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São Paulo, 3 de Agosto de 2012
Leia ainda entrevistas com alguns dos palestrantes do evento:
Presidente regional da DuPont Nutrição e Saúde reflete sobre a convergência entre as pesquisas da Amcham e da EIU
ZACARIAS KARACRISTO
Membro do Conselho da JBS Friboi e ex-ministro da Agricultura fala sobre um grande desafio da alimentação humana, que é produzir proteína animal
MARCUS VINÍCIUS PRATINI DE MORAES
VALMOR SCHAFFERPresidente da ADM do Brasil aponta papéis que cabem à iniciativa privada e à pública para enfrentar as lacunas de infraestrutura
aqui.
A infraestrutura logística defasada, o sistema tributário burocrático, a falta de acordos internacionais e a legislação trabalhista pouco flexível são os principais elementos críticos para um melhor desempenho do agronegócio brasileiro, conforme pesquisa da Amcham preparada especialmente para o evento 'Competitivida-de Setorial – Agronegócios', realizado pela Amcham-São Paulo em 03/08. A sondagem permitiu a constru-ção de um amplo panorama do setor. Conheça os dados em sua íntegra
Alinhado com a pesquisa, o debate promovido no encontro reforçou a necessidade de avanços em infraes-trutura para suportar o crescimento do agronegócio.
Teve destaque também a defesa do livre funcionamento do mercado, como preconizou o ex-ministro da Agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes, que hoje é membro do Conselho de Administração da JBS Friboi. Acompanhe como foi essa discussão
No evento, foi apresentado o Índice Global de Segu-rança Alimentar (GFSI na sigla em inglês), elaborado pela Economist Intelligence Unit e patrocinado pela DuPont. Nele, o Brasil aparece na 31ª colocação entre 105 países, e a ideia é mostrar que segurança alimentar envolve uma combinação de acessibilidade financeira a produtos alimentícios, disponibilidade e qualidade /segurança. Saiba detalhes
aqui.
aqui.
Sócio e líder de Agribusiness da PwC diz que País precisa estar com a 'casa arrumada' para evitar argumentos que levem a protecionismo
JOSÉ RONALDO VILELA REZENDE
2VOLTAR A PÁGINA INICIAL
PESQUISA AMCHAM: INFRAESTRUTURA DEFICITÁRIA E BUROCRACIA DO SISTEMA TRIBUTÁRIO SÃO GRANDES DESAFIOS PARA AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
A infraestrutura logística defasada, o sistema tributário burocrático, a falta de acordos internacionais e a legislação trabalhista pouco flexível são os principais elementos críticos para um melhor desempenho do agronegócio brasileiro, revela a pesquisa 'Panorama do Setor de Agronegócios no Brasil e no Mundo' da Amcham.
Em seguida, aparecem como fatores de grande impacto: política fundiária e segurança incompatíveis com a realidade do País; ausência de incentivos para aquisições de novas tecnologias; estrutura da cadeia produtiva, competitiva para alguns e outros não; escassez de linhas de crédito; variações cambiais; e regime de exploração da atividade rural concentrado na pessoa física.
O estudo ouviu 84 altos gestores de empresas associadas à Amcham que integram a cadeia do agronegócio entre 16 e 31 de julho e foi apresentado pelo CEO da Amcham, Gabriel Rico, em 03/08 durante o evento 'Competitividade Setorial – Agronegócios' da Amcham-São Paulo.
O Brasil tem ocupado posição de destaque entre os grandes players do agronegócio, mas ainda não atingiu a liderança mundial em produção e fornecimento de alimentos.
Nesse sentido, 68% dos consultados pela Amcham afirmam que o aumento do conhecimento e das tecnologias em sistemas de produção sustentáveis manterão a capacidade de produção do País, e 58% dizem que o alto 'Custo Brasil' comprometerá o alcance do patamar de liderança.
POTENCIAL PARA LIDERANÇA
Os entrevistados foram questionados também sobre as
linhas de crédito disponibilizadas pelo governo para
incentivar o desenvolvimento do setor. Quase a metade
(49%) revelou acreditar que são satisfatórias, mas
apenas beneficiam alguns segmentos. Uma fatia de
24% declarou que até o momento não precisou de
créditos para expandir seus negócios, 19% reclamaram
serem os recursos insuficientes e não atenderem às suas
necessidades, e 7% apontaram encontrar dificuldade
para acessar essas linhas.
CRÉDITO E INTERAÇÃO
3VOLTAR A PÁGINA INICIAL
Conforme a pesquisa, o agronegócio brasileiro é
percebido, em boa parte, como ainda bastante
fragmentado. Quase a metade (49%) dos entrevistados
avalia que a diversidade de segmentos que compõem a
cadeia faz com que apenas parte deles trabalhe de
maneira conjunta.
Somente 27% percebem uma preocupação genera-
lizada do setor em se unir para ganhar competitividade,
e outros 24% acham que as diferenças de interesse entre
os subsegmentos da cadeia levam as empresas a agir de
forma independente.
A pesquisa também questionou quais são os fatores com maior influência sobre os negócios no setor. Relacionados ao mercado doméstico, o crescimento e a melhoria da distribuição da renda aparecem na liderança, com 39%, e o aumento populacional foi lembrado por 7%.
A volatilidade dos preços (13%), a expansão da população mundial (8%) e a volatilidade da demanda (4%) foram as questões internacionais indicadas como mais impactantes.
O levantamento sinalizou ainda influenciadores que dizem respeito a aspectos tanto internacionais quanto domésticos. Nesse contexto, o principal item apontado foram as alterações no padrão de consumo (11%), seguidas por sustentabilidade e segurança alimentar (8%), desenvolvimento da biotecnologia (7%) e maior urbanização (3%).
INFLUÊNCIAS
Para quase metade dos representantes do agronegócio,
quanto maiores forem as empresas brasileiras, melhor.
Os efeitos de um movimento de consolidação
FUSÕES E AQUISIÇÕES
(fusão/aquisição) para expandir a oferta e distribuição
de produtos e serviços do setor são vistos como
positivos por 46%, por possibilitarem a criação de
grandes conglomerados mais competitivos em nível
internacional.
As fusões e aquisições são interpretadas de forma negativa por 37% dos consultados com a justificativa de reduzirem a competição. Outros 11% acreditam que consolidações não trazem impactos significativos ao setor e 6% preferiram não se posicionar.
Cálculos da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que,
até 2020, a oferta de alimentos no mundo terá de crescer
20% para dar conta do aumento da demanda, e que o
Brasil deverá responder por 40% desse incremento.
A sondagem da Amcham mostra que a maioria (61%)
das empresas dessa cadeia no País acredita que estará
alinhada com essa projeção. Outros 19% dizem que irão
além, expandindo-se ainda mais fortemente, e igual
parcela (19%) sinaliza uma expectativa de crescimento
abaixo dessa velocidade.
ALINHAMENTO COM OCDE
Considerando o horizonte dos próximos três anos, as
empresas responderam quais serão suas principais
frentes de investimentos.
Os grandes focos estarão em aumento do portfólio de
produtos e serviços (como disseram 71%), ampliação
de quadros e capacitação de funcionários (50%), e
novas tecnologias para aperfeiçoar a competitividade
operacional (43%).
FRENTES DE INVESTIMENTOS
4VOLTAR A PÁGINA INICIAL
Também foram citados: aquisição de equipamentos e
maquinários (32%), expansão para outras regiões do País
(32%), fusão ou aquisição de outras companhias
(28%), aumento dos investimentos em pesquisa e
desenvolvimento (22%) e expansão internacional (15%).
MERCADOS INTERNACIONAIS PREFERENCIAIS
No plano internacional, a América Latina aparece com
grande destaque entre os mercados-alvo para
investimentos, parcerias comerciais e operações
internacionais. O interesse pela Argentina foi
demonstrado por 35%, seguido por Chile (22%),
Colômbia (17%) e Venezuela (11%). Uma fatia de 40%
dos respondentes escolheu outros países latino-
americanos.
Os Estados Unidos foram apontados por 40% como o
principal destino de interesse e a China por 33%. Vale
ressaltar também que a África foi lembrada por 25%.
No que tange à logística, 67% se colocam a favor do
transporte intermodal rodoferroviário como a melhor
opção de custo-benefício para a cadeia do agronegócio.
Em relação ao modal ferroviário, um grupo de 60%
defende a revisão da tarifa teto ferroviária.
LOGÍSTICA
Uma parcela de 47% afirma que, apesar de a cabotagem
apresentar custos menores do que outros modais, não
beneficia toda a cadeia de abastecimento do setor.
Quanto ao transporte rodoviário, 45% se opõem à
afirmação de que esse modal ainda seja a melhor opção
de transporte.
Uma fatia de 43% de entrevistados sustenta que o
transporte aeroviário é uma alternativa vantajosa para o
transporte de algumas mercadorias, mesmo que isso
signifique incorrer em maiores custos.
ACORDOS E NEGOCIAÇÕES INTERNACIONAIS
Considerando o cenário internacional, os empresários
demonstram preocupações com acordos internacionais e
protecionismo. Nada menos que 64% da amostra
avaliam que há uma tendência de que o chamado
'protecionismo verde' seja considerado nos acordos
globais, criando barreiras para os alimentos exportados
pelo País.
Também são 64% os que concordam com a afirmação de
que as crises econômicas levam a uma tendência de
adiamento de acordos e negociações internacionais.
Em relação ao Mercosul, 67% pensam que o alto 'Custo
Brasil' dificulta a competitividade do bloco. Uma parcela
de 52% analisa que o Mercosul emperra as negociações
de acordos comerciais bilaterais.
5VOLTAR A PÁGINA INICIAL
Como se dá a interação
entre os segmentos que
compõem o setor de
agronegócios?
A diversidade de segmentos que a cadeia faz com que apenas parte dos
segmentos trabalhe de maneira conjunta
compõem
Apesar da complexidade do setor e das diferençasde interesses, nota-se uma preocupação generalizada
em reunir esforços em prol da competitividade
As diferenças de interesse entre os da cadeia fazem com que ajam de forma independente
segmentos
49%
27%
24%
Dos fatores que
interferem na produção
de agronegócios, qual
mais influenciará o seu
negócio?
Crescimento e melhoria da distribuição da renda
Crescimento da população no Brasil
Volatilidade dos preços
Crescimento da população internacional
Volatilidade da demanda
Alterações no padrão de consumo
Sustentabilidade e segurança dos alimentos
Biotecnologia
Crescimento da urbanização
39%
7%
13%
8%
4%
11%
8%
7%
3%
Bra
sil
Inte
rnac
ion
alB
rasi
l/
Inte
rnac
ion
al
As linhas de crédito
disponibilizadas pelo
governo para incentivar
o desenvolvimento do
setor são satisfatórias?
Não porque tenho dificuldades em acessá-las
Não pois, além de insuficientes, não necessidades do meu negócio
atendem às
Minha empresa, até o momento, não créditos para expandir seus negócios
precisou de
Sim, porém percebo que apenas segmentos da cadeia se beneficiam
alguns
7%
19%
24%
49%
Acompanhe destaques da pesquisa da Amcham:
6VOLTAR A PÁGINA INICIAL
Quais as principais frentes
de investimentos de sua
empresa para os próximos
três anos?
Aumento do portfólio de produtos e/ou serviços prestados
Aumento/qualificação do quadro de funcionários
Novas tecnologias para aperfeiçoar a competitividade operacional da empresa
Aquisição de equipamentos e/ou maquinários
Expansão para outras regiões do País
Fusão/aquisição de outras empresas
Aumento de investimento em pesquisa e desenvolvimento
Expansão internacional
71%
50%
43%
32%
32%
28%
22%
15%
Como você percebe a
movimentação de processos
de fusão e/ou aquisição no
setor de agronegócios?
Positiva, pois possibilita a criação de grandes conglomerados mais
competitivos em nível internacional
Negativa, pois a concentração de mercado reduz a competição
Não acredito que traga grandes impactos para o setor
Não tenho conhecimento sobre o assunto para opinar
46%
37%
11%
6%
Abaixo da previsão de crescimento necessária para o Brasil
Acima da previsão de crescimento necessária para o Brasil
Alinhada com a previsão de crescimento necessária para o Brasil
19%
19%
61%
Projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que a oferta mundial de alimentos precisa crescer em 20% até 2020, e que o Brasil deve responder por 40% desse incremento no período. Em relação à necessidade de aumento da demanda brasileira versus as projeções de produção, sua empresa estará:
7VOLTAR A PÁGINA INICIAL
Qual(is) o(s)
mercado(s)-alvo de
seu interesse para
investimentos,
parcerias comerciais
e/ou operações
internacionais?
Outros países da América Latina
Chile
Colômbia
Argentina
Venezuela
EUA
China
África
Índia
Países europeus
Outros mercados da Ásia
Canadá
México
40%
22%
17%
35%
11%
40%
33%
25%
15%
26%
13%
10%
10%
8VOLTAR A PÁGINA INICIAL
CADEIA DO AGRONEGÓCIO REFORÇA NECESSIDADE DE INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA E IMPORTÂNCIA DE LIVRE MERCADO
Se dependesse apenas de solo fértil, clima adequado e tecnologia de produção, o agronegócio brasileiro – que já é um dos mais eficientes do mundo – poderia ampliar sua vantagem sobre os demais países e liderar a produção mundial de alimentos nos próximos anos.
Mas ocupar a primeira posição no ranking exige enfrentar algumas limitações, sendo a principal relacionada à infraestrutura logística, reforçaram representantes do setor que participaram do evento 'Competitividade Setorial – Agronegócios' da Amcham, em linha com a pesquisa da entidade apresentada em primeira mão na ocasião.
Ainda falta ao Brasil escoar, de forma rápida e eficiente, toda a produção alimentícia das suas fazendas para o globo. Para que isso aconteça, é preciso melhorar o sistema logístico.
“Contamos com tecnologia, terra e mão de obra, uma enorme vantagem comparativa sobre outros países. Todas as empresas do mundo querem entrar aqui, mas temos vários entraves logísticos”, diz José Ronaldo Vilela Rezende, sócio e líder de Agribusiness da Consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC).
Outra necessidade urgente é reduzir a interferência no mercado. O ex-ministro da Agricultura Marcus Vinicius Pratini de Moraes, que hoje é membro do Conselho de Administração da JBS Friboi, defende que o Brasil tem de se libertar das teses intervencionistas e reguladoras e passar a atuar plenamente conforme as leis de mercado.
“O sucesso que estamos vendo recentemente na agricultura brasileira é baseado em um sistema importado de Chicago, de saber entender a lei da oferta e da procura, e não ficar tentando mexer nela”, destaca Pratini de Moraes.
PERDA DE CHANCES
Se o Brasil dispusesse de uma malha de escoamento
produtivo mais eficiente das fazendas até os portos, o
agronegócio teria condições de continuar a se expandir
e também fazer face a oportunidades que se abrem,
como atender o mercado americano, que passa por
dificuldades de suprimento de milho neste momento.
Uma seca no Meio-Oeste dos EUA deve provocar um
desabastecimento de 80 milhões de toneladas de milho,
segundo Luiz Pretti, diretor presidente da Cargill
9VOLTAR A PÁGINA INICIAL
Agrícola. Estimativas apontam que a produção ameri-
cana desse produto neste ano cairá de 380 milhões de
toneladas para 300 milhões.
“Com essa deficiência, o Brasil poderia aproveitar e ser
o grande exportador para o mercado americano”,
observa Pretti. Por conta do desabastecimento, os
preços aumentaram muito – uma alta de 40% em junho,
para um câmbio de R$ 2 – e há produto em excesso no
Brasil. Na safrinha (colheita fora de época), o País
produziu 34 milhões de toneladas de milho, que
poderiam ser direcionadas aos EUA.
“É um momento único para o fazendeiro brasileiro”,
comenta Pretti. “Temos milho em excesso a preços
recordes, que estão até fora dos silos, mas que não
conseguimos transportar. A falta de infraestrutura é algo
que precisamos resolver logo”, lamenta o executivo.
Pretti ressalta que a burocracia excessiva desestimula
os investimentos do setor privado em infraestrutura.
Pesa a demora na concessão de licenças ambientais para
a construção de obras. “O investimento em portos pode
levar até sete anos para que se consiga toda a finaliza-
ção, e mais três anos para expansão. O que pedimos é a
aceleração desses processos”, afirmou.
O executivo assumiu o posto de presidente da operação
brasileira da Cargill em julho, e pretende dar continui-
dade aos projetos de construção de uma nova fábrica de
processamento de milho no Paraná e uma usina sucroal-
cooleira.
“Queremos seguir investindo em infraestrutura, e é
importante que haja consciência de que se melhore a
infraestrutura básica para fazer os modais funcionarem.
Não adianta ter o melhor porto do mundo se não há
logística para levar [os produtos até lá], nem ferrovias e
rodovias para transportar“, assinala.
DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ
DE TRANSPORTE
A posição do Brasil como produtor e exportador de
commodities agrícolas e proteína animal está consoli-
dada, e com uma cadeia de negócios muito evoluída.
Porém, o País desperdiça a chance de ser o maior
supridor de alimentos do mundo por conta das deficiên-
cias logísticas e regulatórias, critica, uníssono, Valmor
Schaffer, presidente da processadora de alimentos
ADM do Brasil.
Para ele, é preciso diversificar a matriz modal brasilei-
ra, que poderia oferecer alternativas mais baratas que a
rodoviária, como o transporte ferroviário e a cabota-
gem. “Ter 66% do transporte baseados em caminhão é
jurássico”, dispara.
Schaffer entende que a burocracia e as deficiências na
legislação são tão prejudiciais à agricultura quando a
falta de modais de escoamento. “Um estado chegou a
mudar a legislação fiscal 13 vezes e nossa lei laboral
está cada vez mais engessada, quando deveria ser mais
flexível. Precisamos de mais simplicidade na legislação
fiscal e tributária”, destaca.
“Uma companhia como a nossa tem até 60 pessoas na
área fiscal para dar conta da complexidade. É simples
para o governo fazer uma reforma nesse sentido”, avalia.
Valmor Schaffer também aborda a necessidade de
ampliar os investimentos em pesquisa e desenvolvi-
mento. O Brasil pode aumentar a produtividade das
lavouras sem necessariamente expandir a área planta-
da. “Em milho, ainda temos metade da produtividade
americana. Existe um espaço tremendo de incremento
de produção sem precisar de novas áreas”, estima.
10VOLTAR A PÁGINA INICIAL
VISÃO DE OPORTUNIDADES
Roger Laughlin, presidente do grupo Makro Atacadista,
vê esses gargalos brasileiros como oportunidades que as
companhias têm de saber aproveitar em busca de
retornos melhores. “A logística é onde temos as maiores
oportunidades. Um caminhão que sai de Manaus demora
30 dias para chegar a São Paulo porque a infraestrutura é
deficiente e há burocracia para o transporte.”
Segundo ele, em vez de reclamar que o produto não
chega, sua companhia prefere pensar em como trans-
portar os itens com o menor número possível de
interrupções. “Temos de incorporar esses problemas e
fazer melhor que nosso concorrente. Quem reclama do
Brasil não sabe como é operar no Paquistão ou na
Venezuela, por conta de problemas e instabilidade
política. Mesmo assim, estamos nesses países e busca-
mos as oportunidades que oferecem.”
O ex-ministro Pratini de Moraes critica o intervencionis-
mo do setor público e os movimentos comuns de modifi-
car taxas e impostos para beneficiar um ou outro seg-
mento. “Se falta milho por quebra de safra, o preço sobe
e o governo começa a taxar exportações [para privilegiar
o mercado interno]. O Brasil deveria se libertar dessas
teses intervencionistas e reguladoras”, propõe.
É preciso, em vez de intervir, fornecer maior financia-
mento para apoiar no enfrentamento de situações
INTERVENCIONISMO
adversas. “No caso de agricultores que perdem a safra,
há necessidade de renegociar a dívida e ajudar também
a financiar a compra de equipamentos modernos.
Financiar a agricultura é sempre bom negócio, mas o
segredo é oferecer juros baixos e opções de securitiza-
ção visando à segurança, por exemplo.”
Outra proposta do ex-ministro para estimular um maior
avanço do agronegócio brasileiro passa pelos estabele-
cimento de novos acordos internacionais. “O Brasil tem
poucos acordos bilaterais em um mundo no qual 70%
do comércio são feitos por negociações desse tipo.”
Para o ex-ministro, a grande lição a ser seguida pelos
empresários do agronegócio é que se movimentem.
“Gastamos 90% do tempo falando de dificuldades, mas
pouco resolvendo os problemas”, afirma. “Em vez de
ficar nas queixas, é preciso arranjar investidor, e todo o
mundo quer vir para o Brasil.”
Para estar na mira dos investidores estrangeiros, o
agronegócio necessita trabalhar a própria imagem,
sustenta também Pratini de Moraes. “O segundo maior
problema a se enfrentar no agronegócio brasileiro é de
marketing. Não sabemos vender. Precisamos sempre
conseguir mais mercados. Esses são os desafios perma-
nentes que teremos nos próximos anos em função das
nossas deficiências”, conclui.
AÇÃO E MARKETING
11VOLTAR A PÁGINA INICIAL
BRASIL APARECE NA 31ª COLOCAÇÃO EM ÍNDICE GLOBAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR QUE AVALIOU 105 PAÍSES
O mundo está mais rico e bem alimentado do que há cinquenta anos, mas a fome ainda consiste em uma séria ameaça à estabilidade dos países e suas populações.
O Índice Global de Segurança Alimentar (GFSI na sigla em inglês), elaborado pela Economist Intelligence Unit (EIU) e patrocinado pela DuPont, confirma, no geral, boas performances nesse sentido por parte dos países desenvolvidos, mas situações ainda críticas em regiões pobres.
O Brasil – considerado um país de renda média – aparece na 31ª posição do ranking, que é encabeçado por Estados Unidos, Dinamarca e Noruega. Os países percebidos como com pior situação em segurança alimentar foram os africanos Burundi, Chade e Congo.
Apesar de ser uma potência agrícola, o Brasil ficou atrás de nações latino-americanas cuja produção agrária é comparativamente mais modesta, como Chile (26º) e México (30º). O desempenho nacional, por outro lado, foi superior ao de Argentina (32º), Uruguai (33º) e Paraguai (49º), produtores importantes de commodities agrícolas.
A pesquisa, apresentada no seminário 'Competitividade Setorial – Agronegócios', tem como objetivo mostrar que segurança alimentar vai além da produção agrícola: envolve também logística de abastecimento e disponibilidade de oferta.
“A grande limitação brasileira é a baixa infraestrutura, um ponto claramente levantado na pesquisa da Amcham e que, comparado a outros países, precisa ser melhorado”, disse Zacarias Karacristo, presidente regional da DuPont Nutrição e Saúde, durante a apresentação dos dados.
12VOLTAR A PÁGINA INICIAL
INSEGURANÇA CUSTOSA
O estudo deixa claro que, mesmo que haja produção
suficiente, “muitas vezes os suprimentos não conse-
guem chegar onde precisam devido a restrições físicas,
políticas, econômicas e de mercado”.
São citadas informações de um levantamento de 2012
do Centro para o Progresso Americano que indicam que
a insegurança alimentar é custosa não apenas porque
faz as pessoas dormirem com fome. “Pouca comida
aumenta os custos de saúde e reduz a produtividade da
força de trabalho.”
A insegurança alimentar também ameaça a estabilidade
política. “Estudos mostram que a falta de alimentos está
relacionada a uma deterioração substancial das
instituições democráticas em países de baixa renda,
bem como aumento da violência pública, motins,
abusos dos direitos humanos e conflito civil”, lista o
relatório da EIU
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
O GFSI é calculado com base em três critérios: acessi-
bilidade financeira a produtos alimentícios, disponibili-
dade e qualidade/segurança.
A primeira categoria se relaciona com a capacidade de
compra de alimentos, sua vulnerabilidade a choques de
preços e a presença de programas e políticas públicas de
combate à fome.
“Países de alta renda têm melhor pontuação nesse
indicador, bem como várias nações de renda média que
investiram em programas nacionais de redução da
fome, como o Brasil”, descreve o relatório. Esse
quesito é liderado pelos EUA, enquanto o Brasil está na
29ª posição.
No segundo pilar, disponibilidade, a colocação brasilei-
ra cai para 34ª, com a Dinamarca em 1º lugar. Aqui, o
objetivo é medir a infraestrutura (oferta e distribuição)
de alimentos, riscos de interrupção de abastecimento e
esforços em pesquisa agrícola. “Este é um aspecto que
bate perfeitamente com a pesquisa da Amcham”,
comenta Karacristo.
O último item, qualidade/segurança, trata da diversifi-
cação e qualidade nutritiva dos alimentos. De acordo
com o estudo, o Brasil se encaixa na 30ª posição,
enquanto Israel é o mais destacado.
“Em se tratando de diversidade da dieta, nossa combi-
nação de arroz, feijão e proteína possibilita uma
disponibilidade de quilocalorias por pessoa bastante
razoável”, observa o executivo da DuPont.
13VOLTAR A PÁGINA INICIAL
ENTREVISTA
ZACARIAS KARACRISTO | PRESIDENTE REGIONAL DA DUPONT NUTRIÇÃO E SAÚDE :
"PESQUISAS DA AMCHAM E DA EIU CONVERGEM AO APONTAR ELEMENTOS CRÍTICOS PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO"
A M C H A M :
A M C H A M :
O que de mais importante as duas
pesquisas – da Amcham e da Economist Intelligence
Unit patrocinada pela DuPont – apresentadas no
evento revelam sobre o agronegócio brasileiro?
Elas mostram uma
convergência muito grande de cenários nos principais
problemas. Há uma convergência [de críticas dos
empresários do setor] nas questões de infraestrutura,
tributos e outras. O crescimento da economia, por
exemplo, indica a urgência de melhorar a renda geral. O
Brasil é a sexta maior economia do mundo, mas ainda
está muito embaixo no ranking de PIB [Produto Interno
Bruto] per capita por paridade de poder de compra. Não
basta só haver uma boa produção de alimentos. É
preciso que as pessoas tenham dinheiro para comprá-
los. Outro ponto é a questão de disponibilizar comida,
isto é, como transportar, armazenar, exportar etc.
Por que esse índice do PIB per capita por
paridade de poder de compra é importante?
É um número que ajuda
a dar visibilidade ao poder de compra da população e ao
Z A C A R I A S K A R A C R I S T O :
Z A C A R I A S K A R A C R I S T O :
acesso à diversidade e à qualidade dos alimentos
consumidos. Entendo que qualidade e segurança dos
alimentos vão além da questão da fome. Se olharmos
número por número, [a produção mundial de alimentos]
atenderia todas as necessidades do ser humano. Porém,
há outros fatores que influenciam, como preços e safra.
Esse número mostra só a ponta da demanda. O que é
importante é que está havendo uma melhora no Brasil.
Se compararmos com os indicadores de cinco ou dez
anos atrás, vemos uma curva de evolução muito
positiva, mas há espaço para melhorar mais. Estamos
entre os 31 primeiros e ficamos acima da média nas três
categorias da pesquisa. Estamos bem no índice de
população abaixo da linha de pobreza e possuímos
tarifas de importação relativamente baixas para trazer
produtos, sem falar na menor volatilidade de produção
agrícola [em comparação com outros países] e na
disponibilidade de micronutrientes da nossa dieta.
Dentro da América Latina, o Brasil é líder em
disponibilidade, apesar da baixa renda per capita.
Onde o Brasil pode chegar se conseguir
avançar em áreas em que ainda é deficiente?
Não há limite. A
pesquisa da EIU mostra que os países que se saíram
A M C H A M :
Z A C A R I A S K A R A C R I S T O :
14VOLTAR A PÁGINA INICIAL
ENTREVISTA
melhor foram os que apresentaram grande estoque de
suprimento, alta renda das famílias e baixo percentual
da renda familiar destinado à compra de alimentos. Já
os piores índices aparecem justamente onde a questão
da renda é muito baixa. O grande obstáculo [para o
Brasil] é a infraestrutura, um ponto claramente
levantado na pesquisa da Amcham e que, comparado a
outros países, é algo que precisa ser melhorado. Isso
depende de como e com que velocidade podem ser
resolvidos esses problemas.
Qual o papel das empresas na resolução
dos gargalos brasileiros?
A M C H A M :
Z A C A R I A S K A R A C R I S T O : Muitas coisas podem
ser feitas pela iniciativa privada, sobretudo no que toca
às Parcerias Público-Privadas, que ajudam muito a
fomentar os investimentos. Mas há também a questão
do financiamento externo – e os bancos de
desenvolvimento internacionais, como o Banco
Mundial, como importante fonte de recursos. Os
empresários têm de buscar eficiência, cooperação e
condições de melhoria de mercado interno e de
competitividade global.
15VOLTAR A PÁGINA INICIAL
ENTREVISTA
"DESAFIO DA ALIMENTAÇÃO HUMANA É PRODUZIR PROTEÍNA ANIMAL"
MARCUS VINÍCIUS PRATINI DE MORAES | MEMBRO DO CONSELHO DA JBS FRIBOI E EX-MINISTRO DA AGRICULTURA :
A M C H A M :
A M C H A M :
No seminário, as pesquisas da Amcham
e da Economist Intelligence Unit apresentadas
abordaram o potencial brasileiro para liderar a
produção mundial de alimentos. Na sua opinião, o
País poderá de fato assumir essa posição?
Entre os países da América
Latina, só vejo dois que efetivamente podem combater
a fome e fornecer alimentos na região: Brasil e
Argentina. Em menor escala, vêm Paraguai e Uruguai.
O México é o maior importador de produtos lácteos do
mundo. E por que isso? Porque o México fez uma
reforma agrária que não deu certo. É o maior
importador mundial de lácteos, pois compra tudo mais
barato dos EUA – e os americanos também estão
inclusos como grandes produtores, que hoje produzem
até álcool de milho em grande escala.
Que desafios o Brasil tem pela frente?
O desafio da alimentação
humana é produzir proteína animal e, para isso, é
preciso ter milho e farelo de soja. O que é um porco ou
um frango senão uma máquina de transformar proteína
vegetal em animal? Só os grandes produtores dessas
proteínas podem ser grandes supridores de alimentos.
Também temos que atacar a questão do protecionismo.
P R A T I N I D E M O R A E S :
P R A T I N I D E M O R A E S :
A M C H A M :
A M C H A M :
A que exatamente o sr. se refere?
O problema hoje é um tipo
de protecionismo que chamo de ambiental. De repente,
uma empresa de idoneidade duvidosa resolve achacar
dinheiro de produtores. O que ela faz? Manda um
telegrama para os compradores de mercadorias
brasileiras dizendo que os produtores criam gado em
área de proteção indígena ou que não honram os
compromissos assumidos para coibir trabalho escravo.
Quem recebe essa mensagem lá fora olha torto para o
Brasil. Isso não é bem assim, e não podemos permitir
que informações distorcidas sejam usadas contra nós.
Esse tipo de crítica tem fundamento?
Um país do nosso tamanho
tem problemas, sim. Mas muitos países não fazem o
esforço que fazemos para combater essas práticas.
Ocorre que estamos assistindo a um excesso de
propostas de controle e críticas que muitas vezes são
direcionadas por ONGs [Organizações Não
Governamentais] que são patrocinadas por empresas de
concorrentes estrangeiros. O Brasil é importante no
cenário internacional e precisa ter cautela com
interesses enormes, políticos inclusive, que existem.
P R A T I N I D E M O R A E S :
P R A T I N I D E M O R A E S :
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ENTREVISTA
A M C H A M :
A M C H A M :
Que interesses políticos seriam esses?
O Brasil não precisa se
perder nisso agora. Esse assunto terá mais importância
no futuro. Temos de encontrar uma forma de não criar
embaraços para nós mesmos e também discutir mais
acordos internacionais. O Brasil tem pouquíssimos
acordos em um mundo em que 70% do comércio são
feitos via tratados bilaterais.
Outro assunto tratado no seminário foi
a restrição à compra de terras por estrangeiros. O
que o sr. pensa sobre esse tema?
Não tenho nenhuma
restrição à compra de terras brasileiras por estrangeiros,
P R A T I N I D E M O R A E S :
P R A T I N I D E M O R A E S :
mas é preciso lembrar que política não é algo estático,
não há decisões nem princípios que não sejam
mutáveis. O que o mundo está mandando de mensagens
ao Brasil é que não plante, não modernize porque isso
vai contra o meio ambiente. No mundo, existem
reuniões para combater as queimadas na Amazônia.
Falo de instituições acadêmicas como MIT [sigla em
inglês para Instituto Tecnológico de Massachusetts],
Columbia, Harvard e Cornell. A proposta das teses é
que os brasileiros parem de plantar e só cuidem da
Amazônia. O que precisamos é tomar cuidado com a
venda de terras a estrangeiros perto das nossas
fronteiras, mas proibir a compra de terras para
plantarem é burrice. Os brasileiros deveriam apoiar a
compra porque, se houver mais gente querendo
comprar, o preço aumenta. O Brasil é encolhido e tem
receio dessas coisas.
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ENTREVISTA
"À INICIATIVA PRIVADA CABE A CONSTRUÇÃO DE TERMINAIS DE CARGA E SISTEMAS DE ARMAZENAGEM; AO GOVERNO, DESENVOLVER ESTRADAS E FERROVIAS MAIS LONGAS, ALÉM DE LINHAS DE ENERGIA"
VALMOR SCHAFFER | PRESIDENTE DA ADM DO BRASIL :
A M C H A M :
A M C H A M :
Qual é o ponto mais preocupante para o
agronegócio do Brasil?
Entre os envolvidos no
agronegócio, a maior parte sempre reclama da logística.
Falta um modal eficiente de transporte. No momento, é
necessário um grande investimento em ferrovias,
hidrovias e rodovias, nesta ordem. Sem resolver essas
questões primordiais, o caminho é de crescimentos
marginais decrescentes no setor. Ter 66% do transporte
baseados em caminhão é jurássico. Nossa legislação
laboral mostra uma carga cada vez mais pesada.
Precisamos também simplificar a legislação tributária e
fiscal, visto que uma empresa como a nossa tem até 60
pessoas para tomar conta da complexidade da área
fiscal. É simples para o governo fazer uma reforma
nesse sentido.
O Brasil realmente tem como se tornar
o maior produtor de alimentos do mundo até 2020,
potencial indicado pela Embrapa?
Creio que isso demorará para
acontecer, ainda mais se o governo não fizer
investimentos na área de infraestrutura. Na parte mais
V A L M O R S C H A F F E R :
V A L M O R S C H A F F E R :
pesada, como estradas e ferrovias, só o governo pode
investir. Esse tipo de gargalo é uma limitação grave.
Pegue o caso dos fertilizantes hoje: os fabricantes
esperam, em média, cinco dias para descarregar nos
portos. É necessário que o governo se some à iniciativa
privada para investir nas principais necessidades.
Qual a função do empresariado nesse
contexto?
A iniciativa privada tem feito
seu papel de investir no que faz sentido para ela, o que
traz retorno. Há uma tremenda capitalização no campo.
Temos uma geração de businessmen rurais e empresas
comerciais que se expandiram nos últimos anos e estão
sólidas. Dispomos de uma terra sensacional, com solo
fértil e composição física apropriada à agricultura.
Somos líderes em exportação de carnes e soja. Na soja,
já alcançamos um resultado excepcional, ultrapassando
os EUA em termos de produtividade. O mesmo ocorre
com o açúcar e o café. Temos participação crescente [na
exportação] de milho, mas ainda registramos metade da
produtividade americana; então, existe um espaço
tremendo de incremento de produção sem serem
necessárias novas áreas. Onde o Brasil conseguiu
avançar em agricultura, é líder ou vice-líder mundial.
A M C H A M :
V A L M O R S C H A F F E R :
18VOLTAR A PÁGINA INICIAL
ENTREVISTA
Quem está na raiz disso é o produtor brasileiro. Por isso,
vejo grande potencial para aumentar a área agrícola. Os
exportadores atingiram capacidade de avaliação de
negócio bastante elevada. Porém, temos um problema
que é o gargalo portuário, que complica as exportações.
Quando se trata de um investimento em linhas elétricas
e expansão de espaços portuários, isso é papel do
Estado. A iniciativa privada tem feito muito, mas o
governo pode e deve fazer mais. À iniciativa privada
cabe a construção de terminais de carga e de sistemas de
armazenagem, por exemplo, enquanto ao governo resta
a construção de estradas e ferrovias mais longas, linhas
de energia e outros.
A M C H A M : A partir dos debates vistos no
seminário da Amcham, qual a mensagem que fica
aos empresários do agronegócio?
O cenário é positivo e os
gargalos são coisas com as quais se tem de lidar. Creio
que teremos um crescimento forte na agricultura pelos
próximos dez ou 15 anos no Brasil. Vejo que muitos
produtores fizeram por merecer [os retornos vistos nos
últimos anos]. Eles estão vivendo o melhor momento
da agricultura brasileira dos últimos cem anos.
V A L M O R S C H A F F E R :
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JOSÉ RONALDO VILELA REZENDE | SÓCIO E LÍDER DE AGRIBUSINESS DA PWC :
"PAÍS PRECISA ESTAR COM A 'CASA ARRUMADA' PARA EVITAR ARGUMENTOS QUE LEVEM A PROTECIONISMO"
A M C H A M :
A M C H A M :
Quais são as principais conclusões que
podem ser tiradas do debate?
As discussões mostram que o Brasil
tem um potencial esplêndido para ser o celeiro do
mundo, e há oportunidades tanto em produção quanto
exportação que trariam melhoria de renda ao produtor.
Temos gargalos que precisam ser trabalhados, como a
grande utilização de transporte rodoviário em
detrimento do ferroviário, a deficiência de portos e o
baixo uso de hidrovias. Também há temas importantes
como capacitação de mão de obra, o que demanda
investimentos, e carga tributária, que é outro entrave a
ser enfrentado. Estamos evoluindo nessas questões,
embora ainda haja muito a ser feito. Muitos dos projetos
poderiam ser feitos via PPP [Parceria Público-Privada].
As empresas vêm se movimentando, e o governo tem a
responsabilidade de estimular esses investimentos e
criar mecanismos de incentivo.
A sondagem da Amcham levantou
desafios para o agronegócio brasileiro, como
deficiências de infraestrutura. Como o sr. avalia a
conexão dos resultados da sondagem com o debate?
J O S É R E Z E N D E :
J O S É R E Z E N D E :
J O S É R E Z E N D E :
Grande parte dos temas discutidos
foi bem capturada pela pesquisa da Amcham. Um deles
foram os problemas de logística, mas como devem ser
resolvidos? No final, o próprio investimento privado
acaba tendo de tomar a iniciativa em detrimento do
público como forma de solucionar as carências. Outro
tema abordado foi a dificuldade de avanços em termos
de rodovias, ferrovias e anéis viários. [A liberação de
obras] Passa por muitas questões ambientalistas, onde
às vezes há setores que jogam contra em vez de tentar
facilitar e tentar trabalhar juntos. De forma nenhuma
sou contra a proteção ao meio ambiente, mas é possível
fazer coisas preservando o equilíbrio ecológico. Muitas
empresas têm feito isso de forma exemplar.
Falando na questão ambientalista,
como a votação do novo Código Florestal é vista pela
cadeia do agronegócio?
A definição do código está um
pouco complicada. Ainda há algumas questões em
discussão que foram lançadas por medida provisória.
Falta resolver o tema e dar mais transparência e
confiança ao investidor de que a qualquer momento não
será surpreendido por alguma mudança no código.
A M C H A M :
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A M C H A M :
A M C H A M :
E a questão da restrição de compra de
terras por estrangeiros, como o sr. vê?
Esse é outro tema importante
porque vivemos em um mundo globalizado e querer
restringir o capital estrangeiro para a compra de terras
vai na contramão desse movimento. Acho fundamental
que isso seja esclarecido e se estabeleçam regras claras,
transparentes e que seja permitido esse investimento até
certo limite. Temos terras, produtores, água e luz, mas
precisamos de capital. O País, por si só, carece de
dinheiro para investir em tudo. Temos de permitir, sim,
a entrada de estrangeiros, do mesmo jeito que as
empresas brasileiras do agronegócio estão entrando nos
EUA e na Austrália. É uma via de mão dupla.
Entre os assuntos abordados no
seminário, estão a necessidade de novos acordos
internacionais e a percepção de um aumento de
iniciativas de viés protecionista. Como o sr. analisa
esse quadro?
É um problema complicado. Veja o
caso da laranja, em que o Brasil supre 80% do mercado
mundial. Os EUA descobriram que o País usa um
fungicida permitido aqui, mas não para eles [Os
J O S É R E Z E N D E :
J O S É R E Z E N D E :
americanos suspenderam em fevereiro um lote de
importações de suco brasileiro com o fungicida
carbendazim]. Isso trouxe um prejuízo enorme para a
cadeia citrícola [brasileira], que conseguiu contornar
parte das perdas passando a exportar suco com mais
água, o non concentrated juice. Outras barreiras criadas
são para proteger mercados locais, como aconteceu há
três anos com o embargo de carne bovina pela Europa.
Aquilo foi uma ação da Irlanda, que é a maior
prejudicada. Temos como produzir carne a custo
competitivo, e eles não. Isso [a escalada protecionista]
não parará.
Como esse assunto deve evoluir?
Temos de cuidar do tema de
sustentabilidade ambiental e social porque isso será
motivo de embargo. Assim que não acharem mais
justificativas fitossanitárias de proteção aos mercados,
começarão a falar que o agroempresário brasileiro está
produzindo à custa do empobrecimento do produtor
rural. O setor canavieiro tem feito um trabalho enorme
de educação para desmistificar a existência de trabalho
escravo e infantil. Havia problemas? Sim, mas
foram resolvidos. Por isso, precisamos estar com a
'casa arrumada' para evitar argumentos que levem a
mais protecionismo.
A M C H A M :
J O S É R E Z E N D E :
O evento foi patrocinado por:Expediente:Editora: Giovanna Carnio (MTB 40.219)Reportagem: André Inohara e Marcel GugoniFotos: Mário MirandaDiagramação: Idéiafix Computação Gráfica