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1 ANAIS DO XIX SIMGEO E DO VII ENAPETGEO DA UDESC 2019

ANAIS DO XIX SIMGEO E DO VII ENAPETGEO DA …...de Geografia da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e tem por principal objetivo aprofundar discussões de temas relevantes

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ANAIS DO XIX SIMGEO E DO VII ENAPETGEO DA UDESC

2019

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O EVENTO

O Simpósio de Geografia (SIMGEO) é promovido todos os anos pelo curso

de Geografia da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e tem por

principal objetivo aprofundar discussões de temas relevantes às áreas da

geografia, assim como trazer novas reflexões em âmbito nacional para os

acadêmicos. Sua criação foi nos anos 2000 e de lá até os dias atuais

apresenta, anualmente, variadas temáticas e para o ano de 2019 o tema a ser

abordado será ''A Geografia e os Movimentos Sociais''.

Neste ano de 2019, além de trazer o evento já tradicional, teremos também a

comemoração dos 30 anos do curso de Geografia da UDESC, bem como a

celebração dos 25 anos do Programa de Educação Tutorial (PET) do curso

de Geografia da UDESC, aproveitando, então, para realizar o VII

ENAPETGeo, visando reunir os integrantes do programa e verificar as

demandas dos PETs de Geografia do Brasil.

O XIX SIMGEO e VII ENAPETGeo acontecerá nos dias 23, 24, 25 e 26 do mês

de setembro de 2019, na FAED (Centro de Ciências Humanas e da Educação),

Campus I da Universidade do Estado de Santa Catarina, na cidade de

Florianópolis – SC.

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Comissão organizadora do XIX SIMGEO

PETianos(as):

Ailton José Freire Rodrigues Júnior

Ana Carolina Schuhli

Caio Alexandre Nascimento

Camilla Compan Granaiola Barcellos Coelho

Daniel Orsi da Costa

Evelyn Lima Gonçalves

Hanna da Silva Farinha Roir

Gabriel de Oliveira Hermenegildo

Iago Peña do Amaral

José Junior Fracaro

Mariana Pereira Oliveira

Maria Clara Prates Rocha

Maria Teresa Fortuna Madruga

Matheus Possa Ern

Vitória da Silva Macedo

Profa. Dra. Vera Lucia Nehls Dias

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SUMÁRIO

ANAIS DO XIX SIMGEO E DO VII ENAPETGEO DA UDESC -------------------- 1 O evento ----------------------------------------------------------------------------------------- 2 Comissão organizadora -------------------------------------------------------------------- 3 Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------ 4 EIXO 1 | Movimentos sociais, geografia e geoprocessamento --------------- 5 CARTOGRAFIA SOCIAL E A CRIAÇÃO DE SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO EM TERRAS

INDÍGENAS: Terra Indígena Laklãnõ e Morro dos Cavalos, em Santa Catarina ------------------ 6

EIXO 2 | Geografia e globalização no mundo capitalista ---------------------- 12 DINAMISMO GEOECONÔMICO E TRANSFORMAÇÕES URBANAS NO MUNICÍPIO DE

ARAQUARI (SC) ------------------------------------------------------------------------------------------------ 13

EIXO 3 | Geografia, cultura e políticas ambientais ------------------------------- 19 CAPACITAÇÃO PARA VOLUNTÁRIOS DO NUPDEC BOTUVERÁ: EVENTOS

HIDROLÓGICOS ------------------------------------------------------------------------------------------ 20

ETAPA DE SENSIBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA DURANTE VISITA DO NUPDEC BOTUVERÁ À UDESC ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 26 AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COMO CAMPO PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO TABULEIRO – SC ------------------------------------------- 33 A CULTURA E OS ESPAÇOS EM SOCIABILIDADE COMO ADMINISTRADORES DA

INVESTIGAÇÃO SOCIAL --------------------------------------------------------------------------------------- 39

EIXO 4 | Geografia, tecnologias, inovações e meio ambiente ---------------- 45 IV CAFÉ GEOGRÁFICO: ENSINANDO E SIMPLIFICANDO CONCEITOS DE MODO

DIALÓGICO ---------------------------------------------------------------------------------------- 46

A AGRICULTURA EM FLORIANÓPOLIS (SC/BRASIL): O CASO DE RATONES -------------- 51

EIXO 5 | Movimentos sociais, educação e o ensino de geografia ---------- 60 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA ESCOLA DE TURISMO E HOTELARIA CANTO DA ILHA (CUT): Relato das práticas de sala de aula integrando conteúdos de turismo e geografia ----- 61

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EIXO 1

MOVIMENTOS SOCIAIS, GEOGRAFIA E GEOPROCESSAMENTO

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CARTOGRAFIA SOCIAL E A CRIAÇÃO DE SISTEMAS DE

REPRESENTAÇÃO EM TERRAS INDÍGENAS: Terra Indígena Laklãnõ e

Morro dos Cavalos, em Santa Catarina

Bernardes P., Marina1

Paolini, Leonardo2

Schlüter C. S., Aquiles3

Dr. Antunes L., Douglas (orientador)4

RESUMO

O processo de mapeamento participativo da Terra Indígena (TI) Laklãnõ/Xokleng,

realizado pelo projeto de pesquisa “Cartografia Social: Aspectos Metodológicos e Criação de

Sistemas de Representação”, da Universidade do Estado de Santa Catarina, em seu

desenvolvimento, evidenciou o domínio dos sujeitos sociais da TI na pesquisa de campo, porém

mostra dependência dos mesmos quando se trata da construção dos produtos cartográficos, que

necessitam do auxílio de especialistas em softwares de mapeamento. Desta forma, surge a

proposta de construção de modelos físicos tridimensionais vinculado à Cartografia Social, de

forma que a comunidade indígena também participe do processo final de seu auto mapeamento -

confecção dos produtos cartográficos, utilizando técnicas geográficas e de desenho para

representar seus territórios e os possíveis conflitos sócio-ambientais ali existentes. A

metodologia de construção dos mapas e modelos físicos tridimensionais vem sendo aplicada na

Terra Indígena Laklãnõ/Xokleng e na Terra Indígena Morro dos Cavalos, ambas localizadas em

Santa Catarina. O objetivo do presente trabalho é de publicar alguns aspectos metodológicos do

mapeamento participativo e das técnicas de modelamento físico para a representação territorial

das Terras Indígenas pesquisadas; e também analisar a replicabilidade e domínio sobre os

conhecimentos relacionados ao mesmo. O projeto encontra-se em andamento e os resultados

obtidos são preliminares, porém prevê que o mesmo dará visibilidade do modo de vida

tradicional das duas Terras Indígenas e poderá ser considerado como uma ferramenta de defesa

aos seus direitos e sua identidade indígena, considerando uma maior autonomia sobre a

representação do território.

Palavras-chave: Cartografia Social; Modelos Físicos Tridimensionais; Mapeamento

Participativo; Terra Indígena; Santa Catarina

INTRODUÇÃO

O presente resumo expandido é um desdobramento do projeto de pesquisa

“Cartografia Social: Aspectos Metodológicos e Criação de Sistemas de

1 Acadêmica do curso de Bacharelado em Geografia, na Universidade do Estado de Santa Catarina

([email protected]). 2 Acadêmico do curso de Bacharelado em Design Gráfico, na Universidade do Estado de Santa Catarina

([email protected]). 3 Acadêmico do curso de Bacharelado em Geografia, na Universidade do Estado de Santa Catarina

([email protected]). 4 Professor Adjunto do Departamento de Design, do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa

Catarina e professor efetivo do PPGPLAN/FAED/UDESC. ([email protected]).

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Representação5”, que visa auxiliar os grupos sociais da TI Laklãnõ/Xokleng6 a realizar

seu mapeamento participativo.

Diante do desenrolar deste projeto, percebeu-se que os sujeitos sociais possuem

completo controle da pesquisa em campo, todavia mantém uma relação de dependência

quando se trata da parte “técnica” realizada com o auxílio de softwares - de

geoprocessamento e de design. Diante desta dificuldade, pensou-se em outro modo de

fazer com que estes grupos sociais participassem da elaboração final dos produtos. A

solução foi, primeiramente, desenvolver um produto mais “palpável”, de baixo custo e

mais acessível a compreensão dos princípios básicos cartográficos e de projeto de

design. “As populações indígenas são usuárias em potencial de mapas e necessitam de

noções básicas de cartografia, efetivamente na concretização da teoria com a prática”

(CARVALHO, 2006, p.17).

Concomitante à criação deste projeto, surgiu a parceria com a Terra Indígena

Morros dos Cavalos7, da etnia Guarani Mbyá. Desse modo, a metodologia elaborada

para a cartografia social participativa para a criação de mapas e sistemas de

representação e a criação de modelos físicos vem sendo realizada em dois Territórios

Indígenas - TI Laklãnõ e TI Morro dos Cavalos, ambas localizadas em Santa Catarina.

A Cartografia Social é um processo em que grupos sociais produzem sua auto

cartografia, de forma participativa com outros grupos, sejam eles, universidades,

associações, coletivos, entre outros. Segundo Almeida (2010), a Cartografia Social

retrata um processo de territorialização estabelecido pelos grupos e por suas relações

sociais complexas, evidenciando sua organização e a maneira de como os mesmos se

auto definem como sujeitos sociais.

A pesquisa retratada no presente trabalho pode ser considerada como qualitativa,

pois segundo Minayo (2001), trabalha com um universo de significados, crenças,

valores e atitudes das relações humanas. Além disso, de acordo com Goldenberg (1999,

p. 49), a pesquisa qualitativa é apoiada no “aspecto subjetivo da ação social”.

5 Projeto pertencente ao grupo de extensão interdisciplinar “O Sentido no Olhar: os usos sociais do

desenho”, com apoio do PPGPLAN, ambos da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. 6 Terra Indígena (TI) localizada, principalmente, no munícipio de José Boiteux, em Santa Catarina. 7 Terra Indígena localizada no município de Palhoça, em Santa Catarina.

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Desta forma, o objetivo da pesquisa é, investigar as metodologias de cartografia

social e as técnicas de modelamento físico para a representação territorial das Terras

Indígenas pesquisadas, e compreender a replicabilidade, domínio sobre conhecimentos,

consequentemente, dar visibilidade do modo de vida tradicional e produzir uma

ferramenta de defesa aos seus direitos identidade indígena.

METODOLOGIA

Os procedimentos da pesquisa serão relacionados aos campos do mapeamento

participativo e cartografia social, possuindo como conceitos norteadores a: Pesquisa-

ação8 (Thiollent, 2014), e Investigação e Ação Participativa (Streck et al, 2014). A

metodologia é direcionada às ciências sociais e objetivadas em dinâmicas de ensino e

aprendizagem, principalmente os princípios básicos cartográficos e de design (ou

projeto gráfico e de modelos físicos). A mesma poderá ser dividida em três fases,

podendo ocorrer paralelamente uma com a outra.

A fase inicial é, o estudo da demanda específicas e interesses de cada

comunidade na produção dos mapas e modelos físicos tridimensionais dos Territórios

Indígenas Laklãnõ e Morro dos Cavalos. Assim, são trabalhados conceitos cartográficos

(projeções, coordenadas geográficas, fatores de escala), princípios geométricos de

representação (pontos, linhas, polígonos e volume), e princípios de projeto e

representação gráfica de informações (hierarquia de informações, síntese gráfica,

pregnância). O diagnóstico desta etapa, somadas a entrevistas, orientam as estratégias de

ações em campo e a compreensão de como são planejadas as estruturadas as oficinas

para a confecção do modelo físico tridimensional.

A segunda fase se constitui de duas linhas, referentes à construção dos modelos

físicos. A primeira, “modelamento direto”, são confeccionados os relevos das TI, pela

técnica de modelagem manual, feita com argila e massa de modelagem (papel machê).

A técnica preliminar de transferência de dados como escala e coordenadas geográficas

8 De acordo com Thiollet (2004), a pesquisa-ação é uma pesquisa social com foco na resolução de um

problema coletivo, no qual os pesquisadores e os agentes sociais participantes estão relacionados de

forma cooperativa.

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de bases cartográficas para o modelo físico, é feita através da projeção do território

indígena pelo Google Earth em uma parede com um papel pardo, para assim traçar os

limites da Terra Indígena. Após esse processo, o papel pardo é colocado na mesa e será

esculpido o relevo. No “modelamento indireto” através do uso da papietagem9,

formando uma “casca”, que no desmolde, tornará a superfície do relevo. A etapa final

do processo de modelagem física é a sistematização das técnicas e elaboração de

oficinas de formação, com base nos métodos desenvolvidos e apropriados. Esta parte

pode ocorrer simultaneamente às outras.

A terceira etapa metodológica se refere à compreensão sobre os usos dados aos

modelos físicos trabalhados e o que os mesmos desencadearam em termos de formação

e apropriação de conhecimentos técnicos aplicados. Para isto foram realizadas

observações diretas e registradas, foram feitas também entrevistas semiestruturadas com

os sujeitos participantes das oficinas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os Sistemas de Informações Geográficas geram um afastamento em relação a

produção do mapa por parte da comunidade que se encontra interessada no mapeamento

participativo de seu território tradicionalmente ocupado. Para produzir um mapa em

software de Geoprocessamento, precisa-se ter um domínio desta ferramenta e

conhecimento em Cartografia - elementos de um mapa, datum, projeções cartográficas,

bases cartográficas, dados raster e vetorial, etc. Assim, geralmente, o processo de

elaboração do mapa, nesses softwares, acaba dependendo dos assessores do

mapeamento participativo que dominam esse instrumento.

Desta forma, pensando em uma maneira de incluir a comunidade na fase final do

mapeamento participativo, percebeu-se que o mapa, feito no software, não precisa ser o

único produto desse processo coletivo, assim, foi concordado em criar também o

modelo físico tridimensional que, sendo um processo manual, resulta uma maior

facilidade de acesso a sua produção por parte da comunidade.

Para isso, é necessário ilustrar os conteúdos básicos da Cartografia; a

compreensão de mapa e suas aplicações, os diferentes tipos de projeções cartográficas

9 Técnica de camadas sobrepostas de papel pardo, jornal, e tendo a cola branca diluída como fixador.

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(cilíndrica, cônica, azimutal) e os elementos do mapa (escala, orientação, legenda, título

e fonte). Estes conhecimentos são necessários para entendimento de outros aspectos

mais complexos que serão utilizados durante as oficinas, como projeção de coordenadas

geográficas e escala tridimensional.

A metodologia para a confecção do modelo físico tridimensional encontra-

se estruturada, sendo citada anteriormente. No entanto, é necessário uma técnica mais

precisa na questão da escala tridimensional (sob o eixo z), onde, no momento, a altitude

do relevo é dimensionada manualmente, sem proporção devida, quando o relevo é

esculpido.

Como este projeto encontra-se em andamento, os resultados são apenas

preliminares. Realizou-se a primeira fase da oficina da Terra Indígena Morro dos

Cavalos, onde a comunidade lidou de forma positiva ao desenvolver a confecção do

modelo físico. O relevo do território indígena foi esculpido pela comunidade, visto que

eles tinham o conhecimento da área, na textura do relevo (ou suas rugosidades). O

término da oficina se deu pelo fato de que a argila precisaria secar totalmente para que

se desse continuidade ao mapa - delimitando as áreas, inserindo pontos importantes e

aspectos naturais.

CONCLUSÕES FINAIS

Percebe-se, pois que o processo da Cartografia Social Participativa ocorre

quando grupos sociais constroem sua auto cartografia, com auxílio de associações de

fora da comunidade, como a universidade.

Como o método encontra-se em andamento nas duas comunidades, os resultados

ainda são preliminares. Com a troca de informações nas reuniões, a sistematização e

elaboração do mapa tornou-se objeto de maior interesse e interação das partes

envolvidas no processo. Desta forma, com a devida assessoria cartográfica e de design,

os sujeitos sociais das terras indígenas participam ativamente do processo de pesquisa,

avaliação de mapas e produção do modelo físico, resultando num maior conhecimento

da comunidade indígena na Cartografia Social.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Terra de quilombo, terras indígenas,

“babaçuais livre”, “castanhais do povo”, faixinais e fundos de pasto: terras

tradicionalmente ocupadas. 2. ed. Manaus: Pgsca-ufma, 2008.

CARVALHO, Antônio Luis Andrade de. O Geoprocessamento na gestão Ambiental

em Terras Indígenas: uma experiência com etnomapeamento junto à Comissão Pró-

Índio do Acre. 2006. 127 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geografia Física,

Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

GOLDENBERG, Mirian. A Arte de Pesquisar: Como Fazer Pesquisa Qualitativa

em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1999.

HERRERA, Juan. O mapeamento social. Disponível em:

https://juanherrera.files.wordpress.com/2008/01/cartografia-social.pdf Acesso em: 22

ago. 2019.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e

criatividade. 18ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

THIOLLENT, Michel. A Metodologia da Pesquisa-ação. 13ª Ed. São Paulo: Cortez,

2004.

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EIXO 2

GEOGRAFIA E GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO CAPITALISTA

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DINAMISMO GEOECONÔMICO E TRANSFORMAÇÕES URBANAS NO

MUNICÍPIO DE ARAQUARI (SC)

Silva, Julia10

Espíndola, Carlos J.11

RESUMO

O presente resumo busca apresentar algumas considerações acerca das transformações

espaciais no município de Araquari, localizado na região nordeste do Estado de Santa Catarina.

A partir do levantamento bibliográfico e de dados, verificou-se uma expansão do parque

industrial, atividades e população urbana, concomitantemente a uma redução da população rural

e de atividades agrícolas. Inferiu-se o dinamismo econômico do município, que favoreceu e

continua a favorecer a expansão de unidades fabris, consequentemente melhorando os índices

econômicos do município e as condições de infraestrutura urbana e qualidade de vida para a

população residente.

Palavras-chave: Nordeste Catarinense; Expansão Urbana; Parque Industrial.

INTRODUÇÃO

O município de Araquari está inserido na microrregião de Joinville, situado na

mesorregião do norte catarinense, Estado de Santa Catarina. Possui extensão territorial de

384 km² e população de 24.810 habitantes (Censo IBGE/2010) com estimativa para

36.710 em 2018. A região é banhada pelas águas da baía da Babitonga, assim como os

municípios de Balneário Barra do Sul, Garuva, Itapoá, Joinville e São Francisco do Sul,

formando um conjunto que tem como base econômica a indústria, o porto, o turismo (em

especial, o turismo de veraneio) e a agricultura (ORJECOSKI, 2018).

A localização de Araquari apresenta-se como uma das vantagens geoeconômicas

para se investir na região: situa-se entre os municípios de Joinville e São Francisco do

Sul, isto é, próximo do maior polo industrial do Estado. Também se localiza adjacente ao

porto de São Francisco do Sul, complexo portuário de Itajaí e do Terminal de Uso

Privativo de Itapoá, além da proximidade dos portos localizados no Paraná, os portos de

Antonina e de Paranaguá. A malha rodoviária do entorno também corrobora para a

10Graduada em Geografia (Licenciatura) pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGGEO/UFSC). E-mail: [email protected] 11 Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Professor titular no Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: carlos.espí[email protected]

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eficiência logística, contando com duas rodovias federais, BR-101 e BR-280 e outras duas

estaduais, SC 415 e 418.

De cidade dormitório para trabalhadores de Joinville (SC) a sede de uma indústria

da montadora alemã BMW no Brasil, Araquari tem visto seu parque industrial e mancha

urbana crescerem exponencialmente. O presente resumo objetiva identificar as

transformações espaciais no âmbito rural e urbano de Araquari (SC) a partir da dinâmica

geoeconômica da região, com ênfase na expansão do parque industrial do município.

METODOLOGIA

Para a realização desta pesquisa adotou-se os seguintes procedimentos

metodológicos: uma revisão bibliográfica a partir de autores como Orjecoski (2018),

Braga (2016), entre outros, além do estudo da categoria de formação sócio-espacial de

Milton Santos (1982).

Em um segundo momento se realizou um levantamento de dados e informações

em revistas científicas (anais, simpósios, artigos), trabalhos acadêmicos (dissertações de

mestrado e teses de doutorado), e em sites de órgãos públicos, como IBGE – Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística e Prefeitura de Araquari.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para compreender as recentes mudanças nas esferas rural e urbana no município

de Araquari, tomou-se como ponto de partida o entendimento da gênese e evolução da

formação sócio-espacial da região. A compreensão foi fundamentada na categoria de

formação sócio-espacial formulada por Milton Santos (1982).

O território que hoje compreende o município de Araquari já era habitado por

alguns povos tradicionais antes da chegada dos colonizadores. Inicialmente, estes povos

consistiam na etnia indígena Guarani. Mais tarde, imigrantes europeus trouxeram

forçadamente populações africanas, como escravos, que formaram dois quilombos na

região: Areias Pequenas e Itapocu. Há também três terras indígenas Guaranis no

município: Tarumã, com 32 habitantes; Piraí com 83 habitantes; e Pindoty 98 habitantes

(FUNAI, 2019).

O século XVI marca o início da colonização vicentista na região do Nordeste

Catarinense, atraídos pela suposta mineração aurífera. A Baía da Babitonga apresentava

facilidade para o acesso e o atracar dos navios. Alguns autores, como Nascimento (1990),

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defendem que os primeiros fundadores de São Francisco do Sul iniciaram o processo de

ocupação na região do Paranaguá-Mirim, hoje pertencente ao município de Araquari.

Mudanças na região do Nordeste Catarinense, mais especificamente na colônia

Dona Francisca (1851), hoje município de Joinville, inserem na região imigrantes

europeus com experiência em atividades artesanais ou industriais, isto é, da pequena

produção mercantil. No ano de 1876, através da Lei Provincial nº 797, é criado o

município de Parati, desmembrado de São Francisco. Em 1943, através do Decreto-Lei

Estadual nº 941, o município passa a se chamar Araquari (GOVERNO DE SANTA

CATARINA, 2016).

Outras excursões e grandes levas de açorianos marcaram o litoral de Santa

Catarina, caracterizando a região com suas atividades agrícolas, em especial a do cultivo

da mandioca (MAMIGONIAN, 2011). Na planície litorânea, assim como em Araquari,

foi perceptível a introdução das pequenas propriedades, onde as terras eram cultivadas

pelo trabalho familiar (ORJECOSKI, 2018).

Araquari caracterizou-se como um município exclusivamente produtor agrícola

até o início do século XXI. Atualmente a cultura agrícola de maior expressão no

município é o arroz, seguido da cana-de-açúcar, mandioca e maracujá. Entretanto, novos

arranjos geoeconômicos alteraram a lógica da exclusividade agrícola na região, a

tornando mais diversificada e complexa.

A partir do Censo Agropecuário do IBGE (séries 2006 e 2017), a pesquisa buscou

analisar mudanças espaciais, em especial no ordenamento das atividades econômicas. No

ano de 2006 o município totalizava em área de estabelecimentos agropecuários 28.070

hectares, sendo destinado para cultivos permanentes uma extensão de 1.174 hectares. Já

no ano de 2017, esses estabelecimentos foram reduzidos para uma área de 18.253 hectares

e seus cultivos permanentes para 547 hectares em 2017. A área para cultivos temporários

também reduziu, de 4.276 hectares em 2006, para 2.196 em 2017.

Mudanças nas infraestruturas, em grande parte demandadas pelos moradores e

comerciantes da região, transformaram o município, colaborando para o desenvolvimento

industrial e econômico:

“O entroncamento entre a BR-101 e BR-280 no município

de Araquari reorganizou o espaço, colaborando para

desenvolver áreas industriais e comerciais no entorno. Nas

margens das duas rodovias atualmente observa-se a

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instalação crescente de edificações destinadas a ocupação

industrial” (ORJECOSKI, 2018).

Foi justamente a construção destas vias que gerou a migração da maior parte dos

antigos moradores de Araquari para o município, que vieram de regiões vizinhas para

trabalhar na construção da antiga ferrovia e depois nas rodovias BR-101 e BR-280.

A atual divisão e organização do município de Araquari consiste em dez

bairros/distritos. As regiões que mais crescem em população e em número de

estabelecimentos econômicos são aquelas que estão localizadas às margens das rodovias,

como Itapocú (BR-101), Colégio Agrícola e Porto Grande, (BR-280) e Itinga (SC-301);

esse último o mais populoso se caracteriza como uma área de centralidade do município.

A última década vem sendo representada por uma mudança no ordenamento

territorial de Araquari em sua área rural, devido ao processo de industrialização que

avançou e interferiu nas atividades agrícolas. Essas atividades estão intimamente ligadas

a um substrato físico, a terra, portanto a diminuição dela essencialmente acarretará danos

na sua produtividade e rentabilidade, e em casos mais intensos, na diminuição da oferta

de empregos. Segundo Braga (2016), o Plano Diretor do município favoreceu e ainda

favorece o crescimento do parque industrial, concomitantemente a supressão das áreas

rurais. A autora também afirma que “as facilidades e articulações promovidas nos últimos

anos com o intuito de atrair novas empresas para a região de Araquari, como isenções

fiscais refletem diretamente no modo de vida regional”. Essas ações impactaram a região

de forma a:

favorecer o crescimento industrial uma vez que

subentende que a economia será mais acrescida por

esse segmento, desconsiderando o valor econômico

que a agricultura gera ao município, região e estado,

o que tem causado grande descontentamento dos

produtores da região, sobretudo os nativos, que

veem seu território descaracterizados e vendidos aos

interesses dos grandes empresários (BRAGA,

2016).

Conforme o Censo de 2010 realizado pelo IBGE, houve uma diminuição nas áreas

destinadas a atividades agrícolas assim como a população rural do município: de 16.545

em 2000, para a sua menor taxa, de 1457 habitantes em 2010. Já a população urbana no

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ano de 2000 marcava 22000 habitantes; e em 2010, subiu para 23353. Nesta pesquisa não

foram reportados dados mais recentes devido à falta de disponibilidade de informações

nos sites oficiais do IBGE e da Prefeitura de Araquari, que foi contatada por telefone e e-

mail e não houve retorno.

O fenômeno da expansão do parque industrial de Araquari (em especial a

implementação de uma montadora multinacional da BMW, em 2014) alavancou o

Produto Interno Bruto per capita do município. Em 2016 o indicador registrou um

montante de R$ 85.194,63/hab., colocando o município em 3º lugar no estado de Santa

Catarina, atrás apenas de Piratuba (R$ 166.371,03) e Itajaí (R$ 91.856,35) (IBGE, 2018).

Os dados compilados neste trabalho refletem impactos que a expansão do setor

industrial causou no município, colaborando para a ideia de que as atividades agrícolas,

em especial no âmbito rural, foram suprimidas pelas transformações no espaço

urbano/industrial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na última década, o município de Araquari viu sua população rural cair em quase

40%, enquanto a parcela urbana mais que triplicou entre o mesmo período. A previsão do

censo de 2017 (35.268 hab.) marca um período de expressivo crescimento do volume

populacional, fenômeno ocasionado principalmente em função do maior número de

investimentos fabris (ORJECOSKI, 2018).

Os dados, para além de crescimento econômico e supressão das atividades

agrícolas, apontam uma substancial melhora nas condições de infraestrutura urbana e

industrial, e consequentemente em uma melhor qualidade de vida para a população da

região. Elas estão evidenciadas em ruas asfaltadas, saneamento básico, postos de saúde,

escolas, entre outros. (Idem, 2018).

Entretanto, a revisão bibliográfica nos mostrou o surgimento de grupos da região

descontentes com os rumos dado ao município, tal como exposto por Braga (2016), onde

grande parte da população jovem que vive na região, estudante da área das agrárias e que

tinha como fonte de renda a agricultura, acabam não retornando ao trabalho no campo

após a conclusão de seus cursos. Há também o conflito por parte da sucessão dessas

propriedades, que veem seus futuros herdeiros serem atraídos pelo mercado industrial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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18

BRAGA, Jainara Pacheco; DRANKA, Bruno Alcimar; SOUZA, Danieli Cristina.

Valorização dos saberes tradicionais através do diagnóstico das limitações da cadeia

produtiva em Araquari - SC. I Seminário de Pesquisa, Ensino e Extensão – IFC

Araquari. Outubro de 2016.

CABRAL, Eliza Bezerra. Estudo geográfico do porto de São Francisco do Sul e do

terminal de Itapoá-SC. UFSC, Florianópolis, 2011. Dissertação submetida ao Programa

de pós graduação em geografia da Universidade Federal de Santa Catarina para a

obtenção do Grau de Mestre em Geografia.

IBGE. Instituto Brsileiro de Geografia e Estatística. Censos Demográficos de 2000 e

2010. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br. Acessado em 22 agosto de 2019.

IBGE. Institudo Brasileiro de Geografia e Estatística. Censos Agropecuários de 2006 e

2017. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br. Acessado em 22 agosto de 2019

FUNAI. In. http://www.funai.gov.br/. Acessado em 20 agosto de 2019

GOVERNO DE SANTA CATARINA. Secretaria de Estado de Planejamento. Atlas

Geográfico de Santa Catarina. Florianópolis: 2 ed. 2016.

MAMIGONIAN, A. A indústria de Santa Catarina: Dinamismo e Estrangulamento

(1986). In Santa Catarina: estudos de geografia econômica e social. Florianópolis:

GCN/CFH/UFSC, 2011.

NASCIMENTO, A. R. A vila do Parati e sua gente. 1990.

ORJECOSKI, L. G. Transformações sócio-espaciais no município de Araquari (SC).

Florianópolis: UDESC, 2018. 127 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado de

Santa Catarina, Centro de Ciências Humanas e da Educação, Programa de Pós-Graduação

em Planejamento Territorial e Desenvolvimento, Florianópolis, 2018.

SANTOS, M.. Espaço e sociedade. Petropólis: Vozes, 1982.

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EIXO 3

GEOGRAFIA, CULTURA E POLÍTICAS

AMBIENTAIS

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CAPACITAÇÃO PARA VOLUNTÁRIOS DO NUPDEC BOTUVERÁ:

EVENTOS HIDROLÓGICOS

Almeida, José Iago C¹;

Flor Pereira, Luiz Phelipe²;

Pires, Amanda C

RESUMO:

O Laboratório de Estudos de Riscos e Desastres (LABRED), a partir do seu programa de

extensão denominado “Capacitação para Voluntários de NUPDEC’s”. Desenvolve ações para a

sensibilização em Gestão Comunitária em Redução de Risco de Desastres com os voluntários do

Núcleo de Proteção e Defesa Civil do município de Botuverá-SC. Uma importante atividade

desenvolveu-se a partir da temática dos desastres hidrológicos como cheias, inundações e

enxurradas. Com o intuito de atenuar esses riscos foram realizadas dinâmicas que possibilitaram

a construção de uma linha do tempo dos desastres hidrológicos assim como a construção de

pluviômetros caseiros. A linha do tempo possibilitou reconhecer a importância do monitoramento

e a adoção de medidas preventivas e mitigadoras desses tipos de desastres. A outra atividade

permitiu a cada voluntário realizar o monitoramento das chuvas, estabelecendo a relação entre os

limiares de precipitação com os desastres. Por fim, destaca-se também a importância da

preservação, como a proteção da mata ciliar, que auxilia na contenção da erosão dos sedimentos

das margens dos rios, que reflete a conscientização ambiental em relação ao balanço hídrico e

suas interferências.

Palavras-chave: Desastres hidrológicos; resiliência; mitigação do risco de desastres;

pluviômetros.

INTRODUÇÃO

As inundações, enchentes e enxurradas são tipos de desastre bem conhecido pelos

brasileiros. Considerando dados do EM-DAT (2014), o Brasil está entre os países mais

afetados por cheias e inundações no mundo, com um alto número de pessoas afetadas e

de mortes (EM-DAT, 2014, TOMINAGA et al., 2009). Em alguns municípios brasileiros

como Botuverá, a expansão urbana provoca mudanças no balanço hídrico (ciclo

hidrológico) original, devido ao desmatamento, erosão, assoreamento,

impermeabilização do solo, intervenções estruturais nos rios e construções irregulares às

margens de rios gerando a construção de áreas de risco de desastres.

Os desastres não são naturais, são construídos socialmente, não há uma relação

direta entre desastres e inundações, cheias, enchentes ou alagamentos, pois em áreas não

habitadas, por exemplo, esses eventos são apenas processos físicos, não são considerados

desastres pelo fato de não haver pessoas afetadas durante a ocorrência desses processos

físicos.

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Os diferentes usos e ocupações do território devem levar em consideração os

processos do meio físico e principalmente como o tipo de ocupação pode potencializar os

desastres. As ocupações desordenadas e seu mau planejamento promovem a construção

de áreas de risco, e estas acabam consolidadas. Considera-se se extrema importância o

olhar sobre os processos para a autoproteção. Assim, o objetivo principal das atividades

é fortalecer a resiliência, promovendo a cultura da Redução dos Riscos de Desastres-

RRD.

METODOLOGIA

Enfatizar o efeito que as fortes chuvas provocam no município de Botuverá, por

meio de troca de saberes entre o LABRED e o NUPDEC. Além de contribuir com a

mitigação de desastres, aumentando a percepção e interpretação sobre esses,

possibilitando o aumento da resiliência.

A organização e planejamento da oficina de capacitação para voluntários do

NUPDEC do município de Botuverá ocorreram com as temáticas, em relação às cheias e

inundações.

O agendamento desta atividade foi realizado com 4 meses de antecedência com a

Coordenadora Municipal de Proteção e Defesa Civil Maiara Colombi. Durante a etapa de

preparação das dinâmicas foram sugeridas três atividades: uma linha do tempo com base

no histórico de desastres do município registrados na Secretaria Estadual de Proteção e

Defesa Civil; a construção de um pluviômetro caseiro; roda de conversa sobre o aumento

do nível d'água nos rios e as consequências que esse aumento causa nas comunidades

próximas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O município de Botuverá localiza-se no Médio Vale do Rio Itajaí-Mirim, a 21 km

de Brusque. A sub-bacia hidrográfica do Rio Itajaí-Mirim faz parte do sistema de

drenagem da vertente Atlântica em Santa Catarina e compreende os municípios de Vidal

Ramos, Presidente Nereu, Botuverá, Guabiruba, Brusque, Itajaí, Ilhota, Gaspar e

Camboriú (Figura 1). A Serra dos Faxinais representa o divisor de águas a oeste da bacia,

que apresenta orientação geral de SW-NE. A feição morfológica da região é determinada

pelas serras, caracterizando-se por fundos de vale estreitos limitados por encostas

íngremes (SANTOS, 1991). De acordo com a página eletrônica da Prefeitura de Botuverá,

a composição de relevo na sua área um pouco maior que 300 km² se divide em: 50%

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encostas e 31,8% de montanhas e apenas 18,2% planícies, apresentando uma altitude de

85m.

Figura 1 - Mapa de localização do Município de Botuverá

FONTE: IBGE, autor: Beatriz Martins (2019)

A primeira dinâmica realizada foi montando uma linha do tempo organizado em

ordem cronológica os desastres que acometeram o município Botuverá-SC, de acordo

com os registos a partir da página eletrônica da Secretaria Estadual de Proteção e Defesa

Civil (SEPDEC), somente é registrada pela defesa civil quando a prefeitura de Botuverá

alertar sobre os desastres, com isso, pode ocorrer de tal ocorrência acontecer num mês

anterior ou em datas diferentes da registrada.

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Quadro 1 - Linha do tempo dos desastres em Botuverá

FONTE: S2ID, autor Luiz Phelipe (2019)

A partir da apresentação da linha do tempo e a dinâmica que abrange a percepção

do NUPDEC Botuverá foram elencados três destaques: 1) entre os meses de julho e

agosto em 1984, a enxurrada fez com que uma casa do centro da cidade fosse carregada

inteira, e no local onde está se encontrava não houve reconstrução; 2) o registro de

desastre de 2008, quando a rodovia SC-486 à principal do município que conecta a

rodovia BR-101 ficou bloqueada por mais ou menos 20 dias; e 3) no dia de Natal em

2015, a inundação atingiu residências do bairro centro, chegando no primeiro andar da

prefeitura e de outras residências.

De acordo com a coordenadora da defesa civil do município de Botuverá Maiara

Colombi, existe um cadastro de moradores de áreas distantes do centro de pessoas idosas,

gestantes e deficientes que moram em áreas de risco. Conforme salientou a coordenadora,

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há uma troca de contatos informal, que ajuda na comunicação entre a defesa civil e os

moradores que residem distantes do Centro.

Na percepção dos voluntários do NUPDEC, as fortes chuvas que atingiram muitas

famílias de Blumenau em 1994 devem constituir um novo evento na linha do tempo de

desastres, porque muitos dos moradores de Botuverá em 1994, residiam em Blumenau

devido à falta de empregos.

Relatou-se um caso de moradores do bairro de Ourinhos que em 2015

comunicaram a defesa civil do município sobre a vazão do rio que circunda a comunidade

pois o rio estava invadindo a rodovia e isolando essa comunidade, pelo que se sabe não

há pluviômetro para a medição do rio do ouro, sendo o mais próximo à 5 km em ribeirão

do ouro no rio Itajaí mirim.

Além da discussão da linha do tempo, foi realizado duas atividades sendo elas

sobre a diferença de enxurrada e enchente e a última dinâmica sobre problemas e soluções

para o município, a compreensão dos voluntários do Nupdec foi de que a enxurrada se

refere a um evento que afeta a população localmente, quanto que enchente e inundação

afetam áreas maiores. Os integrantes do núcleo escreveram em post its e puseram em uma

linha dividida em duas partes, quais seriam os problemas e as soluções para o município

em relação aos desastres. Foram expostos problemas como: deslizamentos, inundações,

isolamento devido ao bloqueio de pontes de acesso, enxurradas, ventanias, trovoadas e

medo de não receber ajuda, principalmente médica. As soluções citadas foram:

conhecimento, capacitações, conscientização, melhoria nas estradas, preservação da

natureza e melhorias no sistema de alertas.

Foi observado por um dos integrantes do núcleo que devido a rápida evasão dos

rios alguns bairros como: Águas negras; Lageado Alto e baixo; Sessenta; Bracinho e

Ribeirão Porto Franco sofrem com a forte erosão das margens dos rios, sendo necessárias

ações por parte da prefeitura do município, como a construção de paredes de contenção

como uma forma estrutural para resolver o problema.

Foram criados pluviômetros caseiro feito de garrafa pet de 2 litros com objetivo

de instigar a medição da variação das chuvas no município pelos próprios participantes

do grupo; deixando-os esclarecidos sobre os níveis de alerta que é 3,5 ml (atenção) e 5,5

ml (emergência) e ter uma noção de quantos ml de chuva Botuverá registra por mês e

verificando até os períodos de menos chuvas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da percepção dos voluntários do NUPDEC Botuverá, tem-se como

principais efeitos e prejuízos para a população o isolamento das comunidades como em

2008, ou parte do município, como em 2015 na comunidade de Ourinhos, por decorrência

de movimento de massa e inundação dos rios; danificação da estrutura urbana como casas,

prédios, escolas, ruas e outros. É notável que o grupo do NUPDEC Botuverá tem grande

interesse em participar de ações para atenuar os riscos de desastres do município.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

De Resende Londe, Luciana, Pellegrini Coutinho, Marcos, Torres Di Gregório,

Leandro, Bacelar Lima Santos, Leonardo, Soriano, Érico, Desastres Relacionados

À Água No Brasil: Perspectivas E Recomendações. Ambiente & Sociedade [En

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2019] Disponible

En:<Http://Www.Redalyc.Org/Articulo.Oa?Id=31735766008> Issn 1414-753x

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ETAPA DE SENSIBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA DURANTE VISITA DO

NUPDEC BOTUVERÁ À UDESC

SANTOS. Beatriz M.

PELOSO. Letícia M

PIRES. Amanda C. Orientadora

Palavras Chaves: Redução de Riscos e Desastres. Sensibilização comunitária. NUPDEC.

Botuverá-SC.

RESUMO

O presente resumo tem por objetivo apresentar os resultados a partir do evento de

preparação para capacitações intituladas “Visita do Nupdec Botuverá à UDESC”, organizado pelo

Laboratório de Estudos de Riscos e Desastres da UDESC. Para isto, além da revisão bibliográfica

prévia sobre o município, foram planejadas dinâmicas em grupo e roda de conversa. A partir da

percepção dos integrantes do Nupdec ficou evidenciado que o uso e ocupação do território atual

promovem a construção das áreas de risco, sobretudo no bairro Centro. Ações mitigadoras são

desenvolvidas pelos gestores públicos municipais na forma de informativas para alerta sobre estes

problemas. Outros bairros com problemas são Lageado Alto e Lageado Baixo, que enfrentam

cheias/inundações 2 (duas) vezes por ano, que ocasiona o isolamento das comunidades. Como

solução estão apontadas pelo Nupdec medidas estruturais como o desassoreamento do rio ou o

aumento do nível das estradas.

INTRODUÇÃO

O desafio de elaborar e aplicar capacitações para voluntários de núcleos

comunitários foi pensado devido à dificuldade em desenvolver uma cultura de Redução

de Riscos e Desastres (RRD) no estado de Santa Catarina. Estudos recentes (Araújo et al.

2017) apontam os desafios da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei

12.608/2012) em Santa Catarina, a partir das oficinas de capacitação para desenvolver os

Planos de Contingência, que não contemplam outros instrumentos como os planos

comunitários, visto que estes não são obrigatórios. Sendo assim, as comunidades que

sofrem com os efeitos dos desastres não são incluídas, não participam da construção

destes planos e até mesmo, os desconhecem, dificultando o gerenciamento do desastre.

Por fim, neste contexto, medidas preventivas e mitigadoras de desastres, que são

fundamentais para a construção da cultura de RRD e da resiliência, são pouco

consideradas.

O envolvimento das comunidades de áreas de risco no Sistema de Proteção e

Defesa Civil, isto é, na gestão do risco de desastre, na forma de participação e construção

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de planos comunitários não é tarefa fácil e impõe muitas dificuldades, que geram

resistência nos agentes de Proteção e Defesa Civil. Considera-se que algumas resistências

são decorrentes de desconhecimento, pois relatos verbais evidenciam que a participação

comunitária reduz demandas nas coordenadorias municipais, gerando resultados muito

melhores (Araújo et al. 2017).

Neste sentido surgiu o programa de extensão “Capacitação para Voluntários de

Nupdec’s”, vinculado ao Laboratório de Estudos de Riscos e Desastres (LabRed). Para

que as capacitações propostas neste projeto sejam eficazes, se faz necessária sua

preparação através de ações de Sensibilização sobre Gestão Comunitária de Redução de

Risco de Desastres (GCRRD), que faz parte de uma metodologia participativa integrada

para fortalecer as capacidades locais no sentido de fomentar a cultura de percepção de

risco e as boas práticas de RRD. Uma das ações mais importantes desenvolvida nesta

metodologia trata-se do evento organizado pelo LabRed intitulado “Visita do Nupdec

Botuverá à UDESC”, cujos resultados são apresentados neste estudo.

METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho se constituiu de duas partes, sendo a primeira uma

revisão bibliográfica sobre dados históricos e atuais do município de Botuverá-SC na

página eletrônica da prefeitura, no livro sobre sua história e nos dados a partir da

setorização das áreas de risco realizado pela CPRM e a segunda, de atividades como

oficinas e dinâmicas com os voluntários do NUPDEC Botuverá, durante sua visita ao

município de Florianópolis-SC. Estas foram planejadas na forma de evento intitulado

“Visita do Nupdec Botuverá à UDESC”, que ocorreu no dia 09 de maio de 2019, na Sala

de Atos, do Centro de Ciências Humanas e da Educação (FAED). Sua organização teve

início no começo do presente ano com a reserva de espaço físico, bem como a confecção

de crachás e lista de presença. Além disso, para realização das dinâmicas programadas

foram providenciadas impressões de imagens de satélite de diferentes bairros do

município em períodos desde 2003 até 2019 e um grande desenho com o contorno da área

do município de Botuverá, afim de que este representasse sua espacialização como um

todo. Durante as atividades adquiriram-se registros fotográficos, de voz e audiovisuais.

No período da manhã, as atividades desenvolvidas foram duas dinâmicas com a finalidade

de se conhecer e registrar a percepção dos voluntários do Nupdec Botuverá com respeito:

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1) a história de chegada das famílias ao município e 2) as mudanças no uso e ocupação

do território nas diferentes áreas do município.

Para a primeira dinâmica intitulada “Resgate Histórico a partir do Nupdec

Botuverá”, os participantes, em duplas, discutiram e depois apresentaram a história de

cada família e a razão pela qual escolheram se instalar no município de Botuverá-SC.

Para encerrar esta primeira parte, cada integrante do grupo escreveu em um post-it a

principal característica que atribui à cidade e, em seguida, fixou-o no grande desenho da

área do município, posicionado na parte mais próxima de onde reside.

Para a segunda dinâmica intitulada “A história do uso e ocupação do território de

Botuverá”, os voluntários do Nupdec se reuniram em grupos de 04 (quatro) a 05 (cinco)

integrantes e compararam imagens de satélite da mesma porção do município, sendo uma

mais antiga e outra recente a fim de relacionar, visualmente, as mudanças ocorridas ao

longo do tempo. Além de classificar as mudanças como boas ou ruins, os grupos também

apontaram os problemas de cada bairro. Ao final, estas considerações foram apresentadas

ao grande grupo, relacionando aos problemas suas possíveis causas, bem como apontando

meios de sua mitigação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O município de Botuverá se localiza no médio vale do Itajaí e pertence a bacia

hidrográfica do Rio Itajaí-Mirim, fazendo parte do sistema de drenagem da vertente

Atlântica em Santa Catarina. De acordo com a página eletrônica da Prefeitura de

Botuverá, a composição do relevo na sua área de pouco mais que 300km2, se divide em:

50% encostas e 31,8% de montanhas e apenas 18,2% planícies, apresentando uma altitude

de 85m.

Figura 1. Mapa de localização do município de Botuverá-SC.

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FONTE: Beatriz Martins dos Santos.

O município de Botuverá teve sua colonização por volta de 1876, em sua grande

maioria por imigrantes italianos que vieram através do rio Itajaí-Mirim e se fixaram

nessas terras, que anteriormente era chamada de Porto Franco. A economia se deu com a

agricultura, mesmo com condições não muito propícias para tal, pois suas terras são muito

íngremes e com várzeas estreitas. Nos anos 70 a principal fonte de economia da região

era a produção de fumo e exploração da madeira, entretanto, com a proibição da

exploração da madeira no início dos anos 80 a economia do município declinou até

estagnar. No início dos 90 a implementação dos incentivos por parte do poder público

municipal promoveu o desenvolvimento industrial. Nos dias atuais Botuverá é referência

em se tratando de distribuição de renda da população, o que acarreta em forte imigração

e crescimento desordenado, causando grande preocupação para os gestores.

O Nupdec Botuverá, constituído por cerca de 30 (trinta) voluntários assíduos, de

acordo com a Coordenadora Municipal de Proteção e Defesa Civil tem seus encontros a

cada dois meses, que são organizados em conjunto com o setor de Assistência Social do

município. Uma atividade importante desenvolvida por este grupo é a produção de sabão

a partir da reciclagem do óleo de cozinha.

No evento “Visita do Nupdec Botuverá à UDESC” estiveram presentes 19

voluntários do Nupdec Botuverá. Todos eles nasceram no município e corroborando com

os dados da revisão bibliográfica, informaram que suas famílias teriam vindo da Itália

com a colonização, por volta de 1876, fugindo de guerras ou simplesmente para a

produção de fumo e agricultura familiar, em busca de uma vida melhor e assim teriam se

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instalado naquelas terras. Entretanto, ao passar adiante cerca de duas gerações, a história

das famílias de integrantes do Nupdec diverge com respeito a mudanças de profissões e

de endereços. Com a crise econômica, 42% dos voluntários saíram da cidade em busca

de oportunidade de trabalho e de moradia em cidade com melhor infraestrutura. Após

alguns anos, eles retornaram ao município, junto com muitos outros, pois houve uma

explosão de pessoas que imigraram, todos estimulados pela geração de empregos com a

criação de novas fábricas e empresas. Os participantes mencionam a estabilidade

financeira do município como razão do aumento da imigração. Ao final da primeira parte

da oficina, os voluntários do Nupdec Botuverá destacaram os seguintes atributos positivos

do município, segundo suas próprias percepções, os quais denotam a satisfação de viver

na cidade: Família/Amigos; Segurança; Saúde; Tranquilidade; Natureza; Trabalho; e

Transporte.

Na abordagem sobre desastres, 21% dos integrantes no Nupdec Botuverá

relataram terem sido acometidos por algum tipo de evento. Para desenvolver isto, a partir

da relação da construção das áreas de risco pelo uso e ocupação do território, desenvolve-

se a análise a partir da espacialização. Através da comparação e avaliação de duas

imagens de satélite, uma de 2013 e outra de 2019 dos bairros Gabiroba e Centro, o grupo

com integrantes moradores destes bairros relataram como mudanças, a recente instalação

de uma espécie de aterro controlado (disposição de resíduos sólidos em não conformidade

com a legislação ambiental), além da implantação de loteamentos e casas irregulares, com

ocupação nas áreas de encostas e próximo às margens de rios. Ressalta-se que ambas as

imagens analisadas são tardias ao mapeamento e setorização das áreas de risco pontuadas

pela CPRM em 2011, quando já estavam descritos 07 (sete) pontos de alto risco a

desenvolvimento de movimentos de massa, solapamentos e cheias/inundações no bairro

Centro. Isto denota que neste bairro, continua-se desenvolvendo, a partir da forma de uso

do solo, a construção áreas de risco a desastres.

Embora não tenham munícipes no Nupdec Botuverá que moram nos outros bairros

com áreas de alto risco a desastres mapeados pela CPRM, ou seja, Águas Negras, Ribeirão

do Ouro, Ribeirão Porto Franco e Oito, um segundo grupo constituído por os integrantes

do núcleo moradores dos bairros Lageado Alto e Lageado Baixo avaliaram imagens de

satélite de 2003 e 2019 e relataram como mudanças a recorrência de cheias/inundações

02 (duas) vezes por ano, que acarretam em isolamento das comunidades por cerca de duas

horas. O terceiro grupo constituído por moradores do bairro Ourinho, ao observar

imagens de satélite dos anos de 2007 e 2019 informou a ausência de mudanças

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significativas sobre o meio físico que possam acarretar em riscos ambientais. O destaque

maior é dado ao bairro Águas Negro, que não tem nenhum representante do Nupdec e,

segundo seus integrantes seria o mais necessário a receber intervenções para prevenção e

mitigação de desastres.

No término desta dinâmica, em apresentação ao grande grupo, na forma de roda

de conversa, foram expostas algumas ações de preparação e mitigação desenvolvidas no

município de acordo com a percepção dos integrantes Nupdec Botuverá. Com respeito às

ocupações irregulares, eles relataram que os gestores públicos municipais desenvolvem

ações informativas para alerta sobre estes problemas, mencionando aspectos sobre a

construção de fossas sépticas. Ao problema das cheias/inundações, eles acreditam que

duas medidas estruturais poderiam prevenir os efeitos adversos de isolamento das

comunidades: o desassoreamento do rio ou aumento do nível das estradas. Além disso,

como medidas preventivas e de preparação, a tarefa do cadastramento de moradores que

possuem maquinários pesados foi bem efetuada na construção do Plano de Contingência

do município, o que já permitiu seu acionamento com êxito na abertura de estradas em

eventos ocorridos. Por fim, ainda constante no Plano de Contingência estão cadastradas

na prefeitura as capelas oferecidas como abrigos às vítimas no caso de desastre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta primeira parte de interação com o Nupdec Botuverá-Sc, associado aos

dados encontrados na literatura traça-se o resgate histórico do município, que iniciou com

a colonização italiana focada em atividades como exploração da madeira e produção de

fumo. Com o fim do corte da madeira Botuverá passou por problemas econômicos que

refletiu na evasão social até que os incentivos econômicos e investimentos no

desenvolvimento industrial geraram uma grande quantidade de empregos resultando em

retorno dos antigos moradores e forte imigração de novos ao município.

A partir da percepção dos integrantes do Nupdec ficou evidenciado que a forma

como se desenvolve atualmente o uso e ocupação do território promove a construção das

áreas de risco, sobretudo no bairro Centro, onde já tinham sido identificados 7 pontos

com alto risco de desastres pela CPRM em 2011 e posteriormente se instalaram aterros

fora dos padrões da legislação ambiental e loteamentos residenciais irregulares nas áreas

de encostas e próximo às margens de rios. Segundo a percepção dos integrantes do núcleo,

as ações mitigadoras desenvolvidas pelos gestores públicos municipais são informativas

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para alerta sobre estes problemas. Outros bairros com problemas de gestão são Lageado

Alto e Lageado Baixo, que enfrentam cheias/inundações 02 vezes por ano deixando às

comunidades isoladas, que como solução estão apontadas as medidas estruturais de

desassoreamento do rio ou aumento do nível das estradas. Além disso, o grupo menciona

o bairro de Águas Negras, com sérios problemas e além destes, nas localidades de Oito,

Ribeirão do Ouro e Ribeirão Porto Franco também foram identificados pontos com alto

risco de desastres.

REFERÊNCIAS

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Transformação Mineral. Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Departamento de Gestão

Territorial. (DEGET) Setorização de Áreas de Alto e Muito Alto Risco a Movimentos

de Massa, Enchentes e Inundações: Atualização de Mapeamento Botuverá – Santa

Catarina. [s.l], 2018. Disponível em: <http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/18510>.

Acesso em 08 de agosto de 2019.

NIEBUHR, Marlus, Memórias de Porto Franco, Botuverá: a sua história. Blumenau:

Nova Letra, 2005. 1ª ed.

PREFEITURA MUNICIPAL DE BOTUVERÁ. História. Botuverá, 2019. Disponível

em: <http://www.botuvera.sc.gov.br/historia-do-municipio/>. Acesso em 08 de agosto de

2019.

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AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COMO CAMPO PARA A

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO

TABULEIRO – SC

Alano, Natalia F.12

Valdati, Jairo13

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo abordar a flexibilidade quanto a realização de

atividades de Educação Ambiental no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, como alternativas

para as escolas da região, bem como, para a comunidade que vive no seu entorno. As atividades

relacionadas à Educação Ambiental têm cada vez mais conquistado espaço como possibilidades

na construção do conhecimento sobre o nosso espaço natural, sensibilizando de forma coletiva e

formando pensamentos críticos sobre as dinâmicas ambientais. O Parque é um espaço, hoje, muito

utilizado para a realização dessas atividades, e um grande campo para estudos e pesquisas

direcionados a Educação Ambiental e conservação da biodiversidade. O trabalho se deu a partir

de pesquisas bibliográficas e estudos de campo, resultando na importância da Educação

Ambiental nestes espaços, que cada vez mais, estão sendo frequentados pelos estudantes e pela

comunidade.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Unidades de Conservação; Parque Estadual da

Serra do Tabuleiro.

INTRODUÇÃO

As áreas naturais protegidas são unidades do patrimônio natural e muitas vezes

cultural, que podem ser utilizadas para a Educação Ambiental, incentivando a

conservação e buscando a conscientização a partir da interpretação de cada ambiente,

conceitos e contemplação da paisagem. Desde 1970, com o reconhecimento da rápida

destruição de espécies da fauna e da flora e de muitos ecossistemas tropicais ocorreu um

forte crescimento das áreas protegidas, com o intuito de preservar a biodiversidade

remanescente (BRANDON et al., 2002).

Conforme Bensusan (2006), no Brasil, 10,52% da superfície do país está coberta

por unidades de conservação (UC), representando 101.474.971 hectares. As UC’s são

áreas estabelecidas por lei e regidas sob algumas diretrizes que assegurem a conservação

12Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina –

UFSC. E-mail: [email protected] 13Prof. Dr. da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. E-mail: [email protected]

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da natureza. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, lei nº 9.985 de

2000 é o conjunto de unidades de conservação federais, estaduais e municipais. Elas são

classificadas em dois grandes grupos: O primeiro refere-se a unidades de conservação de

proteção integral, que têm como objetivo resguardar a natureza em seu estado natural,

como as Reservas Biológicas, Parques Nacionais entre outros. Já o segundo grupo está

destinado a unidades de conservação de uso sustentável, que buscam compatibilizar a

conservação com uso de recursos naturais como por exemplo as áreas de proteção

ambiental, floresta nacional, reservas extrativistas e outros. (LOWENBERG, LOYOLA,

2015)

As atividades e ações desenvolvidas para o público nesses espaços,

principalmente estudantes e professores, visam prioritariamente estimular a realização de

atividades educativas fora do âmbito tradicional escolar, adotando o parque para a

realização de práticas pedagógicas. Uma das finalidades das atividades de Educação

Ambiental é implementar projetos que promovam essas visitas de estudantes e

pesquisadores ao parque demonstrando a importância da conservação e exploração desses

ambientes. O objetivo deste trabalho é mostrar que a Educação Ambiental exercida dentro

do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (PEST) é de suma importância para a

comunidade, estudantes e visitantes que frequentam o parque diariamente.

METODOLOGIA

A metodologia aplicada no presente trabalho se deu a partir de pesquisas

bibliográficas, previamente analisadas, com enfoque nas questões sobre Educação

Ambiental, biodiversidade, unidades de conservação e o Plano de Manejo do Parque

Estadual da Serra do Tabuleiro. Para a pesquisa foram utilizados bibliografias de

autores(as) como Nurit Bensusan, Peter Lowenberg e Rafael Dias Loyola entre outros

autores(as) que serviram como base para a pesquisa.

Num segundo momento foi realizado o estudo de campo, o mesmo se deu na

região do Parque Estadual como visita técnica guiada. Foram realizadas trilhas com

paradas estratégicas para o reconhecimento da história e atividades realizadas no PEST e

uma parada no centro de visitantes onde encontra-se algumas exposições de trabalhos já

realizados na região.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

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O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (PEST) é a maior unidade de

conservação de proteção integral do Estado de Santa Catarina e seu nome é emprestado

de uma das serras da área do Parque, na qual, possui um cume de formato tabular, bastante

visível da região de Florianópolis. O parque está situado na porção leste do Estado, ao sul

da Ilha de Santa Catarina. Abrangendo áreas dos municípios de Palhoça, Santo Amaro da

Imperatriz, Imaruí, Paulo Lopes, São Martinho, São Bonifácio e Águas Mornas, conforme

a lei nº 14.661/2009. Além desses municípios existem as áreas descontínuas situadas em

Florianópolis, os arquipélagos de Moleques do Sul e Três Irmãs, e as ilhas de Siriú, do

coral, dos Carlos, do Largo e do Andrade de acordo com o Plano de Manejo (2018).

O PEST é um importante campo de pesquisas, e possui um grande potencial para

as ações relacionadas a Educação Ambiental. No município de Palhoça, na Baixada do

Maciambu, o parque conta com um centro de visitantes e trilhas educativas,

transformando o parque em um grande laboratório de estudos. No centro de visitantes

ocorrem várias atividades para o público da comunidade como também, atividades

específicas para profissionais das áreas ambientas, como workshops, atrações culturais e

artísticas e vários eventos todos relacionados com o meio ambiente e a Educação

Ambiental. Um dos pontos fortes do PEST é o turismo, com a integração social da

comunidade, contribuindo para o desenvolvimento da região.

Com a emergência para com a conservação da biodiversidade nos tempos

atuais, adquiriu-se uma nova perspectiva, a de agente de transformação social.

Os esforços de conservação passaram a ter que identificar e promover os

processos sociais que permitem às comunidades locais conservar a

biodiversidade como parte de seus modos de vida. (BENSUSAN, pg. 132,

2006)

A Lei nº 13.558/2005 que rege a Política Estadual de Educação Ambiental entende

por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade

constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas

para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia

qualidade de vida e sua sustentabilidade. Desta forma, afirma que, é um componente

essencial e permanente da educação estadual, devendo estar presente, de forma articulada,

em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.

Fomentando o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do

meio ambiente.

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Nas últimas décadas as questões ambientais, mudanças nos fatores bióticos e a

expansão das paisagens antropogênicas tem se relacionado com a continuação da

existência das espécies e organismos que dividem o planeta com os seres humanos. Para

isso encontra-se uma necessidade de estudar a Educação Ambiental, compreender a

natureza das espécies gerenciando os impactos sobre elas e buscando soluções para

entendermos as mudanças ocorridas nos seus espaços de vivência. Aumentando a

demanda de atividades e ambientes diferentes para compreender essas ações

biogeografias em constantes mudanças.

Uma das atividades permitidas no parque é a educação ambiental, pois não

afeta negativamente a UC e contribui com a integração da sociedade com o

parque. Esta já ocorre no Centro de visitantes devido à iniciativas do Instituto

Çarakura, OSCIP cogestora do Centro de Visitantes, em conjunto com a IMA,

proporcionando oficinas educativas, palestras e pesquisa científica.

(CURITIBA, pg. 634, 2018)

Uma das áreas do parque, antiga casa de moradores da região, é utilizada por

estudantes de escolas do município de Palhoça para a elaboração de projetos e atividades

vinculadas as aulas de Geografia e Educação Ambiental. Também, auxiliam para a

manutenção do espaço, criando placas, brinquedos e ajudando na coleta de materiais para

exposição. Essas atividades realizadas no centro de visitantes e seu entorno têm como

objetivo desenvolver o ensino-aprendizagem de uma forma diferente da observada dentro

das salas de aulas. O estudante é levado a pensar de forma sistemática e a vivenciar os

diferentes organismos vivos e ecossistemas diante de seus olhos, o indivíduo passa a

construir vínculos com os ambientes e suas inter-relações.

Esses espaços estabelecidos no PE da Serra do Tabuleiro, possibilitam ao

educador ampliar a visão dos educandos e principalmente, sensibilizá-los quanto ao

comportamento das bases ecológicas e da biodiversidade. As atividades realizadas na UC,

permitem a utilização de uma prática sustentável, o que traz muitos benefícios para a

interação dos visitantes com a Educação Ambiental, assim como, grande potencial para a

conservação da natureza. A visitas, não só dos estudantes da região, mas também dos

pesquisadores e das universidades, contribuem para o desenvolvimento dessas atividades

e a elaboração de novas ideias para a implementação da Educação Ambiental dentro do

parque.

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CONCLUSÕES FINAIS

A problemática ambiental nos dias de hoje confirma a necessidade de se

aprofundar nos estudos relacionados a Educação Ambiental, acompanhando as alterações

nos quadros naturais ao nosso redor. Para tal, não é apenas importante a conscientização,

mas também, a formação crítica desenvolvida nesses estudantes, e o desenvolvimento de

ações para a diminuição desses impactos.

O surgimento dos parques e Unidades de conservação nos mostra tamanha

importância em preservar a biodiversidade. O PEST é um exemplo de conscientização e

cuidados com a preservação da natureza, assim como, sua relevância na realização de

atividades para a comunidades e estudantes, que buscam o campo ideal para a elaboração

de pesquisas. Fora das escolas, o parque é a sala de aula ideal para aprimorar os nossos

conhecimentos sobre a biodiversidade e a partir dela entender a dinâmica das interações

naturais e do homem com a natureza.

As atividades exercidas no centro de visitas, tal como, as trilhas ecológicas

realizadas pelos guias, se mostram indispensáveis, principalmente quando dinamizadas

em grandes grupos, para o desenvolvimento de metodologias mais eficientes relativas à

sensibilização ambiental dos indivíduos. Essas atividades proporcionam ao estudante e a

comunidade a convivência com o ambiente natural, que na maioria das vezes não é

possível experienciar nas grandes cidades.

REFERÊNCIAS

BENSUSAN, N. Conservação da biodiversidade em áreas protegidas. Rio de Janeiro: Ed.

FGV, 2006.

BRANDON, K. Putting the right parks in the places. In: BENSUSAN, N. Conservação

da biodiversidade em áreas protegidas. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2006.

CURITIBA. Elaboração do plano de manejo do parque estadual da serra do tabuleiro.

Ed. Atual. Santa Catarina: Instituto do Meio Ambiente – IMA. 2018

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GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Lei nº Nº 13.558, de 17 de

novembro de 2005. Política Estadual de Educação Ambiental - PEEA. Santa Catarina,

2005. Disponível em: http://www.fundai.sc.gov.br/files/legislacoes/legislacao_58.pdf.

Acesso em: julho. 2019

LÖWENBERG NETO, P.; LOYOLA, R. D. Biogeografia da conservação. In:

CARVALHO, C. J. B. de, ALMEIDA, E. A. B. de. Biogeografia da América do Sul:

analisando espaço, tempo e forma. 2ª ed. São Paulo: ROCA, 2015

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A CULTURA E OS ESPAÇOS EM SOCIABILIDADE COMO

ADMINISTRADORES DA INVESTIGAÇÃO SOCIAL

Golo, Cristiomar14

Resumo

O trabalho em questão delineia características da abordagem qualitativa e quantitativa

como campo interdisciplinar na pesquisa social. Busca ainda, por meio de métodos como o

analítico de investigação empírica, contextualizar as estruturas espaciais de análise. Traz para o

campo do debate as características ligadas a cultura enquanto pluralidade na transformação e

entendimento do grupo correlacionado ao espaço dimensionado.

Palavras-chave: abordagem qualitativa/quantitativa; cultura; pesquisa social.

INTRODUÇÃO

Escrever, problematizar e discorrer sobre a cultura em análises relacionadas à

geografia não é deixar de lado o patamar econômico, político e geoestratégico em que o

espaço se concebe – é antes de tudo – agregar valoração na própria problematização.

Portando, objetiva-se não somente dialogar sobre as questões ligadas à cultura na

constituição dos espaços geográficos das sociedades, como também, discorrer sobre as

formas e categorias simbólicas de valoração das relações dos seres humanos, tanto com

seu espaço habitado, quanto com seu espaço concebido.

Aproximo-me das ideias de Turra Neto (2015) em que o autor, analisando sobre

as problematizações pautadas entre o lugar e o território, contextualiza que é preciso

construir outra imaginação do espaço, que possamos vê-lo fora do domínio do estático,

do fixo, do morto. Imprescindível, assim, pensar o espaço sempre aberto, como produto

de relações.

Já Clifford Geertz (2008) se dedica a realizar uma análise antropológica como

forma de conhecimento por meio da etnografia e de algumas dimensões culturais como a

política, a religião e os costumes sociais. Para Geertz o estudo da cultura tem papel

fundamental no entendimento da conjuntura social. Porém, debates em torno da

subjetividade ou objetividade cultural são travados de forma errônea. A cultura, para o

autor deve ser percebida, consentida como composição estruturante na organização das

sociedades.

14 Doutorando em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências –

Universidade Federal de Santa Maria/RS - PPGEO/UFSM, e-mail: [email protected]

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A cultura se justifica como um sistema de organização - e influência - das

coletividades. Sistema este pautado em um mecanismo de apreensão, por meio da posse

dos signos de poder e da submissão dos membros de uma comunidade política a tais

signos. Assim, “a cultura não é algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os

acontecimentos sociais, as instituições ou os processos; ela é um contexto, algo dentro do

qual podem ser descritos de forma inteligível – isto é, descritos com densidade”

(GEERTZ, 2008, pág. 10).

A cultura assume no estudo em questão, papel de multiplicidade de entendimento.

As continuidades e descontinuidades dos acontecimentos tem no entrelace cultural,

discussões profícuas de serem analisadas, aprofundadas. Geertz enfatiza que o

pesquisador deve ficar atento aos detalhes. Como o entrelace de uma sobrancelha, por

exemplo. A compreensão da cultura de um povo expõe a sua normalidade sem reduzir

sua particularidade, isso os torna acessíveis, coloca-os no quadro de suas próprias

banalidades e dissolve sua opacidade. “É necessário lembrar de que: para alguém tocar

violino é necessário possuir certos hábitos, habilidades, conhecimentos e talento, estar

com disposição de tocar e ter um violino” (GEERTZ, 2008, pág. 9).

Entende-se, portanto, a cultura como um dos aspectos essências para estudar não

somente acontecimentos relacionados ao espaço, como também, analisar os sujeitos que

tem no espaço, seu campo de batalha, sua vida cotidiana, seus anseios, frustações, enfim,

espaços de vivência e sociabilidade.

METODOLOGIA

Torna-se profícua indagar as vantagens e desvantagens da pesquisa qualitativa nas

ciências sociais. Suas potencialidades em busca das problematizações da pesquisa, assim

como, seus entrelaces quanto às dimensões e comparações às abordagens quantitativas.

Analisando esses métodos de pesquisa Becker (1999) enfatiza que as pesquisas

qualitativas têm menos probabilidade de explicar os métodos do que a pesquisa

quantitativa. “As situações de pesquisa qualitativa incentivam, - poder-se-ia dizer, exigem

- a improvisação, e muitos pesquisadores qualitativos sentem que suas soluções para os

problemas de campo têm pouco valor fora da situação que as evocou” (BECKER, 1999,

pág. 14).

Ainda na problematizaçaõ do debate metodógico, me aproximamo das ideias

expostas por Turra Neto (2012. O autor comenta que a metodologia é o exame de

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produção do conhecimento científico, avaliando a teoria empírica entre o sujeito e o

objeto no processo. No caso da pesquisa quantitativa, o material é, basicamente, de

natureza numérica e permite tratamento estatístico. No caso da pesquisa qualitativa, o

material é, basicamente, de natureza discursiva. Nenhuma é melhor ou pior do que a outra

e ambas apresentam seus desafios, seus limites e suas potencialidades.

Na tentativa de elucidar como se pode construir um objeto científico Marre (1991)

comenta que pesquisar empiricamente supõe que se possa delinear um objeto científico

distinto dos objetos sociais construídos pelo senso comum, pela atividade sociológica

espontânea ou pela opinião pública. Assim, é necessário não somente conhecer o produto,

como também as descontinuidades em que se criou esse produto, e só assim, apreender o

real oficio do pesquisador.

Com o objetivo de elucidar a construção de um objeto científico, Marre sugere a

construção de uma dupla dialética ao qual chama de ascendente e descente. Na forma

ascendente o pesquisador vai da apreensão do tema empírico para sua construção por

meio de quadro de hipóteses. Nesta forma, não há objeto cientifico arquitetado sem uma

ruptura com os objetos sociais construídos e produzidos pela opinião pública, ou

segmentos societais. Porém, é na ruptura que se escolhe e se conceitua o tema, ao qual

está relacionado com o ponto teórico que o ilumina.

Já na forma da dialética descendente o pesquisador parte da elaboração teórica

efetuada no primeiro processo de elucidação do tema. Nesta fase, a dialética não somente

torna o tema operacional, como também o deixa suscetível a uma verificação empírica

que estabelece conexões com o estabelecimento de uma amostra, e traz uma codificação

que depende da teoria e que interpele a uma interpretação permeada pelo ponto de vista

teórico.

Desta forma, a metodologia vai de encontro às características endêmicas do objeto de

pesquisa. Porém tanto na forma qualitativa, quanto na forma quantitativa, determinada

visão proposto pelo método analítico torna-se fundamental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A temática de qualquer pesquisa sofre ao longo de suas formulações, diversas

obstruções conceituais. Não somente os sujeitos sociais estudados como suas relações

sócio espaciais estão em constante transformação. Neste sentido, de que forma o

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pesquisador pode acompanhar (se é que é possível) as mudanças em seu feitio estrutural

e problematiza-las na pesquisa em questão? Como desenvolver sensibilidades que

auxiliem na percepção plural dessas mudanças? Ou melhor, qual método de pesquisa

ajudaria a contextualizar perguntas que surgem no decorrer da pesquisa?

A estas perguntas, infindáveis respostas viriam para auxiliar o pesquisador.

Porém, quando se trata de uma pesquisa analítica, como é o caso em questão, qual

ferramentas podem ser usadas na elucidação de hipóteses conceituais?

Penso que a base empírica traz embasamentos positivos de uma pesquisa que visa

o objeto cientifico que se distinga do senso comum, da opinião pública (mesmo que essa

também tenha inegável importância).

Importante, assim, debater as transformações econômicas, culturais e cotidianas

de determinado espaço em questão, que analise e problematize não somente dados

quantitativos, mas que tenha um enfoque e uma visão qualitativa também. Penso que a

base empírica traz embasamentos positivos de uma pesquisa que visa o objeto cientifico

que se distinga do senso comum, da opinião pública (mesmo que essa também tenha

inegável importância). Contudo, se pensarmos nos estudos ligados à cultura, mais

especificamente as conjunturas estruturais na constituição de aspectos geográficos como

determinada análise espacial, por exemplo, qual seria a melhor maneira de construir,

estudar, delinear, acompanhar os sujeitos sociais em uma pesquisa? E ainda, como

perceber as particularidades, tão importantes na problematização em questão destes

sujeitos?

O estudo em questão analisa as vicissitudes materiais e imateriais contidas em

determinado espaço, procura contextualizar as duas formas metodológicas no entrelace

da pesquisa social. A análise quantitativa é importante quando se busca características

econômicas de determinado produto, ou segmento comercial. Porém, ela não elucida os

anseios, as preocupações e obstáculos naturais como clima, por exemplo, em determinado

período e que foi importante no resultado quantitativo. A estas características, a forma

qualitativa, não menos importante obviamente, vem ao encontro de contextualizar

aspectos, que por muitas vezes só é percebido por meio de uma entrevista, ou até mesmo,

por meio de vivências do pesquisador no grupo estudado.

Assim, pensando em uma forma visual de demonstrar o que se pondera sobre a

correlação da pesquisa qualitativa e quantitativa em questão, buscou-se elaborar o

desenho dimensionado na figura 1.

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FIGURA 1: Caracterização espacial da pesquisa qualitativa/quantitativa

FONTE: Cristiomar Golo (2017)

O círculo externo representa o espaço macro, caraterizado por indicadores

colhidos por fontes como IBGE, INCRA, Ministério das Cidades, dentre outros. A estes

dados, estaria dimensionado o que acontece de forma mercantil no espaço – indicadores

de exportação, importação, balança comercial superavitária ou deficitária, dentre outros.

As formas que estão no interior do círculo representam o espaço micro. O espaço

da moradia, dos conflitos, da religiosidade, da política, das representações, da vida

cotidiana, da cultura, enfim, o espaço do discurso.

Portanto, a pesquisa quantitativa viria ao encontro justamente de coleta de dados

e correlação dos mesmos. Já o enfoque qualitativo procuraria, por meio de entrevistas e

discursos orais, trazer de forma representativa as construções, continuidades,

descontinuidades, conflitos internos, influência da cotidianidade dos espaços – teria na

subjetividade uma forma de ação.

Portanto, se entende que na pesquisa em questão, a interpolação das formas

metodológicas tanto qualitativas, quanto quantitativas possibilitariam maior

embasamento na proposta de pesquisa social em relação á espaços delimitados e

sociabilizados.

CONCLUSÕES FINAIS

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Os debates em torno do campo da importância e abrangência do que realmente

deve-se contextualizar na pesquisa geográfica, principalmente em sua forma cultural, vem

ganhando corpo nos últimos anos. Entender e problematizar pesquisas que visem análises

plurais torna-se essencial neste campo de estudo. Entendo, portanto, que é importante

áreas e temáticas que trabalham visões quantitativas de análise que voltem-se ao

entendimento processual, visto por meio de cotidianidades e entrelaces culturais. Da

mesma forma, que pesquisadores ligados a geografia cultural tenham o entendimento de

que há sem dúvida condicionantes quantitativos que precisam ser estuados e analisados

em sua forma ímpar.

REFERÊNCIAS

BECKER, Howard S. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Hucitec,

1999.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

MARRE, Jacques A. L. A construção do objetivo científico na investigação empírica.

Anais do Seminário de Pesquisa do Oeste do Paraná. Cascavel: UNIOESTE, 1991.

TURRA NETO, Nécio. Espaço e lugar no debate sobre território. Geograficidade,

Niterói, v.5, n.1, p. 52 – 59, 2015.

__________________. Pesquisa qualitativa em Geografia. Encontro Nacional de

Geógrafos. Belo Horizonte/MG, 2012.

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EIXO 4

GEOGRAFIA, TECNOLOGIAS, INOVAÇÕES E MEIO AMBIENTE

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IV CAFÉ GEOGRÁFICO: ENSINANDO E SIMPLIFICANDO

CONCEITOS DE MODO DIALÓGICO

J. de A. Caetano. José15;

M. dos Santos. Vinícius2;

R. P. Maia. Antônia3;

de L. G. Medeiros. Breno4;

C. A. Santos. Daniel5;

S. Félix. Felipe6;

A. dos Santos. Jéssica7;

F. do Nascimento. Jucielma8;

G. Soares. Larícia9;

B. Maciel. Lucas10;

de H. V. Barros. Luana11;

S. A. Miranda. Marcellus12;

A. Fernandes. Nilvan13;

Dozena. Alessandro14;

[email protected];

RESUMO

O PET Geografia da UFRN tem objetivado em suas atividades, uma maior aproximação

com o público universitário e também com a sociedade em geral. Neste sentido, descrevemos

aqui a atividade Café Geográfico, que teve como objetivo a discussão de temas relevantes sobre

a sociedade, dando um aporte teórico a respeito dos problemas que envolvem a temática

proposta. Na quarta edição do Café Geográfico realizada em 2019, foi abordado o seguinte

tema: Deslizamentos de massa e rompimento de barragens: O reflexo da negligência. A

atividade contou com a participação de três professores da UFRN, provenientes de diferentes

departamentos, tendo sido dividida em duas partes: Primeiramente, os palestrantes apresentaram

seus pontos de vista com relação a temática proposta e, em seguida, houve um debate com todos

os participantes. A partir da organização da discussão realizada pelo grupo, sobre o que deveria

ser debatido, houve um maior entendimento a respeito dos grandes deslocamentos de massa, de

suas causas, consequências, métodos de prevenção de desastres e de como seriam as ações para

reverter ou amenizar os danos causados, tanto ao ambiente, quanto aos sujeitos prejudicados.

Palavras-chave: Deslizamentos; Meio Ambiente; Geografia.

INTRODUÇÃO

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13 PETiano (a) discente (bolsista) do grupo PET Geografia e discente do curso de

Geografia (Bacharelado/Licenciatura) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

14 PETiano tutor do grupo PET Geografia e docente do Departamento de Geografia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte.

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O Programa de Educação Tutorial busca estar em consonância com o tripé que

sustenta o ensino superior: ensino, pesquisa e extensão, proporcionando uma melhor

qualificação aos seus integrantes, além de aproximar a comunidade com as instituições

de ensino superior. Neste sentido, a atividade Café Geográfico tem como objetivo

discutir temas sensíveis sobre a sociedade, dando um aporte teórico a respeito dos

problemas que envolvem a temática proposta, além de buscar incentivar e desenvolver

a habilidade do pensamento crítico, sendo de grande valia para a troca de experiências

e também à um momento de construção de saberes, a partir dos temas abordados na

atividade. O PET Geografia convidou pessoas com bagagem acadêmica, que elucidaram

dúvidas e ajudaram os participantes a tomarem consciência da importância de se

conhecer tal temática abordada, que na presente atividade teve como título:

Deslizamentos de massa e Rompimentos de Barragens: O reflexo da negligência,

acontecendo em 16 de maio de 2019; contando com três palestrantes de áreas distintas:

O Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida, do Departamento de Geografia; O Prof. Dr.

Pitágoras José Bindé, do Departamento de Psicologia e o Prof. Dr. Ricardo José Matos

de Carvalho, do Departamento de Engenharia de Produção, todos vinculados a UFRN.

METODOLOGIA

O IV Café Geográfico organizado pelo PET Geografia da UFRN e ministrado

por três professores da universidade foi realizado em duas partes: na primeira parte foi

feita uma exposição acerca do tema tratado, em que os ministrantes abordaram seus

pontos de vista, tendo como ponto de partida a formação acadêmica de cada um.

Posteriormente a estas exposições, houve uma discussão, no estilo de uma mesa

redonda, quando as pessoas que assistiram a palestra tiraram as suas dúvidas.

Após muitas reflexões sobre o assunto pertinente ao Café Geográfico, a temática

mostrou-se pertinente a natureza da respectiva ação. Houve a abordagem sobre os

grandes deslocamentos de massa, que ocasionaram tragédias ambientais e humanas sem

precedentes no país. Após isto, foi delimitado quais seriam as áreas que os assuntos

tangenciariam a discussão, tendo havida a predominância da abordagem geográfica,

com sua natureza interdisciplinar e análises geomorfológicas, econômicas e sociais; da

abordagem psicológica, para analisar os impactos nos sujeitos após um fenômeno não

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natural de grande escala e de consequências profundas e complexas e por fim a

abordagem da engenharia de produção, mais especificamente a ergonomia, a qual tem

por proficiência a observação dos procedimentos de produção e logística em larga

escala, com múltiplas roupagens de análise de procedimentos industriais.

Com afinco, procuramos profissionais e docentes com perfis profissionais que

se encaixassem nas áreas de discussão e que possuíssem certo contato com a temática

proposta. Na geografia, o palestrante escolhido foi o professor Dr. Lutiane Queiroz de

Almeida, que tem direcionado suas preocupações acadêmicas aos estudos sobre

deslocamentos de massa e riscos ambientais, além de coordenar o grupo de pesquisa da

UFRN Georisco, que se dedica a realizar estudos sobre riscos geológicos e ambientais.

O professor Lutiane nos indicou um colega da Psicologia (o professor Dr. Pitágoras

Bindé) e outro da Engenharia (o professor Dr. Ricardo de Carvalho), respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com toda a organização acerca do que deveria ser desenvolvido, a ação teve por

objetivo trazer um maior aprofundamento nos grandes deslocamentos de massa, refletir

sobre as suas causas, consequências, métodos para prevenir próximos desastres e

debater sobre como seriam as ações para reverter ou amenizar os danos causados, tanto

ao ambiente, quanto aos sujeitos prejudicados.

Inicialmente foi feito o diagnóstico da estrutura básica da maioria das barragens

do Brasil, evidenciando-se os riscos que envolvem morfologia geológica, legislação,

falta de fiscalização e corrupção das empresas, desta forma, foi explanado sobre o

processo físico que aconteceu tanto em Brumadinho, quanto em Mariana; e também

eventos de menor escala como o deslizamento em Mãe Luiza - Natal (RN).

Posteriormente, foi feita a análise dos processos ergonométricos de um complexo

industrial e como os erros sistemáticos afetam todo o processo de produção, aumentando

os riscos de colapso sistemático, ou eventos que saem do programado e acarretam

desastres em várias escalas. Por fim, houve o enfoque na análise e sistematização do

comportamento dos sujeitos que estão em regiões onde existem riscos constantes, e

como se dá a acomodação e o "esquecimento" dos fatores de emergência em uma região,

bem como as consequências psicológicas de grandes desastres, nos quais os prejuízos

são físicos, mentais e patrimoniais.

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Com o fim das explanações teóricas, partiram-se para as discussões, que foram

das mais diferentes naturezas, passando pela interpretação das legislações ambientais,

chegando ao pensar da índole humana em suas escalas éticas e morais, frente a lógica

capitalista. Com discussões contemplaram as prerrogativas do PET, previstas no Manual

de Educação Tutorial:

As atividades extracurriculares que compõem o Programa têm como objetivo

garantir aos alunos do curso oportunidades de vivenciar experiências não

presentes em estruturas curriculares convencionais, visando a sua formação

global e favorecendo a formação acadêmica, tanto para a integração no

mercado profissional quanto para o desenvolvimento de estudos em programas

de pós-graduação. (Manual de Educação Tutorial - Programa de Educação

Tutorial (PET). Brasília, 2006).

Figura 1: Palestrantes e Colaboradores do IV Café Geográfico

Fonte: PET Geografia da UFRN (2019).

CONCLUSÕES FINAIS

Com o fim da atividade pudemos perceber que as discussões entre os palestrantes

e o público foram profícuas, permitindo a atualização sobre assuntos inerentes a ciência

geográfica, bem como, promovendo a integração entre os membros do Departamento

de Geografia, alunos da Pós-Graduação e graduação da Universidade Federal do Rio

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Grande do Norte, e propiciando o debate teórico-metodológico entre os envolvidos na

atividade.

A execução do IV Café Geográfico resultou em um importante debate acerca da

temática desenvolvida, tendo sido observado uma troca imensa de conhecimento entre os

professores palestrantes e o público presente, visto que o tema tratado tem tido uma

repercussão gigantesca, sobretudo nos últimos anos. Houve uma participação

considerável da comunidade acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Assim sendo, os objetivos propostos pela atividade foram contemplados de maneira

bastante significativa, trazendo-nos motivação em continuar a realizar o Café Geográfico

por muitos anos.

REFERÊNCIAS

MINISTERIO DA EDUCAÇÃO.Manual de educação tutorial- Programa de

Educação Tutorial (PET). Brasília, 2006.

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A AGRICULTURA EM FLORIANÓPOLIS (SC/BRASIL): O CASO DE

RATONES

Jesus, Giselli Ventura de 16

Bastos, José Messias 17

RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo, destacar a influência da atividade agrícola no seu

processo de formação sócioespacial de Florianópolis, e sobretudo, a presença desses agricultores

na comunidade de Ratones, ainda hoje. A partir do bosquejo histórico procurou-se entender as

conjunturas e há a presença desses agricultores dentro da ilha, frente a forte especulação

imobiliária. Pois, na segunda metade do século XX, consolida-se o processo de urbanização e de

mercantilização da terra, motivados principalmente a partir da década de 1970. Ressalte-se que

em Florianópolis ocorria muita “grilagem de terra” ou mesmo concessões relacionadas ao poder

político, principalmente com a criação da Instituto de Reforma Agrária em Santa Catarina

(IRASC) nos anos de 1960, onde concentrou ainda mais as terras nas mãos dessa elite ligada à

política catarinense. Frente ao crescimento urbano da capital e seu entorno, e da especulação da

terra, se formou um “cinturão verde” nos espaços periurbanos da Região Metropolitana de

Florianópolis, e em Ratones a atividade está voltada para a agricultura orgânica que consegue

obter um valor agregado maior que a atividade tradicional. Para o desenvolvimento da pesquisa

se realizou levantamentos bibliográficos, saídas de campo, e entrevistas com os agricultores

locais.

Palavras-chave: Ratones; atividade agrícola; mercantilização da terra.

INTRODUÇÃO

A pequena produção agrícola sempre esteve presente na formação do litoral

catarinense, sobretudo com os imigrantes açorianos. E o Norte da Ilha foi à região onde

historicamente se concentrou de forma significativa esse tipo de atividade, e ainda hoje

se mantém, porém em uma proporção menor, apesar da especulação da terra e da

expansão urbana.

Com o crescimento da população urbana surge cada vez mais à necessidade de

alimentos, e as hortaliças por serem produtos muito perecíveis devem ficar próximas do

16 Aluna de pós-doutorado da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. E-mail:

[email protected]

17 Professor doutor da Universidade Federal, de Santa Catarina-UFSC E-mail: [email protected]

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mercado consumidor. No caso da Grande Florianópolis foi surgindo aos poucos o

cinturão verde18.

Esses cinturões verdes próximos as grandes áreas urbanas, como no caso da região

metropolitana de Florianópolis, onde a capital catarinense e as cidades próximas formam

um aglomerado urbano, assim como outras ao longo do litoral catarinense19, vem

estimulando o crescimento desse tipo de atividade agrícola. De acordo com “Júlio César

Mello, coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural da Epagri na Grande

Florianópolis, 10 municípios da região têm folhas, bulbos e frutos que compõe o grupo

de hortaliças o foco da produção rural (Notícias do Dia, 9 e 10 de agosto de 2014, p. 16 e

17).

Ressaltando que o cinturão verde da grande Florianópolis não produz apenas

“agricultura orgânica” também há a presença de uma “agricultura tradicional/

convencional”, a qual se utiliza aditivos químicos- agrotóxico. Na porção Norte, no Rio

Vermelho a presença do “hidropônico”20 também está presente, onde as hortaliças são

produzidas na água através de aditivos químicos.

Dentro da agricultura tradicional/ convencional as empresas que detém a maior fatia

do mercado em Santa Catarina, segundo Armando Lopes da Silva21 são:

18 Essa região atualmente, a da Grande Florianópolis, de acordo com a Federação Catarinense de

Municípios –FECAM, compreende hoje treze municípios: de São José, Palhoça, Biguaçu, Antônio Carlos,

Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, São Pedro de Alcântara, Governador Celso Ramos, Antônio

Carlos, Angelina, Rancho Queimado, Anitápolis, São Bonifácio, e Florianópolis. Juntos forma a grande

região metropolitana de Florianópolis, e atualmente concentram o grande cinturão verde de Santa Catarina,

segundo a dissertação de Maria Ângela Bizari Caviccgioli- “As hortaliças na grande Florianópolis: da

produção ao consumo, a ação dos agentes intermediários”- em 1997, a grande Florianópolis já era

responsável por 70% da produção de hortaliças no Estado.

19 Cabe destacar que Santa Catarina apresenta como característica diferenciada de outras regiões do país, a ausência de uma metrópole, contudo, ela é formada por cidades médias. Mesmo as que apresentam maior crescimento populacional não chegam a 1 milhão de habitantes. Apenas as regiões metropolitanas conseguem concentrar uma população de tal expressão. 20 Segundo em entrevista com Armando Lopes da Silva (16/03/2015), ele relata que o hidropônico surgiu

na segunda Guerra Mundial no Japão para alimentar os soldados americanos. Pois os japoneses estavam

acostumados a utilizar a própria matéria orgânica humana na agricultura, faziam a sua compostagem

naturalmente, porém os americanos quando consumiam este alimento tinham problemas de intestino. Nessa

época com o forte desenvolvimento da parte química, os EUA desenvolvem a técnica do hidropônico para

alimentar os soldados americanos.

21Entrevista feita em 16/03/2015, este proprietário da Empresa “Alento da terra”.

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beijar flor” de Antônio Carlos [...] que fornece especificamente a rede

Angeloni [...] O “cozinha fácil” ele não produz ele só compra, processa

o produto, ele também é de Antônio Carlos [...] ele comercializa com

as redes de supermercado [...] eles só adquirem produtos de terceiros

[...] eles vão lá e compram de pequenos produtores [...] fornece para o

Angeloni e outras redes de supermercado [...] produção terceirizada [...]

(E o) “Verde fácil” que é de Biguaçu que trabalha também trabalham

com produto convencional (entrevista realizada em 16/03/2015).

Todos estes estão no cinturão verde da grande Florianópolis. As hortaliças são o

principal produto e, nesses espaços

Periurbanos (são) bastante valorizados, que recuam com a expansão

urbana, a prática de uma agricultura de produtos perecíveis torna-se

compensadora, quer em face da proximidade e garantia do mercado,

quer em face dos altos preços pagos pelo consumidor [...] o pequeno

produtor cultiva determinados produtos, em datas precisas e conforme

a estação do ano, independente da presença de água para o regadio

manual que compensaria a falta de ocorrência de chuvas (LIMA, 1983,

p. 19 e 27).

A importância desse tipo de alimento estar próximo aos núcleos urbanos é

ressaltada por Von Thunen22, em sua teoria sobre o “Estado Isolado” vai abordar a

necessidade de alguns espaços no entorno da cidade devem ser estabelecidos, e

organizado em forma de anéis concêntricos, onde cada círculo tem como condicionante

um tipo de alimento como criação, plantação, sua posição vai variar de acordo com o

transporte do produto (WAIBEL, 1948).

No caso das hortaliças essa ideia cabe perfeitamente, pois o cinturão verde está ao

redor dos grandes núcleos urbanos do litoral catarinense, e das grandes vias de circulação

como a BR- 101 que dá acesso a outras vias, ligando o Estado Catarinense como um todo.

Além disso, por serem produtos perecíveis o encurtamento da distância do mercado

consumidor passa a ser fundamental para manter a qualidade do produto.

22FONTE: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/115/rbg_1978_v40_n2.pdf, acessado em outubro de 2015.

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Sobre o consumo e a comercialização de produtos orgânicos na Grande

Florianópolis, o Instituto CEPA/ SC realizou em 2003 um estudo com base nos dados de

pequenos estabelecimentos, supermercados e feiras livres. Essa pesquisa concluiu que

Os consumidores de produtos orgânicos são motivados por razões de

saúde pessoal (mais de 66%), que o principal produto orgânico

consumido é a hortaliça (mais de 77% das compras de orgânicos), com

frequência semanal (93%), e normalmente está satisfeito com a oferta

destes produtos. O principal problema para a aquisição é o seu alto

preço (58% dos clientes de pequenos estabelecimentos, 53% dos

clientes de supermercados e 45% dos clientes de feiras), porém, poucos

locais de venda e diversidade de oferta também são problemas

apontados com frequência (MATOS FILHO, 2004, p.38).

No caso do município de Florianópolis a região que consegue manter um número

maior de pequenos agricultores é o Ratones, apesar de outras áreas ainda terem essa

atividade. Essa agricultura policultura feita em pequenas glebas, atualmente, conseguem

sobreviver e ganhar mercado consumidor por serem em sua maioria produtos

orgânicos23, o qual tem um valor agregado maior.

Esse valor se explica pelo fato de o custo da produção orgânica ser mais cara e

suscetível do que a produção convencional.

Ilustração 1 - Condomínio fechado em Ratones

23A agricultura orgânica surgiu com base nas teorias de Albert Howard em seu libro “Testamento da Agricultura” em 1940, na Inglaterra. A teoria tem como base a sustentabilidade da agricultura e a conversão da fertilidade do solo focado na matéria orgânica, dos microrganismos do solo e para a necessidade de interação entre a produção vegetal e animal. É em 1930, na Suíça que a Agricultura biológica se desenvolve e tem como objetivo preconizar o manejo do solo, a fertilização e o manejo do solo. “Segundo o Instrumento Normativo nº 7, de 17 de maio de 1999, do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, considera-se sistema orgânico de produção agropecuária e industrial todo aquele em que se adotam tecnologias que otimizem o uso de recursos naturais e socioeconômicos e respeitem a integridade cultural [...] deve privilegiar a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os estágios da produção e da transformação. O conceito do sistema orgânico de produção abrange os denominados ecológicos, biodinâmicos, naturais, sustentáveis, regenerativos, biológicos, agroecológicos, e a permacultura” (OLTRAMARI, 2002, p.07 e 8).

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FONTE: foto de Giselli Ventura de Jesus (janeiro de 2017).

Na localidade de Ratones encontram-se produtores informais, alguns têm sua

origem a partir dos pequenos produtores açorianos, e cresceram dentro dessa atividade.

Outros chegaram recentemente.

Os pequenos agricultores resistem à expansão urbana em Ratones onde a cada ano

surge um novo condomínio fechado, “propriedades (que) custam de r$ 300 mil a r$ 2

milhões” (notícias do dia, 15 de setembro de 2014)24. A Ilustração 1 mostra um desses

grandes empreendimentos na região.

METODOLOGIA

Para a presente pesquisa foram feitas saída de campos, assim como a revisão

bibliográficas e recorte de jornais, bem como entrevistas com os agricultores de Ratones.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

APESAR DA TRADIÇÃO DA PEQUENA PRODUÇÃO MERCANTIL AO

LONGO DO PROCESSO HISTÓRICO DO LITORAL CATARINENSE, E DO

AUMENTO DA DEMANDA POR PRODUTOS AGRÍCOLAS, SOBRETUDO DE

HORTALIÇAS, FRENTE AO CRESCIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DE

FLORIANÓPOLIS NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, O ALTO VALOR DA TERRA

DIFICULTA A ATIVIDADE, SOBRETUDO DENTRO DA ILHA.

24Disonível:http://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/198421-agricultura-ratones-urbanizacao-norte-da-ilha-florianopolis.html, acessado em outubro de 2015.

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SEGUNDO O PROPRIETÁRIO DA EMPRESA “ALENTO DA TERRA”,

ARMANDO LOPES DA SILVA, HOJE PARA UM PEQUENO AGRICULTOR

COMPRAR UM TERRENO NO RATONES PARA A ATIVIDADE AGRÍCOLA “É

INVIÁVEL, SIMPLESMENTE IMPOSSÍVEL [...] UM TERRENO NORMAL DE 350

M², 400M² É 200, 300 MIL REAIS [...] PEGA 10.000M² [...] SÃO EQUIVALENTES

A 30 TERRENOS SÃO 6 MILHÕES DE REAIS... NÃO EXISTE MAIS ESSA

POSSIBILIDADE” (ENTREVISTA REALIZADA EM 16/03/2015).

UM GRANDE

COMPLICADOR, VAMOS DIZER ASSIM [...] FLORIANÓPOLIS

TEM ÁREAS PARA A PRODUÇÃO, ÁREAS BOAS PARA A

PRODUÇÃO, MAS A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA [...]

ENTROU E É IRREVERSÍVEL, TEM SIDO UM COMPLICADOR,

ALÉM DA MÃO DE OBRA QUE SE CANALIZOU PARA OUTRAS

ÁREAS [...] NÃO EXISTE MAIS ÁREAS PORQUE ESSAS ÁREAS

ESTÃO MUITO CARAS (ARMANDO LOPES DA SILVA,

ENTREVISTA REALIZADA EM 16/03/2015).

Há ainda a presença de alguns agricultores tradicionais como o Sr. Antônio Manoel

Berto de 91 anos de idade, apesar de sua idade ainda continua a plantar. Ainda hoje “toda

sexta e terça vou no centro” (entrevista feita em 04/03/2015). O Sr. Antônio é um exemplo

de agricultor e comerciantes, ele comprava produtos de outras localidades, assim como

de Ratones e revendia no Centro de Florianópolis, como fica explícito em sua entrevista:

Aqui no Ratones foi o lugar mais de fruta, tinha muita nona [...] levava

pra cidade de carreta pra vende [...] nos comprava em Canasvieiras

cebola [...] [...] nos comprava cebola na Vargem Grande na Vargem

Pequena [...] Em 71 eu vendi 50 mil quilo de mandioca, vendia muito

pra gado [...]eu levava pra cidade [...] toda terça feira eu trazia 20 caixas

pra levar na quarta, e na quinta levava 10 caixas pra leva na sexta[...]

Fruta era mais no verão[...] fruta de abril, maio junho[...] dava mais

nona, e a vegamorta e a laranja era de maio adiante [...] comprei muito

na chácaras ali adiante [...] comprava e vendia por conta da festa da

laranja (Antônio Manoel Berto, entrevista feita em 04/03/2015).

O Sr. Adalício Vitor da Silva25, conhecido como Sr.Lici é outro agricultor desde

pequeno. Sua Origem é na Praia Brava, mas há um ano está se dedicando exclusivamente

25 Entrevista feita em 16/03/2015.

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a plantação de produto orgânico no Ratones, apesar de ter o terreno a mais de 20 anos.

Ele entrega sua produção para supermercado e restaurantes do Norte da Ilha.

Esses dois produtores com origem na produção mercantil que existia na Ilha são um

dos poucos que ainda sobrevivem ou mantem a atividade.

Os moradores mais recentes, a partir da década de 1990 acabaram também ligados

à atividade agrícola. É o caso de “Fábio Schaefer, 48, conta com a ajuda da mulher Rejane

e do filho Luiz Felipe para organizar a empresa familiar” (Notícias do Dia, 2 e 3 de janeiro

de 2016, p.17). Ele é dono do “Sítio Cheiro Verde”, referência na produção de produtos

orgânicos da Ilha, e um dos principais fornecedores para os supermercados. Outro forte

fornecedor de hortaliças orgânicas para as grandes redes e para restaurantes é a Empresa

“Alento da terra” que também atua em Ratones, e em Biguaçu.

Ambas são relatadas como as grandes produtoras desse tipo de seguimento em

Florianópolis, pelos outros pequenos agricultores da região.

A “Cheiro Verde” iniciou em

1997 como passatempo e terapia familiar, a produção de orgânicos

começou a virar negócio em 2014, quando Schaefer comprou parte do

cunhado no sítio cercado de mata atlântica, ao pé do morro da Virgínia.

Atualmente, são 16 empregados, todos moradores lá mesmo da região,

e duas caminhonetes para o roteiro de entregas em supermercados,

feiras e raros consumidores (Notícias do Dia, 2 e 3 de janeiro de 2016,

p.17).

A “Alento da terra” também surge na década de 1990, por volta de 1995/1996. Esse

fato pode ser explicado, pois na época da gestão da “prefeitura da Ângela Amim houve

um incentivo para essa agricultura Orgânica [...] houve um movimento para resgatar esses

valores, mas depois a prefeita deixou o cargo essa ideia acabou sendo totalmente

abandonada” (Armando Lopes da Silva, entrevista realizada em 16/03/2015).

CONCLUSÕES FINAIS

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O OUTRO CONDICIONANTE DE A AGRICULTURA EM FLORIANÓPOLIS

NÃO TER EXPANDIDO, ALÉM DA ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA, SERIA O

FATO DE “AQUI NÃO TEM QUASE PLANTADOR, NOS VELHOS QUE PLANTA

OS NOVOS NÃO QUEREM PLANTA” (ADALÍCIO VITOR DA SILVA,

ENTREVISTADO 16/03/2015), SEGUNDO SR. LICI. ESSA REALIDADE É

DESCRITA POR MUITOS QUE TRABALHARAM E TRABALHAM NA

AGRICULTURA, A FALTA DE JOVENS NESSA ATIVIDADE, E O PRÓPRIO

PREÇO DA TERRA FAZEM COM QUE ATIVIDADE NÃO GANHE FORÇA

DENTRO DA ILHA, POIS AINDA HÁ ESPAÇOS PARA ESSA ATIVIDADE E UM

MERCADO CONSUMIDOR CADA VEZ MAIS EXIGENTE E QUE CONSEGUE

PAGAR POR ESSE PRODUTO DE QUALIDADE.

Além desses produtores há a presença de outros no Ratones, onde pode- se perceber

na saída de campo ao local, e em conversas com moradores. Porém, muitos são fechados

e produzem para uma clientela fixa, em que toda semana entregam uma cesta com seus

produtos. Muitos de seus clientes são pessoas de classe média a alta, que deseja qualidade

como os produtos orgânicos, os quais têm um valor agregado maior.

Esse tipo de atividade que apresenta um valor agregado maior e uma clientela

próxima, possibilita cada vez mais o crescimento desse mercado, apesar da interferência

imobiliária e da falta de mão de obra, sobretudo de jovens que queiram se inserir nesta

atividade.

REFERÊNCIA

CAVICCHIOLI, Maria A. B. As hortaliças na Grande Florianópolis: da produção ao

consumo: a ação dos agentes intermediários. 1997. Dissertação. (Mestrado em Geografia

Humana) Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências

Humanas. UFSC-CFH, Florianópolis.

MATOS FILHO, Altamiro Morais. Agricultura orgânica sob a perspectiva da

sustentabilidade: uma análise da região de Florianópolis/ SC. Dissertação de Mestrado-

Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC, Centro Tecnológico. Programa de Pós

Graduação em Engenharia Ambiental, 2004.

OLTRAMARI, Ana Carla; ZOLDAN, Paulo, et all. Agricultura Orgânica em Santa

Catarina. Florianópolis: Instituto CEPA/SC, 2002.

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WAIBEL, Leo. A teoria de Von Thünen sobre a influência da distância do mercado

relativamente à utilização da terra – sua aplicação a Costa Rica. In: Revista Brasileira

de Geografia, ano X, n. 1, jan-mar de 1948.

SITES CONSULTADOS:

Disponível: http://docweb.epagri.sc.gov.br/website_cepa/publicacoes/organicos.pdf,

acessado em março de 2016.

Disponível:

http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/115/rbg_1978_v40_n2.pdf,

acessado em outubro de 2015

Disonível:http://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/198421-agricultura-ratones-

urbanizacao-norte-da-ilha-florianopolis.html, acessado em outubro de 2015.

JORNAIS:

Notícias do Dia, 2 e 3 de janeiro de 2016, p.17)

Notícias do Dia, 9 e 10 de agosto de 2014, p. 16 e 17

Notícias do Dia, 2 e 3 de janeiro de 2016, p.17).

ENTREVISTAS:

Adalício Vitor da Silva, conhecido como Sr.Lici. Entrevista feita em 16/03/2015.

Antônio Manoel Berto, entrevista feita em 04/03/2015

.

Armando Lopes da Silva, entrevista realizada em 16/03/2015.

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EIXO 5

MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E O ENSINO DE GEOGRAFIA

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA ESCOLA DE TURISMO E

HOTELARIA CANTO DA ILHA (CUT): relato das práticas de sala de

aula integrando conteúdos de turismo e geografia

Cruz. Karina Martins da.26

Rocha. Isa de Oliveira (orientadora)27

RESUMO

O artigo expõe as perspectivas norteadoras para os avanços teóricos-metodológicos

utilizados com as turmas da Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha (ETHCI), unidade de

ensino da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Florianópolis, apresentando algumas

estratégias da Escola e as intervenções como novas alternativas para o processo de ensino-

aprendizagem. No movimento social em favor da educação, é que aparecem as problemáticas

do mundo do trabalho, com os seus efeitos, angústias e reivindicações, acolhendo os sujeitos

que se encontram na periferia de acesso aos direitos. Assim, a educação profissional representa

a porta para entender a sua cidadania. Chama-se a atenção para a necessidade de superação do

historicismo através de uma abordagem centralizada na categoria formação sócio-espacial para

desenvolver os conteúdos didáticos nos cursos da área de Turismo e Hospitalidade. São

relacionadas atividades metodológicas possíveis com os jovens e adultos, no período noturno,

algumas atividades e seus métodos para sistematização que entrelaçam as bases teóricas da

geografia com as questões relacionadas às profissões da atividade turística, sejam o

aprendizado da formação específica ou as pesquisas sobre o turismo litorâneo.

Palavras-chave: Mundo do trabalho; Ensino-Aprendizagem; CUT; Formação Sócio-Espacial;

Florianópolis.

26 Atualmente, é Professora de Geografia pela Prefeitura Municipal de Santo Amaro da Imperatriz; Doutoranda em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental (PPGPLAN) na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). E-mail: [email protected]. 27 Professora do Departamento de Geografia e do PPGPLAN (Mestrado e Doutorado) da UDESC. E-mail: [email protected].

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INTRODUÇÃO

No movimento social em favor da educação, é que aparecem as problemáticas

do mundo do trabalho, com os seus efeitos, angústias e reivindicações. Para atender

jovens e adultos que já estão inseridos no mercado de trabalho, a construção de uma

educação integral transformadora é aquela que contempla os conhecimentos técnicos

aliados à formação básica, tendo o trabalho como princípio educativo. Não significa

dizer “aprender fazendo”, mas reconhecer que o ser humano se apropria da realidade

para transformá-la através do trabalho. Educação e trabalho compreendem a práxis, já

que a sala de aula é o local em que acontecem as trocas de experiências e

(re)significações que beneficiam a relação da teoria com a prática como fundamentos

para pensar a sociedade. As discussões em sala de aula com o historicismo abarcam a

dialética como técnica didática.

O domínio das técnicas passa pelo domínio dos fundamentos da prática do

trabalho. O trabalho enquanto meio de emancipação humana e de conquista de direitos,

condição estas para a cidadania é resgatado na Escola. Tomando o historicismo como

método (GRAMSCI, 1995), a concepção de cultura torna-se a síntese entre formação

geral e formação específica (ou formação básica e formação profissional), quando se

estudam as características de um tempo histórico, dos grupos sociais e dos avanços do

conhecimento promovidos na sociedade. Frigotto (2005) fala de uma formação humana

com capacidade analítica dos processos técnicos, rompendo com as suas dicotomias –

geral e específico; político e técnico; e educação básica e técnica.

Através do historicismo, compreendem-se os processos em curso das forças

produtivas. Quando histórica e geograficamente localizadas, as forças produtivas são

constitutivas de uma formação sócio-espacial (SANTOS, 1977): categoria geográfica

sem a qual o espaço não seria estudado sob a perspectiva totalizadora. Assim, é

abandonada a noção de “sociedade em geral” para especificar a análise de uma

sociedade e de seu desenvolvimento. Santos (1977) trata a categoria formação sócio-

espacial enquanto continuidade e descontinuidade do desenvolvimento histórico,

reconhecendo a totalidade nas diversas esferas econômica, social, política e cultural da

vida em sociedade.

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O paradigma geográfico formação sócio-espacial amplia as explicações sobre a

materialidade do espaço, tornando o historicismo mais visível ao cotidiano dos

estudantes. Ao mesmo tempo, eles precisam se inteirar das informações turísticas,

como breve histórico, atrativos, panorama econômico e mapa turístico, cuja utlização

da categoria formação sócio-espacial possibilita contribuição ao aprofundamento e

contextualização dos conteúdos. Um acontecimento histórico, que não é isolado, ao ser

discutido em sala de aula, sustenta-se pela simultaneidade, ou seja, por suas relações e

diferentes escalas local, regional, nacional e internacional.

O presente texto apresenta: as conceituações norteadoras para os avanços

teóricos utilizados com as turmas da Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha da

CUT, de Florianópolis, entre 2010-2011, algumas estratégias metodológicas da Escola,

e as intervenções agregando novas alternativas para o processo de ensino-

aprendizagem.

METODOLOGIA

As intervenções aconteceram na Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha

(ETHCI), localizada em Florianópolis (SC), pertencente à rede de formação da Central

Única dos Trabalhadores (CUT), pela ação educativa nos cursos de formação inicial e

continuada (FIC) Gestão Hoteleira e Agência de Viagens (200 h/aula) e Técnico em

Hospedagem (900 h/aula), todos no período noturno, entre 2010 e 2011.

O referencial metodológico da ETHCI está no seu projeto político-pedagógico

(MIYASHIRO; MORETTO, 2005). Cada educador (re)adapta ao seu processo de

ensino-aprendizagem. Duas dinâmicas iniciam todos os cursos: a “Árvore de

Expectativas” e a “Trajetórias de Vida”, com as quais acontece a troca de vivências.

Os educandos no Norte da Ilha refletem a diversidade de migrações em Florianópolis,

os graus de letramento, as faixas etárias a partir de 18 anos, a pouca familiaridade com

a informática e as suas experiências profissionais, com rendas familiares de classe

média a média baixa.

As semanas temáticas começavam pelos saberes e conhecimentos quanto às

práticas de trabalho, com a socialização de um texto, no qual a heterogeneidade aparece

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através das diversas habilidades do grupo. Em seguida, o desenvolvimento

metodológico, por meio de fichas geradoras de debates (crônicas, notícias de jornal ou

revista, partes da CLT, músicas, poemas, imagens ou filmes) como mediação dos

saberes populares e conhecimentos tácitos. Depois, uma atividade lúdica e coletiva ―

esquete teatral, jogo, dinâmica de grupo, cartaz ou mapa ilustrativo. Ao final, um

instrumento de avaliação como síntese na relação das questões profissionais com a

realidade (crítica).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

À mediação do educador na Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha é

outorgada a função de descompartimentar os conteúdos que foram “aprendidos”

durante o ensino fundamental. Por isso, a educação dos jovens e adultos, no período

noturno, exige uma série de estratégias para atingi-los, perante a assimilação, muitas

vezes, fragmentada e vaga trazida por eles.

Através da leitura de diversos trabalhos sobre a formação sócio-espacial no

litoral catarinense, tornou-se possível buscar determinadas explicações nas quais estão

presentes fenômenos que são identificados tanto pela área da geografia como também

pelos estudos de turismo. Em determinadas aulas, a escrita no quadro substituiu os

assuntos prontos na forma de texto. Também os trabalhos coletivos com a anotação de

palavras-chave, conceituações, ligação entre determinantes, cálculos e esquemas, numa

linguagem visual para responder aos anseios de copiar, também produzindo novos

caminhos de assimilação dos conteúdos, principalmente aos alunos com dificuldade de

letramento.

Na Figura 1, o mapa turístico elaborado pela sobreposição de imagem obtida

pelo datashow em um tecido branco de algodão, contornando o desenho para depois

colar imagens de atrativos turísticos nas localizações, pintando e delimitando as áreas

geográficas (sem compromisso com a escala). Deve-se à atribuição do setor de

recepção em hotéis na prestação de informações turísticas, relacionando

conhecimentos técnicos vistos nas aulas da semana, com os empíricos quanto às

impressões sobre a cidade.

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FIGURA 1 – ATIVIDADE COLETIVA DO “MAPA” TURÍSTICO

FONTE: Karina M. Da Cruz (ETHCI-CUT, 2010).

Com estudantes originários de outras regiões catarinense, estados ou países,

formularam-se questionamentos — Por que os terrenos são tão caros em Florianópolis?

Eram os manezinhos os donos das terras? Por que o turismo acontece em alguns meses

do ano? O que é sazonalidade? A abordagem da formação sócio-espacial possibilitou

a compreensão sobre o desenvolvimento urbano e da atividade turística no litoral

catarinense.

Na semana do dia do trabalhador, após a exibição do filme Los lunes al Sol

(2002), efetuou-se a leitura comentada de um artigo mostrando o contexto do

desemprego — estaleiro substituído por um hotel de luxo com capitais estrangeiros —

no norte da Espanha. Seguida de pesquisa sobre atrativos turísticos, economia, renda e

pirâmide etária da Galícia. Confecção do painel ilustrativo (Figura 2), através de papel

pardo, canetões, cola, fita adesiva, tesoura e imagens, e da elaboração de pacote

turístico com itinerário, cálculo de valores na conversão da moeda e das comissões para

a agência e do agente de viagens. Alguns educandos pediam o “modelo tradicional” de

escrever e copiar, no seu sentido de escola na infância. Mas as discussões

acompanharam todos os momentos das aulas, refletindo sobre as profissões da

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atividade turística.

FIGURA 2 – A GALÍCIA EM RELAÇÃO À ESPANHA NA VISÃO DOS

ALUNOS

FONTE: Karina M. da Cruz (ETHCI-CUT, 2011).

As estratégias metodológicas possibilitam criar a forma na qual podem ser

alcançados determinados objetivos com a prática didática. Não somente através de

instrumentos de avaliação são detectados os resultados obtidos, mas também pela

motivação e abertura ao novo por parte dos jovens e adultos. São estimulados aspectos

como o protagonismo, entendido pela busca da autonomia através do saber, refletindo

nas aulas maior independência ao falar, agir, escrever e pensar.

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CONCLUSÕES FINAIS

Um dos desafios da Escola de Turismo e Hotelaria Canto da Ilha é que a

qualificação profissional auxilie os trabalhadores nos processos de negociação da

reestruturação produtiva do setor, tanto nas relações de trabalho quanto nas

reivindicações junto à gestão de políticas públicas. A Escola acredita que o modelo de

competências contribui para a naturalização das desigualdades sociais existentes,

atribuídas às inovações tecnológicas a falta de empregos e também resultando na

culpabilização dos indivíduos ao determinar padrões de comportamento, afastando os

trabalhadores da organização coletiva.

O Projeto Político Pedagógico é freiriano, por isso considera o entendimento de

que “o mundo está sendo” (FREIRE, 2003). A “permanente inconstância” do mundo

refere-se, ao mesmo tempo, aos objetos de estudo das áreas da geografia e do turismo,

daí a interdisciplinaridade ser possível através da categoria formação sócio-espacial no

processo de ensino-aprendizagem de cursos de formação inicial e continuada e técnico

na área de Turismo e Hospitalidade. Trabalhar com jovens e adultos para a educação

profissional requer a variação das estratégias metodológicas.

As unidades de ensino dos movimentos sociais associam-se ao trabalho como

princípio educativo acolhendo os sujeitos que se encontram na periferia de acesso aos

direitos, nas quais a educação representa a porta para entender a sua cidadania. A

reforma trabalhista (Lei 13467/17), aprovada às pressas, tornou facultativo o

recolhimento do imposto sindical, o que afeta o orçamento dos sindicatos e assim, desta

Escola da CUT.

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REFERÊNCIAS

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. 26.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

FRIGOTTO, G. Concepções e mudanças no mundo do trabalho e o ensino médio. In:

FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M.; RAMOS, M. (orgs.). Ensino médio integrado.

Concepção e contradições. São Paulo: Corteza, 2005, p.56-82.

GRAMSCI, A. Concepção dialética da história. 10.ed. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1995.

LOS LUNES AL SOL. Fernando L. de Aranoa. Casablanca Filmes, Esp, 2002,

(113min).

MIYASHIRO, R.; MORETTO, N. R. (orgs.). Educação Integral dos

Trabalhadores: projeto político pedagógico na área de turismo e hospitalidade.

Florianópolis: CUT, 2005.

SANTOS, M. Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método.

Boletim Paulista de Geografia. N.54. São Paulo: AGB/FFLCH-USP, 1977.