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 2 A A I   S D  O   6 º  E  C  O T  O  D E P E  S  Q  U I   S A E  A T E ANAIS DO 6º ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE 15 a 17 de junho de 2011 Montenegro – RS - Brasil 2011 Esta é uma publicação da EDITORA DA FUNDARTE DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO-CIP E56a Bibliotecária Patrícia Abreu de Souza - CRB10/1717 Comissão Organizadora  André Luiz Wagner Gorete Iolanda Junges Júlia Maria Hummes Marcia Pessoa Dal Bello Maria Isabel Petry Kehrwald Priscila Mathias Rosa Virgínia Wagner Petry Comissão Científica Profª. Dra. Úrsula Rosa da Silva (UFPel/RS) Profª. Dra. Mirela Ribeiro Meira (UFPel/RS) Profª. Dra. Maria Isabel Petry Kehrwald (FUNDARTE/RS) Profª. Dra. Cristina Wolffenbüttel (UERGS) Profª. Dra. Regina Antunes Teixeira Santos (FUNDARTE/RS) Profª. Me. Júlia Hummes (FUNDARTE/RS) Prof. Me. Carlos Mödinger (UERGS) Editoração Eletrônica: Marcelo Fernando de Ávila Curadoria Pedagógica do Evento Profª Dra. Úrsula Rosa da Silva (UFPel/RS) Coordenação do Evento Profª. Dra. Maria Isabel Petry Kehrwald Profª. Me. Júlia Maria Hummes Parceria: UFPel/RS OBS.: A correção ortográfica e científica é de responsabilidade dos autores. CDU 7:061.3 Encontro de Pesquisa em Arte (6:201 1:Montenegro,RS)  Anais do 6º Encontro de Pesquisa em Arte / organizado por: Júlia Maria Hummes. - Montenegro,RS : Ed. da Fundarte, 2011. 1 CD-ROM ISSN 1808 - 3757 1. Arte 2. Pesquisa 3. Formação de Professor 4. Mediação Pedagógica 5. Teatro 6. Música 7. Artes Visuais 8. Dança I. Fundação Municipal de Artes de Montenegro II. Hummes, Júlia Maria III. Título

Anais do 6º EPA1

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ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE 15 a 17 de junho de 2011 Montenegro RS - Brasil 2011Esta uma publicao da EDITORA DA FUNDARTE DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO NA PUBLICAO-CIP E56a Encontro de Pesquisa em Arte (6:2011:Montenegro,RS) Anais do 6 Encontro de Pesquisa em Arte / organizado por: Jlia Maria Hummes. - Montenegro,RS : Ed. da Fundarte, 2011. 1 CD-ROM ISSN 1808 - 3757 1. Arte 2. Pesquisa 3. Formao de Professor 4. Mediao Pedaggica 5. Teatro 6. Msica 7. Artes Visuais 8. Dana I. Fundao Municipal de Artes de Montenegro II. Hummes, Jlia Maria III. Ttulo

CDU 7:061.3Bibliotecria Patrcia Abreu de Souza - CRB10/1717 Coordenao do EventoProf. Dra. Maria Isabel Petry Kehrwald Prof. Me. Jlia Maria Hummes

Curadoria Pedaggica do EventoProf Dra. rsula Rosa da Silva (UFPel/RS)

Comisso CientficaProf. Dra. rsula Rosa da Silva (UFPel/RS) Prof. Dra. Mirela Ribeiro Meira (UFPel/RS) Prof. Dra. Maria Isabel Petry Kehrwald (FUNDARTE/RS) Prof. Dra. Cristina Wolffenbttel (UERGS) Prof. Dra. Regina Antunes Teixeira Santos (FUNDARTE/RS) Prof. Me. Jlia Hummes (FUNDARTE/RS) Prof. Me. Carlos Mdinger (UERGS)ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

Comisso OrganizadoraAndr Luiz Wagner Gorete Iolanda Junges Jlia Maria Hummes Marcia Pessoa Dal Bello Maria Isabel Petry Kehrwald Priscila Mathias Rosa Virgnia Wagner Petry

Parceria: UFPel/RSEditorao Eletrnica:Marcelo Fernando de vila

OBS.: A correo ortogrfica e cientfica de responsabilidade dos autores.

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FUNDAO MUNICIPAL DE ARTES DE MONTENEGRO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL

6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE:Eixo temtico: A formao do professor pesquisador e a mediao pedaggica

O 6 Encontro de Pesquisa em Arte busca a formao do professor como um permanente pesquisador dos modos de aprender e ensinar, provocador de mediao entre saberes diversos, sobretudo a inter-relao entre teoria e prtica. So indagaes pertinentes ao evento: Qual a formao necessria para o desempenho da docncia contempornea em arte? Quais so os processos imprescindveis a serem vivenciados durante os cursos? possvel ser um professor artista, um artista professor? Como a pesquisa poder abrir brechas para qualificar o ensino e a performance em Arte? Estas e outras questes nortearo o 6 Encontro, com o objetivo de convocar os interessados a uma reflexo sobre formao de professores e prticas de pesquisa na rea de artes. O encontro um espao de investigao e dilogo, ancorado no eixo temtico, abrangendo artes visuais, dana, msica e teatro.

ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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Sumrio1.Criao, estranheza e releitura nas artes visuais uma pesquisa com archimboldo na escola...................................................................7 Maristani Polidori Zamperetti 2. Educao Musical em projetos sociais do Vale do Paranhana.............................17 Patricia Kebach 3. Leitura da Imagem For Men Only. MM and BB Starring de Peter Phillips..........................23 Ana Laura Rolim da Frota 4. Projeto dramatizando nossa arte: resgatando o sentido da arte teatral em uma comunidade escolar da cidade de Porto Alegre.........................................................29 Elisa Riffel Pacheco 5.Conhecer e reconhecer: a fotografia como meio de aproximao do aluno com sua cultura........................36 Amanda Morialdo Funari 6. Mediao artstica e cultural: a experincia de estar na presena da obra..................................................................42 Maria Regina Johann Luciara Judite Roratto 7. A linguagem fotogrfica no ensino das artes: um olhar sobre as prticas de estgio do curso de Artes Visuais Modalidade Licenciatura, UFPel.......................................................................................................48 Carine Belasquem Rodriguez Cludia Mariza Mattos Brando 8. Artista e Arteiro: ensinar com arte e aprender brincando.....................................53 Cristina Rolim Wolffenbttel,Alexandra de C. Moojen, Diego da R. Salvador, Diego L. F. Herencio, Diewerson do N. Raymundo, Guilherme A. S. Garibotti, Juliani S. Marques, Morgana R. da Rosa, Norildo P. de Andrade, Patrick A. Moraes, Tatiane dos P. de Oliveira. 9. Investigando a msica em escolas do Rio Grande do Sul....................................60 Cristina Rolim Wolffenbttel, Daniele Isabel Ertel 10. Investigando concepes de estudantes sobre aulas de msica......................67 Cristina Rolim Wolffenbttel 11. A Cultura Visual e o fenmeno homogeneizante das tribos urbanas: uma problematizao acerca da formao identitria dos sujeitos em mbito educacional...................................................................................................................74 Amanda Ribeiro Corra Cludia Mariza Mattos Brando 12. Experincia esttica e estsica com crianas: a importncia da sensibilizao pela arte..................................................................78 Paula Pereira Pinto, Ursula Rosa da Silva e Maristani Polidori Zamperetti 13. A formao docente em artes visuais mediada pelas novas tecnologias anotaes de um projeto em desenvolvimento......................................................... 85 Cludia Mariza Mattos Brando, Daniela Pereira dos SantosANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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Sumrio 2 14.Criao de objeto de aprendizagem para artes visuais.........................................91 Andrea Hofstaetter 15. Imagem e subjetividade no orkut: reflexes sobre a Cultura Visual...................97 Maria Valria Rodrigues dos Santos, Cludia Mariza Mattos Brando 16. A pesquisa em Arte/Educao hoje: um desafio aos limites e possibilidades para o professor pesquisador em artes visuais.......................................................103 Larissa Patron Chaves 17. O tempo como fico e a produo de variaes imaginativas atravs da linguagem visual.........................................................................................................108 Patrick Tedesco 18. Metodologias alternativas no ensino de arte no ensino fundamental..............111 Tatiane Bierhals Holz 19. Encontro entre o teatro e a surdez: a experincia do grupo de pesquisa teatral SIGNATORES.....................................117 Adriana de Moura Sommacal Marcia Berselli 20. A linguagem da vdeo-arte: recursos, tcnicas e formas de ocupao do espao............................................123 Llian Aires Schwanz 21. Leitura primeira vista no violo: um estudo com alunos de graduao......................................................................126 Eduardo V. S. Pastorini 22. Conhecendo o patrimnio atravs de recursos pedaggicos e artsticos......................................................................................................................134 Gegliane Capa Verde Corra, Vivian da Silva Paulitsch, rika Rodrigues de Oliveira, Carla Beatriz Xavier Tavares 23. A tica da Festividade na Criao Cnica..........................................................142 Silvia Patricia FagundesANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

24. Visualizao simblica de dados musicolgicos: proposta de implementao computacional.............................................................157 Jean Menezes da Rocha 25. A subjetividade da notao musical na infncia................................................164 Sandra Rhoden 26. A busca do ator: uma relao da preparao xamnica com a preparao do ator.........................171Paulo Mrcio da Silva Pereira

27. Arte-conhecimento-acontecimento: a imagem como lugar de encontro...........................................................................180Daniela da Cruz Schneider

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Sumrio 28. Cartografia das Aes Educativas realizadas no Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo MALG nos ltimos 10 nos.......................................................................183 Helena dos Santos Moschoutis, Eduarda Gonalves 29. Suportes de experimentao: o uso de fanzines e Cut-ups como recurso esttico na escrita.............................192 Jamer Guterres de Mello 30. Movimentos reflexivos: indagaes sobre a avaliao e ensino de arte no ensino mdio..............................................................................................................199 Cleison Rafael Goulart da Silva, Vivian da Silva Paulitsch, Viviani Rios Kwecko 31. A paisagem rememorada: da fotografia a laborao pictrica........................205 Adriane Schrage Wchter, Eduarda Azevedo Gonalves 32. Teatro de fantoches: do imaginrio infantil a uma prtica artstica, educativa e inclusiva....................212 Maria Cristina Pastore, Roberta Merino Bastos, Rosete Porto Oliveira, Stfani Rafaela Pintos da Rocha 33. Relacionando conhecimentos acadmicos de diferentes instituies na aplicao da Lei 11.645 para promover o estudo da histria e cultura afrobrasileira e indgena em escolas pblicas...............................................................223 Nadiele Ferreira Pires, Rosemar Gomes .Lemos, Vivian Paulitsch. 34. Experienciando o desenho: tecendo relaes artsticas e afetivas no ensino fundamental..............................228 Andr Winter Noble, Jailson Valentim dos Santos, Nadia da Cruz Senna 35. Condutas docentes: um estudo a partir da prtica de professores de teatro.........................................234 Mrcia Pessoa Dal Bello 36. Grupo de estudos de msica corporal: utilizando a paisagem sonora como ferramenta no ensino de msica..............................................................................241 Grabriel Webber, Judson G. De Lima, Marli Maria Bunicoski, Matheus Webber da Silva, Nykolle GregorisANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

37. Tticas para instaurar o dilogo no contexto domstico.................................245 Alice Monsell 38. O Grupo de Estudo de Msica Corporal: uma experincia com a formao em msica para professores da educao infantil.......................................................254 Ana Carolina N. G. Amaral, Fernanda Rosas, Jefferson Ramos, Jos Luiz de Souza Santos, Judson G. De Lima 39. A importncia e a repercusso da formao continuada na prtica docente de professores de artes visuais em escolas pblicas de Pelotas.................................259 Letcia Britto 40. Programas e jogos musicais aplicveis educao..............................................265 Adriano Seadi Kleemann

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Criao, estranheza e releitura nas artes visuais uma pesquisa com archimboldo na escolaProfa. Ms. Maristani Polidori Zamperetti1 Centro de Artes Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

Resumo: As pinturas de Giuseppe Archimboldo provocam a imaginao de crianas e adultos de todos os tempos. A partir de um certo distanciamento visual das imagens criadas por ele, possvel visualizar novas figuras, gerando curiosidade e at certo ponto, estranheza. Procurei compreender as relaes estabelecidas entre as identidades juvenis, suas expresses criativas na forma de retratos produes artsticas corporificadas em construes tridimensionais, atravs de registros e fotografias das construes dos alunos. Assim, elaborei uma proposta de produo de releituras e/ou composies plsticas tridimensionais com elementos da natureza ou produzidos industrialmente, escolhidos e coletados pelos alunos da 5 e 6 sries, na disciplina de Artes Visuais, em 2007. Produzindo retratos repletos de apelos sensoriais ao tato e olfato, recriaram com elementos do seu cotidiano figuras curiosas, exticas e indagadoras, que remetem as formas criadas por Archimboldo. Palavras-Chave: Archimboldo; Artes Visuais; Criao; Releitura.

A experincia de ensino com pesquisa foi desenvolvida na escola onde trabalhei2 como professora de Artes Visuais, na cidade de Pelotas, RS. Procurei compreender as relaes estabelecidas entre as identidades juvenis, suas expresses criativas na forma de retratos produes artsticas corporificadas em construes tridimensionais. Assim, elaborei um plano de trabalho que consistia em observao e anlise de reprodues de imagens de Giuseppe Archimboldo3, e posterior produo de releituras e/ou composies plsticas tridimensionais com elementos da natureza ou produzidos industrialmente, escolhidos e coletados pelos alunos. O incio do trabalho coincidiu com o comeo da primavera e procurei conjugar a observao da natureza circundante com asANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

representaes propostas por Archimboldo. As fotografias4 das construes dos alunos e os registros em caderno de campo foram utilizados como elementos de pesquisa e motivadoras de reflexo a respeito da obra de arte como propiciadora da curiosidade e criao artstica na escola.

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Professora de Fundamentos da Educao em Artes Visuais no Centro de Artes/UFPel. Acadmica de Doutorado (FaE/UFPel). Pesquisadora vinculada ao Grupo de Pesquisa Educao, comunicao e formao de professores (FaE/UFPel). E-mail: [email protected] 2 Atuei na escola de fevereiro de 1991 a julho de 2010. 3 Tambm conhecido como Arcimboldo. 4 As fotografias das produes dos alunos foram tiradas pela pesquisadora.

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A escolha do artista no se deu de forma aleatria. H muito tempo que me interesso por sua obra, e tenho observado que ela produz interesse e curiosidade nos alunos, promovendo sincronia com estes leitores visuais. Percebo que quanto mais o professor conhecer o objeto estudado, maior ser a sua capacidade de questionar e abraar as interpretaes dos estudantes. Assim, tambm o aluno ser capaz de selecionar e escolher as imagens e interpret-las. A leitura inicial aberta e pedi que se manifestassem, expressando suas idias e sensaes, para depois, ir aprofundando e trazendo outros dados formais ou histricos. Apresentei, a seguir, alguns dados sobre Archimboldo, um pouco de sua histria e caractersticas formais de sua obra. Elaborei a partir das sugestes de Hernndez (2000), questionamentos sobre a imagem estudada, utilizando os saberes que os alunos j tm e podem expressar em confronto com os saberes do professor: 9Por que estamos vendo esta imagem? Por que a professora escolheu a obra para mostrar aos alunos? 9Por que a obra est no museu, no livro ou disponvel na internet, e no em outro lugar? Sugira outra obra que poderia estar no seu lugar.

Hernndez (2000) sugere que uma rea de conhecimento como a Arte deve ser questionada, assim, desde cedo devemos incentivar uma postura crtica em relao aos sistemas da cultura, para que os jovens sejam capazes de fazer suas escolhas e reconhecer a importncia das produes artsticas como um fato histrico e cultural, distanciando-se da hegemonia cultural.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

Percebo que atravs da Arte possvel despertar nos alunos a vontade de experimentar e conhecer, de expressar sua vontade de ser, viver e aprender, contribuindo para o seu processo de formao identitria. Sabemos das dificuldades encontradas pelos professores de Artes Visuais nas escolas, sem espaos fsicos e materiais propcios para o uso em sala de aula. Isso fez parte da minha experincia pessoal como professora na escola pblica, porm, como num desafio profissional, busquei extrapolar os limites impostos pela prpria organizao e espao da sala de aula, os quais colaboravam para o engessamento do processo criativo.

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As construes propostas pelos alunos utilizaram os espaos internos e externos da sala de aula e o clima da primavera com sua vivacidade e alegria contribuiu para que a experincia se produzisse de forma idntica. A temperatura agradvel proporcionou que os alunos se dispusessem no cho pavimentado do ptio, local para onde a maioria se dirigiu. Alguns, poucos, trabalharam dentro da sala de aula utilizando as classes e o cho. A partir do estudo, anlise e observao de obras de Archimboldo, propus que criassem composies plsticas tridimensionais com elementos da natureza, de forma a produzirem retratos. Estes poderiam ser autorretratos ou retratos de outras pessoas, como os amigos, os colegas, a famlia. O trabalho seria feito na prxima semana, para tanto, deveriam organizar-se com antecedncia. Reservei um tempo da aula para que eles planejassem a atividade e os materiais escolhidos. Eles trouxeram objetos, alimentos e materiais do seu ambiente familiar como tambm elementos da natureza com os quais convivem diariamente. Decidiram fazer o trabalho em grupo (Fig. 1).

ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

Figura 1 Produo de retrato com elementos da natureza

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Chamou-me a ateno o interesse e participao dos alunos na atividade, dividindo-se em grupos e escolhendo os materiais a serem utilizados. Foi possvel perceber atravs do trabalho criativo, caractersticas que identificam os jovens como pertencentes aquele contexto. Como o local uma regio pesqueira, alm de vegetais, frutas e produtos culinrios, trouxeram conchas, escamas de peixe, areia, estabelecendo vnculos com o seu entorno e valorizando a materialidade dispersa no meio ambiente (Fig. 2 e 3).

Figura 2 Retrato feito com materiais do meio ambiente

ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

Figura 3 Retrato utilizando elementos da natureza, areia e conchas

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Percebi, que de certa forma, estavam fazendo uma recriao e/ou releitura das formas de Archimboldo, pois alm da tridimensionalidade envolvida, buscaram trabalhar com planos construdos a partir da prpria materialidade, como no caso da areia. Perguntei se eles costumavam brincar com estes materiais no seu dia-a-dia. Eles disseram que sim, mas fazer na escola melhor e diferente! Ento, a partir de uma leitura significativa de imagens bidimensionais foi possvel extrapolar criativamente, construindo retratos tridimensionais (Fig. 4 e 5).

Figura 4 Retrato tridimensional

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Figura 5 Retrato tridimensional

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A leitura de imagens se torna significativa quando estabelecemos relaes entre o objeto de leitura e nossas experincias de leitor, como prope Pillar ao afirmar que o nosso olhar no ingnuo, ele est comprometido com nosso passado, com nossas experincias, com nossa poca e lugar, com nossos referenciais (1999, p.16). Assim, devemos estar atentos s experincias cotidianas dos alunos e tambm a familiaridade destes com a arte, estabelecendo uma estreita relao com o seu contexto prximo. Os estudos contemporneos na rea de educao e arte [...] vm centrando-se na importncia do contexto: a cultura em que a pessoa vive, os valores da famlia, tipos de escolarizao, ambientes, objetos, etc... (ROSSI, 2003, p.21). Alm das atribuies de significados e interpretaes relativas ao seu contexto prximo, as crianas devero ter contato com obras de arte de diversos perodos histricos e tendncias estticas. A releitura um tema discutido na leitura de imagens, e considero de difcil compreenso por parte de professores e alunos. Alguns professores apresentam obras de arte para os alunos copiarem, quanto mais prximo e parecido com o original, melhor; e chamam esse tipo de trabalho de releitura, de forma equivocada. A releitura exige um processo de criao, fazer pessoal e transformao com base em uma referncia visual, a qual deve ser estudada e debatida pelos alunos e professor. Observei que vrios alunos utilizaram partes de suas vestimentas para compor os retratos (Fig. 6). Materiais escolares participaram na construo de partes dos rostos misturados a alimentos e frutas (Fig. 7). Percebo, desta forma, o envolvimento pessoal dos alunos com o trabalho, ou seja, eles deixam uma parte de si presente na composio, fazendo parte da criao. E, ao ler estas novas imagens criadas a partir de elementos pr-existentes, podemos perceber o quanto necessitam de [...] compreender, [pois] precisam decodificar, e se apenas decodificam sem compreender, a leitura no aconteceANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

(PILLAR, 1999, p.11). A autora nos mostra que na leitura de imagens, conjugamos sensibilidades e cognio, pois estamos captando e compreendendo dados advindos do objeto, suas caractersticas formais, cromticas, topolgicas; e informaes do leitor, seu conhecimento acerca do objeto, suas interferncias, sua imaginao. Assim, a leitura depende do que est em frente e atrs dos nossos olhos (p. 12).

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Figura 6 Composio utilizando as vestimentas dos alunos

ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

Figura 7 Composio utilizando diversos materiais

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Outras possibilidades de construo foram utilizadas pelos alunos. A partir da imagem de Archimboldo, Retrato reversvel de um homem com frutas (1590), os jovens se sentiram mobilizados a criarem os seus retratos conversveis, ou seja, mudando as formas de posio e utilizando-as de maneira diferente daquela que habitualmente fora colocado, produziriam novas imagens (Fig. 8 e 9). De forma semelhante, essa situao pode nos mostrar que estamos em constante formao, recompondo e recriando as nossas identidades.

Figuras 8 e 9 Tentativas de recriar Cabeas reversveis

Os materiais utilizados eram carregados de subjetividades. Questionei-os a respeito do uso de alimentos nas construes, o que poderia gerar um desperdcio. A maioria disse que pediu me para trazer, e que alguns alimentos j estavam com oANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

prazo de validade vencido. De qualquer forma, preocupei-me, mas percebi, que para eles no havia diferena entre um lpis ou uma batata, ou seja, eles estavam usando o material como se fosse de uso artstico, e era! Aqueles materiais todos tinham histria: o feijo, a cebola e o limo. O feijo, a tia havia dado; a cebola e o limo eram cultivados na horta que tinha em casa, segundo depoimento de um aluno. Produzindo retratos repletos de apelos sensoriais ao tato e olfato, recriaram com elementos do seu cotidiano figuras curiosas, exticas e indagadoras, que remetem as formas criadas por Archimboldo (Fig. 10).

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Figura 10 Retrato tridimensional

Assim, percebi que para entendermos mais as crianas e os adolescentes precisamos mergulhar no seu cotidiano, na aparente rotina vivenciada por todos ns, onde eles tecem seus projetos existenciais, transformando o seu lugar na realidade social. O ateli existencial proporcionado pela Arte surgiu a partir das formas criadas pelos jovens como possibilidades de atuao no seu contexto. Remetem-nos para a multiplicidade de identidades construdas a todo momento. Constituem um painel multifacetado de sentidos, de subjetivaes, das experincias juvenis. As identidadesANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

equivalem a um conjunto de representaes e imagens de si. Para valorizar a expresso destas representaes preciso privilegiar os tempos internos dos jovens, que correspondem aos processos de crescimento e amadurecimento, os quais passam. Na fase inicial da adolescncia, os alunos mostram uma sensibilidade aguada arte, preocupando-se com representaes que envolvem expressividade, equilbrio, estilo e composio. A criatividade acontece nas mltiplas possibilidades culturais vividas por eles e se concretiza nas formas artsticas. Ao mesmo tempo, eles precisam vencer a forte crtica de si mesmos, que pode, mais tarde, bloquear a sua expresso artstica. Assim, compete ao professor estimular o jovem para que ele prprio reconhea as suas

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potencialidades como possibilidade de conquistar o que ainda no conhece, e que quer saber, construindo sua identidade. Precisamos afirmar que a valorizao do jovem e a sua insero no processo de ensino e aprendizagem possibilita-lhe o entendimento de que um dos protagonistas do processo educativo, com seu potencial criativo e intelectual em desenvolvimento.

Referncias

HERNNDEZ, Fernando. Cultura Visual. Mudana Educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000. PILLAR, Analice Dutra. Leitura e releitura. In: PILLAR, Analice Dutra (org). A Educao no olhar no ensino das artes. 5. ed. Porto Alegre: Mediao, 1999. p.11-20. ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam. Leitura de arte na escola. Porto Alegre: Mediao, 2003.

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Educao musical em projetos sociais do Vale do ParanhanaPatricia kebach1 Resumo: Esta pesquisa visa verificar a Educao Musical praticada no espao dos projetos sociais no Vale do Paranhana. Pretende-se investigar atravs dela como ocorrem as prticas musicais realizadas nesses contextos e como estas contribuem para a construo musical, para a incluso e resgate da cultura local. Atravs da pesquisa, poder-se- mapear a Educao Musical informal na regio de estudo e sua repercusso na sociedade local, legitimando-se este espao, contribuir para que os atuantes nos projetos sociais aprimorem seu trabalho e pensar na implantao da educao musical, obrigatria nas escolas a partir de 2011, de modo mais significativo. Para compreender o fenmeno investigado, analisar-se- como se instauram as prticas musicais e quais os processos e objetivos da musicalizao no ambiente dos projetos sociais das cidades investigadas: Taquara, Igrejinha, Trs Coroas, Parob, Rolante e Riozinho. Pretende-se tambm verificar se esses espaos geram (ou no) relaes interpessoais com base no respeito mtuo e na cooperao e observar o que une as pessoas em torno de atividades musicais em projetos sociais da regio. O corpo terico da pesquisa possui o foco na psicologia social e nas teorias do cotidiano. Utilizar-se- para o recolhimento dos dados o mtodo clnico piagetiano, que nortear aes de observao e de entrevistas com os agentes envolvidos nos espaos de musicalizao dos projetos investigados. Caracteriza-se por uma pesquisa de base, transversal e qualitativa. Palavras-chave: educao informal; musicalizao; projetos sociais; Vale do Paranhana.

Introduo

A temtica deste estudo est relacionada Educao Musical praticada no espao dos projetos sociais no Vale do Paranhana, que abrange as seguintes cidades gachas: Igrejinha, Parob, Riozinho, Rolante, Taquara e Trs Coroas. Prope-se o seguinte questionamento que nortear as aes para a realizao do presente estudo: Como ocorrem as prticas musicais realizadas em contextos de projetos sociais do Vale do Paranhana e como estas contribuem para a construo musical, para a incluso e resgate da cultura local dos sujeitos envolvidos neste processo? Para responder a esta questo principal, a investigao ter como norte terico a psicologia social e as teorias do cotidiano e procurar compreender os contextos e os processos de ensino e aprendizagem musical que ali se instauram. Investigar quais os objetivos da implantao da Educao Musical e o que une as pessoas em torno dessas atividades musicais realizadas nos espaos dos projetos sociais observados, bem como a repercusso dessas aes na sociedade local so alguns dos objetivos a serem alcanados com a presente pesquisa.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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Patrcia Kebach Doutora em Educao pela UFRGS e Professora da FACCAT Faculdades Integradas de Taquara. E-mail: [email protected] Esta pesquisa conta com a colaborao do bolsista de iniciao cientfica Alexandre Herzog, aluno do curso de Psicologia da FACCAT.

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A justificativa para a escolha do tema a ser investigado

A motivao para a realizao deste projeto foram as pesquisas anteriores da pesquisadora, relativas construo do conhecimento musical (KEBACH, 2003) e ao ambiente cooperativo decorrente das produes musicais coletivas (KEBACH, 2008). Em ambas as pesquisas, os dados foram coletados em ambientes informais e se percebeu que estes espaos eram produtivos em termos de musicalizao. Mas seria necessrio sistematizar uma pesquisa para poder afirmar isto. Assim, lendo os escritos de outros autores e, inclusive, atravs da orientao de um trabalho de concluso que procurou compreender o espao de musicalizao no contexto de uma ONG gacha (ARAJO, 2010), a pesquisadora motivou-se a elaborar o presente estudo. Os projetos sociais so essencialmente espaos de trocas cooperativas, pois eles surgem com o propsito de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Envolvem os agentes para alm do seu campo de vivncia, permitindo a transposio de barreiras e preconceitos em benefcio do outro. Nestes espaos, portanto, costuma-se exercitar a cidadania, preservar a cultura de um povo, realizar-se trocas cooperativas e despertar o sentimento de solidariedade. A arte, e a msica, mais especificamente, representam a manifestao cultural de um povo e contribuem para qualificar a vida das pessoas, na medida em que, atravs da arte, o ser humano manifesta sua cultura e, correlativamente, suas emoes, ou seja, aquilo que compartilha socialmente e seu mundo subjetivo. Com o crescente surgimento de projetos sociais, desencadeiam-se novas formas e maneiras de trabalhar a cooperao e a educao musical nestes ambientes. importante, portanto, compreender de que modo os processos de musicalizao ocorrem e podem contribuir para o desenvolvimento musical na regio do Paranhana e para a incluso social dosANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

agentes envolvidos nestes ambientes para que se possa legitimar o espao da Educao Musical em contextos informais. Outra caracterstica que justifica o presente estudo diz respeito importncia de uma anlise sobre como os mecanismos de incluso so tratados no interior dos processos de musicalizao de projetos sociais a fim de verificar se h legitimao das vrias vivncias culturais e das especificidades do entorno social dos atores envolvidos nestes espaos. No Vale do Paranhana, h uma forte predominncia da etnia de origem alem, decorrente do fluxo imigratrio acontecido na primeira metade do sculo XX. Tambm l se encontram famlias de origem italiana. Ir-se- verificar se nos projetos sociais observados h um espao para o resgate tambm da musicalidade destas culturas, portanto.

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A msica dever ser ministrada nas escolas at 2011, segundo a Lei 11.769, publicada no Dirio oficial da Unio em agosto de 2008. O mapeamento das aes de musicalizao realizadas no contexto de projetos sociais poder contribuir para que a FACCAT, ao oferecer formao continuada na rea musical, resgate tanto a cultura local, como ponto de partida para formaes mais significativas, quanto para saber at que ponto existem profissionais aptos para atuarem no somente em ambientes informais, mas tambm dentro da sala de aula, pois possvel que muitos professores atuantes nas redes municipais de ensino na regio do Vale do Paranhana j ofeream aulas de msica, s que em ambientes informais. Desse modo, este estudo tambm se justifica pela possibilidade de que os resultados possam contribuir para a implantao do ensino da msica na escola com mais qualidade.

O referencial terico que nortear a anlise dos dados

Ao analisar os contedos coletados para esta pesquisa, utilizar-se- como referencial terico, os estudos de autores que voltaram seus olhares para o fenmeno da educao musical em projetos sociais (KLEBER, 2006; LIMA, 2002; SANTOS, 2006; entre outros) e para as teorias do cotidiano (SOUZA, 2000; 2008; PENNA, 1990; 2008), que apontam para a importncia de se partir da cultura de cada um que se musicaliza como ponto de partida para o processo de ensino e aprendizagem musical. Referenciar-se- a anlise tambm na tese de doutorado, que procurou compreender os fenmenos da cooperao na produo musical (KEBACH, 2008) e na psicologia social proposta por autores como Perret-Clermont (1995) e Piaget (1973; 1994; 1998), cujos olhares esto voltados para a construo de conhecimento em espaos coletivos. Desse modo, na pesquisa, as relaesANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

sociais estabelecidas no ambiente de Educao Musical destes contextos, demonstradas atravs de entrevistas, relatos verbais e aes musicais sero alvo de anlise profunda luz dessas teorias. Ao compreender as relaes sociais estabelecidas durante os trabalhos de musicalizao no ambiente dos projetos sociais, poder-se- verificar se estes podem produzir relaes sociais onde as trocas e discusses que se desenvolvem em atividades de inveno, interpretao e verificao, ampliam experincias democrticas, enfrentando as questes sociais vivenciadas pelos agentes desse processo. Alm disso, verificar-se se h ou no eficincia, em termos de construo musical neste ambiente e qual a consequncia disto. Afinal, o investimento educacional realizado nessas organizaes

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costuma ir ao encontro da construo de conhecimento, da ampliao da dignidade humana e do exerccio da cidadania plena. Pretende-se ainda verificar na pesquisa como os mecanismos de excluso/incluso so gerenciados nos projetos investigados, pois se transmite e impem-se, via de regra, padres culturais que se tornaram modelos, atravs de um processo histrico-cultural de valorizao de certos contedos como bem simblico (BOURDIEAU, 1996). H legitimao de obras que representam a hierarquia dos bens culturais vlidos dentro de uma sociedade, em um dado momento. No entanto, nem todos tm acesso a estes padres culturais, como diz Penna (2008). Compreender como estes mecanismos so tratados no interior dos processos de musicalizao dos projetos sociais torna-se, portanto, algo importante, para no fragmentar o fenmeno. Procurar-se- investigar se a Educao Musical dos projetos observados leva em conta os valores e as especificidades do mundo social e dos valores culturais dos atores envolvidos no processo de musicalizao das cidades que se ir pesquisar. Para compreender isto, utilizar-se-, alm do corpo terico estruturalista gentico para compreender fenmenos da psicologia social implicados nos processos de ensino e aprendizagem musical, a sociologia estruturalista gentica de Bourdieu (1996) e as teorias do cotidiano sugeridas por Souza (2000; 2008).

A Metodologia da Investigao

A metodologia utilizada visa compreender o fenmeno em suas dimenses individual e social. Mapear-se- de modo geral em quais projetos sociais do Vale do Paranhana vem ocorrendo atividades musicais, num primeiro momento. Logo aps, eleger-se- um projeto de cada cidade para se compreender mais a fundo o fenmeno. Nestes espaos eleitos, os sujeitos investigados sero os professores (ou outros proponentes) e participantes (ou alunos) que participam do processo de musicalizao no contexto dos projetos sociais do Vale do Paranhana e as relaes estabelecidas entre eles. Desse modo, alm da reviso literria sobre o tema, para compreender como se d a musicalizao nos projetos sociais, utilizar-se- a tcnica de observao coletiva e entrevistas individuais. Essas entrevistas sero realizadas com base na tcnica de aplicao do Mtodo Clnico piagetiano (DELVAL, 2002), a fim de compreender, atravs da livre conversao com os agentes do processo, de que modo ocorrem a produoANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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musical e as interaes sociais nos espaos investigados. Portanto, a metodologia est relacionada aos modos de observao da Epistemologia Gentica, cujo objetivo verificar as aes e compreender, atravs da entrevista clnica, o pensamento dos agentes do processo pesquisado. Atravs desta metodologia, pretende-se investigar que tipos de aes so realizadas para musicalizar nos diferentes ambientes; quem so as pessoas responsveis pela musicalizao; quais os objetivos da educao musical nestes espaos, quem integra o grupo de participantes que se musicaliza; se a cultura local levada em conta na elaborao das atividades, etc. Verificar-se-, atravs da anlise destas entrevistas, o pensamento sobre as aes educativas musicais das pessoas que propem as atividades musicais nos espaos dos projetos investigados e o pensamento dos participantes (ou alunos), a respeito destas atividades. Far-se- a comparao das entrevistas com as aes musicais observadas. Procurar-se- mapear espaos diversificados de projetos sociais, o que se caracteriza como pr-requisito para a eleio de determinados projetos, ou seja, em cada cidade, eleger-se- um espao diferente para ser mapeado. A eleio dos entrevistados ser feita a partir apenas do interesse e disposio para participar da pesquisa nos espaos eleitos. Assim, prope-se que o estudo demonstrar um amplo panorama das aes musicais exercidas em contextos de projetos sociais diferentes da regio estudada. Estes aspectos caracterizam o estudo como sendo uma pesquisa de base, transversal e qualitativa.

Referncias

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ARAJO, Nilson da Silva. Educao Musical no contexto de ONGs Investigando um projeto Gacho. Trabalho de Concluso de Curso (Especializao) Universidade Feevale. Especializao em Msica: Ensino e Expresso. Novo Hamburgo, 2010. BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gnese e estrutura do campo literrio. So Paulo: Companhia das Letras, 1996. DELVAL, Juan. Introduo prtica do Mtodo Clnico: descobrindo o pensamento das crianas. Porto Alegre: Artmed, 2002. KEBACH, Patrcia. Musicalizao coletiva de adultos: os processos de cooperao nas produes musicais em grupo. Tese (Doutorado) Universidade Federal do Rio Grande

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do Sul. Faculdade de Educao. Programa de Ps-Graduao em Educao. Porto Alegre, 2008. ____. Desenvolvimento musical: questo de herana gentica ou de construo? Revista da ABEM, n 17, p. 39-48, setembro 2007. KLEBER, Magali Oliveira. A prtica da Educao Musical em ONGs: dois estudos de caso no contexto urbano brasileiro. Tese (Doutorado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Artes. Programa de Ps-Graduao em Msica. Porto Alegre, 2006. LIMA, Maria Helena de. Educao musical/educao popular: projeto msica e cidadania, uma proposta de movimento. Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educao. Programa de Ps-Graduao em Educao. Porto Alegre, 2002. MONTANGERO, J. & MAURICE-NAVILLE, D. Piaget ou a inteligncia em evoluo. Porto Alegre: Artmed, 1998. PENNA, Maura. Reavaliaes e buscas em musicalizao. So Paulo: Edies Loyola, 1990. ____. Msica(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008. PERRET-CLERMONT, Anne Nelly. Desenvolvimento da inteligncia e interao social. Lisboa, Horizontes Pedaggicos, 1995. PIAGET, Jean. Estudos sociolgicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973. ____. [1932] O juzo moral na criana. So Paulo: Summus, 1994. SANTOS, Carla Pereira dos. Educao musical nos contextos no-formais: um enfoque acerca dos projetos sociais e sua interao na sociedade. XVI Congresso da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Msica (ANPPOM). Anais 2006. Braslia, 2006.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

____. Musicalizao de crianas e adolescentes: um projeto educativo de transformao social. Dissertao (Mestrado) - Mster of Arts in Music, Campbellsville University, Campbellsville/Recife, 2006. SOUZA, Jusamara (Org.) Msica, cotidiano e educao. Porto Alegre: PPG-Msica UFRGS, 2000. _____. (Org.) Aprender e ensinar msica no cotidiano. Porto Alegre: Sulina, 2008.

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Leitura da Imagem For Men Only. MM and BB Starring de Peter PhillipsAna Laura Rolim da Frota 1 Mestre em Educao - GEARTE/UFRGS Resumo: O artigo apresenta um exerccio de leitura de imagem, a partir dos pressupostos greimasianos, que tratam a imagem como um texto produzido mediante processo articulado que lhe confere uma totalidade de sentido. O objeto de leitura a obra do artista pop ingls Peter Phillips: For Men Only. MM and BB Starring. Palavras-chave: arte; ensino; imagem-leitura-representao; semitica greimasiana; sincretismo.

Ao iniciar o desvelamento da obra For Men Only. MM and BB Starring 1961 (leo/ colagem sobre tela - 274,3 x 152,4 cm, Centro de Arte Moderna da Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa) - (figura 1), atenho-me primeiramente a sua titulao. Peter Phillips d, como primeira informao sobre seu texto visual, uma referncia verbal. Encaminha o enunciatrio na busca da construo de significado, partindo do entrelaamento dos universos pictrico, verbal e semitico. O ttulo do quadro refere-se s atrizes Marilyn Monroe e Brigitte Bardot em sua importncia para o mundo masculino. A denominao uma pista para o desvelamento da obra.

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Figura 1: For Men Only. MM and BB Starring, Peter Phillips

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Mestre em educao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Assessora para o trabalho com a Arte. Endereo para correspondncia: [email protected]

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Iniciando a anlise da composio, constata-se que o enunciador apresenta o texto visual em formato retangular, composto pela justaposio vertical de um quadrado vermelho que ocupa mais da metade da obra, um retngulo branco e, logo aps, um menor em tonalidade escura. Inserida no quadrado vermelho, encontra-se uma moldura composta por uma linha branca mais larga , uma negra e outra cinza, definindo um portaretratos. O enunciador serve-se desse recurso para configurar o cenrio em que apresentar o centro de ateno do quadro. Dentro da moldura, na base de outro retngulo fino, marrom, encontram-se figurativizadas, a partir de colagens, as imagens dos rostos de Monroe e Bardot. Explorando a imagem de Marilyn que est enquadrada , percebemos que seu rosto apresenta um olhar frontal e vazio, marcado por uma lgrima negra que escorre da maquilagem. J a face de Brigitte est colocada direita da de Marilyn, dentro de uma rea marrom, irregular, que parece ter sido limpa com a finalidade de evidenciar a presena da estrela. Sobre as cabeas das atrizes evidenciam-se duas manchas brancas semelhantes fumaa. A mancha sobre Marilyn espessa e contm no meio uma marca negra. Sobre a cabea de Brigitte, a mancha branca quase imperceptvel e tem sobre si um X em negro encimado pela palavra, tambm em negro, cert. A palavra cert no existe em ingls e tampouco em francs, porm neste idioma h a palavra certain, seguro podendo assim tratar-se de seu radical. Poderia dizer-se que o X e a expresso cert sobre a cabea de Brigitte remetem-nos, simbolicamente, a sua no submisso droga e, consequentemente, a sua segurana, sendo ento figurativizada observando o destino de Marilyn. Topologicamente, as duas imagens esto colocadas em mesmo grau de importncia. Vendo-as assim, lado a lado, se encaminhado a pensar em suas trajetrias: modelos e estrelas conhecidas na dcada de 1950, que se casaram com pessoas famosas e tiveram carreiras metericas. Marilyn e Brigitte foram reconhecidas como smbolos sexuais a serem vendidos sociedade. Encenaram filmes que as exibiram internacionalmente. Monroe morreu de overdose de remdios, aos 36 anos, poca em que esteve envolvida com o presidente norte-americano John Kennedy. O fato foi noticiado e a atriz imortalizou-se no cenrio cinematogrfico. Brigitte, aps sucesso como ninfeta na cinematografia francesa, construiu uma vida pacata, dedicada defesa da ecologia e dos animais. Phillips, propondo essa armao visual, firma com os enunciatrios um pacto suaANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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veridictrio, pois utiliza, para a produo de sua criao, um modelo esttico e cultural de sua poca. D sentido ao seu discurso visual, construindo uma intricada articulao entre os planos de expresso e contedo que se estender a toda obra, dando-lhe significao. Constri seu quadro fazendo uso de colagem agregada pintura, montagem explorada na Pop Art. Elabora o seu discurso visual a partir do conhecimento do seu pblico-alvo, seus desejos, aspiraes e temores. A dimenso cnica manifestada na obra conduz para [...] o estratagema de fazer saber pelo ver (OLIVEIRA, 2000, p. 27). A autora nos diz ainda,[...] tela do parecer, o que o enunciador nos pe diante dos olhos, o que nos remete diretamente a pensar na definio do verbete do Dicionrio de Semitica: a aparncia segundo a qual o universo apresenta ao homem como um conjunto dotado de qualidades sensveis, dotado de uma determinadaorganizao (Greimas e Courts, 1979, p. 291) (Ibidem, p. 29).

Nesse contexto, o enunciador identifica as duas actantes como dolos sofridos, obrigando o enunciatrio a refletir sobre o que ocorria no mundo de faz de conta do cinema das dcadas de 1950 e 1960. Descendo o olhar para a parte inferior da moldura do porta-retratos, esquerda, observamos que a mesma encontra-se oculta atrs de uma rea negra semelhante a um busto que se estende at o rosto de Marilyn, transformando-se em um brao e mo que se fecha sobre um objeto branco. A mo de dedos delicados apresenta vestgios de um p branco. Essa figurativizao nos faz lembrar que a atriz, como muitos jovens da dcada de 1960, a fim de escapar das exigncias do estrelato, da notoriedade excessiva e de uma vida de aparncias, refugiava-se na droga, procurando realizar-se por meio de um festim licencioso dos sentidos.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

No centro da rea negra semelhante a um busto, abaixo do rosto de Monroe, encontra-se um quadrado marrom, delineado de branco, dentro do qual se v uma estrela dourada. Encaminhando o olhar para a direita, abaixo da imagem de Bardot, destaca-se o inverso, um quadrado dourado dentro do qual encontramos uma estrela na cor marrom. As dimenses dos quadrados e das estrelas so idnticas. Na oposio das cores que compem ambos estrela dourada dentro de quadrado marrom e estrela marrom dentro de quadrado dourado , bem como nas relaes topolgicas diagonal dos quadrados com cada uma das actantes, evidencia-se o efeito de sentido que o enunciador quer provocar no enunciatrio. Da posio dos cones na tela Marilyn X estrela marrom

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dentro de quadrado dourado, Brigitte X estrela dourada dentro de quadrado marrom , depreende-se a significao do discurso que apresentado, o qual mais amplamente enfatizado pela figurativizao que ir aparecer um pouco mais abaixo, no interior da rea retangular branca. Oliveira (2004, p. 37) destaca que a insero de oposies pe em evidncia sua fora conflitual, criando as tenses do ponto de vista eidtico, dando significao ao discurso visual. Ainda nessa parte da obra, sobre o fundo vermelho do quadrado maior, encontrase grafada a palavra tortoise que em ingls significa cgado, possuindo ligao com a iconografia que ser apresentada a seguir. Abaixo da rea correspondente ao quadrado vermelho, h um retngulo branco onde se v a representao de uma lebre negra envolta em luz resplandecente. Essas duas referncias (cgado e lebre) colocam o enunciatrio em contato com um intertexto que, para ser melhor analisado, necessrio buscar subsdios em Esopo, um fabulista grego, nascido pelo ano de 620 a.C. Trata-se da fbula da lebre e da tartaruga:Em uma corrida, disputaram a lebre e a tartaruga. A lebre saiu na frente, porm muito vaidosa de sua agilidade, deitou-se para dormir. Quando acordou no pde mais ultrapassar a tartaruga que andou sempre devagar, porm com constncia, ganhando a corrida (A LEBRE E A TARTARUAGA, on-line).

Segundo Oliveira, a intertextualidade numa obra de arte[...] utilizada para definir o conjunto de repertrios presumidos do leitor referidos quase sempre de modo explcito no texto com maior ou menor intensidade. Esses repertrios dizem respeito a algumas histrias condensadas e produzidas anteriormente por uma determinada cultura e por parte de algum autor, ou melhor, de algum texto. O intertexto de uma obra vem a ser aquele emaranhado de referncias a textos, ou a grupos de textos anteriores construdos para expor o duplo escopo: da inteligncia da obra em destaque e a produo de efeitos de sentido estticos locais ou globais (OLIVEIRA, 2004, p. 162).

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Phillips utiliza o intertexto para fazer aluso s atrizes e as suas performances. A partir de simbologia inspirada na fbula de Esopo, o enunciador apresenta Marilyn como a lebre, que aodadamente buscou os prazeres e as mdias, envolvendo-se com tudo e todos que a pudessem colocar em notoriedade, acabando por encontrar a morte. A imagem da lebre conecta-se com o rosto da atriz a partir da forma de corpo negro de onde partem o brao e a mo mencionados. Bardot apresentada como a tartaruga de Esopo, que ascendeu mais lentamente, foi menos afoita, mantendo-se viva e usufruindo da fama.

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Dentro da lebre, so visualizados pequenos crculos semelhana de moedas, nos quais esto grafadas letras do alfabeto. O efeito de sentido produzido na figurativizao da lebre negra iluminada, com as moedas e suas letras, encaminha-nos a pensar na caa Marilyn e nos caadores personalidades masculinas que a assediavam por meio do dinheiro. O enunciador usa metforas visuais para conduzir os enunciatrios ao significado do texto. Ainda na mesma direo, abaixo, acha-se a ltima parte da composio, em que mostrada uma tira apresentando uma sequncia evolutiva de um corpo de mulher, num gestual sensual. Os olhos da figura, que se repete, esto escondidos atrs de uma tarja branca, como que para impossibilitar a sua identificao. H registros de que no ano de 1947, Marilyn esteve desempregada e posou nua para um calendrio por 50 dlares. Essas fotos foram aproveitadas no primeiro nmero da revista Playboy. Assim, podemos ver na sucesso de imagens de mulher que so apresentadas ao final do quadro a exposio da atriz ante o olhar dos enunciatrios. A exibio se d atravs de uma janela oval, mostrando o corpo de costas, de lado e de frente, em um espao preenchido ora pela cor vermelha, ora pela preta. como se a ao estivesse sendo desempenhada como uma dana para o enunciatrio. Podemos afirmar que a armao cnica global do discurso articula-se em torno de um eixo vertical que se origina na imagem de Marilyn, perpassa por seu corpo em negro, que se conecta com a figurativizao da lebre, e acaba nas imagens de mulher que evoluem para o enunciatrio. Todo percurso tem como objetivo tramar os formantes plsticos e encaminhar o olhar de Brigitte, e o dos enunciatrios, para a dimenso temtica do quadro, ou seja, a trajetria de Monroe. Assim, o invisvel explicitado no s ao intelecto, mas tambm aos sentidos de quem se confronta com o discurso apresentado.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

Conforme Greimas (1979, p. 174), os planos da expresso e contedo correspondem s dimenses discursiva e plstica do texto, e reside em sua trama a significao de toda e qualquer obra de arte. A harmonia perfeita entre ambos os planos pode ser percebida na obra de Phillips, na medida em que ele os entretece, possibilitando ao enunciatrio o entendimento das textualidades nos seus desdobramentos figurativos e enunciativos. Enfim, aps realizar um percurso atravs da dimenso figurativa da obra For Men Only. MM and BB Starring e observ-la atentamente em suas partes constitutivas, podese afirmar que a obra nos conta sobre o seu perodo de execuo, funcionamento da

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sociedade da poca e nos explicita os sentimentos e expectativas de seu autor. A pintura se faz frente a ns, obrigando-nos a (re)signific-la a partir de suas relaes, possibilidades e intertextualidades, apreendendo dela uma totalidade de sentido construdo.

Referncias

A LEBRE E A TARTARUAGA. Metforas, fbulas, parbolas, histrias infantis e estrias. Disponvel em: . Acesso em: 26 jun. 2005. ARCHER, Michel. Arte contempornea: uma histria concisa. So Paulo: Martins Fontes, 2001. BUORO, Anamlia; FRANGE, Lucimar; REBOUAS, Moema. Arte, cultura e educao: alguns pressupostos. In: OLIVEIRA, Ana Cludia de (Org.). VIII Caderno de discusso do Centro de Pesquisas Sciossemiticas. So Paulo: CPS, 2002. p. 13-22. GREIMAS, Algirdas Julien; COURTS, Joseph. Dicionrio de semitica. So Paulo: Cultrix, 1979. MARILYN MONROE: a deusa que foi vtima da prpria fama. Isto Online. Disponvel em: . Acesso em: 26 jun. 2005. OLIVEIRA, Ana Cludia (Org.). Semitica Plstica. So Paulo: Hacker, 2004. OLIVEIRA, Ana Cludia. Mauritsstad e vises brasiliae: aos europeus, uma outra histria. In: BRAIT, Beth; BASTOS, Neusa (Orgs.). Imagens de Brasil: 500 anos. So Paulo: EDUC, 2000, p. 9-30. OSTERWOLD, Tilman. Pop Art. Lisboa: Taschen. 1999.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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Projeto dramatizando nossa arte: resgatando o sentido da arte teatral em uma comunidade escolar da cidade de Porto AlegreElisa Riffel Pacheco1 Pedagoga, especialista em Psicopedagogia Abordagem Institucional e Clnica (FAPA) Especialista em Pedagogia da Arte (UFRGS) Instituio de vnculo: UFRGS, aluna PEC, Projeto de Educao Continuada do PPGEDU.

Resumo: Esta pesquisa referente monografia de concluso de curso de especializao em Pedagogia da Arte. Traz em sua abordagem, a discusso que qualifica a dinmica do jogo dramtico e teatral na constituio do sujeito. Tal prerrogativa, que se manifesta a partir de uma visibilidade esttica, possibilita a percepo de si para a construo do conhecimento. Essa anlise foi conferida a partir dos relatos e discursos que foram constatados numa escola da Rede Particular de Ensino na Cidade de Porto Alegre. Nessa Instituio, a proposta foi averiguar as marcas produzidas atravs das linguagens artsticas. O principio foi escavar os sentidos, que foram inseridos na prtica do Projeto Dramatizando Nossa Arte no ano de 2006. Uma proposta que vinculava a arte educao, a esttica criao, a inteligncia emoo, o jogo, o drama atuao e reflexo. Diante desse enfoque, dessa perspectiva, se inquietava tal indagao: A dinmica do jogo dramtico e teatral efetuada em 2006 refletiu de alguma forma na formao dos sujeitos que participaram do Projeto Dramatizando Nossa Arte? A experincia do Projeto Dramatizando Nossa Arte teve reflexos junto aos professores e ao espao escolar? Quais? Na busca por subsdios que auxiliassem a refletir de forma mais aprofundada sobre essas inquietaes, essa pesquisa procurou resgatar a representao, a simbologia, e a memria do trabalho que foi realizado com os jogos teatrais junto a esta instituio de ensino. Palavras-Chave: Aprendizagem; Sujeito; Teatro; Memria; Reflexo.

1 Introduo

Pensa-se que, a arte sensibiliza, cria oportunidades para o sujeito reconhecer suas capacidades, seu saber. atravs da arte, da alegria, da fantasia, que a realidade se transcende que o sujeito opera e constri uma nova via um novo ritmo capaz de transformar sua forma de interagir e de pensar. A finalidade desta pesquisa foi procurar escavar a memria, os sentidos, os reflexos do trabalho realizado com os jogos teatrais, assim como sua influncia na formao do sujeito.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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Formada em Pedagogia Licenciatura Plena pela FAPA FACULDADE PORTO-ALEGRENSE; Especialista em Psicopedagogia Abordagem Institucional e Clnica pela FAPA; Especialista em Pedagogia da Arte pela UFRGS; Atualmente participa do PPGEDU da FACED na UFRGS como aluna PEC Projeto de Educao Continuada -na disciplina de Arte Contempornea, formao esttica e educao; Trabalha no LEP Laboratrio de Estudos Psicopedaggicos pertencente FAPA. Trabalha como psicopedagoga e contribui com suas experincias, artigos e estudos na rea de arte e educao; Est participando como ministrante do curso de extenso organizado pelo LEP As dificuldades de aprendizagem nas interfaces da objetividade e da subjetividade com os temas A importncia da dramatizao na constituio do sujeito; As linguagens artisticas e o letramento. [email protected]

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Acredito que a arte possibilita ao sujeito uma experincia, uma construo de um novo olhar sobre si, que enriquece a sensibilidade. nessa perspectiva, que se encaixa a minha pesquisa, que tem como foco verificar se a dinmica do jogo dramtico e teatral refletiu de alguma forma na formao dos sujeitos que participaram do projeto Dramatizando Nossa Arte. 2 Compreendendo a pesquisa

Com relao pesquisa, pude constatar no ano de 2006, que as linguagens expressivas referentes ao teatro - jogo dramtico e teatral - enriquecem o objeto de aprendizagem, na medida em que as crianas passam a vivenciar seu potencial criativo. A experincia possibilita a elas gerenciar com espontaneidade uma nova forma de olhar a realidade, constituir um novo posicionamento sobre si mesmo, o que pode modificar a conjuntura do sujeito em seu aspecto pessoal e escolar. Assim, pode-se considerar que atravs da arte que o sujeito desenvolve sua sensibilidade, bem como sua concepo esttica, enriquecendo sua criatividade e inteligncia emocional.A cincia um meio indispensvel para que os sonhos sejam realizados. Sem a cincia no se pode nem plantar, nem cuidar do jardim. Mas h algo que a cincia no pode fazer. Ela no capaz de fazer os homens desejarem plantar jardins. Ela no tem o poder de fazer sonhar. No tem, portanto, poder de criar um povo. Porque o desejo no engravidado pela verdade. A verdade no tem o poder de gerar sonhos. a beleza que engravida o desejo. So os sonhos de beleza que tm o poder de transformar indivduos isolados num povo. (ALVES 2004, p.26).

Situando minha pesquisa com relao ao Projeto Dramatizando Nossa Arte pudeANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

perceber que no ano de 2006, tanto as crianas, como os adolescentes vivenciaram um processo de apreciao esttica, o que as fez pensar, refletir sobre seu eu interior. Como assim? A possibilidade de por em cena novas idias e experimentaes, por intermdio dos jogos teatrais, permitiu aos alunos repensarem suas representaes em seu contexto escolar, social e pessoal. A sensibilidade esttica proporcionada a partir do fazer teatral viabilizou uma provocao interna, o despertar de uma nova viso para compreender a si mesmo, como tambm o mundo, a realidade que o cerca. Devido a isso, como j foi explicitado anteriormente, passou a se constituir uma aprendizagem reflexiva, repleta de sentidos e significados. O ato de aprender estendeu

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seus limites para o pensar, agir e criar, pois as crianas, alm de estarem desenvolvendo seu potencial criativo, sua autonomia e espontaneidade, tambm passaram a adquirir um novo olhar sobre seu pensamento, sua ao e sua intelectualidade. Nessa perspectiva, a realidade foi transformada, reinventada em presena do novo contexto ldico e artstico, dinmico e integrador. Essa narrativa a realidade reinventada intensifica para centralizar o papel da arte, da esttica, e da criao na educao.Cynthia Farina, ao relacionar prticas estticas com prticas pedaggicas, diz que algumas prticas estticas podem afetar o que h de institucionalizado em nossa forma de ser: A ateno s prticas estticas poderia ajudar a pedagogia a problematizar e cuidar do que nos desestabiliza atualmente, no para estabiliz-lo ou reconduzi-lo, mas para experimentar com a produo de novas imagens e discursos na formao do sujeito. (MOREIRA, 2008, p. 13).

Verifica-se que a esttica da arte uma ferramenta fundamental para a construo do pensamento critico, pois escava sentidos que permanecem intrnsecos no sujeito. Por sua vez, as linguagens artsticas comunicam essa descoberta, essa sensibilidade capaz de transformar o aparelho psquico. Pode-se dizer que a poltica do belo e do sensvel interfere na personalidade, na dinmica, e na constituio do sujeito. E por meio dessa visibilidade que o ser humano recria sua singularidade, modifica sua realidade. O Projeto Dramatizando Nossa Arte tinha como objetivo disponibilizar um espao escolar onde as crianas pudessem ter a oportunidade de experienciar suas habilidades artsticas, seu potencial criativo atravs do teatro, jogos teatrais, jogos dramticos. Em 2006, quando iniciei o projeto, observei certa resistncia advinda dessa instituio de ensino. Era possvel perceber que a arte no era considerada to importante para a aprendizagem quanto s demais disciplinas do currculo. Segundo Almeida:ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

Arte, cinema, literatura, escrita, educao, algumas das coisas que aqui estaro presentes so ao mesmo tempo integrantes e excludentes. Quando se integram, perdem-se e transformam-se numa terceira como numa batalha, a indefinio, a ambigidade, a dvida, a subjetividade, so fraquezas e levam a derrota (...). Mas o que fraqueza na arte tambm sua fora: excluindo-se de outros lugares, ela pode voltar como uma espada crtica, ou indiferente, e desprezar os que a venceram. (1999, p.22).

Num primeiro momento, essa fala que destitui o valor da arte das prticas pedaggicas retrata a dinmica poltica que se institui nas escolas. Tal abordagem que est vinculada a uma sociedade que comunica o exerccio da tica do xito, do consumo desenfreado e das perspectivas de mercado. Acredito que, se os profissionais da educao

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ampliarem seus olhares a uma nova concepo, eles estaro buscando um novo dilogo, assim como Lancri (2002, p.20), ao afirmar que A arte nos faz entender certos aspectos que a Cincia no pode fazer. Buscarei compreender e reforar conceitos que encontrem na arte uma forma de conhecimento, por acreditar que deve-se considerar que as produes artsticas tambm podem enriquecer o nosso entendimento sobre as coisas. Em muitas situaes, a experincia artstica obriga-nos a contornar a nossa racionalidade com questionamentos complexos e profundos.Em arte, a intuio de importncia fundamental, ela traz em grau de intensidade maior a impossibilidade de racionalizao precisa. A arte no tem parmetros lgicos de preciso matemtica, no mensurvel, sendo grandemente produzida e assimilada por impulsos intuitivos; a arte sentida e receptada, mas de difcil traduo para formas integralmente verbalizadas. Essas colocaes, entretanto, no pretendem negar que a arte tenha, tambm, a sua parte racional. Os crticos, alguns artistas e tericos da arte conseguem racionalizar e verbalizar uma parte do todo, mas a outra s pode ser produzida, transmitida e receptada por outra linguagem que no a verbal. (ZAMBONI, 2001, p.28).

Compreendo que a aprendizagem um trabalho de reconstruo e apropriao do conhecimento. Ela se processa atravs das informaes que so institudas por outrem, que por sua vez, integram o saber. atravs das relaes que se constituem a tica, a ordem, e a poltica que vo proporcionar o reconhecimento da autoria no sujeito. Para Fernndez (2001, p.42), Cada pessoa vai construindo, ao longo de sua histria, entrelaando as experincias que lhe oferece o contexto social e cultural, no s sua inteligncia e seus sistemas de conhecimento, mas tambm uma determinada modalidade de aprendizagem. Percebe-se, portanto, que a criana vai se constituindo historicamente, a partir das prticas e concepes que so herdadas e transmitidas. Tais formulaes,ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

alm de contriburem na formao emocional-cognitiva de nossa estrutura psquica, tambm estabelecem formas de encarar a vida, a si mesmo, e sociedade. Em vista disso, para que no sejamos aprisionados a uma frmula social, educacional e cultural, que tem por excelncia a capacidade de subjetivar nosso pensamento, precisamos que se instaure em ns o desejo. Mais uma vez, pergunto: O que pode ser relevante para o sujeito desenvolver e por em prtica o exercer de sua autoria?. Primeiramente, precisa-se ter como base as significaes do pensar. Por isso, necessrio estar inserido em um espao que possibilite questionamentos, que coloque a psique em movimento. Nesse sentido, experienciar criatividade, sentimento e imaginao, provocar o raciocnio, promover a intuio.

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De acordo com Fernndez: (2001, p.63) Uma grande falha de nossa educao refere-se desqualificao do saber e ao endeusamento do conhecimento. Pode-se entender por que em determinados sistemas conveniente que circulem os conhecimentos, mas no o poder de uso sobre eles. Assim, a sociedade nos faz internalizar seus valores e crenas, de forma que nossa viso subjetiva evolua e se adapte de acordo com seus conceitos. Estamos acomodados a padres e a linguagens prestabelecidas, sem questionar as mensagens que nos esto sendo transmitidas. Em conseqncia, nossa aprendizagem vai-se moldando a um modelo reproducionista, desprovido de autoria de pensamento. Diante desse contexto, o saber constitui-se sem desejo, j que institudo com obrigatoriedade, sem ressignificar a experincia, o jogo, a espontaneidade.Proficincia e aprendizado no advm da disposio de ser ou escutar, mas da ao, do fazer, da experincia; o bom trabalho mais freqente resultado do esforo espontneo e livre interesse, que da compulso e aplicao forada; e o meio natural do estudo, para a juventude, o jogo. (COURTNEY, 1980, p.41).

Considero importante ressaltar que a escola deve se apropriar de novas concepes e mtodos de ensino. H muitas crianas que no conseguem atingir as metas que so estabelecidas por um currculo escolar rgido, fixo, compacto, cerrado. A dificuldade de estudar em um ambiente com um sistema autoritrio, conteudista, divergente a sua realidade, muitas vezes pode desencorajar no jovem o interesse pelos estudos, desencadeando a evaso escolar. Por isso faz-se necessrio que os educadores percebam que a aprendizagem acompanha sua poca, sua contemporaneidade. Defendo a idia de que os jovens tm a necessidade de criar, experimentar oANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

novo, logo precisam de um espao que valorize suas habilidades e competncias. Um espao onde podem direcionar seu interesse atravs do despertar pela curiosidade, movidos pela criatividade, pela arte, e pela sensibilidade. Nessa perspectiva, as linguagens artsticas promovem uma nova modalidade de aprendizagem, atravs do jogo, da brincadeira, do faz-de-conta, da encenao. Isso faz com que o sujeito construa seu prprio conhecimento, comunicando sua singularidade, sentimento e expresso. Esta consigna vem a comprovar a significncia, bem como a contribuio da arte na educao.

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3 Consideraes Finais

Esta pesquisa tentou demarcar que o fazer artstico cria possibilidades para se pintar uma nova aquarela e assim, descobrir novas janelas, nascentes de novas idias e concepes. Parece to simples e potico, frente a uma poltica-ideolgica que destitui o valor, sentimento esttico. Todavia, no suficiente apenas formular princpios e inquietaes. necessrio inserir coragem e aes, para transformar as polticas pedaggicas vigentes. Pois, como j foi dito anteriormente, o sujeito constitudo fsico, moral, social, emocional e culturalmente. importante abrir espaos para novas atuaes, modelos e reflexes. Diante desta perspectiva, pensa-se: Como a arte, o fazer teatral podem ressignifcar a atitude, o comportamento do sujeito para uma aprendizagem esttica e reflexiva?.A arte um modo de ver e dizer de si e do mundo. Constituda de imagens sonoras, visuais, poticas, corporais... -, ela mobiliza afeto, pesquisa, cognio, imaginao, intuio, percepo, reflexo; ela abraa o feio, o bonito, prazer, desprazer, inveja, medo, egosmo, alegria, estranhamento; portanto, repleta de emoes e contradies. A obra de arte se abre para o outro e a possibilidade de participar dela d, ao sujeito, a chance de verse como ser integral. O contato com a Arte transforma, faz ligao, constri. Como linguagem, ela opera atravs das cores, formas, linhas, volumes, sonos, movimentos... e precisa de um tempo e de espaos prprios; cheia de mistrios que revela, desvela e oculta. (FLORES et al, 2005, p.1 apud HONORATO, 2008, p.111).

Percebi como a vivncia artstica possibilita a autoria do sujeito, permitindo que ele constitua um novo olhar, uma nova representao de si mesmo. E isso, que integra uma nova forma de pensar, uma nova concepo de mundo. A arte nos liberta de todos os tabus e preceitos que foram inseridos em nosso inconsciente. Ela nos faz quebrar barreiras e preconceitos, bem como nos d a oportunidade de estruturar, colorir, movimentar, nossa vida e nossa historia do nosso prprio jeito. As expresses artsticas caracterizam a mudana, o diferente, o estranho, a mistura. Pois, elas integram as qualidades aos defeitos, as imperfeies ao perfeito. Portanto, a arte por ser espontnea em suas ferramentas de expresso, no condiciona o pensamento, a sensibilidade, ou a razo. A atitude e a experincia esttica no se adaptariam as convenincias de uma priso. O ser que se constitui artisticamente vive da poesia, da liberdade, da intuio.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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Referncias

ALMEIDA, Milton Jos de. Cinema: Arte da memria. Campinas: Autores Associados, 1999. ALVES, Rubem. Entre a cincia e a sapincia: O dilema da educao. So Paulo: Loyola, 2004. COURTNEY, Richard. Jogo, teatro e pensamento: As bases intelectuais do teatro na educao. So Paulo: Perspectiva, 1980. FERNNDEZ, Alicia. O saber em jogo: A psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001. HONORATO, Aurlia Regina. A Formao de Professores Ressignificada nos Espaos de Narrativa. In: MOREIRA, Janine; FRITZEN, Celdon (Org.). Educao e Arte: As linguagens artsticas na formao humana. Campinas, SP: Papirus, 2008. P. 109-118. LANCRI, Jean. Colquio sobre a metodologia da pesquisa em artes plsticas na universidade. In: BRITTES, Bianca e TESSLER, Edida. O meio como ponto zero: Metodologia de pesquisa em artes plsticas. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS, 2002. P.1534. ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em arte: Um paralelo entre arte e cincia. Campinas: Autores Associados, 2001.

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Conhecer e reconhecer: a fotografia como meio de aproximao do aluno com sua culturaAmanda Morialdo Funari1 (UFPel) Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida como Trabalho de Concluso do Curso de Artes Visuais Modalidade Licenciatura, CA/UFPel. A investigao, que versa sobre o uso pedaggico e a produo de imagens fotogrficas da cidade de Pelotas (RS) nas aulas de Arte de uma escola pblica, apresenta uma abordagem qualitativa do tipo pesquisa-ao. Os dados foram obtidos atravs de atividades desenvolvidas junto a uma turma de terceiro ano do Ensino Mdio de uma escola pblica de Pelotas. Tendo como objetivo geral investigar se o uso pedaggico e a produo de imagens fotogrficas da cidade contribuem para que o estudante (re)conhea o seu contexto social, histrico e natural, valorizando mais a sua cultura, buscou-se, tambm, apurar se foram utilizadas imagens da cidade de Pelotas nas aulas de Arte e verificar se a fotografia foi explorada em prticas pedaggicas anteriores. Os resultados apontam que, atravs da linguagem fotogrfica, os alunos (re)conheceram novas maneiras de olhar para a cidade. Isso indica a necessidade de investirmos em propostas pedaggicas em Arte diferenciadas, que estimulem a imaginao, a criatividade e a reflexo crtica acerca da realidade ao redor. Palavras-chave: Arte; Educao; Fotografia; Cultura.

Introduo

Considerar que uma educao descontextualizada, que no prioriza o pensar sobre os costumes, tradies, estilos de vida, preferncias e outras particularidades do meio onde o aluno est inserido, pode contribuir para que esse no reconhea e passe a no valorizar a prpria cultura, e supor que trabalhar com imagens representativas desse meio, produzir e ler fotografias da cidade permite que tais temas sejam abordados e discutidos, levaram-me a investigar a seguinte questo: O uso pedaggico e a produo de imagens fotogrficas da cidade contribuem para que o estudante (re)conhea o seu contexto social, histrico e natural, valorizando mais a sua cultura? A pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa do tipo pesquisa-ao. Os dados foram obtidos atravs de atividades desenvolvidas junto a uma turma de trinta e um alunos do terceiro ano do Ensino Mdio de uma escola pblica, situada no centro do municpio de Pelotas. No perodo entre vinte e dois de setembro e vinte de outubro de 2010 foram realizados cinco encontros que objetivaram num primeiro momento: apurar se foram utilizadas imagens da cidade de Pelotas nas aulas de Arte e verificar se a fotografia foiAcadmica do Curso de Ps-Graduao em Artes, CA/UFPel. Graduada em Artes Visuais -Licenciatura, CA/UFPel. [email protected]

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explorada nas prticas pedaggicas. O levantamento desses dados fundamentou uma sada fotogrfica, na qual os estudantes foram instigados a re(a)presentar smbolos de sua cultura atravs da prtica da fotografia digital. Parto da reflexo crtica sobre as minhas prprias vivncias para propor uma pesquisa que versa sobre um tema caro formao humana, a cultura, assim como a explorao de uma linguagem, a fotogrfica, que j faz parte das prticas cotidianas de um nmero significativo de pessoas hoje em dia. A fundamentao terica da pesquisa abarca o conceito de cultura a partir das idias de Nestor Canclini (1999), refletindo sobre as possibilidades da fotografia como um documento que re(a)presenta o real mediado pelo olhar do fotgrafo (KOSSOY, 2000; SONTAG, 1981) capaz de proporcionar novos modos de olhar/ler o mundo (ALVES, 2005; FREIRE, 1996). A importncia de uma abordagem cultural nas prticas docentes em Artes Visuais

A minha experincia estudantil comprova que quando os professores de Arte dedicam-se a focar a cultura em suas aulas, muitas vezes, limitam-se a discutir somente os bens culturais j reconhecidos como patrimnio histrico comunitrio. Como exemplo de tal postura, trago a resposta que uma aluna deu questo: Alguma imagem da cidade de Pelotas j foi trabalhada em sala de aula? Como?Sim, ns participamos de um projeto onde a professora de artes junto com outros professores nos mostraram algumas imagens de pontos tursticos e at samos um dia para fotografar os prdios histricos de Pelotas. Teve um dia tambm que ns fomos visitar uma charqueada muito bonita. (ALUNA 13)ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

A partir dessa resposta, entende-se que, mesmo quando a cidade o tema central de um projeto interdisciplinar na escola, apenas o estudo de bens histricos privilegiado. No h, de forma geral, a inteno de instigar o olhar do aluno para que ele mesmo possa identificar, em seu meio, os elementos que o representam. Com isso, pode difundir-se um pensamento estereotipado que reduz as diferentes culturas que constituem a identidade hbrida de uma cidade, a alguns signos desvinculados das vivncias dos sujeitos. Tal posicionamento reducionista pode fazer com que os estudantes no reconheam a importncia de sua herana cultural, por no se sentirem prximos dos smbolos que lhe so apresentados.

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preciso, ao contrario disso, gerar uma aproximao dos alunos com sua cultura, ou seja, motivar os olhares para que observem com ateno o seu entorno vivencial, fazendo com que se envolvam com os objetos que integram seus cotidianos e que reflitam criticamente sobre o modo como se relacionam com eles. Fotografia e Educao, por qu?

A fotografia est presente na escola. amplamente praticada pelos alunos e utilizada por professores como recurso em diferentes situaes. Por esse motivo, relevante pensar em maneiras de us-la a fim de potencializar o olhar crtico do aluno sobre seu cotidiano, ao invs de contribuir para a sua cegueira, propondo aes que aspiram aumentar o numero de imagens carentes de sentido no mundo. Quando perguntados se j haviam estudado fotografia nas aulas de Arte, todos os alunos responderam que sim. Alguns se lembram de pesquisas realizadas sobre a linguagem e outros de atividades em que essa foi utilizada, mas, a maioria, declarou que se tratou de um estudo no muito aprofundado: A turma pesquisou algo e registrou fotos de alguns pontos histricos (ALUNA 22); J, mas no profundamente. S por cima com algumas pesquisas realizadas por ns mesmos (ALUNA 16); Sim, A professora passou os principais conceitos da fotografia, mas na prtica no realizamos nada (ALUNA 03); Sim. Tiramos fotos com pose de quadros famosos (ALUNO 10). Nas aulas de Arte, promover pesquisas sobre a fotografia ou utiliz-la como auxiliar na realizao de outros trabalhos, so aes vlidas, j que essa linguagem possui uma histria, conceitos e tcnicas prprios a serem estudados e pode contribuir de modo criativo na composio de pinturas, desenhos e colagens, por exemplo. Mas, antes disso, seria importante explorar o sensvel que essa linguagem pode proporcionar. O ato de fotografar oferece ao olhar dos sujeitos uma pausa no tempo e uma moldura no espao. Permite que um detalhe do mundo seja focalizado e recortado para que, a qualquer momento, possa ser ampliado e analisado separadamente. Instigando, assim, novas formas de ver e olhar para o meio. O fotgrafo elege, mediado por sua subjetividade, um pedao do real para (re)apresentar aos outros. Constitui, assim, um discurso visual sobre o mundo que, quando retomado, d vazo a inmeras e distintas interpretaes. So essas novas narrativas acerca do cotidiano que possibilitam a quebra da passividade dos sujeitos na relao com esse.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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Fotografia e Cultura nas aulas de Artes

Atravs da anlise dos dados obtidos com o questionrio, pude perceber certa distncia entre a educao que recebi no ensino fundamental e mdio e que, como j descrevi, motivou-me a pesquisar sobre as imagens fotogrficas da cidade educao que oferecida aos alunos da turma pesquisada. No entanto, mesmo diferentes, o efeito causado semelhante. Fui educada de acordo com um sistema que no priorizava a contextualizao dos contedos, nem a valorizao da cultura local. Isso fez com que eu deixasse de olhar para o meu entorno vivencial e passasse a adotar outros valores, relacionados s imagens que chegavam at mim atravs da televiso. A educao oferecida aos alunos da turma pesquisada, por sua vez, caracteriza-se por um enfoque que reduz a cidade a determinados smbolos, historicamente internalizados, fazendo com que os alunos aceitem passivamente o que est estabelecido, sem que (re)conheam outros sentidos e representaes possveis. Partindo disso, propus aos alunos uma sada fotogrfica na qual deveriam registrar smbolos de sua cultura. Numa conversa prvia procurei estimul-los a romperem com os esteretipos, buscando ir alm dos smbolos socialmente reconhecidos como representativos da cidade de Pelotas. Todos concordaram com o fato de que nosso municpio representado e reconhecido pelas Charqueadas, pelos casares antigos do entorno da Praa Coronel Pedro Osrio e pelos doces. Sendo assim, eles foram convidados a refletir se esses signos do municpio fazem parte do seu dia-a-dia e se, realmente, sintetizam a essncia da cidade vivida cotidianamente pelos estudantes. Tal discusso no pretendeu promover a no-valorizao do patrimnio j reconhecido por todos, e que, certamente, importante para a cidade. Mas, ao invs disso, inquietar os alunos, no sentido de que essas representaes no so as nicas possveis, motivando-os a olharem para alm desses parmetros, desvelando e reconhecendo outras representaes possveis, conectadas com a histria de vida de cada um. Deveriam, ento, focar seus olhares em objetos, lugares ou pessoas presentes em seus cotidianos e que, por alguma razo representavam o seu meio. Depois, apresentar ao grande grupo as imagens resultantes. Comentar o motivo pelo qual escolheram tal tema, falar sobre como se deu a sada fotogrfica e explicar a relao que mantm com o objeto fotografado.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

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Uma parte da turma preferiu realizar a atividade individualmente, a outra se dividiu em grupos. Com isso, resultaram dezesseis trabalhos dos quais a maioria (doze) contempla fotografias e reflexes significativas sobre a cidade. So narrativas, imagticas e textuais, que fogem do convencional por demonstrarem que elementos do meio dos alunos, muitas vezes banalizados pela correria do dia-a-dia, foram encarados sob diferentes pontos de vista. Mostram, alm disso, um rompimento com o modo costumeiro de pensar a cultura e a cidade ao atriburem reconhecimento a diferentes locais, objetos e pessoas do municpio. Sete desses doze trabalhos foram analisados. Um desses, o de uma menina moradora da regio colonial do municpio, ser apresentado a seguir. A ALUNA 11 fotografou o Santurio de Guadalupe (Figuras 1 e 2). Disse t-lo escolhido por julgar que seja o ponto mais representativo de seu meio. Falou que o local visitado e fotografado por centenas de fiis todos os anos principalmente durante uma romaria que acontece nos meses de outubro mas que ela, por ter se acostumado com a proximidade do lugar, nunca havia parado para contempl-lo.

Figura 1ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

Figura 2

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Podemos notar que, procura de uma imagem mais detalhada do local, a estudante fotografa, tambm, o interior do santurio. Isso mostra-nos que o ato fotogrfico provocou no s uma aproximao subjetiva da aluna com seu meio, como uma aproximao fsica.

Consideraes Finais

Atravs da prtica e da leitura de fotografias da cidade, houve quem manifestou apreo culturas esquecidas, quem se aproximou de locais banalizados pelo cotidiano, quem reagiu criticamente ao desleixo com o meio natural, quem voltou lugares representativos da infncia, quem desacelerou o passo para contemplar melhor uma paisagem, quem expressou respeito uma arte silenciosa e outros. Confirmando, assim, a minha indagao: o uso pedaggico e a produo de imagens fotogrficas da cidade contribuem, sim, para que o estudante (re)conhea o seu contexto social, histrico e natural, sendo esse um dos passos para que haja uma valorizao da cultura. Tal concluso me permite afirmar a importncia da presena da fotografia nas aulas de Arte, como um recurso que permite aos estudantes reconhecerem-se dentro de sua prpria cultura. Os resultados da pesquisa demonstram que necessrio investirmos na relao entre Fotografia e Educao como um modo de estimular o desenvolvimento de sujeitos crticos, criativos e transformadores.

Referncias

ALVES, Rubem. Educao dos sentidos e mais. Campinas: Verus, 2005. CANCLINI, Nstor Garca. Consumidores e cidados; conflitos multiculturais da globalizao. 4ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. 25ed. So Paulo: Paz e Terra, 1996. KOSSOY, Boris. Realidades e fices na trama fotogrfica. Cotia, SP: Ateli Editorial, 2000. SONTAG, Susan. Ensaios sobre fotografia. Rio de Janeiro: Arbor, 1981.

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Mediao artstica e cultural: a experincia de estar na presena da obraMaria Regina Johann1 Luciara Judite Roratto2 Mestre em Educao nas Cincias UNIJU Resumo: A dimenso educativa da mediao artstica e cultural o foco principal deste artigo, elaborado a partir da pesquisa Mediao esttica: a construo do conhecimento atravs da apreciao na presena da obra3, que tem como espao de realizao terico-prtica a Sala de Exposio Java Bonamigo do curso de Artes Visuais da Uniju. Questes como a educao do ver/olhar, do conhecimento sensvel e cognoscvel da arte, assim como, a dimenso propositiva da tarefa de mediao so abordadas no texto. Apresentamos conceitos sobre Mediao e destacamos que ela pode ser entendida como uma ao intencional criada com o objetivo de inter-relacionar, aproximar, viabilizar, esclarecer, desvelar e informar acerca da arte e da cultura, ampliando a significao sobre a obra. Palavras-chave: arte; cultura visual; mediao; educao do ver/olhar; apreciao artstica; experincia esttica; conhecimento.

1. Contextualizando a pesquisa

O projeto de pesquisa Mediao esttica: a construo do conhecimento atravs da apreciao na presena da obra consiste em realizar atividades de mediao junto Sala de Exposio Java Bonamigo4 do Curso de Artes Visuais da Uniju. Na Sala, acontecem exposies sobre arte contempornea e cultura visual organizadas atravs de editais pblicos e atividades curriculares do Curso de Bacharelado em Artes Visuais. A Sala Java Bonamigo recebe anualmente um pblico muito expressivo de visitantes, compostos pela comunidade interna e externa, local e regional. Destaca-se, porm, a participao do pblico escolar, atravs de visitas proporcionadas pelos professores que atuam nos componentes curriculares de artes visuais, dana, teatro eANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

1- professora do curso de Artes Visuais Licenciatura & Bacharelado da Uniju. Graduada em Educao Artstica, Ps-graduada em Metodologia do Ensino de Arte e Mestre em Educao das Cincias. Coordenadora da pesquisa da Mediao esttica: a construo do conhecimento atravs da apreciao na presena da obra. Integra o grupo de artistas arteseis de Iju. E-mail [email protected] ; [email protected] 2 - acadmica do curso de licenciatura em Artes Visuais da Uniju e pesquisadora bolsista PIBIC da Uniju. E-mail: [email protected] 3Pesquisa financiada pelo Programa de Ps Graduao, Pesquisa e Extenso da Uniju Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. 4Sala de Exposio Java Bonamigo foi criada pelo Curso de Bacharelado em Artes Visuais no ano de 2004. A Sala busca atender determinao do MEC para implantao do Curso de Artes Visuais Bacharelado , oferecendo aos acadmicos um espao para exposio, pesquisa e extenso das criaes visuais geradas no interior de suas atividades acadmicas. Caracteriza-se por promover na abertura de cada exposio debate entre artista, acadmicos, professores e comunidade.

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msica, assim como, por aqueles que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental. Podemos afirmar que ela se constitui em um dos poucos espaos oficiais de exposies artsticas contemporneas da nossa regio. Isso possibilita uma vivncia com a arte que complementa os saberes construdos no mbito da educao escolar, pois permite que o sujeito esteja na presena da obra, o que faz com que sua visualidade se amplie e sua percepo artstica se intensifique. Neste momento da pesquisa estamos nos debruando sobre as questes conceituais e observando a relao do estudante com a exposio, com a proposta do artista, com os conceitos e/ou ideias apresentados no momento. So tambm objetivos da pesquisa ampliar o conhecimento do pblico sobre as artes visuais e a cultura visual; compreender e analisar quais os conhecimentos construdos pelos estudantes da Educao Bsica a respeito das exposies; conhecer os objetivos do (a)s professore (a)s em relao a exposio, observar quais os motivos para a visitao, quais os contedos que esto estudando e como iro contemplar, em sala de aula, as questes apresentadas e/ou vivenciadas na exposio. Ainda, queremos pensar como podemos agregar conhecimento sobre artes visuais atravs das exposies (que talvez o professor no tenha planejado ou desejado abordar), interagindo com os professores na busca de uma experincia mais intensa com a arte e a cultura. Pretendemos confirmar a hiptese de que uma sala de exposio tambm um lugar de aprendizagem sobre arte e cultura visual. Temos observado que na medida em que possibilitarmos tarefas de mediao que estabeleam relaes entre artes visuais, cultura e cultura visual, cumpre-se um papel relevante na formao do gosto e na aprendizagem artstica e esttica dos estudantes, agregando conhecimento e experincia esttica vivncia escolar.ANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

2. Mediao: potencializar o olhar e ver-junto para que as singularidades se enriqueam.

Neste texto iremos apresentar ideias, conceitos e concepes de mediao artstica e cultural a partir da reviso de algumas das bibliografias que embasam esta pesquisa. Traremos o conceito de mediao apresentado por Teixeira Coelho no Dicionrio Crtico de Poltica Cultural e as referncias tericas de Miriam Celeste Martins, Ana Lisboa, Hans-Georg Gadamer, Ana Mae Barbosa, Marcia Tiburi e Fernando Hernndez.

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Conforme o Dicionrio Crtico de Poltica Cultural5 (1999, p. 249), O Mediador Cultural um profissional com formao especializada, [...] que atua em centros de cultura, bibliotecas pblicas e museus. Teixeira Coelho aponta que pode ser chamado de mediador cultural Todo aquele que exerce atividades de aproximao entre indivduos ou grupos de indivduos e as obras de cultura. Porm, no encontramos o mediador somente em exposies de arte, para Coelho (1999, p. 248), podemos conhecer as reas de atuao do mediador cultural, sendo elas [...] orientador de oficinas culturais, monitores de exposio de arte, animadores culturais, muselogos, curadores, profissionais de diversas reas que constituem um centro cultural, bibliotecrios, arquivistas e guias tursticos. Observamos que as funes do mediador se adaptam tambm conforme as propostas educativas oferecidads pelos museus, galerias ou salas de exposio. A artista e arte/educadora Ana Lisboa6 (2005) argumenta que o mediador interfere e direciona a forma como a obra de arte chega ao conhecimento do pblico. Lisboa (2005, p. 309) destaca que a mediao cultural funciona como uma ponte, um elo entre o artista, sua obra e o pblico a que se dirige. possvel pensar no mediador como aquele que media a apreciao, algum que acompanha, provoca, instiga, estabelece um elo entre obra e pblico. A metfora da ponte pode ser entendida como aquilo que possibilita o deslocamento de um lugar ao outro para viabilizar o percurso e/ou passagem a um determinado lugar. Entendemos que mediao uma prtica encharcada de intencionalidade, pois ela necessita ser planejada e organizada. Mediao se faz em contextos, por isso no se faz mediao de forma improvisada, no basta lanar algumas questes para o pblico pensar, pois mediao justamente o algo a mais que podemos fazer para que o encontro com a obra acontea de forma mais intensa possvel. Para a professora Miriam Celeste Martins7 (2005, p. 17), [...] o papel do mediador importante para a criao de situaes onde o encontro com a arte, como objeto de conhecimento, possa ampliar a leitura e a compreenso do mundo e da cultura. Martins (2005, p. 87) faz uma criativa analogia para explicar que [...] a mediao como um fermento, deixando crescer algo que est dentro da prpria arte. Sendo assim, possvelANAIS DO 6 ENCONTRO DE PESQUISA EM ARTE

Cultura e Imaginrio Dicionrio Crtico de Poltica Cultural, Teixeira Coelho, 1999. Ana Lisboa, Construo de uma metodologia para mediao: uma experincia no Instituto de Arte Contempornea da UFPE. 7Arte-educadora com formao em Artes Plsticas. Cursos de Especializao em Histria da Arte. O livro Mediao: provocaes estticas de Miriam Celeste Martins. SP, 2005, sistematiza o trabalho desenvolvido em uma disciplina sobre Mediao no Curso de Ps Graduao no Instituto de Artes/UNESP.6 -

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pensar qu