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Noé Amós Guieiro A Menina que odiava Redação O depoimento de uma aluna sobre as aulas de redação 2013

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Noé Amós Guieiro

A Menina que odiava Redação

O depoimento de uma aluna sobre as aulas de redação

2013

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A Menina que odiava Redação: O depoimento de uma aluna sobre aulas de redação

Noé Amós Guieiro

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autoriza-

ção expressa do autor

© 2013 by Noé Amós Guieiro

Todos os direitos reservados a

Noé Amós Guieiro

(11) 967176696

(11) 4648-1492

e-mail: [email protected]

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Porque para mim uma imagem vale para ajudar

a escrever mais de mil palavras.

Laura S.

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Sumário

CAPÍTULO 1

O Professor Titular e o Professor Maluquinho, 7

CAPÍTULO 2

Narrar é seduzir pela curiosidade, 14

CAPÍTULO 3

Descrever é desenhar com as palavras, 21

CAPÍTULO 4

Dissertação argumentativa para você ter um bom argumento, 30

CAPÍTULO 5

Artigo de opinião, 53

CAPÍTULO 6

Outros textos

Resenha, 59

Autodescrição profissional, 62

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CAPÍTULO 1

O Professor Titular e o Professor Maluquinho

Sempre tive dificuldades com redação escolar. Inspiração para es-

crever até que não faltava. Mas quando entregava minhas redações ao profes-

sor, elas sempre voltavam com muitas correções. Nunca entendia por que.

Ouvia sempre: “redação tem que ter começo, meio e fim”, “olha os parágra-

fos!...” E minhas redações continuavam iguais. Não avançavam. Era como se

eu vivesse fazendo um exercício de repetir coisas. Fora a redação que eu

mais odiava fazer: “como foram suas férias”?

Mas, em 2011, um fato mudou essa história. Eu estava no segundo

ano do Ensino Médio e, nesse ano, tive dois professores de Português na

minha escola. O primeiro era titular da matéria, o professor de verdade, res-

ponsável por ministrar as aulas de Português; o segundo era substituto; nós o

chamávamos de Professor Maluquinho. Não que ele fosse, de fato, maluco. O

apelido Maluquinho era apenas porque ele era bem diferente dos outros:

explicava a matéria como se estivesse em transe e seus olhos brilhavam. Era

engraçado!

O Professor Titular já era um senhor de idade e tinha uma experiên-

cia de longos anos. Era cheio de cursos e títulos acadêmicos. Geralmente não

dizia isso a nós; ficávamos sabendo do seu extenso currículo pelos outros

professores e, claro, pela confiança e segurança que passava na exposição das

aulas, que eram boas, mas prendiam com muita dificuldade a atenção de

meus colegas e, muitas das vezes, a minha própria. Não foram poucas as

vezes que deixamos o Professor Titular furioso por causa das conversas para-

lelas na hora da explicação. Ele parava, olhava para nós, e não precisava

dizer mais nada: todos preferiam parar o papo a ouvir uma bronca daquelas.

Mas o que mais o aborrecia era quando alguém dizia “não entendi nada”,

após a sua explanação de vários minutos.

Já o professor substituto, o Maluquinho, era bastante jovem e expli-

cava os conteúdos como se estivesse fazendo mágicas, graças às historinhas e

parábolas que contava, às comparações que fazia, além de algo especial que,

até então, eu nunca tinha visto em aulas de Português: ele usava imagens em

seus esquemas para facilitar a composição das nossas redações. O contato

com o Professor Maluquinho proporcionou-me consciência e segurança para

escrever meus textos; em apenas um ano, senti um grande crescimento das

minhas redações. Com o outro professor, o Titular, eu também aprendia bas-

tante, mas, muitas coisas que eu achava que entendia, parecia que fugiam na

hora que ia escrever, e tudo virava um grande drama para mim; Com o Pro-

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fessor Maluquinho, entretanto, era como se as coisas entrassem na minha

cabeça e ficassem registradas de verdade, como em uma memória de compu-

tador.

Neste livro, conto tudo que aprendi sobre redação com esses dois

professores. Trata-se de um depoimento de uma aluna sobre aulas de reda-

ção. Descreverei os conceitos que esses dois professores me transmitiram e a

meus colegas de classe ao longo de um ano. Quero contar isso com flashes da

memória, tentando garantir o máximo de registro da lembrança de todas as

informações importantes que recebi nessas aulas, que me proporcionaram a

escrita de boas redações, algumas das quais compartilharei com vocês. Espe-

ro que o meu relato possa ajudá-lo a melhorar também a sua escrita; quero

dividir a emocionante experiência de alguém que tinha ódio de fazer redação,

mas desenvolveu uma grande paixão por escrever.

A redação é como uma casa!

Meu professor titular de Português tinha acabado de sair da sala. Tí-

nhamos tido uma aula de teoria de redação. Era a primeira do ano. Ouvimos

muitos conceitos importantes sobre o texto: “seja objetivo, seja claro, fale o

máximo com o mínimo de palavras; perceba se colocou todos os elementos

que fazem parte da tipologia textual que você está usando...”.

Ele tinha iniciado a aula com a pergunta: “o que é redação”?

Como ninguém havia se manifestado, ele próprio tratou de respon-

der: “tudo o que escrevemos recebe o nome de redação. Pedir para que uma

pessoa faça uma redação, é o mesmo que solicitar que ela vá a um estado de

um país, por exemplo, sem especificar a cidade, o bairro, a rua e a residência.

Por isso, ninguém poderá lhe pedir para fazer uma redação, sem especificar a

tipologia”. Fez uma pausa de alguns respiros e continuou:

“Grosso modo, podemos dividir a redação em cinco grandes grupos:

1) narração, 2) descrição, 3) dissertação argumentativa, 4) redação acadêmi-

ca e 5) redação instrumental. As redações fazem parte de um desses grupos

ou são uma mistura deles. A dissertação argumentativa, por exemplo, agrupa

textos, como: editoriais de jornal e revista e artigos de opinião. Existem reda-

ções que se ocupam de textos acadêmicos, embora sejam praticadas também

no Ensino Médio, como o ensaio, a resenha crítica, os resumos críticos e a

biografia; e existem aquelas que podemos chamar de instrumentais por serem

mais pragmáticas, como o curriculum vitae, a autodescrição profissional, o

requerimento, as cartas e a procuração”.

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Ouvimos tudo isso em silêncio. Era a primeira aula de Português do

ano e não sabíamos com quem estávamos nos metendo. Tínhamos obrigato-

riamente que fazer silêncio.

O Professor Titular saiu da sala, e entrou o professor substituto, que

chamávamos de Professor Maluquinho. Ele tinha estatura mediana, era ma-

gro, usava óculos e tinha cabelos curtos. Usava calças jeans simples e camisa

esportiva sempre com a estampa de algum desenho. Tinha uma voz agradável

e falava de forma entusiasmada.

Sua apresentação foi sucinta: disse seu nome, falou da sua paixão

pela escrita, por artes, desenhos, músicas, informática e animais, e destacou

em que consistiria seu trabalho naquele ano: ele seria professor de reforço

nas aulas de redação. Depois, como um contador de parábolas, levantou uma

pergunta retórica:

“A que compararei a redação”?

Fez a pergunta e ficou em silêncio por uns segundos, estático, nos

observando. Não entendemos nada, e ficamos olhando uns para os outros e

para ele. Não sabíamos se tínhamos de responder alguma coisa. Então espe-

ramos que ele mesmo retomasse a palavra ou que respondesse. E foi o que

fez:

“Uma redação pode ser comparada a uma casa com seus cômodos,

móveis e objetos. Os cômodos são os parágrafos, e os móveis e objetos são as

ideias e as informações”.

O Professor Maluquinho fez uma pausa de alguns segundos, mas já

prosseguiu: “o entendimento disso é fundamental para a prática de redação.

Procure colocar cada móvel ou informação no seu respectivo cômodo ou

parágrafo. Ninguém coloca uma mesa de jantar no banheiro e nem um guar-

da-roupa na cozinha. É verdade que podemos ter um mesmo tipo de objeto

em mais de um cômodo, ou seja, uma informação pode ser repetida em pará-

grafos diferentes.

“Dentro de um cômodo, costumamos mudar as coisas de lugar. Isso

também vale para os parágrafos: você é livre para dispor as informações da

maneira que achar mais conveniente.

“Muita atenção quando for organizar os elementos nos parágrafos da

sua redação. Lembre-se de que você está organizando a casa, que é o texto,

para que ela seja agradável para a estada do visitante, o leitor. Quão agradá-

vel é apreciar um texto bem construído! É como visitar uma casa bem orga-

nizada”!

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Ficamos ouvindo essa explicação, divagando com as informações do

Professor Maluquinho. Era um discurso leve e diferente.

Veio, então, sua segunda pergunta: “o que é escrever bem para vo-

cês”?

Alguns colegas, sentindo-se confortáveis e encorajados, responde-

ram: “escrever bem é escrever com correção gramatical”; outros disseram

que seria respeitar a ortografia, a acentuação, as concordâncias, as regências

e a pontuação. O Professor Maluquinho ouviu atentamente cada resposta,

apreciou-as e prosseguiu: “Platão, filósofo Grego, no diálogo Górgias, dizia

que sabemos que uma coisa é boa exatamente quando o contrário dela é ruim.

E o que seria um texto ruim”?

Tomei coragem e respondi que seria um texto escrito sem clareza e

com parágrafos desorganizados e incompletos. E uma colega atrás de mim

completou: “um texto ruim é um texto mal pontuado, com repetição de pala-

vras ou de ideias e que não atinge o seu objetivo”. Por fim, o garoto mais

esperto da turma levantou a mão e acrescentou: “para mim, texto ruim é todo

texto que tem parágrafos fracos em conteúdo, sem as informações necessá-

rias para o entendimento da mensagem, sem a administração das emoções

(emotivo, quando tem de ser racional, ou racional quando tem que provocar a

emoção)”, e finalizou: “texto ruim é todo texto que desrespeita os valores

humanos”.

O Professor Maluquinho fez nova apreciação, dizendo: “correto”. E

completou: “escrever bem é não reproduzir os problemas que vocês citaram,

levando em conta os seguintes aspectos:

O objetivo e a finalidade da comunicação — por que e para que o

texto foi produzido;

A clareza das ideias — a informação precisa ser compreendida na

medida em que o texto é lido, pois é bastante desagradável exigir do

leitor a volta ao início do parágrafo, para compreender o que está

lendo;

A simplicidade sintática — o escritor não deve exigir malabarismo

mental do leitor. Por isso, deve criar frases fluentes, preferencial-

mente na ordem direta, que possam ser compreendidas no correr na-

tural da leitura; além disso, o nível de vocabulário precisa ser ade-

quado;

A organização das informações — é importante pôr cada coisa no

respectivo parágrafo e achar uma melhor forma de organizá-lo;

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A pontuação deve ser levada a sério, sabendo que ela é para o texto

como as placas de trânsito são para os carros e os pedestres (imagi-

ne-se em uma cidade grande sem nenhuma placa de sinalização!);

A objetividade — seja econômico na construção do texto: dispense

parágrafos desnecessários, palavras que nada significam e explica-

ções que nada acrescentam;

Use a palavra que ‘encaixa’ melhor – já há muito se diz que não e-

xiste sinônimo perfeito, pois cada palavra tem seu valor, representa

exatamente a emoção ou ideia que se deseja transmitir.

Bom senso – escreva sem emoções exageradas, sem radicalismos e

sem tentar impressionar; opte pela construção sutil e comedida;

Parágrafos sólidos — construa parágrafos que tenham um valor de

independência, sabendo que eles são espécies de microtextos e, por

isso, precisam ser mais bem acabados;

Estética — a função da forma é a de revelar o conteúdo, por isso or-

ganize o texto com o alinhamento das margens e dos parágrafos,

deixando-o mais apresentável.

“Em suma, escrever bem é desejar sempre a melhor palavra, a frase

mais bem construída e o parágrafo mais bem organizado; é não repetir infor-

mações, mas escrever com progressão de ideias. Em última análise, escrever

bem é produzir textos que sejam facilmente compreensíveis pelo leitor”.

A campainha anunciou o final da aula. O Professor Maluquinho saiu

da classe e uma sessão de conversa pôde ser vista em nossa sala. Algumas

comparações começaram a ser feitas, não apenas entre ele e o professor titu-

lar da matéria, mas entre ele e outros professores, inclusive de anos anterio-

res. Meus colegas falavam do seu estilo, do seu método e da maneira como

nos tratara nesse primeiro dia de aula. “Diferente”: foi o que uma colega

disse para nós no pequeno grupo que tínhamos formado.

Quando nos despedimos, ficamos um pouco de tempo em um pe-

queno jardim gramado, com algumas árvores e muitas flores, que ficava a

uns cinquenta metros da escola; estávamos reunidos em uma pequena turma,

conversando sobre esse recomeço de ano e sobre outras coisas. Lembro-me

de que fazia um lindo dia de sol. Depois, cada um partiu para casa.

Eu voltei com duas amigas, caminhando devagar, rindo das coisas

que elas contavam. Estávamos felizes pelo recomeço do ano letivo.

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Comunicação boa é a que atinge os seus objetivos

No dia seguinte, não teríamos aula do Professor Titular. Estávamos

todos entretidos num bate-papo na sala de aula, quando o Professor Maluqui-

nho entrou, deu bom dia e nem sequer se sentou; apenas colocou suas coisas

sobre a mesa e esperou que nos organizássemos; então correu os olhos pela

sala, fitando cada um de nós e, depois de um “Vamos lá, pessoal?”, fez uma

pergunta: “o que uma redação escolar precisa ter para ser uma boa redação”?

Esperou arrancar alguma resposta de nós. Uma colega então se pro-

nunciou: “acho que uma redação para ser boa precisa ter um número de pará-

grafos apropriados: no mínimo três e no máximo cinco”.

O Professor Maluquinho esperou por outras respostas, mas ninguém

quis acrescentar mais nada. Então ele mesmo retomou o turno da fala: “agora

vamos citar Aristóteles, discípulo de Platão, que, falando sobre a virtude,

dizia que uma coisa é boa se cumpre a função para a qual ela foi feita. E qual

é a função de um texto? Para que um texto é feito”?

A pergunta parecia um pouco abstrata. Ninguém quis arriscar qual-

quer resposta. O professor, então, perguntou de outro jeito: “O que é um

texto virtuoso”? Mas ainda tudo estava abstrato. Vendo que não obteria ne-

nhuma resposta, ele prosseguiu a explanação: “um texto é virtuoso, ou seja,

um texto é bom se cumpre a função para a qual ele foi construído: informar,

explicar, convencer, comover, orientar, gerar prazer estético, motivar, persu-

adir etc.”.

Em tom de eloquência, acrescentou: “se quisermos que o texto reali-

ze essas funções, é necessário que ele seja construído com elementos que

promovam o efeito pretendido; para isso, é preciso:

Dados suficientes — é importante citar todos os dados que garantam

a compreensão do texto e suprimir o desnecessário para não cansar o

leitor ou desinteressá-lo pela leitura;

Avançar o discurso — durante a leitura, o leitor espera ter contato

progressivo com informações novas (nada mais desagradável do que

um texto que não ‘sai do lugar’);

Nível de vocabulário apropriado para o público-leitor;

Conceitos e exemplos fundamentais para auxiliar na compreensão

do assunto tratado”.

O ponto alto daquela aula foi quando ele nos falou sobre a origem da

palavra texto. “A palavra texto vem de tecido”, disse. E continuou: “um texto

é como um tecido, tão mais belo quanto melhor as linhas são trabalhadas.

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Quem não gosta de trajar uma roupa feita com um belo tecido de uma cor

agradável”? - ele perguntou e ele próprio respondeu: “gostamos de trajar

belas roupas para nos sentirmos bem nos locais em que estamos. Escrever

bem é apresentar uma bela roupa-gem linguística para a situação que estamos

comunicando”.

Depois de uma breve pausa, ele prosseguiu falando sobre a comuni-

cação. “Comun-icar é exatamente ser comum àquele a quem você se dirige,

no sentido de desejar estabelecer um vínculo linguístico com essa pessoa,

para que ela possa compreender sobre o que você está falando”.

“A boa comunicação escrita requer textos nos quais haja comunhão

entre escritor e leitor. Nada mais incomunicável do que um texto rebuscado,

cheio de malabarismos sintáticos e carregado de neologismos e de termos

técnicos desconhecidos do leitor, além de siglas e símbolos sem a devida

explicação, bem como falta de exemplos e definições. Mas também não po-

demos cair no baixo-calão e nas transgressões grosseiras das regras gramati-

cais”.

Ele encerrou a aula, dizendo: “lembre-se de escrever tomado pelo

bom senso. Isso é o mais importante”!

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CAPÍTULO 2

Narrar é seduzir pela curiosidade

O Professor Titular já estava na sala, preparando-se para iniciar a

aula; já tinha até colocado o tema no quadro e com letras bem grandes:

NARRAÇÃO.

Quando todos já haviam entrado e se organizado, ele deu bom dia e

fez a pergunta “O que é narração”?

Ninguém teve coragem de responder. Não só porque ele era uma

pessoa sisuda e aparentemente nervosa, mas também porque a pergunta era,

em si, ampla, pelo menos para mim. Eu sabia o que era narração, mas não

conseguia encontrar palavras que pudessem traduzir o seu significado.

Então o próprio professor tratou de responder:

Narração é todo texto que se propõe a contar um fato que ocorreu em determinado tempo e lugar, sob certas circunstâncias, envolveu persona-gens, aconteceu por alguma razão, de um modo específico e teve uma conse-quência ou desfecho positivo ou negativo.

Foi então que, utilizando o data show, nos apresentou, em slides, al-

guns tópicos sobre os Elementos da narração, comentando-os um a um: a) narrador: trata-se de quem vai contar a história. Deve-se escolher o tipo de narrador de acordo com a dramaticidade que se deseja passar.

o 1ª pessoa do singular — participa da história e está próximo dos a-contecimentos. É também chamado de narrador-personagem. E-xemplo:

Cheguei tarde à festa naquela noite fria de julho. Era o ca-

samento do meu primo. Todos já tinham se divertido muito, mas a-inda havia muita diversão a minha espera.

o 3ª pessoa do singular — não se inclui na história; apenas relata o ocorrido. Exemplo:

Maria ficou pasma ao ver o comportamento da irmã que

não parava de tirar sarro dos convidados que chegavam para o bai-le de despedida de fim de ano da turma do colégio.

b) fato: o acontecimento (é o elemento principal da narração).

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c) lugar: onde aconteceu o fato. d) tempo: quando o fato ocorreu. e) personagens: quem participou da história. f) causa: o que provocou o acontecimento (por que o fato ocorreu?). g) modo: é a maneira como o fato se deu. (Imagine-se voltando a imagem para alguns minutos ou segundos antes de o fato ocorrer para, em seguida, revê-lo. É a descrição desse intervalo que chamamos de modo). h) consequência: trata-se do final da história, o desfecho dos acontecimen-tos. i) circunstâncias: é o contexto em que o fato ocorreu.

Para finalizar a aula, ele disse: “esses elementos aparecem na reda-

ção escolar, modalidade narração, geralmente dispostos na forma que costu-

mamos chamar de pirâmide invertida: da informação mais importante para a

menos importante”. E, após um “bom dia” de despedida, saiu da sala.

Você faz narração (e todo tipo de redação) todos os dias, só não se dá

conta!

Tínhamos tido uma aula com muitas teorias sobre narração. Eram

conceitos importantes, mas sabíamos que aplicá-los exigiria bastante atenção

da nossa parte. “Haveria uma forma de decorar esses elementos naturalmen-

te”? – eu me perguntava.

Na última aula do dia, foi a vez do Professor Maluquinho. Ele ini-

ciou dizendo: “você faz redação todo dia, só não se dá conta. Você conta

histórias, dá informações, explica conceitos e expõe sua opinião sobre as

coisas. Então você sabe fazer redação. Tudo é uma questão de se deixar guiar

pela intuição”.

“Intuição”! Parece que o Professor Maluquinho tinha lido a minha

mente. Eu estava certa. Deveria haver um jeito natural de aprender sobre os

elementos da narrativa e, em última análise, sobre redação em geral. Eu gos-

tava do que estava ouvindo e comecei a prestar mais atenção ainda.

Ele observou quando uma colega de classe passava a limpo os tópi-

cos sobre elementos da narrativa e, para chamar a atenção, usou o que ela

estava escrevendo como motivo para o tema da sua explicação. Assim, apre-

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sentou-nos um exemplo, como costumava fazer: “se uma pessoa chegar,

nesse momento, aqui, desesperada e bater à porta da sala, qual vai ser a nossa

primeira pergunta”?

“O que aconteceu?”, eu respondi, num impulso.

O Professor Maluquinho disse: “certo”, e prosseguiu: “a pessoa vai

responder, por exemplo, que houve um acidente de carro gravíssimo. E, com

certeza, você fará a segunda pergunta: ‘Onde’? E a terceira: ‘A que horas’?”.

Ele disse isso, dirigindo-se primeiro a mim e, depois, ao resto da sala.

Continuou: “insatisfeita com a resposta dessas perguntas, provavel-

mente você perguntará sobre quem se envolveu no acidente e qual foi a cau-

sa”. Disse tudo isso olhando para mim. E completou: “a curiosidade pelo

detalhe a levará a perguntar o modo como tudo aconteceu, pois nós adoramos

saber sobre os detalhes das coisas”, disse ainda olhando para mim; “e o dese-

jo de saber o fim de tudo vai levá-los a perguntar sobre as consequências ou

como tudo terminou”, completou, mas, agora, olhando para todos. “O con-

texto em que o fato se deu poderá ser um ingrediente a mais na nossa sessão

de perguntas, pois fatos ocorrem em certas circunstâncias”, acrescentou.

“Todos os dias, contamos e ouvimos histórias. Adoramos isso. E

como narradores, usamos de forma natural todos os elementos da narração (o

fato, o lugar, o tempo, as personagens, a causa, o modo, as consequências e,

às vezes, as circunstancias ou contexto). Além disso, escolhemos, por alguma

motivação, se vamos ou não participar da história, ou seja, escolhemos o foco

narrativo. Finalmente, escolhemos, também por interesse de efeito dramático,

se vamos pôr uma carga emotiva na história ou se vamos contá-la de modo

mais racional, isto é, optamos por uma narração mais subjetiva ou mais obje-

tiva”.

Essas considerações do Professor Maluquinho encerraram-se com o

sinal do final do período de aula. Voltei para casa com a certeza de que con-

tar histórias é deixar-se levar pela intuição; contar histórias é permitir-se ser

guiado pela naturalidade, satisfazendo a curiosidade humana sobre o que

envolve um acontecimento. Fazendo isso, eu poderia construir a minha histó-

ria com segurança.

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Projeto de narração para redação escolar

Quando entramos na sala de aula na semana seguinte, tudo já estava

preparado. O Professor Titular tinha projetado, em um slide, um esquema

para explicar como deveríamos fazer nossa primeira narração escolar do ano.

Título

Narração com discurso direto e indireto

Ele completou a explicação do esquema falando sobre os tipos de

discurso na narração. Disse que, no caso de narração com discurso direto, as

personagens conversam (discursam) diretamente entre si, sem a interferência

do narrador, que silencia, embora, muitas vezes, faça alguma intervenção. Já

quando o narrador fala pelas personagens, o discurso destas aparece de modo

indireto (discurso indireto), ou seja, fica ocultado pela fala do narrador.

Destacou que o uso de um tipo de discurso ou de outro, assim como

a preferência por uma narração mais subjetiva ou mais objetiva, está condi-

cionado à dramaticidade ou ao interesse que se queira dar à história.

O Professor Titular exemplificou esses dois tipos de discurso, consi-

derando a situação a seguir, em que ocorre discurso indireto (o narrador fala

pelas personagens):

A mãe de Maria perguntou-lhe porque ela havia chegado tão tarde. Maria respondeu que perdera o ônibus que sempre pegava para voltar para casa.

“Esta narrativa”, disse ele, “quando convertida para o discurso dire-

to, ficaria assim:

Mencionar o fato que será contado, o lugar em que ele ocorreu e o tempo. Citar as personagens envolvidas, a(s) causa(s) do fato e a(s) circunstân-cia(s). Descrever o modo como o fato ocor-reu detalhadamente. Terminar falando das consequências ou simplesmente do final de tudo.

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A mãe de Maria perguntou-lhe: — Por que você chegou tão tarde? Maria respondeu: — Eu perdi o ônibus que sempre pego para voltar para casa”.

O professor da matéria, que chamávamos de Professor Titular, ter-

minou a aula, solicitando que compuséssemos nossa primeira narração do

ano. Disse que poderíamos falar sobre o fato que quiséssemos.

Porque uma imagem vale para ajudar a escrever mais de mil palavras

No dia seguinte, assim que o Professor Maluquinho entrou na sala,

uma colega pediu-lhe ajuda para a narração que ela estava fazendo. Ela ia

contar sobre um incêndio. Ele começou explicando baixinho, só para ela.

Como eu estava próxima, ouvi-o dizendo que, toda vez que fôssemos iniciar

uma história, deveríamos pensar no verbo OCORREU, como uma espécie de

fio do novelo dessa história. Ele disse: “note como o texto se manifesta em

sua cabeça quando você coloca o verbo ocorreu no início da narrativa. É

como se ele puxasse consigo toda a história”. Finalizou entusiasmado:

“Lembre-se dele: ocorreu...”, disse em voz alta e foi para frente da sala.

Não sei se por intuição, ou por que motivo, ele quis falar sobre como

compor uma narrativa. Sei que, de repente, ele tirou da pasta algumas folhas

e as foi entregando para nós. Enquanto as distribuía, lembrou-nos a afirma-

ção, segundo a qual, um texto é como uma casa com seus cômodos. “Cada

retângulo desse que vocês veem é um cômodo”, disse, quando cada um já

tinha uma folha na mão.

O ponto que fez diferença para mim, entretanto, foi quando vi que

dentro desses retângulos havia desenhos parecidos com ícones de uma área

de trabalho de um computador ou de um celular: um jornal, um lugar em um

mapa, uma página de calendário, uma pessoa, uma seta fixada antes de um

jornal, uma moldura de quadro, uma fita de filme e uma seta fixada após um

jornal.

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Projeto de narração

Título

O Professor Maluquinho explicou os ícones: “o ícone do jornal era o

fato; o do mapa, o lugar; o do calendário, o tempo; o da pessoa, a persona-

gem; o da seta fixada antes de um jornal, a causa; o da moldura, o contexto; o

da fita de filme, o modo; e o da seta fixada após o jornal, o desfecho”. Disse

que tanto as personagens quanto os outros elementos poderiam aparecer em

qualquer parágrafo do texto, novamente fazendo referência à história da casa,

que é o texto. “Os elementos dos parágrafos estão para os móveis e os obje-

tos da casa e, tanto um quanto o outro, podem ficar em mais de um cômodo

da casa, desde que seja útil”, frisou esta última palavra. Finalizou com uma

observação: “o contexto ou circunstância, que pode ou não aparecer, é tam-

bém um importante elemento da narração, pois permite que imaginemos com

mais propriedade como tudo aconteceu, já que cria uma espécie de pano de

fundo para a situação”.

Fiquei entusiasmada com esse esquema com figuras explicativas.

Parecia que tudo agora ficava mais claro. Fui para casa e fiz minha primeira

narração do ano:

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O acidente de carro

Ocorreu um acidente envolvendo dois carros, na semana passada, à

noite, na Avenida Paulista, próximo à estação de metrô Brigadeiro.

Não chovia no local, havia poucas pessoas e o tráfego também

conservava certa tranquilidade. A causa do acidente foi porque Marcos, o

motorista do Palio azul, estava alcoolizado. Ele vinha com a família de uma

festa de casamento, às onze horas da noite.

Tudo começou quando ele avançou o sinal vermelho do cruzamento.

Mesmo tentando frear, atingiu a lateral traseira de um Celta de cor preta, de

propriedade do Sr. João, que estava sozinho em seu veículo. O choque não

foi muito violento, mas o carro de Marcos foi o que sofreu os piores danos.

Felizmente ninguém se feriu. A polícia chegou e interveio na ques-

tão. Fizeram o Boletim de Ocorrência e Marcos comprometeu-se a cobrir os

gastos, de forma que deram por encerrada a questão. Chocado com a pró-

pria imprudência, Marcos ficou detido na delegacia, e sua esposa, aguar-

dando um taxi para voltar para casa com os filhos.

E como sei que minha narração está boa?

Na semana seguinte, voltei feliz com a primeira redação que produ-

zira com mais confiança, desde que me entendia por aluna. O Professor Titu-

lar recolheu-a junto com as redações de meus colegas, dizendo quais os crité-

rios utilizaria para dar a nota. Escreveu-os no quadro:

Indicadores para avaliar narrações

5 critérios:

o Obediência à proposta de redação — o aluno seguiu a orientação dada (continuar uma história, por exemplo?);

o Assunto — o aluno baseou-se no fato ou na história da proposta de redação?

o Tipologia textual — ele construiu realmente uma história? o Estrutura textual — o texto possui a quantidade de parágrafos ade-

quada? Houve uso adequado dos conectores? Há uma coerência en-tre as informações?

o Obediência à norma padrão/culta. Obs.: Cada item será avaliado em uma escala que vai de 1 a 5, sen-do 1 inadequado e 5 plenamente satisfatório.

21

CAPÍTULO 5

Artigo de opinião

O segundo semestre caminhava para o encerramento. O ano tinha

sido bom para mim e para meus colegas em termos de rendimento de produ-

ção textual. Sentia-me bastante feliz pelo meu desenvolvimento e via essa

mesma felicidade em seus rostos. Agora que podia escrever com mais facili-

dade, dedicava-me à escrita de contos, poemas e ensaios. Cheguei a criar um

blog para postar os textos que escrevia. Meus colegas liam, faziam comentá-

rios, elogios e críticas, o que me estimulava a melhorar ainda mais a escrita.

Contudo, havia ainda muito a aprender sobre redação. Continuei a-

tenta às próximas aulas e com a mesma dedicação.

Era uma bela manhã de novembro. O Professor Titular iniciou a au-

la: “hoje, estudaremos artigo de opinião”. De forma rotineira, fez sua pergun-

ta: “O que é um artigo de opinião”? A pergunta era retórica; a resposta veio a

seguir:

Artigo de opinião é o nome que damos ao texto dissertativo-argumentativo

de grande extensão.

À resposta seguiu-se sua explanação: “conforme a definição já es-

clarece, o artigo de opinião tem a estrutura da dissertação argumentativa,

diferenciando-se desta pela extensão, o que o faz ser um texto de argumenta-

ção mais sólida, digamos assim. Nesse sentido, o seu desenvolvimento em-

prega várias daquelas formas argumentativas que vimos para sustentar a

ideia-central. Por ser um texto que pode ser mais bem preparado antes de ser

entregue para exame ou para ser veiculado, o artigo de opinião deve ser escri-

to com mais dedicação do que as dissertações argumentativas comuns”.

Um modelo para artigos de opinião

“Todo artigo de opinião nasce após o levantamento de uma questão,

a tese. Após isso, ele sofre um minucioso exame, que é a argumentação,

composta de evidências, relações de causa/problema/consequência, dados

estatísticos, científicos, pesquisas, informações da mídia, fala de autoridades

no assunto, comparações e exemplos. Ao final, deve constar uma proposta de

intervenção, ou seja, uma solução ou remediação para o problema, uma críti-

ca, ponderação e/ou uma expectativa.

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“Como ele tem a mesma estrutura das dissertações argumentativas

que vimos, quero relembrar apenas alguns pontos para a compreensão do seu

desenvolvimento”.

Foi então que ele retomou as formas de argumentação que tínhamos

visto, acrescentando algumas novas:

a) Evidências: são provas ou constatações; trata-se dos meios pelos quais o

problema se manifesta;

b) Relação causa/problema/consequência: é a demonstração do que gera o

problema e quais os seus efeitos;

c) citações de autoridade: são falas de cientistas, de autores de livros e de

professores, que dão credibilidade ao exame do redator;

d) dados científicos e estatísticos: extraídos de livros ou das mídias, eles dão

sustentação ao raciocínio que está sendo construído por ser fundamentado na

pesquisa científica;

d) comparação;

e) exemplo: é a concretização de como o problema se manifesta no dia-a-dia.

Ele prosseguiu apresentando-nos a forma como um artigo de opinião

é avaliado por bancas corretoras de redação:

Indicadores para avaliar artigos de opinião Levam-se em conta cinco critérios:

1. Atendimento da proposta de redação; 2. Obediência ao gênero artigo de opinião; 3. Estrutura do texto: organização das ideias (coesão e coerência das

informações); 4. Respeito à norma padrão (culta); 5. Formulação de uma proposta de intervenção (solução).

O Professor Titular lembrou-nos a matriz de avaliação, segundo a

qual cada item acima é avaliado em uma escala que vai de 1 a 5 ou, por ou-

tros termos, do insatisfatório ao plenamente satisfatório. Disse que, na aula

seguinte, poria toda a teoria sobre artigo de opinião em um esquema para

facilitar nossas vidas.

Contudo, por ironia do destino, desta vez foi ele que ficou doente,

tendo de se ausentar da escola por quase um mês. E, no lugar do esquema, foi

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o Projeto de texto com imagens do Professor Maluquinho que nos possibili-

tou a concretização dessa nova forma de fazer redação.

Projeto de artigo de opinião

Título

O Professor Maluquinho apresentou-nos dois temas para que esco-

lhêssemos um e, assim, produzíssemos o nosso artigo de opinião:

a) A adolescência é uma fase bastante complicada para os pais, mas, princi-palmente, para os próprios adolescentes.

b) É realmente perceptível que o lúdico faz parte do cotidiano de nossas vidas.

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Escolhi o primeiro tema e iniciei meu artigo de opinião:

A adolescência

A adolescência é uma fase difícil para os pais e para seus filhos.

Como lidar com ela? O que essa fase representa para o jovem e para os

pais? Quem sofre mais a adolescência, os pais ou os próprios filhos que a

vivenciam? Esta última pergunta já nos revela que a adolescência pode ser

vista de ângulos diferentes: pela ótica dos pais, de especialistas e educado-

res e principalmente pela do próprio adolescente.

Para os pais, é muito difícil criar os filhos nessa fase. O medo da

gravidez precoce e do contato com drogas ativam o controle patriarcal de

forma intensa, fazendo-os serem tachados de chatos, autoritários e de vários

outros adjetivos negativos. O temor de se sentirem culpados, caso algo de

ruim aconteça com o filho, faz a cabeça pesar muito, tirando deles o prazer

de curtir os filhos, transformando-os em verdadeiros “tiranos” daqueles que

poderiam ser seus melhores amigos.

Psicólogos e educadores, embora com um peso educacional menor

do que o dos pais, também têm dificuldades para lidar com a adolescência.

Quando fazem afirmações que “soltam” o adolescente para que ele possa

escolher e tomar decisões, são tachados de “frouxos” e inconsequentes; se,

porém, são rígidos nas colocações, rapidamente as autoridades e os pais vão

para cima deles, classificando-os como antiquados e desumanos.

Mas são os adolescentes, sem dúvida, os que mais sofrem com essa

fase, pois são os protagonistas. Mudanças no corpo, início da vida sexual, o

controle dos pais, as frustrações amorosas e as incertezas quanto ao futuro

(nova família e carreira profissional) são alguns dos problemas com os

quais convivem. O medo de fracassar, de não corresponder às expectativas

dos pais e dos colegas e os insucessos no amor e na vida escolar pesam

bastante na sua cabeça, fazendo essa fase ser muitas vezes difícil de ser

atravessada. Não sem razão o álcool e as drogas acabam dominando muitos,

transformando suas vidas em um verdadeiro inferno. As brigas com os pais

passam a ser o segundo passo, às vezes terminando em tragédia. A crimina-

lidade é apenas o próximo estágio.

Exemplos disso não faltam. Vez ou outra, a Internet, a mídia televi-

siva e a impressa noticiam casos de adolescentes, até da classe média, en-

volvidos com drogas, com o crime, chegando até mesmo a matar os pais.

A adolescência é uma fase de preparação para a vida adulta. É

comparada ao momento em que os animais começam a soltar aos poucos o

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filhote para que ele possa aprender a se virar sozinho, pois ele é potencial-

mente capaz disso. Os pais podem contribuir, permitindo que esse potencial

venha para fora, deixando-os sentirem-se seguros e confiantes para fazer

escolhas e tomar decisões. No reino animal, há uma relação de verdadeira

confiança de quem cuida para com sua prole, no sentido de saber que ele é

capaz de se virar sozinho, se lhe forem oferecidas oportunidades de se sentir

livre, forte e capaz para fazê-lo. A águia exemplifica bem isso: quando chega

o momento, ela frequentemente testa seu filhote para perceber se ele já é

capaz de voar sozinho. Quando isso ocorre, ela então o solta e ele vai seguir

seu caminho.

Em suma, a adolescência é uma fase difícil principalmente para os

jovens, mas se as coisas forem vistas com mais naturalidade, talvez a pres-

são dos pais, dos educadores e da sociedade diminua sobre o adolescente e,

consequentemente, ele se pressione menos. Deixá-lo sentir-se responsável

desde cedo por si e por tudo que faz pode ser fundamental para que ele se

sinta seguro e perceba sua força interior. Permitir suas escolhas com conse-

quente responsabilidade também é fundamental. E, finalmente, deixar que

cada um viva sua experiência de vida dentro daquilo que tem valor para si,

sem imposição de um padrão único para todos, com certeza poderá fazer o

adolescente sentir-se uma pessoa mais feliz. Aos pais, quem sabe, se colocas-

sem mais curtição no lugar da obrigação, poderiam ter uma relação mais

respeitosa e amorosa com os filhos, amando-os e sendo amados por eles. À

escola e às instituições educacionais, em geral, cabe uma visão que tenha em

conta respeitar os anseios mais verdadeiros do adolescente, não impondo

crenças e verdades, mas sendo apenas um local em que eles próprios sedi-

mentarão suas crenças e construirão seus caminhos, para viver uma experi-

ência de vida mais feliz.