela e estudo) é um método relevante para o aprendizado dinâmico e
atrativo de arquitetos e engenheiros (SANTOS, 1983).
Segundo Rebello (2000), o que pode existir é somente a separação entre o ensino da
concepção estrutural e o ensino do cálculo matemático das estruturas, ou seja, o estudo
qualitativo, onde são analisados os fenômenos que regem o comportamento das estruturas e o
estudo quantitativo, onde é feita a verificação e quantificação desses fenômenos. O autor ainda
afirma que conceber uma estrutura é uma atitude metódica e ao mesmo tempo intuitiva, e assim
é necessário ter consciência da possibilidade de sua existência, e perceber sua relação com o
espaço gerado, desse modo, o estudo somente através da “imaginação” dos sistemas estruturais,
é inviabilizado, muitas vezes ineficaz, com isso os conhecimentos teóricos devem ser aplicados ao
mesmo tempo em que se desenvolve esse processo de intuição do aluno.
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Fica clara assim, a necessidade de se desenvolver estudos que apresentem a relevância da
aplicação dos modelos qualitativos em disciplinas de estruturas, para uma melhor capacitação do
aluno, tornando o aprendizado efetivo, atrativo e dinâmico, e não mais tão teórico e maçante,
ampliando desse modo, a habilidade e conhecimento do arquiteto e do engenheiro em relação a
essas questões estruturais e arquitetônicas, respectivamente, de forma a promover a aproximação
entre esses dois profissionais. Portanto, este trabalho visa à necessidade de se desenvolver
conhecimentos teóricos ao mesmo tempo em que desenvolve a intuição do profissional,
contribuindo também para a junção da arquitetura e engenharia (SCHWARK, 1996).
No caso deste trabalho, o sistema estudado foi a viga, que se trata de é um elemento
estrutural normalmente sujeito a tensões de flexão (momentos fletores) e a tensões de
cisalhamento (esforços cortantes). Vigas são responsáveis por dar suporte às lajes e suas cargas
acidentais, e também por transferi‐las para o pilar. Ao ser carregada externamente por uma ação
qualquer verticalmente para baixo, a viga se deforma. As seções transversais giram em torno do
seu eixo horizontal e tendem a “escorregar” uma em relação à outra. Ao girarem, as seções
provocam compressão na região acima da linha horizontal que passa no eixo da viga (chamada
também de linha neutra) e tração na região abaixo da linha neutra.
Dessa maneira foram estudadas três vigas com o mesmo comprimento, diferenciando‐se
nas dimensões das seções transversais. O trabalho foi, basicamente, experimental, com vistas ao
desenvolvimento, aplicação e analise da maquete estrutural. Para isso foram realizados ensaios de
flexão simples nos três modelos qualitativos, utilizando a aplicação de quatro diferentes
carregamentos, onde os resultados foram medidos com o auxílio de um relógio comparador. Com
os resultados obtidos, pode‐se dizer que a capacidade de percepção do aluno foi aprimorada, e o
profissional se torna mais capacitado para conceber a estrutura de uma edificação.
METODOLOGIA
Foram montados três modelos qualitativos distintos de vigas. O material constituinte dos
modelos qualitativos foi, basicamente, a madeira.
Todo processo de montagem e realização dos ensaios nos modelos qualitativos foi
realizado nas instalações do Laboratório de Sistemas Estruturais, da Universidade Estadual Paulista
– UNESP, campus de Presidente Prudente.
Na Tabela 1 são apresentados os tipos de vigas, além das características e detalhes dos
modelos qualitativos executados.
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Tabela 1. Características dos modelos intuitivos de vigas.
Sistema Estrutural
Características dos Modelos
Detalhes dos Modelos Número
de Modelos
Vigas
Seção transversal quadrada; variação na altura das
vigas, variação nas bases das
vigas; comprimento das vigas iguais.
h (
altu
ra)
h (a
ltura
) x
1,5
h (a
ltura
) x
2,0
b (base)
b (base) x 1,5
b (base) x 2,0
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Depois, o ensaio de flexão simples foi realizado com o objetivo de se efetuar uma avaliação
preliminar da resistência à flexão das vigas. A Figura 1 apresenta, esquematicamente, como foram
realizados os ensaios de flexão simples. O carregamento foi concentrado e aplicado na parte
superior das vigas, sempre no meio do vão livre, onde os deslocamentos verticais foram medidos
com auxílio de um relógio comparador.
Posição em que foram colocadas as vigas
Pesos para simular os carregamentos
Aparato do relógio
comparador
Apoio Apoio
Figura 1. Esquema básico do ensaio de flexão simples.
Este ensaio permitiu a combinação com quatro diferentes carregamentos em cada viga
utilizada.
Por fim, após a realização das séries de ensaios à flexão simples foram observados os
principais fenômenos ocorridos e analisados alguns parâmetros importantes como a flecha e a
influência das propriedades geométricas e físicas no desempenho das vigas estudadas.
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RESULTADOS – DESENVOLVIMENTO
Para montar as maquetes estruturais deste trabalho, tal como foi ensaiado, foram
utilizados os seguintes materiais: madeira, régua, lápis e serra. Primeiramente, com auxilio da
régua e do lápis foram traçados nas madeiras (cada qual com sua seção transversal) os vãos das
vigas (50cm), e assim serramos cada madeira, com seu respectivo tamanho (Figura 2).
Figura 2. Determinação dos vãos das vigas.
Lembrando que todo pré‐dimensionamento fora feito baseados em teorias, valorizando a
intuição do profissional. Na primeira viga ensaiada, a Viga 1, de seção transversal menor. Notamos
que após a aplicação da primeira carga, o relógio comparador já indicou uma flexão de 4,52mm, já
notada a olho nu. Com a aplicação da segunda, terceira e quarta carga, respectivamente,
observamos maiores deformações ainda, de 8,61mm, 19,50mm (Figura 3) e 28,20mm (sendo as
duas últimas foram medidas com auxílio de uma régua, pois ultrapassou o limite máximo do
relógio comparador).
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Figura 3. Aplicação da terceira carga na Viga 1.
A segunda viga ensaiada, Viga 2, possuía seção transversal de 1,5 vezes maior que a Viga 1.
E com a aplicação das quatro cargas observamos uma deformação, variando de 2,65mm com a
primeira carga, para 3,68mm, 4,35mm (Figura 4a), 4,95mm (Figura 4b), com a aplicação da
segunda, terceira e quarta carga, respectivamente.
b a
Figura 4. a) Aplicação da terceira carga; b) Aplicação da quarta carga.
A última viga ensaiada foi a Viga 3 (Figura 5), com seção transversal 2 vezes maior que a
Viga 1. Como resultado deste ensaio, notamos que ao aplicar a primeira carga o relogio
comparador não indicou deformação alguma (0,00mm). Aplicando a segunda carga o relógio
comparador passou a indicar uma deformação de 0,15mm, esta que é praticamente imperceptível
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(Figura 6 ). Com a aplicação da terceira e quarta cargas foram obtidos os valores de 0,65mm e de
1,45mm, respectivamente.
Figura 5. Detalhe da Viga 3.
Figura 6. Aplicação da primeira carga na Viga 3.
DISCUSSÃO
Com o auxílio do gráfico elaborado na Figura 7, é possível perceber que a Viga 1 deformou‐
se mais e mais rapidamente que a Viga 2, e esta, mais e mais rapidamente que a Viga 3. Tudo isso
ocorreu porque as vigas de menor altura resultam, normalmente, em vigas mais flexíveis, sujeitas
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a flechas de maior magnitude, como comprovado através da realização dos ensaios de flexão
simples.
Figura 7. Carga x deformação das três vigas estudadas.
O estudo experimental qualitativo melhora o entendimento daquilo que foi somente
apresentado quantitativamente e torna o profissional da área mais apto a conceber uma
estrutura.
Portanto, a proposta deste trabalho é que as pessoas que tiverem acesso aos modelos
qualitativos possam, através da análise, desenvolver um sentimento intuitivo do comportamento
das vigas sofrendo a flexão. E ao aprimorar essa capacidade de percepção elas estarão mais
preparadas para conceber uma estrutura. Dessa forma, este trabalho serve como experiência e
conhecimento que nós esperamos expandir em aulas e aplicarmos nas futuras problemáticas que
surgirem.
CONCLUSÃO
Enfim, depreende‐se de todo este estudo, que em qualquer área do conhecimento, o
aprendizado transmitido através de uma maneira lógica de experimentação com modelos
qualitativos, são de extrema importância para a formação de qualquer profissional. E focando em
sistemas estruturais, com essa metodologia atrativa e dinâmica, pode‐se comprovar
qualitativamente o que já se imaginava teoricamente, contudo, tais expectativas não eram
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verdadeiramente presenciadas. O estudo com maquetes estruturais intuitivas de vigas, nos
permitiu vivenciar as respectivas relações com a natureza, e seus funcionamentos
(comportamentos), e assim, diminuir a separação existente entre o conhecimento prático e o
conhecimento teórico.
Os resultados obtidos comprovaram a eficiência dos modelos para a pré‐avaliação do
comportamento dos sistemas estruturais. E assim, este trabalho desenvolveu, além do
aprendizado teórico, a intuição do profissional, demonstrando a relevância do estudo qualitativo e
aprimorando a capacidade de percepção do profissional, capacitando‐o ainda mais para conceber
uma estrutura.
REFERÊNCIAS
SANTOS, J. A. Sobre a concepção, o projeto, a execução e a utilização de modelos físicos
qualitativos na engenharia de estruturas. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Departamento
de Engenharia de Estruturas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo EPUSP, São Paulo,
1983.
REBELLO, Y. C. P. A Concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.
SCHWARK, Martin Paul. Sugestões para um curso intuitivo de teoria das estruturas. 1996.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1996.