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Alessandro Lucas da Silva Desenvolvimento de um modelo de análise e projeto de layout industrial, em ambientes de alta variedade de peças, orientado para a Produção Enxuta Tese apresentada à Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Doutor em Engenharia de Produção. Área de Concentração: Gestão de Operações Orientador: Prof. Associado Antonio Freitas Rentes São Carlos 2009

Alessandro Lucas Dasilva

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INTRODUCTION TO PRODUCTION AND OPERATION MANAGEMENT

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  • Alessandro Lucas da Silva

    Desenvolvimento de um modelo de anlise e projeto de layout industrial, em

    ambientes de alta variedade de peas, orientado para a Produo Enxuta

    Tese apresentada Escola de Engenharia de So Carlos

    da Universidade de So Paulo, como parte dos

    requisitos para obteno do Ttulo de Doutor em

    Engenharia de Produo.

    rea de Concentrao: Gesto de Operaes

    Orientador: Prof. Associado Antonio Freitas Rentes

    So Carlos

    2009

  • Dedicatria

    Dedico este trabalho aos meus pais e meu

    irmo pelo apoio concedido em todos os

    momentos

  • Agradecimentos

    Agradeo ao professor e amigo Antonio Freitas Rentes pela orientao e apoio neste trabalho.

    Agradeo FAPESP pelo apoio financeiro concedido para o desenvolvimento desta pesquisa.

    Agradeo ao professor Antonio Basto pelo apoio durante minha permanncia na Universidade

    do Porto.

    Agradeo aos amigos do laboratrio pelos bons momentos de trabalho juntos.

    Agradeo ao amigo Edwin por toda ajuda prestada durante a realizao desse trabalho.

    Agradeo ao Daniel e Ava por me receberem em sua casa nos momentos de finalizao desse

    trabalho.

  • RESUMO

    Silva, A.L. (2009), Desenvolvimento de um modelo de anlise e projeto de layout industrial

    orientado para a Produo Enxuta. 2009, 243p. Tese (Doutorado) Escola de Engenharia de

    So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, 2009.

    Este trabalho busca apresentar um modelo de anlise e projeto de layout industrial para

    empresas que esto implantando ou j implantaram os conceitos da Produo Enxuta. O

    modelo desenvolvido foca empresas de manufatura discreta em ambientes com uma alta

    variedade de produtos. O desenvolvimento do modelo foi elaborado com base na literatura

    tcnica e na experincia prtica em projetos de layouts desenvolvidos em diversas empresas.

    O objetivo principal desse trabalho foi desenvolver um modelo de fcil utilizao que auxilie

    as pessoas envolvidas no projeto do arranjo fsico. Esse modelo concebido utiliza ferramentas

    e conceitos da Produo Enxuta para analisar e projetar o novo layout, e como tal, no

    considera o layout como uma varivel independente no sistema produtivo. Fatores como

    gesto visual, qualidade, fluxo contnuo, complexidade de programao da produo, entre

    outros, foram levados em considerao na construo do modelo. Este tambm incorpora uma

    metodologia de implantao do arranjo fsico projetado em situaes brown field, ou seja,

    com a fbrica em funcionamento. Esse ponto de extrema importncia pois alteraes do

    layout podem incorrer em interrupes no fluxo produtivo e, conseqentemente, em falhas na

    entrega dos produtos aos clientes. Por ltimo, esse trabalho apresenta a metodologia 3P

    Kaizen, uma metodologia de projeto de layout industrial desenvolvida pela Toyota e utilizada

    em situaes de projeto de novas fbricas ou de novas linhas de produo.

    Palavras-chave: Layout, Produo Enxuta, Evento Kaizen.

  • ABSTRACT

    Silva, A.L. (2009), Development of a model to analyze and design lean manufacturing

    oriented industrial layout. 2009, 243p. Thesis (Phd) Engineering School of So Carlos,

    University of So Paulo, So Carlos, 2009.

    This work aims to show a model to analyze and design an industrial layout for companies that

    are implementing or have implemented lean manufacturing concepts. The model developed

    has a focus in discrete manufacturing companies in environments of high variety of products.

    The development of the model was based on the experience of layouts projects developed in

    many companies. The main aim of this work is to create an easy model of application that

    help people that are involved in the design of the facilities resources. This model utilizes tools

    and concepts of lean manufacturing to analyze and design a new layout, without considering

    the layout as an independent variable of production system. Aspects like visual management,

    quality, continuous flow, etc., were considered in the construction of the model. The layout

    design model presents also a methodology to implement a new layout projected in brown field

    situations, where the factory activities do not need to stop its activities. This point is very

    important because changing in the position of facilities resources can cause interruption in the

    flow of products. At last, this work shows the 3P Kaizen, a Japanese methodology, developed

    by Toyota, to design a layout of a new factory or a new production line.

    Keywords: Layout, Lean Manufacturing, Kaizen Event.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    CAPTULO 1 ................................................................................................................................................. 16

    Figura 1 Modelo de pesquisa .................................................................................................................................... 21

    CAPTULO 2 ................................................................................................................................................. 24

    Figura 2 Sistema de Produo Enxuta (Lean Institute, 2003).................................................................................... 27 Figura 3 Tempo das atividades que agregam e no agregam valor ao produto ...................................................... 31 Figura 4 Desperdcio de Superproduo ................................................................................................................... 32 Figura 5 Transporte excessivo ao longo da fbrica ................................................................................................... 33 Figura 6 Desperdcio de estoques ............................................................................................................................. 34

    CAPTULO 3 ................................................................................................................................................. 36

    Figura 7 Lista cronolgica dos softwares de projeto de layout ................................................................................. 37 Figura 8 Exemplo de layout funcional ....................................................................................................................... 43 Figura 9 Layout funcional de uma empresa de estruturas metlicas ....................................................................... 44 Figura 10 Layout por produto (em linha) .................................................................................................................. 46 Figura 11 Variaes do layout em linha .................................................................................................................... 47 Figura 12 Variaes do layout celular ....................................................................................................................... 52 Figura 13 Matriz de treinamento .............................................................................................................................. 53 Figura 14 Layout modular: Mdulo clula ................................................................................................................ 54 Figura 15 Layout Modular: Mdulo centro de usinagem .......................................................................................... 55 Figura 16 Layout Modular: Mdulo fluxo em linha ................................................................................................... 55 Figura 17 Layout Modular: Mdulo fluxo em linha ramificado ................................................................................ 55 Figura 18 Layout modular: Mdulo Funcional .......................................................................................................... 56 Figura 19 Exemplo de clula e mini-fbrica de produo ......................................................................................... 57 Figura 20 Exemplo de aplicao do conceito de mini-fbricas de produo ............................................................. 58 Figura 21 Exemplo esquemtico de layout fractal .................................................................................................... 59 Figura 22 Exemplo de um layout reconfigurvel. ...................................................................................................... 63 Figura 23 Exemplo de aplicao do sistema RMS ..................................................................................................... 64 Figura 24 Exemplo de configuraes de layout para produtos diferentes ................................................................ 66

    CAPTULO 4 ............................................................................................................................................................ 74

    Figura 25 Reestruturao do layout ......................................................................................................................... 75 Figura 26 Etapas de mudana necessrias para realocar os departamentos ........................................................... 75 Figura 27 Etapas do evento kaizen ........................................................................................................................... 78

    CAPTULO 5 ............................................................................................................................................................ 80

    Figura 28 Modelo SLP (Muther, 1973) ...................................................................................................................... 81 Figura 29 Diagrama de relacionamento ................................................................................................................... 81 Figura 30 Diagrama de relacionamento e espao .................................................................................................... 83 Figura 31 Modelo simplificado de projeto de clulas ................................................................................................ 84 Figura 32 Janela principal do sistema ....................................................................................................................... 85 Figura 33 Principais interaes do sistema de apoio ao desenho de implantaes fabris. ....................................... 87 Figura 34 Modelo de Gonalves Filho (Gonalves Filho, 2005). ................................................................................ 88 Figura 35 Modelo de projeto da estao de trabalho ............................................................................................... 91 Figura 36 : Seven ways para cada processo .............................................................................................................. 93 Figura 37 Checklist de avaliao ............................................................................................................................... 95 Figura 38 Ferramenta Process at a glance ................................................................................................................ 96

    CAPTULO 6 .......................................................................................................................................................... 100

    Figura 39 Macro etapas do modelo proposto de projeto de layout ........................................................................ 101 Figura 40 a Algoritmo da primeira etapa do modelo de anlise e projeto de layout.............................................. 103 Figura 40b Algoritmo da segunda etapa do modelo .............................................................................................. 104 Figura 40 c Algoritmo da terceira etapa do modelo de anlise e projeto de layout ............................................... 105 Figura 41 Exemplo de Diagrama de Espaguete ...................................................................................................... 108 Figura 42 Exemplo didtico de um Mapa do Fluxo de Valor ................................................................................... 109 Figura 43 Mapa do fluxo de valor de uma indstria de reforma de peas automotivas com os loops de implantao ............................................................................................................................................................ 111 Figura 44 Exemplo de clulas separadas por supermercado e pulmo de peas ................................................. 114

  • CAPTULO 7 .......................................................................................................................................................... 120

    Figura 45 fotos de alguns dos produtos .................................................................................................................. 120 Figura 46 layout da unidade fabril em Diadema ..................................................................................................... 126 Figura 47 Diagrama de espaguete do fluxo interno e da movimentao entre fbricas ......................................... 128 Figura 48 MFV macro da situao atual (inicial) ..................................................................................................... 130 Figura 49 Mapa do estado futuro (Diadema) .......................................................................................................... 133 Figura 50 Loops de implantaoidentificados no MFV futuro ................................................................................. 135 Figura 51 tempos de ciclos comparado com o tempo takt. ..................................................................................... 137 Figura 52 tempos de ciclos balanceados comparado com o tempo takt. ................................................................ 139 Figura 53 Espao necessrio para os produtos acabados ....................................................................................... 139 Figura 54 Layout do loop em anlise ....................................................................................................................... 140 Figura 55 layout detalhado da clula de fabricao da famlia A ........................................................................... 141 Figura 56 Mtodo de clculo do TPT ....................................................................................................................... 143 Figura 57 Dimenses do supermercado de peas .................................................................................................... 145 Figura 58 Layout do mdulo do loop ....................................................................................................................... 146 Figura 59 Layout apenas com os elementos restritivos ........................................................................................... 148 Figura 60 Alternativa de layout formulada ............................................................................................................. 149 Figura 61 Alternativa de layout formulada ............................................................................................................. 150 Figura 62 Alternativa de layout selecionada ........................................................................................................... 151 A figura 63 apresenta o diagrama de espaguete para a alternativa de layout projetada ....................................... 152 Figura 64 Alternativa de layout selecionada ........................................................................................................... 154 Figura 65 Descrio das atividades do evento kaizen ............................................................................................. 156 Figura 66 Fotos do evento kaizen ............................................................................................................................ 157 Figura 67 Medidas de desempenho para as clulas ................................................................................................ 158 Figura 68 Fotos antes e depois da mudana de layout ........................................................................................... 160

    CAPTULO 8 .......................................................................................................................................................... 163

    Figura 69 Exemplo de turbinas fabricadas na empresa........................................................................................... 163 Figura 70 layout anterior do cho-de-fbrica ......................................................................................................... 170 Figura 71 Diagrama de Espaguete da famlia de Diafragama ................................................................................ 172 Figura 72 Mapa do fluxo de valor da situao inicial para trubinas pequenas ....................................................... 174 Figura 73 Mapa do fluxo de valor da situao futura de turbinas pequenas .......................................................... 177 Figura 74 MFV futuro com os loops de implantao em destaque ......................................................................... 179 Figura 75 grfico comparativo entre os tempos de processo e o takt antes do balanceamento das operaes .... 182 Figura 76 grfico comparativo entre os tempos de processo e o takt.aps o balanceamento das operaes........ 183 Figura 77 tamanho do supermercado de mancais .................................................................................................. 184 Figura 78 tamanho do supermercado de buchas .................................................................................................... 184 Figura 79 tamanho do supermercado de anis ....................................................................................................... 185 Figura 80 Pontos de pulmo e supermercado ......................................................................................................... 185 Figura 81 Prateleira para armazenamento de peas .............................................................................................. 186 Figura 82 Layout inicial em detalhes do setor de mancais ...................................................................................... 187 Figura 83 Layout projetado para a famlia de mancais ........................................................................................... 188 Figura 84 Elementos restritivos identificados .......................................................................................................... 189 Figura 85 Mini-fbrica de usinagem ........................................................................................................................ 190 Figura 86 Distribuio dos building blocks .............................................................................................................. 192 Figura 87 Diagrama de Espaguete entre os building blocks .................................................................................... 194 Figura 88 Layout final projetado ............................................................................................................................. 198 Figura 89 Planejamento das aes kaizens a serem realizadas .............................................................................. 200 Figura 90 Fotos do evento kaizen de mancais ........................................................................................................ 201 Figura 91 Check-list de acompanhamento das mudanas realizadas ..................................................................... 202 Figura 92 Evoluo dos estoques de mancais ......................................................................................................... 204

    APNDICE 1.......................................................................................................................................................... 224

    Figura 95 Diagrama de Espaguete Situao Inicial Famlia A (Estudo de Caso 1) ................................................... 225 Figura 96 Diagrama de Espaguete Situao Inicial Famlia B (Estudo de Caso 1) ................................................... 226 Figura 97 Diagrama de Espaguete Situao Inicial Famlia C (Estudo de Caso 1) ................................................... 227 Figura 98 Diagrama de Espaguete no Layout Inicial Famlia Diafragma e Injetores (Estudo de Caso 2)................. 228 Figura 99 Diagrama de Espaguete no Layout Projetado Famlia Diafragma (IMPLANTADO) (Estudo de Caso 2)... 229 Figura 100 Diagrama de Espaguete no Layout Inicial Famlia Carcaas (Estudo de Caso 2) ................................... 230 Figura 101 Diagrama de Espaguete no Layout Projetado Famlia Carcaas (Estudo de Caso 2) ............................. 231 Figura 102 Diagrama de Espaguete no Layout Inicial Famlia Eixo Simples (Estudo de Caso 2) .............................. 232

  • Figura 103 Diagrama de Espaguete no Layout Projetado Famlia Eixo Simples (IMPLANTADO) (Estudo de Caso 2) ................................................................................................................................................................................ 233 Figura 105 Diagrama de Espaguete no Layout Projetado Famlia Eixo Integrado (Estudo de Caso 2) ................... 235 Figura 106 Diagrama de Espaguete no Layout Inicial Famlia Palhetas (Estudo de Caso 2) ................................... 236 Figura 107 Diagrama de Espaguete no Layout Projetado Famlia Palhetas(IMPLANTADO) (Estudo de Caso 2) .... 237

  • LISTA DE TABELAS

    CAPTULO 3 ............................................................................................................................................................... 35 Tabela 1 Resultados da implantao de clulas de manufatura ............................................................................ 48 Tabela 2 Anlise comparativa entre tipos diferentes de layout para sete estudos de casos .................................... 59 Tabela 3 Anlise dos diferentes modelos de layouts sob a tica da Produo Enxuta ............................................. 71 CAPTULO 6 ............................................................................................................................................................... 99 Tabela 4 Exemplo de movimentaes em um layout .............................................................................................. 109 Tabela 5 Elementos restritivos ............................................................................................................................. 112 Tabela 6 Clculo do TPT ........................................................................................................................................... 114 CAPTULO 7 ............................................................................................................................................................. 119 Tabela 7 Relao dos produtos fabricados .............................................................................................................. 120 Tabela 8 Anlise ABC para os produtos fabricados ................................................................................................. 121 Tabela 9 Lista de componentes dos produtos da Famlia A .................................................................................... 123 Tabela 10 Distncias percorridas pelos materiais e pessoas ................................................................................... 130 Tabela 11 Clculo do TPT ......................................................................................................................................... 142 Tabela 12 Capacidade de mquina x tempo necessrio .......................................................................................... 143 Tabela 13 Movimentao de materiais e pessoas ................................................................................................... 152 Tabela 14 Equipe do kaizen ..................................................................................................................................... 156 CAPTULO 8 ............................................................................................................................................................. 162 Tabela 15 Demanda de turbinas pequenas ............................................................................................................. 164 Tabela 16 Demanda de turbinas mdias ................................................................................................................. 164 Tabela 17 Demanda de turbinas grandes ................................................................................................................ 165 Tabela 18 Movimentao de peas ......................................................................................................................... 174 Tabela 19 Comparativo entre o takt time e os tempos de operao ...................................................................... 180 Tabela 20 Comparativo entre as distncias percorridas pelas famlias no layout inicial e no layout proposto. ..... 194 Tabela 21 Medidas de desempenho ....................................................................................................................... 202 Captulo 9 ................................................................................................................................................................ 207 Tabela 22 resultados alcanados nas empresas ...................................................................................................... 209

  • Lista de Abreviaturas e Siglas

    WIP: work in process

    TPT: toda parte toda (every part every)

    NRC: National Research Council

    MFV: Mapa do Fluxo de Valor

    SLP: Systematic Layout Planning

  • SUMRIO

    CAPTULO 1 ................................................................................................................................................. 16

    1. INTRODUO ................................................................................................................................................ 16 1.1 Caracterizao do tema de pesquisa ..................................................................................................... 16

    1.2 Justificativa ............................................................................................................................................ 17

    1.3 Oportunidade de Pesquisa ..................................................................................................................... 18

    1.4 Objetivo .................................................................................................................................................. 19

    1.5 Escopo da pesquisa ................................................................................................................................ 20

    1.6 Metodologia ........................................................................................................................................... 20

    1.7 Organizao da tese .............................................................................................................................. 22

    CAPTULO 2 ................................................................................................................................................. 24

    2. O SISTEMA TOYOTA DE PRODUO .............................................................................................................. 24 2.1 Definio de Sistema de Produo Enxuta ............................................................................................. 25

    2.2 Os princpios da Produo Enxuta e os desperdcios de um sistema tradicional de produo. ............. 29

    CAPTULO 3 ................................................................................................................................................. 36

    3. LAYOUT ......................................................................................................................................................... 36 3.1 Um breve histrico sobre os modelos de planejamento do layout ........................................................ 37

    3.2 A importncia do layout para as empresas ........................................................................................... 38

    3.3 Porque planejar o layout? ...................................................................................................................... 41

    3.4 Modelos tradicionais de layouts ............................................................................................................ 42

    3.5 Os novos conceitos de layout ................................................................................................................. 54

    3.6 Anlise dos modelos de layout sob a tica da Produo Enxuta ........................................................... 67

    CAPTULO 4 ................................................................................................................................................. 74

    4. O EVENTO KAIZEN .............................................................................................................................................. 74 4.1 Implantando o layout com a fbrica em funcionamento ....................................................................... 74

    4.2 Kaizen e o Evento Kaizen ........................................................................................................................ 76

    CAPTULO 5 ................................................................................................................................................. 80

    5. MODELOS DE CONSTRUO DE LAYOUT. ................................................................................................................ 80 5.1 Modelos de projeto de layout ................................................................................................................ 80

    5.2 Anlise dos modelos de projeto de layout ............................................................................................. 96

    CAPTULO 6 ............................................................................................................................................... 100

    6. O MODELO PROPOSTO DE PROJETO DE LAYOUT. ..................................................................................................... 100 6.1 Modelo de Anlise, Projeto e Implantao de Layout ......................................................................... 100

    6.2. Primeira Etapa: Levantamento da Situao Atual .............................................................................. 105

    6.3. Segunda etapa: Projeto da Situao Futura (Projeto do novo layout) ................................................ 110

    6.4. Terceira etapa: Implantao e Acompanhamento ............................................................................. 118

    CAPTULO 7 ............................................................................................................................................... 120

    7. ESTUDO DE CASO: EMPRESA DE COMPONENTES SOLDADOS. .................................................................................... 120

  • A seguir, ser apresentado o primeiro estudo de caso, onde foi aplicado o modelo proposto de projeto de

    layout. ........................................................................................................................................................ 120

    7.1 Apresentao da empresa. ................................................................................................................... 120

    7.2 Primeira Etapa Levantamento da Situao Atual ............................................................................. 121

    7.3 Segunda Etapa Projeto da Situao Futura ....................................................................................... 132

    7.4 Terceira Etapa Implantao e Acompanhamento ............................................................................. 155

    7.5 Anlise Geral. ....................................................................................................................................... 160

    CAPTULO 8 ............................................................................................................................................... 163

    8. ESTUDO DE CASO: EMPRESA DE TURBINAS DE ENERGIA ........................................................................................... 163 Esse captulo refere-se ao segundo estudo de caso, onde foi aplicado o modelo propostos de projeto de

    layout. ........................................................................................................................................................ 163

    8.1 Apresentao da empresa .................................................................................................................... 163

    8.2 Primeira Etapa Levantamento da Situao Atual ............................................................................. 164

    CAPTULO 9 ............................................................................................................................................... 205

    9. CONCLUSO .................................................................................................................................................... 205

    BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................ 215

    APNDICE 1 ............................................................................................................................................... 224

  • Captulo 1: Introduo

    15

  • Captulo 1: Introduo

    16

    CAPTULO 1

    1. INTRODUO

    O arranjo fsico das instalaes industriais tem grande impacto no desempenho da

    empresa. Desde a localizao das unidades de negcio organizao do micro-espao do

    posto de trabalho do operador, o projeto do layout deve ser conduzido de forma eficiente e

    eficaz. Isso porque os efeitos de um arranjo fsico bom ou ruim iro ser percebidos pela

    organizao nos resultados do seu negcio.

    Tendo por base a importncia do arranjo fsico para as empresas, este trabalho aborda

    a questo do layout buscando contribuir com a pesquisa nesta rea.

    1.1 Caracterizao do tema de pesquisa

    A revoluo que o sistema de produo desenvolvido na Toyota trouxe ao mundo

    empresarial foi um marco na histria da fabricao moderna. Os conceitos de reduo de

    estoques, produo just in time, paradas de linhas para eliminao de desperdcios, entre

    inmeros outros, revolucionaram a forma de se pensar a produo. Os resultados das

    pesquisas apresentados no livro A Mquina que Mudou o Mundo, mostrou pela primeira

    vez ao mundo empresarial que um novo conceito de produo havia surgido e superava em

    muitos aspectos os tradicionais princpios da produo em massa.

    Esse sistema de produo desenvolvido na Toyota e posteriormente denominado de

    Produo Enxuta pode ser definido como um novo paradigma de produo, como uma nova

    forma de pensar a empresa como um todo. Esta nova Filosofia de produo engloba um

    conjunto de tcnicas e conceitos, como Fluxo Contnuo, Sistema Kanban, Layout Celular,

    Fornecimento Just in Time, etc. Dentro desse universo de ferramentas e conceitos Rother e

    Harris (2002) destacam que o Fluxo Contnuo o objetivo principal da Produo Enxuta.

    Corra e Corra (2004) destacam que com a implantao de um fluxo contnuo de

    produo ocorre uma reduo de estoques e tambm uma diminuio do tamanho dos lotes de

    fabricao e transferncia. Mas, para se conseguir implantar um fluxo contnuo necessrio,

  • Captulo 1: Introduo

    17

    entre outros aspectos, reorganizar os recursos disponveis na fbrica, ou seja, re-projetar o

    layout.

    A reorganizao dos recursos produtivos constitui-se numa das peas chaves na

    concepo e implantao, com sucesso, da Produo Enxuta. Como ser apresentado em

    detalhes mais adiante, dentre os tradicionais sete desperdcios identificados por Shingo no

    Sistema Toyota de Produo, trs destes esto diretamente relacionados com a disposio

    fsica dos equipamentos de produo: Transporte Excessivo, Movimentao Desnecessria e

    Estoques.

    Atualmente, muitas empresas ainda se utilizam de arranjos fsicos inadequados que

    oneram seu processo produtivo. Isso tem incorrido em perdas considerveis em termos de

    aumento no tamanho dos lotes de transferncia, movimentao excessiva dos funcionrios e

    dos produtos/peas, aumento no lead time total de fabricao, etc. E existem tambm perdas

    no-mensurveis como a dificuldade de gerenciamento do fluxo produtivo em um layout com

    fluxos de processo aleatrios.

    Com base neste cenrio busca-se neste trabalho desenvolver um modelo de projeto e

    implantao de layout, com base nos conceitos e princpios da Produo Enxuta, o qual

    auxilie as empresas a projetarem ou mesmo reestruturarem seus layouts existentes,

    adequando-os da melhor forma possvel s suas caractersticas particulares.

    1.2 Justificativa

    "Tanto a Europa Ocidental desenvolvida, como os pases emergentes do Leste

    Europeu esto encontrando enormes problemas para enfrentar as expectativas crescentes dos

    clientes, e proporcionar qualidade em um mundo onde as velhas frmulas de produo em

    massa no so mais aplicveis", (MASING, 2002).

    Esse cenrio pode ser observado em empresas em todo o mundo. Os princpios de

    competitividade, nos quais se fundamentava a produo em massa no mais existem. A

    Filosofia de Produo Enxuta prope uma resposta de adaptao dos sistemas produtivos s

    necessidades do mercado consumidor atual. Esta nova forma de produzir levou a Toyota a

    patamares de excelncia ainda perseguidos por muitas empresas.

    Em particular, o desenvolvimento dessa pesquisa justifica-se na importncia que o

    layout assume perante o Sistema de Produo Enxuta. A anlise do layout, com base nos

  • Captulo 1: Introduo

    18

    conceitos de fluxo contnuo, fluxo unitrio de peas, estoques zero, gesto visual, entre outros

    fatores a base para uma empresa ter um sistema de manufatura gil e flexvel.

    A concepo e projeto do layout tm se mostrado como etapa chave na implantao do

    Sistema de Produo Enxuta. Por exemplo, Miltenburg (2001) destaca que muitos autores

    afirmam que entre as ferramentas utilizadas pela Produo Enxuta, o layout celular mostra-se

    muito adequado para possibilitar a reduo de lead times, custos e melhoria da qualidade.

    A importncia do layout transcende os aspectos meramente de movimentao de

    material e tamanho dos lotes de produo. O arranjo fsico dos equipamentos impacta, entre

    outros aspectos, no grau de dificuldade da programao e controle da produo.

    Portanto, o estudo do layout envolvendo todos esses aspectos quantitativos e

    qualitativos, muito importante como base de conhecimento a ser utilizado pelas empresas

    que buscam atingir excelncia no seu processo de fabricao.

    1.3 Oportunidade de Pesquisa

    A abordagem de layout do Sistema de Produo Enxuta tem se concentrado

    principalmente nas clulas de manufatura. Muito pouco tem sido abordado na literatura sobre

    a possibilidade de se utilizar outras formas de disposio fsica dos equipamentos em um

    contexto de Produo Enxuta.

    Alm disso, muitos trabalhos buscam mostrar a importncia do layout em termos de

    reduo de movimentao de peas. Poucos estudos tm buscado mostrar quais so os ganhos

    qualitativos que o layout pode gerar como, gerenciamento visual, influncia no nvel de

    complexidade da programao, reduo do lead time, melhoria da qualidade, entre outros.

    Por ltimo, em ambientes de alta variedade de peas e produtos existe uma dificuldade

    em se implantar o layout celular. Portanto, como se deve proceder em cenrios de produo

    como esse? Qual o melhor modelo de layout a se utilizar?

    Nesse contexto, com o propsito de iniciar um debate sobre esse aspecto, algumas

    questes de pesquisa foram formuladas para esse trabalho:

    1. Como projetar um layout em ambientes de alta variedade de peas e produtos,

    considerando os princpios da produo enxuta?

  • Captulo 1: Introduo

    19

    2. Quais as principais dificuldades em se alterar um layout com a fbrica em

    funcionamento?

    3. Quais os benefcios, quantitativos e qualitativos, que a mudana de layout pode

    trazer para uma empresa que est implantando o Sistema de Produo Enxuta?

    4. Quais as caractersticas associadas aos tipos de layout que esto em conformidade

    com os princpios da Produo Enxuta?

    5. As clulas de manufatura so o nico layout que deve ser utilizado na implantao

    do Sistema de Produo Enxuta ou outras formas de layout podem ser usadas?

    6. Dentro da Filosofia de Produo Enxuta existem caractersticas de processo que

    induzem a tipos especficos de layout?

    1.4 Objetivo

    1.4.1 Geral

    Dentro do universo de conceitos e aspectos da Produo Enxuta, o foco desta pesquisa

    trabalhar a questo do projeto do layout, em ambientes de alta variedade de peas/produtos,

    em empresas que esto implantando ou j consolidaram a implantao desta Filosofia.

    O objetivo desenvolver um modelo para projeto, planejamento e implantao de

    layout, em ambientes de alta variedade de peas/produtos, com base nos conceitos da

    Produo Enxuta.

    1.4.2 Especfico

    Os objetivos especficos so:

    1. Desenvolver um modelo de projeto de layout em ambientes de alta variedade de

    peas/produtos, que contemple os princpios de Produo Enxuta.

    2. Levantar quais so os benefcios, quantitativos e qualitativos, que a mudana de

    layout pode trazer para a empresa que adota o Sistema de Produo Enxuta.

    3. Levantar se existem outras formas de layout, diferentes das clulas de produo,

    que podem ser utilizadas na implantao do Sistema de Produo Enxuta.

  • Captulo 1: Introduo

    20

    4. Levantar quais as caractersticas dos mais diversos layouts que esto em

    consonncia com os princpios da Produo Enxuta.

    5. Levantar se as caractersticas de produtos, componentes ou processos induzem a

    tipos especficos de layouts.

    6. Identificar as principais dificuldades em se projetar o layout com a fbrica em

    funcionamento.

    1.5 Escopo da pesquisa

    O escopo do trabalho o desenvolvimento de um modelo de projeto de layout

    direcionado para empresas de manufatura discreta em ambientes de alta variedade de

    produtos. Essa restrio do modelo deve-se inviabilidade de se abordar todos os aspectos

    dos diferentes ambientes de produo.

    1.6 Metodologia de pesquisa

    Segundo Miguel (2007) esta pesquisa pode ser classificada como um estudo de caso.

    O estudo de caso um estudo de natureza emprica que investiga um determinado fenmeno,

    geralmente contemporneo, dentro de um contexto real de vida, quando as fronteiras entre o

    fenmeno e o contexto em que ele se insere no so claramente definidas. Trata-se de uma

    anlise aprofundada de um ou mais objetivos (casos), para que permita o seu amplo e

    detalhado conhecimento (GIL, 1996, BERTO e NAKANO, 2000). A principal tendncia em

    todos os tipos de estudos de casos (exploratrios, explanatrios ou descritivos), que estes

    tentam esclarecer o motivo pelo qual uma deciso ou um conjunto de decises foram tomadas,

    como foram implementadas e com quais resultados alcanados (YIN, 2001).

    Esse trabalho se baseou na metodologia determinada por Miguel (2007) para um

    estudo de caso, ver figura 1.

  • Captulo 1: Introduo

    21

    1. DEFINIR UMA ESTRUTURA

    CONCEITUAL-TERICA

    Mapear a literaturaDelinear as proposiesDelimitar as fronteiras e grau de evoluo

    2. PLANEJAR OS CASOS

    Selecionar as unidades de anlise e contatoEscolher os meios para coleta e anlise dos dadosDesenvolver o protocolo para coleta dos dadosDefinir meios de controle da pesquisa

    3. CONDUZIR TESTE PILOTO

    Testar procedimentos de aplicaoVerificar qualidade dos dadosFazer os ajustes necessrios

    4. COLETAR OS DADOS

    Contatar os casosRegistrar os dadosLimitar os efeitos do pesquisador

    5. ANALISAR OS DADOS

    Produzir uma narrativaReduzir os dadosConstruir painelIdentificar causalidade

    6. GERAR RELATRIO

    Desenhar implicaes tericasProver estrutura para

    replicao.

    Figura 1 Modelo de pesquisa

    Fonte: Miguel (2007)

    A seguir so detalhadas as etapas e atividades do modelo de pesquisa adotado.

    Etapa 1 Definir uma estrutura conceitual terica

    Nesta etapa, ser realizada uma reviso bibliogrfica identificando trabalhos de cunho

    terico e prtico em relao ao tema. O objetivo formar uma base terica que fundamente o

    trabalho e justifique a importncia do mesmo.

    Etapa 2: Planejar os dados

    Segundo Miguel (2005) uma das primeiras tarefas nesse planejamento a escolha das

    unidades a serem analisadas. Deve-se planejar a quantidade de estudos de casos que

    fundamentaro a pesquisa. Neste trabalho, sero realizados trs estudos aplicaes prticas do

    modelo de projeto de layout proposto, sendo que dois estudos de casos sero completamente

    descritos. Para um dos estudos de casos ser relatado apenas os resultados.

    Quanto ao mtodo de coleta de dados, ser realizada uma pesquisa in loco. Ou seja, o

    pesquisador ir realizar visitas ao cho-de-fbrica e aplicar o modelo de projeto de layout

    proposto, procurando observar as limitaes, dificuldades e virtudes do mesmo.

  • Captulo 1: Introduo

    22

    Etapa 3: Conduzir teste piloto

    Nesta pesquisa nos era realizado um teste piloto conforme definido por Miguel

    (2005). O que ser feito uma primeira aplicao do modelo em uma das empresas definidas.

    Aps anlise e correes do modelo este dever ser aplicado em outras duas empresas.

    Etapa 4: Coletar dados

    A coleta dos dados consistir da aplicao do modelo e no levantamento das

    informaes. Na pesquisa em anlise, a coleta de dados ser encerrada somente com a

    finalizao do arranjo fsico de cada um dos estudos de casos.

    Etapa 5: Analisar os dados

    A anlise dos dados ser realizada aps aplicao em cada estudo de caso. Conforme

    mencionado, o modelo de projeto de arranjo fsico ser aplicado inicialmente em uma

    empresa, e aps anlises e possveis correes do modelo, este ser aplicado e analisado em

    mais dois estudos de casos.

    Etapa 6: Gerar relatrio

    A ltima etapa desta pesquisa ser a elaborao do texto de defesa da tese. Neste texto,

    de uma forma geral, dever constar o levantamento bibliogrfico realizado, os estudos de

    casos, os resultados alcanados, uma anlise crtica do modelo e uma proposta de futuras

    pesquisas nesta rea.

    1.7 Organizao da tese

    Este documento possui a seguinte estrutura:

    Captulo 1 - Introduo: neste captulo esto inclusos os objetivos do projeto e a

    metodologia cientfica adotada.

    Captulo 2 - Sistemas de Produo: este captulo contempla um breve histrico sobre a

    evoluo dos sistemas de produo.

    Captulo 3 - O Sistema Toyota de Produo: este captulo tem como contedo uma

    viso geral do Sistema Toyota de Produo.

    Captulo 4 - Layout: Neste captulo so apresentados os diversos conceitos de layout e

    tambm uma anlise crtica desses em relao aos princpios da Produo Enxuta.

  • Captulo 1: Introduo

    23

    Captulo 5 - O evento kaizen:este captulo aborda a questo do reprojeto do layout

    com a fbrica mantendo suas atividades rotineiras. Neste captulo introduzida uma

    metodologia de mudana com a fbrica em funcionamento.

    Captulo 6 - Modelos de construo do layout: esse captulo apresenta uma anlise de

    alguns modelos de projeto de layout existente na literatura.

    Captulo 7 - Modelo de projeto de layout: este captulo apresenta o modelo de projeto

    de layout desenvolvido.

    Captulo 8 - Primeiro estudo de caso -Empresa de componentes soldados: neste

    captulo apresentada a primeira aplicao prtica do modelo em uma empresa de itens

    soldados.

    Captulo 9 - Segundo estudo de caso - Empresa de turbinas de energia: neste

    captulo apresentado o segundo estudo de caso desenvolvido em uma empresa fabricante de

    turbinas de energia voltadas principalmente indstria de acar e lcool.

    Captulo 10 - Concluso: o captulo contempla uma anlise geral do modelo, com suas

    contribuies e restries.

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    24

    CAPTULO 2

    2. O SISTEMA TOYOTA DE PRODUO

    A histria da Toyota tem incio com a fabricao de teares para a indstria txtil.

    Somente tempos depois, devido a um desejo pessoal do seu fundador, esta direcionou seus

    esforos para a fabricao de automveis.

    Para Corra e Corra (2004) a perda da guerra pelo Japo em 15 de agosto de 1945

    marcou um reincio para a Toyota. A partir desse momento, devido s caractersticas do

    mercado interno japons, a empresa sentiu a necessidade de reestruturar seu modelo de

    produo. Este foi o ponto de incio da Produo Enxuta.

    Standard e Davis (1999) destacam que no final da Segunda Guerra Mundial a Toyota

    era o maior fabricante de carros no Japo. Entretanto, comparando a produo da Toyota com

    as empresas automobilsticas do Ocidente sua produo era muito baixa. At 1950 a Toyota

    tinha produzido ao longo de toda sua existncia apenas 2700 veculos. Este volume de

    produo era inferior ao que era produzido na planta da Ford em Rouge em um simples

    perodo de produo.

    Diferentemente do que ocorria nos Estados Unidos e na Europa existia, no Japo, uma

    necessidade de produzir veculos diferentes, ao contrrio dos modelos padronizados

    fabricados pelo sistema de produo em massa. As poucas fbricas de automveis no Japo

    em 1950 necessitavam suprir uma demanda de transporte extremamente diversa como carros,

    veculos (vans) de entregas, caminhes, ambulncias, limousines, caminhes de bombeiros,

    etc. (STANDARD E DAVIS, 1999).

    Com o fim da Guerra a Toyota sentiu a necessidade de se desenvolver ou seria

    eliminada do mercado pelas indstrias do Ocidente em franca expanso. Um problema da

    empresa destacado por Standard e Davis (1999) era que a produtividade da fbrica era nove

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    25

    vezes menor do que a produtividade das empresas ocidentais. Segundo Corra e Corra

    (2004) os japoneses no acreditavam que era possvel que um trabalhador ocidental fosse

    nove vezes mais eficiente do que um trabalhador japons. Provavelmente, eles estavam

    desperdiando alguma coisa. E uma coisa que no podia acontecer em um ambiente escasso

    como era o do Japo do ps-guerra eram desperdcios. Com base nessa percepo iniciou-se

    o desenvolvimento do Sistema de Produo da Toyota, fundamentado basicamente em um

    nico princpio: Eliminar desperdcios.

    Anos depois, os resultados alcanados pelo novo modelo de produo ganharam

    destaque com a publicao do livro A mquina que mudou o mundo. Nesse trabalho,

    Womack ET AL. (1990) fizeram uma anlise comparativa entre a Toyota e as demais

    empresas automobilsticas. Os ndices de produtividade e os demais critrios levados em

    considerao demonstravam uma superioridade da empresa em relao as mais tradicionais

    indstrias automobilsticas. Foi a primeira vez que o mundo ocidental percebeu que os

    esforos japoneses iniciados no ps-guerra tiveram um sucesso muito alm do esperado dando

    incio a uma completa revoluo nos sistemas de produo. Este modelo de produo foi

    denominado neste trabalho de Sistema de Produo Enxuta (Lean Production).

    Embora o termo Produo Enxuta tenha ganhado destaque apenas aps a publicao

    do livro de Womack e Jones, a primeira pessoa a utilizar o termo lean (enxuto) foi

    KRAFCIK (1988) em seu artigo intitulado Triumph of the Lean Production System. O

    autor, em seu trabalho, busca salientar dois pontos importantes. Primeiro, que nem toda

    empresa japonesa possui um sistema produtivo enxuto semelhante ao da Toyota. E segundo,

    os conceitos do sistema lean embora tenham sido desenvolvidos no contexto da Toyota

    podem ser implantados com sucesso em qualquer empresa, independentemente do pas.

    O Sistema Toyota de Produo pode ser decomposto em um conjunto de princpios e

    ferramentas. A seguir, sero apresentadas algumas definies encontradas na literatura e

    princpios desse sistema de produo.

    2.1 Definio de Sistema de Produo Enxuta

    O Sistema de Produo Enxuta pode ser definido basicamente como um sistema que

    busca saciar a todas as expectativas dos clientes com base na eliminao de desperdcios.

    Algumas definies de Produo Enxuta so apresentadas a seguir.

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    26

    Segundo Nystuen (2002) Produo Enxuta refere-se a eliminar desperdcios ao longo

    de toda a empresa do cho de fbrica at aos escritrios. produzir o que os consumidores

    querem no momento que eles desejam. Deve-se focar o modelo japons de produo em

    aprender como produzir mais utilizando menos recursos.

    A Produo Enxuta pode ser definida tambm como um sistema de negcios para

    organizar e gerenciar o desenvolvimento de produtos, operaes, fornecedores e relaes com

    o cliente. A produo lean, em comparao produo em massa, requer menos esforo

    humano, menos espao, menos capital e menos tempo para fabricar produtos com menos

    defeitos de acordo com as especificaes precisas dos desejos dos clientes, (LEAN

    INSTITUTE BRASIL, 2003).

    Segundo Kasul e Motwani (1997) o Sistema Toyota de Produo fornece manufatura

    a quantidade necessria dos itens necessrios no tempo necessrio. O objetivo gerar um

    sequenciamento eficiente da produo que foca no estudo dos movimentos dos trabalhadores

    e na eliminao de desperdcios.

    Segundo Slack ET AL. (1999), uma definio abrangente para a Produo Enxuta

    seria:

    A Produo Enxuta uma abordagem disciplinada, que visa aprimorar a

    produtividade global e eliminar os desperdcios. Ela possibilita a produo eficaz em termos

    de custo, assim como o fornecimento apenas da quantidade necessria de componentes, na

    qualidade correta, no momento e locais corretos, utilizando o mnimo de instalaes,

    equipamentos, materiais e recursos humanos. A Produo Enxuta dependente do balano

    entre a flexibilidade do fornecedor e a flexibilidade do usurio. Ela alcanada por meio da

    aplicao de elementos que requerem um envolvimento total dos funcionrios e trabalho em

    equipe. Uma filosofia chave da Produo Enxuta a simplificao.

    Warnecke e Hser (1995) descrevem a Produo Enxuta como um sistema de medidas

    e mtodos os quais quando tomados em conjunto, tm o potencial de tornar a empresa enxuta

    e, portanto, competitiva.

    Inmeras outras definies so apresentadas na literatura. Todas tm convergido para

    um nico ponto: a eliminao de desperdcios. Como definio geral do Sistema Toyota a

    seguir apresentada a viso de um dos seus idealizadores, Ohno (1988).

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    27

    A base do Sistema Toyota de Produo a eliminao de desperdcios. O Sistema

    est apoiado em dois pontos principais, o Just in time e a autonomao. O Just in time

    significa que, em um processo produtivo, as peas corretas precisam chegar linha de

    montagem no tempo necessrio e somente na quantidade necessria. A empresa que consegue

    estabelecer esse padro de fluxo pode atingir um nvel zero de inventrio em processo. A

    autonomao (automao com toque humano) envolve o maior poder que o funcionrio

    possui para tomar decises, inclusive de parar a linha de produo em casos de problemas

    detectados.

    A figura 2 apresenta os principais pontos do sistema de Produo Enxuta.

    Figura 2 Sistema de Produo Enxuta (Lean Institute, 2003)

    Outro dos idealizadores da Produo Enxuta destaca os seguintes pontos com relao

    a esse Sistema de produo, Shingo (1996):

    O princpio da minimizao dos custos um conceito bsico subjacente ao

    Sistema Toyota de Produo. A sobrevivncia da empresa depende, portanto, da

    reduo dos custos. Isso requer a eliminao completa das perdas.

    A melhor resposta demanda a produo contrapedido. Sob esse sistema, a

    produo tradicional em grandes lotes deve ser abandonada. As exigncias da

    produo contrapedido (alta diversidade, produo em baixas quantidades, entrega

    rpida e manejo da flutuao da carga) somente podem ser satisfeitas pela contnua

    e inflexvel eliminao da perda por superproduo.

    Estabilidade

    Heijunka Trabalho Padronizado Kaizen

    Fluxo Contnuo

    Tempo Takt

    Sistema Puxado

    Parar e notificar

    anormalidades

    Separar o

    trabalho humano

    do trabalho das

    mquinas

    JidokaJust in Time

    Objetivo: Qualidade, baixo custo e Lead Time curto

    Estabilidade

    Heijunka Trabalho Padronizado Kaizen

    Fluxo Contnuo

    Tempo Takt

    Sistema Puxado

    Parar e notificar

    anormalidades

    Separar o

    trabalho humano

    do trabalho das

    mquinas

    JidokaJust in Time

    Objetivo: Qualidade, baixo custo e Lead Time curto

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    28

    O Sistema Toyota aceita o desafio da reduo do custo da mo-de-obra e

    reconhece a vantagem de usar mquinas que sejam independentes dos

    trabalhadores. A reduo do custo de mo-de-obra um comprometimento cada

    vez mais presente no Sistema Toyota de Produo, simbolizada pela expresso

    mnima fora de trabalho.

    A Toyota transformou um sistema de produo passivo e conciliatrio,

    investigando as origens da produo convencional e derrubando crenas

    comumente aceitas para construir um novo sistema calcado em conceitos que

    jamais haviam sido antes utilizados.

    Feld (2001) atribui Produo Enxuta cinco elementos bsicos, os quais esto

    relacionados criao de um fluxo contnuo de produo, capacitao das equipes de trabalho

    e medio de desempenho das tarefas realizadas. Esses elementos so apresentados em

    detalhe a seguir:

    a. Fluxo da Manufatura (Manufacturing Flow): relaciona-se a toda uma anlise do

    fluxo de manufatura no cho-de-fbrica. Envolve o mapeamento dos processos,

    anlise da rotina (trabalho, processo, volume), clculo de takt time, balanceamento

    da carga de trabalho, dimensionamento de kanban, layout celular, padronizao do

    trabalho e fluxo unitrio de peas.

    b. Organizao (Organization): est relacionado a aspectos de treinamento e

    capacitao de pessoas para realizao das tarefas de forma eficaz. Envolve

    aspectos como desenvolvimento de gerentes com viso de Produo Enxuta,

    treinamento de operrios envolvendo: desenvolvimento da mentalidade enxuta,

    controle de clulas, melhoria contnua, esclarecimento de regras e

    responsabilidades, etc.

    c. Controle do processo (Process Control): est relacionado a aspectos diretos de

    monitoramento, controle, estabilizao e desenvolvimento de caminhos para

    melhoria do processo. Utiliza as seguintes ferramentas: Manuteno Produtiva

    Total, Poka yoke, SMED (Single Minute Exchange of Dies), Controle Visual, 5S,

    entre outras.

    d. Mtricas (Metrics): relaciona-se ao monitoramento do desempenho em relao s

    metas alvo estipuladas. As mtricas podem ser: tempo de entrega no prazo

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    29

    estipulado, lead time do processo, custo total, giro de estoque, utilizao do

    espao, distncia percorrida por peas e produtos, produtividade, etc.

    e. Logstica (Logistics): relacionado a aspectos de definio das regras de operao e

    aos mecanismos de planejamento e controle do fluxo de material. Envolve o

    balanceamento da carga de trabalho, anlise ABC para controle das peas e

    produtos, alinhamento entre clientes e fornecedores, anlise do mix na manufatura,

    etc.

    2.2 Os princpios da Produo Enxuta e os desperdcios de um sistema tradicional de

    produo.

    Shingo (1996), Womack e Jones (1996) e Bullington (2003), definem cinco princpios

    para a Produo Enxuta. Estes tm como objetivo aumentar a flexibilidade da empresa e

    capacit-la para responder de forma rpida e eficiente s necessidades dos clientes. Os

    princpios so apresentados a seguir:

    1. Primeiro Princpio da Produo Enxuta: Especifique o valor.

    o ponto de partida e deve ser definido segundo a perspectiva dos clientes finais.

    Deve-se comear com uma tentativa consciente de definir precisamente o valor em termos de

    produtos e servios especficos. A especificao do valor consiste, portanto da determinao

    exata dos anseios e expectativas do cliente para um determinado produto ou servio.

    2. Segundo Princpio da Produo Enxuta: Identifique a cadeia de valor.

    Consiste em identificar o conjunto de todas as atividades para se levar um produto

    especfico a passar pelas tarefas de desenvolvimento (da concepo ao lanamento), de

    gerenciamento da informao (recebimento do pedido entrega), e de transformao fsica

    propriamente dita (da matria prima ao produto acabado).

    3. Terceiro Princpio da Produo Enxuta: Organize o fluxo de valor de forma a obter um

    fluxo fluente.

    necessrio fazer com que as etapas que criam valor fluam. Isso exige uma mudana

    de mentalidade, o produto e suas necessidades devem ser o foco, e no as mquinas e

    equipamentos. O objetivo reduzir as atividades que no agregam valor.

    4. Quarto Princpio da Produo Enxuta: Estabelea uma Produo Puxada.

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    30

    fazer o que os clientes (interno e externo) precisam no momento certo, permitindo

    que o produto seja puxado quando necessrio. Isso minimiza os estoques comumente

    encontrados em sistemas do tipo empurrado.

    5. Quinto Princpio da Produo Enxuta: Busque a Perfeio.

    Neste caso, fazer com que os princpios destacados anteriormente sejam seguidos em

    um processo contnuo, ininterrupto, de melhoria. Isso se torna possvel porque, ao dar

    condies para que o fluxo de valor flua sempre ocorrer uma exposio dos desperdcios

    ocultos abrindo a possibilidade para se realizar novas melhorias.

    O principal foco dos idealizadores do sistema Toyota de Produo no seu trabalho do

    dia a dia era a eliminao de desperdcios. Considera-se como desperdcio toda atividade que

    no agrega valor ao produto. Segundo Standard e Davis (1999) atividade que agrega valor

    (AV) todo esforo que produz algo de valor aos olhos do cliente. Ex.: estampagem, pintura,

    etc. Por outro lado, atividade que no agrega valor (NAV) so os esforos que no produzem

    nenhum benefcio aos olhos dos clientes. Ex.: movimentao de peas, retrabalho, contagem,

    estocagem, etc. Existe tambm um conjunto de atividades que embora no agreguem valor ao

    produto so necessrias. Ex.: carregamento de uma mquina, processamento da ordem de

    produo, etc.

    Segundo Conner (2001) a maior parte das atividades realizadas na empresa no agrega

    valor ao produto. Apenas 5% do tempo total que um produto est sendo processado so

    constitudos por atividades que realmente agregam valor ao produto. 95% de todo tempo

    dispensado dentro da fbrica esto relacionados a atividades que no geram nenhum valor ao

    produto.

    A figura 3 apresenta um comparativo entre as atividades que agregam e no agregam

    valor para um produto com apenas duas operaes de transformao.

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    31

    Figura 3 Tempo das atividades que agregam e no agregam valor ao produto

    Pode-se destacar da figura 3 que quanto maior o nmero de operaes maior a

    tendncia em aumentar a disparidade entre o tempo de agregao e o tempo de no agregao

    de valor ao produto.

    Com relao aos desperdcios de produo, segundo Womack ET AL. (1996) Shingo

    identificou sete tipos de desperdcios que deveriam ser combatidos para que o Sistema Toyota

    de Produo conseguisse atingir seus objetivos. Estes desperdcios so detalhados a seguir:

    1. Primeiro Desperdcio: Superproduo

    Segundo Shingo (1996) existem dois tipos de superproduo:

    a. Quantitativa: fazer mais produtos do que o necessrio.

    b. Antecipada: fazer o produto antes que ele seja necessrio.

    A superproduo quantitativa gera um aumento no work in process, gera um aumento

    na movimentao de peas, gera a necessidade de armazenamento, alm de em muitos casos

    estar baseada em uma expectativa de demanda que pode no se concretizar.

    A superproduo antecipada gera como desperdcios a utilizao de matria-prima em

    produtos que no so necessrios no momento e gera falta de matria-prima em produtos que

    esto sendo requisitados com urgncia, gera ocupao da mo-de-obra em produtos no

    necessrios no momento, etc.

    Segundo Hines ET AL. (2000) superproduo reconhecido como o mais srio

    desperdcio que atrapalha a implantao de um fluxo suave de produtos e servios e inibe

    tambm a qualidade e a produtividade. A superproduo tende a levar a um lead time e

    estoques elevados. Entre outras coisas a superproduo corrobora para a camuflagem dos

    1. Receber M.P.

    2. Movimentar M.P. at estao de trabalho

    3. Fazer setup da mquina

    4. Carregar a mquina com a M.P.

    5. Processar o produto

    6. Retirar o produto da mquina

    7. Movimentar at a prxima estao de trabalho

    8. Fazer setup

    9. Carregar a mquina

    10. Processar o produto

    11. Retirar o produto da mquina

    12. Movimentar o produto at rea de qualidade

    13. Fazer inspeo da pea

    14. Movimentar o produto at local de armazenagem

    15. Expedir o produto para o cliente

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

    OPERAO QUE NO

    AGREGA VALOR

    OPERAO QUE

    AGREGA VALOR

    Lead Time

    1. Receber M.P.

    2. Movimentar M.P. at estao de trabalho

    3. Fazer setup da mquina

    4. Carregar a mquina com a M.P.

    5. Processar o produto

    6. Retirar o produto da mquina

    7. Movimentar at a prxima estao de trabalho

    8. Fazer setup

    9. Carregar a mquina

    10. Processar o produto

    11. Retirar o produto da mquina

    12. Movimentar o produto at rea de qualidade

    13. Fazer inspeo da pea

    14. Movimentar o produto at local de armazenagem

    15. Expedir o produto para o cliente

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 151 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

    OPERAO QUE NO

    AGREGA VALOR

    OPERAO QUE

    AGREGA VALOR

    Lead Time

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    32

    problemas de produo tornando mais rduo e complexo o processo de melhoria contnua. A

    figura 4 mostra o acmulo de excesso de work in process devido superproduo.

    Figura 4 Desperdcio de Superproduo

    2. Segundo desperdcio: Espera

    As esperas referem-se a longos perodos de ociosidade de pessoas, peas e

    informaes, resultando em um fluxo pobre, bem como em lead times longos. Podem-se ter

    dois tipos de esperas:

    Esperas de processo: referem-se a lotes no processados aguardando pelo

    processamento.

    Esperas de lotes: sempre que um lote est sendo processado, com exceo da pea

    em processamento, todas as outras peas do lote esto aguardando seja antes ou

    depois do processo. Isso caracteriza uma espera de lote.

    3. Terceiro desperdcio: Transporte Excessivo

    O desperdcio de transporte excessivo faz aluso movimentao excessiva de

    pessoas, informaes ou peas resultando em dispndio desnecessrio de capital, tempo e

    energia. O transporte excessivo fruto direto da inadequao do layout fabril. A disposio de

    mquinas e equipamentos impacta diretamente no nvel de movimentao interna na fbrica.

    A figura 5 mostra uma representao esquemtica da movimentao de peas e produtos ao

    longo de uma fbrica.

    Como se pode observar, normalmente, no existe um fluxo lgico de fabricao que

    minimize a movimentao das peas/produtos no cho-de-fbrica. Na maioria das empresas,

    os equipamentos so agrupados por semelhana o que, em muitos casos, acaba por onerar a

    distncia percorrida por operadores e produtos na fbrica.

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    33

    Figura 5 Transporte excessivo ao longo da fbrica

    4. Quarto desperdcio: Processo Inadequado

    Consiste da utilizao de procedimentos, sistemas inadequados e, a um nvel mais

    operacional, de um jogo errado de ferramentas. Alm disso, para Hines ET AL. (2000)

    processo inadequado ocorre tambm quando solues complexas so usadas para

    procedimentos simples, como a aquisio e utilizao de uma mquina muito complexa e no

    flexvel ao invs de vrias mquinas simples. Este tipo de desperdcio encoraja a

    superproduo devido, a muitas vezes, dificuldade em se realizar operaes de setup em

    mquinas muito complexas.

    5. Quinto desperdcio: Estoques

    Segundo Corra e Corra (2004) os estoques, alm de ocultarem outros tipos de

    desperdcios, significam desperdcios de investimento e espao. A sua reduo deve ser feita

    atravs da eliminao das causas geradoras da necessidade de se manterem os estoques. Entre

    algumas dessas causas geradoras pode-se citar a falta de uma adequada programao da

    produo, setups elevados, flutuaes na demanda, etc. Particularmente, em relao ao layout,

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    34

    quando equipamentos de produo esto muito distantes existe uma tendncia em se produzir

    em lotes grandes, aumentando os estoques em processo, devido inviabilidade de se fazer um

    transporte pea a pea.

    Os estoques podem aparecer de trs formas bem distintas nas empresas: Matria-

    prima, Estoque em Processo e Produto Acabado, ver figura 6.

    Figura 6 Desperdcio de estoques

    6. Sexto Desperdcio: Movimentao Desnecessria

    Origina-se da desorganizao do ambiente de trabalho, resultando em baixa

    performance dos aspectos ergonmicos. O desperdcio de movimentao desnecessria

    reporta-se inadequao dos postos de trabalho, m localizao de ferramentas e dispositivos

    utilizados pelo operador, que geram a necessidade de realizar movimentos, por parte do

    operador, muito inadequados. Esse desperdcio tem impacto direto na produtividade do

    operador.

    7. Stimo Desperdcio: Produtos defeituosos

    Segundo Corra e Corra (2004) problemas de qualidade geram os maiores

    desperdcios do processo. Produzir produtos defeituosos significa desperdiar materiais,

    disponibilidade de mo-de-obra, disponibilidade de equipamentos, movimentao de

    materiais defeituosos, etc.

    Alm dos sete tradicionais desperdcios alguns autores destacam um oitavo

    desperdcio: desperdcio de pessoas. Este apresentado a seguir.

    8. Oitavo desperdcio: Pessoas

    Segundo Alukal (2003) a no utilizao do conhecimento e da experincia das pessoas

    que trabalham em todos os departamentos da empresa um desperdcio. Pelo fato dessas

    ESTOQUE DE

    MATRIA-PRIMA

    ESTOQUE DE

    MATERIAL EM

    PROCESSO

    ESTOQUE DE

    PRODUTO

    ACABADO

  • Captulo 2: O Sistema Toyota de Produo

    35

    pessoas conhecerem em detalhes os processos na empresa estas tem grandes contribuies a

    fazerem. Mas poucas so as empresas que exploram esse potencial de seus funcionrios.

    A Produo Enxuta lana mo de um conjunto de ferramentas para combater esses

    desperdcios. Neste trabalho, ser apresentada a anlise de layout como forma de combater

    alguns dos desperdcios apresentados

    .

  • Captulo 3: Layout

    36

    CAPTULO 3

    3. LAYOUT

    A melhor movimentao de material no movimentar

    (Sims, 2002)

    Segundo Muther (1976) o arranjo das reas de trabalho nasceu com o comrcio e o

    artesanato. Com o desenvolvimento dos sistemas produtivos, maior ateno passou a ser dada

    utilizao do espao fsico nas organizaes.

    Com o advento da Revoluo Industrial o projeto das instalaes fsicas passou a ser

    regido pela energia e a movimentao da matria-prima. Lee (1998) destaca que as indstrias

    txteis exigiam grandes quantidades de gua para gerar energia e sua organizao era

    dominada por estranhos eixos e correias. As primeiras indstrias de ferro e ao localizavam-se

    prximo a rios, ferrovias ou minas; seu projeto era determinado pelas necessidades de

    transporte de carvo, minrio de ferro e calcrio.

    A evoluo tecnolgica permitiu que a maioria das indstrias no tivesse mais a

    necessidade de se localizar prximas aos locais de fonte de energia ou matria-prima. Alm

    disso, segundo Lee (1998) com o advento da produo em massa o foco passou a ser a

    otimizao do fluxo de produo. A micro diviso do trabalho tornou a habilidade menos

    importante do que a movimentao eficiente do produto.

    Mas, muito embora nos dias atuais os mecanismos de transportes sejam altamente

    eficientes e as informaes fluam de forma rpida pelo cho-de-fbrica o planejamento do

    layout ainda de fundamental importncia. A aproximao de equipamentos eliminando o

    manuseio excessivo das peas pela fbrica e a possibilidade de formao de equipes

    multifuncionais so alguns dos benefcios advindos de uma organizao fsica adequada.

  • Captulo 3: Layout

    37

    3.1 Um breve histrico sobre os modelos de planejamento do layout

    O primeiro modelo de planejamento do layout foi proposto por Muther. Este props o

    Sistema SLP (Systematic Layout Planning). O mtodo proposto focava, principalmente, a

    busca pela otimizao do fluxo de materiais.

    Chien (2004) destaca que muitas tecnologias como a Teoria da Lgica Fuzzy (Cheng e

    Gen, 1996), Programas Dinmicos (Rosenblatt, 1986), Algoritmos Genticos, Simulao

    Computacional (Azadivar e Wang, 2000), etc. foram desenvolvidas com objetivo de projetar

    layouts eficientes. Mas o modelo desenvolvido por Muther ainda encontra grande aceitao

    no meio empresarial e acadmico.

    Canem ET AL. (1996) destaca em ordem cronolgica os principais softwares de

    auxlio ao projeto de layout, ver figura 7.

    Figura 7 Lista cronolgica dos softwares de projeto de layout

    Fonte: Canem ET AL. (1996)

    Muito embora os softwares computacionais sejam uma ferramenta de auxlio no

    planejamento do layout esses ainda encontram pouca aplicabilidade prtica nas empresas,

    devido a:

  • Captulo 3: Layout

    38

    - Necessidade de mo-de-obra especializada para manuse-lo.

    - Tempo necessrio para aplic-lo o qual em muitos casos maior do que a

    tolerncia das empresas.

    - No fornece como resultado a soluo tima.

    - Falta de conhecimento das empresas sobre a existncia de softwares de arranjo

    fsico.

    3.2 A importncia do layout para as empresas

    Segundo Black (1998) mudanas significativas esto ocorrendo no projeto de

    sistemas de manufatura, motivadas pelas seguintes tendncias:

    O aumento do nmero e variedade de produtos continuar resultando numa queda

    de quantidade (tamanho do lote) conforme a variedade aumente.

    Solicitaes para menores tolerncias (mais exatido e preciso produzindo

    melhor qualidade) continuaro a aumentar.

    O aumento na variedade de materiais, materiais complexos, com propriedades

    extremamente diversas causar posterior proliferao no nmero de processos de

    fabricao.

    O custo dos materiais, incluindo movimentao de materiais e energia, continuar

    a ser parte principal do custo total do produto, e a mo-de-obra direta representar

    apenas 5 a 10% do total e continuar a diminuir.

    A confiabilidade do produto aumentar em resposta ao nmero excessivo de

    aes de responsabilidade pelos produtos.

    O tempo entre a concepo do projeto e o produto fabricado ser reduzido atravs

    dos esforos de engenharia simultnea.

    Mercados globais sero alimentados por produtos globais.

    Estas tendncias requerem os seguintes tipos de respostas em termos de sistemas de

    manufatura:

    Melhorias contnuas nos sistemas de manufatura devido s constantes necessidades

    de melhorias dos produtos.

  • Captulo 3: Layout

    39

    O sistema deve ser capaz de produzir produtos com qualidade superior com custo

    (unitrio) reduzido e entrega no prazo em resposta s demandas dos clientes.

    O sistema deve ser projetado para ser flexvel e compreensvel (mais simples e

    mais focado), e tambm mais confivel.

    Em resumo, os sistemas de manufatura devem tornar-se cada vez mais geis e

    flexveis para poderem atender as crescentes expectativas do mercado.

    Segundo Gonalves Filho (2005) um sistema de manufatura eficiente pode ser obtido

    combinando-se quatro variveis: tecnologia de fabricao atualizada, um layout otimizado,

    uma mo-de-obra treinada e motivada e um gerenciamento adequado. Essas quatro variveis

    no so independentes uma da outra. Por exemplo, mais fcil alcanar integrao entre

    equipes quando se opta por um layout celular do que quando se adota um layout funcional.

    Em relao varivel layout esta uma das peas chaves no processo de projeto e

    implantao do Sistema de Produo Enxuta. A disposio fsica dos equipamentos est

    relacionada diretamente a trs dos oito desperdcios citados anteriormente:

    Transporte Excessivo.

    Movimentao desnecessria.

    Estoques

    As decises de arranjo fsico so muito importantes, pois podem refletir diretamente

    no desempenho da empresa e na satisfao do cliente. Slack ET AL. (1999) destaca algumas

    das razes prticas que tornam as decises sobre layouts importantes:

    Arranjo fsico freqentemente uma atividade difcil e de longa durao devido s

    dimenses fsicas de recursos de transformao movidos.

    O re-arranjo fsico de uma operao existente pode interromper seu funcionamento

    suave, levando insatisfao do cliente ou perdas na produo.

    Se o arranjo fsico (examinado a posteriori) est errado, pode levar a padres de

    fluxo excessivamente longos, estoque de materiais, filas de clientes formando-se

    ao longo da operao, tempos de processamento desnecessariamente longos,

    operaes inflexveis, fluxos imprevisveis e altos custos.

    Segundo Corra e Corra (2004) um bom projeto de arranjo fsico pode visar tanto

    eliminar atividades que no agregam valor como enfatizar atividades que agregam, como:

  • Captulo 3: Layout

    40

    Minimizar os custos de manuseio e movimentao interna de materiais.

    Utilizar o espao fsico disponvel de forma eficiente.

    Apoiar o uso eficiente da mo-de-obra, evitando que esta se movimente

    desnecessariamente.

    Facilitar a comunicao entre as pessoas envolvidas na operao, quando

    adequado.

    Reduzir tempos de ciclo dentro da operao, garantindo fluxos mais linearizados,

    sempre possvel e coerente com a estratgia.

    Facilitar a entrada, sada e movimentao dos fluxos de pessoas e de materiais.

    Incorporar medidas de qualidade (por exemplo, respeitando distncias entre

    setores que produzam produtos que possam ser contaminados um pelo outro) e

    atender a exigncias legais de segurana no trabalho (por exemplo, mantendo

    isolado setores que possam necessitar de proteo especial do trabalhador).

    Facilitar manuteno dos recursos, garantindo fcil acesso.

    Facilitar acesso visual s operaes, quando adequado.

    Segundo Black (1998), neste mundo de competio internacional, o sucesso de uma

    unidade fabril depende do projeto de seu sistema de manufatura. O sistema fabril deve

    satisfazer as necessidades de seus usurios, os clientes internos da empresa.

    Neste contexto, o projeto da disposio fsica dos equipamentos torna-se num fator

    crtico no desempenho da organizao. Existem diversas tipos de layout. Cada um desses ser

    abordado na prxima seo. Abaixo segue uma definio de layout segundo Gonalves Filho

    (2005):

    O arranjo fsico de uma unidade produtiva pode ser entendido como a disposio

    fsica dos vrios elementos ou recursos produtivos utilizados para a produo de um bem ou

    servio, tais como mquinas, equipamentos, instalaes e pessoal. O arranjo fsico define o

    relacionamento fsico entre as diversas atividades e determina a maneira segundo a qual os

    recursos transformados (materiais, informaes e clientes) fluem atravs da operao.

  • Captulo 3: Layout

    41

    3.3 Porque planejar o layout?

    O projeto do layout uma importante etapa do planejamento do sistema produtivo.

    Segundo Muther (1976) o tempo despendido no planejamento do arranjo fsico antes de sua

    implantao evita que as perdas assumam grandes propores e possibilita que todas as

    modificaes se integrem segundo um programa global e coerente, que permite o

    estabelecimento de uma seqncia lgica para as mudanas, alm de facilit-las.

    Canem ET AL. (1996) destaca que o planejamento do layout importante, pois esse,

    normalmente, representa os maiores e mais caros recursos da organizao.

    Djassemi (2006) afirma que a eficincia da manufatura depende de inmeros fatores,

    entre eles o layout das mquinas e equipamentos. Segundo o autor, tpicos procedimentos de

    projeto de layout buscam alocar os vrios equipamentos e departamentos de forma a

    minimizar o lead time de produo, aumentar o giro do work-in-process e maximizar a sada

    de produtos do processo produtivo.

    Rawabdeh e Tahboub (2005) destacam que a eficincia do arranjo fsico um dos

    mais importantes aspectos dos sistemas de manufatura contemporneos. Isto pode ser

    justificado porque o planejamento do layout um processo crtico de longo prazo e requer um

    alto investimento de capital. Alm disso, qualquer alterao no layout existente representa

    gastos elevados, desde que os equipamentos no sejam flexveis e adaptados para a mudana.

    Conseqentemente, o arranjo fsico torna-se em um importante aspecto industrial, afetando

    direta ou indiretamente no custo do produto. Os autores tambm afirmam que o layout afeta a

    produtividade e o desempenho da fbrica, a utilizao eficiente da mo-de-obra, o espao

    utilizado e mesmo a motivao dos operadores.

    Alm de impactar nas operaes do cho-de-fbrica o layout tambm impacta nas

    atividades de escritrio. Haynes (2008), por exemplo, apresenta os impactos que o arranjo

    fsico do escritrio tem sobre o desempenho das pessoas, e conseqentemente, sobre os

    resultados da rea de trabalho.

    A disposio fsica mais comum e utilizada nas empresas o layout funcional. Mas

    estudos tm demonstrado que esse arranjo fsico trs consigo uma srie de limitaes ao fluxo

    produtivo. Portanto, o planejamento do layout contemplando aspectos como o fluxo de

    materiais, estoques em processo, gesto do processo, entre outros, tem impacto direto no

    desempenho das indstrias.

  • Captulo 3: Layout

    42

    Um aspecto destacado por Muther (1976) o custo de implantao do arranjo fsico.

    Segundo o autor os custos de implantao de um bom arranjo ou de um arranjo deficiente

    podem ser praticamente idnticos. Mas, uma vez implantado um arranjo deficiente, os custos

    relativos ao rearranjo, interrupo de produo e novos investimentos tornam quase

    impossvel transform-lo num arranjo eficiente.

    Os custos advindos de um fluxo deficiente devido ao mau planejamento do layout e os

    custos de um re-projeto e implantao de um novo layout justificam a necessidade do

    planejamento adequado da disposio fsica dos equipamentos, pessoas e materiais na fbrica.

    Por ltimo, o grande nmero de trabalhos publicados em relao ao arranjo fsico,

    desde o posto de trabalho localizao das plantas industriais, mostra a importncia desse

    tema. Meller e Gau (1996), por exemplo, listam mais de 90 modelos e algoritmos de projeto

    de layout.

    Existem diversas formas de posicionar os recursos fsicos no cho-de-fbrica. Cada

    forma trs consigo vantagens e limitaes. A seguir, sero apresentados inicialmente os

    conceitos tradicionais de layouts. Posteriormente, sero apresentadas as novas formas de

    arranjos fsicos.

    3.4 Modelos tradicionais de layouts

    Existem quatro tipos tradicionais de layouts: layout funcional ou por processo, layout

    em linha ou por produto, layout posicional e o layout celular. Esses conceitos de layout so os

    mais encontrados nas empresas.

    3.4.1 Layout funcional (processo)

    Tambm conhecido como layout por processo, o layout funcional foi a primeira lgica

    de disposio fsica de mquinas a surgir. Mesmo com suas limitaes o layout funcional

    ainda amplamente utilizado em empresas de todo o pas.

    Segundo Black (1998) o layout funcional caracterizado por grandes variedades de

    componentes e mquinas de uso genrico. As mquinas so agrupadas por funo (tornos,

    fresas, etc.) e as peas so movimentadas pela fbrica para as vrias mquinas. A figura 8

    apresenta um exemplo de layout funcional.

  • Captulo 3: Layout

    43

    Figura 8 Exemplo de layout funcional

    Como mencionado, anteriormente, no layout funcional as mquinas so dispostas de

    acordo com sua funo. Segundo Corra e Corra (2004) este tipo de arranjo fsico utilizado

    quando os fluxos que passam pelos setores de produo so muito variados e ocorrem

    intermitentemente.

    Tompkins ET AL. (1996), Krajewski e Ritzman (1996) e Gonalves Filho (2005)

    destacam as seguintes vantagens e desvantagens em relao a essa disposio fsica dos

    equipamentos:

    1. Vantagens:

    1. Aumento da utilizao de mquinas.

    2. Equipamentos de carter gerais podem ser utilizados.

    3. Menos vulnervel a mudanas de produtos e demanda.

    4. Menos vulnervel quebra de mquinas.

    2. Desvantagens:

    1. Aumento da movimentao de materiais.

    2. Dificuldade em controlar a produo.

    3. Aumento do work in process.

    4. A taxa de produo tende a ser mais baixa

    5. A diversidade de rota torna o fluxo de material confuso dificultando a

    identificao de gargalos.

    F1 Fluxo 1 F2 Fluxo 2

  • Captulo 3: Layout

    44

    Segundo Corra e Corra (2004) existe um trade-off em relao ao layout funcional,

    pois este: privilegia a flexibilidade dos fluxos (permite, por exemplo, que independente da

    preferncia ou necessidade do cliente de percorrer diferentes trajetos, mais longos ou mais

    curtos todos possam ser acomodados), custa da eficincia, pois as di