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Alexandre Aksakof - Animismo e Espiritismo

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ALEXANDRE AKSAKOF

ANIMISMO E ESPIRITISMO

Alexandre Aksakof

Contedo resumido

Obra clssica do eminente sbio russo, em resposta s idias antiespritas de alguns filsofos e cientistas, em particular o filsofo alemo Dr. Eduardo von Hartmann. Aksakof rebate com argumentos insofismveis as hipteses da fora nervosa, da alucinao e do inconsciente, to manipuladas e repisadas pelos contestadores dos nossos dias. Disseca a realidade dos fatos anmicos, atribuveis inegavelmente fora da mente, distinguindo-a da realstica ao dos Espritos nas atividades essencialmente medinicas. Esta obra encerra inmeros fatos recolhidos em todo o mundo, de vrios sbios da poca, e na qual bom nmero tambm devido s observaes e experincias do prprio autor. Animismo e Espiritismo foi por muitos estudiosos considerada a obra mais importante e mais completa que se escreveu acerca do Espiritismo do ponto de vista cientfico e filosfico.

NDICE

- Prefcio da traduo francesa

- Prefcio da edio alem

- Introduo

Resumo histrico das teorias antiespirticas The Daimonion, de Oldfield; Filosofia dos Agentes misteriosos, de Rogers; Discusso, de Brittan e Richmond; Mistrios modernos explicados e desmascarados, de Mahan; Mary Jane, de Guppy; Da fora, etc., de Bray; Estados de superatividade do sistema nervoso,

etc., de Collyer: Spiritualism, de Hammond; Carpenter e Cox; Mesas girantes, por Agenor de Gasparin; As mesas falantes,por Thury; Estudos experimentais, por Chevillard; Ensaio sobre a humanidade pstuma, por D'Assier CAPTULO I - Fenmenos de materializao Insuficincia, no ponto de vista dos fatos, da hiptese alucinatria emitida pelo Doutor Hartmann. Materializao de objetos escapando percepo pelos sentidos. Fotografia transcendente. - Experincias do Senhor Beattie. - Fotografias obtidas pelos Srs. Guppy, Parkes, Russel, Slater, Williams, Hudson, Reimers, Damiani. Fotografia transcendente de mo humana, obtida pelo professor Wagner, em So-Petersburgo. - Fotografias de formas humanas, obtidas por Slater. - Experincias de Mumler. - Noticia do British Journal of Photography. - Descrio das gravuras juntas. - Testemunho de B. Murray e Moses Dow. - Carta do professor Gunnin. - Fotografias transcendentes de duplos. - Exame do Senhor Jay Hartman, em Cincinnati. Materializao e desmaterializao de objetos acessveis aos nossos sentidos. Demonstrao desse principio pelos fatos compreendidos sob a denominao de penetrao da matria. - Transportes e desaparecimento de objetos. Desdobramento de objetos inanimados. A. - Materializao e desmaterializao de objetos inanimados. Fazendas. - Demonstrao por meio das fotografias transcendentes. Experincia do Senhor Clifford Smith. - Materializao de fazendas por Katie King na presena de testemunhas. - Mediunidade de flores para a materializao de flores. - Produo de uma planta sob os olhos dos assistentes. - Materializao de metais pela mediunidade de um metal.

B. - Materializao e desmaterializao de formas humanas. Incompatibilidade lgica da teoria da alucinao do Doutor Hartmann com a sua teoria da fora nervosa. Demonstrao do carter no alucinatrio de uma materializao por: 1 - Testemunho visual simultneo de muitas pessoas. 2 - Testemunho visual e ttil, simultneo, de muitas pessoas. 3 - Produo de efeitos fsicos. 4 - Produo de efeitos fsicos duradouros. 5 - Escrita direta. 6 - Impresses de mos materializadas. C- Efeitos produzidos sobre a forma materializada (colorao, etc.). D - Reproduo de formas materializadas, por moldagens em gesso. - Experincias do Senhor Denton; experincias concludentes por meio de um cofre fechado; outros exemplos de moldagens de formas materializadas, com o auxlio de parafina: I. O mdium est isolado; o agente oculto fica invisvel. - Experincias dos Srs. Reimers e Oxley. II. O mdium est perante os assistentes, o agente oculto ficando invisvel. - Experincias do Senhor Ashton com a Srta. Fairlamb; experincia do Senhor Friese com o Senhor Eglinton; experincia com o Senhor Eglinton perante uma comisso; reproduo plstica de um membro desdobrado do mdium. III O agente oculto visvel, o mdium est isolado Experincia do Senhor Adshead com a Srta. Wood. IV. O fantasma e o mdium so simultaneamente visveis aos espectadores. - Experincia do Senhor Ashton com a Srta. Fairlamb.

E - Fotografia de formas materializadas. a) O mdium visvel; a figura materializada invisvel ao olho, mas aparece na placa fotogrfica. b) O mdium invisvel; o fantasma invisvel e reproduzido pela fotografia. c) O mdium e o fantasma so vistos ao mesmo tempo; apenas o ltimo fotografado; - fotografias de Katie King obtidas pelo Senhor Harrison e pelo senhor Crookes. d) O mdium e o fantasma so ambos visveis e fotografados ao mesmo tempo. - Testemunho dos Srs. Crookes, Russel, Burns, da Sra. Lusa Noosworthy, do Doutor Hitchman. - Experincias do Senhor Aksakof com o Senhor Eglinton. e) O mdium e o fantasma so invisveis; a fotografia produz-se s escuras. - Experincias dos senhores Bullet, Reimers, Aksakof. - Experincias de pesada das formas materializadas. - Insuficincia da teoria alucinatria do Doutor Hartmann no ponto de vista terico. CAPTULO II - Os fenmenos fsicos - As experincias dos Srs. Hera, Varley e Hering demonstram que a fora medinica no tem afinidade alguma com a eletricidade.Contradies do Doutor Hartmann. CAPTULO III - Da natureza do agente inteligente que se manifesta nos fenmenos do Espiritismo Exame do principio fundamental do Espiritismo; ele apresenta fenmenos cuja causa deve ser procurada fora do mdium?

1.- Manifestaes que so contrrias vontade do mdium. - Diversos exemplos; - experincias notveis do Senhor Dexter; exemplo notvel no comeo do movimento esprita; - o caso do Reverendo E. Phelps; exemplo de combusto espontnea de objetos, a este da Rssia: narrao do Senhor Schtchapov. 2. - Manifestaes que so contrrias s convices do mdium. - O testemunho do Senhor A. (Oxon); - experincias dos Professores Wagner e Hare. 3. - Manifestaes contrrias ao carter e aos sentimentos do mdium. 4. - Comunicaes cuja natureza est acima do nvel intelectual do mdium. - Obras de Hudson Tuttle e de Davis; - acabamento do romance de Dickens Edwin Drood por interveno medinica; - experincias do Senhor Barkas: respostas de improviso a assuntos cientficos; - o caso do general Drayson: informaes astronmicas. 5. - Mediunidade das crianas de mama e das crianas muito novas. - Os jovens Cooper e Attwood; - escrita do pequeno Jencken, na idade de cinco anos e meio; - escrita da filha do baro Seymour Kirkup, na idade de nove dias; - escrita em ardsia por Essie Mott, na idade de dois anos. 6. - Mdiuns falando lnguas que lhes so desconhecidas. - Opinio do Senhor Ennemoser; - testemunho do juiz Edmonds; - o falar em diversas lnguas desconhecidas aos mdiuns; - comunicaes feitas por meio de sinais telegrficos; - execuo de trechos de msica por um menino que no tinha recebido instruo musical alguma; - a filha do senador Tallmage. 7. - Diversos fenmenos de um gnero misto-composto. - Um caso curioso observado pelo Autor.

8. - Comunicao de fatos desconhecidos do mdium e dos assistentes. a) A viso s escuras e em lugares fechados. - Experincias do Autor, em um circulo ntimo; - experincias do Senhor Crookes; - testemunho do Senhor A. (Oxon). b) Fatos conhecidos independentemente dos rgos que servem habitualmente percepo. - Experincias pessoais do Autor: o adgio de Cardoso. c) Comunicao de fatos desconhecidos das pessoas que tomam parte na sesso, e que no podem ser explicados pela transmisso de pensamentos, em razo das condies especiais nas quais essas comunicaes so dadas. - O caso da jovem Emma Strammi; informao do falecimento de Duvanel; - Srta. Laura, filha do juiz Edmonds; - outros casos referidos pelo juiz Edmonds; - conferncia do general Drayson; - o artigo do Doutor Davey; - relatrio do capito Drisko sobre os incidentes aos quais o Harry Booth deve sua salvao; - uma senhora trada pela prancheta. 9. - Comunicaes provenientes de pessoas completamente desconhecidas quer dos mdiuns, quer dos assistentes. - Comunicao do Esprito de John Chamberlain, atestada por doze testemunhas; - o Message Department do Banner of Light; - a comunicao do Esprito de Abrao Florentino, em Londres, confirmada em Nova-Iorque; - manifestao de Anastcia Perelyguine. 10. - Transmisso de comunicaes a grande distncia. - Fatos referidos pelo Professor Hare; - mensagem transmitida em Lowell, Mass., Atlanta, Geo. ( distncia de 1.000 milhas); transmisso de uma mensagem sem indicao precisa do destinatrio. 11. - Transporte de objetos a grandes distncias. - Transporte de uma fotografia de Londres a Lowestoft; - transporte de agulhas de fazer tricot distncia de 20 lguas inglesas; - experincias de Zollner, Crookes, Olcott e Cooper.

12. Materializaes - Citao errnea do Doutor Janisch pelo Doutor Hartmann; - as trs hipteses possveis. CAPTULO IV - A hiptese dos Espritos A. - ANIMISMO - Ao extracorprea do homem vivo, como que formando a transio ao Espiritismo. I. - Ao extracorprea do homem vivo, comportando efeitos psquicos (fenmenos da telepatia - transmisso de impresses distncia). - Experincia da jovem Pribitkoff; - fato comunicado pelo Senhor W. Solovioff; - mensagens medinicas da jovem Sofia Swoboda (444); experincias do Senhor Th. Everitt e de Miss Florence Marryat; mensagens provenientes de pessoas vivas; - fatos comunicados pelo juiz Edmonds e Senhor Aksakof. II. - Ao extracorprea do homem vivo, sob forma de efeitos fsicos (fenmenos telecinticos - deslocamento de objetos distncia). - Fatos observados pela Senhora de Morgan, pela jovem Perty, Spicer,etc. III. - Ao extracorprea do homem vivo, traduzindo-se pela apario de sua prpria imagem (fenmenos telepticos - apario distncia). - Aparies de duplos; - alucinaes telepticas; - o caso da jovem Emlia Sage; - fotografias de duplos; - comunicaes dadas por duplos. IV. - Ao extracorprea do homem vivo manifestando sob a forma da apario de sua imagem com certos atributos de corporeidade (fenmenos teleplsticos - formao de corpos materializados). - Duplos materializados: os Davenports. - Srta. Fay. - Florence Cook; - verificao dos duplos pelo meio de impresses e de moldagens; - experincias do Senhor Crookes com o mdium Home; - fato

comunicado pelo Doutor Kousnetzoff; - o magnetizador H.E. Lewis; - o fantasma de um homem vivo batendo na porta; - a narrao do Doutor Wyld; - o duplo do Rev. Th. Benning; - apario do Senhor Wilson (referida pelo Doutor Britten); - uma moa alem, achando-se na Amrica, aparece a seus pais, na Alemanha; - um navio salvo pela apario de um de seus passageiros em outro navio. B. - O ESPIRITISMO - Ao medinica de um homem morto; desenvolvimento ulterior do Animismo. - Contedo intelectual dos fenmenos; - causas anmicas e espirticas; - verificao da personalidade; - a distino entre a personalidade e a individualidade, como devendo servir de chave para a compreenso dos fenmenos espirticos. I. - Identidade da personalidade de um morto verificada por comunicaes em sua lngua materna, desconhecida do mdium. - Exemplos tirados dos escritos do juiz Edmonds, da Senhora Turner. Hardinge Britten. II.-Verificao da personalidade de um morto por comunicaes dadas no estilo caracterstico do morto, ou por expresses particulares, que lhe eram familiares - recebidas na ausncia de pessoas que conheciam o morto. - O romance inacabado de Charles Dickens; - comunicao do prncipe Sch., recebida pela jovem Brbara. Pribitkoff; - comunicao transmitida por D. Home. III. - Identidade da personalidade de um morto desconhecido do mdium, verificada por comunicaes dadas em escrita idntica que era conhecida durante a sua vida. A grafologia; - comunicao de Stella, mulher do Senhor Livermore; - as doze mensagens de John Quincy Adams; o caso do Doutor Nichols; a escrita direta; - narrao do Senhor J.J. Owen e testemunho da Senhora Burchett; - experincia do Senhor Smart com o mdium Spriggs; experincia pessoal do Autor.

IV. - Identidade da personalidade de um morto verificada por uma comunicao proveniente dele, contendo um conjunto de pormenores relativo sua vida, e recebida na ausncia de qualquer pessoa que conhecera o morto. -Testemunho de Robert Dale Owen: Violeta. V. - Identidade da personalidade de um morto verificada pela comunicao de fatos que s puderam ser conhecidos pelo prprio morto e que somente ele pde comunicar. - O testamento do baro Korff; - exemplo citado por R. Dale Owen; - Schoura; - um fato observado pelo Autor. VI.-Identidade da personalidade verificada por comunicaes que no so espontneas, como as que precedem, porm provocadas por apelos diretos ao morto e recebidas na ausncia de pessoas que conheciam esse ltimo. - Observaes do Doutor Wolfe sobre a leitura de cartas fechadas, pelo Senhor Mansfield; - insuficincia das hipteses apresentadas pelo Doutor Hartmann para explicar a leitura dos pensamentos e a clarividncia; - testemunhos do Reverendo Samuel Watson; experincias de escrita direta, instituda pelo Senhor Colby com o Senhor Watkins, mdium; - experincia curiosa com o mdium Powell. VII. - Identidade do morto verificada por comunicaes recebidas na ausncia de qualquer pessoa que o tivesse conhecido, e que revelam certos estados psquicos ou provocam sensaes fsicas, prprias do morto. - Comunicaes de pessoas mortas em estado de desequilbrio mental; - dores fsicas de que tinha sofrido o morto, experimentadas pelo mdium; - lei hipottica das manifestaes. VIII. - Identidade da personalidade de um morto atestada pela apario de sua forma terrestre. A) Apario de um morto atestada pela viso mental do mdium na ausncia de pessoas que conhecem o morto Exemplo tirado da experincia pessoal do Autor.

B) Apario de um morto atestada pela viso mental do mdium e, simultaneamente, pela fotografia transcendente ou pela fotografia s, na ausncia de pessoas que conhecem o morto. - Exemplos referidos pelo Senhor A. (Oxon), pela Sra. Conant, Moses Dow, A. R. Wallace, e pelo Senhor Johnstone Casos citados pelo Doutor Thomson, pelo Senhor Dow, pelo Senhor Evans e pelo Senhor Snipe. C) Apario da forma terrestre de um morto materializada, com provas de ordem intelectual em apoio. Testemunho do Professor Wagner; - de que modo semelhana no uma prova de identidade; - fatos referidos pelo Senhor J. Sherman e pelo Senhor Livermore; - cessao das manifestaes em conseqncia da materializao; - o elemento de mistificao. Consideraes finais A prova absoluta da identidade de um Esprito, no ponto de vista objetivo, uma impossibilidade; - importncia das provas subjetivas; confuso, em relao ao Espiritismo, das idias: esprito, tempo, espao. As hipteses espirticas segundo o Senhor Hartmann (222). - refutao das dificuldades que o Senhor Hartmann ope hiptese da inspirao; - as pretenses da hiptese dos Espritos no esto em contradio com o sistema filosfico do Doutor Hartmann; - os problemas do Espiritismo e do Animismo considerados como ramos da psicologia experimental; - a filosofia monisticas *Notas de Rodap

Prefcio da Traduo Francesa (1)

A obra que apresentamos ao pblico no foi escrita com o intuito especial de defender a causa esprita, mas, sim, para preservar essa doutrina dos ataques srios a que no futuro ficaria indubitavelmente exposta, desde que os fatos sobre os quais se baseia sejam admitidos pela Cincia. A leitura deste livro produzir certamente impresso profunda no esprito de todos aqueles que se preocupam com o problema da vida e meditam sobre os destinos humanos. Sem dvida os espritas s encontraro aqui a confirmao, cientificamente formulada, de suas crenas; os incrdulos, querem o sejam de caso pensado, quer repousem apenas no quietismo de um cepticismo indiferente, ao menos sero levados DVIDA, que resume, apesar de tudo, a suprema prudncia no homem, quando este no tem, para sancionar as suas convices, uma certeza absoluta. A uma pena muito mais autorizada do que a minha caberia apresentar Animismo e Espiritismo aos leitores franceses. Mas nenhuma necessidade deste gnero se impe, porque o nome do escritor basta para recomendar sua obra e, demais, o seu Prefcio justifica amplamente, perante todos os pensadores, a publicao do livro: expe de maneira admirvel a profisso de f do Autor e faz conhecer claramente o fim que ele se props. Nada mais se poderia acrescentar a. Meu papel deve, pois, limitar-se a mencionar rapidamente algumas particularidades referentes s origens deste trabalho. Conforme se pode ver no frontispcio do volume, foi este uma resposta brochura que o bem conhecido filsofo alemo Eduardo

Von Hartmann - continuador de Schopenhauer - publicou em 1885, sobre o Espiritismo. A primeira edio original (alem) de Animismus und Spiritismus (Leipzig, 1890) (2) provocou da parte do Doutor Von Hartmann uma rplica intitulada A hiptese dos Espritos e seus fantasmas (Berlim, 1891), na qual ele volta, com insistncia, aos argumentos de que j se tinha servido. Desta vez foi o sbio Carl Du Prel quem se encarregou de continuar, contra esse adversrio to temvel, a polmica que o Senhor Aksakof infelizmente no podia continuar, devido ao seu estado de sade. Nem a resposta do Doutor Carl Du Prel nem as duas publicaes do Doutor Von Hartmann foram at agora traduzidas para o francs; esta lacuna, porm, no diminuir sensivelmente o interesse que o leitor atento h de encontrar nesta obra, notando-se que o Autor nela reproduz in extenso os principais argumentos de seu adversrio. Resta-me dar algumas indicaes sobre as fontes de que me servi para imprimir a esta traduo uma fidelidade to escrupulosa quanto possvel. Traduzi do prprio texto alemo as numerosas citaes extradas do livro do Doutor Von Hartmann. As indicaes se referem, pois, naturalmente edio alem; porquanto, como j o disse, acima, nenhuma traduo francesa existe desse livro. parte do texto primitivo de Animismo e Espiritismo, escrita em francs pelo Autor, permitiu-me fixar na traduo uma terminologia j consagrada pelo prprio Autor. No que respeita s alteraes feitas na edio russa, que veio luz em 1893, consultei cuidadosamente essa edio; quanto s citaes de origem inglesa, no pude ter vista todos os textos originais, e vi-me assim obrigado, acerca de muitos deles, a limitar-me s tradues alem e russa, as quais, apresso-me em diz-lo, nada deixam a desejar. Tenho necessidade, depois desta documentao, de solicitar a indulgncia do leitor? Conto que os meus esforos sero apreciados com retido por aqueles que se interessam por estas questes de uma importncia de ordem to elevada.

No posso deixar de, concluindo, exprimir o meu mais vivo reconhecimento ao meu sbio amigo, o Doutor H., pelo precioso concurso que generosamente me prestou. Recorri aos seus conhecimentos para a traduo de diversos trechos de ordem cientifica e tcnica; e posso dizer que sempre recebi dele pareceres to esclarecidos quanto benevolentes. Devo, finalmente, agradecer ao Senhor Leymarie haver-me confiado este trabalho to delicado quanto interessante. B. Sandow

Prefcio da Edio Alem

Hoje, que afinal est pronta a minha resposta ao Senhor Hartmann, depois de quatro anos de trabalho realizado no meio de sofrimentos morais e fsicos, no julgo intil dar, s pessoas que lerem a minha obra, algumas palavras de explicao para gui-las em sua leitura. O Senhor Hartmann, escrevendo a sua obra sobre o Espiritismo, imaginou, para explicar os seus fenmenos, uma teoria baseada, unicamente na aceitao condicional de sua realidade, isto , s os admitindo provisoriamente, com os caracteres que lhes so atribudos nos anais do Espiritismo. Por conseguinte, o objetivo geral do meu trabalho no foi provar e defender a todo o custo a realidade dos fatos medinicos, mas aduzir d sua explicao um mtodo crtico, conforme as regras indicadas pelo Senhor Hartmann. E pois um trabalho comparvel soluo de uma equao algbrica cujas incgnitas s tivessem um valor convencionado. O primeiro CAPTULO, que trata das materializaes, o nico que se distingue, debaixo deste ponto de vista, do resto da obra:, porque aqui o Senhor Hartmann, admitindo completamente a realidade subjetiva ou psquica do fenmeno considerado por ele

como uma alucinao, tinha exigido, para a aceitao de sua realidade objetiva, certas condies de experimentao, s quais eu tratei de satisfazer. Assim, pois, no tenho que tomar a defesa dos fatos nem perante os espritas, que no duvidam deles, nem perante os que negam a priori, porque se trata aqui, no de discuti-los, mas de procurar a sua explicao. E indispensvel que esse estado de coisas seja fixado desde j, a fim de que as pessoas no espritas, que pensarem em criticar-me, no sigam caminho falso, obstinando-se como de ordinrio em afirmar a impossibilidade, a inverossimilhana, a fraude inconsciente ou consciente, etc. Quanto s criticas que tiverem por fim pr em relevo os erros de aplicao do mtodo, elas sero bem-vindas para mim. Dito isso uma vez por todas, precisarei que o fim especial de meu trabalho foi investigar se os princpios metodolgicos, propostos pelo Senhor Hartmann, bastam, como ele afirma, para dominar o conjunto dos fenmenos medinicos e para dar deles uma explicao natural - segundo a sua expresso -, que seja ao mesmo tempo simples e racional. Melhor ainda: as hipteses explicativas do Senhor Hartmann, uma vez admitidas, excluem verdadeiramente toda a necessidade de recorrer hiptese espirtica? Ora, as hipteses propostas pelo Senhor Hartmann so bastante arbitrrias, ousadas, vastas; por exemplo: Uma fora nervosa que produz, fora do corpo humano, efeitos medinicos e plsticos; Alucinaes duplas dessa mesma fora nervosa, produzindo igualmente efeitos fsicos e plsticos; Uma conscincia sonamblica latente que capaz - achando-se o indivduo no estado normal - de ler, no fundo intelectual de outro homem, o seu presente e o seu passado; E, finalmente, essa mesma conscincia dispondo, tambm no estado normal do indivduo, de uma faculdade de clarividncia que o pe em relao com o Absoluto, e lhe d, por conseguinte, o conhecimento de tudo o que existe e existiu. E preciso convir que

com fatores to poderosos, o ltimo dos quais positivamente sobrenatural ou metafsico - no que o Senhor Hartmann est de acordo -, toda a discusso se torna impossvel. Mas preciso fazer ao Senhor Hartmann esta justia: ele mesmo tentou fixar as condies e os limites dentro dos quais cada uma destas hipteses aplicvel. A minha tarefa era pois indagar se no h fenmenos em que as hipteses do Senhor Hartmann so impotentes para explicar - nos limites ou condies em que elas so aplicveis segundo suas prprias regras. Afirmando a existncia de tais fenmenos, sustentei bem a minha tese? No compete a mim pronunciar-me sobre esse ponto. * Interesso-me pelo movimento esprita desde 1855, e, desde ento, no deixei de estud-lo em todas as suas particularidades e atravs de todas as literaturas. Durante muito tempo aceitei os fatos apoiados em testemunho alheio; foi s em 1870 que assisti primeira sesso, em um crculo intimo que eu tinha organizado. No fiquei surpreendido de verificar que os fatos eram realmente tais quais me tinham sido referidos por outros; adquiri a convico profunda de que eles nos ofereciam - como tudo o que existe na Natureza - uma base verdadeiramente slida, um terreno firme para a fundao de uma cincia nova que seria talvez capaz, em futuro remoto, de fornecer ao homem a soluo do problema da sua existncia. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para tornar os fatos conhecidos e atrair sobre o seu estudo a ateno dos pensadores isentos de preconceitos. Mas, enquanto me entregava a esse trabalho exterior, um trabalho interior se realizava. Acredito que todo observador sensato, desde que comea a estudar esses fenmenos, fica impressionado por estes dois fatos incontestveis: o automatismo evidente das comunicaes espirtica e a falsidade arrogante, e do mesmo modo evidente, do seu

contedo; os nomes ilustres, com que elas so freqentemente assinadas, constituem a melhor prova de que essas comunicaes no so o que pretendem; o mesmo sucede relativamente aos fenmenos fsicos simples; do mesmo modo evidente que eles se produzem sem a menor participao consciente do mdium, e nada, primeira vista, justifica a suposio de uma interveno dos espritos. E s mais tarde, quando certos fenmenos de ordem intelectual nos obrigam a reconhecer uma fora inteligente extramedinica, que esquecemos as primeiras impresses e encaramos com mais indulgncia teoria espirtica em geral. Os materiais que eu tinha acumulado quer pela leitura, quer pela experincia prtica, eram considerveis, mas a soluo do problema no vinha. Pelo contrrio, passando os anos, os lados fracos do Espiritismo tornavam-se cada vez mais visveis: a banalidade das comunicaes, a pobreza de seu contedo intelectual, ainda quando elas no so banais, o carter mistificador e falso da maioria das manifestaes, a inconstncia dos fenmenos fsicos, quando se trata de submet-los experincia positiva, a credulidade, a preocupao, o entusiasmo irrefletido dos espritas e dos espiritualistas, finalmente a fraude que fez erupo com as sesses s escuras e com as materializaes - que eu conheo no s pela leitura, mas que fui coagido a verificar por minha prpria experincia nas relaes com os mdiuns profissionais de maior nomeada -, em suma, uma multido de dvidas, objees, contradies e perplexidades de toda a espcie, s concorriam para agravar as dificuldades do problema. As impresses de momento, os argumentos que nos vm assaltar, fazem passar o esprito de um a outro extremo e o lanam na dvida e na averso mais profunda. Deixando-nos deslizar sobre esse plano-inclinado, acabamos freqentemente por esquecer o pro, para no ver seno o contra. Muitas vezes, ocupando-me com essa questo, o meu esprito deteve-se sobre as grandes iluses pelas quais a Humanidade passou em sua evoluo intelectual; recapitulando todas as teorias errneas, desde a da imobilidade da Terra e da marcha do Sol, at as hipteses admitidas pelas cincias abstratas e positivas, perguntei a mim mesmo se o Espiritismo no

estava destinado a ser uma dessas iluses? Entregando-me a essas impresses desfavorveis, facilmente me teria desanimado, mas eu tinha para me sustentar consideraes mais elevadas e uma srie de fatos incontestveis que tinham, para advogar a sua causa, um defensor onipotente: a prpria Natureza. Eu desejava, havia j muito tempo, orientar-me nesse conjunto de fatos, de observaes e de idias; pelo que fico muito reconhecido ao Senhor Hartmann por ter tomado a resoluo de nos dar a sua crtica sobre o Espiritismo; ele coagiu-me a entregar-me ao trabalho e, ao mesmo tempo, me auxiliou muito, fornecendo-me o plano, o mtodo necessrio para dirigir-me nesse caos. Dediquei-me ao trabalho com tanto mais boa vontade, por isso que as armas criadas pelo Senhor Hartmann, para o ataque, foram muito poderosas, onipotentes mesmo: ele prprio no disse que sob o golpe dessas armas nenhuma teoria esprita resistiria? O seu distinto tradutor ingls, o Senhor C. C. Massey, admite tambm que essa obra o golpe mais forte que foi vibrado contra o Espiritismo. E, como um fato proposital, a obra do Senhor Hartmann apareceu justamente no momento em que a disposio cptica do meu esprito se tornava preponderante. Se, por conseguinte, depois de atento exame de todos os fenmenos medinicos, eu tivesse verificado que as hipteses do Senhor Hartmann podiam abranger a todos, dando-lhes uma explicao simples e racional, no teria hesitado em abjurar completamente a hiptese espirtica. A verdade subjuga. S pude orientar-me nesse Ddalo de fatos com o auxilio de um ndice sistemtico, composto proporo das minhas leituras; grupando-os sob diferentes rubricas, gneros e sub-gneros, segundo o valor de seu contedo e as condies de sua produo, chegamos (por via de eliminao ou por gradao) dos fatos simples a fatos mais complexos, necessitando de uma nova hiptese. As obras espirtica, e, principalmente os jornais, carecem completamente de ndice sistemtico. Por exemplo: o que o Senhor Blackburn acaba de publicar, para todos os anos do Spiritualist, no pode ser de utilidade alguma para um estudo crtico. Meu trabalho

ser o primeiro ensaio desse gnero e espero que ele possa servir pelo menos de manual ou de guia para a composio dos ndices sistemticos dos fenmenos medinicos, ndices indispensveis para o estabelecimento e verificao de todo o mtodo critico, aplicado ao exame e explicao desses fatos. O grupamento dos fenmenos e sua subordinao, eis o verdadeiro mtodo que deu to grandes resultados no estudo dos fenmenos do mundo visvel, e que dar no menos importantes quando for aplicado ao estudo dos fenmenos do mundo invisvel ou psquico. O que proporcionou ao Espiritismo um acolhimento to pouco razovel e to pouco tolerante, foi que, desde a sua invaso na Europa debaixo da sua forma mais elementar, as mesas girantes e falantes, o conjunto de todos os seus fenmenos- foi imediatamente atribudo, pela massa, aos espritos. Esse erro era, entretanto, inevitvel, e, por conseguinte, desculpvel em presena de fatos sempre mais numerosos, to novos quo misteriosos e de natureza a encher de admirao as testemunhas entregues s suas prprias conjecturas. Por sua vez, os adversrios do Espiritismo caam no extremo oposto, nada querendo saber dos espritos e negando tudo. Aqui, como sempre, a verdade se encontra entre os dois. Para mim a luz s comeou a despontar no dia em que o meu ndice me forou a introduzir a rubrica do Animismo, isto , quando o estudo atento dos fatos me obrigou a admitir que todos os fenmenos medinicos, quanto ao seu tipo, podem ser produzidos por uma ao inconsciente do homem vivo - concluso que no repousava sobre uma simples hiptese ou sobre uma afirmao gratuita, mas sobre o testemunho irrecusvel dos prprios fatos -, donde esta conseqncia, que a atividade psquica inconsciente do nosso ser no limitada periferia do corpo e no apresenta um carter exclusivamente psquico, mas pode tambm transpor os limites do corpo, produzindo efeitos fsicos e mesmo plsticos; por conseguinte, essa atividade pode ser intracorprea ou extracorprea.

Essa ltima oferece um campo de explorao inteiramente novo, cheio de fatos maravilhosos, geralmente considerados como sobrenaturais; esse domnio, to imenso, seno mais, do que o do Espiritismo, que designei sob o nome de Animismo, a fim de distingui-lo daquele de uma maneira categrica. E' extremamente importante reconhecer e estudar a existncia e a atividade desse elemento inconsciente da nossa natureza, nas suas mais variadas e mais extraordinrias manifestaes como as vemos no Animismo. S tomando esse ponto de partida que possvel dar uma razo de ser aos fenmenos e s pretenses do Espiritismo, pois que, se alguma coisa sobrevive ao corpo e persiste, precisamente o nosso inconsciente, ou, melhor, essa conscincia interior que no conhecemos presentemente, mas que constitui o elemento primordial de toda individualidade. Dessa maneira, temos nossa disposio no uma, porm trs hipteses, suscetveis de fornecer a explicao dos fenmenos medinicos, hipteses cada uma das quais tem a sua razo de ser para a interpretao de uma srie de fatos determinados; por conseguinte, podemos classificar todos os fenmenos medinicos em trs grandes categorias que se poderiam designar da maneira seguinte: 1 - Personismo - Fenmenos psquicos inconscientes, produzindo-se -nos limites da esfera corprea do mdium, ou intramediunicos, cujo carter distintivo , principalmente, a personificao, isto , a apropriao (ou adoo) do nome e muitas vezes do carter de uma personalidade estranha do mdium. Tais so os fenmenos elementares do mediunismo: a mesa falante, a escrita e a palavra inconsciente. Temos aqui a primeira e a mais simples manifestao do desdobramento da conscincia, esse fenmeno fundamental do mediunismo. Os fatos dessa categoria nos revelam o grande fenmeno da dualidade do ser psquico, da no identidade do eu individual, interior, inconsciente, com o eu pessoal, exterior e consciente; eles nos provam que a totalidade do ser psquico, seu centro de gravidade, no est no eu pessoal; que

esse ltimo no mais do que a manifestao fenomenal do eu individual (numenal); que, por conseguinte, os elementos dessa fenomenalidade (necessariamente pessoais) podem ter um carter mltiplo - normal, anormal ou fictcio -, segundo as condies do organismo (sono natural, sonambulismo, mediunismo). Esta rubrica d razo s teorias da cerebrao inconsciente de Carpenter, do sonambulismo inconsciente ou latente do Doutor Hartmann, do automatismo psquico dos Srs. Myers, Janet e outros. Por sua etimologia, a palavra pessoa seria inteiramente apta para justificar o sentido que convm dar palavra personismo. No latim persona se referia antigamente mscara que os atores colocavam no rosto para representar a comdia, e mais tarde se designou por esta palavra o prprio ator. 2 - Animismo - Fenmenos psquicos inconscientes se produzidos fora dos limites da esfera corprea do mdium ou extramedinicos (transmisso do pensamento, telepatia, telecinesia, movimentos de objetos sem contacto, materializao). Temos aqui a manifestao culminante do desdobramento psquico; os elementos da personalidade transpem os limites do corpo e manifestam-se, distncia, por efeitos no somente psquicos, porm ainda fsicos e mesmo plsticos, e indo at plena exteriorizao ou objetivao, provando por esse meio que um elemento psquico pode ser, no somente um simples fenmeno de conscincia, mas ainda um centro de fora substancial pensante e organizadora, podendo tambm, por conseguinte, organizar temporariamente um simulacro de rgo, visvel ou invisvel, e produzindo efeitos fsicos. A palavra alma (anima), com o sentido que tem geralmente no Espiritismo e no Espiritualismo, justifica plenamente o emprego da palavra animismo. Segundo a noo espirtica, a alma no o eu individual (que pertence ao Esprito), porm o envoltrio, o corpo fludico ou espiritual desse eu. Por conseguinte, ns teramos, nos fenmenos anmicos, manifestaes da alma, como entidade substancial, o que explicaria o fato de essas manifestaes poderem revestir tambm um carter fsico ou plstico, segundo o grau de

desagregao do corpo fludico ou do perisprito, ou ainda do metaorganismo, segundo a expresso de Hellenbach. E, como a personalidade o resultado direto do nosso organismo terrestre, segue-se dai naturalmente que os elementos anmicos (pertencentes ao organismo espiritual) so tambm os portadores da personalidade. 3 - Espiritismo - Fenmenos de personismo e de animismo na aparncia, porm que reconhecem uma causa extramedinica, supraterrestre, isto , fora da esfera da nossa existncia. Temos aqui a manifestao terrestre do eu individual por meio daqueles elementos da personalidade que tiveram a fora de manter-se em roda do centro individual, depois de sua separao do corpo, e que se podem manifestar pela mediunidade ou pela associao com os elementos psquicos homogneos de um ser vivo. Isso faz que os fenmenos do Espiritismo, quanto ao seu modo de manifestao, sejam semelhantes aos do personismo e do animismo, e no se distinga deles a no ser pelo contedo intelectual que trai uma personalidade independente. Uma vez admitidos os fatos dessa ltima categoria, claro que a hiptese que da resulta pode igualmente ser aplicada aos fatos das duas primeiras categorias; ela no mais do que o desenvolvimento ulterior das hipteses precedentes. A nica dificuldade que se apresenta que, muitas vezes, as trs hipteses podem servir com o mesmo fundamento para a explicao de um s e mesmo fato. Assim, um simples fenmeno de personismo poderia tambm ser um caso de animismo ou de Espiritismo. O problema pois decidir a qual dessas hipteses preciso atender, pois que se enganaria quem pensasse que uma s bastante para dominar todos os fatos. A crtica probe ir alm da que basta para a explicao do caso submetido anlise (3). Assim, pois, o grande erro dos partidrios do Espiritismo ter querido atribuir todos os fenmenos, geralmente conhecidos sob esse nome, aos espritos. Este nome, por si s, basta para nos insinuar em um mau caminho. Ele deve ser substitudo por um

outro, por um termo genrico, no envolvendo hiptese alguma, doutrina alguma, como por exemplo palavra mediunismo, denominao que desde muito tempo introduzimos na Rssia. Toda verdade nova, no domnio das cincias naturais, faz seu caminho lentamente, gradualmente, porm seguramente. * Foram precisos cem anos para fazer aceitar os fatos do magnetismo animal, posto que eles sejam muito mais fceis de obter e de estudar do que os do mediunismo. Depois de muitas vicissitudes, eles romperam finalmente as barreiras altivas do ignorabimus dos sbios; a Cincia teve que lhes fazer bom acolhimento, e acabou por adotar esse filho bem legitimo, batizando-o com o nome de hipnotismo. E verdade que essa cincia nova mantm-se, principalmente em suas formas elementares, sobre o terreno fisiolgico. Mas a sugesto verbal conduzir fatalmente sugesto mental, e j se elevam vozes que o afirmam. E' o primeiro passo no caminho do supra-sensvel. Chegar-se-, mui natural e inevitavelmente, a reconhecer o imenso domnio dos fenmenos telepticos, e um grupo de sbios intrpidos e infatigveis j os estudaram, aceitaram e classificaram. Esses fatos tm um alto valor para a explicao e legitimao dos outros fatos, querem anmicos, querem espirtico. Ainda um pouco, e eis chegados aos fatos de clarividncia - eles j batem nas portas do santurio! O Hipnotismo a cunha que forar as barreiras materialistas da Cincia, para fazer penetrar nelas o elemento supra-sensvel ou metafsico. Ele j criou a psicologia experimental (4), que acabar fatalmente por compreender os fatos do Animismo e do Espiritismo, os quais, por sua vez, terminaro na criao da metafsica experimental como o predisse Schopenhauer. Hoje, graas s experincias hipnticas, a noo da personalidade sofre uma completa revoluo. No mais uma unidade consciente, simples e permanente, como o afirmava a antiga

escola, porm uma coordenao psicolgica, um conjunto coerente, um consenso, uma sntese, uma associao dos fenmenos da conscincia, enfim, um agregado de elementos psquicos; por conseguinte, uma parte desses elementos pode, em certas condies, se dissociar, se destacar do ncleo central, a tal ponto que esses elementos tomem por temporrio o carter de uma personalidade independente. Eis uma explicao provisria das variaes e dos desdobramentos da personalidade, observados no sonambulismo e no hipnotismo. Nessa explicao j divisamos o grmen de uma hiptese plausvel para os fenmenos do mediunismo, e efetivamente comea-se a aplic-lo aos fenmenos elementares, que os senhores sbios condescendem em reconhecer presentemente sob o nome de automatismo psicolgico. (Ver os Srs. Myers, Charles Richet, P. Janet.) Se a Cincia no tivesse desprezado os fatos do magnetismo animal, desde o comeo, os seus estudos sobre a personalidade teriam dado um passo imenso e teriam entrado no domnio do saber comum; o vulgo se teria ento comportado de modo diferente a respeito do Espiritismo, e a Cincia no teria tardado em ver, nesses fenmenos superiores, um novo desenvolvimento da desagregao psicolgica, e essa hiptese com certos desenvolvimentos teria podido tambm se aplicar at a todos os outros gneros de fenmenos medinicos; assim nos fenmenos superiores de ordem fsica (movimentos de objetos sem contacto, etc.), ela teria visto um fenmeno de desagregao de efeito fsico, e, nos fatos de materializao, um fenmeno de desagregao de efeito plstico. Um mdium, conforme essa terminologia, seria um indivduo no qual o estado de desagregao psicolgica sobrevm facilmente, no qual, para empregar a expresso do Senhor Janet, o poder de sntese psquica fica enfraquecido e deixa escapar-se, para fora da percepo pessoal, um nmero mais ou menos considervel de fenmenos psicolgicos (5). Como o Hipnotismo em nossos dias um instrumento por meio do qual certos fenmenos de automatismo psicolgico (de

dissociao dos fenmenos da conscincia, ou de desagregao mental) podem ser obtidos vontade e submetidos experimentao, com o mesmo fundamento, no hesitamos em afirmar que o Hipnotismo tornar-se- em breve um instrumento por meio do qual quase todos os fenmenos do Animismo podero ser submetidos a uma experimentao positiva, obedecendo vontade do homem; a sugesto ser o instrumento por meio do qual a desagregao psquica transpor os limites do corpo e produzir efeitos fsicos vontade (6). Ser tambm o primeiro passo para a produo vontade de um efeito plstico, e o fenmeno conhecido em nossos dias sob o nome de materializao receber o seu batismo cientfico. Tudo isso importa necessariamente na modificao das doutrinas psicolgicas e as conduzir a ponto de vista monstico, segundo o qual cada elemento psquico portador no s de uma forma de conscincia, como ainda de uma fora organizadora (7). Dissecando a personalidade, a experimentao psicolgica chegar a encontrar a individualidade, que o ncleo transcendente das foras indissociveis, em roda do qual vm grupar-se os elementos mltiplos e dissociveis que constituem a personalidade. E ento que o Espiritismo far valer os seus direitos. Somente ele pde provar a existncia e a persistncia metafsica do indivduo. E chegar o tempo em que, no pice da possante pirmide que a Cincia h de elevar com os inumerveis materiais reunidos no domnio dos fatos no menos positivos quo transcendentes, ver-seo brilhar, acesos pelas mos da prpria Cincia, os fogos sagrados da Imortalidade. * Em ltimo lugar, resta-me fazer apelo indulgncia dos meus leitores. Terminado o meu trabalho, vejo os seus defeitos melhor do que qualquer outra pessoa. Desejando no adiar a minha resposta ao Senhor Hartmann at a terminao completa do meu trabalho, isto , at uma poca indeterminada, comecei a public-lo imediatamente

nos Psychische Studien por meio de artigos mensais, o que necessita sempre uma certa pressa e torna impossvel a reviso de um CAPTULO em seu conjunto e, a fortiori, de todo o trabalho. Resultou dai uma certa desproporo das partes e defeitos na exposio, nas definies, etc., contra os quais me choco atualmente. Certos captulos so muito longos e minuciosos, outros muito breves, sem falar nas repeties da argumentao. E assim que lamento no ter dado, no captulo consagrado fotografia transcendente, o texto completo das experincias de Beattie, que considero muito importantes. No fiz seno referir-me aos Psychische Studien. Para a minha traduo russa, retoquei toda essa parte da obra, e essa ltima que serve de base edio francesa. Por outro lado, lamento, pelo contrrio, ter dado muito desenvolvimento, no CAPTULO das materializaes, s experincias de moldagem e de fotografia, em vez de manter-me nos fatos que correspondiam diretamente s exigncias do Doutor Hartmann; no vale a pena perder tanto tempo em simples questo de fatos cuja realidade objetiva no ocasiona dvida alguma para os que tiveram ocasio de observ-los, e que no tardaro em adquirir. direito de cidadania com o conjunto dos fenmenos medinicos; finalmente, a sua importncia terica apenas de segunda ordem. Lamento tambm no ter podido dar ao CAPTULO Animismo, que a parte essencial para a justificao do Espiritismo, um desenvolvimento mais sistemtico e mais completo. A grande dificuldade para mim foi escolha dos fatos. Insisti sobre este ponto no comeo do meu prefcio, e volto a ele, terminando-o. Disse com razo que o fim da minha obra no tomar a defesa dos fatos, e verdade, quando me coloco no ponto de vista do Senhor Hartmann; mas confesso que tinha tambm diante dos olhos um objetivo mais geral e que procurei sempre apresentar os fatos que correspondessem melhor s exigncias da critica, pelas prprias condies de sua produo. Est a o ponto vulnervel; pois que nenhuma condio, nenhuma medida de precauo que se tome, bastante para convencer da realidade de um fato, enquanto esse fato considerado uma impossibilidade pela opinio pblica. E

depois a possibilidade da fraude - consciente ou inconsciente -, possibilidade que se pode sempre admitir e cuja ausncia no se pode provar, vem ainda agravar a dificuldade. Os fenmenos intelectuais oferecem, debaixo desse ponto de vista, um campo de estudo menos ingrato, pois que apresentam muitas vezes provas intrnsecas de sua autenticidade, que nenhum recurso fraude est no caso de dar, a menos que se conclua pela hiptese de uma mentira universal. A refutao dessa hiptese est fora de todo o poder humano. Por conseguinte, a f moral aqui, como em qualquer outro estudo humano, a base indispensvel do progresso para a Verdade. No pude fazer outra coisa mais do que afirmar publicamente o que vi, ouvi ou senti; e quando centenas, milhares de pessoas afirmam a mesma coisa, quanto ao gnero do fenmeno, apesar da variedade infinita das particularidades, a f no tipo do fenmeno se impe. Assim, no virei afirmar com insistncia que cada fato que relatei se produziu exatamente, tal qual ele est descrito - pois que no h caso que no possa prestar-se objeo - porm insisto no gnero do fato, eis o essencial. Sei que ele existe, e isso me bastante para admitir as suas variedades. Vede os fatos de telepatia provados e colecionados com tanto cuidado e zelo pelos trabalhadores infatigveis da Sociedade de Pesquisas Psquicas de Londres. Eles convenceram a massa? Absolutamente no -, e ainda menos Cincia. Ser-lhes- preciso tempo, como o foi para o Hipnotismo; e, para os fatos de que tratei neste livro, ser preciso mais tempo ainda. At ento apenas se plantaro ao longo do caminho estacas, que um futuro, talvez no muito remoto, substituir por colunas de granito. Ainda uma palavra: no declnio da minha existncia, pergunto s vezes a mim mesmo se procedi bem em consagrar tanto tempo, trabalho e recursos ao estudo e propagao de todos esses fenmenos. No tomei caminho errado? No persegui uma iluso?

No sacrifiquei uma existncia inteira sem que nada justificasse ou retribusse os incmodos que me impus? Mas sempre julgo ouvir a mesma resposta: para o emprego de uma existncia terrestre, no pode haver objetivo mais elevado do que procurar provar a natureza transcendente do ser humano, chamado a um destino muito mais sublime do que a existncia fenomenal! No posso, pois, lamentar ter consagrado toda a minha vida aquisio desse objetivo, se bem que por caminhos impopulares e ilusrios, segundo a cincia ortodoxa, mas que eu sei que so mais infalveis do que essa cincia. E, se consegui, de minha parte, trazer ainda que uma s pedra ereo do templo do Esprito - que a Humanidade, fiel voz interior, edifica atravs dos sculos com tanto labor - ser para mim a nica e mais alta recompensa a que posso aspirar. S. Petersburgo, 3-15 de Fevereiro de 1890. ALEXANDRE AKSAKOF

INTRODUO

A publicao da obra do Doutor Hartmann, sobre o Espiritismo, causou-me a mais viva satisfao. O meu mais sincero desejo foi sempre que um eminente filsofo no pertencente ao campo esprita se ocupasse dessa questo de uma maneira absolutamente sria, depois de ter adquirido um conhecimento aprofundado de todos os fatos atinentes ao assunto; desejava que ele os submetesse a um exame rigoroso, sem levar em conta as idias modernas, os princpios morais e religiosos que nos governam; esse exame devia pertencer lgica pura, baseada na cincia psicolgica.

Caso ele chegasse concluso de que a hiptese proposta pelo Espiritismo era ilgica, eu desejaria que ele me indicasse as razes, o porqu disso, e qual seria a seu ver a hiptese que corresponderia melhor s exigncias da cincia contempornea. Debaixo desse ponto de vista, a obra do Doutor Hartmann constitui uma obra de mestre e apresenta a mais elevada importncia para o Espiritismo. Em nosso jornal hebdomadrio, o Rebus, que se publica em So Petersburgo, anunciei o aparecimento dessa obra em um artigo intitulado: Um acontecimento no mundo do Espiritismo, artigo no qual eu disse entre outras coisas: O livro do Senhor Von Hartmann para os espritas um guia que os por em condies de estudar uma questo dessa natureza e de formar uma idia do cuidado com o qual devem conduzir as suas experincias, e da circunspeo de que devem usar tirando suas concluses para afrontar com confiana a critica da cincia contempornea. Imediatamente propus ao Rebus publicar a traduo daquela obra, como tinha feito o jornal Light, de Londres; atualmente o livro do Doutor Hartmann apareceu ao mesmo tempo no Rebus e em volume separado. Podemos pois esperar que com o concurso de um pensador, tal qual o Senhor Hartmann (temos todo o fundamento em acreditar que, no futuro, ele no nos recusar o auxilio das suas luzes) - esta questo, cuja incomensurvel importncia para o estudo do homem comea a aparecer, ser finalmente posta na ordem do dia, h de impor e provocar a apreciao a que tem direito. Todos os meus esforos na Alemanha (pas que consideramos ocupar o primeiro lugar no estudo das questes filosficas) tiveram por fim atrair para o Espiritismo a ateno imparcial dos seus sbios, na esperana de obter o seu apoio e as indicaes necessrias para continuar o estudo racional dessa questo. A Alemanha oferecia, para a investigao e discusso de tal assunto, o terreno livre que eu no podia encontrar na Rssia de vinte anos passados; procedi da maneira seguinte: publiquei em traduo alem os materiais mais importantes colhidos na literatura

inglesa, sobre esse assunto; em seguida, a contar do ano de 1874, editei, em Lpsia, um jornal mensal Psychische Studien, que tinha como misso popularizar esses escritos. Os meus esforos foram acolhidos por violenta oposio; os sbios alemes em sua maioria no queriam absolutamente tratar dessa questo julgada indigna; negavam os fatos, condenavam a teoria, e isso apesar da atitude animadora de muitos escritores clebres, tais como Emmanuel Fichte, Franz Hoffmam, Maximiliano Perty e outros que me prestaram o seu apoio, quer pela palavra, quer pela ao, publicando artigos no meu jornal. A entrada do Senhor Zollner em cena deu uma nova direo controvrsia. Os materiais que eu tinha preparado para a comisso esprita, nomeada em 1875 pela Universidade de So Petersburgo, materiais que importavam na demonstrao ad oculos de fatos tangveis, na pessoa do Doutor Slade, e que no foram utilizados pela dita comisso, que tinha pressa em dissolver-se, no tardaram entretanto em produzir seus frutos na Alemanha. Quando o professor Zollner, pelo fato do xito das suas experincias com Slade, quis adquirir um conhecimento mais amplo nessa matria, encontrou, com satisfao, tudo o que lhe era necessrio, nas minhas diversas publicaes. Por mais de uma vez, ele me testemunhou a sua gratido, e a verificao que ele fez da realidade dos fenmenos medinicos produziu na Alemanha uma sensao imensa. Logo depois apareceram as obras do Baro Hellenbach, que foi, na Alemanha, o primeiro pesquisador independente nessa ordem de fenmenos. Ele foi em breve seguido nesse caminho por um outro pensador distinto, o Doutor Carl Du Prel. Demais, depois de Zollner, a questo esprita tinha engendrado na Alemanha uma literatura completa. Ao mesmo tempo, as demonstraes pblicas do magnetizadorhipnotizador Hansen produziram uma revoluo no domnio do magnetismo animal. Esses fenmenos, negados e difamados sistematicamente durante um sculo, foram finalmente coligidos pela Cincia; as maravilhas do hipnotismo, reconhecidos hoje em

toda a sua realidade, preparam o caminho que deve conduzir aceitao das maravilhas medinicas. Talvez seja mesmo devido a esse concurso de circunstncias que devemos o aparecimento do livro de Hartmann, porque precisamente sobre a teoria da sugesto mental em geral e da sugesto das alucinaes em particular, que esse filsofo baseou uma parte essencial da sua hiptese. Aqui tambm, o meu humilde trabalho preparatrio prestou notveis servios, porque foi na maior parte em minhas publicaes alems e no meu jornal Psychische Studien que Hartmann tirou os fatos que lhe serviram para formular o seu juzo sobre a questo esprita. Ele me deu mesmo a honra de recomendar o meu jornal como particularmente til para o estudo desse assunto. Finalmente, desde o momento em que Hartmann insiste sobre a necessidade de submeter os fenmenos medinicos a um exame cientfico e pede que o Governo nomeie para esse fim comisses cientficas, posso com toda a confiana considerar a minha atividade na Alemanha como tendo atingido em cheio o seu alvo; tenho todas as razes de acreditar que, desde o momento em que uma voz to autorizada se fez ouvir para proclamar a necessidade de semelhante investigao, a questo esprita far sozinha o seu caminho na Alemanha. Por conseguinte preciso que eu me retire para consagrar o resto das minhas foras continuao da minha obra na Rssia. Entretanto, antes de retirar-me, seria talvez til que expusesse aos leitores do meu jornal as razes que no me permitem aceitar sem reservas as hipteses e as concluses do Doutor Hartmann, as quais devem ser de uma autoridade muito grande, no somente para a Alemanha, mas ainda para o mundo filosfico inteiro. O motivo que me leva a isso no provm de maneira alguma do fato de o Doutor Hartmann se ter pronunciado decididamente contra a hiptese esprita; por ora, considero o lado terico como colocado em segunda plana, como de importncia secundria, e at prematura, no ponto de vista estritamente cientfico; finalmente o prprio Senhor Hartmann o reconhece quando diz: Os materiais de que

dispomos no so suficientes para considerar essa questo como amadurecida para a discusso. (Der Spiritismus, pgina 14.) O meu programa foi sempre prosseguir antes de tudo na pesquisa dos jatos, para estabelecer a sua realidade, seguir o seu desenvolvimento, e estud-los, na, qualidade de fatos, em toda a sua prodigiosa variedade. Na minha opinio, passar-se- por muitas hipteses antes de chegar a uma teoria suscetvel de ser universalmente adotada como a nica verdadeira, enquanto que os fatos, uma vez bem estabelecidos, ficaro adquiridos para sempre. Enunciei essa opinio h cerca de vinte anos, publicando uma traduo russa da obra do Doutor Hare (Pesquisas experimentais sobre as manifestaes dos Espritos), nesses termos: A teoria e os fatos so duas coisas distintas; os erros da primeira nunca podero destruir a fora desses ltimos, etc. (Ed. alem, pg. LVIII.) No meu prefcio edio russa de William Crookes, escrevia ainda: Quando o estudo dessa questo fizer parte do domnio da Cincia, passar por muitas fases que correspondero aos resultados obtidos: l - verificao dos fatos espiritualistas; 2 - verificao da existncia de uma fora desconhecida; 3 - verificao da existncia de uma fora inteligente desconhecida; 4 - pesquisa da fonte dessa fora, a saber; acha-se ela dentro ou fora- do homem? subjetiva ou objetiva? A soluo desse problema constituir a prova definitiva, o experimentum crucis dessa questo; a Cincia ser ento chamada a pronunciar o mais solene veredicto que jamais foi pedido sua competncia. Se esse juzo for afirmativo para a segunda alternativa, isto , se ele decidir que a fora em questo dimana de uma fonte fora do homem, ento comear o quinto ato, uma imensa revoluo na Cincia e na Religio. (Ed. alem, pg. XI-XIII.) Onde nos achamos atualmente? Podemos afirmar que estamos no quarto ato? No o creio. Acredito de preferncia que estamos ainda no prlogo do primeiro ato, pois a questo, quanto aos prprios fatos, no ainda admitida pela Cincia que no os quer reconhecer! Estamos mui distantes ainda da verdadeira teoria,

principalmente na Alemanha, onde a parte fenomenal dessa questo est to pouco desenvolvida que ali h falta quase total de mdiuns, com fora suficiente para as exigncias do estudo experimental. Todos os fatos sobre os quais Hartmann baseia a sua argumentao foram adquiridos fora da Alemanha; o Senhor Hartmann no teve sequer ensejo de observ-los pessoalmente. E verdade que ele teve a coragem mui meritria de aceitar os testemunhos de outrem, porm ningum poder negar que em tal questo as experincias pessoais sejam de uma importncia capital. Mais ainda, o limite, onde podem atingir esses fatos, est longe de ser traado; a sua expanso, e o seu desenvolvimento so lentos, porm constantes; o que Hartmann exige deles, no ponto de vista da critica, deve ainda ser adquirido. Como prova de que no opto pelo triunfo exclusivo de uma ou de outra das hipteses espritas, apelo para o fato seguinte: Deixei ao meu estimado colaborador, o Senhor Wittig, plena liberdade de publicar sobre os fenmenos em questo a sua idias pessoais que tendem a procurar a sua explicao na teoria chamada psquica, antes que na teoria esprita. Mas professando uma tolerncia inteiramente perfeita a respeito das diversas teorias propostas, no posso manter a mesma atitude passiva perante a ignorncia dos fatos, o seu esquecimento, a sua supresso, desde que eles no parecem estar de acordo com a hiptese emitida. Aquele que deseja ser absolutamente imparcial no estudo de problema to complicado, necessariamente nunca deve perder de vista a totalidade, o conjunto dos fatos j adquiridos; mas, infelizmente, um dos erros ordinrios que cometem os promotores de uma hiptese que, pretendendo a todo o transe dar razo ao seu sistema, esquecem ou passam em silncio os fatos que precisamente se trata de explicar. E nessa ordem de idias que eu me vi forado a sustentar uma polemica com o Senhor Wittig, o qual levou o desenvolvimento da sua hiptese at a falar da fotografia de uma alucinao, o que uma flagrante contradictio in adjecto.

E provavelmente esta polmica que visa o Senhor Hartmann quando diz que o Senhor Wittig no pde elevar a voz para a defesa da sua teoria seno em uma luta contra o prprio editor do jornal (Spiritismo, pg. 2). Se houve luta, no foi empenhada em defesa da prpria hiptese, porm pela, causa da lgica e da imparcialidade que se deve aos fatos. A critica do Senhor Hartmann inteiramente baseada sobre a aceitao provisria (condicional) da realidade dos fatos espritas, exceo dos fenmenos de materializao, que ele nega pura e simplesmente. Essa licena, por si s, no poderia ser deixada sem rplica. Mas, independentemente da materializao, h numerosos fatos que escaparam ao conhecimento do Senhor Hartmann, ou sobre os quais ele guardou silncio, ou antes, cujas particularidades ele no apreciou devidamente. Ora, julgo do meu dever apresentar todos esses fatos, fazendo sobressair deles o seu justo valor. Aproveitar-me-ei dessa oportunidade para oferecer as concluses s quais cheguei depois de longos estudos sobre esse assunto, concluses que no publiquei antes do aparecimento desta obra.

RESUMO HISTRICOS DAS TEORIAS ANTIESPIRTICAS

Em relao s teorias, a obra do Senhor Hartmann nada apresenta de novo. A fora neurtica, a transmisso do pensamento, o sonambulismo, tudo isso j tinha sido posto em foco, uma explicao natural, desde o comeo, para dar dos fenmenos espritas. Mais tarde, quando se teve que contar com os fenmenos de materializao, recorreu-se ao argumento das alucinaes.

O mrito capital do trabalho do Senhor Hartmann consiste no desenvolvimento sistemtico desses princpios e na classificao metdica de todos os fatos que se referem a essa questo. Acredito entretanto que um olhar rpido sobre os trabalhos daqueles que precederam o Senhor Hartmann no seria sem interesse, nem para os leitores, nem para o prprio Senhor Hartmann. Certamente seria bem difcil e intil entrar em particularidades minuciosas. Sobre esses trabalhos s darei um breve resumo das principais obras que tratam da questo que nos interessa. Procedendo por ordem cronolgica, preciso citar em primeiro lugar: The Daimonion, or the Spiritual Medium, its Nature, illustrated by the History of its Uniform Mysterious Manifestations when unduly excited. By Traverse Oldfield. (Boston, 1852, 157 pginas, em 89 pequeno.) (O Demnio, ou o mdium espiritual, e a sua natureza, ilustrado com a histria de suas manifestaes uniformemente misteriosas quando ele indevidamente excitado.) O verdadeiro autor G. W. Samson. O Spiritual Mdium, de que se trata, o princpio nervoso. A melhor e mais sistemtica obra elaborada nessa ordem de idias certamente esta: Philosophy of Mysterious Agents, Human and Mundane, or the Dynamic Laws and Relations of Man, embracing the Natural Philosophy of Phenomena styled: Spiritual Manifestations. (Filosofia dos agentes misteriosos, humanos e terrestres, ou as leis e as relaes dinmicas do homem, compreendendo a explicao natural dos fenmenos designados como Manifestaes dos Espritos.) Por E. C. Rogers. (Boston, 1853, 336 pgs. em 8 pequeno.) Ao aparecimento desta obra, houve uma discusso interessante nos jornais americanos The Tribune e The Spiritual Telegraph, entre o Doutor Richmond e o Doutor Brittan a respeito das manifestaes espirituais. O primeiro sustentava que era possvel explicar esses fenmenos sem admitir, para isso, a interveno dos Espritos. O segundo mantinha a opinio contrria. As quarenta e oito cartas publicadas pelas duas partes foram editadas em um volume, sob este ttulo: A Discussion of the Facts and Philosophy of Ancient and

Modern Spiritualism. By S. B. Brittan and B. V. Richmond. (Nova Iorque, 1853, 377 pginas, em 8 grande.) Modern Mysteries Explained and Exposed. (Mistrios modernos explicados e interpretados), pelo Rev. A. Mahan, 1 presidente da Universidade de Cleveland. (Boston, 1855, 466 pginas, em 89.) Esta obra tem por fim desenvolver e defender as duas teses seguintes: 1 - A causa imediata dessas manifestaes idntica no somente fora dica (8), mas ainda fora que engendra os fenmenos do mesmerismo e da clarividncia (pg. 106). 2 - Possumos provas positivas e concludentes de que essas manifestaes provm exclusivamente de causas naturais e no da interveno de Espritos destacados do corpo (pg. 152). Mary Jane, or Spiritualism Chemically Explained; also Essays by and Ideas (perhaps erroneous) of a Child at School. (Mary Jane, ou o Espiritualismo explicado quimicamente; assim como ensaios e idias (talvez errneas) de uma colegial.) (London, 1863, 379 pginas, em 8 grande, com figuras.) E um dos livros mais curiosos sobre essa matria. O Autor, o Senhor Samuel Guppy, materialista consumado, se tinha proposto publicar um resumo de ensaios sobre diversos assuntos, tais como: Luz, Instinto e Inteligncia, Elementos do homem, Gerao espontnea, Princpios da inteligncia humana, a Vida, a Astronomia, a Criao, o Infinito, etc. Ora, o seu livro j estava impresso at pgina 300, quando em sua prpria casa se produziram subitamente fenmenos medinicos dos mais extraordinrios: deslocamento espontneo de objetos, escrita automtica, respostas a perguntas mentais, toque de instrumentos de msica, escrita direta, execuo direta (sem o contacto de uma pessoa) de desenhos e pinturas, etc. O mdium era a sua prpria mulher. Ou Force its Mental and Moral Correlates, and on that which is supposed to underlie all Phenonena; with Speculations on Spiritualismn and other Abnormal Conditions of Mind. (Da fora e suas correlaes mentais e morais, e do que suposto ser base de todos os fenmenos; acrescentando a especulaes sobre o Espiritualismo e outras condies anormais do Esprito). Por

Charles Bray, autor do The Philosophy of Necessity, The Education of Feelings, etc. (Londres, 1867, 164 pginas em 89.) Exalted States of the Nervous System in explanation of the Mysteries of Modern Spiritualism, Dreams, Trance, Somnambulism, Vital Photography, etc. (Estados de superatividade do sistema nervoso no ponto de vista da explicao dos mistrios do Espiritualismo moderno, dos sonhos, do sonambulismo, da fotografia vital, etc.) Por Robert H. Collier, M.D. (Londres, 1873, 140 pginas em 8.) Este livro no apresenta um trabalho sistemtico; contm antes indicaes, aluses a diversos assuntos interessando a essa questo. Spiritualism and allied Causes and Conditions of Nervous Derangements, by William A. Hammond, M. D. Professor of Deseases of the Mind and Nervous System in the Medical Departement of the University of the City of New York. (O Espiritualismo e as causas e condies congneres das perturbaes nervosas, pelo Doutor William A. Hammond, professor de molstias mentais e de molstias nervosas do Departamento de Medicina, na Universidade da cidade de Nova Iorque.) (Londres, 1876.) Um grande volume de 366 pginas em 8, no qual o Autor no quer falar seno dos fatos que podem explicar-se de uma maneira natural. Passemos s obras escritas em lngua francesa. No so numerosas. A primeira pertencente a essa categoria a do Conde Agenor de Gasparin, publicada em Paris, em 1854, sob este ttulo: Das mesas girantes, do sobrenatural em geral e dos Espritos (2 volumes em 80, 500 pginas), na qual o Autor d amplas informaes sobre longa srie de experincias fsicas, tentadas por ele e por alguns amigos particulares, nas quais essa fora se achava consideravelmente desenvolvida. Esses ensaios muito numerosos foram realizados em condies de exame dos mais rigorosos. O fato do movimento de corpos pesados sem contacto mecnico foi reconhecido, provado e demonstrado. Srias experincias foram feitas para medir a fora, quer de acrscimo, quer de diminuio de peso, que se comunicava assim s substncias postas prova, e o

Conde Gasparin adotou um meio engenhoso, que lhe, permitiu obter uma avaliao numrica aproximativa do poder da fora psquica que existia em cada indivduo. O Autor chegava a essa concluso final: que podiam explicar-se todos aqueles fenmenos pela ao de causas naturais, e que no havia necessidade de supor milagres nem a interveno de influncias espirituais ou diablicas. Ele considerava como um fato plenamente comprovado pelas suas experincias que vontade, em certas condies do organismo, pode agir, distncia, sobre a matria inerte, e a maior parte do seu livro consagrada a estabelecer as leis e as condies nas quais esta ao se manifesta. Em 1855, o Senhor Thury, professor na Academia de Genebra, publicou uma obra sob o titulo: As Mesas Falantes (Genebra, Livraria Alem de J. Kessemann, 1855), na qual passam em revista as experincias do Conde de Gasparin; ele entra em longas consideraes sobre as pesquisas que fez ao mesmo tempo. Neste caso tambm, os ensaios foram feitos com o auxlio de amigos ntimos e conduzidos com todo o cuidado que um homem de cincia capaz de empregar nessa matria. O espao no me permite citar os importantes e numerosos resultados obtidos pelo Senhor Thury, mas pelos ttulos seguintes de alguns dos captulos, ver-se- que a pesquisa no foi feita superficialmente: Fatos que estabelecem a realidade dos novos fenmenos; - Ao mecnica tornada impossvel; - Movimentos efetuados sem contacto; - Suas causas; Condies requeridas para a produo e ao da fora; - Condies da ao a respeito dos operadores; - vontade; - E necessrio que haja vrios operadores? - Necessidades preliminares; - Condio mental dos operadores; - Condies meteorolgicas; - Condies relativas aos instrumentos empregados; - Condies relativas ao modo de ao dos operadores sobre os instrumentos; - Ao das substncias interpostas; - Produo e transmisso da fora; - Exame das causas que a produzem; - Fraude; - Ao muscular inconsciente produzida por um estado nervoso particular; - Eletricidade; - Nervomagnetismo; - Teoria do Senhor Conde de Gasparin, de um fluido especial; - Questo geral a respeito da ao do Esprito sobre a

matria. - Primeira proposio: Nas condies ordinrias dos corpos, a vontade s age diretamente na esfera do organismo. - Segunda proposio: No prprio organismo h uma srie de atos mediatos. Terceira proposio: A substncia sobre a qual o Esprito age diretamente, o psicodo, no suscetvel seno de modificaes muito simples sob a influncia da inteligncia. - Explicaes baseadas sobre a interveno dos Espritos. O Senhor Thury refuta todas essas explicaes e acredita que esses efeitos so devidos a uma substncia particular, a um fluido ou a um agente, o qual - de uma maneira anloga do ter dos sbios transmite a luz, penetra toda a matria nervosa, orgnica ou inorgnica, e que ele chama psicodo. Entra na plena discusso das propriedades desse estado ou forma de matria, e prope o nome de fora ectnica (extenso) ao poder que se exerce quando o Esprito age, distncia, por meio da influncia do psicodo (9). Estudos experimentais sobre certos fenmenos nervosos, e soluo racional do problema esprita, por Chevillard, professor na Escola Nacional de Belas Artes (Paris, 1872, 90 pginas, em 89). O fundo de sua teoria, que se refere somente s pancadas (raps) e ao movimento dos objetos, resume-se nestas linhas: As vibraes da mesa, desde que as suas partes se puseram em equilbrio de temperatura, no so mais do que as vibraes fludicas emitidas pela funo mrbida que constitui o estado nervoso do mdium. No estado normal, cada um emite fluido nervoso, porm no de maneira a fazer vibrar sensivelmente a superfcie de um corpo slido que se toca. O mdium sem dvida to auxiliado pela emisso natural dos assistentes crdulos, sempre numerosos, pois que toda emisso fludica, mesmo muito fraca, para a mesa, deve repartir-se nela imediatamente, por causa da temperatura j conveniente. A mesa fica verdadeiramente magnetizada pela emisso do mdium, e a palavra magnetizada no tem outro sentido alm de fazer entender que ela coberta ou impregnada de fluido nervoso vibrante, isto , vital do mdium. A mesa fica ento como um harmnio que espera a martelada do pensamento daquele que a impregnou. O mdium quer uma pancada em um momento em que ela se d olhando

atentamente o lpis correr sobre o alfabeto, e esse pensamento, fixando-se subitamente, engendra um choque cerebral nervoso que repercute instantaneamente, por intermdio dos nervos, na superfcie tubular vibrante. O choque ressoa integrando as vibraes da mesa maneira de um forte brilho ou fasca obscura, cujo rudo a conseqncia dessa condensao instantnea feita no ar ambiente, pginas 25 e 26). - No h em todo o ato tiptolgico (10) ou nevrosttico mais do que condensaes ou integraes de vibraes em fascas obscuras (pg. 38). Quanto aos movimentos dos objetos, o Autor emite teoria seguinte: Os movimentos, chamados espritas, de um objeto inanimado so um efeito real, porm neuro-dinmico, dos pretendidos mdiuns, que transformam o objeto em rgo exterior momentneo, sem terem disso ter conscincia (pgina 54). - Mais adiante, o Senhor Chevillard desenvolve mais esta mesma proposio: A idia da ao voluntria mecnica transmite-se pelo fluido nervoso do crebro ao objeto inanimado suficientemente aquecido; depois do que, este executa rapidamente a ao na qualidade de rgo automtico ligado pelo fluido ao ser voluntrio, quer a ligao seja por contacto ou a pequena distncia; porm o ser no tem a percepo do seu ato, visto como no o executa por um esforo muscular (pg. 62). - Em suma: os fenmenos chamados espritas no so mais do que manifestaes inconscientes da ao magneto-dinmica do fluido nervoso (pg. 86). Ultimamente apareceu uma obra muito interessante, tendo por ttulo: Ensaio sobre a Humanidade pstuma e o Espiritismo, por um positivista - Adolpho d'Assier (Paris, 1883, 30,5 pginas em 12). A obra citada apresenta esse interesse: o Autor foi coagido, por sua prpria experincia, a reconhecer a realidade objetiva de certos fenmenos, habitualmente designados como sobrenaturais e dos quais o Senhor Hartmann no faz meno no seu livro sobre O Espiritismo; e, entretanto, esses fenmenos tm uma relao imediata com o Espiritismo; eles impem-se alm disso, se quer estabelecer uma hiptese geral.

Em seu prefcio, o Autor expe a evoluo que se operou no seu esprito e d uma idia geral do seu trabalho. Daremos dela alguns extratos: O ttulo deste ensaio parecer talvez a certas pessoas em desacordo com as opinies filosficas que professei em toda a minha vida e com a grande escola para a qual o estudo das cincias me tinha encaminhado. Fiquem essas pessoas tranqilas: a contradio apenas aparente. - As idias que exponho afastam-se tanto das fantasias do misticismo quanto das alucinaes dos espritas. No saindo do domnio dos fatos, no invocando causa sobrenatural para interpret-los, acreditei poder dar ao meu livro a chancela do Positivismo. Eis, finalmente, como fui conduzido a pesquisas to diferentes dos meus trabalhos ordinrios. O Autor fala em seguida da sorte que tiveram os aerlitos, durante tanto tempo negados pela Cincia, e da resposta que Lavoisier deu certo dia em nome da Academia das Cincias: No h pedras no cu; por conseguinte elas no poderiam cair sobre a Terra; tambm faz meno da narrao dos sapos que caem com as fortes chuvas, narrao que os sbios acolheram dizendo que no havia sapos nas nuvens, por conseguinte eles no podiam cair sobre a Terra. Depois disso o Senhor D'Assier continua: Era permitido supor que tais lies no ficassem perdidas e que as pessoas que se presumissem srias se mostrassem de futuro mais circunspetas nas suas negaes sistemticas. No sucedeu assim. As noes falsas que colhemos em nossos preconceitos ou em uma educao cientfica incompleta, imprimem ao nosso crebro uma sorte de equao pessoal da qual no nos podemos libertar. Durante trinta anos, ri-me da resposta de Lavoisier sem me aperceber que invocava o mesmo argumento na explicao de certos fenmenos no menos extraordinrios do que as chuvas de pedras ou de sapos. Quero falar dos rudos estranhos que se ouvem s vezes em certas casas e que no se pode referir a nenhuma causa fsica, pelo menos no sentido vulgar que damos a essa palavra. Uma circunstncia digna de nota vem duplicar a singularidade do fenmeno. E que esses rudos no apareciam de ordinrio seno depois da morte de uma pessoa da habitao. Sendo criana, vi em agitao todos os

habitantes de um canto. O abade. Peyton, cura da parquia de Sentenac (Arige), acabava de morrer. Nos dias seguintes, produziram-se no presbitrio rudos inslitos e to persistentes que o serventurio que lhe tinha sucedido esteve prestes a abandonar o seu posto. As pessoas da localidade, to ignorantes quo supersticiosas, no achavam obstculo para explicar esse prodgio. Declararam que a alma do morto estava em penitncia porque ele no tinha tido o tempo de dizer antes da morte todas as missas cuja paga tinha recebido. Quanto a mim, no estava de maneira alguma convencido. Educado no dogma cristo, eu dizia a mim mesmo que o abade Peyton tinha definitivamente deixado o Planeta por uma das trs residncias pstumas: o cu, o inferno, o purgatrio, e eu supunha que as portas das duas penitencirias eram aferrolhadas com bastante solidez para que ele tivesse a fantasia de retroceder. Mais tarde, tendo entrado em outra corrente de idias, tanto pelo estudo comparado das religies, quanto pelo das cincias, tornei-me ainda mais incrdulo, e tinha compaixo daqueles que pretendiam ter assistido a iguais espetculos. Os Espritos, eu no cessava de repetir, s existem na imaginao dos mdiuns e dos espritas; no se poderiam, pois, encontrar em outra parte. Em 1868, achando-me no Berry, encolerizei-me contra uma pobre mulher que persistia em afirmar que, em um albergue que ela habitara em uma Certa poca, cada noite mo invisvel lhe puxava os lenis do leito, desde que apagava a luz. Tratei-a de imbecil, de parva, de idiota. Logo depois sobreveio o ano terrvel. De minha parte, de l sa com a perda da vista, e, coisa ainda mais grave, com os primeiros sintomas de uma paralisia geral. Tendo sido testemunha das curas maravilhosas que as guas de Aulus produzem, no tratamento de certas molstias, principalmente quando se trata de despertar a energia vital, dirigi-me para ali pela primavera de 1871, e pude deter o progresso do mal. A pureza do ar das montanhas, tanto quanto a ao vivificante das guas me decidiram a fixar ali a minha

residncia. Pude ento estudar de perto esses rudos noturnos que s conhecia por ouvir dizer. Desde a morte do antigo proprietrio das fontes o estabelecimento termal era quase todas as noites teatro de cenas desse gnero. Os guardas no ousavam mais deitar-se ali a ss. s vezes as banheiras ressoavam no meio da noite como se as tivessem percutido com um martelo. Abriam-se as cmaras donde partia o rudo, ele cessava imediatamente, mas recomeava em uma sala vizinha. Quando as banheiras ficavam em repouso, assistia-se a outras manifestaes no menos singulares. Eram pancadas sobre os compartimentos, os passos de uma pessoa que passeava no quarto do guarda, objetos atirados de encontro ao soalho, etc. O meu primeiro movimento, quando me contaram essa histria, foi, como sempre, a incredulidade. Entretanto,, achando-me em contacto dirio com as pessoas que tinham sido testemunhas dessas cenas noturnas, a conversao recaia freqentemente sobre o mesmo assunto. Certas particularidades acabaram por despertar a minha ateno. Interroguei o diretor e os guardas do estabelecimento, as diversas pessoas que tinham passado a noite nas termas, todas aquelas que em uma palavra, por um motivo qualquer, me podiam fornecer informaes acerca desses misteriosos sucessos. As suas respostas foram todas idnticas, e as particularidades que me forneceram eram to circunstanciadas que eu me vi encerrado nesse dilema: acreditlos ou supor que eles estavam loucos. Ora, eu no podia tachar de loucura cerca de vinte camponeses srios que viviam pacificamente a meu lado, pelo nico motivo de representarem o que tinham visto ou ouvido, sendo, demais, unnimes os seus depoimentos. Esse resultado inesperado me restituiu memria circunstncias do mesmo gnero que me tinham relatado em outras pocas. Conhecendo as localidades onde esses fenmenos se tinham dado, assim como as pessoas que tinham sidos testemunhas deles, procedi a novas pesquisas, e, dessa vez ainda, fui obrigado a curvarme evidncia. Compreendi ento que tinha sido to ridculo quanto aqueles dos quais eu tinha zombado por tanto tempo, negando fatos que eu declarava impossveis, porque no se tinham produzido

debaixo dos meus olhos e porque eu no podia explic-los. Essa dinmica pstuma que, em certos pontos, parece anttese da dinmica ordinria, me deu que refletir, e eu comecei a entrever que em certos casos, alis muito raros, a ao da personalidade humana pode continuar ainda por algum tempo depois da cessao dos fenmenos da vida. As provas que eu possua me pareciam suficientes para convencer os espritos no prevenidos. Entretanto, no me contentei com isso, e pedi notcias delas aos escritores mais conceituados de diversos pases. Fiz ento, uma escolha dentre as que apresentavam todos os caracteres de uma autenticidade indiscutvel, baseando-me de preferncia nos fatos que tinham sido observados por grande nmero de testemunhas. Cumpria interpretar esses fatos, quero dizer, desembara-los do maravilhoso que encobre a sua verdadeira fisiognomia, a fim de referi-los, como todos os outros fenmenos da Natureza, s leis do tempo e do espao. Tal o principal objetivo deste livro. Perante tarefa to rdua, eu no poderia ter a pretenso de dar a ltima palavra do enigma. Contentei-me em estabelecer o problema claramente e em indicar alguns dos coeficientes que devem entrar para p-lo em equao. Os meus continuadores encontraro a soluo definitiva no caminho que eu lhes tracei...A idia filosfica do livro pode pois se resumir assim: fazer entrar no quadro das leis do tempo e do espao os fenmenos de ordem pstuma negados at o presente pela Cincia, por no poder explic-los, e emancipar os homens da nossa poca das enervadoras alucinaes do Espiritismo. (Pginas 5, 6, 7, 8, 9 e 11). No primeiro captulo o Autor colhe de primeira fonte uma srie de jatos que confirmam a existncia pstuma da personalidade humana: rudos inslitos, ressonncia de passos, roar de vestidos, deslocao de objetos, toques, aparecimento de mos e de fantasmas, etc. No comeo do segundo CAPTULO, o Autor diz: Demonstrada a existncia da personalidade pstuma, por milhares de fatos observados em todos os sculos e entre todos os povos, cumpre procurar conhecer a sua natureza e a sua origem. Ela procede evidentemente da personalidade viva, da qual se apresenta

como a continuao, com a sua forma, com os seus hbitos, com os seus preconceitos, etc.; examinemos pois se encontra no homem um princpio que, destacando-se do corpo quando as foras vitais abandonam este ltimo, continua ainda durante algum tempo a ao da individualidade humana. Numerosos fatos demonstram que esse princpio existe, e que se manifesta algumas vezes durante a vida, oferecendo ao mesmo tempo os caracteres da personalidade viva e os da personalidade pstuma. Vou referir alguns dentre eles, colhidos nas melhores fontes, e que parecem concludentes (pg. 47). Depois de ter citado notveis fatos de apario de pessoas vivas ou de desdobramento, o Autor termina assim esse CAPTULO: Inumerveis fatos observados desde a antiguidade at os nossos dias demonstram em nosso ser a existncia de uma segunda personalidade, o homem interno. A anlise dessas diversas manifestaes nos permitiu penetrar em sua natureza. No exterior, a imagem exata da pessoa da qual o complemento. No interior reproduz a cpia de todos os rgos que constituem a estrutura do corpo humano. Vemo-lo, com efeito, mover-se, falar, tomar alimentos, preencher, em uma palavra, todas as grandes funes da vida animal. A tenuidade extrema das suas molculas constitutivas, que representam o ltimo termo da matria orgnica, lhe permite passar atravs das paredes e das divises dos compartimentos. Dai o nome de fantasma pelo qual geralmente designado. Entretanto, como ele ligado ao corpo donde emana por uma rede muscular invisvel, pode, vontade, atrair a si, por uma espcie de aspirao, a maior parte das foras vivas que animam esse ltimo. V-se ento, por uma inverso singular, a vida se retirar do corpo, que no apresenta mais do que uma rigidez cadavrica e dirigir-se toda para o fantasma, que adquire consistncia, a ponto de lutar algumas vezes com as pessoas diante das quais ele se manifesta. S excepcionalmente ele se mostra durante a vida dos indivduos. Mas desde que a morte rompeu os laos que o ligam ao nosso organismo, ele se separa de maneira definitiva do corpo humano e constitui o fantasma pstumo (pginas 81 e 82).

Mas a sua existncia de curta durao. O seu tecido se desagrega facilmente sob a ao das foras fsicas, qumicas e atmosfricas que o assaltam sem trguas, e entra molcula por molcula no meio planetrio (pg. 298). Eis o sumrio do Captulo IV: Carter do ser pstumo. - Sua constituio fsica. - Seu modo de locomoo. - Sua averso pela luz. - Seu modo de trajar. - Suas manifestaes. - Seu reservatrio de fora viva. - Sua balstica. - Todo homem possui a saca imagem fludica. - A vidente de Prevorst. Captulo V: Fluido universal. - Fluido nervoso. - Analogia e dissemelhana desses dois fluidos. - Animais eltricos. - Pessoas eltricas. - Plantas eltricas. - Ao do fluido nervoso sobre a personalidade interna. O fantasma humano no se revela sempre de uma maneira to clara como nos exemplos que citei. H tambm, s vezes, manifestaes obscuras, de natureza muito variada, que o tornam uma espcie de Proteu intangvel. Reproduzindo o mesmerismo manifestaes anlogas s do sonambulismo, no mdium, no exttico, etc., muitas vezes difcil dizer se a causa primria desses fenmenos deve ser referida personalidade interna ou ao fluido nervoso, ou antes ainda ao combinada desses dois agentes. Em grande nmero de casos, sua ligao parece to ntima que somos levados a perguntar se no do segundo que o primeiro tira sua origem e as suas energias (pg. 117). CAPTULO VI: O ter mesmrico e a personalidade que ele engendra. - O sonambulismo. - O sonloquo. - O vidente. Eis as concluses do Autor: 1 - O sonambulismo, espontneo em alguns indivduos, existe no estado latente em outros. Nesses ltimos, no o entrevemos seno imperfeitamente, mas ele pode atingir toda a sua amplitude sob a influncia de uma forte tenso de esprito, de uma comoo moral ou de outras causas fisiolgicas. Essas manifestaes freqentes, porm incompletas, na infncia, acentuam-se melhor durante a

juventude, depois diminuem com a idade e parece extinguirem-se no velho. 2- As coisas extraordinrias que o sonmbulo realiza, principalmente no domnio intelectual, acusam nele a existncia de uma fora ativa e inteligente, isto , de uma personalidade interna. Essa personalidade parece completamente diferente da personalidade ordinria e ter por sede os gnglios nervosos da regio epigstrica, assim como se viu na sonmbula citada por Burdach, e como o encontraremos de maneira mais acentuada e mais precisa em outras manifestaes do mesmerismo. Fica assim explicado porque o sonmbulo no reconhece a voz das pessoas que lhe so familiares e no conserva recordao alguma do que se passou durante o seu sono. Explica-se da mesma maneira esse fato, que nunca se observou nele ato algum imoral, como se o seu guia misterioso estivesse livre dos laos da animalidade. 3 - A personalidade que aparece no sonambulismo revela uma inteligncia igual, s vezes mesmo superior da personalidade ordinria. Mas, como essa ltima, ela tambm tem a sua equao pessoal, as suas obscuridades, os seus desfalecimentos. Para contentar-me com um exemplo, lembrarei esse sonmbulo, citado por Burdach, que, depois de ter calado as botas, escanchava-se sobre uma janela, e dava esporadas contra a parede para fazer caminhar um corcel imaginrio. 4 - O sonambulismo devido a um desprendimento anormal do fluido nervoso; vrias causas podem produzir esse resultado: terror, grande tenso de esprito, exuberncia da juventude, etc., em uma palavra, tudo o que tende a romper o equilbrio das funes fisiolgicas que tem por sede o sistema nervoso. Quando o fluido pouco abundante, os efeitos do sonambulismo s se do de maneira obscura e parece confundirem-se com os do sonho. Mas desde que ele se desprenda em quantidade conveniente, v-se aparecer imediatamente personalidade interna, e o sonmbulo oferece ento,

os caracteres de um homem acordado, porque tem em si um guia que possui todas as energias da inteligncia e do movimento (pgs. 149-151). Eis-nos finalmente no CAPTULO VII, que trata especialmente do assunto que nos interessa; o seu sumrio : O ter mesmrico e a personalidade que ele engendra (continuao). - A mesa girante. - A mesa falante. - O mdium. Eis como o autor liga os fenmenos do Espiritismo sua teoria do ser fludico: O agente misterioso que punha em desordem as mesas falantes era evidentemente o mesmo que animava o lpis mvel do mdium, quero dizer, a personalidade mesmrica dos assistentes ou do prprio mdium. Diferia-se em seus modos de ao, isso dependia unicamente da natureza dos intermedirios pelos quais ele se manifestava. No com efeito difcil de ver que a mesa no mais do que um instrumento passivo, uma espcie de silabrio acstico posto em ao pelo fluido daquele que interroga. Em outros termos, a personalidade mesmrica desse ltimo que faz o ofcio de apontador no dilogo da mesa (pg. 183). - Comparou-se muitas vezes o mdium a um sonmbulo acordado. Essa definio nos parece perfeitamente justa. So os plos extremos da cadeia mesmrica, dois modos de ao diferentes de uma mesma causa que passam de um a outro por graus insensveis. Dir-se-ia uma transformao de fora anloga que se observa nos fluidos imponderveis, calor, luz, eletricidade, magnetismo, que no so, como se sabe, seno manifestaes diversas de um mesmo agente, o ter. Viram-se mulheres carem em um sono magntico fazendo a cadeia em roda de uma mesa; fenmenos eltricos de atrao e de repulso manifestarem-se em pessoas que se entregavam prtica do Espiritismo; mdiuns, sonmbulos, e vice-versa; s vezes esses dois caracteres se apresentam ao mesmo tempo; de sorte que difcil dizer se trata de um indivduo acordado ou adormecido. Nada alis, exceo da maneira de proceder, diferencia o sonloquo do mdium; um fala, o outro escreve, mas ambos confessam que esto sob a influncia de

um. inspirador misterioso que dita as suas respostas. Interrogado acerca da sua origem e da sua personalidade, esse apontador invisvel se d ora por um esprito sem nacionalidade, ora pela alma de um morto. Nesse ltimo caso, ele se diz voluntariamente o amigo ou o prximo parente do mdium, e vem auxili-lo com seus conselhos. Aqui, realiza-se um dos mais surpreendentes efeitos do mesmerismo. A personagem misteriosa, convidada a traar algumas linhas por intermdio do lpis mvel ou da mo do mdium, reproduz a escrita, as locues, e at as faltas de ortografia que eram familiares ao amigo ou parente de quem se diz representante pstumo. Tal argumento parece primeira vista irrefutvel, e sobre fatos desse gnero que se apoiaram para fundar a teoria do Espiritismo (pginas 185-187). A evocao dos fantasmas pelo mdium , pois, uma miragem, mesmo quando revestem uma forma ptica, como sucede para certos mdiuns privilegiados. Esses no deixam de ser o joguete de uma alucinao, anloga dos sonmbulos que vem aparecer-lhes todos os fantasmas que apraz ao magnetizador lhes mostrar (pg. 191). Como se acaba de ver, no mdium ou no sonmbulo, o mesmo princpio que age, o fluido vital (fluido nervoso, ter mesmrico). Ele obtm o seu summum de energia no primeiro, pois dele mesmo, quero dizer, do centro de produo, que este tira a fora viva que engendra os efeitos mesmricos, enquanto que o segundo, tirando-o de uma fonte estranha, recebe-a limitada e minorada em sua ao. Por isso o Espiritismo reproduz todos os prodgios do sono magntico, aumentando-os ainda. Como o sonmbulo, e melhor que o sonmbulo, o mdium, mesmo iletrado, torna-se poliglota, compe poesias, escreve discursos segundo as regras da arte oratria; adivinha os pensamentos daqueles que esto perto dele, possui a faculdade da vista a distncia, l no passado e chega s vezes prescincia do futuro (pg. 193). Quanto aos autores alemes que trataram dessa questo, intil que eu deles faa aqui meno.

CAPTULO PRIMEIRO

FENMENOS DE MATERIALIZAO

Insuficincia, no ponto de vista dos fatos, da hiptese alucinatria emitida pelo Doutor Hartmann.

A semelhana entre a teoria de D'Assier e a do Doutor Hartmann salta aos olhos. A personalidade mesmrica do primeiro no outra coisa mais do que a conscincia sonamblica do ltimo: a hiperestesia (superexcitao) da memria, a transmisso do pensamento, a clarividncia, tais so os pontos que lhes so comuns. Quanto ao que diz respeito ao conhecimento do assunto tratado e ao desenvolvimento sistemtico da teoria, a obra de D'Assier no pode evidentemente ser comparada ao livro do Senhor Hartmann; em compensao, a hiptese de D'Assier leva u