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AMOSTRA COMPLEMENTAR: Inquérito 02 (feminino / 28 anos) Tema: Cidade e comércio Local/Data: Rio de Janeiro, 05 de maio de 1992 Tipo de Inquérito: Diálogo entre informante e documentador Documentador: M A DOC. - Bem, então, é, vamos começar, por exemplo, você podia começar descrevendo o seu bairro. Você sempre morou aqui na Tijuca? LOC. - Eu sempre morei aqui na Tijuca. Eu moro, morei, quatro a cinco anos na, na altura do do Largo da Segunda-Feira, depois vim morar nessa casa que eu moro, morei aqui durante, dos meus seis, aos meus treze anos. DOC. - Você morava aqui quando era solteiro? LOC. - É, quando era solteiro, adolescente. Depois, fui morar em Brasília. Morei em Brasília, do de setenta e sete né, meus doze treze anos, a oitenta, aos quinze. Depois voltei pra cá de novo, de oitenta e cinco mais ou menos. Aí depois, morei, na Muda, e depois voltei pra cá depois que, isso há três anos, há mais ou menos dois três anos. DOC. - E, você sente assim diferença da Tijuca, de quando você pequeno, quando você era garoto e agora? [ ? ] LOC. - Sem dúvida, a, nível de super população, gente pa caramba hoje em dia a gente tem uma aglomeração de pessoas aqui na Tijuca, de carros, trânsito. Eu acho que o trânsito da Tijuca é um dos piores trânsitos do Rio de Janeiro, é, comércio também né, é uma, uma coisa até interessante que é um dos comércios que eu acho mais, versáteis aqui, você tem a possibilidade de, compra, de, de opção, é o lado positivo né, o lado negativo é essa super população, as pessoas e com isso as pessoas ficam mais agressivas, há mais assaltos, mais roubos, mais, enfim é mais, tumulto. DOC. - E em comparação a outras localidades da cidade, você acha que a Tijuca tá melhor ou pior? LOC. - Eu acho que tava num nível médio. Não é o que eu idealizo, a nível de uma, moradia ideal mas também não é um caos. DOC. - E o que você idealiza [ ? ] LOC. - O que eu idealizo é um lugar, um lugar que tenha uma praia perto ( risos ) um lugar que também tenha mais espaço, físico entre as pessoas. Eu gosto do Alto da Boa Vista, da Barra, o próprio Grajaú, eu prefiro Grajaú do que Tijuca. DOC. - É mais calmo. LOC. - É, mais tranqüilo, mas aí você corre o risco né, desses lugares muito, ermos, essa questão da da própria insegurança né, [ ? ] vai pegar o carro, eu morei, um ano no Grajaú antes de vir pra cá, esse apartamento tava em obras, e, a gente, depois de dez horas não tinha mais porteiro né, e era um breu. Então você chegar depois de dez horas era um, um medo só né. Você tinha que sair do carro abrir o portão deixar o portão aberto entrar no carro sair do carro fechar o portão, e isso tudo numa rua totalmente deserta, quer dizer, é difícil essa opção mas. A princípio seria um lugar mais, mais perto do litoral né. Esse acesso mais fácil à praia, a lugares de lazer também. Eu acho que a Tijuca é um pouco carente dessas opções de lazer, tem muito cinema mas você vai coisa de restaurante de, de, é, teatro, eu acho que ela fica um pouco aquém. DOC. - E, bem, [ ? ] você, deixa eu ver o que que eu vou perguntar, você teria é sugestão, você, acha que tem solução, pra esses problemas de que você falou de super população da Tijuca, trânsito. LOC. - Eu acho que é uma coisa difícil ver, que a tendência é só aumentar, aumenta, aumenta. Eu acho que a solução seria uma questão, [ parte ] ? , a nível de educação das pessoas sabe, de como, estar dentro dessas situações, de aglomeração. Eu acho que isso é inevitável. A sociedade tá aumentando, as pessoas tão aumentando em número, o espaço físico é o mesmo, mas isso em vez de, socializar mais as pessoas pelo contrário, tão deixando elas mais, agressivas. Então, se não for feito um trabalho a nível educacional, acho que, não tem solução. Eu acho que a, a, a seqüência disso será cada vez mais agressão, cada vez mais assalto, cada vez mais essas coisas que a gente vê né. DOC. - E, em comparação aos outros lugares que você morou, até as outras cidades?

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AMOSTRA COMPLEMENTAR:Inquérito 02 (feminino / 28 anos) Tema: Cidade e comércio Local/Data: Rio de Janeiro, 05 de maio de 1992 Tipo de Inquérito: Diálogo entre informante e documentador Documentador: M ADOC. - Bem, então, é, vamos começar, por exemplo, você podia começar descrevendo o seu bairro. Você sempre morou aqui na Tijuca? LOC. - Eu sempre morei aqui na Tijuca. Eu moro, morei, quatro a cinco anos na, na altura do do Largo da Segunda-Feira, depois vim morar nessa casa que eu moro, morei aqui durante, dos meus seis, aos meus treze anos. DOC. - Você morava aqui quando era solteiro? LOC. - É, quando era solteiro, adolescente. Depois, fui morar em Brasília. Morei em Brasília, do de setenta e sete né, meus doze treze anos, a oitenta, aos quinze. Depois voltei pra cá de novo, de oitenta e cinco mais ou menos. Aí depois, morei, na Muda, e depois voltei pra cá depois que, isso há três anos, há mais ou menos dois três anos. DOC. - E, você sente assim diferença da Tijuca, de quando você pequeno, quando você era garoto e agora? [ ? ] LOC. - Sem dúvida, a, nível de super população, gente pa caramba hoje em dia a gente tem uma aglomeração de pessoas aqui na Tijuca, de carros, trânsito. Eu acho que o trânsito da Tijuca é um dos piores trânsitos do Rio de Janeiro, é, comércio também né, é uma, uma coisa até interessante que é um dos comércios que eu acho mais, versáteis aqui, você tem a possibilidade de, compra, de, de opção, é o lado positivo né, o lado negativo é essa super população, as pessoas e com isso as pessoas ficam mais agressivas, há mais assaltos, mais roubos, mais, enfim é mais, tumulto. DOC. - E em comparação a outras localidades da cidade, você acha que a Tijuca tá melhor ou pior? LOC. - Eu acho que tava num nível médio. Não é o que eu idealizo, a nível de uma, moradia ideal mas também não é um caos. DOC. - E o que você idealiza [ ? ] LOC. - O que eu idealizo é um lugar, um lugar que tenha uma praia perto ( risos ) um lugar que também tenha mais espaço, físico entre as pessoas. Eu gosto do Alto da Boa Vista, da Barra, o próprio Grajaú, eu prefiro Grajaú do que Tijuca. DOC. - É mais calmo. LOC. - É, mais tranqüilo, mas aí você corre o risco né, desses lugares muito, ermos, essa questão da da própria insegurança né, [ ? ] vai pegar o carro, eu morei, um ano no Grajaú antes de vir pra cá, esse apartamento tava em obras, e, a gente, depois de dez horas não tinha mais porteiro né, e era um breu. Então você chegar depois de dez horas era um, um medo só né. Você tinha que sair do carro abrir o portão deixar o portão aberto entrar no carro sair do carro fechar o portão, e isso tudo numa rua totalmente deserta, quer dizer, é difícil essa opção mas. A princípio seria um lugar mais, mais perto do litoral né. Esse acesso mais fácil à praia, a lugares de lazer também. Eu acho que a Tijuca é um pouco carente dessas opções de lazer, tem muito cinema mas você vai coisa de restaurante de, de, é, teatro, eu acho que ela fica um pouco aquém. DOC. - E, bem, [ ? ] você, deixa eu ver o que que eu vou perguntar, você teria é sugestão, você, acha que tem solução, pra esses problemas de que você falou de super população da Tijuca, trânsito. LOC. - Eu acho que é uma coisa difícil ver, que a tendência é só aumentar, aumenta, aumenta. Eu acho que a solução seria uma questão, [ parte ] ? , a nível de educação das pessoas sabe, de como, estar dentro dessas situações, de aglomeração. Eu acho que isso é inevitável. A sociedade tá aumentando, as pessoas tão aumentando em número, o espaço físico é o mesmo, mas isso em vez de, socializar mais as pessoas pelo contrário, tão deixando elas mais, agressivas. Então, se não for feito um trabalho a nível educacional, acho que, não tem solução. Eu acho que a, a, a seqüência disso será cada vez mais agressão, cada vez mais assalto, cada vez mais essas coisas que a gente vê né. DOC. - E, em comparação aos outros lugares que você morou, até as outras cidades? LOC. - Bom, eu morei, um ano nos EUA quando eu tinha cinco anos então a lembrança que eu tenho é muito, uma coisa muito longínqua, muito remota. Então não dá pra ter uma referência, mas, Brasília [ ? ] é uma cidade muito mais, organizada, é uma cidade muito mais, calma, é uma cidade que, pelo menos na minha época, não tinha engarrafamento, e pelo que eu sei isso não mudou muito não, porque é uma cidade mais planejada e tal. Eu acho que a nível, relacional, de relacionamento das pessoas, ela é um lugar melhor, né, eu acho. DOC. - E ... LOC. - Apesar né, que é uma coisa, também, que fica a perder, você ser tão organizado, nessas questões de tráfego, de localização das pessoas das quadras, você também restringe né, essa amplitude, de relação que você tem aqui. Querendo ou não você sai aqui na rua, eu posso, eu tô me cruzando, com um executivo como eu tô cruzando com um pivete. Lá não fica meio esses meios, aglomerados, então uma quadra só de militar, outra quadra do Banco do Brasil, esses contatos eles ficam meio restritos a esses pólos. 

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DOC. - Como é que é que funciona lá em Brasília, eu só passei lá uma vez não, quer dizer. LOC. - Eu acho que é muita quadra. DOC. - [ ? ] O que é que tem nessa quadras? LOC. - Normalmente, porque eu acho que Brasília foi é, as pessoas foram, levadas pra lá né, então a princípio essas quadras, elas, elas são, de, pessoas específicas, então de bancos, militares, pessoas de um nível, porque é muito padrão, então numa quadra por exemplo, todos os prédios, todos os apartamentos são mais ou menos do mesmo nível, né, então querendo ou não você nivela também o nível sócio-econômico dessa pessoas né, então tem aqueles prédios mais fuleiros. Então as pessoas ficam, são mais inferiores a nível econômico. Então tem os prédios mais elitistas aonde tem as pessoas com mais pompa né, mais pose, então você querendo ou não você aglomera isso, em pontos. Eu acho que, com o próprio crescimento da cidade isso tá se diluindo um pouco mas é uma coisa muito concreta dentro da cidade, e tá se diluindo por quê? Você, hoje em dia, tem muitos muitos imóveis, vendidos que nem aqui no Rio, então você tem essa [ listagem] ? maior. DOC. - ( ininteligível ) LOC. - É, e, o planejamento de, início de uma estrutura né, porque a princípio é uma coisa muito organizada mas muito organizada demais também enche o saco né, ao mesmo tempo que muito caótico demais também, [ ? ]. DOC. - O meio termo né. DOC. - Mas o que que tem, é, você falou é, nas quadras, tem os apartamentos onde as pessoas moram. LOC. - E área de lazer, tem quadra de futebol, quadra, parques né, parquinhos, esses parquinhos que tem pracinha aqui. DOC. - Comércio tem? LOC. - Comércio tem, toda, entre as quadras tem um comércio a nível de, coisas essenciais né, um mercadinho, uma padaria, né, tem uma quadra e outra quadra e no meio dessas duas quadras passa uma rua, é que eu não me lembro qual o nome que eles chamam, mas tem todo, um nome, então entre essas quadras tem um comércio, da quadra 209 210, entre essas duas quadras tem um comércio. Aí em algumas até tem bons comércios, pizzaria, restaurante, né, espaços culturais, galerias e tal, mas normalmente é, mercado, padaria, farmácia, questões básicas, né, e tem, nos centros comerciais, que aí são os grandes comércios, você vai pegar coisas mais, vestuário, alimentações mais, variadas, os grandes mercados. DOC. - E esses centros comerciais ficam localizados perto das quadras dos apartamentos? LOC. - Mais ou menos, eu acho que, por exemplo, às vezes, entre uma quadra e outra você tem um grande comércio, mas, são pólos específicos, mas normalmente esse acesso é um acesso, que fica um pouco prejudicado, você, de carro é muito bom né, mas de ônibus, é , porque eu nem, nunca, acho que, pouquíssimas vezes eu andei de ônibus lá. DOC. - Por que, usava carro? LOC. - Não, porque eu era, [ ? ] minha escola era perto né, eu ia andando, é, minha mãe e meu pai tinham carro, então a gente se deslocava pro clube, né, o programa lá final de semana é muito clube. A gente vai aos clubes de carro, e eu, meio que adolescente ainda né, geralmente tinha algumas pessoas dentro da própria casa que tinham carro, então essa coisa de vir de ônibus era, quase não existia, então é muito carro carro carro. DOC. - Então, é, você não saberia dizer assim como é, se os, se em Brasília, o serviço ... [ ? ] LOC. - [ ? ] isso tem muito tempo né, isso tem dez anos. DOC. - Até a cidade é diferente hoje em dia. LOC. - É, eu não posso nem, falar como é que tá, tem uma idéia assim [ ? ] topográfica da cidade, sabe, que ficou meio gravado na minha, na minha memória né, mas as questões de situação atual da cidade, eu não tenho idéia. Mas um lugar que foi muito bom pra mim, eu não queria inclusive voltar pra cá. DOC. - Ah é, você gostou mais de lá do que daqui? LOC. - Eu gostei de lá, até porque, aqui né, tem, já existia, não com tanta força, mas esse medo de assalto, de tal tal tal, e lá não, era uma coisa muito solta eu podia voltar duas três horas da manhã, pra casa né, aqui não, aqui era coisa mais, contida, e lá não, então por isso que era uma coisa boa. Mas, com o tempo eu fui me adaptando de novo ao Rio. DOC. - ( ininteligível ) LOC. - Cê acha isso DOC. - Eu acho que todas as cidades cresceram e acabam com o mesmo tipo de problema. LOC. - Eu por exemplo, esse final de semana agora, eu tive em Vitória, fazendo um trabalho lá, eu achei uma cidade assim, super agradável. Os prédios, não são tão aglomerados, sabe, um colado com o outro, tem uma coisa mais de espaço você tem uma visão mais, mais ampla, mais, mais longínqua das coisas você, tem uma visão mais, do espaço físico você não fica não, tão contido né quanto aqui, aqui você sai você vê muito concreto na tua frente, você esbarra com isso, lá você não tem uma visão de um litoral, você tem uma visão de um verde, de um, de uma coisa mais, distante e isso é, como se você pudesse até respirar melhor né. Eu sinto uma coisa assim. 

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DOC. - Você viaja muito? LOC. - Não muito, não muito, agora que tá pintando umas viagens mas eu não viajo muito, o que eu viajo mais, é a nível de lazer aqui perto mesmo né, final de semana vou pra, Barra de Guaratiba, Saquarema, Região dos Lagos, Teresópolis, Petrópolis, as opções são mais essas assim perto, né. DOC. - E, bem, voltando aqui, à Tijuca então, é, você falou e a gente vê né, que a Tijuca tem um, um comércio bem, bem marcante, é [ ? ] LOC. - Variado. DOC. - Você poderia descrever que tipo de comércio é esse que tem na Tijuca, se é um comércio específico? LOC. - Não, eu acho que ele não é específico, eu acho que ele é bem abrangente, também acho que se você quiser, você tem "n" opções, mas se você quiser um alfinete você vai arrumar, como se você quiser um, pão, de alho você também arruma, né, não tem essa, acho que, aqui opção de roupa, todas as boas lojas que você tem, é, nos grandes bairros né, Ipanema, Leblon, Botafogo, você tem também na Tijuca né, eu sinto a Tijuca como um bairro elitista da zona Norte, né, assim porque, é um grande, é um grande, circulador, de dinheiro, eu acho que tem muita gente com grana aqui né, tanto é que, digamos, o Bob's, né, o Bob's monopolizou a Tijuca né, ele tem três Bob's aqui na Tijuca, que, vendem pa caramba, né, a própria Academia de Ginástica Corpore, ela abriu uma, senhora academia, aqui, né, por que aqui? Eles iam investir à toa aqui, depois de instalarem em Ipanema, São Conrado? Não porque aqui, é um grande foco né. Eu acho que aqui tem muito essa miscigenação, essa mistura , mas se você for fuçando ali por dentro, você vai ver ótimos apartamentos, ótimas casas, e que, pra morar nesses lugares, são pessoas com nível de renda alta, né, e muita classe média. Aqui querendo ou não, tá sempre, é, circulando essa, matéria que é o dinheiro. DOC. - ( ininteligível ) LOC. - Então, é eu acho que é um grande foco, de comércio, então por isso você tem essa, grande possibilidade de, de comprar tudo né. DOC. - E sempre foi assim? LOC. - Eu acho que de um tempo pra cá essa coisa cresceu muito mais, né. [ telefone tocando]. DOC. - Bem, então eu tinha te perguntado se, o comércio aqui na Tijuca sempre foi, assim. LOC. - Não, eu acho que é toda uma questão, também, do aumento do número de pessoas né. Então, aumentou o número de pessoas, aumentou a necessidade dessas pessoas, e o comércio, acho que ele é sábio né, esses comerciantes, eles tem uma um olho clínico aí pra ver o que que as pessoas tão precisando, a hora que elas tão precisando, vem diretamente proporcional, [ ? ]: Pô, a Tijuca não tem, uma boa pizzaria! Aí de repente você vê: E, abriu aqui, outra ali. Não tem uma boa refeição de salada, abriu outra aqui, se bem que eu acho que essa questão de alimentação é carente. DOC. - Cê acha? LOC. - Eu acho. Eu acho que falta uma, um bom lugar de, porque a minha alimentação é natural, né, então, os restaurantes naturais, eles, que eu conheço, conheço inclusive as donas, são dois, bons restaurantes, que inclusive não abrem final de semana, né, só abrem dia de semana pra atender mais essa classe, trabalhadora de dia-a-dia, né, e a gente que usa mais o restaurante no final de semana, ele, que a gente não tem empregada, né, no final de semana, ele não, não atende porque ele fecha sábado e domingo, entendeu, então, digamos você vai no Leblon, numa Ipanema, em Botafogo, você vê um restaurante natural, um e, ou vários restaurante naturais, inclusive o próprio Sabor e Saúde, o Natural, enfim, outros né, funcionando, final de semana. Então a gente tem que se deslocar, é uma coisa até que a gente já pensou, assim: Pô, como seria. DOC. - ( ininteligível ) LOC. - É abrir um restaurante natural na Tijuca, com, aproveitando até a moda, da alimentação natural. DOC. - Mas será que ia vingar? LOC. - Eu acho que se for bem feito, sabe, bem divulgado eu acho que pega, a nível de mercado, mercado-restaurante, [ entreposto] - restaurante, uma boa qualidade, de alimentação, porque alimentação natural não é essas coisas, não é, fantasmagórica, assim, de ruim, que as pessoas ficam pensando. Eu acho que tem altas opções pra você, administrar essa, essa cozinha natural né, então, o Sabor e Saúde, é um restaurante inclusive que faz isso, abriu no Centro da Cidade, tá todo o dia lotado, você. DOC. - No Centro da Cidade tem, aonde? LOC. - Abriu, na Sete de Setembro. DOC. - Bom saber! LOC. - Pois é, e tá sempre cheio e, é comida natural né, então, não é esse bicho todo né. Eu acho que a Tijuca ainda tá, muito, crua nesse sentido. DOC. - E em termos de serviços, quer dizer, os serviços é. LOC. - Médicos? DOC. - Também. LOC. - Eu acho que isso aí é, eu acho que isso aí tem, tem um bom clínico, né, acho que isso aí tem bastante nesses shoppings, você tem, bons médicos de homeopatia, de, é, plano de saúde, convênio,

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acho que isso aí tem bastante. DOC. - ( ininteligível ) LOC. - É, pois é, isso aí também tá meio monopolizado por esses grandes planos né, então você pega o teu catálogo e vai, procura uma pessoa dentro desse, nessa linha e tem, psicólogos mesmo, terapias, você encontra aqui na Tijuca bons. DOC. - Em termos, é, que eu tava pensando então, era, em termos de serviços públicos, quer dizer, os serviços que o Estado. ... LOC. - Correio? DOC. - Município tudo, como é que é isso? LOC. - Eu tenho meio trauma viu, de correio né, que as poucas vezes que eu fui, tavam filas enormes, horríveis, horríveis, horríveis. Então, eu detesto isso né, correio, que mais, área de serviço público assim, bancos né, se bem que o meu banco é um banco que não é bem cheio né. DOC. - Tem hospital público aqui? LOC. - Não assim, nessa, nesse contexto Tijuca, na Saens Pena, mas tem, o hospital do Andaraí, né, um pouco mais longe, mas eu nunca usei. Nunca tive a oportunidade de usar. Então não posso te responder né. DOC. - E outros serviços, de transporte como é que é? LOC. - O ônibus, eu acho que o ônibus peca, né, por esse sistema caótico que tá esse trânsito aqui, todo dia tem engarrafamento na Tijuca, independente de: Ah, horário de escola! Não, agora eu saí, quando eu voltei, eu peguei engarrafamento, né, então, não tem essa. Um sinal quebra, dançou, né. DOC. - Não há manutenção. LOC. - É, aí, fica trânsito, isso é [ ? ] desgastante né, pra quem tá dentro de um ônibus, muitos assaltos né, outro dia, volta e meia a gente vê, mortes, atropelamentos também, mas mais mortes por causa de assalto, tem as famosas linhas, de ônibus que, são sempre assaltadas né, tipo, 426. DOC. - Quais são elas? LOC. - 422, eu nunca fui assaltado nela né, mas as pessoas falam que, e, 226, essas linhas são sempre assaltadas. Acho que essa questão do assalto vai, de encontro à questão da, da aglomeração, dessa, dessa insatisfação, você bate de frente com pessoas ricas, com pessoas pobres, isso já leva a uma certa, revolta e por aí vai né. DOC. - ( ininteligível) LOC. - Fica difícil de você administrar isso mas existe, né, existe pra caramba, graças a Deus eu nunca fui assaltado, assim né, em ônibus e tal, inclusive outro dia, outro dia não, tem um bom tempo, mas eu tava, indo pra faculdade, eu pegava o 426, quando eu ia pra faculdade, estudava na, na Praia Vermelha, aí eu tava até de relógio, e o cara atrás, tinha acabado de ser assaltado roubaram o relógio dele. O meu não roubaram, mas isso foi uma experiência assim mais perto, que eu vi do assalto. DOC. - Assaltado mesmo, você nunca foi? LOC. - Não, já, já fui mas, de carro. Me roubaram dois carros aqui na Tijuca, inclusive. Um na Haddock Lobo, inclusive eu tava com minha atual esposa, me seqüestraram. Eu andei com os assaltantes junto, andei o que, da Haddock Lobo até a Leopoldina. DOC. - Te deixaram lá. LOC. - Me deixaram lá. DOC. - Ainda te deixaram num lugar bom né. LOC. - [ ? ] É, graças a Deus, a segunda vez foi ali na rua Uruguai, eu deixei o carro, quando eu tô saltando vieram três caras me renderam, e também me levaram, e me deixaram na Andrade Neves, também me deixaram bem né, porque... DOC. - É normalmente [ ? ] tinha deixado na Dutra. LOC. - É, graças a Deus eu tive sorte com isso mas já fui assaltado duas vezes, já tentaram arrombar meu carro, e já arrombaram, tentaram levar mas não levaram. DOC. - ( ininteligível ) LOC. - É, fusca, esses carros meio, Volkswagen eles tentam levar né, mas, ainda tô aqui né. DOC. - Agora fiquei com medo que eu tô de fusquinha aí fora! LOC. - É, fusca é um carro muito visado né, mas acho que assim nesses tumultos eles não, de repente, deixam um lugar, um lugar que tem... DOC. - Lugar muito ermo. LOC. - É, aí eles, parece que eles tão, na escuta disso né, isso acontece bastante. DOC. - E aquele, é, tempos atrás a gente ouvia, acho foi até perto do Natal. LOC. - Arrastão? DOC. - Um arrastão, como é que é isso? LOC. - Eu não sei, eu ouvi falar. DOC. - ( ininteligível ) LOC. - É, ouvi falar mas, eu sei lá, eu acho que esses boatos, eu acho que tem todo um... DOC. - Você acha que foi boato, você acha que não ocorreu nada assim? LOC. - Não, deve ter ocorrido né, mas, sei lá, eu acho que se a pessoa vai fazer um grande assalto ela não, vai divulgar assim não, eu acho isso daí relativo, não sei até que ponto tem um interesse aí, meio,

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não sei, eu não. DOC. - Deve ter milhões de interesses, envolve política, envolve pessoal de morro ... LOC. - É, pois é, pois é, tirar camelô, botar camelô, é, fechar as lojas, deixar os camelôs sabe, eu não sei quem coordena esses camelôs todos aí, você vê pessoas humildes mesmo pobres, com uma, baita de uma barraca, de aparelhos eletrônicos todos importados, de onde vêm, que, qual foi o acesso dessa pessoa, que é isso? que camelô é esse? Sabe, é então não dá pra você, com seus olhos avaliar isso, eu acho. Tem que se prevenir né, não se expor eu acho [ ? ] mas que é estranho é. DOC. - Dá pra desconfiar, é, bem, você falou, no caso do Rio, que cresce muito, e essa super-população que torna a vida caótica e tal. Bem, quais são os, vamos falar um pouco então da Administração, quer dizer, Administração Pública né, da cidade, do Estado, talvez até, o pessoal vive tanto é, faz tanta questão de diferenciar que que pertence ao estado, o que que é função do Estado, o que que é função do Município, essas coisas todas, mas, você poderia, é, dizer, é saberia dizer o que, é em que funções o Estado, seja ele qual for, é, não está atuando, que ele poderia atuar para a vida na cidade ser melhor? LOC. - Eu acho que... DOC. - O que que falta? LOC. - A nível de melhores qualidades de vida, eu penso, numa questão de base né, que seria questão de base, educação saúde, alimentação. Eu acho que um trabalho, ele teria que começar por aí, né. Mas, eu acho que isso envolve "n" estruturas, mas a nível de Estado, eu acho que apesar de, digamos né, a gente vai ter esse ano aqui isso Rio-92. Tudo bem que, todos esses projetos, obras, né, melhorias, cê vê, estão asfaltando, "n" ruas do Rio, principalmente as de acesso à Barra da Tijuca, né. A Tijuca tá sendo beneficiada por aí, ruim com isso pior sem isso. DOC. - ( ininteligível ) LOC. - Eu acho, asfalto sabe, a Conde de Bonfim, vindo pro Alto da Boa Vista era um caos de buraco, ela tá um tapete, aí eu sou beneficiado né, ruim, e como eu falei né, ruim dessa forma, pois se tivesse continuado esburacado, sabe, a, a própria obra Rio-orla, de repente: a Barra era melhor assim? É, mas eles tão mexendo sabe, melhor do que ficar só parado. A Linha Vermelha, vai melhorar né, eu acho que... DOC. - O que dá raiva né, é pensar que eles só pensam em fazer isso quando alguém vem pra cá!! Esses projetos né, projetos de CIAC, educação ambiental. É pra inglês ver? LOC. - É, mas será que também já não é o início de um, de um trabalho né, será que... DOC. - ( ininteligível ) LOC. - É, pois é, eles tão fazendo, ali no, no Borel, o, Ciep de lá, tava parado há uns três anos, era habitação, de pobre, pô, em dois três meses o Ciep tá um brinco, sabe, quando eles querem, eles fazem. DOC. - Quando eles querem eles acham dinheiro, né. LOC. - É, então, sabe, isso vai gerar alimentação, vai gerar educação, vai gerar emprego, né, de alguma forma isso é positivo, né, eu não quero nem entrar na questão política da história, porque se eu entrar eu vou achar tudo uma porcaria, mas a nível, pra comunidade, pras pessoas, eu acho que tem lances positivos aí, coisas boas, e, mobilizando sabe, as pessoas, profissionais, pra fazer um bom trabalho, pra apresentar esse trabalho pro mundo, né, eu acho que isso pode ser muito positivo, né, a nível de circulação também de capital. O que eles vão fazer depois é outra história né, mas que tá sendo feito, tá, né, Brizola tá fazendo coisa pra caramba, a gente tá vendo que ele tá fazendo. DOC. - Pra inglês ver, né? LOC. - Pra inglês ver mas, é melhor, dessa forma né. DOC. - Ao menos dessa forma a gente vê alguma coisa né. LOC. - É, nossa, é, e a gente tá vendo coisas que, tava há séculos né, parado, coisas que tavam paradas, né, eu acho que tem que mobilizar essas pessoas mesmo sabe, nós, que temos um trabalho, a nível, a nível da educação das pessoas, né, a nível de contato com, essas pessoas, pra mobilizar isso, pra lutar por um ideal de vida melhor, né, eu só vou melhorar a, essa questão social se eu melhorar a minha né, e por aí vai. DOC. - E, bem, você falou aí, do, que eles asfaltaram a, subida do Alto da Boa Vista. Tem alguma outra, obra que foi feita por aqui? LOC. - O Grajáu ... DOC. - O Grajaú, o que que teve lá? LOC. - O Grajaú. Eles tão, asfaltando, melhorando também. Tem outro, a própria, aquela rua, Teodoro da Silva né, eles tão recapeando também. A Avenida das Américas, eles tão recapeando ela toda, né. DOC. - É só aonde eles vão andar né? LOC. - É, que mais que eu vi também... DOC. - O Centro da Cidade! LOC. - O Centro da Cidade né, foi todo modificado né, pois é, eu acho que tem coisas boas né, eu concordo plenamente sabe, isso me revolta inclusive essa questão, "pra inglês ver", né, pros outros verem, mas, se é por aí que a gente pode, mexer com a, eu acho que, o povo, brasileiro ele tem uma, grave doença que é a inércia sabe, ah, o lance do, não fede mas também não cheira, né, fica meio no

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meio desse jogo aí. DOC. - ( ininteligível ) LOC. - Então né, como é que a gente vai querer ser, poder criticar alguma coisa, se você não tá fazendo nada, nem por você nem pelo social, tá parado no teu lugar, né, até que ponto você não tá sendo instrumento, reprodutor desse sistema político ultrapassado aí, né, e nem se percebe, só sabe parar e criticar, criticar e não faz nada pra mudar. Então eu acho que também não é por aí. Então é perceber o que tá acontecendo e tentar interferir dentro disso de alguma forma, mas não ficar nesse joguete, né, só pichando, pichando, pichando, eu acho que virar anarquista, liberal e não mudar nada, só criticar, também não adianta porcaria nenhuma. De repente é melhor até ficar enquadrado do que ser só mais um pentelho, ficar perturbando aí. Eu penso assim.

AMOSTRA COMPLEMENTAR:Inquérito 13 (masculino / 31 anos) Tema: Vida social e diversõesLocal/Data: Rio de Janeiro, 19 de junho de 1996Tipo de Inquérito: Diálogo entre informante e Documentador Documentador: M I S

DOC. - o que você costuma fazer fora do trabalho pra se divertir? 

LOC. - bom... a gente pra se divertir fora do trabalho existem várias opções né... nós podemos ir à cinema... teatro... a SHOWS... eh... às

vezes eu saio pra bar com amigos pra tomar cerveja... conversar e... uma das coisas que eu também gosto de fazer nas horas vagas é...

fazer manutenção do meu carro... é uma coisa que eu faço quase sempre... muitas vezes eu faço isso... ou ir à praia... não tem assim...

realmente tenho muitas opções do que fazer...só que às vezes a gente fica assim na dúvida do que às vezes até escolher né... porque

você tem tanta coisa pra fazer que você fica pô qual que será o melhor pra hoje? depende do tempo... depende do esPAço de tempo que

a gente vai ter disponível... de repente você tem algum outro compromisso mais tarde... não sei... o aniversário de alguém... então...

realmente existem várias coisas que eu faço e enumerar assim... agora... lembrar no momento... não consigo lembrar de todas agora... 

DOC. - cinema... qual o tipo de cinema que você gosta? 

LOC. - olha... normalmente eu tenho o costume de ver filmes que são filmes alegres... nada de suspense... nada de terror... só realmente

filmes que me façam rir... porque de tristeza já basta o corre-corre o dia-a-dia de todos nós...né? então eu procuro ver sempre filmes

calmos... tranqüilos e de preferência... comédias. 

DOC. - a última comédia que você viu... fale sobre ela... 

LOC. - a última comédia que eu vi foi “O Máscara”... um filme de aproximadamente... uma hora e quarenta e cinco minutos...e foi um filme

que não foi um dos melhores não... mas até que deu pra gente rir um pouquinho... 

DOC. - e teatro? 

LOC. - teatro eu realmente não... não vou com freqüência... não vou... nem lembro a última vez que eu fui... o que eu vi... já tem tanto

tempo... não tenho realmente o costume de ir em teatro não... 

DOC. - nem pra comédia? 

LOC. - nem pra comédia... realmente teatro não... não... não é uma das coisas que me atraem... o cinema me atrai mais... 

DOC. - e aonde você costuma ir com os seus amigos? que tipo de bar... danceteria... 

LOC. - eh... existem vários bares... Ilha dos Pescadores na Barra da Tijuca... eh... Universidade do Chopp aqui na Tijuca... Dom Chopp no

Méier...em Itaguai também tem uma casa chamada Beer Time...até essa semana eu fui num show lá ver o show do Falcão... no Alto da

Boa Vista também tem lá o ( ) Vale.. que é um lugar bonito de se ir porque você tem... aberto... então você tem aquela floresta toda pra

olhar... pra ver a praia da Barra toda...é um local muito bonito... 

DOC. - você gosta de música? 

LOC. - gosto de música...eu ouço música o dia inteiro... e fora... no trabalho eu ouço música o dia todo... e fora do trabalho... o tempo que

eu tiver podendo ouvir também estou ouvindo...não tenho preferência por tipo de música... ouço música... inglês... música portuguesa...

música brasileira... francesa... realmente pra mim não tem música... não tem nacionalidade... depende realmente de música que agrade...

que a gente se sinta bem...eh... sinta bem ouvindo né? 

DOC. - tem preferência de ritmo? 

LOC. - não... às vezes eu ouço música mais rápida... às vezes mais calma... depende do que toque... não tenho muita preferência não... a

preferência realmente é por música popular brasileira... mas não pagode... músicas que têm alguma coisa... alguma coisa interessante...

Milton Nascimento... Beto Guedes... Chico Buarque... músicas que digam alguma coisa pra gente... 

DOC. - você gosta de jogos? 

LOC. - não pratico nenhum esporte... nenhum tipo de jogo... nem dama nem dominó... futebol... nada... nada... nada... xadrez... estou fora

de todos... 

DOC. - nunca praticou? 

LOC. - já pratiquei natação, quando eu era mais garoto... jogava xadrez... jogava botão... pingue-pongue... mas depois que eu comecei a

trabalhar nunca mais pratiquei nada mesmo... nenhum tipo de jogo...nem baralho... 

DOC. - nem tem vontade de fazer nada? 

LOC. - não... não... não me interesso realmente por este tipo de...de diversão não... 

DOC. - instrumento musical... você toca algum... 

LOC. - não... não toco nenhum instrumento musical... realmente nunca me interessei por tocar nenhum... e hoje até... o tempo é pouco

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também... né? a gente trabalha tanto que fica faltando... o pouco tempo que sobra a gente sempre tem alguma coisa pra fazer e não se

preocupa muito em aprender mais alguma coisa...né? bom... em se tratando assim de reuniões sociais... né... normalmente a gente se

reúne os amigos.. os parentes em casos de aniversário assim... muito mais difícil acontecer em casos de você sair pra... pra... pra show...

alguma coisa assim...não se reúne muita gente.. mas em aniversário... quando se reúnem várias pessoas... normalmente é na casa de

alguém... né... raramente em algum clube... normalmente em casa...e conversa-se muito... brinca-se muito... todo mundo... um

encarnando no outro... um negócio animado realmente...todo mundo procura prestar atenção em todo mundo... todo mundo procura

conversar com todo mundo... é até uma data assim... que as pessoas vêem pessoas que não se vêem há muito tempo...às vezes até se

conversam pelo telefone mas não... não se vê... e realmente nos aniversários a gente encontra várias pessoas e coloca as conversas em

dia...né? eh... são ocasiões boas e animadas às vezes acontece algum imprevisto... alguma coisa... alguma desavença... mas é muito

difícil... com relação à forma de tratamento... eu tenho o costume de me dirigir às pessoas normalmente por senhor... ou quando é mulher

eu digo: ô mocinha! tudo bem? como vai você? mesmo sendo pessoa conhecida e... mas normalmente eu chamo de senhor/senhora...

independente da idade eu... a não ser que seja muito novo eu não chamo de senhor... mas não exijo que ninguém me chame de senhor...

porque eu acho que não há necessidade disso...-.outro item também a gente poder conversar aqui seria com questão às classes sociais...

eh... normalmente existe oportunidade de eu me reunir com pessoas de diversas classes... às vezes você está num local que... a classe

social é mais baixa... mas nem por isso vai deixar de conversar... você conversa e... tem amigos naquele local... conversa... são os

assuntos que normalmente já são um pouco mais diferentes... mas... de um modo geral... procura se entender com todo mundo

independente do nível social da pessoa... né? e... realmente como eu freqüento vários lugares... cada vez você encontra um... um tipo

de... de conversa diferente da outra... e às vezes até a forma das outras pessoas de se dirigir a você ou de você se dirigir a elas... né? às

vezes acontece de... de - normalmente as pessoas mudam assim... são um pouquinho diferentes...-com relação à música... realmente eu

dou preferência pela música popular... que nos traga alguma coisa de... de...interessante... e... normalmente eu ouço sozinho ou no

trabalho... aqui sempre tem gente acompanhando... em casa também sou de ouvir muita música... no carro... praticamente o tempo todo

eu ouço música... porque quando eu estou em casa eu estou fazendo alguma coisa e fazendo alguma coisa você dificilmente vê...

televisão... você acaba ouvindo música porque a música não te tira a atenção... agora... bom... normalmente a... a ... eh... o

entretenimento que eu realmente gosto de fazer ... mas que depende realmente de esTAR realmente com tempo disponível é acampar...

eu já acampei em serra... já acampei em costa... e... normalmente eu dou preferência pelas praias... apesar de ser um acampamento

pouco mais desgastante... cansa mais... você não tem... acomodação boa... sal... você fica salgado... você quer tomar banho e já é mais

difícil pra tirar o sal... e... normalmente quando você está na montanha... você sempre tem um rio... a água é limpa... você pode tomar

banho e ficar sempre... se sentindo melhor... né? com a água... o acampamento normalmente não é com um grande número de pessoas...

é grupo de no máximo cinco seis pessoas... e ali... a coisa que mais se faz é... conversar... realmente descansar um pouco... comer

bastante... normalmente a gente faz aquela churrascada de que começa de manhã... e vai até de noite...vira a noite e o tempo todo o

churrasco não apaga... muita cerveja... agora... de ginástica nada... realmente o negócio é conversar... comer e.. descansar um

pouco...e... normalmente a gente acaba levando dois três dias acampando... não mais que isso... e se for pra levar menos tempo

também... a gente não tem o costume de sair não... o... a última vez que eu fui acampar... eu fui pra... Lumiar... que é serra... perto de

Friburgo... estava um dia muito frio... até chuvoso... o que atrapalhou um pouco o camping pois que nós montamos a barraca... logo

depois choveu... a barraca ficou molhada... e isso desanima... no outro dia amanheceu com sol... quando a barraca estava seca... eu

aproveitei que ela estava seca... dobrei... voltei correndo... foi o camping mais rápido que eu fiz... foi um camping de vinte e quatro horas

só...e anteriormente eu tinha ido... à... praia (Amambucaba) e ... então eu levei realmente três dias acampado... foi três dias de sol... muita

gente no camping... então estava realmente animado...(você) conversa além das pessoas que estão na nossa barraca... você começa a

ter contato com pessoas de... de outras barracas...(já) são lugares diferentes... também acampei em Visconde de Mauá... que até hoje foi

o melhor camping que eu já fiz... o local é muito bom... as pessoas que freqüentam também... você lá tem uma infra-estrutura completa...

você tem alimentação... você tem área pra... lavar as...as suas coisas... seus...

AMOSTRA COMPLEMENTAR:Inquérito 23 (masculino / 33 anos) Tema: Vida Social e Diversões Local/Data: Rio de Janeiro, 2 de julho de 1996 Tipo de Inquérito: Diálogo entre informante e Documentador Documentador: C L

DOC. - É sobre futebol... descrever... como é que é uma partida de futebol... quais são os elementos... os componentes... estrutura... 

LOC. - Bom... descrever como é que é uma partida de futebol ((risos)) eu prefiro joGAR futebol... é melhor do que descrever como é que é

uma partida... 

DOC. - Você joga futebol há muito tempo? 

LOC. - Olha... eu jogo futebol desde que eu me entendo por gente... [ 

LOC. - [sempre foi uma grande paixão na minha vida 

DOC. - [ como é que você começou?        

DOC. - Como é que você começou a jogar futebol? Como é que você... começou a jogar futebol? 

LOC. - Olha... eu nasci e fui criado em Ramos... subúrbio da Leopaldina... e acho que praticamente todo filho homem que nasce em

Ramos ou em um outro subúrbio da Leopoldina ganha logo de presente do pai uma bola de futebol... a camisa do time do coração do

pai... que acaba sendo a extensão do time do coração do filho... e... desde que eu me lembro... desde garoto... eu me lembro que...

freqüentemente... nos aniversários eu ganhava bola de presente... eu jogava com meu pai... jogava com o meu avô... ele fazia... visitas

semanais... a minha casa... e praticamente com o meu avô que eu aprendi a... comecar a chutar a bola... e a ter interesse pelo esporte 

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DOC. - E até hoje você gosta de jogar futebol? 

LOC. - Até hoje eu adoro jogar futebol... 

DOC. - Mas é como hobbie... 

LOC. - É... na impossibilidade de praticar... o futebol... profissionalmente... a única alternativa que me resta é praticá-lo como hobbie... 

DOC. - E outros esportes que você conhece... que mesmo que você não pratique... 

LOC. - Eu acho que tem isso.. quer dizer... em geral todos os esportes me atraem... me agrada... mas de forma diferenciada... quer

dizer... alguns esportes eu gosto... por exemplo... de assistir... pela televisão... ou até... ir ao local específico pra assistir... mas não

tenho...[ interesse pessoal 

DOC. - [qual o nome do local 

LOC. - Bom... há esportes que são praticados em estádios... né... outros em... em clubes... em... em centros menores... mas o... enfim...

alguns eu gosto... de assistir... tenho um gosto geral por assistir qualquer esporte... mais... especificamente até pela televisão... e há

outros que me atraem a ponto de eu... querer... de gostar de praticá-los... e aí... essa referência já é mais restrita... porque a rigor o único

que eu gosto de praticar de fato... é o futebol... 

DOC. - E você entende de futebol? Qual a posição que você joga? 

LOC. - Bem... o que se diz geralmente é que todo brasileiro entende de futebol... não é? Algo que está meio... no sangue... eu acho que

sim... ou pelo menos tenho sempre uma opnião a dar quando eu estou vendo o jogo... tenho a minha avaliação dele... mais até do que

quando eu estou jogando... eu acho a situa/ nessa situação é mais difícil de se ter com relação à posição... eu jogo de meio-campista... 

DOC. - Quais são as outras posições que existem? 

LOC. - Olha... eu não vou designar uma por uma... mas... em setores... dentro do campo... ou da ocupacão do campo... você tem o

goleiro... que é fundamental pra defender lá o objetivo do esporte... que é o gol... e aí nesse caso específico sobretudo não permitir que o

adversário faça gol... você tem uma linha em geral formada por quatro zagueiros... que protege o zagueiro e dificulta ainda mais... essa

tentativa do adversário de fazer o gol... você tem o meio campo que é o responsável por fazer a ligação entre essa defesa... e o ataque...e

esse ataque é responsável... basicamente por tentar fazer o gol no time adversário... 

DOC. - E você assiste só futebol pela televisão ou você... vai aos... aos jogos? 

LOC. - É ... hoje em dia praticamente eu só assisto pela televisão... já não 

[ estou com tanta freqüência ao estádio 

DOC. - [Porque? 

LOC. - Bom... em primeiro lugar porque... o meu time do coração... não é um time que... freqüentemente esteja em boa situação nos

campeonatos... e me levando sempre a querer presenciar sempre as partidas do time... em segundo lugar... por questão de... de violência

nos estádios... e terceiro... a... em geral... os partidos... do campeonato estadual sobretudo... que é aquele que poderia acompanhar mais

de perto... já não estão... lá muito agradáveis... os times não estão muito bons... o nível do... do campeonato é relativamente baixo... que

somado ao preço do ingresso acho que não atrai muito a torcida... e particularmente não me atrai... 

DOC. - Agora... como é que se organiza o campeonato brasileiro... como é que... você sabe? Essas coisas assim... campeonato

estadual... como é que essa estrutura... 

LOC. - Bom... em princípio você tem campeonatos de dois níveis né... os ditos campeonatos regionais... que hoje se resumem... aos

estaduais...que são organizados pels respectivas federações estaduais de futebol... isso no decorrer de um ano... não é... e além desse...

você tem o campeonato nacional que esse sim... é organizado pela CBF... você vê que na verdadesão dois campeonatos nacionais hoje...

quer dizer... um mais restrito... de clubes de elite... clubes de... de grande torcida que... é... mais recente... a existência dele... e um outro...

mais tradicional... a copa... chamada copa do Brasil... que envolve... uma quantidade enorme de times até que... paulatinamente em geral

o que ocorre é que os melhores times os de melhor expressão... a nível nacional... é que acabam sendo mantidos até o final do

campeonato... mas a rigor são dois campeonatos nacionais hoje... sendo que... com esse campeonato... aliás eu não sei exatamente o

nome que dão hoje... eu sei que a copa do Brasil... é esse que envolve... praticamente todos os campeões e vice-campeões de todos os

estádios da federação... é hoje menos... valoriZAdo do que... uma outra copa que só envolve os clubes de ponta 

DOC. - E você vê algum problema assim no futebol do Brasil... nesses últimos anos... já que você gosta tanto... com relação a esses

campeonatos... com relação a... 

LOC. - Eu acho que o problema do... futebol no Brasil é como tantos outros problemas ou... ou está como outros problemas... vinculado...

à situação financeira... econômica do país... por exemplo... essa tal copa do Brasil que envolve os principais times é uam copa por outro

lado em geral deficitárias pra os clubes... porque... envolve times de menor expressão... a contrapartida da renda nos jogos não é lá muito

positiva... só na fase final do campeonato como eu disse... com a tendência dos melhores... times principais do Brasil... permanecerem na

competição é que as rendas em geral são maiorees... porque envolvem as torcidas de maior poder aquisitivo... eu acho que o grande

problema do futebol hoje... é o fato de que a situação financeira do país é deficitária e com isso... os clubes têm dificuldade pra se

manter... hoje em dia o jogador que desponta como... craque de bola... já no junior... ainda nos dezoito dezenove anos ( ) ser vendido

direto pro exterior... quer dizer... ele pouquíssimo tempo no Brasil... isso... essa dificuldade ... quer dizer... agora... eu acho que a

QUAlidade do futebol brasileiro é indiscutivelmente a... melhor no mundo... e se a gente tivesse um mínimo de... de organização... como

tem por exemplo... o basquete norte-americano... eu acho que nossa situação seria próxima à do time de... de basquete norte-americano

nas olimpíadas... quer dizer era... em qualquer competição internacional... seria possível entregar logo de cara a taça ao Brasil... e nós

seríamos infinitamente superiores... 

DOC. - e tem mais algum esporte que você... goste... que você tem eh... gosta de assistir... basquete... 

LOC. - Não... como eu disse... o futebol... aliás o esporte em geral me atrai... na perspectiva de ... de um espectador... né... por exemplo...

então se eu tenho um tempo livre... e se eu estou em casa... porque em geral esses esportes eu assisto pela televisão... quer dizer... o

que está passando... a princípio me atrai... a liga de basquete profissional norte-americano... até torneio de... de tênis... coisas desse

nível... eu acho que se o esporte é bem praticado... seja ele qual for... a princípio ele me atrai... eu assisto... mas assisto sobretudo em

casa... eu talvez tenha ido uma única vez a um estádio pra assistir um esporte que não fosse futebol... 

DOC. - E... quais os outros assim... tipos de divertimentos... coisas que você gosta de fazer... ligada a... à diversão... 

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LOC. - É porque futebol é uma... uma diversão mas também é uma profunda necessidade que eu tenho... quer dizer... é uma atividade

que pra mim é fundamental... agora... já... diversão... a idéia já é bem mais ampla... quer dizer... a princípio... estar em casa num dado

momento... lendo uma certa obra... é divertido também... né... como sair à noite... ir pra um bar... beber com um amigo... dançar... eu me

divirto até... agarrando e dando uns beijos na minha filha... 

DOC. - Eh... deixa eu ver... e assim... quais são as opções de divertimento que você conhece... assim na cidade que você vive... mesmo

que você não freqüente... 

LOC. - Olha... hoje em dia eu já não conheço tantas opções de divertimento assim... porque já nem tenho tanto tempo livre pra... pra

dedicar a isso... e por outro lado... minha mulher mantém também ali... em rédeas curtas... então eu já nem dá pra sair assim com tanta

freqüência né... mas como eu disse... em geral... como eu me divirto... quer dizer... quando eu saio de casa pra me divertir... ou com essa

intenção... eu saio pra jogar futebol... ou eu saio pra... pra encontrar com os amigos... num bar... por exemplo e beber... tomar um chope...

ou ir ao cinema... ou ir á praia... que é o que eu gosto muito de fazer... viajar nas férias... enfim... em geral é assim que eu me divirto...

mas... como eu disse... hoje eu já não tenho tanto tempo livre pra dedicar... à diversão... 

DOC. - E antigamente... como é que era... a... as opções de... de divertimento que você tinha... que você fazia... 

LOC. - [ antigamente... 

DOC. - [ as que você possa contar... da sua juventude um relato... alguma coisa... interessante... 

LOC. - Ah... sim... bom... porque antigamente a princípio é tempo mítico né... a gente não sabe exatamente como é... bom... com relação

a minha... infância... na minha juventude... na minha... na minha infância eu me divertia sobretudo brincando... né... a diversão era essa...

e aí era jogando futebol... soltando pipa... coisas que eu acho que gostava no mesmo nível... jogar futebol e de soltar pipa... relembro a

minha origem suburbana... essas duas referências são importantes... além da... das outras brincadeiras... quer dizer... quando eu era

garoto... as opções de brincadeira em geral não eram... muitas né... e eram meio que generalizadas... pelo menos no subúrbio... cada

brincadeira tinha a sua época... à execção da bola... que a gente brincava de bola o ano inteiro... a gente periodi/ tinha um período

específico... de soltar pipa... que em geral eram as férias de meio de ano... de final de ano... além disso... tinha o pião... que era logo

depois ou no iniciozinho... na retomada das aulas... a bola de gude... enfim essas brincadeiras... além do carrinho de rolimã... que a gente

gostava também... 

DOC. - O que você percebe assim... de mudanças... pelo menos alguma observa/

LOC. - Agora... não... faltou falar da juventude né... hoje o quadro na verdade mudou muito... mais uma vez como suburbano...

adolescente... eu continuava a jogar bloa na rua... pião já não rodava tanto... a bola de gude também... muito menos... mas aí veio um

quadro novo dos bailes né... de sair... com os amigos... à noite... pra ir pra os bailes... clubes... e na época da discoteca... que graças a

Deus... ( ) contemporâneo da discoteca... então... eu freqüentava também... todos finais de semana os clubes... 

DOC. - O que que você acha assim... em relação a... a hoje... mesmo que você não participe tanto... no que você observe em relação a

sua infância... e... ( ) no subúrbio... 

LOC. - Ah... eu acho que::: enfim eu tenho dificuldade de... de... fazer... de certa forma uma comparação... porque... a... o senso crítico

que eu tinha... quando era... criança... e até adolescente era comparável ( ) né... então eu não sei... por exemplo... a princípio me parece...

que pelo próprio desenvolvimento tecnológico... então em comparação... hoje a opção por brinquedo eletrônico... talvez seja muito maior

do que era na minha época... quer dizer na minha época eu me lembro do... do... autorama... que era uma coisa que eu queria muito ter...

e nunca consegui... ganhar... acho que provavelmente por razões financeiras... né... então eu acho que comparzativamente hoje... é a

opção... o recurso... tecnológico é muito maior... até pra... conforme o divertimento... agora acho que... além disso tem também uma

diferenciação financeira... a possibilidade... hoje... diferenciada também das pessoas terem mais acesso ao... eu percebo... por exemplo...

pela minha filha... tem opções hoje de... de... de lazer que eu não tinha na minha época... computador... um jogo eletrônico... agora... isso

também não quer dizer tenha sido generalizado... acho que certamente... se for aí... vamos dizer uma favela... sobretudo... até no

subúrbio... as crianças continuam se divertindo... basicamente jogando bola... soltando pipa... essas referências não se perederam... eu

acho que hoje... pra quem tem condição financeira... o leque de opções... é até muito maior... o que era entre alguns setores... ESSES

brinquedos... tradicionais... ou talvez sejam hoje os brinquedos mais vinculados... às classes mais pobres... né... acho que hoje as

crianças... de classes médias se divertem muito mais com... com vídeo-games... coisas desse tipo... do que... jogando futebol na rua...

agora a... situação da rua hoje... também está completamente diferente da situação da rua quando eu era criança... em Ramos eu ainda

morava quando... acho que até a minha adolescência vi... nas proximidades da minha casa... um jeito... campos... peladas diferentes né...

e hoje não existe mais nenhum desse jeito... e hoje a rua é muito mais movimentada do que era na minha época... então... talvez já seja

um risco muito maior jogar bola na rua... não sei... mas... quer dizer... acho que hoje o dado é... a tecnologia...à disposição da divresão...

mas também não é generalizado a ponto de ter... extirpado... e feito desaparecer as outras formas de... de diversão... 

DOC. - Agora... você acha que... essa coisa de... dos tipos de diversão... tem a ver também com... a localização... do bairro... você acha

que é como você estava falando... se mantém alguns tipos... 

LOC. - É... eu acho que... talvez... haja uma diferença de... de intensidade... vamos dizer assim... né... porque... eu fico imaginando o

seguinte... há... há situações... há locais... e... e até... classes específicas onde não há outra opção além daquela opção de brinquedo...

né... então uma pipa vai... prevalecer... a bola... nessas formas de... diversão com a criança muito mais barato... né... agora... por outro

lado... se você for ao condomínio da Barra... de alto poder aquisitivo... você também VÊ... criança jogando bola e... soltando pipa... eu

acho que é uma questão... é de aí de intensidade... eu passei a minha infância toda... onde brincar era... jogar bola... soltar pipa...

entendeu... não havia outra opção... não... não há... é questão mesmo de opção inclusive... talvez né... porque... àquela altura... eu talvez

pudesse me interessar por um brinquedo de outro tipo... mas não havia essa possibilidade... então eu acho que é mais questão de

intensidade... hoje as opções são muito maiores pra quem tem... uma situação financeira... razoável... e que permite ter acesso... a outro

tipo de... de opção... pra que não TEM... as opções... continuam a ser as opções tradicionais... 

DOC. - O senhor ainda não vê assim... por exemplo... principalmente com a situação da Barra... dos condomínios... as... crianças

brincando muito mais... fechadas... no condomínio... esse...tinha na sua época... o que você achou disso?

LOC. - Não... quer dizer... a dimensão do condomínio de hoje é a dimensão do bairro... quando eu era criança... né... quer dizer... esses

condomínios viraram talvez... até mais do que bairros... cidades... e se bastam... ou... pelo menos... se não se bastam completamente... é

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possível... a pessoa viver e com um nível de qualidade bastante alto... sem sair do circuito ali... da própria Barra da Tijuca... do shopping...

da escola... e por ali mesmo... e o próprio condomínio... mas... so condomínios têm um pouco esse caráter de ( ) na minha época... quer

dizer... é possível dentro do condomínio brincar... na rua... brincar nos parquinhos... no play/ no playgraund... quer dizer... o isolamento é

em relação ao condomínio e ao exterior... mas não ao interior dele... quer dizer... a ( ) está toda... na possibilidade de que... as crianças

nasçam e... e sejam formadas tendo... pura e simplesmente aquele referencial... que é um referencial de vida... mas ali dentro ainda há

uma... esfera de liberdade... que eu talvez... tivesse... também na minha infância... vamos dizer... a situação não era tão violenta... 

DOC. - E você acha que... se diz que as crianças criadas em condomínios só se divertem em shoppings... eh... sei lá... podem... viver num

mundo... numa redoma de vidro... não ter... não saber... o que se passa na realidade... o que você acha disso? 

LOC. - Eu acho que essa... essa realidade ela é... naturalmente multiforme... quer dizer... eu acho que... na perspectiva humanista... de...

o que serão essas pessoas... quando crescerem... que postura terão... que visão de mundo... acho que... a princípio... tudo leva a crer...

que não sejas lá muito positivo... a visão de mundo deles deve ser certamente muito restrita... muito vinculada àquela realidade mais...

direta e... quase ( )... que eles conhecem... né... agora... a perspectiva geral... eh... a relação das pessoas... com a... a realidade... a

realidade é bem diferenciada mesmo... quer dizer... eu acho que... se pode também... estar alheio a uma série de problemas... a uma

série de... de conflitos... e de misérias sem... estar isolado dentro de um bairro daqueles... não acho que... isso necessariamente... pode

ser sim uma experiência traumática... quando lá na adolescência se começa a ter a noção que o mundo não se reduz àquilo né...

AMOSTRA COMPLEMENTAR:Inquérito 12 (feminino / 27 anos) Tema: Cidade e comércio Local/Data: Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 1993Tipo de Inquérito: Diálogo entre informante e Documentador Documentador: M A

DOC. - Bem, então como eu falei pra você né, o tema vai ser cidade e comércio. Então, é ... você podia começar, por exemplo falando do

lugar onde você mora. se já mora lá há bastante tempo, por exemplo, é, se você vê diferença de antigamente quando você era menor,

como é hoje em dia. 

LOC. - Bom, eu moro na Tijuca, já há bastante tempo, bastante tempo, desde que eu nasci, né e, fica meio difícil de eu falar se eu noto

alguma diferença, porque, tudo bem até época de colégio, eu, freqüentava o bairro da Tijuca e depois fui eu comecei a fazer, a, cursar

faculdade, e eu já nadava aqui no Flamengo, quer dizer, ficou meio, altamente zona sul, quer dizer, quando eu, vou, às vezes, até até

fazer compra, praça Saens Pena assim, né, você pega, o local na Tijuca que você mais faz compras, é, sábado, que por acaso eu tô em

casa, mas geralmente, tô, ou venho treinar de manhã, ou então às vezes vai pra shopping, mais tarde. Então quer dizer fica meio difícil

comparar o comércio. Eu sou uma tijucana meio, não muito praticante né. (risos) quer dizer, eu até [ ? ] mas geralmente zona sul. Agora,

eu gosto da Tijuca tem tem pontos bons, tem tem pontos que são, meio perigosos como em qualquer lugar do mundo, eu acho que isso

não, muda muito pra lá. O pessoal fala que o, Rio de Janeiro é uma cidade violenta mas, a diferença é que a gente fala o que acontece

aqui, e em outros lugares por exemplo, Nova York, em determinados pontos é tão, violento quanto o Rio ou, de repente, até mais, e

neguinho aí nem comenta isso né. 

DOC. - [ ininteligível ] E, bem, e pra morar como é que você descreve o Rio? 

LOC. - Morar no Rio de Janeiro, na Tijuca, em outro lugar? 

DOC. - Na Tijuca, bom, praticamente eu só, freqüento mesmo pra dormir, né. Agora é um bairro que tem um comércio legal, tipo assim,

até parte do dia a dia, banca de jornal, padaria, supermercado, você não precisa, como em determinados bairros pegar um carro pra ir até

a padaria comprar pão. Se depender do serviço de entrega! E, deixa eu ver, vizinhança legal, não tenho nada contra, apesar dos tijucanos

de repente, ter um, às vezes o pessoal da zona sul: E, ah, aquele cara é tijucano! não sei o quê ( risos ). Não sei, não sei, aí olha assim:

Não! Você já é zona sul! ( risos ). Aí querem corrigir o erro mas não sei como é que... Não vejo nenhuma diferença marcante assim um

biotipo de tijucano, não consigo ver isso, e, deixa eu ver... pra morar, eu acho um bairro legal, tem determinadas ruas, agradáveis, apesar

de eu morar em plena Conde de Bonfim, a, três metros do chão, de frente, quer dizer, uma barulheira desgraçada, mas, me acostumei,

como qualquer um na cidade também, me acostumei, e não tenho muitos problemas não. 

DOC. - Você falou ... é do comércio assim, essencial, né, banca de jornal, padaria. E, em relação a outro tipo de comércio você acha que

existe um comércio especializado ou você pode comprar de tudo na Tijuca ou seja, por exemplo existem determinadas coisas que você

precisa sair pra encontrar. 

LOC. - Eu acho, de repente, acho acho que não, acho que não. Talvez alguns itens mais, determinados itens sofisticados, que que

necessitam de uma loja especializada, tipo, uma bicicleta importada, tá? Se você, aí tudo bem, você vai ter que ir, mas aí, sei lá, eu acho

que hoje em dia já tá bem diversificado, você, quando você tem shoppings, até inclusive na, que a gente considerava zona norte, né, tipo

Madureira, Méier, quer dizer, a Tijuca era uma extensão da zona sul que eu acho né, o pessoal considerava, além Tijuca, subúrbio. É a

imagem que eu tenho e, só que hoje em dia não, você tem o Norteshopping, amigas minhas trabalham às vezes em lojas assim. Aí tem

aquela competição né, de loja: Ah essa loja tá vendendo mais do que a gente, essa outra tá vendendo mais, e uma amiga minha

trabalhava numa loja, acho que do Rio Sul, ou no shopping, sei lá, um shopping da Barra, ou do Barrashopping sei lá, e ... : Pôxa, se a

gente não tomasse cuidado, o Norteshopping passava a gente. E realmente tem um... tá tá bem diversificado. Acho que é, ah com o nível

de renda, também, tem muita gente nesse que a gente chama de subúrbio, Nova Iguaçu, tal, tem gente que, conseguiu acumular dinheiro

nesses determinados pontos e, diversificar um pouco. Zona Sul não é mais tão zona sul, tá, e os shoppings, tipo, Plazashopping, Ilha

Shopping, esses troços levaram as grifes, né, lojas de grifes, pra outros lugares que, a princípio as pessoas achavam que não ia vender.

Então acho que, o comércio, não tem muito o que sair da Tijuca pra, pra, e de repente, eu saio da Tijuca até sem saber, porque de

repente eu: Ah, não, eu tenho que ir nessa loja que é na zona sul; Não, mas tem na Tijuca, às vezes até, nem sei : Ah, tem? Às vezes,

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nem sei, é... 

DOC. - E, vem cá, é, se você descrever assim, por exemplo, a arquitetura da Tijuca. Você acha que a Tijuca tem uma arquitetura diferente

de outros, ou até comparando com, mesmo comparando com outros bairros. Você poderia dividir a cidade em arquiteturas próprias de

determinado lugar? 

LOC. - Não sei, não sou muito, não é muito o meu forte isso não, mas, não sei, de repente a Tijuca é, a Tijuca é mais antiga, não sei,

talvez, algumas vilas, casas de vila, assim, mas não vejo, também nunca re ... sinceramente nunca reparei muito. Meu irmão daria de

repente até uma resposta melhor, mas, não sei, não sei definir a arquitetura da Tijuca, que aí confunde um pouco com o Rio Comprido.

Rio Comprido de repente cê tinha, Catumbi e, aí você tinha de repente uns sobrados, umas casas mais antigas né. A Tijuca já tem

bastante prédio, e assim a parte de altos, não sei, não consigo, diferenciar uma arquitetura, específica. Aliás, eu não vejo, com exceção

da Barra, né, que você tem aqueles, em geral, prédios baixinhos, né, é, mas, não consigo. Cê olha assim pra um lugar: Não! Esse aqui

tem cara de Barra. 

DOC. - Ah, é. Como é que é uma cara de Barra? 

LOC. - Cara de Barra, é uma rua barrenta, ( risos ) sem a rede de esgoto, mas com prédios, assim de luxo mas, não mais do que quatro

andares, três, quatro andares que é bem típico, né. Ou então aqueles condomínios de beira de praia com prédios monstruosos, mas

aquelas ruazinhas, todas de terra batida, levanta poeira e alaga quando chove mas, mas sempre prédios luxuosos mas baixos, ou então

aqueles condomínios mesmo. 

DOC. - Não tem, assim, nenhum bairro da cidade que você acha, é, tipo, assim, se você visse uma fotografia e visse: Ah, esse aqui tem

cara desse lugar! 

LOC. - Poderia até falar, assim, uma casa mais antiga: Ah tem cara de Catete, Cosme Velho, sei lá, mas ia ser muito chute ( risos ): tem

cara de ... esse, aquele e aí [ chutava] mesmo. 

DOC. - Ih, vem cá, é, você que já viajou né, com outra idade muito tempo faz que você saiu, e, tem algum lugar assim que você achou

ótimo? Ah, esse lugar é um lugar legal de se morar. 

LOC. - Tem, eu, hoje em dia eu consegui conhecer os três países que eu gostaria de conhecer, tá, é, Japão, Austrália e Canadá. É, o

Japão é outro mundo. É uma cultura completamente diferente, principalmente aqui no Rio de Janeiro, né, lá é, todo mundo muito ligado a

trabalho, é, pontualidade impera, entendeu, você vai numa fila de metrô o pessoal tá numa fila realmente, não tá naquele amontoado, que

nem aqui no Rio, e o cara fica parado e o Metrô pára exatamente onde você tá parado. Tem os locais marcados, é tudo por,

cronometrado, entendeu, o fluxo de de carros não tem, não é essa zona que é aqui no Rio, entendeu, é tudo, é é engarrafado, tem

bastante, que eu só visitei um a cidade [ nome da cidade ] , no Japão. Não cheguei nem, e Kioto, não fui até Tókio, mas a impressão que

você tem, é isso, que é uma cidade, é um país assim super-avançado mas que por exemplo em Kioto você tem aquela confusão da rua,

trânsito carro pra caramba, mas você tem aqueles castelos de imperadores antigos, não sei o quê. 

DOC. - Dentro da cidade? 

LOC. - Dentro da cidade, nossa! tem muitos castelos, templos, antigos e você entra assim aquela aquela calma de jardim japonês, que

você só vê assim pássaro, água caindo, escuta vento, então isso eu acho, eu acho demais, eu acho a cultura japonesa... Não gostaria de

ser japonesa, que eu acho que eles são muito rígidos. Eu prefiro ser uma brasileira que vai ao Japão, (risos) e você tem opção de sair de

lá quando encher o saco, mas, agora, é um país assim incrível. E, deixa eu ver, Austrália, uma vez me definiram Austrália como a

Inglaterra de bermudas, e, é um país assim, também um barato. Também não fui até Sidney, só conheci uma cidade [ nome da cidade ]

que é do lado oeste tá, é a única cidade grande do oeste, e, é uma das cidades que tem o melhor, melhor é, padrão de vida, ou seja uma

das melhores cidades do mundo pra se morar. Eu fiquei apaixonada pela cidade, sabe, tudo certinho. É uma cidade nova, tem mais ou

menos 1.200 mil, de habitantes, e, e, eu fui pra participar de uma prova, tá, e, a prova era num rio. O rio cortava a cidade ao meio. Então a

impressão era, mais ou menos como se você pudesse nadar na Lagoa Rodrigo de Freitas, tá, então o rio cortava a cidade e você tava

nadando ali, entendeu, quer dizer é, a prova, eu achei o máximo, tá, o pessoal de lá, o povo muito simpático, super acessível, quer dizer,

quando você vai num esquema desse de competição, você não tá vendo exatamente o dia-a-dia da cidade, você, realmente tá em contato

com pessoas que são, voltadas pro esporte ou tão ali já pra te ajudar, quer dizer, disfarça um pouco a cidade. De repente você pega, a

nata das pessoas, né, quer dizer, o lado mais, dia-a-dia, cotidiano, de repente, você perde um pouco, mas eu só tive boas impressões

sobre a Austrália. Achei, um país, fora parte de zoológico, entendeu, tinha a ver, animais que você nunca tinha visto: canguru, coala. Um

barato! Entendeu ... E Canadá, realmente, era um país que não sei por que me atraía, assim, achava legal porque era um país, é um país

desenvolvido mas que não é um país que, por exemplo, você é americano, tá, é um país super-desenvolvido mas se você, quiser ser

atleta, os caras [ ? ] tá ... eu não sei explicar direito, você, no Canadá, você pode ser o que você quiser mas os caras não vão te exigir

nada, é essa a impressão que eu tenho. se você quiser ser um campeão do mundo, eles vão te ajudar a ser um campeão do mundo, mas

se você quiser praticar natação porque você gosta, tudo bem, você praticar porque você gosta. Já nos EUA, acho que eles são

competitivos demais. Eles já, qualquer coisa o americano faz pra ser melhor, entendeu. O canadense não, é, eles dão, mas, ou mesmo

que não cobrassem, gostariam que você fosse um campeão, entendeu. É tudo voltado pra uma competição e no Canadá não, você já tem

o lado mais mais pelo social, mais relaxado, pelo menos, é a impressão que eu tenho. E, achei as cidades, assim, legais. Conheci o lado

francês, né, de Montreal, ali, algumas cidadezinhas, por ali, e o lado inglês, também. Eu acho engraçado que é um país que, de um lado

você fala francês, de outro você fala inglês e, quer dizer, o pessoal que fala francês tem que falar inglês mas eu conheci gente que falava

inglês que: Não sei falar uma palavra de francês! Quer dizer, não sei se eles vão se separar, Quebec ou não, tem um movimento lá pra

separar, até justifica mas é problema deles (risos) eles que se, que se entendam lá. 

DOC. - No caso, por exemplo tá, do Canadá, é, você visitou mais de uma cidade? 

LOC. - Tive, porque eu passei praticamente um mês, e, eu passei algumas alguns dias em Montreal mas tudo assim, tipo, no meio da

viagem. Eu cheguei a Montreal, aí fomos pra uma cidade seis horas ao Norte, [ ? ]l que é uma cidade pequenininha , só é, só fui parar

nessa cidade porque tive uma prova famosa (risos) que não me pergunte porque que tem essa prova famosa lá. Aí, depois fui pra, [ nome

da cidade ] que é uma cidade próxima a [ nome da cidade ], que é mais ou menos uma hora e meia ao sul de Montreal, aí quer dizer,

passei uma semana lá, aí depois voltei pra aquela cidade de [ Roberval?] lá em cima mais uns cinco dias lá, aí voltei pra Montreal, aí fui

pros Estados Unidos, Atlantic City, aí depois fui pra [ nome da cidade] que é uma cidade em Atlanta, entre [ ? ] e [ ? ], que é próximo às

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montanhas, e tem assim, tipo um parque, maravilhoso lá, quer dizer, principalmente pra gente que a gente vê neve fica babando né ( risos

) aqui no Rio, não tá acostumado, né? 

DOC. - Deslumbrado né ( risos ) 

LOC. - Oh! Neve! Aí é tanto que você sai tirando foto assim dos altos dos montes, assim das das montanhas, né, tudo com neve lá, aí

virou uma húngara que tava num, o pessoal da de prova né, virou uma húngara: Pôxa, você nunca viu neve? ( risos ) Aí eu falei: Não, já

até vi, mas é que a paisagem, assim, é diferente da paisagem que a gente tem no Brasil. Aí eu falei assim: Não, é porque a paisagem tá

bonita. ( risos ). 

DOC. - Eles devem achar um barato né? 

LOC. - É. 

DOC. - Mas assim, é, na cidade, por exemplo, o que que você viu, na cidade na organização da cidade que te atraiu, que você achou que

deve ser um lugar legal pra se morar? 

LOC. - Primeiro, o respeito com as pessoas, tá. Aqui no Rio, de repente a gente já tem um um preconceito contra isso, é tipo, assim: Ah

não, aqui no Rio nada funciona! Ou neguinho já vai na base da malandragem, já quer te passar pra trás, de repente alguns lugares até

funciona porque você, muitas vezes encontra boas pessoas por aí, tá. Agora, cê já tá com o pé atrás, né, e lá, até de repente porque por

você não conhecer, de repente lá tem tem tanta malandragem, quanto aqui, até que acho que não mas, tem bastante, ou seja, muito mais

malandragem do que você imagina, não é, você, ou os caras ficam com cerimônia com você ou ou você não percebe, não sei. Eu sei que

por exemplo, respeito a leis, nem que seja lei de trânsito, respeito com pessoas mais velhas sabe isso tem muito no Japão, muito, é. Aqui

no Brasil, neguinho, muitas vezes na família o cara vai ficando mais velho e, a família não quer saber, larga, você você não... Às vezes

tem o velhinho que senta na praça e você já... E, o velho vai encostar! Não sei o quê, de repente o velho tem uma cabeça super aberta,

super jovem. Deixa eu ver, o que mais. Ah, não posso falar muito de horários, porque eu sou super ... ( risos ) Pontualidade não é

comigo. 

DOC. - Ah, é? 

LOC. - Que mais? O que que chama atenção? À vezes, um pouco de ... respeito pela própria, pelo próprio país, sabe, você vê, às vezes,

numa olimpíada, o orgulho que, os caras carregam a bandeira americana, não sei o quê. Os atletas brasileiros também têm esse orgulho,

mas o povo mas, entendeu, o povo, só em época de Copa do Mundo que neguinho se junta mesmo, porque se não. 

DOC. - [ ? ] 

LOC. - É, e que mais. E, ou então agora, eu tenho que reconhecer, o brasileiro tá se politizando bem mais. 

DOC. - [ ? ] 

LOC. - Muito pela televisão, muito pela TV, com relação a a ao processo de impedimento do Collor, o que eu posso dizer, é o seguinte:

Passou essa série Anos Rebeldes na televisão né, e, coincidiu justamente com o horário, com a época que eu tava viajando. Então eu

não assisti essa série. E eu soube, pelo, lendo os jornais na Itália, eu: Que confusão é essa que tá no Brasil? Aí, uma amiga minha que

tava na Itália: Não, o Collor tá, vai rodar! Aí eu falei: Assim? Vão tirar!? O impeachment no presidente! Nunca vi isso! Nunca vi isso na

minha ... Porque eu não tava sabendo, você não tá convivendo o dia-a-dia do país, então, você olhava aquela notícia, você fica um pouco

chocado. Então, acompanhava muito de longe as notícias, e quando eu cheguei, eu falei assim, vi uma multidão de caras-pintadas,

pirralhada, né, na rua, molecada de quatorze, quinze anos, eu falei assim: Que isso, isso nunca aconteceu no Brasil, não tô entendendo

isso. Aí, o pessoal: Não! Mas é a moda agora! ( ? ) Eu falei. E realmente dessa vez eu consegui, notar bem claro com, a influência da

televisão, tá. Eu acho que essa série teve uma participação muito grande no, em todo processo político e tal. Tem o lado bom, tá. Eu acho

que o brasileiro, a gente tem aquela fama de acomodado, de, de não participar, você chega, por exemplo, na Argentina, o pessoal já é

bem mais politizado, sabe, desde a época do estudante até ... cê vê a própria conversa com as pessoas você já nota que o pessoal tem ...

Muitos países da América do Sul, de repente até por causa da da ditadura mais forte, aqui no Brasil o pessoal era mais, não sei, não sei

explicar porque o povo é diferente. 

DOC. - ( ininteligível ) 

LOC. - É, é meio acomodado. Pô tá tudo bem, não tô nem aí, mas, tá mudando! E eu acho que, acho que é isso é ... é muito bom, é,

vamos ver como é que fica eu espero que não saia com quebra-pau. 

DOC. - (ininteligível ) 

LOC. - Exatamente e que não, daqui a pouco vem uma série ou que não não tem nada a ver com, sei lá, moda japonesa aí o pessoal só

vai, esquece a política e vai ver, vai se fantasiar de roupa japonesa pela rua, não sei. 

DOC. - ( ininteligível ) 

LOC. - É. 

DOC. - Mas, bem. 

LOC. - Que mais? 

DOC. - Eu queria que você falasse mais assim, se você idealizar né, a cidade que você gostaria de morar, como é que seria essa cidade,

como seria organização, serviço... 

LOC. - Idealizar? Bom, primeiro, tipo assim, eu monto a cidade que eu gostaria de morar, né. 

DOC. - É. 

LOC. - Com praia, tá, limpa, lógico, ah ... sendo cortada, engraçado, sendo cortada por um rio, acho que aqui no Rio de Janeiro a gente

não tem um rio assim que cê possa... 

DOC. - ( ininteligível ) 

LOC. - É, não tem assim, um rio que, eu lembro que a primeira vez que eu nadei num rio, eu achei, quer dizer, vi aquela quantidade

imensa de água, cai n’água aí senti: Pô, cadê o sol? ( risos) Não tinha sol, entendeu, aí depois, hoje em dia eu já me acostumei, mas,

lago, também acho bonito, toda essa parte natural assim, ah ... que mais? Hum ... uma cidade limpa, tá, que o cidadão, que as pessoas

que ( que) moram nessa cidade teriam, tipo assim, um cuidado todo especial em manter a cidade limpa, tá, não é você, tomar um picolé e

jogar papel no chão, tá, é um péssimo hábito que a gente tem aqui e ... que mais, uma uma cidade, basicamente casas, não gosto muito

de prédios, prédio pra mim tem cara de, que, aqui no Rio a maioria das pessoas mora em prédios né, São Paulo, geralmente o pessoal

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mora em casa, ah, tá mudando um pouco, mas, é, São Paulo é uma cidade mais, esparramada, assim, o Rio de Janeiro, o Rio de Janeiro

tem mar de um lado e morro do outro, então, as gente teve que crescer pra cima, São Paulo é uma cidade, pelo menos a impressão que

eu tenho né, mais esparramada, então, você, eu conheço bastante gente que mora em casa, aqui no Rio não, geralmente o pessoal mora

em apartamento. Lá em São Paulo, a maioria dos meus amigos mora em casa. E, deixa eu ver que mais que teria na cidade. 

DOC. - E por que é, a casa é melhor que apartamento? 

LOC. - Não sei, eu acho que, primeiro pelo, lance de espaço. Imagina uma casa com gramadinho, na frente e tal. Gostaria de ter gramado

sem muro, que nem aqueles subúrbios americanos de cidades pequenas né, porque grande não dá, ah, tudo bem, na hora de sonhar, a

gente sonha alto. É, deixa eu ver, sem grandes problemas de violência. Eu acho que é um problema, muito sério e você, hoje em dia,

dirigindo um carro, você, eu, pelo menos, sou assim, paro no sinal, você não tá, passeando pela cidade, você não consegue passear. Cê

pára no sinal, você presta atenção se tem pivete, se tem alguém olhando meio suspeito, se você tá sendo seguido por algum carro,

entendeu, então... 

DOC. - Neurose, né. 

LOC. - É, bem neurose e, eu gosto quando eu viajo por causa disso. Você relaxa um pouco, tá. Eu vou lá fora, aí você entende porque

que que o turista age, da maneira que ele age aqui no Brasil. Você, quando você viaja, você passa a ser turista. Então você começa a

fazer coisas que você nunca faria no Brasil. 

DOC. - Você imagina que lá não tem perigo nenhum! 

LOC. - É, e tem. É pode até ter de repente tem, você vai pra Nova York tem. 

DOC. - [ ? ] 

LOC. - Pô entra entra num bairro, por exemplo num bairro negro nos EUA, por exemplo, pô, então, tá ( risos ) é brabo, aí, então tipo assim

andar com máquina fotográfica, ou com uma roupa, de verão, assim que você olha: Pô, aquele cara é turista, cara! ( risos ) Aí, você

quando viaja, você entende porque, o cara age daquela maneira. Você tá de férias, não tem, não deve satisfação a ninguém. Ah, deixa eu

ver, que mais, o que que cê tava perguntando? Como seria a cidade ... 

DOC. - Como seria a cidade, em termos, assim, de serviços, né. 

LOC. - Serviços. 

DOC. - O que que tem que ter pra cidade funcionar, o que que você acha que é essencial? 

LOC. - Bem, limpeza, tá, ah, pelo trauma, pela neurose que a gente tem de, de segurança, serviço, assim, de policiamento, segurança, e,

até serviço hospitalar também, né, segurança com relação à saúde. No caso de um acidente, você ter, tipo, anjos do asfalto, esse negócio

assim. É, se você tiver numa situação de emergência, você vai ser, você vai ter um atendimento de emergência, tá, não é que nem aqui. 

DOC. - Realmente, emergência né. 

LOC. - Que tem que ficar na fila, tá todo quebrado, você tem que ficar na fila do hospital que tá em greve e o cara não vai te atender é,

quer dizer, essa essa parte de assistência médica também. Deixa eu ver, opções de estudo, assim, escolas, basicamente escolas porque,

aí depende do contexto que que a cidade tá. Se você tiver uma cidade, próxima a uma cidade grande, você de repente nem precisa se

preocupar muito em ter uma, um grande centro universitário, sabe, cê, sei lá, por por exemplo na na cidade que eu tive, na parte, inglesa

do Canadá, era uma cidade muito pequena, a cidade tinha o que, uns cinco mil habitantes, sei lá, um negócio desse, entendeu? Quando

eu falei: Gente no cadastro do do Flamengo tem cinqüenta mil sócios ( risos) entendeu, os caras ficaram assim, não tinham, condições de

pensar. 

DOC. - Não têm referência, né. 

LOC. - É, não tem referência, mínima referência, você coloca as cinco mil pessoas aqui na arquibancada do Flamengo, a cidade inteira,

cê anda a pé e conhece todo mundo. E realmente, lá só tinha, duas cidades. Ah é, por exemplo, o pessoal no Canadá reclama muito da

parte de impostos, tá, eles pagam muito imposto, tipo até os estrangeiros mesmo, tudo que você compra, ou consome, você paga, acho

que quinze por cento de desconto, de de imposto. 

DOC. - Nossa! 

LOC. - Quinze por cento. Sendo que pros pras pessoas que moram, de repente, esse imposto chega a vinte, sei lá. Só que tem o

seguinte, você tem, você vê esse dinheiro do teu imposto sendo aplicado, é, em restauração de rua, você não tem as ruas esburacadas

que tem no Rio, você tem, se você passa mal, você tem o serviço hospitalar, é, público que você pode freqüentar, não é que nem aqui no

Brasil, que você, praticamente tem que ter um convênio médico, alguma coisa, tá, que, se realmente, se você, se acontece um acidente

de carro, que você, coisas que podem acontecer e você não tiver um, ou uma família rica ou um convênio, tá morto! Só de operação, de

anestesia, você vai, morrer numa dessas, e se ficar dependendo de Miguel Couto, de outras coisas, você tá realmente perdido. Então,

gosto de cuidar da. 

DOC. - ( ininteligível ) 

LOC. - É, e, que mais, por exemplo é, as crianças tinham, tinham basicamente duas escolas, uma a nível de, matr ... duas a nível de

maternal [ ? ], uma mais próxima da outra e tal, e uma, acho que até, primeiro grau, não sei, agora, realmente, a Universidade que, mas aí

era uma cidade entre [ nome da cidade] e [nome da cidade], quer dizer, duas cidades grandes, e você tem as universidades, lá, então

você pode... 

DOC. - era perto mesmo. 

LOC. - Era perto, era, mais ou menos, a uma hora e meia, duas horas das, quer dizer, até, até, poderia morar na cidade e. 

DOC. - ( ininteligível ) 

LOC. - É, ou então ficar fim-de-semana só. Deixa eu ver, que mais, que mais que eu gostaria de ter numa cidade, sei lá, não me lembro

mais. 

DOC. - E, vem cá é [ ? ] teve alguma cidade que você visitou [ ? ] 

LOC. - Bom, Japão é completamente diferente, lá, é, e é engraçado porque você tem esses, que eu te falei, principalmente em Kioto, que

era a antiga capital do Japão, você tem esses templos, lado a lado em prédios e ruas de comércio, ruas de pedestres, só de comércio,

com, aqueles letreiros luminosos, aquelas, bem cara assim de, se, de [ ? ], aquele bairro que tem, deixa eu ver. 

DOC. - ( ininteligível ) 

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LOC. - Oh, por exemplo, o maior que tinha, lá, era um que era a antiga residência do Shogún, Shógun, eu não sei como é que se

pronuncia lá, é um lugar enorme, você entra, tem aqueles portões, assim, grandes. Outro dia eu peguei aquela fita daquele filme, Ran, de

Akira Kurosau, Akira Kurosawa né. 

DOC. - É. 

LOC. - E, é impressionante, você, você, ... você se sente mínimo diante dos negócios, os negócios são imensos, né, e lá você tem o

castelo do cara , por exemplo, tem jardim, tá, com lago em volta e tem o castelo, e um detalhe que eu achei interessantíssimo, que, ele é

basicamente madeira, tá, usam muita madeira, aí, você vai visitar lá dentro, você tem que ficar de meia né, não pode entrar de sapato, fica

de meia, aí você começa a andar, e engraçado que, o, as próprias residência, principalmente antigas, né, do Japão, você não têm mobília

né. Aqueles são espaços vazios, a cama é uma, um colchão que você abre assim, um pano que você abre, até naquele filme, o Japão

bem antigo né, e, engraçado que, por exemplo, nesse castelo você andava, aí você como ele era todo de madeira, você ia andando e o,

aquele barulho de madeira rangendo né: Pô, porque é velho não sei o quê, aí de repente, tem, que tem um, a gente passava, assim, e

iam falando: Essa aqui era sala de reuniões, sala de cerimônia do chá, não sei o quê, então tinha uma que falava assim, que, os ruídos do

chão dos corredores não era de, de, sem querer, é, tinha um propósito, era um propósito, era por motivos de segurança porque ninguém

ia entrar no castelo sem ser notado à noite, e depois cê caminhar, quer dizer, eu achei, interessante pra caramba, é... 

DOC. - [ ? ] A madeira tá velha! 

LOC. - Você: Pô, tá velho, o cara não tá cuidando! (risos) quer dizer, os caras pensam em tudo, e, e é engraçado que você entra, você,

sente uma paz assim, muito tranqüilo assim, só japonês também pra conseguir fazer de pedra, um jardim bonito né. E realmente o

negócio ficou bonito, aquela água correndo num canto, plantinha, paciência que eles têm pra, cuidar da planta, fazer aqueles, é, banzai

né, aquelas árvores miniaturas, e têm anos. No Canadá tinha uma, um Jardim Botânico em Montreal, fui visitar, e tinha o, o Jardim

Japonês e tinha o Jardim Chinês. Aliás, o Jardim Japonês, eles, podia ser bem melhor , mas o Jardim Chinês eles capricharam, tá muito

bonito, tinha essas banzai né. 

DOC. - Era diferente, o chinês do japonês? 

LOC. - Oh! Eu nunca tinha entrado num chinês, o japonês já tinha entrado, por isso, por isso que eu achei o japonês meio fraco. O chinês

tava, o chinês tinha mais o quê, tinha, tinha uma, tipo queda d’água, inclusive tinha um prospecto que, falava. 

DOC. - ( ininteligível ) 

LOC. - É, até a Casa da Dinda fica, fica bem pior! Melhor do que a Casa da Dinda [ ? ] Acho que os caras gastaram, dez milhões de

dólares, sei lá, um negócio desse, pra construir o, com o material, vindo da China mesmo, mas é maravilhoso o lugar, e, preocupação que

eles têm também com planta, esse negócio todo. Aliás, de repente é preocupação até, a gente de repente acha que é demais, mas. 

DOC. - É? 

LOC. - Sei lá. 

DOC. - Em todo lugar tem um ... 

LOC. - Não, todo lugar tem, eu lembro que, é quando eu fui pra essa competição no Japão, foi em 85, e, o lugar que a gente tava era ...

AMOSTRA COMPLEMENTAR:Inquérito 15 (feminino / 27 anos) Tema: Vida social e diversão Local/Data: Rio de Janeiro, 24 de junho de 1996 Tipo de Inquérito: Diálogo entre informante e Documentador Documentador: M L S

DOC. - você tem muitos amigos? como é que é tua vida social? como é que é teu grupo de pessoas? costuma sair muito? eom muitas

pessoas? e pra onde você.... 

LOC. - bom... não tenho muitos amigos aqui no Rio... 

DOC. - não... 

LOC. - não tenho... e quase não saio... quando eu saio... normalmente eu vou ao cinema... ou então eu vou ao teatro... ou vou...

ao shopping. 

DOC. - (você gosta?) 

LOC. - normal/ normalmente é um desses... desses três lugares que eu vou... cinema...teatro... shopping... de vez em quando eu vou a fe/

ah... também eu vou muito no... nas reuniões de Rotary... também nas reuniões sociais do Rotary... eh... é... o clube... aí lembrando agora

do Rotary... lá tem bastante gente... né e tal... a gente conversa muito... normalmente são o almoço e os jantares... e a gente passa o dia

inteiro... quando assim... a gente faz né... a gente faz normalmente num sábado ou num domingo... e a gente se reúne e fica o dia inteiro

ali... fora isso... uma vez por semana eu almoço com outras pessoas do Rotary... né... sempre... toda semana...e tirando eles (viu)... só

mesmo cinema... shopping e... e teatro... aí.. 

DOC. - (?) sozinha? em grupos... 

LOC. - não. sempre eu e o Ângelo... eu e meu marido... (sempre) 

DOC. - (Vão com casais?) 

LOC. - não... não vamos não... 

DOC. - e lá? lá em Cambuquira? 

LOC. - ah... Cambuqui/ era difícil sair só... só duas pessoas... lá em Cambuquira não tinha muito porque... eu acho que é porque a cidade

é muito pequena e não tinha nada pra fazer... então pra aparecer alguma coisa... as pessoas tinham que se reunir em qualquer lugar de

alguma forma né? então dificilmente saíam só duas pessoas... normalmente era em grupo... que a gente... ia pra barzinho em grupo ou

então ia pra outra cidade... ia pra um show... mas normalmente sempre em grupo... 

Page 15: AMOSTRA COMPLEMENTAR Nurc Rj Transcripciones

DOC. - (?) 

LOC. - não... TER nunca tinha... mas a gente sempre dava um jeito de criar alguma coisa... no... no mínimo ficava em casa vendo

televisão... comendo pipoca... assistia até jogo na televisão por falta do que fazer na cidade né? mas sempre... sempre se reunindo com

alguém ...eu ia pra casa de alguém que tinha piscina... ou totó... qualquer joguinho mesmo... desses de imaginação... ficar fazend isso... 

DOC. - e vai sempre em grupo? 

LOC. - sempre em grupo... sempre em grupo... 

DOC. - você sente muita diferença nas atividades de lá e daqui? (?) 

LOC. - é... o ideal é que houvesse um pouquinho dos dois né... por que por... lá por exemplo eu me sentia... aqui é bom... eu gosto muito

porque aqui tem cinema... tem teatro né... eu adoro teatro... e lá não tinha... lá tinha ... teatro era pracinha de colégio uma vez por ano...

final do ano... alguma coisa assim desse tipo né...normalmente não tinha nada... mas... por outro lado... aqui a gente não tem aquele

convívio que a gente tinha com as pessoas lá né? era uma coisa mais... mais aberta... aqui as pessoas são muito fechadas... é... assim

depois que você entra no grupo... é tudo mais fácil né... e aqui não... aqui a gente fica nessa de shopping, cinema, teatro... às vezes

barzinho... aí é chato... porque só duas pessoas né... é bem chato... 

DOC. - e vocês lá em Cambuquira... não tinha cinema... não tinha teatro? 

LOC. - não... lá não tem cinema... não tem teatro... a cidade mais próxima que é Três Corações...o cinema virou Igreja Universal... aí pra ir

ao cinema a gente tinha que ir à Varginha mas são quarenta quilômetros de Cambuquira da Varginha... então não é... não era sempre que

dava pra ir né... porque é longe... depois você voltar de lá à noite dirigindo... a estrada não é muito boa... não é bem sinalizada... né...aí

não... era difícil a gente ir... pra falar a verdade... eu acho que eu nunca fui ao cinema em Varginha... morei lá cinco anos e acho que

nunca fui ao cinema lá... 

DOC. - (?) 

LOC. - os shows eram em Varginha ou em Três Corações... de qualquer maneira... a gente tinha que sair de Cambuquira... no

Cambuquira não acontecia nada... Três Corações tinha shows no ginásio... quadra esportiva de lá... aí os cantores vinham daqui do Rio...

de São Paulo fazer os showslá... mas como eu estudava lá né... ficava fácil... em Varginha também... em Varginha também

tinha... shows assim uma ou duas vezes ( três vezes ) por ano... shows bons né... 

DOC. - você... (?) 

LOC. - não... ãh... a minha faculdade... a... a minha faculdade era uma continuação do exército... porque lá tem a (?) né... e o... presidente

da minha faculdade era militar e o coordenador do meu curso era militar... os meus professores eram militares... então o único evento que

eles permitiam que a faculdade participasse era da feira de exposições que era em agosto... feira de gado né... exposição rural... feira...

feira rura/ rural, que era em agosto... aí... a faculdade tinha uma barraquinha lá... mas mesmo assim era super controlado pelo...

coordenador do curso... ele ficava no pé pra caramba... ele anotava o nome de quem ia de quem não ia... tinha tal... lá um tal de

caderninho que era a lista negra... então se ele saísse e visse o aluno lá num barzinho sentado... já ia o nome dele pro caderninho... ele

pegava no pé o resto do curso.... Então a faculdade não se movia... nada nesse sentido... nem a nível cultural... nada... nada... nada...

nada. 

DOC. - (?) 

LOC. - é bem militar... 

DOC. - (?) 

LOC. - não... a faculdade lá em Três Corações... era Fundação Tricordiana de Educação... então... lá tinham várias faculdades...

faculdade de odontologia... faculdade de letras... psicologia... filosofia... história... uma porção de faculdades... 

só que todas da Fundação Tricordiana... então... o presidente era um só e não havia esse intercâmbio do nosso curso com outros

cursos... o... o nosso curso era assim... um curso... os outros cursos entre si até... havia... mas o nosso curso não... era um regime muito

fechado com relação ao curso de odontologia... e... as outras faculdades das outras cidades também não tinham contato nenhum com a

gente... 

DOC. - (?) 

LOC. - não... não... vi (?) do Rotary aqui no Rio até mesmo por causa disso... porque não saía né... não tinha... eh... vida social

realmente... aí eu entrei pro Rotary... porque lá tem muita gente... e lá toda hora tem um inventando alguma coisa... toda semana a

gente... 

DOC. - (?) 

LOC. - ah... agora em jun... em junho... por exemplo... teve uma convenção em outra cidade... então vai... eh... vai Rotary do Rio de

Janeiro todo... pra estas cidades que são de Friburgo... aí lá... a gente acaba conhecendo gente assim... de tudo que é canto do Rio

né...que a gente nem imaginava conhe/ pudesse conhecer... às vezes gente até que mora perto da gente... aí é o maior (tumulto)... e é...

todo mundo ali... aí... promovem palestras durante o dia né... dessa vez foi pales/ palestra com o ministro Dorneles... foi palestra com a

Denise (?) palestra com o Paulo Goulart... com pessoas da sociedade né... a Denise é advogada né... a respeito do... o ministro Dorneles

foi basicamente a respeito da política né... a Denise a respeito da injustiça das mudanças que estão havendo nas leis né... e o Paulo

Goulart falou sobre família... 

DOC. - com relação ao Rotary... qual é alguma das atividades... fora palestras... que vocês costumam fazer juntos? 

LOC. - juntos? 

DOC. - ou separados... alguma das atividades... 

LOC. - ó... aí... então... nessa... nessa vez em Friburgo... durante o dia eram palestras... e a noite... tinha baile né... tinha eh... jantar de

confraternização... e sempre todo mundo junto né... Aí... às vezes... tem final de semana por exemplo... final de semana retrasado... teve

uma reunião na casa dum companheiro... aí passa o clube... o nosso clube... era uma reunião só do nosso clube... aí passa o nosso clube

lá todo o dia inteiro... lá brincando... conversando né.. resolvendo algumas coisas também que tinham que ser resolvidas né... e nesse

domingo agora... teve um (fórum) na casa de um outro companheiro de um outro clube... aí nesse caso já foram três clubes... foi o meu

clube... e mais três outros clubes... ao... ao... na verdade foram quatro clubes né... só que aí nesse caso foi uma palestra a ser... eh... a

respeito de serviços que a gente tem que prestar à comunidade né... que tinha algumas coisas pendentes ainda pra resolver... e depois

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então... que chegou-se à conclusão do que seria feito por essas quatro comunidades... teve a confraternização... que se... que... aí é

brincadeira né... a gente fica conversando... tem música... bate-papo... é isso... 

DOC. - e mas... vocês vão pra lugares fora deste centro... vocês vão pra casa das pessoas...? 

LOC. - é... nós vamos pra casa das pessoas... às vezes nós nos reunimos em restaurantes... às vezes em clubes... 

DOC. - não se restringe à... 

LOC. - a... um lugar não... não... os almoços são sempre no mesmo lugar... até pra poder facilitar as pessoas que venham visitar o clube...

de saber onde estamos... então o almoço toda quarta-feira é sempre no mesmo lugar... agora... as palestras... as convenções... os

fóruns... não... aí a gente elege um local... que esse ano foi em Friburgo... ano que vem já foi determinado que vai ser em Caxambu... a

próxima convenção... e cada vez é num lugar... 

DOC. - e é no centro... as convenções? 

LOC. - é num hotel... num hotel de convenç/ que tem no centro de convenções bem grande lá... aí... mesma coisa... reúne todos os

Rotaries do Rio... é num hotel... num hotel de convenç/ que tem no centro de convenções bem grande lá... aí... mesma coisa... reúne

todos os Rotaries do Rio de Janeiro e vão pra Caxambu... e passam uma faixa de três a quatro dias lá né... e... mas... fora isso os fóruns...

sempre é na casa de alguém... cada vez vai ser na casa de um... 

DOC. - e vocês combinam assim de ir ao cinema? 

LOC. - ah... tem o tal do clube do uísque do qual eu não faço parte porque eu detesto uísque... então as pessoas toda sexta-feira vão pro

clube do uísque... ficam lá de noite até tarde... batendo papo... 

DOC. - hum... mas só vai quem bebe? 

LOC. - não... vai quem quer. Só que eu não gosto de uísque, eles ficam lá bebendo uísque... bebendo uísque... bebendo uísque... daqui a

pouco está todo mundo bêbado. Aí eu não vou. Eu prefiro ir no... nos outros. Mas fora isso, a gente às vezes se reúne pra ir à cinema...

junta dois ou três vai pro cinema. Ou tem uma festinha, aí chama vai também entendeu? Eventos assim de... de shows... tipo no

Metropolitan. Aí junta todo mundo e vai pra lá...(?)... ahã... vai pra lá. 

DOC. - com relação a cinema... qual o tipo de filme preferido? 

LOC. - comédia... comédia... sempre comédia... não gosto de ver filme de guerra porque eu fico tensa o tempo todo... já basta a tensão

nervosa que eu passo no meio da rua... não gosto de romance nem drama porque a gente chora do início ao fim... e... normalmente eu já

choro todo dia... então eu não vou chorar também no cinema né? eu quero um negócio que me faça rir bastante...(?) o meu fígado... então

eu só vou pro cinema pra assistir comédia... 

DOC. - e teatro também? 

LOC. - teatro? não... teatro não... teatro já é mais difícil você... assistir só comédia ou assistir só né... uma coisa assim... mesmo porque...

o teatro eles pincelam um pouquinho de cada coisa no espetáculo até mesmo pra não massacrar muito a pessoa né? mas se eu ver que é

uma peça muito pesada... aí eu não vou não... estou mais pra Miguel Falabella do que pra... Fernanda Montenegro... 

DOC. - e shows... tipo de música? 

LOC. - ah... música tem um...um gosto bem eclético né... tem aqui desde o Renato até Nelson Gonçalves... então com relação...

tirando funk eu não gosto de funk... não tem muito problema não... normalmente quando eu vou a showolha... eh... showassim ... bem

popular mesmo... tipo Lulu Santos...eh... Engenheiros do Havaí... Titãs... os outros shows... das músicas que... dos cantores que eu

gosto... já é mais difícil ter... ter aqui no Rio... lá em Minas gerais era mais fácil eu ir... por exemplo... à show de ... agora esqueci o nome

dele... aquele de olhinho azul... 

DOC. - Flávio Venturini? 

LOC. - Flávio Venturini... esse pessoal... eh... Marcelo Borges...(Lô Borges)... então é mais fácil ter lá. Aqui... eu nunca vi o Flávio

Venturini fazer um show aqui no Rio... o (Lô Borges) nunca vi. e... mas tem também o... por exemplo... o Caetano Veloso eu não gosto

não... eu acho aquela voz dele muito chata... eu gosto das letras dele... mas não gosto da voz dele... Chico Buarque também nem pensar

porque eu detesto Chico Buarque cantando... parece um bêbado no microfone... não gosto também... gosto muito do que ele escreve...

acho muito bonito... mas não gosto dele cantando... aí fica mais difícil... aí só dá pra ir à o que mesmo hein? assim... música bem popular

mesmo né? (Lulu Santos) gente que... show que... eu possa sair pra gritar... pular... fazer bagunça... entendeu? aí eu estou... eu vou.... 

DOC. - você tem ido? 

LOC. - fui... fui... o último que eu fui foi lá no Metropolitan... fui ver o show do Ney Matogrosso... só que ele estava calminho... não estava

agitado... fiquei tão triste... eu gosto de ver ele rebolando... e fui ver o show também do... Jô Soares no Metropolitan... ri demais.... tem

um... tem uma peça... um... um pedaço do show dele que ele fala da cadeira de dentista... ele fala do dentista que é igualzinho o que

acontece no consultório... mesma coisa... e o do Lulu Santos... o último de cantor que eu vi foi o do Lulu Santos lá no Metropolitan... 

DOC. - e... você gosta de show de humor? 

LOC. - gosto... humor inteligente eu gosto... fui no Nelson da Capitinga não gostei... fui naquele... Ari... Ari Toledo... Ari Toledo foi bom...

eles têm umas piadas inteligentes... você tem que parar pra pensar... pra depois achar graça... gosto sim... o Nelson da Capitinga eu não

gostei não... eu achei ele muito indecente... só fala bobagem... aí eu não gostei não... não é inteligente... não é um show inteligente... não

é um humor inteligente... é... (?)... eu não gosto... e o Jô Soares eu... 

DOC. - você pode fazer uma comparação? tipo de shows... tipo de piadas... 

LOC. - é... o... é... por exemplo... o Nelson da Capitinga... ele interpretava vários personagens né... se vestia de mulher... se vestia de

velho... disso... daquilo... o Jô Soares era O Jô Soares contando várias situações né... e o Ari Toledo era ele com um violão contando

piada... só que coisas inteligentes não... coisas bobas... sem nexo..(?) demais. 

DOC. - (?) 

LOC. - tinha... tinha sim... foi até lá que eu vi o Nelson da Capitinga... o Ari Toledo... eu vi lá... aqui no Rio eu só vi foi o Jô Soares...

Carvalhinho... Ari Fontoura... eu acho que só... 

DOC. - (?) 

LOC. - você quer que eu faça uma comparação... que eu diga o que era melhor? 

DOC. - (?) 

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Ó... lá... a diversão lá um Cambuquira era basicamente você reunir as pessoas... ir pra um lugar e lá você dá um jeito de fazer alguém

virar palhaço pra você rir né... com os teus amigos né... todo fim de semana... às vezes até mesmo durante a semana né... e aqui no Rio

não tem isso... aqui no Rio você tem que sair de casa... você tem que ir pra um shopping... você tem que ir pro cinema né... então às

vezes eu prefiro lá... mas lá eu sentia muita falta do cinema... do teatro... que lá não tinha nada a esse nível... quando chegava algum

filme lá... era filme que já tinha passado aqui na cidade um tempão... e não era na cidade né? então essa comodidade de você ter eh...

um cinema perto... um teatro perto... um shopping onde você possa fazer tudo isso como lá perto de casa tem... eu vou ao cinema de

tarde... vou ao teatro de noite... saio do teatro e janto... tudo no mesmo lugar... eu acho muito cômodo... muito prático né? e lá mesmo

você querendo reunir alguém você combina lá... no tal lugar... tal hora e vai todo mundo junto pro cinema... vai todo mundo junto pro

teatro... depois vai todo mundo junto dançar... ou jantar né... alguma coisa assim... então aqui eu acho melhor por isso... lá era meio

entediante... porque você sempre fazendo a mesma coisa... sempre a mesma coisa... sempre as mesmas pessoas ... ficava até meio

entediante... chega ima hora em que não adianta você fazer graça com ninguém porque não tem mais... né... aí... eu acho que a cidade

assim tipo... Rio de Janeiro... que tem mais opções melhor nesse ponto... bem melhor... 

DOC. - você mantém contato com alguma dessas pessoas com quem você saía? 

LOC. - lá? ah... tem... tem às vezes corresponde... não porque... eu estou no Rio... uma outra foi pra São Paulo... a outra está lá ainda...

mas pra ir... foi um pra cada canto né... Tem gente em (?).. tem gente em... Astolfo Dutra em... Governador Valadares... tem gente que foi

até pra Tocantins... então fica difícil... né... fica muito difícil da gente se reunir de novo... nós nos reunimos mais ou menos o mesmo

grupo... uma vez em agosto numa feira de exposições que teve em Três corações... aí nós nos reunimos... mas depois disso nunca mais

ninguém conseguiu reunir... ah... foi legal... foi maior bagunça... a... aí reunimos todo mundo na feira.... foi todo mundo na exposição de

gado junto... na feira de exposições em Três Corações... aí depois nós fomos pra barraca da faculdade de odontologia onde eu

estudava... aí juntou o pessoal da faculdade com o pessoal de lá né... ficou junto... sempre tem um com um violão né...(?) né... é legal...

tinha show também de música sertaneja nesse dia... acho que com Leandro e Leonardo... sei lá... nem lembro... 

DOC. - você acha que o seu gosto por música acabou sendo influenciado pela sua (?) 

LOC. - é...foi... eu acho que foi... porque antes de eu sair do Rio eu não suportava música sertaneja... só que quando uma vez eu fui pra

São Paulo com uma amiga minha... tinha uma estação... tem uma estação no interior de São Paulo que chama-se Zebu... rádio Zebu... e

ela toca música sertaneja da hora que abre a programação até a hora que fecha... e... por acaso... era justamente essa rádio que as

pessoas ouviam lá... então eu tive que aprender a gostar de música sertaneja...não tinha como... ou eu passava o dia inteiro num mau

humor gritante por causa da música ou eu entrava na dança e passava a cantar a música junto... aí eu... fui acostumando o ouvido...

acostumando o ouvida... hoje eu escuto numa boa... não tenho nada contra não.