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Ambientes virtuais e formação de - gepeticem.ufrrj.br · de uma aula online que fez uso da ferramenta de bate papo de uma rede social para comunicação entre um docente e licenciandos

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  • Ambientes virtuais e formao de professores: de construes individuais

    s interaes coletivas.

  • REITORAAna Maria Dantas Soares

    VICE-REITOREduardo Mendes Callado

    PR-REITOR DE PESQUISA E PS-GRADUAORoberto Carlos Costa Lelis

    PR-REITOR ADJUNT O DE P S-GRADUAOJairo Pinheiro Silva

    COMIT EDITORIALAlexandre Linhares GuedesCarlos Eduardo F. MonteiroMrcia Keske-SoaresRaimundo Nonato SantosRicardo de OliveiraWaldir Florncio da Veiga

    COMIT EDITORIAL DA SRIEAmarildo Melchiadez, UFJFAna Lcia Vaz da Silva, Colgio Pedro IIAntonio Jos Lopes, CEM/SPArthur Powell, Rutgers University, EUADora Soraia Kindel, UFRRJJavier Diez-Palomar, Universidade de Barcelona, EspanhaMarcelo Almeida Bairral, UFRRJ (Coordenador)Maurcio Rosa, UFRGSRosana de Oliveira, UERJ

    EDUREditora da Universidade Federal Rural do Rio de JaneiroBr 465, Km. 7, Seropdica RJ - CEP: 23.890-000Telefone: (021) 2681-4711Site: www.editora.ufrrj.brE-mail: [email protected]

  • Ambientes virtuais e formao de professores: de construes individuais

    s interaes coletivas.

    Organizado por Alexandre Assis

    Wagner Marques

    1a. EdioRio de Janeiro, 2017

  • Copyright 2017 porAlexandre Rodrigues de Assis

    Todos os direitos desta edio reservados Editorada Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. proibida a duplicao ou reproduo destevolume, ou de parte do mesmo, sob quaisquermeios, sem autorizao expressa da editora.

    Ttulo Original:

    Srie InovaComTicAmbientes virtuais e formao de professores: de construes individuais s interaes coletivas Volume 8

    EDITORA CHEFE:Tnia Mikaela Garcia Roberto

    EDITORES:Luis Cludio Valente Walker de MedeirosFtima Costa

    COORDENAO EDITORIAL:Teresinha de Jesus Pereira Abbade

    COORDENAO DA InovaComTic:Marcelo Almeida Bairral

    REVISO LINGUSTICA:Wagner da Silveira Marques

    CAPA E DIAGRAMAO:Alexandre Rodrigues de Assis

    510.71A4921.ed.

    Ambientes virtuais e formao de professores: de construes individuais s interaes coletivas [recursoeletrnico] / Organizado por Alexandre Assis, Wagner Marques. - 1. ed. - Seropdica, RJ: Ed. da UFRRJ, 2017.

    (InovaComTic ; v. 8)

    Inclui bibliografias. Modo de acesso: Internet. ISBN: 978-85-8067-088-2 (E-BOOK).

    1. Matemtica Estudo e ensino. 2. Realidade virtual na educa-o. 3. Professores de matemtica Formao. 4. Internet na edu-cao. 5. Tecnologia educacional. I. Assis, Alexandre. II. Marques, Wagner. III. Ttulo. IV. Srie.

  • Este livro dedicado a todos os profes-sores e futuros professores, em especial, aos comprometidos com a Educao.

  • | 7Ambientes virtuais e formao de professores

    PREFCIO

    A oitava edio da srie Inovaes na aula de matemtica com as tecnologias da informao e comunicao intitulada Ambien-tes virtuais e formao de professores: de construes individuais s interaes coletivas apresenta cinco captulos acerca de expe-rincias e reflexes sobre processos de formao de professores de Matemtica e sobre a (re)construo do conhecimento matemtico em meio virtual, por professores e licenciandos, em plataformas desenvolvidas com finalidade educacional e tambm por meio de redes sociais.

    A utilizao de e-portflios como parte do acompanha-mento e avaliao de uma disciplina de um curso de Licenciatura em Matemtica de uma universidade pblica o tema do primeiro captulo, Construo de e-portiflio: uma experincia na formao de futuros professores de Matemtica, que os apresenta como mais que instrumentos para organizao de atividades, caracterizan-do-os como um espao de comunicao e compartilhamento de saberes, desenvolvendo a autonomia e capacidade para as tomadas de decises. Os licenciandos utilizaram um construtor gratuito de sites para criao de seus e-portflios, onde registravam suas inquietaes, descobertas, dvidas e aprendizados durante a disci-plina. Por conta das caractersticas da ferramenta, poderiam inse-rir imagens, links, vdeos e outros recursos, fomentando a autoria e possibilidade de edio permanente, revisitando o que j havia sido

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    postado e reeditando de acordo com eventuais novas impresses. Os contedos eram de responsabilidade exclusiva dos li-

    cenciandos, sendo exigida apenas uma seo em que os mesmos deveriam discorrer sobre um contedo matemtico, a fim de que fosse possvel perceber indcios de aprendizagem daquele tema. Trs dimenses emergiram da anlise dos portflios: a conceitual, a comunicativa e a tecnolgica. O autor debruou sua anlise sobre dois portflios em que foi possvel observar e analisar as dimenses citadas.

    O segundo texto, Anlise de um chat na plataforma Vir-tual Math Team com GeoGebra (VMMTCG), relata a experincia da realizao de um chat nessa plataforma durante uma discipli-na de ps-graduao, em que os alunos atuavam como gestores do ambiente por um determinado perodo. O objetivo principal desse relato verificar como se d a interao dos atores na plataforma diante da resoluo de um problema matemtico com o auxlio do software de Geometria Dinmica GeoGebra.

    Com o estabelecimento de uma comunicao sncrona en-tre os participantes no chat com o GeoGebra integrado, uma inova-o para o grupo, o autor observa os desafios da constituio de um time com o objetivo comum de construir um quadrado respeitando uma dada condio. As trocas de ideias e conduo conjunta do co-mando do GeoGebra para resoluo do problema surgem como da-dos importantes para a compreenso do fazer matemtico de forma coletiva e colaborativa em um ambiente virtual. As relaes entre os participantes e como se posicionavam em relao ao uso do Geo-Gebra, de forma sncrona, fornecem elementos ricos para a anlise feita pelo autor.

    Interao e sua contribuio para um frum de discusso o ttulo do terceiro captulo que explora a interao e suas poten-cialidades em um frum de discusso a partir da Perspectiva Hist-rico Cultural e do uso de tecnologias educacionais para a formao continuada de professores de Matemtica da Educao de Jovens e

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    Adultos, realizada em um ambiente virtual. Foram destacados tre-chos de interaes em fruns de discusso de dois grupos de pro-fessores como resposta provocao realizada pela coordenao do curso a respeito de conceitos relacionados funo polinomial do primeiro grau e seu ensino.

    Apoiada em Vygotsky, a autora analisa o compartilhamen-to de experincias e construo coletiva de ideias sobre o contedo matemtico em tela e estratgias para seu ensino. As relaes cons-trudas entre os professores em formao, registradas nos fruns observados, tambm tm seu destaque e ajudam a compreender o processo reflexivo sobre suas prprias prticas, alm de fornecer in-dcios de desenvolvimento profissional.

    O texto seguinte, Usando o inbox do Facebook como es-pao para a modelagem de funes matemticas visando o trata-mento da informao de forma crtica e colaborativa, traz o relato de uma aula online que fez uso da ferramenta de bate papo de uma rede social para comunicao entre um docente e licenciandos em Matemtica por meio de um grupo criado para esse fim. O objetivo dos licenciandos era buscar o melhor modelo funcional para esti-mar o nmero de usurios daquela rede social em 2030, fazendo uso de uma tabela com o nmero real de usurios ao longo de oito anos.

    O estudioso apresenta e analisa as interaes ocorridas no grupo, destacando o processo de construo do conhecimento matemtico com apoio de uma planilha eletrnica e por meio das reflexes e anlises dos alunos sobre as estimativas geradas pelos modelos propostos por eles. Fundamentado na perspectiva da Edu-cao Matemtica Crtica, o autor discute a importncia da utili-zao de dados reais na formao docente, fomentando a anlise crtica e ao mesmo tempo, servindo de exemplo de prtica para os futuros professores.

    O foco do ltimo captulo, O que a postagem de uma nova ideia pode provocar em um frum de discusso?, est no desenro-lar de um frum de discusso realizado em uma disciplina de ps-

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    -graduao em Educao de uma universidade pblica, compreen-dendo-o como um ambiente virtual de aprendizagem. O objetivo do trabalho consiste na anlise das interaes ocorridas a partir das lentes de autores que trabalham com os conceitos de discurso, eventos crticos e ns cognitivos, a fim de identificar indcios de aprendizado e reconhecer de que forma isso fica claro por meio das postagens dos alunos.

    Alm disso, o autor observa saltos e mudanas de foco durante o perodo do frum e verifica como isso altera ou no as interaes e indcios de ganhos cognitivos por parte dos alunos, apoiado em modelos de anlise de interaes j consolidados, aqui mesclados parcialmente, abrindo novas possibilidades para anlise de fruns de discusso.

    O livro mantm o carter inovador da coleo trazendo te-mas emergentes e que apontam para a urgncia de se debruar sobre questes relacionadas com diferentes formas de pensar e construir conceitos matemticos, alm de formas para aprend-los e ensin--los usando tecnologias digitais, em particular, em ambientes vir-tuais didaticamente desenhados ou no para fins educacionais.

    Agnaldo EsquincalhaUerj, 2017

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    APRESENTAO

    Srie Inovaes na aula de matemticacom as tecnologias da informao ecomunicao (InovaComTic)

    Nossa inteno com a presente Srie estreitar o dilogo entre a pesquisa em educao matemtica, a informtica e a sala de aula, contexto que clama por mudanas qualitativas e est cada vez mais complexo em funo das diferentes tecnologias que compem o co-tidiano dos estudantes e dos educadores.

    Entendemos que esse propsito, materializado na presente Srie, est em consonncia com as metas atuais incentivadas pelas diferentes instituies de fomento para as reas de Educao e de Educao Matemtica e para a formao de professores mediada pe-las tecnologias da informao e comunicao (TIC).

    A Srie no destinada apenas divulgao dos produtos gerados no grupo de pesquisa que coordeno na UFRRJ, o Gepeticem. Acolhemos propostas de outros grupos ou instituies que estejam em sintonia com a meta da Srie. importante que a discusso te-rica abordada esteja articulada com, na ou para a prtica de ensinar e aprender matemtica. Prtica essa que no fique simplificada ao encantamento e a reproduo acrtica de situaes de aprendiza-gem com a informtica educativa.

    uma grande satisfao publicar eletronicamente esse vo-lume da InovaComTic e democratizar ainda mais o acesso srie.

    Prof. Marcelo Almeida BairralCoordenador da Srie

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  • Sumrio

    CAPTULO 1CONSTRUO DE E-PORTFLIO: UMA EXPERINCIA NA FORMAO DE FUTUROS PROFESSORES DE MATEMTICA.................................................................................................. 15Alexandre Rodrigues de Assis

    CAPTULO 2ANLISE DE UM CHAT NA PLATAFORMA VIRTUAL MATH TEAM COM GEOGEBRA (VMTCG)....................................................... 37George William Bravo de Oliveira

    CAPTULO 3INTERAO E SUA CONTRIBUIO PARA UM FRUM DE DISCUSSO........................................................................................................ 55Gisele Pereira de Oliveira Xavier

    CAPTULO 4USANDO O INBOX DO FACEBOOK COMO ESPAO PARA A MODELAGEM DE FUNES MATEMTICAS VISANDO O TRATAMENTO DA INFORMAO DE FORMA CRTICA E COLABORATIVA.............................................................................................. 73Mrcio de Albuquerque ViannaMarcelo Almeida Bairral

    CAPTULO 5O QUE A POSTAGEM DE UMA NOVA IDEIA PODE PROVOCAR EM UM FRUM DE DISCUSSO?............................... 91Wagner Marques

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    CAPTULO 1

    CONSTRUO DE E-PORTFLIO: UMA EXPERINCIA NA FORMAO DE FUTUROS PROFESSORES DE

    MATEMTICA

    No curso de licenciatura em Matemtica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro campus Seropdica o e-portflio (ou portflio eletrnico) utilizado como um instrumento de organi-zao, acompanhamento e avaliao. Na disciplina Ensino da Mate-mtica II, cada licenciando constri seu portflio com o objetivo de registrar suas aes, promover reflexes e tornar-se sujeito no pro-cesso de construo do conhecimento. Estimulando a construo e apropriao de e-portflio, com caracterstica de portflio analtico o licenciando, em matemtica, arquiteta um espao de comunica-o e compartilhamento de saberes, desenvolvendo a autonomia e capacidade para as tomadas de decises. Alm de oportunizar o uso de tecnologias digitais, o e-portflio como estratgia de novas prticas pedaggicas, possibilita um repensar sobre novas formas de avaliao. Com essa prtica, pretende-se que o futuro professor possa desenvolver habilidades para investigao e reflexes sobre suas aes. Nesse processo, podem ser identificadas evidncias de construo de conhecimento e desenvolvimento cognitivo.

    Alexandre Rodrigues de Assis1

    1 Doutorando em Educao PPGEduc/UFRRJ, Professor SEEduc/RJ, profalexandreassis@ hotmail.com

    mailto:profalexandreassis%40%20hotmail.com?subject=

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    Introduo

    A formao e o desenvolvimento pessoal e profissional de licen-ciandos em Matemtica podem ser motivadores para promover re-flexes acerca de inovao e contextos formativos em Educao. O crescente desenvolvimento de aparatos tecnolgicos digitais, assim como as associaes entre os recursos miditicos, podem oportuni-zar novas situaes de aprendizagem.

    Nesse sentido, a insero e utilizao de e-portflios tam-bm conhecidos como webflios ou portflios digitais como es-tratgia pedaggica pode ser um contributo para experienciar no-vas formas de construo de conhecimento. Essa estratgia pode possibilitar que cada licenciando se aproprie do artefato, uma vez que entendemos que o e-portflio pessoal, e elaborar estratgias para analisar e refletir como se aprende e o que se aprende. A do-mnio desse artefato, configurando-se como uma prtica educativa ativa, auxiliar no processo de avaliao e formao do licenciando de forma mais autnoma. De acordo com Mercado (2009), a muta-bilidade e a flexibilidade favorecem que o aluno possa registrar a cada aula o que aprendeu, revisitando, modificando, adicionando, alm de textos, imagens e vdeos, links para redes sociais e outros sites, caixa de texto para mensagens e contatos.

    A utilizao do e-portflio, por um perodo determinado e como uma metodologia de acompanhamento do processo de cons-truo e apropriao, pode fornecer evidncias de aprendizagem, nesse caso especfico, de conceitos relativos matemtica, e refle-xes sobre suas aes. Desse modo, confere ao estudante a liberdade de modificar o contedo disponibilizado, criando e recriando novas conexes que vo de encontro com as especificidades do seu foco de interesse e aprendizagem.

    Diante desse posicionamento, percebo que o e-portflio, como instrumento de construo de conhecimento, vai muito alm de uma simples organizao de arquivos facilitados pelos apa-ratos tecnolgicos. O que deve ser explorado a possibilidade de

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    abandonar a passividade no processo em que o aluno visto apenas como um receptor de informaes formatadas, sem a motivao de exercer algum tipo de reflexo sobre sua prtica. Fato corroborado por Lvy (1999, p. 159) quando afirma que

    [...] o ciberespao suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numero-sas funes cognitivas humanas: memria(banco de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todos os tipos), imaginao(simulaes), percepo(senso-res digitais, telepresena realidades virtuais), racioc-nios(inteligncia artificial, modelizao de fenme-nos complexos).

    Por que usar os e-PortflIos?

    As Tecnologias da Informao e Comunicao (TIC) possibilitam a (re)configurao de espaos formativos denominados ambientes virtuais de aprendizagem (AVA). Uma AVA deve [...] possibilitar flexibilidade, interatividade, insero e vinculao na comunida-de virtual constituda, e permitir aos envolvidos o acesso a mate-riais e demais fontes de recursos disponveis na rede (DUARTE; SANGR2, 1999, apud BAIRRAL, 2012, p. 78). Nesse sentido, a cons-tituio de um cenrio, dentre as diversificadas interfaces online nas quais devem deter elementos, que possibilite compartilhamen-to, intervenes, motivao e significaes como autoria, destaco que e-portflio um instrumento de ordenao de produo escrita (BAIRRAL; POWELL, 2006), (re)configurando o processo de cons-truo de conhecimento.

    Baseado nessas delimitaes, sinalizamos que o e-portf-lio [...] permite ao interagente a criao e controle dos processos de informao e comunicao mediante ferramentas e interfaces de gesto (SANTOS; SILVA, 2009, p. 107), e que, como ferramenta de comunicao, pode apresentar indcios de aprendizagem e pro-

    2 DUART, J. M., SANGR, A. Aprentatge i virtualitat: diseny pedaggic de matlials didactics per al WWW. Barcelona: EDIUOC Prtic, 1999.

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    cessos crticos-reflexivos (BAIRRAL, 2007) durante sua construo e apropriao. Um e-portflio pode caracterizar a construo de uma identidade real ou no, contribuindo com possveis pistas sobre o desenvolvimento do licenciando. A utilizao desse recurso como estratgia pedaggica, [...] constitui um cenrio propcio para a construo de conhecimento, a comunicao, a criao e a autoria no desenvolvimento do pensamento (COSTA, 2010, p. 76).

    Assumindo um posicionamento crtico, o educador, face aos objetivos e processos de construo de conhecimento, configu-ra-se uma negao percepo de utilizao do recurso de maneira instrumental e passiva. Dessa forma, atribui-se prtica do e-portf-lio de aprendizagem e reflexo uma rica contribuio para forma-o de um sujeito sob orientaes que distanciam de uma prtica reprodutora. Convergindo para as ideias de Mercado (2009, p. 17),

    o professor intervm no processo de aprendizagem dos alunos criando situaes problematizadoras, introduzindo novas informaes, dando condies para que eles avancem em seus esquemas de com-preenso da realidade. O aluno visto como sujeito que utiliza sua experincia e conhecimento para re-solver problemas.

    Nesse sentido, oportuno destacar o desenvolvimento de atitudes que nem sempre esto presentes em processo tradicionais, tais como, prtica da relativizao, valorizao de diferenas e compreender o que pode ser provisrio. O processo de construo do e-portflio deve estar desprendido da previsibilidade do que deve ser apresentado. O [...] espao textual facilita o surgimento de outros estilos de escrita e de novas estratgias didticas para a leitura e para a escrita (MERCADO, 2009, p.19) e o contedo disponibilizado pelo autor est impregnado de informaes que contribuem para a formao de sua identidade como sujeito que se auto-avalia, promove reflexes e as transforma em aes, refinando, dessa maneira, sua trajetria na construo de conhecimento.

    Este avano no promove igualdade, uma vez nem todos

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    atuam no ciberespao (LVY, 1999) da mesma maneira. No entanto, o que no pode ser negado que a Web um campo frtil para estimular as remixagens digitais (PALFREY; GASER, 2011) com criticidade, pois trata-se da era de um processo criativo e esse processo criativo pode representar uma oportunidade para aprendizagem, remodelando o espao formativo e valorizando a autoria, em detrimento postura que rotula o indivduo como um passivo receptor. Nessa direo,

    [...] preciso que o professor ou tutor consiga obser-var diferentes perspectivas, propicie ao aluno explo-rar distintas fontes das que prope inicialmente, tais como outras comunidades conceituais, bancos de dados, bibliotecas digitais, portais temticos, para que, assim, possa comparar e confrontar diferentes posturas e teorias acerca de um mesmo tema. pre-ciso que saiba trabalhar o tempo de aprendizagem virtual, a flexibilizao de gesto de tempo, espaos e atividades. (MERCADO, 2009, p. 26)

    Powell (2013) destaca a necessidade de articulao de co-nhecimentos tecnolgicos (uso da tecnologia no processo, o conhe-cimento de suas potencialidades e entraves), pedaggicos (como ensinar, avaliar, realizar intervenes substantivas) e conceitos (ter domnio do contedo a ser trabalhado) para a efetiva implemen-tao das tecnologias informticas em contextos formativos, volta-dos para situaes que estimulem o pensar matematicamente e o fazer matemtica, promovendo condies de aprendizagem, atores que podem ser identificados com a utilizao da escrita (POWELL; BAIRRAL, 2006).

    Com as mais distintas e novas formas de organizao e construo do conhecimento, possibilitadas pelos avanos tecno-lgicos digitais, o e-portflio detm potencialidades pedaggicas. E com o foco no desenvolvimento cognitivo, estimular a construo e apropriao e-portflios analticos, em conformidade com Costa (2010, p. 93), pode ser uma ferramenta de construo de conheci-mento, aprendizagem e objeto de avaliao complementar.

    Diante do volume de informaes que circula pela rede,

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    uma preocupao que circunda a utilizao de e-portiflio quan-to forma de utilizao dessas informaes disponveis, cujo fluxo no se compara com o perodo que antecede a popularizao da In-ternet. Conforme indica Mercado (2009, p.22), o aluno

    [...] passa a formar parte ativa do processo de ensino--aprendizagem. Os alunos, orientados pelos profes-sores, tm acesso a diferentes materiais, recursos e fontes de informao, como bases de dados, progra-mas multimdia, documentos eletrnicos, catlogos de bibliotecas e consulta a especialistas, a partir dos quais constroem seu prprio conhecimento de for-ma autnoma, em funo de suas habilidades, co-nhecimentos e interesses.

    A reconfigurao de algumas aes do professor, assumin-do a postura de mediador no processo de construo e a partir do momento que entende que as formas de se aprender vem sofrendo mutaes, acarretar adaptaes e novas formas de processamento e como se produzir conhecimentos a partir da coletnea de infor-maes. O que no podemos mais sustentar que um aluno que re-aliza uma pesquisa na Internet seja denominado de copista, o aluno Ctrl+c/Ctrl+v. Essas pesquisas so dados e no pura e simplesmen-te cpias, o que propiciar um bom momento para discutir a ques-to da autoria e das referncias, alm de promover chats, fruns de discusso para oportunizar a construo de um conhecimento, ma-temtico ou no, de forma colaborativa.

    As potencialidades de um e-portflio (ou webflio, ou por-tflio eletrnico), em relao ao portflio convencional, vai muito alm do que uma simples exposio de arquivos. Com os recursos disponveis na web (construtor Wix3 , Google Drive4 , Dropbox5 , redes sociais, YouTube6 , Vimeo7...), todos com disponibilidade para

    3 http://pt.wix.com/ https://www.google.com/intl/pt-BR/drive/ https://www.dropbox.com/ https://www.youtube.com https://vimeo.com/

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    gratuidade, podemos fazer um mix com os recursos e tornar um simples portflio esttico e expositor em um instrumento bem mais atrativo e interativo, habilitando programas dinmicos e esta-belecendo uma rede de conhecimento. No nego as potencialidades dos mais variados tipos de portflios, mas, tratando de um curso de licenciatura em matemtica e por ter como objetivo o desenvolvi-mento de competncias e criatividade, esses recursos vm possibi-litando reflexes com indcios de aprendizagem em um contexto formativo com a utilizao das TIC.

    Mesmo com todos os grandes avanos no campo das tecno-logias digitais, em especial as TIC, ainda encontramos dificuldades para utilizar o e-portflio de forma efetiva no processo de formao, uma vez que seu processo de construo e refinamento se d online, o que implica em uma boa conexo com Internet e que nem sempre est acessvel aos alunos.

    ProcedImentos metodolgIcos

    Alunos matriculados na disciplina Ensino da Matemtica II do cur-so de Licenciatura em Matemtica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Quadro I) so convidados a construir um portflio, com o objetivo de disponibilizar informaes que consideram rele-vantes, como por exemplo, relato sobre possveis atividades reali-zadas e reflexes pessoais. Inicialmente, provocamos o grupo para que cada um pudesse falar o que entende sobre portflio.

    Quadro 1 Quantitativo de alunos

    Semestre Nmero de licenciandos2013.2 8

    2014.1 8

    2014.2 10

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    Os graduandos costumam dizer que um portflio como um catlogo com fotos de produtos para vender. Dessa ideia, colo-

  • 22 | Srie InovaComTic - Volume 8

    camos a questo de plubicizar, dando visibilidade ao outro, uma vez que, aps a construo e sua publicao na web, todos tero acesso a qualquer coisa que postarem em seus portflios. Promovemos al-gumas reflexes acerca das possveis potencialidades de seu uso e de que forma isso pode contribuir para o seu desenvolvimento aca-dmico.

    Na tentativa de minimizar dificuldades no processo de construo e atualizao dos portflios, foram disponibilizados aos alunos momentos alternativos para realizarem as atualizaes e esclarecimentos de possveis dvidas em relao aos recursos do construtor nesse caso utilizamos a verso gratuita do construtor Wix8 , uma vez que o local, onde so ministradas as aulas presen-ciais, conta com netbook com possibilidade de conexo com a web. Os contatos tambm foram realizados via Whatsapp, Facebook e e-mail, com possibilidade de envio de arquivos (formatos.doc, .pdf ou .mp4).

    As atualizaes foram realizadas de acordo com as neces-sidades de cada licenciando. No entanto, foram agendados previa-mente quatro momentos para vistas das verses: uma destinada para a criao do login e senha, duas vistas coletivas (presencial para compartilhamento de ideias, angstias, dificuldades e realiza-es de algumas reflexes) e uma da verso final.

    Os dados foram coletados com o recurso de cpia de cada portflio, dando um print das telas no dia de vista de cada verso, ar-quivando para as possveis anlises, salvo trs alunos (um aluno de 2014.1 e duas alunas de 2014.2) que concordaram em conceder as senhas pessoais para que fosse possvel observar e analisar o recur-so histrico fornecido pelo Wix. Atravs do histrico possvel acessar todas as modificaes realizadas pelo aluno.

    Durante as vistas foram realizadas algumas observaes na

    Construtor com ferramentas de edio com manipulao que se assemelham s ferramentas disponibilizadas em um editor de texto. Endereo da tela inicial do construtor: http://pt.wix.com/

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    tentativa de auxiliar o processo de estruturao do portflio. A pri-meira verso constituu-se na criao do espao e a segunda verso, indcios de cenrio mais estruturado. No quando seguinte (Quadro 2) , ilustro algumas observaes realizadas na segunda verso.

    Quadro 2 Observaes realizadas na 2a. Verso

    Licencianda Observaes

    Brbara

    - Incluso da barra de menu;- Construo de subpginas;- Pgina inicial contendo elemen-tos informativos e um breve texto com o objetivo da construo de seu e-portflio;- Apresenta domnio da ferramenta e dos recursos disponibilizados pelo construtor.- Coloca pginas para rodar dentro do portflio.

    Fonte: Recorte dos dados coletado pelo autor.

    Com o objetivo de analisar a autonomia, a construo de conhecimento de cunho mais matemtico e indcios de processos reflexivos da turma do segundo semestre de 2014, foi proposta a criao de um espao denominado Frio na barriga. Este espao consistia em uma aba na qual o aluno selecionaria um assunto refe-rente ao contedo de Matemtica da grade curricular da educao bsica, em nvel de Ensino Mdio. Essa foi a nica interveno no sentido de determinar o que deveria conter no e-portflio e pro-piciar um espao com possveis indcios que caracterizassem um aprendizado de conceitos matemticos e analisar o desenvolvimen-to dos alunos.

    as dImenses nos e-PortflIos

    O processo de anlise dos e-portfolios esteve direcionado para alm da apreciao dos procedimentos utilizados para organizao das abas, objetivando uma explorao mais profunda e centrada na

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    identificao de dimenses que podem estar presentes na forma-o do futuro professor de matemtica. COSTA(2010) destaca trs dimenses (Figura 1) que podem emergir durante o processo de anlise e que possuem interseces: a conceitual (relacionados a contedos matemticos), a comunicativa (relacionado aos recursos de exteriorizao na forma escrita) e a tecnolgica (artefatos e re-cursos digitais).

    Figura 1 Representao grfica das dimenses

    Fonte: Adaptado de Costa (2010, p.93).

    Nesse sentido, para sedimentar a escolha das menciona-das dimenses, concordo com Santos e Silva (2009, p. 110) em que [...] situaes de aprendizagem devem contemplar o potencial pe-daggico, comunicacional e tecnolgico do computador on-line. Dessa forma, ter o e-portflio como um cenrio de oportunidades para a construo de conhecimento pode promover situaes em que o aluno desenvolva reflexes sobre sua prpria aprendizagem (BRANDES, BOSKIC, 2008). Bairral e Powell (2006, p.84) acrescen-tam que [...] o importante no portflio a reflexo que o estudante far sobre sua aprendizagem, sejam as facilidades encontradas, se-jam as dificuldades.

    Tendo o e-portflio como instrumento que sofre modifica-

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    es durante o processo de construo e alimentado com infor-maes que podem evidenciar o processo de aprendizado o aluno (BAIRRAL; POWELL, 2006) e visando identificar indcios de apren-dizado matemtico, destacamos os portflios construdos por alu-nos que cursaram a disciplina no segundo semestre de 2014, uma vez que, nesse perodo, foi sugerido aos alunos a construo de uma espao dentro do portflio que abordasse algum contedo matemtico pertencente grade curricular da Educao Bsica.

    Diante do grande volume material gerado e da possibili-dade de acesso ao histrico do construtor, a anlise incidiu sobre o espao denominado Frio na barriga e sobre um dirio que trata da utilizao do VMT Chat9 , a partir da qual destacamos dois por-tflios (Quadro 3).

    Quadro 3 - Sujeitos analisados

    Licencianda Ttulo do portflioFrio na barriga Data inicial Data final

    Nmero de

    atualizaes10

    Brbara

    Portflio ... registran-do e cons-truindo o conheci-mento 11

    Estudo Pessoal

    27/08/2014 17/12/2014 21

    MarliaMeu por-tflio! 12

    Repre-sentan-

    do os imagin-

    rios

    28/08/2014 14/12/2014 36

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    9 Virtual Math Teams (VMT), disponvel no endereo http://vmt.mathforum.org/VMTLobby/10 O nmero de atualizaes indica a quantidade de acessos e publicaes de modificaes, pois existe a possibilidade de acessar, realizar modificaes e no 11 http://barbaracarolinecar.wix.com/portfoliocarol12 http://mrginglass.wix.com/marilia

    http://vmt.mathforum.o rg/VMTLobby/http://vmt.mathforum.o rg/VMTLobby/

  • 26 | Srie InovaComTic - Volume 8

    Buscando as dimensesEm vrios momentos, uma estratgia comumente utiliza-

    da pelos alunos foi a elaborao do texto de forma prvia em um editor fora do construtor, o qual j transferiam direto para o local desejado no portflio, realizando apenas os ajustes de fonte e ali-nhamento. Diante desse procedimento, com processo de acompa-nhamento de construo do portflios e as vistas das verses, a es-crita no sofria modificaes, uma vez postada.

    Algo que merece destaque o processo de apropriao das ferramentas disponibilizadas pelo construtor, identificado durante as vistas, no qual foi perceptvel a desenvoltura de como que os alu-nos customizaram suas construes. Tendo as dimenses citadas a partir das consideraes de Costa (2010b), em relao dimenso tecnolgica ilustro no Quadro 4 algumas verses da pgina inicial do portflio da aluna Marlia.

    Quadro 4 - Momentos de definio do visual e da estrutura do portflio

    Pgina inicial Aspectos observados

    A pgina no apresenta aspectos de elaborao e

    estruturao, indcio de um momento de reconhecimen-

    to do ambiente.

    Apresenta modificaes visuais, explorando as possi-bilidades de customizao, barra superior diferenciada, barra de menu horizontal e

    preocupao esttica.

  • | 27Ambientes virtuais e formao de professores

    Modificao na nomenclatu-ra dos cones.

    Essa verso j apresenta a estrutura, com insero de texto, imagem, fundo

    customizado, barra de menu definida.

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    A dimenso tecnolgica tambm observada na trajetria de construo realizada pela aluna Brbara, mas, com um pouco mais de ousadia, na aba Dirio de Aula do dia 15 de outubro, na qual cria um espao em que h possibilidade de manipular o Geo-Gebra sem que seja necessrio sair do portflio.

    Figura 2 - GeoGebra rodando dentro do e-portflio

    Fonte:http://barbaracarolinecar.wix.com/portfoliocarol#!sobre-1/c156z

    Com o GeoGebra rodando dentro da aba indicada poss-vel realizar construes. Acredito que essa iniciativa pode promo-

  • 28 | Srie InovaComTic - Volume 8

    ver momentos de interaes e contribuir para reflexes sobre seu processo de aprendizagem.

    Analisando fragmentos de Meu portflio!10

    Podemos observar que a dimenso comunicativa parece no apresentar grandes entraves para a licencianda, uma vez que utiliza o espao discursivo para relatar e expor algumas de suas opi-nies. O trecho seguinte um recorte do dirio13 sobre a atividade com VMT chat com GeoGebra, elaborado pela aluna.

    [...] Sobre a experincia em si, achei o recurso muito interessante. A princpio, senti uma pequena difi-culdade nas ferramentas, mas com a prtica acredi-to que v ficar melhor e, bem possivelmente, posso us-lo para minha atividade. Alm disso, o fato de eu estar ao lado do meu colega em sala de aula, mas con-versar com ele pelo chat foi bem legal. Exploramos e debatemos, por ali mesmo, as possibilidades de uso e sobre o problema.Um possvel impeclio na execuo desta ativida-de que o recurso necessita integralmente do Java instalado no computador e se este der algum tipo de erro ou no funcionar corretamente, o ambiente no vai rodar. Ento, antes de qualquer coisa, devemos lembrar de organizar todos esses detalhes na hora da nossa regncia.

    A aluna manifestou interesse e realizou algumas observa-es acerca do recurso. Identificou a possibilidade de utilizao na sua atividade relacionada ao estgio no colgio de aplicao, ape-sar de ter encontrado dificuldade na manipulao das ferramentas. Verificamos as palavras exploramos e debatemos, sem realizar maiores reflexes.11

    Analisando a aba representando os imaginrios14, a licen-cianda apresentou um contedo bem prximo ao dos livros didti-

    13 Ver dirio completo em http://mrginglass.wix.com/marilia#!em-branco/c1sap

    14 http://mrginglass.wix.com/marilia#!page4/cfvg

  • | 29Ambientes virtuais e formao de professores

    cos e aos disponveis na web. Houve indcios de que realizou uma pesquisa, fez uma remixagem com os contedos e disponibilizou no seu portflio, seguindo das referncias. No foi possvel identifi-car sinais de aprendizado matemtico.

    Analisando fragmentos de e-Portflio...Registrando e construindo o conhecimento

    Com a escrita fazendo parte de sua prtica, a dimenso co-municativa e identificada de forma agradvel no apresenta gran-des problemas na composio textual. A seguir, apresento um re-corte do dirio sobre o VMT15 chat produzido pela licencianda. 12

    [...] no conseguia colocar o enunciado do problema no quadro branco das salas, mais uma vez, devido conexo instvel da internet.Apesar dos problemas ocorridos durante a oficina no VMT, considero que este foi o momento mais interessante da aula. Pois, tive a oportunidade de co-nhecer um recurso que nos possibilita trabalhar de forma dinmica e em grupo. Alm do mais, o portal conta com ferramentas adicionais como o quadro branco e o GeoGebra que podem enriquecer o debate nas salas do chat. Outro aspecto interessante que este tipo de recurso promove a ampliao dos espa-os de aprendizagem, visto que os alunos no neces-sariamente devem estar na sala de aula.

    A aluna realizou algumas observaes sobre a atividade, relatando problemas com a conexo e destacando o seu interesse pelo recurso (VMT), sinalizando que o mesmo podia amplificar o processo de ensino e de aprendizagem, promovendo debates e tra-balhos em grupo. 13

    Observando a aba Estudo pessoal16 , notamos que a aluna

    15 Ver dirio completo em http://barbaracarolinecar.wix.com/portfolioca-rol#!aula-0309/cf1i

    16 Ver o contedo completo em http://barbaracarolinecar.wix.com/portfolioca-rol#!page4/cfvg

  • 30 | Srie InovaComTic - Volume 8

    forneceu elementos para afirmar que a escolha pelo referido tema (Funes Trigonomtricas Inversas) um desafio por conta das di-ficuldades. Analisando o contedo, podemos perceber que a licen-cianda realizou uma pesquisa um pouco mais criteriosa, levantan-do afirmaes sobre a realidade no mbito escolar. Em sua pesquisa percebe algumas distores, entretanto identifica que trigonome-tria aparece na maioria das matrizes curriculares do 2 Ano do En-sino Mdio.

    O interessante que iniciou sua busca com uma concep-o sobre o entendia por funes trigonomtricas inversas, fato que podemos comprovar na imagem que um recorte de seu portflio (Figura 3).

    Figura 3 - Recorte do portflio

    Fonte: http://barbaracarolinecar.wix.com/portfoliocarol#!page4/cfvg

    Nesse trecho, a aluna promoveu uma reflexo sobre a conceituao de inverso multiplicativo e a relao equivocada no entendimento da definio de uma funo trigonomtrica inver-sa. Por conta de sua pesquisa, percebeu o erro e apresentou com propriedade a definio correta, recorrendo a livros que tratam especificamente do assunto e ao livro de Clculo. Com a utiliza-o do recurso do construtor Wix, a aluna ilustrou as funes tri-gonomtricas inversas e disponibilizou os programas GeoGebra, Sketchometry e WolframAlpha rodando dentro da referida aba.

  • | 31Ambientes virtuais e formao de professores

    alguns resultados

    Aps a anlise dos portflios, destacando os recortes apresenta-dos, percebemos a importncia do e-portflio como instrumento de aprendizagem, tanto de quem constroi quanto de quem acom-panha e avalia. A avaliao deve ser vista de maneira holstica, de modo que as dimenses propostas por Costa (2010) possam emergir ou no.

    Nesse sentido, em relao dimenso tecnolgica, pode-mos observar um domnio sobre as ferramentas disponibilizadas pelo construtor e uma busca por outros recursos informticos dis-ponveis na Internet ou em seus equipamentos pessoais. Quanto dimenso comunicativa, h indcios de controle da lngua e escritra com propriedade e, em alguns casos, o aparecimento de postagens de cunho argumentativo. Tratando-se da dimenso conceitual, po-demos observar algumas diferenas, pois os e-portflios ainda apre-sentam fortes caractersticas de um portflio descritivo. No entan-to, conseguimos identificar sinais de que poderia ter ocorrido uma elaborao de um determinado conceito e aprendizagem, quando o sujeito desenvolveu uma escrita impregnada de consideraes e re-flexes com indcios de apropriaes e construo de conhecimen-to, nesse caso voltado para conceitos matemticos.

    Durante o processo de construo e refinamento do artefa-to, podemos evidenciar o desenvolvimento de capacidade reflexiva, crtica e criativa do licenciando, fatores que contribuem para sua aprendizagem e formao. No Quadro 5, apresento algumas evidn-cias que podem emergir durante anlise de e-portflio analtico, tendo a DTCC como dimenses norteadoras:

    Quadro 5 Destaque de algumas evidncias emergentes a partir de anlise de e-portflio

    Dimenso Conceitual

    - Desenvolvimento de raciocnio lgico--matemtico- Conceitos matemticos- Reflexo crtica

  • 32 | Srie InovaComTic - Volume 8

    Dimenso Comunicativa

    - Compartilhar- Divulgao- Feedback- Refinamento na escrita

    Dimenso Tecnolgica

    - Domnio de recursos de digitais para customizao- Busca de novas tecnologias digitais para promover interaes

    Fonte: Elaborado pelo autor

    Na mesma direo, destaco, no quadro seguinte (Quadro 6), algumas contribuies para os licenciandos e para o professor envolvidos no processo de construo de e-portflios.

    Quadro 6 Possveis contribuies para alunos e professores

    Para o aluno

    - Construir conhecimentos- Promover reflexes- Liberdade criativa- Analisar a prpria prtica- Criar e desenvolver habilidades informticas- Aprimorar a escrita- Organizar e compartilhar arquivos- Estabelecer objetivos- Apropriar da linguagem matemtica- Pesquisar e como pesquisar- Desenvolver a autonomia- Publicizar uma identidade

    Para o professor que acompanha

    - Construo de tempo de reflexo - Estabelecer objetivos- Acompanhar o desenvolvimento do aluno- Identificar e analisar indcios de aprendizagem- Promover e estimular reflexes- Avaliao do processo de construo de conheci-mento do licenciando- Estimular o ato de pesquisar- (Re)avaliar aes

    Fonte: Elaborado pelo autor

  • | 33Ambientes virtuais e formao de professores

    consIderaes Para uma contInuIdade

    Com este artigo, enveredo-me por caminhos no muito explorados pela Educao Matemtica: o e-portflio no como instrumento que serve para uma mera organizao e uma compilao de arte-fatos, e sim como um espao no qual o aluno possa promover mo-mentos de reflexes e construo de conhecimento (BRANDES; BOSKIC, 2008).

    Alm de se apropriar de novos recursos informticos, o es-tudante torna-se agente no processo de aprendizagem. Nem sempre possvel identificar as trs dimenses elencadas por Costa(2009), mesmo porque os portflios ainda trazem caractersticas de um portflio de apresentao, limitando-se em reproduzir contedos disponveis na Internet.

    A anlise no recai sobre os pequenos recortes. O processo de acompanhamento e avaliao constante (COSTA et al., 2010) e deve ser realizado dentro do contexto o portflio , oportuni-zando situaes para que o aluno possa elaborar um portflio mais analtico, o que nem sempre uma tarefa fcil. Nas situaes apre-sentadas, as alunas forneceram elementos para que fossem iden-tificadas as dimenses comunicativa e tecnolgica.No que tange a dimenso conceitual, voltada para o aprendizado matemtico, pudemos identificar indcios de aprendizagem. Acredito que a in-terveno realizada ao propor a construo da aba frio na barriga est voltada, especificamente, para um contedo matemtico, o que pode ter oportunizado um espao para reflexo (COSTA, 2009) que favorecesse a emergncia da dimenso conceitual.

    Os e-portflios so tidos como oportunidades de aprendi-zagem para quem os constroi e para aqueles que o acessam (BRAN-DES; BOSKIC, 2008). Nessa direo, no interessante e pouco valorizado um refletir por refletir ou por cumprimento de forma burocrtica; o interessante estimular e oportunizar situaes que promovam o desenvolvimento e o refinamento de reflexes mais significativas de [...] aprendizes constantes e reflexivos crticos de

  • 34 | Srie InovaComTic - Volume 8

    suas descobertas (BAIRRAL, 2013, p. 3) no processo de construo de portflios analticos.

    referncIas

    BAIRRAL, M. A. Discurso, interao e aprendizagem matemtica em ambientes virtuais a distncia. Seropdica: EDUR, 2007.

    ______. Tecnologias da Informao e Comunicao na Formao e Educao Matemtica. Seropdica: EDUR, 2012.

    ______. As TIC e a licenciatura em matemtica: em defesa de um currculo focado em processos. Jornal Internacional de Estu-dos em Educao Matemtica, Vol. 6, n. 1, 2013. Disponvel em: . Acesso em 10 out. 2014.

    BRANDES, G. M., & BOSKIC, N. Eportfolios: From description to analysis. International Review of Research in Open and Distance Learning,Vol. 9, n. 2, 2008. Disponvel em: http://www.irrodl.org/index.php/irrodl/article/viewArticle/502. Acesso em 20 out. 2014.

    COSTA, R. C.; SANTOS, R. T.; BAIRRAL, M. A. Portflios eletrnicos e avaliao em matemtica. Anais X ENEM, Salvador, 2010.

    COSTA, R. C. A emergncia de dimenses na aprendizagem em portflios eletrnicos (v.3). In A. M. Bairral (Ed.). Rio de Janeiro: Edur, 2010.

    ______. O uso de e-Portflios na aprendizagem de alunos do Instituto Federal de Educao, Cincias e Tecnologia do Maranho/ Campus Cod. 2009. Dissertao Mestrado - UFRRJ/PPGEA, Rio de Janeiro.

    GARBIN, E. M. (2003). Cultur@s juvenis, identid@des e Internet: questes atuais. Revista Brasileira de Educao(23), 119-135.

    LVY, P. Cibercultura. So Paulo: Editora 34, 1999.

    MERCADO, L. P. L.(2009). Integrao de mdias nos espaos de aprendizagem. Em Aberto, V. 22,n. 79. p. 17-44.

  • | 35Ambientes virtuais e formao de professores

    PALFREY, John; GASSER, Urs. Nascidos na era digital: entendendo a primeira gerao de nativos digitais. Porto Alegre: Artmed, 2011, 352 p.

    POWELL, A. B., & BAIRRAL, M. A. (2006). A escrita e o pensamento matemtico: Interaes e potencialidades. Campinas: Papirus.

    SANTOS, E., & SILVA, M. (2009). Desenho didtico para educao on-line. Em Aberto, V. 22, n.79, p. 105-120.

  • 36 | Srie InovaComTic - Volume 8

  • | 37Ambientes virtuais e formao de professores

    CAPTULO 2

    ANLISE DE UM CHAT NA PLATAFORMA VIRTUAL MATH TEAM COM GEOGEBRA (VMTcG)

    O objeto deste captulo analisar uma sesso de chat, uma sala de conversa entre cinco alunos da disciplina Ensino e aprendizagem em ambientes virtuais do Programa de Ps-graduao em Educa-o, Demandas Populares e Contextos Contemporneos da Univer-sidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGEduc/UFRRJ), ambiente provido do software GeoGebra. A dinmica da sala de conversa e o trabalho em equipe na plataforma Virtual Math Team (VMT) criam um ambiente de discusso que remete aos debates em uma sala de aula presencial. A interao entre os participantes desenvolve uma proposta de construo geomtrica simples, mas com caractersti-cas que valorizam o investimento em dar voz aos alunos e deix-los desenvolver sob um mnimo de orientao docente a conduo do exerccio proposto na disciplina.

    George William Bravo de Oliveira1

    1 Doutorando em Educao PPGEduc/UFRRJ, Professor FAETEC, [email protected]

    mailto:georgebravo.br%40gmail.com%20?subject=georgebravo.br%40gmail.com%20

  • 38 | Srie InovaComTic - Volume 8

    Interao e InteratIvIdade

    So grandes as possibilidades e a capacidade que estes termos englo-bam. Sob a ideia de interao muitas propostas so colocadas com objetivo de dar voz plateia ouvinte para aumentar o interesse em relao ao assunto de discusso. Podemos observar que alguns pro-gramas de televiso incentivam a participao dos ouvintes, mas podemos observar que h uma seleo do que ser colocado no ar para que no altere ou interfira na proposta editorial do programa. Uma proposta de interao, que garanta a audincia, na expectativa que a proposta do espectador ser levada em conta.

    A construo do conhecimento e o enriquecimento das ideias por meio do debate e troca de ideias a capacidade de reno-vao de uma rotina de sala de aula que tende a ser repetitiva. O professor planeja suas atividades baseadas no currculo e na pro-posta pedaggica da escola, define como sero as aulas, atividades e avaliaes. Mas a figura de um interlocutor que centraliza a discus-so est em processo de transformao, seja nas aulas presenciais ou na modalidade a distncia. Procura-se incentivar a participao e contribuio dos membros do grupo estabelecido. Observamos alteraes pequenas que no mudam a estrutura do programa ou da proposta de um curso. H uma margem entre o que pode ser alte-rado e o que foi definido pelos planejadores de uma disciplina, por exemplo.

    Para um curso oferecido em um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) a interao o ponto principal. O dinamismo que se quer alcanar nas discusses dos grupos e o protagonismo nas atividades, tende a colocar todos os participantes mais vonta-de para exporem suas propostas.

    Rabat e Lauraire2 (1985, apud SILVA, 2010) destacam a relao comunicacional entre emissores e receptores, na qual a in-terao baseia-se na troca de informao e saberes. Os estudiosos

    2 RABAT, F. E LAURAIRE,R. Lnteractivit saisie par les discurs. In: Bulletin de Lidate. Paris:Centro George Pompidou, n.20, jul.1985.

  • | 39Ambientes virtuais e formao de professores

    traam o limite entre os termos interao e interatividade, em que o ltimo responderia por uma interveno mais incisiva sobre os rumos dos contedos que se pretendem discutir. Em seu estudo, focado na educao a distncia, Silva (2010) se preocupa com a participao de quem acessa e o contedo proposto pelo autor do curso, entendendo que a bidirecionalidade capaz de construir um ambiente mais rico atravs da troca, ou seja, entre a proposio que pode ser mais aberta a contribuies de seus participantes e suges-tes de atividades que possam ser criadas.

    Muito do que denominado interatividade no alcana o que o termo quer definir. Assim podemos observar que a procura por uma participao efetiva do ouvinte, em um ideal de comuni-cao em que o receptor possa cambiar seu papel com o transmis-sor, avana com os novos paradigmas da educao, e precisa superar barreiras entre a aceitao das mudanas e o comportamento tradi-cional pela comodidade do ensino convencional. Oferecer uma dis-ciplina online, nos moldes de uma educao participativa em que os alunos possam contribuir com suas ideias e experincias, vem sendo uma meta a ser alcanada dentro de um projeto que envolva a participao e a interao, visando alcanar a interatividade. Uma escolha que depende do projeto poltico e do ideal de quem, seja instituio ou professor, est frente do curso.

    Este estudo baseia-se em uma experincia com a disciplina Ensino e aprendizagem em Ambientes Virtuais, oferecida no segun-do semestre de 2014 no Programa de Ps-graduao em Educao, Demandas Populares e Contextos Contemporneos (PPGEduc)3 , na qual os alunos atuavam como gestores do curso por uma semana. Era aplicado assim o conceito de interatividade que avana sobre a interao dos aprendizes no ambiente, dentro da estrutura do curso e seus instrumentos (fruns, materiais didticos disponveis, chats), favorecendo a participao em uma disciplina oferecida online e a possibilidade em desempenhar um papel de coautoria.

    3 http://www.gepeticem.ufrrj.br/site/index.php

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    chat, um dos esPaos Para uma dIscIPlIna oferecIda onlIne

    A necessidade de dinamizar as relaes em um AVA e chegar a um ambiente que possa recriar as relaes de uma sala de aula agre-ga instrumentos que possam, virtualmente, colocar os integrantes de uma disciplina oferecida online em contato, possibilitando um tempo de acesso simultneo (sncrono) ou acesso em tempo dife-rente (assncrono). Em nosso caso o instrumento escolhido uma sala de conversa, denominada chat, definido por Bairral (2007, p. 35) [...] como espao discursivo e suporte cognitivo para um grupo.

    O chat possibilita um encontro que agendado antecipa-damente com um tema que pode ser determinado antes. A sala de conversa um ambiente no qual tudo que digitado fica registrado, o que possibilita aos participantes reverem a discusso e no se pre-ocuparem em anotar ou gravar o que dito. No ritmo da conversa criado um dilogo mental entre os membros, no qual muitas vezes a excitao com o tema atinge um ritmo to intenso entre os parti-cipantes. H vezes em que as interpelaes entre os envolvidos so atropeladas pelo ritmo de alguns membros mais ativos e geis em sua digitao e alguns se perdem com a rolagem do texto que vai se acumulando.

    Esse ambiente favorece agilidade ao pensamento exposto, e a discusso se desenvolve como se realmente fosse uma reunio presencial. O tempo para pesquisa ou consulta durante a conversa muito escasso. As referncias afloram naturalmente atravs dos conceitos consolidados: uma conversa que nasce do frescor da me-mria e o que foi apreendido pelo aluno, o que pode ser muito rico, em termos de contedo e favorecedor para avaliao de um deter-minado tpico para a matria estudada.

    O chat pode ser colocado como um marco no cronograma da disciplina oferecida, e, em termos estratgicos, o consideramos como um instrumento que favorece a avaliao e a definio das estratgias e planejamento das metas a serem atingidas. Pelo envol-vimento da discusso entre os membros do grupo, o tempo flui e ge-

  • | 41Ambientes virtuais e formao de professores

    ralmente extrapola o que foi definido. Como aprofundamento dos temas abordados no chat, podemos lanar mo de outro instrumen-to que o frum de discusso. Este pode contar com recursos que aprofundam a pesquisa e a reflexo sobre o tema proposto. H al-guns empecilhos entre o falar e a digitao do texto, podendo acar-retar, por vezes, um discurso mal interpretado em sua inteno.

    A Educao na modalidade a distncia pode favorecer o estudo independente, mas prescinde do encontro e discusso em comunidade. Os encontros no so exclusivamente presenciais, porm detm novas maneiras sncronas ou no, valorizando os sa-beres individuais e criando meios comunicativos de troca como o chat. Cada modalidade tem seu potencial e no devemos ficar ape-nas na comparao de suas aes, mas empregar o que h de melhor e mais favorvel para cada grupo. A contribuio de cada integrante de um grupo enriquece o debate no sentido de expor novos olhares, outros pontos de vista de forma simultnea na discusso e explora-o dos temas propostos.

    O que e como escolhemos observar

    A plataforma escolhida para o encontro foi o Virtual Math Team4 (VMT). um projeto da Dexel University School of Educa-tion do Estado de Filadlfia EUA. Este projeto tem como objetivo a resoluo colaborativa de problemas de matemtica e, neste caso apresentado, com o auxlio do programa GeoGebra5 .

    Escolhemos observar o chat desenvolvido na disciplina porque ficou inserido em um momento em que os participantes es-tavam bem entrosados, j tinham participado de outra sala de con-versa e pela novidade de associar o programa GeoGebra como su-porte para a conversa. Essa experincia contava com um elemento inovador para a discusso: alm de registrar a conversa, os integran-

    Disponvel em http://vmt.mathforum.org/VMTLobby/commons/index.jsp GeoGebra um programa de matemtica que rene geometria, lgebra, planilhas eletrnicas, grficos, estatstica e clculo em um pacote de fcil acesso e manuseio. (http://www.geogebra.org/about)

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    tes poderiam desenhar com auxlio do programa. O que poderia ge-rar esse encontro? Ser que atrapalharia o fluxo do dilogo? Como seria essa interao? O elemento surpresa, a novidade, alteraria o ritmo da conversa na sala? Por essas questes que escolhemos a experincia de analisar esse encontro.

    Bairral (2007) apresenta um esquema para anlise do chat, utilizado posteriormente por Marques e Bairral (2014) na anlise desse tipo de ambiente, o qual estabelece uma diviso em quatro fases, numerando a organizao dos dados e como proceder para o estudo da sesso, alm de sintetiz-lo em duas partes: anlise da dis-cusso no coletivo profissional (fase 1 e 2) e anlise personalizada (fase 3 e 4).

    a. Fase 1:a.1. Delimitao do objetivo do Chata.2. Planejamento

    b. Fase 2:b.1. Ediob.2. Resumo das ideias discutidas identificando em carter oletivob.3. Numerao das intervenes

    c. Fase 3:c.1. Escolha do (s) professor (es) a analisarc.2. Identificao de blocos temticos na discussoc.3. Anlise do Contedo de Conhecimento Profissional

    d. Fase 4:d.1.Contraste e meta-anlise de todo o processo (BAIRRAL, 2007, p. 93)

    Embora este modelo de anlise tenha sido utilizado para um bate-papo de natureza diferente do VMT, a seguir detalho como o mesmo foi utilizado na anlise ilustrada neste captulo.

    adaPtao Para nosso ProcedImento e coleta de dados

    Entendemos que o modelo apresentado anteriormente faz uma anlise completa de um chat, mas para o nosso caso, no qual a pr-tica com o programa assume o foco desse ambiente, adaptamos o

  • | 43Ambientes virtuais e formao de professores

    modelo de Bairral (2007) como descrito a seguir.Nas fases 1 e 2, com suporte do material (planilha) dispo-

    nibilizada pelo VMT, usaremos a anlise como foi apresentada. Para a fase 3, como se trata de um modelo de chat em que a discusso se trava em torno de atividades grficas, ao invs de escolher um ator para observar, colocamos o problema como foco da discusso e as interaes para a soluo. Adotaremos parte da fase 3 com os itens c3 e c4. Na fase 4 pretendemos estudar como contraste, as relaes entre os participantes e as intervenes com o programa GeoGebra.Anlise do chat

    O objetivo desse chat foi dividido em dois. Em primeiro lugar uma nova experimentao da plataforma VMT, com a resolu-o de um problema proposto com a estratgia de formar um time, e a aplicao online do programa GeoGebra, que nem todos tinham instalado em seus computadores. O problema apresentado foi a construo de um quadrado sem utilizar o cone apresentado pelo programa (Figura 1).

    Figura 1 Tela do VMT

    Fonte: Disponvel em http://vmt.mathforum.org/VMTLobby/ commons/index.jsp

    Foi planejada uma sesso de uma hora de durao, na qual os membros da turma realizariam a tarefa sem a interveno de um

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    coordenador. Era previsto que a sesso iniciasse s 15h e terminas-se s 16h, mas o grupo estendeu em aproximadamente 50 minutos sua durao.

    Para estudo da fase 2 escolhemos quatro momentos impor-tantes: (i) entrada no chat e ambientao com o programa; (ii) dis-cusso sobre a abordagem do problema; (iii) execuo do problema proposto; e (iv) consideraes sobre o resultado. Realizamos essa di-viso aps a leitura do registro das mensagens, tomando como base a anlise feita por Bairral (2007). A adaptao da proposta de anlise foi feita pela apresentao da estrutura desse chat que alterna o co-mando do programa entre os participantes (enquanto um desenha os outros no podem intervir at que o controle seja passado) e a digitao das mensagens. O teor das mensagens digitadas gira em torno do que realizado na rea de trabalho do GeoGebra.

    Entrada no chat e ambientao com o programa

    O grupo do chat j estava bem entrosado, formado por cinco alunos, os quais sero identificados pelas suas iniciais, que sabiam do horrio marcado, mas que, por problemas pessoais, no conseguiram entrar na sala de forma simultnea (Quadro 1), obser-vando-se uma diferena entre o horrio de acesso entre o primeiro aluno e o quinto de 34 minutos, o que no gerou problema algum para o desenrolar das atividades.

    Quadro 1- Registro do horrio de acesso de cada participante na salaW

    14:51A

    15:15Gi

    15:19Ge

    15:23M

    15:25Fonte: Elaborado pelo autor.

    Como o software era novidade para alguns e a estrutura do chat, um misto de conversa e construo na janela do programa, houve um momento inicial de ambientao e reconhecimento da funcionalidade do mesmo (Figura 2).

  • | 45Ambientes virtuais e formao de professores

    Figura 2 - Aes com o programa GeoGebra por horrio e por participante

    Fonte: Elaborada pelo autor, a partir dos registros da plataforma VMT.

    Nesse grfico observamos o nmero de aes por partici-pante e o horrio de sua interveno. O controle do programa era al-ternado entre os participantes sem limite de tempo ou aes. Cada um explorou os comandos livremente e combinavam quem mani-pularia o programa de cada vez.

    Das 15h08min at as 15h43min cada aluno teve livre aces-so para experimentar os comandos do GeoGebra, sem a preocupa-o em resolver o problema proposto, observando-se que dois alu-nos tiveram predominncia na sesso (Quadro 2). No decorrer das interaes os acessos se equilibram at que a discusso do problema evoluiu. A proposta era trabalhar em equipe e, assim, um dos alu-nos faz na aplicao o que discutido pelo grupo.

    Quadro 2 Predominncia inicial6

    G83 10/22/2014 15:31:34 pode ir o proximo

    W84 10/22/2014 15:31:28 , quando um est desenhando fica desabi-litado para os demais.A85 10/22/2014 15:31:49 sim

    6 Interaes transcritas em sua forma natural, ou seja, como foram postadas.

  • 46 | Srie InovaComTic - Volume 8

    A86 10/22/2014 15:32:04 vai l M...G87 10/22/2014 15:32:04 nobody has controlG88 10/22/2014 15:32:14 vai la gi ou m

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    Discusso sobre a abordagem do problemaA troca de informaes se deu atravs do texto digitado e

    pela movimentao dos comandos do programa. Trs participantes demostravam ter experincia com o GeoGebra e os outros arrisca-vam alguns comandos. O compartilhamento das informaes fluiu bem, apesar de no haver um equilbrio aparente entre o nmero de aes e o nmero de entrada dos alunos no programa.

    A novidade de usar o aplicativo em conjunto com o chat criou uma nova dinmica conversa, pois alm de digitar os alu-nos podiam observar a construo que era realizada no quadro do aplicativo. A interao entre eles ocorre dentro do clima de um tra-balho em equipe (Quadro 3), na qual cada um vai conquistando seu espao pela aplicao de regras que so estabelecidas no momento da conversa.

    Quadro 3 Aspectos do trabalho em equipe

    M117 10/22/2014 15:37:58PODEMOS PASSAR A TAREFA QUE O B. PEDIU?

    B172 10/22/2014 15:48:37pessoal, s para me situar: o que esto construindo?

    W173 10/22/2014 15:48:11Ele sugeriu que cosntrussemos um quadra-do. O que seria uma quadrado?

    G176 10/22/2014 15:49:22construir um quadrado sem usar o icone polgono regular

    W179 10/22/2014 15:50:02Sim, mas para isso, precisamos saber de algumas propriedades do quadrado, no acham?

    W186 10/22/2014 15:52:48 Serve esse?

    A192 10/22/2014 15:57:34 Posso fazer uma...Fonte: Elaborado pelo autor.

  • | 47Ambientes virtuais e formao de professores

    Execuo da atividade propostaO incio da resoluo da atividade proposta, construir um

    quadrado sem usar o cone polgono regular, partiu da iniciativa do aluno A (Figura 3) e de uma proposio do aluno Ge. As primeiras solues foram verificadas por outro aluno para confirmar se aten-diam proposta do problema. O desafio caminha junto com a busca de outras solues e enriquece a discusso do tema da construo, porm nem todos apresentam soluo ao problema. Lembramos mais uma vez que a proposta o trabalho em equipe e essa a valo-rizao do conceito de interatividade apresentado aqui neste estu-do, o qual concorre para um trabalho realizado simultaneamente que fora a resoluo de impasses medida que so apresentados.

    Figura 3 - Construo do aluno A

    Fonte: Elaborada pelo autor.

    Paralelamente construo elaborada pelo aluno A, a qual observada pelos outros participantes, a conversa vai se desenro-lando no chat (Quadro 4), de modo que cada um vai realizando suas conjecturas e articulando nova construo feita pelo aluno Ge.

    Quadro 4 Conjecturas apresentadas pelos participantes

    W231 10/22/2014 16:08:42Por que definiu um raio para construir um quadrado?

    M232 10/22/2014 16:08:35 D PRA FAZER COM O COMPASSO A.?

  • 48 | Srie InovaComTic - Volume 8

    A233 10/22/2014 16:08:20

    pq a construo que fiz foi baseada em cr-

    culos... e quero variar o raio... e outro fator

    ... usei a ferramente compasso...

    A234 10/22/2014 16:09:25 kkkk sim!

    Gi235 10/22/2014 16:10:13Muito legal! Nem lembrava dessa ferra-

    menta do compasso...

    M236 10/22/2014 16:10:48na verdade, faz tanto tempo q no uso, que

    lembro pouca coisa.

    W237 10/22/2014 16:10:50S em crculos? Tive a impresso de ver

    algumas tangentes...

    W239 10/22/2014 16:12:08Ah, pensei que tinha falado que foi basea-

    da em crculos...

    W240 10/22/2014 16:12:28 kkkkkkkkkkkkkkkk

    M241 10/22/2014 16:12:39 VALEU A.

    Ge242 10/22/2014 16:12:39 fiz pelas coordenadas

    Ge243 10/22/2014 16:12:57 utilizando a malha do eixo

    W254 10/22/2014 16:15:19 Cad seu quadrado, Ge?

    Fonte: Elaborado pelo autor

    O foco ento desviado para o novo constructo, polgono JKLM, agora deformado pelo estudante W (Figura 4).

    Figura 4 Construes do aluno Ge

    Fonte: Elaborada pelo autor.

  • | 49Ambientes virtuais e formao de professores

    Esse quadrado, testado por outro aluno, mantinha suas pro-priedades ao ser deformado, no atendendo a proposta que se trata-va de construir um quadrado que no ficasse distorcido, caso tivesse algum ponto movido. Respondendo ao desafio feito pelo aluno W, o estudante Ge iniciou outra construo, o polgono H1J1K1E1.

    O desafio da sesso abriu a discusso entre os participantes sobre os conceitos geomtricos e colocou prova a capacidade de cada um em reagir e propor uma nova soluo (Quadro 5). Encon-tramos aqui a atividade com o programa e a conversa digitada entre os outros membros paralela.

    Quadro 5 Discusso sobre conceitos geomtricos

    A257 10/22/2014 16:15:14

    tb acho...kkkk mas ser q a ideia no a

    construo de um quadrado e enquanto

    manipulamos ele continue um quadrado?

    A260 10/22/2014 16:16:57 nem eu... estou s levantando uma questo?

    M261 10/22/2014

    16:16:52 SEI L... A TAREFA ERA CONSTRUIR UM

    QUADRADO... NO DISSERAM QUE ELE

    TERIA QUE SER UM QUADRADO PRO

    RESTO DA VIDA...

    Gi262 10/22/2014 16:17:02 sim... se deformar pq no um quadrado

    Gi271 10/22/201416:18:34 se manipular a figura nao manter e defor-

    mar, ento no um quadrado.

    Ge274 10/22/2014 16:21:04 pode deformar

    A276 10/22/201416:21:07 as retas perpendiculares no centro do

    circulo...

    Ge278 10/22/2014 16:22:02 ou arco capaz

    A281 10/22/2014 16:22:29 ARCO CAPAZ! S em desenho! sds disso......

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    Encontramos neste trecho o papel de moderador realizado pelo aluno A (registros A257 e A260), importante ao que pontu-ava os procedimentos realizados e instigava a execuo e desenvol-vimento da conversa e da elaborao dos desenhos.

  • 50 | Srie InovaComTic - Volume 8

    consIderaes sobre o resultado Esta anlise permite-nos demostrar que h indcios (Quadro 7) de que os participantes, interessados em continuar e aperfeioar sua formao, esto preocupados em praticar para aplicar no trabalho com suas turmas, cuja maioria encontra-se envolvida com o ensino mdio. As questes simples que foram abordadas revelaram ques-tionamentos de como tratar assuntos semelhantes em sala de aula, seja a distncia ou presencial. Tais questes demostraram que o gru-po pode ser capaz de se avaliar e tomar decises com responsabili-dade e respeito em relao participao do outro.

    Quadro 7 Possveis indcios vinculados ao aperfeioamento da formao

    W314 10/22/2014 16:34:42

    Nunca trabalhei com o geogebra, mas acho

    que so aspectos importantes, claros para

    ns, mas sempre meio obscuros para nossos

    alunos.

    A318 10/22/2014 16:36:18

    O que percebo e que a questo no o Ge-

    ogebra e sim a Geometria! o que percebo

    com os alunos

    Gi322 10/22/2014 16:38:01Eu j manipulei muito o geogebra, mas

    parei e to mega enferrujada.

    W324 10/22/2014 16:40:14

    Sim. Quando fiz minha pesquisa com cal-

    culadoras, j tinha em mente que o proble-

    mas deles era com as contas e nao com o

    equipamento.

    Ge328 10/22/2014 16:44:02

    Mas, se a pessoa souber geometria e no

    souber utilizar a ferramenta (nesse caso o

    aplicativo) no ser muito proveitoso.

    Ge329 10/22/2014 16:44:58 concordo Gi e A

    W330 10/22/2014 16:44:30

    Deixa ver se entendi: os alunos ficam

    vontade e depois vocs exploram em cima

    do que eles cosntruram?

  • | 51Ambientes virtuais e formao de professores

    A331 10/22/2014 16:41:31

    se vc der um jogo de esquados, compasso,

    rgua T... caneta nanquin... se o teu aluno

    no sabe nem diferenciar um esquado de

    45 do de 30e 60...coo faz pro teu aluno fazer

    uma planta baixa?

    W333 10/22/2014 16:46:10 Mando ele para o autocad! rsrsrs

    Ge334 10/22/2014 16:45:42

    mas tambm no vai saber aproveitar se

    no tiver um mnimo de conhecimento de

    geometria. Tem que equilibrar os dois

    W336 10/22/2014 16:46:50Tenho minhas dvidas... Penso que um

    pode trazer a evoluo no outro.

    W338 10/22/2014 16:47:21Se sabe geometria e pouco de geogebra,

    pode melhorar no geogebra.

    W339 10/22/2014 16:47:51Se sabe manipular o geogebra pode aumen-

    tar seus conhecimentos em geometria.

    Ge340 10/22/2014 16:47:44

    isso a. Eles tem que entender que o pro-

    grama, o aplicativo uma ferramenta como

    o par de esquadros

    Ge341 10/22/2014 16:49:10 Isso W. Tao, o caminho do meio

    A343 10/22/2014 16:50:01 concordo*

    W351 10/22/2014 16:51:38

    O que percebi aqui foi o seguinte: Na cons-

    truo do Ge, foram utilizadas propriedades

    diferentes das usadas pelo A. Levando-se

    em conta que seriam dois alunos diferentes,

    haveria bastante material para discusso.

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    A discusso flui em um bom ritmo, mediante uma con-versa ativa e de reflexo imediata, sem consulta ou apoio de outros textos. Encontramos uma particularidade que quebra o ritmo da discusso do chat, ao ser disponibilizado um quadro virtual de apli-cao do software. O fato de o controle ser exclusivo para um aluno por vez cria uma expectativa nos outros membros e proporciona uma reflexo sobre a atitude que cada um ir tomar quando chegar

  • 52 | Srie InovaComTic - Volume 8

    o seu momento de utilizao.Nenhum dos participantes precisava ter o programa insta-

    lado em seu computador, podendo todos interagir diretamente no programa da plataforma. Importante ressaltar que cada um detinha o controle do programa e disponibilizava para o prximo. Cada par-ticipante podia digitar mensagens enquanto um utilizava o progra-ma. Todos podiam visualizar o que estava acontecendo na tela, mas no podiam intervir na ao do que construa com o GeoGebra.

    Destacamos a importncia desse ambiente para incio ou concluso de um tpico para a disciplina desenvolvida em Ambien-te Virtual de Aprendizagem (AVA): o levantamento do estado em que um determinado assunto se encontra entre os alunos ou a evo-luo e compreenso de um referido conceito.

    Observamos, tambm, que o ritmo de uma discusso nor-mal do chat foi quebrado, pois os membros do grupo paravam a discusso para assistir a evoluo da construo no quadro do pro-grama, o que nos trouxe mais dificuldade em analisar pelo proces-so proposto por Bairral (2007), para a investigao desse ambiente, uma vez que muitas aes se dispersam no registro entre as movi-mentaes feitas no software e as mensagens digitadas no chat.

    A sesso desse chat se mostrou proveitosa, revelando ma-turidade e bom entrosamento do grupo, sempre preocupado em recolher dessa experincia algum tipo de aprendizado para sua pr-tica profissional. Os participantes fazem uma reviso sobre a sesso para avaliar a construo colaborativa proposta pelo trabalho em equipe. Finalmente, o chat com insero do GeoGebra na platafor-ma do VMT pode permitir o enriquecimento da discusso e favo-recer o aprendizado, por meio da observao e da manipulao dos alunos.

    referncIas

    BAIRRAL, M. A. Discurso, interao e aprendizagem matemtica em ambientes virtuais a distncia. Rio de Janeiro: Edur, 2007.

  • | 53Ambientes virtuais e formao de professores

    ______. O uso do chat e de frum de discusso em uma educao matemtica inclusiva. Rio de Janeiro: Edur, 2013.

    LVY, P. O que o virtual? Rio de Janeiro: Editora 34, 1996.

    MARQUES, W. S. BAIRRAL, M. A. Quando a anlise de interaes em um chat pode nos fornecer subsdios para proposio de um novo bate-papo. Acta Scientiae, v. 16, n 1, p. 27-42. Disponvel em: www.peridicos.ulbra.br/index.php/acta/article/view/251/834 , acesso em out/2014.

    POWELL, A. BAIRRAL, M. A. A escrita e o pensamento matemti-co: interaes e potencialidades. Campinas: Papirus Editora, 2006.

  • 54 | Srie InovaComTic - Volume 8

  • | 55Ambientes virtuais e formao de professores

    CAP TULO 3

    INTERAO E SUA CONTRIBUIO PARA UM FRUM DE DISCUSSO

    Este texto relaciona a interao vista a partir da Perspectiva Histri-co Cultural, a qual se apropria de alguns conceitos de Vygotsky para autores das Tecnologias da Educao que trabalham com ambien-tes virtuais de aprendizagem e Fruns de Discusso. Trata-se de um trabalho apresentado para a disciplina Ensino e Aprendizagem em Ambientes Virtuais do PPGEduc, o qual representa um recorte da pesquisa de mestrado. O objetivo deste trabalho ser dissertar sobre a interao e sua potencialidade nos fruns virtuais, alm de verifi-car, apoiada em autores da rea, a contribuio do frum como um ambiente interativo para o professor em formao.

    Gisele Pereira de Oliveira Xavier1

    1 Mestre em Educao PPGEduc/UFRRJ, Semed Japeri, [email protected]

    mailto:gisele_po%40msn.com?subject=

  • 56 | Srie InovaComTic - Volume 8

    Introduo

    Este trabalho uma oportunidade para relacionar as ideias e fa-zer um recorte da pesquisa de mestrado com alguns conceitos de Vygotsky e autores no campo das Tecnologias em Educao, sendo descrito em poucas linhas o objeto de estudo, a fim de situar o leitor.

    O projeto nasceu a partir da experincia da autora enquan-to tutora do curso de Formao Continuada, ofertado pela Funda-o Centro de Educao a Distncia do Estado do Rio de Janeiro (CE-CIERJ) para os professores de Matemtica da Educao de Jovens e Adultos (EJA) da Secretaria Estadual de Educao do Rio de Janeiro.

    O trabalho realizado em uma plataforma online, que con-siste em discutir ideias e conceitos matemticos com os grupos de professores e tambm elaborar e reavaliar o planejamento das aulas. Toda a proposta desenvolvida na plataforma online oriunda dos materiais ofertados pelo curso (livro do aluno e livro do professor). Com isso, a interao a grande chave para que o curso se desenvol-va. O objeto de estudo de mestrado tem como objetivo analisar as interaes dos professores que lecionam Matemtica na Nova EJA mediante ambientes virtuais.

    O objetivo desse texto ser dissertar sobre a interao, sua potencialidade nos fruns virtuais. E verificar apoiada nos autores da rea a contribuio do frum como um ambiente interativo para o professor em formao.

    o frum

    O ambiente de anlise o Frum Temtico do Curso de Formao Continuada do Projeto Nova EJA. No primeiro semestre de 2014 o curso foi reformulado e os grupos que antes eram compostos por participantes agrupados na mesma regional metropolitana passa-ram a ser mistos, possuindo membros de diferentes localidades.

    Nota-se o quanto importante considerar o contexto na hora de realizar a anlise nos espaos virtuais de aprendizagem, pois cada grupo possui um modo caracterstico de falar. Como os

  • | 57Ambientes virtuais e formao de professores

    sujeitos da pesquisa so professores de matemtica formados que esto cursando formao continada, suas falas diferem, por exem-plo, de um outro grupo formado por professores de linguagens, pois abordam em suas discusses contedos especficos de sua rea de conhecimento. Dessa forma, para anlise importante que sejam considerados os sujeitos e seus contextos.

    Para iniciar o recorte de anlise, foram colocadas em pla-nilha as unidades estudadas no Mdulo 2 (1 bimestre letivo/2014) e o quantitativo de participaes de cada unidade estudada (Figura 1).

    Figura 1 - Relao quantitativa das postagens nos fruns por unidade

    Fonte: Elaborado pela autora

    Para seleo dos grupos o critrio utilizado para reduo dos dados foi escolher os dois grupos que mais tiveram participao dos professores cursistas. O quantitativo demonstrado na tabela a seguir (Figura 2) exclui as participaes e intervenes dos tutores.

  • 58 | Srie InovaComTic - Volume 8

    Figura 2 - Relao quantitativa somente das postagens dos professores cursistas

    Fonte: Elaborada pela autora.

    Para anlise foram considerados os dois grupos que mais participaram em todos os trs fruns temticos desenvolvidos ao longo do bimestre. Com isso, os grupos que fizeram parte da anlise para este trabalho foram: o Grupo 4 (G4) e o Grupo 7 (G7). Aps a seleo dos grupos, optou-se por escolher o frum que mais teve participaes dos professores cursistas, com isso o frum de anlise foi o Frum Temtico 3 (Quadro 1). importante destacar que o F-rum Temtico 3 trabalhou com conceitos de Funo Polinomial do 1 Grau. E como questes norteadores instigava a participao dos cursistas atravs de dois questionamentos:

    Quadro 1 - Proposta do Frum Temtico 3Responda os itens a seguir, levando em conta a sua experincia como professor no ensino de jovens e adultos.a) Sobre a Resoluo de Problemas, um dos princpios destaca-dos nos documentos curriculares para o ensino de Matemtica, o material do professor da unidade 14 sugere e declara: ...aconselha-mos que voc esteja atento para desenvolver nos alunos o gosto e a iniciativa para resolver problemas. No de espantar que alguns alunos, frente aos problemas, cruzem os braos, aguardando pelo momento em que as solues sero escritas no quadro. Esta postura

  • | 59Ambientes virtuais e formao de professores

    passiva fruto de um processo de ensino tradicional que, durante muito tempo, pregou a ideia de que o conhecimento deve ser trans-mitido do professor para o aluno. O professor era considerado o de-tentor do saber e o aluno, um mero receptor. Entretanto, lembre-se: isto pode mudar! Trabalhar frequentemente a resolu-o de proble-mas um bom caminho para a mudana. (p. 131). No material do professor da unidade 4 so apresentadas diferentes atividades que podem ser trabalhadas na sala de aula com recursos didticos di-ferentes (internet, Excel, cartolinas, ...). Escolha uma atividade que seja um problema a ser modelado por uma funo afim e apresente aqui no frum uma proposta de como essa tarefa pode ser aplicada nas turmas do NEJA, fazendo as devidas adequaes e que atenda as orientaes destacadas no texto sobre Resoluo de Problemas destacado no material do professor. b) Na sesso 4 da unidade 15 no material do aluno intitulada Ob-servando grficos. Enxergando funes, o aluno trabalha uma ha-bilidade diferente no estudo da funo afim, que determinar a lei da funo afim, quando so conhecidos pelo menos dois pontos de seu grfico. Escolha um problema dessa natureza, diferente do ma-terial do aluno e resolva-o por meio de duas estratgias diferentes.

    Fonte: Elaborado pela autora.

    Interao

    Para comear a tecer as ideias sobre interao, foi possvel perceber o quanto a vivncia acadmica tem contribudo ao estudar teri-cos como Vygotsky, que aborda a interao. Embora no seja um conceito novo, nos ajuda a pensar sobre o desenvolvimento e com-partilhamento de experincias em espaos virtuais, como o frum de discusso. Alm de nos ajudar a olhar melhor para o objetivo de pesquisa, tm nos possibilitado a fundamentar as anlises nesses es-paos formativos. Dessa forma, podemos perceber o quanto alguns conceitos da psicologia esto presentes e envolvidos no cotidiano da prtica pedaggica dos ambientes virtuais de aprendizagem. Para iniciar a discusso ser visto como a interao percebida den-tro da perspectiva histrico cultural.

    Fichtner (2010, p. 25, grifo nosso) destaca, sob o olhar de Vygotsky, que [...] a compreenso depende da interao que os indi-

  • 60 | Srie InovaComTic - Volume 8

    vduos conseguem estabelecer entre o verbal e o no verbal, entre a palavra e o afetivo-emocional que flui em toda comunicao. Nesse sentido, a linguagem serve para organizar o pensamento e as ideias, pois possibilita que os mesmos sejam expressos e compartilhados com o meio social. Logo, o papel da interao na construo e re-flexo do conhecimento nos fruns de discusso (Figura 3) em am-bientes virtuais de aprendizagem (AVA), que so estruturados com os relatos dos participantes a partir de suas experincias profissio-nais e de vida, podem levar compreenso dos conceitos propostos durante a discusso, alm de valorizar [...] a habilidade de trabalhar em equipe e construir coletivamente solues dos problemas pro-fissionais (HARGREAVES2, 1996, apud BELINE, 2010, p. 88).

    Figura 3 - G7 Experincias e construo de ideias de forma coletiva.

    Cursista ARe: FT3 - Frum Temtico 3quinta, 27 maro 2014, 07:27

    Ol Tutor e colegas,Respondendo a questo a:Acredito que se trabalharmos situaes com a qual nossos alunos possam de identificar, seja um caminho razovel para um melhor entendimento dos assuntos a serem tratados. Acho que um problema a ser trabalhado em sala de aula que seja interessante, seja uma anlise de uma conta de luz, para podermos fazer a associao a funo afim.

    Cursista BRe: FT3 - Frum Temtico 3quinta, 27 maro 2014, 09:07

    Ol Cursista A.Muito interessante sua escolha, mas temos que comentar que na conta de luz existe os impostos embutidos e as taxas como por exemplo de ilumina-o pblica da prefeitura.Bom dia! Abrao.Cursista B.

    2 HARGREAVES A. Cultures of teaching and education change. The American Education Research Association, New York,1996.

  • | 61Ambientes virtuais e formao de professores

    Cursista CRe: FT3 - Frum Temtico 3quinta, 27 maro 2014, 11:06

    Ol Cursista A;Quando estou trabalhando a modelagem dos problemas do nosso cotidiano, tambm, utilizo o exemplo da conta de luz. O exemplo do buffet, tambm muito legal, desperta o interesse dos alunos.AbraosCursista C.

    Cursista DRe: FT3 - Frum Temtico 3sexta, 28 maro 2014, 10:29

    Ol Cursista C, usei a atividade do buffet e os alunos gostaram. Fizemos clculos com mais convidados e foi muito bom.Abraos!

    Fonte: Elaborada pela autora.

    Na Figura 3, vemos que o participante B, com base em sua experincia, agrega sugestes para acrescentar a explorao da ideia sugerida pelo participante A. Como por exemplo de utilizar os juros e impostos de iluminao pblica embutidos na conta de luz, na explanao da atividade. Tambm possvel perceber que o participante C sugere trabalhar a funo polinomial atravs de outra estratgia: a situao de um buffet. O mais interessante nesse compartilhamento de ideias ver que o participante D aproveitou as sugestes expostas pelos colegas, aplicou a atividade em sala com seus alunos e retornou com a experincia que obteve. Ou seja, o frum possibilitou que uma ideia compartilhada e aprimorada coletivamente, que visava a explorao de um conceito, fosse no s compartilhada e explorada, mas tambm experimentada. Uma possibilidade que surgiu da interao no Frum. O frum um espao que se utiliza da interao para cons-truo de significado e aprendizagem, alm de um ambiente que oportuniza que cada indivduo explore seu potencial. Com isso, a interao estabelecida no frum uma oportunidade de ser, criar,

  • 62 | Srie InovaComTic - Volume 8

    construir e transformar sentidos, participando como sujeito que se assume na sociedade, pois [...] o sujeito social e, portanto, se constitui na histria e na cultura (FICHTNER, 2010, p. 25). Logo, o ambiente virtual passa a ser um espao que valoriza as ideias dos participantes, a capacidade de adaptarem, reutilizarem sugestes, compartilharem conhecimentos, e tambm a capacidade de ino-varem (BELINE, 2010). Dessa forma, temos que o ambiente virtual pode favorecer que o pensamento reflexivo se estabelea a partir das experincias dos participantes, seja com outros participantes, tutores, e at mesmo o prprio ambiente virtual. Com isso, chega-se ao que Behrens3 (2000, apud BELINE, 2010, p. 97) destaca como necessrio para proporcionar um am-biente estimulador, o que [...] chamado trs Cs comunicao, colaborao e criatividade, isto , aprimorar no s a capacidade de se comunicar, mas tambm de se desenvolver colaborativamen-te e ser criativo em seu contexto de atuao (prtica). Tambm importante que, alm da troca de informaes, experimentao e experincia, o AVA possibilite o acesso a materiais (Figura 4).

    Figura 4 G7 Sugesto de materiais.Cursista ERe: FT3 - Frum Temtico 3quarta, 2 Abr 2014, 11:24

    Bom dia a todos !Respondendo ao item a)Acho que a atividade Integrando Matemtica e Fsica bem adequada para o NEJA, pois simples de obter o material para os alunos (visto que temos dificuldades em ter outras tecnologias disponveis), os ajudam entender me-lhor as questes de Fsicas que agora eles esto estudandos e acredito que se no tivermos um data show possvel levar nosso computator e mostr-los alguns programas que esbocem grficos, como por exemplo o Geogebra.Abraos !

    3 BEHRENS, M. A. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In: MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas Tec-nologias e mediao Pedaggica. Campinas: Papirus, 2000

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    Cursista E.

    .

    . Cursista ERe: FT3 - Frum Temtico 3quinta, 3 Abr 2014, 22:13

    Complementando o que citei anteriormente, abaixo um vdeo sobre esboar o grfico no geogebra.Abraos,Cursista E.

    Cursista FRe: FT3 - Frum Temtico 3sexta, 4 Abr 2014, 01:57

    Ol, Cursista E.Assisti o vdeo, o geogebra um programa muito bom. Os outros vdeos tambm.Abraos.Cursista F.

    Fonte: Elaborada pela autora.

    Como possvel visualizar na Figura 4, o participante E, alm de fornecer suas observaes sobre as questes norteadoras, ainda realiza sugestes para lidar com a falta de alguns materiais nas unidades escolares. E para lidar com isso, o professor cursista compartilha sua criatividade sugerindo adaptaes e a utilizao de materiais e recursos.

  • 64 | Srie InovaComTic - Volume 8

    No Grupo 4 (G4) tambm se percebe situaes em que os participantes compartilham atitudes similares. O professor cursista G faz uma sugesto de atividade que tanto pode ser trabalhada no quadro em sala como acessada online (Figura 5).

    Figura 5 G4 Sugesto de materiais.Cursista GRe: Frum Temtico 3sbado, 5 Abr 2014, 00:18

    questo a.docxa) O exemplo alugando carros uma atividade facilmente compreendi-da pelos alunos principalmente porque est bem inserida no cotidiano de todos, detalhe que inclusive foi levado em conta na avaliao pelo PISA. Eles sabem que se pegarem um txi, andando muito ou pouco, tero que pagar uma taxa mnima, chamada geralmente de bandeirada e mais um deter-minado valor de acordo com a distncia percorrida. Ento primeiro isto comentado em sala e demonstrado, simulando vrias viagens em distncias diferentes e calculando seus preos finais. Depois, para complementar e testar facilmente , como sugere o material do professor, os alunos podem ser conduzidos ao laboratrio de informtica, ou o professor podem levar o data show para a sala e acessar o link http://www.uff.br/cdme/afim/afim-html/AP5.html e levar toda a turma a simular vrias situaes digitalmente, como no arquivo anexo e depois responder vrias perguntas a respeito da corrida e esta estratgia com recursos tecnolgicos, ir facilitar para que cada aluno crie sua forma de imaginar situaes semelhantes e resolv-las, modelando mais facilmente seus problemas.http://novaeja.cecierj.edu.br/ava/mod/forum/post.php?reply=232119#

    Cursista HRe: Frum Temtico 3sbado, 5 Abr 2014, 23:21

    Boa noite Cursista G. Esse frum est repleto de timas tarefas e de muitas sugestes, comtemplan-do a sua que buscou no material do professor, mais uma tima tarefa, espero que com tantas ideias consigamos melhorar o nvel de nossos educandos. Abraos.Cursista H.

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