Upload
others
View
15
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
Anais
2
ANAIS DO 4º SEMINARIO DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as
Relações Internacionais no Brasil
27 e 28 de setembro de 2018
UNILA | Foz do Iguaçu | Paraná
ISBN: 978-85-66399-09-7
ANNALS OF THE 4rd INTERNATIONAL RELATIONS
SEMINAR
The National Curriculum Guidelines and its impacts for the Inter-
national Relations in Brazil
September 27th - 28th, 2018
UNILA | Foz do Iguaçu | Paraná
ISBN:
3
EXPEDIENTE | STAFF
Conselho Diretor da Associação Brasileira de Relações Internacionais | ABRI Board of Directors
Presidente: Eugênio Pacelli Lazzarotti Diniz Costa (PUC Minas)
Secretária Executiva: Layla Ibrahim Abdallah Dawood (UERJ)
Secretário Adjunto: Haroldo Ramanzini, UFU
Tesoureira: Graciela De Conti Pagliari (UFSC)
Diretores: Cristina Soreanu Pecequilo (UNIFESP), Ana Flávia Barros-Platiau (UnB), Carolina Moulin (PUC-Rio), Marcos
Ferreira da Costa Lima (UFPE)
Conselho Fiscal: Henrique Altemani de Oliveira (UEPB), Túlio Sérgio Henriques Ferreira (UFPB)
Comissão Organizadora do 4º Seminário de Relações Internacionais | Organizing Committee
Comissão Organizadora Nacional | National Organizing Committee
Eugênio Pacelli Lazzarotti Diniz Costa (PUC Minas)
Layla Ibrahim Abdallah Dawood (UERJ)
Graciela De Conti Pagliari (UFSC)
Haroldo Ramanzini, UFU
Comissão Organizadora Local | Local Organizing Committee
Ana Carolina Delgado, UNILA
Felipe Cordeiro Almeida, UNILA
Lucas Mesquita, UNILA
Ramon Blanco, UNILA
Karen dos Santos Honorio, UNILA
Comissão Científica | Scientific Committee
Eugenio Diniz, PUC Minas
Deisy Ventura, USP
Coordenadores de Áreas Temáticas | Thematic Area Coordinators
André Luiz Reis da Silva, UFRGS | História das Relações Internacionais e da Política Externa
Marília Carolina B. Souza Pimenta, FECAP-SP e NUPRI-USP | Ensino, Pesquisa e Extensão
Hector Saint Pierre, UNESP | Segurança Internacional, Estudos Estratégicos e Política de Defesa
Thiago Rodrigues, UFF | Teoria das Relações Internacionais
Leonardo Ramos, PUC Minas | Economia Política Internacional
Rosana Tomazini, UCB | Instituições e Regimes Internacionais
Guilherme Casarões, FGV | Análise de Política Externa
Coordenadores de Workshops Doutorais | Doctoral Workshops Coordinators
Geisa Cunha Franco, UFG | Análise de Política Externa e História das Relações Internacionais e da Política Externa
Ana Saggioro Garcia, UFRRJ | Economia Política Internacional
Alfa Oumar Diallo, UFGD | Instituições e Regimes Internacionais
Danielle Jacon Ayres Pinto, UFSC | Segurança Internacional, Estudos Estratégicos e Política de Defesa
Ana Carolina Teixeira Delgado, UNILA | Teoria das Relações Internacionais
Organização | Organization
Airá Eventos Técnico-Científicos
4
ÍNDICE | INDEX
EXPEDIENTE | STAFF 03
APRESENTAÇÃO | PRESENTATION 05
RESUMO DA PROGRAMAÇÃO | PROGRAM SUMMARY 06
ANÁLISE DE POLÍTICA EXTERNA 07
ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL 44
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS E HISTÓRIA DA POLÍTICA EXTERNA 87
INSTITUIÇÕES E REGIMES INTERNACIONAIS 113
SEGURANÇA INTERNACIONAL, ESTUDOS ESTRATÉGICOS E POLÍTICA DE DEFESA 143
TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 185
ENSINO E PESQUISA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS 210
Workshop Doutoral 241
5
APRESENTAÇÃO | PRESENTATION
Prezada leitora e Prezado leitor,
Este volume dos anais do 4º Seminário de Relações Internacionais realizado em Florianópolis, nos dias 29 e 30 de
setembro de 2016, foi preparado para reunir todos os trabalhos que foram submetidos para o evento em um único
arquivo e que também estão disponíveis na página do evento na internet. Agora você poderá baixar os anais em PDF
com todos os resumos dos trabalhos e acessar individualmente os trabalhos completos.
Aqui os anais estão organizados por área temática e dentro de cada área pelo nome do autor ou da autora. Para lo-
calizar algum trabalho específico, localize a área do trabalho e depois busque pelo autor ou autora que está em or-
dem alfabética. Para os trabalhos em que o autor ou a autora enviou à organização do evento a versão completa re-
ferente ao resumo, colocamos um link abaixo do título do trabalho para que você possa acessá-lo também.
Desejamos a todos uma boa leitura!
Equipe do 4º Seminário de Relações Internacionais
Dear reader,
This volume of the 4rd International Relations Seminar that happened in Florianopolis, from 29 to 30 of September of
2016, was made in order to gather all the of the papers that were submitted to the event in one single file and that
are also available at the webpage of the event. Now you can download the proceedings as a PDF file with all the abs-
tracts of the papers and access individually the completed papers.
Here the proceedings are organized by the thematic field and in each field by the name of the author. To locate a spe-
cific paper, locate the paper’s thematic field and then search the author organized alphabetically. For the papers that
the author sent the organization of the event the complete version referring to the abstract, we have placed a link
bellow the title so that you can also access it.
We wish you a good Reading!
Team of the 4rd International Relations Seminar
6
Resumo da Programação | Program Summary
26/09/2018 | QUARTA-FEIRA
16:00 às 18:00 | Reunião Coordenadores de ATs
27/09/2018 | QUINTA-FEIRA
07:30 às 18:00 | Credenciamento
08:30 às 09:00 | Cerimônia de Abertura
09:00 às 11:00 | Mesas Redondas
11:00 às 12:30 | Reunião Coordenadores de Pós-Graduação | Fórum de Editores
12:45 às 14:30 | Sessão de Painéis 01
14:00 às 17:00 | Workshop Doutoral
14:30 às 16:15 | Sessão de Painéis 02
16:15 às 17:15 | Mostra de Iniciação Científica | Lançamento de Livros
17:15 às 19:00 | Assembleia Geral Ordinária
28/09/2018 | SEXTA-FEIRA
08:00 às 14:00 | Credenciamento
08:30 às 10:30 | Mesas Redondas
10:30 às 12:00 | Reunião Coordenadores de Graduação
12:45 às 14:30 | Sessão de Painéis 03
14:00 às 17:00 | Workshop Doutoral
14:30 às 16:15 | Sessão de Painéis 04
16:30 às 18:15 | Sessão de Painéis 05
7
Aida Mohamed Ghadie
Dourados e o mundo: c contexto local e ois desáfios para
inserção internacional do município
Trabalho Completo
Resumo: O período pós-guerra fria, no final do século XX,
traz em seu bojo a intensificação do fenômeno da globa-
lização liberal, que provoca importantes mudanças nas
Relações Internacionais. A partir desta perspectiva, as
entidades subnacionais alteram seu comportamento e
passam a assumir novas responsabilidades, o que des-
cortina um fenômeno conhecido como paradiplomacia,
que pode ser entendido como o desenvolvimento de
uma ação externa institucionalizada por parte das enti-
dades subnacionais (estados, municípios, províncias, en-
tre outros), que vem paulatinamente conquistando espa-
ço no campo das Relações Internacionais. Este estudo
visa verificar a importância do desenvolvimento da atua-
ção internacional das entidades subnacionais, especial-
mente as cidades. Apresenta inicialmente uma aborda-
gem teórica sobre a paradiplomacia, passando a explorar
o caso de Dourados (MS), cidade fronteiriça de porte
médio situada na região centro sul do estado do Mato
Grosso do Sul, portal do Mercosul e próximo da dinâmica
Sul e Sudeste do Brasil, espaço geográfico privilegiado
em termos de vantagem locacional. Como elemento de
teste a hipótese de que a cidade não tem uma gestão
burocrática municipal destinada às Relações Internacio-
nais, e com isso perde oportunidades de buscar a coope-
ração técnica, trocar experiências com seus pares, atrair
investimentos e captar recursos de órgãos financeiros
internacionais. Existem vários mecanismos para inserção
das entidades subnacionais na esfera internacional, sem
depender das articulações das entidades subnacionais
superiores, como a participação em redes internacionais
de cidades, que funcionam como alavancas da interna-
cionalização das unidades subnacionais. Não é o que de-
monstra o caso de Dourados, uma vez associado às Re-
des Cidade Educadora e Mercocidades, não apresenta
registro de participação ativa dentro destes e/ou outros
organismos na esfera internacional. Com isto perde
oportunidades de, ao participar de foros e debates, in-
tercâmbio de experiências com outras cidades, captação
de recursos econômicos, projetos e parcerias que pode-
riam contribuir no desenvolvimento local, geração de
empregos, entre outros.
Alberto Marcos Nogueira
Argentina e Brasil frente ao investimento direto externo
chinês: desafios de política externa
Trabalho Completo
Resumo: A China, em seu processo de desenvolvimento
recente, acabou por se tornar o grande centro industrial
mundial. Essa industrialização, combinada com a política
de exportação, tornou o gigante asiático o maior deman-
dante de capitais e de matérias primas, para o quê os
países desenvolvidos e subdesenvolvidos têm colabora-
do, respectivamente, segundo os papeis que tradicional-
mente desempenham na divisão internacional do traba-
lho (NOGUEIRA, HAFFNER, 2016). Mais recentemente, a
China tornou-se um exportador líquido de capitais, o que
reflete um novo estágio em seu processo de desenvolvi-
mento. No caso latino-americano, os interesses chineses
em investir concentram-se nas fontes de fornecimento
de matérias primas (energéticas, minerais e soja) e em
infraestruturas (geração e transmissão elétrica e logística
de transportes) e têm sido objeto de negociações entre
os governos, num processo que combina ações multila-
terais e bilaterais. O objetivo deste artigo é analisar o
investimento direto externo (IDE) chinês na Argentina e
no Brasil e os elementos de política externa desses paí-
ses a ele associados, considerando suas diretrizes e os
interesses nacionais em jogo. A hipótese levantada neste
estudo é de que o IDE chinês possui um forte componen-
te estratégico para os países envolvidos, que extrapola
em muito os elementos associados à internacionalização
empresarial. Isso porque eles tanto se originam de direti-
vas de desenvolvimento socioeconômico quanto são ca-
pazes de afetar as respectivas trajetórias. Avalia-se que o
amadurecimento do entendimento e das reflexões sobre
o IDE chinês na Região é de suma importância para o
aperfeiçoamento da política pública externa, para que as
relações políticas e econômicas dos países possam estar
mais alinhadas com seus propósitos de desenvolvimento.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
ANÁLISE DE POLÍTICA EXTERNA
8
Alex Guedes Brum
A Política Externa do Brasil para os Emigrados e seus Des-
cendentes (1995-2016)
Trabalho Completo
Resumo: Tendo entre três a quatro milhões de brasilei-
ros no exterior, o Brasil é atualmente classificado como
um país de emigração. Os bilhões de dólares em remes-
sas enviados anualmente pelos brasileiros no exterior
também alertam para a importância da emigração.
Acompanhando essa tendência, o Estado brasileiro mu-
dou sua postura em relação ao fenômeno, aumentando
o seu espaço na política externa. Este estudo tem como
objetivo analisar as políticas do Brasil voltadas para os
emigrantes e seus descendentes, no período de 1995 a
2016, tendo como foco a sua principal instância: o Minis-
tério das Relações Exteriores. O trabalho está organizado
da seguinte forma: além da introdução, na primeira par-
te o Brasil será analisado como um país de emigração.
Na segunda parte, são apresentadas as considerações
teóricas. Em seguida, são analisadas as políticas do Brasil
para os emigrantes e seus descendentes. Por fim, são
apresentadas as considerações finais.
Alexandre Piffero Spohr
Supervisão Parlamentar sobre a Política Externa Brasilei-
ra: uma análise da aprovação de autoridades
Trabalho Completo
Resumo: As funções do Congresso Nacional no processo
de tomada de decisão da política externa brasileira ainda
carecem de estudos aprofundados. Ainda que o senso
comum aponte para um desinteresse dos parlamentares
brasileiros por temas de política externa em vista de seu
baixo retorno eleitoral, este artigo busca se contrapor a
essa lógica por meio da análise empírica do funciona-
mento do Congresso Nacional. Visa-se, assim, a contribu-
ir para o debate acerca da atuação dos parlamentares no
processo de tomada de decisão sobre política externa.
Partindo da questão de qual é a lógica de atuação do
Legislativo na supervisão do Poder Executivo em suas
decisões de política externa, o estudo se debruça sobre
o processo de aprovação de autoridades diplomáticas
pelo Senado. O artigo analisa as variáveis que influem
nos resultados das votações sobre autoridades, medidos
em termos do tempo para a aprovação e taxa de votos
favoráveis. Tendo em vista que diversos elementos po-
dem ser apontados como responsáveis pela determina-
ção do resultado da apreciação das autoridades, o artigo
se baseia em uma lógica dedutiva e é desenvolvido a par-
tir da construção de algumas hipóteses a serem avaliadas
pelo teste estatístico das relações estabelecidas entre as
variáveis dispostas no banco de dados.
Os resultados do artigo apontam para a confirmação da
política externa enquanto política pública influenciada
por fatores que orientam as decisões dos parlamentares
em seu processo de supervisão das atividades do Poder
Executivo, com atenção a variáveis específicas dos te-
mas. O processo de aprovação de autoridades foi com-
preendido enquanto momento de supervisão do Poder
Legislativo sobre as decisões do Executivo. A análise dos
processos de aprovação de autoridades pelo Senado per-
mitiu perceber que esse mecanismo de supervisão parla-
mentar sobre o Executivo é menos inconteste do que se
costuma acreditar.
Alfredo Juan Guevara Martinez
A oposição no exílio: o lobby das comunidades venezuela-
na e cubana nos Estados Unidos de Trump
Coautor(es): Carolina Silva Pedroso, Alfredo Juan Guevara
Martinez
Resumo: A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos,
ademais da repercussão interna, foi vista com reserva
pelos governos de Cuba e Venezuela. Diante de um novo
mandatário conhecido pelas declarações polêmicas, a
perspectiva de reaproximação diplomática com a Ilha
caribenha se tornava mais distante. Da mesma forma, a
política de relativa distensão com o regime de Maduro –
apesar do endurecimento que marcou os últimos dias da
gestão de Obama – parecia ter seus dias contados. Os
“latinos” nos Estados Unidos, sobretudo no estado da
Florida, de maneira geral apoiaram a candidatura do re-
publicano, a despeito de sua posição anti-migração. No
caso das comunidades cubana e venezuelana, que têm
em comum o fato de atuarem politica e ideologicamente
como oposição aos seus respectivos governos nacionais,
foram importantes plataformas para Trump. Com o re-
trocesso no processo de reaproximação diplomática com
Cuba e a concomitante escalada de sanções contra a Ve-
nezuela, parte dos anseios dessas comunidades foi aten-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
9
dida. Com base em trabalho de campo realizado em
2017, buscaremos nesse paper apresentar os resultados
preliminares de investigação acerca do lobby dos grupos
cubanos e venezuelanos, seja na política norte-
americana, seja como oposição aos regimes de seus paí-
ses. O objetivo é verificar se a mudança dvinda com a
ascensão de Trump afetou e/ou foi afetada por esses
grupos, bem como indicar as vias de cooperação entre
eles.advinda com a ascensão de Trump afetou e/ou foi
afetada por esses grupos, bem como indicar as vias de
cooperação entre eles.
Aline Sessa Garios Boechat
Brasil na África: Relações diplomáticas e políticas públicas
nos governos Lula, Dilma e Temer
Coautor(es): Ana Beatriz Queiroz Wanderley, Natalia Gon-
çalves Oliveira, Pauline Cristina do Nascimento Matos,
Aline Sessa Garios Boechat
Resumo: As relações diplomáticas entre o Brasil e a Áfri-
ca foram intensificadas no âmbito comercial, econômico
e técnico a partir de 2003. Assim, passou a ocupar um
lugar de grande importância na agenda da diplomacia
brasileira a partir da política de diversidade na política
externa do governo Lula.
Durante o governo Lula foram adotadas políticas sociais
de desenvolvimento e combate à fome no âmbito do-
méstico que deram certo e logo foram ampliadas para o
exterior, onde inspiraram muitos países da África a envi-
arem seus representantes a fim de melhor conhecer as
iniciativas para aplicá-las em seus países. Em 2012, o
programa Purchase from Africans for Africa (PAA África),
que foi inspirado pelo Programa de Aquisição de Alimen-
tos (PAA), foi implementado juntamente com a ONU em
países como Etiópia, Malaui, Moçambique, Níger e Sene-
gal. No mesmo ano, foi instalada a primeira fábrica de
medicamentos contra a AIDS do continente, a Sociedade
Moçambicana de Medicamentos (SMM), em Moçambi-
que, que foi em grande parte financiada pelo Brasil, e
agora produz analgésicos.
Essas políticas, porém, sofreram considerável diminuição
nos governos posteriores. Com Lula, os gastos do Brasil
em projetos aumentaram 40 vezes atingindo 20,2 mi-
lhões e na gestão da Dilma desceram para 9,7 mil devido
principalmente a crise econômica brasileira. Já o presi-
dente Temer mudou o foco da política externa para ne-
gociação e comércio, apostando na relação com países
do Norte como os EUA e a UE.
Tendo em vista a importância do Brasil e de suas políti-
cas para auxiliar no desenvolvimento dessas regiões afri-
canas, o artigo se propõe a fazer um histórico brasileiro
da cooperação com o continente africano, reunindo al-
guns dos principais programas sociais, como os citados
acima, que foram desenvolvidos durante governo Lula e
comparar a continuidade dessas relações aos governos
posteriores.
Álvaro Vicente Costa Silva
Interpretações diversas: As visões dos chanceleres Azeredo
da Silveira e Saraiva Guerreiro sobre a Argentina (1974-
1985)
Trabalho Completo
Resumo: Durante o governo de Ernesto Geisel (1974-
1979), a política externa tida como "Pragmatismo Res-
ponsável" buscou uma aproximação de diversos países
tidos como do "Terceiro Mundo", bem como uma aproxi-
mação dos demais países da América do Sul. Entretanto,
uma notável exceção foi a Argentina, país com o qual o
Brasil protagonizou desencontros, especialmente no to-
cante ao caso da Usina de Itaipu. No governo de João
Figueiredo (1979-1985), por outro lado, as relações com
o país vizinho sofreram uma inflexão. A postura de rivali-
dade, presenciada ao longo do governo Geisel, deu lugar
para uma relação de maior amistosidade, o que incluiu a
assinatura de diversos acordos e o posicionamento brasi-
leiro favorável em relação aos argentinos ao longo da
Guerra das Malvinas, em 1982. Um dos determinantes
para tal "virada" foi a diferença de percepção existente
entre os chanceleres dos governos, respectivamente,
Antônio Azeredo da Silveira e Ramiro Saraiva Guerreiro.
O impacto das percepções dos chanceleres parece claro
na definição do padrão do relacionamento bilateral. Des-
se modo, por meio da análise de entrevistas e documen-
tos do período, consultados nos arquivos do CPDOC/
FGV, este trabalho fará uma apreciação das visões de
ambos sobre a Argentina, e de seu impacto na gestação
da política externa brasileira para o país vizinho.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
10
Ana Beatriz Queiroz Wanderley
Brasil na África: Relações diplomáticas e políticas públicas
nos governos Lula, Dilma e Temer
Coautor(es): Natalia Gonçalves Oliveira, Pauline Cristina
do Nascimento Matos, Aline Sessa Garios Boechat
Resumo: As relações diplomáticas entre o Brasil e a Áfri-
ca foram intensificadas no âmbito comercial, econômico
e técnico a partir de 2003. Assim, passou a ocupar um
lugar de grande importância na agenda da diplomacia
brasileira a partir da política de diversidade na política
externa do governo Lula.
Durante o governo Lula foram adotadas políticas sociais
de desenvolvimento e combate à fome no âmbito do-
méstico que deram certo e logo foram ampliadas para o
exterior, onde inspiraram muitos países da África a envi-
arem seus representantes a fim de melhor conhecer as
iniciativas para aplicá-las em seus países. Em 2012, o
programa Purchase from Africans for Africa (PAA África),
que foi inspirado pelo Programa de Aquisição de Alimen-
tos (PAA), foi implementado juntamente com a ONU em
países como Etiópia, Malaui, Moçambique, Níger e Sene-
gal. No mesmo ano, foi instalada a primeira fábrica de
medicamentos contra a AIDS do continente, a Sociedade
Moçambicana de Medicamentos (SMM), em Moçambi-
que, que foi em grande parte financiada pelo Brasil, e
agora produz analgésicos.
Essas políticas, porém, sofreram considerável diminuição
nos governos posteriores. Com Lula, os gastos do Brasil
em projetos aumentaram 40 vezes atingindo 20,2 mi-
lhões e na gestão da Dilma desceram para 9,7 mil devido
principalmente a crise econômica brasileira. Já o presi-
dente Temer mudou o foco da política externa para ne-
gociação e comércio, apostando na relação com países
do Norte como os EUA e a UE.
Tendo em vista a importância do Brasil e de suas políti-
cas para auxiliar no desenvolvimento dessas regiões afri-
canas, o artigo se propõe a fazer um histórico brasileiro
da cooperação com o continente africano, reunindo al-
guns dos principais programas sociais, como os citados
acima, que foram desenvolvidos durante governo Lula e
comparar a continuidade dessas relações aos governos
posteriores.
Ana Carolina de Faria
Política Externa Russa na Era Putin e sua projeção de po-
der na região Eurasiática
Coautor(es): Giovana Barbosa dos Santos
Resumo: O fim da era soviética e o consequente esgota-
mento do sistema bipolar acarretou em transformações
não somente em um mundo que veria o capitalismo se
sobressair como o sistema econômico mais sustentável
no longo prazo, mas também experimentaria profundas
mudanças sociais, culturais e, sobretudo, novas ameaças
extrínsecas ao Estado – sob as quais este não pode exer-
cer controle. A ascensão de Vladimir Putin no poder após
um governo frágil, que estava inserido em um período
de transição de um regime socialista para um regime
democrático, marcou uma nova era na política externa
Russa – um momento da reconstrução da identidade
nacional e, sobretudo, da reafirmação do país como uma
potência mundial. Seu governo fora e continua sendo
marcado por medidas de caráter, aparentemente, ambí-
guo – ora preza-se por uma aproximação ora por um
distanciamento da comunidade internacional. No pre-
sente trabalho, iremos propor a análise da política exter-
na russa a partir dos anos 2000, entendido como o perío-
do do início da reafirmação da Rússia como membro re-
levante no sistema internacional, baseando-se na ótica
estratégica de projeção de poder na região eurasiática,
compreendida como um dos pontos centrais para o go-
verno russo. Desta forma, procuramos compreender em
que medida a Rússia busca aumentar sua projeção de
poder a partir da formulação de sua nova política exter-
na, observando o papel estratégico e de suas políticas
para a região eurasiática. Ademais, iremos demonstrar
como são formuladas as posições tomadas pelos influen-
ciadores no processo de liderança - uma vez que um dos
aspectos mais relevantes na formulação da política ex-
terna russa é o papel central do Presidente, pois todo
indivíduo possui um conteúdo cognitivo que influencia
na sua tomada de decisão -, levando em consideração
alguns conceitos relevantes acerca do perfil dos deciso-
res, como suas características de liderança, relações in-
terpessoais, e sobretudo, seus grupos de influência.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
11
André Leite Araujo
Percepção e mobilização dos Legislativos brasileiro e ar-
gentino à regra das eleições diretas ao Parlasul
Coautor(es): Matheus Felipe Silva
Trabalho Completo
Resumo: O artigo compara, na Argentina e no Brasil, a
implementação das eleições diretas ao Parlamento do
Mercosul (Parlasul), estando o caso brasileiro em anda-
mento. Criado em 2005, o parlamento regional teve sua
primeira sessão em 2007, com congressistas eleitos indi-
retamente pelos Legislativos nacionais. A Argentina legis-
lou em 2014 a eleição direta dos mercodeputados, sen-
do realizada em 2015. No Brasil, o primeiro projeto para
a eleição foi apresentado em 2009, mas o Congresso ain-
da não votou nenhuma das propostas apresentadas.
Nesse sentido, a conjuntura política brasileira, desde
2013, aponta como um fator explicativo para a não vota-
ção. Contudo, observando os processos sob as perspecti-
vas dos respectivos Congressos Nacionais, analisa-se co-
mo os Poderes Legislativos reagem ao estabelecimento
de outro corpo de legisladores, independente dos parla-
mentos nacionais, mas que eram anteriormente domina-
dos pelos congressistas nacionais a partir de mandatos
duplos. No contexto de crescente ativismo internacional
dos Legislativos, buscamos compreender o que significou
a aprovação, na Argentina, e o engavetamento, no Brasil,
dos projetos de lei para eleição direta ao Parlasul, consi-
derando as relações entre Executivo e Legislativo e as
disputas partidárias entre situação e oposição. Dessa
maneira, as mudanças nos planos internacional e, mais
especificamente, no regional estão interrelacionadas
com o contexto político doméstico, pois a estrutura polí-
tica parlamentar nos dois níveis afeta as condições de
poder dos atores que transitam entre o nacional e o in-
ternacional.
André Pimentel Ferreira Leão
A Política Externa Brasileira em relação aos Estados Uni-
dos nos governos Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rous-
seff (2011-2015): uma análise em perspectiva comparada.
Coautor(es): Leandro Wolpert dos Santos
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo do artigo é analisar a política externa
brasileira em relação aos Estados Unidos durante os go-
vernos Lula e Dilma, buscando identificar os elementos
de continuidade e de mudança no período. Defende-se a
hipótese de que, com a alternância dos governos, o obje-
tivo da política externa brasileira de balancear o poder
estadunidense se manteve, havendo apenas mudanças
de ênfase com que o mesmo foi perseguido no plano
internacional. Para sustentar essa hipótese, o artigo se
organiza em três seções. A primeira, de natureza teórica,
mobiliza a tese realista do Softbalancing e revisita a lite-
ratura de Análise de Política Externa que trata sobre o
processo de mudanças na política exterior dos Estados,
de onde é extraído o marco conceitual que norteará a
argumentação lógica do artigo. A segunda seção possui
natureza empírica e procura demonstrar as evidências
que corroboram a hipótese do artigo por meio: i) da aná-
lise discursiva dos principais formuladores da política
externa brasileira no período, particularmente dos chan-
celeres e respectivos presidentes, no que toca as rela-
ções exteriores com os EUA e a distribuição mundial de
poder; ii) do exame das principais iniciativas da política
externa implementada nos dois governos que efetiva-
mente visaram a desconcentração do poder mundial e a
contenção da primazia estadunidense no tabuleiro inter-
nacional e regional, tais como: a articulação do BRICS e
do IBAS e a criação do Conselho de Defesa Sul-
Americano no âmbito da UNASUL. A terceira seção busca
identificar os determinantes que explicam as continuida-
des e as mudanças apontadas no artigo.
Ângelo Gabriel dos Santos Júnior
O debate sobre as relações dos EUA com China, Rússia e
países da EX-URSS no governo Clinton
Resumo: O democrata Bill Clinton, eleito presidente dos
EUA em 1993, foi o primeiro presidente americano eleito
desde a Segunda Guerra Mundial que não precisou se
preocupar com a União Soviética, desaparecida em 1991.
Houve uma mudança na agenda americana. A política
externa orientada pela Doutrina da Contenção, que ori-
entou os EUA durante a Guerra Fria para evitar o expan-
sionismo soviético, não tinha mais sentido. A nova fase
era de grande otimismo – o triunfo do liberalismo. A he-
gemonia americana possibilitava aos EUA exercer in-
fluência no Sistema Internacional sem grandes tensões e
construir relações bem-sucedidas com os antigos inimi-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
12
gos da Guerra Fria. O objetivo dessa pesquisa é analisar o
debate acadêmico sobre o que foi feito pelo governo
Clinton para construir relações sólidas com os antigos
inimigos da Guerra Fria e com os países comunistas re-
manescentes. O recorte do trabalho recaiu sobre a China
e sobre os Estados recém-independentes que formaram
a URSS, muitos dos quais então reunidos em torno da
Rússia na Commonwealth of Independent States (CIS). O
propósito foi reconstruir polêmicas com as suas diver-
gências e entendimentos, mapear, revisar, dominar, or-
ganizar e apresentar o debate acadêmico a respeito des-
sas relações. As consequências do desmoronamento do
regime totalitário soviético apresentaram um desafio
assustador, considerando que o vácuo de poder deixado
poderia ser preenchido por animosidades. Os chineses,
por sua vez, eram a exceção mais notável que caminhava
fora da tendência pós-Guerra Fria rumo as democracias
de mercado. Uma exceção que ganhava projeção regio-
nal e poderia ameaçar os interesses americanos na Ásia.
A hipótese da pesquisa foi de que o governo dos EUA,
sob a liderança do democrata Bill Clinton, arruinou as
relações americanas com tais países.
Ariane Costa dos Santos
Brasil e Argentina em Perspectiva Comparada: Uma Análi-
se da Relação com Washington no pós-Guerra Fria
Trabalho Completo
Resumo: Esta pesquisa visa analisar as dinâmicas de as-
sociação de Brasil e Argentina em relação aos Estados
Unidos entre 1989 e 2001, período de implementação da
estratégia de alinhamento por parte do governo argenti-
no e de autonomia pela integração por parte do Brasil.
Para isso, serão analisados em perspectiva comparada os
paradigmas de política externa implementados por am-
bos os países no período: realismo periférico, na Argenti-
na, e institucionalismo pragmático, no Brasil. Como apoio
conceitual será utilizada a dicotomia autonomia e aqui-
escência de Russell e Tokatlián (2013), assim como a apli-
cação das quatro estratégias categorizadas pelos autores
para a ação política de Estados não centrais; a saber:
equilíbrio brando ou soft balancing; diversificação; recúo
(tradução nossa) e unidade coletiva. O objetivo principal
da pesquisa é responder quais as principais causas de um
comportamento diferente entre dois países com históri-
cos e capacidades materiais similares. A hipótese partirá
de afirmações de acadêmicos argentinos de que o país
lançou mão de um alinhamento mais forte com os EUA
para contrabalançar o poder relativo do Brasil. Para a
verificação da hipótese, o estudo tomará como foco dois
episódios de divergência político-diplomáticas entre Bra-
sil e Argentina, dentro do marco temporal da pesquisa: a
crítica brasileira ao recebimento do status de aliado ex-
tra-OTAN pela Argentina, em 1997, e a crítica argentina
ao pleito de uma cadeira permanente no Conselho de
Segurança das Nações Unidas, em 1998.
Bárbara Feminino Neves
Análise da Política Externa Brasileira (2003-2016): atores,
processos e interesses na atuação externa brasileira frente
à América do Sul
Coautor(es): Henrique Neto Santos
Resumo: A política externa tem, em sua formulação, a
participação de variáveis independentes que podem ser
compreendidas através de diferentes ferramentas teóri-
co-metodológicas existentes. Partindo do pressuposto
que as diretrizes de análise de política externa são am-
plas e não possuem uma teoria consistente e unificada,
abre-se espaço para a utilização de diferentes mecanis-
mos metodológicos que ajudam a dar luz às análises dos
atores, processos, normas e ideias que compõem a polí-
tica externa de determinado país. Dessa forma, o presen-
te artigo explora possibilidades teórico-analíticas para a
compreensão dos processos que conformam a formula-
ção da política externa brasileira (PEB) a partir do gover-
no Lula da Silva e suas consequências para os governos
posteriores, dando ênfase ao posicionamento brasileiro
frente aos seus vizinhos sul-americanos. Foi durante os
governos de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2006; 2007-
2010) que a política externa brasileira teve seu reconhe-
cimento internacional e regional, onde a maioria das ini-
ciativas cooperação e integração regional encontraram
espaço e convergência política e econômica para serem
criadas. Apesar de ter apresentado uma política externa
influente na América do Sul durante os Governos Lula, na
qual a diplomacia do país liderou e estimulou várias das
iniciativas regionais, muitos dos discursos brasileiros não
se concretizaram, resultando em mecanismos regionais
ineficientes e vulneráveis às mudanças políticas dos paí-
ses envolvidos. É necessário questionar, portanto, o por
quê de tais ações não terem sido concretizadas. A pro-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
13
posta deste artigo é, em conjunto com o debate teórico-
metodológico, explorar a formulação da política externa
brasileira frente às iniciativas sul-americanas, buscando
contribuir, ainda que de maneira inicial, com o mapea-
mento e registro dos processos, variáveis, de eventuais
novos atores e interesses que ganharam força e repre-
sentatividade no cenário nacional brasileiro dos Gover-
nos Lulas, assim como seus reflexos na política externa
na conjuntura atual.
Beatriz Walid de Magalhães Naddi
México e Turquia como Estados bifronte
Trabalho Completo
Resumo: A estratégia de inserção internacional e regional
de um Estado é resultado de uma dialética profunda de
fatores como: poder duro (população, território, recur-
sos naturais e capacidade econômica, industrial e mili-
tar), poder brando (diplomacia, cultura, ideologia) e ce-
nário. A partir disso, os Estados nacionais constroem sua
estratégia de inserção internacional. Contudo, para de-
terminados países, a estratégia única de inserção não se
adequa a sua realidade geográfica, histórica, econômica
e até mesmo cultural, pois existe uma dualidade intrínse-
ca nessa composição o que os torna Estados bifronte –
ou cusp states na língua inglesa. O conceito de Estado
bifronte nasceu a partir da observação da atuação de
Estados que buscam inserir-se em duas regiões, utilizan-
do em cada uma delas estratégias diferentes. A principal
obra que trabalha o conceito é o livro The Role, Position
and Agency of Cusp States in International Relations (ed.
HERZOG; ROBINS, 2014) onde, além de trabalhar o con-
ceito em si, analisa oito casos de Estados bifronte: Tur-
quia, Ucrânia, Irã, Israel, Brasil, México, Japão e Taiwan.
Com base nesse fundamento conceitual, propõe-se a
comparação de dois desses países: México e Turquia. A
justificativa central para realização de tal estudo é a posi-
ção geoestratégica de elo que ambos possuem, entre
uma região culturalmente próxima, mas subdesenvolvida
(América Latina e Oriente Médio, respectivamente), e
uma região culturalmente distante, porém desenvolvida
(América do Norte e Europa). Com base nisso, ambos
desenvolvem a mesma estratégia: inserir-se econômico-
comercialmente na região desenvolvida, sem perder,
contudo, a relação diplomática com a região onde pode
exercer um maior poder relativo – a subdesenvolvida.
Baseado no conceito de Estado bifronte e na compara-
ção de México e Turquia, este trabalho tem como objeti-
vo central analisar o estágio atual de seus posicionamen-
tos bifronte, a fim de verificar os distanciamentos e pro-
ximidades de suas estratégias.
Ben Lian Deng
Neither Independence, nor Unification: Taiwan’s Mainland
China Policy during Ma Ying-jeou Era (2008-2016)
Trabalho Completo
Resumo: In 2008, Ma Ying-jeou from Kuomintang (KMT)
won the presidential election in Taiwan, ending up 20
years of pro-independence governments, changing ab-
ruptly the relations between Taiwan and Mainland China.
After have won the election, Ma who identified himself
as Chinese and against the independence of Taiwan, vo-
wed to improve the relations with Mainland China, and
also boost the Taiwanese economy by integrating the
economies of both sides. After the KMT victory, several
academic scholars believed that the “Taiwan Question”
would end soon, in favor of the peaceful unification
between Taiwan and China.
Although the Ma´s administration had stopped all the
pro-independence activities in Taiwan, and had also dee-
pened the economic dependence with China, Ma refu-
sed to make any movement toward the unification with
China during his government. In 2016, the Chinese ambi-
tion of the peaceful unification suffered a heavy setback
after the KMT lose the presidential to the pro-
independence Democratic Progressive Party, increasing
again the tensions in the Taiwan strait. Since 1949, Bei-
jing claims Taiwan as part of China, promising to annex it
by force if necessary.
The objective of the article is to analyze, what was the
rationality and strategy of Taiwan towards Mainland Chi-
na during Ma´s government (2008-2016), and how it sha-
ped the Taiwan´s economic and foreign policy. The me-
thodology adopted was to perform qualitative study revi-
ew regarding Ma´s governments policy toward China
during this period.
The main hypothesis is, although Ma´s government sha-
red several common grounds with the Beijing govern-
ment, such as historic and cultural, de facto Ma was pro-
moting the maintenance of Taiwan´s authonomy, and
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
14
refusing unification with China. The strategy of approa-
ching China, was strategically adopted with the purpose
to extract some political and economic concessions from
Beijing.
Bruno Ricardo Viana Sadeck dos Santos
As políticas externas dos governos Lula, Dilma e Temer
para os países sul-americanos
Resumo: Durante os últimos anos, a política externa bra-
sileira experimentou diferentes tipos de conduta e enga-
jamento com os temas internacionais, sejam eles bilate-
rais ou multilaterais, de acordo com as preferências e os
estilos dos presidentes.
O objetivo deste trabalho é abordar a política externa
realizada nos governos Lula, Dilma e Temer dentro do
âmbito regional para os vizinhos sul-americanos, buscan-
do mostrar as semelhanças e/ou diferenças entre cada
um.
O trabalho terá a seguinte estrutura: a) apresentação do
embasamento teórico sobre análise da política externa:
b) iniciativas realizadas pelos governos de cunho bilateral
e/ou regional; c) o balanço das ações de cada governo.
Como ponto de partida deste artigo, vamos tomar a obra
de Charles Hermann (1990) Changing Course: When Go-
vernments Chosse to Redirect Foreign Policy que mostra
a política externa é o comportamento de um governo
com relação a outros governos e instituições.
A metodologia utilizada neste trabalho analisa os fatores
que determinam a política externa dos países de um mo-
do geral. Para o autor, os pontos principais são os se-
guintes:
• Ação dos líderes;
Estrutura política doméstica;
Conjuntura internacional;
Ação de membros da burocracia
Além disso, serão utilizados dados empíricos como: via-
gens internacionais dos presidentes para agendas bilate-
rais/multilaterais; número de acordos/protocolos firma-
dos entre o Brasil e os países da região; ações promovi-
das pela diplomacia brasileira durante o espaço temporal
selecionado.
Carolina Malta Peixoto
Rússia + 5: A Relevância Do Continente Africano na Políti-
ca Externa do Governo Putin
Coautor(es): Laura Mezzalira Cecatto
Resumo: Esta pesquisa objetiva compreender a inserção
internacional russa no continente africano, em especial o
estreitamento das relações com cinco países-chave - Na-
míbia, Zimbábue, Angola, Moçambique e Etiópia - duran-
te o segundo governo de Vladimir Putin. A partir dessa
compreensão, pretende-se analisar os reflexos de tal
interação para a Rússia, bem como para os cinco Estados
africanos descritos. A integração entre Rússia e África
vem sendo constituída há anos, com oscilações em razão
das mudanças governamentais. O desinteresse do Impé-
rio Russo na história do tráfico de escravos contribuiu
para a visão de que os russos compunham uma socieda-
de tolerante, se comparada ao racismo proveniente dos
outros países europeus. Embora tampouco houvesse
tido interesse na colonização africana, o país ausentou-
se por anos no continente, salvo quando necessitava ex-
pandir os ideais da antiga URSS em diferentes partes do
globo - onde a influência na região seria estratégica - e
quando apoiou a independência dos Estados africanos.
Tais fatores se tornam essenciais para a compreensão da
aproximação do governo Putin com o continente, em
especial com os cinco países focos desta pesquisa, onde
observa-se que Rússia e Namíbia interagem pelo viés
econômico e as relações com Zimbábue e Moçambique
se concentram, principalmente, em cooperação militar e
potencialização dos recursos naturais. Já Angola e Etiópia
são atores focais de maior colaboração diplomática no
Sistema Internacional. Estas observações serão desenvol-
vidas através de revisão bibliográfica e artigos científicos,
buscando angariar evidências qualitativas para comprová
-las. Para tal, seguiremos a seguinte estrutura: 1) Apura-
ção cronológica das aproximações históricas entre Rússia
e o continente africano, 2) Análise geral da política exter-
na da Rússia e 3) Estudos de caso sobre a aproximação
da Rússia com a Namíbia, Moçambique, Angola, Zimbá-
bue e Etiópia.
Carolina Silva Pedroso
A oposição no exílio: o lobby das comunidades venezuela-
na e cubana nos Estados Unidos de Trump
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
15
Coautor(es): Alfredo Juan Guevara Martinez
Resumo: A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos,
ademais da repercussão interna, foi vista com reserva
pelos governos de Cuba e Venezuela. Diante de um novo
mandatário conhecido pelas declarações polêmicas, a
perspectiva de reaproximação diplomática com a Ilha
caribenha se tornava mais distante. Da mesma forma, a
política de relativa distensão com o regime de Maduro –
apesar do endurecimento que marcou os últimos dias da
gestão de Obama – parecia ter seus dias contados. Os
“latinos” nos Estados Unidos, sobretudo no estado da
Florida, de maneira geral apoiaram a candidatura do re-
publicano, a despeito de sua posição anti-migração. No
caso das comunidades cubana e venezuelana, que têm
em comum o fato de atuarem politica e ideologicamente
como oposição aos seus respectivos governos nacionais,
foram importantes plataformas para Trump. Com o re-
trocesso no processo de reaproximação diplomática com
Cuba e a concomitante escalada de sanções contra a Ve-
nezuela, parte dos anseios dessas comunidades foi aten-
dida. Com base em trabalho de campo realizado em
2017, buscaremos nesse paper apresentar os resultados
preliminares de investigação acerca do lobby dos grupos
cubanos e venezuelanos, seja na política norte-
americana, seja como oposição aos regimes de seus paí-
ses. O objetivo é verificar se a mudança advinda com a
ascensão de Trump afetou e/ou foi afetada por esses
grupos, bem como indicar as vias de cooperação entre
eles.
Caroline Honório Ribeiro
Estados Unidos e América Latina: uma análise a partir das
Cúpulas das Américas de 1994 a 2015
Trabalho Completo
Resumo: O artigo pretende analisar a relação Estados
Unidos e América Latina no âmbito das Cúpulas das
Américas de 1994 a 2015, entendendo que essas reuni-
ões periódicas de Chefes de Estados e/ou Primeiros Mi-
nistros possuem a finalidade de discutir temas políticos,
econômicos, sociais e ambientais compartilhados na re-
gião. Para isso, o trabalho investiga a política externa
estadunidense para o entorno regional através das agen-
das propostas durante essas reuniões e o desenvolvi-
mento das Cúpulas. Argumenta-se que apesar da espe-
rança de uma relação mais simétrica entre Estados Uni-
dos e América Latina, gerada principalmente pela iniciati-
va norte-americana em engajar-se na elaboração da pri-
meira reunião (1994) e pelo relativo sucesso das Cúpulas
seguintes, Cúpula de Santiago em 1998 e Quebec em
2001, a partir da Cúpula de Mar del Plata em 2005, as
reuniões entraram em um processo de declínio de ex-
pectativas, o qual fora confirmado, entre outros fatores,
pela falta de consenso para aprovação da declaração
final nas últimas três reuniões (2009; 2012; 2015). A pro-
posição estadunidense da Cúpula de 1994 é uma conse-
quência das diretrizes gerais da estratégia de Engaja-
mento e Expansão, atrelado aos objetivos gerais de polí-
tica externa dos Estados Unidos de expansão do regime
democrático liberal, conjuntamente com a abertura de
mercados visto como forma de garantir a integração eco-
nômica regional e a segurança hemisférica. A partir de
2005, fatores como a mudança na estrutura regional de
poder, o fracasso da criação de uma identidade coletiva
e uma agenda de integração hemisférica, bem como mu-
danças políticas, econômicas e ideológicas ocorridas nos
países da região, impactaram também as Cúpulas das
Américas, e por consequência a agenda e temas propos-
tos pelos Estados Unidos nas reuniões foram severamen-
te questionados pelos demais Estados latino-americanos,
aumentando ainda mais a assimetria de suas relações e a
postura dos Estados durante as Cúpulas.
Creomar Lima Carvalho de Souza
O papel dos valores Universais na condução da política
externa norte-americana durante o mandato de George H
W Bush
Resumo: O artigo busca compreender a relação entre o
ambiente de incerteza do Sistema Internacional no ime-
diato pós-Guerra Fria e a abertura de espaço para a con-
solidação de uma política externa marcada por valores
morais durante o mandato de George H W Bush. Na ten-
tativa de compreender esta relação, escolhe-se como
caso o processo de formação da coalizão de libertação
do Kuwait organizada pelo governo dos EUA, sob os aus-
pícios da Organização das Nações Unidas.
David Severo Pereira França Pinto
Política externa brasileira e Direitos Humanos: tendências
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
16
contemporâneas e comportamento brasileiro frente à Cor-
te Interamericana
Resumo: O tema de Direitos Humanos é central na for-
mulação da política externa brasileira. Após a condena-
ção do Brasil na Corte Interamericana no caso “Nova Bra-
sília”, vem à tona o questionamento de que se existe um
padrão de comportamento frente à Corte. Como enten-
der o comportamento do Brasil no governo Temer para o
tema dos Direitos Humanos? Para se entender o cenário
de Política Externa Brasileira para Direitos Humanos se
fazem necessárias ponderações. O objetivo principal da
pesquisa foi analisar o padrão de respostas e de conde-
nações do Estado Brasileiro no âmbito da Corte Intera-
mericana, em termos gerais. Os objetivos específicos
foram: Primeiro, analisar dois casos específicos: o caso
“Damião Ximenes” e o caso “Gomes Lund e outros”.
Quanto à metodologia, por meio de pesquisa de conde-
nações anteriores, de documentos oficiais com a posição
do Brasil, com notícias recentes sobre o assunto, foi pos-
sível mapear como tem sido o comportamento dos últi-
mos governos frente aos direitos humanos no âmbito
interamericano. Como resultado, foi visto que, no pri-
meiro caso, o governo Lula se comprometeu a fazer um
esforço para atender às demandas presentes na senten-
ça, o que foi, de modo geral, caracterizado como uma
resposta positiva. No segundo caso, o governo brasileiro
não aceitou a sentença da Corte e, além disso, houve
intensa contestação não apenas à sentença, mas tam-
bém quanto a validade do órgão a investigar esse caso.A
conclusão apontou para a necessidade de se analisar o
comportamento do governo Temer frente ao tema de
direitos humanos em outros órgãos internacionais. Em-
bora o governo tenha relativamente pouco tempo, a
quantidade de críticas sofridas foi intensa e as respostas
a elas têm sido criticadas, demonstrando retrocesso da-
quilo que vinha sendo conquistado em governos anterio-
res. Isso possibilita desenhar um panorama de que está
havendo forte desgaste entre a Corte (e outros fóruns),
ONG’s especializadas e o governo Temer.
Demetrius Cesario Pereira
O nexo entre fatores domésticos e externos na política
externa norte-americana
Coautor(es): Denilde Holzhacker
Resumo: Desde que Donald Trump assumiu a presidência
dos Estados Unidos muito se debate os efeitos de suas
políticas para a estabilidade da ordem internacional. A
sua ascensão significou não apenas um novo estilo de
liderança, como também a implementação de uma es-
tratégia fundamentalmente voltada para os ganhos rela-
tivos dos Estados Unidos. O seu discurso crítico aos efei-
tos negativos da globalização associa-se a crescente des-
confiança com relação ao livre comércio, as instituições
internacionais e aos valores universais. A questão que se
coloca é o quanto a política externa de Trump represen-
ta uma ruptura comparado aos governos anteriores?
De acordo com James M. McCormick, na sétima edição
do livro The Sources of American Foreign Policy (2017),
desde o fim da Guerra Fria, os debates e respostas à glo-
balização relacionam-se com as demandas e forças do-
mésticas, não apenas aos interesses internacionais. Des-
de a visão de Thomas Jefferson e dos pais fundadores a
política externa significa os meios para promoção da
prosperidade da sociedade norte americana. No entanto,
McCormik afirma que a relação entre políticas doméstica
e externa se tornou mais complexa nos últimos tempos,
especialmente com o aumento da participação e envolvi-
mento de diferentes atores domésticos na formulação e
implementação da política externa. O nexo entre as polí-
ticas externa e doméstica é importante para a compre-
ensão das ações externas do país nos diferentes gover-
nos tanto referente aos processos institucionais, quanto
às ações e agenda externa do país. Nesta per
A partir deste contexto, este painel propõe a análise da
influência de fatores domésticos para a formulação e
implementação política externa norte-americana. Os
artigos apresentam aspectos distintos da política externa
norte-americana desde o fim da Guerra Fria. Dessa for-
ma, os artigos que compõem este painel analisam a fun-
ção dos valores no discurso e na construção dos posicio-
namentos externos, a influência de atores doméstico e
os seus interesses comerciais. Com isso, pretende-se,
aprofundar o debate conceitual na análise da política
externa, bem como contribuir para uma visão mais am-
pla dos fatores que afetam a atual política externa norte-
americana.
Denilde Holzhacker
Atuação de Grupos de interesse na política externa norte-
americana
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
17
Resumo: Nas últimas décadas, os estudos de análise de
política externa reconhecem, cada vez mais, a influência
dos atores domésticos no processo de formulação e im-
plementação da política externa. Em regimes democráti-
cos ativistas, representantes da sociedade civil, grupos
interesse corporativos e a opinião pública buscam influ-
enciar as decisões dos governos frente às agendas de
política externa. A atuação dos atores domésticos duran-
te processos de negociações comercias não é algo novo
na política externa norte-americana, no entanto, nota-se
novos padrões de atuação e construção de agenda em
diversas áreas da política externa. Por exemplo, o estudo
de John Mearsheimer e Stephen Walt, em 2006, mos-
trou as formas de atuação dos grupos de interesse pró-
Israel, o chamado lobby étnico. Outros estudos destacam
a mobilização dos atores domésticos frente às negocia-
ções comerciais, como no caso, por exemplo, do Tratado
da Parceira Transpacífico (TTP) que sofreu fortes resis-
tências de grupos empresariais e trabalhadores. A partir
deste quadro, pretende-se, neste artigo, discutir a in-
fluência dos atores domésticos na agenda de política
externa nas gestões dos presidentes Obama (2008-2016)
e Trump (2017-), especialmente nos temas relativos à
América Latina. A proposta é compreender como a agen-
da para a América Latina tem sido influenciada pela pres-
são dos grupos de interesse e quais são as táticas e es-
tratégias dos grupos de interesse pró-América Latina.
Neste sentido, é relevante compreender o lobby étnico
dos latinos nos Estados Unidos, bem como a estratégia
dos grupos de interesse empresariais pró e contra a polí-
tica externa para a América Latina frente ao Governo.
Com isso, pretende-se contribuir para melhor compreen-
são da atuação de atores domésticos na formulação e
implementação da agenda de política externa para a
América Latina.
Denilde Holzhacker
O nexo entre fatores domésticos e externos na política
externa norte-americana
Coautor(es): Demetrius Cesario Pereira
Resumo: Desde que Donald Trump assumiu a presidência
dos Estados Unidos muito se debate os efeitos de suas
políticas para a estabilidade da ordem internacional. A
sua ascensão significou não apenas um novo estilo de
liderança, como também a implementação de uma es-
tratégia fundamentalmente voltada para os ganhos rela-
tivos dos Estados Unidos. O seu discurso crítico aos efei-
tos negativos da globalização associa-se a crescente des-
confiança com relação ao livre comércio, as instituições
internacionais e aos valores universais. A questão que se
coloca é o quanto a política externa de Trump represen-
ta uma ruptura comparado aos governos anteriores?
De acordo com James M. McCormick, na sétima edição
do livro The Sources of American Foreign Policy (2017),
desde o fim da Guerra Fria, os debates e respostas à glo-
balização relacionam-se com as demandas e forças do-
mésticas, não apenas aos interesses internacionais. Des-
de a visão de Thomas Jefferson e dos pais fundadores a
política externa significa os meios para promoção da
prosperidade da sociedade norte americana. No entanto,
McCormik afirma que a relação entre políticas doméstica
e externa se tornou mais complexa nos últimos tempos,
especialmente com o aumento da participação e envolvi-
mento de diferentes atores domésticos na formulação e
implementação da política externa. O nexo entre as polí-
ticas externa e doméstica é importante para a compre-
ensão das ações externas do país nos diferentes gover-
nos tanto referente aos processos institucionais, quanto
às ações e agenda externa do país. Nesta per
A partir deste contexto, este painel propõe a análise da
influência de fatores domésticos para a formulação e
implementação política externa norte-americana. Os
artigos apresentam aspectos distintos da política externa
norte-americana desde o fim da Guerra Fria. Dessa for-
ma, os artigos que compõem este painel analisam a fun-
ção dos valores no discurso e na construção dos posicio-
namentos externos, a influência de atores doméstico e
os seus interesses comerciais. Com isso, pretende-se,
aprofundar o debate conceitual na análise da política
externa, bem como contribuir para uma visão mais am-
pla dos fatores que afetam a atual política externa norte-
americana.
Denise de Oliveira De Rocchi
Al Jazeera e Sputnik News: discurso, poder e política exter-
na
Trabalho Completo
Resumo: Nos últimos anos, governos de países não oci-
dentais, com destaque para Qatar e Rússia, têm financia-
do a implementação de redes de televisão e portais de
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
18
notícias destinados não a seu público interno, mas à au-
diência de outros países, com objetivo de apresentar sua
perspectiva sobre temas de política internacional. Atra-
vés desta prática, classificada nas Relações Internacionais
como Diplomacia Pública, esses Estados tentam mostrar
pontos de vista diferentes daqueles veiculados pelas
grandes redes e agências de notícias que lideram o mer-
cado mundial, basicamente originárias da Europa e Esta-
dos Unidos. Este artigo, baseado na análise das notícias
veiculadas pela rede de TV Al Jazeera, pelo portal de no-
tícias Sputnik News e por grandes redes de comunicação,
se propõe a discutir a atuação destes veículos de origem
estatal como elemento de política externa. As iniciativas
dos governos qatari e russo têm despertado reações
contrárias no meio político de outros países, que se refe-
rem a estas empresas não como de jornalismo, mas de
propaganda. Nos Estados Unidos e Europa, diversas pro-
postas de contenção ao projeto russo têm sido discuti-
das, inclusive aplicação de leis do período do Macartismo
ou criação de nova legislação limitando as transmissões.
Na crise entre o Qatar e seus vizinhos, deflagrada em
2017 e ainda em curso, o fechamento da Al Jazeera foi
apresentado como condição para encerrar o bloqueio
organizado por outros países árabes. A pesquisa inter-
preta a decisão de investir nestes canais de comunicação
como uma tentativa de inserir outros discursos junto à
opinião pública estrangeira. As ações para contê-los re-
presentam a preferência de outros pela manutenção da
posição hegemônica do discurso ocidental no noticiário
internacional, representado neste estudo através da aná-
lise das notícias veiculadas por grandes redes americanas
e europeias. Ambas as posições refletem relações de
poder e preferências relacionadas à política externa dos
países envolvidos.
Ester Almeida Carneiro da Cunha
O papel da opinião pública e dos meios de comunicação
na política exterior do governo Lula da Silva (2003-2010):
o caso VEJA.
Resumo: Ao se iniciar o século XXI, o sistema internacio-
nal estava marcado por modificações significativas nas
tecnologias da comunicação. Observa-se a centralidade
da produção, transmissão e aquisição de informações
em todas as porções da atividade dos homens. Fica evi-
dente a importância da mídia como um ator e objeto
para a sociedade. Neste sentido, “os meios de comunica-
ção de massa podem ser entendidos como importantes
agentes sociais envolvidos em processos de construções
cognitivas coletivas, uma vez que veiculam em larga es-
cala discursos interessados” (NOGUEIRA, 2012, p.118).
No Brasil, a relevância dos meios de comunicação na vida
da população é visível. Segundo pesquisa (Reuters Insti-
tute/Universidade de Oxford), 97% das famílias brasilei-
ras possuem uma TV em casa e 60% confia na mídia co-
mo fonte de informação. Dados que revelam as caracte-
rísticas e amplitude da indústria da informação no Brasil.
Assim, o trabalho apresentará, brevemente, as tendên-
cias analíticas relativas à relação entre política externa,
opinião pública e meios de comunicação. Posteriormen-
te, focalizará no caso brasileiro, descrevendo o histórico
da formação da estrutura de comunicação de massa no
país. Finalmente, analisa o tratamento dado pelo sema-
nário VEJA (Editora Abril) a política exterior na gestão de
Lula da Silva (2003-2010). Dentre todas as edições do
período (422), foram encontradas 105 notícias que tan-
gem o tema de política externa. Evidenciaram-se fatos
quantitativos e qualitativos que serão demonstrados nas
conclusões do trabalho.
Felipe Cordeiro de Almeida
Itaipu Binacional e a Política Externa Brasileira para a Inte-
gração Regional Sul-Americana
Resumo: O presente trabalho busca contribuir com o
debate acerca do papel desenvolvido por atores nacio-
nais como agentes da Política Externa Brasileira para a
integração regional latino-americana a partir agência da
Itaipu Binacional. Para essa contribuição, partimos de
duas premissas relevantes: a primeira de que a coopera-
ção internacional brasileira é um instrumento de política
externa fundamental à consecução dos seus objetivos e
estratégias, e, a segunda de que a política externa deve
ser entendida como política pública sobre a qual diferen-
tes atores da sociedade possuem agência. Essa perspec-
tiva relativiza a virtual centralidade da Presidência da
República e do Ministério das Relações Exteriores na for-
mulação e execução da política externa brasileira, bem
como o virtual insulamento burocrático deste último.
Escolhemos o papel internacional desenvolvido pela Itai-
pu Binacional, por ser empresa binacional de administra-
ção pública de forte impacto territorial e grande reco-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
19
nhecimento internacional. Analisamos assim a Itaipu Bi-
nacional sob os seguintes questionamentos: a) como
essa agência internacional articulou-se com a agenda de
política externa dos governos Lula e Dilma (2003-2016)
para a América do Sul; e b) como essa agência internaci-
onal articulou-se com o território da tríplice fronteira e
seus múltiplos atores no mesmo período.
Fernando Luiz Gewehr Hoppe
Mudanças e Continuidades nas Relações Russo-Turcas Pós
-Revolução Bolchevique
Resumo: A presente pesquisa procura explorar a dinâmi-
ca das relações entre o Estado Russo e o Estado Turco no
período posterior à Revolução Bolchevique. Tal momen-
to histórico abarca profundas mudanças em ambos Esta-
dos, resultante das transformações ocorridas em conse-
quência da revolução, da Primeira Guerra Mundial, da
Guerra Fria e, posteriormente, de seu fim. Todo o perío-
do foi marcado por sinais de aproximação e afastamento
dos países, em função das questões geopolíticas envolvi-
das, das animosidades históricas entre os dois países, de
rivalidades econômicas ou políticas. A partir do estudo
sobre a interação entre os dois países e a política externa
por eles desenvolvida, pretende-se, portanto, identificar
possíveis padrões de comportamento nas relações entre
os dois países durante o período selecionado, os objeti-
vos por eles perseguidos e os meios utilizados . Para isso,
se realizará uma pesquisa bibliográfica e uma análise
crítica de artigos, reportagens recentes, discursos e rela-
tórios com vistas a elucidar essas questões propostas.
Filipe Mendonca
A política comercial do governo Trump
Coautor(es): Lais Forti Thomaz, Tullo Vigevani
Resumo: O objetivo é documentar e analisar as principais
características da política comercial do governo Trump
em termos de arranjo institucional, processo de formula-
ção, diretrizes e principais ações. Busca-se examinar se a
administração de Trump foi mais protecionista do que as
anteriores, se houve modificação concreta com relação à
inserção dos EUA no sistema multilateral de comércio e
se houve alteração significativa na estratégia de acordos
preferenciais de comércio. Ademais, a pesquisa examina-
rá se a administração Trump aplicou mecanismos de de-
fesa comercial em padrão diferente das administrações
anteriores.
Gabriel Garcia
A política Norte-americana do embargo a Cuba: evolução
no cenário pós guerra fria
Resumo: O objetivo da pesquisa era analisar a razão do
processo de endurecimento do embargo Cubano no ce-
nário pós guerra fria. Sendo a principal política dos Esta-
dos Unidos com a ilha Caribenha, desde a sua implemen-
tação oficial em 1961 o embargo econômico permanece
vigente e em grande parte inalterado até a queda da
União Soviética. As mesmas políticas Estadounidenses
em relação a Cuba na Guerra Fria são intensificadas após
o seu término. Buscamos entender a manutenção da
política do Embargo recorrendo às contribuições de Jo-
gos de dois níveis de Putnam. Apesar das mudanças no
cenário internacional, dois fatores da política interna que
moldam a política externa Norte-americana em relação a
ilha permaneceram inalterados: O "Lobby" Cubano Ame-
ricano que tem como principal interesse o fim do atual
regime socialista Cubano e a tradição política Estaduni-
dense desde os tempos coloniais de ver a ilha como um
apêndice dos Estados Unidos. Tais fatores nos ajudam a
entender a manutenção do Embargo, mas para entender
a sua intensificação devemos olhar para Cuba. As políti-
cas econômicas internas Cubanas mudam drasticamente
após o fim da Guerra Fria, o mercado dos países do bloco
soviético para qual a economia Cubana tinha se moldado
produtivamente por décadas é dissolvido. Em profunda
crise a economia Cubana busca se internacionalizar e os
esforços da política externa, acompanhando as mudan-
ças internas, se voltam na busca de novos mercados. As
alterações no embargo visam exatamente dificultar os
esforços Cubanos de internacionalização de sua econo-
mia. Buscamos assim entender a manutenção e endure-
cimento da política do embargo econômico a Cuba, uma
política da Guerra Fria que apenas foi intensificada após
o seu fim.
Gabriela Tamiris Rosa Corrêa
Da Proximidade ao Distanciamento: As Relações Sino-
Americanas da “Era Nixinger – Mao Tsé-Tung” à “Era
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
20
Trump – Xi Jinping”.
Resumo: Nos últimos cinquenta anos, as relações sino-
americanas variaram da aproximação até o distancia-
mento recente. Nesse contexto, salienta-se que existem
diversos fatores causais que influenciam nas dinâmicas
destas relações. No entanto, a presente pesquisa centra-
se em questões pontuais que envolvem variações de po-
der relativo entre China e Estados Unidos, como envolvi-
mento de outros atores nessas relações; mudanças nas
prioridades de política externa dos dois países; relaciona-
mento econômico sino-americano; e situação das insti-
tuições internas estatais. Desse modo, considerando es-
sa assertiva, emerge-se o seguinte problema de pesqui-
sa: “Como variações de poder relativo entre China e Es-
tados Unidos concatenam-se com variações nas relações
sino-americanas desde os anos 70? Ainda, é possível ve-
rificar influência de posturas nacionalistas e protecionis-
tas nas relações entre estes atores atualmente?” Portan-
to, esta pesquisa analisa estas relações desde a “Era Ni-
xinger – Mao Tsé-Tung” à “Era Trump – Xi Jinping”, com
o objetivo de identificar (i) variações de poder estatal
entre chineses e norte-americanos; (ii) prioridades de
política externa para ambos; e (iii) influências de retóri-
cas nacionalistas para estas relações. Desse modo, a hi-
pótese da pesquisa salienta que variações de poder en-
tre estes atores caracterizam-se como elementos causais
das formas de relações sino-americanas. Logo, quando
há proeminência do poder norte-americano sobre a Chi-
na, verifica-se aproximação. Em contrapartida, quando
há crescimento do poder chinês e manutenção do poder
norte-americano, comprova-se equidistância. Por fim,
quando há decadência do poder estadunidense e acrés-
cimo no poder da China, as relações tendem ao distanci-
amento. Desse modo, a pesquisa utiliza-se do método
hipotético-dedutivo, com análise bibliográfica e docu-
mental. Para tanto, serão utilizados alguns elementos
pertencentes à teoria neorrealista, como capacidade
estatal, equilíbrio de poder e interesse nacional. Como
resultados esperados compreende-se as variações de
poder como elemento central nas dinâmicas das rela-
ções sino-americanas, e a projeção de possíveis cenários
para essa relação através da emergência de retóricas
nacionalistas.
Giovana Barbosa dos Santos
Política Externa Russa na Era Putin e sua projeção de po-
der na região Eurasiática
Coautor(es): Ana Carolina de Faria
Resumo: O fim da era soviética e o consequente esgota-
mento do sistema bipolar acarretou em transformações
não somente em um mundo que veria o capitalismo se
sobressair como o sistema econômico mais sustentável
no longo prazo, mas também experimentaria profundas
mudanças sociais, culturais e, sobretudo, novas ameaças
extrínsecas ao Estado – sob as quais este não pode exer-
cer controle. A ascensão de Vladimir Putin no poder após
um governo frágil, que estava inserido em um período
de transição de um regime socialista para um regime
democrático, marcou uma nova era na política externa
Russa – um momento da reconstrução da identidade
nacional e, sobretudo, da reafirmação do país como uma
potência mundial. Seu governo fora e continua sendo
marcado por medidas de caráter, aparentemente, ambí-
guo – ora preza-se por uma aproximação ora por um
distanciamento da comunidade internacional. No pre-
sente trabalho, iremos propor a análise da política exter-
na russa a partir dos anos 2000, entendido como o perío-
do do início da reafirmação da Rússia como membro re-
levante no sistema internacional, baseando-se na ótica
estratégica de projeção de poder na região eurasiática,
compreendida como um dos pontos centrais para o go-
verno russo. Desta forma, procuramos compreender em
que medida a Rússia busca aumentar sua projeção de
poder a partir da formulação de sua nova política exter-
na, observando o papel estratégico e de suas políticas
para a região eurasiática. Ademais, iremos demonstrar
como são formuladas as posições tomadas pelos influen-
ciadores no processo de liderança - uma vez que um dos
aspectos mais relevantes na formulação da política ex-
terna russa é o papel central do Presidente, pois todo
indivíduo possui um conteúdo cognitivo que influencia
na sua tomada de decisão -, levando em consideração
alguns conceitos relevantes acerca do perfil dos deciso-
res, como suas características de liderança, relações in-
terpessoais, e sobretudo, seus grupos de influência.
Giovanna Carvalho Bertolaccini Santos
Cooperação Técnica e científica entre Brasil e China - Aná-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
21
lise do Programa Espacial Sino-Brasileiro (CBERS)
Resumo: Como dois dos maiores países em desenvolvi-
mento do planeta, o Brasil e a China são Estados de gran-
de peso e influência no hemisfério sul, portanto, como
era de se esperar, são dois dos maiores fomentadores da
cooperação para o desenvolvimento no sul global (DE
MELLO E SOUZA 2012). O trabalho aborda como é feita a
cooperação Sul-Sul por estes dois países expoentes, to-
davia, o foco deste trabalho de pesquisa é o de delinear
a formação e modelo da cooperação técnica e científica
entre estes dois países. Além do estudo sobre como esta
parceria se dá de maneira geral, a pesquisa foca no mai-
or exemplo de cooperação técnica e científica que é o
programa espacial sino brasileiro. O programa é apresen-
tado perpassando desde os antecedentes do seu surgi-
mento, passando pelos acordos e pelo lançamento dos 4
satélites até o CBERS 4ª previsto para lançamento em
2019. São discutidas no decorrer da pesquisa quais as
motivações que levaram à criação deste projeto de coo-
peração e quais as mantêm em vigor até os dias atuais,
também é discutido acerca da funcionalidade do progra-
ma em si e dos satélites para ambos os países, principal-
mente no Brasil. O trabalho é realizado por meio de revi-
são bibliográfica sobre as teorias da cooperação e sobre
a parceria sino-brasileira, análise documental dos trata-
dos de cooperação e dos documentos abertos sobre a
cooperação espacial, entrevistas com especialistas brasi-
leiros e chineses responsáveis pelo programa atualmente
e em sua implementação, visitas técnicas e pesquisas de
campo no instituto nacional de pesquisas espaciais.
Heloisa Marques Gimenez
Atuação internacional dos Estados latino-americanos:
Análise de Política Externa (APE) a partir de estudos de
caso
Resumo: O painel reúne trabalhos que utilizam a aborda-
gem de Análise de Política Externa (APE) para desenvol-
ver estudos empíricos sobre a atuação internacional dos
Estados latino-americanos, abarcando dois conjuntos de
variáveis: a) Domésticas – acerca do papel de atores es-
tatais e não-estatais (como o líder do Executivo, a buro-
cracia envolvida com política externa, o Legislativo e sua
relação com grupos de interesse econômico, a influência
da opinião pública e de organizações da sociedade civil)
analisados sob diferentes níveis (como o individual, que
foca nas características do líder, e o de grupos, que inclui
sua relação com outros atores políticos com atribuições
em política externa); as características institucionais são
incluídas para identificar os poderes e atribuições destes
atores no sistema político e das normas que regulam o
processo de desenvolvimento e implementação da políti-
ca externa; b) Internacionais – o impacto destas variáveis
incluem contribuições de diversas correntes teóricas das
Relações Internacionais (como a importância do poder e
da anarquia do sistema internacional, fatores econômi-
cos e a interdependência, e o impacto das normas e ins-
tituições internacionais); a apresentação de estudos de
caso, ou análise comparada qualitativa e quantitativa
para aplicação da moldura teórica é recomendada.
Henrique Neto Santos
Análise da Política Externa Brasileira (2003-2016): atores,
processos e interesses na atuação externa brasileira frente
à América do Sul
Coautor(es): Bárbara Feminino Neves
Resumo: A política externa tem, em sua formulação, a
participação de variáveis independentes que podem ser
compreendidas através de diferentes ferramentas teóri-
co-metodológicas existentes. Partindo do pressuposto
que as diretrizes de análise de política externa são am-
plas e não possuem uma teoria consistente e unificada,
abre-se espaço para a utilização de diferentes mecanis-
mos metodológicos que ajudam a dar luz às análises dos
atores, processos, normas e ideias que compõem a polí-
tica externa de determinado país. Dessa forma, o presen-
te artigo explora possibilidades teórico-analíticas para a
compreensão dos processos que conformam a formula-
ção da política externa brasileira (PEB) a partir do gover-
no Lula da Silva e suas consequências para os governos
posteriores, dando ênfase ao posicionamento brasileiro
frente aos seus vizinhos sul-americanos. Foi durante os
governos de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2006; 2007-
2010) que a política externa brasileira teve seu reconhe-
cimento internacional e regional, onde a maioria das ini-
ciativas cooperação e integração regional encontraram
espaço e convergência política e econômica para serem
criadas. Apesar de ter apresentado uma política externa
influente na América do Sul durante os Governos Lula, na
qual a diplomacia do país liderou e estimulou várias das
iniciativas regionais, muitos dos discursos brasileiros não
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
22
se concretizaram, resultando em mecanismos regionais
ineficientes e vulneráveis às mudanças políticas dos paí-
ses envolvidos. É necessário questionar, portanto, o por
quê de tais ações não terem sido concretizadas. A pro-
posta deste artigo é, em conjunto com o debate teórico-
metodológico, explorar a formulação da política externa
brasileira frente às iniciativas sul-americanas, buscando
contribuir, ainda que de maneira inicial, com o mapea-
mento e registro dos processos, variáveis, de eventuais
novos atores e interesses que ganharam força e repre-
sentatividade no cenário nacional brasileiro dos Gover-
nos Lulas, assim como seus reflexos na política externa
na conjuntura atual.
Hugo Bras Martins da Costa
Política Externa Brasileira e Operações de Manutenção da
Paz das Nações Unidas: uma análise do processo decisório
brasileiro para o desdobramento de tropas para a Missão
Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a
Estabilização da República
Resumo: Esta apresentação de trabalho busca compre-
ender as dinâmicas domésticas relacionadas ao desdo-
bramento de contingente militar brasileiro para opera-
ções de manutenção da paz das ONU, tomando como
base um estudo de caso do processo decisório brasileiro
para responder o convite oficial feito pelas Nações Uni-
das no final de 2017 para que o país viesse contribuir
com tropas para a Missão Multidimensional Integrada
das Nações Unidas para a Estabilização da República
Centro-Africana (MINUSCA). São os referenciais teóricos
desta pesquisa as contribuições do campo de estudo de
Análise de Política Externa que privilegiam a compreen-
são dos processos decisórios em política externa en-
quanto objeto de barganha entre atores institucionais no
plano doméstico e entre atores estatais no plano inter-
nacional. Serão analisados, a partir da metodologia quali-
tativa de rastreamento de processo (process tracing),
documentos oficiais, notícias e editoriais dos principais
veículos da imprensa escrita nacional e também entrevis-
tas semiestruturadas. As entrevistas foram coletadas, em
sua maioria, durante a participação do pesquisador no
Programa de Capacitação Acadêmica da Missão Perma-
nente do Brasil junto às Nações Unidas em Nova York
entre fevereiro e abril de 2018 e incluem, principalmen-
te, atores vinculados ao Ministério das Relações Exterio-
res, Ministério da Defesa e Forças Armadas. A coleta de
notícias e editoriais foi feita através dos jornais Folha de
São Paulo, O Globo e Estadão no período 2017 e 2018. A
escolha desses três jornais, que estão entre os mais im-
portantes do Brasil, levou em consideração as suas re-
correntes classificações entre os cinco jornais de maior
circulação paga do país. Por fim, foram coletados docu-
mentos oficiais de caráter ostensivo relacionados a Mis-
são Permanente do Brasil junto às Nações Unidas em
Nova York, ao Ministério das Relações Exteriores e ao
Ministério da Defesa.
Italo Beltrão Sposito
Alterações nas coalizões domésticas e seus impactos sobre
a política externa: simples alternância de poder ou polari-
zação política?
Trabalho Completo
Resumo: Este trabalho busca analisar os impactos das
mudanças nas coalizões políticas domésticas sobre possí-
veis câmbios nas políticas externas. Para observar esta
relação, serão analisadas quatro diferentes sucessões
presidenciais na América do Sul, ocorridas durante um
curto marco temporal, as quais serão contrapostas com
outros três casos, em que não houve alternância de po-
der. O foco do estudo está nas duas sucessões presiden-
ciais ocorridas durante períodos de instabilidade institu-
cional e com a legitimidade dos novos governos questio-
na – a transição Dilma-Temer ocorrida no Brasil em 2016
e a substituição de Lugo por Federico Franco, no Para-
guai em 2012 – além de outras duas sucessões ocorridas
mediante eleições, em normalidade institucional – a
substituição de Cristina Kirchner por Macri, na Argentina
em 2015, e de Bachelet por Piñera, no Chile em 2018. Os
casos de Uruguai, em que a Frente Amplio governa des-
de 2010, Bolívia, comandada pelo Movimento para o
Socialismo desde 2006, e a Venezuela sob liderança do
Partido Socialista Unido da Venezuela desde 1999
(ininterruptamente desde 2001) são usados como con-
trole, para identificar se as alterações em política externa
ocorridas no primeiro grupo podem ser relegadas a fato-
res internacionais. A hipótese preliminar é de que as su-
cessões ocorridas nos cenários de instabilidade instituci-
onal, marcadas por uma anterior alta polarização das
forças políticas resultaram em alterações mais drásticas
na política externa, enquanto que as alterações ocorridas
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
23
mediante eleições resultaram em câmbios mais amenos,
semelhantes à possíveis adaptações em política externa
implementadas durante as administrações constantes do
terceiro grupo de casos. A hipótese alternativa é de que
as alterações políticas domésticas não foram tão deter-
minantes sobre o comportamento internacional dos Es-
tados e que alterações estratégicas podem ser explica-
das como respostas a mudança no cenário internacional
e regional.
Janiffer Tammy Gusso Zarpelon
A política externa brasileira no governo Temer: continuida-
de ou ruptura?
Trabalho Completo
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar a
política externa brasileira do governo Temer verificando
quais os aspectos que possivelmente denotam caracte-
rísticas de ruptura e de continuidade em relação á políti-
ca externa dos governos Lula (2003-2010) e Dilma (2011-
2016). A política externa brasileira no governo Lula teve
como diretriz a autonomia pela diversificação, que signi-
ficou a diversificação da agenda internacional do Brasil
bem como de parceiros não tradicionais, tendo como
foco a Cooperação Sul-Sul. No governo Dilma, apesar da
instabilidade política e econômica que assolou o cenário
doméstico brasileiro, foi dado continuidade na coopera-
ção entre os países em desenvolvimento, fortalecendo
alianças estratégicas com os BRICS, IBAS, UNASUL Mer-
cosul, e na doação de cooperação técnica internacional,
tendo como destaque as áreas da saúde, educação e
agricultura. Já no governo Temer, o discurso político ini-
cial seria em priorizar acordos comerciais com os países
desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos e Euro-
pa. No entanto, no decorrer do seu mandato essa priori-
zação não aconteceu. Temos, assim, a hipótese que devi-
do as dificuldades em fortalecer as relações com as gran-
des potências econômicas - que serão apresentadas no
artigo -, o governo Temer deu continuidade em certas
agendas como priorizar as relações com os BRICS. Desta-
camos que essa continuidade está muito aquém do que
fora realizado pelos governos anteriores. Além disso,
entendemos que a incapacidade ou a própria ausência
de um conjunto de diretrizes para a política externa bra-
sileira contribuíram para a continuidade em relação a
certas agendas. A metodologia utilizada nesta pesquisa
teve como base a análise empírica a partir de fontes bi-
bliográficas, documentos oficiais e a análise de discurso
do presidente Temer e dos Ministros das Relações Exteri-
ores do governo Temer.
Jefferson dos Santos Estevo
A Política Brasileira Para Mudanças Climáticas: Análise Do
Âmbito Interno E Negociações Exteriores (2009-2016)
Trabalho Completo
Resumo: O artigo trabalha com a relação entre política
externa e política doméstica. As negociações climáticas
globais são pautadas por esforços domésticos dos países,
com intuito de redução dos níveis de gases do efeito es-
tufa. No caso do Brasil, o país adotou em 2009 metas
voluntárias de redução de emissão, à partir de sua políti-
ca climática nacional. A política externa, que negociou as
metas voluntárias, foi influenciada pela política domésti-
ca. No ano de 2015 o país enviou sua contribuição nacio-
nal (INDC) para as negociações climáticas. A INDC tam-
bém indicou os esforços nacionais para mitigação. O arti-
go visa indicar a relação entre política climática no plano
doméstico e exterior. O entendimento da relação entre
política externa e política doméstica, é de suma impor-
tância para o tema das mudanças climáticas, onde as
políticas estão conectadas. O entendimento de uma polí-
tica externa, que é uma política pública, depende de fa-
tores domésticos e internacionais, a conexão entre os
dois níveis. O artigo visa entender os fatores e atores
responsáveis pela formulação de política externa climáti-
ca brasileira, após 2009 até 2017.
Jordana Godoy do Nascimento
Os Desafios da Questão Ambiental em Relações Internaci-
onais: Uma Análise sobre as Conferências da ONU e sobre
a Política Externa do Brasil
Resumo: A presente pesquisa dialoga sobre Política Ex-
terna com ênfase na análise social e política das ques-
tões de meio ambiente em caráter internacional, de en-
contro com sua transnacionalidade, ressaltando a legiti-
midade e importância enquanto política pública ineren-
tes, e sua capacidade de interferir no sistema internacio-
nal e no campo das Relações Internacionais na contem-
poraneidade. O objetivo geral da pesquisa é analisar his-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
24
toricamente o tratamento da temática no nível internaci-
onal, especificamente nas conferências das Nações Uni-
das para o Meio Ambiente de Estocolmo, Rio de Janeiro,
Johanesburgo e Nova York, relacionando-as à Política
Externa do Brasil, cuja atuação será analisada por meio
dos indicadores do chamado “desenvolvimento sustentá-
vel” e das políticas públicas executadas. Espera-se, atra-
vés deste movimento analítico que considera dois níveis
de análise (internacional e doméstico), delimitar o con-
texto histórico necessário à interpretação dos fenôme-
nos ligados à agenda ambiental, além de contrastar os
compromissos e acordos políticos ambientais firmados
pelo Ministério das Relações Exteriores com as ações
governamentais nacionais, e, por fim, compreender o
complexo da influência do meio ambiente na área de
Relações Internacionais e suas perspectivas futuras. A
iniciativa da pesquisa se deu a partir da observação das
necessidades locais e regionais em confluência com as
necessidades internacionais na área das Relações Inter-
nacionais enquanto campo de estudo. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa e os procedimentos metodológicos
consistem em pesquisa bibliográfica e levantamentos de
dados em fontes primárias (documentos oficiais) e se-
cundárias (literatura especializada).
José Oviedo Pérez
Mais Médicos: Cuba, Brazil, and International Politics in
the Global South
Trabalho Completo
Resumo: In July of 2013 what would eventually amount to
over 11,400 Cuban doctors began arriving in Brazil to
work within the Mais Médicos Program. The doctors’
arrival caused a polemic and heated discussion within
Brazilian society about healthcare, privilege, and politics.
There have been many scholarly works about Cuban me-
dical internationalism and its impacts on macro health
indicators and medical assistance in Brazil and other
countries. This research article approaches Mais Médicos
from the point of view of South-South international coo-
peration to see what insights can be gained about inter-
national politics in the Global South. Our claims are ba-
sed on 25 interviews conducted with Cuban and Brazilian
doctors to better gauge their experiences and wor-
ldviews. We conclude Cuban medical internationalism
cannot be viewed as a monolithic entity because these
medical programs have considerably different outcomes
depending on time and geopolitical setting. This advan-
ces our understanding of hierarchy and the role that
gender, race, and other variables can play in the interna-
tional system. Secondly, we argue that Mais Médicos,
viewed through an international prism, reveals how capi-
tal affects both Cuban and Brazilian foreign policy and its
outcomes, despite official rhetoric and discourses.
Júlia Alves Moro
Política Externa da África do Sul no pós-apartheid, as Mis-
sões de Paz e o Caso da República Centro Africana.
Resumo: A era pós-Apartheid ocasiona uma mudança na
política externa da África do Sul, passando a existir uma
preocupação com uma política externa mais democrática
que pudesse recuperar os danos causados durante as
décadas de domínio das elites brancas, principalmente
em termos de superar o isolamento na qual o regime
havia deixado o país. Essa nova configuração da política
externa busca passar uma nova imagem da África do Sul
pós-Apartheid, utilizando de ferramentas como as mis-
sões de paz para se legitimar tanto doméstica quando
externamente como uma potência regional do sul global.
Dessa forma, as missões de paz e a responsabilidade de
proteger foram gradualmente sendo incluídas na política
externa sul africana, ganhando maior destaque e mais
força a partir do governo Mandela (1994). No entanto, o
processo de resolução de conflitos é mais complicado do
que se tem a percepção e muitas vezes o custo e a com-
plexidade desses processos acabam subestimados pelos
Estados. Assim, o trabalho busca analisar a política exter-
na da África do Sul e compreender os custos e complexi-
dades das missões de paz para as potências regionais do
sul global que utilizam dessas como elementos de sua
política externa. A hipótese adotada é de que as missões
de paz são utilizadas pela África do Sul como um elemen-
to de legitimidade doméstica e externa. O estudo justifi-
ca-se por contribuir para a compreensão da formulação
da política externa de potências regionais do sul global,
além de analisar a complexidade e as dificuldades que
envolvem as missões de paz. Ademais, a produção cienti-
fica que busca estudar as dificuldades das potências regi-
onais do sul global em manter missões de paz robustas e
complexas, é pouca, sendo assim necessário que se estu-
de mais sobre o tema. Dessa forma, será realizado um
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
25
Karen dos Santos Honório
Cimento e financiamento: uma análise do regionalismo
brasileiro nos governos Lula da Silva (2003-2010).
Trabalho Completo
Resumo: A atuação de empresas de construção civil bra-
sileiras em países da América do Sul é notícia frequente
nos noticiários da região na última década. Apontada por
muitos analistas como o eixo central da exitosa política
de integração regional do governo brasileiro no período
de 2003-2010, nos últimos anos ela sofreu um revés nar-
rativo e político. Os casos de corrupção envolvendo essas
empresas, políticos brasileiros e sul-americanos, assim
como a participação das primeiras no financiamento de
campanhas eleitorais em outros países da região, fez
com que as obras realizadas nesses países com o financi-
amento do BNDES deixassem de ser avaliadas como ca-
ses de sucesso da atuação do Brasil na região e passas-
sem a ser criticadas por diversos setores do espectro
político/acadêmico brasileiro tanto na esquerda quanto
na direita. Essa dimensão do regionalismo brasileiro no
início do século XXI, a infraestrutura, exemplifica de ma-
neira bastante evidente as contradições, limites e a dia-
lética do desenvolvimento do capitalismo brasileiro e
suas expressões na política externa para a América do
Sul. Esse trabalho parte dessa problemática e tem como
start a seguinte pergunta geradora: o regionalismo brasi-
leiro para a América do Sul nos governos Lula, no que
toca a integração de infraestrutura, serve de mecanismo
de concertação política para a garantia da expansão dos
negócios desses setores (empresas de construção civil)
no subcontinente? Buscaremos mostrar num movimento
de encadeamento de interesses, políticas e ideias a cons-
trução de um projeto de fundo integracionista que vai
legitimando através da governança regional o espaço
para a atuação, fora dos mecanismos criados para tal
(IIRSA e COSIPLAN) de empresas brasileiras de constru-
ção civil. O espaço sub-regional nesse sentido é o lócus
da construção social das estruturas de concertação favo-
ráveis ao desenvolvimento dos interesses de atores in-
ternos brasileiros e da expansão de um capitalismo poli-
ticamente orientado (Lima, 2014).
Lais Forti Thomaz
A política comercial do governo Trump
estudo de caso com abordagem hipotético-dedutivo e
técnica de pesquisa bibliográfica.
Kaiutan Venerando Ruiz da Silveira
Repensando a noção de regularidade da participação bra-
sileira em operações de paz
Trabalho Completo
Resumo: A intensa participação brasileira em missões de
paz, principalmente no pós-Guerra Fria, incentivou vários
analistas e pesquisadores a se debruçarem sobre o tema.
Dentre estes, há aqueles que buscam elencar quais ca-
racterísticas das operações são indispensáveis para que o
Brasil, durante o processo de tomada de decisão, possa
aceitar contribuir com observadores e, principalmente,
com tropas. A partir dessa leitura, é possível encontrar
nessa literatura duas ideias centrais: a) o Brasil apenas
contribui para operações sob o Capítulo VI da Carta das
Nações Unidas, resistindo a missões sob o Capítulo VII e;
b) existe uma preferência brasileira em participar de
operações em seu entorno estratégico (América Latina,
Atlântico Sul, Países de Língua Portuguesa). Ocorre que
essas ‘regularidades’ apontadas pela literatura são mui-
tas vezes consideradas regras pétreas para a tomada de
decisão, gerando discussões acaloradas quando rompi-
das.
O presente texto busca relativizar essas regularidades.
Primeiramente, busca-se demonstrar empiricamente,
através do histórico da participação brasileira em opera-
ções de paz, que a contribuição para missões com uso
autorizado da força (Capítulo VII) não é algo novo e que a
abrangência geográfica dessas contribuições supera o
entorno estratégico brasileiro. Por fim, refletindo acerca
dessas mesmas análises, argumenta-se que essas regula-
ridades são muitas vezes fruto de uma visão ex post fac-
to e, portanto, erram ao não compreenderem, assim
como Aguilar (2015) e Kenkel (2011), que o processo de
tomada de decisão no Brasil é feito caso a caso. Assim, a
escolha brasileira em contribuir para uma operação de
paz está muito mais condicionada às mudanças na con-
juntura internacional e na própria política externa brasi-
leira do que à regras e pré-requisitos. Assumir essa con-
dição ad hoc da decisão permite dar nova luz às partici-
pações brasileiras do passado e, por outro lado, analisar
futuras contribuições como resultado de determinada
conjuntura e não como uma quebra de paradigma.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
26
sico, centro petrolífero primordial; o Oceano Índico e o
“chifre” da África Oriental, zona de trans- porte; o mar
Vermelho, o Canal de Suez e o Mediterrâneo oriental,
zona de transporte. Os teóricos Halford Mackinder e
Nicholas Spykman contribuíram para os estudos geopolí-
ticos e os EUA aproveitaram deles para se ampliarem. A
hipótese de que mudar a embaixada norte-americana
para Jerusalém pode causar instabilidade Geopolítica na
região do Oriente Médio devido à não aceitação por par-
te da Palestina e de seus aliados.
Laura Mezzalira Cecatto
Rússia + 5: A Relevância Do Continente Africano na Políti-
ca Externa do Governo Putin
Coautor(es): Carolina Malta Peixoto
Resumo: Esta pesquisa objetiva compreender a inserção
internacional russa no continente africano, em especial o
estreitamento das relações com cinco países-chave - Na-
míbia, Zimbábue, Angola, Moçambique e Etiópia - duran-
te o segundo governo de Vladimir Putin. A partir dessa
compreensão, pretende-se analisar os reflexos de tal
interação para a Rússia, bem como para os cinco Estados
africanos descritos. A integração entre Rússia e África
vem sendo constituída há anos, com oscilações em razão
das mudanças governamentais. O desinteresse do Impé-
rio Russo na história do tráfico de escravos contribuiu
para a visão de que os russos compunham uma socieda-
de tolerante, se comparada ao racismo proveniente dos
outros países europeus. Embora tampouco houvesse
tido interesse na colonização africana, o país ausentou-
se por anos no continente, salvo quando necessitava ex-
pandir os ideais da antiga URSS em diferentes partes do
globo - onde a influência na região seria estratégica - e
quando apoiou a independência dos Estados africanos.
Tais fatores se tornam essenciais para a compreensão da
aproximação do governo Putin com o continente, em
especial com os cinco países focos desta pesquisa, onde
observa-se que Rússia e Namíbia interagem pelo viés
econômico e as relações com Zimbábue e Moçambique
se concentram, principalmente, em cooperação militar e
potencialização dos recursos naturais. Já Angola e Etiópia
são atores focais de maior colaboração diplomática no
Sistema Internacional. Estas observações serão desenvol-
vidas através de revisão bibliográfica e artigos científicos,
buscando angariar evidências qualitativas para comprová
Coautor(es): Tullo Vigevani, Filipe Mendonca
Resumo: O objetivo é documentar e analisar as principais
características da política comercial do governo Trump
em termos de arranjo institucional, processo de formula-
ção, diretrizes e principais ações. Busca-se examinar se a
administração de Trump foi mais protecionista do que as
anteriores, se houve modificação concreta com relação à
inserção dos EUA no sistema multilateral de comércio e
se houve alteração significativa na estratégia de acordos
preferenciais de comércio. Ademais, a pesquisa examina-
rá se a administração Trump aplicou mecanismos de de-
fesa comercial em padrão diferente das administrações
anteriores.
Laís Helena Ferreira dos Santos
A transferência da embaixada norte-americana para Jeru-
salém: reflexos práticos para as Relações Internacionais
Resumo: A presente pesquisa tem por objetivo explorar,
no contexto do conflito palestino-israelense no Oriente
Médio, a transferência da embaixada norte-americana
para Jerusalém e outros acontecimentos que foram con-
sequências da criação do Estado de Israel em 1948.
Essa transferência, decidida por presidente Donald
Trump, de Tel Aviv para Jerusalém trouxe consequências
na ordem internacional. A motivação dela foi geopolítica
e econômica, e causou uma onda de protestos na região
e na Assembleia Geral da ONU. Os outros Estados man-
tém suas capitais em Tel Aviv pela falta de certeza em
relação ao status de Jerusalém como capital.
No embate entre Israel e Palestina, o status diplomático
de Jerusalém, cidade que acomoda lugares sagrados pa-
ra judeus, muçulmanos e cristãos, é uma das questões
mais polêmicas e ponto crucial nas negociações de paz
desde quando a ONU foi criada. Israel afirma Jerusalém
sua capital eterna e indivisível. Já a Palestina reivindica
parte da cidade (Jerusalém Oriental) como capital de seu
futuro Estado. Uma das soluções é que Jerusalém tenha
um status de cidade-Estado igual ao Vaticano. Com isso,
seria um estado neutro.
Seguindo o pensamento de Edward W. Said, o Oriente
como invenção do Ocidente, os Estados Unidos e sua
hegemonia do sistema internacional deixam reflexos nas
Relações Internacionais. A região do Oriente Médio tem
grande importância por alguns motivos como Golfo Pér-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
27
Letícia Cunha de Andrade
A Transferência de Políticas entre Países: um estudo de
caso sobre o Mais Alimentos Internacional (PMAI) em Mo-
çambique e em Gana
Trabalho Completo
Resumo: A literatura sobre transferência de políticas,
nascida na Ciência Política e nas Relações Internacionais,
estabelece uma série de atores e de fatores determinan-
tes num processo de transferência de política entre paí-
ses. A transferência do Programa Mais Alimentos Inter-
nacional (PMAI) do Brasil para Moçambique, Zimbábue,
Senegal, Gana, Quênia e Cuba via cooperação sul-sul
também pode ser interpretada sob a ótica dessa literatu-
ra, em alternativa à copiosa literatura sobre a coopera-
ção internacional para o desenvolvimento. O objetivo
geral do presente artigo é analisar a transferência do
PMAI para Moçambique e Gana sob a ótica da literatura
sobre transferência de políticas entre países, se apoian-
do especificamente na contribuição de Dolowitz e Marsh
(1996, 2000), que consiste num modelo analítico de oito
perguntas (Quem transfere? Por que se transfere? O que
se transfere? Existem diferentes graus da transferência?
De onde as lições são extraídas? Quais fatores influenci-
am a transferência? Como se demonstra a transferência?
e Como a transferência pode fracassar?) para mapear os
atores envolvidos nesse processo e os fatores que deter-
minaram o êxito ou o fracasso dele, em casa caso. Essa
investigação se justifica principalmente por se tratar de
um trabalho completo, que envolve uma revisão de lite-
ratura, fundamental para a produção de estudos empíri-
cos nela embasados, pois serve de referencial para futu-
ras pesquisas sobre o tema, acompanhada de um estudo
de caso, que corrobora e complementa a literatura revi-
sada. Em conclusão, é possível afirmar que as evidências
empíricas do estudo de caso, ao apontar novos atores e
novos fatores determinantes, a exemplo de outros estu-
dos empíricos presentes na literatura, mostram que a
contribuição de Dolowitz e Marsh, apesar de permane-
cer atual e de explicar muitos casos de transferência de
políticas entre países, pode ser complementada por no-
vos estudos de caso.
Lucas Ribeiro Mesquita
Participação social nas políticas externas latino-
-las. Para tal, seguiremos a seguinte estrutura: 1) Apura-
ção cronológica das aproximações históricas entre Rússia
e o continente africano, 2) Análise geral da política exter-
na da Rússia e 3) Estudos de caso sobre a aproximação
da Rússia com a Namíbia, Moçambique, Angola, Zimbá-
bue e Etiópia.
Leandro Wolpert dos Santos
A Política Externa Brasileira em relação aos Estados Uni-
dos nos governos Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rous-
seff (2011-2015): uma análise em perspectiva comparada.
Coautor(es): André Pimentel Ferreira Leão
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo do artigo é analisar a política externa
brasileira em relação aos Estados Unidos durante os go-
vernos Lula e Dilma, buscando identificar os elementos
de continuidade e de mudança no período. Defende-se a
hipótese de que, com a alternância dos governos, o obje-
tivo da política externa brasileira de balancear o poder
estadunidense se manteve, havendo apenas mudanças
de ênfase com que o mesmo foi perseguido no plano
internacional. Para sustentar essa hipótese, o artigo se
organiza em três seções. A primeira, de natureza teórica,
mobiliza a tese realista do Softbalancing e revisita a lite-
ratura de Análise de Política Externa que trata sobre o
processo de mudanças na política exterior dos Estados,
de onde é extraído o marco conceitual que norteará a
argumentação lógica do artigo. A segunda seção possui
natureza empírica e procura demonstrar as evidências
que corroboram a hipótese do artigo por meio: i) da aná-
lise discursiva dos principais formuladores da política
externa brasileira no período, particularmente dos chan-
celeres e respectivos presidentes, no que toca as rela-
ções exteriores com os EUA e a distribuição mundial de
poder; ii) do exame das principais iniciativas da política
externa implementada nos dois governos que efetiva-
mente visaram a desconcentração do poder mundial e a
contenção da primazia estadunidense no tabuleiro inter-
nacional e regional, tais como: a articulação do BRICS e
do IBAS e a criação do Conselho de Defesa Sul-
Americano no âmbito da UNASUL. A terceira seção busca
identificar os determinantes que explicam as continuida-
des e as mudanças apontadas no artigo.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
28
missão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados (CDHM-CD) no exercício de suas prerrogati-
vas de controle da política externa brasileira ao integrar
o Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Exter-
na (CBDHPE), coalizão de advocacy que agrega organiza-
ções da sociedade civil e entes estatais em prol do objeti-
vo comum de fortalecer a participação cidadã e o contro-
le democrático da política externa brasileira em direitos
humanos (PEBDH). Com esse propósito, construímos
banco de dados e analisamos quantitativamente a evolu-
ção das atividades de interface internacional realizadas
pela Comissão entre os anos de 1995 e 2015, esperando
verificar – a partir de 2006, ano de constituição do Comi-
tê – aumento relativo daquelas que pretenderam moni-
torar e avaliar a atuação externa estatal. A análise reali-
zada, à luz do referencial teórico Advocacy Coalition Fra-
mework, sugere ter a participação no CBDHPE ter exerci-
do influência sob a atuação da CDHM-CD, tanto em rela-
ção ao monitoramento da PEBDH, quanto à percepção
dos direitos humanos como tema essencialmente trans-
nacional e da política externa como potencial instrumen-
to para sua promoção internacional.
Marcela Franzoni
A política externa do México no início do século XXI: cons-
trangimentos na busca por autonomia
Trabalho Completo
Resumo: O artigo analisa o alcance limitado dos mecanis-
mos de cooperação com a América Latina em que o Mé-
xico investiu nos primeiros anos do século XXI, em espe-
cial a CELAC e a Aliança do Pacífico. A relação dual com
os Estados Unidos, de dependência e interdependência,
limita as possibilidades de inserção externa do México,
em especial de utilizar os vínculos potenciais com a Amé-
rica Latina como um contrapeso à presença avassaladora
do grande vizinho do norte. As possibilidades de que o
México incremente a sua autonomia por essa via são
restritas, já que essas iniciativas seguem pouco formali-
zadas e com limitada capacidade de dinamizar seu co-
mércio externo. Contudo, as relações de interdependên-
cia com os Estados Unidos permitem ao país explorar a
magnitude dos vínculos econômicos e sociais estabeleci-
dos, conseguindo criar espaços para avançar determina-
das políticas. As iniciativas dos anos 2000 procuraram
responder a quatro incentivos conjunturais e estruturais:
americanas
Resumo: A partir de um modelo institucional baseado na
observação das regras e dos desenhos institucionais,
analisaremos de forma comparada as iniciativas de parti-
cipação social em política externa de Brasil, Argentina e
Uruguai - Programa Mercosul Social e Participativo, Co-
mitê de Brasileiros no Mundo, o Comitê Brasileiro de
Direitos Humanos e Política Externa, Consejo Consultivo
de la Sociedad Civil e Sistema de Dialogo y Consultas.
Com base nas variáveis do modelo - [I] Institucionaliza-
ção; [II] Potencial Inclusivo e Democratizante; e [III] Re-
presentatividade-, a hipótese e o argumento desenvolvi-
do na tese é construído no seguinte entendimento: co-
mo resultado de condições políticas e sociais - no nível
regional e nível doméstico - que incentivaram a partici-
pação social em questões de política externa e internaci-
onal, a criação das instituições participativas em política
externa, alteram a representação em política externa ao
romper com o monopólio exclusivo da burocracia diplo-
mática no processo de produção da política externa. Co-
mo hipótese complementar, trabalhamos com a pers-
pectiva de que o tipo de mudança e a sua qualificação
democrática, porém, estão diretamente ligadas ao dese-
nho institucional adotado pela iniciativa participativa.
Desenhos com os processos decisórios concentrados no
executivo tendem ao deslocamento horizontal da repre-
sentação – a representação é compartilhada com outras
estruturas do executivo – mas ainda apresenta déficits
democráticos de accountability e responsiviness, ao pas-
so que desenhos institucionais descentralizados tende ao
deslocamento horizontal e qualitativo do processo deci-
sório – a representação adquire elementos democráticos
por meio da consolidação de práticas decisórias que per-
mitem accountability e responsiviness.
Maíra Martins Almeida Silva
Advocacy, Política Externa e Direitos Humanos: um olhar
para atuação da Comissão de Direitos Humanos e Minori-
as da Câmara dos Deputados a partir da constituição do
Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Externa
Trabalho Completo
Resumo: Partindo da perspectiva de que a política exter-
na é uma política pública, o presente artigo pretende
verificar a hipótese de fortalecimento da atuação da Co-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
29
elementos quantitativos para o desenvolvimento da pes-
quisa (coleta e análise de dados específicos, catalogação
de informações, comparação de dados por períodos dife-
rentes), bem como qualitativos (análises de discursos e
abordagem crítica dos fatos). Para tanto, os objetivos
específicos baseiam-se na compreensão do processo
histórico das relações entre Índia e Israel entre 1950 a
1990, e no pós-1990, assimilando como a teoria realista
neoclássica apresenta uma abordagem plausível para a
análise das mudanças no cenário geoestratégico interna-
cional e de que forma a perspectiva construtivista se en-
caixa nessas variáveis, possibilitando maior sustentação
ao argumento proposto.
Mariana Harouche Fontes
As Políticas de Unificação na Península Coreana: Atores e
Desdobramentos Externos
Resumo: O protagonismo enfático das negociações diplo-
máticas entre as delegações norte e sul coreanas em
2018, lançou um novo panorama para as políticas pró
reunificação na península. A recente reorientação da
agenda de relações externas norte coreana foi um aval
positivo aos embargos iniciados no final da Segunda
Guerra Mundial. Após um ano de 2017 repleto de ten-
sões e sansões internacionais, a atual conjuntura levanta
questões sobre os interesses sociais, políticos e econômi-
cos dos atores diretamente envolvidos, assim como das
potências que delinearam a criação da zona desmilitari-
zada em 1953.
O presente trabalho tem por objetivo expor os marcos e
os fatores que impulsionaram e prejudicaram as políticas
governamentais pró reunificação nas duas coreias ao
longo das décadas. Propõe-se também, como finalidade,
analisar o comportamento das principais Nações envolvi-
das desde a separação até o atual ápice do momento de
reconciliação, destacando as perspectivas dos países do
Sul e Leste Asiático, da Rússia e dos Estados Unidos. Con-
sideram-se os pressupostos: a) uma grande expectativa e
pressão do Japão e Estados Unidos que o regime do Nor-
te se dobre as condições impostas pelo Sul; b) a notória
preocupação da China em dividir sua fronteira com uma
possível área de Influência dos Estados Unidos; c) a in-
conformidade dos países que se beneficiaram do inter-
câmbio de tecnologias nucleares norte coreanas com a
aproximação das relações intercoreanas.
a frustração nas relações com os Estados Unidos, a as-
censão econômica da China, os efeitos da crise econômi-
ca-financeira de 2008-2009 no México e as relações com
a América Latina. Apesar de ter sido uma tentativa de
expandir as suas parcerias internacionais, elas não impli-
caram em uma revisão da estratégia de inserção interna-
cional do México, que continuou privilegiando suas rela-
ções com os Estados Unidos. Em momentos de instabili-
dade nas relações bilaterais, o governo do México insiste
na necessidade de diversificar as relações econômicas
internacionais do país, o que se tornou um objetivo retó-
rico. Concluímos que a política externa mexicana procura
incrementar a sua autonomia a partir do reforço das re-
lações de interdependência, já que qualquer outra possi-
bilidade implicaria uma revisão na sua estratégia de in-
serção internacional e no seu modelo de desenvolvimen-
to econômico.
Maria Paula de Oliveira Nascimento
Cooperação Militar Índia-Israel: um modelo analítico entre
Realismo Neoclássico e Construtivismo
Resumo: Este trabalho analisa o processo de cooperação
entre Índia e Israel no setor militar que se iniciou em
1992 e que se desenvolve até hoje. Para tanto, desenvol-
ve-se um modelo analítico entre duas teorias das Rela-
ções Internacionais, o Realismo Neoclássico (RNC) e o
Construtivismo, a fim de compreender os elementos en-
volvidos na mudança das percepções de um sobre o ou-
tro e o consequente rearranjo nos rumos da política ex-
terna desses países em direção a uma cooperação mili-
tar. Utiliza-se, portanto, o RNC para analisar as decisões
de política externa de ambos os países, a partir de seu
modelo de variáveis: a independente, isto é, os elemen-
tos sistêmicos desse processo; a interveniente, os fatores
internos às decisões de política externa; e a dependente,
o resultado da interação. Nessa perspectiva, a teoria
Construtivista é utilizada para complementar as análises
oferecidas pelo RNC às variáveis intervenientes, com ba-
se no modelo de Alexander Wendt de internalização de
culturas da anarquia. Assim, o objetivo é compreender
como as mudanças do pós-Guerra Fria influenciaram nos
cálculos política externa da Índia e de Israel e impulsio-
naram a cooperação militar entre os países, com a análi-
se da evolução do processo de aproximação entre eles e
a partir de uma metodologia mista que se vale tanto de
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
30
mentos nacionais, mas que eram anteriormente domina-
dos pelos congressistas nacionais a partir de mandatos
duplos. No contexto de crescente ativismo internacional
dos Legislativos, buscamos compreender o que significou
a aprovação, na Argentina, e o engavetamento, no Brasil,
dos projetos de lei para eleição direta ao Parlasul, consi-
derando as relações entre Executivo e Legislativo e as
disputas partidárias entre situação e oposição. Dessa
maneira, as mudanças nos planos internacional e, mais
especificamente, no regional estão interrelacionadas
com o contexto político doméstico, pois a estrutura polí-
tica parlamentar nos dois níveis afeta as condições de
poder dos atores que transitam entre o nacional e o in-
ternacional.
Mehmet Arif Kosk
Ativismo Internacional de Brasil e Turquia: uma análise
sobre a fase de ascensão
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo deste artigo é a análise acerca das
políticas externas da Turquia e do Brasil no recorte tem-
poral de 2002/2003 até 2012/2011, ao qual chamarei
aqui de período de ascensão do ativismo internacional, e
que coincide com os dois primeiros mandatos do Partido
da Justiça e Desenvolvimento (AKP), e do Partido dos
Trabalhadores (PT), respectivamente. Considera-se, aqui,
que ambas as nações podem ser classificadas como
“potências médias", e que estão entre as mais ativas no
âmbito internacional devido às suas aspirações de lide-
rança regional e ao auto-reivindicado papel de ponte: no
caso turco, entre Ocidente e Oriente, e no caso brasilei-
ro, entre Norte e Sul globais.
O ativismo internacional ao qual me refiro indica uma
transformação na orientação da política externa dessas
nações, a partir do qual seus líderes executivos e órgãos
diplomáticos passam a se inserir com maior veemência
no cenário internacional. Nos debruçaremos, então, so-
bre as questões práticas que envolvem a tentativa dessas
duas nações em se inserir e progredir no âmbito das re-
lações internacionais.
Este trabalho também busca desenvolver uma definição
do termo "potência média" para acioná-lo ao propor um
olhar sobre política externa do Brasil e da Turquia.
Por fim, avançaremos sobre a Declaração de Teerã
Matheus de Oliveira Pereira
Elementos para a análise da política externa argentina
contemporânea
Resumo: A proposta tem como objetivo principal apre-
sentar elementos para uma análise da política externa da
Argentina durante a gestão presidencial de Mauricio Ma-
cri (2015-presente). Uma vez que se trata de uma análise
que enfoca um processo em curso, o artigo não apresen-
ta conclusões fechadas, mas antes busca apresentar uma
possibilidade interpretativa. Nesse sentido, o texto enfa-
tiza a interação entre modelo econômico e política exter-
na, e busca sustentar que a política externa desse perío-
do foi guiada pela construção de alianças internacionais
com o objetivo de viabilizar o financiamento externo do
modelo econômico executado pelo governo Macri. O
artigo está baseado em levantamentos de dados empíri-
cos relacionados tanto a política econômica quanto aos
atores envolvidos na formulação e execução da política
externa, a partir de um enquadramento social. No que se
refere a política externa, a ênfase está sobretudo nas
relações com os Estados Unidos e com polos tradicionais
de poder.
Matheus Felipe Silva
Percepção e mobilização dos Legislativos brasileiro e ar-
gentino à regra das eleições diretas ao Parlasul
Coautor(es): André Leite Araujo
Trabalho Completo
Resumo: O artigo compara, na Argentina e no Brasil, a
implementação das eleições diretas ao Parlamento do
Mercosul (Parlasul), estando o caso brasileiro em anda-
mento. Criado em 2005, o parlamento regional teve sua
primeira sessão em 2007, com congressistas eleitos indi-
retamente pelos Legislativos nacionais. A Argentina legis-
lou em 2014 a eleição direta dos mercodeputados, sen-
do realizada em 2015. No Brasil, o primeiro projeto para
a eleição foi apresentado em 2009, mas o Congresso ain-
da não votou nenhuma das propostas apresentadas.
Nesse sentido, a conjuntura política brasileira, desde
2013, aponta como um fator explicativo para a não vota-
ção. Contudo, observando os processos sob as perspecti-
vas dos respectivos Congressos Nacionais, analisa-se co-
mo os Poderes Legislativos reagem ao estabelecimento
de outro corpo de legisladores, independente dos parla-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
31
lugar de grande importância na agenda da diplomacia
brasileira a partir da política de diversidade na política
externa do governo Lula.
Durante o governo Lula foram adotadas políticas sociais
de desenvolvimento e combate à fome no âmbito do-
méstico que deram certo e logo foram ampliadas para o
exterior, onde inspiraram muitos países da África a envi-
arem seus representantes a fim de melhor conhecer as
iniciativas para aplicá-las em seus países. Em 2012, o
programa Purchase from Africans for Africa (PAA África),
que foi inspirado pelo Programa de Aquisição de Alimen-
tos (PAA), foi implementado juntamente com a ONU em
países como Etiópia, Malaui, Moçambique, Níger e Sene-
gal. No mesmo ano, foi instalada a primeira fábrica de
medicamentos contra a AIDS do continente, a Sociedade
Moçambicana de Medicamentos (SMM), em Moçambi-
que, que foi em grande parte financiada pelo Brasil, e
agora produz analgésicos.
Essas políticas, porém, sofreram considerável diminuição
nos governos posteriores. Com Lula, os gastos do Brasil
em projetos aumentaram 40 vezes atingindo 20,2 mi-
lhões e na gestão da Dilma desceram para 9,7 mil devido
principalmente a crise econômica brasileira. Já o presi-
dente Temer mudou o foco da política externa para ne-
gociação e comércio, apostando na relação com países
do Norte como os EUA e a UE.
Tendo em vista a importância do Brasil e de suas políti-
cas para auxiliar no desenvolvimento dessas regiões afri-
canas, o artigo se propõe a fazer um histórico brasileiro
da cooperação com o continente africano, reunindo al-
guns dos principais programas sociais, como os citados
acima, que foram desenvolvidos durante governo Lula e
comparar a continuidade dessas relações aos governos
posteriores.
Nathan Morais Pinto da Silva
A política externa brasileira e o conflito entre Israel e Pa-
lestina: um estudo comparativo dos governos Geisel e Lula
Trabalho Completo
Resumo: O presente artigo apresenta como objeto de
pesquisa a atuação da política externa do Brasil no que
diz respeito ao conflito entre Israel e Palestina em dois
momentos distintos da história brasileira: nos governos
de Ernesto Geisel (1974-1979) e de Luiz Inácio Lula da
(2010),um símbolo de uma tentativa comum de media-
ção da problemática nuclear iraniana: oportunidade para
que essas duas nações conquistassem maior visibilidade
internacional, fazendo uso de sua posição enquanto po-
tências médias.
Miriam Saraiva
Democracia, política externa e o comportamento externo
do Brasil durante o governo de Michel Temer para a Amé-
rica do Sul
Trabalho Completo
Resumo: Os vínculos entre a democracia e a política ex-
terna no Brasil se colocam desde diferentes dimensões,
mas é uma área pouco estudada. A passagem para o go-
verno de Michel Temer, por sua vez, trouxe tanto infle-
xões quanto indagações sobre a política externa seguida.
Neste sentido, a América do Sul, que foi incluída no de-
bate político, foi a principal área para a qual o comporta-
mento brasileiro sofreu mudanças. O objetivo principal
do paper é identificar as mudanças que se fizeram sentir
na política externa brasileira para a América do Sul na
passagem para o governo de Michel Temer, identifican-
do os fatores políticos e ideacionais que contribuíram
para as mudanças. Como objetivo adicional, o paper bus-
car contribuir para o debate sobre mudanças em política
externa e desconstruir a ideia de que a política externa
brasileira é uma política externa de estado sem mudan-
ças. Busca também, como segundo objetivo adicional,
mapear as mudanças, na prática, do comportamento
externo do país durante o governo de Temer, com o foco
na política para a América do Sul, que foi uma das áreas
aonde houve maiores mudanças. Nesse caso, compara
às ações do Brasil durante o governo de Dilma Rousseff
para pautar as mudanças.
Natalia Gonçalves Oliveira
Brasil na África: Relações diplomáticas e políticas públicas
nos governos Lula, Dilma e Temer
Coautor(es): Ana Beatriz Queiroz Wanderley, Pauline Cris-
tina do Nascimento Matos, Aline Sessa Garios Boechat
Resumo: As relações diplomáticas entre o Brasil e a Áfri-
ca foram intensificadas no âmbito comercial, econômico
e técnico a partir de 2003. Assim, passou a ocupar um
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
32
tro do âmbito internacional ao adotar-se esta política.
Para isso será feita um levantamento bibliográfico, além
de discursos feitos na Organização das Nações Unidas
(ONU), e posicionamentos oficiais. Com esse trabalho,
pode-se chegar a conclusão que o feminismo proporcio-
na às Relações Internacionais uma visão que extrapola as
instituições e as grandes corporações, focando nos ato-
res menos explorado dessa área: as minorias sociais.
Otávio Henrique Simiano do Bomfim
Entre a Emancipação e a Autoridade: A Al Jazeera Como
Prenúncio de Liberdade e Instrumento Estatal
Resumo: Ao se debater a monarquia de welfare state do
Qatar, é inevitável a busca pela compreensão acerca da
atuação da Al Jazeera, tanto interna como externamen-
te. Portanto, pretende-se analisar a instrumentalização
da supracitada rede de comunicação como forma de ma-
nutenção do poder e do regime Qatari, pela agenda da
permissividade. Para tal, usa-se conceitos aplicáveis ao
contexto de liberalizações retóricas do Qatar, assim co-
mo a percepção da estruturação da Al Jazeera e a sua
forma peculiar de realizar o jornalismo político. Além,
objetiva-se o entendimento da relação entre o povo Qa-
tari e o seu governo pelo intermédio da Al Jazeera, e a
relação da emissora com o cenário internacional e regio-
nal como um todo.
Patricia Cabral de Oliveira
A atuação internacional do Estado do Rio de Janeiro (2007
-2017)
Resumo: As últimas décadas do século XX registraram um
aumento significativo de atores não estatais nas relações
internacionais, como empresas transnacionais, Organiza-
ções Não Governamentais (ONGs) e governos subnacio-
nais, em um contexto marcado por um processo de glo-
balização cada vez mais intenso.
Dentre esses novos atores no meio internacional, pode-
se destacar a intensificação da presença de governos
subnacionais, reflexo principalmente da aceleração da
globalização econômica e da nova importância do terri-
tório na perspectiva do fortalecimento do desenvolvi-
mento local.
No meio acadêmico, as pesquisas sobre a atuação inter-
Silva (2003-2011).
Este estudo tem como objetivo investigar as motivações
que levaram a política externa brasileira a adotar uma
posição pró-árabe quanto ao conflito entre Israel e Pales-
tina nos dois períodos de tempo citados, bem como
compreender como dois governos com tendências ideo-
lógicas tão distintas podem apresentar posições similares
acerca de uma mesma questão no sistema internacional.
No caso aqui estudado, o ponto de convergência entre
os dois governos é o alinhamento dos interesses brasilei-
ros com os dos países árabes, especialmente no que diz
respeito ao reconhecimento do Estado do Palestina co-
mo um ator legítimo dentro do sistema internacional e
da autodeterminação de seu povo.
O referencial teórico escolhido para esta análise é a teo-
ria do ator racional, um dos três modelos teóricos de
política externa apresentados por Graham T. Allison.
Neste estudo, serão apresentadas visões gerais da atua-
ção política externa brasileira nas duas épocas e então
será realizado um estudo comparativo que analisa as
ações dos dois governos a respeito da questão israelo-
palestina sob a luz da teoria de Allison.
A hipótese apresentada por este estudo se baseia na
premissa de que ambos os governos escolheram por re-
presentar uma postura pró-árabe diante do conflito, po-
rém motivados por justificativas distintas. Enquanto o
apoio à causa árabe promovida por Geisel possuia cará-
ter pragmático, motivado sobretudo pelo comércio inter-
nacional de petróleo e uma crítica ao sionismo, a simpa-
tia de Lula pela causa árabe manifestou caráter político,
diretamente ligado à busca de legitimidade e na constru-
ção de um papel de protagonismo e liderança desenvol-
vimentista e terceiro-mundista no cenário internacional.
Nayra Thamires Alves Ramos
A Política Externa Feminina Sueca: uma análise da primei-
ra autointitulada política feminista internacional
Resumo: Em 2014, pouco tempo após o começo do man-
dato do social-democrata Stefan-Lofven, foi anunciado a
adoção de uma ‘política externa feminista’. Uma atitude
foi comemorada internacionalmente já que trazia para o
debate uma minoria social historicamente oprimida. Ten-
do isto essa discussão, o objetivo deste artigo é analisar a
Política Externa Feminista Sueca e os avanços feitos den-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
33
nacional de governos subnacionais foram impulsionadas
na literatura norte-americana a partir da década de
1980, contexto no qual Duchacek (1986) e Soldatos
(1990) cunharam o termo paradiplomacia. Na prática, na
América do Sul a paradiplomacia se intensificou a partir
da década de 1990, quando se testemunhou uma cres-
cente incapacidade econômica dos Estados Nacionais, o
que impulsionou governos subnacionais a buscarem al-
ternativas de crescimento - facilitando a instauração de
projetos, buscando atrair investimentos, utilizando capa-
cidades implantadas, particularmente as que contribuem
para o desenvolvimento tecnológico e a inovação.
Atualmente, no Brasil, cerca de 300 municípios e 22 Esta-
dos (inclusive o Distrito Federal) possuem algum tipo de
órgão que trata de relações internacionais, o que de-
monstra que esta prática não é passageira. Diante deste
cenário, torna-se importante compreender mais detalha-
damente esses novos atores internacionais e as tendên-
cias no âmbito de sua atuação, suas motivações, agendas
e práticas e os resultados de suas políticas. Nesse senti-
do, este trabalho pretende contribuir para o debate aca-
dêmico sobre a paradiplomacia no âmbito brasileiro,
destacando, em especial, a atuação externa do Estado do
Rio de Janeiro a partir da criação da Subsecretaria de
Relações Internacionais em 2007.
Pauline Cristina do Nascimento Matos
Brasil na África: Relações diplomáticas e políticas públicas
nos governos Lula, Dilma e Temer
Coautor(es): Ana Beatriz Queiroz Wanderley, Natalia Gon-
çalves Oliveira, Aline Sessa Garios Boechat
Resumo: As relações diplomáticas entre o Brasil e a África
foram intensificadas no âmbito comercial, econômico e
técnico a partir de 2003. Assim, passou a ocupar um lu-
gar de grande importância na agenda da diplomacia bra-
sileira a partir da política de diversidade na política exter-
na do governo Lula.
Durante o governo Lula foram adotadas políticas sociais
de desenvolvimento e combate à fome no âmbito do-
méstico que deram certo e logo foram ampliadas para o
exterior, onde inspiraram muitos países da África a envi-
arem seus representantes a fim de melhor conhecer as
iniciativas para aplicá-las em seus países. Em 2012, o
programa Purchase from Africans for Africa (PAA África),
que foi inspirado pelo Programa de Aquisição de Alimen-
tos (PAA), foi implementado juntamente com a ONU em
países como Etiópia, Malaui, Moçambique, Níger e Sene-
gal. No mesmo ano, foi instalada a primeira fábrica de
medicamentos contra a AIDS do continente, a Sociedade
Moçambicana de Medicamentos (SMM), em Moçambi-
que, que foi em grande parte financiada pelo Brasil, e
agora produz analgésicos.
Essas políticas, porém, sofreram considerável diminuição
nos governos posteriores. Com Lula, os gastos do Brasil
em projetos aumentaram 40 vezes atingindo 20,2 mi-
lhões e na gestão da Dilma desceram para 9,7 mil devido
principalmente a crise econômica brasileira. Já o presi-
dente Temer mudou o foco da política externa para ne-
gociação e comércio, apostando na relação com países
do Norte como os EUA e a UE.
Tendo em vista a importância do Brasil e de suas políti-
cas para auxiliar no desenvolvimento dessas regiões afri-
canas, o artigo se propõe a fazer um histórico brasileiro
da cooperação com o continente africano, reunindo al-
guns dos principais programas sociais, como os citados
acima, que foram desenvolvidos durante governo Lula e
comparar a continuidade dessas relações aos governos
posteriores.
Rafael de Oliveira Wachholz
O posicionamento brasileiro na Assembleia Geral das Na-
ções Unidas para os temas de Migrações e Refúgio (2003-
2017)
Resumo: É responsabilidade dos Estados a garantia dos
direitos humanos de migrantes e refugiados. Em nível
internacional, Estados têm mantido o debate a respeito
do tema em diversas instâncias, sendo a Assembleia Ge-
ral das Nações Unidas (AGNU) a maior delas. A proposta
deste trabalho é analisar a postura da missão brasileira
na AGNU nas discussões sobre estes temas, coletando os
discursos dos representantes brasileiros durante os últi-
mos três governos. Esta metodologia foi apoiada na pla-
taforma UNBis.net, que publica as atas e demais docu-
mentos referentes às sessões da AGNU. Durante o go-
verno Lula (2003 – 2010), pode-se observar que, mesmo
nas discussões sobre Direitos Humanos, o país não faz
grandes declarações a respeito das migrações. Esta dinâ-
mica seguia uma tendência global de distanciamento.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
34
Nos governos de Dilma (2011 - 2016), muda o teor dos
posicionamentos brasileiros: se antes a retórica se limita-
va a um discurso que defendia as migrações e os refugia-
dos de maneira superficial e pontual, nestes anos se per-
cebeu uma postura mais propositiva, técnica e prática
focada na assistência a estas pessoas. Sob o governo de
Temer, o caráter do discurso do Brasil pouco muda, sen-
do grande parte dedicado à defesa de políticas que vi-
nham sendo implementadas por seus antecessores
(como a recepção de refugiados sírios e haitianos). Ape-
sar disso, o país em alguns momentos não se limitou
apenas ao seu discurso tradicional, propondo ações e
questionando a AGNU em relação ao seu trabalho na
garantia dos direitos de migrantes e refugiados. Conclui-
se com este trabalho que o posicionamento brasileiro
ganha envergadura de acordo com duas variáveis: a am-
pliação do debate na medida em que o tema ganha a
agenda internacional e as condições políticas e econômi-
cas do país que propiciam ou não uma assistência de
maior abrangência a migrantes e refugiados.
Rafaela Lemes Martins
A Posição Geopolítica da Inglaterra no pós-Guerra Fria
Resumo: O fim da Segunda Guerra Mundial e início da
Guerra Fria definiu um novo equilíbrio de poder global.
Na metade do século XX, especificamente com a ascen-
são dos Estados Unidos enquanto grande vencedor da
Segunda Guerra, a Inglaterra vê o seu império em pro-
cesso de declínio. O continente europeu, devastado e
economicamente dependente da potência americana
para se reestruturar, procurou na integração interestatal
o rumo para sua autonomia, reerguimento e realocação
na nova ordem liberal que se estabelecia. Em 2016, o
Reino Unido solicitou sua saída definitiva da União Euro-
peia, num referendo denominado Brexit, modificando
suas relações com os países-membros e colocando em
cheque a capacidade da União Europeia de conter movi-
mentos nacionalistas numa era de globalização aprofun-
dada e tendência ao regionalismo.
O trabalho tem por objetivo investigar, sob perspectiva
histórica e político-econômica, a rejeição britânica ao
bloco europeu e os processos que desencadearam o
Brexit. Assim, conclui-se que o Reino Unido manteve,
historicamente, uma posição autocentrada, contrária à
integração política e defensora dos interesses nacionais
em detrimento dos supranacionais, bem como da libera-
lização econômica progressiva. Dessa forma, o país vive,
na atualidade, uma contradição: de um lado, a ordem
neoliberal, representada por uma globalização crescente
e uma tendência ao regionalismo; de outro, uma política
interna conservadora, que pretende, com o rompimento,
uma restauração de soberania política e retomada do
controle econômico. A partir desse panorama, a pesqui-
sa buscou traçar a posição geopolítica do país na con-
temporaneidade e explorar os possíveis desafios que
serão enfrentados após a ruptura. Para tal, foi revisada
bibliografia clássica do campo de Geopolítica e Relações
Internacionais, artigos contemporâneos sobre política
internacional, e dados secundários de economia e co-
mércio. Por fim, a pesquisa intenciona levantar breves
discussões sobre o que o Brexit pode vir a representar
num cenário internacional cada vez mais protecionista,
nacionalista e anti-globalização.
Ricardo Dias da Silva
Sobre diplomatas e intrusos: a institucionalização do posto
de adido agrícola no serviço exterior brasileiro
Trabalho Completo
Resumo: O artigo analisa os condicionantes políticos que
levaram à criação do posto de adido agrícola no serviço
exterior brasileiro (SEB). Com base num rastreamento de
processos teoricamente orientado, recuperamos a evolu-
ção do debate político em torno dessa agenda, com ên-
fase no período recente quando foram reunidas as con-
dições para que a proposta fosse implementada. Nesse
sentido, identificamos os atores-chave e os compromis-
sos e controvérsias que envolveram tal processo, lançan-
do luz sobre o componente propriamente político que
influencia na produção das políticas públicas. Para tanto,
recorremos à pesquisa bibliográfica e documental e à
realização de entrevistas semiestruturadas junto a atores
públicos e privados na órbita desse policy-making, parti-
cularmente os tomadores de decisão vinculados aos mi-
nistérios responsáveis: o da Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento (MAPA) e o das Relações Exteriores (MRE).
Esse caráter inter-burocrático revela-se central na medi-
da em que essa agenda era tratada como prioridade pelo
setor privado agrícola e pelo próprio MAPA mas era alvo
de resistências dentro do próprio governo, sobretudo
por uma parcela do corpo diplomático do MRE. A criação
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
35
ambiente doméstico, mediante uma mudança no foco
do nível de análise tradicional, este artigo reflete sobre a
geopolítica da produção do discurso sobre a Agenda
2030 e da incidência do Brasil no plano internacional,
considerando dois aspectos: a) meios de implementação
no plano interno das recomendações adoptadas no do-
mínio multilateral sobre o tema; b) a incidência de parti-
cipação e atores internacionais em política externa no
quadro da agenda 2030.
Roberta Maria Botelho Bevilacqua
Movimento “We are still in”: a expressão de uma política
externa subnacional na COP 23
Trabalho Completo
Resumo: Este trabalho busca analisar se a atuação de go-
vernos subnacionais estadunidenses no movimento “We
are still in” durante a COP 23 pode ser analisada como a
consolidação de uma política externa subnacional na
área de proteção climática dentro dos Estados Unidos da
América. Ao utilizar-se do método analítico de Análise de
Política Externa, este estudo pretende compreender os
determinantes para a atuação internacional subnacional,
os motivos e raízes da criação do movimento e a possibi-
lidade de desenvolvimento e implementação de uma
política externa subnacional dentro dos EUA. Sabe-se
que desde o anúncio do atual Presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, que retirava o país do Acordo de
Paris, governos subnacionais e outros atores locais têm
se preocupado em manter de alguma forma os compro-
missos e metas assinados em 2015. Para tal, a COP 23,
realizada ao final de 2017, foi de suma importância, pois
assegurou às localidades um espaço para debate e for-
mulação de metas, reconhecendo assim a relevância de
outros atores para o sucesso e cumprimento dos objeti-
vos propostos. Nesse sentido, o movimento “We are still
in”, criado em junho de 2017, englobando 9 estados, 252
cidades e condados, além de mais de 2000 outros atores,
ganhou grande destaque ao longo da Conferência, por
não apenas se pronunciar de forma contrária ao repre-
sentante oficial estadunidense, mas também pelos com-
promissos firmados. Dessa forma, em face a um cenário
interno conflituoso na temática, pode-se concluir que, ao
realizar compromissos de médio e longo prazos para a
mitigação das mudanças climáticas, os governos subnaci-
onais dos EUA desenvolveram efetivamente um plano e
do posto de adido agrícola significava uma realocação de
competências que até então eram privativas dos diplo-
matas e trazia consigo um expediente sui generis: a inte-
gração permanente de um funcionário do MAPA às em-
baixadas e missões diplomáticas do Brasil no exterior.
Embora o serviço exterior brasileiro disponha de adidân-
cias militares há mais de um século, o caso do adido agrí-
cola era diferente, principalmente em termos do jogo
burocrático que influencia a ocupação dos espaços de
poder no policy-making da política externa. A despeito
da crescente importância do agronegócio na economia
do país e do caráter cada vez mais complexo das negoci-
ações internacionais em matéria agrícola, a chegada des-
se “intruso” no SEB permaneceu em compasso de espera
durante décadas e, mesmo após implementado, segue
encontrando diversos obstáculos para se institucionali-
zar.
Richarlls Martins da Silva
A política externa brasileira para Agenda 2030 dos ODS:
análise dos meios de implementação e papel dos atores
sociais
Coautor(es): Thiago Gehre Galvao
Resumo: A agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimen-
to Sustentáveis (ODS) apresenta um desafio para a go-
vernança global no enfrentamento das desigualdades
estruturais existentes e na garantia do desenvolvimento
associado com a sustentabilidade. Com base no ciclo da
ONU de conferências sociais dos anos 1990, este artigo
analisa os meios de implementação e a participação de
atores sociais na construção da política externa brasileira
durante os primeiros anos deste processo (2015-2018).
O trabalho apresentado tem como marco teórico o cons-
trutivismo social e a noção de agente-estrutura (WENDT;
ONUF; KUBALKOVA), bem como uma discussão crítica do
jogo de dois níveis (PUTNAM) para se compreender a
conformação de interesses com base em valores e ideias
que informam o processo de tomada de decisão em polí-
tica externa. O objetivo é apresentar uma análise compa-
rativa da incidência de atores estatais e não estatais na
política externa nos fóruns globais relativos aos ODS e a
Agenda 2030, buscando-se entender a ideia de participa-
ção e engajamento como operadores analíticos para se
entender as resultantes externas das ações domésticas.
Com o objetivo de problematizar a difusão de normas no
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
36
da que em alguns casos as medidas adotadas tenham
sido mais radicais que em outros, observou-se políticas
que buscavam incrementar o desenvolvimento econômi-
co e social e conquistar maior autonomia nas respectivas
estratégias de inserção internacional. Este movimento
teve impactos regionais e expôs as diferenças político-
ideológicas na política externa e na estratégia de desen-
volvimento econômico dos países latinoamericanos. Na
Cúpula das Américas em Mar del Plata, em 2005, ficaram
claras as diferenças quando os governos destes países
adotaram discursos críticos com relação ao livre comér-
cio e à proposta dos Estados Unidos de criar a Área de
Livre Comércio das Américas (ALCA). Em contraparte, o
México manteve sua estratégia de defendê-lo, o que in-
crementou o seu isolamento político na América Latina.
Neste contexto, a Aliança do Pacífico significou a regio-
nalização dessa estratégia pelo México, pela Colômbia,
pelo Chile e pelo Peru, a qual contrastava com o rumo do
MERCOSUL e da ALBA, mais focados em questões políti-
cas e sociais. Ainda que os partidos políticos de centro
esquerda tenham mantido as relações diplomáticas com
os Estados Unidos, enfatizou-se a capacidade latinoame-
ricana de definir a sua agenda regional e de solucionar os
problemas políticos, econômicos e sociais do subconti-
nente através de instituições próprias, buscando con-
quistar maior autonomia em relação à grande potência.
A criação da UNASUL é um exemplo deste processo. Ain-
da que não se possa argumentar que tais governos re-
verteram as políticas de abertura econômica e financeira
implementadas na década de 1990, observaram-se indi-
cadores de políticas externas mais autonomistas, nacio-
nalistas e orientadas para a integração da América Lati-
na. O objetivo geral do painel é discutir as relações dos
Estados Unidos com a América Latina no século XXI. Ele é
um desdobramento de pesquisas de mestrado e douto-
rado dos pesquisadores do Instituto de Estudos Econô-
micos e Internacionais (IEEI), da Universidade Estadual
Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP), coordenado
pelo Prof. Dr. Luis Fernando Ayerbe. Devido à amplitude
do tema proposto, serão abordados os casos seleciona-
dos da Venezuela, de Cuba, da Argentina e do México.
Tem-se como objetivo específico, portanto, entender as
relações destes países com os Estados Unidos e, particu-
larmente, a conformação político-institucional interna
responsável pela política externa e pela estratégia de
desenvolvimento econômico. Argumenta-se que deter-
minados setores domésticos associados aos interesses
uma estratégia, desencadeando a criação de uma agen-
da de política externa subnacional, cuja expressão máxi-
ma é observada durante a COP 23.
Roberto Moll Neto
Populista “pero no mucho”: o populismo, a América Latina
e Donald Trump
Resumo: Populista. Este é o adjetivo que jornalistas e ana-
listas políticos de todo mundo, principalmente da Améri-
ca Latina e dos Estados Unidos, escolheram para caracte-
rizar Donald Trump, desde que lançou a pré candidatura
a presidência dos Estados Unidos, em 2015. Este artigo
busca responder a seguinte pergunta: Donald Trump é
mesmo um político populista? Para isso, inicialmente,
procura compreender o debate acerca da conceituação
de Donald Trump como um populismo da América Lati-
na. Todavia, não pretende encerrar, mapear ou esgotar
todo arcabouço epistemológico, mas apenas ressaltar
linhas gerais importantes a fim de evidenciar as diferen-
ças em relação a utilização do termo na América Latina e
nos Estados Unidos. Em seguida, apresenta o debate so-
bre o populismo de Donald Trump, recorrendo a análise
crítica de artigos jornalísticos e acadêmicos. Na terceira
parte, faz um estudo analítico sobre as propostas e os
discursos de Donald Trump, com o objetivo de avaliar
elementos populistas e não populistas. Por fim, avalia o
impacto das políticas, supostamente, populistas de
Trump na própria América Latina, acentuando as contra-
dições entre enquadrar o presidente estadunidense no
arcabouço do populismo latino americano e os prejuízos
do subcontinente nos últimos dois anos. Como resulta-
do, compreende que Donald Trump não está inserido na
tradição populista latino americana, muito embora arti-
cule elementos característicos do populismo em suas
propostas e seus discursos.
Roberto Moll Neto
Estados Unidos e a América Latina no século XXI
Resumo: A ascensão de governos de centro-esquerda na
América Latina no início do século XXI incrementou o
debate em torno de o papel dos Estados Unidos na políti-
ca externa e na estratégia de desenvolvimento econômi-
co dos países latino-americanos, em particular no Brasil,
na Argentina, na Venezuela, na Bolívia e no Equador. Ain-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
37
tes ao executivo, legislativo e judiciário – nos diferentes
níveis federativos nacionais –, e também os distintos or-
ganismos formais e informais do âmbito internacional.
Resultados preliminares apontam que a ONU, a Presi-
dência da República e Washington são as instituições
com mais grau, centralidade e conexões privilegiadas da
rede institucional da política externa brasileira.
Romeu Bonk Mesquita
Política migratória argentina: tendências a partir de 2016
Resumo: A Argentina é o principal destino migratório da
América do Sul, com um estoque de aproximadamente
1.800.000 imigrantes, compondo cerca de 4,8% de sua
população. Esta pesquisa tem como objetivo analisar as
principais tendências em política migratória na Argentina
a partir de 2016, quando se inicia a gestão Cambiemos. A
análise foca na capacidade do Executivo em alterar esta
política em face dos desenhos institucionais e dos jogos
de interesses ao seu redor. Os níveis de análise domésti-
co e internacional observam como a política migratória é
formulada como política pública e também como política
exterior, onde se conecta ao Mercosul e outras organiza-
ções internacionais, como a OIM e o ACNUR. Além disso,
busca-se localizar a agenda sobre migrações dentro do
contexto político contemporâneo do país. A metodologia
é qualitativa, de estudo de caso, orientada por técnicas
de process-tracing. As fontes incluem documentação e
dados oficiais, cobertura midiática e entrevistas e infor-
mantes-chave. Foram realizadas entrevistas com mem-
bros das seguintes instituições: Organização Internacio-
nal para as Migrações (OIM), Dirección Nacional de Mi-
graciones (DNM), Asociación de los Trabajadores del Es-
tado (ATE), Universidad de Buenos Aires (UBA), Universi-
dad Tres de Febrero (UNTREF), Red de Refugiados e Mi-
grantes en Argentina (RDMA) e Asociación de Mujeres
Unidas, Refugiadas y Migrantes en Argentina (AMUMRA).
No nível internacional se observa uma preferência do
governo argentino por dialogar bilateralmente com par-
ceiros mais tradicionais, como por exemplo os Estados
Unidos, e por agendas que reacendam estas relações,
algumas implicando diretamente na política migratória,
como o endurecimento do policiamento na luta contra o
narcotráfico em fronteiras e grandes cidades. No nível
doméstico se observa uma tendência do Executivo em
tentar legislar diretamente sobre a política migratória,
transnacionais limitaram os resultados destas políticas
mais autônomas na América Latina, no caso da Venezue-
la e da Argentina, ou deram base para a continuidade
dos modelos anteriores, seja ele de “esquerda”, no caso
de Cuba, ou de “direita”, no caso do México. Os traba-
lhos deste painel buscam, primeiramente, apresentar
uma visão geral da política estadunidense no período
selecionado, em particular da política externa para a
América Latina nos governos de George Bush, Barack
Obama e Donald Trump. Depois, introduzir os casos da
Argentina, da Venezuela, de Cuba e do México, conside-
rados paradigmáticos do contexto político, social e eco-
nômico da região no início do século XXI. A análise dos
casos indica que a conquista por maior autonomia no
sistema internacional passa não apenas pelas prioridades
institucionais da política externa, mas também pela ca-
pacidade de os respectivos governos pactuarem ou con-
seguirem apoio doméstico para a estratégia de inserção
internacional e de desenvolvimento econômico. Ressalta
-se que apesar de o conceito de autonomia ser utilizado
de uma maneira mais ampla, ele possui particularidades
importantes quando aplicado em cada um dos casos
analisados, o que será considerado nas exposições.
Rodolfo de Camargo Lima
Circulações diplomáticas: redes da política externa institu-
cional brasileira
Trabalho Completo
Resumo: Tanto a carreira quanto a instituição diplomática
pressupõe a circulação de seus atores para além das uni-
dades organizacionais pertencentes a Secretaria de Esta-
do (SERE) do Ministério das Relações Exteriores (MRE ou
Itamaraty). Considerando que o transito dos diplomatas,
exclusive a SERE, constitui tanto pré-requisito para con-
quistar promoções quanto é elemento crucial do próprio
funcionamento do MRE, o presente estudo aplica análise
de redes (ARS) para verificar os padrões de circulação
dos diplomatas da elite (segundos ministros e embaixa-
dores) ao longo de toda sua carreira. Com base nos currí-
culos do Anuário de 2010, que possui todas as informa-
ções dos diplomatas ativos nesse ano, a pesquisa cons-
truirá as conexões de todas as instituições pelas quais
todos os diplomatas da elite passou, desde seu ingresso
na carreira até 2010, externas (e exclusive) a SERE, co-
mo: consulados e embaixadas, as burocracias pertencen-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
38
dos resultados, que o posicionamento dos deputados
refletiu, dentro do recorte temporal e espacial, a com-
plexidade do Sistema político-partidário uruguaio com
destaque para atuação e as preferências dos deputados,
dentro dos setores/frações, que compõem os partidos,
com escolhas que vão desde a opção por um regionalis-
mo mais aberto (para “norte” e “sul”) até uma proposta
mais fechada para o “sul” de um regionalismo de tipo
pós-hegemônico. E que, à guisa de conclusão, pode-se
afirmar que existe, no universo dos representantes uru-
guaios, um consenso da necessidade de abertura e inser-
ção internacional do país, a partir de acordos bilaterais,
de cooperação e, obviamente, de integração regional.
Shiguenoli Miyamoto
O Brasil, o meio ambiente e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento
Resumo: A partir da década de 1970 a questão ambiental
adquiriu importância global, com a Conferência de Esto-
colmo. Países como Brasil, pouco preocupados com o
tema, passaram a dedicar espaço apreciável em sua
agenda para fazer frente às críticas que passaram a ser
constantes, sobretudo em função dos maus cuidados
com as florestas tropicais amazônicas. Contudo, mesmo
antes das denúncias gerais, provindas de governos, orga-
nismos internacionais e ONGs, além dos debates sobre a
soberania da Amazônia, o país já recebia recursos do BID
desde o inícios dos anos 1960 através de projetos diver-
sos contemplando áreas relacionadas com questões de
desenvolvimento e infraestrutura. A proposta do texto é
analisar os financiamentos dessa instituição e em quais
projetos (de meio ambiente) foram canalizados os inves-
timentos. Em termos gerais, observa-se a preocupação
do BID em injetar recursos em um número significativo
de iniciativas vinculadas a setores como agricultura, in-
dústria, mineração e turismo, assim como na infraestru-
tura física (comunicações, energia e transportes) e infra-
estrutura social (educação, desenvolvimento urbano e
saúde). Trata-se, no caso, de investigar como o país se
relacionou com o BID e obteve recursos para projetos na
área de meio ambiente (em sentido amplo), procurando
com isso melhorar as condições de desenvolvimento das
populações e regiões afetadas.
como visto com o Decreto de Necesidad y Urgencia
70/2017, e de trazer o foco da agenda migratória para
temas relacionados à segurança pública.
Rosa Maria Villalobos Perez
A Sociedade Civil na Política Externa Brasileira.
Resumo: A proposta de pesquisa analisa os espaços de
participação social existentes dentro de propostas insti-
tucionais que busca a interlocução entre sociedade civil e
agendas da política externa brasileira. Nesse sentido ana-
lisaremos o perfil dos participantes de quatro arranjos
participativos: Programa Mercosul Social e Participativo,
Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Externa;
Conselho de Representantes Brasileiros no Exterior, e da
Reunião Especializada Sobre Agricultura Familiar do Mer-
cosul. O objetivo é realizar o mapeamento do perfil dos
participantes nas referidas estruturas institucionais com
base na metodologia de mapeamento de conselheiros
desenvolvido pelo IPEA para os conselhos nacionais de
política pública. Nossa hipótese de trabalho entende que
o perfil da sociedade civil atuante na política externa
possui características específicas como grau de escolari-
dade elevado ou atuação profissional dentro de organi-
zações que possuam atuação internacional. Nesse senti-
do, nossas conclusões evidenciam ainda um perfil elitista
da participação social na política externa brasileira.
Samuel Decresci
Sobre a visão parlamentar da inserção internacional do
Uruguai
Trabalho Completo
Resumo: O objeto de estudo deste artigo é a inserção in-
ternacional do Uruguai vista a partir de uma perspectiva
dos deputados da Câmara daquele país. Assim, de forma
mais delimitada, é objetivo apresentar o posicionamento
dos parlamentares da Comissão de Assuntos Internacio-
nais da Câmara de deputados quanto às estratégias de
inserção internacional/ política externa, no recorte de
2000-2016, com destaque aos projetos de integração
regional sul-americanos e latino-americanos. Para tal,
vale-se aqui, como fonte primária e fundamental, do uso
das versões taquigráficas da referida casa legislativa. Lo-
go, importante atentar, como forma de anúncio prévio
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
39
Tatiana Berringer de Assumpção
Os silêncios do legado do Barão de Rio Branco na política
externa brasileira
Trabalho Completo
Resumo: Este artigo pretende discutir a identidade inter-
nacional do Brasil e o processo decisório da política ex-
terna brasileira pela abordagem de quatro dimensões
que estiveram por muito tempo ausentes do discurso e
da ação da diplomacia brasileira ao longo do século XX.
Se é verdade, seguindo os trabalhos de Amado Luis Cer-
vo e Clodoaldo Bueno (2008) e Celso Lafer (2001), que o
Barão do Rio Branco, “patrono” da diplomacia brasileira,
deixou como legado de sua atuação como Ministro das
Relações Exteriores entre 1902-1912 a consolidação do
território nacional e os princípios que orientam a política
externa brasileira, entre eles: a defesa do multilateralis-
mo, o princípio da resolução pacífica de conflitos, a inte-
gração regional, a busca pelo prestígio e o americanismo
pragmático, também é verdade que sua atuação foi mar-
cada por “silêncios” muito persistentes. Nossa hipótese é
que a atuação de Rio Branco foi responsável por constru-
ir o insulamento burocrático do Itamaraty, perpetuar o
racismo e o elitismo na política externa e na carreira di-
plomática brasileira e não dar a devida centralidade à
busca pelo desenvolvimento nacional. Por meio de uma
revisão bibliográfica da história da política externa brasi-
leira, identificamos os momentos e atores que deram voz
a estas quatro dimensões ao longo do século XX e início
do século XXI, tanto na prática política como no discurso
diplomático.
Tatiana de Souza Sampaio
O Processo de Tomada de Decisão na PEB/DH para a po-
pulação LGBT: uma análise da Brazilian Resolution
Trabalho Completo
Resumo: Na 59ª sessão da Comissão de Direitos Humanos
da Organização das Nações Unidas, a delegação brasilei-
ra apresentou um projeto de resolução intitulada
“Direitos Humanos e Orientação Sexual”, sendo conside-
rada a primeira tentativa de abordar a violência e a dis-
criminação contra pessoas LGBT em âmbito multilateral.
A resolução reconhece a existência de discriminação ba-
seada em orientação sexual no mundo, afirma que essa
discriminação contradiz o que está estabelecido nos
principais instrumentos de proteção de direitos humanos
e urge que os governos protejam e promovam os direi-
tos de todas as pessoas, independente de sua orientação
sexual. É considerada uma resolução leve, que propõe
princípios sem uma chamada para que os governos to-
mem atitudes específicas.
O objetivo do presente trabalho é analisar o processo de
tomada de decisões da política externa brasileira para
direitos humanos LGBT no caso da Brazilian Resolution.
Para tal, será proposta uma breve revisão teórica de aná-
lise de política externa, considerando os debates entre
unidades de decisão, seus determinantes, quais são os
objetivos considerados e envolvidos, tal como sua ade-
quação e eficácia. Ademais, no intuito de compreender o
processo de formulação e tomada de decisão da Política
Externa Brasileira de Direitos Humanos para a população
LGBT, no que tange a Brazilian Resolution, faz-se neces-
sário analisar as variáveis internas e externas que antece-
deram tal proposta da delegação brasileira frente a en-
tão Comissão de Direitos Humanos da ONU em 2003
(análise de setting). Por fim, será analisada a apresenta-
ção da Resolução na CDH/ONU, onde serão expostas as
dificuldades encontradas e os motivos pelos quais os
acordos não foram alcançados.
Tatiana Teixeira da Silva
Política externa dos EUA para o Brasil: elementos de uma
nova narrativa
Resumo: Esta proposta tem duas chaves explicativas.
Na primeira, vê-se uma mudança lenta, porém constante
no modus operandi da Política Externa dos EUA para o
Brasil. Esta envolveria, de forma combinada: maior pul-
verização dos centros de agenda-setting, em que o Brasil
passa a ser tratado de maneira cada vez setorializada no
policy making norte-americano; e esforço consciente da
Administração dos EUA para incluir mais atores não-
governamentais nessa dinâmica, "terceirizando" a pre-
sença dos EUA. O fato de o Brasil não ser prioridade na
agenda de Política Externa e Segurança dos EUA e a per-
cepção oficial de que o país não deve ser "abandonado"
baseiam nossa hipótese de "privatização da diplomacia"
em relação ao país sul-americano como uma alternativa
de se manter influente e/ou presente.
No outro eixo, percebe-se um rearranjo da narrativa que
serviu de moldura histórica para as relações bilaterais.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
40
e execução de políticas públicas no tocante ao ODS 5 no
país.
Thais Simoes Doria
Relação sino-americana: o papel das instituições democrá-
ticas estadunidenses na formulação da Política Externa
estadunidense para a República Popular da China
Trabalho Completo
Resumo: O presente trabalho objetiva analisar o papel dos
mecanismos democráticos na formulação da Política Ex-
terna estadunidense (PEE), notadamente o papel das
instituições democráticas estadunidenses na formulação
da PEE, dentre estes: a mídia, a opinião pública, os pode-
res Executivo e Legislativo, enfatizando o papel destes
dois últimos. Para tanto, ter-se-á como base a literatura
de Análise de Política Externa (APE), objetivando dialogar
e contribuir com a mesma. Far-se-á a análise do papel de
cada instituição tanto isoladamente como em interação,
a fim de viabilizar a comparação do funcionamento das
mesmas em separado e relacional. Notando a amplitude
e complexidade do conceito e da prática de Política Ex-
terna, este trabalho delimitar-se-á à análise da Política
Externa Estadunidense para a República Popular da Chi-
na (RPC) entre os anos de 1989 e 2001. O recorte tempo-
ral foi pensado através da percepção de que houve dois
importantes pontos de inflexão na vinculação entre os
Estados Unidos da América (EUA) e a República Popular
da China (RPC) neste período; quais sejam, o massacre
na Praça Tiananmen, em 1989 e o debate em torno do
condicionamento do título de Nação Mais Favorecida
(MFN), no governo Clinton (1993-2001).A escolha destas
áreas objetiva testar hipóteses de continuidade ou não
da Política Externa Estadunidense para a República Popu-
lar da China, analisar se a mesma mantém-se em dife-
rentes questões e se o papel das referidas instituições
altera-se a depender da área de Política Externa analisa-
da.
Thaísa Bravo-valenzuela e Silva
A cooperação brasileira no ensino superior: um estudo
exploratório sobre o Programa de Estudantes-Convênio da
Graduação (PEC - G) no âmbito da CSS
Trabalho Completo
Frames como "novo começo" e "parceria estratégica"
são usados com mais frequência ao lado dos recorrentes
"déficit de atenção" e "incompreensão mútua". Junta-se
a isso um movimento de revisão na literatura sobre as
relações com América Latina e Brasil, dando aos latino-
americanos maior poder de agência e de escolha sobre
suas próprias políticas. Nossa hipótese é que esse discur-
so busca aumentar a responsabilidade dos governos lati-
no-americanos sobre si mesmos (no presente e no futu-
ro), justificar a redução da presença norte-americana no
subcontinente e reconfigurar a imagem dos EUA na regi-
ão, minimizando o papel dos EUA como operador, articu-
lador e agente catalisador de transformações sociopolíti-
cas nesses países (no passado).
Este trabalho terá como matéria-prima entrevistas reali-
zadas no estágio doutoral nos EUA, revisão da literatura,
além da análise de documentos oficiais e de discursos
presidenciais e das respectivas Diplomacias mais relevan-
tes para o recorte em questão (2003-2010). Os anos sub-
sequentes até o presente (2011-2017) serão avaliados,
com intuito prospectivo, nas considerações finais.
Thaís Barbosa Corrêa de Sousa
Igualdade de gênero e empoderamento feminino: políticas
públicas e a preparação do Brasil para a agenda 2030
Resumo: A ideia central da pesquisa é analisar as políticas
públicas adotadas pela Estado brasileiro que se alinham
com o “Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 –
Igualdade de Gênero” da Agenda 2030 da Organização
das Nações Unidas. Em adjunto, possui como demais
objetivos: a) compreender a trajetória do Brasil voltada
para a Agenda 2030; b) verificar se as políticas públicas
brasileiras se relacionam com os programas propostos
pela ONU; e c) avaliar a preparação, na realidade brasilei-
ra, dos postulados do ODS 5 em temas como igualdade
no mercado de trabalho e participação e representativi-
dade feminina na política. Fará uso de metodologia cru-
zada (método descritivo e estudo de caso do Brasil), as-
sociada a um levantamento de documentos oficiais da
ONU e de políticas públicas do estado brasileiro. Como
resultados, espera-se ter um panorama do engajamento
brasileiro na implementação da Agenda 2030, analisando
criticamente se estão sendo realizadas ações, de fato,
em prol da igualdade de gênero no Brasil. Assim como,
poder apontar possíveis soluções para melhor aplicação
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
41
go analisa o papel da diplomacia presidencial e dos parti-
dos dos presidentes no âmbito das iniciativas do Brasil
para a construção da paz em países africanos lusófonos.
Para tanto, analisam-se os governos de Fernando Henri-
que Cardoso e de Luís Inácio Lula da Silva relativamente
às iniciativas do Brasil para a construção da paz em An-
gola e em Moçambique, entre 2003 e 2010. A metodolo-
gia da pesquisa promove: (1) um debate teórico sobre o
conceito de diplomacia presidencial; (2) uma revisão teó-
rica sobre o papel dos partidos políticos para a política
externa e; (3) a análise de fontes primárias sobre proje-
tos de cooperação brasileiros em Angola e Moçambique
disponíveis na base de dados “Concórdia”, do Ministério
das Relações Exteriores, com vistas a elucidar a relação
entre as variáveis “diplomacia presidencial” e “partido
dos presidentes” no contexto das iniciativas internacio-
nais do Brasil para a promoção do desenvolvimento nes-
ses países, o qual constitui meio necessário para a cons-
trução da paz. Na conclusão, o artigo evidencia que tanto
a diplomacia presidencial quanto os posicionamentos
partidários dos presidentes são relevantes para compre-
ender a atuação internacional do Brasil para a constru-
ção da paz, ainda que as dimensões práticas desse con-
ceito possam ser objeto de ulteriores debates.
Thiago Gehre Galvao
A política externa brasileira para Agenda 2030 dos ODS:
análise dos meios de implementação e papel dos atores
sociais
Coautor(es): Richarlls Martins da Silva
Resumo: A agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimen-
to Sustentáveis (ODS) apresenta um desafio para a go-
vernança global no enfrentamento das desigualdades
estruturais existentes e na garantia do desenvolvimento
associado com a sustentabilidade. Com base no ciclo da
ONU de conferências sociais dos anos 1990, este artigo
analisa os meios de implementação e a participação de
atores sociais na construção da política externa brasileira
durante os primeiros anos deste processo (2015-2018).
O trabalho apresentado tem como marco teórico o cons-
trutivismo social e a noção de agente-estrutura (WENDT;
ONUF; KUBALKOVA), bem como uma discussão crítica do
jogo de dois níveis (PUTNAM) para se compreender a
conformação de interesses com base em valores e ideias
que informam o processo de tomada de decisão em polí-
Resumo: Nas últimas décadas, a difusão de poder em di-
reção aos países do Sul possibilitou a emergência de um
novo paradigma teórico no que tange aos projetos de
cooperação, conhecido como modelo de Cooperação Sul
-Sul (CSS). Esse modelo encontra-se pautado na horizon-
talidade das relações entre os países, cuja expectativa
era desafiar as posições hierárquicas existentes até en-
tão. Como uma de suas diretrizes principais, está a pro-
moção do desenvolvimento, vertente em que se encon-
tra a cooperação educacional, que representa uma par-
cela significativa dos projetos de cooperação do Brasil.
Um dos mais antigos é o Programa de Estudantes-
Convênio da Graduação (PEC-G), que concede bolsas de
estudo a alunos estrangeiros. Dessa forma, o presente
artigo, de cunho exploratório, pretende analisar se o PEC
-G pode ser compreendido como instrumento de política
externa que se utiliza de preceitos de CSS. A bibliografia
preliminar sugere que sim, o que se constitui como nos-
so pressuposto inicial. Ao longo do artigo, entretanto,
compreendeu-se que embora o programa possibilite a
formação de elites intelectuais que estejam mais pro-
pensas a identificarem os interesses do Brasil como seus
próprios interesses, ela não ocorre como o discurso ofici-
al brasileiro apregoa. Isso se dá porque há algumas falhas
na forma como ele é executado que o distancia de suas
diretrizes.
Thaíse Kemer
O presidente e seu partido importam: o papel da diploma-
cia presidencial e dos partidos dos presidentes na atuação
do Brasil para a construção da paz em Angola e Moçambi-
que (1994-2010)
Trabalho Completo
Resumo: Ainda que a Análise Política Externa (APE) seja
considerada uma subárea consolidada das Relações In-
ternacionais, sua aplicação no contexto da atuação ex-
terna do Brasil para a construção da paz se encontra em
fase de desenvolvimento no país. O conceito de constru-
ção da paz, criado por Johan Galtung, evidencia a paz
como sinônimo não apenas da cessação de conflitos vio-
lentos, mas também da presença de condições estrutu-
rais que viabilizem o desenvolvimento, o qual é conside-
rado imprescindível para assegurar uma paz duradoura.
Assim, para contribuir com os esforços acadêmicos rela-
cionados à APE e aos Estudos para a Paz, o presente arti-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
42
percepção, principalmente entre os mais jovens.Novas
atitudes por parte da juventude latina quer transformar
a realidade que vivem, através de serem pontes jovens
catalizadores de sonhos com pequenas atitudes .É neces-
sário também que haja um diálogo. Esse é o maior desa-
fio porque as tribos existem, os grupos são heterogêneos
e têm objetivos diferentes. Precisamos encontrar o que
une esta geração e a partir daí desenvolver políticas pú-
blicas.Ao apresentar novas concepções culturais, sociais
e políticas, a juventude faz uma provocação à sociedade
aos desafios presente diante dos caminhos para o futuro.
Tullo Vigevani
A política comercial do governo Trump
Coautor(es): Lais Forti Thomaz, Filipe Mendonca
Resumo: O objetivo é documentar e analisar as principais
características da política comercial do governo Trump
em termos de arranjo institucional, processo de formula-
ção, diretrizes e principais ações. Busca-se examinar se a
administração de Trump foi mais protecionista do que as
anteriores, se houve modificação concreta com relação à
inserção dos EUA no sistema multilateral de comércio e
se houve alteração significativa na estratégia de acordos
preferenciais de comércio. Ademais, a pesquisa examina-
rá se a administração Trump aplicou mecanismos de de-
fesa comercial em padrão diferente das administrações
anteriores.
Yasmin Lenz Piccoli Castelli
A POLÍTICA EXTERNA DA CHINA:Do Enfrentamento de
Mao Tse-tung à Ascensão Pacífica de Xi Jinping
Resumo: O objetivo deste trabalho é demonstrar como a
Política Externa assertiva de Mao Tse-tung fortaleceu a
República Popular da China contribuiu para o estabeleci-
mento de uma base soberana que sustenta à Política
Externa de Ascensão Chinesa do governo Xi Jinping. Para
tanto, propõe-se uma análise com o intuito de demons-
trar a importância da Política Externa de Mao Tse-tung
para as estratégias de Política Externa de Xi Jinping, que
podem alterar o polo de poder do sistema internacional,
levando em conta a atual posição de destaque da China,
tanto na diplomacia quanto na economia. Os princípios
da Revolução Socialista Chinesa eram alicerçados no anti
tica externa. O objetivo é apresentar uma análise compa-
rativa da incidência de atores estatais e não estatais na
política externa nos fóruns globais relativos aos ODS e a
Agenda 2030, buscando-se entender a ideia de participa-
ção e engajamento como operadores analíticos para se
entender as resultantes externas das ações domésticas.
Com o objetivo de problematizar a difusão de normas no
ambiente doméstico, mediante uma mudança no foco
do nível de análise tradicional, este artigo reflete sobre a
geopolítica da produção do discurso sobre a Agenda
2030 e da incidência do Brasil no plano internacional,
considerando dois aspectos: a) meios de implementação
no plano interno das recomendações adoptadas no do-
mínio multilateral sobre o tema; b) a incidência de parti-
cipação e atores internacionais em política externa no
quadro da agenda 2030.
Tiago Lima Carvalho da Silva
Democracia e a Percepção da Juventude na corrupção
politica da américa latina
Resumo: As democracias latino-americanas seguem em
consolidação, entretanto, ainda estão em estado de in-
completude, nesse sentido, a percepção de corrupção
parece altamente disseminada. Este trabalho tem o obje-
tivo de testar duas hipóteses sobre a América Latina: 1) o
baixo nível de confiança da juventude nos partidos políti-
cos e no Congresso Nacional guarda relação com a per-
cepção de corrupção; 2) a percepção de corrupção guar-
da relação com a qualidade da democracia. Para testar
nossas hipóteses utilizamos três bases de dados distin-
tas: 1) dados do corruption perception index, dos anos
de 2012 e 2013; 2) dados do Latinobarómetro referentes
à confiança em partidos políticos e confiança no Con-
gresso Nacional de 2010 e 2011; 3) dados do The Demo-
cracy Ranking of the Quality of Democracy de 2008 a
2011 desenvolvidos pelo The Democracy Ranking Associ-
ation. Nossos resultados mostram que a percepção de
corrupção influencia no nível de confiança no Congresso
e nos partidos; indicam também que, os jovens dos paí-
ses latino americanos com menor qualidade democrática
estão mais susceptíveis a altos níveis de percepção de
corrupção . Os eleitores que vivem na maioria dos países
das Américas acreditam, em geral, que a democracia é a
melhor forma de governo e rejeitam golpes militares.
Mas a corrupção e a criminalidade tendem a afetar essa
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
43
-imperialismo, que se baseavam no rompimento com o
período de humilhações iniciado em 1839 com a Guerra
do Ópio. O objetivo de Mao Tse-tung, a partir da Revolu-
ção de 1949, era retomar a China como um Estado forte,
tendo a sua soberania respeitada pelas potências que
haviam explorado a China. A estratégia de Política Exter-
na maoísta foi fundamentada em premissas voltadas aos
ideais nacionalista e anti-imperialista. A estratégia prag-
mática de Mao Tse-tung, no contexto de Guerra Fria,
caracterizada pela liderança junto aos países Não-
Alinhados, e a política pendular entre as potências União
Soviética e Estados Unidos, resultou em uma China pro-
tagonista no sistema internacional. A Política Externa de
Mao ajudou a garantir o respeito à soberania do Estado
chinês e permitiu a adesão da China no Conselho de Se-
gurança das Nações Unidas, em detrimento da posição
de Taiwan. A condição de Estado soberano, fruto da he-
rança maoísta, criou as bases para a projeção de poder
internacional do governo Xi Jinping fomentado na Políti-
ca Externa de Ascensão Pacífica. A Política de Xi é focada
na cooperação internacional, harmonia entre os Estados,
respeito mútuo e na política win-win, em prol do estabe-
lecimento de uma ordem internacional multilateral e
inclusiva.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
44
Alex Jobim Farias
Crise e Resiliência: uma Análise da Estabilidade da Ordem
Econômica Internacional no Século XXI
Trabalho Completo
Resumo: No começo do século XXI, a euforia que marcou
a década de 1990 no que diz respeito à globalização foi
substituída por incertezas e um renovado debate sobre a
necessidade de reforma da governança econômica inter-
nacional. Depois da Crise Asiática e da crise financeira de
2008, o G20 se tornou um dos principais instrumentos
daquela governança, colocando novas potências, como
as que compõem o BRICS, no centro da gestão econômi-
ca internacional e da discussão sobre a reforma das insti-
tuições de Bretton Woods. Alguns observadores previ-
ram, nesse contexto, o fortalecimento do keynesianismo,
que acabou não acontecendo. Além de algumas mudan-
ças no processo decisório do FMI, nenhuma alteração
significativa ocorreu na governança economia internacio-
nal. Em sequência a essa notável resiliência, o nacionalis-
mo econômico se fortaleceu pela eleição de Donald
Trump nos EUA e a saída do Reino Unido da União Euro-
peia. É possível que esteja acontecendo, algo similar ao
duplo movimento formulado por Karl Polanyi? Está ero-
dindo a ordem conômica liberal ao mesmo tempo em
que as instituições associadas exibem resiliência? John
Ruggie criou o termo liberalismo enraizado baseado no
argumento de Polanyi para descrever a ordem econômi-
ca do Pós-Guerra. A partir desse conceito, este trabalho
pretende avaliar o estado da atual ordem econômica
internacional depois dos marcos históricos supracitados
e suas consequências. Argumenta-se que a governança
econômica internacional demonstra notável resiliência
refletindo a adaptação das instituições de Bretton Wo-
ods e GATT/OMC à onda neoliberal, depois de serem
criadas para a operacionalização do liberalismo enraiza-
do, ainda que a ordem econômica liberal demonstre fis-
suras em algumas de suas principais fundações estatais
via nacionalismo econômico. Serão utilizadas, para esse
fim, duas duas abordagens: o institucionalismo histórico,
que explora a noção de dependência da trajetória e a
mais recente enfoque baseado na “resiliência das idei-
as”, promovido por autores como Vivian Schimdt e Mark
Thatcher.
Alexandre Ramos Coelho
O Poder Monetário Chinês: as formas de exercício de pro-
jeção de poder monetário da China sobre o Brasil e as con-
sequências políticas e econômicas para o país
Resumo: Países com maior poder monetário são capazes
de projetar poder além de suas próprias fronteiras sobre
outro Estado, visando obter desse último benefício políti-
co e/ou econômico. De que forma? Um Estado pode fi-
nanciar déficits nas balanças de pagamentos de outros
países ou realizar contratos bilaterais de comércio com
base na sua moeda (Helleiner e Kirshner, 2014). Por essa
perspectiva, a China tem demonstrado sua força mone-
tária especialmente após a crise financeira internacional
de 2008, em que o poderio monetário dos Estados Uni-
dos foi relativizado. Kirshner (2013) esclarece que o po-
der desse país, até então com poder monetário interna-
cional hegemônico inquestionável, ficara relativamente
enfraquecido em relação ao euro e ao renminbi (a moe-
da chinesa). Diante desse cenário, sob o ponto de vista
do Brasil e partindo do pressuposto de que a China tem
sido o principal parceiro comercial do país desde 2009, o
objetivo deste artigo é analisar de que forma o Estado
chinês vem ampliando o seu poderio monetário e quais
as consequências econômicas e políticas desse avanço
para o Brasil. A hipótese é a de que a China exerce seu
poder monetário de forma multidimensional, ora mani-
pulando a cotação do renminbi, ora tentando criar uma
zona de dependência monetária na América do Sul por
meio de mecanismos de compensação e liquidação de
operações comerciais em moeda chinesa, afetando a
economia do Brasil. Para aferir a validade dessa hipótese,
o autor realizará uma abordagem hipotético-dedutiva. A
análise será teórico-conceitual com a bibliografia afeta à
Geopolítica Econômica e à Economia Política Internacio-
nal pertinentes, mostrando-se essencial também inte-
grar estatísticas e dados que possam ser examinados,
visando obter conclusões em relação à forma com que a
China exerce o seu poder monetário sobre o Brasil e
acerca das consequências políticas e econômicas para o
país.
ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
45
Aline Contti Castro
O Arranjo de Financiamento da IIRSA – uma nova arquite-
tura regional?
Trabalho Completo
Resumo: A Cúpula de Brasília, em 2000, Primeira Reunião
de Presidentes da América do Sul, inaugurou uma nova
era no processo de integração da região, a do Regionalis-
mo Pós-Liberal, com o resgate das perspectivas de auto-
nomia e desenvolvimento regional, tradicionais no pen-
samento integracionista latino-americano. Nesse contex-
to, a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regio-
nal Sul-Americana (IIRSA), lançada em 2000, buscava fo-
mentar projetos compartilhados nas áreas de transporte,
energia e telecomunicações. Em 2008, a IIRSA foi incor-
porada ao COSIPLAN (Conselho Sul-Americano de Infra-
estrutura e Planejamento) da Unasul. Em termos de fi-
nanciamento, em um primeiro momento, os países re-
correram aos principais bancos de desenvolvimento regi-
onais, em especial BID e CAF, que atuaram como coorde-
nadores da Iniciativa desde o seu lançamento. Com a
incorporação à Unasul, um maior controle foi atribuído
aos governos. Ademais, foram criadas novas instituições
multilaterais de fomento, como o Banco do Sul e o Banco
da ALBA, em meio ao projeto de uma Nova Arquitetura
Financeira Regional (NAFR). A IIRSA contou também com
o apoio financeiro do BNDES, uma vez que o Brasil assu-
miu importante liderança neste processo. Formou-se
então um arranjo de financiamento de base regional,
com a redução da influência de instituições que histori-
camente tiveram grande poder na região, como o Banco
Mundial e o FMI. Assim, o artigo tem por objetivo anali-
sar a composição desse arranjo, buscando compreender
em que medida esse movimento regional provocou mu-
danças no posicionamento e nas orientações destes or-
ganismos para a região. Mais especificamente, busca-se
identificar os principais atores financeiros do arranjo e
seus aportes relativos; analisar que tipo de projetos os
respectivos países e instituições financiaram – esclare-
cendo seus interesses prioritários; analisar as diferenças
entre as áreas de transporte e energia; assim como avali-
ar os principais desafios enfrentados para a captação de
recursos na região.
Aline Contti Castro
Governança e Desenvolvimento na América do Sul - deba-
tes contemporâneos sobre o Mercosul e a Unasul
Coautor(es): Daniela Perrotta
Resumo: A proposta do painel insere-se no amplo debate
sobre os mecanismos regionais de governança na Améri-
ca do Sul e sua relação com o desenvolvimento socioeco-
nômico, abordando temas relativos às instituições regio-
nais, às relações econômicas internacionais, assim como
aos arranjos de poder e seus respectivos atores e inte-
resses. Em meio a mudanças recentes nos contextos po-
lítico e econômico na América do Sul, o primeiro traba-
lho dedica-se a analisar os desafios do Mercosul para
discutir a sobrevivência do bloco regional, seus limites e
possibilidades. Argumenta-se que o Mercosul é um pro-
cesso complexo e apresenta características híbridas des-
de sua concepção. Por um lado, não pode ser identifica-
do inteiramente com o regionalismo aberto, paradigma
dominante na época de sua criação. Por outro lado, a
definição de regionalismo pós-hegemónico não é inteira-
mente apropriado para definir as mudanças no bloco
desde 2003. Nesse sentido, o bloco tem sua própria di-
nâmica - fortemente determinados pela aliança estraté-
gica entre Argentina e Brasil e as variáveis estruturais,
tais como assimetrias no tamanho do mercado, desen-
volvimento e diversificação do tecido produtivo, o nível
de vulnerabilidade a choques e interferências externas -
que são influenciadas apenas parcialmente pelos ciclos
políticos, diferentes e opostos, vividos pelo bloco desde
sua criação. Para observar as mudanças e continuidades
que explicam essas características híbridas e como o blo-
co se apresenta diante dos desafios recentes, são anali-
sadas as agendas comercial e social. O segundo trabalho
avança no debate institucional, analisando os Parlamen-
tos Regionais, em especial o Parlasul. O desenvolvimento
da dimensão parlamentar do bloco esteve intimamente
ligado às vicissitudes da esfera política interna, que mar-
caram os primeiros anos da vida do Parlasul, gerando
oportunidades de desenvolvimento e situações de parali-
sia. Nesse sentido, o trabalho busca analisar as oportuni-
dades e obstáculos enfrentados pelo Parlasul e outros
Parlamentos regionais - situando-os entre a legitimidade
democrática e a debilidade funcional. O terceiro trabalho
discute o aspecto comercial do Mercosul e os desafios
que o bloco tem enfrentado nas relações com a China. O
objetivo é analisar as perspectivas futuras do Mercosul e
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
46
suas opções de inserção internacional - por meio da aná-
lise setorial do comércio bilateral e dos graus de desloca-
mento da produção regional por fornecedores asiáticos.
Esta dinâmica tem gerado um declínio na participação
relativa das exportações brasileiras no mercado argenti-
no e vice versa. De modo geral, observou-se um aumen-
to na participação chinesa em todos os setores, exceto o
automotivo. A partir desses dados, questiona-se: a flexili-
zação do bloco é a melhor estratégia para o desenvolvi-
mento regional? Será possível recuperar o nível das ex-
portações entre Brasil e Argentina? Ou a maior regula-
mentação regional, como no caso automotivo, seria a
base mais adequada para um processo sustentável de
desenvolvimento? Por fim, o último trabalho analisa a
Unasul, em especial o aspecto financeiro da IIRSA - Inicia-
tiva para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-
Americana. Em 2000, a Cúpula de Brasília, Primeira Reu-
nião de Presidentes da América do Sul, inaugurou uma
nova era no processo de integração da região, a do regi-
onalismo pós-liberal, com o resgate das perspectivas de
autonomia e desenvolvimento regional, tradicionais no
pensamento integracionista latino-americano. Nesse
contexto, a IIRSA, lançada em 2000, buscava fomentar
projetos compartilhados nas áreas de transporte, ener-
gia e telecomunicações. Em 2008, a IIRSA foi incorporada
ao COSIPLAN (Conselho Sul-Americano de Infraestrutura
e Planejamento) da Unasul. Em termos de financiamen-
to, em um primeiro momento, os países recorreram aos
principais bancos de desenvolvimento regionais, em es-
pecial BID e CAF, que atuaram como coordenadores da
Iniciativa desde o seu lançamento. Com a incorporação à
Unasul, um maior controle foi atribuído aos governos.
Ademais, foram criadas novas instituições multilaterais
de fomento, como o Banco do Sul e o Banco da ALBA, em
meio ao projeto de uma Nova Arquitetura Financeira
Regional (NAFR). A IIRSA contou também com o apoio
financeiro do BNDES, uma vez que o Brasil assumiu im-
portante liderança neste processo. Formou-se então um
arranjo de financiamento de base regional, com a redu-
ção da influência de instituições que historicamente tive-
ram grande poder na região, como o Banco Mundial e o
FMI. Assim, o trabalho tem por objetivo analisar a com-
posição desse arranjo. Mais especificamente, busca-se
identificar os principais atores financeiros do arranjo e
seus aportes relativos; analisar que tipo de projetos os
respectivos países e instituições financiaram – esclare-
cendo seus interesses prioritários; analisar as diferenças
entre as áreas de transporte e energia; assim como avali-
ar os principais desafios enfrentados para a captação de
recursos na região.
Amilcar Lopes do Prado Ganzelevitch Gramacho
Reflexos do trabalho infantil no crescimento econômico: o
papel do Brasil nos desafios da agenda 2030 à luz do ODS
8
Resumo: Sabendo da importância da projeção internacio-
nal do Brasil no que diz respeito à agenda 2030 dos Obje-
tivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a pesquisa
buscou compreender o papel do país neste debate, enfo-
cando o ODS 8 sobre trabalho decente e crescimento
econômico. Assim, buscou-se analisar as recentes mu-
danças nas leis trabalhistas brasileiras, que foram de en-
contro ao recomendado pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT), e suas repercussões no cenário inter-
nacional. Servindo-se do alto grau de sinergia da agenda,
foi dado um maior enfoque ao tema do trabalho infantil,
que conecta os ODS 4 e 8, de forma que diversas das
consequências da utilização desse tipo de mão de obra
foram abordadas levando em consideração não apenas
suas consequências no âmbito doméstico, mas também
no externo. O argumento basilar do artigo se ampara na
necessidade da garantia de trabalho decente para todos
e todas como chave para um desenvolvimento sustentá-
vel e sustentado. Para chegar a tal conclusão, análises e
investigações de documentos e discursos oficiais, artigos
científicos e livros foram feitas. Associados a esse acervo,
alguns casos foram levados em consideração de forma a
comprovar as teorias apontadas. Além disso, foi levado
em consideração a atuação de outros países, organismos
e organizações internacionais no sentido de auxiliar a
identificar aspectos que localizam o Brasil em uma posi-
ção não tão avançada quanto a esperada no que tange o
tema trabalhista, por mais que tenha um histórico propí-
cio a avanços na área
Ana Carolina Parreira
Princípios e funcionamento do processo eleitoral nos EUA
Coautor(es): Fernando Manoel Bassi, Ana Cristina Bunn
Junckes, Monalisa Rossi ceolin
Resumo: A pesquisa foi realizada pelo grupo de estudos
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
47
em Economia Política Internacional do INCT-INEU da
UFSC - Instituto de Ciência e Tecnologia para Estudo so-
bre os Estados Unidos. O objetivo da pesquisa foi enten-
der o processo eleitoral e como sua dinâmica repleta de
singularidades influencia a participação popular na de-
mocracia. Para tal, buscou-se analisar os fundamentos
básicos que regem o funcionamento das eleições estadu-
nidenses. Tais fundamentos são expressos principalmen-
te nas ideias de justiça e liberdade, o que justifica a exis-
tência das várias etapas em que a eleição ocorre, diferin-
do do modelo brasileiro. Em primeiro lugar os candidatos
de cada partido são escolhidos pelo voto popular em
suas respectivas convenções para posteriormente o mais
votado dos dois partidos (Republicanos e Democratas)
disputarem as Eleições Gerais presidenciais. Vale salien-
tar que os pleitos não são realizados de forma direta,
pois o cidadão estará votando em delegados que repre-
sentarão sua vontade diante das urnas na escolha do
presidente, o que torna o processo ainda mais complexo.
Concluiu-se que, apesar da existência de diversos parti-
dos nos Estados Unidos, o sistema de eleição adotada faz
com que predomine uma espécie de bipartidarismo, pois
os candidatos concorrem através do método “Winner
takes all”, ou seja, quem adquire a maioria dos votos nos
estados ganha sua totalidade, salvo exceções (Nebraska
e Maine). Tal método desencoraja a participação de par-
tidos menores, levando à alternância de poder entre De-
mocratas e Republicanos e polarizando as eleições entre
dois programas partidários bem definidos e conhecidos
entre os eleitores.
Ana Cristina Bunn Junckes
Princípios e funcionamento do processo eleitoral nos EUA
Coautor(es): Fernando Manoel Bassi, Ana Carolina Parrei-
ra, Monalisa Rossi ceolin
Resumo: A pesquisa foi realizada pelo grupo de estudos
em Economia Política Internacional do INCT-INEU da
UFSC - Instituto de Ciência e Tecnologia para Estudo so-
bre os Estados Unidos. O objetivo da pesquisa foi enten-
der o processo eleitoral e como sua dinâmica repleta de
singularidades influencia a participação popular na de-
mocracia. Para tal, buscou-se analisar os fundamentos
básicos que regem o funcionamento das eleições estadu-
nidenses. Tais fundamentos são expressos principalmen-
te nas ideias de justiça e liberdade, o que justifica a exis-
tência das várias etapas em que a eleição ocorre, diferin-
do do modelo brasileiro. Em primeiro lugar os candidatos
de cada partido são escolhidos pelo voto popular em
suas respectivas convenções para posteriormente o mais
votado dos dois partidos (Republicanos e Democratas)
disputarem as Eleições Gerais presidenciais. Vale salien-
tar que os pleitos não são realizados de forma direta,
pois o cidadão estará votando em delegados que repre-
sentarão sua vontade diante das urnas na escolha do
presidente, o que torna o processo ainda mais complexo.
Concluiu-se que, apesar da existência de diversos parti-
dos nos Estados Unidos, o sistema de eleição adotada faz
com que predomine uma espécie de bipartidarismo, pois
os candidatos concorrem através do método “Winner
takes all”, ou seja, quem adquire a maioria dos votos nos
estados ganha sua totalidade, salvo exceções (Nebraska
e Maine). Tal método desencoraja a participação de par-
tidos menores, levando à alternância de poder entre De-
mocratas e Republicanos e polarizando as eleições entre
dois programas partidários bem definidos e conhecidos
entre os eleitores.
Ana Elisa Rola Rodrigues
O Brasil e a cooperação Sul-Sul: a política externa brasilei-
ra para a constituição e consolidação do Banco dos BRICS
Coautor(es): Kívia Vilarim Pereira dos Santos, Milena Mi-
lhomem Santos Machado
Resumo: O presente artigo se propõe a apresentar a atua-
ção do Brasil no processo de constituição do Banco dos
BRICS através do multilateralismo e a cooperação Sul-Sul.
A construção do BRICS não se configura somente como
uma aliança geopolítica e nem uma organização interna-
cional, pode ser descrita, então, como um foro político-
diplomático que tem como base o alinhamento e a coo-
peração entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
O banco dos BRICS, NBD, instituiu-se através de uma ini-
ciativa comum entre os países membros, com o objetivo
de tornar mais pragmáticos os encaminhamentos da co-
operação no âmbito do grupo. Através da análise dos
documentos oficiais e do perfil da elite burocrática do
NBD, pretendemos avaliar o comportamento do Banco
junto aos projetos de desenvolvimento financiados e
seus reflexos na política externa brasileira.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
48
Ana Elisa Von Borstel da Silva
A ascensão do conservadorismo e a vitória de Donald
Trump
Resumo: Na eleição presidencial estadunidense de 2016,
o candidato do partido Republicano, Donald Trump, sur-
preendeu o mundo ao ser eleito. Com um discurso con-
servador e protecionista, Trump ganhou confiança de um
eleitorado esquecido pelo partido Democrata e prejudi-
cado pela globalização. O voto desses eleitores mostrou
como a economia influencia o processo eleitoral e a as-
censão do conservadorismo. Embora vários fatores influ-
enciaram o resultado daquela eleição, a economia ga-
nhou destaque, sendo associada ao cenário internacio-
nal, principalmente à globalização e aos tratados de livre
comércio. Chappell e Suzuki (1993), por exemplo, argu-
mentam que as eleições apresentam uma lógica da re-
compensa ou punição, na qual vota-se de acordo com o
desempenho do governo. Quando há crescimento do PIB
per capita no ano da eleição, tende-se a votar no partido
da situação. Entretanto, se a população estiver insatisfei-
ta com as condições econômicas dos anos anteriores,
provavelmente o partido da oposição receberá mais vo-
tos, conclusão com a qual concordam Lewis-Beck e Steg-
maier (2000). A situação estadunidense, porém, apre-
sentou dinâmicas que podem contrapor tais argumentos.
Barack Obama alcançou bons indicadores econômicos,
como o aumento do PIB em 2015, a menor taxa de de-
semprego desde a crise de 2008 e inflação mínima. Ape-
sar desses indicadores positivos, uma boa parcela da po-
pulação decidiu alterar radicalmente a rota do país
(ANDRE, 2016). A insatisfação da população pode ser
reflexo das mudanças estruturais da economia estaduni-
dense, que resultou em maior desigualdade e concentra-
ção de renda e diminuição da classe média. Ao comparar
o desempenho dos estados dos EUA, também percebe-
se grande desigualdade econômica e de bem estar soci-
al. O artigo propõe analisar a situação econômica dos
EUA, nos níveis federal e estadual, relacionando os indi-
cadores citados, acrescidos do índice de pobreza, renda
familiar, taxa de industrialização, índice de Gini e percen-
tual das exportações/importações no PIB, ao resultado
das eleições de 2016.
André Jorge Dias de Moura Junior
Boeing, Embraer e Estado: uma desvinculação improvável
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo deste estudo foi analisar a importân-
cia da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) para
o Estado brasileiro, no contexto da possibilidade de per-
da do controle da empresa com a fusão ou venda para a
americana Boeing, a maior fabricante de aeronaves ame-
ricana. Partindo-se da inquietação gerada pela declara-
ção do então Ministro da Defesa, Raul Jungmann, a res-
peito do tema, qual seja, que “(...) as relações que impe-
ram nessa área [compra e venda de empresas estratégi-
cas] não são regidas pelas leis de mercado, mas por es-
tratégias geopolíticas e de defesa nacional” (Estado de
São Paulo, 2018), o estudo busca articular os conceitos
da Economia Política Internacional com o caso em tela,
mormente em relação aos vínculos indissociáveis entre
indústria aeronáutica e Estado. Assim, o estudo perpassa
o marco teórico que sustenta o estudo de caso, a história
das empresas e suas influências na economia de seus
países sede e, por fim, as complexidades do mercado
aeronáutico, sobretudo nos últimos anos. Para atingir
esse objetivo, este trabalho é conduzido dentro do cam-
po da Economia Política Internacional, utilizando como
método de pesquisa o Estudo de Caso, como colocou
Moresi (2003). Ao observar, enfim, a íntima relação en-
tre indústria aeronáutica e as políticas governamentais
(MARTINEZ, 2007, p. 216), este estudo identifica nas pos-
sibilidades de fusão entre as duas empresas e nas dinâ-
micas de poder entre Estados em geral, as do sistema
capitalista em específico, isto é, que sua expansão é mais
uma variável de poder (FIORI, 2014, p.107), que a opção
de permanecer com o controle estratégico da Embraer
se apresenta como a melhor escolha para o Estado brasi-
leiro.
Andréa Freire de Lucena
Comércio e competitividade do Brasil nos BRICS: uma aná-
lise comparativa (2006-2015)
Coautor(es): Victor Souza Martins e Verdú
Trabalho Completo
Resumo: As cinco nações que formam os BRICS (Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul) se inserem na conjun-
tura internacional como possíveis potências mundiais.
Suas economias já ultrapassaram alguns países que com-
punham o G-7 e o novo reordenamento geopolítico faz
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
49
com que cresça a atenção para seus mercados internos.
Os países possuem uma vasta diversidade, dentre elas
econômica, cultural e política, e partilham de desafios
comuns que vão desde a superpopulação, pobreza, desi-
gualdades sociais e a má distribuição de renda.
O acordo comercial entre as economias que compõem
os BRICS não se constitui um projeto de Integração Eco-
nômica; no entanto, uma maior aproximação pode trazer
ganhos aos países que a compõe, e fazer com que os
mesmos possuam mais voz em negociações político-
econômicas internacionais. Este trabalho tem por objeti-
vo levantar, a partir do uso dos indicadores de comércio
externo do Grau de Abertura Comercial, da Taxa de Co-
bertura, do Índice de Participação no Mercado e do Índi-
ce das Vantagens Comparativas Reveladas, quais oportu-
nidades comerciais o Brasil pode ter nos países que for-
mam os BRICS, sob uma análise comparativa dos anos de
2006 a 2015. O trabalho encontrou evidências empíricas
sobre os ganhos de mercado (aumento da especializa-
ção), e os benefícios que podem ser alcançados pelo Bra-
sil, caso o país estreite suas relações político-
diplomáticas e comerciais com essas nações. Dentre eles,
a criação de comércio obtida pela redução de tarifas que
amplia o mercado consumidor de produtos brasileiros,
do mesmo modo que propicia uma maior negociação em
organizações internacionais. O Brasil se vê diante de um
maior mercado consumidor, que possibilita escoar sua
produção excedente. No entanto, os retornos só ganha-
rão espaços mais abrangentes se mantido um alto nível
de especialização, que permita competir com economias
mais fortes que dispõem de uma pauta comercial de
bens com altos valores agregados.
Anna De Ruijter
Neoliberalismo e a ruína da democracia no Brasil
Resumo: Pretende-se analisar os ciclos do neoliberalismo
como política Estatal dominante, como processo com
lógica e dinâmicas globais que representam a perpetua-
ção do sistema capitalista e de sua lógica colonial, sem-
pre colocando em risco a democracia. Pós-Segunda
Guerra Mundial se observa na Europa a emergência da
democracia liberal combinada com a forma de governo
do Bem-estar Social, representa uma via média entre a
direita conservadora e a esquerda das rupturas instituci-
onais. Por não ser uma ruptura com o sistema capitalista
o modelo de Bem-estar Social seria logo colocado em
disputa, e isso veio com força em escala mundial após a
Guerra Fria, da qual o neoliberalismo sai vitorioso, repre-
sentado pelos EUA. Apesar das complicações que uma
leitura linear da história nos traz, o fim da Guerra Fria
pode ser visto como momento de consagração da hege-
monia do neoliberalismo em sua forma de “exploração
sem limites” segundo Bourdieu. Esse triunfo hegemônico
é visto como “fim da história” porque o neoliberalismo
passa a ser visto como única opção possível de governo.
Os governos neoliberais dos anos 90 no Brasil ilustram
bem esse cenário mundial. No início do século XXI vemos
a ascensão de governos considerados de esquerda em
grande parte do mundo e principalmente na América
Latina. Atualmente estamos presenciando a sua queda,
como numa repetição histórica sob a forma de farsa co-
mo diria Zizek. Este trabalho pretende realizar o exercício
de pensar a atual situação brasileira de afronta à demo-
cracia sob a luz da história mundial, na qual a democra-
cia nunca está totalmente segura de ataques neoliberais
e fascistas, intrínsecos ao funcionamento do “sistema-
mundo capitalista”. Se buscará entender esses ciclos in-
seridos na lógica eurocêntrica, colonial e capitalista, que
encontra no neoliberalismo sua última expressão.
Armstrong Pereira da Silva
O regionalismo latino-americano na década de 1950: um
olhar sob a perspectiva de Briceño Ruiz
Coautor(es): Joel Menezes Barreto Junior
Resumo: O estudo da história dos processos de integração
estabelecidos na América Latina e no Caribe, a partir da
metade do século XX, mostra-nos uma permanente dis-
puta entre modelos de regionalismo, desenvolvimento e
visões de mundo. Político-economicamente, ora sobres-
saiu-se um estilo de inserção internacional mais aberto,
pautado em uma visão de mundo economicamente mais
liberal e em um modelo de desenvolvimento hacia afue-
ra; ora prevaleceu uma inserção internacional mais fe-
chada; fundamentada em uma visão de mundo economi-
camente mais protecionista e em um modelo de desen-
volvimento hacia adientro. Partindo do pressuposto de
que a história do regionalismo latino-americano é – e
sempre foi – marcada por esses paradigmas, o presente
trabalho tem por objetivo refletir sobre esse processo no
contexto pós Segunda Guerra Mundial, em especial, na
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
50
década de 1950. Buscar-se-á retrata-lo como algo além
de uma mera estratagema econômica de integração re-
gional. Metodologicamente, esse estudo, de caráter qua-
litativo e natureza descritiva, fará uma revisão de litera-
tura das obras de Briceño Ruiz por entender que ele
avança teoricamente no sentido de agregar um olhar
político à esse fenômeno, levando em conta os condicio-
nantes da conjuntura internacional, hemisférica e regio-
nal da época. Defende-se que essa foi uma estratégia
política dos Estados latino-americanos com objetivo mai-
or de alterar a sua inserção na nova ordem mundial
emergente, marcada pelo contexto de reconstrução das
economias abaladas pela guerra, pela supremacia hemis-
férica dos Estados Unidos, pelo surgimento de governos
nacionais-populistas na América Latina e pelo floresci-
mento da Guerra Fria.
Bruno Rodrigues Vieira
A Correlação entre Variáveis Econômicas e a Emergência
de Governos Isolacionistas em Diferentes Modelos Demo-
cráticos: O Caso Britânico: “Brexit”
Resumo: O Reino Unido foi membro da União Europeia
desde sua fase de expansão, concordando com as políti-
cas de integração econômica estabelecidas até os anos
70, quando se tornou signatário do embrião da atual
União. Por muitas décadas o país fez esforços para adap-
tar suas políticas ao bloco, mesmo que ainda não estives-
se integrado à zona do Euro. Ultimamente, a oposição de
eleitores e de tomadores de decisão britânicos à União
Europeia vinha crescendo e diversas manifestações pú-
blicas de agentes políticos ou líderes de grupos sociais
específicos questionavam a relevância da participação do
Reino Unido na organização. Em 2016, com o intuito de
atender à promessa de campanha de políticos conserva-
dores, foi realizado um referendo com o intuito de con-
sultar a população dos 650 “distritos eleitorais” do país
sobre a seguinte questão: o Reino Unido deve continuar
como membro ou abandonar a União Europeia? Com
51,9% dos votos, a população britânica decidiu pela saí-
da do projeto de integração, trazendo consequências
ainda imprevisíveis para o equilíbrio econômico comerci-
al do continente. A retirada do bloco, para muitos analis-
tas, está relacionada com uma tendência internacional
de emergência de movimentos isolacionistas, ou como
alguns argumentam, uma “onda de conservadorismo”.
Nesse sentido, o pôster, que foi confeccionado com base
em pesquisa relacionadas com projeto de iniciação cien-
tífica, busca, a partir de uma análise qualitativa de dados
quantitativos, entender se a situação econômica do país
no período anterior ao referendo e os impactos desse
cenário na população foram fatores que influenciaram a
saída do Reino Unido da União Europeia e, ainda, se após
a saída a adoção de uma política externa mais conserva-
dora e menos integrativa tem alguma relação com o de-
sempenho econômico do país. A conclusão do estudo
demonstrará que, embora a situação econômica seja
uma variável relevante para explicar o resultado do refe-
rendo, não é suficiente.
Carlos Renato da Fonseca Ungaretti Lopes Filho
A Economia Política da China: Inserção externa e interna-
cionalização do RMB
Trabalho Completo
Resumo: O presente artigo tem o objetivo de analisar as
recentes ações da diplomacia econômica chinesa, de
modo a destacar a assertividade de sua projeção geoeco-
nômica e compreender as arrojadas estratégias voltadas
para a internacionalização do renminbi (RMB). O artigo
está dividido em três partes, sendo a primeira parte de-
dicada a compreensão da trajetória de inserção externa
da China a partir do período de realização das reformas
de abertura econômica no final da década de 1970. As-
sim, será possível compreender o processo de integração
da China às cadeias de produção no plano regional e glo-
bal, bem como a crescente participação do país nos regi-
mes e organismos internacionais. Na segunda parte, o
objetivo é descrever os recentes movimentos da política
externa chinesa, que desde a ascensão de Xi Jinping
(2012) expressam um caráter mais proativo e assertivo.
A esse respeito, serão detalhados os principais aspectos
da Iniciativa One Belt, One Road - também conhecida
como Nova Rota da Seda - e do Banco Asiático de Investi-
mentos em Infraestrutura (AIIB). Com base nesses proje-
tos, a última seção do artigo tem a finalidade de compre-
ender de que modo a República Popular da China (RPC)
vem trabalhando trabalhando para incrementar sua pro-
jeção geoeconômica na Ásia e para além desta, com des-
taque para a estratégia de ação em pista dupla que vem
guiando o processo de internacionalização do RMB. Em
síntese, a estrutura do artigo está delineada para que
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
51
seja possível entender as ações, as perspectivas e os de-
safios em torno da ambição de transformar o RMB em
uma moeda de referência nas transações comerciais e
financeiras no plano regional e internacional.
Cecília Brancher de Oliveira
Uma ponte para o passado: Impactos macroeconômicos
do plano de reformas do governo Temer
Resumo: Este trabalho tem como objetivo realizar uma
análise sobre os impactos macroeconômicos das três
principais propostas advindas do documento “Uma pon-
te para o futuro”, lançado pelo PMDB em 2015, e imple-
mentado pelo governo de Michel Temer: a reforma da
Previdência, a reforma Trabalhista e a PEC do Teto dos
Gastos Públicos 55/2016. Para isso, o trabalho divide-se
em quatro partes. A primeira, revisa a trajetória da eco-
nomia brasileira a partir dos anos 2000 até 2016, inseri-
da no contexto internacional do chamado boom das
commodities e, posteriormente, da crise econômica de
2008. Esta análise inicial está embasada em gráficos e
dados macroeconômicos que demonstram que a defesa
da PEC 55 é falaciosa, uma vez que a economia brasileira
é superavitária em despesas primárias e que o déficit
orçamentário advém das despesas com os juros da dívi-
da pública. As seções seguintes propõem-se a fazer uma
análise da relação entre a PEC 55 e as duas reformas pro-
postas pelo governo Temer, as reformas Trabalhista e da
Previdência. Para tal, são apresentados os principais pon-
tos de ambas, assim como gráficos que demonstram a
evolução dos gastos primários do governo. Na última
parte, propõe-se a análise sobre a teoria monetarista de
Milton Friedman, cujos postulados originários da década
de 1980 dão sustentação teórica à PEC 55 e às duas re-
formas. A economia brasileira, baseada no tripé macroe-
conômico: superávit primário, câmbio flexível e metas de
inflação, está ancorada na concepção monetarista que
leva à implementação de ajustes e reformas estruturais
para o estabelecimento de uma economia superavitária,
pró-mercado e com altos índices de privatização. Por
isso, a PEC 55 e as reformas do governo Temer são en-
tendidas não como a única solução para a instabilidade
da economia brasileira, mas como parte de um projeto
econômico e político de Estado dentro da concepção
econômica monetarista.
Claudia Maria Ferreira Souza
Institucionalização das Negociações Internacionais na Ba-
hia: a mudança do conceito de desenvolvimento e seus
efeitos na política econômica e na paradiplomacia
Resumo: Até fins dos anos 70, a Bahia estava dominada
pelo pensamento intelectual e político do nacional de-
senvolvimento via substituição de importações, onde a
indústria tinha peso preponderante. Com a vinda do Ban-
co Mundial para a região, no contexto de instauração da
nova ordem econômica neoliberal e conformação de
nova divisão internacional do trabalho, o discurso trans-
formou-se. A modernização agrícola passou a ser o prin-
cipal eixo de desenvolvimento na Bahia, guiada pela lógi-
ca neoinstitucionalista do Banco dentro de uma concep-
ção universalista e funcional do desenvolvimento (João
Márcio Mendes Pereira, 2010). Neste cenário pergunta-
se: em que medida o processo de institucionalização das
negociações internacionais na Bahia engendrado pelo
Banco Mundial através da implantação da modernização
agrícola, no período final dos anos 70 e início dos anos
80, permite compreender a mudança do conceito de
desenvolvimento nas políticas gestadas? Discutiremos
destarte como a formação de estruturas voltadas às ne-
gociações internacionais na Bahia, através de um tripé -
Estado nacional, Bahia e Banco Mundial –está relaciona-
da a internalização da lógica neoliberal de acumulação
(em termos de reintegração das cadeias produtivas sob a
nova divisão internacional do trabalho) e à mudança de
concepção sobre desenvolvimento, a qual se afasta da
abordagem de inexistência de um modelo único e repli-
cável de desenvolvimento, a partir da crítica à moderni-
zação conservadora efetuada por Maria da Conceição
Tavares (1996). A relação baseada neste tripé, ao promo-
ver a modernização agrícola na Bahia gera também, ain-
da que indiretamente, uma estrutura para negociações
internacionais que pode ser vista como um agenciamen-
to primitivo da entidade subnacional.
Damian Paikin
La influencia China en las relaciones comerciales intra
MERCOSUR
Resumo: El crecimiento de la capacidad económica china
la ha colocado en los últimos cinco años como el princi-
pal socio comercial de Brasil y el segundo de la Argenti-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
52
na, generando un nuevo modelo de relacionamiento ex-
terno de los países del MERCOSUR. Esta nueva realidad
no sólo ha modificado las relaciones extra-zona, sino que
también ha generado un fuerte impacto en las bases ma-
teriales del propio MERCOSUR afectando decididamente,
al reemplazar por proveedores chinos a los antiguos so-
cios regionales, sus lógicas de comercio interno. Frente a
esto surgen entonces dos preguntas a responder. La pri-
mera es en que medida la presencia China ha afectado
hoy el comercio intra-regional y, la segunda, es qué mo-
delo de integración MERCOSUR se precisa para posicio-
narse frente al auge asiático.
Daniela Perrotta
Governança e Desenvolvimento na América do Sul - deba-
tes contemporâneos sobre o Mercosul e a Unasul
Coautor(es): Aline Contti Castro
Resumo: A proposta do painel insere-se no amplo debate
sobre os mecanismos regionais de governança na Améri-
ca do Sul e sua relação com o desenvolvimento socioeco-
nômico, abordando temas relativos às instituições regio-
nais, às relações econômicas internacionais, assim como
aos arranjos de poder e seus respectivos atores e inte-
resses. Em meio a mudanças recentes nos contextos po-
lítico e econômico na América do Sul, o primeiro traba-
lho dedica-se a analisar os desafios do Mercosul para
discutir a sobrevivência do bloco regional, seus limites e
possibilidades. Argumenta-se que o Mercosul é um pro-
cesso complexo e apresenta características híbridas des-
de sua concepção. Por um lado, não pode ser identifica-
do inteiramente com o regionalismo aberto, paradigma
dominante na época de sua criação. Por outro lado, a
definição de regionalismo pós-hegemónico não é inteira-
mente apropriado para definir as mudanças no bloco
desde 2003. Nesse sentido, o bloco tem sua própria di-
nâmica - fortemente determinados pela aliança estraté-
gica entre Argentina e Brasil e as variáveis estruturais,
tais como assimetrias no tamanho do mercado, desen-
volvimento e diversificação do tecido produtivo, o nível
de vulnerabilidade a choques e interferências externas -
que são influenciadas apenas parcialmente pelos ciclos
políticos, diferentes e opostos, vividos pelo bloco desde
sua criação. Para observar as mudanças e continuidades
que explicam essas características híbridas e como o blo-
co se apresenta diante dos desafios recentes, são anali-
sadas as agendas comercial e social. O segundo trabalho
avança no debate institucional, analisando os Parlamen-
tos Regionais, em especial o Parlasul. O desenvolvimento
da dimensão parlamentar do bloco esteve intimamente
ligado às vicissitudes da esfera política interna, que mar-
caram os primeiros anos da vida do Parlasul, gerando
oportunidades de desenvolvimento e situações de parali-
sia. Nesse sentido, o trabalho busca analisar as oportuni-
dades e obstáculos enfrentados pelo Parlasul e outros
Parlamentos regionais - situando-os entre a legitimidade
democrática e a debilidade funcional. O terceiro trabalho
discute o aspecto comercial do Mercosul e os desafios
que o bloco tem enfrentado nas relações com a China. O
objetivo é analisar as perspectivas futuras do Mercosul e
suas opções de inserçao internacional - por meio da aná-
lise setorial do comércio bilateral e dos graus de desloca-
mento da produção regional por fornecedores asiáticos.
Esta dinâmica tem gerado um declínio na participação
relativa das exportações brasileiras no mercado argenti-
no e vice versa. De modo geral, observou-se um aumen-
to na participação chinesa em todos os setores, exceto o
automotivo. A partir desses dados, questiona-se: a flexili-
zação do bloco é a melhor estratégia para o desenvolvi-
mento regional? Será possível recuperar o nível das ex-
portações entre Brasil e Argentina? Ou a maior regula-
mentação regional, como no caso automotivo, seria a
base mais adequada para um processo sustentável de
desenvolvimento? Por fim, o último trabalho analisa a
Unasul, em especial o aspecto financeiro da IIRSA - Inicia-
tiva para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-
Americana. Em 2000, a Cúpula de Brasília, Primeira Reu-
nião de Presidentes da América do Sul, inaugurou uma
nova era no processo de integração da região, a do regi-
onalismo pós-liberal, com o resgate das perspectivas de
autonomia e desenvolvimento regional, tradicionais no
pensamento integracionista latino-americano. Nesse
contexto, a IIRSA, lançada em 2000, buscava fomentar
projetos compartilhados nas áreas de transporte, ener-
gia e telecomunicações. Em 2008, a IIRSA foi incorporada
ao COSIPLAN (Conselho Sul-Americano de Infraestrutura
e Planejamento) da Unasul. Em termos de financiamen-
to, em um primeiro momento, os países recorreram aos
principais bancos de desenvolvimento regionais, em es-
pecial BID e CAF, que atuaram como coordenadores da
Iniciativa desde o seu lançamento. Com a incorporação à
Unasul, um maior controle foi atribuído aos governos.
Ademais, foram criadas novas instituições multilaterais
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
53
de fomento, como o Banco do Sul e o Banco da ALBA, em
meio ao projeto de uma Nova Arquitetura Financeira
Regional (NAFR). A IIRSA contou também com o apoio
financeiro do BNDES, uma vez que o Brasil assumiu im-
portante liderança neste processo. Formou-se então um
arranjo de financiamento de base regional, com a redu-
ção da influência de instituições que historicamente tive-
ram grande poder na região, como o Banco Mundial e o
FMI. Assim, o trabalho tem por objetivo analisar a com-
posição desse arranjo. Mais especificamente, busca-se
identificar os principais atores financeiros do arranjo e
seus aportes relativos; analisar que tipo de projetos os
respectivos países e instituições financiaram – esclare-
cendo seus interesses prioritários; analisar as diferenças
entre as áreas de transporte e energia; assim como avali-
ar os principais desafios enfrentados para a captação de
recursos na região.
Demétrio Gaspari Cirne de Toledo
A indústria 4.0 e a regressão produtiva latino-americana:
fim da linha e consolidação do novo neocolonialismo?
Resumo: A difusão das tecnologias da chamada indústria
4.0 nos países centrais terá implicações profundas para a
periferia do capitalismo. No caso da América Latina, o
advento dessas novas tecnologias, que têm o potencial
de representar uma nova revolução tecnológica (a sexta,
se acompanharmos a periodização de Carlota Perez),
colocará entre as economias centrais e as periféricas du-
as revoluções tecnológicas de distância: a quinta, das
tecnologias da informação e comunicação, iniciada na
década de 1970, e a que agora começa a se desenhar,
que terá na inteligência artificial, na hiper-automação e
na internet das coisas suas principais tecnologias. Conse-
guirá a América Latina atualizar sua estrutura produtiva e
de CTI, ou assistiremos passivamente à consolidação de
nossa posição periférica dependente? O dilema tecnoló-
gico que até hoje nos afligiu: make or buy, se descompli-
cará, resolvendo-se, em razão da impossibilidade de pro-
duzirmos autonomamente nossa própria tecnologia, pela
via da aquisição de tecnologia estrangeira para suprir a
quase totalidade de nossas necessidades tecnológicas e
produtivas? A partir de uma interpretação da história do
desenvolvimentismo brasileiro na média duração, este
artigo irá retraçar os eventos (dependentes de trajetória)
que tornaram inevitáveis, no presente, a reversão dos
avanços obtidos pelo desenvolvimentismo industrialista
e a consolidação de nossa posição de nova neocolônia na
economia mundial. Como mostrarei, a forma que a eco-
nomia política do desenvolvimento industrialista depen-
dente assumiu na década de 1950, em especial as rela-
ções que se estabeleceram entre uma parcela da bur-
guesia brasileira e o capital internacional dos países cen-
trais, limitou e por fim inviabilizou qualquer possibilidade
de desenvolvimento nacional autônomo, resultando no
atual fim de linha nacional que se expressa na economia
política de nossa inserção mundial. Mutatis mutandis, o
que vale para o Brasil vale ou valerá para toda a América
Latina: o novo neocolonialismo como forma dominante
de inserção internacional da região.
Dimitria H. de Mello Assis Nunes
A crise humanitária de Myanmar à luz da geopolítica
Resumo: O conflito entre birmaneses e rohingyas na Re-
pública da União de Myanmar remete ao período de in-
dependência do país da administração colonial britânica,
quando a instabilidade política e as insurreições de gru-
pos étnicos minoritários eclodiram a fim de ocuparem
espaços políticos antes preenchidos e arbitrados pela
metrópole. O acirramento do conflito em 2012 e, mais
recentemente, em agosto de 2017, responsável pelo
êxodo de quase 1 milhão de rohingyas, volta a chamar
atenção da mídia internacional, que baseia sua percep-
ção do conflito em questões étnico-religiosas.
O objetivo deste trabalho é analisar como essas questões
se interligam à questão geoeconômica do Estado de
Rakhine, localizado na costa ocidental de Myanmar e
onde se concentrava a população rohingya antes dos
movimentos de refúgio. A fase de acirramento do confli-
to é concomitante à flexibilização legislativa sobre o di-
reito à terra, que expropria pequenos proprietários e as
concede ao desenvolvimento rural corporativo internaci-
onal. Assim, o modelo de produção colonial – plantation,
extrativismo mineral e aquífero – volta a ganhar ímpeto
no país, o qual se torna palco de disputa estratégica da
hegemonia regional asiática entre China e Índia.
Emprega-se a teoria do poder global de José Luís Fiori
para a compreensão dessa disputa de poder em Myan-
mar e assume-se a visão de que a pedra angular do con-
flito seja a questão geoeconômica, tangenciada pelas
esferas étnico-religiosas. Espera-se demonstrar que a
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
54
crise humanitária de Myanmar adquiriu funções políticas
e econômicas para o governo de maioria birmanesa.
Dessa forma, os acordos entre a elite política e grandes
potências se inserem no pensamento colonial, de desvin-
culação daquela com a própria população nacional, e
tecem a balança de poder asiática a partir do envolvi-
mento das duas maiores potências da região.
Edna Aparecida da Silva
Agências de revisão de segurança de investimentos es-
trangeiros: ideias e instituições no debate sobre a prote-
ção de infraestrutura crítica (Estados Unidos, União Euro-
peia e China)
Resumo: A abertura aos investimentos estrangeiros é uma
característica básica do regime internacional de investi-
mento, presente nos acordos internacionais e nos princí-
pios de governança econômica defendidos pelos países
centrais para suas políticas domésticas e instituições in-
ternacionais. Desde a crise de 2008, observa-se uma ten-
dência de reformulação das políticas de investimento
estrangeiro e criação de agências de revisão de seguran-
ça para a “proteção de infraestrutura crítica”, que ocor-
reu na Austrália, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão,
Portugal, Espanha, Reino Unido, Rússia, EUA, e União
Europeia, que em 2017 iniciou discussão sobre o estabe-
lecimento de um Comitê Europeu de Investimento Es-
trangeiro. Essas agências, funcionando caso a caso, reali-
zam supervisão de operações de fusões e aquisições, e
são justificadas como mecanismo de proteção não ape-
nas da "segurança nacional" ou da ordem pública, mas
também das inovações tecnológicas, setores sensíveis e
áreas estratégicas, como resposta à estratégia de expan-
são dos investimentos internacionais das empresas esta-
tais chinesas nesses setores. Reativamente, e justificado
como reciprocidade, a China, em 2011, adotou um me-
canismo similar de revisão de segurança nacional de in-
vestimento, e em 2017 aprovou sua lei de segurança ci-
bernética. Nesse contexto, o artigo: 1. discute a noção de
“infraestrutura critica”, utilizando a noção de securitiza-
ção da Escola de Copenhague e de poder estrutural de
Strange; 2. descreve e analisa as agências, seus objetivos,
estrutura organizacional e funcionamento nos casos dos
Estados Unidos, considerado como modelo, China e Uni-
ão Européia; e 3. avalia as divergências no debate políti-
co em torno de sua atuação. O artigo argumenta que a
concepção e o funcionamento dessas agências indicam
um deslocamento para o protecionismo, que coloca em
foco as ideias e instituições de política de competitivida-
de e política industrial nos países do Norte, portanto,
com impacto importante no debate contemporâneo so-
bre a governança global sob a perspectiva da economia
política. internacional.
Emanuel Porcelli
Parlamentos Regionales en América Latina: entre la legiti-
midad democrática y la debilidad funcional
Resumo: La presencia de estructuras parlamentarias regi-
onales en América Latina cuenta con un recorrido de casi
4 décadas (desde la creación del Parlamento Andino en
1979) como una búsqueda de incorporar otros actores
políticos en el proceso regional y con la necesidad de
dotar a la institucionalidad regional, en la que se inserta,
de la legitimidad asociada al tipo de representación que
poseen las instituciones parlamentarias. Más allá de esta
tendencia común, resulta llamativo que los tres casos de
la región (Parlamento Andino, Parlamento Centroameri-
cano y Parlamento del MERCOSUR) cuenten con una
propuesta institucional, a prima facie, similar influencia-
da por la institucionalidad europea. El objetivo del pre-
sente trabajo es indagar las diferencias significativas que
emergen en relación con el diseño, las formas de repre-
sentación, su vinculación con los sistemas políticos nacio-
nales, las atribuciones otorgadas y la participación en el
proceso regional de toma de decisiones como la influen-
cia europea en las formas que adquiere.
Emerson Maciel Junqueira
O investimento externo direto dos Estados Unidos e da
China no Brasil nos anos 2000
Trabalho Completo
Resumo: O Brasil é um dos principais destinos de investi-
mentos externos diretos (IED) na América Latina, tanto
pelos Estados Unidos, quanto pela República Popular da
China (RPC). O IED, em um sentido amplo, pode ser defi-
nido como a movimentação de capitais visando à criação
ou aquisição de operações produtivas no exterior, pos-
suindo entre os elementos chaves para o seu estabeleci-
mento o tamanho do mercado interno, o PIB per capita e
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
55
o nível de produtividade. Entre seus benefícios, segundo
o Banco Mundial, estão a geração de emprego, transfe-
rência de tecnologia e saldo positivo na balança de paga-
mentos. No entanto há críticas quanto a este tipo de in-
vestimento como as altas remeças de lucros para suas
matrizes e ausência de efeito spillover para o restante da
economia, resultando em setores desconectados da eco-
nomia nacional. Segundo a Conferência das Nações Uni-
das sobre o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) os
IEDs americanos no Brasil, no período de 2001 a 2012,
atingiram o valor de 48 bilhões de dólares, enquanto os
chineses (RPC e Hong Kong) alcançaram 4,85 bilhões de
dólares no mesmo período. Para além da diferença mo-
netária, as estratégias e fatores de atração de investi-
mento variam em alguns pontos, as empresas chinesas
possuem grande presença estatal, ao contrário das ame-
ricanas, os chineses tendem a desconsiderar o risco polí-
tico como fator decisivo para estabelecer investimentos,
enquanto os americanos possuem maior aversão a ris-
cos, as áreas de investimento da China concentram se no
setor primário, já os americanos no setor de manufatu-
ras. O presente trabalho tem como objetivo analisar as
similaridades e diferenças entre os investimentos exter-
nos diretos dos Estados Unidos e da China no Brasil nos
anos 2000, bem como as estratégias políticas e econômi-
cas por trás de tais decisões.
Felipe Garcia de Barros
A prospecção mineral em águas internacionais como me-
canismo de expansão da soberania estatal.
Coautor(es): Thiago Ferreira Moreira D'amato
Trabalho Completo
Resumo: O presente trabalho tem como ponto de partida
a analise da utilização do direto de prospecção e explora-
ção mineral em áreas internacionais dos oceanos como
um instrumento de poder de nações na busca por seus
objetivos estratégicos. O principal foco será na região do
oceano Indico, onde a Índia, assim como outras potên-
cias, estão se valendo das regras do direito do mar junto
a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA)
para garantir áreas importantes, em especial adjacentes
a sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE). O oceano Índico,
por sua vez, é peculiar em sua posição geográfica e con-
sequentemente possui um alto valor geoeconômico. As
grandes rotas comerciais do mundo atravessam essas
águas para abastecer as regiões mais dinâmicas do glo-
bo, com destaque o petróleo do Oriente Médio. Portan-
to, torna-se claro que essa região tende a se tornar palco
de disputas entre as grandes potências, assim como no
passado recente. Desta maneira, esse trabalho busca nas
entre linhas do direito e da política internacional mostrar
que a prospecção mineral em águas internacionais tem
como objetivo real assegurar posições estratégicas em
um plano igual ou superior à questão econômica da
prospecção em si. Desta forma, buscar-se- á analisar do-
cumentos oficiais das potências envolvidas na região no
que concernem seus objetivos estratégicos e contrapor
com suas demandas na ISA. Para tanto será necessário a
análise de bibliografia geopolítica de autores como Ro-
bert Kaplan, Philippe Le Billon assim como os mais recen-
tes estudos sobre a área geológica de Kaiser Gonçalves,
Palma e Pessanha.
Felipe Gusmão Carioni Fernandes
Projetos de infraestrutura no Oceano Índico e a monta-
gem do “Colar de Pérolas” chinês.
Trabalho Completo
Resumo: Esse trabalho tem como objetivo explicitar os
diversos projetos de infraestrutura comandados pela
China ao longo do espaço do Índico. Assim como, revelar
sua importância estratégica frente aos interesses geopo-
líticos deste Estado. Portanto, visto que o potencial para
geração de recursos econômicos e de projeção de poder
político-militar desta região é reconhecido na riqueza das
águas e subsolos marinhos; presença de ilhas; e por esta
região ser um dos maiores corredores de comércio do
planeta, haja vista sua localização entre o Leste africano
e Oriente Médio e o Leste Asiático. Logo, o domínio des-
ta área significa para qualquer Estado grande incremento
em sua capacidade de projeção de poder através do con-
tinente asiático, podendo inclusive alcançar a Europa.
Sendo assim, percebe-se que os projetos de infraestrutu-
ra patrocinados por Pequim ao longo do Índico acabam
por formar um “Colar de Pérolas” que constringe este
espaço. Em conseguinte, a China expande sua influência
na região em detrimento de atores regionais. Então, no-
ta-se que estes investimentos chineses não possuem
uma racionalidade apenas econômica, mas também geo-
estratégica. Dessa maneira, ao ponto que o cerco chinês
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
56
neste espaço se torna mais intenso, Estados como a Ín-
dia buscam, similarmente, expandir sua influência regio-
nal inclusive promovendo a cooperação com nações ex-
tra regionais, como os EUA. Portanto, cada vez mais o
Índico se transforma num tabuleiro geopolítico comple-
xo, de relevância global e marcado pela alta tensão polí-
tica e militar. Assim, para a efetivação desta pesquisa
adotar-se-á uma perspectiva sistêmica pautada pela geo-
política e pela teoria Realista das Relações Internacio-
nais, de forma a construir um prisma teórico-
metodológico por onde devem ser interpretados os da-
dos e resultados levantados pelo trabalho. E que, conse-
quentemente, permitirão elencar as conclusões desta
pesquisa de forma a contribuir para o debate acerca da
importância geopolítica deste espaço para os objetivos
de acumulo de poder da China.
Felipe Nagual Paranhos Rabelo
Observatório dos BRICS: A Cooperação Tecnológica em
Energia de Brasil e China
Coautor(es): Gabriel Rodrigues Peixoto
Resumo: A presente pesquisa consiste em um estudo
comparado da Estratégia Energética levada a cabo por
dois países do grupo dos BRICS, o Brasil e a China, e seus
pontos de cooperação. Pretendemos aqui analisar a coo-
peração estratégica já existente entre os dois países e
prospectar suas possibilidades num futuro de curto-
prazo, suas capacidades de manutenção no âmbito ener-
gético e o peso de tal movimento tendo como referência
o Sistema Internacional. Utiliza-se a metodologia qualita-
tiva-quantitativa e o método de estudo de caso, com o
objetivo de apontar as limitações, em termos de autono-
mia e sustentabilidade energética, que esses países pos-
suem para implementar suas respectivas estratégias de
inserção internacional. No presente trabalho fez-se um
recorte das interações políticas e econômicas entre a
China e o Brasil no âmbito da Estratégia Energética, ana-
lisando principalmente o Investimento Externo Direto
(IED) chinês no setor energético brasileiro. Para isso fo-
ram analisados: (I) a composição da matriz energética
destes países e o nível de dependência de fontes de
energia tradicionais; (II) a trajetória de crescimento no
consumo e na geração das principais fontes de energia;
(III) a sustentabilidade do crescimento, e, portanto, do
processo de ascensão relativa destes países emergentes
no Sistema Internacional. O artigo, além desta introdu-
ção e da conclusão, está organizado em quatro partes:
(1) Conceito de Estratégia Energética; (2) Histórico da
cooperação energética sino-brasileira; (3) Matriz Energé-
tica Chinesa e (4) Matriz Energética Brasileira.
Fernanda de Castro Brandão Martins
O papel do RCEP no fortalecimento da liderança chinesa
na região Ásia-Pacífico
Trabalho Completo
Resumo: A China tem buscado fortalecer as bases da sua
liderança regional através da criação e fortalecimento de
instituições cujo objetivo sejam promover maior integra-
ção e cooperação econômica entre os países da região
Ásia-Pacífico. Nesse sentido, A Parceria Econômica Com-
preensiva Regional (RCEP) e o grande projeto Belt and
Road se destacam como elementos importantes dessa
estratégia. No aspecto dos grandes acordos comerciais, a
tarefa de consolidar a liderança regional da China foi fa-
cilitada, em certa medida, pela saída dos Estados Unidos
do acordo concorrente ao RCEP, o acordo da Parceria
Transpacífico (TPP). Apesar da continuidade das negocia-
ções do TPP em menor escala, a saída dos Estados Uni-
dos do TPP abriu uma brecha para que a China lidere a
conclusão das negociações do RCEP dando mais um pas-
so rumo à liderança regional. O conteúdo de ambos os
acordos extrapola os limites dos tradicionais acordos
comerciais buscando fortalecer as relações econômicas
regionais em um sentido mais amplo. Nesse sentido, o
artigo busca compreender o papel do RCEP na estratégia
chinesa de consolidação da sua liderança regional bus-
cando analisar como o acordo impacta sobre as relações
comerciais da região e em que medida as suas disposi-
ções refletem uma real liderança chinesa no processo de
integração comercial e econômica regional.
Fernanda Gonzalez Moraes
Integração energética entre os países do Mercosul: Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai
Resumo: O conceito de um mundo sustentável está asso-
ciado à busca de uma forma de desenvolvimento, capaz
de garantir as necessidades da humanidade no presente,
sem colocar em perigo o futuro das gerações. Tendo em
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
57
vista esse fato, o objetivo da pesquisa é realizar uma
análise detalhada e precisa da integração energética en-
tre os países do Mercosul, explorando eventos significati-
vos como Tratados e parcerias. Também, verificando
quais instrumentos foram utilizados para que fosse pos-
sível a realização dessas ações, obtendo uma visão mais
ampla sobre o assunto, abordando o avanço nas relações
internacionais e a evolução dos programas e dos proje-
tos referentes ao setor eletroenergético. Assim, questio-
namos de que forma se integram os países do Mercosul
em relação aos seus recursos naturais, como tratam, di-
videm e integram suas energias renováveis e juntamente
a este, indagamos se este tipo de relações internacionais
os beneficia efetivamente, de que modo, e quais os im-
pactos existentes ao realizar esta união. Quanto ao mé-
todo a ser adotado, se realizará uma pesquisa eminente-
mente descritiva, com a adoção do método qualitativo
para a abordagem dos conteúdos, na qual a técnica em-
pregada para a tomada das principais informações e da-
dos será a revisão bibliográfica e documental atinentes
ao tema proposto. Além disso, também são importantes
instrumentos de coleta de dados: os atos oficiais emana-
dos dos acordos entabulados entre os países protagonis-
tas da pesquisa, bem como repositórios acadêmicos e
outros que aludem aos conteúdos em análise. Sendo
realizadas também, abordagens sobre cooperação e in-
tegração regional, pois são a partir destes institutos das
Relações Internacionais que se viabilizam os instrumen-
tos que possibilitam aos Estados adquirirem benefícios
mútuos através de objetivos comuns. Por fim, a expecta-
tiva do trabalho é encontrar uma relação positiva entre a
cooperação internacional para produção e uso de ener-
gia sustentável e os Tratados e acordos bi e multilaterais.
Fernando Manoel Bassi
Princípios e funcionamento do processo eleitoral nos EUA
Coautor(es): Ana Cristina Bunn Junckes, Ana Carolina Par-
reira, Monalisa Rossi ceolin
Resumo: A pesquisa foi realizada pelo grupo de estudos
em Economia Política Internacional do INCT-INEU da
UFSC - Instituto de Ciência e Tecnologia para Estudo so-
bre os Estados Unidos. O objetivo da pesquisa foi enten-
der o processo eleitoral e como sua dinâmica repleta de
singularidades influencia a participação popular na de-
mocracia. Para tal, buscou-se analisar os fundamentos
básicos que regem o funcionamento das eleições estadu-
nidenses. Tais fundamentos são expressos principalmen-
te nas ideias de justiça e liberdade, o que justifica a exis-
tência das várias etapas em que a eleição ocorre, diferin-
do do modelo brasileiro. Em primeiro lugar os candidatos
de cada partido são escolhidos pelo voto popular em
suas respectivas convenções para posteriormente o mais
votado dos dois partidos (Republicanos e Democratas)
disputarem as Eleições Gerais presidenciais. Vale salien-
tar que os pleitos não são realizados de forma direta,
pois o cidadão estará votando em delegados que repre-
sentarão sua vontade diante das urnas na escolha do
presidente, o que torna o processo ainda mais complexo.
Concluiu-se que, apesar da existência de diversos parti-
dos nos Estados Unidos, o sistema de eleição adotada faz
com que predomine uma espécie de bipartidarismo, pois
os candidatos concorrem através do método “Winner
takes all”, ou seja, quem adquire a maioria dos votos nos
estados ganha sua totalidade, salvo exceções (Nebraska
e Maine). Tal método desencoraja a participação de par-
tidos menores, levando à alternância de poder entre De-
mocratas e Republicanos e polarizando as eleições entre
dois programas partidários bem definidos e conhecidos
entre os eleitores.
Filipi Claudino dos Santos
Tendências para a Liberalização Comercial no século XXI:
um estudo de caso do Comprehensive and Progressive
Agreement for Trans-Pacific Partnership (CPTPP)
Trabalho Completo
Resumo: O presente estudo visa discutir os desafios en-
contrados pelos Estados para a criação do Comprehensi-
ve and Progressive Agreement for Trans-Pacific Partners-
hip (CPTPP), maior acordo de integração regional econô-
mica discutido nas últimas décadas que visa a liberaliza-
ção do comércio através de, entre outros, a redução tari-
fária, boas práticas trabalhistas, preservação da cultura e
do meio ambiente, e acima de tudo, ganhos justos e
compartilhados a todas as partes. O tema merece desta-
que pois a aproximação entre um grupo de Estados, vi-
sando à facilitação comercial entre si, pode criar fortes
laços de interdependência entre os atores envolvidos, e
gerar uma tendência para futuros acordos. Também po-
de criar novas potências econômicas e desbancar algu-
mas que até então eram tidas como parcerias vitais. Por
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
58
meio de um estudo qualitativo, baseado em fontes pri-
márias e secundárias e com finalidade descritiva, na pri-
meira parte é caracterizado o acordo, conforme a evolu-
ção das negociações e resultados obtidos, apresentando
a inovação proposta pelo CPTPP no âmbito multilateral
dos temas de comércio discutidos atualmente. Por fim,
aponta-se os desdobramentos da saída dos EUA, bem
como a perspectiva dos demais membros para com o
futuro do acordo. Conclui-se que as negociações regio-
nais envolvendo atores internacionais dispostos a coope-
rar entre si de uma forma justa, que beneficie todas as
partes, pode estimular mudanças significativas no pensa-
mento e comportamento da governança comercial con-
temporânea, rebaixando o status de economias antes
insubstituíveis ao comércio global.
Gabriel Basso de Figueiredo
REGULAÇÃO BANCÁRIA INTERNACIONAL E PODER ESTRU-
TURAL: A Hegemonia Estadunidense e a conformação dos
Acordos de Basiléia
Trabalho Completo
Resumo: Entre 1971 e 1979, os Estados Unidos suprimi-
ram o sistema inaugurado três décadas antes, em
Bretton Woods, e inauguram uma nova arquitetura fi-
nanceira global, caracterizada pela liberalização das taxas
de câmbio e dos fluxos de capital, pela posição incontes-
te ocupada pelo dólar-fiduciário no topo da hierarquia
monetária internacional e pelo redimensionamento da
atuação de instituições financeiras internacionais como o
Banco Mundial (GBM), o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e o Bank for International Settlements (BIS) em
função da crescente instabilidade sistêmica. Nesse cená-
rio, o BIS passou a abrigar, sobretudo pela pressão arti-
culada entre o governo dos Estados Unidos e o Reino
Unido, discussões sobre a regulação da atividade bancá-
ria no âmbito internacional que culminaram na proposi-
ção de novos padrões de regulação, conhecidos como
Acordos de Basiléia – oficializados em 1988 (Basiléia I),
2004 (Basiléia II) e 2009 (Basiléia III). A imposição desses
marcos terminaram enquadrando o restante do sistema
bancário internacional e contendo o crescimento dos
bancos asiáticos e europeus em benefício das institui-
ções abrigadas pelo Federal Reserve System dos Estados
Unidos. Partindo da compreensão de que o processo de
regulação manifesta relações de poder constituídas pela
interação entre atores no âmbito de uma arquitetura
financeira global específica (Pós-Bretton Woods), procu-
ra-se analisar, no âmbito da presente pesquisa, o proces-
so de elaboração e implementação dos sucessivos Acor-
dos de Basiléia como manifestação do poder estrutural
dos Estados Unidos.
Gabriel Rodrigues Peixoto
Observatório dos BRICS: A Cooperação Tecnológica em
Energia de Brasil e China
Coautor(es): Felipe Nagual Paranhos Rabelo
Resumo: A presente pesquisa consiste em um estudo
comparado da Estratégia Energética levada a cabo por
dois países do grupo dos BRICS, o Brasil e a China, e seus
pontos de cooperação. Pretendemos aqui analisar a coo-
peração estratégica já existente entre os dois países e
prospectar suas possibilidades num futuro de curto-
prazo, suas capacidades de manutenção no âmbito ener-
gético e o peso de tal movimento tendo como referência
o Sistema Internacional. Utiliza-se a metodologia qualita-
tiva-quantitativa e o método de estudo de caso, com o
objetivo de apontar as limitações, em termos de autono-
mia e sustentabilidade energética, que esses países pos-
suem para implementar suas respectivas estratégias de
inserção internacional. No presente trabalho fez-se um
recorte das interações políticas e econômicas entre a
China e o Brasil no âmbito da Estratégia Energética, ana-
lisando principalmente o Investimento Externo Direto
(IED) chinês no setor energético brasileiro. Para isso fo-
ram analisados: (I) a composição da matriz energética
destes países e o nível de dependência de fontes de
energia tradicionais; (II) a trajetória de crescimento no
consumo e na geração das principais fontes de energia;
(III) a sustentabilidade do crescimento, e, portanto, do
processo de ascensão relativa destes países emergentes
no Sistema Internacional. O artigo, além desta introdu-
ção e da conclusão, está organizado em quatro partes:
(1) Conceito de Estratégia Energética; (2) Histórico da
cooperação energética sino-brasileira; (3) Matriz Energé-
tica Chinesa e (4) Matriz Energética Brasileira
Gabriela Alves de Borba
Sistema de Arrecadação e Distribuição dos Royalties do
Petróleo Brasileiro: um estudo sobre a defesa do Pré-sal
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
59
Coautor(es): Valentina Tâmara Haag
Resumo: Desde a homologação da Lei do Petróleo (Lei nº
9.478) em 1997, ocorreram significativas alterações no
regimento do sistema de organização dos royalties. Tan-
tas mudanças representam certa carência de modelo de
disposição dos royalties adequado a realidade econômi-
ca brasileira. Diante desse cenário, busca-se analisar se a
Teoria da Renda da Terra de David Ricardo seria o siste-
ma de arrecadação mais adequado ao atual contexto da
indústria extrativa de petróleo brasileira e verificar se o
modelo de distribuição vigente dos recursos financeiros
é consistente com o arcabouço de legitimidade de seu
uso. Têm-se dois problemas de pesquisa adjacentes: a
teoria da renda de Ricardo é relevante para balizar a co-
brança de royalties no caso brasileiro? O sistema de alo-
cação desses royalties é adequado? Para responder à
primeira pergunta propõe-se a comparação entre os
pressupostos subjacentes à teoria ricardiana com a reali-
dade da indústria petrolífera brasileira. Assim, as premis-
sas teóricas de que os custos determinam os preços, de
homogeneidade de produto, de simetria de informação
e de concorrência entre os produtores são confrontadas
com as características do contexto brasileiro. A segunda
pergunta será respondida a partir dos argumentos que
sugerem a ineficiência da aplicação dos royalties em gas-
tos correntes, utilizando-se o caso do Ministério da Mari-
nha do Brasil e dos investimentos aos projetos de defesa
da plataforma continental. As hipóteses centrais de tra-
balho são que (i) o sistema sugerido pela Teoria da Ren-
da não se adequa à realidade brasileira e que (ii) o atual
sistema de arrecadação está adequado, no entanto, é
(iii) a forma de distribuição dos royalties que não respon-
de às demandas de defesa do patrimônio mineral nacio-
nal. Para tal, o trabalho será estruturado no método hi-
potético-dedutivo, utilizando-se da pesquisa bibliográfica
e documental.
Gustavo Lagares Xavier Peres
VIDA COMO PROPRIEDADE: Uma Análise Interdisciplinar
do Processo de Formação da Propriedade Intelectual de
Sementes
Trabalho Completo
Resumo: Esta pesquisa é resultado de questões que surgi-
ram ao longo de vivências em assentamentos de movi-
mentos sem-terra e em fazendas de produção familiar,
além de minha formação acadêmica no campo das rela-
ções internacionais. Em virtude da complexidade do ob-
jeto de pesquisa, que envolve diferentes áreas do conhe-
cimento, este trabalho é fundamentalmente interdiscipli-
nar. Na esteira do processo de mundialização do capital,
o atual sistema de proteção aos direitos de propriedade
intelectual (DPI) legalizou a apropriação de entes vivos
na forma de patentes. Em nome da proteção do conheci-
mento técnico e de sua economicidade, conglomerados
internacionais tem adquirido direitos de monopólio so-
bre sementes geneticamente modificadas (GM). Após a
criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), a
comercialização das sementes GM foi difundida em esca-
la mundial, acompanhada pelo crescimento exponencial
desses cultivos, sobretudo nos países periféricos. Nesse
período, o mercado mundial de sementes experimentou
uma rápida concentração, tendência essa que permane-
ce atualmente. Denominamos esse quadro como
"controvérsia das patentes de sementes", cuja análise
buscaremos inserir na abordagem conceitual dos Regi-
mes Alimentares, proposta por Harriet Friedmann (1993)
e Philip McMichael (2016), assumindo que nosso objeto
de estudo é parte de um universo mais amplo de regula-
mentação e uso político de toda a cadeia da produção
alimentar. Em nossa pesquisa apresentaremos um apa-
nhado histórico da formação dos DPI sobre seres vivos,
desde o Plant Patent Act de 1930 até a criação do no
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Inte-
lectual Relacionados ao Comércio (TRIPs) constituído no
arcabouço normativo da OMC em 1995, discutindo as-
pectos jurídicos e bioéticos relacionados à questão. Para-
lelamente, analisamos o processo de institucionalização
do comércio internacional e avaliaremos o papel e a rele-
vância dos Estados Unidos da América (EUA) e das gran-
des corporações multinacionais produtoras de sementes
GM para a formação do Regime Alimentar atual.
Helton Ricardo Ouriques
O atraso do Brasil em Ciência, Educação e Tecnologia em
Perspectiva Histórico-Mundial Comparada
Coautor(es): Pedro Antonio Vieira
Trabalho Completo
Resumo: O Brasil ocupa uma posição considerada
“intermediária” na economia mundo capitalista. Nossa
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
60
tarefa aqui é, comparando a situação brasileira em com-
paração com a trajetória de países do Leste Asiático des-
de 1950, buscar subsídios analíticos para a compreensão
desse atraso relativo do Brasil em ciência, educação e
tecnologia. As perguntas a serem respondidas são: por
que países como a Coreia do Sul, que se encontravam na
década de 1950 muito mais atrasados tecnologicamente
que o Brasil, entraram em uma trajetória virtuosa, en-
quanto nosso país, desde a década de 1980, parece estar
estagnado nos aspectos acima mencionados? Que ele-
mentos estruturais explicam o atraso brasileiro e mesmo
a dificuldade do país em acompanhar as mudanças em
ciência, tecnologia e inovação em curso desde os década
de 1970 em geral, e desde os anos 2000 em diante, em
particular, em comparação com países daquela região?
Podemos levantar como hipótese que as origens desta
discrepância devem ser buscadas: a) nas respectivas po-
sições daqueles países e do Brasil na economia-mundo
capitalista, desde o século XIX em diante; b) nos respecti-
vos processos de industrialização: lá, comandado por
empresas nacionais e pelo Estado; no Brasil, comandado
por empresas multinacionais; c) A importância da geo-
grafia e dos aspectos geopolíticos, pois a proximidade
geográfica com os Estados Unidos implicou uma subordi-
nação maior da América Latina e do Brasil aos ditames
da hegemonia americana. No Leste Asiático, por outro
lado, a geopolítica da guerra estímulos os estados asiáti-
cos a desenvolverem uma industrialização também vol-
tada para defesa. Principalmente após a Segunda Guerra
Mundial os estímulos vieram da inserção daquela região
na Guerra Fria. No Brasil, tanto a proximidade com os
Estados Unidos quanto os estímulos geopolíticos atua-
ram para conformar um processo de industrialização
desnacionalizado e pouco inovador, possivelmente pela
ausência de uma aliança entre capitalistas nacionais e o
Estado.
Hermes Moreira Jr.
Indústria 4.0 e as novas dimensões tecnológicas no centro
da economia-mundo capitalista: quais os desafios para o
Brasil e para a América Latina?
Coautor(es): Maria Caramez Carlotto
Resumo: Um novo debate está ganhando corpo na im-
prensa, academia, governos e grandes corporações
transnacionais: a incorporação da inteligência artificial
nos processos produtivos industriais e nas empresas de
prestação de serviços. Alguns denominam essa incorpo-
ração de Indústria 4.0, outros de Segunda Era das Máqui-
nas, havendo também aqueles que a chamam de Quarta
Revolução Industrial ou Manufatura Avançada. A despei-
to da nomenclatura a ser considerada, percebe-se no
centro da economia-mundo capitalista uma intensa com-
petição para alcançar novos monopólios tecnológicos
que permitiriam controlar a maior parte do excedente
das cadeias mercantis globais. Esta competição envolve
Estados Unidos, Alemanha, China, Japão, Coreia do Sul,
França e Inglaterra, países que lideram esta nova etapa
do desenvolvimento científico-tecnológico. O resultante
reposicionamento dos países centrais nas cadeias mer-
cantis globais afetará diretamente as regiões periféricas
e semiperiféricas do sistema-mundo. Mas como o Brasil
e os demais países latino-americanos estão se posicio-
nando frente a onda de sofisticação tecnológica que se
desenvolve no centro da economia-mundo capitalista?
Além de procurar responder esta pergunta, este painel
também pretende esboçar avaliações do impacto das
novas dimensões tecnológicas para a indústria brasileira
e latino-americana, bem como sobre o mercado de tra-
balho e a estrutura social dos países da região.
Palavras-chave: Indústria 4.0; Inovação Tecnológica; Eco-
nomia-mundo capitalista;
Hoyêdo Nunes Lins
Pequenos estados insulares e o desafio do desenvolvimen-
to sustentável: Cabo Verde e seus vínculos com a União
Europeia
Trabalho Completo
Resumo: Os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvi-
mento (SIDS na sigla em inglês) são países que, totalizan-
do quase três dezenas, enfrentam consideráveis desafios
ao desenvolvimento, decorrentes de suas características
peculiares relacionadas à pequenez, à dispersão geográ-
fica, ao isolamento, à dependência externa e à vulnerabi-
lidade a desastres naturais, entre outros. Desse modo,
ao longo de conferências multilaterais, ganhou força a
ideia de que tais estados deveriam optar por uma traje-
tória sustentável de desenvolvimento, com apoio de ou-
tros países e de organismos internacionais. Cabo Verde é
um desses estados insulares, com configuração de arqui-
pélago, tendo firmado parcerias com a União Europeia
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
61
(UE) especialmente a partir de 2007. O trabalho analisa
alguns aspectos dessas parcerias internacionais envol-
vendo os SIDS, mais especificamente das parcerias entre
Cabo Verde e UE com vistas ao equacionamento das difi-
culdades do arquipélago e à promoção do seu desenvol-
vimento sustentável. Sua base é pesquisa bibliográfica e
documental em diversas fontes, institucionais e acadêmi-
cas, e seu perfil é exploratório, concentrado em alguns
projetos permeados, ao menos nas declarações de inten-
ções, pelos pressupostos do desenvolvimento sustentá-
vel, mormente aqueles adotados pela Agenda 2030. Con-
clui-se que o papel das parcerias analisadas é, geralmen-
te, ambíguo, pouco transparente e limitado, no tocante à
promoção do desenvolvimento sustentável em Cabo
Verde. Essas parcerias também levam à constituição de
novas vulnerabilidades no arquipélago, e não só porque
vários desses projetos – de cunho tanto imaterial como
material – são essencialmente retóricos quanto aos seus
propósitos de promover o desenvolvimento sustentável.
Há casos em que os próprios termos das parcerias, além
da sua execução, sinalizam com problemas adicionais
para camadas da população cabo-verdiana. Tudo isso
seria resultado, entre outros aspectos, de uma grande
assimetria de poder entre as partes nas negociações e,
num plano mais amplo, da hegemonia da agenda neoli-
beral praticamente imposta pelas esferas situadas na
ponta doadora da ajuda ao desenvolvimento.
Iara Costa Leite
A relevância da Economia Política Internacional para o
estudo das interfaces entre ciência, tecnologia e inovação
e relações internacionais: contribuições de Susan Strange
Resumo: Estudiosos de diversas áreas que se debruçam
sobre as interfaces entre ciência, tecnologia e inovação e
as relações internacionais coincidem na avaliação de que
as teorias de relações internacionais ou se silenciam so-
bre o tema da ciência, tecnologia e inovação, ou apre-
sentam elaborações superficiais sobre o mesmo. No en-
tanto, tais estudiosos não parecem ter revisado, ao emi-
tirem tal avaliação, trabalhos produzidos por pensadores
da Economia Política Internacional. O objetivo deste arti-
go é mostrar que esta área tem contribuições valiosas
não apenas para o estudo da dimensão internacional da
ciência, tecnologia e inovação, mas também para a com-
preensão das interações, nas relações internacionais,
entre os atores dos sistemas nacionais de inovação - ato-
res societais (cientistas, empresas) e atores governamen-
tais. Para tanto, sistematizará a obra de Susan Strange,
mapeando e sistematizando trechos em que a autora
destaca a importância do estudo da ciência, tecnologia e
inovação pelos estudantes de Relações Internacionais;
elaborações específicas sobre a influência da ciência,
tecnologia e inovação na definição do poder nas relações
internacionais; e elaborações sobre as relações entre
Estado e sociedade nas relações internacionais que po-
dem ser úteis para compreender como os Estados po-
dem estar interagindo com empresas e cientistas para
aumentar seu poder na competição econômica do século
XXI.
Iderley Colombini Neto
A expansão do poder e do capital da China no entorno
asiático: dimensões geopolítica, financeira e de infraestru-
tura
Coautor(es): Isabela Nogueira de Morais
Resumo: A ida para fora do poder e do capital da China
está entre as transformações mais importantes das déca-
das recentes. Este painel examina a ampliação do poder
regional chinês sob a dimensão geopolítica, financeira e
de infraestrutura. Para tanto, o primeiro artigo da mesa
irá tratar da financeirização com características chinesas
e como ele torna o regime de acumulação da China e seu
processo de internacionalização muito diferente do pre-
valecente na maioria dos mundos desenvolvidos e em
desenvolvimento. No caso da China, a expansão da di-
mensão financeira não implica em um processo de deslo-
camento da capacidade produtiva, nenhuma influência
crescente dos mercados financeiros sobre a formulação
de políticas macroeconômicas e nem em uma queda dos
salários nos setores produtivos. Capitaneada por um sis-
tema estatal massivo e sob rigoroso controle de capital,
a financeirização com características chinesas levou a
investimentos maciços em infraestrutura. Também tem
sido um pilar de suas políticas industriais, inovadoras e
de campeões nacionais e da expansão dos capitais chine-
ses pela Ásia via a Nova Rota da Seda, como explorado
no artigo seguinte. Com o esgotamento do seu padrão
de acumulação e tendo como marco a crise de 2008, a
“Belt and Road Initiative” projeta o país externamente
numa tentativa de conectar quatro pontos: (i) o fortaleci-
mento do componente de consumo interno da demanda
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
62
agregada em contraposição à relação virtuosa entre in-
vestimento e comércio exterior que impulsionou o regi-
me de acumulação chinês; (ii) a estratégia de catch up
tecnológico em setores considerados chave e conse-
quente subida nas cadeias globais de valor; (iii) a expor-
tação de capitais e internacionalização do renminbi; e
(iv) o combate a obstáculos internos de fragmentação
territorial e heterogeneidade estrutural aliado a um re-
posicionamento geopolítico no tabuleiro euroasiático.
Nesse contexto a Nova Rota da Seda pode ser considera-
da não apenas um divisor de águas em termos de política
externa chinesa, como um ponto de inflexão na trajetó-
ria de desenvolvimento do país. Para fazer as conexões
necessárias entre os temas fundamentais associados à
Nova Rota da Seda pretendemos resgatar as contribui-
ções da visão Estruturalista para entender as mudanças
estruturais associadas ao desenvolvimento chinês, além
da Economia Política no que diz respeito ao processo de
acumulação chinês e seus distintos padrões. Para o pon-
to (ii) valorizamos os estudos sobre as políticas de fo-
mento à ascensão chinesa nas Cadeias Globais e seus
resultados mais recentes. Destacaremos também a inter-
nacionalização do renminbi tendo como base uma litera-
tura de matriz heterodoxa que discute a evolução do
sistema financeiro chinês entendendo-a como um pro-
cesso de exportação de capital associado a uma projeção
de poder na disputa interestatal capitalista. Por fim, ten-
do em vista os desafios internos chineses analisaremos
uma literatura precursora da geopolítica que discute a
questão da integração do espaço nacional.
Por fim, nosso último artigo irá tratar do caso específico
da expansão chinesa em infraestrutura pelo Oceano Índi-
co, revelando sua importância estratégica frente aos in-
teresses geopolíticos deste Estado. O domínio desta área
significa para qualquer Estado um grande incremento em
sua capacidade de projeção de poder através do conti-
nente asiático, podendo inclusive alcançar a Europa em
última instância. Sendo assim, percebe-se que os proje-
tos de infraestrutura patrocinados por Pequim ao longo
do Oceano Índico acabam por formar um “Colar de Péro-
las” que constringe este espaço. Em conseguinte, a China
expande sua influência na região em detrimento de ou-
tros atores regionais. Então, nota-se que estes investi-
mentos chineses não possuem uma racionalidade ape-
nas econômica, mas também geopolítica e estratégica.
Dessa maneira, ao ponto que o cerco chinês neste espa-
ço se torna mais intenso, Estados como a Índia buscam,
similarmente, expandir sua influência regional inclusive
promovendo a cooperação nas áreas de segurança e de-
fesa com nações extra regionais, como os EUA. Portanto,
cada vez mais o Oceano Índico se transforma num tabu-
leiro geopolítico complexo, de relevância global e marca-
do pela alta tensão política e militar. Assim, para a efeti-
vação desta pesquisa adotar-se-á uma perspectiva sistê-
mica pautada pela geopolítica e pela teoria Realista das
Relações Internacionais, de forma a construir um prisma
teórico-metodológico por onde devem ser interpretados
os dados e resultados levantados pelo trabalho. E que,
consequentemente, permitirá elencar as conclusões des-
ta pesquisa de forma a contribuir para o debate acerca
da importância geopolítica deste espaço para os objeti-
vos de acumulo de poder da China.
Isabela Nogueira de Morais
Financialization with Chinese Characteristics
Coautor(es): Iderley Colombini Neto
Trabalho Completo
Resumo: A major characteristic that distinguishes Chinese
regime of accumulation to other central or peripheral
economies is its relative autonomy in relation to the fi-
nancialization process under dollar’s hegemony. Largely,
this is due to a financial system mainly state-owned, with
a huge share of the banking system under the so-called
“Big Four” state-owned commercial banks, and due to
extensive capital controls. Financialization with Chinese
characteristics is centered on the attempt to create a
monetary system less dependent on the dollar and
based on multipolar institutions under Chinese control or
influence. We argue that it shows attempts to expand
China’s capital maneuvering space around the world
with less subordination to the power of the US currency.
This strategy is taking place in two ways. First through
the consolidation and expansion of development banks
as ultimate lenders (such as the Asian Infrastructure In-
vestment Bank), expecting that the infrastructure funded
by such banks will be a dynamic engine of global growth
– the “Belt and Road Initiative” is the strategy that ties all
the tips. And secondly, through the expansion of the in-
ternational use of the renminbi in commercial transac-
tions, especially for oil. In sum, in this article we detail
the process of financialization with Chinese characteris-
tics and discuss if and to which extend such a system
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
63
promotes a new mode of financial globalization.
Isabela Nogueira de Morais
A expansão do poder e do capital da China no entorno
asiático: dimensões geopolítica, financeira e de infraestru-
tura
Coautor(es): Iderley Colombini Neto
Resumo: A ida para fora do poder e do capital da China
está entre as transformações mais importantes das déca-
das recentes. Este painel examina a ampliação do poder
regional chinês sob a dimensão geopolítica, financeira e
de infraestrutura. Para tanto, o primeiro artigo da mesa
irá tratar da financeirização com características chinesas
e como ele torna o regime de acumulação da China e seu
processo de internacionalização muito diferente do pre-
valecente na maioria dos mundos desenvolvidos e em
desenvolvimento. No caso da China, a expansão da di-
mensão financeira não implica em um processo de deslo-
camento da capacidade produtiva, nenhuma influência
crescente dos mercados financeiros sobre a formulação
de políticas macroeconômicas e nem em uma queda dos
salários nos setores produtivos. Capitaneada por um sis-
tema estatal massivo e sob rigoroso controle de capital,
a financeirização com características chinesas levou a
investimentos maciços em infraestrutura. Também tem
sido um pilar de suas políticas industriais, inovadoras e
de campeões nacionais e da expansão dos capitais chine-
ses pela Ásia via a Nova Rota da Seda, como explorado
no artigo seguinte. Com o esgotamento do seu padrão
de acumulação e tendo como marco a crise de 2008, a
“Belt and Road Initiative” projeta o país externamente
numa tentativa de conectar quatro pontos: (i) o fortaleci-
mento do componente de consumo interno da demanda
agregada em contraposição à relação virtuosa entre in-
vestimento e comércio exterior que impulsionou o regi-
me de acumulação chinês; (ii) a estratégia de catch up
tecnológico em setores considerados chave e conse-
quente subida nas cadeias globais de valor; (iii) a expor-
tação de capitais e internacionalização do renminbi; e
(iv) o combate a obstáculos internos de fragmentação
territorial e heterogeneidade estrutural aliado a um re-
posicionamento geopolítico no tabuleiro euroasiático.
Nesse contexto a Nova Rota da Seda pode ser considera-
da não apenas um divisor de águas em termos de política
externa chinesa, como um ponto de inflexão na trajetó-
ria de desenvolvimento do país. Para fazer as conexões
necessárias entre os temas fundamentais associados à
Nova Rota da Seda pretendemos resgatar as contribui-
ções da visão Estruturalista para entender as mudanças
estruturais associadas ao desenvolvimento chinês, além
da Economia Política no que diz respeito ao processo de
acumulação chinês e seus distintos padrões. Para o pon-
to (ii) valorizamos os estudos sobre as políticas de fo-
mento à ascensão chinesa nas Cadeias Globais e seus
resultados mais recentes. Destacaremos também a inter-
nacionalização do renminbi tendo como base uma litera-
tura de matriz heterodoxa que discute a evolução do
sistema financeiro chinês entendendo-a como um pro-
cesso de exportação de capital associado a uma projeção
de poder na disputa interestatal capitalista. Por fim, ten-
do em vista os desafios internos chineses analisaremos
uma literatura precursora da geopolítica que discute a
questão da integração do espaço nacional. Por fim, nos-
so último artigo irá tratar do caso específico da expansão
chinesa em infraestrutura pelo Oceano Índico, revelando
sua importância estratégica frente aos interesses geopo-
líticos deste Estado. O domínio desta área significa para
qualquer Estado um grande incremento em sua capaci-
dade de projeção de poder através do continente asiáti-
co, podendo inclusive alcançar a Europa em última ins-
tância. Sendo assim, percebe-se que os projetos de infra-
estrutura patrocinados por Pequim ao longo do Oceano
Índico acabam por formar um “Colar de Pérolas” que
constringe este espaço. Em conseguinte, a China expan-
de sua influência na região em detrimento de outros ato-
res regionais. Então, nota-se que estes investimentos
chineses não possuem uma racionalidade apenas econô-
mica, mas também geopolítica e estratégica. Dessa ma-
neira, ao ponto que o cerco chinês neste espaço se torna
mais intenso, Estados como a Índia buscam, similarmen-
te, expandir sua influência regional inclusive promoven-
do a cooperação nas áreas de segurança e defesa com
nações extra regionais, como os EUA. Portanto, cada vez
mais o Oceano Índico se transforma num tabuleiro geo-
político complexo, de relevância global e marcado pela
alta tensão política e militar. Assim, para a efetivação
desta pesquisa adotar-se-á uma perspectiva sistêmica
pautada pela geopolítica e pela teoria Realista das Rela-
ções Internacionais, de forma a construir um prisma teó-
rico-metodológico por onde devem ser interpretados os
dados e resultados levantados pelo trabalho. E que, con-
sequentemente, permitirá elencar as conclusões desta
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
64
pesquisa de forma a contribuir para o debate acerca da
importância geopolítica deste espaço para os objetivos
de acumulo de poder da China.
Ivan Corbelino neto
Internacionalização da Moeda Chinesa na América Latina:
Aumento do Poder Monetário da Região
Resumo: Este trabalho se foca em construir o pensamen-
to segundo as etapas de internacionalização do RMB já
cumpridas pelo governo chinês e dedicar esforço especi-
al para detalhar e entender de que maneira a relação
entre China e a América Latina contribui para o alcance
desse objetivo. Em outras palavras, essa pesquisa tem
por objetivo principal acompanhar o processo de amplia-
ção do uso da moeda chinesa (internacionalização) na
América Latina. Por objetivos específicos, busca-se: com-
preender o que é internacionalização de uma moeda e
sua relação com poder monetário; apontar as políticas
que a China vem tomando para ampliar o uso de sua
moeda em alguns países da América Latina, e acompa-
nhar as estatísticas referentes ao aumento
do uso do RMB em países como Brasil, Argentina, Chile e
México.
João Paulo Cavazzani Bosso
As Mudanças das Propostas Macroeconômicas do Início
do Governo Lula e a Influência da Vulnerabilidade Externa
Coautor(es): Suzanne Pedroza Alves Silva, Rafael de Souza
Milke, Paola Schuler Marostica
Resumo: O regime financeiro internacional contemporâ-
neo tornou a possibilidade de eleição de governantes
populares um perigo ainda maior para as movimenta-
ções do capital privado. Nesse contexto, a candidatura à
Presidência da República de Luís Inácio Lula da Silva re-
presentava uma ameaça aos investidores internacionais,
os quais responderam com fuga de investimentos inter-
nacionais em território brasileiro. Em resposta, o candi-
dato Lula precisou alterar suas propostas de governo.
Assim, manutenção das políticas econômicas adotadas
pelos governos anteriores (ou seja, o tripé macroeconô-
mico) demonstra a submissão da política nacional às exi-
gências da ordem internacional e, principalmente, do
regime da desregulamentação financeira, representado
pelo FMI, embora, após recuperar a confiança dos mer-
cados, o governo iniciou um período de menor austeri-
dade econômica, com uma consequente redução de de-
sigualdade social no Brasil. A pesquisa busca, portanto,
analisar as alterações ocorridas nas políticas econômicas
adotadas durante os anos iniciais do primeiro mandato
do presidente Luís Inácio Lula da Silva e suas motivações
frente à vulnerabilidade externa.
João Paulo Hernandes Teodoro
E.U and U.S. preferential trade and investment agree-
ments: implications for Intellectual Property Rights stand-
ard-setting in Latin America and the Caribbean
Coautor(es): Yi Shin Tang
Resumo: Preferential trade and investments agreements
have proliferated, turning fragmentation into a crucial
feature of the international legal landscape. Both the
U.S. and the E.U. have signed several trade and invest-
ment preferential agreements with smaller economies,
and most U.S. and E.U. partners in such agreements are
in Latin America and the Caribbean. This article evaluates
to what extent the intellectual property rights (IPRs)
preferentially established by the E.U. and the U.S. with
Latin American and Caribbean countries through trade
and investment preferential trade agreements differ
from the multilateral trade-related IPRs standard, the
TRIPS Agreement. It also assesses the differences be-
tween the E.U. and the U.S.’ approaches to IPRs in pref-
erential agreements, which of these two actors have im-
pacted IPRs in more countries in Latin America and the
Caribbean, and to what extent these IPRs preferentially
negotiated with the U.S. and the E.U. raise the level of
the international commitments on IPRs of the Latin
American and Caribbean signatories.
João Victor Coutinho de Carvalho
A ordem neoliberal do sistema internacional e a extraterri-
torialidade do capital pós-sistema de Bretton Woods
Resumo: Este trabalho busca analisar as mudanças na or-
ganização do sistema financeiro internacional após a cri-
se do sistema de Bretton Woods, mostrando como este
se mantém através de um discurso neoliberal adotado
pelas grandes potências econômicas e pelas instituições
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
65
oriundas das conferências de Bretton Woods ( Banco
Mundial e Fundo Monetário Internacional) e pelas orien-
tações do Consenso de Washington. Procura-se discutir
as discrepâncias nos benefícios conseguidos por diferen-
tes países com a atual configuração da economia mundi-
al e o impacto destas mudanças para os países em busca
do desenvolvimento e como afetam a qualidade de vida
da população. Primeiramente, serão discutidas as ori-
gens deste sistema que emerge com o colapso da parida-
de dólar/ouro nos anos 1970 e quais suas novas dinâmi-
cas de funcionamento. Depois será analisado o discurso
legitimador de tal sistema, tendo como base o exercício
do poder através do discurso e como este ordena as rela-
ções econômicas e políticas no atual cenário internacio-
nal. Adiante, serão discutidas as consequências da globa-
lização, estimulada pelas novas dinâmicas de mercado, e
suas contradições. A metodologia a ser utilizada será a
análise bibliográfica e análise de discursos proferidos por
lideranças de importantes atores do sistema financeiro
internacional, como chefes de estado, lideranças de insti-
tuições internacionais atuantes na área e diretores de
importantes empresas. É importante fazer reflexões so-
bre os rumos tomados pelas economias e os modelos de
desenvolvimento apresentados aos países para que se
possa traçar melhores estratégias de desenvolvimento e
melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. O trabalho
baseia-se em análises históricas sobre as mudanças pós-
Bretton Woods, como a análise de François Chesnay.
Também será de grande importância os pensamentos de
Michel Foulcault acerca do discurso e do poder e as con-
siderações de Zygmunt Bauman e outros autores que
contribuíram na compreensão do processo de globaliza-
ção e suas consequências humanas.
João Victor Guimarães Costa
A Nova Rota da Seda: Implicações Geopolíticas e mudan-
ças no Padrão de Acumulação Chinês
Trabalho Completo
Resumo: Durante as últimas décadas a China liderou os
rankings de crescimento econômico no mundo e deslo-
cou o eixo geoeconômico da acumulação do sistema
mundial. Com o esgotamento do seu padrão de acumu-
lação e tendo como marco a crise de 2008, a “Belt and
Road Initiative” projeta o país externamente numa tenta-
tiva de conectar quatro pontos: (i) o fortalecimento do
componente de consumo interno da demanda agregada
em contraposição à relação virtuosa entre investimento
e comércio exterior que impulsionou o regime de acu-
mulação chinês; (ii) a estratégia de catch up tecnológico
em setores considerados chave e consequente subida
nas cadeias globais de valor; (iii) a exportação de capitais
e internacionalização do renminbi; e (iv) o combate a
obstáculos internos de fragmentação territorial e hetero-
geneidade estrutural aliado a um reposicionamento geo-
político no tabuleiro euroasiático. Nesse contexto a Nova
Rota da Seda pode ser considerada não apenas um divi-
sor de águas em termos de política externa chinesa, co-
mo um ponto de inflexão na trajetória de desenvolvi-
mento do país. Para fazer as conexões necessárias entre
os temas fundamentais associados à Nova Rota da Seda
pretendemos resgatar as contribuições da visão Estrutu-
ralista para entender as mudanças estruturais associadas
ao desenvolvimento chinês, além da Economia Política
no que diz respeito ao processo de acumulação chinês e
seus distintos padrões. Para o ponto (ii) valorizamos os
estudos sobre as políticas de fomento à ascensão chine-
sa nas Cadeias Globais e seus resultados mais recentes.
Destacaremos também a internacionalização do renmin-
bi tendo como base uma literatura de matriz heterodoxa
que discute a evolução do sistema financeiro chinês en-
tendendo-a como um processo de exportação de capital
associado a uma projeção de poder na disputa interesta-
tal capitalista. Por fim, tendo em vista os desafios inter-
nos chineses analisaremos uma literatura precursora da
geopolítica que discute a questão da integração do espa-
ço nacional.
Joel Menezes Barreto Junior
O regionalismo latino-americano na década de 1950: um
olhar sob a perspectiva de Briceño Ruiz
Coautor(es): Armstrong Pereira da Silva
Resumo: O estudo da história dos processos de integração
estabelecidos na América Latina e no Caribe, a partir da
metade do século XX, mostra-nos uma permanente dis-
puta entre modelos de regionalismo, desenvolvimento e
visões de mundo. Político-economicamente, ora sobres-
saiu-se um estilo de inserção internacional mais aberto,
pautado em uma visão de mundo economicamente mais
liberal e em um modelo de desenvolvimento hacia afue-
ra; ora prevaleceu uma inserção internacional mais fe-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
66
chada; fundamentada em uma visão de mundo economi-
camente mais protecionista e em um modelo de desen-
volvimento hacia adientro. Partindo do pressuposto de
que a história do regionalismo latino-americano é – e
sempre foi – marcada por esses paradigmas, o presente
trabalho tem por objetivo refletir sobre esse processo no
contexto pós Segunda Guerra Mundial, em especial, na
década de 1950. Buscar-se-á retrata-lo como algo além
de uma mera estratagema econômica de integração re-
gional. Metodologicamente, esse estudo, de caráter qua-
litativo e natureza descritiva, fará uma revisão de litera-
tura das obras de Briceño Ruiz por entender que ele
avança teoricamente no sentido de agregar um olhar
político à esse fenômeno, levando em conta os condicio-
nantes da conjuntura internacional, hemisférica e regio-
nal da época. Defende-se que essa foi uma estratégia
política dos Estados latino-americanos com objetivo mai-
or de alterar a sua inserção na nova ordem mundial
emergente, marcada pelo contexto de reconstrução das
economias abaladas pela guerra, pela supremacia hemis-
férica dos Estados Unidos, pelo surgimento de governos
nacionais-populistas na América Latina e pelo floresci-
mento da Guerra Fria.
Juliana Peixoto Batista
El Mercosur en el nuevo escenario político regional: más
allá de la coyuntura
Trabalho Completo
Resumo: En medio de los recientes cambios en los contex-
tos político y económico en América del Sur, este trabajo
se dedica a analizar los desafíos del Mercosur para discu-
tir la “supervivencia” del bloque regional, sus límites y
posibilidades. Se sostiene que el Mercosur es un proceso
complejo y muestra características híbridas desde su
concepción. Por un lado, no puede ser identificado del
todo con el regionalismo abierto, paradigma predomi-
nante al momento de su creación, pero por otro lado, la
definición de regionalismo posthegemónico tampoco es
del todo adecuada para definir los cambios ocurridos en
el bloque desde 2003. En ese sentido, el bloque posee
una dinámica propia —fuertemente determinada por la
alianza estratégica entre Argentina y Brasil y por varia-
bles estructurales como las asimetrías en el tamaño de
los mercados, el desarrollo y la diversificación del tejido
productivo, el nivel de vulnerabilidad a shocks e interfe-
rencias externas— que se ve influenciada solo parcial-
mente por los ciclos políticos, diferentes y contrapues-
tos, vividos por el bloque desde su creación. Para obser-
var los cambios y continuidades que dan cuenta de esa
característica híbrida que posee el Mercosur y cómo se
planta el bloque de cara a los recientes desafíos, se anali-
zan agendas comerciales y sociales.
Karolina Yanina Severino de Carvalho
"Década perdida" e superação tecnológica: uma análise
da divergência Brasil-Coreia do Sul.
Resumo: O presente trabalho busca analisar as diferenças
entre a trajetória das áreas periféricas asiáticas e da
América Latina, sobretudo a experiência brasileira e Sul-
coreana. Isto posto, investiga as razões econômicas e
geopolíticas que atravessam o moderno desenvolvimen-
to capitalista da Coreia do Sul, utilizando o conceito de
“desenvolvimento a convite” para elucidar a gênese des-
ses processos no período da guerra fria (MEDEIROS,
1998). A análise está centrada, principalmente, nas
transformações ocorridas na economia a partir dos anos
80, sublinha o efeito do acordo de Plaza na redefinição
da performance asiática e o papel dos EUA como núcleo
dinâmico da expansão desse período (ARRIGHI,1994).
Neste mesmo período, a América Latina, afetada pelo
choque do petróleo e das taxas de juros internacionais,
vivencia o desafio de superar a “década perdida” e rein-
serir-se na dinâmica mundial, essa fase assinala uma re-
definição da trajetória regional. Os alicerces para a com-
preensão da região e seus desafios, neste trabalho, são
as construções teóricas do estruturalismo latino america-
no, especialmente a interpretação do subdesenvolvi-
mento feita por Celso Furtado (1961), e o ciclo do pensa-
mento desenvolvimentista brasileiro BIELSCHO-
WSKY,1988).Além disso, a posição da região a partir do
pós-guerra é entendida pela análise comparada ao Leste
Asiático, o paradigma de Gansos Voadores e Patos Vul-
neráveis (PALMA, 2004), que orienta uma reflexão sobre
o papel da liderança e da dinâmica regional, além da sua
influência na estrutura produtiva, e no caráter da com-
plementariedade das economias. Por fim, o exame desse
paradigma é fundamental para o entendimento da trans-
formação da economia sul coreana, e atual configuração
de poder nos locus analisados. Também, num contexto
de capitalismo informacional e das economias de inova-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
67
ção e conhecimento, conduz uma reflexão acerca da de-
sigualdade no Sistema-mundo (WALLERSTEIN,1998),
compreendendo a distensão da fronteira entre o Centro
e a Periferia do Sistema sob o referencial econômico,
geopolítico e institucional.
Kívia Vilarim Pereira dos Santos
O Brasil e a cooperação Sul-Sul: a política externa brasilei-
ra para a constituição e consolidação do Banco dos BRICS
Coautor(es): Ana Elisa Rola Rodrigues, Milena Milhomem
Santos Machado
Resumo: O presente artigo se propõe a apresentar a atu-
ação do Brasil no processo de constituição do Banco dos
BRICS através do multilateralismo e a cooperação Sul-Sul.
A construção do BRICS não se configura somente como
uma aliança geopolítica e nem uma organização interna-
cional, pode ser descrita, então, como um foro político-
diplomático que tem como base o alinhamento e a coo-
peração entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
O banco dos BRICS, NBD, instituiu-se através de uma ini-
ciativa comum entre os países membros, com o objetivo
de tornar mais pragmáticos os encaminhamentos da co-
operação no âmbito do grupo. Através da análise dos
documentos oficiais e do perfil da elite burocrática do
NBD, pretendemos avaliar o comportamento do Banco
junto aos projetos de desenvolvimento financiados e
seus reflexos na política externa brasileira.
Laerte Apolinário Júnior
Por que o Brasil fornece ajuda externa e para quem? Uma
análise dos padrões de alocação da Cooperação Técnica
Brasileira
Trabalho Completo
Resumo: Ao longo do último século, o Brasil foi basica-
mente um receptor de ajuda internacional. Nas últimas
décadas, entretanto, o país vem se firmando como um
doador de recursos para países subdesenvolvidos. Mas
por que um país em desenvolvimento com graves pro-
blemas socioeconômicos forneceria assistência no cená-
rio internacional? Por um lado, o discurso oficial é o de
que a ajuda fornecida pelo Brasil se sustenta em ideais
de solidariedade e no intercâmbio de experiências co-
muns não possuindo interesses materiais. Por outro,
analistas apontam para motivações políticas e econômi-
cas em sua execução. Essa pesquisa busca contribuir
com esse debate por meio de uma análise empírica iné-
dita acerca dos padrões de alocação dos gastos com pro-
jetos de Cooperação Técnica (CT) realizados pelo Brasil
entre os anos de 2000 e 2016. Foi analisada a relação
entre os gastos com CT bilateral e variáveis econômicas e
políticas referentes aos interesses geopolíticos brasilei-
ros no cenário internacional e variáveis socioeconômicas
referentes aos países receptores. Os resultados prelimi-
nares indicam uma maior correlação entre a cooperação
brasileira e variáveis referentes aos interesses econômi-
cos e políticos, como empréstimos subsidiados via
BNDES para internacionalização de empresas brasileiras,
exportações e apoio político dos receptores ao Brasil em
Organizações Internacionais, do que em relação às ne-
cessidades dos receptores.
Lahissa da Silva Pereira
Korean Wave: Estratégia de Soft Power Público-privada
Resumo: A crise financeira asiática de 1997 abalou seria-
mente a Coreia do Sul, que presenciou um declínio no
PIB, implicando diretamente na desvalorização de sua
moeda e na queda excessiva nos preços em seu mercado
acionário. Nesse país, especificamente, a crise foi de
grandes proporções e acarretou a ruína geral do setor
empresarial, encaminhando várias empresas à falência e
impulsionando o aumento do número de suicídios devi-
do a queda do consumo interno e o crescimento do de-
semprego. Visando findar o “middle income trap” no
qual se encontrava e modalizar a economia, o país dili-
genciou-se a subsidiar os serviços, a indústria criativa e
também o mercado cultural. O consumo do entreteni-
mento é um projeto de estado, que associado ao capital
privado, que utilizou a mesma estratégia de dissemina-
ção dos chaebols para difundir a cultura coreana interna-
cionalmente. Esse projeto foi beneficiado pela globaliza-
ção neoliberal, por meio de uma série de iniciativas pú-
blicas, desde o turismo até a atração de estudantes in-
ternacionais, a fim de tornar o país uma marca a ser co-
mercializada através do imaginário midiático. A esse pro-
cesso se deu o nome de Korean Wave. O presente traba-
lho tem por objetivo explicar, baseando-se na teoria de
Joseph Nye e nas releituras que trazem o soft power com
um foco maior na questão do conceito de diplomacia
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
68
cultural. Como esse poderio sul coreano fez-se valer ma-
terializando-se na Hallyu. Espera-se demonstrar que essa
estratégia de soft power e a onda coreana guiou e pro-
longou o crescimento do país para além da crise fazendo
com que ao passar dos anos o estilo de vida coreano pu-
desse ser comercializável principalmente no mercado
fonográfico e cinematográfico. E além disso criou uma
nova identidade nacional que construiu a imagem de
parceiro confiável e atrativo da Coreia do Sul para o
mundo.
Leon Nazaré da Cruz
A Política Internacional Agrícola da China na África
Coautor(es): Mario Miguel Amin
Trabalho Completo
Resumo: A China ganha cada vez mais atenção do cená-
rio internacional com sua atuação e crescimento econô-
mico notório. Contudo, ao mesmo tempo em que desfru-
ta de uma posição estratégica na arena internacional,
possui uma demanda crescente por alimentos e grave
carência de recursos naturais fundamentais para a pro-
dução alimentar: terra e água. Dessa forma, percebe-se
uma aproximação da China com a África, que é um conti-
nente que possui abundantes recursos naturais, grande
escala de terras inexploradas e baixos níveis de produti-
vidade de alimentos, favorecendo as aquisições de terras
em larga escala por parte das empresas chinesas de
agronegócio. O objetivo deste trabalho é analisar esta
política internacional da China na África, que busca suprir
necessidades internas chinesas diante a escassez de re-
cursos naturais. A metodologia incidirá em uma pesquisa
qualitativa de base bibliográfica e documental sobre as
compras de terras na África e a inserção chinesa no con-
tinente africano. Os resultados mostram que a política
internacional da China na África de compras de terras é
baseada no soft power e no multilateralismo e tem sido
um importante instrumento para atrair os países africa-
nos, assegurar recursos limitados eu seu território e fa-
zer canais de diálogo para a entrada das empresas esta-
tais e multinacionais na África.
Leonardo Agrello Madruga
Os Povos Indígenas e o Estado brasileiro: reflexões sobre o
desenvolvimento e as propostas do Bem Viver
Resumo: O objetivo deste artigo é discutir algumas das
violências sofridas pelos povos indígenas no Brasil, argu-
mentando sua ocorrência, sobretudo, pela lógica do de-
senvolvimento capitalista apoiada pelo Estado brasileiro
e suas ações em prejuízo dessa parte da população. Em
primeiro momento, aborda-se, brevemente, a constru-
ção do conceito de desenvolvimento sob o seio do capi-
talismo durante o século XX e, portanto, os elementos
basilares que passariam a guiar sua persecução. Logo
após, faz-se uma análise sobre as práticas, no Brasil, se-
jam elas patrocinadas diretamente pelo Estado ou de
iniciativas privadas com sua transigência, em nome desse
desenvolvimento e como elas têm impactado os povos
indígenas que vivem no território do país. Ao fim, são
apresentados os conceitos que envolvem e fundamen-
tam a ideia do “Bem Viver”, promovendo algumas refle-
xões acerca de suas propostas e como impactam ou aju-
dam a pensar a situação dos povos indígenas no Brasil.
Leonardo Souza Campos Rodrigues
A preparação do Brasil para a Agenda 2030: indústrias
sustentáveis e inclusivas, políticas públicas e relações in-
ternacionais
Resumo: A pesquisa enfocou a compreensão da temática
industrial dentro da Agenda 2030 para o Desenvolvimen-
to Sustentável – na atuação brasileira a respeito do Obje-
tivo de Desenvolvimento Sustentável 9 (ODS 9). O traba-
lho empregou um método qualitativo, mediante revisão
bibliográfica sobre o tema, seguida de análise de docu-
mentos oficiais. Enfocou-se a industrialização, a evolução
do capitalismo e seus impactos sobre o desenvolvimento
dos países nas relações internacionais aproveitando-se o
recorte do pensamento clássico da Economia Política
Internacional entre liberais, marxistas e nacionalistas
(Gilpin 1987). Além disso, documentos oficiais tais como
a Declaração de Lima de 2013 e o Relatório Anual da Or-
ganização das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Industrial foram analisados a fim de entender como a
indústria se tornou parte do discurso de desenvolvimen-
to sustentável. Buscou, ainda, explicar como, em um
contexto de cultura anárquica lockeana, a mudança de
entendimentos compartilhados – a partir de publicações
na área da sustentabilidade – engendraram um regime
internacional de desenvolvimento sustentável. Da mes-
ma forma, procurou-se olhar para a internalização do
debate nas correntes política públicas brasileiras na área.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
69
Com base nisto, avaliou-se o encaixe da temática indus-
trial na Agenda 2030 e as ações brasileiras para o suces-
so do ODS 9. O trabalho, então, apresenta três resulta-
dos: i) a ausência do conceito de sustentabilidade, princi-
palmente em sua interligação com as indústrias, no pen-
samento clássico em Economia Política Internacional, em
relação ao conceito de capital natural (PEACER, 1989;
HAWKEN, LOVINS, LOVINS, 1999; ÅKERMAN, 2005) como
central na transição tanto dos modelos de produções
industriais, quanto do papel da indústria para a consecu-
ção do desenvolvimento sustentável; 2) um entendimen-
to mais adequado sobre a temática industrial na Agenda
2030, e; 3) a análise qualitativa das correntes de políticas
públicas brasileiras na área, observando suas inconsis-
tências e sucessos.
Letícia Figueiredo Ferreira
Filipinas: Os Desafios Internos e Externos Impostos pela
Geografia
Trabalho Completo
Resumo: A República das Filipinas sofre com um territó-
rio fragmentado, composto por 7.641 ilhas, o que dificul-
ta uma administração centralizada e coesa. Outrossim,
embora a população seja majoritariamente católica, o
país detém um número considerável de cidadãos muçul-
manos concentrados ao sul do arquipélago, tendo, nos
últimos anos, emergido confrontos entre as Forças Ar-
madas filipinas e grupos jihadistas afiliados ao Daesh. Por
outro lado, as Filipinas se inserem em uma região de pro-
jeção de poder dos Estados Unidos, do qual são ex-
colônia e dependem econômica e militarmente, e da
China, para quem o arquipélago é estratégico no trânsito
das suas importações e exportações pelo Mar do Sul da
China. A localidade envolve, ainda, disputas por posições
entre outros países, como Rússia e Japão, da qual o go-
verno filipino tem tirado proveito através de uma política
de barganha. O objetivo deste trabalho é analisar a in-
fluência da geografia sobre as limitações e potencialida-
des das políticas doméstica e externa filipinas. No âmbito
interno, o território insu-lar fragmentado impõe restri-
ções à circulação, integração e defesa contra ameaças
internas, como grupos separatistas e religiosos extremis-
tas, e externas, tal qual o crime trans-nacional, obstaculi-
zando um controle estatal efetivo. Já no externo, sua
localização no atual tabuleiro de maior rivalidade entre
as grandes potências confina a estratégia nacional filipi-
na. Parte-se das obras de Renouvin & Duroselle (1967),
Lacoste (1988) e Kaplan (2012) para debater como os
fatores geográficos influem sobre a organização político-
econômica de um território e de que forma esses cons-
trangem ou impulsionam estratégias de acumulação de
poder e riqueza. Simultaneamente, recorre-se à teoria
do Poder Global de Fiori (2007) para examinar a compe-
tição interestatal no Sudeste Asiático e o papel das Filipi-
nas nesse enfrentamento. Espera-se evidenciar até que
ponto a posição geográfica relativa filipina avilta sua so-
berania interna e a consecução de uma política externa
autônoma.
Letícia Maria Rodrigues de Souza
Banco Mundial e Golpes na América Latina: Análise dos
Casos Brasileiro e Paraguaio.
Resumo: Passamos atualmente por um processo de crise
democrática na América Latina. O Paraguai presenciou
em 2012 a deposição do presidente Fernando Lugo após
um processo de impeachment que durou pouco mais de
24 horas. O mesmo foi considerado ilegítimo pela Comis-
são Interamericana de Direitos Humanos e por diversos
Estados integrantes do Mercosul e da Unasul, gerando
uma crise diplomática na região e também fora dela.
Mais recentemente, em 2016, a presidenta brasileira
Dilma Rousseff também sofre um processo controverso
de cassação de seu mandato após denúncias de corrup-
ção e crime de responsabilidade ocorridos em seu gover-
no. Atualmente se especula a mudança no teor das con-
dicionalidades e recomendações feitas por instituições
como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Inter-
nacional (FMI) a países latino americanos após as supra-
citadas destituições, consideradas por muitos como gol-
pes de Estado. O trabalho terá por objetivo analisar tal
mudança a partir dos relatórios-país realizados pelo Ban-
co Mundial (BM). Investiga-se o fortalecimento de um
discurso econômico neoliberal nas recomendações do
Banco para tais países após os golpes de Estado ocorri-
dos. Para tanto, investigar-se-á primeiramente, a partir
de uma perspectiva pós-colonial, os processos de impe-
achment dos dois presidentes supracitados, assim como
uma possível ingerência externa nos mesmos, levando
em consideração o histórico de intervenções nos territó-
rios e política latino-americanos. Finalmente se avaliará
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
70
o discurso do Banco Mundial para com o Brasil e o Para-
guai antes e depois dos golpes de Estado. A partir dos
relatórios-país realizados pela instituição, será investiga-
da uma mudança no teor das suas recomendações para
as agendas econômicas brasileira e paraguaia subse-
quentemente às rupturas na ordem constitucional, de
modo a descobrir se ocorre ou não um expansão da
agenda neoliberal nestes países a partir de recomenda-
ções externas.
Lia Cecilia Baker Fonseca Valls Pereira
Protecionismo nos Estados Unidos: uma comparação dos
anos de 1980 e o governo Trump
Trabalho Completo
Resumo: O anúncio/adoção de medidas protecionistas
pelo Presidente dos Estados Unidos Donald Trump desde
o início do seu mandato em 2017 tem suscitado um de-
bate sobre seus efeitos na ordem do comércio mundial
num contexto de fragilidade do sistema multilateral
(Organização Mundial do Comércio, OMC). Nos anos de
1980, os Estados Unidos lideraram a onda do “novo pro-
tecionismo” num período onde se debatia a falência do
sistema GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio). O
Presidente Trump defende o protecionismo como meca-
nismo de defesa dos empregos dos cidadãos estaduni-
denses e aponta como o principal culpado, a China. O
Presidente Reagan nos anos de 1980 elegeu o Japão co-
mo o principal concorrente que competia deslealmente
com os Estados Unidos. Em 1986 foi iniciada a Rodada
Uruguai que avançou numa agenda liderada pelos Esta-
dos Unidos e termina em 1994 com a criação da OMC. O
discurso de Trump é de irrelevância do sistema multilate-
ral e o seu protecionismo é para assegurar “American
First”. Em adição, a principal diferença entre os dois mo-
mentos é o “rival dos Estados Unidos”. A China é o maior
exportador mundial, a segunda ou primeira maior econo-
mia mundial dependendo da métrica usada, uma potên-
cia nuclear com a maior população do mundo e com a
presença em seu território de elos importantes das ca-
deias de valor de produção de capital estadunidense. O
artigo analisa a política comercial dos Estados Unidos
nesses dois momentos considerando os condicionantes
políticos/econômicos domésticos e externos. Nos anos
de 1980, havia um maior consenso entre os diversos se-
tores industrias e trabalhadores da adoção das medidas
protecionistas, o que não ocorre no governo Trump. Por
outro lado, não há iniciativas para fortalecer o sistema
multilateral. O artigo propõe um quadro referencial teó-
rico e analítico para uma análise do acirramento do pro-
tecionismo dos Estados Unidos nesses dois períodos.
Marcelo Pereira Fernandes
Sobre o Suposto imperialismo chinês
Coautor(es): Rubia Cristina Wegner
Trabalho Completo
Resumo: Um dos traços mais marcantes da economia
mundial refere-se ao rápido desenvolvimento econômico
da China desde a vitória da revolução em 1949, e parti-
cularmente a partir das reformas em 1978. A presença
de investimentos chineses em várias partes do mundo,
em especial em economias periféricas é objeto de con-
trovérsias. Entre elas a suposição que a China se tornou
um país imperialista e daí a exploração de países subde-
senvolvidos e pobres. Nesta visão, a China seria um típi-
co país capitalista que estaria inundando os países com
suas mercadorias, e se desenvolvendo a partir da explo-
ração de mão de obra a baixo custo e de recursos natu-
rais, sobretudo das econonomias periféricas por uma
burguesia interna cada vez mais abastada. O imperialis-
mo é um conceito nem sempre utilizado com o devido
rigor. A disseminação do conceito relacionado à explora-
ção dos países pobres pelos países centrais ajudou a em-
pobrecer o próprio estudo sobre o tema que na sua ori-
gem também estava relacionado a disputa entre países
centrais e o papel do capítal financeiro. O objetivo deste
artigo é analisar a recente expansão chinesa e verificar se
ela se insere na concepção leninista de imperialismo que
nós consideramos mais adequada para explicar a atual
expansão do capitalismo. Assim sendo, a visão que de-
senvolveremos compreende que a China mantém a
construção do socialismo, ainda que com características
próprias e que, portanto, seu desenovolvimento não se
apresenta como imperialismo. Destacaremos que após a
débâcle do campo socialista, o isolamento significaria o
mesmo que renunciar ao desenvolvimento e à constru-
ção do socialismo. Por isso, a China não tinha outro cami-
nho a não ser inserir no sistema internacional como for-
ma de reduzir a distância econômica das potências oci-
dentais. Todavia, a China também teve que enfrentar
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
71
certas intempéries do sistema, conforme novos desafios
foram se apresentando ao desenvolvimento.
Maria Caramez Carlotto
Indústria 4.0 e as novas dimensões tecnológicas no centro
da economia-mundo capitalista: quais os desafios para o
Brasil e para a América Latina?
Coautor(es): Hermes Moreira Jr
Resumo: Um novo debate está ganhando corpo na im-
prensa, academia, governos e grandes corporações
transnacionais: a incorporação da inteligência artificial
nos processos produtivos industriais e nas empresas de
prestação de serviços. Alguns denominam essa incorpo-
ração de Indústria 4.0, outros de Segunda Era das Máqui-
nas, havendo também aqueles que a chamam de Quarta
Revolução Industrial ou Manufatura Avançada. A despei-
to da nomenclatura a ser considerada, percebe-se no
centro da economia-mundo capitalista uma intensa com-
petição para alcançar novos monopólios tecnológicos
que permitiriam controlar a maior parte do excedente
das cadeias mercantis globais. Esta competição envolve
Estados Unidos, Alemanha, China, Japão, Coreia do Sul,
França e Inglaterra, países que lideram esta nova etapa
do desenvolvimento científico-tecnológico. O resultante
reposicionamento dos países centrais nas cadeias mer-
cantis globais afetará diretamente as regiões periféricas
e semiperiféricas do sistema-mundo. Mas como o Brasil
e os demais países latino-americanos estão se posicio-
nando frente a onda de sofisticação tecnológica que se
desenvolve no centro da economia-mundo capitalista?
Além de procurar responder esta pergunta, este painel
também pretende esboçar avaliações do impacto das
novas dimensões tecnológicas para a indústria brasileira
e latino-americana, bem como sobre o mercado de tra-
balho e a estrutura social dos países da região. Palavras-
chave: Indústria 4.0; Inovação Tecnológica; Economia-
mundo capitalista;
María Florencia Poggi
La agenda audiovisual del Mercosur: desafíos detrás del
nuevo contexto político regional.
Trabalho Completo
Resumo: La celebración de los 25 años del Mercosur nos
propuso un espacio para reflexionar acerca de los logros
alcanzados y los desafíos con los que se enfrentará el
bloque en años venideros. Aunque la agenda audiovisual
ha conseguido instalarse institucionalmente en el bloque
y ello ha redundado en transformaciones positivas para
el espacio audiovisual en la región, sus logros se ven cier-
tamente amenazados en función de las transformaciones
políticas internas del Mercosur y por la culminación del
Programa Mercosur Audiovisual realizado en coopera-
ción técnico-financiera con la Unión Europea.
Tras la llegada a presidencia de Mauricio Macri y Michel
Temer, el interrogante que se abre es qué sucederá con
las agendas pos-liberales, surgidas al calor de la transfor-
mación del Mercosur después del 2003. ¿Sucumbirán
estas agendas a un nuevo embate neoliberal o lograrán
sobrevivir gracias al capital institucional que supieron
conseguir? En este artículo nos proponemos analizar el
curso de 13 años de agenda audiovisual en el Mercosur
y, aunque aún sea pronto para sacar conclusiones, anali-
zar cómo está repercutiendo en su desarrollo esta nueva
configuración política.
Mariana Queiroz Bordignon
Regime de Metas de Inflação no Brasil: Uma Comparação
Pós-Keynesiana com México e África do Sul
Resumo: O presente trabalho é um esforço comparativo
entre a forma de implementação do Regime de Metas de
Inflação (RMI) no Brasil, México e África do Sul. Partiu-se
da hipótese de que o RMI é apenas parcialmente compa-
tível com países emergentes e que chega a ser totalmen-
te incompatível quando há armadilha do financiamento
via conta capital, como no caso do Brasil. Essa incompati-
bilidade torna o custo da estabilidade de preços muito
mais alta do que deveria ser, comprometendo o cresci-
mento econômico e o nível de emprego. A teoria Pós-
Keynesiana é a base para a crítica já que seus pressupos-
tos são divergentes dos Novo-Clássicos, que embasam o
RMI. Os critérios a serem analisados foram o horizonte
temporal, banda, objetivos declarados, índice de referên-
cia, definição das metas, relatórios e histórico da infla-
ção, da taxa de juros, do crescimento do PIB e da fluidez
da taxa de câmbio. Por fim, concluiu-se que o Brasil é o
país que possui a maior inflação média, menor estabili-
dade de preços e maior taxa de juros, o que comprome-
te o crescimento econômico e o nível de emprego. Os
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
72
principais fatores que influenciam neste resultado são a
reprodução da armadilha do financiamento via conta
capital criada no Plano Real, a rigidez do RMI brasileiro, o
peso dos preços administrados no índice de preços, alto
pass-through e o enfraquecimento das políticas monetá-
rias a partir da Nova Matriz Econômica de 2012.
Mariano Ignacio Treacy
Intercambio comercial, integración productiva y división
regional del trabajo en la trama productiva automotriz del
MERCOSUR en la posconvertibilidad
Trabalho Completo
Resumo: La trama automotriz ha sido objeto de regíme-
nes especiales desde los años ’60 del pasado siglo, ele-
vándose como una de las más privilegiadas por la política
industrial nacional y regional. Con la consolidación del
MERCOSUR, se ha convertido a la vez en el sector insig-
nia de la integración regional y uno de los baluartes de la
integración productiva. Sin embargo, la integración de la
trama automotriz ha estado guiada en gran medida por
los intereses de las Empresas Transnacionales expresa-
dos en las estrategias de sus filiales, que han generado
un tipo de especialización dependiente. Pese al cambio
de época y de algunas iniciativas como la creación de los
Foros de Competitividad para las Cadenas Productivas
del MERCOSUR, los gobiernos progresistas no han logra-
do desarticular el tipo dependiente de integración pro-
ductiva regional. Lejos de promover una reducción de
asimetrías, un incremento de complementariedades y el
fomento de capacidades en actores locales, estas estra-
tegias han desarticulado cadenas productivas y reempla-
zado proveedores locales por internacionales, sin mejo-
rar los indicadores de contenido regional ni exportacio-
nes a países de extrazona. El objetivo del presente traba-
jo consiste en evaluar los avances y retrocesos en la inte-
gración productiva de la trama automotriz en el período
2002-2015. Para ello se realizará un análisis de las esta-
dísticas del comercio bilateral de la trama haciendo énfa-
sis en las características del comercio intraindustrial e
intrafirma (que pueden considerarse como proxys de la
integración productiva) comparándolo con el tipo de es-
pecialización productiva que rige a la trama con respecto
a sus importaciones de extrazona.
Mario Miguel Amin
A Política Internacional Agrícola da China na África
Coautor(es): Leon Nazaré da Cruz
Trabalho Completo
Resumo: A China ganha cada vez mais atenção do cená-
rio internacional com sua atuação e crescimento econô-
mico notório. Contudo, ao mesmo tempo em que desfru-
ta de uma posição estratégica na arena internacional,
possui uma demanda crescente por alimentos e grave
carência de recursos naturais fundamentais para a pro-
dução alimentar: terra e água. Dessa forma, percebe-se
uma aproximação da China com a África, que é um conti-
nente que possui abundantes recursos naturais, grande
escala de terras inexploradas e baixos níveis de produti-
vidade de alimentos, favorecendo as aquisições de terras
em larga escala por parte das empresas chinesas de
agronegócio. O objetivo deste trabalho é analisar esta
política internacional da China na África, que busca suprir
necessidades internas chinesas diante a escassez de re-
cursos naturais. A metodologia incidirá em uma pesquisa
qualitativa de base bibliográfica e documental sobre as
compras de terras na África e a inserção chinesa no con-
tinente africano. Os resultados mostram que a política
internacional da China na África de compras de terras é
baseada no soft power e no multilateralismo e tem sido
um importante instrumento para atrair os países africa-
nos, assegurar recursos limitados eu seu território e fa-
zer canais de diálogo para a entrada das empresas esta-
tais e multinacionais na África.
Mariana Queiroz Bordignon
Regime de Metas de Inflação no Brasil: Uma Comparação
Pós-Keynesiana com México e África do Sul
Resumo: O presente trabalho é um esforço comparativo
entre a forma de implementação do Regime de Metas de
Inflação (RMI) no Brasil, México e África do Sul. Partiu-se
da hipótese de que o RMI é apenas parcialmente compa-
tível com países emergentes e que chega a ser totalmen-
te incompatível quando há armadilha do financiamento
via conta capital, como no caso do Brasil. Essa incompati-
bilidade torna o custo da estabilidade de preços muito
mais alta do que deveria ser, comprometendo o cresci-
mento econômico e o nível de emprego. A teoria Pós-
Keynesiana é a base para a crítica já que seus pressupos-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
73
tos são divergentes dos Novo-Clássicos, que embasam o
RMI. Os critérios a serem analisados foram o horizonte
temporal, banda, objetivos declarados, índice de referên-
cia, definição das metas, relatórios e histórico da infla-
ção, da taxa de juros, do crescimento do PIB e da fluidez
da taxa de câmbio. Por fim, concluiu-se que o Brasil é o
país que possui a maior inflação média, menor estabili-
dade de preços e maior taxa de juros, o que comprome-
te o crescimento econômico e o nível de emprego. Os
principais fatores que influenciam neste resultado são a
reprodução da armadilha do financiamento via conta
capital criada no Plano Real, a rigidez do RMI brasileiro, o
peso dos preços administrados no índice de preços, alto
pass-through e o enfraquecimento das políticas monetá-
rias a partir da Nova Matriz Econômica de 2012.
Mariano Ignacio Treacy
Intercambio comercial, integración productiva y división
regional del trabajo en la trama productiva automotriz del
MERCOSUR en la posconvertibilidad
Trabalho Completo
Resumo: La trama automotriz ha sido objeto de regíme-
nes especiales desde los años ’60 del pasado siglo, ele-
vándose como una de las más privilegiadas por la política
industrial nacional y regional. Con la consolidación del
MERCOSUR, se ha convertido a la vez en el sector insig-
nia de la integración regional y uno de los baluartes de la
integración productiva. Sin embargo, la integración de la
trama automotriz ha estado guiada en gran medida por
los intereses de las Empresas Transnacionales expresa-
dos en las estrategias de sus filiales, que han generado
un tipo de especialización dependiente. Pese al cambio
de época y de algunas iniciativas como la creación de los
Foros de Competitividad para las Cadenas Productivas
del MERCOSUR, los gobiernos progresistas no han logra-
do desarticular el tipo dependiente de integración pro-
ductiva regional. Lejos de promover una reducción de
asimetrías, un incremento de complementariedades y el
fomento de capacidades en actores locales, estas estra-
tegias han desarticulado cadenas productivas y reempla-
zado proveedores locales por internacionales, sin mejo-
rar los indicadores de contenido regional ni exportacio-
nes a países de extrazona. El objetivo del presente traba-
jo consiste en evaluar los avances y retrocesos en la inte-
gración productiva de la trama automotriz en el período
2002-2015. Para ello se realizará un análisis de las esta-
dísticas del comercio bilateral de la trama haciendo énfa-
sis en las características del comercio intraindustrial e
intrafirma (que pueden considerarse como proxys de la
integración productiva) comparándolo con el tipo de es-
pecialización productiva que rige a la trama con respecto
a sus importaciones de extrazona.
Mario Miguel Amin
A Política Internacional Agrícola da China na África
Coautor(es): Leon Nazaré da Cruz
Trabalho Completo
Resumo: A China ganha cada vez mais atenção do cenário
internacional com sua atuação e crescimento econômico
notório. Contudo, ao mesmo tempo em que desfruta de
uma posição estratégica na arena internacional, possui
uma demanda crescente por alimentos e grave carência
de recursos naturais fundamentais para a produção ali-
mentar: terra e água. Dessa forma, percebe-se uma
aproximação da China com a África, que é um continente
que possui abundantes recursos naturais, grande escala
de terras inexploradas e baixos níveis de produtividade
de alimentos, favorecendo as aquisições de terras em
larga escala por parte das empresas chinesas de agrone-
gócio. O objetivo deste trabalho é analisar esta política
internacional da China na África, que busca suprir neces-
sidades internas chinesas diante a escassez de recursos
naturais. A metodologia incidirá em uma pesquisa quali-
tativa de base bibliográfica e documental sobre as com-
pras de terras na África e a inserção chinesa no continen-
te africano. Os resultados mostram que a política inter-
nacional da China na África de compras de terras é base-
ada no soft power e no multilateralismo e tem sido um
importante instrumento para atrair os países africanos,
assegurar recursos limitados eu seu território e fazer ca-
nais de diálogo para a entrada das empresas estatais e
multinacionais na África.
Marta Cerqueira Melo
Dinâmica contemporânea de expansão do capital na Amé-
rica Latina: uma proposta de abordagem teórica
Trabalho Completo
Resumo: Resumo: O objetivo deste trabalho consiste em
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
74
estabelecer um corpus teórico, um modelo de análise
que favoreça a compreensão da dinâmica contemporâ-
nea de expansão do capital no espaço/tempo do sistema
-mundo moderno/colonial. Sobretudo os elementos his-
tóricos e conceituais que tratam de explicar a inserção
subordinada da América Latina na economia-mundo ca-
pitalista, bem como as implicações sociopolíticas desse
processo e suas atuais problemáticas-chave. Do ponto de
vista metodológico, o primeiro movimento será o de de-
finir as escalas espaciais através da qual abordaremos a
dinâmica de expansão do capital na região. Neste artigo,
a análise está concentrada na escala da economia-
mundo capitalista. Pode-se compreender a dinâmica de
expansão do capital na América Latina, tomada em esca-
la da economia-mundo, como um fenômeno ancorado
na primeira partilha realizada pela Europa do mundo a
partir de fins do século XV e a subsequente conformação
do circuito comercial do Atlântico, mas que só aparece
enquanto tal a partir do século XIX. A sua aparição está
relacionada aos processos de formação do sistema de
divisão internacional do trabalho, de industrialização tar-
dia vivido pelas nações que se industrializaram ainda no
século XIX após a Inglaterra e à consolidação de um cir-
cuito econômico mundial baseado predominantemente
na exportação de capitais e no capital monopolista. Este
momento traz à tona a natureza imperialista da econo-
mia capitalista, o que - dada a histórica inserção interna-
cional dos países latino-americanos - adiciona ao campo
da economia política internacional questões de natureza
geopolítica, espaço-temporais e socioculturais comple-
xas, demandando uma forma de abordagem que se per-
mita lidar adequadamente com esta complexidade. Esta,
pois, é a direção perseguida pela abordagem aqui pro-
posta.
Matheus Augusto Santos Oliveira
Impacto dos requisitos sanitários, fitossanitários e normas
técnicas nas exportações do agronegócio: produtos seleci-
onados
Resumo: Este estudo desenvolve uma análise da inserção
brasileira no comércio internacional com enfoque na
competitividade do agronegócio, que, nas últimas déca-
das, foi palco de grandes transformações. Desde o fim da
Rodada Uruguai e o estabelecimento da OMC, constituiu
-se uma série de acordos regionais e ratificaram-se com-
promissos para a liberalização do comércio, enquanto
mudanças na estrutura do comércio internacional pro-
moveram transformações nos processos comerciais, so-
bretudo no novo papel das commodities e do agronegó-
cio. Apesar dos diversos esforços de liberalização, perce-
be-se que o impacto relativo de medidas não-tarifárias é
crescente. Essas, sejam medidas de defesa da saúde hu-
mana e do meio ambiente, sejam barreiras utilizadas
como instrumento de política comercial, causam distor-
ções inevitáveis às dinâmicas de mercado. Além disso, há
de ser considerada a capacidade de uma medida de de-
fesa sanitária ou fitossanitária ser implementada como
instrumento disruptivo, por meio de critérios exacerba-
dos, taxas relacionadas a procedimentos de inspeção,
entre outras formas. Desse modo, este artigo analisa as
restrições de acesso a mercados enfrentadas pelo agro-
negócio nacional decorrentes de medidas não-tarifárias
vigentes em outros países. Além disso, discute o papel de
diversos acordos comerciais, quer envolvam o Brasil ou
não, sobre a harmonização dessas medidas e a promo-
ção da livre concorrência. Para tanto, este estudo de ca-
so do agronegócio nacional desenvolve uma análise com-
parativa de alguns produtos agropecuários selecionados,
por meio de um exame regulatório e institucional dos
principais atores inseridos nas cadeias globais desses
produtos. O estudo argumenta que a competitividade do
agronegócio nacional é prejudicada pela existência de
medidas não-tarifárias e de variações em sua aplicação,
não obstante a existência de padrões e acordos interna-
cionais.
Mauricio Metri
As Disputas Monetárias no Século XXI
Trabalho Completo
Resumo: O Século XXI tem sido marcado por um acirra-
mento das relações entre as grandes potências, sobretu-
do Estados Unidos, China e Rússia. A principal razão disso
tem sido a crescente projeção militar dos Estados Unidos
nesse início de século na Europa Central, por meio da
expansão da OTAN, no Grande Médio Oriente depois das
Guerras do Iraque, Afeganistão e Síria, e no Mar do Sul
da China, em razão das acusações relativos à Coréia do
Norte. Rússia e China têm respondido a essas de diferen-
tes formas. Dentre elas, xxx
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
75
Michelle Ratton Sanchez Badin
The recent Chinese approach to Brazil: caqdas mapping of
the bilateral regulatory frameworks
Resumo: The paper analyses the international legal instru-
ments that has supported the increase of economic
transactions between Brazil and China in the last years.
China has increased its importance to Latin American
economies since the beginnings of the 2000s. Iglesias
argue that this approach was due to the failure of neolib-
eral policies in the region, the economic growth of China,
and to the boom of commodities (IGLESIAS 2015, p. 7). In
the case of Brazil, China has particularly benefited of the
current economic crises in the country as from 2016,
assuming a leading position in trade and investment
flows to Brazil. There is a hypothesis of a close connec-
tion between investment-finance-trade, as certain com-
modities have been used in collateral agreements to
guarantee the loans to investment operations. Although
China has signed many standard trade and investment
agreements, this has not been the case with Brazil. Other
types of bilateral instruments have regulated Brazil-China
relation: cooperation agreements; memorandums of
understanding; strategic partnership plans etc. These
legal instruments not usually analyzed by IEL works have
been the drivers of other South-South economic rela-
tions (SANCHEZ-BADIN and MOROSINI 2016; CORKIN
2016). The main objective of the paper is to work on
those agreements to identify how they establish bilateral
commitments to economic transactions, and to verify
who are the main actors and operators at the domestic
level that they invoke to implement the agreements. The
analysis will be based on computer-assisted qualitative
data analysis software (CAQDAS) methodology, with the
use of the software Atlas.ti©
Milena Milhomem Santos Machado
O Brasil e a cooperação Sul-Sul: a política externa brasilei-
ra para a constituição e consolidação do Banco dos BRICS
Coautor(es): Ana Elisa Rola Rodrigues, Kívia Vilarim Perei-
ra dos Santos
Resumo: O presente artigo se propõe a apresentar a atua-
ção do Brasil no processo de constituição do Banco dos
BRICS através do multilateralismo e a cooperação Sul-Sul.
A construção do BRICS não se configura somente como
uma aliança geopolítica e nem uma organização interna-
cional, pode ser descrita, então, como um foro político-
diplomático que tem como base o alinhamento e a coo-
peração entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
O banco dos BRICS, NBD, instituiu-se através de uma ini-
ciativa comum entre os países membros, com o objetivo
de tornar mais pragmáticos os encaminhamentos da co-
operação no âmbito do grupo. Através da análise dos
documentos oficiais e do perfil da elite burocrática do
NBD, pretendemos avaliar o comportamento do Banco
junto aos projetos de desenvolvimento financiados e
seus reflexos na política externa brasileira.
Milton Reyes Herrera
La Proyección Política China en el Contexto del Cambio de
Corelación de Fuerzas Políticas en Sudamérica
Trabalho Completo
Resumo: Esta trabajo tiene como objetivo analizar el des-
pliegue de la Proyección Política China (PPC), en Sudamé-
rica tras el cambio en la correlación de fuerza entre pro-
yectos políticos en competencia en la región (matriz
aperturista- matriz desarrollista), especialmente tras la
victoria de Mauricio Macri en Argentina; desde el campo
de la economía Política Internacional, a través de un mé-
todo histórico estructural de carácter crítico.
El trabajo inicia con una revisión de la proyección política
china en la región, especialmente en la primera década
del siglo, que coincide con el ascenso de varios gobiernos
adscritos a proyectos políticos “nacionales populares”, o
“progresistas”, “posneoliberales” (matriz desarrollista),
para posteriormente centrar su análisis en cómo se rede-
finieron las tácticas de la PPC referentes a la perspectiva
estratégica con que China plantea sus relaciones con la
región tras un contexto de re-emergencia de proyectos
políticos con matriz aperturista en la región
El trabajo realiza un acercamiento que toma en cuenta
datos hasta 2017, y finalmente propone algunos elemen-
tos prospectivos que permitan discutir los nuevos esce-
narios que se le presentan a la relación China-América
del Sur.
Monalisa Rossi ceolin
Princípios e funcionamento do processo eleitoral nos EUA
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
76
Coautor(es): Fernando Manoel Bassi, Ana Cristina Bunn
Junckes, Ana Carolina Parreira
Resumo: A pesquisa foi realizada pelo grupo de estudos
em Economia Política Internacional do INCT-INEU da
UFSC - Instituto de Ciência e Tecnologia para Estudo so-
bre os Estados Unidos. O objetivo da pesquisa foi enten-
der o processo eleitoral e como sua dinâmica repleta de
singularidades influencia a participação popular na de-
mocracia. Para tal, buscou-se analisar os fundamentos
básicos que regem o funcionamento das eleições estadu-
nidenses. Tais fundamentos são expressos principalmen-
te nas ideias de justiça e liberdade, o que justifica a exis-
tência das várias etapas em que a eleição ocorre, diferin-
do do modelo brasileiro. Em primeiro lugar os candidatos
de cada partido são escolhidos pelo voto popular em
suas respectivas convenções para posteriormente o mais
votado dos dois partidos (Republicanos e Democratas)
disputarem as Eleições Gerais presidenciais. Vale salien-
tar que os pleitos não são realizados de forma direta,
pois o cidadão estará votando em delegados que repre-
sentarão sua vontade diante das urnas na escolha do
presidente, o que torna o processo ainda mais complexo.
Concluiu-se que, apesar da existência de diversos parti-
dos nos Estados Unidos, o sistema de eleição adotada faz
com que predomine uma espécie de bipartidarismo, pois
os candidatos concorrem através do método “Winner
takes all”, ou seja, quem adquire a maioria dos votos nos
estados ganha sua totalidade, salvo exceções (Nebraska
e Maine). Tal método desencoraja a participação de par-
tidos menores, levando à alternância de poder entre De-
mocratas e Republicanos e polarizando as eleições entre
dois programas partidários bem definidos e conhecidos
entre os eleitores.
Neusa Maria Pereira Bojikian
Os Estados Unidos e a governança do comércio de servi-
ços: educação superior como objeto transacionável
Resumo: O objetivo deste artigo é contribuir para a com-
preensão dos padrões das regras de comércio de servi-
ços educacionais, especificamente educação em nível
superior, propostas e/ou adotadas pelos Estados Unidos
(EUA) nas negociações comerciais internacionais. Duran-
te quase todo o século XX, a política e a regulamentação
dos serviços foram um domínio nacional. No entanto,
desde o início dos anos 90, os serviços estão na agenda
comercial. O Acordo Geral sobre Comércio de Serviços
de 1994 causou substancial reposicionamento regulató-
rio no regime multilateral impactando os países, sobretu-
do aqueles em desenvolvimento, ao estabelecer nova
compreensão do que constitui protecionismo.
A argumentação central defendida aqui é que as regras
de comércio propostas e/ou adotadas pelos EUA no âm-
bito do GATS-Rodada Uruguai, mas efetivamente institu-
cionalizadas no NAFTA, e depois em outras negociações
expressivas resultaram das demandas de atores privados
e públicos e foram moldadas dentro dos limites instituci-
onais existentes no país naquele momento. E o surgi-
mento de novos acordos não é causado pela busca de
melhoria institucional. Tende a ser decorrente de inter-
pretações particulares sobre eventos e suas consequên-
cias e de pressões levadas em conta, mas sob os parâme-
tros de instituições reconhecidamente válidas no âmbito
americano. O problema é que tais acordos buscam re-
modelar a governança econômica global de modo a sub-
trair espaço regulatório. Além disso, esses acordos po-
dem levar ao surgimento de zonas de influência, dividin-
do o sistema econômico entre aqueles alinhados aos
padrões ocidentais e os outros. Tais argumentos estão
embasados pela abordagem analítica institucionalista
histórica e pelos conceitos path dependence e outros
conceitos relacionados. Três gêneros de documentos são
analisados aqui: textos legais de acordos assinados por
EUA; propostas dos EUA; e documentos publicados por
instituições americanas – governamentais ou privadas,
como a Associação de Universidades Americanas.
Paola Schuler Marostica
As Mudanças das Propostas Macroeconômicas do Início
do Governo Lula e a Influência da Vulnerabilidade Externa
Coautor(es): João Paulo Cavazzani Bosso, Suzanne Pedro-
za Alves Silva, Rafael de Souza Milke, Paola Schuler Ma-
rostica
Resumo: O regime financeiro internacional contemporâ-
neo tornou a possibilidade de eleição de governantes
populares um perigo ainda maior para as movimenta-
ções do capital privado. Nesse contexto, a candidatura à
Presidência da República de Luís Inácio Lula da Silva re-
presentava uma ameaça aos investidores internacionais,
os quais responderam com fuga de investimentos inter-
nacionais em território brasileiro. Em resposta, o candi-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
77
dato Lula precisou alterar suas propostas de governo.
Assim, manutenção das políticas econômicas adotadas
pelos governos anteriores (ou seja, o tripé macroeconô-
mico) demonstra a submissão da política nacional às exi-
gências da ordem internacional e, principalmente, do
regime da desregulamentação financeira, representado
pelo FMI, embora, após recuperar a confiança dos mer-
cados, o governo iniciou um período de menor austeri-
dade econômica, com uma consequente redução de de-
sigualdade social no Brasil. A pesquisa busca, portanto,
analisar as alterações ocorridas nas políticas econômicas
adotadas durante os anos iniciais do primeiro mandato
do presidente Luís Inácio Lula da Silva e suas motivações
frente à vulnerabilidade externa.
Patricia Fonseca Ferreira Arienti
A crise de 2008 e a supremacia do dólar como moeda re-
serva de valor
Resumo: O desequilíbrio global provocado pela crise fi-
nanceira dos Estados Unidos em 2008 tem gerado um
intenso debate sobre a credibilidade do dólar como a
principal moeda internacional, assim como as possibilida-
des aberta para que outros arranjos monetários possam
substituir ou compartilhar o papel do dólar.
A pergunta central é: porque o dólar mantém sua posi-
ção privilegiada, apesar da crescente deterioração da
credibilidade da manutenção dos desequilíbrios internos
e externos dos Estados Unidos e da preocupação genera-
lizada sobre o desequilíbrio global a partir da crise finan-
ceira de 2007-2008? Buscando responder essa questão,
o artigo terá como principal aporte teórico os trabalhos
de Susan Strange e Benjamin Cohen. Para Strange, poder
estrutural pode ser entendido como o poder de configu-
rar e determinar as estruturas dentro das quais os Esta-
dos se relacionam uns com os outros. As quatro estrutu-
ras dentro das quais essas interações podem ocorrer na
EPI são produção, finanças, segurança e conhecimento.
Para a autora, embora não exista uma hierarquia anteci-
padamente definida entre as estruturas acima citadas,
no caso dos EUA, a dimensão financeira seria sua princi-
pal fonte de poder, sobressaindo-se até mesmo sobre a
sua capacidade militar. Por sua vez, o arcabouço teórico
de Cohen, busca analisar as relações entre a moeda acei-
ta internacionalmente e o poder do Estado que a emite.
Partindo do referencial teórico acima citado, a pesquisa
se utilizará da base de dados das publicações do FMI e
do BIS para mostrar que, mesmo que estejam surgindo
alternativas para substituir/complementar o dólar como
moeda de troca e meios de pagamento, o dólar ainda se
mantém como a principal moeda capaz de exercer a fun-
ção de reserva de valor no âmbito público e privado,
uma vez que o poder dos Estados Unidos na estrutura
financeira está interligado com sua posição dentro das
estruturas de produção e de segurança.
Pedro Antonio Vieira
O atraso do Brasil em Ciência, Educação e Tecnologia em
Perspectiva Histórico-Mundial Comparada
Coautor(es): Helton Ricardo Ouriques
Trabalho Completo
Resumo: O Brasil ocupa uma posição considerada
“intermediária” na economia mundo capitalista. Nossa
tarefa aqui é, comparando a situação brasileira em com-
paração com a trajetória de países do Leste Asiático des-
de 1950, buscar subsídios analíticos para a compreensão
desse atraso relativo do Brasil em ciência, educação e
tecnologia. As perguntas a serem respondidas são: por
que países como a Coreia do Sul, que se encontravam na
década de 1950 muito mais atrasados tecnologicamente
que o Brasil, entraram em uma trajetória virtuosa, en-
quanto nosso país, desde a década de 1980, parece estar
estagnado nos aspectos acima mencionados? Que ele-
mentos estruturais explicam o atraso brasileiro e mesmo
a dificuldade do país em acompanhar as mudanças em
ciência, tecnologia e inovação em curso desde os década
de 1970 em geral, e desde os anos 2000 em diante, em
particular, em comparação com países daquela região?
Podemos levantar como hipótese que as origens desta
discrepância devem ser buscadas: a) nas respectivas po-
sições daqueles países e do Brasil na economia-mundo
capitalista, desde o século XIX em diante; b) nos respecti-
vos processos de industrialização: lá, comandado por
empresas nacionais e pelo Estado; no Brasil, comandado
por empresas multinacionais; c) A importância da geo-
grafia e dos aspectos geopolíticos, pois a proximidade
geográfica com os Estados Unidos implicou uma subordi-
nação maior da América Latina e do Brasil aos ditames
da hegemonia americana. No Leste Asiático, por outro
lado, a geopolítica da guerra estímulos os estados asiáti-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
78
cos a desenvolverem uma industrialização também vol-
tada para defesa. Principalmente após a Segunda Guerra
Mundial os estímulos vieram da inserção daquela região
na Guerra Fria. No Brasil, tanto a proximidade com os
Estados Unidos quanto os estímulos geopolíticos atua-
ram para conformar um processo de industrialização
desnacionalizado e pouco inovador, possivelmente pela
ausência de uma aliança entre capitalistas nacionais e o
Estado.
Pietro Carlos de Souza Rodrigues
Foreign Policy and Institutional determinants of Brazilian
FDI
Resumo: The relationship between the state and the na-
tional private capital is one of the driving elements of the
division of political roles between different actors and
social sectors and is essential to the understanding of the
competitiveness of Brazilian companies. While there is a
longstanding attention to the domestic effects of this
relationship, little is known about the manifestations of
this relationship beyond the national borders. Consider-
ing the political dimension as a key element of the orga
nization and action of Brazilian companies, this work
contains a proposal for systematization and analysis of
the relationship between foreign policy and internation-
alization of Brazilian firms. What is the role of foreign
policy in the determination of Brazilian investments
abroad? The paper will focus on delineating how and to
what extent international and domestic political factors
are intertwined with Brazilian investments. Then, we will
seek to present the mechanisms and how each of the
political elements are predictive or explanatory factors of
the locational decisions and entrance modes of Brazilian
foreign investments. This paper seeks to understand how
the link between business and politics is stablished in its
various expressions. For this reason, we will start the
work: [1] placing the research in the context of interna-
tional political economy studies, [2] we will provide a
balance of the literature on the relationship between
entrepreneurs and policy in Brazil, [3] will carry out an
analysis of the way in which literature has responded to
the call of unravel the role of business in Brazil's foreign
policy and, finally, [4] assess by econometric models,
how much foreign policy is important to explain location-
al decisions of Brazilian multinationals.
Rafael de Souza Milke
As Mudanças das Propostas Macroeconômicas do Início
do Governo Lula e a Influência da Vulnerabilidade Externa
Coautor(es): João Paulo Cavazzani Bosso, Suzanne Pedro-
za Alves Silva, Paola Schuler Marostica
Resumo: O regime financeiro internacional contemporâ-
neo tornou a possibilidade de eleição de governantes
populares um perigo ainda maior para as movimenta-
ções do capital privado. Nesse contexto, a candidatura à
Presidência da República de Luís Inácio Lula da Silva re-
presentava uma ameaça aos investidores internacionais,
os quais responderam com fuga de investimentos inter-
nacionais em território brasileiro. Em resposta, o candi-
dato Lula precisou alterar suas propostas de governo.
Assim, manutenção das políticas econômicas adotadas
pelos governos anteriores (ou seja, o tripé macroeconô-
mico) demonstra a submissão da política nacional às exi-
gências da ordem internacional e, principalmente, do
regime da desregulamentação financeira, representado
pelo FMI, embora, após recuperar a confiança dos mer-
cados, o governo iniciou um período de menor austeri-
dade econômica, com uma consequente redução de de-
sigualdade social no Brasil. A pesquisa busca, portanto,
analisar as alterações ocorridas nas políticas econômicas
adotadas durante os anos iniciais do primeiro mandato
do presidente Luís Inácio Lula da Silva e suas motivações
frente à vulnerabilidade externa.
Raphael Padula
Os fundamentos econômicos do poder militar, da defesa à
projeção externa – uma visão a partir da Economia Políti-
ca Internacional
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo principal deste texto é, a partir de
uma visão da economia Política Internacional (EPI), apre-
sentar a conexão entre base econômica, segurança naci-
onal e projeção geopolítica, em autores importantes que
refletiram sobre as relações entre poder e riqueza, ou
poder militar e poder econômico, tanto para redução de
vulnerabilidades quanto para projeção externa. Para isso,
na primeira seção, resgatamos autores da Economia Polí-
tica Clássica, como William Petty, Alexander Hamilton e
Friedrich List. Na seção seguinte, visitamos a obra de
Edward Carr, e sua visão sobre poder, ou mais especifica-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
79
mente da relação entre poder econômico e poder mili-
tar. Na quarta seção, analisamos a obra de Klaus Knorr,
que no âmbito do debate da EPI nos anos 1970, dedicou-
se às relações entre poder econômico e poder militar
tanto do ponto de vista de defesa quanto da projeção
externa de um Estado. O argumento central do texto é
de que há uma linha comum entre tais autores na qual o
desenvolvimento econômico possui uma relação funda-
mental com a defesa do território e a projeção externa,
tanto por sua relação com o poder militar, quanto pela
sua capacidade de reduzir vulnerabilidades militares,
políticas e econômicas, ou por prover capacidade de pro-
jeção de poder externa. Para isso, recorre-se a uma revi-
são bibliográfica dos autores citados, além de lateral-
mente referir-se a obras secundárias importantes sobre
os autores ou sobre o tema.
Rodrigo Curty Pereira
A economia política das relações Sul-Sul: um estudo com-
parativo dos acordos de proteção de investimento dos
países BRICS na África e América Latina
Coautor(es): Yasmin Bitencourt Andrade da Silva
Resumo: A presente pesquisa objetiva fazer um levanta-
mento de dados sobre os Tratados Bilaterais de Investi-
mentos (TBI) dos BRICS com países da África e da Améri-
ca Latina, procurando reconhecer os diferentes modelos
dos mesmos a partir da economia política internacional.
A metodologia do trabalho envolve a leitura dos trata-
dos, o levantamento de dados acerca do volume de in-
vestimentos, principais setores de destino e principais
empresas envolvidas; bem como a sistematização desses
dados em gráficos, mapas e tabelas. As principais fontes
utilizadas são as bases de dados e relatórios da UNCTAD,
do Banco Mundial, do CIADI e da CEPAL, além de artigos
jornalísticos e acadêmicos e documentos da sociedade
civil. O estudo permite, portanto, uma visão geral que
compara a atuação dos BRICS em termos de investimen-
tos nas duas regiões. Buscamos averiguar se os tratados
dos países BRICS se assemelham ao modelo de tratado
estabelecido pelos Estados Unidos e países europeus, ou
se apresentam inovações, como é o caso do novo mode-
lo brasileiro. Por fim, verificamos se há casos de conflitos
entre empresas multinacionais dos BRICS nos países re-
ceptores de investimento. Observa-se que, apesar de
haver mudanças no modelo TBI de alguns dos países
BRICS, a maioria se aproxima do modelo tradicional vi-
gente, o que inclui as cláusulas que favorecem o investi-
dor frente ao Estado. Além disso, é possível identificar a
reprodução de práticas de investimento estrangeiro ca-
racterísticas de relações Norte-Sul, marcadas pela explo-
ração do território, da população e dos recursos naturais
dos países da África e da América Latina.
Rodrigo de Paula Abi-Ramia
Contendas e Conflitos comerciais em 20 anos de Mercosul:
O preço da Integração.
Trabalho Completo
Resumo: Este artigo busca analisar os conflitos comerciais
que marcaram a integração sul-americana no âmbito do
Mercosul nos primeiros vinte anos de existência do blo-
co, principalmente entre Brasil e Argentina, as maiores
economias do grupo. Além disso busca-se relacionar es-
ses conflitos com os custos relativos a integração regio-
nal e a tentativa dos principais membros do bloco de se
isentar destes custos e do financiamento de um projeto
amplo e multisetorial da integração. A análise inicia-se na
fundação do Mercosul em sua fase liberal na década de
1990 em que o os projetos integracionistas focavam qua-
se que exclusivamente na liberalização comercial, e es-
tende-se até a mudança de rumo da década seguinte,
onde se buscou uma maior institucionalização e uma
integração mais abrangente, para além da puramente
comercial. O foco deste trabalho são os momentos de
crise do grupo, por entender que é então que fica mais
claro a dificuldade dos membros em assumir os custos
para a saída conjunta desses momentos críticos, quando
também se acirram conflitos e pressões internas tornan-
do mais lentas as negociações. Percebe-se que a integra-
ção econômica poderia ser aprofundada para a saída das
crises cíclicas que se abatem sobre a região sendo nesses
períodos que ela mais tem a oferecer para as economias
envolvidas. Todavia geralmente é o movimento oposto
que se tem observado, de maior protecionismo alfande-
gário causado pelo acirramento das pressões setoriais
internas e buscas de ganhos imediatos, brecando a inte-
gração e os ganhos potenciais de uma economia transna-
cional integrada. Apontamos finalmente as assimetrias
entre os membros do Mercosul, e a falha do grupo em
fomentar a complementaridade econômica e cadeias de
valor agregadas transnacionais. Essa situação acaba por
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
80
foram se apresentando ao desenvolvimento.
Sabrina Sabatovicz Paiva
A Nova Onda de Liberalização no Brasil e as Negociações
Internacionais: o caso do acordo Mercosul – União Euro-
peia
Trabalho Completo
Resumo: Em 2016, o processo de negociação visando for-
mação de área de livre comércio entre União Europeia e
Mercosul indica ter entrado em novo momento. A troca
de ofertas conjuntas em maio daquele ano e as constan-
tes negociações entre os blocos resultaram em amplia-
ção das expectativas dos atores diante da possibilidade
de se chegar, em breve, à conclusão das negociações.
Tendo em vista os recentes esforços do governo brasilei-
ro em promover a conclusão do referido acordo, simboli-
zados também pelo discurso em julho de 2017 na 50ª
Cúpula do Mercosul do presidente Michel Temer, que
defendeu a “vocação para o livre mercado” como pilar e
destaca que “pela primeira vez, há perspectivas realistas
de que se conclua o acordo [entre União Europeia e
Mercosul]”, este trabalho objetiva analisar quais são as
reverberações das atuais transformações da política bra-
sileira para o processo de negociação de um acordo de
livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, consi-
derando-se as recentes mudanças observadas na política
de inserção internacional do país. Nesse contexto, o ele-
mento de singularidade passa a ser a atual agenda eco-
nômica e política brasileiras, fundamentadas na aparente
nova onda de liberalização da economia. Defende-se que
as negociações internacionais brasileiras estão inseridas
em contexto de mudança política e que busca-se legiti-
mar a supracitada agenda por meio de mecanismos insti-
tucionais externos – tratados internacionais- que pressi-
onem a implementação das novas diretrizes econômicos
e políticas. Este mecanismo impulsiona modificações de
“fora para dentro” – estratégia “lock-in” -, contribuindo e
facilitando com a persecução dessa nova agenda.
Silvana Schimanski
Cooperação e Integração: o atual cenário das negociações
comerciais internacionais
Trabalho Completo
majorar os conflitos comerciais, mormente quando os
atores principais não estão dispostos a assumir os custos
de um projeto amplo e institucionalizado de integração
econômica.
Rubia Cristina Wegner
Sobre o Suposto imperialismo chinês
Coautor(es): Marcelo Pereira Fernandes, Rubia Cristina
Wegner
Trabalho Completo
Resumo: Um dos traços mais marcantes da economia
mundial refere-se ao rápido desenvolvimento econômico
da China desde a vitória da revolução em 1949, e parti-
cularmente a partir das reformas em 1978. A presença
de investimentos chineses em várias partes do mundo,
em especial em economias periféricas é objeto de con-
trovérsias. Entre elas a suposição que a China se tornou
um país imperialista e daí a exploração de países subde-
senvolvidos e pobres. Nesta visão, a China seria um típi-
co país capitalista que estaria inundando os países com
suas mercadorias, e se desenvolvendo a partir da explo-
ração de mão de obra a baixo custo e de recursos natu-
rais, sobretudo das econonomias periféricas por uma
burguesia interna cada vez mais abastada. O imperialis-
mo é um conceito nem sempre utilizado com o devido
rigor. A disseminação do conceito relacionado à explora-
ção dos países pobres pelos países centrais ajudou a em-
pobrecer o próprio estudo sobre o tema que na sua ori-
gem também estava relacionado a disputa entre países
centrais e o papel do capítal financeiro. O objetivo deste
artigo é analisar a recente expansão chinesa e verificar se
ela se insere na concepção leninista de imperialismo que
nós consideramos mais adequada para explicar a atual
expansão do capitalismo. Assim sendo, a visão que de-
senvolveremos compreende que a China mantém a
construção do socialismo, ainda que com características
próprias e que, portanto, seu desenovolvimento não se
apresenta como imperialismo. Destacaremos que após a
débâcle do campo socialista, o isolamento significaria o
mesmo que renunciar ao desenvolvimento e à constru-
ção do socialismo. Por isso, a China não tinha outro cami-
nho a não ser inserir no sistema internacional como for-
ma de reduzir a distância econômica das potências oci-
dentais. Todavia, a China também teve que enfrentar
certas intempéries do sistema, conforme novos desafios
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
81
compreendidos os aspectos relacionados à Política e à
Economia dessas negociações, em períodos históricos
anteriores. O contexto das cadeias produtivas globais
alterou a compreensão sobre os temas prioritários dos
acordos, sobre a profundidade dos compromissos, bem
como a seleção dos parceiros. Se antes, a Organização
Mundial do Comércio (OMC) era a representação de
uma instituição catalizadora das novas regras e princípios
para o comércio internacional, a letargia dos avanços da
Rodada Doha de negociações, a crise financeira interna-
cional e o próprio contexto internacional pressionaram
por novidades. Ficou mais patente que a maior parte das
economias, em todas as regiões do mundo, vem optando
pela priorização dos arranjos regionais. Porém, não
aqueles velhos arranjos conhecidos, parceiros da OMC
em escopo temático. São arranjos que extrapolam as
regras comerciais já conhecidas. Ademais, não preten-
dem ser arranjos mais profundos de integração econômi-
ca (embora não fechem as portas para essa situação!).
Apresentam-se como arranjos mais superficiais, tendo
como foco a liberalização dos mercados. No início do
século XXI, os países em todo o mundo estão cada vez
mais tornando os APCs peça central de sua política co-
mercial. Com isso, vêm estabelecendo regimes comerci-
ais em instâncias minilaterais de regulamentação que
vão além daqueles acordados multilateralmente na
OMC. Diante deste cenário, pergunta-se: quais os desafi-
os políticos e regulatórios desses novos arranjos? Muitos
questionamentos permanecem em aberto: Se por um
lado são instrumentos dinâmicos e flexíveis, que se ajus-
tam às necessidades dos novos tempos, por outro po-
dem ser considerados acordos discriminatórios e que
contribuíram para a fragmentação do sistema internacio-
nal de comércio. Se por um lado instituem regras que
extrapolam os compromissos multilaterais - o que se po-
deria dizer - num primeiro momento, que contribuem
para a liberdade comercial, minam a transparência e a
previsibilidade nas relações comerciais internacionais. Se
por um lado são considerados importantes plataformas
para o aumento da competitividade dos seus parceiros,
seus efeitos são os mais diversos e estão relacionados
com a profundidade da integração alcançada entre os
atores. Ademais, tais arranjos podem também gerar efei-
tos também em países que não fazem parte do arranjo,
em virtude de possíveis desvios de comércio. Na prática,
ao invés de promover maior liberalização comercial no
mundo, esses acordos podem conduziram à maior discri-
Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir as recentes
tendências do cenário das negociações comerciais inter-
nacionais, destacando o papel dos arranjos de coopera-
ção e integração nesse contexto. O início do século XXI
foi marcado por expectativas positivas com relação ao
futuro da integração econômica internacional. A Organi-
zação Mundial do Comércio (OMC) buscava estabelecer-
se como a Organização Internacional catalizadora das
regras comerciais internacionais. Naquele foro, seria pos-
sível negociar multilateralmente – com base em princí-
pios pré-estabelecidos - ajustes de políticas comerciais,
às preferências reais ou esperadas de outros atores.
Complementarmente, os arranjos de integração econô-
mica e acordos preferenciais ampliavam as oportunida-
des de liberalização comercial em condições preferenci-
ais. Recentemente, especialmente a partir da crise de
2008, do surgimento de novas estruturas organizacionais
caracterizadas pelo aumento das Cadeias Produtivas Glo-
bais e das sucessivas dificuldades para o aprofundamen-
to das regras da OMC, países em todo o mundo têm tor-
nado os Arranjos Preferenciais de Comércio peça central
de sua política comercial. Eles vêm estabelecendo regi-
mes comerciais em instâncias minilaterais de regulamen-
tação que vão além daqueles acordados multilateral-
mente na OMC. Para além desses dois conceitos, um
outro tipo de arranjo que merece o olhar atento dos in-
vestigadores são os arranjos de coordenação. Os arran-
jos de coordenação são aqueles menos institucionaliza-
dos, mais informais trazem consigo a cooperação como
elemento de ordem. Nesse contexto, a questão nortea-
dora deste trabalho é: estaríamos caminhando para uma
fase de redução da formalidade nos processos de assun-
ção compromissos comerciais internacionais? Discutir
esses aspectos, ainda que de forma descritivo-
exploratória, nos permitirão comprovar ou refutar a hi-
pótese inicial de que regimes mais flexíveis e informais
despontam como uma tendência para as questões relaci-
onadas às relações comerciais internacionais.
Silvana Schimanski
Comércio do Século XXI: desafios políticos e políticos e re-
gulatórios
Resumo: Este Painel tem por objetivo discutir a nova dinâ-
mica das negociações comerciais internacionais, que tem
representado mudanças significativas na forma eram
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
82
semelhante ao Acordo TransPacífico (Trans-Pacific
Partnership - TPP). Argumenta-se que estes acordos de
nova geração podem ser incompatíveis com a tradicional
orientação da política externa brasileira de manter espa-
ço de manobra para políticas de desenvolvimento. O
artigo compara os textos do TPP com outros acordos de
livre comércio e analisa disposições em vários capítulos
do acordo que contrastam com o posicionamento prévio
do Brasil em temas chaves relacionados a acesso a mer-
cados, serviços, investimentos, propriedade intelectual,
comércio eletrônico e convergência regulatória. Resulta-
dos da pesquisa mostraram que o Brasil teria que aceder
a vários acordos internacionais dos quais não é signatário
e cuja participação é requerida no Acordo TransPacífico.
Além disso, constatou-se que o Brasil ainda carece regu-
lações modernas em áreas cruciais que seriam demanda-
das em um acordo de nova geração. Por fim, as incerte-
zas que hoje circundam a governança global do comércio
sugerem que há uma janela de oportunidade para que o
Brasil revigore suas instituições domésticas e processo
decisório de política comercial, visando a participar mais
ativamente na formulação das novas regras do comércio
internacional.
Suzanne Pedroza Alves Silva
As Mudanças das Propostas Macroeconômicas do Início
do Governo Lula e a Influência da Vulnerabilidade Externa
Coautor(es): João Paulo Cavazzani Bosso, Rafael de Souza
Milke, Paola Schuler Marostica
Resumo: O regime financeiro internacional contemporâ-
neo tornou a possibilidade de eleição de governantes
populares um perigo ainda maior para as movimenta-
ções do capital privado. Nesse contexto, a candidatura à
Presidência da República de Luís Inácio Lula da Silva re-
presentava uma ameaça aos investidores internacionais,
os quais responderam com fuga de investimentos inter-
nacionais em território brasileiro. Em resposta, o candi-
dato Lula precisou alterar suas propostas de governo.
Assim, manutenção das políticas econômicas adotadas
pelos governos anteriores (ou seja, o tripé macroeconô-
mico) demonstra a submissão da política nacional às exi-
gências da ordem internacional e, principalmente, do
regime da desregulamentação financeira, representado
pelo FMI, embora, após recuperar a confiança dos mer-
cados, o governo iniciou um período de menor austeri-
minação, contribuindo à diminuição do bem-estar geral,
sobretudo das economias menores, menos desenvolvi-
das e que não fazem parte das cadeias globais de valor.
Vale ressaltar, que nesse contexto, é imprescindível que
os Analistas de Relações Internacionais direcionem seus
olhares para esse novo cenário.
Stela Ananda de Barros Simões
Concepção e estratégias de continuidade dos mecanismos
de execução utilizados na implementação do “Acordo de
Cooperação Econômica Científica e Técnica na Área de
Formação Profissional” entre Brasil e Angola
Resumo: A cooperação para o desenvolvimento apresenta
-se como uma perspectiva afirmativa para a diminuição
das assimetrias apresentadas nas áreas menos desenvol-
vidas, que tendem a permanecer à margem dos fluxos
socioeconômicos principais. Tal perspectiva encontra-se
exposta em uma nova dinâmica que norteia as relações
econômicas da periferia global, apresentando-lhes solu-
ções a partir de suas próprias interpretações e necessi-
dades. Compreendendo que o relacionamento entre Bra-
sil e Angola insere-se neste escopo de desenvolvimento
a partir da cooperação Sul-Sul e que se veem entrelaça-
dos por historicidade e cultura semelhantes, cujas rela-
ções econômicas se ampliam desde 1980, através da
cooperação técnica – nas áreas de saúde, cultura, admi-
nistração pública, formação profissional, educação, meio
ambiente, esportes, estatística e agricultura – propõe-se,
neste artigo, discutir a eficácia dos mecanismos de exe-
cução utilizados na implementação do “Acordo de Coo-
peração Econômica Científica e Técnica na Área de For-
mação Profissional”, desde a sua concepção às suas es-
tratégias de continuidade.
Susan Elizabeth Martins Cesar de Oliveira
Acordos preferenciais de comércio de nova geração: im-
pactos regulatórios para o Brasil
Resumo: Os acordos comerciais “mega-regionais” tem
gerado grande interesse acadêmico, tendo em conta sua
abrangência, profundidade, inovações temáticas e seus
efeitos no sistema multilateral de comércio. Este artigo
busca contribuir para aprofundar este debate, analisan-
do o potencial impacto regulatório para o Brasil resultan-
te da conclusão de uma parceria econômico-comercial
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
83
Valentina Tâmara Haag
Sistema de Arrecadação e Distribuição dos Royalties do
Petróleo Brasileiro: um estudo sobre a defesa do Pré-sal
Coautor(es): Gabriela Alves de Borba
Resumo: Desde a homologação da Lei do Petróleo (Lei nº
9.478) em 1997, ocorreram significativas alterações no
regimento do sistema de organização dos royalties. Tan-
tas mudanças representam certa carência de modelo de
disposição dos royalties adequado a realidade econômi-
ca brasileira. Diante desse cenário, busca-se analisar se a
Teoria da Renda da Terra de David Ricardo seria o siste-
ma de arrecadação mais adequado ao atual contexto da
indústria extrativa de petróleo brasileira e verificar se o
modelo de distribuição vigente dos recursos financeiros
é consistente com o arcabouço de legitimidade de seu
uso. Têm-se dois problemas de pesquisa adjacentes: a
teoria da renda de Ricardo é relevante para balizar a co-
brança de royalties no caso brasileiro? O sistema de alo-
cação desses royalties é adequado? Para responder à
primeira pergunta propõe-se a comparação entre os
pressupostos subjacentes à teoria ricardiana com a reali-
dade da indústria petrolífera brasileira. Assim, as premis-
sas teóricas de que os custos determinam os preços, de
homogeneidade de produto, de simetria de informação
e de concorrência entre os produtores são confrontadas
com as características do contexto brasileiro. A segunda
pergunta será respondida a partir dos argumentos que
sugerem a ineficiência da aplicação dos royalties em gas-
tos correntes, utilizando-se o caso do Ministério da Mari-
nha do Brasil e dos investimentos aos projetos de defesa
da plataforma continental. As hipóteses centrais de tra-
balho são que (i) o sistema sugerido pela Teoria da Ren-
da não se adequa à realidade brasileira e que (ii) o atual
sistema de arrecadação está adequado, no entanto, é
(iii) a forma de distribuição dos royalties que não respon-
de às demandas de defesa do patrimônio mineral nacio-
nal. Para tal, o trabalho será estruturado no método hi-
potético-dedutivo, utilizando-se da pesquisa bibliográfica
e documental.
Victor Souza Martins e Verdú
Comércio e competitividade do Brasil nos BRICS: uma aná-
lise comparativa (2006-2015)
dade econômica, com uma consequente redução de de-
sigualdade social no Brasil. A pesquisa busca, portanto,
analisar as alterações ocorridas nas políticas econômicas
adotadas durante os anos iniciais do primeiro mandato
do presidente Luís Inácio Lula da Silva e suas motivações
frente à vulnerabilidade externa.
Thiago Ferreira Moreira D'amato
A prospecção mineral em águas internacionais como me-
canismo de expansão da soberania estatal.
Coautor(es): Felipe Garcia de Barros, Thiago Ferreira Mo-
reira D'amato
Trabalho Completo
Resumo: O presente trabalho tem como ponto de partida
a analise da utilização do direto de prospecção e explora-
ção mineral em áreas internacionais dos oceanos como
um instrumento de poder de nações na busca por seus
objetivos estratégicos. O principal foco será na região do
oceano Indico, onde a Índia, assim como outras potên-
cias, estão se valendo das regras do direito do mar junto
a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA)
para garantir áreas importantes, em especial adjacentes
a sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE). O oceano Índico,
por sua vez, é peculiar em sua posição geográfica e con-
sequentemente possui um alto valor geoeconômico. As
grandes rotas comerciais do mundo atravessam essas
águas para abastecer as regiões mais dinâmicas do glo-
bo, com destaque o petróleo do Oriente Médio. Portan-
to, torna-se claro que essa região tende a se tornar palco
de disputas entre as grandes potências, assim como no
passado recente. Desta maneira, esse trabalho busca nas
entre linhas do direito e da política internacional mostrar
que a prospecção mineral em águas internacionais tem
como objetivo real assegurar posições estratégicas em
um plano igual ou superior à questão econômica da
prospecção em si. Desta forma, buscar-se- á analisar do-
cumentos oficiais das potências envolvidas na região no
que concernem seus objetivos estratégicos e contrapor
com suas demandas na ISA. Para tanto será necessário a
análise de bibliografia geopolítica de autores como Ro-
bert Kaplan, Philippe Le Billon assim como os mais recen-
tes estudos sobre a área geológica de Kaiser Gonçalves,
Palma e Pessanha.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
84
Resumo: O objetivo central deste trabalho é analisar a
relevância do Nafta no processo de transformação do
paradigma de desenvolvimento mexicano, assim como
as suas novas estratégias de inserção à economia inter-
nacional, amparadas em políticas liberalizantes, na des-
regulamentação financeira e na promoção da industriali-
zação voltada às exportações. A emergência em 1982 da
crise da dívida externa marcou o fim de uma etapa histó-
rica do México e o início de uma longa transição. Deste
momento em diante, teve início o debate mais aprofun-
dado acerca do esgotamento do modelo nacional desen-
volvimentista, baseado na industrialização via substitui-
ção de importações, e, por conseguinte, a emergência de
um novo paradigma de desenvolvimento econômico. Por
meio de revisão bibliográfica e a análise de dados macro-
econômicos, compreendemos que o Nafta converteu-se
no eixo principal desta transição que concretizou o mo-
delo de desenvolvimento neoliberal na década de 1990.
A importância do Nafta como processo que envolveu
uma série de negociações e a sua própria consolidação,
ao longo de três governos, vai muito além de um acordo
comercial entre o Canadá, os Estados Unidos e o México.
Dessa forma, apresentaremos os principais objetivos e
estratégias de política econômica do governo Salinas de
Gortari para concretizar o novo modelo de desenvolvi-
mento econômico mexicano e analisaremos a relevância
da Nafta e suas consequências para a economia mexica-
na de 1994 aos dias atuais. Debateremos também a rele-
vância do Nafta após o início do governo Trump nos EUA,
e se realmente existe uma ameaça a sua continuidade.
Vitor Furtado Jerônimo Veloso
Nos limites da incerteza: Críticas à atuação das Credit Ra-
ting Agencies e seus impactos no sistema financeiro
Trabalho Completo
Resumo: As Credit Rating Agencies (CRA), ou agências de
notação de crédito, são empresas de serviços financeiros
(com fins lucrativos) que se estabeleceram como especi-
alistas na área de pesquisa e avaliação de crédito, forne-
cendo conhecimentos especializados e profissionais so-
bre as capacidades de uma grande quantidade de inves-
tidores de arcar com seus compromissos. A partir da dé-
cada de 70, em um ambiente marcado pela progressiva
liberalização dos capitais, e do consequente aumento da
incerteza dentro do Sistema Financeiro Internacional
Coautor(es): Andréa Freire de Lucena
Trabalho Completo
Resumo: As cinco nações que formam os BRICS (Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul) se inserem na conjun-
tura internacional como possíveis potências mundiais.
Suas economias já ultrapassaram alguns países que com-
punham o G-7 e o novo reordenamento geopolítico faz
com que cresça a atenção para seus mercados internos.
Os países possuem uma vasta diversidade, dentre elas
econômica, cultural e política, e partilham de desafios
comuns que vão desde a superpopulação, pobreza, desi-
gualdades sociais e a má distribuição de renda.
O acordo comercial entre as economias que compõem
os BRICS não se constitui um projeto de Integração Eco-
nômica; no entanto, uma maior aproximação pode trazer
ganhos aos países que a compõe, e fazer com que os
mesmos possuam mais voz em negociações político-
econômicas internacionais. Este trabalho tem por objeti-
vo levantar, a partir do uso dos indicadores de comércio
externo do Grau de Abertura Comercial, da Taxa de Co-
bertura, do Índice de Participação no Mercado e do Índi-
ce das Vantagens Comparativas Reveladas, quais oportu-
nidades comerciais o Brasil pode ter nos países que for-
mam os BRICS, sob uma análise comparativa dos anos de
2006 a 2015. O trabalho encontrou evidências empíricas
sobre os ganhos de mercado (aumento da especializa-
ção), e os benefícios que podem ser alcançados pelo Bra-
sil, caso o país estreite suas relações político-
diplomáticas e comerciais com essas nações. Dentre eles,
a criação de comércio obtida pela redução de tarifas que
amplia o mercado consumidor de produtos brasileiros,
do mesmo modo que propicia uma maior negociação em
organizações internacionais. O Brasil se vê diante de um
maior mercado consumidor, que possibilita escoar sua
produção excedente. No entanto, os retornos só ganha-
rão espaços mais abrangentes se mantido um alto nível
de especialização, que permita competir com economias
mais fortes que dispõem de uma pauta comercial de
bens com altos valores agregados.
Vinicius Ruiz Albino de Freitas
A relevância do Nafta no processo de mudança de para-
digma do desenvolvimento mexicano
Trabalho Completo
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
85
política energética indiana tenta conciliar os desafios
domésticos primários para a manutenção do desenvolvi-
mento econômico sustentável, com olhar estratégico de
suas políticas energéticas diante da geopolítica regional.
Nesse contexto, a necessidade energética como meio de
garantir o funcionamento de sua economia sinaliza al-
guns desafios para o quadro energético indiano. De for-
ma a melhor trato desse estudo, o desenvolvimento des-
sa pesquisa realizou-se por meio de ampla revisão da
literatura especializada, análise descritiva dos dados con-
tidos nos relatórios da Agencia Internacional de Energia
(AIE), da Agência Internacional de Energias Renováveis
(IRENA) e da Renewable Energy for 21century (REN21),
além de documentos do Ministery of New and Renewa-
ble Energy of India. Percebe-se que, no espectro da se-
gurança energética indiana, embora se tenha significati-
va participação de recursos energéticos não renováveis
na matriz energética, a Índia se direciona, gradativamen-
te, para a adoção de políticas incentivo às energias reno-
váveis.
Yasmin Bitencourt Andrade da Silva
A economia política das relações Sul-Sul: um estudo com-
parativo dos acordos de proteção de investimento dos
países BRICS na África e América Latina
Coautor(es): Rodrigo Curty Pereira
Resumo: A presente pesquisa objetiva fazer um levanta-
mento de dados sobre os Tratados Bilaterais de Investi-
mentos (TBI) dos BRICS com países da África e da Améri-
ca Latina, procurando reconhecer os diferentes modelos
dos mesmos a partir da economia política internacional.
A metodologia do trabalho envolve a leitura dos trata-
dos, o levantamento de dados acerca do volume de in-
vestimentos, principais setores de destino e principais
empresas envolvidas; bem como a sistematização desses
dados em gráficos, mapas e tabelas. As principais fontes
utilizadas são as bases de dados e relatórios da UNCTAD,
do Banco Mundial, do CIADI e da CEPAL, além de artigos
jornalísticos e acadêmicos e documentos da sociedade
civil. O estudo permite, portanto, uma visão geral que
compara a atuação dos BRICS em termos de investimen-
tos nas duas regiões. Buscamos averiguar se os tratados
dos países BRICS se assemelham ao modelo de tratado
estabelecido pelos Estados Unidos e países europeus, ou
se apresentam inovações, como é o caso do novo mode-
(SFI), tais agências ganharam cada vez mais relevância
devido à sua expertise em avaliar os riscos crédito. Redu-
zir a incerteza inerente relativa aos problemas de assi-
metria de informação, e evitar o risco sistêmico dentro
dos mercados financeiros, foram tidas como suas princi-
pais funções. No entanto, as crises do final da década de
90 e início dos anos 2000, escancaram a fragilidade de
suas análises, e forneceram argumentos para o questio-
namento de sua posição singular dentro do SFI. Diante
disso, o presente artigo tem como objetivo apontar as
principais críticas feitas à atuação das CRA’s, analisando
se existe uma diferença entre o que elas se propõem e
sua atuação de fato. De outro modo, procuro demons-
trar em que medida elas reagiram a tais críticas, defen-
dendo dos ataques publicamente, ou por meio de tenta-
tivas de reestruturação incorporando as sugestões feitas
pelos principais órgãos de regulação. Por fim, o enfoque
se dará na sua atuação durante a crise de 2008, conheci-
da como crise do Subprime, e as críticas ainda mais ro-
bustas que surgiram após tal crise. Tal enfoque se justifi-
ca na medida em que essas agências foram muitas vezes
diretamente apontadas como culpadas da crise de 2008,
ou ao menos, de aprofundar seus efeitos deletérios que
alcançaram níveis globais.
Wemblley Lucena de Araújo
O ângulo verde da segurança energética da Índia no con-
texto de mudanças climáticas: uma transição para a ado-
ção de energias renováveis?
Resumo: O presente trabalho analisa o ângulo verde da
segurança energética da Índia no contexto das mudanças
climáticas, de modo a evidenciar uma transição, da parti-
cipação indiana, para as políticas de incentivo às energias
renováveis. Nesse cenário, a ampliação dos debates so-
bre o modo como a segurança energética pode ser ga-
rantida pelos Estados tem impulsionado diversos atores
nas arenas domesticas e internacionais. De um lado, evi-
dencia-se a necessidade de assegurar os recursos ener-
géticos necessários a fim de garantir o bom funciona-
mento da economia, de outro, as preocupações ambien-
tais inseridas dentro do cenário de mudanças climáticas.
De tal modo que, a ascensão econômica da Índia, nas
últimas décadas, a posiciona como um dos principais
atores na ordem econômica internacional. Inserida den-
tro de um desafiante xadrez na geopolítica asiática, a
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
86
lo brasileiro. Por fim, verificamos se há casos de conflitos
entre empresas multinacionais dos BRICS nos países re-
ceptores de investimento. Observa-se que, apesar de
haver mudanças no modelo TBI de alguns dos países
BRICS, a maioria se aproxima do modelo tradicional vi-
gente, o que inclui as cláusulas que favorecem o investi-
dor frente ao Estado. Além disso, é possível identificar a
reprodução de práticas de investimento estrangeiro ca-
racterísticas de relações Norte-Sul, marcadas pela explo-
ração do território, da população e dos recursos naturais
dos países da África e da América Latina.
Yi Shin Tang
E.U and U.S. preferential trade and investment agree-
ments: implications for Intellectual Property Rights stand-
ard-setting in Latin America and the Caribbean
Coautor(es): Yi Shin Tang
Resumo: Preferential trade and investments agreements
have proliferated, turning fragmentation into a crucial
feature of the international legal landscape. Both the
U.S. and the E.U. have signed several trade and invest-
ment preferential agreements with smaller economies,
and most U.S. and E.U. partners in such agreements are
in Latin America and the Caribbean. This article evaluates
to what extent the intellectual property rights (IPRs)
preferentially established by the E.U. and the U.S. with
Latin American and Caribbean countries through trade
and investment preferential trade agreements differ
from the multilateral trade-related IPRs standard, the
TRIPS Agreement. It also assesses the differences be-
tween the E.U. and the U.S.’ approaches to IPRs in pref-
erential agreements, which of these two actors have im-
pacted IPRs in more countries in Latin America and the
Caribbean, and to what extent these IPRs preferentially
negotiated with the U.S. and the E.U. raise the level of
the international commitments on IPRs of the
Latin American and Caribbean signatories.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
87
Abiane de Alcantara Carneiro
Sentinelas da Fronteira: Notas sobre o papel dos re-
presentantes diplomáticos na fronteira platina
Coautor(es): Felipe Martins Dos Santos, Fernanda
Silva de Morais, Fhrans Sales Gonçalves Alves, Jona-
than Ramos Oliveira, Leila Anasol Maciel
Resumo: O projeto de pesquisa investiga as práticas
dos representantes diplomáticos do Império do Bra-
sil, das Repúblicas Unidas do Rio da Prata e da Repú-
blica Oriental do Uruguai que atuaram na região pla-
tina entre os anos de 1828-1852. A análise da atua-
ção das práticas diplomáticas revela as identidades
mistas que se configuraram na fronteira e o circuito
migrante entre as regiões. Através da abordagem
contextualista aparecem à cena: os conceitos, as
táticas e as estratégias que estabeleceram os cons-
trutores dos Estados brasileiro, uruguaio e argentino
para controlar o trânsito migrante, como também
uma leitura a contrapelo das fontes revela projetos
políticos alternativos e hábitos culturais da fronteira
que não poderiam pertencer às identidades nacio-
nais legitimadas pelas narrativas oficiais. A pesquisa
está baseada na participação dos diplomatas na
construção de identidades políticas dos Estados
fronteiriços. A partir da leitura dos Relatórios da Re-
partição de Negócios Exteriores do Império do Brasil
dos anos de 1830, 1832, 1833 e 1835, surgiu a hipó-
tese de que a história oculta da diplomacia brasileira
está associada à defesa do sistema escravista, por-
que os primeiros diplomatas brasileiros trabalharam
para negociar caminhos alternativos para a manu-
tenção do comércio internacional de escravos afri-
canos, mesmo após as proibições inglesas. Assim,
descolonizar a diplomacia é reconhecer o seu papel
na promoção do racismo no Brasil.
Ana Carolina de Araujo Marson
A opinião pública brasileira e a Política Externa Inde-
pendente
Trabalho Completo
Resumo: Este artigo visa compreender como a opini-
ão pública brasileira manifestou-se, via pesquisas de
opinião, sobre o desenvolvimento da Política Exter-
na Independente (PEI) no período da VIII Reunião
dos Ministros das Relações Exteriores Americanos
(VIII RMRE), realizada em Punta del Este, Uruguai,
em janeiro de 1962, mais conhecida como Confe-
rência de Punta del Este. Este encontro é relevante
visto que culminou na expulsão de Cuba da Organi-
zação dos Estados Americanos (OEA), sob pressão
dos Estados Unidos. Nesse contexto, o Brasil se des-
tacou por liderar um bloco de países que se opôs à
essa decisão, baseado no princípio da autodetermi-
nação dos povos. Apesar de existirem autores que
apontam a Conferência de Punta del Este como sen-
do o primeiro evento que teria mobilizado massiva-
mente a opinião pública brasileira em relação a um
tópico de política externa, não há estudos específi-
cos sobre o tema. Esta análise examina as pesquisas
de opinião do IBOPE realizadas nos anos de 1961 e
1962 para compreender de que maneira teria se
dado essa manifestação da opinião pública a respei-
to da PEI. Os resultados encontrados apontam ma-
joritariamente para um apoio às diretrizes da políti-
ca externa brasileira.
André Luis Prudêncio Sena
Da Independência ao Exílio: Notas sobre o Pensamen-
to de José Bonifácio na Construção de um Império
Americano
Coautor(es): Elizeu Santiago Tavares de Sousa, André
Luis Prudêncio Sena
Trabalho Completo
Resumo: Os escritos políticos de José Bonifácio de
Andrada e Silva, posteriores a 1822, nos oferecem
elementos de análise fundamentais para a compre-
ensão de um certo projeto imperial de poder com
vistas à uma primeira construção do Estado brasilei-
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIO-NAIS E DA POLÍTICA EXTERNA
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
88
ro em princípios do século XIX. De "bom vassalo por-
tuguês", Bonifácio encarnará a figura heroica do Pa-
triarca da Independência, título que o transformou
em um protagonista ideológico dos primeiros anos
do Império, sob a monarquia constitucional de Pe-
dro I. A experiência pessoal do desterro e do exílio
político, assim como a sua longa trajetória intelectu-
al em países como Portugal, Alemanha e França,
marcam a narrativa de Andrada, condenatória do
despotismo enquanto distorção da natureza do po-
der. No campo externo, sua leitura particular do ce-
nário internacional lhe permitirá desenhar os pri-
meiros contornos do que a história diplomática bra-
sileira convencionou chamar de Diplomacia da Inde-
pendência. Lançando mão dos escritos na imprensa,
no Parlamento e da produção epistolar, o presente
trabalho terá por propósito a análise do pensamen-
to andradiano aplicado à construção de um Império
constitucional nos trópicos, único por seus contor-
nos monárquicos em um continente marcado pelo
exemplo republicano. Dialogando com a História da
Política Externa e com o Pensamento Político Brasi-
leiro, as ideias a informar o processo de indepen-
dência brasileira circunscrevem-se ao ambiente
mais amplo de permissibilidade internacional que
possibilitaria a emergência de novos Estados nos
primeiros lustros do século XIX.
André Luiz Reis da Silva
A política externa do governo Dilma Rousseff: identifi-
cando interesses e condicionantes
Trabalho Completo
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo geral ana-
lisar as transformações da política externa brasileira
recente, com foco na inserção internacional do Bra-
sil durante o governo Dilma Rousseff (2011-2016),
em suas dimensões global e regional. Tem como
principais eixos de análise: a) definição das priorida-
des e seus condicionantes internos e internacionais;
b) projeção global; c) relações regionais. Utilizando
pressupostos de Análise de Política Externa (APE),
esta pesquisa analisa simultaneamente os condicio-
namentos internos e internacionais para a formula-
ção da política externa, identificando atores e inte-
resses. Em uma avaliação preliminar, verifica-se que
os condicionantes da política externa brasileira, sob
Dilma, tem como fundamentos: a) certo esgotamen-
to do “ativismo diplomático” brasileiro desenvolvido
na Era Lula; b) crise ou paralisia das negociações
multilaterais (OMC e ONU); c) dificuldades econômi-
cas em manter a cooperação Sul-Sul em patamar
elevado; d) crise interna brasileira, tanto de ordem
econômica como política; e) reflexos da primavera
árabe, que alterou o jogo de forças na região e blo-
queou algumas iniciativas para Oriente Médio e
Norte da África; f) mudança contextual da América
do Sul, fragilizando a integração.
Anselmo Otavio
África do Sul, África e 20 anos de African Renaissance
Trabalho Completo
Resumo: No mês de abril de 2018 completar-se-ão
vinte anos da realização do discurso intitulado The
African Renaissance, South Africa and the World.
Proferido por Thabo Mbeki na Universidade das Na-
ções Unidas no ano de 1998, tal discurso apresenta-
va ao mundo a proposta sul-africana de interação
com o mundo, bem como de sua inserção regional.
Conhecida como African Renaissance, tal proposta
indica, por um lado, que à interação da África do Sul
com o mundo deve ser pautada não apenas nas po-
tências tradicionais, destacadamente, Estados Uni-
dos, Inglaterra e França, mas também entre Pretória
e as potências emergentes, tais como Brasil, Índia,
China e Rússia. Paralelamente a isso, o African Re-
naissance destaca a necessidade da África do Sul em
priorizar o continente africano, inclusive, atuando
na criação e consolidação de iniciativas voltadas a
resolução de desafios relacionados à economia, po-
lítica e segurança regional. É pautado nesta maior
aproximação entre África do Sul e continente africa-
no que o artigo busca compreender a importância
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
89
do African Renaissance para a inserção sul-africana
no continente. A partir de uma vasta bibliografia,
busca-se defender a hipótese de que a formulação
de parcerias estratégicas, bem como a intensa parti-
cipação de iniciativas como a transformação da Or-
ganização da Unidade Africana em Unidade Africana
e na criação da Nova Parceria para o Desenvolvi-
mento Africano, foram escolhas que garantiram a
maior inserção sul-africana. Feito isso, espera-se
concluir que as estratégias desenvolvidas pela vi-
gência do African Renaissance durante a administra-
ção Mbeki foram mantidas ao longo da administra-
ção Zuma (2009-2018), fator que, consequentemen-
te, garantiu a continuidade da intensa inserção regi-
onal da África do Sul.
Bárbara Denise Carneiro Adad
Arcando com os Custos do Desenvolvimento e da In-
tegração Regional: um estudo sobre as estratégias de
inserção regional de Brasil e China
Resumo: Este trabalho busca analisar comparativa-
mente Brasil e China no que concerne sua política
externa regional; isto é, um estudo sobre as estraté-
gias de inserção regional de cada país. Nesse senti-
do, esse trabalho procura definir o espaço que os
entornos regionais ocupam na política externa re-
cente de Brasil e China e quais as estratégias que
cada país persegue para se relacionar com seus vizi-
nhos. A hipótese central é que, apesar de possuírem
relacionamentos históricos e contextos contempo-
râneos distintos com seu entorno regional, Brasil e
China têm buscado aproximar-se de seus vizinhos e
arcar com os custos do desenvolvimento e da inte-
gração regional. Serão analisadas a política externa
brasileira dos governos FHC e Lula, com especial
atenção às estratégias de inserção regional e a polí-
tica externa chinesa dos governos de Jiang Zemin/
Zhu Rongji e Hu Jintao/Wen Jiabao, também enfo-
cando nas estratégias de inserção regional destes
governos. Para tanto será realizada uma revisão bi-
bliográfica crítica sobre a política externa e as estra-
tégias de inserção regional recentes de Brasil e Chi-
na e em um trabalho comparativo entre estas duas
literaturas.
Beatriz Silva Flores dos Santos
O processo de Independência e os governos militares:
as relações Angola-Brasil de 1975 aos dias atuais.
Coautor(es): Johanna Larrubia Barreto, Thainá Queri-
no de Carvalho
Resumo: Na década de 1970, durante o governo mili-
tar de Ernesto Geisel, o Brasil almejava expandir sua
fronteira marítima, buscar novos mercados e petró-
leo. Enquanto na Angola recebia instalações de em-
presas brasileiras e buscava reconhecimento inter-
nacional em sua independência conturbada devido
aos movimentos revolucionários de autodetermina-
ção. Neste contexto, a convergência dos interesses
de ambos possibilitou um crescente desenvolvimen-
to das interações entre os dois países. Atualmente,
estas interações podem ser encontradas na grande
demanda de empresas brasileiras do ramo civil no
território angolano e concessões de crédito de ban-
cos brasileiros para os mesmos e que levou, em
2015, à criação do Acordo de Cooperação e Facilita-
ção de Investimento (ACFI). Este tem o objetivo de
aumentar as relações político-econômicas entre
Brasil e Angola, dessa forma ajudando empresas
que estão em processo de internacionalização e
procurando mais oportunidades tanto para troca de
informações quanto mecanismos e soluções para o
uso do comércio e negócios, levando assim uma ba-
se brasileira mais sólida à África. Levando em consi-
deração o contexto internacional de 1975 em meio
a tensão entre as duas principais potências globais e
o choque de suas ideologias, a pergunta que pode
ser feita é: O que motivou o Brasil a reconhecer a
independência de Angola e qual o peso das relações
político-econômicas nos dias atuais? Dessa forma, o
objetivo deste projeto consiste em traçar um pano-
rama sobre a história das interações entre Brasil e
Angola, que se deram no reconhecimento da inde-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
90
pendência angolana a partir de 1975 e entender co-
mo foram construídas estas relações diplomáticas e
comerciais mediante os acontecimentos internos do
território angolano juntamente com a mudança da
política externa brasileira. A proposta é apresentar
dados relacionados ao comércio entre ambos os
países e ressaltar a importância do Itamaraty para o
aprofundamento das relações diplomáticas, com-
preendendo a atual influência brasileira sobre Ango-
la.
Betina Thomaz Sauter
A política externa da Índia durante os anos da Guerra
Fria
Resumo: A independência indiana em 1947 coincidiu
com a Guerra Fria e sua política externa ficou associ-
ada a essa dinâmica. A Índia surgiu como líder do
Movimento dos Não-Alinhados e, também, contri-
buiu de forma significativa no processo de descolo-
nização e com tropas nas forças de paz da ONU. Adi-
cionalmente, emergiu como um dos primeiros pro-
ponentes de um tratado de proibição de testes nu-
cleares. Este primeiro período constituiu a fase co-
nhecida como idealista de sua política externa. No
entanto, a derrota militar contra a China em 1962
foi um “divisor de águas” na estrutura e na conduta
da política externa e de segurança da Índia. Pois, de
modo contrário a doutrina do não-alinhamento que
limitava os gastos com defesa, o país embarcou
num programa substancial de modernização militar
que culminou em um primeiro teste nuclear 1974. O
país passou a sustentar visões concorrentes; a retó-
rica do não-alinhamento continuou importante, mas
seu comportamento assumiu uma orientação cada
vez mais realista. Ademais, pressões geopolíticas da
China, do Paquistão e dos EUA durante os anos
1960 e 1970 levaram a Índia a se aproximar da
URSS, assinando um tratado de cooperação em
1971. Com laços estratégicos e econômicos estrei-
tos durante os anos 1970 e 1980, a URSS tornou-se
a “pedra angular” da política externa indiana. A Ín-
dia neste período foi o maior parceiro comercial do
terceiro mundo da URSS e os soviéticos foram o se-
gundo maior parceiro comercial da Índia, além de
uma importante fonte de armamento militar. Assim,
o objetivo deste artigo é analisar as razões da orien-
tação inicial da política externa indiana e a sua sub-
sequente mudança durante o período da Guerra
Fria através de uma pesquisa de natureza histórica.
Bruna Coelho Jaeger
A Atuação Regional do Brasil em Perspectiva Históri-
ca Comparada: um debate acerca do uso do conceito
de “subimperialismo” à época da ditadura civil-
militar (1964-1985) e do governo Lula da Silva (2003-
2010)
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo deste trabalho é realizar uma
análise acerca do papel do Brasil na América do Sul,
a partir de uma perspectiva comparada. Abordam-
se as principais características da atuação brasileira
na região no período da Ditadura Civil-Militar e no
governo Lula da Silva. No âmbito regional, a política
externa brasileira e a projeção do país foram tema
de intenso debate a respeito de um chamado
“subimperialismo” brasileiro na América Latina.
Conceito desenvolvido por Ruy Mauro Marini nos
anos 1970, refere-se ao fenômeno de uma econo-
mia dependente que assume a etapa imperialista do
capitalismo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial,
a nova dinâmica de acumulação de capital monopo-
lista teria tido o efeito de alavancar a superexplora-
ção do trabalho. Entre 1962 e 1964, no Brasil, o con-
texto de crise econômica teria incentivado a expan-
são externa na busca por ampliar o mercado consu-
midor, principalmente dos bens de consumo durá-
veis. Nos anos 2000, o movimento de expansão de
empresas brasileiras para a região, liderado por
grandes construtoras e financiado por bancos esta-
tais, produziu manifestações de denúncia de uma
prática subimperial. Assim, primeiramente, realiza-
se um debate teórico acerca do conceito de subim-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
91
perialismo, tendo como base a formulação empre-
endida por Marini. A seguir, analisa-se a projeção
regional do Brasil à época do regime militar, período
para o qual o conceito foi originalmente pensado.
Por fim, a terceira seção descreve a política externa
brasileira para a América do Sul no governo Lula,
apontando seus avanços e limitações. Ao final, con-
clui-se que, a despeito da recente atuação regional
do Brasil ter gerado temor em países vizinhos devi-
do à grande assimetria de poder que há na região,
diferentemente do período militar, no governo Lula
buscou-se uma aproximação mais cooperativa e in-
tegrada, visando justamente diminuir tal assimetria,
ainda que fizesse parte dos interesses do pacto do-
minante no Brasil.
Bruno Henrique Alves da Silva Costa
Relações entre Brasil e Coreia do Norte: Qual o papel
do Brasil nas questões internacionais que envolvem a
Coreia do Norte?
Coautor(es): Matheus Rangel de Almeida e Silva, Lu-
cas Chrystello Pederneiras, Caio Miranda de Sá Cam-
pelo
Resumo: A Coreia do Norte, desde a eclosão da
Guerra na península coreana na década de 1950, é
um Estado que desafia o status quo, sendo conside-
rado um Estado hostil aos interesses norte-
americanos. Essa hostilidade cresceu recentemente
após a Coreia do Norte começar a desenvolver o seu
programa nuclear e realizar testes com mísseis ba-
lísticos. Esse tema é de alta repercussão não só na
mídia internacional, mas também na mídia brasilei-
ra. Um conflito entre a Coreia do Norte e os EUA
não se limitaria apenas a essas duas nações e outros
países da região como a Rússia, China, Japão e a Co-
reia do Sul, mas também diversos países ao redor
do globo. Apesar disso, recentemente há a possibili-
dade dos dois líderes se encontrarem para debater
a respeito do programa nuclear norte-coreano, mas
ainda não há data e local definidos para o encontro.
Sendo o Brasil um aliado histórico do Ocidente e dos
EUA, há um claro posicionamento contrário na gran-
de mídia brasileira em relação aos testes nucleares
da Coreia do Norte e ao seu governo. Apesar disso,
o Brasil mantém relações diplomáticas e econômi-
cas, além de prestar cooperação técnica e ajuda hu-
manitária com a Coreia do Norte em certos momen-
tos de crise. Vale ressaltar que o Brasil é o único país
latino-americano que possui representações nas
duas Coreias, o que pode colocar o Estado brasileiro
como um importante player em negociações.
Essa pesquisa tem como objetivo analisar as rela-
ções Coreia do Norte-Brasil a partir dos princípios
que pautam as relações internacionais do Brasil e
que estão presentes na Constituição Brasileira. Além
disso iremos mostrar os dados comerciais em maior
abrangência possível, pois tais dados são escassos,
principalmente pelo fato de que as relações entre
os dois países são pequenas.
Caio Miranda de Sá Campelo
Relações entre Brasil e Coreia do Norte: Qual o papel
do Brasil nas questões internacionais que envolvem a
Coreia do Norte?
Coautor(es): Bruno Henrique Alves da Silva Costa,
Matheus Rangel de Almeida e Silva, Lucas Chrystello
Pederneiras
Resumo: A Coreia do Norte, desde a eclosão da
Guerra na península coreana na década de 1950, é
um Estado que desafia o status quo, sendo conside-
rado um Estado hostil aos interesses norte-
americanos. Essa hostilidade cresceu recentemente
após a Coreia do Norte começar a desenvolver o seu
programa nuclear e realizar testes com mísseis ba-
lísticos. Esse tema é de alta repercussão não só na
mídia internacional, mas também na mídia brasilei-
ra. Um conflito entre a Coreia do Norte e os EUA
não se limitaria apenas a essas duas nações e outros
países da região como a Rússia, China, Japão e a Co-
reia do Sul, mas também diversos países ao redor
do globo. Apesar disso, recentemente há a possibili-
dade dos dois líderes se encontrarem para debater
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
92
a respeito do programa nuclear norte-coreano, mas
ainda não há data e local definidos para o encontro.
Sendo o Brasil um aliado histórico do Ocidente e dos
EUA, há um claro posicionamento contrário na gran-
de mídia brasileira em relação aos testes nucleares
da Coreia do Norte e ao seu governo. Apesar disso,
o Brasil mantém relações diplomáticas e econômi-
cas, além de prestar cooperação técnica e ajuda hu-
manitária com a Coreia do Norte em certos momen-
tos de crise. Vale ressaltar que o Brasil é o único país
latino-americano que possui representações nas
duas Coreias, o que pode colocar o Estado brasileiro
como um importante player em negociações.
Essa pesquisa tem como objetivo analisar as rela-
ções Coreia do Norte-Brasil a partir dos princípios
que pautam as relações internacionais do Brasil e
que estão presentes na Constituição Brasileira. Além
disso iremos mostrar os dados comerciais em maior
abrangência possível, pois tais dados são escassos,
principalmente pelo fato de que as relações entre
os dois países são pequenas.
Daniel Cunha Rego
A Bossa Nova e as estratégias de política externa bra-
sileira: 1958-1964
Resumo: O trabalho tem como objetivo identificar
maneiras pelas quais a Bossa Nova e a política exter-
na brasileira revelaram diferentes interfaces no pe-
ríodo de 1958 a 1964. Para isso iremos, por um la-
do, abordar os ideais políticos em voga na época,
sobretudo a noção de “modernidade”, buscando
entender até que ponto a Bossa Nova exprimia, em
seus objetivos estéticos, ideias que se coadunavam
com o objetivo desenvolvimentista, bastante evi-
dente na formulação e execução da política externa
brasileira à época. Por outro lado, abrangeremos os
meios pela qual o Estado brasileiro apropriou-se do
gênero musical e impulsionou sua internacionaliza-
ção, bem como as motivações para tal ação interna-
cional, tendo em vista que ganhos traria para o Bra-
sil a divulgação internacional da referida manifesta-
ção musical. Para empreender tais análises, utiliza-
remos como base o conceito de diplomacia cultural,
entendida aqui como responsável pela criação de
narrativas que venham a proporcionar poder simbó-
lico a um país. Para isso, a cultura tanto informa a
formulação da política externa quanto é instrumen-
talizada pela diplomacia cultural, tendo sempre co-
mo horizonte as percepções de identidade, ou seja,
o quanto o “objeto cultural” em questão represen-
ta, num nível, a realidade do país e, noutro nível,
projetos políticos e sociais, e mesmo políticas públi-
cas, como é o caso da política externa. A Bossa Nova
seria, assim, um anteparo estético da política de na-
cional-desenvolvimentismo em voga na época. Bus-
caremos também explicitar como a ação do Estado
brasileiro foi importante para a popularização, inici-
almente nos Estados Unidos e depois em escala glo-
bal, do gênero musical. O Itamaraty agiu ativamente
apoiando e promovendo, inclusive financeiramente,
concertos e álbuns de músicos brasileiros no exteri-
or a partir, pelo menos, de 1962, ano em que ocor-
reu o marco da difusão internacional da Bossa Nova,
o concerto no Carnegie Hall, em Nova York.
Daniel Rei Coronato
O Brasil e a busca pelo equilíbrio de poder durante a
formação dos Estados no subsistema do Prata (1828-
1852)
Resumo: O período entre os anos de 1828-1852 re-
presentou um dos momentos mais decisivos para as
relações internacionais no subsistema platino. Após
o ciclo das independências, as unidades políticas
herdeiras do longo passivo colonial passaram a ex-
perimentar diversas tentativas de organização e
consolidação nacional, resultando em grandes movi-
mentações sistêmicas. Esse processo foi gestado em
meio a uma série de debilidades, como a dissemina-
da impossibilidade de centralização política, dificul-
dades na delimitação de fronteiras e baixa garantia
de pacificação interna. Essa realidade produziu uma
dinâmica intensa de disputas regionais e provinciais,
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
93
resultando em um ambiente internacional próprio,
de características eminentemente pré-nacionais. O
Império do Brasil vivenciou essa experiência de ma-
neira intensa, especialmente na sua porção meridio-
nal, condicionado pela grande precariedade dos
seus aparelhos de coerção, debilidade fiscal e parti-
cularmente pelos elos de dependência para com a
oligarquia rio-grandense. Nessa relação residiu par-
te considerável das questões que envolveram a polí-
tica externa brasileira, determinando comporta-
mentos e influindo na distribuição de poder regio-
nal. Apresentaremos então um debate sobre como
no espaço provincial do Rio Grande do Sul afetaram
a diplomacia imperial, dando ênfase aos nexos de
oposição e complementaridade entre o governo
central e oligarcas meridionais na formação da polí-
tica exterior brasileira para o Prata.
Danillo Alarcon
The South American-Arab Countries’ Summits and
cross-regional contacts through the lenses of Global
History
Resumo: When the first Summit of South American-
Arab Countries (ASPA) happened in 2005, in Brasília,
Brazil, the international system showed signs of
change towards what was broadly perceived as a
multipolar order. The parties at that first encounter
have engaged in a rhetorical attitude to criticize the
international structure, and at the same time they
defended some of its international principles. Howe-
ver, the IV Summit (Riyadh, Saudi Arabia, 2015)
lacked that enthusiasm that characterized the previ-
ous ones. This paper aims to examine the ASPA
Summits (2005, 2009, 2012, 2015) through the Glo-
bal History perspective in order to understand the
content of its main documents in terms of a structu-
ral change standpoint of the international system.
The Global History perspective, as plural as it may
be, pushes researchers to overcome Eurocentrism
and methodological nationalism in search for large-
scale integration and causation from a global level,
in the words of Sebastian Conrad. It may be asser-
ted that each Summit was marked by a different
context and therefore, two questions are to be
answered: how has each Summit reflected its own
context? And, to which extent have elements of
continuity and change prevailed? The focus, there-
fore, shall not be particularly in the regional or nati-
onal perspective of the countries involved, but on
that spatiality interaction with the global, and vice
versa.
Eduardo Uziel
A História da Política Externa Brasileira em Questão
Coautor(es): Norma Breda dos Santos, Norma Breda
dos Santos, Eduardo Uziel
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo do artigo é estudar a política ex-
terna brasileira em perspectiva histórica dando
atenção à teoria e sobretudo à dimensão metodoló-
gica. Como tem sido avaliada atualmente a questão
do acesso à documentação e às fontes em geral: a
utilização de entrevistas, depoimentos, memórias,
arquivos pessoais, arquivos de organizações interna-
cionais, a documentação diplomática? O trabalho
está dividido em três partes. A primeira delas trata
da situação do acesso aos arquivos públicos no Bra-
sil, em particular do acesso ao Arquivo Histórico do
Itamaraty, e discute a aplicação e efetividade da Lei
de Acesso à Informação, de 2011. A segunda mostra
como os discursos oficiais e declarações públicas
emitidas por autoridades têm tido um demasiado
peso relativo nos estudos da história da política ex-
terna brasileira, quando comparados a outras fontes
disponíveis. A terceira e última parte discute a im-
portância da contextualização da produção de docu-
mentos pelo historiador da política externa brasilei-
ra, assim como suas prováveis dificuldades, confor-
me aponta a historiografia da área produzida nas
últimas décadas.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
94
Elcinea Silva de Castro
Continuidade e Política Externa: A aliança britânica e
norte-americana com a Arábia Saudita
Trabalho Completo
Resumo: O presente artigo objetiva investigar a polí-
tica externa norte-americana e a relação especial
(special relationship) com o Estado da Arábia Saudi-
ta, considerando a transição de poder na região do
império britânico para o norte-americano durante a
formação do Estado saudita. Pretende-se analisar o
processo histórico neste recorte temporal, a partir
das variáveis: espaço territorial, físico e social. Inten-
ta-se analisar a forma pela qual os grupos sociais –
com foco na sociedade civil e família real - se inseri-
ram nos espaços de produção da economia da Ará-
bia Saudita, sob os auspícios de ambos os impérios,
britânico e norte-americano e em paralelo, conside-
rar o instrumento ideológico utilizado pelo Estado
saudita, a religião. A principal hipótese a ser investi-
gada é a de que primeiramente o império britânico
e agora o norte-americano construíram uma relação
especial com a Arábia Saudita, mesmo destoando
do discurso imperialista de democratização na regi-
ão, em função da manutenção de seus interesses
domésticos materiais, especialmente a dependência
energética e os interesses geoestratégicos na regi-
ão.
Elizeu Santiago Tavares de Sousa
Da Independência ao Exílio: Notas sobre o Pensamen-
to de José Bonifácio na Construção de um Império
Americano
Coautor(es): André Luis Prudêncio Sena
Trabalho Completo
Resumo: Os escritos políticos de José Bonifácio de
Andrada e Silva, posteriores a 1822, nos oferecem
elementos de análise fundamentais para a compre-
ensão de um certo projeto imperial de poder com
vistas à uma primeira construção do Estado brasilei-
ro em princípios do século XIX. De "bom vassalo por-
tuguês", Bonifácio encarnará a figura heroica do Pa-
triarca da Independência, título que o transformou
em um protagonista ideológico dos primeiros anos
do Império, sob a monarquia constitucional de Pe-
dro I. A experiência pessoal do desterro e do exílio
político, assim como a sua longa trajetória intelectu-
al em países como Portugal, Alemanha e França,
marcam a narrativa de Andrada, condenatória do
despotismo enquanto distorção da natureza do po-
der. No campo externo, sua leitura particular do ce-
nário internacional lhe permitirá desenhar os pri-
meiros contornos do que a história diplomática bra-
sileira convencionou chamar de Diplomacia da Inde-
pendência. Lançando mão dos escritos na imprensa,
no Parlamento e da produção epistolar, o presente
trabalho terá por propósito a análise do pensamen-
to andradiano aplicado à construção de um Império
constitucional nos trópicos, único por seus contor-
nos monárquicos em um continente marcado pelo
exemplo republicano. Dialogando com a História da
Política Externa e com o Pensamento Político Brasi-
leiro, as ideias a informar o processo de indepen-
dência brasileira circunscrevem-se ao ambiente
mais amplo de permissibilidade internacional que
possibilitaria a emergência de novos Estados nos
primeiros lustros do século XIX.
Fabiano Farias de Souza
Acordo Nuclear Brasil-Alemanha Federal de 1975: a
questão nuclear no contexto do Pragmatismo Ecumê-
nico e Responsável do governo Geisel
Trabalho Completo
Resumo: O presente trabalho examina a questão nu-
clear brasileira com ênfase na medida de maior im-
pacto na política externa que foi o emblemático
Acordo Nuclear assinado entre Brasil e Alemanha
Federal em 1975. O acordo chamou a atenção do
mundo ao nosso país, pois previa, pela Alemanha, a
transferência do ciclo nuclear de forma integral. Ou
seja, incluindo todas as etapas que permitiriam ao
Brasil tornar-se independente neste campo e se ca-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
95
pacitar, com o domínio desta tecnologia, para a
construção de um artefato atômico. Neste sentido,
analisa-se a priorização do desenvolvimento nuclear
como instrumento de viabilização do projeto de po-
tência tencionado pelo regime militar. Durante o
governo Geisel, a atuação internacional do Brasil foi
pautada pela construção de uma imagem própria e
autônoma conduzida sob o signo do Pragmatismo
Ecumênico e Responsável pelo chanceler Azeredo
da Silveira. Percebe-se que a ambição nuclear sim-
bolizava as aspirações brasileiras de galgar a hierar-
quia internacional de poder com a perspectiva de
redução do caráter assimétrico em relação aos paí-
ses desenvolvidos. Elenca-se então, um conjunto de
fatores que propiciaram um momento histórico fa-
vorável à assinatura de um acordo nuclear de pro-
porções ambiciosas e fora da órbita norte-
americana. O referido acordo adquiriu caráter sim-
bólico para as relações internacionais do país ao
permitir materializar a ambição brasileira de valori-
zação internacional e confirmação dos pressupostos
da política externa do período, caracterizada por
uma particular independência no cenário internaci-
onal e distanciamento de Washington. Além disso,
no campo na política nuclear, o acordo teuto-
brasileiro tornou-se paradigmático para a área, com
implicações nos anos posteriores, mesmo ficando
aquém das expectativas, porém influenciando a
emergência de um programa autônomo de tecnolo-
gia nuclear por parte das forças armadas que logra-
ria maior êxito que o programa nuclear oficial.
Felipe Martins Dos Santos
Sentinelas da Fronteira: Notas sobre o papel dos re-
presentantes diplomáticos na fronteira platina
Coautor(es): Abiane de Alcantara Carneiro, Felipe
Fernanda Silva de Morais, Fhrans Sales Gonçalves
Alves, Jonathan Ramos Oliveira, Leila Anasol Maciel
Resumo: O projeto de pesquisa investiga as práticas
dos representantes diplomáticos do Império do Bra-
sil, das Repúblicas Unidas do Rio da Prata e da Repú-
blica Oriental do Uruguai que atuaram na região pla-
tina entre os anos de 1828-1852. A análise da atua-
ção das práticas diplomáticas revela as identidades
mistas que se configuraram na fronteira e o circuito
migrante entre as regiões. Através da abordagem
contextualista aparecem à cena: os conceitos, as
táticas e as estratégias que estabeleceram os cons-
trutores dos Estados brasileiro, uruguaio e argentino
para controlar o trânsito migrante, como também
uma leitura a contrapelo das fontes revela projetos
políticos alternativos e hábitos culturais da fronteira
que não poderiam pertencer às identidades nacio-
nais legitimadas pelas narrativas oficiais. A pesquisa
está baseada na participação dos diplomatas na
construção de identidades políticas dos Estados
fronteiriços. A partir da leitura dos Relatórios da Re-
partição de Negócios Exteriores do Império do Brasil
dos anos de 1830, 1832, 1833 e 1835, surgiu a hipó-
tese de que a história oculta da diplomacia brasileira
está associada à defesa do sistema escravista, por-
que os primeiros diplomatas brasileiros trabalharam
para negociar caminhos alternativos para a manu-
tenção do comércio internacional de escravos afri-
canos, mesmo após as proibições inglesas. Assim,
descolonizar a diplomacia é reconhecer o seu papel
na promoção do racismo no Brasil.
Fernanda Conforto de Oliveira
International Financial Negotiations and Political Ac-
tors: the disruption of IMF-Brazilian relations during
the Administration of Juscelino Kubitschek (1957-
1959)
Resumo: A key moment in the history of IMF-
Brazilian relations took place during the Juscelino
Kubitschek government (1956-1961). The Internati-
onal Monetary Fund (IMF) played a crucial role for
Kubitschek’s Brazil as foreign investments were of
utmost importance for the president's economic
program: the so-called Targets Plan (Plano de Me-
tas). In 1958, Brazil and the IMF signed a stand-by
agreement, which provided funds to Brazil conditio-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
96
ned to the implementation of a stabilization pro-
gram. Facing the dilemma of obtaining external re-
sources for countering the imbalance of the
country's balance of payments, or implementing
policies that could compromise the goals of his ad-
ministration, Kubitschek chose the latter option,
breaking up relations with the IMF in June 1959.
Despite its great historical relevance, scholars have
rarely looked into the conditions of the breakup
between Brazil and the IMF, and the few who did it
produced studies based on fragile empirical basis.
By looking into Brazilian, IMF and U.S. official sour-
ces (both private and public), as well as into Brazili-
an commercial journals, this research seeks to com-
prehend the conditions that encouraged the Kubits-
chek government to break up negotiations with the
Fund in mid-1959. The argument presented here is
that the main condition that led to the estrange-
ment between Brazil and the IMF was the changing
U.S. foreign financial assistance policy towards JK’s
government. Throughout the negotiation process
with the IMF and due to the break up, U.S.-Brazilian
relations reached a low, encouraging Brazil to carry
out a more multilateral foreign policy. This research
may contribute to studies focused on analyzing Bra-
zil-IMF relations and broader issues, such as the
conditions that led to the 1964 civil-military coup in
Brazil, IMF-U.S.-Latin American relations in the post-
WWII period and the foundations of the global fi-
nancial system that arose after the World War II.
Fernanda Silva de Morais
Sentinelas da Fronteira: Notas sobre o papel dos re-
presentantes diplomáticos na fronteira platina
Coautor(es): Abiane de Alcantara Carneiro, Felipe
Martins Dos Santos, Fhrans Sales Gonçalves Alves,
Jonathan Ramos Oliveira, Leila Anasol Maciel
Resumo: O projeto de pesquisa investiga as práticas
dos representantes diplomáticos do Império do Bra-
sil, das Repúblicas Unidas do Rio da Prata e da Repú-
blica Oriental do Uruguai que atuaram na região pla-
tina entre os anos de 1828-1852. A análise da atua-
ção das práticas diplomáticas revela as identidades
mistas que se configuraram na fronteira e o circuito
migrante entre as regiões. Através da abordagem
contextualista aparecem à cena: os conceitos, as
táticas e as estratégias que estabeleceram os cons-
trutores dos Estados brasileiro, uruguaio e argentino
para controlar o trânsito migrante, como também
uma leitura a contrapelo das fontes revela projetos
políticos alternativos e hábitos culturais da fronteira
que não poderiam pertencer às identidades nacio-
nais legitimadas pelas narrativas oficiais. A pesquisa
está baseada na participação dos diplomatas na
construção de identidades políticas dos Estados
fronteiriços. A partir da leitura dos Relatórios da Re-
partição de Negócios Exteriores do Império do Brasil
dos anos de 1830, 1832, 1833 e 1835, surgiu a hipó-
tese de que a história oculta da diplomacia brasileira
está associada à defesa do sistema escravista, por-
que os primeiros diplomatas brasileiros trabalharam
para negociar caminhos alternativos para a manu-
tenção do comércio internacional de escravos afri-
canos, mesmo após as proibições inglesas. Assim,
descolonizar a diplomacia é reconhecer o seu papel
na promoção do racismo no Brasil.
Fhrans Sales Gonçalves Alves
Sentinelas da Fronteira: Notas sobre o papel dos re-
presentantes diplomáticos na fronteira platina
Coautor(es): Abiane de Alcantara Carneiro, Felipe
Martins Dos Santos, Fernanda Silva de Morais, Jona-
than Ramos Oliveira, Leila Anasol Maciel
Resumo: O projeto de pesquisa investiga as práticas
dos representantes diplomáticos do Império do Bra-
sil, das Repúblicas Unidas do Rio da Prata e da Repú-
blica Oriental do Uruguai que atuaram na região pla-
tina entre os anos de 1828-1852. A análise da atua-
ção das práticas diplomáticas revela as identidades
mistas que se configuraram na fronteira e o circuito
migrante entre as regiões. Através da abordagem
contextualista aparecem à cena: os conceitos, as
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
97
táticas e as estratégias que estabeleceram os cons-
trutores dos Estados brasileiro, uruguaio e argentino
para controlar o trânsito migrante, como também
uma leitura a contrapelo das fontes revela projetos
políticos alternativos e hábitos culturais da fronteira
que não poderiam pertencer às identidades nacio-
nais legitimadas pelas narrativas oficiais. A pesquisa
está baseada na participação dos diplomatas na
construção de identidades políticas dos Estados
fronteiriços. A partir da leitura dos Relatórios da Re-
partição de Negócios Exteriores do Império do Brasil
dos anos de 1830, 1832, 1833 e 1835, surgiu a hipó-
tese de que a história oculta da diplomacia brasileira
está associada à defesa do sistema escravista, por-
que os primeiros diplomatas brasileiros trabalharam
para negociar caminhos alternativos para a manu-
tenção do comércio internacional de escravos afri-
canos, mesmo após as proibições inglesas. Assim,
descolonizar a diplomacia é reconhecer o seu papel
na promoção do racismo no Brasil.
Guilherme Ziebell de Oliveira
A Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano:
uma análise dos impactos da NEPAD para o desenvol-
vimento da África no Século XXI
Trabalho Completo
Resumo: O trabalho analisa o papel da Nova Parceria
para o Desenvolvimento Africano (NEPAD), criada
em 2001, nas mudanças socioeconômicas vividas
pelo continente africano ao longo do Século XXI.
Após duas décadas de isolamento e marginalização
no sistema internacional, a África passou a viver, a
partir do início dos anos 2000, um novo momento
em sua história, passando a ter renovada importân-
cia política, econômica e geoestratégica. Como par-
te fundamental deste novo contexto e das mudan-
ças por ele acompanhadas, duas iniciativas africanas
têm grande relevância, uma de cunho primordial-
mente político – a transformação da Organização da
Unidade Africana em União Africana –, e outra de
natureza essencialmente econômica – a criação da
NEPAD –, que tinha como principal objetivo promo-
ver o desenvolvimento africano a partir de uma
perspectiva e de um protagonismo essencialmente
africanos. Este trabalho, assim, busca avaliar o
quanto as mudanças socioeconômicas vivenciadas
pela África a partir do início dos anos 2000 está as-
sociada à criação da NEPAD. Para tanto, apresenta,
uma breve discussão a respeito do contexto socioe-
conômico em que o continente estava inserido ime-
diatamente antes da implementação da NEPAD,
bem como das principais características e objetivos
estabelecidos pela Parceria. Em seguida, analisa di-
versos indicadores sociais e econômicos, de forma a
viabilizar uma avaliação das mudanças ocorridas no
continente africano, bem como a análise da centrali-
dade da NEPAD em tais mudanças. Para tanto, são
comparados dados da África, da América Latina e
dos países da OCDE. Conclui-se que o continente
africano vivenciou uma melhora importante em
seus indicadores socioeconômicos ao longo do Sé-
culo XXI, e que tal melhora pode ser considerada
como ligada à NEPAD. Ainda assim, o continente
avançou em um ritmo mais lento que o restante do
mundo, o que indica um aumento no hiato de de-
senvolvimento, a despeito do avanço africano ao
longo dos anos 2000.
Gustavo Alvim de Góes Bezerra
Qual Escravidão é Enlutada? Uma leitura crítica de
Disposable People de Kevin Bales
Resumo: No livro "Disposable People: new slavery in
the Global Economy", de Kevin Bales o autor traba-
lha a proximidade do trabalho escravo com a econo-
mia formal em diferentes países e contextos econô-
micos. Reconhecendo a importância da denúncia e
do trabalho de pesquisa desenvolvido por Bales, es-
te trabalho se engaja com a percepção que Bales
tem sobre a escravidão do século XIX e a forma co-
mo desenvolve essa percepção no seu trabalho, em
especial a possibilidade de comparar os dois fenô-
menos (o histórico e o atual) que o autor enxerga.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
98
Essa crítica está dividida em duas partes: na primei-
ra seção o foco é a percepção de Bales de que for-
mas de escravidão contemporâneas são mais cruéis
que aquelas do século XIX. Essa crítica é feita a par-
tir do livro de Judith Butler, "Precarious Lifes" e a
definição das mortes passíveis de luto. A segunda
parte da crítica foca na diferença que existe entre a
escravidão como trabalho - a escravidão conteem-
porânea apresentada pelo autor - e a escravidão
como sistema - aquela desenvolvida no século XIX -
e como essa diferença torna a comparação difícil,
pois são fenômenos sociais diferentes, apesar de
ambos envolverem violências profundas contra indi-
víduos. Essa parte da crítica é desenvolvida a partir
dos debates de História da Escravidão, em especial
os debates sobre Segunda Escravidão.
Hércules Paulino de Souza
Memórias das Guerras Sino-Japonesas e o nacionalis-
mo japonês: impactos na relação com a China
Resumo: Completando-se quatro décadas da assina-
tura do Tratado de Paz e Amizade entre Japão e Re-
pública Popular da China (1978), torna-se profícuo
refletir a respeito da evolução da relação bilateral
sino-japonesa durante tal período. Entre as refle-
xões relevantes a serem feitas, destacamos aqui a
compreensão da história e da memória sobre o con-
flito por parte das sociedades dos países envolvidos.
Uma vez que a interpretação dos acontecimentos
históricos, a construção e transmissão da memória
coletiva estão sujeitas a serem institucionalmente
delineadas por processos de seleção e exclusão, so-
bretudo por parte dos Estados, é natural que inter-
pretações históricas sobre conflitos difiram entre
antagonistas passados, como China e Japão. A diver-
gência sobre a história do conflito sino-japonês
emerge de forma recorrente – e.g. seja devido às
polêmicas que envolvem cerimônias que marcam o
fim da guerra, postura nacionalista de setores da
população em ambas as sociedades ou dos próprios
Estados – e possui capacidade de tocar em cicatrizes
e revolver memórias ainda pungentes, instigando
narrativas e sentimentos nacionais que afetam ne-
gativamente a relação diplomática bilateral. A diplo-
macia chinesa aponta que o sucesso da relação sino
-japonesa está diretamente ligado à solução da
questão histórica e a necessidade de que o Japão
encare o período de agressões com sinceridade,
mantendo em mente as lições da história. Portanto,
visto a importância da temática, no presente traba-
lho nos propomos a refletir sobre posições da parte
japonesa quanto à história do conflito que geram
inquietação na sociedade chinesa e atritos na rela-
ção sino-japonesa – posturas como a dificuldade de
parte da classe política japonesa em abordar apro-
priadamente o passado agressivo do país em rela-
ção aos vizinhos, os vagos pedidos de desculpas go-
vernamentais e ações controversas de governantes
japoneses, assim como a narrativa histórica revisio-
nista de nacionalistas que negam os crimes de guer-
ra cometidos durante a invasão japonesa à China.
Jahde de Almeida Lopez
Atuação de Corporações estadunidenses no período
militar da América do Sul: Uma análise dos casos Bra-
sil-Paraguai.
Coautor(es): Luan Correa Brum
Resumo: Este trabalho tem como propósito analisar
a atuação das corporações estadunidenses durante
os regimes militares no Brasil (1964-1985) e no Pa-
raguai (1954-1989). Mais especificamente, se busca
examinar não somente a influência na conformação
dos próprios regimes, mas também os mecanismos
aos quais teriam sido utilizados nesse relacionamen-
to. O contexto internacional de Guerra Fria é im-
prescindível para compreender a atuação das res-
pectivas corporações sob tais regimes uma vez que
estes encontravam-se a deriva da política externa
empreendida pelos Estados Unidos quando as pró-
prias corporações se aproveitam de tal ambiente
para alcançar maior lucratividade. Nesse sentido,
pretende-se averiguar se é possível evidenciar uma
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
99
linha geral de atuação destas corporações tanto em
relação ao Brasil como ao Paraguai. Ou seja, inde-
pendentemente das diferenças existentes entre am-
bos os países em termos de expressividade e desen-
volvimento regional, o que se busca analisar, é se há
uma espécie de padrão na atuação das corporações
que independa destes fatores distintos. De fato, os
resultados apontam para a existência de um certo
padrão de atuação como por exemplo: governo di-
tatorial alinhado aos interesses dos Estados Unidos
num período ao qual o sistema internacional confi-
gurava-se de forma bipolar (EUA x URSS); aumento
de investimentos advindos de Washington de forma
direta e indireta por intermédio de suas instituições
e corporações privadas; concessões dos governos
do Brasil, assim como do Paraguai em prol dos inte-
resses das empresas estadunidenses; criação de de-
cretos-leis em favor das necessidades destes atores
privados e por fim a constatação de lobby político-
econômico.
Jéssica Cristina Resende Máximo
The stories we tell ourselves: a pesquisa, a produção
e o ensino na área de História das Relações Internaci-
onais e História da Política Externa no Brasil entre os
anos de 2007 a 2017
Resumo: Este artigo busca explorar a pesquisa, a pro-
dução e o ensino na área de História das Relações
Internacionais e História da Política Externa no Bra-
sil, entre os anos de 2007 a 2017. Para tal, utiliza-se
de três fontes de dados: a) trabalhos da área apre-
sentados nos encontros e seminários promovidos
pela Associação Brasileira de Relações Internacio-
nais (ABRI); b) publicações da área nos periódicos
nacionais de classificação A1/A2 do QUALIS de Ciên-
cia Política e Relações Internacionais; e c) progra-
mas de disciplinas da área, conforme estipulado pe-
las Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de gra-
duação em Relações Internacionais (Resolução CNE/
CES 4/2017). Esta investigação será feita através de
técnicas de análise de conteúdo qualitativa (ACQ)
que visam sumarizar os temas, métodos e persua-
sões teóricas apresentadas no material, assim como
expandir/explicar estes achados provisórios através
do contexto restrito da literatura acerca das intera-
ções entre a História e as Relações Internacionais.
Johanna Larrubia Barreto
O processo de Independência e os governos militares:
as relações Angola-Brasil de 1975 aos dias atuais.
Coautor(es): Johanna Larrubia Barreto, Thainá Queri-
no de Carvalho, Beatriz Silva Flores dos Santos
Resumo: Na década de 1970, durante o governo mili-
tar de Ernesto Geisel, o Brasil almejava expandir sua
fronteira marítima, buscar novos mercados e petró-
leo. Enquanto na Angola recebia instalações de em-
presas brasileiras e buscava reconhecimento inter-
nacional em sua independência conturbada devido
aos movimentos revolucionários de autodetermina-
ção. Neste contexto, a convergência dos interesses
de ambos possibilitou um crescente desenvolvimen-
to das interações entre os dois países. Atualmente,
estas interações podem ser encontradas na grande
demanda de empresas brasileiras do ramo civil no
território angolano e concessões de crédito de ban-
cos brasileiros para os mesmos e que levou, em
2015, à criação do Acordo de Cooperação e Facilita-
ção de Investimento (ACFI). Este tem o objetivo de
aumentar as relações político-econômicas entre
Brasil e Angola, dessa forma ajudando empresas
que estão em processo de internacionalização e
procurando mais oportunidades tanto para troca de
informações quanto mecanismos e soluções para o
uso do comércio e negócios, levando assim uma ba-
se brasileira mais sólida à África. Levando em consi-
deração o contexto internacional de 1975 em meio
a tensão entre as duas principais potências globais e
o choque de suas ideologias, a pergunta que pode
ser feita é: O que motivou o Brasil a reconhecer a
independência de Angola e qual o peso das relações
político-econômicas nos dias atuais? Dessa forma, o
objetivo deste projeto consiste em traçar um pano-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
100
rama sobre a história das interações entre Brasil e
Angola, que se deram no reconhecimento da inde-
pendência angolana a partir de 1975 e entender co-
mo foram construídas estas relações diplomáticas e
comerciais mediante os acontecimentos internos do
território angolano juntamente com a mudança da
política externa brasileira. A proposta é apresentar
dados relacionados ao comércio entre ambos os
países e ressaltar a importância do Itamaraty para o
aprofundamento das relações diplomáticas, com-
preendendo a atual influência brasileira sobre Ango-
la.
Jonathan Ramos Oliveira
Sentinelas da Fronteira: Notas sobre o papel dos re-
presentantes diplomáticos na fronteira platina
Coautor(es): Abiane de Alcantara Carneiro, Felipe
Martins Dos Santos, Fernanda Silva de Morais,
Fhrans Sales Gonçalves Alves, Leila Anasol Maciel
Resumo: O projeto de pesquisa investiga as práticas
dos representantes diplomáticos do Império do Bra-
sil, das Repúblicas Unidas do Rio da Prata e da Repú-
blica Oriental do Uruguai que atuaram na região pla-
tina entre os anos de 1828-1852. A análise da atua-
ção das práticas diplomáticas revela as identidades
mistas que se configuraram na fronteira e o circuito
migrante entre as regiões. Através da abordagem
contextualista aparecem à cena: os conceitos, as
táticas e as estratégias que estabeleceram os cons-
trutores dos Estados brasileiro, uruguaio e argentino
para controlar o trânsito migrante, como também
uma leitura a contrapelo das fontes revela projetos
políticos alternativos e hábitos culturais da fronteira
que não poderiam pertencer às identidades nacio-
nais legitimadas pelas narrativas oficiais. A pesquisa
está baseada na participação dos diplomatas na
construção de identidades políticas dos Estados
fronteiriços. A partir da leitura dos Relatórios da Re-
partição de Negócios Exteriores do Império do Brasil
dos anos de 1830, 1832, 1833 e 1835, surgiu a hipó-
tese de que a história oculta da diplomacia brasileira
está associada à defesa do sistema escravista, por-
que os primeiros diplomatas brasileiros trabalharam
para negociar caminhos alternativos para a manu-
tenção do comércio internacional de escravos afri-
canos, mesmo após as proibições inglesas. Assim,
descolonizar a diplomacia é reconhecer o seu papel
na promoção do racismo no Brasil.
José Henrique Farias Pereira de Carvalho
A formação territorial do Estado Indiano e as pers-
pectivas pós-independência
Resumo: A formação territorial de um Estado consti-
tui-se como uma das bases fundamentais pelas
quais o mesmo interage no sistema internacional,
uma vez que, a partir da organização espacial, o Es-
tado é provido de condições materiais e geopolíticas
que auxiliam sua atuação internacional. Tendo isso
em perspectiva, este trabalho visa compreender
como ocorreu o processo de consolidação territorial
da Índia durante o período de domínio colonial do
Império Britânico no subcontinente indiano e o sub-
sequente processo de partição durante o movimen-
to de independência, entendendo que ele não cor-
respondia a um processo político inevitável. Propõe-
se, então, analisar a influência do comportamento
britânico na configuração do território da Índia pós-
independência, verificar as circunstâncias internas
as quais levaram a partição do território e traçar um
panorama das questões que o governo indiano en-
contrava-se diante no período. A fim de realizar este
trabalho, serão utilizados documentos provenientes
do Indian Office Records, contendo informações a
respeito da administração colonial, e registros do
próprio governo da Índia, além de uma revisão bibli-
ográfica sobre o tema proposto.
José Renato Silveira
Hegemonia militar não tradicional: o caso do Reino
Unido (1816-1830)
Trabalho Completo
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
101
Resumo: O presente estudo tentará apresentar uma
abordagem quali-quantitativa sob a perspectiva da
teoria da estabilidade hegemônica, identificando o
exercício de hegemonia militar não tradicional pelo
Reino Unido durante o período de 1816-1830. No
período escolhido notamos a ausência de guerras
centrais e localizadas, a redução dos efetivos milita-
res do Reino Unido, o entusiasmo decrescente pelas
intervenções militares na Europa e no mundo extra
europeu e um notável grau de predomínio global
em 1815, graças à sua combinação de domínio na-
val, crédito financeiro, habilidade comercial e diplo-
macia de alianças. Utilizaremos do método de abor-
dagem hipotético dedutivo e empregando quadros
e revisão bibliográfica (artigos internacionais, nacio-
nais, livros, teses e dissertações). O estudo apoia-se
numa pesquisa descritiva, da interação entre os re-
cursos econômicos e militares e buscaremos de-
monstrar que o Reino Unido exerceu uma forma
não tradicional de hegemonia militar, principalmen-
te, a partir de critérios não tradicionais: exército
permanente de pequenas proporções, força naval
robusta, império colonial em expansão e sem rival,
controle e domínio das finanças.
Julia de Castro Martins
O impacto da Primeira Guerra Mundial na mudança
dos papéis de gênero e no sufrágio feminino
Resumo: O presente trabalho investiga a relação en-
tre a Primeira Guerra Mundial, luta por emancipa-
ção feminina e garantia de direitos para as mulheres
a partir da perspectiva das mudanças dos papéis de
gênero na sociedade moderna. Partindo da apresen-
tação do contexto geral das características econômi-
cas e sociais durante a Grande Guerra, a relação en-
tre os dois elementos centrais do artigo são analisa-
das a partir das diferenças da participação feminina
no mercado de trabalho, a conquista feminina do
espaço público que é marcada por controvérsias e
disparidades. Para analisar essa relação, o trabalho
parte do estudo das mudanças nos papéis sociais de
gênero, frente às ideias do função pública e privada
da mulher bem como as reivindicações femininas do
século XVIII e XIX foram moldadas pelo desenrolar
do conflito europeu. Para tal, o artigo busca respon-
der a seguinte pergunta: Qual foi a influência da Pri-
meira Guerra Mundial no desenrolar do movimento
sufragista e de conquista da cidadania feminina, em
âmbitos sociais e econômicos? Para isso será utiliza-
da como procedimento técnico, a análise bibliográfi-
ca a partir do método dedutivo. A primeira (1) parte
do artigo objetiva demonstrar um panorama geral
da Primeira Guerra a partir da análise de seus níveis,
de acordo com Joseph Nye, e suas consequências
sociais, políticas e econômicas. A segunda (2) parte,
por sua vez, trata especificamente da função da mu-
lher durante a Guerra e suas conquistas de inserção
no mercado de trabalho. Enquanto a terceira (3)
parte adentra no assunto do sufrágio feminino e a
busca pela cidadania feminina.
Júlia Rodrigues Clemente Portela
O cetro feminino: uma pesquisa sobre a evolução do
papel das mulheres como monarcas da Inglaterra e
da Grã-Bretanha.
Coautor(es): Lorena Toffano Ferreira, Matheus Gui-
marães Aguiar Azevedo, Julia Santos Duarte
Resumo: Não se pode restringir a noção daquilo que
é Estado a uma fórmula pronta sobre a maneira co-
mo ele se comporta, sem considerar uma noção so-
cial. Para Tickner (1997), na linha média, a compre-
ensão do papel do Estado é masculinizada - na figu-
ra da defesa, truculência e manutenção de uma or-
dem a partir do embate físico direto. A imagem do
homem está muito associada historicamente a for-
mação do Estado que, desde a sua criação, pode ser
entendida através de uma perspectiva de gênero;
havendo sempre a ideia de Reis (homens). Tal en-
tendimento faz com que o Estado esteja associado a
violência, assédio e guerra, ou seja, uma concepção
masculinizada, mesmo quando governado por mu-
lheres. Sendo assim, o presente trabalho tem por
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
102
objetivo analisar a importância e evolução do papel
das Rainhas soberanas da Inglaterra e da Grã-
Bretanha, tendo em vista que os reinados femininos
marcaram profundamente a história das Ilhas Britâ-
nicas, gerando grandes debates e até hoje repercu-
tindo nas diferentes mídias. Começando pela Impe-
ratriz Matilda, impedida de suceder seu pai por ser
mulher; passando pela malograda Lady Jane Grey,
pelo conturbado reinado de Mary e também pelo
de sua irmã, Elizabeth I, onde se encontram as raí-
zes do domínio britânico sobre boa parte do mun-
do; assim como pelos reinados de outras duas ir-
mãs, Mary II e a Rainha Anne, após a Revolução Glo-
riosa; chegando à Rainha Victoria, que, no século
XIX, reinou sobre um Império “onde o sol jamais se
punha”; até chegar a atual Monarca, Elizabeth II, no
trono desde 1952, sendo testemunha e partícipe de
todas as mudanças sócio-políticas ocorridas desde
então. Buscamos estudar a política da Inglaterra e
da Grã-Bretanha, pois foi um poder hegemônico
que marcou profundamente a história das Relações
Internacionais e que, até os dias atuais, assume um
papel fundamental no Sistema Internacional.
Julia Santos Duarte
O cetro feminino: uma pesquisa sobre a evolução do
papel das mulheres como monarcas da Inglaterra e
da Grã-Bretanha.
Coautor(es): Lorena Toffano Ferreira, Júlia Rodrigues
Clemente Portela, Matheus Guimarães Aguiar Aze-
vedo
Resumo: Não se pode restringir a noção daquilo que
é Estado a uma fórmula pronta sobre a maneira co-
mo ele se comporta, sem considerar uma noção so-
cial. Para Tickner (1997), na linha média, a compre-
ensão do papel do Estado é masculinizada - na figu-
ra da defesa, truculência e manutenção de uma or-
dem a partir do embate físico direto. A imagem do
homem está muito associada historicamente a for-
mação do Estado que, desde a sua criação, pode ser
entendida através de uma perspectiva de gênero;
havendo sempre a ideia de Reis (homens). Tal en-
tendimento faz com que o Estado esteja associado a
violência, assédio e guerra, ou seja, uma concepção
masculinizada, mesmo quando governado por mu-
lheres. Sendo assim, o presente trabalho tem por
objetivo analisar a importância e evolução do papel
das Rainhas soberanas da Inglaterra e da Grã-
Bretanha, tendo em vista que os reinados femininos
marcaram profundamente a história das Ilhas Britâ-
nicas, gerando grandes debates e até hoje repercu-
tindo nas diferentes mídias. Começando pela Impe-
ratriz Matilda, impedida de suceder seu pai por ser
mulher; passando pela malograda Lady Jane Grey,
pelo conturbado reinado de Mary e também pelo
de sua irmã, Elizabeth I, onde se encontram as raí-
zes do domínio britânico sobre boa parte do mun-
do; assim como pelos reinados de outras duas ir-
mãs, Mary II e a Rainha Anne, após a Revolução Glo-
riosa; chegando à Rainha Victoria, que, no século
XIX, reinou sobre um Império “onde o sol jamais se
punha”; até chegar a atual Monarca, Elizabeth II, no
trono desde 1952, sendo testemunha e partícipe de
todas as mudanças sócio-políticas ocorridas desde
então. Buscamos estudar a política da Inglaterra e
da Grã-Bretanha, pois foi um poder hegemônico
que marcou profundamente a história das Relações
Internacionais e que, até os dias atuais, assume um
papel fundamental no Sistema Internacional.
Leila Anasol Maciel
Sentinelas da Fronteira: Notas sobre o papel dos re-
presentantes diplomáticos na fronteira platina
Coautor(es): Abiane de Alcantara Carneiro, Felipe
Martins Dos Santos, Fernanda Silva de Morais,
Fhrans Sales Gonçalves Alves, Jonathan Ramos Oli-
veira
Resumo: O projeto de pesquisa investiga as práticas
dos representantes diplomáticos do Império do Bra-
sil, das Repúblicas Unidas do Rio da Prata e da Repú-
blica Oriental do Uruguai que atuaram na região pla-
tina entre os anos de 1828-1852. A análise da atua-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
103
ção das práticas diplomáticas revela as identidades
mistas que se configuraram na fronteira e o circuito
migrante entre as regiões. Através da abordagem
contextualista aparecem à cena: os conceitos, as
táticas e as estratégias que estabeleceram os cons-
trutores dos Estados brasileiro, uruguaio e argentino
para controlar o trânsito migrante, como também
uma leitura a contrapelo das fontes revela projetos
políticos alternativos e hábitos culturais da fronteira
que não poderiam pertencer às identidades nacio-
nais legitimadas pelas narrativas oficiais. A pesquisa
está baseada na participação dos diplomatas na
construção de identidades políticas dos Estados
fronteiriços. A partir da leitura dos Relatórios da Re-
partição de Negócios Exteriores do Império do Brasil
dos anos de 1830, 1832, 1833 e 1835, surgiu a hipó-
tese de que a história oculta da diplomacia brasileira
está associada à defesa do sistema escravista, por-
que os primeiros diplomatas brasileiros trabalharam
para negociar caminhos alternativos para a manu-
tenção do comércio internacional de escravos afri-
canos, mesmo após as proibições inglesas. Assim,
descolonizar a diplomacia é reconhecer o seu papel
na promoção do racismo no Brasil.
Leonardo Chagas dos Santos
As históricas transformações geopolíticas do sul da
Ásia e seus impactos no comércio internacional india-
no
Resumo: A geopolítica contemporânea das nações
que compõem o subcontinente indiano pode ser
melhor compreendida quando se leva em conta a
reconfiguração político-geográfica que se deu após
o colapso do Império Britânico e sua imediata retira-
da da região. A rapidez com que os ingleses realiza-
ram a desocupação do território indiano e a falta de
coordenação para tal foram fatores determinantes
para a despontada de uma série de impasses de or-
dem territorial e fronteiriça que, no desenrolar dos
acontecimentos, foram dando origem a novos desa-
fios e, no que diz respeito aos casos mais problemá-
ticos, foram acobertados com soluções provisórias.
O artigo indicará que as mudanças geopolíticas no
subcontinente indiano deixaram um vácuo de poder
que possibilitou uma maior inserção da economia
Indiana na região e que, mesmo atualmente, os no-
vos desafios são frutos das históricas condições im-
postas pelas circunstâncias pós-retirada Britânica. A
partir de uma investigação histórica sobre o subcon-
tinente indiano, e com base no que é observável e
possível de depreender da atual conjuntura geopolí-
tica dos países da região, portanto, o presente tra-
balho busca destacar as principais transformações
geopolíticas no sul da Ásia desde a desocupação In-
glesa, sublinhando ainda os impactos que tais trans-
formações causaram para o comércio internacional
da República da Índia, Estado que cada vez mais tem
se afirmado como uma potência regional.
Lorena Toffano Ferreira
O cetro feminino: uma pesquisa sobre a evolução do
papel das mulheres como monarcas da Inglaterra e
da Grã-Bretanha.
Coautor(es): Júlia Rodrigues Clemente Portela, Ma-
theus Guimarães Aguiar Azevedo, Julia Santos Duar-
te
Resumo: Não se pode restringir a noção daquilo que
é Estado a uma fórmula pronta sobre a maneira co-
mo ele se comporta, sem considerar uma noção so-
cial. Para Tickner (1997), na linha média, a compre-
ensão do papel do Estado é masculinizada - na figu-
ra da defesa, truculência e manutenção de uma or-
dem a partir do embate físico direto. A imagem do
homem está muito associada historicamente a for-
mação do Estado que, desde a sua criação, pode ser
entendida através de uma perspectiva de gênero;
havendo sempre a ideia de Reis (homens). Tal en-
tendimento faz com que o Estado esteja associado a
violência, assédio e guerra, ou seja, uma concepção
masculinizada, mesmo quando governado por mu-
lheres. Sendo assim, o presente trabalho tem por
objetivo analisar a importância e evolução do papel
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
104
das Rainhas soberanas da Inglaterra e da Grã-
Bretanha, tendo em vista que os reinados femininos
marcaram profundamente a história das Ilhas Britâ-
nicas, gerando grandes debates e até hoje repercu-
tindo nas diferentes mídias. Começando pela Impe-
ratriz Matilda, impedida de suceder seu pai por ser
mulher; passando pela malograda Lady Jane Grey,
pelo conturbado reinado de Mary e também pelo
de sua irmã, Elizabeth I, onde se encontram as raí-
zes do domínio britânico sobre boa parte do mun-
do; assim como pelos reinados de outras duas ir-
mãs, Mary II e a Rainha Anne, após a Revolução Glo-
riosa; chegando à Rainha Victoria, que, no século
XIX, reinou sobre um Império “onde o sol jamais se
punha”; até chegar a atual Monarca, Elizabeth II, no
trono desde 1952, sendo testemunha e partícipe de
todas as mudanças sócio-políticas ocorridas desde
então. Buscamos estudar a política da Inglaterra e
da Grã-Bretanha, pois foi um poder hegemônico
que marcou profundamente a história das Relações
Internacionais e que, até os dias atuais, assume um
papel fundamental no Sistema Internacional.
Luan Correa Brum
Atuação de Corporações estadunidenses no período
militar da América do Sul: Uma análise dos casos Bra-
sil-Paraguai.
Coautor(es): Jahde de Almeida Lopez
Resumo: Este trabalho tem como propósito analisar
a atuação das corporações estadunidenses durante
os regimes militares no Brasil (1964-1985) e no Pa-
raguai (1954-1989). Mais especificamente, se busca
examinar não somente a influência na conformação
dos próprios regimes, mas também os mecanismos
aos quais teriam sido utilizados nesse relacionamen-
to. O contexto internacional de Guerra Fria é im-
prescindível para compreender a atuação das res-
pectivas corporações sob tais regimes uma vez que
estes encontravam-se a deriva da política externa
empreendida pelos Estados Unidos quando as pró-
prias corporações se aproveitam de tal ambiente
para alcançar maior lucratividade. Nesse sentido,
pretende-se averiguar se é possível evidenciar uma
linha geral de atuação destas corporações tanto em
relação ao Brasil como ao Paraguai. Ou seja, inde-
pendentemente das diferenças existentes entre am-
bos os países em termos de expressividade e desen-
volvimento regional, o que se busca analisar, é se há
uma espécie de padrão na atuação das corporações
que independa destes fatores distintos. De fato, os
resultados apontam para a existência de um certo
padrão de atuação como por exemplo: governo di-
tatorial alinhado aos interesses dos Estados Unidos
num período ao qual o sistema internacional confi-
gurava-se de forma bipolar (EUA x URSS); aumento
de investimentos advindos de Washington de forma
direta e indireta por intermédio de suas instituições
e corporações privadas; concessões dos governos
do Brasil, assim como do Paraguai em prol dos inte-
resses das empresas estadunidenses; criação de de-
cretos-leis em favor das necessidades destes atores
privados e por fim a constatação de lobby político-
econômico.
Lucas Chrystello Pederneiras
Relações entre Brasil e Coreia do Norte: Qual o papel
do Brasil nas questões internacionais que envolvem a
Coreia do Norte?
Coautor(es): Bruno Henrique Alves da Silva Costa,
Matheus Rangel de Almeida e Silva, Caio Miranda de
Sá Campelo
Resumo: A Coreia do Norte, desde a eclosão da
Guerra na península coreana na década de 1950, é
um Estado que desafia o status quo, sendo conside-
rado um Estado hostil aos interesses norte-
americanos. Essa hostilidade cresceu recentemente
após a Coreia do Norte começar a desenvolver o seu
programa nuclear e realizar testes com mísseis ba-
lísticos. Esse tema é de alta repercussão não só na
mídia internacional, mas também na mídia brasilei-
ra. Um conflito entre a Coreia do Norte e os EUA
não se limitaria apenas a essas duas nações e outros
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
105
países da região como a Rússia, China, Japão e a Co-
reia do Sul, mas também diversos países ao redor
do globo. Apesar disso, recentemente há a possibili-
dade dos dois líderes se encontrarem para debater
a respeito do programa nuclear norte-coreano, mas
ainda não há data e local definidos para o encontro.
Sendo o Brasil um aliado histórico do Ocidente e dos
EUA, há um claro posicionamento contrário na gran-
de mídia brasileira em relação aos testes nucleares
da Coreia do Norte e ao seu governo. Apesar disso,
o Brasil mantém relações diplomáticas e econômi-
cas, além de prestar cooperação técnica e ajuda hu-
manitária com a Coreia do Norte em certos momen-
tos de crise. Vale ressaltar que o Brasil é o único país
latino-americano que possui representações nas
duas Coreias, o que pode colocar o Estado brasileiro
como um importante player em negociações.
Essa pesquisa tem como objetivo analisar as rela-
ções Coreia do Norte-Brasil a partir dos princípios
que pautam as relações internacionais do Brasil e
que estão presentes na Constituição Brasileira. Além
disso iremos mostrar os dados comerciais em maior
abrangência possível, pois tais dados são escassos,
principalmente pelo fato de que as relações entre
os dois países são pequenas.
Luma Freitas Lessa
O racismo na mentalidade estadunidense durante a
Segunda Guerra Mundial: As HQs do Super-Homem
de 1941 a 1945
Trabalho Completo
Resumo: Essa pesquisa aborda a análise da mentali-
dade estadunidense, refletida na Política Externa
durante a Segunda Guerra Mundial, sobre os inimi-
gos nas guerras do Pacífico e da Europa. O conflito
amplamente estudado é analisado através da ótica
singular das histórias em quadrinhos. Na época,
eram um dos meios de comunicação mais popula-
res, tendo alcançado sucesso ímpar em tiragem e
consumo. Essa mídia valia-se de elementos facil-
mente identificados pelo público para garantir a
venda em larga escala. Todavia, a seletividade dos
fatos e a maneira como são retratados propagaram
uma determinada versão dos acontecimentos, mui-
tas vezes em maior conformidade com a expectativa
do leitor do que com a realidade. As HQs constitu-
em-se, portanto, como um meio de propaganda e
um espelho da sociedade, que replicava os valores
da mentalidade social. Dessa forma, verificou-se a
veracidade da hipótese testada de que o racismo
afetou a perspectiva americana sobre o inimigo ja-
ponês de uma maneira distinta do alemão, através
da análise das HQs do Super-Homem de dezembro
de 1941 a agosto de 1945. Os Estados Unidos atri-
buíam a responsabilidade da guerra no Pacífico aos
japoneses em sua totalidade – seu povo e cultura -
baseados em um racismo anterior às barbaridades
da guerra. Sobre a guerra na Europa, outorgavam a
culpabilidade à ideologia do nazismo, a Hitler e seus
seguidores, e não ao povo alemão. Isso porque per-
cepção sobre a visão do inimigo japonês foi baseada
no ódio racial existente, este estimulou a ocorrência
de atrocidades na guerra do Pacífico. Desse modo, a
visão sobre o inimigo na guerra da Europa foi afeta-
da pelo histórico da relação entre estadunidenses e
os europeus; por um lado, a ideia de proximidade
com o povo alemão e, por outro, um distanciamen-
to com os grupos étnicos mais afetados pela guerra
na Europa – como judeus e os povos eslavos.
Mateus Brunetto Cari
Para além da visão eurocêntrica: resistência e auto-
determinação dos guarani-missioneiros dos Sete Po-
vos nas questões fronteiriças entre os ibéricos
Trabalho Completo
Resumo: Este estudo busca analisar questões relati-
vas à autodeterminação de sujeitos subalternizados
nas Missões Jesuíticas dos Sete Povos na Guerra
Guaranítica. Nesse sentido, entendemos que a cul-
tura dos guarani não foi “aculturada”, passou por
um processo de transformação, forjou-se um novo
modus viventi entre os guarani das missões, a etnia
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
106
dos guarani-missioneiro. Ou seja, os guarani-
missioneiros não aceitaram passivamente a imposi-
ção unilateral de um novo modo de vida; muito do
que se passava era negociado: os guarani aceitaram
ser vassalos do rei, aceitaram formar barreira geo-
política contra o avanço lusitano nos sete povos,
aderiram as práticas cristãs, mas, em contrapartida,
mantiveram-se em seu território e, em certa medi-
da, cultivavam, ainda, suas práticas. Eram, pois, me-
ramente instrumentos dos interesses da Coroa?
Nossa hipótese indica o contrário: reconheciam-se
enquanto portadores de direitos, enquanto sujeitos
autodeterminados, enquanto sujeitos de sua pró-
pria história. Para isso basta observar os aconteci-
mentos depois do tratado de limites: Espanha e Por-
tugal acreditavam em uma subserviência daqueles
povos, o que se processou, entretanto, foi uma re-
sistência que só pode ser liquidada depois de pode-
rosa coalizão militar entre os ibéricos. Assim, pro-
blematizamos como era a perspectiva dos guarani-
missioneiros das relações internacionais entre os
impérios ibéricos, observando como se construiu no
imaginário guarani-missioneiro a figura dessas mo-
narquias absolutistas. Buscamos entender como os
guarani-missioneiros se apropriaram dessas rela-
ções e como se posicionaram frente aos diferentes
movimentos que envolviam as relações entre Espa-
nha e Portugal. Nesse sentido se encontra o núcleo
da questão: da mesma forma que a Coroa se valia
dos indígenas para seus próprios interesses, os indí-
genas se valiam das suas relações com o mundo co-
lonial para a perpetuação dos seus, de modo que
quando o negociado exclui o indígena do processo
através do tratado de Madri, os sujeitos resistem e
lutam por seus direitos.
Matheus Guimarães Aguiar Azevedo
O cetro feminino: uma pesquisa sobre a evolução do
papel das mulheres como monarcas da Inglaterra e
da Grã-Bretanha.
Coautor(es): Lorena Toffano Ferreira, Júlia Rodrigues
Clemente Portela, Julia Santos Duarte
Resumo: Não se pode restringir a noção daquilo que
é Estado a uma fórmula pronta sobre a maneira co-
mo ele se comporta, sem considerar uma noção so-
cial. Para Tickner (1997), na linha média, a compre-
ensão do papel do Estado é masculinizada - na figu-
ra da defesa, truculência e manutenção de uma or-
dem a partir do embate físico direto. A imagem do
homem está muito associada historicamente a for-
mação do Estado que, desde a sua criação, pode ser
entendida através de uma perspectiva de gênero;
havendo sempre a ideia de Reis (homens). Tal en-
tendimento faz com que o Estado esteja associado a
violência, assédio e guerra, ou seja, uma concepção
masculinizada, mesmo quando governado por mu-
lheres. Sendo assim, o presente trabalho tem por
objetivo analisar a importância e evolução do papel
das Rainhas soberanas da Inglaterra e da Grã-
Bretanha, tendo em vista que os reinados femininos
marcaram profundamente a história das Ilhas Britâ-
nicas, gerando grandes debates e até hoje repercu-
tindo nas diferentes mídias. Começando pela Impe-
ratriz Matilda, impedida de suceder seu pai por ser
mulher; passando pela malograda Lady Jane Grey,
pelo conturbado reinado de Mary e também pelo
de sua irmã, Elizabeth I, onde se encontram as raí-
zes do domínio britânico sobre boa parte do mun-
do; assim como pelos reinados de outras duas ir-
mãs, Mary II e a Rainha Anne, após a Revolução Glo-
riosa; chegando à Rainha Victoria, que, no século
XIX, reinou sobre um Império “onde o sol jamais se
punha”; até chegar a atual Monarca, Elizabeth II, no
trono desde 1952, sendo testemunha e partícipe de
todas as mudanças sócio-políticas ocorridas desde
então. Buscamos estudar a política da Inglaterra e
da Grã-Bretanha, pois foi um poder hegemônico
que marcou profundamente a história das Relações
Internacionais e que, até os dias atuais, assume um
papel fundamental no Sistema Internacional.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
107
Matheus Rangel de Almeida e Silva
Relações entre Brasil e Coreia do Norte: Qual o papel
do Brasil nas questões internacionais que envolvem a
Coreia do Norte?
Coautor(es): Bruno Henrique Alves da Silva Costa,
Lucas Chrystello Pederneiras, Caio Miranda de Sá
Campelo
Resumo: A Coreia do Norte, desde a eclosão da
Guerra na península coreana na década de 1950, é
um Estado que desafia o status quo, sendo conside-
rado um Estado hostil aos interesses norte-
americanos. Essa hostilidade cresceu recentemente
após a Coreia do Norte começar a desenvolver o seu
programa nuclear e realizar testes com mísseis ba-
lísticos. Esse tema é de alta repercussão não só na
mídia internacional, mas também na mídia brasilei-
ra. Um conflito entre a Coreia do Norte e os EUA
não se limitaria apenas a essas duas nações e outros
países da região como a Rússia, China, Japão e a Co-
reia do Sul, mas também diversos países ao redor
do globo. Apesar disso, recentemente há a possibili-
dade dos dois líderes se encontrarem para debater
a respeito do programa nuclear norte-coreano, mas
ainda não há data e local definidos para o encontro.
Sendo o Brasil um aliado histórico do Ocidente e dos
EUA, há um claro posicionamento contrário na gran-
de mídia brasileira em relação aos testes nucleares
da Coreia do Norte e ao seu governo. Apesar disso,
o Brasil mantém relações diplomáticas e econômi-
cas, além de prestar cooperação técnica e ajuda hu-
manitária com a Coreia do Norte em certos momen-
tos de crise. Vale ressaltar que o Brasil é o único país
latino-americano que possui representações nas
duas Coreias, o que pode colocar o Estado brasileiro
como um importante player em negociações.
Essa pesquisa tem como objetivo analisar as rela-
ções Coreia do Norte-Brasil a partir dos princípios
que pautam as relações internacionais do Brasil e
que estão presentes na Constituição Brasileira. Além
disso iremos mostrar os dados comerciais em maior
abrangência possível, pois tais dados são escassos,
principalmente pelo fato de que as relações entre
os dois países são pequenas.
Nastasia Barceló Severgnini
1815-1843- El nacimiento del Uruguay en el sistema
internacional del Siglo XIX
Trabalho Completo
Resumo: A lo largo del siglo XX, “La independencia
de la República Oriental del Uruguay” ha sido un
reiterado objeto de estudio en la historiografía del
país y en los países de la región. La “independencia”
ha sido interpretada de formas extremas, desde po-
siciones que exaltan la idea de un “destino” hasta
“una invención británica”, con algunas versiones
intermedias. La presente tesis transita una trayecto-
ria diferente, enmarcando el nacimiento del Uru-
guay y su posterior consolidación como Estado-
Nación como parte de las transformaciones que se
estaban sucediendo en el sistema internacional du-
rante la primera mitad del Siglo XIX; transformacio-
nes que a su vez moldaron la inserción internacional
del Uruguay en esos años. En este sentido, el objeti-
vo principal es analizar cuál fue el impacto que tuvo
el surgimiento del Uruguay como un nuevo actor del
sistema internacional durante la primera mitad del
siglo XIX. Para esto, analizaremos documentos e in-
formes de las legaciones uruguayas en Gran Breta-
ña, Francia, Estados Unidos y Brasil entre 1830 has-
ta 1870, etapa considerada como formativa del Uru-
guay como actor internacional. La misma se extien-
de desde la primera Constitución hasta el fin de la
Guerra Grande.
Nathalia Candido Stutz Gomes
Cooperação técnica e econômica entre Estados Uni-
dos e Brasil no pós Segunda Guerra Mundial: o Caso
da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o De-
senvolvimento Econômico (1951-1953) - Uma Pers-
pectiva Brasileira
Trabalho Completo
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
108
Resumo: A literatura é unânime ao considerar que a
Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desen-
volvimento Econômico (CMBEU) (1951-53) teve im-
pactos fundamentais sobre a arquitetura de planos
de desenvolvimento do Brasil, com especial ênfase
no Plano de Metas da administração Juscelino Ku-
bitschek (1956-61), considerado por estudiosos a
primeira grande experiência de planejamento nacio-
nal. No entanto, não há trabalhos que abordam a
CMBEU de forma mais específica, para além do seu
contexto do histórico mais geral das relações bilate-
rais entre Brasil e Estados Unidos. Portanto, este
trabalho pretende lançar luz sobre essa importante
lacuna acerca de uma iniciativa crucial da história
das relações Brasil-Estados Unidos no pós-guerra e
sobre as possíveis externalidades de médio e longo
prazos desse modelo de cooperação técnica sobre o
planejamento do desenvolvimento brasileiro nos
decênios seguintes. A proposta deste trabalho é,
por meio da análise de fontes empíricas, lançar luz,
de forma mais específica, sobre a organização, fun-
cionamento, objetivos e expectativas de autorida-
des e técnicos em relação à CMBEU. A partir disso,
pretende-se também, por meio das perspectivas
pessoais de técnicos e autoridades que dela partici-
param, expor as inovações técnicas e práticas da
Comissão Mista sobre o corpo técnico e a cultura de
planejamento do desenvolvimento no Brasil. Além
disso, tendo em vista a importância desse projeto
de cooperação, pretende-se fazer uma contextuali-
zação da CMBEU no âmbito do histórico das rela-
ções bilaterais entre Brasil e Estados Unidos no
início da Guerra Fria, dos desafios para o desenvolvi-
mento econômico do Brasil e das questões político-
ideológicas em voga no País naquele período.
Nikola Parizkova
A política externa soviética para os satélites: o caso
da Tchecoslováquia
Coautor(es): Rosiane Martins dos Santos, Nikola Pa-
rizkova
Trabalho Completo
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar a
atuação da União Soviética nos seus satélites da Eu-
ropa Oriental durante a Guerra Fria, tratando de
forma específica o caso da Tchecoslováquia. Entre
1945 e 1991, países desta região foram subordina-
dos politicamente e economicamente à União Sovi-
ética que, por meio de vários instrumentos, manti-
nha forte influência em seus aspectos internos. Isso
foi dado em grande parte pela natureza bipolar do
conflito da Guerra Fria e quanto pela necessidade
dos soviéticos em estabelecer uma zona de segu-
rança na região em que a Tchecoslováquia está inse-
rida. Assim, a fim de contrabalançar o espaço oci-
dental crescente, a URSS conseguiu criar um espaço
vasto de vários países, unindo-os sob instituições
como Comecon e Pacto de Varsóvia, além das práti-
cas quotidianas de subordinação, visando manter
seu controle na região. Tendo por objetivo analisar
principalmente questões da dependência econômi-
ca e segurança, o trabalho trata o caso da Tchecos-
lováquia como um dos satélites que aderiu à domi-
nação soviética mais ou menos voluntariamente.
Mas que também foi país com grau de revolta con-
tra esta ordem, como mostra, por exemplo, o movi-
mento de Primavera de Praga. Assim, nosso objetivo
é analisar e refletir a política externa soviética para a
Tchecoslováquia, sobretudo em questões como fun-
cionamento da economia tchecoslovaca, grau da
autonomia em relação a URSS, bem como o papel
do governo soviético nas instituições tchecoslova-
cas. Os países da região da Europa Centro-Oriental
possuem das características geopolíticas que os fa-
zem vulneráveis à influência externa permanete. A
experiência vem mostrando a presença contínua,
sob formas diferentes, dos atores externos. Para a
Tchecoslováquia, este período foi marcado pela do-
minação soviética. Portanto, o trabalho objetiva
analisar, nesse casso, a atuação soviética na Tche-
coslováquia, analisando criticamente a sua influên-
cia e política externa desde o início da Guerra Fria
até a dissolução do bloco soviético.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
109
Norma Breda dos Santos
A História da Política Externa Brasileira em Questão
Coautor(es): Eduardo Uziel
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo do artigo é estudar a política ex-
terna brasileira em perspectiva histórica dando
atenção à teoria e sobretudo à dimensão metodoló-
gica. Como tem sido avaliada atualmente a questão
do acesso à documentação e às fontes em geral: a
utilização de entrevistas, depoimentos, memórias,
arquivos pessoais, arquivos de organizações interna-
cionais, a documentação diplomática? O trabalho
está dividido em três partes. A primeira delas trata
da situação do acesso aos arquivos públicos no Bra-
sil, em particular do acesso ao Arquivo Histórico do
Itamaraty, e discute a aplicação e efetividade da Lei
de Acesso à Informação, de 2011. A segunda mostra
como os discursos oficiais e declarações públicas
emitidas por autoridades têm tido um demasiado
peso relativo nos estudos da história da política ex-
terna brasileira, quando comparados a outras fontes
disponíveis. A terceira e última parte discute a im-
portância da contextualização da produção de docu-
mentos pelo historiador da política externa brasilei-
ra, assim como suas prováveis dificuldades, confor-
me aponta a historiografia da área produzida nas
últimas décadas.
Pedro Henrique Verano Cordeiro da Silva
Desbravadores do Novo Mundo: A Formação da Polí-
tica Externa Brasileira e o Reconhecimento da Inde-
pendência nas Américas (1821-1825)
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo
central analisar a formação da política externa brasi-
leira e a sua relação com o que se entende por ser
um ideal Americanista. Parte-se de uma pesquisa
bibliográfica sobre a formação do pensamento libe-
ral no Brasil, relacionando-o com o processo de in-
dependência e a forma como a qual o seu Reconhe-
cimento foi buscado no continente americano. Em
um primeiro momento, analisa-se o envio da Missão
Correa da Câmara aos países do Prata, destacada-
mente em sua atuação em Buenos Aires e Montevi-
déu, quando foi o principal interlocutor do Império
naquela localidade. Em um segundo momento tem-
se os Estados Unidos como alvo da pesquisa, para
onde foram enviados Gonçalves da Cruz e Silvestre
Rebello em momentos distintos, também em busca
da obtenção do reconhecimento da independência.
Por fim, o presente estudo analisa o pensamentos
desses atores a partir da análise de suas correspon-
dências diplomáticas, no sentido de compreender a
relação das ideias liberais e do Americanismo na for-
mação da Política Externa Brasileira.
Rafael Lopes da Silva
A Atuação da Texaco Chevron no Equador: Uma aná-
lise dos impactos na sociedade e na política (1965-
2017)
Resumo: Este trabalho busca investigar a atuação da
empresa petrolífera Texaco Chevron no Equador
fazendo uma análise dos impactos na sociedade e
no discurso político equatoriano. Em um mundo glo-
balizado em que os estados abrem cada vez mais
suas economias para o capital estrangeiro como for-
ma de impulsionar o desenvolvimento, torna-se re-
levante analisar os resultados que essa opção políti-
ca e econômica obteve no Equador para evitar que
práticas empresariais negativas voltem a se repetir
no futuro. A indústria petrolífera no Equador foi es-
tabelecida nas primeiras décadas do século XX. Com
diversos benefícios recebidos por o governo e am-
plas concessões de terras para exploração, as petro-
leiras estiveram frequentemente presentes no dis-
curso politico equatoriano. Esta presença se basea-
va na ideia de que esse investimento estrangeiro era
vital para economia como uma forma de trazer de-
senvolvimento para o país. É com base nesse discur-
so que a partir de 1965 a Texaco Chevron instalou-
se no Equador para explorar uma área de 1.431.450
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
110
hectares na província de Santa Elena. A metodologia
utilizada nesse trabalho consiste na coleta de mate-
riais bibliográficos e documentais e a análise dos
mesmos. Resultados iniciais indicam a ocorrência de
um desastre ambiental cuja autoria gerou uma de-
manda judicial que se estende até hoje envolvendo
recentemente o Superior tribunal de Justiça brasilei-
ro. Tal desastre ocorreu devido ao descarte inade-
quado dos rejeitos da produção causando a intoxi-
cação do solo e doenças graves na população nativa
da região. Repercutindo inclusive no discurso diplo-
mático aonde o ministério das relações exteriores
equatoriano promove até hoje uma campanha in-
ternacional para divulgar o desastre buscando res-
ponsabilizar a petroleira.
Rosiane Martins dos Santos
A política externa soviética para os satélites: o caso
da Tchecoslováquia
Coautor(es): Nikola Parizkova
Trabalho Completo
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar a
atuação da União Soviética nos seus satélites da Eu-
ropa Oriental durante a Guerra Fria, tratando de
forma específica o caso da Tchecoslováquia. Entre
1945 e 1991, países desta região foram subordina-
dos politicamente e economicamente à União Sovi-
ética que, por meio de vários instrumentos, manti-
nha forte influência em seus aspectos internos. Isso
foi dado em grande parte pela natureza bipolar do
conflito da Guerra Fria e quanto pela necessidade
dos soviéticos em estabelecer uma zona de segu-
rança na região em que a Tchecoslováquia está inse-
rida. Assim, a fim de contrabalançar o espaço oci-
dental crescente, a URSS conseguiu criar um espaço
vasto de vários países, unindo-os sob instituições
como Comecon e Pacto de Varsóvia, além das práti-
cas quotidianas de subordinação, visando manter
seu controle na região. Tendo por objetivo analisar
principalmente questões da dependência econômi-
ca e segurança, o trabalho trata o caso da Tchecos-
lováquia como um dos satélites que aderiu à domi-
nação soviética mais ou menos voluntariamente.
Mas que também foi país com grau de revolta con-
tra esta ordem, como mostra, por exemplo, o movi-
mento de Primavera de Praga. Assim, nosso objetivo
é analisar e refletir a política externa soviética para a
Tchecoslováquia, sobretudo em questões como fun-
cionamento da economia tchecoslovaca, grau da
autonomia em relação a URSS, bem como o papel
do governo soviético nas instituições tchecoslova-
cas. Os países da região da Europa Centro-Oriental
possuem das características geopolíticas que os fa-
zem vulneráveis à influência externa permanete. A
experiência vem mostrando a presença contínua,
sob formas diferentes, dos atores externos. Para a
Tchecoslováquia, este período foi marcado pela do-
minação soviética. Portanto, o trabalho objetiva
analisar, nesse casso, a atuação soviética na Tche-
coslováquia, analisando criticamente a sua influên-
cia e política externa desde o início da Guerra Fria
até a dissolução do bloco soviético.
Suellen Mayara Péres de Oliveira
Ao redor de um mito: mulheres governantes e o nas-
cimento do sistema internacional moderno.
Resumo: O painel analisa a história da construção da
paz de Vestfália como mito de origem do campo
profissional das relações internacionais, através do
repertório teórico pós-colonial. Será realizada uma
comparação das modalidades de exercício diplomá-
tico praticado na Europa durante os séculos XVI e
XVII com as outras partes do mundo, a partir das
trajetórias de vida das mulheres governantes na
África e Oriente Médio. A inclusão de histórias e es-
tados não europeus na grande narrativa do nasci-
mento do campo das relações internacionais contri-
bui para desconstruir o etnocentrismo herdado pela
profissão e a influência do patriarcado. Estudada
desde uma perspectiva crítica, a história das rela-
ções internacionais pode transformar-se em uma
estratégia de reconciliação histórica entre os povos
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
111
e nações.
Tereza Maria Spyer Dulci
Relações México-Estados Unidos nas páginas da re-
vista Foro Internacional (1960-2016)
Trabalho Completo
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar as
relações México-Estados Unidos na segunda metade
do século XX e inícios do século XXI a partir dos arti-
gos publicados na revista Foro Internacional por in-
telectuais que participaram do Centro de Estudios
Internacionales (CEI), do El Colegio de Mexico
(COLMEX). A revista Foro Internacional foi fundada
na Cidade do México em 1960, sendo uma das mais
antigas publicações especializada em relações inter-
nacionais em circulação na América Latina e Caribe.
O periódico foi criado por um grupo coordenado
por Daniel Cosio Villegas (presidente do COLMEX de
1957-1963), com fundos da Fundação Rockefeller.
Analisaremos os artigos sobre as relações México-
Estados Unidos publicados na revista desde sua fun-
dação em 1960 até 2016, quando Donald Trump foi
eleito presidente dos EUA. Busca-se compreender
na revista selecionada as remodelações das relações
México-Estados Unidos, desde as décadas de 1960 e
1970, quando o Partido Revolucionário Institucional
(PRI) buscou destacar a independência da política
externa mexicana frente aos Estados Unidos, em
especial na Organização dos Estados Americanos
(OEA) – passando pela forte crise econômica dos
anos 80, com a crise da dívida externa que forçou o
país a liberalizar sua economia, gerando uma maior
aproximação entre os dois países, o que culminou
com a institucionalização de suas relações em 1994,
com a criação do Acordo de Livre Comércio da Amé-
rica do Norte (NAFTA), gerando uma a forte interde-
pendência assimétrica do México em relação aos
Estados Unidos que perdura até hoje. Assim, procu-
ra-se realizar uma pesquisa no campo da História
das Ideias e História Intelectual, bem como da Histó-
ria das Relações Internacionais e História da Política
Externa.
Thainá Querino de Carvalho
O processo de Independência e os governos militares:
as relações Angola-Brasil de 1975 aos dias atuais.
Coautor(es): Johanna Larrubia Barreto, Beatriz Silva
Flores dos Santos
Resumo: Na década de 1970, durante o governo mi-
litar de Ernesto Geisel, o Brasil almejava expandir
sua fronteira marítima, buscar novos mercados e
petróleo. Enquanto na Angola recebia instalações
de empresas brasileiras e buscava reconhecimento
internacional em sua independência conturbada
devido aos movimentos revolucionários de autode-
terminação. Neste contexto, a convergência dos in-
teresses de ambos possibilitou um crescente desen-
volvimento das interações entre os dois países. Atu-
almente, estas interações podem ser encontradas
na grande demanda de empresas brasileiras do ra-
mo civil no território angolano e concessões de cré-
dito de bancos brasileiros para os mesmos e que
levou, em 2015, à criação do Acordo de Cooperação
e Facilitação de Investimento (ACFI). Este tem o ob-
jetivo de aumentar as relações político-econômicas
entre Brasil e Angola, dessa forma ajudando empre-
sas que estão em processo de internacionalização e
procurando mais oportunidades tanto para troca de
informações quanto mecanismos e soluções para o
uso do comércio e negócios, levando assim uma ba-
se brasileira mais sólida à África. Levando em consi-
deração o contexto internacional de 1975 em meio
a tensão entre as duas principais potências globais e
o choque de suas ideologias, a pergunta que pode
ser feita é: O que motivou o Brasil a reconhecer a
independência de Angola e qual o peso das relações
político-econômicas nos dias atuais? Dessa forma, o
objetivo deste projeto consiste em traçar um pano-
rama sobre a história das interações entre Brasil e
Angola, que se deram no reconhecimento da inde-
pendência angolana a partir de 1975 e entender co-
mo foram construídas estas relações diplomáticas e
comerciais mediante os acontecimentos internos do
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
112
território angolano juntamente com a mudança da
política externa brasileira. A proposta é apresentar
dados relacionados ao comércio entre ambos os
países e ressaltar a importância do Itamaraty para o
aprofundamento das relações diplomáticas, com-
preendendo a atual influência brasileira sobre Ango-
la.
Vinícius Henrique Mallmann
A Questão Nuclear entre Brasil e Argentina: a impor-
tância do neoliberalismo e dos Estados Unidos para o
processo de adesão ao TNP
Trabalho Completo
Resumo: A relação conflituosa entre Brasil e Argenti-
na ao longo da Guerra Fria criou, no contexto sul-
americano, uma corrida nuclear. Enquanto as Gran-
des Potências globais tentavam congelar o poder
internacionalmente e impedir o avanço de desen-
volvimento bélico em países menores, Argentina e
Brasil competiam pela liderança regional e enxerga-
vam, na dominância do setor atômico, a chave para
essa conquista. Concatenado a isso, ambos os paí-
ses negaram o Tratado de Não-Proliferação de Ar-
mas Nucleares, questionando suas proposições am-
bíguas e pouco claras. Esse trabalho pretende, as-
sim, analisar o porquê de, na década de 1990, Ar-
gentina e Brasil romperem com o longo caminho de
negação e resistência perante a aceitação e a assi-
natura do Tratado, mesmo após a cessação das riva-
lidades bilaterais e o fim da divisão do mundo em
dois blocos. Dessa maneira, por meio da análise de
fontes primárias – discursos, tratados e notas de
governo – e da consolidada bibliografia existente
sobre o tema, analisaremos a mudança da percep-
ção da Política Externa dos dois países no Sistema
Mundial frente à implementação do neoliberalismo
na América do Sul e de como essa implementação
foi importante para que os dois países viessem a
assinar o TNP. Ademais, buscaremos traçar como a
disputa regional entre as duas nações foi deixada de
lado dentro deste contexto, bem como deram lugar
às iniciativas de cooperação em nível nuclear entre
os dois Estados. Finalmente, o trabalho busca en-
tender os motivos que levaram a Argentina e o Bra-
sil a aderirem ao TNP e a importância que os Esta-
dos Unidos e o Neoliberalismo tiveram em tal pro-
cesso.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
113
Alberto Teixeira da Silva
Amazônia na agenda das mudanças climáticas: estra-
tégias e ações institucionais de governos subnacio-
nais
Trabalho Completo
Resumo: No contexto dos compromissos assumidos
pelo Brasil na COP-21 que derivou no Acordo de Pa-
ris, a Amazônia certamente assume um papel de
extrema relevância, considerando o pesado desafio
de zerar o desmatamento até 2030, além da utiliza-
ção de áreas degradadas para cultivos produtivos.
Embora o governo no nível federal seja indispensá-
vel nesta árdua missão, as estratégias e ações dos
governos subnacionais não são menos importantes.
Com o avanço dos processos de interdependência
econômica-ecológica e cooperação internacional
para o desenvolvimento sustentável, que tem quali-
ficado iniciativas de governança transnacional
(Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
- OTCA, Programa Áreas Protegidas da Amazônia -
ARPA e The Large Scale Biosfere-Atmosphere Expe-
riment in Amazônia - LBA), a Amazônia tem se pro-
jetado como arena emblemática de estratégias e
ações de governos subnacionais, notadamente go-
vernos estaduais, com destaque para o Pará, Ama-
zonas e Acre. O Presente trabalho investiga as inicia-
tivas e contribuições dos governos subnacionais
amazônicos para mitigar os efeitos danosos do
aquecimento global (combate ao desmatamento) e
as políticas de adaptação no âmbito da transversali-
dade das políticas públicas, considerando que a
Amazônia constitui espaço territorial bastante vul-
nerável ao problema das mudanças climáticas. Con-
clui-se que embora de forma não satisfatória e insu-
ficiente para reagir aos impactos dramáticos das
mudanças climáticas na Amazônia e contribuir para
uma ação concertada e agressiva na redução de
emissões de gases estufa no contexto das emissões
brasileiras, é importante reconhecer os esforços e
iniciativas dos governos estaduais do Pará, Acre e
Amazonas, nas diversas agendas de mitigação às
mudanças climáticas. Estratégias diferenciadas es-
tão sendo experimentadas por estes governos sub-
nacionais, através de políticas domésticas e redes e
coalizões regionais, nacionais e transnacionais, na
tentativa de fincar políticas de efetivo combate aos
efeitos do aquecimento global.
Ana Anschau
O Sul global no enfrentamento ao tráfico de pessoas:
uma análise dos relatórios da UNODC
Trabalho Completo
Resumo: O cenário internacional é marcado por cri-
ses políticas, civis e econômicas que geram um au-
mento de civis em busca de melhores condições de
vida. Essa dinâmica tem afetado também Estados
em desenvolvimento, e com isso muitos civis aca-
bam se tornando vítimas do tráfico de pessoas, en-
ganadas pelas falsas promessas de melhores condi-
ções de vida no exterior. Atuando no enfrentamen-
to ao tráfico de pessoas tem-se na United Nations
Office on Drugs and Crime – UNODC, uma organiza-
ção internacional de liderança com autoridade téc-
nica responsável por disseminar conhecimento e
normas relativas à prevenção do tráfico de pessoas,
proteção das vítimas e perseguição dos responsá-
veis pela prática do tráfico. Essa OI divulga periodi-
camente relatórios com o objetivo de mapear o trá-
fico de pessoas no mundo apresentando como a
temática é desenvolvida em cada região e Estados.
Qual o papel dos países do sul global no enfrenta-
mento ao tráfico de pessoas? O trabalho se guiará
pela análise dos quatro relatórios - “Global Report
on Trafficking in Persons” - desenvolvidos e divulga-
dos pela UNODC, com o objetivo de analisar como a
problemática do tráfico de pessoas tem se desen-
volvido nos países do sul global de acordo com a OI.
Primeiramente o trabalho analisará a construção da
agenda do tráfico de pessoas na UNODC, seguido
pela análise de como a temática é apresentada pela
INSTITUIÇÕES E REGIMES INTERNACIONAIS
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
114
UNODC em relação aos países do sul global verifi-
cando qual o papel imposto aos países do sul global
nesta problemática.
Ana Carolina de Almeida Cardoso
A litigância transnacional privada como um possível
instrumento para o Regime Climático Global.
Trabalho Completo
Resumo: O Regime Climático Internacional é, inques-
tionavelmente, uma conquista da Política Internaci-
onal. Entretanto, apenas a cooperação interestatal
não tem sido capaz de concretizar a mitigação de
gases de efeito estufa necessária para evitar os efei-
tos adversos das mudanças climáticas. É preciso,
ainda, que os demais atores da Política Internacional
sejam mobilizados para que as metas climáticas se-
jam concretizadas. Tendo isso em vista, é crescente
a busca de instrumentos para atribuir responsabili-
dade às empresas, e não só aos agentes estatais,
por esses efeitos. Uma estratégia com esse objetivo
é a litigância climática transnacional contra empre-
endimentos privados nocivos ao clima. Apesar de
ter encontrado obstáculos no passado, tendências
recentes, frutos da transformação proporcionada
pelo instituto jurídico de direitos humanos e empre-
sas, têm aberto novos caminhos para essa tática.
Diante desse intercâmbio contextual, o presente
trabalho visa demonstrar a importância de se pen-
sar em formas paralelas e concomitantes de lidar
com a questão das mudanças climáticas. Assim, bus-
ca identificar no instituto jurídico ainda recente de
direitos humanos e empresas possibilidades de oti-
mizar a litigância estratégica climática, para que os
objetivos acordados no regime climático possam ser
alcançados. A análise será, pois, dividida em três
seções. Primeiramente, é preciso ilustrar a relação
entre direitos humanos e empresas e suas contribui-
ções para a busca por reparação a violações causa-
das por atores empresariais. Em seguida, serão
elencadas abordagens empregadas na litigância cli-
mática e seus principais obstáculos e prognósticos.
Por fim, buscar-se-á extrair tendências de transnaci-
onalização desses litígios, assim como seu potencial
inovador para o movimento climático, a partir do
estudo de casos contemporâneos. Com isso, será
demonstrado de que maneira os precedentes oriun-
dos da relação entre direitos humanos e empresas
estão transformando a litigância estratégica trans-
nacional, tendo, assim, reflexos na litigância climáti-
ca e, por conseguinte, na efetividade do Regime Cli-
mático Internacional.
Ana Luci Paz Lopes
Direito das Mulheres e Nações Unidas: Um Estudo
sobre Normas
Trabalho Completo
Resumo: O tema dos direitos das mulheres tem sido
trabalhado dentro das Nações Unidas desde a sua
concepção. No preâmbulo da Carta das Nações Uni-
das percebe-se que a busca pela igualdade de direi-
tos de homens e mulheres foi destacada como um
princípio das Nações Unidas. Entretanto, os princi-
pais compromissos no âmbito da instituição para a
questão do direito das mulheres estão em docu-
mentos recomendatórios. Ou seja, o não cumpri-
mento por parte dos signatários não implica em
sanções ou outras formas de punição. Apesar disso,
a questão continua sendo trabalhada dentro das
Nações Unidas, por meio de conferências, conven-
ções, tratados, resoluções, relatórios. Por conta dis-
so, este artigo procura responder a seguinte per-
gunta: Porque a ONU é um espaço importante para
avançar os direitos da mulher, mesmo os documen-
tos relacionados sendo recomendatórios? Para tal,
será dividido em duas partes. Primeiro serão apre-
sentados brevemente quais são os principais docu-
mentos e aparatos dentro das Nações Unidas refe-
rentes ao direito das mulheres, entre 1945 e 1995.
A primeira parte pretende apresentar quais foram
os principais documentos recomendatórios, rele-
vantes na temática, que embasaram a Declaração e
Plataforma de Ação de Pequim. A segunda parte
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
115
procurará responder à pergunta do artigo, exploran-
do duas explicações complementares: as normas
internacionais e a participação das organizações não
governamentais. As fontes utilizadas foram textos
acadêmicos e publicações produzidas pelas Nações
Unidas.
Augusto Gavioli
Efetividade, eficácia e compliance institucional em
Relações Internacionais: um vínculo com as teorias
política e social
Resumo: Tendo por base o liberalismo político e as
diferentes correntes liberais nas Relações Internaci-
onais, este artigo tem por objetivo comparar o em-
prego de conceitos como efetividade e eficácia insti-
tucional, presentes nas teorias política e social e nas
teorias de Relações Internacionais, visando contri-
buir para o entendimento acerca do diálogo entre
essas duas áreas do conhecimento. O argumento
central é que a teoria de Relações Internacionais se
apropria, muitas vezes de modo automático e irre-
fletido, de conceitos das teorias política e social, a
fim de explicar fenômenos encontrados na dinâmica
da política internacional. O artigo discutirá as contri-
buições da abordagem da escolha racional e da teo-
ria da ação coletiva para a análise dos conceitos de
efetividade, de eficácia e de compliance institucio-
nal na área de Relações Internacionais. Esse estrito
diálogo entre teoria política e social e teoria de Re-
lações Internacionais é analisado pela luz do Institu-
cionalismo Liberal, que fornece uma ênfase adequa-
da no sentido de examinar o papel desempenhado
pelas Instituições nas dinâmicas de cooperação in-
ternacional e de jogos conflituosos entre agentes
sociais. Nesse sentido, este artigo busca esclarecer a
relação existente entre teoria política e social e teo-
ria de Relações Internacionais, evidenciando as difi-
culdades existentes nesse processo de apropriação
de conceitos fundamentais e destacando elementos
e preocupações em comum que sirvam não como
reflexão espontânea e inconsciente, mas sim como
possíveis vínculos de diálogo.
Beatrice Irene Neal de Souza
A sinergia entre os ODS 4 e 16: o Brasil e os desafios
na educação para a cidadania global na Agenda
2030.
Resumo: A ideia central do trabalho é compreender
os desafios de uma educação para a cidadania glo-
bal à luz dos impactos dos Objetivos de Desenvolvi-
mento Sustentável (ODS) no Brasil. Foi realizada
uma pesquisa acerca da implementação do ODS 4,
que visa assegurar a educação inclusiva e equitativa
de qualidade e sua sinergia com o ODS 16 que visa
promover sociedades pacíficas e inclusivas para o
desenvolvimento sustentável. O cerne dessa pesqui-
sa foi tratar a educação como fator promotor de
uma cidadania global, caracterizada pela meta 4.7,
que consiste em garantir que todos os alunos adqui-
ram conhecimentos e habilidades necessárias para
promover o desenvolvimento sustentável, inclusive
por meio da educação acerca de estilos de vida sus-
tentáveis, direitos humanos, promoção de uma cul-
tura de paz e não violência, valorização da diversida-
de cultural, entre outros. Dessa maneira, o argu-
mento central do trabalho é de que através de insti-
tuições efetivas (ODS 16) que garantam o acesso à
educação de qualidade (ODS 4) é possível gerar ci-
dadãos globais. A metodologia foi baseada em análi-
se fundada em teorias de Relações Internacionais,
utilizando conceitos como governança global, inter-
dependência e globalização; dessa maneira relacio-
nando os ODS com as RI. Foram analisados os desa-
fios internacionais e nacionais para a implementa-
ção dos ODS 4 e 16, assim como soluções já encon-
tradas e que podem ser aperfeiçoadas e expandi-
das. Em seguida, buscou-se compreender aonde o
Brasil se encontra no desafio de promover a educa-
ção para cidadania global através de instituições
efetivas e igualitárias, além de trazer à academia o
conceito de educação para a cidadania global, visan-
do com isso a implementação deste tema na esfera
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
116
de educação, assim como no currículo de docentes.
Finalmente, o projeto terá como base as noções de
Pesquisa-Ação, isto é, além de apurar e averiguar
práticas, devem ser elaboradas estratégias visando
novas ações com base nas observações realizadas.
Beatriz Sampaio Abreu
Sete Anos Depois: A Guerra Civil Síria e as Possíveis
Falhas de Resolução de Conflito por parte da ONU
Coautor(es): Sarah Carvalho da Rosa
Trabalho Completo
Resumo: A Primavera Árabe no Oriente Médio impul-
sionou as revoltas populares ocorridas na Síria em
2011 até a eclosão da guerra civil. Atualmente, tal
conflito completa seu sétimo ano, somando mais de
400 mil mortos e cerca de 5 milhões de refugiados,
além de ter deixado em torno de 13.5 milhões de
pessoas necessitando de assistência humanitária.
Diante desse quadro, cada vez mais a questão síria
tem se tornado pauta relevante na comunidade in-
ternacional e um ponto focal da política contempo-
rânea no Oriente Médio. Portanto, o artigo preten-
de abordar a guerra civil na Síria, analisando sobre-
tudo o papel das Nações Unidas (ONU) e sua eficá-
cia frente à resolução do conflito. Para isso, parte-se
da perspectiva analítica da teoria institucionalista
neoliberal, por meio da metodologia histórica, utili-
zando-se de fontes primárias e secundárias, reali-
zando assim uma pesquisa qualitativa para seu em-
basamento. Portanto, objetiva-se: identificar os ato-
res envolvidos nesta guerra e seus principais inte-
resses; traçar a atuação da ONU como uma possível
via de gerenciamento de crises internacionais; e in-
vestigar possíveis limites da governança global de tal
instituição, considerando o poder de ação e decisão
dos membros do Conselho de Segurança (CS). No
âmbito da ONU, observa-se que além de termos ti-
do um número relativamente baixo de decisões pa-
ra o enfrentamento da referida crise humanitária,
grande parte das resoluções que apresentavam um
caráter interventor mais incisivo e contundente não
foram aprovadas pelo Conselho, seja em virtude do
uso contínuo do poder de veto por alguns de seus
membros ou por conta do desacordo de suas deter-
minações por partes atuantes no conflito. Desta for-
ma, é colocada em discussão a habilidade do Conse-
lho de agir como mediador para a cooperação e re-
solução de conflitos entre Estados, dado o baixo
efeito de suas ações neste confronto.
Bruna Ferreira Pinheiro
Educação e os Objetivos de Desenvolvimento Susten-
tável: Políticas de Oportunidade de Acesso e Qualida-
de do Ensino no Brasil
Coautor(es): Fernando Moreira
Trabalho Completo
Resumo: O atual engajamento internacional em prol
do desenvolvimento é orientado a partir de 17 obje-
tivos traçados dentro da perspectiva da Organização
das Nações Unidas (ONU) dos Objetivos do Desen-
volvimento Sustentável (ODS). Os ODS, por serem
transversais a diversas temáticas, contam com o
apoio de organizações internacionais, como o Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), para
fazer-se alcançar suas metas. O UNICEF vem auxili-
ando ao longo dos seus anos de atuação a formula-
ção de políticas públicas junto a infância nos países
onde está presente, como o Brasil. Nesta perspecti-
va, a pesquisa tem por objetivo analisar a publica-
ção "Aprova Brasil: o direito de aprender" como fer-
ramenta precursora de suporte aos ODS: “Educação
para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável:
objetivos de aprendizagem” (2017) e “Agenda pela
Infância 2015-2018: Desafios e Propostas Eleições
de 2014”, com foco nas oportunidades de acesso à
educação, qualidade do ensino (Objetivo 4 do ODS)
e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB). Partindo da perspectiva neo-institucionalista
se pode perceber, na relação de dois níveis aqui ve-
rificados, a influência do pensamento do UNICEF
sobre o regime constitucional legal brasileiro, em
um contexto histórico, no que se refere a educação
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
117
na infância e adolescência no Brasil. Um recorte de
importância no campo dos recursos legais da infân-
cia e adolescência brasileira a ser analisado a partir
da influência da regência internacional que, dedica-
se as carências específicas de educação das regiões
brasileiras, na formulação e execução de propostas
legais. Busca-se interpretar, a partir dos documen-
tos elencados, o comportamento das Políticas Públi-
cas do Brasil voltadas a educação que são influenci-
adas pelos organismos e metas internacionais esta-
belecidas.
Carla Cristina Vreche
A atuação da Anistia Internacional no processo políti-
co de criação da Convenção das Nações Unidas Con-
tra a Tortura
Trabalho Completo
Resumo: O presente trabalho tem como tema geral a
atuação das ONGs nas relações internacionais. A
partir disso, buscará analisar como se deu a partici-
pação da ONG Anistia Internacional (AI) no processo
político de criação da Convenção das Nações Unidas
Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos e Degradantes em 1984. Assim,
buscará explorar, sobretudo, sua capacidade e es-
tratégias para promover agendas, exercer pressão e
influenciar o comportamento dos Estados. Ou seja,
através de contribuições da Ciência Política e das
Relações Internacionais, pretende-se analisar a atu-
ação, os mecanismos e formas de mobilização ado-
tados pela AI, a fim de dar luz a aspectos que mar-
cam as atividades das ONGs nas dinâmicas políticas
internacionais, e demonstrar como o seu ativismo
possui poder de agência para a criação de normas
internacionais. Assim, este trabalho considerará a
primeira campanha temática internacional dessa
organização, a Campaing for the Abolition of Tortu-
re (CAT), lançada em 1972, dando luz à sua estraté-
gia de mobilização e articulação a fim de promover
a pauta e pressionar pela necessidade de criação de
uma Convenção para o tema. Neste sentido, apon-
tará também para o envolvimento dessa ONG no
processo de criação da Declaração sobre a Tortura,
em 1975; a organização, pela AI, de diversos relató-
rios sobre a temática; e, também, seu envolvimento
com uma Conferência Internacional sobre a Tortura
durante a década de 1970. Deste modo, será abor-
dado o envolvimento da AI na criação do documen-
to da Convenção e os aspectos que foram desconsi-
derados pela literatura que trata do processo de
criação desse documento, tendo como principal hi-
pótese a centralidade da atuação dessa organização
para a formação da agenda e debate internacional a
respeito da tortura, assim como, da sua essenciali-
dade na pressão exercida sobre os Estados para a
criação do documento final durante a década de
1980.
Cristiano Garcia Mendes
Regime Internacional de Mudanças Climáticas: Secu-
ritização, Efetividade e Vulnerabilidade
Coautor(es): Letícia Britto dos Santos, Matilde de
Souza
Resumo: Os campos de estudos sobre Segurança In-
ternacional e Regimes Internacionais passaram por
diversas mudanças paradigmáticas após o fim da
Guerra Fria. Dentre as mudanças na área de segu-
rança, destacam-se a ampliação no número de te-
mas que passaram a ser vistos sob a perspectiva da
segurança e, também, o aumento do número de
Teorias de Relações Internacionais mobilizadas para
a compreensão destes processos. Já no âmbito dos
estudos sobre Regimes Internacionais, Neorrealistas
e Neoliberais dedicaram boa parte de suas análises
na tentativa de compreensão de conceitos como
efetividade e vulnerabilidade dos Estados. O presen-
te artigo pretende identificar tentativas de securiti-
zação presentes no Regime Internacional de Mu-
danças Climáticas, relacionando esta possível securi-
tização à efetividade do mesmo. A partir da análise
dos documentos do IPCC (Painel Intergovernamen-
tal sobre Mudanças Climáticas) pretende-se avaliar
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
118
também em que grau, e em quais aspectos, a possí-
vel securitização presente neste regime ambiental
afeta a efetividade e a vulnerabilidade dos Estados
relativas às mudanças climáticas.
Danielle Costa da Silva
Hegemonia e Contra-hegemonia cultural nos Direitos
Humanos: a politização cultural das normas interna-
cionais de direitos humanos
Resumo: Segundo Gramsci (2000), uma hegemonia
mundial é construída através da estrutura econômi-
ca, da estrutura política e da estrutura social, onde
está incluída a cultura, sendo expressa por meio de
normas, instituições e mecanismos universais para
os Estados e demais atores atuantes internacional-
mente. Inserindo tal compreensão na pesquisa so-
bre a construção de um consenso normativo cosmo-
polita na esfera de poder do Conselho de Direitos
Humanos da Organização das Nações Unidas, a cul-
tura predominante no âmbito das organizações in-
ternacionais corresponderá ao poder político então
predominante, enquanto que culturas de poderes
políticos subalternos poderão ser resistentes a esse
predomínio, sendo contra hegemônicas, e buscarão
abrir a percepção universal ocidental para outros
elementos indeferidos por ela, tais como direitos
sociais, dos povos, ambientais, entre outros. Isso
torna a tríade Direitos Humanos-Poder-Cultura um
componente essencial a ser considerado nos estu-
dos sobre universalismo e relativismo no campo dos
Direitos Humanos, uma vez que estão entrelaçados,
vide o uso discriminatório do universalismo dos Di-
reitos Humanos na arena internacional em prol dos
interesses políticos e econômicos das potências. Re-
conhecida a importância dessa tríade conceitual, o
artigo, de cunho reflexivo, objetiva discutir a relação
entre Direitos Humanos-Poder-Cultura no debate
sobre a construção de um consenso normativo que
agregue diversos valores e perspectivas sobre os
Direitos Humanos e as implicações que a imposição
de uma concepção universal hegemônica causa à
normativa internacional, tal qual a (hiper)politização
dos direitos humanos destacada por Belli (2009). O
marco teórico do artigo se enquadra na perspectiva
multicultural elaborada a partir de um entendimen-
to cosmopolita dos direitos humanos, tal como tra-
balhado por Santos (2004), Douzinas (2007) e Don-
nelly (2013), sendo complementada pela perspecti-
va teórica da Escola Inglesa, como assinala Bull
(2002) sobre a agregação pela cultura cosmopolita
de diversos valores pelos sistemas regionais e inter-
nacional, e a importância da normatividade interna-
cional para alcançar esse desígnio.
Deise Baumgratz
A participação social na União de Nações Sul-
Americanas-UNASUL: análise da evolução do Fórum
de Participação Cidadã-FCP
Coautor(es): Paulo Roberto dos Santos Mendonça
Resumo: O presente trabalho apresenta os resulta-
dos de uma investigação sobre os desafios da parti-
cipação social na União de Nações Sul-Americanas –
UNASUL, especificamente o Fórum de Participação
Cidadã – FPC. A criação do FCP evocou a necessida-
de e a vontade de participação por parte dos cida-
dãos da sub-região sul-americana, no pleito de um
espaço institucionalizado e democrático do proces-
so de integração representado pela UNASUL. Anali-
sando esse processo procurou-se estabelecer um
debate teórico abrangendo conceitos de democra-
cia liberal, participativa e de integração regional e
seus potenciais imbricamentos. Considerando nesta
análise, de maneira crítica uma revisão bibliográfica
sobre as várias definições que cada conceito teve e
como foram se modificando ao longo do tempo. O
objetivo foi investigar a participação social levando
em conta a singularidade da região sul-americana.
Assim, após a revisão bibliográfica, passamos a um
sucinto histórico das iniciativas de integração regio-
nal na América Latina, seus avanços e retrocessos
ao longo das décadas. Na sequência, passamos a
tratar da UNASUL, problematizando sua perspectiva
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
119
não-convencional de integração, no que tange à for-
te diplomacia presidencial presente. Além disso, a
partir do seu Tratado Constitutivo identificamos a
importância da participação cidadã e como isso im-
pactou na criação do FPC. Outrossim, colocamos em
perspectiva as tensões sempre presentes entre mo-
vimentos sociais e estatais no que diz respeito à ins-
titucionalização, funcionamento, disputa de senti-
dos e tensionamento por adoção dos encaminha-
mentos construídos a partir deste Fórum de debate.
Ao final, pretendemos responder se, depois de 3
edições, o FCP cumpre total ou parcialmente o obje-
tivo de espaço de congregação da sociedade civil da
sub-região, se debates realizados e resoluções pro-
postas encontram eco na estrutura da UNASUL, ten-
do redundado em iniciativas efetivas na institucio-
nalidade marcadamente intergovernamental do Blo-
co.
Eduarda Azevedo Furtado de Oliveira
Mapeamento das posições do governo dos EUA no
Conselho de Direitos Humanos da ONU e na Terceira
Comissão da Assembleia Geral
Coautor(es): Mônica Ottoboni Maciel de Castro
Resumo: A Revisão Periódica Universal (RPU) do Con-
selho de Direitos Humanos (CDH) da ONU, objeto
deste trabalho, constitui um mecanismo de fiscaliza-
ção periódica da situação dos Direitos Humanos em
cada país membro da organização. O principal obje-
tivo desta pesquisa é analisar a participação dos Es-
tados Unidos no mecanismo desde sua criação a fim
de comparar as ações anteriores com a atual postu-
ra da administração Trump no CDH. A metodologia
utilizada para atingir este fim foi a revisão bibliográ-
fica, que auxiliou na construção do histórico da rela-
ção do país com o CDH, e, por meio da análise dos
documentos relacionados à RPU, como relatórios,
recomendações e resoluções da ONU, obtiveram-se
os dados relevantes para a análise dos recentes des-
dobramentos dentro desta temática. O trabalho foi
estruturado em cinco partes. Na primeira, foi reali-
zada uma introdução ao mecanismo de revisão, sen-
do exposta a forma como funcionam seus ciclos. Em
seguida, explicitou-se a complexa relação das admi-
nistrações Bush com o CDH e versou-se sobre o iní-
cio da participação do país na RPU já no governo
Obama. A terceira seção consiste na explanação so-
bre a elaboração do material resultante da pesquisa
documental. Na quarta parte encontram-se as ob-
servações e análises acerca das conclusões obtidas a
partir da pesquisa documental. Por fim, concluímos
o trabalho com as análises resultantes do estudo do
posicionamento do governo Trump no CDH e na
RPU. Este trabalho objetiva ressaltar os principais
aspectos relacionados a participação dos Estados
Unidos na RPU bem como construir um mapeamen-
to dos desdobramentos desta participação sob a
nova administração. A pesquisa justifica-se pela pro-
posta de analisar um tema recente e ainda pouco
explorado nas Relações Internacionais e por auxiliar
na expansão dos debates de Direitos Humanos no
âmbito internacional.
Eduardo Araujo Teixeira
A questão do Narcotráfico na Unasul - A dessecuriti-
zação como uma visão institucional
Resumo: O objetivo do trabalho é compreender co-
mo o princípio da dessecuritização do narcotráfico
permeia a lógica institucional da Unasul, o que torna
necessária a existência de um órgão específico para
o tema das drogas - o Conselho Sul-americano sobre
o Problema Mundial das Drogas. Ao se deparar com
diferentes órgãos que tradicionalmente seriam tan-
gentes ao problema do tráfico de drogas (como o
CDS e o DOT), é possível indagar se estes já não seri-
am suficientes para abordar o tema do narcotráfico.
Os enfoques de defesa e segurança no combate à
oferta das drogas têm sua origem na chamada
“Guerra às Drogas” patrocinada por Richard Nixon
no início da década de 70. Na década de 90, o Plano
Colômbia deu continuidade a esse modelo ligado à
securitização. É evidente que a Guerra às drogas
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
120
segue sendo utilizado na maior parte dos Estados no
sistema internacional. Contudo, nos dias de hoje, o
modelo vem sendo questionado pelo ciclo de vio-
lência que gera, visto que baseia suas ações no âm-
bito da repressão policial. Como alternativa, a Una-
sul adotou a visão da dessecuritização como uma
maneira mais eficaz e sustentável de se combater o
tráfico e consumo de drogas. Dentro da lógica da
cooperação regional, a Unasul busca reduzir a de-
manda por drogas e encarar o problema como uma
questão de saúde pública e de segurança cidadã do
que meramente uma questão de manutenção da
ordem e da segurança pública, e leva em conta a
necessidade de uma estratégia mais coordenada. O
resultado dessa busca culminou na retirada do tema
do narcotráfico do Conselho de Defesa Sul-
americano e na criação do Conselho Sul-americano
sobre o Problema Mundial das Drogas, indo de en-
contro com a visão institucional quanto ao tema.
Fernando Moreira
Educação e os Objetivos de Desenvolvimento Susten-
tável: Políticas de Oportunidade de Acesso e Qualida-
de do Ensino no Brasil
Coautor(es): Bruna Ferreira Pinheiro
Trabalho Completo
Resumo: O atual engajamento internacional em prol
do desenvolvimento é orientado a partir de 17 obje-
tivos traçados dentro da perspectiva da Organização
das Nações Unidas (ONU) dos Objetivos do Desen-
volvimento Sustentável (ODS). Os ODS, por serem
transversais a diversas temáticas, contam com o
apoio de organizações internacionais, como o Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), para
fazer-se alcançar suas metas. O UNICEF vem auxili-
ando ao longo dos seus anos de atuação a formula-
ção de políticas públicas junto a infância nos países
onde está presente, como o Brasil. Nesta perspecti-
va, a pesquisa tem por objetivo analisar a publica-
ção "Aprova Brasil: o direito de aprender" como fer-
ramenta precursora de suporte aos ODS: “Educação
para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável:
objetivos de aprendizagem” (2017) e “Agenda pela
Infância 2015-2018: Desafios e Propostas Eleições
de 2014”, com foco nas oportunidades de acesso à
educação, qualidade do ensino (Objetivo 4 do ODS)
e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB). Partindo da perspectiva neo-institucionalista
se pode perceber, na relação de dois níveis aqui ve-
rificados, a influência do pensamento do UNICEF
sobre o regime constitucional legal brasileiro, em
um contexto histórico, no que se refere a educação
na infância e adolescência no Brasil. Um recorte de
importância no campo dos recursos legais da infân-
cia e adolescência brasileira a ser analisado a partir
da influência da regência internacional que, dedica-
se as carências específicas de educação das regiões
brasileiras, na formulação e execução de propostas
legais. Busca-se interpretar, a partir dos documen-
tos elencados, o comportamento das Políticas Públi-
cas do Brasil voltadas a educação que são influenci-
adas pelos organismos e metas internacionais esta-
belecidas.
Gabriel Rosenthal
O mecanismo de Revisão Periódica Universal do Con-
selho de Direitos Humanos da ONU como uma inova-
ção institucional? Uma reflexão a partir das noções
de compliance e enforcement
Resumo: A pesquisa teve por objetivo investigar, em
linhas gerais, em que medida o Mecanismo de Revi-
são Periódica Universal (UPR) do Conselho de Direi-
tos Humanos da ONU configura-se como inovação
institucional, dentro e a partir do que se entende
como o estabelecimento do regime internacional
dos direitos humanos. Paralelamente, coube a este
pesquisador buscar entender as razões pelas quais
os Estados optaram por um mecanismo de direitos
humanos mais robusto do que se praticava na anti-
ga Comissão de Direitos Humanos da ONU até 2006,
e como o UPR foi colocado em prática em seu se-
gundo ciclo de funcionamento. Para tanto, foi revi-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
121
sada a literatura pertinente à temática do projeto e
coerente com o debate acerca da trajetória das di-
tas normas internacionais em matéria, sobretudo,
de direitos humanos. Também foi feita uma análise
empírica da passagem de três países-chave pelos
dois primeiros ciclos de revisão, escolhidos com ba-
se em suas posições em relação à temática de direi-
tos humanos e à institucionalidade do Conselho:
EUA, Brasil e Zimbábue. Através da análise bibliográ-
fica, constatou-se que a criação do UPR segue um
ciclo de vida de uma norma internacional verifican-
do-se sua emergência, cascateamento e, em menor
medida, a internalização. Assim, a pesquisa concluiu
preliminarmente que o UPR pode ser visto como
uma inovação institucional, pois a mudança da Co-
missão para Conselho e a consequente criação do
UPR foram avanços na temática dos Direitos Huma-
nos. Entretanto, a análise empírica dos dois últimos
ciclos dos países supracitados aponta que a temáti-
ca vem se tornando cada vez mais importante no
cenário internacional, mas que não há força para se
fazer cumprir as recomendações aceitas pelos paí-
ses. Assim, ainda que os países tenham conferido
mais robustez à temática dos Direitos Humanos, o
funcionamento do sistema não garante a aplicabili-
dade desses direitos necessariamente.
Gabriele Aparecida Suyama
Tráfico Internacional de Seres Humanos: uma análise
a partir da óptica da vulnerabilidade
Coautor(es): Kethelen Douglas da Silva Araujo
Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de ex-
pandir a compreensão da temática do tráfico inter-
nacional de pessoas a partir do emprego do concei-
to de vulnerabilidade, ainda pouco explorado na
interface com os direitos humanos internacional-
mente reconhecidos. Assim, a presente proposta é a
de repensar o uso e os limites do uso do conceito de
vulnerabilidade pelo Protocolo Adicional à Conven-
ção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulhe-
res e Crianças, conhecido como Protocolo de Paler-
mo, no qual se insere o Tráfico de Pessoas. Segundo
este, a “situação de vulnerabilidade” é interpretada
como um dos meios pelos quais os criminosos utili-
zam para obterem o consentimento das vítimas de
recrutamento, transporte, transferência, alojamen-
to e acolhimento, com a intenção de exercer ativi-
dades ou permitir atos que depois se revelam como
formas de abuso ou exploração. Ao invés de mera-
mente reproduzirmos o termo de “situação de vul-
nerabilidade”, a proposta é repensar o tráfico inter-
nacional de pessoas, partindo da vulnerabilidade
corpórea como eixo de discussão teórica. Em ter-
mos metodológicos, será feita uma análise geográfi-
ca deste tipo de tráfico internacional, baseada nas
finalidades e nas rotas deste crime. Complementar-
mente a esta análise, colocaremos em evidência a
problemática do tráfico transnacional de transexuais
e travestis, que ilustram a necessidade de expandir
a discussão conceitual acerca da vulnerabilidade,
não reproduzindo apenas a noção de situação de
vulnerabilidade desse grupo minoritário. Crê-se,
dessa forma, na necessidade de decompor e, então,
ressignificar alguns conceitos como o de vulnerabili-
dade para avançar tanto na compreensão mais em-
pírica dos dilemas ético-políticos enfrentados pelos
traficados internacionalmente, normalmente toma-
dos como vidas humanas que parecem ter menos
valor que outras, quanto nas possibilidades de
transpor a forma como a vulnerabilidade aparece
como apenas um traço transitório dos traficados no
Protocolo sob análise aqui.
Gabrielle Alves de Paula
Combate Global à Corrupção: O Brasil e a Agenda
2030
Resumo: A principal intenção da pesquisa consistiu
em avaliar mecanismos de governança global volta-
dos para o combate à corrupção. Levando em consi-
deração a agenda 2030 dos Objetivos do Desenvol-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
122
vimento Sustentável (ODS), foram avaliados os im-
pactos da corrupção nos ODS, empregando a meto-
dologia cruzada (método descritivo e estudo de ca-
sos). Foram utilizados documentos oficiais, jornais,
artigos científicos especializados e teses de mestra-
do, que buscaram definir o que é corrupção e como
se deu a evolução das convenções internacionais
destinadas ao seu combate. O Ranking da Transpa-
rência Internacional foi utilizado como base para
determinar o grau de corrupção de cada país.
Foram consideradas propostas de monitoramento,
accountability, educação e soluções inovadoras utili-
zando tecnologia para o incentivo do ODS 16.5 no
Brasil e mundo. Além disso, foram avaliados os pon-
tos positivos e negativos de ferramentas como as
mídias sociais para a promoção da transparência.
Possibilitando mais uma reflexão sobre o tema, foi
realizado um survey com Jovens Líderes e indivíduos
selecionados da sociedade civil; dentre os pontos
tratados, os indivíduos foram questionados sobre
quais seriam os Objetivos do Desenvolvimento Sus-
tentável mais afetados pelas práticas corruptas e
que estratégias deveriam ser adotadas por Jovens
Líderes para a redução do problema. Dessa forma, o
trabalho proporcionou uma compreensão sobre as
possibilidades e desafios enfrentados pelo Brasil e
comunidade internacional no que concerne o ODS
16.5: reduzir substancialmente a corrupção e o su-
borno em todas as suas formas, ao traçar não só as
perspectivas teóricas, como a visão de membros da
sociedade civil sobre o tema.
Geraldine M. M. B. Rosas Duarte
Adensamento normativo versus esvaziamento opera-
cional: para um perfil das operações de paz no século
XXI
Coautor(es): Letícia Carvalho de Souza Andrade
Resumo: Este artigo pretende discutir a evolução das
operações de paz da ONU nas últimas duas décadas,
explorando a hipótese de um possível descompasso
entre o adensamento normativo que sustenta as
operações de paz e os crescentes desafios operacio-
nais enfrentados em campo. Tomando como refe-
rência a recente literatura sobre a chamada quinta
geração de missões de paz, caracterizada, dentre
outros aspectos, pelo esvaziamento dos ambiciosos
projetos de reconstrução que dão lugar, cada vez
mais, à lógica do peace-enforcement, o trabalho
busca traçar um perfil das ações da ONU direciona-
das à manutenção e promoção da paz e segurança
internacionais nos últimos anos. Busca-se apresen-
tar evidências de que o perfil das operações de paz
na primeira década do século XXI é substancialmen-
te distinto das missões mais recentes, tanto no que
se refere às características dos mandatos, quanto
aos mecanismos mobilizados para sua execução.
Metodologicamente, o artigo se beneficia da expan-
são da disponibilidade de dados sistemáticos sobre
operações de paz que refletem o tamanho e compo-
sição das missões, desagregando números forneci-
dos pela própria ONU e permitindo o georreferenci-
amento das informações. Argumenta-se que a reali-
dade das operações de paz mais recentes é caracte-
rizada por um aparato normativo bastante comple-
xo e abrangente, enquanto o desempenho em cam-
po é significativamente abaixo do esperado. Esse
fraco desempenho se traduz, por exemplo, em difi-
culdades de financiamento e mobilização de tropas
e até mesmo no esvaziamento da aposta política de
que essas operações são instrumentos eficazes para
a promoção da paz.
Guilherme de Paiva Morais
A Atuação dos BRICS na Assembleia Geral das Nações
Unidas
Resumo: Com o fim da Guerra Fria, em 1991, e a mu-
dança de uma ordem bipolar para uma ordem mul-
tipolar, iniciou-se o processo de construção de uma
Nova Ordem Mundial (NOM). Esta nova ordem foi
baseada em leis internacionais, integrações regio-
nais e formação de blocos internacionais, somadas a
um maior papel das organizações internacionais,
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
123
principalmente da Organização das Nações Unidas –
ONU. A partir disso, os países em desenvolvimento
ganharam evidência no sistema internacional, exer-
cendo papéis cada vez mais relevantes na discussão
de temas da agenda internacional. Uma demonstra-
ção desse destaque dos países em desenvolvimento
foi o aprofundamento das relações entre si, visando
ampliar suas margens de manobra e seu poder no
sistema internacional, criando uma Cooperação Sul-
Sul. É nesta condição que surge um dos principais
grupos de países em desenvolvimento, o BRICS, for-
mado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
– países “emergentes” considerados representantes
do mundo em desenvolvimento –, tendo como um
de seus objetivos centrais a coordenação de posi-
ções em foros e organismos internacionais.
Neste trabalho, tratar-se-á acerca da atuação dos
BRICS como um bloco de votação coeso na Assem-
bleia Geral das Nações Unidas e o impacto exercido
por esse grupo como ator emergente na conjuntura
internacional a partir de sua organização por meio
de Cúpulas, em 2009, analisando e mensurando o
seu grau de consonância nos processos de votação
na ONU. Assim, é possível revelar o quão alinhado
estão seus interesses e em quais áreas há mais ou
menos conformidade e equilíbrio entre os países
compositores dos BRICS dentro da organização in-
ternacional.
Gustavo do Amaral Loureiro
As Tradições Liberal e Marxista e a Construção do
Direito Internacional dos Direitos Humanos
Trabalho Completo
Resumo: O debate sobre os Direitos Humanos tem se
ampliado e ocupado mais espaço na agenda inter-
nacional desde o fim da Guerra Fria. Os estudos so-
bre os temas referentes à proteção dos indivíduos,
das sociedades e das diferentes culturas contribuem
de maneira excepcional para o entendimento mais
profundo sobre a humanidade, numa tentativa de
fomentar a tolerância e a cooperação entre os po-
vos. Porém, os Direitos Humanos não são vistos de
forma unânime por todas as correntes de pensa-
mento e ideológicas que permeiam a comunidade
internacional, suas principais lideranças e platafor-
mas políticas. Este trabalho busca analisar as princi-
pais contribuições deixadas pelas correntes liberal e
marxista na formação e expansão do Direito Inter-
nacional dos Direitos Humanos. Apesar de contras-
tantes, ambas vertentes foram capazes de exercer
forte influência sobre teóricos e formadores de opi-
nião, criando um campo interseccional entre ideolo-
gias divergentes. Para oferecer entendimento mais
profundo do assunto, o artigo apresenta um debate
entre diferentes visões dentro da teoria política que
influenciaram e continuam a influenciar os estudos
sobre direitos humanos.
Henrique Jorgielewicz Rogovschi
Da Cooperação Internacional para o Desenvolvimen-
to à Cooperação Sul-Sul: Reflexão acerca das potenci-
alidades e limitações das tipologias no quadro das
relações internacionais
Resumo: Considerando as transformações pelas
quais o edifício teórico e a práxis das relações inter-
nacionais contemporâneas têm passado, esta pes-
quisa propõe-se a analisar o desenvolvimento de
dinâmicas de cooperação conjunta entre os Estados
que tem o intuito de firmarem ações coordenadas
que sejam capazes de garantir direitos humanos pa-
ra além da fronteira estatal. Neste sentido, urge
identificar as condicionalidades e os interesses dos
atores a fim de mapear os vetores de atuação das
diversas tipologias cooperacionais. Ao passo que a
Cooperação Internacional para o Desenvolvimento
caracteriza-se pela transferência de recursos técni-
cos e financeiros mediante à garantia de contrapres-
tações - ajustes estruturais e reformas institucionais
-, as tipologias contemporâneas orientam-se sob um
prisma multirreferencial centrado no desenvolvi-
mento conjunto das potencialidades locais. Desta
maneira, emerge o seguinte problema de pesquisa:
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
124
Quais são os atores que integram as dinâmicas de
cooperação internacional? E quais os interesses des-
ses atores ao instituírem essa agenda? A partir des-
ta provocação, têm-se que a pesquisa reúne catego-
rias analíticas que ponderam a relevância das ideias,
interesses e instituições - a partir do quadro da teo-
ria dos “três is” - na definição da agenda internacio-
nal dos esquemas de cooperação. Neste sentido,
dentre os objetivos desta pesquisa encontram-se: (i)
identificar os objetivos e a dinâmica de atuação de
cada tipologia cooperacional; (ii) desenvolver um
arcabouço conceitual acerca da cooperação interna-
cional como forma de contribuir à literatura especi-
alizada de relações internacionais. Para tanto, a me-
todologia empregada será dialética, reconhecendo a
importância da confrontação entre o modelo clássi-
co e o modelo contemporâneo da cooperação inter-
nacional. Como procedimento técnico, foi utilizado
a pesquisa bibliográfica e documental. Como resul-
tados da pesquisa emergem a compreensão dos
atores que compõem os esquemas de cooperação
bem como o entendimento dos interesses que mol-
dam a dinâmica de atuação de cada tipologia.
Ítalo de Araujo Wanderley Romeiro
O atual regime internacional da navegação mercantil
e atividade portuária.
Resumo: INTRODUÇÃO: Como Adam Smith, no livro
Riqueza das Nações, explica, o transporte marítimo
internacional é um potencializador do desenvolvi-
mento econômico. Por ser um meio de transporte
barato, faz com que mercados se integrem, facili-
tando a troca comercial e o crescimento da econo-
mia. Essa estratégia da atividade marítima mercan-
til, já é praticada desde Cheng-Ho a Henrique, O na-
vegador (KENNEDY, 1989). Todavia o século XX
apresentou mudanças tecnológicas significativas
que impulsionaram ainda mais o comércio devido a
inovações no setor transporte marítimo. Assim no-
vas regras foram apresentadas e o setor virou uma
cadeia global de valor. Esta liberdade trouxe a ne-
cessidade de reformular a regulamentação bem co-
mo sofreu influência do regime comercial e político
internacional. A regulação da navegação mercantil
se separa em três categorias: técnica, econômico e
social. Os aspectos técnicos estão definidos pela fis-
calização de segurança marítima e de poluição. Eco-
nomicamente falando, há leis que se referem à con-
corrência justa entre países, e finalmente normas
sociais que definem e fiscalizam as condições de tra-
balho na área. METODOLOGIA: Temos como objeti-
vo geral descrever o atual regime internacional da
atividade portuária e navegação mercantil. Para is-
so, por meio de pesquisa bibliográfica exploratória,
destacamos os principais organismos internacionais
e as principais regras que regulam a atividade portu-
ária e a navegação mercantil. DISCUSSÃO: Sistema
ONUIMO: Supervisiona os aspectos técnicos da na-
vegação internacional OIT: Criada para globalização
das normas, padrões e princípios. Administra a repa-
triação dos trabalhadores marítimos. OMC: Organi-
zação internacional destinada a acelerar desregula-
mentação do comércio de bens e serviços entre vá-
rios países. Acrescentando também a evolução das
regras e leis que abrangem o tema trabalhado em
cada uma destas organizações. CONCLUSÕES: Foi
realizada vasta pesquisa bibliográfica onde foi possí-
vel observar tendências históricas, mudanças e
adaptações do regime internacional da atividade
portuária e da navegação mercantil.
Jessika Zilli Rizzato
O papel das Organizações Internacionais para a in-
serção das discussões sobre gênero na agenda inter-
nacional: Um estudo sobre a ONU Mulheres
Resumo: A partir dos anos 1990, no pós-Guerra Fria
e com o fim da dualidade ideológica, o cenário inter-
nacional encontrou espaço para novos atores, dis-
cussões e temas, e é neste contexto de intensifica-
ção da globalização e surgimento de novos debates
que os Estados nacionais e as Organizações Interna-
cionais passaram a possuir um novo papel dentro do
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
125
sistema internacional. Fugindo das discussões de
guerra, paz e segurança, a agenda internacional pas-
sou a inserir novas discussões relacionadas a direi-
tos humanos e sustentabilidade. Neste sentido, esta
pesquisa procura entender qual o papel das Organi-
zações Internacionais na inserção de novos debates
dentro da agenda internacional, procurando enten-
der como a ONU através da ONU Mulheres, que
atua como secretariado da Comissão da ONU sobre
a Situação das Mulheres, pode tornar as discussões
de gênero importantes nos debates internacionais.
Para realizar essa analise iremos utilizar a pesquisa
explicativa, através de revisões bibliográficas e estu-
do de caso para entender qual o papel da ONU com
a criação da ONU Mulheres na inserção dos debates
de gênero como tema relevante na agenda interna-
cional. Sendo assim será utilizada a revisão biblio-
gráfica para entender o que são as Organizações
Internacionais, como surgiram e se mantêm e qual a
sua importância no cenário internacional, para en-
tão utilizar a teoria feminista das Relações Internaci-
onais para entender a importância dos debates so-
bre gênero, pontuando qual o papel das mulheres
na formulação de políticas internacionais. Após isso
iremos utilizar a ONU através da ONU Mulheres,
que é uma das principais instâncias de negociação e
de monitoramento de compromissos internacionais
sobre direitos humanos das mulheres, para obser-
var como está sendo a inserção do debate de gêne-
ro dentro das Organizações Internacionais. E por fim
concluirmos a importância dos debates sobre gêne-
ro no âmbito internacional e qual o papel das Orga-
nizações Internacionais para sua inserção na agenda
internacional.
João Paulo Gusmão Pinheiro Duarte
70 anos da Declaração Universal dos Direitos Huma-
nos: apontamentos de uma análise pós-estruturalista
Coautor(es): Tadeu Morato Maciel
Trabalho Completo
Resumo: Diante da aproximação das comemorações
de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos (DUDH), a análise de sua emergência e esta-
belecimento se torna mais uma vez pertinente. Isso
porque, desde que foi acordada na Assembleia Ge-
ral das Nações Unidas, em 1948, a Declaração se
tornou uma baliza tida como fundamental para o
alcance da dignificação da humanidade. Um adágio
que se generalizou como verdade por estar também
associado à promoção da paz e tolerância entre os
povos; por consequência, reverberando até os dias
de hoje. A despeito dessa forma grandiloquente, a
DUDH e seus efeitos impelem também problemati-
zações, as quais norteiam os objetivos do presente
artigo. Aproximando-se de uma análise que nas Re-
lações Internacionais é classificada como pós-
estruturalista, bem como da abordagem genealógi-
ca do poder proposta por Michel Foucault, no início
do artigo é situada, em primeiro plano, a Declaração
como um artifício jurídico nascido na guerra, isto é,
como um direito marcado pelo sangue das batalhas
da Segunda Guerra Mundial. Em seguida, é discuti-
do como seus efeitos produziram uma padronização
das interpretações até então dispersas sobre os di-
reitos humanos, assim como um programa universal
destinado ao estabelecimento de atenções políticas
sobre a humanidade. Nesse sentido, para além dos
discursos que limitam-se a ressaltar as positividades
da DUDH, a Declaração é aqui analisada como um
dispositivo que reflete e reproduz a perspectiva ven-
cedora da guerra e que se dirige pelo interesse de
controle sobre a vida dos Homens. Por conseguinte,
busca-se uma possibilidade analítica que leia a
DUDH dentro da perspectiva foucaultiana de conti-
nuidade silenciosa da guerra, distanciando-se das
premissas que comumente permeiam as teorias tra-
dicionais das Relações Internacionais – em especial
no que tange à reprodução da distinção estanque
entre o dentro (o Estado, mantenedor da paz civil) e
o fora (a ausência de autoridade centralizada) na
política estatal.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
126
Joseli Fiorin Gomes
A “localização” dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável e da Nova Agenda Urbana da ONU: a co-
operação descentralizada sul-americana para imple-
mentar metas internacionais de urbanização susten-
tável
Trabalho Completo
Resumo: Recentemente, a ONU promoveu a revisão
das metas e da agenda para o desenvolvimento glo-
bal, incluindo o desenvolvimento urbano, pela reali-
zação da Cúpula sobre o Desenvolvimento Sustentá-
vel, que resultou na adoção da Agenda 2030, tra-
çando os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
(ODS), e da Conferência das Nações Unidas sobre
Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável
(Habitat III), adotando a Nova Agenda Urbana Glo-
bal (NAU). Esses documentos internacionais estabe-
lecem objetivos e estratégias para o alcance do de-
senvolvimento sustentável nos níveis global, nacio-
nal e subnacional. Frente a isso, a ONU percebeu
nos governos subnacionais importantes parceiros
para a consecução dos ODS e da NAU, o que a fez
promover, a partir de 2017, mediante ações da sua
Força Tarefa Global de Governos Locais e Regionais,
do seu Programa para o Desenvolvimento (PNUD) e
de seu Programa para os Assentamentos Urbanos
(ONU-Habitat), a chamada “localização” dos ODS e
da NAU, com vistas a prestar suporte a estes gover-
nos para implementar a Agenda 2030 e a NAU em
âmbito local. Nesse sentido, o trabalho objetiva per-
quirir como se tem realizado a “localização” dos
ODS e da NAU por parte dos governos subnacionais
sul-americanos, em face do ativo movimento de as-
sociações municipalistas e de redes de cooperação
internacional descentralizada entre cidades na regi-
ão. Com isso, visa-se a identificar de que modo estes
atores vem realizando, mediante estratégias de coo-
peração internacional descentralizada, políticas pú-
blicas locais que atendam à Agenda 2030 e à NAU.
Por fim, visa-se a demonstrar quais as dificuldades
jurídico-políticas encontradas para a implementação
das agendas globais em termos de autonomia muni-
cipal nos cenários interno e internacional, no âmbi-
to dos países da América do Sul, a fim de compreen-
der as limitações nestes enfrentadas para a coope-
ração internacional descentralizada.
Juliana Ferreira de Oliveira
O Brasil e a Agenda 2030: desafios para o acesso
igualitário à educação de qualidade
Resumo: A ideia central do trabalho é compreender
o impacto da Agenda 2030 dos Objetivos de Desen-
volvimento Sustentável (ODS) no Brasil. A posição
do Brasil em relação à implementação dos objetivos
4 (educação de qualidade) e 10 (redução das desi-
gualdades) foi avaliada por meio da metodologia
cruzada (método descritivo e estudo de caso), medi-
ante análises e investigações de documentos e dis-
cursos oficiais, bem como artigos científicos especi-
alizados. Entendendo a relevância da agenda 2030
para as relações internacionais, o trabalho fez análi-
se comparativa entre Brasil e outros países, assim
como, outros agentes internacionais. Além disso,
buscou-se compreender de maneira crítica o papel
do Brasil para o alcance do objetivo 4 em sinergia
com objetivo 10. O argumento central é que educa-
ção igualitária e de qualidade pode ser um meio de
superar desigualdades, principalmente socioeconô-
micas. Dessa forma, o trabalho possibilitou compre-
ender os caminhos para se alcançar o objetivo 4 co-
mo fator de contribuição para o objetivo 10. Ao
mesmo tempo, resultou na identificação de dificul-
dades para a promoção da agenda e seus objetivos
no Brasil, bem como a proposição de ações locais
para a superação de entraves.
Kethelen Douglas da Silva Araujo
Tráfico Internacional de Seres Humanos: uma análise
a partir da óptica da vulnerabilidade
Coautor(es): Gabriele Aparecida Suyama
Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de ex-
pandir a compreensão da temática do tráfico inter-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
127
nacional de pessoas a partir do emprego do concei-
to de vulnerabilidade, ainda pouco explorado na
interface com os direitos humanos internacional-
mente reconhecidos. Assim, a presente proposta é a
de repensar o uso e os limites do uso do conceito de
vulnerabilidade pelo Protocolo Adicional à Conven-
ção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulhe-
res e Crianças, conhecido como Protocolo de Paler-
mo, no qual se insere o Tráfico de Pessoas. Segundo
este, a “situação de vulnerabilidade” é interpretada
como um dos meios pelos quais os criminosos utili-
zam para obterem o consentimento das vítimas de
recrutamento, transporte, transferência, alojamen-
to e acolhimento, com a intenção de exercer ativi-
dades ou permitir atos que depois se revelam como
formas de abuso ou exploração. Ao invés de mera-
mente reproduzirmos o termo de “situação de vul-
nerabilidade”, a proposta é repensar o tráfico inter-
nacional de pessoas, partindo da vulnerabilidade
corpórea como eixo de discussão teórica. Em ter-
mos metodológicos, será feita uma análise geográfi-
ca deste tipo de tráfico internacional, baseada nas
finalidades e nas rotas deste crime. Complementar-
mente a esta análise, colocaremos em evidência a
problemática do tráfico transnacional de transexuais
e travestis, que ilustram a necessidade de expandir
a discussão conceitual acerca da vulnerabilidade,
não reproduzindo apenas a noção de situação de
vulnerabilidade desse grupo minoritário. Crê-se,
dessa forma, na necessidade de decompor e, então,
ressignificar alguns conceitos como o de vulnerabili-
dade para avançar tanto na compreensão mais em-
pírica dos dilemas ético-políticos enfrentados pelos
traficados internacionalmente, normalmente toma-
dos como vidas humanas que parecem ter menos
valor que outras, quanto nas possibilidades de
transpor a forma como a vulnerabilidade aparece
como apenas um traço transitório dos traficados no
Protocolo sob análise aqui.
Leandra Cristina Pereira Teles
Disputas comerciais brasileiras no Órgão de Solução
de Controvérsias da Organização Mundial do Comér-
cio: uma análise das etapas decisórias.
Resumo: A Organização Mundial do Comércio (OMC)
além de atuar na fiscalização e regulamentação do
comércio mundial, também se ocupa da resolução
de conflitos comerciais entre os países-membros,
criação de rodadas, gerencia e supervisiona o cum-
primento dos acordos seguindo às regulamentações
propostas pela própria instituição. Seu papel no ce-
nário internacional é de suma importância, pois é
por meio da instituição e seus consequentes órgãos
que é possível uma fiscalização dos países para que
não ajam medidas que prejudiquem uns aos outros.
Dentre tais mecanismos disponíveis para melhor
funcionamento do cenário econômico mundial, há o
Órgão de Soluções de Controvérsias (OSC), que tem
o objetivo de promover uma estabilidade econômi-
ca entre as nações por meio de possíveis soluções
de conflitos. O Brasil, tanto na OMC quanto no OSC,
tem presença ativa e atuante demonstrando eviden-
te interesse em casos que envolvam outras nações,
mas que apresentam importância para o governo
brasileiro em assuntos como meio ambiente, saúde
pública e aplicação de medidas restritivas comerci-
ais por países desenvolvidos. Sendo assim, a neces-
sidade de analisar e estudar as atuações do nosso
país no cenário mundial se tornou totalmente indis-
pensável dado os últimos acontecimentos globais
assim, tal como esclarecer se essa atuação está tra-
zendo benefícios concretos para o Brasil.
Através da divisão dos contenciosos de acordo com
as etapas do processo decisório, seguida de uma
análise comparativa e uma verificação das seme-
lhanças e diferenças de cada caso, foi possível reali-
zar uma investigação para explicar a razão das dis-
putas terem sido resolvidas na consulta, no painel
ou na apelação, além de evidenciar a relevância que
a instituição tem de se dedicar e proporcionar um
espaço imparcial para que ocorra a existência do
dialogo entre os países.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
128
Leonardo Rodrigues Taquece
A tipificação das Crianças-Soldado à luz de um estudo
sobre as Forças Armadas Revolucionárias da Colôm-
bia (FARCs)
Resumo: Utilizando da teoria das três vertentes de
proteção da pessoa humana e a abordagem de Alli-
son M. S. Watson sobre o estudo de Crianças nas RI,
essa pesquisa busca mostrar as peculiaridades na
tipificação da Criança-Soldado por parte das organi-
zações internacionais, dos Estados signatários do
Protocolo e da sociedade civil. A partir de um estu-
do de caso específico sobre o recrutamento e utili-
zação de menores pelas Forças Armadas Revolucio-
nárias da Colômbia (FARCs) e outros exércitos ilegais
da Colômbia, é evidente que há uma relação entre a
tipificação da Criança-Soldado supracitada com a
discussão decolonialista de Aníbal Quijano: entende
-se que as peculiaridades na utilização desse termo
no conflito analisado fazem parte da matriz eu-
rocêntrica das Relações Internacionais.
Letícia Britto dos Santos
Regime Internacional de Mudanças Climáticas: Secu-
ritização, Efetividade e Vulnerabilidade
Coautor(es): Cristiano Garcia Mendes, Matilde de
Souza
Resumo: Os campos de estudos sobre Segurança In-
ternacional e Regimes Internacionais passaram por
diversas mudanças paradigmáticas após o fim da
Guerra Fria. Dentre as mudanças na área de segu-
rança, destacam-se a ampliação no número de te-
mas que passaram a ser vistos sob a perspectiva da
segurança e, também, o aumento do número de
Teorias de Relações Internacionais mobilizadas para
a compreensão destes processos. Já no âmbito dos
estudos sobre Regimes Internacionais, Neorrealistas
e Neoliberais dedicaram boa parte de suas análises
na tentativa de compreensão de conceitos como
efetividade e vulnerabilidade dos Estados. O presen-
te artigo pretende identificar tentativas de securiti-
zação presentes no Regime Internacional de Mu-
danças Climáticas, relacionando esta possível securi-
tização à efetividade do mesmo. A partir da análise
dos documentos do IPCC (Painel Intergovernamen-
tal sobre Mudanças Climáticas) pretende-se avaliar
também em que grau, e em quais aspectos, a possí-
vel securitização presente neste regime ambiental
afeta a efetividade e a vulnerabilidade dos Estados
relativas às mudanças climáticas.
Letícia Carvalho de Souza Andrade
Adensamento normativo versus esvaziamento opera-
cional: para um perfil das operações de paz no século
XXI
Coautor(es): Geraldine M. M. B. Rosas Duarte
Resumo: Este artigo pretende discutir a evolução das
operações de paz da ONU nas últimas duas décadas,
explorando a hipótese de um possível descompasso
entre o adensamento normativo que sustenta as
operações de paz e os crescentes desafios operacio-
nais enfrentados em campo. Tomando como refe-
rência a recente literatura sobre a chamada quinta
geração de missões de paz, caracterizada, dentre
outros aspectos, pelo esvaziamento dos ambiciosos
projetos de reconstrução que dão lugar, cada vez
mais, à lógica do peace-enforcement, o trabalho
busca traçar um perfil das ações da ONU direciona-
das à manutenção e promoção da paz e segurança
internacionais nos últimos anos. Busca-se apresen-
tar evidências de que o perfil das operações de paz
na primeira década do século XXI é substancialmen-
te distinto das missões mais recentes, tanto no que
se refere às características dos mandatos, quanto
aos mecanismos mobilizados para sua execução.
Metodologicamente, o artigo se beneficia da expan-
são da disponibilidade de dados sistemáticos sobre
operações de paz que refletem o tamanho e compo-
sição das missões, desagregando números forneci-
dos pela própria ONU e permitindo o georreferenci-
amento das informações. Argumenta-se que a reali-
dade das operações de paz mais recentes é caracte-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
129
rizada por um aparato normativo bastante comple-
xo e abrangente, enquanto o desempenho em cam-
po é significativamente abaixo do esperado. Esse
fraco desempenho se traduz, por exemplo, em difi-
culdades de financiamento e mobilização de tropas
e até mesmo no esvaziamento da aposta política de
que essas operações são instrumentos eficazes para
a promoção da paz.
Luciana de Oliveira Dias
De Goiás para o Mundo: um estudo sobre migrações
internacionais e políticas públicas
Trabalho Completo
Resumo: O texto apresenta algumas análises de da-
dos que foram produzidos em uma pesquisa que
versou sobre a situação de migrantes internacionais
que saem do estado de Goiás para viver em outras
partes do mundo. Além das principais causas e mo-
tivações dos fluxos migratórios internacionais envol-
vendo goianos e goianas no mundo, foram estuda-
das também as rotas preferenciais, bem como os
principais destinos. Foram realizadas discussões ro-
bustas acerca das políticas públicas para migrantes
internacionais, com destaque para sua efetividade e
os principais atores envolvidos. Os recursos meto-
dológicos selecionados para o desenvolvimento da
pesquisa compreenderam levantamento bibliográfi-
co, análises documentais e realização de trabalho de
campo na Europa e nos Estados Unidos. O contato
direto com os sujeitos em situação de migração re-
sultou em vasto material discursivo e narrativas que
compuseram o repertório que se prestou ao estudo.
O estudo que fora realizado tem colaborado para o
refinamento de categorias compreensivas e explica-
tivas dos fenômenos migratórios, tais quais: migran-
te, migrado, estrangeiro, dentre outras. Destaque-
se que a interdisciplinaridade foi a perspectiva ado-
tada na produção e análise dos dados, o que fez
com que o trabalho se apresentasse mais polifônico
e alcançasse setores além da universidade, como o
ministério público, conselhos governamentais e mo-
vimentos sociais.
Luisa Pereira da Rocha Giannini Figueira
Entre universalismo e pluralismos jurídicos: a aplica-
ção das normas jurídicas de direitos humanos na pro-
teção de refugiados indígenas
Coautor(es): Rickson Rios Figueira
Resumo: O trabalho tem por objeto o estudo dos
problemas e possibilidades decorrentes da superpo-
sição de quadros normativos distintos do direito in-
ternacional, a saber, o direito internacional dos di-
reitos humanos, o direito dos refugiados e o direito
internacional dos povos indígenas. Trata-se de in-
vestigar as incompatibilidades, justaposições e me-
diações normativas possíveis considerando-se o ca-
ráter universal de certas normas e a particularidade
de outras. Contudo, se isso se dá no campo teórico,
há uma série de desafios teórico-práticos relaciona-
das ao campo da aplicação da(s) norma(s) jurídica(s)
que têm como finalidade proteger aquele que se
situa como seu destinatário. O refugiado indígena é
a figura a quem se dirigem normas que vão desde a
delimitação de uma definição que o descreva juridi-
camente até as normas que orientam ações de polí-
ticas públicas referentes aos campos dos direitos
humanos, da proteção de refugiados, além das polí-
ticas garantidoras das especificidades indígenas. A
pesquisa que se pretende realizar abarca tanto a
dimensão jurídico-normativa, como a que se refere
ao desenho e à implementação de políticas públi-
cas, essas últimas investigadas a partir do estudo de
caso dos refugiados indígenas dos povos Warau e
E'ñepa, situados no Estado de Roraima e, particular-
mente, no Município de Boa Vista.
Marcela Braga Anselmi
Mudanças climáticas e aviação internacional: a posi-
ção da China e dos Estados Unidos nos diferentes fo-
runs internacionais
Coautor(es): Veronica Korber Gonçalves
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
130
Trabalho Completo
Resumo: As negociações para o estabelecimento de
um acordo para a redução das emissões de CO2
provenientes do transporte aéreo internacional tive-
ram como arena de discussão dois fóruns distintos:
as Conferências das Partes da Convenção Quadro
das Nações Unidas sobre mudança do clima e a Or-
ganização da Aviação Civil Internacional (OACI), en-
volvendo atores coincidentes, mas com diferentes
interesses e posicionamentos. Apesar de os Estados
Unidos terem recentemente decido retirar-se do
Acordo de Paris, o compromisso de adotar medidas
de compensação das emissões do setor de aviação
foi reafirmado. A China, por sua vez, tem-se projeta-
do como líder do regime global de mudanças climá-
ticas, mantendo, no entanto, a defesa do princípio
das responsabilidades comuns porém diferenciadas,
o que se mostrou incoerente no âmbito da OACI. O
objetivo do trabalho é apresentar os interesses des-
ses dois atores no processo de negociação do acor-
do para a redução das emissões de CO2 provenien-
tes do setor, na OACI, no período de 2013 a 2016.
Argumenta-se que as negociações que culminaram
no estabelecimento do CORSIA (Carbon Offsetting
and Reduction Scheme for International Aviation),
envolveram dinâmicas e posicionamentos distintos
desses Estados, resultando em um distanciamento
entre o fórum do clima e o fórum da aviação. Tais
fóruns podem ser compreendidos enquanto cam-
pos, ou seja, espaços dotados de certa autonomia,
construídos com base na diferenciação em relação a
outros espaços, dentro dos quais ocorrem, a partir
de uma lógica dotada de especificidades, disputa
interna por domínio e reconhecimento de autorida-
de. Para tanto, será analisado como os Estados Uni-
dos e a China agiram nos distintos campos. Nesse
sentido, o foco da análise é a identificação dos posi-
cionamentos e das disputas entre os dois atores es-
tatais, ressaltando-se em que medida foram per-
meáveis aos interesses da indústria no processo de
negociação.
Maria Luísa Telarolli de Almeida Leite
Legislações nacionais e uma gestão compartilhada
para o Aquífero Guarani
Coautor(es): Wellington Cyro de Almeida Leite
Trabalho Completo
Resumo: O Aquífero Guarani é uma reserva hídrica
subterrânea transfronteiriça de 1,2 milhões de km2,
dos quais dois terços estão distribuídos em oito es-
tados brasileiros, o restante se encontra distribuído
entre Argentina, Paraguai e Uruguai. Em 2010 foi
assinado o Acordo do Aquífero Guarani por seus de-
tentores, no âmbito do Mercosul que, em seu artigo
12, se refere a programas de cooperação para a ges-
tão deste recurso hídrico. Ressalta-se que, o Acordo
do Aquífero Guarani foi inovador, ao ser firmado
com base na Resolução 63/124 da Comissão de Di-
reito Internacional (CDI) para Aquíferos Transfron-
teiriços, de 2008, o primeiro marco regulatório, para
o setor, no cenário internacional. O marco da CDI
apresenta como princípios gerais, para a gestão des-
ses recursos, a soberania; a obrigação em não cau-
sar danos ambientais significativos; o uso equânime
e racional e a cooperação. Há o entendimento, em
âmbito global, de que a prioridade dos recursos hí-
dricos é o consumo humano, entretanto, cada país
detentor desses recursos possui interesses distintos,
sento, portanto, necessário um consenso acerca de
seu uso de forma conciliadora e sustentável. Parte-
se da hipótese de que as legislações dos países de-
tentores do Aquífero Guarani são assimétricas, além
de se encontrarem em estágio embrionário (VILLAR,
2010), ainda assim o Acordo do Aquífero Guarani
abre margem para que se pense em um modelo de
gestão compartilhada. O objetivo do trabalho é fa-
zer uma análise da legislação das águas subterrâ-
neas nos países signatários do Acordo do Aquífero
Guarani, visando contribuir para o avanço das dis-
cussões sobre a gestão hídrica e transfronteiriça de
águas subterrâneas, o que pressupõe um entendi-
mento mínimo dos arranjos institucionais entre os
membros para a atual gestão do aquífero. Dessa
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
131
forma, o artigo busca verificar as potencialidades
contidas nas legislações nacionais para a instituição
da gestão compartilhada do Aquífero Guarani em
âmbito regional.
Mariana Fernandes Braga Santos
Entre a proteção e a regularização: refúgio e direitos
humanos no Brasil
Trabalho Completo
Resumo: Partindo da noção de que os direitos huma-
nos estão na base de todos os pedidos de proteção,
a definição de refugiado não pode ser estática, e
sim adaptável aos desafios e demandas do contexto
em que está inserida. O conceito de refugiado tal
como é conhecido, no entanto, pouco mudou desde
seu estabelecimento em 1951, na Convenção de
Genebra, não contemplando milhares de indivíduos
que buscam proteção hoje. A intensificação dos flu-
xos de pessoas para além das fronteiras nacionais
desafia a lógica de uma ordem internacional forma-
da por Estados-nações com fronteiras bem delimita-
das. Uma vez que a vida política continua a ser expli-
cada pela resiliência das fronteiras, a determinação
de quem é ou não refugiado passa pela própria
construção da soberania estatal, do cidadão nacio-
nal e, consequentemente, do estrangeiro. A partir
disso, numa perspectiva brasileira sobre o tema,
propõe-se problematizar o conceito de refugiado à
luz do contexto atual de conflitos, insegurança, mi-
séria e fome, da defesa dos direitos humanos e no-
vos fluxos em direção ao Brasil, como de venezuela-
nos e haitianos. Busca-se compreender por que no
Brasil, apesar do inciso de violação grave e generali-
zada de direitos humanos em sua Lei de Refúgio,
milhares de solicitantes têm seus pedidos negados
ou já optam por outras maneiras de permanecer no
país diante da dificuldade de ter seu status de refu-
giado reconhecido; e, portanto, indaga-se quais são
as implicações de se abrir mão da proteção do refú-
gio em detrimento de uma regularização migratória.
Marrielle Maia Alves Ferreira
Um olhar sistemático sobre as Comissões Nacionais
da Verdade na América do Sul
Coautor(es): Tamara Claudia Coimbra Pastro
Trabalho Completo
Resumo: O presente trabalho faz uma revisão siste-
mática das pesquisas disponíveis sobre as Comis-
sões Nacionais da Verdade na América do Sul. Parti-
mos do pressuposto que tais comissões represen-
tam instrumentos essenciais para a efetivação da
Justiça de Transição nos países que durante a se-
gunda metade do século XX vivenciaram regimes de
exceção caracterizados por ditaduras civis-militares.
Os países em questão são: Argentina, Bolívia, Brasil,
Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. Dessa forma, foi fei-
to um levantamento em bases de dados, como o
portal de periódicos da CAPES, Scielo e o Google
Acadêmico, de artigos, teses, dissertações, livros,
assim como os relatórios produzidos pelas referidas
comissões. Foram encontradas publicações que
abordavam a questão de forma geral, com discus-
sões sobre as experiências traumáticas e o direito à
verdade e à memória, geralmente caracterizados
por uma perspectiva interdisciplinar, agregando dis-
cussões do Direito e da História. E também de forma
específica ao pensar na realidade dos sete países e
seus processos individuais de enfrentamento do
passado. Além disso, também foram encontrados
pesquisas que buscassem compreender as comis-
sões a partir de análise comparativa entre elas, ge-
ralmente, entre dois países. A principal proposta
dessa pesquisa é conjeturar de que forma é possível
ponderar essas instituições nacionais a partir de
uma perspectiva histórica e comparada, almejando
relações entre suas constituições e formas de efeti-
vação do direito à justiça, memória e verdade. E
abordando também o papel que elas assumem a
nível internacional a partir do momento que seus
relatórios são lançados e utilizados como documen-
tos e que servem para embasar questões judiciais
como os casos levados à Corte Interamericana de
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
132
Direitos Humanos. Sendo assim, é muito importante
pensar nas possibilidades de relação entre esses
agentes considerando seu papel fundamental para a
busca por reparação, o uso da memória e efetivação
das sociedades democráticas da região.
Matheus Sousa Marques
"Migração de sobrevivência" - O regime internacional
de proteção aos refugiados e o caso venezuelano
Trabalho Completo
Resumo: O teórico britânico Alexander Betts argu-
menta que o deslocamento forçado como último
recurso de sobrevivência, diante da fome e da falta
de recursos, pode ser caracterizado como uma
“migração de sobrevivência”. O autor argumenta
que as práticas estatais, geralmente, se adaptam
mais lentamente do que a realidade do desterro
forçado. Isso significa que as especificações que en-
quadram um migrante dentro ou não da categoria
de refugiado, ditadas pela convenção de 1951 e pe-
lo protocolo relativo de 1967, estão defasadas. No
contexto atual, milhões de pessoas forçadas a aban-
donarem seus lares rumo à outra nação não se ade-
quam à tais categorias, estando, assim, fora do es-
copo de proteção internacional do Alto Comissaria-
do das Nações Unidas para os Refugiados. O concei-
to de “migração por sobrevivência”, portanto, se
refere à indivíduos ou grupos fora de seus países de
origem, por conta de ameaças significativas às suas
existências. A conceituação é baseada no reconheci-
mento de que existe um limite de direitos funda-
mentais primordiais para a manutenção da vida. Na
ausência desses, é dever da comunidade internacio-
nal permitir a fuga e garantir o acesso dessas popu-
lações à ambientes seguros. Nesse sentido, a hipó-
tese principal do presente trabalho é de que a re-
cente crise venezuelana se configura como uma gra-
ve e generalizada violação de direitos humanos e,
assim, a escassez de produtos e o ambiente hostil
impulsionariam o êxodo maciço rumo ao Brasil. Des-
sa forma, a população migrante que cruza a frontei-
ra busca sobreviver, no mais simples sentido dado à
palavra, dando à esse tipo de trânsito, o caráter de
“migração de sobrevivência”, como definido por
Betts. Desta maneira, a pesquisa propõe a análise
dessa nova diáspora, buscando averiguar como a
mesma foi entendida pelos regimes brasileiro e in-
ternacional de proteção aos migrantes forçados.
Matilde de Souza
Regime Internacional de Mudanças Climáticas: Secu-
ritização, Efetividade e Vulnerabilidade
Coautor(es): Cristiano Garcia Mendes, Letícia Britto
dos Santos
Resumo: Os campos de estudos sobre Segurança In-
ternacional e Regimes Internacionais passaram por
diversas mudanças paradigmáticas após o fim da
Guerra Fria. Dentre as mudanças na área de segu-
rança, destacam-se a ampliação no número de te-
mas que passaram a ser vistos sob a perspectiva da
segurança e, também, o aumento do número de
Teorias de Relações Internacionais mobilizadas para
a compreensão destes processos. Já no âmbito dos
estudos sobre Regimes Internacionais, Neorrealistas
e Neoliberais dedicaram boa parte de suas análises
na tentativa de compreensão de conceitos como
efetividade e vulnerabilidade dos Estados. O presen-
te artigo pretende identificar tentativas de securiti-
zação presentes no Regime Internacional de Mu-
danças Climáticas, relacionando esta possível securi-
tização à efetividade do mesmo. A partir da análise
dos documentos do IPCC (Painel Intergovernamen-
tal sobre Mudanças Climáticas) pretende-se avaliar
também em que grau, e em quais aspectos, a possí-
vel securitização presente neste regime ambiental
afeta a efetividade e a vulnerabilidade dos Estados
relativas às mudanças climáticas.
Mônica Ottoboni Maciel de Castro
Mapeamento das posições do governo dos EUA no
Conselho de Direitos Humanos da ONU e na Terceira
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
133
Comissão da Assembleia Geral
Coautor(es): Eduarda Azevedo Furtado de Oliveira
Resumo: A Revisão Periódica Universal (RPU) do Con-
selho de Direitos Humanos (CDH) da ONU, objeto
deste trabalho, constitui um mecanismo de fiscaliza-
ção periódica da situação dos Direitos Humanos em
cada país membro da organização. O principal obje-
tivo desta pesquisa é analisar a participação dos Es-
tados Unidos no mecanismo desde sua criação a fim
de comparar as ações anteriores com a atual postu-
ra da administração Trump no CDH. A metodologia
utilizada para atingir este fim foi a revisão bibliográ-
fica, que auxiliou na construção do histórico da rela-
ção do país com o CDH, e, por meio da análise dos
documentos relacionados à RPU, como relatórios,
recomendações e resoluções da ONU, obtiveram-se
os dados relevantes para a análise dos recentes des-
dobramentos dentro desta temática. O trabalho foi
estruturado em cinco partes. Na primeira, foi reali-
zada uma introdução ao mecanismo de revisão, sen-
do exposta a forma como funcionam seus ciclos. Em
seguida, explicitou-se a complexa relação das admi-
nistrações Bush com o CDH e versou-se sobre o iní-
cio da participação do país na RPU já no governo
Obama. A terceira seção consiste na explanação so-
bre a elaboração do material resultante da pesquisa
documental. Na quarta parte encontram-se as ob-
servações e análises acerca das conclusões obtidas a
partir da pesquisa documental. Por fim, concluímos
o trabalho com as análises resultantes do estudo do
posicionamento do governo Trump no CDH e na
RPU. Este trabalho objetiva ressaltar os principais
aspectos relacionados a participação dos Estados
Unidos na RPU bem como construir um mapeamen-
to dos desdobramentos desta participação sob a
nova administração. A pesquisa justifica-se pela pro-
posta de analisar um tema recente e ainda pouco
explorado nas Relações Internacionais e por auxiliar
na expansão dos debates de Direitos Humanos no
âmbito internacional.
Niels Søndergaard
Internal cleavages and new lines of transnational or-
ganization: the case of Brazilian agribusiness within
the formation of the Roundtable of Responsible Soy
Trabalho Completo
Resumo: The present study proposal aims to exami-
ne the participation of different entities from Brazili-
an agribusiness in the formation of the Roundtable
of Responsible Soy (RTRS) from the initiative´s in-
ception in 2006. The RTRS is part of a wave of mul-
tistakeholder governance projects based on the
adoption of voluntary regulatory standards by cen-
tral actors within particular commodity chains. As
such, the RTRS has provided an opportunity for Bra-
zilian soy producers to preemptively engage with
issues of sustainability, in order to avoid negative
public attention and potentially increase market ac-
cess. The proposed study aims at scrutinizing the
agency of Brazilian soy producers within the RTRS,
departing from a central analytical focus upon their
1) incentives, 2) recourse application, and 3) third-
party inclusion. With these variables in mind, the
goal of the study is to explain why some producer
associations have left the initiative, while individual
large-scale agribusiness firms have continued their
engagement within the RTRS. The conception of the
RTRS has occurred within a transnational sphere, in
which more fluent power relations and the absence
of clearly established hierarchies has meant that the
central participants have had to rely upon a multifa-
ceted array of organizational, technical, and discur-
sive recourses in the pursuit of their interests. The
study thereby seeks to merge Phillip Cerny´s (2001;
2010) transnational neo-pluralist perspective, with
Levy & Newell´s (2002) contributions regarding
analysis of corporate agency within global environ-
mental governance, in order to approach these pro-
cesses on the conceptual level. The empirical data is
constituted by minutes, interviews, and organizatio-
nal documents. At its present stage, my research
suggests that the RTRS participation of Brazilian
agribusiness reveals that certain segments have rea-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
134
ched an organizational level, at which they have be-
come capable of acting independently of the Brazili-
an public foreign policy institutions, and of shaping
agendas within the transnational sphere.
Paola Cristina Nicolau
Do Norte ao Sul: A Evolução do Regime Internacional
dos Refugiados
Resumo: O objetivo do artigo é verificar o contexto e
a evolução de normas internacionais e regionais re-
ferentes ao instituto do refúgio e, a partir delas, re-
velar pontos de divergência no reconhecimento da
condição de refugiado. Posiciona-se o regime inter-
nacional dos refugiados e sua relação interdepen-
dente com o regime internacional de direitos huma-
nos em um cenário de mudanças com o final da Se-
gunda Guerra Mundial. A Organização das Nações
Unidas (ONU) vem para reparar os danos causados
pelo conflito e, em poucos anos, firma a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Posterior-
mente, a criação do Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (ACNUR) motiva a redação
de um marco de proteção específico para pessoas
refugiadas, a Convenção Relativa ao Status dos Re-
fugiados de 1951 e o Protocolo Relativo ao Status
dos Refugiados de 1967, com caráter complemen-
tar. Ambos documentos formam as bases do regime
internacional dos refugiados e procuram assegurar
o direito de qualquer pessoa, em caso de necessida-
de, possa procurar e gozar de refúgio em outro país.
Esse quadro regulamentar internacional do instituto
do refúgio é complementado e reforçado por instru-
mentos regionais. As dissensões presentes nos flu-
xos migratórios africanos e latino-americanos exigi-
ram a adoção de normas e conceitos mais abran-
gentes. A América Latina inaugurou mecanismos de
proteção a longo prazo, estabelecidos em 1984 com
a Declaração de Cartagena sobre os Refugiados, que
colocam menos ênfase no receio de perseguição e
mais em condições objetivas de violência. Uma das
variáveis que molda a compreensão da construção
desses regimes é a permanência dos países do Nor-
te na vanguarda da constante expansão da agenda
de direitos humanos. Ao direcionar a análise para
países do Sul, os marcos jurídicos que engendram o
direito internacional dos refugiados e o contexto
que os constroem são considerados essenciais para
compreensão das características regionais de prote-
ção aos refugiados.
Paula Ribeiro da Cruz
A Multiscalar Governance Approach to Social Innova-
tion and Higher Education in the BRICS
Trabalho Completo
Resumo: This paper aims to provide evidence on the
ways in which social innovation labs in higher educa-
tion institutions (HEIs) in the BRICS countries may
operate within a multiscalar governance mode,
which a number of local-, national- and internatio-
nal/transnational-level institutions participate in.
The first section presents the main conceptual for-
mulations that inform our analysis. The second sec-
tion addresses the participation of BRICS HEIs in the
BRICS Network University and in a few transnational
networks currently dealing with social innovation.
The third section focuses on the DESIS Network and
take six DESIS Labs based in BRICS HEIs as case stu-
dies. We investigate the ways in which these labs
were created and how they have conducted or en-
gaged in social innovation initiatives since then. We
pay particular attention to the ways in which
stakeholders acting on different levels have been
involved in those processes, and analyze how these
interactions may reveal a multiscalar type of gover-
nance underlying those labs’ practices. We conclude
that, despite variations between our case studies, in
general, empirical data evidences that a complex,
multiscalar governance mode has played out in
these contexts. Multiple local-, national- and inter/
transnational stakeholders operate in such gover-
nance mode, with prevalence of international and
transnational actors based at or originally from the
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
135
Global North, especially Europe. Drawing on our
main findings, we provide a set of recommendations
to academics, experts and policymakers in the
BRICS. Our recommendations mainly focus on the
creation of more institutionalized mechanisms, as
well as on the further exploration of existing
platforms, with the purpose of facilitating more
South-South social/inclusive innovation-oriented
collaborations. We contend that drawing attention
to these issues might help them critically (re)
examine higher education governance in an increa-
singly globalized world, and implement more suita-
ble strategies for promoting truly inclusive and sus-
tainable development processes.
Paulo Roberto dos Santos Mendonça
A participação social na União de Nações Sul-
Americanas-UNASUL: análise da evolução do Fórum
de Participação Cidadã-FCP
Coautor(es): Deise Baumgratz
Resumo: O presente trabalho apresenta os resulta-
dos de uma investigação sobre os desafios da parti-
cipação social na União de Nações Sul-Americanas –
UNASUL, especificamente o Fórum de Participação
Cidadã – FPC. A criação do FCP evocou a necessida-
de e a vontade de participação por parte dos cida-
dãos da sub-região sul-americana, no pleito de um
espaço institucionalizado e democrático do proces-
so de integração representado pela UNASUL. Anali-
sando esse processo procurou-se estabelecer um
debate teórico abrangendo conceitos de democra-
cia liberal, participativa e de integração regional e
seus potenciais imbricamentos. Considerando nesta
análise, de maneira crítica uma revisão bibliográfica
sobre as várias definições que cada conceito teve e
como foram se modificando ao longo do tempo. O
objetivo foi investigar a participação social levando
em conta a singularidade da região sul-americana.
Assim, após a revisão bibliográfica, passamos a um
sucinto histórico das iniciativas de integração regio-
nal na América Latina, seus avanços e retrocessos
ao longo das décadas. Na sequência, passamos a
tratar da UNASUL, problematizando sua perspectiva
não-convencional de integração, no que tange à for-
te diplomacia presidencial presente. Além disso, a
partir do seu Tratado Constitutivo identificamos a
importância da participação cidadã e como isso im-
pactou na criação do FPC. Outrossim, colocamos em
perspectiva as tensões sempre presentes entre mo-
vimentos sociais e estatais no que diz respeito à ins-
titucionalização, funcionamento, disputa de senti-
dos e tensionamento por adoção dos encaminha-
mentos construídos a partir deste Fórum de debate.
Ao final, pretendemos responder se, depois de 3
edições, o FCP cumpre total ou parcialmente o obje-
tivo de espaço de congregação da sociedade civil da
sub-região, se debates realizados e resoluções pro-
postas encontram eco na estrutura da UNASUL, ten-
do redundado em iniciativas efetivas na institucio-
nalidade marcadamente intergovernamental do Blo-
co.
Pedro Costa Brunetta
A estratégia de alargamento da união europeia para
a região dos balcãs ocidentais: uma abordagem teó-
rica diante da integração da croácia
Resumo: A União Europeia é um arranjo político regi-
onal em constante mudança. A dinamicidade desta
configuração de Estados é devida tanto à demanda
dos países membros quanto àquela da Organização
em si. Entre os vários aspectos sujeitos à modifica-
ção, a composição do conjunto de países a formar o
bloco apresenta grande relevo. Ao se tratar da Polí-
tica de Alargamento da União Europeia, há uma sé-
rie de critérios, denominados por Critérios de Cope-
nhagen, a serem seguidos para que um país possa
aderir. O presente projeto tem como base os crité-
rios de adesão relacionados aos direitos humanos,
com o objetivo de dar sequência ao mapeamento
do processo de adesão dos Balcãs Ocidentais. Após
a realização de pesquisa documental baseada na
produção da União Europeia e do Tribunal Penal
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
136
Internacional para a Antiga Iugoslávia, faz-se impor-
tante a subsequente abordagem teórica de Rela-
ções Internacionais para que a situação analisada
possa ser vista através da ótica das principais teorias
da área.
Pedro Henrique Aquino de Freitas
Justiça de transição no Brasil e os limites à responsa-
bilização penal individual: dilemas sobre as decisões
do judiciário
Trabalho Completo
Resumo: A norma global de responsabilização penal
individual, estabelecida pelo regime internacional
de direitos humanos desde o final da Segunda Guer-
ra Mundial, determina o processamento dos crimes
contra a humanidade, imprescritíveis e impassíveis
de anistia. Por que sua internalização não avançou
no Brasil no que diz respeito aos crimes da nossa
ditadura militar? Quais fatores explicam a ausência
de punições dos crimes contra a humanidade come-
tidos pelos agentes da ditadura militar no Brasil?
Nos últimos seis anos, após a sentença da Corte In-
teramericana de Direitos Humanos que condena o
Brasil no caso Guerrilha do Araguaia, o Ministério
Público Federal propôs cerca de trinta ações penais
para tentar punir estes crimes. No entanto, os juízes
federais em primeira e segunda instâncias, bem co-
mo nos tribunais superiores, têm impedido o anda-
mento dos processos. Embora a literatura aponte
um descompromisso do judiciário com o direito in-
ternacional dos direitos humanos, observamos ou-
tras dimensões da justiça de transição no Brasil, co-
mo os processos de reparações e os processos na
esfera cível, para argumentar centralmente que o
Supremo Tribunal Federal, ao julgar constitucional
em 2010 a interpretação da Lei de Anistia de 1979,
impediu especificamente os processos penais sobre
os crimes da ditadura no Brasil. Ademais, defende-
mos que esta posição da corte é reflexo da força
dos atores políticos na sociedade brasileira, ou seja,
a ausência de incorporação da pauta da responsabi-
lização penal individual pelos atores políticos pro-
gressistas na agenda pública desde a redemocratiza-
ção foi determinante para o quadro de ausência de
punições pelo judiciário. Assim, buscando analisar,
dentro do contexto da justiça de transição no Brasil,
o impacto das normas internacionais de direitos hu-
manos, ressaltamos a importância que os mecanis-
mos causais domésticos possuem para que se obte-
nham resultados práticos de internalização na or-
dem jurídica brasileira do regime internacional de
direitos humanos.
Pedro Zucheratto Castro
A Temática da Fome nas Teorias e Estratégias de De-
senvolvimento – Implicações e Efetividade da Teorias
Dominantes do Desenvolvimento na Promoção da
Segurança Alimentar.
Resumo: Desde a ascensão da temática do desenvol-
vimento a posição de destaque na agenda internaci-
onal, marcadamente através da realização do dis-
curso inaugural do segundo mandato do presidente
estadunidense Harry Truman, a questão da fome se
marcou como indicador claro do subdesenvolvimen-
to e como questão a ser combatida através de es-
forços coletivos internacionais. No quarto ponto
deste discurso, o ex-presidente definia a necessida-
de de formulação de um programa político através
do qual os Estados Unidos, e o mundo desenvolvido,
deveriam disponibilizar suas capacidades técnicas e
científicas com fins de propiciar o progresso dos
subdesenvolvidos, dada a extensão da miséria e da
fome nestes. Embora seja necessário destacar que
no início da década de 1940 já houvessem regimes
internacionais vinculados à Segurança Alimentar, a
exemplo da Conferência de Alimentos e Agricultura
de Hot Springs de 1943, quando se apontou a ne-
cessidade de inclusão da agricultura e da segurança
alimentar no Sistema ONU através da FAO, percebe-
se na consolidação acadêmica e política das Teorias
do Desenvolvimento elaboradas no Pós-Guerra uma
influência notável tanto definições do problema da
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
137
Fome, como na formulação e difusão de estratégias
para a erradicação da Fome e da Segurança Alimen-
tar. Neste trabalho, portanto, analisaremos a evolu-
ção do conceito de segurança alimentar ao longo do
Pós-Guerra, especialmente no âmbito das agências
especializadas no Sistema das Nações Unidas, e suas
articulações com a formatação das estruturas pro-
dutivas e do próprio Estado orientada pelos Orga-
nismos Financeiros Internacionais (FMI, Banco Mun-
dial, OMC) em nome do Desenvolvimento, tratando
especialmente das implicações deste tipo de mode-
lo na produção agrícola. Por meio deste relaciona-
mento, pretendemos analisar criticamente a ade-
quação dos modelos e teorias do desenvolvimento à
promoção de mudança social expressa na solução
do problema da fome e na promoção da Segurança
Alimentar.
Rafael Santos do Nascimento
A Cooperação Internacional e o Regime Ambiental:
Estudo de caso do Acordo de Paris (2015)
Resumo: Desde a década de 1970 a mudança climáti-
ca e o aquecimento global vêm ganhando maior
atenção internacional. Em 1995 se realiza a primeira
Conferência das Partes (COP) a fim de tratar inter-
nacionalmente a perigosa intervenção que os seres
humanos têm feito, ao longo da História, no meio
ambiente. Por essa razão, o presente trabalho visa à
realização de uma análise qualitativa do estabeleci-
mento do Acordo de Paris, consequência da COP-
21, realizada em 2015. Para isto, o referencial teóri-
co utilizado será o do âmbito da Cooperação, de Ro-
bert Keohane, e o dos Regimes Internacionais, de
Stephen Krasner. O acordo será a base empírica pa-
ra o desenvolvimento do elo entre os Regimes Inter-
nacionais e o tema ambiental, posto em prática
através de normas, princípios e regras comuns aos
Estados participantes e sua cooperação em âmbito
internacional. Assim, a pesquisa divide-se em três
seções. A primeira seção desenvolve a noção de Re-
gimes Internacionais e a forma pela qual os atores
cooperam entre si, demonstrando seus interesses e
motivações. Em um segundo momento, a análise
destrinchará o Acordo de Paris e suas principais
prerrogativas. O elo entre a noção de Regime Inter-
nacional e o Acordo de Paris será realizado a partir
do que será denominado Regime Ambiental Interna-
cional (RAI). A última seção desenvolverá a impor-
tância do RAI enquanto meio de cooperação. Esta
seção proporcionará novos caminhos ao debate das
questões ambientais, principalmente acerca do
aquecimento global e mudança climática. O argu-
mento central é o de que as mudanças climáticas
são um problema global de responsabilidade mútua
entre os países. Mitigar tais alterações somente po-
de ser alcançado através de uma eficiente colabora-
ção internacional. Apesar de certas ineficiências,
estas não são resultantes dos Regimes em si, mas
têm relação com o que os Estados possuem de ex-
pectativa e convergência em termos de benefícios
para si.
Rickson Rios Figueira
Entre universalismo e pluralismos jurídicos: a aplica-
ção das normas jurídicas de direitos humanos na pro-
teção de refugiados indígenas
Coautor(es): Luisa Pereira da Rocha Giannini Figueira
Resumo: O trabalho tem por objeto o estudo dos
problemas e possibilidades decorrentes da superpo-
sição de quadros normativos distintos do direito in-
ternacional, a saber, o direito internacional dos di-
reitos humanos, o direito dos refugiados e o direito
internacional dos povos indígenas. Trata-se de in-
vestigar as incompatibilidades, justaposições e me-
diações normativas possíveis considerando-se o ca-
ráter universal de certas normas e a particularidade
de outras. Contudo, se isso se dá no campo teórico,
há uma série de desafios teórico-práticos relaciona-
das ao campo da aplicação da(s) norma(s) jurídica(s)
que têm como finalidade proteger aquele que se
situa como seu destinatário. O refugiado indígena é
a figura a quem se dirigem normas que vão desde a
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
138
delimitação de uma definição que o descreva juridi-
camente até as normas que orientam ações de polí-
ticas públicas referentes aos campos dos direitos
humanos, da proteção de refugiados, além das polí-
ticas garantidoras das especificidades indígenas. A
pesquisa que se pretende realizar abarca tanto a
dimensão jurídico-normativa, como a que se refere
ao desenho e à implementação de políticas públi-
cas, essas últimas investigadas a partir do estudo de
caso dos refugiados indígenas dos povos Warau e
E'ñepa, situados no Estado de Roraima e, particular-
mente, no Município de Boa Vista.
Rodrigo Führ
Migrantes Ambientais e a Assembleia Geral das Na-
ções Unidas
Resumo: O presente trabalho busca analisar, na As-
sembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), o desen-
volvimento do discurso sobre migração ambiental.
Atualmente, mais de 50 milhões de pessoas estão
deslocadas por causa de motivação ambiental, mas
não são classificadas como refugiadas e tampouco
recebem proteção dentro da estrutura das Nações
Unidas. Assim, o presente trabalho justifica-se como
uma tentativa de acompanhar a discussão na AGNU,
analisando todas as vezes que a temática foi abor-
dada pelos enviados das nações para à AGNU, iden-
tificando seu contexto e outras variáveis de cada
discurso. Serão utilizadas como ferramentas os
softwares SPSS, para análise quantitativa dos dados,
e o software NVIVO para a análise de dados não es-
truturados, objetificando a criação de um banco de
dados. Serão utilizados ainda métodos comparati-
vos, analisando diferentes discursos desde 1998 até
2018 proferidos pelos mesmos países, na tentativa
de analisar como cada Estado se comportou na te-
mática; e revisão bibliográfica, para auxiliar na análi-
se dos dados obtidos.
Sarah Carvalho da Rosa
Sete Anos Depois: A Guerra Civil Síria e as Possíveis
Falhas de Resolução de Conflito por parte da ONU
Coautor(es): Beatriz Sampaio Abreu
Trabalho Completo
Resumo: A Primavera Árabe no Oriente Médio impul-
sionou as revoltas populares ocorridas na Síria em
2011 até a eclosão da guerra civil. Atualmente, tal
conflito completa seu sétimo ano, somando mais de
400 mil mortos e cerca de 5 milhões de refugiados,
além de ter deixado em torno de 13.5 milhões de
pessoas necessitando de assistência humanitária.
Diante desse quadro, cada vez mais a questão síria
tem se tornado pauta relevante na comunidade in-
ternacional e um ponto focal da política contempo-
rânea no Oriente Médio. Portanto, o artigo preten-
de abordar a guerra civil na Síria, analisando sobre-
tudo o papel das Nações Unidas (ONU) e sua eficá-
cia frente à resolução do conflito. Para isso, parte-se
da perspectiva analítica da teoria institucionalista
neoliberal, por meio da metodologia histórica, utili-
zando-se de fontes primárias e secundárias, reali-
zando assim uma pesquisa qualitativa para seu em-
basamento. Portanto, objetiva-se: identificar os ato-
res envolvidos nesta guerra e seus principais inte-
resses; traçar a atuação da ONU como uma possível
via de gerenciamento de crises internacionais; e in-
vestigar possíveis limites da governança global de tal
instituição, considerando o poder de ação e decisão
dos membros do Conselho de Segurança (CS). No
âmbito da ONU, observa-se que além de termos ti-
do um número relativamente baixo de decisões pa-
ra o enfrentamento da referida crise humanitária,
grande parte das resoluções que apresentavam um
caráter interventor mais incisivo e contundente não
foram aprovadas pelo Conselho, seja em virtude do
uso contínuo do poder de veto por alguns de seus
membros ou por conta do desacordo de suas deter-
minações por partes atuantes no conflito. Desta for-
ma, é colocada em discussão a habilidade do Conse-
lho de agir como mediador para a cooperação e re-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
139
solução de conflitos entre Estados, dado o baixo
efeito de suas ações neste confronto.
Tadeu Morato Maciel
70 anos da Declaração Universal dos Direitos Huma-
nos: apontamentos de uma análise pós-estruturalista
Coautor(es): João Paulo Gusmão Pinheiro Duarte
Trabalho Completo
Resumo: Diante da aproximação das comemorações
de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos (DUDH), a análise de sua emergência e esta-
belecimento se torna mais uma vez pertinente. Isso
porque, desde que foi acordada na Assembleia Ge-
ral das Nações Unidas, em 1948, a Declaração se
tornou uma baliza tida como fundamental para o
alcance da dignificação da humanidade. Um adágio
que se generalizou como verdade por estar também
associado à promoção da paz e tolerância entre os
povos; por consequência, reverberando até os dias
de hoje. A despeito dessa forma grandiloquente, a
DUDH e seus efeitos impelem também problemati-
zações, as quais norteiam os objetivos do presente
artigo. Aproximando-se de uma análise que nas Re-
lações Internacionais é classificada como pós-
estruturalista, bem como da abordagem genealógi-
ca do poder proposta por Michel Foucault, no início
do artigo é situada, em primeiro plano, a Declaração
como um artifício jurídico nascido na guerra, isto é,
como um direito marcado pelo sangue das batalhas
da Segunda Guerra Mundial. Em seguida, é discuti-
do como seus efeitos produziram uma padronização
das interpretações até então dispersas sobre os di-
reitos humanos, assim como um programa universal
destinado ao estabelecimento de atenções políticas
sobre a humanidade. Nesse sentido, para além dos
discursos que limitam-se a ressaltar as positividades
da DUDH, a Declaração é aqui analisada como um
dispositivo que reflete e reproduz a perspectiva ven-
cedora da guerra e que se dirige pelo interesse de
controle sobre a vida dos Homens. Por conseguinte,
busca-se uma possibilidade analítica que leia a
DUDH dentro da perspectiva foucaultiana de conti-
nuidade silenciosa da guerra, distanciando-se das
premissas que comumente permeiam as teorias tra-
dicionais das Relações Internacionais – em especial
no que tange à reprodução da distinção estanque
entre o dentro (o Estado, mantenedor da paz civil) e
o fora (a ausência de autoridade centralizada) na
política estatal.
Tamara Claudia Coimbra Pastro
Um olhar sistemático sobre as Comissões Nacionais
da Verdade na América do Sul
Coautor(es): Tamara Claudia Coimbra Pastro, Marri-
elle Maia Alves Ferreira
Trabalho Completo
Resumo: O presente trabalho faz uma revisão siste-
mática das pesquisas disponíveis sobre as Comis-
sões Nacionais da Verdade na América do Sul. Parti-
mos do pressuposto que tais comissões represen-
tam instrumentos essenciais para a efetivação da
Justiça de Transição nos países que durante a se-
gunda metade do século XX vivenciaram regimes de
exceção caracterizados por ditaduras civis-militares.
Os países em questão são: Argentina, Bolívia, Brasil,
Chile, Paraguai, Peru e Uruguai. Dessa forma, foi fei-
to um levantamento em bases de dados, como o
portal de periódicos da CAPES, Scielo e o Google
Acadêmico, de artigos, teses, dissertações, livros,
assim como os relatórios produzidos pelas referidas
comissões. Foram encontradas publicações que
abordavam a questão de forma geral, com discus-
sões sobre as experiências traumáticas e o direito à
verdade e à memória, geralmente caracterizados
por uma perspectiva interdisciplinar, agregando dis-
cussões do Direito e da História. E também de forma
específica ao pensar na realidade dos sete países e
seus processos individuais de enfrentamento do
passado. Além disso, também foram encontrados
pesquisas que buscassem compreender as comis-
sões a partir de análise comparativa entre elas, ge-
ralmente, entre dois países. A principal proposta
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
140
dessa pesquisa é conjeturar de que forma é possível
ponderar essas instituições nacionais a partir de
uma perspectiva histórica e comparada, almejando
relações entre suas constituições e formas de efeti-
vação do direito à justiça, memória e verdade. E
abordando também o papel que elas assumem a
nível internacional a partir do momento que seus
relatórios são lançados e utilizados como documen-
tos e que servem para embasar questões judiciais
como os casos levados à Corte Interamericana de
Direitos Humanos. Sendo assim, é muito importante
pensar nas possibilidades de relação entre esses
agentes considerando seu papel fundamental para a
busca por reparação, o uso da memória e efetivação
das sociedades democráticas da região.
Thalita Leme Franco
As Medidas de Retirada Compulsória do Não Nacio-
nal em Face da Nova Lei de Migração Brasileira: Ino-
vações da Lei e Distorções de seu Decreto Regula-
mentar
Resumo: A presente proposta de pesquisa tem por
objetivo pontuar a temática das medidas de retirada
compulsória do não nacional em face da nova lei de
migração brasileira e de seu regulamento. Nesse
sentido, parte da análise do tratamento jurídico en-
cartado no novo marco regulatório sobre migrações
no Estado brasileiro quanto às medidas de retirada
compulsória do não nacional de sua base territorial.
A anterior normativa que abordava o tema, conheci-
da como Estatuto do Estrangeiro, previa três dife-
rentes institutos que tinham como objetivo regular
a retirada compulsória do então considerado
‘estrangeiro’ do país: a deportação, a expulsão e a
extradição. No novo marco regulatório, a Lei
13.455/17 altera os institutos da norma anterior ao
prever como medidas de retirada compulsória: a
repatriação, a deportação e a expulsão. A extradição
foi tratada de forma separada, no capítulo referente
às “Medidas de Cooperação Vinculadas à Mobilida-
de”, que igualmente inova, se comparado ao texto
do Estatuto do Estrangeiro, ao trazer previsão dos
institutos da Transferência de Execução da Pena
(TEP) e da Transferência de Pessoa Condenada
(TPC). O conteúdo exposto será analisado sob a óti-
ca do caráter humanitário incutido na Lei
13.445/17, que, dentre outros momentos, encarta
em seus artigos 61 e 62, vedações às medidas de
retirada compulsória, em contraponto às dissonân-
cias presentes no Decreto que regulamenta citada
Lei, a exemplo da previsão de prisão de deportado,
normativa em flagrante descompasso com a previ-
são de não possibilidade de prisão por razões migra-
tórias, disposta na Lei de Migração. Justifica-se a
presente análise diante do relevo da temática das
migrações, e pontua-se que a mesma está inserida
numa agenda de pesquisa sobre a nova Lei de Mi-
gração brasileira e as distorções de seu Decreto Re-
gulamentar. Sua conclusão, portanto, tem o condão
de contribuir para a pesquisa difundida no Brasil
acerca do assunto em comento.
Veronica Korber Gonçalves
Mudanças climáticas e aviação internacional: a posi-
ção da China e dos Estados Unidos nos diferentes fo-
runs internacionais
Coautor(es): Marcela Braga Anselmi
Trabalho Completo
Resumo: As negociações para o estabelecimento de
um acordo para a redução das emissões de CO2
provenientes do transporte aéreo internacional tive-
ram como arena de discussão dois fóruns distintos:
as Conferências das Partes da Convenção Quadro
das Nações Unidas sobre mudança do clima e a Or-
ganização da Aviação Civil Internacional (OACI), en-
volvendo atores coincidentes, mas com diferentes
interesses e posicionamentos. Apesar de os Estados
Unidos terem recentemente decido retirar-se do
Acordo de Paris, o compromisso de adotar medidas
de compensação das emissões do setor de aviação
foi reafirmado. A China, por sua vez, tem-se projeta-
do como líder do regime global de mudanças climá-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
141
ticas, mantendo, no entanto, a defesa do princípio
das responsabilidades comuns porém diferenciadas,
o que se mostrou incoerente no âmbito da OACI. O
objetivo do trabalho é apresentar os interesses des-
ses dois atores no processo de negociação do acor-
do para a redução das emissões de CO2 provenien-
tes do setor, na OACI, no período de 2013 a 2016.
Argumenta-se que as negociações que culminaram
no estabelecimento do CORSIA (Carbon Offsetting
and Reduction Scheme for International Aviation),
envolveram dinâmicas e posicionamentos distintos
desses Estados, resultando em um distanciamento
entre o fórum do clima e o fórum da aviação. Tais
fóruns podem ser compreendidos enquanto cam-
pos, ou seja, espaços dotados de certa autonomia,
construídos com base na diferenciação em relação a
outros espaços, dentro dos quais ocorrem, a partir
de uma lógica dotada de especificidades, disputa
interna por domínio e reconhecimento de autorida-
de. Para tanto, será analisado como os Estados Uni-
dos e a China agiram nos distintos campos. Nesse
sentido, o foco da análise é a identificação dos posi-
cionamentos e das disputas entre os dois atores es-
tatais, ressaltando-se em que medida foram per-
meáveis aos interesses da indústria no processo de
negociação.
Victória Figueiredo Machado
Brasil visto como “vanguardista” na proteção de refu-
giados:reflexões críticas acerca das práticas de defe-
rimento, acolhimento e integração local dos venezue-
lanos
Trabalho Completo
Resumo: O Brasil possui uma das legislações mais
avançadas no continente americano em relação à
temática do Direito Internacional dos refugiados,
sendo o primeiro país na América do Sul a regula-
mentar a proteção aos refugiados através da ratifi-
cação da Convenção de Genebra de 1951 e o Proto-
colo de 1967. Em âmbito nacional, manteve essa
posição de destaque ao elaborar uma lei específica
sobre refugiados desde 1997, exercendo uma pos-
tura vanguardista de defesa dos direitos humanos.
Tendo isso em vista, o presente artigo busca anali-
sar a evolução das políticas de refúgio no país e pro-
blematizar se esses pressupostos humanitários – tão
exacerbados e propagados pela política externa bra-
sileira - podem ser evidenciados nas práticas cotidia-
nas de acolhimento e deferimento de refugiados,
mais especificamente, em relação ao atual fluxo mi-
gratório de venezuelanos. Dessa forma, com o estu-
do de caso focado nos desdobramentos humanitá-
rios da maior crise política e econômica da Venezue-
la, esse artigo visa observar de que maneira o dese-
nho institucional brasileiro lida com o recrudesci-
mento no número de pedidos de refúgio, além de
salientar a reação societária a esse veemente movi-
mento migratório, que é circundado por indiferen-
ça, descaso até episódios de implacável hostilidade.
Assim sendo, essa pesquisa se propõe a investigar o
arcabouço jurídico e a aplicação da lei nº
13.445/2017 e a própria definição ampliada de refu-
giado concomitante à análise mais subjetiva de ele-
mentos xenofóbicos presentes em discursos e práti-
cas de uma parcela de indivíduos. A partir dessas
incoercíveis indagações, o artigo tem como objetivo
central analisar a relação entre sociedade civil, go-
verno brasileiro e ACNUR no que tange o tratamen-
to e acolhimento dos refugiados venezuelanos, de
forma a entender se o Brasil tem condições de fazer
com que a integração local desses refugiados seja
estável e duradoura e de que maneira desempenha
sua função de arquétipo latino-americano.
Wellington Cyro de Almeida Leite
Legislações nacionais e uma gestão compartilhada
para o Aquífero Guarani
Coautor(es): Maria Luísa Telarolli de Almeida Leite,
Trabalho Completo
Resumo: O Aquífero Guarani é uma reserva hídrica
subterrânea transfronteiriça de 1,2 milhões de km2,
dos quais dois terços estão distribuídos em oito es-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
142
tados brasileiros, o restante se encontra distribuído
entre Argentina, Paraguai e Uruguai. Em 2010 foi
assinado o Acordo do Aquífero Guarani por seus de-
tentores, no âmbito do Mercosul que, em seu artigo
12, se refere a programas de cooperação para a ges-
tão deste recurso hídrico. Ressalta-se que, o Acordo
do Aquífero Guarani foi inovador, ao ser firmado
com base na Resolução 63/124 da Comissão de Di-
reito Internacional (CDI) para Aquíferos Transfron-
teiriços, de 2008, o primeiro marco regulatório, para
o setor, no cenário internacional. O marco da CDI
apresenta como princípios gerais, para a gestão des-
ses recursos, a soberania; a obrigação em não cau-
sar danos ambientais significativos; o uso equânime
e racional e a cooperação. Há o entendimento, em
âmbito global, de que a prioridade dos recursos hí-
dricos é o consumo humano, entretanto, cada país
detentor desses recursos possui interesses distintos,
sento, portanto, necessário um consenso acerca de
seu uso de forma conciliadora e sustentável. Parte-
se da hipótese de que as legislações dos países de-
tentores do Aquífero Guarani são assimétricas, além
de se encontrarem em estágio embrionário (VILLAR,
2010), ainda assim o Acordo do Aquífero Guarani
abre margem para que se pense em um modelo de
gestão compartilhada. O objetivo do trabalho é fa-
zer uma análise da legislação das águas subterrâ-
neas nos países signatários do Acordo do Aquífero
Guarani, visando contribuir para o avanço das dis-
cussões sobre a gestão hídrica e transfronteiriça de
águas subterrâneas, o que pressupõe um entendi-
mento mínimo dos arranjos institucionais entre os
membros para a atual gestão do aquífero. Dessa
forma, o artigo busca verificar as potencialidades
contidas nas legislações nacionais para a instituição
da gestão compartilhada do Aquífero Guarani em
âmbito regional.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
143
Adriano Santos de Sousa
Uma análise da natureza dos narco-conflitos sulame-
ricanos (2010-2017) e suas fontes de financiamento a
luz da Geografia Política do Conflito.
Resumo: Os narco-conflitos na América do Sul apre-
sentam diferentes padrões espaciais. Essa formata-
ção espacial em grande parte é influenciada pela
cadeia produtiva de cocaína e seus derivados como
fontes de financiamento das chamdas novas guerras
(KALDOR, 2001). A espacialidade desses conflitos
ainda foi pouco estudada empiricamente, com exce-
ção dos trabalhos de Salas Salazar (2010). O presen-
te trabalho tem por objetivo descrever e analisar a
intensidade e letalidade dos narco-conflitos na Ame-
rica do Sul e sua relação espacial com pontos estra-
tégicos da redes logística e de produção de cocaína
no subcontinente.Para tanto, utilizamos o enfoque
da Economia Política do Conflito (LE BILLON, 2001).
Acreditamos que exista correlação espacial entre os
homicídios e a cadeia de produção e logística de fo-
lha de coca. Ademais, o cloridrato de cocaína nos
conflitos sul-americanos influencia na natureza da
intensidade e a letalidade de tais conflitos. No que
se refere à metodologia, foram coletados dados de
apreensões de drogas e números de homicídios por
região. A partir desses dados, empregou-se a meto-
dologia da análise espacial, por meio da qual se veri-
ficou que os espaços de produção de folhas de coca
bem como de refino possuem correlação espacial
com conflitos de base-estatal. Verificamos, também,
que, além da militarização do conflito, a capacidade
de obstrução da pasta base de coca pode explicar a
forma de ação do narcotráfico; por outro lado, a
folha de coca, por perecer rápido, demanda que os
locais de refino sejam mais próximos das áreas de
plantação.
Alcides Eduardo dos Reis Peron
Segurança Internacional e CT&S: Olhares cruzados e
possibilidades de aproximação no debate acerca dos
dispositivos contemporâneos de vigilância e controle
Resumo: Desde a maturação do processo denomina-
do Revolução nos assuntos Militares, em meados
dos anos 1980 e 1990, parece incessante o surgi-
mento de tecnologias e instrumentos cada vez mais
complexos e duais, para a manutenção de políticas
de segurança internacional, vigilância e policiamen-
to. Dentre essas tecnologias, destacamos os Drones
Armados, sistemas de vigilância algorítmica, minera-
ção e perfilização de dados, dentre outros, que,
além de produzir efeitos políticos e sociais adversos,
tem tornado o exercício da segurança um complexo
dispositivo que compreende pessoas, políticas, prá-
ticas e instrumentos, cujas metodologias vigentes
são pouco capazes de explorar. Diante desse cená-
rio, cada vez mais se torna necessária uma aborda-
gem que compreenda não apenas a dimensão estra-
tégica do emprego desses novos instrumentos, mas
fundamentalmente as implicações sociais e políticas
dos seus usos, muitas vezes enraizadas e fetichiza-
das em seu “código técnico”. Para tanto, a partir dos
estudos da filosofia Crítica da Tecnologia de Andrew
Feenberg, bem como da sociologia política da tec-
nologia de Langdon Winner, pretendemos encon-
trar e debater as brechas e possibilidades de aproxi-
mações teóricas com os chamados Estudos Críticos
da Segurança Internacional, que incorporam tanto
os trabalhos de Richard Wynn-Jones, Stephen Krau-
se e Ken Booth, como os trabalhos de autores da
denominada “Escola de Paris”, como Didier Bigo e
Claudia Aradau. Acreditamos que, a compreensão
entre as possíveis intersecções entre esses diferen-
tes campos de estudo pode contribuir mutuamente,
ao estabelecer problemas, critérios e categorias
analíticas, que permitiriam a ampliação da capacida-
de crítica dessas Tecno-políticas.
SEGURANÇA INTERNACIONAL, ESTUDOS ESTRATÉGICOS E POLÍTICA DE DEFESA
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
144
Alcides Eduardo dos Reis Peron
Ciência, Tecnologia e Segurança Internacional
Resumo: Desde o final dos anos 1980, com a profu-
são das teorias Construtivistas, Feministas, Pós Colo-
niais e “Pós-Estruturalistas”, a produção de saber no
campo das Relações Internacionais torna-se um es-
paço de debate crítico. Como ponto de partida, há o
entendimento de que o saber cientifico, ainda que
produzido de forma pretensamente desinteressada,
carrega um forte conteúdo ideológico capaz de pro-
duzir sentidos e significados capazes de reordenar
entendimentos, até mesmo induzir a formas de do-
minação e assujeitamento. Nesse interim, as teori-
as, os métodos, as dinâmicas de pesquisa tornam-se
um foco de deliberação, cujo objetivo principal seria
escarnar os elementos “constrangedores”, e expon-
do os limites das práticas de produção de conheci-
mento. Como um exemplo desse novo “espaço de
deliberação”, destacam-se os trabalhos de Richard
Ashley, James Der Derian, Robert Cox, dentre ou-
tros, que por um questionam o status epistemológi-
co das filiações realistas, racionalistas, propondo
ataques diretos aos seus pilares teóricos, como a
noção de anarquia, ordem, hegemonia, por outro
lado, propondo programas investigativos que audi-
tem a dinâmica de produção de conhecimento nas
relações internacionais e seus “efeitos de poder”.
Em paralelo a esse processo, nas ciências sociais, o
campo da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) foi
ganhando destaque, seja no que tange a seriedade
do seu programa teórico, investigando as entranhas
da dinâmica de produção do saber institucionaliza-
do – nomeadamente a ciência – seja na contempo-
raneidade do seu foco, que enxerga a tecnologia
enquanto um vetor e lócus da difusão e manuten-
ção de interesses, perspectivas políticas, e principal-
mente poder. Evoluindo de diversas tradições teóri-
cas, o campo da CTS não possui uma herança única,
comungando por exemplo, com elementos da Teo-
ria Crítica Frankfurtiana, no que tange a sua crítica
aos modelos de racionalidade “moderna”; com ele-
mentos do pós-estruturalismo, identificando a frivo-
lidade dos enunciados e discursos científicos como
forma de erigir autoridade sobre outras formas de
saber; e com elementos do construtivismo social,
como as teorias Khunianas, Latourianas, e o Progra-
ma do Construtivismo Social da Tecnologia (SCOT,
em inglês), no que diz respeito à dinâmica em que
as ideias são capazes de condicionar o pensamento,
e mesmo as “coisas”, que nos cercam. Desde então,
diante dos novos desafios de um mundo cujos pro-
cessos produtivos, políticas de segurança e proces-
sos de governança tornam-se cada vez mais globali-
zados, informatizados e tecnologicamente media-
dos, trabalhos nas mais diversas áreas das Relações
Internacionais, vem incorporando referenciais da
CTS como forma de intensificar a capacidade expli-
cativa das análises. De acordo com esses autores, a
capacidade explicativa da CTS refere-se à possibili-
dade de explorar os efeitos de poder, e os processos
políticos, sociais econômicos adjacentes ao desen-
volvimento e emprego das tecnologias estudadas, o
que revelaria elementos e dinâmicas muitas vezes
velados pelo processo de fechamento (“black-
boxing”) desses aparatos. No que diz respeito aos
Estudos de Segurança Internacional, os trabalhos de
Lene Hansen, Helen Nissembaum, Didier Bigo, Ro-
bert Walker, Stephen Krasner, Richard Wyn Jones,
Donald Mackenzie dentre outros, vem paulatina-
mente se concentrando nos estudos de CTS para
levar adiante um panorama crítico da segurança in-
ternacional. Dentre os debates explorados por esses
autores, destacam-se processos de vigilância, data-
veillance, controle, proteção de dados, cyber-
segurança, processos de “armamentização”, dile-
mas éticos de sistemas robóticos de armas, dentre
outras problemáticas relacionadas. Nossa intenção
com esse painel não será de forma alguma nos res-
guardarmos à noções deterministas, em que a tec-
nologia se torna o ponto de partida e de chegada
das análises, tampouco nos debruçarmos exclusiva-
mente nas discussões que se utilizem dos referenci-
ais CTS. Fundamentalmente, buscamos trabalhos
que entendam a relevância dos problemas que per-
passam e são adjacentes aos usos e desenvolvimen-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
145
tos das tecnologias, bem como seus efeitos transna-
cionais e para as políticas de segurança. Nesse senti-
do, entendendo a relevância que um diálogo multi-
disciplinar possui para o fortalecimento de quais-
quer áreas de pesquisa, esse painel tem por objetivo
explorar abordagens que debatam a dinâmica sócio-
politica da ciência e da tecnologia como elemento
de relevância nos campos da Segurança Internacio-
nal. A reunião de trabalhos que promovam um diá-
logo entre os referenciais de CTS e os Estudos de
Segurança Internacional, e que trabalhem casos que
tenham a tecnologia enquanto um elemento de
destaque, seria determinante para a profundar as
possíveis interfaces e problemas entre os campos
de estudo.
Alexandre Ciro Andriani Júnior
A intervenção humanitária na Somália
Resumo: Este é um estudo em andamento que versa
sobre as operações das Nações Unidas na Somália.
Foi aplicado como delimitação o estudo das resolu-
ções do Conselho de Segurança e seus efeitos no
território somaliano. Buscou-se compreender a efi-
cácia da atuação da ONU na Somália, considerando
a delimitação supra. Entende-se por eficácia o cum-
primento pelas missões dos mandatos concedidos
pelas resoluções 733, 751, 794, 814 e 897 do CS. Os
aspectos explorados são as ações que levaram as
resoluções, os resultados e desafios encontrados
para a necessidade de uma reformulação da UNO-
SOM I bem como o seu o insucesso e necessidade
de uma intervenção com base no capitulo VII para
fundamentar a necessidade de modificações na in-
tervenção e criação da UNITAF e UNISOM II. A au-
sência de um único grupo responsável durante as
missões, as baixas ocorridas e a incapacidade de es-
tabilizar a região fez com que o Conselho de Segu-
rança a redução da missão de paz aos moldes tradi-
cionais e a retirada das tropas da Somália. Está pes-
quisa poderá ser útil para compreender as ações da
ONU em operações pós UNOSOM, criando avenidas
de estudos futuros.
Alexandre Fuccille
Os direitos humanos securitários: as transformações
humanitárias no plano onusiano no pós-Guerra Fria
Coautor(es): Letícia Rizzotti Lima
Resumo: O humanitarismo protagonizado pelas Na-
ções Unidas sofreu uma importante mudança ao
final da Guerra Fria. As distensões na bipolaridade
abriram espaço à narrativa dos direitos humanos
como mote não só da comunidade internacional no
sentido tradicional, mas também da humanidade de
forma ampliada. Esta construção contemplava o rol
de liberdades e direitos presentes na tecelagem de
larga escala dentro da própria institucionalidade da
ONU, que tenta – ainda hoje – considerar aspectos
subjetivos e objetivos da vivência humana. Este mo-
vimento de primazia pelas condições protetivas da
vida repercutiu na seara securitária pela explosão de
conflitos internos, denominados “Novas Guerras” na
literatura. Desde então, uma série normativa foi fei-
ta com o intuito de remodelar o comportamento
das operações multilaterais aos desafios do campo,
a exemplo da formulação detalhada do R2P em
2005 e da Doutrina Capstone de 2008. Não obstan-
te, este esforço não foi acompanhado de elucidação
conceitual sobre o que se toma como critério con-
creto para mensurar qualitativamente os aspectos
da reconstrução política, resultando em uma con-
troversa figura normativa: por um lado, há a clara
expressão do arcabouço principiológico motivador
da atuação intervencionista – reivindicada como
legal e legitima –, embasado em concepções cosmo-
politas de prevalência da proteção individual; por
outro, a definição do que deve resultar esta moldu-
ra é bastante nebulosa e se ancora na expectativa
de que os termos amplamente conhecidos (como a
própria democracia e o rule of law) se bastam em
concepções universais e que o desenho teórico é
suficiente para sua realização fática. Como conse-
quência, estes processos geram perspectivas limita-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
146
das ao controle da violência aberta por meio de for-
ças militarizadas. O propósito do presente paper é
justamente avaliar de forma ampla a normatização
da ordem internacional protagonizada pela ONU,
por meio da retórica securitária embasada na con-
cepção de direitos humanos estabelecida no pós-
Guerra Fria.
Aline Batista dos Santos Silva
A espionagem, a privacidade e a liberdade de expres-
são: da Alemanha Oriental na Guerra Fria aos levan-
tes populares brasileiros em 2013
Resumo: O presente trabalho propõe a análise da
aplicação da espionagem em contraposição à garan-
tia constitucional do direito à manifestação, com
exemplificação no cenário político brasileiro, osci-
lante em indignações e manifestações populares em
2013, e em alusão ao regime socialista imposto à
Alemanha Oriental por intermédio das convicções
da Guerra Fria. Primordialmente, o estudo pretende
analisar em quais circunstâncias o Estado sente-se
ameaçado pela própria população. Nessa pesquisa
faz-se necessário ponderar se a espionagem é apli-
cada para salvaguardar o bem público ou os interes-
ses estatais. Faz-se significativo também em um se-
gundo momento, aferir se a atuação dos serviços de
inteligência é legitimada pela constituição e, se vai
de encontro à privacidade e a liberdade de expres-
são, prerrogativas individuais que em tese deveriam
ser prioridade das decisões governamentais. Trata-
se de um estudo exploratório-descritivo de aborda-
gem qualitativa, na qual objetiva investigar e com-
parar o funcionamento de dois Estados, a Alemanha
Oriental em 1950 e o Brasil em 2013, e suas respec-
tivas reações quando internamente ameaçados,
além de explicar o porquê de referirem-se ao civil
como ameaça e aplicar a espionagem em ambos os
contextos. A metodologia está fundamentada em
pesquisas bibliográficas, no estudo de Teorias Clássi-
cas das Relações Internacionais, tais como o Libera-
lismo e o Realismo, baseada em teóricos da Ciência
Política, como as obras contratualistas de John
Locke e Nicolau Maquiavel, além de embasada na
legislação, para identificar se há legalidade na apli-
cação da espionagem e se a privacidade e a liberda-
de de expressão, ambas como prerrogativas indivi-
duais dos cidadãos, podem ser excluídas para salva-
guardar os interesses do Estado Nação.
Amadeu de Carvalho Júnior
O "outro" como ameaça: As respostas europeias à
"crise de refugiados" (2015-2017)
Trabalho Completo
Resumo: A partir de notícias divulgadas na imprensa
e de artigos publicados, o presente artigo analisa as
respostas dos Estados europeus diante da crise de
refugiados no Mediterrâneo, acentuada a partir de
2015, a fim de perceber a natureza dos discursos e
das políticas tomadas pelos governantes. Com o au-
xílio do quadro teórico dos estudos de Securitização,
introduzidos na área de Segurança pela Escola de
Copenhage, foi possível perceber que a maioria dos
governantes europeus conduziu a “crise de refugia-
dos” e a política de asilo correlata ao âmbito securi-
tizador, ao invés de optar por uma abordagem de
segurança humana, que levasse em conta os direi-
tos humanos dos refugiados. Percebe-se, também, a
relação da securitização dos fluxos de pessoas com
o próprio projeto de integração regional europeu,
que se utiliza de dois elementos para tratar tanto
refugiados quanto muitos imigrantes como ameaças
existenciais: o temor econômico e a homogeneida-
de cultural, pelos quais se busca forjar uma identi-
dade supranacional europeia e remediar o declínio
da legitimidade política dos partidos e da burocracia
europeia.
Ana Carolina Macedo Abreu
As Nações Unidas entre proteção, policiamento e ex-
cepcionalidade: o caso dos "protection of civilians
sites" no Sudão do Sul
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
147
Trabalho Completo
Resumo: Em dezembro de 2013, dois anos e meio
após a independência que se esperava ter encerra-
do um longo ciclo de conflito e violência no Sudão
do Sul, uma disputa política interna culminou no
desmembramento do partido que governa o país e
em um conflito armado que, até o momento, estima
-se ter resultado em 2 milhões de deslocados inter-
nos. Destes, cerca de 200.000 se encontram hoje
sob proteção da Missão das Nações Unidas no Su-
dão do Sul (UNMISS), nos chamados Protection of
Civilians (POC) sites. Inicialmente um fenômeno es-
pontâneo que se desenvolveu a despeito da vonta-
de da missão quando civis fugindo do conflito bus-
caram proteção nas bases da ONU, os POC sites pas-
saram por um processo de institucionalização nos
últimos anos e atualmente há planos para sua repli-
cação em outros contextos. Esses campos de prote-
ção são uma categoria singular: divergindo da natu-
reza essencialmente humanitária dos campos tradi-
cionais de refugiados e deslocados internos, nos
POC sites a autoridade e a atuação de agentes mili-
tares, humanitários e políticos se entrelaçam e se
chocam. Nessa perspectiva, o presente trabalho
pretende compreender esses "sites" como espaços
de sobreposição de diferentes lógicas de proteção,
policiamento e, no limite, de exceção. Primeiramen-
te, será proposta uma contextualização histórica,
institucional e normativa para o fenômeno dos POC
sites, em que eles serão localizados em um processo
amplo de transversalização da proteção de civis nas
operações de paz da ONU. Em seguida, abordarei as
tensões entre os conceitos e diretivas de proteção
promovidos nos POC sites pelos agentes humanitá-
rios, de um lado, e pelos peacekeepers, de outro.
Por fim, tratarei das práticas de manutenção da se-
gurança e da ordem interna nos POC sites, exami-
nando como o caráter de excepcionalidade desses
espaços pode produzir uma situação de exceção,
onde os direitos humanos são suspensos sob a auto-
ridade das Nações Unidas.
Ana Karolina Morais da Silva
Estruturação do Observatório da Integração da Infra-
estrutura na América Latina
Resumo: O processo de Integração Regional na Amé-
rica Latina contemporânea é complexo e multiface-
tado, sendo desenvolvido em múltiplas áreas, como
(I) no âmbito Político e Institucional, em que predo-
mina a participação de Estados e atores estatais; (II)
na esfera Econômica, que compreende desde o au-
mento da interdependência comercial até a estan-
dardização de políticas macroeconômicas e a inte-
gração produtiva; (III) no campo Sociocultural, com
a agência de atores estatais e não estatais, envol-
vendo desde programas de cooperação educacional
e acadêmica até a atuação de movimentos sociais e
da sociedade civil organizada; (IV) no nível Geopolí-
tico, que inclui a integração securitária, a constru-
ção de uma política de defesa regional comum e a
construção de infraestrutura integrada de energia,
transportes e comunicações, que operam como sus-
tentação a outras formas de integração, na medida
em que viabilizam a circulação de pessoas, informa-
ções, serviços e produtos. Embora esses processos
possam ser considerados predominantemente fenô-
menos de longa duração, sofrem grande influência
das constantes transformações das relações inter-
nacionais, de suas crises e conjunturas. Desta forma,
a Integração Regional não se trata apenas da forma-
ção de blocos econômicos e comerciais, mas sim de
uma gama de processos que ocorrem simultanea-
mente em diferentes níveis ou áreas. No contexto
de acirramento da disputa inter-estatal a Integração
Regional torna-se um possível mecanismo de trans-
formação de poder potencial em poder concreto,
que permitiria acumular mais poder não apenas a
um único Estado, mas a um conjunto de Estados
aliados. Neste sentido, visamos descrever os proces-
sos de integração de infraestrutura na América Lati-
na em perspectiva histórica, ponderando quais ca-
minhos foram seguidos no passado recente e quais
projetos estão sendo desenvolvidos na atualidade,
para prover uma análise crítica acerca das perspecti-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
148
vas e cenários geopolíticos que podem decorrer da
estratégia de integração de infraestrutura empreen-
dida na América Latina.
Andrea Ribeiro Hoffmann
Crise na Venezuela: qual crise?
Coautor(es): Thauan Santos
Trabalho Completo
Resumo: O painel analisa padrões de continuidade e
ruptura em aspectos centrais da sociedade venezu-
elana, tais como militarização, relações civil-
militares, economia política do petróleo e sistema
político, com o objetivo de contribuir para a com-
preensão sobre se, e de que forma, a situação con-
temporânea do país pode ser caracterizada como
uma de ‘crise’.
Antonio Ruy de Almeida Silva
Hegemony, great powers and naval capabilities: a
comparative analysis of International Relations’ theo-
ries
Coautor(es): Layla Ibrahim Abdallah Dawood
Resumo: Mearsheimer is known for diminishing the
importance of naval capabilities when analyzing re-
gional hegemons’ power portfolio. In particular, the
scholar argues that land power is a major priority
for regional hegemon candidates. This is grounded
on the premise that, to qualify as a regional hege-
mon, a great power initially acquires enough capabi-
lities to resist land occupation by regional oppo-
nents and regional alliances. Furthermore, Mears-
heimer developed the “stopping power of waters”
concept in order to explain the priority allegedly gi-
ven by great powers to land power: the difficulties
involved in projecting power across oceans and the
impossibility of complete nuclear superiority hinder
the pursuit of global hegemony. In contrast, Mol-
deski and Thompson claim that modern global po-
wers are sea powers which pursue to achieve the
command of the seas. These scholars associate
changes in world leadership with shifts in the distri-
bution of seapower. In turn, Silva developed the
"enabling power of oceans" concept, referring to
the fact that oceans are sources of wealth and po-
wer, contributing to the maintenance of life on
Earth, to the flow of goods, people, and informa-
tion, and to the projection of military power on the
local, regional and global level. This brief discussion
shows that the relevance of naval capabilities is not
consensual among International Relations scholars.
Therefore, this paper aims at comparing the roles
attributed to naval capabilities by different Internati-
onal Relations´ theories. In particular, we seek to
contrast the “stopping power of waters” and the
“enabling power of oceans” concepts. We claim that
it is not always rational to leave the improvement of
naval power to the final stages of great powers’ rise.
Geography and the influence of global powers in
regional balances might lead to the considerate in-
crease of naval capabilities before the achievement
of land superiority in regional balances.
Augusto Leal Rinaldi
The importance of history and values in international
politics: the BRICS’s and the “Responsibility to Pro-
tect” concept
Coautor(es): Cristina Soreanu Pecequilo
Trabalho Completo
Resumo: In today’s world, characterized by the di-
mensions of globalization, changes in the global hie-
rarchical power, and shifting in the economic-
leading from West to East, a central aspect often
neglected in this context is the importance of social-
historical elements in nations’ calculations. In tradi-
tional International Relations scholarly – past and
present –, it is unusual to take these related catego-
ries into consideration. Resorting to objective and
“measurable” instruments, rather than subjective
ones, it is easy to find works pointing out to the im-
portance of military strength and economic perfor-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
149
mance, instead of focusing on the role played by
history and values. These elements are not necessa-
rily incompatible. On the contrary; they can even be
mixed up in order to do a comprehensive study. Ne-
vertheless, it is important to separate them analyti-
cally to evaluate in what extent which dimension is
more relevant in influencing one determined policy.
Since history and values matter to people and coun-
tries, it is valid to consider them in the analysis of
one’s country foreign policy. Therefore, the goal of
this paper is the analysis of the BRICS’s (i.e., Brazil,
Russia, India, China, and South Africa) assessment
and behavior vis-à-vis the concept of “Responsibility
to Protect” (R2P) through the categories of history
and values. R2P is one of today’s most controversial
issue as it proposes a new interdependence
between the notions of security, humanitarian crisis
and sovereignty and affects the interactions of
emergent nations such as the ones in the BRICS and
traditional powers as the US and the EU. By resor-
ting to the notions of values and historical tradition,
we investigate the perspectives that these categori-
es can offer to understand the BRICS’s behavior. So,
the research question focus on what are the roles
played by the categories of history and values in
BRICS’s understanding of R2P.
Bruna Bosi Moreira
The US response to its own decline and to the rise of
China: The strategies of Obama and Trump in compa-
rison
Resumo: This paper aims on assessing ongoing chal-
lenges to the international liberal order under US
hegemony, especially considering the rise of China.
It analyses the changes that came with Trump’s
election in the way the United States has been dea-
ling with such challenges since the Obama adminis-
tration. It argues that containing China and mana-
ging threats to the US hegemony have been major
goals since the Obama administration. What has
changed with Trump in power is the means emplo-
yed to those ends. Based on this reasoning, this pa-
per evaluates the consequences that such a change
of posture might have in terms of US hegemony and
the rise of China. It assesses the possibility that the
new attitude towards China and the US retreat from
the global arena might actually deepen such chal-
lenges instead of managing them.
Bruno de Almeida
A Política Brasileira de Defesa: Análise comparativa
das tendências de redução e evolução dos gastos mi-
litares entre o Brasil e os BRICs
Coautor(es): Lisiane Locatelli
Resumo: O Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN) é
um documento da Política de Defesa do Brasil res-
ponsável pela divulgação de informações pertinen-
tes sobre tal política pública, formuladas e divulga-
das para conhecimento das Forças Armadas do Bra-
sil, Forças Armadas estrangeiras, sociedade civil e da
comunidade internacional. O LBDN foi finalizado no
governo Dilma e divulgado em 2012. Em 2016, foi
anunciada uma minuta em processo de aprovação
pelo Legislativo Federal, mas com versão preliminar
já exposta para consulta pública. Diante disso, esta
pesquisa tem como objetivo central a análise com-
parativa das tendências de gastos de defesa do Bra-
sil, coletados a partir do LBDN de 2012 e da versão
preliminar de 2016, com os gastos de defesa dos
países do BRICS, China, Rússia e Índia. Por ter aden-
trado ao bloco em 2011, a África do Sul não é consi-
derada nos cálculos do documento, e portanto não
será abarcada na pesquisa. A escolha dos BRICS co-
mo elemento comparativo justifica-se por tratar-se
de um bloco composto por economias em ascensão,
com objetivos semelhantes ao Brasil, que o utiliza
como mecanismo na promoção de sua inserção in-
ternacional. Assume-se como hipótese que os gas-
tos em defesa do Brasil tiveram uma tendência con-
trária aos dos membros do BRICS, mesmo em um
contexto de crise e desaceleração econômica em
comum, o que indicou prioridades distintas entre o
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
150
governo brasileiro de um lado, e China, Índia e Rús-
sia de outro. Serão utilizadas como técnicas de pes-
quisa a abordagem qualitativa por meio dos dados
coletados a partir da leitura e mapeamento dos
LBDN (2012 e 2016), dentro do escopo de atuação
do Grupo de Estudos em Segurança e Defesa
(GESED) da UFSC e a abordagem quantitativa por
meio da coleta de dados dos gastos militares dos
demais países dos BRICS retirados do SIPRI
(Stockholm International Peace Research Institute),
disponíveis online.
Camila Gomes de Assis
A resignificação de conceitos geopolíticos pelo cibe-
respaço e as modificações impostas à prática de se-
gurança e defesa nas Relações Internacionais
Resumo: O presente artigo têm como intenção discu-
tir como a inclusão do ciberespaço às RI, em sua
condição de nova tecnológica, modifica a percepção
que atores e estudiosos possuem a respeito da prá-
tica de defesa e segurança estatal. Trabalha-se com
a hipótese de que o ciberespaço desempenha um
papel inédito, isso porque mesmo que esteja inseri-
do dentro de uma tendência mais geral, qual seja, a
interferência das evoluções tecnológicas à atuação
dos Estados - ele é responsável por modificar não
apenas o modus operanti através do qual os atores
estatais agem, impondo novos dilemas e novas de-
mandas comportamentais mas abala as próprias
estruturas no interior das quais estas práticas são
compreendidas, uma vez que relativiza conceitos
tradicionais como: território, fronteira e soberania,
encerrando com dicotomias consideradas funda-
mentais à definição destas práticas políticas, como
por exemplo a relação entre interno e externo; civil
e militar. Nesse sentido este trabalho se divide em
três seções: (i) a primeira busca resgatar o debate à
respeito da interferência tecnológica nos processos
políticos em Relações Internacionais, (ii) a segunda
irá debater a ciberização das RI, colocando em foco
três conceitos: o de território, fronteira e soberania
e (iii) uma terceira discutirá a influência direta des-
tas reflexões ao que se entende por defesa e segu-
rança, utilizando ao final uma breve análise da per-
cepção do governo norte-americano sobre sua con-
dição no que se refere à esta temática. Para isso uti-
lizaremos literatura que discute o papel da Ciência e
Tecnológica aplicada às RI, uma literatura tradicio-
nal a disciplina que aborda o debate sobre o papel
da segurança e defesa e os demais conceitos abor-
dados e novos autores que estudam especificamen-
te o papel do ciberespaço nas RI. Para a análise do
caso norte-americano serão utilizados documentos
oficiais e a análise de discursos oficiais quando perti-
nente.
Carolina de Oliveira
O Conselho de Defesa Sul-Americano da UNASUL:
continuidade ou extinção? Uma análise em meio à
conjuntura política brasileira atual
Resumo: Este trabalho é o resultado da análise da
continuidade ou não das atividades do Conselho de
Defesa Sul-Americano (CDS), que está implicado nas
discussões sobre defesa e segurança na América do
Sul no âmbito da União das Nações Sul-Americanas
(UNASUL). A UNASUL é um projeto de integração sul
-americana que foi criado em 2008, a partir da assi-
natura do Tratado Constitutivo da UNASUL, e que
teve como signatários doze Países sul-americanos:
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador,
Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Vene-
zuela. No mesmo ano, foi criado o CDS e tendo o
Brasil como principal defensor. O Conselho foi cria-
do no intuito de se estabelecer o intercâmbio de
informações e conhecimento em matéria de defesa,
para que um pensamento comum fosse construído
entre os países sul-americanos e, dessa forma, pro-
porcionasse maior autonomia para a região no âm-
bito da defesa. A análise realizada está fundamenta-
da, empiricamente, nas ações realizadas pelo CDS,
no período entre 2009 e 2017, registradas essas
ações no conjunto de documentação (atas, regi-
mentos, estatutos, comunicados, informes, declara-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
151
ções, planos de ação) que foram disponibilizadas
através do Repositório Digital da UNASUL. Durante o
período analisado, a conjuntura brasileira, especial-
mente no campo político, enfrentou mudanças sig-
nificativas, desde a maior projeção do Brasil no ce-
nário internacional e a ênfase nas Relações Sul-Sul
durante o governo de Luís Inácio Lula da Silva, até o
impeachment da presidente Dilma Rousseff e a con-
sequente assunção do poder pelo vice-presidente
Michel Temer e as investigações dos casos de cor-
rupção, tornando essa projeção internacional bas-
tante negativa. Argumenta-se que, em virtude dessa
atual conjuntura, com consequente fragilidade da
posição do Brasil na América do Sul, coloca-se em
questão as formas de continuidade do Conselho e
dos objetivos traçados desde a sua criação, bem co-
mo o futuro da própria UNASUL e seu projeto de
integração dos países sul-americanos.
Caroline Mariano de Almeida
Novas perspectivas de Relações Internacionais: prin-
cipais contribuições do Feminismo para a agenda
contemporânea de Segurança Internacional
Resumo: O presente artigo busca elucidar a nova
agenda da Segurança Internacional, no período pós
Guerra Fria, por meio da análise de seus conceitos
clássicos, onde o Estado era foco principal e os de-
mais atores e assuntos eram colocados em segundo
plano. A utilização da teoria Feminista na tese é jus-
tificada pelas suas consideráveis contribuições na
área, principalmente relacionadas a questões epis-
temológicas e ontológicas, onde a teoria foi capaz
de desmistificar conceitos clássicos da Segurança
Internacional e permitir a inserção de novos tópicos,
como o terrorismo, globalização, crise econômica,
entre outros. Um espaço onde viu-se a falta da
abordagem dos atores além do Estado, que até en-
tão não haviam sido representados. A pesquisa rea-
lizada baseia-se desde as teorias clássicas, a fim de
entender como a Segurança Internacional era enrai-
zada em preceitos de guerra e paz, numa luta de-
senfreada pelo poder, até as teorias críticas, onde o
Feminismo inicia uma discussão que não só inclui a
mulher, mas também outras minorias, cujas quais
possuíam grande importância para as Relações In-
ternacionais, porém ainda eram marginalizadas. A
nova agenda da Segurança Internacional fez-se pos-
sível com essa colaboração da vertente crítica, onde
o Feminismo, como ponto chave deste trabalho,
inseriu uma discussão de gênero dentro de um meio
fortemente estado cêntrico e masculinizado. A figu-
ra do homem é um ponto crucial nesta discussão,
visto que sempre foi nela a base de todas as teorias
sobre o Estado, sendo este representado com carac-
terísticas consideradas masculinas a sua época, co-
mo a força e coragem. O intuito do artigo foi expor
as mudanças da Segurança Internacional para a des-
construção da ideia exclusivamente estatal. A esco-
lha da teoria Feminista possibilitou dar importância
às novas teorias e principalmente a esta, por ser ori-
ginada pela luta das mulheres, que cada vez mais
alcança seu espaço no meio social e, neste caso,
acadêmico.
Clarissa Nascimento Forner
Reconstrução pós-conflito e nation building: a atua-
ção do Departamento de Defesa na política externa
dos governos Bush e Obama (2001-2017)
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo dessa proposta é analisar a parti-
cipação do Departamento de Defesa (DOD) em ope-
rações de reconstrução, estabilização pós-conflito e
nation building, durante os governos de George W.
Bush (2001-2008) e Barack Obama (2009-2017).
Desde sua criação, em 1947, a agência passou por
expansões orçamentárias e institucionais que alar-
garam seu papel em atividades de política externa,
originalmente desempenhadas por agências civis
como o Departamento de Estado e a USAID. No âm-
bito das atividades de reconstrução, a referida so-
breposição de funções se intensificou diante do des-
mantelamento do inimigo soviético e da adesão ao
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
152
discurso das “ameaças multidimensionais”- segundo
o qual, os recursos militares deveriam ser direciona-
dos para um leque mais amplo de ameaças, para
além daquelas tradicionais estatais. Tal percepção
foi reforçada ao longo da gestão Bush, após os aten-
tados de 11 de setembro de 2001 e o início das in-
tervenções no Afeganistão e no Iraque, as quais cul-
minaram na incorporação das operações de estabili-
zação à doutrina militar estadunidense, através da
diretiva 3000.05 (2005) da burocracia de defesa.
Apesar de buscar reduzir o impacto de questões mi-
litares na agenda de política externa, fomentando a
prática de interações do tipo “whole of govern-
ment”- pautadas pela cooperação civil-militar – o
governo Obama deu continuidade aos projetos lide-
rados ou financiados via DOD, como os programas
de fornecimento de ajuda humanitária, reconstru-
ção de infraestrutura e assistência médica às popu-
lações locais. Para além dos desequilíbrios observa-
dos nas relações inter-burocráticas, argumenta-se
que tais investimentos amplificaram a presença do
fator militar na política externa norte-americana,
mesmo em esferas e assuntos não militares. O pro-
pósito do artigo, portanto, é identificar os processos
históricos que culminaram nos alargamentos funcio-
nais do DOD, em detrimento das demais agências e
observar, posteriormente, sua manifestação no con-
texto pós 11 de setembro, a fim de identificar as
semelhanças entre os governos republicano e de-
mocrata nessa seara.
Cristina Rego Monteiro da Luz
Ghost of Rwanda: A patologia infantil do discurso
moral cinemataográfico do herói branco ocidental
Coautor(es): Pablo Victor Fontes Santos
Trabalho Completo
Resumo: Durante a década de 1990, o genocídio em
Ruanda foi assistido pelo mundo pelas múltiplas re-
des de comunicação e informação. O espetáculo
televisivo explorou continuadamente a tragédia e o
horror que a população local sofria a partir de uma
política colonial segregacionista entre Hutus e Tut-
sis. Este artigo tem como proposta compreender a
partir da análise discursiva e semiológica ,como as
crianças ruandesas foram representadas na cinema-
tografia do filme “Ghost of Rwanda” durante o ge-
nocídio de 1994? Parte-se do pressuposto de que há
uma tendência da cinematografia, em construir um
discurso patológico moral universal salvacionista
dos indivíduos brancos ocidentais cujo intuito é rea-
firmar a verticalização Norte-Sul. O Norte visto co-
mo um adulto (herói branco) protetor e o Sul como
uma criança (romantizada), sobretudo crianças do
sexo feminino (grupo dos vulneráveis), que necessi-
ta de proteção. Utilizou-se neste artigo a metodolo-
gia da análise de discurso semiológico, principal-
mente, por meio do uso da literatura dos estudos
sobre a infância, reflexões a partir teoria pós-
colonial e pós-estrutural.
Cristina Soreanu Pecequilo
The importance of history and values in international
politics: the BRICS’s and the “Responsibility to Pro-
tect” concept
Coautor(es): Augusto Leal Rinaldi
Trabalho Completo
Resumo: In today’s world, characterized by the di-
mensions of globalization, changes in the global hie-
rarchical power, and shifting in the economic-
leading from West to East, a central aspect often
neglected in this context is the importance of social-
historical elements in nations’ calculations. In tradi-
tional International Relations scholarly – past and
present –, it is unusual to take these related catego-
ries into consideration. Resorting to objective and
“measurable” instruments, rather than subjective
ones, it is easy to find works pointing out to the im-
portance of military strength and economic perfor-
mance, instead of focusing on the role played by
history and values. These elements are not necessa-
rily incompatible. On the contrary; they can even be
mixed up in order to do a comprehensive study. Ne-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
153
vertheless, it is important to separate them analyti-
cally to evaluate in what extent which dimension is
more relevant in influencing one determined policy.
Since history and values matter to people and coun-
tries, it is valid to consider them in the analysis of
one’s country foreign policy. Therefore, the goal of
this paper is the analysis of the BRICS’s (i.e., Brazil,
Russia, India, China, and South Africa) assessment
and behavior vis-à-vis the concept of “Responsibility
to Protect” (R2P) through the categories of history
and values. R2P is one of today’s most controversial
issue as it proposes a new interdependence
between the notions of security, humanitarian crisis
and sovereignty and affects the interactions of
emergent nations such as the ones in the BRICS and
traditional powers as the US and the EU. By resor-
ting to the notions of values and historical tradition,
we investigate the perspectives that these categori-
es can offer to understand the BRICS’s behavior. So,
the research question focus on what are the roles
played by the categories of history and values in
BRICS’s understanding of R2P.
Danielle Jacon Ayres Pinto
A PROTEÇÃO DA BIODIVERSIDADE DA AMAZÔNIA sob
a perspectiva dos Estudos e Documentos de Defesa
brasileiros.
Coautor(es): Elany Almeida de Souza, Mariana de
Castro Silva Souza
Trabalho Completo
Resumo: Objetiva-se a partir do presente estudo,
aferir quais os mecanismos adotados pelos docu-
mentos de defesa brasileiros para a proteção da bi-
odiversidade da Amazônia e combate aos crimes
ambientais ocorridos nas fronteiras brasileiras. A
relevância da adoção de uma estratégia clara e defi-
nida acerca do tema pelos documentos de Defesa
se dá pela importância geoestratégica, geopolítica e
geoeconômica da região amazônica, bem como a
adequada gestão da biodiversidade que a compõe.
O enfoque específico da defesa está exatamente no
papel estratégico que a Amazônia representa asso-
ciada às emergências globais que indicam cada vez
mais processos de securitização da questão ambien-
tal na esteira de outros movimentos de macrossecu-
ritização resultantes do combate ao crime organiza-
do e ao narcotráfico nas regiões de fronteira. A har-
monização entre a política doméstica e a política
externa é essencial para o êxito dessa gestão. Inicia-
tivas de acordos regionais de cooperação como ex-
pressão de smart power, a interoperabilidade entre
os agentes estatais por meio de atuação interagên-
cias, bem como a colaboração de agentes não esta-
tais devem ser resultados práticos e de implementa-
ção eficaz e eficiente, na medida em que os interes-
ses na defesa do meio ambiente perpassam os limi-
tes territoriais. Indispensável abordar sistematica-
mente a articulação de uma resposta multilateral. O
papel do Exército na faixa de fronteira é de caráter
geopolítico, geoestratégico e geoeconômico, pois
garante a soberania, segurança, integração e desen-
volvimento do país. Essas discussões congregam
matérias afetas à Ciência Política, Relações Interna-
cionais, Direito Internacional, Segurança e Defesa e
é nesse âmbito que devem ser discutidas e elabora-
das as normativas e políticas de proteção da biodi-
versidade. A metodologia adotada baseia-se no tri-
nômio: Teoria de Base; Procedimento e Técnica. Co-
mo referencial teórico foi eligida a matriz epistemo-
lógica pragmático-sistêmica, pois a temática ora
abordada parte de uma relação sistêmico-complexa
e exige para sua melhor compreensão uma aborda-
gem de pesquisa interdisciplinar.
Devlin Tavares Biezus
A Construção de paz e a paz híbrida: uma alternativa
pós-liberal?
Trabalho Completo
Resumo: Com o fim da Guerra Fria, os processos de
construção de paz feitos pela Organização das Na-
ções Unidas (ONU) foram ampliados. As guerras
passaram a ser lutadas com menos frequência entre
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
154
Estados e se encontram dentro das fronteiras esta-
tais. A complexidade desses conflitos requer uma
construção de paz que esteja envolvida desde a me-
diação para uma solução diplomática até a (re)
construção das estruturas estatais após o conflito.
Considerando esse cenário, o presente artigo visa
examinar os conceitos de construção de paz
(peacebuilding) e da paz híbrida. Seu objetivo é ana-
lisar de maneira crítica o processo de construção de
paz desenvolvido pela ONU de maneira a compre-
ender porque ela é caracterizada como um processo
de pacificação liberal e, também, examinar o concei-
to da paz híbrida. Uma vez que ela é tratada como
uma das alternativas à paz liberal por alguns teóri-
cos críticos, por exemplo, Mac Ginty (2011), Mukho-
padhyay (2009) e Richmond, (2012). O trabalho
apresenta cunho descritivo e está dividido em três
seções. A primeira trata do histórico da Construção
de Paz no âmbito das Nações Unidas durante e após
a Guerra Fria. Na segunda seção será abordado uma
análise crítica das técnicas utilizadas na construção
de paz e como essas caracterizam uma "paz liberal".
Com o intuito de compreender como e porque a paz
híbrida é considerada uma alternativa à construção
de paz liberal, será também analisado seus concei-
tos teóricos. Em um terceiro momento, será expos-
to como a construção de paz e técnicas da paz híbri-
da foram aplicadas ao contexto do Afeganistão após
da invasão estadunidense e a remoção do grupo
Talibã da condução política central. A metodologia
utilizada é a revisão bibliográfica da literatura para
que sejam expostas as teorias dos temas pesquisa-
dos.
Diana Cristina de Medeiros Viveiros
Cooperação Militar, Ações Humanitárias, Operações
de Paz e a (falta de) Liderança Brasileira no CDS
Resumo: Esse trabalho aborda a controversa lideran-
ça brasileira tanto no âmbito da segurança regional,
como no âmbito das operações de paz e ações hu-
manitárias, tanto de forma isolada, como no Conse-
lho de Defesa Sul-Americano. Partiu de uma visão
crítica nos dois aspectos, demonstrando tanto a in-
coerência brasileira na liderança regional, como a
liderança brasileira em termos de segurança inter-
nacional, ambas com reflexo para o CDS. O trabalho
tem como objetivo analisar a atuação brasileira no
Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) em seu
segundo eixo de atuação que trata de “Cooperação
Militar, Ações Humanitárias e Operações de Paz”,
demonstrando as principais atividades planejadas e
o engajamento brasileiro no Conselho especifica-
mente nesse eixo. Primeiramente foi realizada uma
análise da contribuição brasileira em operações de
paz e ações humanitárias, compreendendo que o
padrão de liderança brasileira nessa área está volta-
do à cooperação em defesa. Em seguida, o estudo
voltou-se para o debate que envolve a liderança
brasileira na criação e na continuidade do CDS.
Por fim, através de uma metodologia qualitativa as-
sociada à pesquisa bibliográfica e documental, con-
siderando principalmente os dados disponibilizados
nos planos de ação do CDS, verificou-se a tímida
participação brasileira nesse eixo contrasta com a
liderança e o know how brasileiro adquiridos princi-
palmente a partir da Minustah.
Diego Araujo Gois
ONGs e Reconstrução de Estados Pós Conflitos
Trabalho Completo
Resumo: As Organizações Não Governamentais
(ONGs) são novos atores que tem ganhado cada vez
mais destaque nas Relações Internacionais. Esse
destaque se intensificou, principalmente, a partir da
década de 90, no pós-guerra fria com a conseqüen-
te hegemonia do pensamento neoliberal. A partir
deste período, a narrativa em torno da construção
da paz liberal nos Estados pós conflitos se tornou
consenso, substituindo a tradicional imposição im-
perial de objetivos e de modelos estatais estrangei-
ros por densas redes de atores privados, especial-
mente ONGs, comprometidas com a reconstrução e
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
155
com os processos de paz. Deste modo, os conflitos
passaram a ser vistos como oportunidades para que
uma comunidade epistêmica de, doadores, agenci-
as, instituições financeiras internacionais e ONGs
interviessem no sentido de construir um modelo
liberal de sociedade. As ONGs passaram a ocupar
um papel político significativo dentro da lógica eco-
nômica neoliberal, se expandindo como novos porta
-vozes, novos representantes do povo e dos interes-
ses sociais. Essa expansão das ONGs se dá na mes-
ma medida em que os movimentos sociais tradicio-
nais, como sindicatos, agremiações de classes, parti-
dos políticos, movimentos campessinos, entre ou-
tros, começaram a perder protagonismo, legitimida-
de e adesão popular. As ONGs passaram a disputar
a sociedade com os movimentos sociais. Os pilares
ideológicos da luta política seriam substituídos da
crítica ao sistema e da luta de classes, para uma fun-
cionalidade ideológica com o projeto neoliberal.
Ideias como poder local, autopoder, micro empre-
endedorismo, inovações sociais, tecnologias sociais,
entre outras, se tornaram parte das estratégias e da
nova linguagem das ONGs. Diante deste quadro,
este trabalho pretende analisar como ocorre a parti-
cipação de ONGs na reconstrução e na fabricação
de um tipo de ordem social e econômica nos Esta-
dos considerados Frágeis ou Falidos.
Eduardo Tomankievicz Secchi
A Construção dos Eixos Geoestratégicos na Doutrina
de Segurança Russa
Resumo: O presente trabalho busca examinar quali-
tativamente o processo histórico de construção do
regime securitário da Federação Russa em relação
aos seus eixos expansivos e defensivos. A metodolo-
gia empregada focará na revisão qualitativa das di-
ferentes abordagens sobre o processo acima menci-
onado, e revisão das doutrinas apresentadas pelo
Estado Russo ao longo da história. A construção his-
tórica da sociedade russa levou à existência de dois
eixos securitários, quais sejam o eixo Norte-Sul e o
eixo Leste-Oeste, tendo o primeiro caráter expansi-
vo e o segundo um caráter defensivo. Tal tese en-
contra respaldo na bibliografia de Zbigniew Brze-
zinski sobre as frentes basilares da segurança russa,
bem como no planejamento defensivo proposto por
Mikhail Tukhachevsky em sua práxis militar e em
seu livro sobre a Guerra Civil Russa. O histórico iso-
lamento russo dentro do continente euroasiático
limitou o grau de articulação internacional que o
país poderia exercer. O Eixo Norte-Sul busca justa-
mente o acesso russo ao tráfego marítimo internaci-
onal. A análise aqui proposta buscara compreender
o processo de conquista do acesso ao Mar Branco,
com Czar Ivan, O Terrível, posteriormente ao Mar
Báltico, com o Czar Pedro, O Grande e, finalmente,
o acesso ao Mar Negro com a Czarina Catarina, A
Grande. A disposição geográfica do Estado Russo ao
longo da história moldou a doutrina de defesa em
profundidade de suas forças armadas, tendo o Eixo
Leste-Oeste tal papel, visando confundir, desviar e
preparar armadilhas para os inimigos dentro do vas-
to território russo, tática conhecida como Maski-
rovka. A sistematização analítica por esta perspecti-
va permite obter uma visão mais complexa e estru-
turada sobre as atuais políticas russas na área de
defesa e segurança.
Elany Almeida de Souza
A PROTEÇÃO DA BIODIVERSIDADE DA AMAZÔNIA sob
a perspectiva dos Estudos e Documentos de Defesa
brasileiros.
Coautor(es): Danielle Jacon Ayres Pinto, Mariana de
Castro Silva Souza
Trabalho Completo
Resumo: Objetiva-se a partir do presente estudo,
aferir quais os mecanismos adotados pelos docu-
mentos de defesa brasileiros para a proteção da bi-
odiversidade da Amazônia e combate aos crimes
ambientais ocorridos nas fronteiras brasileiras. A
relevância da adoção de uma estratégia clara e defi-
nida acerca do tema pelos documentos de Defesa
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
156
se dá pela importância geoestratégica, geopolítica e
geoeconômica da região amazônica, bem como a
adequada gestão da biodiversidade que a compõe.
O enfoque específico da defesa está exatamente no
papel estratégico que a Amazônia representa asso-
ciada às emergências globais que indicam cada vez
mais processos de securitização da questão ambien-
tal na esteira de outros movimentos de macrossecu-
ritização resultantes do combate ao crime organiza-
do e ao narcotráfico nas regiões de fronteira. A har-
monização entre a política doméstica e a política
externa é essencial para o êxito dessa gestão. Inicia-
tivas de acordos regionais de cooperação como ex-
pressão de smart power, a interoperabilidade entre
os agentes estatais por meio de atuação interagên-
cias, bem como a colaboração de agentes não esta-
tais devem ser resultados práticos e de implementa-
ção eficaz e eficiente, na medida em que os interes-
ses na defesa do meio ambiente perpassam os limi-
tes territoriais. Indispensável abordar sistematica-
mente a articulação de uma resposta multilateral. O
papel do Exército na faixa de fronteira é de caráter
geopolítico, geoestratégico e geoeconômico, pois
garante a soberania, segurança, integração e desen-
volvimento do país. Essas discussões congregam
matérias afetas à Ciência Política, Relações Interna-
cionais, Direito Internacional, Segurança e Defesa e
é nesse âmbito que devem ser discutidas e elabora-
das as normativas e políticas de proteção da biodi-
versidade. A metodologia adotada baseia-se no tri-
nômio: Teoria de Base; Procedimento e Técnica. Co-
mo referencial teórico foi eligida a matriz epistemo-
lógica pragmático-sistêmica, pois a temática ora
abordada parte de uma relação sistêmico-complexa
e exige para sua melhor compreensão uma aborda-
gem de pesquisa interdisciplinar.
Fernanda Cristina Alvarenga Ferreira
Problematizando a UNSCR1325 sob a ótica da Análise
de Discurso Crítica
Resumo: Em 30 outubro de 2000, por unanimidade,
foi aprovada pelo Conselho de Segurança da Organi-
zação das Nações Unidas (ONU) a Resolução 1325
(UNSCR 1325) sobre Mulheres, Paz e Segurança
que, dentre outros fins, apela aos Estados Membros
que assegurem uma representação maior de mulhe-
res nos níveis de tomada de decisão tanto nos vá-
rios âmbitos institucionais como nos procedimentos
de prevenção e resolução de conflitos. A Resolução
solicita aos Estados que incorporem uma perspecti-
va de gênero nas operações de manutenção da paz,
de forma a incluir as necessidades especiais das mu-
lheres durante o período de reconstrução no pós
conflito e que incluam medidas que assegurem a
proteção e o respeito aos direitos humanos das mu-
lheres de forma a combater a violência baseada na
diferença de gênero. Nesse contexto, o presente
trabalho busca analisar os problemas advindos da
Resolução e como a produção do discurso impediu
que sua aplicação se desse de forma efetiva e alcan-
çasse resultados promissores. Ainda, o trabalho
questiona se a produção da resolução e dos relató-
rios contribuem para reprodução ou transformação
da ordem de discurso existente. Para elucidar tais
questionamentos, a pesquisa conta com a contribui-
ção do trabalho de Norman Flaircough (2001), a
partir de sua Análise de Discurso Crítica (ADC) e de
autoras cruciais no campo da teoria feminista nas
relações internacionais, como Ann Tickner, Cynthia
Enloe e Laura Shepherd. Para tanto, o trabalho está
organizado em três sessões. No primeiro momento
será realizado uma revisão bibliográfica da Resolu-
ção 1325 e dos relatórios subsequentes; posterior-
mente a abordagem feminista pós-estruturalista
será utilizada para apontar problemas na Resolução
e, por fim, será realizada a análise da produção dis-
cursiva da Resolução por meio do modelo tridimen-
sional de Fairclough.
Flavia Rodrigues De Castro
Práticas de Refúgio por Elegibilidade e de Construção
do Sujeito Refugiado
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
157
Resumo: O presente estudo tem como proposta cen-
tral a análise do processo brasileiro de elegibilidade,
isto é, de determinação do status do refugiado, a
partir da minha experiência de engajamento como
voluntária e pesquisadora na Cáritas Arquidiocesana
do Rio de Janeiro (Cáritas/RJ) e, portanto, do lugar
de privilégio e desconforto de uma acadêmica enga-
jada. A fim de analisar adequadamente o contexto
maior em que se insere tal processo de elegibilidade
buscarei explorar brevemente, em um primeiro mo-
mento, a inserção da figura do refugiado na carto-
grafia nacional do mundo, isto é, a organização dos
seres humanos em cidadãos nacionais dentro de
Estados territoriais soberanos. A partir dessa arqui-
tetura internacional de organização do mundo em
uma sociedade de Estados, e seu reflexo sobre as
Relações Internacionais, se torna possível a discus-
são sobre o processo de construção da figura do
refugiado. Buscarei considerar, nessa contextualiza-
ção, não só a arquitetura da sociedade internacio-
nal, mas sua transformação após a Segunda Guerra
Mundial com a emergência de um regime de prote-
ção do refugiado que permite que repensemos o
lugar do indivíduo nas Relações Internacionais e o
papel do Estado soberano. Em um segundo momen-
to, buscarei tratar diretamente do processo brasilei-
ro de elegibilidade a partir de uma perspectiva etno-
gráfica, considerando as práticas de fronteira que
estão relacionadas aos processos do universo do
refúgio por elegibilidade: o regime de verdade e de
prova, a análise de credibilidade e a determinação
do status. O objetivo é compreender, com isso, a
construção da figura do refugiado não somente a
partir de uma perspectiva teórica construtivista, em
grande medida tradicional, mas também a partir das
práticas diárias do universo do refúgio por meio de
um engajamento com a sociologia política internaci-
onal.
Frederico Ferreira de Queiroz
O liberalismo através do narcotráfico: a cooperação
entre México e EUA
Coautor(es): Marcelo Nasser Filho, Gustavo de Olivei-
ra Corrêa, João Pedro de Lima Kauss Andrade
Resumo: O narcotráfico surge como um problema
mundial durante a década de 1970, causando pro-
blemas sociais e econômicos aos países, assim, influ-
enciando suas políticas. Essa questão é um proble-
ma que atinge a todos, desenvolvidos ou subdesen-
volvidos, porém, de diferentes maneiras. A econo-
mia ilegal do narcotráfico, gira em torno do proces-
so de lavagem de dinheiro, tornando dinheiro ilícito
em legítimo. Em 2012, a ONU estimou que o crime
organizado transnacional gera 870 bilhões de dóla-
res por anualmente, equivalente a 1,5% do PIB
mundial. O tráfico de drogas é responsável por boa
parte deste montante, cerca de 320 bilhões de dóla-
res. Situado no México, o cartel de Sinaloa, é consi-
derado o maior do mundo e porta-se como uma
empresa transnacional afetando diretamente as re-
lações internacionais, pois movimenta dinheiro ile-
gal e utiliza alguns países para lavar dinheiro, impac-
tando a economia mundial. Algumas drogas produ-
zidas em território mexicano têm os Estados Unidos
como destino, assim, os governos acordaram em
cooperar fortemente no combate ao tráfico, princi-
palmente com a criação de tratados. Destacando-se
a Iniciativa Mérida, criada em 2008, nos governos
George Bush e Felipe Calderón, tem como objetivo
o combate ao crime organizado e o redirecionamen-
to das relações entre os Estados. Baseado no trata-
do de extradição entre México e Estados Unidos cri-
ado em 1978, que perdura até os dias de hoje, o
líder do Cartel de Sinaloa, “El Chapo”, foi extradita-
do e preso em território americano em 2016; isto
demostra a importância destes tratados no combate
ao narcotráfico, um problema global. Como o narco-
tráfico influenciou na reaproximação entre EUA e
México? Tendo como base as teorias das Relações
Internacionais, através dos conceitos de Soberania,
Cooperação entre Estados e Direito Internacional, o
projeto busca aprofundar conhecimento acerca dos
principais esforços de cooperação sobre o narcotrá-
fico envolvendo México e EUA e os principais resul-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
158
tados alcançados na região.
Gabriel Gama de Oliveira Brasilino
The Metaphor of "War on Drugs" and "Mass Murder"
in the Philippines: discourse analysis, power relations,
and an interview with President Rodrigo Duterte
Trabalho Completo
Resumo: In this article I offer an analysis of state-
ments pronounced by Rodrigo Duterte, current pre-
sident of the Philippines, elected upon the rhetoric
of drugs, crime, and punishment, in a interview con-
ducted by two journalists from the Al Jazeera Global
Media Network. I show how through these state-
ments and rhetoric - a political discourse dependent
on and effective upon the metaphor of "war on
drugs" - Duterte attempted to legitimize the extraju-
dicial killing of more than 3.500 citizens (drug users
and dealers), constructed as threats to public securi-
ty and enemies to be (legitimately) killed. I draw on
Foucault's Critical Discourse Analysis (1971) and Ge-
nealogical epistemology (2003; 2007), to argue that,
although the "war on drugs" is a metaphor, that is, a
figure of style, a technique or procedure of language
(DERRIDA, 1997) - and not 'war' in the literal or mo-
dern sense -, mobilized within a discursive strategy
prior to, during and after presidential elections, it
[the "war on drugs"] is also a (bio)politics of drugs
and security that results in confrontations, hunting,
punishmet, and, in the limit, extermination of decla-
red enemies (FOUCAULT, 2003; 2007; ZACCONE,
2015). In other words, through the metaphorical
language of "war", Presidente Duterte admits, and
legitimizes exceptional (political) violence(s) to deal
with the "the problem of drugs," crimes and (in)
security, that is, producing specific power- and kno-
wledge-effects. Before analysing the statements, I
delineate the historical level of Duterte's election
for presidency, in his interpretation a context of a
"widespread and dimensional problem" related to
drug addiction and criminality; and the context of
the interview. In the final considerations, I consider
the role of discourse analysis for critical security stu-
dies, being reflexive to the previous argumentation,
and offering paths for future research on the debate
on drugs (de)criminalization, (racist) criminal justice
systems, and political violence(s) more generally.
Gabriela Santos da Silva
Aspectos Geopolíticos na Relação entre Turquia e Sí-
ria
Trabalho Completo
Resumo: Estudos de “geopolítica” surgem com Frie-
drich Ratzel no final do século XIX, início do século
XX e trazem consigo uma imensidão de novos hori-
zontes na análise das relações estabelecidas entre
os Estados. Ao estudar sobre a interligação entre
Estado, dinâmica e posição, Ratzel dá vida ao Estado
e explica o que acredita que seja necessário para
que se mantenha vivo. Assim, é possível verificar
que em qualquer relação estabelecida entre Estados
existe o envolvimento de aspectos geopolíticos. Ao
avaliar a relação estabelecida entre Turquia e Síria,
uma relação marcada por tentativas de aproxima-
ção, seguidas por afastamentos, percebe-se que
muitos aspectos geopolíticos são responsáveis e in-
flueniam cada um desses movimentos (sejam eles
de aproximação, e possível amizade, ou desavença).
Trata-se de uma relação antiga, marcada por dispu-
ta geográfica, diferenças em alianças internacionais,
diferença de posicionamento em relação a um de-
terminado povo (os curdos), fatores políticos, guer-
ras internas (que influenciam posições internacio-
nais) - sendo todos esses aspectos geopolíticos. Por
esse motivo, torna-se interessante analisar a relação
entre esses dois países através de uma perspectiva
geopolítica, tendo como base grandes nomes dos
estudos de Geopolítica.
Guilherme Di Lorenzo Pires
O Sectarismo e a Coesão Social na Síria
Resumo: Quando a Síria caminhava rumo à uma
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
159
guerra civil com carácter sectário em 2011, após a
escalada da violência entre a repressão do regime
sírio e manifestantes, perspectivas distintas sobre a
natureza das relações entre grupos religiosos e étni-
cos na Síria ganharam espaço nas análises sobre o
conflito. Estas análises apontam para inúmeros pro-
cessos sociais, políticos, culturais e econômicos, si-
tuados em temporalidades distintas, como forma de
explicar o caráter sectário do conflito. O presente
traalho considera particularmente importante o his-
tórico das relações entre grupos confessionais na
Síria, pois a avaliação da trajetória das relações en-
tre grupos identitários aponta para o momento em
que estas identidades ganharam saliência e se elas
passaram (ou não) a apresentar a um obstáculo à
coesão social na Síria. Diante desta questão, o pre-
sente trabalho se propõe a discutir indicadores que
podem ser empregados na apreensão da evolução
das relações interconfessionais na Síria nos últimos
30 anos. Para tal tarefa, é utilizada como referência
o modelo proposto por Langer et al. (2015) para o
estudo da coesão social em países com clivagens
culturais significativas, o qual apresenta três dimen-
sões a serem avaliadas, a partir da percepção dos
indivíduos da sociedade em questão: as identidades
sociais e suas saliências, a existência ou não de desi-
gualdades horizontais significativas segundo os indi-
víduos, e a extensão do sentimento de confiança
(ou desconfiança) entre grupos. Ao fim, busca-se
apresentar indicadores que poderão ser emprega-
dos em uma pesquisa futura.
Gustavo Andretta Ferreira
A Crescente Turismofobia na Europa
Resumo: Atualmente tem se notado em cidades da
Europa com grandes fluxos turísticos o crescimento
de discursos agressivos a esses tipos de excursões.
Expresso por meio de pichações, principalmente, e
outros atos de vandalismo, esse clamor tem cresci-
do em cidades como Barcelona e Veneza, com até
organizações populares próprias que defendem es-
ses interesses. Tomando como exemplo essas duas
cidades, pretende-se analisar por meio de análises
de discursos essas iniciativas turismofóbicas como
reflexos do regionalismo forte e separatista desses
lugares (Catalunha e a região de Vêneto, que recen-
temente votou um referendo popular a favor de
possuir mais autonomia no país), pois já que não há
a identificação nem o sentimento de pertencimento
nacional faz-se necessária a exaltação da cultura e
tradições locais. É importante analisar também a
mercantilização excessiva dos aspectos culturais,
por consequência a perda de seu significado e como
isso acaba levando ao sentimento de que o turista
como consumidor está acabando com a identidade
regional, tão necessária para busca de autonomia.
Outro debate que se faz preponderante é a questão
de como os grandes fluxos de estrangeiros repre-
sentam um ataque à territorialidade dos moradores
locais. E essa territorialidade, assim como a identi-
dade local, é um dos fundamentos que justificam o
pertencimento daquela área aos seus habitantes e
porque ela é um lugar a parte do resto do mundo.
Lugares que antes acolhiam seus locais agora tam-
bém acolhem outras pessoas com as quais os resi-
dentes não se identificam, como se aquilo fosse
mais dos estrangeiros do que dos nativos. Por fim,
abre-se o debate de como esse fenômeno anti-
turístico pode ser uma resposta à globalização e seu
alcance, afetando a autonomias dos povos dessas
cidades majoritariamente turísticas.
Gustavo de Oliveira Corrêa
O liberalismo através do narcotráfico: a cooperação
entre México e EUA
Coautor(es): Frederico Ferreira de Queiroz, Marcelo
Nasser Filho, João Pedro de Lima Kauss Andrade
Resumo: O narcotráfico surge como um problema
mundial durante a década de 1970, causando pro-
blemas sociais e econômicos aos países, assim, influ-
enciando suas políticas. Essa questão é um proble-
ma que atinge a todos, desenvolvidos ou subdesen-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
160
volvidos, porém, de diferentes maneiras. A econo-
mia ilegal do narcotráfico, gira em torno do proces-
so de lavagem de dinheiro, tornando dinheiro ilícito
em legítimo. Em 2012, a ONU estimou que o crime
organizado transnacional gera 870 bilhões de dóla-
res por anualmente, equivalente a 1,5% do PIB
mundial. O tráfico de drogas é responsável por boa
parte deste montante, cerca de 320 bilhões de dóla-
res. Situado no México, o cartel de Sinaloa, é consi-
derado o maior do mundo e porta-se como uma
empresa transnacional afetando diretamente as re-
lações internacionais, pois movimenta dinheiro ile-
gal e utiliza alguns países para lavar dinheiro, impac-
tando a economia mundial. Algumas drogas produ-
zidas em território mexicano têm os Estados Unidos
como destino, assim, os governos acordaram em
cooperar fortemente no combate ao tráfico, princi-
palmente com a criação de tratados. Destacando-se
a Iniciativa Mérida, criada em 2008, nos governos
George Bush e Felipe Calderón, tem como objetivo
o combate ao crime organizado e o redirecionamen-
to das relações entre os Estados. Baseado no trata-
do de extradição entre México e Estados Unidos cri-
ado em 1978, que perdura até os dias de hoje, o
líder do Cartel de Sinaloa, “El Chapo”, foi extradita-
do e preso em território americano em 2016; isto
demostra a importância destes tratados no combate
ao narcotráfico, um problema global. Como o narco-
tráfico influenciou na reaproximação entre EUA e
México? Tendo como base as teorias das Relações
Internacionais, através dos conceitos de Soberania,
Cooperação entre Estados e Direito Internacional, o
projeto busca aprofundar conhecimento acerca dos
principais esforços de cooperação sobre o narcotrá-
fico envolvendo México e EUA e os principais resul-
tados alcançados na região.
Gustavo Glodes Blum
A territorialidade dos dispositivos de segurança do
Estado Westfaliano e os impactos dos processos
transnacionais de securitização de circulação no es-
paço de capitais e pessoas no início do século XXI
Trabalho Completo
Resumo: A partir do início dos anos 2000, a questão
da Segurança Nacional começou a ser revista dentro
do paradigma de tomada de decisões dos principais
países do mundo. A partir de algumas mudanças
jurídico-políticas adotadas pelo governo estaduni-
dense, a própria ideia de Segurança Nacional come-
ça a ser alterada, sendo cada vez mais balizada pela
ideia de “ameaças transnacionais”. Direcionada so-
bretudo à Guerra ao Terror, a partir do ano de 2008,
esse deslocamento começou a atender também ne-
cessidades dos países centrais de obter Segurança
Nacional em sentido mais amplo, permitindo o de-
senvolvimento de uma agenda de combate à lava-
gem de dinheiro e aos paraísos fiscais, de forma a
permitir tanto a caça aos grupos terroristas como o
acesso a recursos financeiros esparsos após a gran-
de crise financeira daquele ano. Desta maneira, tor-
na-se necessário debater de qual maneira o proces-
so de securitização da circulação no espaço de capi-
tais e pessoas se tornou uma das principais deman-
das dos países ocidentais a partir da conjunção des-
tes dois processos. Desta maneira, no trabalho aqui
apresentados, busca-se debater, inicialmente, a
ideia de Segurança Nacional e a sua relação com a
territorialidade do Estado Westfaliano. Como esta
territorialidade se encontra atualmente contestada
por diversos processos transnacionais, debate-se,
em seguida, o papel dos dispositivos de segurança
dos Estados modernos e seu deslocamento em dire-
ção a uma capacidade de resposta aos processos
transnacionais. Por fim, apresenta-se algumas indi-
cações para a abertura de agenda na discussão des-
tes temas em direção à compreensão da aplicação
destes dispositivos à formulação de agendas securi-
tárias ligadas à circulação no espaço de diversos
processos, sejam aqueles de capitais ou de pessoas.
Conclui-se que a questão dos deslocamentos tem se
tornado a grande tônica da agenda de segurança,
embora abordada sempre a partir de diferentes as-
pectos securitários, a partir da revisão documental e
bibliográfica disponível.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
161
Gustavo Henrique Barbosa da Silva
Estratégia Naval Brasileira e Segurança Nacional:
continuidades e rupturas entre os governos FHC e
Lula
Resumo: O presente trabalho contempla um estudo
sobre a Estratégia Naval brasileira e consequente-
mente a Segurança Nacional proporcionada por es-
ta, perpassando por dois governos distintos em suas
formações, o primeiro de Fernando Henrique Car-
doso e em seguida o de Luís Inácio Lula da Silva. Par-
timos de um estudo sobre as definições de estraté-
gias navais, buscando por meio desta, a compreen-
são de que uma estratégia também deve passar pe-
lo campo político para que obtenha êxito, assim fi-
zemos um comparativo de ambos os governos vi-
sando o entendimento das melhorias e retrocessos
obtidos pelo governo Lula, tendo em vista as mu-
danças por ele propostas pós a criação da Política
Nacional de Defesa em 2005 em contrapartida a de
1996. O objetivo central deste trabalho é o de en-
tender como pode ocorrer mudanças no panorama
estratégico de um governo para o outro, assim co-
mo ocorreu nestes dois governos, consequente-
mente os impactos diretos a política externa brasi-
leira ocasionados por isso. Calcamos um estudo na
Política Nacional de Defesa e na Estratégia Nacional
de Defesa, a primeira de 1996 e a segunda de 2005,
sendo instrumentos de suma importância para a
compreensão da temática aqui proposta, utilizando
assim uma abordagem essencialmente qualitativa a
fim de perceber os pontos de melhoria e retrocesso
de ambos períodos. Entendemos que um governo
eficiente em suas ações de defesa gera impactos
positivos na imagem internacional que se cria do
seu Estado, assim pudemos perceber que o governo
Lula com sua característica de Estado logístico, pode
organizar de modo mais dinâmico a atuação dessa
política em face as necessidades estratégicas nacio-
nais, diferente de FHC que seguia a linha de Estado
normal e desenvolvimentista, fazendo um paralelo
entre o desenvolvimento interno e a defesa, assim
entende-se que a Estratégia Naval Brasileira, sem-
pre foi fundamental para as Relações Internacionais
Brasileiras.
Iago Gama Drumond
Estabilizando, contestando e legitimando: Uma análi-
se dos efeitos da atuação brasileira na MINUSTAH à
luz das normas internacionais
Resumo: A criação da MINUSTAH, por meio da Reso-
lução 1542 do Conselho de Segurança das Nações
Unidas, representou um novo capítulo na história
das Operações de Paz (PKOs) das Nações Unidas por
conta da utilização de um conceito até então nunca
utilizado pela Organização: Estabilização. Dentro
desse contexto, o presente artigo tem como objeti-
vo analisar a atuação brasileira no Haiti através dos
debates sobre difusão normativa, dando atenção
especial para a literatura que versa sobre a contes-
tação normativa. Assim sendo, será defendida a hi-
pótese de que a atuação do Brasil na MINUSTAH,
acompanhada de uma retórica de contestação em
relação às missões de peacekeeping embasadas no
Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e de uma
prática de peacekeeping que foge aos padrões con-
vencionais (chamada de “Brazilian Way of Peacekee-
ping), desempenhou um importante papel para que
o conceito de estabilização pudesse vir a ser consi-
derado como uma nova norma para as PKOs. Para
tanto, serão apresentados brevemente os debates
que constituem o estado da arte sobre difusão nor-
mativa na disciplina de Relações Internacionais. Em
seguida, esse arcabouço teórico é instrumentalizado
nas discussões sobre a constituição do conceito de
estabilização, tanto no campo teórico quanto no
campo prático, como também nas discussões que
envolveram os mecanismos retóricos e institucio-
nais utilizados pela diplomacia brasileira para justifi-
car o engajamento e o comando militar de uma Mis-
são que, de acordo com o princípio constitucional
da não-intervenção, estaria fora da possibilidade de
atuação do Estado brasileiro. Por fim, a própria atu-
ação do Brasil no Haiti, entre os anos de 2004 e
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
162
2017, são analisadas através dessa literatura bus-
cando fundamentar a hipótese a ser defendida.
Igor Fuser
A política venezuelana para o petróleo sob a gestão
de Hugo Chávez (1999-2013): conquistas e fracassos
Coautor(es): Thauan Santos
Trabalho Completo
Resumo: Nos sucessivos mandatos presidenciais de
Hugo Chávez, entre 1999 e 2013, a Venezuela modi-
ficou dramaticamente sua política para a indústria
do petróleo, o alicerce da economia do país. Chávez
assumiu o governo com o objetivo de retomar o
controle da riqueza petroleira pelo Estado a fim de
financiar políticas sociais de amplo alcance. Entre as
medidas adotadas, destacam-se: a) controle direto
da estatal Petroleos de Venezuela (PDVSA) pelo Po-
der Executivo, eliminando a situação anterior de
relativa autonomia; b) revisão compulsória dos con-
tratos com empresas estrangeiras, elevando impos-
tos e royalties; c) utilização da receita das exporta-
ções para projetos sociais; d) reposicionamento da
Venezuela no contexto internacional, com a defesa
da elevação dos preços. Na aplicação dessa agenda,
descumpriu-se a meta de expandir a capacidade
produtiva da PDVSA, o que inviabilizou o aumento
das exportações. E o governo se mostrou incapaz de
utilizar a renda petroleira para reestruturar a econo-
mia venezuelana de modo a superar a histórica situ-
ação de dependência rentista. Um balanço dos re-
sultados alcançados por ocasião da morte de Chá-
vez, em 2013, apresenta nuances e paradoxos que
desafiam avaliações simplistas. Por um lado, o líder
venezuelano ampliou significativamente a captação
estatal da renda petroleira e foi bem sucedido em
utilizá-la para a redução da “dívida social” em áreas
como saúde, educação e moradia popular, constru-
indo uma sólida base de apoio político entre as ca-
madas desfavorecidas da população. Por outro lado,
as mudanças na governança petroleira deflagraram
um conflito com atores domésticos e internacionais
em tal escala que manteve a agenda governamental
voltada o desempenho social no curto prazo, pré-
condição para o triunfo eleitoral.
Isabella Arêas Lobão Carlos
O investimento federal em Defesa, a cooperação en-
tre Estados Latino Americanos e seus impactos no
cenário interno brasileiro
Resumo: O presente trabalho tem como proposta
apresentar dados acerca do investimento federal na
área de Defesa em 2017 e a partir de então discor-
rer sobre a atuação militar do Exército Brasileiro nas
fronteiras brasileiras. Em adição, a atual cooperação
entre Brasil e países vizinhos contra crimes transna-
cionais e suas consequências. Em janeiro do presen-
te ano foi aprovada a Lei Orçamentária de 2017 que
cederia ao Ministério da Defesa uma quantia de R$
94 bilhões; sendo para o Exército R$906 milhões
divididos para os programas SISFRON (R$ 449 mi-
lhões), Astros 2020 (R$ 332 milhões) e Blindados
Guarani (R$ 124 milhões). O SISFRON em especial
tem por objetivo o monitoramento da fronteira bra-
sileira e atua sobre uma faixa territorial de quase 17
mil quilômetros de extensão oferecendo apoio ao
Exército e agências governamentais. Partindo do
ponto de vista cooperativo, podemos citar como
exemplo a recente fortificação entre Brasil-
Colômbia, Brasil-Paraguai e Brasil-Bolívia. No primei-
ro, o foco se insere em combate às Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc), visto que o trá-
fico de armamentos é majestoso, colocando em
maior crise o sistema penitenciário brasileiro. Já no
segundo, a discussão se envolve no combate contra
o narcotráfico na região. Por fim, a cooperação en-
tre Brasil e Bolívia discute medidas de proteção para
ambos os países envolvendo o combate ao narco-
tráfico, tráfico de armas e pessoas, contrabando,
entre outros. A política de defesa possui grande im-
portância para o cenário interno brasileiro, visto
que, se essas estratégias de defesa forem postas em
prática e obtiverem sucesso, poderão reduzir em
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
163
larga escala o atual quadro crítico e violento dos
grandes centros urbanos brasileiros.
Jéssica Maria Grassi
O desenvolvimento nuclear de Argentina e Brasil e o
salto para a cooperação bilateral
Trabalho Completo
Resumo: O presente artigo tem como objetivos prin-
cipais analisar o desenvolvimento nuclear de Argen-
tina e Brasil e entender o que levou a superação das
rivalidades, a construção do entendimento e a coo-
peração nuclear. Além disso, pretende-se apresen-
tar brevemente como está se desenvolvendo a coo-
peração bilateral no setor nuclear no século XXI.
Parte-se da hipótese de que as desconfianças histó-
ricas existentes entre Argentina e Brasil e a disputa
pelo poder e influência do seu entorno geográfico e
estratégico fizeram com que o desenvolvimento da
tecnologia nuclear nos dois países durante a Guerra
Fria fosse tema de máxima importância e preocupa-
ção constante recíproca. No entanto, gradativamen-
te ocorreu um processo de aproximação bilateral e
nos anos 1980, por fatores internos e externos, os
levou a estabelecer uma significativa cooperação
nuclear que evolui até a criação da Agência Brasilei-
ra-Argentina de Contabilidade e Controle de Materi-
ais Nucleares (ABACC). Além disso, esse período de
entendimentos e cooperação entre os dois vizinhos
foi primordial para o avanço da integração sul-
americana, tendo como resultado a criação do Mer-
cosul. A partir de então, observa-se que a coopera-
ção nuclear entre Brasil e Argentina passou por um
período de estagnação, com tentativas de retomada
no século XXI. Esta pesquisa é um estudo explorató-
rio e será empregada a técnica de pesquisa biblio-
gráfica, recorrendo-se a livros, teses, dissertações,
artigos e demais fontes secundárias. Ademais, serão
utilizados documentos oficiais dos governos para
investigar o tema proposto.
Jéssica Pires Barbosa Barreto
Modernização das Marinhas e Segurança Internacio-
nal: Os recentes casos Britânico e Canadense
Coautor(es): Matheus Souza Galves Mendes
Trabalho Completo
Resumo: Reino Unido e Canadá historicamente pos-
suem laços de boa convivência e cooperação, tanto
em assuntos econômicos como em termos de defe-
sa e segurança, principalmente por causa do passa-
do Canadense como colônia britânica. Ambos fazem
parte da Commonwealth, uma organização interes-
tatal capitaneada pelo Reino Unido e que visa a ma-
nutenção do vínculo das ex-colônias que fizeram
parte do passado imperialista da ilha. Além disso,
também são membros da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN), organização liderada pe-
los Estados Unidos da América que, entre outras
coisas, estabelece um conglomerado em matéria de
Defesa e Segurança Internacional, sobretudo para
deter o avanço de outros poderes militares concor-
rentes não só no hemisfério norte como ao redor do
mundo. As constantes mudanças no modo de se
fazer a guerra, bem como as difusas questões de
agenda internacional que tendem a forçar uma mai-
or especialização dos Estados-Maiores desde assun-
tos nucleares até a guerra cibernética, passando por
problemas de terrorismo e pirataria, demonstram a
cada vez maior complexidade as quais as Forças Ar-
madas enfrentam no mundo globalizado. Nesse sen-
tido, este trabalho tem o objetivo específico de exa-
minar os recentes avanços nos processos de moder-
nização das marinhas tanto do Reino Unido como
do Canadá, com o intuito de investigar se ambos os
países estão conseguindo se comprometer com os
assuntos internacionais os quais se propõem, a par-
tir de suas capacidades físicas - materiais e pessoal -
, ou se a volumosa carga de tarefas orientada para o
controle marítimo, mesmo que relativo, de regiões
do planeta não está sendo cumprida dados os cons-
tantes cortes orçamentários nas respectivas pastas
de Defesa.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
164
João Alípio Anastácio de Paula Correa
A atividade de inteligência como barreira ao terroris-
mo
Resumo: Em tempos de conflitos internacionais e
catástrofes humanitárias que levam a migração
massiva de populações, a importância da proteção
socialmente responsável das fronteiras é elevada.
Ao passo em que é essencial promover a recepção
de refugiados de zonas de conflito, seria irresponsá-
vel realizar tal abertura sem métodos para garantir
a segurança do Estado. Não é interessante que tal
preocupação com a segurança assuma posturas exa-
cerbadas, como o proposto por ativistas políticos da
extrema-direita que consistem em fechamento das
entradas de países com embasamento majoritaria-
mente xenofóbico. E também não é o ideal realizar
a abertura incondicional do país a todo e qualquer
migrante, sem possuir informações sobre sua vida
pregressa ou possibilidade de acompanhamento do
indivíduo depois que ultrapassa a fronteira. Natural-
mente, não é possível realizar uma checagem pro-
funda e precisa sobre a vida de cada indivíduo que
esteja às portas do país, ainda mais quando se en-
contra na delicada posição de procura de um Estado
para estabelecer-se. Na mesma linha de pensamen-
to, também é difícil acompanhar a vida de todas as
pessoas que entraram no país em busca de um novo
país para viver, em fuga do seu anterior. Dessa ma-
neira, é imperioso que se escolham categorias de
pessoas a serem investigadas e acompanhadas du-
rante sua estadia no país, e, visando a garantia da
segurança nacional, é relativamente simples deter-
minar quais os indivíduos a terem esse tratamento
excepcional, nomeadamente: integrantes de organi-
zações envolvidas em atividade de insurgência e ter-
rorismo. Consequentemente, tanto a determinação
de tais pessoas – que depende de prévia identifica-
ção -, bem como seu posterior acompanhamento
depende de um núcleo de profissionais capacitados
e que tenham consciência das limitações que o Esta-
do Democrático de Direito impõe às violações de
liberdades individuais. Conclui-se que tal atividade é
propícia a ser desenvolvida pelo aparato de inteli-
gência estatal, devidamente capacitado e especiali-
zado.
João Pedro de Lima Kauss Andrade
O liberalismo através do narcotráfico: a cooperação
entre México e EUA
Coautor(es): Frederico Ferreira de Queiroz, Marcelo
Nasser Filho, Gustavo de Oliveira Corrêa
Resumo: O narcotráfico surge como um problema
mundial durante a década de 1970, causando pro-
blemas sociais e econômicos aos países, assim, influ-
enciando suas políticas. Essa questão é um proble-
ma que atinge a todos, desenvolvidos ou subdesen-
volvidos, porém, de diferentes maneiras. A econo-
mia ilegal do narcotráfico, gira em torno do proces-
so de lavagem de dinheiro, tornando dinheiro ilícito
em legítimo. Em 2012, a ONU estimou que o crime
organizado transnacional gera 870 bilhões de dóla-
res por anualmente, equivalente a 1,5% do PIB
mundial. O tráfico de drogas é responsável por boa
parte deste montante, cerca de 320 bilhões de dóla-
res. Situado no México, o cartel de Sinaloa, é consi-
derado o maior do mundo e porta-se como uma
empresa transnacional afetando diretamente as re-
lações internacionais, pois movimenta dinheiro ile-
gal e utiliza alguns países para lavar dinheiro, impac-
tando a economia mundial. Algumas drogas produ-
zidas em território mexicano têm os Estados Unidos
como destino, assim, os governos acordaram em
cooperar fortemente no combate ao tráfico, princi-
palmente com a criação de tratados. Destacando-se
a Iniciativa Mérida, criada em 2008, nos governos
George Bush e Felipe Calderón, tem como objetivo
o combate ao crime organizado e o redirecionamen-
to das relações entre os Estados. Baseado no trata-
do de extradição entre México e Estados Unidos cri-
ado em 1978, que perdura até os dias de hoje, o
líder do Cartel de Sinaloa, “El Chapo”, foi extradita-
do e preso em território americano em 2016; isto
demostra a importância destes tratados no combate
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
165
ao narcotráfico, um problema global. Como o narco-
tráfico influenciou na reaproximação entre EUA e
México? Tendo como base as teorias das Relações
Internacionais, através dos conceitos de Soberania,
Cooperação entre Estados e Direito Internacional, o
projeto busca aprofundar conhecimento acerca dos
principais esforços de cooperação sobre o narcotrá-
fico envolvendo México e EUA e os principais resul-
tados alcançados na região.
Jonathan da Silva Cardoso Mendonça
A Guerra Civil Libanesa e a Intervenção Síria e Israe-
lense no conflito: consequências sociais e econômicas
Trabalho Completo
Resumo: Este é um fenômeno político muito pouco
estudado na academia brasileira. E a importância do
tema traz a toma a questão de segurança internaci-
onal no Oriente Médio, de forma mais precisa na
região do Levante. O conflito teve início em 1975 e
teve seus antecedentes delineados após o fim da
administração otomana na região. A guerra teve
quatro etapas principais durando até 1990. Nesse
período é observado a criação de milícias armadas:
Cristãs, Xiitas, Sunitas, Drusas, Grupos não-religiosos
e de Palestinos. Em Junho de 1976 a Síria intervem
no Líbano após apelo do então presidente maronita
Suleiman Frangieh. Um fato interessante desse con-
flito foi colocar do mesmo lado Israel e Síria.
A proposta desse trabalho será analisar a reação da
população civil libanesa com a presença israelense
ao sul do território libanês a presença síria ao norte
e quais os impactos isso causou na soberania libane-
sa e como a sociedade se comportou durante esse
período.
Jonathan de Araujo de Assis
Tecnologia militar e autonomia estratégica: o Progra-
ma FX-2 da Força Aérea Brasileira
Resumo: Este trabalho objetiva analisar os fatores
que incidiram sobre a decisão pela proposta sueca
no âmbito do Programa FX-2, a fim de compreender
suas implicações para a autonomia estratégica bra-
sileira. O recorte temporal parte do período no qual
foi instituída a Comissão Gerencial do Projeto F-X2,
em 2008, até os recentes desdobramentos atinen-
tes ao projeto. Central ao debate é a forma pela
qual a natureza da demanda militar por sistemas de
armas de alta intensidade tecnológica, em conjun-
ção com o objetivo de autonomia estratégica e as
limitações de ordem industrial e tecnológica do país,
incidem sobre o padrão de relações de dependência
frente aos países exportadores de tecnologia militar.
À luz da literatura crítica sobre a tecnologia, enten-
demos que a esses artefatos se inscrevem valores
particulares de uma organização sócio-técnica que
orienta à um tipo específico de prática. Nesses ter-
mos, a tecnologia militar não pode ser reduzida às
suas funções instrumentais, isto é, enquanto produ-
to da técnica e objeto sujeito ao constante progres-
so tecnológico. O sistema de armas não paira como
um elemento exógeno, mas como um nó elementar
na teia de interações que articulam as questões de
defesa, segurança e as relações internacionais de
um modo amplo. No contexto sul-americano, o perí-
odo recente marcou a conjunção de fatores – como
a avaliação estratégica da defesa, a vontade política
e a disponibilidade orçamentária – que incidiram
favoravelmente, a de a despeito de variações ao
longo do período, sobre o desenvolvimento de pro-
jetos voltados à modernização das Forças Armadas
dos países da região. Entretanto, também é preciso
observar a região sob um quadro analítico de consi-
derações estratégicas de ordem não conflitiva, isto
é, para países sul-americanos que buscam aprimo-
rar sua inserção política nos níveis regional e global,
as tecnologias militares de maior sofisticação trans-
mutam-se em fator de status e modernidade na or-
dem militar global.
Jorge Matheus Oliveira Rodrigues
Ensaio sobre a Incerteza: Ciência, Tecnologia e Guer-
ra
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
166
Coautor(es): Patricia Capelini Borelli
Resumo: O artigo introduz um debate sobre o papel
desempenhado pela ciência e pela tecnologia nas
guerras. Considerando a incerteza e a imprevisibili-
dade como elementos imperativos nos campos de
batalha, analisa-se a maneira pela qual a ciência, a
racionalidade e a tecnologia moderna foram coloca-
das como fatores essenciais para a condução da
guerra, sob a promessa de garantia de maior previsi-
bilidade e ordenamento dos fatores. Sendo assim, a
proposta deste trabalho é compreender como a
aplicação da ciência e da tecnologia à guerra é per-
cebida em diferentes momentos do pensamento
estratégico, em um cenário em que o desenvolvi-
mento tecnológico e sua aplicação na guerra dialo-
gam com os impulsos positivistas advindos do de-
senvolvimento no campo da ciência, notadamente a
partir da chamada Revolução Científica.
Julian Mokwa Félix
Mackinder, Spykman e Golbery: uma discussão geo-
política para a atualidade
Resumo: Os clássicos estudos geopolíticos já desen-
volvidos no mundo foram elaborados a partir de vi-
sões de poder para defender as grandes potências
globais ou aspirantes a. Estimados trabalhos nessa
área, a exemplos o do inglês Halford Mackinder e o
do holandês Nicholas Spykman, serviram como auxi-
liadores para a tomada de decisão política por parte
do Estado, bem como afirma Golbery do Couto e
Silva, general e reconhecido geopolítico brasileiro. O
objetivo deste trabalho é, portanto, realizar uma
investigação a respeito dos dois primeiros geopolíti-
cos supracitados e comparar sucintamente as teori-
as deles com aquela elaborada por Couto e Silva.
Dessa forma, serão destacados os aspectos metodo-
lógicos e as especificidades que o referido geopolíti-
co brasileiro traz para o seu país nacional. Com isso,
propõe-se discutir se uma teoria geopolítica autenti-
camente brasileira é relevante para a atualidade.
Laura Meneghim Donadelli
Os novos documentos de Defesa do Brasil e o velho
conceito de Segurança
Resumo: O conceito de Segurança utilizado pelo Bra-
sil em seus documentos de Defesa é o tema deste
trabalho, tendo como foco as publicações das novas
versões da Política de Defesa Nacional (PDN), da
Estratégia Nacional de Defesa (END) e do Livro Bran-
co de Defesa (LBD). Nosso principal objetivo foi ana-
lisar o conceito de Segurança empregado nestes
novos documentos de Defesa, verificando em que
medida eles foram condizentes com as publicações
anteriores ou foram afastados delas. Para isso, reali-
zamos a leitura e a análise de todas as PDN, END e
LBD já publicados pelo governo brasileiro, desde o
Documento de Política de Defesa Nacional de 1996
até as mais novas publicações de 2016, que perma-
necem sob a apreciação do Congresso Nacional. Os
resultados obtidos neste trabalho demonstraram
que o documento de 1996, considerado bastante
conservador por não ter estabelecido a subordina-
ção dos militares ao poder civil e ter mantido bre-
chas à sua participação em assuntos internos, foi
posteriormente superado negativamente: Ano após
ano, nos documentos de Defesa não foram incluídas
claras delimitações quanto aos conceitos de Defesa
e Segurança Pública que definissem as missões rela-
tivas às Forças Armadas e as relativas aos instru-
mentos de Segurança Pública. Com as atualizações
das versões e a publicação de documentos tais co-
mo a Garantia da Lei e da Ordem, o espectro das
ameaças parece ter sido ampliado, possibilitando a
referência a ameaças no âmbito interno – o que jus-
tificaria o emprego das Forças Armadas para comba-
tê-las. Neste sentido, concluímos o trabalho com a
reflexão de que a antiga Doutrina de Segurança Na-
cional se faz presente no conceito de Segurança uti-
lizado hoje nos documentos oficiais do Brasil, com
sua faceta tradicional e militarizada da segurança,
sustentando a categorização do cidadão como ame-
aça mesmo após três décadas do fim do regime mili-
tar.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
167
Layla Ibrahim Abdallah Dawood
Hegemony, great powers and naval capabilities: a
comparative analysis of International Relations’ theo-
ries
Coautor(es): Antonio Ruy de Almeida Silva
Resumo: Mearsheimer is known for diminishing the
importance of naval capabilities when analyzing re-
gional hegemons’ power portfolio. In particular, the
scholar argues that land power is a major priority
for regional hegemon candidates. This is grounded
on the premise that, to qualify as a regional hege-
mon, a great power initially acquires enough capabi-
lities to resist land occupation by regional oppo-
nents and regional alliances. Furthermore, Mears-
heimer developed the “stopping power of waters”
concept in order to explain the priority allegedly gi-
ven by great powers to land power: the difficulties
involved in projecting power across oceans and the
impossibility of complete nuclear superiority hinder
the pursuit of global hegemony. In contrast, Mol-
deski and Thompson claim that modern global po-
wers are sea powers which pursue to achieve the
command of the seas. These scholars associate
changes in world leadership with shifts in the distri-
bution of seapower. In turn, Silva developed the
"enabling power of oceans" concept, referring to
the fact that oceans are sources of wealth and po-
wer, contributing to the maintenance of life on
Earth, to the flow of goods, people, and informa-
tion, and to the projection of military power on the
local, regional and global level. This brief discussion
shows that the relevance of naval capabilities is not
consensual among International Relations scholars.
Therefore, this paper aims at comparing the roles
attributed to naval capabilities by different Internati-
onal Relations´ theories. In particular, we seek to
contrast the “stopping power of waters” and the
“enabling power of oceans” concepts. We claim that
it is not always rational to leave the improvement of
naval power to the final stages of great powers’ rise.
Geography and the influence of global powers in
regional balances might lead to the considerate in-
crease of naval capabilities before the achievement
of land superiority in regional balances.
Leandro Fernandes Sampaio Santos
Lógicas Globais e Dinâmicas Locais: Configurações de
Assemblages de (In)Segurança no México e os Limites
da Militarização
Trabalho Completo
Resumo: A proposta deste artigo é problematizar o
conceito de militarização em relação às interven-
ções contemporâneas de segurança no México, uma
região cada vez mais compreendida através dos
prismas da violência, dos fluxos ilícitos transfrontei-
riços e do “Estado limitado”. O país está sujeito a
intervenções de segurança que incluem ação militar
das Forças Armadas, projetos financiados pelos EUA
para prevenir o tráfico de drogas e esforços bilate-
rais contra a migração irregular. Para muitos especi-
alistas, o que está ocorrendo é uma militarização
contínua. Todavia, argumentamos que, embora o
conceito de militarização de alguma forma explique
o uso recorrente da violência militar pelas interven-
ções estatais, ele é limitado em sua compreensão
da violência e das práticas de segurança no México.
Sendo assim, propomos um enfoque nas assembla-
ges de (in)segurança para mostrar o amálgama he-
terogêneo de atores globais e locais, bem como a
combinação de racionalidades e práticas contraditó-
rias que moldam as lógicas de violência e segurança
no país. A contribuição do artigo é situar melhor os
debates sobre militarização em relação à (in)
segurança e fornecer uma compreensão das cone-
xões entre segurança pública e segurança internaci-
onal, lógicas globais e dinâmicas locais a partir do
combate às drogas e ao crime organizado. Abordar-
se-á as novas configurações dos conflitos contem-
porâneos articulando atores e processos que tor-
nam mais porosas as fronteiras entre segurança in-
terna e externa, proclamam a redefinição do papel
da polícia, das forças armadas, da segurança priva-
da, das instituições e do Estado, bem como os as-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
168
pectos mais opacos dos negócios e das práticas en-
focando o nexo crime-Estado-capitalismo.
Leonardo Mendonça Ventura
De Narco-Estado para Estado-Sepultura: Guerra às
Drogas e Biopolítica nas Filipinas
Resumo: Alavancado à presidência do país em mea-
dos de 2016, fundamentalmente em razão da explo-
ração de pautas com forte apelo social através de
um discurso conservador, Rodrigo Duterte deu iní-
cio ao endurecimento, à militarização ostensiva do
enfrentamento ao tráfico e uso de drogas nas Filipi-
nas. Engajando diferentes setores do Estado e da
sociedade, sua administração passou a promover
uma guerra contra todos aqueles que, alegadamen-
te, estivessem envolvidos na comercialização e/ou
uso de narcóticos. O resultado: mais de doze mil
homicídios cometidos tanto pela polícia filipina
quanto por milícias contra pessoas pobres e mora-
dores de rua. Em contrapartida, pouco tem sido fei-
to no que se refere às redes de narcotráfico que
abastecem o país. Põe-se em xeque, pois, o discurso
o discurso oficial e beligerante cuja máxima é evitar
que o país se torne um “narco-Estado”, levantando,
assim, questionamentos sobre o que justificaria essa
matança. O presente estudo de caso traça um pano-
rama a respeito da guerra perpetrada por Duterte,
apresentando-a enquanto parte integrante de um
projeto nacional. O que se pretende é pensar essa
política enquanto ferramenta de engenharia social
que serve à construção de um determinado modelo
de sociedade. Não se resume no reforço da segu-
rança das fronteiras, ou nas tentativas de acabar
com o consumo de narcóticos ao enfrentar o varejo.
Observa-se a efetivação de uma biopolítica, de um
plano de construção de uma sociedade moral, uni-
forme, desenvolvida, delirante, que só vê possibili-
dade de assim o ser em cima dos cadáveres. É fugir
do “narco-Estado" em direção ao “Estado-
sepultura”. É decidir quem vive ou morre em prol de
uma lógica nefasta de segurança nacional. Para isso,
parte-se de textos e notícias referentes à conjuntura
nacional, tomando-se como pilares teórico-
conceituais noções de segurança humana, presente
nos Estudos Críticos de Segurança, de biopoder e
biopolítica de Foucault e de “homo sacer" de Agam-
ben.
Leticia Laize Cunha Alves
Influencia do Wikileaks para a Primavera Árabe na
Tunisía
Resumo: A busca frenética por informações está mu-
dando o futuro dos governos e acelerando a difusão
do poder. O ciberespaço é extremamente relevante
por aglutinar esse ambiente virtual de interações de
pessoas ao redor do mundo, como foi o caso na Re-
volução Tunisiana de 2011. O poder que se ganha
através da internet, por meio da informação, justifi-
ca os fenômenos ocorridos no território tunisiano.
Insatisfeita com o regime ditatorial vigente, a popu-
lação local, desenvolveu formas de comunicação
fora do controle das instituições políticas. Nesse
sentido, a presente pesquisa busca examinar o ci-
berpoder, poder esse que não exige de recursos ca-
ros para exercer, principalmente com a instalação
da internet como ferramenta fundamental no quoti-
diano dos cidadãos. A conjunção dos vazamentos
realizados pela base de informações Wikileaks, so-
mada à potencialidade da internet na organização
de mobilizações, são algumas das bases da Revolu-
ção de Jasmim. Busca-se entender como o Wikileaks
contribuiu para a existência da Primavera Árabe ao
informar a população e, assim, estar diretamente
ligada ao início dos protestos na Tunísia. A análise
desses fatos indica que, mesmo com as censuras e
repressões aos movimentos reivindicatórios, seus
impactos não puderam ser freados. O Wikileaks
mostra-se, portanto, importante não como organi-
zação, mas sim pelo que representa: a luta pelo
acesso a informação, com potencial desestabilizador
que a internet pode exercer, já que as novas tecno-
logias podem vir a auxiliar da democratização das
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
169
nações. Na Primavera Árabe, o Wikileaks encorajou
a população a legitimar suas demandas e trazer
apoio internacional. As manifestações se espalha-
ram para outros países e muito do que foi vivencia-
do serviu para que outros Estados lutassem contra o
controle estatal dos meios de comunicação. O Wiki-
leaks, assim, não pode ser visto como ponto central,
mas como o que empoderou do centro do processo,
a sociedade.
Letícia Rizzotti Lima
Os direitos humanos securitários: as transformações
humanitárias no plano onusiano no pós-Guerra Fria
Coautor(es): Alexandre Fuccille
Resumo: O humanitarismo protagonizado pelas Na-
ções Unidas sofreu uma importante mudança ao
final da Guerra Fria. As distensões na bipolaridade
abriram espaço à narrativa dos direitos humanos
como mote não só da comunidade internacional no
sentido tradicional, mas também da humanidade de
forma ampliada. Esta construção contemplava o rol
de liberdades e direitos presentes na tecelagem de
larga escala dentro da própria institucionalidade da
ONU, que tenta – ainda hoje – considerar aspectos
subjetivos e objetivos da vivência humana. Este mo-
vimento de primazia pelas condições protetivas da
vida repercutiu na seara securitária pela explosão de
conflitos internos, denominados “Novas Guerras” na
literatura. Desde então, uma série normativa foi fei-
ta com o intuito de remodelar o comportamento
das operações multilaterais aos desafios do campo,
a exemplo da formulação detalhada do R2P em
2005 e da Doutrina Capstone de 2008. Não obstan-
te, este esforço não foi acompanhado de elucidação
conceitual sobre o que se toma como critério con-
creto para mensurar qualitativamente os aspectos
da reconstrução política, resultando em uma con-
troversa figura normativa: por um lado, há a clara
expressão do arcabouço principiológico motivador
da atuação intervencionista – reivindicada como
legal e legitima –, embasado em concepções cosmo-
politas de prevalência da proteção individual; por
outro, a definição do que deve resultar esta moldu-
ra é bastante nebulosa e se ancora na expectativa
de que os termos amplamente conhecidos (como a
própria democracia e o rule of law) se bastam em
concepções universais e que o desenho teórico é
suficiente para sua realização fática. Como conse-
quência, estes processos geram perspectivas limita-
das ao controle da violência aberta por meio de for-
ças militarizadas. O propósito do presente paper é
justamente avaliar de forma ampla a normatização
da ordem internacional protagonizada pela ONU,
por meio da retórica securitária embasada na con-
cepção de direitos humanos estabelecida no pós-
Guerra Fria.
Lisiane Locatelli
A Política Brasileira de Defesa: Análise comparativa
das tendências de redução e evolução dos gastos mi-
litares entre o Brasil e os BRICs
Coautor(es): Bruno de Almeida
Resumo: O Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN) é
um documento da Política de Defesa do Brasil res-
ponsável pela divulgação de informações pertinen-
tes sobre tal política pública, formuladas e divulga-
das para conhecimento das Forças Armadas do Bra-
sil, Forças Armadas estrangeiras, sociedade civil e da
comunidade internacional. O LBDN foi finalizado no
governo Dilma e divulgado em 2012. Em 2016, foi
anunciada uma minuta em processo de aprovação
pelo Legislativo Federal, mas com versão preliminar
já exposta para consulta pública. Diante disso, esta
pesquisa tem como objetivo central a análise com-
parativa das tendências de gastos de defesa do Bra-
sil, coletados a partir do LBDN de 2012 e da versão
preliminar de 2016, com os gastos de defesa dos
países do BRICS, China, Rússia e Índia. Por ter aden-
trado ao bloco em 2011, a África do Sul não é consi-
derada nos cálculos do documento, e portanto não
será abarcada na pesquisa. A escolha dos BRICS co-
mo elemento comparativo justifica-se por tratar-se
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
170
de um bloco composto por economias em ascensão,
com objetivos semelhantes ao Brasil, que o utiliza
como mecanismo na promoção de sua inserção in-
ternacional. Assume-se como hipótese que os gas-
tos em defesa do Brasil tiveram uma tendência con-
trária aos dos membros do BRICS, mesmo em um
contexto de crise e desaceleração econômica em
comum, o que indicou prioridades distintas entre o
governo brasileiro de um lado, e China, Índia e Rús-
sia de outro. Serão utilizadas como técnicas de pes-
quisa a abordagem qualitativa por meio dos dados
coletados a partir da leitura e mapeamento dos
LBDN (2012 e 2016), dentro do escopo de atuação
do Grupo de Estudos em Segurança e Defesa
(GESED) da UFSC e a abordagem quantitativa por
meio da coleta de dados dos gastos militares dos
demais países dos BRICS retirados do SIPRI
(Stockholm International Peace Research Institute),
disponíveis online.
Lucas Duarte Vitorino de Paula Xavier Guerra
Desafios à construção da paz no cenário internacio-
nal: agendas e silenciamentos nas operações de pea-
cebuilding liberal contemporâneas
Trabalho Completo
Resumo: O paper tem por objetivo fazer uma contex-
tualização dos esforços das Nações Unidas para a
construção da paz internacional, com ênfase nas
operações de peacebuilding contemporâneas, des-
tacando seu desenvolvimento histórico, característi-
cas centrais e principais críticas que recebem. Nesse
sentido, a partir de uma metodologia essencialmen-
te qualitativa, com ampla revisão bibliográfica sobre
o tema, são apresentados os principais modelos de
operações de paz da ONU desde a origem da organi-
zação e a transformação nesses modelos de acordo
com contextos históricos específicos, culminando
em sua configuração contemporânea: as operações
de peacebuilding liberal. Examina-se os princípios
norteadores desse modelo de operação de paz e, a
partir de uma perspectiva crítica, apresenta-se uma
análise das possíveis agendas e interesses relaciona-
dos com esse modelo de pacificação. Mais especifi-
camente, as operações de peacebuilding liberal são
investigadas como possíveis instrumentos de disse-
minação da democracia liberal e do capitalismo de
livre mercado para países da periferia global. Argu-
menta-se ainda que, nesse processo, essas opera-
ções decorrem em uma série de "silenciamentos"
com relação às demandas, perspectivas e cosmovi-
sões das populações locais dos cenários em que
ocorrem, em detrimento das agendas estabelecidas
externamente pelas agências internacionais envolvi-
das com as operações de paz. Algumas abordagens
alternativas ao peacebuilding liberal também são
apresentadas, levando-se em consideração suas po-
tencialidades e limitações.
Luciano Alexandrino dos Santos Junior
A Geopolítica das armas nucleares: o perigoso jogo
entre poder e segurança
Resumo: Após a Segunda Guerra-Mundial houve um
notável aumento na proliferação das armas nuclea-
res, ainda que esta tenha causado tanta destruição.
As bombas nucleares passaram a constituir um sta-
tus quo para os países, uma força coercitiva sobre
os demais, estimulando um constante cenário de
insegurança, como presenciados com a “guerra de
ameaças” entre o Donald Trump e Kim Jong-un. Em
meio a tal conjuntura, em julho de 2017 foi assinado
o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares
complementando o Tratado de Não Proliferação
Nuclear (TNP) assinado em 1968. Porém, a maior
dificuldade é a relutância dos nove países detento-
res de arsenal nuclear nas negociações, dentre eles
os cincos membros permanentes do Conselho de
Segurança (CS) da ONU, bem como Índia, Israel, Pa-
quistão e Coréia do Norte. O presente trabalho es-
tuda a geopolítica estratégica da abstenção de tais
países, através da análise bibliográfica, documentos
da ONU e análise de discursos oficiais. Constatou-se
que existe uma desigualdade entre os países com
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
171
poder nuclear e aqueles que não os detém. Os paí-
ses que não possuem tal arsenal se compromete-
ram a não desenvolve-lo ao passo que os Estados
detentores deveriam diminuir suas ogivas até a
completa erradicação. Porém, estes além de desen-
volverem descumprindo o artigo IV do TNP, favore-
ceram o descumprimento dos demais países, for-
mando uma coalizão de necessidade em se
“nuclearizar” para manter-se seguro e prevenido
caso ocorra um enfrentamento. Portanto, Propõe-
se o incentivo à irreversibilidade do recente tratado;
o fortalecimento de grupos de pressão como New
Agenda Coalition e Organizações Não- Governamen-
tais tais como a Soka Gakkai Internacional para
construir um movimento popular global que pressi-
one seus políticos a adotarem uma postura de de-
sarmamento e não o contrário, pois sem um esforço
mútuo entre sociedade civil, organizações e Estados
um mundo de paz e cooperação internacional conti-
nuará cada vez mais distante.
Luis Filipe de Souza Porto
Segurança Energética: uma reflexão crítica sobre as
interpretações teóricas do conceito
Resumo: Este artigo pretende avaliar as diferentes
formas como a segurança energética vem sendo
abordada ao longo das últimas décadas no âmbito
acadêmico. A priori será feita uma análise sobre o
conceito de segurança ampliado vigente até então,
fruto do fim da Guerra-Fria. Será avaliada também a
necessidade de as diversas regiões do globo em re-
formularem suas políticas energéticas a partir do
choque do petróleo de 1970, de modo a diversificar
não só suas matrizes energéticas, como também
fomentar as relações neste âmbito no contexto regi-
onal e internacional. Com base nesse contexto, será
abordado o conceito de segurança energética per
se, que apesar de ser confundido muitas vezes com
autossuficiência energética, possui um escopo mais
amplo de análise com transbordamentos para diver-
sos setores e dimensões além da energia. Por fim, o
presente trabalho terá por finalidade ressaltar a im-
portância da governança global no setor energético.
Observações: Trabalho de conclusão de curso em
formato de artigo, apresentado ao final da gradua-
ção em Defesa e Gestão Estratégica Internacional
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (DGEI/
UFRJ), sob orientação do professor Thauan Santos.
O trabalho é fruto da linha de pesquisa "Energia e
Meio Ambiente", sob orientação do mesmo profes-
sor, no Laboratório de Estudos Estratégicos e Insti-
tucionais (LEEI - DGEI/UFRJ) e foi apresentado em
agosto de 2017. A obtenção do título de Bacharel
ocorrerá em Janeiro de 2018, após colação de grau.
Luisa Davi Oliveira de Mesquita
Fricção, hibridismo e peacebuilding: debates sobre a
segunda virada local nos estudos para paz.
Resumo: Os estudos sobre a construção de paz pas-
saram por uma evolução histórica dentro da acade-
mia das Relações Internacionais que culminou no
quê convencionou-se como a segunda virada local.
As viradas locais surgem em resposta ao entendi-
mento de que a paz pode ser construída em socie-
dades recém saídas de conflito através de um mo-
delo delineado por atores do Norte Global, que de-
fendem a instalação de democracias orientadas pa-
ra o mercado como a melhor forma de alcançar paz
duradoura. Entretanto, muitos acadêmicos refutam
essa ideia, e procuram jogar luz na importância de
incluir o local que recebe a intervenção no planeja-
mento e execução das operações de peacebuilding.
Este trabalho procura investigar, portanto, qual o
papel que o conceito pós-colonial de hibridismo e o
conceito antropológico de fricção têm em contextos
de operações para a construção de paz, partindo de
uma revisão da literatura sobre o assunto. Indo
além, o trabalho também levanta questões relevan-
tes sobre o uso destes conceitos para o campo de
estudos de construção de paz.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
172
Marcelle Christine Bessa de Macedo
Desconstruindo o Conceito de Refugiado: a militariza-
ção dos refugiados na região dos Grandes Lagos Afri-
canos
Trabalho Completo
Resumo: Este trabalho buscará apresentar, a partir
dos aportes teóricos presentes no pós-colonialismo,
no pós-estruturalismo e nos estudos críticos de se-
gurança (CSS), a importância de considerar as con-
tranarrativas acerca da condição de refugiados a
partir dos atores existentes na região africana dos
Grandes Lagos. A relevância destas contranarrativas
se dá em função dos conflitos existentes nesta regi-
ão, uma vez que, busca-se compreender como as
mesmas tensionam o conceito de refugiado confor-
me presente na Convenção sobre Refugiados (1951)
e nas narrativas humanitárias. Dessa forma, a per-
gunta que esta pesquisa buscará responder será: De
que forma a condição de refugiado foi manipulada
como forma de desestabilização de regimes regio-
nais na região africana dos Grandes Lagos? Cumpre
salientar que o período investigado no escopo desta
pesquisa será a década de 1990, no entanto, para
empreender a análise deste período, o histórico da
região será apresentado, tangencialmente, desde a
época colonial. Ademais, o argumento utilizado, vi-
sando responder a pergunta desta pesquisa, será
que a condição de refugiado foi manipulada pelos
grupos que buscaram refúgio em outros Estados da
região através da retórica dos mesmos de retorno
e\ou perseguição dos sending States, buscando de-
sestabilizar os regimes existentes. Para tanto, as
abordagens pós-colonialista e pós-estruturalista,
que buscam problematizar e desconstruir as repre-
sentações dominantes nas Relações Internacionais
(RI), apoiarão as análises desta pesquisa. Também
serão utilizados os CSS, buscando investigar a parti-
cipação de outros atores, além dos Estados desta
região, investigados neste estudo - Ruanda, Uganda
e República Democrática do Congo - nos conflitos
do período da década de 1990. Dessa forma, ali-
nhando-se ao aporte teórico, a metodologia utiliza-
da será a representação histórica (DUNN, 2008) e
practice tracing (POULIOT, 2015) nas narrativas/
contranarrativas acerca da condição de refugiado.
Marcelo Balloti Monteiro
O mundo unipolar, os avanços da globalização e a
violência: a gênese do terrorismo global
Trabalho Completo
Resumo: As transformações que o mundo sofreu nos
últimos trinta anos do século XX mudou a configura-
ção geopolítica e geoeconômica do mesmo. O triun-
fo dos Estados Unidos (capitalista) sobre a União
Soviética (socialista) fez com que o mundo ficasse
aos pés de uma única potência hegemônica – essa
hegemonia foi ressaltada pelo enorme poderio mili-
tar e econômico dos norte-americanos. Para conso-
lidar esse poder, os Estados Unidos impuseram ao
mundo valores que eles consideravam fundamen-
tais como a democracia e o livre mercado para que
o mundo se curvasse ainda mais aos seus anseios. A
aceleração da globalização econômica foi uma das
facetas mais marcantes desta dominação. Ao mes-
mo tempo que ela era divulgada como uma fonte
quase que inesgotável de prosperidade aos partici-
pantes e por isso todos os países deveriam partici-
par deste jogo, ela escondia a total falta de preocu-
pação com a forma com que essa riqueza seria dis-
tribuída. Acentuou-se as desigualdades mundo afo-
ra e o Ocidente em geral e os Estados Unidos em
específico se tornaram os principais culpados pela
pobreza que perdurou e perdura em diversos rin-
cões do mundo. Esta política externa norte-
americana, indiretamente, gestou no seu ventre
uma nova forma de violência, conhecida como ter-
rorismo global. A violência e, por conseguinte, uma
de suas transformações, o terrorismo, não é algo
contemporâneo; existe desde que a humanidade
habita o Planeta Terra e será impossível radica-la
dadas as características inerentes a espécie huma-
na. O terrorismo, que no início tinha uma conotação
muito mais política, sofreu mutações até chegar ao
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
173
que se conhece nos dias de hoje: morte de inocen-
tes e difusão do pânico e do medo. Compreender as
inter-relações entre mundialização e terrorismo é o
primeiro passo para que possamos questionar as
desigualdades econômicas e sociais no mundo, me-
lhorar a distribuição dos louros do capitalismo e,
talvez, evitar estas carnificinas de inocentes.
Marcelo Nasser Filho
O liberalismo através do narcotráfico: a cooperação
entre México e EUA
Coautor(es): Frederico Ferreira de Queiroz, Gustavo
de Oliveira Corrêa, João Pedro de Lima Kauss Andra-
de
Resumo: O narcotráfico surge como um problema
mundial durante a década de 1970, causando pro-
blemas sociais e econômicos aos países, assim, influ-
enciando suas políticas. Essa questão é um proble-
ma que atinge a todos, desenvolvidos ou subdesen-
volvidos, porém, de diferentes maneiras. A econo-
mia ilegal do narcotráfico, gira em torno do proces-
so de lavagem de dinheiro, tornando dinheiro ilícito
em legítimo. Em 2012, a ONU estimou que o crime
organizado transnacional gera 870 bilhões de dóla-
res por anualmente, equivalente a 1,5% do PIB
mundial. O tráfico de drogas é responsável por boa
parte deste montante, cerca de 320 bilhões de dóla-
res. Situado no México, o cartel de Sinaloa, é consi-
derado o maior do mundo e porta-se como uma
empresa transnacional afetando diretamente as re-
lações internacionais, pois movimenta dinheiro ile-
gal e utiliza alguns países para lavar dinheiro, impac-
tando a economia mundial. Algumas drogas produ-
zidas em território mexicano têm os Estados Unidos
como destino, assim, os governos acordaram em
cooperar fortemente no combate ao tráfico, princi-
palmente com a criação de tratados. Destacando-se
a Iniciativa Mérida, criada em 2008, nos governos
George Bush e Felipe Calderón, tem como objetivo
o combate ao crime organizado e o redirecionamen-
to das relações entre os Estados. Baseado no trata-
do de extradição entre México e Estados Unidos cri-
ado em 1978, que perdura até os dias de hoje, o
líder do Cartel de Sinaloa, “El Chapo”, foi extradita-
do e preso em território americano em 2016; isto
demostra a importância destes tratados no combate
ao narcotráfico, um problema global. Como o narco-
tráfico influenciou na reaproximação entre EUA e
México? Tendo como base as teorias das Relações
Internacionais, através dos conceitos de Soberania,
Cooperação entre Estados e Direito Internacional, o
projeto busca aprofundar conhecimento acerca dos
principais esforços de cooperação sobre o narcotrá-
fico envolvendo México e EUA e os principais resul-
tados alcançados na região.
Marcial A. G. Suarez
Low Cost Terrorism ou a ameaça invisível: Terrorismo
no século XXI da Alqaeda ao Estado Islâmico
Trabalho Completo
Resumo: O fenômeno que nos propomos a estudar
aqui diz respeito a um tipo de ação política violenta
que traduz seu modus operandi numa inflexão táti-
ca do ataque terrorista, isto é, não estamos mais no
universo dos carros bomba, dos ataques a espaços
públicos por células organizadas, mas sim, vivemos
um contexto no qual ataques são feitos com “baixo
custo”. Inferimos o termo “low cost terrorism” para
designar os ataques dos últimos anos (Paris, Lon-
dres, Bruxelas e Barcelona) e propomos o debate
sobre este fenômeno. Nossa proposição se volta
para o estudo da transição da AlQaeda para o Esta-
do Islâmico e num movimento para além da rotula-
ção a um grupo, sugerimos uma retomada dos con-
ceitos de Planetary Frontierland de Zigmunt Bau-
man (2002), High-Tech Hubris de Tom Dixon (2002)
e o de Regressive Globalization Mary Kaldor (2003),
para propor uma analise que não trate apenas de
compreender um grupo, mas sim de questionar um
conjunto de pressupostos que ultrapassam a coinci-
dência entre um ator político especifico, designado
terrorista, e um conjunto de praticas de violência
extrema.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
174
Marcos Vinícius Isaias Mendes
Segurança internacional e o espaço urbano: o papel
das redes transnacionais de cidades
Trabalho Completo
Resumo: O artigo objetiva avaliar as interconexões
entre a segurança internacional e a cidade, através
da análise dos objetivos e da atuação de quarto re-
des transnacionais de cidades focadas na temática
da segurança: European Forum on Urban Security
(Efus), Mayors for Peace, Municipal Alliance for Pea-
ce in the Middle East (MAP) e a Unidade Temática
de Segurança Cidadã da rede Mercocidades. Para
tanto, os conceitos de “urbanismo militar”,
“segurança humana”, “segurança cidadã” e “cidade
frágil” são discutidos e sua viabilidade e aplicação
são analisadas nas redes transnacionais em estudo.
Mariana Alejandra Altieri
Poder Naval en el Atlántico Sur Occidental del siglo
XXI: Nuevo escenario mundial y competencia por el
control del espacio marítimo entre los años 2002 y
2015
Trabalho Completo
Resumo: Se considera que ingresando en la primera
década del Siglo XXI el escenario mundial se encuen-
tra en reconfiguración. Frente al debilitamiento del
rol de Estados Unidos, como potencia hegemónica y
garante de la vigencia del orden establecido–statu
quo- y actual poder naval global, comienzan a surgir
nuevos polos de poder y zonas de fractura donde
los grandes poderes compiten por el control. Estudi-
aremos la posición de los grandes poderes en este
escenario de reacomodamiento del poder mundial
clasificando a los Estados como statuquistas, procli-
ves a sostener el sistema en su conformación vigen-
te, y revisionistas, inconformes con la situación ac-
tual que contribuyen a su alteración buscando au-
mentar sus beneficios (poder e influencia). La consi-
deración de un Estado como revisionista o statu-
quista tiene una fuerte connotación material, en
relación a que la disputa por el reacomodamiento
del poder mundial se plasma directamente en la
proyección y ejercicio del poder sobre un espacio
determinado. En un sistema cerrado esta proyec-
ción se vuelca mayormente a los grandes espacios
comunes de la humanidad entre los cuales destacan
los océanos, - que representan el ámbito donde se
reproduce el sistema a través del intercambio de las
comunicaciones y del comercio- Y es, por ende,
donde se están manifestando más visiblemente las
disputas por el control. Se considera que en el Siglo
XXI el espacio marítimo se ha convertido en una
gran zona de fractura. Al preguntarse sobre las diná-
micas de la competencia por el poder en el Atlántico
Sur, este trabajo se cuestiona si los cambios a nivel
mundial en el ambiente naval tienen un correlato en
esta zona. La pregunta sobre que está sucediendo
en el Atlántico Sur Occidental implica interrogarse
acerca de cómo impactan los cambios a nivel mun-
dial y la disputa global en este espacio marítimo.
Mariana de Castro Silva Souza
A PROTEÇÃO DA BIODIVERSIDADE DA AMAZÔNIA sob
a perspectiva dos Estudos e Documentos de Defesa
brasileiros.
Coautor(es): Elany Almeida de Souza, Danielle Jacon
Ayres Pinto
Trabalho Completo
Resumo: Objetiva-se a partir do presente estudo,
aferir quais os mecanismos adotados pelos docu-
mentos de defesa brasileiros para a proteção da bi-
odiversidade da Amazônia e combate aos crimes
ambientais ocorridos nas fronteiras brasileiras. A
relevância da adoção de uma estratégia clara e defi-
nida acerca do tema pelos documentos de Defesa
se dá pela importância geoestratégica, geopolítica e
geoeconômica da região amazônica, bem como a
adequada gestão da biodiversidade que a compõe.
O enfoque específico da defesa está exatamente no
papel estratégico que a Amazônia representa asso-
ciada às emergências globais que indicam cada vez
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
175
mais processos de securitização da questão ambien-
tal na esteira de outros movimentos de macrossecu-
ritização resultantes do combate ao crime organiza-
do e ao narcotráfico nas regiões de fronteira. A har-
monização entre a política doméstica e a política
externa é essencial para o êxito dessa gestão. Inicia-
tivas de acordos regionais de cooperação como ex-
pressão de smart power, a interoperabilidade entre
os agentes estatais por meio de atuação interagên-
cias, bem como a colaboração de agentes não esta-
tais devem ser resultados práticos e de implementa-
ção eficaz e eficiente, na medida em que os interes-
ses na defesa do meio ambiente perpassam os limi-
tes territoriais. Indispensável abordar sistematica-
mente a articulação de uma resposta multilateral. O
papel do Exército na faixa de fronteira é de caráter
geopolítico, geoestratégico e geoeconômico, pois
garante a soberania, segurança, integração e desen-
volvimento do país. Essas discussões congregam
matérias afetas à Ciência Política, Relações Interna-
cionais, Direito Internacional, Segurança e Defesa e
é nesse âmbito que devem ser discutidas e elabora-
das as normativas e políticas de proteção da biodi-
versidade. A metodologia adotada baseia-se no tri-
nômio: Teoria de Base; Procedimento e Técnica. Co-
mo referencial teórico foi eligida a matriz epistemo-
lógica pragmático-sistêmica, pois a temática ora
abordada parte de uma relação sistêmico-complexa
e exige para sua melhor compreensão uma aborda-
gem de pesquisa interdisciplinar.
Mariana Paula Salvadori
As causas do uso das Forças Armadas em Segurança
Pública na América do Sul: os casos da Colômbia, Chi-
le e Brasil
Resumo: Circunscrito aos estudos de Defesa e Segu-
rança Internacional, o trabalho consistirá numa aná-
lise comparativa das causas do emprego das Forças
Armadas em missões de segurança pública na Co-
lômbia, no Chile e no Brasil. A partir da premissa de
que os conflitos armados tradicionais – a guerra em
sua acepção clássica – já não representam uma pre-
ocupação central para muitos Estados, e conside-
rando a história recente de paz e institucionalização
da região sul-americana, as Forças Armadas desses
países parecem ter duas opções: permanecer em
treinamento e exercendo apenas papel defensivo e
dissuasório ou prestarem-se a tarefas para além do
seu escopo tradicional, como a segurança pública.
Nesse contexto, Colômbia e Chile representam dois
extremos, enquanto o Brasil parece mesclar concep-
ções. No caso colombiano, as Forças Armadas são
destinadas a tarefas de segurança pública e comba-
te ao crime organizado com frequência. Já no Chile,
desde o fim de seu regime autoritário, o governo
repudia esse tipo de prática. Enquanto que, no Bra-
sil, o emprego de Forças Armadas em segurança pú-
blica tem crescido ao longo dos últimos anos. Ao
apresentar uma comparação entre esses casos, o
trabalho buscará aclarar as causas e os fatores en-
volvidos nas escolhas desses governos em favor ou
contra o emprego de Forças Armadas em segurança
pública e combate ao crime organizado.
Marianna de Oliveira Rodrigues
A Geopolítica da Água: uma análise acerca das modi-
ficações estratégicas na América do Sul a partir da
gestão dos recursos hídricos
Resumo: A presente pesquisa trata da influência dos
recursos hídricos na formação geopolítica dos Esta-
dos sul-americanos desde o período colonial até os
dias atuais. Para atingir seus objetivos, esse estudo
analisa os conflitos que se estabeleceram no campo
das disputas pelo domínio da água nos Estados da
América do Sul - uma das regiões mais relevantes
quanto à posse de recursos hídricos - avaliando de
que forma o fator geográfico impactou no histórico
da região, e qual sua relevância como uma questão
de segurança internacional. Para isso, a base desta
pesquisa repousa em estudos geopolíticos e securi-
tários que evidenciam as assimetrias na distribuição
da água no âmbito global, e o potencial que tal
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
176
questão possui quanto à escalada de conflitos. Para
conduzir esta análise de forma compreensível, este
trabalho estará seccionado da seguinte maneira:
primeiramente, para haver o total entendimento
sobre como um fator ligado à geografia pode mol-
dar as relações entre os Estados transformando-se
em um fator político, far-se-á uma breve análise
acerca da importância da abordagem do tema no
âmbito global, demonstrando como têm se dado as
relações entre as Grandes Potências e os Estados
Periféricos quanto ao controle da água, demons-
trando qual a tendência à entropia esta questão po-
de apresentar para o Sistema Internacional. Logo,
será conduzida uma análise dos conflitos gerados
acerca da distribuição assimétrica, em âmbito regio-
nal, a fim de possibilitar o entendimento da impor-
tância da abordagem deste tema como uma ques-
tão relevante para a segurança da região. Por fim,
serão analisadas as manobras mais recentes das
Grandes Potências e das Grandes Corporações
quanto ao domínio dos recursos hídricos, averiguan-
do qual a probabilidade de que em cenários futuros
a questão hídrica torne-se um fator determinante
para a eclosão de novos conflitos na América do Sul
– originados por interesses externos – assim como,
um mercado fortemente capitalizado.
Matheus Rodrigo Fabiano Silva
Teoria da Guerra Preventiva e a reestruturação das
noções de Segurança Internacional
Resumo: O tema a ser estudado será a Teoria da
Guerra Preventiva. Esta, se faz presente nos discur-
sos do ex-secretário de Estado Collin Powell no con-
selho de segurança da ONU, anteriormente à inva-
são americana no Iraque. O artigo será dividido em
três seções, sendo elas: a Teoria da Guerra Preventi-
va, as motivações dos Estados Unidos para invadir o
Iraque (noções de segurança) e, por fim, os discur-
sos de Powell na ONU e suas referências em relação
à segurança e à guerra preventiva. A metodologia
utilizada é a análise documental de discursos, com a
finalidade de entender e analisar o conceito de
"Guerra Preventiva", moldado e arquitetado pelos
Estados Unidos da América. A principal base teórica
será da obra de Lima Barroso: "Segurança: uma
aproximação conceitual". O tema tem imensa im-
portância nos dias atuais, porque é neste momento
que ocorre a ressignificação do conceito de
"segurança" adotado pelos Estados ocidentais, que
se mantém até os presentes dias. Finalmente, é pre-
ciso entender o processo que levou à essa ressignifi-
cação conceitual de segurança e quais foram os ato-
res que a causaram, sabendo que os fatos aconteci-
dos na segunda Guerra do Golfo, a qual ainda deixa
sequelas no Sistema Internacional e traz consequên-
cias até os dias de hoje.
Matheus Souza Galves Mendes
Modernização das Marinhas e Segurança Internacio-
nal: Os recentes casos Britânico e Canadense
Coautor(es): Jéssica Pires Barbosa Barreto
Trabalho Completo
Resumo: Reino Unido e Canadá historicamente pos-
suem laços de boa convivência e cooperação, tanto
em assuntos econômicos como em termos de defe-
sa e segurança, principalmente por causa do passa-
do Canadense como colônia britânica. Ambos fazem
parte da Commonwealth, uma organização interes-
tatal capitaneada pelo Reino Unido e que visa a ma-
nutenção do vínculo das ex-colônias que fizeram
parte do passado imperialista da ilha. Além disso,
também são membros da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN), organização liderada pe-
los Estados Unidos da América que, entre outras
coisas, estabelece um conglomerado em matéria de
Defesa e Segurança Internacional, sobretudo para
deter o avanço de outros poderes militares concor-
rentes não só no hemisfério norte como ao redor do
mundo. As constantes mudanças no modo de se
fazer a guerra, bem como as difusas questões de
agenda internacional que tendem a forçar uma mai-
or especialização dos Estados-Maiores desde assun-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
177
tos nucleares até a guerra cibernética, passando por
problemas de terrorismo e pirataria, demonstram a
cada vez maior complexidade as quais as Forças Ar-
madas enfrentam no mundo globalizado. Nesse sen-
tido, este trabalho tem o objetivo específico de exa-
minar os recentes avanços nos processos de moder-
nização das marinhas tanto do Reino Unido como
do Canadá, com o intuito de investigar se ambos os
países estão conseguindo se comprometer com os
assuntos internacionais os quais se propõem, a par-
tir de suas capacidades físicas - materiais e pessoal -
, ou se a volumosa carga de tarefas orientada para o
controle marítimo, mesmo que relativo, de regiões
do planeta não está sendo cumprida dados os cons-
tantes cortes orçamentários nas respectivas pastas
de Defesa.
Maurício Kenyatta Barros da Costa
Os limites da Segurança Internacional nas fronteiras
brasileiras
Trabalho Completo
Resumo: Esse artigo busca rediscutir as percepções
brasileiras de segurança internacional, tendo como
base a perspectiva local. Nesse sentido, o local abor-
dado será a fronteira brasileira, marginalizada no
processo de desenvolvimento econômico e político
do país, mas, historicamente, importante para a de-
fesa da soberania da nação. Nesse sentido, nos ba-
searemos no conceito e na prática de transnaciona-
lidade aplicada às dinâmicas de segurança fronteiri-
ça para contrastar os limites da agenda de seguran-
ça internacional brasileira, mas também das pró-
prias abordagens centrais desse campo de estudos.
Nos utilizaremos o método de “Process Tracing” pa-
ra trabalhar com os dados obtidos. O artigo será or-
ganizado em três seções: 1) as abordagens centrais
no campo da segurança internacional, a perspectiva
brasileira e a abordagem local das fronteiras; 2) em
que medida o local (da fronteira) é apropriado ou
excluído das abordagens centrais e da brasileira; 3)
a institucionalização de percepções de segurança e
defesa na UNASUL: uma alternativa sul-americana e
a concepção regional de local. Essa discussão nos
permitirá verificar em que medida as abordagens
centras da Segurança Internacional nos permitem
lidar com os desafios securitários brasileiros e se
nossa própria estratégia está adequada. A UNASUL
será utilizada enquanto contraponto para o dese-
nho de um panorama mais abrangente da seguran-
ça sul-americana com o intuito de iluminar novas
possibilidades regionais, que incluam concepções
locais, para os desafios securitários que afetam as
fronteiras brasileiras e os demais países da região.
Monica Herz
A crise venezuelana e a militarização
Resumo: O artigo analisa o tratamento da crise vene-
zuelana pelas organizações regionais, em particular
a crítica ao processo de militarização da vida política
e social naquele país. Ademais, discute criticamente
a relação entre processos globais de militarização e
o caso específico venezuelano.
Nathalia Vasconcellos de Souza
Navios de Guerra Autônomos: possível novo vetor de
difícil regulamentação internacional e suas implica-
ções.
Coautor(es): Nival Nunes de Almeida
Trabalho Completo
Resumo: O desenvolvimento tecnológico que, inicial-
mente, trouxe a revolução de utilização de “drones”
e que acabou por possibilitar também o seu uso pa-
ra fins bélicos, está prestes a igualmente ser uma
plena realidade no ambiente marítimo. No entanto,
nesse ambiente, há implicações ainda mais comple-
xas, dada a possibilidade de trânsito em região além
da jurisdição de qualquer país (o Alto Mar). Todavia,
a regulamentação do emprego de navios de guerra
autônomos – embarcações não tripuladas com si-
nais externos próprios de navios de guerra e perten-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
178
centes às forças armadas – não parece suficiente
apenas com base na Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar. Essa é uma tecnologia próxi-
ma de ser plenamente dominada por alguns países,
mas que pode redundar em novas interações inter-
nacionais ainda não vislumbradas. Assim, o trabalho
tem o propósito de apresentar as dificuldades da
regulamentação internacional desse novo vetor a
partir da análise de fontes primárias, a normativida-
de internacional já prevista, levantamento bibliográ-
fico e revisão de literatura e examinar quais as prin-
cipais consequências já conjeturadas que podem
influenciar na relação entre Estados e como o de-
senvolvimento tecnológico pode impor novos desa-
fios nessa relação. Pretende-se, portanto, perquirir
sobre o que sejam os navios autônomos; quais os
requisitos já regulamentados na Convenção das Na-
ções Unidas sobre o Direito do Mar para a definição
de navios de guerra, perpassando-se pela análise de
todos os seus elementos constitutivos necessários e
como seu enquadramento pode se embasar em ou-
tros avanços tecnológicos que lhes antecedera, co-
mo no caso dos veículos aéreos já empregados co-
mo armas de guerra. Diante do vácuo normativo e
mesmo analítico presente, pode-se concluir que es-
sa inovação pode impactar os sistemas navais de
marinhas de todo o mundo, através do uso dos navi-
os autônomos, e que, entretanto, ainda carecem de
regramento e análise quanto às ações externas de
forças armadas.
Nathana Garcez Portugal
O acordo de Sykes-Picot: um olhar estratégico sobre
o Oriente Médio
Trabalho Completo
Resumo: O acordo de Sykes-Picot, assinado em maio
de 1916, foi um acordo secreto firmado entre o Rei-
no Unido e a França, com anuência do Império Rus-
so. O acordo definiu a divisão territorial do Oriente
Médio na hipótese de vitória da Tríplice Entente na
Primeira Guerra Mundial e repartiu a região em
áreas de controle e influência para os possíveis ven-
cedores. Com a vitória dos aliados, a divisão não só
mudou a configuração territorial da região como
gerou consequências profundas para o Oriente Mé-
dio que ainda podem ser vistas atualmente. A hipó-
tese principal da pesquisa é a de que este acordo
tem em suas bases a influência dos interesses des-
sas potencias nos recursos naturais do Oriente Mé-
dio, com destaque para o petróleo que havia acaba-
do de se tornar a nova matriz energética mundial e,
portanto, tinha imenso valor estratégico. Dessa for-
ma, o objetivo central da presente investigação será
analisar quais os interesses estratégicos existiam à
época da assinatura do acordo entre os países. O
objetivo específico são analisar quais foram as con-
sequências diretas dessa assinatura para a conquis-
ta dos interesses pelos países envolvidos assim co-
mo para a região afetada pelo mesmo. Para isso, a
presente pesquisa pretende olhar, de forma qualita-
tiva, para o acordo de Sykes-Picot à luz dos interes-
ses de petróleo e entender as consequências diretas
do acordo para a região afetada. A partir do estudo
de fontes históricas, do acordo e outros documen-
tos oficiais é esperado que se consiga provar que a
conquista da segurança energética a partir do petró-
leo era o maior interesse com a assinatura do trata-
do e que este significou complexas consequências
para a região do Oriente Médio.
Nival Nunes de Almeida
Navios de Guerra Autônomos: possível novo vetor de
difícil regulamentação internacional e suas implica-
ções.
Coautor(es): Nathalia Vasconcellos de Souza
Trabalho Completo
Resumo: O desenvolvimento tecnológico que, inicial-
mente, trouxe a revolução de utilização de “drones”
e que acabou por possibilitar também o seu uso pa-
ra fins bélicos, está prestes a igualmente ser uma
plena realidade no ambiente marítimo. No entanto,
nesse ambiente, há implicações ainda mais comple-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
179
xas, dada a possibilidade de trânsito em região além
da jurisdição de qualquer país (o Alto Mar). Todavia,
a regulamentação do emprego de navios de guerra
autônomos – embarcações não tripuladas com si-
nais externos próprios de navios de guerra e perten-
centes às forças armadas – não parece suficiente
apenas com base na Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar. Essa é uma tecnologia próxi-
ma de ser plenamente dominada por alguns países,
mas que pode redundar em novas interações inter-
nacionais ainda não vislumbradas. Assim, o trabalho
tem o propósito de apresentar as dificuldades da
regulamentação internacional desse novo vetor a
partir da análise de fontes primárias, a normativida-
de internacional já prevista, levantamento bibliográ-
fico e revisão de literatura e examinar quais as prin-
cipais consequências já conjeturadas que podem
influenciar na relação entre Estados e como o de-
senvolvimento tecnológico pode impor novos desa-
fios nessa relação. Pretende-se, portanto, perquirir
sobre o que sejam os navios autônomos; quais os
requisitos já regulamentados na Convenção das Na-
ções Unidas sobre o Direito do Mar para a definição
de navios de guerra, perpassando-se pela análise de
todos os seus elementos constitutivos necessários e
como seu enquadramento pode se embasar em ou-
tros avanços tecnológicos que lhes antecedera, co-
mo no caso dos veículos aéreos já empregados co-
mo armas de guerra. Diante do vácuo normativo e
mesmo analítico presente, pode-se concluir que es-
sa inovação pode impactar os sistemas navais de
marinhas de todo o mundo, através do uso dos navi-
os autônomos, e que, entretanto, ainda carecem de
regramento e análise quanto às ações externas de
forças armadas.
Pablo Victor Fontes Santos
Ghost of Rwanda: A patologia infantil do discurso
moral cinemataográfico do herói branco ocidental
Coautor(es): Cristina Rego Monteiro da Luz
Trabalho Completo
Resumo: Durante a década de 1990, o genocídio em
Ruanda foi assistido pelo mundo pelas múltiplas re-
des de comunicação e informação. O espetáculo
televisivo explorou continuadamente a tragédia e o
horror que a população local sofria a partir de uma
política colonial segregacionista entre Hutus e Tut-
sis. Este artigo tem como proposta compreender a
partir da análise discursiva e semiológica ,como as
crianças ruandesas foram representadas na cinema-
tografia do filme “Ghost of Rwanda” durante o ge-
nocídio de 1994? Parte-se do pressuposto de que há
uma tendência da cinematografia, em construir um
discurso patológico moral universal salvacionista
dos indivíduos brancos ocidentais cujo intuito é rea-
firmar a verticalização Norte-Sul. O Norte visto co-
mo um adulto (herói branco) protetor e o Sul como
uma criança (romantizada), sobretudo crianças do
sexo feminino (grupo dos vulneráveis), que necessi-
ta de proteção. Utilizou-se neste artigo a metodolo-
gia da análise de discurso semiológico, principal-
mente, por meio do uso da literatura dos estudos
sobre a infância, reflexões a partir teoria pós-
colonial e pós-estrutural.
Patricia Capelini Borelli
Ensaio sobre a Incerteza: Ciência, Tecnologia e Guer-
ra
Coautor(es): Patricia Capelini Borelli, Jorge Matheus
Oliveira Rodrigues
Resumo: O artigo introduz um debate sobre o papel
desempenhado pela ciência e pela tecnologia nas
guerras. Considerando a incerteza e a imprevisibili-
dade como elementos imperativos nos campos de
batalha, analisa-se a maneira pela qual a ciência, a
racionalidade e a tecnologia moderna foram coloca-
das como fatores essenciais para a condução da
guerra, sob a promessa de garantia de maior previsi-
bilidade e ordenamento dos fatores. Sendo assim, a
proposta deste trabalho é compreender como a
aplicação da ciência e da tecnologia à guerra é per-
cebida em diferentes momentos do pensamento
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
180
de elites, dava para as forças armadas venezuelanas
um papel apolítico e não deliberativo. A irrupção de
Hugo de Chávez na política venezuelana e sua che-
gada ao poder em 1999, altera o papel atribuído às
forças armadas. Estas passam ser incorporadas na
política nacional, não só através da redefinição de
suas funções e da doutrina mas também incorpora a
corporação como ator político. O artigo mostra por-
que as forças armadas podem ser consideradas co-
mo o ator chave da política venezuelana nos gover-
nos chavistas ao mesmo tempo que discute que tem
existido um processo de mudança em que o contro-
le dos civis sobre os militares tem passado de uma
autonomia limitada a uma forte autonomia dos se-
gundos sobre os primeiros nos governos Chávez e
Maduro, respetivamente.
Rafael Euclides Seidel Batista
A cooperação para uso pacífico da energia nuclear
entre Brasil e Argentina
Resumo: O presente artigo buscará analisar e propor
reflexão sobre o programa de cooperação para uso
pacífico da energia nuclear estabelecido a partir da
década de 80 entre Brasil e Argentina, sob a pers-
pectiva das relações internacionais e dos estudos
para a paz, buscando apresentar reflexão sobre a
importância desta série de acordos entre os dois
países para a superação da rivalidade militar e diplo-
mática existente entre Brasil e Argentina, trazendo
análise sobre os efeitos desta estratégia comparti-
lhada tanto para a integração, como para a política
externa de ambos os países e para o entorno da re-
gião da América Latina. Como é sabido, desde o seu
advento, a questão das armas nucleares é foco de
grandes tensões políticas internacionais na contem-
poraneidade, a título de exemplo, dados mostram
que no início de 2014, nove estados – China, Coreia
do Norte, Estados Unidos, França, Índia, Israel, Pa-
quistão, Reino Unido e Rússia - detinham 16350 ar-
mas nucleares, das quais 4150 estariam emprega-
das ou em condições de uso imediato, sendo que,
estratégico, em um cenário em que o desenvolvi-
mento tecnológico e sua aplicação na guerra dialo-
gam com os impulsos positivistas advindos do de-
senvolvimento no campo da ciência, notadamente a
partir da chamada Revolução Científica.
Pedro Diniz Rocha
Mudanças no Contexto Institucional Internacional e o
declínio da Guerra na Sociedade Internacional
Resumo: Nos primeiros séculos da Sociedade Inter-
nacional moderna, a guerra era o curso de ação tra-
dicionalmente adotado quando díades se encontra-
vam em impasse político originado pela falha na re-
solução de determinado conflito social por meio de
negociações bilaterais. No entanto, de prática mais
apropriada, a guerra como mecanismo de resolução
de conflitos vem se tornando gradualmente obsole-
ta em um processo similar ao sofrido pelos duelos
na esfera privada na virada do Século XX. Este traba-
lho discute, então, tendo como referência a Escola
Inglesa, a que ponto mudanças paulatinas no Con-
texto Institucional Internacional vem a quase um
século dando suporte e reforçando o processo de
obsolescência da guerra na Sociedade Internacional.
O argumento proposto é o de que mudanças no que
concerne Territorialidade, como Instituição Fundaci-
onal, e Guerra, como Instituição Procedural, resulta-
ram em um novo contexto institucional em que o
uso da força foi deslegitimado como droit souverain
de Estados seguindo la raison d’État, um conjunto
de normas de proteção a integridade territorial dos
Estados foi desenvolvido e uma série de mecanis-
mos de resolução de conflitos não violentos, como a
Adjudicação e a Arbitragem, foi impulsionada.
Rafael Duarte Villa
Ação política de militares nos governos chavistas
Resumo: A constituição de 1961, da época do Pacto
de Punto Fijo, que assegurava a gobernabilidade no
sistema político venezuelano a partir de um pacto
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
181
aproximadamente 1800 destas são mantidas em
alerta operacional. Neste sentido, interessante ob-
servar que há outras iniciativas internacionais, em
especial na América Latina, onde a cooperação para
uso pacífico da energia nuclear levou países como
Brasil e Argentina, que chegaram a estar a caminho
do desenvolvimento de um artefato nuclear, a cria-
rem mecanismos próprios de integração e controle
nuclear de grande sucesso e com efeitos profundos
para sua política externa. Assim, pretende o traba-
lho contextualizar, em um primeiro momento, a
questão nuclear face ás relações internacionais, pa-
ra, em seguida, descrever o processo de integração
e cooperação em energia nuclear havido entre Bra-
sil e Argentina e os reflexos na política externa de
ambos os países, estabelecendo, ao fim, as conclu-
sões pertinentes a todo este processo.
Thaiane Caldas Mendonça
A névoa entre Segurança Pública e Segurança Nacio-
nal no Brasill: uma análise a partir das Teorias de Re-
lações Internacionais
Resumo: Nos textos clássicos da área, compreende-
se que Teoria das Relações Internacionais diz respei-
to a ação dos Estados entre si no sistema internacio-
nal. Contudo, perspectivas mais recentes conside-
ram a íntima relação entre o âmbito interno (Inside)
do Estado com o âmbito externo (Outside), como é
o caso do trabalho de R.B.J. Walker, a Teoria de Se-
curitização, como proposta pela chamada Escola de
Copenhagen, e a relação entre cidades e guerra/
conflito armado, como é o caso do trabalho editado
por Stephen Graham, focos deste trabalho. Tais
perspectivas permitem compreender a névoa exis-
tente atualmente entre as definições e as práticas
correspondentes à Segurança Pública e à Segurança
Nacional no Brasil, principalmente no que concerne
o combate ao narcotráfico. Como consequência
deste limite difuso entre Segurança Pública e Segu-
rança Nacional, Inside e Outside, pode-se mencio-
nar o uso normalizado de medidas excepcionais co-
mo práticas legítimas de políticas públicas.
A partir do exposto, o artigo tem como objetivo
compreender o que significa militarização do com-
bate ao narcotráfico e da Segurança Pública à luz de
teorias de Relações Internacionais. A hipótese a ser
perseguida pelo trabalho é de que a “securitização”
da questão do narcotráfico no Brasil justifica a utili-
zação de práticas excepcionais, como práticas de
contrainsurgência e pacificação, e implica uma cres-
cente militarização do combate ao narcotráfico,
sensível principalmente na cidade do Rio de Janeiro,
e que podem afetar de forma significativa a relação
do Brasil com seu entorno estratégico.
Thales Leonardo de Carvalho
A "virada à esquerda" e as políticas de defesa e políti-
cas externas relacionadas à segurança na América
Latina: um estudo comparativo de 16 mandatos pre-
sidenciais
Resumo: Com a “Virada à Esquerda” na América La-
tina, muito se explorou em torno de convergências
nas políticas adotadas pelos países nela envolvidos
em diversas áreas, principalmente nas políticas eco-
nômicas e sociais. Pouco, no entanto, se explorou
em torno das Políticas Externas relacionadas à Segu-
rança e das Políticas de Defesa Nacional. Assim, o
objetivo deste trabalho é o de analisar e comparar o
que foi feito por 16 presidentes na região em torno
das políticas mencionadas para entender se a
“Virada à Esquerda” possibilitou uma convergência
também nessas áreas entre os países latino-
americanos. O que se pensa, a priori, é que essa
convergência existiu, seja possibilitada pela orienta-
ção política desses mandatos ou pela UNASUL, que
acaba por ser uma das consequências desse fenô-
meno. Para tanto, foram escolhidos 2 mandatos
presidenciais – um anterior e outro posterior ao fe-
nômeno estudado – de 8 países diferentes – dentre
eles membros e não-membros da UNASUL, de ori-
entação política mais à direita e mais à esquerda –
para a análise. O método adotado é o QCA, visando
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
182
identificar se houve ou não a referida convergência.
O trabalho pretende, ainda, contribuir para os estu-
dos sobre a convergência de políticas públicas e
processos relacionados, como a difusão/
transferência dessas políticas e a cooperação inter-
nacional, bem como demonstrar que as áreas estu-
dadas estão sujeitas a serem afetadas por mudanças
nas políticas doméstica e regional, a despeito do
insulamento de suas burocracias em parte dos paí-
ses.
Thallita Gabriele Lopes Lima
A Arquitetura da exclusão na política de integração
francesa
Trabalho Completo
Resumo: A pesquisa procura identificar os processos
pelos quais a associação entre imigração e insegu-
rança é naturalizada e foi mobilizada em um conjun-
to de políticas e instituições na França. O objetivo
desta é compreender a construção e institucionali-
zação do imigrante enquanto uma ameaça à ordem
na França, especialmente a partir dos anos 1990 e
início do governo de Nicolas Sarcozy (2007-2012)
quando o processo de securitização passa a ser mais
claramente institucionalizado e normatizado através
de práticas mais excludentes. Para tal, mobiliza um
instrumental analítico da Sociologia Política Interna-
cional que evidencia os principais problemas do pro-
cesso de securitização da imigração, apontando que
a construção coletiva da ameaça não decorre ape-
nas da linguagem, mas sim de uma complexa rede
de convergência de significados e conhecimento
sobre segurança que desenvolve uma diversidade
de ferramentas de governar o perigo. Para compre-
ender o desenvolvimento dessa arquitetura de inse-
gurança, a pesquisa é constituída por três movimen-
tos analíticos principais: abordagem dos processos
segundo os quais a imigração passou a ser entendi-
da como ameaça à França, e como isso legitimou a
ampliação do controle e o enrijecimento das fron-
teiras; analise da relação pautada em um conheci-
mento estatístico, entre os discursos de insegurança
urbana e o “problema” migratório e como esses
pautam práticas burocráticas excludentes; e obser-
var a cristalização dessa arquitetura, tendo como
base a adoção de uma política migratória seletiva,
fundamentada em uma retórica de integração que
contribui em larga medida para a institucionalização
de práticas discriminatórias por parte das agências
estatais. Por fim, a pesquisa observa a circularidade
com que operam o discurso de insegurança na Fran-
ça e a retórica da integração em um contexto de
naturalização da relação imigração-insegurança. En-
tão, busca-se expor os limites do “modelo francês
de integração”, que, em nome de princípios univer-
salistas constrói o que pode ser considerado de uma
“integração excludente”
Thauan Santos
A política venezuelana para o petróleo sob a gestão
de Hugo Chávez (1999-2013): conquistas e fracassos
Coautor(es): Igor Fuser
Trabalho Completo
Resumo: Nos sucessivos mandatos presidenciais de
Hugo Chávez, entre 1999 e 2013, a Venezuela modi-
ficou dramaticamente sua política para a indústria
do petróleo, o alicerce da economia do país. Chávez
assumiu o governo com o objetivo de retomar o
controle da riqueza petroleira pelo Estado a fim de
financiar políticas sociais de amplo alcance. Entre as
medidas adotadas, destacam-se: a) controle direto
da estatal Petroleos de Venezuela (PDVSA) pelo Po-
der Executivo, eliminando a situação anterior de
relativa autonomia; b) revisão compulsória dos con-
tratos com empresas estrangeiras, elevando impos-
tos e royalties; c) utilização da receita das exporta-
ções para projetos sociais; d) reposicionamento da
Venezuela no contexto internacional, com a defesa
da elevação dos preços. Na aplicação dessa agenda,
descumpriu-se a meta de expandir a capacidade
produtiva da PDVSA, o que inviabilizou o aumento
das exportações. E o governo se mostrou incapaz de
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
183
utilizar a renda petroleira para reestruturar a econo-
mia venezuelana de modo a superar a histórica situ-
ação de dependência rentista. Um balanço dos re-
sultados alcançados por ocasião da morte de Chá-
vez, em 2013, apresenta nuances e paradoxos que
desafiam avaliações simplistas. Por um lado, o líder
venezuelano ampliou significativamente a captação
estatal da renda petroleira e foi bem sucedido em
utilizá-la para a redução da “dívida social” em áreas
como saúde, educação e moradia popular, constru-
indo uma sólida base de apoio político entre as ca-
madas desfavorecidas da população. Por outro lado,
as mudanças na governança petroleira deflagraram
um conflito com atores domésticos e internacionais
em tal escala que manteve a agenda governamental
voltada o desempenho social no curto prazo, pré-
condição para o triunfo eleitoral.
Thauan Santos
Crise na Venezuela: qual crise?
Coautor(es): Andrea Ribeiro Hoffmann
Trabalho Completo
Resumo: O painel analisa padrões de continuidade e
ruptura em aspectos centrais da sociedade venezu-
elana, tais como militarização, relações civil-
militares, economia política do petróleo e sistema
político, com o objetivo de contribuir para a com-
preensão sobre se, e de que forma, a situação con-
temporânea do país pode ser caracterizada como
uma de ‘crise’.
Thayane Queiroz S. de Jesus
O Fracking nos Estados Unidos: da estratégia geopolí-
tica aos seus desafios
Resumo: Embora tenha surgido no final dos anos
1940, o fraturamento hidráulico, também designado
fracking, desponta somente na década passada co-
mo o grande motor de incremento da produção pe-
trolífera estadunidense. Tal técnica não-
convencional de extração de hidrocarbonetos con-
siste na injeção de fluidos, sob alta pressão, em ca-
madas rochosas de xisto – outrora inexploradas co-
mercialmente – até que, uma vez fraturadas, as
mesmas liberem por vias forçosas o gás e o petróleo
nelas aprisionados. Pela magnitude de seus impac-
tos socioambientais, o fracking já é alvo de rechaço
por parte da sociedade civil estadunidense, sendo,
inclusive, banido oficialmente enquanto prática por
alguns estados da federação. As inquietações ati-
nentes ao tema tornam-se ainda mais medulares à
medida que Donald Trump galga o posto presidenci-
al motivado a fomentar a indústria dos combustíveis
fósseis (dentro da qual se insere o fracking), sobre-
tudo, por meio da liquidação de legislações ambien-
tais e da desvinculação dos Estados Unidos de com-
promissos internacionais, como o Acordo de Paris. A
julgar pelo exposto, torna-se premente uma refle-
xão acerca das motivações geopolíticas e estratégi-
cas subjacentes a um projeto de apoio sustentado à
atividade do fracking, anterior à própria administra-
ção Trump, em um contexto de reconfiguração de
poder a nível mundial. Para tanto, será realizado um
levantamento de dados com o objetivo de mapear a
indústria de xisto nos Estados Unidos, os impactos
de sua produção no mercado energético mundial,
bem como os efeitos socioambientais nocivos que
decorrem da atividade, tornando-a insustentável no
longo prazo. Assim, o esforço aqui então empreen-
dido vai no sentido de esboçar reflexões que, partin-
do de um enfoque mais holístico, sistêmico e multi-
disciplinar, permita-nos compreender o fenômeno
do fracking em sua complexidade, sem deixar de
vislumbrar, com isso, as grandes disputas de poder
que emolduram o cenário internacional.
Tiago Viesba Pini Inácio
Guerra de Guerrilha: estratégia e tática em evolução
e o caso do Boko Haram
Resumo: O presente trabalho buscará compreender
e analisar a evolução do Boko Haram, um grupo fun-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
184
damentalista islâmico nigeriano, enquanto um mo-
vimento guerrilheiro que, com o agravamento da
situação com as forças militares da Nigéria, passou a
utilizar de atos de terror numa tentativa de estrutu-
rar e/ou realizar a manutenção de seu projeto de
poder. Para tanto, na primeira seção desse trabalho
será discutido o conceito de guerrilha e como a bio-
política pode ser aplicada a essa modalidade de
guerra. Na segunda seção, serão estudados exem-
plos de guerrilhas na história e se buscará com isto,
captar determinadas características que possuam
em comum. E por fim, na última secção será realiza-
do o estudo de caso do Boko Haram como uma
guerrilha híbrida, sob a luz do conceito de biopolíti-
ca desenvolvido por Michel Foucault. A metodologia
utilizada baseia-se na busca de bibliografia e o de-
senvolvimento dos conceitos para serem utilizados
no estudo de caso, bem como se recorreu a artigos
publicados em revistas e fontes periódicas. Esse es-
tudo é justificado pela necessidade de se entender o
agravamento da situação na Nigéria e como a guer-
ra de guerrilha é ainda muito utilizada, mas mal
compreendida.
Victor Merola
A Institucionalização do Contraterrorismo: o caso da
inteligência estadunidense
Trabalho Completo
Resumo: O trabalho tem como objetivo analisar o
desenvolvimento de instituições criadas para o com-
bate ao terrorismo por meio do desempenho de
atividades de inteligência nacional nos Estados Uni-
dos, buscando elucidar as principais características
deste processo. O artigo expõe as contribuições da
teoria do neoinstitucionalismo histórico da ciência
política, permitindo a compreensão do fenômeno
da institucionalização. Um estudo detalhado é apre-
sentado, destacando as principais ocorrências que
guiaram a configuração dos atuais desenhos institu-
cionais e estratégias de combate ao terrorismo no
país. Ao seu fim, à luz da perspectiva neoinstitucio-
nalista, conclusões são feitas a respeito de aparen-
tes lógicas de centralização e normalização que per-
mearam a reforma da Comunidade de Inteligência
dos Estados Unidos no contexto da Guerra Global
ao Terror.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
185
Aline Crhistine Figueiredo Rangel
Os caminhos e descaminhos da inserção do eu na es-
crita das Relações Internacionais: a proposta autobio-
gráfica
Trabalho Completo
Resumo: Este trabalho busca apresentar o estado da
arte da autobiografia e da autoetnografia enquanto
metodologia nas Relações Internacionais. Partindo
de uma preocupação similar à de Walker e Bigo
(2007) sobre os cerceamentos interdisciplinares,
proponho pensarmos nas contribuições metodológi-
cas da Antropologia, refletindo sobre o "eu" en-
quanto categoria analítica que não só não necessita
ser apagada da produção acadêmica, como pode
prover novas formas de pensamento e escrita. A
inserção do “eu” não significa a elaboração de uma
autoanálise, mas deixar a memória e as experiências
pessoais agirem como informantes para “tornar de-
lirante aquela voz interior que é a voz dos outros em
nós” (DERRIDA apud. SPIVAK, 2010: 83). A relevân-
cia da autobiografia reside tanto em seu potencial
político na construção teórica, quanto na possibili-
dade de se borrar as fronteiras entre epistemologia
e ontologia, teoria e metodologia, ciência e literatu-
ra. Dentre as considerações finais deste trabalho,
está a importância da autobiografia e da autoetno-
grafia para campos como Feminismo, Pós-
colonialismo e Decolonialismo nas Relações Interna-
cionais. A incorporação do “eu” na produção textu-
al, portanto, propicia não só a criatividade e a inter-
disciplinaridade, mas também a abordagem inter-
seccional (raça, gênero e classe).
Amanda Poton Cavati de Siqueira
Estados Falidos: Uma Análise Decolonial
Trabalho Completo
Resumo: O mundo atual encontra-se dominado por
concepções europeias e estadunidenses. A Europa
Ocidental e os Estados Unidos (centro) colocam
seus conceitos em um patamar mais elevado que os
demais, estabelecendo seu modo de pensar como
superior. Com o fim da colonização formal, os países
periféricos passam a ser legalmente independentes.
Desse modo, a colonialidade se torna evidente, pois
a periferia permanece em posição subalterna, na
relação de dominação. O objetivo é analisar o con-
ceito eurocêntrico de Estado e seu impacto na defi-
nição de Estados Falidos, a partir de uma perspecti-
va decolonial, buscando salientar a importância de
uma nova definição de Estado, que leve em conside-
ração as particularidades da periferia. A colonialida-
de perpassa todas as arenas da vida, das mais sim-
ples às mais complexas. Um dos principais polos de
dominação é o campo do saber científico. O conhe-
cimento produzido no centro é considerado univer-
sal, enquanto a ciência periférica é tratada como
pensamento meramente regional. Os países perifé-
ricos se expressam apenas nos casos em que o cen-
tro considera sua voz passível de ser ouvida.
Do mesmo modo que nas demais áreas, a coloniali-
dade encontra-se na construção do conceito de Es-
tado. Autores eurocêntricos criaram uma definição
do que é Estado, o que o faz forte e qual a sua traje-
tória. Contudo, a conceituação foi realizada com
base na experiência europeia e assume a existência
de uma história linear e unidirecional. Logo, o mo-
delo ideal de Estado é o de Estado-Nação democrá-
tico liberal, imposição que ignora as particularidades
da periferia. Como contraponto ao Estado Forte, foi
criado o Estado Falido, países que não se encaixam
no molde estabelecido são taxados como falidos. A
determinação de elementos para a falência estatal
parte do princípio do conceito eurocêntrico de Esta-
do. Todavia, essa indicação feita por países hegemô-
nicos busca atender interesses próprios.
Ana Carolina Teixeira Delgado
Ruling the Other: Time as an Instrument of Power
and Violence in International Politics
TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
186
Coautor(es): Ramon Blanco
Resumo: The discipline of International Relations al-
ready unveiled a wide spectre of structures of po-
wer operating in the international scenario. Never-
theless, the discipline very frequently neglects an
important instrument of the operationalization of
power internationally. This paper enlarges the pro-
blematizations in the discipline by critically exami-
ning a pivotal element that functions as the funda-
mental core of a comprehensive and operative web
of rules in international politics – Time. It argues
that Time functions as a crucial instrument of power
and violence in international politics and, conse-
quently, is pivotal for ruling the Other internatio-
nally. The paper is structured in two sections. Firstly,
it contextualizes the analysis by discussing the im-
portance of considering Time as a fundamental ele-
ment for problematizing international politics. This
is advanced by evincing how Time is a pivotal instru-
ment of power that underlies the ruling of the
Other, which is operationalized by a violent double
movement – either by assimilation or by annihila-
tion. Finally, the paper delineates the origins of such
double movement, which has Time as its core featu-
re, in the writings of Francisco de Vitoria, Bartolomé
de las Casas and Juan Gines de Sepúlveda while pro-
blematizing the relationship with the ultimate Other
of Western modernity – the indigenous peoples in
the Americas.
Ana Paula Winck Alves
Racismo de Estado em Michel Foucault
Resumo: A seguinte pesquisa busca analisar a emer-
gência e as características do Racismo de Estado
segundo Michel Foucault. Para tanto, perpassa as-
pectos do poder soberano com direito de morte –
confisco – e sua transição para o biopoder que in-
terfere sobre a vida. Serão abordados aspectos ge-
rais desse poder que emerge com o Estado moder-
no, bem como, a disciplina dos corpos (corpo-
máquina) e a biopolítica da população (corpo-
espécie). Enquanto a disciplina do corpo-máquina é
o aspecto individualizante do biopoder, a biopolítica
do corpo-espécie é a face totalizante. Em segundo
lugar, explana-se acerca do discurso da guerra das
raças e seus desenvolvimentos até tornar-se um dis-
curso racista que, através da normalização, legitima
o genocídio de uma sociedade sobre outras e sobre
ela mesma. Essa normalização passa a ser seguida
por uma população devido à biopolítica, permitindo
a exclusão de todo o outro que não se encaixa. Sen-
do assim, a normalização é o que permite ao Estado
moderno o acesso no direito de vida e morte da po-
pulação dentro do novo contexto de um poder que
gere a vida. É na junção da disciplina com a biopolí-
tica que o Racismo de Estado entra como mecanis-
mo evocador do direito de morte. Deste modo, ana-
lisa-se a constituição, origem e características do
Racismo de Estado, entre elas, seu objetivo de elimi-
nar as emaças biológicas ao corpo social normaliza-
do. Além disso, realiza-se uma breve explanação de
algumas imagens desse racismo em prol da superio-
ridade da raça, em diferentes tempos históricos e
de acordo com suas particularidades, segundo seus
elementos mais importantes. Observa-se, portanto,
que é um mecanismo de poder que está presente
tanto em Estados totalitários quanto em Estados de
bem-estar social. E, por fim, busca-se abordar bre-
vemente nesta pesquisa o Racismo de Estado e sua
relação e influência na geopolítica dos Estados.
Andréa B. Gill
Reinterpretações do Brasil: relações inter/nacionais
para além da ótica eurocêntrica
Coautor(es): Thiago Alves Braz
Resumo: Este trabalho pretende pôr em conversa
interpretações reconhecidas como clássicas no pen-
samento social e político brasileiro com reinterpre-
tações críticas, as quais por muito tempo estiveram
excluídas do campo de disputa acerca do lugar do
Brasil, tanto de dentro quanto de fora. O movimen-
to de nos situarmos na produção intelectual e políti-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
187
ca, inter/nacionalmente, possibilita repensar os ter-
mos através dos quais o Brasil e seus habitantes são
inseridos no mundo pós-colonial, abrindo, deste
modo, diversos caminhos em direção à descoloniza-
ção efetiva das estruturas de poder, saber, ser e vi-
ver em sociedade. Para tanto, o trabalho se propõe
a mapear os campos de disputa, colocando as pers-
pectivas, os métodos, as teorias e auto/imagens do
Brasil em contexto, de maneira a que as diversas
interpretações do Brasil, suas heranças ibéricas, co-
loniais e escravistas sejam explicitadas e, sobretudo,
tornadas objeto de investigação crítica. Em um se-
gundo momento, o estudo busca aprofundar-se na
análise das implicações em matéria de processos de
governança do Brasil, de demarcação de território,
centros e periferias, a fim de ainda, nesse mesmo
movimento, explorar caminhos rumo a uma renar-
ração do Brasil que dê conta de suas hierarquias,
violências e resistências constitutivas, dentro e para
além de suas fronteiras. Assim, será possível pôr em
relevo formas e modos como epistemologias do sul
podem recentrar as discussões das relações interna-
cionais em um mundo pós-colonial.
Andréa B. Gill
Epistemologias do Sul: Rumo à descolonização das
estruturas de saber/poder nas Relações Internacio-
nais
Coautor(es): Marta Regina Fernandez y
Resumo: Este painel se propõe a colocar em conver-
sa diversas perspectivas e experiências históricas
por muito tempo marginalizadas na busca por com-
preender a constituição do nosso mundo contem-
porânea e seus desafios herdados. Objetiva-se re-
centrar os pontos de partida e referência no estudo
das relações internacionais para além da ótica eu-
rocêntrica que prevalece e, assim, produzir novas
lentes analíticas capacitadas a lidar com as comple-
xas relações de poder que estruturam o sistema
(inter)nacional. Dando prioridade a abordagens de-
coloniais, diaspóricas e interseccionais, será possível
nomear e responder às condições politicas, econô-
micos, sociais e culturais que informam os termos
através dos quais o mundo pós-colonial vem sendo
pensado. Como nos ensina um dos criadores da
perspectiva afrocentrada, Molefi Kete Asante, “Toda
linguagem é epistêmica. Nossa linguagem deve con-
tribuir para o entendimento de nossa realidade.
Uma linguagem revolucionária não deve embriagar,
não pode levar à confusão”. Nesse espírito, as con-
tribuições desse painel pretendem oferecer cami-
nhos práticos para análise de conjuntura, centrali-
zando a necessidade de racializar para politizar as
categorias empíricas, analíticas e normativas que
mobilizamos para interpretar as relações internacio-
nais. Essas reorientações conceituais e políticas nos
possibilitarão afinar nossa capacidade de ler, anali-
sar e responder às complexidades do mundo que
herdamos a partir dos diferentes loci de enunciação.
O primeiro passo é reconhecer os termos através
dos quais esse debate se dá no estudo das relações
internacionais. Através de uma crítica dos termos
eurocentrados que (des)qualificam sujeitos de saber
e poder, Marcos de Jesus Oliveira busca evidenciar
que a ausência de um debate sobre o colonialismo
contribui para sua continuidade nas práticas estatais
contemporâneas de reconhecimento de grupos his-
toricamente marginalizados e/ou excluídos. Esse
trabalho enfatiza os desafios colocados pelas teorias
pós-coloniais às teorias do reconhecimento na supe-
ração do que qualifica como “déficit colonial” das
tendências hegemônicas. Conforme se argumenta-
rá, o déficit está em não teorizar a colonialidade co-
mo a face necessária da modernidade, a relação en-
tre modernidade e extermínio/terror. Nesse contex-
to, de Jesus Oliveira oferecerá uma releitura de uma
das referências chave nos estudos pós-coloniais,
Pele negra, máscaras brancas de Frantz Fanon, vi-
sando contribuir à descolonização das teorias do
reconhecimento nos estudos das relações internaci-
onais. O objetivo deste trabalho é apresentar alguns
dos limites das teorias do reconhecimento quando
pensadas desde a perspectiva (pós)colonial e em
contextos não-europeus. No percalço deste objeti-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
188
vo, ele inicia essa reflexão com uma breve exposição
da problemática com ênfase na tese de que, a des-
peito do esforço de inúmeros/as pensadores/as
contemporâneos na redefinição do paradigma do
reconhecimento, estes/as ainda parecem falar des-
de um ponto de vista eurocentrado mesmo quando
se envolvem no debate dos direitos e das reivindica-
ções de indígenas e/ou de sujeitos em situação dias-
pórica. Assim ele discute a proposta de Fanon como
uma das mais paradigmáticas e influentes nos estu-
dos (pós)coloniais, destacando sua contribuição
acerca da existência de uma esfera sub-ontológica à
qual sujeitos racializados estão circunscritos e que
bloqueia o movimento de reconhecimento de suas
subjetividades. Dando continuidade a essa reflexão
sobre as potencialidades políticas e conceituais de
recentrar sujeitos historicamente marginalizadas na
produção de conhecimento e autoridade, Angela
Maria de Souza trabalha movimentos da diáspora
focando em Mulheres Negras na/da fronteira. Par-
tindo de uma perspectiva de crítica ao colonialismo
(Césaire, 2010a e 2010b; Fanon, 2008) este artigo
procura aprofundar a discussão sobre a interseccio-
nalidade (Crenshaw, 1979) iniciada a partir da pes-
quisa “Yaba na Luta: o empoderamento da Mulher
Negra na Fronteira” (FLACSO – Argentina, 2016). O
objetivo principal é abordar a atuação de Mulheres
Negras nas fronteiras entre Argentina, Brasil e Para-
guai. Com esta abordagem, Souza pretende proble-
matizar o próprio conceito de fronteira que, muito
além de questões geográficas internacionais, aqui
está abordando fluxos e movimentos gerados na
Diáspora (Hall, 2003 e Gilroy, 2008) e que definem
espaços e relações a partir destas mulheres em mo-
vimento. Com base nos dados etnográficos da pes-
quisa, ela afirma que estas Mulheres Negras, a par-
tir de suas atuações estabelecem transgressões
(hooks, 2008) por marcarem espaços e lugares
(Gonzales, 1983) que são rediscutidos e redefinidos
a partir de suas presenças e atuações. A proposta de
Souza é aprofundar este debate sobre as formas de
atuação e desafios destas mulheres, que perpassa
suas trajetórias de vida e profissional, enquanto Mu-
lheres Negras, marcando um posicionamento políti-
co de resistência entre fronteiras. São mulheres em
distintos contextos nacionais, porém com problemá-
ticas comuns que envolvem o enfrentamento ao
racismo na diáspora em contexto latino-americano.
O trabalho apresentado por Thiago Braz e Andréa
Gill foca nossa atenção no contexto brasileiro como
uma forma de dimensionar como aqui enxerguamos
as relações internacionais para além da ótica eu-
rocêntrica. Este trabalho pretende pôr em conversa
interpretações reconhecidas como clássicas no pen-
samento social e político brasileiro com reinterpre-
tações críticas, as quais por muito tempo estiveram
excluídas do campo de disputa acerca do lugar do
Brasil, tanto de dentro quanto de fora. O movimen-
to de nos situarmos na produção intelectual e políti-
ca, inter/nacionalmente, possibilita repensar os ter-
mos através dos quais o Brasil e seus habitantes são
inseridos no mundo pós-colonial, abrindo, deste
modo, diversos caminhos em direção à descoloniza-
ção efetiva das estruturas de poder, saber, ser e vi-
ver em sociedade. Para tanto, o trabalho se propõe
a mapear os campos de disputa, colocando as pers-
pectivas, os métodos, as teorias e auto/imagens do
Brasil em contexto, de maneira a que as diversas
interpretações do Brasil, suas heranças ibéricas, co-
loniais e escravistas sejam explicitadas e, sobretudo,
tornadas objeto de investigação crítica. Em um se-
gundo momento, o estudo busca aprofundar-se na
análise das implicações em matéria de processos de
governança do Brasil, de demarcação de território,
centros e periferias, a fim de, ainda nesse mesmo
movimento, explorar caminhos rumo a uma renar-
ração do Brasil que dê conta de suas hierarquias,
violências e resistências constitutivas, dentro e para
além de suas fronteiras. Assim, esse trabalho põe
em relevo formas e modos como epistemologias do
sul podem recentrar as discussões das relações in-
ternacionais em um mundo pós-colonial. As contri-
buições propõem um dialogo entre si e abrem uma
conversa mais ampla que precisa ser avançada nas
universidades brasileiras a cada dia sendo ocupadas
e disputadas por corpos tradicionalmente excluídos
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
189
das instituições dirigentes da sociedade moderna.
Em uma mundo globalizado cujas fronteiras são
crescentemente imbricadas, é preciso repensar os
termos através dos quais sujeitos de saber e poder
são (des)qualificados para discussões urgentes acer-
ca das desigualdades e violências que constituem a
nossa condição contemporânea. As propostas deste
painel apostam na necessidade de recentrar os nos-
sos pontos de partida e referência para além da óti-
ca eurocêntrica, visando a uma descolonização efe-
tiva das estruturas de saber e poder nas relações
internacionais.
Angela Maria de Souza
Mulheres Negras na/da Fronteira: Movimentos da
diáspora
Resumo: Partindo de uma perspectiva de crítica ao
colonialismo (Césaire, 2010a e 2010b; Fanon, 2008)
este artigo procura aprofundar a discussão sobre a
interseccionalidade (Creshaw, 1979) iniciada a partir
da pesquisa “Yaba na Luta: o empoderamento da
Mulher Negra na Fronteira” (FLACSO – Argentina,
2016). O objetivo principal é abordar a atuação de
Mulheres Negras nas fronteiras entre Argentina,
Brasil e Paraguai. Com esta abordagem, pretende-se
problematizar o próprio conceito de fronteira, que
muito além de questões geográficas internacionais,
aqui estão abordando fluxos e movimentos gerados
na Diáspora (Hall, 2003 e Gilroy, 2008) e que defi-
nem espaços e relações a partir destas mulheres em
movimento. Com base nos dados etnográficos da
pesquisa é possível afirmar que estas Mulheres Ne-
gras, a partir de suas atuações estabelecem trans-
gressões (hooks, 2008) por marcarem espaços e lu-
gares (Gonzales, 1983) que são rediscutidos e rede-
finidos a partir de suas presenças e atuações. A pro-
posta é aprofundar este debate sobre as formas de
atuação e desafios destas mulheres, que perpassam
suas trajetórias de vida e profissional, enquanto Mu-
lheres Negras, marcando um posicionamento políti-
co de resistência entre fronteiras. São mulheres em
distintos contextos nacionais, porém com problemá-
ticas comuns que envolvem o enfrentamento ao
racismo na diáspora em contexto latino-americano.
Anna Paula Ramos
"Da definição e dos limites conceituais da “gestão das
grandes potências” a partir da Escola Inglesa das Re-
lações Internacionais: uma comparação entre as po-
sições da França e da Alemanha frente ao recrudesci-
mento da crise migratória"
Resumo: Numa lógica assimétrica entre os Estados,
as denominadas grandes potências sempre tenta-
ram controlar os movimentos do Sistema Internaci-
onal e a expansão da Sociedade Internacional, cons-
tituindo-se no que Hedley Bull (2002), principal ex-
poente da Escola Inglesa das Relações Internacio-
nais, intitulou de “gerenciamento” ou “gestão das
grandes potências”. Dessa forma, esses Estados bus-
cam intensificar os seus ganhos e manter bases sóli-
das de uma sociedade internacional através da for-
mação de zonas de influência de caráter global e
regional ou pelo protagonismo em diferentes arran-
jos institucionais internacionais. Diante, entretanto,
de uma crise de mobilidade humana, com refugia-
dos saindo da África e do Oriente Médio e ingres-
sando na Europa, cremos que se apresente como
desafio novo para esse sistema de administração
das Grandes Potências. E a respostas desses Estados
às reivindicações da sociedade internacional no que
toca à matéria se dá com base na adoção de uma
nova concepção da ajuda humanitária, aparente-
mente democrática e intitulada de "novo humanita-
rismo", tentando manter deste modo o controle do
“internacional”. Assim, a presente pesquisa preten-
de tanto compreender os significados desses con-
ceitos- “gestão das grandes potências” e “novo hu-
manitarismo”- problematizando os seus limites con-
ceituais, quanto, numa dimensão mais empírica,
comparar as posições políticas adotadas em relação
ao recrudescimento da questão migratória a partir
de 2015 por parte de duas grandes potências oci-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
190
dentais - França e Alemanha -, com vista a compre-
ender quais são os argumentos nos quais as Gran-
des Potências se apoiam em prol da manutenção de
seu velho sistema de gestão internacional. Obser-
vando ainda se a presença da França como membro
permanente do Conselho de Segurança da ONU e a
ausência da Alemanha em tal órgão interfere em
certa medida nas posições adotadas por esses Esta-
dos no contexto da crise migratória atual, já que es-
se órgão é visto como monopolizador da tomada de
decisão internacional das grandes potências.
Beatriz Rodrigues Bessa Mattos
Ontologies of Security: Two cases for exploration
Resumo: In the most recent times, the framework of
security understood through its ontological basis
has gained salience. Introduced by Ronald David La-
ing in the 1960s through his studies of psychoa-
nalysis and inserted within the social sciences by
Anthony Giddens in the late 1990s, the concept of
ontological security started to figure amongst the
International Security Studies (ISS) throughout both
state-centered, as Jeniffer Mitzen´s and Brent Stee-
le´s, and individual approaches, such as Catarina
Kinnvall´s and Nick Vaughan-Williams´s. Although
there are significant differences between these two
trends, both distance their selves from the mains-
tream thinking by not merely correlating security to
physical survival, but to a concept of biographical
continuity. In stimulating new understandings on
security and emphasizing how the search for ontolo-
gical security can trigger instabilities and conflicts
through dynamics that differ than those considered
by the mainstream studies, the ontological security
framework promoted significant contributions to
the ISS field. In this paper, we intend to contribute
to the ontological security literature by exploring
two different cases of how security, rather than
being a fixed concept attached to physical survival,
is also an issue dependent on different settings of
the structure that groups and individuals access and
perceive their self-identity. One is the case of the
Marshallese inhabitants, whose drive for survival is
attached to the very existence of their ancestral is-
lands, threatened by rising sea levels and climate
change. The second is the case of the Zapatistas in
southeastern Mexico, and their anti-capitalist,
hybrid demand for social, political and economic
transformation.
Camila Feix Vidal
Perspectivas Teóricas Feministas do Norte e Sul Glo-
bal: Um diálogo fundamental para as Relações Inter-
nacionais
Coautor(es): Fabiane Simioni
Trabalho Completo
Resumo: Numa área em que concepções teóricas
Realistas predominam, trazer a dimensão de gênero
para a análise da própria emergência das RI enquan-
to campo acadêmico é uma tarefa fundamental. Se
atualmente a perspectiva feminista encontra espaço
nos manuais de teorias nas RI (ainda que residual),
muito se deve à Cynthia Enloe, Christine Sylvester e
Ann Tickner que, a partir dos anos 1980, contribuiri-
am na elaboração de uma agenda de pesquisa ocu-
pada em trazer à tona as mulheres nas análises do
sistema internacional. De outra parte, a partir dos
anos de 1980, os encontros e debates entre pós-
colonialistas, com origem no chamado Sul Global,
desencadearam uma série de problematizações
acerca das possibilidades de investigação da
“colonialidade do gênero” (QUIJANO, 2000). A partir
de extrapolações teóricas da “colonialidade do po-
der”, teóricas feministas passaram a desenvolver a
noção de um sistema mundo colonial de gênero
(LUGONES, 2008; 2014; SEGATO, 2012). Assim, ob-
jetiva-se aqui mapear os pontos de contato e de dis-
tinção entre essas duas perspectivas: se de um lado
há a preocupação em situar “onde estão as mulhe-
res” (ENLOE, 2014) – um exercício intrinsecamente
descritivo; do outro lado há a necessidade de enten-
der e expor em que condições essas mulheres estão
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
191
submetidas - um exercício crítico a partir da análise
das estruturas sociais que (re)produzem a domina-
ção masculina. O objetivo, assim é empreender um
esforço de compreensão teórica do/no campo das
RI, a partir dos (des)encontros entre as perspectivas
teóricas feministas situadas no Norte e Sul Global
porque fundamentais para o desenvolvimento de
uma mirada crítica sobre o lugar que ocupam as
mulheres. Através de uma revisão da literatura,
marcadamente sobre a produção das autoras cen-
trais das duas perspectivas, esperamos apreender
as diferenças epistemológicas e metodológicas en-
tre os dois grupos que compõem um diálogo funda-
mental para o avanço teórico no campo das RI.
Carolina Aparecida dos Santos Bueno
América Latina: A Concorrência na Integração Regio-
nal
Resumo: O trabalho estuda blocos econômicos pre-
sentes na América Latina e como a concorrência en-
tre eles impactam em seus desenvolvimentos. O
projeto irá analisar o relacionamento entre Aliança
do Pacífico, Aladi, Unasul e Mercosul. O objetivo é
testar a hipótese de que as diferentes iniciativas de
integração possuem um caráter de sobreposição.
Para tanto, a conduta adotada será contrapor a pos-
tura dos blocos supracitados às descrições de suas
missões e visões para saber se há mais de um com a
mesma ideia. A ALADI foi criada em 1980 para pro-
mover o desenvolvimento econômico e social da
região. A Aliança do Pacífico foi estabelecida oficial-
mente em 2011 e tem por objetivos o comércio li-
vre e integração econômica. O Mercosul foi criado
no início da década de 90 e busca garantir a livre
circulação de bens, serviços e fatores produtivos
entre seus membros. E a UNASUL é um bloco que
visa a fortalecer as relações comerciais, culturais,
políticas e sociais entre as doze nações da América
do Sul, criado em 2008. É importante analisar o pa-
pel e o formato de cada um dos blocos. Observamos
que Aliança do Pacífico, Aladi, Mercosul e Unasul
buscam o desenvolvimento da região de maneira
semelhante, porém as três primeiras mostram um
foco mais econômico enquanto a UNASUL busca
uma integração mais comprometida com o fortaleci-
mento social e democrático da região. Podemos
identificar atuações muito parecidas que de certa
maneira se sobrepõem, mas também atuações mais
amplas em campos diferentes. Outro ponto desta-
cável é a influência das ondas do regionalismo na
criação das organizações, demonstrando uma apa-
rente inflexibilidade referente a adaptação dos blo-
cos ao novo contexto político e econômico. Foram
identificadas as atuações de cada bloco, seu papel
no cenário da região e como as ondas do regionalis-
mo podem ter influenciado na criação das organiza-
ções.
Eduardo Costa Pantoja
Cultura Popular e Teoria das Relações Internacionais:
Os Alvos Políticos do Último Álbum de M.I.A.
Resumo: A indústria da cultura popular tem sido ana-
lisada como uma parte do cenário internacional
contemporâneo, podendo até mesmo ser percebida
como vertente do soft power cultural. O objetivo
deste trabalho é analisar o teor político incrustado
na música do último álbum de M.I.A. por meio de
aproximações e debates em Teoria na disciplina de
Relações Internacionais. Considerando as visíveis
limitações e dificuldades que o campo possui acerca
desse tema, o trabalho se sustenta na relevância de
observar a cultura popular como esfera influente da
política internacional e, também, no desafio ousado
de abordar objetos não convencionais ao mainstre-
am das teorias de RI. Para tal, são identificadas as
preocupações da artista, e estas são interpretadas,
através de apanhados bibliográficos e da promoção
de discussões entre teóricos pertinentes, em três
diferentes perspectivas em Teoria: a feminista, a
pós-colonial e a construtivista. O trabalho aproxima
as contribuições feministas focadas na segurança
para convergir com fronteiras e a crise de refugia-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
192
dos, observadas como os principais alvos políticos.
As perspectivas pós-coloniais são abordadas e conci-
liadas ao objeto a fim de entender o caráter de
resistência e luta por voz e espaço existente no ál-
bum em questão. Ainda busca utilizar dos estudos
construtivistas acerca de discurso e identidade para
entender as motivações, os mecanismos e as princi-
pais preocupações de M.I.A. Os resultados explicam
como as associações entre os alvos políticos e as
abordagens teóricas puderam ser alcançadas por
meio de estudos de referência e não raras analogias
entre M.I.A e o Estado. As conclusões do trabalho
baseiam-se nesses elos de análise, explanando parti-
cularmente a crise de refugiados no que diz respeito
às premissas fundamentais de cada teoria e à im-
portância de analisar a cultura popular como instru-
mento de dominação, ainda reconhecendo limita-
ções teóricas e encorajando novos estudos acerca
deste item.
Fabiane Simioni
Perspectivas Teóricas Feministas do Norte e Sul Glo-
bal: Um diálogo fundamental para as Relações Inter-
nacionais
Coautor(es): Camila Feix Vidal
Trabalho Completo
Resumo: Numa área em que concepções teóricas
Realistas predominam, trazer a dimensão de gênero
para a análise da própria emergência das RI enquan-
to campo acadêmico é uma tarefa fundamental. Se
atualmente a perspectiva feminista encontra espaço
nos manuais de teorias nas RI (ainda que residual),
muito se deve à Cynthia Enloe, Christine Sylvester e
Ann Tickner que, a partir dos anos 1980, contribuiri-
am na elaboração de uma agenda de pesquisa ocu-
pada em trazer à tona as mulheres nas análises do
sistema internacional. De outra parte, a partir dos
anos de 1980, os encontros e debates entre pós-
colonialistas, com origem no chamado Sul Global,
desencadearam uma série de problematizações
acerca das possibilidades de investigação da
“colonialidade do gênero” (QUIJANO, 2000). A partir
de extrapolações teóricas da “colonialidade do po-
der”, teóricas feministas passaram a desenvolver a
noção de um sistema mundo colonial de gênero
(LUGONES, 2008; 2014; SEGATO, 2012). Assim, ob-
jetiva-se aqui mapear os pontos de contato e de dis-
tinção entre essas duas perspectivas: se de um lado
há a preocupação em situar “onde estão as mulhe-
res” (ENLOE, 2014) – um exercício intrinsecamente
descritivo; do outro lado há a necessidade de enten-
der e expor em que condições essas mulheres estão
submetidas - um exercício crítico a partir da análise
das estruturas sociais que (re)produzem a domina-
ção masculina. O objetivo, assim é empreender um
esforço de compreensão teórica do/no campo das
RI, a partir dos (des)encontros entre as perspectivas
teóricas feministas situadas no Norte e Sul Global
porque fundamentais para o desenvolvimento de
uma mirada crítica sobre o lugar que ocupam as
mulheres. Através de uma revisão da literatura,
marcadamente sobre a produção das autoras cen-
trais das duas perspectivas, esperamos apreender
as diferenças epistemológicas e metodológicas en-
tre os dois grupos que compõem um diálogo funda-
mental para o avanço teórico no campo das RI.
Felipe Da Rosa Chaves
A Repercussão Internacional Do Artigo “THE CASE
FOR COLONIALISM” e a Questão Ética-cientifíca na
Geopolítica do Conhecimento.
Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo
analisar as implicações científico-políticas decorren-
tes da publicação do artigo “The Case for Colonia-
lism” pelo períodico Third World Quaterly, com exis-
tência de 39 anos. A publicação do artigo de Bruce
Gilley, não corresponde àorientação acadêmico-
normativa do jornal, reconhecido por abordar de
maneira crítica as questões que envolvem o Sul-
Global. Diante disso, os comentários da publicação
geraram estranhamento por retratar o período colo-
nial como “objetivamente benéfico e subjetivamen-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
193
te legítimo (Gilley, 2017, p.3)” na maior parte dos
lugares em que foi mantido. Afirma que a saída para
a pobreza e o subdesenvolvimento econômico em
alguns lugares do Sul-Global seria a instauração dos
modos de governança coloniais; recolonizando algu-
mas áreas; e criando novas colônias ocidentais a
partir do zero (Ibid., p.9)”. A publicação do artigo
teve repercussão imediata na comunidade científica
internacional, sendo responsável por suscitar uma
série de questões envolvendo honestidade intelec-
tual, ética acadêmica e falsificação histórica – além
dos próprios questionamentos acerca da sua avalia-
ção e aprovação (sem o sistema de revisão dupla
por pares cegos). Dentre as reações acadêmicas,
teve-se a demissão em protesto de quinze dos trinta
e quatro membros do conselho editorial da revista.
Somaram-se as petições online que ultrapassaram
dez mil signatários, ― em sua maioria, membros da
comunidade acadêmico-científica internacional―,
solicitanto a retirada do artigo. O editor da revista
Current Affairs, Nathan J. Robinson, comparou a dis-
torção dos eventos apresentada por Gilley com uma
negação ao Holocausto (Robinson, 2017).
Dado o exposto, é importante observar como essas
visões estão inseridas na produção do conhecimen-
to global, diluídas em argumentos que tangem geo-
política, ética de pesquisa e publicação. Faz-se im-
portante também analisar o imaginário colonizador
defendido pelo conteúdo do artigo, , compreenden-
do a tentativa de reescrita da história apresentada
na publicação através do negacionismo, falsificação
e distorção históricas.
Fernando Jose Ludwig
As fronteiras da América do Sul à luz da Teoria Crítica
Resumo: Ao longo da história das Relações Internaci-
onais, as fronteiras foram marginalizadas em termos
teóricos. Por um lado, esteve subjacente à outros
conceitos, como o de soberania, território, seguran-
ça, guerra, paz, entre outros. Por outro lado, na prá-
tica, normalmente é vista como fonte de conflituali-
dade, ou meramente como limite territorial. Assim,
não é surpresa que esta condição de marginaliza-
ção, a qual chamaremos de visão tradicional, forma-
ram uma interpretação hegemônica até o final da
guerra fria. Contudo, o fim do conflitos bipolar e o
boom da integração regional a partir da década de
1990, o papel da fronteira tomou contornos mais
dinâmicos, complexos e multidimensionais. Criou-se
uma ideia de que vivemos num mundo sem frontei-
ras, entretanto, advoga-se que as fronteiras tem um
novo papel na construção do mundo atual. Assim, o
presente artigo visa escrutinar de que forma este
conceito de fronteira pode ser visto no âmbito das
teorias da Relações Internacionais, mais especifica-
mente através da teoria crítica. Portanto, argumen-
ta-se que a fronteira deve ser redirecionada para o
cerne das discussões acerca das teorias das relações
internacionais, através da emancipação de sua
acepção tradicional com o intuito de realocar sua
importância e discussão para o cerne das Relações
Internacionais. Passando, portanto, de conceito sub-
jacente, para principal. Na prática tal re-
conceptualização implica num redirecionamento
das políticas (tanto estatais quanto internacionais)
alusivas as regiões fronteiriças da América do Sul.
De forma a melhor responder as problemáticas o
presente artigo está subdivido em três etapas, sen-
do elas: num primeiro momento exploraremos os
aspectos teóricos e evolução conceitual das frontei-
ras; posteriormente, veremos as premissas da teoria
crítica em função dos distintos aspectos inerentes a
construção da realidade fronteiriça; e, por fim, bus-
car-se-á realizar uma caracterização desta constru-
ção teórica para a realidade Sul-Americana.
Francine Rossone de Paula
Mapeamentos violentos da paz e da ordem: estética
e a reprodução social da vida
Resumo: O Brasil foi classificado como um dos países
mais perigosos do mundo, segundo o relatório da
anistia internacional de 2016. Em relatório do Fó-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
194
rum Brasileiro de Segurança Pública, um estudo de-
monstrou que houve mais mortes violentas no Brasil
do que na Síria em 2015. Analistas destacam que o
número de pessoas que morrem violentamente no
Brasil é comparável com o número de mortes vio-
lentas registrado em ‘zonas de guerra’. A inteligibili-
dade de comparações como essa se torna possível
ao passo que apontam para o que é comumente
visto como uma anormalidade, notadamente que
violência está ‘fora do lugar’. Em análises tradicio-
nais da guerra e da paz, violência ainda é frequente-
mente associada à anarquia, desordem e morte,
enquanto paz é associada a espaços políticos con-
trolados e ‘domesticados’ nos quais a vida humana
se torna possível. Este artigo desafia tais premissas
examinando formas por meio das quais a separação
entre espaços de vida e de morte no pensamento
político se sustenta sobre um sistemático e violento
gerenciamento de ‘aparências’ que repetidamente
resulta na destruição deliberada de presenças inde-
sejáveis em tais espaços ditos ‘políticos’, e no desa-
parecimento silencioso e rotineiro (uneventful) de
corpos. Propõe-se uma exploração da relação entre
geografias da violência e a estética de vida e morte
em espaços urbanos. A presente análise é desenvol-
vida a partir da consideração de dimensões simbóli-
cas da violência e da paz, das divisões entre ‘dentro’
e ‘fora’, da arquitetura da violência implicada nas
construções e destruições física e representacional
de espaços urbanos, bem como da problematização
da estética de vida e morte mobilizada nesses pro-
cessos através dos quais somente alguns corpos e
lugares estão autorizados a ‘ser’ (ou ‘aparecer’) em
nome da segurança, da política e da reprodução de
certas formas de vida.
Francisco Eduardo Lemos de Matos
Por um Resgaste da Liberdade: uma discussão da dig-
nidade da política em períodos de excepcionalidade
Coautor(es): Mariana Caldas Pinto Ferreira
Resumo: A discussão sobre liberdade é um tema ne-
vrálgico na tradição da ciência política ocidental. A
compreensão da atividade política é bastante influ-
enciada pelas tensões entre política e violência, nas
quais, dependendo a perspectiva teórica abordada,
muitas vezes são termos são usados enquanto sinô-
nimos. Em outras palavras, há uma naturalização
imediata que permite equacionar violência e políti-
ca, como se não fosse possível haver política sem
violência, gerando, portanto, um certo desconforto
tentar ao separá-los como fenômenos distintos. Es-
sa confusão conceitual é evidente na disciplina de
Relações Internacionais ao equipar as atitudes polí-
tica dos Estados modernos ao acúmulo de poder
por meio da violência. Dessa forma, essa literatura
mais clássica da disciplina deixa pouco espaço no
que tange ao fenômeno da liberdade, limitando-a à
um idealismo conceitual. Evidentemente, violência e
política são conceitos que se articulam entre si, mas
torna-se relevante compreender essa relação usan-
do como prisma a problemática da liberdade e liber-
tação. Diante disso, este trabalho almeja priorizar a
liberdade enquanto um sentido norteador da pró-
pria política, considerando-a à luz de empreendi-
mentos de exceção nas dinâmicas de poder. Esse
movimento é necessário para refletir sobre o espa-
ço da violência no contexto da modernidade tardia,
sem necessariamente condenar o ato violento, mas
sim encontrar fontes de justificação do mesmo para
que a dignidade da política seja preservada e reite-
rada por meio das ações humanas. Para tanto, este
trabalho irá se debruçar em autores da ciência polí-
tica que tratam do tema da liberdade enquanto sen-
tido da política para oferecer uma leitura alternativa
da tensão entre exceção e liberdade em Relações
Internacionais.
Gabriela Navarro Bassil
Artes e visibilidade à agenda de gênero nas Relações
Internacionais: análise de perfil das Embaixadoras da
Boa Vontade da ONU
Resumo: A presente pesquisa tem a finalidade de
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
195
analisar o perfil de Embaixadoras da Boa Vontade
elegidas pela Organização das Nações Unidas
(ONU). Como problemática surgiu a questão: quais
padrões essas mulheres compartilhariam para assu-
mirem os cargos de embaixadoras no Sistema ONU?
Dessa forma, a pesquisa foi realizada através de um
levantamento de dados quantitativos e qualitativos,
organizados por uma prosopografia das mulheres
em cargos de embaixadoras da Boa Vontade no sis-
tema ONU. A pesquisa prosopográfica tem por obje-
tivo desvendar os padrões de relações e atividades
via estudo da biografia de uma coletividade, compa-
rar as informações e analisar pontos em comum.
Como resultado foi identificado os seguintes pa-
drões: representatividade de gênero; profissionali-
zação de alta visibilidade, como artistas, ativistas,
intelectuais e atletas; e afinidade prévia entre o dis-
curso pessoal e o discurso do Sistema ONU.
Guilherme Borges Almeida
A Contribuição de Edward W. Said para o Estudo das
Relações Internacionais
Trabalho Completo
Resumo: O trabalho buscou explorar as contribuições
que a obra do intelectual Edward W. Said pode ofe-
recer para os estudos das relações internacionais.
Argumentou-se que, apesar do pensamento do au-
tor ter sido influente na abordagem pós-colonial das
Relações Internacionais, ainda existem outros as-
pectos de sua obra que podem trazer contribuições
para a disciplina. Sua crítica à maneira como o Ori-
ente Médio é estudado pelo Ocidente, no que cha-
mou de “fase recente do Orientalismo”, trás questi-
onamentos sobre como essa e outras áreas do ter-
ceiro-mundo são abordadas academicamente. O
autor atenta para como o debate público estaduni-
dense sobre questões de política externa é marca-
damente intervencionista, como se as crises mundi-
ais fossem problemas a serem tanto discutidos in-
ternamente, quanto executados pelos Estados Uni-
dos. Esse debate sobre a política estadunidense en-
volve autores extensamente debatidos na disciplina
de Relações Internacionais, como Samuel Huntign-
ton, Francis Fukuyama, Joseph Nye, Henry Kissinger
e Zbigniew Brzezinski, além de tratar sobre aconte-
cimentos internacionais relevantes, como a Guerra
do Golfo e a Guerra do Iraque. Concluiu-se que a
obra de Said aponta para a relevância de uma pro-
dução mais reflexiva nas Relações Internacionais,
aproximando o autor do grande debate atual que
domina a disciplina. Também apontou-se que os
think-tanks de política externa estadunidenses –
que ganharam espaço nos últimos governos do país
– vêm sendo um espaço de produção intelectual
que contorna a construção de conhecimento mais
reflexivo demandada atualmente no campo das teo-
rias de Relações Internacionais.
Hajar Jihad Jomaa
Islamofobia e extremismo político: a xenofobia após o
Onze de Setembro nos EUA.
Resumo: O presente projeto se propõe a analisar,
por meio de uma pesquisa fundamentada em fontes
primárias e secundárias no campo da Teoria Política
e da Teoria das Relações Internacionais, a sociedade
multicultural contemporânea que presencia um
crescente aumento do racismo anti-islâmico nos
EUA, também denominado islamofobia. A pesquisa
objetiva descrever tal fenômeno, suas característi-
cas e sua gravidade principalmente após os atenta-
dos do Onze de Setembro de 2001, visando a anali-
sar a apropriação de tal termo por atores sociais e
políticos nos Estados Unidos. Em adição, será dada
atenção à corrente teórica pós-colonial de Edward
Said que estabelece críticas à epistemologia eu-
rocêntrica presente nos Estudos das Relações Inter-
nacionais. Em sua obra Orientalismo: o Oriente co-
mo invenção do Ocidente, o autor propõe-se à reali-
zação de uma desaprendizagem, ou seja, um traba-
lho inverso, visando a superar o “senso comum”
propagado acerca do Oriente, o qual era analisado
segundo os valores ocidentais. O desenvolvimento
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
196
das ideias sobre o mundo oriental teria sido um pro-
cesso eivado de preconceitos se fundamentando
em proposições que não possuíam o necessário em-
basamento fático. Ao Oriente, eram atribuídos pre-
dicados como “irracional, depravado, infantil,
‘diferente’, ao passo que ao europeu ocidental eram
associados qualificativos como “racional, virtuoso,
maturo, ‘normal’” (SAID, 2007, p. 73)”. Tais constru-
ções mentais instigaram o desprezo ao Oriente, so-
bretudo o Oriente árabe e islâmico. Dessa forma,
busca-se elucidar os atos islamofóbicos por meio de
análises empíricas dos dados fornecidos pelos cen-
tros de monitoramento estadunidenses, CAIR e ADL.
A islamofobia é considerada um fenômeno político
e cultural que vem crescendo de forma alarmante
nas políticas interna e externa daquele país
(LOSURDO, 2010; DEMANT, 2014). A confusão entre
terrorismo e islamismo fundamenta diversos discur-
sos de ódio direcionados à comunidade muçulmana
nos Estados Unidos. Consequentemente, a popula-
ção americano-muçulmana enfrenta difíceis desafi-
os diante da ocorrência de discriminações institucio-
nal, social e econômica.
Iago Jacinto Petrarca
O debate pós-colonial na disciplina das Relações In-
ternacionais: raça e racismo na conformação do Sis-
tema Internacional
Resumo: O objetivo desta pesquisa foi o de analisar a
inserção da raça e do racismo como categoria e es-
trutura operantes na construção histórica do Siste-
ma Internacional (SI). Para isso, fez-se teoricamente
necessário ir além das explicações essencialistas do-
minantes da área, apoiando-se na abertura permiti-
da pelo debate pós-positivista a partir dos anos
1980. Dividindo-a em duas partes principais, primei-
ra abrange autores canônicos do pós-colonialismo
denominado “pós-colonialismo anticoloni-
al” (Ballestrin, 2017), entre eles Aimé Césaire que
categorizou o colonialismo como uma “negação pu-
ra e simples da civilização” e colonização como equi-
valente a “coisificação” (Césaire, 1978). Denunciou
através de eventos fatuais a barbárie da empreitada
colonial nas colônias africanas e o princípio de ruína
que a colonização introduziu a várias civilizações
(Ibid.). Frantz Fanon, discípulo de Césaire, nomeia
de “colonial” a violência sistemática do Ocidente e
explica sobre como o racismo colonial afetou as re-
lações individuais e políticas entre os colonizados,
dentro e fora das fronteiras nacionais (Fanon, 2008,
p.34). A segunda estratégia de investigação selecio-
nou alguns textos publicados em Relações Internaci-
onais (RI). A questão da raça e do racismo é aborda-
da por autores contemporâneos como Robbie Shilli-
am, o qual afirma que a inspiração na teoria pós-
colonial permite entendermos processos políticos
sob uma ótica racial/oriental mais elucidativa (2015,
p.16). Com efeito, o poder colonial “estabeleceu
uma hierarquia racializada na política mundial, atra-
vés de relações estruturais de dominação, subordi-
nação e exploração” (Pettmann,1996, p.28).
A presente pesquisa partiu da observação do cres-
cente interesse sobre as questões envolvendo raça
e racismo dentro das RI principalmente nos últimos
vinte anos, mostrando-se visível a inspiração e a in-
fluência de autores pós-coloniais. A raça toma pro-
tagonismo em vários casos histórico-políticos dentro
do SI, surgindo como agenda de várias organizações
da sociedade civil internacional e reforçando a im-
portância e a necessidade de tratamento dessas
questões pela ótica disciplinar das RIs.
Ísis Higino Silva
A invisibilização de raça nas TRI: hegemonia ou su-
premacia?
Resumo: Que Teoria de Relações Internacionais é
esta? Raça raramente é um tópico estudado acade-
micamente nas R.I. As ausências são gritantes e di-
zem muito sobre protagonismo e quem conta nossa
história com poder ou não de dar a elas validação.
Só isso é, em si mesmo, uma questão de raça. A
branquitude e suas formas de organização política
ao se pensarem enquanto mediadoras e resolutivas
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
197
de conflitos diz muito sobre como pensam a respei-
to de si mesmas, bem como a importância e prota-
gonismo que a branquitude crê ter no mundo. É
perceptível que existem grandes falhas em como as
Relações Internacionais se posicionam com relação
à raça, desde as construções de teorias acadêmicas
à atuação de internacionalistas na ONU, o que torna
importante uma autocrítica, partindo de dentro do
campo, para se repensar como a estrutura de poder
interfere na prática e na realidade. Isso é parte de
um espectro muito maior de apagamento que preci-
sa ser reconhecido antes que se possa pensar em
alternativas possíveis dentro das R.I, que sejam real-
mente abrangentes. Este trabalhou procurou, num
escopo de diversas pessoas negras, tensionar esses
debates e disputar esses lugares. O argumento cen-
tral é que é preciso abrir espaço e novos formatos
que realmente abarquem o pensamento negro nas
RI. Isso inclui uma grande medida de autocrítica e
ressignificação de estruturas como não neutras em
si mesmas, inclusive nas teorias de relações interna-
cionais e nas lógicas de suas organizações. Nesse
trabalho dialogarei com autores do livro Raça e Ra-
cismo nas Relações Internacionais (2015), como
Henderson, Anievas, Manchanda, Shilliam e outros
como Sankaran Krishna (2001), John M. Hobson
(2007) e Du Bois (1903).
James Casas Klausen
Teoria Psicanalítica e Relações Internacionais
Coautor(es): Marina Sertã Miranda
Resumo: Há um recente e crescente debate na teoria
de Relações Internacionais acerca da importância de
levarmos em conta a operação dos afetos e das
emoções em fenômenos político-sociais, os da polí-
tica global inclusos. Nesse sentido, a psicanálise se
mostra um terreno fecundo para a exploração da
natureza afetiva da política, bem como da sua rela-
ção com a construção discursiva das realidades soci-
ais. Este painel surge, dessa forma, em consonância
com uma série de outros esforços já em andamento
na disciplina de Relações Internacionais para cons-
truir um diálogo com a teoria psicanalítica. Em vista
disso, nosso principal objetivo é interrogar as possí-
veis contribuições de teorias psicanalíticas para aná-
lises críticas da política global, apresentando dife-
rentes leituras do que a psicanálise pode oferecer
para a teoria das Relações Internacionais.
Jessie Pavan Borsatto
A problemática do aborto no Paraguai a partir de
uma perspectiva feminista decolonial
Resumo: Este artigo tem como principal objetivo
analisar a problemática do aborto a partir de uma
perspectiva teórica feminista decolonial, ponderan-
do se a sua proibição parcial por parte do Estado
paraguaio pode ser considerada uma violência es-
trutural contra suas cidadãs. A interrupção da gravi-
dez é um assunto muito recorrente em toda Améri-
ca Latina, visto que esta região possui uma das mais
altas taxas de fecundidade a nível mundial e, ao
mesmo tempo, as legislações acerca do aborto são
bastante restritivas à mulher. O Paraguai se destaca
nesse sentido por possuir, primeiramente, índices
elevados de maternidade infantil/adolescente; abu-
sos sexuais de mulheres; inúmeros casos de compli-
cações e mortes maternas ocasionadas por procedi-
mentos de interrupção da gravidez clandestinos e
inseguros; e uma das legislações mais inflexíveis que
prevê qualquer tentativa de aborto como crime por
todas as partes envolvidas e concede autorização
apenas se a gravidez constituir um risco à vida da
mulher. A falta/restrição ao acesso a direitos funda-
mentais como a educação e saúde forma parte des-
sa discussão, sendo o Paraguai um Estado que pos-
sui problemas de desigualdade social evidentes co-
mo pobreza extrema, fome, acesso limitado à saúde
e educação públicas. Nesse sentido, a teoria femi-
nista decolonial permite uma avaliação desse con-
texto, pois essa perspectiva faz uso de variáveis co-
mo a desigualdade de gênero que é promovida sis-
tematicamente pelo aparato estatal e reproduzida
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
198
por seus cidadãos e as implicações da colonização
nesse processo. Entende-se então que a legislação
referente ao aborto no Paraguai, com seu caráter
de restrição às liberdades individuais de controle do
próprio corpo, evidencia uma das facetas da desi-
gualdade de gênero existente na sociedade para-
guaia e nas instituições criadas por ela. Constitui,
dessa forma, uma violência estrutural contra a mu-
lher, considerando outros fatores socioculturais que
contribuem à privação ou inexistência da provisão
de direitos básicos.
João Víctor Martins Saraiva
O apagamento da ideia de Raça e o campo de estu-
dos das Relações Internacionais: colonialidade do sa-
ber e as violências epistêmicas
Trabalho Completo
Resumo: Esse artigo se propõe, a partir das conceitu-
ações teóricas decoloniais e pós-coloniais, a fomen-
tar uma discussão conceitual sobre o apagamento
da ideia de Raça na formação e desenvolvimento do
campo de estudos das Relações Internacionais (RI).
Argumenta-se que nesse campo, a ideia de raça foi
e tem sido “preenchida” por um persistente silencio
epistêmico por conta da colonialidade do saber.
Busca-se-á, também, visibilizar iniciativas e estudos
periféricos que têm buscado reverter esse quadro,
construindo novas epistemologias oriundas de ou-
tras localidades do globo. Nas RI, por mais que a
ideia dos estudos das relações entre os diferentes
povos e sociedades esteja no centro da disciplina,
são quase que inexistentes quaisquer reflexões so-
bre a ideia de raça, mesmo sendo esse o marcador
de relações entre diferentes povos. A formação des-
se campo de estudos se deu principalmente nos
EUA e em países da Europa ocidental, refletindo
quase que exclusivamente sobre as realidades des-
ses contextos, invisibilizando intencionalmente a
própria pertinência teórica de se refletir sobre po-
vos não-ocidentais, desenvolvendo perspectivas
teóricas de pretensões universais, mas que ignora-
ram quaisquer outras possibilidades de análise. O
campo se expandiu, mas os principais centros de
estudos e os principais pesquisadores das RI perma-
necem no ocidente e poucos avanços foram feitos
para se criar categorizações teóricas mais densas
sobre realidades não-ocidentais. Assim, o artigo fará
uma retrospectiva da formação do campo de estu-
dos das RI, identificando as presenças e ausências
da Raça no mesmo. Será utilizada a metodologia da
análise de conteúdo para tanto aliada às categoriza-
ções teóricas que têm sido estabelecidas por auto-
ras (es) decoloniais do grupo Modernidade e Coloni-
alidade de autoras (es) pós-coloniais africanos e in-
dianos. A pretensão do artigo não é de esgotar to-
das as reflexões sobre o não-lugar epistêmico da
raça, mas de tencionar as principais estruturas que
alicerçam esse apagamento e ponderar novas pers-
pectivas possíveis.
Júlia Souza Izquierdo Penaranda
Da subalternidade ao protagonismo: o renascer do
movimento feminista chinês à luz da globalização
Resumo: Durante a Revolução Cultural, Máo Zédōng
proferiu as seguintes palavras: “As mulheres levam
sobre seus ombros a metade do céu e devem con-
quistá-lo”. Tal frase simbolizava, em teoria, o rompi-
mento com uma China Antiga, onde a mulher ocu-
pava uma figura inferior ao homem, e o início de
uma nova era, que prezaria pela equidade entre os
dois sexos e independência feminina. É, em suma, o
nascimento do movimento feminista chinês puxado
pelo próprio Partido Comunista Chinês (PCC). Con-
tudo, ainda que tenha havido mudanças, a estrutura
da sociedade se manteve essencialmente estratifi-
cada, e as mulheres ocuparam um lugar de subalter-
nidade dentro do movimento. Essa condição só foi
alterada em 1970, com as reformas de Dèng Xiǎo-
píng e o processo de globalização, onde, em contato
com o mundo exterior, elas assumiram o seu con-
trole e o redirecionaram. Destarte, o objetivo deste
trabalho é analisar essa transição à luz da globaliza-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
199
ção e analisar as transformações dentro da socieda-
de, assim como a relação do PCC com o movimento.
Como base teórica, a pesquisa fundamentar-se-á na
Teoria da Interdependência Complexa para explicar
as influências da Globalização sobre a sociedade chi-
nesa e, mais especificamente, sobre o próprio movi-
mento feminista chinês e seu redirecionamento.
Serão também utilizados autores do feminismo asiá-
tico para afastar a compreensão do movimento a
partir de um espectro puramente ocidental e, assim,
se aproximar mais do próprio olhar oriental. Espera-
se, dessa forma, evidenciar de que maneira as mu-
danças ocorridas na cultura chinesa impactaram a
posição da mulher em uma China que se projeta
cada vez mais para o mundo e vivencia, por conse-
guinte, um anacronismo entre o tradicional e o mo-
derno, o passado e o futuro. Também se espera de-
monstrar a influência da globalização na mudança
de um lugar subalterno que a mulher ocupava em
sua própria história para um de protagonismo.
Lara Martim Rodrigues Sélis
Is it possible to resist? Reading resistance through
Lacan
Resumo: In this paper, I am interested in the political
mobilizations of psychoanalysis theories, which I
investigate in order to analyse its theoretical poten-
tialities for the field of subaltern studies. Given the
preliminary aspect of this research, the present pa-
per involves basically the objective to construct a
literature review of two contemporary Lacan’s rea-
ders, Judith Butler and Slavoj Zizek. By confronting
the arguments of these two authors, I pretend to
highlight their different mobilizations of Lacan’s con-
cepts on the debate of resistance. Then, focusing on
their use of Lacan’s triangular ontology, I propose a
problematization for the readings about subaltern
agency.
Manuela Trindade Viana
Na terceira margem do Rio: confrontando a fronteira
entre "segurança pública" e "segurança internacio-
nal"
Resumo: A fronteira que separa a "segurança públi-
ca" da "segurança internacional" caracterizou gran-
de parte da trajetória da disciplina de Relações In-
ternacionais. Desde finais dos anos 1990, no entan-
to, a afirmação de uma crescente aproximação en-
tre o papel do militar e do policial tem servido de
combustível para argumentos na direção da "fusão"
entre a "segurança pública" e a "segurança interna-
cional". Tais reivindicações analíticas encontram, no
entanto, a insistência na distinção entre esses dois
campos por meio da mobilização das especificida-
des que constituem o expertise do policial, de um
lado, em contraste com o do militar, de outro. Este
artigo confronta a fronteira entre "segurança públi-
ca" e "segurança internacional" em dois movimen-
tos principais. Primeiramente, desafia a distinção
espacial que dá sustentação a essa fronteira, por
meio da exposição do circuito de saberes dentro do
qual operam práticas de treinamento de policiais e
militares. Em segundo lugar, argumenta que essa
osmose entre policiais e militares nesse circuito de
saberes tem como condição uma leitura específica
da violência, constituída por dois processos: de um
lado, a reivindicação de que a violência que opera-
ções policiais e militares buscam confrontar é mar-
cada pelo caráter despolitizado ("violência delin-
quencial"); de outro, o enquadramento dessa
"delinquência" como uma alteridade radical. Tal dis-
cussão será toda costurada com a mobilização de
discursos de duas instituições que ocupam uma po-
sição privilegiada na arquitetura de segurança do
Rio de Janeiro: a polícia e o exército. Por meio da
exposição das condições dentro das quais é possível
se afirmar uma fronteira entre "segurança pública"
e "segurança internacional", o trabalho busca ofere-
cer uma contribuição teórico-conceitual a partir da
análise de um caso específico. Ao colocar em evi-
dência como movimentos analíticos assim caracteri-
zados podem contribuir para discussões teóricas,
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
200
almeja desafiar também a fronteira entre teoria e
empiria no fazer teórico na disciplina de Relações
Internacionais.
Manuela Trindade Viana
Repensando as fronteiras da política internacional
Resumo: De certa maneira, é possível afirmar que a
“fronteira” aparece como elemento fundante das
relações internacionais. Não fosse pela moderna
separação entre Estados territoriais soberanos, cer-
tamente a nossa disciplina não poderia ter emergi-
do sobre as bases da reflexão sobre a guerra e a
paz, tal como o fez. O pressuposto das relações en-
tre comunidades políticas demarcadas espacialmen-
te aparece, então, como uma fronteira dada, delimi-
tada, não questionada; pressuposto sobre o qual se
autoriza toda e qualquer interpelação da política
internacional. Tal versão espacialmente estática da
política internacional está, por sua vez, associada à
compartimentação das temporalidades políticas do
“dentro” e do “fora” do Estado soberano, gerando
exclusões violentas às margens desta diagramação
espaço temporal da modernidade. Nesse sentido, o
questionamento de tais exclusões leva à problemati-
zação das fronteiras da modernidade — físicas, sim-
bólicas, espaciais, temporais. Entendendo a impor-
tância cada vez mais premente de questionar as es-
truturas de poder que mantém determinados sujei-
tos e conceitos excluídos do entendimento e da prá-
tica da política internacional, este painel se debruça
sobre as fronteiras que delimitam a construção da
política moderna a partir daquilo que foi colocado
para fora dessas fronteiras. Começando por aqueles
que foram excluídos da política internacional — in-
dígenas, piratas, terroristas, migrantes, ou mesmo a
própria liberdade, associada a devaneios utópicos e
idealistas — o painel buscará lançar luz sobre as es-
truturas de poder que operam na (re)produção das
fronteiras do internacional moderno. Ao questionar
suas práticas espaciais e temporais, busca-se propor
leituras alternativas do político e da política, que
permitam deslocar as tradicionais fronteiras da dis-
ciplina que se funda sobre o pressuposto das fron-
teiras.
Marcos de Jesus Oliveira
Pele negra/vermelha, máscaras brancas: contribui-
ções à descolonização das teorias do reconhecimento
Resumo: O objetivo do presente trabalho é apresen-
tar alguns dos limites das teorias do reconhecimen-
to quando pensadas desde a perspectiva (pós)
colonial e em contextos não-europeus. No percalço
deste objetivo, dividiu-se a apresentação em quatro
partes, iniciando-a com uma breve exposição da
problemática com ênfase na tese de que, a despeito
do esforço de inúmeros/as pensadores/as contem-
porâneos na redefinição do paradigma do reconhe-
cimento, estes/as ainda parecem falar desde um
ponto de vista eurocentrado mesmo quando se en-
volvem no debate dos direitos e das reivindicações
de indígenas e/ou de sujeitos em situação diaspóri-
ca. Em seguida, discute-se a proposta de Frantz Fa-
non como uma das mais paradigmáticas e influentes
nos estudos (pós)coloniais, destacando sua contri-
buição acerca da existência de uma esfera sub-
ontológica à qual sujeitos racializados estão circuns-
critos e que bloqueia o movimento de reconheci-
mento de suas subjetividades. Feito isso, passo aos
aportes teóricos de Glean Sean Coulthard com o
intuito de evidenciar que a ausência de um debate
sobre o colonialismo contribui para sua continuida-
de nas práticas estatais contemporâneas de reco-
nhecimento de grupos historicamente marginaliza-
dos e/ou excluídos. Ao final, enfatizam-se os desafi-
os colocados pelas teorias pós-coloniais às teorias
do reconhecimento na superação do que qualifico
como “déficit colonial” das tendências hegemôni-
cas. Conforme se argumentará, o déficit está em
não teorizar a colonialidade como a face necessária
da modernidade, a relação entre modernidade e
extermínio/terror.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
201
Mariana Caldas Pinto Ferreira
Por um Resgaste da Liberdade: uma discussão da dig-
nidade da política em períodos de excepcionalidade
Coautor(es): Francisco Eduardo Lemos de Matos
Resumo: A discussão sobre liberdade é um tema ne-
vrálgico na tradição da ciência política ocidental. A
compreensão da atividade política é bastante influ-
enciada pelas tensões entre política e violência, nas
quais, dependendo a perspectiva teórica abordada,
muitas vezes são termos são usados enquanto sinô-
nimos. Em outras palavras, há uma naturalização
imediata que permite equacionar violência e políti-
ca, como se não fosse possível haver política sem
violência, gerando, portanto, um certo desconforto
tentar ao separá-los como fenômenos distintos. Es-
sa confusão conceitual é evidente na disciplina de
Relações Internacionais ao equipar as atitudes polí-
tica dos Estados modernos ao acúmulo de poder
por meio da violência. Dessa forma, essa literatura
mais clássica da disciplina deixa pouco espaço no
que tange ao fenômeno da liberdade, limitando-a à
um idealismo conceitual. Evidentemente, violência e
política são conceitos que se articulam entre si, mas
torna-se relevante compreender essa relação usan-
do como prisma a problemática da liberdade e liber-
tação. Diante disso, este trabalho almeja priorizar a
liberdade enquanto um sentido norteador da pró-
pria política, considerando-a à luz de empreendi-
mentos de exceção nas dinâmicas de poder. Esse
movimento é necessário para refletir sobre o espa-
ço da violência no contexto da modernidade tardia,
sem necessariamente condenar o ato violento, mas
sim encontrar fontes de justificação do mesmo para
que a dignidade da política seja preservada e reite-
rada por meio das ações humanas. Para tanto, este
trabalho irá se debruçar em autores da ciência polí-
tica que tratam do tema da liberdade enquanto sen-
tido da política para oferecer uma leitura alternativa
da tensão entre exceção e liberdade em Relações
Internacionais.
Marina Scotelaro de Castro
Paradigmas interpretativos não tradicionais nos estu-
dos das Relações Internacionais contemporâneas
Trabalho Completo
Resumo: O campo das Relações Internacionais é mar-
cado pela dominância histórica de determinadas
vertentes teóricas -sobretudo, as de cunho raciona-
lista- que se mostram limitadas para a apreensão de
temas contemporâneos que vão além das dinâmicas
estatais e conflitivas. O argumento central do traba-
lho não reside em uma crítica à capacidade explica-
tiva das referidas teorias, mas nos pressupostos on-
tológicos sob os quais as mesmas se fundamentam.
Assim, a partir desta discussão, o trabalho traz à to-
na o estudo sobre teorias não convencionais no
campo das Relações Internacionais, com o intuito de
avaliar e ressaltar a potencialidade das mesmas para
análise de fenômenos contemporâneos diversos a
partir de suas distintas concepções ontológicas. Lei-
turas pós-coloniais, lentes feministas e abordagens
ecológicas/ambientalistas constituem as unidades
de análise do trabalho. A partir de revisão de litera-
turas, infere-se conclusões sobre os critérios de vali-
dade e o alcance explicativo de tais correntes inter-
pretativas para o estudo das Relações Internacionais
contemporâneas. Com isso, há um potencial de ex-
pansão e ampliação do campo, o que faz da pesqui-
sa um instrumento de construção fundamental para
os estudos da área.
Marina Sertã Miranda
Investimento Psíquico em Autoridade no Contrato
Social
Resumo: Nesta exposição, pretendo explorar o inves-
timento psíquico em figuras de autoridade paterna
por meio de uma exploração dos pontos de contato
entre a teoria contratualista e a estrutura edipiana
da neurose. Para isso, buscarei explorar as especifi-
cidades do sujeito supostamente contratante em
Hobbes, Locke e Rousseau com a ajuda das críticas
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
202
feminista e racial da teoria contratualista. Para, en-
tão, compreender como esse sujeito, especifico,
genderizado e racializado, tem toda sua realidade
política e social estruturada nas linhas anteriormen-
te exploradas de investimento na autoridade pater-
nalista por meio do conceito de Nome-do-Pai pre-
sente em Lacan. Desta forma, pretendo evidenciar a
forma na qual o sujeito contratante, presumidamen-
te universal, é não só um sujeito específico em ter-
mos de raça e gênero, mas também em seus investi-
mentos psíquicos em autoridade. Evidenciando tal
investimento, pretendo apontar para a necessidade
de pensarmos investimentos que nos permitam
maior autonomia na esfera política e social.
Marina Sertã Miranda
Teoria Psicanalítica e Relações Internacionais
Coautor(es): James Casas Klausen
Resumo: Há um recente e crescente debate na teoria
de Relações Internacionais acerca da importância de
levarmos em conta a operação dos afetos e das
emoções em fenômenos político-sociais, os da polí-
tica global inclusos. Nesse sentido, a psicanálise se
mostra um terreno fecundo para a exploração da
natureza afetiva da política, bem como da sua rela-
ção com a construção discursiva das realidades soci-
ais. Este painel surge, dessa forma, em consonância
com uma série de outros esforços já em andamento
na disciplina de Relações Internacionais para cons-
truir um diálogo com a teoria psicanalítica. Em vista
disso, nosso principal objetivo é interrogar as possí-
veis contribuições de teorias psicanalíticas para aná-
lises críticas da política global, apresentando dife-
rentes leituras do que a psicanálise pode oferecer
para a teoria das Relações Internacionais.
Marta Regina Fernandez y
Epistemologias do Sul: Rumo à descolonização das
estruturas de saber/poder nas Relações Internacio-
nais
Coautor(es): Andréa B. Gill
Resumo: Este painel se propõe a colocar em conver-
sa diversas perspectivas e experiências históricas
por muito tempo marginalizadas na busca por com-
preender a constituição do nosso mundo contem-
porânea e seus desafios herdados. Objetiva-se re-
centrar os pontos de partida e referência no estudo
das relações internacionais para além da ótica eu-
rocêntrica que prevalece e, assim, produzir novas
lentes analíticas capacitadas a lidar com as comple-
xas relações de poder que estruturam o sistema
(inter)nacional. Dando prioridade a abordagens de-
coloniais, diaspóricas e interseccionais, será possível
nomear e responder às condições politicas, econô-
micos, sociais e culturais que informam os termos
através dos quais o mundo pós-colonial vem sendo
pensado. Como nos ensina um dos criadores da
perspectiva afrocentrada, Molefi Kete Asante, “Toda
linguagem é epistêmica. Nossa linguagem deve con-
tribuir para o entendimento de nossa realidade.
Uma linguagem revolucionária não deve embriagar,
não pode levar à confusão”. Nesse espírito, as con-
tribuições desse painel pretendem oferecer cami-
nhos práticos para análise de conjuntura, centrali-
zando a necessidade de racializar para politizar as
categorias empíricas, analíticas e normativas que
mobilizamos para interpretar as relações internacio-
nais. Essas reorientações conceituais e políticas nos
possibilitarão afinar nossa capacidade de ler, anali-
sar e responder às complexidades do mundo que
herdamos a partir dos diferentes loci de enunciação.
O primeiro passo é reconhecer os termos através
dos quais esse debate se dá no estudo das relações
internacionais. Através de uma crítica dos termos
eurocentrados que (des)qualificam sujeitos de saber
e poder, Marcos de Jesus Oliveira busca evidenciar
que a ausência de um debate sobre o colonialismo
contribui para sua continuidade nas práticas estatais
contemporâneas de reconhecimento de grupos his-
toricamente marginalizados e/ou excluídos. Esse
trabalho enfatiza os desafios colocados pelas teorias
pós-coloniais às teorias do reconhecimento na supe-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
203
ração do que qualifica como “déficit colonial” das
tendências hegemônicas. Conforme se argumenta-
rá, o déficit está em não teorizar a colonialidade co-
mo a face necessária da modernidade, a relação en-
tre modernidade e extermínio/terror. Nesse contex-
to, de Jesus Oliveira oferecerá uma releitura de uma
das referências chave nos estudos pós-coloniais,
Pele negra, máscaras brancas de Frantz Fanon, vi-
sando contribuir à descolonização das teorias do
reconhecimento nos estudos das relações internaci-
onais. O objetivo deste trabalho é apresentar alguns
dos limites das teorias do reconhecimento quando
pensadas desde a perspectiva (pós)colonial e em
contextos não-europeus. No percalço deste objeti-
vo, ele inicia essa reflexão com uma breve exposição
da problemática com ênfase na tese de que, a des-
peito do esforço de inúmeros/as pensadores/as
contemporâneos na redefinição do paradigma do
reconhecimento, estes/as ainda parecem falar des-
de um ponto de vista eurocentrado mesmo quando
se envolvem no debate dos direitos e das reivindica-
ções de indígenas e/ou de sujeitos em situação dias-
pórica. Assim ele discute a proposta de Fanon como
uma das mais paradigmáticas e influentes nos estu-
dos (pós)coloniais, destacando sua contribuição
acerca da existência de uma esfera sub-ontológica à
qual sujeitos racializados estão circunscritos e que
bloqueia o movimento de reconhecimento de suas
subjetividades. Dando continuidade a essa reflexão
sobre as potencialidades políticas e conceituais de
recentrar sujeitos historicamente marginalizadas na
produção de conhecimento e autoridade, Angela
Maria de Souza trabalha movimentos da diáspora
focando em Mulheres Negras na/da fronteira. Par-
tindo de uma perspectiva de crítica ao colonialismo
(Césaire, 2010a e 2010b; Fanon, 2008) este artigo
procura aprofundar a discussão sobre a interseccio-
nalidade (Crenshaw, 1979) iniciada a partir da pes-
quisa “Yaba na Luta: o empoderamento da Mulher
Negra na Fronteira” (FLACSO – Argentina, 2016). O
objetivo principal é abordar a atuação de Mulheres
Negras nas fronteiras entre Argentina, Brasil e Para-
guai. Com esta abordagem, Souza pretende proble-
matizar o próprio conceito de fronteira que, muito
além de questões geográficas internacionais, aqui
está abordando fluxos e movimentos gerados na
Diáspora (Hall, 2003 e Gilroy, 2008) e que definem
espaços e relações a partir destas mulheres em mo-
vimento. Com base nos dados etnográficos da pes-
quisa, ela afirma que estas Mulheres Negras, a par-
tir de suas atuações estabelecem transgressões
(hooks, 2008) por marcarem espaços e lugares
(Gonzales, 1983) que são rediscutidos e redefinidos
a partir de suas presenças e atuações. A proposta de
Souza é aprofundar este debate sobre as formas de
atuação e desafios destas mulheres, que perpassa
suas trajetórias de vida e profissional, enquanto Mu-
lheres Negras, marcando um posicionamento políti-
co de resistência entre fronteiras. São mulheres em
distintos contextos nacionais, porém com problemá-
ticas comuns que envolvem o enfrentamento ao
racismo na diáspora em contexto latino-americano.
O trabalho apresentado por Thiago Braz e Andréa
Gill foca nossa atenção no contexto brasileiro como
uma forma de dimensionar como aqui enxerguamos
as relações internacionais para além da ótica eu-
rocêntrica. Este trabalho pretende pôr em conversa
interpretações reconhecidas como clássicas no pen-
samento social e político brasileiro com reinterpre-
tações críticas, as quais por muito tempo estiveram
excluídas do campo de disputa acerca do lugar do
Brasil, tanto de dentro quanto de fora. O movimen-
to de nos situarmos na produção intelectual e políti-
ca, inter/nacionalmente, possibilita repensar os ter-
mos através dos quais o Brasil e seus habitantes são
inseridos no mundo pós-colonial, abrindo, deste
modo, diversos caminhos em direção à descoloniza-
ção efetiva das estruturas de poder, saber, ser e vi-
ver em sociedade. Para tanto, o trabalho se propõe
a mapear os campos de disputa, colocando as pers-
pectivas, os métodos, as teorias e auto/imagens do
Brasil em contexto, de maneira a que as diversas
interpretações do Brasil, suas heranças ibéricas, co-
loniais e escravistas sejam explicitadas e, sobretudo,
tornadas objeto de investigação crítica. Em um se-
gundo momento, o estudo busca aprofundar-se na
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
204
análise das implicações em matéria de processos de
governança do Brasil, de demarcação de território,
centros e periferias, a fim de, ainda nesse mesmo
movimento, explorar caminhos rumo a uma renar-
ração do Brasil que dê conta de suas hierarquias,
violências e resistências constitutivas, dentro e para
além de suas fronteiras. Assim, esse trabalho põe
em relevo formas e modos como epistemologias do
sul podem recentrar as discussões das relações in-
ternacionais em um mundo pós-colonial. As contri-
buições propõem um dialogo entre si e abrem uma
conversa mais ampla que precisa ser avançada nas
universidades brasileiras a cada dia sendo ocupadas
e disputadas por corpos tradicionalmente excluídos
das instituições dirigentes da sociedade moderna.
Em uma mundo globalizado cujas fronteiras são
crescentemente imbricadas, é preciso repensar os
termos através dos quais sujeitos de saber e poder
são (des)qualificados para discussões urgentes acer-
ca das desigualdades e violências que constituem a
nossa condição contemporânea. As propostas deste
painel apostam na necessidade de recentrar os nos-
sos pontos de partida e referência para além da óti-
ca eurocêntrica, visando a uma descolonização efe-
tiva das estruturas de saber e poder nas relações
internacionais.
Michelly Geraldo
Progressos teóricos na visão de Lakatos: Considera-
ções sobre Realismo Neoclássico e Neorrealismo Es-
trutural
Resumo: Em meio a diversa gama de teorias que per-
meiam as Relações Internacionais a competição pela
qual seria capaz de explicar e abranger o maior nú-
mero de fenômenos da política internacional é
constante. Essa busca por explicações na arena in-
ternacional faz com que muitas das teorias progri-
dam e outras fiquem estagnadas. O realismo neo-
clássico e o neorrealismo estrutural são duas impor-
tantes vertentes nas Relações Internacionais e que
tem várias posições distintas em relação às variáveis
analíticas, quais fenômenos merecem destaque na
análise, como é feita a análise, quais atores são mais
importantes para a análise, entre outras característi-
cas. A metodologia de Lakatos, que remonta a déca-
da de 1970, permite avaliar o progresso de um pro-
grama de pesquisa.. Sendo assim, a análise se pau-
tará nas concepções de Lakatos sobre pesquisas ci-
entíficas confrontando as teorias acima descritas,
buscando traçar algumas considerações acerca do
progresso de tais teorias. O trabalho será dividido
em três seções, além da introdução e conclusão.
Nestas seções serão elaborados: brevemente as
concepções de Lakatos e que embasarão o trabalho;
a análise das duas teorias levando em consideração
sua aplicabilidade e características; e por fim, uma
comparação entre elas aos moldes da metodologia
dos Programas de Pesquisa de Lakatos.
Miguel Borba de Sá
Narrativas brasileiras sobre o Haiti: do Haitianismo à
MINUSTAH.
Resumo: Existe na atual Teoria de Relações Internaci-
onais uma vasta bibliografia de teor crítico com rela-
ção às chamadas intervenções humanitárias do pós-
Guerra Fria. A Missão das Nações Unidas para Esta-
bilização do Haiti (MINUSTAH) não foge a esta ten-
dência, em especial nos últimos anos, quando casos
de abuso sexual e de introdução de doenças fatais
(como o cólera) por parte das tropas estrangeiras
vieram à tona. O papel do Estado Brasileiro, coman-
dante do braço militar da missão durante todo o
período de sua duração (2004-2017) também come-
ça a ser questionado, tanto por análises políticas
como por aquelas estritamente acadêmicas. São
frequentes as produções que traçam paralelos entre
as estratégias de pacificação via militarização de ter-
ritórios conhecidos por sua pobreza e negritude no
Brasil (especialmente Rio de Janeiro) e Haiti
(especialmente Porto-Príncipe). No entanto, pouca
ou nenhuma atenção foi dada até o momento para
as narrativas e discursos brasileiros sobre o Haiti
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
205
que remontam ao século XIX, quando o termo
"Haitianismo" povoou as páginas dos periódicos e
debates parlamentares do Período Regencial do Im-
pério Brasileiro. Este trabalho busca preencher pre-
cisamente esta lacuna, apresentando uma análise
crítica da recente ocupação militar por tropas brasi-
leiras na parte oeste da ilha Caribenha de Hispaniola
à luz do regime discursivo ensaiado em um momen-
to fundacional do Estado e da Nação no Brasil, sob a
perspectiva de sua nascente elite política e intelec-
tual. Sugere-se que a razão humanitária contempo-
rânea e aquela professada durante o regime escra-
vista brasileiro possuem mais conexões do que à
primeira vista poder-se-ia imaginar.
Paula Sandrin
Jouissance as social symptom: a psychoanalytic rea-
ding of Turkey-EU relations
Resumo: This article aims to provide a psychoanalytic
-informed interpretation of Turkey’s relations with
the European Union in general, and its acceptance
and maintenance of the Joint Action Plan agreed in
March 2016 to address the refugee and migration
crisis in particular. It argues that psychoanalytical
notions such as Freud’s repetition compulsion and
Lacan’s jouissance as social fantasy and social symp-
tom can help us appreciate Turkey’s willingness to
accept EU’s “unwanted” (migrants and refugees)
and to maintain the refugee and migrant deal, even
when Turkish political actors continually accuse the
EU of not fulfilling its part in the agreement. More
importantly, such notions allow us to understand
the durability, longevity and depth of Turkish politi-
cal actors’ (of almost all political orientations) quest
to become a member of the EU, in spite of continu-
ous frustrations and setbacks. It maintains that
other possible explanations for Turkey’s persistence
can be deepened by a reading which takes into ac-
count the affective dimension of politics and of
identification processes.
Rafaella Pelliccioli
As ideias também importam: a reconstrução analítica
da cooperação internacional a partir das teorias de
relações internacionais
Resumo: Em um mundo cada vez mais globalizado, a
interação internacional abre desafios para superar a
lógica da exclusão permeada pela modernidade. A
cooperação entre atores internacionais muitas ve-
zes se propõe enquanto solução para os problemas
modernos. No entanto, a compreensão do mundo
internacional na década de 1980 pluralizava-se mais
e assim se refletiria nas Teorias de Relações com a
ascensão dos Debates interparadigmáticos que con-
solida o questionamento das relações internacionais
a partir de pontos de referências subalternos, soci-
ais e pessoais e não apenas pontos estadocêntricos.
Analisar a cooperação internacional a partir de ou-
tros que não só os grandes discursos da sobrevivên-
cia do Estado, do exercício vertical de poder interna-
cional e da maximização dos benefícios comerciais
traz uma visão igualmente plural e preocupada com
o espaço dos oprimidos do mundo globalizado. Nes-
te estudo são analisadas as possibilidades de uso
das teorias Crítica, Construtivista, Feminista e Queer
a fim de buscar categorias de análise que ajudem a
pensar a cooperação internacional e suas implica-
ções para a manutenção ou mudanças da ordem. A
partir da visão da Teoria Crítica são buscados diálo-
gos entre os Estados com a finalidade de reduzir as
injustiças e desigualdades, denunciando as relações
assimétricas entre os Estados. O Construtivismo
contribui com as compreensões de culturas de anar-
quia do Sistema Internacional e das identidades. As
teorias Feminista e Queer trazem categorias focadas
nas perspectivas pessoais dos indivíduos a fim de
explorar como, principalmente, gênero e orientação
sexual criam determinações sociais e subalternizam
indivíduos, práticas sociais e políticas. Essa pesquisa
se dá através do método hipotético-dedutivo e do
método de procedimento de análise bibliográfica
das obras de teoria de Relações Internacionais e
áreas afins. Como resultados finais busca-se poder
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
206
elencar categorias de análise destas teorias pós-
positivistas a fim de compreender o fenômeno da
cooperação internacional por termos subjetivos,
pessoais e emancipatórios.
Raianna Morais Soto
Contribuição Brasileira Afrocentrada para as Rela-
ções Internacionais
Trabalho Completo
Resumo: A perspectiva do presente artigo é contribu-
ir nos estudos das Relações Internacionais a partir
de um loci enunciativo diverso ao locus anglo-
saxônico tradicional, adentrando-se na investigação
das organizações político-sociais desenvolvidas a
partir de experiências das populações negras brasi-
leiras. O quilombo enquanto resistência negro-
africana aos ímpetos imperialistas portugueses, e de
forma mais geral aos ímpetos imperialistas ociden-
tais, foi uma prática contra hegemônica, e continua
a ser. A pergunta central desse trabalho é “Qual a
contribuição da experiência quilombista para a coe-
xistência social que a coloca como diferencial ao
contraponto proposto do Estado-Nação?”. Para tan-
to, o resgate histórico do processo colonizatório no
Brasil e das partes constituintes da construção da
“nação brasileira” é feito a partir de ponto de vista
teórico afrocêntrico brasileiro com nomes como Ab-
dias do Nascimento (1978; 2002), Beatriz Nascimen-
to (2014), Lélia Gonzalez (1988) e Kabengele Mu-
nanga (2001). Essa perspectiva teórica tomada para
análise do problema desenvolvido no trabalho se
insere na perspectiva do projeto Decolonial, no qual
“as fronteiras não são somente este espaço onde as
diferenças são reinventadas, são também loci enun-
ciativos de onde são formulados conhecimentos a
partir das perspectivas, cosmovisões ou experiên-
cias dos sujeitos subalternos.” (BENARDINO-
COSTA&GROSFOGUEL, 2016, p. 19). Ou seja, as es-
colhas teóricas para este trabalho não se dá pela
decisão arbitrária de seleção de autores e autoras
unicamente pela identidade racial de cada um deles,
mas pelo aparato que tenha com uma perspectiva
do subalterno compromissado com o conhecimento
contra hegemônico. De maneira mais específica, a
escolha do objeto e do objetivo geral deste traba-
lho, os quais se centram nas organizações político-
sociais de herança negro-africana no Brasil, preten-
de incorporar a categoria da “Amefricanidade” de
Lélia Gonzalez (1988b), a qual aciona “todo um pro-
cesso histórico de intensa dinâmica cultural
(adaptação, resistência, reinterpretação e criação
de novas formas) que é afrocentrada” (GONZALEZ,
1988b, p. 76).
Ramon Blanco
Ruling the Other: Time as an Instrument of Power
and Violence in International Politics
Coautor(es): Ana Carolina Teixeira Delgado
Resumo: The discipline of International Relations al-
ready unveiled a wide spectre of structures of po-
wer operating in the international scenario. Never-
theless, the discipline very frequently neglects an
important instrument of the operationalization of
power internationally. This paper enlarges the pro-
blematizations in the discipline by critically exami-
ning a pivotal element that functions as the funda-
mental core of a comprehensive and operative web
of rules in international politics – Time. It argues
that Time functions as a crucial instrument of power
and violence in international politics and, conse-
quently, is pivotal for ruling the Other internatio-
nally. The paper is structured in two sections. Firstly,
it contextualizes the analysis by discussing the im-
portance of considering Time as a fundamental ele-
ment for problematizing international politics. This
is advanced by evincing how Time is a pivotal instru-
ment of power that underlies the ruling of the
Other, which is operationalized by a violent double
movement – either by assimilation or by annihila-
tion. Finally, the paper delineates the origins of such
double movement, which has Time as its core featu-
re, in the writings of Francisco de Vitoria, Bartolomé
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
207
de las Casas and Juan Gines de Sepúlveda while pro-
blematizing the relationship with the ultimate Other
of Western modernity – the indigenous peoples in
the Americas.
Ricardo Abrate Luigi Júnior
Interseções entre as Relações Internacionais e a Geo-
grafia: níveis de análise e escala
Trabalho Completo
Resumo: Os intermináveis debates nas relações in-
ternacionais sobre onde e por que as políticas glo-
bais ocorrem (em torno do nível de análise e da
questão “agente-estrutura”), podem ganhar outra
dimensão com base em uma abordagem de proces-
sos escalares com referência nas teorias geográfi-
cas. A noção geográfica de escala pode fornecer um
grande número de ideias para as relações internaci-
onais, com implicações ontológicas, metodológicas
e normativas. Segundo Sjoberg (2008), uma incur-
são interdisciplinar entre as áreas permite uma solu-
ção para o problema dos níveis de análise, propici-
ando uma compreensão maior dos processos da
política global. A multidimensionalidade do conceito
de escala adotada pelos geógrafos políticos em sua
leitura da política internacional é vista como capaz
de promover a reconciliação entre as aparentes
contradições das noções de globalização, regionalis-
mo e localização. Nesse processo de análise da con-
tribuição da geografia para as relações internacio-
nais, Sjoberg (2008) chama a atenção para a simpli-
ficação que há nas teorias ortodoxas de relações
internacionais, tomando a geografia física (o espaço
como receptáculo) como sinônimo da geografia e
ignorando os processos “sócio-espaciais” (SJOBERG,
2008). Autores como Matias (2014), Gökmen (2010)
e Senhoras (2015) também abordam os pressupos-
tos comuns e as possibilidades de diálogo entre as
teorias das relações internacionais e os conceitos
geográficos. Acredita-se que a geografia e as rela-
ções internacionais associadas têm um grande con-
tributo geral. Em específico auxiliam na compreen-
são dos processos de integração regional, ao se
compreender a perspectiva multiescalar e associati-
va da região, que produz consequências políticas
subnacionais, nacionais, supranacionais e globais.
Roberto Vilchez Yamato
O tropo do fora da lei da humanidade: uma releitura
das fronteiras do internacional
Resumo: Neste trabalho, eu proponho oferecer uma
leitura do que nomeio de o tropo do fora da lei da
humanidade. Posicionando-me teoricamente em
relação a alguns estudos críticos de fronteira, e, de
certo modo, entre leituras pós-estruturalistas e pós-
coloniais, eu pretendo desenvolver uma releitura
das fronteiras do sistema internacional moderno.
Se, de um lado, pode-se dizer que o dualismo
‘amigo/inimigo’ faz parte de um tradicional tropo,
espacial, das relações internacionais, e se, de outro
lado, o dualismo ‘civilizado/incivilizado’ tem sido
apontado como um segundo tropo, temporal, cons-
titutivo da sociedade internacional, então, numa
terceira margem, eu proponho que o tropo do fora
da lei da humanidade seja lido como um outro tropo
constitutivo do internacional. Relendo os trabalhos
mais recentes de R. B. J. Walker, sobretudo suas dis-
cussões sobre o ‘fora constitutivo’ e as ‘zonas de
fratura’ do internacional moderno, eu pretendo de-
senvolver uma releitura das fronteiras do internaci-
onal que sugere uma diferenciação entre as faces
endógenas e exógenas de tais fronteiras, argumen-
tando que o tropo do fora da lei da humanidade nos
ajuda a pensar teoricamente as últimas. Em seguida,
eu pretendo retornar a um aspecto específico do
trabalho de Martin Wight, qual seja, sua análise so-
bre as (três) teorias da humanidade – e dos
‘bárbaros’. Por fim, via a discussão de Reinhart
Koselleck sobre contra-conceitos assimétricos, eu
pretendo oferecer uma releitura das ‘primeiras li-
nhas globais’, e, mais especificamente, das ‘linhas
de amizade’, em Carl Schmitt. Meu argumento é o
de que, suplementarmente, a releitura destes auto-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
208
res nos ajuda a pensar teoricamente este terceiro
‘padrão de ordem’ da sociedade internacional. Mi-
nha sugestão, tentativa, é a de que figuras como
‘piratas’, ‘criminosos internacionais’, ‘terroristas’,
assim como recentes associações destas figuras com
‘migrantes’ e refugiados’, devem ser entendidas à
luz, ou às sombras, deste tropo do fora da lei da hu-
manidade.
Theo Peixoto Scudellari
O equilíbrio de poder em "A política de poder" de
Martin Wight: Estudo introdutório sobre a Escola In-
glesa de Relações Internacionais
Resumo: O presente projeto de iniciação científica
objetiva centralmente analisar a posição central de
Martin Wight dentro da chamada Escola Inglesa de
teoria das relações internacionais, destacando espe-
cialmente sua obra principal, A política de poder, e
dentro desta o conceito de “equilíbrio de poder”.
Sendo objetivos mais específicos do projeto pesqui-
sar as linhas teóricas gerais da chamada Escola In-
glesa de teoria das relações internacionais, pesqui-
sar as linhas teóricas gerais da obra wightiana A po-
lítica de poder, pesquisar centralmente o conceito
de “equilíbrio de poder” nessa obra, e, conclusiva-
mente, analisar a importância geral do pensamento
internacionalista wightiano para a teoria das rela-
ções internacionais. Dessa forma, o projeto preten-
de contribuir para o adensamento da produção in-
telectual brasileira sobre a teoria das relações inter-
nacionais, considerando a persistente e irrazoável
superioridade dos estudos empíricos sobre os estu-
dos teóricos sobre as relações internacionais ainda
existente em nossa produção bibliográfica.
Thiago Alves Braz
Reinterpretações do Brasil: relações inter/nacionais
para além da ótica eurocêntrica
Coautor(es): Andréa B. Gill
Resumo: Este trabalho pretende pôr em conversa
interpretações reconhecidas como clássicas no pen-
samento social e político brasileiro com reinterpre-
tações críticas, as quais por muito tempo estiveram
excluídas do campo de disputa acerca do lugar do
Brasil, tanto de dentro quanto de fora. O movimen-
to de nos situarmos na produção intelectual e políti-
ca, inter/nacionalmente, possibilita repensar os ter-
mos através dos quais o Brasil e seus habitantes são
inseridos no mundo pós-colonial, abrindo, deste
modo, diversos caminhos em direção à descoloniza-
ção efetiva das estruturas de poder, saber, ser e vi-
ver em sociedade. Para tanto, o trabalho se propõe
a mapear os campos de disputa, colocando as pers-
pectivas, os métodos, as teorias e auto/imagens do
Brasil em contexto, de maneira a que as diversas
interpretações do Brasil, suas heranças ibéricas, co-
loniais e escravistas sejam explicitadas e, sobretudo,
tornadas objeto de investigação crítica. Em um se-
gundo momento, o estudo busca aprofundar-se na
análise das implicações em matéria de processos de
governança do Brasil, de demarcação de território,
centros e periferias, a fim de ainda, nesse mesmo
movimento, explorar caminhos rumo a uma renar-
ração do Brasil que dê conta de suas hierarquias,
violências e resistências constitutivas, dentro e para
além de suas fronteiras. Assim, será possível pôr em
relevo formas e modos como epistemologias do sul
podem recentrar as discussões das relações interna-
cionais em um mundo pós-colonial.
Victor Coutinho Lage
Reflexões conceituais sobre segurança e violência na
política contemporânea
Resumo: Cada vez mais, discursos de segurança naci-
onal e internacional ganham o palco dos debates
políticos rotineiros, não apenas no Brasil, mas ao
redor do mundo. Tais discursos mobilizam imaginá-
rios específicos acerca das fontes de segurança e
insegurança modernas, muitas vezes desafiando as
tradicionais fronteiras disciplinares e políticas que
costumam separar espaços de paz e ordem daque-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
209
les que são considerados espaços de desordem e
violência. Assim, discursos contemporâneos da se-
gurança operam na reprodução e/ou deslocamento
de determinados entendimentos e práticas, a fim de
legitimar estratégias políticas específicas. Chama
atenção, nesse debate, as maneiras pelas quais de-
terminados discursos, no processo de legitimar suas
práticas, tendem a excluir e silenciar vozes que
apontam para a necessidade de ampliar a compre-
ensão da segurança para além dos modelos tradicio-
nais de violência. Diante dessa crescente disputa
discursiva sobre a segurança na política internacio-
nal, e dada a centralidade que tais discursos assu-
mem na condução das políticas internas e externas
dos Estados, este painel entende a importância de
uma reflexão conceitual acerca dos termos e con-
sensos sobre os quais se balizam os discursos e prá-
ticas políticas da segurança hoje. Assim, busca-se
contestar e ampliar os entendimentos conceituais e
teóricos acerca da violência e da segurança na polí-
tica internacional, chamando atenção para a produ-
ção de espaços de violência e insegurança contem-
porâneos, e sua respectiva estética de vidas e mor-
tes autorizadas. Ao confrontar as tradicionais fron-
teiras conceituais que demarcaram o estudo da se-
gurança nas relações internacionais, o painel refleti-
rá sobre a necessidade de novos conceitos e enten-
dimentos para aproximar realidades políticas e prá-
ticas de violência que divergem dos modelos tradici-
onais que balizam a disciplina.
Yara Resende Marangoni Martinelli
A implementação da Agenda 2030 e a UnB: mapean-
do criticamente a teoria dos ODS à luz da vida univer-
sitária
Resumo: O argumento central é de que as teorias das
relações internacionais, que informam os estudos
sobre as principais agendas de política internacio-
nal, como a Agenda 2030 dos ODS, são reflexos da
manutenção de paradigmas e de uma epistemologia
ocidentalizada, ou seja, de um conhecimento basea-
do nas teorias desenvolvidas por homens brancos
que viveram e vivem em um contexto histórico e
geográfico muito específico e que tendem a descon-
siderar a diversidade de culturas e pensamentos
existentes nas RI. Parte-se da construção de enten-
dimentos de autores, como Ramón Grosfoguel e
Boaventura de Souza Santos, que conceituam
"epistemicídicios"; Hill Collins, que define o
"pensamento dicotômico com partes mutuamente
excludentes" típico do modelo cientificista ocidental
e base para diversas hierarquias sociais; Arturo Es-
cobar, e seus estudos críticos sobre o conceito de
desenvolvimento. Em se tratando da colonização do
pensamento como um dos grandes motivos da per-
petuação da colonialidade, mesmo após as indepen-
dências políticas das colônias, é preciso que nos
atentemos à sua origem, afinal, é a raiz da cultura e
sociedade coloniais que se perpetuam no mundo e
na América Latina, mais especificamente. Logo, a
partir de um esforço de pesquisa no acompanha-
mento da implementação da Agenda 2030 e dos
ODS no Brasil e de seus reflexos na vida universitária
da UnB, foram feitos mapeamentos de disciplinas,
projetos e atividades com objetivo de verificar até
que ponto é possível vislumbrar que agentes subal-
ternizados ganharão voz com esta nova agenda.
Além disso, busca-se compreender qual o impacto
desta nova agenda dos ODS na construção de um
conhecimento teórico em RI que seja capaz de valo-
rizar saberes antes descartados, e que são peça cha-
ve para "decolonizar" o pensar, o sentir, o conhecer
e o ser as RI no século 21.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
210
Alexandre Freitas
Contribuições das simulações para a formação profis-
sional em relações internacionais no Brasil.
Resumo: Após experimentar vertiginoso crescimento
em número de cursos na última década no Brasil o
curso de relações internacionais enfrenta certos
questionamentos quanto a sua capacidade em for-
mar profissionais com um perfil particular que iden-
tifique os estudantes do curso com certas diferenci-
ações e competências que de fato possam determi-
nar a área de atuação profissional do bacharel em
relações internacionais. No caminho dessa discus-
são as reflexões têm sido direcionadas ao ensino na
área, isto é, que métodos e modelos de aprendiza-
gem têm sido utilizados nos cursos de relações in-
ternacionais do Brasil? Em que medida os métodos
e modelos de ensino de tal graduação contemplam
aquilo que se espera de um profissional da área?
Tais indagações são atuais e importantes para a soli-
dificação e instituição da carreira de relações inter-
nacionais no Brasil como uma área autônoma e que
guarde as suas particularidades. Para adicionar obje-
tividade e especificidade a essa discussão, é ideia
deste trabalho se debruçar sobre um caso muito
comum a maioria dos cursos de relações internacio-
nais no Brasil, as simulações de organizações inter-
nacionais e negociações internacionais e corporati-
vas. De tal maneira que será feita uma análise sobre
as qualidades e funções pedagógicas das simulações
para o curso, partindo-se de uma análise feita no
curso de relações internacionais da Universidade
Estadual Paulista, no campus de Marília, sobre o uso
de tal método nesse curso até um panorama nacio-
nal sobre a aplicação das simulações no Brasil. Por
este meio, as indagações sobre quais são as singula-
ridades da formação profissional em relações inter-
nacionais alinhadas a forma como têm se dado seu
ensino no país se alinham aos objetivos em demons-
trar analítica e criticamente as contribuições de um
método bastante comum aos cursos de relações
internacionais no Brasil, as Simulações, e seus des-
dobramentos. Assim, o trabalho irá se estruturar de
forma panorâmica sobre essa questão.
Alexsandro Eugenio Pereira
Criticas à Teoria de Securitização: uma visão estrutu-
rada
Coautor(es): Caroline Cordeiro Viana e Silva
Resumo: O presente trabalho tem como intuito con-
tribuir com a área de pesquisa em Relações Interna-
cionais com a aplicação da metodologia de analise
bibliográfica sistemática. O trabalho pretende anali-
sar as principais críticas à teoria de securitização no
período de 2000 a 2016. Para desenvolver essa aná-
lise foi realizado um levantamento bibliográfico sis-
temático em todo o primeiro quadrante do índice
de fator de impacto da Scopus, recorrendo ao tema
Relações Internacionais. Foram levantados todos os
artigos que apresentavam no título ou resumo ou,
ainda, nas palavras chave o termo securitização. Os
artigos foram classificados em dois grupos princi-
pais: (i) aplicação empírica, que não serão examina-
dos aqui; e (ii) crítica à teoria, que foram analisados
sistematicamente no presente artigo, totalizando 48
artigos de criticas à teoria. Para a análise foram con-
feccionadas notas de leitura, com vistas a examinar
a estrutura lógica da argumentação de cada fonte. A
grade de leituras visou classificar o ponto estrutural
da crítica. Tendo como resultado parcial a identifica-
ção do avanço na pesquisa sobre securitização, o
trabalho contribui para as leituras sobre ensino e
pesquisa não só por analisar o desenvolvimento
acadêmico da Disciplina como também por apresen-
tar esse desenvolvimento utilizando a ferramenta
metodológica de revisão sistemática.
Alyne Rayanna de Sousa Salvador da Silva
SEGURANÇA ALIMENTAR NO SUDÃO DO SUL: as con-
tribuições dos organismos da ONU e as estratégias
ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
211
nation-building (2011-2015)
Coautor(es): Larissa de Oliveira Viegas, Mayara Cle-
mente Santos Silva
Resumo: O presente Pôster de Iniciação Científica
tem como tema a relação entre a segurança alimen-
tar no Sudão do Sul e as estratégias nation-building
dos organismos da ONU. A pesquisa busca respon-
der o seguinte problema: qual a eficácia das estraté-
gias de nationbuilding para segurança alimentar no
Sudão do Sul? Assim, o objetivo geral é analisar as
estratégias de nation-building executadas pelos or-
ganismos da ONU no Sudão do Sul, no período de
2011-2015. São objetivos específicos da pesquisa: (i)
contextualizar a formação do Sudão do Sul; (ii) des-
crever as estratégias nation-building dos organismos
da ONU e (iii) identificar o contexto da segurança
alimentar e seus termos no Sudão do Sul. A pesqui-
sa tem um caráter exploratório e trabalha a partir
de uma metodologia qualitativa através do método
de revisão sistemática de bibliografia, para testar a
seguinte hipótese, quanto mais eficiente as estraté-
gias nation-building, maior a segurança alimentar.
Os resultados preliminares sugerem que mesmo
com as estratégias emergenciais dos organismos da
ONU e da UNMISS atrelada às ações Nation-
Building, os planos precisam continuar para que ha-
ja redução de conflitos e melhor distribuição ali-
mentar do Sudão do Sul.
Ana Beatriz Slomski Oliveira
A Análise de Conjuntura: Estudo e Mapeamento de
Construção de Cenários em Relações Internacionais
no Brasil
Resumo: O trabalho propõe conceituar, analisar e
mapear os estudos de análise de conjuntura nas
universidades brasileiras para apontar a importância
desta técnica nas diversas áreas que envolvem to-
madas de decisões dentro de conjunturas de grande
mutabilidade, com foco nas Relações Internacionais.
A pesquisa envolve a busca pelo maior conhecimen-
to das técnicas de construção de cenários, o enten-
dimento do seu surgimento por meio de uma breve
análise histórica, seu incorporamento nas institui-
ções brasileiras, locais de estudos e desenvolvimen-
to dessa técnica em universidades brasileiras e a
forma com que é utilizada dentro das Relações In-
ternacionais e política externa brasileira.
Ana Clara Santos Bertella
A história dos EUA pela ótica do cinema
Coautor(es): Lara Bet Meneghel, Bruno Henrique
Thomaz Borges, João Paulo Cavazzani Bosso
Resumo: O trabalho faz parte da um programa inte-
grado entre pesquisa e extensão desenvolvido no
grupo de estudos em Economia Política Internacio-
nal do INCT-INEU –UFSC. Na primeira parte, desen-
volveu-se uma pesquisa sobre os fatos mais marcan-
tes sobre a história contemporânea dos Estados
Unidos. No momento seguinte, buscou-se selecio-
nar filmes que refletissem os fatos analisados e a
sua influência no mundo. Assim, o objetivo era mos-
trar, por meio do cinema, não apenas a forma como
os EUA se enxergam dentro do cenário internacio-
nal, mas também,como eles influenciam esse cená-
rio. Para tal, estabeleceu-se momentos marcantes
da história dos EUA entre os anos 20 até a atualida-
de e, então, foi feito uma seleção de alguns filmes
representativos desses momentos. Os filmes foram
editados, de forma a criar uma sequência de peque-
nos trechos que refletissem cada momento. Entre
um período e outro, o grupo dialogava com o públi-
co, de maneira a estimular o debate sobre os acon-
tecimentos históricos e políticos do país. E como
eles afetavam a dinâmica dos Estados Unidos e o
mundo em geral.
Ana Luiza Vedovato Rodrigues
O papel do ensino das Relações Internacionais para
sua consolidação no debate público brasileiro: uma
leitura a partir da Educação Popular
Coautor(es): Bibiana Poche Florio
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
212
Resumo: Este trabalho propõe-se a discutir o papel
do ensino das Relações Internacionais (RI), a partir
de práticas de Educação Popular, no fortalecimento
dos temas da disciplina no debate público brasileiro.
Parte-se da premissa de que as Relações Internacio-
nais, além de uma disciplina, precisa ser reconheci-
da pelo seu papel enquanto política pública. Apesar
disso, o ensino das RI, para além do contexto uni-
versitário, não é reconhecidamente problematizado
e a discussão sobre sua importância no debate pú-
blico ainda é pouco disseminada tanto na academia
quanto na sociedade brasileira. Assim, este trabalho
questiona como a incorporação de iniciativas de
Educação Popular poderiam auxiliar no fortaleci-
mento do debate público sobre as RI. Na primeira
seção, busca-se dialogar sobre o papel do ensino
nas relações sociais e o contexto da Educação Popu-
lar no Brasil. Em seguida, discute-se o surgimento e
a implementação da disciplina de RI no Brasil e co-
mo a área pode ser repensada por meio de práticas
de Educação Popular. Apresenta-se uma experiência
empírica a partir do projeto de extensão “Educação
Popular e Relações Internacionais”, que ministra a
disciplina de Tópicos em Relações Internacionais em
turmas do Pré-Universitário Popular Alternativa, em
Santa Maria (RS). Por fim, a terceira seção analisa a
compreensão social a respeito de temas de relações
internacionais no Brasil e como a incorporação de
práticas da Educação Popular no ensino poderiam
contribuir para a consolidação de um debate públi-
co sobre os temas da área. Este trabalho utiliza-se
do método de abordagem hipotético-dedutivo e
como método de procedimento, o estudo de caso.
Argumenta-se que iniciativas educacionais no cam-
po da Educação Popular estimulam o diálogo entre
academia, setor público e sociedade civil. No traba-
lho, sugere-se que estas práticas, ao expandirem as
RI para além do academicismo do Ensino Superior,
contribuem para a popularização dos temas ineren-
tes à disciplina no debate público brasileiro.
Ana Paula Maielo Silva
O Caso de Ensino como estratégia de aprendizagem
ativa em Relações Internacionais: experiências de ela-
boração e aplicação em Teoria de RI.
Coautor(es): Cristina Carvalho Pacheco, Gabriela
Gonçalves Barbosa, Elia Elisa Cia Alves
Resumo: A aprendizagem ativa acontece quando o
aluno se envolve com o conteúdo através de ativida-
des que estimulam a reflexão crítica, por meio de
diferentes ferramentas que permitem o desenvolvi-
mento de competências e habilidades conforme os
objetivos da aula. Com vistas a discutir a utilização
de casos de ensino como uma ferramenta para en-
gajar ativamente os alunos na aprendizagem, este
artigo analisa as experiências obtidas no Laboratório
de Simulação e Aprendizado Ativ do curso de Rela-
ções Internacionais da Universidade Estadual da Pa-
raíba. Com base no caso de ensino sobre o Pacto
Global da ONU da obra de Milani e Tude (2015),
produzimos duas dinâmicas distintas, não obstante
integradas, que foram testadas com os alunos do
Laboratório. Na primeira dinâmica, denominada
“Construção e Análise de Caso de Ensino”, os alunos
construíram um caso de ensino, a partir da temática
proposta. Na segunda, “Aplicações Teóricas a Casos
de Ensino”, os alunos aplicaram uma teoria ao caso
de ensino elaborado previamente. Além de estimu-
lar os alunos a pesquisarem e analisarem os proble-
mas políticos concretos, não apenas se engajando
de maneira ativa, como também, e talvez, principal-
mente, utilizando ferramentas interativas, observa-
mos que o processo de construção de caso pelos
próprios alunos tornou mais fácil a aplicação da teo-
ria proposta. Isso significa um avanço importante no
uso das ferramentas ativas, tendo em vista que
compreender Teoria de Relações Internacionais tal-
vez seja o ponto mais complexo do ensino, em virtu-
de de sua natureza abstrata. Por fim, argumenta-
mos que estas dinâmicas oferecem uma forma origi-
nal e profícua de ensinar não somente teoria de Re-
lações Internacionais, como também o próprio pro-
cesso de construção e análise de diferentes proble-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
213
mas da política internacional, podendo, portanto,
serem utilizadas como plataformas didáticas para
diferentes disciplinas dos cursos de Relações Inter-
nacionais e, possivelmente, outros cursos afins.
Ana Tereza Lopes Marra de Sousa
O uso de casos para o ensino da Internacionalização
de Empresas: a presença da Embraer na China
Resumo: O fenômeno da internacionalização de em-
presas tem ganhado mais relevância nas últimas dé-
cadas uma vez que contribui para estruturar fluxos
importantes da economia mundial – como os finan-
ceiros e os comerciais – por meio da atuação das
empresas multinacionais. Um dos desafios enfrenta-
dos na empreitada de buscar a compreensão da in-
ternacionalização de empresas é conseguir ter uma
visão multidimensional do assunto, dado que existe
um conjunto grande de teorias, abordagens e pers-
pectivas com origem em várias disciplinas que expli-
cam parcialmente o fenômeno. Uma das dificulda-
des para prover essa visão é que há uma deficiente
conexão entre teorias microeconômicas, que no ge-
ral têm origem na Administração e na Economia,
com visões mais amplas provenientes de instrumen-
tal específico das Relações Internacionais, tanto a
partir das Teorias de Relações Internacionais (TRIs),
como da própria Economia Política Internacional
(EPI). Neste trabalho, o nosso objetivo é mostrar
que a utilização de casos para a compreensão da
internacionalização de empresas, como fenômeno
multidimensional, pode ser uma opção útil e enri-
quecedora para o ensino-aprendizagem nos cursos
em que esse tema é abordado, com destaque para
o de Relações Internacionais. Através da análise da
internacionalização da empresa Embraer para a Chi-
na, é possível entender e articular as diversas di-
mensões do fenômeno, bem como integrar conheci-
mentos da área de Relações Internacionais e outras
disciplinas correlatas.
Anakelli Gonçalves de Carvalho
Internacionalização linguística em contextos acadê-
micos. Estudo de caso: Universidade Federal da Inte-
gração Latino- Americana (UNILA)
Resumo: As línguas e o plurilinguismo desempenham
um papel essencial no cenário internacional multi-
polar. Logo, a integração linguística propõe um en-
foque inovador, pois trabalha com dois termos im-
portantes: o da integração e o do poder da lingua-
gem como forma representativa e diplomática no
sistema internacional. Para uma compreensão críti-
ca sobre as questões das políticas de comunicação,
nossa lente de análise focará nos estudos desenvol-
vidos em nossa iniciação científica sobre a internaci-
onalização linguística em contextos acadêmicos, uti-
lizando como estudo de caso a Universidade Federal
da Integração Latino-Americana (UNILA). A pesquisa
propõe uma descrição dos processos de comunica-
ção, através de um estudo qualitativo sobre a uni-
versidade coexistindo com as experiências acadêmi-
cas e linguísticas de seus integrantes. Logo, para a
construção de um pensamento crítico, é essencial
realizar uma base educacional plurilíngue constan-
temente cultivada, por exemplo, em contextos aca-
dêmicos. Neste cenário entra a UNILA, com uma
estrutura de política linguística do “bilinguismo re-
ceptivo ”- português e espanhol-. Por fim, acredita-
mos que a educação não é somente aprender as
línguas e os conteúdos, mas também aprender a
apreender, abrir-se para novas maneiras de enxer-
gar o mundo. Assim, este trabalho se propõe a pen-
sar as contribuições do debates das políticas linguís-
ticas para o campo das relações internacionais.
Arthur Pinheiro de Azevedo Banzatto
O Papel da Cátedra Sérgio Vieira de Mello no Proces-
so de Integração dos Imigrantes Haitianos em Doura-
dos-MS e Região
Coautor(es): Paola Cristina Nicolau
Trabalho Completo
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
214
Resumo: O artigo se propõe a analisar a situação dos
imigrantes haitianos na cidade de Dourados-MS,
bem como refletir sobre o papel da Cátedra Sérgio
Vieira de Mello (CSVM) no seu processo de integra-
ção local. O Mato Grosso do Sul possui uma extensa
fronteira internacional com significativos pontos de
entrada de imigrantes. O estado se configura inicial-
mente como território de passagem para a grande
maioria de imigrantes e solicitantes de refúgio que
cruzam essas fronteiras. No entanto, a taxa de regis-
tro de haitianos no MS ocupa apenas a décima pri-
meira posição. Isso se configura pela ausência de
políticas públicas e de recursos humanos capacita-
dos para atender as demandas desses imigrantes,
de modo que a maioria acaba se deslocando para o
Sudeste e a escolha do MS como destino final ocor-
re posteriormente a esse processo. O relatório anu-
al da OBMigra (2017) sobre o mercado de trabalho
revela que somente 336 haitianos foram incorpora-
dos formalmente no estado, de um número total
aproximado de mil haitianos que vivem nas cidades
de Três Lagoas, Campo Grande, Itaquiraí e Doura-
dos. Buscando suprir parcialmente esta lacuna, a
CSVM-UFGD foi formalizada em 2014, por meio de
um Acordo de Cooperação Técnica entre a UFGD e
o ACNUR. Neste contexto, destaca-se o papel da
academia como ator social relevante capaz de con-
tribuir para a recepção e integração destes imigran-
tes na cidade de Dourados/MS e região, através de
atividades de ensino, pesquisa e extensão envolven-
do a temática, além da articulação com outras insti-
tuições públicas e da sociedade civil. Como referen-
cial teórico, o conceito de migração de sobrevivên-
cia (Betts, 2013) é utilizado para compreender as
lacunas de proteção aos haitianos e a teoria institu-
cional (Messey et al, 1993) auxilia a conceber o pa-
pel da sociedade civil na assistência e integração dos
imigrantes na sociedade local.
Augusto Veloso Leão
A atividade de pesquisa e sua interligação com exten-
são e ensino à luz das Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para RI
Trabalho Completo
Resumo: Este artigo visa a discutir as atividades de
pesquisa e suas conexões com as atividades de ex-
tensão e ensino. Ele parte da experiência do autor
no desenvolvimento da pesquisa "Reconhecimento
legal e estima social nas políticas de integração de
imigrantes [...]" para argumentar sobre os benefí-
cios da sinergia entre os três apoios do tripé da edu-
cação superior para a construção de hipóteses e sua
posterior validação, assim como, sobre os efeitos na
possibilidade de efetivação dos direitos humanos
dos imigrantes e a repercussão para a formulação
de políticas públicas. Em outro espectro, o artigo
também discute as contribuições de uma atuação
integrada para a consecução dos objetivos de for-
mação do profissional em Relações Internacionais,
como prevista pelas Diretrizes Curriculares Nacio-
nais definidas pelo Conselho Superior de Educação
em outubro de 2017.
Bibiana Poche Florio
O papel do ensino das Relações Internacionais para
sua consolidação no debate público brasileiro: uma
leitura a partir da Educação Popular
Ana Luiza Vedovato Rodrigues, Bibiana Poche Florio
Resumo: Este trabalho propõe-se a discutir o papel
do ensino das Relações Internacionais (RI), a partir
de práticas de Educação Popular, no fortalecimento
dos temas da disciplina no debate público brasileiro.
Parte-se da premissa de que as Relações Internacio-
nais, além de uma disciplina, precisa ser reconheci-
da pelo seu papel enquanto política pública. Apesar
disso, o ensino das RI, para além do contexto uni-
versitário, não é reconhecidamente problematizado
e a discussão sobre sua importância no debate pú-
blico ainda é pouco disseminada tanto na academia
quanto na sociedade brasileira. Assim, este trabalho
questiona como a incorporação de iniciativas de
Educação Popular poderiam auxiliar no fortaleci-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
215
mento do debate público sobre as RI. Na primeira
seção, busca-se dialogar sobre o papel do ensino
nas relações sociais e o contexto da Educação Popu-
lar no Brasil. Em seguida, discute-se o surgimento e
a implementação da disciplina de RI no Brasil e co-
mo a área pode ser repensada por meio de práticas
de Educação Popular. Apresenta-se uma experiência
empírica a partir do projeto de extensão “Educação
Popular e Relações Internacionais”, que ministra a
disciplina de Tópicos em Relações Internacionais em
turmas do Pré-Universitário Popular Alternativa, em
Santa Maria (RS). Por fim, a terceira seção analisa a
compreensão social a respeito de temas de relações
internacionais no Brasil e como a incorporação de
práticas da Educação Popular no ensino poderiam
contribuir para a consolidação de um debate públi-
co sobre os temas da área. Este trabalho utiliza-se
do método de abordagem hipotético-dedutivo e
como método de procedimento, o estudo de caso.
Argumenta-se que iniciativas educacionais no cam-
po da Educação Popular estimulam o diálogo entre
academia, setor público e sociedade civil. No traba-
lho, sugere-se que estas práticas, ao expandirem as
RI para além do academicismo do Ensino Superior,
contribuem para a popularização dos temas ineren-
tes à disciplina no debate público brasileiro.
Bruna Lima de Morais
Desenvolvimento Sustentável sob a ótica da ONU:
atitudes e conferências
Resumo: O conceito de desenvolvimento sustentá-
vel teve seu aprofundamento na ordem mundial
principalmente por conta das grandes conferências
internacionais ambientais. A ONU dentro deste ce-
nário atua de modo mediador, ao organizar as con-
ferências e principalmente com suas posições acer-
ca das atitudes dos países. As principais questões
que permeiam esta pesquisa são: Como a ONU con-
segue influenciar na política externa de um país na
área de meio ambiente; Qual o papel da ONU na
conscientização do conceito de desenvolvimento
sustentável aplicado nos países que fazem parte da
Organização e por ultimo, quais as atitudes de su-
cessos geradas na Conferência de Estocolmo, Rio 92
e Rio +20. Este estudo buscará demonstrar as tenta-
tivas de alinhamento do conceito desenvolvimento
sustentável tratada na Conferência de Estocolmo
em detrimento da perspectiva integrada dos concei-
tos econômicos, sociais e ambientais desenvolvidos
na Rio+20. Deste modo, será possível construir uma
cronologia teórica acerca de como a ONU influenci-
ou na produção desses encontros e como estes
eventos alteraram seus moldes e premissas susten-
táveis ao longo dos anos. É possível perceber que
para as Relações Internacionais, as conferências in-
ternacionais são essenciais, pois na participação ati-
va que países por meio de seus representantes, os
quais se reúnem na busca de um objetivo comum e
se articulam para defender os direitos de suas na-
ções. Cabe aqui assinalar que ao analisar o papel da
Organização das Nações Unidas pontuando o tema
Desenvolvimento Sustentável abarcará uma nova
perspectiva no que tange o exercício do desenvolvi-
mento sustentável inter-nações. O objetivo desta
pesquisa será iluminar as questões que relacionam
o meio ambiente a partir da análise de conferências
e atos decisórios que envolvem o diálogo entre os
Atores das Nações Unidas, demonstrando como
uma instituição de porte internacional (ONU) pode
influenciar atitudes ambientais através da promo-
ção de conferências realizadas no âmbito internaci-
onal.
Bruno Henrique Thomaz Borges
A história dos EUA pela ótica do cinema
Coautor(es): Lara Bet Meneghel, Ana Clara Santos
Bertella, João Paulo Cavazzani Bosso
Resumo: O trabalho faz parte da um programa inte-
grado entre pesquisa e extensão desenvolvido no
grupo de estudos em Economia Política Internacio-
nal do INCT-INEU –UFSC. Na primeira parte, desen-
volveu-se uma pesquisa sobre os fatos mais marcan-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
216
tes sobre a história contemporânea dos Estados
Unidos. No momento seguinte, buscou-se selecio-
nar filmes que refletissem os fatos analisados e a
sua influência no mundo. Assim, o objetivo era mos-
trar, por meio do cinema, não apenas a forma como
os EUA se enxergam dentro do cenário internacio-
nal, mas também, como eles influenciam esse cená-
rio. Para tal, estabeleceu-se momentos marcantes
da história dos EUA entre os anos 20 até a atualida-
de e, então, foi feito uma seleção de alguns filmes
representativos desses momentos. Os filmes foram
editados, de forma a criar uma sequência de peque-
nos trechos que refletissem cada momento. Entre
um período e outro, o grupo dialogava com o públi-
co, de maneira a estimular o debate sobre os acon-
tecimentos históricos e políticos do país. E como
eles afetavam a dinâmica dos Estados Unidos e o
mundo em geral.
Cairo Gabriel Borges Junqueira
Os avanços e desafios de Ensino, Pesquisa e Extensão
em Relações Internacionais: o caso da Universidade
de Ribeirão Preto (UNAERP)
Coautor(es): Carolina Silva Pedroso
Resumo: A Universidade de Ribeirão Preto
(UNAERP) é uma instituição filantrópica, com mais
de cem anos de história e tradição. O oferecimento
do curso de graduação em Relações Internacionais
data de 2005, visando atender à demanda da região
metropolitana da cidade de Ribeirão Preto, compos-
ta por um aglomerado de 34 municípios do interior
paulista. No ano seguinte, foram criados os núcleos
dedicados à pesquisa e extensão: NEPRI (Núcleo de
Estudos e Pesquisa em Relações Internacionais) e
NECCEX (Núcleo de Estudos e Consultoria em Co-
mércio Exterior). Até 2010, o curso era chamado de
“Relações Internacionais e Comércio Exterior”,
quando passou a ser denominado somente de
“Relações Internacionais”. A despeito da mudança
no nome, o curso continuou proporcionando disci-
plinas específicas para a formação dos alunos em
Comércio Exterior, tendo em vista não só a aderên-
cia desse conhecimento à área de Relações Interna-
cionais, mas principalmente pelo fato de ser essa a
subárea que mais oferece colocações profissionais
para os egressos do curso na região. Por este moti-
vo, com mais de uma década de existência, procura-
remos fazer um balanço dos avanços e desafios do
Ensino, Pesquisa e Extensão do curso de Relações
Internacionais da UNAERP, com destaque para os
núcleos NEPRI e NECCEX, tendo em vista a realidade
regional e nacional em que está inserido.
Camila Feix Vidal
Debate Teórico Como Prática Ativa de Aprendizado
Trabalho Completo
Resumo: O projeto de atividade de ensino aqui pro-
posto tem sido desenvolvido nas disciplinas de Teo-
rias das Relações Internacionais no curso de Rela-
ções Internacionais da Universidade Federal do Rio
Grande (FURG) e tem como objetivo específico a
criação de um espaço para a elaboração de um
“Debate Teórico”. A partir da técnica do Role Play
Debate, o Debate consiste em simular um fórum
acadêmico versando a partir de determinadas abor-
dagens teóricas das Relações Internacionais. A parti-
cipação em um debate desse tipo possibilita aos es-
tudantes: a) prática de aprendizagem ativa, ou seja,
coloca o estudante com protagonista na construção
do conhecimento em sala de aula; b) estímulo de
aspectos importantes para a formação acadêmica
como oratória, construção de argumentos, capaci-
dade de concisão, raciocínio analítico e trabalho em
equipe; c) desenvolvimento da prática de se colocar
em uma outra perspectiva defendendo uma visão
de mundo que não necessariamente seja próxima a
sua; d) estímulo a buscar conhecer as lacunas das
abordagens teóricas, inclusive da que seu grupo de-
fende numa tentativa de se antecipar à possíveis
críticas; e e) contato e imersão em diferentes abor-
dagens teóricas de uma maneira estimulante. Dividi-
dos em grupos representando uma teoria cada, os
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
217
estudantes são encorajados pelo mediador a expli-
car fenômenos e problemas tratados no âmbito das
RI e, ao mesmo tempo, defender, frente aos outros
grupos e teorias, a sua visão de mundo. Metodologi-
camente, o Debate Teórico é divido em três etapas:
paper, debate prático e reflexão anônima. Os resul-
tados tem sido surpreendentes, conforme os questi-
onários semi-estruturados respondidos pelos parti-
cipantes nos últimos dois debates realizados. Em
sua imensa maioria, os participantes apontam um
maior aprofundamento teórico bem como maior
capacidade de concisão e argumentação. Nesse sen-
tido, os debates feitos tem se demonstrado como
uma importante ferramenta no processo de apren-
dizado ativo.
Carla de Oliveira Espanhol
A subalternidade cultural-midiática nas diretrizes cur-
riculares dos estudos das Relações Internacionais no
Brasil
Coautor(es): Pablo Victor Fontes Santos, Monica Lei-
te Lessa, Cristina Rego Monteiro da Luz
Trabalho Completo
Resumo: Após os múltiplos impactos exercidos pela
política da globalização nas últimas décadas, o Bra-
sil, no âmbito das Relações Internacionais, sobretu-
do, nos cursos de graduação, ainda se mantém su-
balterno vis-à-vis aos cânones disciplinares referen-
tes às normativas anglo-saxônicas. A recente apro-
vação pelo Ministério da Educação (MEC), por meio
da resolução n º 4, de 4 de outubro de 2017 nos
aponta para a lacuna e a desfaçatez das Relações
Internacionais frente aos estudos culturais e midiáti-
cos. Nesse sentido, esse artigo se objetiva a apontar
por meio da cartografia analítico-crítica as proble-
máticas e as lacunas que passam a compor o campo
dos estudos das Relações Internacionais no Brasil na
ausência dos estudos culturais e midiáticos como
disciplinas do núcleo estruturante. Tem-se como
problema de pesquisa a seguinte questão: De que
modo a subalternidade colonial cultural-midiática
das Relações Internacionais no Brasil se mantém, a
partir das diretrizes curriculares aprovada pelo MEC,
vis-à-vis as liturgias dogmáticas do pensamento an-
glo-saxão? Defende-se neste artigo, a seguinte hipó-
tese: Refletir sobre as Relações Internacionais é
compreender a importância que a cultura e as mí-
dias exercem e colaboram para as análises político-
sociais e econômicas da sociedade mundial. Portan-
to, manter as disciplinas de cultura e mídia das dire-
trizes curriculares das Relações Internacionais como
eixo secundário (núcleo interdisciplinar), é manter-
se encarcerado as visões subalternas do pensamen-
to colonial anglo-saxão. Metodologicamente, o arti-
go faz uso de análises quantitativas e qualitativas à
luz dos estudos interdisciplinares entre as relações
internacionais, a cultura e a mídia.
Carolina Silva Pedroso
Os avanços e desafios de Ensino, Pesquisa e Extensão
em Relações Internacionais: o caso da Universidade
de Ribeirão Preto (UNAERP)
Coautor(es): Cairo Gabriel Borges Junqueira
Resumo: A Universidade de Ribeirão Preto
(UNAERP) é uma instituição filantrópica, com mais
de cem anos de história e tradição. O oferecimento
do curso de graduação em Relações Internacionais
data de 2005, visando atender à demanda da região
metropolitana da cidade de Ribeirão Preto, compos-
ta por um aglomerado de 34 municípios do interior
paulista. No ano seguinte, foram criados os núcleos
dedicados à pesquisa e extensão: NEPRI (Núcleo de
Estudos e Pesquisa em Relações Internacionais) e
NECCEX (Núcleo de Estudos e Consultoria em Co-
mércio Exterior). Até 2010, o curso era chamado de
“Relações Internacionais e Comércio Exterior”,
quando passou a ser denominado somente de
“Relações Internacionais”. A despeito da mudança
no nome, o curso continuou proporcionando disci-
plinas específicas para a formação dos alunos em
Comércio Exterior, tendo em vista não só a aderên-
cia desse conhecimento à área de Relações Interna-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
218
cionais, mas principalmente pelo fato de ser essa a
subárea que mais oferece colocações profissionais
para os egressos do curso na região. Por este moti-
vo, com mais de uma década de existência, procura-
remos fazer um balanço dos avanços e desafios do
Ensino, Pesquisa e Extensão do curso de Relações
Internacionais da UNAERP, com destaque para os
núcleos NEPRI e NECCEX, tendo em vista a realidade
regional e nacional em que está inserido.
Caroline Cordeiro Viana e Silva
Criticas à Teoria de Securitização: uma visão estrutu-
rada
Coautor(es): Alexsandro Eugenio Pereira
Resumo: O presente trabalho tem como intuito con-
tribuir com a área de pesquisa em Relações Interna-
cionais com a aplicação da metodologia de analise
bibliográfica sistemática. O trabalho pretende anali-
sar as principais críticas à teoria de securitização no
período de 2000 a 2016. . Para desenvolver essa
análise foi realizado um levantamento bibliográfico
sistemático em todo o primeiro quadrante do índice
de fator de impacto da Scopus, recorrendo ao tema
Relações Internacionais. Foram levantados todos os
artigos que apresentavam no título ou resumo ou,
ainda, nas palavras chave o termo securitização. Os
artigos foram classificados em dois grupos princi-
pais: (i) aplicação empírica, que não serão examina-
dos aqui; e (ii) crítica à teoria, que foram analisados
sistematicamente no presente artigo, totalizando 48
artigos de criticas à teoria. Para a análise foram con-
feccionadas notas de leitura, com vistas a examinar
a estrutura lógica da argumentação de cada fonte. A
grade de leituras visou classificar o ponto estrutural
da crítica. Tendo como resultado parcial a identifica-
ção do avanço na pesquisa sobre securitização, o
trabalho contribui para as leituras sobre ensino e
pesquisa não só por analisar o desenvolvimento
acadêmico da Disciplina como também por apresen-
tar esse desenvolvimento utilizando a ferramenta
metodológica de revisão sistemática.
Cristina Carvalho Pacheco
O Caso de Ensino como estratégia de aprendizagem
ativa em Relações Internacionais: experiências de ela-
boração e aplicação em Teoria de RI.
Coautor(es): Gabriela Gonçalves Barbosa, Elia Elisa
Cia Alves, Ana Paula Maielo Silva
Resumo: A aprendizagem ativa acontece quando o
aluno se envolve com o conteúdo através de ativida-
des que estimulam a reflexão crítica, por meio de
diferentes ferramentas que permitem o desenvolvi-
mento de competências e habilidades conforme os
objetivos da aula. Com vistas a discutir a utilização
de casos de ensino como uma ferramenta para en-
gajar ativamente os alunos na aprendizagem, este
artigo analisa as experiências obtidas no Laboratório
de Simulação e Aprendizado Ativ do curso de Rela-
ções Internacionais da Universidade Estadual da Pa-
raíba. Com base no caso de ensino sobre o Pacto
Global da ONU da obra de Milani e Tude (2015),
produzimos duas dinâmicas distintas, não obstante
integradas, que foram testadas com os alunos do
Laboratório. Na primeira dinâmica, denominada
“Construção e Análise de Caso de Ensino”, os alunos
construíram um caso de ensino, a partir da temática
proposta. Na segunda, “Aplicações Teóricas a Casos
de Ensino”, os alunos aplicaram uma teoria ao caso
de ensino elaborado previamente. Além de estimu-
lar os alunos a pesquisarem e analisarem os proble-
mas políticos concretos, não apenas se engajando
de maneira ativa, como também, e talvez, principal-
mente, utilizando ferramentas interativas, observa-
mos que o processo de construção de caso pelos
próprios alunos tornou mais fácil a aplicação da teo-
ria proposta. Isso significa um avanço importante no
uso das ferramentas ativas, tendo em vista que
compreender Teoria de Relações Internacionais tal-
vez seja o ponto mais complexo do ensino, em virtu-
de de sua natureza abstrata. Por fim, argumenta-
mos que estas dinâmicas oferecem uma forma origi-
nal e profícua de ensinar não somente teoria de Re-
lações Internacionais, como também o próprio pro-
cesso de construção e análise de diferentes proble-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
219
mas da política internacional, podendo, portanto,
serem utilizadas como plataformas didáticas para
diferentes disciplinas dos cursos de Relações Inter-
nacionais e, possivelmente, outros cursos afins.
Cristina Rego Monteiro da Luz
A subalternidade cultural-midiática nas diretrizes cur-
riculares dos estudos das Relações Internacionais no
Brasil
Coautor(es): Pablo Victor Fontes Santos, Monica Lei-
te Lessa, Carla de Oliveira Espanhol
Trabalho Completo
Resumo: Após os múltiplos impactos exercidos pela
política da globalização nas últimas décadas, o Bra-
sil, no âmbito das Relações Internacionais, sobretu-
do, nos cursos de graduação, ainda se mantém su-
balterno vis-à-vis aos cânones disciplinares referen-
tes às normativas anglo-saxônicas. A recente apro-
vação pelo Ministério da Educação (MEC), por meio
da resolução n º 4, de 4 de outubro de 2017 nos
aponta para a lacuna e a desfaçatez das Relações
Internacionais frente aos estudos culturais e midiáti-
cos. Nesse sentido, esse artigo se objetiva a apontar
por meio da cartografia analítico-crítica as proble-
máticas e as lacunas que passam a compor o campo
dos estudos das Relações Internacionais no Brasil na
ausência dos estudos culturais e midiáticos como
disciplinas do núcleo estruturante. Tem-se como
problema de pesquisa a seguinte questão: De que
modo a subalternidade colonial cultural-midiática
das Relações Internacionais no Brasil se mantém, a
partir das diretrizes curriculares aprovada pelo MEC,
vis-à-vis as liturgias dogmáticas do pensamento an-
glo-saxão? Defende-se neste artigo, a seguinte hipó-
tese: Refletir sobre as Relações Internacionais é
compreender a importância que a cultura e as mí-
dias exercem e colaboram para as análises político-
sociais e econômicas da sociedade mundial. Portan-
to, manter as disciplinas de cultura e mídia das dire-
trizes curriculares das Relações Internacionais como
eixo secundário (núcleo interdisciplinar), é manter-
se encarcerado as visões subalternas do pensamen-
to colonial anglo-saxão. Metodologicamente, o arti-
go faz uso de análises quantitativas e qualitativas à
luz dos estudos interdisciplinares entre as relações
internacionais, a cultura e a mídia.
Cristine Koehler Zanella
O uso de filmes no ensino das Relações Internacionais
no Brasil
Trabalho Completo
Resumo: As Relações Internacionais são um campo
privilegiado para a utilização de filmes enquanto
ferramenta de aprendizado. Os filmes, porém, não
são uma ferramenta didática por si, e a forma de o
professor utilizá-los no processo de ensino e apren-
dizagem pode também apresentar aspectos negati-
vos. Em relação ao ensino da política e da política
internacional, por exemplo, o foco no sofrimento do
protagonista de um filme que retrata atrocidades
pode dificultar a compreensão das dinâmicas políti-
cas vigentes para que aquele cenário de violência
estivesse montado. Partindo dessas considerações,
este trabalho se propõe a avaliar as formas de uso
do cinema em sala de aula, quais dessas formas têm
sido priorizadas pelos professores de Relações Inter-
nacionais no Brasil e as razões dessas preferências.
Para tanto, partir-se-á da retomada das quatro for-
mas de se usar um filme em sala de aula, tais como
definidas por Stefan Engert e Alexander Spencer em
International Relations at the movies. Esses autores
identificaram o uso dos filmes para: (i) retratar
eventos históricos, (ii) debater temas específicos da
política internacional, (iii) examinar narrativas cultu-
rais e (iv) explicar e criticar teorias de Relações In-
ternacionais. A partir dessa classificação, os aspec-
tos positivos e negativos de cada forma de utilização
dos filmes serão avaliados à luz de questionários
aplicados a docentes que já se utilizaram de filmes
como ferramenta pedagógica para o ensino em dis-
ciplinas do curso de Relações Internacionais. O tra-
balho serve como ferramenta de reflexão sobre o
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
220
uso do cinema no ensino e os resultados obtidos
ilustram experiências com - e especialmente a avali-
ação dos professores sobre - o uso de filmes no en-
sino de Relações Internacionais no Brasil.
Daisy Bispo Teles
O Sensível como proposta metodológica para o estu-
do das Relações Internacionais: o encontro político do
significante e do significado
Coautor(es): Isabela Dias Roque Coutinho
Resumo: As Relações Internacionais foram tratadas,
ao longo dos anos, sobre uma ótica positivista e as-
sim se debruçam analiticamente nos eventos da po-
lítica internacional sobre o pressuposto de corres-
pondência entre o representante e o representado.
Neste sentido, identifica-se como uma problemática
do estudo, e assim do ensino, das RI’s, o fato de que
os mesmo hábitos representacionais, objetivos e
miméticos do internacional começam a ser adeptos
por seus estudantes para a analise dos fenômenos
que a disciplina se propõe a explicar, evidenciando
um espectro metafórico simétrico em que o signifi-
cante assemelha-se ao significado. Assim, faz-se ne-
cessário mobilizar diferentes arcabouços teóricos
para se vislumbrar novas investidas metodológicas e
epistêmicas nas Relações Internacionais. O presente
trabalho pretende, ao apresentar a abordagem da
estética, refletir quais contribuições para o estudo e
pesquisa das RI’s a mesma pode oferecer. A estética
assume que há uma distância entre o representado
e a representação, sendo este hiato o locus sobre o
qual a política acontece, os discursos são apreendi-
dos e as práticas são legitimadas. No estudo e pes-
quisa das RI’s, a estética abre a possibilidade para
diferentes investidas metodológicas que derivam da
analise narrativa, das artes visuais e da interpreta-
ção da cultura popular, partilhando, assim, com di-
versos atores a experiência do sensível. Com isso,
tem-se uma reflexão em que se é possível, pelo
olhar da própria experiência humana, examinar co-
mo formas de existência rearticulam-se como sím-
bolos, significados e objetos. Portanto, novas manei-
ras de pensar as RI’s são necessárias à medida que
se é preciso reconhecer novos objetos de interven-
ção, que estejam para além da dicotomia internaci-
onal/nacional tradicionalmente usada na disciplina.
O presente trabalho pretende engajar-se com a
ideia de que a abordagem estética exerce uma fun-
ção metodológica de (des)organização do pensa-
mento, em que certos atores, outrora silenciados
pelo estudo tradicional das RI’s, possam ganhar voz
e relevância.
Débora Aparecida Antunes Pereira
A abordagem dos direitos humanos no ensino das
Relações Internacionais
Coautor(es): Rosana Corrêa Tomazini
Trabalho Completo
Resumo: Esse ano, 2018, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH) completa 70 anos. A
DUDH representou o primeiro passo no consenso
internacional sobre os direitos do indivíduo e pre-
servação de sua dignidade. Uma mudança de para-
digma nas relações internacionais, dado que o foco
do direito público internacional se volta para a pes-
soa, e não para o Estado. Assim, desde a sua propo-
sição, muitos avanços podem ser percebidos no le-
que dos direitos elencados, incluindo a área da edu-
cação. Nesse sentido, o presente artigo pretende
explorar a inclusão do tema dos Direitos Humanos
no ensino das Relações Internacionais no Brasil, ob-
servando que tal orientação está presente tanto nas
Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos
Humanos (2012), quanto nas Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) para os cursos de Relações Inter-
nacionais (2017). Nota-se que as orientações elen-
cadas nas Diretrizes Nacionais para a Educação em
Direitos Humanos dispõem sobre a inclusão dessa
temática nos sistemas de ensino e instituições edu-
cativas, tanto de forma transversal como disciplinar,
ou de modo misto. Igualmente, as DCNs para os cur-
sos de Relações Internacionais, recentemente apro-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
221
vadas, incluem conhecimentos e práticas em Direi-
tos Humanos tanto no seu eixo de formação estru-
turante, como no seu eixo de formação comple-
mentar. Assim, a partir desse contexto, o presente
trabalho pretende construir o Estado da Arte sobre
a abordagem dos direitos humanos nos cursos de
Relações Internacionais no Brasil, considerando a
produção acadêmica de duas bases de dados: (i)
SciELO - Scientific Eletronic Labrary Online e (ii) Bi-
blioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
(BDTB). Acredita-se que a composição do referido
Estado da Arte lance luz sobre o panorama da pro-
dução acadêmica no período de 2012 a 2017, na
temática em discussão, permitindo sinalizar avanços
no cumprimento dos compromissos assumidos a
partir da DUDH, notadamente na área do ensino em
direitos humanos.
Deborah Silva do Monte
“Brasil e Estados Unidos sob os holofotes”: uma aná-
lise das simulações da Revisão Periódica Universal do
Brasil e dos Estados Unidos.
Coautor(es): Matheus de Carvalho Hernandez
Resumo: O paper apresenta e analisa as atividades
de ensino de graduação que simularam a Revisão
Periódica Universal (RPU) do Conselho de Direitos
Humanos das Nações Unidas, desenvolvidas na Fa-
culdade de Direito e Relações Internacionais da
UFGD no ano de 2017. Durante os meses de abril a
agosto, os/as discentes dos cursos de Relações In-
ternacionais envolveram-se em oficinas e simula-
ções da Revisão Periódica Universal do Brasil e dos
Estados Unidos. Através desta análise, busca-se con-
tribuir com a produção acadêmica, ainda escassa,
que versa sobre o uso das simulações como ferra-
menta de ensino e extensão nos cursos de Relações
Internacionais. Destaca-se, ainda, que as atividades
desenvolvidas se caracterizam por abordar tema –
os Direitos Humanos – e mecanismo – a Revisão Pe-
riódica Universal – pouco tradicionais nas Relações
Internacionais e comumente denominados de Low
Politics. Entende-se que, ao mobilizar esta temática,
as simulações promoveram avanços na compreen-
são do caráter público da política exterior, destacan-
do a participação de ONGs e atores da sociedade
civil organizada que vocalizam internacionalmente
as demandas domésticas. Em termos metodológi-
cos, o trabalho apresenta uma revisão da literatura
sobre a realização de simulações e oficinas como
técnica pedagógica para o ensino de Relações Inter-
nacionais e analisa os questionários aplicados aos/às
discentes após as simulações. Como resultados da
discussão deste paper, espera-se desenvolver um
projeto de extensão mais robusto e abrangente, en-
volvendo os/as discentes do curso de graduação em
Relações Internacionais e do Ensino Médio em si-
mulações de processos internacionais de temas de
direitos humanos, direitos sociais e meio ambiente
e um artigo que compare as proposições realizadas
durante as simulações com o real posicionamento
dos atores na RPU.
Demetrius Cesario Pereira
Atividade Interdisciplinar de PBL para o curso de Rela-
ções Internacionais da ESPM/SP: Uma experiência
prática
Coautor(es): Raphael Almeida Videira, Raquel Maria
de Almeida Rocha
Trabalho Completo
Resumo: Os métodos de aprendizagem ativa tem
sido uma alternativa altamente positiva no ensino
das Relações Internacionais, em conjunto com as
aulas expositivas tradicionais, ao buscarmos que o
aluno encontre o conhecimento através do envolvi-
mento pessoal ou experiência sensorial e colabora-
ção entre docente e discente. O presente artigo
busca apresentar a experiência aplicada no curso de
graduação da ESPM-SP no primeiro semestre de
2018 de uma experiência aplicada de atividade de
metodologia ativa – utilizamos o problem solving,
ou problem based learning (PBL) aplicado à um es-
tudo de caso através da aprendizagem baseada em
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
222
projeto (LANTIS, KENT & KRAIN, 2010; BENDER,
2015; CUNHA, 2015) – envolvendo as disciplinas de
História das Relações Internacionais Contemporâ-
neas, Country Studies – Europa e Macroeconomia. A
atividade versa sobre a questão da crise migratória
contemporânea europeia e buscamos assim contri-
buir com a área de pesquisa do ensino das Relações
Internacionais, ainda pouco explorada na literatura
brasileira. Desta forma, o artigo irá abordar a descri-
ção da elaboração da atividade e seus respectivos
objetivos de aprendizagens, avaliação da experiên-
cia prática como ferramenta de aprendizagem e es-
tilos de aprendizagem dos alunos além da conclusão
baseada na aplicação empírica.
Denilde Holzhacker
Análise de Risco Político em Negócios Internacionais
Coautor(es): Rodolpho Talaisys Bernabel
Trabalho Completo
Resumo: Este artigo reporta as práticas utilizadas na
disciplina de análise de risco ministrada no curso de
relações internacionais da Escola superior de Propa-
ganda e Marketing. Mostramos como foi a concep-
ção da disciplina em sua relação com a grade curri-
cular do curso e como o seu programa foi pensado
especificamente para a questão de negócios inter-
nacionais. Nessa mesma linha, situamos a disciplina
na área mais ampla da análise de risco, uma esfera
de trabalho e conhecimento que veio do mercado
para a academia, e não o contrário como costuma
acontecer, com conhecimentos sendo produzidos
na academia e somente posteriormente se tornan-
do passíveis de serem aplicados fora dela. Também
comentamos a bibliografia especializada seleciona-
da para a disciplina e como suprimos suas limita-
ções. Sobretudo, apontamos como complementa-
mos a bibliografia com literaturas não acadêmicas e
como produzimos material técnico-pedagógico pró-
prio, além de discorrermos sobre os exercícios e ca-
sos abordados e como eles variam nos diferentes
níveis de aprendizagem segundo a taxonomia de
Bloom. Por fim, explanamos a respeito formação
mais geral de analistas de risco político para negó-
cios internacionais e sobre como a academia pode
suprir a demanda crescente por profissionais que
possuam expertise metodológica e conceitual em
análise de risco político.
Diego Trindade Dávila Magalhães
Jogos digitais para o Ensino de Relações Internacio-
nais: teorias, conceitos e o jogo Supremacy1914
Trabalho Completo
Resumo: Este artigo pretende, de modo geral, esti-
mular inovações pedagógicas para aprimorar o ensi-
no de Relações Internacionais (RI). Especificamente,
a intenção é avançar no conhecimento sobre por
que e como implementar jogos digitais para ensinar
teoria das RI. Para isso, o presente estudo reflete
sobre colocar em prática referenciais teórico-
conceituais, tais como aprendizado ativo e colabora-
tivo, sala de aula invertida, ensino baseado em solu-
ção de problemas e o ensino à distância com tecno-
logias digitais de informação e comunicação. A vasta
literatura teórica critica consistentemente modelos
tradicionais de ensino. Entretanto, menos existe pu-
blicado sobre como implementar inovações pedagó-
gicas específicas. Ainda menos há sobre uso de jo-
gos digitais para o ensino de RI. Este artigo relata
experiências em aulas de Teoria das RI com o jogo
de estratégia Supremacy1914. Explica como imple-
mentar o método de ensino e aferir os seus resulta-
dos, bem como indica o potencial e os desafios nes-
se processo. Conclui-se que o uso do jogo pode mo-
tivar a turma a estudar teoria, facilitar o aprendiza-
do por empatia (no caso, estudantes simulam o pa-
pel de estadistas) e ajudar a fixar conceitos aprendi-
dos com textos e aulas. Pequenas adaptações em
jogos digitais existentes são necessárias para equili-
brar a relação diversão-aprendizado, evitar o “vício”
no jogo e estimular a participação da totalidade da
turma. Para aferir resultados e gerar conclusões so-
bre o custo-benefício de implementar o método,
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
223
novas experiências devem ser realizadas com o cui-
dado de não prejudicar as turmas que participam
dos testes.
Edson Jose Neves Junior
A Análise de Política Externa e o método didático da
problematização para formulação de políticas públi-
cas
Resumo: O texto apresenta uma experiência de apli-
cação de uma metodologia ativa de aprendizagem,
a problematização, em uma disciplina de Análise de
Política Externa ministrada no segundo semestre de
2017, no curso de Relações Internacionais da Uni-
versidade Vila Velha – UVV/ES. A turma era compos-
ta por 29 estudantes e a grande maioria estava no
sexto semestre. As aulas tinham como objetivo dis-
cutir alguns fundamentos do campo da Análise da
Política Externa e aplica-los a casos selecionados da
política externa brasileira. Foram quatro os estudos
de caso selecionados: 1. a relação do Ministério de
Relações Exteriores - MRE com as órgãos de atuação
internacional dos governos subnacionais; 2. opções
e responsabilidades do Brasil diante da crise do
Mercosul; 3. a internacionalização de empresas di-
ante da crise econômica e dado o modelo de inter-
nacionalização brasileiro; e 4. os impasses da Orga-
nização Mundial do Comércio na questão dos subsí-
dios agrícolas. Para cada um desses temas os dis-
centes se organizaram em grupos que deveriam
funcionar como uma consultoria e elaborar soluções
apresentadas e debatidas em seminário. Também
deveriam redigir um “sumário executivo” – um do-
cumento de duas páginas que conteria o resumo da
proposta do grupo para cada estudo de caso. Na
disciplina foram adotadas duas proposições teóricas
básicas: primeira, a política externa é entendida co-
mo política pública; e segunda, o campo da Análise
de Política Externa se dedica a entender as etapas
de formulação, aplicação, avaliação e retificação da
política exterior. Os resultados se mostraram mais
relevantes para os casos do MRE e da internacionali-
zação de empresas devido aos esforços e propostas
dos grupos; já sobre o Mercosul e os impasses na
OMC o grau de interesse foi menor, resultando em
propostas mais contidas em suas metas. No geral, a
avaliação da turma sobre o método didático foi po-
sitivo e reflete os resultados aqui indicados.
Elia Elisa Cia Alves
O Caso de Ensino como estratégia de aprendizagem
ativa em Relações Internacionais: experiências de ela-
boração e aplicação em Teoria de RI.
Coautor(es): Cristina Carvalho Pacheco, Gabriela
Gonçalves Barbosa, Ana Paula Maielo Silva
Resumo: A aprendizagem ativa acontece quando o
aluno se envolve com o conteúdo através de ativida-
des que estimulam a reflexão crítica, por meio de
diferentes ferramentas que permitem o desenvolvi-
mento de competências e habilidades conforme os
objetivos da aula. Com vistas a discutir a utilização
de casos de ensino como uma ferramenta para en-
gajar ativamente os alunos na aprendizagem, este
artigo analisa as experiências obtidas no Laboratório
de Simulação e Aprendizado Ativ do curso de Rela-
ções Internacionais da Universidade Estadual da Pa-
raíba. Com base no caso de ensino sobre o Pacto
Global da ONU da obra de Milani e Tude (2015),
produzimos duas dinâmicas distintas, não obstante
integradas, que foram testadas com os alunos do
Laboratório. Na primeira dinâmica, denominada
“Construção e Análise de Caso de Ensino”, os alunos
construíram um caso de ensino, a partir da temática
proposta. Na segunda, “Aplicações Teóricas a Casos
de Ensino”, os alunos aplicaram uma teoria ao caso
de ensino elaborado previamente. Além de estimu-
lar os alunos a pesquisarem e analisarem os proble-
mas políticos concretos, não apenas se engajando
de maneira ativa, como também, e talvez, principal-
mente, utilizando ferramentas interativas, observa-
mos que o processo de construção de caso pelos
próprios alunos tornou mais fácil a aplicação da teo-
ria proposta. Isso significa um avanço importante no
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
224
uso das ferramentas ativas, tendo em vista que
compreender Teoria de Relações Internacionais tal-
vez seja o ponto mais complexo do ensino, em virtu-
de de sua natureza abstrata. Por fim, argumenta-
mos que estas dinâmicas oferecem uma forma origi-
nal e profícua de ensinar não somente teoria de Re-
lações Internacionais, como também o próprio pro-
cesso de construção e análise de diferentes proble-
mas da política internacional, podendo, portanto,
serem utilizadas como plataformas didáticas para
diferentes disciplinas dos cursos de Relações Inter-
nacionais e, possivelmente, outros cursos afins.
Gabriela Gonçalves Barbosa
O Caso de Ensino como estratégia de aprendizagem
ativa em Relações Internacionais: experiências de ela-
boração e aplicação em Teoria de RI.
Coautor(es): Cristina Carvalho Pacheco, Elia Elisa Cia
Alves, Ana Paula Maielo Silva
Resumo: A aprendizagem ativa acontece quando o
aluno se envolve com o conteúdo através de ativida-
des que estimulam a reflexão crítica, por meio de
diferentes ferramentas que permitem o desenvolvi-
mento de competências e habilidades conforme os
objetivos da aula. Com vistas a discutir a utilização
de casos de ensino como uma ferramenta para en-
gajar ativamente os alunos na aprendizagem, este
artigo analisa as experiências obtidas no Laboratório
de Simulação e Aprendizado Ativ do curso de Rela-
ções Internacionais da Universidade Estadual da Pa-
raíba. Com base no caso de ensino sobre o Pacto
Global da ONU da obra de Milani e Tude (2015),
produzimos duas dinâmicas distintas, não obstante
integradas, que foram testadas com os alunos do
Laboratório. Na primeira dinâmica, denominada
“Construção e Análise de Caso de Ensino”, os alunos
construíram um caso de ensino, a partir da temática
proposta. Na segunda, “Aplicações Teóricas a Casos
de Ensino”, os alunos aplicaram uma teoria ao caso
de ensino elaborado previamente. Além de estimu-
lar os alunos a pesquisarem e analisarem os proble-
mas políticos concretos, não apenas se engajando
de maneira ativa, como também, e talvez, principal-
mente, utilizando ferramentas interativas, observa-
mos que o processo de construção de caso pelos
próprios alunos tornou mais fácil a aplicação da teo-
ria proposta. Isso significa um avanço importante no
uso das ferramentas ativas, tendo em vista que
compreender Teoria de Relações Internacionais tal-
vez seja o ponto mais complexo do ensino, em virtu-
de de sua natureza abstrata. Por fim, argumenta-
mos que estas dinâmicas oferecem uma forma origi-
nal e profícua de ensinar não somente teoria de Re-
lações Internacionais, como também o próprio pro-
cesso de construção e análise de diferentes proble-
mas da política internacional, podendo, portanto,
serem utilizadas como plataformas didáticas para
diferentes disciplinas dos cursos de Relações Inter-
nacionais e, possivelmente, outros cursos afins.
Isabela Dias Roque Coutinho
O Sensível como proposta metodológica para o estu-
do das Relações Internacionais: o encontro político do
significante e do significado
Coautor(es): Daisy Bispo Teles
Resumo: As Relações Internacionais foram tratadas,
ao longo dos anos, sobre uma ótica positivista e as-
sim se debruçam analiticamente nos eventos da po-
lítica internacional sobre o pressuposto de corres-
pondência entre o representante e o representado.
Neste sentido, identifica-se como uma problemática
do estudo, e assim do ensino, das RI’s, o fato de que
os mesmo hábitos representacionais, objetivos e
miméticos do internacional começam a ser adeptos
por seus estudantes para a analise dos fenômenos
que a disciplina se propõe a explicar, evidenciando
um espectro metafórico simétrico em que o signifi-
cante assemelha-se ao significado. Assim, faz-se ne-
cessário mobilizar diferentes arcabouços teóricos
para se vislumbrar novas investidas metodológicas e
epistêmicas nas Relações Internacionais. O presente
trabalho pretende, ao apresentar a abordagem da
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
225
estética, refletir quais contribuições para o estudo e
pesquisa das RI’s a mesma pode oferecer. A estética
assume que há uma distância entre o representado
e a representação, sendo este hiato o locus sobre o
qual a política acontece, os discursos são apreendi-
dos e as práticas são legitimadas. No estudo e pes-
quisa das RI’s, a estética abre a possibilidade para
diferentes investidas metodológicas que derivam da
analise narrativa, das artes visuais e da interpreta-
ção da cultura popular, partilhando, assim, com di-
versos atores a experiência do sensível. Com isso,
tem-se uma reflexão em que se é possível, pelo
olhar da própria experiência humana, examinar co-
mo formas de existência rearticulam-se como sím-
bolos, significados e objetos. Portanto, novas manei-
ras de pensar as RI’s são necessárias à medida que
se é preciso reconhecer novos objetos de interven-
ção, que estejam para além da dicotomia internaci-
onal/nacional tradicionalmente usada na disciplina.
O presente trabalho pretende engajar-se com a
ideia de que a abordagem estética exerce uma fun-
ção metodológica de (des)organização do pensa-
mento, em que certos atores, outrora silenciados
pelo estudo tradicional das RI’s, possam ganhar voz
e relevância.
Isabella Borges Ávila
Local e Global nas RI: visão crítica sobre a territoriali-
zação dos ODS no Brasil
Coautor(es): Nathalia Rezende Mamede
Resumo: Baseando-se nos Objetivos do Desenvolvi-
mento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, o pro-
jeto buscou compreender, mapear e avaliar critica-
mente a territorialização dos ODS no Brasil, em Bra-
sília-DF e, mais especificamente, na Universidade de
Brasília. Para fins metodológicos parte da pesquisa
foi conduzida com base na Análise Qualitativa de
Conteúdo (QCA), método que auxiliou na tradução
do material levantado e sua classificação em catego-
rias como internalização, adaptação e integração.
(SCHREIER 2012). Além disso, permitiu extrair infe-
rências descritivas e analíticas sobre valores emana-
dos da Agenda 2030 que apontam para os desafios
de um estudo global sobre as RI (HURREL 2016).
Através do mapeamento de ações e atividades de
pesquisa, ensino e extensão já em andamento na
UnB, pretendeu-se criar um espaço de debate sobre
a inserção dos ODS no âmbito social, econômico e
ambiental, estimulando-se uma perspectiva emanci-
patória e crítica no pensamento em RI (SPEGELE
2014). Com a proposta de institucionalizar os Objeti-
vos na Universidade e ao seu redor, a pesquisa visa
englobar atores da Universidade que estão de algu-
ma forma articulando a Agenda neste meio. De ma-
neira complementar, foram realizadas rodas de con-
versa em diferentes departamentos, pesquisas para
compreensão do nível de conhecimento dos ODS na
comunidade universitária, além de levantamentos
de rotinas e hábitos do cotidiano da Universidade
que podem ser considerados benéficos à Agenda.
Ademais, com base nas discussões sobre territoriali-
zação, reterritorialização e desterritorialização
(HAESBAERT 2014) buscou-se um entendimento
sobre a conexão entre o global e local
(GIDDENS,1991) ao se avaliar nos Campi de Planalti-
na, Gama, Ceilândia e Darcy Ribeiro a difusão do
conhecimento sobre a Agenda e maneiras de desen-
volver práticas de ensino, pesquisa e extensão inter-
disciplinares e de ferramentas para gestão, integra-
ção e difusão de informações e conhecimentos na
perspectiva da implementação da Agenda 2030 na
UnB e entorno.
João Paulo Cavazzani Bosso
A história dos EUA pela ótica do cinema
Coautor(es): Lara Bet Meneghel, Ana Clara Santos
Bertella, Bruno Henrique Thomaz Borges
Resumo: O trabalho faz parte da um programa inte-
grado entre pesquisa e extensão desenvolvido no
grupo de estudos em Economia Política Internacio-
nal do INCT-INEU –UFSC. Na primeira parte, desen-
volveu-se uma pesquisa sobre os fatos mais marcan-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
226
tes sobre a história contemporânea dos Estados
Unidos. No momento seguinte, buscou-se selecio-
nar filmes que refletissem os fatos analisados e a
sua influência no mundo. Assim, o objetivo era mos-
trar, por meio do cinema, não apenas a forma como
os EUA se enxergam dentro do cenário internacio-
nal, mas também,como eles influenciam esse cená-
rio. Para tal, estabeleceu-se momentos marcantes
da história dos EUA entre os anos 20 até a atualida-
de e, então, foi feito uma seleção de alguns filmes
representativos desses momentos. Os filmes foram
editados, de forma a criar uma sequência de peque-
nos trechos que refletissem cada momento. Entre
um período e outro, o grupo dialogava com o públi-
co, de maneira a estimular o debate sobre os acon-
tecimentos históricos e políticos do país. E como
eles afetavam a dinâmica dos Estados Unidos e o
mundo em geral.
Karine de Souza Silva
O Núcleo de Apoio a Imigrantes e Refugiados (NAIR/
UFSC): encontros com a diferença e intercâmbios de
saberes e experiências
Resumo: O Núcleo de Apoio a Imigrantes e Refugia-
dos (NAIR) é um Projeto de Extensão desenvolvido
pelo EIRENÈ - “Centro de Pesquisas e práticas Deco-
lonais e Pós-coloniais aplicadas às Relações Interna-
cionais e ao Direito Internacional” da Universidade
Federal de Santa Catarina - e está incorporado às
ações da Cátedra Sérgio de Mello/ACNUR/UFSC.
O NAIR nasceu em no início de 2015 e promove as
seguintes atividades em parceria com a Pastoral do
Migrante: 1) Atendimento diário a imigrantes e re-
fugiados na Sede da Pastoral, nas áreas de Direito
Diplomático e Consular, Direito Internacional Huma-
nitário e Direitos Humanos; 2) Efetivação de ações
sociais e políticas destinadas a garantir inclusão soci-
al, acessibilidade laboral, educacional e linguística;
3) Implantação de banco de dados sobre migrantes
e refugiados na região; 5) Atuação junto a redes de
apoio a imigrantes e refugiados em Santa Catarina,
nomeadamente o GAIRF (Grupo de Apoio a Migran-
tes e Refugiados da Grande Florianópolis) e o GT de
Apoio a Imigrantes e Refugiados da Assembleia Le-
gislativa de Santa Catarina. O Projeto de Extensão já
realizou mais de quinze mil atendimentos a imigran-
tes e refugiados de cinquenta nacionalidades.
As demandas mais frequentes têm sido: encaminha-
mentos para regularização migratória, solicitações
de reunião familiar e de refúgio, renovação de pas-
saportes providências para emissão de certidões
consulares, renovação protocolos e auxílio para in-
corporação no mercado de trabalho, etc. Para os
discentes dos Cursos de Relações Internacionais e
Direito que atuam como extensionistas, o NAIR fun-
ciona como um espaço aberto, extra-classe e plural
que fomenta práticas educativas orientadas para a
efetivação do multiculturalismo e da tolerância e
para a implementação dos Direitos Humanos, consi-
derados como pilares fundamentais da formação
acadêmica. A Extensão é a verdadeira Universidade
sem muros, que promove encontros com a diferen-
ça e impulsiona intercâmbios de saberes e experiên-
cias.
Laís Caroline Kuss
Análise de Política Externa e Análise de Políticas Pú-
blicas: um caminho para a aproximação entre as RI e
a Ciência Política
Trabalho Completo
Resumo: A Análise de Política Externa (APE) é um
subcampo das Relações Internacionais no qual pre-
tende-se analisar de que maneira as decisões de
política externa dos Estados são tomadas, a partir
dos atores e processos que as influenciam
(HUDSON, 2005; PINHEIRO, 2009). Em seus estudos,
percebe-se uma forte influência da Ciência Política
(CP), sobretudo nas ferramentas utilizadas. No mes-
mo sentido, dentro da CP, o subcampo de Análise
de Políticas Públicas (APP), traz ferramentas e con-
ceitos úteis e semelhantes àqueles utilizados em
APE, porém, pouco se fala sobre esta aproximação.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
227
É a partir disto, que se pretende, neste trabalho,
apresentar caminhos de reaproximação entre a CP e
as RI, por meio da aproximação entre a APE e a APP,
com foco na utilização de ferramentas de análise do
Ciclo de Políticas Públicas (da APP) para o estudo da
formação de agenda na Cooperação Internacional
para o Desenvolvimento (CID). Parte-se de dois
pressupostos: a política externa como política públi-
ca e a CID como parte da política externa. A princi-
pal conclusão do trabalho é que há uma frutífera
aproximação entre a APE e a APP, que pode ser útil,
sobretudo na utilização de ferramentas de pesquisa
que ainda não são bem desenvolvidas na APE, apli-
cadas ao seu objeto de estudo: a construção da polí-
tica externa. A utilização da APE e da APP permite
uma análise multicausal da política externa dos Esta-
dos e a união de fatores domésticos e externos co-
mo influenciadores da construção das decisões em
política externa. Assim, por meio destas aborda-
gens, é possível reunir contexto doméstico e exter-
no, que haviam sido separados pelas abordagens
tradicionais das Teorias de Relações Internacionais,
para uma análise mais compreensiva da política ex-
terna. A primeira seção é dedicada a apresentação
da APE e da APP e a segunda à aproximação entre
as duas, aplicada a CID.
Lara Bet Meneghel
A história dos EUA pela ótica do cinema
Coautor(es): Ana Clara Santos Bertella, Bruno Henri-
que Thomaz Borges, João Paulo Cavazzani Bosso
Resumo: O trabalho faz parte da um programa inte-
grado entre pesquisa e extensão desenvolvido no
grupo de estudos em Economia Política Internacio-
nal do INCT-INEU –UFSC. Na primeira parte, desen-
volveu-se uma pesquisa sobre os fatos mais marcan-
tes sobre a história contemporânea dos Estados
Unidos. No momento seguinte, buscou-se selecio-
nar filmes que refletissem os fatos analisados e a
sua influência no mundo. Assim, o objetivo era mos-
trar, por meio do cinema, não apenas a forma como
os EUA se enxergam dentro do cenário internacio-
nal, mas também,como eles influenciam esse cená-
rio. Para tal, estabeleceu-se momentos marcantes
da história dos EUA entre os anos 20 até a atualida-
de e, então, foi feito uma seleção de alguns filmes
representativos desses momentos. Os filmes foram
editados, de forma a criar uma sequência de peque-
nos trechos que refletissem cada momento. Entre
um período e outro, o grupo dialogava com o públi-
co, de maneira a estimular o debate sobre os acon-
tecimentos históricos e políticos do país. E como
eles afetavam a dinâmica dos Estados Unidos e o
mundo em geral.
Larissa de Oliveira Viegas
Segurança Alimentar no Sudão do Sul: as contribui-
ções dos organismos da ONU e as estratégias nation-
building (2011-2015)
Coautor(es): Mayara Clemente Santos Silva, Alyne
Rayanna de Sousa Salvador da Silva
Resumo: O presente Pôster de Iniciação Científica
tem como tema a relação entre a segurança alimen-
tar no Sudão do Sul e as estratégias nation-building
dos organismos da ONU. A pesquisa busca respon-
der o seguinte problema: qual a eficácia das estraté-
gias de nationbuilding para segurança alimentar no
Sudão do Sul? Assim, o objetivo geral é analisar as
estratégias de nation-building executadas pelos or-
ganismos da ONU no Sudão do Sul, no período de
2011-2015. São objetivos específicos da pesquisa: (i)
contextualizar a formação do Sudão do Sul; (ii) des-
crever as estratégias nation-building dos organismos
da ONU e (iii) identificar o contexto da segurança
alimentar e seus termos no Sudão do Sul. A pesqui-
sa tem um caráter exploratório e trabalha a partir
de uma metodologia qualitativa através do método
de revisão sistemática de bibliografia, para testar a
seguinte hipótese, quanto mais eficiente as estraté-
gias nation-building, maior a segurança alimentar.
Os resultados preliminares sugerem que mesmo
com as estratégias emergenciais dos organismos da
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
228
ONU e da UNMISS atrelada às ações Nation-
Building, os planos precisam continuar para que ha-
ja redução de conflitos e melhor distribuição ali-
mentar do Sudão do Sul.
Leonardo César Souza Ramos
As diretrizes curriculares nacionais (DCNs) e o campo
de conhecimento em Relações Internacionais no Bra-
sil
Coautor(es): Onofre dos Santos Filho
Resumo: Recentemente o Ministério da Educação
aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs)
para os cursos de graduação em Relações Internaci-
onais no Brasil. Nas DCNs são estabelecidos os parâ-
metros do campo de conhecimento em Relações
Internacionais, os subcampos que o constitui e os
conteúdos necessários à formação do aluno no de-
correr da graduação. São também estipuladas as
atividades acadêmicas mínimas necessárias que de-
vem ser contempladas no projeto pedagógico e os
requisitos a serem atendidos pelo currículo mínimo
em Relações Internacionais. As DCNs, dessa forma,
expressam um determinado entendimento das Re-
lações Internacionais como campo de conhecimen-
to que se traduz em uma prática específica, produto
de uma visão de mundo e de uma compreensão
também determinada da ciência e da atividade cien-
tífica. O propósito desse ensaio é analisar a concep-
ção de campo de conhecimento e de ciência subja-
centes às DCNs e suas implicações para o entendi-
mento dos fenômenos internacionais e para a for-
mação da graduação em Relações Internacionais no
Brasil.
Letícia Mamedes Novato
Empoderamento de mulheres no incentivo às ações
contra a mudança climática global
Resumo: Visando um alinhamento com a Agenda
2030, definida pela Assembleia da ONU em setem-
bro de 2015, e tendo como ponto de partida as me-
tas estabelecidas nos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS) 5 e 13, o projeto busca fortalecer
o debate acerca da igualdade de gênero no trato do
desenvolvimento ambiental sustentável, com enfo-
que nas ações de combate às mudanças climáticas
vigentes no cenário global atual. Por meio uma aná-
lise sistemática do papel da mulher no meio social e
do impacto das ações do ser humano na natureza,
os dois subtemas se unem em um propósito de rela-
cionar duas áreas da Agenda de atuação de impor-
tância crucial para a humanidade: “Pessoas” e
“Planeta”. O argumento base do artigo define a mu-
lher como indivíduo chave no ato de condutas sus-
tentáveis, beneficiando, por meio da educação am-
biental, não só a comunidade/ambiente vivencial
como também a luta contra as relações de patriar-
calismo enraizadas na sociedade. Para isso, houve
uma investigação a partir da leitura de documentos
oficiais e artigos científicos, emprego de teorias de
gênero e ambientais a exemplo do livro “Gênero e
Meio Ambiente” de Mary Garcia Castro, bem como
entrevistas e exemplos de ações pertinentes ao as-
sunto foram também utilizados, como forma de
comprovar e propagar o exposto. A visão sob uma
conjuntura local é mantida como forma de valorizar
e divulgar feitos brasileiros perante práticas igualitá-
rias e sustentáveis, contudo é importante ressaltar
que o enfoque global é preservado e sempre levado
em consideração, de modo a estabelecer dados
comparativos acerca da posição brasileira dentro
dessa matriz contextual mais abrangente. Os resul-
tados alcançados são fruto de um diagnóstico expe-
rienciado em projetos como RELflorestando - proje-
to de cunho ambiental encabeçado por estudantes
da Universidade de Brasília - e apresentam dados
positivos e negativos perante os objetivos iniciais da
pesquisa.
Marina de Almeida Rosa
A extensão como instrumento de transformação aca-
dêmica e de promoção da dignidade de migrantes:
um olhar a partir do Chemen
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
229
Coautor(es): Pedro Vinícius Pereira Brites, Yuri Debrai
Padilha
Trabalho Completo
Resumo: Devido à intensidade dos fluxos migrató-
rios no Século XX, essa temática tem instigado inici-
ativas e pesquisas nas Relações Internacionais, im-
pondo que o tema seja desenvolvido também em
atividades de extensão. Nesse contexto, foi instituí-
do no Curso de Relações Internacionais do UniRitter,
o CHEMEN, projeto voltado à promoção da dignida-
de de comunidades haitianas situadas na periferia
da região metropolitana de Porto Alegre/RS. A esco-
lha dessas comunidades justifica-se pelo aumento
de migrantes haitianos em território nacional, ob-
servado pelo estreitamento das relações Brasil-Haiti,
pela política exterior brasileira, pela situação econô-
mica regional, pelo frequente reconhecimento de
país receptível aos imigrantes. Observou-se no de-
senvolvimento do projeto que esses imigrantes en-
contram, além de percalços decorrentes de precon-
ceito e desigualdade social, barreiras que lhes impe-
dem de atingir as metas que motivaram a migração:
o empecilho do idioma aliado às dificuldades labo-
rais, questões burocráticas, problemas de saúde,
demonstram que migrantes negros advindos de paí-
ses periféricos são mais propensos a serem negli-
genciados por parte da sociedade. O CHEMEN, pala-
vra oriunda do creole haitiano (em português: cami-
nho, rota), procura ser uma alternativa aos migran-
tes, somando-se às forças promovidas por eles para
alcançarem seus objetivos no Brasil e terem garanti-
da a dignidade. Assim, consolidando a interdiscipli-
naridade entre as Relações Internacionais e os cur-
sos de Letras, Direito, Enfermagem e Psicologia, o
projeto assessora as comunidades haitianas, regula-
rizando suas situações migratórias, reunindo famí-
lias que encontram-se nos dois países, preparando-
os para o mercado de trabalho, promovendo a sua
saúde física e mental, além de ofertar o ensino gra-
tuito da língua portuguesa e articular junto a órgãos
nacionais e internacionais. A partir de atendimentos
in loco, empregando métodos como Problem Based
Learning, os discentes têm alinhado a expertise ad-
quirida às demandas dos haitianos, conferindo-se ao
estudante de Relações Internacionais uma formação
superior não só voltada à aplicabilidade dos concei-
tos, mas forjada em valores humanitários.
Mateus Dalmáz
Oficinas de Relações Internacionais no Vale do Ta-
quari/RS
Resumo: O projeto de extensão "O Mundo Aqui: Re-
lações Internacionais da sala de aula" tem por obje-
tivo analisar temas atuais e históricos de Relações
Internacionais com estudantes do ensino funda-
mental e médio de escolas públicas e privadas do
Vale do Taquari/RS. A partir de demandas da rede
de ensino, são elaboradas oficinas que simulam pro-
cessos de tomada de decisão na esfera internacio-
nal. Do ponto de vista didático, usa-se uma metodo-
logia ativa, a qual, conforme Antonio Pereira (2012)
e Terezinha Richartz (2015), considera o aluno como
protagonista do processo de ensino e aprendiza-
gem. A partir de uma preparação prévia de estudo
dos temas com o professor regente das turmas, é
aplicado o método de aprendizagem por problema-
tização, que consiste em instigar os alunos mediante
problemas cuja resolução é derivada de discussão
em pequenos grupos e posterior exposição e deba-
te. Vale ressaltar que cada grupo assume o papel de
diferentes atores internacionais durante o processo
de simulação de tomada de decisão. Ao longo de
2017, foram desenvolvidas atividades com 855 alu-
nos, abrangendo oito municípios e treze escolas do
Vale do Taquari/RS. As problematizações elaboradas
abordaram temas referentes a EUA, Rússia, China,
União Europeia, ONU, Estado Islâmico, Síria, Tur-
quia, Coeria do Norte, Política Externa Brasileira,
Mercosul, Globalização, Direitos Humanos, Conceito
de Direita, Esquerda, Estado, Nação e Território,
Grandes Navegações, Formação do Estado, Revolu-
ção Industrial, Guerras Mundiais, Guerra Fria, Inde-
pendências da Ásia e da África. Como resultado,
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
230
constatou-se que houve um impacto significativo na
comunidade atendida pelo projeto, uma vez que
houve avaliações positivas dos envolvidos nas ativi-
dades quanto à forma através da qual os temas fo-
ram abordados, à relevância dos conteúdos para o
conhecimento dos estudantes e à participação e
envolvimento dos mesmos.
Matheus de Carvalho Hernandez
“Brasil e Estados Unidos sob os holofotes”: uma aná-
lise das simulações da Revisão Periódica Universal do
Brasil e dos Estados Unidos.
Coautor(es): Deborah Silva do Monte
Resumo: O paper apresenta e analisa as atividades
de ensino de graduação que simularam a Revisão
Periódica Universal (RPU) do Conselho de Direitos
Humanos das Nações Unidas, desenvolvidas na Fa-
culdade de Direito e Relações Internacionais da
UFGD no ano de 2017. Durante os meses de abril a
agosto, os/as discentes dos cursos de Relações In-
ternacionais envolveram-se em oficinas e simula-
ções da Revisão Periódica Universal do Brasil e dos
Estados Unidos. Através desta análise, busca-se con-
tribuir com a produção acadêmica, ainda escassa,
que versa sobre o uso das simulações como ferra-
menta de ensino e extensão nos cursos de Relações
Internacionais. Destaca-se, ainda, que as atividades
desenvolvidas se caracterizam por abordar tema –
os Direitos Humanos – e mecanismo – a Revisão Pe-
riódica Universal – pouco tradicionais nas Relações
Internacionais e comumente denominados de Low
Politics. Entende-se que, ao mobilizar esta temática,
as simulações promoveram avanços na compreen-
são do caráter público da política exterior, destacan-
do a participação de ONGs e atores da sociedade
civil organizada que vocalizam internacionalmente
as demandas domésticas. Em termos metodológi-
cos, o trabalho apresenta uma revisão da literatura
sobre a realização de simulações e oficinas como
técnica pedagógica para o ensino de Relações Inter-
nacionais e analisa os questionários aplicados aos/às
discentes após as simulações. Como resultados da
discussão deste paper, espera-se desenvolver um
projeto de extensão mais robusto e abrangente, en-
volvendo os/as discentes do curso de graduação em
Relações Internacionais e do Ensino Médio em si-
mulações de processos internacionais de temas de
direitos humanos, direitos sociais e meio ambiente
e um artigo que compare as proposições realizadas
durante as simulações com o real posicionamento
dos atores na RPU.
Mayara Clemente Santos Silva
Segurança Alimentar no Sudão do Sul: as contribui-
ções dos organismos da ONU e as estratégias nation-
building (2011-2015)
Coautor(es): Larissa de Oliveira Viegas, Mayara Cle-
mente Santos Silva, Alyne Rayanna de Sousa Salva-
dor da Silva
Resumo: O presente Pôster de Iniciação Científica
tem como tema a relação entre a segurança alimen-
tar no Sudão do Sul e as estratégias nation-building
dos organismos da ONU. A pesquisa busca respon-
der o seguinte problema: qual a eficácia das estraté-
gias de nationbuilding para segurança alimentar no
Sudão do Sul? Assim, o objetivo geral é analisar as
estratégias de nation-building executadas pelos or-
ganismos da ONU no Sudão do Sul, no período de
2011-2015. São objetivos específicos da pesquisa: (i)
contextualizar a formação do Sudão do Sul; (ii) des-
crever as estratégias nation-building dos organismos
da ONU e (iii) identificar o contexto da segurança
alimentar e seus termos no Sudão do Sul. A pesqui-
sa tem um caráter exploratório e trabalha a partir
de uma metodologia qualitativa através do método
de revisão sistemática de bibliografia, para testar a
seguinte hipótese, quanto mais eficiente as estraté-
gias nation-building, maior a segurança alimentar.
Os resultados preliminares sugerem que mesmo
com as estratégias emergenciais dos organismos da
ONU e da UNMISS atrelada às ações Nation-
Building, os planos precisam continuar para que ha-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
231
ja redução de conflitos e melhor distribuição ali-
mentar do Sudão do Sul.
Monica Leite Lessa
A subalternidade cultural-midiática nas diretrizes cur-
riculares dos estudos das Relações Internacionais no
Brasil
Coautor(es): Pablo Victor Fontes Santos, Cristina Re-
go Monteiro da Luz, Carla de Oliveira Espanhol
Trabalho Completo
Resumo: Após os múltiplos impactos exercidos pela
política da globalização nas últimas décadas, o Bra-
sil, no âmbito das Relações Internacionais, sobretu-
do, nos cursos de graduação, ainda se mantém su-
balterno vis-à-vis aos cânones disciplinares referen-
tes às normativas anglo-saxônicas. A recente apro-
vação pelo Ministério da Educação (MEC), por meio
da resolução n º 4, de 4 de outubro de 2017 nos
aponta para a lacuna e a desfaçatez das Relações
Internacionais frente aos estudos culturais e midiáti-
cos. Nesse sentido, esse artigo se objetiva a apontar
por meio da cartografia analítico-crítica as proble-
máticas e as lacunas que passam a compor o campo
dos estudos das Relações Internacionais no Brasil na
ausência dos estudos culturais e midiáticos como
disciplinas do núcleo estruturante. Tem-se como
problema de pesquisa a seguinte questão: De que
modo a subalternidade colonial cultural-midiática
das Relações Internacionais no Brasil se mantém, a
partir das diretrizes curriculares aprovada pelo MEC,
vis-à-vis as liturgias dogmáticas do pensamento an-
glo-saxão? Defende-se neste artigo, a seguinte hipó-
tese: Refletir sobre as Relações Internacionais é
compreender a importância que a cultura e as mí-
dias exercem e colaboram para as análises político-
sociais e econômicas da sociedade mundial. Portan-
to, manter as disciplinas de cultura e mídia das dire-
trizes curriculares das Relações Internacionais como
eixo secundário (núcleo interdisciplinar), é manter-
se encarcerado as visões subalternas do pensamen-
to colonial anglo-saxão. Metodologicamente, o arti-
go faz uso de análises quantitativas e qualitativas à
luz dos estudos interdisciplinares entre as relações
internacionais, a cultura e a mídia.
Nathalia Rezende Mamede
Local e Global nas RI: visão crítica sobre a territoriali-
zação dos ODS no Brasil
Coautor(es): Isabella Borges Ávila
Resumo: Baseando-se nos Objetivos do Desenvolvi-
mento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, o pro-
jeto buscou compreender, mapear e avaliar critica-
mente a territorialização dos ODS no Brasil, em Bra-
sília-DF e, mais especificamente, na Universidade de
Brasília. Para fins metodológicos parte da pesquisa
foi conduzida com base na Análise Qualitativa de
Conteúdo (QCA), método que auxiliou na tradução
do material levantado e sua classificação em catego-
rias como internalização, adaptação e integração.
(SCHREIER 2012). Além disso, permitiu extrair infe-
rências descritivas e analíticas sobre valores emana-
dos da Agenda 2030 que apontam para os desafios
de um estudo global sobre as RI (HURREL 2016).
Através do mapeamento de ações e atividades de
pesquisa, ensino e extensão já em andamento na
UnB, pretendeu-se criar um espaço de debate sobre
a inserção dos ODS no âmbito social, econômico e
ambiental, estimulando-se uma perspectiva emanci-
patória e crítica no pensamento em RI (SPEGELE
2014). Com a proposta de institucionalizar os Objeti-
vos na Universidade e ao seu redor, a pesquisa visa
englobar atores da Universidade que estão de algu-
ma forma articulando a Agenda neste meio. De ma-
neira complementar, foram realizadas rodas de con-
versa em diferentes departamentos, pesquisas para
compreensão do nível de conhecimento dos ODS na
comunidade universitária, além de levantamentos
de rotinas e hábitos do cotidiano da Universidade
que podem ser considerados benéficos à Agenda.
Ademais, com base nas discussões sobre territoriali-
zação, reterritorialização e desterritorialização
(HAESBAERT 2014) buscou-se um entendimento
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
232
Pablo Victor Fontes Santos
A subalternidade cultural-midiática nas diretrizes cur-
riculares dos estudos das Relações Internacionais no
Brasil
Coautor(es): Monica Leite Lessa, Cristina Rego Mon-
teiro da Luz, Carla de Oliveira Espanhol
Trabalho Completo
Resumo: Após os múltiplos impactos exercidos pela
política da globalização nas últimas décadas, o Bra-
sil, no âmbito das Relações Internacionais, sobretu-
do, nos cursos de graduação, ainda se mantém su-
balterno vis-à-vis aos cânones disciplinares referen-
tes às normativas anglo-saxônicas. A recente apro-
vação pelo Ministério da Educação (MEC), por meio
da resolução n º 4, de 4 de outubro de 2017 nos
aponta para a lacuna e a desfaçatez das Relações
Internacionais frente aos estudos culturais e midiáti-
cos. Nesse sentido, esse artigo se objetiva a apontar
por meio da cartografia analítico-crítica as proble-
máticas e as lacunas que passam a compor o campo
dos estudos das Relações Internacionais no Brasil na
ausência dos estudos culturais e midiáticos como
disciplinas do núcleo estruturante. Tem-se como
problema de pesquisa a seguinte questão: De que
modo a subalternidade colonial cultural-midiática
das Relações Internacionais no Brasil se mantém, a
partir das diretrizes curriculares aprovada pelo MEC,
vis-à-vis as liturgias dogmáticas do pensamento an-
glo-saxão? Defende-se neste artigo, a seguinte hipó-
tese: Refletir sobre as Relações Internacionais é
compreender a importância que a cultura e as mí-
dias exercem e colaboram para as análises político-
sociais e econômicas da sociedade mundial. Portan-
to, manter as disciplinas de cultura e mídia das dire-
trizes curriculares das Relações Internacionais como
eixo secundário (núcleo interdisciplinar), é manter-
se encarcerado as visões subalternas do pensamen-
to colonial anglo-saxão. Metodologicamente, o arti-
go faz uso de análises quantitativas e qualitativas à
luz dos estudos interdisciplinares entre as relações
internacionais, a cultura e a mídia.
sobre a conexão entre o global e local
(GIDDENS,1991) ao se avaliar nos Campi de Planalti-
na, Gama, Ceilândia e Darcy Ribeiro a difusão do
conhecimento sobre a Agenda e maneiras de desen-
volver práticas de ensino, pesquisa e extensão inter-
disciplinares e de ferramentas para gestão, integra-
ção e difusão de informações e conhecimentos na
perspectiva da implementação da Agenda 2030 na
UnB e entorno.
Onofre dos Santos Filho
As diretrizes curriculares nacionais (DCNs) e o campo
de conhecimento em Relações Internacionais no Bra-
sil
Coautor(es): Leonardo César Souza Ramos
Resumo: Recentemente o Ministério da Educação
aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs)
para os cursos de graduação em Relações Internaci-
onais no Brasil. Nas DCNs são estabelecidos os parâ-
metros do campo de conhecimento em Relações
Internacionais, os subcampos que o constitui e os
conteúdos necessários à formação do aluno no de-
correr da graduação. São também estipuladas as
atividades acadêmicas mínimas necessárias que de-
vem ser contempladas no projeto pedagógico e os
requisitos a serem atendidos pelo currículo mínimo
em Relações Internacionais. As DCNs, dessa forma,
expressam um determinado entendimento das Re-
lações Internacionais como campo de conhecimen-
to que se traduz em uma prática específica, produto
de uma visão de mundo e de uma compreensão
também determinada da ciência e da atividade cien-
tífica. O propósito desse ensaio é analisar a concep-
ção de campo de conhecimento e de ciência subja-
centes às DCNs e suas implicações para o entendi-
mento dos fenômenos internacionais e para a for-
mação da graduação em Relações Internacionais no
Brasil.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
233
Paola Cristina Nicolau
O Papel da Cátedra Sérgio Vieira de Mello no Proces-
so de Integração dos Imigrantes Haitianos em Doura-
dos-MS e Região
Coautor(es): Arthur Pinheiro de Azevedo Banzatto
Trabalho Completo
Resumo: O artigo se propõe a analisar a situação dos
imigrantes haitianos na cidade de Dourados-MS,
bem como refletir sobre o papel da Cátedra Sérgio
Vieira de Mello (CSVM) no seu processo de integra-
ção local. O Mato Grosso do Sul possui uma extensa
fronteira internacional com significativos pontos de
entrada de imigrantes. O estado se configura inicial-
mente como território de passagem para a grande
maioria de imigrantes e solicitantes de refúgio que
cruzam essas fronteiras. No entanto, a taxa de regis-
tro de haitianos no MS ocupa apenas a décima pri-
meira posição. Isso se configura pela ausência de
políticas públicas e de recursos humanos capacita-
dos para atender as demandas desses imigrantes,
de modo que a maioria acaba se deslocando para o
Sudeste e a escolha do MS como destino final ocor-
re posteriormente a esse processo. O relatório anu-
al da OBMigra (2017) sobre o mercado de trabalho
revela que somente 336 haitianos foram incorpora-
dos formalmente no estado, de um número total
aproximado de mil haitianos que vivem nas cidades
de Três Lagoas, Campo Grande, Itaquiraí e Doura-
dos. Buscando suprir parcialmente esta lacuna, a
CSVM-UFGD foi formalizada em 2014, por meio de
um Acordo de Cooperação Técnica entre a UFGD e
o ACNUR. Neste contexto, destaca-se o papel da
academia como ator social relevante capaz de con-
tribuir para a recepção e integração destes imigran-
tes na cidade de Dourados/MS e região, através de
atividades de ensino, pesquisa e extensão envolven-
do a temática, além da articulação com outras insti-
tuições públicas e da sociedade civil. Como referen-
cial teórico, o conceito de migração de sobrevivên-
cia (Betts, 2013) é utilizado para compreender as
lacunas de proteção aos haitianos e a teoria institu-
cional (Messey et al, 1993) auxilia a conceber o pa-
pel da sociedade civil na assistência e integração dos
imigrantes na sociedade local.
Patricia Fonseca Ferreira Arienti
O Uso de Filmes em Ensino e Extensão: a experiência
de apresentar a trajetória da classe trabalhadora no
capitalismo contemporâneo através de filmes
Coautor(es): Wagner Leal Arienti
Trabalho Completo
Resumo: Filmes são uma boa ilustração para análises
sobre a história. Podem ser usados para ilustrar e
complementar aulas, com recomendações sobre
filmografia do tema abordado, e para extensão, ao
indicar para o público não-acadêmico como uma
atividade de entretenimento pode ser uma referên-
cia útil para discussão sobre temas relevantes. A ar-
te cinematográfica é uma representação da realida-
de e de dramas de personagens, mesclando situa-
ções de ficção e não ficção. Filmes colocam perso-
nagens vivendo em contextos históricos. A história
de cada filme se desenvolve envolto em contextos
históricos e os personagens vivem seus dramas em
situações dadas e específicas. Os contextos e suas
implicações sobre os personagens podem ser desta-
cadas em análises feitas sobre o filme. Nestes casos,
filmes podem ser usados para analisar situações da
história. O capitalismo contemporâneo passou por
transformações que afetaram a vida dos trabalha-
dores. A filmografia retratou tanto o contexto eco-
nômico e social das transformações do capitalismo
contemporâneo, quanto os dramas vividos por per-
sonagens representativos da classe trabalhadora.
Uma seleção de filmes sobre o tema permite uma
ilustração da situação da classe trabalhadoras ao
longo das mudanças no capitalismo. O período es-
colhido para ilustração é o auge do Fordismo em
final dos anos 1960, com inclusão de trabalhadores
nos frutos do desenvolvimento capitalista, a crise do
Fordismo, com o fim do pleno emprego e a imposi-
ção de competição entre trabalhadores por empre-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
234
go, e a transição Pós-Fordista, que promoveu uma
restruturação do trabalho e uma nova relação com
a classe trabalhadora. Uma visão panorâmica desta
trajetória pode ser sugerida com a recomendação
dos seguintes filmes: (i) Revolução em Dagenham,
(ii) Segunda-feira ao Sol (iii) O que você faria? (iv)
Dois dias e uma noite, (v) O verdadeiro custo e (vi) O
valor de um homem.
Pedro Vinícius Pereira Brites
A extensão como instrumento de transformação aca-
dêmica e de promoção da dignidade de migrantes:
um olhar a partir do Chemen
Coautor(es): Marina de Almeida Rosa, Yuri Debrai
Padilha
Trabalho Completo
Resumo: Devido à intensidade dos fluxos migrató-
rios no Século XX, essa temática tem instigado inici-
ativas e pesquisas nas Relações Internacionais, im-
pondo que o tema seja desenvolvido também em
atividades de extensão. Nesse contexto, foi instituí-
do no Curso de Relações Internacionais do UniRitter,
o CHEMEN, projeto voltado à promoção da dignida-
de de comunidades haitianas situadas na periferia
da região metropolitana de Porto Alegre/RS. A esco-
lha dessas comunidades justifica-se pelo aumento
de migrantes haitianos em território nacional, ob-
servado pelo estreitamento das relações Brasil-Haiti,
pela política exterior brasileira, pela situação econô-
mica regional, pelo frequente reconhecimento de
país receptível aos imigrantes. Observou-se no de-
senvolvimento do projeto que esses imigrantes en-
contram, além de percalços decorrentes de precon-
ceito e desigualdade social, barreiras que lhes impe-
dem de atingir as metas que motivaram a migração:
o empecilho do idioma aliado às dificuldades labo-
rais, questões burocráticas, problemas de saúde,
demonstram que migrantes negros advindos de paí-
ses periféricos são mais propensos a serem negli-
genciados por parte da sociedade. O CHEMEN, pala-
vra oriunda do creole haitiano (em português: cami-
nho, rota), procura ser uma alternativa aos migran-
tes, somando-se às forças promovidas por eles para
alcançarem seus objetivos no Brasil e terem garanti-
da a dignidade. Assim, consolidando a interdiscipli-
naridade entre as Relações Internacionais e os cur-
sos de Letras, Direito, Enfermagem e Psicologia, o
projeto assessora as comunidades haitianas, regula-
rizando suas situações migratórias, reunindo famí-
lias que encontram-se nos dois países, preparando-
os para o mercado de trabalho, promovendo a sua
saúde física e mental, além de ofertar o ensino gra-
tuito da língua portuguesa e articular junto a órgãos
nacionais e internacionais. A partir de atendimentos
in loco, empregando métodos como Problem Based
Learning, os discentes têm alinhado a expertise ad-
quirida às demandas dos haitianos, conferindo-se ao
estudante de Relações Internacionais uma formação
superior não só voltada à aplicabilidade dos concei-
tos, mas forjada em valores humanitários.
Raphael Almeida Videira
Atividade Interdisciplinar de PBL para o curso de Rela-
ções Internacionais da ESPM/SP: Uma experiência
prática
Coautor(es): Demetrius Cesario Pereira
Trabalho Completo
Resumo: Os métodos de aprendizagem ativa tem
sido uma alternativa altamente positiva no ensino
das Relações Internacionais, em conjunto com as
aulas expositivas tradicionais, ao buscarmos que o
aluno encontre o conhecimento através do envolvi-
mento pessoal ou experiência sensorial e colabora-
ção entre docente e discente. O presente artigo
busca apresentar a experiência aplicada no curso de
graduação da ESPM-SP no primeiro semestre de
2018 de uma experiência aplicada de atividade de
metodologia ativa – utilizamos o problem solving,
ou problem based learning (PBL) aplicado à um es-
tudo de caso através da aprendizagem baseada em
projeto (LANTIS, KENT & KRAIN, 2010; BENDER,
2015; CUNHA, 2015) – envolvendo as disciplinas de
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
235
História das Relações Internacionais Contemporâ-
neas, Country Studies – Europa e Macroeconomia. A
atividade versa sobre a questão da crise migratória
contemporânea europeia e buscamos assim contri-
buir com a área de pesquisa do ensino das Relações
Internacionais, ainda pouco explorada na literatura
brasileira. Desta forma, o artigo irá abordar a descri-
ção da elaboração da atividade e seus respectivos
objetivos de aprendizagens, avaliação da experiên-
cia prática como ferramenta de aprendizagem e es-
tilos de aprendizagem dos alunos além da conclusão
baseada na aplicação empírica.
Raquel Maria de Almeida Rocha
Atividade Interdisciplinar de PBL para o curso de Rela-
ções Internacionais da ESPM/SP: Uma experiência
prática
Coautor(es): Raphael Almeida Videira, Demetrius Ce-
sario Pereira
Trabalho Completo
Resumo: Os métodos de aprendizagem ativa tem
sido uma alternativa altamente positiva no ensino
das Relações Internacionais, em conjunto com as
aulas expositivas tradicionais, ao buscarmos que o
aluno encontre o conhecimento através do envolvi-
mento pessoal ou experiência sensorial e colabora-
ção entre docente e discente. O presente artigo
busca apresentar a experiência aplicada no curso de
graduação da ESPM-SP no primeiro semestre de
2018 de uma experiência aplicada de atividade de
metodologia ativa – utilizamos o problem solving,
ou problem based learning (PBL) aplicado à um es-
tudo de caso através da aprendizagem baseada em
projeto (LANTIS, KENT & KRAIN, 2010; BENDER,
2015; CUNHA, 2015) – envolvendo as disciplinas de
História das Relações Internacionais Contemporâ-
neas, Country Studies – Europa e Macroeconomia. A
atividade versa sobre a questão da crise migratória
contemporânea europeia e buscamos assim contri-
buir com a área de pesquisa do ensino das Relações
Internacionais, ainda pouco explorada na literatura
brasileira. Desta forma, o artigo irá abordar a descri-
ção da elaboração da atividade e seus respectivos
objetivos de aprendizagens, avaliação da experiên-
cia prática como ferramenta de aprendizagem e es-
tilos de aprendizagem dos alunos além da conclusão
baseada na aplicação empírica.
Richarlls Martins da Silva
Gênero, raça e sexualidade nos estudos em RI no Bra-
sil: silêncios, saliências e territorialidades
Coautor(es): Thiago Gehre Galvao
Resumo: Gênero, Raça e Sexualidade (GRS) é uma
parte constitutiva da Política Global, mas não da es-
trutura do conhecimento no campo das Relações
Internacionais (RI). Há uma baixa permeabilidade
dos currículos dos cursos de RI no Brasil para ques-
tões sociais emergentes, como gênero, raça e sexu-
alidade em particular. Da mesma forma, o debate
sobre práticas pedagógicas e conteúdos curriculares
que contemplam direitos humanos e diversidade
não engloba satisfatoriamente os estudos em RI em
âmbito nacional. Esta proposta visa ampliar o esco-
po da reflexão crítica sobre a intersecção de direitos
sexuais, igualdade de gênero e combate ao racismo
na formação acadêmica em RI. Reavaliará as teorias
decolonialistas, raciais, queer, gênero e sexualidade,
bem como algumas perspectivas e estudos brasilei-
ros, a fim de construir uma narrativa sobre silêncios,
saliências e territorialidades sobre as experiências
brasileiras que associam estas categorias no ensino,
pesquisa e extensão em RI. A proposta analisa a
concepção curricular e metodológica do pioneiro
curso de extensão Gênero, Raça Sexualidade e Polí-
tica Global oferecido no Instituto de Relações Inter-
nacionais da UnB em 2017 e os desdobramentos no
campo da pesquisa e ensino derivados do Colóquio
de mesmo tema realizado em seguimento na mes-
ma instituição
.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
236
Rita de Cássia de Oliveira Ferreira
Poder Político Local e Ensino Superior: A implementa-
ção da graduação em relações internacionais na regi-
ão amazônica brasileira
Resumo: O trabalho trata da relação entre poder
político local e educação a nível de ensino superior
no Brasil. Introdutoriamente, far-se-á um painel
conciso da produção sobre estudos de poder políti-
co local, como campo investigatório nas últimas dé-
cadas. Assim, a partir deste tema intentar-se-á inte-
ragir sua atuação no âmbito do ensino superior,
mais precisamente na formação do curso de Rela-
ções Internacionais, na região norte do Brasil. Com
isso, buscar-se-á apresentar importante agenda de
pesquisa de diversas instituições do país. Nesse sen-
tindo, pretende-se abordar algumas reflexões que
aponte possibilidades de ampliar o objeto em exa-
me, contribuindo para estudos outros que aprofun-
de o assunto. Para tanto, o texto constituir-se-á em
duas seções concernente a relação entre essas duas
temáticas. Primeiramente, aduziremos as premissas
do conteúdo do texto. Em seguida, explanar-se-á
como está sendo trabalhado o conceito de poder
político local, entre seus principais teóricos no Bra-
sil. No segundo item, examinar-se-á o tema das Re-
lações Internacionais como curso no ensino superior
brasileiro, e de modo particular, de que forma refe-
rido curso está sendo administrado nos estados que
compõem a região amazônica, levando-se em consi-
deração sua importância no contexto de políticas
públicas em educação, bem como sua relevância no
sentido regional e local pela significância que tem a
Amazônia no sentido de gestão descentralizada, en-
tre governos federal e estadual, e subnacionalmen-
te no cenário internacional. Com base nesses argu-
mentos apresentaremos algumas reflexões sobre
possibilidades do poder político local na gestão da
educação, sobretudo do ensino superior e o signifi-
cado do curso de Relações Internacionais nas uni-
versidades da região norte do Brasil.
Rodolpho Talaisys Bernabel
Análise de Risco Político em Negócios Internacionais
Coautor(es): Denilde Holzhacker
Trabalho Completo
Resumo: Este artigo reporta as práticas utilizadas na
disciplina de análise de risco ministrada no curso de
relações internacionais da Escola superior de Propa-
ganda e Marketing. Mostramos como foi a concep-
ção da disciplina em sua relação com a grade curri-
cular do curso e como o seu programa foi pensado
especificamente para a questão de negócios inter-
nacionais. Nessa mesma linha, situamos a disciplina
na área mais ampla da análise de risco, uma esfera
de trabalho e conhecimento que veio do mercado
para a academia, e não o contrário como costuma
acontecer, com conhecimentos sendo produzidos
na academia e somente posteriormente se tornan-
do passíveis de serem aplicados fora dela. Também
comentamos a bibliografia especializada seleciona-
da para a disciplina e como suprimos suas limita-
ções. Sobretudo, apontamos como complementa-
mos a bibliografia com literaturas não acadêmicas e
como produzimos material técnico-pedagógico pró-
prio, além de discorrermos sobre os exercícios e ca-
sos abordados e como eles variam nos diferentes
níveis de aprendizagem segundo a taxonomia de
Bloom. Por fim, explanamos a respeito formação
mais geral de analistas de risco político para negó-
cios internacionais e sobre como a academia pode
suprir a demanda crescente por profissionais que
possuam expertise metodológica e conceitual em
análise de risco político.
Rodrigo Fernando Gallo
Modelo de simulação no ensino das Relações Interna-
cionais: a experiência do Model of United Nations da
FMU
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo deste artigo é analisar o uso de
modelos de simulação como prática de ensino nos
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
237
cursos de graduação de Relações Internacionais, a
partir de um estudo de caso do Model of United Na-
tions (MUN) promovido nas Faculdades Metropoli-
tanas Unidas (FMU) desde 2014. O artigo se propõe
a contribuir para o debate acerca da eficiência dos
simulados como forma de metodologia ativa de
aprendizado, de modo a proporcionar que os conte-
údos teóricos vistos em sala de aula sejam emprega-
dos na prática pelos participantes. Além de uma re-
visão bibliográfica sobre o tema, este estudo consis-
te no uso do método qualitativo de entrevista para
compreender como a simulação em questão é pla-
nejada. Metodologicamente, foram entrevistados
todos os alunos que ocuparam o posto de secretá-
rios-gerais do evento, de modo a investigar como o
simulado é organizado e como ele promove a inte-
gração entre conteúdos teóricos e práticos nas Rela-
ções Internacionais. Nossa hipótese é que o MUN se
apresenta como uma estratégia interessante para a
aplicação da interdisciplinaridade e para a supera-
ção das aulas expositivas clássicas, porém, ainda ca-
rece de mecanismos que permitam a avaliação indi-
vidual do desempenho de cada participante.
Rosana Corrêa Tomazini
A abordagem dos direitos humanos no ensino das
Relações Internacionais
Coautor(es): Débora Aparecida Antunes Pereira
Trabalho Completo
Resumo: Esse ano, 2018, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH) completa 70 anos. A
DUDH representou o primeiro passo no consenso
internacional sobre os direitos do indivíduo e pre-
servação de sua dignidade. Uma mudança de para-
digma nas relações internacionais, dado que o foco
do direito público internacional se volta para a pes-
soa, e não para o Estado. Assim, desde a sua propo-
sição, muitos avanços podem ser percebidos no le-
que dos direitos elencados, incluindo a área da edu-
cação. Nesse sentido, o presente artigo pretende
explorar a inclusão do tema dos Direitos Humanos
no ensino das Relações Internacionais no Brasil, ob-
servando que tal orientação está presente tanto nas
Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos
Humanos (2012), quanto nas Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) para os cursos de Relações Inter-
nacionais (2017). Nota-se que as orientações elen-
cadas nas Diretrizes Nacionais para a Educação em
Direitos Humanos dispõem sobre a inclusão dessa
temática nos sistemas de ensino e instituições edu-
cativas, tanto de forma transversal como disciplinar,
ou de modo misto. Igualmente, as DCNs para os cur-
sos de Relações Internacionais, recentemente apro-
vadas, incluem conhecimentos e práticas em Direi-
tos Humanos tanto no seu eixo de formação estru-
turante, como no seu eixo de formação comple-
mentar. Assim, a partir desse contexto, o presente
trabalho pretende construir o Estado da Arte sobre
a abordagem dos direitos humanos nos cursos de
Relações Internacionais no Brasil, considerando a
produção acadêmica de duas bases de dados: (i)
SciELO - Scientific Eletronic Labrary Online e (ii) Bi-
blioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
(BDTB). Acredita-se que a composição do referido
Estado da Arte lance luz sobre o panorama da pro-
dução acadêmica no período de 2012 a 2017, na
temática em discussão, permitindo sinalizar avanços
no cumprimento dos compromissos assumidos a
partir da DUDH, notadamente na área do ensino em
direitos humanos.
Suellen Mayara Péres de Oliveira
As metodologias ativas de ensino e a promoção de
acolhimento na universidade federal da integração
latino-americana
Resumo: O artigo apresenta os resultados da pes-
quisa coletiva sobre as experiências de aprendiza-
gem ativa na UNILA, entre os anos de 2014 – 2017
em componentes curriculares ministrados para o
curso de Relações Internacionais e Integração e Ci-
clo Comum de estudos latino-americanos. A UNILA
abriga experiências de encontros de várias identida-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
238
des e culturas étnicas latino-americanas em suas
salas de aula, com a finalidade de promover integra-
ção e educação intercultural para o respeito à diver-
sidade. Especialmente no campo das relações inter-
nacionais, as simulações constituem práticas de
aprendizagem ativa desde a década de 1990, quan-
do se popularizou a realização das simulações nas
escolas de ensino fundamental e médio como forma
de despertar vocações para a diplomacia e promo-
ver debates sobre os problemas globais, visto que a
agenda do sistema internacional está articulada com
os temas transversais e com os novos valores edu-
cacionais estabelecidos como parâmetros da UNES-
CO para Educação em Direitos Humanos. Em 2012,
o Ministério da Educação (MEC) homologou as dire-
trizes nacionais para a Educação em Direitos Huma-
nos, com objetivo não só de adequar-se as exigên-
cias da ONU, como também de criar no Brasil uma
cultura de direitos. Por todo esse contexto, a UNILA
e seu curso de Relações Internacionais e Integração
podem exercer um papel importante na promoção
da Educação em Direitos Humanos através da incor-
poração das metodologias ativas nas práticas peda-
gógicas. Durante a pesquisa, as técnicas praticadas
incluíram simulações, debates, técnicas ludo-
crativas, estudos de casos, projetos e círculos res-
taurativos. A troca de experiência promovida pela
aprendizagem ativa resultou na aquisição de um
currículo significativo para os discentes, porque cri-
ou vínculos de pertencimento, acolhimento e inte-
gração das diferenças culturais presentes em nosso
ambiente internacional latino-americano. Sobretu-
do, a aprendizagem ativa praticada na UNILA aco-
lheu os sujeitos em suas angústias e incertezas que
fazem parte da vida universitária em contexto de
internacionalização.
Thiago Gehre Galvao
Gênero, raça e sexualidade nos estudos em RI no Bra-
sil: silêncios, saliências e territorialidades
Coautor(es): Richarlls Martins da Silva,
Resumo: Gênero, Raça e Sexualidade (GRS) é uma
parte constitutiva da Política Global, mas não da es-
trutura do conhecimento no campo das Relações
Internacionais (RI). Há uma baixa permeabilidade
dos currículos dos cursos de RI no Brasil para ques-
tões sociais emergentes, como gênero, raça e sexu-
alidade em particular. Da mesma forma, o debate
sobre práticas pedagógicas e conteúdos curriculares
que contemplam direitos humanos e diversidade
não engloba satisfatoriamente os estudos em RI em
âmbito nacional. Esta proposta visa ampliar o esco-
po da reflexão crítica sobre a intersecção de direitos
sexuais, igualdade de gênero e combate ao racismo
na formação acadêmica em RI. Reavaliará as teorias
decolonialistas, raciais, queer, gênero e sexualidade,
bem como algumas perspectivas e estudos brasilei-
ros, a fim de construir uma narrativa sobre silêncios,
saliências e territorialidades sobre as experiências
brasileiras que associam estas categorias no ensino,
pesquisa e extensão em RI. A proposta analisa a
concepção curricular e metodológica do pioneiro
curso de extensão Gênero, Raça Sexualidade e Polí-
tica Global oferecido no Instituto de Relações Inter-
nacionais da UnB em 2017 e os desdobramentos no
campo da pesquisa e ensino derivados do Colóquio
de mesmo tema realizado em seguimento na mes-
ma instituição.
Wagner Leal Arienti
O Uso de Filmes em Ensino e Extensão: a experiência
de apresentar a trajetória da classe trabalhadora no
capitalismo contemporâneo através de filmes
Coautor(es): Patricia Fonseca Ferreira Arienti
Trabalho Completo
Resumo: Filmes são uma boa ilustração para análises
sobre a história. Podem ser usados para ilustrar e
complementar aulas, com recomendações sobre
filmografia do tema abordado, e para extensão, ao
indicar para o público não-acadêmico como uma
atividade de entretenimento pode ser uma referên-
cia útil para discussão sobre temas relevantes. A ar-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
239
te cinematográfica é uma representação da realida-
de e de dramas de personagens, mesclando situa-
ções de ficção e não ficção. Filmes colocam perso-
nagens vivendo em contextos históricos. A história
de cada filme se desenvolve envolto em contextos
históricos e os personagens vivem seus dramas em
situações dadas e específicas. Os contextos e suas
implicações sobre os personagens podem ser desta-
cadas em análises feitas sobre o filme. Nestes casos,
filmes podem ser usados para analisar situações da
história. O capitalismo contemporâneo passou por
transformações que afetaram a vida dos trabalha-
dores. A filmografia retratou tanto o contexto eco-
nômico e social das transformações do capitalismo
contemporâneo, quanto os dramas vividos por per-
sonagens representativos da classe trabalhadora.
Uma seleção de filmes sobre o tema permite uma
ilustração da situação da classe trabalhadoras ao
longo das mudanças no capitalismo. O período es-
colhido para ilustração é o auge do Fordismo em
final dos anos 1960, com inclusão de trabalhadores
nos frutos do desenvolvimento capitalista, a crise do
Fordismo, com o fim do pleno emprego e a imposi-
ção de competição entre trabalhadores por empre-
go, e a transição Pós-Fordista, que promoveu uma
restruturação do trabalho e uma nova relação com
a classe trabalhadora. Uma visão panorâmica desta
trajetória pode ser sugerida com a recomendação
dos seguintes filmes: (i) Revolução em Dagenham,
(ii) Segunda-feira ao Sol (iii) O que você faria? (iv)
Dois dias e uma noite, (v) O verdadeiro custo e (vi) O
valor de um homem.
Wemblley Lucena de Araújo
O estado da arte dos estudos da política ambiental
global no ensino das relações internacionais: desafios
e novas perspectivas
Resumo: Este trabalho tem como propósito analisar
o estado da arte dos estudos da política ambiental
global no ensino das relações internacionais. A as-
censão das questões ambientais na política interna-
cional e a diversidade dos atores envolvidos revelam
a necessidade de profundo debate dos estudos am-
bientais no processo de ensino e aprendizagem nas
relações internacionais. Compreendidos como po-
tenciais dilemas globais, os dilemas ambientais deli-
nearam, a partir da década de 1970, contornos sig-
nificativos na agenda de diversos centros de pesqui-
sas acadêmicos, nos quais passaram a investigar a
dinâmica do jogo político, os interesses dos atores
envolvidos e as correlações de causa e efeito dentro
desse campo de estudo. Nas últimas décadas, o tra-
tamento analítico da política ambiental reivindicam
constantes readequações didáticas e metodológicas
para o ensino das relações internacionais. De tal
modo, questiona-se de que forma os estudos da po-
lítica ambiental foram incorporados no ensino das
relações internacionais? Quais ferramentas metodo-
lógicas foram desenvolvidas e como podem ser re-
pensadas? Quais desafios devem ser superados?.
Destas indagações, para melhor operacionalização
da pesquisa, a metodologia aplicada baseou-se em
revisão sistemática da literatura especializada, da
análise descritiva dos principais periódicos de modo
a oxigenar o debate proposto, além de possibilitar a
propositura de novas agendas de pesquisa atinente
à discussão em decurso. Percebe-se que a amplia-
ção das práticas interdisciplinares por meio de cru-
zamento de temas in multilevel pode contribuir para
a construção da compreensão dos processos de po-
lítica ambiental global. Desse cenário, apontam-se,
ainda, direções e perspectivas de potenciais agen-
das de pesquisas para o estudo da política ambien-
tal global no ensino das relações internacionais.
Yuri Debrai Padilha
A extensão como instrumento de transformação aca-
dêmica e de promoção da dignidade de migrantes:
um olhar a partir do Chemen
Coautor(es): Marina de Almeida Rosa, Pedro Vinícius
Pereira Brites
Trabalho Completo
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
240
Resumo: Devido à intensidade dos fluxos migrató-
rios no Século XX, essa temática tem instigado inici-
ativas e pesquisas nas Relações Internacionais, im-
pondo que o tema seja desenvolvido também em
atividades de extensão. Nesse contexto, foi instituí-
do no Curso de Relações Internacionais do UniRitter,
o CHEMEN, projeto voltado à promoção da dignida-
de de comunidades haitianas situadas na periferia
da região metropolitana de Porto Alegre/RS. A esco-
lha dessas comunidades justifica-se pelo aumento
de migrantes haitianos em território nacional, ob-
servado pelo estreitamento das relações Brasil-Haiti,
pela política exterior brasileira, pela situação econô-
mica regional, pelo frequente reconhecimento de
país receptível aos imigrantes. Observou-se no de-
senvolvimento do projeto que esses imigrantes en-
contram, além de percalços decorrentes de precon-
ceito e desigualdade social, barreiras que lhes impe-
dem de atingir as metas que motivaram a migração:
o empecilho do idioma aliado às dificuldades labo-
rais, questões burocráticas, problemas de saúde,
demonstram que migrantes negros advindos de paí-
ses periféricos são mais propensos a serem negli-
genciados por parte da sociedade. O CHEMEN, pala-
vra oriunda do creole haitiano (em português: cami-
nho, rota), procura ser uma alternativa aos migran-
tes, somando-se às forças promovidas por eles para
alcançarem seus objetivos no Brasil e terem garanti-
da a dignidade. Assim, consolidando a interdiscipli-
naridade entre as Relações Internacionais e os cur-
sos de Letras, Direito, Enfermagem e Psicologia, o
projeto assessora as comunidades haitianas, regula-
rizando suas situações migratórias, reunindo famí-
lias que encontram-se nos dois países, preparando-
os para o mercado de trabalho, promovendo a sua
saúde física e mental, além de ofertar o ensino gra-
tuito da língua portuguesa e articular junto a órgãos
nacionais e internacionais. A partir de atendimentos
in loco, empregando métodos como Problem Based
Learning, os discentes têm alinhado a expertise ad-
quirida às demandas dos haitianos, conferindo-se ao
estudante de Relações Internacionais uma formação
superior não só voltada à aplicabilidade dos concei-
tos, mas forjada em valores humanitários.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
241
WD01 | Segurança Internacional, Estudos Estratégi-
cos e Política de Defesa
Elany Almeida de Souza
Defesa da Soberania Ambiental do Brasil: a desconstrução
da retórica da securitização como instrumento de afirma-
ção do Poder no cenário internacional.
Trabalho Completo
Resumo: As dinâmicas globais têm sido mapeadas estra-
tegicamente a partir de construções discursivas que cul-
minam em processos de securitização e essa também é a
lógica da questão ambiental. A proteção da biodiversida-
de da Amazônia pressupõe estratégias que compreen-
dam os processos de securitização, bem como os inte-
resses nacionais, regionais e globais que permeiam o
cenário internacional. Sob essa perspectiva, pretende-se
investigar se a securitização da questão ambiental na
Amazônia pode ser interpretada como mecanismo de
ingerência, intervenção na gestão e administração de
recursos naturais economicamente exploráveis e; qual o
papel do Brasil diante dessas novas dinâmicas de gover-
namentabilidade (influência das grandes corporações e
do homos economicus) x governança no tocante à Ama-
zônia e a proteção da sua biodiversidade. Os estudos
sobre a questão ambiental, em específico da Amazônia,
conhecida mundialmente por sua grande biodiversidade,
tem ocupado cada vez mais a agenda internacional, so-
bretudo quando se trata de um dos campos da Teoria de
Securitização desenvolvida pela Escola de Copenhague.
Compreender a importância da Amazônia e seu papel
em um complexo de segurança regional pressupõe inves-
tigar como construções discursivas que culminam em
processos de securitização da questão ambiental têm
sido apresentados, e para isso parte-se de uma análise
qualitativa, elegendo-se a análise de discurso como me-
todologia capaz de desvendar os elementos que com-
põem as dinâmicas de securitização no cenário internaci-
onal. Para compreender as dinâmicas que envolvem a
securitização em matéria ambiental se faz necessária a
análise de discurso, pois embora a própria Escola de Co-
penhague tenha como pressuposto epistemológico a
análise do ato de fala, ela própria parte de uma pré-
compreensão específica de seu construto epistemológi-
co, o que reclama inclusive um desvelamento de seu lu-
gar de fala, eis que é o modo de acesso ao objeto é o
que diferencia a análise de conteúdo da análise de dis-
curso. (PÊCHEUX, 1993, p. 68). Analisar, por meio da me-
todologia de análise de discurso, irá permitir melhor
compreender como a Teoria da Securitização da Escola
de Copenhague trabalha a expansão do campo da segu-
rança para além do debate tradicional, isto é, as relações
interestatais e da seara militar. Isso porque, referida teo-
ria cuida de expandir o conceito de segurança para ou-
tros setores e novos atores, aumentando seu leque de
variáveis. Fixa a questão da segurança como um ato de
fala, um ato discursivo, ou seja, amplia a perspectiva e
percepção de ameaça. Michel Pêcheux (2002), um dos
precursores nos estudos sobre discurso da linha france-
sa, lembra que todo dizer é ideologicamente marcado,
além do que é “no contato do histórico com o lingüístico,
que [se] constitui a materialidade específica do discur-
so” (PÊCHEUX, 2002, p. 8). Assim, securitizar significa
implementar medidas emergenciais e de exceção em
cenários que na sua normalidade não o seriam. Ao consi-
derar a variável discursiva como ferramenta e mecanis-
mo de trazer para o campo da segurança questões não
tradicionalmente ventiladas, aponta agendas específicas
que são construídas discursivamente e eleitas como prio-
ridades nos debates de segurança. Os limites dessa abor-
dagem teórica podem ser observados quando chamados
a dialogar com outras variáveis, como por exemplo, as
relações hierárquicas de poder no cenário internacional,
as dicotomias colonizador x colonizado, norte x sul, desa-
cordos culturais, desenvolvimento, sustentabilidade, en-
tre outras variáveis que podem alterar a avaliação do
agente securitizador com relação ao objeto securitizado.
Esses limites comportam avaliações diversas, mas que
recaem sempre sobre as questões políticas e de seguran-
ça. E é exatamente por ser um ato de fala que armadi-
lhas podem ser verificadas, principalmente quando a
avaliação é realizada por uma única lente de observação
ou por perspectivas carregadas de pré-compreensões
universalistas. Isso ocorre quando a própria teoria deixa
de aprofundar e problematizar suas próprias variáveis,
como a da audiência, da ausência de contextualização,
do lugar de fala do agente securitizador, o papel da mídia
na contextualização do convencimento, entre outros
elementos que irão ser determinantes na legitimidade e
legalidade em eleger determinado objeto como passível
de ser securitizado. A análise da securitização ou desse-
WORKSHOP DOUTORAL
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
242
curitização da questão ambiental, em específico da Ama-
zônia, necessita de uma análise contextualizada, não só
no âmbito das diferenças de perspectivas política e de
segurança, mas também no aspecto em que o espaço
geográfico se insere, os interesses geopolíticos, geoes-
tratégicos, geoeconômicos, a cultura e as especificidades
locais e regionais. O contexto em que a securitização é
inserida demanda investigação do ponto de vista da aná-
lise de discurso, ou seja, o que há de subliminar na cons-
trução discursiva, o sentido e não o conteúdo do texto. É
desvelar o que há de não oficial na relação entre o agen-
te securitizador e o objeto securitizado. A abordagem
discursiva defende que a “ segurança não pode ser defi-
nida em termos objetivos e que, portanto, tanto as con-
cepções objetivas quanto as subjetivas são engano-
sas” (BUZAN e HANSEN, 2009, p. 68). Epistemologica-
mente, a primeira distinção central dos estudos de segu-
rança internacional, está na “distinção entre as concep-
ções objetivas, subjetivas e discursivas de seguran-
ça” (BUZAN e HANSEN, 2009, p. 67). Estudar a securitiza-
ção ambiental no âmbito da Amazônia é também percor-
rer caminhos que levam a discussões latentes nas Rela-
ções Internacionais e no cenário em que o Realismo Polí-
tico constrói cenários em que o conceito de securitização
(ato de fala) é o que legitima a securitização do objeto e
por consequência legitima intervenções e ingerências
ecológicas. Para avaliar a capacidade explicativa de uma
teoria, a mesma demanda aplicação em casos empíricos,
e nesse cerne, cabe investigar como a teoria da securiti-
zação da questão ambiental se comporta com relação ao
contexto político em que a Amazônia está inserido. Essa
avaliação perpassa desde a análise das políticas globais e
como o tratamento das mudanças climáticas vem sendo
conduzido e colocado como parte relevante da agenda
de segurança internacional. Isso porque, o objeto de se-
gurança internacional é aquele apontado como passível
de sofrer ameaça existencial e em razão disso justificam-
se medidas emergências, passando de um tema da agen-
da de low politics para a de segurança de high politics. A
relevância do tema se mostra na medida em que a Segu-
rança (estado) e Defesa (ato), transitam sob três pilares
que se revelam a partir da análise do ato de fala, que
são: Política, Estratégia e Poder. A política aponta o que
será feito e todo o arcabouço que envolve o equilíbrio de
poder. A Estratégia irá demonstrar como será feito, e
nesse aspecto, a análise sob a perspectiva brasileira é
necessária e imprescindível, pois o contexto geopolítico
e geoestratégico do Brasil apontam não só suas zonas de
ação e convergências, como também traduzem os inte-
resses que desperta no cenário internacional. É a partir
daí que as percepções se ampliam, se retraem, são invisi-
bilizadas ou desaparecem. Compreender a questão am-
biental e os processos de securitização pelos quais tem
passado, também significa entender a forças dos meca-
nismos de soft law (Convenção da Biodiversidade, por
exemplo) frente a um de hard law (mercado). A ineficiên-
cia das políticas de governança global tem demonstrado
grande dificuldade em lidar com dicotomias latentes no
cenário das relações internacionais, dentre elas: liberda-
de x segurança, competição x cooperação; inovação x
preservação, exclusão x integração. Esse o desafio para o
Brasil, desenvolver um pensamento de defesa autôno-
mo, a partir de suas próprias perspectivas e necessida-
des, o que pressupõe uma estratégia capaz de fugir da
armadilha discursiva da securitização e fragilização da
sua soberania ambiental.
Giovanna Ayres Arantes de Paiva
Redescobrindo a criança na Segurança Internacional: a
construção de narrativas sobre as crianças-soldado
Resumo: O universo bélico que compreende as guerras e
os conflitos armados é majoritariamente habitado por
adultos, narrado por e para adultos. As crianças, quando
não são subtraídas das histórias dos conflitos, são lem-
bradas apenas como vítimas que sofreram as consequên-
cias das hostilidades, não como atores que também atu-
aram ativamente nesses contextos. Porém, sabemos
que por trás dessa narrativa adulta dos conflitos arma-
dos, as próprias crianças já foram empregadas em diver-
sas atividades bélicas ao longo da história, portando ar-
mas, carregando munições, trabalhando como cozinhei-
ras, escravas sexuais e espiãs. O termo crianças-soldado
designa essas crianças – meninas e meninos – que de-
sempenham diversas funções junto às partes beligeran-
tes. Assim, as crianças-soldado sintetizam a união entre
dois mundos aparentemente separados e incompatíveis:
o mundo infantil e o mundo da guerra e da violência.
Somente no final do século XX e início do século XXI –
após a assinatura de documentos internacionais que es-
tabeleceram formalmente os Direitos da Criança – o em-
prego de crianças-soldado ganhou maior atenção no âm-
bito internacional, principalmente por parte das Nações
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
243
Unidas e de algumas Organização Não-Governamentais
(ONGs), sendo inserido na agenda de Segurança Interna-
cional. Nesta pesquisa, objetivamos compreender de que
forma as narrativas sobre as crianças-soldado foram
construídas no cenário internacional, moldando o tema
como um problema de Segurança. Como hipótese, argu-
mentamos que se formaram narrativas hegemônicas, as
quais tendem a associar o emprego de crianças-soldado
ao subdesenvolvimento socioeconômico de algumas re-
giões do mundo, legitimando políticas intervencionistas
nessas áreas, ao mesmo tempo em que negligenciam
outras infrações aos Direitos da Criança provenientes da
violência que ocorre em muitos países desenvolvidos e
subdesenvolvidos. Assim, as narrativas hegemônicas
acerca do emprego de crianças-soldado tendem a apon-
tar as crianças-soldado como vítimas e as partes que as
empregam como ameaças à Segurança Internacional,
legitimando seu combate por meio de intervenções es-
trangeiras. A metodologia de análise de construção de
narrativas já foi utilizada em alguns trabalhos no campo
das Relações Internacionais a fim de explicar o estabele-
cimento de narrativas hegemônicas em suas respectivas
linhas de pesquisa, como é o caso de narrativas acerca
de nacionalidades, colonialismo e poder (LEITE, 2013;
MOTTA, 2014; MOREIRA, 2007). Partimos do entendi-
mento de que as narrativas são constituídas por discur-
sos - entendidos aqui não apenas como atos de fala, mas
como expressão de opiniões, ideais e interesses por
meio de documentos, estudos, trabalhos – que se mani-
festam de diferentes formas e por meio de diferentes
atores. As narrativas são construídas no cenário interna-
cional como uma forma de projetar relações de poder na
forma de projetos discursivos, determinados a partir de
certos interesses (BHABHA, 1998; MOTTA, 2013). Por
conseguinte, estudar a forma pela qual as narrativas são
construídas, consolidadas e reproduzidas é uma maneira
de investigar as relações de poder que se articulam em
torno de um tema. No que concerne ao emprego de cri-
anças-soldado, identificamos que os principais atores
produtores de narrativas são as Nações Unidas, algumas
ONGs e a própria bibliografia especializada. Na fase em
que estamos da pesquisa, buscaremos nos concentrar
em apresentar e analisar as formas pelas quais as crian-
ças-soldado são tradicionalmente apresentadas no cená-
rio internacional. Assim, as crianças-soldado podem as-
sumir os papeis de heróis, perpetradores, vítimas e ato-
res nos conflitos armados. Nosso objetivo aqui é mostrar
como cada um desses papéis se manifesta na bibliografia
sobre o tema.
João Fernando Finazzi
As dinâmicas da construção global do policiamento: o ca-
so de Porto Príncipe
Trabalho Completo
Resumo: Nota-se, nos últimos anos, que as práticas de
controle social têm se constituído em importantes esfor-
ços de diversos atores em nível global. Com maior ou
menor influência segundo o contexto, militares, policiais,
ONGs, corporações e organizações internacionais (como
ONU, OEA, OCDE, FMI, Banco Mundial e Organização
Internacional da Migração) têm se dedicado a um amplo
rol de ações que incidem sobre a formação ou o treina-
mento de forças de segurança, promotores, advogados,
juízes; a construção de edifícios como delegacias e pri-
sões; e o armamento e equipamento destes atores
(Sedra, 2010; Brzoska, 2003; Kohl, 2014). As atuações
durante as operações de peacebuilding e de reconstru-
ção pós-conflito (momento que tem início com o térmi-
no das hostilidades), por exemplo, são normalmente
compreendidas como importantes momentos de aquisi-
ção de expertise a ser reproduzida em contextos simila-
res. O general norte-americano David Petraeus, por
exemplo, responsável em 1995 pela supervisão do trei-
namento internacional da Polícia Nacional Haitiana e da
reforma dos sistemas judiciário e prisional, definiu que o
período no Haiti serviu como uma verdadeira escola de
testes para suas teses sobre o Exército dos EUA e para o
aperfeiçoamento dos esforços de contra-insurgência que
seriam posteriormente empregados no contexto da cha-
mada “guerra ao terror” (Broadwell e Loeb, 2012; Ge-
ricke, 2010). Não se trata de caso isolado, no entanto. O
Haiti, mais especificamente Porto Príncipe tem sido com-
preendida desde meados dos anos 90 e de modo ainda
mais aprofundado nos 2000 como um signifcativo espa-
ço testes de práticas de policiamento, controle social,
vigilância e pacificação a serem experimentadas e expor-
tadas globalmente, notadamente no Brasil. O aspecto
internacional do treinamento e armamento de forças de
segurança, dos membros do poder judiciário e da cons-
trução de prisões e delegacias não é em si um fenômeno
raro nem recente na história da política internacional. Ao
se considerar as potências coloniais europeias, os Esta-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
244
dos Unidos, ou até mesmo os Estados da chamada
“periferia”, o envio de policiais ou militares para supervi-
sionar, treinar e armar estas forças estrangeiras em loca-
lidades distantes é prática relativamente comum.
No entanto, apesar dessa visível característica transnaci-
onal no modo como as práticas policiais são desenvolvi-
das e executadas ao redor do globo, há ainda uma lacuna
significativa na literatura sobre policia e policiamento,
sendo restrita muitas vezes às áreas disciplinares da cri-
minologia ou da segurança pública. De modo geral, essas
perspectivas tendem a ver as práticas policiais como for-
mas fortemente nacionais ou particulares, circunscritas a
uma dada localidade nas quais suas dimensões globais
ou transnacionais muitas vezes são completamente igno-
radas. Nas últimas décadas, no entanto, um contexto de
ampliação do reconhecimento de direitos humanos fun-
damentais colocou os estudos das práticas de policia-
mento como um importante tema de discussão na disci-
plina de Relações Internacionais em geral. Notadamente
impulsionada pelo crescimento da atuação internacional
das polícias em contextos de operações de paz, estes
estudos muita vezes têm se baseado e reproduzido uma
apreensão “estadocêntrica” da realidade social, a partir
da qual se naturaliza o regime global dos Estados-nação
e se instrumentaliza certo “nacionalismo metodológi-
co” (Wimmer e Schiller, 2003). Segundo Laffey e Nadara-
jah (2016), os trabalhos baseados nessa forma de abor-
dagem tratam o policiamento a partir de termos das ju-
risdições nacionais, dos territórios dos Estados e das suas
fronteiras e das coordenações das instituições policiais
internacionais. Segundo essa perspectiva, o treinamento
policial internacional compõem apenas um aspecto es-
tratégico da dinâmica de competição internacional dos
Estados por poder e influência política, onde se destaca
invariavelmente o papel exercido pelos Estados Unidos
no mundo contemporâneo (Nadelmann, 1993; Andreas e
Nadelmann, 2006). Essa perspectiva também compreen-
de os aspectos globais do policiamento a partir da exis-
tência de certo “centro difusor” de métodos e tecnologi-
as de vigilância, controle e repressão para a periferia por
meio da atuação das grandes potências (Corva, 2008;
Greener, 2011). Por outro lado, uma recente literatura
tem enfatizado a constante construção global do policia-
mento. Ou seja, tem-se constatado que estas práticas
são também co-constituídas nos e pelos vários palcos
globais em que ocorrem os diversos encontros entre es-
forços de policiamento e construção de uma ordem e
suas resistências, perpassando uma dada política exter-
na. A partir desse ponto de vista, os “centros difusores”
continuam a ter importância fundamental por compo-
rem os fluxos transnacionais de bens, ideias, serviços e
pessoas ao redor do policiamento, bem como os encon-
tros entre as polícias e os “policiados” são compreendi-
dos como importantes aspectos que compõem esse di-
nâmica (Hönke and Müller, 2016). A análise do caso de
Porto Príncipe pretende lançar luz a esse processo no
que diz respeito às relações entre os atores que se arti-
culam ao redor destas práticas e saberes. Ao longo dos
anos recentes, as atuações têm apresentado uma série
de sinergias, intercâmbios e trocas de expertise com re-
lação a diferentes projetos de segurança pública e práti-
cas de segurança executados em outros espaços e terri-
tórios, notadamente no Rio de Janeiro. A recente dispo-
sição das Forças Armadas brasileiras para serem utiliza-
das nas chamadas “operações de garantia da lei e da or-
dem” e nas intervenções e ocupações de favelas cario-
cas, bem como o treinamento e aperfeiçoamento de tá-
ticas de pacificação e de contra-insurgência urbana utili-
zadas nessas ações passaram pelo aprendizado conquis-
tado com a atuação brasileira ao longo da Minustah
(Gomide, 2012; Harig, 2015). O teste de equipamentos e
armamentos o mútuo aprendizado e trocas de conheci-
mento entre militares e policiais e a presença constante
das ONGs aparecem continuamente ao redor dos pro-
cessos de pacificação presentes tanto no contexto da
operação de paz no Haiti quanto nas ações no Rio de
Janeiro. São recorrentes, por exemplo, a produção por
parte de ONGs e de institutos de pesquisa de inúmeros
projetos e estudos com o intuito declarado de se aperfei-
çoar os esforços de pacificação social e de diminuição
dos índices de violência, além da promoção de diferentes
contatos, arranjos e articulações entre os principais ato-
res que orbitam ao redor do conflito e do exercício da
violência nesses contextos, como os frequentes encon-
tros entre a Polícia Nacional Haitiana, a Polícia Militar do
Rio de Janeiro, as Forças Armadas do Brasil e a ONG Viva
Rio (Kolbe e Muggah, 2013). Desse modo, esta dinâmica
global aparenta ter maior manifestação nos cenários ur-
banos, os quais concentram estes múltiplos circuitos en-
trelaçados e transformam as geografias tradicionais de
poder, autoridade e direitos. Assim, as mútuas influên-
cias das transformações das relações ora conflituosas ora
harmônicas entre os diversos atores que se encontram
ao redor do policiamento in loco permitem estabelecer
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
245
uma apreensão dos constantes esforços de reprodução
global do policiamento.
João Paulo Gusmão Pinheiro Duarte
Humanitarismo e relações internacionais: uma genealogia
da atuação e influência de organizações não governamen-
tais de direitos humanos na construção normativa da se-
gurança internacional.
Trabalho Completo
Resumo: Inscrita no Programa de Estudos Pós-graduados
em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, a pesquisa tem por objetivo analisar a atu-
ação e influência de organizações não governamentais
(ONGs) promotoras dos direitos humanos na construção
normativa da segurança internacional. Para tanto, lança
mão da abordagem genealógica do poder proposta por
Michel Foucault para situar, metodologicamente, as pro-
cedências e a emergência desse acontecimento. Em um
primeiro plano, então, busca-se mostrar como o surgi-
mento do Comitê Internacional da Cruz Vermelha está
associado ao preambular debate ocorrido na segunda
metade do século XIX em torno do interesse de humani-
zação das guerras. Procedência de ações e normativas
que surgiram na sequência intencionando o controle dos
conflitos internacionais, tal interesse releva não apenas a
não exclusividade da atuação estatal nesse processo,
como também a presença de um conteúdo humanista
nele. Isto é, a presença de uma perspectiva dirigida ao
estabelecimento de uma atenção sobre as condições de
vida dos Homens diante da 'realidade' da guerra. Embora
subjacente ou encoberto pelos grandes acordos voltados
para a defesa do Estado, mesmo no Pacto da Liga das
Nações, no pós-Primeira Guerra Mundial, é possível ma-
pear investimentos nesse sentido. Envolvida nas tratati-
vas de Versalhes, a Cruz Vermelha, ao encampar ações
em defesa dos combatentes e aderir às invocações paci-
fistas, foi uma das entidades a indicar que tais medidas
de reordenação e controle jurídico do sistema internaci-
onal também estavam relacionadas ao benefício da hu-
manidade dos homens. O resgate da atuação da Cruz
Vermelha nesse momento de elaboração das normativas
que buscaram estabelecer instrumentos para uma segu-
rança do campo das relações internacionais distintos do
equilíbrio de poder, é igualmente importante para anali-
sar o surgimento de outras ONGs de destaque que tam-
bém se envolveram nessa temática. A partir da segunda
metade do século XX, organizações como Anistia Interna-
cional, Médicos sem Fronteiras e Human Rights Watch,
colocaram mais uma vez em evidência como a atuação
da chamada esfera não governamental exerceu influên-
cia sobre a construção normativa da segurança internaci-
onal. No entanto, inseridas em um novo contexto, seus
engajamentos são demonstrativos de outro preambular
debate, não mais atrelado às 'tradicionais' dinâmicas de
guerra e paz. Isso porque, ao se apropriarem dos disposi-
tivos e efeitos da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos, estabeleceram-se como organizações emissoras
do entendimento de que a segurança, para além e
aquém do âmbito internacional, deveria se ampliar para
atender 'novas formas' de violência, como, por exemplo,
os conflitos civis e as precariedades sociais. Especialmen-
te focadas na defesa humanitária, a participação política
na produção de protocolos e entendimentos nesse senti-
do revelou novamente a presença de investimentos diri-
gidos a uma atenção sobre as condições de vida dos Ho-
mens. Seguindo a orientação teórico-metodológica da
abordagem genealógica, tal apontamento abre caminho
para o segundo plano da pesquisa. Assim, além da análi-
se acima exposta interessada na identificação de formas
de poder que escapam ao campo da soberania na confi-
guração da segurança 'internacional', importa também
situar como esse poder se exerce. Objetivamente, isso
significa a proposição da hipótese de que entre os enga-
jamentos pela humanização da guerra e os mais recentes
empenhos voltados à 'segurança humana', há uma com-
binação do interesse de controle sobre o sistema de Es-
tado e um emergente interesse contemporâneo de con-
trole sobre as populações mundiais. Considerando essa
premissa, seria possível então indicar como o exercício
desse poder desenvolvido como mecanismo de gestão
da guerra e da paz revela um redimensionamento da
'biopolítica'. Categoria proposta por Foucault, a biopolíti-
ca pode ser sinteticamente assinalada como um conjun-
to de tecnologias de poder dirigidas ao estabelecimento
de atenções sobre a vida. Foi desenvolvida a partir de
estudos que indicaram a emergência, entre os séculos
XVIII e XIX, no centro europeu, de uma governamentali-
dade' que elaborou novas formas de exercício do poder
político. Naquele contexto, segundo o autor, o desblo-
queio dessa 'arte de governar' expôs uma diferença fun-
damental entre a habilidade de se conservar um princi-
pado, centrado na conquista e manutenção do território,
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
246
e a habilidade de governar, voltada para a gestão do con-
junto de homens que se encontram em uma determina-
da circunscrição política. Inserida nesse fluxo, a biopolíti-
ca que então emergiu agrupou tecnologias que se encar-
regaram de gerir a multiplicidade dos homens, atendo-se
as suas atividades, vulnerabilidades e regularidades. Ou
ainda de maneira mais abrangente, atendo-se aos seus
costumes e as suas características biológicas, as suas pre-
disposições, fraquezas e habilidades, as suas inseguran-
ças, deficiências e eficiências, as suas riquezas e paupe-
rismos, aos seus excessos e moderações, as suas econo-
mias e produções, aos seus deslocamentos, distribuições
e localizações. Buscando traçar correlações e aproxima-
ções com essa categoria, a pesquisa se dedica a mostrar
como a segurança 'internacional', sobretudo na contem-
poraneidade, cada vez mais articula também esforços
nesse sentido. Reafirmando a atuação e influência de
ONGs promotoras dos direitos humanos no longo pro-
cesso de conformação normativa desse campo, igual-
mente importa demonstrar como elas atuam de maneira
prática no estabelecimento da segurança. Com foco na
observação do trabalho realizado por ONGs que adquiri-
ram grande destaque e possuem trânsito transnacional –
como as organizações anteriormente citadas – , expõe-
se, por exemplo, a execução de trabalhos de saúde públi-
ca e socorro em situações de emergência; de proteção
de civis e refugiados em locais de conflito; de assistência
a prisioneiros; de educação e capacitação profissional de
populações miseráveis; de auxílio em processos de inter-
venção militar e reconstrução de Estados; etc. Trabalhos
sempre orientados por sentenças que afirmam a huma-
nidade como valor primordial, e que especialmente se
direcionam a regiões e locais avaliados como hospedei-
ros de "ameaças" e "inseguranças"; por consequência,
também com especial atenção à populações e grupos de
indivíduos considerados "ameaçadores" ou "perigosos".
Assim, de maneira conclusiva, a pesquisa se encaminha
para uma problematização que situa a prática governa-
mental dessas organizações não governamentais de di-
reitos humanos, expondo igualmente a falácia do preten-
so caráter neutro por elas reivindicado. Com tais obser-
vações, é possível então indicar como essa prática está
inserida em uma 'governamentalidade planetária' que se
estabelece e que se articula, também, pela produção da
'vida segura'. Isto é, em termos foucaultianos, a produ-
ção e preservação da 'vida digna de ser vivida'.
Leticia Cordeiro Simões de Moraes Lima
Negociações e Conflitos no Mar do Sul da China sob a luz
do realismo neoclássico: as posturas de China, Japão e
EUA
Resumo: As disputas territoriais no Mar do Sul da China
(MSC) vêm despertando a atenção de políticos e estudio-
sos ao redor do globo. Contudo, tais questões passaram
a receber maior atenção, em grande medida, devido à
elevação das tensões entre China e EUA, e Japão como
aliado estratégico norte americano naquela região. São
seis os Estados que circundam este mar, China (e Tai-
wan), Vietnã, Brunei, Malásia, Indonésia e Filipinas; o
acesso a ele se dá a Sudoeste pelo estreito de Málaca e a
Nordeste pelo estreito de Taiwan. Um dos alvos das dis-
putas são dois grandes grupos de ilhas: as Ilhas Spratly,
localizadas mais ao Sul, e Paracel, mais ao Norte. Além
de outros pequenos atóis e recifes, a disputa também
ocorre na região do Recife de Scarborough e das Ilhas
Natuna, rica em campos de gás. Sendo assim, o MSC é
disputado pelos Estados que o circundam. Contudo, não
só estes Estados se inserem nos contentos territoriais.
Por sua importância estratégica, grandes potências vol-
tam sua atenção para o que está acontecendo na região.
As características do MSC e o interesse que desperta nos
países ao seu redor tornam a região um caldeirão propí-
cio para o conflito (KAPLAN, 2014). A ASEAN (Associação
dos Países do Sudeste Asiático) está sendo amplamente
questionada sobre o seu papel nas disputas sobre o MSC
(THAYER, 2012). A China por sua vez, busca neutralizar a
ASEAN, com quem tem uma declaração apenas sugestiva
sobre a conduta das partes na região contestada e, ao
mesmo tempo, se esquivar das leis internacionais esta-
belecidas pela UNCLOS, ratificada também pelo Estado
chinês. Os EUA, ator influente na região, e o Japão como
seu aliado preferencial, observam de perto os atuais cho-
ques entre a China e os países menores e enxergam com
preocupação as amplas reivindicações chinesas, que da-
riam a esse país controle quase total do espaço aéreo e
marítimo da região. As tensões no MSC vêm escalonando
principalmente pelas reações de Estados Unidos aos
avanços chineses sobre as Ilhas Spratly. Desde 2012, é
possível perceber a maciça presença chinesas através de
fotografias e vídeos de satélites comerciais. O país vem
aterrando parte de pequenas ilhas, rochas e corais nas
Ilhas Spratly e muitos entendem que esta nova ilha artifi-
cial que está sendo criada seja utilizada para propósitos
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
247
militares (TIEZZI, 2015). Em 2013 as Filipinas levam as
disputas com a China para um tribunal internacional da
UNCLOS, desagradando a China e enfraquecendo a ASE-
AN. A tensão não se resume apenas à construção de no-
vas ilhas em águas contestadas, mas também a restrição
da atuação norte americana na região. Esta preocupação
dos EUA tornou-se ainda mais clara com as recentes vigi-
lâncias chinesas sobre os aviões norte-americanos ao
passarem por áreas consideradas internacionais pelos
EUA e chinesas pela Marinha chinesa (SCIUTTO, 2015).
Também, em 2015, EUA, Japão e Austrália lançaram uma
declaração conjunta expressando preocupação em rela-
ção à movimentação chinesa sobre áreas contestadas.
(MISSILE THREAT, 2015). Este pré-projeto de tese tem
como objetivo geral estudar os posicionamentos dos
principais atores envolvidos nas disputas e conflitos de
uma área que é de vital importância para a estabilidade e
o comércio mundiais, e que vem tendo sua situação es-
calonada para conflito armado entre as partes que pos-
suem maiores reivindicações na disputa a partir da déca-
da de 1970, com alternados períodos de tranquilidade e
tensão. Partindo do grande objetivo geral lançado, espe-
cíficos se apresentam com o intuito de enriquecer as
pesquisas a serem realizadas. O primeiro é compreender
as ações da China, que sinaliza busca pelo controle da
região, e a resposta dos Estados Unidos e Japão para es-
te avanço chinês. O segundo é investigar a possibilidade
de os Estados chinês e/ou americano, bem como o japo-
nês, utilizarem a ASEAN, principalmente Filipinas e Viet-
nã, como peça importante, pelas suas posições individu-
ais conflitantes e divididas, dentro de um conflito que se
escalona entre as duas potências. Buscar fazer uma aná-
lise dos conflitos no MSC através da tradição realista,
significa, em grande medida, dar maior destaque às prin-
cipais potências que estão envolvidas no fenômeno que
aos periféricos, que atualmente possuem as principais
reivindicações territoriais naquela região. Sendo assim, o
principal foco da análise passa a ser China e EUA, mas
também Japão. Sobre o realismo neoclássico de tipo III
de Rispman, Taliaferro e Lobell (2016), se olharmos para
as variáveis intervenientes, aquelas que colocam o Esta-
do e suas características no centro do debate, é possível
fazer uma interessante análise sobre China e EUA no que
diz respeito ao MSC e os conflitos territoriais. Partindo
da imagem do líder, desde o último governo Obama há
uma guinada da política externa americana para a Ásia-
Pacífico depois de ter sido deixada em segundo plano
durante a Guerra ao Terror. Com Trump há, pela primei-
ra vez, a classificação da China como ameaça e como
uma potência revisionista que pode buscar alterar a or-
dem pós-Segunda Guerra. Por outro lado, pela primeira
vez, o presidente Xi Jinping declarou uma nova Era para a
China, classificando-a como uma potência global buscan-
do se posicionar como tal, vide a expansão no MSC e
iniciativa do One Belt One Road. Com isso, é possível ver
uma alteração da cultura estratégica dos dois países, no
caso da China para buscar se posicionar cada vez mais no
centro do palco da política internacional, enquanto os
EUA parecem buscar manter a sua posição privilegiada e
central não só na Ásia, mas no Sistema, algo que pode
ser ameaçado pelo projeto de (re) ascensão chinesa. No
que diz respeito a relação Estado-Sociedade, a China
vem buscando reforçar o Partido Comunista e livrá-lo do
estigma de corrupção, e a escolha de Xi Jinping, mais
assertivo que seu antecessor tem a ver com isso. En-
quanto nos EUA a ascensão de movimentos de extrema-
direita tem modificado (ou até mesmo quebrado) a rela-
ção do país com a ordem internacional que ajudou a cri-
ar. As relações Estado-sociedade se refletem na estrutu-
ra das instituições e sua relação com o externo, no caso
da China se voltando para a busca de um protagonismo
maior e dos EUA para a manutenção do status-quo.
Refletindo através destas variáveis intervenientes, se
aplicadas a curto, médio e longo prazo para os conflitos
no MSC, talvez seja possível perceber no curto prazo, as
ações e motivações por trás das decisões de China e Es-
tados Unidos e Japão frente ao conflito, como por exem-
plo, uma maior assertividade de ambas as partes em
tempos recentes; a médio prazo, o embate entre chine-
ses e norte-americanos pode ilustrar uma mudança no
posicionamento da grande estratégia dos dois atores,
vide suas políticas externas continuamente mais comba-
tivas à ameaça que o outro representa; e a longo prazo
seria possível ilustrar mudanças na natureza do sistema
internacional, principalmente se considerarmos revisio-
nismos e manutenções de status quo. Após identificar
diversas disputas territoriais entre China e os outros 5
atores no MSC; analisar que um dos principais atores do
cenário internacional, os EUA e o Japão, tendo em vista a
importância estratégica da região, o principal problema
que será analisado a partir deste pré-projeto de tese é:
quais são as implicações regionais e sistêmicas do emba-
te territorial no Mar do Sul da China no que tange o rela-
cionamento entre China, EUA e Japão a luz do realismo
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
248
neoclássico?
Thales Leonardo de Carvalho
A “Virada à Esquerda” e as Políticas de Defesa e Políticas
Externas relacionadas à Segurança na América Latina: um
estudo comparativo dos países locais
Resumo: A partir de 1998, foram eleitos em diversos paí-
ses da América Latina presidentes considerados de es-
querda e/ou centro-esquerda. Esse fenômeno ficou co-
nhecido como “Onda Rosa” ou “Virada à Esquerda”. De
modo geral, esses governos apresentaram convergências
em diversos pontos, como a adoção de políticas redistri-
butivas (principalmente as de transferência condicional
de renda e de valorização dos salários), ênfase na expor-
tação de produtos primários e aumento do papel do Es-
tado na regulação do mercado e na definição de estraté-
gias de desenvolvimento – a medida em que essas políti-
cas foram implementadas varia entre os casos mas, em
geral, essas seriam algumas das bases para o denomina-
do “neodesenvolvimentismo” (SILVA, 2010; LEVITSKY,
ROBERTS, 2011; BRESSER-PEREIRA, 2009; BELÉM LOPES;
FARIA, 2016). Enquanto isso, no âmbito regional, houve
uma reconfiguração da forma como ocorria a integração
entre os países latino-americanos. O regionalismo aberto
e sua ênfase na integração por meio do comércio foi aos
poucos dando lugar a uma nova agenda, fundamentada
no aumento do papel do Estado na economia e no foco
em áreas até então pouco contempladas pela agenda
neoliberal que se tentou implementar na região no perí-
odo anterior, como as políticas sociais e de infraestrutu-
ra, bem como na integração política. Um dos frutos des-
se novo cenário é, por exemplo, a União de Nações Sul-
Americanas – UNASUL (GRATIUS, 2012; RIGGIROZZI,
2012). Muito se explorou em torno do impacto desse
fenômeno em áreas como políticas econômicas, sociais e
infraestruturais; pouco, no entanto, se buscou analisar
sobre o efeito do mesmo em relação às Políticas de De-
fesa Nacional (PDN) e às Políticas Externas relacionadas à
Segurança (PES) desempenhadas pelos países locais. As-
sim, o objetivo deste trabalho é o de analisar e comparar
o que foi feito pelos países latino-americanos em torno
dessas áreas nos últimos 30 anos para entender se e co-
mo a “Virada à Esquerda” possibilitou uma convergência
também nessas políticas entre os governos nela envolvi-
dos. A convergência de políticas públicas é um processo
em que atores diferentes implementam políticas ou ele-
mentos políticos (como ideias e programas) similares e
pode se dar de três formas: através de coincidências, em
que esses atores desenvolvem esses elementos de forma
independente e sem desejar necessariamente alcançar
essas similaridades; através do desenvolvimento conjun-
to de novas políticas, seja através da comunicação ou da
cooperação entre os envolvidos; ou, ainda, através da
difusão/transferência das mesmas. Esse processo pode
ser facilitado por fatores como homogeneidade cultural,
similaridades institucionais, proximidade geográfica, pro-
blemas semelhantes a serem resolvidos pelas políticas a
serem implementadas, organizações internacionais, en-
tre outros (DOLOWITZ; MARSH, 1996; MARSH; SHAR-
MAN, 2009; KNILL, 2005). São dois os tipos de políticas
públicas aqui estudadas. Como Políticas de Defesa Nacio-
nal, me baseio no que é dito pelos documentos que ex-
plicitam as diretrizes de defesa dos países locais, enten-
dendo-as como aquelas que visem defender a soberania,
os interesses, recursos e a população de um país contra
ameaças, predominantemente externas, de cunho mili-
tar. Já como PE relacionada à Segurança, compreende-se
aqui os meios pelos quais políticas e estratégias interna-
cionais de um Estado, restringindo aqui àquelas relacio-
nadas ao que é por eles securitizado no âmbito militar,
nacional e internacionalmente, são formuladas, executa-
das e avaliadas. O que se pensa aqui, a priori, é que a
“Virada à Esquerda” possibilitou a convergência nas polí-
ticas aqui propostas entre os governos nela envolvidos.
Esse efeito teria sido facilitado pelas similaridades ideo-
lógicas entre os presidentes de esquerda e/ou ou pela
ação da UNASUL, junto a um de seus órgãos – o Conse-
lho de Defesa Sul-Americano (CDS). Na busca pelo teste
deste argumento, recorro à Análise Qualitativa Compara-
tiva (QCA), mais precisamente o fuzzy-set QCA, visando
encontrar possíveis condições necessárias e/ou suficien-
tes que possam ter possibilitado outcome estudado. Em
seguida, me utilizarei do process-tracing para entender
como essas condições possibilitaram essa convergência.
As variáveis independentes do trabalho são: a “Virada à
Esquerda”, de modo que os mandatos escolhidos podem
ter ocorrido antes ou depois desse fenômeno; a orienta-
ção política dos governos, podendo ser de esquerda/
centro-esquerda/neodesenvolvimentistas e direita/
centro-direita/neoliberais. A UNASUL é vista como uma
variável interveniente, em que os atores podem ser ou
não membros da mesma. Todos os países da região se-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
249
rão analisados, sendo um mandato presidencial de cada
um deles ocorrido aproximadamente entre 1994 e 2000
e outro em meados de 2010 a 2014, possibilitando assim
uma análise longitudinal e transversal, para que se possa
averiguar se houve, de fato, a convergência, bem como o
impacto das variáveis elencadas. Como visto, as variáveis
explicativas são dicotômicas; no entanto, a variável de-
pendente deste trabalho, ou seja, a convergência nas
políticas estudadas, pode ser entendida como métrica,
como será explicado abaixo. Isso ocorreu pois a dicoto-
mização da mesma implicaria em uma perda significativa
de informações; o que me levou a optar pela vertente
Fuzzy-set do QCA (RAGIN, 2000; 2008). A variável depen-
dente será desmembrada em quatro categorias, sendo
dois tipos de políticas (PES e PDN), que podem passar
por dois tipos de convergência: discursiva e material. A
convergência discursiva ocorre quando as mensagens,
diretrizes, discursos, planos e estratégias dos atores en-
volvidos apresentam objetivos similares; enquanto a
convergência material existe quando ações tangíveis efe-
tivamente implementadas, para além dos discursos e
diretrizes (englobando, por exemplo, recursos financei-
ros, tropas ou equipamentos militares), apresentarem
similaridades. A partir disso, recorrerei ao estabeleci-
mento de parâmetros de análise. Ao invés de observar
apenas as trajetórias ao longo do tempo, para uma me-
lhor operacionalização do trabalho, optei por utilizar a
ótica da convergência-δ. Para tanto, deve ser estabeleci-
do um tipo ideal e, então, analisa-se o quanto os casos
analisados se aproximaram do mesmo ao longo do tem-
po. Para o estabelecimento desse tipo, me baseio na se-
guinte pergunta: como deveria agir um governo de es-
querda e membro da UNASUL? A partir disso, estabele-
çerei os parâmetros e indicadores necessários para a
análise e fui em busca dos dados, que foram obtidos
através de pesquisa bibliográfica e documental. De posse
de documentos primários (obtidos junto ao site da Orga-
nização das Nações Unidas – ONU, Organização dos Esta-
dos Americanos – OEA, UNASUL, de governos nacionais,
entre outros) e secundários, procederei à análise docu-
mental, junto à análise de conteúdo qualitativa e, no ca-
so da convergência discursiva, à análise de discurso. À
medida que os indicadores forem apurados, serão atri-
buídos scores aos casos. Recorrerei, então, à calibragem
desses scores. Por fim, cheguei às tabelas de verdade,
para analisar melhor os resultados, segundo dito por Ra-
gin (2000; 2008). Esses procedimentos foram analisados
utilizando o programa “R”, através da interface gráfica
disponibilizada pelo pacote “QCAGUI”. Caso a eventual
convergência seja confirmada, recorrerei a estudos dos
casos que apresentarem a convergência – como sugerido
por Beach e Pedersen (2013) – aqui representados pelos
mandatos que apresentarem o outcome, através do pro-
cess-tracing. Essa escolha se dá em função da capacida-
de do método de demonstrar se e como as relações de
causalidade que constam na hipótese e supostamente
foram apoiadas pelo QCA de fato ocorreram, através de
uma análise das engrenagens e dos desdobramentos dos
processos causais até então hipotetizados (BENNETT,
2010; GERRING, 2008). Assim, será feito um teste doubly
decisive que, caso dê certo, confirmará as hipóteses le-
vantadas; caso falhe, rejeitará definitivamente as mes-
mas (VAN EVERA, 1997; BENNETT, 2010).
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
250
WD02 | Análise de Política Externa + História das Re-
lações Internacionais e da Política Externa
Ana Carolina de Araujo Marson
A relação Brasil - Estados Unidos na intervenção na Repú-
blica Dominicana em 1965
Trabalho Completo
Resumo: Esse projeto visa analisar a relação entre Brasil,
Estados Unidos e a Organização dos Estados Americanos
(OEA) durante a intervenção norte-americana na Repú-
blica Dominicana em 1965. Especificamente, busca-se
compreender a atuação norte-americana na OEA para a
legitimação dessa intervenção, a decisão do governo bra-
sileiro em apoiar os Estados Unidos e contribuir com um
grande efetivo militar para a Força Interamericana de
Paz (FIP). Apesar de estudos recentes terem apresentado
a maneira como se deu a intervenção norte-americana
na República Dominicana - unilateralmente e sem o
apoio da OEA - pouco se sabe ainda sobre o processo de
tomada de decisão tanto de Washington quanto de Bra-
sília. Assim, a partir da análise de documentos diplomáti-
cos brasileiros e norte-americanos, de jornais do período
e baseando-se na literatura sobre as relações entre po-
tências hegemônicas e organismos internacionais, busca-
remos estudar a maneira pela qual teria se desenvolvido
a relação entre os governos do Brasil, Estados Unidos e a
OAE no contexto da crise dominicana. Espera-se, com
isso, contribuir para iluminar embates cruciais da Guerra
Fria travados na América Latina no início dos anos 1960,
além de refletir sobre o papel das relações entre potên-
cia hegemônica e lideranças sub-regional no contexto
latino-americano.
Camilla Silva Geraldello
O lobby do agronegócio e o contencioso do suco de laran-
ja na OMC: caminhos da política externa comercial brasi-
leira no século XXI
Trabalho Completo
Resumo: No início do século XXI, tanto mudanças no ce-
nário internacional, como a ascensão econômica chinesa
e a preocupação estadunidense com o terrorismo global,
quanto uma concertação de políticas domésticas, fazem
surgir novas possibilidades para países em desenvolvi-
mento como o Brasil. Tais possibilidades refletiram-se no
destaque desses países em uma área específica: o co-
mércio internacional. Assim, o Brasil que sempre procu-
rou se engajar no multilateralismo assumiu um papel de
protagonismo na Organização Mundial do Comércio
(OMC) a partir de 1999, liderando o G-20 (agrícola) e
abrindo diversas disputas contra países desenvolvidos,
conquistando a vitória na maioria delas. Os contenciosos
que marcam esse momento de mudanças externas e
internas e de vitórias brasileiras são: o do algodão
(contra os Estados Unidos), o do açúcar (contra a União
Europeia), ambos iniciados em setembro de 2002, e o do
suco de laranja (também contra os Estados Unidos), com
um painel de março de 2002 sem punição para o deman-
dado e outro em novembro de 2008 com punição para o
demandado. Contudo, apesar das vitórias na OMC para
os respectivos setores agrícolas brasileiros, o fato de um
setor demandar do governo a contestação em organiza-
ção multilateral contra outro Estado que protege seu
mercado de produtos importados pode ser entendido
como um último recurso e derrota do setor exportador
que não conseguiu negociar bilateralmente com o país
importador. Nesse sentido, a pesquisa parte da seguinte
pergunta: por que entre os painéis relacionados à agri-
cultura abertos em 2002 pelo Brasil na OMC, somente o
do suco de laranja não progrediu, sendo necessário um
segundo painel em 2008? Há três variáveis possíveis para
pensar a questão que serão abordados de forma interre-
lacionada: 1) a natureza do produto e da cadeia produti-
va; 2) o processo de tomada de decisão em política ex-
terna e a escolha da linha de atuação brasileira nesse
campo; e 3) a influência do setor demandante sobre a
formulação e implementação de políticas públicas no
Brasil. Assim, com relação à primeira variável, apesar da
grande liderança brasileira no setor de suco de laranja –
de cada cinco copos consumidos no mundo, três são pro-
venientes dos pomares brasileiros –, o setor não articula
cadeias nacionais, já que o Citrus Belt brasileiro se con-
centra no interior de São Paulo (85% da produção) e no
Triângulo Mineiro, além de não mobilizar produtos ener-
géticos (como o etanol para a cana-de-açúcar) ou com-
petir com cadeia produtiva nacional estadunidense
(como o algodão). Já sobre a segunda variável, é impor-
tante destacar os contextos internacionais e nacionais de
2002 e 2008 para procurar compreender o processo de
tomada de decisão em política externa e a escolha da
linha de atuação brasileira nesse campo. Se em 2002, o
boom chinês valorizou as commodities e beneficiou a
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
251
exportação de suco de laranja brasileiro, em 2008 a crise
financeira nos Estados Unidos levou o país a adotar me-
didas protecionistas sem conformidade com as regras da
OMC, afetando a exportação brasileira. Por fim, destaca-
se que nos anos 2000 há uma retomada das ações do
Estado como promotor de ações diretas e indiretas para
solucionar problemas domésticos ligados à citricultura e
em 2009 a instituição representativa da indústria produ-
tora de suco é renovada com o surgimento da CitrusBR
(Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítri-
cos), entidade que reúne as três grandes processadoras
– Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Commodities – e que
nasce profissionalizada, aproximando-se mais do gover-
no e criando novas estratégias de mercado, contribuindo
para a abertura do painel. Porém, cabe ressaltar que o
modelo organizacional de representação de interesses
do setor agrícola brasileiro, incluindo a cultura da laranja,
é bastante complexo, pois baseia-se em uma ampla teia
de instituições fracionadas. As entidades representantes
dos grandes (CitrusBR) e pequenos citricultores
(Associtrus), instituições governamentais (MAPA, secre-
tárias municipais e estaduais, Frente Parlamentar da Ci-
tricultura/SP) e outros órgãos ligados à produção de la-
ranja (Fundecitrus, ABAG, FAESP, CNA, GTACC, GCONCI)
se organizam dentro da construção da agenda estratégi-
ca do setor agrícola, porém, visando garantir os interes-
ses próprios de cada um. Entretanto, apesar da multipli-
cidade de atores e lógicas de ação coletiva da citricultu-
ra, todas as instituições e mecanismos que a represen-
tam possuem discursos alinhados sobre o comércio in-
ternacional e ocupam espaços institucionais relevantes à
formulação da política de comércio internacional agríco-
la, principalmente no Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, no Ministério da Indústria Comércio
Exterior e Serviços, na Câmera de Comércio Exterior e no
Ministério das Relações Exteriores. Além de possuírem
uma razoável representatividade legislativa. Desse modo,
esta pesquisa tem como objetivo mapear a influência
dos grupos de interesse citrícola sobre a formulação da
política de comércio internacional que é adotada pelo
país e a influência desses grupos sobre a implementação
dessa estratégia. O que nos possibilitará verificar se exis-
te uma instrumentalização pelo Estado desses grupos e
em que momento(s) e a(s) motivação(ões) o Estado bra-
sileiro defende em âmbito internacional interesses do
agronegócio como parte de seu interesse nacional. As-
sim, nossa hipótese parte do pressuposto que a estraté-
gia de uso dos canais de absorção de demandas do Esta-
do brasileiro nas temáticas internacionais adotada pelo
agronegócio citrícola é participar tanto da dinâmica bu-
rocrática quanto da dinâmica política-eleitoral do país.
Logo, em órgãos como MDIC (via Camex), MAPA e secre-
tárias estaduais a citricultura consegue influenciar forte-
mente a formulação da estratégia que será adotada para
o setor domesticamente, mas, em grande parte das ve-
zes, no MRE a influência torna-se restrita a implementa-
ção da estratégia decidida pelo ministério, o que levaria
a uma instrumentalização pelo Estado dos grupos de in-
teresse citrícolas.
Creomar Lima Carvalho de Souza
As variáveis racionais e as motivações que justificaram a
construção de políticas públicas de estímulo a internacio-
nalização de empresas brasileiras (2002-2010).
Resumo: O artigo tem como objetivo principal compre-
ender as premissas intelectuais que levaram a constru-
ção de uma estratégia de escolha de campeões nacio-
nais. Para isso, a reflexão será construída em três etapas,
inicialmente será apresentada uma discussão da relação
entre moral/política e escolhas governamentais tendo
como elemento fundamental de referência o filósofo
George Lakoff. O segundo elemento de construção será a
busca de uma definição de política pública que se enqua-
dre com o objeto de estudo em voga - internacionaliza-
ção - e por fim, o terceiro ponto da reflexão visará com-
preender como as percepções acerca da globalização
guiaram determinados atores chave, dentro e fora do
governo, a assumirem posições favoráveis à adoção de
políticas públicas em favor da internacionalização de
grandes empresas brasileiras no período estudado.
Fernanda Cristina Nanci Izidro Gonçalves
Entre convergências e tensões: política externa e política
de defesa no Brasil e na Colômbia
Resumo: Um dos grandes expoentes da teoria realista
das Relações Internacionais, Raymond Aron (2002), argu-
menta que as relações interestatais se manifestam por
meio de duas figuras centrais, o diplomata e o soldado,
que representam o Estado a que pertencem. Este autor
ressalta a complementaridade da diplomacia e da defesa
ao enfatizar que as duas são responsáveis “por dirigir o
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
252
intercâmbio com os outros Estados em benefício do inte-
resse nacional” (ARON, 2002, p.73). Enquanto a diploma-
cia “se refere à arte de convencer sem usar a força”, a
defesa é a “arte de vencer de um modo mais dire-
to” (ARON, 2002, p.73). Em sua visão, os dois instrumen-
tos são essenciais para os Estados e devem operar de
forma subordinada à política externa (ARON, 2002). Hec-
tor Saint-Pierre (2010), endossa a tese de Aron (2002) ao
salientar que defesa e diplomacia são gramáticas da polí-
tica. Neste sentido, o autor reforça que a política externa
de um país é que fornece lógica e coerência à diplomacia
e à defesa. A política externa pode ser compreendida
como uma política pública que envolve a totalidade das
políticas e interações do Estado no plano internacional, o
que abrange sua atuação externa em diferentes áreas
(BREUNING, 2007; HILL, 2003). A defesa, por sua vez,
também é uma política pública, responsável por regular
o emprego das Forças Armadas como instrumento de
poder político nacional (ALSINA JR., 2003). Uma vez em
sintonia, política externa e política de defesa são capazes
de oferecer benefícios para a inserção internacional dos
países. Nos últimos anos, assuntos relacionados à defesa
ganharam maior espaço na agenda política sul-
americana, sendo acompanhados pela criação de insti-
tuições específicas em organismos regionais (DIAMINT,
2016). No âmbito da União de Nações Sul-Americanas
(Unasul) criou-se o Conselho de Defesa Sul-Americano
(CDS), bem como o Centro de Estudos Estratégicos
(CEED) e a Escola Sul-Americana de Defesa (ESUDE). O
mesmo ocorreu na Aliança Bolivariana para os Povos de
Nossa América (ALBA), onde se estruturou a Escola de
Defesa e Soberania (VILLA; BRAGATTI, 2015). Contudo, a
ascensão da temática na agenda regional ocorre sem
que necessariamente exista uma convergência entre as
políticas externas e de defesa dos Estados na região
(DIAMINT, 2016). Persiste, em alguns países, uma baixa
articulação entre as políticas, acompanhada, muitas ve-
zes, por frequentes tensões entre as agendas dos atores
domésticos que tratam de tais temas, como o Ministério
das Relações Exteriores (MRE) e o Ministério da Defesa
(MD) (DIAMINT, 2016). Esses são os casos, por exemplo,
do Brasil e da Colômbia, os dois países sul-americanos
que possuem os maiores efetivos de Forças Armadas e
os maiores gastos no setor, em números absolutos. Com
relação ao Brasil, diversos autores destacam a baixa arti-
culação das políticas, salientando a existência de um diá-
logo tardio (FUCCILLE; BARRETO; GAZZOLA, 2015), de
uma síntese imperfeita (ALSINA JR., 2009) e de um desti-
no paralelo (SAINT-PIERRE, 2010). O que a literatura
aponta é que existe um funcionamento peculiar da políti-
ca externa e de defesa no país, que se relaciona com a
autonomia das burocracias militares e diplomáticas, com
a contribuição historicamente nula da defesa à política
externa brasileira e com a orientação da defesa ao âmbi-
to interno, focada na manutenção da ordem e da lei
(ALSINA JR., 2009). No caso colombiano, a centralidade
do narcotráfico e da guerra civil fez com que temas de
defesa e segurança ganhassem prioridade na agenda
política ao longo dos anos, gerando impactos para as
burocracias militar e diplomática. Como observam espe-
cialistas, a priorização pelo governo de temas militares
na política externa, impactou o MRE da Colômbia ao lon-
go do tempo, criando uma hierarquia entre os Ministé-
rios e a absorção da agenda de política exterior pela de-
fesa (PASTRANA; VERA, 2012; RAMÍREZ, 2012). A partir
do exposto, esta pesquisa tem como objetivo analisar
comparativamente como ocorre o processo de articula-
ção destas políticas no Brasil e na Colômbia, com ênfase
nos governos Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff
(2011-2016) e Álvaro Uribe (2002-2010) e Juan Manuel
Santos (2010-2017). Mais especificamente, busca-se
compreender como os temas de defesa integraram a
agenda da política exterior destes governos, investigan-
do-se as trajetórias institucionais das burocracias diplo-
máticas e militares e a dinâmica inter-burocrática que se
estabeleceu no âmbito do Poder Executivo, definindo as
prioridades e direções destas políticas. Para tanto, busca-
se analisar o papel do MRE e do MD de cada um destes
países e a interação que se estabeleceu entre estes mi-
nistérios e os respectivos presidentes da República , ato-
res centrais no âmbito do Executivo. Embora o foco da
tese seja notadamente direcionado a estes atores, não é
desconsiderada a eventual participação de outras agên-
cias governamentais neste processo. O instrumental ana-
lítico que orienta a pesquisa é da área de Ciência Política
e das Relações Internacionais, em particular do campo
de Análise de Política Externa. A literatura utilizada é re-
ferente à organizações e à política burocrática, de forma
a investigar a influência das posições institucionais no
processo decisório, como as decisões são tomadas e as
oportunidades e os constrangimentos que influenciam as
opções políticas dos atores.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
253
Jéssica Cristina Resende Máximo
A Question of Fact, Time and Method: a qualitative con-
tent analysis of the uses and interpretations of History in
IR theoretical approaches
Resumo: The relationship between History and Internati-
onal Relations (IR) has permeated Western thought for
centuries. In its origins, Renaissance Humanism inspired
the creation of Political Philosophy and History as areas
of knowledge dedicated to reflecting on the embryonic
form of political organization emerging at the time: the
modern state. This intimate relation can be seen through
the works of Niccolo Machiavelli and Francesco Guicciar-
dini, who combine philosophical reflection on politics
with the incipient historical method. By delimiting its fo-
cus of analysis on the state and its relations with the
world around it, the first treatises on Foreign Policy and
Diplomatic History were written by both diplomats and
historians. However, from nineteenth to twentieth cen-
tury, with the creation of Political Science (PS) as a mo-
dern discipline, History (both Political History and Diplo-
matic History) lost prestige, as this new scientific endea-
vor aimed to become methodologically sophisticated.
Gradually, historical methods were replaced by the cons-
truction of causal frameworks for the explanation and
prediction of economic, political and social phenomena.
If, at the end of 1890, J. R. Seeley still proclaimed that
“History without Political Science has no fruit; Political
Science without History knows no root”, by the begin-
ning of 1960, W. Riker declared that “traditional me-
thods – i.e., history writing, the description of instituti-
ons, and legal analysis […] can produce only wisdom […]
and while wisdom is certainly useful in the affairs of men,
such a result is a failure to live up to the promise in the
name of political science”. This skeptical behaviorist mo-
od did not last long, since tumultuous political events of
late 1960s and 1970s revealed the complacency, ethno-
centricity and static character of explanatory and predic-
tive models of PS at that time. Critical perspectives gai-
ned momentum in the post-behavioral era, emphasizing
the importance of history once again, especially in the
New Institutionalism literature. Within IR’s edification as
a modern discipline, a similar account of approximation,
separation and rapprochement with History is told. IR’s
disciplinary history narrates that at the turn of the twen-
tieth century, scholars of several background began to
write on matters regarding the state, anarchy, imperia-
lism and world order. These authors approached the
subjects under study with traditional modes of research,
mainly inspired in History, Philosophy and Law. During
the mid-century, however, IR authors ambitioning to
build the discipline as an authoritative source of knowle-
dge, disputed which methods would be most appropria-
te for studying their subject matter: traditionalist or sci-
entific. The traditional disciplinary narrative culminates
with scientism’s victory stimulating the development of
neo-positivist theoretical approaches and banishing his-
torical knowledge to the margins of the discipline. Kapla-
n’s response to Bull demonstrate history’s place in this
new methodology as “a laboratory for their research”.
Albeit triumphant, the embarrassing performance or the
collective failure to recognize – even the theoretical pos-
sibility of – the Soviet peaceful demise discredited the
discipline’s mainstream ability to predict trends against
the historical evidence. Conquest’s advice to students
“switch from political science [or IR] to history” disclosed
the nuisance. Intending to learn from one another, histo-
rians, political scientists and internationalists engaged on
a disciplinary dialogue to discover the differences and
similarities between Diplomatic History and International
Relations. Thus, since the early 1990s, the discipline is
said to be undergoing an upturn towards history. The
(re)turn to history, however, is not an isolated underta-
king in PS or IR; on the contrary, it has stricken the whole
world of Human and Social Sciences in the 1990s. Called
by many names, “Historical Return”, “Historical Turn” or
even “Historiographic Turn”, this movement has been
characterized by its impulse to historicize the concepts,
theories and also the history of the discipline, as well as
to produce more historically informed research. This new
turn is described by the efforts made towards the drive
to make the discipline historically oriented and bounded
in opposition to its “ahistoricism”, “historophobia” and
its usual “misuse” of history. Therefore, the turn would
seek a (re)approximation of IR and history in a more ap-
propriate and conscious way – aware of the diverse pos-
sibilities of interpretations of time and uses of historical
knowledge. Even though efforts trying to capture the
turn’s grasp in the discipline have been made through
bibliographical reviews, conceptual organization and
“call to pen” manifestos, these are considered still under
-documented and unsystematic. Rather than speaking
about the turn to history in generic terms, this study
aims to refine the way IR’s engagement with History is
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
254
seen and done. Following the spirit of the epoch, this
thesis investigates how three historical dimensions: fact,
time and method have been thought of and used by IR
theoretical approaches in recent years. If the first dimen-
sion raises the question of how historical facts – or infe-
rence of things past – are understood as correspondence
or construction; the second interrogates how to think of
historical time – or the temporal arc of past, present and
future – as repetition, progress or decline; finally, the
third inquiries into the methodological uses of history.
Through qualitative content analysis (QCA) of scientific
articles published in high ranked journals, the thesis will
examine if and/or how these dimensions of History have
been theoretical and methodological instruments in the
discipline of IR. Beyond that, it inquires what disciplinary
implications this might have for thinking and teaching IR.
The time frame set for the investigation, from 1996 to
2016, is intended to reflect the current state of the art of
the debates taking place in the discipline’s leading jour-
nals. JCR and SJR metrics were used to select eleven vas-
tly – meaning JCR’s rank of citation impact; and prestigi-
ously – SJR’s measure of influence, cited journals within
IR: World Politics, International Organization, Internatio-
nal Security, Journal of Conflict Resolution, Journal of
Peace Research, Review of International Political Econo-
my, European Journal of International Relations, Security
Dialogue, Journal of Common Market Studies, Internatio-
nal Studies Quarterly, and Journal of European Integra-
tion. This analysis will provide empirical support whether
it really makes sense to speak of a current (re)turn
towards history throughout the discipline. Apart from
the opening chapter of the thesis – that introduces its
theme, methodology and structure, the thesis is compri-
sed of six more chapters. The second chapter presents
the steps of QCA’s techniques of reduction, structuration
and explication used in thesis – it renders the reading
and coding procedure for the inductive formation of the
theoretical categories and the literature review under-
taken for the deductive creation of the historical catego-
ries. The third, fourth and fifth chapters take hold of the
historical category assignments through the textual data
by the deployment of QCA’s techniques of structuration
and explication within the narrow context of the theore-
tical categories. The sixth chapter also employs the expli-
cation technique within the narrow context of the output
of the previous three chapters, but it aims at confron-
ting, organizing and advancing the chapters’ provisional
findings by constructing possible dialogues amongst IR
approaches regarding the historical categories. The last
chapter expands the explication technique within the
broad context of the literature review of the thesis the-
me by engaging with the possible consequences and im-
plications of the analysis for the discipline as a whole.
Milagro Mengana Castañeda
“La política externa cubana hacia América Latina: conti-
nuidades y rupturas 2014-2018”
Trabalho Completo
Resumo: La preservación del sistema político cubano
condicionó la necesidad de fortalecer y ampliar los ámbi-
tos de participación de la isla en el ámbito internacional y
en tal sentido, una concepción globalista de su entrama-
do de relaciones internacionales también ha caracteriza-
do la política externa de la isla desde 1959. En el diseño
de esta política externa, el área latinoamericana ha ocu-
pado un lugar relevante, dado los lazos geográficos, his-
tóricos, culturales, económicos, entre otros. Pero, si la
política externa de la isla ha sido condicionada en gran
medida por el diferendo con Estados Unidos – y su pre-
tendida estrategia de aislamiento-, también las relacio-
nes con la región han estado influenciadas profunda-
mente por este factor. Así, estas relaciones han recorrido
diversas etapas (Roberto Regalado: 2008), transitando
desde el casi total aislamiento hasta la más reciente par-
ticipación cubana en la mayoría de los mecanismos sub-
regionales y regionales o su “aceptación” en institucio-
nes hemisféricas, como la Organización de Estados Ame-
ricanos (OEA). En este contexto, diversas cuestiones en-
dógenas significaron la defensa del modelo político cuba-
no, ya no como una prioridad externa, sino también – y
fundamentalmente- interna. En este punto, las renova-
das relaciones con los Estados Unidos a partir de diciem-
bre de 2014 y la reconfiguración política regional, genera
para la isla un escenario de incertezas en su contexto
geográfico más próximo, y por sí mismo, uno de los com-
ponentes tradicionales de la política externa cubana. En
consecuencia, la pesquisa se debruza en el cuestionami-
ento: ante el contexto regional posterior a 2014 y la
asunción del presidente norteamericano Donald Trump,
así como las mudanzas domésticas, ¿cuáles son los ele-
mentos de continuidad y ruptura de la política externa
cubana en su dimensión latinoamericana? El objetivo
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
255
general se centra en dilucidar los elementos de continui-
dad y ruptura de la política externa cubana en su dimen-
sión latinoamericana, teniendo en cuenta los aspectos
mencionados. En tal sentido, los objetivos específicos
constituyen: 1. Identificar los elementos que influyen en
las mudanzas de la política externa cubana, en su dimen-
sión latinoamericana. 2. Identificar los rasgos de la políti-
ca externa cubana, especialmente en su dimensión lati-
noamericana hasta 2014. 3. Analizar la influencia históri-
ca de los Estados Unidos de América en el relacionami-
ento de Cuba con su ámbito regional hasta 2014.
4. Establecer las mudanzas del contexto cubano en el
período 2014-2018, tanto en su ámbito doméstico en
virtud de comprender los elementos de continuidad y
mudanza en el diseño de la política externa de la isla.
5. Establecer las mudanzas del contexto cubano en el
período 2014-2018, tanto en su ámbito regional y global,
en virtud de comprender los elementos de continuidad y
mudanza en el diseño de la política externa de la isla.
En correspondencia con lo anterior, las hipótesis:
1. A pesar de la dimensión latinoamericana de la política
externa cubana, los relacionamientos de Cuba con la re-
gión han sido condicionados: a) Los ciclos políticos y eco-
nómicos regionales e intereses particulares de los países
de la región y las políticas de mayor o menor proximidad
o autonomía determinada por estos ciclos.(reescribir) b)
La política externa aislacionista de Estados Unidos hacia
Cuba en el ámbito regional y bilateral. 2. La estabilidad
de objetivos de la política exterior cubana a lo largo de
50 años, condicionada por la centralización de su gobier-
no, el factor constante norteamericano –condicionando
la estabilidad del discurso político cubano internacional-,
la profesionalidad de su cuerpo diplomático, así como la
tradición globalista de la política eterna cubana han posi-
bilitado que los cambios del sistema regional, no condici-
onen un cambio de política exterior significativo.
Para determinar los cambios, la autora partirá de las va-
loraciones de Hermann (1990) en “Changing course:
when governments choose to redirect foreign policy”
permitirán elucidar la magnitud de los cambios necesari-
os de la política externa cubana y la posibilidad de estos
para el alcance de sus fines, de acuerdo a los cuatro nive-
les descritos por el autor y las motivaciones y fuentes
que promueven estos cambios. El autor (Hermann: 1990)
indica cuatro niveles de cambios en política externa. El
primero de ellos, los cambios de ajustes, refiere mudan-
zas cuantitativas de la política externa expresadas en el
nivel de los esfuerzos o espacio de instrumentos emplea-
dos. Los cambios programáticos resultan de la modifica-
ción de los métodos o los medios en virtud de los cuales
los problemas/objetivos han sido direccionados. En cam-
bio, cuando los cambios de problemas u objetivos se pro-
ducen, las trayectorias de política son alteradas o reem-
plazadas. Por último, el autor (Hermann: 1990) identifica
la forma más extrema de cambios en política externa
cuando se genera el re-direccionamiento de la orientaci-
ón de los actores a través de las relaciones mundiales;
denominado como cambios de orientación internacional.
En esta perspectiva, el cambio de liderazgo, la orientaci-
ón burocrática o los choques externos son referidos por
Hermann (1990) como los cuatro agentes primarios de
cambios. Así, reconoce como el líder de gobierno impone
frecuentemente su propia visión del básico re-
direccionamiento de la política externa, la actuación de
apoyo o resistencia de las organizaciones burocráticas o
de sectores relevantes de la sociedad- devenidos agentes
de cambio-. Por otra parte, en el sistema internacional se
producen eventos dramáticos coadyuvantes a una modi-
ficación de política externa. De este modo, los agentes
de cambio mencionados generan las referidas alteracio-
nes o modificaciones en el sistema político doméstico, en
las estructuras de los decisores burocráticos o la acti-
vación de “meta-reguladores” o nuevas aproximaciones
de aprendizajes respecto a los problemas/objetivos de
los primeros en política externa. La multicausalidad del
modelo propuesto por Hermann (1990) permite el análi-
sis de la política externa de Cuba hacia América Latina en
correspondencia con las dinámicas identificadas por los
autores los autores Suárez Salazar (2008_interacciones)
y Antonio da Silva y Johnson (2013): (1) Revolución y po-
lítica formal y (2) Aislamiento e integración (p. 234). Es-
tas dinámicas permiten la confluencia de los métodos de
la política externa cubana en pos de los diferentes con-
textos en que la misma ha debido desarrollarse, así como
identificar cómo en esos períodos se han modificado o
reestructurado los diferentes agentes de cambio, y en
consecuencia la tomada de decisión de política externa.
En el primero capítulo, la autora identificará los elemen-
tos que influyen en la configuración de la política externa
cubana y su dimensión latinoamericana; así como sus
rasgos hasta 2014. Un acápite está dirigido al análisis de
la influencia histórica de los Estados Unidos de América
en el relacionamiento de Cuba con su ámbito regional en
igual periodo, a partir de las dinámicas referidas. En el
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
256
segundo capítulo se identifican y analizan tres de los
agentes de cambios del contexto cubano y su papel en la
determinación y ejecución de la política externa de la
isla, especialmente en su dimensión latinoamericana en
el período de 1959 a 2014. En el capítulo tercero se esta-
blece la reestructuración doméstica del contexto cubano
en el período 1959 a 2014; mientras en el capítulo cuar-
to se establecen las mudanzas del contexto cubano en el
período 2014-2018, tanto en su ámbito doméstico, regi-
onal y global, la dinámica de la política del gobierno nor-
teamericano en virtud de comprender los elementos de
continuidad y mudanza en el diseño de la política externa
de la isla hacia América Latina en el período.
Osvaldo Rosa Valente
Muitos caminhos, um único destino: a influência militar na
política nuclear brasileira
Trabalho Completo
Resumo: Este trabalho abarca a influência dos militares
brasileiros na origem e no desenvolvimento da política
nuclear brasileira desde que a questão nuclear surgiu na
agenda política, até o fim do período dos governos mili-
tares. A pesquisa analisa o debate político acerca da
questão nuclear como colocado em três momentos deci-
sivos da história da política nuclear brasileira: a) a criação
de uma burocracia estatal especializada e dedicada à
questão; b) a escolha da tecnologia base do programa
nuclear brasileiro; e, por fim, c) o domínio da tecnologia
de enriquecimento do urânio, que é a peça central de
todo o programa. Em cada um desses momentos, a in-
fluência dos militares varia muito em intensidade e quali-
dade, mas se acha sempre presente. A influência dos
setores militares do Estado sobre a política nuclear brasi-
leira é historicamente conhecida. O próprio desejo de
fazer o Brasil algo mais do que um simples exportador de
matéria prima básica para o processo de fabricação do
combustível nuclear – para fins pacíficos ou militares –
deve muito à figura do Almirante Álvaro Alberto da Mota
e Silva, que além de militar, era um cientista. Aquilo que
ele denominou “compensações específicas” – para toda
exportação de material radioativo bruto feito pelo Brasil
para os EUA, este deveria oferecer uma contrapartida na
área nuclear – foi a forma por ele pensada para inserção
diferente do Brasil no cenário nuclear mundial. O seu
nacionalismo, sempre lembrado pelos que se ocupam da
história do programa nuclear brasileiro, teve pelo menos
uma consequência prática e institucional no campo nu-
clear, que foi o estabelecimento de uma burocracia esta-
tal dedicada a essa política, primeiramente no Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e, posteriormente, na Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN). É ainda sob forte influência mili-
tar, na verdade já sob o regime militar, que é feita a es-
colha da tecnologia que o Brasil adotaria como “sua” no
campo nuclear. A decisão em 1971 de construir uma usi-
na nuclear em Angra dos Reis, com tecnologia comprada
da empresa americana Westinghouse que licenciava rea-
tores à água pressurizada (PWR, na sigla em inglês para
Pressurized Water Reactor), implicou na opção de com-
bustível por urânio enriquecido. Essa escolha aconteceu
nos bastidores do regime, a partir de uma determinada
leitura do contexto internacional – leitura essa em boa
medida feita a partir do impacto do Tratado de Não Pro-
liferação Nuclear – e sem consulta à comunidade científi-
ca (que teve que se adaptar a essa escolha) ou à CNEN.
Procurando mais do que adquirir usinas nucleares no
modelo turn-key, o governo brasileiro assinou com a em-
presa alemã Kraftwerk Union (KWU) um contrato que é
conhecido pela literatura especializada como o Acordo
Nuclear Brasil-Alemanha, ainda em 1975. Por este, o Bra-
sil compraria oito reatores nucleares e, mais importante,
teria acesso à tecnologia alemã de enriquecimento de
urânio via transferência tecnológica. Em troca, o Brasil
forneceria à Alemanha urânio em estado bruto. As pres-
sões internacionais, em especial vindas dos EUA, no sen-
tido do cancelamento do Acordo, ou sua revisão, tiveram
como consequência o seu programa fracasso, no que diz
respeito ao seu principal objetivo, qual seja, dominar
todo o processo de produção do ciclo do combustível
nuclear. A Alemanha não pôde, assim, transferir a tecno-
logia de ultracentrifugação que dominava e passou ao
Brasil uma tecnologia que ainda estava em fase de teste
(jet nozzle) e que, no devido tempo, se mostrou econo-
micamente inviável. Ao fracasso em muitos sentidos do
Acordo com a Alemanha, se seguiu aquilo que foi para
toda a história do programa nuclear brasileiro o seu mai-
or sucesso e que, ao mesmo tempo, gerou mais descon-
fiança: o chamado Programa Nuclear Paralelo ou, como
preferem alguns, o Programa Nuclear Autônomo, criado
em 1978. Este tinha duas importantes características: 1)
Foi totalmente militar na sua concepção e realização,
ainda que levado a efeito com a ajuda de cientistas e
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
257
instituições civis, caso do IPEN em São Paulo; 2) Foi um
programa totalmente secreto, apoiado fortemente pelo
governo federal e longe das salvaguardas da AIEA
(Agência Internacional de Energia Atômica), isto é, sem o
conhecimento da comunidade internacional. Cada uma
das armas desenvolveu suas próprias frentes de pesqui-
sa. Assim, o Exército procurou desenvolver reatores a
grafite que produziria plutônio, a mesma tecnologia utili-
zada por países como Argentina e França. A Aeronáutica
tentou enriquecer urânio através da então promissora
tecnologia a laser. A marinha optou pela pesquisa de
enriquecimento a ultracentrifugação. Somente a mari-
nha foi bem-sucedida no que se refere aos seus objeti-
vos. Este programa foi eventualmente fundido com o
programa oficial (civil), isto é, baseado no Acordo Nucle-
ar Brasil-Alemanha porque descobriu-se que era financi-
ado secretamente pelo governo federal, o que o tornou
alvo de severas críticas de cientistas e da imprensa. O
controle sobre a tecnologia de enriquecimento de urânio
foi anunciado formalmente em 1987. A resultante mais
importante desse longo e errático processo, que conta
com mais de cinco décadas, é a escolha da tecnologia
(reatores à água leve pressurizada, com urânio enrique-
cido como combustível e o seu domínio no plano interno
pelos militares. Este fato seria central para o programa
nuclear que viria a se desenhar, fosse ele civil ou militar.
Para o programa civil, sua segurança energética passa
por acordos de cooperação com os militares, se se quiser
evitar situações críticas que marcaram o seu início, quan-
do o programa esteve ameaçado de ter de ser fechado
por falta de fornecimento de combustível para os reato-
res. No plano puramente militar, a Marinha tem histori-
camente planejado a construção de um submarino à pro-
pulsão nuclear, com as mais diversas justificativas. De
qualquer maneira, a tecnologia tanto dos programas civis
quanto militares está, no Brasil, sob controle dos milita-
res. É essa situação que o governo de Fernando Henri-
que Cardoso e, em boa medida, também o de Luís Inácio
Lula da Silva encontram. A grande diferença introduzida
no quadro sumarizado acima são os acordos de coopera-
ção com a Argentina, que levaram nos primeiros gover-
nos civis pós-regime militar à criação de três instituições
fundamentais que sinalizaram à comunidade internacio-
nal o caráter pacífico do programa nuclear brasileiro:
Sistema Comum de Contabilidade e Controle (SCCC), a
Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle
de Materiais Nucleares (ABACC) e o Acordo Quadriparti-
te (firmado em 13 de dezembro de 1991), entre Brasil,
Argentina, ABACC e AIEA. O primeiro possibilitou ter re-
gras acerca da contabilidade de materiais radioativos em
ambos os programas nucleares, sendo a ABACC a institui-
ção que realiza tal contabilidade. O Acordo Quadripartite
de fato insere o controle da comunidade internacional
através de sua agência dedicada à questão nuclear no
processo de controle das salvaguardas a materiais nucle-
ares. Em suma, tanto Cardoso como Lula da Silva herdam
um programa que se apresenta como pacífico e sob con-
trole internacional, mas em cujo centro está uma tecno-
logia que se encontra sob controle militar.
Paula de Carvalho Bastone
A Identidade Amazônida e seu impacto na governança
regional
Resumo: A região Amazônica localizada na América do
Sul, abarca a parte periférica de nove países, delimitado
pelo bioma da floresta. Nos anos 80, os povos indígenas
desenvolveram o conceito de uma identidade transnaci-
onal que envolvesse toda a região. está fortemente liga-
da a atuação dos povos indígenas que foram os primei-
ros a compreender que faziam parte de uma sociedade
transnacional de povos “indígenas” ausentes de direitos
e cidadanias, não representados na nação a que perten-
ciam. Articulando assim, conceitos de pertencimentos
solidários dos diferentes em identidades, mas igualitários
nas ausências. Este debate vem fortalecer por uma lado
o discurso da crise do Estado, por outro nega-lo. Pois, os
discursos mainstream da crise do Estado vem as corpora-
ções internacionais e suas atuações como principais
ameaças a soberania. No caso da região em questão, os
Estados atuam em conjunto com as corporações ao im-
por a região uma economia de commodities, causa das
ausências na Amazônia. Neste caso, o Estado é parceiro
das corporações ao compartilhar não somente a atuação
sobre a região, mas a visão sobre seus habitantes e o
significado do bioma – uma reserva de recursos desabi-
tada de donos. O projeto de pesquisa pretende analisar
a construção desta identidade transnacional, de caracter
não Ocidental, com caracteristicas indígenas, mas não
somente. E seu impacto na governança da resistencia a
prátical colonialistas e predatória que geram a violência
local, mas também o impacto na atuação governamen-
tal.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
258
Thaíse Kemer
A formulação da política externa brasileira para a constru-
ção da paz no contexto dos PALOP: os casos de Moçambi-
que, Angola e Guiné-Bissau (1990 a 2016)
Trabalho Completo
Resumo: A presente pesquisa analisa a formulação da
política externa brasileira (PEB) para a construção da paz,
no período compreendido entre 1990 e 2016, no contex-
to de três Estados pertencentes aos Países Africanos de
Língua Oficial Portuguesa: Moçambique, Angola e Guiné-
Bissau. O conceito de construção da paz, criado por Jo-
han Galtung, relaciona a paz não apenas à cessação de
conflitos violentos, mas também à promoção do desen-
volvimento, na medida em que o fortalecimento de es-
truturas básicas, como de saúde, de educação e de sane-
amento básico, é concebido como essencial para viabili-
zar a paz duradoura. A pesquisa parte da premissa de
que a política externa brasileira para a promoção da paz
caracterizou-se por “descontinuidades”, na medida em
que a atuação externa do Brasil alternou momentos em
que seu foco central recaiu sobre as atividades do Brasil
no contexto de atividades das Nações Unidas, como mis-
sões de manutenção da paz (peacekeeping), a outros
períodos em que a cooperação para o desenvolvimento
assumiu maior protagonismo, sem que houvesse, neces-
sariamente, uma estratégia de longo prazo que unisse
esses dois tipos de iniciativas. Assim, a hipótese de traba-
lho adotada é a de que, nos casos selecionados, as
“descontinuidades” na formulação da política externa
brasileira quanto à operacionalização do conceito de
construção da paz são explicadas por meio de um mode-
lo formado por quatro variáveis: (1) as diferentes orien-
tações de política externa dos presidentes do período;
(2) as orientações partidárias dos presidentes brasileiros,
entre 1990 e 2016, em matéria de política externa; (3) a
inserção incipiente da noção de construção da paz na
política institucional de alguns atores estatais nacionais
com atuação externa em matéria de paz e de desenvolvi-
mento, como, por exemplo, os Ministérios da Agricultu-
ra, da Educação e da Saúde e; (4) o baixo grau de diálogo
interinstitucional sobre a construção da paz entre o Mi-
nistério das Relações Exteriores (MRE), a Agência Brasi-
leira de Cooperação (ABC), as Forças Armadas e outros
ministérios com participação em projetos de cooperação
com os países selecionados, como, por exemplo, os Mi-
nistérios os Ministérios da Agricultura, da Educação e da
Saúde. A primeira variável refere-se à diplomacia presi-
dencial, a qual, segundo Sérgio Danese é um fenômeno
político dotado de uma “lógica extradiplomática”, a qual
está relacionada ao papel e a interesses políticos do pre-
sidente. A segunda variável, por sua vez, refere-se à aná-
lise das diferentes orientações dos partidos dos presi-
dentes brasileiros em matéria de política externa. Assim,
busca-se compreender o elo de ligação entre a natureza
das orientações partidárias em matéria de política exter-
na e os reflexos dessas orientações para a promoção da
paz operacionalizada pelo Brasil. A terceira e a quarta
variáveis referem-se, respectivamente, à análise das di-
nâmicas intra e interburocráticas dos principais atores
estatais brasileiros com atuação em iniciativas da política
externa em matéria de paz e desenvolvimento, como o
MRE, a ABC, as Forças Armadas e os Ministérios da Agri-
cultura, Educação e Saúde. Para tanto, faz-se necessário
elucidar não apenas o entendimento individual desses
atores sobre a noção de construção da paz, mas também
a operacionalização conjunta desse entendimento no
terreno, tanto em missões de paz quanto em projetos de
cooperação para o desenvolvimento. Conquanto o Bra-
sil, em teoria, defenda o conceito de construção da paz,
a quarta variável do modelo traz a premissa de que, nos
casos selecionados, houve um baixo nível de diálogo in-
ter-institucional entre os atores estatais responsáveis
pela formulação da Política Externa Brasileira, o que im-
pôs limites à conformação de uma política nacional de
construção da paz voltada à compreensão e ao engaja-
mento com as realidades locais. Por um lado, as iniciati-
vas do Brasil para a promoção da paz nesses países tive-
ram foco em ações das Nações Unidas, como as missões
de peacekeeping. Por outro lado, houve menor ênfase,
nessa atuação brasileira, na articulação entre (1) as
ações do Brasil no contexto das iniciativas das Nações
Unidas e (2) outros projetos brasileiros de cooperação
para o desenvolvimento, como nas áreas de cooperação
técnica, científica e educacional, para as quais se supõe
que o diálogo com as sociedades locais assuma um papel
central. Assim, a problematização da construção da paz
no contexto da formulação da política externa brasileira
em países africanos oferece uma lente analítica pertinen-
te para o debate sobre a atuação brasileira em processos
internacionais de paz. A pesquisa utiliza como instru-
mento analítico a Análise de Política Externa (APE), haja
vista que essa subárea das Relações Internacionais consi-
dera o papel das variáveis domésticas para a elaboração
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
259
da política exterior. Além do referencial da APE, o traba-
lho dialoga com o campo de estudos críticos da paz libe-
ral da virada local. Essa perspectiva referencia-se em au-
tores como Oliver Richmond, Roger Mac Ginty e Áureo
Gomes, para os quais o engajamento com as realidades
locais é pressuposto para a construção de uma paz dura-
doura. A metodologia adotada pela presente pesquisa é
qualitativa, com a análise de fontes primárias, e o instru-
mento metodológico é o estudo de casos múltiplos.
Além da introdução e da conclusão, o trabalho é estrutu-
rado em quatro partes. O primeiro capítulo divide-se em
duas partes, as quais apresentam os instrumentos analí-
ticos necessários à fundamentação da tese. Assim, a pri-
meira parte do capítulo trata das origens e pressupostos
da subárea da Análise de Política Externa (APE), a qual
subsidia a análise da atuação dos atores domésticos es-
tatais brasileiros para a promoção da paz nos países afri-
canos lusófonos selecionados. A segunda parte, por sua
vez, apresenta os fundamentos do debate sobre a crítica
da paz liberal vista da perspectiva da virada local, que se
faz necessária para qualificar a natureza da ação externa
do Brasil para a paz. O segundo capítulo apresenta a
contextualização histórica da Política Externa Brasileira
para a África após a década de 1960. Para tanto, o capí-
tulo subdivide-se em duas partes. A primeira parte deba-
te não apenas as características da política externa brasi-
leira para a África após a década de 1960, mas também
se detém nos contextos históricos específicos de Guiné-
Bissau, Angola e Moçambique. A segunda parte apresen-
ta o histórico da atuação do Brasil em iniciativas de pro-
moção da paz das Nações Unidas na África. Nesse con-
texto, debate-se a importância atribuída pelo Brasil aos
países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), a qual tem entre seus membros os países da pes-
quisa. O terceiro capítulo tem como foco a análise da
atuação do Brasil no âmbito da Cooperação Internacional
para o Desenvolvimento do Brasil com Angola, Moçambi-
que e Guiné-Bissau (1992-2016). Para tanto, o capítulo é
dividido em três partes, as quais apresentam, para cada
um desses países, tanto o envolvimento do Brasil em
iniciativas das Nações Unidas para a paz quanto a coope-
ração técnica para o desenvolvimento com a atuação do
Brasil. O quarto capítulo apresenta e discute o modelo
proposto para a análise do perfil brasileiro em matéria
de paz, no contexto dos três países africanos lusófonos.
O capítulo subdivide-se em quatro partes, as quais deba-
tem as quatro variáveis do modelo – diplomacia presi-
dencial, posicionamento partidário dos presidentes com
relação à política externa para a paz e dinâmicas intra e
interburocráticas nessa temática – à luz do contexto dos
três países selecionados.
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
260
WD03 | Economia Política Internacional
Laura Emilse Brizuela
A geopolítica da Bacia do Rio da Prata (1852-1870): co-
mércio, finanças e guerras. Uma visão da Economia Políti-
ca Internacional.
Resumo: O projeto de tese procura estudar a geopolítica
das unidades econômico-políticas que conformavam a
Bacia do Rio da Prata no período 1852-1870, e que parti-
ciparam nas dinâmicas de expansão de poder. O período
escolhido deve-se a que é nessa etapa onde acontecem
os maiores enfrentamentos armados na região, come-
çando pela queda de Rosas e terminando com o final da
Guerra do Paraguai. A Bacia do Prata será estudada no
sentido dos processos dos conflitos que podem ter tido
um ponto de partida na apropriação dos diferentes bens
que a Bacia proveu para a região, em especial para a
centralização dos recursos e do poder em mãos de Bue-
nos Aires. Interessa-nos especialmente: a livre navega-
ção dos rios, atrelada à questão alfandegária e de trans-
porte, pois nessa dimensão manifesta-se a importância
da representação espacial onde tiveram lugar, primeiro,
a conformação das elites agrarias que formariam os cen-
tros de poder e logo as guerras, intrinsecamente vincula-
das às atividades comerciais locais e seu nexo com o in-
ternacional. Sendo todos estes elementos muito caros à
Economia Política Internacional: guerra, comercio e fi-
nanças. Ou seja, existiria no nosso caso de estudo uma
evidente pressão competitiva vinculada à geografia e
com isso à necessidade de diferentes respostas geopolíti-
cas que definiram o século XIX como o mais sanguinário,
violento e com isso transformador da região.
Neste sentido, analisar os mapas que mostram a dinâmi-
ca de expansão dos domínios, a incipiente formação ter-
ritorial e geopolítica dos diferentes Estados independen-
tes e finalmente o mapa atual dos países que conformam
a Bacia do Rio da Prata: Argentina, Brasil, Paraguai e Uru-
guai; faz-nos refletir sobre a nossa hipótese central: Seria
possível que a pressão exercida por Buenos Aires se re-
fletisse primeiro nas outras províncias das Províncias Uni-
das do Rio da Prata, logo na Confederação Argentina
(com o aumento do poder sobre elas) e depois na con-
cretização das guerras desde 1852 até 1870? Foi mesmo
este movimento o gerador do tipo de desenvolvimento
que temos na região? Ou do tipo de Estado que temos?
Embora a tese de Centeno (2014) seja atrativa , nossa
visão sobre a Bacia do Prata no século XIX dista a de ser
pouco conflitiva, muito pelo contrário. Pretendemos nes-
te estudo mostrar como estas grandes guerras que aqui
estudamos se deram em um período curto e foram vio-
lentas e transformadoras. Segundo nosso entendimento,
houve sim a “destruição transformadora” à qual se refe-
re Fiori em relação ao papel da guerra. A ressalva seria
que houveram também consequências diferentes às eu-
ropeias ou mesmo às do tipo de inserção estadunidense
porque a inserção internacional da Bacia do Prata foi
desde a sua gênese peculiar, assim como as relações
com os centros de poder do Sistema Internacional.
O problema da distribuição dos recursos gerados pela
alfândega de Buenos Aires e da navegação dos rios per-
passa toda a história da Bacia do Prata. Por vários meca-
nismos, Buenos Aires conseguiu historicamente reter
para si os benefícios do principal porto do país. Este ex-
cedente facilitou a expansão da aldeia que derivou na
capital econômica, financeira e política da Argentina. As
guerras civis, os vários regimes, as várias tentativas de
governo, a procura do equilíbrio entre os interesses das
províncias e dos portenhos, não conseguiram mudar o
curso da centralidade que Buenos Aires tem até a atuali-
dade. E qual era a visão do Brasil deste fenômeno? Está
bastante aceitado na historiografia brasileira que as eli-
tes viam a Argentina (assim como a todos os novos esta-
dos independentes) como caóticos, instáveis e perigosos
justamente pela suposta anarquia. O Império conferia
uma estabilidade ao Brasil que os vizinhos não conheci-
am. Isto fica claro no transcorrer da guerra da Cisplatina.
Também Moniz Bandeira (1998) concorda com essa vi-
são de caos e instabilidade que se tinha no Império sobre
a Argentina e o “perigo de anarquia revolucioná-
ria” (Bandeira, 1998) que ela representava e que podia
“contaminar” o Brasil. Lembrando que nessa percepção
de ameaça destaca-se a própria independência argentina
do Império espanhol e depois a saída do regime escravo-
crata. A falta de sintonia entre os regímenes estatais da
Argentina e do Brasil era gritante. Os ideais dos liberta-
dores e primeiros governantes argentinos: os chamados
“patriotas” chocava com os ideais monárquicos do Brasil.
A estes desentendimentos somava-se a percepção de
uma suposta solidariedade entre a região que no passa-
do compunha o Vice-Reinado do Rio da Prata (1776-
1816), e que poderia decorrer na anexação dos territó-
rios que outrora foram um só. A geografia da Bacia do
Prata e sua forma de funil são de por si centralizadoras
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
261
do comercio. O esquema de transporte fluvial e o cres-
cente poder de Buenos Aires baseado nessa tributação
davam motivos de preocupação para o Brasil. Nossa hi-
pótese central é que devido à geopolítica, Buenos Aires
gerou pressão competitiva, que por sua vez incentivaram
conflitos e com isso o tipo de relações que se forjaram
na Bacia do Prata, tendo estas como base o comercio, as
finanças e a guerra.
Marcela Franzoni
As relações do México com os Estados Unidos: a assime-
tria e a interdependência
Trabalho Completo
Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar as relações
do México com os Estados Unidos a partir da crise da
dívida. Trabalha-se com a hipótese de que, apesar da
assimetria notável entre os países, eles são interdepen-
dentes. Se por um lado a associação com os EUA limita a
inserção internacional mexicana, por outro lhe dá maior
capacidade de negociação pela magnitude dos vínculos
econômicos e sociais estabelecidos. Além de os dois paí-
ses compartilharem extensa fronteira, a interdependên-
cia está presente nas trocas comerciais, nos vínculos pro-
dutivos e nos 35 milhões de mexicanos residentes no
país vizinho. Nesse sentido, a relação entre ambos possui
um forte caráter estrutural e não pode ser rompida. Ar-
gumenta-se que o México possui significativo poder de
barganha frente aos Estados Unidos. O problema da sua
política externa reside na incapacidade de diminuir a as-
simetria frente ao vizinho e não conseguir intensificar a
cooperação com outros Estados e regiões, conquistando
maior autonomia. Por exemplo, o México não aceitou
tropas estadunidenses para combater o narcotráfico,
mas não consegue negociar uma política migratória com
os Estados Unidos. Propostas recentes, como a saída dos
Estados Unidos do TLCAN e a revisão da estratégia de
inserção internacional do México, encontram forte resis-
tência. Este trabalho analisa a relação de dependência e
interdependência entre o México e os Estados Unidos,
nas dimensões econômica e social, trazendo suas impli-
cações para a inserção internacional mexicana e sua es-
tratégia de desenvolvimento. Argumenta-se que as rela-
ções bilaterais entre o México e os Estados tornaram-se
mais complexas depois do TLCAN, tendo a agenda sofri-
do um processo de significativo alargamento e, conse-
quentemente, de aprofundamento da interdependência.
Acredita- se que as relações socioeconômicas entre os
dois países não podem apenas ser caracterizadas como a
dependência mexicana em relação ao vizinho, havendo
elementos que demonstram que os dois países estão
muito mais vinculados do que se supõe. Os objetivos
específicos são: 1. Analisar os conceitos de
“dependência”, “interdependência" e “autonomia" no
caso das relações do México com os Estados Unidos.
Com isso, busca-se caracterizar a singularidade da posi-
ção mexicana no continente e, consequentemente, da
sua inserção internacional; 2. Entender as relações bila-
terais do México com os Estados Unidos nas suas pers-
pectivas econômicas, políticas e sociais, acompanhando
o processo em curso da renegociação do Tratado de Li-
vre Comércio da América do Norte; 3. Analisar, em ter-
mos estruturais, o papel dos Estados Unidos na inserção
internacional do México e na sua estratégia de desenvol-
vimento econômico. Busca-se entender se esta relação
pode afetar, e de que maneira, processos de cooperação
do México com outras regiões do mundo, como a Améri-
ca Latina; 4. Sistematizar dados do México e dos Estados
Unidos que possam dar maior base empírica para as rela-
ções bilaterais. Refere-se, especificamente, aos dados
comerciais dos Estados, das unidades federativas e os
investimentos externos diretos, além de indicadores da
integração produtiva (salários, empresas instaladas nos
dois países, presença nas cadeias globais de valor, pauta
produtiva). Neste objetivo, também se busca maiores
informações empíricas acerca dos mexicanos residentes
nos Estados Unidos, dado ser um elemento de suma im-
portância que ajuda na compreensão de tais relações; 5.
Analisar o papel da fronteira binacional nas relações Mé-
xico-Estados Unidos, em particular para entender a dinâ-
mica migratória e o peso dos imigrantes mexicanos nes-
tas relações, assim como a instalação de empresas trans-
nacionais que se utilizam de incentivos fiscais e da proxi-
midade geográfica (maquiladoras); Utilizam-se cinco
procedimentos de investigação: 1. Revisão e discussão
dos conceitos de “dependência”, “interdependência” e
"assimetria" com base nas vertentes da Teoria da Depen-
dência, da Escola da Autonomia e dos teóricos das Rela-
ções Internacionais que abordam as assimetrias de po-
der no sistema internacional; 2. Levantamento bibliográ-
fico e discussão teórica utilizando autores que já traba-
lharam o tema; 3. Revisão bibliográfica de autores que
abordam as relações do México com a América Latina,
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
262
em especial nas crises do governo de Vicente Fox com
Cuba, Argentina e Venezuela; 4. Levantamento de dados
em páginas oficiais do México e dos Estados Unidos; 5.
Revisão bibliográfica dos autores que trabalham as rela-
ções econômicas e sociais no âmbito da fronteira binaci-
onal, buscando entender o papel deste elemento geo-
gráfico-estrutural nas relações bilaterais. Esta pesquisa
aprofundará o estudo feito no mestrado sobre a política
externa do México a partir de 2006, em que se buscou
compreender os significados das iniciativas lançadas des-
de então, com ênfase na Aliança do Pacífico e na Comu-
nidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos. A
originalidade da pesquisa está na problematização dos
conceitos de “dependência”, “interdependência" e
“autonomia”, para o caso do México. Apesar de comu-
mente o país ser caracterizado como dependente dos
Estados Unidos, as relações entre ambos são mais com-
plexas. Quando olhadas em perspectiva histórica, obser-
va-se que em vários momentos a política externa mexi-
cana mostrou significativo poder de barganha frente ao
vizinho, o que evidencia alguma autonomia. Com isso,
não se menospreza a assimetria entre os países, mas sim
que a diplomacia do México consegue aproveitar-se da
natureza de interdependência das relações bilaterais
para avançar alguns dos seus interesses.
Mario Afonso Massiere y Correa de Moraes Lima
Respostas Europeias ao Padrão Dólar Flexível: Disputa
Hegemônica ou Adaptação Defensiva?
Resumo: O processo de integração da Europa vem se
aprofundando desde a sua criação. Esse movimento de
maior aproximação dos países fez parte do movimento
de uma “união cada vez mais próxima” como escrito no
preâmbulo do Tratado de Roma (1957). As Crises Finan-
ceiras têm sido, desde 1971, um dos motores para esse
aprofundamento (DINAN, 2008). Os momentos de crise
ou de maior tensão requerem que os países do bloco
europeu atuem de forma mais cooperativa visando uma
resposta mais satisfatória ao desafio criado pelo SFI, mui-
tas vezes transformando-o e alterando o caminho do
processo de integração. Desde seu início, os países euro-
peus modificaram os rumos da integração europeia vi-
sando um maior poder defensivo frente as fragilidades
financeiras que lhes foram impostas pelo atual Sistema
Monetário Internacional, baseado no padrão dólar flexí-
vel. A década de 1970 foi um passo muito importante
para a integração europeia em especial pela percepção
de uma necessidade maior de integração econômica,
devido ao final de Bretton Woods. A criação do Sistema
Monetário Europeu em especial do Mecanismo de Câm-
bio em 1979 fez com que os mercados percebessem
oportunidades em desestabilizar as economias europeias
através de ataques diretos às moedas nacionais. O início
da década de 1990 mostrou de que forma as políticas e
regras da Comunidade Europeia/União Europeia poderi-
am ser utilizada pelos mercados contra os seus próprios
membros. Os ataques especulativos a Libra e a Lira e a
outras moedas nacionais, foram verdadeiros testes de
força e resiliência do projeto de integração europeu. A
crise de 2008 e as Crises Europeias, revelaram mais uma
fragilidade do SFE, os bancos. Para fortalecer suas posi-
ções no Sistema Financeiro Internacional, e o próprio
SFE, a UE buscou realizar uma União Bancária, estabele-
cendo regras comuns para a atuação dos bancos em solo
europeu. O papel do SFI nas crises apresentadas acabou
por gerar indagações sobre como os EUA afetaram a for-
mação do SFE e suas reestruturações, seja através de
mudanças do próprio SFI ou de crises geradas dentro do
solo americano, como por exemplo, a do Sub-prime. A
argumentação de Strange (2004) de que o Poder Estru-
tural é mais eficaz quando é furtivo, levanta a questão de
se de fato a Estrutura hegemônica guiou o processo de
integração da Europa e até que ponto os rumos tomados
pelos países europeus não são uma estratégia defensiva
frente a esse poder. Partindo da centralidade do Poder
Estrutural e das crises do SFI para o desenvolvimento do
estágio atual da UE, a pergunta que norteia essa pesqui-
sa é: as respostas europeias aos choques e às mudanças
mencionadas no Sistema Financeiro Internacional, a par-
tir da década de 1970, têm, eminentemente caráter de-
fensivo ou configuram uma trajetória de disputa pela
hegemonia com o dólar americano?
Paula Ribeiro da Cruz
Higher Education and Development in the Global South: a
multiscalar governance approach with evidence from the
BRICS
Resumo: The advent of the so-called Global Knowledge
Economy have implied significant transformations in
higher education governance worldwide. It is now com-
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
263
monplace to contend that higher education institutions
(HEIs), especially universities, should play a wider and
more direct role in promoting social and economic deve-
lopment. Largely referred to as the University’s Third
Mission, such a role has been perceived as a new deve-
lopment in universities’ institutional evolution, adding to
its traditional teaching and research missions. Terms and
conceptualizations describing the contemporary univer-
sity abound, but the “entrepreneurial university” has
arguably become the mainstream view. Although initially
articulated in a critical way by Slaughter and Leslie (1997)
as part of what the authors called “academic capitalism,”
it did not take long for the “entrepreneurial university”
to become a neoliberal recipe for reforming universities
in the early 21st century. According to this model, HEIs
should work as market-oriented institutions aimed at
offering specialized services to society, mainly through
the mechanism of the knowledge and information mar-
ket—a notion that has been reinforced and popularized
by Etzkowitz and Leydesdorff’s (2000) Triple Helix thesis,
according to which innovation-oriented interactions
between universities, industries and governments would
foster economic growth. These ideas have nevertheless
been highly controversial. Numerous critics have de-
nounced the detrimental effects of turning universities
into market-oriented institutions, while others have
sought to provide alternative models. One but model,
proposed by Arocena and Sutz (2005; 2017), is that of
the “developmental university.” Adopting a Global South
perspective, the authors advocate a broader view of the
University’s Third Mission, that is, a view that puts equa-
lity and inclusiveness at the center of the debate and
that promotes HEIs’ interactions with a wide range of
actors focused on tackling pressing social and environ-
mental demands. Above all, the “developmental univer-
sity” should commit to the promotion of “inclusive deve-
lopment.” The latter is understood not as economic
growth or development alone, and not as the result of
“catching up” processes, but rather as encompassing
outcomes and benefits that are both by and for margina-
lized groups. In other words, as ‘a structural change pro-
cess that empowers excluded groups by placing them at
the center of a process of change that involves the insti-
tutionalization of mechanisms for redistribution of inco-
me and social empowerment’ (Renault, de Mello and
Araújo 2017: 4). In this perspective, HEIs are supposed to
engage not only with knowledge commercialization and
technological innovation-oriented activities, but mainly
with processes and practices connected to “inclusive in-
novation.” The scholarly debate on inclusive innovation
has emerged in the midst of the debate on the role of
Science, Technology and Innovation (ST&I) in deve-
lopment processes. Recently, new related concepts have
gained increased interest both among academics and
policymakers. In Europe, “social innovation” has arisen as
a new buzzword, whereas in the United States much
attention has been driven to “social entrepreneurship”.
Indeed, the discussion on social innovation/
entrepreneurship have been more advanced in the Glo-
bal North, wherein there is a concern to innovate in or-
der to avoid exclusion, whereas the discussion on
“inclusive innovation” has echoed more in the Global
South, that is, in contexts wherein exclusion already
exists. All considered, how exactly new institutional mo-
dels have been adopted, and the extent to which chan-
ges in higher education governance have played out vari-
es enormously across countries and institutions. Much
research remains to be done in this regard, especially in
the Global South. This doctoral research addresses these
questions by focusing on the recent transformations in
the BRICS countries’ higher education landscapes. More
specifically, it aims to analyze if/how these transforma-
tions have implied a multiscalar type of governance in
which different local, national, and international/
transnational governmental and non-governmental ac-
tors might engage and contribute to shaping the global
political economy of higher education. Concerns with
the question of scale and sociospatial relations have mar-
ked the evolution of globalization studies over the past
decades. As critical theorists have sought to overcome
the traditional approach of “the global” as opposed to
“the local,” new multiscalar perspectives have addressed
how ‘critical components of the global are structured
inside the national, producing multiple specialized dena-
tionalizations’ (Sassen 2006: 6), and how territories, pla-
ces, scales, and networks comprise ‘mutually constitutive
and relationally intertwined dimensions of sociospatial
relations’ (Jessop, Brenner and Jones 2008: 389). As
those theorists claim, such approaches seem suitable for
investigating ‘several realms of inquiry into sociospatial
processes under contemporary capitalism’ (Ibid: 389).
As for the concept of governance, I adopt Bob Jessop’s
umbrella definition, according to which governance
‘refers to diverse mechanisms and strategies of coordi-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
264
nation that are adopted by autonomous actors, organiza-
tions and functional systems in the face of complex reci-
procal interdependence among their actors, activities
and operations’ (Jessop 2016: 74). A more narrow view
defines governance as heterarchy. In this specific sense,
governance ‘involves reflexive self-organization based on
continuing dialogue and resource-sharing among inde-
pendent actors and oriented to developing mutually be-
neficial joint projects and managing the contradictions
and dilemmas inevitably involved in such situa-
tions’ (Ibid: 74). The problem with this narrow view is
that it normally rests on the claim that there has been a
shift from government to governance resulting in a retre-
at of the state. It thus tends to ignore other modalities of
state power, and how states acts in metagovernance
processes, that is, in practices and processes that contri-
bute to shaping ‘the governance of governance’ (Ibid: 80;
see also Jessop 2010; Torfing 2016). In short, I adopt a
governance-centric-oriented approach that, besides con-
sidering governance as heterarchy, is also attentive to
how states enroll in new governance practices in the
higher education field. This perspective therefore situa-
tes this doctoral research in the literature on multiscalar
governance, and pays particular attention to the concept
of metagovernance. The thesis is structured in five main
chapters. Chapter 1 discusses the theoretical framework
briefly presented above. Chapter 2 addresses the main
current perspectives on the relations between higher
education and development. Besides the works of acade-
mics, special attention is drawn to the views advanced by
international organizations, such as the World Bank, the
OECD and UNESCO. Chapter 3 investigates how public
policies in the BRICS countries currently articulate higher
education and development, and how the notions of so-
cial/inclusive innovation/entrepreneurship have emer-
ged in those contexts. Chapter 4 takes a more bottom-up
view of these processes by analyzing five social innova-
tion labs in the BRICS. More specifically, this chapter pro-
vides a comparative analysis of these case labs’ interac-
tions with local-, national- and international/
transnational-level actors. Finally, Chapter 5 discusses
the findings from the two previous chapters through a
decolonial perspective, and illuminates alternative paths
to reconciling higher education and inclusive deve-
lopment in the Global South.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
265
WD04 | Instituições e Regimes Internacionais
Angélica Saraiva Szucko
A ilha e o continente: o relacionamento entre o Reino Uni-
do e a União Europeia no processo de integração regional
Trabalho Completo
Resumo: Síntese problemática: O estudo proposto tem o
intuito de analisar o passado recente do relacionamento
entre o Reino Unido e a União Europeia, dentro do con-
texto do processo de integração regional, de modo a
compreender os fatores condicionantes para o resultado
do referendo britânico e a opção pela saída do bloco eu-
ropeu. Nesse sentido, serão estudados, de maneira mais
abrangente, os posicionamentos históricos do governo
britânico no que tange ao aprofundamento da integra-
ção regional, os opt-outs do país em relação à legislação
comunitária e os aspectos evidenciados pelas campanhas
do Remain e do Leave previamente a realização do refe-
rendo. A principal questão que instiga a pesquisa é:
Quais fatores contribuíram para o resultado do referen-
do britânico favorável a saída da União Europeia? Desta
forma, compreende-se a opção britânica como variável
dependente desta pesquisa e, mediante a ferramenta
metodológica do process tracing, buscar-se-á identificar
as variáveis independentes. Outras questões acessórias
também auxiliarão este trabalho: Como o resultado do
referendo se relaciona com as percepções identitárias no
Reino Unido? Quais as consequências do fortalecimento
dos nacionalismos em outros países-membros do bloco
europeu? Com base nestes questionamentos, pretende-
se elencar as condicionantes do primeiro caso de saída
de um país-membro da União Europeia. Trata-se, essen-
cialmente, de um estudo exploratório para o qual não há
uma hipótese claramente definida; todavia, tendo por
base a literatura sobre identidade europeia, procurar-se-
á demonstrar que a fraca identificação de parte da popu-
lação do Reino Unido com a União Europeia, principal-
mente em função do baixo aprofundamento cívico-
institucional, contribuiu para o resultado final do refe-
rendo, buscando responder à primeira das perguntas
acessórias. Em relação às demais perguntas, o método
do process tracing auxiliará na identificação dos diversos
fatores que contribuíram para a opção pela saída, bem
como na correlação entre o fortalecimento do naciona-
lismo em detrimento de opções comunitárias também
em outros países-membros do bloco. A proximidade
temporal é um dos maiores desafios desta pesquisa; no
entanto, a proposta consiste em examinar o passado
recente do relacionamento entre o Reino Unido e a Uni-
ão Europeia anterior a realização do referendo. O resul-
tado do referendo trouxe à tona um tema relevante para
estudo ao evidenciar o ápice de um processo histórico
de relutância britânica ao projeto de integração europeia
conduzido pelo eixo franco-alemão. O propósito princi-
pal da pesquisa consiste em investigar os condicionantes
de um processo sem precedentes, a opção de um país-
membro pela saída do bloco europeu - o exemplo mais
avançado de integração regional existente até o momen-
to. Mediante a identificação desses elementos, este es-
tudo pode tornar-se gerador de hipóteses ao elencar as
condições necessárias para que um país opte pela saída
da Europa comunitária. Justificativa: A escolha britânica
pela sua retirada da União Europeia é um fato inédito no
processo de integração regional, pois, até o momento,
nenhum Estado membro saiu do bloco ou de suas orga-
nizações precedentes . Antes do Tratado de Lisboa, não
existia nenhum acordo ou norma que delineasse a possi-
bilidade de um Estado membro sair voluntariamente da
comunidade europeia. A ausência de uma legislação es-
pecífica que regulamentasse a retirada do bloco, não
tornava impossível a saída dos países-membros, ainda
que a dificultasse em alguma medida. Apenas com o Tra-
tado de Lisboa, que entrou em vigor em 1º de dezembro
de 2009, é que foi estabelecido um procedimento para
saída voluntária de um Estado membro do bloco (Artigo
50º). Nesse sentido, a pertinência deste estudo justifica-
se pelo inetidismo e pela atualidade da temática, bem
como pela inexistência de estudos similares. Após o re-
sultado do referendo britânico, o qual contrariou as pes-
quisas de intenção de votos, o tema da integração regio-
nal ganhou novo fôlego na academia. A opção pela saída
do Reino Unido abre um precedente inesperado no pro-
cesso de integração europeia e é interessante avaliar
quais fatores contribuíram para a decisão britânica pela
retirada e quais os reflexos desta no próprio país e no
bloco europeu. De modo geral, esta pesquisa torna-se
relevante pela necessidade de uma investigação acadê-
mica mais aprofundada de maneira a identificar as cau-
sas desse processo sem precedentes na integração euro-
peia. Objetivos: A pesquisa dar-se-á pela persecução do
objetivo geral de analisar o passado recente do relacio-
namento entre o Reino Unido e a União Europeia no que
tange ao processo de integração regional. Esse objetivo
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
266
se subdividirá nos seguintes objetivos específicos que
auxiliarão na elaboração do desenho de pesquisa e dos
capítulos da dissertação: 1) Apresentar o histórico da
entrada do Reino Unido nas comunidades europeias; 2)
Analisar os posicionamentos do governo britânico no
que tange ao aprofundamento da integração regional; 3)
Examinar os opt-outs do Reino Unido em relação à legis-
lação comunitária; 4) Explorar os aspectos evidenciados
pelas campanhas do Remain e do Leave previamente a
realização do referendo; 5) Relacionar o resultado do
referendo com a percepção identitária da população do
Reino Unido sobre a União Europeia. Metodologia:
Nesta pesquisa, será utilizado o método do estudo de
caso juntamente com a abordagem do process tracing,
de maneira a identificar os fatores que contribuíram para
escolha britânica em sair da União Europeia. Sendo as-
sim, pretende-se traçar um caminho investigando os an-
tecedentes históricos de modo a identificar as variáveis
independentes e intervenientes que possibilitaram de-
terminado resultado. As unidades de análise deste estu-
do serão o Reino Unido e a União Europeia como bloco
regional. O período de análise, embora compreenda o
histórico do relacionamento entre a Europa comunitária
e os britânicos, concentrar-se a partir do Tratado de Ma-
astricht, em 1992, quando o posicionamento resistente
do Reino Unido em relação ao aprofundamento da inte-
gração europeia torna-se cada vez mais evidente, e se
estende até a realização do referendo em 23 de junho de
2016, culminando com a opção pela saída da União Euro-
peia. Ressalta-se que será empregado o método induti-
vo, o qual permite explorar o enredo complexo junta-
mente com as ferramentas metodológicas do process
tracing e do estudo de caso. O desenho de pesquisa con-
tará ainda com a elaboração de um framework para aná-
lise das derrogações britânicas à legislação europeia,
conforme disposto no terceiro objetivo específico. Este
framework será dividido em atores, fatores e processos e
procurará analisar os quatro casos de opts-outs: 1) Acor-
do Schengen; 2) União Econômica e Monetária; 3) Carta
dos Direitos Fundamentais da União Europeia; e 4) Área
de Liberdade, Segurança e Justiça. A pesquisa utilizará
ferramentas qualitativas e quantitativas. O trabalho utili-
zará como fontes os documentos oficiais publicados pelo
governo do Reino Unido e pelas instituições europeias,
assim como os discursos dos primeiros-ministros britâni-
cos. Ademais, serão utilizados os dados de pesquisas de
opinião compilados pelo Eurobarometer e as informa-
ções estatísticas do Eurostat.
Jóhidson André Ferraz de Oliveira
A interrelação autonomia e intergovernamentalidade no
Regionalismo Sul-Americano: um paradigma institucional?
Trabalho Completo
Resumo: Os regionalismos sul-americanos estiveram, ao
longo da história, perpetrados pelas nuances do cenário
internacional, ora alinhando-se às demandas do sistema
internacional, ora adequando às demandas regionais a
certo tipo de inserção na seara internacional. Como re-
sultado, os arranjos integracionistas atingiram um grau
de institucionalidade pautado pela intergovernamentali-
dade que é reiteradamente escolhida na construção polí-
tica-organizacional das instituições regionais sul-
americanas, independentemente das conjunturas e perí-
odos histórico-políticos. A pesquisa aqui descrita busca
analisar as condicionantes que propiciaram os quadros
institucionais de três organizações sul-americanas que
mesmo com históricos de formação e efetividade distin-
tos continuam a desempenhar um papel importante na
região e detêm a mesma formação institucional: o Pacto
Andino (CAN), por ser o pioneiro arranjo integrativo sul-
americano a institucionalizar-se; o MERCOSUL, que fora
resultado direto de uma mudança paradigmática acerca
do ideário integrativo da nossa região; e, a UNASUL, por
ser a primeira iniciativa integracionista sul-americana
institucionalizada que congregou os 13 países do subcon-
tinente. Ao observarmos os projetos integrativos sul-
americanos no decorrer do tempo, percebemos que os
níveis de institucionalidade se pautam reiteradamente
na dinâmica intergovernamental – tanto enquanto com-
posição política institucional, quanto como mecanismo
de tomada de decisão –, mesmo em conjunturas políti-
cas e econômicas de períodos distintos. Além disso, os
objetivos dos Estados-nacionais na formação desses regi-
onalismos são baseados na busca pelo desenvolvimento
e pela autonomia no cenário internacional, como pode
ser observado na formação do Pacto Andino, datado em
1969, do MERCOSUL, em 1991/94 e da UNASUL em
2008. Esses aspectos, portanto, englobam dois pontos
importantes do problema desta pesquisa: a questão da
autonomia enquanto fator de formação das dinâmicas
regionalistas sul-americanas e a intergovernamentalida-
de, na medida em que é preferência e/ou resultado na
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
267
institucionalidade dos processos integrativos sul-
americanos. Desse modo, abarcar a questão da autono-
mia e o debate acerca da intergovernamentalidade é
essencial para o desenvolvimento da pesquisa aqui des-
crita, contribuindo com a percepção da nossa hipótese
central, a de que, mesmo em conjunturas e períodos
distintos, a institucionalidade da integração da nossa re-
gião é condicionada pela preservação, concessão e am-
paro de ideais autonomizantes, os quais só são viabiliza-
dos através da dinâmica intergovernamental. Não obs-
tante, pensar a institucionalidade de projetos integracio-
nistas é adentrar o debate: Supranacionalismo versus
Intergovernamentalismo, que é oriundo predominante-
mente dos esforços teóricos-analíticos da integração eu-
ropeia. Contudo, revisitando o mainstream das Teorias
de Integração Regional que é eminentemente europeu
ficam aparentes os desafios que se apresentam ao olhar-
mos para os processos sul americanos, uma vez que as
mesmas variáveis para se pensar a supranacionalidade
ou o intergovernamentalismo no processo europeu não
são suficientes ao serem aplicadas na América do Sul.
Nossos mecanismos são intergovernamentais e envol-
vem uma estrutura de convergência no plano ideacional
e racional que não é bem compreendida apenas se
olharmos para as ações individuais dos países dentro dos
organismos. Desse modo, é substanciosa uma análise
aprofundada dos condicionantes integrativos (herança
histórica comum, inserção internacional, interesses esta-
tais, lócus na ordem internacional, assimetria dentre os
países da região, a questão das identidades e do desen-
volvimento) no momento da formação da institucionali-
dade desses projetos (no caso desta pesquisa a formação
do Pacto Andino, do MERCOSUL e da UNASUL). Porém,
também, se revela intrínseco analisar a hipótese envolta
desta pesquisa, a de que a institucionalidade dos arran-
jos cooperativos e integracionistas sul-americanos a par-
tir da autonomia (tanto interna e externa à região) dos
países é condição sine qua non da intergovernamentali-
dade experimentada no regionalismo sul-americano.
Desse modo, o objetivo geral da pesquisa é estudar e
analisar as condicionantes que propiciaram os quadros
institucionais dos projetos integracionistas sul-
americanos (o Pacto Andino, o MERCOSUL e a UNASUL),
a fim de compreender as dinâmicas que levam à forma-
ção, escolha e predomínio da dinâmica intergoverna-
mental enquanto arranjo político-institucional das orga-
nizações internacionais regionais e a interrelação deste,
com os ideais de autonomia dos Estados sul-americanos
nas Relações Internacionais. Além disso, os objetivos es-
pecíficos são divididos genericamente em: a) analisar
profundamente os condicionantes que propiciaram a
formação dos arranjos regionais sul-americanos, toman-
do como referência o Pacto Andino, o Mercosul e a UNA-
SUL; b) pesquisar, verificar e compreender os fatores
determinantes na interrelação autonomia e intergover-
namentalidade na formação do processo institucional
integracionista, tentando estabelecer e/ou contribuir
para um diferente modo de entender os arranjos inte-
grativos para além do debate “supranacionalismo versus
intergovernamentalismo”, pautando-se nas experiências
e especificidades sul e latino-americanas; e c) analisar
como e porque a intergovernamentalidade é o quadro
institucional e o articulador predominante no alicerce
das organizações internacionais regionalistas sul-
americanas. Para atingir tais objetivos a pesquisa aqui
descrita tem um enquadramento metodológico qualitati-
vo, o qual de forma ampliada está baseado: (a) no méto-
do sistemático para a organização das ideias; (b) no mé-
todo dedutivo para a análise do acervo dogmático; (c) no
método dialético para o confronto de posições, argu-
mentos e bases legislativas; e, por fim, (d) no método
indutivo para o estabelecimento de regras gerais de apli-
cação. Igualmente para alcançar os objetivos elencados
neste projeto, será feito um levantamento de bibliografia
e de dados de pesquisas empíricas pertinentes ao tema,
além de entrevistas com estudiosos e policy makers en-
volvidos no assunto. Tais procedimentos serão necessá-
rios para termos subsídios para abordar de forma articu-
lada os três eixos principais pelos quais trabalharemos
nosso objeto a fim de alcançar os objetivos acima pro-
postos: 1) as condicionantes que propiciaram a formação
dos arranjos integrativos (herança histórica comum, in-
serção internacional, interesses estatais, lócus na ordem
internacional e a assimetria dentre os países da região) a
partir do arcabouço analítico oferecido pela Teoria Críti-
ca das Relações Internacionais; 2) a relação dos condicio-
nantes integrativos com os ideais de autonomia e sobe-
rania dos Estados sul-americanos no momento da forma-
ção do projeto integrativo; e 3) a relação de autonomia
com a institucionalidade integrativa. Como resultados
esperados, deseja-se, a partir de um estudo minucioso
da institucionalidade dos projetos integrativos sul-
americanos, contribuir para o debate integracionista, o
qual se faz fundamental nas Relações Internacionais con-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
268
temporâneas da nossa região. Isso porque o aprofunda-
mento ou mesmo a continuidade desses projetos estão
postos em xeque, seja pela reconfiguração política-
ideológica dos governos da região, seja pelas crises vi-
venciadas (decorrentes dessa reconfiguração) pelo MER-
COSUL e pela CAN, ou mesmo o esvaziamento da UNA-
SUL, fatores esses que estão diretamente ligados à inter-
governamentalidade institucionalizada.
José Maria de Souza Junior
Organizações Internacionais e sistemas domésticos: O
Banco Mundial no Ensino Superior de Argentina e Chile.
Trabalho Completo
Resumo: O presente trabalho se enquadra no questiona-
mento de como as Organizações Internacionais se fazem
presentes nos Estados-nacionais e, no limite, sustentam
sua relevância no sistema internacional. Para compreen-
der o feito das instituições internacionais concebe-se
como premissa que a OIG desempenha uma gama de
funções tanto no sistema internacional quanto nos ambi-
entes domésticos dos Estados. Contudo, essas unidades
políticas internacionais são profundamente distintas dos
Estados em vários aspectos. O fato dos Estados forma-
rem e darem origem às OIG’s não significa que elas vão
atuar sempre em favor ou seguindo a vontade de tais
Estados. Assim, o intuito desta pesquisa é investigar as
maneiras de atuação de Organizações Internacionais nos
sistemas domésticos dos Estados e, utilizando uma me-
todologia de Máxima Semelhança, o objetivo é comparar
políticas do Banco Mundial (BIRD) implementadas na
Argentina e no Chile na década de 1990 nos respectivos
sistemas de Ensino Superior de cada país. As Organiza-
ções Internacionais se manifestam em relação a determi-
nado tema e os Estados “precisam” responder àquilo de
alguma maneira. Isso significa dizer que há um estímulo
por parte deste tipo organizacional e os atores estatais
acabam compelidos a reagir de alguma forma, tanto fa-
vorável quanto contrária e, consequentemente, a OI já
está limitando a atuação estatal. Neste sentido, a rele-
vância das OI’s já se faz presente, mas para além disso,
objetiva-se saber como essa reação aconteceu no caso
argentino em relação ao seu sistema de Ensino Superior.
A comparação em questão se dá de forma a determinar
como uma Organização Internacional pode influenciar as
políticas domésticas de um estado nacional. A influência
referida não tem a ver com uma mensuração específica,
mas sim no sentido de criar governança em determinado
sistema doméstico. A hipótese levantada neste trabalho
diz que a atuação da OI depende da sua articulação com
atores domésticos e, neste sentido, a montagem do es-
tudo de caso em questão visa justamente determinar os
resultados obtidos a partir do projeto entre BIRD e Ar-
gentina, por um lado e BIRD e Chile, por outro, e como as
políticas de ensino superior foram impactadas. Os estu-
dos tradicionais na área de Relações Internacionais di-
zem respeito à Segurança Internacional, ou Política Ex-
terna ou Economia Política. O Ensino Superior é pouco
estudado como um tema de RI e considerado “low poli-
tics”. Ao mesmo tempo, o Ensino Superior é uma política
cara ao Estado. Trata-se de como um país está profissio-
nalizando sua população. No limite, valores culturais e
uma estratégia de desenvolvimento podem estar em
jogo nas políticas de ensino superior de um país, além de
ser um tema altamente politizado e reunir importantes
stakeholders dentro de uma sociedade. Os interesses e
os resultados (outputs) acabam sendo fundamentais pa-
ra desdobramentos políticos domésticos que podem exa-
cerbar a área de ensino superior. Daí ser importante
mencionar que há considerável heterogeneidade em
estudar o ensino superior como um todo, porém, o es-
forço gira em torno de entender a governança em um
sentido macro, em três passos: 1 – trazendo o input de
uma Organização Internacional acerca do Ensino Superi-
or; 2 – fazer a interface com o governo doméstico nessa
política; e 3 – comparar os diferentes sistemas domésti-
cos para compreender como se deu a relação entre OI e
Estado, tirando conclusões acerca da governança regio-
nal em Ensino Superior. Entender o sistema de Ensino
Superior de cada país é importante. Qual é a diversidade
institucional quando se trata do Ensino Superior? Quais
os órgãos reguladores e o que cada tipo institucional re-
presenta em termos de números (indicadores). Neste
sentido, os projetos do Banco Mundial implementados
na Argentina (1995) e no Chile (1998) partem de um di-
agnóstico parecido em relação à situação do ensino su-
perior nos dois países, sendo que seus componentes se
situavam em torno de uma melhor qualidade do ensino,
melhor gestão dos recursos empregados, criação de fun-
dos para competitividade, melhora na equidade de aces-
so ao ensino. Tais diretrizes derivavam do documento
“La Enseñanza Superior: las lecciones derivadas de la
experiência” (Banco Mundial, 1992), considerado aqui o
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
269
marco normativo para fundamentar a necessidade de
haver projetos de cooperação nesta área nos dois países
latino-americanos. A partir de tais projetos, percebe-se
que a cooperação com a Argentina cessou, pois depois
do projeto de 1995 não houve outras iniciativas. Já no
caso chileno, os projetos de cooperação continuaram
com mais dois acordos no Novo Milênio. Tal situação
mostra a articulação diversa do BIRD em um e outro Es-
tado, assim como as diferentes posturas e contextos do-
mésticos que são fundamentais para que as Organiza-
ções Internacionais ganhem ou percam relevância. Tais
Organizações, apesar de terem forte apelo e atuação
internacionais, dependem de sua desenvoltura em âmbi-
tos domésticos para manter a referida relevância a per-
petuarem seus status de pontos de referência no siste-
ma internacional.
Rafaela Ludolf
We are not Crisis, We are People: Políticas Públicas e o
Refúgio em Salvador.
Resumo: O inicio do século tornou-se o retrato de varia-
das crises cada vez mais evidentes, complexas e interde-
pendentes, a maior parte delas como reflexos de tal mo-
delo civilizatório de exploração extremista. O que torna
fundamental levantar uma discussão que lança olhar so-
bre os aspectos práticos dessas contradições: riqueza
versus pobreza, desperdício versus fome, crise ambien-
tal, crise econômica, xenofobismo versus migrações etc.
A capacidade de estranhar o óbvio é o grande desafio
deste trabalho, pois, de modo geral, as temáticas de mi-
grações ou de refugiados compõem um debate antigo
nas ciências sociais, seja no ponto de vista da história, do
direito ou das relações internacionais. Os diversos movi-
mentos migratórios ao redor do globo contribuíram para
os processos de colonização, de construção e as diversas
fases de desenvolvimento que os países passaram. A AC-
NUR faz referência a textos escritos há mais de 3 mil
anos no qual a prática de receber estrangeiros e conce-
der asilo a pessoas fugindo de perseguição já era realiza-
da por civilizações antigas – os grandes impérios do Ori-
ente Médio e do Norte da África (Babilônia, Assírio, Egito
Antigo etc.). No caso especifico do Brasil, foram tantos
movimentos migratórios que garantiram uma composi-
ção tão diversa de sua população quanto um processo
de formação econômica e social do país diferenciado. O
Século XXI é marcado por uma nova onda migratória,
que se distingue quanto ao volume, as características das
causas e a atuação da sociedade civil. É importante des-
tacar a existência de uma diferença básica entre migra-
ções voluntárias e migrações forçadas que definem a
complexidade da temática per si e a confusão de nomen-
claturas pode acarretar em sérios problemas para a po-
pulação solicitante ou em situação de refúgio; de acordo
com o site do ACNUR (2018), [...] refugiados e migrantes,
mesmo que viajem da mesma forma com frequência, são
fundamentalmente distintos, e por esta razão são trata-
dos de maneira muito diferente perante o direito inter-
nacional moderno. Migrantes, especialmente migrantes
econômicos, decidem deslocar-se para melhorar as pers-
pectivas para si mesmos e para suas famílias. Já os refu-
giados necessitam deslocar-se para salvar suas vidas ou
preservar sua liberdade. Eles não possuem proteção de
seu próprio Estado e de fato muitas vezes é seu próprio
governo que ameaça persegui-los. Se outros países não
os aceitarem em seus territórios, e não os auxiliarem
uma vez acolhidos, poderão estar condenando estas pes-
soas à morte ou à uma vida insuportável nas sombras,
sem sustento e sem direitos. Ainda que no senso comum
a ideia de migrações internacionais faça uso do termo,
de modo amplo, para incluir analises sobre refúgio, é
importante destacar o caráter voluntário e a busca por
melhor qualidade de vida ou melhores condições e opor-
tunidades da migração. Caso oposto é a situação do refu-
giado que, ao realizar uma migração forçada, não pode
retornar a seu lar por, nos casos mais extremos, temer a
morte; e, por essa razão, possuem direitos especiais de
proteção e são salvaguardados tanto pelo artigo 14 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, como a Con-
venção de 1951 Relativa ao Estatuto dos Refugiados, o
Protocolo de 1967 e outras convenções regionais. No
Relatório Global Trends (2016), publicado pelo ACNUR, a
situação mundial no que tange a temática do refúgio já
era alarmante. Pensar que no final de 2016, 65.6 milhões
de pessoas foram forçadas a se deslocar como resultado
de perseguição, conflito, violência ou violação de direitos
humanos é absurdo; ao longo de 2017 níveis recordes
foram alcançados, superando os fluxos da Segunda Guer-
ra Mundial. Não se pode deixar de mencionar que, atual-
mente, o mundo vive em relativa situação de paz; não há
guerra declarada entre as nações, mas sim conflitos civi-
lizacionais, conflitos políticos, conflitos sociais etc.
Com o intuito de tornar mais claro a necessidade de ação
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
270
imediata no que tange a questão dos refugiados, o AC-
NUR (2018) chama atenção para a condição primordial
que torna uma pessoa refugiada, destacando que essas
“são pessoas que estão fora de seus países de origem
por fundados temores de perseguição, conflito, violência
ou outras circunstâncias que perturbam seriamente a
ordem pública e que, como resultado, necessitam de
‘proteção internacional’”. A condição que leva a busca
pelo refúgio é tão extrema que sua recusa coloca em
risco a própria existência do ser humano. Os dados ofici-
ais mostram que os fluxos de refugiados, nos últimos
anos, já ultrapassam os fluxos da Segunda Guerra; mas o
que se vem discutindo enquanto “Crise de Refugiados”
ou “Crise humanitária” se revela, na verdade, como uma
crise da sociedade humana, no sentido mais profundo da
palavra humanidade, enquanto sentimento de bondade,
de empatia e de compaixão. Antes de serem refugiados,
estamos tratando de pessoas. É fundamental que se des-
taque que o atual modelo de desenvolvimento tem uma
conexão direta com esse processo, especialmente no
que tange as condições do desenvolvimento socioeconô-
mico mundial que, apoiado nas crescentes desigualdades
entre pessoas (e países), levam sociedades ao extremo; é
uma mistura entre o choque de civilizações e os limites
do desenvolvimento. Em uma reportagem para o The
Guardian (2018), o ativista Ai Weiwei traduz perfeita-
mente o que se quer apresentar aqui: “At this moment,
the west – which has disproportionately benefited from
globalization – simply refuses to bear its responsibilities,
even though the condition of many refugees is a direct
result of the greed inherent in a global capitalist system”.
Todas as esferas da vida social (econômica, política, reli-
giosa etc.) passam, então, a carregar em seu interior
uma série de contradições reveladas no desenvolvimen-
to dessa sociedade desigual pautada nessa racionalidade
econômica na qual os princípios de eficiência e lucrativi-
dade tornam-se capazes de justificar praticamente todo
tipo de ação. Longe de ser uma crise humanitária, o que
se experimentou, ao longo das últimas décadas, é um
processo de desumanização da sociedade, apoiado na
financeirização da riqueza cujo objetivo central é gerar
lucro fortalecendo o ciclo do valor gerando valor, ou se-
ja, um período próspero de crescimento ilimitado, mas
socialmente despreocupado; uma crise da humanidade.
É fundamental pensar o Brasil nesse processo, uma vez
que ele tem se tornado um destino comum a refugiados,
especialmente, após a Crise na Venezuela; é nítido que
estados como São Paulo e Brasília se preparam mais rápi-
da e de modo mais organizado para atender a população
refugiada, enquanto Roraima foi pega de surpresa pelo
acelerado crescimento do fluxo de refugiados para a ci-
dade. Algum avanço pode ser visto nas mudanças na le-
gislação e tentativas concretas da sociedade civil organi-
zada – nos grandes centros – são admiráveis; mas é pos-
sível pensar “e os outros estados brasileiros? Estão pre-
parados para dividir essa responsabilidade? Estão prepa-
rados para receber refugiados?”, pois eles estão rece-
bendo essas pessoas – preparados ou não. Considerando
esse aspecto é fundamental pensar o nosso lugar: a Ba-
hia e a cidade de Salvador. De que forma a Bahia e a ci-
dade de Salvador estão organizadas para receber o fluxo
de refugiados? Essa tese pretende comparar as políticas
públicas adotadas em diversos municípios do Brasil, bus-
cando compreender as melhores práticas e com isso
construir uma alternativa propositiva que englobe o pa-
pel dos estados brasileiros – mais especificamente dos
munícipios – na recepção de pessoas em situação de re-
fúgio; no que tange políticas públicas, sociedade civil or-
ganizada e sociedade, de modo geral.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil
271
WD05 | Teoria das Relações Internacionais
João Henrique Catraio Monteiro Aguiar
El pensamiento internacional del laborista San Tiago Dan-
tas
Trabalho Completo
Resumo: El presente trabajo maneja las teorías de histo-
ria de las ideas e historia del pensamiento político para
trazar el perfil de un pensador brasileño. Teniendo como
foco Francisco Clementino de San Tiago Dantas (1911-
1964), se pretende contribuir con una breve reflexión
sobre tradiciones de pensamiento internacional en/del
Brasil. Inicialmente, ocurrirá una reflexión teórico-
metodológica, de forma a comprender como es el abor-
daje de ese trabajo. Serán revisados los instrumentales
teóricos de las áreas asociadas a la reflexión explicando
las razones de ese encuadramiento. Después de presen-
tar la vida de San Tiago Dantas y algunas de sus acciones
cuando estuvo en la calidad de tomador de decisión, se-
rán desveladas las ideas del excanciller brasileño. La con-
centración recaerá sobre su producción cuando estuvo
en la condición de cuadro de vanguardia del más grande
partido de izquierda de aquel período, desde el último
gobierno de Getúlio Vargas. Por fin, serán discutidas las
recepciones que su pensamiento obtuvo en la contem-
poraneidad y los impactos de su legado.
Marina Bolfarine Caixeta
Por uma teoria latino-americana das Relações Internacio-
nais: contribuições dos Estudos de Área para as Relações
Internacionais
Trabalho Completo
Resumo: As Relações Internacionais requerem produção
teórica própria do local em que está localizada. Como
campo acadêmico-científico, ela está relacionada à pro-
dução de conhecimento e à formação de intelectuais/
cientistas e profissionais para o mercado. Por estar rela-
cionado tanto à compreensão dos fenômenos internaci-
onais, quanto à informação que subsidia a tomada de
decisão dos povos e países, este campo de estudos en-
volve perspectivas e objetivos diversos e próprios de on-
de a produção de conhecimento é realizada. Conforme
o grande teórico deste campo no Brasil, Amado Cervo,
há um grande problema na adoção de teorias alheias à
realidade empírica em que são instrumentalizadas. Den-
tre os riscos das teorias de pretenso alcance universal
está a negligência à natureza explicativa dos fenômenos
em detrimento da abstração que neutraliza as diferenças
culturais e singularidades em questão. “Essa dinâmica de
construção de teorias reivindica, racionalmente, a multi-
plicação de formulações [...] de tal sorte que não perma-
neçam alguns povos ou nações à mercê de outros no
terreno da formação acadêmica e das decisões políti-
cas” (CERVO, 2008; 3). Aproximam-se, aqui, as reflexões
sobre a produção teórica das Relações Internacionais às
dos Estudos de Área, uma vez que ambas envolvem a
relação unívoca entre ontologia e epistemologia, entre
prática e teoria, entre academia e sociedade. Assim co-
mo nos Estudos de Área, as Relações Internacionais, co-
mo disciplina acadêmica pragmática, deve produzir co-
nhecimento de dentro para informar a realidade. Como
ambos os campos estão ligados à capacidade dos sujei-
tos de produzir o desenvolvimento de seu país e de esta-
belecer boas relações com o “outro” (de fora), há que se
reconhecer que partem de referenciais particulares e
visões de mundo próprias e são motivados por objetivos
prático-políticos, ou seja, possuem seu lugar de fala.
A hipótese defendida aqui é que a América Latina e o
Caribe não deveria figurar como alvo dos estudos de
área ou das Relações Internacionais, mas sim como ator/
agente na produção de conhecimento com o fim de ha-
bilitar sua inserção internacional e seu desenvolvimento.
O objetivo dessa discussão é apresentar um ensaio apro-
ximando os Estudos de Áreas e as Relações Internacio-
nais, pois ambos se caracterizam pelo conhecimento es-
tratégico, particular e instrumentalizado pela prática po-
litica dos Estados-nação e são representativos das Ciên-
cias Humanas. Assim como a emergência dos denomina-
dos “Estudos de área” no âmbito das Ciências Sociais, o
surgimento das “Relações Internacionais”, no seio da
Ciência Política, teve grande contribuição dos Estados
Unidos. Como disciplina científica, ambos os campos fo-
ram constituídos com um vício de origem: servir a fins
políticos de dominação imperialista. O conhecimento,
como recurso de poder, habilita maior margem de ação,
sobretudo no que concerne o sistema internacional e,
como referencial analítico, garante o domínio de um Es-
tado-nação ou determinados povos sobre os demais e
resulta em benefícios inestimáveis no cálculo político
global. Na América Latina e Caribe, o vício de origem de
ambos os campos de estudos aponta para o fato de es-
Anais do 4º Seminário de Relações Internacionais Foz do Iguaçu | 27 a 28 de setembro de 2018
272
tes não serviram aos tomadores de decisão no nível naci-
onal, mas sim aos fins do capitalismo global. Tanto no
caso dos Estudos de Área, em que a região se constituiu
como uma área de estudos de cientistas norte-
americanos e europeus, quanto no caso das Relações
Internacionais, em que alguns paradigmas, conceitos,
teorias eram importados de outros países, com destaque
para a notabilidade da academia norte-americana no pós
-II Guerra Mundial, estabeleceram-se relações de subor-
dinação, de dependência e de estigmatização entre a
região latino-americana e aqueles ditos de Primeiro
Mundo, onde a comunidade científica estava estabeleci-
da. A Ciência é poder e, por isso, está intimamente rela-
cionada à política. Ela contribui para fazer determinado
país exercer dominação sobre outros. Isso porque o co-
nhecimento propicia a um país avançar seu poder bran-
do, no primeiro momento, e o poder bruto, como última
instância, segundo Nye (2004). Devido à vinculação da
capacidade econômica dos países a investimentos na
produção de conhecimento, a Ciência é parte de um pro-
cesso cíclico entre poder econômico e produção científi-
ca. Sendo assim, a assimetria política entre os países re-
sulta na desigualdade de produção e usufruto da Ciência.
Ao atrelar conhecimento a poder, conecta-se não só po-
der econômico a mais saber, mas também a capacidade
de se beneficiar dos saberes, pois quem tem mais infor-
mação detém mais poder para persuadir (poder brando)
e coagir (poder bruto) o outro. Em vez da cooperação, a
concorrência é o comportamento mais estratégico e es-
perado neste cenário. Os Estudos de Área pretendiam
gerar conhecimento sobre as regiões do mundo para
poder melhor se comportar e se beneficiar nas relações
internacionais; as Relações Internacionais, por sua vez,
pretendiam compreender os elementos da política exter-
na, da diplomacia e das distintas formas de interação dos
atores no âmbito global para poder melhor instrumenta-
lizar a tomada de decisão dos atores governamentais.
Nas origens da concepção de ambos os campos de estu-
dos, o protagonismo era desempenhado por países de
melhor inserção e posição na política internacional, o
que propiciava a Ciência ocultar propósitos políticos de
dominação. Neste sentido, a produção de conhecimento
implica em um problema ético. Ao colocar a Ciência à
serviço da sociedade, do governo e do Estado em que
opera e graças ao qual opera, ela se apresenta como uti-
litária. No entanto, ao ser instrumentalizada para fins de
disputa de poder entre esses atores no sistema interna-
cional, enseja práticas belicosas, imperialistas e exclu-
dentes dos Estado-nação com maior recursos destinados
à ciência em relação a outros, com menos capacidade
científica e recursos econômicos. Neste sentido é que a
ciência pode servir como um recurso de poder de grande
risco para se alcançar a pretendida comunidade global.
Assim, levantam-se algumas questões éticas científicas:
seria essa produção de conhecimento mais comprometi-
da com os fins políticos do governo a quem serve ou com
os fins científicos de servir a tomada de consciência so-
bre problemas comuns globais? Os dois campos de estu-
dos servem a um projeto de dominação ou se configu-
ram como especialização temática face a uma real ne-
cessidade da sociedade contemporânea? Este artigo de-
fende que para ser estratégica e útil à humanidade, a
Ciência deve contar com diferentes referenciais e visões
de mundo, em especial destilar as Relações Internacio-
nais de seus vieses com o fim de permitir a abertura do
campo científico a outros locais e autores produtores de
conhecimento. No plano internacional, ela não deve per-
mitir que uma região geográfica, entendida como grupo
de países, seja renegada a objeto de estudos de outros
países ou regiões, mas sujeito de produção de conheci-
mento científico. Sendo assim, não deve importar con-
ceitos e teorias vindos de fora nas análises e reflexões
próprias de seus interesses, sob o risco de ser alienada
de sua própria condição soberana. Para tanto, este artigo
propõe analisar as Relações Internacionais e os Estudos
de Área criticamente para que eles permitam à América
Latina e ao Caribe inserirem-se nos debates teóricos.
Defende-se aqui que esta região deve imprimir a marca
de sua identidade como perspectiva analítica e se servir
desta produção de conhecimento para sua tomada de
decisão; defende a necessidade de fazer avançar as epis-
temologias do Sul pluridiversas. CERVO, A. L. Formação
dos conceitos brasileiros de Relações Internacionais. Car-
ta Internacional. Belo Horizonte, vol. 3, n. 1 Fevereiro
2008. pp. 3-7. NYE, J. Soft Power: the means to succeed
in world politics. Nova Iorque: Public Affairs, 2004.
As Diretrizes Curriculares Nacionais e seus impactos para as Relações Internacionais no Brasil